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UM AMOR
PARA
RECORDAR
ANTÓNIO
E
FERNANDA
UM AMOR ETERNO
UM AMOR ETERNO
Um casal que se ama, não pela beleza, nem pela admiração,
mas apenas por amar! Um casal que se entende,
em qualquer momento, se apoia e sabe que nunca estarão
sozinhos! Um amor que supera qualquer coisa e a
direcção certa a seguir. Um amor sem explicação, ou
com uma única explicação: Deus quis assim! Um sonho
que se concretiza na felicidade do outro, pois é muito
mais que paixão do momento.
Duas almas, dois corações que se completam.
Que sabem que tem muito em comum. Duas vidas tão
parecidas e tão diferentes, mas unidas apenas pelo
amor. Duas pessoas que desejam acima de tudo a felicidade
da outra, nem que seja distante delas. Mas que
sabem que a distância não pode separar o que foi escrito
por Deus... Duas almas que o destino uniu e nada nem
ninguém pode separar! Assim foi o amor de António
Nogueira de Pinho e Maria Fernanda Flores das Neves!
As próximas páginas são pedaços de memórias, que o
tempo não apagou, nem apaga, porque vivem no coração
de quem as viveu! E são um testemunho vivo que vai
perdurar nas nossas lembranças!
Um Amor Eterno 03
UM AMOR ETERNO
Há quem diga que o amor não existe... Pode até não existir para alguns, mas
tenho a certeza que entre os meus avós existia um amor puro e verdadeiro, daqueles
que duram para sempre e que vão muito para além da vida e da morte. Um amor
alicerçado em pequenos grandes gestos e numa cumplicidade invejável que durou uma
vida inteira. Foram 60 anos de amor, união, amizade, confiança, lealdade e de
uma dedicação inigualável. Para que este amor perdure nas nossas memórias e nas
dos que nos sucederem, aqui fica um pedaço desta história contada por quem a viveu...
O jovem António Pinho
E para saber como tudo aconteceu,
precisamos primeiro de saber um pouco mais
sobre as duas pessoas que inauguraram a palavra
AMOR! Ele era António Pinho,
nasceu no dia 14 de Outubro de 1924,
na Rua do Ribeiro, em Angeja, e era o
filho mais velho de Elísio de Pinho Grojão e
Ana Nogueira de Pinho.
Durante a infância, António era um menino
franzino que sofreu várias maleitas, mas que
conseguiu sobreviver às adversidades
Filho de gentes humildes, com poucas posses e
possibilidades, quando foi para a escola, António
não tinha material escolar, mas nem isso o
fez esmorecer. No primeiro ano, acabou por
reprovar, mas apenas porque a sua professora
esteve ausente durante quatro meses após dar à
luz, o que provocou um atraso no desenvolvimento
cognitivo das crianças,
Após este pequeno percalço conseguiu efectuar
os restantes anos de escolaridade até ao quarto
ano, antigamente o ensino obrigatório, com a
máxima distinção.
Viviam-se tempos difíceis, não estivéssemos nós
a falar na década de 30 e, particularmente,
em 1936, o tempo do Estado Novo.
Portugal era um país pobre, com cerca de 50
por cento da população vivendo da agricultura.
Por isso mesmo, para além de frequentar a
escola, António também ajudava os seus pais
na agricultura, trabalho que continuou a executar
mesmo depois de deixar a escola.
04 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
A linda e jovem Fernanda com apenas 18 anos
Ela era Fernanda Flores das Neves,
uma menina nascida no dia 18 de Julho de
1927, na Rua das Escolas Gerais, na freguesia
de São Vicente de Fora, em Lisboa.
O seu pai, Domingos Soares das Neves,
era tripulante da Marinha Mercante, e a sua
mãe, Amélia das Flores ou Amélia Silva,
era varina, e os dois viviam maritalmente
quando nasceu a sua filha.
Domingos saía frequentemente em viagens
que podiam durar até um mês e meio, deixando
Amélia e Fernanda sozinhas.
Nestas alturas, Amélia sendo uma mulher
de valores duvidosos, aproveitava a ausência
do companheiro para se envolver com outros
homens, deixando a sua filha, não raras vezes,
sozinha em casa.
Um certo dia até, tendo na altura Fernanda
apenas dois anos, Amélia deixou-a
sozinha fechada em casa durante dois dias
seguidos, sem comida nem água. Os vizinhos
acabaram por socorrê-la quando começaram
a ouvir o seu choro insistente e alarmante.
Ao regressar a casa, Domingos teve conhecimento
do sucedido e decidiu levar Fernanda
aos avós paternos, Manuel Soares das Neves
e Maria Pereira dos Santos, residentes na
Rua do Cabeço, em Angeja, para que estes
a acabassem de criar.
Foi nesta casa que Fernanda foi criada até
à idade de ser mulher e casar, sendo tratada
como uma criada de servir, sem receber nada
em troca e sem nunca lhe ter sido dada a
possibilidade de frequentar a escola. Algo lhe
sempre lhe provocou muita mágoa e angústia.
Um Amor Eterno 05
UM AMOR ETERNO
O destino marca a hora
Quis o destino que duas vidas se cruzassem
para não mais voltarem a ser iguais...Foi no dia
24 de Fevereiro de 1941, na boda do casamento
de uma irmã da madrasta de Fernanda,
que as suas vidas se cruzaram.
Contudo, o nome de Fernanda já tinha sido
indicado a António, como uma boa moça para
casar, essencialmente por ser uma rapariga com
características importantes para construir uma
vida a seu lado.
António conhecia Fernanda apenas de vista,
mas a verdade é que ela não lhe era completamente
indiferente.
A dada altura, começou mesmo a acompanhá-
-la nas suas tarefas para a conhecer melhor, no
entanto, nunca com a frequência que gostaria.
Quando finalmente António conseguiu ter tempo
livre para acompanhar Fernanda com regularidade,
esta por ser demasiado jovem, na altura
com apenas 15 anos, e não querer prender-se
sentimentalmente a ninguém, rejeitou o interesse
de António. Este ainda quis uma justificação,
mas só piorou a situação, resultando numa zanga
que durou os três anos seguintes.
Nunca esquecendo Fernanda, António decidiu
seguir a sua vida, na qual teve alguns
namoricos, mas um deles acabou por ter mais
importância. No dia 23 de Junho de 1944,
António foi à inspecção do serviço militar e,
nesse mesmo dia, nas fogueiras de S. João,
António conheceu uma outra rapariga, de seu
nome Gracinda, com a qual namorou 3 anos,
mas sempre de forma desinteressada.
Estes 3 anos coincidiram com o seu serviço
militar, ou seja, no dia 8 de Abril de 1945,
foi incorporado como recruta no Regimento de
Infantaria em Aveiro.
No dia de apresentação foi indigitado para monitor
na Escola de Recrutas e para frequentar a
Escola de Cabos.
A par da recruta, António pertencia ao pelotão
de ginástica especial, tendo-se deslocado a várias
cidades do país para prestar provas.
Em Coimbra, num total de cinco regimentos,
o pelotão de António ficou em 1º lugar e,
em Lisboa, alcançou o 3º lugar. Finda a
recruta, jurou bandeira no dia 29 de Julho de
1945. Posteriormente, ingressou na Escola
de Cabos com uma média que lhe facultou a
oportunidade de ser promovido a 1º cabo miliciano,
apenas com 20 anos.
No dia 10 de Outubro de 1945, partiu
para manobras, na Serra da Estrela, durante
15 dias. Após um ano de ter regressado, foi
mobilizado para uma parada em 14 de Agosto
de 1946, em Lisboa e, assim, terminou o seu
serviço militar.
Após o terminus da sua instrução na Escola de
Cabos, António passou à disponibilidade em 15
de Setembro de 1945, sendo novamente convocado
no dia 10 de Outubro para manobras,
que terminaram a 25 de Outubro. Passado
um ano, voltou a ser mobilizado para uma parada
militar, após a qual passou novamente à disponibilidade.
Durante estes três anos, apesar de manter o seu
namoro com Gracinda, no seu coração estava
ainda gravado o nome de Fernanda.
06 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
António e Fernanda
Já em 1947, num certo dia, António
estava a trabalhar com o seu pai e eis se não
quando passou Fernanda e disse bom dia,
lançando um sorriso. Foi o suficiente para
António achar que ainda a podia conquistar.
A partir desse dia, António começou a falar
mais com Fernanda, quando a encontrava,
contudo o seu namoro com Gracinda ainda
se mantinha.
Todavia, esta sua namorada provocava-lhe
diversas dúvidas, especialmente, porque tinha chegado
aos seus ouvidos que ela estaria interessada
em casar com um primo do Brasil, uma preciosa
informação que lhe tinha sido fornecida por uma
empregada na casa de Gracinda.
Apesar de estar na posse desta informação,
António agiu como se nada soubesse, para
António agiu como se nada soubesse,
para na altura certa poder dar-lhe a
resposta merecida.
Entretanto tinha sempre muitas conversas
com Fernanda, conversas estas que o faziam
ficar cada vez mais interessado. Ao saber
disso, Gracinda decidiu maldizer António
junto de Fernanda para que esta ficasse
novamente chateada. Mas Fernanda, que
já tinha 20 anos, percebeu a intenção de
Gracinda, que não se poupava em artimanhas
para os colocar um contra o outro, mas
nunca conseguiu.
Até que nas Festas do São Paio, na
Torreira, no ano de 1947 se dá a zanga
de Gracinda e António, quando esta o vê
junto de Fernanda.
Um Amor Eterno 07
UM AMOR ETERNO
O despontar do amor
Uma vez livre de Gracinda,
António começou a estar mais vezes
com Fernanda, mas sempre com
muito respeito e poucos avanços, até
porque nesta altura, os relacionamentos
eram muito conservadores,
assim como a própria época.
António gostava muito da sua Fernanda,
mas agia com precaução, pois
não queria que ela se chateasse com ele
novamente.
A dada altura, Fernanda começou
a escrever-se com um rapaz chamado
José, até que António descobre e
decide agir para não perder a sua
amada.
Primeiro decidiu tirar a história a
limpo, ou seja, saber se ela se escrevia
com o tal rapaz, ao que Fernanda
respondeu que não.
No entanto, um certo dia, António
e um grupo de rapazes, um deles era
irmão de José, foram abrir covas
para plantar eucaliptos e Fernanda
passando por lá disse para o irmão
de José:
- Pouca conversa é o que se quer!
Já no eucaliptal, os rapazes começaram
a chacotear com António por
causa de Fernanda e este só pensava
como havia de resolver a situação.
Por isso, mais tarde perguntou a
Fernanda qual o significado das
palavras que trocou com o irmão de
José. Ela admirada, perguntou:
- Tu ouviste?
- Sim ouvi – respondeu António.
- A verdade é que o José ainda
me escreve e escreveu-me quatro cartas
– disse, mostrando as cartas
a António. Este com perspicácia
decidiu colocar a sua rubrica, disfarçadamente,
nas entrelinhas das
quatro cartas, sem que Fernanda se
apercebesse.
No dia 2 de Fevereiro, que antigamente
era dia santo, em homenagem
à Nossa Senhora das Candeias,
António encontrou-se casualmente com
José e disse-lhe:
- Vens ver a Fernanda?
José fez-se de desinteressado e disse que
Fernanda era mulher para António e
não para ele.
- Mas tu tens-lhe escrito cartas – disse
António a provocá-lo. E acrescentou:
Mas eu é que as li e fiz uma rubrica,
pergunta-lhe.
Quando soube de tal, José ficou admirado
e mesmo sem graça, mas para não
dar parte de fraco disse:
- Sexta-feira, vou embora para o
quartel, tenho combinado encontro com
ela e vou tirar essa história a limpo.
08 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
António, que não era parvo nenhum, não deixou
que isso acontecesse, ou seja, José não conseguiu falar
com Fernanda, por isso tentou por outros meios,
concretamente, através de uma amiga que a fizesse
sair de casa, mas Fernanda não foi em cantigas.
Como não havia conseguido falar com Fernanda,
passado dois dias, José escreveu-lhe uma outra
carta, para lhe pedir explicações acerca das cartas e
da história que António lhe tinha contado.
Foi quando, Fernanda soube que António tinha
rubricado as suas cartas.
Assim, mal teve oportunidade, perguntou-lhe o
que tinha feito com as cartas.
- Eu não fiz nada. As cartas estão inteiras –
respondeu António.
- Mas tu rubricaste as cartas que eu já vi – atirou
Fernanda.
Foi então que António disse que queria que o
namoro fosse a sério. Esta ficou de lhe dar a resposta
passados uns dias. A resposta de Fernanda foi
afirmativa e foi assim que, em meados de Março
de 1948, começou a sério o namoro de António
e Fernanda.
No dia 18 de Abril de 1948 António foi
à revista da caderneta e encontrou Fernanda
na Várzea e ela disse-lhe que o seu pai,
Domingos Soares das Neves, que morava
em Lisboa, estava em Angeja de visita, para
conhecer o namorado da filha.
Fernanda disse-lhe que não queria que o
encontro com o seu pai fosse em sua casa, nem
queria que António falasse à frente de ninguém.
O jovem António ficou completamente
embaraçado, porque não conhecia o pai da sua
namorada, mas acedeu quando Fernanda lhe
disse que iam levar o pai à estação de Cacia,
para a viagem de regresso a Lisboa, e lhe disse
para aparecer.
Quando foram levar o pai à estação, foi também
como espiã, uma tia de Fernanda, que
inibia qualquer tipo de conversa entre António
e o pai de Fernanda, pois seguia todos os seus
passos.
Até que um deles teve a ideia de ir à casa de
banho, acabaram por ir os dois e António
aproveitou a oportunidade para finalmente conversar
com o pai de Fernanda, manifestando
as suas sérias intenções para com a filha.
O pai de Fernanda não se opôs à relação de
ambos, mas estabeleceu algumas regras, ou seja,
queria que António respeitasse Fernanda
até ao casamento e em troca ofereceu algumas
regalias, entre elas, um emprego na Carris.
Um Amor Eterno 09
UM AMOR ETERNO
Entretanto o pai de Fernanda foi
embora e os dois apaixonados finalmente tiveram
luz verde para idealizar e fazer projectos
para a sua vida em comum. Porém, o pai de
Fernanda tinha deixado recomendações para
que a data de casamento fosse avaliada por ele,
para que ele pudesse estar presente. Fernanda
questionou ainda o pai acerca de convidar a mãe
para o casamento. Ele respondeu:
- Convida-a! É a tua mãe! Não tens
outra.
Domingos estabeleceu duas datas para o casamento
de Fernanda e António, em função da
sua disponibilidade, concretamente, o dia 18 e
o dia 25 de Setembro.
Finalmente, o dia do casamento chegou, o dia
25 de Setembro de 1948. Fernanda estava
com um belo fato cor de tijolo e António vestia
um fato preto com uma gravata cor de pombo.
Foi um dos dias mais importantes das suas
vidas. Contudo se Fernanda se alegrou pela
presença da sua mãe, não podia estar mais triste
com a ausência do seu pai, madrasta e irmã.
A causa destas ausências foi a madrasta de
Fernanda não gostava dela, ou seja, não
a via com bons olhos, uma vez que ela era
filha de outra relação de Domingos, mas
a verdade é que a menina já tinha 10 anos
quando Domingos conheceu Alda.
Depois do casamento foram a Lisboa para
inscrever António na Carris. Como
tinham a promessa de Domingos de ir viver
para Lisboa António ficou a viver na casa
dos pais e Fernanda na casa dos avós.
Porém, Fernanda que ainda estava na
casa dos avós, engravidou do seu primeiro
filho, ao qual deu o nome do seu pai,
Domingos.
A verdade é que era tão maltratada que até
tinha que tinha que comprar o leite fora para
alimentar o seu filho, apesar da casa dos seus
avós ser farta em leite.
Face a esta situação de maus tratos e despreocupação
por parte dos avós de Fernanda,
o casal decidiu alugar uma casa e
finalmente viverem juntos.
10 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
A vida de casados
Passado algum tempo, António
recebeu a demanda para se apresentar na
Carris para prestar provas. Na altura, fez
dois exames rigorosos de instrução. Num
total de 74 rapazes, apenas 14 ficaram
aprovados n o primeiro exame. Na segunda
prova, apenas um aluno reprovou.
Como António passou com distinção nos
dois exames, a madrasta de Fernanda fez
os possíveis e os impossíveis na junta médica,
para que António não conseguisse o emprego
na Carris, o que resultou na sua reprovação.
Apesar disto e numa tentativa de humilhar
ainda mais António, Alda voltou a
inscrevê-lo na Carris, quando sabia perfeitamente
que tal já não era possível. Sendo
assim, António continuou a trabalhar na
agricultura à jorna e Fernanda começou a
criar uma vaca.
Em 1951, nasceu o segundo filho do casal,
desta feita uma menina a quem chamaram
Maria. Mais uma alegria para a sua casa,
mas também mais uma boca para alimentar.
Como o trabalho no campo não era muito
rentável, António decidiu fazer um pedido
para ingressar na Fábrica de Papel –
Celulose. A sua entrada deu-se em 17 de
Agosto de 1953, como servente de cargas
e descargas, mas rapidamente foi promovido
a servente fabril, ajudante e, mais tarde, a
assistente.
Nesta altura, António tinha 29 anos e
apesar de conseguir o emprego na Celulose,
continuou também a trabalhar no campo,
mas por sua conta, juntamente com Fernanda.
A sua entrada para a Celulose
coincide também com a gravidez de Fernanda
do terceiro filho, que por sinal foi uma
menina, Capitolina, que nasceu a 17 de
Março de 1954.
Maria Domingos Capitolina
Um Amor Eterno 11
UM AMOR ETERNO
Maria e Alberto
Em 1956, António e Fernanda
compraram uma casa na Rua da Agra, em
Angeja. Ela custava 40 contos naquela altura,
e António pediu emprestados 39 contos, porque só
tinha mil escudos.
As suas vidas assim continuaram com felicidade,
alegria, mas também muito trabalho.
Entretanto, António vai trabalhar para a Celulose
de Cacia, empresa que na altura empregava
cerca de 1800 funcionários, e simultaneamente não
descurava das suas terras e cultivos.
Após 10 anos de trabalho na Celulose, António
foi convidado para fazer o arranque da fábrica em
Setúbal, convite que aceitou com satisfação. Assim,
em 1964, juntamente com mais 14 operários,
António foi Para Setúbal, como operador de
crivagem, para fazer o arranque da fábrica de
celulose naquela localidade, sabendo no entanto que
Fernanda estava à altura de tratar de tudo o que
fosse necessário, quer no que diz respeito aos seus filhos,
quer à pequena agricultura que tinham na altura.
António e Fernanda com o primeiro neto
Nove anos depois, em 1973, António foi convocado
para fazer parte da equipa de arranque da
unidade fabril em Navia, em Espanha, altura
que coincide com o nascimento do seu primeiro
neto, Paulo, em 2 de Agosto de 1973, filho de
Maria e Alberto, que entretanto haviam casado
e estado durante um largo período em Angola.
O regresso de António a Portugal dá-se em
Março de 1974, continuando a trabalhar na
unidade fabril em Cacia até 1985, já como
operador principal.
Neste período de 1974 a 1985, casaram-se
Domingos e Fátima e nasceram os restantes netos
de António e Fernanda: António em 23 de
Setembro 1975, Márcia em 13 de Fevereiro
de 1979 e Vera em 26 de Julho de 1981.
Neste período, também Capitolina (Lina),
filha mais nova de António e Fernanda, se casou
com um rapaz chamado António.
12 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Mas nem tudo, foi alegria, isto porque em 1975,
foi diagnosticado a Fernanda uma doença na
tiróide. Após vários exames, aconselharam-na
a ser operada, o que aconteceu no IPO em
Coimbra, e neste procedimento cirúrgico retiraram-lhe
a tiróide e deixaram-lhe as cordas vocais
fechadas, dificultando-lhe a respiração. E numa
dessas crises de falta de ar, Fernanda foi levada
de urgência para o hospital de Aveiro, onde lhe foi
realizada uma traqueotomia pelo Dr. Fernando
Rodrigues. Nos seis anos seguintes, Fernanda
teve que andar com uma cânula.
Posteriormente, foi operada às cordas vocais, retiraram-lhe
a cânula, tendo ficado com a voz extremamente
rouca, contudo os médicos tinham colocado a
hipótese de Fernanda não voltar a falar, por isso a sua
recuperação foi uma grande vitória.
Após a saída de António da Portucel, em 1985,
continuou, juntamente com Fernanda, a trabalhar
na agricultura, nas poucas terras que tinha, tratando
das vinhas e do cultivo de arroz, batatas e trigo. Para
tal, adquiriram um motocultivador. E a dada altura,
Fernanda deixou de poder trabalhar nas terras, devido
aos seus problemas de saúde.
Fátima e Domingos com o primeiro filho
O casamento de Lina e António
Um Amor Eterno 13
UM AMOR ETERNO
14 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
António rodeado pelo seus netos Paulo e António
Márcia
Vera
Um Amor Eterno 15
UM AMOR ETERNO
Férias na Torreira
Uma das muitas lembranças de António
e Fernanda passa também pelas férias na
Torreira em Setembro, onde Fernanda se sentia
bem e cujo clima e ar eram importantes para a sua
recuperação. Mas por outro lado, para a Torreira,
iam também os seus netos e, posteriormente, a Ana
Miguel, uma sobrinha de António que, tanto ele
como Fernanda, ajudaram a criar. Setembro
era sinónimo de avós e netos , de família, de dias
na praia até ao pôr do sol, dos banhos de mar,
de brincadeiras e claro das festas em honra de S,
Paio, uma romaria muito conhecida que junta na
Torreira pessoas vindas de vários pontos do país.
Para António e Fernanda, o domingo da festa
era sempre especial, pois aguardavam com carinho
a chegada dos filhos para todos juntos se sentarem à
mesa e se deliciarem com os petiscos cozinhados pela
matriarca. Foram anos e anos de férias na praia
com os avós que nos enchiam de mimos, muitos jogos
de sueca, muitos passeios pela ria, muito carinho,
amor e partilha. Grande recordações se escondem
por entre cada grão de areia, por cada casa por
onde passámos e por cada espaço que visitámos. Essa
memória perdurará para sempre!
16 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Setembro era sinónimo de férias na Torreira
Um Amor Eterno 17
UM AMOR ETERNO
18 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Na comemoração dos 50 anos de
casamento de António e Fernanda,
receberam um quadro com as fotos do
casal e dos três filhos!
Um Amor Eterno 19
UM AMOR ETERNO
Bodas de Amor
Foram-se os anos, ficaram os momentos,
as lembranças, ficou o mais importante, ficou
o amor. No início, a juventude, a paixão, o
desejo, o olhar que convida, o sorriso que aceita,
a boca que compactua e beija. O pacto de amar,
o enlace, a entrega, a confiança, o carinho, o
cuidado, o dia-a-dia, o casal, o lar doce lar, o
porto seguro.
Os filhos, bênçãos divinas, as obrigações, a recíproca
ajuda, a resignação, os problemas, a compreensão,
a família. E assim, lá se ia o tempo e
até o tempo muitas vezes parou, para dedicar os
seus aplausos a esta sólida história de amor.
Viveram sempre os dois, claro, mas, era tão
uniforme a convivência, que num gesto simples,
num terno olhar, no próprio ato de silenciar, eles
se entendiam, e diziam tudo um ao outro.
E o tempo... Ah! O tempo continuou a passar,
nunca parou, mesmo fascinado que era com
o casal, fez de tudo para testemunhar essa linda
festa, uma marca infelizmente pouco atingida
pela maioria.
Em 1998, foi uma marca importante na vida de António e Fernanda,
pois fizeram 50 anos de casados, 50 anos de vida em comum, feita de
altos e baixos, mas sobretudo de muito amor, respeito, carinho e amizade!
20 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Mas, a António e Fernanda, foi
permitido sim, junto à sua família e sinceros
amigos, para erguerem um brinde
para consolidou uma linda história de
amor, que foi preenchida por união,
carinho, cuidado, cumplicidade e um
grande companheirismo.
A este momento todos chamam de
“Bodas de Ouro”, eu prefiro dizer que
essas foram as suas “Bodas de Amor”.
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UM AMOR ETERNO
22 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Fernanda e António sempre com grande cumplicidade
António e Magda com os filhos Núria e Pedro
Paulo e Bárbara com o filho Gonçalo
Um Amor Eterno 23
UM AMOR ETERNO
Vera
Márcia
24 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
O entardecer da vida
Em 2002, António e Fernanda
foram apanhados numa grande tristeza, quando
António teve um AVC – Acidente Vascular
Cerebral, não conseguindo mexer o braço direito e
a perna direita, deixando Fernanda muito triste e
preocupada com o futuro.
António esteve algum tempo hospitalizado, frequentou
a fisioterapia e conseguiu recuperar os movimentos
da sua mão, contudo e apesar de alguma recuperação,
os movimentos da sua perna direita nunca mais
foram os mesmos.Com este problema, aos 78 anos,
António deixou de poder trabalhar nas terras, por
isso vendeu o motocultivador e a começou a dedicar-se
ao artesanato, a empalhar garrafas, fazer bancos,
bases para os tachos e muitas outras coisas.
Fernanda, por sua vez, adorava fazer renda, mas
era uma mulher prendada, sabia fazer imensas
coisas.
A viverem os dois na sua casa e com as maleitas
normais da idade, a dada altura, António e
Fernanda decidem ir para o Centro de Dia de
Angeja, onde foram muito bem recebidos e muito
bem tratados pelas colaboradoras, auxiliares e o
próprio convívio com os outros idosos tornou-se para
eles uma grande alegria e era com grande satisfação
que iam para o centro de dia todos os dias.
Um Amor Eterno 25
UM AMOR ETERNO
António e Fernanda partiram da vida dos seus filhos, netos e bisnetos,
da sua família e amigos, mas a sua memória permanecerá viva para
sempre no coração daqueles que os amaram.
Acreditamos que estão novamente juntos e felizes,,,
Sempre a olhar por nós...
26 Um Amor Eterno
UM AMOR ETERNO
Um Amor Eterno 27