Livro - Administracao de Pessoas
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Beatriz Marcondes de Azevedo
Administracao çã
de Pessoas
Beatriz Marcondes de Azevedo
Administração de Pessoas
~
Administracao
de Pessoas
Beatriz Marcondes de Azevedo
2ª Edição
Curitiba
2018
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
A993a
Azevedo, Beatriz Marcondes
Administração de pessoas/ Beatriz Marcondes Azevedo. – 2. ed.
– Curitiba: Fael, 2018.
164 p.: il.
ISBN 978-85-5337-003-0
1. Gestão de pessoas 2. Recursos humanos I. Título
CDD 658.3
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Elaine Monteiro
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Diagramação Mariana Buôgo Ferro
Imagem da Capa Shutterstock.com/abstract
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1 evolução da gestão de pessoas | 7
2 a gestão de pessoas em um ambiente
dinâmico e competitivo | 21
3 planejamento estratégico da gestão de pessoas | 35
4 processos de gestão de pessoas (subsistema provisão) | 51
5 processos de gestão de pessoas (subsistema
aplicação/orientação) | 65
6 processos de gestão de pessoas
(subsistema de manutenção) | 81
7 processos de gestão de pessoas (subsistema
de desenvolvimento) | 95
8 processos de gestão de pessoas (subsistema de controle) | 109
9 conflito, negociação e comportamento entre grupos | 125
10 mudança organizacional | 141
Conclusão | 155
Referências | 157
Carta ao aluno
Prezado aluno, administrar pessoas não é, apenas, contratar,
treinar, recompensar e avaliar o pessoal que fará parte de uma
empresa. Gerir pessoas refere-se à definição de práticas de recursos
humanos destinadas a atrair, desenvolver talentos e, assim, conseguir
criar uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes.
Pessoas devem ser entendidas como um ativo intangível que ajuda
a transformar ambientes laborais em bons lugares para se trabalhar,
maximizando o alcance dos objetivos corporativos.
Para se entender como as pessoas passaram a ser vistas como
ativos intangíveis, é importante resgatarmos a evolução da Administração
de Pessoas. Abordaremos sua gestão em um ambiente econômico
e veremos como as práticas de pessoal devem alinhar-se ao
Planejamento Estratégico Corporativo. Estudaremos a Gestão de
Pessoas de modo sistêmico a partir de seus cinco subsistemas: provisão,
aplicação, manutenção, desenvolvimento e controle.
Administração de Pessoas
Veremos que o conflito é um fenômeno inerente à natureza humana,
cabendo ao gestor de pessoas saber como transformá-lo, construtivamente,
de modo a melhorar a qualidade da decisão e provocar mudanças positivas
na organização. Assim como o conflito, as mudanças também fazem parte
do ciclo de vida das organizações. Para finalizar, estudaremos as principais
características da mudança organizacional.
Ao final da disciplina, você deverá ser capaz de compreender o papel da
Gestão de Pessoas em ambiente dinâmico; analisar a interdependência de seus
subsistemas; e compreender o conflito e a mudança organizacional.
Bons estudos!
– 6 –
1
Evolução da gestão
de pessoas
O alcance dos objetivos de uma organização está ligado a
diversos fatores, tais como: o mercado, os clientes (internos e externos),
a tecnologia, a qualidade, a organização e as condições do trabalho.
É na conjugação desses fatores que se somam esforços para o
alcance dos resultados esperados pela sociedade em que as organizações
estão inseridas.
Podemos dizer, de modo sintético, que o tema “Administração
de Pessoas” assume grande importância em qualquer tipo de
organização. Além disso, podemos afirmar que a diversidade das
práticas existentes está normalmente relacionada com o grau de
crescimento de cada empresa, bem como com o contexto político,
econômico e social de cada época. Esses assuntos serão tratados ao
longo do capítulo 1, que tem como objetivo: descrever, compreender
e caracterizar as principais fases da Gestão de Pessoas.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Descrever, compreender e caracterizar as principais fases da Gestão
de Pessoas.
1.1 A organização e as pessoas
A Administração de Pessoas e sua evolução estão diretamente relacionadas
com o surgimento e o desenvolvimento das organizações. Essas, por sua vez,
tornaram-se o centro do processo de produção econômica, a partir da Revolução
Industrial, ocorrida, primeiramente, na Inglaterra, no século XVIII.
De acordo com Lacombe (2011), a necessidade de criar organizações está
atrelada à necessidade de se obter um padrão de vida satisfatório, com mais
qualidade e com a exigência de um alto padrão de consumo per capita. Para
se consumir, é preciso, primeiramente, ter o que consumir, então, é necessário
produzir. Alta produtividade requer especialização, e isso só é alcançado por
meio da divisão de trabalho, uma vez que é difícil alguém conseguir se especializar
em tudo ao mesmo tempo. A divisão do trabalho requer uma troca
(de bens e serviços) e como, individualmente, as pessoas não estão habilitadas
a fazer o produto final e sim parte dele, precisam, então, da habilidade de
outros. Assim, surge a necessidade da vida em grupo.
Per capita: segundo o Dicionário Michaels (2014), é
a definição para “por cabeça”, para cada habitante.
Maximiano (2000) demonstra que a junção de pessoas de modo organizado,
para alcance de um ou mais objetivos comuns, pode ser definido
como organização. Esta é um grupo de pessoas que acreditam em um mesmo
propósito e passam, com isso, a defender um mesmo objetivo, de forma coordenada,
por exemplo, instituições de ensino, associações de classes, grupos
políticos, sindicatos, igrejas, organizações ambientais, entre outros. Tarefas
feitas por meio das organizações promovem tamanho impacto que é quase
impossível que uma pessoa sozinha consiga executá-las.
– 8 –
Evolução da gestão de pessoas
Importante
Organizações podem ser entendidas como sendo a coordenação
planejada de atividades realizadas, por várias pessoas, para o
alcance de um objetivo comum, por meio da divisão de trabalho e
seguindo uma hierarquia de autoridade e responsabilidade.
Figura 1: A ação coordenada das pessoas.
Fonte: Shutterstock (2014).
Desde o seu surgimento até os dias atuais, as organizações lutam e trabalham
por seus objetivos, sejam elas grandes ou pequenas. Segundo Maximiano
(2000), o objetivo principal de uma organização é produzir bens
e serviços.
Nesse sentido, o trabalho transformou-se no fator de produção central
de qualquer organização. Em outras palavras, as pessoas, proprietárias
do fator de produção trabalho são a essência das organizações. Entretanto,
essa visão das pessoas como elementos centrais no processo de produção da
riqueza humana nem sempre foi tão clara. Essa visão evoluiu, ao longo dos
séculos, influenciada por fatores: políticos, econômicos e sociais.
– 9 –
Administração de Pessoas
A partir do avanço dos estudos das ciências comportamentais e das ciências
sociais aplicadas, o ser humano, no mundo do trabalho, deixou de ser
visto, apenas, como um dos recursos existentes para o alcance dos objetivos
organizacionais. Atualmente, mais do que qualquer coisa, as pessoas são vistas
como o grande diferencial competitivo, ou seja, como um elemento agregador
de valor que ajuda no processo de maximização dos resultados esperados
de uma empresa e assegura sua sustentabilidade e perenidade no mercado.
Em pleno século XXI, temos a certeza de que é possível aperfeiçoar o
trabalho nos aspectos técnicos e sociais com: planejamento, organização,
orientação, treinamento, relações saudáveis e boas condições de trabalho.
As organizações percebem, cada vez mais, a importância das pessoas e vêm
buscando gerenciá-las de modo a maximizar seu potencial, reconhecendo e
respeitando as diferenças individuais. Gerir pessoas implica em buscar alinhar
e coordenar o empenho coletivo, racionalizando o trabalho, para a otimização
do potencial humano da organização.
É importante que as organizações busquem desenvolver equipes de alto
desempenho, visando maior integração e comprometimento. Cabe destacar
que o resultado pleno de uma organização depende, entre diferentes aspectos:
da cultura organizacional vigente, da liderança dos gestores e do apoio
fornecido às pessoas.
Saiba mais
A Colgate-Palmolive assenta suas ações em três valores corporativos
centrais: respeito, trabalho em equipe e melhoria contínua.
Tais valores refletem-se não só na qualidade dos bens e na imagem
organizacional, mas também na preocupação com a comunidade
ao seu entorno. Para tanto, a Gestão de Pessoas foca-se em práticas
que possibilitam o desenvolvimento dos colaboradores. Atrair,
desenvolver e manter pessoas talentosas é uma de suas prioridades.
Para garantir o desenvolvimento e a satisfação dos funcionários, oferece
oportunidades globais de carreira e acesso a treinamentos e
programas de desenvolvimento de alta qualidade.
Fonte: GestãoRH (2012).
– 10 –
Evolução da gestão de pessoas
1.2 As fases evolutivas da gestão de pessoas
Tradicionalmente, a Administração de Pessoas é entendida como uma
subárea da ciência administrativa e tem como foco os processos relacionados
com cada um dos subsistemas de Recursos Humanos e, consequentemente,
com os membros de qualquer organização de trabalho. Seu papel pode ser
desempenhado na dimensão técnica e/ou na dimensão estratégica.
Você sabia
Que a Administração de Pessoas tem vários sinônimos? Dependendo
da região, da empresa ou mesmo do contexto histórico a que
tivermos nos referindo, esta subárea também é conhecida como, por
exemplo, Departamento Pessoal, Relações Industriais, Administração
de Pessoal, Administração de Recursos Humanos, Gestão de Pessoas,
Gestão de Pessoal e, ainda, Gestão do Capital Humano.
A Administração de Pessoas evoluiu, simultaneamente, com a história
da Administração, em decorrência de fatores políticos, econômicos e sociais.
O crescimento industrial, o aumento da complexidade das organizações e as
novas demandas do mercado de trabalho exigiram o aperfeiçoamento dos
processos de Gestão de Pessoas.
Ainda, no que diz respeito à evolução histórica da Administração de Pessoas,
é possível afirmar que ela originou-se da necessidade de verificar e contabilizar
as horas trabalhadas pelos empregados e controlar o absenteísmo, os
atrasos, os pagamentos, as admissões e as demissões. Entretanto, com o passar
dos tempos, as pessoas e suas habilidades mentais passaram a ser o principal
ativo das organizações, a matéria-prima, a base, o fundamento. Então, o antigo
departamento de pessoal deu lugar à Gestão de Pessoas, e os empregados começam
a ser observados como seres dotados de inteligências, habilidades e responsabilidades,
sendo denominados de parceiros das organizações.
Absenteísmo: hábito de estar ausente do emprego.
Fonte: Dicionário Michaelis (2014).
– 11 –
Administração de Pessoas
Para uma melhor compreensão da passagem da Administração de Pessoas
para a Gestão de Pessoas, alguns autores, como Lacombe (2011), Giradi (2008),
Chiavenato (2008), Dutra (2006) e Gil (2006), ao focar a realidade brasileira,
dividem essa evolução em diferentes períodos históricos que, aqui, serão denominados
de fases, assim classificadas: Relações Industriais (1900 a 1950); Administração
de Recursos Humanos (1950 a 1964; de 1964 a 1978) e Gestão de
Pessoas (de 1978 aos dias atuais). E é sobre isso que trataremos a seguir.
1.2.1 Relações industriais
Nos primórdios das Escolas da Administração, tem-se primeiramente a
Administração Científica, com Frederick W. Taylor (1856-1915) e Henri Fayol
(1841-1925) como precursores. Essa escola tinha como objetivo propiciar
fundamentação científica para substituir a improvisação e o empirismo pela
padronização das atividades administrativas (GIL, 2006). Em outros termos, a
Administração Científica estava preocupada, apenas, com o aumento da produtividade
e lucratividade das empresas, por meio da racionalização do trabalho.
Nessa época, as pessoas eram vistas como peças de uma engrenagem, e
estavam ali para servir, simplesmente trabalhando. Pautadas na redução do
tempo e na simplificação
Figura 2: As pessoas como peças de engrenagem. dos movimentos necessários
para a execução das tarefas
(que eram executadas de
forma mecânica, repetitiva
e monótona).
Somente a partir da
Escola das Relações Humanas
é que os fatores sociais e psicológicos
dos trabalhadores
passaram a ser considerados
na questão da produtividade.
As empresas adotaram novas
medidas com os funcionários:
as pessoas, que antes eram tratadas como máquinas, passaram a ter menor fragmentação
das atividades laborais e regras e controles menos rigorosos.
– 12 –
Fonte: Shutterstock (2014).
Evolução da gestão de pessoas
Segundo Gil (2006), as organizações de maior porte começaram a perceber
os trabalhadores como seres humanos e sociais e, por isso, os aspectos
humanos, anteriormente negligenciados, passaram a fazer parte do processo
de Administração de Pessoal.
Andrade (2010) complementa afirmando que as pessoas são as peças
principais de uma organização, por isso é preciso que as organizações se conscientizem
dessa premissa e incorporem tal valor em suas ações, de modo a se
tornarem mais atenciosas com seus funcionários. Girardi (2008) acrescenta
que a preocupação com o fator humano na organização contribuiu para o
aprimoramento da proposta de harmonização entre o capital e o trabalho,
proveniente da Administração Científica. Nesse sentido, iniciou-se uma
alteração importante na cultura de algumas organizações, em que os valores
de integração e respeito passaram a ser imprescindíveis para a melhoria do
desempenho organizacional e para a satisfação das necessidades individuais e
sociais dos trabalhadores.
No que diz respeito à realidade nacional, durante o período de 1900
a 1930, o Brasil começou a receber vários imigrantes estrangeiros que serviram
como mão de obra agrícola. Por fazerem parte de outra cultura, eles
influenciaram as relações trabalhistas brasileiras, como no que diz respeito
às questões sindicais. Entretanto, as atividades de Recursos Humanos estavam
relacionadas, apenas, com o cálculo da retribuição dos serviços prestados
pelos trabalhadores tendo, assim, um caráter meramente contábil. O Estado
não intervinha nas relações trabalhistas e não existia nenhum tipo de processo
de seleção e de treinamento de pessoal.
Entre 1930 e 1950, as empresas foram, fortemente, afetadas pelas transformações
ocorridas sob os ditames da legislação trabalhista. Na década de
1940, a partir da Segunda Guerra Mundial, a Administração de Pessoas passou
a se preocupar mais com as condições de trabalho e com os benefícios
disponibilizados aos seus empregados (GIL, 2006).
Durante o governo de Getúlio Vargas (de 1930 até 1945 e de 1951 a
1954), o Estado passou a interferir na relação capital x trabalho. Nessa direção,
foi fundado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e com ele
vários aspectos legais, relativos ao trabalho, foram formalmente definidos,
– 13 –
Administração de Pessoas
tais como: férias, benefícios, horas extras, aviso prévio, jornada de trabalho,
salário mínimo e fim de semana remunerado.
Saiba mais
Com a crise mundial de 1929, o governo brasileiro passou a intervir
na economia de maneira mais incisiva, através do consumo de bens
e serviços, bem como na oferta de produtos e serviços (serviço
público), objetivando impulsionar a industrialização através da substituição
das importações. Isso ocasionou uma demanda de mão de
obra, tanto por parte da iniciativa privada como no serviço público.
Em função das alterações jurídicas, as empresas foram obrigadas a constituir
uma seção de pessoal, visando resguardá-las de suas obrigações legais e
trabalhistas, sob a égide da nova legislação (em 1943, foi criada a Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT), dando origem a uma unidade administrativa
denominada Seção de Pessoal, cujo chefe tinha a responsabilidade de
interpretar as novas leis e orientar a relação entre os trabalhadores e o Estado,
uma vez que este último detinha o poder dos sindicatos. Naquela época, a
Administração de Pessoal exercia um papel “defensivo ou legal”, justamente
por assumir um caráter burocrático, punitivo e paternalista.
Égide: amparo; defesa; proteção.
Fonte: Dicionário Michaelis (2014).
1.2.2 Administração de recursos humanos
Durante o período de 1950 a 1964, no governo de Juscelino Kubitschek,
foi trazido para o Brasil o modelo americano de RH, o qual representou
um grande avanço qualitativo nas relações entre trabalhadores e empregadores.
Esse período foi denominado como tecnicista.
A situação trabalhista ficou ainda mais complexa e os trabalhadores conquistaram
mais dois direitos: o 13 o salário e o salário família. Destaca-se,
– 14 –
Evolução da gestão de pessoas
também, a crescente industrialização e modernização do país, devido à abertura
do capital estrangeiro, à expansão das indústrias siderúrgica, petrolífera,
química e farmacêutica e à instalação de empresas multinacionais, principalmente,
no setor automobilístico.
Nas organizações, ainda na década de 1950, foi criado o Departamento
de Relações Industriais comandado pela figura do administrador de pessoal,
também conhecido como gerente de Recursos Industriais (GRI). Entretanto,
houve, na realidade, apenas uma alteração de nomenclatura, pois permanecia
a rotina burocrática na gestão das relações trabalhistas.
Conforme Gil (2006), a Administração de Recursos Humanos (ARH),
de fato, teve seu início nos anos 1960, quando tal nomenclatura foi criada
para substituir aquelas utilizadas nas searas organizacionais: Administração de
Pessoal e Relações Industriais. A Administração de Recursos Humanos surgiu
com o propósito de proporcionar uma visão sistêmica das pessoas inseridas
em uma dada organização.
Até este momento, segundo a literatura especializada, houve, apenas,
uma alteração de nomenclatura no que diz respeito à ARH. Destaca-se que,
desde os primórdios da industrialização do Brasil, a função de administrar
pessoas foi relegada a segundo plano, pois a mão de obra era considerada um
recurso em abundância (no mercado), facilmente disponível e substituível.
No período de 1964 a 1978, o Brasil continuou se desenvolvendo consideravelmente
e as empresas começaram a exigir profissionais mais qualificados
e inovações tecnológicas para melhorar seu desempenho e poder fazer frente à
concorrência. Nesse sentido, pela primeira vez, surgiu uma genuína preocupação
em relação à busca da melhor forma de gerir os recursos humanos.
O período de 1964 a 1978 foi marcado pela revolução movida pelas
bases trabalhadoras e a implementação do modelo sindicalista quando ocorreu
o fim da estabilidade no emprego após 10 anos de trabalho, a partir da
criação do FGTS. Nesse momento histórico, houve a transição da Administração
de Pessoal para a Administração de Recursos Humanos. O Departamento
de Recursos Humanos estava presente em, praticamente, todas as
organizações e, em muitas delas, ocupava no seu organograma a posição de
diretoria. Entretanto, apesar da influência da ciência comportamental e da
preocupação com o aspecto humano nas organizações, a ARH foi, durante
muitos anos, marcada pelo caráter técnico-operacional.
– 15 –
Administração de Pessoas
Entre 1968 a 1973, o Brasil passou por um notável surto de crescimento
econômico, esse período ficou conhecido como “milagre brasileiro”. As empresas
cresceram e se modernizaram. O novo modelo econômico foi caracterizado
por um processo de concentração que resultou na constituição de grandes
empresas. Como consequência, uma consideração cada vez maior passou a
ser atribuída à planificação, à tecnologia e aos profissionais especializados.
Já em 1973, a situação econômica brasileira não estava muito boa.
Houve a Crise do Petróleo, a inflação voltou a crescer, a mão de obra se tornou
escassa e desqualificada (destacadamente nos grandes centros industriais)
e o movimento operário se manifestou novamente (GIL, 2006). Diante deste
quadro, surgiu a preocupação com os recursos humanos e, com a expansão
dos cursos de Administração, o profissional de RH, em especial, o administrador,
passou a ser mais valorizado.
A fase da Administração de Recursos Humanos representou um marco
nas relações entre trabalho e capital. Graças à revolução movida pelas bases trabalhadoras,
implantou-se o modelo sindicalista, registrando grande mudança
na denominação e na responsabilidade do gerente de Relações Industriais,
passando, agora, a chamar-se gerente de Recursos Humanos (GRH). Com
tal mudança, a ênfase, puramente burocrática e operacional, voltou-se para o
indivíduo e suas relações.
Devido a uma maior qualificação desses profissionais e às novas demandas
do mercado, o treinamento e desenvolvimento de pessoal e o plano de
cargos, salários e benefícios adquiriram uma notável importância.
1.3 Gestão de pessoas
Depois de 1978, de acordo com Gil (2006), as relações de trabalho no
Brasil tornaram-se mais tensas. Com a democratização do país, no ano de
1985, as ações reivindicatórias dos trabalhadores começaram a se tornar visíveis.
Os sindicatos se fortaleceram e a palavra “negociação” passou a integrar
a agenda dos empresários, de modo que as lideranças operárias começaram a
ser convocadas para discussão dos assuntos trabalhistas.
Assim é que as reivindicações dos trabalhadores foram, aos poucos, sendo
reconhecidas pelo Estado e pelos empresários. Diante de tal situação, surgiu a
– 16 –
Evolução da gestão de pessoas
necessidade das organizações contarem com a ajuda de um profissional de
Recursos Humanos que tivesse habilitação para assessorá-las, na busca da melhor
maneira de gerir seus recursos humanos, uma vez que
[...] o empresariado brasileiro, finalmente, começou a absorver a
noção de que os resultados empresariais eram obtidos mediante o respeito
aos valores humanos e às necessidades básicas de sobrevivência e
desenvolvimento de seus empregados. (GIRADI, 2000, p.10).
A década de 1980 foi marcada pela recessão econômica e pela inflação.
Além disso, os níveis de desemprego elevaram-se significativamente; os trabalhadores
passaram a ganhar menos; as inovações tecnológicas causaram cortes
de pessoal e, com a Constituição de 1988, estipulou-se a jornada de trabalho
de 40 horas semanais e o acréscimo de 1/3 do salário do trabalhador sobre o
valor das férias.
Para Gil (2006), a década de 1990 iniciou-se com grandes alterações nos
campos políticos e econômicos. No começo deste período, o Brasil se dedicou
ao processo de integração com o mercado mundial e a economia abriu-
-se mais para o capital externo. Como consequência, as empresas nacionais
focaram-se no objetivo de redução de custos e, para tanto, definiu-se como
uma das principais medidas a demissão de empregados.
Na segunda metade daquela década, iniciou-se o período de estabilidade
monetária, em virtude do Plano Real. Naquela época, aumentou-se o desemprego
e cresceu-se a economia informal.
Os movimentos sindicais passaram a se dedicar mais às causas sociais.
Os sindicatos começaram a reagir com campanhas pelo aumento do salário
mínimo, pela reposição das perdas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) e pela união entre as duas maiores centrais sindicais do país: a
Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical.
Como resultado dos acontecimentos ocorridos entre os anos 1980 e
1990, a ARH deixou de ser caracterizada pelos aspectos: burocrático, disciplinador
e legal; e passou a ser marcada por sua atuação no planejamento
da promoção da integração do trabalhador e no consequente aumento da
produtividade, devido a uma relação mais harmônica entre os interesses dos
trabalhadores e os interesses organizacionais.
O perfil do profissional especialista em recursos humanos, por consequência,
também se alterou. Requereu-se um consultor especializado dentro
– 17 –
Administração de Pessoas
da empresa, a quem caberia atender as demandas dos demais gerentes, como
esclarecer acerca dos critérios a serem utilizados na seleção de um candidato
a emprego.
Sob a perspectiva da moderna Gestão de Pessoas, pressupõe-se que todos
os gerentes assumem o papel de gestor de pessoas, uma vez que possuem
um grupo de funcionários que estão a eles subordinados. Os profissionais da
consultoria interna encarregam-se de fornecer orientações e as ferramentas
referentes à gestão de pessoas a tais gestores, bem como a elabora as políticas
e diretrizes para a área de Gestão de Pessoal.
Assim, a nova tendência da Gestão de Pessoas é a atuação, em nível de
consultoria interna e terceirização, das atividades que não se referem ao negócio
principal da empresa. Sob os moldes da consultoria interna, a área de Pessoal,
ou Recursos Humanos, deixou de ser setorializada e as equipes de gestão
de pessoas passaram a assumir atividades estratégicas de orientação global que
substituem os antigos departamentos de RH (GIL, 2006).
Saiba mais
A Consultoria Interna de Recursos Humanos tem sido o
procedimento encontrado para buscar mais agilidade nos processos
de Gestão de Pessoas, diante da visão fragmentada
e departamental das organizações. Trata-se de uma abordagem
recente dentro da Gestão de Pessoas nas organizações
contemporâneas, ampliando a atuação na busca constante do
conhecimento e da inovação. Fonte: Giradi (2008).
Cabe destacar que a Gestão de Pessoas, ao atuar tanto em consultoria
interna ou terceirizando algumas de suas atividades, deverá eleger a estratégia
corporativa como o ponto central de referência para o planejamento das ações
de diferentes naturezas que serão responsáveis pela consecução dos objetivos
organizacionais ou, ainda, para a realização, constante, de sua missão e o
alcance da visão organizacional.
Em outros termos, Gil (2006) assinala que o trabalho rotineiro das atividades
de gerir pessoas é delegado a terceiros. Deste modo, o profissional
de recursos humanos adquire maior disponibilidade para atuar de maneira
– 18 –
Evolução da gestão de pessoas
estratégica. Ou seja, deixa de atuar no nível tático e intermediário e, agindo
estrategicamente, assume a responsabilidade de agregar valor ao negócio da
empresa por meio de seus programas de gestão de pessoas.
Resumindo
A evolução da Administração de Pessoas está relacionada com o crescimento
das organizações considerando-se, também, os fatores políticos, econômicos
e sociais. Ela originou-se da necessidade de controlar as pessoas. Sua
denominação inicial é a de Relações Industriais. Na transição para a fase da
Administração de Recursos Humanos, ela assume o caráter legal e, aos poucos,
a ênfase burocrática e operacional tornou-se voltada para o indivíduo e
suas relações com os demais elementos da organização.
Nas últimas quatro décadas, a função deixou de ser caracterizada pelo
nível tático e intermediário, voltando-se para o nível estratégico da empresa
e, assim, passou a ser denominada como Gestão de Pessoas.
– 19 –
2
A gestão de pessoas em
um ambiente dinâmico
e competitivo
Nas últimas décadas, pesquisadores e estudiosos das mais
diversas áreas do conhecimento, dedicaram-se a fazer previsões sobre
as principais tendências que as organizações teriam de enfrentar ao
longo do século XXI. Talvez o marco mais significativo (e que incitou
e continua incitando mudanças nas esferas corporativas, sociais,
econômicas e políticas) tenha sido o fenômeno da globalização.
O mundo dos negócios se tornou mais complexo a partir dos
anos 1990, especialmente no Brasil. A nova economia, alavancada
pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação,
levou ao aumento da concorrência, ao encurtamento dos elos
da cadeia produtiva, às novas formas de organização do trabalho e,
especialmente, a um novo modelo de gerir pessoas.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Identificar os principais fatores influenciadores da Gestão de Pessoas
contemporânea.
2.1 A nova economia e o papel das pessoas
e da tecnologia nas organizações
Para estudarmos sobre o papel das pessoas e da tecnologia nas organizações,
precisamos fazer uma reflexão a respeito das principais mudanças
ocorridas na última década do século XX e na primeira década do século XXI.
Portanto, é imprescindível que esclareçamos as principais diferenças entre a
Economia tradicional e a nova Economia.
Para que possamos discutir este tema, torna-se necessário deixarmos
claro o que significa Economia e qual é a sua relação com o mundo dos negócios
e, em última instância, com os clientes internos e externos das diferentes
organizações que fazem parte de uma dada sociedade.
2.1.1 Significados do termo Economia
A noção humana do modo como o dia a dia “funciona” está alicerçada
pela necessidade primordial de trocar bens e serviços com os outros e de
se tornar membro de uma sociedade (essencialmente de trocas). O mundo
humano ficou tão ligado ao processo de vender e comprar bens e serviços no
mercado que é difícil de imaginar qualquer outra maneira de estruturar os
“negócios” humanos. O mercado é, de fato, uma força avassaladora na vida
dos homens. Nesse sentido, a noção de mercado confunde-se com a visão
humana de economia. Porém, de fato, o que é economia?
Podemos refletir sobre três significados do termo “economia”. O primeiro
significado é a qualidade de ser estrito ou austero no uso de recursos ou valores.
Quando se diz: “Fulano, responsável pelas compras do almoxarifado do restaurante
‘Sabor e Deleite’ é um bom funcionário. Ele é econômico”, isso significa
que Fulano trata de comprar os ingredientes pelo menor custo-benefício e não
desperdiça nada, somente compra o necessário. Esta é a principal noção de
economia do senso comum.
– 22 –
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
Austero: rígido em opiniões, costumes ou caráter.
Severo, rigoroso. Grave, ponderoso, sério, sisudo.
Caracterizado por um modo de viver econômico,
falto de luxo. Fonte: Dicionário Michaels (2014).
O segundo significado é a característica básica de uma ampla gama de
atividades que compõem a “economia” de um país, de uma cidade. Assim, em
uma economia capitalista, a noção comum de que uma atividade é caracterizada
como “econômica” quando ela visa ganho pecuniário, ou seja, quando proporciona
a quem a exerce um rendimento em dinheiro (plantar, industrializar e
comercializar café, por exemplo, são, nesse sentido, atividades econômicas).
E o terceiro significado do termo “economia” se refere à ciência que tem
por objeto a economia como objeto de estudo. A Economia (ciência – com
letra maiúscula) é a sistematização do conhecimento sobre a economia (atividade).
Na ciência econômica estudamos a maneira como se administram os
recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los
para seu consumo entre os membros da sociedade.
Percebemos a partir desses três pontos de vista que definir Economia não
é fácil, mas seu entendimento é necessário para a compreensão do mundo que
nos rodeia. E ainda mais: a tomada de decisões econômicas por empresas e
indivíduos é parte inerente à vida, embora isso nem sempre seja percebido.
Essas decisões individuais (na linguagem Econômica, as decisões microeconômicas)
são fortemente influenciadas por aquilo que está acontecendo ou virá
a acontecer no ambiente geral da economia (ou no ambiente macroeconômico).
Em decorrência disso, o conhecimento sobre o que está acontecendo
no ambiente mais amplo da economia do país e do mundo pode ter efeitos
benéficos sobre a tomada de decisão, tanto por reduzir as chances de erro
quanto pela avaliação das consequências possíveis em diferentes situações.
2.1.2 A Economia Tradicional e a Nova Economia
O aumento da competitividade tem requerido análises internas e externas
à organização, com objetivo de desvelar suas deficiências e perseguir
– 23 –
Administração de Pessoas
um permanente processo de adaptação às demandas do mercado (MAXI-
MIANO, 2000; CHIAVENATO, 2008).
Desvelar: descobrir, aclarar, revelar. Fonte:
Dicionário Michaelis (2014).
A palavra de ordem é ser proativo, criativo, inovador, surpreendente, e tais
atributos exigem flexibilidade e capacidade de aprendizagem contínua tanto
por parte das empresas quanto por parte de seus membros. O desafio é perseguir
melhores práticas com atributos de eficiência, eficácia e efetividade. Sua
busca é importante para inovar e assegurar a sustentabilidade dos negócios.
As melhorias na execução das práticas e dos processos organizacionais
estão diretamente relacionadas à inserção de novas tecnologias e ao alinhamento
de suas estratégias com as demandas do mercado. O alcance da flexibilidade
do processo produtivo reflete a multidimensionalidade desse fenômeno,
requerendo, portanto, uma análise sistêmica.
Os projetos empresariais da nova economia se multiplicam em todo o
mundo, inclusive no Brasil, como em regiões em que há fazendas e agroindústrias
cada vez mais automatizadas. No que diz respeito aos processos de
automatização dos bancos, indústrias, comércios, entre outros, podemos fazer
uma relação com as previsões de Drucker (2006) quando afirmava que uma
característica relevante da nova sociedade em todos os países desenvolvidos e
em muitos países em desenvolvimento, até no Brasil, é o surgimento de uma
força de trabalho baseada no conhecimento, também denominado “trabalhadores
do conhecimento”.
Segundo o autor, este é o grupo que mais cresce na população economicamente
ativa. Essas empresas que pertencem a um “novo” mundo econômico
– que desponta com seus altos e baixos, avanços e recuos. São organizações
que vencem, porém, também, são aquelas que abrem falência, como ocorreu,
há cerca de dois séculos com muitas empresas, quando do início da Revolução
Industrial europeia ou até mesmo após a crise da bolsa de Nova York ocorrida
depois da Primeira Guerra Mundial, na primeira metade do século XX.
– 24 –
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
Figura 1: O desempenho econômico
das empresas contemporâneas.
Fonte: Shutterstock (2014).
Drucker (2006) assinala
que o primeiro sinal de que um
setor ou uma empresa vai mal é
a perda de pessoas qualificadas,
capazes e ambiciosas. Por isso, é
fundamental saber atrair e reter
as melhores pessoas.
Talvez aqui podemos inferir
que, frequentemente, seus executivos
esqueçam que são as pessoas
que realizam o trabalho, não
é o dinheiro, não é a tecnologia.
Portanto, a principal tarefa das
organizações é tornar as pessoas produtivas. E, segundo Drucker (2006), esse
desafio vai se tornando ainda maior com o passar do tempo, pois os trabalhadores
do conhecimento não se veem como empregados e sim como parceiros
das empresas.
Inferir: deduzir por meio de raciocínio, tirar por conclusão
ou consequência. Fonte: Dicionário Michaelis (2014).
Assim, diante deste cenário reside uma dúvida: os empresários, a população,
os trabalhadores, os economistas e os financistas tradicionais estão
conscientes das transformações financeiras, econômicas e sociais desse novo
mundo contemporâneo?
Para discutir sobre essa questão, Campos (2012) assinala que é necessário,
antes de tudo, lembrar a primeira lição ensinada aos alunos das ciências sociais
aplicadas: os desejos humanos não têm limites, por isso, as necessidades materiais
da humanidade são ilimitadas, insaciáveis. Mais ainda, elas multiplicam-se
à medida que o ser humano vive mais e vive melhor. Todavia, os recursos
econômicos, para fazer frente a essas necessidades são relativamente limitados
– são escassos. Assim, terras para lavouras, edificações, água para reservatórios
municipais, fábricas e armazéns não existem de forma irrestrita. E se existissem,
não haveria desafios à humanidade. E sem desafios não haveria progresso.
– 25 –
Administração de Pessoas
Saiba mais
Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), na área do conhecimento Ciências Sociais
Aplicadas, entre as diferentes subáreas, destacam-se: Direito,
Administração, Ciências Contábeis e Economia. Fonte: Portal do
CNPq (2014).
O princípio da escassez sempre foi “a pedra angular” da Ciência Econômica.
Sabemos que a natureza é finita e os recursos para saciar as necessidades
humanas são limitados. O que queremos dizer com esse princípio é
que o grande problema a ser enfrentado é lidar com essa relação assimétrica,
em que temos, de um lado, necessidades infinitas a serem satisfeitas e de
outro, recursos limitados para satisfazê-las. Deste modo, podemos afirmar
que a Economia tradicional, em toda a sua trajetória científica e prática,
sempre teve sua teoria baseada na escassez dos recursos naturais.
A nova Economia (da contemporaneidade) é diferente, uma vez que não
pode mais ser analisada a partir do princípio da escassez. Passou a ser baseada
no saber, no conhecimento – que são infinitos. Ilimitados. E não têm previsões
para o seu fim (MAXIMIANO, 2000).
O recurso principal da atividade econômica moderna e, consequentemente,
da boa capacidade de solvência financeira e do desenvolvimento econômico,
é o conhecimento humano, é a capacidade inventiva do homem (ou,
alternativamente, o capital intelectual). Sobre essa lembrança, vale recordar
Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) e Peter Ferdinand Drucker (1909-
2005) que sempre nos reiteraram a importância do conhecimento e da inovação
(e da importância central do empresário inovador) para a dinâmica
econômica e financeira.
Saiba mais
O economista Joseph Schumpeter talvez tenha sido o pensador
mais influente de todos os tempos sempre que se pensa em inovação,
empreendedorismo e capitalismo (MCGAW, 2014).
– 26 –
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
Peter Drucker foi fundador da disciplina do management. Suas ideias
sobre empreendedorismo e inovação mudaram “a definição dos cargos gerenciais”,
que passaram a ter de “se preocupar com novas oportunidades, mesmo
nas grandes empresas”. (HSM MANAGEMENT, 2006).
A nova Economia e a saúde financeira de qualquer empresa têm sua base
num recurso inesgotável: o conhecimento, que vem alcançando o ciberespaço.
De tudo isso, uma simples observação: estamos entrando para um
período em que a educação das pessoas é, mais do que nunca, a base do desenvolvimento
econômico, financeiro e social da nova Economia (LACOMBE,
2011; CAMPOS, 2012). Aqui, certamente, não existem atalhos, uma sociedade
só encontrará o progresso quando seguir esse caminho.
Ciberespaço: é visto como uma dimensão da sociedade
em rede, em que os fluxos definem novas formas
de relações sociais. Fonte: Levy (2000).
2.1.3 Os Sistemas de Inovação
Mesmo com a dificuldade em se estabelecer um consenso sobre o entendimento
do atual processo de “globalização”, podemos afirmar, com base em
Drucker (2012), que não há dúvidas de que a inovação e o conhecimento são
os principais fatores que definem a competitividade e o desenvolvimento de
nações, regiões, estados, setores, empresas e até mesmo indivíduos.
No que se refere à construção da ideia dos sistemas de inovação, de
maneira geral, aponta-se para a contribuição de vários autores, como Lenzi
(2011) e Drucker (2012), que definem o sistema de inovação como sendo
um sistema constituído de elementos e relações que determinam, em grande
medida, a capacidade de aprendizado local e, portanto, a capacidade de inovar
e de se adaptar às mudanças do ambiente.
Estes e outros autores, ao discutirem os elementos que constituem os
sistemas de inovação, enfatizam que as diferenças relacionadas à experiência
histórica, política e cultural (entre outras) explicam as características idios-
– 27 –
Administração de Pessoas
sincráticas que se refletem na configuração institucional geral dos países. E
assim, portanto, são reproduzidos na organização interna das organizações
dos diferentes setores da economia e dos mercados produtor e consumidor,
no papel do setor público e do setor financeiro, na intensidade e organização
das atividades educacionais e “inovativas”.
Idiossincrasia: constituição individual, em virtude da
qual cada indivíduo sofre diferentemente os efeitos da
mesma causa. Fonte: Dicionário Michaelis (2014).
2.1.4 A inovação
Para os propósitos deste capítulo, as inovações aqui tratadas englobam
não somente as novas tecnologias de produção, mas também os modos de
produzir. Em outras palavras, as inovações podem ser tecnológicas e organizacionais.
Portanto, a noção de inovação é aqui entendida de maneira ampla
o suficiente para englobar fatores como geração e difusão de novos bens e
serviços, novos processos e novos mercados.
Figura 2: Ideias inovativas fazem a diferença. Nessa direção, pensemos
na definição de Drucker
(2012) a respeito do
que ele considera inovação.
Na sua visão, inovação é
um termo da Economia,
e não da tecnologia. Mais
ainda, inovação não é
invenção e pode significar
a descoberta de novos usos
para produtos (bens ou serviços)
antigos. Portanto,
pode ser definida como a
tarefa de dotar os recursos humanos e materiais de nova e maior capacidade
de produzir riquezas.
– 28 –
Fonte: Shutterstock (2014).
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
Ao pensar em termos práticos, veremos que as inovações ocorridas na
microeletrônica, por exemplo, tem dado origem a um conjunto de novos bens
e serviços nas áreas de informática e telecomunicações. A miniaturização dos
equipamentos e produtos, bem como o aumento na capacidade e na velocidade
de processar informações tem proporcionado reduções de custos e aumento de
produtividade, fazendo com que essas tecnologias se difundam rapidamente
por diferentes setores da atividade econômica. Sob esta ótica de entendimento,
podemos concluir que Drucker (2006) estava certo ao afirmar que com essa
revolução toda os meios de produção passam a ser propriedade dos trabalhadores
do conhecimento. Isso porque o meio de produção é o conhecimento em si.
Nesse sentido, verifica-se que as inovações, ora em curso, alteram não só
as áreas de produtos (bens e serviços) e processos produtivos, mas também
a estrutura de custos dos insumos, as condições de produção e a gestão das
organizações, em especial, a gestão das pessoas lá inseridas. Portanto, o caráter
central adquirido pelo conhecimento, pela aprendizagem e pela difusão para
a dinâmica da inovação está diretamente vinculado ao desempenho das organizações
presentes na nova Economia.
Em outras palavras, podemos dizer que os ditames da competitividade
passaram a ser balizados pelas variáveis: agilidade, produtividade e qualidade,
ou seja, por critérios de eficiência e eficácia dos processos produtivos. As prioridades
competitivas têm relação direta com aqueles critérios que a organização
deve valorizar para competir no mercado.
Em função de suas competências internas, do tipo de mercado em que
atua, da dinâmica concorrencial e do tipo de produto que produz, a empresa
define seu modo funcionar em busca de sua sustentabilidade assegurada pelo
melhor aproveitamento de seus recursos, capacidades e oportunidades. Tudo
isso remete a ideia da necessidade de potencializar a ação das pessoas responsáveis
tanto pela produção dos bens quanto da prestação dos serviços das
diferentes e inúmeras empresas que compõe o mercado da nova Economia.
2.2 A gestão de pessoas na nova economia
A história da evolução da Administração de Pessoas nos mostra que a
área de Recursos Humanos deixou de ser um mero departamento de pessoal
– 29 –
Administração de Pessoas
para se tornar o personagem principal de transformação, dentro da organização.
Há poucas décadas, o departamento de Recursos Humanos atuava de
forma mecanicista, assentado em um modelo de gestão em que o empregado
apenas obedecia a ordens e o chefe possuía o controle centralizado de seus
subordinados (CHIAVENATO, 2008).
Ao longo do tempo, esse cenário foi se transformando, pois as empresas,
aos poucos, começaram a perceber a importância de se saber potencializar a
ação das pessoas ali inseridas para aumentarem, significativamente, a competitividade
diante do mercado e enfrentar a concorrência. Paralelamente, a
tecnologia contribuiu significativamente com essa realidade, pois tirou das
pessoas muitas das atividades que antes eram operacionais.
Em muitas organizações, os empregados passaram a ser chamados de
colaboradores, e os chefes de gestores. Assim, pode-se afirmar que gerir pessoas
não é mais uma questão de visão mecanicista, sistemática, metódica,
ou até mesmo sinônimo de controle, tarefa e obediência e sim uma questão
de discutir e entender a discrepância entre as políticas e práticas tidas como
obsoletas e tradicionais e aquelas tidas como as modernas.
Figura 3: Visão mecanicista da Gestão de Pessoas.
Fonte: Shutterstock (2014).
Mas agora podemos nos perguntar: como potencializar as ações das pessoas
na nova Economia e quais são as práticas consideradas modernas? Com
– 30 –
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
base no MEG/FNQ (Modelo de Excelência em Gestão), as principais práticas
adotadas por organizações líderes de alto desempenho apresentam os seguintes
fundamentos: pensamento sistêmico, aprendizado organizacional, cultura
de inovação, liderança e constância de propósitos, orientação por processos e
informações, visão de futuro, geração de valor, valorização das pessoas, conhecimento
sobre o cliente e o mercado, desenvolvimento de parcerias e responsabilidade
social.
Saiba mais
O Modelo de Excelência da Gestão® (MEG) é baseado em 13
fundamentos e oito critérios. Como fundamentos, podemos definir os
pilares, a base teórica de uma boa gestão. Esses fundamentos são colocados
em prática por meio dos oito critérios, conforme figura a seguir.
Figura 4: Modelo de Excelência da Gestão.
Informações e Conhecimento
Clientes
Pessoas
Liderança
Estratégias
e Planos
Resultados
Processos
Sociedade
Informações e Conhecimento
Fonte: FNQ (2014).
– 31 –
Administração de Pessoas
É importante sabermos que, independentemente dos métodos adotados
para gerenciar pessoas, o fundamental é que as organizações estejam sempre
procurando melhorar e aperfeiçoar suas práticas para assegurar sua perenidade
e sustentabilidade no mercado tão globalizado.
Vimos, ao longo deste capítulo, que os avanços observados nas últimas décadas
têm levado as organizações a buscarem novas formas de gestão com o intuito
de melhorar, alcançar resultados e atingir o desempenho institucional para o pleno
atendimento das necessidades dos clientes. Nota-se, também, que o sucesso das
organizações modernas depende muito do investimento nas pessoas, com a identificação,
o aproveitamento e o desenvolvimento humano (LACOMBE, 2011).
A globalização e o crescente aumento da competitividade existente no
mercado trouxeram uma nova missão para a área de Gestão de Pessoas: desafiar
o intelecto dos funcionários para criar vantagens competitivas sustentáveis.
Assim, tornou-se prioritário atrair e reter os melhores profissionais na
empresa (CHIAVENATO, 2008).
Figura 5: Desafiando o intelecto dos funcionários.
– 32 –
As organizações passaram
a criar condições de
valorizar seus funcionários,
investindo nos seus
potenciais, remunerando-
-os de forma atraente, premiando
seus desempenhos
e gerando um clima participativo
para conseguir a
obtenção do comprometimento
de todos.
Lacombe (2011)
assinala que é importante
lembrar que o novo modelo de mercado se caracteriza pela satisfação do
cliente, inovação e velocidade de resposta, portanto, a partir dessas novas
exigências, os gestores precisam reorganizar suas estratégias. Nesse momento,
surge uma grande oportunidade para a aproximação da área de Gestão de
Pessoas com a alta administração a fim de desenvolver soluções adequadas à
nova realidade.
Fonte: Shutterstock (2014).
A gestão de pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo
Assim, com fins de aproximar a área de Gestão de Pessoas com a alta
administração, visando o desenvolvimento de soluções adequadas à nova realidade,
as organizações podem executar diferentes ações que deverão estar
articuladas e acontecer de maneira concomitante, conforme a disponibilidade
financeira, tecnológica, cultural e política de cada organização.
Diante do exposto, podemos constatar a importância de se definir políticas
e operacionalizar procedimentos que direcionem o comportamento e o
desempenho das pessoas para o alcance dos objetivos organizacionais.
Ademais, é preciso enfatizar a importância do papel das lideranças na
Gestão de Pessoas e na geração de resultados para o negócio. Os profissionais
de Gestão de Pessoas podem criar ou desenvolver os melhores sistemas e
monitorá-los com eficiência, mas são os líderes que os operacionalizam. São
eles que escolhem quem fará parte de suas equipes, que gerenciam o desempenho
dos seus liderados, que avaliam suas competências e deficiências. São
eles que estão vivenciando o dia a dia com as equipes, estimulando e reconhecendo
bons desempenhos.
Resumindo
No cenário da nova Economia, os cargos industriais, ocupados por profissionais
de baixa qualificação, foram reformulados e, portanto, passou-se a requerer
especialistas qualificados, denominados trabalhadores do conhecimento.
A Gestão de Pessoas, neste ambiente dinâmico e competitivo, caracteriza-se
pela participação, pelo envolvimento e pelo desenvolvimento das
diferentes pessoas que a compõem. Cabe à área de Gestão de Pessoas a função
de humanizar as empresas.
A humanização das organizações vai ao encontro das exigências da nova
Economia, que pede às pessoas um trabalho predominantemente mental, com
agilidade, inovação, flexibilidade e criatividade para enfrentar as contingências
que surgem diariamente e assegurar a sustentabilidade das organizações.
– 33 –
3
Planejamento estratégico
da gestão de pessoas
Ao considerar como objeto de análise o século XXI, podemos
afirmar que as pessoas têm sido cada vez mais consideradas
como parceiras da organização que, de maneira autônoma, tomam
decisões a respeito de suas atividades, cumprem metas e alcançam
resultados previamente negociados. Portanto, as organizações
modernas entenderam que a eficiente Gestão de Pessoas passou a
ser a solução para enfrentar as demandas do mercado e, assim, criar
vantagem competitiva.
Quando as pessoas representam uma vantagem competitiva,
podemos inferir que elas ajudam a impulsionar a estratégia organizacional;
que atuam como agentes empreendedores; e que a área de
Gestão de Pessoas oferece uma base de serviços à organização para
ajudá-la a ser eficiente, eficaz, criativa, renovadora e inovadora.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Compreender e relacionar a importância do Planejamento Estratégico
como orientador da definição das políticas e práticas da Gestão
de Pessoas.
3.1 As pessoas como recursos estratégicos
A expressão “pessoas como recursos estratégicos” é utilizada para se referir
à utilização deliberada das pessoas em direção à vantagem autossustentada
da organização. A estratégia pode, portanto, ser entendida como um plano
global que a empresa adota, para assegurar que as pessoas possam cumprir a
missão organizacional.
Para Chiavenato (2008), quando as pessoas são geridas como recursos
estratégicos, significa dizer que há todo um contexto organizacional que propicia
que elas sejam fornecedoras de conhecimentos, habilidades, competências
e, principalmente, da inteligência que maximiza as tomadas de decisões
para o alcance dos objetivos organizacionais.
Figura 1: Alcance dos objetivos organizacionais.
Fonte: Shutterstock (2014).
Quando entendemos as pessoas como parceiras da organização, pressupomos
que elas sejam capazes de levá-la ao seu sucesso. A noção de parceria remete
à ideia de que, ao atuarem como parceiras, as pessoas fazem investimentos na
organização (elas investem: dedicação, responsabilidade, comprometimento
– 36 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
e também assumem riscos). Estes investimentos são motivados pela expectativa
em obter retorno dos esforços, através do recebimento de bons salários,
incentivos financeiros, crescimento profissional, ascensão na carreira etc.
Por outro lado, as organizações também investem nas pessoas (investem
em seu treinamento e desenvolvimento, na satisfação de suas diferentes necessidades
etc.). E, assim como as pessoas, as empresas esperam receber em troca:
lealdade, assiduidade, maior produtividade etc.
Esse entendimento de interesses mútuos, permeados por um conjunto
de expectativas e necessidades de ambos os lados, pode ser
estudado a partir de outro conceito da área de Gestão de Pessoas: o
“contrato psicológico”.
Contrato psicológico: refere-se a um acordo implícito e não escrito
entre elementos da organização. Tais expectativas podem variar por
parte do trabalhador (desde salário, privilégios etc.) e por parte da
organização (expectativas mais sutis, tais como as relacionadas à lealdade,
ao sigilo e à contribuição para a boa imagem da organização).
Fonte: Schein (1982).
O contrato psicológico, no contexto laboral, possui uma grande importância
para o relacionamento das partes envolvidas (empregado e empregador),
pois, refere-se às expectativas recíprocas de ambas, estendendo-se muito
além do contrato formal de trabalho (CHIAVENATO, 2008). Ele origina-se a
partir de expectativas individuais e da organização e, por isso, torna-se um
elemento fundamental em qualquer relação de trabalho, influenciando o
comportamento das partes envolvidas.
Saiba mais
As potenciais consequências do cumprimento do contrato psicológico
são: aumento da satisfação, do comprometimento e do desejo
de permanecer na organização. Entretanto, quando há a quebra deste
contrato, verifica-se um aumento da insatisfação e, consequentemente,
do desejo de sair da organização. Fonte: Flood et al. (2001).
O atendimento do contrato psicológico tem como consequência um
desempenho positivo tanto por parte das pessoas quanto por parte da organização.
O desempenho organizacional é diretamente dependente da força
– 37 –
Administração de Pessoas
de trabalho, obter-se a cooperação dos trabalhadores passa ser algo necessário
para o alcance dos resultados organizacionais.
Para Dutra (2006), cada vez mais as organizações buscam o comprometimento
das pessoas. Porém, o comprometimento está relacionado com a
percepção de a organização lhes agregar valor. Pessoas comprometidas asseguram
a criação e sustentação dos diferenciais competitivos, maximizando o
desempenho organizacional.
Diante do exposto, podemos notar a estreita relação existente entre o desempenho
e a estratégia. Fischer (2002) assinala que o foco estratégico é a face visível do
desempenho da organização, a forma como é avaliada a competitividade externa
de determinada empresa. Portanto, o estabelecimento de estratégias permite otimizar
as diretrizes e os recursos para o atendimento dos objetivos organizacionais.
Importante
A Gestão Estratégica de Pessoas é um processo estruturado de
interação das pessoas, entre si, e com a organização e/ou negócio
de forma a construir um projeto coletivo de desenvolvimento.
Assim, os funcionários são considerados partes integrantes da
empresa, sentindo-se valorizados e comprometidos com os objetivos
da organização. Isso gera um sentimento de pertencimento,
cria-se uma relação de compromisso mútuo, no qual o empregador
trata o funcionário, não como um custo a ser controlado, mas como
um ativo a ser desenvolvido (DUTRA, 2006).
A aproximação da Gestão de Pessoas com as estratégias organizacionais
acontece com o intuito de melhor entendê-las e, assim, poder planejar ações
de modo a colaborar diretamente com o alcance dos objetivos e das metas.
Isso requer que os gestores de pessoas ampliem seus horizontes e desenhem
uma gestão estratégica a qual englobe não apenas a organização, como também
o mercado em que ela está inserida.
Para Chiavenato (2008), a gestão estratégica das pessoas está relacionada
com o planejamento de políticas e práticas de Gestão de Pessoas que permitam
que todos na organização contribuam para o alcance dos objetivos orga-
– 38 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
nizacionais. Além disso, é importante assegurar que os objetivos individuais
também sejam realizados.
Entretanto, para que a área de Gestão de Pessoas possa definir suas ações,
é imprescindível que ela esteja em sintonia com os rumos traçados pela alta
administração para a consecução da missão e perseguição da visão organizacional.
Neste sentido, dizemos que o Planejamento Estratégico de Gestão de
Pessoas deve ser derivado do Planejamento Estratégico Corporativo.
Enquanto o Planejamento Estratégico Corporativo busca alternativas
para melhorar a posição da organização em um mercado em que os diferentes
competidores competem pelos melhores lugares, o Planejamento Estratégico
de Gestão de Pessoas busca a sinergia de esforços para fortalecer a organização
como um todo e capacitá-la para melhor responder à competição externa.
3.2 O planejamento estratégico corporativo
O Planejamento Estratégico corporativo depende da missão, da visão,
dos objetivos organizacionais e da própria estratégia organizacional. A clareza
sobre tais conceitos é imprescindível para definição de onde a organização
pretende chegar e para direcionar as pessoas no sentido de se comprometerem
com os resultados esperados. Na relação entre o futuro e a forma de alcançá-lo
é que está assentada a função mais importante da Gestão de Pessoas, que é
fazer com que todos ali inseridos conheçam o verdadeiro sentido do esforço
conjunto para se atingir os objetivos organizacionais e, em contrapartida,
serem recompensados por tal esforço.
Além disso, a análise dos fatores econômicos e políticos do ambiente
em que a organização atua e das disponibilidades de recursos atuais são de
grande valia para o seu planejamento estratégico, uma vez que permitirá que
se conheçam bem as restrições a serem enfrentadas e as oportunidades que
possam ser aproveitadas.
Tal análise permitirá definir que funções e atividades serão desempenhadas
pela organização no futuro e determinar os processos de trabalho necessários para
realizá-las e, por consequência, as características esperadas do seu quadro funcional.
Para uma melhor compreensão do Planejamento Estratégico corporativo,
torna-se necessária a definição dos seguintes conceitos: planejamento,
– 39 –
Administração de Pessoas
planejamento estratégico, negócio, missão, princípios, visão, análise ambiental,
objetivos, estratégias e estratégia corporativa. Tais definições terão como
base as ideias de Chiavenato (2008); Maximiano (2000) e Vasconcellos Filho
e Pagnoncelli (2001).
3.2.1 Planejamento
O planejamento é a primeira função do processo administrativo. Depois
de planejar, é preciso organizar, direcionar, coordenar e controlar os recursos
envolvidos nas diferentes atividades administrativas.
O planejamento está relacionado com os seguintes elementos: objetivo
(o que realizar, quando e como) e meta. É preciso, assim, definir recursos
financeiros, humanos, logísticos, tecnológicos, mercadológicos e materiais;
estipular prazos e responsáveis pela execução das diretrizes ali elencadas.
Cabe lembrar que o planejamento pode se dar em três níveis: superior,
envolvendo decisões estratégicas (planejamento estratégico); intermediário,
envolvendo decisões táticas/administrativas (planejamento tático); e inferior,
envolvendo decisões operacionais (planejamento operacional).
3.2.2 Planejamento Estratégico
O planejamento estratégico é um processo gerencial de natureza participativa
que permite, pelo diagnóstico estratégico, definir uma situação futura
desejada (objetivos) e estabelecer o rumo a ser seguido pela empresa para
alcançá-la. Tal planejamento envolve os seguintes elementos: negócio/missão
(âmbito de atuação); princípios (valores); visão (sonhos); análise ambiental;
objetivos; e estratégias.
3.2.3 Negócio
O negócio é o entendimento do principal benefício esperado pelo cliente.
Por exemplo: o negócio da Kopenhagen é presentes finos. A sua definição é de
suma importância para definir estratégias, envolvendo seu âmbito de atuação,
o conjunto de necessidades a atender e o afunilamento da concorrência.
– 40 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
Saiba mais
A reflexão do dirigente da Kopenhagen levou-o a redirecionar sua
estratégia. Ao definir que seu negócio não é chocolate (visão míope)
e sim presentes finos (visão estratégica), tomou a seguinte decisão
estratégica em relação à precificação: se o negócio fosse chocolate, a
empresa teria de estar concorrendo com a Lacta, Garoto etc., numa
mesma faixa de preço. Sendo o negócio definido como presentes
finos, pode-se praticar preços superiores, pois o cliente está comprando
um presente feito de chocolate e não apenas chocolate. Fonte:
Bolgari Consultoria Gestão e Negócios Ltda. (2014).
Em relação aos principais benefícios do negócio, podemos dizer que ele
ajuda a focar no diferencial competitivo; orienta: os investimentos o marketing,
o treinamento, o posicionamento estratégico (foco) e a terceirização;
também ajuda a identificar os concorrentes diretos e indiretos (produtos
substitutos) e a conquistar e criar mercados.
3.2.4 Missão
A missão: é a razão de existir da empresa no seu negócio. Em relação aos
seus principais benefícios, podemos dizer que ela: orienta a “partida” (saber
o que fazer dentro do negócio para ser diferente das outras); atrai, motiva e
retém talentos; orienta a formulação de objetivos; e ajuda a aumentar a produtividade.
É importante destacar que a missão deve explicitar: o que, como
e onde fazer e com que responsabilidade social.
3.2.5 Princípios
Os princípios estão relacionados com o posicionamento da empresa face
aos stakeholderes. Ou, ainda, é o conjunto de valores que balizam a organização
no cumprimento de sua missão.
Stakeholderes: é qualquer grupo ou indivíduo que
pode afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos
dessa empresa. Fonte: Maximiano (2000).
– 41 –
Administração de Pessoas
Outro exemplo é a Nestlé. A empresa definiu como princípios: “[...] pessoas
em primeiro lugar. Qualidade de nossos produtos e serviços. A segurança
é inegociável. Respeito para com todos. Responsabilidade em toda decisão.
Paixão pelo que fazem”.
3.2.6 Visão
A visão é a imagem que a organização tem a respeito de si própria e do
seu futuro, ou seja, daquilo que pretende ser. A definição da visão ajuda na
descrição de um alvo a ser alcançado e que possibilita compreender melhor
quais ações serão necessárias para alcançá-lo.
A declaração da visão ajuda a motivar as pessoas para cumprir o objetivo
organizacional e mostrar para os investidores, clientes e demais interessados
que a organização está indo na direção certa.
Para exemplificar, pensemos na visão do Aché Laboratórios S.A.: “Ser o
melhor laboratório farmacêutico do Brasil, preferido pelos consumidores e
profissionais da saúde, por viabilizar o acesso a produtos e serviços inovadores
que proporcionam saúde e bem-estar para toda a população”.
Tomando como base a visão declarada, a área de Gestão de Pessoas
deverá concentrar seus esforços no recrutamento e na seleção de profissionais
especialistas no desenvolvimento de produtos farmacêutico, deverá
investir em treinamento para manter seu corpo funcional constantemente
atualizado e criar condições para que as pessoas possam inovar. Além
disso, a empresa poderá investir num canal de comunicação com seus
consumidores para obter informações que ajudem a melhorar seus processos
e produtos.
3.2.7 Análise Ambiental
A análise ambiental tem como objetivo identificar as condições atuais,
externas e internas da organização. Portanto, a análise da situação atual deve
levar em consideração a necessidade de se avaliar os recursos (financeiros,
humanos e materiais) disponíveis internamente na empresa, além das possibilidades
disponíveis no mercado. Para tanto, é preciso fazer uma análise do
ambiente externo e do ambiente interno da organização.
– 42 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
A análise ambiental envolve um conjunto de técnicas que permitem
identificar e monitorar as variáveis competitivas que afetam o desempenho
da empresa. Quando realizada externamente, o foco deverá ser as ameaças
ou oportunidades existentes e as melhores formas de evitar ou usufruir
destas situações. Para tanto, é preciso estar atento aos aspectos culturais,
sociais, políticos e econômicos; a inserção da organização na comunidade;
a evolução tecnológica; o mercado de trabalho; a competitividade e as tendências
do setor.
Já a análise interna busca identificar os pontos fortes e fracos da organização
através do diagnóstico de suas áreas funcionais (produção, marketing,
recursos humanos e finanças), e a comparação do desempenho destas áreas
com o desempenho de empresas de destaque (benchmarking).
A análise ambiental é uma importante etapa do planejamento estratégico,
pois é a partir deste diagnóstico que será possível traçar os objetivos e
as ações estratégicas tanto no que diz respeito à organização como um todo,
quanto da atuação de cada pessoa ali inserida.
Saiba mais
Uma das técnicas mais conhecidas da analise ambiental é
a matriz SWOT. Criada por Kenneth Andrews e Roland
Cristensen, professores da Harvard Business School, a análise
SWOT estuda a competitividade de uma organização
segundo quatro variáveis: Strengths (Forças), Weaknesses
(Fraquezas), Oportunities (Oportunidades) e Threats
(Ameaças).
Através destas quatro variáveis, poderá fazer-se a inventariação
das forças e fraquezas da empresa, das oportunidades e
ameaças do meio em que a empresa atua. Quando os pontos
fortes de uma organização estão alinhados com os fatores críticos
de sucesso para satisfazer as oportunidades de mercado,
a empresa será por certo competitiva no longo prazo. Fonte:
Rodrigues et al. (2005).
– 43 –
Administração de Pessoas
Figura 2: Matriz SWOT.
Fonte: Shutterstock (2014).
3.2.8 Objetivos
Os objetivos estão relacionados com o resultado que a empresa deve
alcançar em prazo determinado para concretizar sua visão.
Em relação aos seus principais benefícios de objetivos bem definidos, podemos
mencionar: detalham e quantificam a visão; fundamentam a avaliação de desempenho;
orientam: o processo decisório, o plano de investimentos e a formulação de
estratégias; atraem e mantêm talentos; tiram a empresa da “zona de conforto”.
Para a formulação dos objetivos, é preciso: definir o horizonte de planejamento;
os campos de ação (mercadológico, econômico-financeiro, contribuições
ao desenvolvimento socioeconômico etc.).
3.2.9 Estratégias
As estratégias estão relacionadas com aquilo que a empresa decide fazer e
não fazer, considerando o ambiente para concretizar a visão e atingir os objetivos,
respeitando os princípios, visando cumprir a missão no seu negócio.
Em relação aos seus principais objetivos, dizemos que as estratégias:
apoiam a escolha de caminhos (aproveitando oportunidades); criam diferencial
competitivo; orientam o marketing; motivam a equipe; orientam o recru-
– 44 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
tamento, a seleção e o treinamento; e orientam a cadeia de valor (conjunto de
atividades desempenhadas pela empresa desde as relações com os fornecedores,
ciclos de produção e de venda até a fase da distribuição final).
Em termos práticos, as empresas podem definir as seguintes estratégias:
expansão da base de clientes, estabelecimento de parcerias, diminuição de
custos, valorização do patrimônio humano etc.
Figura 3: Prioridades competitivas.
Fonte: Shutterstock (2014).
3.2.10 Estratégia Corporativa
A Estratégia Corporativa é definida pelo nível institucional da organização,
quase sempre, pela ampla participação dos demais níveis e negociação
quanto aos interesses e objetivos envolvidos. Ela é projetada para o longo
prazo e define o futuro e o destino da organização. Neste sentido, ela atende à
missão, focaliza a visão organizacional e enfatiza os objetivos de longo prazo.
Podemos dizer que se trata de um mecanismo de aprendizagem organizacional,
por meio do qual a empresa aprende com a retroação decorrente dos
erros e acertos nas suas decisões globais.
Retroação: ato de retroagir; resultado de uma
ação. Fonte: Dicionário Michaelis (2014).
– 45 –
Administração de Pessoas
3.3 O planejamento estratégico de gestão
de pessoas (políticas e práticas) derivado
do planejamento estratégico corporativo
Com base no exposto, vimos que o modelo de Gestão Estratégica de
Pessoas é aquele em que a área de pessoal busca fazer um elo entre as pessoas e
a estratégia da organização. Subjacente a essa ideia, tem-se o alinhamento do
planejamento das pessoas com o planejamento estratégico corporativo.
Figura 4: Alinhamento das pessoas com o
planejamento estratégico corporativo.
– 46 –
Segundo Chiavenato (2003), o
Planejamento Estratégico de Gestão
de Pessoas deve ser parte integrante
do Planejamento Estratégico corporativo.
Quase sempre o primeiro
busca uma maneira de integrar a
função de pessoal nos objetivos globais
da empresa. O planejamento
de pessoal refere-se ao modo como
a função de Gestão de Pessoas pode
contribuir para o alcance dos objetivos
organizacionais e, simultaneamente,
favorecer e incentivar o alcance dos objetivos individuais.
Fonte: Shutterstock (2014).
A Gestão Estratégica de Pessoas participa da elaboração do planejamento
estratégico da organização, para que, com base neste planejamento, possa
desenvolver o planejamento da área de pessoal. Segundo Girardi (2008), um
planejamento estratégico adequado conduz à efetividade organizacional.
Para tanto, busca-se na Gestão Estratégica de Pessoas o desenvolvimento
de um conjunto de ações em cada processo envolvido na área de pessoal com
foco nos objetivos da organização e no bem-estar dos funcionários. A rigor, o
Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas deveria começar com o esclarecimento
de duas questões básicas: quais são as competências essenciais que
nossa organização possui? Quais são as competências essenciais que nossa
organização requer?
Em função da distância existente entre as competências atuais e as competências
necessárias, têm-se dois tipos de desdobramentos assim pensados:
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
22
é possível adquirir essas competências necessárias que a organização
não dispõe? Então se trata de uma questão de agregar competências,
isto é, buscar lá fora e agregar talentos que disponham de
tais competências;
22
é possível desenvolver essas competências necessárias que a organização
não dispõe? Então se trata de uma questão de desenvolver
competências, isto é, buscar dentro da organização e desenvolver
talentos para que adquiram tais competências.
No primeiro caso, o processo de provisão é prioritário e passa a ser estratégico
para a organização. No segundo, o mais importante é o processo de
desenvolvimento. Podemos assim inferir que, para que a Gestão de Estratégica
de Pessoas funcione com êxito, é necessário que os processos de pessoal
estejam alinhados à estratégia corporativa. Para uma melhor ilustração de
como isso pode acontecer, vejamos a figura a seguir.
Figura 5: Alternativas de Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas.
Missão da Organizaç ão
Objetivos Organizacionais
Requisitos dos Recursos Humanos
Planejamento de Recursos Humanos
Expansão:
Ajustamento:
Mudanç a:
Enxugamento:
Novas
Admissões
Adequação
ao Mercado
Inovação e
Criatividade
Redução de
Pessoal
Fonte: Chiavenato (2008).
– 47 –
Administração de Pessoas
Dutra (2006) assinala que a Gestão Estratégica de Pessoas está relacionada
à clareza por parte da empresa sobre o que ela espera das pessoas. Essa
relação requer maior efetividade nos seguintes aspectos:
22
planejamento e dimensionamento das pessoas da organização: relacionam-se
com o conhecimento do desempenho dos funcionários,
planos de sucessão, aumentos ou redução de quadros de pessoal em
função do ambiente externo à organização;
22
definição das necessidades, das políticas e da movimentação de pessoas:
relacionam-se com a definição de políticas de recrutamento
interno ou externo, promoções, expansão, criação de novas unidades,
novos produtos ou processos;
22
posicionamento em relação ao mercado de trabalho: busca-se
conhecer o posicionamento em relação ao mercado de trabalho
em geral, com quem compete por profissionais, quais seus maiores
atrativos, pontos fracos, qual o perfil exigido;
22
políticas e práticas de remuneração: busca-se saber qual o seu posicionamento
em relação às práticas e políticas dos seus concorrentes
(com relação à atração de profissionais) tanto no que tange à remuneração
direta (salário) quanto indireta (benefícios);
22
processo de avaliação e orientação das pessoas: relacionam-se com
os programas de avaliação e desenvolvimento de pessoas e de gestão
de carreira condizentes com as necessidades de ambos (empresa
e funcionário);
22
definição das ações e do sistema de gestão do desenvolvimento
organizacional e das pessoas: buscam criar metas, definir indicadores
e mensurar resultados.
As diferentes possibilidades mencionadas poderão ser colocadas em prática
seguindo algumas etapas que aqui definiremos como passos estratégicos
da transformação da Administração de Pessoas para Gestão de Pessoas da nova
Economia. São eles: realizar um diagnóstico da atuação da área de pessoas,
avaliando as funções, entrevistando os funcionários, fazendo benchmarking
para evidenciar pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades.
Com base no diagnóstico, esboça-se um novo modelo de Gestão de
Pessoas com apoio nos seguintes questionamentos: as atividades rotineiras
– 48 –
Planejamento estratégico da gestão de pessoas
devem continuar ou ser terceirizadas? É preciso se aproximar das outras áreas
da empresa? Como? Formando consultores internos ou ter pessoas com esse
perfil no quadro funcional? Quais competências devem ser adquiridas para
atuar de forma estratégica?
Benchmarking: ferramenta gerencial utilizada para a identificação
de práticas de sucesso e dos processos críticos que devem
receber maiores investimentos. Fonte: Azevedo (2013).
Tendo como foco as respostas a tais questionamos, é preciso realizar
mudanças internas de modo que as atividades de pessoal atendam às necessidades
do modelo elaborado. Possivelmente, será preciso rever ou desenhar
novos processos, contratar, treinar e influenciar as lideranças para aceitarem
as responsabilidades pela gestão de pessoas em seus departamentos. Além de
contratar pessoas competentes, será importante desenhar sistemas de remuneração
que privilegiem o desempenho individual, os esforços de inovação e
facilitem o alcance dos objetivos organizacionais.
Do mesmo modo, é importante prover recursos para alavancar o conhecimento
na empresa, criando políticas que permitam o desenvolvimento
profissional. Também é importante monitorar e disseminar o conhecimento
referente a projetos, pessoas, conquistas, inovações, lançamento de bens e/ou
serviços, informações de mercado e tudo mais que esteja agregando valor aos
resultados organizacionais.
A partir dos referidos passos estratégicos, podemos perceber que a excelência
empresarial é o resultado do equilíbrio entre o lucro (fator de perpetuação
do negócio), os funcionários (com suas necessidades e expectativas) e os
clientes (razão de existir da empresa). Cabe ao gestor de pessoas atuar como
agente decisivo para integrar os interesses dos diversos stakeholderes. Assim, os
esforços devem estar voltados para ações que mantenham todos motivados e
comprometidos com os objetivos organizacionais.
Resumindo
A Gestão Estratégica de Pessoas e a estratégia da organização são influenciadas
mutuamente, uma vez que a estratégia da organização é determinada
– 49 –
Administração de Pessoas
em função da forma como esta deseja atuar no ambiente e do seu patrimônio
de conhecimento. As pessoas influenciam e implementam a estratégia da
organização, pois compõem o seu patrimônio de conhecimento, que está em
constante desenvolvimento.
O Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas deve ater-se, principalmente,
às práticas de seleção, avaliação, remuneração e desenvolvimento,
pois ter uma gestão de pessoal qualificada é muito importante, permite que
os gestores reconheçam o valor dos colaboradores e, com isso, o incentivem
no que for necessário. Tais ações são importantes para o bom desempenho da
empresa e do alcance de seus objetivos.
– 50 –
4
Processos de gestão
de pessoas
(subsistema provisão)
Os Processos de Gestão de Pessoas, também denominados
Subsistemas de Recursos Humanos, representam a estruturação e
o funcionamento do modelo de gerir a ação humana no trabalho
adotado por determinada empresa.
Não existe um padrão, na literatura especializada, no que
se refere à quantidade e à nomenclatura de cada subsistema. Portanto,
na disciplina de Administração de Pessoas, estudaremos
cinco subsistemas: Provisão, Aplicação, Manutenção, Desenvolvimento
e Controle.
Abordaremos neste capítulo o Subsistema de Provisão
e discorreremos acerca das principais atividades, a saber: Planejamento
de Pessoal; Pesquisa de Mercado; e Recrutamento e Seleção.
Administração de Pessoas
Objetivo de Aprendizagem
22
Analisar e compreender a abrangência sistêmica da área de Gestão
de Pessoas e descrever as características das principais atividades
pertinentes ao subsistema de provisão.
4.1 Processos de gestão de pessoas
A Gestão de Pessoas pode ser caracterizada por um conjunto de processos
que buscam coordenar e integrar a ação humana nas organizações na
direção do alcance dos objetivos organizacionais e, de certa forma, ao alcance
dos objetivos individuais.
A área e a função de Gestão de Pessoas dependem de vários aspectos, tais
como: a cultura que existe em cada organização, a estrutura organizacional
adotada, as características do contexto ambiental, o negócio da organização,
a tecnologia utilizada, os processos internos etc. (CHIAVENATO, 2008).
Você sabia
Que a política de Gestão de Pessoas, que direciona os processos de
recrutamento e seleção, de treinamento, bem como de remuneração e
carreira, desempenha um papel fundamental no sentido de decifrar os
padrões culturais de uma organização? Fonte: Fleury e Fisher (1996).
De maneira geral, podemos dizer que, para que a organização consiga
atingir seus objetivos de maneira mais assertiva, os Processos de Gestão de
Pessoas deverão se estruturar e funcionar num contexto que alavanque o
desenvolvimento, a manutenção e o crescimento das pessoas ali inseridas.
Saiba mais
O vídeo que indicamos aborda de maneira didática os Processos
de Gestão de Pessoas em uma fábrica de tortas de
maçã. Assista acessando o link <https://www.facebook.com/l.
php?u=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3D1
WH5Csu0Vgs&h=nAQGiySn>.
– 52 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
Deste modo, entendemos que o contexto diz respeito ao ambiente em
que os Processos de Gestão de Pessoas acontecem. Pressupõe-se que na Gestão
de Pessoas contemporânea ele deva ser caracterizado por poder contar
com uma estrutura flexível desenhada por uma divisão do trabalho que possibilite
a coordenação das pessoas e o fluxo dos processos e das atividades de
maneira sistêmica; assentando-se em uma cultura organizacional democrática
e participativa que estimule a confiança, o comprometimento, a satisfação, o
espírito de equipe e a solidariedade entre todos os membros; e por funcionar
através de um estilo de gestão baseado na liderança e no empowerment.
Segundo Hilsdorf (2010), empowerment é uma ação da gestão estratégica que
visa o melhor aproveitamento do capital humano nas organizações através da
delegação de poder. Este poder é entendido como sendo o resultado do compartilhamento
de informações fundamentais sobre o negócio e seus projetos, da
delegação de autonomia para a tomada de decisões, e da participação ativa dos
colaboradores na gestão do negócio, assumindo responsabilidades e liderança
de forma compartilhada.
Saiba mais
A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um
grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar
com os problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionaram
bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados
a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir,
em relação a esses problemas. Fonte: Schein (1991).
Mas, afinal, o que são Processos de Gestão de Pessoas? É um conjunto
de atividades estruturadas e destinadas a resultar em um produto (bem e/ou
serviço) especificado para determinado cliente, seja ele externo ou interno. É
uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço,
com um começo, um fim e entrada e saídas claramente identificadas (CHIA-
VENAT0, 2008).
É importante destacar que a qualidade da maneira como as pessoas
são geridas na organização é um aspecto fundamental na competitividade
organizacional. Entretanto, como isso pode ser feito? Pensemos agora, com
– 53 –
Administração de Pessoas
Figura 1: Processos de Gestão de Pessoas.
base em Lacombe (2011), Chiavenato
(2008) e Gil (2006), em
algumas ações voltadas à competitividade
e, portanto, pautadas
na necessidade de atrair, reter e
motivar talentos ou profissionais
de alto potencial e desempenho.
Assim, é preciso ensinar as
pessoas a trabalhar em equipes e
por projetos, bem como ensiná-las
a entender as mudanças no comportamento
do consumidor. Sabemos
que as funções organizacionais precisam se integrar para atender bem o
cliente, e isso pressupõe cooperação e colaboração entre os departamentos para
atrair e manter a fidelidade da clientela.
Deve-se ensinar as pessoas a fazer business intelligence. Isso faz com que
a área de pessoal tenha como desafio educar as pessoas a utilizar a Tecnologia
da Informação (TI), não somente para operar uma planilha, mas ensiná-las a
alimentar a empresa com informações e a pesquisar banco de dados virtuais,
desenvolver o pensamento estratégico, pesquisar a concorrência para que a
empresa conheça o mercado em que atua.
Saiba mais
Fonte: Shutterstock (2014).
Business intelligence é a tradução do termo “Inteligência de Negócios”,
que, significa, resumidamente, coletar dados de diversas fontes, organizá-los,
analisá-los e compartilhá-los com os executivos mais importantes
da empresa. Estes então transformam essas informações relevantes em
decisões importantes para o futuro da empresa. Fonte: It4biz (2014).
Preparar as pessoas para lidar com a diversidade cultural. Cabe à área de
Gestão de Pessoas capacitá-las para trabalhar com diferentes percepções de
vida e de trabalho, provenientes da diversidade cultural, além de incentivar
uma cultura colaborativa e de confiança para que elas disseminem seu conhecimento
e suas experiências de trabalho.
– 54 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
Figura 2: Compartilhamento de conhecimentos e experiências interpessoais.
Fonte: Shutterstock (2014).
Também é interessante habilitar as lideranças para atuarem como treinadores.
A área de Gestão de Pessoas deve agir como facilitadora da preparação
dos líderes, ensinando-os a gerir as pessoas pelo treinamento, desenvolvimento
e pela educação. Deste modo, o líder é auxiliado no planejamento
de atividades que destaquem a missão e os objetivos da empresa a todos os
membros da organização.
Ao tomar como ponto de partida a missão e as competências essenciais
da organização, desenvolve-se um trabalho de identificação e mapeamento
das competências comportamentais e técnicas exigidas para todos os empregados,
em especial, para aqueles de alto potencial.
Competência essencial: um conjunto de habilidades e
tecnologias que permite a uma empresa oferecer certo
benefício aos clientes. Fonte: Prahalad e Hamel (1990).
Para tanto, é indispensável elaborar um perfil de competências para candidatos
que desejem trabalhar na empresa (antes de contratá-los). O responsável
pela seleção deve identificar as exigências de habilidades atuais e necessidades
futuras a partir dos projetos ambiciosos da empresa. A ênfase deve estar
nos cargos-chave ou de liderança, pois são críticos para o negócio.
– 55 –
Administração de Pessoas
Entendemos, assim, que as atividades de provisão (planejar, triar e escolher
as pessoas que farão parte do quadro funcional de determinada organização)
deverão ser pensadas e executadas de maneira cuidadosa, pois elas ajudarão
a responder: “Quem fará parte da organização”? É sobre estes assuntos
que trataremos a seguir.
4.2 Subsistema de provisão
O Subsistema de Provisão é responsável pela captação de pessoas no
mercado, escolha do profissional mais compatível (tanto com o cargo que
assumirá, quanto com a organização que fará parte) e sua admissão na organização.
Em outros termos, seu principal objetivo é atrair, filtrar e escolher as
pessoas que trabalharão na organização (CHIAVENATO, 2008).
As atividades pertinentes são: pesquisa de mercado de RH, planejamento
de RH e recrutamento e seleção. Assim, toda vez que a empresa tem
uma nova vaga para oferecer ao mercado de trabalho, significa que ela fez um
planejamento de pessoal. Entretanto, antes de buscar os potenciais candidatos
à vaga, é preciso fazer uma pesquisa de mercado para avaliar como está a
oferta e a demanda em relação às possibilidades de se encontrar alguém que
atenda aos requisitos da vaga a ser preenchida.
Para recrutar e selecionar pessoas, a organização precisa anunciar a vaga
para o mercado de trabalho. Então, este será o papel do recrutamento: divulgar
no mercado oportunidades de emprego que a organização pretende oferecer
para as pessoas; e atrair para o processo seletivo candidatos potenciais com
características exigidas para o cargo e segundo perfil da empresa.
O Processo de Provisão se destaca através das seguintes características: é
estratégico (pensado num horizonte de longo prazo); é voltado para a empresa
como um todo; atende as necessidades globais da empresa e de seus objetivos
atuais e futuros e é voltado para todas as áreas funcionais.
4.2.1 Planejamento de Pessoal
Planejar recursos humanos é antecipar sobre o tipo de força de trabalho
e os talentos necessários para atingir os objetivos organizacionais num determinado
tempo ou período.
– 56 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
O Planejamento de Pessoal é um dos fatores essenciais para que haja
um fluxo de pessoas na organização e para que ela possa ter certo controle da
quantidade de funcionários, sendo analisados tanto em termos quantitativos
como qualitativos (DUTRA, 2006).
Lacombe (2011) assinala que é importante que o Planejamento de
Pessoal seja elaborado em consonância com o planejamento estratégico da
empresa, de modo a evitar o desperdício de recursos, como incompatibilidade
do perfil da vaga e do perfil do recém-contrato e superdimensionamento ou
subdimensionamento de equipe.
a. Pesquisa de Mercado
As diferentes vagas disponíveis por um conjunto de empresas e os potenciais
e reais candidatos a uma vaga
Figura 3: Mercado de Trabalho.
são os elementos centrais daquilo
que denominamos de Mercado de
Trabalho e de Mercado de Recursos
Humanos.
Segundo Chiavenato (2008),
Mercado de Trabalho é o espaço
em que irão ocorrer as trocas, as
transações entre os que oferecem
um serviço e os que procuram um
serviço. Baseia-se na oferta e procura.
Por outro lado, Mercado de
Recursos Humanos refere-se ao contingente de candidatos ao emprego, às
pessoas que estão dispostas a trabalhar ou que estão trabalhando, mas buscando
um novo emprego.
Agora, reflita sobre o impacto do Mercado de Trabalho sobre as práticas
de Gestão de Pessoas, caso ele esteja em oferta e caso ele esteja à procura.
Figura 4: Impacto do Mercado de Trabalho sobre as práticas de pessoal.
Mercado de Trabalho em oferta
Investimentos em recrutamento
para atrair candidatos
Fonte: Shutterstock (2014).
Mercado de Trabaho em procura
Baixos investimentos em recrutamento
devido à oferta de candidatos
– 57 –
Administração de Pessoas
Mercado de Trabalho em oferta
Critérios de seleção mais
flexíveis e menos rigorosos.
Investimentos em treinamento para
compensar a inadequação dos candidatos.
Ofertas salariais estimulantes
para atrair candidatos.
Investimentos em benefícios sociais para
atrair candidatos e reter funcionários.
Ênfase no recrutamento interno, como
meio de ficar com os funcionários atuais
e dinamizar os planos de carreirras.
Mercado de Trabaho em procura
Critérios de seleção mais rígidos
e rigorosos para aproveitar a
abundância de candidatos.
Poucos investimentos em treinamento
para aproveitar candidatos já treinados.
Ofertas salariais mais baixas para
aproveitar a competição entre candidatos.
Poucos investimentos em benefícios
sociais, pois não há necessidade de
mecanismos de fixação do pessoal.
Ênfase no recrutamento externo, como
meio de melhorar o potencial humano,
substituindo funcionários por candidatos
de melhor qualificação.
Fonte: Chiavenato (2008).
Já em relação ao impacto do Mercado de Trabalho sobre o Mercado
de Recursos Humanos, podemos ter as seguintes situações quando houver
grande ou pequena oferta de vagas:
Figura 5: Impacto do Mercado de Trabalho sobre os candidatos.
Mercado de Trabalho em oferta
Excesso de vagas e de oportunidades
de empregos no mercado de trabalho.
Os candidatos escolhem e selecionam
as organizações que ofereçam melhores
oportunidades, salários e benefícios.
As pessoas se predispõem a deixar seus
empregos atuais para tentar melhores
oportunidades em outras organizações,
aumentando a rotatividade de pessoal.
– 58 –
Mercado de Trabaho em procura
Escasses de vagas e de oportunidades
de emprego no mercado de trabalho.
Os candidatos concorrem entre si para conseguir
as poucas vagas que surgem, apresentando
propostas salariais mais baixas ou candidatandose
a cargos inferiores as suas qualificações.
As pessoas procuram fixar-se nos atuais
empregos, com medo de engrossar as
filas de candidatos desempregados.
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
Mercado de Trabalho em oferta
Os funcionários sentem-se donos
da situação e fazem reinvidicações
de melhores salários, benefícios
e tornam-se mais indisciplinados,
faltam e atrasam mais,
aumentando o absenteísmo.
Fonte: Chiavenato (2008).
Mercado de Trabaho em procura
Os funcionários passam a não criar atritos
em seus empregos, nem a propiciar possíveis
desligamentos, tornam-se mais disciplinados,
procuram não faltar e nem atrasar ao serviço.
Ao analisarmos a figura anterior, podemos observar que, quando o Mercado
de Trabalho está em oferta, uma de suas consequências é o excesso de vagas disponíveis.
Porém, apesar disso, podemos nos deparar com uma situação que os especialistas
denominam “apagão profissional”. Para explicar melhor este fenômeno,
vamos lembrar uma série veiculada no Jornal Nacional, da tevê Globo, em 2011,
sobre o crescimento da economia. No episódio intitulado: “Especialistas alertam
para apagão de mão de obra em alguns setores”, abordou-se a ideia de que se o
Brasil continuasse a crescer num ritmo forte haveria o risco de faltar trabalhador.
Nesse episódio, foi mostrada a realidade de uma fábrica de eletrodomésticos
que precisava produzir mais para atender aos pedidos das lojas. Portanto,
em 2011, a fábrica tinha como pretensão aumentar em 30% a produção e, é
claro, teria de contratar mais empregados. O diretor de RH comentou que, se
naquele momento já estava difícil preencher as vagas já existentes, deveria ficar
pior ainda. E isso não era uma realidade apenas desta fábrica, mas sim de todo
o país. Especialistas em economia e em mercado de trabalho alertavam para o
risco de apagão profissional.
Saiba mais
Assista a este episódio e forme sua opinião a respeito desta reportagem:
<http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/02/especialistasalertam-para-apagao-de-mao-de-obra-em-algum-setores.html>.
b. Recrutamento e Seleção
Quando uma empresa precisa encontrar alguém para ocupar um cargo
ou trabalho dentro da organização, ela lança no mercado a divulgação de
– 59 –
Administração de Pessoas
oportunidade de emprego e busca com isso adquirir pessoas com características
desejadas ao cargo. Segundo Chiavenato (2008) e Gil (2006), o recrutamento
é um conjunto de técnicas e procedimentos que tem como objetivo
atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos em
determinada organização.
Em outras palavras, é basicamente um sistema de informação através do
qual a organização divulga e oferece ao Mercado de Recursos Humanos oportunidades
de emprego que pretende preencher.
Todo o processo de recrutamento de pessoal terá início a partir de uma
necessidade interna da organização, no que tange à contratação de novos profissionais,
originando-se por diversos motivos, como: expansão da empresa, aquisição
de novos equipamentos, promoções, transferências, demissões. Independentemente
de qual seja o motivo, é imprescindível que ele seja previamente
planejado, levando em consideração o plano estratégico corporativo.
Figura 6: Diferenças entre recrutamento interno e
recrutamento externo.
Recrutamento
Recrutamento interno e externo
Interno
Externo
O preenchimento das vagas e
oportunidades é feito através dos
próprios funcionários atuais.
Os funcionários internos são os
candidatos preferidos.
Isto exige que sejam promovidos ou
transferidos para as novas
oportunidades.
A organização oferece uma carreira
de oportunidades ao funcionário.
O preenchimento das vagas e
oportunidades é feito através da
admissão de candidatos externos.
Os funcionários externos são os
candidatos preferidos.
Isto exige que sejam recrutados
externamente e selecionados para
preencher as oportunidades.
A organização oferece oportunidades
aos candidatos externos.
– 60 –
Fonte: Chiavenato (2008).
Há duas formas de
recrutamento: interno
e externo. Interno é
quando a empresa busca
dentro da própria organização
entre os funcionários
que ali já trabalham,
através de uma
promoção ou transferência.
Para uma melhor
compreensão das características
de cada tipo de
recrutamento, observe a
figura a seguir.
Tomando como
base a figura anterior,
Andrade (2010) acrescenta
que o recrutamento
interno tem
como objetivo a excelência
organizacional,
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
uma vez que a organização busca escolher somente profissionais capazes e com
bons desempenhos. Para tanto, utiliza como subsídios de suas escolhas as técnicas
de planejamento de pessoal, análise de cargos, política salarial, avaliação
de desempenho, avaliação de potencial, plano de carreiras e treinamentos.
Para Chiavenato (2008), o recrutamento interno apresenta como vantagens
a possibilidade de aproveitar melhor o potencial humano da organização;
motivar o desenvolvimento profissional dos atuais funcionários; incentivar
a permanência deles na empresa; minimizar os custos relacionados com a
contratação de pessoal.
Por outro lado, suas principais desvantagens são: manter e conservar
a cultura organizacional; bloquear a entrada de novas ideias, experiências e
expectativa; e manter inalterado o patrimônio humano.
O recrutamento externo, por sua vez, é aquele que busca candidatos
potencialmente qualificados que estão inseridos no Mercado de Recursos
Humanos. Trata-se de um processo que tem início com a entrega do
curriculum vitae à organização. As técnicas frequentemente utilizadas são:
anúncios em jornais e revistas; agências de emprego; contato com escolas
e universidades; cartazes; indicações de funcionários e banco de dados
(CHIAVENATO, 2008).
Assim, como o recrutamento interno, o externo apresenta vantagens
e desvantagens. Os principais pontos positivos são: introduzir novos talentos,
destrezas e conhecimentos na organização; aumentar seu o capital; e;
renovar a cultura organizacional. As desvantagens são: afetar negativamente
a motivação dos atuais funcionários; reduzir a fidelidade deles ao dar oportunidade
para pessoas desconhecidas; aumentar os custos operacionais relacionados
à contratação; e exigir a oferta de treinamento introdutório para os
recém-contratados.
Destacamos que outra possibilidade é o processo de atração ser iniciado
com o recrutamento interno e depois partir-se para o externo e vice-versa.
Neste caso, chamamos de recrutamento misto.
Quando a empresa possui informações e cadastros adequados, já atraiu
os candidatos suficientes e/ou disponíveis para a vaga, inicia-se uma nova
etapa, o processo de seleção.
– 61 –
Administração de Pessoas
Figura 7: Processo seletivo.
Fonte: Shutterstock (2014).
Logo após o processo de recrutamento, ocorre a seleção de pessoas. Normalmente
as organizações estão sempre em busca de novas pessoas, seja para
substituir as que serão desligadas ou para ampliar o quadro de funcionários.
A seleção envolve um processo de escolha, classificação, decisão e, consequentemente,
uma rejeição. É uma espécie de filtro que permite apenas que
algumas pessoas possam ingressar na organização, portanto, é o processo de
escolher o melhor candidato para o cargo (CHIAVENATO, 2008).
Na definição de Lacombe (2011), o processo de seleção está relacionado
com um conjunto de práticas e processos utilizados para escolher os candidatos
mais adequados à vaga existente. Vários são os métodos usados para o
processo de seleção, tais como: análise curricular, entrevista, provas objetivas
de conhecimento e capacidades, testes psicológicos, dinâmica de grupos,
informações de pessoas conhecidas, informações cadastrais e exame médico.
Andrade (2010) afirma que a entrevista é a técnica mais utilizada no processo
seletivo. Ela tem inúmeras aplicações dentro da organização, pois pode
ser usada tanto na triagem inicial dos candidatos ao recrutamento quanto na
etapa de escolha daqueles que conseguiram vencer as diversas fases da seleção.
A autora também comenta a respeito da vantagem de se utilizar técnicas
de simulação. Aqui podemos pensar na fase da dinâmica de grupo. As dinâmicas
são procedimentos planejados com fins de avaliar algumas competên-
– 62 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema provisão)
cias interpessoais, como comunicação, liderança, negociação e empatia. Chiavenato
(2008) complementa afirmando que a simulação promove retroação e
favorece o autoconhecimento e a autoavaliação.
Chamamos atenção de que esses métodos podem ser usados juntos
ou separados, na maioria dos casos as empresas utilizam diferentes recursos
para chegar ao objetivo final, esses dependem de outros fatores como o
tamanho da organização, disponibilidade financeira, tecnológica e de especialistas
na área.
Saiba mais
Em relação à capacidade tecnológica, podemos pensar no caso da
Renner. A área de RH da Renner procura estar sempre alinhada com
as práticas mais atualizadas de gestão, e entre as ações implantadas nos
últimos anos estão: a utilização de jogos eletrônicos em seleções e o
uso de redes sociais para o recrutamento de candidatos. Em 2011,
além do website específico para o Programa de Trainees com vídeos e
depoimentos de executivos da Renner, a campanha para recrutamento
contemplou canal no YouTube, no Twitter e no Facebook. Em 2012,
a presença do Programa no Facebook foi aprimorada, envolvendo também
um aplicativo chamado “Parece que foi ontem”, através do qual
os candidatos eram convidados a fazer uma retrospectiva do seu último
ano, postando fotos e mensagens. Fonte: Gestão RH (2012).
Conforme vai acontecendo as diferentes etapas do processo de seleção,
pessoas vão sendo eliminadas, até que, na maioria das vezes, apenas um
candidato consiga passar para a etapa de admissão (parte que envolve as
documentações necessárias e a parte burocrática da integração do funcionário
a empresa).
Gil (2008), Dutra (2006), Chiavenato (2008) e Lacombe (2011) salientam
que o processo de seleção tem significativa importância dentro do andamento
da organização, pois escolher o candidato certo para o lugar certo é
fundamental para o bom desempenho da organização, do contrário pode-se
desperdiçar tempo e demais recursos para selecionar um novo colaborador.
Deste modo, tal, processo precisa ser assertivo.
– 63 –
Administração de Pessoas
Em relação aos resultados do processo seletivo, Chiavenato (2008) destaca:
apesar do custo operacional aparentemente elevado, o processo seletivo
traz importantes resultados para a organização, como: a adequação das pessoas
ao cargo e satisfação no trabalho; a rapidez no ajustamento e na integração
do novo empregado às novas funções; a melhoria gradativa do potencial
humano através da escolha sistemática dos melhores talentos; a estabilidade
e permanência das pessoas e redução da rotatividade; maior rendimento e
produtividade pelo aumento da capacidade das pessoas; melhoria do nível
das relações humanas pela elevação do moral; menores investimentos e esforços
em treinamento, pela maior facilidade em aprender as tarefas do cargo e
novas atividades trazidas pela inovação; e o incremento do capital humano
na organização, ou seja, aumento de competências e do capital intelectual.
Capital humano: é constituído das pessoas que fazem
parte de uma organização. Diz respeito aos talentos que
precisam ser mantidos e desenvolvidos. Ele pode ser entendido
como capital intelectual (capital invisível composto
de ativos intangíveis). Fonte: Chiavenato (2008).
Resumindo
As diversas atividades referentes aos Processos de Gestão de Pessoas, sob
o ponto de vista das organizações, refletem seu modo de lidar com as pessoas,
de buscá-las no mercado, de integrá-las e orientá-las, de fazê-las trabalhar,
de desenvolvê-las, de recompensá-las ou de monitorá-las e de controlá-las.
Isso tudo contempla diversas atividades pertinentes a cada um dos cinco
Subsistemas de Gestão de Pessoas (Provisão, Aplicação, Manutenção,
Desenvolvimento e Controle).
O Subsistema de Provisão se refere ao planejamento, à busca e à escolha
de quem fará parte da organização. Para tanto, é preciso primeiramente definir
a quantidade de pessoas necessárias para a realização do trabalho e o perfil
do ocupante para exercer determinado cargo.
– 64 –
5
Processos de gestão de
pessoas (subsistema
aplicação/orientação)
Para que as organizações possam realizar suas atividades e se
manter competitivas no mercado, é preciso, primeiramente, contar
com as pessoas necessárias para execução das várias etapas do
processo produtivo. Então, cabe ao Subsistema de Provisão responder
quem fará parte da organização. Isso acontece por meio
do planejamento de pessoal, da pesquisa de mercado e do recrutamento
e seleção.
Com a conclusão do processo seletivo, são iniciadas um conjunto
de atividades que serão responsáveis por dizer o que essa pessoa
fará. Estamos, agora, referindo-nos ao Subsistema de Aplicação,
também conhecido por orientação. Por ele, o novo colaborador será
introduzido na organização.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Analisar, compreender e descrever as características das principais
atividades pertinentes ao subsistema de aplicação/orientação.
5.1 Subsistema de aplicação/orientação
Ao finalizar o processo seletivo, a pessoa recém-admitida passará por
outro processo que é o de aplicação, também conhecido como orientação.
Nesse processo, encontra-se a orientação de pessoas, a modelagem do trabalho
a avaliação de desempenho e a movimentação interna de pessoal.
Segundo Chiavenato (2008), a orientação de pessoas é a primeira etapa
necessária para que ocorra sua adequada aplicação na organização, posicionando-o
em suas atividades, esclarecendo o que deverá ser feito, de que
maneira e quais serão os resultados esperados. Também, neste momento, o
novo funcionário será apresentado à empresa como um todo e serão esclarecidos
seus direitos e deveres para com a organização.
É importante pensarmos que as empresas não funcionam baseadas na
improvisação nem ao acaso. Elas são criadas para produzir algo, seja um bem e/ou
serviço. Para tanto, utilizam recursos humanos e não humanos para transformar
matérias-primas nos produtos finais. Entretanto, para isso, as pessoas precisam
estar alocadas em seus postos de trabalho e serem capazes de desempenhar adequadamente
as funções para os quais foram selecionadas, admitidas e preparadas.
Para tanto, as organizações desenham sua estrutura formal, definem
órgãos e cargos e preestabelecem as regras burocráticas, os requisitos necessários
e as atribuições a serem impostas aos seus membros. Essa divisão do trabalho
e a especialização dela decorrente provocam uma significativa diferenciação de
papéis e expectativas dentro da organização, que procura então delimitar a ação
de cada pessoa, definindo normas e rotinas para organizar o trabalho e aumentar
as possibilidades de previsão e controles das atividades desenvolvidas.
Saiba mais
O papel desempenhado por uma pessoa diz respeito ao
conjunto de atividades e comportamentos solicitados de
– 66 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
um indivíduo que ocupa determinada posição em uma
organização. Todas as pessoas ocupam papéis em várias
organizações. Alguns papéis podem ser óbvios para o
indivíduo, em virtude do seu conhecimento da tarefa, ou
podem ser comunicados pelos outros membros da organização
que solicitam ou dependem do papel que o indivíduo
representa, ou melhor, das atividades que realiza
para que possam atender às expectativas de seus próprios
cargos ou posições. Fonte: Chiavenato (2008, p.168).
Lembramos que, ao ingressar em uma empresa, as pessoas continuam
participando de várias outras organizações, nas quais desempenham outros
papéis sociais. Elas vivem em outros ambientes e são também influenciadas
e moldadas por eles. Assim, a organização não envolve as pessoas por inteiro,
nem se constitui na vida delas, ela é apenas uma parte da sociedade. Por essa
razão, as pessoas estão apenas parcialmente incluídas na organização: é a chamada
inclusão parcial (CHIAVENATO, 2008).
Deste modo, podemos perceber que a organização não utiliza integralmente
a pessoa nem ocupa todas as suas potencialidades, mas apenas alguns
de seus comportamentos mais significantes para o desempenho de um papel.
Isso representa um grande desperdício: o do talento humano não aproveitado,
pois apenas certos comportamentos das pessoas são necessários e escolhidos
para o funcionamento da organização. Tais comportamentos específicos são
interligados com os de outros participantes e necessitam ser claramente transmitidos
a todos eles para que haja coordenação e integração, condições básicas
para o efetivo funcionamento da organização.
Chiavenato (2008) destaca que, além de fornecer informações a respeito
do cargo para qual foi selecionado, é de suma importância que a organização
mostre ao recém-admitido a importância do seu trabalho em relação
às demais atividades exercidas para o alcance dos objetivos organizacionais.
São nestes primeiros contatos com o novo trabalho, novos colegas e nova
empresa é que ele vai, aos poucos, conhecendo a cultura organizacional, ou
seja, o modo que as coisas funcionam e aquilo que é esperado das pessoas
ali inseridas.
– 67 –
Administração de Pessoas
Em outras palavras, dizemos que este é o momento de mostrar ao
recém-contratado os objetivos e as metas e a cultura organizacional da
empresa. É um processo pelo qual a organização busca envolver as pessoas
para ajustá-las no contexto organizacional de modo que possam atingir os
objetivos traçados pela organização e socializados com os valores, as regras
e as crenças ali vigentes.
Portanto, antes de abordarmos como esse processo de socialização acontece
e os principais pontos a serem ali considerados, torna-se necessário falarmos
um pouco da cultura organizacional.
5.1.1 Cultura Organizacional
A cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos
por normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os
membros da organização e que distingue uma organização das demais. Constitui
o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma empresa
(CHIAVENATO, 2008).
Dito de outro modo, a cultura equivale ao modo de vida da organização,
pois ela define os padrões de comportamento e de atitudes que guiam ações
e decisões da cúpula da empresa. Assim, trata-se de um conjunto de crenças,
costumes e valores compartilhados que definem as ações da organização e
descrevem os padrões explícitos e implícitos de comportamento e as emoções
que caracterizam a seu modo de ser e agir, formando assim sua identidade
(LACOMBE, 2011).
A essência da cultura organizacional é expressa pelo modo com que ela
faz seus negócios, trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou
liberdade que existe em suas unidades ou escritórios. A cultura organizacional
representa as percepções dos dirigentes e funcionários da organização e reflete
a mentalidade que predomina na organização. Por essa razão, ela condiciona
a administração das pessoas, bem como a Gestão de Pessoas pode ser considerada
a “guardiã” da cultura organizacional.
A cultura representa o universo simbólico da organização e proporciona
um referencial de padrões de desempenho entre os funcionários, influenciando
a pontualidade, a produtividade e a preocupação com qualidade e
– 68 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
serviço ao cliente. A cultura expressa a identidade da organização; de certa
forma, dizemos que ela é a “personalidade da empresa” (DUTRA, 2006).
Para Robbins (2010), não existem culturas organizacionais idênticas;
pois, como vimos, a cultura de cada organização tem sua origem a partir de
grupos de indivíduos distintos, e por isso possuem características particulares
que as identificam com seus respectivos membros.
A cultura organizacional é fortemente influenciada pelos fundadores da
organização e é construída ao longo do tempo, de modo a impregnar todas as
práticas, constituindo um complexo de representações mentais e um sistema
coerente de significados que integra todos os membros em torno dos mesmos
objetivos e do mesmo modo de agir. Ela serve de elo entre o presente e o passado
e contribui para a permanência e a coesão da organização.
Saiba mais
As pessoas não captam o mundo exterior diretamente, elas constroem
representações mentais (quer dizer, internas) dele. Representações
internas, ou representações mentais, são maneiras de
“re-presentar” internamente o mundo externo. Fonte: Moreira e
Lagreca (2001).
Assim, a cultura é aprendida, transmitida e partilhada entre os membros
da organização, por meio de diversas práticas, como programas de treinamentos,
eventos comemorativos (Dia do Trabalhador, festas de final do ano).
Existem aspectos da cultura organizacional que são percebidos mais
facilmente, enquanto outros são menos visíveis e de difícil percepção. Por
isso, utilizamos a metáfora de um iceberg para representar a cultura, conforme
ilustrado na figura a seguir. A parte visível constitui-se nos aspectos formais,
como políticas e diretrizes, métodos e procedimentos, objetivos, estrutura
organizacional e a tecnologia adotada. Já, na parte oculta, temos os aspectos
informais, como as percepções, os sentimentos, as atitudes, os valores, as
interações informais, as normas grupais etc. Os aspectos ocultos são os mais
difíceis de compreender e de interpretar, bem como de mudar ou sofrer transformações
(CHIAVENATO, 2008).
– 69 –
Administração de Pessoas
Figura 1: A cultura organizacional vista como um iceberg.
A cultura organizacional
vista como iceberg
Componentes visíveis
e publicamente
observáveis,
orientados para
aspectos
operacionais e
de tarefas
Componentes
invisíveis e
cobertos,
afetivos e
emocionais,
orientados para
aspectos sociais
e psicológicos
Aspectos formais e abertos
Estrutura organizacional
Títulos e descrições de cargos
Objetivos e estratégia
Tecnologias e práticas operacionais
Políticas e diretrizes de pessoal
Métodos e procedimentos
Medidas de produtividade física
e financeira
Aspectos informais e ocultos
Padrões de influência e de poder
Percepções e atitudes das pessoas
Sentimentos e normas de grupos
Valores e expectativas
Padrões de interações informais
Normas grupais
Relações afetivas
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2008).
A essência da cultura de uma organização provém da maneira como a
organização faz negócios, a maneira como ela trata clientes e empregados e o
grau de autonomia ou liberdade que existe nos departamentos ou escritórios,
de lealdade expressa pelos empregados a respeito da organização.
A cultura organizacional é composta de três níveis: artefatos, valores compartilhados
e pressupostos básicos (CHIAVENATO, 2008; LACOMBE, 2011).
Os artefatos constituem o primeiro nível da cultura, o mais superficial,
visível e perceptível. Artefatos são as coisas concretas que podem ser observadas,
ouvidas e sentidas assim que tomamos contato com a organização, ou seja,
– 70 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
podemos notar como as pessoas: vestem-se, falam, conversam, comportam-se e
o que é importante e relevante para elas. Incluem os bens, os serviços, as vestimentas,
as edificações, os símbolos, as histórias, os heróis, os lemas, as cerimônias
anuais e os padrões de comportamento das pessoas ali inseridas.
Os valores compartilhados constituem o segundo nível da cultura. É tudo
aquilo que a organização julga ser importante e que definem as razões pelas quais
as pessoas fazem o que fazem. Funcionam como justificativas aceitas por todos os
membros e sua origem é fortemente influenciada pelos seus fundadores.
Os pressupostos básicos constituem o nível mais íntimo, profundo e
oculto da cultura organizacional. São as crenças inconscientes, percepções,
sentimentos e pressuposições dominantes e nos quais as pessoas acreditam.
A cultura prescreve a maneira de fazer as coisas, adotada na organização, frequentemente,
através de pressuposições não escritas nem sequer faladas.
5.1.2 Treinamento introdutório
O treinamento introdutório é também conhecido como processo de
integração ou ainda de socialização. Trata-se de uma atividade que tem como
objetivo receber os novos funcionários e integrá-lo à sua cultura, ao seu contexto,
para que tenham condições de se comportarem de maneira adequada
segundo as expectativas da organização. Para Chiavenato (2008), os principais
métodos utilizados no treinamento introdutório são: conteúdo do cargo,
grupo de trabalho e programa de integração.
Figura 2: Representação do treinamento introdutório.
Fonte: Shutterstock (2014).
– 71 –
Administração de Pessoas
O conteúdo do cargo está relacionado com o fato de que o funcionário
deve se socializar, recebendo inicialmente tarefas simples, normalmente, atreladas
ao início de uma carreira. Com o passar do tempo, recebe tarefas mais
complexas e desafiadoras. A ideia que está por trás disso é que o funcionário,
ao executar tarefas mais simples, vai adquirindo experiência para, depois, no
futuro poder estar preparado para desempenhar tarefas com maior complexidade
e que exigirão alto padrão de desempenho.
Em relação ao grupo de trabalho, entendemos que ele assume um
papel importante na integração do novato, uma vez que a aceitação do
grupo é fundamental para o funcionário sentir-se satisfeito. Além disso, o
grupo de trabalho tem uma forte influência sobre as atitudes que o indivíduo
deve ter a respeito da organização, de como ele deve se comportar para
permanecer nela.
O programa de integração é um evento formal e intensivo no tratamento
inicial que possibilita que o novo colaborador se familiarize com linguagem
normalmente utilizada pelos membros da organização, seus costumes,
a estrutura, os bens, serviços, a missão e objetivos organizacionais. O
objetivo deste programa é fazer com que o funcionário aprenda e incorpore
os valores, as normas e os padrões adequados para seu crescimento e permanência
na instituição.
Na maioria das organizações, a integração é desenvolvida pelos órgãos
de treinamento que vão abordar diversos assuntos em um programa de alguns
dias, porém, depois ainda haverá um acompanhamento por determinado
período pelo gerente ou superior. No caso de uma pessoa de destaque, como
diretor ou gerente, o programa de integração poderá durar em torno de três a
seis meses, com programas em diversas áreas.
5.2 Análise, modelagem e descrição de cargos
A estrutura de cargos é condicionada pelo desenho da organização em
que ela está contida, os cargos fazem parte da arquitetura da organização,
ou seja, como os seus órgãos estão distribuídos, como eles se comunicam,
como o poder está definido entre eles e como as coisas devem funcionar. Se a
estrutura da organização for rígida e imutável, os cargos também serão fixos,
– 72 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
permanentes e definidos. Contudo, se a estrutura for flexível, os cargos serão
maleáveis, ajustáveis e abertos, gerando grande integração com o ambiente
(CHIAVENATO, 2008).
Figura3: Estrutura de cargos.
Fonte: Shutterstock (2014).
Para Lacombe (2011), um cargo é definido como um conjunto de
funções da mesma natureza de trabalho, de requisitos e nível de dificuldade
semelhante e com responsabilidades em comum.
Portanto, o cargo é composto de todas as tarefas ou atividades a serem
desempenhadas na organização. Para desempenhar a tarefa, uma pessoa ocupará
um cargo alocado em uma posição definida no organograma, e esta posição
definirá a relação de subordinação ali existente.
O desenho de cargos será um processo de organizar o trabalho através
das tarefas que são necessárias para desempenhar um cargo específico, as qualificações,
as recompensas para cada cargo no sentido de atender às necessidades
dos empregados. Cada cargo exigirá competências que variam conforme
os níveis hierárquicos e as áreas de atuação.
– 73 –
Administração de Pessoas
Após realizar o desenho de cargo, deverá ser feita sua descrição e análise.
Para Gil (2006), a descrição de cargos é a apresentação ordenada das tarefas
ou atribuições de um cargo.
Para Chiavenato (2008), o conteúdo do cargo pode ser conhecido a
partir de sua descrição. Conforme podemos observar na figura a seguir, tal
descrição envolve informações a respeito do que o ocupante do cargo faz?
(tarefas), quando faz? (periodicidade), como faz? (pessoas, materiais), onde
faz? (local) e por que faz? (objetivos e metas).
Figura 4: Conteúdo do cargo e sua descrição.
O que faz
Tarefas e atividades a executar
Conteúdo
do
cargo
Quando faz
Como faz
Periodicidade: diária
semanal
mensal
anual
esporádica
Através de: pessoas
máquinas e equipamentos
materiais
dados e informações
Onde faz
Local e ambiente de trabalho
Fonte: Chiavenato (2008).
Por que faz
Objetivos do cargo
Metas e resultados a atingir
Lacombe (2011) acrescenta que a descrição de cargos é feita para fins
administrativos, nela descrevem-se os requisitos necessários, as tarefas realizadas
e a periodicidade das atividades. A formação, o tempo de experiência e
características do ocupante são os requisitos mais frequentemente utilizados
no momento de se descrever determinado cargo. Como exemplo, o autor
apresenta um modelo de descrição do cargo de secretária, conforme ilustrado
na figura a seguir.
– 74 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
Figura 5: Modelo de análise e descrição de cargos.
Título do Cargo
Secretária
Local
Rio de Janeiro, RJ
Descrição de Cargos (administrativos e operacionais)
Setor
Seções, divisões, departamentos
Descrição Sumária
Executar serviços gerais de secretaria, em órgão de nível igual ou superior a seção, agindo
com discrição e aplicando as políticas, normas e rotinas da empresa.
Descrição detalhada (descrever todas as tarefas do cargo, relacionando
apenas “o que faz” por ordem de importância, conforme o critério da área).
• Manter contatos na recepção de sua chefia, atender e encaminhar os visitantes.
• Assistir a sua chefia na solução de problemas administrativos simples e de
relacionamento pessoal, atuando com tato, discernimento e discrição.
• Conferir, registrar, classificar, arquivar, localizar e expedir cartas, e-mails, memorandos
e documentos, providenciando sua adequada distribuição e tramitação.
• Organizar e manter registros e fichários, consultando documentos e fazendo
lançamentos para controle e atualização das informações.
• Recepcionar e encaminhar pessoas, receber e transmitir recados, fazer e receber
chamadas telefônicas.
• Operar o fax de sua unidade organizacional.
• Organizar a agenda de atendimento e de reuniões ou entrevistas.
• Executar serviços de digitação em processador de texto de microcomputador,
providenciar cópias em papel e em meio magnético e distribuir para seus destinatários.
• Zelar pela manutenção do arquivo confidencial de sua unidade organizacional.
• Executar outras tarefas correlatas, a critério do superior imediato.
– 75 –
Código
A
Lotação
12
Requisitos Básicos (indicar a instrução formal, cursos de especialização e o
tempo mínimo necessário ao desempenho normal do cargo).
• Segundo grau completo, acrescido de cursos de especialização em microinformática
e inglês básico.
• Mínimo de dois anos em função equivalente.
• Discernimento e capacidade de planejamento para as tarefas descritas.
Elaborado por
MC
Data
dia/mês/ano
Fonte: Adaptado de Lacombe (2011).
Aprovado por
EDB
Data
dia/mês/ano
Visto do RH
ACS
Data
dia/mês/ano
Com base na figura anterior, têm-se os subsídios necessários para a análise
do cargo. Pois, para Gil (2006), a análise de cargos é o estudo que se faz
para se obter informações sobre as tarefas ou atribuições relativas a determinado
cargo. Relaciona-se, portanto, com o conhecimento e a capacidade
que o ocupante do cargo deverá possuir. Então, a análise se preocupa com as
especificações do cargo em relação à pessoa que deverá preenchê-lo, são os
requisitos que o cargo impõe ao seu ocupante.
Administração de Pessoas
Para análise do cargo, devem-se avaliar os fatores específicos da pessoa,
como: requisitos mentais (instruções necessárias, experiência anterior,
iniciativa, aptidões); requisitos físicos (espaço físico, concentração visual ou
mental, destreza ou habilidade); responsabilidades (supervisão de pessoas,
material, equipamentos, contratos); condições de trabalho (ambiente físico e
riscos de acidentes de trabalho).
Mas como podemos fazer isso? Para fazer a descrição e análise, torna-se
necessária a coleta de dados sobre o cargo, e os métodos para fazer são: a
entrevista, o questionário e a observação.
1. Entrevista: pode ser aplicado para um grupo ou individualmente e com
o superior do cargo. É o método mais usado para buscar dados a respeito
do cargo e determinar seus deveres e suas responsabilidades. As
questões se baseiam em: qual é o cargo que você desempenha?; o que
você faz?; quando faz?; por que faz?; quais seus deveres e suas responsabilidades?;
em que condições físicas trabalham?; qual é a escolaridade?;
quais os requisitos físicos e mentais exige o cargo?; quem é o seu fornecedor?;
quem são os seus, subordinados e seus superiores?
2. Questionário: requer o mesmo roteiro da entrevista, porém com a
diferença de que é preenchido pelo ocupante do cargo e não pelo
entrevistador. É um meio mais rápido de coletar informações, com
um custo operacional menor, exigindo somente um bom planejamento
na formulação e na aplicação. É importante ficar atento ao
fato de que o ocupante poderá valorizar ou desvalorizar o cargo ocupado
em função de suas capacidades e percepções.
3. Observação: aplicável em cargos mais simples e rotineiros, como
para operadores de linha de montagem. Consiste na observação do
desenvolvimento das tarefas e na sua descrição.
5.2.1 Avaliação de desempenho
Para ser assertiva e competitiva, a organização deverá realizar uma avaliação
constante do desempenho de suas operações. Para Sink e Tuttle (1993),
o desempenho operacional é avaliado a partir de parâmetros ou critérios de
desempenho (eficácia, eficiência, produtividade, qualidade, inovação
e lucratividade).
– 76 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
Saiba mais
Eficácia pode ser entendida como a realização efetiva das coisas certas,
pontualmente e dentro dos requisitos de qualidade especificados.
Já a eficiência requer que, além de fazer as coisas certas, deve-se
fazê-las da melhor maneira possível, portanto, o incremento dos
níveis de eficiência exige um processo de aperfeiçoamento contínuo
para a criação de melhores condições competitivas por parte
das organizações. Fonte: Sink e Tuttle (1993).
É importante lembramos que as pessoas são responsáveis por aumentar
e/ou melhorar os indicadores de desempenho operacional. Portanto, entre os
desempenhos avaliados, o desempenho humano se destaca, pois precisa ser
excelente em todos os momentos e situações, para que a organização consiga
se manter competitiva.
Pode-se definir avaliação do desempenho como uma apreciação sistemática
de cada pessoa em função das suas atividades, das metas que necessita
alcançar e do seu potencial de desenvolvimento. A avaliação é um processo
que serve para julgar ou estimar o valor, a excelência e as qualidades da pessoa
e sua contribuição nos negócios da organização (CHIAVENATO, 2008).
Figura 6: Avaliação de desempenho.
Fonte: Shutterstock (2014).
– 77 –
Administração de Pessoas
A avaliação é um processo dinâmico que vai envolver o avaliado e seu(s)
avaliador(es), sendo uma técnica de direção imprescindível na atividade
administrativa ou, ainda, um poderoso instrumento através do qual se pode
identificar problemas de supervisão e gerência, de integração das pessoas, da
adequação do seu cargo e das possíveis carências de treinamento.
Neste sentido, podemos dizer que todas as pessoas precisam saber como
está seu o trabalho e a organização, também precisa receber informações a
respeito do trabalho do funcionário, para saber suas potencialidades.
Entre as principais razões para se avaliar o desempenho das pessoas, destacam-se
a ideia de que: tal avaliação proporciona um julgamento sistemático para
fundamentar aumentos salariais, promoções, treinamentos, transferências e até
mesmo demissão dos funcionários; por meio dela é possível comunicar aos funcionários
como está seu desempenho no trabalho, sugerindo as necessidades de
mudança de comportamento, nas atitudes, nas habilidades e nos conhecimentos.
Importante
Ao fornecermos informações a alguém de como está seu desempenho
em uma dada tarefa, estamos lhe fornecendo um feedback,
que é a comunicação a uma pessoa ou um grupo, no sentido de
fornecer-lhe informações. Fonte: Moscovici (2000).
Em relação aos diferentes métodos utilizados na avaliação de desempenho,
Chiavenato (2008) e Lacombe (2011) destacam: a autoavaliação; a
avaliação pelo gerente; a avaliação pela equipe de trabalho; a avaliação por
uma comissão e/ou comitê; e a avaliação 360 graus.
Saiba mais
A avaliação 360 graus é feita de modo circular por todos os elementos
que mantêm alguma interação com o avaliado, ou seja, participam
seus pares, fornecedores, clientes, subordinados e todas
as pessoas que o avaliado mantém relação, por isso a metáfora de
360°. Fonte: Chiavenato (2008).
– 78 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema aplicação/orientação)
5.2.2 Movimentação interna de pessoal
A movimentação interna de pessoal é o deslocamento das pessoas na
organização, considerando-se o posicionamento inicial e o plano de carreiras,
bem como as alternativas de oportunidade futuras possíveis dentro da
empresa. Isso pode acontecer por rotação de cargos, transferências, promoções,
expatriação e recolocação.
Rotação de cargos: é a movimentação de uma pessoa de
um cargo para outro a fim de obter melhor compreensão
da organização como um todo. Fonte: Chiavenato (2008).
Saiba mais
A expatriação profissional é uma prática cada vez mais comum
no quotidiano das grandes empresas. Ela é, antes de tudo, uma
decisão ou uma política organizacional, um recurso do qual as
organizações lançam mão para internacionalizar a sua gestão;
aumentar o repertório dos conhecimentos de certa equipe para
desenvolver um projeto e/ou uma unidade específicos; formar
novos líderes; elevar o nível de coordenação e controle das
suas unidades geograficamente dispersas; aumentar a diversidade
estratégica de seus recursos humanos face aos mercados
globais; e desenvolver e incorporar novas técnicas e processos
organizacionais. Fonte: Freitas (2010).
Resumindo
Quando ingressam na organização ou quando a organização faz mudanças,
as pessoas precisam sentir em que situação a empresa se encontra e para
onde devem conduzir suas atividades e seus esforços. Imprimir rumos e direções,
definir comportamentos e ações, estabelecer metas e resultados a cumprir
são algumas das providências orientadoras que a organização deve oferecer
aos seus funcionários.
– 79 –
Administração de Pessoas
O processo de aplicação busca adequar estas pessoas às tarefas e ao
ambiente organizacional e avaliar se elas estão sendo bem-sucedidas. Assim, o
desenvolvimento de expectativas realísticas é imprescindível para que o novo
colaborador saiba o que de fato está sendo esperado dele e quais os valores que
a organização almeja obter por meio de seu desempenho.
– 80 –
6
Processos de gestão de
pessoas (subsistema
de manutenção)
Depois de contratar e ter o novo funcionário na organização,
é preciso retê-lo. As atividades voltadas à manutenção das pessoas
na empresa estão ligadas para o estímulo ao comprometimento
e à motivação de cada uma delas e para o vínculo mais estreito entre
o desempenho humano e os resultados organizacionais.
Para saber como manter as pessoas em uma organização, é
preciso discorrer: sobre os processos de remuneração, por meio dos
planos de cargos e salários e oferta de benefícios e incentivos; sobre
os programas de saúde e segurança no trabalho e seus programas
voltados à melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT); e
sobre as relações com os empregados. São estes os principais assuntos
que trataremos neste capítulo.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Analisar, compreender e descrever as características das principais
atividades pertinentes ao subsistema de manutenção.
6.1. Subsistema de manutenção
O Subsistema de Manutenção, como o próprio nome diz, é responsável pela
manutenção das pessoas que estão trabalhando na empresa. Para mantê-las em
seus empregos, é preciso remunerá-las adequadamente, disponibilizar benefícios
e incentivos, propiciar um ambiente de trabalho sadio e seguro e com
relações interpessoais harmoniosas.
Segundo Chiavenato (2008), os processos de manutenção servem para
manter os empregados satisfeitos e motivados e, também, assegurar as condições
físicas, psicológicas e sociais das pessoas que fazem parte da organização.
Para Lacombe (2011), as organizações precisam dispor de pessoas competentes
e motivadas para produzir. O recurso humano é o elemento essencial
da organização, pois a motivação e capacitação da equipe são indispensáveis
para que o trabalho seja executado com eficácia e eficiência.
6.1.1 Remuneração
Os processos de recompensar estão diretamente relacionados com as
possibilidades de se incentivar e motivar as pessoas na sua vida laboral. A
gestão da remuneração é um processo crucial para o sucesso de qualquer
organização. No entanto, do ponto de vista da empresa, a remuneração
representa um dos principais componentes de custo de seus processos
e produtos. Mas, por outro lado, do ponto de vista do funcionário, ela
simboliza a forma pela qual a organização percebe o valor relativo de seu
trabalho (HSM, 2004).
Os objetivos básicos do sistema remuneratório são: cumprir as obrigações
legais; manter um senso de equidade e justiça entre os empregados; atrair
novos empregados altamente qualificados; reter os empregados atuais; motivar
os empregados na busca do bom desempenho e do contínuo desenvolvimento;
controlar os custos, as despesas com pessoal representam uma considerável
parte dos custos totais das operações de uma organização (DUTRA, 2006).
– 82 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
Segundo Chiavenato (2008), em relação às características do processo
de recompensar, algumas organizações ainda utilizam modelos fixos e rígidos,
genéricos e padronizados, tradicionais e ultrapassados; enquanto outras se
baseiam em modelos flexíveis, mais avançados e sofisticados para incentivar
e motivar as pessoas.
Na abordagem tradicional, supõe-se que o ser humano é motivado,
exclusivamente, por incentivos salariais, financeiros e materiais. A remuneração
obedece, segundo esta visão, a padrões rígidos e imutáveis, atende aos
processos de padronização de cargos, dentro de uma política generalista que
se aplica a todos os funcionários, sem levar em conta suas diferenças individuais
de desempenho. A remuneração
é baseada no tempo e não do
Figura 1: Remuneração baseada no tempo.
desempenho, com ênfase no passado
do funcionário e em valores fixos
e estáticos.
Já sob o ponto de vista da abordagem
moderna, pressupõe-se que as
pessoas são motivadas por uma série
de incentivos, tais como: o salário,
objetivo e metas a atingir, satisfação
do cargo e na organização e necessidade
de autorrealização. Neste caso, a remuneração obedece a esquemas flexíveis,
atende a processos personalizados, dentro de uma política de adequação
às diferenças individuais entre as pessoas e seus desempenhos. A remuneração é
baseada em metas e resultados a serem alcançados pelas pessoas, com ênfase no
desempenho futuro e em valores variáveis e flexíveis (CHIAVENATO, 2008).
Você sabia
Fonte: Shutterstock (2014).
A busca de novos processos de compensação, com destaque para a
remuneração por competências, vinculada à capacidade de “entrega” do
funcionário, alimenta as expectativas dos gestores de pessoas. O conceito
de competências torna-se referência para a gestão de carreiras e das práticas
de treinamento e desenvolvimento. Fonte: HSM (2004).
– 83 –
Administração de Pessoas
Mas, antes de prosseguirmos, devemos esclarecer que a remuneração
total de um funcionário é constituída de três componentes principais. A proporção
relativa de cada um dos três componentes varia de uma organização
para outra, conforme explica Chiavenato (2008).
Saiba mais
Na organização em que você trabalha o processo de recompensar
apresenta características de quais das duas abordagens? Se quiser
saber mais, acesse este link: <www.endeavor.org.br/artigos/
gente-gestao/recompensa-e-reconhecimento/um-novo-modelo-degestao-de-pessoas>.
Aqui são trazidos exemplos de uma empresa
que tem seu sistema de incentivo e recompensa baseado na
abordagem moderna.
Na maioria das organizações, o principal componente da remuneração
total é a remuneração básica, que é o pagamento fixo que o funcionário
recebe de maneira regular na forma de salário mensal ou na forma de salário
por hora. O segundo elemento são os incentivos salariais, denominados
de remuneração variável que são programas desenhados para recompensar
funcionários com bom desempenho. O terceiro componente são os benefícios,
quase sempre denominados remuneração indireta. Os benefícios são
concedidos por vários programas, tais como: férias, seguro de vida, transporte
subsidiado e refeições subsidiadas.
a. Planos de cargos e salários
A implantação de plano de cargos e salários requer, antes de tudo, a
definição de um pacote de remuneração adequado a cada cargo a ser
exercido, levando-se em consideração as exigências e complexidade de
cada atividade, bem como o valor pago por outras empresas a cargos
iguais ou semelhantes.
Para que o gestor de pessoas possa gerir os cargos e salários existentes
na empresa, é preciso que se ordenem os salários de cada trabalhador de
acordo com o grau de habilidade e responsabilidade que o cargo exige
de seu ocupante. Também, é necessário que se adeque os salários da
– 84 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
empresa aos salários do mercado visando não perder seus funcionários
para as empresa concorrentes e se utilize os estímulos salariais objetivando
aumentar a produtividade do trabalho.
Além disso, Lacombe (2011) chama a atenção que na escolha de um
sistema de remuneração é preciso levar em consideração os seguintes
pontos: quanto se deve pagar a cada um; que ênfase deve ser dada à
remuneração financeira em relação ao total das recompensas pelo trabalho;
que ênfase se deve dar à tentativa de diminuir os valores pagos;
e qual tipo de sistema de incentivos deve ser implantado para se obter
melhores desempenhos.
b. Programas de incentivos
Os programas de incentivos estão relacionados com a ideia de remuneração
variável. Segundo Chiavenato (2008), não basta remunerar as
pessoas pelo seu tempo dedicado à organização. É preciso incentivá-las
a fazer o melhor possível, a ultrapassar o desempenho atual e alcançar
metas e resultados para o futuro.
Mas devemos nos perguntar: por que a ideia de remuneração variável? A
remuneração fixa foi uma prática frequentemente utilizada no início do
século XX para compensar o trabalho rotineiro e repetitivo dos funcionários,
em uma época de estabilidade e de permanência. No século XXI,
caracterizado como nova economia, a dinâmica das organizações tem
sofrido influência de diferentes variáveis. O mundo mudou e as organizações
também! Atualmente, grande parte das empresas bem-sucedidas
está migrando para o modelo de remunerações variáveis. Modelo este
capaz de motivar, incentivar e influenciar positivamente a autoestima das
pessoas, através de diversos programas de incentivo. Entre eles, podemos
citar, com base em Chiavenato (2008) e Lacombe (2011):
22
recompensas relacionadas com os resultados do desempenho organizacional,
como o lucro ou prejuízo;
2 2 recompensas vinculadas ao tempo de serviço do funcionário, concedidas
automaticamente em certos intervalos, como cinco (quinquênios)
ou dez anos (decênios), desde que seu desempenho não
tenha sido insatisfatório;
– 85 –
Administração de Pessoas
22
recompensas relacionadas como o desempenho claramente excepcional.
Essas recompensas, também conhecidas por aumento por mérito;
22
recompensas relacionadas com resultados departamentais ou globais
e claramente quantificáveis.
Apesar dos diferentes tipos de incentivos mencionados, verifica-se que
a remuneração fixa ainda predomina na maior parte das organizações.
Por outro lado, a remuneração variável apresenta-se como uma alternativa
para motivar e incentivar as pessoas, obter um comportamento
proativo, empreendedor e eficaz na busca de metas e resultados excelentes.
Pois, com a remuneração variável, passam a ser incentivados outros
critérios como resultados, criatividade, inovação, espírito empreendedor
e iniciativa.
Saiba mais
A necessidade de profissionais mais hábeis nas organizações traz à
tona alguns aspectos revelados como comportamentos empreendedores
em funcionários de maior destaque, retratando o empreendedorismo
corporativo, que se caracteriza, essencialmente, pelo
desenvolvimento de projetos inovadores nas organizações. Fonte:
Lenzi et al. (2012).
Diante do exposto, podemos exemplificar algumas formas de conceder
incentivos a partir da remuneração variável, entre elas: o plano de bonificação
anual; distribuição de ações da empresa aos funcionários; opção de
compra de ações da companhia; participação nos resultados alcançados;
remuneração por competência; e distribuição do lucro aos funcionários.
c. Benefícios e serviços sociais
Os benefícios e serviços sociais são denominados remuneração indireta.
Para Lacombe (2011), além do salário, podem-se conceder benefícios,
monetários ou não.
Benefícios são regalias e vantagens concedidas pelas organizações sob a
forma de pagamento adicional dos salários, pago a todos ou a parte de seus
– 86 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
funcionários. Constituem, geralmente, um pacote de benefícios e serviços
que é parte integrante da remuneração do pessoal. Essas vantagens oferecidas
pele organização podem ser: assistência médico-hospitalar, seguro de
vida, alimentação subsidiada, transporte, pagamento de tempo não trabalhado,
planos de pensão ou aposentadoria etc. (CHIAVENATO, 2008).
Os benefícios sociais estão intimamente relacionados com os aspectos
da responsabilidade social da organização. Assim, genericamente podem
ser classificados quanto à sua exigibilidade legal, quanto à sua natureza e
quanto aos seus objetivos.
Os planos de benefícios podem ser classificados em legais ou espontâneos,
conforme a sua exigibilidade legal. Os benefícios legais são os benefícios
exigidos pela legislação trabalhista ou previdenciária ou ainda por
convenção coletiva entre sindicatos; alguns são pagos pela organização e
outros pelos órgãos previdenciários. Entre eles, temos férias, 13 o salário,
aposentadoria, seguro de acidentes do trabalho, auxílio doença, salário
maternidade; e salário família (CHIAVENATO, 2008).
Os benefícios espontâneos são aqueles concedidos de livre arbítrio das
empresas, já que não são exigidos por lei nem por negociação coletiva.
São também chamados benefícios marginais ou voluntários. Incluem:
gratificações; refeições; seguro de vida em grupo; empréstimos aos funcionários;
assistência médico-hospitalar diferenciada mediante convênio;
e complementação de aposentadoria ou planos de seguridade social
(CHIAVENATO, 2008).
Arbítrio: decisão dependente apenas da vontade.
Fonte: Houaiss (2009).
Além disso, os planos de benefícios podem ser classificados em monetários
ou não monetários, conforme sua natureza (LACOMBE, 2011). Os
benefícios monetários são aqueles concedidos em dinheiro, geralmente através
da folha de pagamento e que geram encargos sociais deles decorrentes,
como férias; 13 o salário; gratificação; e complementação do salário no afastamento
prolongado por doença (CHIAVENATO, 2008).
– 87 –
Administração de Pessoas
Os benefícios não monetários são os benefícios não financeiros oferecidos
na forma de serviços, vantagens ou facilidades para os usuários, como:
refeitório; assistência médico-hospitalar; assistência odontológica; serviço
social e aconselhamento; clube ou grêmio; e horário móvel ou flexível (CHIA-
VENATO, 2008).
Figura 2: Benefícios monetários.
– 88 –
Outra forma de classificar os
planos de benefícios é quanto aos seus
objetivos. Assim, podem ser assistenciais,
recreativos e supletivos.
Para Chiavenato (2008), os
benefícios assistenciais são aqueles
que buscam prover o funcionário
e sua família de certas condições de
segurança e previdência em casos de
imprevistos ou emergência. Entre
eles, temos: assistência médico-hospitalar;
assistência odontológica;
assistência financeira através de
empréstimos; serviço social; complementação
da aposentadoria ou
planos de previdência social; complementação do salário em afastamento prolongado
por doença; seguro de vida em grupo ou de acidentes pessoais; e creche
para filhos dos funcionários.
Fonte: Shutterstock (2014).
O mesmo autor esclarece que os benefícios recreativos são aqueles
serviços que visam proporcionar ao funcionário condições físicas e
psicológicas de repouso, diversão, recreação, higiene mental ou lazer. Em
alguns casos esses se estendem também à família do funcionário. Incluem:
áreas de lazer nos intervalos de trabalho; música ambiente; atividades
esportivas e comunitárias; e passeios e excursões programadas. Algumas atividades
recreativas envolvem também objetivos sociais como as festividades
e os congraçamentos, visando ao fortalecimento da organização informal.
Os planos supletivos, por sua vez, são serviços e benefícios que visam
proporcionar aos funcionários certas facilidades, conveniências e utilidades
para melhorar sua qualidade de vida. Entre eles, temos: transporte restaurante
no local de trabalho; estacionamento privativo; horário móvel de traba-
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
lho; cooperativa de gêneros alimentícios ou convênio com supermercados; e
agência bancária no local de trabalho.
Lacombe (2011) e Chiavenato (2008) assinalam que cada organização
define o seu plano de benefícios para satisfazer às necessidades dos seus trabalhadores.
Geralmente, o plano de benefícios é composto de um pacote de
benefícios e serviços adequado ao perfil do quadro funcional de cada empresa
e das atividades que eles executam. Tal plano visa satisfazer vários objetivos
individuais, econômicos e sociais.
Para manter colaboradores satisfeitos e motivados dentro da organização,
é preciso saber se relacionar com eles e estabelecer uma relação pautada
no respeito e na confiança. Chiavenato (2008) sugere que se utilize o estilo de
administração caracterizado pela gestão participativa e aberta a novas sugestões
e críticas tanto para a busca constante de melhorias quanto para a solução
de conflitos ali existentes.
6.2 Saúde e Segurança no Trabalho e
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
Lacombe (2011) afirma que o antigo nome para a área de Saúde e Segurança
era Higiene e Segurança e, atualmente, também é conhecida como
Segurança e Medicina do Trabalho.
Para Chiavenato (2008), a Higiene no Trabalho está relacionada com
as condições ambientais de trabalho
que asseguram a saúde
Figura 3: Saúde e Segurança no trabalho.
física e mental e condições de
bem-estar das pessoas. Um
ambiente saudável de trabalho
deve envolver condições
ambientais físicas que atuam
positivamente sobre todos os
órgãos dos sentidos humanos.
Do ponto de vista de saúde
mental, o ambiente laboral
deve envolver condições psico-
Fonte: Shutterstock (2014).
– 89 –
Administração de Pessoas
lógicas e sociológicas saudáveis e que atuem positivamente sobre o comportamento
das pessoas evitando impactos emocionais como o estresse.
A Saúde e Segurança no Trabalho, por sua vez, é um conjunto de atividades
que tem como foco a preocupação de verificar se todas as tarefas estão
sendo realizadas corretamente, e se estas estão causando algum dano à saúde
do funcionário. O objetivo primordial é assegurar que as pessoas possam exercer
suas funções em lugares sadios e seguros (CHIAVENATO, 2008).
Saiba mais
Que os estudos sobre Segurança e Saúde no Trabalho tiveram seu início
no século XVI em função de muitas perdas humanas e também da
Revolução Industrial, e vêm percorrendo um longo caminho. Atualmente,
reflete impacto sobre os trabalhadores em cada local de trabalho. Fonte:
Pacheco Júnior (1995).
As condições ambientais de iluminação, ventilação, intensidade de
ruído, poluição e umidade precisam ser mensuradas e controladas para assegurar
a salubridade do local de trabalho das pessoas (LACOMBE, 2011).
Por outro lado, a segurança no trabalho envolve três áreas principais
de atividade: prevenção de acidentes, prevenção de incêndios e prevenção
de roubos. Para tanto, é preciso estabelecer de um sistema de indicadores
e estatística de acidentes; desenvolver um sistema de relatórios de providências;
elaborar regras e procedimentos de segurança; e recompensar às
pessoas, em especial, aos gerentes e supervisores pela administração eficaz
da função de segurança.
Importante
Empresas privadas precisam seguir uma série de Normas Regulamentadoras
(NR) que estão dispostas no livro “Segurança e Medicina do Trabalho”,
da editora Atlas, 2011.
A área da Saúde e Segurança é respaldada em uma série de leis que têm
como objetivo preservar a salubridade e seguridade do trabalhador. Entre os
– 90 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
diversos programas executados pelos profissionais que atuam nesta área, destaca-se
o programa de medicina ocupacional.
Saiba mais
O programa de medicina ocupacional envolve os exames médicos exigidos
legalmente, palestras de medicina preventiva, elaboração do mapa
de riscos ambientais, relatórios anuais e arquivos de exames médicos com
avaliação clínica e exames complementares, visando a qualidade de vida
dos funcionários e maior produtividade da organização. Fonte: Chiavenato
(2008).
Os programas de saúde e segurança são importantes tanto no que
diz respeito ao cumprimento das leis quanto à possibilidade de reduzir
os efeitos negativos de um ambiente perigoso e insalubre, tais como:
aumento de pagamentos por indenizações, aumento de afastamentos por
acidentes e doenças, aumento dos custos de seguros, aumento do absenteísmo
e rotatividade do pessoal, baixa produtividade e baixa qualidade,
além de pressões sindicais.
a. Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais
De acordo com a International Labour Organization (ILO, 2007), há
menos de uma década, cerca de dois milhões de pessoas morriam anualmente
devido aos acidentes de trabalho. Em torno de uma pessoa morria a
cada três horas, motivada por risco dos fatores ambientais do trabalho,
além do que a cada 15 minutos na jornada diária de trabalho 14 acidentes
aconteciam. Infelizmente, tais estatísticas pouco mudaram nos
dias de hoje.
O cenário que se apresenta possivelmente tem contribuído para que,
nas últimas décadas, a relação saúde ocupacional e acidentes de trabalho
tenha sido estudada sob muitos pontos de vista, com a preocupação
de reduzir o número de acidentes e promover a saúde do trabalhador.
O conjunto de ciências no âmbito da saúde e segurança no trabalho
tem como objetivo identificar, avaliar e controlar as situações de
risco, bem como possibilitar um ambiente mais seguro e saudável para
o trabalhador.
– 91 –
Administração de Pessoas
Figura 4: Condição insegura. Os acidentes no trabalho e as doenças ocupacionais
representam um sério problema na medida
em que resultam em perdas significativas, tanto de vidas
humanas como de custos econômicos.
Em relação às suas causas, têm-se as condições
inseguras e o ato inseguro. As condições inseguras
é a condição física ou mecânica
existente no local, na máquina, no equipamento
ou na instalação (que poderia ter
sido protegida ou corrigida) e que leva à
ocorrência do acidente, como piso
escorregadio, oleoso, molhado,
com saliência ou buraco, máquina
Fonte: Shutterstock (2014).
desprovida de proteção, instalação
elétrica com fios descascados, motores sem fio-terra,
iluminação deficiente ou inadequada. As condições inseguras podem
ser eliminadas através de uma conscientização da alta administração
e o aprimoramento dos mecanismos materiais de segurança na organização
(CHIAVENATO, 2008).
O ato inseguro é algo mais complexo, pois se trata da violação de procedimento
aceito como seguro, ou seja, deixar de usar equipamento de proteção
individual, distrair-se ou conversar durante o serviço, fumar em área proibida,
lubrificar ou limpar máquinas ligadas ou em movimento.
b. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
O termo QVT foi cunhado por Louis Davis em 1970, quando desenvolvia
um projeto sobre desenho de cargos. QVT refere-se à preocupação
com o bem-estar geral e a saúde dos trabalhadores no desempenho de
suas tarefas. Atualmente, envolve aspectos físicos, ambientais e psicológicos
do local de trabalho (CHIAVENATO, 2008).
Nos anos 1960 a preocupação com a QVT ganhou mais impulso devido
à conscientização dos trabalhadores e ao aumento das responsabilidades
sociais das empresas. Nos anos 1970, com a crise do petróleo, alta inflação
e competição internacional, houve uma paralisação das discussões e
investimentos relativos à QVT. Nos anos 1980, voltou o interesse pela
– 92 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de manutenção)
Figura 5: QVT.
QVT, motivado pelo fascínio das novas
formas de gestão criadas sob o ditame da
Qualidade Total (TOLFO; PICCININI,
2001).
A QVT refere-se à satisfação das necessidades
individuais, afetando as atitudes
e os comportamentos, a criatividade, a
vontade de inovar ou aceitar mudanças no
ambiente de trabalho. Os fatores conjunturais
que afetam a satisfação no trabalho
relacionam-se com: ambiente físico (localização
geográfica, máquinas, equipamentos,
condições de saneamento básico e
higiene do trabalho); ambiente psicossocial (percepção de segurança e boa
estima, oportunidades de crescimento profissional, aspectos institucionais,
relações interpessoais e benefícios recebidos); sistema de remuneração; jornada
de trabalho; e organização (estruturação e funcionamento).
Fonte: Shutterstock (2014).
c. Relação com os empregados
Os gerentes supervisionam seus subordinados como parte integrante de
seu trabalho. Os subordinados requerem atenção e acompanhamento,
pois precisam lidar com variáveis presentes no ambiente laboral variáveis
presentes em sua vida extra laboral. Assim, estão sujeitos a uma multiplicidade
de problemas especiais, familiares, financeiros, de saúde, dificuldade
de transporte ou de atendimento a compromissos, problemas com drogas
fumo ou álcool. São problemas variados que afetam o desempenho das
pessoas (MAXIMIANO, 2000). Algumas pessoas conseguem administrá-
-los sozinhas, outras não, podendo tornar-se funcionários problemáticos.
Grande parte das organizações oferece assistência a funcionários problemáticos
e/ou tentam modificar o seu comportamento negativo. As atividades
de relações com funcionários têm por objetivo a criação de uma
atmosfera de confiança, respeito e consideração e buscam maior eficácia
organizacional através da resolução de conflitos de diferentes naturezas.
As ações dos gerentes para desenhar um programa de relações com
empregados devem incluir: comunicações; cooperação; proteção; e
– 93 –
Administração de Pessoas
assistência. Entre tais programas, podem-se destacar: o programa de
reconhecimento e programa de assistência ao emprego (CHIAVE-
NATO, 2008).
Os principais sintomas de um funcionário problemático são: elevado
absenteísmo (maior nas segundas e sextas-feiras, antes e após feriados); faltas
não justificadas; faltas e saídas antecipadas; atrasos e saídas antecipadas;
atritos com colegas; criação de problemas para outros funcionários devido
a negligências; julgamento precário e decisões erradas no trabalho; danos
e paradas de máquinas; envolvimento com a lei, como multas de trânsito,
embriaguez etc.
Chiavenato (2008) explica que para lidar com as situações problemáticas
os gestores poderão utilizar o procedimento da disciplina progressiva
com seus vários passos de advertências, cada um dos quais envolvendo
uma punição que aumenta uma severidade conforme o comportamento
indesejável persiste. As quatro etapas são: advertência verbal; advertência
escrita; suspensão; e demissão.
Resumindo
Vimos, neste capítulo, que a organização que quiser se manter competitiva
e se destacar perante os correntes, precisa concentrar suas ações nos
processos de atração, desenvolvimento e retenção de talentos.
Assim, para manter as pessoas ali trabalhando, a área de Gestão de Pessoas
deve desenhar um sistema de remuneração que inclua não apenas salários
atraentes, como também um conjunto de benefícios e incentivos que contribuam
para a maximização do desempenho de seu pessoal. Além de criar
condições saudáveis e seguras para a execução laboral e melhoria da qualidade
de vida no trabalho.
Os programas de reconhecimento e de assistência aos empregados
são um reflexo da preocupação com as relações interpessoais e com os
preceitos legais.
– 94 –
7
Processos de gestão de
pessoas (subsistema
de desenvolvimento)
Depois de atrair e reter as pessoas, a organização precisa
concentrar seus esforços para desenvolver seu quadro funcional. As
atividades de treinamento e desenvolvimento são essenciais para
o crescimento e sustentabilidade da empresa que, na nova economia,
enfrenta desafios de um mercado cada vez mais competitivo.
Entretanto, tão importante quanto o desenvolvimento das pessoas é o
desenvolvimento da organização, pois ambos contribuem para que as
mudanças, constantes e inevitáveis, sejam implantadas de forma eficaz.
São estes assuntos que estudaremos neste capítulo e, assim, ao final
de nossas discussões, certamente você será capaz de responder ao
questionamento norteador deste subsistema: como desenvolver as
pessoas e a organização?
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Analisar, compreender e descrever as características das principais
atividades pertinentes ao subsistema de desenvolvimento.
7.1 Subsistema de desenvolvimento
Na nova economia, verificamos que existem evidências de um crescente
desajustamento entre emprego e oferta de mão de obra disponível. As oportunidades
de trabalho ajustam-se cada vez menos às pessoas disponíveis, em
razão das novas exigências do mundo do trabalho em relação à qualificação
dos indivíduos. Os fatores tecnológicos impõem necessidades contínuas de
conhecimento, principalmente nos
Figura 1: Automação nas organizações. campos da informatização, robotização,
automação, línguas, culturas e
educação, exigindo elevados parâmetros
curriculares, para que as empresas
sejam, no mínimo, competitivas; caso
contrário, poderão comprometer sua
continuidade e/ou sua sobrevivência
(DRUCKER, 2012).
Sob o ponto de vistas das organizações,
é preciso dispor de pessoas competentes
e motivadas para produzir. A
qualidade e a consistência da administração
são o seu maior patrimônio e,
por isso, precisa ser desenvolvido. O
treinamento, portanto, é usado como uma prática frequente nas empresas que
buscam o aperfeiçoamento das pessoas com vistas ao aumento da eficiência.
Você sabia
Fonte: Shutterstock (2014).
Como diferenciais na retenção do capital humano, o Bradesco possui uma
política de carreira, que visa o aprimoramento constante de competências
técnicas e comportamentais, essenciais para a formação de seus profissionais.
– 96 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
O banco investe fortemente no desenvolvimento de seu time e oferece
oportunidades de crescimento profissional. Em 2011, investiu
R$161 milhões em treinamento, com um total de mais de 14 milhões
de horas de capacitação e uma média de 127 horas por funcionário.
No mesmo período ocorreram mais de 34 mil promoções, 32,7%
do efetivo geral. Fonte: GestãoRH ( 2012).
Já sob o ponto de vistas das pessoas, sabe-se que elas se destacam em
função do seu incrível potencial de desenvolvimento. Os seres humanos
têm enorme capacidade para aprender novas habilidades, captar informações,
adquirir novos conhecimentos e modificar atitudes e comportamentos.
Assim, as organizações utilizam uma variedade de meios para desenvolver as
pessoas, agregar-lhes valor e torná-las cada vez mais capacitadas e habilitadas
para o trabalho (CHIAVENATO, 2008).
Para Gil (2006), o ambiente dinâmico das organizações requer o desenvolvimento
de ações voltadas à capacitação contínua das pessoas, com o propósito
de torná-las mais eficazes naquilo que fazem.
Na mesma direção, Chiavenato (2008) entende que desenvolver pessoas
não é apenas dar-lhes informação para que elas aprendam novos conhecimentos,
habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes naquilo que fazem.
É, sobretudo, dar-lhes a formação básica para que aprendam novas atitudes,
soluções, ideias, conceitos e que modifiquem seus hábitos e comportamentos
e, deste modo, consigam ser mais eficazes naquilo que fazem.
Portanto, podemos dizer que o Subsistema de Desenvolvimento engloba
ações voltadas à preparação e capacitação das pessoas através de treinamento
e desenvolvimento pessoal e organizacional. O Subsistema de Desenvolvimento
diz respeito a termos como: coaching (tipo de aconselhamento), aprendizagem,
conhecimento, habilidades, experiência, ensino e desenvolvimento.
Todo o modelo de formação, capacitação, educação, treinamento ou
desenvolvimento deve assegurar às pessoas a oportunidade de ser aquilo que
pode ser a partir de suas próprias potencialidades, sejam inatas ou adquiridas
(CHIAVENATO, 2008).
De qualquer modo, para garantir o desenvolvimento e a satisfação
dos funcionários, cabe à empresa oferecer oportunidades de crescimento
– 97 –
Administração de Pessoas
na carreira e acesso a treinamentos e programas de desenvolvimento de
alta qualidade.
Você sabia
Que a universidade corporativa pode ser vista como uma opção para
se obter o desenvolvimento das pessoas? Trata-se de “laboratórios”
para a aprendizagem, ou seja, de uma forma estratégica de desenvolvimento
para colaboradores, clientes e fornecedores, através de
ensinamentos voltados à melhoria do desempenho organizacional.
Além disso, elas podem ser utilizadas como meio de prover oportunidades
de aprendizagem que deem suporte para a empresa atingir
seus objetivos críticos do negócio; de estimular gerentes e líderes a
se envolver com a aprendizagem, tornando-se também responsáveis
pelo processo; da organização obter vantagem competitiva e entrar
em novos mercados (MEINSTER, 2005).
É importante lembrar que, quando um empregado entra numa
empresa, ele é admitido com qualificações genéricas e cada empresa tem sua
peculiaridade, portanto, cabe a ela propor a este empregado o devido exercício
do cargo que ocupará. Com isso, o principal motivo pelo qual as empresas
treinam é proporcionar ao empregado novas habilidades ou melhorar as que
ele já possui (LACOMBE, 2011).
Entretanto, Lacombe (2011, p. 323) deixa claro que a responsabilidade,
pelo desenvolvimento de cada pessoa, é dela própria, uma vez que diante
dos desafios profissionais do século XXI um profissional precisa cuidar de si,
manter-se atualizado e ativo, não só na empresa quanto fora dela: “Cada um
é o principal responsável pelo seu próprio desenvolvimento”. Deste modo,
as organizações devem atuar como facilitadoras e apoiadoras do desenvolvimento
de seu quadro funcional.
Saiba mais
Uma das dimensões do modelo de Gestão de Pessoas para a qual
os especialistas na área conferem maior importância está vinculada
– 98 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
aos processos de gestão da capacitação e do desenvolvimento dos
funcionários. São inúmeras as tendências projetadas para essa área,
tais como: educação corporativa, gestão da aprendizagem, de novos
talentos e do aprendizado organizacional. Fonte: HSM (2004).
As pessoas apresentam uma enorme capacidade de aprender e se desenvolver,
e os processos de desenvolvimento estão relacionados com a educação.
Educar é extrair, ensinar, representa a necessidade do ser humano de mostrar
suas potencialidades interiores (CHIAVENATO, 2008). Lacombe (2011)
enfatiza que a educação é uma preocupação constante e permanente.
Mas, afinal, quais são as principais diferenças entre treinamento, desenvolvimento
de pessoas e desenvolvimento organizacional? É sobre isso que
trataremos a seguir.
7.1.1 Treinamento
Primeiramente, antes de definirmos o que é um programa de treinamento
e estudarmos como se dá sua preparação e execução, pensemos como
ele foi entendido ao longo do tempo.
A partir de uma retrospectiva histórica, podemos dizer que, na época
da Administração Científica, o objetivo do treinamento era preparar o indivíduo
em relação aos aspectos físicos do trabalho. Já no período da Escola de
Relações Humanas, seu objetivo era capacitar os trabalhadores para o desempenho
de suas tarefas e para o relacionamento interpessoal. Atualmente, o
treinamento é visto como um meio de suprir as carências dos indivíduos em
termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, para que desempenhem as
tarefas necessárias ao alcance dos objetivos organizacionais.
Nesta direção, Lacombe (2011) define treinamento como qualquer atividade
que contribua para tornar um indivíduo apto a exercer sua função
ou atividade, aumentar sua capacidade para as funções atuais ou prepará-las
para novas funções. Assinala-se que a preocupação com novas funções pode
estar relacionada tanto com processos sucessórios, de pessoas ocupando novas
posições ou ainda relacionada com novos processos de trabalho como uma
estratégia da empresa em antecipar as mudanças da nova economia.
– 99 –
Administração de Pessoas
Chiavenato (2008) complementa que o treinamento é um meio para
alavancar o desempenho no cargo. Portanto, ele é considerado um meio de
desenvolver competências nas pessoas para que elas se tornem mais produtivas,
criativas e inovadoras, a fim de contribuir de maneira mais assertiva para
o alcance dos objetivos organizacionais.
Em outros termos, é o processo educacional de curto prazo, através do
qual as pessoas aprendem conhecimentos, atitudes em função dos objetivos
definidos.
Deste modo, na visão de Chiavenato (2008) e Lacombe (2011), os principais
objetivos do treinamento são: preparar o pessoal para execução imediata
das diversas tarefas do cargo; proporcionar oportunidades para o contínuo
desenvolvimento pessoal, não apenas em seus cargos atuais, mas também
para exercer de forma eficiente novas funções ou atividades; proporcionar um
ambiente desafiador e motivador para os bons profissionais e torná-los mais
receptivos às técnicas de supervisão e gerência.
Como as definições e os objetivos do treinamento remetem, também,
à ideia de desenvolvimento, é importante fazer um esclarecimento a respeito
destas duas atividades: treinamento e desenvolvimento de pessoal.
Chiavenato (2008) esclarece que o treinamento é orientado para o presente,
focalizando o cargo atual e buscando melhorar determinadas habilidades
e capacidades relacionadas com o desempenho imediato do cargo. Já
o desenvolvimento de pessoal focaliza geralmente os cargos a serem ocupados
futuramente na organização e as novas habilidades e capacidades que
serão requeridas.
Feito este esclarecimento, abordaremos agora as etapas de um programa
de treinamento. Para entender como isso acontece, é preciso compreendê-lo
como um modelo de sistema aberto, com entrada, processamento, saída e
retroação (CHIAVENATO, 2008).
Deste modo, podemos dizer que ele é composto de quatro subsistemas
ou então quatro etapas: Levantamento das Necessidades de Treinamento
(LNT); Projeto e Programação de Treinamento; Execução do Treinamento;
e Avaliação dos Resultados do Treinamento, conforme ilustrado na figura
a seguir.
– 100 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
Figura 2: Ciclo do Treinamento.
Entrada 1
Levantamento
das Necessidades
de Treinamento
Saída
Saída
4
Avaliação dos
Resultados do
Treinamento
Entrada
Entrada
2
Projeto e
Programação
de Treinamento
Saída
Fonte: Chiavenato (2008).
Saída
3
Execução do
Treinamento
– 101 –
Entrada
Observando a próxima figura, podemos dizer que o treinamento é um
processo cíclico e contínuo composto de quatro etapas. Destaca-se que existem
autores, como Araújo (2006) e Boog (2006), que utilizam a nomenclatura
T&D (Treinamento e Desenvolvimento) para se referir ao processo de qualificação
do quadro funcional de uma dada organização. Com base em Araújo
(2006), podemos visualizar as etapas de T&D a partir da seguinte ilustração.
Figura 3: Etapas de um Processo de Treinamento e Desenvolvimento.
Diagnose
Levantamento
das necessidade
Análise dos
objetivos das
empresas
Análise dos
problemas de
produção
Análise da
avaliação de
desempenho
Fonte: Araújo (2006).
Planejamento
Programa
de T&D
O que treinar
e desenvolver?
Em que treinar
e desenvolver?
Como treinar
e desenvolver?
Quanto treinar
e desenvolver?
Quem treinar
e desenvolver?
Implementação
Execução
de T&D
Aplicação dos
programas
Análise dos
problemas de
produção
Avaliação
Análise dos
resultados
Verificação dos
resultados
Verificação
dos objetivos
Resultados satisfatórios
Resultados insatisfatórios
Administração de Pessoas
Observando a figura anterior, pode-se dizer que as quatro etapas do processo
de T&D são assim caracterizadas.
1. Diagnóstico: é o levantamento das necessidades de treinamento a serem
satisfeitas. Essas necessidades podem ser passadas (a priori), presentes ou
futuras (a posteriori). Em outras palavras, tais necessidades são carências
de preparo profissional das pessoas, ou seja, a diferença entre o que a ela
deveria saber e fazer e aquilo que realmente sabe e faz.
Os indicadores a priori, segundo Chiavenato (2008), são eventos que,
se acontecerem, provocarão futuras necessidades de treinamento, facilmente
previstas, como: expansão da empresa e admissão de novas pessoas;
redução do número de funcionários; mudança de métodos e processos
de trabalho; substituições ou movimentação de pessoal; absenteísmo,
faltas, licenças e férias de pessoal; mudanças nos programas de trabalho
ou de produção; modernização dos equipamentos e novas tecnologias; e
produção e comercialização de novos bens ou serviços.
Já os indicadores a posteriori, segundo o mesmo autor, são os problemas
provocados por necessidades de treinamento ainda não atendidas, como
baixa qualidade de produção; baixa produtividade; avarias frequentes em
equipamentos e instalações; comunicações deficientes; elevado número
de acidentes no trabalho; excesso de erros e de desperdício; pouca versatilidade
dos funcionários; mau aproveitamento do espaço disponível;
relações deficientes entre o pessoal; número excessivo de queixas; mau
atendimento ao cliente; pouco interesse pelo trabalho; falta de cooperação;
e erros na execução de ordens.
Tendo em mente os possíveis indicadores, pode-se agora fazer o levantamento
das necessidades a partir de quatro tipos de análise (organizacional;
dos recursos humanos; da estrutura de cargos; e do treinamento),
conforme esclarece Chiavenato (2008).
Saiba mais
Os principais métodos para se levantar as necessidades de treinamento
são:
22
avaliação do desempenho;
22
observação;
– 102 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
22
questionamento;
22
solicitação de supervisores e gerentes;
22
entrevistas com supervisores e gerentes;
22
reuniões interdepartamentais;
22
exame de empregados;
22
modificação do trabalho;
22
entrevista de saída;
22
análise de cargos;
22
relatórios periódicos.
Fonte: Chiavenato (2008).
A análise organizacional se dá a partir do diagnóstico de toda a organização,
para verificar os aspectos da missão, da visão e dos objetivos
estratégicos que o treinamento deve atender.
A análise dos recursos humanos é realizada a partir do perfil das pessoas.
Determinam-se quais os comportamentos, as atitudes, os conhecimentos
e as competências são necessários para que os indivíduos possam contribuir
para o alcance dos objetivos estratégicos da organização.
A análise da estrutura de cargos acontece a partir do exame de requisitos
e especificações dos cargos. Quais são as habilidades, destrezas e
competências que as pessoas deverão desenvolver para desempenhar
adequadamente os cargos.
A análise de treinamento é realizada a partir dos objetivos e das metas
que deverão ser utilizados como critérios para avaliação da eficiência e
eficácia do programa de treinamento.
2. Desenho: é a elaboração do programa de treinamento para atender às
necessidades diagnosticadas. De acordo com Gil (2001), o projeto de treinamento
abrange: identificação, objetivos, justificativa, população-alvo,
conteúdo, carga horária, período de realização, local, número de turmas,
instrutores, materiais e equipamentos, custos e apoio administrativo.
No que diz respeito ao desenho do treinamento, é importante ficar
atento quanto à escolha do público-alvo e dos instrutores (que muitas
– 103 –
Administração de Pessoas
vezes podem ser pessoas da própria empresa). Essa escolha deve levar em
consideração a alocação dos envolvidos em um cronograma bem definido
para que os setores não fiquem desfalcados.
Como produto final do desenho do programa de treinamento, tem-se
um plano que deverá contemplar as seguintes partes: identificação, objetivos
gerais e específicos, conteúdo programático, estratégias de ensino,
recursos instrucionais, avaliação e carga horária, veja figura a seguir.
Figura 4: Plano de Treinamento.
Treinamento:
Carga Horária:
População-alvo:
Objetivos gerais:
Objetivos Conteúdo Estratégias Recursos Avaliação
Fonte: Gil (2006).
3. Implementação e execução: é a aplicação e condução do programa de
treinamento. A execução do treinamento centra-se na relação instrutortreinado.
Os instrutores podem ser pessoas da própria organização ou de
fora, especialistas ou experientes em determinada área ou atividade, que
transmitem suas instruções de maneira organizada aos treinandos. Os
treinandos poderão ser pessoas pertencentes a qualquer nível da organização,
de quem se espera que adquiram os conhecimentos, as habilidades e as
atitudes requeridas para o desempenho de suas atribuições (GIL, 2006).
– 104 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
Gil (2006) ainda acrescenta que a execução do treinamento é norteada
pelo plano de treinamento, requerendo, portanto, a especificação da
qualificação dos instrutores; da seleção dos treinandos; da qualidade do
material, equipamento e instalações; do apoio administrativo; e da cooperação
dos chefes e dirigentes da empresa.
4. Avaliação: é a verificação dos resultados do treinamento. Ou seja, é uma
forma de controle para identificar e avaliar as possíveis discrepâncias entre
aquilo que foi inicialmente planejado e aquilo que foi, de fato, alcançado.
Saiba mais
O treinamento não pode ser confundido com uma simples questão
de realizar cursos e proporcionar informação. Significa atingir o nível
de desempenho almejado pela organização através do desenvolvimento
contínuo das pessoas que nela trabalham. Contudo, deve-se
criar uma cultura interna favorável ao aprendizado e comprometida
com as mudanças da organização. Fonte: Chiavenato (2008).
Segundo Chiavenato (2008), a avaliação deve considerar dois pontos
principais: determinar até que ponto o treinamento produziu as modificações
desejadas no comportamento dos empregados; e demonstrar se realmente os
resultados apresentam relação com a consecução das metas da empresa.
Importante
Gil (2006) assinala que a avaliação pode ser considerada um dos
aspectos mais críticos do treinamento. Por ser uma atividade delicada
e complexa, costuma ser delegada a segundo plano ou realizada de
maneira superficial.
Todo o treinamento formal deve ser avaliado, deve-se verificar se os
objetivos foram alcançados; se os treinandos assimilaram o que lhes foi transmitido;
se o que foi aprendido será útil para o treinando e a organização;
se o responsável pelo treinamento correspondeu ao que dele se esperava; se
haverá ou não retorno para a empresa em virtude do treinamento; se ele deve
ser repetido no futuro, de que forma e para qual público-alvo. Entretanto, a
– 105 –
Administração de Pessoas
principal avaliação deve ser em relação à melhoria nas atitudes e nos resultados
obtidos pelas pessoas que receberam o treinamento (LACOMBE, 2011).
A avaliação de treinamento é um dos grandes desafios da área de Gestão
de Pessoas, pois consiste em como demonstrar e quantificar os resultados
obtidos em programas de treinamento. Assim, poderá se verificar sua eficácia
e o atendimento das necessidades apontadas na etapa do levantamento das
necessidades, bem como mensurar o grau de impacto no desempenho individual,
da equipe e da organização (CHIAVENATO, 2008).
7.2 Desenvolvimento de
Pessoal e Organizacional
O processo de treinamento pode ser entendido de uma maneira mais
abrangente a partir da denominação de Processo de Treinamento e Desenvolvimento
(T&D). Podemos, de certa forma, entendê-los como atividades
complementares, porém o desenvolvimento de pessoal está mais focalizado no
crescimento do empregado e visa à carreira futura e não apenas o cargo atual
(CHIAVENATO, 2008). Em relação aos principais métodos utilizados para o
desenvolvimento de pessoas, destacam-se: rotação de cargos; posição de assessoria;
aprendizagem prática; atribuição de comissões; participação em cursos e
seminários externos; exercícios de simulação; tutoria; coaching e mentoring.
Importante
O coaching consiste no desenvolvimento da capacidade e habilidade
de cada um. O processo é conduzido por um coach, profissional credenciado
e certificado para exercer tal função, em sessões que levam
o indivíduo ou o grupo a atingir metas e objetivos, desenvolvendo a
capacidade e despertando o potencial infinito que existe em cada um.
Já o mentoring é um tipo de orientação, em que um profissional mais
velho, mais experiente, orienta os jovens. Neste processo, a condução é
feita por um especialista em determinada área que dará instruções, dentro
de sua experiência, aos mais jovens, visando crescimento profissional.
Fonte: <www.administradores.com.br/noticias/carreira/entenda-a-
-diferenca-entre-coaching-e-mentoring/53772>.
– 106 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de desenvolvimento)
O Desenvolvimento Organizacional (DO) pode ser definido como uma
técnica que tem como objetivo conseguir implantar mudanças de forma eficaz.
Trata-se de uma estratégia educacional complexa, baseada na experiência,
que utiliza meios mais amplos possíveis de comportamento e que busca
mudar as crenças, as atitudes, os valores e a estrutura das organizações para
que elas possam se adaptar melhor aos novos mercados, tecnologias e desafios
da nova economia (LACOMBE, 2011).
Para Chiavenato (2008), o DO se refere à maneira como as organizações
aprendem e se desenvolvem através da mudança e da inovação. Trata-se
de uma abordagem especial de mudança, nas quais os próprios funcionários
formulam a mudança necessária e a implantam. Quanto ao seu processo, é
preciso seguir três etapas.
1. Diagnóstico: a partir da pesquisa sobre a situação atual. Geralmente,
o diagnóstico é uma percepção a respeito da necessidade de
mudança na organização ou em parte dela.
2. Intervenção: uma ação para alterar a situação atual. Geralmente, a
intervenção é definida e planejada através de workshops e discussões
entre as pessoas e os grupos envolvidos para determinar as ações e
os rumos adequados para uma mudança.
3. Reforço: um esforço para estabilizar e manter a nova situação através
de retroação. Geralmente o reforço é obtido através de reuniões
e avaliações periódicas que servem de retroinformação a respeito de
mudança alcançada.
No que diz respeito às técnicas que podem ser utilizadas, Chiavenato
(2008) cita: o treinamento da sensibilidade; análise transacional; desenvolvimento
de equipes; consultoria de procedimento; reunião de confrontação; e
retroação de dados.
Resumindo
Na nova economia, o desenvolvimento humano representa vantagem
competitiva. O sucesso das organizações, sua competitividade e sustentabilidade
dependem, diretamente, do conhecimento das pessoas que ali estão
– 107 –
Administração de Pessoas
inseridas. É preciso, continuamente, aperfeiçoar-se para acompanhar a rapidez
das mudanças do mercado e do desenvolvimento tecnológico.
As empresas que não se preocuparem com seu desenvolvimento poderão
enfrentar dificuldades competitivas por falta de pessoas competentes
e qualificadas. O Subsistema de Desenvolvimento é aquele que vai tratar
justamente destes assuntos, ou seja, da necessidade de qualificação constante
a partir das atividades de treinamento, desenvolvimento de pessoal e
desenvolvimento organizacional.
– 108 –
8
Processos de gestão de
pessoas (subsistema
de controle)
Na era da nova economia, as organizações precisam se renovar
constantemente, para que consigam ser capazes de acompanhar
as mudanças e, consequentemente crescer, inovar, aperfeiçoar seus
processos e alcançar excelência operacional. Para mensurar, avaliar
e controlar o desempenho (tanto das pessoas como de suas operações),
podem ser utilizados bancos de dados, sistemas de informações
gerenciais e processo de auditoria.
O constante monitoramento das pessoas e de suas ações
viabiliza a detecção de problemas, a realização de ajustes e de melhorias
constantes. Cabe, portanto, ao Subsistema de Controle realizar
sistemáticas ações que forneçam informações sobre quem são e o
que fazem as pessoas ali inseridas.
Administração de Pessoas
Objetivo de Aprendizagem
22
Analisar, compreender e descrever as características das principais
atividades pertinentes ao subsistema de controle.
8.1. Subsistema de controle
O quinto Subsistema de Gestão de Pessoas está voltado para a função
controle, uma vez que busca a monitoração da ação humana na organização,
tendo como parâmetro o alcance de objetivos organizacionais. Este subsistema
é responsável por todo o sistema informacional de RH, como: registros
e controles de pessoal, banco de dados, sistemas de informações gerenciais
sobre pessoal e auditoria de RH.
Figura 1: Estrutura do Subsistema de Controle.
Fonte: Shutterstock (2014).
As informações ali geradas poderão servir de subsídios para a tomada de
decisão com foco na excelência operacional. Além de possibilitar a resolução de
problemas prontamente detectados, o controle de pessoal pode ter um caráter
preventivo. Isso porque as demandas judiciais e infrações administrativas poderão
ser evitadas ao se constatar algo errado a tempo de se fazer as correções necessárias.
Chiavenato (2008) reforça a ideia de que, para que a organização assuma
diversas responsabilidades de linha em relação ao pessoal, deve existir um sub-
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Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
sistema de controle de recursos humanos. É à alta administração que cabem as
decisões sobre a dinâmica e os destinos da organização e dos recursos disponíveis
ou necessários. No nível departamental, a responsabilidade pela gestão dos
subordinados cabe a cada executivo de linha, por exemplo, o gestor responsável
pela área (produção, vendas, finanças, marketing etc.). Assim, a responsabilidade
pelas pessoas ali inseridas é compartilhada por toda a organização.
Figura 2: Responsabilidade de linha.
Fonte: Shutterstock (2014).
Vamos fazer uma reflexão: você concorda que a palavra “controle” tem
uma conotação de severidade e rigidez, associando o ato de controlar à ação
de fiscalizar? É por isso que Chiavenato (2008) sugere que se utilize a expressão
“monitorar”, uma vez que ela remete à ideia de acompanhamento e orientação
de determinado comportamento para chegar aos resultados que devem
ser alcançados. Deste modo, o processo de monitoração pode levar em consideração
diferentes variáveis à medida que se assume um controle mais rígido
ou um acompanhamento com liberdade e descentralização.
Saiba mais
Na organização linha-staff, coexistem órgãos de linha (órgãos de execução)
e de assessoria (órgãos de apoio e de consultoria) mantendo
relações entre si. Os órgãos de linha caracterizam-se pela autoridade
linear e pelo princípio escalar, enquanto os órgãos de staff prestam
assessoria e serviços especializados. Fonte: Chiavenato (2004).
– 111 –
Administração de Pessoas
Para manter um monitoramento eficaz e eficiente, a organização precisa
dispor de um banco de dados ou sistema de informação de Gestão de Pessoas
que tragam resultados e informações precisas, conforme o perfil e a necessidade
da empresa. Tendo as informações necessárias, torna-se possível tomar decisões
que satisfaçam as pessoas e ajudem a perseguir os objetivos organizacionais.
Para fins de exemplificar como a adoção do banco de dados pode contribuir
para a competitividade organizacional, pensemos na seguinte situação. A
empresa Sabor e Deleite utiliza seu sistema de informação para monitorar um
conjunto de cargos. O objetivo dessa ação é saber se as tarefas foram cumpridas
conforme o esperado. A informação gerada poderá ajudar no desenvolvimento
de competências. Ao conhecer as competências de cada funcionário, a
organização pode também fazer determinados remanejamentos para aproveitar
o máximo de sua capacidade em seu próprio favor, além de que é sabido
que pessoas satisfeitas com o que fazem produzem melhor.
Chiavenato (2008) destaca que é importante que exista um banco de
dados, sobre os recursos humanos, que seja capaz de abastecer um sistema
de informações sobre o pessoal, além de um sistema de auditoria capaz de
regular o desempenho operacional.
8.1.1 Registros e controles de pessoal (banco de dados)
A base de sustentação do sistema de informações é o banco de dados. A exemplo
da figura a seguir, a ideia do banco de dados é poder contar com um aplicativo
que forneça informações a respeito de quem são e o que fazem as pessoas que trabalham
na organização. Segundo Chiavenato (2008), o banco de dados funciona
como um sistema de armazenamento e acumulação de dados devidamente codificados
e disponíveis para o processamento e a obtenção de informações.
Figura 3: Banco de dados de pessoal.
Fonte: Shutterstock (2014).
– 112 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Um banco de dados sobre as pessoas deve ser desenhado de forma a
prover informações gerenciais que subsidiem decisões relacionadas ao alcance
dos objetivos organizacionais. Além disso, o banco de dados poderá gerar
informações estratégicas especificamente para a área de Gestão de Pessoas.
Por outro lado, ele é visto como uma ferramenta de grande valia a vários
membros de uma organização, uma vez que dá um suporte aos gerentes de
linha e aos funcionários, permitindo a visualização de desempenho e escolha
de melhores decisões; e ao administrativo, possibilitando reduzir custos e
tempo de processamento da informação.
Um processo de Gestão de Pessoas eficaz requer a utilização de vários
bancos de dados interligados que permitirão obter e armazenar dados a respeito
de diferentes estratos ou níveis de complexidade. Por exemplo, dados
sobre o cadastro de pessoal, cadastro de cargos, cadastro de seções (unidades
administrativas), cadastro de remuneração, cadastro de benefícios e cadastro
médico, conforme ilustrado na figura a seguir.
Figura 4: Exemplo de banco de dados.
Bancos de Dados
Cadastro de Pessoal
Entrada de dados
Cadastro de Cargos
Cadastro de Seções
Cadastro de Remuneração
Cadastro de Benefícios
Saída de informações
Cadastro Médico
Fonte: Chiavenato (2008).
Com base na figura anterior, podemos acrescentar que os diferentes
cadastros serão alimentados com dados sobre os ocupantes de cada cargo;
– 113 –
Administração de Pessoas
sobre os funcionários de cada seção, departamento; sobre os salários e incentivos
salariais; sobre os beneficiados e serviços sociais; programas de treinamento;
sobre candidatos ao emprego; e sobre consultas e exames médicos de
admissão, exames periódicos etc.
Figura 5: Exemplo de dados referentes ao cadastro de pessoal.
Bancos de Dados
Identificação pessoal:
Nome
Endereço
Data e local de nascimento
Nacionalidade
Filiação
Estado Civil
Nome da Esposa e Filhos
Data e local de nascimento
da esposa e filhos
Dados de Admissão:
Data de Admissão
Cargo inicial
Salário inicial
Nº de dependentes
Empresas onde trabalho
Nº de registro
Nº de conta bancária
Equipe de trabalho
Dados pessoais:
Empresas onde trabalhou
Datas de admissão e demissão
Endereços
Cargos ocupados
Salários percebidos
Escolas onde estudou
Cursos feitos e completados
Datas de início e conclusão
Fonte: Chiavenato (2008).
Dados de progresso:
Cargos ocupados
Progresso na carreira
Avaliação do desempenho
Cursos internos efetuados
Cursos externos efetuados
Resultados nos testes de seleção
Conhecimentos
Habilidades e capacidades
Chiavenato (2008) assinala que podem existir outros tipos de cadastros
dependendo das necessidades da organização, da área de Gestão de Pessoas,
dos gerentes de linha e dos próprios funcionários.
8.1.2 Sistemas de informações gerenciais sobre pessoal
A Tecnologia da Informação pode ser vista pelas empresas da nova economia
como um recurso estratégico na busca da eficiência e inovação, uma
vez que ela propicia a implantação de novos modelos de Gestão de Pessoas
nas organizações.
– 114 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Saiba mais
Além disso, softwares como o Business Intelligence (BI) também
podem ser considerados ferramentas importantes para o
suporte à decisão empresarial. Com o BI aplicado à gestão
por competências, é possível obter informações, tais como:
em que áreas existem riscos de falta de competências, quais
competências devem ser priorizadas em processos de seleção
e treinamento, que competências serão perdidas com aposentadorias
e desligamentos. Fonte: Alho e Carvalho (2007).
Para Alho e Carvalho (2007), ferramentas de TI podem ajudar na
identificação das habilidades e competências do quadro funcional de uma
organização, no relacionamento das competências individuais com as competências
essenciais da empresa, no recrutamento e seleção e na identificação
de necessidades de treinamento. Um exemplo disso seria a criação de
um banco de dados de currículo, para que, quando fosse necessário aumentar
o quadro de pessoal, a empresa conseguisse rapidamente selecionar as
pessoas e suprir a carência existente.
Milkovich e Boudreau (2000) afirmam que existem sistemas específicos
para gestão por competências que abrangem todo o processo desde o
planejamento e a definição do escopo de gestão, passando pelas etapas de
mapeamento de processos, estruturas e competências (individuais e organizacionais),
identificação de necessidades de desenvolvimento de competência
e definição de planos de desenvolvimento e acompanhamento dos resultados.
Esses sistemas também podem estar inseridos em módulos de ERPs
ou fazer parte de Sistemas de Informação de Recursos Humanos (SIRH).
Ambas as possibilidades têm como objetivo proporcionar informações que
são demandadas por interessados em informações sobre os recursos humanos
ou apoiar as decisões tanto da área de Gestão de Pessoas quanto da
organização como um todo.
Enterprise Resource Planning (ERP): são sistemas integrados
de gestão ou que controlam toda a empresa, da produção a
– 115 –
Administração de Pessoas
finanças, registrando e processando cada fato novo na engrenagem
corporativa e distribuindo a informação de maneira clara e segura,
em tempo real. Sua adoção está vincula ao objetivo de melhorar
os processos de negócios usando tecnologia da informação.
Fonte: Lima et al. (2000).
Sistema de informação de RH é um sistema utilizado para coletar, registrar,
armazenar, analisar e recuperar dados sobre os recursos humanos da organização.
Existem dois objetivos básicos para o sistema de informação sobre os
funcionários: reduzir os custos do tempo do processamento da informação e
subsidiar a tomada de decisão.
O uso de Sistemas de Informação Gerencial (SIG) oferece à área de
gestão de pessoas a possibilidade de assumir um papel estratégico para a
organização e desenvolver estratégias de gestão de pessoas alinhadas aos
objetivos do negócio, agregando valor ao negócio e gerando um diferencial
competitivo. Trata-se de um sistema planejado para colher, processar,
armazenar e disseminar informação, de modo a permitir a tomada
de decisões eficazes pelos gerentes de linha envolvidos (CHIAVE-
NATO, 2008).
Saiba mais
Como especialistas em administração, os gestores de RH devem
repensar a maneira como os processos de gestão de pessoas são
realizados. Os sistemas de informação seriam uma ferramenta para
reformular e reestruturar tais processos, na medida em que sua
utilização pode reduzir custos e aumentar a agilidade do acesso às
informações. Fonte: Mascarenhas e Vasconcelos (2004).
O SIG é um sistema de informações mais abrangente sobre a força de
trabalho e serve para análises e ações de Gestão de Pessoas. Inicialmente é
preciso saber exatamente quais são as necessidades de informação para a
Gestão de Pessoas. Geralmente, tal sistema engloba os seguintes pontos:
– 116 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas; formação de objetivos e
programas de ação de pessoal; registros e controles de pessoal para efeito
de folha de pagamento; administração de férias; 13 o salário; faltas e atrasos;
relatórios sobre remuneração; incentivos salariais; benefícios; recrutamento
e seleção; plano de carreiras; treinamento e desenvolvimento;
higiene e segurança do trabalho; área médica; e relatórios sobre cargos e
áreas (CHIAVENATO, 2008).
O objetivo de um SIG é identificar as informações necessárias aos
níveis estratégicos, táticos e operacionais e os subsistemas que devem
gerar informações para o planejamento, organização, direção e controle
(OLIVEIRA, 1993).
O mesmo autor assinala que o SIG pode servir tanto aos gerentes
quanto aos funcionários. Por exemplo, os gerentes terão acesso a informações
dos seus subordinados, tais como: quanto eles ganham; quando foram
admitidos na empresa; quais sãos suas experiência profissionais; quais são
as suas habilidades e seus conhecimentos; quais as metas e os objetivos a
alcançar; quanto falta para eles completarem as metas; quem pode receber
novas responsabilidades; que tarefas poderão receber no futuro.
Já em relação aos funcionários, eles também poderão acessar e receber
informações a respeito de seu trabalho, cargo, divisão e a respeito da organização.
Para tanto, o sistema de informações precisa ser ajustado às suas necessidades
e conveniências. Assim, têm-se como exemplos as seguintes informações que
cada um deles poderá ter acesso: qual é o seu salário mensal; qual é o seu cargo;
quais são as suas possibilidades de carreira; quais são os programas de treinamento
a fazer; quais são as suas avaliações de desempenho; quanto falta para
completar as metas; quanto ele tem de depósitos no FGTS; qual o seu potencial
de desenvolvimento.
Com base nos exemplos dos diferentes tipos de informações geradas
pelos sistemas de informações, é possível constatar que todos os subsistemas
de gestão de pessoas estão intimamente relacionados entre si, de
tal modo que se interpenetram e se influenciam reciprocamente. Cada
uma das atividades de cada um dos cinco subsistemas tende a favorecer
ou prejudicar as demais, quando bem ou mal executadas. Portanto, um
subsistema é complemento do outro, pois todos estão interligados. Os
– 117 –
Administração de Pessoas
resultados finais desejáveis pela organização dependem do funcionamento
harmônico de todos os cinco subsistemas que compõem o sistema de Gestão
de Pessoas.
8.1.3 Auditoria (avaliação da função
de Gestão de Pessoas)
Segundo Chiavenato (2008), a auditoria da função de Gestão de
Pessoas diz respeito à análise das políticas e práticas de pessoal de uma
organização e avaliação do seu funcionamento, seguida de sugestões
de melhorias.
Em outras palavras, o objetivo da auditoria não é apenas indicar as
falhas, mas também apontar sugestões e soluções, contribuindo para a
sensibilização dos gestores em relação à possibilidade de se obter um diagnóstico
antecipado de possíveis problemas.
A finalidade de uma auditoria na área de Gestão de Pessoas é avaliar
tal função e melhorar a qualidade dos programas e serviços oferecidos. Tal
fato pode ser observado através da análise das políticas e práticas de pessoal
das organizações e avaliação do seu funcionamento atual, bem como
de prognósticos para ação futura.
Prognósticos: que traça o provável desenvolvimento
futuro ou o resultado de um processo.
Fonte: Houaiss (2009).
Pensando em uma aplicação prática, agora você conhecerá um
modelo de auditoria de Gestão de Pessoas, elaborado a partir do MEG/
FNQ, proposto por Couto e Salles (2005), que permite aos gestores identificar
onde melhorias podem ser realizadas no processo de gerir pessoas.
Até mesmo identificar potenciais talentos na organização, tendo como
consequência dessas ações a instalação de um clima organizacional motivador
e desafiador.
– 118 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Saiba mais
O MEG é o Modelo de Excelência em Gestão, desenvolvido pela
FNQ (Fundação Nacional da Qualidade). Trata-se de um modelo sistêmico
assentado em oito critérios: liderança, estratégias e planos, clientes,
sociedade, informações e conhecimentos, pessoas, processo e resultados.
Fonte: <www.fnq.org.br>.
Couto e Salles (2005) se basearam na ferramenta PDCA para elaboração
de sua proposição de um modelo de auditoria a partir do MEG.
Como o modelo foi ajustado para o processo de auditoria da função de
pessoal, utilizou-se apenas a dimensão Pessoas, incluindo três itens de avaliação
(sistemas de trabalho; capacitação e desenvolvimento; e qualidade
de vida).
Estes itens foram analisados, estudados profundamente e desdobrados,
permitindo a criação de 300 indicadores de Gestão de Pessoas.
Os itens avaliados foram categorizados em: práticas adequadas (PA),
parcialmente adequadas (PPA) e inadequadas/inexistentes (PI), de modo a
facilitar os trabalhos de avaliação do auditor.
Saiba mais
O PDCA (Plan, Do, Check, Action) é uma ferramenta, utilizada
frequentemente na Gestão da Qualidade Total, que tem como
objetivo balizar os processos de melhoria sistematizados.
Fonte: Campos (1992).
Além disso, os autores desenvolveram quatro instrumentos (check
list, relatório, auditograma e plano de ação de melhoria) a serem utilizados
para apoiar o processo de auditoria.
Destaca-se que o modelo proposto pode ser aplicado para auditar as
atividades dos cinco Subsistemas de Gestão de Pessoas.
– 119 –
Administração de Pessoas
Figura 6: Check list para registro dos itens avaliados na auditoria do Subsistema
de Provisão.
Subsistema I: Provisão de Recursos Humanos
SUMÁRIO: Este subsistema é constituído por um conjunto de atividades e
processos relacionados ao suprimento de pessoas para a organização
REFERÊNCIAS BÁSICAS: normas ou rotinas ligadas ao planejamento de RH,
mercado de trabalho, recrutamento, seleção e admissão de colaboradores
QUESITOS DE AVALIAÇÃO
a. Planejamento de recursos humanos
1. normas ou rotinas sobre previsão/estimativa de mão de
obra futura (direta/indireta)
2. mapas de substituição ou previsão de novas vagas
(promoções, ampliação de atividades, aposentadoria,
licenças, etc)
3. acompanhamento do fluxo de movimentação de
empregados (entradas, saídas, transferências, promoção, etc)
4. normas ou políticas de promoções (verticais e horizontais)
5. planejamento de redução de mão de obra, decorrente de
redução de atividades ou impacto tecnológico
6. definição de fontes supridoras de pessoal (escolas,
sindicatos, associações, agências de emprego, mercado, etc)
7. critérios de dimensionamento da força de trabalho
8. rotina de autorização superior para abertura de processo
seletivo
9. justificativas/preferências de execução de processo seletivo
interno e/ou externo (fundação, consultorai, faculdade, etc)
10. previsão orçamentária para novas admissões
11. observância de obrigações legais de admissão (deficientes
físicos, surdo-mudo, deficientes mentais, etc)
AVALIAÇÃO*
COMENTÁRIOS:
* PA(Práticas Adequadas); PPA (Práticas Parcialmente Adequadas) ou
PI (Práticas Inadequadas)
Fonte: Couto e Salles (2005)
– 120 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Auditograma: diagrama que mostra a avaliação de cada
quesito e, ao mesmo tempo, permite a observação comparativa
entre eles, conforme ilustrado na figura a seguir.
Subsistema I: Provisão de Recursos Humanos
Quesitos Avaliados: Planejamento de RH e Recrutamento de Pessoas
(30 quesitos)
28
29
30
1
2
3
4
5
27
6
26
7
25
8
24
9
23
10
22
11
21
20
19
18
17
16
15
14
13
12
PRÁTICAS ADEQUADAS (PA)
PARCIALMENTE ADEQUADAS (PPA)
INADEQUADAS/INEXISTENTES (PI)
Fonte: Couto e Salles (2005).
Em relação ao PDCA, é importante esclarecer que na fase P ocorre a
identificação do problema, reconhecimento de suas características, desco-
– 121 –
Administração de Pessoas
berta de suas causas principais que impedem o alcance das metas e plano de
ação. Na fase D, tem-se a ação propriamente dita, ou seja, a atuação conforme
o plano de ação para bloquear as causas do problema identificadas anteriormente.
Na fase C é a vez da verificação, ou seja, a confirmação da efetividade
do plano de ação para ver se as causas foram bloqueadas. Já na fase A, são
duas as etapas: a de padronização e a de conclusão. Na etapa de padronização,
caso o bloqueio tenha sido efetivo, acontece a eliminação definitiva das causas
para que o problema não reapareça. Caso contrário, retorna-se para a fase P.
Na etapa de conclusão, acontece a revisão das atividades e planejamento para
trabalhos futuros (CAMPOS, 1992).
Retomando a explicação da proposta de Couto e Salles (2005), os processadores
do modelo apresentado, baseado no PDCA, são pré-auditoria (P),
execução (D), pós-auditoria (C) e monitoramento (A). Acompanhe a seguir
as descrições de cada dessas quatro fases do processo de auditoria aplicados
no Subsistema de Provisão.
1. Planejamento de auditoria (Plan): tem como objetivo buscar
conhecimento do item a ser auditado. Os auditores utilizam manuais,
procedimentos e até mesmo instruções de trabalho, com fins de
entender como funciona o processo de gestão de competências da
organização. Uma vez entendida a complexidade deste processo,
eles devem planejar a auditoria, avaliando o tempo necessário para
realizar a análise documental e entrevistas e, assim, entregar aos
auditados a agenda de auditoria.
2. Realizando a auditoria (Do): o sucesso da auditoria dependerá
da abordagem dos auditores no momento em que a realizam.
É importante conhecer o objetivo da alta administração
para saber exatamente o que focar e assim relatar a situação em
que o processo se encontra. Os auditores devem ser perspicazes
em levantar uma série de questões que são fundamentais na
gestão das competências. Após terem sido realizados todos os
questionamentos, são necessários que os auditores elaborem
um relatório, com o objetivo de dar continuidade no processo
de comunicação dos resultados de auditoria. É importante que
todos os registros sejam relatados, tais como: observações, não
conformidades e oportunidades de melhoria para o processo.
– 122 –
Processos de gestão de pessoas (subsistema de controle)
Saiba mais
Os auditores devem ter em mente que decisões fundamentais sobre a
Gestão de Pessoas serão tomadas com base no relatório de auditoria. A
alta administração decidirá se as atividades de pessoal estão de acordo
com o esperado e, caso contrário, agirão para que mudanças sejam realizadas.Fonte:
Couto e Salles (2005).
3. Verificar (Check): com posse do relatório de auditoria, os gestores
de pessoas verificam se as ações corretivas foram tomadas, se
demonstraram ser e permaneceram eficazes e se foram adequadamente
documentadas e comunicadas às partes interessadas. Os
auditores, por sua vez, não devem considerar a auditoria completa
até que os apontamentos levantados e descritos no relatório
tenham sido satisfatoriamente realizados e, além disso, possam ser
consideradas eficazes.
4. Agir (Act): a parte final da auditoria é quando os auditores realizam
o acompanhamento das ações após o prazo acordado ter findado,
para verificar se ação corretiva eficaz ocorreu; se não, qualquer que
tenha sido o motivo, os auditores devem entrar em contato com a
alta administração para discutir sobre o fato ocorrido. Isso deve ser
realizado pessoalmente, pois a alta administração não detém conhecimento
técnico do que foi abordado no relatório, nem mesmo
consegue compreender todos os benefícios auferidos à organização,
caso a área de Gestão de Pessoas realize todas as ações recomendadas
de assertiva.
Como vimos, a partir do modelo proposto por Couto e Salles (2005),
o processo de auditoria de Gestão de Pessoas busca um embasamento para
verificar os registros e os índices estatísticos da organização. Neste sentido, a
auditoria fornece uma sistemática de controle e de (re)planejamento tanto
por parte da área de pessoal quanto por parte da alta-administração.
Lacombe (2011) acrescenta que o processo de avaliação de Gestão de Pessoas
deve ter como ponto de partida os objetivos estratégicos da organização,
visando a compreensão da cadeia de valor de Gestão de Pessoas, ou seja, o modo
– 123 –
Administração de Pessoas
como as pessoas agregam valor à organização e, em última instância, alavancando
o alcance de tais objetivos. Com base nas informações geradas no processo de
auditoria, são identificadas medidas necessárias que contribuirão para o desempenho
efetivo das pessoas ali inseridas na direção dos resultados organizacionais.
Conclui-se, portanto, com base em Soares et al. (2009), que a auditoria
de pessoal pode ser utilizada em diversas áreas da empresa, ajudando a
alta-administração de diferentes formas, tais como: acompanhar os modelos
já estabelecidos para serem utilizados como comparação, com o objetivo de
mensurar os resultados e possíveis irregularidades; estudar a melhor política
de gestão de pessoas; verificar a implementação das políticas de recrutamento
e política de cargos e carreira; avaliar o processo de treinamento e desenvolvimento
de pessoas; monitorar e avaliar o desempenho profissional; acompanhar
a gestão de prevenção e controle de riscos de acidentes; averiguar as condições
do ambiente interno vinculado aos aspectos de estrutura física, tecnológica,
cultural e psicossocial; observar a aplicação da legislação e normas trabalhistas;
estruturar os valores institucionais, como código de ética e conduta, normas
operacionais e administrativas; e acompanhar a sua aplicação e executadas integralmente;
e verificar se o Planejamento Estratégico Corporativo está alinhado
ao Planejamento Estratégico de Gestão de Pessoas.
Resumindo
As organizações contemporâneas entendem a importância da Gestão de
Pessoas no que diz respeito ao planejamento e à organização das atividades (em
consonância com a estratégia corporativa) que cada um deve realizar durante
a execução de seu trabalho, bem como pelas condições em que as pessoas realizam
tais atividades.
Nesse sentido, você aprofundou seus conhecimentos principalmente no
desempenho do Subsistema de Controle, que tem fundamental importância,
pois, caberá a ele, por meio do banco de dados, sistemas de informações gerenciais
e auditoria de pessoal, gerar, armazenar e disseminar registros de diversas
naturezas que servirão de reflexo para saber o quanto as pessoas estão contribuindo
para o sucesso da organização. O monitoramento constante resultará
numa série de informações que permitirão que medidas corretivas sejam planejadas
e executadas.
– 124 –
9
Conflito, negociação
e comportamento
entre grupos
As relações interpessoais são decisivas em qualquer setor.
Seus desdobramentos podem causar retorno positivo ou negativo.
Diferentemente do que se pensava na era da administração científica,
o conflito é algo inerente à natureza humana e, a priori, ele
nem é mau nem bom. A conotação negativa muitas vezes atribuída
aos conflitos é fruto de uma administração inadequada deles.
O modo como ele é gerido tem implicação direta em suas consequências.
Ou seja, quando bem administrado, poderá resultar
em aprendizagem, cooperação e transformação tanto das pessoas
quanto do ambiente organizacional.
Entretanto, antes de você pensar sobre as formas que
podem ser adotadas para gerir uma situação conflituosa, é necessário
primeiramente conhecer suas causas. Só, então, você poderá
pensar qual deverá ser a estratégia utilizada para solucioná-la.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Entender, refletir e saber definir o conflito como um fenômeno inerente
à natureza humana e conhecer estratégias para solucioná-lo.
9.1 Conflito e comportamento entre grupos
Sentimentos, forças e interesses diversos, posições antagônicas, divergência
de percepções, de ideias, de procedimentos, de objetivos, contribuem para
que o conflito se manifeste nas relações entre as pessoas, portanto, podendo
estar presente em diferentes contextos e instituições.
Conforme Chiavenato (2008) e Moscovici (1998), a palavra “conflito”
está relacionada à discórdia, divergência, dissonância, controvérsia ou ao antagonismo.
Para os mesmos autores, a vida humana é uma eterna sucessão de
conflitos. Em suas interações, frequentemente as pessoas, os grupos ou as organizações
estão envolvidas em alguma forma de conflito. Schermerhorn et al.
(1998) acrescentam que diante do fato de as pessoas trabalharem juntas diariamente,
é esperado o surgimento de diferentes opiniões e de percepções acerca
de um mesmo estímulo, assim, comum a discordância sobre metas, recursos,
políticas e procedimentos. Portanto, lidar com conflitos, certamente, é um
Figura 1: O gerente e o desafio de lidar com os conflitos. desafio para os gestores e, ao
mesmo tempo, uma oportunidade
de aprendizado e
um desenvolvimento para a
organização.
Robbins (2008) entende
que conflito é um processo
iniciado quando uma
das partes percebe que a
outra parte é afetada ou
pode afetar negativamente
algo que a primeira considera
importante. Ou, ainda,
na visão de Chiavenato (2008), o conflito constitui uma interferência ativa ou
passiva, mas deliberada para impor um bloqueio sobre a tentativa de outra parte
de alcançar seus objetivos.
– 126 –
Fonte: Shutterstock (2014).
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
Bowditch e Buono (2004) chamam a atenção ao fato de que a presença
do conflito, em geral, não deve necessariamente ser entendida como algo
problemático ou ruim. Uma situação conflituosa pode influenciar os membros
de um grupo ou uma equipe, levando-os a ter novas ideias sobre os
processos organizacionais, a serem mais criativos ao lidar com problemas do
ambiente laboral, criando oportunidades para as pessoas colocarem em prática
suas capacidades.
É importante entender que esta compreensão a respeito do conflito nem
sempre foi assim. Na visão tradicional, ele tinha uma conotação negativa.
Durante os anos 1930 e 1940, o conflito era visto como um resultado disfuncional
decorrente da comunicação deficiente, de falta de abertura e confiança
entre as pessoas e falha dos gerentes de responderem às necessidades e expectativas
de cada indivíduo.
No período da escola de Relações Humanas, final dos anos 1940 até
meados da década de 1970, o conflito era entendido como ocorrência natural
em todos os grupos e organizações. Não podia ser eliminado e, às vezes, podia
beneficiar o desempenho grupal. Já na visão interacionista, o conflito era
estimulado partindo do pressuposto de que um grupo harmonioso, calmo,
tranquilo e cooperativo estava inclinado a tornar-se estático, apático e acomodado.
Um nível mínimo contínuo de conflito poderia manter o grupo viável,
autocrítico e criativo (ROBBINS, 2008).
Saiba mais
Os teóricos clássicos comparavam as organizações a máquinas e
imaginavam o conflito como um sintoma de pane. Fonte: Wagner
e Hollenbeck (2009).
Em relação à sua natureza, os conflitos podem ser individuais, intergrupais
e interorganizacionais. Os conflitos individuais podem ser causados por
dúvidas quanto à realização de uma tarefa ou expectativas além das limitações
pessoais. Os intergrupais podem ser originados pelas diferenças individuais,
recursos limitados, diferenciação de papéis e clima organizacional; e os
conflitos interorganizacionais podem levar a uma rivalidade hostil ou a uma
– 127 –
Administração de Pessoas
competição benévola, por exemplo, gerando novos produtos, tecnologias,
baixando preços e maximizando os recursos (ROBBINS, 2008).
Você sabia
Na opinião dos especialistas em Gestão de Pessoas, as principais
fontes de conflitos são:
22
escassez de recursos;
22
situações de interdependência;
22
falta de informação ou comunicação falha;
22
falta de clareza nas responsabilidades e funções;
22
valores e cultura da empresa são distintos e podem não condizer
com os de seus empregados;
22
situações de imposição de poder e força;
22
oscilações no clima interno e nas relações estabelecidas dentro da
organização;
22
conflitos encobertos;
22
clima competitivo ou de “escassez” de reconhecimento;
22
divergências de estilos, habilidades e competências de atuação tanto
entre líderes quanto entre os empregados da organização;
22
existência de inseguranças internas por medo de
“perder” (controle, poder).
Fonte: InfoMoney (2010).
Pode-se dizer que as situações de conflito surgem por inúmeros pretextos
que Chiavenato (2008) denomina como condições antecedentes. Essas
condições tendem a criar percepções diferentes entre indivíduos e grupos e
constantemente estão presentes seja em função da ambiguidade de papel; de
objetivos concorrentes; de recursos compartilhados; e da interdependência de
atividades. O processo de conflito pode ser ilustrado na figura a seguir.
– 128 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
Figura 2: Processo de conflito.
Condições
antecedentes
Percepção
de conflito
Comportamento
de conflito
de uma das parte
Comportamento
da outra parte
EPISÓDIO
DE CONFLITO
Resolução
Resultado
Fonte: Chiavenato (2008, p. 457).
Com base na próxima figura, Chiavenato (2008) explica que as condições
antecedentes podem influenciar as percepções dos envolvidos da
seguinte forma: em relação à ambiguidade de papel quando as pessoas percebem
que estão desenvolvendo atividades com propósitos inconciliáveis,
quando, por exemplo, para elas não fica clara sua expectativa em relação ao
trabalho executado.
Robbins (2008) e Bernardes (1988) ressaltam que as ações e reações são
frutos dos conflitos e podem resultar em consequências tanto disfuncionais
ou desagregadoras quanto funcionais ou agregadoras, para as partes envolvidas.
Nesse sentido, podemos dizer que para muitos conflitos o que pode
determinar a diferença entre consequências destrutivas ou construtivas está
na forma como eles são geridos.
Por conflitos funcionais entendem-se aqueles que protegem os objetivos
do grupo e melhoram seu desempenho, já os disfuncionais atrapalham o
desempenho grupal.
Para Bernardes (1998), entre os efeitos desagregadores destacam-se
o aumento do ressentimento pessoal e entre os grupos; destruição dos
– 129 –
Administração de Pessoas
oponentes com prejuízos recíprocos; inibição dos canais de cooperação;
sonegação de informações; e desvios das metas de produção para as de
retaliação. Já entre os efeitos agregadores, têm-se a definição de questões
pendentes; condução à resolução de questões; aumento da coesão grupal;
estabelecimento de alianças; e atenção dos grupos para os interesses de
seus membros.
Na visão de Chiavenato (2008), o resultado do conflito é positivo
quando estimula grupos e pessoas a encontrarem meios eficazes, criativos e
Figura 3: Conflito positivo.
inovadores de desenvolverem suas
tarefas; motiva o grupo a praticar
ações em conjunto, torna o grupo
mais coeso, no sentido de solucionar
o conflito. Quando ocorre
como uma forma de chamar a
atenção para as áreas problemáticas
da empresa e os indivíduos utilizam
o conflito como instrumento
de correção para evitar problemas
mais graves.
Fonte: Shutterstock (2014).
Por outro lado, ainda segundo
Chiavenato (2008), um conflito
pode trazer resultados negativos
quando gera consequências que
impedem o bom desenvolvimento
da empresa, uma vez que as pessoas e os grupos podem desenvolver sentimentos
hostis, de frustração e tensão diante de seus esforços e desempenho
bloqueados em uma situação conflituosa.
Outro ponto negativo é quando interfere na produtividade do grupo
e das pessoas, pois as metas ficam de lado e grande parte da energia
originada pelo conflito se dispersa nele mesmo, prejudicando o desenvolvimento
de esforços que poderiam ser aproveitados na realização do
trabalho produtivo. E, também, quando prejudica o funcionamento
organizacional, uma vez que atitudes de cooperação são substituídas por
comportamentos do tipo egoísta, afetando, desse modo, a natureza dos
relacionamentos intergrupais.
– 130 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
Robbins (2008) assinala que para identificar se um conflito é funcional
ou disfuncional é preciso observar o tipo de conflito. Assim, existem três
tipos: de tarefa, de relacionamento e de processo.
Para esse autor, o conflito de tarefa está relacionado aos objetivos do
trabalho e ao conteúdo deste. Revela distorções na execução das atividades. O
conflito de relacionamento diz respeito às relações interpessoais, personalidades,
forma de pensar e agir dos membros envolvidos no conflito; e o conflito
de processo está ligado diretamente à maneira como o trabalho é realizado, às
responsabilidades e aos deveres de cada membro do grupo perante as etapas
de trabalho.
No que diz respeito ao nível de gravidade de um conflito, Chiavenato
(2008) traz a seguinte caracterização: conflito percebido ou latente (ocorre
quando existem diversos objetivos e existem oportunidades de interferência
ou bloqueio de objetivos por parte dos participantes); conflito experienciado
ou velado (ocorre quando as partes envolvidas alimentam sentimentos de
hostilidade, raiva, medo e descrédito, todavia, não é manifestado externamente
de forma clara); conflito manifestado ou aberto (ocorre quando o conflito
é manifestado sem nenhuma dissimulação).
Para evitar que a situação conflituosa se instale ou tome uma proporção
maior, Berg (2007) aconselha a gerentes ou qualquer pessoa que necessite
administrar conflitos no interior
Figura 4: Solução ganha-ganha.
de uma organização que, primeiramente,
procure soluções e não
culpados. Deste modo, possibilita-
-se que se analise a situação, mantendo-se
um clima de respeito.
Entretanto, isto requer o aperfeiçoamento
da habilidade de ouvir
e falar, de ser construtivo ao fazer
uma crítica, evitar preconceitos,
de manter a calma, de reconhecer
o erro quando estiver errado.
Fonte: Shutterstock (2014).
– 131 –
É preciso não ocultar ou
ignorar o conflito e, principal-
Administração de Pessoas
mente, procurar sempre a solução ganha-ganha, ou seja, que as partes envolvidas
encontrem saídas que satisfaçam seus interesses.
9.2 Diversidade da força de trabalho
e diferenças culturais
Como vimos o conflito, pode ser desencadeado por vários motivos,
entre eles destacam-se a diferença de percepções e de interesses das pessoas
que fazem parte da organização. Quanto maior a organização, maior a possibilidade
de ocorrência de discordâncias, uma vez que se tem mais gente com
experiências, crenças, motivações, valores e ideias diversas interagindo. Em
outras palavras, estamos aqui nos referindo à diversidade da força de trabalho.
Portanto, a expressão “diversidade no ambiente de trabalho” diz
respeito a quaisquer características que tornam as pessoas diferentes umas
das outras. Moscovici (1998) afirma que as diferenças individuais trazem
naturalmente diferenças de opinião que podem se expressar através de discordâncias
quanto a aspectos de percepção da tarefa, metas, meios ou procedimentos.
Essas discordâncias podem levar a discussões, tensões, insatisfações
e conflito aberto, ativando sentimentos e emoções mais ou menos
intensos, afetando o clima organizacional.
Diante do exposto, podemos perceber então que a variabilidade é um
conceito importante para o estudo do comportamento organizacional.
Quando falamos sobre a diversidade da força de trabalho, queremos
dizer que são vários os aspectos que diferenciam os trabalhadores de uma
organização. As principais características que os tornam seres únicos dizem
respeito às variáveis físicas, aos padrões emocionais, aos estilos cognitivos e os
níveis do conhecimento e graus de qualificações (ROBBINS, 2008).
Saiba mais
O comportamento organizacional é um campo de estudo que estuda
o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura têm sobre o comportamento
dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse
conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional.
Fonte: Robbins (2008).
– 132 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
A variação dos trabalhadores ocorrem tanto em nível das dinâmicas interindividual
(diferença entre as pessoas) e intraindividual (variação interna de
cada trabalhador). As variações interindividuais estão relacionadas ao sexo, à
idade, à personalidade, á história pregressa, às experiências e vivências dentro
e fora do local de trabalho, e as variações intraindividuais podem acontecer
no decorrer da jornada de trabalho e influenciadas pelas exigências cotidianas
e pelos acontecimentos extra laborais. Elas podem ser influenciadas pelo
desgaste físico, mental e psicológico do trabalhador, acumulado ao longo de
curtos intervalos, e produzindo uma sensação de cansaço ou fadiga crônica.
Também podem ser determinadas não apenas pelo envelhecimento biológico
de cada pessoa, mas, principalmente, pelos efeitos negativos advindos das
condições e da organização do trabalho (AZEVEDO; CRUZ, 2006).
Saiba mais
A diversidade da força de trabalho é uma variável de grande influência no
comportamento das organizações, pois quanto maior a variabilidade entre
as pessoas maior a probabilidade de surgirem situações de conflitos. Portanto,
caberá à organização investir na administração eficaz dos conflitos
de modo a transformá-los em conflitos construtivos.
Em função da inserção de pessoas diferentes na organização, torna-se
necessário o gerenciamento da diversidade cultural no ambiente de trabalho.
É preciso uma mudança na cultura das empresas para que essa diferença
não seja vista como problema, para que pessoas com valores, crenças, costumes
e conhecimentos diferentes sejam respeitadas e tenham liberdade para se
expressar. Saber utilizar a diversidade a seu favor é uma arma estratégica poderosa
para as organizações que tencionam se adequar às inevitáveis e constantes
mudanças do mercado.
9.3 Estratégias de resolução de
conflitos (negociação e mediação)
Para Robbins (2008), a gestão de conflitos pode ser feita desde o não
enfrentamento, atuando de modo a suprimir o conflito, até o comando auto-
– 133 –
Administração de Pessoas
ritário, em que o gestor utiliza-se do seu poder atribuído pelo cargo para
chegar a uma solução.
Conforme Chiavenato (2008), para administrar um conflito organizacional,
pode-se utilizar um dos seguintes estilos: evitação (fuga); acomodação
(resolvem-se pontos simples e deixam-se os problemas maiores para depois);
competitivo (tem-se um comando autoritário de lidar de forma rápida com
o problema ou enfrentar uma decisão impopular); compromisso (ocorre
quando os envolvidos aceitam as perdas e os ganhos da situação); e colaboração
(é utilizado numa situação ganha/ganha, visto que todos os interesses
podem ser reunidos numa solução mais ampla).
Robbins (2008) de forma semelhante à Chiavenato (2008) assinala que,
entre as possíveis estratégias para lidar com os conflitos, destacam-se: fuga (usada
para evitar situações de conflitos); remendo (refere-se a uma tentativa de “ganhar
tempo”, até que o conflito se torne menos emocional. Resolvem-se pontos
menores de discordância, deixando de lado problemas maiores); e confronto
(pode se dar a partir de vários métodos, por exemplo, a negociação
e a arbitragem).
9.3.1 Negociação
A negociação é um método utilizado para análise dos elementos envolvidos
numa situação de conflito e para a escolha da alternativa mais adequada
para resolvê-la. O negociador atua como um mediador que ajuda as partes
envolvidas no conflito a chegar num acordo.
Saiba mais
A negociação é um dos assuntos centrais abordados em Teoria dos
Jogos. A Teoria dos Jogos aborda interações estratégicas, englobando
desde disputas de mercado até negociações de diferentes
naturezas. Um de seus principais elaboradores é o ganhador do
Prêmio Nobel em Economia, John Nash. Fonte: Varian (2012).
Segundo Martinelli (2002), negociação é um processo no qual duas ou
mais partes com objetivos comuns e controversos encontram-se para debater
e discutir ideias e propostas claras com a finalidade de que se consiga um
– 134 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
acordo. Negociação é forma democrática de lidar com as divergências e se
chegar num acordo.
Para Robbins (2008), podem-se utilizar duas estratégias de negociação:
barganha distributiva (é a negociação que tenta convencer o oponente de
que o alvo dele é injusto e o do outro é justo, por isso não pode ser atingido,
e que a melhor solução seria um acordo próximo do seu alvo numa relação
ganha-perde); e barganha integrativa (é a negociação que se dá a partir do
pressuposto de que há um ou mais acordos que podem gerar uma solução do
tipo ganha-ganha).
Chiavenato (2008) destaca que, quando as partes envolvidas no conflito
não são capazes de resolver suas diferenças na negociação direta, deve-se buscar
a ajuda de terceiros que possuem uma visão imparcial, como a figura do
mediador (terceiro neutro que facilita uma solução negociada através do uso
da razão, da persuasão e da proposição de alternativas); do árbitro (um terceiro
em uma negociação com autoridade para ditar um acordo); do conciliador
(um terceiro confiável que oferece um vínculo informal de comunicação
entre as partes oponentes); e consultor (é um terceiro imparcial e habilitado
em administração de conflitos, que busca facilitar a resolução criativa de um
problema por meio da comunicação e da análise).
Conforme Burbrigde et al. (2007), existem cinco etapas do processo
de negociação: preparar, criar, negociar, fechar e reconstruir. A etapa de preparar
está ligada ao planejamento. As etapas de criar e negociar fazem parte
da implementação do planejamento. A etapa de fechamento diz respeito à
conclusão da negociação. A fase da reconstrução pode ser considerada uma
“política inteligente” de investir tempo e atenção na relação dos envolvidos,
uma vez que a maioria das negociações acontece com pessoas que negociarão
novamente num momento futuro.
a. Mediação
A mediação é outra técnica utilizada para resolução de conflitos, entretanto,
o seu grande mérito é a possibilidade de educar e transformar as partes
envolvidas. Em outros termos, trata-se de um método de realinhamento
de divergências existentes entre as partes, no qual se tem a figura de um terceiro,
o mediador, que tem como objetivo não simplesmente solucionar o
conflito, mas principalmente ajudar os envolvidos a planejar possibilidades
– 135 –
Administração de Pessoas
de solução para que eles se sintam responsáveis por sua resolução (FIORELLI
et al., 2008).
Segundo os mesmo autores, seu caráter educativo está relacionado ao
fato de possibilitar a aprendizagem de novas maneiras de se comportar,
uma vez que na mediação, os envolvidos vivenciam uma nova leitura dos
acontecimentos.
O caráter educativo atribuído ao processo de mediação vai ao encontro
dos pressupostos de Senge (2006) a respeito da organização que aprende.
Conforme o autor, a organização que aprende compreende os conflitos como
pontos alavancadores de crescimento decorrente tanto da aprendizagem individual
quanto grupal proporcionadas por tais situações. Nesse caso, os conflitos
não são evitados ou anulados.
Manfredi (2010) acrescenta que a mediação pode ser vista como uma
intervenção que otimiza a comunicação na organização através do gerenciamento
assertivo dos problemas. Como consequência, tem-se um clima de
cooperação, inovação, lealdade e transparência. Em outras palavras, trata-se
de um método utilizado para trabalhar os relacionamentos interpessoais em
situações conflitivas no ambiente laboral.
Em relação à figura do mediador, Fiorelli et al. (2008) assinalam que
suas funções deverão ser de: acolhimento, organização, prestação de informações
e esclarecimentos, administração das participações dos mediandos,
ampliação e compreensão da situação conflitiva, estabelecimento do equilíbrio
emocional, desenvolvimento cooperativo de soluções e favorecimento de
acordos satisfatórios.
Em função das possibilidades de mudança e crescimento possibilitadas
pelo papel do mediador, pode-se dizer que a mediação, assim como a negociação,
é um método que busca um resultado do tipo ganha-ganha.
Podemos observar diante do exposto que, ao lidar com conflitos, a organização
deve ter como preocupação central encontrar um meio que possibilite que
as situações conflitivas sejam administradas de tal modo que se consiga obter
resultado do tipo ganha-ganha. Porém, infelizmente, nem sempre é possível
chegar a relações deste tipo, principalmente quando não existe disposição para a
construtividade/cooperação versus competitividade. Nestes casos, a arbitragem
pode considerada uma das formas mais eficazes de resolução de conflitos.
– 136 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
9.3.2.1 Arbitragem
Para Moore (1998), a arbitragem é um tipo de mediação através de um
processo voluntário em que as pessoas em conflito solicitam a ajuda de uma
terceira parte imparcial e neutra para tomar uma decisão por elas com relação
a questões problemáticas.
Fiorelli et al. (2008) comentam que a opção pelo método da arbitragem
para resolver conflitos organizacionais é justificada em função de suas características
de celeridade, objetividade e efetividade, que possibilitam a obtenção
de resultados mais ágeis e satisfatórios para as partes envolvidas.
Segundo Egger (2005), a mediação, também denominada arbitragem,
é entendida como um método extrajudicial de resolução de conflitos.
Em outras palavras, é um procedimento em que as partes em litígio,
de forma voluntária, pedem ajuda a um terceiro imparcial e neutro no sentido
de tomar uma decisão em seu lugar. Portanto, a arbitragem não favorece
o diálogo direto entre as partes, uma vez que o arbítrio assume o papel
de juiz.
Litígio: ação ou controvérsia judicial que tem início com
a contestação da demanda. Fonte: Houaiss (2009).
Chiavenato (2008), de maneira mais simples, afirma que a arbitragem é
uma forma mais rápida de solução de conflitos e discórdias. É uma ferramenta
útil tanto para as organizações quanto para as pessoas. Inicia-se quando uma
terceira parte (justiça privada) é solicitada a intervir no processo de discussão
entre duas partes litigantes para solução de conflitos extrajudiciais.
9.4 O papel e o perfil do gestor de
pessoas na intermedição dos conflitos
As demandas da nova economia têm exigido dos gestores de pessoas um
novo posicionamento e uma nova mentalidade, portanto, espera-se dele que
assuma papéis de diferentes naturezas e possua um perfil que seja caracteri-
– 137 –
Administração de Pessoas
zado não apenas competências técnicas, mas principalmente competências
comportamentais.
Quando falamos em competências comportamentais, estamos nos referindo
à capacidade do gestor ser assertivo, ser ético, saber ouvir as pessoas,
estimular o diálogo e a busca do consenso, ter capacidade de liderança, viabilizar
o trabalho em equipe, conseguir manter um processo de comunicação
inteligível e fornecer feedbacks constantes. Essas competências ajudam a criar
um clima de participação de todos e criar um ambiente que estimule experimentar
novas maneiras de executar o trabalho e buscar melhorias constantes
e, consequentemente, contribuir para a competitividade organizacional.
Inteligível: que se entende bem; que tem sentido.
Fonte: Dicionário Aulete (2014).
Chiavenato (2008) resume os papéis da Gestão de Pessoas na construção
de uma organização competitiva a partir da próxima figura.
Figura 5: Os papéis de GP na construção de uma organização competitiva.
Foco no
futuro
estratégico
Foco nos
processos
Administração de
estratégias de RH
Administração
da infra-estrutura
da empresa
Administração
da transformação
e mudança
Administração
da contribuição
dos funcionários
Foco nas
pessoas
Fonte: Chiavenato (2008).
Foco no
cotidiano
operacional
– 138 –
Conflito, negociação e comportamento entre grupos
Ao observar a figura anterior, podemos perceber que os gestores de pessoas
precisam possuir uma grande capacidade de negociação, uma vez que
precisam lidar tanto com questões específicas da área – por exemplo, gerir as
políticas e práticas de pessoal (administração de estratégias de RH e da infraestrutura
da empresa) – quanto lidar com questões de natureza comportamental
(administrar a transformação e mudança e administrar a contribuição dos
funcionários). Neste segundo grupo de atividades, têm aquelas relacionadas à
consultoria interna.
Giradi (2008) lembra que os gestores de pessoas, nas organizações contemporâneas,
têm atuado como consultores internos, fornecendo suporte aos
demais gerentes no que diz respeito a encontrar uma maneira mais assertiva e
humanizada para lidar com seus subordinados. Tendo como foco também a
preocupação de desenvolver líderes e sucessores com capacidade de negociação
em diversos níveis organizacionais.
Para Drucker (2006), o que realmente importa para as organizações é
que os gestores demonstrem capacidade e disciplina para ouvir os outros;
capacidade de comunicar-se, de fazer-se entender e estimular o exercício dialógico
para que as diferentes percepções possam ser expressadas e, com base
nos diversos pontos de vista, consiga-se obter uma leitura ampla da realidade
e um conjunto maior de alternativas para lidar com os conflitos presentes no
cotidiano da organização.
Com base no exposto, podemos dizer que a tanto no que diz respeito às
questões de políticas e práticas de Gestão de Pessoas quanto dos elementos relacionados
à infraestrutura organizacional e as questões comportamentais, temos
um ambiente propício para que situações de conflitos se instalem, uma vez que,
como vimos, o conflito é um fenômeno inerente às relações interpressoais.
Diante desta realidade, o que podemos fazer é encontramos a melhor
forma de administrar os conflitos no sentido de conseguirmos transformá-los
numa oportunidade de mudança e aprendizado. O que precisamos é saber
como tirar vantagens de situações conflitivas e, consequentemente, agregar
valor às pessoas e ao negócio.
Resumindo
Você conseguiu assimilar que o conflito não é intrinsecamente bom ou
mau para os envolvidos, para a organização ou para sociedade? Tudo depende
– 139 –
Administração de Pessoas
da como as pessoas lidam e resolvem as situações conflitivas. Conforme a
forma de sua administração, poderá ter resultados negativos, expressos em
sentimentos de frustração, hostilidade e ansiedade ou, ainda, desperdício de
esforços e energia que poderiam impulsionar a produtividade. As consequências
positivas resultam em novas ideias, possibilidades de explorar personalidades,
aprender, inovar e aumentar a coesão grupal.
São vários os motivos que desencadeiam os conflitos. Os elementos
desencadeadores estão situados no nível individual, grupal e organizacional.
Entre as diversas possibilidades de enfrentamento, você acabou de conhecer
mais sobre negociação e arbitragem.
– 140 –
10
Mudança organizacional
O avanço tecnológico e a globalização da economia têm
requerido ajustes na forma de estruturação e funcionamento das
organizações. O cenário é de um ambiente instável e relativamente
imprevisível, portanto, para enfrentar tais desafios, é preciso aprender
mais do que os concorrentes ou, ainda, se antecipar às mudanças
e se adequar, constantemente, aos desejos e às necessidades da sociedade
e comunidade ao seu entorno.
As pessoas, por sua própria natureza, são resistentes à
mudança. Para que a necessidade de mudar seja tranquila, é preciso:
conhecer as etapas do processo de mudança, as principais variáveis
que as restringem e, também, os tipos de mudança a que qualquer
organização está sujeita.
Administração de Pessoas
Objetivo de aprendizagem:
22
Compreender as principais características do processo de mudança
organizacional.
10.1 Mudança organizacional e suas etapas
As organizações estão vivenciando um acelerado processo de mudança. A
busca por sua expansão e sobrevivência tem sido colocada em xeque pela dinâmica
das transformações que estão ocorrendo no cenário mundial. Na nova economia,
verifica-se um crescente aumento da concorrência. Além disso, a inserção
dos modernos sistemas de comunicação tem mudado o perfil dos clientes
internos e externos e transformado os processos de produção e comercialização.
Os ditames do século XXI têm requerido das empresas flexibilidade e consequente
necessidade de reestruturação do seu processo de gestão organizacional.
No que diz respeito à Gestão de Pessoas, podemos afirmar que o processo
de mudança é incitado principalmente pelo avanço da tecnologia e pela
globalização das empresas multinacionais que procuram estabelecer métodos
e procedimentos padronizados em suas filiais espalhadas geograficamente.
Você sabia
A Ciência Econômica possui uma área especificamente construída
para o estudo dos condicionantes, das escolhas ótimas e dos melhores
resultados que podem ser alcançados por uma empresa. Essa
área (dentro da Ciência Econômica) é chamada de: Teoria da Firma.
Fonte: Varian (2012).
Os tradicionais processos de gestão, com ênfase ao controle rígido do
comportamento das pessoas e do atendimento às normas, requerem trabalhadores
obedientes e passivos e este perfil é incompatível com as exigências da
nova economia que considera as pessoas como sendo o ativo intangível mais
importante para assegurar a competitividade e sustentabilidade dos negócios.
Almeja-se agora poder contar com pessoas autônomas, comprometidas e criativas,
fornecedoras de informações e conhecimentos que ajudem a melhorar
constantemente o processo produtivo.
– 142 –
Mudança organizacional
Saiba mais
As mudanças vivenciadas no mundo corporativo têm-se intensificado
e pode-se perceber que os aspectos mais importantes estão diretamente
relacionados ao avanço tecnológico que provoca alterações
nas relações pessoais, o que ocasionou alterações no fluxo e na intensidade
das informações. Outra mudança visível foi a globalização,
que fez com que as empresas vivessem um alto nível de competitividade,
provocando um entendimento de que as pessoas fazem a
diferença neste contexto, dependendo cada vez mais de profissionais
competentes. Fonte: Gestão RH (2012).
Diante deste cenário, para entendermos a importância da mudança no
ambiente organizacional, é importante que façamos uma recapitulação e contextualização
histórica. Até o início da Revolução Industrial, as mudanças
ocorriam de uma forma muito lenta e não representavam ameaça à sobrevivência
das organizações. A Revolução Industrial foi uma grande lição para a
área da administração, uma vez que novas formas de energia e de organização
do trabalho impulsionaram a produção.
Saiba mais
A Revolução Industrial foi uma grande evolução no campo tecnológico,
representada pela solução de problemas fabris através da substituição da
mão do homem pela máquina.
Paralela a essa revolução tecnológica, acontece uma revolução nas relações
de trabalho, passando a existir uma nítida divisão de classes: patrão
e empregado. Surge a percepção da necessidade de uma proatividade
administrativa, traduzida pela antecipação em encontrar soluções e inovações,
fazendo a organização buscar integrar-se com o ambiente externo,
ao invés de permanecer na passividade. Fonte: Luz et al. (2001).
O século XX foi marcado por grandes transformações que influenciaram
fortemente as organizações, sua gestão e seu comportamento (CHIA-
VENATO, 2008). O mundo do trabalho foi caracterizado por três períodos
diferentes, assim denominados: Industrial Clássico, Industrial Neoclássico e
da Informação.
– 143 –
Administração de Pessoas
Segundo Chiavenato (2008), o período Industrial Clássico teve seu
início logo após a Revolução Industrial e se estendeu até meados de 1950.
Ele foi marcado pelo surgimento dos países industrializados. As diversas
organizações ali existentes adotavam um caráter centralizador, com concentração
das decisões no topo da hierarquia e estabelecimento de regras
e regulamentos para disciplinar o comportamento dos funcionários. As
mudanças ocorriam de forma lenta e eram previsíveis. O ambiente era conservador
e voltado para o status quo; não oferecia desafios, fazendo com que
as organizações se preocupassem com os problemas internos de produção. A
cultura organizacional predominante era voltada para a conservação das tradições
e dos valores tradicionais. As pessoas eram vistas como meros recursos
de produção, como outros quaisquer da organização como máquinas,
equipamentos e capital.
Status quo: estado atual. Fonte: Michaelis (2014).
O período Industrial Neoclássico se estendeu entre as décadas de 1950 e
1990. Foi marcado pela mudança progressiva. As transações comerciais passaram
da amplitude local para regional e de regional para internacional, acirrando
a competitividade organizacional (CHIAVENATO, 2008).
O período da Informação teve início na década de 1990 e se estende até
os dias atuais. Tem sido marcado pelas mudanças rápidas, imprevistas, turbulentas
e inesperadas. A tecnologia da informação acelerou a globalização da
economia. O desafio de tornar o conhecimento útil e produtivo transformouse
na maior responsabilidade gerencial. Portanto, as organizações começaram
a perceber a importância de ter de mudar antes que seus concorrentes, de
fazer melhor e mais rápido e de inovar constantemente em busca de sua sustentabilidade
(CHIAVENATO, 2008).
No que diz respeito aos fatores desencadeadores de mudança, Robbins
(2008) apresenta seis variáveis: a natureza da força do trabalho, a tecnologia,
os choques econômicos, a concorrência, as tendências sociais e a política
mundial. Segundo o autor, esses aspectos estariam presentes no cotidiano
organizacional de forma mais ou menos aguda em determinados momentos,
mas constantemente exerceriam pressão sobre a organização.
– 144 –
Mudança organizacional
Com base na análise dos diferentes períodos vivenciados pelo mundo do
trabalho, podemos perceber que os momentos de crise, provocados por fatores
externos (econômicos, políticos etc.) ou internos (aparecimento de novas
lideranças, introdução de novas tecnologias etc.), apesar de instalarem um
clima de insegurança, de receio e de incertezas, podem se tornar momentos
oportunos para a realização de mudanças nas organizações.
Entretanto, para que as mudanças possam ser efetivas e atingir seus objetivos,
é preciso alterar o cerne dos valores, fazendo com que as pessoas ali
inseridas modifiquem não só o que pensam, mas, principalmente, o porquê
pensam de determinada maneira. Concluímos que, para mudar as organizações,
precisamos primeiramente mudar o comportamento das pessoas que
são responsáveis pelas suas diferentes operações. Mudar comportamento
implica necessariamente em mudar valores e mudar atitudes, ou seja, alterar
sentimentos, crenças e conhecimentos. Em outras palavras, estamos falando
da importância da cultura organizacional.
10.1.1 A cultura organizacional e as
mudanças organizacionais
Partindo do pressuposto de que a cultura é um fator importante que
influencia a maneira como as pessoas se comportam e se relacionam dentro
de uma sociedade. Podemos dizer que a cultura organizacional atua como um
poderoso instrumento na moldagem da ação humana nas organizações. Tal
fato nos revela que a preocupação com a cultura organizacional está presente
há muito tempo nos estudos sobre o comportamento organizacional.
Entretanto, por influência de diversos fatores, entre eles os modelos
japonês de qualidade, ganhou notoriedade a partir dos anos 1980. Além
disso, a globalização dos mercados e os processos de mudança organizacional
alavancaram a continuação dos estudos de novas pesquisas que têm buscado
relacionar a importância da cultura organizacional para o sucesso ou insucesso
das implantações das mudanças nas organizações.
Bowditch e Buono (1998) complementam esta ideia enfatizando a força da
cultura organizacional nos processos de mudança. Segundo eles, a formulação
de estratégias, o estilo de liderança, a adoção de novos métodos e processos de
produção são realmente reflexos dos valores e das crenças de cada organização.
– 145 –
Administração de Pessoas
Neste sentido, quando os valores são identificados e explicitados a
organização, eles podem ser usados como ferramenta de planejamento e
coordenação. Segundo Albuquerque e Hanashiro (1996), os valores como
um conjunto de princípios podem ser utilizados pela administração para
obtenção de benefícios como criação de diferencial competitivo; balizamento
do processo decisório e das estratégias; orientação do comportamento,
recrutamento, seleção e treinamento, além de servirem para fundamentar
as avaliações de desempenho.
Ao compreender as características básicas da cultura organizacional,
torna-se possível tentar responder por que surgem tantas barreiras aos processos
de mudança que as organizações implantam na busca pela solução de
problemas. Por que valores, aparentemente sem importância na organização,
podem, quando questionados, inviabilizar todo um trabalho bem planejado
de reorganização e como a harmonização entre cultura e estratégia pode tornar-se
uma vantagem competitiva.
Schein (1998) alerta que, para que a cultura possa, de fato, tornar-se uma
vantagem competitiva sustentada, é necessário que três condições sejam satisfeitas,
a saber: a cultura deve adicionar valor econômico, ou seja, conduzir ações
e provocar comportamentos orientados para resultados; a cultura deve ser rara
e única, ou seja, deve apresentar atributos e características incomuns à maioria
das empresas concorrentes; e a cultura deve ser imperfeitamente imitável, ou
seja, os fatores de excelência das empresas bem-sucedidas, ainda que adotados
por potenciais concorrentes, não devem ser passíveis de uma perfeita imitação.
Robbins (2008) acrescenta que a cultura organizacional desempenha
várias funções dentro de qualquer organização, por exemplo, definir fronteiras,
ou seja, criar distinção entre uma organização e as demais; transmitir um
sentido de identidade para os seus membros; facilitar o comprometimento; e
servir como um mecanismo de fornecer sentido e controlar, guiando e moldando
as atitudes e o comportamento dos funcionários.
Diante do exposto, é imprescindível destacar a importância da cultura
organizacional para o sucesso da organização. Sem dúvida, compreender e
atuar sobre a cultura deve ser parte integrante do próprio processo de gestão
da organização, uma vez que é esperado que ela seja congruente com as estratégias
organizacionais, através de ações coordenadas da Gestão de Pessoas.
– 146 –
Mudança organizacional
10.1.2 Etapas da mudança organizacional
Segundo Chiavenato (2008), a mudança está relacionada a eventos de
transformação, interrupção, perturbação e ruptura. É a sua intensidade que
contribui para a ocorrência de cada um destes eventos.
Chiavenato (2008) e Robbins (2008) mencionam que o processo de
mudança acontece a partir de três etapas que compõem o modelo de Kurt
Lewin, a saber: descongelamento, mudança e recongelamento, conforme
ilustradas na figura a seguir.
Figura 1: Fases da mudança organizacional.
Descongelamento Mudança Recongelamento
Velhas idéias
e práticas são
derretidas,
abandonadas e
desaprendidas
Novas idéias
e práticas são
exercitadas e
aprendidas
Novas idéias
e práticas são
incorporadas
definitivamente ao
comportamento
Fonte: Ribas e Duran (2012).
identificação Internalização Suporte Reforço
Com base na figura anterior, podemos descrever cada uma das etapas da
seguinte maneira:
22
descongelamento: fase inicial da mudança, na qual velhas ideias e
práticas são abandonadas. Representa a adoção de um novo padrão.
Significa a percepção da necessidade da mudança. O descongelamento
pode ser alcançado pelo aumento das forças impulsionadoras,
que dirigem o comportamento para longe do status quo, ou
pela diminuição das forças restritivas que atrasam o equilíbrio existente
ou, ainda, pela ação combinada dessas duas forças;
2 2 mudança: etapa em que novas ideias e práticas são testadas, exercitadas
e aprendidas. Adoção de novos valores, atitudes e comporta-
– 147 –
Administração de Pessoas
mentos. Envolve dois aspectos: a identificação (processo pelo qual
as pessoas percebem a eficácia da nova atitude e comportamentos
como parte de seu padrão normal de comportamento) e a internalização
(processo pelo qual as pessoas passam a desempenhar novas
atitudes e comportamentos como parte de seu padrão normal de
comportamento). A mudança é a fase na qual os indivíduos passam
a pensar e a executar suas ações de uma maneira diferente;
22
recongelamento: fase em que as novas ideias são incorporadas ao comportamento.
Novo padrão de comportamento de modo que passe
a ser uma norma, um hábito. Significa que o padrão aprendido foi
incorporado. Ele requer dois aspectos: o apoio (é o suporte através de
recompensas que mantém a mudança) e o reforço positivo (é a prática
proveitosa que torna a mudança bem-sucedida). O recongelamento
é a etapa da estabilização da mudança através do equilíbrio das forças
impulsionadoras e restritivas.
Figura 2: Passos para implementação da
mudança.
e tornar a mudança duradoura.
Fonte: Shutterstock (2014).
– 148 –
Outra maneira de compreender
o processo de implementação
da mudança organizacional
é apresentada por Kotter
e Cohen (2002), mediante a
sugestão de oito passos a serem
seguidos: aumentar a urgência;
construir a equipe de orientação;
desenvolver a visão certa;
comunicar-se para promover a
compra; empowerment para a
ação; propiciar vitórias em curto
prazo; não permitir o desânimo;
22
Aumentar a urgência: procura-se fazer com que uma “massa crítica
de pessoas” tenha ciência da necessidade da implantação de
mudança e, deste modo, influenciem todos os demais nesta direção.
Ressalta-se que alguns fatores podem desfavorecer a implantação
da urgência, como o sentimento de complacência, imobilidade,
raiva e excesso de pessimismo.
Mudança organizacional
22
Construir a equipe de orientação: nesta etapa busca-se criar uma
equipe responsável pela implantação da mudança, que crie condições
adequadas para que a equipe possa desempenhar um bom trabalho.
22
Desenvolver a visão certa: neste momento, a equipe deve desenvolver
uma nova visão da organização, uma visão que seja nítida, simples, sensata
e, ao mesmo tempo, motivadora, proporcionando então a criação
das estratégias. Neste processo, a visão ajuda a esclarecer a direção geral
da mudança; motivar as pessoas para a tomada de medidas adequadas
e, por fim, contribuir para a coordenação das ações conjuntas.
22
Comunicar-se para promover a compra: a implantação da mudança
deve acontecer em grande escala. Para tanto, é preciso comunicar a
nova visão e, ao mesmo tempo, fazer com que todos os envolvidos
de fato compreendam e passem a agir de acordo com a nova visão.
22
Empowerment para a ação: prover meios e condições para que a
visão seja atingida, bem como se buscam meios para eliminar obstáculos
que dificultem o alcance dos os objetivos propostos pela visão.
22
Propiciar vitórias em curto prazo: ao considerar a dificuldade
na implantação de mudanças de grande porte nas organizações,
este passo está relacionado com a ideia de apresentar aos envolvidos,
pequenas vitórias durante o processo de mudança. Estas
vitórias ajudam a incentivar e motivar as pessoas e também atuam
como um feedback positivo, em relação ao trabalho que vem sendo
desempenhado por elas.
22
Não permitir o desânimo: neste momento, é possível observar
algumas vitórias em curto prazo, ocorridas na fase anterior. Então,
procura-se, aqui, consolidar tais vitórias, além de fomentar a geração
de outras pequenas vitórias. Isso ajudará a evitar que o desânimo
comece a se instalar.
2 2 Tornar a mudança duradoura: é o último passo. Neste momento,
apresenta-se a necessidade de transformar a incluir a visão como
um elemento importante da cultura organizacional. Ao se ter clareza
de onde se quer chegar, torna-se possível convergir as ações e
os esforços para o alcance dos objetivos estratégicos.
– 149 –
Administração de Pessoas
10.2 Resistência à mudança
Gerir uma organização no sentido de conseguir o comprometimento
de seus membros e criar vantagens
competitivas, frente aos
Figura 3: Convergindo os esforços em
direção ao alcance dos objetivos estratégicos. concorrentes, requer compreensão
e capacidade de lidar com a
resistência à mudança e com o
aprendizado individual e coletivo.
O processo de gestão envolve
comunicação e oportunidade de
participação das pessoas alocadas
nos diferentes níveis da estrutura
organizacional, na procura conjunta
de soluções e entendimento
do processo de mudança.
Você sabia
Fonte: Shutterstock (2014).
A mudança é um ônus, pois requer que a pessoa reveja sua maneira
de pensar, agir, comunicar, se interrelacionar e criar significados para
a sua própria vida. Fonte: Motta (1999).
Normalmente, os processos de mudança organizacional são doloridos e
complicados para os envolvidos, e implicam geralmente na transformação de
uma cultura e de valores que por muito tempo estiveram presentes em seu
cotidiano. São paradigmas que devem ser alterados.
Paradigma: um exemplo que serve como
modelo; padrão. Fonte: Houaiss (2009).
Novas funções, nova abordagem para uma função antiga, a inserção de
uma nova tecnologia, tudo isso gera nas pessoas insegurança, medo de perder
o emprego ou mesmo de não desempenhar adequadamente as novas tarefas.
Frequentemente, o funcionário não sabe ao certo o que é esperado dele. Além
– 150 –
Mudança organizacional
disso, muitas vezes os resultados obtidos não são satisfatórios porque não
houve participação das pessoas diretamente envolvidas nos processos durante
o planejamento da mudança. Com o envolvimento de todos, é facilitado o
encontro de uma solução adequada para os problemas. Para exemplificar,
podemos pensar que geralmente é o motorista do caminhão quem conhece
melhor os problemas de desperdício de combustível. Nada mais justo na elaboração
de uma nova rota, que ele seja consultado.
De uma forma geral, seja qual for o processo de mudança, as reações
das pessoas são parecidas e previsíveis. Inicialmente, surge um movimento
de resistência (seja pelas sensações de perdas, insegurança e auto conservação,
ocasionadas pela falta de conhecimento das reais implicações da mudança).
Para que não ocorra a perda da produtividade, é necessário um processo de
conscientização e esclarecimentos frequentes, utilizando-se de uma comunicação
eficaz. Quanto mais efetivo for esse processo de comunicação, melhor
será a adaptação das equipes de profissionais aos novos modelos de gestão.
As mudanças organizacionais dependem em grande parte de pessoas. E
para isso é importante saber o que deve ser mudado e principalmente o que
leva as pessoas a agirem como agem. Pessoas bem informadas e participantes
dos processos têm maior comprometimento com a organização e com a
mudança. Pessoas desinformadas perdem a motivação e seu tempo criando e
repassando fofocas a respeito do processo de mudança, disseminando medo,
incertezas e criando obstáculos à mudança.
Sabemos que as organizações e as pessoas ali inseridas resistem à
mudança; mudar implica em sair da “zona de conforto”. Chiavenato (2008) e
Robbins (2008) assinalam que, em certa medida, a resistência pode ser positiva
quando proporciona um grau de estabilidade e previsibilidade e pode ser
uma fonte de conflito funcional. Por outro lado, a resistência também pode
bloquear o progresso e a adaptação. Em relação à sua natureza, a resistência
à mudança pode acontecer em nível individual ou em nível organizacional.
Segundo Robbins (2008), a resistência individual ocorre quando as percepções,
personalidades e necessidades dos indivíduos afetam sua disponibilidade
para a mudança. Os cinco motivos pelos quais os indivíduos podem
resistir à mudança são: hábito; segurança; fatores econômicos; medo do desconhecido;
e processamento seletivo das informações.
– 151 –
Administração de Pessoas
Quanto à resistência organizacional, Robbins (2008) menciona seis
fontes de resistência nas organizações: inércia estrutural; foco limitado de
mudança; inércia de grupo; ameaça à especialização; ameaça às relações estabelecidas
de poder; e ameaça às distribuições estabelecidas de recursos.
O autor ainda apresenta seis táticas para que os agentes de mudança
possam minimizar os problemas relacionados com a resistência à mudança,
que são assim descritas (ROBBINS, 2008):
22
educação e comunicação: a resistência pode ser amenizada por meio
da comunicação com as pessoas, para ajudá-las a compreender a lógica
da mudança. O esclarecimento de dúvidas pode cessar a resistência;
22
participação: é difícil que uma pessoa resista a um processo de
mudança no qual tenha feito parte do processo de planejamento.
Antes que a mudança aconteça, os que se opõem a ela devem participar
do processo decisório;
22
facilitação e apoio: quando um funcionário demonstra muito medo e
ansiedade, o aconselhamento, a terapia, o treinamento em novas habilidades
ou uma pequena licença remunerada pode facilitar o ajuste;
22
negociação: pode ser negociado um pacote específico de recompensas
que atenda as necessidades individuais. A negociação como tática
pode ser necessária quando a resistência vem de uma fonte poderosa;
22
manipulação: é uma forma barata e fácil de obtenção de apoio dos
adversários à mudança, mas pode se voltar contra o agente se as
pessoas alvos perceberem que estão sendo usadas;
22
coerção: é o uso de ameaças diretas ou de uma força sobre os resistentes.
Oferece as mesmas desvantagens da manipulação.
10.3 Os tipos de mudança organizacional
Como visto anteriormente, a mudança está relacionada com a alteração
de comportamento, seja ele individual, grupal ou mesmo organizacional.
Entretanto, para que a mudança seja duradoura e consistente, é preciso haver
um planejamento para tal. A mudança planejada é aquela mudança de atividades
que é intencional e orientada para resultados.
– 152 –
Mudança organizacional
Segundo Robbins (2008), a mudança planejada possui dois objetivos:
busca melhorar a capacidade da organização em se adaptar às mudanças em
seu ambiente; e objetiva mudar o comportamento de seus funcionários.
O mesmo autor acrescenta que a mudança planejada possui uma ordem
de magnitude. A mudança de primeira ordem, também denominada mudança
incremental, é linear e contínua ou, ainda, lenta e sutil. Ela não implica em
nenhuma modificação fundamental nas convicções adotadas pelos membros
da organização, em relação ao mundo, ou em como a empresa pode melhorar
seu funcionamento. Segundo Nadler et al. (1995), esse tipo de mudança
tende a ocorrer em períodos de equilíbrio, visando a melhoria da eficiência e
o desempenho organizacional. Elas são mais focadas em melhorias de sistemas
específicos da organização, existindo continuidade nos padrões gerais de
seu funcionamento.
Já a mudança de segunda ordem está relacionada com uma modificação
descontínua e radical. Envolve a redefinição das convicções sobre a organização
e o mundo no qual ela se insere. Para Nadler et al. (1995), tais mudanças
acontecem em resposta a eventos desestabilizadores e em períodos de maior
desequilíbrio na vida das organizações. Nesse tipo de mudança, ao invés de
buscar melhorias incrementais no seu desempenho, a organização está voltada
para a sua reconfiguração, envolvendo novas estratégias, atividades/missão,
organização dos processos, estrutura e pessoas.
Fisher (2002) assinala que a mudança organizacional não deve ser vista
como um projeto isolado de vez em quando no cotidiano organizacional. A
mudança tem de ser conceituada, concebida e gerenciada como um processo
de transformação contínua.
Segundo Chiavenato (2008), existem quatro tipos de mudanças
organizacionais: estrutura, tecnologia, pessoas/cultura, bens e serviços. A
mudança na estrutura organizacional afeta a estrutura propriamente dita,
as redes de comunicação e níveis hierárquicos. A mudança na tecnologia
atinge diretamente as máquinas, os equipamentos, as instalações, os processos
organizacionais. Esse tipo de mudança representa a maneira pela qual a
organização executa suas tarefas e produz seus bens e serviços. Outro tipo
de mudança é a dos bens e serviços que afetam os resultados da organização.
A mudança nas pessoas e na cultura da organização provoca alterações nos
– 153 –
Administração de Pessoas
comportamentos, nas atitudes, nas expectativas, nas aspirações, nas necessidades
e, consequentemente, interferem na cultura organizacional.
Independentemente do tipo de mudança que ocorre nas organizações,
as pessoas responsáveis pela administração das atividades de mudança são
denominadas agentes de mudança. Segundo Robbins (2008), os agentes
podem ser gerentes ou não gerentes, empregados da organização ou consultores
externos. Ulrich (2000) acrescenta que o gestor de pessoas, ao atuar como
agente de mudanças, ajuda no desenvolvimento da capacidade da empresa
adaptar-se às diferentes condições de mercado, reduzindo o tempo de ciclo
para a inovação. Além disso, ajuda a fazer com que as pessoas percebam o seu
papel na estratégia corporativa para que se comprometam com a busca dos
objetivos organizacionais.
Robbins (2008) afirma que os agentes de mudança podem mudar a
estrutura, instalações físicas, tecnologia e pessoas. A mudança de estrutura
envolve alterações nas relações de autoridade, mecanismos de coordenação,
replanejamento do trabalho ou modificar qualquer outra variável estrutural.
A mudança de tecnologia engloba modificações no modo pelo qual o
trabalhado é processado e nos equipamentos utilizados. A mudança nas instalações
físicas inclui mudanças no espaço e no layout do ambiente de trabalho.
Já a mudança das pessoas está relacionada à modificação de atitudes,
habilidades, expectativas, percepções e comportamentos dos funcionários.
Resumindo
Na nova economia, a empresa que quiser obter sucesso tem de ser capaz
de antecipar problemas e aproveitar oportunidades. É preciso foco no que se
está fazendo e tentar fazê-lo da melhor forma que puder.
O mercado tem selecionado organizações mais flexíveis, que promovam
a cooperação interna necessária à inovação e, consequente, à oferta de
bens e serviços de alta qualidade que assegurem sua competitividade e sustentabilidade.
Portanto, para isso, é preciso identificar as variáveis desencadeadoras
da mudança, conhecer as etapas do processo de mudança, entender
as fontes de resistência à mudança e tirar proveito das oportunidades do
ambiente e do potencial das pessoas, convergindo suas ações para o alcance
de melhores resultados.
– 154 –
Conclusão
Administração de Pessoas
Prezado aluno, chegamos ao final da disciplina Administração de Pessoas.
Você enriqueceu seu conhecimento nesta área e está apto a tomar decisões
relacionadas ao dia a dia.
Na Evolução da Gestão de Pessoas, foi possível compreender que a área sofreu
uma série de modificações influenciadas por fatores políticos, econômicos, sociais e
culturais de cada época. Na Gestão de Pessoas em um ambiente dinâmico e competitivo,
passou-se a buscar e valorizar um trabalhador proativo, criativo e autônomo.
O Planejamento estratégico da Gestão de Pessoas foi abordado tomando
como ponto de partida o Planejamento Estratégico Corporativo. É a partir do
plano estratégico do negócio que a área de Gestão de Pessoas obtém informações
fundamentais para subsidiar as políticas e práticas da Gestão Estratégica de Pessoas.
O Sistema de Gestão de Pessoas engloba atividades de provisão, aplicação,
manutenção, desenvolvimento e controle. Você descobriu que o Subsistema de Provisão
tem como foco trazer a pessoa para trabalhar na organização, para tanto, têm-se
planejamento de pessoal, pesquisa de mercado e recrutamento e seleção. Já no Subsistema
de Aplicação partiu-se do entendimento de que, uma vez contratada, a pessoa
precisa ser orientada para realização de seu trabalho. Para tanto, têm-se o treinamento
introdutório, a análise e descrição de cargos, a avaliação de desempenho e a movimentação
interna de pessoal. No Subsistema de Manutenção parte-se do pressuposto
de que para reter talentos é preciso criar um ambiente de trabalho motivador e harmônico.
Isso pode ser feito através de um pacote remuneratório, programa de saúde,
segurança e qualidade de vida e programa de relacionamento com empregados.
No Subsistema Desenvolvimento as organizações precisam desenvolver
as pessoas que ali estão inseridas. Para tanto, são realizadas ações de treinamento,
educação e desenvolvimento de pessoal e organizacional.
O Subsistema de Controle monitora as operações de uma organização.
Através de registros, banco de dados, sistemas de informação e processo de
auditoria, é possível obter e disseminar informações que ajudem a analisar
quem são e o que fazem as pessoas que ali trabalham.
Abordamos também o conflito nas organizações com suas prováveis causas
e consequência, bem como possíveis estratégias utilizadas para lidar com
as situações conflitivas. No que diz respeito à mudança organizacional, você
aprendeu que, para lidar com a concorrência acirrada, é preciso aprender mais
rápido e melhor que os concorrentes.
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Administrar pessoas não é, apenas, contratar, treinar, recompensar
e avaliar o pessoal que fará parte de uma empresa. Gerir pessoas
refere-se à definição de práticas de recursos humanos destinadas
a atrair, desenvolver talentos e, assim, conseguir criar uma vantagem
competitiva em relação aos concorrentes. Pessoas devem ser entendidas
como um ativo intangível que ajuda a transformar ambientes
laborais em bons lugares para se trabalhar, maximizando o alcance dos
objetivos corporativos.
Para se entender como as pessoas passaram a ser vistas como
ativos intangíveis, é importante resgatarmos a evolução da Administração
de Pessoas. Abordaremos sua gestão em um ambiente econômico
e veremos como as práticas de pessoal devem alinhar-se ao Planejamento
Estratégico Corporativo. Estudaremos a Gestão de Pessoas
de modo sistêmico a partir de seus cinco subsistemas: provisão, aplicação,
manutenção, desenvolvimento e controle.
Veremos que o conflito é um fenômeno inerente à natureza
humana, cabendo ao gestor de pessoas saber como transformá-lo,
construtivamente, de modo a melhorar a qualidade da decisão e
provocar mudanças positivas na organização. Assim como o conflito,
as mudanças também fazem parte do ciclo de vida das organizações.
Para finalizar, estudaremos as principais características da
mudança organizacional.
ISBN 978-85-53370-03-0
9788553370030