RCIA - ED. 31 - FEVEREIRO 2008
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Comemoração dos seus 37 anos com os
atletas na Pensão do São Geraldo em 67
MINHA PRIMEIRA
REPORTAGEM
Wagner Belline, então
repórter da Voz, entrevista
Aldo Comito na Fonte,
três meses depois de um
acidente que quase
tirou-lhe a vida
IVAN ROBERTO PERONI
Foi no dia 6 de janeiro de 1966, uma quinta-feira,
pouco antes das 8 da noite, subindo
as escadarias da sede social da Ferroviária,
na Duque de Caxias, que conheci Aldo Comito.
Ele fora eleito presidente da Ferroviária e
eu pela primeira vez saia em busca de notícias
para a antiga Rádio A Voz da Araraquarense.
Era o meu primeiro teste na rádio. Com
16 anos, estava deixando a vida de Torneiro
Mecânico, formado pela Industrial, para seguir
a carreira de jornalista. Ficava para trás o
primeiro emprego: torneiro dos Irmãos Manoel,
no bairro do Carmo. Rádio era um sonho.
Fui levado pelas mãos do técnico de
som, Henrique Nunes, com quem meu pai
Domingos, conversara no Hospital Sanatório.
Os dois trabalhavam lá. Henrique, depois das
18h e nos fins de semana era operador de
som na Voz. Denisar Alves, gerente da rádio,
me disse: “Conversa com o Adilson”. Quem
me deu a missão de falar com Aldo Comito,
presidente da Ferroviária, foi o Adilson Telarolli,
que quando cheguei na sala, conversava
com Rubens Santos. A Voz ficava na avenida
Feijó. Minha mãe Aparecida me aconselhara
a vestir um terno escuro, aquele mesmo que
havia comprado dois meses antes para a
formatura da Industrial no Cine 9 de Julho. O
Adilson comentou: “A Ferroviária caiu para a
Segunda Divisão no ano passado e hoje, 6 de
janeiro, faz a primeira reunião para ver como
será o ano de 66”. Passados 42 anos, nunca
mais esqueci de Aldo Comito, o Presidente
da Volta, o meu primeiro entrevistado.
Casado com Maria do
Carmo Corrêa Comito,
pai de três filhos,
faleceu em função
de uma série de
problemas clínicos,
Aldo Comito,
ex-presidente da
Ferroviária, clube que
ele também ajudou a
fundar em 1950 com
Pereira Lima.
Foi vereador em dois
mandatos, fundador do
Grupo da Terceira Idade
e secretário municipal
de Esportes. Foram
com ele os momentos
mais importantes da
história do futebol
da cidade em todos
os tempos.
SAUDADE
O ferroviário e gráfico
Aldo Comito ganhou
projeção nacional como
dirigente esportivo ao
presidir a Ferroviária em
1966 e com um super-time,
conquistar a vaga da volta
à elite do futebol paulista.
ALDO COMITO
O APITO FINAL
om a queda da Ferroviária em
1965 para a Segunda Divisão do
Campeonato Paulista de Futebol
e o afastamento do presidente Jader Lessa
Cezar, Aldo Comito assumiu a presidência
da Ferroviária. Na noite de 6 de janeiro de
1966 estava lançada a Campanha da Volta.
A nova diretoria promovia a primeira reunião
com o técnico contratado: Carlito Roberto,
que apresentou uma lista de 40 jogadores
sugerindo a contratação de pelo
menos 10. Sua passagem por Araraquara
durou menos de 20 dias. Aldo comentou na
época que - Carlito não era o técnico ideal.
Optou pela vinda de Octacílio Pires de Camargo,
o “Cilinho”, temperamento explosivo,
que trouxe para seu controle atletas
que assinaram com Aldo Comito, um contrato
de risco: “Se vocês ganharem o campeonato
vão ganhar um prêmio”. A Campanha
da Volta exigiu a abertura de conta
especial num dos bancos da cidade; torcedores
e empresas faziam depósitos para o
pagamento do prêmio. A estratégia de Comito
deu certo: os jogadores colocavam o
Comito homenageando Jacqueline em 1967
coração no bico da chuteira. “No jogo da
decisão, o XV de Piracicaba queria Olten
Aires de Abreu, no apito. Eu disse que só
entraria em campo (Pacaembú) nos dias 17
e 21 de dezembro de 1966, se o juiz fosse
Armando Marques. Foi o que aconteceu e
a Ferroviária voltou”.
Essa história sempre foi lembrada por
Aldo, que não apenas fez a Ferroviária voltar
à Primeira Divisão, como também a
tornou Campeã do Interior nos três anos
seguintes. Como bom marqueteiro, aproveitou
a boa fase da atriz Jacqueline Myrna
que na televisão falava um “arrarraquarra”
puxado e a trouxe para ser espécie
de madrinha da Ferroviária, que era só sucesso
no futebol brasileiro.
Com sua saída da Ferroviária, o clube
passou a viver extenso período de oscilações,
entre vitórias e derrotas, até chegar
onde chegou: Campeonato Paulista da
Série B. Hoje tenta voltar novamente à
elite, porém, sem ele, que conheceu todos
os caminhos do futebol.