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Fundamentos de Engenharia Aeronáutica - Volume único

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LUIZ EDUARDO MIRANDA JOSÉ RODRIGUES

FUNDAMENTOS DA ENGENHARIA AERONÁUTICA

APLICAÇÕES AO PROJETO SAE-AERODESIGN

Volume Único

1ª edição

São Paulo

Edição do Autor

2011


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FUNDAMENTOS DA

ENGENHARIA AERONÁUTICA

Aplicações ao Projeto SAE – AeroDesign

LUIZ EDUARDO MIRANDA J. RODRIGUES

Volume Único


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FUNDAMENTOS DA

ENGENHARIA AERONÁUTICA

Aplicações ao Projeto SAE – AeroDesign

Volume Único

LUIZ EDUARDO MIRANDA J. RODRIGUES


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Rodrigues, Luiz Eduardo Miranda. J.

Fundamentos da Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Volume Único

1. ed rev. – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, São Paulo,

2011.


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Ao Estudante

Que a presente obra represente um estímulo a todos os estudantes que admiram a engenharia

aeronáutica e buscam o entendimento dessa ciência que desperta o interesse e a curiosidade

das pessoas e sirva como referência básica para o desenvolvimento e projeto de aeronaves

destinadas a participar da competição SAE-AeroDesign.


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SOBRE O AUTOR

O professor Luiz Eduardo Miranda J. Rodrigues é formado em

Engenharia Mecânica com ênfase Automobilística pelo Centro

Universitário da FEI em 1997, é Mestre em Ciência na área de

Dinâmica de Sistemas Aeroespaciais e Mecatrônica pelo Instituto

Tecnológico de Aeronáutica – ITA, concluído em 2001.

Atualmente é professor do quadro permanente do Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus Salto,

ministrando aulas nas disciplinas de Mecânica dos Fluidos,

Estática dos Sólidos e Resistência dos Materiais.

No AeroDesign trabalhou como orientador das equipes Ícaro, Pegasus e Fly Girls da

Universidade Nove de Julho nos anos de 2005, 2006 e 2007 sempre obtendo excelentes

resultados na competição.

Desde 2009, orienta a equipe Taperá do Instituto Federal de São Paulo na competição SAE-

AeroDesign.


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AGRADECIMENTOS

Foram muitas as pessoas que contribuíram significativamente para o desenvolvimento desse

trabalho, não pretendo ser injusto me esquecendo de ninguém.

Meu eterno agradecimento aos professores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica em

especial ao Prof. Dr. Donizeti de Andrade que me presenteou ao longo de minha formação

acadêmica com uma imensurável quantia de conhecimento na área aeronáutica.

Aos amigos Prof. MSc. Washington Humberto de Moura e Prof. MSc. Jan Novaes Recicar,

coordenadores dos cursos de Engenharia de Produção Mecânica e Engenharia Elétrica da

Universidade Nove de Julho, que acompanharam o desenvolvimento desse trabalho desde seu

inicio contribuindo com muitas idéias que agregaram muito valor a cada capítulo do livro.

Agradeço aos amigos da comissão organizadora do AeroDesign Eng. André Van de Schepop

e Eng. André Luis Garcia Soresini que torceram muito para que esta obra fosse concluída.

Meu eterno agradecimento para a Engª Letícia Aparecida Caride Amaral que foi o ponto de

partida para o inicio desse trabalho me incentivando a escrever um livro sobre o AeroDesign.

A todos os integrantes das Equipes Ícaro, Pegasus e Fly Girls da Universidade Nove de Julho

em especial aos capitães Engª Cristiane Corrêa de Lima, Eng Álvaro José de Mauro e ao

estudante Ayris Correia por proporcionarem momentos maravilhosos durante os anos em que

os orientei.

Aos alunos da equipe Taperá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São

Paulo, por acreditarem na realização do trabalho e por já contribuírem para a conclusão dessa

obra.

Aos meus familiares, em especial para minha mãe Maria Bernadete Miranda e para minha

noiva Dailene Felix, as duas razões da minha vida, que sempre apoiaram as loucuras que já fiz

pelo AeroDesign e por meus alunos.

Enfim, fica meu agradecimento a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a

conclusão deste trabalho.


"Os pássaros devem experimentar a mesma sensação, quando distendem suas longas asas e

seu vôo fecha o céu... Ninguém, antes de mim, fizera igual."

Alberto Santos Dumont

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SUMÁRIO

Capítulo 1- Conceitos Fundamentais

Capítulo 2 – Fundamentos de Aerodinâmica

Capítulo 3 – Grupo Moto-Propulsor

Capítulo 4 - Análise de Desempenho

Capítulo 5 - Análise de Estabilidade Estática

Capítulo 6 - Análise Estrutural

Capítulo 7 - Metodologia de Projeto

Capítulo 8 - Relatório de Projeto


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CAPÍTULO 1

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1.1 - Introdução

Paris, França, 23 de outubro de 1906 em um dia de vento calmo no campo de

Bagatelle às 16 horas e 45 minutos de uma terça feira se concretizou através do brasileiro

Alberto Santos Dumont o sonho do homem poder voar. Este feito foi realizado diante do olhar

curioso de muitos expectadores, imprensa e pessoas influentes da época, que presenciaram o

primeiro vôo de uma aeronave mais pesada que o ar com propulsão mecânica. Este vôo foi

realizado por longos 60 metros a uma altura de 3 metros acima do solo, marcando

definitivamente na história que o homem era capaz de voar.

A máquina voadora responsável pela realização deste feito foi batizada de 14-Bis e

uma foto dessa conquista pode ser observada na Figura 1.1.

Figura 1.1 - Vista do vôo do 14-Bis em Paris.

Desde então, estudiosos, entusiastas e aficionados pelo sonho de voar trabalham

continuamente com o objetivo principal de aperfeiçoar as máquinas voadoras que tanto

intrigam a curiosidade das pessoas. Muitos avanços foram obtidos através de estudos que

resultaram em fantásticas melhorias aerodinâmicas e de desempenho das aeronaves,

propiciando o projeto e a construção de aviões capazes da realização de vôos

transcontinentais, aeronaves cuja velocidade ultrapassa a barreira do som e até a realização de

vôos espaciais. A Figura 1.2 mostra a aeronave Airbus A380, o maior avião de passageiros já

projetado, com capacidade que pode variar entre 555 a 845 passageiros, um caça supersônico

no instante em que rompe a barreira do som e o ônibus espacial utilizado pela NASA para

missões no espaço.


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Figura 1.2 – Evolução da indústria aeronáutica.

No Brasil, o estudo da engenharia aeronáutica sempre esteve impulsionado pelo desejo

de se repetir e aprimorar o feito realizado por Santos Dumont, e como forma de enriquecer um

pouco mais a história da aviação brasileira, a presente obra é destinada aos estudantes que

desejam obter conhecimentos fundamentais sobre essa ciência fantástica e que contagia a

todos que por ela navegam.

A falta da literatura aeronáutica em português representa o principal ponto norteador

para a execução do presente livro, onde todos os conceitos apresentados foram

minuciosamente avaliados tendo em vista a obtenção de resultados bastante confiáveis quando

da solução das equações propostas.

Todo conteúdo que será apresentado nos capítulos subseqüentes tem como objetivo a

aplicação no projeto SAE-AeroDesign, competição de reconhecimento internacional

destinada a incentivar estudantes de engenharia, física ou ciências aeronáuticas a projetar,

construir e fazer voar uma aeronave rádio-controlada capaz de carregar em um compartimento

de dimensões pré-definidas a maior carga útil possível.

A didática utilizada para a aplicação da teoria apresentada e para a solução do

equacionamento proposto é conduzida de forma que todos os pontos são explicados em

detalhes, encaminhando o leitor a um entendimento rápido e fácil de cada um dos tópicos

apresentados.

O conteúdo da obra mostra de maneira organizada e seqüencial todo o procedimento

necessário para o projeto de uma aeronave competitiva e que possua condições de concorrer

no AeroDesign com excelentes qualidades de desempenho.

A Figura 1.3 mostra o exemplo de aeronaves destinadas a participar do AeroDesign.

Figura 1.3 – Exemplos de aeronaves destinadas a participar do AeroDesign.


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Espera-se que a partir da leitura desse livro, o estudante tenha sua curiosidade

despertada e se torne muito motivado para prosseguir em uma carreira dedicada a evolução da

indústria aeronáutica brasileira.

1.2 – Conteúdos abordados

O presente livro está dividido em oito capítulos didaticamente organizados como

forma de propiciar ao estudante uma seqüência lógica dos tópicos apresentados e tem como

objetivo fundamental incentivar a pesquisa e o desenvolvimento da engenharia aeronáutica

brasileira.

Muitos dos conceitos aqui apresentados podem ser encontrados com uma maior

riqueza de detalhes na grande diversidade de literatura existente ao redor do mundo, porém é

importante ressaltar que todo conteúdo apresentado neste livro é de grande valia para

iniciantes no estudo da engenharia aeronáutica.

No Capítulo 1 tem-se uma introdução aos principais componentes de um avião e

também são apresentadas as principais configurações, bem como as superfícies de comando e

os procedimentos necessários para a realização das manobras de vôo. Ao término da leitura

deste capítulo, espera-se que o leitor esteja familiarizado com os principais elementos que

formam a estrutura de um avião e também conheça a função primária das superfícies de

comando.

O Capítulo 2 apresenta muitos conceitos importantes para um correto projeto

aerodinâmico da aeronave, neste capítulo são apresentados os fundamentos sobre o projeto e

seleção de perfis aerodinâmicos, asas de dimensões finitas, distribuição de sustentação ao

longo da envergadura da asa, dimensionamento aerodinâmico da empenagen e determinação

da polar de arrasto de uma aeronave completa. A leitura deste capítulo permite ao estudante

obter um conhecimento básico sobre as necessidades aerodinâmicas mais importantes a serem

estudadas durante a realização do projeto de uma nova aeronave.

O Capítulo 3 é dedicado ao estudo do grupo moto-propulsor, sendo apresentado em

detalhes os motores sugeridos pelo regulamento da competição AeroDesign, bem como são

apresentadas as principais configurações de montagem do motor na fuselagem. Neste capítulo

também é dedicado um tópico para o estudo de hélices, onde é apresentada uma teoria básica

e utilizada uma formulação matemática para um modelo propulsivo que permite estimar de

forma aproximada quais serão os valores da tração disponível em função da velocidade de

vôo para as hélices mais usuais utilizadas no AeroDesign, o capítulo também apresenta as

curvas de eficiência dessas hélices e deixa algumas sugestões para a realização de ensaios

estáticos e dinâmicos que proporcionem uma escolha adequada para a melhor hélice a ser

utilizada no projeto.

O Capítulo 4 mostra em detalhes como realizar uma completa análise de desempenho

da aeronave com a apresentação de tópicos como a determinação das curvas de tração e

potência disponível e requerida, a influência da altitude nessas curvas, o desempenho de

subida e planeio da aeronave, análise das características de decolagem e pouso, o traçado do

diagrama v-n, a determinação do raio de curvatura mínimo, o traçado do envelope de vôo da

aeronave com o cálculo do respectivo teto absoluto de vôo, o cálculo do tempo estimado para

a aeronave completar a missão, além de ter um destaque especial para a determinação e o

traçado do gráfico de carga útil em função da altitude densidade. O estudo desse capítulo é de

muita importância para se avaliar com confiabilidade as características de desempenho da

aeronave.

O Capítulo 5 é dedicado ao estudo dos critérios de estabilidade estática da aeronave,

onde são apresentadas as informações e formulações necessárias para a determinação do

centro de gravidade da aeronave, são avaliados os critérios necessários para se garantir a


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estabilidade longitudinal estática, a determinação do ponto neutro e da margem

estática, determinação do ângulo de trimagem para se garantir a estabilidade longitudinal,

bem como são apresentados modelos matemáticos que podem ser utilizados para um estudo

dos critérios de estabilidade lateral e direcional. Este é considerado um dos capítulos mais

complexos, pois muitos dados empíricos são utilizados, e, portanto, o cálculo realizado deve

ser muito bem feito para que não ocorram erros de projeto.

O capítulo 6 destina-se ao dimensionamento estrutural da aeronave sendo apresentados

em detalhes os critérios utilizados para a realização de uma análise estrutural das asas, da

empenagem, da fuselagem, do trem de pouso e das superfícies de comando. Também neste

capítulo são apresentados os principais materiais que podem ser utilizados para a construção

de uma aeronave destinada a participar do AeroDesign com suas respectivas propriedades

mecânicas.

Como forma de se aplicar todos os conceitos estudados, o Capítulo 7 mostra em

detalhes todo o cálculo que deve ser realizado para o projeto de uma aeronave destinada a

participar do AeroDesign com as devidas justificativas e fundamentação técnica.

Por fim, o Capítulo 8 apresenta um modelo de relatório de projeto desenvolvido pelos

alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus Salto,

tendo como objetivo mostrar como a equipe deve proceder para a realização de um relatório

técnico consistente e fundamentado tecnicamente, explicando em detalhes todo o

desenvolvimento realizado para a concretização de um projeto competitivo.

1.3 – Definições e componentes principais de um avião

Um avião é definido como uma aeronave de asa fixa mais pesada que o ar, movida por

propulsão mecânica, que é mantido em condição de vôo devido à reação dinâmica do ar que

escoa através de suas asas.

Os aviões são projetados para uma grande variedade de propostas, porém todos eles

possuem os mesmos componentes principais. As características operacionais e as dimensões

são determinadas pelos objetivos desejados pelo projeto. A maioria das estruturas dos aviões

possuem uma fuselagem, asas, uma empenagem, trem de pouso e o grupo moto-propulsor. A

Figura 1.4 mostra os componentes principais de uma aeronave.

Figura 1.4 – Componentes principais de um avião.


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1.3.1 - Fuselagem

A fuselagem inclui a cabine de comandos, que contém os assentos para seus ocupantes

e os controles de vôo da aeronave, também possui o compartimento de carga e os vínculos de

fixação para outros componentes principais do avião. A fuselagem basicamente pode ser

construída de três formas diferentes: treliçada, monocoque ou semi-monocoque.

Estrutura treliçada: A estrutura em forma de treliça para a fuselagem é utilizada em

algumas aeronaves. A resistência e a rigidez desse tipo de estrutura é obtida através da junção

das barras em uma série de modelos triangulares.

Estrutura monocoque: Na estrutura monocoque o formato aerodinâmico é dado pelas

cavernas. As cargas atuantes em vôo são suportadas por essas cavernas e também pelo

revestimento. Por esse motivo este tipo de fuselagem deve ser revestida por um material

resistente aos esforços atuantes durante o vôo.

Estrutura semi-monocoque: Nesse tipo de estrutura, os esforços são suportados pelas

cavernas e/ou anteparos, revestimento e longarinas. A Figura 1.5 mostra os modelos de

fuselagem descritos.

Figura 1.5 – Exemplos das formas construtivas das estruturas da fuselagem.

1.3.2 - Asas

As asas são superfícies sustentadoras unidas a cada lado da fuselagem e representam

os componentes fundamentais que suportam o avião no vôo. Para as asas, existem numerosos

projetos, tamanhos e formas usadas pelos vários fabricantes. Cada modelo é produzido para

atender as necessidades de desempenho previsto para o avião desejado. A maneira como as

asas produzem a força de sustentação necessária ao vôo será explicada no Capítulo 2 do

presente livro. As asas podem ser classificadas quanto a sua fixação na fuselagem em alta,

média ou baixa. O número de asas também pode variar, aviões com um único par de asas são

classificados como monoplanos, quando possuírem dois pares de asas são classificados como

biplanos. A Figura 1.6 mostra exemplos das aeronaves monoplano e biplano.

(a) Monoplano

(b) Biplano

Figura 1.6 – Exemplo de aeronaves monoplano e biplano.


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Estrutura das asas: Para o caso de uma estrutura coberta com tela os principais

elementos estruturais de uma asa são as nervuras, a longarina, o bordo de ataque e o bordo de

fuga.

Nervuras: As nervuras dão a forma aerodinâmica à asa e transmitem os esforços do

revestimento para a longarina.

Longarina: A longarina é o principal componente estrutural da asa, uma vez que é

dimensionada para suportar os esforços de cisalhamento, flexão e torção oriundos das cargas

aerodinâmicas atuantes durante o vôo.

Bordo de ataque e bordo de fuga: O bordo de ataque representa a parte dianteira da

asa e o bordo de fuga representa a parte traseira da asa e serve como berço para o alojamento

dos ailerons e dos flapes. A Figura 1.7 mostra os principais elementos estruturais de uma asa.

Figura 1.7 – Elementos estruturais de uma asa.

Forma geométrica das asas: quanto a sua geometria, as asas podem possuir uma

grande diversidade de formas, que variam de acordo com os requisitos do projeto. Os

formatos mais comuns são retangular, trapezoidal e elíptica.

Asa retangular: é uma asa de baixa eficiência aerodinâmica, ou seja, a relação entre a

força de sustentação e a força de arrasto (L/D) é menor quando comparada a uma asa

trapezoidal ou elíptica, isto ocorre devido ao arrasto de ponta de asa também conhecido por

arrasto induzido, que no caso da asa retangular é maior que em uma asa trapezoidal ou

elíptica. O arrasto induzido e sua formulação matemática serão discutidos posteriormente no

Capítulo 2 destinado à análise aerodinâmica da aeronave.

A vantagem da asa retangular é a sua maior facilidade de construção e um menor custo

de fabricação quando comparada as outras.

Asa trapezoidal: é uma asa de ótima eficiência aerodinâmica, pois com a redução

gradativa da corda entre a raiz e a ponta da asa consegue-se uma significativa redução do

arrasto induzido. Nesse tipo de asa o processo construtivo torna-se um pouco mais complexo

uma vez que a corda de cada nervura possui uma dimensão diferente.

Asa elíptica: representa a asa ideal, pois é a que proporciona a máxima eficiência

aerodinâmica, porém é de difícil fabricação e mais cara quando comparada às outras formas

apresentadas. A Figura 1.8 mostra as principais formas geométricas das asas.


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Figura 1.8 – Principais formas geométricas das asas.

Nomenclatura do perfil e da asa: a Figura 1.9 ilustra os principais elementos

geométricos que formam um perfil aerodinâmico e uma asa com envergadura finita.

Figura 1.9 – Nomenclatura fundamental do perfil e da asa.

Extradorso: representa a parte superior do perfil;

Intradorso: representa a parte inferior do perfil;

Corda: é a linha reta que une o bordo de ataque ao bordo de fuga do perfil aerodinâmico;

Envergadura: representa a distância entre a ponta das asas;

Área da asa: representa toda a área em planta, inclusive a porção compreendida pela

fuselagem.

Esta seção do presente capítulo mostrou de forma simples os principais tipos e as

características geométricas das asas, um estudo mais detalhado será realizado nos Capítulo 2,

onde serão apresentadas análises qualitativas e quantitativas sobre o desempenho dos perfis

aerodinâmicos e das asas de envergadura finita.

1.3.3 - Empenagem

A empenagem possui como função principal estabilizar e controlar o avião durante o

vôo. A empenagem é dividida em duas superfícies, a horizontal que contém o profundor e é

responsável pela estabilidade e controle longitudinal da aeronave e a vertical que é

responsável pela estabilidade e controle direcional da aeronave. A Figura 1.10 mostra uma

empenagem convencional e seus principais componentes.


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Figura 1.10 – Modelo de empenagem convencional.

Superfície horizontal: é formada pelo estabilizador horizontal (parte fixa) e pelo

profundor (parte móvel), algumas aeronaves também possuem os compensadores com a

finalidade de reduzir os esforços de pilotagem e em alguns casos o estabilizador e o profundor

constituem-se de uma única peça completamente móvel. A superfície horizontal é responsável

pelos movimentos de arfagem (levantar e baixar o nariz) da aeronave.

Superfície vertical: é formada pelo estabilizador vertical (parte fixa) e pelo leme de

direção (parte móvel), essa superfície é responsável pelos movimentos de guinada

(deslocamento do nariz para a direita ou para a esquerda) da aeronave.

O dimensionamento correto da empenagem é algo de muita importância a fim de se

garantir estabilidade e controlabilidade à aeronave, dessa forma um capítulo inteiro do

presente livro será destinado aos critérios de estabilidade, controle, peso e balanceamento da

aeronave.

1.3.4 – Trem de pouso

As funções principais do trem de pouso são apoiar o avião no solo e manobrá-lo

durante os processos de taxiamento, decolagem e pouso. Na maioria das aeronaves o trem de

pouso utilizado possui rodas, porém existem casos onde são utilizados flutuadores em

hidroaviões e esquis para operação em neve. O trem de pouso pode ser classificado

basicamente em duas categorias de acordo com a disposição das rodas em triciclo ou

convencional.

O trem de pouso triciclo é aquele no qual existem duas rodas principais ou trem

principal geralmente localizado embaixo das asas e uma roda frontal ou trem do nariz.

O trem de pouso convencional é formado por um trem principal e uma bequilha

geralmente localizada no final do cone de cauda.

Atualmente a grande maioria das aeronaves possui trem de pouso modelo triciclo, pois

esta configuração melhora sensivelmente o controle e a estabilidade da aeronave no solo além

de permitir melhores características de desempenho durante a decolagem. A Figura 1.11

mostra os modelos dos trens de pouso comentados.

Figura 1.11 – Trem de pouso triciclo e convencional.


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1.3.5 – Grupo moto-populsor

O grupo moto-propulsor é formado pelo conjunto motor e hélice. A função primária

do motor é fornecer a potência necessária para colocar a hélice em movimento de rotação, e,

uma vez obtido esse movimento, a hélice possui a função de gerar tração para impulsionar o

avião.

As aeronaves podem ser classificadas em monomotores, bimotores e multimotores, de

acordo com o número de motores existentes na estrutura.

Os principais componentes necessários para a montagem do grupo moto-propulsor são

o motor, a hélice, a carenagem, o spinner e a parede de fogo que recebe o berço para o

alojamento do motor.

A Figura 1.12 ilustra o grupo moto-propulsor em uma montagem convencional.

Figura 1.12 – Grupo moto-propulsor.

1.4 – Sistema de coordenadas usado na indústria aeronáutica

De forma a se entender todos os referenciais de movimento e direção de uma aeronave

é necessário se estabelecer um sistema de coordenadas cartesianas tridimensional. Este

sistema de coordenadas serve de base para se avaliar os movimentos da aeronave no espaço

tridimensional. O sistema de coordenadas apresentado na Figura 1.13 é o padrão utilizado na

indústria aeronáutica e possui sua origem no centróide da aeronave. Os três eixos de

coordenadas se interceptam no centróide formando ângulos de 90° entre si. O eixo

longitudinal é posicionado ao longo da fuselagem da cauda para o nariz do avião. O eixo

lateral se estende através do eixo da asa orientado da direita para a esquerda a partir de uma

vista frontal da aeronave e o eixo vertical é desenhado de forma que é orientado de cima para

baixo.

Figura 1.13 – Eixos de coordenadas de uma aeronave.


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Movimentos da aeronave: durante o vôo uma aeronave pode realizar seis tipos de

movimento em relação aos três eixos de referência, ou seja, um avião pode ser modelado

como um sistema de seis graus de liberdade. Dos movimentos possíveis de uma aeronave, três

são lineares e três são movimentos de rotação. Os movimentos lineares ou de translação são

os seguintes: (a) para frente e para trás ao longo do eixo longitudinal, (b) para a esquerda e

para a direita ao longo do eixo lateral e (c) para cima e para baixo ao longo do eixo vertical.

Os outros três movimentos são rotacionais ao redor dos eixos longitudinal (movimento de

rolamento), lateral (movimento de arfagem) e vertical (movimento de guinada).

1.5 - Superfícies de controle

Um avião possui três superfícies de controle fundamentais que são os ailerons

responsáveis pelo movimento de rolamento, o profundor responsável pelo movimento de

arfagem e o leme de direção responsável pelo movimento de guinada, a Figura 1.14 mostra

uma aeronave convencional e suas principais superfícies de controle.

Figura 1.14 – superfícies de controle de uma aeronave.

Ailerons: Os ailerons são estruturas móveis localizadas no bordo de fuga e nas

extremidades das asas, quando um comando é aplicado para a direita, por exemplo, o aileron

localizado na asa direita é defletido para cima e o aileron da asa esquerda é defletido para

baixo fazendo com que a aeronave execute uma manobra de rolamento para a direita. Isto

ocorre, pois o aileron que é defletido para baixo provoca um aumento de arqueamento do

perfil e conseqüentemente mais sustentação é gerada, no aileron que é defletido para cima

ocorre uma redução do arqueamento do perfil da asa e uma redução da sustentação gerada e

dessa forma o desequilíbrio das forças em cada asa faz com que a aeronave execute o

movimento de rolamento ao redor do eixo longitudinal. Do mesmo modo, um comando

aplicado para a esquerda inverte a deflexão dos ailerons e o rolamento se dá para a esquerda.

As Figuras 1.15 e 1.16 mostram os efeitos provocados pela deflexão dos ailerons em uma

aeronave.


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Figura 1.15 – Exemplo de funcionamento dos ailerons.

Figura 1.16 – Deflexão dos ailerons.

Profundor: O profundor atua com a finalidade de executar os movimentos de levantar

ou baixar o nariz da aeronave (movimento de arfagem em relação ao eixo lateral). Quando um

comando é aplicado para levantar o nariz, o bordo de fuga do profundor se deflete para cima e

devido ao aumento da força de sustentação para baixo cria-se um momento ao redor do centro

de gravidade da aeronave no sentido de levantar o nariz. Quando o comando aplicado é no

sentido de baixar o nariz, o bordo de fuga do profundor se deflete para baixo e o momento

gerado ao redor do centro de gravidade provoca o movimento de baixar o nariz. As Figuras

1.17 e 1.18 mostram a atuação do profundor e o conseqüente movimento de arfagem da

aeronave.

Figura 1.17 – Exemplo de deflexão do profundor.


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Figura 1.18 – Deflexão do profundor.

Leme de direção: O leme está localizado na superfície vertical da empenagem, mais

especificamente acoplado ao estabilizador vertical, sua função principal é permitir através de

sua deflexão que a aeronave execute o movimento de guinada ao redor do eixo vertical.

Quando um comando é aplicado para a direita, por exemplo, o leme se deflete para a direita e

devido ao acréscimo da força de sustentação na superfície vertical da empenagem, o nariz da

mesma se desloca no mesmo sentido do comando aplicado, ou seja, para a direita, essa

situação está ilustrada na Figura 1.19. No caso de um comando a esquerda, ocorre exatamente

o processo inverso e assim o nariz da aeronave se desloca para a esquerda como pode ser

observado na Figura 1.20.

Figura 1.19 – Exemplo de aplicação do leme de direção.

Figura 1.20 – Deflexão do leme de direção.


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1.6 – Aplicação dos conceitos fundamentais em uma aeronave destinada a participar da

competição SAE-AeroDesign

Os conceitos apresentados no presente capítulo são perfeitamente aplicáveis quando se

deseja elaborar uma nova aeronave com a intenção de participar da competição SAE-

AeroDesign, pois a grande maioria das aeronaves que participam do evento possuem uma

forma convencional em sua estrutura.

O ponto de partida para a criação de uma nova aeronave é a análise minuciosa do

regulamento da competição, avaliando seus pré-requisitos, dimensões mínimas e máximas da

aeronave e do compartimento de carga, além das condições requeridas para a decolagem e o

pouso. Uma vez conhecido esses requisitos, a equipe pode iniciar o desenvolvimento de suas

idéias e realizar um esboço preliminar da aeronave, nesta fase é importante ressaltar que não

existe a necessidade da realização de nenhum cálculo mais sofisticado de aerodinâmica,

desempenho, estabilidade ou estrutural, pois somente será definida qual a possível

configuração que atenderá o regulamento da competição.

É importante ressaltar que no presente capítulo apenas foram apresentados alguns

modelos mais comuns utilizados em aeronaves de pequeno porte, porém uma vasta gama de

modelos de asas, empenagens e fuselagens são aplicáveis em uma situação de execução de um

novo projeto aeronáutico, portanto, a criatividade de cada equipe e a dedicação à pesquisa

bibliográfica pode contribuir em muito para o desenvolvimento de novas formas estruturais

que futuramente poderão ser aplicáveis na indústria aeronáutica moderna.

Para a determinação da configuração inicial do projeto, a equipe deve definir alguns

pontos fundamentais de modo a atender os requisitos do regulamento. Esses pontos estão

listados a seguir:

a) Escolha da configuração da aeronave, convencional ou canard;

b) Escolha do modelo a ser empregado na construção da fuselagem, neste ponto é

importante que a equipe já se preocupe com as dimensões do compartimento de carga;

c) Determinação da forma geométrica da asa e suas dimensões principais a fim de

atender os limites do regulamento da competição;

d) Selecionar a posição da asa em relação à fuselagem e o número de asas, ou seja,

definir se a aeronave será de asa alta, média ou baixa, monoplano, biplano, etc,

tradicionalmente aeronaves de asa alta proporcionam uma melhor estabilidade durante o vôo

além de facilitar o processo de retirada de carga;

e) Escolher o tipo de trem de pouso a ser utilizado, triciclo ou convencional;

f) Selecionar o motor, uma vez que o regulamento geralmente permite a escolha entre

dois fabricantes diferentes, é importante lembrar que o motor é padrão para todas as equipes e

que o mesmo não pode ser modificado com o intuito de se melhorar o seu desempenho;

g) Indicar se o posicionamento do motor em relação à fuselagem será um uma

configuração “Tractor” (motor a frente da aeronave) ou “Pusher” (motor localizado na parte

traseira da aeronave);

h) Selecionar o modelo da empenagem;

i) Fazer um esboço inicial da aeronave com as principais dimensões indicadas.

Com a configuração básica definida, a equipe já possui uma idéia das necessidades

fundamentais para a realização do projeto. Esta primeira fase é definida na indústria

aeronáutica como projeto conceitual da aeronave. De modo a ilustrar a aplicação dos

conceitos fundamentais em uma aeronave destinada a participar da competição SAE-

AeroDesign as fotografias apresentadas a seguir mostram a aeronave da equipe Taperá do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus salto que

participou da competição em 2009.


Figura 1.21 – Aeronave da equipe Taperá competição SAE-AeroDesign 2009.

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CAPÍTULO 2

FUNDAMENTOS DE AERODINÂMICA

2.1 – Definição de aerodinâmica

A aerodinâmica é o estudo do movimento de fluidos gasosos, relativo às suas

propriedades e características, e às forças que exercem em corpos sólidos neles imersos. De

uma forma geral a aerodinâmica, como ciência específica, só passou a ganhar importância

industrial com o surgimento dos aviões e dos automóveis pois estes precisavam se locomover

tendo o menor atrito possível com o ar pois assim seriam mais rápidos e gastariam menos

combustível. O estudo de perfis aerodinâmicos, ou aerofólios, provocou um grande salto no

estudo da aerodinâmica. Neste início o desenvolvimento da aerodinâmica esteve intimamente

ligado ao desenvolvimento da hidrodinâmica que apresentava problemas similares, e com

algumas facilidades experimentais, uma vez que já havia tanques de água circulante na época

embora não houvesse túneis de vento.

O presente capítulo tem a finalidade de mostrar ao leitor uma série de aspectos físicos

inerentes a essa ciência que muito se faz presente durante todas as fases de projeto de um

novo avião. De uma forma geral, os conceitos apresentados abordarão de forma simples e

objetiva ferramentas úteis e muito aplicáveis para o projeto aerodinâmico de uma aeronave,

dentre essas ferramentas, o capítulo aborda os fundamentos da geração da força de

sustentação, características de um perfil aerodinâmico, características particulares do

escoamento sobre asas de dimensões finitas, força de arrasto em aeronaves e a teoria

simplificada para o projeto aerodinâmico de bi-planos.

Os conceitos apresentados neste capítulo podem ser completamente aplicáveis para o

propósito da competição SAE AeroDesign. Muitos exemplos palpáveis a essa competição são

apresentados no decorrer desse capítulo, permitindo que o estudante consiga visualizar o

fenômeno a aplicá-lo em um novo projeto destinado a participar do AeroDesign.

O estudo dos fenômenos que envolvem a aerodinâmica é de fundamental importância

para o projeto global da aeronave, pois muitos aspectos estudados para se definir a melhor

configuração aerodinâmica da aeronave serão amplamente utilizados para uma melhor análise

de desempenho e estabilidade da aeronave, bem como para o cálculo estrutural da mesma,

uma vez que existem muitas soluções de compromisso entre um bom projeto aerodinâmico e

um excelente projeto total da aeronave. A partir desse ponto, o estudante deve estar preparado

para se envolver com um grande “quebra cabeças” de otimizações como forma de realizar um

estudo completo e correto dos fenômenos que envolvem a aerodinâmica.

2.2 – A física da força de sustentação

A força de sustentação representa a maior qualidade que uma aeronave possui em

comparação com os outros tipos de veículos e define a habilidade de um avião se manter em

vôo. Basicamente, a força de sustentação é utilizada como forma de vencer o peso da

aeronave e assim garantir o vôo.

Alguns princípios físicos fundamentais podem ser aplicados para se compreender

como a força de sustentação é criada, dentre eles, podem-se citar principalmente a terceira lei

de Newton e o princípio de Bernoulli.


25

Quando uma asa se desloca através do ar, o escoamento se divide em uma parcela

direcionada para a parte superior e uma para a parte inferior da asa como mostra a Figura 2.1.

Figura 2.1 – Escoamento sobre uma asa.

Se existir um ângulo positivo entre a asa e a direção do escoamento, o ar é forçado a

mudar de direção, assim, a parcela de escoamento na parte inferior da asa é forçada para baixo

e em reação a essa mudança de direção do escoamento na parte inferior da asa, a mesma é

forçada para cima, ou seja, a asa aplica uma força para baixo no ar e o ar aplica na asa uma

força de mesma magnitude no sentido de empurrar a asa para cima. Essa criação da força de

sustentação pode ser explicada pela terceira lei de Newton, ou seja, para qualquer força de

ação aplicada existe uma reação de mesma intensidade, direção e sentido oposto.

O ângulo pelo qual o escoamento é defletido por uma superfície geradora de

sustentação é chamado de ângulo de ataque induzido “downwash angle”.

A criação da força de sustentação também pode ser explicada através da circulação do

escoamento ao redor do aerofólio. Para se entender essa definição, deve-se compreender o

principio de Bernoulli, que é definido da seguinte forma: "Se a velocidade de uma partícula de

um fluido aumenta enquanto ela escoa ao longo de uma linha de corrente, a pressão dinâmica

do fluido deve aumentar e vice-versa".

Esse conhecimento permite entender por que os aviões conseguem voar. Na parte

superior da asa a velocidade do ar é maior (as partículas percorrem uma distância maior no

mesmo intervalo de tempo quando comparadas à superfície inferior da asa), logo, a pressão

estática na superfície superior é menor do que na superfície inferior, o que acaba por criar

uma força de sustentação de baixo para cima.

O principio de Bernoulli pode ser matematicamente expresso pela Equação (2.1)

apresentada a seguir.

1

p e

+ ⋅ ρ

2

⋅ v = cte

(2.1)

2

onde, p e representa a pressão estática que o ar exerce sobre a superfície da asa, ρ é a

densidade do ar e v a velocidade do escoamento.

Tecnicamente, o principio de Bernoulli prediz que a energia total de uma partícula

deve ser constante em todos os pontos de um escoamento. Na Equação (2.1) o termo ½ ρv²

representa a pressão dinâmica associada com o movimento do ar. O termo pressão dinâmica

significa a pressão que será exercida por uma massa de ar em movimento que seja

repentinamente forçada a parar.


26

A forma mais apropriada de se visualizar os efeitos do escoamento e a pressão

aerodinâmica resultante é o estudo do escoamento em um tubo fechado denominado tubo de

Venturi como mostra a Figura 2.2.

Figura 2.2 – Estudo do escoamento em um tubo fechado.

A Figura 2.2 permite observar que na estação 1, o escoamento possui uma velocidade

v 1 e uma certa pressão estática p e1 . Quando o ar se aproxima da garganta do tubo de Venturi

representado pela estação 2 algumas mudanças ocorrerão no escoamento, ou seja, uma vez

que o fluxo de massa em qualquer posição ao longo do tubo deve permanecer constante, a

redução de área na seção transversal implica em um aumento na velocidade do fluido e

conseqüentemente um aumento da pressão dinâmica e uma redução da pressão estática,

portanto, na estação 2, o escoamento possui uma velocidade v 2 > v 1 e uma pressão estática p e2

< p e1 . Para a estação 3 o escoamento novamente volta a possuir uma velocidade v 3 = v 1 e uma

pressão estática p e3 = p e1 .

O que se pode perceber da análise realizada é que a pressão estática tende a se reduzir

conforme a velocidade do escoamento aumenta, e assim, em um perfil aerodinâmico, a

aplicação do princípio de Bernoulli permite observar que ocorre um aumento da velocidade

das partículas de ar do escoamento que passam sobre o perfil, provocando desse modo uma

redução da pressão estática e um aumento na pressão dinâmica. Para o caso de um perfil

inclinado de um ângulo positivo em relação à direção do escoamento, as partículas de ar terão

uma maior velocidade na superfície superior do perfil quando comparadas a superfície

inferior, desse modo, a diferença de pressão estática existente entre a superfície superior e

inferior será a responsável pela criação da força de sustentação. Essa situação está apresentada

na Figura 2.3.

Figura 2.3 – Variação de velocidade sobre as superfícies superior e inferior de um perfil.


27

A diferença de pressão criada entre a superfície superior e inferior de uma asa

geralmente é muito pequena, porém essa pequena diferença pode propiciar a força de

sustentação necessária ao vôo da aeronave.

2.3 – Número de Reynolds

O número de Reynolds (abreviado como Re) é um número adimensional usado em

mecânica dos fluídos para o cálculo do regime de escoamento de determinado fluido sobre

uma superfície. É utilizado, por exemplo, em projetos de tubulações industriais e asas de

aviões. O seu nome vem de Osborne Reynolds, um físico e engenheiro irlandês. O seu

significado físico é um quociente entre as forças de inércia (vρ) e as forças de viscosidade

(µ/ c ). Para aplicações em perfis aerodinâmicos, o número de Reynolds pode ser expresso em

função da corda média aerodinâmica do perfil da seguinte forma.

R e

ρ ⋅ v ⋅ c

= (2.2)

µ

onde: v representa a velocidade do escoamento, ρ é a densidade do ar, µ a viscosidade

dinâmica do ar e c a corda média aerodinâmica do perfil.

A importância fundamental do número de Reynolds é a possibilidade de se avaliar a

estabilidade do fluxo podendo obter uma indicação se o escoamento flui de forma laminar ou

turbulenta. O número de Reynolds constitui a base do comportamento de sistemas reais, pelo

uso de modelos reduzidos. Um exemplo comum é o túnel aerodinâmico onde se medem

forças desta natureza em modelos de asas de aviões. Pode-se dizer que dois sistemas são

dinamicamente semelhantes se o número de Reynolds, for o mesmo para ambos.

Geralmente elevados números de Reynolds são obtidos para elevados valores de corda

média aerodinâmica, alta velocidade e baixas altitudes, ao passo que menores números de

Reynolds são obtidos para menores cordas, baixas velocidades e elevadas altitudes.

Em aeronaves de escala reduzida que participam da competição SAE AeroDesign,

normalmente a faixa de número de Reynolds está compreendida entre 3x10 5 e 5x10 5 . A

determinação do número de Reynolds representa um fator muito importante para a escolha e

análise adequada das características aerodinâmicas de um perfil aerodinâmico, pois a

eficiência de um perfil em gerar sustentação e arrasto está intimamente relacionada ao número

de Reynolds obtido. Geralmente no estudo do escoamento sobre asas de aviões o fluxo se

torna turbulento para números de Reynolds da ordem de 1x10 7 , sendo que abaixo desse valor

geralmente o fluxo é laminar.

Exemplo 2.1 – Determinação do número de Reynolds.

Determine o número de Reynolds para uma aeronave destinada a participar da

competição SAE AeroDesign sabendo-se que a velocidade de deslocamento é v = 16 m/s para

um vôo realizado em condições de atmosfera padrão ao nível do mar (ρ = 1,225 kg/m³).

Considere c = 0, 35m e µ = 1,7894x10 -5 kg/ms.

Solução:

A partir da aplicação da Equação (2.2), tem-se que:

R e

ρ ⋅ v ⋅ c

=

µ


28

R

e

1,225 ⋅16

⋅ 0,35

=

−5

1,7894 ⋅10

R

e

= 3,833

⋅10

5

2.4 – Teoria do perfil aerodinâmico

Um perfil aerodinâmico é uma superfície projetada com a finalidade de se obter uma

reação aerodinâmica a partir do escoamento do fluido ao seu redor. Os termos aerofólio ou

perfil aerodinâmico são empregados como nomenclatura dessa superfície. A Figura 2.4

mostra um perfil aerodinâmico típico e suas principais características geométricas.

Figura 2.4 – Características geométricas de um perfil aerodinâmico.

A linha de arqueamento média representa a linha que define o ponto médio entre todos

os pontos que formam as superfícies superior e inferior do perfil.

A linha da corda representa a linha reta que une os pontos inicial e final da linha de

arqueamento média.

A espessura representa a altura do perfil medida perpendicularmente à linha da corda.

A razão entre a máxima espessura do perfil e o comprimento da corda é chamada de

razão de espessura do perfil.

O arqueamento representa a máxima distância que existe entre a linha de arqueamento

média e a linha da corda do perfil.

Ângulo de ataque: O ângulo de ataque α é o termo utilizado pela aerodinâmica para

definir o ângulo formado entre a linha de corda do perfil e a direção do vento relativo.

Representa um parâmetro que influi decisivamente na capacidade de geração de sustentação

do perfil. Normalmente, o aumento do ângulo de ataque proporciona um aumento da força de

sustentação até um certo ponto no qual esta diminui bruscamente. Este ponto é conhecido

como estol e será explicado com mais detalhes em uma discussão futura no presente capítulo.

O aumento do ângulo de ataque também proporciona o acréscimo da força de arrasto gerada.

A dependência da sustentação e do arrasto com o ângulo de ataque podem ser medidas através

de coeficientes adimensionais denominados coeficiente de sustentação e coeficiente de

arrasto. Normalmente o ângulo de ataque crítico é em torno de 15° para a maioria dos perfis

aerodinâmicos, porém com a utilização de uma série de dispositivos hipersustentadores

adicionais, consegue-se aumentar esse valor para ângulos que podem variar de 20° até 45°. A

Figura 2.5 apresentada a seguir mostra um perfil aerodinâmico e seu respectivo ângulo de

ataque.


29

Figura 2.5 – Definição do ângulo de ataque do perfil.

Ângulo de incidência: representa uma outra nomenclatura comum na definição

aeronáutica. O ângulo de incidência θ pode ser definido como o ângulo formado entre a corda

do perfil e um eixo horizontal de referência como mostra a Figura 2.6. Geralmente as asas são

montadas na fuselagem de modo a formarem um pequeno ângulo de incidência positivo.

Ângulos de incidência da ordem de 5° são muito comuns na maioria das aeronaves,

porém, é importante citar que o ângulo de incidência ideal é aquele que proporciona a maior

eficiência aerodinâmica para a asa e será discutido posteriormente no presente capítulo.

Figura 2.6 – Representação do ângulo de incidência.

Como forma de se evitar a confusão de nomenclatura entre o ângulo de ataque e o

ângulo de incidência, a Figura 2.7 mostra a definição de ângulo de ataque e ângulo de

incidência de uma aeronave em diversas condições distintas de vôo. As condições ilustram

um vôo de subida, um vôo nivelado e um vôo de descida da aeronave

Figura 2.7 – Ângulo de ataque e ângulo de incidência para diversas condições de vôo.

2.4.1 – Seleção e desempenho de um perfil aerodinâmico

A seleção do melhor perfil a ser utilizado para a fabricação das superfícies

sustentadoras de uma aeronave é influenciada por uma série de fatores que envolvem


30

diretamente os requisitos necessários para um bom desempenho da nova aeronave. Algumas

características importantes que devem ser consideradas para a seleção de um novo perfil são:

a) influência do número de Reynolds;

b) características aerodinâmicas do perfil;

c) dimensões do perfil;

d) escoamento sobre o perfil;

e) velocidades de operação desejada para a aeronave;

f) eficiência aerodinâmica do perfil;

g) limitações operacionais da aeronave.

Todo perfil possui características aerodinâmicas próprias, que dependem

exclusivamente da forma geométrica do perfil, de suas dimensões, do arqueamento, bem

como da sua espessura e do raio do bordo de ataque. As principais características

aerodinâmicas de um perfil são o coeficiente de sustentação, o coeficiente de arrasto, o

coeficiente de momento, a posição do centro aerodinâmico e a sua eficiência aerodinâmica.

Coeficiente de sustentação de um perfil aerodinâmico: o coeficiente de sustentação

é usualmente determinado a partir de ensaios em túnel de vento ou em softwares específicos

que simulam um túnel de vento. O coeficiente de sustentação representa a eficiência do perfil

em gerar a força de sustentação. Perfis com altos valores de coeficiente de sustentação são

considerados como eficientes para a geração de sustentação. O coeficiente de sustentação é

função do modelo do perfil, do número de Reynolds e do ângulo de ataque.

Coeficiente de arrasto de um perfil aerodinâmico: tal como o coeficiente de

sustentação, o coeficiente de arrasto representa a medida da eficiência do perfil em gerar a

força de arrasto. Enquanto maiores coeficientes de sustentação são requeridos para um perfil

ser considerado eficiente para produção de sustentação, menores coeficientes de arrasto

devem ser obtidos, pois um perfil como um todo somente será considerado

aerodinamicamente eficiente quando produzir grandes coeficientes de sustentação aliados a

pequenos coeficientes de arrasto. Para um perfil, o coeficiente de arrasto também é função do

número de Reynolds e do ângulo de ataque. As Figuras 2.8 e 2.9 mostram as curvas

características do coeficiente de sustentação, do coeficiente de arrasto, do coeficiente de

momento e da eficiência aerodinâmica em função do ângulo de ataque para o perfil Eppler

423 operando em uma condição de número de Reynolds igual a 380000.

Perfil Eppler 423 - cl x alfa - Re 380000

Perfil Eppler 423 - cd x alfa - Re 380000

2,5

0,04

Coeficiente de sustentação

2

1,5

1

0,5

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de arrasto

0,035

0,03

0,025

0,02

0,015

0,01

0,005

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Figura 2.8 – Curvas características do coeficiente de sustentação e do coeficiente de arrasto

em função do ângulo de ataque para um perfil aerodinâmico.


31

Perfil Eppler 423 - cl/cd x alfa Re 380000

Perfil Eppler 423 - cm x alfa - Re 380000

Eficiência aerodinâmica

120

100

80

60

40

20

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

coeficiente de momento

0,3

0,2

0,1

0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Figura 2.9 – Curvas características da eficiência aerodinâmica e do coeficiente de momento

em função do ângulo de ataque para um perfil aerodinâmico.

Os dados característicos do perfil Eppler 423 apresentados nas Figuras 2.8 e 2.9 foram

obtidos a partir da simulação numérica realizada no software Profili 2 que possui seu

algoritmo de solução fundamentado em parâmetros do programa X-Foil. Essas curvas

possuem uma forma genérica para qualquer tipo de perfil analisado, obviamente que seus

parâmetros podem variar de acordo com a forma do perfil e o número de Reynolds utilizado.

A análise da curva c l versus α permite observar que a variação do coeficiente de

sustentação em relação à α é praticamente linear em uma determinada região. A inclinação

dessa região linear da curva é chamada de coeficiente angular e denotada na aerodinâmica do

perfil por a 0 , sendo matematicamente expressa pela Equação (2.3).

dcl

a0 =

(2.3)

Um exemplo de como se determinar o valor de a 0 está apresentado na Figura 2.10.

Figura 2.10 – Determinação do coeficiente angular da curva c l versus α para um perfil.


32

Nota-se que o coeficiente angular é calculado a partir da equação de uma reta, e

portanto, escolhem-se dois pontos arbitrários dessa reta obtendo-se os valores de α 1 e α 2 com

seus respectivos coeficientes de sustentação, e, dessa forma a Equação (2.3) pode ser reescrita

da seguinte forma:

dcl

cl

2

− cl1

a

0

= =

(2.3a)

α − α

Para a curva característica do perfil Eppler 423, pode-se notar que existe um valor

finito de c l quando o ângulo de ataque é α = 0°, e assim, percebe-se que para se obter um

coeficiente de sustentação nulo para esse perfil é necessário se inclinar o perfil para algum

ângulo de ataque negativo. Este ângulo de ataque é conhecido por α cl = 0 . Uma característica

importante de ser observada na teoria dos perfis é que para todo perfil com arqueamento

positivo, o ângulo de ataque para sustentação nula é obtido com um ângulo negativo, ou seja,

α cl = 0 <0°. Para o caso de perfis simétricos, o ângulo de ataque para sustentação nula é igual a

zero, α cl = 0 =0°, e para perfis com arqueamento negativo α cl = 0 >0°, sendo este último caso

utilizado em pouquíssimas aplicações aeronáuticas, uma vez que perfis com arqueamento

negativo geralmente possuem pouca capacidade de gerar sustentação.

Na outra extremidade da curva c l versus α, ou seja, em uma condição de elevados

ângulos de ataque, a variação do coeficiente de sustentação torna-se não linear atingindo um

valor máximo denominado c lmáx e, então, repentinamente decai rapidamente conforme o

ângulo de ataque aumenta. A razão dessa redução a partir do valor de c lmáx é devida à

separação do escoamento que ocorre na superfície superior do perfil (extradorso). Nesta

condição, diz-se que o perfil está estolado. As características aerodinâmicas envolvendo o

estol e seus efeitos no desempenho da aeronave serão discutidas a parte em uma seção futura

do presente capítulo.

Com relação à variação do coeficiente de arrasto, pode-se notar que o valor mínimo

não ocorre necessariamente para um ângulo de ataque igual a zero, mas sim em um ângulo de

ataque finito, porém pequeno. A curva característica do coeficiente de arrasto possui um platô

mínimo que geralmente varia em uma faixa de ângulo de ataque compreendida entre -2° e

+2°. Neste intervalo, o arrasto gerado é oriundo principalmente de um arrasto de atrito viscoso

entre o ar e a superfície do perfil e o arrasto de pressão em menor escala. Já para elevados

valores de ângulo de ataque, o coeficiente de arrasto do perfil aumenta rapidamente devido ao

desprendimento do escoamento no extradorso do perfil, criando dessa forma uma grande

parcela de arrasto de pressão.

A variação do coeficiente de momento também pode ser observada na Figura 2.9 e

pode-se notar que seu valor é praticamente constante para uma determinada faixa de ângulos

de ataque, ou seja, o gráfico mostra a variação do coeficiente de momento ao redor do centro

aerodinâmico do perfil, ponto que será comentado posteriormente no presente capítulo.

O coeficiente angular da curva c m versus α também pode ser calculado de forma

similar ao modelo utilizado para a curva c l versus α, sendo matematicamente representado

pelas Equações (2.4) e (2.4a).

d α

2

1

dcm

m0 =

(2.4)

c m

− c m

2 1

m

0

=

(2.4a)

α

2

− α1


33

Tanto o coeficiente angular da curva c l versus α, como o da curva c m versus α

representam parâmetros de grande importância para a determinação do centro aerodinâmico

do perfil, como será comentado posteriormente.

A curva da eficiência aerodinâmica do perfil também representa outro ponto de grande

importância para o desempenho da aeronave. Nesta curva estão representadas todas as

relações c l /c d do perfil em função do ângulo de ataque, onde pode-se observar que esta relação

atinge um valor máximo em algum valor de α > 0°, e este ângulo representa o ângulo de

ataque no qual se obtém a maior eficiência aerodinâmica do perfil, ou seja, nesta condição, o

perfil é capaz de gerar a maior sustentação com a menor penalização de arrasto possível.

Exemplo 2.2 – Determinação do coeficiente angular das curvas c l versus α e c m versus α

de um perfil aerodinâmico.

A figura representada a seguir mostra as curvas características c l versus α e c m versus

α para o perfil Wortmann FX 74-CL5-140 operando em um número de Reynolds igual a

380000. Determine os coeficientes angulares a 0 e m 0 dessas duas curvas.

Perfil Wortmann 74 FX - cl x alfa

Re 380000

Perfil Wortmann 74 FX - cm x alfa

Re 380000

2,5

0,3

Coeficiente de sustentação

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

0 5 10

Ângulo de ataque

Coeficiente de momento

0,2

0,1

0,0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10

Ângulo de ataque

Solução:

A determinação do coeficiente a 0 pode ser realizada a partir da aplicação da Equação (2.3a)

com os valores obtidos na curva c l versus α do perfil.

Para α = 5° = 8,72x10 -2 rad tem-se c l2 = 1,7 e para α = 2° = 3,48x10 -2 rad tem-se c l1 = 1,4,

portanto:

dcl

cl2

− cl1

a

0

= =

α − α

2

1

a

0

dcl

1,7 −1,4

= = dα

−2

8,72 ⋅10

− 3,48 ⋅10

−2

a = 5,725 /rad

0


34

A determinação do coeficiente m 0 pode ser realizada a partir da aplicação da Equação (2.4a)

com os valores obtidos na curva c m versus α do perfil.

Para α = 5° = 8,72x10 -2 rad tem-se c m2 = -0,25 e para α = 2° α = 2° = 3,48x10 -2 rad tem-se c m1

= -0,26, portanto:

c

2

1

0

= m

c

m

m

α − α

2

1

m

0

( −0,25)

− ( −0,26)

=

−2

8,72 ⋅10

− 3,48 ⋅10

−2

m = 0,190 /rad

0

2.4.2 – Forças aerodinâmicas e momentos em perfis

Como forma de se avaliar quantitativamente as forças aerodinâmicas e os momentos

atuantes em um perfil, a presente seção mostra o equacionamento matemático necessário para

se determinar a capacidade do perfil em gerar essas forças e momentos. A Figura 2.11

apresenta um perfil orientado em um certo ângulo de ataque e mostra as forças e momentos

gerados sobre ele.

Figura 2.11 – Forças aerodinâmicas e momento ao redor do centro aerodinâmico.

A velocidade do escoamento não perturbado é definida por v e está alinhada com a

direção do vento relativo. A força resultante R é inclinada para trás em relação ao eixo vertical

e normalmente essa força não é perpendicular à linha da corda.

Por definição, assume-se que a componente de R perpendicular à direção do vento

relativo é denominada força de sustentação, e a componente de R paralela à direção do vento

relativo denominada força de arrasto. Também devido a diferença de pressão existente entre o

intradorso e o extradorso do perfil, além das tensões de cisalhamento atuantes por toda a

superfície do mesmo, existe a presença de um momento que tende a rotacionar o perfil.

Geralmente os cálculos são realizados considerando-se que este momento atua em um

ponto localizado a 1/4 da corda, medido a partir do bordo de ataque. Este ponto é denominado

na aerodinâmica como centro aerodinâmico do perfil e será definido em detalhes na próxima

seção do presente capítulo.

Por convenção (regra da mão direita), um momento que tende a rotacionar o corpo no

sentido horário é considerado como positivo. Normalmente os perfis utilizados para a


35

construção de asas na indústria aeronáutica possuem um arqueamento positivo, o que acarreta

em uma tendência de rotação no sentido anti-horário a conseqüentemente em coeficientes de

momento negativos, como pode ser observado na curva característica c m em função de α

mostrada para o perfil Eppler 423 na Figura 2.9.

A partir das considerações realizadas, percebe-se que existem três características

aerodinâmicas muito importantes para a seleção adequada de um perfil. Essas características

são:

a) Determinação da capacidade de geração de sustentação do perfil através do cálculo da força

de sustentação;

b) Determinação da correspondente força de arrasto;

c) Determinação do momento resultante ao redor do centro aerodinâmico que influenciará

decisivamente nos critérios de estabilidade longitudinal da aeronave.

A força de sustentação por unidade de envergadura gerada pela seção de um aerofólio

pode ser calculada a partir da aplicação da Equação (2.6).

1

l = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ c ⋅ cl

(2.6)

2

onde nesta equação, ρ representa a densidade do ar, v é a velocidade do escoamento, c é a

corda do perfil e c l representa o coeficiente de sustentação da seção obtido a partir da leitura

da curva característica c l versus α.

De forma similar, a força de arrasto é obtida com a aplicação da Equação (2.7).

1

d = ⋅ ρ

2

⋅v

⋅c

⋅c d

(2.7)

2

com o valor do coeficiente de arrasto obtido diretamente da leitura da curva característica c d

versus α do perfil.

O momento ao redor do centro aerodinâmico do perfil é determinado a partir da

solução da Equação (2.8).

m

1

= ⋅ ρ ⋅ v ⋅ c ⋅

(2.8)

2

2 2

c / 4

c m

com o valor do coeficiente de momento também obtido diretamente da leitura da curva

característica c m versus α do perfil.

A seguir é apresentado um modelo de cálculo que pode ser utilizado para estimar as

características aerodinâmicas de um perfil usual para aeronaves que participam da competição

AeroDesign.

Exemplo 2.3 – Determinação das forças aerodinâmicas e momento em um perfil.

Considere um perfil Selig 1223, cujas curvas características estão apresentadas na

figura a seguir. Sabendo-se que este perfil possui corda igual a 0,35m e que o mesmo está

submetido a um escoamento com velocidade igual a 16m/s, determine para uma condição de

vôo ao nível do mar (ρ = 1,225 kg/m³) as forças de sustentação e arrasto bem como o

momento resultante ao redor do centro aerodinâmico para um ângulo de ataque de 10°.


36

Perfil Selig 1223 - cl x alfa - Re 380000

Perfil Selig 1223 - cd x alfa - Re 380000

3

0,04

Coeficiente de sustentação

2

2

1

1

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de arrasto

0,035

0,03

0,025

0,02

0,015

0,01

0,005

0

0 5 10 15

ângulo de ataque

Perfil Selig 1223 - cl/cd x alfa Re 380000

Perfil Selig 1223 - cm x alfa - Re 380000

Eficiência aerodinâmica

100

80

60

40

20

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de momento

0,3

0,2

0,1

0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10 15

Ângulo de ataque


37

Solução:

Para um ângulo de ataque de 10°, verifica-se que:

c l = 2,1

c d = 0,025

c m = -0,24

A partir da Equação (2.6), tem-se que:

1 2

l = ⋅1,225

⋅16

2

⋅ 0,35 ⋅ 2,1

l = 115,25 N/unidade de envergadura

A partir da Equação (2.7), tem-se que:

1 2

d = ⋅1,225

⋅16

2

⋅ 0,35 ⋅ 0,025

d =1,37 N/unidade de envergadura

A partir da Equação (2.8), tem-se que:

m

c

mc

1 2

0,35

2

/ 4

⋅ ⋅(

= ⋅1,225

⋅16

2

/ 4

= −

0,24)

4,6 Nm/unidade de envergadura

O momento negativo encontrado representa uma condição de tendência de rotação no

sentido anti-horário.

A discussão apresentada mostra como um perfil aerodinâmico com deslocamento em

relação ao ar é capaz de gerar forças e momentos necessários ao vôo da aeronave, porém, as

características do perfil diferem consideravelmente das características de uma asa ou de um

avião como um todo, uma vez que na análise matemática dos perfis apenas são considerados

os efeitos de um escoamento em duas dimensões (2D), ao passo que para uma asa ou uma

aeronave completa, devem ser considerados os efeitos tridimensionais do escoamento (3D),

que serão discutidos posteriormente no presente capítulo.

2.4.3 – Centro de pressão e centro aerodinâmico do perfil

Centro de Pressão: a determinação da distribuição de pressão sobre a superfície de

um perfil é geralmente obtida a partir de ensaios em túnel de vento ou com a solução analítica

de modelos matemáticos fundamentados na geometria do perfil em estudo. Os ensaios

realizados em túnel de vento permitem determinar a distribuição de pressão no intradorso e no

extradorso dos perfis em diferentes ângulos de ataque, e é justamente a diferença de pressão

existente que é responsável pela geração da força de sustentação. A Figura 2.12 mostra a

distribuição de pressão ao longo de uma superfície sustentadora em três ângulos de ataque

diferentes.


38

Figura 2.12 – Distribuição de pressão em um perfil aerodinâmico.

A força resultante é obtida a partir de um processo de integração da carga distribuída

(pressão atuante) entre o bordo de ataque e o bordo de fuga do perfil para cada ângulo de

ataque estudado. Essa força é denominada resultante aerodinâmica e o seu ponto de aplicação

é chamado de centro de pressão (CP) como mostra a Figura 2.13.

Figura 2.13 – Resultante aerodinâmica e centro de pressão do perfil.

Geralmente, para elevados ângulos de ataque, o centro de pressão se desloca para

frente, enquanto que para pequenos ângulos de ataque o centro de pressão se desloca para trás.

O passeio do centro de pressão é de extrema importância para o projeto de uma nova

asa, uma vez que sua variação com o ângulo de ataque, proporciona drásticas variações no

carregamento total que atua sobre a asa, acarretando em um cuidado especial quanto ao

cálculo estrutural da mesma.


39

O balanceamento e a controlabilidade da aeronave são governados pela mudança da

posição do centro de pressão, sendo esta posição determinada a partir de cálculos e validada

com ensaios em túnel de vento.

Em qualquer ângulo de ataque, o centro de pressão é definido como o ponto no qual a

resultante aerodinâmica intercepta a linha de corda. Geralmente a posição do centro de

pressão é expressa em termos de porcentagem da corda. Para um projetista, seria muito

importante que a posição do centro de pressão coincidisse com a posição do centro de

gravidade da aeronave, pois dessa forma o avião estaria em perfeito balanceamento, porém

existe uma dificuldade muito grande para que isto ocorra, pois como visto, a posição do (CP)

varia com a mudança do ângulo de ataque como pode-se observar na Figura 2.14.

Figura 2.14 Variação da posição do centro de pressão com a mudança do ângulo de ataque.

Como citado, para um avião em diferentes atitudes de vôo, quando o ângulo de ataque

é aumentado, o centro de pressão move-se para frente; e quando é diminuído, o (CP) move-se

para trás. Como a posição do centro de gravidade é fixa em um determinado ponto, fica

evidente que um aumento do ângulo de ataque leva o centro de pressão para uma posição à

frente do centro de gravidade, fazendo dessa forma que um momento desestabilizante seja

gerado ao redor do centro de gravidade afastando a aeronave de sua posição de equilíbrio, do

mesmo modo, uma redução do ângulo de ataque faz com que o centro de pressão se desloque

para trás do centro de gravidade e novamente um momento desestabilizante é gerado ao redor

do centro de gravidade afastando a aeronave de sua posição de equilíbrio. O passeio do centro

de pressão pode ser observado na Figura 2.14. Nota-se então que uma asa por si só, é uma

superfície instável e que não proporciona uma condição balanceada de vôo. Portanto, como

forma de se garantir a estabilidade longitudinal de uma aeronave, o profundor é um elemento

indispensável, pois é justamente essa superfície sustentadora que produzirá um momento

efetivo ao redor do centro de gravidade de forma a restaurar a condição de equilíbrio de uma

aeronave após qualquer alteração ocorrida na atitude de vôo. O balanceamento de uma

aeronave em vôo depende, conseqüentemente, da posição relativa do centro de gravidade

(CG) e da localização do centro da pressão (CP), experiências mostram que um avião com o

centro de gravidade localizado entre 20% e 35% da corda da asa possui um balanceamento

satisfatório e pode voar com boas condições de estabilidade.

Centro aerodinâmico: Uma forma mais confortável e muito utilizada atualmente para

se determinar a localização do centro de gravidade de uma aeronave é o conceito do centro


40

aerodinâmico do perfil que pode ser definido como o ponto no qual o momento atuante

independe do ângulo de ataque e portanto é praticamente constante. A curva característica c m

versus α de um perfil representa o coeficiente de momento ao redor do centro aerodinâmico.

As perguntas principais são feitas em relação ao centro aerodinâmico de um perfil são: Este

ponto pode existir? Se existe, como ele é encontrado?

Para se encontrar as respostas a essas perguntas, considere o desenho do perfil

mostrado na Figura 2.15 apresentada a seguir.

Figura 2.15 – Localização do centro aerodinâmico do perfil.

A primeira pergunta a ser respondida é se o centro aerodinâmico existe. Para tal

resposta, considere sua existência e a sua localização a partir da posição c/4 como pode ser

observado na Figura 2.15. Uma vez definida sua existência, pode-se verificar que as forças

aerodinâmicas tendem a gerar um momento ao redor do centro aerodinâmico. Como a força

de arrasto está alinhada com o eixo longitudinal do centro aerodinâmico, o efeito do momento

provocado por ela pode ser desprezado durante o cálculo, e, dessa forma, o momento

resultante ao redor do centro aerodinâmico do perfil pode ser determinado a partir da solução

a Equação (2.9).

m = l ⋅ x + m

(2.9)

ac

ac

c / 4

Neste ponto, é interessante colocar esta equação na forma de coeficientes

aerodinâmicos, isto pode ser feito com a adimensionalização da referida equação pelo termo

1 2 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅

2

c , assim:

mac

l xac

mc

/ 4

=

⋅ +

(2.9a)

1 2 2 1 2 c 1 2 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅ c ⋅ ρ ⋅ v ⋅ c ⋅ ρ ⋅ v ⋅ c

2

2

2

que resulta em:

⎛ x ⎞

= cmc / 4

(2.10)

⎝ c ⎠

ac

c

mac

cl

⋅ ⎜ ⎟ +

Como a definição proposta prediz que no centro aerodinâmico do perfil o momento

independe do ângulo de ataque, pode ser utilizado um processo de diferenciação da Equação


41

(2.10) em relação ao ângulo de ataque com a finalidade de se obter a posição do centro

aerodinâmico, portanto:

dcmac dcl

⎛ xac

⎞ dcmc

/ 4

= ⋅ ⎜ ⎟ +

(2.10a)

⎝ c ⎠ dα

Analisando-se a Equação (2.10a), nota-se que o ponto que define o centro

aerodinâmico existe e representa uma situação no qual o momento independe o ângulo de

ataque, portanto, a solução da equação é realizada partindo-se do pressuposto que o termo

dc mac

deve ser igual a zero, ou seja o momento ao redor do centro aerodinâmico é

constante e independe o ângulo de ataque, portanto:

E dessa forma pode-se escrever que:

dcl ⎛ xac

⎞ dcmc

/ 4

0 = ⋅ ⎜ ⎟ +

(2.10b)

dα ⎝ c ⎠ dα

x

ac

c

− dc

=

dc

mc / 4

l

− m

=

a

0

0

(2.11)

ou seja, a posição do centro aerodinâmico do perfil depende do coeficiente angular da curva c l

versus α e do coeficiente angular da curva c m versus α do perfil analisado.

Exemplo 2.4 – Determinação da localização do centro aerodinâmico de um perfil.

A partir das curvas c l versus α e c m versus α do perfil Eppler 423 mostradas na figura

a seguir, determine a posição do centro aerodinâmico a partir da posição c/4.

Perfil Eppler 423 - cl x alfa - Re 380000

2,5

Perfil Eppler 423 - cm x alfa - Re 380000

0 ,3

Coeficiente de sustentação

2

1,5

1

0,5

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

coeficiente de momento

0 ,2

0 , 1

0

0 5 10 15

- 0 , 1

- 0 ,2

- 0 ,3

Ângulo de ataque

Solução:

A posição do centro aerodinâmico do perfil pode ser calculada a partir da solução da

Equação (2.11).


42

x

ac

c

− dc

=

dc

mc / 4

l

− m

=

a

0

0

Assim, percebe-se que existe a necesidade de se determinar os valores de a 0 e m 0 para

esse perfil. Esses valores podem ser obtidos pela aplicação das Equações (2.3a) e (2.4a).

A determinação do coeficiente a 0 pode ser realizada a partir da aplicação da Equação

(2.3a) com os valores obtidos na curva c l versus α do perfil.

Para α = 5° = 8,72x10 -2 rad tem-se c l2 = 1,6 e para α = 2° = 3,48x10 -2 rad tem-se c l1 =

1,3, portanto:

dcl

cl2

− cl1

a

0

= =

α − α

2

1

a

0

dcl

1,6 −1,3

= = dα

−2

8,72 ⋅10

− 3,48 ⋅10

−2

a = 5,725 /rad

0

A determinação do coeficiente m 0 pode ser realizada a partir da aplicação da Equação

(2.4a) com os valores obtidos na curva c m versus α do perfil.

Para α = 5° = 8,72x10 -2 rad tem-se c m2 = -0,22 e para α = 2° = 3,48x10 -2 rad tem-se

c m1 = -0,23, portanto:

c

2

1

0

= m

c

m

m

α − α

2

1

m

0

( −0,25)

− ( −0,26)

=

−2

8,72 ⋅10

− 3,48 ⋅10

−2

m = 0,190 /rad

0

Dessa forma, a posição do centro aerodinâmico do perfil Eppler 423 é dada por.

− 0,190

=

c 5,725

x ac

0331

x ac

Este resultado indica que o centro aerodinâmico está localizado em uma posição 3,3%

c

= −0,

à frente do ponto c/4, ou seja muito próximo do valor esperado pela aplicação da teoria

proposta. O resultado encontrado é muito comum, pois para a grande maioria dos perfis

existentes, a posição do centro aerodinâmico é muito próxima da posição c/4.

2.4.4 - Perfis de alta sustentação

Em projetos destinados a participar da competição SAE-AeroDesign é muito

importante que o perfil selecionado possua um elevado coeficiente de sustentação aliado a

baixos coeficientes de arrasto e momento de modo que possua uma elevada eficiência


43

aerodinâmica. Normalmente os quatro perfis apresentados na Tabela 2.1 são os utilizados pela

grande maioria das equipes, porém uma série de outros perfis também possui boas

características de eficiência aerodinâmica e podem ser utilizados.

Perfil

Tabela 2.1 – Perfis de alta sustentação.

Características Principais

Wortmann FX 74-CL5-140

Espessura máxima: 13,08% a 27,1% da corda.

Curvatura máxima: 9,72% a 41,6% da corda.

Raio de curvatura do bordo de ataque: 0,9850%.

Espessura do bordo de fuga: 0,0120%

Selig 1223

Selig 1210

Espessura máxima: 12,13% a 20,3% da corda.

Curvatura máxima: 8,67% a 49,9% da corda.

Raio de curvatura do bordo de ataque: 3,0850%.

Espessura do bordo de fuga: 0,0000%

Espessura máxima: 11,99% a 23,2% da corda.

Curvatura máxima: 7,2% a 51,9% da corda.

Raio de curvatura do bordo de ataque: 1,8006%.

Espessura do bordo de fuga: 0,0000%

Eppler 423

Espessura máxima: 12,51% a 23,7% da corda.

Curvatura máxima: 10,03% a 41,4% da corda.

Raio de curvatura do bordo de ataque: 2,6584%.

Espessura do bordo de fuga: 0,0120%

Algumas equipes já destinam um tempo extra apenas para estudar melhores perfis que

podem ser utilizados, esses novos perfis geralmente requerem um grande número de horas

destinada ao estudo e modificação da geometria dos mesmos até se atingir um perfil

aerodinâmico ótimo para ser utilizado na confecção da asa da aeronave. Outro método que

também pode ser utilizado é criar um novo perfil a partir da junção entre dois perfis

existentes, gerando um terceiro perfil com características intermediárias entre os dois

originais, esta solução pode em muitas vezes gerar um ganho de eficiência, pois são utilizadas

apenas as melhores características de cada perfil.

Como forma de se visualizar as propriedades aerodinâmicas dos perfis indicados na

Tabela 2.1, as Figuras 2.16 até 2.19 mostram as curvas características desses perfis originadas

pelo software Profili 2 considerando-se um número de Reynolds igual a 380000.

As Tabelas 2.2 até 2.5 possuem os valores obtidos para cada ângulo de ataque avaliado

nos perfis em questão e servem como uma ferramenta fundamental para a reprodução gráfica

dessas curvas.

É muito importante ressaltar que como forma de se exemplificar perfis de alta

sustentação, a presente seção apenas mostra quatro tipos de perfis que produzem ótimos

resultados para o propósito da competição SAE-AeroDesign, porém como citado, o esforço e


44

a criatividade da equipe pode propiciar novos desenvolvimentos de perfis melhores que os

aqui apresentados.

As curvas e tabelas apresentadas servem apenas como forma de ilustrar o desempenho

aerodinâmico de um perfil em um determinado número de Reynolds. Para o propósito do

desenvolvimento de uma nova aeronave, a equipe deve estar disposta a avaliar uma série de

perfis bem como determinar com precisão o número de Reynolds, pois muitas vezes este

representa um fator de grande importância e que modifica consideravelmente as

características aerodinâmicas do perfil.

Perfil Eppler 423 - cl x alfa - Re 380000

Perfil Eppler 423 - cd x alfa - Re 380000

2,5

0,04

Coeficiente de sustentação

2

1,5

1

0,5

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de arrasto

0,035

0,03

0,025

0,02

0,015

0,01

0,005

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Perfil Eppler 423 - cl/cd x alfa Re 380000

Perfil Eppler 423 - cm x alfa - Re 380000

120

0 ,3

Eficiência aerodinâmica

100

80

60

40

20

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

coeficiente de momento

0 ,2

0 , 1

0

0 5 10 15

- 0 , 1

- 0 ,2

- 0 ,3

Ângulo de ataque

Figura 2.16 – Características aerodinâmicas do perfil Eppler 423 – R e = 380000.


45

Tabela 2.2 - Perfil Eppler 423 - Polares a R e = 380000.

E423 - Re = 380000

α c l c d c l /c d c m

0 1,0929 0,0137 79,7737 -0,2351

0,5 1,15 0,0139 82,7338 -0,2356

1 1,2041 0,0143 84,2028 -0,2354

1,5 1,2525 0,0142 88,2042 -0,2341

2 1,3008 0,0144 90,3333 -0,2327

2,5 1,3496 0,0144 93,7222 -0,2315

3 1,3981 0,0146 95,7603 -0,2301

3,5 1,4518 0,0149 97,4362 -0,2301

4 1,5014 0,0146 102,8356 -0,2295

4,5 1,5402 0,0148 104,0676 -0,2263

5 1,5787 0,0151 104,5497 -0,2231

5,6 1,6173 0,0154 105,0195 -0,2199

6 1,6578 0,0157 105,5924 -0,2172

6,5 1,7078 0,0163 104,773 -0,2167

7 1,7316 0,0167 103,6886 -0,2108

7,5 1,7632 0,017 103,7176 -0,2066

8 1,7941 0,0175 102,52 -0,2024

8,5 1,8366 0,0181 101,4696 -0,2006

9 1,8555 0,0188 98,6968 -0,1946

9,5 1,8758 0,0196 95,7041 -0,189

10 1,9033 0,0206 92,3932 -0,185

10,5 1,9179 0,0219 87,5753 -0,1792

11 1,9319 0,0235 82,2085 -0,1737

11,5 1,945 0,0253 76,8775 -0,1685

12 1,951 0,0278 70,1799 -0,1629

12,5 1,9514 0,0309 63,1521 -0,1572

13 1,951 0,0345 56,5507 -0,1522


46

Perfil Selig 1223 - cl x alfa - Re 380000

Perfil Selig 1223 - cd x alfa - Re 380000

3

0,04

Coeficiente de sustentação

2

2

1

1

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de arrasto

0,035

0,03

0,025

0,02

0,015

0,01

0,005

0

0 5 10 15

ângulo de ataque

Perfil Selig 1223 - cl/cd x alfa Re 380000

Perfil Selig 1223 - cm x alfa - Re 380000

Eficiência aerodinâmica

100

80

60

40

20

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Coeficiente de momento

0,3

0,2

0,1

0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Figura 2.17 – Características aerodinâmicas do perfil Selig1223 – R e = 380000.


47

Tabela 2.3 – Perfil Selig 1223 Polares a R e = 380000.

S1223 - Re = 380000

α c l c d c l /c d c m

0,5 1,204 0,015 80,273 -0,2623

1 1,263 0,0157 80,420 -0,2626

1,5 1,320 0,016 82,481 -0,2626

2 1,377 0,0163 84,503 -0,2627

2,5 1,434 0,0166 86,410 -0,2627

3 1,491 0,0171 87,199 -0,2628

3,5 1,548 0,0175 88,480 -0,263

4 1,609 0,0182 88,385 -0,2638

4,5 1,659 0,0187 88,711 -0,2625

5 1,709 0,0192 89,031 -0,2613

5,6 1,759 0,0197 89,300 -0,26

6 1,808 0,0203 89,044 -0,2585

6,5 1,853 0,0209 88,656 -0,2563

7 1,896 0,0215 88,191 -0,2538

7,5 1,939 0,0223 86,955 -0,2514

8 2,001 0,0239 83,741 -0,2533

8,5 2,036 0,0244 83,443 -0,2491

9 2,069 0,025 82,752 -0,2446

9,5 2,104 0,0257 81,868 -0,2409

10 2,134 0,0265 80,528 -0,2362

10,5 2,165 0,0279 77,588 -0,232

11 2,197 0,0291 75,505 -0,2281

11,5 2,225 0,0302 73,685 -0,2237

12 2,251 0,0316 71,234 -0,219

12,5 2,266 0,0338 67,047 -0,2131

13 2,291 0,0356 64,340 -0,2089


48

Perfil Selig 1223 RTL - cl x alfa

Re 380000

Perfil Selig 1223 RTL - cd x alfa

Re 380000

Coeficiente de sustentação

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

0 5 10 15

Coeficiente de arrasto

0,045

0,040

0,035

0,030

0,025

0,020

0,015

0,010

0,005

0,000

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Ângulo de ataque

Perfil Selig 1223 RTL - cl/cd x alfa

Re 380000

Perfil Selig 1223 RTL - cm x alfa

Re 380000

80

0,3

Eficiência aerodinâmica

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15

Coeficiente de momento

0,2

0,1

0,0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10 15

Ângulo de ataque

Ângulo de ataque

Figura 2.18 – Características aerodinâmicas do perfil Selig1223 RTL – R e = 380000.


49

Tabela 2.4 – Perfil Selig 1223 RTL Polares a R e = 380000.

S1223 RTL - R e = 380000

α c l c d c l /c d c m

0 1,081 0,017 65,527 -0,241

0,5 1,136 0,017 67,625 -0,240

1 1,190 0,017 69,180 -0,240

1,5 1,245 0,018 70,739 -0,239

2 1,299 0,018 72,150 -0,239

2,5 1,350 0,019 72,968 -0,238

3 1,406 0,019 72,865 -0,238

3,5 1,479 0,021 71,459 -0,241

4 1,529 0,021 72,483 -0,240

4,5 1,579 0,022 73,451 -0,239

5 1,630 0,022 74,077 -0,238

5,6 1,670 0,022 75,203 -0,235

6 1,717 0,023 74,978 -0,233

6,5 1,763 0,024 74,695 -0,231

7 1,805 0,024 74,268 -0,229

7,5 1,846 0,025 73,856 -0,226

8 1,890 0,026 72,954 -0,224

8,5 1,938 0,027 70,974 -0,223

9 1,996 0,030 66,746 -0,225

9,5 2,031 0,031 65,945 -0,221

10 2,066 0,032 64,759 -0,218

10,5 2,099 0,033 63,411 -0,214

11 2,129 0,034 61,892 -0,211

11,5 2,155 0,036 60,370 -0,206

12 2,182 0,037 58,499 -0,202

12,5 2,206 0,039 56,425 -0,198

13 2,230 0,041 54,531 -0,194


50

Perfil Wortmann 74 FX - cl x alfa

Re 380000

Perfil Wortmann 74 FX - cd x alfa

Re 380000

2,5

0,025

Coeficiente de sustentação

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

0 5 10

Coeficiente de arrasto

0,020

0,015

0,010

0,005

0,000

0 5 10

Ângulo de ataque

Ângulo de ataque

Perfil Wortmann 74 FX - cl/cd x alfa

Re 380000

Perfil Wortmann 74 FX - cm x alfa

Re 380000

110

0,3

Eficiência aerodinâmica

108

106

104

102

100

98

96

94

0 5 10

Coeficiente de momento

0,2

0,1

0,0

-0,1

-0,2

-0,3

0 5 10

Ângulo de ataque

Ângulo de ataque

Figura 2.19 – Características aerodinâmicas do perfil Wortmann FX 74-CL5-140 –

R e = 380000.


51

Tabela 2.5 – Perfil Wortmann FX 74-CL5-140 Polares a R e = 380000.

Wortmann FX 74-CL5-140 Modified - Re = 380000

α c l c d c l /c d c m

1,5 1,356 0,013 101,157 -0,253

2 1,399 0,013 103,150 -0,251

2,5 1,454 0,014 104,867 -0,251

3 1,508 0,014 105,960 -0,251

3,5 1,560 0,015 106,877 -0,251

4 1,612 0,015 107,473 -0,251

4,5 1,663 0,016 107,780 -0,250

5 1,714 0,016 107,848 -0,250

5,6 1,763 0,017 107,870 -0,249

6 1,811 0,017 106,883 -0,248

6,5 1,857 0,018 105,517 -0,247

7 1,903 0,018 103,973 -0,246

7,5 1,949 0,019 102,200 -0,245

8 1,990 0,020 101,000 -0,243

8,5 2,028 0,020 99,882 -0,240

9 2,042 0,021 98,168 -0,233

9,5 2,055 0,022 95,139 -0,226

Alguns fatores fundamentais afetam a produção de sustentação em um perfil

aerodinâmico: a relação de espessura do perfil, o raio do bordo de ataque e o modelo do bordo

de fuga além do arqueamento e a posição da espessura máxima do perfil.

Relação de espessura: O valor do coeficiente de sustentação máximo para um

determinado aerofólio é afetado diretamente pela relação de espessura t/c. Modernos perfis de

alta sustentação possuem valores de c lmáx consideravelmente maiores que os perfis mais

tradicionais, como por exemplo os da série NACA. Para perfis da série NACA, uma relação

de espessura da ordem de 13% produz os maiores valores de c lmáx , já para os perfis de alta

sustentação este valor pode chegar até a ordem de 15%.

Raio do bordo de ataque: O efeito do raio do bordo de ataque do perfil na geração da

sustentação é mais ou menos refletido por um parâmetro determinado por Z 5 /t, onde Z 5

representa a espessura do perfil em um ponto localizado a 5% da corda e t representa a

máxima espessura do perfil. Um alto valor da relação Z 5 /t indica um perfil com alto valor do


52

raio do bordo de ataque, o que em baixas velocidades pode ser benéfico para a geração de

sustentação.

Efeitos do arqueamento e da localização da máxima espessura do perfil: dados

experimentais mostram que o máximo coeficiente de sustentação de um perfil arqueado não

depende somente da quantidade de arqueamento ou do modelo da linha de arqueamento, mas

também é influenciado pela espessura do perfil e pelo raio do bordo de ataque. Em geral, a

adição de arqueamento no perfil é benéfica para a produção de sustentação, porém o aumento

do arqueamento deve ser realizado com a redução do raio do bordo de ataque e com uma

diminuição da espessura do perfil com a finalidade de se obter melhores resultados. Outro

ponto importante é o deslocamento à frente do ponto de máximo arqueamento, ou seja, com o

máximo arqueamento localizado mais próximo do bordo de ataque consegue-se maiores

coeficientes de sustentação para o perfil.

2.5 – Asas de envergadura finita

A discussão apresentada nas seções anteriores mostrou os conceitos aerodinâmicos

fundamentais para o projeto e análise de desempenho de um perfil aerodinâmico, no qual o

escoamento é estudado apenas sob o aspecto de duas dimensões (2D), ou seja, não se leva em

consideração a envergadura da asa.

Deste ponto em diante, a discussão aerodinâmica será realizada levando-se em

consideração as dimensões finitas da asa. A Figura 2.20 apresentada a seguir mostra uma asa

e suas principais características geométricas.

Figura 2.20 – Características principais de uma asa finita

Na Figura 2.20, a variável b representa a envergadura da asa, c representa a corda e S a

área da asa.

2.5.1 – Forma geométrica e localização da asa na fuselagem

As asas dos aviões podem assumir uma enorme série de formas geométricas de acordo

com o propósito do projeto em questão, porém os principais tipos são retangular, trapezoidal,

elíptica e mista. Como citado anteriormente no capítulo 1, cada uma possui sua característica

particular com vantagens e desvantagens quando comparadas entre si. Quanto a sua

localização em relação à fuselagem, a asa pode ser alta, média ou baixa.

Esta seção mostrará de forma simples os principais tipos de asa e sua localização em

relação à fuselagem comentando em cada um dos casos quais as vantagens e as desvantagens


53

de cada modelo analisado. A Figura 2.21 mostra as principais formas geométricas citadas para

as asas.

Figura 2.21 – Forma geométrica em planta das asas.

Como citado no capítulo 1 do presente livro, cada um dos modelos de asa possuem

características particulares que novamente aparecem descritas nesta seção.

Asa retangular: é uma asa de baixa eficiência aerodinâmica, ou seja, a relação entre a

força de sustentação e a força de arrasto (L/D) é menor quando comparada a uma asa

trapezoidal ou elíptica, isto ocorre devido ao arrasto de ponta de asa também conhecido por

arrasto induzido, que no caso da asa retangular é maior que em uma asa trapezoidal ou

elíptica. O arrasto induzido e sua formulação matemática serão discutidos a parte em uma

outra seção do presente capítulo.

A vantagem da asa retangular é a sua maior facilidade de construção e um menor custo

de fabricação quando comparada as outras. A área em planta de uma asa retangular pode ser

calculada a partir da Equação (2.12).

S = b ⋅ c

(2.12)

onde b representa a envergadura da asa e c representa a corda que para este caso é invariável.

Asa trapezoidal: é uma asa de ótima eficiência aerodinâmica, pois com a redução

gradativa da corda entre a raiz e a ponta da asa consegue-se uma significativa redução do

arrasto induzido. Nesse tipo de asa o processo construtivo torna-se um pouco mais complexo

uma vez que a corda de cada nervura possui uma dimensão diferente. A área em planta de

uma asa trapezoidal pode ser calculada a partir da Equação (2.13).

( cr

+ ct

) ⋅ b

S = (2.13)

2

onde c r representa a corda na raiz, c t a corda na ponta e b a envergadura da asa.


54

Asa elíptica: representa a asa ideal, pois é a que proporciona a máxima eficiência

aerodinâmica, porém é de difícil fabricação e mais cara quando comparada às outras formas

apresentadas. A área em planta de uma asa elíptica pode ser calculada a partir da Equação

(2.14).

S

π

= ⋅ b ⋅ 4

c r

(2.14)

onde b representa a envergadura e c r a corda na raiz da asa.

Asa mista: apresenta características tanto da asa retangular como da asa trapezoidal

ou elíptica, esse tipo de forma geométrica muitas vezes representa uma excelente solução para

se aumentar a área de asa na busca de uma menor velocidade de estol sem comprometer o

arrasto induzido. A área em planta de uma asa mista pode ser calculada a partir da

composição adequada das Equações (2.12), (2.13) e (2.14).

Exemplo 2.5 – Cálculo da área da asa.

Quatro diferentes tipos de asa são propostas para o projeto de uma nova aeronave

destinada a participar da competição SAE-AeroDesign. Determine a área de asa para cada um

dos modelos mostrados.

a) Asa retangular

Solução:

Aplicando-se a equação para o cálculo da área de uma asa retangular, tem-se que:

S = b ⋅ c

S =1,7

⋅ 0,35

S = 0,595 m²

b) Asa trapezoidal


55

Solução:

Aplicando-se a equação para o cálculo da área de uma asa trapezoidal, tem-se que:

( cr

+ ct

) ⋅ b

S =

2

( 0,5 + 0,2) ⋅1,9

S =

2

S = 0,665m²

c) Asa elíptica

Solução:

Aplicando-se a equação para o cálculo da área de uma asa elíptica, tem-se que:

π

S = ⋅ b ⋅ 4

c r

S = π ⋅ 2 ⋅ 0,4

4

S = 0,628m²

d) Asa mista

Solução:

A área desta asa pode ser determinada a partir da composição entre uma asa retangular

e uma asa trapezoidal, assim:

2 ⋅ (0,4 + 0,2) ⋅ 0,5

S = (1,4 ⋅ 0,4) +

2

S = 0,86 m²


56

Quanto à posição de fixação da asa na fuselagem, a mesma pode ser classificada como

alta, média ou baixa. As Figuras 2.22 e 2.23 mostram cada um dos modelos citados.

Figura 2.22 – Fixação da asa na fuselagem.

Figura 2.23 – vista frontal da fixação da asa na fuselagem.

A seguir são descritas as particularidades bem como as vantagens da utilização de

cada um dos tipos de fixação da asa na fuselagem.

Asa alta: esta configuração possui como vantagens os seguintes aspectos, melhor

relação L/D, maior estabilidade lateral da aeronave, menor comprimento de pista necessário

para o pouso uma vez que minimiza a ação do efeito solo e para aeronaves de transporte

simplifica o processo de colocação e retirada de carga visto que a fuselagem se encontra mais

próxima ao solo.

Asa média: esta configuração geralmente está associada com a menor geração de

arrasto entre as três localizações citadas, pois o arrasto de interferência entre a asa e a

fuselagem é minimizado, a maior desvantagem da utilização desse tipo de asa é problemas

estruturais, uma vez que o momento fletor na raiz da asa exige a necessidade de uma estrutura

reforçada na fuselagem da aeronave.

Asa baixa: A maior vantagem de uma asa baixa está relacionada ao projeto do trem de

pouso, pois em muitos casos a própria asa serve como estrutura para suportar as cargas

atuantes durante o processo de taxiamento e pouso, outros aspectos vantajosos da utilização


57

de uma asa baixa podem ser representados por uma melhor manobrabilidade de rolamento da

aeronave além da necessidade de um menor comprimento de pista para a decolagem pois com

a proximidade da asa em relação ao solo é possível aproveitar de forma significativa a ação do

efeito solo, porém esse tipo de asa possui como aspecto negativo uma menor estabilidade

lateral, muitas vezes necessitando da adição do ângulo de diedro como forma de se garantir a

estabilidade da aeronave.

Dados históricos da competição SAE AeroDesign mostram que a grande maioria das

equipes tem optado pela aplicação de um projeto com asa alta, pois basicamente se obtém

uma maior relação L/D e uma melhor estabilidade lateral, além de normalmente propiciar uma

maior facilidade para a retirada da carga da aeronave.

2.5.2 – Alongamento e relação de afilamento

Alguns outros fatores são de primordial importância para o bom projeto de uma asa,

dentre eles podem ser citados o alongamento e o afilamento, que são detalhados a seguir.

Alongamento: na nomenclatura aerodinâmica, o alongamento em asas de forma

geométrica retangular representa a razão entre a envergadura e a corda do perfil como mostra

a Equação (2.15).

b

AR = (2.15)

c

Para asas com formas geométricas que diferem da retangular, o alongamento pode ser

determinado relacionando-se o quadrado da envergadura com a área em planta da asa de

acordo com a solução da Equação (2.16).

2

b

AR = (2.16)

S

Informalmente, um alongamento elevado representa uma asa de grande envergadura

geralmente com uma corda pequena, ao passo que um baixo alongamento representa uma asa

de pequena envergadura e corda geralmente grande.

O alongamento na prática é uma poderosa ferramenta para se melhorar

consideravelmente o desempenho da asa, pois com o seu aumento é possível reduzir de

maneira satisfatória o arrasto induzido. Porém, é importante comentar que um aumento

excessivo do alongamento é muito satisfatório do ponto de vista do projeto aerodinâmico, mas

pode trazer outros problemas operacionais e construtivos da aeronave relacionados aos

seguintes aspectos:

a) Problemas de ordem estrutural: a deflexão e o momento fletor em uma asa de

alto alongamento tende a ser muito maior do que para uma asa de baixo alongamento, e, dessa

forma, o aumento do alongamento provoca um aumento das tensões atuantes na estrutura

necessitando de uma estrutura de maior resistência que acarreta diretamente no aumento de

peso da aeronave.

b) Manobrabiliade da aeronave: uma asa com alto alongamento possui uma razão de

rolamento menor quando comparada a uma asa de baixo alongamento, devido ao seu maior

braço de momento em relação ao eixo longitudinal da aeronave e ao seu maior momento de

inércia.

A Figura 2.24 apresentada a seguir mostra as aeronaves Piper PA-28 Cherokee com

baixo alongamento de asa e o bombardeiro USAF B52 com alto valor de alongamento.


58

Figura 2.24 – Exemplos de asas com baixo e alto alongamento.

Relação de afilamento: define-se relação de afilamento λ de uma asa, como a razão

entre a corda na ponta e a corda na raiz como mostra a Equação (2.17).

c

t

λ =

(2.17)

A Figura 2.25 mostra exemplos de uma asa sem afilamento e de uma asa com

afilamento.

c

r

Figura 2.25 – Exemplos de asa com afilamento e sem afilamento.

Exemplo 2.6 – Determinação do alongamento e da relação de afilamento de asas.

Duas asas são propostas para o projeto de uma nova aeronave com a finalidade de

participar da competição AeroDesign. A primeira possui uma forma geométrica retangular

com envergadura b 1 = 2,30m e corda c = 0,40m. A segunda possui forma geométrica

trapezoidal com envergadura b 2 = 2,30m, corda na raiz c r = 0,40m e relação de afilamento λ =

0,5. Determine o alongamento para cada uma dessas asas.

Solução

Asa 1: como esta asa possui a forma geométrica retangular, o alongamento pode ser

determinado a partir da Equação (2.15).

AR =

1

b

c


59

AR

2,30

0,40

1

= =

5,75

Asa 2: esta asa por possuir forma geométrica trapezoidal tem seu alongamento determinado

pela solução da Equação (2.16).

AR

1 =

2

b

S

A área da asa é determinada a partir da área de um trapézio.

b ⋅

S =

c r

+ c )

(

t

2

com a corda na ponta da asa determinada pela solução da Equação (2.17).

λ =

c

c

t

r

portanto:

ct

= λ ⋅ cr

= 0,50

⋅ 0,40

ct

= 0,20 m

assim, a área da asa é:

2,30 ⋅ (0,40 + 0,20)

S =

= 0,69 m²

2

e o alongamento é:

AR

2

2,30

=

0,69

1

=

7,66

2.5.3 – Corda média aerodinâmica

A corda média aerodinâmica é definida como o comprimento de corda que quando

multiplicada pela área da asa, pela pressão dinâmica e pelo coeficiente de momento ao redor

do centro aerodinâmico da asa, fornece como resultado o valor do momento aerodinâmico ao

redor do centro aerodinâmico do avião.

Segundo Raymer [2.4], uma construção geométrica para se obter a corda média

aerodinâmica de uma asa é representada pela Figura 2.26.


60

Figura 2.26 – Determinação da corda média aerodinâmica da asa.

A forma mostrada na Figura 2.26 para a determinação da corda média aerodinâmica é

muito fácil de ser aplicada em asas afiladas com forma geométrica trapezoidal convencional,

onde a partir de uma representação em escala da asa é possível obter a corda média

aerodinâmica e o seu ponto de intersecção em relação ao eixo lateral da aeronave ao longo da

envergadura da asa. Normalmente esse processo é realizado para a semi-asa.

O valor da corda média aerodinâmica e sua localização ao longo a envergadura da asa

também podem ser determinados a partir da solução matemática das Equações (2.18) e (2.19).

e

2

2 ⎛1

+ λ + λ ⎞

c = c r

(2.18)

3 ⎝ 1 + λ ⎠

b ⎛1

+ (2 ⋅ λ)

y = ⎜ ⎟

(2.19)

6 ⎝ 1 + λ ⎠

onde, b representa a envergadura da asa e λ a relação de afilamento.

A determinação da corda média aerodinâmica possui uma importância fundamental

para o dimensionamento das empenagens como será comentado posteriormente.

Exemplo 2.7 – Determinação da corda média aerodinâmica.

A asa de uma aeronave destinada a participar da competição AeroDesign possui a

forma geométrica em planta mostrada na figura a seguir. Para essa configuração determine

analiticamente a corda média aerodinâmica e sua localização a partir da raiz da asa.


61

Solução:

A relação de afilamento pode ser determinada a partir da solução da Equação (2.17).

ct

0,3

λ = =

c 0,5

r

λ = 0,6

Pela solução da Equação (2.18), chega-se ao valor da corda média aerodinâmica dessa asa.

2

c =

3

c r

2

⎛1

+ λ + λ ⎞

⎝ 1 + λ ⎠

c =

2

3

⎛1

+ 0,6 + 0,6

⋅ 0,5 ⋅

⎝ 1 + 0,6

c = 0,408 m

2

Pela solução da Equação (2.19), determina-se o valor da localização da corda média

aerodinâmica dessa asa em relação à raiz.

b ⎛1

+ (2 ⋅ λ)

y = ⎜ ⎟

6 ⎝ 1 + λ ⎠

1,9 ⎛1

+ (2 ⋅ 0,6) ⎞

y = ⋅ ⎜ ⎟

6 ⎝ 1 + 0,6 ⎠

y = 0,435m

2.5.4 – Forças aerodinâmicas e momentos em asas finitas

Do mesmo modo que ocorre para o perfil, a asa finita também possui suas qualidades

para geração de sustentação, arrasto e momento. A nomenclatura aeronáutica utiliza uma

simbologia grafada em letras maiúsculas para diferenciar as características de uma asa em

relação a um perfil, portanto os coeficientes aerodinâmicos de uma asa finita são denotados

por C L , C D e C M .

Esses coeficientes são responsáveis pela capacidade da asa em gerar as forças de

sustentação e arrasto além do momento ao redor do centro aerodinâmico da asa. As forças e

momentos atuantes em uma asa podem ser calculados com a aplicação das Equações (2.20),

(2.21) e (2.22) apresentadas a seguir.


62

1

L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(2.20)

2

1

D = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C D

(2.21)

2

M

1

= ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ c ⋅ C M

(2.22)

2

Nessas equações, L representa a força de sustentação, D representa a força de arrasto,

M representa o momento ao redor do centro aerodinâmico, S é a área da asa, e os coeficientes

C L , C D são característicos para uma asa de dimensões finitas e diferem dos coeficientes c l e c d

do perfil.

Exemplo 2.8 – Determinação das forças aerodinâmicas e momento em uma asa.

A asa mostrada na figura a seguir possui o perfil Selig 1223 e as características

geométricas indicadas. Determine a força de sustentação, a força de arrasto e o momento ao

redor do centro aerodinâmico considerando uma velocidade de 17m/s, C L = 1,2, C D = 0,04,

C M = -0,25 e ρ = 1,225kg/m³.

Solução:

A área da asa pode ser calculada a partir da aplicação da Equação (2.13).

b ⋅ ( c r

+ ct

)

S =

2

2 ,4 ⋅ (0,4 + 0,2)

S =

2

S = 0,78m²

A relação de afilamento é obtida pela aplicação da Equação (2.17).

ct

λ =

c

r

0,2

λ =

0,4

λ = 0,5


63

Portanto, a corda média aerodinâmica é dada por:

2

2 ⎛1

+ λ + λ ⎞

c = c r

3 ⎝ 1 + λ ⎠

c =

2

3

⎛1

+ 0,5 + 0,5

⋅ 0,4

⎝ 1 + 0,5

c = 0,311m

2

As forças aerodinâmicas e o momento são calculados pelas Equações (2.20), (2.21) e

(2.22).

Força de sustentação:

1

L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

2

2

1 2

L = ⋅1,225

⋅17

2

L =165,68 N

Força de arrasto:

⋅ 0,78 ⋅1,

D = ⋅

2

⋅ v

2

⋅ S ⋅

C D

1 ρ

04

1 2

D = ⋅1,225

⋅17

2

D = 5,52 N

Momento:

⋅ 0,78 ⋅ 0,

M

= ⋅

2

⋅ v

2

⋅ S ⋅ c ⋅

C M

1 ρ

)

M

M

1 2

= ⋅1,225

⋅17

2

= −10,73 Nm

⋅ 0,78 ⋅ 0,311⋅

( −0,25

2.5.5 – Coeficiente de sustentação em asas finitas

A primeira pergunta intuitiva que se faz quando da realização do projeto de uma nova

asa é se o coeficiente de sustentação dessa asa é o mesmo do perfil aerodinâmico?

A resposta para essa pergunta é não, e a razão para existir uma diferença entre o

coeficiente de sustentação da asa e do perfil está associada aos vórtices produzidos na ponta

da asa que induzem mudanças na velocidade e no campo de pressões do escoamento ao redor

da asa.


64

Esses vórtices induzem uma componente de velocidade direcionada para baixo

denominada “downwash” (w). Essa componente de velocidade induzida é somada

vetorialmente à velocidade do vento relativo V ∞ de modo a produzir uma componente

resultante de velocidade chamada de vento relativo local, como pode ser observado na Figura

2.27.

Figura 2.27 – Representação da velocidade induzida.

O vento relativo local é inclinado para baixo em relação a sua direção original, e o

ângulo formado é denominado de ângulo de ataque induzido α i . Portanto, pode-se notar que a

presença da velocidade induzida provoca na asa uma redução do ângulo de ataque e

conseqüentemente uma redução do coeficiente de sustentação local da asa quando comparada

ao perfil aerodinâmico. Em outras palavras, uma asa possui uma menor capacidade de gerar

sustentação quando comparada a um perfil. A representação do efeito do ângulo de ataque

induzido na seção local da asa pode ser observada na Figura 2.28 apresentada a seguir.

Figura 2.28 – Influência do ângulo de ataque induzido na seção local da asa.

A análise da Figura 2.28 permite observar que o ângulo de ataque de uma asa finita na

presença do escoamento induzido é menor que o ângulo de ataque do perfil. O ângulo de

ataque da asa na presença do “downwash” é chamado de ângulo de ataque efetivo e pode ser

calculado a partir da Equação (2.23).

α

= α −

(2.23)

ef

α i

O ângulo de ataque induzido pode ser calculado pela relação trigonométrica obtida na

Figura 2.28, onde:


65

w

tgα i

= (2.24)

V

Como este ângulo geralmente é muito pequeno, a aproximação tgα i ≅ α i é válida,

portanto:

w

α = (2.24a)

V

i

A determinação do ângulo de ataque induzido α i é geralmente complexa devido a sua

dependência com relação à velocidade induzida ao longo da envergadura da asa. Um modelo

teórico para a determinação da velocidade induzida pode ser obtido a partir do estudo da

teoria da linha sustentadora de Prandtl, que prediz que para uma asa com distribuição elíptica

de sustentação como mostra a Figura 2.29, o ângulo de ataque induzido pode ser calculado

pela Equação (2.25).

C L

α i

= π ⋅ AR

(2.25)

Figura 2.29 – Distribuição elíptica de sustentação.

A partir das considerações realizadas, pode-se verificar que o coeficiente de

sustentação obtido em uma asa é menor que o coeficiente de sustentação obtido pelo perfil, e

assim, a questão agora é: quanto menor?

A resposta para esta questão depende da forma geométrica e do modelo da asa. Na

Equação (2.25), claramente nota-se que um aumento no alongamento é benéfico para a

capacidade de geração de sustentação na asa, uma vez que proporciona uma redução do

ângulo de ataque induzido e aproxima as características da asa em relação ao perfil.

Asas com alto alongamento: normalmente asas com grande alongamento (AR>4),

representam uma escolha mais adequada para o projeto de aeronaves subsônicas. A teoria da

linha sustentadora de Prandtl, permite entre outras propriedades, estimar o coeficiente angular

da curva C L versus α da asa finita em função do coeficiente angular da curva c l versus α do

perfil. Como visto anteriormente, o coeficiente angular da curva do perfil é calculado pela

Equação (2.3a) e o coeficiente angular da curva da asa pode ser calculado a partir da Equação

(2.26) apresentada a seguir.


66

a =

1 + ( a0

a

0

/ π ⋅ e ⋅ AR)

(2.26)

Esta equação somente é válida para asas de alto alongamento operando em regime

subsônico incompressível, onde a e a 0 representam os coeficientes angulares das curvas da

asa e do perfil respectivamente. O resultado obtido é dado em rad -1 . O fator e, é denominado

fator de eficiência de envergadura da asa e representa um parâmetro que depende do modelo

geométrico da asa e é muito influenciado pelo alongamento e pela relação de afilamento da

asa. A Equação (2.27) apresentada a seguir permite uma estimativa do fator e.

1

e = (2.27)

1 + δ

O parâmetro δ presente na Equação (2.27) é denominado fator de arrasto induzido

sendo uma função do alongamento da asa e da relação de afilamento λ. A Figura 2.30 mostra

o gráfico da variação do fator δ em função da relação de afilamento para asas com diferentes

alongamentos.

Figura 2.30 – Determinação do fator de arrasto induzido δ.

Asas com baixo alongamento: para asas com alongamento inferior a 4, uma relação

aproximada para o cálculo do coeficiente angular da curva C L versus α foi obtida por

Helmbold’s baseada na teoria da superfície sustentadora, sendo esta equação representada

por:

a =

a

0

⎛ a0

1 + ⎜ ⎟

⎝ π ⋅ AR ⎠

2

a0

+

π ⋅ AR

(2.28)


67

Asas enflechadas: a função principal de uma asa com enflechamento é reduzir a

influência do arrasto de onda existente em velocidades transônicas e supersônicas.

Geralmente uma asa enflechada possui um coeficiente de sustentação menor quando

comparada a uma asa não enflechada, este fato está diretamente associado à diferença de

pressão entre o intradorso e o extradorso da asa.

Como forma de visualizar a situação comentada, considere duas asas sendo uma não

enflechada e uma enflechada como mostra a Figura 2.31.

Figura 2.31 – Efeito do escoamento sobre uma asa enflechada.

Admitindo-se um elevado valor de alongamento para as duas asas e desprezando-se os

efeitos dos vórtices de ponta de asa, a análise da Figura 2.31 permite observar que para a asa

não enflechada, a componente da velocidade do escoamento incidente na direção da corda da

asa é simplesmente u = V ∞ . Já para o caso da asa enflechada, percebe-se que u < V ∞ , ou seja, u

= V ∞ cos Λ, onde Λ é o ângulo de enflechamento da asa.

Como a distribuição de pressão sobre a seção de um aerofólio orientada

perpendicularmente ao bordo de ataque da asa é principalmente governada pela componente

de velocidade u atuante ao longo da corda e considerando que a componente de velocidade w

paralela ao bordo de ataque da asa provoca um efeito mínimo na distribuição de pressão, é

possível identificar que se o valor de u para uma asa enflechada é menor que o valor de u para

uma asa não enflechada, a diferença de pressão entre o intradorso e o extradorso da asa

enflechada será menor que a de uma asa não enflechada, pois a diferença de pressão depende

diretamente da velocidade incidente, e, portanto, pode-se concluir que o coeficiente de

sustentação gerado na asa enflechada tende a ser menor que o coeficiente de sustentação

gerado na asa não enflechada.

O modelo de uma asa enflechada pode ser observado na Figura 2.32.

Figura 2.32 – Geometria de uma asa enflechada.


68

Normalmente, o ângulo de enflechamento da asa é referenciado a partir da linha de

corda média e o coeficiente angular da curva C L versus α para uma asa enflechada pode ser

determinado de forma aproximada pela Equação (2.29) apresentada por Kuchemann.

a =

1 + [( a

0

a

⋅ cos Λ

2

⋅ cos Λ)

/( π ⋅ AR)

] + ( a

0

0

⋅ cos Λ)

/( π ⋅ AR)

(2.29)

Esta equação é válida para uma asa enflechada em regime de vôo incompressível.

Nesta equação é importante observar que o coeficiente angular da curva c l versus α do perfil

também foi corrigido para uma asa enflechada pelo termo a 0 cos Λ.

Para cada um dos três casos citados, o coeficiente angular da curva C L versus α da asa

finita sempre será menor que o do perfil. A Figura 2.33 mostra a comparação entre curvas

genéricas para um perfil e para uma asa de envergadura finita.

Figura 2.2.33 – Comparação entre as curvas do perfil e da asa finita.

Neste gráfico é importante observar que o ângulo de ataque para sustentação nula α L=0

é o mesmo tanto para o perfil como para a asa, porém com a redução do coeficiente angular,

percebe-se claramente a menor capacidade de geração de sustentação da asa em relação ao

perfil, onde C Lmáx <c lmáx , porém, um beneficio da asa finita em relação ao perfil está

relacionado ao ângulo de estol da asa que é maior que o do perfil, proporcionando melhores

características de estol como será apresentado oportunamente na seção destinada ao estudo do

estol.

A região linear da curva C L versus α da asa pode ser calculada multiplicando-se o

coeficiente angular da curva da asa com a diferença entre o ângulo de ataque e o ângulo de

ataque para sustentação nula, como mostra a Equação (2.30).

C

L

= (

L=

0

a ⋅ α − α )

(2.30)


69

Exemplo 2.9 – Comparação da curva c l versus α de um perfil com a curva C L versus α

de uma asa finita.

A figura apresentada a seguir mostra a curva c l versus α para o perfil Selig 1223 para

um número de Reynolds de 380000. Sabendo-se que uma asa que utiliza esse perfil possui um

alongamento AR = 8 e uma relação de afilamento λ = 0,4, determine o coeficiente angular da

curva C L versus α para essa asa e represente o gráfico comparativo entre o perfil e a asa para a

região linear da curva.

Perfil Selig 1223 - cl x alfa - Re 380000

2,5

Coeficiente de sustentação

2,0

1,5

1,0

0,5

0,0

-10 -5 0 5 10 15

Ângulo de ataque

Solução:

A determinação do coeficiente a 0 pode ser realizada a partir da aplicação da Equação

(2.3a) com os valores obtidos na curva c l versus α do perfil.

Para α = 5° tem-se c l2 = 1,7 e para α = 2° tem-se c l1 = 1,4, portanto:

dcl

cl2

− cl1

a

0

= =

α − α

2

1

a

0

dcl

1,7 −1,4

= =

dα 5°

− 2°

a = 0,100

0 grau-1

Conhecidos os valores do alongamento e da relação de afilamento é possível se

determinar o fator de arrasto induzido e o fator de eficiência de envergadura a partir do

gráfico da Figura 2.30 e da Equação (2.27).

A análise do gráfico da Figura 2.30 mostra que o fator de arrasto induzido para AR = 8

e λ = 0,4 é aproximadamente δ = 0,012.


70

Com a solução da Equação (2.27), chega-se ao valor do fator de eficiência de

envergadura da asa.

1

e = 1 + δ

1

e =

1 + 0,012

e = 0,988

Para asas de alto alongamento (AR>4), a Equação (2.26) pode ser utilizada como

forma de se calcular o valor do coeficiente angular da curva C L versus α para a asa. Nesta

equação, 57,3 é o fator utilizado para a obtenção do resultado em grau -1 .

a

a =

1 + (57,3 ⋅ a0

0

/ π ⋅ e ⋅ AR)

0,100

a =

1 + (57,3 ⋅ 0,100 / π ⋅ 0,988 ⋅ 8)

a = 0,0812 grau -1

Uma vez determinado o valor de a, a parte linear da curva C L versus α para esta asa

pode ser desenhada e os valores podem ser calculados com a aplicação da Equação (2.30) da

seguinte forma:

Para α = -8,5°

C

L

C

L

C

L

α

α

= a ⋅ ( −

L=

0

= 0,0812⋅

( −8,5

− ( −8,5))

= 0

)

Para α = -7,0°

C

L

C

L

C

L

= a ⋅ ( α − α

L=

0

= 0,0812⋅

( −7,0

− ( −8,5))

= 0,1218

)

Para α = -6,0°

C

L

= a ⋅ ( α − α

L=

0

)


71

C

L

C

L

= 0,0812⋅(

−6,0

−(

−8,5))

= 0,2030

Aqui estão apresentados os cálculos para os três primeiros pontos da curva, este

processo deve ser repetido com incrementos de 1° para toda a região linear da curva. A partir

de um determinado ponto não existe uma equação que possa definir de maneira exata a

variação do C L em função do ângulo de ataque.

Os resultados obtidos pela aplicação sucessiva da Equação (2.30) estão representados

na tabela a seguir.

Perfil

Asa

α c l α C L

-8,5 0 -8,5 0

-7 0,15 -7 0,1218

-6 0,25 -6 0,2030

-5 0,35 -5 0,2842

-4 0,45 -4 0,3654

-3 0,55 -3 0,4466

-2 0,65 -2 0,5278

-1 0,75 -1 0,609

0 0,85 0 0,6902

1 0,95 1 0,7714

2 1,05 2 0,8526

3 1,15 3 0,9338

4 1,25 4 1,0150

5 1,35 5 1,0962

6 1,45 6 1,1774

7 1,55 7 1,2586

8 1,65 8 1,3398

9 1,75 9 1,4210

10 1,85 10 1,5022

O gráfico resultante do comparativo entre o perfil e a asa está apresentado a seguir.


72

O cálculo realizado permite observar que o coeficiente angular da curva dessa asa é

18,8% menor que o coeficiente angular da curva do perfil, e, portanto, pode-se concluir que

esta asa possui essa inferioridade percentual em relação ao perfil para a geração de

sustentação. Desse modo, uma aproximação válida para a determinação do valor do C Lmáx da

asa é a redução percentual entre a asa e o perfil, e assim, para a asa em questão o máximo

valor do coeficiente de sustentação é aproximadamente, 1,867.

2.5.6 – O estol em asas finitas e suas características

Como citado anteriormente, é possível se observar na curva característica C L versus α

de uma asa finita, que um aumento do ângulo de ataque proporciona um aumento do

coeficiente de sustentação, porém esse aumento de C L não ocorre indefinidamente, ou seja,

existe um limite máximo para o valor do coeficiente de sustentação de uma asa. Este limite

máximo é designado na industria aeronáutica por ponto de estol.

Muitos são os parâmetros que contribuem para o estol, dentre eles, o principal é

justamente a variação do ângulo de ataque, onde a análise da curva C L versus α permite

observar que a partir de um determinado valor de α, o coeficiente de sustentação decresce

rapidamente. Este ângulo de ataque é denominado ângulo de estol.

O estudo do estol representa um elemento de extrema importância para o projeto de

um avião, uma vez que proporciona a determinação de parâmetros importantes de

desempenho, como por exemplo, a mínima velocidade da aeronave e a determinação dos

comprimentos de pista necessários ao pouso e decolagem.

O estol é provocado pelo descolamento do escoamento na superfície superior da asa,

esse descolamento é devido a um gradiente adverso de pressão que possui a tendência de fazer

com que a camada limite se desprenda no extradorso da asa. Conforme o ângulo de ataque

aumenta, o gradiente de pressão adverso também aumenta, e para um determinado valor de α,

ocorre a separação do escoamento no extradorso da asa de maneira repentina. Quando o

descolamento ocorre, o coeficiente de sustentação decresce drasticamente e o coeficiente de

arrasto aumenta rapidamente. A Figura 2.34 apresentada a seguir mostra a curva característica

C L versus α para uma asa qualquer, onde são apresentados dois pontos principais. No ponto A

verifica-se o escoamento completamente colado ao perfil e, no ponto B nota-se o escoamento

separado, indicando assim, uma condição de estol.


73

Na curva apresentada, pode-se notar que toda asa possui um coeficiente de sustentação

máximo denotado por C Lmáx e um correspondente ângulo de ataque denominado ângulo de

estol.

Figura 2.34 – Representação do estol.

Como citado, o estol é um parâmetro de muita importância para se definir certas

qualidades de desempenho da aeronave. A primeira qualidade a ser observada e definida é a

determinação da velocidade de estol, que representa a mínima velocidade com a qual é

possível se manter o vôo reto e nivelado da aeronave. Essa velocidade pode ser calculada a

partir da equação fundamental da sustentação e escrita da seguinte forma.

v

estol

= 2 ⋅ L

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

(2.31)

Como será definido futuramente no capítulo destinado a análise de desempenho da

aeronave, de forma a se manter o vôo reto e nivelado de uma aeronave, a força de sustentação

(L) deve ser igual ao peso (W), portanto, a Equação (2.31) pode ser escrita da seguinte forma.

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

(2.31a)

Para se obter boas qualidades de desempenho de uma aeronave, é desejável que se

obtenha o menor valor possível para a velocidade de estol, pois dessa forma, o avião

conseguirá se sustentar no ar com uma velocidade baixa, além de necessitar de um menor

comprimento de pista tanto para decolar como para pousar.

Avaliando-se as variáveis presentes na Equação (2.31a), nota-se que um aumento do

peso contribui de maneira negativa para a redução da velocidade de estol. Porém em projetos

da natureza do AeroDesign, o aumento do peso é um ponto fundamental para um bom

desempenho da equipe, uma vez que a carga útil carregada representa a conquista de muitos

pontos. Como o peso contribui de forma negativa para a redução da velocidade de estol e


74

representa um “mal necessário” no projeto AeroDesign, uma forma de se otimizar o resultado

da Equação (2.31a) é trabalhar com as variáveis que se encontram no denominador da função.

Dentre essas, a densidade do ar também contribui de forma negativa, pois seu valor

torna-se cada vez menor conforme a altitude aumenta, e, assim, a minimização da velocidade

de estol passa a ser dependente somente dos aumentos da área da asa e do coeficiente de

sustentação máximo.

O aumento da área da asa de forma excessiva pode piorar em muito o desempenho da

aeronave, pois da mesma forma que aumenta o valor da força de sustentação gerada, também

proporciona um aumento na força de arrasto, portanto, conclui-se que o parâmetro mais

eficiente para se reduzir à velocidade de estol é utilizar um valor de C Lmáx tão grande quanto

possível, e isso recai na escolha adequada do perfil aerodinâmico da asa. Geralmente para

aeronaves que participam da competição AeroDesign os perfis de alta sustentação são

escolhidos para o projeto da aeronave, além da forma geométrica da asa que deve possuir um

alongamento que proporcione um coeficiente angular da curva C L versus α para a asa bem

próximo do coeficiente angular da curva c l versus α para o perfil. A Figura 2.35 mostra um

ensaio em vôo para análise do estol realizado com fios de lã presos ao extradorso da asa.

Figura 2.35 – Ensaio em vôo para verificação do estol.

A foto apresentada na Figura 2.35 mostra uma situação onde pode-se observar

claramente o descolamento da camada limite próxima à raiz da asa, indicando assim uma

situação de estol.


75

2.5.6.1 – Influência da forma geométrica da asa na propagação do estol

A forma como o estol se propaga ao longo da envergadura de uma asa depende da

forma geométrica escolhida e representa um elemento importante para a determinação da

localização das superfícies de controle (ailerons) e dispositivos hipersustentadores (flapes).

Em uma asa trapezoidal, o ponto do primeiro estol ocorre em uma região localizada

entre o centro e a ponta da asa, e sua propagação ocorre no sentido da ponta da asa. Esta

situação é muito indesejada, pois uma perda de sustentação nesta região é extremamente

prejudicial para a capacidade de rolamento da aeronave uma vez que os ailerons geralmente

se encontram localizados na ponta da asa. Particularmente, essa situação é muito indesejada

em baixas alturas de vôo, pois uma ocorrência de estol com perda de comando dos ailerons na

proximidade do solo praticamente inviabiliza a recuperação do vôo estável da aeronave.

Para o caso de uma asa com forma geométrica retangular, a região do primeiro estol

ocorre bem próximo à raiz da asa, e, dessa forma, a região mais próxima da ponta continua

em uma situação livre do estol, permitindo a recuperação do vôo da aeronave fazendo-se uso

dos ailerons que se encontram em uma situação de operação normal. Da mesma forma que

ocorre na asa retangular, uma asa com forma geométrica elíptica também proporciona uma

propagação da região de estol da raiz para a ponta da asa. A Figura 2.36 mostra as formas

mais tradicionais citadas e suas respectivas propagações do estol.

Figura 2.36 – Direção da propagação do estol.

A grande maioria das aeronaves possui asa afilada, e uma das soluções utilizadas para

se evitar o estol de ponta de asa é a aplicação da torção geométrica, ou seja, as seções mais

próximas à ponta da asa possuem um ângulo de incidência menor quando comparadas às


76

seções mais internas. A torção geométrica é conhecida na nomenclatura aeronáutica por

“washout”. A Figura 2.37 mostra um exemplo de torção geométrica em asas.

Figura 2.37 – Exemplo de torção geométrica

Exemplo 2.10 – Cálculo da velocidade de estol.

Considere uma aeronave projetada para voar com um peso total de 150 N em

condições de atmosfera padrão ao nível do mar (ρ = 1,225 kg/m³), sabendo-se que o

coeficiente de sustentação máximo obtido para a asa dessa aeronave que possui o perfil Selig

1223 é igual a 2,0 e que a área da asa é de 0,90 m², determine a velocidade de estol dessa

aeronave.

Solução:

A velocidade de estol da aeronave pode ser determinada a partir da Equação (2.31a).

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

Substituindo-se os valores fornecidos, tem-se que:

vestol

=

2⋅150

1,225 ⋅0,9

⋅ 2

= 11,66 m/s

2.5.7 – Aerodinâmica da utilização de flapes na aeronave

Os flapes são dispositivos hiper-sustentadores que consistem de abas ou superfícies

articuladas existentes nos bordos de fuga das asas de um avião, quando estendidos aumentam

a sustentação e o arrasto de uma asa pela mudança da curvatura do seu perfil e do aumento de

sua área.

Geralmente, os flapes podem ser utilizados em dois momentos críticos do vôo:

a) durante a aproximação para o pouso, em deflexão máxima, permitindo que a

aeronave reduza a sua velocidade de aproximação, evitando o estol. Com isso a aeronave

pode tocar o solo na velocidade mais baixa possível para se obter o melhor desempenho de

frenagem no solo e reduzindo consideravelmente o comprimento de pista para pouso.

b) durante a decolagem, em ajuste adequado para produzir a melhor combinação de

sustentação (máxima) e arrasto (mínimo), permitindo que a aeronave percorra a menor

distância no solo antes de atingir a velocidade de decolagem.

Os flapes normalmente se encontram localizados no bordo de fuga próximos à raiz da

asa como pode ser observado na Figura 2.38.


77

Figura 2.38 – Localização dos flapes.

Basicamente os flapes podem ser utilizados em uma aeronave como forma de se obter

os maiores valores de C Lmáx durante os procedimentos de pouso e decolagem sem penalizar o

desempenho de cruzeiro da aeronave. Os flapes podem ser definidos como artifícios

mecânicos que alteram temporariamente a geometria do perfil e conseqüentemente da asa. A

Figura 2.39 mostra os principais tipos de flapes utilizados nas aeronaves.

Figura 2.39 – Principais tipos de flapes.

O efeito provocado pela aplicação dos flapes pode ser visualizado na Figura 2.40

apresentada a seguir, onde, na qual, pode-se notar um considerável aumento no valor do C Lmáx

sem que ocorra nenhuma mudança do coeficiente angular da curva C L versus α.


78

Figura 2.40 – Efeito da aplicação dos flapes.

Porém, como a aplicação dos flapes proporciona um aumento no arqueamento do

perfil percebe-se que a curva C L versus α sofre um deslocamento para a esquerda acarretando

em uma diferença de ângulo de ataque para se obter a sustentação nula e também um menor

ângulo de estol quando comparado a uma situação sem flape.

O coeficiente de sustentação máximo obtido pela aplicação dos flapes pode ser

estimado de acordo com McCormick [2.2] pela aplicação da Equação (2.32).

C

= ( 1+

x)

(2.32)

Lmáxcf

C Lmáxsf

onde a variável x representa a fração de aumento na corda do perfil originada pela aplicação

dos flapes.

Exemplo 2.11 – Cálculo do C Lmáx devido à utilização de flapes na aeronave.

Considere um perfil onde o máximo coeficiente de sustentação é 2,0, sabendo-se que com a

utilização de flape tipo “plain” a corda do perfil sofre um aumento percentual x = 5% como

mostra a figura a seguir, determine o máximo coeficiente de sustentação desse perfil com a

utilização desse tipo de flape.

Solução:

Aplicando-se a Equação (2.32), tem-se que:


79

C

= ( 1 + x)

Lmáxcf

C Lmáxsf

C

Lmáxcf

C

Lmáxcf

= ( 1 + 0,05) ⋅ 2

= 2,1

2.5.8 – Distribuição elíptica de sustentação

A determinação da distribuição de sustentação ao longo da envergadura de uma asa

representa um fator de grande importância para o dimensionamento estrutural da mesma e

envolve importantes conceitos relativos à aerodinâmica da aeronave. O modelo apresentado a

seguir é oriundo da teoria da linha sustentadora de Prandtl e representa um caso particular

aplicado a asas com forma elíptica denominado distribuição elíptica de sustentação. Esta

situação possui grande importância prática, pois a partir dessa distribuição de sustentação

torna-se possível encontrar de forma aproximada qual será a distribuição de sustentação em

uma asa com forma geométrica diferente da elíptica. A Figura 4.41 apresentada a seguir

mostra a distribuição elíptica de sustentação sobre a asa de uma aeronave.

Figura 4.41 – Distribuição elíptica de sustentação.

A aplicação desse modelo teórico permite estimar a distribuição de circulação Γ (y) ao

longo da envergadura da asa, e, pela aplicação do teorema de Kutta-Joukowski é possível

determinar também qual será a força de sustentação atuante em cada seção ao longo da

envergadura.

Assume-se que a distribuição da circulação ao longo da envergadura da asa pode ser

calculada diretamente pela aplicação da Equação (2.33).

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ ( y)

= Γ

0

⋅ 1 − ⎜ ⎟ (2.33)

⎝ b ⎠

onde a variável Γ 0 é uma constante e representa a circulação no ponto médio da asa em estudo

e b representa a envergadura da asa. A curva que representa a distribuição de circulação Γ(y)

dada pela Equação (2.33) é a parcela superior da elipse mostrada na Figura 4.42 e a equação

dessa elipse é:

⎛ Γ ⎞

⎝ Γ

0 ⎠

2

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

+ ⎜ ⎟

⎝ b ⎠

= 1

(2.34)


80

Figura 2.42 – Representação gráfica da Equação (2.34).

A análise da Equação (2.34) permite observar que Γ atinge o seu máximo valor Γ 0 no

ponto médio da asa no qual a coordenada de posição dessa seção é y = 0 e decai a zero nas

extremidades da asa onde y = ± b/2.

Como forma de se obter a circulação no ponto médio da asa, a teoria da linha

sustentadora de Prandtl prediz que:

4 ⋅ L

Γ

0

=

(2.35)

ρ ⋅ v ⋅ b ⋅ π

Geralmente, este valor de Γ 0 é determinado para o estudo estrutural da asa e, portanto,

calculado para a velocidade de manobra e a força de sustentação equivalente, obtidas para o

ponto de manobra da aeronave através do estudo do diagrama (v-n). Este diagrama será

comentado em detalhes no capítulo destinado a análise de desempenho sendo que a força de

sustentação a partir da análise do diagrama (v-n) pode ser obtida da seguinte forma.

L = n W

(2.36)

máx

onde n máx representa o fator de carga máximo a que a aeronave está sujeita e W representa o

peso total da mesma.

Uma vez determinado o valor de Γ 0 em (m²/s), a distribuição de circulação poder ser

calculada ao longo de toda a envergadura da asa considerando-se uma variação da posição de

y desde –b/2 até +b/2 e a força de sustentação atuante para cada seção pode ser obtida pela

aplicação do teorema de Kutta-Joukowski da seguinte forma.

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ ( y)

(2.7)

A aplicação dessa metodologia permite obter de forma rápida a distribuição de

sustentação ao longo da envergadura de uma asa, porém é importante ressaltar que este

método é aplicado a asas com forma geométrica elíptica não fornecendo resultados precisos

para asas que não possuem a forma elíptica.

Exemplo 2.12 – Cálculo da Distribuição elíptica de sustentação.

Uma aeronave possui uma asa elíptica com envergadura b = 2,5m e foi projetada para

alçar vôo com um peso total W = 150N. Sabendo-se que em condições de atmosfera padrão ao

nível do mar (ρ = 1,225kg/m³) a velocidade do ponto de manobra e o máximo fator de carga


81

obtidos no diagrama (v-n) são respectivamente v = 23m/s e n máx = 2, determine a circulação Γ 0

no ponto médio da asa. Monte uma tabela com os valores de Γ(y) e L(y) para cada estação y

ao longo da envergadura e represente em um gráfico a distribuição da força de sustentação ao

longo da envergadura dessa asa.

Solução:

A força de sustentação atuante no ponto de manobra da aeronave pode ser calculada

pela solução da Equação (2.36).

L = n

máx

W

L = 2 ⋅150

L = 300 N

Este valor deve ser utilizado para o dimensionamento estrutural da asa, ou seja a

aeronave se encontra em uma condição critica de vôo.

O valor numérico da circulação no ponto médio da asa é calculado a partir da Equação

(2.35).

4 ⋅ L

Γ

0

=

ρ ⋅ v ⋅ b ⋅ π

Γ

0

4 ⋅ 300

=

1,225 ⋅ 23 ⋅ 2,5 ⋅ π

Γ

0

= 5,425 m²/s

Os valores da circulação Γ(y) e da força de sustentação L(y) em cada estação ao longo

da envergadura são calculados pela aplicação das Equações (2.33) e (2.37) com os valores de

y variando de –b/2 até +b/2, ou seja, entre -1,25m e +1,25m. Como forma de se exemplificar

este cálculo, a seguir são apresentados os valores obtidos para três diferentes estações,

lembrando que o cálculo deve ser repetido ao longo de toda a envergadura da asa.

Para y = -1,25m,

A circulação é dada por:

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ ( y)

= Γ

0

⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ b ⎠

2

⎛ 2 ⋅ ( −1,25)

Γ ( y)

= 5,425 ⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ 2,5 ⎠

Γ ( y)

= 0

E a força de sustentação é:

2


82

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ ( y)

L ( y)

= 1,225 ⋅ 23 ⋅ 0

L( y)

= 0 N/m

Para y = -1,00m,

A circulação é dada por:

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ ( y)

= Γ

0

⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ b ⎠

2

⎛ 2 ⋅ ( −1,00)

Γ ( y)

= 5,425 ⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ 2,5 ⎠

Γ ( y)

= 3,255 m²/s

E a força de sustentação é:

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ ( y)

L ( y)

= 1,225 ⋅ 23 ⋅ 3,255

L( y)

= 91,70 N/m

Para y = -0,75m,

A circulação é dada por:

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ ( y)

= Γ

0

⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ b ⎠

2

⎛ 2 ⋅ ( −0,75)

Γ ( y)

= 5,425 ⋅ 1 − ⎜ ⎟

⎝ 2,5 ⎠

Γ ( y)

= 4,340 m²/s

E a força de sustentação é:

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ ( y)

L ( y)

= 1,225 ⋅ 23 ⋅ 4,340

L( y)

= 122,27 N/m

2


83

O processo apresentado foi aplicado sucessivas vezes com incrementos de 0,25m nos

valores de y resultando na tabela de dados apresentada a seguir.

Estação y (m) Γ(y) (m²/s) L(y) (N/m)

1 -1,25 0 0

2 -1,00 3,255 91,70

3 -0,75 4,340 122,27

4 -0,50 4,972 140,08

5 -0,25 5,315 149,75

6 0,00 5,425 152,84

7 0,25 5,315 149,75

8 0,50 4,972 140,08

9 0,75 4,340 122,27

10 1,00 3,255 91,70

11 1,25 0 0

A distribuição de sustentação ao longo da envergadura dessa asa pode ser visualizada

na figura apresentada a seguir.

A determinação das cargas aerodinâmicas na asa de uma aeronave em regime de vôo

subsônico envolve uma série de cálculos e processos complexos para se predizer com

acuracidade este carregamento. Em muitas vezes a solução só é possível através de

experimentos em túnel de vento, aplicação teórica do método dos painéis ou mesmo

programas de CFD.

Porém para o projeto preliminar de uma aeronave, a teoria clássica da linha

sustentadora é valida e a distribuição de sustentação ao longo da envergadura de uma asa com

uma forma geométrica qualquer pode ser obtida através de um modelo simplificado

denominado aproximação de Schrenk.

Normalmente este método é aplicado durante o projeto preliminar de uma nova

aeronave com asas de baixo enflechamento e de moderado a alto alongamento. O método

basicamente representa uma média aritmética entre a distribuição de carga originada pelo

modelo de asa em questão e uma distribuição elíptica para uma asa de mesma área e mesma

envergadura.

Para a aplicação deste método considere a asa trapezoidal mostrada na Figura 2.43,

cuja distribuição hipotética de sustentação ao longo da envergadura da semi-asa está

representada na Figura 2.44.


84

Figura 2.43 – Modelo de asa trapezoidal para utilização da aproximação de Schrenk.

Figura 2.44 – Distribuição trapezoidal ao longo da semi-envergadura.

A área da semi-asa pode ser calculada com base na Equação (2.13) resultando em.

S

2

( cr

+ ct

) ⋅ b

= (2.38)

4

Considerando a relação de afilamento dada pela Equação (2.17), a corda na ponta pode

ser expressa da seguinte forma:

c = λ ⋅

(2.39)

t

c r

A Equação (2.38) pode ser reescrita da seguinte forma:

S

2

( ⋅ cr

+ cr

) ⋅b

= λ (2.40)

4

S cr ⋅ (1 + λ)

⋅ b

=

2 4

(2.40a)

Isolando-se c r tem-se que:

c r

4 ⋅ S

=

2 ⋅ (1 + λ)

⋅ b

(2.41)


85

c r

2⋅

S

=

(1 + λ)

⋅b

(2.41a)

Para a asa em estudo, a variação da corda ao longo da envergadura pode ser

representada pela seguinte dedução algébrica:

⎧⎡

y ⎤ ⎫

c

y

= cr

− ⎨⎢

⎥ ⋅ ( cr

− ct

) ⎬

(2.42)

⎩⎣b

2⎦

⎧⎡

y ⎤

c

y

= cr

− ⎨⎢

⎥ ⋅ ( cr

− λ ⋅ cr

) ⎬

(2.42a)

⎩⎣b

2⎦

⎧⎡

y ⎤ ⎫

c

y

= cr

− ⎨⎢

⎥ ⋅ ( cr

(1 − λ))

(2.42b)

⎩⎣b

2⎦

⎡2

⋅ y ⎤

c

y

= cr

− ⎢ ⋅ ( cr

(1 − λ))

(2.42c)

⎣ b

c

y

= c

r

2 ⋅ y ⋅ c

b

r

2 ⋅ y ⋅ c

+

b

r

⋅ λ

(2.42d)

c

y

= c

r

⎛ 2 ⋅ y 2 ⋅ y ⋅ λ ⎞

⋅ ⎜1 − + ⎟

(2.42e)

⎝ b b ⎠

c

y

= c

r

⎛ ⎛ 2 ⋅ y 2 ⋅ y ⋅ λ ⎞⎞

⋅ ⎜1 + ⎜−

+ ⎟⎟

(2.42f)

⎝ ⎝ b b ⎠⎠

⎡ ⎛ 2 ⋅ y ⎞⎤

c

y

= cr

⋅ ⎢1 + ⎜ ⋅ ( λ −1)

⎟⎥

(2.42g)

⎣ ⎝ b ⎠⎦

Substituindo a Equação (2.41a) na Equação (2.42g), tem-se que:

2 ⋅ S ⎡ ⎛ 2 ⋅ y ⎞⎤

c y

= ⋅ ⎢1

+ ⎜ ⋅ ( λ −1)

(1 + λ)

(2.43)

b ⎣ ⎝ b ⎠⎦

Esta equação permite obter a variação da corda ao longo da envergadura da asa

trapezoidal. Por analogia, a variação do carregamento atuante também segue a Equação

(2.43), portanto, substituindo S por L e c y por L(y) T é possível determinar uma distribuição

trapezoidal de carregamento ao longo da envergadura da asa pela aplicação da Equação

(2.44).

2 ⋅ L ⎡ ⎛ 2 ⋅ y ⎞⎤

L( y)

T

= ⋅ ⎢1

+ ⎜ ⋅ ( λ −1)

(1 + λ)

(2.44)

b ⎣ ⎝ b ⎠⎦


86

Porém esse carregamento não representa a realidade, pois como visto a distribuição de

carregamento ao longo da envergadura de uma asa se aproxima de uma elipse. Dessa forma, a

aproximação de Schrenk é utilizada como forma de se determinar uma distribuição média

entre a forma elíptica e trapezoidal. Para uma asa com forma geométrica elíptica, a Equação

(2.33) mostra que:

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ ( y)

= Γ

0

⋅ 1 − ⎜ ⎟ (2.33)

⎝ b ⎠

Considerando que:

4 ⋅ L

Γ

0

=

(2.35)

ρ ⋅ v ⋅ b ⋅ π

e,

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ ( y)

(2.37)

Pode-se escrever que:

L(

y)

E

ρ ⋅ v

4 ⋅ L

= ⋅

ρ ⋅ v ⋅ b ⋅π

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

1 − ⎜ ⎟

⎝ b ⎠

(2.45)

E assim, para uma distribuição elíptica de sustentação tem-se que:

4 ⋅ L ⎛ 2 ⋅ y ⎞

L( y)

E

= ⋅ 1 − ⎜ ⎟

b ⋅ π ⎝ b ⎠

2

(2.46)

Para um valor intermediário dado pela aproximação de Schrenk deve-se realizar a

média aritmética entre todos os valores obtidos pela solução das Equações (2.44) e (2.46) para

cada estação avaliada ao longo da envergadura da asa do seguinte modo:

L(

y)

TS

L(

Y )

T

+ L(

Y )

E

= (2.47)

2

O subscrito TS indica que a análise foi realizada para uma asa trapezoidal seguindo a

aproximação de Schrenk.

Exemplo 2.13 – Cálculo da Distribuição de sustentação pela aproximação de Schrenk.

Considere uma aeronave que possui uma asa trapezoidal com as seguintes

características geométricas: b = 2,5m, c r =0,5m e c t = 0,3m. Sabendo-se que esta aeronave foi

projetada para alçar vôo com um peso total W = 140N e que em condições de atmosfera

padrão ao nível do mar (ρ = 1,225kg/m³) a velocidade do ponto de manobra e o máximo fator

de carga obtidos no diagrama (v-n) são respectivamente v = 22m/s e n máx = 2,3. Determine a

partir da aproximação de Schrenk a distribuição de sustentação ao longo da envergadura dessa


87

asa mostrando uma tabela de resultados e um gráfico comparativo da distribuição da força de

sustentação ao longo da envergadura.

Solução:

A força de sustentação atuante no ponto de manobra da aeronave pode ser calculada

pela solução da Equação (2.36).

L = n

máx ⋅

W

L = 2,3

⋅140

L = 322 N

A relação de afilamento dessa asa é dada por:

λ =

c

c

t

r

0,3

λ =

0,5

λ = 0,6

Considerando y = 1,25m

Para uma distribuição elíptica tem-se a partir da aplicação da Equação (2.44) que:

4 ⋅ L ⎛ 2 ⋅ y ⎞

L( y)

E

= ⋅ 1 − ⎜ ⎟

b ⋅ π ⎝ b ⎠

2

4 ⋅ 322 ⎛ 2 ⋅1,25

L ( y)

E

= ⋅ 1 − ⎜ ⎟

2,5 ⋅π

⎝ 2,5 ⎠

2

L ( y)

= 0

E

Para a asa trapezoidal em estudo a partir da aplicação da Equação (2.46), tem-se que:

2 ⋅ L ⎡ ⎛ 2 ⋅ y ⎞⎤

( y)

= ⋅ ⎢1

+ ⎜ ⋅ ( λ −1)

(1 + λ)

⋅ b

⎣ ⎝ b ⎠⎦

L

T

L ( y)

T

2 ⋅ 322 ⎡ ⎛ 2 ⋅1,25

⎞⎤

= ⋅ ⎢1

+ ⎜ ⋅ (0,6 −1)

⎟⎥

(1 + 0,6) ⋅ 2,5 ⎣ ⎝ 2,5 ⎠⎦

L( y)

= 96,6 N

T

Pela aproximação de Schrenk, a força de sustentação nessa estação da asa é:


88

L(

y)

TS

L(

Y )

=

T

+ L(

Y )

2

E

L ( y)

TS

96,6 + 0

=

2

L( y)

= 48,3 N/m

TS

O processo apresentado foi aplicado sucessivas vezes com incrementos de 0,25m nos

valores de y resultando na tabela de dados apresentada a seguir.

Estação y (m) L(y) E (N/m) L(y) T (N/m) L(y) TS (N/m)

1 -1,25 0 96,60 48,30

2 -1,00 98,39 109,48 103,94

3 -0,75 131,19 122,36 126,77

4 -0,50 150,30 135,24 142,77

5 -0,25 160,68 148,12 154,40

6 0,00 163,99 161,00 162,49

7 0,25 160,68 148,12 154,40

8 0,50 150,30 135,24 142,77

9 0,75 131,19 122,36 126,77

10 1,00 98,39 109,48 103,94

11 1,25 0 96,60 48,30

O gráfico comparativo dos resultados está representado na figura a seguir.

2.6 – Arrasto em aeronaves

Na análise de desempenho de um avião e durante todas as fases de projeto, o arrasto

gerado representa a mais importante quantidade aerodinâmica, estimar a força de arrasto total

de uma aeronave é uma tarefa difícil de se realizar e a proposta dessa seção é mostrar os

principais tipos de arrasto que afetam o projeto de uma aeronave e fornecer alguns métodos

analíticos para estimar esses valores.


89

Como forma de se estimar o arrasto de uma aeronave, é importante citar que existem

apenas duas fontes de geração das forças aerodinâmicas em um corpo que se desloca através

de um fluido. Essas fontes são: a distribuição de pressão e as tensões de cisalhamento que

atuam sobre a superfície do corpo, e assim, existem apenas dois tipos característicos de

arrasto, o arrasto de pressão que ocorre devido ao desbalanceamento de pressão existente

sobre a superfície da aeronave e o arrasto de atrito proveniente das tensões de cisalhamento

que atuam sobre a superfície da aeronave. Todo e qualquer outro tipo de arrasto citado na

literatura aeronáutica é proveniente de uma dessas duas formas comentadas.

A seguir é apresentada uma lista com os principais tipos de arrasto existentes e a

definição de cada um deles.

Arrasto de atrito: como citado representa o arrasto devido às tensões de cisalhamento

atuantes sobre a superfície do corpo.

Arrasto de pressão ou arrasto de forma: representa o arrasto gerado devido ao

desbalanceamento de pressão causado pela separação do escoamento.

Arrasto de perfil: é a soma do arrasto de atrito com o arrasto de pressão, este termo é

comumente utilizado quando se trata do escoamento em duas dimensões, ou seja, representa o

termo empregado quando se realiza a análise de um aerofólio.

Arrasto de interferência: representa um arrasto de pressão que é causado pela

interação do campo dos escoamentos ao redor de cada componente da aeronave. Em geral o

arrasto total da combinação asa-fuselagem é maior que a soma individual do arrasto gerado

pela asa e pela fuselagem isoladamente.

Arrasto induzido: é o arrasto dependente da geração de sustentação, é caracterizado

por um arrasto de pressão causado pelo escoamento induzido “downwash” que é associado

aos vórtices criados nas pontas de uma asa de envergadura finita.

Arrasto parasita: representa o arrasto total do avião menos o arrasto induzido, ou

seja, é a parcela de arrasto que não está associada diretamente com a geração de sustentação.

Este é o termo utilizado para descrever o arrasto de perfil para um avião completo, isto é,

representa a parcela do arrasto total associada com o atrito viscoso e o arrasto de pressão

provenientes da separação do escoamento ao redor de toda a superfície do avião.

2.6.1 – Arrasto induzido

Para uma asa de dimensões finitas, o coeficiente de arrasto total em regime de

escoamento subsônico é obtido através da soma do coeficiente de arrasto do perfil com o

coeficiente de arrasto induzido gerado pelos vórtices de ponta de asa.

O arrasto induzido é caracterizado como um arrasto de pressão e é gerado pelos

vórtices de ponta de asa que produzem um campo de escoamento perturbado sobre a asa e

interferem na distribuição de pressão sobre a superfície da mesma ocasionando em uma

componente extra de arrasto com relação ao perfil aerodinâmico. A Figura 2.45 mostra os

vórtices gerados na ponta da asa de uma aeronave.


90

Figura 2.45 – Exemplo de vórtices gerados na ponta das asas.

Matematicamente para uma asa com alongamento (AR≥4), a teoria da linha

sustentadora de Prandtl mostra que o coeficiente de arrasto induzido é definido a partir da

Equação (2.48) apresentada a seguir.

C

Di

C

2

= L

π ⋅ e ⋅ AR

(2.48)

Analisando-se a Equação (2.48), é possível observar a relação existente entre o

coeficiente de arrasto induzido e o coeficiente de sustentação (onde C Di é uma função que

varia com C L ²). Esta relação é associada com a elevada pressão existente no intradorso da asa

e a menor pressão existente no extradorso, que é responsável pela geração dos vórtices de

ponta de asa no qual o escoamento contorna a ponta da asa do intradorso para o extradorso. A

diferença de pressão é o mesmo mecanismo que é responsável pela criação da força de

sustentação, portanto conclui-se que o arrasto induzido está intimamente relacionado com a

geração de sustentação da asa, ou seja, representa o “preço que deve ser pago” para produzir a

força de sustentação necessária ao vôo da aeronave.

O coeficiente de arrasto total da asa é obtido a partir da soma do coeficiente de arrasto

do perfil com o coeficiente de arrasto induzido como mostra Equação (2.49).

C = c + C

(2.49)

D

d

Di

2.6.1.1 - Técnicas utilizadas para a redução do arrasto induzido

A partir da análise da Equação (2.48), pode-se observar que para um determinado

valor do coeficiente de sustentação e alongamento da asa, o coeficiente de arrasto induzido

pode ser reduzido a partir da aproximação do fator de eficiência de envergadura para a

unidade, ou seja (e ≅ 1). O valor de (e) sempre é um número menor do que 1, a não ser para

uma asa com forma geométrica elíptica (asa ideal e = 1).

Na Equação (2.27) nota-se que o valor de (e) depende do fator de arrasto induzido δ,

analisando-se a Figura 2.30, nota-se que o valor de δ é geralmente da ordem de 0,05 ou menor

para a maioria das asas, isto significa dizer que o valor de (e) estará variando entre 0,95 e 1,0.

Dessa forma, pode-se concluir que o primeiro ponto ou técnica que pode ser utilizada para a

redução do arrasto induzido é aplicar o projeto de uma asa de forma elíptica ou muito próxima

dela. Porém, como visto anteriormente, embora a asa elíptica seja ideal, seu processo

construtivo é difícil e o custo de produção também é alto.


91

Uma segunda variável que modifica consideravelmente a Equação (2.48) é a variação

do alongamento da asa, onde pode-se notar que um aumento do alongamento é benéfico para

a redução do arrasto induzido. A Figura 2.46 mostra os vórtices de ponta de asa responsáveis

pelo arrasto induzido para uma aeronave com baixo alongamento e para uma aeronave com

alto alongamento de asa.

Figura 2.46 – variação do arrasto induzido devido à influência do alongamento da asa.

É importante observar que um aumento do alongamento representa um fator

predominante para a redução do arrasto induzido, e, dessa forma, se durante as fases de

projeto de um avião fossem levados em consideração apenas os efeitos aerodinâmicos, toda

aeronave operando em regime subsônico deveria possuir asas com alongamento

extremamente grandes como forma de se reduzir muito o arrasto induzido. Como não existe

apenas ganho na natureza, aumentar em demasia o arrasto induzido traz problemas estruturais

na aeronave, principalmente relacionados ao momento fletor na raiz da asa e ao peso

estrutural da mesma, e, dessa forma, existe uma relação de compromisso a ser fixada entre a

aerodinâmica e a resistência estrutural da aeronave.

Exemplo 2.14 – Efeito do aumento do alongamento no arrasto induzido.

Considere duas aeronaves com asas retangulares e mesma área em planta como mostra

a figura a seguir.


92

Sabendo-se que ambas as aeronaves se encontram em uma situação de vôo na qual o

coeficiente de sustentação é o mesmo e que a aeronave 2 possui uma envergadura b 2 = 1,5 b 1 ,

determine a relação entre os alongamentos das aeronaves 2 e 1 e calcule a porcentagem de

redução do arrasto induzido da aeronave 2 em relação a aeronave 1.

Solução:

O alongamento de cada asa pode ser calculado a partir da Equação (2.16).

2

b

AR = 1

1

S

, e 2

2

(1,5 b1

) 2,25b1

AR2

= =

S S

Assim, verifica-se que:

AR

AR

AR

AR

2

1

1

b

2

1

=

S

2,25

⋅ b

2 =

2,25

S

2

1

Pode-se observar que um aumento de envergadura para uma mesma área de asa

proporciona também um aumento no alongamento proporcional ao quadrado da envergadura

da asa.

O coeficiente de arraso induzido para cada uma das aeronaves pode ser escrito da

seguinte forma:

C

C

Di1

Di2

1

2

L

= C

π ⋅ e ⋅ AR

, e

= π ⋅

e

2

1

2

C

L

(

1

⋅ 2,25 ⋅ AR )

Assim pode-se escrever que:

C

C

2

C

L

Di2 π ⋅ e2

⋅ (2,25 ⋅ AR1

)

=

2

Di1

C

L

π ⋅ e ⋅ AR

1

1

C

C

Di2

Di1

=

π ⋅ e

2

2

C

L

π ⋅ e1

2

( 2,25 ⋅ AR1

) C

L

AR

1


93

C

C

Di2

Di1

=

1

2,25

= 0,444

Considerando-se e 1 ≅ e 2 , pode-se perceber que um aumento do alongamento em 1,5

vezes contribui para uma redução do arrasto induzido em um fator proporcional ao quadrado

da variação do alongamento, ou seja, no exemplo apresentado a redução do arrasto induzido

para a aeronave 2 é claramente notada em relação à aeronave 1 e corresponde a 55,6%.

2.6.1.2 – Efeito solo

O efeito solo representa um fenômeno que resulta em uma alteração do arrasto quando

a aeronave realiza um vôo próximo ao solo. Este efeito é provocado por uma redução do

escoamento induzido “downwash” nas proximidades do solo. Como comentado, o

escoamento induzido é provocado pela geração dos vórtices de ponta de asa que possuem uma

magnitude elevada em altos ângulos de ataque. Também é importante lembrar que altos

ângulos de ataque estão associados com baixas velocidades de vôo a frente. Nas operações de

pousos e decolagens a aeronave geralmente opera com baixa velocidade e elevado ângulo de

ataque, e, dessa forma, a vorticidade aumenta na ponta da asa e conseqüentemente o

escoamento induzido também aumenta, mas com avião voando nas proximidades do solo,

cria-se uma barreira que destrói a ação dos vórtices, e dessa forma, na presença do solo uma

parcela do vórtice é eliminada fazendo com que ocorra uma redução do escoamento induzido

e conseqüentemente uma redução do arrasto induzido, permitindo que nas proximidades do

solo a aeronave possa voar com a necessidade de uma menor tração.

A Figura 2.47 mostra os efeitos da proximidade do solo em relação a uma aeronave.

Figura 2.47 – Aeronave sob o efeito solo.


94

O efeito solo geralmente se faz presente a uma altura inferior a uma envergadura da

asa, ou seja, acima dessa altura a aeronave não sente a presença do solo. A uma altura de 30%

da envergadura em relação ao solo pode-se conseguir uma redução de até 20% no arrasto

induzido e a uma altura em relação ao solo de 10% da envergadura da asa consegue-se até

50% de redução do arrasto induzido. Assim, percebe-se que quanto mais próxima do solo a

asa estiver, mais significativa é a presença do efeito solo, uma considerável diferença na

presença o efeito solo pode ser sentida quando da escolha entre uma asa alta e uma asa baixa.

O efeito solo é uma importante quantidade que pode ser aproveitada para conseguir

uma decolagem com menor comprimento de pista, pois em sua presença a aeronave terá a

tendência de decolar com uma certa antecipação, pois com a redução do escoamento induzido

a asa possuirá um maior ângulo de ataque fazendo com que mais sustentação seja gerada e um

menor arrasto seja obtido durante a corrida de decolagem.

Uma expressão que prediz o fator de efeito solo φ é proposta por McCormick [2.2] e

pode ser calculada pela solução da Equação (2.50).

2

(16 ⋅ h b)

φ =

(2.50)

2

1 + (16 ⋅ h b)

Nesta equação, o fator φ é um número menor ou igual 1, h representa a altura da asa

em relação ao solo e b representa a envergadura da asa. Pode-se perceber que quando h = b, o

fator de efeito solo φ será bem próximo de 1, e para qualquer outro valor h < b o fator de

efeito solo será um número menor que 1, ou seja, uma quantidade que representa a

porcentagem de redução do arrasto induzido pela presença do solo.

Portanto, na presença do efeito solo, o coeficiente de arrasto induzido para uma

aeronave pode ser calculado a partir da Equação (2.51).

C

Di

CL

= φ ⋅

(2.51)

π ⋅ e ⋅ AR

0

2

onde e 0 representa o fator de eficiência de Oswald e será discutido com mais detalhes quando

da determinação da polar de arrasto da aeronave.

É importante ressaltar que esta equação somente deve ser utilizada para a

determinação das características de decolagem e pouso da aeronave quando o efeito solo se

faz presente, para o vôo em altitude, o fator de efeito solo é igual a 1 e dessa forma, não altera

em nada a determinação do arrasto induzido.

Exemplo 2.15 – Determinação da influência do efeito solo no arrasto induzido.

Determine o fator de efeito solo e o respectivo coeficiente de arrasto induzido para

uma asa de envergadura 2,5m com alongamento 7,15 e que durante a corrida de decolagem

está fixada em um ângulo de incidência que proporcione um C L = 0,7. Considere e 0 = 0,75 e

uma altura da asa em relação ao solo de 0,35m.

Solução:

O fator de efeito solo é obtido pela solução da Equação (2.50).

φ =

(16 ⋅ h b)

2

1 + (16 ⋅ h b)

2


95

φ =

(16 ⋅0,35

2,5)

1+

(16 ⋅0,35

2,5)

2

2

φ = 0,833

O respectivo coeficiente de arrasto induzido para essa situação é calculado pela Equação

(2.51).

C

Di

C

Di

C

Di

C

= φ ⋅

π ⋅ e

2

L

0

⋅ AR

2

0,7

= 0,833 ⋅

π ⋅ 0,75 ⋅ 7,15

= 0,0242

Para a situação apresentada o efeito solo está contribuindo com uma redução de 16,7% no

coeficiente de arrasto induzido da aeronave.

2.6.2 – Arrasto Parasita

O arrasto parasita de uma aeronave pode ser estimado através do cálculo individual da

força de arrasto parasita em cada componente da aeronave. É importante citar que em regiões

onde o arrasto de interferência se faz presente, este deve ser utilizado como estimativa

individual dos componentes da aeronave que se encontram sob o efeito da interferência.

Considerando que C Dn e S n representam respectivamente o coeficiente de arrasto

parasita e a área de referência para o n-ésimo componente da aeronave, então uma expressão

que pode ser utilizada para o cálculo do arrasto parasita de uma aeronave pode ser

representada por,

D

0

=

1 2 1 2

1 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅ CD

1

⋅ S1

+ ⋅ ρ ⋅ v ⋅ C

D2

⋅ S

2

+ ............. + ⋅ ρ ⋅ v ⋅ C

Dn

⋅ S

n

(2.52)

2

2

2

D

1 2

= ⋅ ρ ⋅ v ⋅ ( C

D1

⋅ S1

+ C

D2

⋅ S

2

+ ............. + C

Dn

⋅ S ) (2.52a)

2

0 n

Na Equação (2.52), é importante se observar que os coeficientes de arrasto de cada

componente não podem ser diretamente somados, pois cada uma possui uma área de

referência diferente, assim, a forma correta de se realizar o cálculo é através da soma dos

produtos C Dn S n . Esse produto é denominado na literatura aeronáutica com “área equivalente

de placa plana” e representado na notação pela letra f.

Considerando que o termo 1/2 ρv 2 representa a pressão dinâmica q, a Equação (2.52a)

pode ser reescrita da seguinte forma,


96

D

q

0

= C ⋅ S + C ⋅ S + ............. + C ⋅ S )

(2.53)

(

D1

1 D2

2

Dn

n

Como o produto C Dn S n representa a “área equivalente de placa plana” f, é obvio e

intuitivo que o quociente D/q também representa f, portanto a Equação (2.53) pode ser

expressa do seguinte modo,

D

q

0

= f = C ⋅ S + C ⋅ S + ............. + C ⋅ S )

(2.53a)

(

D1

1 D2

2

Dn

n

ou,

f

=

m

C

⋅ S

=

m

Dn n

n= 1 n=

1

f

n

(2.53b)

Essa notação indica que as áreas equivalentes de placa plana são somadas para suas n-

ésimas componentes desde n = 1 até n = m, onde m representa o número total de

componentes.

Geralmente os componentes que devem ser somados em uma aeronave destinada a

participar da competição SAE AeroDesign são:

a) Asa;

b) Fuselagem;

c) Componente horizontal da cauda (profundor);

d) Componente vertical da cauda (leme);

e) Trem de pouso principal;

f) Trem de pouso do nariz;

g) Rodas;

H) Interferência Asa-Fuselagem

I) Lincagem *;

J) Motor *.

* Segundo McCormick [2.2], esses componentes devem ser estimados através de

experimentos. Os componentes de lincagem e motor geralmente acrescem cerca de 20% no

total encontrado.

Normalmente existem muitas incertezas ao se tentar estimar com exatidão o

coeficiente de arrasto parasita de uma aeronave a partir do modelo apresentado. Essas

incertezas ocorrem devido principalmente as componentes da aeronave que se encontram sob

o efeito de arrasto de interferência além das irregularidades das superfícies que dificultam

muito o processo de cálculo. Em face dessas dificuldades, muitas vezes a melhor maneira de

se estimar o arrasto parasita é a partir do conhecimento prévio dos coeficientes de arrasto

parasita dos componentes de aeronaves já existentes e que possuem uma aparência similar a

da aeronave que se encontra em fase de projeto.

Dessa forma, um modo mais simples e eficaz de se estimar o coeficiente de arrasto

parasita é através da área molhada da aeronave S wet e do coeficiente de atrito equivalente C F ,

e, assim, a Equação (2.52a) pode ser expressa do seguinte modo,

D

0

1

= ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S wet

⋅ C F

(2.54)

2


97

ou,

D0 = q ⋅ S wet

⋅ C F

(2.54a)

Nesta equação, a área molhada da aeronave pode ser calculada pela integral de toda a

área que compõe a superfície da aeronave e que está imersa no escoamento.

O valor do C F depende diretamente do número de Reynolds e da corda média

aerodinâmica. Para uma placa plana submetida a um escoamento laminar incompressível a

teoria prediz que o coeficiente C F pode ser calculado da seguinte forma.

C

F

1,328

= (2.55)

R

e

Para o caso da mesma placa plana submetida a um escoamento turbulento, o valor de

C F pode ser obtido pela seguinte equação,

0,42

C

F

= (2.56)

2

ln (0,056R

)

Segundo Anderson [2.1], a Equação (2.56) fornece um resultado com uma acuracidade

da ordem de ±4% para uma faixa de números de Reynolds variando entre 10 5 e 10 9 .

Um ponto importante relacionado às Equações (2.55) e (2.56) é saber quando aplicálas.

A Equação (2.55) somente é válida para um escoamento completamente laminar e a

Equação (2.56) válida para um escoamento completamente turbulento, porém para a maioria

das aeronaves convencionais em regime de vôo subsônico, o escoamento inicia laminar

próximo ao bordo de ataque da asa, mas para elevados números de Reynolds normalmente

encontrados em vôo, a extensão do fluxo laminar geralmente é muito pequena e a transição

ocorre muito próxima ao bordo de ataque.

A aplicação de qualquer uma das duas equações citadas está sujeita a erros, pois o

resultado obtido é para uma placa plana e não para um perfil aerodinâmico. Baseado em

aeronaves existentes, Raymer [2.4] sugere a seguinte tabela para os valores de C F .

Tabela 2.6 – Coeficiente de atrito de superfície.

Aeronave

C F (subsônico)

Transporte civil 0,0030

Cargueiro militar 0,0035

Aeronave leve - monomotor 0,0055

Aeronave leve - bimotor 0,0045

Aeronave anfíbio 0,0065

e

A partir das considerações feitas, e sabendo-se que,

D

0 =

q

f

(2.57)


98

A Equação (2.54a) pode ser expressa da seguinte forma,

f

= S wet

⋅ C F

(2.58)

Portanto, com a definição matemática de f, a força de arrasto parasita da aeronave em

relação à área molhada pode ser calculada da seguinte forma,

D0 = q ⋅ f

(2.59)

Neste ponto é importante citar que a conotação “área equivalente de placa plana”

representa a área de referência de um modelo fictício que possui a mesma força de arrasto do

modelo em estudo. Desse modo, se o modelo em estudo passa a ter a área da asa como

referência, o coeficiente de arrasto parasita da aeronave pode ser determinado a partir da força

de arrasto parasita da asa.

D

0

1

2

2

= ⋅ ρ ⋅v

⋅ S ⋅C D 0

(2.60)

D

= q ⋅ S ⋅ C

(2.60a)

0 D0

C D

D0

0

=

(2.60b)

q ⋅ S

Substituindo a Equação (2.59) na Equação (2.60b), tem-se que,

ou ainda,

C D

q ⋅ f

0

=

(2.61)

q ⋅ S

q ⋅ S

wet

⋅ C

F

C

D0 =

(2.61a)

q ⋅ S

que resulta em,

C

S

wet

D0 = ⋅ C

F

(2.61b)

S

A Equação (2.87) permite estimar de forma rápida o coeficiente de arrasto parasita de

uma aeronave para uma condição de vôo de velocidade de cruzeiro. Como citado

anteriormente, certas incertezas estão presentes no modelo apresentado, pois o mesmo é

baseado em métodos empíricos e em dados históricos de aeronaves existentes.

Exemplo 2.16 – Determinação do coeficiente de arrasto parasita de uma aeronave.

Estime o coeficiente de arrasto parasita em condições de atmosfera padrão ao nível do

mar para uma aeronave cuja área de asa é 0,9m² e a área molhada total é igual a 5,4m².

Considere uma corda média aerodinâmica de 0,35m e uma velocidade de 18m/s.


99

Dados: ρ = 1,225kg/m³, µ = 1,7894x10 -5 kg/ms.

Solução:

O cálculo do número de Reynolds pode ser realizado a partir da aplicação da Equação (2.2),

assim, tem-se que:

R e

R

e

ρ ⋅ v ⋅ c

=

µ

1,225 ⋅18

⋅ 0,35

=

−5

1,7894 ⋅10

R

e

= 4,312

⋅10

5

O coeficiente de arrasto parasita da aeronave pode ser calculado a partir da Equação

(2.61b).

C

D0

S

=

S

wet

⋅ C

F

Para a solução desta equação é necessário se determinar o coeficiente de atrito

equivalente C F , que depende diretamente do número de Reynolds. Considerando um

escoamento totalmente laminar sobre a aeronave, o valor de C F pode ser determinado pela

aplicação da Equação (2.55).

C

F

1,328

=

R

e

C

F

=

1,328

4,312 ⋅10

5

C

F

= 0,00202

Portanto, o valor de C D0 é dado por.

5,4

C

D0 = ⋅ 0,00202

0,9

C = 0,01212

D0

(Resultado para escoamento laminar)

Considerando um escoamento totalmente turbulento sobre a aeronave, o valor de C F

pode ser determinado pela aplicação da Equação (2.56).

0,42

C

F

=

2

ln (0,056⋅

R )

e

C

F

0,42

=

2

5

ln (0,056 ⋅ 4,312 ⋅10

)


100

C

F

= 0,00412

Portanto, o valor de C D0 é dado por.

5,4

C

D0 = ⋅ 0,00412

0,9

C = 0,02472

D0

(Resultado para escoamento turbulento)

Vale ressaltar que os resultados encontrados foram obtidos com a utilização das Equações

(2.55) e (2.56), portanto um certo erro pode estar contido nesses resultados, pois as referidas

equações são resultados obtidos para o estudo de uma placa plana.

Considerando-se o valor de C F retirado da Tabela 2.6, tem-se que para uma aeronave leve

monomotora o valor de C F é 0,0055, e assim, o coeficiente de arrasto parasita da aeronave

será:

C

D

5,4

0,9

0

= ⋅

0,0055

C = 0,033

D0

(Resultado obtido seguindo as citações de Raymer)

2.7 – Aerodinâmica da empenagem

O dimensionamento dos componentes da empenagem de um avião representa um dos

aspectos mais empíricos e menos preciso de todo o projeto. Como citado no Capítulo 1 do

presente livro, a função primária da superfície horizontal da cauda é prover a estabilidade

longitudinal e o profundor atua como forma de se garantir o controle longitudinal e a

trimagem da aeronave. Já a superfície vertical possui a finalidade de garantir a estabilidade

direcional sendo que o leme de direção atua com a finalidade de prover o controle direcional

da aeronave.

Dessa forma, durante a fase preliminar do projeto de uma nova aeronave, as

dimensões das superfícies horizontal e vertical da empenagem devem ser suficientes para se

garantir a estabilidade e o controle da aeronave.

O processo para a realização desse dimensionamento é fundamentado em dados

históricos e empíricos onde duas quantidades adimensionais importantes denominadas de

volume de cauda horizontal e volume de cauda vertical são utilizadas para se estimar as

dimensões mínimas das superfícies de cauda. Essas quantidades adimensionais são definidas a

partir das Equações (2.62) e (2.63).

V

V

HT

VT

l

HT

⋅ S

HT

= (2.62)

c ⋅ S

lVT

⋅ SVT

= (2.63)

b ⋅ S

Nessas equações, l HT representa a distância entre o CG do avião e o centro

aerodinâmico da superfície horizontal da empenagem, l VT é a distância entre o CG do avião e

o centro aerodinâmico da superfície vertical da empenagem, S HT é a área necessária para a

superfície horizontal da empenagem, S VT a área necessária para a superfície vertical da

empenagem, c representa a corda média aerodinâmica da asa, b é a envergadura da asa e S a


101

área da asa. Baseado em dados históricos e empíricos de aviões monomotores existentes, os

valores dos volumes de cauda estão compreendidos na seguinte faixa:

0,35 ≤ V HT ≤ 0,5

0,04 ≤ V VT ≤ 0,06

As Equações (2.62) e (2.63) possuem como finalidade principal o cálculo das áreas

necessárias das superfícies horizontal e vertical da empenagem como forma de se garantir a

estabilidade e o controle da aeronave, assim, para a solução dessas equações se faz necessário

o conhecimento prévio da corda média aerodinâmica, da área da asa e da envergadura da

mesma. Os valores de l HT , l VT , V HT e V VT são adotados de acordo com a experiência do

projetista e às necessidades do projeto em questão. É importante observar que maiores valores

de l HT e l VT proporcionam menores valores de áreas para as superfícies horizontal e vertical da

empenagem. De maneira inversa, maiores valores de V HT e V VT proporcionam maiores valores

de área necessária. Portanto, a experiência do projetista é essencial para se definir os melhores

valores a serem adotados para a solução das Equações (2.62) e (2.63).

As principais configurações de empenagem geralmente utilizadas nas aeronaves são

denominadas como convencional, cauda em T, cauda em V, cauda dupla e cruciforme e estão

representadas a seguir nas Figuras 2.48 e 2.49.

Figura 2.48 – Principais tipos de empenagens.

Figura 2.49 – Ilustração dos principais tipos de empenagens.


102

A configuração convencional geralmente é a utilizada em praticamente 70% dos

aviões, este modelo é favorecido pelo seu menor peso estrutural quando comparada às outras

configurações citadas e também possui boas qualidades para se garantir a estabilidade e o

controle da aeronave. A cauda em T possui uma estrutura mais pesada e a superfície vertical

deve possuir uma estrutura mais rígida para suportar as cargas aerodinâmicas e o peso da

superfície horizontal. Uma característica importante da configuração em T é que a superfície

horizontal atua como um “end plate” na extremidade da superfície vertical resultando em um

menor arrasto induzido. A configuração em V geralmente pode ser utilizada na intenção de se

reduzir a área molhada da empenagem além de propiciar um menor arrasto de interferência,

porém sua maior penalidade é com relação a complexidade dos controles uma vez que leme e

profundor devem trabalhar em conjunto como forma de se manobrar a aeronave. A cauda

dupla normalmente é utilizada como forma de se posicionar o estabilizador vertical fora da

esteira de vórtices principalmente em elevados ângulos de ataque e a configuração cruciforme

representa basicamente uma situação intermediária entre a cauda convencional e a cauda em

T.

Uma vez que as utilizações das superfícies vertical e horizontal da empenagem devem

fornecer meios para se garantir a estabilidade e o controle da aeronave, as forças

aerodinâmicas atuantes nesses componentes geralmente são bem menores que as atuantes na

asa da aeronave além de mudarem de direção constantemente durante o vôo, isto implica na

utilização de perfis simétricos como forma de se garantir que em qualquer sentido de

movimento dessas superfícies a força aerodinâmica gerada seja equivalente.

A Tabela 2.6 apresentada a seguir mostra os perfis aerodinâmicos simétricos mais

utilizados para a construção das empenagens de uma aeronave destinada a participar da

competição SAE AeroDesign.

Tabela 2.7 – Perfis simétricos para utilização em empenagens.

NACA 0012 NACA 0009

Eppler 168 Eppler 169

Muitos outros modelos de perfis simétricos podem ser encontrados na literatura e no

banco de perfis NASG, aqui estão apresentados apenas os que geralmente são utilizados. É

importante citar que do mesmo modo que se realiza uma análise para os perfis arqueados

através das suas curvas características o mesmo deve ser feito para os perfis simétricos

utilizados na empenagem, pois os parâmetros aerodinâmicos desses perfis são de grande

importância para uma análise detalhada de estabilidade e controle da aeronave como será

discutido posteriormente em um capítulo destinado à estabilidade da aeronave.

Uma vez selecionado o perfil e calculada qual a área necessária para cada uma das

superfícies da empenagem, a forma geométrica adotada pode ser fruto da criação e

imaginação do projetista, normalmente a superfície horizontal assume uma forma geométrica

retangular, elíptica ou trapezoidal e a superfície vertical em 99% dos casos assume uma forma

trapezoidal.


103

Outro ponto importante com relação à superfície horizontal da empenagem é

relacionado ao seu alongamento, pois esta superfície pode ser considerada uma asa de baixo

alongamento, e, portanto, uma asa de menor eficiência. Assim, se o alongamento da superfície

horizontal for menor que o alongamento da asa da aeronave, quando ocorrer um estol na asa a

superfície horizontal da empenagem ainda possui controle sobre a aeronave, pois o seu estol

ocorre para um ângulo de ataque maior que o da asa.

Exemplo 2.17 – Cálculo de área das superfícies de cauda.

Uma nova aeronave destinada a participar da competição SAE-AeroDesign possui

uma envergadura de 2,2 m, área de asa S = 0,85 m² e uma corda média aerodinâmica c = 0,31

m, sabendo-se que os comprimento l HT e l VT são respectivamente iguais a 1,2 m e 1,1 m,

determine a mínima área necessária para as superfícies horizontal e vertical da empenagem

considerando os seguintes volumes de cauda V HT = 0,5 e V VT = 0,05. Mostre também um

desenho representado uma possível forma geométrica para essas superfícies considerando

uma geometria retangular para a superfície horizontal e uma geometria trapezoidal para a

superfície vertical.

Solução:

Cálculo da área da superfície horizontal:

VHT

⋅ c ⋅ S

S

HT

=

l

HT

S

HT

0,5

⋅ 0,31 ⋅ 0,85

=

1,2

S = 0,109 m²

HT

Cálculo da área da superfície vertical:

VVT

⋅ b ⋅ S

SVT

=

l

VT

S

HT

0,05

⋅ 2,2 ⋅ 0,85

=

1,1

S = 0,085 m²

HT

A configuração geométrica da superfície horizontal será determinada considerando uma

envergadura b HT = 0,6 m, dessa forma a corda é dada por:

S = b ⋅ c

HT

S

c

HT

=

b

c

HT

HT

HT

HT

0,109

=

0,6

HT


104

cHT

= 0,181 m

A representação geométrica da superfície horizontal é:

A configuração geométrica da superfície vertical será determinada considerando uma

envergadura b VT = 0,4 m e uma relação de afilamento de 0,5, dessa forma a corda na raiz é

dada por:

( cr + ctVT

) ⋅ b

VT

VT

S

HT

=

2

S

S

c

HT

HT

r VT

c

r VT

cr VT

( cr + (0,5 ⋅ crVT

)) ⋅ b

VT

VT

=

2

1,5

⋅ cr ⋅ b

VT VT

=

2

= 2

1,

5

⋅ S

HT

⋅ b

VT

2 ⋅ 0,085

=

1,5 ⋅ 0,4

= 0,283 m

A corda na ponta é dada por:

c

= 0 , 5 ⋅

tVT

c rVT

c

tVT

ctVT

= 0,5

⋅ 0,283

= 0,1415 m

A representação geométrica da superfície vertical é:


105

2.8 – Polar de arrasto da aeronave

Nesta seção será apresentada a aerodinâmica completa da aeronave através do estudo

da curva polar de arrasto. Basicamente toda a relação existente entre a força de sustentação e a

força de arrasto, bem como importantes detalhes sobre o desempenho da aeronave podem ser

obtidos a partir da leitura direta da curva polar de arrasto. Questões fundamentais como o que

é uma polar de arrasto? e, Qual sua importância? Serão discutidas em detalhes a seguir.

Uma obtenção precisa da curva que define a polar de arrasto de uma aeronave é

essencial para um ótimo projeto. Durante as fases iniciais do projeto de uma nova aeronave,

muitas vezes existe a necessidade da realização de uma série de iterações e refinamentos até

se chegar a uma equação ideal que define a polar de arrasto para o propósito do projeto em

questão.

2.8.1 – O que é uma polar de arrasto e como ela pode ser obtida?

A polar de arrasto representa uma curva que mostra a relação entre o coeficiente de

arrasto e o coeficiente de sustentação de uma aeronave completa. Essa relação é expressa

através de uma equação que pode ser representada por um gráfico denominado polar de

arrasto.

Para todo corpo com forma aerodinâmica em movimento através do ar existe uma

relação entre o coeficiente de sustentação (C L ) e o coeficiente de arrasto (C D ) que pode ser

expressa por uma equação ou então representada por um gráfico. Tanto a equação como o

gráfico que representam a relação entre (C L ) e (C D ) são chamados de polar de arrasto.

A polar de arrasto mostra toda a informação aerodinâmica necessária para uma análise

de desempenho da aeronave. A equação que define a polar de arrasto de uma aeronave pode

ser obtida a partir da força de arrasto total gerada na mesma. O arrasto total é obtido a partir

da soma do arrasto parasita com o arrasto de onda e com o arrasto devido a geração de

sustentação na aeronave, assim, a equação que define o arrasto total de uma aeronave na

forma de coeficientes aerodinâmicos pode ser escrita da seguinte forma.

C = C

0

+ C + C

(2.64)

D

D

Dw

Di

Na presente equação, o termo referente ao arrasto de onda pode ser desprezado durante

os cálculos do projeto de uma aeronave destinada a participar da competição SAE-

AeroDesign, uma vez que esta parcela de arrasto somente se faz presente em velocidades


106

transônicas ou supersônicas, o que não acontece em aeronaves que participam do AeroDesign

que normalmente realizam vôos em uma faixa de velocidades entre 10 m/s e 30 m/s. Dessa

forma, a Equação (2.64) pode ser reescrita da seguinte forma.

C

D

= C

D0

C

+

π ⋅ e

2

L

0

⋅ AR

(2.65)

O primeiro termo do lado direito da Equação (2.65) representa o arrasto parasita da

aeronave e o segundo representa o arrasto devido a produção de sustentação. De forma a

simplificar a presente equação, o arrasto de sustentação pode ser escrito na forma de um

coeficiente de proporcionalidade como mostra a Equação (2.66).

C

D

2

D0

+ K ⋅ C

L

= C

(2.66)

O coeficiente de proporcionalidade K é calculado por.

1

K =

π ⋅ e ⋅ AR

0

(2.67)

Sendo e 0 denominado fator de eficiência de Oswald. Segundo Anderson [2.1], o

coeficiente de Oswald representa cerca de 75% do fator de eficiência de envergadura e,

podendo ser obtido da seguinte forma.

e0 = 0, 75 ⋅ e

(2.68)

Geralmente para uma aeronave completa, e 0 é um número que se encontra entre 0,6 e

0,8, isto ocorre devido aos efeitos de interferência entre a asa e a fuselagem, bem como

devido aos efeitos da contribuição da cauda e outros componentes do avião.

A Equação (2.66) representa a polar de arrasto de uma aeronave, e, nesta equação, C D

representa o coeficiente total de arrasto da aeronave, C D0 representa o coeficiente de arrasto

parasita e o termo KC L ² representa o arrasto oriundo da produção de sustentação na aeronave.

Um gráfico genérico da polar de arrasto de uma aeronave é apresentado na Figura

2.50.

Figura 2.50 – Curva genérica da polar de arrasto de uma aeronave.


107

A curva apresentada na Figura 2.50 assume essa forma genérica para qualquer

aeronave em regime de vôo subsônico. A origem desta forma pode ser facilmente visualizada

a partir das forças aerodinâmicas que atuam em uma aeronave em vôo como mostra a Figura

2.51.

Figura 2.51 – Forças aerodinâmicas atuantes durante o vôo.

A partir da análise da Figura 2.51, pode-se perceber que para um determinado ângulo

de ataque α, a força resultante aerodinâmica R forma um ângulo θ em relação ao vento

relativo. Dessa forma, se R e θ forem desenhados em uma escala conveniente num gráfico, é

possível se traçar a polar de arrasto de uma aeronave como um todo, pois é certo que para

cada ângulo de ataque avaliado, um novo valor de R e um novo valor de θ serão obtidos. A

Figura 2.52 mostra o desenho da polar de arrasto para diversos valores de R e θ.

Figura 2.52 – Representação da resultante aerodinâmica na polar de arrasto.


108

Portanto, a polar de arrasto nada mais é que a representação da força resultante

aerodinâmica desenhada em coordenadas polares. É importante observar que cada ponto da

polar de arrasto corresponde a um ângulo de ataque diferente, também é importante notar que

o gráfico apresentado na Figura 2.52 possui seus valores dados em relação às forças

aerodinâmicas de sustentação e arrasto, porém normalmente a curva polar de arrasto de uma

aeronave é apresentada em termos dos coeficientes aerodinâmicos C D e C L . Em ambas as

situações, a curva obtida será exatamente a mesma.

Para uma maior eficiência aerodinâmica da aeronave, pode-se perceber que quanto

maior for o valor do ângulo θ, maior será a relação obtida entre a força de sustentação e a

força de arrasto e conseqüentemente menor será a parcela referente ao arrasto parasita,

fazendo dessa forma com que a curva polar se aproxime muito do eixo vertical. A situação

ideal para o projeto aerodinâmico seria um ângulo θ igual a 90°, pois dessa forma, todo o

arrasto seria eliminado da aeronave, porém isso é uma situação impossível de se obter na

prática, e, portanto, uma maneira muito eficaz de se melhorar a polar de arrasto de uma

aeronave é tentar reduzir o quanto possível o arrasto parasita e também o arrasto induzido da

aeronave.

Para toda polar de arrasto existe um ponto no qual a relação entre C L e C D assume o

seu máximo valor, esse ponto é denominado na aerodinâmica de ponto de projeto e

representado na nomenclatura por (L/D) máx ou eficiência máxima E máx .

É importante ressaltar que este ponto representa na aerodinâmica da aeronave um

ângulo de ataque no qual é possível manter o vôo da aeronave obtendo a máxima força de

sustentação com a menor penalização de arrasto acarretando em importantes características de

desempenho da aeronave que serão discutidas posteriormente em um capítulo à parte do

presente livro.

Como forma de se determinar o ponto de projeto de uma aeronave a partir da sua polar

de arrasto, a Figura 2.53 mostra a localização desse ponto e as Equações de (2.69) a (2.69i)

fornecem um subsidio matemático para a determinação do coeficiente de sustentação de

projeto denominado C L * com o qual é possível se obter a máxima eficiência aerodinâmica da

aeronave.

Figura 2.53 – Determinação da relação (L/D) máx .

Pode-se observar na Figura 2.53 que o máximo valor de θ e conseqüentemente a

máxima relação C L /C D ocorerá a partir de uma linha tangente a curva polar de arrasto partindo


109

da origem do sistema de coordenadas (linha 0,2). Para qualquer outra posição do gráfico que

não essa, a eficiência aerodinâmica da aeronave será menor.

A partir de definições fundamentais do cálculo diferencial e integral, pode-se chegar a

uma equação que permite obter o coeficiente de sustentação de projeto, o correspondente

coeficiente de arrasto e a eficiência máxima da aeronave. Assim, a partir da análise da Figura

2.53 observa-se que.

C

L

tg θ

máx

= = Emáx

(2.69)

C

Daí, pode-se escrever que.

D

1

tgθ

máx

C

D

=

C

L

1

=

E

máx

(2.69a)

ou,

1

tgθ

máx

C

+ K ⋅ C

D0

=

C

L

∗ 2

L

1

=

E

máx

(2.69b)

Como forma de se obter o máximo valor de eficiência para a aeronave, a definição

fundamental do cálculo diferencial e integral diz que a primeira derivada da função deve ser

igual a zero (problemas de máximos e mínimos), e, assim, o coeficiente de sustentação de

projeto C L * pode ser obtido da seguinte forma.

C

D0

+ K ⋅ C

C

L

∗ 2

L

d

dC

L

= 0

(2.69c)

Essa equação reduz o sistema a um único ponto no qual a tangente de θ assume o seu

máximo valor e conseqüentemente a eficiência aerodinâmica da aeronave também será

máxima, portanto, rearranjando os termos da equação tem-se que,

Derivando a equação tem-se que,

∗ − 1

∗ 2 d

C

L

⋅ ( C

D0

+ K ⋅ C

L

) = 0

(2.69d)

dC

L

∗ − 1

∗ d

C

L

⋅ C

D0

+ K ⋅ C

L

= 0

(2.69e)

dC

∗ − 2

L

− C

D 0

⋅ C

L

+ K = 0

(2.69f)

∗ 2

= C −

D 0

⋅ C

L

K (2.69g)


110

C

K =

(2.69h)

C

D0

∗ 2

L

E assim, o coeficiente de sustentação que maximiza a eficiência aerodinâmica da

aeronave pode ser escrito da seguinte forma,

C

L

=

C

D0

K

(2.69i)

o correspondente coeficiente de arrasto dado por,

∗2

D

= C

D0

+ K ⋅ C

L

C (2.70)

e a eficiência aerodinâmica máxima da aeronave calculada para o ponto de projeto é dada por,

L

D

C

E

máx

=

(2.71)

C

Durante a análise realizada no presente livro se considerou que o arrasto parasita da

aeronave coincide com o mínimo arrasto, ou seja, o vértice da parábola coincide com o valor

de C D0 para uma condição de C L = 0. Porém essa situação é utilizada para aeronaves que

possuem asas com perfil simétrico, para o caso de asas arqueadas quando a aeronave se

encontra no ângulo de ataque para sustentação nula α L=0 , o arrasto parasita tende a ser maior

que o mínimo arrasto da aeronave que geralmente neste caso ocorre para um ângulo de ataque

maior que α L=0 . Desse modo, a polar de arrasto característica assume uma forma similar à

mostrada na Figura 2.54 e a Equação (2.72) é utilizada para o cálculo da polar de arrasto da

aeronave.

Figura 2.54 – Polar de arrasto não simétrica.


111

C

D

= C

(2.72)

2

D min

+ K( C

L

− C

L min drag

)

Normalmente na prática a diferença entre os valores de C D0 e C Dmin é muito pequena e

pode ser desprezada durante os cálculos sem acarretar interferências importantes no

desempenho da aeronave.

Exemplo 2.18 – Traçado da polar de arrasto.

Uma nova aeronave destinada a participar da competição SAE-AeroDesign possui as

seguintes características:

Asa trapezoidal;

c r = 0,4 m;

c t = 0,2 m;

S = 0,75 m²;

b = 2,5 m;

C Lmáx = 2,0;

C D0 = 0,045.

Determine a equação da polar de arrasto, monte uma tabela e represente os resultados

no gráfico da polar de arrasto. Calcule o coeficiente de sustentação de projeto e seu respectivo

coeficiente de arrasto e determine a eficiência máxima da aeronave.

Solução:

O primeiro ponto que deve ser determinado é o alongamento da asa que pode ser

obtido a partir da solução da Equação (2.16), assim:

2

b

AR =

S

2,5

2

AR =

0,75

AR = 8,33

A relação de afilamento é calculada pela Equação (2.17),

ct

λ =

c

r

0,2

λ =

0,4

λ = 0,5

Conhecidos os valores do alongamento e da relação de afilamento é possível se

determinar o fator de arrasto induzido e o fator de eficiência de envergadura a partir do

gráfico da Figura 2.30 e da Equação (2.27).

A análise do gráfico da Figura 2.30 mostra que o fator de arrasto induzido é δ = 0,018.


112

Com a solução da Equação (2.27), chega-se ao valor do fator de eficiência de

envergadura da asa.

1

e = 1 + δ

1

e =

1 + 0,018

e = 0,982

Pela solução da Equação (2.68), chega-se ao valor do coeficiente de Oswald para a

aeronave.

e = 0 , 75 ⋅ e

e = 0,75

⋅ 0,982

e = 0,736

Com a solução da Equação (2.67), determina-se o valor da constante de

proporcionalidade K.

1

K =

π ⋅ e ⋅ AR

K = π ⋅

0

1

0,736

K = 0,05194

⋅ 8,33

Portanto, a equação que define a polar de arrasto dessa aeronave pode ser escrita da

seguinte forma.


113

C

D

=

2

0,045

+ 0,05194 ⋅ C

L

Para o traçado do gráfico é necessário inicialmente se montar uma tabela de dados

com o C L variando de 0 até C Lmáx . No problema proposto, a tabela será montada considerando

um incremento de 0,2 nos valores do C L , porém é importante citar que quanto maior o número

de pontos avaliados mais precisa será a curva obtida.

Antes de se apresentar a tabela resultante da análise, será mostrado o cálculo que foi

realizado para a obtenção dos dois primeiros pontos da curva.

Para C L = 0

C

D

C

D

= 0,045

+ 0,05194 ⋅ 0

= 0,045

Para C L = 0,2

C

D

= 0,045

+ 0,05194 ⋅ 0,2

2

C

D

= 0,047

Este procedimento deve ser repetido para cada ponto a ser avaliado durante a

construção do gráfico. A tabela resultante da análise é apresentada a seguir juntamente com o

respectivo gráfico da polar de arrasto dessa aeronave.

C L

C D

0 0,045

0,2 0,047

0,4 0,053

0,6 0,064

0,8 0,078

1 0,097

1,2 0,120

1,4 0,147

1,6 0,178

1,8 0,213

2 0,253

CL

2,5

2

1,5

1

0,5

0

Polar de arrasto

0,000 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250 0,300

CD

O coeficiente de sustentação de projeto é obtido pelo cálculo da Equação (2.69i).

∗ CD0

CL

=

K

C

L

=

0,045

0,05194


114

C

L

= 0,93

O correspondente coeficiente de arrasto é.

2

C = C + K ⋅ C

D

D0 L

C

D

= 0,045

+ 0,05194 ⋅ 0,93

2

C

D

= 0,089

E por fim a eficiência máxima da aeronave é dada por.

C

L

E

máx

=

C

D

E

máx

E

máx

=

0,93

0,089

=10,44

Esse resultado indica que para esta condição de vôo, a aeronave é capaz de gerar 10,44

vezes mais sustentação do que arrasto.

Esta seção procurou mostrar de forma clara e objetiva como estimar a polar de arrasto

de uma aeronave, porém outros métodos podem ser encontrados na literatura aeronáutica. É

importante citar que o modelo apresentado é valido apenas para escoamento subsônico e que

os resultados obtidos são muito satisfatórios para o proposto do projeto AeroDesign.

2.9 – Considerações sobre a aerodinâmica de biplanos

Reconhecidamente aeronaves do tipo biplano não são extensivamente utilizadas na

atualidade como eram no passado, porém existe uma grande quantidade dessas aeronaves que

ainda estão em operação. Para o propósito da competição SAE-AeroDesign, a configuração

do tipo biplano tem se mostrado muito competente e geralmente aeronaves com essa

configuração vêem conseguindo resultados muito expressivos durante as edições passadas da

competição. Dessa forma, o presente capítulo não poderia deixar de realizar comentários

importantes sobre a aerodinâmica desse tipo de aeronave, pois muitas equipes que se

organizam para participar da competição SAE-AeroDesign optam por esse tipo de

configuração.

Esta seção apresenta as principais características aerodinâmicas pertinentes a

configurações de biplanos, bem como mostra algumas expressões matemáticas que podem ser

utilizadas como forma de simplificação de uma aeronave com essa configuração para um

monoplano equivalente, onde a partir do qual todas as características aerodinâmicas podem

ser obtidas. A Figura 2.55 mostra aeronaves com configuração biplano.


115

Figura 2.55 – Configuração de biplanos.

2.9.1 – “gap” – Distância vertical entre as asas

O “gap” representa a distância vertical entre as asas de um biplano e deve ser medido

perpendicularmente ao eixo longitudinal da aeronave. O “gap” algumas vezes também é

definido como a distância que separa duas asas adjacentes de um multiplano. Geralmente o

“gap” de um biplano é representado pela relação gap/corda, ou seja, se esta relação é igual a

1, significa que a distância vertical entre as duas asas é igual ao comprimento da corda

aerodinâmica da asa.

Na pratica, a relação gap/corda é muito próxima de 1. O principal fator a ser avaliado

para a determinação da relação gap/corda é a interferência do escoamento gerado em cada

uma das asas, ou seja, deve-se prever na análise que a esteira do escoamento gerada na asa

superior não sofra interferência da esteira do escoamento gerada na asa inferior da aeronave,

portanto, as duas asas da aeronave devem estar tão distantes quanto for possível de forma a

minimizar os efeitos de interferência, mas por motivos estruturais, ao mesmo tempo é

necessário que a asa superior esteja o mais próximo possível da asa inferior, assim, existe uma

solução de compromisso entre a aerodinâmica e a estrutura da aeronave como forma de se

obter uma boa relação “gap”/corda. A Figura 2.56 mostra o “gap” entre duas asas.

Figura 2.56 – representação do “gap”.


116

2.9.2 – “Stagger”

O termo “Stagger” é definido como a diferença de posição entre o bordo de ataque das

duas asas, ou seja, o “stagger” representa o quanto o bordo de ataque de uma asa está

deslocado em relação ao bordo de ataque da outra asa. O “stagger” geralmente é representado

pelo ângulo de “stagger” expresso em graus como mostra a Figura 2.57.

Figura 2.57 – Representação do ângulo de “stagger”.

O “stagger” é considerado positivo quando o bordo de ataque da asa superior estiver a

frente do bordo de ataque da asa inferior, e considerado negativo quando o bordo de ataque da

asa superior estiver posicionado atrás do bordo de ataque da asa inferior como pode ser

observado na Figura 2.58. As vantagens aerodinâmicas do “stagger” geralmente são muito

pequenas, um biplano pode possuir ângulo de “stagger” simplesmente para facilitar a visão do

piloto ou então para prover uma maior facilidade para se ter acesso a cabine de comandos ou

ao compartimento de carga.

Figura 2.58 – Representação do “stagger” positivo e negativo.

2.9.3 – Decalagem

O termo decalagem representa a diferença entre os ângulos de incidência das asas de

um biplano. A decalagem é considerada positiva quando o ângulo de incidência da asa

superior for maior que o ângulo de incidência da asa inferior da aeronave.


117

Geralmente o ângulo de decalagem é muito pequeno e possui como finalidade

principal melhorar as características de estol da aeronave, pois com uma decalagem positiva, a

asa superior da aeronave tenderá a estolar antes da asa inferior uma vez que seu ângulo de

incidência é maior. Se os ailerons estiverem posicionados na asa inferior, estes ainda

possuirão comando para recuperar a aeronave de uma possível situação de estol, pois a asa

inferior ainda estará em condições normais de vôo. O ângulo de decalagem normalmente é da

ordem de 1° ou 2°, a Figura 2.59 mostra um exemplo do ângulo de decalagem.

Figura 2.59 – Representação do ângulo de decalagem.

2.9.3 – Determinação de um monoplano equivalente

A formulação matemática para a determinação das características aerodinâmicas de

um biplano geralmente envolve uma extensa série de cálculos e aproximações que despedem

muitas horas de estudo e dedicação para a correta análise desse tipo de aeronave. Como o

escopo deste livro não possui a finalidade de se avaliar em detalhes a aerodinâmica de

biplanos, a formulação matemática apresentada é um modelo simplificado proposto por Munk

[2.2] que permite converter o biplano em estudo em um monoplano equivalente que possua a

mesma forma em planta da asa com os mesmos valores de corda e proporcione o mesmo

desempenho final do biplano em questão.

Esta análise é realizada a partir do cálculo da envergadura do monoplano equivalente,

ou seja, as duas asas do biplano podem ser substituídas por uma única asa de um monoplano

desde que as características esperadas para o desempenho da aeronave sejam mantidas. O

cálculo da envergadura do monoplano equivalente pode ser realizado a partir da aplicação da

Equação (2.73).

b EQ

= k ⋅ b

(2.73)

onde b representa a envergadura original das asas do biplano e o parâmetro k depende

diretamente do valor do “gap” e da envergadura original das asas do biplano como pode-se

observar na Equação (2.74).


118

⎛ G ⎞

k = ⎜1 ,8 ⋅ ⎟ + 1

(2.74)

⎝ b ⎠

Como citado, o valor do “gap” deve ser próximo de uma corda como forma de se

evitar a interferência dos vórtices, bem como propiciar um certo conforto durante o

dimensionamento estrutural dos elementos de ligação entre as asas.

Uma vez determinado o valor da envergadura equivalente, o alongamento do

monoplano equivalente também pode ser determinado pela aplicação das Equações (2.75) e

(2.76).

bEQ

AREQ = (2.75)

c

AR

EQ

2

EQ

b

= (2.76)

S

EQ

A Equação (2.75) é utilizada para o caso de uma asa retangular com o valor de corda

idêntico à corda do biplano original e a Equação (2.76) para uma asa não retangular com a

área equivalente dessa asa calculada utilizando-se a envergadura equivalente obtida e os

respectivos valores de corda das asas do biplano.

Muitas vezes a impressão inicial que se tem é que o simples fato da existência de duas

asas na aeronave irá contribuir para gerar o dobro de força de sustentação, porém isso não é

verdade, pois uma série de interferências entre vórtices, o aumento do arrasto e o aumento do

peso estrutural proporcionam um aumento efetivo bem menor do que o inicialmente esperado.

Dessa forma, a envergadura do monoplano equivalente indica que as duas asas do biplano

podem ser substituídas por uma única asa com esta envergadura como forma de propiciar o

mesmo desempenho para a aeronave, e a partir da determinação do alongamento do

monoplano equivalente todos os outros cálculos da aerodinâmica da aeronave podem ser

realizados de acordo com os modelos apresentados no decorrer do presente capítulo.

Exemplo 2.19 – Determinação de um monoplano equivalente.

Considere uma aeronave do tipo biplano com asas que possuem a forma mostrada na

figura a seguir. Sabendo-se que o “gap” é G = 0,5m, determine a envergadura e o

alongamento de um monoplano equivalente que proporcione as mesmas características de

desempenho.

Solução:

O parâmetro k pode ser determinado pela solução da Equação (2.74) considerando G = 0,5m e

b = 2,3m.


119

k =

k =

⎛ G ⎞

⎜1 ,8 ⋅ ⎟ + 1

⎝ b ⎠

⎛ 0,5 ⎞

⎜1 ,8 ⋅ ⎟ + 1

⎝ 2,3 ⎠

k = 1,179

Portanto, a envergadura de um monoplano equivalente é:

b EQ

b

EQ

bEQ

= k ⋅ b

=1,179

⋅ 2,3

= 2,711m

A área de asa do monoplano equivalente pode ser obtida pela aplicação da Equação (2.13).

S

EQ

S

EQ

( cr

+ ct

) ⋅ bEQ

=

2

( 0,35 + 0,15) ⋅ 2,711

=

2

S = 0,678 m²

EQ

Assim, o alongamento do monoplano equivalente é:

AR

EQ

b

=

S

2

EQ

EQ

2

2,711

AR

EQ

=

0,678

AR

EQ

=10,84


120

2.10 – Dicas para a realização do projeto aerodinâmico

Dentre todos os pontos analisados no presente capítulo, alguns são de fundamental

importância para o desenvolvimento aerodinâmico de uma aeronave destinada a participar da

competição SAE-AeroDesign. A seguir é apresentada uma proposta para a realização do

projeto aerodinâmico da aeronave.

1) Determinar a configuração prévia da aeronave com a proposta de alguns modelos de asa e

pelo menos três perfis diferentes para serem analisados.

2) Estimar as dimensões mínimas e o modelo das empenagens.

3) Realizar um desenho prévio da aeronave e estimar a área molhada S wet .

4) Para cada asa e perfil analisados devem ser realizados os cálculos para se obter a polar de

arrasto da aeronave com a respectiva eficiência máxima de cada modelo.

5) Realizar a seleção do modelo da asa e do perfil ideal avaliando as condições necessárias

para a decolagem da aeronave dentro do limite de pista estipulado pelo regulamento. O

modelo para o cálculo do desempenho de decolagem é apresentado em detalhes no Capítulo 4.

6) Determinar a distribuição do carregamento ao longo da envergadura da asa pela

aproximação de Schrenk. O resultado obtido será utilizado para o dimensionamento estrutural

da aeronave.

7) Realizar processos de otimização como forma de se obter significativas melhorias na

aerodinâmica da aeronave.

8) Tentar realizar ensaios aerodinâmicos na aeronave como forma de validar os cálculos

realizados.

A realização desses pontos permite estimar com grande confiabilidade as

características aerodinâmicas de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign.

A Figura 2.60 mostra algumas características aerodinâmicas da aeronave da equipe

Taperá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo para a

competição SAE-AeroDesign 2009.


121

Aeronave Taperá 2009 - IFSP

Características Aerodinâmicas

Monoplano

Asa alta com forma geométrica mista

Envergadura 2,80m

Corda 0,4m

Empenagem convencional

Trem de pouso triciclo

Perfil Eppler 423

Massa da aeronave vazia 3,2kg

Capacidade de carga útil – Setor 1 - 8,57kg

Capacidade de carga útil – Setor 2 – 12,97kg

Figura 2.60 – Características aerodinâmicas da aeronave Taperá 2009.

Neste ponto finaliza-se o capítulo de análise aerodinâmica onde foram apresentados

apenas os conceitos fundamentais dessa disciplina, que em geral apresenta problemas muito

mais complexos dos que aqui foram tratados, porém os pontos apresentados são de extrema

importância para o inicio dos estudos dos estudantes que desejam montar uma equipe para

participar da competição SAE-AeroDesign.

Referências bibliográficas deste capítulo

[2.1] ANDERSON, JOHN, D. Aircraft performance and design, McGraw-Hill, New York,

1999.

[2.2] McCORMICK, BARNES, W. Aerodynamics, aeronautics and flight mechanics, Wiley,

New York, 1995.

[2.3] MUNK MM. General biplane theory, NACA Report 151, 1923.

[2.4] RAYMER, DANIEL, P. Aircraft design: a conceptual approach, AIAA, Washington,

1992.


122

CAPÍTULO 3

GRUPO MOTO-PROPULSOR

3.1 - Introdução

O presente capítulo tem como objetivo principal apresentar as principais configurações

utilizadas para a montagem do grupo moto-propulsor em uma aeronave, comentar em detalhes

as características técnicas dos motores utilizados para uma aeronave destinada a participar da

competição AeroDesign e apresentar de maneira objetiva o princípio de funcionamento de

uma hélice.

As seções apresentadas a seguir mostram em detalhes as vantagens e desvantagens da

configuração escolhida para a montagem do grupo moto-propulsor, as características

operacionais dos motores OS.61 FX e K&B.61 RC/ABC, as principais hélices utilizadas para

se obter um bom desempenho de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign, além de apresentar um modelo propulsivo analítico baseado na eficiência da

hélice em função da razão de avanço da aeronave que permite o cálculo da tração disponível

em diversas condições de velocidade e altitude.

Espera-se que ao término da leitura deste capítulo, o leitor esteja familiarizado com os

conceitos básicos sobre propulsão e que possa aplicá-los com sucesso em um projeto

destinado ao AeroDesign.

3.2 - Posição do grupo moto-propulsor

Basicamente em aviões monomotores de pequeno porte o grupo moto-propulsor pode

ser instalado na fuselagem em duas configurações distintas, ou o sistema será “tractor” ou

então “pusher”. A Figura 3.1 mostra alguns aviões monomotores e as respectivas

configurações acima citadas.

(a) Tractor – Pipper Cherokee (b) Tractor – Cessna 152 (c) Tractor – V35 Bonanza

(d) Pusher – Velocity (e) Pusher – Velocity (f) Pusher – Tornado SS

Figura 3.1 – Posicionamento do grupo moto-propulsor.


123

Cada uma das duas configurações mostradas possui suas vantagens e desvantagens

operacionais que são citadas a seguir.

a) Configuração “tractor”: Uma aeronave construída com esta configuração possui a

hélice montada na parte frontal do motor, de forma que esta produz uma tração que puxa o

avião através do ar. Basicamente esta configuração é utilizada em 99% dos aviões

convencionais em operação na atualidade.

Como vantagens desse tipo de configuração podem-se citar os seguintes pontos:

a) permitir que a hélice opere em um escoamento limpo e sem perturbações;

b) também pode se citar que o peso do motor contribui de maneira satisfatória para a

posição do CG da aeronave, permitindo que se trabalhe com uma menor área de superfície de

cauda para se garantir a estabilidade longitudinal da aeronave;

c) propicia uma melhor refrigeração do motor, uma vez que o fluxo de ar acelerado

pela hélice passa direto pelo motor.

Como desvantagens podem-se citar os seguintes pontos:

a) A esteira de vórtices da hélice provoca perturbações sobre o escoamento que passa

através da asa e da fuselagem interferindo na geração de sustentação e na estabilidade da

aeronave;

b) o aumento de velocidade do escoamento acelerado pela hélice provoca o aumento

do arrasto total da aeronave, pois aumenta o arrasto de atrito sobre a fuselagem.

b) Configuração “pusher”: Uma aeronave com a configuração “pusher”, possui a

hélice montada na parte de trás do motor e atrás da estrutura da aeronave. Nesta situação, a

hélice é montada de forma a criar uma tração que empurra o avião através do ar. Geralmente

este tipo de montagem é utilizada em aviões anfíbios. Para o caso de aviões terrestres, esse

tipo de montagem pode trazer problemas de contato das pás da hélice com o solo durante o

procedimento de decolagem, além de estar sujeito a sujeiras provenientes da pista durante a

corrida de decolagem e em vôo encontrar um escoamento já perturbado pela aerodinâmica da

aeronave.

Como principais vantagens dessa configuração podem-se citar:

a) Permite a existência de um escoamento mais limpo sobre a asa e a fuselagem da

aeronave, uma vez que o motor está montado na parte de trás da mesma;

b) O ruído do motor na cabine de comandos torna-se reduzido além de proporcionar

um maior campo de visão para o piloto da aeronave.

Como desvantagens podem-se citar:

a) com o peso do motor atrás, o CG da aeronave também é deslocado para trás e

maiores problemas de estabilidade longitudinal são obtidos;

b) os problemas de refrigeração do motor são mais severos.

3.3 – Motor para a competição SAE-AeroDesign

Como citado, o grupo moto-propulsor de uma aeronave é composto pelo conjunto

formado por motor e hélice. A potência produzida por um motor a pistão varia com o tamanho

e o número de cilindros, com a rotação do motor e com a densidade do ar. Geralmente, a

potência útil no eixo do motor é utilizada como referência e é convertida em tração através da

hélice.

A hélice é colocada em movimento de rotação pelo eixo do motor e suas pás se

movem através do ar como asas rotativas criando força de sustentação em uma direção

perpendicular ao seu movimento, ou seja, paralela ao eixo do motor, sendo esta força de

sustentação denominada tração.

Na a competição SAE-AeroDesign o motor utilizado deve ser escolhido entre os

modelos OS.61FX ou K&B.61 RC/ABC e para se obter o melhor desempenho do motor


124

escolhido, é muito importante a escolha da hélice ideal para a missão a ser realizada pois

assim é possível obter o maior aproveitamento da potência fornecida pelo motor uma vez que

a hélice não possui uma eficiência de 100%.

Nesta seção, são apresentadas as principais características técnicas de cada um dos

dois motores e também são citadas as principais vantagens e desvantagens da utilização de

cada um deles.

Dentre os possíveis motores a serem utilizados, o motor OS.61FX proporciona como

vantagens operacionais os seguintes pontos: Grande confiabilidade de operação, Alta

durabilidade e excelentes qualidades de desempenho na faixa de rotação desejada (entre

11000rpm e 12500rpm), sua principal desvantagem é a massa de 550g .

Com relação ao motor K&B.61 RC/ABC, sua principal vantagem é a massa de

aproximadamente 404g, porém o mesmo opera em uma faixa de rotação inferior ao motor

OS.61FX.

Na Figura 3.2, pode-se observar uma fotografia ilustrativa de cada um dos motores

requisitados pelo regulamento da competição.

Figura 3.2 – Motores requeridos pelo regulamento da competição SAE-AeroDesign,

(a) OS.61FX e (b) K&B.61 RC/ABC.

As principais informações técnicas dos motores OS.61FX e K&B.61 RC/ABC são

mostradas nas Tabelas 3.1 e 3.2 apresentadas a seguir.

Tabela 3.1 – Características técnicas do motor OS.61FX.

Característica

cilindrada

curso do pistão

rotação

potência no eixo

massa

Valores práticos

9,95cc

22mm

2000≤ n ≤ 17000 rpm

1,7hp a 17000rpm

550g


125

Tabela 3.2 – Características técnicas do motor K&B.61 RC/ABC.

Característica

cilindrada

curso do pistão

rotação

potência no eixo

massa

Valores práticos

10cc

22,35mm

2200≤ n ≤ 14000 rpm

1,8hp a 14000rpm

404g

3.4 – Características das hélices

A hélice representa um elemento de grande importância num avião. Ela tem a missão

de fornecer a força de tração necessária ao vôo. Em termos simples, uma hélice é um

aerofólio trabalhando em uma trajetória circular, com ângulo de ataque positivo em relação ao

fluxo de ar, de forma a produzir tração em uma direção paralela ao plano de vôo da aeronave.

O desempenho de uma hélice depende de alguns fatores, entre eles podem se citar: o diâmetro

em função da rotação, a área das pás em função da absorção de potência e o passo.

Cada hélice é definida por duas dimensões características, o diâmetro e o passo,

normalmente indicados em polegadas. A Figura 3.3 mostra as principais características

geométricas de uma hélice.

Figura 3.3 – Características geométricas de uma hélice

Diâmetro: representa a distância entre as pontas das pás para o caso de uma hélice bipá,

no caso de hélices mono-pá ou com múltiplas pás, o diâmetro é representado pela

circunferência realizada durante o movimento.

Passo: representa o avanço (teórico) que a hélice daria em uma única volta, ou seja,

uma hélice 13”x4” tem um diâmetro de 13" e seu passo é de 4", indicando que esta hélice se

deslocaria 4" para frente a cada volta realizada.

As hélices utilizadas na indústria aeronáutica podem ser classificadas da seguinte

forma:

a) Hélice de passo fixo: esta hélice é fabricada em peça única e o passo é mesmo ao

longo de sua envergadura, geralmente são hélices de duas pás fabricadas em madeira ou

metal. A Figura 3.4 mostra uma hélice de passo fixo.


126

Figura 3.4 – Hélice de passo fixo.

b) Hélice de passo ajustável no solo: O passo da hélice pode ser ajustado no solo

antes da decolagem da aeronave. Este tipo de hélice geralmente possui um cubo articulado

que permite a rotação da pá para o passo desejado. O passo ajustável permite configurar a

hélice para operar na aeronave de acordo com a localidade, permitindo melhores

características de desempenho durante a decolagem em locais onde os efeitos da altitude se

fazem presentes. A Figura 3.5 mostra um exemplo de hélice de passo ajustável.

Figura 3.5 – Hélice de passo ajustável.

c) Hélice de passo controlável: o piloto pode mudar o passo da hélice durante o vôo

através de um sistema interno de comandos. Este tipo de hélice proporciona um vôo com

tração praticamente constante, permitindo que em todas as fases do vôo a aeronave opere em

condições de desempenho otimizado. A Figura 3.6 mostra um exemplo de hélice de passo

variável.

Figura 3.6 – Hélice de passo controlável.


127

As hélices para aviões rádio controlados possuem um limite prático de rotação,

baseado na curva de potência do motor usado e no diâmetro da hélice. Velocidades baixas,

manobras, decolagens e pousos devem ser executados com hélices de passo pequeno. Hélices

com passo grande resultam em menor manobrabilidade e maior velocidade.

Como as aeronaves de rádio controle não dispõem do fantástico recurso da hélice de

passo variável, este deve ser determinado pelo tipo de vôo desejado. Maior velocidade em

detrimento da manobrabilidade ou vice-versa. O passo padrão fica em torno de 65% a 70% do

raio da hélice.

Outros fatores limitantes que reduzem a eficiência da hélice é a potência do motor e o

arrasto do avião, ou seja, uma hélice de passo grande não vai fazer o modelo voar mais rápido

do que ele é capaz e uma hélice com passo pequeno demais resultará em perdas de potência e

tração.

Força de tração: é a força exercida pela hélice em movimento na direção do curso do

vôo. Esse é todo o propósito de uma hélice, converter a potência do motor, que está disponível

na forma de torque, em movimento linear. A tração é usualmente medida em Newtons [N] e

está em função da densidade do ar, da rotação da hélice em [rpm], da razão de avanço, e do

número de Reynolds (Re).

Potência disponível: é determinada pelo produto entre o torque e a velocidade angular

do eixo. Quando a rotação aumenta, um motor produz menos torque por que a mistura

ar/combustível não é eficiente em altas rotações. Esse é o motivo para a curva de potência se

tornar linear e constante ou até diminuir em rotações muito elevadas. Isso significa que a

hélice mais eficiente é aquela que possibilite que o motor possa operar na melhor faixa da

curva de potência. Um ponto interessante a ser compreendido sobre a absorção de potência, é

que a potência da hélice varia na razão do cubo da rotação. Conseqüentemente, ao dobrar a

rotação necessita-se 8 vezes mais potência.

Para a competição AeroDesign, uma série de hélices podem ser utilizadas, a escolha

mais adequada depende das características da aeronave em projeto, pois a melhor hélice é

aquela que se apresenta mais eficiente para os requisitos da missão.

Nesta seção são apresentadas as hélices que fornecem resultados mais significativos e

que historicamente se mostram muito eficiente durante a competição. Dentre essas hélices

podem-se citar a APC 13”x4”, a Master Airscrew 13”x5” e a Bolly 13,5”x5”, todas bi-pá e de

fabricação em escala comercial, que estão mostradas a seguir na Figura 3.7.

APC – 13”x4”

Bolly 13,5”x5”

Master Airscrew 13”x5”

Figura 3.7 – Hélices comerciais de bom desempenho no AeroDesign.


128

Essas hélices possuem passo fixo e geralmente eficiência máxima da ordem de 60%, e,

portanto, grande parte da potência disponível no eixo do motor é dissipada.

A escolha de uma hélice adequada para uma aeronave destinada a participar da

competição AeroDesign é uma constante fonte de estudos, pois uma seleção correta

proporciona excelentes qualidades de desempenho à aeronave. Algumas equipes já possuem

técnicas para o desenvolvimento de suas próprias hélices no qual justificam todos os cálculos

de projeto perante a organização do evento.

No presente livro apenas são mostradas e avaliadas as características das hélices

apresentadas na Figura 3.7, pois se tratam de hélices comerciais e que são facilmente

encontradas nas lojas especializadas.

Um ponto de grande importância na escolha da hélice é a determinação da tração

estática fornecida pela hélice com o avião parado (v = 0 m/s), pois a partir desta condição é

possível saber entre uma série de hélices estudadas qual delas proporciona melhores

condições para a decolagem da aeronave. No projeto AeroDesign a determinação da tração

disponível em baixas velocidade é de extrema valia, uma vez que o regulamento estipula um

comprimento de pista máximo para a decolagem da aeronave, e dessa forma, é muito

importante que a hélice utilizada proporcione durante a corrida de decolagem uma rotação

elevada e um alto torque do motor, resultando em um melhor aproveitamento da potência

disponível no eixo do motor.

Como as hélices de passo fixo utilizadas em aeromodelos possuem baixa eficiência em

função da razão de avanço (0 ≤ η ≤ 60%), nem toda a potência disponível no eixo do motor é

aproveitada e, portanto, torna-se muito importante a escolha de uma hélice que proporcione os

máximos valores de rotação e torque.

3.5 – Modelo propulsivo

Para se obter uma aeronave com excelentes qualidades de desempenho na competição

AeroDesign é de fundamental importância que a tração disponível fornecida pela hélice seja

determinada com a maior precisão possível. As técnicas utilizadas para a determinação da

tração disponível vão desde uma análise matemática fundamentada em um modelo propulsivo

até análises mais sofisticadas como ensaios em túnel de vento, ensaios em vôo ou mesmo a

utilização de bancadas para testes do motor. A presente seção mostra um modelo matemático

que permite estimar com boa confiabilidade a tração disponível, este modelo é fundamentado

na potência disponível no eixo do motor e na eficiência da hélice em função da razão de

avanço.

A tração estática pode ser determinada de modo rápido a partir de um modelo

matemático ou então com a realização de um ensaio estático do grupo moto-propulsor. O

modelo analítico que permite determinar a tração estática de forma aproximada com boa

confiabilidade é proposto por Durand & Lesley [3.1] e definido da seguinte forma:

com o valor de K T0 determinado por:

T

PE

0

= K

T

(3.1)

n ⋅ D

v= 0

⎛ p ⎞

K T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,

97 − ⎟

(3.2)

⎝ D ⎠


129

Nas Equações (3.1) e (3.2), T v=0 representa a tração estática em (lb), P E a potência

disponível no eixo do motor em (hp), n é a rotação em (rpm), D é o diâmetro da hélice em (ft),

p é o passo da hélice em (ft) e K T0 representa o coeficiente de tração estática.

O resultado obtido com a solução da Equação (3.1) fornece a tração estática em (lb), e,

portanto, o mesmo deve ser convertido para (N) como forma de se obter o resultado no

sistema internacional de unidades (SI).

Uma outra forma simples e que pode ser utilizada para a determinação da tração

estática é a utilização de um aparato prático que permite medir a rotação e a tração estática da

hélice. Este sistema consiste de um suporte de fixação do motor com o acoplamento de um

dinamômetro simples como os que geralmente são utilizados em laboratórios de Física para a

realização de experimentos de estática. É importante citar que o dinamômetro utilizado deve

possuir a capacidade de carga de no mínimo 50N. A Figura 3.8 apresentada a seguir mostra

fotografias do equipamento e dos testes realizados para a determinação de T v=0 .

Figura 3.8 – Fotografias do ensaio de hélices.

A Tabela 3.3 apresentada a seguir mostra os resultados obtidos a partir do ensaio em

bancada e os compara com os resultados obtidos com a aplicação da Equação (3.1) para cada

uma das hélices mostradas na Figura 3.4.

Tabela 3.3 – Tração estática das hélices em estudo.

hélice n(rpm) T v=0 (N) ensaio T v=0 (N) teórico

APC 13”x4” 12500 38 38,91

MAs 13”x5” 11440 37 37,105

Bolly 13,5”x5” 10580 36 36,051

Através da análise da Tabela 3.3 é possível observar que os resultados obtidos com a

aplicação da Equação (3.1) e os obtidos com a realização do ensaio estão bem próximos.

Uma vez determinada a tração estática, a variação da tração disponível com a

velocidade de vôo pode ser obtida com a solução da Equação (3.3) apresentada a seguir.

PE

⋅η

h

ρ

h

Td

= ⋅

(3.3)

v

ρ 0


130

Nesta equação, P E representa a potência disponível no eixo do motor, η h é a eficiência

da hélice, v é a velocidade de vôo, ρ h é a densidade do ar na altitude e ρ 0 a densidade do ar ao

nível do mar.

A eficiência da hélice é função da razão de avanço da aeronave J, que é uma

quantidade que depende da velocidade de vôo, da rotação do motor e do diâmetro da hélice.

Como as hélices utilizadas em aeromodelos são de passo fixo, sua eficiência geralmente é

baixa e assim grande parte da potência fornecida no eixo do motor é desperdiçada, portanto,

para o propósito da competição AeroDesign, é de fundamental importância a escolha de uma

hélice que proporcione a maior eficiência possível, pois assim é possível obter a maior tração

disponível beneficiando o procedimento de decolagem e vôo da aeronave com a maior carga

útil possível. A razão de avanço é determinada pela aplicação da Equação (3.4) e a curva

característica da eficiência de uma hélice em função da razão de avanço pode ser observada

na Figura 3.9.

v

J = (3.4)

n ⋅ D

Nesta equação n representa a rotação do motor e D o diâmetro da hélice.

Figura 3.9 – Eficiência da hélice em função da razão de avanço.

Na análise da Figura 3.6 é importante observar que η máx <1, ou seja, a hélice não é

100% eficiente, e, portanto, como comentado anteriormente a potência disponível para o vôo

será menor que a potência disponível no eixo do motor.

Também deve-se ressaltar que a eficiência é igual a zero quando J = 0 e seu valor

aumenta com o aumento de J até uma condição de eficiência máxima, onde a partir do qual a

eficiência da hélice decresce rapidamente para altos valores de J.

Esta situação pode ser facilmente verificada, pois.

T ⋅ v P

=

P P

d

d

η =

(3.5)

E

E


131

Assim, a partir da Equação (3.5), é possível verificar que para uma condição estática

(avião parado, v = 0) tanto η quanto J serão iguais a zero, e como para elevadas velocidades,

T d = 0, η novamente será igual a zero.

Como as hélices utilizadas em aeronaves que participam do AeroDesign são de passo

fixo, é possível verificar que existe somente uma velocidade de vôo que proporciona a

máxima eficiência, para qualquer outra velocidade a hélice sempre opera em uma condição de

eficiência abaixo da máxima.

Como forma de se aplicar a Equação (3.3), a seguir são apresentadas as características

de eficiência das hélices em estudo no presente capítulo. Esses resultados foram obtidos com

a aplicação do programa “AeroDesign Propeller Selector” que possui seu algoritmo de

solução fundamentado no trabalho de Lesley [3.2].

Tabela 3.4 – Parâmetros operacionais da hélice APC 13”x4”.

v J η P E (W)

0 0 0 932,125

2 0,000484555 0,092613 831,94

4 0,00096911 0,18227 830,73

6 0,001453664 0,26709 827,74

8 0,001938219 0,34563 822,28

10 0,002422774 0,41673 813,73

12 0,002907329 0,47933 801,46

14 0,003391884 0,53235 784,9

16 0,003876439 0,57452 763,48

18 0,004360993 0,60421 736,65

20 0,004845548 0,61914 703,89

22 0,005330103 0,61592 664,66

24 0,005814658 0,58929 618,46

26 0,006299213 0,53065 564,77

28 0,006783767 0,42496 503,12

30 0,007268322 0,2436 433


132

0,7

0,6

Eficiência da hélice em função da razão de avanço da aeronave

n = 12500rpm

Eficiência da hélice

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

0 0,002 0,004 0,006 0,008

Razão de avanço

Hélice APC - 13"x4"

Figura 3.10 – Eficiência da hélice APC 13”x4” em função da razão de avanço.

Tabela 3.5 – Parâmetros operacionais da hélice MAs 13”x5”.

v J η P E (W)

0 0 0 853,08

2 0,000529452 0,092047 801,13

4 0,001058905 0,18144 799,98

6 0,001588357 0,26652 797,16

8 0,00211781 0,34604 792

10 0,002647262 0,41906 783,92

12 0,003176714 0,48475 772,33

14 0,003706167 0,54229 756,68

16 0,004235619 0,59077 736,44

18 0,004765071 0,62904 711,09

20 0,005294524 0,65549 680,13

22 0,005823976 0,66775 643,06

24 0,006353429 0,66612 599,4

26 0,006882881 0,63255 548,67

28 0,007412333 0,56858 490,41

30 0,007941786 0,45046 424,15


133

Eficiência da hélice em função da razão de avanço da aeronave

n = 11440rpm

Eficiência da hélice

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01

Razão de avanço

Hélice Mas - 13"x5"

Figura 3.11 – Eficiência da hélice MAs 13”x5” em função da razão de avanço.

Tabela 3.6 – Parâmetros operacionais da hélice Bolly 13,5”x5”.

v J η P E (W)

0 0 0 788,95

2 0,000572489 0,097459 734,83

4 0,001144978 0,19177 733,59

6 0,001717467 0,28098 730,54

8 0,002289957 0,36363 724,99

10 0,002862446 0,43861 716,26

12 0,003434935 0,50489 703,76

14 0,004007424 0,56145 686,88

16 0,004579913 0,60704 665,05

18 0,005152402 0,63999 637,71

20 0,005724891 0,65785 604,31

22 0,006297381 0,6568 564,32

24 0,00686987 0,63057 517,23

26 0,007442359 0,56813 462,51

28 0,008014848 0,44853 399,66

30 0,008587337 0,22669 328,2


134

Eficiência da hélice em função da razão de avanço

n = 10580rpm

Eficiência da hélice

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

Hélice Bolly - 13,5"x5"

0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01

Razão de avanço

Figura 3.12 – Eficiência da hélice Bolly 13,5”x5” em função da razão de avanço.

Eficiência da hèlice em função da razão de avanço

0,8

0,7

Eficiência da hélice

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

APC 13"x4"

Mas 13"x5"

Bolly 13,5"x5"

0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01

Razão de avanço

Figura 3.13 – Comparação das curvas eficiência da hélice em função da razão de avanço.


135

Exemplo 3.1 – Determinação da tração disponível de algumas hélices.

Considere que uma aeronave destinada a participar do AeroDesign possui o seu grupo

moto-propulsor composto pelo motor OS.61 FX como mostra a figura e que foram testadas

cada uma das três hélices mostradas no presente capítulo. Determine analiticamente a tração

estática e a variação da tração disponível com a velocidade de vôo para cada uma das três

hélices e mostre o gráfico da variação da tração disponível em função da velocidade de vôo.

Solução:

Hélice APC 13”x4”

A tração estática é definida com a aplicação das Equações (3.1) e (3.2).

A determinação do valor de K T0 é realizada da seguinte forma:

K T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,

97 −

p

D

K

T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,97

4

13

K = 94751,54

T 0

A tração estática é calculada com a aplicação da Equação (3.1) utilizando-se para a

hélice 13”x4” a rotação n = 12500rpm, uma potência no eixo de 1,25hp e o diâmetro da hélice

D = 1,0833ft.

PE

Tv= 0

= K

T 0

n ⋅ D


136

T

v= 0

1,25

= 94751,54 ⋅

12500 ⋅1,0833

T = 8,7463

v=0

lbf

que corresponde em Newtons a:

T

v=

0

= 8,7463 ⋅ 4,448

T = 38,910

v=0

N

A variação da tração com a velocidade é obtida com a aplicação da Equação (3.3).

T

d

P

=

E

⋅η

v

h

ρ

h

ρ 0

Considerando uma condição de atmosfera padrão ao nível do mar a relação ρ h /ρ 0 é

igual a 1, e portanto:

T

d

=

PE

⋅η

h

v

A partir dos parâmetros da Tabela 3.4, tem-se que:

Para v = 2m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

831,94

⋅ 0,092613

=

2

= 38,52 N

Para v = 4m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

870,73

⋅ 0,18227

=

4

= 37,85 N

Para v = 6m/s


137

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

827,74

⋅ 0,26709

=

6

= 36,84 N

Este procedimento de calculo foi repetido para toda a faixa de velocidades em estudo,

resultando na seguinte tabela:

v (m/s)

T d (N)

0 38,91

2 38,52423

4 37,85429

6 36,84685

8 35,52558

10 33,91057

12 32,01365

14 29,84582

16 27,41466

18 24,72729

20 21,79032

22 18,60806

24 15,18551

26 11,52674

28 7,635924

30 3,51596

O gráfico da tração disponível em função da velocidade de vôo para a hélice APC 13”x4”

obtido pela análise realizada é o seguinte:

40

Tração disponível em função da velocidade

Tração Disponível (N)

30

20

10

Hélice APC - 13"x4"

0

0 5 10 15 20 25 30

Velocidade (m/s)


138

Hélice MAs 13”x5”

A tração estática é definida com a aplicação das Equações (3.1) e (3.2).

A determinação do valor de K T0 é realizada da seguinte forma:

K T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,

97 −

p

D

K

T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,97

5

13

K = 90366,92

T 0

A tração estática é calculada com a aplicação da Equação (3.1) utilizando-se para a

hélice 13”x4” a rotação n = 12500rpm, uma potência no eixo de 1,25hp e o diâmetro da hélice

D = 1,0833ft.

PE

Tv= 0

= K

T 0

n ⋅ D

T

v= 0

1,144

= 90366,92 ⋅

11440 ⋅1,0833

T = 8,341

v=0

lbf

que corresponde em Newtons a:

T

v=

0

= 8,341⋅

4,448

T = 37,10

v=0

N

A variação da tração com a velocidade é obtida com a aplicação da Equação (3.3).

T

d

P

=

E

⋅η

v

h

ρ

h

ρ 0

Considerando uma condição de atmosfera padrão ao nível do mar a relação ρ h /ρ 0 é

igual a 1, e portanto:


139

T

d

=

PE

⋅η

h

v

A partir dos parâmetros da Tabela 3.5, tem-se que:

Para v = 2m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

801,13

⋅ 0,092047

=

2

= 36,87 N

Para v = 4m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

799,98

⋅ 0,18144

=

4

= 36,287 N

Para v = 6m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

797,16

⋅ 0,26652

=

6

= 35,409 N


140

Este procedimento de calculo foi repetido para toda a faixa de velocidades em estudo,

resultando na seguinte tabela:

v (m/s)

T d (N)

0 37,1

2 36,87081

4 36,28709

6 35,40985

8 34,25796

10 32,85095

12 31,19891

14 29,31

16 27,19167

18 24,85023

20 22,29092

22 19,51833

24 16,63635

26 13,34851

28 9,958476

30 6,368754

O gráfico da tração disponível em função da velocidade de vôo para a hélice MAs 13”x5”

obtido pela análise realizada é o seguinte:

40

Tração disponível em função da velocidade

Tração disponível (N)

30

20

10

0

Hélice MAs - 13"x5"

0 5 10 15 20 25 30

Velocidade (m/s)


141

Hélice Bolly 13,5”x5”

A tração estática é definida com a aplicação das Equações (3.1) e (3.2).

A determinação do valor de K T0 é realizada da seguinte forma:

K T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,

97 −

p

D

K

T 0

= 57000 ⋅ ⎜1,97

5

13,5

K = 91178,88

T 0

A tração estática é calculada com a aplicação da Equação (3.1) utilizando-se para a

hélice 13”x4” a rotação n = 12500rpm, uma potência no eixo de 1,25hp e o diâmetro da hélice

D = 1,0833ft.

PE

Tv= 0

= K

T 0

n ⋅ D

T

v= 0

1,058

= 91178,88 ⋅

10580 ⋅1,125

T = 8,1047

v=0

lbf

que corresponde em Newtons a:

T

v=

0

= 8,1047 ⋅ 4,448

T = 36,05

v=0

N

A variação da tração com a velocidade é obtida com a aplicação da Equação (3.3).

T

d

P

=

E

⋅η

v

h

ρ

h

ρ 0

Considerando uma condição de atmosfera padrão ao nível do mar a relação ρ h /ρ 0 é

igual a 1, e portanto:

T

d

=

PE

⋅η

h

v

A partir dos parâmetros da Tabela 3.6, tem-se que:

Para v = 2m/s

PE

⋅η

h

Td

=

v


142

T

d

Td

734,83

⋅ 0,097459

=

2

= 35,80 N

Para v = 4m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

733,59

⋅ 0,19177

=

4

= 35,17 N

Para v = 6m/s

T

d

=

PE

⋅η

h

v

T

d

Td

730,54

⋅ 0,28098

=

6

= 34,21 N

Este procedimento de calculo foi repetido para toda a faixa de velocidades em estudo,

resultando na seguinte tabela:

v (m/s)

T d (N)

0 36,051

2 35,8079

4 35,17014

6 34,21119

8 32,95351

10 31,41588

12 29,61012

14 27,54634

16 25,232

18 22,67378

20 19,87727

22 16,84752

24 13,58957

26 10,10638

28 6,402125

30 2,479989


143

O gráfico da tração disponível em função da velocidade de vôo para a hélice Bolly 13,5”x5”

obtido pela análise realizada é o seguinte:

40

Tração disponível em função da velocidade

Tração disponível (N)

30

20

10

Bolly 13,5x5

0

0 5 10 15 20 25 30

Velocidade (m/s)

O gráfico comparativo da análise realizada para as três hélices é o seguinte:

Tração disponível em função da velocidade

40

Tração disponível (N)

30

20

10

APC 13"x4"

MAs 13"x5"

Bolly 13,5"x5"

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)


144

A Figura 3.14 mostra a aeronave da equipe Taperá do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus Salto para a competição AeroDesign 2009 com

suas respectivas características propulsivas.

Aeronave Taperá 2009 - IFSP

Características de Propulsão

Configuração tractor

Motor OS.61 FX

hélice APC 13”x4”

rotação 12500 rpm

T v=0 = 38,905N

Figura 3.14 – Características de propulsão aeronave Taperá 2009.

Neste ponto finaliza-se o capítulo de análise do grupo moto-propulsor onde foram

apresentados apenas os conceitos fundamentais sobre os motores que podem ser utilizados na

competição e algumas hélices que fornecem bons resultados de desempenho à aeronave.

Referências bibliográficas deste capítulo

[3.1] DURAND, W. F., & LESLEY, E. P., Experimental research on air propellers II, T. R.

n°30, NACA 1920.

[3.2] LESLEY, E. P., Propeller tests to determine the effect of number de blades at two

typical solidities, T. N. n°698, NACA 1939.

[3.3] Manual de instruções do motor K&B.61 RC/ABC.

[3.4] Manual de instruções do motor OS.61 FX.


145

CAPÍTULO 4

ANÁLISE DE DESEMPENHO

4.1 – Objetivos

O presente capítulo tem como objetivo apresentar ao leitor os principais fundamentos

para uma completa análise dos parâmetros de desempenho de uma aeronave em regime de

vôo subsônico, muitas características importantes de vôo são apresentadas, dentre essas

podem ser citadas: a escolha adequada do grupo moto-propulsor, onde são apresentadas as

principais vantagens e desvantagens dos motores sugeridos pelo regulamento da competição,

bem como uma escolha adequada para a hélice a ser utilizada, também são calculadas e

traçadas as curvas de tração disponível e requerida, bem como as curvas de potência

disponível e requerida, desempenho de planeio e subida, desempenho de decolagem e pouso,

tempo estimado para a execução da missão, além de um modelo analítico que propicia o

cálculo e o traçado do gráfico de carga útil em função da altitude densidade.

Os conceitos apresentados neste capítulo são de grande importância para a confecção

de um bom relatório de projeto no quesito desempenho. Além das equações e da teoria, o

capítulo também apresenta uma série de exemplos aplicáveis ao projeto SAE-AeroDesign.

4.2 – Forças que atuam em uma aeronave em vôo reto e nivelado com velocidade

constante

Antes de se iniciar qualquer estudo relativo ao desempenho de uma aeronave é

essencial que o leitor conheça as forças que atuam nessa aeronave em uma condição de vôo

reto e nivelado com velocidade constante, pois é justamente a partir das condições de

equilíbrio da estática que será possível uma análise mais completa e aprimorada das

verdadeiras condições de desempenho do avião em projeto.

Para uma condição de vôo reto e nivelado de uma aeronave, quatro são as forças

atuantes: a força de sustentação, a força de arrasto, a força de tração originada pela hélice e o

peso da aeronave. A Figura 4.1 mostra uma aeronave em condição de vôo reto e nivelado com

velocidade constante e as forças que atuam sobre ela.

Figura 4.1 – Forças atuantes em uma aeronave na condição de vôo reto e nivelado com

velocidade constante.


146

A força de sustentação (L) representa a maior qualidade da aeronave e é a responsável

por garantir o vôo. Esta força é originada pela diferença de pressão existente entre o

intradorso e o extradorso da asa e sua direção é perpendicular à direção do vento relativo

como foi comentado no capítulo 2. Basicamente a força de sustentação deve ser grande o

suficiente para equilibrar o peso da aeronave e desse modo permitir o vôo seguro da mesma.

A força de arrasto (D) se opõe ao movimento da aeronave e sua direção é paralela à

direção do vento relativo. O ideal seria que essa força não existisse, porém em uma situação

real é impossível eliminá-la, e, dessa forma, o maior desafio do projetista é reduzir o quanto

possível essa força como forma de se melhorar a eficiência aerodinâmica da aeronave.

A força de tração (T) é oriunda da conversão do torque fornecido pelo motor em

empuxo através da hélice e está direcionada na direção de vôo da aeronave. Esta força é a

responsável por impulsionar a aeronave durante o vôo e uma escolha adequada para a hélice

pode propiciar um aumento significativo da tração disponível. No caso do projeto

AeroDesign, a seleção da hélice é de extrema importância, pois como o motor e o combustível

são padronizados pela organização do evento e não podem ser alterados, a única forma de se

aumentar a tração disponível é através da escolha otimizada de uma hélice que possa propiciar

as qualidades de desempenho desejadas. A finalidade principal da força de tração é vencer a

força de arrasto e propiciar subsídios aerodinâmicos para a geração da força de sustentação

necessária para vencer o peso da aeronave.

O peso (W) representa uma força gravitacional direcionada verticalmente para baixo

existente em qualquer corpo nas proximidades da Terra. No caso de uma aeronave, a única

forma de se obter o vôo é garantir uma força de sustentação igual ou maior que o peso.

Como está especificado que para esta condição de vôo a velocidade da aeronave é

constante, a formulação matemática para relacionar as quatro forças existentes pode ser obtida

a partir das equações de equilíbrio da estática, dessa forma, para uma condição de equilíbrio, a

análise da Figura 4.1 permite observar que:

T = D

(4.1)

L = W

(4.2)

As Equações (4.1) e (4.2) representam a condição de equilíbrio para uma aeronave em

vôo reto e nivelado com velocidade constante, e assim percebe-se que para se manter um vôo

nessas condições a força de arrasto é balanceada pela tração e a força de sustentação é

balanceada pelo peso.

Essas equações podem ser utilizadas para se avaliar as qualidades de desempenho

estático (velocidade constante) de uma nova aeronave e serão exaustivamente utilizadas nas

próximas seções do presente capítulo.

4.3 – Tração disponível e requerida para o vôo reto e nivelado com velocidade constante

Este representa um ponto fundamental para se definir a capacidade de vôo da aeronave

em projeto, o modelo matemático utilizado segue as equações de equilíbrio da estática e as

equações fundamentais das forças de sustentação e arrasto, estudadas no capítulo 2, além de

utilizar amplamente a equação da polar de arrasto e os conceitos de propulsão apresentados no

capítulo 3. Portanto, a partir desse ponto é apresentado o estreito relacionamento existente

entre a aerodinâmica e seu respectivo desdobramento nas qualidades de desempenho.

Tração Disponível: a tração disponível representa o quanto de empuxo a hélice em

uso é capaz de fornecer para a aeronave. As curvas de tração disponível que estão

apresentadas na Figura 2.2 foram obtidas de acordo com o estudo realizado no capítulo 3,


147

onde foram avaliados alguns modelos de hélice utilizadas nas aeronaves que participam da

competição AeroDesign. Estas curvas podem ser obtidas mediante a aplicação de conceitos

que vão desde uma modelagem teórica, bem como uma análise prática com a utilização de

dinamômetros, softwares específicos ou ainda ensaios em campo ou túnel de vento. Este

último, torna-se mais complicado, pois, a maioria das universidades não possui um túnel de

vento e os poucos instalados no Brasil se encontram em centros de pesquisa avançada e

possuem um acesso complicado e muitas vezes com um custo elevado.

Tração disponível em função da velocidade

40

Tração disponível (N)

30

20

10

APC 13"x4"

MAs 13"x5"

Bolly 13,5"x5"

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Figura 4.2 – Curvas de tração disponível de algumas hélices comerciais.

A Tabela 4.1 apresentada a seguir mostra os valores de tração disponível para cada

uma dessas hélices em função da velocidade de vôo.

Tabela 4.1 – Valores de tração disponível em função da velocidade.

Velocidade (m/s) APC 13”x4” M. airscrew 13”x5” Bolly 13,5”x5”

0 38,910 37,100 36,051

2 38,524 36,870 35,807

4 37,854 36,287 35,170

6 36,846 35,409 34,211

8 35,525 34,257 32,953

10 33,910 32,850 31,415

12 32,013 31,198 29,610

14 29,845 29,310 27,546

16 27,414 27,191 25,232

18 24,727 24,850 22,673

20 21,790 22,290 19,877

22 18,608 19,518 16,847

24 15,185 16,636 13,589

26 11,526 13,348 10,106

28 7,6359 9,958 6,402

30 3,515 6,368 2,479


148

Tração requerida: para a realização do cálculo da tração requerida pela aeronave,

considere um avião em vôo reto e nivelado com velocidade constante no qual o valor da

tração requerida depende diretamente das quatro forças que atuam na aeronave, assim, a partir

das Equações (4.1), (4.2), (2.20) e (2.21) tem-se que:

e

T

1

= D = ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅

(4.3)

2

2

R

C D

W

1

= L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(4.4)

2

Dividindo-se a Equação (4.3) pela Equação (4.4), tem-se que:

T

R

W

D 1 2 ⋅ ρ ⋅ v

=

L 1 2 ⋅ ρ ⋅ v

=

2

2

⋅ S ⋅ C

⋅ S ⋅ C

D

L

(4.5)

Que resulta em.

T

R

C =

D

(4.5a)

W

C

L

Portanto, a tração requerida para se manter o vôo da aeronave em uma determinada

velocidade é:

W

T

R

= (4.6)

C C

A análise da Equação (4.6) permite observar que a tração requerida de uma aeronave é

inversamente proporcional à eficiência aerodinâmica da mesma e diretamente proporcional ao

peso, ou seja, quanto maior for o valor do peso da aeronave maior deve ser a tração requerida

para se manter o vôo ao passo que quanto maior for a eficiência aerodinâmica para um

determinado peso menor será a tração requerida, portanto, aqui já se faz presente uma

primeira relação entre a aerodinâmica e a análise de desempenho, pois como forma de se

melhorar o desempenho com a redução da tração requerida para uma certa condição de vôo se

faz necessário o aumento da eficiência aerodinâmica da aeronave que pode ser obtida a partir

da seleção ótima do perfil aerodinâmico, da forma geométrica da asa e com a minimização do

arrasto total, recaindo portanto em uma análise muito confiável da polar de arrasto da

aeronave em estudo.

A tração requerida para uma aeronave voando em uma determinada altitude varia com

a velocidade de vôo e como visto na Equação (4.3) é representada pelo arrasto total. A partir

da equação da polar de arrasto obtida no Capítulo 2 tem-se que:

L

D

C

D

2

D0

+ K ⋅ C

L

= C

(4.7)


149

C

D

= C

D0

C

+

π ⋅e

2

L

0

⋅ AR

(4.7a)

O primeiro termo do lado direito da Equação (4.7a) representa o coeficiente de arrasto

parasita enquanto que o segundo representa o coeficiente de arrasto induzido, portanto o

coeficiente de arrasto total é igual a soma do coeficiente de arrasto parasita com o coeficiente

de arrasto induzido, e, assim, a força de arrasto total da aeronave pode ser escrita da seguinte

forma:

D = T

R

=

1 2 1 2 C

L

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅ C

D0

+ ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅

(4.8)

2

2 π ⋅ e ⋅ AR

0

2

D = T

R

=

2

1 ⎛

2

C

L

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅

C

D0

+

(4.8a)

2

⎝ π ⋅ e0

⋅ AR ⎠

A Equação (4.8a) representa uma forma alternativa à Equação (4.6) e fornece

numericamente o mesmo resultado, porém de forma mais direta, pois se conhecendo a altitude

de vôo, a área da asa e os parâmetros característicos da polar de arrasto é possível a partir da

variação da velocidade de vôo obter para cada ponto avaliado qual será o valor da tração

requerida pela aeronave. O coeficiente de sustentação presente na Equação (4.8a) pode ser

determinado pela equação fundamental da força de sustentação do seguinte modo:

1

L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(4.9)

2

C L

2 ⋅ L

=

2

ρ ⋅ v

⋅ S

(4.9a)

Como pelas equações de equilíbrio da estática em uma condição de vôo reto e

nivelado com velocidade constante a força de sustentação deve ser igual ao peso, a Equação

(4.9a) pode ser reescrita da seguinte forma:

C L

2 ⋅W

=

2

ρ ⋅ v

⋅ S

(4.9b)

Portanto, uma vez conhecido o peso, a área da asa e a altitude de vôo, é possível com a

aplicação da Equação (4.9b) determinar o coeficiente de sustentação requerido para se manter

o vôo da aeronave em qualquer velocidade avaliada. Assim, pode-se perceber que uma

mudança mínima que seja na velocidade de vôo, mantidas as condições de peso, área de asa e

altitude de vôo proporcionam uma imediata mudança no valor da tração requerida pela

aeronave.

Geralmente a variação da tração requerida em função da velocidade e da altitude de

vôo é representada em um gráfico como forma de se obter um melhor retrato do desempenho

em diferentes condições de vôo. Este gráfico possui uma forma genérica para qualquer tipo de

aeronave atingindo um valor mínimo para uma determinada velocidade de vôo. Para baixas

velocidades, a tração requerida possui um valor elevado devido principalmente aos efeitos do


150

arrasto induzido que, como será mostrado oportunamente no presente capítulo diminui

conforme a velocidade de vôo aumenta. Para o caso de elevadas velocidades, a tração

requerida também é alta, porém agora influenciada diretamente pelo arrasto parasita que

aumenta para maiores velocidades de vôo.

A Figura 4.3 mostra um modelo genérico para a curva de tração requerida de uma

aeronave.

Figura 4.3 – Representação genérica da curva de tração requerida de uma aeronave

em função da velocidade de vôo.

Neste gráfico, o ponto de mínima tração requerida representa a velocidade de vôo que

proporciona a maior eficiência aerodinâmica. Esta situação é comprovada pela análise da

Equação (4.6), pois como a tração requerida é inversamente proporcional a eficiência

aerodinâmica, é intuitivo que para um determinado peso, o seu mínimo valor ocorre para uma

eficiência aerodinâmica máxima.

Uma outra análise importante para se realizar é a determinação individual do arrasto

parasita e do arrasto induzido, pois dessa forma consegue-se verificar a influência de cada

uma dessas parcelas de arrasto com relação à tração requerida. Está análise é apresentada no

Exemplo 3.1, onde são realizados comentários importantes sobre os resultados obtidos.

A determinação de cada ponto da curva de tração requerida para uma aeronave quando

se utilizar a Equação (4.6) é realizada da seguinte forma:

1) Adotar um valor inicial para a velocidade.

2) Para este valor de velocidade o coeficiente de sustentação requerido é calculado a

partir da solução da Equação (4.9b). Na aplicação desta equação a densidade do ar é

conhecida para uma determinada altitude, a área da asa é característica do avião em estudo e o

peso utilizado é o máximo estipulado para a decolagem da aeronave dentro das restrições

operacionais de limite de pista.

3) Com o valor numérico de C L calcula-se a partir da polar de arrasto o valor de C D

para esta velocidade de vôo.

4) A partir dos resultados obtidos para C L e C D é possível determinar o valor da

eficiência aerodinâmica através da relação C L /C D .


151

5) Conhecido o peso e o valor da eficiência aerodinâmica a tração requerida é

calculada pela aplicação da Equação (4.6).

É importante citar que o resultado encontrado vale apenas para a velocidade adotada,

portanto, esse procedimento deve ser repetido inúmeras vezes para diferentes velocidades de

vôo como forma de se obter os vários pontos que formam a curva de tração requerida em

função da velocidade de vôo.

Com a utilização da Equação (2.8a), são necessários apenas três passos para se obter a

tração requerida:

1) Escolher o valor da velocidade a ser analisada.

2) Determinar o coeficiente de sustentação requerido para a velocidade em questão a

partir da Equação (2.9b).

3) Para a velocidade em análise, substituir o C L encontrado na Equação (2.8a) e

resolvê-la como forma de se determinar um ponto da curva de tração requerida.

Novamente é importante citar que o resultado encontrado vale apenas para a

velocidade adotada, e assim, esse procedimento deve ser repetido para diferentes velocidades

de vôo como forma de se obter os vários pontos que formam a curva de tração requerida em

função da velocidade de vôo.

Como forma de se obter um panorama geral das qualidades de desempenho da

aeronave geralmente as curvas de tração requerida e disponível são representadas em um

mesmo gráfico como mostra a Figura 4.4. Dessa maneira é possível verificar em qual faixa de

velocidades a aeronave será capaz de se manter em vôo.

Figura 4.4 – Curvas de tração disponível e requerida.


152

A seguir é apresentado um exemplo de cálculo para a obtenção da curva de tração

requerida de uma aeronave e sua respectiva comparação com a curva de tração disponível. Em

todos os exemplos apresentados neste capítulo será utilizada a mesma aeronave de referência,

pois dessa forma o leitor terá condições de avaliar todo o desempenho dessa aeronave e

também irá adquirir o conhecimento fundamental para aplicar os conceitos aqui apresentados

em qualquer tipo de aeronave com propulsão à hélice e a qualquer aeronave destinada a

participar da competição SAE-AeroDesign.

Exemplo 4.1 – Determinação das curvas de tração disponível e requerida.

Considere que uma aeronave destinada a participar da competição SAE-AeroDesign

possui uma área de asa igual a 0,90m² e sua polar de arrasto é dada pela equação C D =

0,022+0,065C L ². Determine e mostre em uma tabela todos os pontos da curva de tração

requerida dessa aeronave para um vôo realizado em condições de atmosfera padrão ao nível

do mar com a velocidade variando em incrementos de 2m/s desde 8m/s até 30m/s. Mostre

também nesta tabela os valores obtidos para os cálculos isolados do arrasto parasita e

induzido da aeronave para esta mesma faixa de velocidade além de apresentar os dados

relativos à tração disponível considerando a utilização de uma hélice APC 13”x4”. Represente

todos os dados da tabela obtida em um gráfico indicando o ponto de máxima velocidade da

aeronave.

Dados:

W = 150N

ρ = 1,225kg/m³

Solução:

Para a aeronave em estudo, o cálculo da tração requerida e dos arrastos parasita e

induzido podem ser realizados da seguinte forma:

Para v= 8 m/s tem-se que:

A partir da Equação (4.9b) calcula-se o C L requerido para se manter essa velocidade.

C L

C

L

C

L

2 ⋅W

=

2

ρ ⋅ v

⋅ S

2 ⋅150

=

1,225 ⋅ 8

2 ⋅ 0,90

= 4,25

O respectivo coeficiente de arrasto total da aeronave é:

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 4,25

2

C

D

=1,196


153

Dessa forma, a tração requerida pela aeronave nessa velocidade é obtida pela solução

da Equação (4.6).

W

T

r

=

C C

L

D

T

r

150

=

4,25 1,196

T = 42,21 N

r

A força de arrasto parasita para esta condição pode ser calculada pela equação geral do

arrasto considerando-se o coeficiente de arrasto parasita C D0 = 0,022:

D

0

1

= ⋅ ρ ⋅ v

2

2

⋅ S ⋅

C D 0

1 2

D

0

= ⋅1.225

⋅ 8 ⋅ 0,9 ⋅ 0,022

2

D = 0,77 N

0

A força de arrasto induzido para esta condição também pode ser calculada pela

equação geral do arrasto utilizando-se o termo 0,065C L ² da polar de arrasto dessa aeronave:

1 2

(0,065

2

i

⋅ S ⋅ ⋅ C L

D = ⋅ ρ ⋅ v

2

)

D

i

Di

=

1

⋅1.225

⋅ 8

2

= 41,42 N

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,065 ⋅ 4,25

2

Para v= 10 m/s tem-se que:

A partir da Equação (4.9b) calcula-se o C L requerido para se manter essa velocidade.

C L

C

L

C

L

2 ⋅W

=

2

ρ ⋅ v

⋅ S

2 ⋅150

=

1,225 ⋅10

2 ⋅ 0,90

= 2,72


154

O respectivo coeficiente de arrasto total da aeronave é:

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 2,72

2

C

D

= 0,502

Dessa forma, a tração requerida pela aeronave nessa velocidade é obtida pela solução

da Equação (4.6).

W

T

r

=

C C

L

D

T

r

150

=

2,72 0,502

T = 27,68 N

r

A força de arrasto parasita para esta condição pode ser calculada pela equação geral do

arrasto considerando-se o coeficiente de arrasto parasita C D0 = 0,022:

D

0

1

= ⋅ ρ ⋅ v

2

2

⋅ S ⋅

C D 0

1 2

D

0

= ⋅1.225

⋅10

⋅ 0,9 ⋅ 0,022

2

D =1,21 N

0

A força de arrasto induzido para esta condição também pode ser calculada pela

equação geral do arrasto utilizando-se o termo 0,065C L ² da polar de arrasto dessa aeronave:

1 2

(0,065

2

i

⋅ S ⋅ ⋅ C L

D = ⋅ ρ ⋅ v

2

)

D

i

Di

=

1

⋅1.225

⋅10

2

= 26,50 N

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,065 ⋅ 2,72

2

Foram apresentados os cálculos realizados apenas para os dois primeiros pontos como

forma de exemplo. Este mesmo procedimento deve ser realizado para os outros pontos

requisitados no enunciado do problema. A tabela de resultados obtida e o respectivo gráfico

comparativo dos resultados estão apresentados a seguir.


155

v (m/s) T d (N) APC 13”x4” D 0 (N) D i (N) T r (N)

8 35,525 0,776 41,454 42,230

10 33,910 1,212 26,530 27,743

12 32,013 1,746 18,424 20,170

14 29,845 2,376 13,536 15,913

16 27,414 3,104 10,363 13,468

18 24,727 3,929 8,188 12,117

20 21,790 4,851 6,632 11,483

22 18,608 5,869 5,481 11,351

24 15,185 6,985 4,606 11,591

26 11,526 8,198 3,924 12,122

28 7,635 9,507 3,384 12,891

30 3,515 10,914 2,947 13,862

Analisando-se as curvas obtidas na aplicação do Exemplo 4.1 é possível observar que

a mínima velocidade da aeronave é obtida no ponto A na intersecção entre as curvas de tração

disponível e requerida e seu valor é próximo de 9,5m/s. É importante ressaltar que em

algumas situações de vôo a velocidade de estol é maior que a velocidade mínima obtida no

gráfico, e, dessa forma, como citado no Capítulo 2, a velocidade de estol para estas situações

representa a mínima velocidade de vôo da aeronave.

A máxima velocidade da aeronave é obtida no ponto C novamente na intersecção entre

as curvas de tração disponível e requerida e seu valor é próximo de 26m/s. Por questões de

segurança e como forma de respeitar as limitações do projeto estrutural da aeronave

geralmente esta velocidade não é atingida durante o vôo ficando normalmente restrita à

velocidade do ponto de manobra obtida no estudo do diagrama v-n que será apresentado em

detalhes em uma seção futura do presente capítulo.

Normalmente a especificação da velocidade mínima e máxima para uma determinada

condição de vôo é limitada pela velocidade de estol e pela velocidade do ponto de manobra e

pode ser graficamente representada pelo envelope de vôo da aeronave que será mostrado

oportunamente neste capítulo.


156

Já para a velocidade de mínima tração requerida obtida no ponto B a aeronave é capaz

de realizar um vôo com a máxima eficiência aerodinâmica, de forma que a relação (L/D)

assume o seu valor máximo e nesta situação é importante observar que a força de arrasto

parasita é igual a força de arrasto induzido, ou seja, a máxima relação (L/D) ocorre

exatamente no ponto de intersecção das curvas D 0 e D i . Portanto para se obter uma condição

de mínima tração requerida da aeronave tem-se que:

D

0

= D i

(4.10)

Outro aspecto relevante da curva de tração requerida é que em cada ponto da mesma a

aeronave se encontra com um ângulo de ataque diferente, e, dessa forma, é muito conveniente

uma representação gráfica da eficiência aerodinâmica em função do ângulo de ataque, pois

dessa forma é possível visualizar qual seria o ângulo de ataque necessário para se obter a

máxima relação (L/D) e assim obter o menor valor de tração requerida para o vôo da

aeronave.

Um modelo genérico da curva (C L /C D ) versus α é mostrado na Figura 4.5.

Figura 4.5 – Eficiência aerodinâmica em função do ângulo de ataque.

Neste ponto é importante que citar que um vôo realizado em uma situação de mínima

tração requerida representa em uma aeronave com propulsão à hélice um vôo realizado para

uma condição de máximo alcance. Segundo Anderson [4.2], o alcance é definido como a

distância total percorrida (medida em relação ao solo) para um tanque completo de

combustível. Portanto, um vôo com máximo alcance significa voar em uma condição que

propicie a maior distância percorrida antes que o combustível da aeronave termine.

4.4 – Potência disponível e requerida

Para o caso de aeronaves com propulsão à hélice, as curvas de potência disponível e

requerida muitas vezes são mais utilizadas que as curvas de tração, pois fornecem subsídios


157

importantes que permitem avaliar a máxima autonomia da aeronave e as condições de subida

da mesma.

A partir dos conceitos fundamentais da física, a potência é definida como o produto

entre a força e a velocidade, e, portanto, as curvas de potência disponível e requerida podem

ser obtidas a partir do produto entre a tração e a velocidade de vôo.

Potência disponível: por definição, a potência disponível representa toda a potência

que é fornecida pela hélice e pode ser calculada da seguinte forma:

P

d

= T ⋅ v

(4.11)

d

Dessa forma, cada ponto da curva de tração disponível pode ser relacionado com sua

respectiva velocidade como forma de se determinar a potência que a hélice é capaz de

fornecer à aeronave para a condição de velocidade desejada.

Potência requerida: representa a potência que a aeronave necessita para realizar o

vôo em diferentes condições de velocidade e pode ser obtida pelo produto entre a tração

requerida e a velocidade de vôo da seguinte forma:

P

r

= T ⋅ v

(4.12)

r

Uma outra forma de se representar a potência requerida é em função dos coeficientes

aerodinâmicos C L e C D , a dedução apresentada a seguir mostra como se obter uma equação

que relacione a potência requerida com os coeficientes aerodinâmicos da aeronave.

Substituindo-se a Equação (4.6) na Equação (4.12), tem-se que:

P

r

W

= ⋅ v

(4.13)

C C

L

D

Sabendo-se que para uma condição de vôo reto e nivelado com velocidade constante a

força de sustentação deve ser igual ao peso tem-se que:

L = W

1

= ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(4.14)

2

portanto

2 ⋅W

v = ρ ⋅ S ⋅

C L

(4.15)

Substituindo-se a Equação (4.15) na Equação (4.13), tem-se que:

P

r

W

=

C C

L

D

2 ⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

L

(4.16)

P

r

=

⎛ W

⎝ CL

C

D

2

2 ⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

L

(4.16a)


158

P

r

=

C

W

2

L

2

C

2

D

2 ⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

L

(4.16b)

P

r

=

W

⋅ C

2 2

D

2

C

L

2 ⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

L

(4.16c)

P

r

=

2 ⋅W

3

⋅ C

ρ ⋅ S ⋅ C

2

D

3

L

(4.16d)

Em aeronaves de propulsão à hélice, as curvas de potência disponível e requerida

assumem a forma genérica mostrada na Figura 4.6. Os valores de v min e v máx obtidos para as

curvas de potência são os mesmos que são obtidos pela análise das curvas de tração, portanto

as curvas de potência representam uma alternativa para a determinação dessas velocidades.

Um outro ponto relacionado às curvas de potência e que será apresentado em detalhes

na seção 4.7 diz respeito a capacidade de subida da aeronave, pois enquanto houver sobra de

potência a aeronave é capaz de ganhar altura e, portanto, a razão de subida da mesma pode ser

determinada.

Figura 4.6 – Curvas de potência disponível e requerida.

Com relação ao ponto que representa a velocidade de mínima potência requerida

existe uma diferença fundamental em relação ao ponto que representa a velocidade de mínima

tração requerida, pois enquanto a tração requerida mínima é obtida para a máxima eficiência

aerodinâmica da aeronave (C L /C D ) máx , a mínima potência requerida será obtida para a

condição (C L 3/2 /C D ) máx . Este resultado pode ser obtido a partir da análise da Equação (4.16d)

como apresentado a seguir.


159

P

r

=

2 ⋅W

ρ ⋅ S

3

C

C

2

D

3

L

(4.16e)

P

r

=

2⋅W

ρ ⋅ S

3

⎛ C

⋅⎜

⎝ C

2

D

3

L

1

2

(4.16f)

P

r

=

2 ⋅W

ρ ⋅ S

3

C

2

D

1

3

( C ) 2

L

(4.16g)

P

r

=

2 ⋅W

ρ ⋅ S

3

C

C

D

3

2

L

(4.16h)

P

r

=

2 ⋅W

ρ ⋅ S

3

1

( C 2

L

C

D

)

3

(4.16i)

Portanto, conhecendo-se os valores de peso, altitude e área da asa, é possível verificar

que a potência requerida é inversamente proporcional a (C L 3/2 /C D ), ou seja, quanto maior for a

relação (C L 3/2 /C D ) menor será a potência requerida e a realização de um vôo na velocidade que

minimiza a potência requerida representa uma condição de ângulo de ataque que corresponde

à máxima relação (C L 3/2 /C D ).

Enquanto a velocidade que minimiza a tração requerida representa um vôo com o

máximo alcance de uma aeronave com propulsão à hélice, a velocidade de mínima potência

requerida representa um vôo com máxima autonomia. Segundo Anderson [4.2], a autonomia é

definida como o tempo total de vôo para um tanque completo de combustível. Portanto, um

vôo com máxima autonomia significa voar em uma condição que permita permanecer o maior

tempo no ar antes que o combustível da aeronave termine.

Em resumo, para um avião com propulsão à hélice, o vôo de máximo alcance (T rmin )

ocorre para uma condição (C L /C D ) máx e um vôo para máxima autonomia ocorre para uma

condição (C L 3/2 /C D ) máx .

Também é intuitivo constatar que a velocidade de máximo alcance da aeronave é

maior que a velocidade de máxima autonomia, pois no caso do alcance voa-se com maior

velocidade percorrendo uma maior distância em um dado intervalo de tempo, porém com um

maior consumo de combustível e para a condição de máxima autonomia voa-se com uma

velocidade menor consumindo menos combustível, porém permanecendo um maior tempo em

vôo.

Na condição de mínima potência requerida para um vôo com máxima autonomia, o

coeficiente de arrasto parasita representa 1/3 do coeficiente de arrasto induzido. A dedução

apresentada a seguir mostra esta condição.

Sabendo-se que a mínima tração requerida é obtida pela maximização da relação

(C L 3/2 /C D ) e que o coeficiente de arrasto C D pode ser representado pela polar de arrasto da

aeronave, pode-se escrever que:

C

3

2

L

C

D

D0

3

2

L

C

= (4.17)

C + K ⋅ C

2

L


160

A partir dos conceitos do cálculo diferencial e integral, é possível determinar a

condição necessária para se obter (C L 3/2 /C D ) máx, assim, derivando-se a Equação (4.17) com

relação a C L e igualando-se o resultado a zero tem-se pela tabela de derivadas que:

d

dC

L

C

D0

3

C 2 ⎞

L ⎟ d ⎛ u ⎞ v ⋅ u′

− u ⋅ v′

= ⎜ ⎟ =

= 0

2

2

+ K ⋅ C dC

L ⎝ v ⎠ v

L

(4.18)

Considerando que u = C L 3/2 e v = C D0 +KC L ², tem-se que:

u′

=

d

dC

L

C

3

2

L

=

3

2

⋅ C

3 −1

2

L

=

3

2

⋅ C

L

1

2

(4.19)

d

v′ = ( C

2

dC

L

2

D0 + K ⋅ C

L

) = ⋅ K ⋅ CL

(4.20)

Substituindo-se as Equações (4.19) e (4.20) na Equação (4.18) tem-se que:

d

dC

L

C

⎞ ( C

⎟ =

3

2

+

2

1

3

)

2

2

D0

+ K ⋅C

L ⋅ C −

C

L

L

2

2

D0

+ K ⋅ C

L

( C

D0

K ⋅C

L

C

)

2

L

3

2

⋅ 2 ⋅ K ⋅ C

L

= 0

(4.21)

d

dC

L

C

D0

C

3

2

L

+ K ⋅ C

2

L

⎟ =

3

2

⋅ C

D0

⋅ C

L

1

2

3

( 2+

1 ) ( 3 + 1)

+ ⋅ K ⋅ C 2 − 2 ⋅ ⋅ 2

L

K C

L

2

2 2

( C + K ⋅C

L )

D0

= 0

(4.21a)

d

dC

L

C

3

2

3

2

+

1

5

3

2

2

2 ⎞ ⋅ C

D0

⋅ C

L

+ K ⋅ C

C

L

L ⎟ =

2

2

D0

+ K ⋅ C

L

( C

D0

K ⋅C

L

)

− 2 ⋅ K ⋅ C

2

L

5

2

= 0

(4.21b)

2

2

Sabendo-se que o termo ( CD0 + K ⋅C

L ) representa o quadrado do arrasto total da

aeronave e que seu valor é diferente de zero para uma condição de mínima potência requerida,

a única possibilidade de se zerar a Equação (4.21b) é fazer com que o numerador da função

seja nulo, portanto:

3

1 3

5

5

⋅ C 2

2 2

2

D0 ⋅ C

L

+ ⋅ K ⋅ C

L

− ⋅ K ⋅ C

L

= 0

(4.21c)

2

2

3

1 ⎡ 5 ⎛ 3 ⎞⎤

⋅ C 2

2

D0 ⋅ C

L

+

2 = 0

2

⎢K

⋅ C

L

⋅ ⎜ − ⎟

2

(4.21d)

⎣ ⎝ ⎠⎦

3

1 1

5

⋅ C 2

2

D0 ⋅ C

L

− ⋅ K ⋅ C

L

= 0

(4.21e)

2

2


161

Isolando-se C D0 , tem-se que:

3

1 1

5

⋅ C

2

2

D0

⋅ C

L

= ⋅ K ⋅ C

L

(4.21f)

2

2

C

D0

5

2

L

1

2

L

2 ⋅ K ⋅ C

= (4.22)

3 ⋅ 2 ⋅ C

C

D0

5

C 2

L

1

2

L

2 ⋅ K ⋅

= (4.22a)

6 ⋅ C

( 5 1 )

C 1 2

− 2

D0

= ⋅ K ⋅ C

L

(4.22b)

3

Que resulta finalmente em:

C

1

= (4.22c)

3

2

D0

⋅ K ⋅ C L

Como o termo KC L ² representa o coeficiente de arrasto induzido, tem-se que para a

condição de máxima autonomia que:

C

1

0

= ⋅

(4.23)

3

D

C Di

Dessa forma prova-se analiticamente a relação existente entre o coeficiente de arrasto

parasita e o coeficiente de arrasto induzido para uma situação de mínima potência requerida.

Exemplo 4.2 – Determinação das curvas de potência disponível e requerida em função

da velocidade.

Para os resultados obtidos nas curvas de tração disponível e requerida da aeronave

modelo utilizada no Exemplo 4.1, monte uma tabela relacionando as potências disponível e

requerida com a velocidade de vôo e mostre o gráfico com as curvas de potência indicando a

velocidade de mínima potência requerida.

Solução:

A partir da tabela de resultados obtidos para as curvas de tração no Exemplo 4.1

apresentadas a seguir, é possível calcular todos os pontos das curvas de potência com a

utilização das Equações (4.11) e (4.12).


162

Para v = 8m/s

A potência disponível é dada por:

v (m/s) T d (N) APC 13”x4” T r (N)

8 35,525 42,230

10 33,910 27,743

12 32,013 20,170

14 29,845 15,913

16 27,414 13,468

18 24,727 12,117

20 21,790 11,483

22 18,608 11,351

24 15,185 11,591

26 11,526 12,122

28 7,635 12,891

30 3,515 13,862

P

d

= T

d

⋅ v

P

d

Pd

= 35,525⋅8

= 284,204 W

e a potência requerida dada por:

P

r

= T

r

⋅ v

P

r

Pr

= 42,230⋅8

= 337,841W

Para v = 10m/s

A potência disponível é dada por:

P

d

= T

d

⋅ v

P

d

Pd

= 33,910

⋅10

= 339,100W

e a potência requerida dada por:

P

r

= T

r

⋅ v

P

r

= 27,743⋅10


163

Pr

= 277,430 W

Este processo deve ser repetido para toda a faixa de velocidades em estudo. Os

resultados obtidos da análise estão apresentados na tabela a seguir.

v (m/s) P d (W) P r (W)

8 284,204 337,841

10 339,105 277,433

12 384,163 242,044

14 417,841 222,782

16 438,634 215,490

18 445,091 218,119

20 435,806 229,673

22 409,377 249,727

24 364,452 278,194

26 299,695 315,193

28 213,805 360,975

30 105,478 415,877

O gráfico resultante da análise realizada é:

A velocidade de mínima potência requerida (máxima autonomia) obtida pela análise

realizada é aproximadamente v = 16m/s.

4.5 – Relação entre a velocidade de mínima tração requerida (máximo alcance) e a

velocidade de mínima potência requerida (máxima autonomia)

Como comentado na seção anterior, a velocidade de máxima autonomia deve ser

menor que a velocidade que proporciona um vôo com máximo alcance, e a questão principal é

saber o quanto menor. Esta seção apresenta uma forma analítica que permite realizar a

comparação entre essas duas velocidades.

Para esta aplicação é importante lembrar que para um vôo reto e nivelado com

velocidade constante, a força de sustentação deve ser igual ao peso, portanto:


164

L = W

1

= ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(4.24)

2

e assim, a velocidade de vôo é dada por:

2 ⋅W

v = ρ ⋅ S ⋅

C L

(4.25)

Para um vôo de máximo alcance, verificou-se que a relação (C L /C D ) é máxima e

representa o ponto de projeto aerodinâmico obtido na análise da polar de arrasto apresentada

no Capítulo 2, onde verifica-se a partir da Equação (2.69i) que o coeficiente de sustentação

requerido para esta condição é:

C

C

* D0

L

= (4.26)

K

Dessa forma, para um determinado peso, área de asa e altitude de vôo, a velocidade

que proporciona a menor tração requerida (máximo alcance) pode ser obtida com a

substituição da Equação (4.26) na Equação (4.25) resultando em:

v

2 ⋅W

= (4.27)

ρ ⋅ S ⋅ C K

T r min

D0

v

T r min

⎜ 2 ⋅W

=

⎝ ρ ⋅ S ⋅ C

D0

⎟ ⎟ K ⎠

1

2

(4.27a)

vT

r min

2 ⋅W

=

⎝ ρ ⋅ S

K

C

D0

⎟ ⎞

1

2

(4.27b)

Já para uma condição de potência requerida mínima (máxima autonomia), o

coeficiente de sustentação requerido pode ser obtido pela Equação (4.22c), resultando em:

* 3 ⋅ C

D0

C

L

= (4.28)

K

Substituindo-se a Equação (4.28) na Equação (4.25), tem-se que:

v

2 ⋅W

= (4.29)

ρ ⋅ S ⋅ 3 ⋅ C K

P r min

D0

v

P r min

= ⎜

⎝ ρ ⋅ S ⋅

2 ⋅W

3 ⋅ C

D0

K

⎟ ⎟ ⎠

1

2

(4.29a)


165

2

1

0

3

2

min

⎟ ⎟ ⎠

=

D

P

C

K

S

W

v r

ρ

(4.29b)

Desse modo tem-se que:

4

1

0

2

1

2

min

⎟ ⎟ ⎠

=

D

T

C

K

S

W

v r

ρ

(4.30)

e

4

1

0

2

1

3

2

min

⎟ ⎟ ⎠

=

D

P

C

K

S

W

v r

ρ

(4.31)

Relacionando-se as Equações (4.30) e (4.31), pode-se escrever que:

4

1

0

2

1

4

1

0

2

1

3

2

2

min

min

⎟ ⎟ ⎠

=

D

T

D

P

C

K

S

W

v

C

K

S

W

v

r

r

ρ

ρ

(4.32)

4

1

0

2

1

4

1

0

2

1

2

3

2

min

min

=

D

D

T

P

C

K

S

W

C

K

S

W

v

v

r

r

ρ

ρ

(4.32a)

4

1

0

2

1

4

1

0

4

1

2

1

2

3

1

2

min

min

=

D

D

T

P

C

K

S

W

C

K

S

W

v

v

r

r

ρ

ρ

(4.32b)

4

1

3

1

min

min

⎟ ⎠ ⎞

= r

r

T

P

v

v (4.32c)

Portanto:

min

min 76

,

0 r

r

T

P

v

v

= (4.33)


166

Exemplo 4.3 – Determinação analítica das velocidades de mínima tração requerida e

mínima potência requerida.

Para a aeronave do Exemplo 4.1 determine analiticamente as velocidades para máximo

alcance e máxima autonomia.

Dados:

W = 150N

ρ = 1,225kg/m³

S = 0,9m²

C D = 0,022+0,065C L ²

Solução:

A velocidade de máximo alcance é obtida pela aplicação da Equação (4.30). A partir

da polar de arrasto fornecida tem-se que C D0 = 0,022 e K = 0,065.

vT

r min

⎛ 2⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

T r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝1,225

⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 0,022 ⎠

1

4

vT r min

= 21,62 m/s

A velocidade de máxima autonomia é obtida pela relação encontrada na Equação

(4.31), portanto:

v

P

= 0,

76 ⋅ v

r min Tr

min

v

P r

min

= 0,76 ⋅ 21,62

vP r min

=16,43 m/s

É importante observar que os resultados obtidos podem ser comprovados diretamente

na leitura dos gráficos obtidos nos Exemplos 4.1 e 4.2.

4.6 – Efeitos da altitude nas curvas de tração e potência disponível e requerida

O desempenho de uma aeronave é influenciado significativamente com o aumento da

altitude de vôo, pois uma vez que o aumento da altitude proporciona uma redução na

densidade do ar, tanto a tração disponível como a requerida e suas respectivas potências

sofrem importantes variações que reduzem a capacidade de desempenho da aeronave.

Em relação à tração disponível, considera-se que com a redução da densidade do ar a

hélice produzirá um empuxo menor que o gerado ao nível do mar. Segundo o modelo

propulsivo adotado no Capítulo 3, a tração disponível é calculada da seguinte forma:

T

dh

Pd

0

⋅η

p ρ

h

ρ

h

= ⋅ = Td

0

(4.34)

v ρ ρ

0

0


167

Portanto, a tração disponível em altitude pode ser calculada da seguinte forma:

T

= ⋅

(4.34a)

ρ

dh

T d 0

A Equação (4.34a) relaciona a tração disponível ao nível do mar com as densidades do

ar em altitude e ao nível do mar, assim, como a densidade do ar diminui com o aumento da

altitude, percebe-se que a relação ρ h /ρ 0 sempre será um número menor que 1, portanto, quanto

maior for a altitude de vôo menor será a tração disponível para uma determinada situação de

vôo. Geralmente a variação da curva de tração disponível com a altitude de vôo segue o

modelo apresentado na Figura 4.7.

ρ h

0

Figura 4.7 – Variação da tração disponível com a altitude.

Para o caso da curva de tração requerida, esta também sofre significativas mudanças,

pois como visto, a tração requerida representa a força necessária para vencer o arrasto total da

aeronave e é calculada pela seguinte equação:

W

T

r

= (4.35)

C / C )

(

L D

com o valor do coeficiente de sustentação requerido na altitude calculado por:

C

Lh

2 ⋅W

= (4.36)

ρ

2

⋅ S ⋅ v

h

A análise da Equação (4.36) permite observar que com o aumento da altitude e a

conseqüente diminuição da densidade do ar o coeficiente de sustentação requerido para um

determinado peso e velocidade da aeronave deve ser aumentado, ou seja, existe a necessidade

de se voar com um maior ângulo de ataque.

O aumento do C L requerido também propicia um aumento no coeficiente de arrasto

total da aeronave, pois como visto, este é calculado a partir da polar de arrasto da seguinte

forma:

C

Dh

2

D0

+ K ⋅ C

Lh

= C

(4.37)


168

Portanto, o aumento da altitude proporciona um impacto direto na eficiência

aerodinâmica da aeronave para uma determinada condição de peso e velocidade.

Efetivamente na presença da altitude, a relação (C L /C D ) para uma determinada velocidade de

vôo é menor que ao nível do mar, assim, a análise da Equação (4.35) permite observar que

mantendo-se o peso da aeronave, a redução da eficiência aerodinâmica na presença da altitude

propicia um aumento na tração requerida. A Figura 4.8 mostra o impacto do aumento da

altitude na curva de tração requerida de uma aeronave.

Figura 4.8 – Variação da tração requerida com a altitude.

Para se avaliar a real capacidade de desempenho de uma aeronave na altitude é

conveniente representar as curvas de tração disponível e requerida em um único gráfico

considerando diversas condições de altitude. A Figura 4.9 mostra os efeitos da variação da

altitude nas curvas de tração disponível e requerida da aeronave.

Figura 4.9 – Variação das curvas de tração disponível e requerida com a altitude.

É importante observar que o aumento da altitude proporciona uma redução na sobra de

tração além de propiciar o aumento da velocidade mínima e a redução da velocidade máxima

da aeronave. Também pode-se notar que para um determinado valor de altitude a curva de


169

tração disponível é tangente a curva de tração requerida, esta situação está representa pelo

ponto A na Figura 4.9.

Como será apresentado na seção 4.13, a altitude que proporciona a tangencia entre as

curvas de tração determina o teto absoluto de vôo da aeronave e nesta condição existe uma

única velocidade que permite manter uma situação de vôo reto e nivelado com velocidade

constante.

Exemplo 4.4 – Influência da altitude nas curvas de tração disponível e requerida.

Para a aeronave modelo utilizada no Exemplo 4.1, calcule e represente em uma tabela

os valores da tração disponível e requerida para a faixa de velocidades em estudo

considerando as seguintes altitudes: h = 0m, h = 1500m, h = 3000m e h = 4500m.

Represente os resultados obtidos em um gráfico e determine a velocidade de máximo

alcance para cada uma das altitudes avaliadas.

Dados: W = 150N, S = 0,9m², C D = 0,022 + 0,065C L ², ρ 0 = 1,2250kg/m³, ρ 1500 =

1,0581kg/m³, ρ 3000 = 0,9092kg/m³, ρ 4500 = 0,7770kg/m³.

Solução:

Para as condições ao nível do mar h = 0m os resultados obtidos no Exemplo 4.1 estão

apresentados na tabela a seguir.

v (m/s) T d (N) APC 13”x4” T r (N)

8 35,525 42,230

10 33,910 27,743

12 32,013 20,170

14 29,845 15,913

16 27,414 13,468

18 24,727 12,117

20 21,790 11,483

22 18,608 11,351

24 15,185 11,591

26 11,526 12,122

28 7,635 12,891

30 3,515 13,862

Para h = 1500m, novas curvas são obtidas para ρ = 1,0581kg/m³ com os valores de

tração disponível e requerida calculados para cada uma das velocidades da faixa em estudo.

Como forma de exemplificar o cálculo realizado, a seguir são apresentados os dois

primeiros pontos da curva.

Para v = 8m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

T

dh

1,0581

= 35,525

1,2250


170

Tdh

= 30,684 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).

W

T

r

=

( C

L

/ C

D

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2 ⋅150

=

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅ 8

= 4,922

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

2

C = C + K ⋅ C

Dh

D0 Lh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 4,922

2

C

Dh

=1,596

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 8m/s a 1500m de altitude é:

T

r

Tr

=

150

(4,922 /1,596)

= 48,663 N

Para v = 10m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

T

dh

Tdh

1,0581

= 33,910

1,2250

= 29,289 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).


171

W

T

r

=

( C

L

/ CD

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2 ⋅150

=

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅10

= 3,150

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

Dh

= C

2

D0

+ K ⋅ CLh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 3,150

2

C

Dh

= 0,667

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 10m/s a 1500m de altitude é:

T

r

150

=

(3,150 / 0,667)

Tr

= 31,762 N

Este processo deve ser repetido para toda a faixa de velocidades em estudo. O

resultado obtido para uma condição de vôo a 1500m de altitude está apresentado na tabela a

seguir.

v (m/s) T d1500m (N) T r1500 (N)

8 30,684 48,663

10 29,289 31,762

12 27,651 22,838

14 25,778 17,724

16 23,678 14,679

18 21,358 12,874

20 18,821 11,868

22 16,072 11,416

24 13,116 11,366

26 9,9556 11,624

28 6,594 12,130

30 3,036 12,840


172

Para h = 3000m, novas curvas são obtidas para ρ = 0,9092kg/m³ com os valores de

tração disponível e requerida calculadas para cada uma das velocidades da faixa em estudo.

Como forma de exemplificar o cálculo realizado, a seguir são apresentados os dois

primeiros pontos da curva.

Para v = 8m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0,9092

T

dh

= 35,525

1,2250

0

Tdh

= 26,368 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).

W

T

r

=

( C

L

/ CD

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2 ⋅150

=

0,9092 ⋅ 0,9 ⋅ 8

= 5,728

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

Dh

= C

2

D0

+ K ⋅ CLh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065⋅5,728

2

C

Dh

= 2,155

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 8m/s a 3000m de altitude é:

T

r

150

=

(5,728 / 2,155)


173

Tr

= 56,425N

Para v = 10m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0,9092

T

dh

= 33,910

1,2250

0

Tdh

= 25,169 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).

W

T

r

=

( C

L

/ CD

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2⋅150

=

0,9092 ⋅0,9

⋅10

= 3,666

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

Dh

= C

2

D0

+ K ⋅ CLh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 3,666

2

C

Dh

= 0,895

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 10m/s a 3000m de altitude é:

T

r

150

=

(3,666 / 0,895)

Tr

= 36,643 N


174

Este processo deve ser repetido para toda a faixa de velocidades em estudo. O

resultado obtido para uma condição de vôo a 3000m de altitude está apresentado na tabela a

seguir.

v (m/s) T d3000m (N) T r3000 (N)

8 26,368 56,425

10 25,169 36,643

12 23,761 26,118

14 22,152 20,000

16 20,348 16,266

18 18,353 13,948

20 16,173 12,536

22 13,811 11,741

24 11,271 11,390

26 8,555 11,372

28 5,667 11,616

30 2,609 12,072

Para h = 4500m, novas curvas são obtidas para ρ = 0,7770kg/m³ com os valores de

tração disponível e requerida calculadas para cada uma das velocidades da faixa em estudo.

Como forma de exemplificar o cálculo realizado, a seguir são apresentados os dois

primeiros pontos da curva.

Para v = 8m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

0,7770

T

dh

= 35,525

1,2250

Tdh

= 22,534 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).

W

T

r

=

( C

L

/ CD

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:


175

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2 ⋅150

=

0,777 ⋅ 0,9 ⋅ 8

= 6,703

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

Dh

= C

2

D0

+ K ⋅ CLh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 6,703

2

C

Dh

= 2,942

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 8m/s a 4500m de altitude é:

T

r

150

=

(6,703/ 2,942)

Tr

= 65,844 N

Para v = 10m/s

A tração disponível nessa altitude pode ser obtida pela Equação (4.34a) da seguinte

forma:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0,7770

T

dh

= 33,910

1,2250

0

Tdh

= 21,509 N

A tração requerida nessa altitude é obtida a partir da solução da Equação (4.35).

W

T

r

=

( C

L

/ CD

)

O C L requerido para esta altitude e velocidade é:


176

C

Lh

2 ⋅W

h

⋅ S ⋅ v

2

= ρ

2

C

Lh

C

Lh

2 ⋅150

=

0,777 ⋅ 0,9 ⋅10

= 4,290

Dessa forma o correspondente coeficiente de arrasto é:

2

C = C + K ⋅ C

Dh

D0 Lh

C

Dh

= 0,022

+ 0,065⋅

4,290

2

C

Dh

=1,218

Portanto a tração requerida para uma velocidade de 10m/s a 4500m de altitude é:

T

r

Tr

=

150

(4,290 /1,218)

= 42,594N

Este processo deve ser repetido para toda a faixa de velocidades em estudo. O

resultado obtido para uma condição de vôo a 4500m de altitude está apresentado na tabela a

seguir.

v (m/s) T d4500m (N) T r4500 (N)

8 22,534 65,844

10 21,509 42,594

12 20,306 30,153

14 18,931 22,847

16 17,389 18,307

18 15,684 15,401

20 13,821 13,533

22 11,803 12,364

24 9,632 11,692

26 7,311 11,387

28 4,843 11,365

30 2,229 11,570

O gráfico resultante da análise realizada é o seguinte:


177

Variação da tração com a altitude

Tração (N)

70

60

50

40

30

20

h=0m

h=1500m

h=3000m

h=4500m

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

A velocidade de máximo alcance é determinada pela solução da Equação (4.30) para a

altitude em questão.

Portanto, para h = 0m:

vT

r min

⎛ 2⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

T r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝1,225

⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 0,022 ⎠

1

4

vT r min

= 21,62 m/s

Para h = 1500m:

vT

r min

⎛ 2⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

T r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝1,0581

⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 0,022 ⎠

1

4

vT r min

= 23,27 m/s

Para h = 3000m:

vT

r min

⎛ 2⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4


178

v

T r

min

⎛ 2⋅150

= ⎜ ⎟

⎝ 0,9092 ⋅0,9

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅⎜

⎝ 0,022 ⎠

1

4

vT r min

= 25,10 m/s

Para h = 4500m:

vT

r min

⎛ 2⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

T r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝ 0,7770 ⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 0,022 ⎠

1

4

vT r min

= 27,15 m/s

Dessa forma, percebe-se que com o aumento da altitude, a máxima eficiência

aerodinâmica da aeronave ocorre para uma velocidade maior.

Com relação à potência disponível, esta também é influenciada pelo aumento da

altitude, onde uma significativa redução é observada conforme a densidade do ar diminui.

Uma aproximação válida para o cálculo da potência disponível em altitude é a partir da

relação existente entre a tração disponível e a velocidade de vôo, portanto, a Equação (4.38)

pode ser utilizada como forma de se obter uma variação aproximada da potência disponível

em relação à altitude de vôo, assim:

P

dh

= T ⋅ v

(4.38)

dh

ou

P

dh

= T

d 0

ρ

h

ρ

0

⋅ v

(4.38a)

A variação característica da curva de potência disponível em função da altitude é

apresentada a seguir na Figura 4.10.


179

Figura 4.10 – Variação característica da potência disponível com a altitude.

No caso da potência requerida, a sua variação em função da altitude pode ser calculada

por um processo simples que relaciona as equações utilizadas para o cálculo ao nível do mar

com a condição de altitude desejada, assim, para o nível do mar considerando um

determinado peso e velocidade de vôo, o coeficiente de sustentação requerido é dado por:

C L 0

2 ⋅W

= (4.39)

ρ

2

⋅ S ⋅ v

0

E a potência requerida dada por:

P

r 0

2 ⋅W

⋅ C

= (4.40)

ρ ⋅ S ⋅ C

0

2

D

3

L0

modo:

Com o valor do coeficiente de arrasto determinado pela polar de arrasto do seguinte

C

D

2

D0

+ K ⋅ CL0

= C

(4.41)

Para o caso do vôo em altitude, as Equações (4.39), (4.40) e (4.41) também podem ser

utilizadas, porém agora considerando a densidade do ar para a condição desejada, portanto:

C

Lh

2 ⋅W

= (4.42)

ρ

2

⋅ S ⋅ v

h

É importante notar que como as condições de peso e velocidade são mantidas, a

redução da densidade do ar provoca um aumento do coeficiente de sustentação requerido e

consequentemente um aumento no coeficiente de arrasto total da aeronave que pode ser

calculado por:

C

Dh

2

D0

+ K ⋅ CLh

= C

(4.43)


180

E assim, a potência requerida em altitude é calculada pela Equação (4.44) apresentada

a seguir:

P

rh

2

Dh

3

Lh

2 ⋅W

⋅ C

= (4.44)

ρ ⋅ S ⋅ C

h

Como a metodologia apresentada seguiu as mesmas considerações adotadas para o

estudo das curvas de tração disponível e requerida com a altitude, uma forma direta para se

obter todos os pontos da curva de potência requerida em função da altitude é através do

produto da tração requerida em altitude pela velocidade de vôo, assim:

P

rh

= T ⋅ v

(4.45)

rh

Esta equação é válida apenas se os critérios adotados forem os mesmos, ou seja,

mantém-se a velocidade de vôo e considera-se a variação do C L e do C D para uma

determinada altitude.

A Figura 4.11 mostra a variação característica da curva de potência requerida em

função da altitude de vôo para o modelo em estudo.

Figura 4.11 – Variação da potência requerida com a altitude.

Da mesma forma que é realizado para as curvas de tração disponível e requerida, as

curvas de potência disponível e requerida em função da altitude devem ser traçadas em um

único gráfico, pois assim será possível obter um panorama geral que propicie uma análise

apurada das condições de desempenho de subida e velocidade de máxima autonomia para

qualquer altitude de vôo avaliada. A Figura 4.12 mostra os efeitos da variação da altitude nas

curvas de potência disponível e requerida.


181

Figura 4.12 – Influência da altitude nas curvas de potência disponível e requerida.

A análise da variação da altitude nas curvas de potência permite observar que quanto

maior for a altitude, menor é a sobra de potência existente, e, como será mostrado na próxima

seção do presente capítulo, isto proporciona um forte impacto no desempenho de subida da

aeronave, ou seja, o aumento da altitude de vôo provoca uma redução significativa na razão

de subida da aeronave, pois como será estudado, com a manutenção do peso, uma redução na

sobra de potência acarreta em uma diminuição na capacidade do avião ganhar altura.

O ponto A representado no gráfico, tal como nas curvas de tração representa o teto

absoluto de vôo da aeronave e pela análise das curvas de potência, é possível verificar que

para uma determinada altitude, a sobra de potência é nula, e como será apresentado, nesta

condição a aeronave não possui mais condições de ganhar altura.

Com relação à velocidade de máxima autonomia, a variação da altitude também

contribui para o aumento dessa velocidade tal como ocorre para a velocidade de máximo

alcance obtida pela análise das curvas de tração.

Exemplo 4.5 – Influência da altitude nas curvas de potência disponível e requerida.

A partir dos resultados obtidos no Exemplo 4.4, calcule e represente em uma tabela os

valores da potência disponível e requerida para a mesma faixa de velocidades e para as

mesmas altitudes. Represente os resultados obtidos em um gráfico e determine a velocidade

de máxima autonomia para cada uma das altitudes avaliadas.

Solução:

Para as condições ao nível do mar, h = 0m, os resultados foram obtidos no Exemplo

4.2 e estão apresentados na tabela a seguir:


182

v (m/s) P d (W) P r (W)

8 284,204 337,841

10 339,105 277,433

12 384,163 242,044

14 417,841 222,782

16 438,634 215,490

18 445,091 218,119

20 435,806 229,673

22 409,377 249,727

24 364,452 278,194

26 299,695 315,193

28 213,805 360,975

30 105,478 415,877

Para h = 1500m, os valores de potência requerida e disponível podem ser obtidos com

a solução das Equações (4.38) e (4.45) para cada velocidade de vôo desejada. Os valores de

tração disponível e requerida para esta altitude obtidos no Exemplo 4.4 estão apresentados na

tabela a seguir:

v (m/s) T d1500m (N) T r1500 (N)

8 30,684 48,663

10 29,289 31,762

12 27,651 22,838

14 25,778 17,724

16 23,678 14,679

18 21,358 12,874

20 18,821 11,868

22 16,072 11,416

24 13,116 11,366

26 9,9556 11,624

28 6,594 12,130

30 3,036 12,840

Considerando a velocidade de 8m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

= T

dh

⋅ v

P

dh

Pdh

= 30,684

⋅8

= 245,479 W

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

= T

rh

⋅ v

= 48,663

⋅ 8


183

Prh

= 389,306 W

Considerando a velocidade de 10m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

P

dh

Pdh

= T

dh

⋅ v

= 29,289⋅10

= 292,890 W

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

Prh

= T

rh

⋅ v

= 31,762

⋅10

= 317,62 W

O processo é repetido para toda faixa de velocidades em estudo, e o resultado obtido para esta

altitude está apresentado na tabela a seguir.

v (m/s) P d1500m (W) P r1500 (W)

8 245,479 389,306

10 292,899 317,629

12 331,816 274,063

14 360,902 248,139

16 378,863 234,877

18 384,445 231,732

20 376,424 237,378

22 353,600 251,155

24 314,786 272,790

26 258,846 302,248

28 184,653 339,649

30 91,082 385,214

Para h = 3000m, os valores de potência requerida e disponível podem ser obtidos com

a solução das Equações (4.38) e (4.45) para cada velocidade de vôo desejada. Os valores de

tração disponível e requerida para esta altitude obtidos no Exemplo 4.4 estão apresentados na

tabela a seguir:


184

v (m/s) T d3000m (N) T r3000 (N)

8 26,368 56,425

10 25,169 36,643

12 23,761 26,118

14 22,152 20,000

16 20,348 16,266

18 18,353 13,948

20 16,173 12,536

22 13,811 11,741

24 11,271 11,390

26 8,555 11,372

28 5,667 11,616

30 2,609 12,072

Considerando a velocidade de 8m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

= T

dh

⋅ v

P

dh

Pdh

= 26,368⋅

8

= 210,948 W

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

Prh

= T

rh

⋅ v

= 56,425⋅8

= 451,400 W

Considerando a velocidade de 10m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

P

dh

Pdh

= T

dh

⋅ v

= 25,169

⋅10

= 251,690 W

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

Prh

= T

rh

⋅ v

= 36,643

⋅10

= 366,430 W


185

O processo é repetido para toda faixa de velocidades em estudo, e o resultado obtido para esta

altitude está apresentado na tabela a seguir.

v (m/s) P d3000m (W) P r3000 (W)

8 210,948 451,400

10 251,698 366,435

12 285,141 313,416

14 310,135 280,010

16 325,570 260,266

18 330,366 251,071

20 323,473 250,730

22 303,860 258,319

24 270,506 273,369

26 222,435 295,687

28 158,678 325,259

30 78,270 362,189

Para h = 4500m, os valores de potência requerida e disponível podem ser obtidos com

a solução das Equações (4.38) e (4.45) para cada velocidade de vôo desejada. Os valores de

tração disponível e requerida para esta altitude obtidos no Exemplo 4.4 estão apresentados na

tabela a seguir:

v (m/s) T d4500m (N) T r4500 (N)

8 22,534 65,844

10 21,509 42,594

12 20,306 30,153

14 18,931 22,847

16 17,389 18,307

18 15,684 15,401

20 13,821 13,533

22 11,803 12,364

24 9,632 11,692

26 7,311 11,387

28 4,843 11,365

30 2,229 11,570

Considerando a velocidade de 8m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

= T

dh

⋅ v

P

dh

Pdh

= 22,534

⋅8

=180,273 W


186

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

Prh

= T

rh

⋅ v

= 65,844

⋅ 8

= 526,756 W

Considerando a velocidade de 10m/s, a potência disponível para essa altitude será:

P

dh

P

dh

Pdh

= T

dh

⋅ v

= 21,509

⋅10

= 215,090 W

E a potência requerida é:

P

rh

P

rh

Prh

= T

rh

⋅ v

= 42,594

⋅10

= 425,940 W

O processo é repetido para toda faixa de velocidades em estudo, e o resultado obtido para esta

altitude está apresentado na tabela a seguir.

v (m/s) P d4500m (W) P r4500 (W)

8 180,273 526,756

10 215,097 425,946

12 243,677 361,837

14 265,037 319,861

16 278,227 292,918

18 282,326 277,227

20 276,435 270,668

22 259,674 272,027

24 231,171 280,616

26 190,090 296,073

28 135,604 318,246

30 66,888 347,120

O gráfico resultante da análise realizada está apresentado na figura a seguir:


187

Variação da potência com a altitude

Potência (W)

600

500

400

300

200

100

0

h=0m

h=1500m

h=3000m

h=4500m

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

A velocidade de máxima autonomia é calculada pela solução da Equação (4.31)

considerando a densidade do ar relativa à altitude em estudo.

Portanto, para h = 0m:

vP

r min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

⎝ 3 ⋅

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

P r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝1,225

⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 3 ⋅ 0,022 ⎠

1

4

vP r min

=16,43 m/s

Para h = 1500m:

vP

r min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

⎝ 3 ⋅

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

P r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝1,0581

⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 3 ⋅ 0,022 ⎠

1

4

vP r min

=17,68m/s


188

Para h = 3000m:

vP

r min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

⎝ 3 ⋅

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

P r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝ 0,9092 ⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 3 ⋅ 0,022 ⎠

1

4

vP r min

=19,07 m/s

Para h = 4500m:

vP

r min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1

2

⎝ 3 ⋅

K

C

D0

⎟ ⎞

1

4

v

P r

min

⎛ 2 ⋅150

= ⎜ ⎟

⎝ 0,777 ⋅ 0,9 ⎠

1

2

⎛ 0,065 ⎞

⋅ ⎜ ⎟

⎝ 3 ⋅ 0,022 ⎠

1

4

vP r min

= 20,63 m/s

Assim, é possível observar que o aumento da altitude proporciona um aumento na

velocidade de máxima autonomia da aeronave.

Esta seção procurou mostrar de forma clara e objetiva os efeitos provocados pela

variação da altitude nas curvas de tração e potência de uma aeronave com propulsão à hélice.

Para o propósito da competição AeroDesign esta análise é muito importante pois permite à

equipe ter uma visão global do desempenho da aeronave em diversas condições de altitude e

assim poder durante a competição prever com acuracidade qual será a carga máxima que pode

ser transportada nas condições locais de altitude densidade no momento do vôo.

É muito importante comentar que geralmente os erros de projeto são

fundamentalmente gerados pelo fato de muitas equipes desconsiderarem os efeitos da altitude

nos cálculos de desempenho da aeronave.

4.7 – Análise do desempenho de subida

A análise do vôo de subida representa um parâmetro muito importante para aeronaves

que participam da competição AeroDesign, pois como os vôos são realizados em condições

limites de operação do avião, o piloto deve possuir muita experiência e sensibilidade para

evitar o estol da aeronave nos instantes iniciais que sucedem a decolagem.

A razão de subida de uma aeronave representa a velocidade vertical da mesma, e,

como será mostrado nesta seção, pode ser obtida de maneira simples a partir de um modelo

aproximado que utiliza como referência as curvas de potência disponível e requerida obtidas

para o vôo reto e nivelado.

Como forma de se avaliar as qualidades de subida de um avião, considere o modelo

mostrado na Figura 4.13.


189

Figura 4.13 – Forças atuantes durante um vôo de subida.

Nesta situação, a velocidade da aeronave está alinhada com a direção do vento relativo

e forma um ângulo de incidência θ com relação a uma referência horizontal. Dessa forma, um

triângulo de vetores para indicar a velocidade pode ser representado da seguinte forma.

Figura 4.14 – Triângulo de velocidades para análise do vôo de subida.

Considerando que a subida seja realizada para uma condição de velocidade constante,

as equações de equilíbrio da estática também podem ser utilizadas, e, portanto, uma análise da

Figura 4.14 permite observar que em uma condição de subida, o peso possui duas

componentes dadas por Wsenθ e Wcosθ que são utilizadas para compor as equações de

equilíbrio da seguinte forma:

T = D + W ⋅ senθ

(4.46)

Esta equação representa a soma das forças paralelas à direção de vôo da aeronave, e

pode-se perceber que em uma condição de subida, a tração disponível além de atuar como

forma de vencer a força de arrasto (tração requerida), também deve ser capaz de vencer a

componente do peso dada por Wsenθ.

A soma das forças perpendiculares à direção de vôo resulta em:

L =W ⋅ cosθ

(4.47)

Nesta equação é importante observar que durante um vôo de subida a força de

sustentação é menor que o peso da aeronave.

A Equações (4.46) e (4.47) representam as equações do movimento para um vôo de

subida com velocidade constante e são análogas às Equações (4.1) e (4.2) obtidas para o vôo

reto e nivelado.


190

Como citado no inicio dessa seção, a razão de subida pode ser obtida através da

análise das curvas de potência disponível e requerida, e, como visto, a forma matemática para

se obter a potência é a partir do produto entre tração e velocidade, e, portanto, a Equação

(4.46) pode ser reescrita da seguinte forma:

T ⋅ v = D ⋅ v + W ⋅ v ⋅ senθ

(4.48)

T ⋅ v − D ⋅ v = W ⋅ v ⋅ senθ

(4.48a)

T ⋅ v − D ⋅ v

= v ⋅ senθ

W

(4.48b)

Uma análise da Figura 4.14 permite observar que o termo vsenθ representa a

velocidade vertical da aeronave denominada razão de subida (R/C) “rate of climb”, portanto, a

partir da Equação (4.48b) pode-se concluir que:

T ⋅ v − D ⋅ v

= R / C

W

(4.49)

Na Equação (4.49), o termo Tv representa a potência disponível e o termo Dv a

potência requerida, ambas para uma mesma condição de peso e altitude, portanto, a Equação

(4.49) pode ser reescrita da seguinte forma:

P

d

− P

W

r

= R / C = vsenθ

(4.50)

Dessa forma verifica-se que a razão de subida pode ser calculada a partir da sobra de

potência existente em uma determinada condição de vôo. Pela análise das curvas de potência

disponível e requerida, é possível observar que enquanto houver sobra de potência, a aeronave

é capaz de subir.

A Figura 4.15 mostra a sobra de potência existente para garantir o vôo de subida.

Figura 4.15 – Ilustração da sobra de potência.


191

É importante observar que ao longo da faixa de velocidades, existe um ponto no qual a

sobra de potência é máxima, para esta velocidade consegue-se obter a máxima razão de

subida da aeronave e a partir da solução da Equação (4.50), é possível determinar o ângulo de

incidência que propicia esta condição.

As Equações (4.51) e (4.52b), permitem realizar o cálculo da máxima razão de subida

e do ângulo de incidência que proporciona esta condição.

pela Equação (4.50), pode-se escrever que

( P − P )

d r máx

R / Cmáx

=

(4.51)

W

R

C

= v ⋅ sen(

θ }

(4.52)

/

máx

R / Cmáx

R / C

máx

sen( θ

R / Cmáx}

=

(4.52a)

v

⎛ R / Cmáx

θ

R / Cmáx

= arcsen⎜

(4.52b)

⎝ v ⎠

É muito comum representar a razão de subida em um gráfico que relacione esta com a

velocidade horizontal. A Figura 4.16 mostra a curva genérica da razão de subida em função da

velocidade horizontal para uma aeronave com propulsão à hélice.

Figura 4.16 – Polar de velocidades para razão de subida.

A representação gráfica da razão de subida em função da velocidade horizontal

também é citada na bibliografia aeronáutica com o nome de polar de velocidades, pois tal

como a polar de arrasto, representa a velocidade resultante em coordenadas polares, portanto,

um gráfico representado em uma escala conveniente permite se obter a velocidade resultante

ao longo da trajetória de vôo e ao mesmo tempo o correspondente ângulo de subida para

qualquer condição desejada.


192

A análise da Figura 4.16 permite observar que para uma determinada velocidade é

possível se obter a máxima razão de subida correspondente a um determinado peso e altitude.

Esta velocidade é denominada velocidade de máxima razão de subida e para esta situação

existe um ângulo de incidência que proporciona a máxima razão de subida denotado por

θ R/Cmáx .

Outro ponto importante relativo à razão de subida é quando se deseja ganhar altura

rapidamente para se livrar de um obstáculo. Nesta situação, a subida deve ser realizada para

uma condição de máximo ângulo de subida θ máx . Este ângulo corresponde a uma menor

velocidade horizontal e uma menor razão de subida, porém proporciona uma subida mais

íngreme da aeronave.

Para o caso de aeronaves que participam da competição AeroDesign, como a mesma

opera em condições limites de peso e normalmente a sobra de potência é muito pequena, é

essencial que a subida seja realizada com uma velocidade horizontal maior e com uma

pequena razão de subida e consequentemente um pequeno ângulo de subida, pois dessa forma,

a maior velocidade horizontal é utilizada como forma de aumentar a força de sustentação

necessária para vencer o peso da aeronave e assim, permitir uma condição segura de subida

logo após a decolagem. A Figura 4.17 apresentada a seguir mostra a aeronave da equipe

Taperá em uma condição de subida durante um dos vôos de teste realizado.

Figura 4.17 – Aeronave da equipe Taperá em vôo de subida.

Exemplo 4.6 – Determinação da razão de subida.

Para a aeronave modelo do Exemplo 4.1, monte uma tabela relacionando a razão de

subida com a velocidade horizontal da aeronave e represente os resultados obtidos em um

gráfico. Identifique no gráfico a máxima razão de subida e identifique qual é o ângulo que

proporciona esta razão de subida. (considere a análise para as condições de atmosfera padrão

ao nível do mar).

Solução:

A partir dos valores de potência disponível e requerida obtidas no Exemplo 4.2, podese

calcular a sobra de potência existente para cada valor de velocidade adotada, portanto:

Para v = 8m/s:

∆ P = P d

− P r


193

∆P = 284,200

− 337,841

∆P = −53,641 W

Para v = 10m/s:

∆ P = P d

− P r

∆P = 339,100

∆P = 61,666 W

277,433

Os resultados obtidos para o cálculo realizado para todas as velocidades avaliadas na

faixa em estudo estão apresentados na tabela a seguir.

v (m/s)

∆P (W)

8 -53,641

10 61,666

12 142,111

14 195,047

16 223,133

18 226,966

20 206,126

22 159,648

24 86,245

26 -15,517

28 -147,195

30 -310,428

Pela solução da Equação (4.50) calcula-se a razão de subida da aeronave em estudo

considerando W = 150N.

Para v = 8m/s:

Como a sobra de potência é negativa, a aeronave não possui condições de ganhar

altura com essa velocidade horizontal.

Para v = 10m/s, tem-se que:

∆P

R / C =

W

R / C =

61,666

150

R / C = 0,411m/s

Para v = 12m/s, tem-se que:

∆P

R / C =

W


194

R / C =

142,111

150

R / C = 0,947 m/s

Os resultados obtidos para a faixa de velocidades entre 10m/s e 24m/s são

apresentados na tabela a seguir:

o gráfico resultante é o seguinte:

v (m/s)

R/C (m/s)

10 0,4111

12 0,947

14 1,300

16 1,487

18 1,513

20 1,374

22 1,064

24 0,574

Polar de velocidades (subida)

Razão de subida (m/s)

1,6

1,4

1,2

1

0,8

0,6

0,4

0,2

0

0 5 10 15 20 25 30

Velocidade horizontal (m/s)

A análise do gráfico permite observar que a máxima razão de subida para esta

aeronave em condições de atmosfera padrão ao nível do mar é aproximadamente R/C =

1,513m/s com uma velocidade horizontal de aproximadamente v h = 18m/s.

Para se obter essa razão de subida, o ângulo de subida pode ser calculado pela

Equação (4.87) da seguinte forma:

θ

R / Cmáx

⎛ R / C

= arcsen⎜

⎝ v

máx

θ

R

⎛1,513

/ Cmáx

= arcsen⎜

⎝ 18 ⎠


195

θ

R / Cmáx

= 4, 821°

É importante ressaltar que esse desempenho de subida foi obtido para uma condição

de atmosfera padrão ao nível do mar, conforme se tem uma variação na altitude de vôo, a

capacidade de subida da aeronave se reduz, pois como visto no Exemplo 4.5, quanto maior for

a altitude, menor será a sobra de potência e conseqüentemente menor será a razão de subida.

Exemplo 4.7 – Influência da altitude na razão de subida.

Com relação ao Exemplo 4.6 represente graficamente a capacidade de subida da

aeronave considerando uma decolagem ao nível do mar h = 0m e uma decolagem realizada a

1500m de altitude.

Solução:

Para uma decolagem realizada ao nível do mar, os resultados obtidos para a faixa de

velocidades entre 10m/s e 24m/s foram obtidos no Exemplo 4.6 e estão apresentados na tabela

a seguir:

v (m/s)

R/C (m/s)

10 0,4111

12 0,947

14 1,300

16 1,487

18 1,513

20 1,374

22 1,064

24 0,574

Para uma decolagem realizada a 1500m de altitude a partir dos valores de potência

disponível e requerida obtidas no Exemplo 4.6, pode-se calcular a sobra de potência existente

para cada valor de velocidade adotada, portanto:

Para v = 8m/s:

∆ P = P d

− P r

∆P = 245,479

− 389,306

∆P = −143,827 W

Para v = 10m/s:

∆ P = P d

− P r

∆P = 292,899

− 317,629

∆P = −24,730 W

Os resultados obtidos para o cálculo realizado para todas as velocidades avaliadas na

faixa em estudo estão apresentados na tabela a seguir.


196

v (m/s)

∆P (W)

8 -143,827

10 -24,730

12 57,753

14 112,762

16 143,985

18 152,712

20 139,045

22 102,445

24 41,996

26 -43,401

28 -154,996

30 -294,132

Pela solução da Equação (4.50) calcula-se a razão de subida da aeronave em estudo

considerando W = 150N.

Para v = 8m/s:

Como a sobra de potência é negativa, a aeronave não possui condições de ganhar

altura com essa velocidade horizontal.

Para v = 10m/s, tem-se que:

Nesta situação, a sobra de potência também é negativa e a aeronave não possui

condições de ganhar altura com essa velocidade horizontal.

Para v = 12m/s, tem-se que:

∆P

R / C =

W

R / C =

57,753

150

R / C = 0,385 m/s

Os resultados obtidos para a faixa de velocidades entre 12m/s e 24m/s são

apresentados na tabela a seguir:

v (m/s)

R/C (m/s)

12 0,385

14 0,751

16 0,959

18 1,018

20 0,926

22 0,682

24 0,279


197

o gráfico resultante é o seguinte:

Polar de velocidades (subida)

Razão de subida (m/s)

1,6

1,4

1,2

1

0,8

0,6

0,4

0,2

0

h=0m

h=1500m

0 5 10 15 20 25 30

Velocidade horizontal (m/s)

Esta análise foi realizada justamente para que o leitor verifique que a altitude possui

influência decisiva na razão de subida de uma aeronave, pois como a sobra de potência se

torna cada vez menor, a capacidade da aeronave ganhar altura torna-se cada vez mais

reduzida. Este é um resultado muito importante para o propósito da competição AeroDesign,

pois mostra que com peso máximo e com uma decolagem realizada em altitude, a razão de

subida da aeronave é muito pequena, e, portanto, o piloto deve possuir muita experiência e

sensibilidade para fazer a aeronave ganhar altura sem a ocorrência de um estol, ou seja, o

ângulo de subida deve ser muito pequeno.

4.8 – Vôo de planeio (descida não tracionada)

O conhecimento das características de desempenho durante um vôo de descida

também representa uma importante ferramenta para aeronaves que participam da competição

AeroDesign uma vez que possibilita a realização de uma aproximação para pouso dentro de

uma rampa de descida aceitável e que proporcione uma aterrissagem suave e com uma

velocidade segura.

Para a análise do vôo de planeio, considera-se que a tração disponível é nula, pois

nesta condição a aeronave se encontra operando com o motor em marcha lenta, portanto,

apenas são consideradas para efeitos de cálculos as forças de sustentação e arrasto, além do

peso da aeronave.

Nesta situação de vôo, também são válidas as equações de equilíbrio da estática que

podem ser obtidas pela análise da Figura 4.18:


198

Figura 4.18 – Forças atuantes durante o vôo de planeio.

Dessa forma, a soma das forças na direção paralela à trajetória de vôo fornece que:

D = W ⋅ senγ

(4.53)

e para a soma das forças na direção perpendicular à trajetória de vôo tem-se que:

L = W ⋅ cosγ

(4.54)

A partir das Equações (4.53) e (4.54), é possível determinar o ângulo de planeio que

proporciona o equilíbrio da aeronave durante a descida. Dividindo-se a Equação (4.53) pela

Equação (4.54), tem-se que:

W ⋅ senγ

=

W ⋅ cosγ

senγ

=

cosγ

D

L

D

L

(4.55)

(4.55a)

D

tg γ =

(4.55b)

L

ou, pode-se escrever que:

1

tg γ =

(4.55c)

( L / D)


199

Na Equação (4.55c) percebe-se claramente que o ângulo de planeio está diretamente

relacionado com a eficiência aerodinâmica da aeronave, e assim, o ângulo de planeio será

mínimo quando a relação L/D for máxima, ou seja, voando-se em uma condição de máxima

eficiência aerodinâmica consegue-se um planeio com máximo alcance, portanto:

tg γ = 1

min

( L / D)

(4.56)

Como pode ser observado na Equação (4.56), o ângulo de planeio que proporciona o

equilíbrio da aeronave não depende da altitude, do peso ou da área da asa, mas simplesmente

da relação L/D. Porém, em uma determinada altitude, para que a relação L/D desejada seja

obtida a aeronave deve voar com uma velocidade específica denominada velocidade de

planeio, cujo valor depende diretamente da altitude, do peso e da área da asa. A velocidade de

planeio para uma dada condição de altitude pode ser obtida pela solução da Equação (4.54),

que resulta em:

máx

1 2

Isolando-se a velocidade tem-se que:

L = ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅CL = W ⋅ cosγ

(4.57)

2

v =

2 ⋅W

⋅ cosγ

ρ ⋅ S ⋅

C L

(4.58)

Claramente percebe-se que a velocidade de planeio depende da variação da altitude

através da variável ρ, onde quanto menor for a altitude menor será a velocidade de planeio

considerando que a descida seja realizada com uma relação L/D constante, ou seja, o

coeficiente de sustentação não muda durante o planeio. Para o caso de um planeio com

máximo alcance, o coeficiente de sustentação é calculado a partir da polar de arrasto do

seguinte modo:

C

C

* D0

L

= (4.59)

K

Para uma situação de planeio com máxima autonomia, o coeficiente de sustentação é

dado por:

* 3 ⋅ CD0

C

L

= (4.60)

K

Uma vez determinados o ângulo de planeio e a velocidade de planeio para uma

determinada altitude e condição de vôo desejada, é possível determinar a razão de descida da

aeronave (R D ) de forma rápida a partir do triângulo de velocidades apresentado a seguir:


200

Figura 4.19 – Determinação da razão de descida.

Dessa forma tem-se que:

v h

= v ⋅ cosγ

(4.61)

e

R

D

= v = v ⋅ senγ

(4.62)

v

Uma representação conveniente para a razão de descida em função da velocidade

horizontal é a polar de velocidades apresentada na Figura 4.20.

Figura 4.20 – Polar de velocidades (planeio).

A polar de velocidades apresentada mostra dois pontos em destaque, o ponto A

representa um vôo de descida realizado para uma condição de máxima autonomia, e nesta

situação, a razão de descida será mínima permitindo com que a aeronave permaneça mais

tempo no ar antes de chegar ao solo. A razão de descida para esta condição pode ser obtida

com a solução da Equação (4.62), onde a velocidade de planeio é calculada pela Equação

(4.58) com o coeficiente de sustentação para máxima autonomia obtido pela Equação (4.60).

O ângulo de planeio que proporciona a máxima autonomia é obtido pela solução da Equação

(4.55c) considerando o C L obtido na Equação (4.60) e o respectivo coeficiente de arrasto

obtido através da equação que define a polar de arrasto da aeronave.

Uma vez conhecidos o ângulo de planeio e a respectiva velocidade de planeio que

proporciona uma descida com máxima autonomia, a correspondente velocidade horizontal da

aeronave pode ser determinada pela solução da Equação (4.61).

O ponto B representado no gráfico indica uma descida com máximo alcance, nesta

situação a aeronave percorrerá uma maior distância horizontal antes de chegar ao solo. Como

visto anteriormente, um vôo realizado para máximo alcance ocorre para uma condição de


201

eficiência aerodinâmica máxima, dessa forma, a velocidade de planeio é calculada pela

Equação (4.58) com o coeficiente de sustentação para máximo alcance obtido pela Equação

(4.59). O ângulo de planeio que proporciona uma condição de máximo alcance é obtido pela

solução da Equação (4.55c) considerando o C L obtido na Equação (4.60) e o respectivo

coeficiente de arrasto obtido através da equação que define a polar de arrasto da aeronave.

Todos os outros pontos da polar de velocidades são obtidos considerando-se o

coeficiente de sustentação característico para cada condição de vôo desejada.

Para aeronaves que participam da competição AeroDesign é aconselhável que o

planeio seja realizado para uma condição de máximo alcance de forma a se realizar a

aproximação com o menor ângulo possível, portanto, para esta condição, o ângulo de planeio

estará definido em função da máxima eficiência aerodinâmica e a distância horizontal

percorrida antes que a aeronave toque o solo pode ser calculada pela relação trigonométrica

mostrada nas Equações (4.63) e (4.64) obtidas a partir da análise da Figura 4.21.

h

tg γ =

(4.63)

D

h

D = (4.64)

tgγ

Figura 4.21 – Distância horizontal percorrida durante o planeio.

Portanto, conhecido o ângulo de planeio para máximo alcance e a altura em relação ao

solo em que a descida se iniciará, a Equação (4.64) determina de maneira rápida qual será a

distância horizontal percorrida antes do pouso.

Para o propósito do projeto AeroDesign, as equações apresentadas nesta seção

fornecem excelentes resultados, pois como os vôos são realizados a baixa altura, praticamente

não existe a influência da densidade do ar durante o procedimento de aproximação para

pouso. A Figura 4.22 mostra a aeronave Taperá em aproximação para pouso durante seção de

testes.


202

Figura 4.22 – Aproximação para pouso, aeronave Taperá 2009.

Exemplo 4.8 – Determinação das características de planeio.

Para a aeronave modelo do Exemplo 4.1 represente o gráfico da polar de velocidades

durante o planeio considerando uma aproximação ao nível do mar h = 0m e uma aproximação

realizada a h = 1000m.

Durante a execução dos cálculos determine o ângulo de planeio, a velocidade de

planeio, a razão de descida, a velocidade horizontal e a distância horizontal percorrida em

relação ao solo para as condições de máximo alcance e máxima autonomia. Considere que o

planeio se inicia a uma altura h = 30m acima do solo.

Dados:

C D = 0,022 + 0,065C L ², ρ 0 = 1,225kg/m³, ρ 1000 = 1,111kg/m³, S = 0,9m², W = 150N

Solução:

Para uma condição de planeio realizada ao nível do mar, h = 0m, utiliza-se a seguinte

metodologia:

A polar de velocidades é obtida com a variação do coeficiente de sustentação de 0,2

até 1,60 com incrementos de 0,2, dessa forma tem-se:

Para C L = 0,2

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,2

2

C

D

= 0,0246

A eficiência aerodinâmica nesta condição é:

C

E =

C

L

D

E =

0,2

0,0246


203

E = 8,13

O ângulo de planeio para esta condição é:

γ = arctg 1

E

γ =

1

arctg

813 ,

γ = 7, 01°

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cosγ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 7,01°

1,225 ⋅ 0,9 ⋅ 0,2

v = 36,747 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 36,747

⋅cos7,01º

= 36,472 m/s

e a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −36,747

⋅ sen7,01º

= −4,486 m/s

Para C L = 0,4

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,4

2


204

C

D

= 0,0324

A eficiência aerodinâmica nesta condição é:

C

E =

C

L

D

E =

0,4

0,0324

E = 12,345

O ângulo de planeio para esta condição é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

12,345

γ = 4,630º

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cosγ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2⋅150⋅cos

4,630°

1,225 ⋅0,9

⋅0,4

v = 26,039 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 26,039⋅

cos4,630º

= 25,954 m/s

e a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ


205

R D

= −26,039

⋅ sen4,630º

RD

= −2,102 m/s

O cálculo apresentado foi repetido para toda faixa de valores de C L em estudo. A

tabela a seguir mostra os resultados obtidos na análise.

C L R D (m/s) v h (W)

0,2 -4,486 36,472

0,4 -2,1023 25,954

0,6 -1,604 21,204

0,8 -1,459 18,355

1,0 -1,427 16,402

1,2 -1,440 14,954

1,4 -1,475 13,823

1,6 -1,519 12,907

Para uma condição de planeio realizada na altitude, h = 1000m, emprega-se a mesma

metodologia adotada anteriormente, portanto, a polar de velocidades é obtida com a variação

do coeficiente de sustentação de 0,2 até 1,60 com incrementos de 0,2, dessa forma tem-se:

Para C L = 0,2

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,2

2

C

D

= 0,0246

A eficiência aerodinâmica nesta condição é:

C

E =

C

E =

L

D

0,2

0,0246

E = 8,13

O ângulo de planeio para esta condição é:

γ = arctg 1

E

γ = arctg

1

8,13


206

γ = 7, 01°

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cosγ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 7,01°

1,111 ⋅ 0,9 ⋅ 0,2

v = 38,586 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 38,586

⋅cos7,01º

= 38,298 m/s

e a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −38,586

⋅ sen7,01º

= −4,710 m/s

Para C L = 0,4

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,4

2

C

D

= 0,0324

A eficiência aerodinâmica nesta condição é:

C

E =

C

L

D

E =

0,4

0,0324


207

E = 12,345

O ângulo de planeio para esta condição é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

12,345

γ = 4,630º

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cos γ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2⋅150⋅cos

4,630°

1,111 ⋅0,9

⋅0,4

v = 27,342 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 27,342⋅

cos4,630º

= 27,253m/s

e a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −27,342

⋅ sen4,630º

= −2,207 m/s

O cálculo apresentado foi repetido para toda faixa de valores de C L em estudo. A

tabela a seguir mostra os resultados obtidos na análise.


208

C L R D (m/s) v h (W)

0,2 -4,710 38,298

0,4 -2,207 27,253

0,6 -1,684 22,266

0,8 -1,532 19,274

1,0 -1,498 17,223

1,2 -1,512 15,703

1,4 -1,549 14,515

1,6 -1,595 13,553

O gráfico resultante da análise realizada é o seguinte:

Polar de velocidades (Planeio)

Razão de descida (m/s)

0

-1

-2

-3

-4

-5

0 10 20 30 40 50

h=0m

h=1000m

Velocidade horizontal (m/s)

A análise das características de planeio para as condições de máximo alcance e

máxima autonomia é realizada de acordo com o procedimento apresentado a seguir.

a) Planeio com máximo alcance ao nível do mar:

Nesta condição, o coeficiente de sustentação é obtido pela solução da Equação (4.59)

da seguinte forma:

C

* L

=

C

* L

=

C

D0

K

0,022

0,065

C

* L

= 0,581

o correspondente coeficiente de arrasto é:


209

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,581

2

C

D

= 0,044

A eficiência aerodinâmica máxima para esta condição é:

C

E =

C

L

D

0,581

E =

0,044

E = 13,222

O ângulo de planeio é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

13,222

γ = 4,325º

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cos γ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 4,325°

1,225 ⋅ 0,9 ⋅ 0,581

v = 21,596 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 21,596

⋅ cos4,325º

= 21,534 m/s


210

a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −21,596

⋅ sen4,325º

= −1,628 m/s

e a distância horizontal percorrida antes que a aeronave chegue ao solo é:

h

D =

tgγ

30

D =

tg4,325

°

D = 396,664 m

b) Planeio com máxima autonomia ao nível do mar:

Nesta condição, o coeficiente de sustentação é obtido pela solução da Equação (4.60)

da seguinte forma:

C

L

C

L

* 3 ⋅

=

* ⋅

=

C

* L

=1,007

C

K

D0

3 0,022

0,065

o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅1,007

2

C

D

= 0,088

A eficiência aerodinâmica máxima para esta condição é:

C

E =

C

L

D

1,007

E =

0,088


211

E = 11,450

O ângulo de planeio é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

11,450

γ = 4,991º

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cos γ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 4,991°

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,007

v = 16,401m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

=16,401⋅

cos4,991º

=16,339 m/s

a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −16,401⋅

sen4,991º

= −1,426 m/s

e a distância horizontal percorrida antes que a aeronave chegue ao solo é:

D =

h

tgγ

30

D =

tg4,991

°


212

D = 343,521m

c) Planeio com máximo alcance a 1000m de altitude:

Nesta condição, o coeficiente de sustentação é obtido pela solução da Equação (4.59)

da seguinte forma:

C

* L

=

C

* L

=

C

D0

K

0,022

0,065

C

* L

= 0,581

o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅ 0,581

2

C

D

= 0,044

A eficiência aerodinâmica máxima para esta condição é:

C

E =

C

L

D

0,581

E =

0,044

E = 13,222

O ângulo de planeio é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

13,222

γ = 4,325º

A velocidade de planeio é:


213

v =

2 ⋅W

⋅ cos γ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 4,325°

1,111 ⋅ 0,9 ⋅ 0,581

v = 22,677 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

= 22,677

⋅cos4,325º

= 22,612 m/s

a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −22,677

⋅ sen4,325º

= −1,710 m/s

e a distância horizontal percorrida antes que a aeronave chegue ao solo é:

D =

h

tgγ

30

D =

tg4,325

°

D = 396,664 m

d) Planeio com máxima autonomia a 1000m de altitude:

Nesta condição, o coeficiente de sustentação é obtido pela solução da Equação (4.60)

da seguinte forma:

C

L

* 3 ⋅

=

C

K

D0


214

C

L

* ⋅

=

C

* L

=1,007

3 0,022

0,065

o correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

=

2

0,022

+ 0,065 ⋅ C

L

C

D

= 0,022

+ 0,065 ⋅1,007

2

C

D

= 0,088

A eficiência aerodinâmica máxima para esta condição é:

CL

E =

C

D

1,007

E =

0,088

E = 11,450

O ângulo de planeio é:

γ = arctg 1

E

1

γ = arctg

11,450

γ = 4,991º

A velocidade de planeio é:

v =

2 ⋅W

⋅ cos γ

ρ ⋅ S ⋅

C L

v =

2 ⋅150

⋅ cos 4,991°

1,111 ⋅ 0,9 ⋅1,007


215

v = 17,222 m/s

A velocidade horizontal é obtida pela solução da Equação (4.61)

v h

= v ⋅ cosγ

v

h

vh

=17,222

⋅ cos4,991º

=17,157 m/s

a razão de descida para esta condição dada por:

R

D

= v

v

= −v

⋅ senγ

R D

RD

= −17,222

⋅ sen4,991º

= −1,498 m/s

e a distância horizontal percorrida antes que a aeronave chegue ao solo é:

D =

h

tgγ

30

D =

tg4,991

°

D = 343,521m

4.9 – Desempenho na decolagem

A análise do desempenho durante a corrida de decolagem de uma aeronave destinada a

participar da competição AeroDesign representa um dos pontos mais importantes para o

sucesso do projeto no quesito carga útil transportada, pois como o regulamento da competição

restringe o comprimento de pista para a decolagem, a capacidade de decolar com o maior

peso possível é diretamente afetada.

Dessa forma, o peso total de decolagem da aeronave torna-se máximo quando dentro

de todas as restrições existentes no regulamento da competição a equipe conseguir um

excelente projeto aerodinâmico e que propicie durante a corrida de decolagem alçar vôo com

a maior carga possível, portanto, uma polar de arrasto obtida com precisão propicia

importantes melhoras no desempenho de decolagem, permitindo desse modo que se obtenha o

maior peso total de decolagem para a aeronave em projeto.

O modelo matemático apresentado nesta seção é o mesmo que é utilizado para aviões

convencionais com propulsão à hélice e possui sua formulação baseada no principio

fundamental da dinâmica (2ª lei de Newton), portanto:

dv

F = m ⋅ a = m ⋅

(4.65)

dt


216

Para a aplicação da Equação (4.65) é necessário que sejam conhecidas as forças que

atuam na aeronave durante a corrida de decolagem. A Figura 4.23 mostra um avião

monomotor durante a corrida de decolagem e as forças que atuam sobre ele.

Figura 4.23 – Forças atuantes durante a decolagem.

Pode-se perceber analisando-se a Figura 4.23, que além das quatro forças necessárias

para o vôo reto e nivelado, também está presente durante a corrida de decolagem a força de

atrito entre as rodas e o solo. Esta força é representada no presente livro por R, e pode ser

calculada da seguinte forma:

R = µ ⋅ N

(4.66)

onde µ representa o coeficiente de atrito entre as rodas da aeronave e o solo e N representa a

força normal que como será apresentado diminui conforme a velocidade aumenta.

Segundo Roskam [4.5], o coeficiente de atrito pode variar desde 0,02 para pistas

asfaltadas até 0,1 para pistas de grama. A Tabela 4.2 relaciona o coeficiente de atrito com o

respectivo pis da pista.

Tabela 4.2 – Coeficiente de atrito entre o piso e as rodas.

Tipo do piso µ

asfalto, concreto 0,02 até 0,03

terra 0,05

grama curta 0,05

grama longa 0,10

Como comentado, durante a corrida de decolagem a força normal diminui conforme a

velocidade da aeronave aumenta, esse fato está relacionado ao aumento da força de

sustentação que ocorre conforme a aeronave ganha velocidade, portanto, a Equação (4.66)

pode ser reescrita da seguinte forma:

R = µ ⋅ ( W − L)

(4.67)

no qual o termo (W-L) representa a força normal atuante durante a corrida de decolagem.

Para a análise do desempenho de decolagem utilizando-se a Equação (4.65), a partir da

Figura 4.23 é possível determinar a força resultante oriunda das soma das forças paralelas à


217

direção de movimento da aeronave, assim, a Equação (4.65) pode ser reescrita do seguinte

modo:

dv

T − D − R = m ⋅

(4.68)

dt

Para a solução da Equação (4.68) é muito importante que se determine uma condição

que relacione a velocidade de decolagem, a massa e a força liquida atuante, fornecendo como

resultado a distância necessária para a decolagem da aeronave, ou seja, é necessário se

realizar uma mudança de variável de forma a tornar a Equação (4.68) independente do tempo.

Assim, assume-se que a aeronave inicia o seu movimento a partir do repouso na

posição S=0m e no instante t=0s sendo acelerada até a velocidade de decolagem v lo após

percorrer a distância S lo em um intervalo de tempo t, portanto, integrando-se ambos os termos

da Equação (4.68) e isolando-se a variável t, pode-se escrever que:

F dv = (4.69)

m dt

F

⋅ dt = dv

(4.69a)

m

F

m

t

∫ ⋅dt

= ∫

0

v

0

dv

(4.69b)

F

= (4.69c)

m

v

t

v0 ⋅ t0

F

v = ⋅ t

(4.69d)

m

que resulta em:

v ⋅ m

t = (4.70)

F

Lembrando-se que a partir das equações fundamentais da cinemática tem-se que a

velocidade é dada por:

ds

v = (4.71)

dt

A integral da Equação (4.71) permite obter o comprimento de pista necessário para se

decolar a aeronave, portanto:

v ⋅ dt = ds

(4.72)

Considerando que a aeronave parte do repouso na posição S=0m e no instante t=0s

sendo acelerada até a velocidade de decolagem v lo na posição S lo e no instante t, tem-se que:


218

t

v ⋅ dt =

0 0

S lo

ds

(4.73)

Substituindo v pelo resultado da Equação (4.69d), tem-se que:

t

F

m

⋅ t ⎟ ⋅ dt =

0 0

S lo

ds

(4.74)

F

m

2 t

⋅ t S

S Lo

0

2 =

(4.74a)

0

portanto, tem-se que:

2

F ⋅t

2⋅

m

=

S Lo

(4.74b)

Substituindo-se a Equação (4.70) na Equação (4.74b), tem-se que:

F ⋅

⎛ v ⋅

⎝ F

2 ⋅ m

2

m ⎞

=

S Lo

(4.75)

F ⋅ v

2

⋅ m

2 ⋅ m ⋅ F

2

2

=

S Lo

(4.75a)

resultando em:

S Lo

2

v ⋅ m

= 2 ⋅ F

(4.75b)

Substituindo-se a soma das forças (T-D-R) na Equação (4.75b) tem-se que:

S Lo

2

v ⋅ m

= (4.76)

2 ⋅ ( T − D − R)

ou,

S Lo

S Lo

2

v ⋅ m

=

2 ⋅ ( T − D − µ ⋅ ( W − L))

=

2 ⋅

v

2

⋅ m

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.76a)

(4.76b)


219

Considerando que no instante da decolagem v = v lo e que a massa da aeronave é dada

por m = W/g, a Equação (4.76b) pode ser rescrita da seguinte forma:

S

Lo

=

2 ⋅

v

2

lo

⋅ ⎜

⎛W

g

⎝ ⎠

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.77)

S

Lo

=

2 ⋅ g ⋅

v

2

lo

⋅W

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.77a)

Como forma de se manter uma margem de segurança durante o procedimento de

decolagem e subida , a norma FAR-Part 23 (FAR – Federal Aviation Regulation) sugere que a

velocidade de decolagem não deve ser inferior a 20% da velocidade de estol, ou seja, v lo = 1,2

v estol , portanto:

v

lo

2 ⋅W

= 1 ,2 ⋅

(4.78)

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

Como forma de se obter v lo ², a Equação (4.127) é reescrita do seguinte modo:

v

⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

2 2 2

= 1,2 ⋅ ⎜

lo

Lmáx

2

(4.78a)

v

2

lo

2 ⋅W

= 1,44 ⋅

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

(4.78b)

Substituindo a Equação (4.78b) na Equação (4.77a), tem-se que:

S

Lo

2 ⋅W

1,44 ⋅

ρ ⋅ S ⋅ C

=

2 ⋅ g ⋅

Lmáx

⋅W

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.79)

Assim, tem-se que:

S

Lo

1,44 ⋅ 2 ⋅W

=

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C ⋅

Lmáx

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.79a)

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]}

(4.79b)

Como os valores da força de arrasto e da força de sustentação se alteram conforme a

velocidade aumenta, o cálculo da Equação (4.79b) se torna muito complexo e como forma de

simplificar a solução, Anderson [4.1] sugere que seja realizada uma aproximação para uma


220

força requerida média obtida em 70% da velocidade de decolagem, ou seja, os valores de L e

D são calculados a partir das Equações (4.80a) e (4.81a) considerando v = 0,7v lo , portanto:

1

L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C L

(4.80)

2

L =

1 ⋅ ρ 2

⋅ (0,7 ⋅ vlo ) ⋅ S ⋅ C (4.80a)

L

2

e

1

D = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C D

(4.81)

2

1 2

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ CL

)

(4.81a)

2

É importante ressaltar que durante uma análise de decolagem, o coeficiente de

sustentação C L presente nas Equações (4.80a) e (4.81a) é constante durante toda a corrida de

decolagem, e, para o propósito do AeroDesign é interessante que se utilize o C L ideal, pois

dessa forma a relação entre a geração da força de sustentação necessária para a decolagem e a

força de arrasto será a maior possível garantindo uma redução no comprimento de pista

necessário para se decolar a aeronave.

No instante em que a aeronave sai do solo, o ângulo de ataque aumenta de forma que a

força de sustentação gerada se iguale ao peso, dessa forma, o C L também aumenta para um

valor um pouco abaixo do C Lmáx . Nos instantes iniciais que sucedem a decolagem, como

forma de se evitar o estol o piloto deve ser muito experiente, pois uma perda de sustentação a

baixa altura praticamente inviabiliza uma recuperação do vôo ocasionando em queda da

aeronave. A Figura 4.24 mostra a variação do coeficiente de sustentação em função do

comprimento de pista necessário para decolar a aeronave.

Figura 4.24 – Variação do C L em função do comprimento de pista necessário para decolagem.


221

Com relação ao coeficiente de arrasto C D = C D0 + φ K C L ² presente na Equação (4.81a)

é importante notar que a variável φ representa o fator de efeito solo que atua nos

procedimentos de decolagem e pouso definido no Capítulo 2 por:

2

(16 ⋅ h / b)

φ =

(4.82)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

Em função das considerações realizadas, a Equação (4.79b) utilizada para se estimar o

comprimento de pista para a decolagem da aeronave pode ser reescrita da seguinte forma:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

(4.83)

Alguns autores assumem que a tração disponível é constante durante a corrida de

decolagem, como no presente livro definiu-se que a mesma varia com a velocidade como

mostrado na Figura 4.2, a variável T presente na Equação (4.83) também tem seu valor em

uma condição de v = 0,7v lo .

Com relação ao coeficiente de sustentação ideal para se realizar a corrida de

decolagem com o menor comprimento de pista possível, é necessário que a aceleração seja

realizada com a menor resistência ao avanço possível, dessa forma, um dos pontos

fundamentais a serem avaliados durante a decolagem é justamente a determinação do

coeficiente de sustentação que proporciona esta condição. Considerando na Equação (4.83)

que a resistência ao avanço é dada por:

[ D + ⋅ ( W − L)

]

0, vlo

R

7

com as forças de sustentação e arrasto calculadas por:

= µ (4.84)

L =

1 ⋅ ρ 2

⋅ (0,7 ⋅ vlo ) ⋅ S ⋅ C (4.85)

L

2

e

1 ⋅ ⋅(0,7

⋅v

2

LO

⋅ S ⋅C D

D = ρ )

(4.86)

2

lembrando-se que a pressão dinâmica na condição de decolagem é dada por:

1 2

q = ⋅ ρ ⋅(0,7

⋅v LO

)

(4.87)

2

e que o coeficiente de arrasto é obtido pela polar de arrasto da aeronave considerando a

influência do efeito solo pela seguinte equação:

C

D

2

D0

+ ⋅ K ⋅ C

L

= C φ (4.88)


222

As Equações (4.85) e (4.86) podem ser reescritas da seguinte forma:

L = q ⋅ S ⋅

(4.89)

C L

e

D = q ⋅ S ⋅

(4.90)

C D

Portanto, a resistência total durante a corrida de decolagem é:

2

[ q ⋅ S ⋅ ( C + ⋅ K ⋅ C ) + ⋅ ( W − q ⋅ S ⋅ C )]

R = φ µ

(4.91)

D0 L

L

Como forma de se encontrar o coeficiente de sustentação que proporciona o mínimo

comprimento de pista necessário para a decolagem, a Equação (4.91) deve ser derivada em

relação à C L e o seu resultado deve ser igual a zero, portanto:

dR

dC

L

2

[ q ⋅ S ⋅ ( C + ⋅ K ⋅ C ) + ⋅ ( W − q ⋅ S ⋅ C )]

= 0 =

φ µ

(4.92)

D0 L

L

[ q ⋅ S ⋅ ( 0 + 2 ⋅ ⋅ K ⋅ C

L

) + µ ⋅ (0 − q ⋅ S)

] = 0

φ (4.92a)

2 ⋅ q ⋅ S ⋅φ ⋅ K ⋅ C

L

− µ ⋅ q ⋅ S = 0

(4.92b)

2 ⋅ q ⋅ S ⋅φ

⋅ K ⋅ C

L

= µ ⋅ q ⋅ S

(4.92c)

Isolando-se C L e utilizando o subscrito LO para identificar a decolagem, tem-se que:

C LLO

µ ⋅ q ⋅ S

=

2 ⋅φ

⋅ K ⋅ q ⋅ S

(4.93)

C LLO

µ

=

2 ⋅φ

⋅ K

(4.93a)

sabendo-se que:

1

K =

π ⋅ e ⋅ AR

0

(4.94)

tem-se que:

C LLO

µ

=

1

2⋅φ

π ⋅e

⋅ AR

0

(4.95)

que resulta em:


223

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

C LLO

(4.96)

2 ⋅φ

A solução da Equação (4.96) fornece como resultado o valor do coeficiente de

sustentação necessário para se garantir a decolagem com o menor comprimento de pista

possível.

Exemplo 4.9 – Determinação do C L ideal para a decolagem.

Para a aeronave modelo utilizada no presente capítulo, determine o C L ideal para se

garantir uma decolagem com o menor comprimento de pista possível.

Dados: b = 2,48m, S = 0,9m², µ = 0,03 e C D = 0,022+0,065C L 2 .

Solução:

O alongamento AR é dado por:

2

b

AR =

S

2

2,48

AR =

0,9

AR = 6,83

A partir do fator K = 0,065 presente na polar de arrasto é possível se estimar o

coeficiente de Oswald da seguinte forma:

1

K =

π ⋅ e ⋅ AR

portanto,

0

e

0

1

= π ⋅ K ⋅ AR

e

0

= π ⋅

e = 0,717

0

1

0,065

⋅ 6,83

O fator de efeito solo foi obtido pela aplicação da Equação (4.82) considerando a

altura da asa em relação ao solo h = 0,35m.

φ =

(16 ⋅ h / b)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

2


224

φ =

(16 ⋅ 0,35 / 2,48)

1 + (16 ⋅ 0,35 / 2,48)

2

2

φ = 0,836

Portanto, o coeficiente de sustentação ideal para a decolagem é:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O resultado encontrado é de extrema importância e indica que para a asa dessa

aeronave com perfil Eppler 423, a maior eficiência durante a corrida de decolagem é obtida

para um ângulo de incidência da asa próximo de zero grau ou as vezes até negativo

É muito importante citar que para os perfis utilizados na competição AeroDesign

geralmente o ângulo de incidência ideal para se garantir uma decolagem com o menor

comprimento de pista possível está bem próximo a 0° ou até ângulos negativos, pois como são

utilizados perfis de alta sustentação muito arqueados, geralmente o C L ideal calculado ocorre

para um ângulo de ataque negativo.

Para a competição AeroDesign, é interessante que o peso total de decolagem seja

mostrado em função do comprimento de pista necessário para decolar a aeronave em uma

determinada condição de altitude em um gráfico cujo modelo genérico está apresentado na

Figura 4.25.

Figura 4.25 – Variação do peso total de decolagem em função do comprimento de pista.

Caso as condições de altitude sejam alteradas, a representação gráfica da Figura 4.26

para diversos valores de densidade do ar é:


225

Figura 4.26 – Influência da variação da altitude no desempenho de decolagem.

A análise deste gráfico é muito importante durante a competição, pois permite à

equipe definir a partir da altitude densidade local no momento do vôo qual será o peso

máximo de decolagem para o comprimento de pista estipulado pelo regulamento.

A partir da Equação (4.83) é possível verificar que o comprimento de pista necessário

para a decolagem é sensível as variáveis peso, densidade do ar, área da asa e C Lmáx . Para

aeronaves que participam da competição AeroDesign é de fundamental importância que a

decolagem seja realizada com o maior peso possível no menor comprimento de pista, esta

situação pode ser obtida a partir do aumento de área de asa, aumento da tração disponível

através da escolha da melhor hélice ou então pelo aumento do C Lmáx com a escolha do melhor

perfil aerodinâmico para o projeto em questão.

Também é importante verificar que o aumento do peso provoca uma variação

significativa no aumento da pista necessária para decolar, pois S lo varia com W², e, dessa

forma, ao se dobrar o peso por exemplo, o valor de S lo é quadruplicado.

Com relação à variação da altitude, percebe-se na Equação (4.83) que a redução da

densidade do ar provoca o aumento de S lo , portanto, em aeroportos localizados em altitudes

elevadas, a aeronave percorre um maior comprimento de pista durante a decolagem do que em

aeroportos localizados ao nível do mar.

A Figura 4.27 mostra a aeronave Taperá 2009 durante o procedimento de decolagem.

Figura 4.27 – Procedimento de decolagem da aeronave Taperá.


226

Exemplo 4.10 – Determinação do comprimento de pista necessário para a decolagem.

Para a aeronave modelo utilizada nos exemplos anteriores determine o comprimento

de pista necessário para a decolagem com um peso total de 150N em uma pista localizada ao

nível do mar ρ = 1,225kg/m³.

Considere: g = 9,81m/s², S = 0,9m², µ = 0,03, C Lmáx = 1,65, b = 2,48m, h = 0,35m,

hélice APC 13”x4” e a polar de arrasto da aeronave dada por C D = 0,022+0,065C L ².

Obs: caso o valor calculado ultrapasse 59m, determine qual será o máximo peso de

decolagem para se garantir esse comprimento. Considere o C L de decolagem igual ao C L ideal

calculado no Exemplo 4.10.

Solução:

O comprimento de pista S lo é determinado pela solução da Equação (4.83).

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

Para a solução da equação acima, devem ser calculados os valores do fator de efeito

solo, do coeficiente de sustentação ideal para a decolagem, das velocidades de estol e

decolagem, das forças de sustentação e arrasto, além da tração disponível pela hélice APC

13”x4” na condição v = 0,7v lo .

O fator de efeito solo é calculado pela solução da Equação (4.82) da seguinte forma:

φ =

(16 ⋅ h / b)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

2

φ =

(16 ⋅ 0,35 / 2,48)

1 + (16 ⋅ 0,35 / 2,48)

2

2

φ = 0,836

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem é:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

)

2

)


227

C D

= 0,02614

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

=12,84 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅12,84

=15,40 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 275

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅15,40)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 17,70 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅15,40)

2

D =1,67 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 33,207 N


228

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

32400

=

17,845 ⋅ (27,568)

1,44 ⋅150

2

{ 33,207 − [ 1,67 + 0,03 ⋅ (150 −17,70)

]}

32400

S

Lo

=

491,95

S

Lo

= 65,87 m

Como forma de se obter o comprimento de pista desejado é conveniente formular o

problema apresentado em uma planilha ou linguagem de programação de modo que quando

mantidas as características a aeronave, a variação do peso proporcione o comprimento de

pista desejado. Este procedimento deve ser repetido pelo programa até que se obtenha o peso

total de decolagem para um comprimento de 59m como desejado pelo enunciado do

problema.

O exemplo apresentado foi modelado em uma planilha de Excel e os resultados

obtidos estão apresentados na tabela a seguir.

W (N)

S lo (m)

150 65,87

149 64,84

148 63,80

147 62,79

146 61,77

145 60,77

144 59,79

143,25 59,05

Assim, percebe-se que para as condições desejadas pelo problema, o peso máximo

total de decolagem da aeronave em estudo é 143,25N com um comprimento de pista de

59,05m.

Exemplo 4.11 – Influência da altitude no comprimento de pista necessário para a

decolagem.

Considerando as características da aeronave modelo em estudo no presente capítulo

obtenha uma tabela que relacione o peso da aeronave em função do comprimento de pista

necessário para a decolagem e represente o resultado obtido em um gráfico que relacione

essas variáveis. Realize a análise considerando uma decolagem realizada ao nível do mar


229

h = 0m e também para as altitudes h = 1500m e h = 3000m. Adote como referência um

comprimento de pista máximo de 59m e considere o peso de decolagem variando de 60N até

143N em incrementos de 10N.

Solução:

O comprimento de pista S lo é determinado pela solução da Equação (4.83).

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

Para a solução da equação acima, devem ser calculados os valores do fator de efeito

solo, do coeficiente de sustentação ideal para a decolagem, das velocidades de estol e

decolagem, das forças de sustentação e arrasto, além da tração disponível pela hélice APC

13”x4” na condição v = 0,7v lo .

Decolagem ao nível do mar h = 0m.

Para W = 70N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 70

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 8,772 m/s


230

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅ 8,772

=10,527 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 275

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅10,527)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 8,262 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅10,527)

2

D = 0,782 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 35,984 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

7056

=

17,845 ⋅ (33,349)

1,44 ⋅ 70

2

{ 35,984 − [ 0,782 + 0,03 ⋅ (70 − 8,262) ]}


231

S

Lo

S

Lo

=

7056

595,128

=11,856 m

Para W = 80N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 80

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 9,378 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅ 9,378

=11,254 m/s


232

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 275

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅11,254)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 9,443N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅11,254)

2

D = 0,894 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 35,623 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

9216

=

17,845 ⋅ (32,666)

=

9216

582,930

=15,835 m

1,44 ⋅ 80

2

{ 35,623 − [ 0,894 + 0,03 ⋅ (80 −11,254)

]}

Este procedimento foi repetido até o peso máximo de decolagem com 59m de pista, os

resultados obtidos podem ser observados na tabela a seguir.


233

W (N)

S lo (m)

70 11,856

80 15,835

90 20,502

100 25,901

110 32,087

120 39,122

130 47,046

140 55,945

143 58,813

143,25 59,056

Decolagem na altitude h = 1500m.

Para W = 70N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 70

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 9,439 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:


234

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅ 9,439

=11,327 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 275

1 2

L = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅11,327)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 8,262 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅(0,7

⋅vlo

) ⋅ S ⋅(

C

D0

+ φ ⋅ K ⋅C

2

)

1 2

D = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅11,327)

2

D = 0,782 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 30,732 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,0581

⋅ 0,9 ⋅1,65

7056

=

15,414 ⋅ (28,189)

=

7056

434,51

1,44 ⋅ 70

2

{ 30,732 − [ 0,782 + 0,03 ⋅ (70 − 8,262) ]}


235

S

Lo

=16,291m

Para W = 80N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 80

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

=10,090 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅10,090

=12,109 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L =

1 ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ v

2

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L


236

1 2

L = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅12,109)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,275

L = 9,443N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅12,109)

2

D = 0,894 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 30,376 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,0581

⋅ 0,9 ⋅1,65

9216

=

15,414 ⋅ (27,365)

=

9216

421,808

= 21,848 m

1,44 ⋅ 80

2

{ 30,376 − [ 0,894 + 0,03 ⋅ (80 − 9,443) ]}

Este procedimento foi repetido até o peso máximo de decolagem com 59m de pista, os

resultados obtidos podem ser observados na tabela a seguir.


237

Decolagem na altitude h = 3000m.

W (N)

S lo (m)

70 16,291

80 21,848

90 28,403

100 36,037

110 44,858

120 54,942

123,7 59,022

Para W = 70N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 70

0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

=10,182 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol


238

v

lo

vlo

=1,2

⋅10,182

=12,219 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 275

1 2

L = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅12,219)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 8,262 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅12,219)

2

D = 0,782 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 26,063N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅ 0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

7056

=

13,245 ⋅ (23,248)

=

7056

310,315

= 22,738m

1,44 ⋅ 70

2

{ 26,063 − [ 0,782 + 0,03 ⋅ (70 − 8,262) ]}


239

Para W = 80N

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.10:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,275

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,275

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 80

0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

=10,885 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

=1,2

⋅10,885

=13,062 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L =

1 ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ v

2

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L


240

1 2

L = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅13,062)

2

L = 9,443N

A correspondente força de arrasto é:

⋅ 0,9 ⋅ 0,275

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅13,062)

2

D = 0,894 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 25,714 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅ 0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

9216

=

13,245 ⋅ (23,248)

=

9216

300,705

= 30,647 m

1,44 ⋅ 80

2

{ 25,714 − [ 0,894 + 0,03 ⋅ (80 − 9,443) ]}

Este procedimento foi repetido até o peso máximo de decolagem com 59m de pista, os

resultados obtidos podem ser observados na tabela a seguir.


241

W (N)

S lo (m)

70 22,736

80 30,646

90 40,064

100 51,124

106,3 59,024

O gráfico resultante da análise realizada está apresentado na figura a seguir:

Variação do comprimento de pista para decolagem em função do

peso da aeronave

Peso total (N)

160

140

120

100

80

60

40

20

0

h=0m

h=1500m

h=3000m

0 10 20 30 40 50 60 70

Comprimento de pista para decolagem (m)

4.10 – Desempenho no pouso

Para a avaliação das características de pouso de uma aeronave, utiliza-se o mesmo

modelo matemático e as mesmas considerações adotadas para o cálculo realizado durante a

decolagem.

Como forma de ilustrar as forças atuantes na aeronave durante o processo de

desaceleração, a Figura 4.28 é similar a Figura 4.23 utilizada para a análise de decolagem. A

única variável modificada é a tração disponível que durante o procedimento de pouso é

considerada nula, pois o piloto reduz o motor a uma condição de marcha lenta.


242

Figura 4.28 – Forças atuantes durante o pouso.

Assim, a equação de movimento durante o pouso também é escrita a partir da 2ª lei de

Newton, porém considerando T = 0N, portanto:

dv

F = m ⋅ a = m

(4.97)

dt

dv

− D − [µ ⋅ ( W − L)]

= m

(4.97a)

dt

Do mesmo modo que foi calculado o procedimento de decolagem, será apresentado a

seguir uma dedução matemática que permite obter uma expressão aproximada para se

determinar o comprimento de pista necessário para o pouso considerando-se um valor

constante para o termo D+[µ(W-L)] medido por seu valor no instante em que v = 0,7 v t , onde

v t representa a velocidade da aeronave no instante em que esta toca a pista.

Através de um processo idêntico ao realizado para o desempenho de decolagem, a

Equação (4.97a) pode ser integrada sucessivamente duas vezes como forma de se obter uma

expressão que relacione o comprimento de pista necessário para o pouso com a velocidade,

com a massa e com a força líquida que proporcionara a desaceleração da aeronave. Portanto,

para esta análise, considera-se que a aeronave toca o solo no instante t = 0s, na posição S =

0m com velocidade v = v t e se desloca até o instante t = t L na posição S = S L com velocidade

final v = 0m/s, ou seja, aeronave parada ao final do movimento. A partir dessas considerações,

a Equação (4.97a) pode ser integrada da seguinte forma:

que resulta em:

t

F

m

L

∫ dt = ∫

0

0 vt

dv

(4.98)

F

⋅ t L

= −v t

(4.98a)

m


243

t

L

vt

⋅ m

= −

(4.98b)

F

sabendo-se que:

A Equação (4.98a) pode ser integrada do seguinte modo:

dS

v = (4.99)

dt

F

m

t L S L

∫ ⋅ tdt =

0 ∫

0

dS

(4.100)

que resulta em:

F ⋅ t

2

L

2 ⋅ m

= S

L

(4.101)

Substituindo-se a Equação (4.99b) na Equação (4.101), tem-se:

que resulta em:

⎛ − vt

⋅ m ⎞

F ⋅ ⎜ ⎟

⎝ F ⎠

2 ⋅ m

F ⋅

2

2 2

( − v ⋅ m )

2 ⋅ m ⋅ F

t

2

t

2

− v ⋅ m

= S

2 ⋅ F

= S

= S

L

L

L

(4.102)

(4.102a)

(4.102b)

A Equação (4.102b) fornece como resultado a distância necessária para o pouso da

aeronave considerando-se uma força constante durante o processo de desaceleração.

Substituindo-se a soma das forças D+[µ(W-L)] na Equação (4.102b), tem-se que:

S

L

2

t

v ⋅ m

=

2 ⋅[

D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7v t

(4.103)

Considerando que W = m/g e que durante o processo de aproximação a norma FAR

Part-23 sugere por medida de segurança uma velocidade 30% maior que a velocidade de estol,

a Equação (4.103) pode ser reescrita da seguinte forma:

S

L

2

(1,3 ⋅ vestol

) ⋅ m

=

2 ⋅[

D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7v t

(4.104)


244

como a velocidade de estol é dada por:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

(4.105)

tem-se que:

S

L

⎛ 2 W ⎞

1,3

S C

⎝ ρ ⋅ ⋅

Lmáx ⎠

=

2⋅[

D + µ ⋅(

W − L)]

2

W

g

0,7v t

(4.106)

S

L

2⋅W

1,69 ⋅

ρ ⋅ S ⋅C

=

2⋅

g ⋅[

D + µ ⋅(

W

⋅W

Lmáx

− L)] 0,7 v t

(4.106a)

S

L

2

1,69 ⋅ 2⋅W

=

2⋅

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅C

⋅[

D + µ ⋅(

W − L)]

Lmáx

0,7v t

(4.106b)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

1,69 ⋅W

⋅[

D + µ ⋅ ( W

− L)]

0,7v t

(4.106c)

Esta equação é similar a que foi desenvolvida para o procedimento de decolagem e os

valores das forças de sustentação e arrasto podem ser determinados pelas Equações (4.107) e

(4.108).

L =

1 ⋅ ρ 2

⋅ (0,7 ⋅ vt ) ⋅ S ⋅ C (4.107)

L

2

e

1 2

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vt

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ CL

)

(4.108)

2

Para a solução das Equações (4.107) e (4.108), o coeficiente de sustentação utilizado é

o mesmo do procedimento de decolagem, pois uma vez que a asa está fixa na fuselagem em

um determinado ângulo de incidência, quando a aeronave tocar o solo a desaceleração

ocorrerá para o mesmo valor de C L usado na decolagem.

Também é importante observar que o fator de efeito solo também se faz presente na

Equação (4.108) quando da determinação da força de arrasto durante o pouso.

Para a competição AeroDesign, é importante que seja apresentado um gráfico que

relacione o peso total da aeronave com o comprimento de pista necessário para o pouso, pois

dessa forma, durante a competição a equipe terá em função das condições atmosféricas do

local um panorama geral das qualidades de desempenho durante o pouso da aeronave.


245

Um modelo genérico desse tipo de gráfico pode ser visualizado na Figura 4.29

apresentada a seguir.

Figura 4.29 – Variação do comprimento de pista necessário para o pouso em

função do peso da aeronave.

Caso sejam consideradas variações de altitude, o gráfico da Figura 4.29 pode ser

representado da seguinte forma:

Figura 4.30 – Influência da altitude no desempenho de pouso da aeronave.

A Equação (4.106c) representa uma forma aproximada para se prever o comprimento

de pista necessário para o pouso de uma aeronave, sendo que para a competição AeroDesign,

a aplicação dessa equação fornece resultados satisfatórios.

É importante citar que o regulamento da competição limita o comprimento de pista

para pouso, e, portanto, quando se realizar a aplicação da Equação (4.106c) deve-se estar

atento para que o resultado encontrado esteja abaixo do limite estipulado pelo regulamento,

caso isto não ocorra, é interessante a equipe pensar no desenvolvimento de um sistema de

freios para a aeronave.

Exemplo 4.12 – Determinação do comprimento de pista necessário para o pouso da

aeronave.

Para a aeronave modelo dos exemplos anteriores determine o comprimento de pista

necessário para o pouso considerando o peso máximo de 143N encontrado na solução do


246

Exemplo 4.10. O pouso é realizado em uma pista localizada ao nível do mar (ρ=1,225kg/m³) e

µ = 0,03.

Solução:

O fator de efeito solo é calculado pela solução da Equação (4.82) da seguinte forma:

φ =

(16 ⋅ h / b)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

2

φ =

(16 ⋅ 0,35 / 2,48)

1 + (16 ⋅ 0,35 / 2,48)

2

2

φ = 0,836

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅143

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A velocidade de aproximação e pouso é:

v

= 1 , 3 ⋅

t

v estol

v

t

vlt

=1,3

⋅12,54

= 16,30 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v t é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v )

⋅ S ⋅

2

t

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅16,30)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 19,808 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vt

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)


247

1 2

2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅16,30)

2

D = 1,876 N

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para o

pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

1,69 ⋅W

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C ⋅

Lmáx

2

[ D + µ ⋅ ( W − L)

]

0,7vlo

S

L

S

L

S

L

1,69 ⋅143

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

34558,81

=

17,845 ⋅ (5,571)

= 347,564 m

2

[ 1,876 + 0,03 ⋅ (143 − 19,808) ]

Esse resultado mostra que a aeronave em estudo não consegue parar completamente

dentro de um espaço de 122m estipulado pelo regulamento da competição.

Como alternativa para se reduzir o comprimento de pista necessário para o pouso,

algumas técnicas de pilotagem podem ser utilizadas desde que o piloto possua experiência e

habilidade para executá-las. Dentre essas técnicas, a principal é realizar o toque no solo com a

menor velocidade possível, ou seja, garantir que a aeronave pouse com uma velocidade igual

a velocidade de estol da aeronave. A obtenção desta condição é possível durante a manobra de

arredondamento da aeronave nas proximidades do solo. A partir da análise da Figura 4.31

apresentada a seguir, verifica-se que durante todo o processo de aproximação a velocidade é

30% maior que a velocidade de estol, porém a partir do instante em que a aeronave se

encontra em um vôo sobre a pista para a realização do pouso, o piloto pode reduzir a tração a

uma condição de marcha lenta do motor e levantar o nariz da aeronave com o intuito de

aumentar o arrasto através do aumento do ângulo de ataque e reduzir a velocidade para a

velocidade de estol.

Figura 4.31 – Manobra de arredondamento da aeronave para a realização do pouso.

Caso esta manobra seja realizada corretamente, o equacionamento apresentado

anteriormente sofre algumas modificações que estão apresentadas a seguir.


248

Considerando a partir deste ponto que a velocidade de toque seja a velocidade de estol

da aeronave, a Equação (4.103) pode ser rescrita da seguinte forma:

S

L

2

estol

v ⋅ m

=

2 ⋅[

D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

(4.109)

substituindo a massa pela relação m = W/g, e a respectiva relação para a velocidade de estol,

tem-se que:

S

L

2 ⋅W

W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

g

=

2 ⋅[

D + µ ⋅ ( W − L)]

2

0,7estol

(4.110)

S

L

2 ⋅W

⋅W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

=

2 ⋅ g ⋅[

D + µ ⋅ ( W − L

)] 0,7 estol

(4.110a)

S

L

=

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

2 ⋅W

⋅[

D + µ ⋅ ( W

− L)]

0,7estol

(4.110b)

que resulta em:

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

(4.110c)

com os valores de L e D determinados pelas seguintes equações.

L =

1 ⋅ ρ 2

⋅ (0,7 ⋅ vestol ) ⋅ S ⋅ C (4.111)

L

2

e

1 2

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

L

)

(4.112)

2

O resultado que deve ser obtido pela solução da Equação (4.110c) será menor que o

obtido pela Equação (4.1106c).

Exemplo 4.13 – Determinação do comprimento de pista necessário para o pouso da

aeronave considerando um pouso na velocidade de estol.

Determinar o comprimento de pista necessário para o pouso da aeronave utilizada no

Exemplo 4.12 através da aplicação da Equação (4.110c). Considere as mesmas condições

atmosféricas e o mesmo peso utilizado anteriormente.

Solução:

O fator de efeito solo é calculado pela solução da Equação (4.82) da seguinte forma:


249

φ =

(16 ⋅ h / b)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

2

φ =

(16 ⋅ 0,35 / 2,48)

1 + (16 ⋅ 0,35 / 2,48)

2

2

φ = 0,836

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅143

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅12,54)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 11,721 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,225

⋅(0,7

⋅12,54)

2

D = 1,110 N

⋅0,9

⋅(0,022

+ 0,836 ⋅0,065⋅

0,276

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol


250

S L

2

143

=

9,81⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[1,110

+ 0,03 ⋅ (143 − 11,721)]

0,7estol

S

L

S

L

20449

=

17,845 ⋅ (5,048)

= 226,98 m

Nesta situação embora tenha se obtido um resultado inferior ao encontrado

anteriormente, a aeronave ainda excede o limite estipulado pelo regulamento da competição.

Uma alternativa que pode ser utilizada para reduzir ainda mais o comprimento de pista é a

utilização de flapes na aeronave que quando defletidos aumentam o arrasto e o valor do C Lmáx ,

contribuindo portanto para a redução de S L . Além dos flapes, também podem ser utilizados

“spoilers” no extradorso da asa, que quando defletidos durante a desaceleração da aeronave

atuam como forma de eliminar a sustentação e aumentar o arrasto parasita propiciando

também a redução da S L . Normalmente a utilização de “spoilers” aumenta o arrasto parasita

em torno de 10%, a Figura 4.32 apresentada a seguir mostra a aplicação de flapes e “spoilers”

na aeronave. A utilização desses dispositivos acarreta em um acréscimo do peso vazio da

aeronave devido a necessidade da adição de mais servos de comando na estrutura, portanto, a

equipe deve ponderar todos esses aspectos e trabalhar como forma de se chegar ao objetivo

almejado utilizando os melhores dispositivos para garantir uma desaceleração de aeronave

dentro do espaço limite estipulado pelo regulamento da competição.

Figura 4.32 – Aplicação de flapes e spoilers.

Caso nenhuma das técnicas apresentadas proporcione o resultado esperado, uma

solução certa para se garantir o pouso no comprimento de pista desejado é se trabalhar no

sentido de aumentar o coeficiente de atrito através da adição de freios na aeronave. O

exemplo apresentado a seguir mostra o efeito da aplicação de freios na aeronave durante o

procedimento de pouso.


251

Figura 4.33 – Aeronave Taperá no instante do pouso.

Exemplo 4.14 – Determinação do comprimento de pista necessário para o pouso da

aeronave considerando aplicação de freios na aeronave.

Determine o novo comprimento de pista necessário para pouso considerando que com

a aplicação dos freios o coeficiente de atrito teve seu valor alterado para µ = 0,1. Realize o

cálculo utilizando a Equação (4.110c).

Solução:

Com a utilização da Equação (4.110c) tem-se que:

O fator de efeito solo é calculado pela solução da Equação (4.82) da seguinte forma:

φ =

(16 ⋅ h / b)

2

1 + (16 ⋅ h / b)

2

φ =

(16 ⋅ 0,35 / 2,48)

1 + (16 ⋅ 0,35 / 2,48)

2

2

φ = 0,836

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅143

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L =

1 ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ v

2

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L


252

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅12,54)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,276

L = 11,721 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,225

⋅(0,7

⋅12,54)

2

D = 1,110 N

⋅0,9

⋅(0,022

+ 0,836 ⋅0,065⋅

0,276

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

143

=

9,81⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[1,110

+ 0,1 ⋅ (143 − 11,721)]

0,7estol

S

L

= 80,48m

Dessa forma garante-se um pouso com segurança dentro do limite de 122m estipulado

pelo regulamento da competição.

Exemplo 4.15 – Influência da variação da altitude no comprimento de pista necessário

para o pouso da aeronave.

Utilizando como referência de solução a Equação (4.110c) e considerando a utilização

de freios (µ = 0,1), determine para a aeronave em estudo nos exemplos anteriores uma tabela

que relacione o peso total da aeronave com o comprimento de pista necessário para o pouso e

represente o resultado obtido em um gráfico que relacione esssas duas variáveis. Realize a

análise considerando um pouso ao nível do mar h = 0m e também para as altitudes h = 1500m

e h = 3000m. Considere que o peso total da aeronave varia de 60N até 143N com incrementos

de 10N.

Solução:

Considerando h = 0m, tem-se a seguinte seqüência de solução para a obtenção dos

pontos para a geração do gráfico.

Para W = 60N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx


253

v

estol

=

2 ⋅ 60

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 8,12 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅ 8,12)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 4,918 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,225

⋅(0,7

⋅8,12)

2

D = 0,466 N

⋅0,9

⋅(0,022

+ 0,836 ⋅0,065⋅

0,276

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

60

=

9,81⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[0,466

+ 0,1 ⋅ (60 − 4,918)]

0,7estol

S

L

= 33,77 m

Para W = 70N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx


254

v

estol

=

2 ⋅ 70

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 8,77 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅ 8,77)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 5,737 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅ 8,77)

2

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

D = 0,543 N

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

70

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[0,543

+ 0,1 ⋅ (70 − 5,737)]

0,7estol

S

L

= 39,40 m

Foi apresentado o cálculo para os dois primeiros pontos, o processo deve ser repetido

para a faixa de peso que se deseja avaliar. A tabela de resultados obtida é a seguinte.


255

W (N)

S L (m)

60 33,77

70 39,40

80 45,02

90 50,65

100 56,28

110 61,91

120 67,54

130 73,16

140 78,79

143 80,48

Considerando h = 1500m, tem-se a seguinte seqüência de solução para a obtenção dos

pontos para a geração do gráfico.

Para W = 60N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 60

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 8,73 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅ 8,73)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 4,918 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅ 8,73)

2

D = 0,466 N

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

)


256

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

60

=

9,81⋅1,0581

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[0,466

+ 0,1 ⋅ (60 − 4,918)]

0,7estol

S

L

= 39,09 m

Para W = 70N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 70

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 9,44 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅ 9,44)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,

L = 5,737 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅1,0581

⋅ (0,7 ⋅ 9,44)

2

D = 0,543 N

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)


257

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

70

=

9,81⋅1,0581

⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅[0,543

+ 0,1 ⋅ (70 − 5,737)]

0,7estol

S

L

= 45,61m

Foi apresentado o cálculo para os dois primeiros pontos, o processo deve ser repetido

para a faixa de peso que se deseja avaliar. A tabela de resultados obtida é a seguinte.

W (N)

S L (m)

60 39,09

70 45,61

80 52,13

90 58,64

100 65,16

110 71,67

120 78,19

130 84,70

140 91,22

143 93,18

Considerando h = 3000m, tem-se a seguinte seqüência de solução para a obtenção dos

pontos para a geração do gráfico.

Para W = 60N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 60

0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 9,43m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅ 9,43)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,


258

L = 4,918 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅ 9,43)

2

D = 0,466 N

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

60

=

9,81 ⋅ 0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅ [0,466 + 0,1 ⋅ (60 − 4,918)]

0,7estol

S

L

= 45,49 m

Para W = 70N

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅ 70

0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 10,18 m/s

A força de sustentação durante o pouso para 0,7v estol é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

estol

C L

1 ρ 581

1 2

L = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅10,18)

2

L = 5,737 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,


259

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vestol

) ⋅ S ⋅ ( CD0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

2

D = ⋅ 0,90926 ⋅ (0,7 ⋅10,18)

2

D = 0,543 N

⋅ 0,9 ⋅ (0,022 + 0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,581

Portanto, aplicando-se a Equação (4.110c) para a determinação do comprimento de

pista para o pouso da aeronave tem-se que:

)

S

L

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

2

W

⋅[ D + µ ⋅ ( W − L)]

0,7estol

S L

2

70

=

9,81 ⋅ 0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

⋅ [0,543 + 0,1 ⋅ (70 − 5,737)]

0,7estol

S

L

= 53,08 m

Foi apresentado o cálculo para os dois primeiros pontos, o processo deve ser repetido

para a faixa de peso que se deseja avaliar. A tabela de resultados obtida é a seguinte.

W (N)

S L (m)

60 45,49

70 53,08

80 60,66

90 68,24

100 75,82

110 83,41

120 90,99

130 98,57

140 106,15

130 108,43

O gráfico resultante da análise realizada está apresentado na figura a seguir.


260

Variação do comprimento de pista para pouso em função do

peso da aeronave

Peso total (N)

160

140

120

100

80

60

40

20

0

h=0m

h=1500m

h=3000m

0 20 40 60 80 100 120

Comprimento de pista para pouso (m)

4.11 – Traçado do diagrama v-n de manobra

O diagrama v-n representa uma maneira gráfica para se verificar as limitações

estruturais de uma aeronave em função da velocidade de vôo e do fator de carga n a qual o

avião está submetido. O fator de carga é uma variável representada pela aceleração da

gravidade, ou seja, é avaliado em “g’s”. Basicamente um fator de carga n = 2 significa que

para uma determinada condição de vôo a estrutura da aeronave estará sujeita a uma força de

sustentação dada pelo dobro do peso, e o cálculo de n pode ser realizado preliminarmente pela

aplicação da Equação (113) mostrada a seguir.

L

n = (4.113)

W

Uma forma mais simples para se entender o fator de carga é realizar uma analogia com

um percurso de montanha-russa em um parque de diversões, onde em determinados

momentos do trajeto, uma pessoa possui a sensação de estar mais pesada ou mais leve

dependendo do fator de carga ao qual o seu corpo está submetido. Comparando-se com uma

aeronave, em determinadas condições de vôo, geralmente em curvas ou movimentos

acelerados, a estrutura da aeronave também será submetida a maiores ou menores fatores de

carga.

Existem duas categorias de limitações estruturais que devem ser consideradas durante

o projeto estrutural de uma aeronave.

a) Fator de carga limite: Este é associado com a deformação permanente em uma ou

mais partes da estrutura do avião. Caso durante um vôo o fator de carga n seja menor que o

fator de carga limite, a estrutura da aeronave irá se deformar durante a manobra porém

retornará ao seu estado original quando n = 1. Para situações onde n é maior que o fator de

carga limite a estrutura irá se deformar permanentemente ocorrendo assim uma danificação

estrutural porém sem que corra a ruptura do componente.


261

b) Fator de carga último: Este representa o limite de carga para que ocorra uma falha

estrutural, caso o valor de n ultrapasse o fator de carga último, componentes da aeronave com

certeza sofrerão ruptura.

Nesta seção do presente capítulo é apresentada a metodologia analítica para se

determinar os principais pontos e traçar o diagrama v-n de manobra para uma aeronave

seguindo a metodologia sugerida na norma FAR Part -23 [4.3] considerando uma categoria de

aeronaves leves subsônicas.

O fator de carga limite depende do modelo e da função a qual a aeronave é destinada.

Para as aeronaves em operação atualmente, Raymer [4.4] sugere a seguinte tabela para a

determinação de n.

Tabela 4.3 – Fatores de carga máximo e mínimo.

Modelo e aplicação n pos n neg

Pequeno porte 2,5≤ n ≤ 3,8 -1≤ n ≤ -1,5

Acrobático 6 -3

Transporte civil 3≤ n ≤ 4 -1≤ n ≤ -2

Caças militares 6,5≤ n ≤ 9 -3≤ n ≤ -6

É importante perceber que os valores dos fatores de carga negativos são inferiores aos

positivos. A determinação dos fatores de carga negativos representam uma decisão de projeto,

que está refletida no fato que raramente uma aeronave voa em condições de sustentação

negativa, e, como será apresentado no decorrer dessa seção, a norma utilizada recomenda que

n neg ≥ 0,4 n pos .

O fator de carga é uma variável que reflete diretamente no dimensionamento estrutural

da aeronave, dessa forma, percebe-se que quanto maior for o seu valor mais rígida deve ser a

estrutura da aeronave e conseqüentemente maior será o peso estrutural.

Para o propósito do projeto AeroDesign, o regulamento da competição bonifica as

equipes que conseguirem obter a maior eficiência estrutural, ou seja, a aeronave mais leve que

carregar em seu compartimento a maior carga útil possível, dessa forma, é interessante que o

fator de carga seja o menor possível respeitando obviamente uma condição segura de vôo,

portanto, considerando que uma aeronave destinada a participar do AeroDesign é um avião

não tripulado, é perfeitamente aceitável um fator de carga positivo máximo n máx = 2,5, pois

dessa forma garante-se um vôo seguro com uma estrutura leve e que suporte todas as cargas

atuantes durante o vôo.

Porém é muito importante ressaltar que como o fator de carga adotado é baixo, o

projeto estrutural deve ser muito bem calculado como forma de se garantir que a estrutura da

aeronave suportará todos os esforços atuantes durante o vôo.

Também se recomenda que o fator de carga último seja 50% maior que o fator de

carga limite, portanto:

n ult

= 1,5

⋅ n

(4.114)

lim

A Figura 4.34 apresentada a seguir mostra um diagrama v-n típico de uma aeronave

com a indicação dos principais pontos.


262

Figura 4.34 – Diagrama v-n típico de uma aeronave.

A curva AB apresentada na figura representa o limite aerodinâmico do fator de carga

determinado pelo C Lmáx , esta curva pode ser obtida pela solução da Equação (4.115a)

considerando o peso máximo da aeronave e o C Lmáx de projeto, portanto:

n

máx

=

L

W

=

1 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅ C

2

W

Lmáx

(4.115)

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

(4.115a)

Na Equação (4.115a) percebe-se que uma vez conhecidos os valores de peso, área da

asa, densidade do ar e o máximo coeficiente de sustentação é possível a partir da variação da

velocidade encontrar o fator de carga máximo permissível para cada velocidade de vôo, onde

acima do qual a aeronave estará em uma condição de estol.

É importante notar que para um vôo realizado com a velocidade de estol, o fator de

carga n será igual a 1, pois como a velocidade de estol representa a mínima velocidade com a

qual é possível manter o vôo reto e nivelado de uma aeronave, tem-se nesta situação que L =

W, e, portanto, o resultado da Equação (4.115a) é n = 1, e assim, a velocidade na qual o fator

de carga é igual a 1 pode ser obtida pela velocidade de estol da aeronave.

Um ponto muito importante é a determinação da velocidade de manobra da aeronave

representada na Figura 4.34 por v*. Um vôo realizado nesta velocidade com alto ângulo de

ataque e C L = C Lmáx , corresponde a um vôo realizado com o fator de carga limite da aeronave

em uma região limítrofe entre o vôo reto e nivelado e o estol da aeronave. Esta velocidade

pode ser determinada segundo a norma utilizada para o desenvolvimento desta seção da

seguinte forma:

v

*

2 ⋅W

⋅ n

= ρ ⋅ S ⋅ C

máx

Lmáx

(4.116)


263

Assim, tem-se que:

v

*

= v estol

⋅ n máx

(4.116a)

A velocidade de manobra intercepta a curva AB exatamente sobre o ponto B, e define

assim o fator de carga limite da aeronave. Acima da velocidade v* a aeronave pode voar,

porém com valores de C L abaixo do C Lmáx , ou seja com menores ângulos de ataque, de forma

que o fator de carga limite não seja ultrapassado, lembrando-se que o valor de n máx está

limitado pela linha BC.

A velocidade de cruzeiro v cru segundo a norma não deve exceder 90% da velocidade

máxima da aeronave, ou seja:

v

= 0 , 9 ⋅

(4.117)

cru

v máx

A velocidade máxima presente na Equação (4.117) é obtida na leitura das curvas de

tração ou potência da aeronave.

Já a velocidade de mergulho da aeronave representada por v d limitada pela linha CD

do diagrama é considerada a velocidade mais critica para a estrutura da aeronave devendo ser

evitada e jamais excedida, pois caso a aeronave ultrapasse essa velocidade, drásticas

conseqüências podem ocorrer na estrutura, como por exemplo: elevadas cargas de rajada,

comando reverso dos ailerons, flutter (instabilidade dinâmica) e ruptura de componentes. O

valor de v d é geralmente cerca de 25% maior que a velocidade máxima, portanto:

v

= 1 , 25 ⋅

(4.118)

d

v máx

Com relação à linha AF do diagrama v-n que delimita o fator de carga máximo

negativo também é válida a aplicação da Equação (4.115a), porém é importante citar que o

fator de carga máximo negativo é obtido segundo a norma FAR Part-23 da seguinte forma:

n

≥ 0 ⋅ n

(4.119)

lim neg

, 4

lim pos

Como geralmente as aeronaves que participam da competição AeroDesign são

projetadas para não voarem em condições de sustentação negativa, é perfeitamente aceitável

utilizar para a solução da Equação (4.115a) no intuito de se determinar a curva AF, um valor

de C Lmáxneg =-1 e assim, a linha FE representará o fator de carga negativo acima do qual

deformações permanentes podem ocorrer.

Esta seção apresentou de forma sucinta como estimar o diagrama v-n de manobra para

uma aeronave leve subsônica a partir dos fundamentos apresentados na norma FAR Part-23

[4.3].


264

Exemplo 4.16 – Traçado do diagrama v-n.

Considerando a aeronave modelo dos exemplos anteriores traçar o diagrama v-n

considerando um fator de carga positivo máximo n máx = 2,5 e uma condição de atmosfera

padrão ao nível do mar.

Solução:

O fator de carga limite negativo foi calculado segundo a aplicação da Equação (4.119):

n

lim neg

= , 4

0 ⋅ n

lim pos

n

lim neg

= 0,4⋅

2,5

n

lim neg

= 1

Os fatores de carga último positivo e negativo foram calculados mediante a aplicação

da Equação (4.114):

n ult +

= 1,5

⋅nlim+

n

ult+

n

ult+

=1,5

⋅ 2,5

= 3,75

n ult −

= ,5⋅

lim−

1 n

n

ult−

n

ult−

= 1,5

⋅(

−1)

= −1,5

A velocidade do ponto de manobra foi obtida com a aplicação da Equação (4.116a)

utilizando-se a velocidade de estol ao nível do mar com peso de 150N.

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 12,84 ⋅

2,5

v

* = 20,30 m/s

A velocidade de mergulho foi determinada pela aplicação da Equação (4.118):

v

= 1 , 25 ⋅

d

v máx

v

d

vd

=1,25

⋅ 26

= 32,5 m/s


265

O contorno do diagrama que limita a região de estol é obtido com a aplicação

sucessiva da Equação (4.115a) considerando a variação da velocidade de vôo até que o valor

do fator de carga máximo positivo e negativo seja obtido.

Curva AB:

Para v = 0m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 0 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 0

Para v = 2m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 2 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 0,02

Para v = 4m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 4 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 0,09

Este processo deve ser repetido até a velocidade de manobra da aeronave.

Os resultados obtidos para todos os pontos avaliados podem ser observados na tabela

apresentada a seguir.


266

v (m/s)

n (g’s)

0 0

2 0,02

4 0,09

6 0,21

8 0,38

10 0,60

12,84 1,00

14 1,188

16 1,55

18 1,96

20,30 2,50

Curva AE:

Para v = 0m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 0 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 0

Para v = 2m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 2 ⋅ 0,9 ⋅ ( −1,65)

=

2 ⋅150

= −0,02

Para v = 4m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 4 ⋅ 0,9 ⋅ ( −1,65)

=

2 ⋅150

= −0,09

Este processo deve ser repetido até que o fator de carga máximo negativo coincida

com o valor calculado pela Equação (4.119).


267

O resultado obtido para todos os pontos avaliados podem ser observados na tabela

apresentada a seguir.

v (m/s)

n (g’s)

0 0

2 -0,02

4 -0,09

6 -0,21

8 -0,38

10 -0,60

12 -0,87

12,84 -1

A linha BC do diagrama foi obtida considerando o fator de carga máximo positivo de

2,5 com a velocidade variando do ponto de manobra até a velocidade de mergulho, a tabela

resultante está apresentada a seguir.

v (m/s)

n (g’s)

20,30483 2,5

22 2,5

24 2,5

24,867 2,5

26 2,5

28 2,5

30 2,5

32,5 2,5

A linha ED do diagrama foi obtida considerando o fator de carga máximo negativo de

-1 com a velocidade variando de 12,84m/s até a velocidade de mergulho, a tabela resultante

está apresentada a seguir.

v (m/s)

n (g’s)

12,8419 -1,5

14 -1,5

15,73 -1,5

18 -1,5

20 -1,5

22 -1,5

24 -1,5

26 -1,5

28 -1,5

30 -1,5

32,5 -1,5

A linha CD do diagrama foi obtida considerando a velocidade de mergulho com fator

de carga variando do máximo positivo até o máximo negativo, a tabela resultante está

apresentada a seguir.


268

v (m/s)

n (g’s)

32,5 2,5

32,5 2,3

32,5 2,1

32,5 1,9

32,5 1,7

32,5 1,5

32,5 1,3

32,5 1,1

32,5 0,9

32,5 0,7

32,5 0,5

32,5 0,3

32,5 0

32,5 -0,2

32,5 -0,4

32,5 -0,6

32,5 -0,8

32,5 -1

O limite estrutural último é obtido com a aplicação sucessiva da Equação (4.115a)

considerando a variação da velocidade de vôo até que o valor do fator de carga máximo

positivo e negativo seja obtido.

Positivo

Para v = 20,30m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 20,30 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 2,5

Para v = 22m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 22 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 2,93


269

Para v = 24m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅ 24 ⋅ 0,9 ⋅1,65

=

2 ⋅150

= 3,49

Este processo deve ser repetido até a velocidade de manobra da aeronave. Os

resultados obtidos para todos os pontos avaliados podem ser observados na tabela apresentada

a seguir.

Negativo

Para v = 12,84m/s

v (m/s)

n (g’s)

20,30 2,50

22 2,93

24 3,49

24,86 3,75

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅12,84

⋅ 0,9 ⋅ ( −1,65)

=

2 ⋅150

= −1

Para v = 14m/s

n

máx

n

máx

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

2

1,225 ⋅14

⋅ 0,9 ⋅ ( −1,65)

=

2 ⋅150

= −1,18

Para v = 15,73m/s

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx


270

n

máx

n

máx

2

1,225 ⋅15,73

⋅ 0,9 ⋅ ( −1,65)

=

2 ⋅150

= −1,5

Este processo deve ser repetido até a velocidade de manobra da aeronave. Os

resultados obtidos para todos os pontos avaliados podem ser observados na tabela apresentada

a seguir.

v (m/s)

n (g’s)

12,84 -1,00

14 -1,18

15,73 -1,50

A linha que limita o fator de carga último positivo de 3,75 foi obtida com a velocidade

variando de 24,86m/s até a velocidade de mergulho, a tabela resultante está apresentada a

seguir.

v (m/s)

n (g’s)

24,86 3,75

26 3,75

28 3,75

30 3,75

32,5 3,75

A linha que limita o fator de carga último negativo de 1,5 foi obtida com a velocidade

variando de 15,73m/s até a velocidade de mergulho, a tabela resultante está apresentada a

seguir.

v (m/s)

n (g’s)

15,73 -1,5

18 -1,5

20 -1,5

22 -1,5

24 -1,5

26 -1,5

28 -1,5

30 -1,5

32,5 -1,5

O diagrama v-n resultante para o exemplo apresentado é:


271

4.12 – Desempenho em curva

Até o presente ponto foram avaliadas as características de desempenho da aeronave

considerando-se um vôo retilíneo, porém para a competição AeroDesign, é importante se

conhecer as características de desempenho da aeronave durante uma curva realizada a partir

de uma determinada condição de vôo reto e nivelado com velocidade e altitude constante, pois

durante o percurso a ser realizado para se completar a missão, no mínimo serão necessárias a

realização de quatro curvas conforme pode ser observado na Figura 4.35 apresentada a seguir.

Figura 4.35 – Percurso padrão para se completar a missão.

Basicamente a característica mais importante durante a realização de uma curva é a

determinação do raio de curvatura mínimo. A Figura 4.36 apresentada a seguir mostra a vista

frontal de uma aeronave durante a realização de um vôo em curva e as respectivas forças que

atuam sobre ela nesta situação.


272

Figura 4.36 – Forças atuantes durante a realização de uma curva.

Durante a realização da curva, as asas da aeronave sofrem uma inclinação φ devido a

deflexão dos ailerons e para se obter uma condição de equilíbrio estático durante a realização

da curva, a força de sustentação é relacionada com o peso da aeronave da seguinte forma:

L ⋅ cos φ = W

(4.120)

É importante reparar que para esta condição, a altitude de vôo permanece constante, ou

seja, a aeronave realiza uma curva nivelada.

Uma outra forma para se chegar a uma condição de equilíbrio durante a realização de

uma curva é através da força resultante F R que pode ser determinada da seguinte forma:

Figura 4.37 – Representação vetorial da força resultante atuante durante

a realização de um vôo em curva.

2 2 2

= (4.121)

L FR + W

2 2 2

F R

= L −W

(4.121a)

2 2

F R

= L −W

(4.121b)


273

A força F R representa fisicamente a força que é responsável pela realização do

movimento circular da aeronave ao redor de uma circunferência de raio R, portanto, a partir

da aplicação da 2ª lei de Newton, pode-se escrever que:

F R

= m ⋅ a

(4.122)

A aceleração presente na equação (4.122) representa a aceleração centrípeta da

aeronave, sendo definida a partir da física do movimento circular da seguinte forma:

v

= (4.123)

R

a c

2

onde, R representa o raio de curvatura.

Pela análise da Figura 4.36, é possível observar que:

F R

= L ⋅ senφ

(4.124)

que:

Dessa forma, substituindo as Equações (4.123) e (4.124) na Equação (4.122), tem-se

2

v

L ⋅ senφ = m ⋅

(4.125)

R

Uma vez definidas as equações de equilíbrio durante a realização de um vôo em curva,

a formulação para se obter o raio de curvatura da aeronave deve ser realizada com base no

fator de carga que atua sobre a aeronave durante a realização da manobra e a partir da

Equação (4.120), pode-se escrever que:

W

cos φ =

(4.126)

L

1

cos φ =

(4.126a)

L

W

Como visto na seção anterior, o fator de carga atuante em uma aeronave é dado pela

relação n=L/W, portanto, a Equação (4.126a) pode ser reescrita da seguinte forma.

E assim pode-se escrever que:

1

cos φ =

(4.126b)

n

1

φ = arccos

(4.126c)

n

Percebe-se pela análise da Equação (4.126c) que o ângulo de inclinação das asas φ

depende somente do fator de carga atuante.


274

Com relação ao raio de curvatura, uma equação pode ser obtida substituindo-se a

relação m=W/g na Equação (4.125) resultando em:

Isolando-se o raio R, pode-se escrever que:

2

W v

L ⋅ senφ = ⋅

(4.127)

g R

2

W ⋅ v

R =

g ⋅ L ⋅ senθ

(4.128)

R =

2

v

L

g ⋅ ⋅ senθ

W

(4.128a)

Como n = L/W, pode-se escrever que:

2

v

R =

g ⋅ n ⋅ senθ

(4.128b)

que:

A partir da Equação (4.186) e da relação trigonométrica sen

2 φ + cos 2 φ = 1, tem-se

2

1 ⎞

2

⎜ ⎟

⎝ n ⎠

+ sen φ = 1

(4.129)

portanto,

2 ⎛ 1

2

sen φ = 1 − ⎜ ⎟ (4.129a)

⎝ n ⎠

sen φ = 1 −

(4.129b)

2

n

2 1

2

2 n −1

sen φ =

(4.129c)

2

n

1 2

2

sen φ = ⋅ ( n − 1)

(4.129d)

2

n

Dessa forma tem-se que:


275

1 2

senφ = ⋅ ( n −1)

(4.129e)

2

n

1

senφ = ( n

2 −1)

(4.129f)

n

Substituindo-se a Equação (4.129f) na Equação (4.128), obtém-se:

2

v

R =

(4.130)

⎛ 1 2 ⎞

g ⋅ n ⋅ ⎜ ⋅ n − 1⎟

⎝ n ⎠

2

v

R =

(4.130a)

2

g ⋅ ⋅ n − 1

Como forma de se obter um bom desempenho durante a realização da curva, é

essencial que a aeronave possua condições de realizar a manobra com o menor raio de

curvatura possível, pois desse modo pode-se realizar a curva com grande inclinação das asas

sem que ocorra o estol.

Para aeronaves que participam da competição AeroDesign, a situação apresentada no

parágrafo anterior é muito importante, pois como a aeronave opera em condições extremas de

peso e a garantia da realização de uma curva segura com elevado ângulo de inclinação das

asas é muito bem vinda, uma vez que para qualquer raio de curvatura maior que o mínimo

garante-se com certeza que a aeronave realizará a curva com segurança e com um menor

ângulo de inclinação das asas.

Como forma de se garantir um raio de curvatura mínimo, é possível observar a partir

da Equação (4.131) que é necessário se obter o maior fator de carga possível aliado a menor

velocidade de vôo. Essas condições podem ser obtidas analiticamente e sua formulação é

apresentada a seguir.

Primeiramente será avaliado qual o máximo fator de carga que permitirá um raio de

curvatura mínimo, esta análise pode ser realizada a partir da Figura 4.36, na qual pode-se

perceber que um aumento no ângulo de rolamento da aeronave proporciona um aumento na

força de sustentação (análise do triângulo de forças).

L

L = H

(4.131)

cosφ

onde L H representa a componente da força de sustentação paralela a direção do peso e que é

necessária para o vôo reto e nivelado.

Conforme a sustentação aumenta, ocorre um aumento do arrasto induzido da aeronave

e, portanto, para se manter o avião nivelado durante a curva, o piloto necessita aumentar a

tração para compensar o aumento do arrasto, dessa forma, existe o limite entre a tração

requerida e a disponível que restringe o ângulo de rolamento a um valor máximo, onde acima

deste a tração requerida passa a ser maior que a disponível e a aeronave não consegue mais

realizar a curva sem que ocorra perda de altitude ou então o que é pior, o estol de ponta de

asa.

Como o fator de carga n é função do ângulo de rolamento φ, a Equação (126b) pode

ser reescrita da seguinte forma.


276

1

n =

(4.132)

cosφ

Assim, pode-se notar que se o ângulo φ está diretamente relacionado à tração

disponível da aeronave, por meio da Equação (4.132), o fator de carga máximo para se manter

uma curva sem perda de altitude a uma determinada velocidade estará diretamente

relacionado a máxima tração disponível.

Como a tração é relacionada com a força de arrasto da aeronave, o máximo fator de

carga possível para se manter uma curva nivelada pode ser obtido a partir da polar de arrasto

da aeronave da seguinte forma.

1 2

2

D = ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅ ( CD0

+ K ⋅ C L

)

(4.133)

2

como forma de se manter a curva nivelada, as seguintes relações são válidas:

assim, pela Equação (4.135) pode-se escrever que:

T = D

(4.134)

L = n ⋅W

(4.135)

1

L = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S ⋅ C

L

= n ⋅W

(4.136)

2

C L

2 ⋅ n ⋅W

=

2

ρ ⋅ v

⋅ S

(4.137)

Substituindo as Equações (4.133) e (4.137) na Equação (4.134), tem-se que:

T =

1

2

⎡ ⎛ ⋅ ⋅ ⎞ ⎤

⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⎢ + ⋅

2

2

n W

ρ v

2 S C

D0

K

⎟ ⎥

(4.138)

2

⎢⎣

⎝ ρ ⋅ v ⋅ S ⎠ ⎥⎦

T

2 2

1 ⎛ ⋅ ⋅ ⋅ ⎞

⋅ ⋅ ⋅ ⋅

⎜ +

4 K n W

ρ v

2 S C

D0

(4.138a)

2 4

2 ⎝ ρ ⋅ v ⋅ S ⎠

= 2

2 ⋅ T

2

ρ ⋅ v ⋅ S

= C

D0

2

4 ⋅ K ⋅ n ⋅W

+

2 4 2

ρ ⋅ v ⋅ S

2

(4.138b)

2 ⋅ T

2

ρ ⋅ v ⋅ S

− C

D0

2

4 ⋅ K ⋅ n ⋅W

=

2 4 2

ρ ⋅ v ⋅ S

2

(4.138c)

2 4

ρ ⋅ v ⋅ S

2

4 ⋅ K ⋅W

2

⎛ 2 ⋅ T

2

⎝ ρ ⋅ v ⋅ S

− C

D 0

=

n

2

(4.138d)


277

2 4 2

2 ⋅ T ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S

2 2

4 ⋅ K ⋅W

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S

2 4

ρ ⋅ v ⋅ C

4 ⋅ K ⋅W

D0

2

⋅ S

2

= n

2

(4.138e)

T ⋅ ρ ⋅ v

2

2 ⋅ K ⋅W

⋅ S

2

2 4

ρ ⋅ v ⋅ C

4 ⋅ K ⋅W

D0

2

⋅ S

2

= n

2

(4.138f)

⎛ T

n = ⎜

1

2

2 4

2 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ρ ⋅ v ⋅ C

0

2

2

2 4

⎟ ⎞

D

S

⋅ K ⋅W

⋅ K ⋅W

(4.138g)

A condição necessária para se obter o mínimo raio de curvatura pode ser obtida a

partir da Equação (4.130a), fazendo-se dR/dv = 0.

Como a pressão dinâmica é dada por:

tem-se na Equação (4.139) que:

q

1

2

2

= ⋅ ρ ⋅ v

(4.139)

v

2

q

= 2 ⋅

ρ

(4.139a)

Assim, a Equação (4.130a) pode ser reescrita da seguinte forma:

R =

g ⋅ ρ ⋅

2 ⋅ q

n

2 −

1

(4.140)

Neste ponto é importante lembrar que o fator de carga também depende da velocidade

da aeronave, e, portanto da pressão dinâmica. Dessa forma, o mesmo também deve ser

derivado como forma de se encontrar o raio de curvatura mínimo.

Derivando-se a Equação (4.140) com relação a q, tem-se que:

d

dq

⎜ 2 ⋅ q

⎝ g ⋅ ρ ⋅ n

2

⎟ =

−1

d

dq

⎛ u ⎞ v ⋅ u′

− u ⋅ v′

⎜ ⎟ =

= 0

2

⎝ v ⎠ v

(4.141)

considerando que

u = 2 ⋅ q e v = g ⋅ ρ ⋅ n

2 −1

, tem-se que:

d

u ′ = 2 ⋅ q = 2

(4.142)

dq

d

−1

2

2 dn

′ = g ⋅ ρ ⋅ n −1

= g ⋅ ρ ⋅ n ⋅ ( n −1)

(4.143)

dq

dq

u

2


278

Substituindo-se as Equações (4.142) e (4.143) na Equação (4.141), tem-se que:

dR

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅

=

dq

n

2

− 1 − 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n ⋅ ( n

2

( g ⋅ ρ ⋅ n − 1)

2

2

− 1)

−1

2

⋅ dn

dq

= 0

(4.144)

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅

dR

=

dq

n

2

−1

− 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n ⋅ ( n

g

2

2

⋅ ρ ⋅ ( n

2

−1)

2

−1)

−1

2

⋅ dn

dq

= 0

(4.144a)

como o termo g 2 ⋅ ρ 2 ⋅ ( n

2 − 1)

no denominador da função é diferente de zero, pois n>1, a

única forma de se zerar a Equação (4.144a) é que o numerador seja nulo, portanto:

2

n dn

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n −1

− 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ ⋅ = 0

(4.145)

2

( n −1)

dq

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅

2

2

( n −1) − 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n dn

⋅ = 0

( n

2

−1)

dq

(4.145a)

novamente o denominador da função é diferente de zero, portanto:

como o termo ( ⋅ g ⋅ ρ)

2

2

dn

( n −1) − 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n ⋅ = 0

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅

(4.146)

dq

2

dn

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅ ( n −1)

− 2 ⋅ q ⋅ g ⋅ ρ ⋅ n ⋅ = 0

(4.146a)

dq

2 dn

[(

n −1)

− q ⋅ n] = 0

2 ⋅ g ⋅ ρ ⋅

(4.146b)

dq

2 é uma constante diferente de zero, pode-se escrever que:

2 dn

n −1

− q ⋅ n ⋅ = 0

(4.146c)

dq

A partir da Equação (4.138g), tem-se que:

n

2

T ⋅ ρ ⋅ v

=

⋅ ⋅

⋅ S

ρ ⋅ v

⋅ C

2

2 4

D0

2

2

2 K W 4 ⋅ K ⋅W

⋅ S

2

(4.147)

considerando a pressão dinâmica q, a Equação (4.147) pode ser reescrita do seguinte modo:


279

n

2

2

2

q ⋅T

⋅ S q ⋅ C

D0

⋅ S

= −

(4.148)

2

2

K ⋅W

K ⋅W

n

2

2

q ⎛ T ⎞ q ⋅ C

D0

= ⋅ ⎜ ⎟ −

(4.148a)

K ⋅ ( W ) ⎝W

⎠ K ( W ) 2

S

S

n

2

q

=

⎢ K ⋅

T

W

⎞⎥

D0

⋅ ⎜ ⎟ − ⋅

( W ) ⎥ ⎢ ( ) ( )⎥ ⎥ ⎝ ⎠ K ⋅ W W

S ⎦ S S ⎦

q

2

C

(4.148b)

n

2

q

=

K ⋅

⎡⎛

⎢⎜

⎞⎤

D0

( ) ⎢ ( ) ⎥ ⎥ ⎜

W W

S ⎝ S ⎠⎦

T

W

q ⋅ C

(4.148c)

Derivando-se a Equação (4.148c), tem-se que:

( T )

W 2 ⋅ q ⋅ C

D0

⋅ ( W ) ( W ) dq 2

2 ⋅ n ⋅ dn =

(4.149)

K

S K ⋅

S

( T )

W 2 ⋅ q ⋅ CD0

K ⋅ ( W ) ( W ) 2

dn

n ⋅ =

(4.149a)

dq 2 ⋅

S 2 ⋅ K ⋅

S

( T )

W q ⋅ CD0

K ⋅ ( W ) ( W ) 2

dn

n ⋅ =

(4.149b)

dq 2 ⋅

S K ⋅

S

Substituindo as Equações (4.148c) e (4.149b) na Equação (4.146c), tem-se que:

⎛ q

⎝ K ⋅

q

K ⋅

T

W

2

q ⋅ C

K ⋅ W S

D0

−1

2

q ⋅ C

+

K ⋅ W S

2

( W S) ( ) 2 ⋅ K ⋅ ( W S) ( ) 2

T

W

q

T

W

⎞ ⎛

−1

+ ⎜

⎠ ⎝

2

( W S ) 2 ⋅ K ⋅ ( W S) ⎜

K ⋅ ( W S ) K ⋅ ( W S )

q

q

2

⋅ C

D0

T

W

q

2

⋅ C

D0

D0

2

= 0

(4.150)

(4.150a)

1

2

q

K ⋅

( W S)

T

W

−1

= 0

(4.150b)

q

2 ⋅ K

( T W )

⋅ ( W S )

= 1

(4.150c)

ou


280

como

q

2

= 1 2 ⋅ ρ ⋅ v , tem-se que:

K ⋅ ( W S)

( T W )

q = 2 (4.150d)

K ⋅ ( W S )

( T W )

1 2 ⋅

⋅ ρ ⋅ v

2 =

(4.150e)

2

v

2

2 ⋅ 2 ⋅ K

=

ρ ⋅

⋅ ( W S)

( T W )

(4.150f)

v R

⋅ ( W S )

( T W )

4 ⋅ K

min

=

(4.150g)

ρ ⋅

A Equação (4.150g) é utilizada como forma de se determinar a velocidade que

proporciona o raio de curvatura mínimo. O fator de carga correspondente a esta velocidade é

obtido com a substituição da Equação (4.150g) na Equação (4.147), assim tem-se que:

n

⋅ K ⋅ ( W S)

( T W ) ⋅ K

( T W )

( W S )

2 2

4

2

2

⋅ K ⋅ ( W S ) ⋅ C

D 0

( T W ) 2 ⋅ K ⋅ ( W S ) 2

= ⋅ −

(4.151)

n

⋅ K ⋅ C

= 2 −

(4.151a)

T W

2 D0

4( ) 2

n

R min

4 ⋅ K ⋅ C

= 2 −

(4.151b)

D0

( T W ) 2

A Equação (4.151b) é utilizada para a determinação do fator de carga correspondente

ao raio de curvatura mínimo.

A Equação que determina o raio de curvatura mínimo pode ser obtida pela substituição

das Equações (4.150g) e (4.151b) na Equação (4.130a) portanto:

R

min

=

g ⋅

4 ⋅ K

ρ

⋅ ( W S )

( T W )

2 − 4 ⋅ K ⋅ C

( T W )

2

D0

2

−1

(4.152)

R

min

=

g ⋅

4 ⋅ K

ρ

⋅ ( W S )

( T W )

2 − 4 ⋅ K ⋅ C

( T W )

2

D0

− 1

(4.152a)


281

R

min

=

ρ ⋅ g ⋅

4 ⋅ K ⋅

( T W )

( W S )

1 − 4 ⋅ K ⋅ C

D

( T W ) 2 0

(4.152b)

Exemplo 4.17– Determinação do raio de curvatura mínimo.

Para a aeronave modelo do presente capítulo, determine o raio de curvatura mínimo e o

máximo ângulo de inclinação permissível para as asas para uma curva realizada em condições

de atmosfera padrão ao nível do mar.

Solução:

A máxima tração disponível ao nível do mar na velocidade de estol da aeronave é T dmáx =

31,14N, portanto a relação (T/W) máx é:

T

W

máx

⎛ 31,14 ⎞

= ⎜ ⎟ = 0,2076

⎝ 150 ⎠

A carga alar (W/S) é:

⎛W

⎞ ⎛150 ⎞

⎜ ⎟ = ⎜ ⎟ = 166,66 N/m²

⎝ S ⎠ ⎝ 0,9 ⎠

Dessa forma, a velocidade que proporciona o raio de curvatura mínimo é calculada pela

aplicação da Equação (4.150g) do seguinte modo:

v R min

v

R

min

=

=

4 ⋅ K

ρ ⋅

⋅ ( W S )

( T W )

4 ⋅ 0,065

1,225 ⋅

⋅ ( 166,66)

( 0,2076)

v

R min

=13,05 m/s

O fator de carga que proporciona o raio de curvatura mínimo é calculado pela aplicação da

Equação (4.151b):

n

n

R

R min

min

=

=

4 ⋅ K ⋅ C

2 −

D0

( T W ) 2

4⋅0,065⋅

0,022

2 −

( 0,2076) 2

n

R min

=1,366

O raio de curvatura mínimo é calculado pela Equação (4.152b) do seguinte modo:


282

R

R

min

min

=

=

ρ ⋅ g ⋅

4 ⋅ K ⋅

( T W )

1,225 ⋅ 9,81⋅

( W S )

1 − 4 ⋅ K ⋅ C

4 ⋅ 0,065 ⋅

( 0,2076)

D0

( T W ) 2

( 166,66)

1 − 4 ⋅ 0,065 ⋅ 0,022

( 0,2076) 2

Rmin =18,65 m

E o máximo ângulo permissível para a inclinação das asas dado por:

φ = arccos

1

n Rmín

1

φ = arccos

1,366

φ = 42, 96°

Este resultado indica que em qualquer raio maior que o mínimo a aeronave é capaz de realizar

a curva com um ângulo de inclinação menor, fator muito importante para os vôos durante a

competição AeroDesign.

4.13 – Envelope de vôo e teto absoluto

O envelope de vôo é uma representação gráfica da capacidade de uma aeronave se

manter em uma condição de vôo reto e nivelado em uma determinada velocidade e altitude.

Este gráfico mostra a faixa de velocidades de operação de uma aeronave em função da

altitude e para um vôo subsônico sua forma genérica é mostrada na Figura 4.38.

Figura 4.38 – Envelope de vôo característico para regime subsônico.


283

A Figura 4.38 pode ser obtida através das curvas de tração ou potência considerandose

a variação da altitude, onde em cada condição de vôo, a intersecção das curvas de tração ou

potência fornece os valores da velocidade mínima e máxima da aeronave. Essas velocidades

limitam a envoltória que define o envelope de vôo da aeronave.

É importante observar que conforme a altitude aumenta ocorre uma redução da

densidade do ar e assim a sobra de tração ou potência tornam-se cada vez menor e portanto, a

diferença entre as velocidades mínima e máxima da aeronave também será cada vez menor,

até que em uma determinada altitude acorra uma situação onde v min = v máx e assim existe

apenas uma única velocidade na qual é possível manter o vôo reto e nivelado da aeronave.

A altitude na qual v min = v máx representa o teto absoluto da aeronave, ou seja, nesta

altitude não existe mais sobra de tração ou potência e, portanto, a aeronave não possui mais

condições de ganhar altura. Como visto anteriormente na análise da influência da altitude na

variação das curvas de tração ou potência, o teto absoluto é definido pelo ponto de tangência

entre a requerida e a disponível.

O envelope de vôo de uma aeronave também é dependente da velocidade de estol, pois

como visto anteriormente, muitas vezes a velocidade de estol é maior que a velocidade

mínima obtida nas curvas de tração ou potência, e quando isto ocorre, a velocidade de estol

passa a representar o limite aerodinâmico da aeronave. Considerando a variação da velocidade

de estol conforme a altitude de vôo aumenta, o gráfico da Figura 4.38 pode ser representado

da seguinte forma:

Figura 4.39 – Influência da velocidade de estol no envelope de vôo.

A linha verde representa a influência da velocidade de estol no envelope de vôo da

aeronave e pode ser calculada em função da altitude da seguinte forma:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

(4.153)

Analisando-se a Equação (4.153), pode-se perceber que o aumento da altitude e a

conseqüente redução na densidade do ar mantendo-se o peso, a área da asa e o valor do C Lmáx ,

provoca um aumento da velocidade de estol e assim esta passa a ser o limite operacional da

aeronave determinando o contorno do envelope de vôo.


284

Como citado, o envelope de vôo representa as limitações operacionais de velocidade

para se garantir um vôo reto e nivelado de uma aeronave em uma determinada altitude,

portanto, um vôo realizado exatamente sobre da envoltória do envelope de vôo, significa um

vôo no qual T d = T r ou P d = P r , nessas condições, a aeronave está no seu limite de vôo, pois a

manete de tração está ajustada ao máximo, e, dessa forma, percebe-se que não há como se

manter em vôo com uma velocidade abaixo da mínima ou acima da máxima apenas com o

auxílio do motor.

Para qualquer outra condição de velocidade e altitude que se encontra dentro da

envoltória do envelope de vôo, a aeronave pode voar seguramente com a manete de tração

regulada em uma posição abaixo da máxima.

Outra velocidade importante para o traçado do envelope de vôo é a velocidade do

ponto de manobra da aeronave, pois esta também varia com a altitude e define o limite

estrutural da aeronave e pode ser calculada a partir da aplicação da Equação (4.154a)

apresentada a seguir.

v

*

= v estol

⋅ n máx

(4.154)

v

*

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

n

máx

(4.154a)

Como o fator de carga máximo é fixo para o projeto em desenvolvimento, novamente

é possível perceber que a variação da densidade do ar e o respectivo aumento da velocidade

de estol influem decisivamente na capacidade estrutural da aeronave. Geralmente em altitudes

mais baixas a velocidade do ponto de manobra é menor que a velocidade máxima, e assim,

levando-se em consideração a variação da velocidade do ponto de manobra com relação ao

aumento da altitude, o envelope de vôo pode ser representado da seguinte forma:

Figura 4.40 – Influência da velocidade do ponto de manobra no envelope de vôo.

Pela análise da Figura 4.40, é possível observar que o envelope de vôo da aeronave é

limitado em suas extremidades pela velocidade de estol e pela velocidade do ponto de

manobra, assim, uma representação mais fiel do envelope de vôo é mostrada a seguir na

Figura 4.41.


285

Figura 4.41 – Envelope de vôo considerando a influência da velocidade de estol e da

velocidade do ponto de manobra.

Exemplo 4.18 – Determinação do envelope de vôo e do teto absoluto.

Para a aeronave modelo utilizada como referência no presente capítulo, determine o envelope

de vôo e o teto absoluto considerando a influência da velocidade de estol (limite

aerodinâmico) e da velocidade do ponto de manobra (limite estrutural).

Considere na análise uma variação de altitude entre o nível do mar (h=0) e o teto absoluto da

aeronave com incrementos de 500m nos valores de altitude.

Solução:

A determinação do envelope de vôo da aeronave em estudo foi realizada mediante a

construção das curvas de tração disponível e requerida para diversas altitudes. O modelo

aplicado é idêntico ao utilizado na solução do Exemplo 4.1, porém o processo foi repetido

para diferentes altitudes e as velocidades mínima e máxima obtidas no ponto de intersecção

das curvas foram utilizadas para a construção da envoltória do envelope de vôo. Além dessas

velocidades, também foi calculado a variação da velocidade de estol com a altitude e a

variação da velocidade do ponto de manobra com o fator de carga limite de 2,5 adotado para a

construção do diagrama v-n.


286

Para h = 0m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 0m

Tração (N)

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 9m/s e 25,8m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2⋅150

1,225 ⋅0,9

⋅1,65

vestol

=12,84 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 12,84 ⋅

2,5

v

* = 20,30 m/s


287

Para h = 500m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida h = 500m

Tração (N)

50

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 9,4m/s e 25,6m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

1,1673 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 13,155 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 13,155 ⋅

2,5

v

* = 20,80 m/s


288

Para h = 1000m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 1000m

50

40

Tração (N)

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 9,8m/s e 25,4m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

1,1117 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 13,480 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 13,480 ⋅

2,5

v

* = 21,314 m/s


289

Para h = 1500m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 1500m

60

50

Tração (N)

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 10,3m/s e 25,1m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

1,0581 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 13,817 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 13,817 ⋅

2,5

v

* = 21,847 m/s


290

Para h = 2000m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 2000m

60

Tração (N)

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 11m/s e 24,8m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

1,0066 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 14,166 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 14,166 ⋅

2,5

v

* = 22,399 m/s


291

Para h = 2500m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 2500m

60

50

Tração (N)

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 11,79m/s e 24,35m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,95696 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 14,529 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 14,529 ⋅

2,5

v

* = 22,973 m/s


292

Para h = 3000m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 3000m

60

50

Tração (N)

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 12,7m/s e 23,9m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,90926 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 14,905 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 14,905 ⋅

2,5

v

* = 23,568 m/s


293

Para h = 3500m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 3500m

Tração (N)

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 13,8m/s e 23,35m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,86341 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 15,296 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 15,296 ⋅

2,5

v

* = 24,185 m/s


294

Para h = 4000m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 4000m

Tração (N)

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 15m/s e 22,6m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,81935 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 15,702 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 15,702 ⋅

2,5

v

* = 24,827 m/s


295

Para h = 4500m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 4500m

Tração (N)

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 16,5m/s e 21m/s

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,777 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 16,124 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 16,124 ⋅

2,5

v

* = 25,494 m/s


296

Para h = 4800m, a seguinte curva de tração disponível e requerida foi obtida:

Tração disponível e requerida - h = 4800m

Tração (N)

80

70

60

50

40

30

20

10

0

0 5 10 15 20 25 30 35

Velocidade (m/s)

Pela análise do gráfico é possível identificar as velocidades máxima e mínima que são

respectivamente 19m/s e 19m/s, delimitando assim o teto absoluto de vôo da aeronave.

A velocidade de estol foi determinada pela aplicação da Equação (2.31a) para esta altitude

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅150

0,75247 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 116,385 m/s

A velocidade de manobra nesta altitude foi determinada pela Equação (4.116a):

v

*

= v estol

⋅ n máx

v

*

= 116,385 ⋅

2,5

v

* = 25,907 m/s


297

A partir da análise realizada, a tabela com os resultados obtidos é a seguinte:

h (m) v min (m/s) v máx (m/s) v estol (m/s) v * (m/s)

0 9,000 25,800 12,841 20,304

500 9,400 25,600 13,155 20,800

1000 9,800 25,400 13,480 21,314

1500 10,300 25,100 13,817 21,847

2000 11,000 24,800 14,166 22,399

2500 11,790 24,350 14,529 22,973

3000 12,700 23,900 14,905 23,568

3500 13,800 23,350 15,296 24,185

4000 15,000 22,600 15,702 24,827

4500 16,500 21,000 16,124 25,494

4800 19,000 19,000 16,385 25,907

E o gráfico do envelope de vôo é:

Pela análise do gráfico é possível observar que o teto absoluto de vôo da aeronave em

estudo é 4800m.

4.14 – Tempo estimado para a missão

O regulamento da competição SAE-AeroDesign especifica que a aeronave deve

decolar, sobrevoar o campo realizando uma volta completa e pousar novamente na pista. Um

exemplo de um circuito padrão e suas respectivas distâncias aproximadas pode ser visto na

Figura 4.42 apresentada a seguir.


298

Figura 4.42 – Circuito padrão com as distâncias aproximadas.

Considerando-se todas as condições de desempenho anteriormente estudadas no

presente capítulo e as distâncias aproximadas para se completar o percurso, é possível se

estimar qual será o tempo necessário para que a aeronave complete a missão. É muito

importante citar que a metodologia apresentada nesta seção fornece um resultado aproximado

do tempo de vôo necessário, e que o resultado exato requer uma análise muito complexa e que

envolve estudos de otimização de trajetórias que fogem do escopo deste livro.

A importância em se estimar o tempo de vôo se reflete diretamente nas dimensões

necessárias para o tanque de combustível como forma de se garantir que não ocorra uma pane

seca durante o vôo, que acarretaria na invalidação do vôo e talvez até na desclassificação da

equipe.

A estimativa de tempos pode ser realizada através da somatória de todas as parcelas de

tempo em cada etapa do vôo. Basicamente a aeronave decola, ganha altura, realiza um vôo de

cruzeiro com determinada altura, realiza um vôo de planeio e pousa terminando o percurso em

uma condição de repouso. A Figura 4.43 mostra um modelo da trajetória realizada pela

aeronave.

Figura 4.43 – Modelo da trajetória de vôo.

Pela análise da Figura 4.43, é possível observar que o tempo total aproximado para a

aeronave completar a missão é dado pela somatória dos tempos parciais para cada uma das

cinco etapas de vôo representadas (decolagem, subida, cruzeiro, descida e pouso), portanto,

pode-se escrever que:

T

n

t = ∑ t = t + t + t + t + .... + t

1

n

1

onde t T representa o tempo total e t n os tempos parciais para cada etapa da missão.

2

3

4

n

(4.155)


299

É importante lembrar que para cada uma das etapas acima descritas a aeronave

encontra-se em uma condição cinemática diferente, ou seja, nos procedimentos de decolagem

e pouso será considerado um movimento uniformemente variado com uma aceleração média

e uma desaceleração média constante e durante os procedimentos de subida, cruzeiro e

planeio será considerado um vôo com velocidade constante.

O tempo total encontrado será aproximado porém bem próximo de uma condição real

para o AeroDesign, portanto, pode-se concluir que a metodologia apresentada a seguir é muito

satisfatória para se estimar o tempo necessário para que uma aeronave destinada a participar

do AeroDesign complete a missão.

Primeiro será estimado o tempo necessário para a decolagem da aeronave,

considerando que a mesma parte do repouso e acelera até a velocidade de decolagem em um

intervalo de tempo t LO percorrendo um comprimento de pista de 59m. A aceleração média

pode ser determinada pela equação cinemática do movimento uniformemente variado da

seguinte forma:

v

2 2

LO

= v0

+ 2 ⋅ a ⋅ S LO

(4.156)

v

2 2

LO

− v0

= 2 ⋅ a ⋅ S LO

(4.156a)

considerando que v 0 = 0m/s, tem-se que:

v

2

LO

= 2 ⋅ a ⋅ S LO

(4.156b)

a

2

vLO

= 2

⋅ S

LO

(4.156c)

Uma vez determinada a aceleração média durante a corrida de decolagem, o tempo

necessário para a decolagem pode ser calculado da seguinte forma:

v

= v 0

+ a ⋅

(4.157)

LO

t LO

considerando que v 0 = 0m/s, tem-se que:

v

= a ⋅

(4.157a)

LO

t LO

v

t = LO

LO

a

(4.157b)

Pela solução da Equação (4.157b), chega-se a um tempo aproximado para a decolagem

da aeronave.

Com relação ao vôo de subida, o tempo necessário para se atingir uma determinada

altura em relação ao solo será calculado no presente livro considerando a máxima razão de

subida e o ângulo de subida que proporciona esta condição com a subida sendo realizada com

velocidade constante, portanto, a partir da cinemática do movimento uniforme, pode-se

escrever que:


300

h

R / Cmáx

=

(4.158)

t

S

t

S

h

= (4.158a)

R / C

máx

Esta equação determina o intervalo de tempo aproximado para a aeronave atingir a

altura h.

Para a condição de vôo de cruzeiro, será considerado no presente livro um vôo com

velocidade constante e para o máximo alcance da aeronave, ou seja, em uma condição de

máxima eficiência aerodinâmica, assim, tem-se que:

S

cru

v

cru

= (4.159)

tcru

S

cru

t

cru

= (4.159a)

vcru

A distância de cruzeiro representada por S cru é determinada pela soma das distâncias

das pernas de través, do vento e base.

A aplicação da Equação (4.159a) permite estimar o tempo durante o vôo de cruzeiro

da aeronave.

Durante a condição de planeio, o tempo é calculado de forma similar à condição de

subida, porém será considerado como forma de análise um planeio realizado na condição de

máximo alcance como forma de se obter um menor ângulo de planeio. O tempo estimado para

a descida pode então ser calculado da seguinte forma:

h

RD ( L ) = (4.160)

máx

D t

D

h

t

D

= (4.160a)

RD

( L )máx

D

Pela Equação (4.160a) é possível estimar o tempo necessário para a descida da

aeronave.

Por fim, o tempo necessário para o processo de desaceleração durante o pouso até que

ocorra a parada total da aeronave pode ser estimado de forma similar ao cálculo do tempo

para a decolagem, porém considera-se que a aeronave toca o solo na velocidade de estol e pra

completamente após percorrer uma distância S L definida pelo cálculo realizado no

desempenho de pouso em um tempo t L , portanto, a partir da cinemática do movimento

uniformemente variado, tem-se que:

v

2

f

2

estol

= v + 2 ⋅ a ⋅ S

L

(4.161)

considerando que v f = 0m/s, tem-se que:


301

2

estol

+ ⋅ a ⋅ S L

0 = v 2

(4.161a)

2

2 ⋅ a ⋅ S L

= vestol

− (4.161b)

a

2

vestol

= − 2

⋅ S

L

(4.161c)

O sinal negativo presente na Equação (4.161c) representa uma desaceleração até a

parada total da aeronave.

Uma vez conhecida a desaceleração durante o pouso, o tempo necessário para a parada

total da aeronave pode ser determinado da seguinte forma:

v

f

= v + a ⋅ t

(4.162)

estol

L

considerando que v f = 0m/s, tem-se que:

0 = v + a ⋅

(4.162a)

estol

t L

− a ⋅ t =

(4.162b)

v estol

t

L

vestol

= −

(4.162c)

a

Como a aceleração calculada pela Equação (4.161c) é negativa, o resultado da

Equação (4.162c) será positivo e representa o tempo necessário a a desaceleração até a parada

total da aeronave.

Com os tempos parciais calculados, é possível a partir da aplicação da Equação

(4.163), a determinação do tempo total para se completar a missão, portanto:

t = t + t + t + t + t

(4.163)

T

LO

S

cru

D

L

Geralmente na competição AeroDesign, o tempo de vôo varia entre 1 minuto e 10

segundos e 1 minuto e 40 segundos, esta diferença está relacionada ao trajeto realizado por

cada aeronave e pela altura máxima em relação ao solo.

Exemplo 4.19 – Estimativa do tempo total para se completar a missão.

Para a aeronave modelo utilizada como referência no presente capítulo, estime o tempo

necessário para que a mesma complete a missão considerando uma altura máxima de vôo em

relação ao solo de 30m, uma distância de cruzeiro de 350m e as seguintes condições de vôo:

subida com máxima razão de subida, cruzeiro e descida para condição de máximo alcance.

Solução:

Durante a corrida de decolagem o tempo aproximado é calculado pela Equação (4.157b), com

a aceleração determinada pela aplicação da Equação (4.156c). Considerando o peso de

decolagem de 150N, uma velocidade de decolagem v lo = 15,41 m/s obtida no Exemplo 4.10 e

um comprimento de pista de 65,87m tem-se que:


302

a

2

vLO

= 2

⋅ S

LO

2

15,41

a =

2 ⋅ 65,87

a = 2,01m/s²

t

LO

=

t

LO

v

LO

a

15,41

=

2,01

t

LO

= 7,65 s

O tempo para se atingir a altura de 30m é calculado com a aplicação da Equação (4.158a)

considerando a máxima razão de subida da aeronave obtida no Exemplo 4.6.

t

S

h

=

R / C

máx

t

S

30

=

1,513

t

S

=19,828 s

O tempo durante o vôo de cruzeiro é obtido pela aplicação da Equação (4.159a) considerando

a velocidade de máximo alcance e uma distância percorrida de 350m.

S

t

cru

=

v

cru

cru

t

cru

tcru

=

350

21,62

=16,19 s

O tempo para o planeio da aeronave é calculado pela aplicação da Equação (4.160a)

considerando a razão de descida para a condição de máximo alcance obtida no Exemplo 4.8.

h

t

D

=

RD

( L )máx

D


303

t

D

30

=

1,628

t

D

=18,427 s

Durante a desaceleração no pouso, o tempo aproximado é calculado pela Equação (4.162c),

com a desaceleração determinada pela aplicação da Equação (4.161c). Considerando uma

velocidade de pouso igual a velocidade de estol e o comprimento de pista obtido com a

aplicação da metodologia do Exemplo 4.14 para W = 150N, tem-se que:

a

2

vestol

= − 2

⋅ S

L

2

12,84

a = −

2 ⋅ 84,42

a = −0,976 m/s²

t

L

= −

v

estol

a

t

L

t

L

12,84

= −

( −0,976)

= 13,149 s

Assim, o tempo total aproximado para se completar a missão é obtido pela soma dos tempos

parciais de cada etapa com a aplicação da Equação (4.163).

t = t + t + t + t + t

T

LO

S

cru

D

L

t

T

tT

= 7 ,65 + 19,828 + 16,19 + 18,427 + 13,149

= 75,251s

O tempo total de 75,251s encontrado na solução deste exemplo é bem próximo do tempo real

que ocorre durante os vôo da competição AeroDesign.

4.15 – Metodologia para o traçado do gráfico de carga útil em função da altitudedensidade

O gráfico de carga útil em função da altitude-densidade é um elemento obrigatório e

que deve ser apresentado no relatório de projeto enviado para a comissão organizadora do

AeroDesign. Este gráfico mostra a capacidade de carga útil da aeronave para uma decolagem

realizada em qualquer condição de altitude.


304

Existem muitas formas paras se prever a capacidade de carga útil de uma aeronave em

função da altitude densidade, no presente livro é apresentado um modelo fundamentado no

desempenho de decolagem da aeronave, pois como o regulamento da competição restringe o

comprimento de pista para a decolagem da aeronave, a carga útil transportada também será

limitada, pois mesmo que a aeronave possua condições de carregar uma carga elevada, esta se

tornará restrita devido à limitação de pista, pois não se consegue obter a aceleração necessária

para garantir a velocidade de decolagem dentro do comprimento estipulado.

O gráfico de carga útil em função da altitude densidade para aeronaves que participam

da competição AeroDesign possui a forma apresentada na figura a seguir.

Figura 4.44 – Gráfico de carga útil em função da altitude-densidade para aeronaves que

participam do AeroDesign.

É importante ressaltar que o regulamento da competição AeroDesign especifica que a

carga útil deve ser apresentada em kg e a altitude-densidade em m, sendo também necessário

que a equipe linearize os pontos obtidos e apresente a equação da reta linearizada, pois é

justamente a partir deste gráfico que tanto a equipe como os juizes terão condições de avaliar

a capacidade de carga da aeronave em função da altitude-densidade local no instante do vôo.

O gráfico de carga útil em função da altitude-densidade é sem dúvida um dos pontos

mais importantes do projeto, uma vez que sua correta determinação proporciona a obtenção

da tão valiosa acuracidade do projeto, que muitas equipes buscam porém poucas conseguem.

A dificuldade na obtenção da acuracidade encontrada pela grande maioria das equipes,

está justamente relacionada a erros de projeto, falta de conhecimento em como determinar o

gráfico e em muitos casos no “achar” que na competição o desempenho da aeronave será

melhor que o desempenho obtido durante a realização dos testes.

O desenvolvimento analítico para a obtenção do gráfico de carga útil em função da

altitude densidade pode ser realizado pela análise do desempenho de decolagem apresentado

anteriormente, e, portanto, aplicando-se a equação para o cálculo do comprimento de pista

necessário para a decolagem tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

(4.164)

com os valores de L e D determinados da seguinte forma:


305

L =

1 ⋅ ρ 2

⋅ (0,7 ⋅ vlo ) ⋅ S ⋅ C (4.165)

L

2

e

1 2

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

L

)

(4.166)

2

Dessa forma, pode-se perceber pela análise das Equações (4.164), (4.165) e (4.166)

que o aumento da altitude de decolagem reduz a densidade do ar e conseqüentemente para um

determinado peso existe a necessidade de um maior comprimento de pista para a decolagem.

Também é importante lembrar que a tração disponível T presente na Equação (4.164) é

cada vez menor conforme a altitude aumenta, contribuindo ainda mais para o aumento do

comprimento de pista necessário para a decolagem da aeronave.

Como o comprimento de pista para a decolagem é limitado, torna-se impossível alçar

vôo em altitude com a mesma carga útil possível ao nível do mar, e, assim, a solução da

Equação (4.164) deve ser realizada considerando um comprimento de pista S LO limitado ao

máximo permissível pelo regulamento, com os valores de L e D calculados para a altitude em

estudo e com a tração disponível corrigida para a esta mesma altitude do seguinte modo.

ρ

T Dh

= T D 0

(4.167)

ρ

Desse modo, a variável a ser determinada na Equação (4.164) passa a ser o peso total

de decolagem que deve ser ajustado até que o resultado da equação seja igual ao máximo

comprimento de pista permissível para a decolagem, e assim, pode-se perceber que com a

redução da densidade do ar devido ao aumento da altitude, o peso total de decolagem será

cada vez menor.

Os resultados obtidos pela aplicação da Equação (4.164) em diversas altitudes

representam o peso máximo de decolagem da aeronave e juntos formam os diversos pontos

para o traçado do gráfico de carga útil em função da altitude densidade. O regulamento da

competição AeroDesign especifica que a carga útil transportada deve ser expressa em kg,

também é importante citar que a carga útil representa o peso total de decolagem menos o peso

vazio da aeronave, portanto, como forma de se obter a carga útil em kg, deve-se utilizar a

seguinte equação.

0

C

u

WT

− Wvazio

= (4.168)

g

onde W T representa o peso total de decolagem calculado pela solução da Equação (4.164) para

cada uma das altitudes avaliadas.

O resultado da Equação (4.168) é dado em kg e esta equação deve ser aplicada para

cada condição de altitude desejada utilizando-se o resultado do peso total obtido quando da

aplicação da Equação (4.164) considerando a altitude em estudo.

Como pode-se notar na análise realizada, o fator preponderante para o cálculo da

capacidade de carga útil de uma aeronave destinada a participar da competição AeroDesign é

a densidade do ar, onde quanto menor for o seu valor, menor será a capacidade de carga da


306

aeronave, assim, como a densidade do ar é uma variável que comanda o cálculo do peso total

de decolagem, a seguir é apresentado um modelo matemático que permite determinar a

densidade do ar em qualquer altitude para um vôo realizado na troposfera h ≤ 11000m.

Este modelo está fundamentado na teoria apresentada por Anderson [4.1] em

condições de atmosfera padrão com um vôo realizado na troposfera. Nessa região da

atmosfera, a teoria contempla que o gradiente de temperatura é A b = -6,5x10 -3 °C/m, que a

temperatura padrão ao nível do mar é 15,15°C e que os valores da temperatura absoluta e da

densidade do ar na altitude podem calculados a partir das Equações (4.169) e (4.170)

apresentadas a seguir.

T

h

= T + A h − )

(4.169)

0 b

( h0

− g

−1

RA b

⎛ T

h ⎞

ρ =

0

h

ρ

(4.170)

⎝ T0

Os resultados encontrados com a aplicação da Equação (4.170) são aproximados

porém muito confiáveis sendo amplamente utilizados pela indústria aeronáutica.

A Tabela 4.4 apresentada a seguir mostra os valores da densidade do ar para diversas

altitudes e pode ser utilizada como referência para a solução das Equações (4.164), (4.165),

(4.166) e (4.167).

Tabela 4.4 – Variação da densidade do ar com a altitude.

h (m) ρ (kg/m³) h (m) ρ (kg/m³)

0 1,2250 1200 1,0900

100 1,2133 1300 1,0793

200 1,2017 1400 1,0687

300 1,1901 1500 1,0581

400 1,1787 1600 1,0476

500 1,1673 1700 1,0373

600 1,1560 1800 1,0269

700 1,1448 1900 1,0167

800 1,1337 2000 1,0066

900 1,1226 2100 0,9964

1000 1,1117 2200 0,9864

1100 1,1008 2300 0,9765

A aplicação dos conceitos apresentados nesta seção permite à equipe estimar com boa

precisão o gráfico de carga útil em função da altitude densidade. Como citado, é obrigatório

que os resultados obtidos sejam linearizados e que também seja apresentada no gráfico a

equação da reta linearizada.

Uma forma de se determinar a equação é através do cálculo do coeficiente angular da

reta do seguinte modo:


307

Figura 4.45 – Processo para obtenção da equação da reta do gráfico de carga útil

em função da altitude densidade.

Adotam-se dois pontos arbitrários A e B com seus respectivos valores de carga útil e

altitude. Com a aplicação da Equação (4.171) apresentada a seguir, determina-se o coeficiente

angular m da reta do seguinte modo.

m

C

u2

u1

= (4.171)

h

2

− C

− h

1

Como a carga útil transportada em uma condição h 2 é menor que em uma condição h 1

e sabendo-se que h 2 >h 1 , é fácil verificar que o coeficiente angular obtido pela solução da

Equação (4.171) será um número negativo indicando que a carga útil se reduz conforme a

altitude aumenta, e, assim, a equação da reta pode ser escrita da seguinte forma:

C

u

= C

0

− m ⋅ h

(4.172)

u

onde C u representa a carga útil em altitude, C u0 é a carga útil ao nível do mar, m é o

coeficiente angular da reta e h representa os valores de altitude.

Com o traçado do gráfico de carga útil em função da altitude densidade, fecha-se a

análise de desempenho da aeronave, e a equipe possui condições de prever em detalhes a

capacidade de carga da aeronave e assim ganhar pontos importantes durante a competição

através da obtenção da acuracidade dos cálculos realizados.

Exemplo 4.20 – Determinação do gráfico de carga útil em função da altitude densidade.

Para a aeronave modelo utilizada como referência no presente capítulo, determine o gráfico

de carga útil em função da altitude densidade. Considere um peso vazio da aeronave igual a

40N.

Solução:

O cálculo do gráfico de carga útil em função da altitude-densidade foi realizado a partir da

Equação (4.164) que determina o comprimento de pista necessário para a decolagem da

aeronave.

Para a solução desse exemplo, os dados foram inseridos em uma planilha com o peso total de

decolagem ajustado até que o comprimento de pista obtido fosse 59m, e, conforme a


308

densidade do ar variava com o aumento da altitude, a tração disponível era corrigida com a

aplicação da Equação (4.167)

Para h = 0m

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.9:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,276

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅143,19

1,225 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

=12,54 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

= 1,2

⋅12,54

= 15,05 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L =

1 ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ v

2

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L


309

1 2

L = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,276

L = 16,902 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,225

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

D = 1,60 N

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo obtida pela leitura do gráfico

da Figura 4.2 é:

Td

= 33,43 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave com um peso de 143,19N, tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,225

⋅ 0,9 ⋅1,65

= 59,00 m

1,44 ⋅143,19

2

{ 33,43 − [ 1,60 + 0,03 ⋅ (143,19 − 16,902) ]}

A carga útil para esta altitude foi determinada a partir da solução da Equação (4.168)

da seguinte forma:

C

u

W

=

T

− W

g

vazio

C

u

Cu

143,19

− 40

=

9,81

=10,518 kg


310

Para h = 100m

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.9:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,276

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅141,82

1,2133 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

= 1,2

⋅12,54

= 15,05 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,2133

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,


311

L = 16,740 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,2133

⋅(0,7

⋅15,05)

2

⋅0,9

⋅0,02614

D = 1,585 N

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo corrigida para esta altitude é:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

T

dh

Tdh

1,2133

= 33,43

1,225

= 33,11 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave com um peso de 141,82N, tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,2133

⋅ 0,9 ⋅1,65

= 59,00 m

1,44 ⋅141,82

2

{ 33,11 − [ 1,585 + 0,03 ⋅ (141,82 − 16,740) ]}

A carga útil para esta altitude foi determinada a partir da solução da Equação (4.168)

da seguinte forma:

C

u

W

=

T

− W

g

vazio

C

u

Cu

141,82

− 40

=

9,81

=10,379 kg


312

Para h = 200m

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.9:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,276

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅140,46

1,2017 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

= 1,2

⋅12,54

= 15,05 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,2017

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,


313

L = 16,579 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,2017

⋅(0,7

⋅15,05)

2

⋅0,9

⋅0,02614

D = 1,570 N

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo corrigida para esta altitude é:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

T

dh

Tdh

1,2017

= 33,43

1,225

= 32,79 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave com um peso de 140,46N, tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,2017

⋅ 0,9 ⋅1,65

= 59,00 m

1,44 ⋅140,46

2

{ 32,79 − [ 1,570 + 0,03 ⋅ (140,46 − 16,579) ]}

A carga útil para esta altitude foi determinada a partir da solução da Equação (4.168)

da seguinte forma:

C

u

W

=

T

− W

g

vazio

C

u

Cu

140,46

− 40

=

9,81

=10,240 kg


314

Para h = 300m

O coeficiente de sustentação ideal para a decolagem foi obtido no Exemplo 4.9:

C LLO

π ⋅ e ⋅ ⋅ µ

= 0

AR

2 ⋅φ

⋅ 0,717 ⋅ 6,83 ⋅ 0,03

C = π

LLO

2 ⋅ 0,836

C

LLO

= 0,276

O correspondente coeficiente de arrasto é:

C

D

C

D

C D

2

D0 L

= C + ( φ ⋅ K ⋅ C

= 0,022 + (0,836 ⋅ 0,065 ⋅ 0,276

= 0,02614

)

2

)

A velocidade de estol é:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

v

estol

=

2 ⋅139,11

1,1901 ⋅ 0,9 ⋅1,65

vestol

= 12,54 m/s

A velocidade de decolagem é 20% maior que a velocidade de estol, portanto:

v

= 1 , 2 ⋅

lo

v estol

v

lo

vlo

= 1,2

⋅12,54

= 15,05 m/s

A força de sustentação para 0,7v lo é:

L = ⋅

2

⋅ (0,7 ⋅ v

)

⋅ S ⋅

2

lo

C L

1 ρ 276

1 2

L = ⋅1,1901

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,


315

L = 16,420 N

A correspondente força de arrasto é:

1 2

L

2

D = ⋅ ρ ⋅ (0,7 ⋅ vlo

) ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ φ ⋅ K ⋅ C

2

)

1 2

D = ⋅1,1901

⋅ (0,7 ⋅15,05)

2

⋅ 0,9 ⋅ 0,02614

D = 1,555 N

A tração disponível pela hélice APC 13”x4” para 0,7v lo corrigida para esta altitude é:

T

=

dh

T d 0

ρ h

ρ

0

T

dh

Tdh

1,1901

= 33,43

1,225

= 32,48 N

Portanto, aplicando-se a Equação para a determinação do comprimento de pista para a

decolagem da aeronave com um peso de 139,11N, tem-se que:

S

Lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7vlo

S

Lo

S

Lo

=

9,81 ⋅1,1901

⋅ 0,9 ⋅1,65

= 59,00 m

1,44 ⋅139,11

2

{ 32,48 − [ 1,555 + 0,03 ⋅ (139,11 − 16,42) ]}

A carga útil para esta altitude foi determinada a partir da solução da Equação (4.168)

da seguinte forma:

C

u

W

=

T

− W

g

vazio

C

u

Cu

139,11

− 40

=

9,81

= 10,102 kg


316

Foram apresentados os cálculos para os quatro primeiros pontos do gráfico, para todas

as outras altitudes o procedimento deve ser repetido. Neste exemplo foi utilizada uma

variação de altitude do nível do mar até 2300m com incrementos de 100m.

A partir da análise realizada, a tabela com os resultados obtidos é a seguinte:

h (m) ρ (kg/m³) W T (N) S LO (m) W vazio (m) C u (kg)

0 1,225 143,19 59,00 40 10,51886

100 1,2133 141,82 59,00 40 10,3792

200 1,2017 140,46 59,00 40 10,24057

300 1,1901 139,11 59,00 40 10,10296

400 1,1787 137,78 59,00 40 9,96738

500 1,1673 136,44 59,00 40 9,830785

600 1,156 135,12 59,00 40 9,696228

700 1,1448 133,81 59,00 40 9,562691

800 1,1337 132,52 59,00 40 9,431193

900 1,1226 131,22 59,00 40 9,298675

1000 1,1117 129,94 59,00 40 9,168196

1100 1,1008 128,67 59,00 40 9,038736

1200 1,09 127,41 59,00 40 8,910296

1300 1,0793 126,16 59,00 40 8,782875

1400 1,0687 124,92 59,00 40 8,656473

1500 1,0581 123,68 59,00 40 8,530071

1600 1,0476 122,45 59,00 40 8,404689

1700 1,0373 121,25 59,00 40 8,282365

1800 1,0269 120,03 59,00 40 8,158002

1900 1,0167 118,84 59,00 40 8,036697

2000 1,0066 117,66 59,00 40 7,916412

2100 0,9964 116,47 59,00 40 7,795107

2200 0,9864 115,3 59,00 40 7,675841

2300 0,9765 114,14 59,00 40 7,557594

E o gráfico resultante com sua respectiva equação e reta linearizada é o seguinte:

Carga útil em função da altitude-densidade

12

10

Carga útil (kg)

8

6

4

2

0

Cu = -0,0013h + 10,477

0 500 1000 1500 2000 2500

Altitude-densidade (m)


317

4.16 – Dicas para a análise de desempenho

Novamente vale a pena citar alguns pontos que são de fundamental importância para

uma análise adequada das características de desempenho de uma aeronave destinada a

participar da competição AeroDesign. A seguir é apresentada a seqüência necessária para se

realizar a avaliação de desempenho da aeronave em projeto.

1) Escolhida a hélice e o motor a ser utilizado é muito importante que sejam obtidas as

curvas de tração e potência disponível e requerida para diferentes altitudes, pois dessa forma é

possível se ter um panorama geral das qualidades de desempenho da aeronave em estudo.

2) Representar o gráfico da variação da eficiência aerodinâmica em função do ângulo

de ataque com a finalidade de se obter uma visão geral desse ângulo para qualquer C L

desejado.

3) Determinar analiticamente as velocidades de máximo alcance e máxima autonomia

da aeronave para as altitudes desejadas.

4) Avaliar o desempenho de subida da aeronave determinando a máxima razão de

subida e o correspondente ângulo de subida. Este é um ponto muito importante para se definir

a técnica de pilotagem a ser utilizada durante a subida em função do peso total do avião.

5) Avaliar o comportamento da aeronave durante um vôo de planeio calculando a

razão de descida e o ângulo de planeio para uma condição de máximo alcance.

6) Calcular o comprimento de pista necessário para a decolagem considerando as

limitações do regulamento. Neste item é muito importante apresentar o gráfico do

comprimento de pista em função do peso total da aeronave.

7) Determinar o comprimento de pista necessário para o pouso da aeronave e mostrar

o gráfico da variação desse comprimento em função do peso total da aeronave.

8) Traçar o diagrama v-n e identificar o fator de carga máximo além das velocidades

mais importantes que definem a faixa de operação estrutural da aeronave.

9) Calcular o raio de curvatura mínimo e o máximo ângulo de inclinação permissível

durante uma curva.

10) Determinar o envelope de vôo da aeronave e calcular o teto absoluto de vôo. No

envelope de vôo é muito importante que a equipe defina a envoltória da curva considerando a

influência da velocidade de estol (limite aerodinâmico) e a influência da velocidade do ponto

de manobra (limite estrutural).

11) Estimar o tempo necessário para a aeronave completar a missão.

12) Traçar com a maior precisão possível o gráfico de carga útil em função da altitudedensidade.

A determinação de todas essas etapas propicia à equipe um panorama geral e muito

confiável das características de desempenho de uma aeronave destinada a participar da


318

competição AeroDesign. A Figura 4.46 mostra as características de desempenho da aeronave

da equipe Taperá para o AeroDesign 2009.

Aeronave Taperá 2009 - IFSP

Características de Desempenho – 2º Setor

Motor OS.61 FX – hélice APC 13x4

Velocidade de estol = 12,30m/s

Velocidade para máximo alcance = 20,00m/s

Velocidade para máx autonomia = 15,19m/s

Pista para decolagem = 61m

Pista para pouso = 123m

Máxima razão de subida = 1,52m/s

Razão de descida = 1,42m/s

Raio de curvatura mínimo = 13,95m

Teto absoluto de vôo = 5200m

Figura 4.46 – Características de desempenho da aeronave Taperá 2009.

Neste ponto é finalizado o capítulo da análise de desempenho, no qual foram

apresentados os principais pontos que devem ser avaliados para se obter uma aeronave

competitiva e com excelentes qualidades de vôo.

Referências bibliográficas deste capítulo

[4.1] ANDERSON, JOHN, D. Aircraft performance and design, McGraw-Hill, New York,

1999.

[4.2] ANDERSON, JOHN, D. Introduction to fligth, McGraw-Hill, New York, 1989.

[4.3] FEDERAL AVIATION REGULATIONS, Part 23 Airwothiness standarts: normal,

utility, acrobatic, and commuter category airplanes, USA.

[4.4] RAYMER, DANIEL, P., Aircraft design: a conceptual approach, AIAA, Washington,

1992.

[4.5] ROSKAM. JAN, Airplane aerodynamics and performance, DARcorporation, University

of Kansas, 1997.


319

CAPÍTULO 5

ANÁLISE DE ESTABILIDADE ESTÁTICA

5.1 - Introdução

A análise de estabilidade representa um dos pontos mais complexos do projeto de uma

aeronave, pois geralmente envolve uma série de equações algébricas difíceis de serem

solucionadas e que em muitas vezes só podem ser resolvidas com o auxílio computacional.

No presente livro apenas são tratados os aspectos da estabilidade estática, fundamentos

e aplicações de estabilidade dinâmica de aeronaves podem ser encontrados com uma grande

riqueza de detalhes na obra de Nelson [5.4].

Este capítulo possui a finalidade principal de propiciar ao estudante a capacidade de

entender e aplicar os conceitos necessários para se garantir a estabilidade estática de uma

aeronave a utilizá-los no projeto de uma aeronave destinada a participar da competição SAE-

AeroDesign. Assim, são apresentados tópicos como a determinação da posição do centro de

gravidade, critérios necessários para se garantir a estabilidade longitudinal estática com a

determinação do ponto neutro, da margem estática e do ângulo de trimagem da aeronave e os

critérios necessários para se garantir as estabilidades direcional e lateral da aeronave.

Antes de se iniciar qualquer estudo sobre estabilidade, é muito importante uma

recordação dos eixos de coordenadas de uma aeronave e seus respectivos movimentos de

rotação ao redor desses eixos, definindo assim os graus de liberdade do avião. A Figura 5.1

mostra um avião com suas principais superfícies de controle e o sistema de coordenadas com

os respectivos possíveis movimentos.

Figura 5.1 – Eixos de coordenadas e superfícies de comando.


320

Os movimentos de rotação são realizados mediante a aplicação dos comandos de

profundor, leme e ailerons. Com a aeronave em movimento, a atuação de qualquer uma dessas

superfícies de comando pode provocar uma condição de até seis graus de liberdade, como

comentado no Capítulo 1 do presente livro.

Nas próximas seções deste capítulo são apresentados em detalhes todo o

equacionamento necessário para o estudo dos critérios de estabilidade estática com a

aplicação dos tópicos estudados em uma aeronave destinada a participar do AeroDesign. Os

exemplos numéricos são conduzidos de forma que após cada seção apresentada uma aplicação

seja realizada.

Espera-se que ao final do estudo deste capítulo, o estudante esteja apto a determinar e

calcular os critérios necessários para se garantir a estabilidade estática de uma aeronave

destinada a participar do AeroDesign.

5.2 – Definição de estabilidade

Pode-se entender por estabilidade a tendência de um objeto retornar a sua posição de

equilíbrio após qualquer perturbação sofrida. Para o caso de um avião, a garantia da

estabilidade está diretamente relacionada ao conforto, controlabilidade e segurança do vôo.

Basicamente existem dois tipos de estabilidade, a estática e a dinâmica e como citado, no

presente livro apenas são apresentados os conceitos fundamentais para se garantir a

estabilidade estática, pois normalmente cálculos dinâmicos de estabilidade envolvem uma

álgebra complexa e são estudados em cursos de pós-graduação.

Os conceitos apresentados neste capítulo têm como objetivo principal a sua aplicação

em aeronaves destinadas a participar da competição AeroDesign e fornecem respostas

confiáveis e muito úteis para se garantir o projeto de uma aeronave estável e controlável.

Embora no presente livro apenas sejam tratados os conceitos da estabilidade estática, a

seguir são apresentadas as definições básicas para os dois tipos de estabilidade citados.

Estabilidade estática: é definida como a tendência de um corpo voltar a sua posição

de equilíbrio após qualquer distúrbio sofrido, ou seja, se após uma perturbação sofrida

existirem forças e momentos que tendem a trazer o corpo de volta a sua posição inicial, este é

considerado estaticamente estável. Um exemplo da estabilidade estática pode ser visto na

Figura 5.2 apresentada a seguir.

Figura 5.2 – Estabilidade estática.

Na Figura 5.2 (a), pode-se perceber que após um distúrbio sofrido, a esfera tem a

tendência natural de retornar a sua posição de equilíbrio, indicando claramente uma condição

de estabilidade estática, para a Figura 5.2 (b), nota-se que após qualquer distúrbio sofrido, a

esfera possui a tendência de se afastar cada vez mais de sua posição de equilíbrio, indicando

assim uma condição de instabilidade estática e para a Figura 5.2 (c), a esfera após qualquer

distúrbio sofrido atinge uma nova posição de equilíbrio e ali permanece indicando um sistema

estaticamente neutro.


321

Para o caso de um avião, é fácil observar a partir dos comentários realizados que

necessariamente este deve possuir estabilidade estática, garantindo que após qualquer

distúrbio quer seja provocado pela ação dos comandos ou então por uma rajada de vento, a

aeronave possua a tendência de retornar a sua posição de equilíbrio original.

A estabilidade de uma aeronave pode ser maior ou menor dependendo da aplicação

desejada para o projeto. Aviões muito estáveis demoram mais para responder a um comando

aplicado pelo piloto e aviões menos estáveis respondem mais rápido a qualquer comando ou

distúrbio ocorrido. Geralmente, maior estabilidade é encontrada em aviões cargueiros e menor

estabilidade é encontrada em caças supersônicos, nos quais pelo próprio objetivo da missão

devem possuir uma capacidade de manobra elevada e rápida.

Estabilidade dinâmica: o critério para se obter uma estabilidade dinâmica está

diretamente relacionado ao intervalo de tempo decorrido após uma perturbação ocorrida a

partir da posição de equilíbrio da aeronave.

Para ilustrar essa situação, considere um avião que devido a uma rajada de vento saiu

de sua posição de equilíbrio com o seu nariz deslocado para cima. Caso este avião seja

estaticamente estável, ele terá a tendência de retornar para a sua posição inicial, porém este

retorno não ocorre de forma imediata, até que a posição de equilíbrio seja novamente obtida,

decorre certo intervalo de tempo. Normalmente o retorno ocorre através de dois processos

distintos de movimento, o aperiódico ou o oscilatório. A Figura 5.3 mostra esses dois casos

que garantem a estabilidade dinâmica de uma aeronave e a Figura 5.4 mostra um caso de

estabilidade dinâmica com movimento oscilatório de uma aeronave.

Figura 5.3 – Exemplos de estabilidade dinâmica.

Figura 5.4 – Estabilidade dinâmica de uma aeronave com movimento oscilatório.

Dessa forma, pode-se dizer que um corpo é dinamicamente estável quando após uma

perturbação sofrida retornar a sua posição de equilíbrio após um determinado intervalo de

tempo e lá permanecer.

Ainda considerando o mesmo exemplo, caso após ocorrer a tendência inicial da

aeronave retornar a sua posição de equilíbrio devido a sua estabilidade estática, o avião passe

a oscilar com aumento de amplitude, a sua posição de equilíbrio não será mais atingida,

resultando em um caso de instabilidade dinâmica, como mostram as Figura 5.5 e 5.6.


322

Figura 5.5 – Exemplo de instabilidade dinâmica com movimento oscilatório.

Figura 5.6 – Instabilidade dinâmica de uma aeronave com movimento oscilatório.

Caso após ocorrer a tendência inicial da aeronave retornar a sua posição de equilíbrio

devido a sua estabilidade estática, o avião passe a oscilar com a manutenção da amplitude

inicial, a sua posição de equilíbrio não será mais atingida, resultando em um caso de

instabilidade dinâmica neutra, como mostram as Figura 5.7 e 5.8.

Figura 5.7 – Estabilidade dinâmica neutra.


323

Figura 5.8 – Estabilidade dinâmica neutra de uma aeronave.

Pela análise realizada, é muito importante observar que um avião pode ser

estaticamente estável, porém dinamicamente instável, e assim, uma análise pura de

estabilidade estática não garante a estabilidade dinâmica da aeronave. Dessa forma, um avião

estaticamente estável pode não ser dinamicamente estável, mas com certeza um avião

dinamicamente estável será estaticamente estável.

Uma redução da perturbação em função do tempo indica que existe resistência ao

movimento do corpo e conseqüentemente energia está sendo dissipada. Quando ocorrer

dissipação de energia, o movimento é caracterizado por um amortecimento positivo e quando

mais energia for adicionada ao sistema (aumento de amplitude), o amortecimento é

considerado negativo.

Particularmente um ponto muito importante para o projeto de um avião é a definição

do grau de estabilidade dinâmica, que geralmente é representado pelo tempo necessário para

que o distúrbio sofrido seja completamente amortecido.

Para o propósito da competição AeroDesign, uma análise bem feita dos critérios de

estabilidade estática garantem excelentes resultados operacionais para a aeronave. Como o

estudo da estabilidade (estática e dinâmica) envolve uma álgebra mais pesada, é aconselhável

que as equipes iniciantes na competição estejam atentas apenas aos critérios de estabilidade

estática, deixando a pesquisa mais avançada de estabilidade dinâmica para as equipes que já

possuem experiência no projeto.

5.3 – Determinação da posição do centro de gravidade

Para se iniciar os estudos de estabilidade, peso e balanceamento de uma aeronave é

muito importante a determinação prévia da posição do centro de gravidade da aeronave e o

passeio do mesmo para condições de peso mínimo e máximo. Nesta seção do presente

capítulo é apresentado um modelo analítico que permite realizar o cálculo da posição do CG

de um avião. O CG de uma aeronave pode ser definido através do cálculo analítico das

condições de balanceamento de momentos, ou seja, considere um ponto imaginário no qual a

soma dos momentos no nariz da aeronave (sentido anti-horário – negativo) em relação ao CG

possuem a mesma intensidade da soma dos momentos de cauda (sentido horário – positivo).

Nessas condições, pode-se dizer que a aeronave está em equilíbrio quando suspensa pelo CG,

ou seja, não existe nenhuma tendência de rotação em qualquer direção, quer seja nariz para

cima ou nariz para baixo, e, portanto, em uma situação prática pode-se considerar que todo o

peso da aeronave está concentrado no centro de gravidade. Normalmente a posição do CG de

uma aeronave é apresentada na literatura aeronáutica com relação à porcentagem da corda e

sua localização é obtida com a aplicação da Equação (5.1) que relaciona os momentos gerados

por cada componente da aeronave com o peso total da mesma.

W ⋅ d

x CG

=

(5.1)

W


324

Para a aplicação da Equação (5.1), é necessário adotar uma linha de referência onde a

partir desta é possível obter as distâncias características da localização de cada componente da

aeronave permitindo assim a determinação dos momentos gerados por cada um desses

componentes em relação a esta linha de referência. Uma vez encontrados os momentos

individuais, realiza-se a somatória de todos esses momentos e então divide-se o resultado

obtido pelo peso total da aeronave. No presente livro, a linha de referência é adotada no nariz

da aeronave como mostra a Figura 5.9.

Figura 5.9 – Determinação da posição do centro de gravidade de uma aeronave.

É importante citar que a Figura 5.9 ilustra apenas alguns componentes mais

importantes da aeronave. Para de se obter um cálculo mais preciso da posição do CG é

interessante que se utilize o maior número de componentes possíveis.

Uma vez determinada a posição do centro de gravidade, este pode ser representado em

função da corda na raiz da asa aplicando-se a Equação (5.2) apresentada a seguir.

( xCG

− xw

)

CG% c

= ⋅100%

(5.2)

c

A Equação (5.2) relaciona a diferença entre as distancias da posição do CG e do bordo

de ataque da asa em relação a linha de referência com a corda na raiz da asa, resultando na

posição do CG em uma porcentagem da corda. A Figura 5.10 ilustra este conceito.


325

Figura 5.10 - posição do CG em função de uma porcentagem da corda na raiz da asa.

Para aeronaves convencionais que participam da competição AeroDesign,

normalmente com o CG localizado entre 20% e 35% da corda é possível obter boas

qualidades de estabilidade e controle. A Figura 5.11 mostra a medição do CG da aeronave da

equipe Taperá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo para a

competição de 2009.

Figura 5.11 – Medição do CG da aeronave da equipe Taperá.

Exemplo 5.1 – Determinação da posição do centro de gravidade.

Considere que uma aeronave destinada a participar do AeroDesign possui as

características de peso e distância de seus componentes em relação a uma linha de referência

situada no nariz da aeronave apresentada na tabela a seguir.


326

Componente Peso (N) Braço (m) Momento (Nm)

Motor, hélice 6,3765 0,1018 0,649

Trem do nariz,

4,414 0,22448 0,990

tanque de

combustível e servos

Asa e fuselagem 14,715 0,54562 8,028

Trem principal 2,943 0,5657 1,664

Boom e leme 1,962 1,07893 2,117

Profundor 2,943 1,42765 4,201

Total 33,3535 - 17,649

Com base nos dados da tabela, determine de forma aproximada a posição do centro de

gravidade desta aeronave em relação à linha de referência e também como porcentagem da

corda. Considere c = 0,37m.

Solução:

A posição do centro de gravidade para a aeronave vazia pode ser calculada com a

aplicação da Equação (5.1) apresentada a seguir.

x CG

=

W ⋅ d

W

A partir dos dados fornecidos na tabela, tem-se que:

x

CG

xCG

=

17,649

33,3535

= 0,529 m


327

Com relação a corda média aerodinâmica, a Equação (5.2) pode ser aplicada, e de

acordo com a figura mostrada a seguir é possível verificar posição do bordo de ataque da asa

em relação a linha de referência.

Portanto, tem-se que:

( xCG

− xw

)

CG% c

= ⋅100%

c

(0,5307 − 0,37318)

CG %

c

=

⋅100%

0,45

CG %

c

= 35% da cma

5.4 – Momentos em uma aeronave

Para se avaliar as qualidades de estabilidade de uma aeronave, o ponto fundamental é

a análise dos momentos atuantes ao redor do CG. Como forma de ilustrar esta situação, a

Figura 5.12 mostra a vista lateral de uma aeronave e as principais forças utilizadas para a

determinação dos critérios de estabilidade longitudinal estática.

Figura 5.12 – Forças e momentos atuantes em uma aeronave durante o vôo.


328

Através da Figura 5.12 é possível calcular o momento resultante ao redor do CG da

aeronave da seguinte forma:

m +

CG

= −T

⋅ d1 + L ⋅ d2

+ D ⋅ d3

− Lt

⋅ d4

mac

(5.3)

É importante observar na Equação (5.3) que conforme citado no Capítulo 2, momentos

no sentido horário são considerados negativos e momentos no sentido anti-horário são

considerados positivos. Nesta equação estão presentes os momentos provocados pelas forças

de sustentação e arrasto da asa, pela força de sustentação da superfície horizontal da

empenagem, pela tração do motor e pelo momento ao redor do centro aerodinâmico do perfil,

a força de arrasto da empenagem foi negligenciada, pois sua contribuição geralmente é muito

pequena devido ao seu baixo valor e ao seu pequeno braço de momento e o peso da aeronave

atua diretamente sobre o CG e, portanto, não provoca momento na aeronave.

Normalmente nos cálculos de estabilidade utilizam-se equações fundamentadas em

coeficientes adimensionais, e assim, é conveniente se trabalhar com o coeficiente de momento

ao redor do CG, e este pode ser obtido com a aplicação da Equação (5.4).

C

mCG

= mCG

q ⋅ S ⋅ c

(5.4)

onde, q representa a pressão dinâmica, S é a área da asa e c a corda média aerodinâmica.

É importante ressaltar que uma aeronave somente está em equilíbrio quando o

momento ao redor do CG for igual a zero, portanto, como será apresentado a seguir, um avião

somente estará trimado quando o coeficiente de momento ao redor do CG for nulo, assim:

m C = 0

(5.5)

CG

= mCG

5.5 – Estabilidade longitudinal estática

Para que uma aeronave possua estabilidade longitudinal estática é necessário a

existência de um momento restaurador que possui a tendência de trazer a mesma novamente

para sua posição de equilíbrio após qualquer perturbação sofrida.

Como forma de se ilustrar este critério, considere dois aviões e suas respectivas curvas

características do coeficiente de momento ao redor do CG em função do ângulo de ataque

como mostra a Figura 5.13.

Considere inicialmente que ambas aeronaves estão voando no ângulo de ataque de

trimagem representado pela posição B, ou seja, C mCG = 0. Supondo-se que repentinamente

essas aeronaves sejam deslocadas de sua posição de equilíbrio por uma rajada de vento que

aumenta o ângulo de ataque para a posição C (nariz para cima), o avião 1 apresentará um

momento negativo (sentido anti-horário) que tenderá a rotacionar o nariz da aeronave para

baixo, trazendo a mesma novamente para sua posição de equilíbrio, já o avião 2 apresentará

um momento positivo que (sentido horário) que tenderá a rotacionar o nariz da aeronave para

cima afastando-a cada vez mais da sua posição de equilíbrio.

Analogamente, se a perturbação provocada pela mesma rajada de vento reduzir o

ângulo de ataque para a posição A (nariz para baixo), o avião 1 apresentará um momento

positivo (sentido horário) que tenderá a rotacionar o nariz da aeronave para cima, trazendo-a

de volta a sua posição de equilíbrio e o avião 2 apresentará um momento negativo (sentido


329

anti-horário) tendendo a rotacionar o nariz da aeronave para baixo, afastando-a cada vez mais

da sua posição de equilíbrio.

Figura 5.13 – Coeficiente de momento ao redor do CG em função do ângulo de ataque.

Dessa forma, pode-se concluir a partir da análise da Figura 5.13 e das considerações

apresentadas que um dos critérios necessários para se garantir a estabilidade longitudinal

estática de uma aeronave é relacionado ao coeficiente angular da curva do coeficiente de

momento ao redor do CG em função do ângulo de ataque que obrigatoriamente deve ser

negativo, resultando, portanto em uma curva decrescente, assim.

dC

d

α

m

= Cmα

< 0

(5.6)

A Figura 5.14 mostra o processo para a determinação do coeficiente angular da curva

C m versus α para se garantir a estabilidade longitudinal estática de uma aeronave.

Figura 5.14 – Determinação do coeficiente angular da curva do coeficiente de momento ao

redor do CG em função do ângulo de ataque.


330

Pela análise da Figura 5.14, pode-se escrever que:

dC

d

α

m

= C

Cm2

=

α

2

− C

− α

m1

1

< 0

(5.7)

O outro critério importante para a caracterização da estabilidade longitudinal estática

está relacionado ao ângulo de trimagem, que necessariamente deve positivo, pois assim a

aeronave em estudo possuirá as qualidades estáveis do avião 1 representado na Figura 5.13, e,

portanto, pode-se concluir que o coeficiente de momento ao redor do CG para uma condição

de ângulo de ataque igual a zero C m0 deve ser positivo, dessa forma, uma condição de

estabilidade longitudinal estática somente será obtida quando os seguintes critérios forem

respeitados.

dC

d

α

m

= Cm

α

< 0

(5.8)

e

C > 0 m0

(5.9)

Na discussão apresentada, os requisitos necessários para se obter a estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave são fundamentados na curva de momento de arfagem

do avião completo, porém é importante a realização de uma análise independente de cada

componente da aeronave, pois assim é possível visualizar quais partes contribuem de maneira

positiva e quais contribuem de maneira negativa para a estabilidade da aeronave.

Geralmente os três componentes que são analisados para a obtenção dos critérios de

estabilidade longitudinal estática de uma aeronave são a asa, a fuselagem e a superfície

horizontal da empenagem.

5.5.1 – Contribuição da asa na estabilidade longitudinal estática

Para se avaliar a contribuição da asa na estabilidade longitudinal estática de uma

aeronave é necessário o cálculo dos momentos gerados ao redor do CG da aeronave devido às

forças de sustentação e arrasto além de se considerar o momento ao redor do centro

aerodinâmico da asa. A Figura 5.15 serve como referência para a realização deste cálculo e

neste ponto é importante citar que a mesma está representada em uma escala conveniente que

permite visualizar as forças e os braços de momento em relação ao CG.


331

Figura 5.15 – Contribuição da asa na estabilidade longitudinal estática.

Nesta figura é possível observar a presença do momento característico ao redor do

centro aerodinâmico M ac e as forças de sustentação L e arrasto D respectivamente

perpendicular e paralela à direção do vento relativo, dessa forma, os momentos atuantes ao

redor do centro de gravidade são obtidos do seguinte modo:

M

CGw

= M

ac

+ L ⋅ cosα

w

⋅ ( hCG

− hac

) + L ⋅ senα

w

⋅ Z

CG

+ D ⋅ senα

w

⋅ ( hCG

− hac

) − D ⋅ cosα

w

⋅ Z

(5.10)

CG

Como forma de simplificar a análise, as seguintes simplificações são válidas:

cos α

w

= 1

(5.11)

senα = α

(5.12)

w

w

L >> D

(5.13)

Essas aproximações são válidas, pois geralmente o ângulo α w é muito pequeno e a

força de sustentação é bem maior que a força de arrasto, e como para a maioria dos aviões a

posição Z CG do centro de gravidade possui um braço de momento muito pequeno, a Equação

(5.10) pode ser reescrita em sua forma simplificada desprezando-se a contribuição da força de

arrasto e do braço de momento Z CG do seguinte modo:

M

CGw

= M + L ⋅1⋅

( h − h ) + L ⋅α ⋅ Z + D ⋅α

⋅ ( h − h ) − D ⋅1⋅

Z (5.14)

ac

CG

ac

w

CG

w

CG

ac

CG

Que resulta em:

M

CGw

= M + L ⋅ h − h )

(5.15)

ac

(

CG ac

A Equação (5.15) pode ser reescrita na forma de coeficientes através da divisão de

todos os termos pela relação q ⋅ S ⋅ c , portanto:

q

M

CGw

⋅ S ⋅ c

M

ac

=

q ⋅ S ⋅ c

L ⋅ ( h

+

q

CG

− h

⋅ S ⋅ c

ac

)

(5.16)


332

Que resulta em:

⎛ hCG

hac

C = C + C ⋅ ⎜ − ⎟

(5.17)

MCGw Mac L

⎝ c c ⎠

A variação do coeficiente de sustentação em função do ângulo de ataque da asa é

calculada pela Equação (5.18) apresentada a seguir.

C

L

= C

0

+ a ⋅α

(5.18)

L

w

Onde C L0 representa o coeficiente de sustentação para ângulo de ataque nulo (α w = 0°)

e a representa o coeficiente angular da curva C L versus α da asa.

Substituindo a Equação (5.18) na Equação (5.17), tem-se que:

⎛ hCG

hac

C

MCGw

= C

Mac

+ ( C

L

+ a ⋅α

w

) ⋅ ⎜ − ⎟ (5.19)

0

⎝ c c ⎠

Aplicando-se as condições necessárias para se garantir a estabilidade longitudinal

estática é possível observar que o coeficiente de momento para uma condição de ângulo de

ataque α w = 0° é:

C

⎛ hCG

hac

= C + C ⋅ ⎜ − ⎟

(5.20)

0 w Mac L

⎝ c c ⎠

M 0

por:

E o coeficiente angular da curva de momentos gerados pela asa ao redor do CG é dado

dC

M

= C

Mαw

⎛ h

= a ⋅ ⎜

⎝ c

CG

h

c

ac

(5.21)

Analisando a Equação (5.21) é possível observar que para o coeficiente angular ser

negativo e, portanto, contribuir positivamente para a estabilidade longitudinal estática da

aeronave, é necessário que o centro de gravidade esteja localizado a frente do centro

aerodinâmico, porém, geralmente, em aeronaves convencionais não é isto que ocorre e,

portanto, a asa isolada se caracteriza por um componente desestabilizante na aeronave, e daí a

importância da presença da superfície horizontal da empenagem.

O exemplo apresentado a seguir mostra a aplicação dos critérios de estabilidade

longitudinal estática para a asa de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign.

Exemplo 5.2 – Contribuição da asa na estabilidade longitudinal estática de uma

aeronave.

Considere que asa da aeronave representada na figura a seguir utiliza o perfil Eppler

423 cujas curvas características c l x α e c m x α estão representadas nos gráficos mostrados.

Determine o coeficiente de momento para α w = 0°, o coeficiente angular da curva c m x

α e trace o gráfico do coeficiente de momento em função do ângulo de ataque dessa asa.


333

Realize comentários sobre os resultados obtidos na análise. Dados: AR = 6,70, e = 0,98,

c = 0,37 m, h CG = 0,1587m, h ac = 0,1225m.


334

Perfil Eppler 423 - cl x alfa - Re 380000

2,5

Perfil Eppler 423 - cm x alfa - Re 380000

0 ,3

Coeficiente de sustentação

2

1,5

1

0,5

0

0 5 10 15

Ângulo de ataque

coeficiente de momento

0 ,2

0 , 1

0

0 5 10 15

- 0 , 1

- 0 ,2

- 0 ,3

Ângulo de ataque

a

a

0

0

Solução:

O coeficiente angular da curva c l x α do perfil é dado por:

dcl

cl2

− cl1

= =

α − α

dcl

1,73 −1,50

= =

dα 7°

− 4°

2

1

a = 0,0766 /grau

0

Para a asa finita tem-se que:

a

a =

1 + (57,3 ⋅ a0

0

/ π ⋅ e ⋅ AR)

0,0766

a =

1 + (57,3 ⋅ 0,0766 / π ⋅ 0,98 ⋅ 6,7)

a = 0,0631grau -1

Assim, o valor de C L0 da asa finita pode ser obtido considerando um ângulo de ataque para

sustentação nula de aproximadamente -10° para o perfil Eppler 423, da seguinte forma:

C

L

C

L

a ⋅ ( α − α

0

)

=

L=

= 0,0631⋅

(0 − ( −10))


335

C

L

= 0,631

O valor do coeficiente de momento ao redor do centro aerodinâmico para α w = 0° e obtido

diretamente da leitura do gráfico c m x α e corresponde a -0,24.

Pela aplicação da Equação (5.20) obtém-se o valor de C M0w do seguinte modo:

C

= C

+ C

M 0 w Mac L0

⎛ h

⋅ ⎜

⎝ c

CG

h

c

ac

C

M 0w

⎛ 0,1587 0,1225 ⎞

= −0,24

+ 0,631⋅⎜

− ⎟

⎝ 0,37 0,37 ⎠

C

M 0w

= −0,178

E o coeficiente angular da curva de momentos gerados pela asa ao redor do CG é obtido com

a aplicação da Equação (5.21) da seguinte forma:

dC

M

= C

Mαw

⎛ h

= a ⋅ ⎜

⎝ c

CG

h

c

ac

dC

M

dC

M

= C

Mαw

= C

Mαw

⎛ 0,1587 0,1225 ⎞

= 0,0631⋅

⎜ − ⎟

⎝ 0,37 0,37 ⎠

= 0,00617 /grau

Portanto, a equação que define a variação do coeficiente de momento em função do ângulo de

ataque é:

CmCGw

0

= C + ⋅α

m w

Cm

αw

C

mCGw

= −0,178

+ 0, 00617 ⋅α


336

A tabela de pontos e o gráfico resultante da análise são mostrados a seguir:

C mCGw

α (graus)

0 -0,178

1 -0,17183

2 -0,16566

3 -0,15949

4 -0,15332

5 -0,14715

6 -0,14098

7 -0,13481

8 -0,12864

9 -0,12247

10 -0,1163

Contribuição da asa na estabilidade longitudinal estática

0,2

0,15

Coeficiente de momento

0,1

0,05

0

-0,05

-0,1

-0,15

-0,2

0 2 4 6 8 10 12

ângulo de ataque (graus)

Como citado anteriormente é possível observar que a asa isoladamente possui um

efeito desestabilizante na aeronave, pois nenhum dos dois critérios necessários são atendidos,

ou seja, o primeiro ponto da curva é negativo e o coeficiente angular é positivo contribuindo

de maneira negativa para a estabilidade da aeronave.

Dessa forma, se faz necessário a adição da superfície horizontal da empenagem para

garantir a estabilidade da aeronave. Na próxima seção será apresentada e desenvolvida a

formulação matemática para se avaliar a contribuição da empenagem na estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave.


5.5.2 – Contribuição da superfície horizontal da empenagem na estabilidade longitudinal

estática

De maneira análoga ao estudo realizado para a determinação da contribuição da asa

para a estabilidade longitudinal estática de uma aeronave, será apresentado nesta seção o

modelo analítico para a determinação da contribuição da superfície horizontal da empenagem

nos critérios de estabilidade longitudinal estática. Em uma situação real é obvio que tanto a

asa quanto a superfície horizontal da empenagem estão acopladas à fuselagem e ao avião

como um todo, porém didaticamente torna-se mais simples a realização de uma análise

isolada de cada componente e posteriormente uma análise completa da aeronave através da

adição de cada uma das contribuições estudadas, assim, nesta seção apenas será abordado a

contribuição isolada da superfície horizontal da empenagem e na seção 5.5.4 do presente

capítulo será abordado o critério para a obtenção da estabilidade longitudinal estática de uma

aeronave completa.

Para aeronaves que participam da competição AeroDesign, a configuração

convencional com a empenagem localizada na cauda do avião se mostra muito mais eficiente

que a configuração canard (dados históricos dos resultados de competições já realizadas),

dessa forma, apenas será tratado no escopo deste livro a configuração convencional, ou seja,

com a empenagem localizada na cauda da aeronave atrás da asa e do centro de gravidade da

aeronave.

Como a superfície horizontal da empenagem está montada na aeronave em uma

posição atrás da asa, é importante se observar alguns critérios importantes para se garantir o

controle da aeronave, pois nessa condição de montagem, a empenagem está sujeita a dois

principais efeitos de interferência que afetam diretamente a aerodinâmica da mesma. Esses

efeitos são:

a) Devido ao escoamento induzido na asa, o vento relativo que atua na superfície

horizontal da empenagem não possui a mesma direção do vento relativo que atua na asa.

b) Devido ao atrito de superfície e ao arrasto de pressão atuantes sobre a asa, o

escoamento que atinge a empenagem possui uma velocidade menor que o escoamento que

atua sobre a asa e, portanto, a pressão dinâmica na empenagem é menor que a pressão

dinâmica atuante na asa.

Uma forma de se minimizar esses efeitos é posicionar a empenagem fora da região da

esteira de vórtices da asa, isso pode ser feito através de um ensaio simples e qualitativo em

um túnel de vento com um modelo em escala da aeronave em projeto. Geralmente com a

empenagem localizada em um ângulo compreendido entre 7° e 10° acima do bordo de fuga da

asa praticamente não existe influência da esteira de vórtices sobre a empenagem para uma

condição de vôo reto e nivelado.

Neste ponto é importante citar que mesmo com esse posicionamento da empenagem,

em uma condição de elevado ângulo de ataque a esteira de vórtices gerada pela asa atingirá a

empenagem em uma condição de escoamento turbulento pois a aeronave geralmente está em

uma condição próxima do estol. A Figura 5.16 mostra um ensaio qualitativo realizado em

túnel de vento com um modelo em escala e pode-se observar que em uma condição de vôo

reto e nivelado a esteira de vórtices passa abaixo da empenagem permitindo um escoamento

livre nas superfícies de comando contribuindo de maneira significativa para a controlabilidade

e estabilidade da aeronave minimizando os efeitos de interferência citados no inicio dessa

seção.

337


338

Figura 5.16 – Influência da esteira de vórtices na empenagem em uma condição de vôo reto e

nivelado – ensaio qualitativo realizado em túnel de vento com um modelo em escala 1:3 da

aeronave real.

Já para uma condição de elevado ângulo de ataque, é possível observar na Figura 5.17

que a esteira turbulenta interfere sobre a empenagem reduzindo a controlabilidade e a

estabilidade da aeronave.

Figura 5.17 – Influência da esteira de vórtices na empenagem em uma condição de vôo com

elevado ângulo de ataque – ensaio qualitativo realizado em túnel de vento com um modelo em

escala 1:3 da aeronave real.

Em função das considerações apresentadas, a contribuição da superfície horizontal da

empenagem deve ser calculada de maneira precisa para se garantir o correto balanceamento

da aeronave durante o vôo, o cálculo pode ser realizado através da determinação dos

momentos gerados ao redor do centro de gravidade da aeronave e um modelo matemático


339

para esta análise pode ser obtido a partir do diagrama de corpo livre da aeronave mostrado na

Figura 5.18.

Figura 5.18 – Contribuição da empenagem horizontal na estabilidade longitudinal

estática.

Através do estudo detalhado da Figura 5.18, é possível observar que a soma dos

momentos da superfície horizontal da empenagem em relação ao CG da aeronave pode ser

escrito matematicamente da seguinte forma:

M

+ z

CGt

t

= M

⋅ D

t

act

⋅ cos

− lt

⋅ [ Lt

⋅ cos( α

wb

− ε ) + Dt

⋅ sen( α

wb

− ε )] − zt

⋅ Lt

⋅ sen( α

wb

− ε )

( α − ε )

wb

(5.22)

Pela análise da Equação (5.22) é possível verificar que o termo lt ⋅ L t

⋅ cos( α

wb

− ε ) é

o que possui a maior intensidade e, portanto, representa o elemento predominante nesta

equação e assim, algumas hipóteses simplificadoras podem ser realizadas para facilitar a

solução desta equação. As hipóteses de simplificação são as seguintes:

a) O braço de momento z t é muito menor que o braço de momento L t , portanto z t pode

ser considerado praticamente nulo durante a realização do cálculo.

b) A força de arrasto D t da superfície horizontal da empenagem é muito menor que a

força de sustentação L t , portanto também pode ser considerada nula durante a realização do

cálculo.

c) O ângulo ( α

wb

− ε ) geralmente é muito pequeno, portanto são válidas as seguintes

aproximações: sen ( α wb

− ε ) ≈ 0 e cos( α wb

− ε ) ≈1.

d) O momento ao redor do centro aerodinâmico do perfil da empenagem M act

geralmente tem um valor muito pequeno e também pode ser considerado nulo durante a

realização do cálculo.

A partir das considerações apresentadas, a Equação (5.22) pode ser reescrita da

seguinte forma:

[ L ⋅1

+ D ⋅ 0] − z ⋅ L ⋅ 0 + z ⋅ D 1

M 0 − l ⋅

(5.22a)

CGt

=

t t

t

t t t t

M

CGt

= −l

⋅ L + z ⋅ D

(5.22b)

t

t

t

t


340

Como D t <<< L t e z t <<< l t o primeiro termo do lado direito da Equação (5.22b) é

predominante, e assim pode-se escrever que:

M

CGt

= −l

⋅ L

(5.23)

t

t t

Assim, percebe-se que a contribuição da superfície horizontal da empenagem com

relação ao momento de equilíbrio ao redor do CG da aeronave é uma função simplificada

dependente apenas do comprimento l t e da força de sustentação L t gerada na empenagem

horizontal.

Na forma de coeficientes adimensionais, a Equação (5.23) pode ser reescrita em

função do coeficiente de momento da superfície horizontal da empenagem ao redor do CG da

aeronave e do coeficiente de sustentação C Lt gerado na empenagem.

O coeficiente de sustentação na empenagem horizontal C Lt é obtido a partir da equação

geral da força de sustentação do seguinte modo:

L

t

1

= ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ S

t

⋅ C

Lt

(5.24)

2

Na forma de coeficiente de sustentação, a Equação (5.24) é reescrita a seguir.

C

Lt

Lt

=

q ⋅ S

t

(5.25)

Nesta equação é importante lembrar que q ∞ representa a pressão dinâmica atuante

1 2

dada pela relação q∞ = ⋅ ρ ⋅ v .

2

Substituindo a Equação (5.24) na Equação (5.23), tem-se que:

M

CGt

1 ρ ⋅ S

t

⋅C

Lt

(5.26)

2

2

= −lt

⋅ ⋅ ⋅vt

⋅ S

t

⋅C

Lt

= −lt

⋅ q∞t

Adimensionalizando-se o momento ao redor do CG através das condições de

escoamento na asa, tem-se que:

q

∞w

M

CGt

⋅ S

w

⋅ c

− lt

⋅ q

=

q

∞w

∞t

⋅ S

⋅ S

w

t

⋅ C

⋅ c

Lt

(5.27)

Que resulta em:

− lt

⋅ St

C

MCGt

= ⋅ CLt

⋅η

(5.28)

S ⋅ c

w

Na Equação (5.28) é importante notar a presença da variável η chamada de eficiência

de cauda que é oriunda da relação entre a pressão dinâmica da asa e a pressão dinâmica

atuante na superfície da empenagem, que como foi comentado no inicio dessa seção


341

representa o efeito provocado pela condição de interferência da esteira de vórtices da asa

sobre a empenagem onde a pressão dinâmica atuante na empenagem é menor que a pressão

dinâmica da asa devido a redução de velocidade no escoamento que atinge a empenagem.

Segundo Nelson [5.4], geralmente a eficiência de cauda corresponde a um valor

compreendido entre 80% e 95% dependendo da localização da empenagem em relação a asa,

portanto:

1

2

q ⋅ ρ ⋅ v

∞t

2

t

η = =

(5.29)

1

2

q∞w

⋅ ρ ⋅ v

2

w

Também é importante observar que o termo presente no lado direito da Equação

(5.28), a relação − lt

⋅ St

representa um volume característico da dimensão e da posição da

cauda e o termo c ⋅ S

w

representa um volume característico da dimensão da asa. A razão entre

esses dois volumes representa o conceito de volume de cauda horizontal estudado para o

dimensionamento aerodinâmico da empenagem no capítulo 2, portanto:

V

H

− lt

⋅ St

= (5.30)

S ⋅ c

w

Desse modo, a Equação (5.28) pode ser reescrita da seguinte forma:

C −V

⋅ C ⋅η

(5.31)

MCGt

=

H Lt

Portanto, percebe-se que a contribuição da superfície horizontal da empenagem com

relação ao CG da aeronave para se garantir a estabilidade longitudinal estática depende

diretamente do volume de cauda adotado e do coeficiente de sustentação gerado no

estabilizador horizontal.

Como os critérios de estabilidade são calculados e representados em um gráfico do

coeficiente de momento ao redor do CG em função do ângulo de ataque, é conveniente que a

Equação (5.31) seja expressa em termos do ângulo de ataque, pois assim se torna mais

simples para se realizar uma análise de estabilidade em diferentes ângulos de ataque da

aeronave e facilita a obtenção do coeficiente angular da curva permitindo um traçado rápido

do gráfico C MCGt x α.

Para se quantificar a Equação (5.31) em função do ângulo de ataque, é essencial o

estudo da Figura 5.18, na qual pode-se observar que:

α = α − i − ε + i

(5.32)

t

w

w

t

O coeficiente de sustentação do estabilizador horizontal pode ser escrito de acordo

com a teoria estudada no capítulo de aerodinâmica da seguinte forma:

C

Lt

dC

Lt

Lt

= ⋅α

t

= at

⋅α

t

(5.33)

t

( − i − i )

C = a ⋅ α ε +

(5.33a)

w

w

i


342

Por questões de nomenclatura, o coeficiente angular a t será representado na

simbologia das equações subseqüentes por C Lαt , portanto:

a

= (5.34)

t

C L αt

O ângulo provocado pelo escoamento induzido ε é muito complicado de ser

determinado analiticamente e normalmente é determinado em experimentos, segundo

Anderson [5.1], uma expressão que permite a determinação de ε pode ser escrita do seguinte

modo:

ε = ε 0

+ ⋅α

w

(5.35)

O ângulo de ataque induzido ε e seu correspondente ε 0 para uma condição de ângulo

de ataque zero pode ser calculado a partir da teoria da asa finita para uma distribuição elíptica

de sustentação pela aplicação das Equações (5.36) e (5.37):

57,3 ⋅ 2 ⋅ C

ε =

π ⋅ AR

w

Lw

(5.36)

ε

0

57,3 ⋅ 2 ⋅ C

=

π ⋅ AR

w

L0

(5.37)

A relação de mudança do ângulo de ataque induzido em função do ângulo de ataque

d ε é determinada a partir da derivada da Equação (5.36), portanto:

dC

57,3 ⋅ 2 ⋅

=

π ⋅ AR

Lw

w

57,3 ⋅ 2 ⋅ C

=

π ⋅ AR

w

Lαw

(5.38)

que:

Assim, substituindo-se as Equações (5.34), (5.35) e (5.38) na Equação (5.33a) tem-se

C

Lt

⎛ dε

⎞⎤

C

αt

⋅ ⎢α

w

− iw

+ ii

− ⎜ε

0

+ ⋅α

⎟⎥

(5.39)

⎝ dα

⎠⎦

=

L

w

C

Lt

= CLα

t

⋅α

w

− C

Lαt

⋅ iw

+ CLα

t

⋅ ii

− C

Lαt

⋅ ε

0

− C

Lαt

⋅ ⋅α

w

(5.39a)

Que resulta em:

⎛ dε

C

Lt = C

Lα t ⋅ α

w ⋅ ⎜1 − ⎟ − CLα

t

⋅ ( iw

− ii

+ ε 0

)

(5.39b)

⎝ dα


343

Substituindo a Equação (5.39b) na equação (5.31) tem-se:

⎡ ⎛ dε

C

MCGt = − VH

⋅ η ⋅ ⎢CLαt

⋅ α

w ⋅ ⎜1 − ⎟ − CL

αt

⋅ ( iw

− ii

+ ε

0

) ⎥⎦ (5.40)

⎣ ⎝ dα

Aplicando-se a propriedade distributiva, a Equação (5.40) pode ser reescrita do

seguinte modo:

⎛ dε

C

MCGt = − VH

⋅ η ⋅ CL

α t ⋅ α

w ⋅ ⎜1 − ⎟ + VH

⋅η

⋅ CL

αt

⋅ ( iw

− ii

+ ε 0

) (5.40a)

⎝ dα

A Equação (5.40a) pode ser expressa em termos de uma equação linear que permite a

determinação do coeficiente de momento ao redor do CG da aeronave em função do ângulo

de ataque do seguinte modo:

C = + ⋅α

MCGt

CM

0 t

CM

αt

(5.41)

Comparando-se a Equação (5.40a) com a Equação (5.41), é possível observar que:

e

( i −i

)

C η

α

+

(5.42)

M 0t

= VH

⋅ ⋅CL

t

w i

ε 0

⎛ dε

CM αt

= − VH

⋅ η ⋅ CL

αt

⋅ ⎜1 − ⎟

(5.43)

⎝ dα

A adição da empenagem na aeronave contribui significativamente para a obtenção de

um coeficiente de momento C M0 resultante da aeronave positivo, esta condição pode ser

obtida através do ajuste do ângulo de incidência do estabilizador horizontal i t . Para o caso de

uma asa que possui arqueamento positivo em seu perfil aerodinâmico, a contribuição do C M0 é

negativa como foi apresentado no Exemplo 5.2, e, assim, é muito importante observar que

quando o estabilizador é montado com um ângulo negativo em relação a linha de referência

da fuselagem, este contribui de maneira positiva para a obtenção de um C M0 positivo para a

aeronave e um C Mα negativo o que garante a estabilidade longitudinal estática.

Dessa forma, percebe-se que a contribuição do estabilizador horizontal para se obter

uma condição de estabilidade longitudinal estática pode ser controlada pela correta seleção do

volume de cauda V H e do coeficiente angular C Lαt . O coeficiente angular da curva de

momento será cada vez mais negativo se forem aumentados os valores do braço de momento

l t , da área do estabilizador horizontal S t e do coeficiente angular C Lαt da curva C L x α do

estabilizador horizontal, portanto, o projetista pode ajustar qualquer um desses fatores como

forma de se atingir a condição de estabilidade desejada.


344

Exemplo 5.3 – Contribuição da superfície horizontal da empenagem na estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave.

Para a aeronave do Exemplo 5.2, considere a adição do estabilizador horizontal,

determine a equação de contribuição para estabilidade longitudinal estática e trace o gráfico

mostrando a influência que o estabilizador horizontal possui em relação a sua contribuição na

curva do coeficiente de momento ao redor do CG da aeronave em função do ângulo de ataque.

Considere: S w = 0,92m², S t = 0,169m², i w = 5º, i t = 0º, η = 0,95, V H = 0,45, C L0 = 0,62,

C Lαw = 0,0631 (Exemplo 5.2) AR w = 6,7, A Rt = 3,15 e a curva do coeficiente de sustentação em

função do ângulo de ataque do perfil Eppler 169 utilizado no estabilizador horizontal

representada na figura a seguir.

Solução:

O coeficiente angular da curva c l x α do perfil Eppler 169 utilizado no estabilizador

horizontal é dado por:

dcl

cl2

− cl1

a

0

= =

α − α

2

1

a

0

dcl

0,6 − 0,2

= =

dα 5°

− 2°

a = 0,133 /grau

0

Corrigindo para as dimensões finitas do estabilizador tem-se que:

a

a =

1 + (57,3 ⋅ a0

0

/ π ⋅ e ⋅ AR)

0,133

a =

1 + (57,3 ⋅ 0,133 / π ⋅1⋅

3,15)

a = 0,0751grau -1


345

a = C L α t

= 0,0751 grau -1

A equação para a estabilidade longitudinal estática devido a contribuição do estabilizador

horizontal pode ser determinada a partir do cálculo das Equações (5.42) e (5.43) que definem

os valores de C M0t e C Mαt .

Com a aplicação da Equação (5.42) tem-se que:

C

V

C

( i − i )

M 0t

=

H

⋅η ⋅

Lα t

w i

+ ε 0

O valor de ε0 é calculado pela Equação (5.37) da seguinte forma:

ε

ε

0

0

57,3 ⋅ 2 ⋅ C

=

π ⋅ AR

w

L0

57,3⋅

2⋅0,62

=

π ⋅6,70

ε = 3,37º

0

Portanto:

C

M

( 5º −0º

3,37º )

0

= 0,45 ⋅ 0,95 ⋅ 0,0751⋅

+

t

C

M 0 t

= 0,268

Com a aplicação da Equação (5.43) tem-se que:

C

⎛ dε

= − VH

⋅ η ⋅ CL

αt

⋅ ⎜ − ⎟

⎝ dα

Mαt

1

com o valor de

dε determinado pela aplicação da Equação (5.38)

dC

57,3 ⋅ 2 ⋅

=

π ⋅ AR

Lw

57,3 ⋅ 2 ⋅ 0,0631

=

π ⋅ 6,70

w

57,3 ⋅ 2 ⋅ C

=

π ⋅ AR

w

Lαw

= 0,343


346

Portanto:

CM

α t

CM

α t

= −0,45

⋅ 0,95 ⋅ 0,0751⋅

= −0,0211

( 1 0,343)

Assim, a equação de estabilidade longitudinal estática do estabilizador horizontal pode ser

escrita da seguinte forma:

CMCGt

0

= CM

t

+ CM

αt

⋅α

C

MCGt

= 0,268 − 0, 0211⋅α

A tabela de pontos e o gráfico resultante da análise são mostrados a seguir:

C mCGw

α (graus)

0 0,268

1 0,2469

2 0,2258

3 0,2047

4 0,1836

5 0,1625

6 0,1414

7 0,1203

8 0,0992

9 0,0781

10 0,057

Contribuição do estabilizador horizontal na estabilidade

longitudinal estática

0,3

Coeficiente de momento

0,2

0,1

0

0 2 4 6 8 10 12

-0,1

-0,2

Ângulo de ataque (graus)

Através da análise realizada é possível verificar que o estabilizador horizontal possui

contribuição positiva para se garantir a estabilidade longitudinal estática de uma aeronave,


347

pois nos resultados obtidos tem-se C

M 0 t

= 0, 268 e CM

α t

= −0, 0211, ou seja, os dois critérios

necessários são atingidos.

5.5.3 – Contribuição da fuselagem na estabilidade longitudinal estática

Até o presente foram apresentadas as contribuições isoladas da asa e da empenagem

nos critérios necessários para a obtenção da estabilidade lobgitudinal estática de uma

aeronave, porém, além desses dois componentes, a fuselagem também possui sua influência

na estabilidade de um avião.

A função principal da fuselagem em uma aeronave que participa da competição

AeroDesign é possuir as mínimas dimensões exigidas pelo regulamento da competição com a

capacidade de armazenar a carga útil e os componentes eletrônicos embarcados na aeronave.

É muito importante que se projete uma fuselagem para uma aeronave destinada a

participar da competição AeroDesign com as menores dimensões possíveis, pois desse modo

é possível se reduzir o arrasto parasita do avião e também o peso estrutural. A partir da teoria

aerodinâmica, o melhor modelo para uma fuselagem é aquele no qual o comprimento é maior

que a largura ou altura.

Munk, realizou estudos considerando um escoamento de fluido ideal e a partir da

equação da quantidade de movimento e considerações de energia verificou que a variação do

coeficiente de momento em função do ângulo de ataque para corpos compridos com seção

transversal circular (modelos de fuselagem empregados na indústria aeronáutica) é

proporcional ao volume do corpo e à pressão dinâmica atuante.

Um estudo mais avançado foi realizado por Multhopp, no qual o referido autor

estendeu a análise realizada por Munk e avaliou a influência do escoamento induzido ao

longo da fuselagem na presença da asa com diversos modelos de seção transversal. Um

resumo das equações utilizadas e dos resultados obtidos por Multhopp são apresentados a

seguir para a determinação dos valores de CM

0 f e CM

α f .

Para a determinação do coeficiente de momento da fuselagem na condição de ângulo

de ataque nulo pode-se utilizar a Equação (5.44) apresentada a seguir.

C

M 0 f

( k − k )

l

2 1

f 2

= ⋅ w

f

⋅ (

w

+ i

f

)dx

⋅ S ⋅ c

∫ α

0

(5.44)

36,5

0

w

A qual pode ser aproximada pela somatória apresentada a seguir.

C

M 0 f

( k − k )

2

=

36,5 ⋅ S

w

1

⋅ c

x

∑ = l f

x=

0

w

2

f

( + i )

⋅ α ⋅ ∆x

(5.45)

0w

f

Na Equação (5.45), a relação (k 2 – k 1 ) representa fatores de correção que estão

relacionados com a forma da fuselagem e dependem da razão entre o comprimento l f e a

máxima largura d máx da fuselagem, S w é a área da asa, c a corda média aerodinâmica da asa,

w f a largura média da fuselagem em cada seção analisada, α 0w representa o ângulo para

sustentação nula da asa em relação à linha de referência da fuselagem, i f é o ângulo de

incidência da fuselagem em relação à uma linha de referência no centro de cada seção

avaliada e ∆x é o incremento de comprimento que define cada seção avaliada ao longo da

fuselagem.


348

Os valores para a relação (k 2 – k 1 ) são mostrados na Figura 5.19 apresentada na obra

de Nelson [5.4].

Figura 5.19 – Determinação da relação (k 2 – k 1 ) em função da relação l d .

Para a determinação do coeficiente angular da curva de momentos ao redor do CG em

função do ângulo de ataque da fuselagem C Mαf , o método utilizado por Multhopp sugere que:

f

máx

C

Mαf

= 1

l f ⎛ ∂

u ⎞

⋅ w

f

⋅ ⎜ ⎟dx

⋅ S ⋅ c

∫ 2 ε

36,5

0

⎝ ∂ α ⎠

w

(5.46)

A qual pode ser aproximada pela seguinte somatória.

1

2 ∂ε

u

CM

α f

=

⋅ w

f

⋅ ⋅ ∆x

(5.47)

36,5 ⋅ S ⋅ c ∂α

w

x

∑ = l f

x=

0

A relação

∂ε

u

presente na Equação (5.47) representa a variação do ângulo do

∂α

escoamento local em função do ângulo de ataque, essa relação varia ao longo da fuselagem e

segundo Nelson [5.4], pode ser estimada de acordo com as curvas apresentadas na Figura

5.20.

∂ε

Figura 5.20 – Determinação da relação u

.

∂α


349

A aplicação das Equações (5.45) e (5.47) são mais simples de serem compreendidas a

partir da análise da Figura 5.21 que mostra como a fuselagem de uma aeronave pode ser

dividida em vários segmentos para a avaliação de sua contribuição na estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave.

Figura 5.21 – Representação dos segmentos da fuselagem para a determinação de C M0f e C Mαf .

Na análise da Figura 5.21, para os segmentos de 1 até 3 que antecedem a asa, a relação

∂ε

u

∂ε

é estimada pela Figura 5.20a, para o segmento 4 a relação u

é estimada pela

∂α

∂α

Figura 5.20b, para a região localizada entre o bordo de ataque e o bordo de fuga da asa

assume-se que não existe influência do escoamento gerado pela asa e portanto

∂ε u

= 0 e

∂α

∂ε

para os segmentos de 5 até 13 a relação u

é estimada pela Equação (5.48) apresentada a

∂α

seguir.

∂ε

u

x

=

∂α

l

i

h

⎛ ∂ε

⋅ ⎜1

− ⎟

⎝ ∂α

(5.48)

Como forma de compreender a aplicação das equações propostas nesta seção e

determinar os coeficientes C M0f e C Mαf , a seguir é apresentado um exemplo de cálculo para

uma aeronave destinada a participar da competição AeroDesign.

5.5.4 – Estabilidade longitudinal estática da aeronave completa

Nas seções anteriores, estudou-se a contribuição de cada elemento da aeronave

isoladamente (asa, estabilizador horizontal e fuselagem), porém para se avaliar os critérios de

estabilidade longitudinal estática deve-se realizar uma análise da aeronave como um todo.

Como forma de se determinar os critérios que garantem a estabilidade longitudinal

estática de uma aeronave, é importante que o estudante tenha em mente a equação

fundamental do momento de arfagem ao redor do CG da aeronave reescrita a seguir.

C

MCGa

= C + C ⋅

0

α

(5.49)

M

a

Mαa

a


350

O subscrito a utilizado na Equação (5.49) representa uma análise realizada para a

aeronave completa, neste ponto entende-se por aeronave completa a junção da asa e da

empenagem na fuselagem, e, dessa forma, o cálculo da contribuição total para a estabilidade

longitudinal estática pode ser realizado a partir da soma das contribuições de cada elemento

isoladamente, assim, a Equação (5.49) pode ser desmembrada e o cálculo de C M0a e C Mαa

podem ser determinados da seguinte forma:

e

CM

0 a

CM

0w

+ CM

0 f

+ CM

0t

= (5.50)

C

= C C C

(5.51)

Mα a Mαw

+

Mαf

+

Mαt

Desse modo, uma vez conhecidos os valores de C M0 e C Mα para cada um dos

componentes isolados da aeronave cujas equações estão apresentadas nas seções 5.5.1, 5.5.2 e

5.5.3 do presente capítulo, torna-se imediato o cálculo e a determinação da curva do

coeficiente de momento ao redor do CG da aeronave em função do ângulo de ataque para a

aeronave completa.

O resumo das equações que permitem a determinação da contribuição de cada um dos

componentes de uma aeronave para a determinação dos critérios de estabilidade longitudinal

estática está apresentado a seguir:

a) Asa

C

( h − h )

M 0 w

= C

Macw

+ C

L0w

CG ac

(5.52)

e

C

M w

= C

Lαw

( h − h )

α

(5.53)

CG

ac

Nas Equações (5.52) e (5.53) é importante citar que as variáveis hCG

e h

ac

foram

utilizadas para simplificar a notação usada nas Equações (5.20) e (5.21), portanto, considere

que:

e

b) Estabilizador horizontal

h

h = CG

CG

c

(5.54)

h

h = ac

ac

c

(5.55)

( i − i )

C (5.56)

M 0t

= VH

⋅η ⋅ C

Lα t

w t

+ ε 0


351

e

⎛ dε

CM αt

= − VH

⋅ η ⋅ C

Lαt

⋅ ⎜1 − ⎟

(5.57)

⎝ dα

c) Fuselagem

C

M 0 f

( k − k )

2

=

36,5⋅

S

w

⋅c

1

x

∑ = l f

x=

0

w

2

f

( + i )

⋅ α ⋅∆x

(5.58)

0w

f

e

1

2 ∂ε

u

CM

α f

=

⋅ w

f

⋅ ⋅ ∆x

(5.59)

36,5 ⋅ S ⋅ c ∂α

w

x

∑ = l f

x=

0

A partir da aplicação da Equação (5.49), é possível construir o gráfico que mostra a

variação do coeficiente de momento para a aeronave completa em função do ângulo de

ataque, um modelo deste gráfico está apresentado na Figura 5.22 e é similar ao gráfico da

Figura 5.13.

Figura 5.22 – Análise da estabilidade longitudinal estática de uma aeronave completa.

A análise da Figura 5.22 permite comentar que o ângulo de ataque necessário para a

trimagem da aeronave α trim , representa o ângulo necessário para se manter a aeronave em

condições de equilíbrio estático ( ∑ M

CG

= 0)

quando livre de qualquer perturbação, quer seja

externa ou então por movimentação de comando.


352

A determinação do ângulo de trimagem está diretamente envolvida com o controle da

aeronave e por ser algo de extrema importância para o vôo estável de uma aeronave esse

conceito será discutido em maiores detalhes na seção destinada ao controle longitudinal da

aeronave.

A partir dos conceitos apresentados, as equações completas para o cálculo de C M0a e

C Mαa podem ser escritas do seguinte modo:

C

M 0a

= C

( k − k )

2

+

36,5 ⋅ S

Macw

w

⋅ c

1

+ C

x

∑ = l f

x=

0

L0w

w

2

f

( h − h ) + V ⋅η

⋅ C ⋅ ( i − i + ε )

CG

( α + i )

0w

ac

f

H

⋅ ∆x

Lαt

w

t

0

(5.60)

e

C

M

x

( ) ∑ = l

⎛ dε

⎞ 1

hCG

− hac

− VH

⋅ η ⋅ C

Lαt

⋅ ⎜1

− ⎟ +

36,5 ⋅ S ⋅ c =

f

2 ∂ε

= ⋅

u

α a

C

Lαw

w

f

⋅ ⋅ ∆x

(5.61)

⎝ ⎠

x 0 ∂α

A seguir é apresentado um exemplo de cálculo para o traçado da curva do coeficiente

de momento ao redor do CG da aeronave em função do ângulo de ataque além da

determinação do ângulo de trimagem da aeronave.

w

5.5.5 – Ponto neutro e margem estática

Ponto neutro: O ponto neutro de uma aeronave pode ser definido como a localização

mais posterior do CG com a qual a superfície horizontal da empenagem ainda consegue

exercer controle sobre a aeronave e garantir a estabilidade longitudinal estática, ou seja,

representa a condição para a qual a aeronave possui estabilidade longitudinal estática neutra.

Com o CG da aeronave localizado no ponto neutro, o coeficiente angular da curva

C MCG x α é igual a zero, ou seja, C Mα =0, e como visto nos critérios de estabilidade, uma

aeronave somente possui estabilidade longitudinal estática quando C Mα <0, portanto, o ponto

neutro define a condição mais critica para a garantia da estabilidade longitudinal estática de

uma aeronave.

O conceito do ponto neutro pode ser utilizado como um processo alternativo para se

verificar a estabilidade longitudinal estática de uma aeronave, pois de acordo com a posição

do CG em relação à posição do ponto neutro, o coeficiente angular da curva C MCG x α pode

ser negativo, nulo ou positivo como pode ser observado na Figura 5.23.


353

Figura 5.23 – Representação do coeficiente angular para o ponto neutro.

Tanto a medida da posição do CG ( h CG

) quanto do ponto neutro ( h

PN

) são

referenciadas como porcentagem da corda média aerodinâmica e medidas a partir do bordo de

ataque da asa, dessa forma, a condição de coeficiente angular negativo para a curva C MCG x α

somente será obtido quando h

CG

< hPN

, ou seja, uma aeronave possuirá estabilidade

longitudinal estática enquanto o centro de gravidade estiver localizado antes da posição do

ponto neutro. As notações h

CG

e h

PN

são utilizadas para indicar a posição em relação à corda

média aerodinâmica, assim, considere a partir desse ponto da análise que:

e

h

h = CG

CG

c

(5.62)

h

h = PN

PN

c

(5.63)

A Figura 5.24 mostra as posições do CG e do ponto neutro de uma aeronave

necessárias para se garantir a estabilidade longitudinal estática.


354

Figura 5.24 – Localização do CG e do ponto neutro de uma aeronave.

Matematicamente a posição do ponto neutro pode ser obtida fazendo-se C Mαa = 0 na

Equação (5.61), e assim, tem-se que:

⎛ dε

( h − h ) + C − V ⋅ η ⋅ C ⋅ ⎜ − ⎟

0 = C

Lαw

CG ac Mαf

H Lαt

1

(5.64)

⎝ dα

Nesta equação é possível observar que a posição do ponto neutro depende da posição

do centro de gravidade e das características aerodinâmicas da aeronave, dessa forma,

considerando que o centro de gravidade está exatamente sobre o ponto neutro h

CG

= hPN

, a

Equação (5.64) pode ser solucionada de acordo com a dedução apresentada a seguir.

⎛ dε

0 = hCG ⋅ C

Lαw

− hac

⋅ C

Lαw

+ C

Mαf

− VH

⋅ η ⋅ C

Lαt

⋅ ⎜1

− ⎟ (5.64a)

⎝ dα

Como

h = h , tem-se que:

CG

PN

Que resulta em:

⎛ dε

− hPN ⋅ C

Lαw

= − hac

⋅ C

Lαw

+ C

Mαf

− VH

⋅ η ⋅ C

Lαt

⋅ ⎜1 − ⎟

(5.64b)

⎝ dα

− h ⋅ C

ac

CLαw

Mαf

VH

⋅η

⋅ C

Lαt

⎛ dε

hPN =

+ −

⋅ ⎜1 − ⎟

(5.64c)

− C − C − C ⎝ dα

Lαw

Lαw

Lαw

CM

αf

VH

⋅η

⋅ CLαt

⎛ dε

hPN = hac

− +

⋅ ⎜1 − ⎟

(5.64d)

C C ⎝ dα

Lαw

Lαw

Na equação (5.64d) é importante citar que não se realizou nenhum processo de

correção no volume de cauda horizontal V H devido a movimentação do CG. Esta

movimentação provoca uma mudança imediata no comprimento de cauda l h , porém como esta


355

diferença geralmente é muito pequena, o seu efeito pode ser desprezado no cálculo

fornecendo ainda assim resultados confiáveis.

A localização do ponto neutro obtida com a solução da Equação (5.64d) é chamada de

ponto neutro de manche fixo, essa nomenclatura é utilizada para aeronaves que possuem

superfícies de comando que podem ser fixadas em qualquer ângulo de deflexão desejado, ou

seja, quando o piloto realiza uma movimentação nos comandos da aeronave, a superfície de

controle acionada se desloca para a posição desejada e lá permanece até que um novo

comando seja aplicado.

Ainda em relação à Equação (5.58d), o resultado obtido será um valor que referencia a

porcentagem da corda média aerodinâmica e é medido como citado anteriormente a partir do

bordo de ataque da asa além de representar a posição mais traseira do CG para o qual ainda é

possível se garantir a estabilidade longitudinal estática, portanto, torna-se claro e intuitivo

observar que enquanto o CG da aeronave estiver localizado antes do ponto neutro a aeronave

será longitudinalmente estaticamente estável e portanto C Mαa < 0, quando o CG coincidir com

o ponto neutro a aeronave possuirá estabilidade longitudinal estática neutra e portanto C Mαa =

0 e quando o CG estiver localizado após o ponto neutro a aeronave possuirá instabilidade

longitudinal estática e portanto C Mαa > 0.

De acordo com a análise da Figura 5.23, é possível observar que quando o CG

coincidir com o ponto neutro, o coeficiente de momento C MCG em função do ângulo de ataque

α é constante, pois C Mαa = 0, e, dessa forma, fazendo-se uma analogia com o centro

aerodinâmico de uma asa, que representa o ponto sobre o perfil no qual o momento é

constante e independe do ângulo de ataque, o ponto neutro pode ser considerado como o

centro aerodinâmico do avião completo.

As aeronaves são projetadas para uma posição fixa do CG, quando o mesmo é

deslocado para trás da posição de projeto, o coeficiente angular C Mαa torna-se cada vez mais

positivo e a aeronave torna-se menos estável, na posição específica em que C Mαa = 0 significa

dizer que o CG da aeronave atingiu o ponto neutro e portanto tem-se uma condição de

estabilidade longitudinal estática neutra.

Margem estática: representa um elemento importante para se definir o grau de

estabilidade longitudinal estática de uma aeronave, a margem estática ME representa a

distância entre o ponto neutro e o CG da aeronave e pode ser determinada analiticamente a

partir da aplicação da Equação (5.65).

ME = h PN

− h CG

(5.65)

A Figura 5.25 mostra a relação de margem estática de uma aeronave.


356

Figura 5.25 – Representação da margem estática de uma aeronave.

Pela análise da figura é possível observar que a margem estática representa uma

medida direta da estabilidade longitudinal estática de uma aeronave e como forma de se

atender os critérios C M0a > 0 e C Mαa < 0, a margem estática dever ser sempre positiva,

indicando que o CG está posicionado antes do ponto neutro.

Para aeronaves que participam da competição AeroDesign uma margem estática

compreendida entre 10% e 20% traz bons resultados quanto à estabilidade e manobrabilidade

da aeronave.

Como a margem estática indica a característica de estabilidade longitudinal estática de

uma aeronave, pode-se concluir que quanto menor for o seu valor menor será a distância entre

o CG e o ponto neutro e consequentemente menor será a estabilidade estática da aeronave.

A Figura 5.26 mostra a influência da posição do CG e por conseqüência da margem

estática com relação ao ponto neutro e aos critérios necessários para a estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave.

Figura 5.26 – Influência do CG e da margem estática na estabilidade

longitudinal estática de uma aeronave.


357

Pela análise da Figura 5.26 é possível observar que o aumento da margem estática

proporciona um coeficiente angular C Mαa cada vez mais negativo contribuindo para o aumento

da estabilidade estática, pois neste ponto é muito importante comentar que o deslocamento

excessivo do CG para frente pode trazer complicações de controlabilidade e manobrabilidade

da aeronave como será discutido na próxima seção do presente capítulo.

Para exemplificar os conceitos de ponto neutro e margem estática, é apresentado a

seguir um exemplo de cálculo para a determinação dessas duas quantidades para uma

aeronave destinada a participar da competição AeroDesign.

5.5.6 – Conceitos fundamentais sobre o controle longitudinal

O controle de uma aeronave pode ser realizado mediante a deflexão das superfícies

sustentadoras da mesma, a deflexão de qualquer uma das superfícies de controle cria um

incremento na força de sustentação que produz ao redor do CG da aeronave um momento que

modifica a atitude de vôo.

O controle longitudinal ou controle de arfagem é obtido pela mudança da força de

sustentação originada no estabilizador horizontal da aeronave, para os aviões que participam

da competição AeroDesign, a superfície horizontal da empenagem pode ser completamente

móvel ou parcialmente móvel como mostram os modelos apresentadas na Figura 5.27.

Figura 5.27 – Modelos de superfícies horizontais da empenagem em aviões que participam da

competição AeroDesign.

Tanto em um caso como em outro, a mudança do ângulo de ataque do profundor ou

então a deflexão da superfície móvel do estabilizador horizontal provoca um momento ao

redor do CG da aeronave devido ao aumento da força de sustentação na superfície horizontal

da empenagem. Os principais fatores que afetam diretamente a qualidade do controle

longitudinal estático de uma aeronave são: a eficiência de controle, os momentos de

articulação e o balanceamento aerodinâmico e de massa da aeronave.

A eficiência de controle representa a medida de quão eficiente é a deflexão do controle

para se obter o momento necessário para se balancear a aeronave, os momentos de articulação

definem a intensidade da força necessária para a aplicação do comando, ou seja, em uma

aeronave que participa do AeroDesign representam um fator de extrema importância para a

correta seleção dos servo-comandos que serão utilizados, pois permitem definir a força

tangencial que movimentará a superfície de controle, o balanceamento aerodinâmico e de

massa da aeronave permite definir uma faixa de valores aceitáveis para não se exigir

demasiadamente de forças para a deflexão dos comandos.


358

Como ponto inicial para a avaliação das condições necessárias para se garantir o

controle longitudinal estático de uma aeronave em uma condição de vôo reto e nivelado

considere a aeronave trimada em um determinado ângulo de ataque α = α trim como mostra a

Figura 5.28.

Figura 5.28 – Ângulo de trimagem de uma aeronave.

Pela análise da Figura 5.28, é intuitivo observar que o ângulo de ataque para trimagem

α = α trim mostrado corresponde a um determinado coeficiente de sustentação C Ltrim definido

para a condição de vôo do instante mostrado, ou seja, a aeronave está voando com uma

determinada velocidade em um ângulo de ataque fixo α = α trim , e, pela equação fundamental

da força de sustentação pode-se escrever que:

W

1 2

= L = ⋅ ρ ⋅ vtrim

⋅ S

w

⋅ C

Ltrim

(5.66)

2

Resolvendo a Equação (5.66) para v trim , tem-se que:

v

trim

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ C

Ltrim

(5.67)

Assim, pela solução da Equação (5.67) é possível determinar a velocidade na qual a

aeronave se encontra trimada (balanceada ao redor do CG) em um determinado ângulo de

ataque.

Porém, como comentado, o ângulo de trimagem mostrado na Figura 5.27 define uma

condição de balanceamento apenas para um determinado C Ltrim e uma determinada velocidade

de trimagem v trim , caso o piloto deseje reduzir ou aumentar a velocidade da aeronave um novo

ângulo de trimagem será obtido, pois no caso de uma redução na velocidade de vôo será

necessário o aumento do ângulo de ataque para se manter o vôo reto e nivelado da aeronave e,

portanto, consequentemente um desbalanceamento será criado ao redor do CG necessitando

uma deflexão da superfície de comando como forma de se criar um incremento na força de


359

sustentação que fará com que a aeronave se torne balanceada novamente, garantindo o

controle longitudinal da mesma.

Do mesmo modo, um aumento da velocidade provoca uma redução do ângulo de

ataque e novamente um desbalanceamento será criado ao redor do CG fazendo com que a

aeronave saia de sua condição de equilíbrio, portanto, em ambos os casos, se não houver uma

deflexão da superfície de comando o avião não poderá ser trimado em qualquer outro ângulo

diferente de α trim nem em qualquer outra velocidade diferente de v trim.

Em uma situação de vôo é obvio que isto representa uma condição indesejável, pois

uma aeronave deve ser capaz de voar balanceada em qualquer condição que se deseje, quer

seja para baixas ou para altas velocidades, portanto, em função das considerações

apresentadas, para que uma aeronave possa ser trimada em diferentes condições de vôo é

necessário que ocorra uma deflexão da superfície de comando criando um incremento na

força de sustentação capaz de gerar o momento de equilíbrio ao redor do CG para balancear a

aeronave em um novo ângulo de ataque.

Como em aeronaves que participam da competição AeroDesign o CG é um ponto fixo

resultante do projeto desenvolvido e a margem estática é fechada em um determinado valor, a

única forma de se criar um momento de controle ao redor do CG e balancear a aeronave em

um novo ângulo de ataque é obter o incremento na força de sustentação a partir da variação de

C M0a , mantendo o coeficiente angular C Mαa da curva C MCG x α constante pois como mostrado

na Figura 5.28, a mudança de inclinação do coeficiente angular C Mαa somente é possível com

deslocamento do CG para uma posição diferente da posição original de projeto, o que

proporciona uma mudança na margem estática afetando diretamente os critérios de

estabilidade da aeronave.

Para se compreender o mecanismo de variação de C M0a a seguir é apresentado o

equacionamento utilizado para se determinar o incremento da força de sustentação, tanto para

o profundor totalmente móvel como para a condição de superfície composta por estabilizador

e profundor articulado a formulação e o princípio de controle são os mesmos, assim, para

modelar matematicamente a situação exposta, considere o profundor totalmente articulado em

uma determinada posição inicial como mostra a Figura 5.29.

Figura 5.29 – Profundor totalmente móvel.

Na Figura 5.29 é possível identificar o ângulo de ataque absoluto do profundor α t

definido anteriormente pela Equação (5.32) reescrita a seguir.

t

( α − i − + i )

α = ε

(5.68)

w

w

t


360

Como o perfil aerodinâmico geralmente utilizado para o profundor é simétrico tem-se

que para α t = 0º, C Lt = 0, e, portanto, a curva característica do coeficiente de sustentação em

função do ângulo de ataque absoluto do profundor pode ser representada pelo modelo

mostrado na Figura 5.30.

Figura 5.30 – Curva característica C L x α para um perfil simétrico.

O subscrito i é utilizado para indicar a posição inicial do profundor, e assim, nesta

condição o ângulo α ti proporciona a obtenção de um determinado coeficiente de sustentação

C Lti .

Caso se deseje alterar a condição de trimagem da aeronave para um novo ângulo de

ataque em uma nova velocidade de vôo, será necessário a deflexão do profundor em uma

quantidade angular δ como pode-se observar na Figura 5.31.

Figura 5.31 – Deflexão do profundor.

Para esta nova situação, o ângulo de ataque absoluto do profundor passa a ser dado por

α ti + δ, e, portanto:

( α − − ε + i δ )

α i +

(5.69)

t

=

w w t


361

Na Equação (5.69) é possível perceber que a deflexão δ do profundor provoca o

aumento de α t e consequentemente um incremento no coeficiente de sustentação C Lt é criado e

assim a Figura 5.30 pode ser reapresentada do seguinte modo:

Figura 5.32 – Representação do incremento do coeficiente de sustentação devido a uma

deflexão do profundor.

Portanto, pode-se notar que a deflexão do profundor pode ser utilizada como forma de

se criar o incremento na força de sustentação necessário para a trimagem da aeronave em uma

nova condição de vôo e o coeficiente de sustentação do profundor considerando a deflexão δ

pode agora ser escrito da seguinte forma:

C

Lt

= C

α

⋅α

+ ∆C

(5.70)

L t

t

Lt

Onde

∆ = dC

Lt

C δ

δ

δ

δ

⋅ = ⋅

Lt

C

L

(5.71)

d

Que resulta em:

C C ⋅α

+ C ⋅δ

(5.72)

Lt

=

Lαt

t Lδ

Como na situação o profundor é totalmente móvel, tem-se que C Lαt = C Lδ , e, portanto,

a Equação (5.72) pode ser reescrita da seguinte forma:

( α δ )

C (5.73)

Lt

= C L α t

t

+

A partir da substituição das Equações (5.17) e (5.31) na Equação (5.51), pode-se

escrever que:


362

C

MCGa

= C + C ⋅( h − h ) + C −V

⋅η

⋅C

(5.74)

Macw

Lw

CG

ac

MCGf

H

Lt

Substituindo a Equação (5.73) na Equação (5.74) tem-se que:

( α δ )

C C + C ⋅( h − h ) + C −V

⋅η ⋅C

α

⋅ + (5.75)

MCGa

=

Macw Lw CG ac MCGf H L t t

Onde a partir das quais é possível observar que a deflexão do profundor por um ângulo

δ proporciona uma mudança em C MCGa porém mantém o mesmo coeficiente angular da curva

uma vez que não houve mudança da posição do centro de gravidade da aeronave, dessa forma,

com a deflexão do profundor é possível timar a aeronave em diferentes condições de vôo

como mostra a Figura 5.33.

Figura 5.33 – Efeito da deflexão do profundor na trimagem da aeronave.

Por convenção, seguindo o sistema de coordenadas utilizado na indústria aeronáutica,

considera-se que uma deflexão do profundor no sentido horário é considerada positiva e uma

deflexão no sentido anti-horário é considerada negativa, portanto, a relação (α t + δ) pode ser

positiva ou negativa dependendo do sentido de deflexão utilizado, assim, a variação de C MCGa

calculada pela Equação (5.75) tanto pode ser para mais ou para menos, transladando a curva

C MCGa x α a ou para cima ou para baixo dependendo exclusivamente da rotação utilizada no

profundor. A convenção de sinais adotada está apresentada a seguir na Figura 5.34.

Figura 5.34 – Convenção de sinais para o ângulo de deflexão do profundor.


363

Para se garantir a capacidade de controle longitudinal de uma aeronave, esta deve

possuir condições de ser balanceada em qualquer ângulo de ataque desejado compreendido

entre uma condição de velocidade mínima de estol até a velocidade máxima.

Esta condição pode ser obtida através da determinação do ângulo de deflexão do

profundor necessário para a trimagem da aeronave nas condições desejadas, este ângulo é

referenciado no presente livro por δ trim e quando determinado para as condições extremas

(velocidades de estol e máxima) identifica a faixa de deflexão positiva e negativa necessária

para o profundor, neste ponto é importante citar que deflexões excessivas da superfície de

controle pode ocasionar estol no estabilizador horizontal acarretando em perda se sustentação

dessa superfície e a conseqüente perda de controle da aeronave, pois cria-se uma condição de

instabilidade longitudinal estática na aeronave.

Como forma de exemplificar as situações extremas comentadas, é apresentado a seguir

o conceito para a determinação do ângulo de trimagem da aeronave. A principio considere

que o piloto deseje voar em uma condição próximo à velocidade de estol, nessa situação o

ângulo de ataque é elevado e o coeficiente de sustentação equivale a C lmáx , como a

contribuição asa + fuselagem fornece um coeficiente de momento ao redor do CG negativo

(sentido anti-horário) será necessário a criação de um momento positivo (sentido horário) para

balancear a aeronave ao redor do CG e se manter o vôo da mesma na condição desejada, e,

assim, a única maneira de se obter essa condição é uma deflexão do profundor no sentido antihorário

(δ negativo) para o qual o incremento no coeficiente de sustentação criado pela

deflexão do comando cria ao redor do CG da aeronave um momento positivo que desloca o

nariz da aeronave para cima aumentando o ângulo de ataque e balanceando os momentos ao

redor do CG para a condição de velocidade de estol e assim um novo ângulo de trimagem

α trim é obtido. A situação comentada está ilustrada na Figura 5.35 mostrada a seguir.

Figura 5.35 – Deflexão do profundor necessária para a trimagem da aeronave na velocidade

de estol.

A segunda condição extrema é referente a deflexão do comando para se trimar a

aeronave em uma situação de vôo com velocidade máxima, para este caso, é necessário um

baixo ângulo de ataque e consequentemente um pequeno C L é necessário pois a sustentação é

quase que em sua totalidade produzida pela elevada velocidade da aeronave, como forma de

se reduzir o ângulo de ataque da aeronave é necessário uma deflexão positiva (sentido

horário) do profundor criando ao redor do CG um momento negativo (sentido anti-horário)


364

que propicia o balanceamento da aeronave para uma condição de velocidade máxima. Esta

situação está apresentada a seguir na Figura 5.36.

Figura 5.36– Deflexão do profundor necessária para a trimagem da aeronave na velocidade

máxima.

A consideração apresentada para velocidade máxima possui um aspecto muito

interessante quando se avalia o projeto e concepção de uma aeronave destinada a participar da

competição AeroDesign, pois nessas aeronaves, geralmente o perfil aerodinâmico utilizado

pela asa possui um arqueamento muito grande e o CG está localizado após o centro

aerodinâmico do perfil o que propicia um coeficiente de momento negativo (sentido antihorário)

bastante elevado para os padrões dos perfis geralmente utilizados em aeronaves

comerciais e, assim, praticamente em todas as análises realizadas, o ângulo de deflexão do

profundor necessário para a trimagem de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign em uma condição de velocidade máxima possui um valor positivo muito pequeno

ou ainda em alguns casos é negativo, ou seja, mesmo nesta situação, o balanceamento de

momentos ao redor do CG é obtido com uma deflexão do profundor no sentido anti-horário.

A partir dos conceitos apresentados, é possível obter uma equação algébrica que

permite a determinação do ângulo de deflexão do profundor necessário para balancear a

aeronave em qualquer condição de vôo desejada compreendida entre a velocidade de estol e a

velocidade máxima da aeronave. Para se realizar esta análise considere um avião que possui

estabilidade longitudinal estática cuja curva do coeficiente de momento ao redor do CG em

função do ângulo de ataque está apresentada a seguir na Figura 5.37.

Figura 5.37 – Condição de trimagem para uma aeronave que possui estabilidade longitudinal

estática.


365

Pela análise da Figura 5.37 é possível observar que em uma condição de deflexão nula

do profundor δ p = 0° a aeronave se encontra balanceada em um ângulo de ataque α 1 que

corresponde a uma determinada velocidade e coeficiente de sustentação. Nesta situação, o

ângulo de deflexão do profundor necessário para a trimagem da aeronave pode ser obtido

analiticamente a partir da equação de equilíbrio de momentos ao redor do CG da aeronave

obtida previamente quando do estudo dos critérios necessários para a determinação da

estabilidade longitudinal estática, assim, considere a equação fundamental que garante a

estabilidade longitudinal estática reescrita a seguir.

C C + C ⋅α

0 α (5.76)

= MCGa M a M a

Para se trimar a aeronave em um novo ângulo de ataque α 2 , será necessário a

realização de uma deflexão do profundor por um ângulo δ p que propiciará um incremento no

coeficiente de sustentação do profundor C Lt capaz de criar uma variação no coeficiente de

momento ao redor do CG da aeronave deslocando a curva mostrada na Figura 5.37 para cima

ou para baixo de acordo com o sentido da deflexão realizada. O efeito provocado pela

deflexão do profundor na curva do coeficiente de momento ao redor do CG em função do

ângulo de ataque pode ser observado na Figura 5.38.

Figura 5.38 – Efeito da deflexão do profundor no coeficiente de momento ao redor do CG de

uma aeronave.

Pela análise do gráfico da Figura 5.38 é possível observar que uma deflexão positiva

no profudor (sentido horário) permite que a aeronave seja balanceada em um novo ângulo de

ataque α 2 < α 1 , caso a deflexão seja negativa (sentido anti-horário), a aeronave também será

balanceada porém com um ângulo α 2 > α 1 . Essa mudança no ângulo de trimagem é obtida

pelo incremento do coeficiente de momento devido a deflexão da superfície de comando,

dessa forma, considere que a deflexão do profundor ocasiona uma variação no coeficiente de


366

momento ao redor do CG definido por ∆ CMCGa , a Equação (5.76) pode ser escrita do seguinte

modo:

C

MCGa

= C + C ⋅α

+ ∆

M 0 a Mαa

CMCGa

(5.77)

O valor de ∆ CMCGa é calculado pela aplicação da Equação (5.77) que resulta em:

C

MCGa

= C

0

+ C ⋅α

− V ⋅η

⋅ C ⋅δ

(5.78)

M

a

Mαa

H

Lαt

p

Relacionando a Equação (5.78) com o gráfico da Figura 5.38, é possível determinar o

coeficiente de momento ao redor do CG para qualquer ângulo de ataque desejado, porém,

nesta seção, o ponto de interesse é determinar o ângulo de deflexão do profundor para o qual

o coeficiente de momento ao redor do CG é nulo, ou seja, aeronave trimada (balanceada),

dessa forma, a Equação (5.78) pode ser solucionada para δ p = δ trim fazendo-se C MCGa = 0, e

assim tem-se que:

0 C + C ⋅α

−V

⋅η

⋅ C ⋅δ

(5.79)

=

M 0a

Mαa

H

Lαt

p

Que resulta em:

V

H

⋅η

⋅ C ⋅δ

= C

0

+ C ⋅α

(5.80)

Lαt

p

M

a

Mαa

a

Isolando-se δ p = δ trim , tem-se que:

δ

trim

C

=

V

M 0a

H

+ C

Mαa

⋅η

⋅ C

Lαt

⋅α

(5.81)

E, portanto, a Equação (5.81) fornece o ângulo de deflexão do profundor necessário

para se trimar a aeronave em qualquer ângulo de ataque α a compreendido entre a velocidade

de estol e a velocidade máxima da aeronave.

Esta análise é importante para a determinação dos batentes máximos positivo e

negativo para a deflexão do profundor necessária para a trimagem da aeronave.

Em relação ao projeto Aerodesign, esta análise é de grande valia para se determinar o

curso de comando necessário ao profundor durante a fase de montagem final da aeronave, e

como forma de exemplificar esta situação, é apresentado a seguir um modelo de cálculo

utilizado para se determinar o ângulo de deflexão do profundor necessário para trimar uma

aeronave destinada a participar do Aerodesign em qualquer ângulo de ataque desejado

compreendido entre a velocidade de estol e a velocidade máxima da aeronave.

5.6 – Estabilidade direcional estática

A estabilidade direcional de uma aeronave está diretamente relacionada com os

momentos gerados ao redor do eixo vertical da mesma, tal como ocorre nos critérios de

estabilidade longitudinal, é muito importante que a aeronave possua a tendência de retornar a

sua posição de equilíbrio após sofrer uma perturbação que mude a sua direção de vôo.


367

Para possuir estabilidade direcional estática, a aeronave deve ser capaz de criar um

momento que sempre a direcione para o vento relativo. Geralmente os critérios de

estabilidade direcional de um avião são determinados através da soma dos momentos

provenientes da combinação asa-fuselagem e da superfície vertical da empenagem em relação

ao centro de gravidade da aeronave.

Normalmente o conjunto asa-fuselagem possui um efeito desestabilizante na aeronave

e a superfície vertical da empenagem é responsável por produzir o momento restaurador, e,

portanto, torna-se muito importante o seu correto dimensionamento e resistência estrutural.

Tal como foi apresentado na análise de estabilidade longitudinal estática, a formulação

matemática para a avaliação dos critérios necessários para se garantir a estabilidade direcional

estática será apresentada de forma adimensional, sendo um fator de grande importância para a

avaliação desse tipo de estabilidade a determinação do coeficiente angular da curva de

momentos de guinada da aeronave completa C nβ em função do ângulo de derrapagem imposto

pela perturbação sofrida, que pode ser proveniente de um comando mal aplicado, por uma

rajada de vento, ou então pela manutenção de um vôo deslocado da direção do vento relativo.

Matematicamente o critério necessário para se garantir a estabilidade direcional

estática é a obtenção de um coeficiente angular C nβ positivo e que devido as condições de

simetria da aeronave a reta gerada por esse coeficiente angular intercepta o sistema de

coordenadas na origem. A Figura 5.39 mostra graficamente o critério necessário para uma

condição de estabilidade direcional estática.

Figura 5.39 – Critério necessário para se garantir a estabilidade direcional estática.

A análise da figura permite observar que no caso do avião 1, se ocorrer uma

perturbação na qual o vento relativo passe a atuar de sua posição de equilíbrio (β=0°) para

uma condição (β>0°) (rotação no sentido horário), instantaneamente será criado um momento

restaurador positivo tendendo novamente a alinhar a aeronave para a direção do vento

relativo.


368

5.6.1 – Contribuição do conjunto asa-fuselagem na estabilidade direcional estática

O conjunto asa-fuselagem é responsável por um efeito desestabilizante e contribui de

forma negativa para atender os critérios de estabilidade direcional de uma aeronave.

Geralmente a maior contribuição é proporcionada pela geometria da fuselagem, sendo a asa

um componente de menor importância no conjunto. Matematicamente a contribuição do

conjunto asa-fuselagem pode ser determinada a partir de uma equação empírica proposta por

Nelson [5.4].

S

F

⋅ l

F

Cnβ wf

= −K

n

⋅ K

RL

(5.82)

S ⋅ b

Nesta equação, C nβwf representa o coeficiente angular da curva de momento direcional

ao redor do eixo vertical da aeronave, K n representa um fator empírico de interferência asafuselagem

e é uma função direta da geometria da fuselagem. Segundo Nelson [5.4], este fator

pode variar em uma faixa compreendida entre 0,001 ≤ K n ≤ 0,005. A variável K RL também

representa um fator empírico que é uma função direta do número de Reynolds da fuselagem,

Nelson [5.4] sugere a seguinte faixa para os valores de K RL : 1 ≤ K R L ≤ 2,2; geralmente para o

número de Reynolds encontrado nas aeronaves que participam da competição AeroDesign

pode ser utilizado com boa margem de confiabilidade um valor de K RL da ordem de 1.

As variáveis S F , l F , S w e b representam respectivamente a área projetada lateral da

fuselagem, o comprimento da fuselagem, a área da asa e a envergadura da asa.

Como o resultado obtido com a solução da Equação (5.82) sempre é um coeficiente

angular negativo, o conjunto asa-fuselagem produz um efeito desestabilizante na estabilidade

direcional estática da aeronave, e, dessa forma, a superfície vertical da empenagem passa a ser

de fundamental importância para se garantir a restauração da aeronave a sua condição de

equilíbrio direcional.

5.6.2 – Contribuição da superfície vertical da empenagem na estabilidade direcional

estática

A Figura 5.40 mostra como a superfície vertical da empenagem contribui fisicamente

de maneira positiva para a estabilidade direcional da aeronave.

w

Figura 5.40 – Contribuição da superfície vertical da empenagem para a estabilidade direcional

estática de uma aeronave.

Pela análise da Figura 5.40, é possível observar que se a aeronave sofrer uma

perturbação que modifique sua direção de vôo, a superfície vertical da empenagem estará


369

submetida a um aumento de ângulo de ataque em relação a direção do vento relativo e uma

força lateral será criada tendendo a trazer o avião de volta a sua posição de equilíbrio. Assim,

é possível verificar a necessidade da utilização de uma superfície aerodinâmica simétrica na

superfície vertical da empenagem, o que garante que em uma situação de equilíbrio nenhuma

força lateral desestabilizante seja criada.

Matematicamente a força lateral na superfície vertical da empenagem quando a

aeronave se encontra em uma condição de vôo com ângulo de derrapagem positivo pode ser

calculada da seguinte forma:

F

v

1 2

= − ⋅ ρ ⋅ vv

⋅ Sv

⋅ CLv

(5.83)

2

O sinal negativo presente na Equação (5.83) indica que a força lateral gerada atua no

sentido negativo do eixo lateral da aeronave (eixo y). Ainda com relação à Equação (5.83), o

coeficiente de sustentação C Lv pode ser determinado em função do coeficiente angular C Lαv e

do ângulo de ataque da superfície vertical da empenagem α v em relação ao vento relativo,

dessa forma, pode-se escrever que:

F

v

1

2

= − ⋅ ⋅

2

vv

ρ ⋅ S ⋅ C ⋅ α

α

v

L v

v

(5.84)

O ângulo de ataque α v da superfície vertical da empenagem pode ser expresso em

função do ângulo β que representa a direção do vento relativo e do ângulo de ataque induzido

lateral σ (sidewash) do seguinte modo:

α

v

= β + σ

(5.85)

O ângulo de ataque induzido lateral σ (sidewash) é similar ao ângulo de ataque

induzido longitudinal (downwash) e fisicamente é provocado pelo desvio dos vórtices de

ponta de asa.

A partir das Equações (5.84) e (5.85) é possível escrever a equação que define o

momento restaurador da seguinte forma:

N

v

= F ⋅l

(5.86)

v

v

onde l v representa o braço de momento do ponto de aplicação da força lateral até o CG da

aeronave.

Na Equação (5.86) é possível observar que o momento restaurador provocado por uma

força lateral negativa é um valor positivo, portanto, substituindo as Equações (5.84) e (5.85)

na Equação (5.86) tem-se:

N

v

1 2

= ⋅ ρ ⋅vv

⋅ Sv

⋅CLαv

⋅ σ

2

( β + ) ⋅lv

(5.87)


370

Nesse ponto é importante relembrar que a relação 1 2⋅ ρ ⋅vv

representa a pressão

dinâmica q v na superfície vertical da empenagem, assim, a Equação (5.87) pode ser reescrita

do seguinte modo.

2

N

v

v

v

L v

( β + ) ⋅ lv

= −q

⋅ S ⋅ C

α

⋅ σ

(5.88)

A Equação (5.88) pode ser adimensionalizada com relação à pressão dinâmica, área e

envergadura da asa resultando em:

As relações q v /q w e

N q S ⋅l

C (5.89)

( β σ )

= v

v v v

n

= ⋅ ⋅CLα ⋅ +

q ⋅ ⋅ ⋅

v

w

Sw

b qw

S

w

b

S ⋅l

v

v

S

w

⋅b

representam respectivamente a eficiência da superfície

vertical da empenagem η v e o volume de cauda vertical V V , portanto, pode-se escrever que:

( β σ )

C η ⋅V

⋅ C

α

⋅ +

(5.90)

n

=

v v L v

A partir da Equação (5.90), fazendo-se sua derivada em relação a β, é possível

encontrar o coeficiente angular da curva de momento de guinada em relação ao ângulo de

derrapagem β, e assim, obter a contribuição da superfície vertical da empenagem na

estabilidade direcional da aeronave.

A relação η ( σ dβ

)

⎛ dσ

Cnβ

v

= ηv

⋅ Vv

⋅ CLαv

⋅ ⎜1 + ⎟

(5.91)

⎝ dβ

v

⋅ 1 + d pode ser estimada segundo manual de estabilidade e

controle da força aérea dos Estados Unidos da América, USAF [5.5] pela Equação (5.92)

mostrada a seguir.

d ⎞

⎛ Sv

S ⎞

w

Z

w

v

⎛ σ

η ⋅ 1 + ⎟ = 0,724 + 3,06 ⋅ ⎜

⎟ + 0,4 ⋅ + 0, 009 ⋅ ARw

(5.92)

⎝ dβ

⎝1+

cos Λ

( c / 4) ⎠ d

F

Na Equação (5.92), S w representa a área da asa, S v a área da superfície vertical da

empenagem, AR w o alongamento da asa, Z w é a distância paralela ao eixo z medida a partir da

posição 25% da corda na raiz da asa até a linha de centro da fuselagem, d representa a

profundidade máxima da fuselagem e a relação Λ

(c / 4)

é o enflechamento da asa medido a

partir da posição 25% da corda, a Figura 5.41 apresentada a seguir mostra as dimensões Z w e

d.


371

Figura 5.41 – dimensões Z w e d para aplicação na Equação (5.92).

A seguir é apresentado um modelo para o cálculo de determinação dos critérios

necessários para se garantir a estabilidade direcional estática de uma aeronave.

5.6.3 – Controle direcional

O controle direcional de uma aeronave é obtido através da deflexão de uma superfície

de comando denominada leme de direção, essa superfície se encontra localizada no bordo de

fuga da superfície vertical da empenagem como pode ser observado na Figura 5.42 mostrada a

seguir. A deflexão do leme de direção produz uma força lateral na aeronave que provoca um

momento de guinada ao redor do eixo vertical da aeronave permitindo desse modo o

deslocamento do nariz da aeronave para a proa desejada.

Figura 5.42 – Exemplo do leme de direção.

A deflexão do leme de direção pode ser positiva ou negativa, e esse sinal é definido de

acordo com o sentido de rotação aplicado na superfície de comando, por exemplo, uma

deflexão do leme de direção no sentido horário é definida como uma rotação positiva e uma

deflexão no sentido anti-horário como uma rotação negativa, a Figura 5.43 mostra a

convenção de sinais adotada para a deflexão do leme de direção.


372

Figura 5.43 – Convenção de sinais para a deflexão do leme de direção.

A deflexão do leme de direção em qualquer sentido produz uma força lateral que

quando multiplicada pelo braço de momento em relação ao CG da aeronave provoca o

momento de guinada necessário para a mudança de atitude da aeronave.

A intensidade do momento de guinada provocado pela deflexão do leme de direção

depende completamente da força de sustentação (força lateral) gerada, para uma deflexão

positiva do leme de direção, uma força lateral positiva é criada e conseqüentemente um

momento de guinada negativo é gerado, para uma deflexão negativa do leme de direção, será

criada uma força lateral negativa e um momento de guinada positivo é gerado. A

compreensão dessa regra de sinais pode ser facilmente visualizada a partir da análise

detalhada das Figuras 5.44 e 5.46.

Pela análise da figura 5.44 é possível observar que uma deflexão positiva do leme de

direção provoca um arqueamento no perfil simétrico da superfície vertical da empenagem

acarretando em uma força de sustentação direcionada no sentido positivo do eixo lateral da

aeronave (eixo y), portanto, essa força assume um sinal positivo e quando multiplicada pela

distância até o CG da aeronave provocará um momento no sentido anti-horário em relação ao

eixo vertical (eixo z) que quando avaliado pela aplicação da regra da mão direita percebe-se

que se traduz em um momento de guinada negativo uma vez que o sentido do momento

gerado é oposto ao sentido positivo do eixo vertical, e assim, provoca um deslocamento do

nariz da aeronave para a esquerda.

Figura 5.44 – Análise de sinais para uma deflexão positiva do leme de direção.


373

Matematicamente essa situação pode ser expressa através da aplicação do conceito de

momento, e como citado, uma força lateral positiva produz um momento de guinada negativo,

portanto, pode-se escrever que:

N = −F v

⋅l v

(5.93)

onde a força lateral na superfície vertical da empenagem é dada por:

1 2

Fv

= ⋅ ρ ⋅vv

⋅ Sv

⋅CLv

(5.94)

2

e o momento de guinada gerado é dado por:

1

N = ⋅ ρ

2

⋅ v ⋅ Sw ⋅ b ⋅ C n

(5.95)

2

Reescrevendo a Equação (5.95) em relação ao coeficiente de momento de guinada da

aeronave, tem-se que:

C

n

=

N

1 ⋅ ρ ⋅v

2

2

⋅ S

w

⋅b

(5.96)

Substituindo-se as Equações (5.93) e (5.94) na Equação (5.96), pode-se escrever que:

C

n

Fv

⋅ lv

= −

1 2

⋅ ρ ⋅ v ⋅ S

2

w

⋅ b

(5.97)

C

n

= −

1

2

⋅ ρ ⋅ v

1

2

2

v

⋅ ρ ⋅ v

⋅ S

2

v

⋅ S

⋅ l ⋅ C

w

v

⋅ b

Lv

(5.98)

2

Neste ponto é importante relembrar que a relação 1 2⋅ ρ ⋅v

representa a pressão

dinâmica q, portanto, pode-se reescrever a Equação (5.98) da seguinte forma:

C

n

q ⋅ S

⋅ l

v v v

= − ⋅ CLv

(5.99)

qw

⋅ Sw

⋅ b

O coeficiente de sustentação C Lv pode ser representado em função da deflexão do leme

de direção da seguinte forma:

C

Lv

dC

= Lv

δ

r

(5.100)

r

Portanto, a Equação (5.99) pode ser reescrita do seguinte modo:


374

C

n

q ⋅ S ⋅l

dC

v v v Lv

= −

δ

r

qw

⋅ Sw

⋅b

⋅ dδ

(5.101)

r

As relações q v /q w e

S ⋅l

v

v

S

w

⋅b

representam respectivamente a eficiência da superfície

vertical da empenagem η v e o volume de cauda vertical V V , portanto, pode-se escrever que:

C

n

dC

Lv

= −η

v

⋅VV

⋅ ⋅δ

r

(5.102)

r

A eficiência de controle do leme de direção pode ser representada através da taxa de

variação do momento de guinada da aeronave com relação ao ângulo de deflexão do leme,

assim, a Equação (5.102) pode ser reescrita do seguinte modo:

Que resulta em,

dC

= (5.103)

Lv

Cn

Cn

δ

⋅δ

r

= −η

v

⋅V

r V

⋅ ⋅δ

r

r

Cn

δ r

dC

Lv

= −η

v

⋅VV

(5.103a)

r

Onde a relação

dCLv

r

pode ser expressa da seguinte forma:

dCLv

dCLv

v

= ⋅ = CL

⋅τ

αv

dδ dα

r

v

r

(5.104)

No qual o fator τ que representa o fator de eficiência de deflexão do leme pode ser

obtido segundo Nelson [5.4] a partir do gráfico mostrado na Figura 5.45.

Figura 5.45 – Determinação do fator de eficiência de deflexão do leme de direção.


375

Para o caso de uma deflexão negativa do leme de direção, o processo analítico é

exatamente o mesmo, a Figura 5.46 apresentada a seguir mostra a análise de sinais para esta

condição.

Figura 5.46 – Análise de sinais para uma deflexão negativa do leme de direção.

A seguir é apresentado um modelo para o cálculo de determinação dos critérios

necessários para se garantir a estabilidade direcional estática de uma aeronave.

5.7 – Estabilidade lateral estática

Uma aeronave possui estabilidade lateral estática quando um momento restaurador for

criado sempre que suas asas saiam de uma condição nivelada. Também para os critérios de

estabilidade lateral, são empregados coeficientes adimensionais onde se avalia a variação do

coeficiente de momento C l ao redor do eixo longitudinal da aeronave em função do ângulo β

de inclinação das asas provocado pela perturbação sofrida. Para que uma aeronave seja

lateralmente estável é necessário que o coeficiente angular da curva de momento lateral em

função do ângulo de inclinação das asas seja levemente negativo, assim, tem-se que:

dC

C

l

=

l β

< 0

(5.105)

A Figura 5.47 apresentada a seguir mostra graficamente a condição necessária para se

obter a estabilidade lateral estática de uma aeronave.

Figura 5.47 – Critério necessário para se garantir a estabilidade lateral estática.


376

Basicamente o momento de rolamento originado em uma aeronave quando em uma

situação de desequilíbrio de alinhamento nas asas depende de alguns fatores como o ângulo

de diedro, o enflechamento da asa, da posição da asa em relação à fuselagem (alta, média ou

baixa) e da superfície vertical da empenagem. Dentre esses fatores, a maior contribuição para

a estabilidade lateral estática advém do ângulo de diedro, que representa o ângulo formado

entre o plano da asa e um plano horizontal, caso a ponta da asa esteja em uma posição acima

da raiz o ângulo de diedro é considerado positivo, e, caso a ponta da asa se encontre abaixo da

raiz o diedro é considerado negativo. A Figura 5.48 mostra a configuração de diedro positivo

e negativo.

Figura 5.48 – Ângulo de diedro (positivo e negativo).

Normalmente em aeronaves de asa baixa ou média é utilizado o ângulo de diedro

positivo, pois o mesmo contribui sensivelmente para aumentar a estabilidade lateral da

aeronave. Aeronaves de asa alta também podem possuir diedro, porém em muitos casos não é

necessário, pois como o CG da aeronave se encontra localizado abaixo da asa, a própria

configuração de fixação na fuselagem já proporciona estabilidade à aeronave.

Ângulos de diedro negativo são utilizados em poucos casos e geralmente em

aeronaves de asa alta quando a mesma é muito estável como forma de melhorar a

controlabilidade da mesma. Não se aconselha o uso de diedro negativo em aeronaves de asa

baixa, pois pode ocasionar em uma perda de estabilidade lateral da mesma.

Contribuição do efeito de interferência fuselagem-asa na estabilidade lateral: quando

uma aeronave sofre uma perturbação que desloque suas asas de uma posição de equilíbrio

nivelado, uma componente do vento relativo passa a atuar ao longo do eixo lateral da mesma

(eixo y), ou seja, devido ao deslocamento lateral da aeronave, cria-se uma componente de

velocidade atuando na superfície lateral da aeronave. Essa componente flui através da

fuselagem e das asas, provocando uma mudança na força de sustentação gerada em cada asa.

O resultado da variação da força de sustentação nas asas da aeronave é a criação de um

momento de rolamento na aeronave que tende a trazer a mesma novamente para sua posição

de equilíbrio com asas niveladas ou então afastá-la cada vez mais da posição de equilíbrio.

Devido ao escoamento lateral sobre a aeronave, no caso de um avião de asa alta, a asa pela

qual o escoamento passa primeiro experimenta um escoamento induzido para cima (upwash)

que tende a aumentar a força de sustentação, a asa pela qual se dá a fuga do escoamento fica

submetida a um escoamento induzido para baixo (downwash) e, assim, uma menor força de

sustentação é criada, provocando desse modo um momento de rolamento devido ao

desbalanceamento da força de sustentação entre as duas asas, esse momento possui a

tendência estabilizadora na aeronave.

Para o caso de uma aeronave de asa baixa, o processo é o inverso e, assim, a asa pela

qual o escoamento passa primeiro experimenta um escoamento induzido para baixo

(downwash) que tende a reduzir a força de sustentação, a asa pela qual se dá a fuga do

escoamento fica submetida a um escoamento induzido para cima (upwash) e, assim, uma

maior força de sustentação é criada, provocando desse modo um momento de rolamento

devido ao desbalanceamento da força de sustentação entre as duas asas, esse momento possui


377

a tendência desestabilizadora na aeronave, e, desse modo, o ângulo de diedro positivo é

fundamental para se ter estabilidade lateral na aeronave.

A Figura 5.49 apresentada a seguir mostra a situação comentada para os casos de asa

alta e baixa.

Figura 5.49 – Efeito do escoamento lateral sobre a aeronave.

Contribuição do ângulo de diedro na estabilidade lateral: a metodologia para se

estimar o valor de C lβ pode ser obtida em maiores detalhes na obra de Pamadi, na qual o

referido autor cita que para aeronaves com asas trapezoidais ou elípticas com perfil constante

ao longo de toda sua envergadura, o valor de C lβ pode ser obtido de acordo com a solução da

Equação (5.106) apresentada a seguir.

2⋅Γ ⋅a

b

2

Cl

β

= − ⋅∫

c(

y)

⋅ y ⋅ dy

(5.106)

S ⋅b

0

w

Para o caso de asas retangulares com perfil aerodinâmico constante ao longo da

envergadura, a Equação (5.106) se reduz a:

Γ⋅a

C l β

= −

(5.107)

4

Nas Equações (5.106) e (5.107), Γ representa o ângulo de diedro da asa, a é o

coeficiente angular da curva C L x α da asa, S w é a área da asa, b é a envergadura da asa, c(y)

representa a corda do perfil na estação desejada ao longo da envergadura e y é a variável que

indica a posição ao longo da envergadura da asa que está sendo avaliada.


378

5.7.1 – Controle lateral

Na grande maioria das aeronaves, o dispositivo utilizado para o controle de rolamento

é o aileron, esse mecanismo é caracterizado por superfícies similares a um flape localizados

geralmente no bordo de fuga e próximo das pontas das asas como pode ser observado na

Figura 5.50.

Figura 5.50 – Representação do posicionamento dos ailerons em uma asa.

Os ailerons são defletidos em sentidos opostos um ao outro como forma de se produzir

o momento de rolamento na aeronave, ou seja, caso o aileron da asa direita seja defletido para

baixo, o aileron da asa esquerda será defletido para cima e vice-versa.

Em uma condição de vôo com ângulo de ataque positivo, a asa na qual o aileron é

defletido para baixo sofre um aumento do arqueamento do perfil e consequentemente um

acréscimo na força de sustentação local é criado na região de deflexão do aileron, já para a asa

cujo aileron é defletido para cima ocorre uma redução da força de sustentação local, e, devido

a esse desbalanceamento de forças entre as asas, um momento de rolamento é gerado ao redor

do eixo longitudinal da aeronave.

O efeito da deflexão dos ailerons na força de sustentação das asas é mostrado na

Figura 5.51.

Figura 5.51 – Efeito da deflexão dos ailerons na distribuição de sustentação.

A eficiência de aplicação dos ailerons no controle lateral da aeronave pode ser

modelada a partir do incremento do coeficiente de momento de rolamento gerado pela

deflexão do comando. Em forma de coeficiente de momento de rolamento, pode-se escrever

que:


379

∆C

l

∆L

C

= =

q ⋅ S ⋅ b

L

⋅ q ⋅ c(

y)

⋅ y ⋅ dy

q ⋅ S ⋅ b

C

=

L

⋅ c(

y)

⋅ y ⋅ dy

S ⋅ b

(5.108)

Onde o incremento do coeficiente de sustentação local devido à aplicação do aileron é

dada por:

C

L

= CLα

⋅ ⋅δ

a

= CLα

⋅τ

⋅δ

a

(5.109)

a

Substituindo a Equação (5.109) na Equação (5.108), tem-se que:

C

l

C

=

⋅τ

⋅δ

a

⋅c(

y)

⋅ y ⋅dy

S ⋅b

(5.110)

Integrando sobre a região na qual o aileron se faz presente pode-se escrever que:

C

l

=

2 y2

⋅ CL

αw

⋅τ

⋅δ

a

S ⋅ b

y1

c(

y)

⋅ y ⋅ dy

(5.111)

Na Equação (5.111), o multiplicador 2 foi inserido devido a presença e influencia do

par de ailerons que atuam sempre em conjunto. Provocando o efeito de binário no rolamento

da aeronave.

Para se compreender melhor a aplicação da Equação (5.111), a Figura 5.52 mostra a

geometria característica da semi-envergadura de uma asa trapezoidal.

Figura 5.52 – Geometria da asa para determinação do controle lateral.

O coeficiente angular do momento de rolamento da aeronave pode ser obtido através

da derivada da Equação (5.111) em relação à deflexão do controle de aileron δ a , assim, tem-se

que:


380

2⋅C

⋅ y2

Lαw

τ

Cl

δ a

= ⋅∫

c(

y)

⋅ y ⋅dy

(5.112)

S ⋅b

y1

Na análise da equação (5.112) é importante citar que a corda para uma asa com forma

geométrica diferente da retangular é variável ao longo da envergadura, e, no caso de uma asa

trapezoidal tem-se que:

⎡ ⎛ λ −1⎞

c(

y)

= c ⋅ ⎢ +

⎟ ⋅

r

1 y⎥

⎣ ⎝ b 2 ⎠ ⎦

(5.113)

Assim, a Equação (5.112) pode ser escrita do seguinte modo:

C

l

=

⋅CLαw

⋅τ

⋅δ

a

S ⋅b

2 y2

⎡ ⎛ λ −1⎞

c ⋅ ⎢1

+

⎟ ⋅ y⎥ ⋅ y ⋅dy

⎣ ⎝ b ⎠ ⎦

r

y1 2

(5.114)

A seguir é apresentado um exemplo de cálculo que permite obter as características de

estabilidade e controle lateral de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign.

5.8 – Dicas para a análise de estabilidade estática

Nesta seção são citados alguns pontos que são de fundamental importância para uma

análise adequada das características de estabilidade de uma aeronave destinada a participar da

competição AeroDesign. A seguir é apresentada a seqüência necessária para se realizar a

avaliação de estabilidade da aeronave em projeto.

1) O primeiro e mais importante ponto na análise de estabilidade é a determinação da

posição do centro de gravidade da aeronave, pois praticamente todos os conceitos necessários

para a determinação das qualidades de estabilidade de uma aeronave dependem diretamente

da posição do CG.

2) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento longitudinal

em função do ângulo de ataque para a asa isoladamente.

3) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento longitudinal

em função do ângulo de ataque para a fuselagem isoladamente.

4) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento longitudinal

em função do ângulo de ataque para a superfície horizontal da empenagem isoladamente.

5) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento longitudinal

em função do ângulo de ataque para a aeronave completa.

6) Calcular a posição do ponto neutro e determinar qual a margem estática da

aeronave.

7) Determinar os batentes positivo e negativo para a deflexão do profundor,

responsáveis pelo controle longitudinal da aeronave.


381

8) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento direcional em

função do ângulo de derrapagem para a aeronave completa.

9) Avaliar a derivada de controle direcional da aeronave.

10) Determinar e traçar o gráfico da variação do coeficiente de momento lateral em

função do ângulo de derrapagem para a aeronave completa.

11) Avaliar a derivada de controle lateral da aeronave.

A Figura 5.53 apresentada a seguir mostra a aeronave da equipe Taperá do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo para a competição SAE-AeroDesign

2009 com suas respectivas características de estabilidade e controle.

Aeronave Taperá 2009

Características de Estabilidade

Posição do CG - 32,14% cma

Ponto neutro - 52,1 % cma

Margem estática - 20%

Derivadas de estabilidade

Cnβ = 0,0092567grau¯¹

CLβ = -0,000502grau ¯¹

Deflexão do profundor + - 10º

Deflexão do leme + - 10º

Deflexão dos ailerons + - 10º

Figura 5.53 – Características de estabilidade da aeronave Taperá 2009.

Neste ponto é finalizado o capítulo da análise de estabilidade estática da aeronave, no

qual foram apresentados os principais pontos que devem ser avaliados para se obter uma

aeronave competitiva e com excelentes qualidades de vôo. Nesse ponto vale ressaltar que o

assunto estabilidade é muito extenso e muitos detalhes mais específicos podem ser

encontrados na vasta literatura existente, o objetivo principal deste capítulo foi apresentar os

conceitos fundamentais que permitem estimar de forma confiável as qualidades de

estabilidade de uma aeronave destinada a participar da competição AeroDesign.

Referências bibliográficas deste capítulo

[5.1] ANDERSON, JOHN, D. Aircraft performance and design, McGraw-Hill, New York,

1999.

[5.2] McCORMICK, BARNES, W. Aerodynamics, aeronautics and flight mechanics, Wiley,

New York, 1995.

[5.3] Ly, Ui-Loi. Stability and Control of Flight Vehicle, University of Washington. Seattle

1997.

[5.4] NELSON, ROBERT. C., Flight Stability an Automatic Control, 2ª Ed, McGraw-Hill,

Inc. New York 1998.

[5.5] USAF., Stability and Control Datcom, Flight Control Division, Air Force Dynamics

Laboratory, Wright Patterson Air Force Base, Fairborn, OH.


382

CAPÍTULO 6

ANÁLISE ESTRUTURAL

6.1 – Introdução

O presente capítulo apresenta ao leitor os conceitos fundamentais para a análise de

cargas e dimensionamento estrutural dos principais componentes de uma aeronave destinada a

participar da competição SAE-AeroDesign. Dentre os elementos estruturais estudados podemse

citar a determinação das cargas atuantes e o dimensionamento estrutural das asas, da

fuselagem, da empenagem, e do trem de pouso. Os conceitos apresentados a seguir são muito

úteis como ferramentas iniciais para a obtenção de resultados confiáveis do ponto de vista do

projeto estrutural da aeronave e estão fundamentados nas normas aeronáuticas destinadas ao

dimensionamento estrutural de componentes e análise de cargas.

A partir desse ponto do estudo e do projeto de uma nova aeronave, o projetista deve

estar atento às necessidades operacionais da mesma (requisitos da missão) e fazer uso correto

de vários parâmetros obtidos durante os cálculos prévios de aerodinâmica, desempenho e

estabilidade, pois a determinação correta das cargas atuantes nos vários componentes

estruturais permite o correto dimensionamento estrutural e a obtenção de uma estrutura

resistente e leve garantindo assim a maior relação entre carga paga e peso vazio contribuindo

significativamente para o aumento da eficiência estrutural.

Basicamente todas as aeronaves são constituídas pelos mesmos elementos estruturais

que previamente já foram discutidos nos capítulos anteriores, e sua estrutura interna pode ser

observada nas Figuras 6.1 e 6.2.

Figura 6.1 – Estrutura interna de uma aeronave militar.


383

Figura 6.2 – Estrutura interna de uma aeronave comercial.

6.2 – Estruturas de Aeronaves

A estrutura de uma aeronave de asa fixa pode ser dividida em cinco partes principais:

fuselagem, asas, estabilizadores, superfícies de controle e trem de pouso.

Os componentes da fuselagem são construídos de uma grande variedade de materiais e

são unidos através de rebites, parafusos e soldagem ou adesivos. Os componentes da aeronave

dividem-se em vários membros estruturais (reforçadores, longarinas, nervuras, paredes, etc.).

Os membros estruturais das aeronaves são projetados para suportar cargas ou

resistirem aos esforços solicitantes.

Na maioria dos casos, os membros estruturais são projetados para suportar as cargas

de tração, compressão, torção e flexão. A resistência pode ser o requisito principal em certas

estruturas, enquanto outras necessitam de qualidades totalmente diferentes.

Por exemplo, capotas, carenagens e partes semelhantes geralmente não precisam

suportar as tensões de vôo, ou as cargas de pouso. Contudo, essas partes devem possuir

qualidades, como um acabamento liso e formato aerodinâmico.

Durante o projeto de uma aeronave, cada centímetro quadrado da asa e da fuselagem,

cada nervura, longarina, e até mesmo cada encaixe deve ser considerado em relação às

características físicas do material do qual ele é feito. Todas as partes da aeronave devem ser

planejadas para suportar as cargas que lhes serão impostas. A determinação de tais cargas é

chamada análise de tensões. Os cinco principais tipos de cargas as quais uma aeronave está

sujeita se caracterizam por tração, compressão, cisalhamento, torção e flexão e são mostrados

na Figura 6.3.

Figura 6.3 – Principais tipos de esforços que atuam em uma aeronave.


384

A estrutura de uma aeronave sofre diversos tipos de esforços durante sua operação,

nesta seção do presente capítulo, são apresentados de maneira simples e objetiva os principais

tipos de esforços atuantes e suas principais características. Os esforços solicitantes em uma

estrutura são classificados basicamente de acordo com o tipo de carregamento e com o modo

no qual a estrutura se deforma, para o projeto AeroDesign, os esforços mais importantes são:

tração e compressão (esforços normais), cisalhamento, torção e flexão.

Cada um dos componentes da aeronave sofre um tipo característico de esforço que

também podem aparecer de forma combinada, o correto dimensionamento estrutural dos

componentes é essencial para se garantir a segurança da estrutura seguindo as normas

regulamentadoras utilizadas na indústria aeronáutica. Basicamente os requisitos estruturais

estão fundamentados na norma FAR part 23.

Para que o leitor se familiarize com os principais tipos de esforços atuantes nas

estruturas mecânicas, é apresentado a seguir um breve resumo das características de cada um

desses tipos de esforços, sendo que um estudo mais avançado pode ser encontrado em livros

destinados ao estudo da resistência dos materiais.

Esforço de tração: ocorre quando forças normais estão presentes na estrutura e possui

a tendência de aumentar o comprimento do componente causando deformação permanente ou

ruptura do material.

Esforço de compressão: ocorre quando forças normais estão presentes na estrutura e

possui a tendência de reduzir o comprimento do componente causando deformação

permanente ou ruptura do material.

Esforço de cisalhamento: ocorre quando forças transversais estão presentes na

estrutura e possui a tendência de cortar o componente causando ruptura do material.

Esforço de torção: ocorre quando momentos de torção (torque) estão presentes na

estrutura e possui a tendência de torcer componente causando deformação permanente ou

ruptura do material.

Esforço de flexão: ocorre quando transversais estão presentes na estrutura e possui a

tendência provocar a flexão do componente causando deformação permanente ou ruptura do

material.

Para efeito de cálculo estrutural de aeronaves, o dimensionamento é realizado pela

aplicação dos fundamentos da resistência dos materiais, assim, no presente livro, serão

apresentados apenas os conceitos e tipos de esforços atuantes nos componentes de uma

aeronave bem como as técnicas de determinação desses esforços, porém a metodologia do

cálculo estrutural não será apresentada, pois cada projeto possui características diferentes e

portanto técnicas de solução de dimensionamento diferentes deverão ser aplicadas.

Dessa forma, aconselha-se ao leitor, que, uma vez determinados os esforços atuantes,

que o dimensionamento estrutural seja realizado seguindo a formulação matemática e as

teorias presentes nos livros de Resistência dos Materiais.

6.2.1 – Estrutura de uma aeronave de asa fixa

Os principais componentes de uma aeronave monomotora à hélice são mostrados na

Figura 6.4 e os componentes estruturais de uma aeronave a jato na Figura 6.5.


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Figura 6.4 - Componentes estruturais de uma aeronave de pequeno porte.

Figura 6.5 - Componentes estruturais típicos de uma aeronave a jato

Fuselagem: A fuselagem é a estrutura principal ou o corpo da aeronave. Ela provê espaço

para a carga, controles, acessórios, passageiros e outros equipamentos. Em aeronaves

monomotoras é a fuselagem que também abriga o motor.

Em aeronaves multi-motoras os motores podem estar embutidos na fuselagem, podem

estar fixados à fuselagem ou suspensos pelas asas. Elas variam, principalmente em tamanho e

arranjo dos diferentes compartimentos.

Há dois tipos gerais de construção de fuselagens, treliça e monocoque. O tipo treliça

consiste de uma armação rígida feita de membros como vigas, montantes e barras que


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resistem à deformação gerada pelas cargas aplicadas. A fuselagem tipo treliça é geralmente

coberta por tela.

Tipo treliça: A fuselagem tipo treliça é geralmente construída de tubos, soldados de tal

forma, que todos os membros da treliça possam suportar tanto cargas de tração como de

compressão. Em algumas aeronaves, principalmente as mais leves, monomotoras, a treliça é

construída de tubos de liga de alumínio e podem ser rebitados ou parafusados em uma peça,

utilizando varetas sólidas ou tubos.

Figura 6.6 - Estrutura de fuselagem tipo treliça, de tubos soldados.

Tipo monocoque: A fuselagem tipo monocoque, baseia-se largamente na resistência do

revestimento para suportar as tensões atuantes. O desenho pode ser dividido em 3 classes: (1)

Monocoque, (2) semimonocoque, ou (3) revestimento reforçado. A verdadeira construção

monocoque, lança mão de perfis, cavernas e paredes para dar formato à fuselagem, porém é o

revestimento que suporta as tensões. Uma vez que não há esteios ou estais, o revestimento

deve ser forte o bastante para manter a fuselagem rígida. Sendo assim, o maior problema

envolvido na construção monocoque é manter uma resistência suficiente, mantendo o peso

dentro de limites aceitáveis.

Figura 6.7 - Construção monocoque.

Para superar o problema resistência/peso da construção monocoque, uma modificação

denominada semi-monocoque foi desenvolvida.


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Figura 6.8 Construção semi-monocoque.

Em adição aos perfis, cavernas e paredes, a construção semi-monocoque possui

membros longitudinais que reforçam o revestimento. A célula reforçada é revestida por uma

estrutura completa de membros estruturais. Diferentes partes da mesma fuselagem podem

pertencer a qualquer das três classes, porém a maioria das aeronaves é considerada semimonocoque.

Tipo semi-monocoque: A fuselagem semi-monocoque é construída primariamente de ligas

de alumínio e magnésio, apesar de se encontrar aço e titânio em áreas expostas a altas

temperaturas. As cargas primárias de flexão são suportadas pelas longarinas, que geralmente

se estendem através de diversos pontos de apoio.

As longarinas são suplementadas por outros membros longitudinais chamados de vigas

de reforço. As vigas de reforço são mais numerosas e mais leves que as longarinas.

Os membros estruturais verticais são chamados de paredes, cavernas e falsas nervuras.

Os membros mais pesados estão localizados a intervalos, para suportar as cargas

concentradas, e em pontos onde são usados encaixes para fixar outras unidades, tais como

asas, motores e estabilizadores.

A Figura 6.9 mostra uma forma de desenho atual de semi-monocoque. As vigas de

reforço são menores e mais leves que as longarinas e servem como preenchimentos.

Elas possuem alguma rigidez, mas são principalmente usadas para dar forma e para

fixar o revestimento. As fortes e pesadas longarinas prendem as paredes e as falsas nervuras, e

estas, por sua vez, prendem as vigas de reforço. Tudo isso junto forma a estrutura rígida da

fuselagem.

Figura 6.9- Membros estruturais da fuselagem.


Geralmente há pouca diferença entre alguns anéis, cavernas e falsas nervuras. Um

fabricante pode chamar um esteio de falsa nervura, enquanto um outro pode chamar o mesmo

tipo de esteio de anel ou caverna. As especificações e instruções do fabricante de um modelo

específico de aeronave são os melhores guias.

As vigas de reforço e as longarinas evitam que a tração e a compressão flexionem a

fuselagem. As vigas de reforço são geralmente peças interiças de liga de alumínio, e são

fabricadas em diversos formatos por fundição, extrusão ou modelagem. As longarinas, tal

como as vigas de reforço são feitas de liga de alumínio; contudo elas tanto podem ser ou não

inteiriças.

Só os membros estruturais discutidos não conseguem dar resistência a uma fuselagem.

Eles precisam primeiramente ser unidos através de placas de reforço, rebite, porcas e

parafusos, ou parafusos de rosca soberba para metais. Os escoramentos entre as longarinas são

geralmente chamados de membros da armação. Eles podem ser instalados na vertical ou na

diagonal.

O revestimento metálico é rebitado às longarinas, paredes e outros membros

estruturais, e suporta parte do esforço. A espessura do revestimento da fuselagem varia de

acordo com o esforço a ser suportado e com as tensões de um local em particular.

Há inúmeras vantagens em se usar uma fuselagem semi-monocoque. As paredes,

cavernas, vigas de reforço e longarinas facilitam o desenho e a construção de uma fuselagem

aerodinâmica, e aumentam a resistência e rigidez da estrutura. A principal vantagem, contudo,

reside no fato de que ela não depende de membros para resistência e rigidez. Isso significa

que uma fuselagem semi-monocoque, devido a sua construção, pode suportar danos

consideráveis e ainda ser forte o suficiente para se manter unida.

As fuselagens são geralmente construídas em duas ou mais seções. Em aeronaves

pequenas, são geralmente feitas em duas ou três seções, enquanto em aeronaves maiores são

feitas de diversas seções.

Um acesso rápido aos acessórios e outros equipamentos montados na fuselagem é

dado através de numerosas portas de acesso, placas de inspeção, compartimentos de trens de

pouso, e outras aberturas. Os diagramas de manutenção mostrando o arranjo do equipamento

e localização das janelas de acesso são supridos pelo fabricante no manual de manutenção da

aeronave.

Há diversos sistemas de numeração em uso para facilitar a localização de específicas

cavernas de asa, paredes de fuselagem, ou quaisquer membros estruturais de uma aeronave.

A maioria dos fabricantes utiliza um sistema de marcação de estações; por exemplo, o

nariz da aeronave pode ser designado estação zero, e todas as demais estações são localizadas

a distâncias medidas em polegadas a partir da estação zero. Sendo assim, quando se lê em um

esquema "Caverna de fuselagem na estação 137", essa caverna em particular pode ser

localizada 137 polegadas atrás do nariz da aeronave.

Um diagrama de estações típico é apresentado na Figura 6.10. Para localizar as

estruturas à direita ou esquerda da linha central de uma aeronave, muitos fabricantes

consideram a linha central como sendo a estação zero para a localização à direita ou esquerda.

O sistema de numeração do fabricante aplicável e as designações abreviadas ou

símbolos, devem sempre ser revisados antes de tentar localizar um membro estrutura.

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Figura 6.10 - Estações da fuselagem.

A lista a seguir inclui os modelos usados por muitos fabricantes.

(1) Estação de fuselagem (Fus. Sta. ou F.S.) - são numeradas em polegadas de um

referencial ou ponto zero, conhecido como DATUM. O DATUM é um plano vertical

imaginário no/ou próximo ao nariz do avião, a partir do qual todas as distâncias são medidas.

A distância até um determinado ponto é medida em polegadas paralelamente à linha

central, que estende-se através da aeronave - do nariz até o centro do cone de cauda. Alguns

fabricantes chamam a estação de fuselagem de estação de corpo (body station) abreviado B.S.

(2) Linha de alheta (Buttock line - B.L.) – é uma medida de largura à esquerda ou à

direita da linha central e paralela à mesma.

(3) Linha d'água (Water line - W.L.) - é a medida de altura em polegadas,

perpendicularmente a um plano horizontalmente a um plano horizontal localizado a uma

determinada distância em polegadas abaixo do fundo da fuselagem da aeronave.

(4) Estação de aíleron (A.S.) - é medida de fora para dentro, paralelamente à lateral

interna do aileron, perpendicularmente à longarina traseira da asa.

(5) Estação de flape (F.S.) - é medida perpendicularmente à longarina traseira da asa e

paralelamente à lateral interna do flape, de fora para dentro.

(6) Estação de nacele (N.C. OU Nac. Sta.) – é medida tanto à frente como atrás da

longarina dianteira da asa, perpendicularmente à linha d'água designada.

Além das estações listadas acima, usa-se ainda outras medidas, especialmente em

aeronaves de grande porte. Ou seja, pode haver estações de estabilizador horizontal (H.S.S.),

estações do estabilizador vertical (V.S.S.) ou estações de grupo motopropulsor (P.P.S.). Em

todos os casos, a terminologia do fabricante e o sistema de localização de estações deve ser

consultado antes de se tentar localizar um ponto em uma determinada aeronave.

Estrutura Alar: As asas de uma aeronave são superfícies desenhadas para produzir

sustentação. O projeto particular para uma dada aeronave depende de uma série de fatores,

tais como: tamanho, peso, aplicação da aeronave, velocidade desejada em vôo e no pouso, e

razão de subida desejada. As asas de uma aeronave de asas fixas são chamadas de asa

esquerda e asa direita, correspondendo à esquerda e à direita do piloto, quando sentado na

cabine.

As asas da maioria das aeronaves atuais são do tipo cantilever; ou seja, elas são

construídas sem nenhum tipo de escoramento externo. O revestimento faz parte da estrutura

da asa e suporta parte das tensões da asa.

Outras asas de aeronaves possuem suportes externos (montantes, estais, etc.) para

auxiliar no suporte da asa e das cargas aerodinâmicas e de pouso.

Tanto as ligas de alumínio como as de magnésio são utilizadas na construção de asas.


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A estrutura interna consiste de longarinas e vigas de reforço no sentido da

envergadura, e nervuras e falsas nervuras no sentido da corda (do bordo de ataque para o

bordo de fuga). As longarinas são os membros estruturais principais da asa. O revestimento é

preso aos membros internos e poderá suportar parte das tensões da asa.

Durante o vôo, cargas aplicadas, impostas à estrutura primária da asa atuam

primariamente sobre o revestimento. Do revestimento elas são transmitidas para as nervuras, e

das nervuras para as longarinas. As longarinas suportam toda a carga distribuída e também os

pesos concentrados, tais como a fuselagem, o trem de pouso e; em aeronaves multimotoras, as

naceles ou "pylons".

A asa, tal qual a fuselagem, pode ser construída em seções. Um tipo muito usado

compõe-se de uma seção central com painéis externos e pontas de asa. Outro arranjo pode

conter projeções da fuselagem, como partes integrantes da asa, ao invés da seção central.

As janelas de inspeção e portas de acesso são geralmente localizadas na superfície

inferior da asa (intradorso). Há também drenos na superfície inferior, para escoar a umidade

que se condensa ou os fluidos. Em algumas aeronaves há até locais onde se pode andar sobre

a asa; em outras, há pontos para apoio de macacos sob as asas.

Diversos pontos nas asas são localizados através do número da estação. A estação de

asa zero (W.S. 0.0) está localizada na linha central da fuselagem, e todas as estações de asa

são medidas a partir daí, em direção às pontas, em polegadas.

Geralmente a construção de uma asa baseia-se em um dos 3 tipos fundamentais: (1)

monolongarina, (2) multilongarina, ou (3) viga em caixa. Os diversos fabricantes podem

adotar modificações desses tipos básicos.

A asa monologarina incorpora apenas um membro longitudinal principal em sua

construção. As nervuras ou paredes suprem o contorno ou formato necessário ao aerofólio.

A asa multilongarina incorpora mais de um membro longitudinal principal em sua

construção. Para dar contorno à asa, incluem-se geralmente nervuras e paredes.

A asa do tipo viga em caixa (caixa central) utiliza dois membros longitudinais

principais com paredes de conexão para dar maior resistência e fazer o contorno de asa. Podese

usar uma chapa corrugada entre as paredes e o revestimento externo liso para que possa

suportar melhor as cargas de tração e compressão.

Em alguns casos, usam-se reforçadores pesados ao invés das chapas corrugadas. Às

vezes usa-se uma combinação de chapas corrugadas na superfície superior, e reforçadores, na

superfície inferior.

Configurações de asas: Dependendo das características de vôo desejadas, as asas serão

construídas em diferentes formas e tamanhos. A Figura 6.11 mostra alguns dos tipos de

bordos de ataque e de fuga. Além da configuração dos bordos de ataque e fuga, as asas são

também desenhadas para prover certas características de vôo desejáveis, tais como grande

sustentação, balanceamento ou estabilidade. A Figura 6.12 mostra alguns formatos comuns de

fixação das asas na fuselagem.

A asa pode ser afilada, de forma que a corda nas pontas seja menor que na raiz da asa.


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Figura 6.11 - Formatos típicos de bordos de ataque e de fuga de asas.

Figura 6.12 - Formatos comuns de asas.

Longarinas de asa: As principais partes estruturais de uma asa são as longarinas, as nervuras

ou paredes, e as vigas de reforço ou reforçadores, como mostrado na Figura 6.13.

Figura 6.13 - Construção interna das asas.

As longarinas são os principais membros estruturais da asa. Elas correspondem às

longarinas da fuselagem. Correm paralelamente ao eixo lateral, ou em direção às pontas da

asa, e, são geralmente presas à fuselagem, através das ferragens da asa, de vigas ou de um

sistema de armação metálica.

As longarinas de madeira podem ser classificadas geralmente em quatro tipos

diferentes, de acordo com a configuração de sua seção transversal.


392

Como mostrado na Figura 6.14, elas podem ser parcialmente ocas, no formato de uma

caixa, sólidas ou laminadas, retangulares, ou em forma de "I".

As longarinas podem ser feitas de madeira ou metal, dependendo do critério de

desenho de uma determinada aeronave.

A maioria das aeronaves recentemente produzidas utiliza longarinas de alumínio

sólido extrudado ou pequenas extrusões de alumínio rebitadas juntas para formar uma

longarina.

Figura 6.14 - Configuração das seções em corte de longarinas típicas de madeira.

A Figura 6.15 mostra as configurações de algumas longarinas metálicas. A maioria das

longarinas metálicas são feitas de seções de liga de alumínio extrudado, com seções da

armação de liga de alumínio, rebitadas a ela para dar maior resistência.

Apesar dos formatos mostrados serem os mais comuns, a configuração da longarina

pode assumir muitas formas. Por exemplo, uma longarina pode ser feita a partir de uma placa

ou de uma armação.

Figura 6.15 - Formatos de longarinas metálicas.

A placa de armação mostrada na Figura 6.16 consiste de uma placa sólida com

reforçadores verticais que aumentam a resistência da armação. Algumas longarinas são

construídas de forma diversa. Umas não possuem reforçadores, outras possuem furos

flangeados para reduzir o peso. A Figura 6.27 mostra uma longarina de armação metálica,

feita com uma cobertura superior, uma cobertura inferior e tubos de conexão vertical e

diagonal.


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Figura 6.16 - Longarina com placa de armação (alma).

Figura 6.17 - Longarina de asa em treliça.

Uma estrutura pode ser desenhada de forma a ser considerada à prova de falha. Em

outras palavras, se um dos membros de uma estrutura complexa falhar, algum outro membro

assumirá sua carga.

Uma longarina construída à prova de falha é mostrada na Figura 6.18. Essa longarina é

constituída de duas seções. A seção superior consiste de uma cobertura rebitada à placa de

armação. A seção inferior é uma extensão simples, consistindo de uma chapa e uma armação.

Essas duas seções são unidas para formar a longarina. Se qualquer uma dessas seções

falhar, a outra seção ainda consegue suportar a carga, a qual é o dispositivo à prova de falha.

Via de regra, uma asa possui duas longarinas. Uma delas é geralmente localizada

próximo ao bordo de ataque da asa, e a outra fica normalmente a 2/3 da distância até o bordo

de fuga. Qualquer que seja o tipo, a longarina é a parte mais importante da asa. Quando outros

membros estruturais da asa são submetidos a carga, eles transferem a maioria da tensão

resultante às longarinas da asa.


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Figura 6.18 - Longarina de asa de construção a prova de falhas.

Nervuras da asa: Nervuras são membros estruturais que compõem a armação da asa. Elas

geralmente estendem-se do bordo de ataque até a longarina traseira ou até o bordo de fuga.

São as nervuras que dão à asa sua curvatura e transmitem os esforços do revestimento

e reforçadores para as longarinas. As nervuras são utilizadas também em ailerons,

profundores, lemes e estabilizadores.

As nervuras são fabricadas em madeira ou metal. Tanto as metálicas como as de

madeira são utilizadas com longarinas de madeira, enquanto apenas as nervuras de metal são

usadas nas longarinas metálicas. A Figura 6.19 mostra algumas nervuras típicas geralmente

confeccionadas em madeira ou alumínio.

Figura 6.19 - Nervuras típicas de madeira.

Os tipos mais comuns de nervuras de madeira são a armação de compensado, a

armação leve de compensado e o tipo treliça.

Desses três tipos, o tipo treliça é o mais eficiente, porém não tem a simplicidade dos

outros tipos.

A nervura de asa mostrada na Figura 6.19A é do tipo treliça, com cantoneiras de

compensado em ambos os lados da nervura e uma cobertura contínua ao redor de toda a

nervura. Essas coberturas são geralmente feitas do mesmo material da nervura. Elas reforçam

e fortalecem a nervura e fornecem uma superfície de fixação para o revestimento.

Uma nervura leve de compensado é mostrada na Figura 6.19B. Nesse tipo, a cobertura

pode ser laminada, especialmente no bordo de ataque. A Figura 6.19C mostra uma nervura

com uma cantoneira contínua, que dá um suporte extra a toda a nervura com um reduzido

acréscimo de peso.

Uma cantoneira contínua reforça a cobertura da nervura. Ela ajuda a prevenir

empenamentos e melhora a junção colada entre a nervura e o revestimento, pois pode-se


395

adicionar pequenos pregos, uma vez que esse tipo de nervura resiste melhor que as outras à

utilização de pregos. A cantoneiras contínuas são mais fáceis de lidar que a grande quantidade

de pequenas cantoneiras necessárias anteriormente.

A Figura 6.20 mostra a estrutura básica longarina/nervura, de uma asa de madeira,

junto com outros membros estruturais.

Além das longarinas dianteira e traseira, a Figura 6.20 mostra uma longarina de

aileron ou falsa longarina. Esse tipo de longarina estende-se por apenas uma parte da

envergadura e dá suporte às dobradiças do aileron.

Vários tipos de nervuras estão também ilustrados na Figura 6.20. Em adição à nervura

de asa; às vezes chamada de "nervura plana", ou mesmo "nervura principal", aparecem

também nervuras dianteiras e nervuras traseiras. Uma nervura dianteira também é chamada

falsa nervura, uma vez que ela geralmente estende-se de um bordo de ataque até a longarina

dianteira ou um pouco além. As nervuras dianteiras dão ao bordo de ataque a curvatura e

suporte.

A nervura de asa, ou nervura plana, estende-se desde o bordo de ataque da asa até a

longarina traseira e, em alguns casos, até o bordo de fuga da asa. A nervura traseira é

normalmente a seção mais tensionada, na raiz da asa, próxima ao ponto de fixação da asa à

fuselagem.

Dependendo de sua localização e método de fixação, uma nervura traseira pode ser

chamada de nervura parede ou de compressão, caso ela seja desenhada para absorver cargas

de compressão que tendem a unir as longarinas da asa.

Uma vez que as nervuras têm pouca resistência lateral, elas são reforçadas em algumas

asas através de fitas entrelaçadas acima e abaixo das seções da nervura para evitar movimento

lateral.

Os estais de arrasto e de antiarrasto cruzam-se entre as longarinas para formar uma

armação resistente às forças que atuam sobre a asa no sentido da corda da asa. Esses estais

também são conhecidos como tirante ou haste de tensão. Os cabos projetados para resistir às

forças para trás são conhecidos como estais de arrasto; os estais de antiarrasto resistem às

forças para a frente, na direção da corda da asa.

Os encaixes de fixação da asa dão um meio de fixar a asa à fuselagem da aeronave. A

ponta de asa é geralmente uma unidade removível, parafusada às extremidades do painel da

asa. Uma das razões é a vulnerabilidade a danos, especialmente durante o manuseio no solo e

no taxiamento.

Figura 6.20 - Estrutura básica longarina/nervura de uma asa de madeira.


396

A Figura 6.21 mostra uma ponta de asa removível, de uma aeronave de grande porte.

A ponta de asa é construída de liga de alumínio. Sua cobertura é fixada através de parafusos

de cabeça escareada e, presa às longarinas em quatro pontos, por parafusos de 1/4 pol. O

bordo de ataque da ponta de asa é aquecido pelo duto de antigelo. O ar quente é liberado

através de uma saída na superfície superior da ponta de asa. As luzes de navegação são

fixadas no centro da ponta de asa e geralmente não são avistadas diretamente da cabine de

comando. Para verificar o funcionamento da luz de navegação, antigamente se usava uma

vareta de lucite que levava a luz até o bordo de ataque; hoje em dia usa-se uma placa de

acrílico transparente que se ilumina e é facilmente visualizada da cabine.

Figura 6.21 - Ponta removível de uma asa.

A Figura 6.22 ilustra uma vista da seção transversal de uma asa metálica cantilever. A

asa é feita de longarinas, nervuras e revestimento superior e inferior. Com poucas exceções, as

asas desse tipo são de revestimento trabalhante (o revestimento faz parte da estrutura da asa e

suporta parte das tensões da asa).

Os revestimentos superior e inferior da asa são formados por diversas seções

integralmente reforçadas. Esse tipo de construção permite a instalação de células de

combustível de borracha ou pode ser selado para suportar o combustível sem as células ou

tanques usuais. Esse tipo de asa com tanque integral é conhecida como "asa- molhada", e é a

mais utilizada nos modernos aviões.

Uma asa que utiliza uma longarina em caixa é mostrada na Figura 6.23. Esse tipo de

construção não apenas aumenta a resistência e reduz o peso, mas também possibilita a asa

servir como tanque de combustível quando adequadamente selada.

Tanto os materiais formados por sanduíche de colmeia de alumínio, como os de

colméia de fibra de vidro, são comumente usados na construção de superfícies de asa e de

estabilizadores, paredes, pisos, superfícies de comando e compensadores.

Figura 6.22 - Asa metálica com revestimento reforçado.


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Figura 6.23 - Asa com longarina em caixa.

O sanduíche (honeycomb) de alumínio é feito de um núcleo de colmeia de folha de

alumínio, colada entre duas chapas de alumínio.

O sanduíche de fibra de vidro consiste de um núcleo de colméia colado entre camadas.

Na construção de estruturas de aeronaves de grande porte, e também em algumas

aeronaves de pequeno porte, a estrutura em sanduíche utiliza tanto o alumínio como materiais

plásticos reforçados. Os painéis de colmeia são geralmente núcleos celulares leves colocados

entre dois finos revestimentos tais como o alumínio, madeira ou plástico.

O material de colmeia para aeronaves é fabricado em diversos formatos, mas

geralmente tem espessura constante ou afilada. Um exemplo de cada um é mostrado na Figura

6.24. A Figura 6.25 mostra uma vista da superfície superior de uma aeronave de grande porte

de transporte a jato. Os vários painéis fabricados em colmeia são mostrados pelas áreas

hachuradas.

Um outro tipo de construção é apresentado na Figura 6.26. Neste caso a estrutura em

sanduíche do bordo de ataque da asa é colada à longarina metálica. Nessa figura também

aparece o painel de degelo integralmente colado.

Figura 6.24 - Seções de colméia de espessura constante e afilada.


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Figura 6.25 - Construção em colméia da asa de uma grande aeronave a jato.

Figura 6.26 - Bordo de ataque com estrutura em sanduíche colada na longarina.

Naceles: As naceles ou casulos são compartimentos aerodinâmicos usados em aeronaves

multimotoras com o fim primário de alojar os motores.

Possuem formato arredondado ou esférico e geralmente estão localizados abaixo,

acima ou no bordo de ataque da asa.

No caso de um monomotor, o motor é geralmente montado no nariz da aeronave, e a

nacele é uma extensão da fuselagem.

Uma nacele de motor consiste de revestimento, carenagens, membros estruturais, uma

parede de fogo e os montantes do motor. O revestimento e as carenagens cobrem o exterior da

nacele. Ambos são geralmente feitos de folha de liga de alumínio, aço inoxidável, magnésio

ou titânio. Qualquer que seja o material usado, o revestimento é geralmente fixado através de

rebites ao berço do motor.

A armação geralmente consiste de membros estruturais semelhantes aos da fuselagem.

Ela contém membros que se estendem no sentido do comprimento, tais como as longarinas e

reforçadores, e membros que se estendem no sentido da largura e verticalmente, tais como as

paredes, cavernas e falsas nervuras.


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Uma nacele também contém uma parede de fogo que separa o compartimento do

motor do resto da aeronave. Essa parede é normalmente feita em chapa de aço inoxidável, ou

em algumas aeronaves de titânio.

Um outro membro da nacele são os montantes, ou berço do motor. O berço é

geralmente preso à parede-de-fogo, e o motor é fixado ao berço por parafusos, porcas e

amortecedores de borracha que absorvem as vibrações.

A Figura 6.27 mostra exemplos de um berço semi-monocoque e um berço de tubos de

aço usado em motores convencionais.

Os berços são projetados para suprir certas condições de instalação, tais, como a

localização e o método de fixação do berço e as características do motor que ele deverá

suportar.

Figura 6.27 - Berços de motor semi-monocoque e de tubos de aço soldados.

Um berço é geralmente construído como uma unidade que pode ser rapidamente e

facilmente separada do resto da aeronave.

Os berços são geralmente fabricados em tubos soldados de aço cromo/molibdênio, e

fusões de cromo / níquel / molibdênio são usadas para os encaixes expostos a altas tensões.

Para reduzir a resistência ao avanço em vôo, o trem de pouso da maioria das aeronaves

ligeiras ou de grande porte é retrátil (movido para o interior de naceles aerodinâmicas). A

parte da aeronave que aloja o trem de pouso é chamada nacele do trem.

Carenagens: O termo carenagem geralmente aplica-se à cobertura removível daquelas áreas

onde se requer acesso regularmente, tais como motores, seções de acessórios e áreas de berço

ou da parede de fogo.

A Figura 6.28 mostra uma vista explodida das partes que compõem a carenagem de

um motor a pistões opostos horizontalmente, utilizado em aeronaves leves. Alguns motores

convencionais de grande porte são alojados em carenagem tipo "gomos-de-laranja" Figura

6.29. Os painéis de carenagem são presos à parede de fogo por montantes que também servem

como dobradiças quando a carenagem é aberta.


400

Figura 6.28 - Carenagem para motor de cilindros horizontais opostos.

Os montantes da carenagem inferior são presos às dobradiças por pinos que travam

automaticamente no lugar, mas podem ser removidos por um simples puxão de um anel. Os

painéis laterais são mantidos abertos por pequenas hastes; o painel superior é mantido aberto

por uma haste maior, e o painel inferior é seguro na posição "aberto" através de um cabo e

uma mola.

Todos os 4 painéis são travados na posição "fechado" por lingüetas de travamento, que

são presas fechadas através de travas de segurança com mola. As carenagens são geralmente

construídas em liga de alumínio; contudo, geralmente usa-se aço inoxidável no revestimento

interno traseiro da seção de potência, para flapes de arrefecimento e próximo às aberturas dos

flapes de arrefecimento, e também para dutos de refrigeração de óleo.

Nas instalações de motores a jato, as carenagens são desenhadas de forma bem

alinhada com o fluxo de ar sobre os motores para protegê-los contra danos. O sistema

completo de carenagens inclui uma carenagem de nariz, carenagens superior e inferior com

dobradiças removíveis e um painel de carenagem fixo. Um arranjo típico de carenagem

superior e inferior com dobradiça é mostrado na Figura 6.30.

Figura 6.29 - Carenagem de motor na posição aberta (tipo “casca de laranja”).


401

Figura 6.30 Carenagem de motor a jato com dobradiça lateral.

Empenagem: A empenagem é também conhecida como seção de cauda, e na maioria das

aeronaves consiste de um cone de cauda, superfícies fixas e superfícies móveis.

O cone de cauda serve para fechar e dar um acabamento aerodinâmico a maioria das

fuselagens.

O cone é formado por membros estruturais Figura 6.31, como os da fuselagem;

contudo sua construção é geralmente mais leve, uma vez que recebe menor tensão que a

fuselagem. Outros componentes de uma típica empenagem são mais pesados que o cone de

cauda. São eles, as superfícies fixas que estabilizam a aeronave e as superfícies móveis que

ajudam a direcionar o vôo da aeronave. As superfícies fixas são o estabilizador horizontal e o

estabilizador vertical. As superfícies móveis são o leme e os profundores. A Figura 6.32

mostra como as superfícies verticais são construídas, utilizando longarinas, nervuras,

reforçadores e revestimento da mesma maneira que na asa.

A tensão em uma empenagem também é suportada como em uma asa. As cargas de

flexão, torção e cisalhamento, atuantes, passam de um membro estrutural para o outro.

Cada membro absorve parte da tensão e passa o restante para os outros membros. A

sobrecarga de tensão eventualmente alcança as longarinas, que transmitem-na à estrutura da

fuselagem.

Figura 6.31 - A fuselagem termina em um cone traseiro.


402

Figura 6.32 - Características de construção do estabilizador vertical e do leme de direção.

Superfícies de controle de vôo: O controle direcional de uma aeronave de asa fixa ocorre ao

redor dos eixos lateral, longitudinal e vertical, através das superfícies de controle de vôo.

Esses dispositivos de controle são presos a dobradiças ou superfícies móveis, através das

quais a atitude de uma aeronave é controlada durante decolagens, vôos e nos pousos. Elas

geralmente são divididas em dois grandes grupos: as superfícies primárias ou principais e as

superfícies auxiliares.

O grupo primário de superfícies de controle de vôo consiste de ailerons, profundores e

lemes. Os ailerons são instalados no bordo de fuga das asas. Os profundores são instalados no

bordo de fuga do estabilizador horizontal.

O leme é instalado no bordo de fuga do estabilizador vertical. As superfícies primárias

de controle são semelhantes em construção e variam em tamanho, forma e método de fixação.

Quanto à construção, as superfícies de controle são semelhantes às asas, totalmente

metálicas. Elas são geralmente construídas em liga de alumínio, com uma única longarina ou

tubo de torque. As nervuras são presas à longarina nos bordos de fuga e ataque, e são unidas

por uma tira de metal. As nervuras, em muitos casos, são feitas de chapas planas. Raramente

são sólidas e, geralmente são estampadas no metal, com furos para reduzir o seu peso.

As superfícies de controle de algumas aeronaves antigas são recobertas de tela.

Contudo, todas as aeronaves a jato possuem superfícies metálicas devido à maior necessidade

de resistência. As superfícies de controle previamente descritas podem ser consideradas

convencionais, porém em algumas aeronaves, uma superfície de controle pode ter um duplo

propósito. Por exemplo, um conjunto de comandos de vôo, os elevons, combinam as funções

dos ailerons e dos profundores. Os flaperons são ailerons que também agem como flapes.

Uma seção horizontal de cauda móvel é uma superfície de controle que atua tanto

como estabilizador horizontal quanto como profundor. O grupo das superfícies de comando

secundárias ou auxiliares consiste de superfícies como os compensadores, painéis de

balanceamento, servo-compensadores, flapes, “spoilers” e dispositivos de bordo de ataque.

Seu propósito é o de reduzir a força requerida para atuar os controles primários, fazer

pequenas compensações e balancear a aeronave em vôo, reduzir a velocidade de pouso ou

encurtar a corrida de pouso, e mudar a velocidade da aeronave em vôo. Eles geralmente estão

fixados, ou encaixados nos comandos primários de vôo.

Ailerons: Os ailerons são as superfícies primárias de controle em vôo que fazem parte da área

total da asa. Eles se movem em um arco preestabelecido e são geralmente fixados por


403

dobradiça à longarina do aileron ou à longarina traseira da asa. Os ailerons são operados por

um movimento lateral do manche, ou pelo movimento de rotação do volante.

Numa configuração convencional, um aileron é articulado ao bordo de fuga de cada

uma das asas. A Figura 6.33 mostra o formato e a localização dos ailerons típicos aplicados

em aeronaves de pequeno porte, nos diversos tipos de ponta de asa.

Figura 6.33 - Localização do aileron nos diversos tipos de ponta de asa.

Os ailerons são interconectados no sistema de controle de forma que se movam

simultaneamente em direções opostas. Quando um aileron move-se para aumentar a

sustentação naquele lado da fuselagem, o aileron do lado oposto da fuselagem move-se para

cima, para reduzir a sustentação em seu lado. Essas ações opostas resultam na maior produção

de sustentação em um dos lados da fuselagem que no outro, resultando em um movimento

controlado de rolamento devido a forças aerodinâmicas desiguais nas asas.

Uma vista lateral de uma nervura metálica típica de um aileron é mostrada na Figura

6.34. O ponto de articulação desse tipo de aileron é atrás do bordo de ataque para melhorar a

resposta sensitiva ao movimento dos controles. Os braços de atuação presos à longarina do

aileron são alavancas às quais são ligados os cabos de comando.

Figura 6.34 - Vista da nervura final do aileron.

As aeronaves de grande porte usam geralmente ailerons completamente metálicos,

exceto quanto ao bordo de fuga, que pode ser de fibra de vidro, articulados à longarina

traseira da asa em pelo menos quatro pontos. A Figura 6.35 mostra diversos exemplos de

instalações de aileron.


404

Figura 6.35 - Diversas localizações da articulação dos ailerons.

Todas as superfícies de comando de grandes aeronaves a jato são mostradas na Figura

6.36. Como ilustrado, cada asa possui dois ailerons, um montado na posição convencional na

parte externa do bordo de fuga da asa, e outro conectado ao bordo de fuga da asa na seção

central.

Figura 6.36 - Superfícies de controle de uma grande aeronave a jato.

O complexo sistema de controle lateral das grandes aeronaves a jato é muito mais

sofisticado que o tipo usado em aeronaves leves.

Durante o vôo a baixa velocidade todas as superfícies de controle lateral operam para

gerar estabilidade máxima. Isso inclui os quatro ailerons, flapes e “spoilers”.

No vôo a alta velocidade, os flapes são recolhidos e os ailerons externos são travados

na posição neutra.

A maior parte da área do revestimento dos ailerons internos é constituída de painéis de

colméia de alumínio. As bordas expostas da colmeia são cobertas com selante e com o

acabamento protetor.

O bordo de ataque se afila e se estende à frente da linha de articulação do aileron.

Cada aileron interno é posicionado entre os flapes internos e externos, no bordo de fuga da

asa. Os suportes da articulação do aileron estendem-se para trás, e são fixados aos olhais de

articulação do aileron para suportá-los.


405

Os ailerons externos consistem de uma longarina de nariz e de nervuras, recobertas

com painéis de colmeia de alumínio. Uma dobradiça contínua presa à borda dianteira do nariz

é encaixada de forma a coincidir com a bainha de um selo de tecido.

Os ailerons externos estão localizados no bordo de ataque da seção externa da asa. Os

suportes da dobradiça estendem-se a partir da parte traseira da asa e são fixados à dobradiça

do aileron, para suportá-lo. O nariz do aileron estende-se para uma câmara de balanceamento

na asa e é fixado aos painéis de balanceamento. Os painéis de balanceamento do aileron

Figura 6.37 reduzem a força necessária para posicionar e manter os ailerons em uma

determinada posição. Os painéis de balanceamento podem ser feitos de revestimento em

colmeia de alumínio com estrutura de alumínio, ou com revestimento de alumínio e

reforçadores. A abertura entre o bordo de ataque do aileron e a estrutura da asa, gera um fluxo

de ar controlado, necessário ao funcionamento dos painéis de balanceamento.

Selos fixos aos painéis controlam a fuga do ar. A força do ar que atua nos painéis de

balanceamento dependerá da posição do aileron. Quando os ailerons são movidos durante o

vôo, cria-se uma pressão diferencial sobre os painéis de balanceamento. Essa pressão

diferencial age nos painéis de balanceamento, numa direção que ajuda o movimento do

aileron. Toda a força dos painéis de balanceamento não é requerida para pequenos ângulos de

movimento dos ailerons, visto que o esforço necessário para girar os controles é pequeno.

Uma sangria de ar controlada é progressivamente reduzida à medida que o ângulo de

atuação dos ailerons é reduzido. Essa ação aumenta a pressão diferencial de ar sobre os

painéis de balanceamento à medida que os ailerons se afastam da posição neutra. A carga

crescente nos painéis de balanceamento contraria a carga crescente nos ailerons.

Figura 6.37 - Balanceamento do aileron.

Superfícies auxiliares das asas: Os ailerons são as superfícies primárias de vôo das asas. As

superfícies auxiliares incluem os flapes de bordo de fuga, os flapes de bordo de ataque, os

freios de velocidade, os “spoilers” e os “slats” de bordo de ataque. O número e o tipo de

superfícies auxiliares em uma aeronave variam muito, dependendo do tipo e tamanho da

aeronave.

Os flapes de asa são usados para dar uma sustentação extra à aeronave. Eles reduzem a

velocidade de pouso, encurtando assim a distância de pouso, para facilitar o pouso em áreas

pequenas ou obstruídas, pois permite que o ângulo de planeio seja aumentado sem aumentar

muito a velocidade de aproximação.

Além disso, o uso dos flapes durante a decolagem reduz a corrida de decolagem. A

maioria dos flapes são conectados às partes mais baixas do bordo de fuga da asa, entre os


406

ailerons e a fuselagem. Os flapes de bordo de ataque também são usados, principalmente em

grandes aeronaves que voam a alta velocidade.

Quando eles estão recolhidos, eles se encaixam nas asas e servem como parte do bordo

de fuga da asa. Quando eles estão baixados ou estendidos, pivoteiam nos pontos de

articulação e formam um ângulo de aproximadamente 45º ou 50º com a corda aerodinâmica

da asa. Isso aumenta o arqueamento da asa e muda o fluxo de ar gerando maior sustentação.

Alguns tipos comuns de flapes são mostrados na Figura 6.38.

O flape simples forma o bordo de fuga da asa quando recolhido. Ele possui tanto a

superfície superior como a inferior do bordo de fuga da asa.

O flape vertical simples fica normalmente alinhado com o arqueamento inferior da

asa. Ele assemelha-se ao flape simples, exceto pelo fato de que o arqueamento superior da asa

estende-se até o bordo de fuga do flape e não se move. Geralmente esse tipo de flape não

passa de uma chapa de metal presa por uma grande dobradiça. As aeronaves que requerem

uma área alar extra para ajudar na sustentação, geralmente utilizam flapes deslizantes ou

"Fowler".

Esse sistema, tal como no flape ventral, guarda o flape alinhado com o arqueamento

inferior da asa. Mas ao invés do flape simplesmente cair preso por um ponto de articulação,

seu bordo de ataque é empurrado para trás por parafusos sem-fim.

Figura 6.38 - Flapes das asas.

Essa atuação provoca um efeito normal do flape e, ao mesmo tempo, aumenta a área

alar. A Figura 6.39 mostra um exemplo de flape deslizante, com três fendas, usado em

algumas aeronaves de grande porte a jato. Esse tipo gera grande sustentação, tanto na

decolagem como no pouso. Cada flape consiste de um flape dianteiro, um flape central e um

traseiro. O comprimento da corda de cada flape se expande à medida que este é estendido,

aumentando em muito a sua área. As fendas entre os flapes evitam o descolamento do fluxo

de ar sobre a área.


407

Figura 6.39 - Flape deslizante com três fendas.

O flape de bordo de ataque Figura 6.40 é semelhante em operação ao flape simples; ou

seja, ele é articulado pelo lado inferior, e quando atuado, o bordo de ataque da asa estende-se

para baixo para aumentar o arqueamento da asa. Os flapes de bordo de ataque são utilizados

em conjunto com outros tipos.

Figura 6.40 - Seção em corte de um flape de bordo de ataque.

A Figura 6.41 mostra a localização dos flapes de bordo de ataque em uma aeronave

multimotora de grande porte a jato. Os três flapes do tipo "KRUGER" estão instalados em

cada uma das asas. Eles são peças de magnésio fundidas e torneadas com nervuras e

reforçadores integrais. A armação de magnésio fundido de cada um é o principal componente

estrutural, e consiste de uma seção reta oca, chamada de tubo de torque que estende-se a partir

da seção reta na extremidade dianteira. Cada flape de bordo de ataque possui três dobradiças

tipo cotovelo (pescoço-deganso), presas a encaixes na parte fixa do bordo de ataque da asa, e

há também uma carenagem para as articulações instalada no bordo de fuga de cada flape. A

Figura 6.41 mostra um típico flape de bordo de ataque, recolhido com uma representação da

posição estendida.

Os freios de velocidade, algumas vezes chamados flapes de mergulho, ou freios de

mergulho servem para reduzir a velocidade de uma aeronave em vôo.

Esses freios são usados durante descidas íngremes ou durante a aproximação da pista

para o pouso. Eles são fabricados em diferentes formas, e sua localização depende do desenho

da aeronave e da finalidade dos freios.

Os painéis do freio podem localizar-se em certas partes da fuselagem ou sobre a

superfície das asas.


408

Figura 6.41 - Flape de bordo de ataque.

.

Na fuselagem eles são pequenos painéis que podem ser estendidos no fluxo de ar

suave para gerar turbulência e arrasto. Nas asas, os freios podem ser canais de múltiplas

seções que se estendem sobre e sob a superfície das asas para romper o fluxo suave do ar.

Geralmente os freios de velocidade são controlados por interruptores elétricos e

atuados por pressão hidráulica.

Outro tipo de freio aerodinâmico é uma combinação de “spoiler” e freio de velocidade.

Uma combinação típica consiste de “spoilers” localizados na superfície superior das asas à

frente dos ailerons. Quando o operador quer operar tanto os freios de velocidade como os

“spoilers”, ele pode diminuir a velocidade de vôo e também manter o controle lateral. Os

“spoilers” são superfícies auxiliares de controle de vôo, montados na superfície superior de

cada asa, e operam em conjunto com os ailerons, no controle lateral.

A maioria dos sistemas de “spoilers” também pode ser estendido simetricamente para

servir como freio de velocidade. Outros sistemas contêm “spoilers” de vôo e de solo

separadamente.

A maioria dos ”spoilers” consiste de estruturas de colmeia coladas em um

revestimento de alumínio.

São fixados às asas através de encaixes articulados que são colados aos painéis de

“spoiler”.

Compensadores: Um dos mais simples e importantes dispositivos auxiliadores do piloto de

uma aeronave é o compensador montado nas superfícies de comando. Apesar do compensador

não tomar o lugar da superfície de comando, ele é fixado a uma superfície de controle móvel e

facilita seu movimento ou o seu balanceamento.

Todas as aeronaves, com exceção de algumas muito leves, são equipadas com

compensadores que podem ser operados da cabine de comando.

Os compensadores de algumas aeronaves são ajustáveis apenas no solo. A Figura 6.42

mostra a localização de um típico compensador de leme.


409

Figura 6.42 - Localização típica do compensador de controle do leme de direção.

Trem de Pouso: O trem de pouso é o conjunto que suporta o peso da aeronave no solo e

durante o pouso. Ele possui amortecedores para absorver os impactos do pouso e do táxi.

Através de um mecanismo de retração, o trem de pouso fixa-se à estrutura da aeronave e

permite ao trem estender e retrair. A arranjo do trem de pouso geralmente tem uma roda de

bequilha ou de nariz. Os arranjos com trem de nariz geralmente são equipados com controle

direcional, e possuem algum tipo de proteção na cauda, como um patim ou um amortecedor

de impacto (bumper).

Através de rodas e pneus (ou esquis), o trem de pouso forma um apoio estável com o

solo durante o pouso e o táxi. Os freios instalados no trem de pouso permitem que a aeronave

seja desacelerada ou parada durante a movimentação no solo.

Revestimento e carenagens: Quem dá o acabamento liso à aeronave é o revestimento. Ele

cobre a fuselagem, as asas, a empenagem, as naceles e os compartimentos.

O material geralmente usado no revestimento de aeronaves é a chapa de liga de

alumínio, com tratamento anti-corrosivo. Em quantidade limitada usa-se também o magnésio

e o aço inoxidável. As espessuras dos revestimentos de uma unidade estrutural podem variar,

dependendo da carga e dos estresses impostos dentro e através de toda a estrutura.

Para suavizar o fluxo de ar sobre os ângulos formados pelas asas e outras unidades

estruturais com a fuselagem, utilizam-se painéis estampados ou arredondados. Estes painéis

ou revestimentos são chamados de carenagens. As carenagens são muitas vezes chamadas de

acabamento.

Algumas carenagens são removíveis para dar acesso aos componentes da aeronave,

enquanto outras são rebitadas à estrutura da aeronave.

Portas e janelas de acesso e inspeção: As portas de acesso permitem a entrada ou saída

normal ou em emergência em uma aeronave. Elas também dão acesso aos pontos de

lubrificação, abastecimento e dreno da aeronave.

As janelas de inspeção dão acesso a partes particulares de uma aeronave durante sua

inspeção ou manutenção. Podem ser presas por dobradiças ou totalmente romovíveis. Elas são

mantidas na posição fechada através de garras e travas, parafusos, dispositivos de soltura

rápida ou presilhas. As janelas de acesso removíveis geralmente possuem um número que

também é pintado no compartimento que ela fecha; outras têm impresso o nome do

compartimento respectivo.

6.3 – Cargas nas Aeronaves

Em qualquer projeto de engenharia, a disposição (“layout”) e dimensionamento

(“sizing”) da estrutura são processos iterativos. Este processo implica que haja uma fase de


síntese que estabeleça um conjunto de detalhes, antes que a análise estrutural possa ser

empreendida. A fase da síntese confia na experiência do projetista conjuntamente com o uso

de equações simples. Existem programas complexos de análise que contém toda experiência

passada, mas mesmo assim é importante ter uma visão da maneira como a estrutura reage e

transmite cargas. Esta seção do presente capítulo analisa as considerações preliminares do

projeto estrutural de um avião e sugere as técnicas que podem ser usadas para começar o

processo do projeto.

A estrutura de um avião deve ser projetada de modo que satisfaça um certo número de

exigências conflituosas. O problema fundamental é conseguir um peso baixo com um custo de

produção aceitável, e ao mesmo tempo assegurar, resistência (“Strength”), rigidez

(“Stiffness”) e fFuncionalidade (“Serviceability”)

Cada uma destas três características da estrutura é dependente do tempo e é afetada

pelos danos causados e pela deterioração em serviço e também na repetição das cargas

aplicadas. O projetista deve assegurar a integridade da estrutura face à fadiga e à corrosão.

Estes efeitos devem ser considerados no inicio do projeto da estrutura de modo a

assegurar de que as áreas de problemas potenciais sejam evitadas e os membros estruturais

críticos, que garantem a segurança de vôo, possam ser prontamente inspecionados em serviço.

Grande parte do projeto e da análise de uma estrutura procura assegurar que as

exigências em termos de resistência sejam satisfeitas inicialmente e durante toda a vida do

avião.

As exigências para a fuselagem especificam condições de carregamento baseadas em

experiência passada nas condições de:

a) Manobra simétrica do vôo e casos de turbulência do ar.

b) Casos de vôo assimétrico.

c) Cargas que se manifestam enquanto o avião está em contato com o solo.

d) Casos suplementares para assegurar situações específicas ou componentes da fuselagem.

As exigências permitem que o valor do carregamento possa ser avaliado em termos de

uma condição limite, que é a aplicação mais severa encontrada para uma dada probabilidade.

Esta exigência do limite é suplementada por uma indicação da freqüência de ocorrência das

circunstâncias onde o valor de carregamento é mais baixo do que o máximo, a fim permitir

que a avaliação a fadiga possa ser empreendida.

Dois fatores são geralmente aplicados as condições limite:

a) Fator de prova, frequentemente 1, que deve se assegurar de que não haja nenhuma

deformação permanente inaceitável após a aplicação das condições de limite.

b) Fator final, que é eficazmente um fator de segurança. Na maioria de casos é 1,5 embora

haja uma tendência para que seja reduzido no avião militar. Com o fator final pretende-se

cobrir incertezas nas cargas e nas propriedades do material.

Tensão: O processo de cálculo de tensões consiste em relacionar as cargas aplicadas às

propriedades e às dimensões materiais dos membros estruturais. O resultado é indicado por

um fator de segurança, que é a relação da força potencial do componente dado com o

carregamento aplicado na condição real.

Rigidez: A rigidez total de uma estrutura deve ser a suficiente de modo a assegurar que,

durante a operação do avião, nenhumas das distorções que possam ocorrer excedam um valor

aceitável. Há algumas situações simples tal como a rigidez do chão da cabine, outras situações

podem ser mais complicados como a rigidez à torção da asa. A maioria dos efeitos da rigidez

são resultantes da interação da estrutura com o escoamento exterior (aerodinâmica), chamado

efeito de aeroelasticidade. Os efeitos de aeroelasticidade podem ser divididos em duas

categorias:

410


a) Distorções gradualmente crescentes provocadas por um aumento da carga até á criação de

uma situação inaceitável. A rigidez estrutural e a aerodinâmica são os únicos parâmetros

envolvidos.

b) Condições dinâmicas, onde a inércia e o amortecimento da fuselagem e o escoamento de ar

interagem com a rigidez de maneira a causar efeitos dinâmicos inaceitáveis, vibrações

geralmente divergentes.

Do ponto da vista do projeto estrutural a consideração principal em ambos os casos é a

rigidez. Geralmente o amortecimento estrutural é pequeno e não pode ser controlado pelo

projetista. A inércia e o amortecimento da fuselagem podem ser importantes, em especial

quando grandes massas concentradas são fixadas em superfícies sustentadoras.

Critério de Rigidez: No passado os critérios de rigidez foram usados para estabelecer

características de aeroelasticidade satisfatórias para uma fuselagem. Estas equações

relativamente simples caíram pela maior parte em desuso devido a duas boas razões:

a) É difícil produzir uma equação simples que cubra adequadamente todos os aspectos críticos

de um componente da fuselagem sem usar um grande fator de segurança (para prever todas as

contingências) sendo por isso inaceitável.

b) O desenvolvimento de sofisticadas técnicas de análise permitiu que as condições de

aeroelasticidade pudessem ser estabelecidas mais exatamente e eficientemente em termos do

peso da fuselagem.

Muitos critérios de rigidez estão relacionados com a rigidez de torção de superfícies

sustentadoras. Esta é a principal característica estrutural que determina a mudança do ângulo

de ataque local quando a carga é aplicada. O ângulo de ataque afeta diretamente o valor da

carga. Quando uma superfície sustentadora tem uma flecha positiva, a sua distorção devido à

flexão torna-se também importante.

Funcionalidade: Do ponto da vista da disposição estrutural de toda a fuselagem, a

consideração mais importante da funcionalidade, é aquela que se levanta devido aos efeitos da

fadiga.

Essencialmente há duas maneiras de assegurar que a estrutura continua a reter a força

adequada durante a sua vida:

a) Conceito seguro da vida, onde o cálculo e teste são usados para demonstrar que nenhuma

falha ocorrerá sob um espectro crítico do carregamento dentro de uma vida especificada para

um dado componente. Assegurá-la a uma probabilidade suficientemente remota da falha, é

necessário aplicar na prática um grande fator de segurança.

b) O conceito Tolerância ao Dano (“Damage Tolerance” ), onde há uma ênfase no projeto:

- Provisão de um número de trajetos para reagir a uma condição de carregamento dada, de

modo que as alternativas estejam disponíveis no evento de uma falha.

- A análise de fratura mecânica, para predizer a taxa de crescimento de toda a fissura, com a

incorporação de limitadores de fratura (crack stoppers) para atrasar o progresso de fissuração.

- A facilidade da inspeção para permitir que fissuras possam ser encontradas e a estrutura

reparada muito tempo antes que uma situação crítica esteja alcançada.

411


412

6.3.1 - Tipos de Cargas nas Aeronaves

Uma aeronave é projetada para suportar basicamente dois tipos de cargas.

a) Cargas no solo: São encontradas pela aeronave durante seu deslocamento no solo,

(taxiamento, decolagem e pouso).

b) Cargas em vôo: São atuantes na aeronave durante as manobras de vôo, rajadas de

vento, etc.

As duas classes de cargas citadas podem ser divididas em:

a) Cargas de superfície: Atuam sobre a superfície da estrutura.

b) Forças de corpo: Atuam sobre o volume da estrutura e são geradas pela gravidade e

por efeitos de inércia.

Cargas aerodinâmicas de superfície: Durante um vôo quer seja em condições nivelada, de

manobras ou devido a uma rajada de vento, a estrutura de uma aeronave está sujeita as cargas

aerodinâmicas devido as diferenças de pressão encontradas nas diversas partes do avião. A

distribuição de pressão sobre a superfície da aeronave provoca esforços de cisalhamento,

tração, compressão, torção e flexão em todos os pontos da estrutura. A partir do conhecimento

desses esforços, o projetista pode dimensionar a estrutura completa da aeronave utilizando-se

os fundamentos da resistência dos materiais através de uma solução analítica ou numérica nas

principais partes da aeronave.

Com a exceção de determinadas condições de carregamento de solo, um avião é

efetivamente um corpo livre no espaço. Assim, deve-se considerar os seus seis graus de

liberdade. Portanto é necessário incluir todas as forças e momentos tais como forças de corte e

diagramas de momentos fletores. O procedimento para a determinação das cargas atuantes em

uma aeronave consiste em:

a) Análise do carregamento tal como o exigido nos manuais do projeto e a sua

influência no movimento do avião.

b) Avaliar as conseqüentes cargas aerodinâmicas, por exemplo, na estrutura asa -

corpo ou da cauda.

c) Calcular as acelerações de translação e rotação, usando os momentos de inércia

totais.

d) Distribuir as cargas aerodinâmicas e os efeitos locais da inércia pela fuselagem.

e) Integrar as cargas através da fuselagem para obter forças de corte, e integrar uma

segunda vez para obter os momentos de flexão e de torção. A integração deve sempre

começar nas extremidades do avião e terminar no centro de gravidade.

O processo pode ser aplicado aos componentes completos do avião tais como a asa e a

fuselagem, ou às partes menores tais como superfícies de controle, hiper-sustentadores ou

carenagens dos motores, mas em todos os casos as forças e os momentos devem estar em total

equilíbrio.

Antes que a seleção final das dimensões dos membros estruturais em aeronave seja

efetuada, todas as condições de cargas aplicadas na estrutura têm de ser conhecidas. As

condições de carga são aquelas encontradas quer em vôo quer em terra. Uma vez que é

impossível investigar todas as condições de carga que uma aeronave pode encontrar no seu


tempo de vida, é normal selecionar aquelas que serão críticas para cada membro estrutural do

avião. Estas condições são normalmente determinadas a partir de uma vasta investigação e

experiência.

Apesar do cálculo dos carregamentos aplicados nas aeronaves ser a principal

responsabilidade de um grupo especial denominado por grupo de cargas no mundo da

engenharia, um conhecimento geral das cargas nas aeronaves é essencial para os analistas de

tensões.

Toda a aeronave é projetada para cumprir missões específicas de uma forma segura.

Isto resulta numa vasta gama de veículos que se distinguem pela dimensão, configuração e

desempenho. Aviões de transporte comercial são desenhados especificamente para o

transporte de passageiros e carga de um aeroporto para outro. Estes tipos de aviões nunca

estão sujeitos a manobras violentas. Por outro lado, aviões militares como caças e

bombardeiros têm que resistir a manobras mais severas.

As condições de projeto são normalmente determinadas a partir da máxima aceleração

que o corpo humano pode resistir já que o piloto perde a consciência antes de se atingir o fator

de carga que causará falha estrutural no avião.

Para garantir segurança, integridade estrutural, e confiabilidade das aeronaves tendo

em conta a otimização do projeto, as agências governamentais, civis e militares,

estabeleceram especificações e requisitos de acordo com a amplitude das cargas a serem

usadas no projeto estrutural das várias aeronaves.

As cargas limites usadas pelas agências civis, ou cargas aplicadas pelas militares são

as cargas máximas a que o avião poderá estar sujeito ao longo de toda a sua vida útil. Cargas

máximas ou cargas de projeto são as cargas limites multiplicadas por um fator de segurança

(FS)

Geralmente, este fator varia de 1,25 para mísseis a 1,5 para estruturas de aviões e é

usado em praticamente todo o projeto devido ao elevado número de incertezas e

aproximações tais como:

1 - Simplificações e aproximações efetuadas nas análises teóricas;

2 - Variações nas propriedades do material e no controle de qualidade;

3 - Manobras de emergência que podem partir do piloto, resultando em cargas no

veículo que podem ser maiores que as cargas limites especificadas.

As cargas limites e as cargas de projeto são muitas vezes definidas especificando

certos valores de fatores de carga. O fator limite de carga é um fator pelo qual os

carregamentos básicos em uma aeronave são multiplicados de modo a obter as cargas limites.

Do mesmo modo, o fator de carga de projeto é um fator pelo qual os carregamentos

básicos são multiplicados para obter as cargas de projeto; por outras palavras, é o produto do

fator limite de carga pelo fator de segurança.

Projetar uma estrutura aeronáutica requer uma atenção especial do engenheiro ou

projetista, pois este tipo de componente pode apresentar solicitações complexas e pouco

comuns quando comparado a outras estruturas mais simples. Por isso são exigidas normas de

segurança rígidas e extensas neste tipo de aplicação.

A norma seguida é a norma americana FAR-23 (Federal Aviation Regulations - Part

23) aplicada mundialmente para o projeto de aviões e regida pela FAA (Federal Aviation

Administration), agência reguladora americana.

Os principais tipos de cargas atuantes em uma aeronave são as seguintes:

Cargas atuantes nas asas.

Cargas atuantes na fuselagem.

Cargas atuantes no trem de pouso.

Cargas atuantes na empenagem.

Cargas atuantes nos componentes de fixação da aeronave.

413


414

Determinação das cargas no solo e das cargas dinâmicas de vôo.

Para todos os componentes citados, a magnitude das cargas deve ser determinada com

a modelagem física (estática ou dinâmica) dos componentes.

A análise estrutural somente é possível com a determinação de todas as cargas (forças

e tipo de esforço) atuantes na aeronave.

O projeto AeroDesign é muito diversificado quanto a análise de cargas e estruturas,

pois cada equipe possui características que diferem muito em seus aviões, portanto, o material

aqui apresentado serve apenas como referência e sugestão de alguns princípios que podem ser

aplicados para a determinação dos esforços atuantes na aeronave.

Figura 6.43 – Principais tipos de cargas atuantes nas asas de uma aeronave.

Figura 6.44 – Principais tipos de cargas atuantes em uma aeronave completa.

6.3.2 - Cargas Atuantes nas Asas

A asa pode ser vista como o exemplo típico de uma superfície sustentadora. A

estrutura de uma asa deve incluir os seguintes papéis:

a) Para transmitir a força de sustentação da asa para a fuselagem, onde está acoplada,

de maneira a equilibrar as forças da inércia. Isto requer uma estrutura continua ao longo da

envergadura da asa: viga longitudinal (“ spanwise beam” ).

b) Para suportar as cargas ao longo da corda e cargas das superfícies de controle e

transferi-las à estrutura principal. Isto tem que ser feito por uma série de vigas ao longo da

corda (nervuras), que reagem à torção e forças de corte verticais ao longo de toda a

envergadura da asa.

c) Para transmitir cargas da inércia de componentes tais como as componentes

motrizes, componentes do trem de aterragem e da própria asa à fuselagem.


415

d) Para reagir a cargas devido ao trem de aterragem.

e) Para fornecer tanques de combustível.

f) Para fornecer a rigidez de torção adequada à asa de modo a satisfazer a exigências

de aeroelasticidade.

g) Para suportar cargas aerodinâmicas e de propulsão no plano da asa.

h) Para reagir possivelmente cargas pontuais (motores, bombas etc.).

Além às considerações acima, os hiper-sustentadores e as superfícies de controle

provocam cargas adicionais, devido aos dispositivos de atuação.

As Figuras 6.45, 6.46 e 6.47 mostram a distribuição de sustentação ao longo da

envergadura de uma asa. Esse carregamento pode ser determinado de uma série de maneiras

diferentes, para a competição AeroDesign uma metodologia que pode ser empregada com

bons resultados é a aplicação da aproximação de Schrenk comentada no capítulo 2 do volume

1 do presente livro.

Figura 6.45 – Distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa.

Figura 6.46 – Distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa – vista frontal.

Distribuição de sustentação ao longo da

envergadura da asa

Método de Schrenk

200

Força de sustentação (N/m)

150

100

50

Elíptica

Mista

Schrenk

0

-1,4 -1 -0,6 -0,2 0,2 0,6 1 1,4

Posição relativa da envergadura (m)

Figura 6.47 – Aplicação em uma aeronave destinada ao Aerodesign.


416

As principais cargas a serem determinadas para o dimensionamento estrutural de uma

asa são as seguintes:

Carregamento estático e dinâmico.

Tração no intradorso.

Compressão no extradorso.

Flexão na estrutura.

Torção na Estrutura.

Uma vez determinados esses esforços, uma metodologia que pode ser aplicada para o

dimensionamento estrutural da asa de uma aeronave destinada a participar da competição

AeroDesign é a seguinte: definir a distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa,

desenhar os diagramas de esforço cortante e momento fletor e então realizar uma simulação

numérica ou cálculo analítico para o dimensionamento estrutural da asa.

Como já foi comentado, a estrutura principal da asa é constituída por uma viga

(longarina, “spar”) ao longo da sua envergadura com a capacidade de resistir tanto a

momentos fletores como torsores como também a cargas pontuais.

Podem existir vários tipos de estruturas consoante com os carregamentos, geometria e

tempo de vida útil necessário. A maioria tem como base a utilização de nervuras

verticais(“ribs”) e de um revestimento formando uma estrutura com forma de caixa. No

entanto pode haver exceções quando a intensidade é baixa. A longarina ao longo da

envergadura deve ser continua desde a raiz da asa até a ponta se possível.

Em estrutura baseada em longarinas concentradas (“mass booms” ) que suportam a

maior parte dos esforços, o revestimento é mantido por nervuras e só suporta tensões de corte

e uma “caixa” é formada entre a longarina frontal e traseira ou como um bordo de ataque com

a forma de um “D” utilizando apenas a longarina frontal. Esta distribuição tem vantagens em

estruturas com carregamentos leves de maneira a que a longarina possa ser colocada na

secção do perfil aerodinâmico onde a espessura é maior. Este método de longarinas

concentradas permite que se desenvolvam grandes tensões nos extremos superiores e

inferiores da longarina onde existe uma resistência máxima, mas causa um problema

significativo porque o revestimento deve ser mantido para prevenir encurvadura (“buckling”)

que podem surgir devido ao carregamento existente. Para estabilizar o revestimento são

utilizadas nervuras ao longo da corda que permitem também manter o perfil aerodinâmico do

revestimento. No entanto este método não permite utilizar facilmente o critério de tolerância

ao dano.

Resumindo o conceito de longarinas concentradas só pode ser aplicada a estruturas

com carregamentos leves e devem ser evitadas ou pelo menos minimizadas as junções com as

longarinas concentradas. As aberturas nos revestimentos podem ser feitas numa direção

longitudinal desde que os momentos de torção não sejam excessivos. Uma abertura no

revestimento de grandes dimensões tal como para a instalação do trem de aterragem pode

causar problemas.

Quando as cargas aplicadas são de moderadas a altas é necessário que os momentos

fletores sejam suportados principalmente pelos revestimentos do extradorso e intradorso.

Para o efeito a carga é suportada pelo revestimento que é suportado por “stringers”

longitudinais ou por outro meio de suporte tal como uma construção em “sandwich”.


417

Quando usada na presença de um número relativamente grande de membros, que

suportam a carga, este método é um grande melhoramento para uma estrutura tolerante a

danos. O método pode ainda ser melhorado dividindo os revestimentos em elementos mais

pequenos, no sentido longitudinal, unido por tiras limitadoras de fraturas. No revestimento à

tensão o dimensionamento e espaçamentos das longarinas são determinados por razões de

controle de fraturas enquanto que na superfície à compressão o critério de projeto é a

encurvadura do revestimento. No entanto esta forma de construção apresenta alguns

problemas de projeto. A interação entre as nervuras e as “stringers” implica que os primeiros

passem por debaixo dos segundos de maneira a que a transmissão de carga nas “stringers” não

seja interrompida. O espaçamento entre nervuras não é estruturalmente crítico sendo

determinado mais pelo posicionamento de dobradiças e demais ligações. Se bem que este tipo

de construção possa ser eficiente do ponto de vista da tolerância ao dano é complexa e tem

custos de construção elevados devido aos vários tipos de componentes que constituem a

estrutura. Existem também várias junções que adicionam peso e dificultam a vedação de

tanques de combustível e podem criar pontos de concentração de tensões de onde podem

surgir fraturas

A estrutura da asa, além de providenciar a resistência e rigidez requeridas, também

tem que funcionar muitas vezes com depósito de combustível. Os tanques integrais são

normalmente preferidos, dado utilizarem ao máximo os espaços disponíveis, no entanto

quanto menos componentes a estrutura tiver melhor, dado ser reduzida ao máximo a vedação

necessária nas juntas. Outra necessidade é a existência de painéis de acesso que permitam a

inspeção e trabalho dentro do tanque que, obviamente, tem que ser vedados também.

A longarina frontal deve ser posicionada o mais à frente possível tendo em conta que é

necessária uma espessura que permita à longarina aguentar as tensões impostas e que haja

espaço no bordo de ataque para os elementos nele posicionados (dispositivos

hipersustentadores, anti-gelo, etc.) e por isso a longarina frontal é posicionada a 10%-15% da

corda local aumentado para 30%-40% no caso de longarinas únicas com o bordo de ataque em

forma de “D” . A longarina traseira deve ser posicionada o mais a trás possível, mas sujeitas a

restrições semelhantes da longarina da frente. É normalmente posicionada a 55%-70% da

corda local.

De preferência o espaçamento entre nervuras deve ser determinado de maneira a evitar

a encurvadura. Este objetivo fixa o espaçamento máximo, no entanto há outras considerações

a ter em conta:

Dobradiças e pontos de ligação para as superfícies de controlo, e dispositivos hipersustentadores.

Pontos de ligação para motores, trem de aterragem.

Limites dos tanques de combustível.

As nervuras devem ser posicionadas ortogonalmente às longarinas ou na direcção de

vôo nas asas com flecha.

A distribuição de carregamento pode ser determinada a partir do diagrama v-n e

aplicação do método simplificado de Schrenk. Na região de deflexão dos ailerons, ocorre uma

variação na sustentação local como mostrado na Figura 6.48.


418

Figura 6.48 – Variação da força de sustentação local devido a deflexão dos ailerons.

A análise de flexão em uma asa representa uma das avaliações mais importantes na

análise estrutural de uma asa. Essa avaliação pode ser realizada por meio de uma solução

analítica com aplicações das equações fundamentais da resistência dos materiais, pode ser

uma análise numérica por elementos finitos, o então pela aplicação de um ensaio de

carregamento sobre a estrutura. As Figuras 6.49 e 6.50 mostram análises de flexão numéricas

realizadas em um modelo de asa e testes simples com carregamentos sobre a estrutura da asa

podem ser realizados de maneira qualitativa para verificar a resistência quanto a flexão.

Figura 6.49 – Análise dinâmica da estrutura de uma asa (flexão).


419

Figura 6.50 – Análise dinâmica da estrutura de uma asa (flexão).

6.3.3 – Cargas na Fuselagem

A fuselagem de uma aeronave deve ser dimensionada basicamente para as seguintes

condições:

a) Fornecer um habitáculo para a tripulação e um compartimento para a carga.

b) Para reagir as cargas do trem de aterragem e possivelmente de componentes

motrizes.

c) Transmitir as cargas do controle e estabilização das superfícies da empenagem ao

centro de gravidade do avião.

d) Para fornecer volume para aviônicos e sistemas embarcados.

Estas exigências servem de referência para a determinação do papel estrutural da

fuselagem que age como uma viga longitudinal com carregamento vertical e lateral ao longo

de seu comprimento.

Estrutura da Fuselagem: A fuselagem inclui a cabine de comandos, que contém os

assentos para seus ocupantes e os controles de vôo da aeronave, também possui o

compartimento de carga e os vínculos de fixação para outros componentes principais do

avião.

Estrutura treliçada: A estrutura em forma de treliça para a fuselagem é utilizada em

algumas aeronaves. A resistência e a rigidez desse tipo de estrutura é obtida através da junção

das barras em uma série de modelos triangulares.

Estrutura monocoque: Na estrutura monocoque o formato aerodinâmico é dado pelas

cavernas. As cargas atuantes em vôo são suportadas por essas cavernas e também pelo

revestimento. Por esse motivo este tipo de fuselagem deve ser revestida por um material

resistente aos esforços atuantes durante o vôo.

Estrutura semi-monocoque: Nesse tipo de estrutura, os esforços são suportados pelas

cavernas e/ou anteparos, revestimento e longarinas.


420

Figura 6.51 – Tipos de fuselagem.

Características da Estrutura da Fuselagem: Como citado, as estruturas de fuselagem das

aeronaves da aviação geral podem ser geralmente divididas em treliça, monocoque, ou semimonocoque.

A construção em treliça geralmente utiliza madeira, tubo de aço, tubo de alumínio ou

de outras formas de corte transversal, que podem ser soldados, articulados, preso, ou rebitado

em um conjunto rígido. As barras verticais e diagonais cruzadas estão dispostas a suportar

tanto as tensões de tração como as forças de compressão. Este tipo de fuselagem foi usado

por cerca de 80 anos. É muito resistente e de peso relativamente leve.

Tanto a semi-monocoque e monocoque utilizam seu revestimento como um integrante

estrutural ou de carga.

A estrutura Monocoque é uma estrutura fortificada que pode ter anéis e divisórias. As

tensões na fuselagem monocoque são transmitidas principalmente pela resistência do

revestimento.

A fuselagem semi-monocoque, depende essencialmente de divisórias, molduras e

longarinas para a força longitudinal. É o mais popular tipo de estrutura utilizada na

concepção das aeronave atuais. A utilização deste conceito permitiu a utilização de

revestimentos de alumínio. As Figuras 6.52, 6.53 e 6.54 mostra detalhes característicos das

estruturas das fuselagen.

Figura 6.52 – Desenhos da fuselagem.


421

Figura 6.53 – Evolução do projeto da fuselagem.

Figura 6.54 – Estrutura da fuselagem – Aeronave Zodiac CH-640.


422

Figura 6.55 – Sistema de Forças e Momentos para Determinação das Cargas na Fuselagem.

Projeto de uma Fuselagem em Material Composto: Os requisitos para uma fuselagem

avançada de material composto não são basicamente muito diferentes dos requisitos para uma

fuselagem feita de alumínio, mas as seguintes cargas devem ser consideradas atentamente

para se usufruir ao máximo as vantagens que uma estrutura em composto pode trazer:

Forças introduzidas pelas partes conectadas à fuselagem (asas, empenagens, trem de pouso);

a) Componentes das forças de inércia dos equipamentos armazenados na fuselagem;

b) Forças de inércia da estrutura da fuselagem;

c) Forças aerodinâmicas que atuam em sua superfície;

d) Forças que são o resultado da diferença de pressão interna e externa do avião.

e) Ao complementar estas cargas, batidas e impactos devidos a detritos na pista devem ser

considerados em fase de projeto.

Características de uma Fuselagem: A fuselagem de uma aeronave é um sistema de alta

complexidade e para realizar um projeto excelente, o sistema inteiro deve ser otimizado para

que o uso do material composto seja vantajoso. Em fase de projeto, portanto a análise de

vantagem e desvantagem deve ser feita cuidadosamente para a escolha certa dos materiais

utilizados.


423

Vantagens e Desvantagens de uma Fuselagem em Material Composto:

Vantagens:

Redução em peso (até 10%);

Redução dos custos de manutenção;

Redução do número de partes e prendedores;

Boas características de tolerância a dano e fadiga;

Tolerância à corrosão;

Possibilidade de aumento da umidade de cabine (conforto dos passageiros);

Desvantagens:

Custos materiais e ferramental ainda alto;

Estrutura deve ser otimizada para se desfrutar das vantagens ao máximo;

Melhores tecnologias somente em produção em massa;

Soluções contra impacto de raios a serem testadas.

Projeto de uma Fuselagem em Alumínio: As fuselagens de aeronaves modernas possuem uma

estrutura conhecida como semi-monocoque, que leva vantagens em relação a uma estrutura

monocoque (revestimento sem elementos reforçadores) que se revela instável a cisalhamento.

A construção semi-monocoque é caracterizada pela presença de elementos longitudinais

(longarinas e reforçadores), elementos transversais (cavernas) e um revestimento externo.

Esforços nos Componentes

As longarinas carregam a maior porção de momento da fuselagem.

O revestimento da fuselagem carrega tensão de cisalhamento e cargas devido à pressurização.

Reforçadores carregam cargas axiais induzidas por momentos de flexão evitando a

instabilidade por compressão do revestimento, o que provocaria a flambagem do mesmo.

A caverna tem a função de manter a estabilidade geral da fuselagem e de contribuir a diminuir

o comprimento dos reforçadores.

O primeiro passo para a análise da estrutura é conhecer os modos de falha do sistema quando

é sujeito a cargas externas.


424

Modos de Falha da Fuselagem

Neste tipo de estrutura podem se verificar três tipos fundamentais de falha por instabilidade:

instabilidade do revestimento: neste caso é fundamental projetar o revestimento com a

espessura adequada, pois chapas muito finas estão sujeita a flambar enquanto chapas muito

grossas são ineficientes e acarretam um aumento em peso não necessário. Os reforçadores

ajudam nesta função, mas algumas especificações de projeto não permitem a flambagem do

revestimento abaixo de uma dada porcentagem de carga limite;

instabilidade do painel: As cavernas dividem os reforçadores e o revestimento em painéis. Se

estas cavernas forem suficientemente rígidas a falha poderá ocorrer em um painel único. Esta

falha é conhecida como instabilidade de painel;

instabilidade geral: a instabilidade geral ocorre devido a uma falha nas cavernas, com os

reforçadores não contribuindo para a resistência a flambagem.

Figura 6.56 – Exemplo de análise numérica para determinação das cargas na fuselagem.

Dimensionamento da Fuselagem para o AeroDesign:

Representa um ponto bem particular para o projeto AeroDesign, pois cada equipe

geralmente possui uma forma geométrica diferente para a fuselagem.

A fuselagem pode apresentar cargas combinadas de tração, compressão, cisalhamento, flexão

e torção.


425

Materiais Mais Usados na Fuselagem do AeroDesign

Alumínio.

Aço.

Compensado Aeronáutico.

Tubos de Fibra de Carbono.

Figura 6.57 – Construção de fuselagem para AeroDesign.

Figura 6.58 – Construção de fuselagem para AeroDesign.


426

Figura 6.59 – Modelo de análise numérica da fuselagem para AeroDesign.

A estrutura da fuselagem apresenta as dimensões ideais no que toca aos movimentos

de flexão vertical e lateral e de torção. Contudo, a integridade da estrutura é afetada pela

abertura de recortes para as janelas, portas, trens de aterragem, etc. A estrutura deve ser

reforçada nestas zonas, situação que conduz a um aumento de peso. A seção quadrada é

bastante utilizada para aviões não pressurizados por uma questão de otimização de espaço e

facilidade de construção. Nos aviões pressurizados usam-se seções baseadas em segmentos

circulares. Estes dois tipos de estruturas podem ser projetados principalmente de duas

maneiras:

a) Estrutura com “ longeron”

Quando o carregamento é relativamente baixo ou o revestimento da fuselagem é

extensivamente recortado é necessário considerar quatro ou mais vigas longitudinais

“longerons” que reagem tanto às flexões verticais como laterais. Para serem eficientes estes

longerons devem ser contínuos ao longo de toda a fuselagem. O revestimento remanescente é

utilizado para suportar os longerons contra as cargas de compressão e providenciar a

capacidade de resistir a tensões de corte. Desta forma a estrutura não pode reagir a cargas

pontuais. Esta é a forma básica e o revestimento é estabilizado contra a encurvadura

utilizando quadros “frames” com um pequeno espaçamento entre si. A utilização de anéis

estruturais “bulkheads” no lugar dos quadros é obrigatória sempre que é necessário transmitir

cargas onde a seção varie muito de forma ou haja grandes cargas pontuais.


b) Estrutura Monocoque ou Semi-monocoque

Quando o número de cortes no revestimento é pequeno é preferível que seja este a

suportar o máximo de cargas possível. Esta estrutura é chamada de monocoque ou

semimonocoque dependendo até que ponto o revestimento é suportando por stringers

longitudinais. A espessura do revestimento pode ser determinada por considerações de

pressão ou por considerações de carga, sendo esta última consideração mais crítica nos

projetos com grandes seções transversais. A utilização de stringers contribui de uma maneira

substancial para as capacidades de reação a cargas, no entanto é usual a introdução de

elementos tipo longerons nas extremidades de descontinuidades na junção de seções da

fuselagem.

427


428

Cargas Atuantes na Fuselagem

As principais cargas atuantes na fuselagem de uma aeronave são:

a) Cargas na empenagem devido a trimagem, manobras, turbulências e rajadas.

b) Cargas de pressão na superfície da aeronave.

c) Cargas provenientes do trem de pouso devido ao impacto de pouso, taxiamento e

manobras no solo.

d) Cargas provenientes do sistema propulsivo da aeronave.

Análise Numérica para Determinação de Cargas na Fuselagem

Na análise, embora não exista escala é possível observar que as seções do tail boom

próximas ao ponto de conexão com a fuselagem e próximas a empenagem sofrem os maiores

esforços.

Esses esforços podem ser de tração, compressão, torção e flexão.

Figura 6.60 – Exemplo de análise numérica para determinação das cargas na fuselagem.

O estudo de cargas na fuselagem representa um ponto bem particular para o projeto

AeroDesign, pois cada equipe geralmente possui uma forma geométrica diferente para a

fuselagem. Basicamente a fuselagem é dividida em duas partes, a frontal que contempla a

frente e o compartimento de carga da aeronave e a posterior que contém o “boom” e a fixação

da empenagem.

Geralmente as cargas atuantes na fuselagem são determinadas pelo peso próprio da

mesma, por todos os componentes estruturais ligados a fuselagem e pelas cargas transmitidas

pelo motor e pelo trem de pouso para a estrutura da fuselagem.

A fuselagem pode apresentar cargas combinadas de tração, compressão, cisalhamento,

flexão e torção.


429

Figura 6.61 – Exemplo de análise numérica na fuselagem de um AeroDesign.

Ensaio de Carregamento na Fuselagem

A estrutura interna da fuselagem deve ser dimensionada para suportar os esforços de

flexão e torção.

Figura 6.62 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.


430

6.3.4 - Trem de aterragem

Nesta seção serão expostos apenas alguns detalhes sobre a concepção de trens de

pouso para aeronaves.

Por se tratar de um componente bem específico para cada caso de estudo, recomendase

uma leitura de referências que tratam especificamente do projeto e construção de trens de

pouso.

As funções principais do trem de pouso são apoiar o avião no solo e manobrá-lo

durante os processos de taxiamento, decolagem e pouso.

O trem de pouso triciclo é aquele no qual existem duas rodas principais ou trem

principal geralmente localizado embaixo das asas e uma roda frontal ou trem do nariz.

O trem de pouso convencional é formado por um trem principal e uma bequilha

geralmente localizada no final do cone de cauda.

Atualmente a grande maioria das aeronaves possui trem de pouso modelo triciclo, pois

esta configuração melhora sensivelmente o controle e a estabilidade da aeronave no solo além

de permitir melhores características de desempenho durante a decolagem.

Figura 6.63 – Modelos de trem de pouso.

Figura 6.64 – Exemplo de trem de pouso do nariz.


431

Figura 6.65 – Modelos de trem de pouso principal.

Classificação dos Trens de Pouso

a) Fixo: Trem de pouso na mesma posição, tanto em vôo quanto em solo.

b) Retrátil: O trem de pouso é recolhido completamente durante o vôo.

c) Escamoteável: Trem de pouso é recolhido durante o vôo, mas algumas partes ficam

expostas.

As cargas no trem de aterragem devem-se principalmente ao contato das rodas com o

chão, no cálculo deve-se utilizar os três componentes da força (embora se possa encontrar

alguns casos em que existem momentos perto do contato com o chão). No projeto do trem de

aterragem considera-se que os suportes reagem somente a cargas longitudinais estando o trem

principal sujeito à flexão e torção.

O trem de pouso deve resistir as cargas atuantes no solo, durante o taxiamento e

corrida de decolagem, além de possuir resistência suficiente para suportar as cargas de

impacto no pouso da aeronave.

Podem ser construídos com uma série de materiais diferentes. São dimensionados para

suportar cargas verticais e horizontais

Cargas Atuantes no Trem de Pouso

Carregamento estático no solo.

Carregamento dinâmico no pouso.

O tipo de esforço depende muito do modelo adotado para o trem de pouso.

As cargas podem ser de tração, compressão, cisalhamento, torção ou flexão.

Existem componentes de forças verticais e horizontais.


432

Cargas de Pouso

Para as condições de cargas no solo, as considerações são apresentadas nos parágrafos

FAR- PART 23.479 a FAR-PART 23.499.

São avaliados: pouso em três rodas, pouso em duas rodas e o pouso em uma única

roda do trem principal.

Determinação das Cargas de Pouso

a) O peso da aeronave para o cálculo de cargas de pouso deve ser o peso máximo de

decolagem conforme descrito na norma FAR-PART 23.

b) A velocidade vertical durante o pouso é determinada pela equação apresentada a seguir.

v v

⎛W

= 0,61⋅⎜

⎝ S ⎠

0,25

(6.1)

c) A sustentação não deve exceder 2/3 de seu valor máximo, FAR-PART 23.473e.

d) A altura de queda da aeronave é determinada pela equação apresentada a seguir, FAR-

PART 23.473d.

h

= 0, 0132⋅

W

S

(6.2)

e) O fator de carga de inércia não pode ser menor que 2,67 e o fator de carga no solo não pode

ser menor que 2, FAR-PART 23.473e.

Fator da Carga de Inércia

O fator de carga de inércia atuando no centro de gravidade da aeronave pode ser determinado

pela equação apresentada a seguir:

n = ng +

L

W

(6.3)


433

Cargas para Pouso em Três Rodas

Componente vertical no trem principal (em cada roda):

Cargas para Pouso em Duas Rodas

Figura 6.66 – Cargas para o pouso em três rodas.

Componente vertical no trem principal (em cada roda):

Cargas para Pouso em Uma Roda

Componente vertical na roda:

Figura 6.67 – Cargas para o pouso em duas rodas.

Figura 6.68 – Cargas para o pouso em uma roda.


434

Condições para o Trem do Nariz

O parágrafo FAR-PART 23.499b, prevê que para cargas dianteiras, a componente vertical

precisa ser de 225% da carga estática e a componente lateral precisa ser de 40% da

componente vertical.

Determinação das Cargas Atuantes no Trem de Pouso

Para o sistema de trem de pouso, pode-se considerar três situações de carregamento:

a) pouso realizado em três rodas com 15% da carga atuante no trem do nariz,

b) o pouso em duas rodas (trem principal)

c) pouso em uma das rodas do trem principal (situação mais crítica).

O fator de carga adotado para o carregamento vertical pode ser de 2,5 com o respectivo fator

de carga horizontal em 40% do vertical.

Análises do Trem de Pouso

As avaliações também podem ser analíticas, numéricas ou através de testes de resistência

(drop-test).

Figura 6.69 – Análise numérica de trem de pouso.


435

Figura 6.70 – Exemplo de Drop-Test.

Características de Projeto

Como na competição AeroDesign a estrutura das aeronaves diferem muito entre uma

equipe e outra, não será apresentado nessa aula uma forma de se calcular a estrutura do trem

de pouso, pois cada caso depende da forma geométrica adotada.


436

A seguir é comentado os principais materiais que podem ser empregados para a fabricação do

trem de pouso para uma aeronave do AeroDesign e mostradas algumas fotografias de modelos

de trem de pouso.

Projeto do Trem de Pouso

Determinação das cargas atuantes na estrutura.

Definição do material do Trem de Pouso.

Definição do material e do diâmetro das rodas.

Realização de cálculo analítico ou numérico para verificar os critérios de resistência.

Materiais Empregados no Trem de Pouso do AeroDesign

Trem de Pouso:

Alumínio.

Aço.

Fibra de Carbono.

Madeira.

Rodas:

Alumínio

Nylon.

Borracha.

Trem do Nariz

Muito importante durante a corrida de decolagem.

Deve ser muito bem dimensionado para resistir os esforços na corrida de decolagem.

O sistema de lincagem deve ser muito bem estruturado pois o trem do nariz controla a

aeronave no solo.

Várias equipes já deixaram de voar por falhas no trem do nariz.


437

Figura 6.71 – Modelos de trem do nariz para AeroDesign.

Trem Principal

Para o AeroDesign sua principal função é absorver os impactos no pouso e suportar

com segurança o peso total da aeronave.

Pode ser fabricado com uma série de materiais diferentes.

Deve possuir leveza e resistência estrutural.

Figura 6.72 – Modelos de trem principal para AeroDesign.

6.3.5 – Cargas na Empenagem

Estabilizador Horizontal

Quando o estabilizador horizontal é construído como um componente único que

atravessa o plano de simetria do avião a sua estrutura e construção são semelhantes as da asa.


438

Estabilizador Vertical

Normalmente o estabilizador vertical é projetado como sendo uma extensão da

fuselagem. Uma nervura é feita para coincidir com a superfície da fuselagem e é utilizada

para transmitir as tensões no revestimento do estabilizador diretamente para o revestimento da

fuselagem. A flexão longitudinal do estabilizador é transmitida à fuselagem como torção da

mesma.

Superfícies de Controle

As superfícies de controle são suportadas por dobradiças que devem ser posicionadas

nas extremidades das nervuras. Para facilitar o alinhamento devem ser utilizadas poucas

dobradiças, sendo duas, uma em cada extremidade, um número ideal. A estrutura das

superfícies da controle é relativamente simples e segue uma técnica bem estabelecida.

Existe apenas uma longarina longitudinal localizada atrás da linha de rotação e o mais

próximo desta possível. A rigidez à torção do revestimento é importante de maneira a garantir

uma deflexão de controle uniforme longitudinalmente. Por isso é necessário que a seção

transversal seja construída num sistema de duas células, sendo a longarina a fronteira comum.


439

Cálculo Estrutural da Empenagem

A empenagem também pode ser dimensionada considerando-se os esforços de tração e

compressão que resultam em flexão da estrutura.

O cálculo é similar ao empregado para a asa e pode ser realizado numericamente ou

por meio de uma simplificação analítica.

Dimensionamento e Funções da Empenagem

O dimensionamento dos componentes da empenagem de um avião representa um dos

aspectos mais empíricos e menos preciso de todo o projeto.

A função primária da superfície horizontal da cauda é prover a estabilidade

longitudinal e o profundor atua como forma de se garantir o controle longitudinal e a

trimagem da aeronave.

Já a superfície vertical possui a finalidade de garantir a estabilidade direcional sendo

que o leme de direção atua com a finalidade de prover o controle direcional da aeronave.

Dessa forma, durante a fase preliminar do projeto de uma nova aeronave, as

dimensões das superfícies horizontal e vertical da empenagem devem ser suficientes para se

garantir a estabilidade e o controle da aeronave.

Principais Configurações de Empenagens

As principais configurações de empenagem geralmente utilizadas nas aeronaves são

denominadas como convencional, cauda em T, cauda em V, cauda dupla e cruciforme.

Figura 6.73 – Tipos mais comuns de empenagem.


440

Configuração Convencional

A configuração convencional geralmente é a utilizada em praticamente 70% dos

aviões, este modelo é favorecido pelo seu menor peso estrutural quando comparada às outras

configurações citadas e também possui boas qualidades para se garantir a estabilidade e o

controle da aeronave.

Configuração T

A cauda em T possui uma estrutura mais pesada e a superfície vertical deve possuir

uma estrutura mais rígida para suportar as cargas aerodinâmicas e o peso da superfície

horizontal.

Uma característica importante da configuração em T é que a superfície horizontal atua

como um “end plate” na extremidade da superfície vertical resultando em um menor arrasto

induzido.

Configuração V

A configuração em V geralmente pode ser utilizada na intenção de se reduzir a área

molhada da empenagem além de propiciar um menor arrasto de interferência, porém sua

maior penalidade é com relação a complexidade dos controles uma vez que leme e profundor

devem trabalhar em conjunto como forma de se manobrar a aeronave.

Configurações Dupla e Cruciforme

A cauda dupla normalmente é utilizada como forma de se posicionar o estabilizador

vertical fora da esteira de vórtices principalmente em elevados ângulos de ataque.

A configuração cruciforme representa basicamente uma situação intermediária entre a

cauda convencional e a cauda em T.

Forma Geométrica e Alongamento da Empenagem

Uma vez selecionado o perfil e calculada qual a área necessária para cada uma das

superfícies da empenagem, a forma geométrica adotada pode ser fruto da criação e

imaginação do projetista, normalmente a superfície horizontal assume uma forma geométrica

retangular, elíptica ou trapezoidal e a superfície vertical em 99% dos casos assume uma forma

trapezoidal.

Outro ponto importante com relação à superfície horizontal da empenagem é

relacionado ao seu alongamento, pois esta superfície pode ser considerada uma asa de baixo

alongamento, e, portanto, uma asa de menor eficiência. Assim, se o alongamento da superfície

horizontal for menor que o alongamento da asa da aeronave, quando ocorrer um estol na asa a

superfície horizontal da empenagem ainda possui controle sobre a aeronave, pois o seu estol

ocorre para um ângulo de ataque maior que o da asa. A estrutura da empenagem deve ser

dimensionada para suportar principalmente os esforços de flexão.


441

Figura 6.74 – Exemplo de simulação de carregamento no profundor.

Cargas Atuantes na Empenagem

Carregamento estático e dinâmico.

Estabilizador vertical – cargas de rajada.

Leme – pressão aerodinâmica.

Estabilizador horizontal – tração no intradorso, compressão no extradorso, flexão na

estrutura.

Cargas de Equilíbrio na Empenagem Horizontal

Dependem de alguns parâmetros obtidos nos cálculos de estabilidade e controle da

aeronave.

Carga Total Empenagem Horizontal

É obtida através da soma da carga de equilíbrio com a o acréscimo de carga de

manobra.

Também é possível se obter a carga atuante na empenagem horizontal a partir da

aproximação

de Schrenk, onde se determina a distribuição de sustentação atuante ao longo a

envergadura.


442

Força de sustentação (N/m)

Distribuição de sustentação ao longo da

envergadura do profundor

Método de Schrenk

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Elíptica

retangular

Schrenk

-0,35 -0,2 -0,05 0,1 0,25

Posição relativa da envergadura (m)

Figura 6.75 – Exemplo de carregamento aerodinâmico no profundor.

6.4 Diagrama v-n de Manobra e Rajadas

O diagrama v-n representa uma maneira gráfica para se verificar as limitações

estruturais de uma aeronave em função da velocidade de vôo e do fator de carga n a qual o

avião está submetido. O fator de carga é uma variável representada pela aceleração da

gravidade, ou seja, é avaliado em “g’s”.

Basicamente um fator de carga n = 2 significa que para uma determinada condição de

vôo a estrutura da aeronave estará sujeita a uma força de sustentação dada pelo dobro do peso,

e o cálculo de n pode ser realizado preliminarmente pela aplicação da Equação (6.4) mostrada

a seguir.

L

n = (6.4)

W

Uma forma mais simples para se entender o fator de carga é realizar uma analogia com

um percurso de montanha-russa em um parque de diversões, onde em determinados

momentos do trajeto, uma pessoa possui a sensação de estar mais pesada ou mais leve

dependendo do fator de carga ao qual o seu corpo está submetido. Comparando-se com uma

aeronave, em determinadas condições de vôo, geralmente em curvas ou movimentos

acelerados, a estrutura da aeronave também será submetida a maiores ou menores fatores de

carga.

Limitações Estruturais: Existem duas categorias de limitações estruturais que devem ser

consideradas durante o projeto estrutural de uma aeronave.

a) Fator de carga limite: Este é associado com a deformação permanente em uma ou

mais partes da estrutura do avião. Caso durante um vôo o fator de carga n seja menor que o

fator de carga limite, a estrutura da aeronave irá se deformar durante a manobra, porém

retornará ao seu estado original quando n = 1. Para situações onde n é maior que o fator de

carga limite a estrutura irá se deformar permanentemente ocorrendo assim uma danificação

estrutural, porém sem que corra a ruptura do componente.


443

b) Fator de carga último: Este representa o limite de carga para que ocorra uma falha

estrutural, caso o valor de n ultrapasse o fator de carga último, componentes da aeronave com

certeza sofrerão ruptura.

Nesta seção do presente artigo é apresentada a metodologia analítica para se

determinar os principais pontos e traçar o diagrama v-n de manobra para uma aeronave

seguindo a metodologia sugerida na norma FAR Part-23 [2] considerando uma categoria de

aeronaves leves subsônicas.

O fator de carga limite depende do modelo e da função a qual a aeronave é destinada.

Para as aeronaves em operação atualmente, Raymer sugere a seguinte tabela para a

determinação de n.

Tabela 1 – Fatores de carga.

Modelo e n pos n neg

aplicação

Pequeno porte 2,5≤ n ≤ 3,8 -1≤ n ≤ -1,5

Acrobático 6 -3

Transporte civil 3≤ n ≤ 4 -1≤ n ≤ -2

Caças militares 6,5≤ n ≤ 9 -3≤ n ≤ -6

É importante perceber que os valores dos fatores de carga negativos em módulo são

inferiores aos positivos. A determinação dos fatores de carga negativos representam uma

decisão de projeto, que está refletida no fato que raramente uma aeronave voa em condições

de sustentação negativa, e, como será apresentado no decorrer dessa seção, a norma utilizada

recomenda que n neg ≥ 0,4 n pos .

O fator de carga é uma variável que reflete diretamente no dimensionamento estrutural

da aeronave, dessa forma, percebe-se que quanto maior for o seu valor mais rígida deve ser a

estrutura da aeronave e conseqüentemente maior será o peso estrutural.

Para o propósito do projeto AeroDesign, o regulamento da competição bonifica as

equipes que conseguirem obter a maior eficiência estrutural, ou seja, a aeronave mais leve que

carregar em seu compartimento a maior carga útil possível, dessa forma, é interessante que o

fator de carga seja o menor possível respeitando obviamente uma condição segura de vôo,

portanto, considerando que uma aeronave destinada a participar do AeroDesign é um avião

não tripulado, é perfeitamente aceitável um fator de carga positivo máximo n máx = 2,5, pois

dessa forma garante-se um vôo seguro com uma estrutura leve e que suporte todas as cargas

atuantes durante o vôo.

Porém é muito importante ressaltar que como o fator de carga adotado é baixo, o

projeto estrutural deve ser muito bem calculado como forma de se garantir que a estrutura da

aeronave suportará todos os esforços atuantes durante o vôo.

Também se recomenda que o fator de carga último seja 50% maior que o fator de

carga limite, portanto:

n ult

= 1,5

⋅ n

(6.5)

lim

A Figura 6.76 mostra um diagrama v-n de manobra típico de uma aeronave com a

indicação dos principais pontos.


444

Figura 6.76 – Diagrama v-n de Manobra.

Análise do Diagrama de Manobra e Modelagem Matemática

A curva AB apresentada na figura representa o limite aerodinâmico do fator de carga

determinado pelo C Lmáx , esta curva pode ser obtida pela solução da Equação (6.6)

considerando o peso máximo da aeronave e o C Lmáx de projeto, portanto:

n

máx

ρ ⋅ v

=

2

⋅ S ⋅ C

2 ⋅W

Lmáx

(6.6)

Na Equação (6.6) percebe-se que uma vez conhecidos os valores de peso, área da asa,

densidade do ar e o máximo coeficiente de sustentação é possível a partir da variação da

velocidade encontrar o fator de carga máximo permissível para cada velocidade de vôo, onde

acima do qual a aeronave estará em uma condição de estol.

É importante notar que para um vôo realizado com a velocidade de estol, o fator de

carga n será igual a 1, pois como a velocidade de estol representa a mínima velocidade com a

qual é possível manter o vôo reto e nivelado de uma aeronave, tem-se nesta situação que L =

W, e, portanto, o resultado da Equação (3) é n = 1, e assim, a velocidade na qual o fator de

carga é igual a 1 pode ser obtida pela velocidade de estol da aeronave.

Um ponto muito importante é a determinação da velocidade de manobra da aeronave

representada na Figura 1 por v*. Um vôo realizado nesta velocidade com alto ângulo de

ataque e C L = C Lmáx , corresponde a um vôo realizado com o fator de carga limite da aeronave

em uma região limítrofe entre o vôo reto e nivelado e o estol da aeronave. Esta velocidade

pode ser determinada segundo a norma utilizada para o desenvolvimento desta seção da

seguinte forma:

v

*

= v estol

⋅ n máx

(6.7)

A velocidade de manobra intercepta a curva AB exatamente sobre o ponto B, e define

assim o fator de carga limite da aeronave. Acima da velocidade v* a aeronave pode voar,

porém com valores de C L abaixo do C Lmáx , ou seja com menores ângulos de ataque, de forma

que o fator de carga limite não seja ultrapassado, lembrando-se que o valor de n máx está

limitado pela linha BC.

A velocidade de cruzeiro v cru segundo a norma não deve exceder 90% da velocidade

máxima da aeronave, ou seja:

v

= 0 , 9 ⋅

(6.8)

cru

v máx


445

A velocidade máxima presente na Equação (6.8) é obtida na leitura das curvas de

tração ou potência da aeronave.

Já a velocidade de mergulho da aeronave representada por v d limitada pela linha CD

do diagrama é considerada a velocidade mais critica para a estrutura da aeronave devendo ser

evitada e jamais excedida, pois caso a aeronave ultrapasse essa velocidade, drásticas

conseqüências podem ocorrer na estrutura, como por exemplo: elevadas cargas de rajada,

comando reverso dos ailerons, flutter (instabilidade dinâmica) e ruptura de componentes. O

valor de v d é geralmente cerca de 25% maior que a velocidade máxima, portanto:

v

= 1 , 25 ⋅

(6.9)

d

v máx

Com relação à linha AE do diagrama v-n que delimita o fator de carga máximo

negativo também é válida a aplicação da Equação (), porém é importante citar que o fator de

carga máximo negativo é obtido segundo a norma FAR Part-23 da seguinte forma:

n

≥ 0 ⋅ n

(6.10)

lim neg

, 4

lim pos

Como geralmente as aeronaves que participam da competição AeroDesign são

projetadas para não voarem em condições de sustentação negativa, é perfeitamente aceitável

utilizar para a solução da Equação (6.7) no intuito de se determinar a curva AE, um valor de

C Lmáxneg =-1 e assim, a linha DE representará o fator de carga negativo acima do qual

deformações permanentes podem ocorrer.

Esta seção do presente capítulo apresentou de forma sucinta como estimar o diagrama

v-n de manobra para uma aeronave leve subsônica a partir dos fundamentos apresentados na

norma FAR Part-23.

Análise do Diagrama de Rajada, Modelagem Matemática

O diagrama v-n de rajadas possui como finalidade principal assegurar que a estrutura

da aeronave resistirá a rajadas de vento inesperadas durante o vôo. Nesta seção do presente

artigo são apresentadas as equações fundamentais para se determinar os fatores de carga de

rajadas. Para a competição Aerodesign, rajadas variando entre 2m/s e 8m/s podem ser

aplicadas resultando na maioria dos casos em resultados satisfatórios para o projeto.

O fator de carga para rajadas pode ser obtido com a aplicação da Equação (6.11).

ρ

n = 1±

SL

⋅ v ⋅ a ⋅ K

g

2 ⋅ ( W / S)

⋅U

g

(6.11)

Na Equação (6.11), K g representa o fator de alívio de rajadas e para um vôo em regime

subsônico pode ser obtido com a aplicação da Equação (6.12).

K g

0, 88⋅

5 +

= , 3

µ

µ

(6.12)

Sendo a relação de massa µ determinada pela aplicação da Equação (6.13).

2 ⋅ ( W / S)

µ = ρ ⋅ g ⋅ c ⋅ a

(6.13)


446

Para que a estrutura da aeronave suporte as cargas provocadas por uma rajada, todos

os pontos obtidos devem estar dentro do envelope de vôo do diagrama de manobra,

assegurando assim a integridade da estrutura.

6.5 - Principais Materiais Utilizados na Indústria Aeronáutica

Antes do dimensionamento inicial das componentes de uma aeronave ser realizado é

necessário reunir a seguinte informação:

a) Diagramas de tensão de corte, momentos de flexão e torsão incluindo todas as

concentrações de carga relevantes.

b) Todos os critérios de rigidez e requisitos necessários à vida da aeronave.

c) Na localização inicial das principais partes constituintes da aeronave, deve ter-se

sempre em conta a possibilidade de revisão e alteração à medida que o projeto vai sendo

executado e se torna mais detalhado e preciso.

d) Na escolha inicial dos materiais de construção, é muitas vezes aconselhável uma

investigação das diversas alternativas possíveis antes de se chegar a uma conclusão final.

Em termos de análise as principais distinções incidem especialmente entre os metais e

os compósitos. É necessário adaptar os diagramas de força de corte, momento de flexão e

momento de torção de modo a que se permita visualizar as reações aos carregamentos, nos

pontos de junção das longarinas na raiz das asas, antes mesmo de se encontrar a relação inicial

do centro de gravidade global da aeronave. Refinados métodos de análise estrutural requerem

especificações dos pormenores estruturais. Por outro lado algumas técnicas podem fazer uso

de iterações com valores de entradas iniciais, arbitrárias, de modo a chegar a uma solução

otimizada, estes processos normalmente não se revelam eficientes. Torna-se mais eficiente,

usar a teoria elementar para se obter uma primeira indicação do dimensionamento estrutural, e

usar os processos de análise mais avançados para se obter uma otimização da estrutura.

Quando se usa a teoria elementar é importante reconhecer as limitações da sua

aplicação e estabelecer uma certa tolerância para que possa ser possível a sua aplicação.

As propriedades dos principais materiais de construção necessárias à análise inicial

podem ser resumidas como:

Rigidez

Módulo de Elasticidade (Young) E

Módulo de Elasticidade Transversal G

Deve-se levar em conta que nos casos dos metais uma dada espessura fornece ambos

os módulos E e G nas mesmas proporções enquanto nos compósitos há que ter em

consideração a direção das fibras que os constituem.

Tensões Toleradas

Tensão de Flexão

Tensão de Corte

Tensão de Tração devido à pressão

O material que normalmente é utilizado na maior parte da estrutura da aeronave é liga

leve em alumínio. Os comentários que se seguem referem-se primeiramente a este tipo de

materiais, mas algumas medidas que digam respeito a outras ligas metálicas também são

possíveis.

a) Tensão de Flexão

Uma avaliação cuidada da tolerância à flexão é complexa, requer um conhecimento

dos detalhes principais da estrutura, quer nas superfícies de tensão quer de compressão. A

experiência sugere que se a magnitude permitida para as tensões de compressão for

utilizada para a tensão superficial, isso faz com que a tolerância para a fadiga e propagação de


fissuras seja cumprida. Este critério de tolerância pode ser assumido para ambas as

superfícies. O parâmetro principal na determinação da tolerância das tensões de compressão é

a intensidade do carregamento. Se forem utilizados longarinas concentradas na construção,

então é apropriado assumir como carga extrema de flexão 0.2% da tensão de flexão máxima.

b) Tensão de corte

Se se assumir que os revestimentos e reforços não empenam com o corte, então é

suficiente assumir que as condições extremas de tolerância à tensão de corte, são 50% da

máxima tensão de tração.

c) Tensão de tração devido à pressão.

É normal neste caso ser acertado pelo trabalho normal da pressão diferencial, a

redução da tensão tolerada para valores abaixo do valor extremo tolerado para a fadiga e

propagação de fissuras bem como factor final. O valor escolhido depende da filosofia de

projeto adotada. Na Europa os níveis de tensão são escolhidos de modo a que o valor crítico

de ruptura é maior do que os determinados pelo espaçamento da estrutura. Na

América do Norte é mais usual fazer a réplica da característica principal da fissuração

e reforçar essas bandas na estrutura. Em resultado disto, na Europa o trabalho efetivo das

tensões das ligas leves no projeto do diferencial de pressões quando a deformação da estrutura

é tipicamente 0.5 m é bastante menos que 100 MN/m2, especialmente para projetos antigos,

enquanto na América do Norte é sensivelmente mais. Sem solução muito exata para os

mecanismos de análises de fratura é sugerido um valor de 100 MN/m2 para calcular a

primeira estimativa de pressão de espessura do material para construções de liga leve.

Nos compósitos a estimativa da tolerância das propriedades dos materiais para

construções compósitos é complexa, na medida em que é necessário fornecer propriedades

direcionais especificas para conhecer as várias funções de carregamento e ainda como as

várias laminagens interagem em certas circunstâncias.

447


448

Principais materiais utilizados na industria aeronáutica:

Alumínio. Titânio.

Madeira.

Fibra de Vidro.

Fibra de Carbono.

Aço.

Ligas Metálicas em Geral.

Materiais Compostos.

Alumínio

O alumínio possui uma combinação única de propriedades que o tornam um material

de construção versátil, altamente utilizável e atrativo.

Propriedades do Alumínio:

Leve e com baixa densidade

Resistência

Elasticidade

Plasticidade

Fácil de trabalhar

Fácil de soldar

Fácil de montar

Resistente à corrosão


449

Ligas de Alumínio

Classificação

1XXX

2XXX

3XXX

4XXX

5XXX

6XXX

7XXX

8XXX

Composição

Alumínio com no mínimo 99% de pureza

Ligas de alumínio-cobre

Ligas de alumínio-manganês

Ligas de alumínio-sílica

Ligas de alumínio-magnésio

Ligas de alumínio-magnésio-sílica

Ligas de alumínio-zinco-magnésio

Ligas de alumínio-lítio

Alumínio Aeronáutico

As ligas de alumínio das séries aeronáuticas (2XXX e 7XXX) possuem como

características principais os elevados níveis de resistência mecânica que, aliadas a baixa

densidade do metal e a facilidade de conformação e usinagem, transformam o alumínio em

uma das melhores opções para a fabricação de dispositivos e estruturas aeronáuticas.

Alumínio Aeronáutico Série 2XXX

As ligas de alumínio da série 2XXX são ligas com cobre 1,9-6,8% e muitas vezes

contêm adições de manganês, magnésio e zinco.

Seu endurecimento por precipitação tem sido amplamente estudado.

Elas são usadas para aplicações tais como, forjamento, extrusão e tanques de

armazenamento de gás liquefeito de transporte civil e aeronaves supersônicas.

Essas ligas têm menores taxas de crescimento de trinca e, portanto, têm melhor

desempenho em fadiga do que as ligas da série 7XXX.

Portanto, estas são utilizadas nas asas e na parte inferior da fuselagem.

As ligas utilizadas são 2224, 2324 e 2524 (ambas as versões modificadas de 2224).

Estas ligas são geralmente compostas por 99,34% de alumínio puro para maior resistência à

corrosão.

Alumínio Aeronáutico Série 7XXX


450

O sistema Al-Zn-Mg oferece o maior potencial de endurecimento por precipitação (de

ligas de alumínio).

O cobre muitas vezes é adicionado para melhorar a resistência à corrosão sob tensão

(com o inconveniente de reduzir a soldabilidade).

Fissuração por corrosão diminui a resistência com o aumento da relação Zn:Mg.

A fissuração por corrosão têm sido a maior restrição sobre o uso dessas ligas, mas eles

ainda têm sido usados em, vagões, aeronaves militares e civis.

Figura 6.77 – Aplicações de alumínio em aeronaves.


451

Características do Titânio

Por ser um metal leve, é usado em ligas para aplicação na indústria aeronáutica e

aeroespacial.

Foi escolhido para essa função por suportar altas temperaturas, característica

indispensável em mísseis e naves espaciais.

Propriedades do Titânio

Algumas importantes propriedades físicas do titânio comercialmente puro (sem

elementos de liga) estão relacionadas na tabela a seguir.

Note que a densidade deste metal é de aproximadamente 56% da maioria dos aços

liga, e que seu módulo de elasticidade da aproximadamente 50%.

A expansão térmica é também de aproximadamente 50% em relação ao aço inoxidável

e um pouco menor do que a do aço carbono.

A condutividade térmica é aproximadamente a mesma do aço inox.

Propriedades Físicas do Titânio

Propriedades físicas do titânio sem elementos de liga

Densidade: 0,163 lbs/in³ (4,51 g/cm3)

Fusão: 3000 – 3100°F 164°C à 170°C

Temperatura de transição Beta: 1675°F +_ 25°F 898°C à 926°C

Estrutura molecular à temperatura ambiente: HCP

Estrutura molecular acima da temperatura Beta: BCC

Módulo de elasticidade ( tensão ): E = 14,9 x 10 6 PSI

Módulo de elasticidade (compressão): E = 13,0 x 14,0 x 10 6 PSI

Módulo de elasticidade (torção): G = 6,5 x 10 6 PSI

Razão de Poisson: 0,34

Dureza: BHN 190 (~= 192 Vickers)


Figura 6.78 – Aplicação de titânio em trem de pouso.

452


453

Madeira Aeronáutica - Freijó

Aplicações em hélices e estruturas aeronáuticas, tanto de aeronaves experimentais

(substituindo a sitka e o "spruce" comum nos EUA) como reposição de componentes de

aeronaves antigas. Seu uso aeronáutico é homologado pelo CPT. Algumas aeronaves

tradicionais brasileiras como o paulistinha têm largo emprego de freijó em sua estrutura.

Propriedades Mecânicas - Freijó

Físicas

Densidade de massa (ρ):

aparente verde: 920 kg/m³

Mecânicas

Flexão

aparente a 15% de umidade: 590 kg/m³

básica: 480 kg/m³

Resistência - FM:

Madeira verde: 79,9 MPa

Madeira seca (15% de umidade): 93,7 MPa

Módulo de Ruptura:

verde: 65,0 MPa

seca: 95,2 MPa

Módulo de elasticidade:

verde: 8.500 MPa

seca: 11.101 MPa

Limite de proporcionalidade:

verde: 34,4 MPa

Compressão

Resistência – Fc0:

Madeira verde: 36,6 MPa

Madeira seca (15% de umidade): 27,9 MPa


454

Módulo de elasticidade:

verde: 14.631 MPa

Materiais Compósitos

Figura 6.79 – Aplicação de madeira na construção de aeronaves.

Fibra de vidro: é o material compósito produzido basicamente a partir da aglomeração de

finíssimos filamentos flexíveis de vidro com resina poliéster (ou outro tipo de resina) e

posterior aplicação de uma substância catalisadora de polimerização. o material resultante é

geralmente altamente resistente, possui excelentes propriedades mecânicas e baixa densidade.

Permite a produção de peças com grande variedade de formatos e tamanhos, tais como placas

para montagem de circuitos eletrônicos, cascos e hélices de barcos, fuselagens de aviões,

peças para inúmeros fins industriais em inúmeros ramos de atividade, carroçarias de

automóveis, e em milhares de outras aplicações.

Fibra de carbono: as fibras carbônicas ou fibras de carbono são matérias-primas que provém

da pirólise de materiais carbonáceos que produzem filamentos de alta resistência mecânica

usados para os mais diversos fins, entre estes motores de foguetes (naves espaciais).

Estes materiais compósitos, também designados por Materiais plásticos reforçados por fibra

de carbono ("CFRP - Carbon Fiber Reinforced Plastic)" estão neste momento a assistir a uma

demanda e um desenvolvimento extremamente elevados por parte da indústria aeronáutica, na

fabricação de peças das asas.


455

Propriedades da Fibra de Carbono

Figura 6.80 – Aplicação de compósitos em aeronaves.


456

Figura 6.81 – Materiais Compósitos no EMB-314.

Figura 6.82 – Aplicação dos Materiais Compósitos na Estrutura do Boeing 757-200.


457

Figura 6.83 – Aplicação dos Materiais Compósitos na Estrutura do EMB-170.

Figura 6.84 – Materiais Aplicados na Construção do F-14.

6.5.1 - Propriedades mecânicas dos materiais empregados no AeroDesign

Muitos tipos de materiais podem ser empregados para o projeto e desenvolvimento de

uma aeronave destinada a participar do AeroDesign, porém, alguns são mais usuais e portanto

amplamente utilizados. Como o regulamento da competição busca incentivar as equipes a

obter a máxima eficiência estrutural, é importante que materiais leves e resistentes sejam

utilizados, dentre esses materiais, os mais empregados são: fibra de carbono, fibra de vidro,


458

isopor, madeira balsa, ligas leves de alumínio, nylon e outros que propiciem leveza estrutural

e resistência mecânica às cargas atuantes durante o vôo.

Cada um dos materiais citados possuem características de resistência e deformação

próprias e apresentam um melhor desempenho em componentes específicos da aeronave, por

exemplo, as fibras de vidro e carbono podem ser utilizadas para confecção da fuselagem, do

“tail boom” do trem de pouso e da longarina da asa, isopor e madeira balsa geralmente são

empregados para a modelagem e construção das asas e empenagens e as ligas de alumínio e o

nylon podem ser utilizados para fabricação de rodas e juntas de ligação entre componentes e

em alguns casos também são utilizados para a confecção do trem de pouso.

Principais Materiais Utilizados no AeroDesign

Alumínio.

Madeira Balsa.

Compensado Aeronáutico.

Fibra de Carbono.

Ligas Metálicas em Geral.

Materiais Compostos.

Figura 6.85 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.

Figura 6.86 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.


459

Figura 6.87 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.

Materiais Empregados no AeroDesign para Asa e Empenagem

Madeira Balsa.

Isopor.

Fibra de Carbono.

Fibra de Vidro.

Compensado Aeronáutico.

Alumínio.

Tipos de Longarinas

Tubular.

Caixão.

Viga T

Viga I

Esses modelos fornecem leveza e excelente resistência mecânica.


460

Figura 6.88 – Construção da asa AeroDesign.

Figura 6.89 – Construção da empenagem AeroDesign.


461

6.6 - Método do Elementos Finitos

No âmbito da Engenharia de Estruturas, o Método dos Elementos Finitos (MEF) tem

como objetivo a determinação do estado de tensão e de deformação de um sólido de

geometria arbitrária sujeito a forças externas.

Este tipo de cálculo tem a designação genérica de análise de estruturas e surge, por

exemplo, no estudo de edifícios, pontes, barragens, automóveis, aeronaves, etc.

Quando existe a necessidade de projetar uma estrutura, é habitual proceder-se a uma

sucessão de análises e modificações das suas características, com o objetivo de se alcançar

uma solução satisfatória, quer em termos econômicos, quer na verificação dos pré-requisitos

funcionais e regulamentares.

As técnicas descritas nesta aula apenas correspondem à fase de análise do

comportamento de uma estrutura cuja geometria, materiais e forças são a priori conhecidos.

Estruturas Reticuladas e Não Reticuladas

Nos cursos de Engenharia Aeronáutica e de Engenharia Mecânica é tradicional

começar o estudo da análise de estruturas com vigas, pórticos e treliças.

As estruturas deste tipo recebem a designação de reticuladas, por serem constituídas

por barras prismáticas cuja seção transversal apresenta dimensões muito inferiores ao

comprimento do seu eixo.

As estruturas não reticuladas são, em geral, estudadas como meios contínuos (e.g.,

cascas, sólidos).

Nas estruturas reticuladas surgem já muitos conceitos que são comuns à generalidade

das estruturas, tais como o de equilíbrio, compatibilidade, tensão, deformação, relação entre

tensão e deformação, etc.

No âmbito das estruturas reticuladas torna-se particularmente simples explicar o

método das forças e o método dos deslocamentos, bem como outras técnicas que, em geral,

são difíceis de estender aos meios contínuos.

Tipo de Análise

Quando surge a necessidade de resolver um problema de análise de uma estrutura, a

primeira questão que se coloca é a sua classificação quanto à geometria, modelo do material

constituinte e forças aplicadas.

O modo como o MEF é formulado e aplicado depende, em parte, das simplificações

inerentes a cada tipo de problema.

Análise Dinâmica ou Estática

As ações sobre as estruturas são em geral dinâmicas, devendo ser consideradas as

forças de inércia associadas às acelerações a que cada um dos seus componentes fica sujeito.

Por este motivo, seria de esperar que a análise de uma estrutura teria obrigatoriamente

de ter em consideração os efeitos dinâmicos.

Contudo, em muitas situações é razoável considerar que as forças são aplicadas de um

modo suficientemente lento, tornando desprezáveis as forças de inércia. Nestes casos a análise

designa-se estática.

Análise Linear ou Não Linear

Na análise de uma estrutura sólida, é habitual considerar que os deslocamentos

provocados pelas forças externas são muito pequenos quando comparados com as dimensões

dos componentes da estrutura.

Nestas circunstâncias, admite-se que não existe influência da modificação da

geometria da estrutura na distribuição dos esforços e das tensões, assim, todo o estudo é feito

com base na geometria inicial indeformada.


462

Se esta hipótese não for considerada, a análise é designada não linear geométrica.

Tipo de Estrutura

As estruturas podem ser classificadas quanto à sua geometria como reticuladas,

laminares ou sólidas.

Estas últimas são as mais genéricas, sendo classificadas como sólidas as que não

apresentarem características que as permitam enquadrar no grupo das laminares ou das

reticuladas.

Estruturas Laminares

As estruturas laminares são as que se desenvolvem para ambos os lados de uma

superfície média, mantendo-se na sua vizinhança. É o caso de uma lâmina cuja espessura é

muito inferior às restantes dimensões.

Quando a superfície média é plana, a estrutura laminar pode ser classificada como

parede ou casca plana.

Estruturas Reticuladas

As estruturas reticuladas são as constituídas por barras prismáticas, cujas dimensões

transversais são muito menores do que o comprimento do respectivo eixo.

Principais Softwares para Análise Numérica de Tensões e Deformações

Nastran.

Ansys.

Catia.

Cosmos.

etc...

Aplicações na Estrutura de um Avião

Análise de tensões e deslocamentos nos seguintes componentes:

Asa.

Fuselagem.

Empenagem.

Trem de Pouso.

etc...

Figura 6.90 – Exemplo de simulação numérica na aeronave e na empenagem.


463

Figura 6.91 – Exemplo de simulação numérica no trem de pouso.

Figura 6.92 – Exemplo de simulação numérica na asa.


464

Análise Numérica no AeroDesign

O principais fatores estruturais a serem avaliados em uma aeronave que participa da

competição SAE-AeroDesign são:

Tensões de Von Mises nas estruturas da asa, da empenagem, da fuselagem e do trem

de pouso.

Deslocamentos nas estruturas da asa, da empenagem, da fuselagem e do trem de

pouso.

Princípios para a Realização da Análise Numérica

Escolher o software que será utilizado.

Conhecer as limitações do software.

Conhecer a magnitude e a direção das cargas atuantes em cada componente do avião.

Selecionar o material correto para o componente (propriedades mecânicas).

Saber onde colocar os pontos de restrição de cada componente avaliado.

Avaliação dos Resultados da Análise Numérica

A realização de uma análise numérica para o AeroDesign somente recebe uma

importância no desenvolvimento do projeto se a equipe avaliar corretamente os resultados

obtidos.

dos

Não adianta nada colocar uma figura colorida no relatório de projeto se a avaliação

resultados não for realizada de maneira correta.

Critérios Avaliação dos Resultados da Análise Numérica

Verificar se a tensão atuante é menor que a tensão limite do material, em caso

afirmativo significa que a estrutura suportará os esforços com fator de segurança maior que 1.

Verificar se o fator de segurança obtido não é exagerado resultando em um super

dimensionamento da estrutura.

Avaliar o deslocamento máximo.

“Vermelho” não significa que a peça vai quebrar, mas sim, mostra a região mais

solicitada.

Se a tensão atuante for menor que a tensão limite do material, uma região “vermelha”

apenas indica os pontos mais solicitados da estrutura.

Aplicações de Análise Numérica no AeroDesign


465

A seguir são apresentadas algumas análises que podem ser realizadas em aeronaves

que participam da competição AeroDesign.

Em cada uma das análises é possível se fazer uma análise da escala de resultados e

verificar a resistência da estrutura.

Material: Alumínio 2018

Tensão Limite:

316MPa

Tensão Máxima Atuante:

137,5MPa

Resultado:

A estrutura suporta os

esforços

Figura 6.93 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.

Material: Alumínio 2014

Tensão Limite:

96MPa

Tensão Máxima Atuante:

39,23MPa

Resultado:

A estrutura suporta os

esforços

Figura 6.94 – Exemplo de simulação de carregamento em uma fuselagem.


466

CAPÍTULO 7

METODOLOGIA DE PROJETO

7.1 – Introdução

Este capítulo tem por objetivo apresentar ao estudante a metodologia de projeto para

uma nova aeronave destinada a participar da competição SAE-AeroDesign. Pretende-se com

este capítulo, mostrar ao estudante toda a relação existente entre os conceitos de

aerodinâmica, desempenho, estabilidade e estrutural da aeronave, pois não há como se pensar

no projeto de uma aeronave através do estudo isolado de cada uma dessas disciplinas, uma

vez que um avião como um todo somente será considerado bom quando o seu projeto global

for satisfatório para as metas e objetivos almejados.

Assim, todos os conceitos anteriormente apresentados no presente livro devem a partir

deste ponto ser aplicados em conjunto, pois como será mostrado, muitas características de

desempenho, estabilidade e estrutural da aeronave dependem diretamente do projeto

aerodinâmico e vice-versa.

7.2 – Metodologia de cálculo

Todo projeto destinado a participar do AeroDesign deve ser realizado a partir de uma

análise minuciosa do regulamento da competição, onde a equipe deve estar atenta a todas as

restrições e permissões existentes.

De acordo com as dimensões mínimas requeridas para a aeronave, o primeiro ponto a

ser realizado é o projeto conceitual no qual deve ser definido o modelo da aeronave e as

principais dimensões que atendam o regulamento da competição.

Uma vez definida a aeronave, são realizados os cálculos de aerodinâmica,

desempenho, estabilidade e controle e estrutural, no qual todos estes cálculos devem ser

tecnicamente fundamentados e devidamente justificados no relatório de projeto. Todo o

projeto deve seguir como base a vasta bibliografia aeronáutica existente e os cálculos

realizados devem fornecer resultados confiáveis e que proporcionem um projeto altamente

competitivo.

Também é importante citar que a equipe estabeleça uma meta inicial para o sucesso do

projeto e que dentro deste objetivo estejam compreendidos prognósticos otimistas, realistas e

pessimistas, pois nem sempre o resultado obtido é o desejado, principalmente para as equipes

iniciantes que não possuem experiência com o desenvolvimento de projetos dessa natureza.

O projeto de uma aeronave necessita de cálculos essenciais e que não podem ser

descartados em nenhuma hipótese, e assim, tem-se que para se realizar o cálculo de uma

aeronave completa, os seguintes requisitos devem ser cumpridos.

A) Projeto conceitual:

Concepção da aeronave com as dimensões fundamentais da asa (envergadura, corda na

raiz e corda na ponta);

Desenho preliminar da configuração adotada para que a equipe já possua uma noção

das dimensões estimadas da aeronave.


467

B) Cálculos de aerodinâmica:

Calcular o alongamento e a relação de afilamento;

Determinar a corda média aerodinâmica;

Estimar o número de Reynolds para a asa em projeto;

Selecionar o perfil aerodinâmico para a asa e traçar as curvas c l versus alfa e c d versus

alfa do perfil selecionado;

Realizar a correção da curva c l versus alfa do perfil para a curva C L versus alfa da asa

e determinar o coeficiente de sustentação máximo e o ângulo de estol;

Em função das dimensões previstas para a aeronave, determinar a mínima área

requerida para as superfícies horizontal e vertical da empenagem;

Selecionar os perfis aerodinâmicos da empenagem;

Prever o possível desenho da fuselagem considerando as dimensões mínimas do

compartimento de carga;

Fazer um desenho completo da aeronave, preferencialmente em três dimensões e

estimar a área molhada da mesma;

Determinar a polar de arrasto e calcular a eficiência aerodinâmica máxima.

C) Cálculos de desempenho:

Selecionar o motor e a hélice a ser utilizada;

Determinar as curvas de tração disponível e requerida;

Determinar as curvas de potência disponível e requerida;

Determinar as velocidades mínima, máxima e de estol da aeronave;

Calcular o desempenho de subida da aeronave e traçar o gráfico da razão de subida em

função da velocidade horizontal;

Calcular o desempenho de planeio para uma condição de máximo alcance;

Determinar o comprimento de pista necessário para a decolagem da aeronave;

Avaliar o comprimento de pista necessário para o pouso;

Calcular o raio de curvatura mínimo;

Estimar o tempo necessário para se completar a missão;

Determinar o gráfico de carga útil em função da altitude-densidade.


468

D) Cálculos de estabilidade:

Determinar a posição do centro de gravidade;

Calcular os critérios para se garantir a estabilidade longitudinal estática;

Determinar a posição do ponto neutro;

Determinar a margem estática;

Calcular o ângulo de trimagem e avaliar as características de controle longitudinal da

aeronave.

Realizar cálculos pra se garantir a estabilidade lateral e direcional da aeronave.

E) Cálculo estrutural:

Selecionar os materiais a serem utilizados na construção da aeronave;

Determinar o diagrama v-n de manobra;

Calcular a distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa;

Dimensionar a estrutura da asa para suportar os esforços de cisalhamento, flexão e

torção;

Dimensionar a estrutura da empenagem;

Realizar o dimensionamento do trem de pouso;

Apresentar um desenho definitivo da aeronave.

7.3 - A Competição SAE-AeroDesign

A SAE BRASIL é uma associação sem fins lucrativos que congrega pessoas físicas

(engenheiros, técnicos e executivos) unidas pela missão comum de disseminar técnicas e

conhecimentos relativos à tecnologia da mobilidade em suas variadas formas: terrestre,

marítima e aeroespacial.

A SAE BRASIL foi fundada em 1991 por executivos dos segmentos automotivo e

aeroespacial, conscientes da necessidade de se abrirem as fronteiras do conhecimento para os

profissionais brasileiros da mobilidade, em face da integração do País ao processo de

globalização da economia, ora em seu início, naquele período. Desde então, a SAE BRASIL

tem experimentado extraordinário crescimento, totalizando mais de 5 mil associados e 10

seções regionais distribuídas desde o Nordeste até o extremo Sul do Brasil, constituindo-se

hoje na mais importante sociedade de engenharia do Brasil.


469

A SAE BRASIL é filiada à SAE International, uma associação com os mesmos fins e

objetivos fundada em 1905, nos Estados Unidos, por líderes de grande visão da indústria

automotiva e da então nascente indústria aeronáutica, dentre os quais se destacam Henry Ford,

Thomas Edison e Orville Wright e tem se constituído, em mais de 100 anos de existência, em

uma das principais fontes de normas e padrões relativas aos setores automotivo e aeroespacial

em todo o mundo, com mais de 5 mil normas geradas e 85 mil sócios distribuídos em 93

países.

Missão e Visão da SAE-Brasil

MISSÃO: Promover o avanço e a disseminação do conhecimento da Tecnologia da

Mobilidade através da formação, desenvolvimento e interação dos profissionais dos setores

empresarial, governamental e acadêmico, com responsabilidades social e ambiental.

VISÃO: Ser reconhecida por seus associados, empresas, entidades e governo como a

melhor referência na promoção, estímulo e apoio aos avanços da Tecnologia da Mobilidade.

História da SAE-Brasil

A história da SAE BRASIL tem suas origens na década de 70, quando um número

cada vez mais expressivo de engenheiros e executivos de empresas multinacionais

estabelecidas no país passou a integrar o quadro de associados da SAE Internacional.

Com o mesmo perfil de sua inspiradora norte-americana, a SAE BRASIL é uma

entidade sem fins lucrativos, cujo quadro de associados é integrado por pessoas físicas

(empresários, acadêmicos, executivos, engenheiros técnicos e outros profissionais) que tem

como principal interesse o desenvolvimento e a disseminação de conhecimentos e técnicas da

Mobilidade. A SAE BRASIL está estruturada em uma sede central e 11 Seções Regionais,

estabelecidas em cidades ou regiões cujas atividades, de natureza industrial ou acadêmica, são

fortemente vinculadas à Tecnologia da Mobilidade.

Fazendo jus à finalidade, a SAE BRASIL organiza um grande número de atividades

específicas para o setor da Mobilidade. São os congressos, as exposições, os seminários

regionais, os simpósios, os programas de visitas a fábricas e os programas de finalidade

educacional realizados sob a forma de competições de fundo tecnológico, das quais

participam estudantes e professores.

São eventos que, pela qualidade de conteúdo, pertinência à temática e fidelidade aos

objetivos, não só vêm contribuindo firmemente para a ampliação das ações da Mobilidade no

país, como também, devido à aguda percepção de seus participantes e patrocinadores, vêm se

caracterizando como ocasiões ideais para lançamento de produtos inovadores, apresentação de

idéias ousadas e exposição de conceitos avançados ligados à Mobilidade.

Seções Regionais da SAE-Brasil

Seção Bahia;

Seção Campinas;

Seção Caxias do Sul;

Seção Minas Gerais;

Seção Paraná e Santa Catarina;

Seção Porto Alegre;

Seção Rio de Janeiro;

Seção São Carlos e Piracicaba;

Seção São José dos Campos;

Seção São Paulo.


470

Competições Estudantis Promovidas e Organizadas pela SAE-Brasil

a) Fórmula SAE

b) Baja SAE-Brasil

Figura 7.1 - Competição Fórmula SAE.

Figura 7.2 - Competição Baja SAE-Brasil.

c) AeroDesign

Figura 7.3 - Competição SAE-Brasil AeroDesign.

Competição AeroDesign

O Projeto AeroDesign, organizado pela SAE BRASIL (Sociedade dos Engenheiros da

Mobilidade), consiste de uma competição de engenharia, aberta a estudantes universitários de

graduação e pós-graduação em Engenharia, Física e Ciências Aeronáuticas.

A SAE BRASIL, ao organizar e fazer realizar esta competição vai ao encontro de uma

de suas missões, qual seja a de contribuir para a formação acadêmica dos futuros profissionais

da mobilidade.

A competição oferece uma oportunidade única a estudantes universitários e de

pósgraduação de, organizados em equipes, desenvolverem um projeto aeronáutico em todas


471

suas etapas, desde a concepção, passando pelo congêneres.

A Competição SAE BRASIL AeroDesign tem o apoio institucional do Ministério da

Educação, por alinhar-se e vir ao encontro de objetivos das políticas e diretrizes deste

Ministério.

A competição ocorre nos Estados Unidos desde 1986, tendo sido concebida e realizada

pela SAE International, sociedade que deu origem à SAE BRASIL em 1991 e da qual esta

última é afiliada. Sob o nome de SAE AeroDesign, a competição envolve representantes de

escolas dos EUA e de vários países da Europa e das Américas.

A partir de 1999 esta competição passou a constar também do calendário de eventos

estudantis da SAE BRASIL.

Objetivos da Competição

Promover uma oportunidade única de aprendizado na área aeronáutica através de um projeto

multidisciplinar e desafiador;

Despertar interesse na área aeronáutica;

Intercâmbio técnico e de conhecimento entre as equipes;

Desenvolver o espírito de trabalho em equipe;

Desenvolver capacidade de liderança e planejamento;

Desenvolver a capacidade de se vender idéias e projetos;

Incentivar o comportamento ético e profissional.

Premiação da Competição

As duas equipes vencedoras da edição da competição brasileira na Classe Regular,

bem como a primeira colocada na Classe Aberta e a primeira colocada na Classe Micro,

ganham o direito de participar de competição similar promovida pela SAE International, no

primeiro semestre do ano subseqüente, competindo com equipes de diferentes países e

contando, para tanto, com apoio técnico, logístico e financeiro, por parte da SAE BRASIL.

Requisitos para o Sucesso do Projeto

Uma série de aspectos deve ser observada a fim de garantir o sucesso do projeto:

Projeto Preliminar;

Cálculos;

Ensaios;

Detalhes de Projeto;

Construção;

Preparação do Relatório;

Apresentação Oral;

Competição de Vôo.

Aspectos de Equipe para o Sucesso do Projeto

Além dos requisitos técnicos, a equipe deverá preocupar-se com vários outros aspectos para

alcançar o sucesso do projeto:

Procura de Patrocínio (apoio financeiro);

Planejamento;

Liderança eficaz;

Trabalho em equipe;

Logística;

Habilidade de comunicação;

Interpretação das regras;


472

Criatividade e Inovação;

Ter Espírito esportivo.

Pontuação de Projeto

A pontuação total engloba os seguintes itens:

Relatório de Projeto (contendo plantas previsão de carga útil);

Apresentação Oral;

Peso Máximo Carregado;

“Acuracidade” de Previsão do Peso Carregado;

Concordância projeto-construção;

Bonificações e penalidades.

7.4 - Histórico do AeroDesign Brasil

Esta seção mostrará de forma bem resumida um pequeno histórico sobre a competição

SAE-AeroDesign no Brasil.

I Competição SAE-AeroDesign 1999

Equipes Participantes: 10 Equipes Inscritas

Figura 7.4 - Competição SAE-Brasil AeroDesign 1999.

II Competição SAE-AeroDesign 2000

Equipes Participantes: 26 Equipes Inscritas

Figura 7.5 - Aeronave da UFRN na Competição SAE-Brasil AeroDesign 2000.


473

III Competição SAE-AeroDesign 2001

Equipes Participantes: 47 Equipes Inscritas.

Classificação Final:

1º - Aerolovers – ITA

2º - Hércules – EESC – USP São Carlos

Carga Máxima Carregada:

Equipe Aerolovers – ITA – 9,74kg

Figura 7.6 - Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2001.

IV Competição SAE-AeroDesign 2002

Equipes Participantes: 49 Equipes Inscritas.

Classificação Final:

1º - Abaquaraçu - EESC - USP

Carga Máxima Carregada:

Equipe Abaquaraçu - EESC - USP – 9,6kg

Figura 7.7 – Aeronave Abaquaraçu - EESC – USP 2002.

V Competição SAE-AeroDesign 2003

Equipes Participantes: 53 Equipes Inscritas.

Classificação Final:

1º - Car-Kará – UFRN


474

VI Competição SAE-AeroDesign 2004

Equipes Participantes: 61 Equipes Inscritas.

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Car-Kará – UFRN

2º - Canarinho – Unesp – Bauru

Classe Aberta:

1º - Leviatã - ITA

Car-Kará

Carga Máxima Carregada:

Equipe Car-Kará – UFRN – 10,42kg

Figura 7.8 – Aeronave UFRN 2003.

Figura 7.9 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2004.

Figura 7.10 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2004.


475

VII Competição SAE-AeroDesign 2005

Equipes Participantes: 61 Equipes Inscritas

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Uai sô Fly – UFMG

2º - Tucano – Universidade Federal de Uberlândia

Classe Aberta:

1º - EESC USP Open – EESC – USP – São Carlos

Carga Máxima Carregada:

Equipe Uai sô Fly – UFMG – 9,08kg

Figura 7.11 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2005.

Figura 7.12 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2005.

Participação da Primeira Equipe Internacional:

Equipe Wayu-Com – Venezuela

Figura 7.13 – Primeira equipe internacional SAE-Brasil AeroDesign 2005.


476

VIII Competição SAE-AeroDesign 2006

Equipes Participantes: 81 Equipes Inscritas

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Keep Flying – Poli USP

2º - Uirá – Universidade Federal de Itajubá

Classe Aberta:

1º - EESC USP Charlie – EESC – USP – São Carlos

Keep Flying

Carga Máxima Carregada:

Equipe Keep Flying – Poli USP – 12,13kg

Figura 7.14 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2006.

Figura 7.15 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2006.

Participação da Primeira Equipe Européia:

Equipe Audazes – IST – Portugal

Figura 7.16 – Primeira Equipe Européia SAE-Brasil AeroDesign 2006.


477

Participação da Primeira Equipe Feminina:

Equipe Fly Girls – Uninove

Figura 7.17 – Primeira Equipe Feminina SAE-Brasil AeroDesign 2006.

IX Competição SAE-AeroDesign 2007

Equipes Participantes: 78 Equipes Inscritas

8 Equipes na Classe Aberta

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Cefast – Cefet-MG

2º - EESC USP Alpha – EESC – USP – São Carlos

Classe Aberta:

1º - Car-Kará Open – UFRN

Carga Máxima Carregada:

Equipe Cefast – Cefet-MG – 11,9kg

Figura 7.18 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2007.

Figura 7.19 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2007.


478

X Competição SAE-AeroDesign 2008

Equipes Participantes: 77 Equipes Inscritas

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Uai sô Fly – UFMG

2º - Keep Flying – Poli Usp

Classe Aberta:

1º - EESC USP Charlie – EESC – USP – São Carlos

Carga Máxima Carregada:

Equipe Cefast – Cefet-MG – 14kg – 2º Setor

Figura 7.20 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2008.

Figura 7.21 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2008.

XI Competição SAE-AeroDesign 2009

Equipes Participantes: 94 Equipes Inscritas

Classificação Final:

Classe Regular:

1º - Cefast – Cefet-MG

2º - EESC USP Alpha – EESC – USP – São Carlos

Classe Aberta:

1º - EESC USP Charlie – EESC – USP – São Carlos

Classe Micro:

1º - EESC USP Mike – EESC – USP – São Carlos

Carga Máxima Carregada:

Equipe Cefast – Cefet-MG – 13,49kg – 2º Setor


479

Figura 7.22 – Aeronaves vencedoras da Competição SAE-Brasil AeroDesign 2009.

Figura 7.23 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2009.

Participação da Primeira Equipe Asiática:

Equipe Pushpak Team – RVCE – Índia

Figura 7.24 – Equipe Pushpak Team – RVCE – Índia SAE-Brasil AeroDesign 2009.

Primeira Participação de uma Equipe do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

de São Paulo – IFSP

Equipe Taperá – IFSP Campus Salto.


480

Figura 7.25 – Aeronave vencedora Classe Aberta SAE-Brasil AeroDesign 2009.

7.5 - Criação, Estruturação, Montagem e Gerenciamento de uma Equipe de Projeto

Criação da Equipe

Apresentação do projeto aos colegas de curso.

Convidar novos integrantes para participar.

Explicar aos novos integrantes como o projeto é desenvolvido.

Desafios do Projeto

O grupo deve possuir uma série de habilidades para que o projeto obtenha um resultado de

excelência.

Projeto multidisciplinar e desafiador.

Empatia do grupo com o orientador e com os colegas.

Diálogos francos e abertos com objetivos e metas a serem alcançadas.

Tarefas da Equipe

Organização no trabalho.

Gerenciamento do projeto.

Procura por patrocínio.

Zelo por equipamento e materiais.

Controlar consumo de materiais.

Desenvolver relatório técnico, desenhos e apresentação oral.

Construir aeronaves e testá-las.

Integrantes da Equipe

O ideal é que a equipe possua um número de participantes adequado para não sobrecarregar

nenhum dos integrantes do grupo.

Equipe muito pequena pode gerar um trabalho exaustivo.

Equipe muito grande também pode ser prejudicial ao trabalho.

Organização da Equipe

Uma equipe de AeroDesign pode ser formada da seguinte maneira:

Professor orientador.

Capitão da equipe.

Membros da equipe que podem ser divididos em equipe de projeto e equipe de construção ou


481

podem todos trabalhar em todas as etapas do projeto.

Cronograma de Trabalho

A equipe deve criar dois cronogramas de trabalho, um macro (a longo prazo) contemplando

todos os meses de desenvolvimento do projeto e um detalhado, preferencialmente com metas

semanais.

Deve-se procurar sempre se antecipar em 15 dias com relação aos prazos do regulamento.

Execução do Cronograma

Verificar prioridades nas tarefas.

Identificar atividades que podem ser desenvolvidas em paralelo.

Identificar e ordenar as atividades que necessariamente devem ser seqüenciais.

Não atropelar etapas, a equipe deve seguir o cronograma e zelar para que não ocorram atrasos.

Requisitos para Trabalho em Equipe

Definição do objetivo do projeto.

Comprometimento com o trabalho que está sendo desenvolvido.

Avaliação contínua do projeto e dos resultados alcançados.

Respeito entre todos os integrantes da equipe.

Confiança no trabalho dos colegas.

Planejamento, organização e maturidade para se realizar o trabalho.

Saber gerenciar os conflitos.

Papel do Capitão da Equipe

Comunicação transparente com todos os integrantes da equipe.

Gerenciamento de conflitos.

Divisão de tarefas entre os integrantes do grupo.

Verificar documentação exigida pela organização do evento.

Fiscalizar e fazer cumprir os prazos estabelecidos pelo cronograma da equipe e pelo

regulamento da competição.

Ser porta voz da equipe na competição.

Incentivar o grupo tanto nas situações favoráveis quanto em situações de fracasso.

Postura Ética e Profissional da Equipe

Maturidade para receber criticas.

Boa capacidade de comunicação entre os colegas.

Saber aceitar sugestões que podem contribuir para a melhoria do projeto.

Responsabilidade e credibilidade no projeto.

Capacidade de reconhecer suas limitações e habilidades.

7.6 - Papel do Orientador no AeroDesign

O conteúdo apresentado a seguir foi retirado do regulamento da competição e enfatiza

os métodos, técnicas e condutas que o orientador da equipe deve aplicar para conduzir a

equipe sem interferência na execução do projeto.

Execução do Projeto

O termo “projeto” mencionado no regulamento engloba: concepção, projeto,

fabricação, testes, preparação de relatório, busca de patrocínio, coordenação do time e todas


482

as atividades relacionadas com o trabalho da equipe para a competição AeroDesign.

Todas estas atividades estão diretamente relacionadas com a competição e fazem parte

do desafio e do papel educacional da competição.

Tais atividades devem portanto, ser executadas exclusivamente pela equipe de alunos,

e não por orientadores, professores, ex-alunos, técnicos das escolas, terceiros, profissionais,

entre outros.

Seleção da Equipe

Pode-se dizer que selecionar a quantidade de participantes por equipe bem como o perfil mais

adequado destes participantes frente às atividades a serem desenvolvidas também deve ser

uma atribuição exclusiva da própria equipe.

Não é interessante que os componentes de uma equipe sejam escolhidos por uma terceira

pessoa como, por exemplo, o coordenador do curso ou o professor orientador.

Esta é uma decisão que só a equipe deve tomar, baseada nas condições particulares dos

participantes e da própria equipe.

Faz parte do aprendizado inferir a respeito das escolhas feitas e lidar com situações

interpessoais adversas.

Desafios do Projeto

Os estudantes são desafiados a usar sua criatividade, habilidade, capacidade,

imaginação e conhecimento neste projeto.

O trabalho em equipe é uma parte extremamente positiva do projeto para os

estudantes, principalmente para aqueles que se sentem normalmente mais inibidos em sua

capacidade criativa e empreendedora.

Estimulo aos Estudantes

Um dos objetivos do projeto é estimular os estudantes a pensar e a formular suas

próprias questões.

Um dos grandes papéis do Professor Orientador é auxiliar os estudantes a

desenvolverem a confiança na busca das melhores respostas através de pesquisas, de modo

que façam as suas próprias escolhas, e do porque chegaram a determinadas conclusões.

Orientação na Busca da Resposta

O Professor orientador deve antes de tudo orientar na busca da resposta ao invés de

produzir por ele mesmo, a resposta.

Ao orientador cabe também desenvolver a capacidade dos estudantes em expor suas

idéias, mesmo que estas soem absurdas ou apontem para uma direção que potencialmente não

é a mais otimizada.

Funções do Orientador

A proibição de pessoas com excepcional habilidade relativa à competição que, por

alguma razão, não seja elegível como membro da equipe. Por exemplo: um aeromodelista

profissional não matriculado como aluno da instituição e, portanto não elegível como

participante da equipe.

Que o projeto seja concebido, projetado e fabricado somente pelos alunos sem

envolvimento de engenheiros experientes, engenheiros aeronáuticos ou qualquer outro

profissional correlato.

Que qualquer conhecimento ou informação fornecida por profissionais ou professores


483

acadêmicos seja tratada como uma alternativa a ser discutida. Estes profissionais não podem

(e não devem) tomar parte nas decisões de projeto ou de trabalho. “É a dúvida que move o

pensamento, e não a certeza da resposta”.

As tarefas de fabricação sejam executadas pelos estudantes. A experiência em

manufatura (e no planejamento de manufatura), deve também fazer parte da formação de um

engenheiro.

Aspectos Educacionais

Como educador, o orientador deve se preocupar mais em garantir os aspectos

educacionais da competição propostos pela SAE do que em buscar somente o primeiro lugar

para a escola.

Avaliação do Projeto

O orientador tem um papel extremamente importante durante e após a competição,

instigando reflexões sobre o que deu certo e errado no projeto, cobrando avaliações críticas

sobre o projeto em comparação com os outros (incluindo os aspectos organizacionais e

comportamentais da equipe), fazendo os estudantes avaliarem onde acertaram e onde erraram.

7.7 – Projeto Conceitual de Aeronaves

Definição de Projeto Conceitual

O Projeto Conceitual é a fase inicial do processo de projeto de um produto e, como

será explicitado a seguir, exige a aplicação da inteligência.

Essa fase do projeto deve ser sistematizada, visando-se à aplicação do computador,

para que seja possibilitada sua integração com as demais fases do projeto do produto, bem

como a integração do processo global de projeto com as demais fases de produção de um

produto, o planejamento de fabricação e a fabricação propriamente dita.

Figura 7.26 – Estrutura básica do projeto conceitual.


484

Figura 7.27 – Esboço de configuração no projeto conceitual.

Figura 7.28 – Fases do projeto conceitual.


485

Figura 7.29 – Evolução do projeto conceitual.

Impacto do Projeto Conceitual

O impacto do projeto conceitual no custo do ciclo de vida de um programa aeronáutico

é de, aproximadamente, 65%.

De fato, é nessa fase que toda a configuração básica deve ser escolhida. Decide-se o

modelo inicial do avião, passando pela análise da integração de todos os grandes sistemas.

Requisitos Desejados

O projeto da aeronave é feito de maneira a satisfazer os requisitos da melhor forma, o

que vai determinar seu maior ou menor grau de sucesso.

Em geral, os aviões comerciais são imaginados para atingir grande sucesso de vendas,

mas insuficiência tecnológica, emprego incorreto de materiais ou mesmo falta de boas

estimativas no projeto conceitual podem levar a configurações inadequadas.

Figura 7.30 – Exemplo no projeto conceitual da asa.


486

Requisitos de Projeto Para um Novo Avião

Requisitos aeronáuticos garantem que a aeronave projetada será segura;

Os requisitos variam com a categoria da aeronave (acrobática, de transporte, utilitário,

ultraleves, asas rotativas, balões e dirigíveis);

O regulamento fornece regras para os diversos aspectos do projeto (aerodinâmica e

desempenho, projeto estrutural, projeto dos sistemas, etc).

Quando uma aeronave se destina à comercialização, esta deve ser submetida ao

processo de homologação, onde se verifica o cumprimento destes requisitos.

Várias são as entidades de homologação ao redor do mundo, cada uma com sua área

de atuação e seu grupo de regras: FAR, EASA (antigo JAR), RBHA.

O regulamento é disponível para o público, através da internet.

Para o Aerodesign, não há requisitos formais, mas existe uma metodologia de

avaliação de projeto que visa verificar se o modelo projetado é seguro.

Análise Histórica

Para facilitar a tarefa de encontrar as características básicas que nortearão o projeto de

uma aeronave, uma análise histórica pode ser um bom ponto de partida.

Obviamente, há muitos avanços a cada ano, e os novos aviões trazem muitas

características inovadoras.

Assim, é importante manter o trabalho com inovações, mas a pesquisa estatística, se

bem desenvolvida, é um passo inicial seguro.

Figura 7.31 – Integração das disciplinas.


487

Figura 7.32 – Otimização multidisciplinar.

Figura 7.33 – Criatividade e inovação.

Projeto Conceitual no AeroDesign

Está totalmente relacionado aos requisitos definidos no regulamento da competição.

A equipe deve estudar o regulamento em detalhes e simular diversas possibilidades

antes de definir qual a aeronave final.


488

Otimização Multidisciplinar

Um bom projeto somente é obtido se todas as disciplinas que compõe o mesmo forem

trabalhadas em conjunto, visando atender ao regulamento da competição.

Esse processo permite otimizar uma aeronave, e apresentá-la como melhor solução de

projeto que atenda os requisitos do regulamento.

Definições no projeto Conceitual para o AeroDesign

Avaliação dos requisitos do regulamento.

Simulação de várias possibilidades.

Comparação entre as aeronaves obtidas.

Esboço inicial dos aviões.

Avaliação das vantagens e desvantagens de cada modelo.

Verificação dos resultados teóricos obtidos e simulação de pontuação na competição.

7.8 – Regulamento da Competição Interpretação e Análise

O Regulamento do AeroDesign

O regulamento da competição é geralmente divulgado no mês de janeiro e as equipes

possuem até outubro para prepararem seus projetos.

Geralmente no final do mês de julho o relatório de projeto deve ser enviado para a

comissão organizadora do AeroDesign.

O regulamento deve ser tratado como “livro de cabeceira” e ser estudado

profundamente em todos os seus tópicos como forma de se obter o máximo desempenho do

projeto.

Principais Pontos do Regulamento

PARTE A

Seção inicial: É aplicável a todas as classes da competição. Nela são divulgadas:

Informações de aspecto gerais da competição

Objetivos da competição

Regras gerais comportamentais

PARTE B

Introdução: Aspectos gerais do SAE AeroDesign no Brasil.

Requisitos iniciais. Válidos para a Classe Regular, Aberta e Micro.

Requisitos de Projeto válidos SOMENTE para a Classe Regular.

Requisitos de Projeto válidos SOMENTE para a Classe Aberta.

Requisitos de Projeto válidos SOMENTE para a Classe Micro.

Requisitos de Missão. Válidos para as Classes Regular, Aberta e Micro.

Regras Gerais para Relatórios e Apresentação (Competição de Projeto). Válidas para as

Classes Regular, Aberta e Micro.

Apêndices: Apêndices: Classes Regular, Aberta e Micro, conforme o caso.

Principais Pontos da Parte A

Alterações nas Regras.

Segurança e Saúde.

Conduta.

Comissão Técnica.


489

Alterações nas Regras

Sem intenção de prejudicar nenhuma equipe, mas sim de permitir melhor

prosseguimento da competição, qualquer aspecto do Regulamento poderá ser alterado pelo

comitê organizador antes ou durante a competição, se considerado extremamente necessário

pelo mesmo comitê. Estas alterações serão comunicadas em momento oportuno e, quando

possível, os capitães das equipes serão consultados. É intenção da Comissão Técnica que

qualquer modificação feita após a liberação do Regulamento não venha a afetar os projetos já

em desenvolvimento.

Uma modificação que por ventura interfira na filosofia de projeto adotada pela equipe

será feita somente em caso de extrema necessidade ou visando melhorias efetivas na

segurança das aeronaves.

Segurança e Saúde

A SAE BRASIL não irá se responsabilizar pelas pessoas participantes do evento. A

todos os inscritos será requisitado que assinem um termo de responsabilidade na recepção.

Seguro médico e contra acidentes é de inteira responsabilidade dos participantes.

Conduta

É muito importante ressaltar que a competição AeroDesign é organizada e realizada

por voluntários, engenheiros, atuantes na área aeronáutica, que sabem o valor educacional que

este tipo de iniciativa proporciona. Qualquer atitude de alguma equipe, professor ou escola,

que seja entendida pela Organização como sendo contrária a esta filosofia será “cortada pela

raiz”, independente de ter sido prevista no Regulamento, ou de ter havido precedentes. O

intuito educacional está acima do Regulamento, e não há como prever todas as possibilidades

de desrespeitá-lo.

Comissão Técnica

Em qualquer parte da competição, os juízes e fiscais são os principais instrumentos de

medida utilizados para avaliar qualquer uma das partes da competição. O critério deles e os

olhos deles são as medidas oficiais, e nenhuma decisão tomada por eles será revogada, mesmo

que se comprove erro de julgamento com filmagens, etc. Não há a possibilidade de a

organização dispor de recursos tecnológicos precisos (por exemplo, para determinação com

precisão ‘milimétrica’ se o avião ultrapassou o limite de decolagem), ou mesmo de

estabelecer uma única forma de avaliar os relatórios, visto que certos aspectos como

organização lógica ou qualidade dependem da experiência, vivência e expectativa de cada um.

Principais Pontos da Parte B

Organização da Competição.

Configuração do Avião.

Configuração de Rádio.

Requisitos das Hélices.

Requisitos da Classe Regular.

Requisitos da Classe Aberta.

Requisitos da Classe Micro.

Relatório de Projeto e Apresentação Oral.

Desenhos do Projeto.

Tabelas de Penalizações.

Organização da Competição

A competição é dividida em duas partes:


490

Competição de Projeto - as equipes apresentarão seus projetos e demonstrarão seus

cálculos para determinar a carga útil máxima que o avião pode carregar bem como os diversos

critérios utilizados para definição da aeronave. Nesse contexto, entende-se por “projeto” todo

o raciocínio, devidamente justificado, utilizado para conceber a proposta de aeronave

desenvolvida pela equipe para participar da competição.

Competição de Voo - determina a carga máxima que cada avião pode carregar. A

precisão do projeto (ou cálculos) é levada em conta no resultado, pela comparação entre a

carga prevista e aquela realmente transportada em voo.

Embora a Competição para as classes Regular, Aberta e Micro sejam realizadas

simultaneamente, a avaliação de cada uma das classes será feita em separado.

Configuração do Avião

Somente aeronaves de asas fixas têm permissão de competir. É vetada a participação

de quaisquer aeronaves que:

Façam uso de gases menos densos que o ar para proporcionar qualquer tipo

contribuição para a sustentação (por exemplo, dirigíveis e balões).

Produzam sustentação por asas rotativas (por exemplo, helicópteros, autogiros e

girocópteros) ou possuam asas sem elementos rígidos (ex. paragliders, pára-quedas, ou

similares).

Utilizem dispositivos auxiliares na decolagem que não pertençam ao avião (incluindo

ajuda humana) e que não estarão conectados fisicamente ao avião quando ele pousar.

Tenham outro tipo de propulsor, adicional ou auxiliar em voo ou no solo. A única

forma de propulsão do avião deve ser através do motor.

Tenham pontas ou bordas afiadas e arestas cortantes que possam causar acidentes no

local da competição.

Requisitos das Classes

Como o regulamento é dinâmico e sempre sofre alterações de um ano para o outro,

não será discutida nessa aula as regras para o projeto da aeronave, mas sim a importância de

se estudar constantemente o regulamento da competição.

Cada uma das categorias (regular, aberta ou micro) tem sua particularidades e devem

ser detalhadamente estudadas no regulamento.

Técnicas de Estudo do Regulamento para um bom Projeto.

Estudar em detalhes todos os quesitos do regulamento na respectiva classe em que a

equipe estará concorrendo.

Verificar todas as equações de bonificação de pontuação e avaliar no projeto qual a

melhor aeronave que se destacaria no regulamento.

Verificar a tabela de penalizações e trabalhar para evitá-las na competição.

Vale lembrar que um projeto bom é aquele no qual todos os requisitos são bons.

Projeto Conceitual

O projeto conceitual do avião deve estar fundamentado na leitura do regulamento, pois

a partir de todas as restrições dimensionais, de desempenho e equações de pontuação, é

possível se chegar a aeronave ótima de competição.

Simulações de Otimização

Simular diversas configurações de aeronaves e verificar qual delas permite obter a

maximização de pontuação.

Não escolher a aeronave apenas pelas dimensões ou pela carga transportada.


491

Verificar a melhor opção antes de definir o avião, nesse ponto a equipe deve ponderar

todas as vantagens e desvantagens de cada avião simulado.

Prazos e Documentos

Verificar todos os Prazos e Documentos a serem enviados para a comissão

organizadora.

Evitar atrasos para que a equipe não seja penalizada na pontuação.

Pontuação de Vôo

Estudar em detalhes todas as pontuações que podem ser obtidas em um vôo válido da

aeronave.

Verificar todas as regras que validam um vôo.

Estudar a regra e ter uma planilha de simulação de pontuação pronta para ser utilizada

a qualquer instante durante a competição.

Trabalhar os detalhes dimensionais da aeronave para não sofrer penalização

dimensional.

Pontuação de Projeto

Tentar obter o máximo de pontos no relatório de projeto e na apresentação oral.

Lembrar que o projeto geralmente equivale a metade da pontuação da competição.

Portanto a equipe deve estar concentrada no todo (projeto+construção).

7.9 – Desenhos de Projeto Técnicas de Detalhamento

Os Desenhos do Projeto

Folha 1 – Três vistas com indicação de blocos A3.

Folha 2 – Detalhamento da fuselagem A2.

Folha 3 – Detalhamento da asa A3.

Folha 4 – Detalhamento da empenagem A3.

Folha 5 – Perspectiva isométrica A3.

Folha 6 – Caixa de mínimo volume A3.

Folha 7 – Três vistas detalhada A3.

Técnicas de Detalhes

Executar os desenhos com a maior clareza possível.

Detalhar tudo que for importante em cada componente da aeronave.

Especificar material utilizado em cada componente da aeronave.

Cotar todos os componentes adequadamente.

Evitar redundância de cotas.

Tolerâncias

É importante que sejam inseridos conceitos de tolerâncias nos desenhos do projeto.

Detalhar todos os componentes estruturais da aeronave com suas respectivas tolerâncias.

Organização e Limpeza

Organizar adequadamente cada folha dos desenhos.

Não poluir muito o desenho com detalhes desnecessários.

Não misturar componentes diferentes do avião na mesma folha.

Utilize uma das folhas para representar a aeronave inteira.

É importante que pelo menos uma das folhas mostre uma perspectiva isométrica da aeronave.


492

Softwares Utilizados

Existe uma imensa gama de softwares que podem ser utilizados.

AutoCAD e SolidWorks são ferramentas fáceis para se elaborar os desenhos.

Se os desenhos forem coloridos, escolher cores que diferenciem os componentes e propiciem

um bom visual dos desenhos.

Realizar a plotagem com alta definição.

Três Vistas Padrão

Indicar as três vistas no padrão aeronáutico.

Colocar as principais cotas e identificar os blocos de superfícies conforme definido no

regulamento.

Especificar a massa vazia da aeronave em kg.

Detalhamento da Fuselagem

Detalhar toda a estrutura da fuselagem.

Detalhes do trem de pouso.

Detalhes do Tail Boom.

Detalhes das rodas.

Detalhes do compartimento de carga com as dimensões internas.

Detalhe do suporte de carga com a indicação do sistema de travamento.

Detalhe da porta do compartimento e posição de retirada de carga.

Detalhes da parede de fogo e posicionamento dos aviônicos.

Detalhes do revestimento.

Cotar todos os componentes.

Detalhamento da Asa

Detalhar toda a estrutura da asa.

Detalhes de cada nervura.

Detalhes da longarina.

Detalhes de bordo de ataque e bordo de fuga.

Detalhes de ailerons e flapes.

Detalhes do winglet quando houver.

Identificação do revestimento.

Detalhar todo o material empregado em cada componente da estrutura.

Especificar perfis utilizados nas superfícies da asa.

Cotar todos os componentes.

Detalhamento da Empenagem

Detalhar toda a estrutura da empenagem.

Detalhes de cada nervura.

Detalhes da das superfícies horizontal e vertical.

Detalhes de profundor e leme.

Detalhes de articulações.

Detalhes do posicionamento dos servos.

Identificação do revestimento.

Identificar pontos de fixação da empenagem na estrutura.

Detalhar todo o material empregado em cada componente da estrutura.

Especificar perfis utilizados nas superfícies da empenagem.

Cotar todos os componentes.


493

Perspectiva Isométrica

Mostrar a aeronave completa em uma perspectiva isométrica.

Se possível colocar na mesma folha um vista explodida da aeronave.

Identificar a massa vazia da aeronave em kg.

Especificar perfis utilizados nas superfícies da aeronave.

Caixa de Transporte

Identificar cada componente desmontado que compõe a aeronave.

Desenhar as três vistas da aeronave desmontada dentro da caixa conforme instruções do

regulamento da competição.

Identificar qual é o volume interno da caixa.

Cotar as dimensões internas da caixa.

Plotagem e Dobra do Papel

Plotar em alta definição.

Dobrar todas as folhas segundo norma da ABNT.

Modelos de Desenhos

A seguir são apresentados alguns detalhes de desenhos da aeronave Taperá que participou da

competição AeroDesign em 2009.

Figura 7.34 – Folha 1 – Três vistas padrão.


494

Figura 7.35 – Folha 2 – Detalhes da fuselagem.

Figura 7.36 – Folha 3 – Detalhes da asa.


495

Figura 7.37 – Folha 4 – Detalhes da empenagem.

Figura 7.38 – Folha 5 – Perspectiva isométrica.


496

Figura 7.39 – Folha 6 – Caixa de mínimo volume.

7.10 – Relatório de Projeto - Técnicas de Estruturação

Elaboração do Relatório de Projeto

Não deixar para o último instante.

O relatório de projeto deve estar pronto com pelo menos quinze dias de antecedência

ao envio.

É importante que o relatório seja desenvolvido desde o início do projeto.

O relatório deve passar por várias revisões antes de se chegar ao formato final.

Formatação do Relatório

O relatório de projeto deve ser formatado de acordo com as regras fornecidas no

regulamento da competição.

A equipe deve estar atenta ao tipo e tamanho da fonte, margens e espaçamento entre

linhas.

Conferir a formatação antes do envio para evitar perda de pontos.

Prazos e Endereço de Envio

Extremo cuidado com a data de envio para evitar perda de pontos por atrasos, por isso

é importante a equipe se planejar para terminar o relatório com pelo menos quinze dias de

antecedência.

Verificar as informações de endereço de envio no site da SAE.

Verificar se todas as cópias do relatório e documentos estão dentro do envelope de

envio, cuidar para não se esquecer de nenhum documento.


497

Termo de Responsabilidade

Não esquecer da encadernação do termo de responsabilidade assinado por todos os

integrantes, pelo orientador e pelo diretor do curso.

Organização do Relatório

Organizar o relatório de projeto de modo que todas as disciplinas apresentadas

possuam uma sequência lógica.

Tentar dividir o número de páginas de cada disciplina igualmente, de forma a obter

uma boa avaliação em todos os quesitos.

Sugestões de Estrutura

A seguir são apresentadas sugestões para a organização de um bom relatório de

projeto.

Normalmente a narrativa ocorre em terceira pessoa, portanto, tente evitar escrever em

primeira pessoa.

Sequência Estrutural

Sumário.

Lista de Símbolos.

Apresentação e Projeto Conceitual.

Análise Aerodinâmica.

Análise de Desempenho.

Análise de Estabilidade e Controle.

Projeto Elétrico da Aeronave.

Análise Estrutural.

Conclusões e Agradecimentos.

Referências Bibliográficas.

Gráfico de Carga Útil em Função da Altitude Densidade.

Desenhos do Projeto.

Sumário

Apresentar em uma página os tópicos abordados com o respectivo número da página

do tema.

O sumário é essencial, pois permite ao avaliador uma busca rápida sobre algum tópico

apresentado pela equipe.

Lista de Símbolos

Também representa outro tópico de fundamental importância na estrutura do relatório,

pois permite ao avaliador obter a identificação de todas as variáveis presentes nas equações

utilizadas.

Deve ser colocada em uma página, neste caso pode-se utilizar uma formatação com

duas colunas.

Apresentação e Projeto Conceitual

As páginas iniciais do relatório devem ser utilizadas para uma apresentação da equipe

seguida dos objetivos e do projeto conceitual do avião.

Nesse tópico segue como sugestão a utilização de pelo menos 4 páginas para descrever

a metodologia empregada pela equipe para obter a aeronave de competição.


498

Projeto Conceitual

Representa um dos principais pontos do projeto, pois é a partir dele que se obtém uma

aeronave competitiva.

Para o projeto conceitual é muito importante que a equipe explore muito o

regulamento da competição e mostre soluções de projeto que atenda as expectativas.

Fica como dica a simulação de várias possibilidades antes de se definir qual é a

aeronave de competição.

Nesse tópico também é importante descrever a aeronave adotada e justificar a escolha.

Análise Aerodinâmica

Apresentar toda a metodologia de análise empregada bem como descrever a teoria

aplicada.

Mostrar ensaios e simulações.

Apresentar e comentar gráficos e tabelas com os resultados obtidos.

Principais Pontos da Aerodinâmica

Definição do perfil da asa.

Definição dos perfis da empenagem.

Desenho das curvas características dos perfis.

Verificação do comportamento do perfil com a variação do número de Reynolds.

Avaliar as qualidades da asa finita.

Calcular as áreas das superfícies vertical e horizontal da empenagem.

Estimar a polar de arrasto.

Apresentar os ensaios realizados.

Análise de Desempenho

Apresentar toda a metodologia de análise empregada bem como descrever a teoria

aplicada.

Mostrar ensaios e simulações.

Apresentar e comentar gráficos e tabelas com os resultados obtidos.

Principais Pontos do Desempenho

Teste e simulação de hélices.

Cálculo da tração disponível e requerida.

Velocidades de máximo alcance e máxima autonomia.

Desempenho de subida e de planeio.

Desempenho de decolagem e pouso.

Desempenho em curvas.

Determinação do envelope de vôo.

Gráfico de carga útil em função da altitude densidade.

Análise de Estabilidade e Controle

Apresentar toda a metodologia de análise empregada bem como descrever a teoria

aplicada.

Mostrar ensaios e simulações.

Apresentar e comentar gráficos e tabelas com os resultados obtidos.

Principais Pontos da Estabilidade

Determinação da posição do CG.

Estabilidade longitudinal estática.


499

Estabilidade lateral e direcional estática.

Estabilidade dinâmica se possível.

Seleção dos Servos.

Projeto Elétrico

Apresentar toda a metodologia de análise empregada bem como descrever a teoria

aplicada.

Mostrar ensaios e simulações.

Apresentar e comentar gráficos e tabelas com os resultados obtidos.

Mostrar um desenho com a parte elétrica do avião.

Análise de Cargas e Estruturas

Apresentar toda a metodologia de análise empregada bem como descrever a teoria

aplicada.

Mostrar ensaios e simulações.

Apresentar e comentar gráficos e tabelas com os resultados obtidos.

Principais Pontos de Estruturas

Determinação do diagrama v-n de manobra e rajadas.

Determinação das cargas na asa, na empenagem, na fuselagem e no trem de pouso.

Análise estrutural desses componentes.

Análises numéricas e ensaios de resistência.

Diagramas de esforços solicitantes.

Conclusões e Agradecimentos

Apresentar todas as conclusões sobre o projeto desenvolvido.

Agradecer a todas as pessoas que efetivamente contribuíram e torceram pelo sucesso

da equipe.

Esse tópico pode ser descrito em apenas uma página.

Referências Bibliográficas

Essencial para que o avaliador tenha condições de julgar qual o material utilizado pela

equipe.

É muito importante que toda bibliografia utilizada esteja referenciada no corpo do

texto do relatório.

Gráfico de Carga Útil

Não esquecer de encadernar junto com o relatório de projeto.

Deve ser a ultima página em formato Landscape.

Desenhos do Projeto

Encadernar na sequência determinada pelo regulamento da competição.

Verificar qualidade, dobra de folhas e tamanho do papel.

Dicas de Formatação

Gráficos legíveis, e se coloridos, devem permitir uma fácil visualização.

Evitar reduzir muito as figuras de forma a comprometer a visualização.

Qualquer equação apresentada dever ser escrita no word equation ou similar.


500

As equações devem ser todas numeradas para fácil identificação.

Realizar pelo menos um parágrafo de comentários após cada gráfico apresentado.

Evitar repetição de palavras ou teorias.

Concatenar muito bem as idéias e a sequência de apresentação.

Não apresentar processos construtivos ou descrever metodologias de construção,

lembre-se que o relatório é técnico e deve descrever a engenharia aplicada para o

desenvolvimento do projeto.

Buscar integração entre todas as disciplinas, pois um bom avião somente é obtido com

um bom projeto completo da aeronave.

7.11 – Apresentação Oral do Projeto Técnicas de Estruturação

Elaboração da Apresentação

Não deixar para o último instante.

A apresentação oral deve estar pronta com pelo menos um mês de antecedência ao

evento.

O treinamento do orador deve ser exaustivo, com controle de tempo e ajustes dos

termos técnicos corretos a serem apresentados.

No dia do evento a apresentação deve sair naturalmente, com concentração e

convicção do orador da equipe.

Perfil do Orador da Equipe

O orador da equipe deve ser um componente do grupo com muita facilidade de

comunicação.

Deve ser uma pessoa com raciocínio rápido e lógico com facilidade de processar e

responder as questões da banca.

Deve possuir capacidade de absorver instantes de trabalho sob pressão.

Deve ser uma pessoa calma e aberta ao dialogo, saber receber criticas e elogios e ter

um comportamento adequado para o momento.

Não deve perder o controle em nenhum instante durante a apresentação.

Possuir boa dicção e falar pausadamente porém em um ritmo que permita apresentar o

projeto no tempo estipulado.

E o fundamental, deve ser um integrante da equipe que possua profundo conhecimento

técnico do projeto.

Na Sala de Apresentação

Copiar os arquivos para a máquina disponibilizada a fim de evitar o mau

funcionamento ou lentidão devido a execução a partir de um Pen Drive.

No inicio da apresentação, o orador deve lembrar de se apresentar, e apresentar todos

os integrantes do grupo e o professor orientador.

O orador é responsável pelo controle do seu próprio tempo, daí a necessidade de se

treinar muito antes do evento.

A equipe deve se mostrar unida e com conhecimento técnico do projeto e deve estar

pronta a ajudar o orador quando solicitada de maneira correta e no momento oportuno.

Ao término da apresentação, o orador deve agradecer aos presentes e se posicionar

para que a banca faça seus comentários.


501

Fatos a Serem Evitados na Apresentação

Não interferir em nenhuma hipótese durante a apresentação, quer seja por gestos ou

oralmente.

Silêncio total durante toda a apresentação.

Tempo de Apresentação

A equipe terá 15 minutos para apresentar seu projeto, sendo penalizada a cada minuto

que ultrapassar o tempo estipulado.

Caso o orador perceba que não vai conseguir cumprir o tempo, é importante não

acelerar a apresentação, pois as vezes é preferível perder um pequena pontuação por atraso do

que uma grande pontuação por acelerar a apresentação e deixar de expor pontos importantes

do projeto.

Estrutura da Apresentação Oral

Colocar na apresentação oral os principais pontos apresentados no relatório de projeto.

Escolher como plano de fundo do slide uma coloração que tenha boa visibilidade na

projeção.

Seguir na apresentação oral a mesma sequência da apresentação do relatório.

Definir com clareza cada tópico apresentado.

Fazer uma apresentação estática caso seja no PowerPoint, pois reduz o tempo em

relação a apresentação dinâmica.

Gráficos e Tabelas

Ter o cuidado de verificar a qualidade gráfica das figuras e legendas dos gráficos

apresentados.

Apresentar tabelas legíveis.

Verificar se as equações apresentadas estão corretas.

Ensaios e Testes

Colocar na apresentação todos os ensaios e testes realizados na aeronave.

Os ensaios e testes podem ser colocados na forma de fotografia ou vídeos.

Modelo de Apresentação Oral

A seguir é apresentado um modelo de apresentação oral.


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Aeronave Taperá 2010

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CAPÍTULO 8

RELATÓRIO DE PROJETO

8.1 – Introdução

O presente capítulo possui como objetivo principal a complementação de toda teoria

apresentada nesta obra com a apresentação de um modelo de relatório de projeto para a classe

regular da competição SAE-AeroDesign.

O relatório que é apresentado a seguir é apenas um modelo segue os requisitos

exigidos pelo regulamento da competição. Este modelo de relatório serve como uma boa

referência para as equipes que procuram obter uma boa classificação no quesito projeto.

A intenção em apresentar um modelo de relatório de projeto neste capítulo que finaliza

o presente livro é justamente para permitir que os estudantes ou equipes que iniciam sua

participação na competição possuam a oportunidade de verificar o padrão técnico e a

consistência de um relatório que geralmente agrada a comissão julgadora do evento.

8.2 – Recomendações para a confecção de um bom relatório de projeto

Para a confecção de um relatório de projeto consistente e fundamentado tecnicamente

na bibliografia aeronáutica, a equipe deve estar preparada para explicar toda a metodologia

utilizada durante a fase de projeto preliminar da aeronave que resultou na configuração

adotada, bem como mostrar com a maior riqueza de detalhes possível todos os cálculos

realizados, qualquer ensaio estático ou dinâmico feito e comprovar todos esses dados a partir

do ensaio em vôo da aeronave.

Um relatório de projeto geralmente necessita de vários ajustes e revisões até ghegar a

sua configuração final. Nesses ajustes e revisões, é muito importante a organização didática

do texto, separando nitidamente cada uma das disciplinas que são avaliadas pela comissão

organizadora do AeroDesign.

Como forma de organizar a confecção do relatório, a seguir são apresentadas algumas

sugestões que podem ser úteis para a confecção de um novo relatório de projeto que seguem

uma seqüência lógica de desenvolvimento e permitem a organização das idéias de forma que

agrade o leitor e facilite a identificação dos pontos que foram estudados e calculados durante a

fase de projeto da aeronave.

Todo relatório de projeto destinado ao AeroDesign deve possuir uma introdução que

explique os objetivos e mostre o projeto conceitual da aeronave, em seguida parte-se para as

análises de aerodinâmica, desempenho, estabilidade e controle além do projeto estrutural.

Neste ponto é importante ressaltar que a seqüência não necessariamente deve ser essa, porém

geralmente essa é a lógica utilizada para o projeto de uma aeronave.

A seguir são realizados comentários pertinentes para cada uma das etapas acima

descritas e que podem ser valiosos para a organização e confecção do relatório.

A) Parte introdutória do relatório: as páginas iniciais devem ser utilizadas

basicamente para a apresentação da equipe com citações sucintas sobre o histórico, as metas e

os objetivos almejados, além de apresentar de maneira objetiva sem a utilização de cálculos a

metodologia empregada para a definição de cada um dos componentes da aeronave com uma

justificativa sobre as vantagens e desvantagens na escolha da configuração, ou seja, no inicio

do relatório é relevante e muito importante a apresentação do projeto conceitual da aeronave


512

através do estudo e fundamentação teórica a partir da consulta da bibliografia aeronáutica

encontrada.

B) Análise aerodinâmica da aeronave: na divisão das disciplinas, o primeiro item a

ser avaliado após o projeto conceitual é a análise aerodinâmica. Neste ponto é de extrema

importância que a equipe apresente e justifique em detalhes todo o procedimento utilizado

para a seleção do perfil aerodinâmico, as dimensões e a forma geométrica da asa, as

considerações aerodinâmicas a respeito da fuselagem e da empenagem, a estimativa do

coeficiente de arrasto total da aeronave e o traçado da polar de arrasto do avião.

É nesta seção do relatório que devem ser mostrados e comentados quaisquer ensaios

aerodinâmicos realizados, quer seja em vôo, em túnel de vento ou computacional. Fotografias

que mostram o ensaio realizado e que a equipe julgue importante para o enriquecimento do

relatório podem ser utilizadas desde que sejam apresentados os respectivos comentários e

justificativas. Qualquer análise numérica realizada também pode ser apresentada desde que

sejam explicados em detalhes a simulação realizada apresentando as hipóteses simplificadoras

utilizadas e os resultados obtidos de forma consistente, não é pertinente colocar uma figura

que não agregue nenhum valor no corpo do texto, ou seja, um ensaio não vale muita coisa se

não forem apresentados resultados que mostrem a realidade do projeto desenvolvido.

C) Análise de desempenho: uma vez realizada a análise aerodinâmica, a equipe já

possui condições de avaliar o desempenho da aeronave, e, portanto, esse tópico geralmente é

colocado logo após a análise aerodinâmica. Durante esta fase é muito importante a equipe

explicar e justificar em detalhes todo o processo utilizado para a seleção da hélice e do motor

escolhido também mostrando as vantagens e desvantagens operacionais do grupo motopropulsor

escolhido. Geralmente é possível a realização simples de testes de bancada estática

com o sistema propulsivo e, portanto, a apresentação de fotografias e/ou resultados obtidos

com simulação numérica podem ser apresentados desde que devidamente justificados.

Na fase de análise de desempenho, é muito importante que as informações

operacionais da aeronave sejam alocadas no texto de modo que seja possível “visualizar o vôo

da aeronave no papel”, para isso, é de extrema valia a determinação do peso máximo de

decolagem ao nível do mar, pois uma vez obtida essa característica de desempenho da

aeronave, torna-se simples e imediato a determinação das características de decolagem,

subida, vôo de cruzeiro, descida e pouso em diversas condições de peso e altitude.

Nesta seção do relatório, é interessante que os resultados obtidos sejam mostrados na

forma de gráficos e que seja apresentado pelo menos um parágrafo com comentários a

respeito de cada um dos gráficos mostrados. Se a equipe julgar pertinente, também pode

utilizar fotografias que mostrem o vôo da aeronave caso já se tenha realizado algum teste com

o protótipo.

Normalmente nesta fase do relatório a equipe determina e apresenta o diagrama v-n da

aeronave e também mostra toda a metodologia empregada para a determinação do gráfico de

carga útil em função da altitude-densidade.

D) Análise de estabilidade e controle: a avaliação dos critérios de estabilidade e

controle podem ser realizadas considerando análises estática ou dinâmica, geralmente são

apresentadas apenas os critérios necessários para a garantia da estabilidade estática, pois como

visto anteriormente a avaliação da estabilidade dinâmica é complicada e difícil de se

determinar sem o auxílio de ferramentas computacionais complexas. Nos critérios de

estabilidade, o primeiro ponto que é importante apresentar é a determinação da posição do

centro de gravidade da aeronave, bem como o passeio do mesmo para condições de cargas

mínima e máxima. Para uma análise estática, é necessário mostrar e justificar os cálculos

realizados para a determinação dos critérios que garantem a estabilidade longitudinal, a


513

direcional e a lateral e quando possível os resultados devem ser apresentados na forma de

gráficos e os mesmos devem ser comentados para facilitar o entendimento e a avaliação do

resultado pelo leitor.

E) Análise estrutural: a apresentação técnica do relatório geralmente é finalizada

com a avaliação dos critérios que garantem a resistência estrutural da aeronave. Nesta seção

devem ser apresentados todos os subsídios que foram utilizados para o dimensionamento das

asas, da fuselagem, da empenagem e do trem de pouso. Os resultados podem ser obtidos

através de aplicações analítica de teorias presentes em livros de resistência dos materiais ou

então através da simulação numérica pelo método dos elementos finitos, nesta segunda opção

de análise, é importante que todo e qualquer resultado obtido seja justificado através da

apresentação das hipóteses adotadas, ou seja, novamente não é pertinente colocar no corpo do

texto uma figura com várias cores que identificam as regiões criticas de resistência da

estrutura se a mesma não for devidamente explicada e justificada.

Nesta seção do relatório é interessante mostrar ensaios estáticos realizados na

estrutura, esse tipo de teste é normalmente fácil de ser realizado e pode comprovar de maneira

qualitativa e quantitativa os resultados obtidos com os cálculos analíticos. O cálculo da

distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa e os respectivos diagramas de

esforços solicitantes são elementos que enriquecem muito o relatório, bem como uma

avaliação consistente dos critérios de resistência do trem de pouso.

F) Conclusões: a página do relatório que antecede as referências bibliográficas deve

ser dedicada exclusivamente as conclusões do projeto, é neste ponto que a equipe finaliza o

relatório de projeto e comenta todos os pontos que permitiram a obtenção da meta almejada.

Caso já tenham sidos realizados ensaios em vôo, a equipe já possuirá respaldo para garantir o

projeto e, portanto, concluir a confiabilidade do trabalho realizado.

Nesta seção pode ser utilizada uma tabela que informe as características técnicas da

aeronave bem como podem ser mostradas fotografias dos vôos realizados.

G) Desenhos do projeto: a representação gráfica da aeronave deve ser feita com a

maior riqueza de detalhes possível. Neste ponto sim, a representação em cores é muito bem

vinda, pois mostra a arte final do projeto e permite a comissão organizadora uma completa

visualização da aeronave. O desenho em três dimensões é importante, porém tecnicamente a

representação das vistas com o maior número de detalhes é um fator determinante na

avaliação do quesito projeto, pois é justamente a partir desses desenhos que um engenheiro

analisa os detalhes principais do projeto. Para a representação do projeto uma série de

“softwares” de representação gráfica podem ser utilizados, fica a cargo de cada equipe definir

qual a melhor ferramenta para a representação do seu projeto.

Espera-se que as informações acima descritas sejam importantes e contribuam para o

desenvolvimento de um relatório de projeto competitivo, organizado e bem fundamentado

tecnicamente. A seguir é apresentado um modelo de relatório de projeto.


SUMÁRIO

Sumário.......................................................................................................................................1

Lista de símbolos e abreviaturas ............................................................................................ 2

1. Apresentação e projeto conceitual da aeronave .................................................................. 3

1.1 Apresentação e objetivos da equipe ...................................................................... 3

1.2 Projeto conceitual da aeronave .............................................................................. 3

2. Análise Aerodinâmica ....................................................................................................... 4

2.1 Escolha da forma geométrica da asa e do perfil aerodinâmico utilizado ................ 4

2.2 Aerodinâmica do perfil e da asa finita ................................................................... 6

2.3 Aerodinâmica da empenagem ............................................................................... 8

2.4 Determinação da polar de arrasto da aeronave .................................................... 10

3. Análise de Desempenho................................................................................................... 13

3.1 Seleção do motor e escolha da hélice .................................................................. 13

3.2 Cálculo do peso total de decolagem .................................................................... 14

3.3 Curvas de tração e potência disponível e requerida ............................................. 16

3.4 Desempenho de subida da aeronave .................................................................... 18

3.5 Desempenho de planeio ...................................................................................... 19

3.6 Desempenho de decolagem ................................................................................. 20

3.7 Desempenho de pouso ........................................................................................ 21

3.8 Determinação do diagrama v-n de manobra ........................................................ 22

3.9 Raio de curvatura mínimo ................................................................................... 23

3.10 Envelope de vôo e teto absoluto ........................................................................ 24

3.11 Gráfico de carga útil em função da altitude-densidade ...................................... 25

4. Análise de estabilidade estática ........................................................................................ 26

4.1 Localização do centro de gravidade .................................................................... 26

4.2 Estabilidade longitudinal .................................................................................... 26

4.3 Estabilidade direcional ........................................................................................ 28

4.4 Estabilidade lateral ............................................................................................. 29

5. Análise Estrutural ............................................................................................................ 30

5.1 Distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa ............................... 30

5.2 Dimensionamento estrutural da longarina da asa ................................................. 31

5.3 Dimensionamento do trem de pouso ................................................................... 32

5.4 Estrutura da empenagem e da fuselagem ............................................................. 32

5.5 Dimensionamento dos servos .............................................................................. 33

6. Conclusões ....................................................................................................................... 34

Referências Bibliográficas ................................................................................................... 35

514


515

Lista de Símbolos de Abreviatura

a 0 – Coeficiente angular da curva (cl versus α)

do perfil, (grau -1 )

a – Coeficiente angular da curva (C L versus α)

para a asa finita, (grau -1 )

b – envergadura da asa, (m)

c – Corda média aerodinâmica do perfil, (m)

c l – Coeficiente de sustentação do perfil

c d – Coeficiente de arrasto do perfil

d f – largura da fuselagem, (m)

e – Fator de eficiência de envergadura

e 0 – Fator de eficiência de Oswald

g – Aceleração da gravidade, (m/s²)

h ac - Posição do centro aerodinâmico da

asa, (m)

h CG - Posição do CG em relação ao bordo

de ataque da asa, (m)

h n – Posição do ponto neutro, (m)

h – Altura da asa em relação ao solo, (m)

l HT - distância entre os centros aerodinâmicos da

asa e da empenagem horizontal (m)

l VT - distância entre os centros aerodinâmicos da

asa e da empenagem vertical (m)

m e – margem estática (m)

n lim – Fator de carga limite

n – rotação do motor (rpm)

p - passo da hélice

v – Velocidade do escoamento, (m/s)

v p – Velocidade de planeio, (m/s)

v po – Velocidade de pouso, (m/s)

v estol – Velocidade de estol, (m/s)

AR – Relação de aspecto da asa

AR h – Relação de aspecto da empenagem

horizontal

AR v – Relação de Aspecto da empenagem

vertical

C D – Coeficiente de arrasto da aeronave

C D0 – Coeficiente de arrasto parasita

C Di – Coeficiente de arrasto induzido

C FE – Coeficiente de atrito de superfície

C L – Coeficiente de sustentação da asa

C Lt – Coeficiente de sustentação da

empenagem horizontal

C L,máx – Coeficiente de sustentação máximo

da asa

C M0 - Coeficiente de momento resultante

ao redor do centro de gravidade para α =0°

C MCG - Coeficiente de momento total ao

redor do centro de gravidade da aeronave

c mac - coeficiente de momento ao redor do

centro aerodinânico

Cn

β wf

- Inclinação da curva para

estabilidade direcional, parcela relativa a

asa/fuselagem

- Inclinação da curva para estabilidade

Cn

β v

direcional, parcela relativa a empenagem

vertical

C - Inclinação da curva de momentos

laterais da aeronave

D – Força de arrasto, (N)

K – Fator de proporcionalidade

L – Força de sustentação, (N)

M F – Momento Fletor Resultante, (Nm)

Re – Número de Reynolds

P d – Potência disponível, (W)

P E – Potência no eixo do motor, (W)

P r – Potência requerida, (W)

Rs – Razão de subida da aeronave, (m/s)

Rd – Razão de descida da aeronave, (m/s)

R min – Raio de curvatura mínimo, (m/s)

S – Área da asa, (m²)

S wet – Área molhada da aeronave, (m²)

S LO – Comprimento de pista necessário

para decolagem, (m)

S HT - Área da empenagem horizontal (m²)

S VT - Área da empenagem vertical (m²)

S PO – Comprimento de pista necessário

para pouso, (m)

T d – Tração disponível, (N)

T r – Tração requerida, (N)

T dh - Tração disponível para uma

determinada altitude, (N)

V HT – Volume de cauda horizontal

V VT – Volume de cauda vertical

W – Peso da aeronave, (N)

α - ângulo de ataque, (graus)

φ - Fator de efeito solo

µ – coeficiente de atrito

η h – rendimento da hélice

ρ - Densidade do ar na altitude, (kg/m³)

ρ 0 - Densidade do ar nível do mar, (kg/m³)

σ – Tensão atuante, (MPa)

Γ – Circulação ao redor da asa, (m 2 /s)


516

1 – APRESENTAÇÃO E PROJETO CONCEITUAL DA AERONAVE

1.1 – Apresentação e objetivos da equipe

A equipe Wings composta por estudantes do curso de Engenharia Mecânica da

Universidade Asas, participa pela terceira vez consecutiva da competição SAE-AeroDesign e

possui como objetivos principais demonstrar à comissão organizadora do evento o crescente

ganho de conhecimento nas disciplinas que contemplam a engenharia aeronáutica, a

apresentação de um relatório de projeto que explica em detalhes toda a metodologia de

cálculos e ensaios empregada para a definição da aeronave e a possibilidade de concorrer em

condições de igualdade com as principais equipes que participam da competição.

1.2 – Projeto conceitual da aeronave

Esta seção mostra apenas alguns comentários sobre o projeto conceitual adotado, para a

definição do projeto conceitual a equipe deve ver as restrições do regulamento da

competição e aplica-las ao objetivo do projeto.

Como forma de obter uma aeronave competitiva e com excelentes qualidades de

desempenho, a equipe trabalhou com a finalidade de encontrar soluções de projeto que

permitissem maximizar a carga útil transportada decolando no menor comprimento de pista

possível com baixa velocidade de estol e conseqüentemente baixa velocidade de decolagem.

A concepção da aeronave adotada teve como objetivos principais o aproveitamento

máximo das dimensões do hangar, o aumento da relação (T/W), a redução da carga alar (W/S),

a maximização conjunta do alongamento e da área da asa, a redução do arrasto total da

aeronave e a minimização do peso estrutural.

Após a realização do estudo de algumas possíveis configurações que atendessem os

requisitos desejados pela equipe, a opção foi por um monoplano de asa alta com forma

geométrica semi-elíptica, sistema propulsivo na configuração “tractor”, trem de pouso modelo

triciclo e empenagem convencional com enflechamento negativo do profundor.

Todos os detalhes e justificativas para a escolha dessa configuração estão explicados

no presente relatório de projeto que está fundamentado em importantes referências

bibliográficas da literatura técnica aeronáutica.


517

2 – ANÁLISE AERODINÂMICA

2.1 – Escolha da forma geométrica da asa e do perfil aerodinâmico utilizado

Com o objetivo de se encontrar a melhor configuração que atendesse as expectativas

da equipe, o critério de escolha da asa e do perfil aerodinâmico utilizado foi fundamentado na

simulação de doze aeronaves diferentes com a combinação de quatro modelos de asa e de três

perfis aerodinâmicos.

A estrutura de simulação considerou um mesmo conjunto fuselagem/empenagem e

combinou cada um dos modelos de asa (trapezoidal, retangular, elíptica e mista), com os

perfis Eppler 423, Selig 1223 e Eplig (combinação dos dois perfis). O objetivo desta

simulação foi encontrar a polar de arrasto de cada uma dessas aeronaves e determinar qual

seria a tração disponível que permitiria uma decolagem com um peso total de 140N em um

comprimento de pista de 59m.

Figura 1 – Aeronave Escolhida.

Para cada uma das formas geométricas citadas, a equipe procurou utilizar o máximo

das dimensões do hangar, além de trabalhar com o intuito de se obter um alongamento

próximo de 7 com uma área de asa em torno de 1m 2 , pois dessa forma é possível obter uma

asa com características aerodinâmicas próximas a do perfil escolhido e ao mesmo tempo

reduzir a carga alar (W/S) que afeta muitos parâmetros de desempenho e estruturais da

aeronave.

Dentre as formas geométricas propostas, a asa 1 é retangular, a asa modelo 2 é

próxima da forma elíptica visando obter a máxima eficiência aerodinâmica a asa 3 é

trapezoidal e a asa 4 tem a forma mista com afilamento das pontas de forma a se reduzir o

arrasto induzido. A Tabela 1 apresentada a seguir mostra os resultados obtidos na simulação

realizada.


518

Tabela 1 – Simulação para escolha da asa e do perfil.

ASA PERFIL S (m 2 ) AR Polar de Arrasto C D =Cdo+KCL 2 T D (N)

1 Selig 1223 0,9690 6,98

2

C D =0,01998+0,0611C L 34,67

1 EPPLER 423 0,9690 6,98

2

C D =0,01980+0,0611C L 37,07

1 Eplig S Ex E In 0,9690 6,98

2

C D =0,01990+0,0611C L 38,99

2 Selig 1223 0,9994 7,19

2

C D =0,02470+0,0597C L 34,34

2 EPPLER 423 0,9994 7,19

2

C D =0,02460+0,0594C L 35,96

2 Eplig S Ex E In 0,9994 7,19

2

C D =0,02465+0,0594C L 37,80

3 Selig 1223 0,9795 7,33

2

C D =0,02012+0,0583C L 34,64

3 EPPLER 423 0,9795 7,33

2

C D =0,02000+0,0583C L 36,51

3 Eplig S Ex E In 0,9795 7,33

2

C D =0,02006+0,0583C L 38,11

4 Selig 1223 0,9660 7,00

2

C D =0,01994+0,0610C L 34,82

4 EPPLER 423 0,9660 7,00

2

C D =0,01980+0,0610C L 37,13

4 Eplig S Ex E In 0,9660 7,00

2

C D =0,01987+0,0610C L 39,06

A variável T D presente na Tabela 1 representa a mínima tração disponível que garante

a decolagem da aeronave no limite de pista estipulado pela equipe (59m). Como será

mostrado oportunamente no presente relatório, a hélice escolhida fornece uma tração

disponível média durante a decolagem de 34,35N, portanto, é possível observar nos resultados

que apenas uma das doze propostas estudadas possibilita atingir a meta inicial de 140N

desejada pela equipe.

Como forma de atender a expectativa, a equipe escolheu a asa e o perfil que permitem

a decolagem com o menor valor de tração disponível, assim, a forma geométrica adotada para

a asa é a mista modelo 4 com o perfil Selig 1223.

A seguir são apresentados todos os cálculos aerodinâmicos para o modelo escolhido,

neste ponto é importante citar que estes mesmos cálculos foram realizados para todas as

configurações estudadas e resultaram na Tabela 1.

2.2 – Aerodinâmica do perfil e da asa finita

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 2 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O perfil Selig 1223 escolhido pela equipe possui boas qualidades para geração de

sustentação para a faixa de Reynolds geralmente encontrada em aeronaves que participam do

AeroDesign, 300000 ≤ Re ≤ 500000, no qual o c l máximo para este perfil é da ordem de 2,3

com um ângulo de estol próximo de 13º. Esse coeficiente de sustentação proporciona ótimas

qualidades de desempenho da aeronave, permitindo normalmente uma elevada capacidade de

carga útil e uma decolagem com um comprimento de pista reduzido.

Porém, é importante citar que as qualidades aerodinâmicas do perfil diferem

consideravelmente das qualidades de uma asa finita ou de um avião como um todo. Assim, a

equipe realizou a correção dessas características considerando as dimensões finitas da asa.

O processo de correção foi realizado a partir da determinação do coeficiente angular

da curva C L x α da asa com a aplicação da Equação (1) segundo modelo apresentado por

Anderson [2].

a =

a0

+ (57,3⋅

a / π ⋅ e ⋅ AR)

1

0

(1)


519

A variável a 0 = 0,110grau -1 foi determinada a partir do cálculo do coeficiente angular

da curva c l x α do perfil Selig 1223. Considerando que a asa possui envergadura b=2,68m e

uma área S=0,9994m 2 , o alongamento obtido foi AR=7,19. O fator de eficiência de

envergadura (e) foi estimado segundo citações de Anderson [1] no qual e=1 para asas com

distribuição elíptica de sustentação, como a forma geométrica da asa da aeronave Wings é

mista, a equipe adotou e=0,99 valor perfeitamente aceitável uma vez que para asas

trapezoidais com média relação de afilamento e≅0,98. Aplicando-se os valores apresentados

acima na Equação (1) obteve-se a = 0,0859grau -1 .

A Figura 2 apresentada a seguir mostra a comparação entre as curvas C L xα da asa e c l

xα do perfil.

Figura 2 – Curvas c l xα do perfil e C L xα da asa finita.

A análise da Figura 2 permite observar que o máximo coeficiente de sustentação da

asa é C Lmáx = 1,79 e que o ângulo de estol é próximo de 13°.

2.3 – Aerodinâmica da empenagem

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 2 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Como forma de se reduzir o arrasto provocado pela empenagem, a equipe trabalhou na

obtenção das menores áreas das superfícies de cauda capazes de prover com segurança a

estabilidade e o controle da aeronave. A metodologia adotada foi o deslocamento do centro

aerodinâmico da asa e conseqüentemente do CG da aeronave para uma posição 0,3m a frente

do centro do hangar e com o bordo de fuga do profundor localizado em uma posição tangente

às paredes traseiras do hangar, dessa forma foi possível realizar um aumento nos

comprimentos l Ht e l Vt entre centro aerodinâmico do profundor e do leme até o CG da

aeronave, contribuindo de maneira satisfatória para a redução de área nas superfícies da

empenagem.

A determinação das áreas mínimas necessárias para as superfícies horizontal e vertical

da empenagem foi realizada com a aplicação das Equações (2) e (3) seguindo citações de

McCormick [8], utilizando-se um volume de cauda horizontal V Ht =0,5 e um volume de cauda

vertical V Vt =0,05 com os comprimentos l Ht = 1,274m e l Vt = 1,191m além da corda média

aerodinâmica c = 0,358m. Os resultados obtidos foram S Ht = 0,16m 2 e S Vt = 0,13m 2 .


520

V

V

Vt

Ht

lVt

⋅ SVt

= (2)

b ⋅ S

lHt

⋅ S

Ht

= (3)

c ⋅ S

Os perfis aerodinâmicos selecionados para a empenagem são simétricos, sendo o

Eppler 169 para a superfície horizontal e o Eppler 168 para vertical. A Figura 3 apresentada a

seguir mostra a curva c l xα para esses dois perfis; essas curvas foram utilizadas para a

determinação dos critérios de estabilidade da aeronave como será apresentado mais adiante

neste relatório. Na Figura 4 é possível verificar a forma geométrica final da empenagem da

aeronave Wings.

Figura 3 – Curvas c l xα para os perfis da empenagem.

Força de sustentação (N/m)

Distribuição de sustentação ao longo da

envergadura do profundor

Método de Schrenk

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Elíptica

retangular

Schrenk

-0,35 -0,2 -0,05 0,1 0,25

Posição relativa da envergadura (m)

Figura 4 – Forma geométrica da empenagem.

Para se obter as áreas calculadas, a equipe avaliou algumas configurações geométricas

que respeitassem as dimensões do hangar obtendo uma superfície horizontal retangular e uma

vertical com forma trapezoidal tradicional. As principais dimensões encontradas são b Ht =


521

0,70m, c rHt = 0,25m, c tHt = 0,15m, AR Ht = 3,09, b Vt = 0,437m, c rVt = 0,367m, c tVt = 0,180m e

AR Vt = 1,42.

Segundo Anderson [1] é desejável que o alongamento da superfície horizontal da

empenagem seja menor que o alongamento da asa, pois dessa forma, na eventual iminência de

um estol esta superfície ainda consegue exercer controle sobre a aeronave, e como pode-se

perceber este critério é atendido no presente projeto.

2.4 – Determinação da polar de arrasto da aeronave

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 2 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

A polar de arrasto da aeronave Wings foi determinada de acordo com citações de

Anderson [1] que define que o coeficiente de arrasto total de uma aeronave completa pode ser

calculado da seguinte forma.

C = C

0

+ C + C

(4)

D

D

Dw

Di

Na Equação (4), o termo referente ao arrasto de onda C Dw foi desprezado durante os

cálculos pois o vôo realizado no AeroDesign se caracteriza em subsônico e de baixa

velocidade, situação na qual o arrasto de onda não se faz presente.

O coeficiente de arrasto parasita C D0 foi obtido relacionando-se a área molhada da

aeronave, a área da asa e o coeficiente de atrito de superfície conforme Equação (5).

C

S

wet

D0 = ⋅ C

Fe

(5)

S

Considerando a área da asa S=0,9994m 2 e a área molhada S wet =3,74m 2 determinada

pelo software “solidworks” a partir do desenho em três dimensões da aeronave, com um valor

de C Fe sugerido por Raymer [10] para monomotores leves em regime de vôo subsônico de

0,0055, o resultado encontrado para o coeficiente de arrasto parasita foi C D0 =0,0247.

O coeficiente de arrasto induzido em função de C L 2 foi calculado pela aplicação da

Equação (6) considerando um fator de eficiência de Oswald, segundo recomendações de

Anderson [1], e 0 = 0,75e = 0,7425.

C

Di

C

=

π ⋅ e

2

L

0

1

= ⋅ C

⋅ AR π ⋅ e ⋅ AR

0

2

L

= K ⋅ C

2

L

(6)

Com a aplicação da Equação (6), o valor obtido para a constante de proporcionalidade

foi K=0,0597, e assim, a polar de arrasto da aeronave Wings é dada por:

C

D

2

0,0247

+ 0,0597 ⋅C

L

= (7)

A curva resultante da aplicação da Equação (7) pode ser observada na Figura 6

apresentada a seguir.


522

Polar de arrasto das aeronaves simuladas

Coeficiente de sustentação

1,8

1,6

1,4

1,2

1

0,8

0,6

0,4

0,2

0

0 0,05 0,1 0,15 0,2

Coeficiente de arrasto

Retangular

Trapezoidal

Mista

Figura 6 – Polar de arrasto da aeronave Wings.

O ponto A em destaque no gráfico representa a máxima eficiência aerodinâmica da

aeronave (L/D) máx e como será mostrado na análise de desempenho, indica o C L necessário

para a realização de um vôo com a mínima tração requerida e o máximo alcance. O valor de

C L que corresponde a esta condição é obtido pelo cálculo da Equação (8) apresentada a seguir.

C

C

* D0

L

= (8)

K

A máxima eficiência aerodinâmica para a aeronave Wings (C L /C D ) máx = 13,05 indica

que para esta condição de vôo a aeronave é capaz de gerar 13,05 mais sustentação do que

arrasto.

Finalmente, o cálculo da tração disponível que resultou na seleção da asa e do perfil

foi realizado com a solução da Equação (9) para T, considerando um peso total de decolagem

de 140 N e um comprimento de pista limitado a 59m.

S

L0

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7VL

0

(9)

O resultado encontrado com a solução da Equação (9) para a aeronave escolhida foi

T=34,34N.

Todo o procedimento apresentado foi repetido para as outras configurações estudadas,

resultando nos dados apresentados na Tabela 1.


523

3 – ANÁLISE DE DESEMPENHO

3.1 – Seleção do motor e escolha da hélice

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 3 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

A análise de desempenho da aeronave Wings está diretamente relacionada com a polar

de arrasto obtida e ao grupo moto-propulsor utilizado.

O motor escolhido pela equipe foi o OS.61FX devido a sua maior confiabilidade

operacional e pelo fato da equipe já ter utilizado o mesmo em competições anteriores com

bons resultados.

Para a escolha e seleção da hélice, a equipe realizou ensaios para se medir a tração

estática em alguns modelos de hélices comerciais disponíveis no mercado e também avaliou a

variação da tração disponível em função da velocidade de vôo a partir do modelo propulsivo

apresentado na Equação (10), que tem como base a potência no eixo do motor e a eficiência

da hélice em função da razão de avanço da aeronave.

T

d

PE

⋅η

h

= (10)

v

A Figura 7 apresentada a seguir mostra as curvas de tração disponível obtida para cada

uma das hélices avaliadas.

Figura 7 – Ensaio de hélices para determinação da tração disponível.

A tração estática também foi estimada de forma analítica a partir do modelo

matemático proposto por Durand & Lesley [4] definido pelas Equações (11) e (12).

T

P

E

v= 0

= KT

0

(11)

n ⋅ Dh

⎛ p ⎞

K = ⋅

⎜ −

T 0

57000 1, 97

(12)

⎝ Dh

O resultado obtido com a solução da Equação (11) fornece a tração estática em (lb), e,

portanto, o mesmo foi convertido para (N) como forma de se obter o resultado no sistema


524

internacional de unidades (SI). A Figura 8 mostra a curva de eficiência das hélices estudadas

obtidas segundo o modelo proposto por Durand & Lesley [4].

Figura 8 – Curvas de eficiência das hélices em função da razão de avanço.

Pela análise da Figura 9, percebe-se que a hélice que fornece os melhores resultados

na faixa de velocidades necessária para a decolagem da aeronave é a APC13”x4”. Esta hélice

foi escolhida pela equipe e a mesma proporciona uma rotação n=12500rpm com uma potência

no eixo de 1000W e uma eficiência máxima de 62% como pode ser observado na Figura 10.

3.2 – Cálculo do peso total de decolagem

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O primeiro ponto avaliado pela equipe para a realização da análise de desempenho da

aeronave foi a determinação do peso total de decolagem em condições de atmosfera padrão ao

nível do mar. Segundo Anderson [3] o comprimento de pista necessário para decolar a

aeronave pode ser determinado a partir da Equação (13) apresentada a seguir.

S

lo

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,44 ⋅W

2

{ T − [ D + µ ⋅ ( W − L)

]} 0,7 0

VL

(13)

A solução desta equação foi realizada limitando-se o comprimento de pista para a

decolagem da aeronave em 59m, sendo considerados os seguintes valores, g = 9,81m/s², ρ =

1,225kg/m 3 , S = 0,9994m 2 e C Lmáx = 1,79. O coeficiente de atrito entre as rodas e a pista

utilizado pela equipe corresponde a µ = 0,1, os valores das forças de sustentação e arrasto

foram determinados pelas Equações (14) e (15).

1

2

L = ⋅ ρ ⋅ ( 0,7 ⋅ vL0

) ⋅ S ⋅ C LL

(14)

0

2


2

2

( 0,7 ⋅ v ) ⋅ S ⋅ ( C + ⋅ K ⋅ C )

525

1

D = ⋅ ρ ⋅

L0 D0

φ

L 0

2

L

(15)

Para a solução das Equações (14) e (15) a velocidade de decolagem seguiu

recomendações da norma FAR-part23 [5] que determina por medidas de segurança que v L0 =

1,2v estol , sendo a velocidade de estol calculada por:

v

estol

= 2 ⋅ W

ρ ⋅ S ⋅ v ⋅C

Também é importante observar que foi considerada a influência do efeito solo na

determinação da força de arrasto, no qual a variável φ foi calculada seguindo recomendações

de McCormick [8] da seguinte forma:

L máx

2

[ 16 ⋅ ( h / b)

]

+ [ 16 ⋅ ( h / b)

] 2

(16)

φ =

(17)

1

Na solução da Equação (17) se considerou b = 2,68m e a altura da asa em relação ao

solo h=0,26m o que resultou em um fator de efeito solo φ = 0,71.

A tração disponível T foi determinada em função da hélice APC 13”x4” utilizada pela

equipe que como pode se observar na Figura 9, para a velocidade (0,7v L0 ) seu valor é T =

34,35N.

Considerando que o termo [ D + µ ⋅ ( W − L)]

representa a resistência ao rolamento da

aeronave durante a fase de aceleração, a equipe determinou o coeficiente de sustentação ideal

para a decolagem como forma de minimizar o comprimento de pista necessário da seguinte

forma.

π ⋅ e0

⋅ AR ⋅ µ

L

=

(18)

0

2 ⋅φ

C

L

O resultado obtido pela Equação (18) foi C L L

= 1,185 e assim, o ângulo de incidência

0

da asa em relação à fuselagem necessário para a obtenção desse C L é de aproximadamente 3º.

É importante citar que a notação 0,7v L0 presente na Equação (13) foi utilizada como

forma de se obter um valor médio das variáveis de decolagem em 70% de v L0 .

A partir das considerações feitas, a equipe estimou o comprimento de pista para a

decolagem considerando um peso total de 140N e dessa forma obteve os seguintes resultados:

v estol = 11,30m/s, v L0 = 13,56m/s, L = 65,40N e D = 4,63N fornecendo S L0 = 59m.

3.3 – Curvas de tração e potência disponível e requerida

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Uma vez determinado o peso total de decolagem ao nível do mar, realizou-se o traçado

das curvas de tração e potência disponível e requerida para três altitudes diferentes, sendo h =

0m (nível do mar), h = 800m e h = 1200m. A escolha dessas três altitudes deve-se ao fato da

variação que geralmente ocorre na altitude densidade nos dias da competição e também como

forma de permitir à equipe uma avaliação global do desempenho da aeronave em diferentes

condições de vôo.


526

Para a determinação dessas curvas, a tração disponível foi corrigida para a altitude de

acordo com a Equação (19).

ρ

T dh

= T d 0

(19)

ρ

A tração requerida para se manter um vôo reto e nivelado ao nível do mar foi

calculada através de Equação (20).

1 2

2

Tr

= D = ⋅ ρ ⋅ v ⋅ S ⋅ ( C

D0

+ K ⋅ C

L

)

(20)

2

A solução desta equação foi realizada com a variação da velocidade de 6m/s até

30m/s, com o coeficiente de sustentação requerido para cada velocidade calculado pela

Equação (21) utilizando-se o peso total de decolagem de 140N calculado anteriormente.

0

C L

2 ⋅W

ρ ⋅ v ⋅ S

=

2

(21)

Para a variação da tração requerida com a altitude, o procedimento utilizado foi

exatamente o mesmo, porém foi considerado na solução das Equações (20) e (21) a variação

da densidade do ar, onde foram utilizados ρ = 1,134 kg/m 3 e ρ = 1,090 kg/m 3 respectivamente

para h=800m e h=1200m.

As potências disponível e requerida foram obtidas de forma direta pela aplicação das

Equações (22) e (23) para cada altitude avaliada.

P

P

d

r

= T ⋅ v

(22)

d

= T ⋅ v

(23)

r

Os gráficos resultantes da análise realizada estão apresentados a seguir na Figura 9.

Pela análise das curvas, é possível observar que ao nível do mar, as velocidades mínima e

máxima da aeronave, são aproximadamente v mín = 8,5m/s e v máx = 26m/s, porém, como a

velocidade de estol calculada para h = 0m é 11,30m/s, essa passa a ser a velocidade mínima

da aeronave. Também é possível observar que conforme a altitude aumenta os valores de v mín

aumentam e os valores de v máx diminuem, restringindo cada vez mais a faixa operacional da

aeronave.

Figura 9 – Curvas de tração de

potência disponível e requerida.


527

Outro ponto importante da análise das curvas de tração e potência é com relação a

análise das velocidades de mínima tração requerida que representa um vôo com máxima

eficiência aerodinâmica (L/D) máx . e a velocidade de mínima potência requerida obtida na

condição (L 3/2 /D). Para a aeronave Wings, essas velocidades foram determinadas para cada

uma das altitudes estudadas da seguinte forma:

v

Tr min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1/ 2

K

C

D0

1/ 4

(24)

v

Pr min

⎛ 2 ⋅W

= ⎜ ⎟

⎝ ρ ⋅ S ⎠

1/ 2

⎝ 3⋅

K

C D

0

1/ 4

(25)

A velocidade que minimiza a tração requerida representa a realização de um vôo com

máximo alcance (maior distância percorrida para uma dada quantidade de combustível) e a

velocidade que minimiza a potência requerida indica um vôo com máxima autonomia (maior

tempo de vôo para uma dada quantidade de combustível). Os resultados obtidos estão

apresentados a seguir na Tabela 2.

Tabela 2 – Determinação das velocidades de máximo alcance e máxima autonomia.

h(m) v trmín (m/s) (alcance) v prmín (m/s) (autonomia)

0 18,86 14,33

800 19,60 14,89

1200 19,99 15,19

3.4 – Desempenho de subida da aeronave

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

A análise das características de subida foi realizada a partir do cálculo da razão de

subida da aeronave considerando a sobra de potência obtida nos gráficos da Figura 9 para as

altitudes avaliadas. Segundo Anderson [3], a razão de subida é determinada da seguinte

forma.

Pd Pr

Rs = −

(26)

W

A solução da Equação (26) foi realizada para cada valor de velocidade utilizado na

determinação das curvas de potência considerando o peso total de decolagem. O gráfico

resultante da análise está representado na Figura 10.


528

Figura 10 – Polar de velocidades

(subida).

Pela análise da Figura 12, pode-se perceber que ao nível do mar (h=0) a máxima razão

de subida da aeronave é R smáx =1,83m/s.

O ângulo de subida que proporciona a máxima razão de subida foi calculado pela

Equação (27) apresentada a seguir.

⎛ RSmáx

θ =

Rsmáx

arctg

(27)

⎝ vh

O resultado obtido para (h = 0m) foi θ = 6,52º, assim, percebe-se que com o peso

máximo de decolagem esse ângulo é muito pequeno e determina um ponto muito importante

para se definir a técnica de pilotagem com o objetivo de se evitar o estol da aeronave nos

instantes iniciais que sucedem a decolagem.

3.5 – Desempenho de planeio

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Para o desempenho de descida da aeronave Wings foram calculados os valores do

ângulo de planeio, da velocidade de planeio, da velocidade horizontal e da razão de descida da

aeronave em uma condição de máximo alcance. Esses parâmetros foram determinados a partir

das Equações (28), (29), (30) e (31) apresentadas a seguir.

1

tgγ =

(28)

( L / D)

máx

v

p

=

2 ⋅W

⋅ cosγ

ρ ⋅ S ⋅ C

L

(29)

v v ⋅ cosγ

(30)

R

h

= p

D

= v ⋅ senγ

(31)

p


529

Na Equação (29), o valor de C L utilizado foi o obtido através da polar de arrasto da

aeronave para uma condição de máxima eficiência aerodinâmica (ponto A da Figura 7). A

solução dessas equações forneceu os seguintes resultados para o vôo de descida da aeronave:

γ = 4,39°, v p = 18,82m/s, v h = 18,77m/s, R D = 1,44m/s.

3.5 – Desempenho de decolagem

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Nesse ponto da análise, a equipe repetiu a utilização da Equação (13), porém

considerando a variação da altitude (0m, 800m e 1200m) e do peso de decolagem entre 70N e

o peso máximo de decolagem na altitude em incrementos de 10N. Esse procedimento foi

realizado como forma de se prever o comprimento de pista necessário para decolar a aeronave

em diversas condições de peso e altitude. Os resultados dessa análise podem ser verificados

no gráfico da Figura 11 apresentada a seguir.

Figura 11 – Peso total de decolagem em função do comprimento de pista.

Pela análise do gráfico, é importante observar que conforme a altitude aumenta, o peso

total de decolagem é cada vez menor para um limite de pista de 59 metros, esse fato é

diretamente percebido no traçado do gráfico de carga útil em função da altitude-densidade, ou

seja, quanto maior a altitude menor é a capacidade de carga da aeronave para um determinado

comprimento de pista.

3.5 – Desempenho de pouso

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Para a análise do desempenho da aeronave durante o pouso, a equipe seguiu a

recomendação da norma FAR-part 23 [5] e adotou uma velocidade de aproximação de

1,3v estol , segundo Anderson [3], o comprimento de pista necessário para o pouso é calculado

por.


530

S

P0

=

g ⋅ ρ ⋅ S ⋅ C

Lmáx

1,69 ⋅W

2

[ D + µ ⋅ ( W − L)

]

0,7vpo

(32)

Na Equação (32), é importante observar que também se considerou um valor médio

em 0,7v P0 .

Esta equação é similar à utilizada para a análise de decolagem, porém durante o pouso,

a tração disponível é nula T = 0N uma vez que no instante em que a aeronave toca o solo o

piloto reduz a tração a uma condição de marcha lenta do motor.

Considerando o peso máximo total calculado de 140N para o projeto, a Equação (32)

foi solucionada para condições atmosféricas ao nível do mar, com o coeficiente de atrito µ =

0,1 e o resultado foi S P0 = 93,50m, o que garante o pouso dentro do limite de 122m estipulado

pelo regulamento da competição.

Tal como para o desempenho de decolagem, a equipe avaliou as características de

pouso em diversas condições de peso e altitude (0m, 800m, 1200m), obtendo como resultado

o gráfico mostrado na Figura 12.

A análise do gráfico permite observar que para um determinado peso, quanto maior a

altitude maior é o comprimento de pista necessário para o pouso.

Figura 12 – Variação do comprimento de pista para pouso em função do peso total da

aeronave.

3.8 – Determinação do diagrama v-n de manobra

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O Diagrama v-n de manobra da aeronave Wings foi obtido mediante a aplicação da

norma FAR-part23 [5] e recomendações de Raymer [10] e Roskam [11].

Com o objetivo de se obter uma boa eficiência estrutural, a equipe optou em utilizar

como fator de carga limite o menor valor possível. Segundo recomendações de Raymer [10] o

fator de carga para aeronaves leves subsônicas é 2,5 ≤ n máx ≤ 3,8, para o projeto Wings foi


531

utilizado n máx =2,5, mínimo valor da faixa, pois assim é possível durante a análise estrutural

obter a estrutura mais leve e que resista com segurança as cargas atuantes durante o vôo.

Seguindo as orientações presentes na norma FAR-part23 [5], o fator de carga último, a

velocidade de manobra, a velocidade de mergulho e o fator de carga limite negativo são

determinados pelas Equações (33), (34), (35) e (36), respectivamente.

n ult

= 1,5

⋅ n

(33)

lim

v

*

= v estol

⋅ n máx

(34)

v

= 1 , 25⋅

(35)

D

v máx

n (36)

lim Θ

= 0,

4 ⋅ nlim

Os resultados foram obtidos para o nível do mar e são respectivamente n ult⊕ = 3,75,

n ultΘ = -1,5, v* = 17,8m/s e n limΘ = -1,0.

O diagrama v-n de manobra obtido está apresentado na Figura 13 mostrada a seguir.

Figura 13 – Diagrama v-n de manobra da aeronave Wings.

3.9 – Raio de curvatura mínimo

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Uma vez definido o diagrama v-n, a equipe realizou o cálculo para a determinação do

raio de curvatura mínimo e para o máximo ângulo permissível para a inclinação das asas

durante a realização de uma curva. A formulação utilizada é proposta por Anderson [1] e as

equações são as seguintes.


532

v Rmín

=

4⋅

K ⋅ ( W / S)

ρ ⋅ ( T / W)

(37)

n

Rmín

4 ⋅ K ⋅ CD0

= 2 −

(38)

2

( T / W )

R

mín

=

g ⋅ ρ ⋅ ( T / W ) ⋅

4 ⋅ K ⋅ ( W / S)

1−

4 ⋅ K ⋅ C

2

D0 /( W / S)

(39)

⎛ 1 ⎞

φ = arccos

(40)

⎝ n Rmín ⎠

Nas equações apresentadas o valor da tração disponível foi considerado para a

velocidade de estol na altitude em estudo e os resultados obtidos estão apresentados na Tabela

3.

Tabela 3 – Determinação do raio de curvatura mínimo e do máximo ângulo

de inclinação das asas.

h(m) v Rmín (m/s) n Rmín (g’s) R mín (m) φ máx (°)

0 10,81 1,38 12,60 43,36

800 11,31 1,37 13,82 43,32

1200 11,58 1,37 14,50 43,29

3.10 – Envelope de vôo e teto absoluto

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O Envelope de vôo da aeronave Wings foi traçado com o objetivo de se ter um

panorama geral da faixa de velocidades na qual a aeronave pode operar em diversas altitudes

de vôo.

A envoltória do envelope de vôo foi obtida com os valores de v min e v máx obtidos nas

curvas de tração considerando uma análise realizada em diferentes altitudes até que a tração

disponível se tornasse igual a requerida, determinando assim o teto absoluto de vôo da

aeronave. É importante observar que o envelope de vôo representado na Figura 16 possui um

limite aerodinâmico definido pela variação da velocidade de estol com a altitude e um limite

estrutural definido pela variação de velocidade da manobra com a altitude.

O teto absoluto de vôo da aeronave Wings é 5200m e o envelope de vôo obtido está

apresentado na Figura 14.


533

Figura 14 – Envelope de vôo da aeronave Wings.

3.11 – Gráfico de carga útil em função da altitude-densidade

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 4 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O desenvolvimento analítico para obtenção do gráfico de carga útil em função da

altitude-densidade foi fundamentado no desempenho de decolagem da aeronave com a

utilização da Equação (13), onde o comprimento de pista máximo foi fixado em 59m, os

valores das forças de sustentação e arrasto foram calculados para a altitude desejada e a tração

disponível corrigida para esta mesma altitude através da Equação (19).

Todo este processo foi implementado em uma planilha com a altitude variando entre

0m e 2300m em incrementos de 100m e o peso total de decolagem foi obtido para cada

altitude de forma que o comprimento de pista para a decolagem resultasse em 59m.

Conhecido os valores do peso total de decolagem para cada altitude avaliada, a equipe

subtraiu o peso vazio da aeronave (40N) e dividiu o resultado pela aceleração da gravidade

para encontrar a carga útil em kg para cada uma das altitudes avaliadas.

O gráfico de carga útil obtido está representado na Figura 15, onde percebe-se que em

São José dos Campos h≅750m, a aeronave Wings é capaz de transportar uma carga útil de

9,10kg. Os pontos calculados foram linearizados e a equação resultante é.

C u

= 10 ,154 − 0, 0013⋅

h

(41)


Figura 15 – Gráfico de carga útil em função da altitude densidade.

534


535

4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE ESTÁTICA

4.1 Localização do centro de gravidade

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 5 do Volume 2 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

O centro de gravidade da aeronave Wings está localizado em uma faixa compreendida

entre 23% e 30% da cma. Essa faixa de valores foi utilizada para o ajuste do CG de acordo

com a carga transportada e o valor da posição do CG para a aeronave vazia e carregada foi

obtido com a aplicação da Equação (42) que relaciona os momentos gerados pelo peso

individual de cada componente da aeronave com o peso total da mesma.

∑W

⋅ d

h CG

=

(42)

∑W

A Equação (42) foi solucionada considerando uma linha de referência localizada no

nariz da aeronave e os resultados obtidos para a aeronave vazia e com carga máxima de

decolagem foram respectivamente h CGv = 0,15m que corresponde a 30% da cma e h CGc =

0,115m que corresponde a 23% da cma.

4.2- Estabilidade longitudinal

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 5 do Volume 2 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

De acordo com Anderson [3], a estabilidade longitudinal estática de uma aeronave é

obtida quando o coeficiente angular da curva C MCG x α é negativo e o primeiro ponto desta

curva é positivo, ou seja, dC MCG

dα < 0 e C M0 > 0.

Para o traçado da curva C MCG x α da aeronave Wings, a equipe utilizou a Equação (43)

sugerida por Anderson [3].

C

MCG

= C + C ⋅ ( h − h ) − V ⋅ C

(43)

Mac

L

CG

ac

H

Lt

O coeficiente de momento ao redor do centro aerodinâmico, bem como os coeficientes

de sustentação a asa e do profundor em função do ângulo de ataque foram obtidos pela análise

das Figuras 2, 4 e 16. Neste ponto é importante citar que a curva C Lt x α também está

corrigida para a envergadura finita do profundor em que o centro aerodinâmico do perfil Selig

1223 está localizado a uma distância h ac = 0,125m a partir do bordo de ataque, ou seja, 25%

da cma.


536

Figura 16 – características aerodinâmicas da asa e das superfícies da empenagem.

O resultado obtido com a aplicação da Equação (43) pode ser observado na Figura 17.

Figura 17 – Coeficiente de momento ao redor do CG em função do ângulo de ataque.

Pela análise da figura é possível observar que a aeronave Wings possui estabilidade

longitudinal estática e o ângulo que proporciona a trimagem da aeronave é 2,3°.

O ponto neutro que delimita a posição traseira do CG e a margem estática que

representa o passeio do CG para se garantir a estabilidade longitudinal foram obtidos com a

solução das Equações (44) e (45).

at

⎛ ∂ε

hn = hac

+ VH

⋅ ⋅ ⎜1

− ⎟

(44)

a ⎝ ∂α

me

= hn

− hCG

(45)

Os resultados obtidos foram h n = 0,233m em relação ao bordo de ataque da asa, que

corresponde a 46,63% da cma e m e = 0,0831m, indicando que enquanto o CG estiver

posicionado à frente do ponto neutro, a aeronave é longitudinalmente estável.

4.3 – Estabilidade direcional

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 5 do Volume 2 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign


537

O critério necessário para a estabilidade direcional de uma aeronave é garantir que o

coeficiente angular da curva Cn x β seja positivo, ou seja, C = dC dβ

> 0 . Segundo Nelson

[9], o valor de Cnβ pode ser obtido pelo cálculo da Equação (46).

C

nβ Cnβwf

+

nβV

n β

= C

(46)

O primeiro termo do lado direito da Equação (46) representa os efeitos da asa e

fuselagem, e o segundo a influência da superfície vertical da empenagem. Os valores de Cnβwf

e Cnβv foram calculados pelas Equações (47) e (48).

S

F

⋅ l

F

Cnβ

wf

= −K

n

⋅ K

RL

S

w

⋅ b

(47)

⎛ dσ

Cnβv

= VVt

⋅ ηV

⋅ aVt

⋅ ⎜1

+ ⎟

⎝ dβ

(48)

Os valores de Kn = 0,04 e KRL = 1 foram obtidos em gráficos empíricos presentes em

Nelson [9], S F = 0,122m² representa a área projeta da fuselagem e lF = 0,925m o

comprimento da fuselagem, o coeficiente angular a Vt = 0,066grau¯¹ foi obtido a partir da curva

CL x α para a superfície vertical da empenagem representada na Figura 4. A relação

ηV ⋅ ( 1 + dσ

) foi estimada segundo USAF [12] pela Equação (49).

n

⎛ dσ

⎛ SVt

S ⎞

w

Z

w

η

V ⋅ ⎜1

+ ⎟ = 0,724 + 3,06 ⋅ ⎜

⎟ + 0,4 ⋅ + 0, 009 ⋅ ARw

(49)

⎝ dβ

⎝1

+ cos Λ

( c / 4) ⎠ d

F

A Equação (49) foi solucionada considerando SVt = 0,13m², Z W = 0,07045m , d F =

0,165m e Λ= 0° pois não há enflechamento na asa.

A partir das considerações feitas, o valor de Cnβ = 0,162grau¯¹ encontrado garante a

estabilidade direcional estática da aeronave Wings. A Figura 18 apresentada a seguir mostra a

variação do coeficiente de momento Cn em função do ângulo β para uma perturbação variando

entre –6° e +6°, e pela análise do gráfico, é possível observar que após qualquer perturbação

sofrida a aeronave possui a tendência de retornar a sua posição de equilíbrio.


538

Figura 18 – Estabilidade direcional estática.

4.4 Estabilidade lateral

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 5 do Volume 2 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

A verificação da estabilidade lateral da aeronave Wings foi realizada a partir de

citações de Ly [7], no qual a relação dC dβ

= C deve ser ligeiramente negativa. O cálculo

foi realizado segundo a aplicação da Equação (50).

L

b

∫ 2

c

y

⋅ d

0

y

C

Lβ = −2 ⋅ a ⋅ϕ

(50)

S ⋅ b

Na Equação (50), φ = 1° representa o ângulo de diedro da asa e o resultado encontrado

para CLβ foi -0,01504grau ¯¹, indicando a estabilidade lateral da aeronave.


539

5. ANÁLISE ESTRUTURAL

5.1 Distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa

Para a realização dessa análise, estudar o Capítulo 2 do Volume 1 do Livro

Fundamentos de Engenharia Aeronáutica – Aplicações ao Projeto SAE-AeroDesign

Estudar o cálculo da distribuição de suatentação pela aproximação de Schrenk

Como primeiro ponto para a análise estrutural da asa, a equipe determinou a

distribuição de sustentação ao longo da envergadura a partir da aplicação do teorema de

Kutta-Joukowski com a aplicação da Equação (51).

L( y)

= ρ ⋅ v ⋅ Γ(

y)

(51)

A solução desta equação foi realizada para condições de atmosfera padrão ao nível do

mar considerando a velocidade de manobra da aeronave obtida no diagrama v-n e a circulação

foi calculada para uma distribuição elíptica de sustentação a partir da teoria da linha

sustentadora de Prandtl como mostra a Equação (52).

2

⎛ 2 ⋅ y ⎞

Γ( y ) = Γ0

⋅ 1 − ⎜ ⎟ (52)

⎝ b ⎠

A circulação no ponto médio da asa foi calculada pela aplicação da Equação (53) com

a força de sustentação obtida em função do peso total da aeronave e do fator de carga limite

positivo pela aplicação da Equação (54).

4 ⋅ L

Γ0 =

(53)

ρ ⋅ v ⋅ b ⋅π

L = n lim

⋅W

(54)

A distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa da aeronave Wings pode

ser observada na Figura 19 apresentada a seguir.

Distribuição de sustentação ao longo da

envergadura da asa

Método de Schrenk

200

Força de sustentação (N/m)

150

100

50

Elíptica

Mista

Schrenk

0

-1,4 -1 -0,6 -0,2 0,2 0,6 1 1,4

Posição relativa da envergadura (m)

Figura 19 – Distribuição de sustentação ao longo da envergadura da asa.


540

5.2 Dimensionamento estrutural das longarinas da asa

Para a realização dessa análise, aplicar conceitos fundamentais de resistência dos

materiais e estruturas aeronáuticas.

A asa da aeronave Wings possui duas longarinas tubulares de fibra de carbono com

diâmetro externo de 24mm e espessura de parede de 1,5mm. O cálculo da tensão atuante para

a verificação dos critérios de flexão foi realizado com a aplicação da Equação (55)

apresentada a seguir que relaciona o momento fletor atuante na raiz da asa com as

propriedades geométricas e de momento de inércia da seção transversal do tubo.

M Fmáx

⋅ y

σ = −

(55)

I

O momento fletor máximo atuante na raiz da asa foi determinado considerando o

carregamento resultante da distribuição elíptica obtida na Figura 21. A análise foi realizada

para a semi-envergadura da asa e a carga equivalente foi aplicada no centróide do quarto de

elipse. Como forma de validar o cálculo, a equipe realizou um ensaio estático para verificar a

resistência à flexão através de uma simulação do carregamento na semi-envergadura da asa.

Para a realização do ensaio, os pesos foram distribuídos ao longo da semi-envergadura da asa

até um carregamento total de 200N, e nesta situação, a estrutura resistiu bem à solicitação

aplicada. A Figura 20 apresentada a seguir mostra o modelo para a determinação do momento

fletor na raiz da asa.

Figura 20 – Modelo para determinação do momento fletor e fotografia do ensaio realizado.

A partir da determinação do momento fletor máximo M Fmáx = 99,524Nm, o cálculo foi

realizado considerando-se o momento de inércia total da seção transversal das duas longarinas

resultando em uma tensão atuante igual a 88,60MPa, que comparada com a tensão de ruptura

da fibra de carbono de 900MPa garante uma margem de segurança de 10,15.

5.3 Dimensionamento do trem de pouso

Para a realização dessa análise, aplicar conceitos fundamentais de resistência dos

materiais e estruturas aeronáuticas.

Para o dimensionamento estrutural do trem de pouso, a análise de cargas foi

fundamentada nos requisitos da norma FAR–part23 [5] onde se considerou para a análise o

peso máximo de decolagem e um pouso realizado com o trem de pouso principal. A

disposição do trem de pouso foi realizada segundo citações de Kroes & Rardon [6] onde 15%


541

do peso é aplicado ao trem do nariz e 85% no trem principal. A análise realizada avaliou os

critérios de resistência quanto à flexão e foi considerada uma seção transversal retangular do

trem de pouso principal com a aplicação de um fator de carga igual a 2,15 no instante do

pouso e o material utilizado é fibra de carbono. A tensão atuante obtida foi de 157,5MPa que

fornece uma margem de segurança de 5,71. O trem do nariz foi confeccionado em aço com

seção circular de diâmetro igual a 5mm e resistiu muito bem as cargas atuantes durante o

taxiamento e operações de decolagem e pouso. A Figura 21 apresentada a seguir mostra o

modelo utilizado para a determinação da resistência à flexão do trem de pouso principal da

aeronave Wings.

Figura 21 – Modelo da análise estrutural do trem de pouso.

5.4 Estrutura da empenagem e da fuselagem

Para a realização dessa análise, aplicar conceitos fundamentais de resistência dos

materiais e estruturas aeronáuticas.

A estrutura da empenagem da aeronave Wings foi totalmente construída com a

utilização de isopor e madeira balsa formando uma estrutura rígida. A forma geométrica da

superfície vertical é trapezoidal com 40% de sua área destinada ao leme de direção. Essa área

de controle foi determinada através da experiência adquirida pela equipe em competições

anteriores. A superfície horizontal é totalmente móvel, a fixação com o “tail boom” foi

realizada de forma a evitar vibrações excessivas garantindo que não ocorra o fenômeno de

“flutter” através do acoplamento de um tubo de fibra de carbono articulado.

A fuselagem foi construída com a utilização de alumínio, o “tail boom” possui seção

tubular de fibra de carbono com espessura de parede de 2mm e foi fixado por dois pontos de

conexão em uma estrutura treliçada na parte traseira da fuselagem. Esse sistema de fixação se

mostrou muito eficiente durante os testes de vôo apresentando boa resistência mecânica e

baixos níveis de vibração. A parede de fogo para a fixação do grupo moto-propulsor foi

construída com uma base única em nylon acoplada diretamente à parte frontal da fuselagem

propiciando segurança e grande facilidade de manutenção.


542

Figura 22 – Modelo da análise estrutural da Fuselagem.

5.5 Dimensionamento dos servos

Os servos-comandos utilizados na aeronave da equipe Wings são da marca Futaba modelos

S3004 ou S3003 com um torque máximo de 0,32Nm e uma força tangencial de aproximadamente

35N, para o comando do profundor utilizou-se o servo S3305 com uma força tangencial de 75N.

Esses servos foram selecionados de acordo com recomendações presentes na página

eletrônica da Futaba e durante os testes de vôo, todas as superfícies da aeronave responderam

prontamente ao comando aplicado e suportaram todos os esforços aerodinâmicos em diversas

condições de vôo, o que garantiu a eficiência e a segurança dos mesmos.


543

6. CONCLUSÕES

Como conclusões do projeto desenvolvido pela equipe Wings pode-se citar que a

expectativa inicial de 140N do peso total de decolagem foi obtida resultando no sucesso

previsto para a aeronave desejada, com isso, a equipe espera obter bons resultados na

classificação final da competição.

Também é importante ressaltar todo o aprendizado adquirido com a realização dos

ensaios estruturais da aeronave, que embora realizados apenas de forma qualitativa,

permitiram à equipe a comprovação visual dos fenômenos mais importantes relacionados a

estrutura da aeronave.

Também neste ano a equipe procurou melhorar os pontos com maior deficiência

técnica e trabalhou mais focada nos parâmetros de estabilidade e estruturais da aeronave

obtendo características mais precisas de estabilidade e reduzindo consideravelmente o peso

vazio da aeronave através da aplicação de materiais leves, com boa resistência mecânica e

com um dimensionamento correto dos principais componentes estruturais da aeronave.

Durante todos os testes de vôo realizados até o presente momento, a aeronave

apresentou excelentes qualidades de desempenho e estabilidade, mostrando que o projeto

aerodinâmico e estrutural desenvolvido está com boa margem de confiabilidade e que as

teorias estudadas foram aplicadas de forma correta.

Figura 23 – Testes de Vôo.


544

Referências Bibliográficas

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York 1999.

[2] ANDERSON, JOHN. D. Fundamentals of Aerodynamics. 2ª Ed, McGraw-Hill, Inc. New

York 1991.

[3] ANDERSON, JOHN. D. Introduction to Flight. 3ª Ed, McGraw-Hill, Inc. New York

1989.

[4] DURAND, W. F., & LESLEY, E. P., Experimental research on air propellers II, T. R.

n°30, NACA 1920.

[5] FEDERAL AVIATION REGULATIONS, Part 23 Airwothiness standarts: normal, utility,

acrobatic, and commuter category airplanes, USA.

[6] KROES, M. J., & RARDON, R. J., Aircraft Basic Science. 7ª Ed, McGraw-Hill, Inc. New

York 1998.

[7] Ly, Ui-Loi. Stability and Control of Flight Vehicle, University of Washington. Seattle

1997.

[8] McCORMICK, BARNES. W. Aerodynamics, Aeronautics and Flight Mechanics. 2ª Ed,

John Wiley & Sons, Inc. New York 1995.

[9] NELSON, ROBERT. C., Flight Stability an Automatic Control, 2ª Ed, McGraw-Hill, Inc.

New York 1998.

[10] RAYMER, DANIEL, P. Aircraft design: a conceptual approach, AIAA, Washington,

1992.

[11] ROSKAM. JAN, Airplane aerodynamics and performance, DARcorporation, University

of Kansas, 1997.

[12] USAF., Stability and Control Datcom, Flight Control Division, Air Force Dynamics

Laboratory, Wright Patterson Air Force Base, Fairborn, OH.

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