RCIA - ED. 77 - DEZEMBRO 2011
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crônica
Feliz Natal!
Luís Carlos Bedran*
Como o mundo real e o virtual estão se transformando muito rapidamente,
parece que tudo leva a crer que o Natal está mudando também nesse mesmo
ritmo, pelo menos no que se refere às festas de fim de ano. Ainda nem mesmo
chegou, mas já está sendo comemorado, e em quase todos os fins de semana,
desde novembro, o que reflete a pujança da economia nacional, um exemplo
para outros países.
É o que se tem visto nos bares e restaurantes da cidade, sempre cheios de
jovens alegres, bem entrosados, nos maiores papos, nas melhores paqueras e
nas casas, nos churrascos familiares. E a moçada, sem mesmo ter consciência
disso, percebe que o futuro será promissor, pois, afinal, os jovens buscam a
felicidade pessoal. Têm esse direito; é o desejo de todos.
No que eles estão certíssimos, mesmo porque é o tempo deles. “Carpe
diem”: palavras de Horácio (Odes, I, II, 8), “que gosta de lembrar que a vida é
curta e se deve gozá-la ao máximo” (Larousse). E a troca de presentes, as reuniões
festivas dos amigos secretos após o trabalho entre todos, as de confraternização
de fim de ano, demonstram uma extrema vontade de compartilhar
dessa alegria natalina e as esperanças de uma vida plena de felicidade.
Mas o Natal não é somente o dia em que se festeja o nascimento de um homem
simples que, idealista, pretendeu utopicamente que as pessoas pudessem
ser mais felizes, apesar dos inevitáveis problemas que nos assolam, mesmo
porque o viver implica em tentar procurar resolvê-los da melhor forma possível.
Numa boa. É também, e sem pecado algum, comemorar o íntimo convívio
entre os familiares, o fraterno entre os amigos e, até mesmo - por que
não? -, solidarizar-se com outras pessoas completamente desconhecidas.
Pois o espírito natalino, até imemorial, torna as pessoas mais vulneráveis;
faz diminuir a desconfiança existente entre elas mesmas, que, durante todo o
ano, obrigam-nas a tanto na luta pela sobrevivência da espécie. Elas baixam a
guarda nessa época.
E graças ao cristianismo que transformou radicalmente a civilização ocidental
desde o nascimento daquele revolucionário, que esperava e desejava
um mundo melhor, a ponto de sacrificar a própria vida porque acreditava no ser
humano. E sua morte tornou-se um exemplo de dignidade, ainda hoje profundamente
reconhecido pelos seus semelhantes, mesmo por aqueles que não
seguem a religião cristã.
Alguns historiadores até afirmam que Cristo foi um segundo Sócrates, uma
reencarnação dele, o filósofo que nasceu em 399 a.C. em Atenas e morreu aos
70 anos; que preferiu a morte pela cicuta, condenado que foi pelo governo daquela
cidade-Estado, a abjurar suas convicções e seus ensinamentos aos jovens
a quem pregava nas praças.
Pois Sócrates não tinha medo algum da morte, porque, como disse a seus
discípulos na prisão, em seus últimos momentos, estava velho mesmo, nunca
a temera nos combates que enfrentara, mesmo com risco de vida, como também,
não a aceitando, estaria descumprindo sua missão no mundo que havia
recebido do Oráculo de Delfos, e que era a de viver indagando, a si mesmo e
aos outros, sobre as grandes questões que inquietam o ser humano.
Então, disse a seus discípulos - inclusive a Platão, que depois escreveu
suas palavras na “Apologia” -: “temer a morte não é senão acreditar-se sábio,
quando não se é, pois é acreditar que se sabe o que não se sabe. Ninguém
sabe o que é a morte e se não seria, para os homens, o supremo bem; mas
quem a teme, julga conhecê-la e está seguro de que é o maior dos males. Não
é isto a verdadeira e condenável ignorância: crer que se sabe o que não se
sabe?”.
Vamos comemorar o Natal com muita alegria, ofertando e trocando presentes,
tal como os reis Magos o fizeram por ocasião do nascimento daquele homem
simples. Até mesmo rezando, que ninguém é de ferro...
E que o espírito natalino possa contaminar a todos, cristãos e não-cristãos,
homens e mulheres, adultos e crianças, ricos e pobres, brancos e negros. O
mundo todo!
*Luís Carlos Bedran
Sociólogo, jornalista e colaborador
da Revista Comércio & Indústria
54 | COMÉRCIO INDÚSTRIA | DEZEMBRO 2011