Livro CIDADE DAS TREVAS - Capítulo V
Ficção baseada em fatos reais que demonstra como vários setores de uma mesma sociedade buscam poder e riquezas a qualquer preço.
Ficção baseada em fatos reais que demonstra como vários setores de uma mesma sociedade buscam poder e riquezas a qualquer preço.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Uma cidade dominada por forças malígnas
Ficção baseada em fatos reais que demonstra como vários setores
de uma mesma sociedade buscam poder e riquezas a qualquer preço
Título: Cidade das Trevas
Copyright © 2020, Sandro Rennó
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor.
CIDADE DAS TREVAS
Os contos aqui descritos são baseados em fatos reais ou lendas urbanas. Os
nomes foram trocados para não expor alguns envolvidos e, assim,
evitarmos problemas judiciais. Mas, caso a carapuça sirva e você se
reconhecer em algum capítulo, sugiro que faça um pedido formal para que
retire a sua história desta publicação. Será feito com a maior satisfação.
PRÓLOGO
... Então, depois de escutar tantas histórias sobre a cidade e ter conhecimento de
todos os fatos e documentos que envolvem figuras importantes e inuentes, comecei a
perceber que, por anos, a cidade vem sendo dominada por um esquema muito bem
arquitetado. Por todos os lugares têm pessoas implantadas para dar informações aos
líderes de toda esta organização.
Realmente, não ficou claro para mim de onde vem tanto poder. Por que essa
dominação existe? Por que as pessoas dão tanto poder e defendem tanto algumas
criaturas que todos sabem que possuem índoles duvidosas? Como tudo isso começou?
No início, decidi investigar todo este mistério. E a cada história que tinha
conhecimento, de tão fantásticas, bizarras e, muitas vezes, sem nexo, comecei a perceber
que tinha a obrigação de contar à todos e revelar o lado oculto da cidade.
O primeiro passo que defini como prioridade foi divulgar em uma rede social um
texto sobre o lado sombrio daquele lugar. E foi publicado assim:
"Boa tarde! A partir desta semana irei comentar e postar a VERDADE sobre nossa
cidade. Sempre baseado em gravações e vasta documentação levantada por anos. Um vasto
trabalho jornalístico realizado por mim. Todos poderão conhecer a verdadeira face do mal em
nossa cidade!
Sumiço de veículos particulares com acionamento de seguros fraudulentos, roubo de
uma frota inteira de caminhões de transporte, manipulação e chantagem de poderes,
cobranças indevidas de serviços e vantagens adquiridas em contratos duvidosos e concursos
fraudulentos! Acompanhem diariamente e aguardem! É muito pior do que vocês podem
imaginar!”
As reações foram imediatas. Parecia que a população estava sedenta por justiça.
Muitos aplaudiram a minha coragem e desejaram sucesso. Mas sempre recomendando
cuidado. O medo paira no ar.
Para minha surpresa, muitos me disseram que já conheciam algumas histórias das
que citei naquele pequeno texto postado na internet e outros me procuraram para revelar
informações que eu nem imaginava que existisse.
Fui publicando as páginas do livro pouco a pouco pela rede.
E já a partir do capítulo 1 foi se ambientando toda a saga. Me tornei apenas um
instrumento de divulgação das histórias. Os leitores, com os textos nas mãos, puderam
tirar suas próprias conclusões.
E a minha missão estava cumprida!
Página 05
CAPÍTULO I
YellowStone
Página 07
YellowStone, essa intrigante e apaixonante cidade, possui histórias confusas desde
sua fundação. Reza a lenda que um padre, seus filhos e alguns fiéis que moravam em uma
localidade vizinha, decidiram procurar um local mais adequado para estabelecer uma
nova cidade. Pegaram a santa da velha igrejinha e sairam mato a dentro em busca da terra
prometida. Alguns dizem que isso motivou a primeira briga política da localidade.
Os moradores que não concordavam com tal mudança foram atrás de recuperar a
santa. Esse episódio foi tão conturbado e confuso que se pode perceber que a principal
igreja erguida possui o nome da santa trazida pelo padre, mas o feriado é realizado no dia
de outro santo. A princípio, essa história pode parecer até fora de contexto. Porém, se
tornará extremamente relevante anos depois, tanto para a cidade quanto para os fiéis
católicos. O que explicarei posteriormente.
O primeiro cemitério de YellowStone foi construido próximo a igreja e depois
transferido para um morro mais longe. Contam que onde era o antigo cemitério, hoje se
encontra a praça central. Há uma discussão onde alguns afirmam que os corpos não
foram transferidos. Mas ninguém nunca teve coragem de verificar tal fato.
É a cidade perfeita. Em YellowStone tudo é grande!
Tudo que lá é feito jamais foi visto em qualquer lugar do planeta. As maiores obras.
Os maiores eventos. O maior centro de lazer do mundo. As maiores verbas. Os maiores
atos. Os maiores shows. Sempre grandes discursos para anunciar grandes feitos.
Milhõõõesss em investimentos!
Embora a maioria da população não consiga presenciar toda essa maravilha por
pequenos problemas de mobilidade urbana, saúde e emprego, o investimento em lazer é
tão grande que parece que ninguém liga para esses “detalhes”.
CAPÍTULO II
Os personagens principais
(O Patriarca, o Pequeno Príncipe e o Sobrinho)
Página 09
1 – O Patriarca
Um ser revestido de luz. Humanidade e senso de justiça incrível. Religioso ao
extremo. Capaz de fazer tudo pelo próximo e sempre com um ensinamento valioso para
conduzir as pessoas a um caminho melhor. É assim que ele se anuncia. Mas não é assim
que ele é.
Fala em Deus com facilidade. Não por acreditar em um ser supremo acima de todos
nós e, sim, porque se aproveita da crença dos outros para manipular, ludibriar e
conseguir seus objetivos.
Deus pra ele, é ele.
Este é o grande representante das trevas em YellowStone. Todos o temem.
Vive cercado e adorado por seus fiéis seguidores. Afinal, ele representa o poder
maior. Quem está com ele tudo pode! Quem está com ele está protegido!
O comando desse mestre é realmente uma ordem!
- VAMOS ISOLAR TAL PESSOA! NÃO FALEM MAIS COM ELA!
E todos obedecem!
Por quê? Porque assim ele deseja e não precisa dar explicações.
Alguns acreditam tanto na inteligência deste ser tão superior que esquecem de
pensar por si mesmos. E acabam virando simplesmente mais uma peça de manipulação
para que o Patriarca alcance seus objetivos nefastos.
Promessas de riquezas e poder!
Mas tudo tem seu preço. Uma vez na teia, você fica a mercê da aranha.
Página 10
Em capítulos posteriores demonstrarei como é feita a penetração desse grupo
criado pelo Patriarca.
Ele consegue qualquer informação, de qualquer pessoa e a qualquer momento.
Sabe as movimentações financeiras de toda a cidade. Equipamentos de ponta para
realizar escutas telefônicas e monitoramentos vigiam os passos da cidade.
Chegou a ser desvendado um famoso "grampo telefônico" realizado por um de
seus comandados e que virou até caso de polícia. Mas na justiça de YellowStone, o
processo ficou sumido até ser considerado prescrito. Normalmente, em todos os
processos que o Patriarca ou alguém do "esquema" se envolve, ou saem vitoriosos ou o
andamento misteriosamente se arrasta por anos na própria cidade. Um outro processo
conhecido que por aqui foi vitorioso, perderam em instância superior. Desde então, todos
os outros processos são mantidos por aqui mesmo. Muitos destes são de informação
pública.
Constantemente ele indica aliados para trabalhos em locais estratégicos da cidade.
O esquema chegou a um ponto tão absurdo que se aparece algum opositor de suas
ideias, ele verifica todos os dados do indivíduo e manda destruí-lo. Ele se diverte
assistindo a tudo isso. Figuras importantes de YellowStone com comércios bem
sucedidos já entraram nessa rota de colisão e perderam tudo. Se a intenção é destruir uma
pastelaria, logo aparece uma nova pastelaria na cidade dirigida por pessoas ligadas a ele.
Chegou a criar um centro de entretenimento sob seu inteiro comando. Todos os
comerciantes desse novo empreendimento precisam fazer parte do "esquema". E adorálo
sem questionamentos. Os parentes diretos usam os famosos "laranjas" para não
aparecerem como donos. Todos com futuros garantidos.
Mas tudo tem seu preço. Uma vez na teia, você fica a mercê da aranha.
Infelizmente, boa parte da inocente população de YellowStone não percebe
claramente que tudo o que lhe é oferecido tem um preço. E ele vai fazendo a famosa
manipulação de massa. Realização de grandes eventos "gratuitos" pagos pela
administração do município em valores questionáveis. No centro de eventos, criado por
ele, o comércio de alimentação pratica valores nada populares e também é de sua
coordenação.
Dinheiro saindo da administração pública direto para o "esquema" do Patriarca.
Religiosidade, ocultismo, seitas, capangas e laranjas...
Tem muita história para ser contada.
O DOM DA INVERSÃO
Uma técnica muito usada pelo Patriarca, e ensinada aos seus discípulos mais fiéis, é
o dom da inversão. Em suas falas, consideradas por alguns verdadeiras aulas, ele ensina
na prática como inverter uma situação à seu favor. E todos fazem isso constantemente.
Temos vários casos que serão contados.
Mas um merece destaque. SENTE, PEGUE A PIPOCA QUE LÁ VEM A PRIMEIRA
HISTÓRIA:
Ainda jovem, o Patriarca se candidatou a um cargo para compor a bancada
legislativa de YellowStone. Já com o anseio de poder, encarou tudo e a todos nessa nova e
promissora fase de sua vida. Alguns dizem que ele nasceu assim, como se viesse de
fábrica com a versão 2.0 da política no sangue.
Em uma época que se comunicar era bem mais difícil e a Internet não existia nem
em filmes do Flash Gordon, as campanhas políticas eram feitas pelo jornal, impressos e
pessoalmente, de bairro em bairro, no formato de showmício.
O caminhão chegava no bairro com todo um aparato sonoro em cima e artistas
contratados se apresentavam exaustivamente por míseros trocados, tentando chamar a
atenção do público para os candidatos que viriam a seguir.
Mas a campanha não ia bem.
Página 11
Ele já estava desanimado com as reações do público em seus comícios. Que estavam
geralmente sendo frequentados apenas por seus próprios correligionários.
Provavelmente, foi dessa época mais difícil que ele percebeu que o segredo seria
criar uma maneira de aumentar seus seguidores. Foi o início da elaboração do tão perfeito
"esquema" utilizado até hoje, só que com proporções gigantescas.
Daí pra frente esta história se torna surpreendente e demonstra a genialidade do
mal, emanada do Patriarca.
Depois de um desanimador comício, o Patriarca não voltou para casa. Ficou
vagando pelas ruas de YellowStone pensando até em desistir de tudo.
Como se aquela horrível situação já não bastasse, no dia seguinte apareceram
várias cartas anônimas espalhadas por toda a cidade. O conteúdo da carta era
basicamente falando mal de familiares e principalmente da irmã do Patriarca, inclusive
com uso de palavras de baixo calão. Desmoralizando-o ferozmente como um animal
querendo devorar sua presa em um só golpe.
E chegou o próximo comício. Mesmo visivelmente abatido com tantos ataques, ele
encarou o público. Que desta vez estava até bem maior, pois todos queriam entender o
acontecido.
- QUERIDO POVO DE YELLOWSTONE! É POR VOCÊS QUE ESTOU AQUI!
SEMPRE FUI ATACADO POR MEUS ADVERSÁRIOS POLÍTICOS! SEI QUE
INCOMODO PORQUE SOU O CANDIDATO COM MAIOR INTENÇÃO DE VOTOS E
ISSO JAMAIS FOI VISTO NESSA CIDADE!
O povo perplexo olhava para o palanque tentando descobrir de onde vinha tanta
força para aquele homem conseguir falar, depois de ser humilhado por pessoas tão
Página 12
cruéis. A todo momento lembravam da covarde carta anônima espalhada por toda a
cidade.
E ele continuou...
- NEM VIRIA HOJE AQUI! MEU CORAÇÃO CHORA POR TANTA MALDADE!
O silêncio tomou conta de YellowStone. Nem o sino da igreja ousou tocar. De
repente, escuta-se cair nas velhas tábuas daquele caminhão que servia de palanque, o
som da lágrima que escorreu da face do Patriarca.
Com voz trêmula e ressentida:
< Silêncio sepulcral >
- Minha família não! Não é justo! Me ataquem! Estou aqui para o bem de YelowStone! E se
for necessário percorrer um calvário como Jesus o fez, eu suporto! Mas minha família não é justo!
< Silêncio cada vez mais sepulcral >
- EU VOU DESISTIR DA MINHA CANDIDATURA!
Os fiéis e poucos seguidores da época começaram a se manifestar pedindo que não
fizesse isso, pois precisavam de gente honesta e transparente como ele. E em pouco tempo
o coro foi aumentando e contagiando à todos!
Na manhã seguinte, YellowStone já não era mais a mesma. O jovem Patriarca
colocou sua melhor roupa e saiu pela cidade. Todos que ele encontrava pelo caminho,
vinham com palavras de apoio e condenando o mal feito contra ele e toda a sua família.
Ele se sentiu como jamais havia se sentido. Seu nome estava em todos os cantos da cidade.
E GANHOU A ELEIÇÃO! VIVA! O FUTURO REI FOI VINGADO!
Mas o que muitos não ficaram sabendo e a partir daquele momento já não
importava mais, é quem teria sido o autor daquela famigerada carta anônima:
SIM! O próprio Patriarca!
Uma mente privilegiada, mas malígna!
Capaz de criar horrores pelo poder.
E a sua maior criação já estava predestinada
a herdar os seus caminhos do mal...
Página 13
2 - O Pequeno Príncipe
Apesar de não ser filho único, sempre foi criado pra ser
espelho do Patriarca. Os mesmos gestos, impostação de voz,
olhar superior. Sempre com a intenção de amedrontar quem
os cercam. Peito estufado e ordem dada. Há uma
desconfiança de, na realidade, se tratar de um clone do
Patriarca. Também tem o dom da fala, mas com discurso
traçado por seu Criador.
O Pequeno Príncipe cresceu assim. Vendo o poder.
Entendendo como funciona. Presenciando o medo no rosto
das pessoas e criando um prazer e um desejo diabólico em
ser o centro das atenções. Dizem que quem assistiu o filme "A
Profecia", associa facilmente o personagem principal,
Damien, a ele.
Talvez por força da circunstância ou dos ensinamentos
do Patriarca, ele foi criado de maneira diferente das outras
crianças da família. Se identificou desde cedo com roupas diferenciadas, principalmente
camisas de cores e desenhos duvidosos e dificilmente usava camiseta. Sapatos sociais ou,
no máximo, sapatênis. Shorts jamais! Vestimentas e brinquedos que ele não gostava,
jogava aos primos.
O filho do Patriarca se tornou uma pessoa sombria, vingativa e sente extremo
prazer em causar dor. Não somente em seus opositores, mas em todos que discordam de
suas ideias ou não o serve. Ninguém sabe quem deu o poder de rei pra ele ou porque
alguns acreditam que ele é superior. Muitos falam que o Patriarca já chegou ao ponto de
ameaçar e mandar desaparecer com alguns de seus desafetos. E essa fama faz com que ele
se mantenha sempre superior aos outros.
Adora carros caros, mulheres bonitas, armas de fogo e, principalmente, muito
dinheiro e poder.
Frequenta sempre feiras e eventos de lançamento automobilístico. E uma de suas
principais práticas é tentar conquistar as modelos.
Tentando se qualificar profissionalmente, ele começou cursar Direito. Ia sempre a
faculdade de carro 0km. Claro!
Mas nem sempre as coisas dão certo para ele. A direção da faculdade descobriu que
o seu histórico escolar era falsificado e que outra pessoa fez a prova em seu lugar. O
Pequeno Príncipe não havia terminado nem o segundo grau.
Foi expulso. E o ódio e a amargura aumentaram.
Após algumas tentativas, desistiu de fazer cursos superiores.
Unindo duas das suas maiores paixões, vamos a primeira história do Pequeno
Príncipe...
Página 14
O BANG-BANG
Era alta madrugada.
Aquela noite estava se preparando para ser palco de uma das histórias mais
engraçadas e estranhas já contadas em YellowStone.
Como característica de uma boa cidade pequena, o silêncio era quase tudo o que se
escutava.
Quase...
Rompendo a barreira da lógica, como sempre, o Pequeno Príncipe pegou o seu
possante veículo para dar seu famoso rolê. Chamou um amigo qualquer para
acompanhá-lo, somente para assistir mais uma de suas atuações. Sempre gosta de ter
testemunhas para falar de seus feitos e como é corajoso.
O Pequeno Príncipe saiu naquela noite com outra intenção.
Como a reafirmação de poder sempre é seu objetivo principal, gostava de
impressionar os amigos com situações inusitadas.
Disse ele:
- Vamos passar na lojinha do Willy para fazer uma brincadeira com ele?
O amigo, já acostumado em concordar com tudo, aceitou de pronto. Deram meia
volta com o carro e saíram disparado à loja do outro amigo.
Era uma pequena loja que sempre ficava até alta madrugada aberta. Vendia
produtos variados e, principalmente, bebidas alcoólicas. O Pequeno Príncipe sempre
estava por lá e existem outras ótimas histórias que envolvem o mesmo local.
Chegando na frente do estabelecimento e com a rua completamente vazia, a
pegadinha foi posta em prática.
Quando seu amigo, proprietário daquela pequena loja, viu o veículo parado foi
cumprimentá-lo.
O Pequeno Príncipe pegou a sua companheira de sempre, uma pistola .380. Abriu a
janela do lado do motorista e, rindo, deu alguns tiros pra cima. O dono da loja, que vivia
com medo de assalto, se jogou apavorado no chão.
Por alí passava, neste exato momento, um entregador de pizza. Com os tiros, o
coitado quase caiu da moto. Um desespero. Ele conseguiu reconhecer os envolvidos e o
veículo e saiu disparado de perto achando que poderia ser alvejado. Em uma distância
segura e de mãos trêmulas, o pobre motoboy chamou a polícia relatando o fato.
Como o barulho emitido pela arma ecoou fortemente, aquela noite tranquila se
tornou um grande evento. Logo, várias pessoas estavam na loja para socorrer o dono
deitado no chão. O motoboy voltou para o local assim que viu o carro do Pequeno
Príncipe desaparecer na escuridão.
Página 15
A polícia chegou, pegou o relato do rapaz e registrou o boletim de ocorrência.
Com o perfil revestido do poder da impunidade, o Pequeno Príncipe ainda passou
desfilando o seu possante automóvel no dia seguinte, em frente ao local de trabalho
daquele azarado entregador de pizza, fazendo sinal de arminha com as mãos em tom de
deboche ameaçador.
Dias depois, o fato foi relatado para as autoridades policiais. Mas, por ironia do
destino, tudo acabou em pizza.
O bang-bang em YellowStone não para por aí. Animais alvejados; fiscal da ordem
dos músicos dançando como se fosse em um cabaré de velho oeste aos tiros de um
revólver 38; e muito mais...
Página 16
3 - O Sobrinho
Esse é um personagem que se confunde muito em YellowStone. São vários
sobrinhos que compõe o esquema do Patriarca. Um deles já se envolveu em um escândalo
que abalou a cidade toda. Desvio de dinheiro de um evento que não foi realizado. Fugiu,
voltou e até hoje ninguém viu o reembolso. Atualmente é uma peça importante no
"esquema" como gerente de uma empresa ligada à administração do Pequeno Príncipe do
Mal. Essa história em breve será revelada.
Mas não quero falar dos sobrinhos "bobos" do Patriarca. Esses são praticamente
abrigados e sustentados pela falta de competência até para serem discretos.
O sobrinho em questão representa todos os outros. Esse sim, faz parte de todas as
manipulações da família. Se esgueirando como uma esperta ratazana e implantando
ideias a favor do Patriarca e do Pequeno Príncipe.
O Sobrinho do Patriarca viveu sempre à sombra da família. Servindo-os e aceitando
as sobras desses parentes superiores. Roupas e brinquedos eram herdados e festividades
como Natal e aniversários era o meio dele viver um pouco de tudo o que o Pequeno
Príncipe tinha.
E até hoje é a sombra perfeita. Ganha um salário altíssimo sem precisar trabalhar. A
função dele é sempre dar o suporte necessário para as armações do "esquema". Falaremos
das atuações sórdidas desse conhecido e, ao mesmo tempo, misterioso ser em capítulos
dedicados.
Quando rapazola, o Sobrinho tentou ser alguém diferente. Ele falava aos quatro
ventos que não suportava ser a sombra do primo. E aquilo soava como uma verdadeira
angústia. Tentou vários ramos de atividade, mas sempre sem sucesso. Muitas histórias de
família sempre foram relatadas por ele mesmo aos amigos. Ora com tom de deboche, ora
com tom de desprezo. Seu talento para golpes era nato. E com o tempo percebeu que não
adiantava lutar contra isso.
E sucumbiu ao seu destino.
Em sua maior luta contra o que estava para ele
predestinado, tentou ser empresário no ramo de
importações. Virou sacoleiro do Paraguai.
Foi o momento da vida de maior esforço que o
Sobrinho viveu. Indo e vindo pelas estradas enfrentando
o perigo constantemente. No companherismo de
contravenção de muamba surgiu um outro personagem:
O Grande Laranja. Este ainda trabalha no ramo de
importação e é, sem dúvida, o principal personagem do
"esquema" no quisito laranjada.
Um dos maiores vícios do Sobrinho surgiu nessa
época. Ao se apaixonar por uma prostituta paraguaia de
codinome Mulher Gato, ele nunca mais foi o mesmo.
Todas as viagens dele de negócio, até hoje, tem horários
reservados em casas de diversões para adultos. Alguns
dizem que ele faz uma busca aos bordéis de todo o
Planeta para tentar reencontrar a misteriosa Mulher
Gato.
Teve uma breve passagem no ramo do cinema pornô, mas também sem sucesso. O
filme produzido em um motel local ficou incompleto. Ele preferiu se envolver
emocionalmente com a atriz do que realizar todas as filmagens.
E temos a primeira história dele a seguir...
Imagina um menino ruim. Esse é o Sobrinho do Patriarca.
Quando era criança, há relatos que uma das diversões principais daquele pequeno
garoto era com pintinho.
Certo dia, a empregada da casa entra furiosa para relatar para a patroa:
- Seu filho está aprontando coisa errada lá no quintal.
Página 17
A mãe, apavorada, saiu correndo pela casa para salvar o menino de algum desastre.
Já imaginou que o pior estaria acontecendo, pois a expressão da empregada realmente
não era boa.
Chegando no quintal, viu o filho andando de velotrol. Claro que com uma
velocidade acima do normal para uma criança daquela idade. Definitivamente, ela não
entendeu o desespero da empregada e resolveu parar e observar o menino.
Na casa, havia uma garagem comprida que dava acesso a um quintal amplo.
Espaço perfeito para andar de velotrol em altíssima velocidade.
Página 18
E lá vinha ele...
Os pés pequeninos pedalando com o vigor de um esportista. Passando cada metro
do corredor como se fosse um grande prêmio de fórmula 1.
A mãe se perdeu olhando seu filho tão concentrado naquela brincadeira que não se
deu conta de como acabaria isso.
E lá ia ele...
Chegando ao maior espaço do quintal ele preparou para o gran finale: atropelar o
pintinho amarelo que ganhou de presente do pai no dia anterior.
Foi aí que a mãe percebeu que o coitado do animal já tinha participado desta mesma
cena várias vezes. E o objetivo do filho era destruí-lo por completo!
A mãe gritou assustando o menino:
- Pára com isso, filho! Desde quando você brincou de médico com o outro pintinho,
eu falei pro seu pai não trazer mais nenhum pra casa.
O que a mãe se referia era a morte do pintinho anterior.
O garoto espetou a parte inferior do animal com um palito de dente até causar a sua
morte.
Imagina um menino ruim!
Uma vez na teia, você fica a mercê da aranha!
CAPÍTULO III
O "Esquema"
Teia da aranha
Página 20
E as portas para o Legislativo de YellowStone foram abertas ao Patriarca. Ele
conseguiu alcançar aquela posição de destaque na sociedade que tanto sonhava.
O respeito e o poder sempre o fascinou.
Precisou de pouquíssimo tempo para que entendesse o funcionamento dos setores
da Casa Legislativa. E, demonstrando-se superior aos colegas de bancada, chegou a
presidência da CLY (Câmara Legislativa de YellowStone).
Nesta posição, a cidade começou a curvar-se aos seus pés. Convites para jantares
gloriosos, reuniões com empresários, viagens e contatos políticos nacionais... o mundo
sorria para o Patriarca.
Conhecendo a importância dos membros do Legislativo para a cidade, ele começou
a traçar o que chamamos de teia: um dos principais pontos do "Esquema" montado pelo
Patriarca.
Com seu poder de análise aguçado, ele percebeu que o prefeito de YellowStone,
embora seja considerado a autoridade máxima da cidade, dependia dos legisladores da
Câmara. E articulou um movimento entre os colegas de bancada para exigir ações do
chefe do Executivo. Assim, ele impressionava os colegas e fazia seu nome por toda a
cidade. Muitos projetos apresentados foram criados pelos outros integrantes da casa, mas
ele, como presidente, era quem recebia os méritos pela boa gestão.
Os anos se passaram e o Patriarca viu a vida escorrendo por suas mãos. Aquele
cargo era o sustento de sua família agora. O que fazer para viver se aquilo acabasse?
E começou alí a sua verdadeira função política: Articulador.
Traçando uma meta de trabalho para continuar controlando a cidade, procurou
aliados políticos para montar uma bancada forte nas próximas eleições de YellowStone.
Escolheu um candidato a prefeito e apresentou para a cidade como sendo a
personalidade que teria o seu apoio.
Aquilo seria perfeito. O prefeito eleito com o apoio do Patriarca seria uma peça
importante e com gratidão eterna.
Fazendo a maioria da bancada de legisladores da CLY, ele também teria a maioria
dos votos necessários para as ações do prefeito comandado por ele. A cidade dominada!
E no comando: o Patriarca.
Página 21
E a lenda foi assim, cada vez mais, se consolidando como o maior estrategista
político de YellowStone.
NA CÂMARA LEGISLATIVA DE YELLOWSTONE
Assim que terminou a eleição, boa parte de seu plano deu certo. O prefeito foi eleito
e ele fez a maioria dos legisladores da Câmara. Agora começam as manipulações. Afinal,
ele já não fazia parte da bancada e nem da Prefeitura. Como pode ter continuado com
tanta força?
Aí vem o seu talento em montar estratégias para sempre sair ganhando.
Nos bastidores da política ele sempre permanece. No partido que fazia parte, virou
o presidente.
Na posição de presidente de partido, ele consegue dominar o prefeito e os
legisladores aliados. Como? Ora dando agrados políticos ora ameaçando mesmo!
Como isso funciona em YellowStone até a data de hoje:
* O Patriarca deseja que algum de seus projetos seja aprovado. Um supercargo de alto
salário ou obras envolvendo milhões, por exemplo.
* Ele manda o prefeito fazer o projeto para a criação do referido cargo;
Página 22
* A aprovação do pedido fica por conta da votação dos legisladores da Câmara. Como a
maioria dos membros da CLY (Câmara dos Legisladores de YellowStone) são seus
aliados, recebem o comando para votar "SIM" naquele projeto. E sempre é feito desta
maneira. Muitas vezes, os legisladores nem sabem sobre o que estão votando.
Qual o desdobramento disso?
* Em contra partida, o legislador "ganha" obras na cidade feitas pela Prefeitura. Assim,
aumenta o seu prestígio para as próximas eleições. E recebe cargos no Executivo, em
órgãos públicos ou empregos em empresas de aliados para amigos e parentes. Quase
sempre não importando a qualidade profissional;
* Com isso, a teia foi lançada. O legislador não consegue fazer mais nada contra o
Patriarca e seu prefeito. Já aconteceu de alguns se indignarem e obter como resultado as
demissões sumárias dos parentes e bloqueio de qualquer pedido de obras e serviços para
a população. Além de serem taxados como oposição e massacrados pela mídia de
YellowStone. Tudo sob o comando do Patriarca;
* A população, não conhecendo essa sórdida manipulação, começa a desacreditar
daquela pessoa que escolheu nas urnas. Mas que, na realidade, está sendo boicotada por
contradizer o Patriarca e, assim, não fazer parte deste grande "Esquema".
Essa história, por mais fantástica que possa parecer, é uma das grandes e tristes
realidade de YellowStone há algumas décadas. Desde quando surgiu o Patriarca na vida
política da cidade tudo funciona assim e o "Esquema" vem ganhando mais adeptos.
A partir daí, todos os prefeitos de YellowStone foram eleitos pelas mãos do
Patriarca e a maioria dos legisladores da CLY também. Alguns que se rebelaram por
conhecimento de esquemas sórdidos de desvio de dinheiro foram destruídos
politicamente e o Patriarca, milionário!
Principais presas do Patriarca:
Para que todo esse "Esquema" funcione bem, ele precisa das pessoas sob seu total
controle. Para isso, escolhe pessoalmente e minuciosamente seus candidatos para lançar.
Geralmente seguem os seguintes pré-requisitos:
* Gananciosos (fazem tudo por dinheiro);
* Extremamente populares. Precisam ser sucesso na comunidade, o "gente boa". Dê
preferência, que seja de origem simples para não questioná-lo e, se assim o fizer, ter medo
de sair da teia. Sabe essa figura de sorriso fácil, ego inado e cérebro reduzido? Então!
* Pessoas ligadas à igrejas, pois trazem uma comunidade inteira de seguidores e cria uma
credibilidade religiosa;
* Os políticos de profissão. Estes já conhecem todo o "Esquema", criaram seus próprios
esquemas e possuem parentes e amigos espalhados por toda a cidade com empregos
"ajeitados". Todos com eterna gratidão ao Patriarca. Alguns de origem pobre, mas que se
curvaram ao "Esquema", já estão muito ricos.
OS ABRIGADOS POLÍTICOS
O Patriarca, para manter seu controle, indica pessoas para ocupar cargos
importantes em todos os segmentos da sociedade. Como isso é possível? Vamos lá...
Muitos funcionários que trabalham em orgãos públicos de YellowStone foram
indicados pelo "Esquema". Geralmente para pagamento de favores e acerto político.
Em alguns lugares, temos uma situação interessante:
Página 23
Funcionários que entraram por concurso público e não por indicação. O que
deveria ser uma segurança para a honestidade do trabalho nestes locais, na realidade
acarreta ainda mais problemas.
A princípio, não entendia como um funcionário concursado pode aderir ao
"Esquema" se não entrou no trabalho por causa dele. Mas como tudo na vida do Patriarca
é manipulação, desvendei também esse mistério:
* Alguns entraram por conta de concursos fraudulentos. É possível? Sim. Tem um caso
que a prova foi até realizada por outra pessoa. Outro caso que, para um conhecido
assumir o cargo, um dos candidatos foi ignorado e nem ficou sabendo que tinha sido
aprovado. E o mais grave: dizem que as provas dos concursos propositalmente sumiram.
Nada mais comprova a irregularidade!
* Para os que foram aprovados legalmente e honestamente nestes concursos, o Patriarca
criou um sistema de bonificação para algumas funções assumidas.
Funciona basicamente assim: o funcionário foi aprovado para assumir uma vaga de
motorista, por exemplo. Mas se ele assumir uma função de fiscalizar patrimônio ganha
um acréscimo considerável no salário. Em outro caso, o funcionário foi aprovado para
trabalhar em uma determinada função, mas o setor está completo. Se assumir a função de
diretor de algum outro setor, o salário aumenta quatro vezes. E por aí vai...
O Patriarca está com os concursados na mão. Sempre oferecendo vantagens.
Sabe aquele seu primo? Tenho um trabalho pra ele. Sabe aquele seu irmão?
Arrumei emprego pra ele. Sabe sua filha? Procura tal pessoa que vai empregá-la.
Página 24
O Patriarca envolve todo mundo em sua teia.
Mas o preço é caro! Quando ele precisa, ele cobra! E todos, por medo, abaixam a
cabeça e obedecem.
E ele cada vez mais rico e com poder.
Quer uma grana? Procure o Patriarca. Vá servi-lo. É fácil.
Quer ser eleito? Se você for manipulável e corrompível tem grandes chances de cair
nas graças do grande Patriarca.
MAS O QUE FAZ DO PATRIARCA UM SER TÃO RUIM?
Resposta simples: Poder vira dinheiro!
Com todo esse "Esquema" montado, ele consegue o que quer. Verbas e
empréstimos milionários gerando dívidas para o município de YellowStone, mas que
ninguém sabe como são usados na realidade. Os legisladores aprovam por comando do
Patriarca e pronto! Se alguém pede esclarecimento sobre os gastos, os próprios
legisladores negam e dificultam os esclarecimentos por parte do Executivo. Contratos
superfaturados e fraudulentos.
Mas tudo tem seu preço. Uma vez na teia, você fica a mercê da aranha.
MEL NA CHUPETA E MUITA AREIA NOS OLHOS
Para manter tudo sob seu controle, ele exige ações de seus comandados que beiram
a esquizofrenia. Mas o Patriarca é astuto e sabe a hora exata entre chantagear ou agradar.
Se ele acredita, no auge de sua genial insanidade, que alguém não está ao seu favor,
mesmo que o trabalho exercido por aquela pessoa não demonstre isso, ele cria toda uma
situação usando seu exército do mal.
Na Prefeitura de YellowStone e na CLY ele já fez barbaridades com profissionais
que não entraram em sua rede de informações. Simplesmente não se rebaixaram a ele. Ele
ordenou a demissão sumária de funcionários e, em contra partida, prometeu montar um
setor perfeito. Um "Dream Team" para compensar a assessoria que vinha sendo exercida
e que era considerada, por todos, muito eficiente.
E assim foi feito.
Manda reformar toda a sala de trabalho. Troca de piso, paredes com novas cores
para dar o tom de novos tempos, equipamentos modernos, novos funcionários indicados
por ele, tudo perfeito!
O grande objetivo do Patriarca é sempre ludibriar, é claro!
Com mel na chupeta e areia nos olhos, todos ficam encantados com tudo o que foi
feito e nem lembram mais das demissões.
Página 25
Nem seus aliados e nem mesmo seus opositores. Hipnotismo coletivo do mal.
O que poucos percebem é que ele conseguiu seu objetivo. Ter mais um órgão
público dominado na totalidade. Recebendo informações privilegiadas ou implantando
suas ideias a qualquer momento.
Em operações como esta, o Patriarca consegue ter seus aliados na mão,
chantageando-os. Uma das principais armas usadas por ele é por em risco a vida política
de alguém.
Como é o presidente do partido, e nos pontos estratégicos sempre coloca seus
comandados, caso haja algum sinal de rebeldia, ele usa como ameaça a retirada do seu
aporte para as eleições seguintes. Sob essa alegação de risco em tom ameaçador, os seus
comandados agem como verdadeiros traidores. Temos o caso do 30Moedas, um
legislador que prega religiosidade mas que, na verdade, faz parte de todo o "Esquema" há
anos.
"E disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram 30 moedas de
prata. E desde então buscava oportunidade para o entregar."
Matheus 26:15-16
Um dos pontos mais
polêmicos de YellowStone é a
mistura de religião e política.
E por trás disso tudo
temos algo misterioso e
macabro.
CAPÍTULO IV
Quem são os
verdadeiros irracionais?
Página 27
Com a ascenção política vem também o cansaço. E uma marca do Patriarca é a
paixão por caça e pesca em seus momentos de lazer. Alguns amigos mais próximos
narram a felicidade que ele emite quando, frente a frente com o animal caçado, sente a
vida daquele ser frágil indo embora pelas suas próprias mãos. O olhar da presa pouco a
pouco se apagando.
Várias pessoas conhecem esse lado voraz e mórbido do Patriarca, mas muitos que
se dizem defensores dos animais não se importam com esses fatos. Na história política de
YellowStone existe sempre a presença da figura defensora dos animais em seu rol de
legisladores. Estes, por sua vez, são abastecidos com doações de alimentos para cães
abandonados e outros feitos que elevam o prestígio na comunidade. Essa é a ironia do
destino: ser peça de manipulação de um ser que vai contra as suas convicções de vida.
Alguém que tem prazer em matar o que eles mais amam. Para o Patriarca e seus asseclas,
vidas de animais não importam!
CAÇADA EM FAMÍLIA
Era tarde da noite e todos já estavam exaustos. Afinal, o que era pra ser um dia
inteiro de diversão foi interrompido por uma abrupta denúncia anônima que levou a
polícia ambiental àquele sítio.
O ambiente exalava um cheiro mórbido. Mas para todos que frequentavam
rotineiramente o famoso sítio da família, isso já não era mais incômodo. Lá, o proibido
sempre foi o mais excitante e desafiador. Sentimento repassado para todos com a maior
satisfação pelo Patriarca. O grande chefe.
Quando os policiais abordaram aquela trupe no meio do mato, já chegaram
determinados a interromper o crime que fora relatado pela ligação recebida na Central.
Página 28
O Sargento, com a arma em punho, gritou:
- PARADOS! POLÍCIA AMBIENTAL! SOLTEM AS ARMAS E DEITEM NO CHÃO!
Imediatamente, todos seguiram os comandos do oficial e se renderam.
Nervoso, o iniciante Soldado que o acompanhava, recolheu as armas e os conduziu
para a casa grande do sítio.
Embora os suspeitos não estivessem carregando nada naquele momento além das
armas, a denúncia estava cada vez mais se concretizando. Tudo indicava que um crime
acontecia por ali.
Na mira do revólver todos estavam na sala aguardando uma revista minuciosa
feita pela casa.
Ao chegar na cozinha, o Sargento abriu um freezer e se deparou com o motivo de
toda aquela operação. O crime estava confirmado. Vários quilos de carne de capivara
abatida. O que no Brasil é crime!
Todos foram levados para a delegacia. O Sargento e o Saldado já escutavam o
elogio de seu Comandante pelo grande feito.
As sirenes das viaturas nunca tocaram tão bonitas! Ecoaram por toda a estrada até a
porta da delegacia. O interior do veículo exalava um odor de suor de nervoso misturado
com carne sem refrigeração que, com certeza, chamou atenção de todos os policiais.
Em absoluto silêncio, o Patriarca somente falou quando se sentou de frente para o
delegado. De maneira firme, se mostrando superior e com um tom de ordenação, como é
de costume:
- Exijo o direito de ligar para o meu advogado!
O delegado permitiu a ligação e aguardou por várias horas a chegada do tal
profissional.
O jovem advogado que fora acionado para aquela situação era recém formado e
amigo de infância do Sobrinho do Patriarca. Já informado de toda a situação e sabendo
que o abate de capivara é crime, teve uma ideia perfeita para encobrir o mal feito de seus
amigos. Pedindo apoio para outros integrantes da família, seguiram os seguintes passos:
* Começaram a procurar restaurantes que tinham permissão para criação e abate de
capivara;
* Ao achar um estabelecimento em São Paulo que trabalha com carnes exóticas fizeram o
pedido por telefone da mesma quantidade apreendida pelos policiais;
* Pegaram um veículo da família e partiram.
Chegando ao restaurante, se identificaram e fizeram o pagamento de toda aquela
carne. Assim que tudo foi acertado, o gerente pediu que abrissem o porta-malas do carro
para colocar as carnes que já estavam devidamente armazenadas em caixas de isopor com
gelo para suportar a viagem de volta.
Mas para a surpresa do dono do restaurante e de todos os funcionários, o advogado
falou:
- Não, não! A carne pode ficar para vocês, queremos só a nota fiscal!
Risadas de todos... E assim mais um crime foi encoberto.
Todos liberados. Foram embora para o sítio, rindo da cara dos policiais.
E ainda deu tempo de caçar mais algumas capivaras para a janta!
Hoje em dia, o Patriarca se tornou mais zeloso nesse tipo de atividade,
principalmente pela idade.
YELLOWSTONE E OS ANIMAIS
Para o "Esquema", os animaizinhos domésticos também se tornaram um ponto de
captura de seguidores para o Patriarca. Ele usa o sentimento da população por seus fiéis
companheiros de quatro patas para eleger os ditos "legisladores protetores de animais" e
angariar mais votos para o seu partido.
Mas alguns fatos poucos moradores de YellowStone sabem.
Um cãozinho de estimação vira um membro da família. O amor que eles emitem é
algo inexplicável para muitos. Aquele serzinho só sabe transmitir e receber carinho. São
capazes de equilibrar emoções, recompor sentimentos, fazer companhia e consolar nos
momentos mais difíceis de seus donos.
E quando ele morre? A casa se torna vazia! Uma dor imensa toma conta da família.
Tristeza profunda pela perda do maior amigo de todos!
Nada mais justo que dar a esse companheiro de vida uma despedida justa e digna.
Mas em YellowStone não é bem assim.
Como tudo no "Esquema" é em função do dinheiro, esses fiéis amigos são tratados
literalmente como lixo pela administração da cidade.
Entenda como funciona:
* Seu cãozinho morre após anos de companhia;
Página 29
Página 30
* O veterinário te informa que em YellowStone é crime ambiental enterrá-lo em qualquer
lugar;
* A única solução proposta pelos profissionais é deixá-lo na clínica para serem
descartados no local correto;
* O seu amigo é pesado e o valor cobrado equivale ao quilo do animal;
* Você, já destruído pela saudade, paga o valor cobrado e vai embora;
- A clínica pega o corpo de seu animalzinho e acondiciona compactado em um barril com
outros animais mortos;
- Uma empresa "especializada" é chamada após conseguirem juntar um peso ideal.
Levam tudo embora, juntos e misturados, e tacam fogo. São incinerados da maneira mais
"fria" possível. Como um lixo contaminado!
E todos ganham dinheiro...
A empresa de descarte ganha pelo serviço executado. Os veterinários ganham
porcentagem do quilo descartado. A administração ganha pelos impostos e acordos com
a empresa.
Já houve relatos de pessoas que foram ludibriadas por algumas clínicas de
YellowStone que seus animais seriam enterrados em algum cemitério da própria clínica.
Com todo o cuidado e carinho.
Há casos que algumas clínicas não enviam para a incineração e enterram em
cemitérios clandestinos, ficando com o dinheiro do cliente.
De todas as histórias macabras de YellowStone, essa foi a que me deixou mais triste.
E os legisladores que são eleitos pela causa animal, nada fazem! Sempre envolvidos na
teia!
E falando de animais e maldade...
ESSA VACA É UMA VACA!
Certa madrugada, o Pequeno Príncipe e alguns amigos estavam rodando pela
cidade a procura de novas aventuras.
Como era de costume, passaram em todos os lugares geralmente frequentados por
ele, mas nada agradava o futuro reizinho.
Foi quando um dos amigos teve a brilhante ideia:
- Vamos para a cidade vizinha! Tem uma galera ótima que conheço por lá!
Embora a ideia não tenha sido do Pequeno Príncipe, ele assumiu como se fosse. E
resolveram seguir a diante com a noitada.
Entraram no carro, deram mais algumas voltas pela cidade e tomaram o rumo da
rodovia.
Quilômetro por quilômetro, a rodovia era acordada por aquele possante veículo e
seus integrantes. Os pneus iam comendo o asfalto em busca de diversão.
Já quase na metade do caminho, o Pequeno Príncipe percebeu que os carros que
vinham na direção contrária sinalizavam insistentemente.
O perigo à frente era eminente.
A velocidade da nave foi reduzida.
O farol alto foi acionado.
De repente, todos os integrantes do veículo avistaram a Mimosa no meio da
rodovia. Uma linda e enorme vaca malhada que, por irresponsabilidade do seu
proprietário, também resolveu dar umas voltas naquela noite.
O Pequeno Príncipe parou o carro.
Todos saíram.
Como um belo exemplar da família real, ele calmamente pegou aquela majestosa
vaca e a levou para a beira da rodovia, afastando o perigo. Sacou a sua .380 e deu um tiro
certeiro bem no meio da cabeça da Mimosa.
E com o ar de superioridade que lhe é característico, indagou:
- Essa vaca é uma vaca!
Agora não fica mais solta por aí.
Página 31
Há os que acham graça nessa história. Mas
para quem não se importa com o fato do
Pequeno Príncipe andar armado, pensar no
sofrimento daquele pobre animal realmente é
algo banal.
E ainda existem protetores de animais que
fazem parte do "Esquema"... Você entende isso?
CAPÍTULO V
O LEGADO
Após montar toda sua rede de informações
e um verdadeiro exército do mal para controlar os
moradores e a cidade de YellowStone, o Patriarca
se deparou com o maior medo de sua vida: a
velhice. E isso, todo o seu poder não consegue
resolver.
A disposição mental para elaboração de
golpes e aniquilação de seus adversários políticos
continuava como nunca. Mas ele sentia que sua
força física já não era mais a mesma.
Ele começou a sofrer golpes pesados que
começaram a abalar sua estrutura financeira.
Vinha perdendo o espaço político de YellowStone
para personagens com mais vigor e que estavam
conseguindo se projetar sem estar sob seu
comando.
A sua principal fonte de renda foi afetada
com o cancelamento de um grande contrato.
Página 33
Tudo vinha desmoronando.
Ao perder esse contrato, e sentindo-se com os
passos travados, ele resolveu procurar ajuda. Se
ausentou da cidade para se reestruturar.
Um dos seus fortes contatos políticos conseguiu
encaixá-lo e abrigá-lo em um esquema no mesmo ramo
que atuava em YellowStone. Ali ele começou a refazer
a vida financeira e traçar toda a sua vingança.
Embora a cidade que o acolheu fora a sua
salvação, ele jamais aceitaria ser excluído de
YellowStone. Para ele, tudo era temporário. Agia na
localidade como uma grande nuvem de gafanhotos, se
alimentando e crescendo para o seu triunfal retorno.
Quando finalmente decidiu retornar para
YellowStone, deixou para trás na cidade abrigo uma
dívida enorme. Um processo que se arrasta até hoje
contra ele, mas dentro de seus objetivos aquilo não tem
a mínima importância. Ele conhece bem como se
aproveitar da impunidade.
Durante seu exílio financeiro, o Patriarca
projetou seu futuro de vida em uma única pessoa: o
Pequeno Príncipe. Um clone revestido de ódio,
vingança e sem o mínimo pudor para destruir o que
entrar em sua rota.
Página 34
Já na cidade, abriram um novo escritório que
também serviu de base para a montagem de uma
rádio clandestina que foi fechada por orgãos
federais da época. Mas como nos planos do
Patriarca estava a necessidade de controlar a
população também através de notícias plantadas
na mídia, anos depois ele comprou uma fundação
de outra localidade que possuía uma concessão de
rádio e trouxe para YellowStone.
Essa história também indica o poder do
Patriarca em realizar suas vontades. A concessão
de rádio é liberada baseada no estudo de
viabilidade técnica e outros itens da região em
questão. Transferir a concessão de uma localidade
para outra seria praticamente impossível. Mas não
para o Patriarca e seus contatos políticos. Jogada de
mestre novamente.
Na cidade, ele foi tecendo a sua "teia",
incluindo o Pequeno Príncipe em todas as suas
reuniões, como uma sombra perfeita de seus
passos políticos. Trabalhou arduamente para
convencer que aquela figura inexpressiva seria o
seu sucessor. E conseguiu fazer dele um legislador
eleito.
Com isso, o Patriarca marca a sua volta
triunfal em YellowStone.
O INÍCIO DA NOVA E DEFINITIVA TEIA DA ARANHA
Com o Pequeno Príncipe eleito, o Patriarca conseguia traçar novas metas para seu
"Esquema". Mas precisava ampliar, com segurança, seu exército. Uma das principais
peças de tudo isso é o Sobrinho. Que, ainda bem jovem, foi colocado estrategicamente
para trabalhar na CLY (Câmara de Legisladores de YellowStone).
Enquanto o Pequeno Príncipe atuava como Presidente da CLY, o Sobrinho assumia
vários setores dentro da instituição, ajudando-o a manipular e aprovar projetos. Chegou
a ser diretor geral e controlador das contas.
Vale ressaltar que todos os cargos importantes e de altos salários na história da CLY
são de confiança do Patriarca e servem ao "Esquema". Em especial, todos os diretores.
Uma das atuações mais tristes e engraçadas dessa dupla foi numa época em que os
computadores eram bem simples e as votações de projetos feitas pelos legisladores eram
secretas.
Acreditava-se que, com a votação secreta, não haveria pressão sobre os legisladores
e suas decisões.
Funcionava assim:
Página 35
* O tema da votação era apresentado aos legisladores;
* O Patriarca entrava em contato com cada um deles para indicar a importância da
aprovação, mesmo que fosse somente para servir os seus interesses;
* No dia da votação, cada legislador recebia um pedaço de papel em branco, distribuído
pelo próprio Sobrinho, para manter a lisura da votação;
* Eles votavam secretamente e colocavam o papel dentro de uma urna;
* Depois de todos votarem, a urna era aberta e os votos eram computados;
* Em seguida, a urna era recolhida pelo Sobrinho e a reunião seguia normalmente.
No dia seguinte, como um verdadeiro demônio, o Patriarca começava a ligar para
os legisladores, questionando ou agradecendo um por um, a votação do dia anterior.
Assim, ele já ia percebendo quem era seu aliado ou não no meio dos legisladores.
Mas como ele tinha certeza de qual era o voto de determinada pessoa se o ato era
secreto e não havia nem o nome do participante no papel?
Simples!
O Sobrinho, com antecedência, marcava os papéis em branco com a famosa caneta
de tinta invisível que só se enxerga o escrito com uma lâmpada especial. Produto
facilmente encontrado no Paraguai ou em lojas da Santa Ifigênia da época.
Se o voto era a favor, o Patriarca criava um mundo de vantagens e amizade ao
legislador. Se o voto era contrário, perseguia ferozmente o adversário.
Hoje em dia muita coisa mudou. Baseado na "transparência", o voto secreto foi
abolido. Com isso, o legislador fica completamente exposto a chantagens e manipulações
sem o esforço de maracutaias para descobrir votos secretos.
O que não muda é a atuação do trio: o Pequeno Príncipe sempre assessorado pelo
Sobrinho; e o Patriarca no comando.
Continua...