À DESCOBERTA DE BRAGA
ROTEIRO DOS JARDINS HISTÓRICOS
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ROTEIRO DOS JARDINS
HISTÓRICOS
À DESCOBERTA
DE BRAGA
sem sair de casa
#fiqueemcasa
Jardim dos Biscainhos
Jardim dos Biscainhos
O jardim do Palácio dos Biscainhos cons tui-se como um dos mais
expressivos testemunhos do jardim Barroco, que sobreviveram em
Portugal.
Em 1755 o jardim do Palácio dos Biscainhos, edi cio cuja origem
remontará ao século XVI/XVII, surge representado no «Mappa da
Cidade de Braga Primas» com um desenho e uma organização espacial
idên cos aos que encontramos actualmente, cons tuindo-se como um
dos mais um expressivos testemunhos do jardim Barroco, com notáveis
introduções em es lo Rococó, que sobreviveram em Portugal.
A área, com cerca de um hectare, compar menta-se em terreiro, jardim
formal, patamares do pomar e das hortas, recinto das muralhas,
canavial e largo do pombal (estes reformulados entre os séculos XIX e
XXI). No conjunto, estabelece uma «quinta de recreio» urbana
percorrida por um arruamento central e outros laterais, delimitados
com sebes de buxo e enriquecido com elementos ar s cos.
O jardim formal apresenta um traçado labirín co e simétrico
concêntrico de canteiros de buxo, sendo embelezado com pares de
janelas e de portões ornamentais, encimados por pináculos ou por
meninos com charamelas, esculturas, diversos painéis de azulejos, cinco
fontes de repuxo, um pavilhão de jardim, um mirante e duas casas de
fresco topiadas em cameleiras, datáveis do século XIX. As estrelícias
existentes em alguns dos seus canteiros correspondem a uma decisão ao
gosto do Oitocen smo, estando documentadas em fotografia da
primeira década do século XX.
Os patamares dos pomares e hortas receberam uma recuperação parcial
nos úl mos 25 anos, após um período de significa va descaracterização
e de perda insubs tuível de algumas das suas componentes agrícolas e
decora vas.
A árvore mais notável do jardim é um majestoso tulipeiro da Virgínia
Liriodendron Tulipifera L. plantado no século XVIII, com 27,4 metros de
altura, e classificado como de interesse público em Agosto de 2010.
Podemos ainda encontrar inúmeras outras árvores e arbustos,
distribuídos pelos patamares, nomeadamente, magnólias, lias,
loureiros, austrálias, castanheiros, japoneiras, dragoeiro, assim como
árvores de fruto, como laranjeiras, figueiras, tangerineiras, nogueiras,
diospireiro, entre outros.
Jardim do Museu Nogueira da Silva
Este jardim está integrado no Museu com o mesmo nome, mesmo no
centro da cidade. Teve duas fases de construção, a mais an ga dos anos
50 e a mais recente, de maior dimensão, concluída em meados dos
anos sessenta.
Marcado, na parte central, pelo cunho dos jardins franceses, com buxo
formando canteiros simétricos com roseiras no interior, este jardim
está salteado por pérgulas, fontes, esculturas e painéis de azulejos.
Da escultura destacamos uma reprodução do séc. XIX de um original de
Bernini - Apolo e Dafne; dois conjuntos com as quatro Estações do Ano,
para além das múl plas reproduções de bustos romanos que alternam
com os altos ciprestes e meninos de ligas metálicas sobre os corrimões,
em colunas de granito ou à volta do lago.
Os painéis de azulejos, alguns de grande qualidade como o par
holandês do séc. XVIII, de Willem van der Klöet, ou as cenas de batalha
do séc. XVIII ou o Naufrágio da Fábrica do Rato, de 1780, atapetam
paredes, forram biombos e traseiras da fonte.
Neste jardim encontra-se um importante conjunto de esculturas e
azulejos de Jorge Barradas feitos de encomenda para este espaço, com
temas ligados à cidade de Braga como as esculturas de figuras históricas
e o painel tríp co de azulejos representando a grande festa da cidade - o
S. João.
A flora deste espaço é muito variada. Algumas espécies são as originais,
colocadas ainda no tempo do Doador, António Nogueira da Silva, como
as buganvílias, as magnólias grandiflora, os ciprestes, o buxo anão e a
grande parte das roseiras. Outras, pelas mais variadas razões foram
subs tuídas e acrescentadas como a araucária, os tapetes de grama e as
pequenas plantas sazonais.
Jardim do Museu Nogueira da Silva
Jardim de Santa Bárbara
Jardim de Santa Bárbara
O Jardim de Santa Bárbara será, porventura, um dos mais significa vos
espaços monumentais da cidade de Braga. O desenho “barroquizante”
dos seus floridos canteiros, pintados de novo a cada estação,
centralizado no fontanário central onde se ergue a imagem da virgem
már r do século III que a devoção popular invoca a cada trovoada,
confere um cariz acolhedor ao espaço. O perfume das flores e os bancos
para repouso completam uma autên ca recriação contemporânea dos
jardins de Le Nôtre ou de Queluz. O Jardim de Santa Bárbara bem
poderia ser mais um resquício do período barroco na cidade de Braga,
mas a história revela-nos uma realidade bem diferente.
O an go Paço dos Arcebispos, que ocupava quase um quarto dos limites
da cidade medieval, possuía uma vasta propriedade. Além do edi cio,
que foi sofrendo diversos acrescentamentos, par cularmente ao longo
do século XVIII, exis a uma cerca limitada a Este pela Loura do Castelo
(atual rua do Castelo) e a Norte pela muralha que marginava com o
Campo da Vinha. Neste enorme terreno exis am fontes, jardins e
pomares. Expropriados ao longo dos séculos XIX e XX, serviram de
fundação para a rua Jus no Cruz e rua Eça de Queirós.
Com a abertura desta úl ma artéria, concre zada no período 1947-
1950, surgiu a ideia de fazer surgir um espaço de fruição e lazer no
terreno desenhado entre a nova artéria e os limites do renovado edi cio
da Biblioteca Pública. Isso mesmo está plasmado na memória descri va
que antecedeu a empreitada da abertura da atual rua Eça de Queirós,
onde se faz alusão à construção de «um pequeno jardim infan l», para o
qual fora até incluída uma escadaria de acesso. Recorde-se que a
criação da zona de proteção da Biblioteca Pública era, então, uma
prioridade, pelo que aquela parcela de terreno, que haveria de ser
complementada por mais um lote adquirido pela edilidade em Julho de
1953, seria zona liberta de edificações e devotada à fruição dos
bracarenses.
A decisão de ali construir um parque infan l não foi, porém, avante,
nem foi a única opção então aventada. Além dessa proposta, a Câmara
Municipal de Braga estudou duas outras, de que sobram felizmente
resquícios no Arquivo Municipal. Um deles propunha a reedificação da
Capela de Santo António da Praça no centro daquele espaço,
complementado depois por zonas jardinadas nas suas margens. Outra
hipótese alvitrava a instalação de um espelho de água de grandes
dimensões, completado por canteiros. Nenhuma destas três hipóteses
acabou por ter seguimento.
Por proposta de Sérgio da Silva Pinto, vereador da Cultura empossado
com a equipa de António Maria Santos da Cunha em 1949, a fonte de
Santa Bárbara haveria de ser instalada ao centro do terreno para onde
se estudavam aquelas soluções. O vereador destacava a «esbelteza e
elegantes proporções originais, realçado por escadaria de acesso
seccionada por divisões ajardinadas», contestando a «deturpação» de
que estaria a ser alvo por lhe terem suprimido as escadas e subs tuído o
tanque oitavado por uma taça redonda «contrário ao original». A
transferência da histórica fonte, decidida em 28 de Setembro de 1950,
sob o cuidado daquele historiador e vereador, acabou por traçar o
des no daquele espaço.
A Fonte de Santa Bárbara, recorde-se, é uma fonte seiscen sta que
esteve outrora colocada ao centro de um dos claustros do an go
Convento dos Remédios. Com a demolição desta edificação conventual,
processo que teve um epílogo em 1911, a fonte, tal como outros bens do
an go convento, foram sendo sucessivamente arrematados pela
Câmara Municipal de Braga que, no entanto, reservou para si a posse de
alguns elementos. Grande parte destes foram reme dos para o recinto
de São João da Ponte, integrando-se no ambicioso plano de ali fazer
surgir o primeiro parque urbano da cidade de Braga.
Com a colocação da fonte de Santa Bárbara ao centro daquela parcela de
terreno, as três propostas em estudo caíam por terra. Terá sido a
transferência da fonte o mote para a construção do jardim. Dada a
monumentalidade da fonte, enquadrada devidamente pela ala
medieval do an go Paço dos Arcebispos, pensou-se em completar a
mesma com um jardim pon lhado de canteiros delimitados por buxos e
completados por flores adequadas à estação. O desenho inspirou-se
nos jardins do período barroco e foi complementado pela colocação de
bancos em pedra e candeeiros. O projeto, infelizmente não disponível
na documentação municipal, ter-se-á concre zado entre 1951 e 1953.
A denominação oficial como Jardim de Santa Bárbara foi solenemente
aprovada na reunião de Câmara de 17 de Fevereiro de 1955,
considerando-se que este «nome hagiográfico se harmoniza
plenamente com as tradições da cidade».