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segunda versao impressao para correçoes

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Estes termos – mestiçagem, sincretismo ou crioulização – continuam a ser

utilizados em boa parte da bibliografia antropológica e etno-histórica para

especificar formas particulares de hibridação mais ou menos clássicas. Mas,

como designar as fusões entre culturas de bairro e midiáticas, entre estilos de

consumo de gerações diferentes, entre músicas locais e transnacionais, que

ocorrem nas fronteiras e nas grandes cidades (não somente ali)? A palavra

hibridação aparece mais dúctil para nomear não só as combinações de

elementos étnicos ou religiosos, mas também de produtos das tecnologias

avançadas e processos sociais modernos ou pós-modernos. (2015, p. XXIX).

Canclini entende hibridação como “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas

discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”

(2015, p. XIX). Novas práticas que resultam de hibridação cultural entre povos e linguagens são chamadas

de ‘estruturas’ ou ‘práticas discretas’:

Cabe esclarecer que as estruturas discretas foram resultado de hibridações,

razão pela qual não podem ser consideradas fontes puras. Um exemplo: hoje se

debate se o spanglish, nascido nas comunidades latinas dos Estados Unidos e

propagado pela internet a todo o mundo, deve ser aceito, ensinado em cátedras

universitárias – como ocorre no Amherst College de Massachussets – e objetos

de dicionários especializados (Stavans). Como se o espanhol e o inglês fossem

idiomas não endividados com o latim, o árabe e as línguas pré-colombianas

(CANCLINI, 2015, p. XIX).

Assim como o inglês e o espanhol, danças europeias como a valsa e a polca também não podem

ser consideradas como práticas puras. Ambas seriam práticas discretas pois já passaram por algum

processo de hibridação e carregam influências de outras danças. Nas artes compartilhamos a ideia de que

hibridismo “não significa a eliminação de espécies ou linguagens artísticas, mas uma possível renovação e

criação de outras” (QUEIROZ, 2001, p. 75). Para o Samba de Gafieira ser concebido, por exemplo, nenhuma

das influências que participaram da formação de sua genética deixaram de existir, apenas contribuíram

para o aparecimento de uma outra forma de expressão cultural.

Nas diferentes etapas do processo de hibridação cultural no Brasil e em toda a América, novas

estruturas foram surgindo a partir das primeiras práticas discretas, que continuaram e continuam sendo

hibridizadas com outras ao longo dos séculos. O professor da University of Texas e antropólogo

estadunidense Brian Stross delimita essas etapas ou processos como ciclos de hibridação: “na história,

passamos de formas mais heterogêneas a outras mais homogêneas, e depois a outras relativamente mais

heterogêneas, sem que nenhuma seja ‘pura’ ou plenamente homogênea” (CANCLINI, 2015, p. XX). No

processo de hibridação cultural que originou as danças de salão brasileiras que veremos aqui,

observaremos que houve um encadeamento espontâneo e inesperado dos acontecimentos, descrito por

Canclini:

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