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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A AGONIA DE JESUS NO
GETSÊMANI
GETSÊMANI O LUGAR DA
DOR
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
3
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A AGONIA DE JESUS NO
GETSÊMANI
GETSÊMANI O LUGAR DA
DOR
1º EDIÇÃO
BRASILIA/DF
PROF. JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2015
4
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Copyright © 2015 by José Márcio Lacerda
Diagramação
Capa
Revisão
José Márcio Lacerda
José Márcio Lacerda
José Márcio Lacerda
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO ( CIP )
_________________________________________________________________
L131ajg Lacerda José Márcio
A Agonia de Jesus no Getsemani / José Márcio Lacerda
1. Edição - Brasília/DF
Copyright © 2015 by José Márcio Lacerda
391 p. 14x21
ISBN- 978-15-1483-039-0
Bíblia – Estudo da Bíblia
CDD – 220 – 220.7
_________________________________________________________________
Impresso pelo UICLAP Editora e Distribuidora Ltda – 2015
1º Bíblia 220
2º Estudo da Bíblia 220.7
Índice para Catálogo Sistemático:
Sites Oficiais : https://www.professorjosemarcio.com.br/
NOTA : Proibida a Reprodução Total ou Parcial Desta Obra, de Qualquer
Forma ou Meio Eletrônico , Mecânico , Inclusive Através de Processos de
Cópias , sem Expressa do Editor / Autor ( Lei : Nº : 5.988 DE 14/12/1973 )
UICLAP Editora e Distribuidora Ltda - CNPJ: 35.252.144/0001-10
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O AUTOR E ESCRITOR
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
PROF.: JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Pedagogo , Geografo , Teólogo , Professor , Casado
com Sandra Barbosa Felix Lacerda , Tenho um Filho Gabriel
Félix Lacerda , Capelão , Conferencista , Educador Cristão ,
Psicanalista , Bacharelado em Teologia SUPERIOR pelo
UNIFIL/PR , Licenciatura em Pedagogia SUPERIOR
IESA/DF , Pós Graduação em Gestão Escolar
COTEMAR/MG , Licenciatura em Geografia SUPERIOR
UNOPAR/PR , Pôs Graduação em Tecnologias Educacionais
FAVENI/MG , Bacharelado em Ciências da Religião
FATEFINA/RJ , Curso de Missiologia/EMAD , Curso de
Mestrado em Missiologia - Curso Internacional de Missões,
Mestrado e Doutorado em Teologia FATEFINA/RJ , é
Missiologo com mais de 17 anos de Experiência em teologia e
missiologia , Diretor Presidente do SETEAD EDUCACIONAL
– SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA KERIGMA
DIDACHE CNPJ : 29.511.479/0001-02 é Coordenador do
SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MISSÕES. Tendo
unicamente a Bíblia por sua regra de fé e prática, sendo, no
entanto, autônoma para resolver, por si mesma, quaisquer
questões internas, de ordem espiritual ou material que,
porventura, venham a surgir em sua Sede e suas respectivas.
Somos filiados a e Registrado pela Ordem dos Teólogo do
Brasil Nº 0.0255/2010 , OITEB - ORDEM
INTERDENOMINACIONAL DOS TEOLOGOS DO
BRASIL Sobre o Nº: 00105/2010- é CONSELHO NACIONAL
DE PASTORES DO BRASIL - CNPB-75 CNPJ:
73.347.973/0001 , Sobre o Nº 00100/2010.
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
ANOTAÇÕES
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
SUMÁRIO :
1ºIntrodução .............................................................13
2ºA Pascoa Judaica é a Ceia de Jesus.......................16
3ºOs Elementos que Fizeram Parte da Última
Páscoa....................................................................................28
4º A Agonia de Jesus no Getsemâni.........................31
5º Jesus Orando no Getsêmani.................................40
6º Quem foi Jesus.....................................................43
7ºO Relato da Agonia de Cristo a Nivel Médico.....52
8ºA Paixão de Cristo.................................................70
9ºComo morreu Jesus...............................................74
10ºExame forense do corpo de Jesus........................83
11ºObtemos as seguintes conclusões médico..........90
12ºHematidrose ......................................................105
13ºFisiopatología da Morte de Jesus Cristo............114
14ºInterpretação da Fisiopatológica da Morte de
Jesus Cristo ..........................................................................123
15ºAnálise Médica da Morte Física de Jesus
Cristo.....................................................................................131
16ºA Crucificação de Jesus......................................169
17º Simão Cirineu....................................................187
18º O Ladrão da Cruz..............................................206
19ºVejamos a causa física da morte de Jesus.........209
20ºAspectos Ilegais do Julgamento de Jesus..........219
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
21ºComo Era a Coroa de Espinhos Colocada em
Jesus ....................................................................................224
22ºA Morte de Cristo ..............................................241
23ºSete Frases Dita por Jesus Durante sua
Crucificação .........................................................................277
24ºO Significado da Morte de Cristo .....................282
25ºA Doutrina da Expiação ...................................290
26ºO que é expiação substitutiva ..........................334
27ºO sangue ...........................................................346
28º'Yom Kippur .....................................................356
29ºQual a importância do véu do templo ter sido
partido em dois ...................................................................370
30ºBibliografia........................................................388
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A Crucificação de Jesus Num Ponto de
Vista :
MÉDICO – Dor
TEOLÓGICO - Profecia
CIENTIFICO - Razão
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Jesus Getsêmani Agonia Suor Sangue
42: Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice;
todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43: E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.
44: E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu
suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao
chão.
45: E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos,
e achou-os dormindo de tristeza. Lucas 22:42-45
O MILAGRE DE DEUS EM JESUS CRISTO NO
JARDIM GETSÊMANI NO MONTE DAS OLIVEIRAS E
FOI MAIS IMPORTANTE , POR SE TRATAR QUE FOI A
INTERVENÇÃO NO FILHO PELA DOR E SENTIMENTO
QUE CRISTO TEVE E A AGONIA INTENSA QUE ELE
SOFREU.
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A ORAÇÃO DE JESUS NO
JARDIM GETSÊMANI
12
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
1º Introdução
A Santa Ceia:
A
Santa Ceia é um dos eventos principais da
vida terrena de Jesus Cristo registrados na Bíblia. A
Santa Ceia é uma descrição da última refeição de
Jesus Cristo com os Seus discípulos antes de ser preso e crucificado
na cruz romana cerca de 2000 anos atrás. A Santa Ceia contém
muitos princípios importantes e continua a ser uma parte importante
da vida dos Cristãos por todo o mundo.
A sua importância
A Santa Ceia é descrita em três dos quatro Evangelhos do Novo
Testamento:
Mateus, Marcos e Lucas.
13
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Veja a seguir um resumo dos pontos mais importantes,
assim como registrados no livro de Lucas. Primeiro, Jesus predisse
que sofreria logo após a ceia e que essa seria sua última refeição antes
de terminar a sua tarefa a favor do reino de Deus (Lucas 22:15-16).
Segundo, Jesus dá aos seus seguidores símbolos como lembrança do
Seu corpo e Seu sangue sacrificados a favor da humanidade. "E
tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:
Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de
mim'" (Lucas 22:19).
Terceiro, Jesus providencia um princípio muito
importante para viver a vida Cristã:
O maior será o que serve, não o que espera ser servido
(Lucas 22:26). Finalmente, Jesus providencia esperança aos seus
seguidores:"e assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo
confiro a vós;para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e
vos senteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel" (Lucas
22:29-30).
Nos últimos dois milênios, a Santa Ceia tem inspirado as
pessoas a terem fé em Jesus Cristo e a servirem ao próximo, ao invés
de seguir as influências do mundo de querer ser servido.
A História do Evento
A Santa Ceia ocorreu na noite de preparação da Páscoa
judaica, uma época muito importante para os judeus em lembrança de
quando Deus os salvou da praga da morte a todo primogênito no
Egito. Jesus planejou a ceia intencionalmente, instruindo os discípulos
14
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
quanto ao lugar onde seria celebrada. Seus doze discípulos estavam
com Ele durante e logo após da santa ceia. É aqui que Jesus prediz
que Pedro irá negar três vezes que O conhece antes que o galo
cacareje na manhã seguinte, e assim aconteceu. Jesus também
predisse que um discípulo, Judas Iscariote, iria traí-lo, e isso também
aconteceu. A Santa Ceia foi uma reunião de Cristo com seus
discípulos mais uma vez antes de ser preso e crucificado.
A Aplicação
Depois da Santa Ceia, Jesus Cristo voluntariamente e
obedientemente permitiu que fosse brutalmente sacrificado na cruz
de madeira. Ele fez isso para reconciliar cada um de nós a Deus ao
pagar pelo débito dos nossos pecados, algo que nunca poderíamos
fazer com nossas próprias forças. Em troca, Jesus faz um simples
pedido: lembrar desse ato de amor que Ele fez a nosso favor. Jesus
Cristo não tinha a obrigação de morrer por nós. Ele fez isso, no
entanto, porque Ele valoriza cada vida aqui na terra e quer ver cada
um de nós em Sua presença no céu.
Por toda a Bíblia, e por toda a história, a verdade da
mensagem de Cristo tem sido estabelecida – que podemos estar na
presença de Cristo no céu ao reconhecer Seu sacrifício e aceitá-lO em
nossa vida. Além disso, podemos aplicar as lições que Jesus ensinou
na Santa Ceia, as lições de viver fielmente aqui na terra e servir outros
em amor. O pão é um símbolo do corpo de Jesus que nunca deve ser
esquecido de como foi dado a nós. O copo representa o sangue de
Cristo que também nunca deve ser esquecido de como foi derramado
por nós. Jesus Cristo tem oferecido a todos o presente da Sua vida,
morte e ressurreição. A Santa Ceia nos relembra do sacrifício de
Cristo, e que através de fé nEle podemos estar em sua presença por
toda a eternidade.
15
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2º A Pascoa Judaica é a Ceia de Jesus
OS DOIS PRINCIPAIS PROPÓSITOS DA
PASCOA NO A.T
A primeira Páscoa, a qual foi realizada no Egito, foi
diferente das demais que foram realizadas posteriormente. A
Páscoa realizada no Egito está relacionada à décima praga; a morte
dos primogênitos dos egípcios e de seus animais e, também com a
saída de Israel do Egito (Êx 12). Naquele dia, cada família fora
instruída a imolar um cordeiro, ou cabrito, sem defeitos, e, aplicar
o seu sangue nas ombreiras e na verga da porta de suas casas,
como sinal que lhes asseguraria segurança se ficassem em casa.
Contudo, precisavam obedecer à ordem divina. Portanto, o sangue
aspergido nos marcos das portas, fora efetuada com fé obediente
(Êx 12.28; Heb 11.28); essa obediência pela fé, então resultou na
redenção mediante o sangue (Êx 12.7,13). Evidentemente o evento
da Páscoa e do Êxodo, é sem dúvida, a mais linda história de Israel
no A.T. A história de um povo resgatado da escravidão. Temos
realmente certeza, de que se Deus, não houvesse agido e libertado
o Seu povo, da escravidão do Egito, a história de Israel seria outra.
16
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
As celebrações anuais da Páscoa judaica
concentravam-se
Em dois principais propósitos, que são:
1.1) Memorial: - «...Este dia vos será por memória, e
celebrá-lo-eis por festa ao Senhor (Yahweh); nas vossas gerações e
celebrareis por estatuto perpétuo. E acontecerá que, quando
vossos filhos vos disserem: Que culto é este vosso? Então, direis.
Este é o sacrifício da Páscoa de Jeová, que passou as casas dos
filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as
vossas casas» (Êx 12.14,26 e 27, grifo nosso). Uma tão grande
Salvação, realizada por Deus em prol de Seu povo, não poderia
jamais cair no esquecimento. Vemos que, os Filhos de Israel foram
instruídos por Deus, a solenizar todos os anos a sua libertação da
escravidão no Egito, bem como, o livramento de seus
primogênitos. Todos os anos na Festa da Páscoa; os filhos de
Israel, nas gerações futuras, haveriam de fazer esta pergunta a seus
pais; «Que culto é este?» Com relação ao significado deste culto,
deveriam responder que se tratava do «sacrifício da Páscoa a
Jeová» (Êx 12.27). Por conseguinte, era uma festa em torno da
redenção de Israel do Egito. Aliás, solenizada ainda pelos judeus
até os dias de hoje.
1.2) Simbolismo Profético: - O Senhor Jeová, bem que
poderia ter determinado a morte dos primogênitos dos egípcios e,
poupado os primogênitos dos filhos de Israel, sem que houvesse a
necessidade de ordenar que cada família escolhesse um cordeiro
(ou cabrito), de um ano de idade, sem defeito, e fosse sacrificado e
seu sangue aspergido nos lugares indicados (na verga e nas
ombreiras da porta). Deus poderia ter agido de outro modo,
punindo Faraó, e libertando o Seu povo da escravidão, sem que
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
fosse necessário sacrificar um inocente animalzinho. Mas, é Ele,
quem controla todas as circunstâncias e, sabe perfeitamente o que
faz e o que deve ser feito. Com todos estes acontecimentos,
Yahweh, teve como propósito primordial, prenunciar a morte de
Jesus Cristo; o alvo era ensinar Israel e, colocar em suas mentes, a
salvação pelo «sangue», preparando-os para o advento de Jesus
Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (João
1.29). É importante sabermos, que o cordeiro morto por cada
família israelita, tornou-se o substituto de seu primogênito, uma
vez que a morte não teve poder sobre as casas que estavam
marcadas com sangue. Nisto, os israelitas, então, deveriam
aprender sobre a substituição, isto é, substituir os inocentes pelos
culpados.
É notório que no A.T., todos os sacrifícios de animais
exprimiam o princípio, que devia verificar-se em sua plena
realidade na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor
Yahweh concedeu ao povo do A.T., uma prefiguração do sangue
derramado por Jesus Cristo, da Sua morte vicária (em nosso lugar),
pelos nossos pecados, da morte do justo pelos injustos, uma vez
por todos. A Epístola aos Hebreus mostra-nos que os sacrifícios
do A.T., eram na melhor das hipóteses, uma resposta incompleta
do problema do pecado (Heb 8; 9; 10.1-15). Cessaram esses
sacrifícios, mas ainda hoje eles nos ajudam a entender o significado
da cruz, o significado do sacrifício de Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo.
Relato bíblico sobre a última páscoa e a instituição
da Santa Ceia
Durante vários séculos a páscoa judaica viera apontando
para o sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus (João 1.29).
18
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Todavia, chegara o tempo do Senhor Jesus, celebrar a Última
Páscoa, juntamente com os seus apóstolos. Este era o momento
que Jesus tanto esperava (Luc 22.15). Foi na noite que precedeu a
Sua morte, que Jesus e os Seus discípulos comeram a Última
Páscoa, substituiu pela Sua Ceia e depois foi morto como o
Cordeiro Pascal (Mat 26.17-29; Marc 14.12- 26; Luc 22.7-20; João
13 e 14). Portanto, houve duas ceias; a Ceia da Páscoa e a Ceia do
Senhor Jesus. Esta foi instituída no final daquela. Lucas menciona
dois cálices (Luc 22.17-20); Mateus, Marcos e Lucas mencionam
ambas as ceias, João somente cita a Páscoa.
A instituição da Santa Ceia, é relatada por dois apóstolos
que foram testemunhas oculares e participantes dela, a saber;
Mateus e João. Marcos e Lucas, embora não estivessem presentes
na ocasião, suprem alguns pormenores. O apóstolo Paulo, ao dar
instruções aos coríntios, fornece esclarecimento sobre algumas de
suas particularidades (1 Cor 11.17-34). Tais fontes nos dizem que,
na noite antes da Sua morte, Jesus se reuniu com os Seus doze
apóstolos em um cenáculo mobiliado para celebrar a Última
Páscoa (Mat 26.17- 29 e ref.). Com o desejo de cumprir toda a
justiça e honrar a lei cerimonial, que ainda durava, Jesus ordenou
tudo o que era necessário para comer a Última refeição pascal com
os Seus discípulos. Tudo foi feito como Jesus ordenara, e
prepararam a Páscoa (Mat 26.17-19). «E, chegada a tarde, assentouse
à mesa com o doze» (vs.20). O evangelista Lucas relata que
Jesus desejava ansiosamente comer a Última Páscoa com os Seus
discípulos. «E disse-lhes: tenho desejado ansiosamente comer
convosco está Páscoa, antes do meu sofrimento» (Luc 22.15).
19
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Jesus tomou os elementos da Páscoa e deu
uma nova significação. Mateus relata:
«Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o,
o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu
corpo. E, tomando o cálice e dando graças deu-lho dizendo; bebei
dele todos. Porque isto é o meu sangue do Novo Pacto, que é
derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos
que, desde agora, não bebereis deste fruto da vide até àquele dia
em que beba de novo convosco no reino de meu Pai. E tendo
cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras» (Mat 26.26-
30). A Páscoa judaica encontra seu comprimento e seu fim na,
vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa no A.T. e a
Ceia do Senhor Jesus no N.T., ambas apontam para uma mesma
coisa; o Sacrifício de Jesus Cristo! A primeira estava distante da
outra por quase quinze séculos, e tinha um caráter prospectivo;
apontava para a Cruz de Jesus Cristo; a segunda, a Ceia do Senhor
Jesus, também chamada de Santa Ceia, têm um caráter
retrospectivo; apontando também à morte de Jesus Cristo.
A Ceia do Senhor Jesus inicia uma nova era e aponta para
uma obra já consumada. Podemos observar que, «duas festas
uniram-se nesta celebração». No cenáculo deu-se um
acontecimento notável: A Festa Pascal foi solenemente encerrada
(Luc 22.16-18), e a Ceia do Senhor Jesus instituída com uma
solenidade ainda mais sublime do que a Páscoa (Luc 22.19-21; 1
Cor 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e
começou outro; Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a
consumação da outra. A Páscoa agora tinha servido seu propósito
profético, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava, ia ser
morto naquele dia. Por isso foi substituída por uma «nova
instituição», apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo,
como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo.
20
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O tempo em que ocorreu a ultima páscoa
O Dia exato da celebração da Última Páscoa é um dos
assuntos debatidos pelos estudiosos. Diferentes tipos de
interpretações têm sido expostos. Isto é o que veremos abaixo:
Primeira interpretação: Esta interpretação julga que a
ordem de Jesus aos seus discípulos para que fizessem os
preparativos para a Páscoa, sucedeu na «quarta-feira» do 13 de
Nisã, e que a Ceia pascal, foi comida no começo da «quinta- feira»
do dia 14 de Nisã; neste caso colocam a crucificação de Jesus
como ocorrida na «quinta-feira 14 de Nisã», que é incorreto.
Segunda interpretação: Estes com base nos Evangelhos
sinópticos (Mat 26.17; Mc 14.12; Luc 22.7), sustentam que os
preparativos para a Páscoa, foram feitos na tarde da «quinta-feira»
do dia 14 de Nisã, e que a Ceia pascal foi comida no começo (na
noite) da «sexta-feira do dia 15 de Nisã». Estes colocam a
crucificação de Jesus para esta última data, que é também
incorreto.
Terceira interpretação: Para os que defendem está
interpretação, Jesus enviou dois dos Seus discípulos à procura de
um cenáculo que Ele mesmo indicara, para que assim fizessem os
preparativos para a Páscoa, na «quinta-feira do dia 13 de Nisã» e,
que Jesus e os discípulos comeram a Ceia pascal (na qual em
seguida Jesus instituiu a Santa Ceia), na noite da «sexta-feira do dia
14 de Nisã». De acordo com essa interpretação, Jesus foi
crucificado na hora terceira da «sexta-feira do dia 14 de Nisã».
Destas três interpretações que acabamos de ver, a
«terceira» é a que se harmoniza com o desenrolar dos fatos, desde a
ordem de Jesus para os preparativos para a Páscoa até a Sua
21
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
crucificação. Para confirmar esta interpretação, é necessário
fazermos algumas objeções, vejamos em seguida:
De acordo com Mateus, Marcos e Lucas, Jesus enviou
dois de Seus discípulos para que fizessem os preparativos da
Páscoa «No primeiro dia da festa dos pães asmos» [Páscoa], dando
a entender ser o dia 14 de Nisã, sendo assim, era realmente o dia
em que eram imolados (entre as duas as tardes) no Templo os
cordeiros pascais. Entretanto, João, sem mencionar os preparativos
(que segundo Lucas foram Pedro e João os dois discípulos
enviados por Jesus para fazerem os preparativos para a Páscoa –
Luc 22.8), transmite-nos uma expressão diferente dos sinópticos,
quando ao se referir à Última Páscoa celebrada por Jesus e seus
discípulos, prefere em dizer que ela (Última páscoa) acorreu «antes
da festa da Páscoa» (João 13.1).
Realmente o maior desafio consiste em esclarecer, se a
Última Ceia pascal, ocorreu nocomeço do dia 14 ou no começo do
dia 15 de Nisã. O que já podemos afirmar, é que, a crucificação de
Jesus, ocorreu na sexta-feira, e não na quinta- feira, como supõem
a primeira interpretação a qual temos visto acima. Tal fato é
confirmado nas palavras do apóstolo João que diz: «Então os
judeus, para que no sábado ficassem os corpos na cruz, visto como
era a preparação» (João 19.31).
«...Preparação...», no grego parasceve, «...sexta-feira...»,
no hebraico é erebh shabbath, isto é, o dia anterior ao sábado.
Depois de confirmado que a crucificação de Jesus Cristo
se deu na manhã da «sexta-feira», assim também fica comprovado
que a Última Ceia pascal ocorreu após o início da «sexta-feira», ou
seja, após o pôr-do-sol da «quinta-feira» (o dia judaico começa às
18h). Sendo assim, os preparativos da Páscoa foram feitos na tarde
22
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
da «quinta-feira». Como já sabemos que a celebração da Última
Ceia Pascal se deu na sexta-feira, agora, precisamos esclarecer, se
aquela quinta-feira da Paixão, era dia «13» ou «14» de Nisã. De
modo como já vimos, pelas expressões dos sinópticos (Mat 26.17;
Marc 14.12; Luc 22.7), sugerem que aquela «quinta-feira» era «14
de Nisã» (veja sobre a «segunda interpretação»). E, segundo João
era «antes da Festa da Páscoa» (João 13.1). Portanto, há uma
aparente contradição entre os sinópticos (Mateus, Marcos, Lucas) e
João. Pela aparente expressão de linguagem dos sinópticos, a
Última Páscoa ocorreu no dia 15 de Nisã, neste caso indica que
Jesus foi crucificado no dia 15 de Nisã, ou seja, na manhã deste
dia. Todavia, segundo o desenrolar dos fatos, os preparativos para
a Páscoa foram feitos, na quinta-feira do dia «13 de Nisã», e que
a Última Ceia Pascal de Jesus e os seus discípulos, foi realmente
comida na noite, ou seja, após o início da «sexta-feira do dia
quatorze de Nisã».
Tais fatos são confirmados pelas seguintes razões:
1. Se realmente aquela sexta- feira fosse «15 de Nisã»,
então, seria um dia de feriado religioso. Todos os anos o dia 15 de
Nisã era um dia de Santa Convocação (Êx 12.16), isto é, o primeiro
dia da Festa dos Pães Asmos, e, conforme a ordem Divina, neste
dia nenhuma obra podia ser feita, exceto o que diz respeito à
comida, isso poderia ser feito (Vede «Os Dias de Santas
Convocações»). Por conseguinte, o dia «15 de Nisã», era um dia de
repouso igual ao sábado semanal. Diante disso, vamos juntos
raciocinar: Porventura, violaria os judeus um feriado religioso para
prender, julgar, condenar e crucificar Jesus Cristo? Não, jamais
fariam isto num feriado religioso, mesmo em se tratando de um
suposto malfeitor (Luc 22.52).
23
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2. Nos tempos de Jesus Cristo, os cordeiros pascais
eram imolados no Templo, em Jerusalém, na tarde do dia 14 de
Nisã (Deut 16.5,6). O cordeiro que Jesus e os seus discípulos
comeram por ocasião da Última Páscoa, não foi abatido no
Templo, mas sim, no lugar onde fizeram os preparativos da
Páscoa, ou seja, possivelmente no cenáculo (Luc 22.8-13).
3. Se aquela «quinta-feira» tivesse sido «14 de Nisã»,
obviamente, todos os demais judeus também teriam imolado os
cordeiros pascais e não somente os discípulos de Jesus Cristo. Para
isso, teriam também os demais judeus comido a Ceia pascal ao
mesmo tempo em que Jesus e os Seus comeram a Última Ceia
Pascal, isto é, na noite da «sexta-feira 15 de Nisã». Teriam
crucificado Jesus na «sexta-feira 15 de Nisã»?
3.1. Não há nenhuma evidência bíblica que venha a
indicar que os judeus tenham celebrado a Páscoa ao mesmo tempo
em que Jesus e os seus discípulos a celebraram-na. Pelo contrário,
pela cronologia dos acontecimentos, fica evidente que Jesus e os
Seus discípulos celebraram a Última Páscoa com um dia de
antecedência, ou seja, cerca de 24 horas antes. A Páscoa oficial, isto
é, a ceia pascal dos judeus, somente ocorreu depois do pôr- do-sol
da «sexta-feira», precisamente na noite do «sábado», quando Jesus
já estava na sepultura.
3.2. Outro fato que comprova que aquela «quinta-feira»
não foi «14 de Nisã» (e que na verdade a sexta-feira não foi «15 de
Nisã»), se verifica nas palavras do apóstolo João, quando ao indicar
o tempo do julgamento final de Jesus, disse: «Ora, era a preparação
[gr parasceve]da Páscoa, e cerca da hora sexta...» (João 19.14a). A
expressão «...preparação...», nesta passagem tem o sentido diferente
da expressão «preparação», do versículo 31 deste mesmo capítulo.
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A expressão «preparação» aqui enfocada, diz respeito «à
véspera da Páscoa», hebraico erebh ha-pesah, e não exatamente o
dia anterior as sábado, conforme João 19.31. Esta passagem (vs.14)
indica que era o momento (na «hora sexta» certamente é a hora
romana, às 6h da manhã, pois o dia romano começava à meianoite)
em que os judeus estavam fazendo os preparativos para a
Páscoa, o que incluía o abate dos cordeiros na tarde daquele dia
(sexta-feira, 14 de Nisã), para que assim fosse comido (ceia pascal),
após o pôr-do-sol, quando se dava início a um novo dia, isto é, o
sábado 15 de Nisã (Mat 27.15; Marc 15.6,42, João 18.39). Neste
caso, fica evidente que até o momento da crucificação de Jesus, os
judeus ainda não haviam celebrado a ceia pascal.
3.3. Jesus não foi crucificado no dia «15 de Nisã», ou
seja, aquela «sexta-feira» não foi 15 de Nisã, como aparentemente
indicam os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Jesus Cristo
celebrou a Última Ceia Pascal com os Seus discípulos na noite
da «sexta-feira dia 14 de Nisã», e foi crucificado no mesmo dia,
porém, na manhã deste dia, na «hora terceira» judaica (cerca das
9h).
3.4. Pois, Jesus expirou na cruz no mesmo dia (14 de
Nisã) em que no Templo eram imolados os cordeiros pascais (isto
é, na hora nona judaica, cerca «das 15 horas» em nosso horário). É
bom termos em mente que, Jesus também cumpriu com perfeição
o «fator tempo» determinado pela Lei Mosaica, como «dia» e
«hora». E, este dia era «quatorze do primeiro mês» do calendário
Sagrado judaico, ou seja, 14 de Abibe ou Nisã, e, esta hora era «às
15 horas» (hora nona). Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus, que tira
o pecado do mundo, o antítipo dos cordeiros pascais.
25
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A possível ordem dos acontecimentos, entre a quinta
e a sexta-feira da semana da Paixão
Segue abaixo; a ordem provável dos acontecimentos
entre a «quinta-feira» (13 de Nisã) e a «sexta-feira» (14 de Nisã) da
Semana da Paixão:
No quinto dia semana (13 de Nisã), Jesus enviou dois de
Seus discípulos (Pedro e João) para que fizessem os preparativos
para a Páscoa, num cenáculo que Ele mesmo indicara (Mat 26.14-
19). Ao declinar do dia Jesus seguiu com os Seus discípulos para
esse lugar (Marc 14.17). Depois do pôr-do-sol (início da sextafeira,
14 de Nisã) assentaram-se juntos (ou melhor, se
inclinaram conforme o costume romano) Jesus e os seus discípulos
para participar da Última Páscoa. No decurso da refeição pascal,
Jesus levantou-se e lavou os pés dos discípulos (João 13.4-20). Em
seguida com grande tristeza, Jesus predisse que um dos doze havia
de traí-lo; antes de comer o cordeiro e após comer um pedaço de
pão molhado (na sopa de frutas) que Jesus lhe dera, Judas
Iscariótes se retirou para não mais voltar à presença do Mestre,
senão na hora da traição, no Jardim (João 13.26,27). Depois da
celebração da Ceia Pascal (rito característico do A.T.) pela última
vez; então Jesus instituiu simbolicamente o pão dizendo: «Isto é o
meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim»
(Luc 22.19).
«Semelhantemente, depois de cear tomou o cálice,
dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue,
derramado em favor de vós» (Luc 22.20). Depois de celebrar a
Santa Ceia, Jesus instruiu os Seus discípulos e consolou-os
dizendo:
26
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
«Não se turbe o vosso coração...» (João 14.1). Jesus
Intercedeu por Si mesmo e pelos Seus discípulos, com uma
oração sacerdotal (isto é, oração feita de joelhos – João 17.1-26),
cantou um hino e saíram para o Getsêmani, onde foi para orar,
durante o tempo em que precedia a sua traição e prisão. Foi
naquele lugar onde Jesus sofreu a mais dura agonia antes da cruz.
Tendo sido fortalecido, Jesus recebe a visita esperada do traidor
(Judas), tendo em companhia uma multidão de pessoas. Após um
beijo traiçoeiro, Judas indicou a vítima, aos soldados. Então, Jesus
foi preso, em seguida acusado, julgado, maltratado, escarnecido,
condenado e crucificado (Mat 26.17 ss.; Marc 14.25 ss.; Luc 22.7
ss.; 23; João 13-19).
Portanto, fica esclarecido que Jesus e Seus discípulos não
celebraram a Última Páscoa no dia oficial (que seria na noite do dia
15), mas com «um dia de antecedência», ou seja, cerca de 24 horas
antes. E, que isto ocorreu, na noite da sexta-feira do dia 14 de Nisã
(que começou às 18h da quinta-feira, 13 de Nisã).
27
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
3ºOs Elementos que Fizeram Parte
da Última Páscoa
Quando Jesus enviou dois de Seus discípulos (Pedro e
João) para fazerem os preparativos da Páscoa,
Tinham eles a seguinte missão:
Primeiro; encontrar um homem que levava um cântaro
de água e segui-lo. Normalmente quem carregava água eram as
mulheres, por isso não devia ser difícil identificar este homem
(Marc 14.13).
Segundo; perguntar a ele: «O Mestre diz [eles foram
como representantes de Jesus]: Onde está o aposento em que ei de
comer a Páscoa com os meus discípulos?» (Marc 14.14,15).
Terceiro; fazer os preparativos da Páscoa, «...preparai ali»
(Marc 14.15). Os preparativos eram: «Imolar e assar o cordeiro,
providenciar pães asmos, ervas amargas, sopa de frutas, água
salgada e suco de uva (não-fermentado)».
Estes elementos que faziam parte da Páscoa judaica, cada
um tinha um significado especial.
O Cordeiro Pascal: Lembrava a proteção, o livramento
dos primogênitos da casa dos filhos de Israel, quando cada família
israelita aspergiu o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da
28
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
porta. Era uma lembrança e uma comemoração deste maravilhoso
livramento (ver Êx 12).
Os Pães Asmos: Lembravam a saída urgente de Israel da
terra do Egito. Esses pães asmos também representavam a
separação entre os israelitas redimidos e o Egito. Também
chamado de «pão de aflição», que representava os sofrimentos dos
filhos de Israel (Êx 12.15,34,39, Deut 16.3).
Água Salgada: Lembrava as lágrimas salgadas
derramadas pelos israelitas durante os seus anos de escravidão no
Egito.
Ervas Amargas (hb marór): Lembravam as amarguras
da escravidão no Egito (Núm 9.11).
A Sopa de Frutas (hb charoshet): Lembrava a massa de
tijolos que os filhos de Israel tinham de preparar na terra do Egito
(Êx 5.6-19).
Quatro Cálices (copos) de Vinho: Lembravam as
«quatro promessas» de Êxodo 6.6,7.
Conforme acima mencionado, empregavam-se «quatro
cálices» de vinho misturado com água que a Bíblia nada diz.
Segundo a tradição judaica, tomam-se «quatro cálices» de vinho
porque a Bíblia usa quatro verbos diferentes para descrever o
drama da redenção do cativeiro do Egito.
29
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
As quatro citações à redenção podem ser
encontradas no livro de Êxodo, capítulo 6 e
versículos 6 e 7.
juízos.
1. E vos «tirarei» de debaixo da carga dos egípcios.
2. E vos «livrarei» da sua servidão.
3. E vos «resgatarei» com braços estendidos e grandes
4. E vos «tomarei» por meu povo.
A Páscoa celebrada nos dias hoje pelos judeus sofreu
alteração. Por exemplo; o sacrifício dos cordeiros se manteve
enquanto o Templo de Jerusalém existia (Deut 16.1-6). Com a sua
destruição pelos romanos, em 70 d.C., o sistema de Sacrifícios
terminou e foi substituído completamente pelos serviços de
orações, que também aconteciam durante a existência do Templo.
A Festa judaica contemporânea chamada Seder, já não é
celebrada com o cordeiro assado. Entretanto, as famílias ainda se
reúnem para a solenidade e, o pai da família narra toda a história
do Êxodo, conforme a prescrição de Yahweh (Êx 12.14,26,27).
Enquanto, que para os judeus o oferecimento de sacrifícios
terminou quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém
em 70 d.C.; no entanto, os samaritanos continuam a oferecer todos
os anos os sacrifícios pascais no monte Gerizim, de acordo com a
lei judaica.
30
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
4º A Agonia de Jesus no Getsemâni
Para termos um entendimento melhor da morte voluntária
de Jesus e do silêncio de Seu Pai em resposta à Sua oração, devemos
primeiro olhar mais de perto aquela fatídica noite no Jardim
Getsêmani: "Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado
Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu
vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu,
começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse:
A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai
aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o
seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este
cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres"
(Mateus 26.36-39). Do ponto de vista humano, esse é um dos mais
trágicos eventos do Novo Testamento. Lemos uma descrição
detalhada do comportamento do Senhor antes de Sua prisão, que
resultou em Sua condenação e posterior execução na cruz do
Calvário.No jardim do Getsêmani, afastando-Se dos discípulos e
ficando apenas com Pedro e os dois filhos de Zebedeu a Seu lado foi
orar.
Quando Ele ficou sozinho, mais tarde, "adiantando-se um
pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando..." (Mt 26.39). Qual foi
a Sua oração? "..Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (v. 39).
Jesus não recebeu resposta. O Pai ficou em silêncio. Jesus voltou até
onde estavam os Seus discípulos: "...E, voltando para os discípulos,
31
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes
vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o
espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca"(vv. 40-41).
Nesta hora extremamente crítica da Sua vida terrena, o Filho
do homem precisou como todo ser humano precisa da simpatia
dos outros, ainda que de uns poucos, pois nenhuma vida que seja
verdadeiramente humana pode ser completamente independente.
Quando Jesus se reúne a seus discípulos os acha dormindo, expressa
dolorosa surpresa de que estes três vigorosos pescadores, que tinham
passado muitas noites em claro trabalhando sozinhos no Mar da
Galiléia, estejam assim tão sem forças que não possam ficar
acordados com Ele sequer por uma hora [1]. Algo muito natural tinha
acabado de acontecer: a carne dos discípulos não estava disposta e
nem era capaz de resistir aos ataques de Satanás.
Não sabemos quanto tempo o Senhor orou, mas deve ter
sido durante pelo menos uma hora, se nos basearmos na afirmação:
"Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" Apesar da
promessa determinada de Pedro de morrer com o Senhor, ele já havia
se afastado da batalha que acontecia no Getsêmani.
"Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se
não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a
tua vontade" (v. 42). Novamente não houve uma resposta do Pai,
apenas silêncio. Jesus deu aos discípulos outra chance: "... voltando,
achou-os outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam
pesados" (v. 43). Desta vez o Senhor não os acordou nem deu outra
instrução. Ao invés disso, lemos que Ele: "...Deixando-os novamente,
foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras" (v. 44).
32
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
"E, estando em agonia, orava mais intensamente." Ao
lermos o relato no evangelho de Marcos notamos que o evento é
descrito de uma forma um pouco diferente. Entretanto, Lucas revela
que após Jesus ter orado, "...lhe apareceu um anjo do céu que o
confortava" (Lucas 22.43). Não nos é revelado como ele O
"confortava", mas no versículo seguinte lemos que Suas orações
tornaram-se ainda mais desesperadas: "E, estando em agonia, orava
mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas
de sangue caindo sobre a terra" (v. 44). A palavra agonia é achada
somente aqui no Novo Testamento [2].
Quando analisamos esse fato de uma perspectiva humana,
ele parece-nos ilógico, porque o versículo anterior diz que Jesus
acabara de ser consolado por um anjo do céu, continuando a batalhar
em oração a tal ponto que "gotas de sangue" caíram sobre a terra. Foi
o consolo do anjo uma resposta à Sua oração ou esse consolo era
necessário para que Ele continuasse orando? Creio que a segunda
opção é a correta, como veremos ao examinarmos mais
detalhadamente essa situação.
Normalmente se interpreta que Jesus, como Filho do
Homem, em carne e osso, tinha medo da morte como qualquer outro
ser humano, mas mais do que a morte física, porém a morte espiritual
que Ele estava por enfrentar. Assim sendo, não seria surpresa que
Jesus orasse que "este cálice", representando a morte na cruz, fosse
passado d’Ele. Entretanto, tal interpretação não corresponde a
versículos como os do Salmo 40.7-8: "Então, eu disse: eis aqui estou,
no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua
vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei". Jesus se
agradava em fazer a perfeita vontade de Deus, a qual foi estabelecida
antes da fundação do mundo.
33
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Para estar certo de que Davi não estava falando de si mesmo
nesta passagem, encontramos a confirmação em Hebreus 10.7, 9, 10:
"Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu
respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade... então, acrescentou: Eis
aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para
estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados,
mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas". Se
olharmos a oração de Jesus no Jardim do Getsêmani como um sinal
de fraqueza, apesar dEle ter sido consolado por um anjo, tal
comportamento iria contradizer a passagem profética que acabamos
de ler.
Consideremos o texto de Isaías 53.3,5 e 7: "Era desprezado
e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o
que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto,
era desprezado, e dele não fizemos caso... Mas ele foi traspassado
pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo
que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados... Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como
cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os
seus tosquiadores, ele não abriu a boca".
Como um cordeiro, Jesus foi levado para o matadouro; Ele
permaneceu em silêncio como uma ovelha. Essas passagens das
Escrituras nos dão razões para crer que algo mais tenha acontecido
no Jardim do Getsêmani quando Jesus orou para que "este cálice"
pudesse ser passado dEle. Essa seria uma oração desnecessária, uma
exibição de fraqueza e indecisão, mas tal quadro não corresponde à
descrição completa do Messias.
Enquanto aparentemente o Pai ficou em silêncio diante da
tríplice oração de Jesus, as Escrituras documentam que Sua oração, na
verdade, foi respondida.
34
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Hebreus 5.5 fala de Cristo como o sacerdote da ordem
de Melquisedeque:
"assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se
tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és
meu Filho, eu hoje te gerei".
O versículo 7 contém a resposta a essa oração: "Ele,
Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e
lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo
sido ouvido por causa da sua piedade". O Getsêmani foi o único local
onde Jesus pediu que Sua vida fosse poupada; Jesus não morreu no
Jardim Getsêmani.
O silêncio aparente de Deus diante da oração de Jesus no
Jardim foi, como vimos, uma clara resposta a essa oração. Desse
ponto de vista, entendemos que a oração de Jesus não foi para que
Sua vida fosse poupada na cruz do Calvário. A oração de Jesus foi ter
sua vida poupada para que não morresse ali no Jardim do Getsêmani.
Ele estava destinado a morrer na cruz do Calvário para tirar os
pecados do mundo.
O que aconteceu no Jardim do Getsêmani? Pelo que já
vimos, é claro que os poderes das trevas e mesmo a morte estavam
prontos a tirar a vida de Jesus ali mesmo naquela hora. Em Mateus
26.38 lemos: "Então, lhes disse: A minha alma está profundamente
triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo". Marcos 14.34 revela:
"...E
lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à
morte..." Segundo Tasker Jesus estava com o coração ao ponto de
romper-se [3].Mesmo que Jesus não tenha morrido fisicamente no
Jardim do Getsêmani, Ele foi certamente obediente até à morte; Ele
35
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
experimentou a morte dupla de um pecador condenado! Ele foi
"obediente até à morte e morte de cruz" (Filipenses 2.8).
De Sua agonia de pavor, enquanto contemplava as
implicações da sua morte, Jesus emergiu com confiança serena e
resoluta. Assim, quando Pedro sacou da espada numa tentativa
frenética de impedir a prisão, Jesus pôde dizer: “Não beberei,
porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11). Visto que João
não registrou as orações agonizantes de Jesus pedindo a remoção do
cálice, esta referencia a Ele é ainda mais importante. Jesus sabe que o
que o cálice não lhe será tirado. O Pai lho deu. Ele o beberá [4].
O Getsêmani, prensa de azeite em hebraico, ficava a leste de
Jerusalém, no monte das Oliveiras. No lugar onde as azeitonas eram
prensadas e esmagadas, Jesus também foi preso e esmagado.
O Getsêmani tem um formato de quadrilátero, medindo
cerca de cinquenta metros de superfície, e está rodeado por um
muro.Jesus após a oração sacerdotal, prosseguiu seu caminho,
descendo do vale de Cedrom, muito estreito na parte entre os muros
de Jerusalém e o sopé do monte das Oliveiras. Jesus passa por uma
ponte sobre o leito de um pequeno rio, e adentra o olival no jardim
do Getsêmani.
O mestre ordena a seus discípulos que se assentassem e
aguardassem por ele, que iria mais adiante para orar. Jesus chama seus
discípulos mais íntimos e leais, Pedro, Tiago e João. Eles são
testemunhas da agonia que o Mestre passou no jardim do Getsêmani.
36
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O Jardim do Getsêmani
Próximo ao Monte das Oliveiras.
Um lindo ensinamento de que, assim como nós, Jesus, em
sua humanidade, precisava de amigos, naquele momento tão
Difícil. Quão amargos foram aqueles momentos para Jesus no
Getsêmani! Uma indescritível tristeza invade seu coração.
37
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A Expectativa do sofrimento que o aguardava, ele sabia de
todo castigo físico e moral a que seria submetido. E o Mestre revela
aos seus amigos a dor que se passava em seu coração:
"Então lhes disse: A minha alma está cheia de
tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo."
Mateus 26:38
Jesus em um grande esforço, separa-se dos seus discípulos e
vai para mais adiante, no Getsêmani, afim de abrir seu coração com
mais liberdade, diante do Pai. A natureza humana do Mestre estava
tão profundamente angustiada que ele se deixa cair de joelhos com o
seu rosto prostado em terra.
Uma atitude de submissão, adoração e desolação. Ele rogou
ao Pai que se possível, afastasse dele aquela hora tão terrível!
"E, indo um pouco mais para diante, prostrouse
sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é
possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja
como eu quero, mas como tu queres." Mateus 26:39
Nisso um mistério é revelado. Se houvesse uma outra forma
para resgatar o ser humano, se houvesse um outro meio para que os
pecados dos homens fossem perdoados, Deus não submeteria o seu
Filho a tamanho sofrimento.
38
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Se castigos auto-impostos aos homens, se reencarnações
seguidas, se rituais com sangue de animais, se algum tipo de obra
meritória, jejuns, se longas orações ou qualquer outra coisa pudesse
apagar a mácula do pecado, resgatar e redimir o homem, Deus teria
usado.
Era a mensagem que Jesus estava passando nesta oração.
Mas não há nada que possa perdoar pecados, nada, a não ser o sangue
de Jesus que foi derramado por sua morte no madeiro.Jesus sabia que
a redenção do mundo seria conquistada com os sofrimentos e morte
do Messias. A consciência desse fato deu ao Mestre forças para seguir
em frente.
Entretanto, o que estava diante dos olhos de Jesus, que o
trazia tão grande angústia? Sem dúvida o seu sofrimento e a sua
morte, sentimento natural da natureza humana do Mestre, pois ele era
tão humano quanto nós somos.
Essa, porém não era a principal causa das angústias de Jesus.
Como diz Tomáz de Aquino que, "se Cristo foi tão afligido, não foi
somente porque ia perder a vida; foi também por causa dos pecados
de todos os homens".O peso gigantesco dos pecados de toda
humanidade estava sobre seus ombros. Um homem comum teria
sucumbido sob carga tão pesada.
39
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
5º Jesus Orando no Getsêmani
Seu Suor se Tornou em Sangue.
40
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
"Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e moído por causa das nossas
iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre
ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados."
Isaías 53:5
Jesus com a alma cheia de angústia, retorna ao Getsêmani,
onde deixou seus três mais amados discípulos, para buscar consolo
em seus amigos. Porém não encontrou este afeto, pois eles estavam
dormindo.
"E, voltando para os seus discípulos, achou-os
adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora
pudeste velar comigo?" Mateus 26:40
Um pouco antes, Pedro havia dito que jamais abandonaria
Jesus e até morreria por ele. Entretanto, não conseguiu ficar acordado
para orar com Jesus quando ele mais precisava. Durante a última ceia
de Páscoa no cenáculo, todos estavam dispostos a dar a vida pelo
Mestre. O que ocorreu com toda aquela coragem?
"Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a
carne é fraca." Mateus 26:41
41
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Os discípulos precisavam ficar acordados e orar pois em
breve seriam provados duramente. O maior perigo naquele momento
era abandonar e negar o Mestre. Por isso necessitavam do poder
sobrenatural da fé e da oração. O Mestre, como não encontrou apoio
humano, afasta-se de novo e busca auxílio na oração:
"E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu,
se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber,
faça-se a tua vontade." Mateus 26:42
O cálice aqui representa a ira de Deus. Jesus como servo
obediente, humilde, se entregou totalmente à vontade do Pai. O
Mestre volta mais uma vez, ao Getsêmani, e encontra seus discípulos
dormindo. Sem despertá-los, Jesus volta à solidão e em agonia orava
ainda mais intensamente.
Sob intensa agonia e ansiedade, o duro combate se inicia na
luta espiritual. Os batimentos cardíacos do Mestre se intensificam
com rapidez e de tal maneira que seu suor produz grandes gotas de
sangue, que lhe cobriu o corpo e correram até o chão.
"E, posto em agonia, orava mais intensamente.
E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue,
que corriam até ao chão." Lucas 22:44
Jesus poderia desfalecer e morrer ali mesmo, no Getsêmani,
porém o Pai sustentou seu filho e enviou um anjo que o confortava.
42
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
6º Quem foi Jesus
“A Obra Sacrificial de Cristo”
As Interpretações da Morte de Cristo
1. A Obra Sacrificial de Cristo
Dentro do ofício sacerdotal de Cristo está a sua obra
sacrifical.
Qual o significado da morte de Cristo?
O que de fato aconteceu quando o Filho de Deus morreu?
história.
Interpretações, neste sentido, têm sido dadas no decorrer da
Algumas são errôneas; outras apresentam apenas alguns
aspectos bíblicos. Nenhuma, no entanto, é suficiente para expressar
toda a verdade bíblica da expiação.
43
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
É preciso considerar todas elas e reunir os vários aspectos
bíblicos que elas apresentam para se ter uma compreensão melhor do
significado da obra de Cristo na cruz.
Interpretações da Morte de Cristo
a) Teoria do Acidente
Segundo esta maneira de ver, Cristo morreu porque foi
envolvido acidentalmente em intrigas de oposições, assim como
qualquer um poderia ter morrido.
Mas isto representa apenas uma análise superficial do que
aconteceu, porque a morte de Jesus foi profetizada pelos profetas
(Salmo 22, Isaías 53, Zacarias 11), e predita por Cristo mesmo
(Mateus 16.18). Além disto, a Bíblia considera a morte de Cristo algo
significativo para a salvação, e não simplesmente um acidente.
b) Teoria do Mártir
Pensadores há que entendem que Jesus morreu como um
mártir, em defesa da causa que havia abraçado. A morte de Jesus
mostrou sua integridade e fidelidade à verdade e aos seus princípios.
Assim, ele deixa para nós um belo exemplo para ser imitado. Apenas
um exemplo de integridade e fidelidade.
Esta interpretação não leva em conta várias passagens
bíblicas que dão à morte de Cristo significado além do mero martírio
e de apenas um belo exemplo a ser seguido. Portanto, uma
interpretação falha.
44
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
c) Teoria do Resgate
A ideia do resgate implica num preço pago. A Bíblia ensina
que o sangue de Cristo serviu de resgate, isto é, foi um preço pago
pela nossa redenção (Marcos 10.45; I Coríntios 6.20; I Timóteo 2.6; II
Pedro 2.1).
A ideia do resgate é bíblica.
No princípio do Cristianismo, discutiu-se sobre a quem teria
sido pago o preço. Alguns pais da Igreja entenderam que o preço teria
sido oferecido ao Diabo, para resgatar os homens cativos de Satanás,
mas, ao final, Cristo teria surpreendido (enganado) o inimigo,
ressuscitando dentro os mortos, e derrotando o Diabo.
Mas esta ideia do preço pago ao Diabo é errônea. Não
parece razoável nem bíblico que o sacrifício tenha sido oferecido a
Satanás. Este não adquiriu nenhum direito sobre a humanidade, e a
Bíblia não fala de nenhuma transação que Deus tenha feito com o
Diabo.Certamente, o preço do resgate foi oferecido ao próprio Deus.
Foi Deus que, pela Sua justiça e santidade, sujeitou o
pecador ao domínio e às consequências do pecado, obras do Diabo,
de cujo cativeiro Cristo nos resgatou (Hebreus 2.14-15). Então, Cristo
nos resgatou do cativeiro do pecado e do Diabo a que estávamos
entregues pela justiça divina (Romanos 1.24, 26, 28).
d) Teoria da Satisfação
Anselmo (1033 –1109) desenvolveu a interpretação da
satisfação.A posição de Anselmo era uma reação à teoria do resgate
pago a Satanás.
45
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Segundo ele, o pecado do homem desonrou a Deus, e assim
Deus não poderia simplesmente perdoar o pecador e ficar com a
desonra. Ele exigia uma satisfação. Mas o homem não poderia dar
essa satisfação, porque está no pecado, portanto, imperfeito. Então
Deus mesmo providenciou o meio, enviando o Seu filho para tomar
o lugar do homem na cruz. Como Cristo não tinha pecado, sua morte
resultou num mérito que é colocado à disposição dos que confiam
nele.
Esta explicação de Anselmo tem elementos de verdade,
como o fato de que o pecado é ofensa e desonra a Deus e o sacrifício
de Cristo foi um meio para a satisfação das exigências divinas, e, desta
forma, Deus é“justo e também justificador daquele que tem fé em
Jesus” (Romanos 3.26).
Mas esta interpretação não espelha toda a verdade. Falta-lhe
a ênfase na união do pecador com Cristo e na transformação que
disto resulta (Romanos 6).
e) Teoria da Influência Moral
Abelardo (1079 – 1142) deu ênfase à influência moral ao
interpretar a morte de Cristo. Ele estava se contrapondo à teoria de
Anselmo, seu mestre.
Para Abelardo, Cristo morreu porque se tornou humano.
Mas assim fazendo, ele revelou o amor de Deus, na encarnação, nos
seus sofrimentos e na sua morte. Esse amor, assim vivamente
demonstrado por Cristo, exerce uma tal influência no coração do
pecador que ele fica atraído ao arrependimento e à conversão a Deus.
Arrependido e convertido, o homem liberta- se do egoísmo, que está
na essência do pecado, e vive em amor para com Deus. Segundo esta
46
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
maneira de ver, a base da salvação está no amor de Deus e sua
influência no coração do homem.
Esta interpretação é classificada como uma teoria subjetiva,
por enfatizar o efeito da morte de Cristo no homem e não fora dele,
em Deus. Tomada como a única interpretação é falha; mas ela
expressa também uma parte da verdade, pois há textos bíblicos que
enfatizam o papel do amor de Deus na redenção (João 3.16;
Romanos 5.8-9; II Coríntios 5.14-15; I João 4.9-10). Na vida cristã,
esse aspecto do constrangimento do amor divino é muito forte.
Alguns dos nossos hinos provam isto. “Morri, morri na cruz por ti;
Que fazes tu por Mim?”, “Ao contemplar a rude cruz”, etc.
f) Teoria Governamental
Hugo Grotius (1583 – 1645) argumentou que Cristo sofreu
como um exemplo penal para que a lei divina fosse honrada e, assim
fazendo, Deus deu perdão aos pecadores. Esta teoria é chamada
governamental, porque Grotius via Deus como um soberano ou
chefe de governo que decretou uma lei (pena de morte para os
pecadores), mas como Ele não queria que os homens morressem,
abrandou aquela regra e aceitou a morte de Cristo como substituto.
Ele poderia ter simplesmente perdoado a raça humana, se assim
desejasse, mas tal ato não teria valor algum para a humanidade.A
morte de Cristo era um exemplo público da profundidade do pecado
e do ponto até onde Deus estava disposto a ir a fim de sustentar a
ordem moral do universo. O governo moral de Deus no mundo
precisou de uma manifestação de sua ira contra o pecado. O Filho de
Deus deu exemplo da ira divina.
O problema desta teoria é que ela enfatiza a necessidade da
morte de Cristo perante a sociedade, mas desconsidera a justiça de
47
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Deus que precisou ser ela mesma satisfeita para que Ele pudesse
reconciliar o mundo consigo (Romanos 3.25-26).
g) Teoria Penal
Os teólogos da Reforma concordaram com Anselmo em
que o pecado é algo muito sério, que desonra a Deus, mas
consideravam que se tratava mais de uma violação da lei de Deus do
que de uma ofensa contra a honra de Deus. Consideraram o pecado
como uma transgressão à lei moral de Deus e, daí, uma ofensa ao
caráter de Deus. Assim, a morte de Cristo foi um ato de amor de
Deus em que Ele colocou sobre o seu Filho o julgamento e a
penalidade do pecado da humanidade imposta pela lei a cada
indivíduo. A essência da obra redentora de Cristo está no fato de ele
tomar o lugar dos pecadores. Pela fé, o crente é justificado e
perdoado; e na união com Cristo, o crente é moralmente
transformado.
Sem dúvida, este é um aspecto básico da expiação de Cristo.
Jesus sofreu a pena da lei imposta sobre o pecado do homem, que é a
morte (Ezequiel 18.4,20; Romanos 3.23; Romanos 6.23). Ele foi um
substituto nosso na morte (II Coríntios 5.14-15; Gálatas 4.4- 5), e por
ele somos justificados da condenação da lei (Romanos 6.14; Romanos
7.4-6).
Cristo
2. Destaques das Idéias Bíblicas da Morte de
Algumas das teorias acima estudadas contêm aspectos da
verdade bíblica acerca da morte de Cristo. Destacamos os aspectos do
resgate, da satisfação, da influência moral, pena.
48
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Na obra sacrificial de Cristo foi pago um preço para
libertação do pecado, a honra de Deus foi atendida, o amor divino foi
demonstrado, a lei de Deus se tornou efetiva em sua punição de
morte aos transgressores e com isto cessou a punição da lei para
aqueles que recebem a justiça que vem de Cristo. “Cristo nos resgatou
da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3.13).
A interpretação que melhor explica o significado da morte
de Cristo é a penal, que vem desde a Reforma. Mas é preciso enfatizar
dois aspectos inerentes a esta interpretação, e fundamental
importância para a fé cristã:
2.1 – A morte de Cristo foi SUBSTITUTIVA
Cristo não morreu por seus próprios pecados (João 8.46; I
Pedro 2.22; Hebreus 4.15). A Bíblia diz que ele morreu pelos pecados
de outros (Isaías 53.5-6; II Coríntios 5.14, 15, 21; I Pedro 2.22-24;
etc.).
Portanto, sua morte foi substitutiva ou vicária.Assim como
os sacrifícios no Antigo Testamento, que tinham um caráter
substitutivo, Cristo também, que cumpriu e substituiu aqueles
sacrifícios antigos, é oferecido como o “cordeiro de Deus” no lugar
dos pecadores.Entretanto, algumas objeções se levantam contra a
morte substitutiva de Cristo. Elas são de ordem léxica e moral:
a) Objeção de ordem léxica
Diz-se que a preposição grega anti pode significar “no lugar
de”, mas a preposição huper, que é freqüentemente usada quando se
fala do sofrimento de
49
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Cristo, significa “em favor de”, “com vistas ao benefício
de”, e nunca “no lugar de” ou “ao invés de”.
Quanto à preposição anti não há dúvida de que ela significa
“no lugar de” ou “ao invés de” (Mateus 5.38; Mateus 20.28;
Marcos10.45; Lucas11.11; Romanos 12.17; I Tessalonicenses
5.15; I Pedro 3.9; hebreus 12.16). Mas também huper pode ser
empregado com o sentido de “ao invés de”, dependendo do
contexto. Em II Coríntios 5.14, 15, 21 e Gálatas 3.13 é difícil negar a
idéia de substituição. Portanto, Cristo morreu não somente em nosso
favor, mas em nosso lugar.
b) Objeções de ordem moral
Como Deus poderia punir um inocente no lugar dos
culpados?
A resposta a esta objeção de ordem moral é que aquele que
sofreu foi o próprio Deus que puniu, isto é, Jesus Cristo DIVINO.
Isto é possível, moralmente falando.
Se Deus já teve satisfação pelos pecados dos homens,
então perdão não é perdão, mas dever.
A resposta é que quem perdoa é o mesmo que sofreu a
penalidade, e para que haja perdão ele exige uma condição:
arrependimento e fé.
50
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
2.2 – A morte de Cristo foi
PROPICIATÓRIA
Na Bíblia, Deus apresenta-se às vezes como um Deus irado
com o homem, por causa do pecado (João 3.36; Romanos 1.18ss;
Romanos 5.9; I Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 6.17).
O sacrifício de Cristo é revelado como um meio de
reconciliação entre Deus e os homens (Romanos 5.10; II Coríntios
5.19- 20; Colossenses 1.20). Pela morte de Cristo, a ira é desviada do
homem e estabelece-se a paz (João 3.36; Romanos 5.1).
O MILAGRE QUE DEUS FEZ EM
JESUS NO GETSEMANI
O SUOR ( AGUA ) EM SANGUE
A SANTIFICAÇÃO + PURIFICAÇÃO = A
DOUTRINA DE CRISTO.
EMOÇÃO + DOR = SALVAÇÃO DA
HUMANIDADE
51
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
7º O Relato da Agonia de Cristo a
Nivel Médico
Crucificação de Jesus Cristo
A Crucificação de Jesus num ponto de Vista Medico
O período que antecede a morte de JESUS na Cruz é
conhecido como Paixão Nestes instantes ele verte sobre a
Humanidade seu sacrifício maior, em corpo e alma, talvez mais no
sentido espiritual do que físico, ao perceber a incompreensão
daqueles a quem veio salvar de seus
Pecados. Os ensinamentos de Jesus não foram bem
recebidos pela hierarquia judaica, principalmente pelos sacerdotes do
Templo, em grande parte fariseus, pois suas pregações contrariavam
profundamente seus interesses. Um exemplo disso é o incidente
ocorrido no Templo de Jerusalém, na época da Páscoa.
52
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
"Cristo crucificado entre dois ladrões", pintura
de Peter Paul Rubens [Public domain], via Wikimedia
Commons
Era costume dos judeus realizar oferendas a Deus durante as
celebrações pascais. Estas ofertas incluíam basicamente animais ou
dinheiro. Parte delas era incinerada em louvor ao Pai, a outra era
repartida entre os sacerdotes e os pobres. Muitos adquiriam suas
oblações na entrada do templo, além de realizar operações de câmbio,
trocando moedas gregas e romanas por judaicas.
53
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Isto significa que um lugar considerado sagrado, um símbolo
hebraico, estava sendo profanado por intensas transações comerciais.
Obviamente os religiosos lucravam com essas negociações. Jesus
protestou contra esse estado de coisas, denunciando a corrupção
sacerdotal. Seu gesto atingiu em cheio esta classe, desencadeando a
partir deste momento uma maior perseguição e praticamente
assinando sua sentença de morte, pois seus inimigos, que eram
muitos, não descansariam até vê-lo pretensamente eliminado.
Antes de sua prisão, Jesus fez uma entrada vitoriosa em
Jerusalém, sendo bem recepcionado pelo povo, que revestia seu
caminho com panos e ramos de palmeira, e realizou a Última Ceia.
Neste momento histórico ele prepara seus apóstolos para os futuros
acontecimentos, reparte entre todos o pão e o vinho, deixando seu
gesto de humildade e comunhão como herança para a Humanidade.
É durante este ritual também que ele demonstra conhecer as
intenções de Judas e lhe sinaliza que deve seguir adiante com seus
propósitos. Na mesma noite Jesus vai para o Getsêmani, um jardim
no Monte das Oliveiras, diante do Templo. Nesse instante começa
sua agonia, quando ao orar a Deus ele transpira suor e sangue.
Segundo o médico C. Trunan Davis, este sintoma é raro, mas pode
ocorrer, em decorrência de um forte stress, que provoca um
rompimento das glândulas sudoríparas, unindo o sangue ao suor.
As consequências são fraqueza, choque e até
hipotermia.
Neste local Jesus é preso, denunciado por Judas Iscariotes
com um beijo. Segundo alguns, a sua prisão teria sido ilegal, pois
durante as festividades da Páscoa, o Sinédrio
54
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Corte judaica – não podia se reunir e também não era
permitido condenar ninguém ao longo da noite. Por este motivo o
Mestre foi levado para a residência do Sumo Sacerdote. Sexta-feira
pela manhã, Cristo foi conduzido até Pôncio Pilatos, governador da
Judéia. A princípio, este o transferiu para Herodes Antipas,
governante da Galiléia, pois Jesus era Galileu, mas ninguém queria ser
diretamente responsável por sua condenação, então Ele voltou a ser
enviado para Pilatos, que diante dos acontecimentos lavou suas mãos,
ato que entrou para a História, e permitiu que o povo escolhesse
entre Jesus e Barrabás qual seria o prisioneiro a ser libertado, tradição
durante a Páscoa judaica. A multidão então condenou Jesus, deixando
Pilatos sem saída, e assim foi decretado que Cristo morreria na cruz,
pena comum entre os romanos.
A crucificação era inicialmente restrita aos escravos. Este
tipo de execução tinha como objetivo incutir no prisioneiro vergonha
e dor, e provocava profundo horror entre as pessoas. Ela tinha início
com a flagelação do pretenso criminoso despido de suas vestes. Os
soldados pregavam pregos e tudo que pudesse intensificar a tortura
no azorrague instrumento de tortura utilizado na Roma Antiga,
composto de elementos cortantes - e muitos não resistiam ao
açoitamento, não passando, portanto, desta primeira etapa. Jesus foi
submetido a cada estágio desta condenação, o tempo todo
humilhado, com uma coroa de espinhos improvisada na cabeça, o
que provocava intensa dor e fortes sangramentos; na mão lhe
colocaram um cetro de bambu, tudo aludindo à sua realeza, que foi
interpretada como um reinado terreno, material. Ele suportou
pancadas e zombarias, cuspiram nele e o obrigaram a levar sua
própria cruz até o Monte Gólgota – que significa ‘Calvário’ -, onde
seria crucificado. Esta caminhada representa o seu Calvário e,
simbolicamente, o de toda a Humanidade.
55
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Quando Jesus parece perder as forças, os soldados forçam
um homem chamado Simão Cireneu a carregar este fardo ao longo de
um trecho da jornada. O Messias chega ao seu destino, e no alto de
sua cruz um dizer latino está inscrito INRI – Iesus Nazarenus Rex
Iudeorum, Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, reproduzido em grego e
hebraico. Ela foi posicionada entre outras duas cruzes, nas quais
estavam sendo executados dois ladrões. Os soldados ofereceram
vinho e mirra para amenizar as dores de Jesus, mas ele não aceitou. O
Mestre morreu três horas depois, sob intenso sofrimento físico, sem
poder respirar, com terríveis cãibras por todos os seus músculos, em
conseqüência da posição de seus braços; só consegue recuperar o
fôlego por alguns momentos, quando pronuncia suas frases famosas
na Cruz, pedindo a Deus que perdoe seus ofensores, pois não sabem
o que fazem, e perguntando ao Criador porque o abandonou, mas
logo depois se entregando incondicionalmente em Suas Mãos. A elite
hebraica conseguiu matar o homem, mas não logrou eliminar seus
pensamentos e ensinamentos, que se perpetuaram ao longo de
milênios e resistem até hoje, apesar de todas as intempéries do
caminho.
AS HORAS NA CRUZ
Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo
é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior
começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode
engolir. Tem sede. Um soldado lhe estendo sobre a ponta de uma
vara uma esponja embebida em bebida ácida em uso entre os
militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz.
Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os
músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se
acentuado: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos se
curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os
músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis; em seguida
aqueles entre as costelas, os do pescoço e os respiratórios.
A respiração se faz, pouco a pouco, mais curta. O ar entra
com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice
dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu
rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma
num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela
asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A
fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.
Mas o que acontece? Lentamente, com um esforço sobrehumano,
Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés.
Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços.
Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais
ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a
palidez inicial. Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai,
perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Logo em seguida o
corpo começa afrouxar-se de novo e a asfixia recomeça.
Foram transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na
cruz: cada vez que quer falar, devera elevar-se tendo como apoio o
prego dos pés. Que tortura!
Atraídas pelo sangue que escorre e pelo coagulado, enxames
de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas Ele não pode enxotálas.
Pouco depois, o céu escurece, o sol se esconde: de repente a
temperatura diminui. Logo serão três da tarde. Todas as suas dores, a
sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam
um lamento: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes?".
Jesus dá seu último suspiro: "Está tudo consumado!", e em seguida,
57
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar
e no seu.
A cruz que Ele carregou
Confira os detalhes da crucificação de Jesus
Cristo e reflita no que Ele fez por você.
Cravos: tinham de 13 a 18 centímetros de comprimento por
1 centímetro de diâmetro.
sangue.
Moscas: provavelmente foram atraídas pelo cheiro de
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Mãos: perfurações no antebraço, entre o rádio e o cúbito,
ou nas palmas, entre os metacarpos.
Feridas: o chicote romano (flagrum) tinha pedaços de ossos
ou de metal nas pontas de suas três tiras, o que chegava a arrancar
pedaços de pele e ferir órgãos internos. Cristo sofreu duas séries de
39 chicotadas. Ou seja, contando-se as três tiras, Ele levou 234
açoites.
Sofrimento espiritual e emocional: maior do que as dores
físicas de Cristo foi Sua agonia espiritual. Um com o Pai desde a
eternidade, sofreu Seu completo afastamento. Jesus foi
misteriosamente feito “maldição” (Gl 3:13) em nosso lugar, levando
sobre Si os pecados de todos.
Roupas: provavelmente Jesus foi Exposto completamente
nu multidão. perante a Multidão
Pés: foram pregados juntos ou separados. Os cravos e o
peso do corpo castigavam os sensíveis nervos plantares.
Via Dolorosa: calcula-se que o trajeto que Cristo carregou a
parte horizontal da cruz, de cerca de 30 quilos, foi entre 900 e
1.500 metros, até o Calvário. Em parte desse trajeto, a cruz foi levada
por Simão, cireneu.
Escuridão: ao meio-dia, surgiu uma escuridão inexplicável
em volta da cruz. Nela, Deus escondeu a agonia final de Seu
Filho.
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Multidão: assim como os líderes religiosos, a multidão era
uma massa de manobra das forças do mal. Todos zombavam de
Cristo, mas, com a escuridão, o terremoto e as palavras de Cristo,
foram tomados pelo medo.
Calvário: localizava-se possivelmente onde hoje é a Igreja
do Santo Sepulcro ou no Jardim de Gordon; uma elevação de quase 5
metros, que lembra uma caveira. O Jardim de Gordon é o local mais
provável, pois se encontra fora dos muros da Jerusalém antiga
Mãe: Cristo sofreu por Sua mãe, que acompanhava Sua
crucificação, e a entregou aos cuidados do discípulo João.
Placa: geralmente continha o nome e a condenação dos
crucificados.
Coroa: provavelmente feita do espinheiro de Jerusalém
(Paliurus spina christi) ou do espinheiro-de-cristo sírio, foi fixada e
batida repetidamente sobre a cabeça de Cristo, ferindo o nervo
trigêmeo, causando uma dor que nem a morfina é capaz de amenizar.
Sede: Jesus também sofreu ardente sede, pois não havia
bebido nada desde a noite anterior, carregou a cruz, perdeu muito
sangue e sofreu intensa febre, devido às inflamações.
Corpo: sofreu cãibras,espasmos, desidratação, policontusões
e exalação insuficiente com retenção de gás carbônico no sangue e
nos pulmões (hipercapnia).
60
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
“Vinagre”: desde que chegou ao Calvário, durante a
crucifixão e ao fim dela, os soldados ofereceram-Lhe vinagre, vinho
azedo misturado com água e vinho com mirra, para aliviar Sua dor,
mas Cristo recusou-Se a bebê-las, para manter-Se consciente e não
fugir à Sua missão.
Lança: quando a morte na cruz precisava ser adiantada,
dava-se um “golpe de misericórdia”, chamado crucifragium,
quebrando-se a tíbia (osso da canela). Mas isso não foi preciso, pois
Jesus morreu antes.
Para assegurarem Sua morte, Ele foi ferido com
uma lança.
Sangue e água: a lança provavelmente atingiu o pericárdio
e a pleura pulmonar, a qual reteve água devido à incapacidade de
Jesus expirar completamente. Supõe-se que foi por essa razão que
jorrou sangue e água da ferida.
Vitória: ao gritar “está consumado” (em grego tetelestai,
que pode significar “está pago”), Jesus não morreu como uma vítima
frágil, mas como um herói. Cumpriu Sua missão, salvou a
humanidade.
Morte: provavelmente por parada cardiorrespiratória. Além
dos sofrimentos físicos, o coração de Cristo não suportou o peso dos
pecados da humanidade.
61
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Terremoto: às 15 horas, após Cristo gritar duas vezes e dar
Seu último suspiro, ocorreu um terremoto tremor que fendeu rochas
e abriu túmulos.
Tempo na cruz: os crucificados permaneciam vivos de 18
horas a alguns dias. Jesus ficou na cruz entre as 9 horas e as 15 horas.
Seus graves ferimentos e o sofrimento espiritual foram determinantes
para Sua morte rápida.
A cruz e a tumba que Ele deixou Mais detalhes sobre a
morte e vitória de Cristo
Getsêmani: o sofrimento de Cristo começou pelo menos
dez horas antes da cruz quando começou a sentir o peso dos pecados
humanos. Seu sofrimento psicológico foi tão grande que O fez suar
gotas de sangue. Esse fenômeno raro na literatura médica é
conhecido como hematidrose.
Cruz: a pena de morte por crucificação já era praticada
desde o século 6 a.C. por persas e babilônios, até que foi proibida
pelo imperador Constantino, em 337 d.C.
Há quatro tipos conhecidos de cruz:
Decussata (em forma de X), quadrata (em forma de +),
comissa (em forma de T) e imissa (em forma da cruz, como a
conhecemos). Certamente, a cruz de Cristo foi do tipo comissa ou
imissa, pois a própria palavra para crucificar no Novo Testamento é
stauros, que significa colocar em um tau (nome da letra T em grego)..
62
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Se considerarmos a necessidade de se pregar uma placa, é possível
que a cruz como a conhecemos possa ter sido a utilizada.
Partes da cruz: as cruzes romanas eram compostas de duas
partes: stipes e patibulum. A stipes era o poste, que geralmente
permanecia no local de suplício e tinha cerca de 5 metros de altura e
70 quilos. O patibulum era a parte horizontal, geralmente carregada
pelo condenado até o local de execução. Tinha cerca de 2,5 metros e
por volta de 30 quilos. Possivelmente, o encaixe entre as duas partes
era feito no chão, onde o crucificado era pregado, para depois ser
erguido e a cruz ser encaixada no buraco previamente feito.
Assento: algumas cruzes tinham uma sedicula, pedaço de
madeira fixado à altura do quadril para apoiar o corpo, facilitar a
respiração e aumentar o tempo de suplício.
Embalsamamento: o ritual judaico de sepultamento durava
entre cinco e seis horas, pois envolvia lavar o cadáver, perfumá-lo
com aromas frescos, embalsamá- lo e envolvê-lo em faixas. Para se
evitar esse trabalho no sábado, o ritual foi adiado para a manhã de
domingo.
Deus, anjos: Deus estava ao pé da cruz, junto a Cristo, na
escuridão misteriosa, compartilhando de Seu sofrimento,
acompanhado de anjos celestiais.. Todos, porém, não podiam
confortá-Lo Cristo teria que levar sozinho o peso dos nossos
pecados.
Satanás, demônios: estavam presentes e ativos entre a
multidão. O inimigo torturava a Jesus, tentando levá-Lo ao
63
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
desespero e a desistir de Sua missão. Paradoxalmente, contra seus
próprios interesses, o inimigo não conseguia resistir ao prazer sádico
de matar o Filho de Deus.
O templo e as profecias: os sacrifícios realizados no
Templo apontavam para Cristo, o “Cordeiro de Deus” (Is 53:5, 6,
10). O início da crucifixão foi exatamente no horário do sacrifício da
manhã e o fim dela, no horário do sacrifício da tarde. Com a morte de
Cristo, o antigo sistema sacrifical perdeu a validade, e o véu do
Templo foi rasgado de cima a baixo (Mt 27:51). De acordo com a
profecia das 70 semanas de Daniel (Dn 9:24- 27), Cristo morreu no
ano 31 d.C. Ou seja, a morte de Cristo teve data e hora marcadas.
Caifás: na casa desse sumo sacerdote, Jesus foi julgado. Em
1990, foi achado um ossuário, contendo a inscrição em hebraico:
“José, filho de Caifás”.
Pilatos: arqueólogos italianos que escavavam um teatro
romano em Jerusalém encontraram uma pedra com a inscrição latina:
“Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia”.
Julgamento: o julgamento de Cristo ocorreu durante a
madrugada e à véspera de um sábado e de uma grande festa religiosa
– três infrações do registro escrito das tradições judaicas, a Mishná, de
acordo com o Sanhedrin 4,1.
Pretório: casa do governador romano da Judeia. Em seu
pátio, Jesus foi julgado, castigado e condenado. Em 1930, escavações
identificaram plataformas maciças do pátio da fortaleza Antônia.
Nessas plataformas, estavam gravados alguns desenhos de jogos que
64
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
soldados romanos faziam para passar tempo. As descrições desse
pavimento (lithóstotos) são muito semelhantes ao que se relata em
João 19:13.
Ressurreição: o anjo o mais alto posto celestial, revestido
de luz, foi comissionado a chamá-Lo e rolou a pedra do sepulcro. Os
guardas caíram ao chão. Posteriormente, os discípulos O viram,
tocaram nEle, compartilharam uma refeição e conversaram com Ele.
Ressurreições: quando Jesus ressurgiu, outras pessoas
ressuscitaram das sepulturas abertas no terremoto que ocorreu no
momento de Sua morte (Mt 27:51-53).
A verdade: os discípulos mantiveram a versão de que Jesus
ressuscitou, mesmo em face da morte e sem ganhar qualquer
vantagem. Se isso não fosse verdade, pelo menos um deles negaria o
fato.
Profecias: as circunstâncias ligadas à morte de Cristo foram
preditas séculos antes, no Antigo Testamento.
Confira algumas:
1. Julgamento fraudulento (Is 53:8; Mt 26:59);
2. Abandono dos discípulos (Zc 13:7; Mc 14:27);
3. Sofrimento em silêncio (Is 53:7; Mt 27:12-14);
4. Morte substitutiva (Is 53:5; 1Jo 2:2);
5. Mãos e pés traspassados (Sl 22:16; Jo 20:25-27);
6. Intercessão pelos transgressores (Is 53:12; Lc 23:34);
7. Morte junto a malfeitores (Is 53:12; Lc 23:34);
65
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
60).
8. Zombaria (Sl 22:7, 8; Mt 27:41-43);
9. Roupas sorteadas (Sl 22:18; Jo 19:23, 24);
10. Separação de Deus (Sl 22:1; Mt 27:46);
11. Traspassado pela lança (Zc 12:10; Jo 19:34);
12. Sepultamento em túmulo de rico (Is 53:9; Mt 27:57-
Segunda vinda: em meio ao Seu julgamento,Cristo afirmou
que Seus acusadores e executores O veriam em Seu retorno glorioso.
Isso ocorrerá em Sua segunda vinda como “Rei dos reis e Senhor dos
senhores” (Mt 26:64; Ap 1:7; 1Tm 6:14, 15).
Fontes: Rubén Dario Camargo (artigo “Fisiopatologia da
morte de Cristo”); Rodrigo Cardoso (reportagem “Como Jesus foi
crucificado?” IstoÉ, de 1/4/2010); Rodrigo Silva (Escavando a
Verdade, CPB, 2007 e AArqueologia e Jesus, Perspectiva, 2006);
Frederick Zugibe (A Crucificação de Jesus, Matrix, 2010).
Páscoa e celebrar a ceia com seus discípulos, foi com eles ao
Monte das Oliveiras, e entrou no jardim do Getsêmani. O que o
induziu a selecionar esse lugar para que fosse a cena de sua terrível
agonia? Porque haveria de ser arrastado ai por seus inimigos de
preferência a qualquer outro lugar? Por acaso é difícil que
entendamos que assim como num jardim a auto-complacência de
Adão nos arruinou, também em outro jardim as agonias do segundo
Adão deveria nos restaurar? O Getsemani ministra as medicinas para
curar os males que foram a consequência do fruto proibido do Éden.
Nenhuma flor que tenha florescido nas ribeiras do rio repartido em
quatro braços foi alguma vez tão preciso para nossa raça como foram
essas ervas amargas que com dificuldade cresciam as margens do
enegrecido e sombrio ribeiro de Cedrom o foram.
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Por acaso nosso Senhor também não pode se lembrar de
Davi, quando naquela memorável ocasião, saiu da cidade escapando
de seu filho rebelde, segundo está escrito: “também o rei passou o
ribeiro de Cedrom, e passou todo o povo na direção do caminho do
deserto.” (2 Samuel 15:23), e ele e seu povo subiram descalços e com
a cabeça descoberta, chorando em alta voz enquanto subiam? Eis
aqui, Um mais grande que Davi abandonando o templo e se acha
desolado, e deixa a cidade que havia rejeitado suas advertências, e
com um coração cheio de tristeza atravessa o pestilento ribeiro, para
buscar na solidão um alívio para suas angústias.
Mais ainda, nosso Senhor queria que nós víssemos que
nosso pecado havia mudado tudo ao redor Dele em aflição,
converteu suas riquezas em pobreza, sua paz em duros trabalhos, sua
glória em vergonha, e assim também o lugar de seu retiro pleno de
paz, onde em santa devoção tinha estado tão próximo do céu em
comunhão com Deus, nosso pecado transformou no foco de sua
aflição, o centro de sua dor. Ali onde seu deleite tinha sido maior, ali
estava chamado a sofrer sua máxima aflição.
Também pode ser que nosso Senhor tenha escolhido o
jardim porque, necessitado de qualquer recordo que o ajudasse no
conflito, sentia o refrigério que lhe viria ao lembrar-se das horas
passadas transcorridas ali com tanta quietude. Ali tinha orado, e
obtido força e consolo. Essas enroladas e retorcidas oliveiras o
conheciam muito bem; não havia no jardim uma só folha sobre a que
Ele não houvera se ajoelhado. Ele havia consagrado esse lugar para
comunhão com Deus. Não é nenhuma surpresa, então, que tenha
preferido essa terra privilegiada. Assim como um enfermo escolheria
estar em sua própria cama, assim Jesus escolheu suportar sua agonia
em seu próprio oratório, onde as lembranças dos momentos de
comunhão com Seu Pai estariam de maneira vivida diante Dele.
67
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Porem, provavelmente, a principal razão para ir ao
Getsêmani foi que era um lugar muito conhecido e freqüentado por
Ele, e João nos diz: “e também Judas, o que o entregava, conhecia
aquele lugar.” Nosso Senhor não desejava se esconder, não precisava
ser perseguido como um ladrão, ou ser buscado por espias. Ele foi
valorosamente ao lugar onde seus inimigos conheciam que Ele tinha
o costume de orar, pois Ele queria ser tomado para sofrer e morrer.
Eles não o arrastaram ao pretório de Pilatos contra sua vontade, mas
sim que foi com eles voluntariamente. Quando chegou a hora de que
fosse traído, ali Ele estava, num lugar onde o traidor poderia o
encontrar facilmente, e quando Judas o traiu com um beijo, sua face
estava pronta para receber a saudação traidora. O bendito Salvador
deleitava-se no cumprimento da vontade do Senhor, ainda que isso
implicasse a obediência até a morte.
Chegamos assim até a porta do jardim do Getsêmani,
portanto, entremos; porem, primeiro, tiremos os sapatos, como
Moises quando viu a sarça ardendo com fogo que não se consumia.
Certamente podemos dizer com Jacó: “Que terrível é esse lugar!”
Temo diante da tarefa que tenho em minha frente, pois, como meu
débil discurso poderia descrever essas agonias, para as quais os fortes
clamores e as lágrimas seriam escassamente uma adequada expressão?
Quero, juntamente com vocês, repassar os sofrimentos de nosso
Redentor, porem, oh, que o Espírito de Deus nos impeça qualquer
pensamento fora de lugar ou que nossa língua expresse uma só
palavra que seja depreciativa para Ele, seja em Sua humanidade
imaculada ou em sua gloriosa Deidade.
68
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Não é fácil quando se está falando de Alguém que é por sua
vez Deus e homem, manter a linha exata da expressão correta; é tão
fácil descrever o lado divino como se estivéssemos entrincheirados
no humano, ou retratar o lado humano às custa do divino. Por favor,
perdoem de antemão qualquer erro. Um homem precisa ser
inspirado, ou limitar-se nada mais às palavras inspiradas, para poder
falar adequadamente em todo momento sobre o “grandioso mistério
da piedade,” Deus manifestado em carne. Especialmente quando esse
indivíduo tem que refletir sobre Deus manifesto tão claramente na
carne sofredora, que as características mais frágeis da humanidade se
convertem nas mais notórias. Oh Senhor, abra Tu meus lábios para
que minha língua possa falar as palavras corretas.
I. Meditando na cena da agonia no Getsêmani, somos
obrigados a dar-nos conta que nosso Salvador suportou ai uma
tristeza desconhecida em qualquer outra etapa de Sua vida.
69
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
8º A Paixão de Cristo
Realizado por Mel Gibson, é a história das últimas 12 horas
da vida de Jesus de Nazaré e arrisca-se já a ser o filme mais polémico
do ano por causa das acusações de anti-semitismo. A história começa
no Monte das Oliveiras, onde Jesus vai rezar após a Última Ceia.
Traído por Judas Iscariotes, Jesus é preso e levado de volta para
dentro dos muros da cidade de Jerusalém, onde os líderes dos
Fariseus o confrontam com acusações de blasfémia. Jesus é então
levado a Pilatos, o Governador Romano da Palestina, que ouve as
acusações feitas contra ele pelos Fariseus. Percebendo que enfrenta
um conflito político, Pilatos transfere a responsabilidade da decisão
da pena de morte para o Rei Herodes. Herodes devolve Jesus a
Pilatos, que propõe que a multidão escolha entre Jesus e o criminoso
Barrabás. A multidão escolhe a liberdade de Barrabás e condena
Jesus, que é depois entregue aos soldados romanos e é flagelado. É
mais uma vez apresentado a Pilatos, que acaba por ordenar aos seus
homens que façam o que a multidão pede. Jesus terá então de
carregar a cruz pelas ruas de Jerusalém até o alto do Golgota. No
Golgota, Jesus é crucificado e passa pela sua última tentação - o medo
de ter sido abandonado pelo Pai.
70
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Zugibe (*) contra Mel Gibson
O filme americano A paixão de Cristo (2005), de Mel
Gibson (foto), é duramente criticado pelo médico Frederick Zugibe.
Ele afirma que a produção tem equívocos médicos, científicos e
históricos.
71
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Os erros:
• Jesus leva um violento golpe no olho no Jardim das
Oliveiras. De acordo com Zugibe, ele não foi agredido nessa fase de
seu calvário.
• Apenas o aramaico e o latim são falados no filme. Ficou
de fora o grego, principal idioma da Terra Santa na época de Jesus.
• A parte da frente do corpo de Jesus também é açoitada, o
que contraria os escritos antigos.
• Jesus leva uma cruz de 80 a 90 quilos. Zugibe afirma que
só a barra horizontal era carregada e a vertical ficava pregada ao chão
do lado de fora dos portões da cidade.
• O descanso para os pés mostrado no filme é uma
invenção de artistas do século passado, segundo Zugibe.
• Ao contrário do que mostra o filme, a água e o sangue
não jorram do peito de Jesus após a retirada da lança. Escorrem
suavemente.
72
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
73
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
9º Como morreu Jesus
Médico legista dos EUA faz uma inédita autópsia
de Cristo e explica, cientificamente, o que ocorreu em
seu corpo durante o calvário.
De duas, uma: sempre que a ciência se dispõe a estudar as
circunstâncias da morte de Jesus Cristo, ou os pesquisadores
enveredam pelo ateísmo e repetem conclusões preconcebidas ou se
baseiam exclusivamente nos fundamentos teóricos dos textos bíblicos
e não chegam a resultados práticos. O médico legista americano
Frederick Zugibe, um dos mais conceituados peritos criminais em
todo o mundo e professor da Universidade de Columbia, acaba de
quebrar essa regra.
Ele dissecou a morte de Jesus com a objetividade científica
da medicina, o que lhe assegurou a imparcialidade do estudo.
Temente a Deus e católico fervoroso, manteve ao longo do trabalho
o amor, a devoção e o respeito que Cristo lhe inspira. Zugibe, 76
anos, juntou ciência e fé e atravessou meio século de sua vida
debruçado sobre a questão da verdadeira causa mortis de Jesus.
Escreveu três livros e mais de dois mil artigos sobre esse tema, todos
publicados em revistas especializadas, nos quais revela como foi a
crucificação e quais as conseqüências físicas, do ponto de vista
médico, dos flagelos sofridos por Cristo durante as torturantes 18
horas de seu calvário.
74
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O interesse pelo assunto surgiu em 1948 quando ele
estudava biologia e discordou de um artigo sobre as causas da morte
de Jesus. Desde então, não mais deixou de pesquisar e foi
reconstituindo com o máximo de fidelidade possível a crucificação de
Cristo. Nunca faltaram, através dos séculos, hipóteses sobre a causa
clínica de sua morte. Jesus morreu antes de ser suspenso na cruz?
Morreu no momento em que lhe cravaram uma lança no coração?
Morreu de infarto? O médico legista Zugibe é categórico em
responder “não”.
E atesta a causa mortis:
Jesus morreu de parada cardiorrespiratória decorrente de
hemorragia e perda de fluidos corpóreos (choque hipovolêmico), isso
combinado com choque traumático decorrente dos castigos físicos a
ele infligidos. Para se chegar a esse ponto é preciso, no entanto, que
antes se descreva e se explique cada etapa de seu sofrimento.
Zugibe trabalhou empiricamente. Ele utilizou uma cruz de
madeira construída nas medidas que correspondem às informações
históricas sobre a cruz de Jesus (2,34 metros por 2 metros),
selecionou voluntários para serem suspensos, monitorou
eletronicamente cada detalhe – tudo com olhos e sentidos treinados
de quem foi patologista-chefe do Instituto Médico Legal de Nova
York durante 35 anos. As suas conclusões a partir dessa minuciosa
investigação são agora reveladas no livro A crucificação de Jesus –
as conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um
investigador criminal, recém-lançado no Brasil (Editora Idéia e Ação,
455 págs., R$ 49,90). “Foi como se eu estivesse conduzindo uma
autópsia ao longo dos séculos”, escreve o autor na introdução da
obra. Trata-se de uma viagem pela qual ninguém passa incólume –
sendo religioso, agnóstico ou ateu. O ponto de partida é o Jardim das
Oliveiras, quando Jesus se dá conta do sofrimento que se avizinha:
75
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
condenação, açoitamento e crucificação. Relatos bíblicos revelam que
nesse momento “o seu suor se transformou em gotas de sangue que
caíram ao chão”.
A descrição (feita pelo apóstolo Lucas, que era médico)
condiz, segundo o legista, com o fenômeno da hematidrose, raro na
literatura médica, mas que pode ocorrer em indivíduos que estão sob
forte stress mental, medo e sensação de pânico. As veias das
glândulas sudoríparas se comprimem e depois se rompem, e o sangue
mistura-se então ao suor que é expelido pelo corpo.
76
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Fala-se sempre das dores físicas de Jesus, mas o seu
tormento e sofrimento mental, segundo o autor, não costumam ser
lembrados e reconhecidos pelos cristãos: “Ele foi vítima de extrema
angústia mental e isso drenou e debilitou a sua força física até a
exaustão total.” Zugibe cita um trecho das escrituras em que um
apóstolo escreve:
“Jesus caiu no chão e orou.” Ele observa que isso é uma
indicação de sua extrema fraqueza física, já que era incomum um
judeu ajoelhar-se durante a oração. A palidez com que Cristo é
retratado enquanto está no Jardim das Oliveiras.
É um reflexo médico de seu medo e angústia:
Em situações de perigo, o sistema nervoso central é
acionado e o fluxo sangüíneo é desviado das regiões periféricas para o
cérebro, a fim de aguçar a percepção e permitir maior força aos
músculos. É esse desvio do sangue que causa a palidez facial
característica associada ao medo. Mas esse era ainda somente o
começo das 18 horas de tortura. Após a condenação, Jesus é
violentamente açoitado por soldados romanos por ordem de Pôncio
Pilatos, o prefeito de Judéia. Para descrever com precisão os
ferimentos causados pelo açoite, Zugibe pesquisou os tipos de
chicotes que eram usados no flagelo dos condenados. Em geral, eles
tinham três tiras e cada uma possuía na ponta pedaços de ossos de
carneiro ou outros objetos pontiagudos. A conclusão é que Jesus
Cristo recebeu 39 chibatadas (o previsto na chamada Lei Mosaica), o
que equivale na prática a 117 golpes, já que o chicote tinha três
pontas. As conseqüências médicas de uma surra tão violenta são
hemorragias, acúmulo de sangue e líquidos nos pulmões e possível
laceração no baço e no fígado. A vítima também sofre tremores e
desmaios. “A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e
destroçada, ansiando por água”, diz o legista.
77
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Ao final do açoite, uma coroa de espinhos foi cravada na
cabeça de Jesus, causando sangramento no couro cabeludo, na face e
na cabeça. Também nesse ponto do calvário, no entanto, interessa a
explicação pela necropsia. O que essa coroa provocou no organismo
de Cristo? Os espinhos atingiram ramos de nervos que provocam
dores lancinantes quando são irritados. A medicina explica: é o caso
do nervo trigêmeo, na parte frontal do crânio, e do grande ramo
occipital, na parte de trás. As dores do trigêmeo são descritas como as
mais difíceis de suportar – e há casos nos quais nem a morfina
consegue amenizá-las.
Em busca de precisão científica, Zugibe foi a museus de
Londres, Roma e Jerusalém para se certificar da planta exata usada na
confecção da coroa. Entrevistou botânicos e em Jerusalém conseguiu
sementes de duas espécies de arbustos espinhosos. Ele as plantou em
sua casa, elas brotaram e cresceram.
O pesquisador concluiu então que a planta usada para fazer
a coroa de espinhos de Jesus foi o espinheiro de cristo sírio, arbusto
comum no Oriente Médio e que tem espinhos capazes de romper a
pele do couro cabeludo. Após o suplício dessa “coroação”,
amarraram nos ombros de Jesus a parte horizontal de sua cruz (cerca
de 22 quilos) e penduraram em seu pescoço o título, placa com o
nome e o crime cometido pelo crucificado (em grego, crucarius).
Seguiu-se então uma caminhada que os cálculos de Zugibe estimam
em oito quilômetros. Segundo ele, Cristo não carregou a cruz inteira,
mesmo porque a estaca vertical costumava ser mantida fora dos
portões da cidade, no local onde ocorriam as crucificações. Ele
classifica de “improváveis” as representações artísticas que o mostram
levando a cruz completa, que então pesaria entre 80 e 90 quilos.
78
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Ao chegar ao local de sua morte, as mãos de Jesus foram
pregadas à cruz com pregos de 12,5 centímetros de comprimento.
Esses objetos perfuraram as palmas de suas mãos, pouco abaixo do
polegar, região por onde passam os nervos medianos, que geram
muita dor quando feridos. Já preso à trave horizontal, Cristo foi
suspenso e essa trave, encaixada na estaca vertical. Os pés de Jesus
foram pregados na cruz, um ao lado do outro, e não sobrepostos –
mais uma vez, ao contrário do que a arte e as imagens representaram
ao longo de séculos. Os pregos perfuraram os nervos plantares,
causando dores lancinantes e contínuas.
Preso à cruz, Cristo passou a sofrer fortes impactos físicos.
Para conhecê-los em detalhes, o médico legista reconstituiu a
crucificação com voluntários assistidos por equipamentos médicos.
Os voluntários tinham entre 25 e 35 anos e o monitoramento físico
incluiu eletrocardiograma, medição da pulsação e da pressão
sangüínea. Eletrodos cardíacos foram colados ao peito dos
voluntários e ligados a instrumentos para testar o stress e os
batimentos cardíacos. Todos os voluntários observaram que era
impossível encostar as costas na cruz. Eles sentiram fortes cãibras,
adormecimento das panturrilhas e das coxas e arquearam o corpo
numa tentativa de esticar as pernas
A partir desse derradeiro, corajoso e ousado experimento
realizado por Zugibe, ele passou a discutir o que causou de fato a
morte de Cristo. Analisou três teorias principais: asfixia, ruptura do
coração e choque traumático e hipovolêmico – por isso a importância
médica e fisiológica de se ter descrito, anteriormente e passo a passo,
o processo de tortura física e psíquica a que Jesus foi submetido. A
teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas ela jamais foi
testada cientificamente. Essa hipótese sustenta que a posição na cruz
é incompatível com a respiração, obrigando a vítima a erguer o corpo
para conseguir respirar. O ato se repetiria até a exaustão e ele
79
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
morreria por asfixia quando não tivesse mais forças para se mover.
Defende essa causa mortis o cirurgião francês Pierre Barbet, que se
baseou em enforcamentos feitos pelo Exército austro-germânico e
pelos nazistas no campo de extermínio de Dachau.
Zugibe classifica essa tese de “indefensável” sob a
perspectiva médica. Os exemplos do Exército ou do campo de
concentração não valem porque os prisioneiros eram suspensos com
os braços diretamente acima da cabeça e as pernas ficavam soltas no
ar. Não é possível comparar isso à crucificação, na qual o condenado
é suspenso pelos braços num ângulo de 65 a 70 graus do corpo e tem
os pés presos à cruz, o que lhe dá alguma sustentação. Experimentos
feitos com voluntários atados com os braços para o alto da cabeça
mostraram que, em poucos minutos, eles ficaram com capacidade
vital diminuída, pressão sangüínea em queda e aumento na pulsação.
O radiologista austríaco Ulrich Moedder também derruba o raciocínio
de Barbet afirmando que esses voluntários não suportariam mais de
seis minutos naquela posição sem descansar. Pois bem, Jesus passou
horas na cruz.
Quanto à hipótese de Cristo ter morrido de ruptura do
coração ou ataque cardíaco, Zugibe alega ser muito difícil que isso
ocorra a um indivíduo jovem e saudável, mesmo após exaustiva
tortura: “Arteriosclerose e infartos do miocárdio eram raros naquela
parte do mundo. Só ocorriam em indivíduos idosos.” Ele descarta a
hipótese por falta de provas documentais. Prefere apostar no choque
causado pelos traumas e pelas hemorragias.
A isso somaram-se as lancinantes dores provenientes dos
nervos medianos e plantares, o trauma na caixa torácica, hemorragias
pulmonares decorrentes do açoitamento, as dores da nevralgia do
trigêmeo e a perda de mais sangue depois que um dos soldados lhe
arremessou uma lança no peito, perfurando o átrio direito do
80
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
coração. Zugibe usa sempre letras maiúsculas nos pronomes que se
referem a Jesus e se vale de citações bíblicas revelando a sua fé.
Indagado por ISTOÉ sobre a sua religiosidade, ele diz que os seus
estudos aumentaram a sua crença em Deus: “Depois de realizar os
meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das
informações.” Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que
chama de “sumário da reconstituição forense”. E chega à definitiva
causa mortis de Jesus, em sua científica opinião: “Parada cardíaca e
respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico,
resultante da crucificação.”
Frederick T. Zugibe
81
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
(*) Frederick T. Zugibe : Zugibe desenvolveu o primeiro
Sistema de Patologista Forense em Rockland, Nova Iorque em 1969 e
a partir daí serviu de primeiro Médico Patologista Chefe de Rockland,
um cargo que ele manteve durante mais de 33 anos até a sua reforma
no dia 31 de Dezembro de 2002.Exerceu ainda o cargo de Médico
Patologista de Janeiro de 2003 até o dia 31 de Março de 2003 até à
confirmação do seu Sucessor e no dia 11 de Agosto de 2003, a
Legislatura de Rockland dedicou o Gabinete de Patologia Doutor
FREDERICK T. ZUGIBE UNIDADE FORENSE.
Da Universidade de Chicago, em Chicago, Zugibe recebeu o
seu M.S. em 1959 e o seu doutoramento em 1960, tendo obtido o seu
M.D. da Universidade de Virginia no mesmo ano.Doctor Zugibe
manteve um Mestrado em Ciência, um Mestrado em Ciência
(Microscopia de Anatomia/Elétron), Doutoramento em Anatomia /
Histoquimica, e o grau de M.D.. Foi Diplomado pelo Conselho
Americano de Patologia e Diplomado em Patologia Anatômica e
Patologia Forense e Diplomado pelo Conselho Americano da Prática
de Família. Foi Professor Catedrático de Patologia no Colégio da
Universidade de Columbia de Médicos e Cirurgiões e publicou um
definitivo, manual largamente usado em campo especializado da
patologia diagnóstica, chamada “Histochemistry Diagnóstico” (C.V.
Mosby Co) um trabalho ainda utilizado em centros médicos em todo
o Mundo.
Foi Colega do Colégio de Patologistas Americanos, Colega
da Academia Americana das Ciências Forenses, Secção de Patologia
Forense, e Membro da Associação Nacional de Examinadores
Médicos com papéis numerosos publicados em capítulos de livro
escritos nos campos da patologia forense em geral.
82
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
10º Exame forense do corpo de Jesus
O médico legista José Antonio Lorente analisou para o
Magazine de El Mundo, por causa da polêmica desencadeada pelo
filme de Mel Gibson, A Paixão, as agressões recebidas durante as
últimas oito horas da vida de Cristo mostrando que lhe causaram um
sofrimento indescritível e que tinham um propósito criminoso.
Com o respeito e admiração que sempre me causou a figura
de Jesus, especialmente marcada por minha condição de católico
praticante, analiso de uma perspectiva estritamente profissional e
baseada em dados objetivos, qual poderia ter sido, à luz dos
conhecimentos de hoje, o resultado da autópsia médico-forense de
uma pessoa que tivesse morrido após sofrer as lesões infligidas a
Jesus. Todos os dados em que me apóio foram obtidos (por José
Manuel Vidal, correspondente religioso de El Mundo) das Sagradas
Escrituras, por isso nada se deixa à improvisação nem à imaginação
dos autores.
A autópsia forense é encaminhada para determinar a causa
da morte e as circunstâncias da mesma, questões às vezes muito
complexas de estabelecer, como veremos a seguir, depois de uma
breve introdução genérica à autópsia médico-legal.
A causa da morte, no contexto médico- legal, é de dois
tipos, ambos estreitamente relacionados entre si: a causa imediata e a
causa fundamental. A vida tem um trípode vital (já descrito por
Bichat) que faz com que a mesma exista pelo funcionamento
coordenado das funções cardíaca, respiratória e nervosa; o motivo
pelo qual cessa ao menos uma destas três funções e acaba a vida é a
83
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
causa imediata da morte. Esta causa imediata, por sua vez, está
baseada em uma série de alterações gerais mais graves e genéricas, que
são a causa fundamental. Assim, por exemplo, uma pessoa que falece
por um enfarte de miocárdio tem como causa imediata a isquemia
cardíaca com necrose miocárdica, e como causa fundamental, por
exemplo, uma grave aterosclerose com redução drástica da luz ou
diâmetro de uma série de artérias coronárias. Estas causas são
anotadas sempre nos atestados médicos de falecimento e nas
declarações ou informes de autópsia.
As circunstâncias da morte tratam de explicar basicamente
se a mesma foi criminosa (homicida), acidental ou suicida, já que estas
conclusões são básicas para a investigação judicial. Para isso, o
médico forense estuda minuciosamente o cadáver, primeiro a parte
exterior (exame externo), e posteriormente as cavidades e órgãos
internos, localizados no crânio, no tórax e no abdome.
Usam-se quantas técnicas complementares ou auxiliares
sejam necessárias (histopatológicas, toxicológicas, genéticas, etc...), já
que destes dados não só se pode deduzir se a morte é homicida ou
acidental, mas sim às vezes se conseguem dados sobre os autores do
crime ou de certas lesões (por exemplo, recuperando sêmen do corpo
de uma vítima de estupro que pode servir para identificar o autor)
e em outras ocasiões serve até para identificar um cadáver
previamente não identificado (por exemplo, observando cicatrizes ou
tatuagens).
Eis aqui, pois, a declaração de autópsia que podemos
deduzir com rigor das descrições encontradas nas Sagradas Escrituras,
com mínimas licenças formais de estilo, nunca de conteúdo.
84
A autópsia.
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Sobre a mesa de autópsia se encontra o cadáver de um
varão, de aproximadamente 30 a 35 anos de idade, identificado por
um nutrido grupo de seguidores como Jesus de Nazaré, que
asseguram que tem 33 anos, filho de José e de Maria, crucificado após
ser condenado.
No exame externo se aprecia um bom estado físico, face às
lesões que sofreu. Na cabeça destacam-se múltiplas pequenas feridas
agudas (espetadas), incisas (corte) e inciso-contusas (cortes unidos a
golpes ou cortes produzidos por instrumentos não cortantes), de
disposição em forma coronal ou de circunferência, que abrange a
parte superior da frente e continua para trás por ambos os lados da
cabeça, afetando os ossos parietais, temporal e occipitais.
As ferida são profundas, afetando a toda a galea capitis
(couro cabeludo) e chegando até a face externa dos ossos
mencionados. Os pavilhões auriculares acham-se igualmente
perfurados pela ação de instrumentos agudos (pontas agudas). Por
causa das profusas hemorragias provocadas pelas múltiplas feridas, é
de mencionar que quase todo o cabelo se encontra, em toda a sua
longitude, empapado em sangue úmido ou com crostas originadas ao
secar-se. Todas as lesões sofridas são compatíveis com as que
produziria uma coroa de espinhos como a que se descreve que levou
o finado.
No tronco, tanto em sua parte anterior (peito) como na
posterior (costas) apreciam- se múltiplas lesões, onde predominam as
contusões em forma de equimoses, equimomas e hematomas
(cardeais), algumas delas de caráter longitudinal em forma figurada
que reproduzem os objetos que as produziram, muito provavelmente
85
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
por um ou vários flagrum (espécie de chicote de correias ou tiras).
Pela violência dos golpes e/ou pela reiteração dos mesmos em certas
zonas, produziram-se soluções de continuidade, aparecendo feridas
contusas longitudinais, erosões (arranhões superficiais) e escoriações
(arranhões profundos, onde aparece sangue).
Em alguns pontos do corpo as feridas contusas são
especialmente profundas, produzindo um grande rasgo muscular e
também hemorragias profusas. Todas estas lesões preponderam,
sobretudo, na parte posterior do tronco. Finalmente, na zona costal
direita, anterolateralmente, destaca-se uma ferida incisa profunda,
com evidentes sinais de ter produzido uma abundante hemorragia.
Em ambas as extremidades superiores, quase à altura das
mãos, na zona carpiana, apreciam-se uma ferida aguda transfixante
(que atravessa), com bordas contusas e sinais de rasgo por ter
suportado grande peso, provavelmente o do corpo. Nas mãos, na
palma e na eminência tenar, apreciam-se erosões e escoriações,
compatíveis com as produzidas ao apoiar-se no chão depois de uma
queda. Nas extremidades inferiores aprecia-se, em ambos os pés, uma
ferida aguda transfixante de bordas contusas. Os joelhos aparecem
com erosões e escoriações, provavelmente por ter caído e batido com
eles no chão.
No exame interno (podemos deduzir) apreciar-se-iam sinais
próprios de uma hipoxia-anoxia, hemorragia maciça, choque
hipovolêmico, com palidez de mucosas e de órgãos internos como os
pulmões, o fígado e os rins. Além disso, se encontraria uma
quantidade muito limitada de sangue nas cavidades cardíacas e nos
grandes copos arterovenosos. Existiriam sinais de asfixia no cérebro e
nos pulmões, tudo isso compatível com uma agonia prolongada.
86
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
É necessário agora realizar uma série de raciocínios
(chamados considerações médico- legais) antes de concluir com as
circunstâncias da morte. Começamos constatando que não foram
descritas lesões mortais, ou seja, aquelas que por afetar um órgão ou
função vital, são causa imediata e fundamental de morte. Tudo isso
nos leva a considerar a morte de Jesus de Nazaré como o resultado de
um longo processo agônico.
Das nove da noite da quinta-feira 12 (ao acabar a Última
Ceia e ser detido) até as três da tarde da sexta-feira 13 em que morreu,
transcorrem um total de 18 horas. Desde o momento de sua
detenção, parece que não ingeriu nenhum tipo de alimento ou
líquido. Os castigos (exceto a paulada propiciada por um criado de
Caifás pouco depois de sua detenção) começaram por volta das sete
da manhã de sexta-feira, por isso, até o momento da morte
transcorrem umas oito horas.As outras lesões procedem da
flagelação, e são múltiplas chicotadas no peito e nas costas. Estas
lesões provocam hemorragias que em princípio não têm por que ser
muito profusas por não serem profundas e, portanto, não afetarem
grandes artérias e veias.
Entretanto, por ser em uma extensão muito ampla do corpo
(peito e costas) a perda sangüínea vai-se acumulando e pode ser
significativa, podendo produzir (ao longo das mais de oito horas de
castigo) a perda de um ou dois litros de sangue e plasma
(sinceramente não acreditamos que se pudesse perder mais, já que
essas lesões em vasos de diâmetro pequeno e médio tendem a fecharse
por si mesmas).
Uma hemorragia produz uma perda do volume de sangue
(que se denomina volemia), por isso a perda de sangue se chama
hipovolemia. Uma grande hipovolemia origina uma crise ou choque
87
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
no funcionamento do organismo, que neste caso se chama choque
hipovolêmico.
Paralelamente, tendo em conta a grande quantidade de
golpes que impactam nos mesmos lugares, produzem-se uma série de
graves lesões similares às de um esmagamento ou pisoteamento, o
que se conhece em medicina como síndrome de esmagamento
(crush syndrome) e que implica na liberação de substâncias no
interior do sangue, entre elas mioglobina procedente dos músculos,
que provoca alterações nos processos renais de filtração.
Tão maciça quantidade de golpes no tórax é também causa
de uma grande dor, enorme e inqualificável sofrimento. Entre os
mecanismos de defesa que de modo automático ou inconsciente
utiliza o organismo está o de reduzir a mobilidade ao mínimo
(quando, por exemplo, se uma pessoa se machuca em um dedo, o
primeiro que faz imediatamente depois é agarrá-lo com a outra mão e
não movê-lo); a redução da mobilidade no tórax se traduz em
respirações superficiais que originam uma hipoxia (falta de
oxigenação do sangue por não respirar adequadamente), que se
associa a uma hipercapnia (excesso de dióxido de carbono pelo
mesmo motivo) e a uma série de alterações do equilíbrio ácido-base.
A isto deve-se acrescentar que, pela postura existente na
cruz −onde o corpo fica literalmente pendurado nas extremidades
superiores através de uma tensão que se transmite ao tórax e aos seus
músculos−, que são dificultada suas funções, entre elas a de facilitar
os movimentos respiratórios.
As graves lesões traumáticas no tórax bem puderam
produzir uma irritação das membranas que rodeiam os pulmões
(pleuras), ocasionando uma pleurite com um acúmulo de líquido
88
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
chamado exsudado no espaço interpleural. Isto pode explicar
perfeitamente por que saiu “sangue e água” quando foi cravado no
lado direito de seu flanco: sangue das lesões próprias das artérias e
veias da zona, e “água” que seria o exsudado acumulado entre as
pleuras (interpleural).
As lesões produzidas pelos pregos em ambas as mãos (zona
carpiana) e nos pés não devem estar em princípio relacionadas com a
causa da morte, já que não afetam órgãos vitais e uma possível
infecção grave não se desenvolve em tão curto prazo de tempo. A
única possível influência –não descrita nas Sagradas Escrituras– é a
produção de uma grande hemorragia porque se afetaram artérias ou
veias de grande calibre, o que poderia redundar no possível choque
hipovolêmico mencionado.
As lesões produzidas pela coroa de espinhos na cabeça não
estão provavelmente relacionadas com a causa da morte (não afetam
órgãos vitais ao não penetrar no cérebro nem produzem grande
hemorragia).
Uma nota final para destacar que a posição na cruz
(ortostática, de pé) torna difícil a chegada de oxigênio ao cérebro, já
que o sangue tende a acumular-se nas partes inferiores do organismo
(por efeito da gravidade), sobretudo quando o coração funciona
fracamente, por isso a oxigenação do órgão que mais o necessita (o
cérebro ou sistema nervoso central) é deficiente.
Conhecendo a lenta agonia e a manutenção da consciência
quase até o último instante, baseado em todas as considerações
anteriormente expostas.
89
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
11º Obtemos as seguintes conclusões
médico
Obtemos as seguintes conclusões médico - legais como
as mais prováveis:
Causa imediata da morte: hipoxia- anoxia (hipoxia é
diminuição da concentração de oxigênio no sangue, e anoxia é a
ausência total de oxigênio na mesma) cerebral conseqüência de
hipovolemia (diminuição do volume de sangue) pós-hemorrágica,
gerada pela insuficiência respiratória mecânica (incapacidade para
respirar adequadamente por falta de mobilidade) por graves lesões em
músculos intercostais, e por insuficiência cardíaca.
Causa fundamental da morte: múltiplas feridas incisocontusas,
equimose, erosões, escoriações e hematomas na parte
anterior e posterior do tronco.
Origem da morte: criminosa.»
O doutor José Antonio Lorente Acosta é especialista em
Medicina Legal e Forense e professor titular de Medicina Legal da
Universidade de Granada.
90
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A hematidrose de Jesus no Getsêmani na visão de um
médico forense
91
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
"E seu suor transformou-se em gotas de
sangue, que caíram no chão" - Lucas 22.43
O Jardim do Getsêmani
Entendendo como o sistema nervoso autônomo funciona,
tendo uma idéia básica da anatomia das glândulas sudoríparas e
compreendendo o que é ansiedade e como a reação lutar-ou-fugir é
ativada, é possível aplicar esse conhecimento para entender o
mecanismo da hematidrose no Jardim do Getsêmani.
Lutar ou Fugir
Eis o que aconteceu: a reação lutar- ou-fugir foi iniciada
pelas águas turbulentas de pavor extremo, tristeza e ansiedade que
direcionavam o espírito de Jesus para os limites extremos de Sua
humanidade. "Minha alma está triste até a morte" (Marcos 14.34).
A missão de Jesus era clara e Ele era capaz de prever todo o
espectro de sofrimento e morte que estava por vir. Esse prelúdio
produziu pavor extremo e satisfez todos os critérios médicos para
que se iniciasse a resposta simpatética autônoma.
O coração de Jesus bateu forte em Seu peito, um suor frio
se manifestou, Sua pele ficou empalidecida, Suas pupilas se dilataram,
Seus músculos se enrijeceram e Ele começou a tremer durante a
noite. O fato de que Jesus "caiu no chão e orou...(Marcos 14.35), foi
92
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
uma indicação de sua fraqueza, já que era incomum um judeu
ajoelhar-se durante a oração.
Jesus orou repetidamente. Essa reação severa foi seguida de
uma reação contrária desencadeada pelo sistema nervoso
parassimpático, em resposta a aceitação de Jesus de Seu destino. As
Escrituras nos dizem: "Ele se retirou, ajoelhou-se e orou:
Pai se queres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça
a minha vontade, mas a tua".
Então, apareceu-Lhe um anjo vindo do céu, deu-lhe forças,
e Ele, estando em agonia, orou mais intensamente (Lucas 22.41,42). A
taxa cardíaca diminuiu, o corpo inteiro começou a suar, Seus
músculos relaxaram, a cor retornou à Sua face.
A Hematidrose
Seus vasos sanguíneos se dilataram, precipitando o sangue
nos delicados capilares que circundam as glândulas de suor e
induzindo-os a irromper nos dutos, misturando o sangue com a
crescente quantidade de suor, projetada à superfície da pele
exatamente como foi descrito por Lucas, o médico: "E seu suor
transformou-se em gotas de sangue, que caíram ao chão" (Lucas
22.43).
Em síntese, a explicação mais lógica para o fenômeno da
hematidrose é a seguinte: o extremo estado de ansiedade mental
causado pelo pavor estimulou o centro do medo (amígdala), que
93
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
mandou uma alarme geral para todos os centros do cérebro,
evocando a plena reação de "lutar- ou-fugir". Essa reação durou
horas, resultando em um estado de exaustão total, que cessou
abruptamente quando, depois que o anjo O reconfortou, houve uma
reação contrária e Ele aceitou o Seu destino.
94
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O Sofrimento mental
Isso fez que seus vasos sanguíneos se dilatassem e
irrompessem diretamente nas glândulas de suor, terminando por sair
pela pele, exatamente como foi descrito por Lucas. A hematidrose é
considerada um caso médico raro, mas a presença de ansiedade e
profundo pavor do extremo sofrimento mental de Jesus ocasionou o
fenômeno. Jesus foi foi vitima de extrema angústia mental, que
drenou e debilitou Sua força física, até o ponto de exaustão. O
impacto da agonia no Getsêmani ilustra a gravidade do sofrimento
mental que Jesus sentiu a caminho do Calvário.
Ainda estava por vir sofrimentos físicos; o flagelo, a coroa
de espinhos, a estrada para o Calvário, a fixação e suspensão na Cruz
e o mais terrível de todos os sofrimentos - o espiritual e moral. O
Santo, o Puro, o Bendito, tomaria sobre Si a maldição de nossos
pecados e de nossas enfermidades ( Isaías 53).
Graças a Deus pelo Seu amor inefável - "Porque Deus amou
o mundo (todos os seres humanos de todas as épocas) de tal maneira
que deu o seu Filho Unigênito, (Jesus morreu na cruz em nosso
lugar)) para que todo àquele que nele crê (eu e você) não pereça, (no
inferno) mas tenha a vida eterna (morada garantida no Céu) - (João
3.16).
Dr. Frederick T. Zugibev- Médico Forense
95
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Autoria atribuída a Dr. Barbet, médico francês.
Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze
anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira
estudei anatomia a fundo.
Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte
como aquela.Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor
tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único
evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a
precisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um
fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para
provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um
abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por
um grande medo.
O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando
todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão
96
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que
estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se
concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.
Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o
envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e
Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus.
Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma
coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas
sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.
Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente
estatura.Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de
microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se
rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto
de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a
97
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao
longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia
em uma poça de sangue.
Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais
duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de
capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no
couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto
sangra o couro cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele
98
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
homem dilacerado à multidão feroz,
crucificado.
o entrega para ser
Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço
horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical já está
plantada sobre o Calvário.
Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno
irregular, cheia de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas.
O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé
após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de
Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe
escapa, escorrega e lhe esfola o dorso.
99
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos
despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirála
produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma
grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne
viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas
em descoberto pelas chagas.
Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda
aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue
começa a escorrer.Jesus é deitado de costas, as suas chagas se
incrustam de pé e pedregulhos.
Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes
tomam as medidas.
Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a
penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo
prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com
100
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira.
Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano
foi lesado.
Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma
dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhouse
pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que
um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos
grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a
consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão
do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o
corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma
corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada
movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que
durará três horas.
O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da
trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé;
conseqüentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam-se à
estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da
cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam
dolorosamente sobre a madeira áspera.
A ponta cortante da grande coroa de espinhos
penetram o crânio.
101
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o
diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o
mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregamlhe
os pés.
Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde
anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta
e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas
ele não pode engolir. Tem sede.
Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma
esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo
aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no
corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma
contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e
102
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de
tétano.
A isto que os médicos chamam tetania, quando
os sintomas se generalizam:
Os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis,
em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os
respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar
entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o
ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena
crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se
transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico.
Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar
não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os
olhos saem fora de órbita.
103
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobrehumano,
Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés.
Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços.
Os músculos do tórax se distendem.
A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se
esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.
Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoalhes
porque não sabem o que fazem". Logo em seguida o corpo
começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram
transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que
quer falar, deverá levar-se tendo como apoio o prego dos pés.
Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo
coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele
não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde:
de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de
uma tortura que dura três horas.Todas as suas dores, a sede, as
câimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um
lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Jesus
grita: "Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado diz:
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar
e no seu.
104
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
12º Hematidrose
A Hematidrose é um fenômeno raríssimo apenas uma
fraqueza física excepcional onde o corpo inteiro dói, acompanhada de
um abatimento moral violento causada por uma profunda emoção,
por um grande medo. Apenas um ato destes pode causar o
rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas
sudoríparas onde o suor anexa-se ao sangue formando a hematidrose.
105
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
As glândulas
sudoríparas dos mamíferos são glând ulas que produzem
o suor, função importante para regular a temperatura do corpo e
eliminar substâncias tóxicas.
São glândulas tubulares enroladas derivadas das camadas
exteriores da pele mas se estendendo até a camada interna. Elas estão
distribuídas por quase toda superfície do corpo em humanos e várias
outras espécies, mas não são encontradas em algumas espécies
marinhas e que vestem pele, nem estão presentes em todos os
vertebrados terrestres e não abrem na base dos folículos pilosos dos
mamíferos.
As glândulas écrinas funcionam desde o nascimento,
fazendo o suor ser eliminado por todos os poros. Prova disso é o
suor típico de quando a temperatura do nosso corpo se eleva, seja por
estarmos correndo, pulando, seja por causa de uma febre. Esse tipo
de suor, o écrino, é composto quase que totalmente só de água,
portanto não reage provocando grandes odores.
O suor humano é composto primariamente de água, com
diversos sais e compostos orgânicos em solução. Ele contém
quantidades mínimas de materiais gordurosos, ureia e outras
excreções. O suor de outras espécies normalmente difere do
humano em sua composição.
Em algumas áreas do corpo, as glândulas sudoríparas são
modificadas para produzir secreções, como as glândulas sebáceas e
mamárias.
106
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Nos humanos, existem dois tipos diferentes de glândulas
sudoríparas e glândulas soprapiras que se diferem bastante na
composição do suor e na sua proposta.
• Glândulas sudoríparas écrinas, que são
distribuídas por toda a superfície do corpo. Elas produzem suor que é
composto em sua maior parte de água com vários sais. Essas
glândulas são usadas para a regulação da temperatura do corpo.
• Glândulas sudoríparas apócrinas, que produzem
o suor que contém materiais gordurosos. Essas glândulas estão
principalmente presentes nas axilas e em volta da área genital e sua
atividade é a principal causa do odor do suor, devido às bactérias que
quebram os compostos orgânicos no suor dessas glândulas. O
estresse emocional aumenta a produção de suor das glândulas
apócrinas, ou mais precisamente: o suor já presente no túbulo é
empurrado para fora. As glândulas sudoríparas apócrinas servem
basicamente como glândulas de cheiro. Entram em atividade durante
a puberdade.
A hematidrose pode ser mais entendida com uma
transpiração de sangue acompanhada de suor.
Hematidrose (hêmato+hidrose)
O “suar sangue”, ´é chamado de “hematidrose“. Essa reação
é produzida diante de condições excepcionais: para provocá-lo é
necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento
moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande
medo . A tensão extrema, com contrações musculares localizadas,
produzem um rompimento das finíssimas veias capilares que estão
sob as glândulas sudoríparas; o sangue se mistura ao suor e se
concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo O
107
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
fenômeno Hematidrose consiste em intensa vasodilatação dos
capilares subcutâneos que distendidos ao extremo rompem-se. O
sangue se mistura com o suor e esta mistura acaba surgindo pela
superfície do corpo.
Esta disfunção ocasiona uma extrema
sensibilidade em todo o seu corpo, uma fragilidade
que deixa toda a extensão do corpo com dores
intensas.
Problemas das glândulas sudoríparas
• Pele/olhos e visão/ouvido e audição
A actividade das glândulas sudoríparas é essencial para a
manutenção da temperatura do corpo dentro de determinados limites,
na medida em que, por vezes,
Existem vários factores que a tornam excessiva ou
alterada.
• Hiper-hidrose: suores excessivos
• Hidradenite supurativa
• Antitranspirantes
• Outras alterações do suor
108
Hiper - Hidrose:
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Suores excessivos
A produção de suor constitui um dos principais mecanismos
que o organismo dispõe para controlar a temperatura do corpo,
adaptando-a às alterações internas ou externas, para que não
ultrapasse determinados limites.A actividade das glândulas
sudoríparas é controlada por um centro termorregulador situado no
hipotálamo que, através do sistema nervoso autónomo, determina,
entre outras respostas, um aumento da secreção de suor quando a
temperatura do corpo aumenta em demasia, devido a factores
internos ou a uma temperatura ambiente muito elevada. A febre e os
esforços físicos provocam um aumento generalizado do suor,
igualmente perceptível quando a temperatura externa ultrapassa os 25
°C.
Existem imensas situações que proporcionam um suor
significativo, independentemente de se evidenciar por todo o corpo
ou apenas em determinadas regiões do corpo com abundantes
glândulas sudoríparas, nomeadamente nas palmas das mãos, nas
plantas dos pés, nas axilas, nos sulcos inframamários ou nas virilhas.
De facto, existem algumas infecções crónicas, como a
tuberculose, e alguns tipos de cancro, sobretudo os hematológicos,
que costumam proporcionar, como parte dos sintomas, suores
generalizados abundantes, muitas vezes durante a noite, enquanto que
determinados problemas do sistema nervoso central podem ser
acompanhados, igualmente, por um aumento da sudação. Também
existem determinadas disfunções hormonais, como por exemplo o
hipertiroidismo, que originam suores generalizados excessivos. O
mesmo pode ocorrer perante o consumo de determinados
medicamentos que, entre os seus efeitos secundários, proporcionam
109
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
suores excessivos. Por fim, o stress também pode provocar suores
significativos, normalmente localizados nas mãos e nos pés.
Perante um quadro de suores excessivos, deve-se sempre
consultar um médico, para que este determine a sua origem e
estabeleça o tratamento mais adequado consoante o caso.
Hiperhidrose juvenil. A principal característica desta
doença são os suores excessivos, independentemente de serem
generalizados ou, o que é mais típico, localizados nas palmas das
mãos, plantas dos pés e axilas que, por motivos ainda desconhecidos,
se evidencia durante a puberdade e persiste durante tempo variavel,
diminuindo de intensidade por volta dos 25 anos. O suor é
importante,independentemente da temperatura ambiente, e não está
relacionado com o esforço físico, embora seja mais evidente em
situações de tensão emocional ou durante o Verão, época em que o
problema costuma piorar. As principais conseqüências são o
incómodo consequente do facto de se ter sempre as mãos húmidas,
entre outras coisas, e o problema provocado pelo intenso odor do
corpo devido ao exagerado suor dos pés e das axilas. Para além disso,
é preciso referir a maior sensibilidade a infecções bacterianas e
micóticas nas zonas afectadas.
O diagnóstico baseia-se fundamentalmente na eliminação de
qualquer doença responsável pelo problema. Caso se pretenda
diminuir os incómodos, para além da aconselhável utilização de roupa
e calçado de materiais naturais absorventes, pode-se recorrer à
utilização local de produtos como o cloreto de alumínio ou à
administração de anticolinérgicos, medicamentos que reduzem a
produção de suor, apesar de terem vários efeitos secundários.
110
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Hidradenite supurativa
Este problema, provocado pela retenção de suor nas
glândulas sudoríparas, caracteriza-se por uma erupção de inúmeras
vesículas cutâneas com aspecto semelhante a grãos de milho, o que
justifica o facto de ser igualmente denominada miliária. A
hidradenite supurativa é um problema muito comum que se evidencia
em pessoas de pele delicada, nomeadamente crianças, após um suor
abundante, independentemente de ser provocado por um acesso de
febre ou por uma temperatura ambiente elevada. O problema é
igualmente frequente nas pessoas obesas que suam bastante, nos
trabalhadores expostos a temperaturas elevadas (fogueiros,
fundidores) e em inúmeros indivíduos durante o Verão nos países
tropicais.
O problema costuma ser provocado pela obstrução dos
canais excretores das glândulas sudoríparas, provocada pela
maceração das células dos seus septos devido à humidade e ao calor,
factores que favorecem a proliferação bacteriana. As glândulas
sudoríparas repletas de suor dilatam-se de tal forma que a secreção
transborda para os tecidos vizinhos da derme e hipoderme,
provocando uma irritação.
O problema costuma evidenciar-se nas zonas da pele
cobertas pela roupa, sobretudo nas áreas em contacto com roupas
impregnadas de suor. A erupção costuma adoptar várias formas, pois
por vezes manifesta-se através de pequenas bolhas, de 1 a 2 mm de
diâmetro, de conteúdo claro, enquanto que noutros casos as vesículas
inflamam-se e ficam rodeadas por uma coroa vermelha, acompanhada
de ardor.
111
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
O tratamento consiste em lavar frequentemente a pele das
zonas afectadas com água fria, proceder à sua cuidadosa secagem e
colocar pó de talco no final. O tratamento pode ser complementado
com a permanência em ambientes frescos e secos, com a utilização de
roupas ligeiras de fibras naturais e em mudar com frequência de
roupa interior. Caso o problema provoque um ardor muito intenso, o
tratamento passa pela aplicação de loções antipruriginosas tanto para
aliviar o incómodo como para evitar as lesões provocadas pelo coçar,
já que dessa forma podem infectar. Se houver infecção, é necessário
administrar antibióticos. Nos casos mais graves, quando estão
envolvidas grandes extensões de pele e após falha da antibioterapia,
pode ser mesmo necessário recorrer a uma intervenção cirúrgica.
Antitranspirantes
Embora existam vários procedimentos para evitar os suores
intensos, o mais aconselhável consiste no recurso aos métodos
"fisiológicos", ou seja, lavagem com água fria, roupas leves de
material absorvente, aplicação de pó de talco... Apesar de existirem
produtos de utilização externa que podem ser aplicados localmente,
por exemplo nas axilas, de modo a reduzirem a transpiração, a sua
eficácia é moderada, caso se sue bastante. Se estes procedimentos
forem ineficazes, pode-se recorrer à utilização de produtos
antitranspirantes, como os anticolinérgicos, que bloqueiam a
acetilcolina, o mediador químico através do qual o sistema
neurovegetativo estimula a actividade das glândulas sudoríparas.
Todavia, a utilização destes produtos pode provocar alguns efeitos
secundários, pois pode originar uma diminuição de outras secreções,
como a saliva, e representa um perigo para quem sofre, entre outras
coisas, de determinadas patologias oculares (glaucoma) ou prostáticas
(hipertro- fia da próstata). Em suma, a utilização de produtos por via
geral para combater os suores, mesmo que a sua venda nas farmácias
112
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
não necessite de receita, deve ser sempre supervisionada por um
médico.
Outras Alterações do Suor
• Hipo-hidrose e anidrose: diminuição ou
eliminação do suor, respectivamente. Podem evidenciar-se em
determinadas patologias da pele (psoríase, es- clerodermia), alterações
hormonais (hipotiroidismo, diabetes), do sistema neurovegetativo e
em determinados problemas neurológicos (acompanhado por
paralisia) e intoxicações. Embora o tratamento corresponda ao da
doença de base, em alguns casos, recorre-se à administração de
medicamentos que estimulem a produção de suor.
• Bromidrose: suor de mau odor, sobretudo nas axilas,
pés e região inguinal, que costuma ser provocado pela acção das
bactérias que habitam na superfície cutânea, ao gerarem e ao
decomporem o suor através da libertação de produtos odoríferos. O
tratamento corresponde a uma rigorosa limpeza da zona, complementada
com a utilização de desodorizantes especiais. Quando o
problema se localiza nas axilas, estas devem ser depiladas. Em alguns
casos especiais, pode-se proceder à extracção das acumulações de
glândulas sudoríparas na zona. É igualmente característico o intenso
odor do suor dos urémicos.
• Cromidrose: secreção de suor colorido. Umas vezes
provocada pela acção de bactérias cromogénas, como acontece em
trabalhadores de algumas indústrias químicas, e outras originada pela
ingestão de determinadas substâncias, como por exemplo o típico
suor esverdeado da intoxicação por cobre, o azulado (cianidrose)
provocado pela ingestão excessiva de ferro ou o suor amarelo da
intoxicação por ácido pícrico.
113
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
13º Fisiopatología da Morte de Jesus
Cristo
Fisiopatología da Morte de Jesus Cristo Jesus uma
pessoa Politraumatizada
Rubén Dario Camargo R. Medicina Interna -
Cuidados Intensivos. Barranquilla, Colômbia 2003.
Os estudos médicos que procuram explicar a causa da morte
de Jesus Cristo tomam como material de referência um corpo de
literatura e não um corpo físico. Publicações sobre os aspectos
médicos de sua morte existem desde o século I.
Hoje em dia, com apoio dos conhecimentos da
fisiopatologia do paciente traumatizado, pode-se chegar a inferir as
mudanças fisiológicas padecidas por Jesus Cristo durante sua paixão e
morte. Os relatos bíblicos da crucificação descritos através dos
evangelhos e a documentação científica a respeito, descrevem que
padeceu e sofreu o mais cruel dos castigos. O mais desumano e
inclemente dos tratamentos que pode receber um ser humano.
Descobrimentos arqueológicos relacionados com as práticas
romanas da crucificação oferecem informação valiosa que dá
verdadeira força histórica à figura de Jesus e à sua presença real na
história do homem.
114
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Historicamente este acontecimento se inicia durante a
celebração da páscoa judia, no ano 30 de nossa era. A Última Ceia se
realizou na quinta-feira 6 de abril (nisan 13). A crucificação foi em 7
de abril (nisan 14). Os anos do nascimento e da morte de Jesus
permanecem em controvérsia.
HORTO DAS OLIVEIRAS (GETSEMANI)
Os escritores sagrados descrevem a oração do
GETSEMANI com enérgicas expressões. O que foi vivido por Jesus
antes de ser aprisionado é citado como uma mescla inexprimível de
tristeza, de espanto, de tédio e de fraqueza. Isto expressa uma pena
moral Que chegou ao maior grau de sua intensidade.
Foi tal o grau de sofrimento moral, que apresentou como
manifestação somática, física, suor de sangue (hematihidrosis ou
hemohidrosis). “Suor de sangue, que lhe cobriu todo o corpo e
correu em grosas gotas até a terra”. (Lc 22, 43).
Trata-se de caso incomum na prática médica. Quando se
apresenta, está associado a desordens sangüíneas. Fisiologicamente é
devida à congestão vascular capilar e hemorragias nas glândulas
sudoríparas. A pele se torna frágil e tenra.
Depois desta primeira situação ocasionada pela angústia
intensa, é submetido a um jejum que durará toda a noite durante o
julgamento e persistirá até sua crucificação.
FLAGELAÇÃO
A flagelação era uma preliminar legal para toda execução
Romana. Despiam a parte superior do corpo da vítima, amarravam-na
a um pilar pouco elevado, com as costas encurvadas, de modo que ao
115
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
descarregar os golpes sobre ela nada perdessem de sua força. E
golpeavam sem compaixão, sem misericórdia alguma.
O instrumento usual era um açoite curto (flagram ou
flagellum) com várias cordas ou correias de couro, às quais se atavam
pequenas bolas de ferro ou pedacinhos de ossos de ovelhas a vários
intervalos.
Quando os soldados açoitavam repetidamente e com todas
as suas forças as costas de sua vítima, as bolas de ferro causavam
profundas contusões e hematomas. As cordas de couro com os ossos
de ovelha rasgavam a pele e o tecido celular subcutâneo.
Ao continuar os açoites, as lacerações cortavam até os
músculos, produzindo tiras sangrentas de carne rasgada. Criavam-se
as condições para produzir perda importante de líquidos (sangue e
plasma).
Deve-se ter em conta que a hematidrosis tinha deixado a
pele de Jesus muito sensível.
Depois da flagelação, os soldados estavam acostumados a
fazer gozações humilhantes com suas vítimas. Por isso foi colocada
sobre a cabeça de Jesus, como emblema irônico de sua realeza, uma
coroa de espinhos. Na Palestina abundam os arbustos espinhosos,
que puderam servir para este fim; utilizou-se o Zizyphus ou Azufaifo,
chamadoSpina Christi, de espinhos agudos, longos e curvos.
Além disso, foi colocada uma túnica sobre seus ombros (um
velho manto de soldado, que fazia às vezes da púrpura com que se
revestiam os reis, "clámide escarlate"), e uma cana, parecida com o
junco do Chipre e da Espanha como cetro em sua mão direita.
116
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
CRUCIFICAÇÃO
O suplício da cruz é de origem oriental. Foi recebido dos
persas, assírios e caldeus pelos gregos, egípcios e romanos.
Modificou- se em várias formas no transcurso dos tempos.
Em princípio o instrumento de agonia foi um simples poste.
Em seguida se fixou na ponta uma forca (furca), na qual se suspendia
o réu pelo pescoço. Depois se adicionou um pau transversal
(patibulum), tomando um novo aspecto. Segundo a forma em que o
pau transversal ficasse suspenso no pau vertical,
117
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Originaram-se três tipos de cruzes:
A crux decussata. Conhecida como cruz de Santo André,
tinha a forma de X.
A crux commissata. Alguns a chamam cruz do Santo
Antônio, parecia-se com a letra T.
A crux immisa. É a chamada cruz latina, que todos
conhecemos.
Obrigou-se Jesus, como era o costume, a carregar a cruz
desde o poste de flagelação até o lugar da crucificação. A cruz pesava
mais de 300 libras (136 quilogramas). Somente o patíbulo, que pesava
entre 75 e 125 libras, foi colocado sobre sua nuca e se balançava
sobre seus dois ombros.
Com esgotamento extremo e debilitado, teve que caminhar
um pouco mais de meio quilômetro (entre 600 a 650 metros) para
chegar ao lugar do suplício. O nome em aramaico é Golgotha,
equivalente em hebreu a gulgolet que significa “lugar da caveira”, já
que era uma protuberância rochosa, que teria certa semelhança com
um crânio humano. Hoje se chama, pela tradução latina, calvário.
Antes de começar o suplício da crucificação, era costume
dar uma bebida narcótica (vinho com mirra e incenso) aos
condenados; com o fim de mitigar um pouco suas dores. Quando
apresentaram essa beberagem a Jesus, não quis bebê-la. O que
poderia mitigar uma dor moral e física tão intensa, quando seu corpo,
todo policontundido, só esperava enfrentar seu último suplício, sem
alívio algum, com pleno domínio de si mesmo?
118
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Com os braços estendidos, mas não tensos, os pulsos eram
cravados no patíbulo. Desta forma, os pregos de um centímetro de
diâmetro em sua cabeça e de 13 a 18 centímetros de comprimento,
eram provavelmente postos entre o rádio e os metacarpianos, ou
entre as duas fileiras de ossos carpianos, ou seja, perto ou através
do forte flexor retinaculum e dos vários ligamentos intercarpais.
Nestes lugares seguravam o corpo.
Colocar os pregos nas mãos fazia com que se rasgassem
facilmente posto que não tinham um suporte ósseo importante.
A possibilidade de uma ferida perióssea dolorosa foi grande,
bem como a lesão de vasos arteriais tributários da artéria radial ou
cubital. O cravo penetrado destruía o nervo sensorial motor, ou
comprometia o nervo médio, radial ou o nervo cubital. A afecção de
qualquer destes nervos produziu tremendas descargas de dor em
ambos os braços. O empalamento de vários ligamentos provocou
fortes contrações nas mãos.
119
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Os pés eram fixados à frente do estípede (pequena pirâmide
truncada) por meio de um prego de ferro, cravado através do
primeiro ou do segundo espaço intermetatarsiano. O nervo profundo
perônio e ramificações dos nervos médios e laterais da planta do pé
foram feridos.
Foram cravados ambos os pés com um só prego ou se
empregou um prego para cada pé? Também esta é uma questão
controvertida. Mas é muito mais provável que cada um dos pés do
salvador tenha sido fixado à cruz com cravo distinto. São Cipriano
que, mais de uma vez tinha presenciado crucificações, fala em plural
dos pregos que transpassavam os pés. Santo Ambrósio, Santo
Agostinho e outros mencionam expressamente os quatro pregos que
se empregaram para crucificar Jesus.
120
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
São Meliton de Sardes escreveu: “os padecimentos físicos já
tão violentos ao fincar os pregos, em órgãos extremamente sensíveis
e delicados, faziam-se ainda mais intensos pelo peso do corpo
suspenso pelos pregos, pela forçada imobilidade do paciente, pela
intensa febre que sobrevinha, pela ardente sede produzida por esta
febre, pelas convulsões e espasmos, e também pelas moscas que o
sangue e as chagas atraíam”.
Não faltou quem dissesse que os pés do salvador não foram
cravados, mas simplesmente amarrados à cruz com cordas; mas tal
hipótese tem em contra, tanto o testemunho unânime da tradição,
que vê em Jesus crucificado o cumprimento daquele célebre vaticínio:
"transpassaram minhas mãos e meus pés" (Sl 21); como nos próprios
evangelhos, pois lemos em São Lucas (Lc 24, 39-40) “vejam minhas
mãos e meus pés; sou eu mesmo; apalpem e vejam. E, dito isto,
mostrou-lhes as mãos e os pés”.
121
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Diz Bosssuet: como descrever os padecimentos morais que
nosso Senhor Jesus Cristo suportou durante sua horrorosa agonia,
quando uma multidão saciava seus olhos com o espetáculo daquela
agonia, acompanhando-o com todo tipo de ultrajes que lhe encheram
até o último momento? Além disso, sofria ao ver o olhar abnegado de
sua mãe e de seus amigos, a quem suas dores tinham prostrado em
profunda tristeza. Todo Ele era, digamos assim, um tormento em
seus membros, em seu espírito, em seu coração e em sua alma.
De todas as mortes, a da cruz era a mais desumana, suplício
infame, que no império romano se reservava aos escravos (servile
suppliciun).Depois das palavras no Getsemaní vêm as pronunciadas
no Gólgota, que testemunham esta profundidade, única na história do
mundo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Suas
palavras não são só expressão daquele abandono, são palavras que
repetia em oração e que encontramos no salmo 22.
122
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
14ºInterpretação da Fisiopatológica da
Morte de Jesus Cristo
Na morte de Jesus vários fatores puderam contribuir. É
importante ter em conta que foi uma pessoa politraumatizada e
policontundida; desde o momento da flagelação até sua crucificação.
O efeito principal da crucificação, além da tremenda dor,
que apresentava em seus braços e pernas, era a marcada interferência
com a respiração normal, particularmente na exalação.
O peso do corpo pendurado para baixo e os braços e
ombros estendidos, tendiam a fixar os músculos intercostais em um
estado de inalação, afetando, por conseguinte, a exalação passiva.
Desta maneira, a exalação era principalmente diafragmática e a
respiração muito leve. Esta forma de respiração não era suficiente e
logo produziria retenção de CO2 (hipercapnia).
Para poder respirar e ganhar ar, Jesus tinha que apoiar-se em
seus pés, tentar flexionar seus braços e depois deixar-se desabar para
que a exalação ocorresse. Mas ao deixar-se desabar, produzia-se,
igualmente, uma série de dores em todo o seu corpo.
O desenvolvimento de cãibras musculares ou contratura
tetânicas devido à fadiga e a hipercapnia afetaram ainda mais a
respiração. Uma exalação adequada requeria que se erguesse o corpo,
empurrando-o para cima com os pés e flexionando os cotovelos,
endireitando os ombros.
123
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Esta manobra colocaria o peso total do corpo nos tarsais e
causaria tremenda dor.Mais ainda, a flexão dos cotovelos causaria
rotação nos pulsos em torno dos pregos de ferro e provocaria
enorme dor através dos nervos lacerados. O levantar do corpo
rasparia dolorosamente as costas contra a trave. Como resultado
disso, cada esforço de respiração se tornaria agonizante e fatigante,
eventualmente levaria à asfixia e finalmente a seu falecimento.
Era costume dos romanos que os corpos dos crucificados
permanecessem longas horas pendentes da cruz; às vezes até que
entrassem em putrefação ou as feras e as aves de rapina os
devorassem.Portanto antes que Jesus morresse, os príncipes dos
sacerdotes e seus colegas do Sinédrio pediram a Pilatos que, segundo
o costume Romano, mandasse dar fim aos justiçados, fazendo com
que lhe quebrassem suas pernas a golpes. Esta bárbara operação se
chamava em latim crurifragium (Jo 20, 27).
124
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
As pernas dos ladrões foram quebradas, mais ao chegar a
Jesus e observar que já estava morto, deixaram de golpeá-lo; mas um
dos soldados, para maior segurança, quis dar-lhe o que se chamava o
"golpe de misericórdia" e transpassou-lhe o peito com uma lança.
Neste sangue e nesta água que saíram do flanco, os médicos
concluíram que o pericárdio, (saco membranoso que envolve o
coração), deve ter sido alcançado pela lança, ou que se pôde ocasionar
perfuração do ventrículo direito ou talvez havia um hemopericárdio
postraumático, ou representava fluido de pleura e pericárdio, de onde
teria procedido a efusão de sangue.
125
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Com esta análise, ainda que seja conjectura, aproximamonos
mais da causa real de sua morte. Interpretações que se encontram
dentro de um rigor científico quanto a sua parte teórica, mas não são
demonstráveis com análise nem estudos complementares.
As mudanças sofridas na humanidade de Jesus Cristo foram
vistas à luz da medicina, com o fim de encontrar realmente o caráter
humano, em um homem que é chamado o filho de Deus, e que
voluntariamente aceitou este suplício, convencido do efeito redentor
e salvador para os que criam nEle e em seu evangelho.
QUAL ERA A CAUSA DESSA TRISTEZA
ESPECIAL DO GETSÊMANI?
Nosso Senhor era “varão de dores e experimentado no
sofrimento” ao longo de toda Sua vida, no entanto, ainda que soe
paradoxo, penso que dificilmente existiu sobre a face da terra um
homem mais feliz que Jesus de Nazaré, pois as dores que Ele teve que
suportar foram compensadas pela paz da pureza, a calma da
comunhão com Deus, e a alegria da benevolência. Todo homem bom
sabe que a benevolência é doce e seu nível de doçura aumenta em
proporção a dor suportada voluntariamente quando se cumprem seus
amáveis desígnios. Fazer o bem sempre produz alegria.
Mais ainda, Jesus tinha uma perfeita paz com Deus todo o
tempo; sabemos que isso era assim porque Ele considerava essa paz
como uma herança especial que Ele podia deixar a seus discípulos, e
antes de morrer disse-lhes: “A paz os deixo, a minha paz os dou.” Ele
era manso e humilde de coração, e, portanto sua alma possuía o
descanso; Ele era um dos mansos que herdam a terra; um dos
pacificadores que são e que devem ser abençoados. Estou certo que
não me equivoco quando afirmou que nosso Senhor estava longe de
ser um homem infeliz.
126
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Porem, no Getsêmani, tudo parece ter mudado. Sua paz o
abandonou, Sua calma se converteu em tempestade. Depois da ceia,
nosso Senhor tinha cantado um hino, porem no Getsêmani não havia
cantos. Descendo pela encosta que levava de Jerusalém a torrente do
Cedrom, Ele falava com muita vivacidade, dizendo: “eu sou a videira,
vós os ramos,” e essa maravilhosa oração com que orou com Seus
discípulos depois desse sermão, está repleta de majestade: “Pai,
aqueles que me tens dado, quero que onde eu esteja, também eles
estejam comigo.” É uma oração muito diferente dessa oração dentro
dos muros do Getsêmani, onde clama: “ Pai, se possível, passe de
mim esse cálice.” Observem que dificilmente ao largo de toda sua
vida o observam com uma expressão de angustia, e no entanto, aqui
Ele fala, não só mediante suspiros e suor de sangue, mas também por
meio das seguintes palavras: “Minha alma está muito triste, até a
morte.” No jardim, o homem que sofria não podia ocultar sua
angustia, e dá a impressão que não queria fazê-lo.
Jesus regressou onde estavam seus discípulos em três
ocasiões, permitiu-lhes observar Sua angustia e apelou pela simpatia
deles; suas exclamações eram lastimosas, e sem dúvida deve ter sido
terrível escutar Seus sussurros e gemidos. Essa angustia manifestou-se
primordialmente no suor de sangue, que é um fenômeno inusitado,
ainda que suponho que devemos crer nesses escritores que registram
casos muito similares. O velho médico Galeno nos fala de um caso
em que, pelo horror extremo, um indivíduo suou um suor colorido,
quase que avermelhado, que tinha aparência de sangue. Outros casos
também são relatados por autoridades médicas.
No entanto, nós não vemos em nenhuma outra ocasião nada
parecido na vida de nosso Senhor; foi somente no ultimo lance
horrendo rodeado de oliveiras que nosso Campeão resistiu até o
sangue, agonizando contra o pecado. O que doía a Ti, ó Senhor, que
padecias tão dolorosamente nesse momento?
127
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Fica-nos muito claro que sua profunda angústia e inquietude
não eram causadas por nenhuma dor física. Sem dúvida nosso
Salvador estava familiarizado com a enfermidade e a dor, pois Ele
tomou nossas enfermidades, porem nunca antes se queixou de algum
sofrimento físico. Nem tampouco ao momento de entrar no jardim
do Getsêmani havia sido afligido por algum dolo. Sabemos por que
está escrito: “Jesus chorou.” Era porque seu amigo Lázaro estava
morto; porem, no jardim não havia nenhum funeral, nem enfermo,
nem causa de angústia relacionada a esses temas. Nem tampouco se
deveu a que houvesse se lembrado de ofensas do passado que
estivessem a flor de Sua mente. Muito antes disso sabemos que:
“Afrontas me quebrantaram o coração” (Salmos 69:20), e tinha
conhecido em toda sua extensão os abusos da injúria e do desprezo.
O haviam chamado de “homem comilão e beberrão,” o tinham
acusado de lançar fora aos demônios pelo príncipe dos demônios; já
não podiam dizer mais e, no entanto, Cristo havia enfrentado tudo
valorosamente. Não podia ser possível que agora Ele estivera muito
triste até a morte por tal causa. Deve ter havido algo mais agudo que
a dor, mais cortante que a censura, mais terrível que o luto, que nesse
momento contendia com o Salvador, e o levava a “entristecer-se e
angustiar-se em grande medida.”
Por acaso supõem que era o temor do escárnio que se
avizinhava ou o terror da crucificação? Era medo ao pensar na morte?
Não é certo que essa suposição seria impossível? Todos os homens
temem à morte, e como homem, Jesus não poderia menos do que
estremecer-se frente a ela. Quando fomos feitos originalmente fomos
criados para a imortalidade, portanto morrer é estranho e
incompatível para nós e o instinto de conservação fazer que nos
esquivemos diante da morte; porem, certamente no caso de nosso
Senhor essa causa natural não podia gerar esses resultados tão
especialmente dolorosos. Se nós que somos uns pobres covardes não
suamos grandes gotas de sangue, por que então causava tal terror
128
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Nele? Não é honroso para nosso Senhor que o imaginemos menos
valente que seus próprios discípulos, e, no entanto temos visto
triunfantes a alguns dos santos mais frágeis diante do prospecto da
partida.
Leiam as histórias dos mártires, e com freqüência verão
alegres diante dos mais cruéis sofrimentos que se avizinhavam. O
gozo do Senhor lhes deu tal força que nenhum pensamento covarde
os alarmou em um só instante. Eles foram para fogueira ou para onde
seriam decapitados, com salmos de vitória em seus lábios. Não
devemos considerar nosso Senhor como inferior a Seus mais valentes
servos. Não pode ser que Ele trema ali onde eles foram valorosos.
Oh não, o espírito mais nobre nesse esquadrão de mártires é o Líder
mesmo, que tanto no sofrimento como no heroísmo, os superou
todos; ninguém podia desafiar de tal maneira as dores da morte como
o Senhor Jesus, o qual, pela alegria posta diante Dele sofreu a cruz,
menosprezando o opróbrio.
Não posso conceber que as angustias do Getsêmani foram
ocasionadas por algum ataque extraordinário de Satanás. É possível
que Satanás estivesse ali, e que sua presença houvera obscurecido a
sombra, porem ele não era a causa mais proeminente dessa hora de
escuridão. Pelo menos isso está muito claro, que nosso Senhor, ao
início de Seu ministério se envolveu em um duelo muito severo com
o príncipe das trevas. No entanto, não lemos com relação à tentação
no deserto uma só silaba que nos diga que Sua alma estava triste em
extremo, nem mesmo encontramos que “começou a entristecer-se e a
angustiar-se,” nem existe tampouco uma só indicação solitária de algo
que fora parecido ao suor sangrento. Quando o Senhor dos anjos
condescendeu em enfrentar-se com o príncipe do poder do ar, não
lhe teve nenhum medo como para clamar em grande voz e derramar
lágrimas e cair prostrado em terra rogando três vezes ao Grandioso
Pai. Falando comparativamente, colocar Seu pé sobre a serpente
129
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
antiga foi uma tarefa fácil para Cristo, e lhe custou uma ferida no
calcanhar, mas essa agonia do Getsêmani feriu Sua alma até a morte.
O que vocês crêem então que foi o que marcou de maneira
tão especial o Getsêmani e às angústias que ali tiveram parte? Cremos
que o Pai o colocou a sofrer ali por nós. Era nesse momento que
nosso Senhor tinha que tomar certa copa da mão do Pai. A prova não
vinha nem dos judeus, nem do traidor Judas, nem dos discípulos que
cochilavam, nem do diabo, mas sim que era um cálice que tinha sido
cheira por Um que Ele sabia que era Seu Pai, mas que, no entanto,
lhe havia designado uma porção muito amarga, uma copa que não era
para o corpo bebera, nem para derramar seu fel sobre sua carne, mas
sim uma copa que de maneira especial atordoava Sua alma e afligia o
íntimo de Seu coração. Ele retrocedia em frente dela, e, portanto
podem estar seguros que foi um gole mais terrível que a dor física,
pois frente a ela não arredava; era uma porção mais terrível que o
vitupério. Disso não havia tratado jamais de escapar; mais horrível
que a tentação satânica. Ele a havia vencido: era algo
inconcebivelmente terrível, repleto de horror de forma
surpreendente, que vinha da mão do Pai. Isso elimina toda dúvida
quanto ao que era, pois lemos: “Todavia, ao SENHOR agradou moêlo,
fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do
pecado” (Isaías 53:10) “Mas o Senhor carregou nele o pecado de nós
todos.” Ao que não conhecia pecado, por nós o fez pecado. Então,
isso é o que ocasionou que o Salvador experimentava uma
extraordinária depressão. Ele estava próximo a “que pela graça de
Deus provasse a morte por todos,” e levar a maldição que os
pecadores mereciam. Porque esteve no lugar dos pecadores, sofreu
no lugar deles. Aqui está o segredo dessas agonias que não é possível
declarar ordenadamente diante de vocês, tão certo é que:
130
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
15º Análise Médica da Morte Física de
Jesus Cristo
Estudo efetuado por um grupo de trabalho da Mayo Clinic,
Minnesota. E.U.A.Jesus de Nazaré foi julgado por judeus e romanos,
flagelado e condenado à morte por crucificação.Os castigos infligidos
produziram lacerações profundas e uma apreciável perda de sangue,
criando provavelmente condições para o choque hipovolêmico, o que
se torna ainda mais evidente devido ao fato de Jesus se encontrar
demasiado enfraquecido para transportar a cruz (patíbulo) até ao
Gólgota.No local da crucificação, os seus pulsos foram pregados ao
patíbulo e, após a elevação deste na vertical, os pés foram igualmente
pregados.
O principal efeito patofisiológico da crucificação foi a
interferência com a função respiratória normal. Assim, a morte
resultou, em primeiro lugar, do choque hipovolêmico e da asfixia por
exaustão.Por sua vez, a morte de Jesus foi assegurada através de um
golpe de lança desferido por um soldado.A atual interpretação médica
do fato histórico revela que Jesus já se encontrava morto quando foi
retirado da cruz. A vida e doutrina de Jesus de Nazaré constituíram a
base de uma das principais religiões do mundo (o cristianismo),
influenciaram profundamente o curso da história da humanidade e,
em virtude de uma atitude compassiva para com os doentes,
contribuíram igualmente para a transformação da medicina
moderna.A eminência de Jesus como figura histórica e o sofrimento e
controvérsia que estão associados à sua morte, levaram-nos a
investigar, numa perspectiva interdisciplinar, as circunstâncias que
rodeiam a sua crucificação.
131
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Assim, é nossa intenção apresentar não um tratado sobre
teologia, mas sim um relato preciso e rigoroso, do ponto de vista
médico e histórico, da morte física de Jesus.Todo o material de
consulta referente à morte de Jesus é constituído apenas por um
conjunto de documentos escritos, não existindo um cadáver físico ou
os seus restos mortais.Nesta perspectiva, a credibilidade de qualquer
debate sobre a morte de Jesus será condicionada, em primeira análise,
pela própria credibilidade das fontes utilizadas.Para o presente estudo,
o material de consulta utilizado inclui os escritos dos autores antigos,
cristãos e neo-cristãos, os escritos de autores modernos e o Sudário
de Turim .Usando o método histórico-legal da investigação científica,
os estudiosos demonstraram a exatidão e correção dos antigos
manuscritos.
As descrições mais extensas e detalhadas sobre a vida e
morte de Jesus encontram-se nos Evangelhos de Mateus, de Marcos,
Lucas e João, incluídos no Novo Testamento.Os restantes 23 livros
que compõem o N.T. apoiam mas não aprofundam, as situações
relatadas nos Evangelhos.Autores contemporâneos cristãos, judeus e
romanos. Fornecem critérios adicionais, relativamente aos sistemas
jurídicos dos judeus e romanos em vigor no século I, para além de
outros pormenores referentes aos castigos infligidos e à crucificação
de Jesus.Por outro lado, autores como Sêneca, Lívio, Plutarco e
outros, referem-se, nas suas obras, a práticas de crucificação.Em
particular, Jesus (ou a sua crucificação) é mencionado pelos
historiadores romanos, Cornélio Tácito; Plínio, o Jovem; Suetônio;
por historiadores não romanos, como Thallus e Phlegon, pelo satírico
Luciano de Samósata, pelo Talmude e, ainda, pelo historiador judeu
Flávio José, embora a autenticidade de certas passagens deste último
seja discutível.
132
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Muitos consideram que o sudário de Turim representou a
verdadeira mortalha de Jesus e diversas publicações, referentes a
aspectos médicos da sua morte, estabelecem conclusões baseadas
neste pressuposto. O sudário de Turim e recentes achados
arqueológicos fornecem valiosas informações quanto às práticas
romanas de crucificação.Por outro lado, interpretações de escritores
modernos, com base em conhecimentos médicos e científicos
desconhecidos no século I, podem fornecer critérios adicionais
referentes aos possíveis mecanismos da morte de Jesus.Quando
encarados globalmente, determinados fato garantem testemunho
sólido e seguro, a partir do qual pode ser feita uma interpretação
médica atualizada da morte de Jesus.Referimo-nos, em particular, aos
antigos e extensos testemunhos, tanto de defensores como de
opositores do cristianismo e à aceitação universal de Jesus como
verdadeira figura histórica; à ética dos evangelistas e à escassez de
tempo que separa os manuscritos existentes por último, à
confirmação dos fatos relatados nos Evangelhos por historiadores e
achados arqueológicos.
Getsêmani
Depois de Jesus e os seus discípulos terem celebrado a
refeição pascal na sala superior de uma casa situada a sudoeste de
Jerusalém, dirigiram-se para o Monte das Oliveiras, a nordeste da
cidade (fig. 1).
133
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Fig. 1
Cabe aqui referir que, devido a diversos ajustamentos no
calendário, as datas do nascimento e morte de Jesus continuam a
gerar alguma controvérsia.Todavia, é provável que Jesus tenha
nascido no ano 4 ou 6 a. C. e tenha morrido no ano 30 da era cristã.
Durante a celebração da Páscoa no ano 30 d.C., a última ceia teria
sido celebrada a 6 de Abril, Quinta-feira (13 de Nisan) e Jesus teria
sido crucificado a 7 de Abril, Sexta-feira (14 de Nisan), nas
proximidades de Getsêmani.Jesus, sabendo aparentemente que a sua
hora estava próxima, caiu num estado de profunda angústia e,
conforme nos descreve Lucas, apóstolo e médico, o seu suor
transformou-se como que em sangue.Embora seja um fenômeno
extraordinariamente raro, esta situação (hematidrose ou
hemohidrose), pode ocorrer em estados emocionais extremos, ou em
indivíduos que sofrem de graves perturbações hemorrágicas.Assim,
em consequência de hemorragias nas glândulas sudoríparas, a pele
134
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
torna-se frágil e delicada. A descrição de Lucas identifica-se mais com
o diagnóstico de hematidrose do que com a de cromidrose ecrina
(suor de cor castanha ou verde amarelada) ou com o da
estigmatização (aparecimento de gotas de sangue nas palmas das
mãos e noutras partes do corpo).
Embora alguns autores tenham sugerido que a hematidrose
produziu a hipovolêmica, nós perfilhamos o opinião de Bucklin,
segundo a qual a perda de sangue que Jesus sofreu foi,
provavelmente, mínima. Todavia, o ar frígido da noite pode Ter
contribuído para um esto de resfriamento.
Julgamentos de Jesus
Logo após a meia-noite, Jesus foi preso em Getsamani por
guardas do templo e levado, primeiro, à presença de Anás e depois à
de Caifás, o sumo sacerdote judeu, nomeado para esse ano (Fig. 1)
Entre a uma da manhã e o romper da madrugada, Jesus foi julgado na
presença de Caifás e perante o sinédrio político, tendo sido
condenado por blasfêmia.Em seguida, os guardas vendaram-lhe os
olhos, cuspiram-lhe em cima e esbofetearam-no. Logo após o nascer
do dia, presumivelmente no templo (Fig. 1), Jesus foi novamente
julgado, agora perante o sinédrio religioso (com os fariseus e os
saduceus) e mais uma vez condenado por blasfêmia, um crime
punível pela morte.
Julgamentos Romanos
Uma vez que todas as execuções tinham de ser autorizadas
pela administração romana, Jesus foi conduzido de manhã cedo, pelos
guardas do templo, ao pretório da fortaleza Antonia, a residência e
sede do governo de Pôncio Pilatos, procurador da Judeia ( Fig. 1).
135
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Todavia, Jesus foi apresentado a Pilatos, não como
blasfemador, mas sim como autodenominado rei, que iria enfraquecer
a autoridade e poderio romano.No entanto, Pilatos não proferiu
quaisquer acusações contra Jesus, mas enviou-o à presença de
Herodes Antipas, tetrarca da Judeia.Herodes, por sua vez, também
não fez acusações oficiais, tendo Jesus sido enviado de novo a Pilatos
(fig. 1).Mais uma vez Pilatos não encontrou fundamentos para
acusação legal contra Jesus, enquanto que o povo reclamava
insistentemente a sua crucificação.Por fim, Pilatos acedeu ao pedido,
entregando-lhes Jesus para ser açoitado (flagelado) e crucificado. É de
referir que McDowell se debruçou sobre o clima político, religioso e
econômico que prevalecia em Jerusalém na altura da morte de Jesus e
que outro estudioso deste assunto, Bucklin, descreveu várias
ilegalidades que envolveram os julgamentos judeu e romano.
A Saúde de Jesus
Os rigores do ministério de Jesus (ou seja, o fato de Ter
viajado a pé por toda a Palestina), Ter-lhe-iam provocado qualquer
doença física de alguma gravidade, ou uma fraca constituição geral.
De qualquer forma, é razoável admitir que Jesus se encontrava em
boas condições físicas antes de se Ter dirigido para Getsemani.
Todavia, durante 12 horas, ou seja, entre as 9 da noite de Quinta-feira
e as 9 da manhã de Sexta, Jesus havia sofrido uma grande tensão
emocional (conforme nos demonstra a hematidrose), tinha sido
abandonado pelos seus amigos mais íntimos (os discípulos) e
submetido aos castigos corporais (esbofeteado após o primeiro
julgamento judeu).Para além disso, durante toda a noite dramática
sem dormir, Jesus havia sido obrigado a andar cerca de 4 km, de e
para os locais onde se realizaram os diversos julgamentos (Fig.
1).Assim, estes fatores físicos e emocionais podem ter tornado Jesus
particularmente vulnerável aos adversos efeitos hemodinâmicos da
flagelação.
136
A Flagelação
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O açoitamento constituía uma prática legal que antecedia
todas as execuções romana, apenas se encontrando isento as
mulheres, os senadores romanos e os soldados (exceto em caso de
deserção).O instrumento geralmente utilizado era um chicote curto (o
“flagrum” ou “flagellum”), constituído por várias tiras de couro,
simples ou entrançadas e de comprimentos variáveis, às quais eram
atadas pequenas esferas de ferro, ou fragmentos muito aguçados de
ossos de carneiro, devidamente espaçados entre si (Fig. 2).
137
Fig. 2
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Por vezes também eram utilizados bastões ou varas. Para a
prática da flagelação, o homem era despido das suas roupas e, em
seguida, amarrado a um poste vertical (fig. 2).As costas, nádegas e
pernas da vítima eram açoitadas quer por dois soldados (os lictores),
quer por apenas um, que alternava de posição.A dureza do castigo
infligido dependia unicamente da vontade e disposição dos lictores,
pretendendo-se, assim, enfraquece a vítima até um estado muito
próximo do colapso da morte. Após a flagelação, os soldados
insultavam frequentemente as suas vítimas.
Aspectos Médicos da Flagelação
À medida que os soldados romanos chicoteavam,
repetidamente e com todas as suas forças, as costas da vítima, as
esferas de ferro causavam contusões profundas e, simultaneamente,
as tiras de couro e fragmentos de osso rasgavam a pele e tecidos
subcutâneos. Em seguida, com a continuação do açoitamento, as
lacerações penetravam nos músculos subjacentes e provocavam faixas
trementes de carne viva.
Crucificação
A prática da crucificação teve origem, presumivelmente,
entre os persas. Alexandre, o Grande, introduziu-a no Egito e em
Cartago, tendo os romanos tomado conhecimento dela através dos
cartagineses. Todavia, embora os romanos não tivessem inventado a
crucificação, aperfeiçoaram a sua técnica, como forma de tortura e
castigo capital, que se destinava a provocar morte lenta, acompanhada
do máximo de sofrimento e dor.Com efeito, tratava-se de um dos
métodos de execução mais infames e cruéis, sendo geralmente
reservados apenas para os escravos, estrangeiros, revolucionários e
para os criminosos mais vis e desprezíveis.Por sua vez e segundo o
138
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
direito romano, a lei protegia os cidadãos romanos da crucificação, à
exceção dos casos de deserção de soldados.Na sua forma mais
primitiva, na Pérsia, a vítima era amarrada a uma árvore ou, então, era
empalada numa estaca vertical, geralmente por forma a evitar que os
pés tocassem o solo sagrado. Só mais tarde foi introduzida a cruz.
139
Fig. 3
Na sua forma mais simples era constituída por um poste
vertical e uma barra horizontal (o patíbulo), apresentando contudo
diversas variantes. Embora certas provas de caráter histórico e
arqueológico apontem vivamente para o fato de a cruz em forma de
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
T (ou cruz de tau) ter sido a preferida pelos romanos na palestina, no
tempo de Jesus, o fato e que as práticas de crucificação variavam
frequentemente numa determinada região geográfica e dependiam,
em muitos casos, da imaginação dos executores, o que nos leva a
concluir que a cruz latina e mesmos outros tipos, podem igualmente
ter sido utilizados.Era ainda habitual que o condenando transportasse
a sua própria cruz do local de flagelação até ao local de crucificação,
fora das muralhas da cidade.De uma maneira geral a vítima ia nua, a
menos que tal fosse proibido pelos usos e costumes locais. Uma vez
que o peso total da cruz completa ultrapassava provavelmente de 136
kg, apenas era transportado o braço horizontal.
O patíbulo, que pesava 34 a 57 kg., era colocado na parte
posterior do pescoço da vítima, sobre a nuca e seguindo a linha dos
ombros. Habitualmente, os braços estendidos eram então amarrados
ao patíbulo.A caminhada até ao local da crucificação era conduzida
por um corpo completo da guarda militar romana, encabeçado por
um centurião. Um dos soldados transportava uma espécie de tabuleta
(o “títulos”) com a indicação do nome e crime do condenado.
Posteriormente, o “títulos” era atado à parte posterior da cruz.O
tempo de sobrevivência do crucificado variava, de maneira geral,
entre 3 a 4 horas, podendo prolongar-se por 3 a 4 dias, presumindose
que tal estivesse inversamente relacionado com a severidade da
flagelação imposta.Porém, mesmo nos casos em que a flagelação
tivesse sido branda e moderada, os soldados romanos podiam
apressar a morte da vítima, quebrando-lhe as pernas abaixo dos
joelhos (o “crurifragium” ou “skelokopia”).
Era também frequente observar insetos pousarem ou
alojarem-se nas feridas abertas, nos olhos, nos ouvidos ou no nariz da
vítima indefesa e agonizante, ao mesmo tempo que as aves de rapina
dilaceravam a sua carne.Por outro lado, era prática comum deixar o
corpo na cruz, para que fosse devorado por animais predadores.
140
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Todavia, de acordo com as leis romanas, a família da vítima podia
retirar o corpo e proceder ao seu enterro, desde que para tal fosse
devidamente autorizada pelo juiz romano.Uma vez que ninguém
podia sobreviver à crucificação, o corpo só podia ser entregue á
família, depois de os soldados se terem certificado da sua morte.
Assim, um dos guardas trespassava o corpo da vítima com uma
espada ou lança.Segundo consta, este golpe fatal dirigido ao coração,
através do lado direito do peito, era ensinado provavelmente a todos
os soldados romanos. Resta acrescentar que a lança tradicional de
infantaria, com cerca de 1,50 a 1,80 m. de comprimento, poderia
facilmente penetrar no peito de um homem, crucificado na habitual
cruz de menor dimensão.
Aspectos Médicos da Crucificação
Quando se possui conhecimento profundo de anatomia e,
simultaneamente, das antigas práticas de crucificação, é possível fazerse
uma reconstituição dos aspectos médicos prováveis que
envolveram esta forma de execução lenta.Aparentemente, cada um
dos ferimentos destinava-se a produzir uma intensa agonia, sendo
inúmeras as causas que contribuía para a morte do condenado.A
flagelação, que antecedia a crucificação, tinha a finalidade de
enfraquecer a vítima e, se a perda de sangue fosse considerável, de
produzir hipotensão ortostática e, até mesmo, o choque
hipovolêmico.
Quando a vítima era atirada ao chão, de costas, para
transfixação dos pulsos, era muito provável que as feridas provocadas
pela flagelação reabrissem e fossem contaminadas pelo pó e
sujidade.Por outro lado, cada vez que a vítima respirava, as feridas
dolorosas roçavam na madeira tosca da cruz, ocasionando assim uma
perda de sangue nas costas que, possivelmente, iria continuar durante
todo o suplício da crucificação.Com os braços estendidos, mas não
141
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
completamente esticados, os pulsos eram pregados ao patíbulo. Tem
sido demonstrado que os ligamentos e ossos do pulso podem
suportar o peso de um corpo neles suspenso, embora o mesmo já não
se possa dizer em relação às palmas das mãos.Consequentemente, é
provável que os cravos de ferro fossem introduzidos entre o rádio e o
carpo, ou entre as duas fileiras de ossos que constituem o carpo mas,
em qualquer dos casos, muito próximo ou mesmo através do forte
retináculo flexor e dos vários ligamentos intercápicos (Fig. 4).
Fig. 4
Todavia, se bem que um prego introduzido numa dessas
partes do pulso pudesse passar por entre os elementos ósseos, sem
causar portanto qualquer fatura, o certo é que as lesões sofridas a
nível do periósteo seriam graves e dolorosas.Para além disso, a
introdução do prego iria certamente ocasionar o esmagamento ou o
seciona mento do grande nervo sensório-motor mediano (Fig. 4).
142
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Com efeito, o nervo assim estimulado causaria
manifestações de dor extremamente violentas em ambos os braços.
Por sua vez, embora uma parte da mão ficasse paralisada em
consequência da lesão do nervo mediano, as contradições (ou
contraturas) devidas à isquemia, juntamente com as perfurações dos
vários ligamentos, iriam naturalmente produzir uma forte sensação de
aperto.
143
Fig. 5
Na maioria dos casos, os pés eram pregados à parte da
frente do poste, por meio de um cravo de ferro introduzido através
do primeiro ou segundo espaço intermetatársico, algo distante da
junta tarso-metatársica. É muito provável que o nervo peronial e
ramificações dos nervos plantares lateral e medial fossem danificados
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
com a introdução do cravo (Fig. 5).Para além da crucificação ser uma
prática extremamente dolorosa, o seu maior efeito patofisiológico
consistia, na realidade, numa marcada interferência com a função
respiratória normal, muito particularmente com a expiração.Assim, o
peso do corpo abatendo-se sobre os braços e ombros estendidos,
tenderia a fixar os músculos intercostais na posição de inspiração,
impedindo portanto a expiração passiva.
Desta forma, a expiração era fundamentalmente
diafragmática, sendo a respiração fraca e superficial. É pois muito
provável que este tipo de respiração fosse insuficiente e, como tal,
viesse a originar, em breve, uma hipercardia.Por sua vez, a ocorrência
de espasmos ou cãibras musculares e de contradições tetânicas - em
consequência de uma grande fadiga e da hipercardia - iriam dificultar,
ainda mais acentuadamente, todo o processo respiratório.Para uma
expiração adequada e correta, seria necessário erguer o corpo,
fazendo força nos pés e provocando, simultaneamente, a flexão dos
cotovelos e a adução dos ombros.Todavia, esta manobra iria colocar
todo o peso do corpo sobre os ossos do tarso, o que seria
extremamente penoso. Por outro lado, a flexão dos cotovelos
obrigaria a uma rotação dos pulsos sobre os cravos de ferro,
causando assim novas sensações de dor, ao longo dos nervos
medianos já danificados.
Além disso, ao tentar erguer o corpo, as feridas resultantes
da flagelação roçariam pela superfície rugosa da cruz, o que, mais uma
vez, seria bastante doloroso.Por fim, a parestesia e os espasmos
musculares, provocados pela posição dos braços estendidos e
ligeiramente erguidos, contribuiriam para aumentar ainda mais o
sofrimento da vítima.
144
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Em consequência de toda esta situação, cada esforço
respiratório significaria uma nova tortura que, eventualmente,
conduziria à asfixia a vítima já agonizante.A verdadeira causa da
morte por crucificação dependia, pois, de diversos fatores e, em certa
medida, variava de caso para caso; no entanto, duas causas
fundamentais estariam na sua origem: o choque hipovolêmico e a
asfixia por exaustão.Mas outros fatores teriam igualmente contribuído
para a morte, como sejam a desidratação, as arritmias provocadas pela
tensão e a insuficiência cardíaca congestiva, com rápida acumulação
dos fluidos pericardiais e pleurais.
Quando era efetuada a crucifratura (ou seja, a prática de
partir as pernas abaixo dos joelhos), a morte da vítima ocorria por
asfixia, alguns minutos depois.Resta ainda acrescentar que a morte
por crucificação era, na verdadeira acepção da palavra, excruciante
(segundo o termo latino “excruciatus”, cujo significado é “fora da
cruz”).
A Morte de Jesus
Existem dois aspectos fundamentais relacionados com a
morte de Jesus que tem sido fonte de grande controvérsia.
São eles: a natureza do sofrimento no peito e a causa da
morte, depois de apenas algumas horas na cruz.O apóstolo João
descreve no seu Evangelho a perfuração no peito, salientando do fato
do imediato fluxo de sangue e água, que quase simultaneamente
ocorreu. Alguns escritores interpretam o fluxo de água como
tratando-se de ascite ou de urina, resultante de uma perfuração da
bexiga, ao nível médio do abdômen.Todavia, a palavra grega utilizada
pelo apóstolo João significava nitidamente uma posição lateral e era
frequentemente usada na acepção de costelas. Portanto, parece
provável que o ferimento se tivesse localizado no tórax, isto é, bem
145
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
longe da zona central do abdômen.Por outro lado, embora o apóstolo
não tivesse mencionado qual o lado do corpo que foi perfurado pela
lança, o mesmo tem sido descrito, tradicionalmente, como sendo o
direito.Apoiando esta tradição, encontra-se o fato de o grande fluxo
de sangue verificado ser mais provável devido à perfuração da
aurícula ou do ventrículo direitos, distendidos e de paredes mais finas,
do que à perfuração do ventrículo esquerdo, contraído e de paredes
mais espessas.
Embora talvez nunca seja possível estabelecer, com rigor, a
localização exata do ferimento, o certo é que o lado direito parece
bem mais plausível do que o esquerdo.No entanto, algum cepticismo
em aceitar a descrição de João deriva justamente da dificuldade em
ser possível explicar, com a máxima exatidão e do ponto de vista
clínico, esse súbito fluxo de sangue e água.Ora, parte dessa
dificuldade assenta no pressuposto (incorreto, segundo a nossa
opinião), de que o sangue teria surgido primeiro, e só depois a água.
Assim, vejamos: segundo o grego antigo, a ordem das
palavras na frase acentuava geralmente a sua importância e não
necessariamente uma sequência no tempo. Em virtude disso, parecenos,
pois, que João pretendia apenas salientar a importância do
grande fluxo de sangue e não o fato de Ter precedido o da
água.Somos, portanto, de opinião que o fluxo de água - constituído
por fluido seroso da pleura e do pericárdio - Ter-se-ia verificado em
primeiro lugar, imediatamente seguido pelo fluxo de sangue, bastante
maior em termos de volume.
Provavelmente num estado de hipovolemia e de iminente
insuficiência cardíaca aguda, Ter-se-iam produzido efusões da pleura
e do pericárdio, que igualmente teriam contribuído para o
denominado fluxo de água (água aparente, como vimos).Por outro
lado, o fluxo de sangue pode Ter tido a sua origem na aurícula direita
146
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
ou no ventrículo direito ou ainda pode Ter ficado a dever-se a um
hemopericárdio.A morte de Jesus, depois de apenas três a seis horas
na cruz, surpreendeu até o próprio Pilatos. O fato de Jesus Ter dado
um grito e inclinado a cabeça sugere a hipótese de um desfecho algo
catastrófico.
Segundo uma teoria popular, Jesus teria morrido em
consequência de uma ruptura cardíaca. Na verdade, é de admitir que
após a flagelação e a crucificação - associada à hipovolemia - se
tenham formado vegetações trombóticas friáveis e não infecciosas, na
válvula aórtica e ou na válvula mitral.
Essas vegetações trombóticas Ter-se-iam desalojado e, em
seguida, embolizado na circulação na circulação coronária,
provocando assim um enfarte do miocárdio.Cabe aqui referir que, em
situações traumáticas agudas, análogas a esta, tem-se registrado o
aparecimento deste tipo de vegetações trombóticas valvulares; em
consequência disso e nas primeiras horas após o enfarte, pode então
ocorrer uma ruptura da parede do ventrículo esquerdo, embora tal
seja muito pouco frequente.Todavia, existe uma outra teoria, a nosso
ver mais plausível, segundo a qual a morte de Jesus teria sido
acelerada, única e simplesmente, devido ao seu estado de profunda
exaustão e também à extrema severidade da flagelação infligida, a qual
originou uma grave perda de sangue e o consequente estado de préchoque.
A reforçar esta interpretação encontra-se justamente o fato
de Jesus não Ter conseguido transportar o seu próprio patíbulo.Mas a
verdadeira causa da morte de Jesus - como a de tantas outras vítimas
crucificadas - ficou provavelmente a dever-se a múltiplos fatores que,
em primeiro lugar, poderemos relacionar com o choque
hipovolêmico, com a asfixia por exaustão e, possivelmente, com a
insuficiência cardíaca aguda.Por outro lado, uma arritmia cardíaca
147
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
fatal pode Ter contribuído para o aparente desfecho catastrófico da
situação.
Permanecem, pois, certas dúvidas sobre se Jesus morreu em
consequência de uma ruptura cardíaca ou de insuficiência
cardiorrespiratória.Todavia, o aspecto fundamental da questão talvez
não seja o modo como Jesus morreu, mas sim se ele efetivamente
morreu.É um fato que todos os testemunhos históricos e médicos
não só indicam que Jesus já estava morto quando lhe infligiram o
golpe no peito, como apoiam a teoria tradicional de que a lança - ao
atravessar as costelas do lado direito - teria perfurado não apenas o
pulmão direito, mas também o pericárdio e o coração, assegurando
assim a morte.Consequentemente, poderemos concluir que, qualquer
interpretação baseada no pressuposto de que Jesus não teria morrido
na cruz, parece estar em desacordo com a moderna ciência médica.
“Somente para Deus, e unicamente para Ele
Suas angustias são plenamente conhecidas.”
No entanto, quero exortá-los para que considerem por um
momento essas angustias, para que possam amar a Quem as sofreu.
Agora se dava conta, talvez pela primeira vez, o que significava
carregar com o pecado. Como Deus, era perfeitamente santo e
incapaz de pecar, e como homem estava sem mancha original, puro e
sem nenhuma contaminação; no entanto, teve que carregar com o
pecado, ser levado como bode expiatório carregando com a
iniquidade de Israel sobre sua cabeça, ser tomado e feito uma
oferenda pelo pecado, e como uma coisa desprezível (pois nada era
mais desprezível que a oferenda do pecado), ser levado fora do
acampamento e ser totalmente consumido pelo fogo da ira divina.
148
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
O surpreende que sua infinita pureza resistira diante disso:
Teria sido o que Ele era se houvera deixado de ser um assunto
extremamente solene para Ele estar ante Deus na posição do
pecador? E como Lutero o expressou, ser visto por Deus como se
Ele fosse todos os pecados do mundo, e como se Ele houvesse
cometido todo o pecado que foi cometido em todos os tempos por
Seu povo, pois todo esse pecado foi colocado sobre Ele, e sobre Ele
devia tombar toda a violência que esse pecado exigia; Ele de tinha
que ser o centro de toda a vergonha e carregar sobre Ele com todo
o que deveria recair sobre os culpados filhos dos homens.
Estar nessa posição quando já era uma realidade deve ter
sido muito terrível para a alma santa do Redentor. Também a mente
do Salvador estava fixamente concentrada na aborrecível natureza do
pecado. O pecado sempre foi algo aborrecível para Ele, porem agora
Seus pensamentos estavam absortos nele, viu sua natureza que a
palavra de um mortal não poderia descrever, seu caráter atroz, e seu
horrível propósito.
Provavelmente nesse momento teve uma visão como
homem, mais clara do que em qualquer outro momento, do amplo
alcance e do mal do pecado que a tudo contamina, e um sentido da
negrura de suas trevas, e da desesperada condição de culpa como um
ataque direto sobre o trono, sim, e sobre o próprio ser de Deus. Ele
viu em sua própria pessoa até onde poderia chegar o pecador, como
podiam vender a seu Senhor como Judas, buscando destruí-lo como
os judeus fizeram.
O cruel e pouco generoso tratamento que Ele mesmo tinha
recebido fazia patente o ódio do homem para Deus, e, ao vê-lo, o
horror apoderou-se Dele, e Sua alma estava triste ao pensar que tinha
que carregar com todo esse mal e tinha que ser contado entre tais
transgressores, ser ferido por suas transgressões, e golpeado por suas
149
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
iniquidades. Nem as feridas nem os golpes o afligiam tanto como o
pecado mesmo, e isso sobrecarregava completamente Sua alma.
Sem dúvida nesse momento a pena pelo pecado começou a
ser percebida por Jesus no jardim: primeiro o pecado, que o havia
posto na posição de um substituto que sofre, e depois a pena que
devia suportar, ao estar nessa posição de substituto. Lamento ao
máximo esse tipo de teologia que é tão comum nesses dias, que busca
depreciar e diminuir nosso entendimento dos sofrimentos de nosso
Senhor Jesus Cristo. Irmãos, não foi um sofrimento insignificante
esse que recompensou a justiça de Deus pelos pecados dos homens.
Jamais temo exagerar quando falo do que meu Senhor teve que
suportar. Todo o inferno foi destilado nessa copa, da qual nosso
Deus e Salvador Jesus Cristo foi obrigado a beber.
Não era sofrimento eterno, mas devido que Ele é divino,
pode oferecer a Deus em um curto tempo o desagravo de sua justiça,
que os pecadores no inferno não poderiam ter oferecido ainda que
sofressem em suas pessoas por toda a eternidade. A dor que
quebrantou o espírito do Salvador, o grande oceano sem fundo de
angustia inexpressável que inundou a alma do Salvador quando
morreu, é tão inconcebível, que não posso me aventurar muito longe,
para não ser acusado de um vão intento de expressar o inexpressável.
Porem, sim, posso dizer isso, a simples espuma proveniente desse
mar tempestuoso, ao cair sobre Cristo, o batizou em um suor
sangrento. Ainda não havia se aproximado as ondas impetuosas do
castigo mesmo, mas simplesmente o ato de estar de pé na costa, ao
ouvir as terríveis ondas rompendo seus pés, sua alma estava muito
confusa e triste. Era a sombra da tempestade que se aproximava, era
o prelúdio do terrível abandono que devia suportar, ao estar onde
tinha que estar, e pagar à justiça de seu Pai a dívida que nós
deveríamos pagar – isso o tinha derribado. Ser tratado como um
pecador, ser castigado como um pecador, ainda que Nele não havia
150
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
pecado, tudo isso é o que ocasionava Nele a agonia a que nosso texto
se refere.
II. Tendo falado assim da causa de sua especial angustia,
penso que poderemos fundamentar nosso ponto de vista sobre a
matéria, enquanto os levamos a considerar
QUAL ERA O CARÁTER DESSA ANGÚSTIA.
Irei tratar de evitar o excessivo uso das palavras gregas
usadas pelos evangelistas – estudei cada uma delas, para descobrir os
matizes de seus significados, porem será suficiente se lhes dou os
resultados de minha cuidadosa investigação. Qual era essa angustia?
Como foi descrita? Essa grande pena assediou nosso Senhor mais ou
menos quatro dias antes de sua paixão. Se lemos em João 12:27,
achamos essa assombrosa expressão: “Agora está minha alma
perturbada” Nunca o escutamos dizer algo igual antes. Isso era uma
antecipação da grande depressão do espírito que pronto o ia prostrar
no Getsêmani. “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu?
Pai, salva- me desta hora; mas para isto vim a esta hora. (João 12:27)”
Depois lemos em Mateus 26:37, que “começou a entristecer-se e a
angustiar-se muitíssimo.”A depressão havia chegado para Ele
novamente. Não era dor, não eram palpitações do coração, nem uma
dor de cabeça, era algo pior que todas essas coisas. A turbação de
espírito é pior que a dor corporal; a dor poder trazer problemas e
converter-se na causa incidental de angústia, porem, se a mente está
perfeitamente tranquila, um homem pode suportar a dor sem maiores
problemas, e quando a alma está radiante e levantada com um gozo
interno, a dor do corpo quase é esquecida. A alma conquista ao
corpo.
151
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Por outro lado, a dor da alma é a causa de dor corpórea. A
natureza inferior se harmoniza com a natureza superior. O principal
sofrimento de nosso Senhor estava em Sua alma. Os sofrimentos de
Sua alma eram a alma de Seus sofrimentos. “Quem suportará ao
ânimo angustiado?” a dor de espírito é a pior das dores, a tristeza de
coração é o ápice das aflições. Que todos aqueles que conheceram
alguma vez a depressão do espírito, o abatimento e a escuridão
mental, confirmem a verdade do que eu digo!
Essa angústia de coração parece ter levado o espírito de
nosso Senhor a uma profundíssima depressão. No capítulo 26 de
Mateus, no versículo 37 está registrado que Ele “começou a
entristecer-se e a angustiar- se muito” e essa expressão está cheia de
significado. Muito mais conteúdo, em verdade, do que poderíamos
explicar com facilidade. A palavra em seu texto original é muito difícil
de traduzir. Pode significar a abstração da mente, e a completa
invasão da mente pela angústia, de tal forma que qualquer outro
pensamento que poderia aliviar a pena fica totalmente excluído. Um
pensamento lacerante consumia Sua alma inteira, e queimava tudo
que houvera podido dar consolo. Por uns instantes Sua mente se
recusou a considerar o resultado de Sua morte, o conseguinte gozo
colocado diante Dele. Sua posição como O que carregou com o
pecado, e o requerido abandono de Seu Pai, embargava todas as Suas
meditações, impedindo que Sua alma se fixasse em alguma outra
coisa.
Alguns viram nessa palavra uma medida de distração, e
ainda que não adentrarei muito nessa direção, pareceria como que a
mente de nosso Salvador tivesse experimentado perturbações e
convulsões muito distantes de Sua usual calma e de seu espírito
recolhido. Era lançado de um lado a outro como que sobre um
poderoso mar embravecido, envolto na tormenta, arrastado por sua
fúria. “e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
152
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
(Isaías 53:4)” Como o salmista disse, inumeráveis males o cercavam
de tal forma que seu coração decaia. Seu coração se derretia como
cera em suas entranhas em um completo desmaio. Começou a
“angustiar-se muito.” Alguns consideram que a raiz da palavra
significa: “separado do povo,” como se o houvesse convertido em
alguém diferente dos demais homens, assim como alguém cuja
mente está atordoada por um golpe súbito, ou está oprimida por uma
surpreendente calamidade, não se comporta mais como os homens
comuns.
Os simples espectadores teriam pensado que nosso Senhor
era um homem atordoado, sobrecarregado mais além dos limites
humanos, e submergido em uma angústia sem paralelo entre os
homens.
O estudioso Thomas Goodwin
[1] disse: “a palavra denota um defeito, uma deficiência, e
um espírito abatido como sucede com as pessoas que sofrem de uma
enfermidade e um desmaio.” A enfermidade de Epafrodito
[2], que o levou a beira da tumba, é descrita utilizando-se da
mesma palavra: assim que, vemos que a alma de Cristo estava
enferma e desfalecida.
Por acaso seu suor não foi gerado pela prostração? O suor
frio, pegajoso dos moribundos é produzido pela fraqueza corporal,
mas o suor sangrento de Jesus era produzido pelo total
desfalecimento e prostração de Sua alma. Sua alma estava em um
terrível desmaio, e sofria da morte interna, cujo acompanhamento
não era as lágrimas usuais dos olhos, mas sim um choro de sangue
proveniente do homem inteiro. Muitos de vocês, no entanto,
conhecem em certa medida o que significa estar angustiado em
153
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
grande medida sem que eu tenha que multiplicar minha explicação, e
se vocês não o sabem por experiência pessoal, todas minhas
explicações resultam serem vãs. Quando o profundo desalento
chegue, quando não possam se lembrar de nada que os possa
sustentar, e seu espírito decaia profundamente,profundamente,
profundamente, então poderão sentir dor juntamente com seu
Senhor.
Outros os consideram néscios, os chamam de nervosos, e
lhes pedem que se reanimem, porem, desconhecem completamente
seu caso. Se o entendessem não zombariam deles com tais
advertências, impossíveis para os que estão afundando-se sob o peso
da aflição interna. Nosso Senhor estava “muito angustiado”, muito
abatido, muito desalentado, sobrecarregado pela pena.
Marcos nos diz, continuando, no capítulo 14, versículo 33,
que nosso Senhor “começou a ter pavor, e a angustiar-se” A palavra
grega não tem somente a conotação de que Ele estava assombrado e
surpreendido, mas sim que Sua estupefação chegava ao limite do
horror, como o que os homens experimentam quando os pelos se
lhes arrepia e sua carne treme. Assim como quando Moisés recebeu a
Lei estava temeroso e tremendo em extremo, e como disse Davi:
“meu corpo se arrepiou com temor de ti, e temi os teus juízos.”
(Salmo 119:120), assim nosso Senhor foi alcançado pelo horror diante
do espetáculo do pecado que foi depositado sobre Ele e a vingança
que era exigida por sua causa. O Salvador estava primeiro
“profundamente afligido”, logo deprimido, e “angustiado”, e
finalmente, agudamente estupefato e cheio de assombro; pois, mesmo
Ele em sua condição de homem, escassamente pode saber o que era
que se havia comprometido em carregar.
O tinha considerado com calma e tranquilidade, e tinha
sentido que independentemente do que fora, Ele o carregaria por nós;
154
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
porem, quando chegou o momento de carregar realmente com o
pecado, estava totalmente perplexo e surpreendido pela terrível
posição de estar no lugar do pecador diante de Deus, de que Seu
santo Pai o contemplara como o representante do pecador, e de ser
abandonado por esse Pai com quem Ele havia vivido em termos de
amizade e deleite desde toda a eternidade. Isso fazia cambalear sua
natureza santa, terna, cheia de amor, e Ele estava
“profundamente afligido” e “angustiado”.
É-nos ensinado que um oceano o encerrava, o envolvia e o
abatia, pois o versículo 38 do capítulo 26 de Mateus contem a palavra
perilupos que significa “ficar completamente envolto no abatimento”.
Em todas as misérias comuns geralmente existe alguma via de escape,
algum lugar onde se pode respirar esperança. Geralmente, podemos
recordar de nossos amigos que estão em problemas, que seu caso
poderia ser pior, porem, não poderíamos imaginar o que poderia ser
pior nas aflições de nosso Senhor, pois Ele podia dizer com Davi:
“Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se
apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza.” (Salmo 116:3)
Todas as ondas e as olas de Deus passaram sobre Ele. Sobre Ele,
debaixo Dele, ao redor Dele, interna e externamente tudo era
angustia, e não havia nenhuma fonte de alívio ou de consolo. Seus
discípulos não podiam o ajudar. Todos, menos um, dormiam, e o que
estava desperto, ia a caminho de o trair.
Seu espírito clamava na presença do Deus Todo Poderoso
sob o peso aplacante e sob a carga intolerável de suas misérias. Não
houve piores aflições do que as de Cristo, e Ele mesmo disse: “Minha
alma está muito triste”, ou rodeada de tristezas, “até a morte”. Ele
não morreu no jardim, porem sofreu o mesmo que se houvera
morrido. Suportou intensamente a morte, ainda que não
extensamente. Quer dizer, não se estendeu até converter seu corpo
155
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
em um cadáver, mas foi tão intensa em dor como se verdadeiramente
tivesse morto. Sua dor e sua angústia equivaliam aos de uma agonia
mortal, e só fizeram uma pausa quando esteve à borda da morte.
Para coroar tudo, Lucas nos diz em nosso texto, que nosso
Senhor estava em agonia. A expressão “agonia” significa um conflito,
uma contenda, uma luta. Com quem era essa agonia? Com quem
lutava? Eu penso que era consigo mesmo; a contenda aqui assinalada
não era com Seu Deus; não, “não seja como eu quero, mas como tu”
não descreve uma luta com Deus; não era uma contenda com
Satanás, pois, como já o vimos, não teríamos ficado surpreendidos
que se houvera sido esse o conflito, mas sim que era um terrível
combate consigo mesmo, uma agonia dentre de Sua própria alma.
Recordem que Ele teria podido escapar de toda a aflição se Sua
vontade assim o tivesse desejado, e naturalmente sua natureza
humana dizia: “Não leves essa carga!” e a pureza de Seu coração dizia:
“Oh, não leves essa carga, não te ponhas no lugar do pecador;” e a
delicada sensibilidade de Sua misteriosa natureza se retraia de
qualquer tipo de conexão com o pecado: no entanto, o amor infinito
dizia: “leva-a, dobre-se sob essa carga”; e assim, existia uma agonia
entre os atributos de Sua natureza, uma batalha em uma escala terrível
na arena de Sua alma.
A pureza que não pode suportar entrar em contato com
pecado deve ter sido muito poderosa em Cristo, enquanto que o
amor que não queria permitir que seu povo perecesse era também
muito poderoso. Era um conflito em escala titânica, como se um
Hércules tivesse encontrado outro Hércules; duas forças tremendas
lutavam e combatiam e agonizavam, no sangrento coração de Jesus.
Nada lhe causa a um homem maior tortura do que ser arrastado daqui
para lá por emoções em conflito; assim como a guerra civil é mais
cruel e a pior das guerras, assim uma guerra dentro da alma de um
homem quando duas grandes paixões nele pretendem o domínio, e
156
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
ambas são também nobres paixões, causam um problema e uma
tensão que ninguém póde entender exceto quem experimenta essa
guerra.
Não me surpreende que o suor de nosso Senhor fora como
grandes gotas de sangue, quando tal pressão interna o triturava como
um ramo de uva pisoteado num lagar. Espero não ter olhado
presuntivamente na arca, ou ter visto dentro o lugar santíssimo
coberto pelo véu; Deus não queira que a curiosidade ou o orgulho me
levem a querer intrometer- me onde o Senhor colocou uma barreira.
Os guiei tão perto como pude, e devo fechar a cortina de novo com
as palavras que acabo de usar:
“Somente para Deus, e unicamente para Ele
Suas angustias são plenamente conhecidas.”
III. Nossa terceira pergunta será ?
QUAL FOI O ALÍVIO DE NOSSO SENHOR EM
TUDO ISSO?
Ele buscou ajuda na companhia dos homens, e era muito
natural que assim o fizesse. Deus criou em nossa natureza humana
uma necessidade de simpatia. É perfeitamente normal que nós
esperemos que nossos irmãos vigiem conosco em nossa hora de
provação; porem, nosso Senhor deu- se conta que os homens não
eram capazes de ajudá-lo; sem importar quanto seus espíritos queriam
ajudar, sua carne era fraca.
157
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Então, o que fez? Recorreu à oração, e especialmente a
Deus em seu caráter de Pai. Aprendi por experiência própria que não
conheceremos a doçura da Paternidade de Deus até que não
experimentemos uma amarguíssima angústia; posso entender que
quando o Salvador disse: “Aba, Pai,” foi a angústia quem o reduziu
como a um menino castigado a apelar queixosamente ao amor de um
Pai.
Na amargura de minha alma clamei: “Sim, em verdade és
meu Pai, pelas entranhas de tua paternidade, tem piedade de Teu
filho;” e aqui Jesus suplica a Seu Pai como nós temos feito, e
encontra consolo nessa súplica. A oração era o canal do consolo do
Redentor; verdadeira, intensa, reverente, a oração que se repete, e
depois de cada tempo de oração regressava a calma e voltava para
seus discípulos com uma medida de paz restaurada. Quando viu que
dormiam, suas aflições regressaram, e, portanto voltou a orar de
novo, e cada fez foi consolado, de tal forma que quando orou pela
terceira vez já estava preparado para se encontrar com Judas e com
os soldados, e para ir com silenciosa paciência ao juízo e à morte.
Seu grande consolo era a oração e a submissão à vontade
divina, pois quando colocou Sua própria vontade aos pés de Seu Pai a
debilidade de Sua carne não se queixou mais, sim que em doce
silêncio, como uma ovelha submetida aos tosquiadores, conteve a Sua
alma em paciência e descanso. Queridos irmãos e irmãs, se algum de
vocês experimenta seu próprio Getsêmani e suas pesadas aflições,
imitem o seu Senhor recorrendo à oração, clamando a seu Pai e
aprendendo a submeter-se a Sua vontade.
158
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Irei concluir sacando duas ou três aplicações de todo
nosso tema.
Que o Espírito Santo nos instrua.
A primeira é essa: Conheçam, queridos irmãos, a
humanidade real de nosso Senhor Jesus Cristo. Não pensem Nele
unicamente como Deus, ainda que certamente é divino, porem sintao
como relacionado com vocês, ossos de seus ossos e carne de sua
carne. Que plenamente Ele pode compreendê-los! Ele foi carregado
com todas as cargas de vocês, e afligidos com todas as aflições de
vocês. São muito profundas as águas pelas que vocês estão
atravessando? No entanto, não são profundas comparadas com as
torrentes com as que Ele foi golpeado. Jamais penetra no espírito de
vocês alguma dor que seja estranha para a Cabeça do pacto. Jesus
pode identificar-se com todas as aflições de vocês, pois sofreu muito
mais do que vocês sofreram, portanto, é capaz de socorrê-los em suas
tentações. Devem apegar-se a Jesus como seu amigo íntimo, o irmão
que os ajudará na adversidade, e terão obtido um consolo que lhes
permitirá atravessar todas as profundezas.
Continuando, contemplem aqui o intolerável mal do pecado.
Você é um pecador, porem Jesus nunca o foi, e, no entanto, estar em
lugar do pecador foi tão terrível para Ele que estava muito triste, até a
morte. O que será para você um dia o pecado se é achado culpado ao
final! Oh, se pudéssemos descrever o horror do pecado não haveria
nenhum de vocês que estaria satisfeito de permanecer no pecado
nem por um momento; creio que essa manhã, se elevaria dessa casa
de oração um lamento e gemidos tais que poderiam ser ouvidos nas
próprias ruas, se os homens e as mulheres aqui presentes que estão
vivendo em pecado pudessem entender realmente o que é o pecado, e
qual é a ira de Deus que se acumula sobre eles, e quais serão os juízos
de Deus que muito logo os rodearão e os destruirão, Oh alma, o
159
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
pecado deve ser uma coisa terrível se ele aplacou dessa forma a nosso
Senhor. Se a pura imputação do pecado produziu suor sanguinolento
no santo e puro Salvador, o que produzirá o pecado mesmo: Evitemlhe,
não passem perto dele, afastem-se de qualquer coisa que pareça
ele, caminham com muita humildade e cuidado com seu Deus para
que o pecado não os cause dano, porque é uma praga mortal, uma
peste infinita.
Vejam em continuação, porem, oh, que poucos minutos me
restam para falar de tal lição,o amor sem par de Jesus, que por causa
de vocês e por mim não somente sofreu no corpo, mas sim que
consentiu em carregar com o horror de ser contado como um
pecador, e colocar-se sob a ira de Deus por causa de nossos pecados:
ainda que lhe custou sofrer até a morte, e uma terrível aflição, o
Senhor se apresentou como nossa garantia antes que ver que nós
perecêssemos. Por acaso não poderíamos suportar com alegria a
perseguição por causa Dele? Não poderíamos trabalhar para Ele com
total entrega? Somos tão pouco generosos que Sua causa possa ter
necessidades enquanto nós contamos com os meios para ajudá-la?
Somos tão baixos que sua obra pode chegar a um alto enquanto nós
temos a força para continuá-la? Os exorto pelo Getsêmani, meus
irmãos, se possuem uma parte e uma porção na paixão de seu
Salvador, amem muito Àquele que os amou verdadeiramente sem
medida, e gastem-se e sejam gastos por Ele.
Outra vez vendo a Jesus no jardim, aprendemos a excelência
e a plenitude da expiação. Que negro sou, que sujo e desprezível aos
olhos de Deus! Eu só mereço ser lançado ao mais profundo do
inferno, e me assombra que Deus não me tenha lançado ali desde
muito tempo; porem, entro no Getsêmani, e observo essas torcidas
oliveiras, e vejo a meu Salvador. Sim, o vejo retorcendo-se no solo
cheio de angústia, e escuto Seus gemidos do tipo que nunca foram
emitidos por nenhum peito anteriormente. Observo a terra e a vejo
160
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
vermelha com Seu sangue, enquanto Seu rosto está banhado de suor
ensanguentado, e digo a mim mesmo: “Meu Deus, Meu Salvador, por
que te afliges?” E Ele me responde: “Estou sofrendo por teu
pecado,” e então sinto muito consolo, pois enquanto quisera ter
evitado a meu Senhor tal angústia, agora que a angústia terminou,
posso entender como Jeová pode perdoar- me, porque feriu a Seu
Filho em meu lugar.
Agora tenho esperança de ser justificado, pois trago diante
da justiça de Deus e diante de minha própria consciência a lembrança
de meu Salvador que sangra, e digo: “Podes Tu demandar o pago
duas vezes, primeiro a mão de Teu Filho que agoniza, e depois de
mim?” Pecador como sou, estou ante o trono ardente da severidade
de Deus, e não tenho medo. Podes queimar a mim, oh fogo
consumidor, quando não só tem queimado, mas sim que consumiu
completamente a meu Substituto? Não, por fé, minha alma vê a
justiça satisfeita, a lei honrada, o governo moral de Deus estabelecido,
e, no entanto, minha alma que foi antes culpada agora é absolvida e
recebe a liberdade. O fogo da justiça vingadora se extinguiu, e a Lei
consumiu suas demandas mais rigorosas sobre a pessoa Dele que foi
feito uma maldição por nós, para que possamos ser feitos a justiça de
Deus Nele. Oh, a doçura do consolo que flui do sangue de expiação!
Obtenham esse consolo, meus irmãos, e nunca o deixem, Aferrem-se
ao coração de seu Senhor que sangra, e bebam do abundante consolo.
Por último, qual não será o terror do castigo que recairá
sobre aqueles homens que rejeitam o sangue expiatório, e que terão
que estar frente a Deus em suas próprias pessoas para sofrer por seus
pecados. Lhes direi, senhores, que dói a meu coração ao dizer-lhes
isso, o que sucederá com aqueles que rejeitam a meu Senhor. Jesus
Cristo, meu Senhor e meu Deus, é um sinal e uma profecia para
vocês do que lhes passará. Não é em um jardim, mas sim na cama
de vocês onde sempre descansaram serão surpreendidos, e as dores
161
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
da morte se apoderarão de vocês. Serão entristecidos com uma
tremenda tristeza e remorso pela vida que desperdiçaram, e por terem
rejeitado ao Salvador.
Então, o pecado que mais amam, sua lascívia favorita, como
outro Judas, os trairá com um beijo. Quando todavia sua alma
dependure de seus lábios, será tomada e levada por um grupo de
demônios, e levada ao tribunal de Deus, tal como Deus tal como
Jesus foi levado a sala do juízo de Caifás. Haverá um juízo sumário,
pessoal e de alguma maneira privado, como resultado de qual serão
enviados a prisão onde, em trevas e rugir de dentes e pranto, passarão
a noite antes da sessão do tribunal que terão o juízo pela manhã.
Então virá o dia, e virá a manhã da ressurreição, e assim como nosso
Senhor compareceu ante Pilatos, assim vocês comparecerão diante do
mais alto tribunal, não o de Pilatos, mas sim do terrível trono de juízo
do Filho de Deus, a Quem vocês desprezaram e rejeitaram. Logo
aparecerão testemunhas declarando contra vocês, não testemunhas
falsas, mas sim verdadeiras, e vocês ficarão sem fala, assim como
Jesus não disse nenhuma palavra frente seus acusadores. Logo, suas
consciências e desespero o sacudirão, até que se convertam em tal
monumento de miséria, tal espetáculo de desprezo, até poderem ser
descritos adequadamente por outro “Ecce Homo”, eis aqui o
homem, e os homens o olharão e dirão: “Eis ali o homem e ao
sofrimento que lhe sobreveio, porque desprezou a seu Deus e
encontrava prazer no pecado.”
Depois, serão condenados. “Apartai-vos de mim, malditos,”
será a sentença que receberão, assim como “Seja crucificado” foi a
condenação de Jesus. E serão levados pelos oficiais de justiça ao lugar
de sua condenação. Logo, igual ao Substituto dos pecadores, vocês
exclamarão: “Tenho sede,” porem ninguém lhes dará nem uma gota
de água; não provarão nada senão o fel da amargura. Serão
executados publicamente com todos os seus crimes escritos sobre sua
162
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
cabeça para que todos possam os ler e entendam que vocês foram
justamente condenados; e logo, zombarão de vocês, como zombaram
de Jesus, especialmente se professaram alguma religião falsa; todos
os que passem por ai dirão: “a outros salvou, e a outros pregou,
porem a si mesmo não se pode salvar.” O mesmo Deus zombará de
vocês. Não, não pensem que estou sonhando, Ele não há dito:
“Também de minha parte eu me rirei na vossa perdição e zombarei,
em vindo o vosso temor.” (Provérbios 1:2)?
Clamem a seus deuses nos que confiaram alguma vez!
Obtenham seu consolo das concupiscências nas que uma vez se
deleitaram, oh vocês que foram condenados para sempre! Para
vergonha de vocês e para confusão de sua nudez, vocês que
desprezaram ao Salvador serão feitos espetáculo da justiça de Deus
para sempre. É correto que assim seja, a justiça corretamente o
demanda assim. O pecado fez que o Salvador sofresse uma agonia,
não te fará sofrer a você? Mais ainda, ademais de seu pecado, vocês
rejeitaram ao Salvador, vocês disseram: “Não colocarei minha
confiança Nele”.
Voluntariamente, presunçosamente, e em contra de sua
própria consciência rejeitaram a vida eterna; e se morrem rejeitando a
misericórdia, o que pode resultar de tudo isso? Pois que primeiro seu
pecado e logo sua incredulidade os condenarão à miséria sem limites
e sem fim. Deixem que Getsêmani lhes advirta, deixem que Seus
gemidos, Suas lágrimas e Seu suor sangrento lhes sirvam de aviso.
Arrependam-se do pecado e creiam em Jesus. Que Seu Espírito assim
se lhes permita, no nome de Jesus. Amém.
163
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Qual a causa física da morte de Jesus?
Já estamos na Semana Santa e lembrando dos eventos
bíblicos que ocorreram nessa semana, dia em que Jesus foi
crucificado e também qual foi a causa física da morte de
Jesus.Resta-nos então uma próxima e ultima pregação a respeito da
Ressurreição de Jesus.
A ressurreição de Jesus é a verdade central da
fé Cristã.
A Bíblia diz em 1 Coríntios 15:14-17, que se Cristo não foi
ressuscitado, logo é vã a nossa pregação. Texto básico: Mateus 27.
164
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A FLAGELAÇÃO E A COROA DE ESPINHOS
(Lucas 23.1-25, João 19.1 17)
165
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio
hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador
romanos e Herodes. Pilatos cede e então ordena a flagelação de Jesus.
Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do
pátio.
A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as
quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os
carrascos devem ter sido dois, um de cada lado e de diferentes
estaturas. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de
microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se
rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reagem em um
sobressalto de dor. As forças de esvaem; um suor frio lhe impregna a
fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm
ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia
em uma poça de sangue.Depois, o escárnio da coroação. Com longos
espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma
espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos
penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem
o quanto sangra o couro cabeludo).
A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO (Lucas 23.26-
32)
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á
multidão feroz, o entrega para ser crucificado.
Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço
horizontal da cruz; pesa uns 50 quilos. A estaca vertical já está
plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas
ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o
puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus,
fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os
166
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele
cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega e lhe esfola o dorso.
Finalmente, para ganhar tempo, os soldados escolhem um
homem na multidão, Simão, que vinha do campo, e puseram-lhe a
estaca sobre suas costas, para que a levasse após Jesus.
A CRUCIFICAÇÃO
(Lucas 23.33-49, João 19.18-37)
Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos
despojam o condenado, mas sua túnica está colada nas chagas e tirá-la
produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande
ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere á carne viva;
ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em
descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um
risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o
fim. O sangue começa a escorrer.
Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pó
e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os
algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na
madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam
um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apóiam-no sobre o
pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o
rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto
assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar
aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima,
que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o
cérebro.
167
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou
seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos:
provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O
nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece
em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o
nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada
sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará
despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará horas.
O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da
trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé;
consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca
vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz
sobre a estaca vertical.
Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a
madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos
penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez
que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez
que o mártir levanta a cabeça, recomeçam as pontadas agudas de dor.
Pregam-lhe os pés.
168
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
16º A Crucificação de Jesus
O momento da crucificação – Trevas durante 3 horas;
terremoto; os mortos ressuscitaram dos túmulos; o véu rasgou-se no
templo.
Uma impressão errônea – Lucas 23:39-47 convertido; Mc
15:32 o injuriavam. A Bíblia nos diz que Jesus foi crucificado no meio
de outras duas cruzes, onde haviam dois malfeitores.
Um deles deu testemunho de Jesus e recebeu a promessa da
salvação, enquanto o outro blasfemou e foi repreendido. Lendo
apressadamente a Bíblia, em Lucas, sem fazer a comparação em
outros evangelhos, podemos ter a impressão errônea de que um dos
malfeitores era bom, ou até que era um cristão, pois a sua fala o
denuncia.
Mas ao fazermos uma simples leitura de Marcos 15, nós já
notamos que os dois malfeitores, assim como muitas pessoas que
estavam no momento da crucificação, davam mal testemunho de
Jesus. Presume-se que algo aconteceu que converteu um dos
malfeitores, e foi no momento da cruz, enquanto Jesus estava
crucificado.
Mas o que aconteceu, tão forte para ter convertido um dos
homens que também estava sendo crucificado? A ponto de Jesus
prometer-lhe o Céu?
Comparando os evangelhos – Ao lermos os textos bíblicos,
fazendo as devidas comparações, constatamos que a Bíblia fala
claramente o que aconteceu. Jesus falou sobre sete assuntos na cruz,
169
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
o que chamamos de as sete palavras de Jesus na cruz, todas
importantes e proféticas.
Uma delas muito pessoal: João, ai está a sua mãe; mãe, ai
está o seu filho. E outra, ainda, eterna: Pai, perdoa-lhes, pois não
sabem o que fazem. Esta frase, ou este assunto foi o ultimo assunto
tratado na pregação anterior, onde lemos na fala de Pedro em Atos
3:15-19, que crucificaram a Jesus, por ignorância, ou seja, sem saber o
que estavam fazendo.
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem –
(Lucas 23:34) No momento da cruz, Jesus estava orando. E nessa
oração interior temos a impressão de que apesar de Deus determinar
que Jesus fosse o sacrifício para a salvação do mundo, ainda assim
Deus era Pai e o Pai não estava aguentando ver o seu filho estar
sendo morto. Mais uma vez o mundo passava pelo perigo da
destruição total.
Adão e Eva pecaram e no momento do julgamento no
Jardim do Éden, Deus poderia acabar com tudo naquele preciso
instante. E agora novamente o mundo arriscava-se a total destruição.
Mas Jesus intercedeu e pediu ao Pai para perdoar ao homem, mais
uma vez.
Foi nesse ponto em que um dos ladrões se converteu,
quando entendeu que o perdão ecoava, como ondas, da cruz, por
toda a eternidade.
A Crucificação de Cristo
A partir de um ponto de vista médico de C. Truman Davis ,
Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, eu
percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de
170
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu
coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão
familiar - e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu
finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não
entendia a verdadeira causa da morte de Jesus. Os escritores do
evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a
crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente,
acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só
temos as palavras concisas dos evangelistas “Então, Pilatos, após
mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”
Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito
sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos
pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico
eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos
e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de
Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?
Dados históricos
Isto me levou primeiro a um estudo da prática de
crucificação, quer dizer, tortura e execução por fixação numa cruz. Eu
estou endividado a muitos que estudaram este assunto no passado, e
especialmente para um colega contemporâneo, Dr. Pierre Barbet, um
cirurgião francês que fez uma pesquisa histórica e experimental
exaustiva e escreveu extensivamente no assunto.
Aparentemente, a primeira prática conhecida de crucificação
foi realizado pelos persas. Alexandre e seus generais trouxeram esta
prática para o mundo mediterrâneo-- para o Egito e para Cartago. Os
romanos aparentemente aprenderam a prática dos cartagineses e
171
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
(como quase tudo que os romanos fizeram) rapidamente
desenvolveram nesta prática um grau muito alto de eficiência e
habilidade. Vários autores romanos (Lívio, Cícero, Tácito) comentam
a crucificação, e são descritas várias inovações, modificações, e
variações na literatura antiga.
Por exemplo, a porção vertical da cruz (ou “stipes”) poderia
ter o braço que cruzava (ou “patibulum”) fixado cerca de um metro
debaixo de seu topo como nós geralmente pensamos na cruz latina. A
forma mais comum usada no dia de nosso Senhor, porém, era a cruz
“Tau”, formado como nossa letra “T”. Nesta cruz o patibulum era
fixado ao topo do stipes. Há evidência arqueológica que foi neste tipo
de cruz que Jesus foi crucificado. Sem qualquer prova histórica ou
bíblica, pintores Medievais e da Renascença nos deram o retrato de
Cristo levando a cruz inteira. Mas o poste vertical, ou stipes,
geralmente era fixado permanentemente no chão no local de
execução. O homem condenado foi forçado a levar o patibulum,
pesando aproximadamente 50 quilos, da prisão para o lugar de
execução.
Muitos dos pintores e a maioria dos escultores de
crucificação, também mostram os cravos passados pelas palmas.
Contos romanos históricos e trabalho experimental estabeleceram
que os cravos foram colocados entre os ossos pequenos dos pulsos
(radial e ulna) e não pelas palmas. Cravos colocados pelas palmas
sairiam por entre os dedos se o corpo fosse forçado a se apoiar neles.
O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das
palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”. Anatomistas,
modernos e antigos, sempre consideraram o pulso como parte da
mão.
Um titulus, ou pequena placa, declarando o crime da vítima
normalmente era colocado num mastro, levado à frente da procissão
172
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
da prisão, e depois pregado à cruz de forma que estendia sobre a
cabeça. Este sinal com seu mastro pregado ao topo teria dado à cruz
um pouco da forma característica da cruz latina.
O Suor como gotas de sangue
O sofrimento físico de Jesus começou no Getsêmani. Em
Lucas diz: "E, estando em agonia, orava mais intensamente. E
aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo
sobre a terra." (Lc 22:44) Todos os truques têm sido usados por
escolas modernas para explicarem esta fase, aparentemente seguindo
a impressão que isto não podia acontecer. No entanto, consegue-se
muito consultando a literatura médica. Apesar de muito raro, o
fenômeno de suor de sangue é bem documentado. Sujeito a um
stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se
romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo
poderia causar fraqueza e choque. Atenção médica é necessária para
prevenir hipotermia.
Após a prisão no meio da noite, Jesus foi levado ao Sinédrio
e Caifás o sumo sacerdote, onde sofreu o primeiro traumatismo
físico. Jesus foi esbofeteado na face por um soldado, por manter-se
em silêncio ao ser interrogado por Caifás. Os soldados do palácio
tamparam seus olhos e zombaram dele, pedindo para que
identificasse quem o estava batendo, e esbofeteavam a Sua face.
A condenação
De manhã cedo, Jesus, surrado e com hematomas,
desidratado, e exausto por não dormir, é levado ao Pretório da
Fortaleza Antônia, o centro de governo do Procurador da Judéia,
Pôncio Pilatos. Você deve já conhecer a tentativa de Pilatos de passar
a responsabilidade para Herodes Antipas, tetrarca da Judéia.
173
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Aparentemente, Jesus não sofreu maus tratos nas mãos de Herodes e
foi devolvido a Pilatos. Foi em resposta aos gritos da multidão que
Pilatos ordenou que Bar-Abbas fosse solto e condenou Jesus ao
açoite e à crucificação.
Há muita diferença de opinião entre autoridades sobre o
fato incomum de Jesus ser açoitado como um prelúdio à crucificação.
A maioria dos escritores romanos deste período não associam os
dois. Muitos peritos acreditam que Pilatos originalmente mandou que
Jesus fosse açoitado como o castigo completo dele. A pena de morte
através de crucificação só viria em resposta à acusação da multidão de
que o Procurador não estava defendendo César corretamente contra
este pretendente que supostamente reivindicou ser o Rei dos judeus.
Os preparativos para as chicotadas foram realizados quando
o prisioneiro era despido de suas roupas, e suas mãos amarradas a um
poste, acima de sua cabeça. É duvidoso se os Romanos teriam
seguido as leis judaicas quanto às chicotadas. Os judeus tinham uma
lei antiga que proibia mais de 40 (quarenta) chicotadas.
O açoite
Soldado romano dá um passo a frente com o flagrum
(açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de
couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de
cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os
ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de
couro cortam apenas a pele. Então, conforme as chicotadas
continuam, elas cortam os tecidos debaixo da pele, rompendo os
capilares e veias da pele, causando marcas de sangue, e finalmente,
hemorragia arterial de vasos da musculatura.
174
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem
grandes, profundos hematomas, que se rompem com as subseqüentes
chicotadas. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e
toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensangüentado.
Quando é determinado, pelo centurião responsável, que o prisioneiro
está a beira da morte, então o espancamento é encerrado.
Então, Jesus, quase desmaiando é desamarrado, e lhe é
permitido cair no pavimento de pedra, molhado com Seu próprio
sangue. Os soldados romanos vêm uma grande piada neste Judeu,
que se dizia ser o Rei. Eles atiram um manto sobre os seus ombros e
colocam um pau em suas mãos, como um cetro. Eles ainda precisam
de uma coroa para completar a cena. Um pequeno galho flexível,
coberto de longos espinhos é enrolado em forma de uma coroa e
pressionado sobre Sua cabeça. Novamente, há uma intensa
hemorragia (o couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do
nosso corpo).
Após zombarem dele, e baterem em sua face, tiram o pau de
suas mãos e batem em sua cabeça, fazendo com que os espinhos se
aprofundem em sua cabeça. Finalmente, cansado de seu sádico
esporte, o manto é retirado de suas costas. O manto, por sua vez, já
havia aderido ao sangue e grudado nas feridas. Como em uma
descuidada remoção de uma atadura cirúrgica, sua retirada causa dor
toturante. As feridas começam a sangrar como se ele estivesse
apanhando outra vez.
A cruz
Em respeito ao costume dos judeus, os romanos devolvem a
roupa de Jesus. A pesada barra horizontal da cruz á amarrada sobre
seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dois ladrões e o
destacamento dos soldados romanos para a execução, encabeçado
175
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
por um centurião, começa a vagarosa jornada até o Gólgota. Apesar
do esforço de andar ereto, o peso da madeira somado ao choque
produzido pela grande perda de sangue, é demais para ele. Ele
tropeça e cai. As lascas da madeira áspera rasgam a pele dilacerada e
os músculos de seus ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos
humanos já chegaram ao seu limite.
O centurião, ansioso para realizar a crucificação, escolhe um
observador norte- africano, Simão, um Cirineu, para carregar a cruz.
Jesus segue ainda sangrando, com o suor frio de choque. A jornada
de mais de 800 metros da fortaleza Antônia até Gólgota é então
completada. O prisioneiro é despido - exceto por um pedaço de pano
que era permitido aos judeus.
O SACRIFÍCIO DA CRUZ
Não foi um coelho que morreu para te salvar. Foi
Jesus!
Existe um documento sobre o sofrimento de Jesus, que é
muito divulgado hoje em dia... esse documento é o relato de um
médico francês, que, a partir dos seus conhecimentos de medicina,
analisou o sofrimento de Jesus – um sofrimento que foi por mim e
por você. Foi por nós!
NO GETSÊMANI (Lucas 22.44)
Lemos em Lc 22.44 que: “Cheio de uma grande aflição,
Jesus orava com mais força ainda. O seu suor era como gotas de
sangue caindo no chão”.Jesus entrou em agonia no Getsêmani e seu
suor se tornou como gotas de sangue e essas gostas caiam na
terra.Lucas foi o único evangelista que registrou esse fato, afinal, ele
era um médico, E por ser médico, Lucas viu o sofrimento de Cristo
176
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
com olho clínico. Ele disse que “o suor era como gotas de sangue
caindo no chão”.
O suar sangue é um fenômeno raríssimo. A isso se dá o
nome de "hematidrose. Acontece quando a pessoa está colocada em
condições excepcionais de uma fraqueza física tal, acompanhada de
um abatimento moral violento, causado por uma profunda emoção e
por um grande medo.
O terror, o susto, a angústia terrível de se sentir carregando
todos os pecados dos homens, isso deve ter esmagado Jesus.
Emocionalmente Ele estava tenso, e essa tensão extrema, produziu o
rompimento das veias mais finas do rosto, fazendo o sangue se
misturar ao suor, e essa mistura ficou concentrada sobre a pele e aí,
começou a escorrer por todo o corpo, pingando no chão.
A FLAGELAÇÃO E A COROA DE ESPINHOS
(Lucas 23.1-25, João 19.1- 17)
No capítulo seguinte, Lucas 23.10-25, lemos: “Os chefes dos
sacerdotes e os mestres da Lei se apresentaram e fizeram acusações
muito fortes contra Jesus. 11Herodes e os seus soldados zombaram
de Jesus e o trataram com desprezo. Puseram nele uma capa luxuosa
e o mandaram de volta para Pilatos. 12Naquele dia Herodes e Pilatos,
que antes eram inimigos, se tornaram amigos.
13: Pilatos reuniu os chefes dos sacerdotes, os líderes judeus
e o povo
14: e disse: – Vocês me trouxeram este homem e disseram
que ele estava atiçando o povo para fazer uma revolta. Pois eu já lhe
fiz várias perguntas diante de todos vocês, mas não encontrei nele
nenhuma culpa dessas coisas de que vocês o acusam.
177
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
15: Herodes também não encontrou nada contra ele e por
isso o mandou de volta para nós. Assim, é claro que este homem não
fez nada que mereça a pena de morte.
soltarei.
16: Eu vou mandar que ele seja chicoteado e depois o
17: [Na Festa da Páscoa, Pilatos tinha o costume de soltar
algum preso, a pedido do povo.]
18: Aí toda a multidão começou a gritar: - Mate esse
homem! Solte Barrabás para nós!
19: Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na
cidade e por assassinato.
20: Então Pilatos, querendo soltar Jesus, falou outra vez
com a multidão.
21: Mas eles gritavam mais ainda: - Crucifica! Crucifica!
22: E Pilatos disse pela terceira vez: – Mas qual foi o crime
dele? Não vejo neste homem nada que faça com que ele mereça a
pena de morte. Vou mandar que ele seja chicoteado e depois o
soltarei.
23: Porém eles continuaram a gritar bem alto, pedindo que
Jesus fosse crucificado; e a gritaria deles venceu.
24: Pilatos condenou Jesus à morte, como pediam.
25: E soltou o homem que eles queriam
178
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
– aquele que havia sido preso por causa de revolta e de
assassinato. E entregou Jesus para fazerem com ele o que quisessem”.
Vemos aqui o jogo de empurra das autoridades: Jesus foi
levado diante de Herodes, que O mandou de volta para
Pilatos...Pilatos, porém, cedeu e ordenou a flagelação de
Jesus... ordenou que Jesus fosse chicoteado... os soldados então,
retiraram aquela capa posta sobre Jesus e pelo pulso, prenderam Jesus
a uma coluna de madeira que estava no pátio.
Aí, começou a flagelação... começou os açoites, as
chicotadas ou melhor dizendo, as chibatadas.Porque naquele tempo
os soldados usavam a chibata – que é uma espécie de chicote, só que
feito de tiras de couro e com bolinhas de chumbo e de pequenos
ossos presos nas pontas.
Os carrascos devem ter sido dois, ficando um de cada lado!
E cada chibatada que davam sobre a pele de Jesus, abria enormes
feridas... a pele rompia e sangue espirrava. Para cada golpe daqueles,
Jesus tinha um sobressalto de dor. Suas forças esvaiam... Ele suava
frio, a cabeça parecia rodar em uma vertigem de náusea e calafrios
correndo pelas costas. Sabe, se Jesus não tivesse sido amarrado, no
alto daquele tronco, pelos pulsos, Ele teria caído numa poça de
sangue – do seu próprio sangue.
E teve ainda o escárnio da coroação, porque, arrumaram
uma coroa entrelaçada de espinhos, espinhos compridos e duros, e
como se fosse uma espécie de capacete, colocaram sobre a cabeça de
Jesus. E aqueles espinhos penetraram no couro cabeludo fazendo a
cabeça sangrar (os médicos-cirurgiões sabem muito bem o quanto
que sangra o couro cabeludo).
179
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO
(Lucas 23.26-32)
Vamos, depois disto, olhar agora para o V 26 o 32, de
Lucas capítulo 23, onde está escrito: “Então os soldados levaram
Jesus. No caminho, eles encontraram um homem chamado Simão, da
cidade de Cirene, que vinha do campo. Agarraram Simão e o
obrigaram a carregar a cruz, seguindo atrás de Jesus.
27: Uma grande multidão o seguia. Nela havia algumas
mulheres que choravam e se lamentavam por causa dele.
28: Jesus virou-se para elas e disse: – Mulheres de Jerusalém,
não chorem por mim, mas por vocês e pelos seus filhos!
29: Porque chegarão os dias em que todos vão dizer:
“Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, que nunca deram à luz
e que nunca amamentaram!”
30: Chegará o tempo em que todos vão dizer às montanhas:
“Caiam em cima de nós!” E dirão também aos montes: “Nos
cubram!”
31: Porque, se isso tudo é feito quando a lenha está verde, o
que acontecerá, então, quando ela estiver seca?
32: Levaram também dois criminosos para serem mortos
com Jesus.
Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á
multidão feroz, o entrega para ser crucificado”.
180
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Lemos aqui que colocaram sobre os ombros de Jesus aquela
peça de madeira, que seria o grande braço horizontal da cruz.Aquela
peça pesava uns 50 quilos – é o peso de um saco de cimento, é o peso
de 4 botijões de gás de cozinha cheios! O mastro vertical da cruz já
está lá, fincado no Calvário, mas a trave, o braço horizontal da cruz,
Ele teve de carregar.E Jesus fez isso, caminhando com os pés
descalços, pisando sobre um terreno irregular, cheio de pedregulhos.
Os soldados iam na frente, puxando Jesus com cordas. O trajeto era
em torno de 600 metros... como daqui até à Rodoviária?
Jesus carregou aquele peso, fatigado, arrastando um pé após
o outro, de vez em quando caía sobre os joelhos, e quando isso
acontecia, aquela viga de madeira esfolava o pescoço.
Até que, pra ganhar tempo, os soldados escolheram um
homem na multidão, chamado Simão Cireneu, porque era da cidade
de Cirene... os soldados puseram a viga de madeira nas costas desse
homem, para que ele a carregasse por um pouco.
A CRUCIFICAÇÃO
(Lucas 23.33-49, João 19.18-37)
Vamos agora ao v.33-39: “Quando chegaram ao lugar
chamado “A Caveira”, ali crucificaram Jesus e junto com ele os dois
criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda.
34: [Então Jesus disse: – Pai, perdoa esta gente! Eles não
sabem o que estão fazendo.]
Em seguida, tirando a sorte com dados, os soldados
repartiram entre si as roupas de Jesus.
181
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
35: O povo ficou ali olhando, e os líderes judeus zombavam
de Jesus,
Dizendo:
– Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato,
o Messias que Deus escolheu!
36: Os soldados também zombavam de Jesus. Chegavam
perto dele e lhe ofereciam vinho comum
37: e diziam:
– Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo!
38: Na cruz, acima da sua cabeça, estavam escritas as
seguintes palavras: “Este é o Rei dos Judeus”.
39: Um dos criminosos que estavam crucificados ali
insultava Jesus, dizendo:
– Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a
nós também!”
É no alto do monte Calvário que teve início a crucificação
de Jesus, propriamente dita. Os carrascos puxaram as roupas de
Jesus... Ele usava uma túnica, mas essa túnica, na altura dos
acontecimentos, estava colada nas feridas; pois os soldados puxaram a
túnica, produzindo mais dor.
Quem já tirou com força, uma atadura ou um esparadrapo
de uma ferida, sabe a dor que é. O tecido daquela túnica havia aderido
à carne viva... com o puxão violento que deram, as feridas foram
abertas mais ainda. É mais sangue a escorrer.
182
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
E Jesus, para ser crucificado, foi deitado no chão, de costas,
e nisso, suas feridas tocam a terra, enchendo-se de pó. Depois, Ele é
deitado sobre o braço horizontal da cruz. Os soldados, com uma
espécie de broca, fazem um furo na madeira para facilitar a
penetração dos pregos. Então, apanham um prego (um prego grande,
pontudo e quadrado), e apoiando esse prego sobre o pulso de Jesus,
deram um golpe certeiro, prendendo Jesus sobre a madeira. Ele deve
ter contraído o rosto de pânico... o nervo mediano foi lesado. Jesus
deve ter provado uma dor lancinante, agudíssima, que se espalhou
pelo corpo.
A dor mais insuportável que uma pessoa pode experimentar,
é aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos do
corpo... isso provoca uma síncope, isto é, uma perda repentina da
consciência. Mas no caso de Jesus, não. É que o nervo foi destruído
só em parte: a lesão do tronco nervoso ficou em contato com o
prego – depois, quando o corpo ficasse suspenso na cruz, esse nervo
seria esticado como uma corda de violino como uma corda de violão,
e a cada solavanco, a cada movimento, a vibração causaria dores
dilacerantes. Aquilo foi um sofrimento que durou horas.
E tendo sido pregado sobre o braço horizontal da cruz,
chegou a hora desse braço ser encaixado sobre o mastro vertical. Os
soldados levantaram Jesus...Os ombros dEle esfregavam
dolorosamente sobre aquela madeira áspera. Não dava para levantar a
cabeça e apoiá-la na madeira, porque os espinhos da coroa
penetravam o crânio. Então, Jesus teve que inclinar a cabeça para
frente, e quando cansava, cada vez que procurava levantar a cabeça,
as pontadas agudas de dor recomeçavam.Por fim, também pregaram
os pés.
183
AS HORAS NA CRUZ
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
O texto bíblico ainda registra que Jesus teve sede. Ele não
havia bebido desde a tarde do dia anterior... a garganta estava seca,
parecia queimar, mas nem engolir Jesus podia. Ele teve sede. Um
soldado, pegou uma vara com uma esponja na ponta, encharcou essa
esponja com vinagre e com ela, esfregou a boca de Jesus. Tudo aquilo
foi uma tortura.Ondas de dor corriam pelo corpo, contraindo os
músculos...
A respiração também se tornava ofegante, se tornava cada
vez mais curta. Jesus respirava com a última força dos pulmões. Ele
também teve sede de ar... e como um asmático em plena crise, o Seu
rosto pálido pouco a pouco foi ficando vermelho, depois roxo... era
asfixia. Mas o que acontece? Lentamente, com um esforço extra,
sobre-humano, Jesus tomou um ponto de apoio sobre o prego dos
pés, recobrou a respiração, recuperou a palidez inicial do rosto. E por
que este esforço? Ah! Foi porque Jesus queria falar, e Ele falou: "Pai,
perdoa- lhes porque não sabem o que fazem".
E logo em seguida, o corpo começou a se afrouxar de novo
e recomeçou a asfixia.Jesus falou umas sete frases enquanto esteve
pendurado vivo na cruz... e cada vez que Ele queria falar, teve de se
firmar sobre o prego dos pés. Que tortura!Isso tudo, sem ainda
considerar as moscas que, atraídas pelo sangue, ficavam a zunir ao
redor do seu corpo, sem que Ele pudesse enxotá-las.
Pouco depois, o céu escurece... o sol se esconde... de
repente, a temperatura diminui, a pressão abaixa.
Logo, serão três horas da tarde. Aí, então, todas as dores
sentidas por Jesus, e a sede, e as cãibras, e a asfixia (a falta de ar), e o
latejar dos nervos, arrancaram de Jesus um lamento; Ele disse: "Deus
184
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
meu, Deus meu, porque me abandonastes?".E dito isso, Jesus deu um
último suspiro e falou: "Está tudo consumado... "Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito".E assim, Jesus morreu. Não foi um coelho.
Foi Jesus, um homem inocente, que morreu em meu lugar e morreu
no seu lugar.
Crucificação de Jesus Cristo
Sua Morte
A crucificação de Jesus Cristo e Sua ressurreição são os dois
mais importantes eventos da história humana. Por quê? Por causa da
morte de Cristo, a raça humana tem a oportunidade de obter salvação
eterna.
Todos os quatro Evangelhos do Novo Testamento falam da
crucificação de Cristo. Esses autores nos dão narrativas gráficas da
prática da Roma antiga.
Veja aqui alguns dos pontos principais da
crucificação:
• Jesus foi preso no Jardim do
Getsêmani (Marcos 14:43-52).
• Jesus passou por seis julgamentos três por líderes
judeus e três pelos romanos (João 18:12-14, Marcos 14:53-65, Marcos
15:1a, Marcos 15: 1b-5, Lucas 23:6-12, Marcos 15:6-15). Jesus sofreu
espancamento, açoites dolorosos, assim como mangação (Marcos
15:16-20).
• Pilatos tentou entrar em um acordo com os líderes
judeus ao permitir que espancassem Jesus, mas esse ato não lhes
185
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
satisfez. Pilatos entregou Jesus para ser crucificado (Marcos 15:6-15).
• Jesus foi ridicularizado pelos soldados à medida
que O vestiam com uma manta roxa e uma coroa de espinhos (João
19:1-3).
• Jesus foi crucificado no Gólgota, que significa
Lugar da Caveira. (Marcos 15:22). O céu permaneceu escuro por três
horas (Marcos 15:33).
• Jesus clamou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito. E, havendo dito isto, expirou" (Lucas 23:46).
O autor Arthur W. Pitt descreve a crucificação dessa
forma: "Com as costas sangrentas, carregando Sua cruz sob o calor
do meio-dia, Ele (Jesus) caminhou às alturas do Gólgota.
Alcançando o lugar selecionado de execução, Suas mãos e pés
foram pregados à Madeira. Por três horas, Ele ficou pendurado com
fortes raios de sol sendo lançados à Sua cabeça machucada com uma
coroa de espinhos. Depois disso, escuridão tomou conta pelas
próximas três horas. Aquela noite e dia foram horas nas quais uma
eternidadefoi resumida."
O Salvador do mundo tinha emergido de três horas de
escuridão, durante as quais Ele estava separado do Deus Pai. Por que
Deus Pai tinha se afastado dEle? É contra o caráter de Deus encarar
o pecado, então Deus se retirou de qualquer comunicação com Seu
Filho enquanto Jesus carregava a culpa pelos pecados do mundo.
186
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
17º Simão Cirineu
O HOMEM QUE CARREGOU A CRUZ DE JESUS
CRISTO
Simão Cirineu - Mudança através da cruz
Cirene, a cidade de Simão
Era uma província localizada na região norte da África do
Norte e teve fundação pelos gregos em 630 antes de Cristo. Cirene
187
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
era uma das 5 maiores cidades gregas, além de ser a mais antiga e mais
importante de todas. Cirene foi dada ao domínio romano cerca de 96
antes de Cristo pelo seu governante Ptolemeu que tinha medo de uma
invasão e possível destruição da cidade. Somente 10 anos depois o
domínio romano era reconhecido na cidade.
Cirene e os Judeus
Os judeus em Cirene tinham os mesmos direitos da
população nativa da região. Havia um certo prestígio por parte dos
judeus no templo pela presença dos cireneus, por virem de uma
região tão vasta e importante para o império romano na época. A
população judaica dessa província era tão significativa, que Jerusalém
tinha orgulho de ter uma sinagoga dos libertos para os visitantes de
Cirene e para outros estados livres (Atos- 6:9). Hoje é a Etiópia, então
Simão era um africano que em hebraico é chamado de Shuaz, que
significa negro. Eles tinham até uma sinagoga própria como esta
escrito em Atos 6:9:
"[..]Da sinagoga chamada dos libertinos, e dos
cireneus e dos alexandrinos[..]"
Essa cidade ou este território antes de ser uma colônia grega
era um reino chamado Sabá, e tinha uma rainha chamada e conhecida
por “Rainha de Sabá”, que a muitos anos atrás teria vindo visitar e
conhecer o famoso rei e tido com ele um relacionamento profundo (I
Reis 10). Os historiadores Judeus acreditam que Simão era
descendente desse relacionamento e a prova de que ele era um judeu
é o seu nome, Shimom, que era também o nome do segundo filho de
Jacó, uma das tribos de Israel. Sim, este homem era um judeu negro!
Ele era um monoteísta, ele acreditava em um único e verdadeiro
Deus que reinava sobre toda a terra.
188
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Porque Simão estava em Jerusalém?
A distância entre Cirene e a cidade santa de Jerusalém era de
cerca de 1.600KM de distância. O que fez Simão viajar numa época
que uma viagem desta levaria meses? Simples resposta! Na tradição
judaica, o judeu tinha que pelo menos uma vez na vida peregrinar até
Jerusalém.
E participar de uma das três festas sagradas:
1. Festa dos Tabernáculos
2. Festa da Páscoa
3. Festa do Pentecoste
Simão estava em Jerusalém para celebrar a páscoa. Se você
perceber, Jesus comemora a páscoa com os discípulos na noite
passada.
Como era a cerimônia da páscoa?
Ela era comemorada no dia 14 de Abibe (Março-Abril no
calendário atual) no templo de Jerusalém.
O seguinte ritual era feito:
1. Homens vestidos de linho branco e com cordeiros
puros se dirigiam ao templo.
2. Eram examinados para ver se a veste e o cordeiro
estavam sem manchas, só assim entravam no templo.
189
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
3. O sacerdote cortava a julgular (Veia do pescoço) e
pegando o cordeiro pelas patas, rodava 7 vezes o altar espalhando
todo o sangue.
4. Após isto, pegava uma planta chamada Hiposso,
que era esponjosa e retia muito líquido. Ela é citada em Salmos 51:7.
5. Com esta planta encharcada, o sangue era jogado
sobre os homens ao redor para que cada um pelo menos tivesse uma
gota do sangue do cordeiro em sua veste branca, representando o
perdão pelos pecados.
Isto representava uma honra! Era como ganhar um prêmio.
Tanto que eles viajam de tão longe, se sujeitando a viagens longas,
cansativas e perigosas para realizar este ato sagrado na sua cultura.
A chegada de Simão Após esta viagem, Simão chega a
Jerusalém e se prepara para o momento tão esperado do sacrifício do
cordeiro no templo! Ele entra pela porta de Damasco e já se prepara
para o ritual. Troca sua roupa suja de viagem por uma veste de linho
puro e sem manchas. Deveria estar muito feliz, pois era um momento
único em sua vida.
Ele se dirige em direção ao templo, mas ao dobrar uma
esquina ele se depara com uma aglomeração que ocupava todo o
caminho. Como ele iria chegar ao templo? Teria de esperar a multidão
passar. Simão aproveitou e se aproximou para ver o que estava
acontecendo.
Simão se encontra com Jesus Ele descobre que um
condenado estava sendo castigado e obrigado a carregar uma cruz
pelos seus pecados.
190
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Este carregava uma placa escrito:
“Yeshua et Nazareth melec Yudim”, ou seja,
“Jesus de Nazaré rei dos judeus”."
Em hebraico, latim e grego para que todos entendessem.
Hoje eu coloco no lugar de Simão. Ele deveria estar assustado com a
cena, não deve ter presenciado algo tão cruel na sua vida.
Provavelmente tentou de todas as formas se esquivar da multidão que
vinha em sua direção mas ao chegar perto de Simão, o condenado
não aguenta e cai no chão, misturando suas vestes ensanguentadas
com o pó da terra seca de Jerusalém.
Naquele momento Jesus não aguentou mais carregar a
pesada cruz. Seu corpo estava debilitado, rasgado, infeccionado e
dolorido. Estudiosos dizem que a dor de Jesus era tão grande que ele
não sentia mais seu corpo, pois o mesmo não conseguia produzir as
substâncias necessárias para produzir a sensação da dor.
Um soldado romano intima Simão a carregar a cruz com
Jesus. Conhecendo o tratamento romano que era dado ao seu povo
em Cirene, Simão não demorou muito e logo fez o que foi ordenado.
Com certeza ele falou algo do tipo:
"Ei, eu não tenho nada a ver com isso! Eu não
cometi pecado, diferente deste que esta ai, não tenho
culpa".
Entenda a situação: Simão viajou 1.600 KM, ficou meses no
deserto, passou por diversas tempestades, altas temperaturas para
viver o momento mais esperando da vida dele, e de repente percebe
que o rumo dela mudou drasticamente e estava ameaçado de não
191
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
acontecer. Simão teve que ajudar Jesus a carregar a cruz. Teve sua
bela roupa de linho branco ensanguentada pelo sangue de um
condenado.
Imagine como ele sentiu fúria! Eu ficaria revoltado pois um
momento único da minha vida poderia estar sendo arruinado. Ah,
lembre-se que o sacrifício da páscoa era só feito uma vez durante o
ano. Simão teria que voltar os 1.600 KM e encarar sua família dizendo
que não tinha feito a maior honraria de um Judeu.
Em meio aquele momento de tormento e raiva, aonde teria
que carregar uma cruz e perder o seu maior sonho Simão encontra o
verdadeiro cordeiro de Deus, que iria mudar o destino da sua
vida.Uma mudança de vida Simão fica constrangido ao ver o olhar
ferido mas tão meigo e puro de Jesus. Ele encara Jesus face a face e
sente que aquele não era um condenado, mas sim um inocente, aquele
era o rei dos Judeus!
Amo muito o filme Paixão de Cristo, principalmente na cena
em que Simão fica revoltado com as pessoas agredindo Jesus. Simão
realmente soube que ali estava o real cordeiro de Deus, que suas
vestes estavam manchadas de sangue, sangue de cordeiro, sangue de
Jesus!
O grande sonho de Simão era concretizado de outra forma.
Quando você teve seu encontro com a cruz de Cristo, viu todo o
sofrimento, o sangue dele te purificar, você mudou seu objetivo de
vida?
Se você teve um encontro com Jesus e não deixou ele
decidir qual o seu objetivo de vida, você não aceitou ele realmente.
Ao aceitar Jesus enterramos o eu e só existe Jesus no querer e fazer.
192
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Como Paulo disse em Gálatas 2:20:
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que
agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus,
que me amou e se entregou por mim.
É tão fácil falar, mas praticar é difícil! Não é Exato! , Mas
Jesus disse que aquele que perseverar até o fim, este sim será salvo!
Temos que perseverar e a cada dia querer mais e mais fazer a vontade
dele, que é perfeita!
Os dois tipos de pecadores
O pecado é responsável por cegar o ser humano e o tornar
ignorante ou indiferente com a verdade pura de Deus.
Existem 2 tipos de pecadores:
Os pecadores cegos pela suas opiniões e cegos pela religião.
O judaísmo estava fracassado. Seus sacerdotes corrompidos
e indiferente com os problemas e necessidades do povo. Como Jesus
disse: "Eles gritam meu nome, mas seu coração está longe de mim".O
templo era um local de comércio, onde vimos Jesus demonstrar sua
revolta com o que era feito lá. O judaísmo estava separando as
pessoas de Deus cada vez mais, pois somente os puros podiam se
achegar.Isto criava um fardo muito grande para as pessoas
carregarem.
193
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
E Simão era um pecador do tipo?
Simão estava sendo guiado pela sua religião. Jesus vem e
muda tudo isto ao se sacrificar pelos pecados de todos! Simão seguia
a sua religião mas ao encontrar Cristo tem uma nova visão!
Diferentemente do judaísmo, aonde era necessário se ter
vestes brancas para ser purificado, Jesus vem e lava com seu sangue
as vestes sujas e manchadas pelo pecado. Como ele disse: "Eu vim
para os doentes e não para os sadios".
Uma cena inesquecível
Imagine agora Simão deixando o cordeiro de Deus à beira
da crucificação. Simão olha para o céu e vê que pela a posição do sol
já havia passado o tempo para realizar o sacrifício, além disto, sua
veste estava toda ensanguentada. Deve ter saído pela cidade
perguntando para as pessoas:
"Quem era aquele homem? Ele era o rei dos judeus?"
E alguém deve ter respondido dos milagres e maravilhas que
ele fez, porque muitos que acreditavam em Jesus acompanharam sua
crucificação. Ele sai de Jerusalém e vai completamente atordoado
com a cena que nunca mais sairia da sua cabeça. Um homem
inocente, puro, meigo e rei dos Judeus era crucificado sem merecer.
Imagino que ele deve ter sentindo os tremores, o tempo se fechar e o
grande alvoroço por que o véu do templo estava rasgado, mas depois
disto nada mais lhe importava a não ser regressar aos braços de sua
família.
194
De volta para casa
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Uma longa jornada de volta teria que ser feita pelo judeu
negro, mas agora ele carrega dentro de seu coração a imagem da face
machucada de um homem que era inocente, e dentro de sua bagagem
vai uma roupa de linho branco encharcada de sangue. Quando Simão
chegar em casa, seus filhos, sua família, seus amigos, querem ver o
troféu, então Simão ira tira a veste de linho e lhes conta a história de
Yeshua Ben-David, e todos choram juntos e se convertem ao nome
que está acima de todos os nomes. E talvez você pergunte como
cheguei a esta conclusão, é só lermos o escrito de em Romanos 16:13.
Mais tarde encontramos o Apóstolo Paulo se referir a um grande
missionário da região de Corinto, na cidade Cencréia, que na verdade
era um porto de Corinto. Segundo historiadores este Rufo tinha um
irmão também muito fervoroso e fiel a palavra, e seu nome era
Alexandre, ambos os filhos de Simão.
Os 50 passos do local onde Simão ajudou a Jesus até a
próxima estação significam os cinquenta dias que se deu após a morte
de Jesus até o dia do pentecostes, a descida do maior presente dado
ao homem, O Espírito Santo.
A bíblia relata a conversão dos parentes de Simão?
16:13:
Não diretamente, mas se você ver na carta aos Romanos
"Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e
minha."
e Rufo:
Em Marcos 15:21 é relatado que Simão era pai de Alexandre
195
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
"Certo homem de Cirene, chamado Simão, pai de
Alexandre e de Rufo[...]"
Simão, um marco na história
Simão foi o que mais de perto acompanhou a salvação da
humanidade. Ele fez parte disto, ele ajudou o mestre neste momento.
Foi impactado e transformado por isto. Analisando, podemos dizer
que a família de Simão Cirineu foi uma das primeiras evangelizadas
após a crucificação de Cristo, tanto que Rufo (Filho de Simão) foi
rejeitado pelo sinédrio cireneu por reconhecer que o homem que seu
pai ajudou a carregar a cruz era o Rei dos judeus.
Depois de tantas histórias e suposições, a pergunta reflexiva:
Precisamos que nossos propósitos sejam confrontados com os
propósitos do Senhor Jesus, pois de nada adianta buscarmos o pouco
se Ele tem muito para nos dar, pois Simão buscava gotinhas de
sangue e ganhou uma veste encharcada do verdadeiro sangue do
verdadeiro cordeiro pascal.Vendo o sangue de Cristo sendo
derramado e purificando você, já tens pensado em rejeitar as tuas
vontades e carregar a cruz que ele propôs, para assim levar a salvação
à muitas almas e famílias necessitadas? Para transforma-las
completamente e inflamar outras pessoas como Simão inflamou o
coração de seus filhos e parentes? Pare e reflita no que Jesus tem
significado para você, e se necessário recomece a sua vida com Jesus!
196
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Simão, o Cirineu. A cruz e a veste branca.
Simão era africano e aguardava uma gota de sangue
em sua veste
Wilma Rejane
197
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
" E constrangeram um certo Simão Cirineu, pai de
Alexandre e Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse
a cruz" Marcos 15:21.
Simão Cirineu, o homem sobre o qual foi colocada a cruz de
Jesus, quando de sua caminhada pela via dolorosa, era membro da
colônia judaica ao norte da Ásia. Um lugar que havia sido
estabelecido três séculos antes do nascimento de Cristo por Ptolomeu
Lagi, que para lá transportara grande número de judeus da Palestina.
Cirene, não era o sobrenome de Simão, mas uma denominação que
indicava o lugar de seu nascimento, uma colônia na Líbia, localizada
dentro dos limites atuais de Tunis. Um judeu africano era Simão e
eles eram influentes e numerosos pelo fato de manterem uma
sinagoga em Jerusalém (Atos 6:9).
Era Páscoa e Simão estava na cidade de Jerusalém para
participar das cerimônias anuais no templo: a festa dos Tabernáculos,
Páscoa e Pentecostes. Nessa ocasião, os homens judeus se vestiam de
linho branco para participarem do sacrificio do cordeiro pascal. Se
houvesse qualquer mancha que fosse na veste de qualquer homem,
eles eram impedidos de entrar no templo e participar da cerimônia.
Dentro do templo, havia um altar com cerca de 2,80 metros
de altura todo feito em pedra inteira, sem corte ou trabalhada, e após
o sacerdote sacrificar ali o cordeiro, ele o pegava pelas pernas traseiras
e com movimentos no sentido horário, girava sete vezes em torno do
altar deixando o sangue cair e escorrer pelo altar. Quando o sangue já
havia saído, o sacerdote pegava uma planta chamada hissopo (tipo
esponja), passava sobre o sangue e depois sacudia sobre os homens
que estavam presentes para que recebessem ao menos uma gota do
sangue do cordeiro na veste de linho branco, e quando isso acontecia,
198
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
a veste passava a ser um troféu para a vida do judeu que viajava
quilômetros para receber uma gotinha que fosse.
Simão era um desses judeus que havia saído do campo, fora
dos limites da cidade, para ir ao templo receber as gotas do sangue do
cordeiro pascal. Imagino que não andava vestido de linho branco pela
cidade para não sujar a veste e ser proibido de entrar no templo, mas
deveria guardá-la em alguma bolsa para vestir minutos antes da
cerimônia começar. E Simão ia a passos seguros em seu caminho
quando é interceptado por soldados romanos que "o constrangem" a
levar a cruz de Jesus: "Ei, você ai, ajude-o a carregar a cruz porque ele
está muito cansado e precisamos enxugar um pouco o sangue que
escorre de sua face e de todo seu corpo". Simão olha bem para Jesus
e apesar da face desfigurada pelas agressões, percebe ternura no olhar,
mansidão e Simão não cogita dizer não, mas prontamente se inclina, e
encostando o corpo em Jesus ensanguentado carrega com Ele a cruz.
Simão Cirineu, cujo objetivo era participar da cerimônia no
templo de Jerusalém, para receber uma gotinha de sangue do cordeiro
pascal, agora estava ali, juntinho ao Cordeiro de Deus que tirava o
pecado do mundo através do sacrifício em favor da humanidade. Seu
sangue precioso de Filho de Deus, derramado no centro da terra
(Jerusalém), para curar a humanidade, também escorria sobre a pele
negra de Simão, o Cirineu. A Bíblia não diz quantos minutos durou a
caminhada de Simão junto a Jesus, mas imagino que Jesus deva ter
dito a Simão: "Não temas porque hoje você não recebeu apenas uma
gota de sangue do cordeiro, mas recebeu a vida do Cordeiro em si
mesmo. Eu Sou o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, crê
Simão e serás salvo".
O Cirineu creu, saiu dali correndo, cambaleando, em prantos
e foi direito para casa. Chegando em casa,seu troféu já não seria a
veste de linho branco, gotejada de sangue, mas a salvação eterna dada
199
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
pelo Cordeiro de Deus! E Simão reúne a família e fala de como
aquele acontecimento do dia estava encravado dentro dele, revirando
seu intimo e ele já não seria mais um judeu praticante, mas um
cristão, nascido de novo. Toda a família de Simão foi impactada por
seu testemunho. Em atos dos apóstolos, vemos o relato de que seus
filhos e sua esposa fizeram parte da igreja primitiva: Rufo, Alexandre
e a sua mãe:
"Saudai a Rufo, a sua mãe e a minha" Romanos 16:13 . O
outro filho do Cirineu, chamado Alexandre, parece ter sido alguém
que se desviou do Evangelho. Paulo por duas vezes cita
Alexandre:"Alexandre o latoeiro, causou-me muitos males, o Senhor
lhe pague segundo as suas obras" II Tm 4:14 e ainda: E entre esses
foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a satanás para
aprenderem a não blasfemar" I Tm1:20.
Foi assim, no cotidiano de Simão Cirineu, no meio da rua,
que ele teve um encontro com Deus, através de Jesus Cristo. Um
homem que não imaginou que poderia ter sua vida transformada por
uma cruz, mas ao aceitar carregá-la, renunciando o percurso antes
planejado, ele se torna um novo homem. Podemos olhar para Simão
e aprender com seu gesto. Que Deus está perto, no nosso dia a dia,
que tem interesse em mudar nossa história, desde que renunciemos a
todo um passado de erros e abracemos a cruz com suas dores e
promessas. Simão que guardava a veste branca para receber gotinhas
de sangue, havia sido lavado, mergulhado no sangue da graça, pela fé
no Cordeiro.
Que a vida de cristão é de gozo, mas também de sofrimento.
É de servir ao outro e ajudá-lo a viver através do altruísmo e do amor.
É de vinho e também de fel, esses elementos estavam na esponja que
os soldados romanos embeberam no calvário. Simão Cirineu, em sua
própria casa, teve alegria e tristezas com a família. Ao tempo em que
200
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Rufo foi fiel nas convicções cristãs e Palavra de Deus, Alexandre foi
rebelde e desobediente. Simão Cirineu era um estrangeiro em
Jerusalém, chamado entre os passeantes naquele dia e Jesus tem sim
um plano para aqueles que se sentem distantes, estrangeiros quanto a
fé. Ele nos chama de várias maneiras e pode ser em momento de
alegria ou de dor (foi o meu caso), mas tudo se converte em paz
interior. A maior lição dada com o episódio de Simão, é o do
chamado e do servir através da fé e da confissão em Jesus como
Senhor e Salvador.
Crucificação de Jesus Cristo
Seu enterro e ressurreição
Logo após a crucificação de Jesus Cristo, José de Arimateia
pediu a Pilatos pelo corpo de Jesus. Ele recebeu permissão de
enterrar Jesus, então trouxe finos planos de linho, embalou o corpo,
colocou Jesus no túmulo e colocou uma grande pedra na entrada.
Jesus ficou no túmulo por três dias. Depois do Sábado, Maria
Madalena, Maria (mãe de Jesus) e Salomé prepararam aromas para
ungir o corpo de Jesus. Quando chegaram ao túmulo, a pedra já tinha
sido movida! Eles entraram no túmulo, onde um anjo disse: "Ele,
porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno,
que foi crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o
puseram. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai
adiante de vós para a Galileia; ali o vereis, como ele vos disse"
(Marcos 16:6-7).
Crucificação de Jesus Cristo – Seu presente eterno
O que a crucificação de Jesus Cristo tem a ver com você?
Deus, sendo onisciente, sabia que você não podia viver a vida sem
pecado necessária para entrar no céu. Então Ele decidiu oferecer a Si
201
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
mesmo em seu lugar. Ele fez isso ao se tornar um homem na pessoa
de Jesus Cristo, Seu único Filho. Jesus viveu uma vida sem pecado
aqui na terra.
Deus tinha dito que a punição do pecado seria a morte. Já
que todos nós pecamos (Romanos 3:23, 6:23), necessitamos que
alguém sem pecado morra em nosso lugar. Jesus, sendo sem pecado,
morreu em nosso lugar e se tornou a graça salvadora do mundo. Ele
morreu por você! Romanos 5:10 diz: "Porque se nós, quando éramos
inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida".
A crucificação
A crucificação começa: Jesus é oferecido vinho com
mirra, um leve analgésico. Jesus se recusa a beber. Simão é ordenado
a colocar a barra no chão e Jesus é rapidamente jogado de costas,
com seus ombros contra a madeira. O legionário procura a depressão
entre os osso de seu pulso. Ele bate um pesado cravo de ferro
quadrado que traspassa o pulso de Jesus, entrando na madeira.
Rapidamente ele se move para o outro lado e repete a mesma ação,
tomando o cuidado de não esticar os ombros demais, para possibilitar
alguma flexão e movimento. A barra da cruz é então levantada e
colocado em cima do poste, e sobre o topo é pregada a inscrição
onde se lê: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus".
O pé esquerdo agora é empurrado para trás contra o pé
direito, e com ambos os pés estendidos, dedos dos pés para baixo,
um cravo é batido atraves deles, deixando os joelhos dobrados
moderadamente. A vítima agora é crucificada. Enquanto ele cai para
baixo aos poucos, com mais peso nos cravos nos pulsos a dor
insuportável corre pelos dedos e para cima dos braços para explodir
no cérebro – os cravos nos pulsos estão pondo pressão nos nervos
202
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
medianos. Quando ele se empurra para cima para evitar este
tormento de alongamento, ele coloca seu peso inteiro no cravo que
passa pelos pés. Novamente há a agonia queimando do cravo que
rasga pelos nervos entre os ossos dos pés.
Neste ponto, outro fenômeno ocorre. Enquanto os braços
se cansam, grandes ondas de cãibras percorrem seus músculos,
causando intensa dor. Com estas cãibras, vem a dificuldade de
empurrar-se para cima. Pendurado por seus braços, os músculos
peitorais ficam paralisados, e o músculos intercostais incapazes de
agir. O ar pode ser aspirado pelos pulmões, mas não pode ser
expirado. Jesus luta para se levantar a fim de fazer uma respiração.
Finalmente, dióxido de carbono é acumulado nos pulmões e no
sangue, e as cãibras diminuem. Esporadicamente, ele é capaz de se
levantar e expirar e inspirar o oxigênio vital. Sem dúvida, foi durante
este período que Jesus consegui falar as sete frases registradas:
Jesus olhando para os soldados romanos, lançando sorte
sobre suas vestes disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem. " (Lucas 23:34)
Ao ladrão arrependido, Jesus disse: "Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no paraíso." (Lucas 23:43) Olhando para baixo
para Maria, sua mãe, Jesus disse: “Mulher, eis aí teu filho.”E ao
atemorizado e quebrantado adolescente João, “Eis aí tua mãe.” (João
19:26-27)O próximo clamor veio do início do Salmo 22, “Deus meu,
Deus meu, por que me desamparaste?”
Ele passa horas de dor sem limite, ciclos de contorção,
câimbras nas juntas, asfixia intermitente e parcial, intensa dor por
causa das lascas enfiadas nos tecidos de suas costas dilaceradas,
conforme ele se levanta contra o poste da cruz. Então outra dor
203
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
agonizante começa. Uma profunda dor no peito, enquanto seu
pericárdio se enche de um líquido que comprime o coração.
Lembramos o Salmo 22 versículo 14 “Derramei-me como
água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez- se
como cera, derreteu-se dentro de mim.”
Agora está quase acabado - a perda de líquidos dos tecidos
atinge um nível crítico - o coração comprimido se esforça para
bombear o sangue grosso e pesado aos tecidos - os pulmões
torturados tentam tomar pequenos golpes de ar. Os tecidos,
marcados pela desidratação, mandam seus estímulos para o
cérebro.Jesus clama “Tenho sede!” (João 19:28)
Lembramos outro versículo do profético Salmo 22 “Secouse
o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao
céu da boca; assim, me deitas no pó da morte.”Uma esponja molhada
em “posca”, o vinho azedo que era a bebida dos soldados romanos, é
levantada aos seus lábios. Ele, aparentemente, não toma este líquido.
O corpo de Jesus chega ao extremo, e ele pode sentir o calafrio da
morte passando sobre seu corpo. Este acontecimento traz as suas
próximas palavras - provavelmente, um pouco mais que um torturado
suspiro “Está consumado!”. (João 19:30)Sua missão de sacrifício está
concluída. Finalmente, ele pode permitir o seu corpo morrer.
Com um último esforço, ele mais uma vez pressiona o seu
peso sobre os pés contra o cravo, estica as suas pernas, respira fundo
e grita seu último clamor:“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”
(Lucas 23:46).
O resto você sabe. Para não profanar a Páscoa, os judeus
pediam para que o réus fossem despachados e removidos das cruzes.
O método comum de terminar uma crucificação era por crucificatura,
204
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
quebrando os ossos das pernas. Isto impedia que a vítima se
levantasse, e assim eles não podiam aliviar a tensão dos músculos do
peito e logo sufocaram. As pernas dos dois ladrões foram quebradas,
mas, quando os soldados chegaram a Jesus viram que não era
necessário.
C. Truman Davis é um Oftalmologista nacionalmente
respeitado, vice-presidente da Associação Americana de
Oftalmologia, e uma figura ativa no movimento de escolas Cristãs.
Ele é o fundador e presidente do excelente Trinity Christian School
em Mesa, Arizona, e um docente do Grove City College.
205
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
18º O Ladrão da Cruz
O LADRÃO DA CRUZ: O QUE HAVIA DE TÃO
GRANDE EM SUA FÉ?
Por Mark Jones
Há muitos atos de fé extraordinária na Bíblia. Aquele que
mais me impressiona diz respeito ao ladrão na cruz. Nós poderíamos
seguir a abordagem de que ele não tinha nada a perder, então
resolveu apostar em Jesus. Mas isso não faz absolutamente nenhum
sentido no texto e no contexto.
206
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Na conversa, nós temos uma realização específica das
primeiras palavras de Cristo na cruz. Mal Cristo tinha falado as
palavras “Pai, perdoa-os”, o Pai já respondera aquela oração ao
transformar um criminoso outrora maldizente em um santo
glorificando a Cristo. Enquanto o criminoso prestes a se converter
não fosse responsável direto pela morte de Cristo, ainda assim ele se
uniu àqueles que eram, e indiretamente foi citado quando Cristo
pediu a Deus que “os” perdoasse.
Cristo, aquele que não tinha pecado, foi contando com ou
entre os transgressores (Is 53.12; Lc 22.37), todos os quais têm um
problema maior que os pecados cotidianos que eles cometem. Eles
odeiam Cristo, o Deus-homem. Aquele que tem um mestre além do
Senhor Jesus o odeia (Lc 16.13; Gl 4.8). Que aqueles dois criminosos
o abominavam é claramente manifesto durante a crucificação: “E o
mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele
estavam crucificados” (Mt 27.44).Quando o criminoso que foi
convertido estava fazendo o seu pior contra Cristo, Cristo estava
fazendo seu melhor por esse criminoso.A conversão desse criminoso
foi bastante extraordinária e testifica do poder da oração de Cristo e
da graça de Deus. Por quê?
A fé do criminoso não surgiu em um momento como
quando Cristo transformou a água em vinho, ou realizou milagres
como andar sobre a água, abrir os olhos de um cego ou trazer Lázaro
dos mortos. Não! O criminoso creu no Messias enquanto ele estava
pendurado como um maldito num madeiro. O criminoso confiou e
ousadamente defendeu aquele cujos discípulos tinham abandonado.
Jesus estava em seu ponto mais baixo quando o criminoso pediu para
ser lembrado no reino de Cristo.
207
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Quando ele estava na cruz, alguém gritou, como João Batista
fez, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo
1.29)? Mas foi essencialmente isso que o ladrão fez. Não surpreende
muito, então, que Cristo lhe prometesse um lugar em seu reino: “Em
verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc 23.43).
O criminoso reconheceu que ele era culpado; ele reconheceu
que Cristo não era (“ este nenhum mal fez”); ele temia Deus; mas,
aqui está a chave: o criminoso não queria meramente estar em um
lugar melhor. Ele queria estar com Cristo em um lugar melhor:
“Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23.42).
O criminoso creu “contra toda esperança”.
Céu é um lugar melhor porque é onde Cristo está. Todo
mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer ir para o céu de Cristo.
Não é o caso desse criminoso: ele viu, com seus olhos, Cristo em seu
pior, mas com os olhos da fé, ele creu que Cristo logo estaria no seu
melhor, e assim depositou sua fé em um rei em agonia.
Cristo está sempre – sempre! – – disposto a salvar mesmo o
mais miserável dos pecadores. Um reconhecimento da culpa (Lc
23.40) e uma confiança nele e não em nós mesmos (Lc 23.42) sempre
levarão à verdade mais encorajadora que um pecador pode receber: o
Salvador recebe essas pessoas em seu paraíso!
208
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
19º Vejamos a causa física da morte de
Jesus
209
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Jesus suou sangue (Lucas 22:39-44)
– A medicina chama essa raríssima doença de hematidrose,
que é causada por um profundo stress, como o medo da morte
iminente, ou outra fatalidade muito grande. A hematidrose é
acompanhada de dores fortíssimas em todo o corpo. Essa doença
pode causar morte instantânea.
A partir desse ponto, Jesus deveria ser levado a uma UTI de
um hospital e ficado sobre cuidados médicos assistidos, ele corria
risco de morte. Mas essa não foi a causa física que o matou.
Jesus sofreu espancamento (Marcos 15:16-20) – Várias
passagens nos mostram que Jesus apanhou dos soldados. Mas essa
não foi a causa física que o matou.
Coroa de espinhos (Mateus 27:29-30)
– Para entender os efeitos físicos da coroação com
espinhos, deve se ter o conhecimento básico da inervação da região
da cabeça e estar familiarizado com a condição neurológica chamada
neuralgia do trigêmio.
A inervação que permite a percepção de dor na cabeça é
feita por ramos de dois nervos principais: o nervo trigêmeo, que
supre essencialmente a parte frontal da cabeça, e o grande ramo
occipital, que abastece a parte de trás.
Se uma dessas zonas é tocada ou atingida, um surto
repentino de dor acontece e pode até imobilizar o indivíduo. As dores
são descritas como “facadas”, “choques elétricos” ou “golpes com
atiçador de carvão”. Durante as dores podem ocorrer espasmos de
absoluta agonia.
210
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A neuralgia do trigêmeo é considerada a pior dor que um ser
humano pode sofrer. É tão devastadora que se torna insuportável sob
qualquer de suas diversas formas. As Escrituras relatam que os
soldados passaram por Jesus, tiraram o graveto de suas mãos e deram
golpes com ele na coroa de espinhos (Mateus 27.30).
Qual foi a causa física da morte de Jesus?
Foi a cruz?
É importante notar que a coroa foi feita com o
entrelaçamento dos espinhos na forma de um boné. Isso permitiu o
211
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
contato de uma quantidade enorme de espinhos como o topo da
cabeça, a fronte, a parte traseira e as laterais.
O sangramento decorria da penetração dos espinhos nos
vasos sanguíneos. A dor podia cessar abruptamente, mas era
reiniciada com o menor movimento nas mandíbulas ou golpe de ar.
Mas não foi essa a causa física da morte de Jesus.
JESUS FOI PUBLICAMENTE HUMILHADO AO
SER CHICOTEADO
Chicoteado – Jesus foi publicamente chicoteado com um
chicote de nove tiras, e isto por 39 vezes. Esse tipo de chicote tinha
as tiras de couro carregadas com pedaços de metais dentados ou
ossos pesados ao final.
Debaixo de uma punição judaica, um açoite deveria ser dado
a um prisioneiro em
40 chicotadas, além de ser uma grande humilhação pública
para um judeu (Dt 25:3).
Raramente davam-se 40 chicotadas, porque ser açoitado por
40 vezes poderia ser fatal. Salmo 129:3 diz: “Passaram o arado em
minhas costas e fizeram longos sulcos”. Este é um pequeno quadro
daquilo pelo qual Jesus passou.
Lemos em Isaías 50:6: “Ofereci minhas costas àqueles que
me batiam, meu rosto àqueles que arrancavam a minha barba; não
escondi a face da zombaria e dos cuspes”. Mas também não foi essa a
causa física da morte de Jesus.
212
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A crucificação – A crucificação era uma punição reservada
a escravos rebeldes e aos que se opunham ao domínio romano. As
torturas que os condenados sofriam eram enormes. Eram
desnudados, flagelados, ofendidos e carregavam a própria cruz.
Ficavam suspensos a dois ou três metros do chão. Alguns
agonizavam vários dias. Jesus foi pregado na cruz, que não era dele,
era de Barrabas, provavelmente puxaram os braços de Jesus, para que
coubessem na cruz. Mas essa não foi a causa física que o matou.
QUAL FOI A CAUSA FÍSICA DA MORTE DE
JESUS?
Apesar dos politraumatismos que Jesus sofreu, uma palavra
denuncia que Jesus se entregou à morte: Marcos 15:43.
Chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também
esperava o reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o
corpo de Jesus. E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E,
chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha
morrido. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José.
“Está consumado”, disse Jesus (João 19:28-30)
Vamos ler: Gl 1.4; 2:20; Tito 2:14; e João 10:1- 18. A
hematidrose, os açoites, a coroa de espinhos, o chicote, a cruz, a
morte, o pecado; nada disso matou Jesus, ele entregou-se por nós,
para nós. Jesus não morreu de causas físicas naturais, pois a morte
não podia matar o autor da vida. Qual foi a causa física da morte de
Jesus? Nenhuma.
213
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
LEIA ESTA OBSERVAÇÃO A RESPEITO DA
MORTE DE JESUS
Aqui cabe uma observação para não haver mal entendidos.
Jesus morreu – primeiro ponto. E Jesus morreu como homem –
segundo ponto. Quando digo que Jesus entregou-se à morte, quero
dizer que até o momento em que ele disse está consumado, apesar
das dores atrozes, que devido aos mais variados traumatismos que ele
estava sentindo, ninguém pode dizer exatamente do que Jesus morreu
fisicamente.
Provavelmente Jesus sofreu uma parada cardiorrespiratória,
devido aos mais variados traumas; foi tudo junto que o matou. Ponto:
ele morreu, e como homem, houve uma causa, ou várias causas
naturais, mas o que a Bíblia ensina e é então o que afirmo, é que Jesus
se entregou à morte, ele se deixou morrer.
Existem os mais variados casos em que se comprova que
isso, por mais estranho que possa parecer, é possível. Ouvimos falar
de pessoas que esperam a filha, ou filho, vir de viagem, ou chegar à
cidade, para que a pessoa possa se despedir e morrer em paz. Nesse
caso a pessoa não se entregou à morte, até que vindo o parente, ela
deixou- se vencer e morreu.O contrário também é verídico e
comprovado, pessoas que desistiram de viver e se entregaram,
deixando-se vencer e morreram, algumas, até jovens. Jesus sempre foi
altamente espiritual.
Esquecemo-nos das frases ditas por Jesus na cruz. Jesus
falou “Sete Palavras” na cruz e assim como ele sabia que quando os
gregos viessem, era então chegada a sua hora, ele sabia também, por
revelação do Espírito (não se esqueça ele até aqui está encarnado
como um homem completo, portanto facultado às nossas limitações,
todas elas) que quando ele bebesse o vinagre, então ele entregaria o
214
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
seu espírito a Deus e Deus permitiria que ele morresse. O vinagre era
o ponto final.
Esse é outro ponto que quando pregamos uma Palavra de
meia hora, ou pouco mais, não dá tempo de discorrermos
acuradamente, mas ninguém morre, ou vive, se Deus não permitir.
Aliás, nada acontece, se não houver permissão de Deus.Lembro- me
que um irmão querido, um dos meus mentores de Bíblia, um dos
meus mestres, quando entrei na igreja, o irmão Olemar, que ele um
dia me ensinou que todos os homens devem morrer, ou ser retirados
dessa vida de alguma forma.
Se não for por arrebatamento divino, o que só aconteceu
isoladamente com Enoque e Elias, segundo consta, foram os únicos
arrebatados até agora, se é que não estou esquecendo ninguém da
Bíblia. Fora esses, os homens precisam sair dessa vida de alguma
maneira, ou por atropelamento, ou por velhice, ou mortos, ou de
alguma maneira permitida por Deus.
Lembro-me que li em algum lugar que o homem desde a
hora que nasce já está morrendo, e isso devido ao pecado. Assim
como é um milagre a mulher gerar um filho (em primeiro lugar) e sair
todos os seus órgãos internos do lugar e depois de nascido o filho, os
órgãos voltarem ao lugar e funcionarem tão bem quanto antes, o que
é inexplicável pela ciência até hoje.
A biologia ensina que na idade aproximada de 30 anos as
células das pessoas começam a morrer o que fará com que ela faleça,
de causas naturais lá pelos seus 70 anos, mais ou menos. Devido ao
pecado, desde que o homem nasce, ele já está morrendo. Já nasce,
morrendo. Antes de prosseguirmos, gostaria que você assistisse o
vídeo abaixo, sobre a ciência da crucificação.
215
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A MORTE É VISTA COMO ALGO NATURAL
Bem, já podemos prosseguir. A morte não é algo tão natural
assim como dizem, o que ocorre são muitas mortes, portanto comum
no sentido de serem muitas, mas a morte em si não é natural ao
homem. O homem criado por Deus, mesmo o homem caído, não foi
feito para morrer. Lemos que Deus pôs um limite de vida ao homem,
mas não que esse foi criado para a morte.
Aliás, a Bíblia tem a promessa que aquele que crer não verá a
morte. Essa promessa está destinada a todos os cristãos, acredite, ou
não. A morte não é natural, aliás, é a coisa mais antinatural do
mundo. A morte só existe num universo eterno de Deus, devido ao
pecado e um dia a morte vai acabar.
O pecado precisa ter um fim e esse fim chama-se morte. Pra
Deus, que é quem interessa, a morte não é natural, mas sim
julgamento. Ainda assim, que é o que veremos na ultima pregação
dessa série, é que ainda assim, existe vida após a morte.
A morte nessa vida, não é o fim da existência humana, mas
o fim da oportunidade de salvação que é dada apenas nessa existência.
E é interessante, que passamos por essa vida, meio que às cegas, sem
saber muito sobre o que nos espera em cada esquina.
Analisou três teorias principais:
Asfixia, ruptura do coração e choque traumático e
hipovolêmico – por isso a importância médica e fisiológica de se ter
descrito, anteriormente e passo a passo, o processo de tortura física e
psíquica a que Jesus foi submetido.
216
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas
ela jamais foi testada cientificamente. Essa hipótese sustenta
que a posição na cruz é incompatível com a respiração,
obrigando a vítima a erguer o corpo para conseguir respirar.
O ato se repetiria até a exaustão e ele morreria por asfixia
quando não tivesse mais forças para se mover. Defende essa causa
mortis o cirurgião francês Pierre Barbet, que se baseou em
enforcamentos feitos pelo Exército austro-germânico e pelos
nazistas no campo de extermínio de Dachau. Zugibe classifica essa
tese de “indefensável” sob a perspectiva médica. Os exemplos do
Exército ou do campo de concentração não valem porque os
prisioneiros eram suspensos com os braços diretamente acima da
cabeça e as pernas ficavam soltas no ar.
Não é possível comparar isso à crucificação, na qual o
condenado é suspenso pelos braços num ângulo de 65 a 70 graus do
corpo e tem os pés presos à cruz, o que lhe dá alguma sustentação.
Experimentos feitos com voluntários atados com os braços para o
alto da cabeça mostraram que, em poucos minutos, eles ficaram com
capacidade vital diminuída, pressão sangüínea em queda e aumento na
pulsação. O radiologista austríaco Ulrich Moedder também derruba o
raciocínio de Barbet afirmando que esses voluntários não suportariam
mais de seis minutos naquela posição sem descansar. Pois bem, Jesus
passou horas na cruz.
Quanto à hipótese de Cristo ter morrido de ruptura do
coração ou ataque cardíaco, Zugibe alega ser muito difícil que isso
ocorra a um indivíduo jovem e saudável, mesmo após exaustiva
tortura: “Arteriosclerose e infartos do miocárdio eram raros naquela
parte do mundo. Só ocorriam em indivíduos idosos.” Ele descarta a
hipótese por falta de provas documentais. Prefere apostar no choque
causado pelos traumas e pelas hemorragias.
217
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A isso somaram-se as lancinantes dores provenientes dos
nervos medianos e plantares, o trauma na caixa torácica, hemorragias
pulmonares decorrentes do açoitamento, as dores da nevralgia do
trigêmeo e a perda de mais sangue depois que um dos soldados lhe
arremessou uma lança no peito, perfurando o átrio direito do
coração. Zugibe usa sempre letras maiúsculas nos pronomes que se
referem a Jesus e se vale de citações bíblicas revelando a sua fé.
Indagado por ISTOÉ sobre a sua religiosidade, ele diz que os seus
estudos aumentaram a sua crença em Deus: “Depois de realizar os
meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das
informações.” Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que
chama de “sumário da reconstituição forense”. E chega à definitiva
causa mortis de Jesus, em sua científica opinião: “Parada cardíaca e
respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico,
resultante da crucificação.”
218
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
20º Aspectos Ilegais do Julgamento de
Jesus
A seguir estão alguns dos aspectos ilegais do
julgamento de Jesus:
1: Os julgamentos poderiam ocorrer somente nos lugares de
reunião regular do Sinédrio (não no palácio do Sumo Sacerdote)
2: Os julgamentos não podiam ocorrer na véspera do Sabat
ou de Festas e nem a noite
3: Uma sentença de "culpado" somente poderia ser
pronunciada no dia seguinte ao julgamento
A INTRODUÇÃO DAS TESTEMUNHAS
Deut 19:15: "Uma só testemunha não se levantará contra
alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for
o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se
estabelecerá o fato."
Deut 17:6: "Pela boca de duas ou três testemunhas, será
morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não
morrerá."
Marcos 14:56: "Porque contra ele muitos depunham
falsamente, mas os testemunhos não concordavam."
219
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Enquanto na corte do Sumo Sacerdote, Ele foi questionado
por Anás (João 18:13) e golpeado por um soldado (João 18: 22). Ele
foi trazido então a Caifás e ao Sinédrio, que procuravam por Jesus à
morte pelo testemunho falso de muitas testemunhas. As testemunhas
trazidas contra Ele não concordavam. Pela lei, ninguém poderia ser
posto a morte sem a concordância de duas ou três testemunhas nos
seus testemunhos. Embora as testemunhas não concordassem,
Ele foi considerado culpado de blasfêmia quando Ele lhes
disse de Sua identidade como Filho de Deus. Ele foi sentenciado a
morte. Jesus sofreu escarnecimento dos guardas do palácio, que
cuspiram nEle, bateram nEle e esbofetearam Sua cara. (Marcos
14:65.) Durante o julgamento, Pedro nega-Lhe três vezes. Os
procedimentos do julgamento de Jesus violaram muitas das leis da Sua
sociedade. Entre algumas das outras leis violadas estão: (Bucklin)
1. Nenhuma aprisionamento poderia ser feito a noite.
2. A hora e a data do julgamento eram ilegais porque
ocorreu a noite e na véspera do Sabat. Neste momento
impossibilitando alguma chance para o requerimento da suspensão da
pena no dia seguinte ao evento da condenação.
3. O Sinédrio era sem autoridade para incitar acusações. Era
somente suposto para investigar acusações trazidas perante ele. No
julgamento de Jesus, a própria corte formulou as acusações.
4. As acusações contra Jesus foram mudadas durante o
julgamento. Ele foi inicialmente acusado de blasfêmia baseado na sua
declaração de que poderia destruir e reconstruir o Templo de Deus
dentro de três dias, e também de ser Filho de Deus. Quando Ele foi
trazido perante Pilatos, a acusação era que Jesus era um Rei e não
defendia o pagamento de impostos aos Romanos.
220
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
5. Como indicado acima, a exigência de duas testemunhas de
acordo para condenar a pena de morte não foi cumprida..
6. A corte não se reuniu no regular local de reuniões do
Sinédrio, como é requerido pela lei Judia.
7. A Cristo não foi permitido uma defesa. Pela a lei judia,
deveria ter ocorrido uma busca exaustiva nos fatos apresentados pelas
testemunhas.
8. O Sinédrio pronunciou a sentença de morte. Pela a lei, ao
Sinédrio não era permitido condenar e colocar a pena de morte em
efetivo. (João 18:31)
Hoje, se pode visitar o palácio do Sumo Sacerdote. Aonde
se pode estar no meio das ruínas do pátio. E está disponível um
modelo das estruturas do palácio no tempo de Jesus.
VEREDICTO DE PILATOS
Marcos 15:15 - "Então Pilatos, querendo satisfazer a
multidão, soltou-lhe Barrabás; e tendo mandado açoitar a Jesus, o
entregou para ser crucificado."
O Sinédrio reuniu-se cedo na manhã seguinte e sentenciou-
O a morte.(Mateus 27:1) Jesus foi levado perante a Pilatos, porque aos
judeus não era dado como aos romanos o direito de realizar
execuções. A acusação foi agora mudada para a alegação que Jesus
reivindicava ser Rei e proibia a nação de pagar impostos a César.
(Lucas 23:5) Apesar de todas as acusações, Pilatos não encontrou
nada errado. Ele mandou Jesus a Herodes. Jesus ficou calado perante
Herodes, exceto para afirmar que Ele é o Rei dos Judeus. Herodes
mandou-O devolta a Pilatos. Pilatos é incapaz de convencer a
221
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
multidão da inocência de Jesus e ordena Jesus a ser posto a morte.
Algumas fontes indicam que era lei romana, que um criminoso que
estava para ser crucificado teria que primeiro ser
chicoteado.(McDowell) Outros acreditam que Jesus foi primeiramente
chicoteado por Pilatos na esperança de livra-Lo através de uma
punição mais leve.(Davis) Apesar do seu esforços, os Judeus
permitiram que Barrabás fosse liberado e exigiram que Jesus fosse
crucificado, ainda gritando que, "O Seu sangue caia sobre nós e sobre
nossos filhos!" (Mateus 27:25) Pilatos entrega Jesus para ser
chicoteado e crucificado.
É neste momento que Jesus sofre um violento
espancamento físico. (Edwards) Durante as chicotadas, a vitima era
amarrada a um poste, deixando suas costas inteiramente exposta. Os
Romanos usavam um chicote, chamado flagrum ou flagellum o qual
consiste em pequenas partes de osso e metal unidos a vários cordões
de couro. O número de chicotadas não é registrado nos evangelhos.
O número de golpes na lei judia foi estabelecido em Deuteronômio
25:3 em quarenta, mas mais tarde reduzido a 39 para prevenir golpes
excessivos por um erro de contagem. (Holmans). A vítima
frequentemente morria por causa do espancamento. (39 golpes
acreditava-se trazer o criminoso a " um da morte".) A lei romana não
colocava nenhum limite sobre o número de golpes a se dar.
(McDowell) Durante as chicotadas, a pele era arrancada das costas,
expondo uma massa ensanguentada de músculo e osso ("hambúrguer
" : Metherall). Ocorria extrema perda de sangue pelo espancamento,
enfraquecendo a vítima ,as vezes, ao ponto de ficar inconsciente.
SOLDADOS ROMANOS ESCARNECEM E BATEM
EM JESUS
Mateus 27:28-30 (Os soldados) despiram-No e colocaram-
No um manto escarlate então trançaram uma coroa de espinhos e
222
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
fixaram em sua cabeça. Eles colocaram uma cajado na Sua mão direita
e ajoelharam-se na Sua frente e O escarnecia dizendo: "Salve, rei dos
judeus!". Eles cuspiram nEle, e pegaram o cajado e golpearam-O na
cabeça várias vezes. Jesus foi então espancado pelos soldados
romanos. No escarnecimento, eles vestiram-No no que era
provavelmente a capa de um oficial romano, o qual era de cor roxo
escuro ou escarlate. (Bíblia Amplificada) Ele também usava a coroa de
espinhos. Ao contrário da coroa tradicional a qual é descrita por um
anel aberto, a verdadeira coroa de espinhos pode ter coberto o escalpo
inteiro.(Lumpkin)Os espinhos podem ter tido 2.54 a 5.08 centímetros
de comprimento. Os evangelhos indicam que os soldados romanos
continuamente bateram na cabeça de Jesus. Os golpes dirigiram os
espinhos para dentro do escalpo (uma das áreas mais vascular do
corpo) e na testa, causando sangramento severo.
A COROA DE ESPINHOS E O MANTO
Gênesis 3:17b-18: "Maldita é a terra por tua causa; em fadiga
comerás dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e
abrolhos; e comerás das ervas do campo. "Isaías 1:18 "Vinde, pois, e
arrazoemos," diz o SENHOR. "Ainda que os vossos pecados são
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são
vermelho como o carmesim, tornar-se-ão como lã." O significado do
manto escarlate e a coroa de espinhos é para enfatizar Jesus tomando
os pecados do mundo sobre Seu corpo. A Bíblia descreve o pecado
pela cor escarlata (Isaías 1:18) e aqueles espinhos que apareceram logo
depois da queda do homem, como um sinal da maldição. Assim, os
artigos que Ele usou são símbolos para mostrar que Jesus tomou os
pecados (e maldições) do mundo sobre Ele mesmo. Não é claro se
Ele usou a coroa de espinhos na cruz. Mateus descreve que os
romanos removeram Suas roupas depois do espancamento, e então
colocaram Suas próprias roupas de novo nEle. (Mateus 27:31)
223
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
21º Como Era a Coroa de Espinhos
Colocada em Jesus
Uma coroa de espinhos guardada num tubo feito de vidro e
ouro e que alegadamente teria sido posta em Jesus durante sua
crucificação se tornou objeto de reverência na Catedral de Notre
Dame, em Paris, França. O local onde a suposta coroa da crucificação
de Jesus Cristo é mantida é uma capela construída em 1241 e
modificada ao longo dos anos. Para os católicos franceses, o templo
é um santuário erguido
Para abrigar as relíquias que teriam pertencido a Jesus
Cristo
224
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Quando o assunto é morte de Jesus, muitas são as teorias e
as teses e, apesar disso, poucas trazem esclarecimentos determinantes
sobre a verdadeira causa da morte do Mestre da Humanidade. Até
mesmo os espinhos utilizados na coroa são motivos de controvérsias
entre os estudiosos
A Coroa de Espinhos foi um instrumento de tortura
utilizado pelos romanos durante a Crucifixão de Jesus. Segundo a
Bíblia, esse instrumento foi tecido de galhos e espinhos secos e
colocados na testa de Jesus instantes antes da sua crucificação. A
Coroa de Espinhos é mencionada no Evangelho segundo
Mateus(27:29), de Marcos(15:17) e de João(19:2-5)
O Material Utilizados Para alguns botânicos, os espinhos
usados para trançar a coroa de Jesus eram da planta conhecida como
Espinheiro-de-Cristo Sírio – Rhamnus spinachristi. Outros, no
entanto, defendem outras versões: Espinhos da Acácia (os judeus e os
egípcios acreditam que essa planta simboliza a imortalidade),
Gundelia, Mojave, Espinheiro-da-Virgínia.
Admite-se geralmente, que os espinhos pertenciam a um
arbusto espinhento, de espinhos longos, duros e agudos, muito
comum na Judéia, é provável que existisse muitos desses garranchos
naquele período, e também no pretório, pois eles eram colocados ali
para alimentar a fogueira que os soldados acendiam a noite para
poderem enfrentar o frio.
225
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
O Formato da Coroa: Ao longo dos séculos os artistas tem
envolvido a cabeça de Jesus com uma coroa de espinho circular
entrelaçada. Porém alguns altores antigos informam que a coroa de
espinho que colocaram sobre a cabeça de Jesus era na verdade uma
espécie de "pileus" (carapuça, gorro), que cobria e tocava toda a
região da parte de cima da cabeça em todos os lados, e não uma tiara.
O pileus era entre os romanos uma espécie de gorro semi-oval de
feltro e envolvia a cabeça e servia para o trabalho.
Frederick Zugibe, médico-legista, autor do livro A
Crucificação de Jesus, afirma que os espinhos eram duros, rentes e
afiados e podem ter sido trançados em forma de boné, pois esta
forma de trançar teria permitido que uma quantidade maior de
226
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
espinhos perfurasse o topo da cabeça, a fronte, a parte traseira e as
laterais.
Marcos, assim descreve o momento da coroação: “Vestiramno
de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que
haviam tecido”. Como consequência da perfuração dos espinhos na
cabeça e, devido à grande quantidade de vasos sanguíneos no couro
cabeludo, o sangue jorrava livremente pela face. Mateus relata que,
após a coroação de Jesus com a coroa de espinhos, os soldados
batiam-lhe com a cana sobre a cabeça. “E, cuspindo nele, tiraram-lhe
a cana e batiam-lhe com ela na cabeça”.
Isto vem a confirmar o que claramente informa Mateus e
João: que a coroa era uma espécie de gorro formada de espinho
entrelaçados, e não uma forma de anel.
227
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Por que o nome de Coroa de Espinhos: este nome e dado
não pelo formato, mas pelo significado, para os soldados que ali
estavam, "um rei precisa de uma coroa", e como eles zombavam de
Jesus, eles queriam mesmo que O Senhor tivesse sobre a cabeça algo
horroroso tanto no material como no formato, o que colocaram
sobre a cabeça de Jesus era algo muito, mas muito feio mesmo.
O espinhos usado nesta espécie de gorro que denominaram
coroa possuía espinhos longos e muito agudos. O couro cabeludo é
uma região do nosso corpo que sangra com muita facilidade e em
grande quantidade, como essa espécie de toca foi colocada na cabeça
de Jesus a pauladas, os ferimentos devem ter feito correr bastante
sangue, ferindo bastante o cranio em toda a sua superfície até a testa
na altura do pau- do-nariz.
Os golpes desferidos na cabeça ou na coroa de espinhos de
Jesus irritavam os nervos e ativaram zonas nos lábios, do lado do
nariz, ou no rosto, causando dores terríveis, similar a uma queimadura
ou choque elétrico.
Essa dor, segundo ele, podia ser interrompida abruptamente,
mas era reiniciada com o menor movimento. Jesus já estava muito
debilitado: s¬uou sangue no Jardim do Getsêmani, foi espancado
brutalmente na casa de Caifás e na sala da prisão e perdia sangue com
a coroa de espinhos. A essa altura, acredita o médico, Jesus estava
fraco, zonzo, pálido, com falta de ar, surtos intermitentes de
transpiração; mal se sustentando em pé. Apesar de todo esse castigo,
Jesus ainda enfrentaria o pior de todos eles: A crucificação. Coube a
Pilatos a decretação e a pronúncia da sentença final irrevogável: tu
deves ir para a cruz (íbis ad crucem).
228
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A Coroa de Espinhos e a Redenção do
Cosmos
Hermes Fernandes
Para entendermos melhor a grandiosidade da redenção
realizada por Cristo, precisamos compreender a extensão do estrago
feito pela Queda/Ruptura. O pecado não apenas atingiu o ser
humano, seu protagonista, como também o cenário no qual estava
inserido. E isso por causa de profunda ligação entre o homem e a
terra. Biblicamente, esses dois termos são muitas vezes
intercambiáveis (por exemplo: Sl.96:13; Jr.22:29; Os.1:2; Ap.13:3).
Quando Deus fala à Terra, está falando aos seus moradores.
O homem não é apenas produto do pó da terra, ele é a Terra, que
229
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
recebendo o sopro da vida, passa a ter consciência de si mesma, e da
realidade na qual está inserida.
O pecado humano não poderia ficar impune. Ele traria
resultados que afetariam o homem e o seu ambiente.
“Ao homem disse: Porque deste ouvidos à voz de tua
mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás
dela, maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os
dias da tua vida. Ela produzirá também espinhos e abrolhos, e
comerás das ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu
pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; pois és pó, e ao
pó tornarás.”Gênesis 3:17-19.
Até aquele momento, a Terra era um ecossistema perfeito,
um verdadeiro paraíso. Todos os seres vivos estavam em harmonia, e
submetiam-se prazerosamente ao homem. Lavrar e guardar a terra era
uma atividade extremamente prazerosa e gratificante. Mas agora, o
trabalho tornar-se-ia penoso, na medida em que a terra passasse a
produzir espinhos e abrolhos. O homem e toda a natureza havia se
degenerado.
Nas palavras de Paulo, “a criação ficou sujeita à vaidade,
não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou”
(Rm.8:20).
Os espinhos representam a reação da natureza à vaidade
humana. Ela que antes estava sujeita ao homem em plena comunhão
com seu Criador, agora teria que se sujeitar a um homem rebelde e
vaidoso.
Por mais que o homem busque construir um ambiente mais
acolhedor, tentando de algum modo reproduzir artificialmente o
230
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
paraíso perdido, os espinhos o acompanham. Isaías profetiza:“Nos
seus palácios crescerão espinhos, urtigas e cardos nas suas fortalezas.
Ela será uma habitação de chacais, e lar para as corujas” (Is.34:13).
Não há como fugir, os espinhos estão por toda parte, como
lembrança de que nossa natureza está igualmente degenerada, à
exemplo da natureza à nossa volta.
Na verdade, os espinhos servem a um propósito benéfico.
Eles nos esvaziam quando estamos inflados por nossa própria
vaidade. Que o diga Paulo, que para que não se exaltasse pela
excelência das revelações que recebera de Deus, recebeu de bônus um
espinho na carne.
231
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
De fato, o mundo não é mais um lugar seguro pra se viver.
E não se trata de um fenômeno novo. Desde a Ruptura, o mundo
deixou de ser um lugar seguro para a raça humana.
Não só a terra passou a produzir espinhos, mas o próprio
coração humano passou a ser um terreno inóspito para o Espírito de
Deus e para a Sua Palavra.
Na parábola do Semeador, Jesus diz que uma parte das
sementes “caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram
(...) O que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os
cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas, sufocam a palavra, e
fica infrutífera” (Mt.13:7,22).
O homem natural não consegue entender as coisas
espirituais, pois lhe parecem loucura, já dizia Paulo. Seu coração está
tomado de espinhos, devido à sua natureza degenerada. Jesus
identifica esses espinhos com “os cuidados deste mundo”, e com “a
sedução das riquezas”.Quando ele começa a achar que está
conseguindo preencher o vazio de sua alma, esses mesmos espinhos
lhe causam perfurações tão agudas, que acabam por ocasionar em um
vazio ainda maior.
O que esperar de uma raça caída, com a alma tomada por
espinhos? Miquéias, em um momento de desespero, deixa escapar um
grito:
“Ai de mim! Estou feito como quando são colhidas as frutas
do verão, como os rabiscos da vindima; não há cacho de uvas para
comer, nem figos temporãos para que a minha alma deseja. Pereceu
da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja
reto. Todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão
com uma rede. As suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe
232
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
exige condenação, o juiz aceita suborno, e o grande fala da corrupção
da sua alma, e assim todos eles são perturbadores. O melhor deles é
como um espinho, o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos.
Veio o dia dos teus vigias, veio
o dia da tua visitação. Agora é o tempo da sua confusão.
Não creiais no amigo; não confieis no companheiro. Daquela que
repousa no teu seio guarda as portas da tua boca. Pois o filho
despreza o pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua
sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa”. Miquéias
7:1-6.
Sentimo-nos envergonhados, e igualmente desesperados
quando constatamos a grave situação em que se encontra a
humanidade. Corrupção, impunidade, terrorismo, intrigas, são apenas
alguns dos espinhos produzidos no terreno inóspito do coração
humano sem Deus. Mas o que dizer da Igreja, a nova humanidade
recriada em Cristo. O que se deve esperar dela?
“A terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela,
e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a
bênção da parte de Deus. Mas se produz espinhos e abrolhos, é
rejeitada, e perto está da maldição. O seu fim é ser queimada. Mas de
vós, ó amados, esperamos coisas melhores e pertencentes à salvação,
ainda que assim falamos”.
Hebreus 6:7-9.
Esta é a promessa de Deus para com o Israel da Nova
Aliança: “A casa de Israel nunca mais terá espinho que a pique, nem
abrolho que lhe cause dor, entre os que se acham ao redor deles e que
os desprezam. Então saberão que eu sou o Senhor Deus” (Ez.28:24).
233
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Somos o povo regenerado por Deus. Somos a nova
Criação. Somos a nova Terra. E o prenúncio de que em breve, tudo à
nossa volta será igualmente regenerado. O preço pago por Cristo na
Cruz, não apenas liquidou nossa fatura, mas também desfez a
maldição que pesava sobre a natureza. A coroa de espinhos que Ele
trazia em Sua cabeça apontava para a redenção de toda a criação
(Mc.15:16-17). A Cabeça da nova humanidade, Cristo, foi perfurada
pelos espinhos da nossa vaidade. Antes que os espinhos brotem na
terra, eles brotam na cabeça, na mente, na consciência humana
cauterizada pelo pecado. Por isso, Cristo teve Sua cabeça coroada de
espinhos. Lá na cruz, Deus feito homem, arcou com as
conseqüências da Queda.
Uma vez que Cristo tenha pago o preço da redenção da
criação, resta-nos trabalhar para que a humanidade se alie ao resto
da criação,deixando de ser predadora e destruidora, para ser sua
cultivadora e guardiã.
A SEVERIDADE DO ESPANCAMENTO
Isaías 50:6: "Ofereci as minhas costas aos que me feriam, e
as minhas faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o meu
rosto dos que me afrontavam e me cuspiam."
Isaías 52:14: "..... Como pasmaram muitos à vista dele -- pois
o seu aspecto estava tão desfigurado que não era o de um homem, e a
sua figura não era a dos filhos dos homens --"
A severidade do espancamento não é detalhada nos
evangelhos. Entretanto , no livro de Isaías, ele sugere que os romanos
arrancaram Sua barba.(Isaías 50:8) Também é mencionado que Jesus
foi espancado tão severamente que seu aspecto não parecia como "a
dos filhos dos homens" i.e. como uma pessoa. "O seu aspecto estava
234
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
tão desfigurado que não era o de um homem, e a sua figura não era a
dos filhos dos homens." As pessoa ficavam horrorizadas ao olhar para
Ele (Isaías 52:13). Seu desfiguramento talvez possa explicar porque
Ele não foi reconhecido facilmente em Suas aparições pós
ressurreição.(Missler) Hoje, se pode visitar o local conhecido como
Lithostrotos, aonde acredita-se ser o chão da Fortaleza de
Antônio.(todavia recente escavações talvez ponha em dúvida esta
teoria (Gonen)) O chão está marcado para jogos uma vez jogados por
soldados romanos.
Do espancamento, Jesus andou num trajeto, chamado agora
de Via Dolorosa, para ser crucificado em Gólgota. A distância total
tem sido estimada em 595 metros. (Edwards). Uma rua estreita de
pedra, era provavelmente cercada por mercados no tempo de Jesus.
Ele foi conduzido através das ruas aglomeradas de gente carregando a
barra transversal da cruz (chamada patibulum) em contato com Seus
ombros.
A barra transversal provavelmente pesava entre 36 e 50
quilos. Ele era cercado por um guarda dos soldados romanos, o qual
carregava uma placa que anunciava Seu crime o de ser "o Rei dos
Judeus" em Hebreu, em Latim e em Grego. No caminho, Ele ficou
incapaz de carregar a cruz. Alguns teorizam que Ele talvez tenha
caído ao ir descendo os degraus da Fortaleza de Antônio. Uma queda
com o pesado patibulum nas Suas costas talvez tenha causado uma
contusão do coração, predispondo Seu coração a ruptura na cruz.
(Ball) Simão o Cireneu (atualmente norte da África (Tripoli)), que
aparentemente foi afetado por estes eventos, foi intimado a ajudar.
A presente Via Dolorosa foi marcada no século 16 sendo a
rota na qual Cristo foi conduzido a Sua crucificação.(Magi) Quanto a
localização do Calvário, a verdadeira localização da Via Dolorosa é
disputada. Muita da tradição a respeito do que aconteceu a Jesus é
235
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
encontrada na Via Dolorosa hoje em dia. Há 14 estações de "eventos"
que ocorreram e 9 igrejas no caminho hoje em dia. As estações da
cruz foram estabelecidas em 1800. (Magi) Hoje em dia, há uma
seção no trajeto onde se pode andar nas pedras que foram usadas
durante a época de Jesus.
SOFRIMENTO NA CRUZ
Salmo 22:16-17: " Pois cães me rodeiam; um ajuntamento
de malfeitores me cerca; transpassaram-me as mãos e os pés. Posso
contar todos os meus ossos. Eles me olham e ficam a mirar-me."
O evento da crucificação é profetizado em diversos lugares
por todo o Velho Testamento. Um dos mais impressionantes é
narrado em Isaías 52:13, aonde ele diz que, "Eis que o meu servo
procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime."
Em João 3, Jesus fala sobre o cumprimento dessa profecia quando
Ele diz, "E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele
que nele crê tenha a vida eterna." Ele refere aos eventos narrado em
Números 21:6-9. O Senhor tinha mandado uma praga de serpentes
impetuosas no povo de Israel e morderam o povo de modo que
muitas pessoas morreram. Depois que o povo confessou seus pecados
a Moisés, o Senhor perdoou eles tendo feito uma serpente de bronze.
O bronze é um símbolo do julgamento e a serpente é um
símbolo da maldição. Quem quer que fosse mordido por uma
serpente e então olhasse a serpente de bronze, era salvo da morte.
Estes versos são profecias que apontam a crucificação, em que Jesus
seria (levantado) na cruz para julgamento do pecado, para que todo
aquele que nele crê não pereça, (a morte eterna) mas tenha a vida
eterna.II Cor 5 :21 Amplifica este ponto, nisso "Aquele que não
236
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que Nele fôssemos
feitos justiça de Deus."(Pink)
É interessante que o símbolo de Aesculapius que é o
símbolo da profissão médica hoje em dia, teve suas raízes da
fabricação da serpente de bronze.(Metherall) Certamente, Jesus é quem
cura a todos! Jesus é conduzido ao lugar da caveira (Latim: Calvário,
Aramaico: Golgota) para ser crucificado. A atual localização do
Calvário está também em disputa. No fim da Via Dolorosa, há uma
"T bifurcação ". Se virarmos a esquerda, nós iremos a Basílica do
Santo Sepulcro. Se virarmos para direita, nós iremos ao Calvário de
Gordon. A Basílica do Santo Sepulcro tem se acreditado por muito
tempo ser o local tradicional da crucificação.
Calvário de Gordon possivelmente tem uma razão profética
para ser o lugar da crucificação. Em Gênesis 22, Abraão é testado por
Deus para sacrificar Isaque no topo da montanha. Percebendo que ele
estava agindo fora da profecia, que "Deus proverá para si o Cordeiro",
Abraão chama o lugar do evento de "Jeová-Jiré", "No monte do
senhor se proverá." Se nós pegarmos isso como evento profético da
morte de Jesus, então Jesus morreu no terreno mais elevado de
Jerusalém. Calvário de Gordon é o ponto mais elevado de Jerusalém,
777 metros acima do nível do mar. (Missler: Map from Israel tour
book) Hoje em dia, no Calvário de Gordon, as cavernas na rocha
estão situadas de tal maneira que dão ao local a aparência de uma
caveira.
Jesus foi então crucificado. Crucificação era uma prática que
se originou com os Persas e foi mais tarde passado para os
Carthaginians e os fenícios. Os romanos aperfeiçoaram como um
método de execução o qual causava máxima dor e sofrimento em um
período de tempo. Aos crucificados incluíam escravos, provincianos e
os tipos mais baixos de criminosos. Cidadãos romanos, exceto talvez
237
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
para soldados que desertavam, não eram sujeitados a esse tratamento.
(McDowell)
O local da crucificação "era escolhido propositadamente
para ser fora dos muros da cidade porque a Lei proibia tais de ser
dentro dos muros da cidade... por razões sanitárias... o corpo
crucificado era as vezes deixado para apodrecer na cruz e servir como
uma desonra, um convincente aviso e dissuasivo para os que ali
passavam." (Johnson) Às vezes, o subordinado era comido quando
vivo e ainda na cruz por bestas selvagens. (Lipsius)
O Procedimento da crucificação pode ser resumido
conforme o seguinte. O patibulum era colocado sobre a terra e a
vitima colocada em cima dele. Os pregos, com aproximadamente 18
centímetros de comprimento e com 1 cm de diâmetro eram cravados
nos pulsos. Os pregos entrariam na proximidade do nervo mediano,
causando que choques de dor fosse irradiado por todo o braço. Era
possível colocar os pregos entre os ossos de modo que nenhuma
fratura (ou ossos quebrados) ocorressem. Estudos tem mostrado que
os pregos provavelmente estiveram cravados através dos ossos
pequenos do pulso, desde que pregos na palma da mão não
suportariam o peso de um corpo.
Em terminologia antiga, o pulso era considerado ser parte da
mão. (Davis) Posicionado no local da crucificação estariam postes em
pé, tendo aproximadamente 2.15 metros de altura.(Edwards) No
centro dos postes estava um ordinário assento, chamado sedile ou
sedulum, no qual servia como suporte para a vítima. O patibulum era
então levantado sobre os postes. Os pés eram então pregados aos
postes. Para permitir isto, os joelhos teriam que ser dobrados e
girados lateralmente, deixando numa posição muito desconfortável. O
titulo era pendurado sobre a cabeça da vitima.
238
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Havia diversos tipos diferentes de cruzes usadas nas
crucificações. Na época de Jesus, era mais provável que a cruz usada
fosse no formato de T (ou "tau" cruz,), não a popular cruz
no formato t a qual é aceita nos dias de hoje.(Lumpkin)
SOFRIMENTO FÍSICO NA CRUZ
Salmos 22:14-15: "Como água me derramei, e todos os
meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteuse
no meio das minhas entranhas. A minha força secou-se como um
caco e a língua se me pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte."
Tendo sofrido pelo espancamento e pelas chicotadas, Jesus
sofreu de severa hipovolemia pela perda de sangue. Os versos acima
descrevem Seu estado desidratado e a perda de Sua força.
Quando a cruz era erguida verticalmente, havia uma
tremenda tensão posta sobre os pulsos, braços e ombros, resultando
num deslocamento dos ombros e juntas dos cotovelos.(Metherall) Os
braços, sendo preso para cima e para fora, prendendo a caixa torácica
numa fixa posição final inspiratória na qual dificulta extremamente o
exalar, e impossibilitava ter completa inspiração do ar. A vítima
poderia apenas ter pequenas respiradas.(Isto talvez explique o porque
Jesus fez pequenas declarações enquanto estava na cruz). Enquanto o
tempo passava, os músculos, pela perda de sangue, falta de oxigênio e
posição fixa do corpo, passariam por severas cãibras e contrações
espasmódicas.
239
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
ABANDONADO POR DEUS -- MORTE
ESPIRITUAL
Mateus 27:46: "Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta
voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu,
por que me desamparaste?"
O que o Rei dos reis estava fazendo ali? Não é tão simples
assim responder. A cruz revela uma doutrina difícil e gloriosa: a
expiação. Cristo pagou o preço pelos nossos pecados. Cristo cobriu
os nossos pecados com seu sangue. Ele nos expiou, e isso deve ser
motivo de grande alegria, gratidão e temor. Wayne Grudem define
dessa maneira.
A expiação é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte
para obter nossa salvação. (Grudem, 2007, pag 271)
Mesmo que o ápice ou maior símbolo desta doutrina esteja
na cruz, é importante lembrar que a vida justa e sofrida de Jesus
também contribui de forma indispensável para nossa salvação.
Falaremos mais disso no próximo artigo. Sendo assim, aquela
pergunta continua: o que o Rei dos reis estava fazendo ali? Ou
melhor, não haveria outra pessoa ou outro jeito para nossa salvação?
Responderemos que não, mas antes precisamos dar uma olhada em
outros tipos de resposta.
240
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
22º A Morte de Cristo
“Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo
sofrer, e, embora o Senhor faça da vida dele uma oferta pela
culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do
Senhor prosperará em sua mão.” Isaías 53:10
QUE miríades de olhos estão lançando seus olhares para o
sol! Que multidão de homens levantou seus olhos e observou as
órbitas estelares do Céu! Elas são constantemente observadas por
milhares – mas existe uma grande transação na história do mundo a
qual merece todos os dias muito mais espectadores do que aquele sol
que sai como um noivo, forte para iniciar sua corrida. Há um evento
que atrai, todos os dias, muito mais admiração do que o sol, a lua e as
estrelas conseguem, quando marcham em seus percursos. Esse
evento é a morte do nosso Senhor Jesus Cristo – a isto os olhos de
todos os santos que viveramantes da era Cristã sempre estiveram
direcionados – e para trás, através dos milhares de anos de história,
os olhos de todos os santos olham para ela! Os anjos no Céu olham
constantemente para Cristo. “Coisas que até os anjos anseiam
observar,”(1 Pedro 1.12) disse o Apóstolo. Em Cristo os inumeráveis
olhares dos redimidos estão fixados. E milhares de peregrinos, por
esse mundo de lágrimas, não têm objeto melhor para sua fé, nem
desejo melhor para sua visão do que ver Cristo enquanto ele está no
Céu e em comunhão para observar a Sua Pessoa! Amados, teremos
muitos conosco enquanto, nesta manhã, voltarmos a nossa face para
o monte do Calvário. Não seremos espectadores solitários da
temerosa tragédia da morte do nosso Salvador. Nós devemos lançar
nossos olhares para o lugar que é o foco da alegria e do prazer do Céu
– a Cruz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!
241
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Tomando o nosso texto como guia, devemos visitar o
Calvário, esperando ter a ajuda do Espírito Santo enquanto olhamos
para Aquele que morreu na Cruz. Quero que vocês notem esta
manhã, antes de tudo, a causa da morte de Cristo – “foi da vontade
do Senhor esmagá-lo.” “Foi da vontade de Jeová esmagá-lo,” diz o
original. “E fazê-lo sofrer.” Em segundo lugar, a razão da morte de
Cristo – “O Senhor faça da vida dele uma oferta pelaculpa.” Cristo
morreu porque ele foi uma oferta pelo pecado. E depois, em terceiro
lugar, os efeitos e as consequências da morte de Cristo. “Ele verá sua
prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em
sua mão.” Venha, Espírito Sagrado, enquanto nós atentamos a falar
sobre estes temas incomparáveis!
I. PRIMEIRO, Nós temos aqui
A ORIGEM DA MORTE DE CRISTO.
“Contudo foi da vontade do Senhor esmagá- lo e fazê-lo
sofrer.” Aquele que lê a vida de Cristo como mera história, associa a
morte de Cristo com a inimizade dos judeus e com o caráter
inconstante do governador romano. Nisto ele age com justiça, pois a
morte e o pecado da morte de Cristo devem bater à porta da
humanidade.
Essa nossa corrida torna-se umdeicídio e matou o Senhor e
pregou o seu Senhor em um madeiro! Mas aquele que lê a Bíblia com
os olhos da fé – desejando descobrir os seus segredos – vê algo mais
na morte do Salvador do que a crueldade romana ou a malícia judaica.
Ele vê o decreto solene de Deus cumprido pelos homens, que foram
os ignorantes, mas instrumentos culpados de sua realização! Ele olha
para a lança e a haste romanas, para os insultos e zombarias dos
judeus, para a Fonte Sagrada, da qual todas as coisas fluem e traçam
242
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
a crucificação de Cristo ao peito da Deidade! Ele concorda com
Pedro – “Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e
pré- conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens
perversos, o mataram, pregando-o na cruz.” Não devemos imputar a
Deus o pecado, mas ao mesmo tempo o fato, como todos os seus
efeitos maravilhosos na redenção do mundo, de que nós devemos
sempre traçar para a Fonte Sagrada do Amor Divino. Como faz o
nosso Profeta. Ele disse, “foi da vontade de Jeová esmagá-lo.” Ele
despreza tanto Pilatos quanto Herodes, e traça para o Pai celestial, a
primeira pessoa na Divina Trindade - “Foi da vontade do Senhor
esmagá-lo e fazê-lo sofrer.”
Agora, Amados, há muitos que pensam que o Deus Pai não
é nada além de um espectador indiferente da salvação. Outros O
difamam ainda mais. Olham para Ele como um Ser sem amor,
severo, que não teve nenhum amor para com a humanidade e que só
poderia se tornar amável através da morte e das agonias de nosso
Salvador. Isso é uma difamação suja com a Graça justa e gloriosa do
Deus Pai, a quem devemos sempre dar honra – pois Jesus Cristo não
morreu para tornar Deus amável
– Ele morreu porque Deusera amável! –
“Não foi para fazer o amor de Jeová, Ao redor
de Seu povo arder, Que Jesus do Trono acima, Um
homem sofredor se tornou.
Não foi a morte que Ele suportou, Nem todas
as dores que Ele suportou, Que o amor eterno de Deus
procurou, Pois Deus era amor antes.”
243
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Cristo foi enviado ao mundo pelo Seu Pai com
consequência da afeição do Pai pelo seu povo. Sim, Ele “amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)
O fato é que o Pai decretou tanto a salvação, como tanto a efetuou, e
deleitou-se tanto nela quanto o fez o Deus Filho e o Deus Espírito
Santo! E quando nós falamos do Salvador do mundo, devemos
sempre incluir nessa palavra, se falarmos em sentido amplo, Deus Pai,
Deus Filho e Deus Espírito Santo – pois todos esses Três, como um
só Deus, nos salvam de nossos pecados!
O texto tira todo o pensamento pesado sobre o Pai ao dizer
que foi da vontade de Jeová esmagar Jesus Cristo. A morte de Cristo
leva ao Deus Pai! Vamos tentar ver isso.
1) Primeiramente, ela leva a um decreto. Deus, o
único Deus do Céu e da Terra, tem o Livro do Destino inteiramente
em Seu poder. Neste livro não há nada escrito pelas mãos de um
estranho. A caligrafia do solene Livro da Predestinação é, do começo
ao fim, inteiramente Divina.
“Acorrentado a Seu trono está um volume,Com
todos os destinos dos homens-Com todas as formas e
tamanhos de anjos Feitos pela pena eterna”
Nenhuma mão inferior esboçou sequer a mínima parte da
Providência. Ela foi toda, do seu Alpha, ao seu Ômega, do seu
prefácio Divino, ao seu final solene, marcada, projetada, esboçada e
planejada pela mente do Sábio, Onisciente Deus. Portanto, nem
mesmo a morte de Cristo está isenta disso! Aquele que levanta um
anjo e guia um pardal; Ele que impede que os nossos cabelos caiam
de nossas cabeças prematuramente, quando Ele se preocupa com
coisas tão pequenas, para omitir em Seus solenes decretos a maior
244
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
maravilha dos milagres da terra – a morte de Cristo! Não, a página
daquele Livro manchada de sangue, a página que faz tanto o passado
quanto o futuro serem gloriosos com palavras de ouro – essa página
manchada de sangue, eu digo - foi mais escrita por Jeová do que
por qualquer outro! Ele determinou que Cristo deveria nascer da
Virgem Maria, que Ele deveria sofrer sob Pôncio Pilatos, que Ele
deveria descer ao Hades, que da morte Ele deveria ressuscitar,
levando cativo o cativeiro e em seguida reinar para sempre à direita
da Majestade, nas alturas!
Não, eu não sei nada além de que terei a Escritura para a
minha justificação quando eu digo que essa é a verdadeira véspera da
Predestinação e que a morte de Cristo é o verdadeiro centro e a mola
principal pela qual Deus formou todos os Seus outros decretos –
fazendo disso a essência e a pedra fundamental sobre a qual a
arquitetura sagrada deveria ser construída! Cristo foi posto à morte
pelo decreto previsto e solene de Deus Pais, e neste sentido, “foi da
vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer.”
2) Mas um pouco mais adiante – a vinda de Cristo ao
mundo para morrer foi o efeito da vontade e do prazer do Pai. Cristo
não veio a este mundo por acaso. Ele se deitou no coração de Jeová
diante de todos os mundos, eternamente deleitando- Se em Seu Pai e
ser, Ele mesmo, a eterna alegria de Seu Pai. “Na plenitude dos
tempos” (Efésios 1.10) Deus tirou o Seu filho de Seu seio, o Seu
Filho unigênito, e livremente O enviou para nós. Este foi
incomparável, inigualável amor, - que o Juiz permitiu que o Seu
Filho sofresse as dores da morte para a redenção de um povo rebelde!
Eu quero a imaginação de vocês para criar uma cena dos tempos
antigos.
Há um Patriarca barbudo que acorda de manhã cedo e
acorda o seu filho, um jovem cheio de força, e ordena que ele levante
245
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
e o siga. Eles saem de casa sem fazer nenhum barulho, antes que a
mãe acorde. Eles partem numa jornada de três dias com os seus
homens até chegarem ao monte sobre o qual o Senhor havia falado.
Vocês conhecem o Patriarca. O nome de Abraão está sempre fresco
em nossa memória. No caminho, esse Patriarca não troca uma só
palavra com o seu filho. Seu coração está muito cheio para falar. Ele
está sobrecarregado pela tristeza. Deus havia mandado que ele
tomasse o seu filho, seu único filho, e mata-lo na montanha como um
sacrifício. Eles vão juntos. E quem pode imaginar a imensurável
angústia da alma desse pai, enquanto ele anda lado a lado com o seu
filho amado, de quem ele será o executor? O terceiro dia chegou. Os
servos são ordenados para ficar no sopé da montanha, enquanto eles
vão subindo para adorar a Deus.
Agora, pode alguma mente imaginar como o sofrimento
desse pai supera todas as margens de sua alma, quando, enquanto ele
subia, o seu filho disse, “As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está
o cordeiro para o holocausto?” Você pode imaginar como ele
sufocou suas emoções e, com soluços, exclamou, “Deus mesmo há
de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho”?
Vejam! O pai comunicou ao seu filho o fato de que Deus
demandara a sua vida! Isaque, que poderia ter lutado e escapado de
seu pai, declara que ele deseja morrer se Deu havia decretado isso. O
pai toma o seu filho, prende suas mãos atrás de suas costas, ajunta
as pedras, constrói um altar, deita a lenha e tem o seu fogo pronto. E
agora onde está o artista que pode pintar a angústia da contenção do
pai, quando a faca está desembainhada e ele a segura – pronto para
matar o seu filho?
Mas aqui a cortina cai. Agora a cena escura desaparece com
o som de uma Voz dos Céus! O carneiro preso nos arbustos serve
como substituto e a Obediência da fé não precisa ir mais longe. Ah,
246
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
meus Irmãos e Irmãs. Eu quero tirar vocês dessa cena e levar a uma
muito maior. O que a fé e a obediência fizeram o homem fazer, esse
amor obrigou Deus, Ele mesmo, a fazer! Ele tinha apenas um Filho,
aquele Filho que era o deleite de Seu próprio coração.
Ele convencionou a levar o Seu filho para a nossa redenção,
para que Ele não quebrasse a Sua promessa, pois quando a plenitude
dos tempos chegou, Ele enviou o Seu Filho para nascer da Virgem
Maria e sofrer pelos pecados dos homens! Oh, você pode imaginar a
grandeza desse amor, que fez o Deus eterno não apenas colocar o Seu
Filho sobre o altar, mas realmente cumprir o que estava escrito e
trespassar a faca sacrifical no coração de Seu Filho? Você pode pensar
em quão esmagador deve ter sido o amor de Deus para com a raça
humana quando Ele completou em ato o que Abraão fez apenas em
intenção? Olhe e veja o lugar onde o Seu único Filho morreu na Cruz
– a Vítima sangrenta da Justiça desperta! Isso é amor de fato! E aqui
nós vemos como foi da vontade do Pai esmagá-Lo.
3) Isso me permite pressionar meu texto mais um
passo adiante. Amados, não é apenas verdade que Deus tenha
projetado e permitido com complacência a morte de Cristo –é mais
verdade ainda que as imensuráveis agonias que vestiram a morte do
Salvador com terror sobre- humano foram o efeito do pugilismo do
Pai de Cristo de fato! Há um mártir na prisão – as correntes estão
em seus pulsos e ainda assim ele canta. Foi anunciado a ele que
amanhã será o dia da sua sentença. Ele bate as suas mãos alegremente
e sorri, enquanto diz, “Amanhã será o trabalho cortante. Irei me
alimentar sobre as tribulações de fogo, mas depois eu cearei com
Cristo! Amanhã é o dia do meu casamento, o dia pelo qual eu há
muito esperava – quando eu assinarei o testamento da minha vida por
uma morte gloriosa.”
247
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A hora chegou. O homem com as alabardas o precede pelas
ruas. Note a serenidade no semblante do mártir! Ele vira para alguns
que olham para ele e exclamam, “Eu valorizo estas correntes de ferro
muito mais do que se fossem de ouro! É maravilhoso morrer por
Cristo!”
Existem alguns dos santos mais ousados recolhidos ao
redor da estaca, e enquanto ele tira a suas vestes, antes de se colocar
em frente ao fogo para receber a sua sentença, ele os diz que é algo
tremendo ser um soldado de Cristo – poder dar o seu corpo para ser
queimado. E ele acena com as mãos para eles e diz “Adeus,” com
alegre satisfação! Alguém poderia pensar que ele estava indo para o
seu casamento, e não indo ser queimado. Ele fica diante do fogo.
A corrente é colocada em seu meio. E depois de uma breve
palavra de oração, assim que o fogo começa a ascender, ele fala com
as pessoas com audácia viril. Mas ouçam! Ele canta enquanto a
madeira estala e a fumaça sobe. Ele canta e quando suas partes baixas
estão queimadas, ele continua cantando docemente algum Salmo
antigo. “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre
presente na adversidade. Por isso não temeremos, embora a terra
trema e os montes afundem no coração do mar.”
Imaginem outra cena. Lá está o Salvador indo para a Sua
Cruz, totalmente fraco e abatido com o sofrimento. Sua alma está
doente e triste com Ele. Não há Calma Divina ali. Seu coração está
tão triste que Ele desmaia nas ruas. O Filho de Deus desmaia sob
uma Cruz que muitos criminosos devem ter carregado. Eles O
pregam na cruz. Não há nenhuma canção de louvor. Ele é erguido no
ar e lá Ele permanece suspenso, preparando-se para a Sua morte.
Você não ouve nenhum grito de exultação. Há uma compressão
severa em Sua face, como se uma agonia indizível estivesse
arrancando o Seu coração – como se mais uma vez o Getsêmani
248
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
estivesse acontecendo na Cruz – como se a Sua alma ainda dissesse,
“Meu Pai, se for possível, afasta de mim esta Cruz; contudo, não seja
como eu quero, mas sim como tu queres” (Mateus 26.39) Ouçam! Ele
fala. Ele não vai cantar as mais doces canções que já vieram dos
lábios do mártir? Ah, não – é um terrível gemido de desgraça que
jamais poderá ser imitado. “Meu Deus! Meu Deus! Por que me
abandonaste?” (Marcos 15.34) Os mártires não disseram que –
Deusestava com eles.
Antigos confessos não choraram tanto quando viram a
morrer. Eles gritaram enquanto queimavam e louvaram a Deus em
seu suplício. Por que isto? Por que o Salvador sofreu tanto? Por que,
Amados, porque foi da vontade do Pai esmagá-lo! Esse brilho da
Face de Deus que havia alegrado muitos santos a morrer foi tirado de
Cristo! A consciência da aceitação com
Deus, a qual havia feito muitos homens santos receberem a
Cruz com alegria – não foi concedida ao nosso Redentor e, portanto,
Ele sofreu em densa escuridão de agonia mental. Leia o Salmo 22 e
aprenda o quanto Jesus sofreu. Pausem nas solenes palavras do 1º, 2º,
6º e seguintes versículos. Sob a Igreja estão os braços eternos. Mas
sob Cristo não havia braço algum! A mão de Seu Pai colocou-se
pesadamente sobre Ele. As pedras superiores e inferiores da Ira
Divina O pressionaram e O esmagaram. E nem uma gota de alegria
ou consolação foi concedida a Ele. “Foi da vontade de Jeová esmagálo
e fazê-lo sofrer.” Isto, meus Irmãos e Irmãs, foi o clímax da aflição
do Salvador – que o Seu Pai virou-se Dele e O fez sofrer.
Assim eu expus a primeira parte do assunto – a origem
do pior sofrimento de nosso Salvador, o prazer do Pai.
II. Nosso segundo tópico deve explicar o primeiro, caso
contrário, seria um mistério insolúvel saber como Deus pôde fazer o
249
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Seu filho sofrer – o qual era perfeitamente Inocente – enquanto
pobres falhos confessos e mártires não tiveram tal sofrimento vindo
Dele no momento de suas tribulações.
QUAL FOI A RAZÃO DO SOFRIMENTO DO
SALVADOR?
A nós é dito aqui, “o Senhor faça da vida dele uma oferta
pela culpa.” Cristo foi assim perturbado porque a Sua alma foi uma
oferta pelo pecado. Agora eu serei o mais simples que eu conseguir
enquanto eu prego a preciosa Doutrina da Expiação de Cristo Jesus
nosso Senhor. Cristo foi uma Oferta pelo pecado, no sentido de ser
um Substituto. Deus queria salvar. Mas se tal palavra for permitida, a
Justiça atou Suas mãos. “Eu devo ser Justo,” disse Deus. “Essa é uma
necessidade da Minha Natureza. Firme como o destino e rápido
como a Imutabilidade é Verdade que eu devo ser Justo. Mas o Meu
coração deseja perdoar – para passar pelas transgressões dos homens
e perdoá-los. Como isso pode ser feito?”
A sabedoria chegou e disse, “Assim deverá ser feito.” E o
Amor concordou com a Sabedoria. “Cristo Jesus, o Filho de Deus,
deve ficar no lugar do homem e ser ofertado no Monte do Calvário
no lugar do homem.” Agora, notem – quando vocês veem Cristo
sendo lançado na Cruz de madeira, você vê toda a companhia de Seus
eleitos ali! E quando vocês veem os pregos cravados em Suas
benditas mãos e seus pés, é todo o corpo da Sua Igreja que está lá, no
seu Substituto, cravado na madeira! E agora os soldados levantam a
Cruz e a colocam no suporte preparado para isso.
Seus ossos estão, cada um deles, deslocados e Seu corpo está
tão despedaçado de agonias que não se pode nem descrever! Esse
homem sofrendo ali! Ali está a Igreja sofrendo no Substituto! E
250
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
quando Cristo morre, você deve olhar para a Sua morte não como a
Sua própria morte, mas como a morte de todos aqueles por quem Ele
foi o Bode expiatório e o Substituto! É verdade, Cristo realmente
morreu. É igualmente verdade que Ele não morreu por Si mesmo,
mas como o Substituto, no lugar de todos os crentes. Quando vocês
morrerem, vão morrer por si próprios. Quando Cristo morreu, Ele
morreu por vocês, se vocês são crentes Nele! Quando vocês passem
pelos portões da sepultura, vocês vão solitários e sozinhos. Vocês não
são representantes de um corpo de homens – vocês passam pelos
portões da morte como indivíduos – mas, lembrem, quando Cristo
passou pelos sofrimentos da morte, Ele foi a Cabeça representativa de
todo o Seu povo!
Entendam, então, o significado no qual Cristo foi feito
Sacrifício pelo pecado. E aqui está a glória dessa questão – foi como
um Substituto pelo pecado que Ele realmente e literalmente sofreu a
punição pelos pecados de todos os Seus eleitos! Quando eu digo isto,
eu não estou usando uma figura de linguagem ou algo do tipo, mas eu
realmente quero dizer isto. O homem, pelos seus pecados, foi
condenado ao fogo eterno.
Quando Deus tomou Cristo para ser o Substituto, é
verdade, Ele não enviou Cristo ao fogo eterno, mas derramou dor
sobre Ele uma dor tão desesperadora que foi um pagamento válido
até para uma eternidade em chamas! O homem foi condenado a
viver para sempre no Inferno. Deus não enviou Cristo para ficar no
Inferno para sempre. Mas Ele colocou em Cristo uma punição que
foi equivalente a isso. Embora Ele não tenha dado a Cristo o
verdadeiro Inferno dos crentes, deu a Ele uma retribuição igual –
algo que foi equivalente a isso! Ele tomou a taça da agonia de Cristo
e colocou nela – sofrimento, miséria e angústia – tais que só Deus
pode imaginar ou sonhar a respeito, que foram o equivalente a todo
o sofrimento, toda a aflição e todas as torturas eternas de todos que
251
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
devem ir ao Céu, comprados pelo sangue de Cristo! E você pergunta,
“Cristo bebeu tudo isso por sua escória? Ele sofreu tanto assim?”
Sim, meus Irmãos e Irmãs, Ele tomou o cálice e
“Em um triunfante gole de amor, Ele bebeu
toda a condenação.”
Ele sofreu todos os horrores do Inferno uma saraivada de
ferro caiu sobre ele com granizos maiores do que qualquer
capacidade. Ele permaneceu até que a nuvem negra esvaziasse
completamente. Ali estava a nossa dívida, gigante e imensa. Ele pagou
até o último centavo de qualquer coisa que o Seu povo devia! E agora
não há mais nenhum centavo devido à Justiça de Deus no caminho da
punição de qualquer cristão! E embora nós devamos gratidão a Deus,
embora devamos muito ao Seu amor– nós não devemosnada a
Sua Justiça, pois Cristo, naquela hora, tomou todos os nossos
pecados – passado, presente e porvir e foi punido por todos eles –
não devemos jamais ser punidos porque Ele sofreu no nosso lugar!
Vocês conseguem ver, agora, como foi que o Deus Pai O esmagou?
Se ele não tivesse feito isso, as agonias de Cristo não
poderiam ser um equivalente aos nossos sofrimentos. O Inferno
consiste na ocultação da face de Deus dos pecadores e se Deus não
tivesse escondido a Sua face de Cristo, Cristo não poderia – eu não
vejo como Ele poderia – ter suportado qualquer sofrimento que
poderia ter sido aceito como equivalente às aflições e agonias de Seu
povo!
Eu acho que ouvi alguém dizer, “Você quer que nós
entendamos esta Expiação que você nos pregou agora como um fato
literal? Eu digo, mais que solenemente, que sim! Existem no mundo
várias teorias sobre a expiação – mas eu não consigo ver em nenhuma
delas alguma Expiação, a não ser nessa Doutrina da Substituição.
252
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Muitos teólogos dizem que Cristo fez algo quando morreu, que
permitiu que Deus fosse justo e ainda Justificador dos ímpios. O
que foi esse algo eles não dizem para nós. Eles acreditam numa
expiação feita para todos. Mas, no fim, a expiação deles é apenas isto
– eles acreditam que Judas foi tão reparado quando Pedro – eles
acreditam que os condenados no Inferno foram um objeto da
satisfação de Jesus Cristo tanto quanto os salvos no Céu! E embora
eles não digam isso com todas as palavras, eles ainda querem dizer
isto – pois isto é uma inferência justa, que, no caso das multidões,
Cristo morreu em vão – pois
Ele morreu por todos, eles dizem. E foi tão sem efeito a Sua
morte por eles, que embora Ele tenha morrido por eles, eles serão
todos condenados depois! Agora, tal expiação, eu desprezo – eu
rejeito! Posso ser chamado de Contra a Lei, ou Calvinista por pregar
uma Expiação Limitada, mas eu prefiro acreditar numa Expiação
Limitada que é eficaz para todos a quem ela foi destinada, a acreditar
numa expiação universal que não é eficaz para ninguém, a não ser que
a vontade do homem esteja de acordo com ela! Porque, meus Irmãos
e Irmãs, se nós fôssemos salvos apenas para que através da morte de
Cristo qualquer um de nós pudesse se salvar depois, a Expiação de
Cristo não valeria um centavo, pois não há nenhum dentre nós que
possa se salvar – não, ninguém no Evangelho! Se eu serei salvo pela
fé – se essa fé for o meu próprio ato, sem a assistência do Espírito
Santo, - eu serei tão incapaz de me salvar pela fé quanto de me salvar
pelas boas obras! E depois de tudo, embora os homens chamem isto
de Expiação Limitada, isto é tão eficaz quanto as suas redenções
falaciosas e apodrecidas pretendem ser! Mas vocês conhecem o limite
dela? Cristo comprou uma“multidão que homem nenhum pode
contar.” O seu limite é apenas esse –Ele morreu por pecadores.
Qualquer um nesta congregação que se reconhece,
interiormente e tristemente, como um pecador, Cristo morreu por
253
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
ele! Qualquer um que deseja Cristo deve saber que Cristo morreu por
ele! Nosso senso de necessidade de Cristo e nossa busca por Cristo
são provas infalíveis de que Cristo morreu por nós! E notem, aqui
está algo substancial – os Armínianos dizem que Cristo morreu por
eles. E depois, pobres homens, eles não têm nada além de um
pequeno consolo, pois eles dizem, “Ah, Cristo morreu por mim –
isso não prova muita coisa. Isso apenas prova que eu serei salvo se
me importar com o que serei depois. Eu posso, talvez, me esquecer
de mim. Talvez eu corra para o pecado e pereça. Cristo fez um bom
negócio por mim mas não o bastante – a não ser que eu faça algo.”
Mas o homem que recebe a Bíblia como ela é, diz, “Cristo
morreu por mim, então a minha vida eterna está garantida! Eu sei,”
ele diz, “que Cristo não pode ser punido no lugar de um homem e o
homem ser punido depois disso. Não,” ele diz, “eu creio em um
Deus justo, e se Deus é Justo, Ele não vai punir Cristo
primeiro, e depois punir os homens. Não – o meu Salvador morreu e
agora eu estou livre de qualquer exigência da vingança de Deus e
posso caminhar por esse mundo em segurança. Nenhum raio pode
me atingir, e eu posso morrer absolutamente certo de que para mim
não haverá fogo nenhum do Inferno, pois Cristo, meu Resgate,
sofreu em meu lugar, e, portanto, eu estou liberto!” Oh, Doutrina
Gloriosa! Eu gostaria de morrer pregando isso! Que melhor
testemunho podemos carregar com o amor e a fidelidade de Deus, do
que o testemunho de um Substituto eminentemente satisfatório para
todos os que creem em Cristo?
Eu vou citar aqui o testemunho desse profundo teólogo, Dr.
John Owen – “A Redenção é o livramento de um homem da miséria
através da intervenção de um libertador. Agora, quando um libertador
é pago para salvar um prisioneiro, a justiça não demanda que ele deve
ter e aproveitar a liberdade comprada por ele com uma consideração
254
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
valiosa? Se eu pudesse pagar mil libras pela liberdade de um homem
da escravidão para aquele que o detém – quem tem o poder de
libertá-lo e está contente com o preço que eu dei – não seria injusto
para mim e para o pobre prisioneiro que a sua libertação não fosse
concretizada? Pode, possivelmente, ser concebida a ideia de que
existisse uma redenção aos homens, e os homens não fossem
redimidos? Que um preço fosse pago e a compra não fosse
consumada? Além disso tudo, ainda haveria verdadeiros e
inumeráveis absurdos, se a redenção universal fosse aceita. Um preço
é pago por todos, porém apenas alguns são libertos.
A redenção de todos consumada, e ainda assim só alguns
são redimidos? O juiz satisfeito, o carcereiro dominado, e os
prisioneiros ainda na prisão? Sem dúvida,redenção‟ „universal‟, onde
grande parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis quanto
„Romano‟ e „Católico.‟ Se há uma redenção universal, então todos
os homens estão redimidos! Se eles estão redimidos, então eles estão
livres de toda a miséria, virtual ou realmente, onde quer que
tenham sido aprisionados, e isso pela intervenção de um libertador.
Por que, então, não são todos salvos? Em uma palavra – a redenção
feita por Cristo, sendo a libertação completa das pessoas de toda a
miséria, em que foram enlaçadas, pelo preço do Seu sangue – não
pode ser concebida comouniversal, a não ser que todos sejam salvos!
Então a opinião dos Universalistas não serve para a redenção.”
Eu paro mais uma vez, pois eu ouço uma alma tímida dizer
– “Mas, Senhor, eu tenho medo de não ser um eleito e, se assim for,
Cristo não morreu por mim.” Pare, Senhor! Você é um pecador?
Você sente isso? O Espírito Santo de Deus fez você se sentir um
pecador perdido? Você precisa da salvação? Se você não precisa dela,
não há dúvidas de que ela não foi prometida para você. Mas se você
realmente sente que precisa dela, você é eleito de Deus! Se você tem
o desejo de ser salvo, um desejo dado a você através do Espírito
255
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Santo, esse desejo é um sinal para o bem. Se você tem orado
verdadeiramente pela salvação, você tem aí uma clara evidência de
que você é salvo! Cristo foi punido por você. E se você sabe disso,
você pode dizer
“Nada em minhas mãos eu trago
Simplesmente à Tua Cruz eu me apego”
Você deve ter tanta certeza de que é eleito de Deus quanto
tem de sua própria existência! Esta é a prova Infalível da Eleição –
um senso de necessidade e uma sede de Cristo!
III. E agora eu tenho apenas que concluir
considerando os BENDITOS EFEITOS da morte do Salvador.
Nisto eu serei breve.
O primeiro efeito da morte do Salvador é, “ele verá sua
descendência.” Os homens serão salvos por Cristo. Os homens têm
uma descendência pela vida. Cristo tem uma descendência pela morte!
Homens morrem e deixam seus filhos e não veem a sua
descendência. Cristo vive e todos os dias vê a sua descendência posta
na unidade da fé! Um efeito da morte de Cristo é a salvação de
multidões. Notem – não é uma salvação de chance. Quando Cristo
morreu, o anjo não disse, como alguns o tem representado, “Agora
pela Sua morte, muitos deverão ser salvos.” A palavra da profecia
extinguiu todos os “mas” e “talvez”.
“Pela Sua justiça, muitos serão justificados.” Não havia nem
um átomo de chance na morte do Salvador! Cristo sabia o que estava
comprando quando morreu – e o que Ele comprou, Ele terá – nada
mais, nada menos! Não efeito na morte de Cristo propensa a um
“talvez”. O “será” fez logo a Aliança! A morte sangrenta de Cristo
256
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
iráefetuar o seu propósito solene. Cada herdeiro da Graça Divina irá
encontrar no Trono
“Irá bendizer as maravilhas de Sua Graça, E
tornar as Suas glórias conhecidas.”
O segundo efeito da morte de Cristo é, “Ele prolongará seus
dias.” Sim, bendito seja o Seu nome, quando Ele morreu, Ele não
acabou com a Sua vida! Ele não poderia ser como um prisioneiro no
túmulo. O terceiro dia chegou e o Conquistador, levantando de Seu
sono, desatou os grilhões da morte e saiu de Sua prisão, para não
mais morrer. Ele esperou os Seus 40 dias e depois com hinos
sagrados, Ele “levou cativo o cativeiro e subiu ao alto.” “Pois, quanto
a ter morrido, morreu de uma vez para o pecado; mas, quanto a viver,
vive para Deus,” (Romanos 6.10) para não mais morrer –
“Agora ao lado de Seu Pai Ele assenta, E ali triunfante
reina,”
O vencedor sobre a morte e o Inferno!
E, por fim, pela morte de Cristo o prazer do Pai foi efetuado
e próspero. O prazer de Deus é que este mundo será um dia
totalmente redimido do pecado. O prazer de Deus é que este pobre
planeta, há tanto tempo mergulhado em escuridão, irá em breve
brilhar como um sol nascente. A morte de Cristo fez isso! O ribeiro
que fluiu ao Seu lado no Calvário limpará o mundo de toda a sua
escuridão. Essa hora de escuridão no meio do dia foi o nascer de um
novo sol de justiça que nunca cessará de brilhar sobre a Terra. Sim,
está chegando a hora em que espadas e lanças serão coisas esquecidas
– quando as armaduras da guerra e o esplendor da pompa serão todos
257
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
deixados de lado para alimentar as minhocas ou para contemplação
dos curiosos.
É próxima a hora em que a antiga Roma tremerá sobre suas
sete colinas! Quando o emblema de Maomé não mais será reduzido à
cera – quando todos os deuses dos pagãos perderão os seus tronos e
serão atirados às toupeiras e aos morcegos! E depois, do Equador aos
Polos, Cristo será honrado, o Senhor supremo da Terra, de terra a
terra, do rio até o fim do mundo! Um Rei irá reinar, um grito será
levantado, “Aleluia, aleluia, o Senhor Deus Onipotente reina!” Então,
meus Irmãos e Irmãs, será visto o que a morte de Cristo realizou, pois
“a vontade do Senhor prosperará em sua mão.”
A COMPREENSÃO DA MORTE DE JESUS NA
IGREJA PRIMITIVA
A morte de Jesus, no Novo Testamento, é interpretada de
muitas maneiras. Os diversos personagens, no Novo Testamento, que
falam da morte de Jesus têm visões diferentes. A interpretação
diverge de acordo com o ambiente, o contexto e o tempo. A
compreensão mais comum é a de que Jesus morreu pelos nossos
pecados (Mc 10,45; Gl 1,4). Porém, esta é uma teologia pós-pascal e
bastante desenvolvida. Veremos, no entanto, que existem outras
formas de entender a morte de Jesus.
1 – O dilema da morte de Jesus
Peter Stuhlmacher julga que a teologia sobre a morte de
Jesus como resgate dos pecadores (Mc 10,45; Lc 22,20) venha
diretamente da boca de Jesus histórico. O mesmo teólogo supõe que
258
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Jesus entendia sua morte à luz do Antigo Testamento e que os
discípulos apenas lembraram as palavras do mestre depois da
ressurreição.
“Os passos dos evangelhos e das cartas que falam da morte
vicária de Jesus e de sua obra expiatória são incontestavelmente
anteriores a todo trabalho de explicação teológica e constituem o
critério a respeito do qual podemos e devemos examinar em sua
conformidade as ex- pressões da Escritura sobre a morte de
Jesus”.No entanto, esta teoria não parece exeqüível. R. Bultmann
julga ser a teologia do resgate um trabalho das comunidades póspascais
ou mesmo do redator final. Os primeiros discípulos não
entenderam a morte de Jesus. Fugiram. Sua fé entra em crise.
Consideraram tudo perdido. Voltaram à Galiléia, isto é, à antiga
atividade (Jo 21,1-4; Lc 24,13ss).
Este abandono de Jerusalém significa que tinham desistido
da causa de Jesus e de sua esperança. A morte provocou uma terrível
crise no discipulado. No en- tanto, esta derrota do Messias foi o
desafio que reverteu a postura dos discípulos e despertou uma nova
compreensão dos fatos. O judaísmo não esperava a morte do seu
esperado messias. No Targum, chegou- se até a apagar as referências
ao sofrimento do Servo de Is 53, por isto os discípulos Também não
conseguiram entender tal aconteci- mento.
“Os discípulos de Jesus não poderiam estar preparados para
esta morte a partir das tradições religiosas nas quais viviam, pois um
messias sofredor ou até um que morresse para a salvação do mundo
não estava previsto no Antigo Testamento nem na expectativa judaica
contemporânea. Certamente havia a expectativa para um messias, mas
este era um messias político e nacionalista, que libertaria Israel do
jugo da dominação estrangeira”.
259
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Devido a esta perspectiva, da qual os discípulos também
participavam, e diante do inevitável e absurdo fracasso da cruz, a
primeira comunidade cristã fez um esforço para provar que o
sofrimento de Jesus estava previsto nas Escrituras. Assim recorrem a
Is 43,3b-4; 53,10-12, etc. para explicar o que aconteceu ao seu mestre.
A experiência do ressuscitado trouxe aos discípulos nova luz e força
para fundamentar sua fé. “A ressurreição de Jesus lhes assegura: de
fato é ele mesmo! É ele mesmo o salvador espera- do e dado por
Deus, a despeito de toda rejeição e condenação e até mesmo dessa
morte injuriosa”.
Professando a ressurreição, os discípulos interpretam a
morte de seu mestre, não como um fracasso, mas de acordo com os
desígnios de Deus. Para isto valem-se de uma cosmovisão do
judaísmo sobre o resgate e sobre a expiação vicária. No entanto, nem
todos os discípulos tiveram a possibilidade de entender a morte de
Jesus assim. Alguns apelaram para evasivas, negando a realidade
material de Jesus (gnose, docetismo, etc.).
Desta forma se evitava confrontar o escândalo da cruz com
a realidade. Outros não apelaram para estes subterfúgios, mas
deixaram a morte de Jesus sem sentido. Muitos textos dos Atos dos
Apóstolos apenas vêem na morte de Jesus um acontecimento do
passado, corrigido por Deus pela ressurreição (At 2,23-24; 3,13ss;
4,10; 5,30; 10,39; 13,27ss). Também em Lc 24,26 a morte de Jesus é
apenas um estágio passageiro, mas não parece ter significado para o
presente. E mesmo a versão lucana de Mc 10, 45 que se encontra em
Lc 22,24- 27 não fala da morte de Jesus como resgate.
“Chama a atenção a pouca importância da morte de Jesus
em alguns hinos cristãos antigos, os quais pelo visto só estavam
interessados na preexistência, encarnação e exaltação de Cristo para a
glória. No hino de seis linhas de 1Tm 3,16, que aborda desde a
encarnação até a exalta- ção de Cristo, a sua morte nem mesmo é
mencionada”.
260
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Os hinos cristológicos de Fl 2,6-11 e Cl 1,15-20 a morte de
Jesus não tem um peso significativo.Apenas é citada, e isto,
provavelmente é um acréscimo do redator final. Simplesmente nestes
hinos a morte de Jesus é um fato constatado, mas sem mai- or
importância para a vida da comunidade de fé. A morte de Jesus era
um aconteci- mento sem significado específico. O texto de Rm 10,9,
visto como uma forma antiga, apenas destaca a ressurreição. Outro
fato que chama a atenção é que os ditos ou sentenças da fonte Q, não
contêm a história da paixão e da morte, nem tampouco alguma
interpretação soteriológica da morte de Jesus.
Os adversários de Paulo parecem também ter esquecido a
cruz de Cristo (2Cor11,4s; 13,3s; Fl 3,10ss; 1Cor 1,18ss). Só queriam
anunciar o maravilhoso em Jesus. Talvez o mesmo se possa constatar
nos cristãos da comunidade de Marcos. Eles igualmente estavam
pouco inclinados a olhar ao Jesus da cruz. Por isto mesmo o evangelista
insiste tanto na cruz de Jesus (Mc 8,31; 9,31; 10,32-34). Havia,
nos primeiros anos do cristianismo, cristãos, para os quais, a morte de
Jesus não era o centro de seu pensamento teológico. Estes grupos, ao
que parece, acabaram na marginalidade, ou mesmo na heresia ou no
cisma.
Em Lucas a paixão não tem o sentido soteriológico como
em Marcos e principalmente em Paulo. O evangelho Lucas aponta
para o tradicional chavão: “É necessário (Lc 9,22; 13,33; 17,25;
24,7.26.44-46). O mesmo se constata em At 1, 16; 3,18; 4,12; 13,27;
17,3). Em At 4,12 se diz que só há salvação em Jesus, mas não se
relaciona esta salvação à sua morte. Para Lucas há um plano
histórico salvífico, dentro do qual a morte é apenas uma faceta, ao
lado de tantas outras. Jamais em Lucas e nos Atos dos Apóstolos,
com exceção de Lc 22,19-20 e At 20,28 se encontra alguma referência
soteriológica sobre a morte de Jesus. A idéia da expiação é estranha,
tanto ao evangelho quanto aos Atos dos Apóstolos. Antes se valoriza
261
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
a idéia da ressurreição e da exaltação (At 2,33-34.36; 5,31). O
exaltado, e não o morto, oferece o perdão (Lc2,47; At 2,38; 3,19ss;
5,31).
“A morte de Jesus como evento é um acontecimento
passado. Todavia, a ressurreição, apesar de citada como evento
passado, é claramente descrita em termos de seus efeitos presentes
en- tre aqueles que crêem”.
Para Lucas, o que conta é a ressurreição, não a morte.
Mesmo ao descrever a morte com traços vivos, destacando a
inocência de Jesus, seu caráter martirial, Lucas não lhe dá o sentido
soteriológico. Se de fato Lucas é um grego, então se pode ver nisto
um motivo para não apelar para a morte expiatória e vicária, pois esta
era teologia judaica. No contexto grego de Lucas é muito mais
importante ressaltar a ressurreição, pois a morte para os gregos é
loucura (1Cor 1,23).
Da mesma forma o evangelista João, em alguns casos,
empalidece a morte de Jesus. A morte é vista como a glorificação de
Jesus (12,31; 13,31-32; 17,1-5) e não parece que haja um sentido
salvífico nesta morte. Pelo menos em alguns textos, a morte é o
retorno exitoso de Jesus ao Pai. O Jesus pintado no quarto evangelho
não é tanto o sofredor como o de Marcos. Antes, ele é majestoso até
na hora da prisão. Seus algozes caem por terra e mesmo diante de
Anás e de Caifás Jesus parece verdadeiro soberano. A justificação
parece mais ser fruto da adesão a Jesus, de sua encarnação, do que
fruto de sua morte.
Em João ideias assim expressas:
“A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus
único e verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
Desta forma, para ter a remissão, basta conhecer o Pai e também o
262
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Filho, não se necessita de morte. Por sua vez o redator da primeira
carta de Pedro,tem forte a noção da teologia do resgate.Ele
apresenta Jesus como o cordeiro imolado (1Pd 1,18-19), que foi
morto para expiar pecados (1Pd 3,18). Também 1Pd 2,22-25 se refere
a este tema e se relaciona com Is 53. Cristo, no madeiro, levou os
pecados da humanidade.“Ele que em seu próprio corpo carregou
nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que, mortos para os nossos
pecados, vivamos para a justiça; ele, cujas chagas vos curaram” (1Pd
2,24-25). Este tema perpassa a primeira epístola de Pedro, pois ainda
em 3,19s e em 4,6 se alude à morte de Jesus como sendo fato
expiatório.Jesus, morto, vai aos infernos para resgatar os condenados.
Do que foi visto neste item, pode-se contradizer
Stuhlmacher. Se Jesus de fato tivesse entendido sua morte como
expiatória e vicária, seria difícil imaginar que os primeiros cristãos
nem sempre entenderam a morte de Jesus assim. Conclui-se aqui
que, devido à necessidade diante de um aparente fracasso na cruz, os
discípulos que experimentaram o ressuscitado tiveram que reler a
pessoa de Jesus à luz do Antigo Testamento. Assim chegaram, num
processo lento, que em alguns centros avançava mais, à teologia do
resgate e da expiação vicária.
2 – As interpretações da morte de Jesus
Na comunidade eclesial antiga, a morte de Jesus é um
escândalo. Ela é loucura para gregos e maldição para os judeus (1Cor
1,22ss). Portanto, a morte de Jesus é um fato vergonhoso e
lamentável para a igreja. Assim, um dos querigmas mais antigos,
expresso em 1Cor 15,3 diz que Cristo morreu pelos pecados dos
homens, segundo as escrituras. Desta forma, na Igreja primitiva, entre
as muitas possíveis interpretações da morte de Jesus, surge a
interpretação expiatória e vicária com base em Is 43,3b-4 e 53,10-12.
263
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Neste processo tem grande participação, o apóstolo Paulo,
bem como o redator de Hebreus. Nestes dois autores a teologia do
resgate é freqüente. Porém, antes de se chegar a esta teologia, muitas
outras interpretações marcaram as comunidades cristãs, que, aos
poucos se tornaram insuficientes e pediram teologias mais
desenvolvi- das.
a) A morte de Jesus como ato
necessário de Deus:
Diversos textos de Atos dos Apóstolos, de Marcos, de Lucas
e mesmo Paulo apontam para o fato de a morte e a ressurreição
terem sido acontecimentos necessários diante de Deus. Parece que
tudo estava determinado (At 2,23ss; 4,10; 5,30; 10,39-40; 13,27ss.). “É
Necessário que o Filho do Homem sofra” (Mc 8,31; Lc 17,25). “Será
entregue (Mc 9,31; 10,33; 14,21.41). “É necessário” (Jo3,14; 12,34;
20,8). Esta interpretação é uma tradição muito antiga. Reflete uma
necessidade divina e não uma necessidade ética.Também não se pensa
num fatalismo grego de um destino predeterminado, mas a idéia se
move no apocaliptismo, onde se verifica um misterioso “é
necessário” dos acontecimentos como se encontra em Dn 2,28:
(Mc:13,7.10; Ap 1,1; 4,1; 22,6).
Assim se dirá que a morte de Jesus se dá de acordo com as
Escrituras (1Cor 15,3; Mc 14,21.49; Mt 26,54).
justo:
b) A morte de Jesus como sofrimento do
Se era necessário que Jesus sofresse a morte, cabe uma
questão: por que o Pai exigiu tal sacrifício? Já no Antigo Testamento
existe a tradição sobre o justo que sofre. Encontra-se eco para tal
tradição nos Sl 2; 5; 22; 31; 34; 37; 69; 140. “O piedoso confia em
264
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Deus; justamente por isto ele é escarnecido pelos inimigos; após ser
reabilitado por Deus, ele oferece seu louvor”.Ao longo da história,
no judaísmo, o escândalo do sofrimento do justo experimentado
pelos piedosos desenvolveu uma mística do sofrimento (Jó e no
apocaliptismo tardio).Nesta espiritualidade o justo sofredor é
consolado e confortado por Javé. Tal tradição veterotestamentária
influenciou as comunidades cristãs primitivas a elucidar o escândalo
da cruz. Isto se constata pela presença dos salmos de sofrimento
presentes no relato da paixão. Mc 15,24 tem como pano de fundo o
Sl 22,19; Já Mc 15,29 se refere ao Sl 22,8; Enquanto que Mc 15,34 se
reporta ao Sl 22,2, etc. Assim, Jesus, o justo, devia sofrer, pois esta é a
sorte dos justos.
c) A morte de Jesus como destino do profeta:
Alguns dos profetas no Antigo Testamento tiveram sorte
pouco edificante, sendo perseguidos e até assassinados. Havia uma
tradição deuteronomista que influenciou o cristianismo primitivo e
esta dizia que Israel, desde o princípio não ouviu os profetas, os
perseguiu e os matou (Mt 5,12; 23,37; Lc 11,49-51). Também o
destino de Jesus foi lido nesta perspectiva, como o profeta rejeitado e
perseguido até a morte (Mt 12,1-12; Lc 13,33; At 7,52). Além de
apresentar Jesus como profeta, se interpreta sua morte. Ele é o
autêntico profeta que vai até a morte.
d) Morte de Jesus como expiação vicária:
A interpretação da morte de Jesus como expiação vicária
pelos pecados é uma fase teológica das mais desenvolvidas do Novo
Testamento e obteve alcance mais amplo e duradouro. É também a
interpretação mais difundida. No Novo Testamento aparece mais de
50 vezes. Os conceitos usados para expressar esta vicariedade variam,
mas sempre apresentam idéia semelhante. Em 1Jo 2,2 e 4,10
265
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
encontram-se os termos - expiação e - expiar. Paulo usa - por (Rm
5,8; 2Cor 5,21, etc).
Ou ainda - entrega por (Rm 8,32; Gl 1,4), bem como - por
(1Cor 8,11; Rm 14,15). O evangelista João traz o termo grego -
morrer por (Jo 11,51; 18,14). Também Paulo usa este termo em Rm
5,5.8. Mateus e Pedro fazem uso de - por (Mt 26,28; 1Pd 3,18),
enquanto que Marcos usa - por (Mc 10,45; Mt 20,24). Porém, a
preposição é a mais usada no Novo Testamento para designar a
morte de Jesus. Pode ter o sentido de “por”, “em favor de”, “em
benefício de”, “em lugar de”, “em vez de”, “porque”, “por causa
de”.
Há, ainda muitos textos no Novo Testamento onde não
aparece uma palavra para designar a expiação, mas onde ela é
pressuposta, principalmente quando se fala do efeito salvífico do
sangue de Jesus ( Rm 3,25; Hb 9,12.14; 1Pd1,2; 1Jo 1,7, etc.
“Portanto, a morte de Cristo é entendida aqui claramente como
sacrifício expiatório e isso então é vinculado com a ideia de resgate”.
Logo, os primeiros cristãos entendem a morte de Jesus como
expiação vicária, a partir de sua experiência, mas somente depois de
um estado avançado de desenvolvimento teológico, e isto, a partir de
uma cosmovisão veterotestamentária, principalmente a partir do
judaísmo helenista dos últimos séculos do Antigo Testamento e do
primeiro século do Novo Testamento.
e) A morte de Jesus como resgate:
Em certos textos do Novo Testamento a morte de Jesus é
interpretada como o preço do resgate, a importância paga para
adquirir a liberdade dos cativos.
266
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Os termos gregos usados neste sentido, são:
1. Resgatar, redimir (Gl 3,13; 4,5).
2. Comprar (1Cor 6,19-20; 7,22; Ap 5,9-10; 14,3-4).
3. Comprar a liberdade (Tt 2,14; 1Pd 1,18-19).
4. Resgate de escravo (Mc 10,45; M 20,24).
5. Resgate (1Tm 2,6).
6. Adquirir (At 20,28).
Na realidade a idéia de resgate é confundida com a de
expiação, e isto se verifica em Gl 3,13; 4,5; Tt 2,14.
Porém, há uma diferença. Expiação vicária significa
eliminação do pecado diante de Deus. Enquanto que resgate significa
libertação de uma pessoa de escravidão. Resgate resulta em troca de
senho- rio, ou seja, o cristão resgatado por Jesus já não é mais escravo
dos poderes da morte, mas pertence a Jesus. (1Cor 7,22).
Esta metáfora retoma uma imagem do mundo da
escravidão. “O mérito desta interpretação consiste no fato de que
aqui o fruto da morte de Cristo é caracterizado claramente como
libertação do ser humano da escravidão dos poderes demoníacos que
dominavam a sua vida pregressa”. Isto não implica necessariamente
entender o resgate no sentido de uma libertação da condenação do
inferno. Resgate, neste sentido, é a libertação dos poderes
demoníacos, ou seja, das falsas ideologias que dominam o ser
humano quando ele está longe da verdade do evangelho.
f) A morte de Jesus como morte da qual
participam os humanos:
Paulo interpreta a morte de Jesus como acontecimento que
marca o fim de uma etapa e o início de outra. Neste sentido, o cristão
267
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
participa da morte de Jesus, para ressuscitar com ele e viver vida
nova, ou ser nova criatura, quando então, já não é mais o próprio
Paulo quem vive, mas Cristo que vive nele. O batismo seria então a
sepultura com Cristo e a ressurreição para a nova vida (Rm 6,1-11). A
passagem de morte com Cristo para uma nova vida está atestada
também em Rm 7,4; Gl 2,19; 5,24, etc. Esta noção é mais a-
brangente do que a morte expiatória e a vicária. Na visão da morte
expiatória é só a morte de Jesus que salva. Aqui é a morte e a
ressurreição que são salvíficas, pois o cristão morre e ressuscita com
Cristo. Na visão da morte vicária Jesus morre no lugar do ser
humano. Aqui ele morre junto para com ele ressuscitar.
g) A morte de Jesus como vitória sobre os
poderes da morte:
A ideia de descer ao Hades e lutar com a morte era uma
ideia bem conhecida no oriente e no ocidente. Faz parte da mitologia
de muitos povos que a aplicavam aos seus heróis. Esta idéia penetrou
no judaísmo tardio (Is 25,8; 4Ed 7,31, etc.) e dali passou para o
Novo Testamento.
Nesta mesma perspectiva, também Cristo tem vencido os
poderes da perdição (pecado). Ele conquistou a salvação descendo ao
reino dos mortos, libertando os que aí estavam presos. Na literatura
apócrifa tal mito é bem descrito. Os Atos de Tomé representam a
ida de Jesus à região dos mortos (At Tom 156; 10,32; 48).
A mesma imagem está nas Odes de Salomão 42. Também
em 1Pd 3,19 e 4,6 se reproduz esta visão, bem como em Ap, 1,18 e
20,13-14. “A concepção é de que Cristo, na hora de sua mor- te,
desce até o Hades e ali derrota - numa luta - os príncipes do
Hades ou inferno”. No Novo Testamento encontram-se vestígios
desta visão mítica. Em Mt 27,51-53 se narra que no momento da
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
morte de Jesus a terra tremeu e se fendeu, muitos mortos saíram de
suas sepulturas e entraram na cidade. Assim Jesus, pela sua morte
teria ido ao Hades e teria libertado os mortos que lá estavam presos.
Com esta visão mítica, personifica- se o poder que age sobre a morte.
O diabo, a morte e o senhor do Hades se confundem. A morte de
Jesus assim não é vista como resgate, mas a destruição deste poder.
Pela sua morte Jesus destruiu a morte (1Cor 15,24.26; 2Ts 2,8; 2Tm
1,10; Hb 2,14). “Assim, pois, já que os filhos têm em comum o
sangue e a carne, também ele participou igualmente da mesma
condição, a fim de, por sua morte, reduzir à impotência aquele que
detinha o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2,14). Este texto tem
certa base gnóstica. Entende-se aqui a preexistência das almas. Estas
estão presas à matéria e por isto, à morte. Jesus entrou na matéria e
salvou as pessoas desta morte. Através de sua morte Jesus destruiu o
poder da morte, deixando o ser humano livre.
h) A morte de Jesus como revelação do amor
de Deus:
No Novo Testamento se encontra também uma
interpretação de que Jesus morreu para revelar o amor de Deus aos
seres humanos: “Deus demonstrou seu amor para nós no fato de que
Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).
Encontram-se diversas citações desta mesma forma: Rm 8,31-39; Gl
2,20; 2Cor 5,14ss; Ef 2,5-6, Mas tudo isto ainda é mais evidente nos
escritos joaninos, onde se afirma que Deus manifestou seu amor,
enviando seu Filho como expiação (1Jo 4,9-10), ou ainda, que Deus
tanto amou o mundo que deu o seu Filho (Jo 3,16).
i) A morte de Jesus como modelo:
Existe, no Novo Testamento, também a noção de que os
cristãos devem aceitar o sofrimento, pois também Jesus sofreu. Se
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Jesus sofreu, deixando um exemplo, os fiéis devem seguir este
caminho.
“Visto que o mesmo Cristo sofreu por vós, deixando-vos
um exemplo, a fim de que sigais suas pegadas: ele que não cometeu
pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; ele que, insultado,
não retribuía o insulto, em seu sofrimento, não ameaçava, mas se
entregava àquele que é justo Juiz; ele que em seu próprio corpo
carregou nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que, mortos para
os nossos pecados vivamos para a justiça; Ele, cujas chagas nos
curaram” (1Pd 2,21b-24).
Como Cristo, o inocente sofreu, isto é exemplo para os
cristãos (1Pd 3,17-18; 4,1-2; Ef5,2.25; Mc10,45; Lc 22,21.35; 23,28ss,
etc.). Esta visão tem suas raízes nos períodos difíceis dos tempos de
perseguição, quando se tem que preparar os cristãos para enfrentar as
dores e até a morte pelo nome de Jesus. Ao iluminar o absurdo da
dor do povo, apela-se para o modelo deixado por Jesus, que também
sofreu e foi até a morte.
As diversas formas de interpretar a morte de Jesus são
válidas e são expressões de uma determinada fase da igreja. Talvez
nenhuma deveria ser absolutizada, ou mesmo, ser entendida fora do
seu contexto. A interpretação da morte expiatória e vicária, bem
como o sentido de resgate suplantou todas as demais formas e
atravessou a história da igreja até os dias atuais. Esta interpretação já
deu mal- entendidos que hoje de- vem ser solucionados através de
uma leitura crítica.
3 – Paulo e a compreensão da morte de Jesus
Para Paulo, o ser humano está numa situação fracassada
diante de Deus, de onde ele, por si não pode sair (Rm 7,24). Ele está
270
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
como que, inimigo de Deus (Rm 5,10; 11,28). Só Deus pode valer
ao ser humano nesta sina (1Ts 5,9). Nesta libertação, o ser humano
necessariamente deverá contar com Cristo (Rm 1,16; 5,9s; 10,9).
Cristo despojou todos os poderes que escravizavam os humanos (Cl,
2,15). “Deus nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1,13). Assim, toda a criação é
redimida da corrupção (Rm 8,21). Cristo liberta o humano da Lei
(Gl 3,13; 4,4s) e também do pecado (Rm 8,2). Cristo se tornou
carne pecaminosa, para destruir o poder que escraviza a carne (Rm
8,3). “Aquele que não conheceu o pecado, ele o fez pecado por nós”
(2Cor 5,21).
Se Deus, pois , condenou, na carne o pecado‟(Rm 8,34), o
pecado não é mais senhor sobre a carne desde a morte e ressurreição
de Cristo, e por isto é possível, a de então, „não andar segundo a
carne‟” .
Mas, como se dará esta libertação da condição fracassada em
que os humanos se encontram? Paulo tem diversas categorias para
falar disto. Tudo, em Paulo se liga à cruz e à fé. Deus propôs Jesus,
pelo seu sangue, como propiciação, mediante a fé (Rm:3,25). A
justificação se dará pela fé e não pelas obras (Rm 3,21-30), pois se a
justificação viesse das obras, então toda cruz de Jesus e seu papel de
expiador seria em vão. A justiça praticada pelo homem torna inócua a
justificação realizada por Jesus. Assim, em Cristo, pela fé, o humano
participa da justiça de Deus, ou melhor, é justificado por Deus. O
homem é recriado (2Cor 5,17.21). A justiça de Deus se realiza por
meio da morte de Cristo (Rm5,6ss), isto é, pela cruz. Em Paulo se
confunde a reconciliação e a justificação. Ele fala da justificação como
reconciliação (Rm 5,9-10), do ministério da justificação (2Cor 3,9) e
de ministério da reconciliação (2Cor 5,18). Justificação e reconciliação
são conseqüências uma da outra (Rm 5,1). Na realidade, os dois
conceitos vêm de esferas diferentes. - justificação é um conceito
forense e religioso. Já - reconciliar vem do meio social e tem um
271
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
sentido mais genérico. Deus reconcilia a humanidade (2Cor 5,18-21)
por meio de Cristo.
“Em total concordância o grande tema básico da pregação
de Paulo, a reconciliação é em tudo isto a obra redentora de Deus em
Cristo, dirigida ao mundo para fazer desaparecer a inimizade, para
restabelecer a paz”.
Esta reconciliação feita por Deus, com a humanidade, passa
pelo sangue de Je- sus (Cl 1,20). A reconciliação é um dom que o
humano recebe pela graça (Rm 5,11), cujo fundamento se encontra na
cruz de Cristo. Os inimigos foram reconciliados na morte do Filho
(Rm 5,10), os que estavam longe foram aproximados (Ef 2,13-16; Cl:
1,20). Onde teria, Paulo se inspirado para falar desta forma?
3.1 - As fontes: Paulo é o teólogo do Novo Testamento
que mais apresenta a teologia do resgate, e da cruz. Cabe, então a
pergunta: é ela um trabalho de Paulo? Teria sido ele o primeiro a
entender a morte de Jesus como resgate? Certamente não. Tal
teologia se formou em ambiente da Ceia, quando então se celebrava a
doação de Jesus na eucaristia e, aos poucos, passou a se interpretar
sua morte como resgate. Assim, a terminologia paulina do resgate
(2Cor 5,19), provém deste ambiente, mas reflete a re- conciliação
como era entendida no judaísmo de fala grega quando este relê Is 53
e outros textos do AntigoTestamento.Paulo transferiu esta
terminologia para tornar seu apostolado compreensível.
“A interpretação da morte de Jesus como expiação vicária
desenvolvida a partir da obra terrena de Jesus encontra sua expressão
no enunciado do cálice e do resgate (Mc 14,24; 10,45)”. É difícil
encontrar a fonte pré-paulina das sentenças que dizem que Jesus
morreu pelos pecados da humanidade. É impossível estabelecer
influência direta da teologia expiatória do Lv 5,6-10, na versão da
LXX sobre a fórmula usada por Paulo. Na tradução da LXX se usa o
272
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
termo - meio de expiação, que se liga, ou reproduz os termos -
sacrifício (reparação) pelo seu pecado(Lv 5,6). Paulo prefere, que se
traduz por “no lugar de”, “em vez de” (2Cor 5,14), “em favor de”
(Rm 5,7), “por causa de” (Rm 14,15), “por nossos pecados” (1Cor
15,3b; Gl 1,4). Não se pode afirmar com certeza que houve uma
influência da linguagem cúltica do Levítico sobre as fórmulas da
morte de Jesus. Em Rm 5,7 constata-se que Paulo - morrer - que
reflete a visão helenista da morte de Jesus.
As fórmulas gregas também existem fora da teologia
expiatória do culto do templo (2Mc 6,28; 4Mc 6,28; Sl 3,8).
Breytenbach supõe que as fórmulas da doação da vida têm influência
da teologia Sacerdotal (Priester). Isto se evidenciaria em Rm 4,25; Gl
2,20 e Rm 8,32. “A ideia protocristã „que Cristo morreu pelos nossos
pecados‟ se originou no cristianismo judeu de fala grega, que há
pouco se separou do templo”. Enquanto Gl 3,13 e também Gl 4,4-5,
que refletem o conceito de eliminação do pecado, provém de Dt
21,23, para indicar que o crucificado, de forma vicária - por vós, se
tornou maldição. Ao menos em parte, parece claro que a teologia do
“ele morreu por nós” vem da teologia cúltica que se inspira na
teologia sacerdotal exarada em Levítico, na versão dos LXX. Em
2Cor 5,21 se usa que equivale a pecado, troca por vítima do pecado.
Em Rm 8,2-3 o mesmo termo traduz lei do pecado e também vítima
do pecado.
Os tradutores do Levítico para a LXX traduzem hattat por e
lhattat por. No Levítico o termo é traduzido por pecado e às vezes
também o ato, rito de expiação e mesmo o animal que carrega o
pecado. Neste caso, se em Paulo está o conceito de vítima do pecado
e esta tradução for correta, ele estaria indo um pouco além da
tradução de Levítico na versão da LXX, pois ali se traduz o animal,
mas não vítima de pecado. De fato, existe uma grande semelhança
entre Paulo e compreensão da teologia Sacerdotal (Priester). Em
273
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
ambos, Deus mesmo tira os pecados. O que dificulta esta assertiva é
o fato de que, onde o judaísmo helenista trata da expiação, ele recebe
influência do helenismo e não do Levítico. Os textos de 2Cor 5,21 e
Rm 8,3 não deixam claro que Paulo derivasse a compreensão da
morte de Jesus do ritual da vítima do pecado do Levítico. Talvez Rm
3,25 tenha origem na tradição do grande dia de expiação. Se isto for
correto, Paulo estaria mostrando que entendeu a cruz como expiação
em separação do culto.
Nem toda a compreensão expiatória do Antigo Testamento
deriva do culto e do templo. Assim está o Servo de Javé (Is 53), bem
como Is 43. Esta tendência de desco- nectar a expiação do culto se
fortalece durante a helenização dos judeus. Assim se fa- la em jejuns,
preces, etc., como meios de expiação por volta de 200 a.C. Depois da
destruição do templo, no ano70 d.C., no judaísmo rabínico ficou
evidente que Deus também perdoaria pecados sem o culto do templo
e suas vítimas. A vítima do pecado perdeu o sentido. Tudo isto que se
efetivou neste período já existia em fase embrionária bem antes dos
tempos de Paulo. Principalmente na diáspora, onde era mais difícil ir
ao templo, tal teologia já floresceu. Com isto se justificaria que judeus
helenistas, no contexto das perseguições fugiram e, como os
helenistas de At 6-7 e 11,19ss, divulgaram tal teologia em Antioquia,
onde Paulo poderia ter aprendido esta noção. Desta forma, pode-se
garantir que é possível compreender a morte expiatória de Jesus fora
do culto e de suas vítimas. Dito isto, convém lembrar o que já foi
afirmado acima, o contexto da Ceia, iluminado por Is 53 e outros
textos do Antigo Testamento, seria o Sitz imLeben desta
compreensão. Mesmo não podendo afirmar com toda clareza, as
fontes, pode- se situar alguns pontos, onde se supõe que haja apoio
para Paulo e mesmo para a tradição pré-paulina.
274
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Paulo se vale de quatro fontes para explicar este ”por
nós”:
a) Tradição do cordeiro: “Pois Cristo, nossa páscoa foi
imolado” (1Cor 5,7b). Paulo situa Jesus na tradição do cordeiro
pascal, isto é, da antiga aliança, onde um cordeiro morria pelos
pecados de homens e de mulheres (primeira redenção). Assim Jesus
morre e produz a derradeira redenção. Rm 3,25 chama Jesus de -
meio expiatório. Isto lembra 4Mc 17,22. Na versão da LXX este
termo traduz o hebraico kapporit que significa a tampa da arca da
aliança, onde Deus morava. No dia da expiação esta tampa era
aspergida (Lv 16,30; 23,27). Por este ato litúrgico apagavam- se os
pecados. Assim, na visão paulina, no crucificado estão a tampa
(madeira) e o sangue da expiação. “Paulo declara aqui que a ação
divina que libertou os homens de sua culpa se realizou porque Deus
colocou Cristo, por seu sangue, como meio de pro- piciação”.
b) Direito penal: “Ele foi entregue pelos nossos
pecados” (Rm 4,25), como também Rm 8,3.32; Gl 1,14; 3,13 e Cl
2,14 se referem a Is 53,10-12 e lembram o di- reito penal, ou seja,
tratam da pena imposta por um delito, mas não cometido por ele,
senão pelos homens e mulheres. Logo, a pena que os pecadores
deveriam sofrer, Jesus a sofreu. Também Gl 3,10 fala da maldição (cf.
Dt 27,15-26). Todos os que estão sob a lei são malditos (Rm 2,6), mas
Cristo nos resgatou desta maldição, tornando-se ele maldição em
nosso lugar (Gl 3,13). Aquele que não conheceu o pecado se fez
pecado por nós (2Cor 5,21).
c) Libertação de escravo: Paulo usa categorias do
Antigo Testamento, onde se fala de comprar (1Cor 6,20), resgatar (Gl
3,13; 4,15) escravos, por um preço (1Cor 6,20; 7,23). Trata-se de
assumir a escravidão em lugar de outro, para que este saísse livre.
Assim Cristo, pela sua morte em lugar dos pecadores, libertou estes
mesmos da escravidão.
275
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
d) Obediência do Servo: Rm 5,18- 19; Fl 2,6-11 e Gl
4,4-5 dizem que, Cristo, pela sua obediência justificou os pecadores.
Sendo obediente, a exemplo do Servo Sofredor (Is 52,13-
53,12), Jesus assumiu para si os pecados dos desobedientes. Todas
estas fontes ilustram, em Paulo o “por nós”, isto é, a suplência pelos
pecadores da parte daquele que foi sem pecado e, que devido à sua
condição de inocente e de Filho de Deus, resgatou a humanidade de
uma situação de escravidão.
- Teologia da cruz: Paulo, com sua teologia da cruz
exerceu influência no Novo Testamento. Sua teologia está na base de
Hebreus e de 1Pedro, e talvez também em outros escritos. Ele usa os
termos “cruz” e “crucificar” mais do que todos os escritos do Novo
Testamento. Fala na linguagem da cruz (1Cor 1,18). Com esta
linguagem Paulo se confronta com seus opositores, que preferem um
Jesus sem o escândalo da morte e do sofrimento (cf. Gl; 1Cor e Fl).
Talvez Paulo tenha um conflito com heresias nascentes como a gnose
e o docetismo que separavam o homem Jesus do Cristo, ao mesmo
tempo se confrontava com judaizantes que, apesar de terem aderido a
Jesus, ainda julgam necessária a observância da lei de Moisés (Cf At
15,1ss). Diante deste quadro, Paulo anuncia a mensagem irritante da
cruz com toda a sua clareza (Gl 3,1; 1Cor 1,23; 2,3). Na linguagem de
Paulo, Cristo se tornou maldição para nós (Gl 3,13), foi feito pecado
por nós (2Cor 5,21). Antes de sua conversão, Paulo vê Jesus como
maldito (1Tm 1,13; At 26,11; 1Cor 12,3).Depois da conversão Paulo
mostra que Jesus se tornou maldito por nós (Gl 2,20).
“Não é, pois, exagero dizer que toda cristologia de Paulo
está decididamente centrada neste esforço para tornar compreensível
para seus leitores e ouvintes este „por esta suplência de Cristo em
nosso favor” O sentido da paixão e morte de Jesus, segundo Paulo,
na obra reconciliadora de Deus se evidencia no fato de que em Cristo
se manifesta a justiça de Deus (Rm 3,25- 26). Deus pôs Jesus como
propiciatório em seu sangue (Rm 3,25).Pela morte de Jesus os
humanos foram reconciliados e justificados (Rm 5,9)
276
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
23º Sete Frases Dita por Jesus Durante
sua Crucificação
Texto:
Mateus 27:45 “Desde a hora sexta até a hora nona, houve
trevas sobre toda a terra”
Obs. Jesus foi crucificado às 09:00h da manhã (terceira
hora dos judeus, contada desde ao nascer do sol). Às 12 horas houve
trevas sobre a terra. ÀS 15
horas Jesus expirou. As frases que Jesus proferiu durante
estas seis horas, registram-se num total de sete (7) na seguinte ordem.
1º FRASE - PERDOA-LHES
Lucas 23:34 “Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele,
lançaram sorte”.
Perdoa-lhes – Revela o coração misericordioso de DEUS
diante do pecador, que Ele ama infinitamente (João 3:16) enquanto
o mesmo pecador agi em ignorância Atos. 3:17; 17:30.
Em Isaías 53:12 “Por isso, eu lhe darei muitos como a sua
parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto
277
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores;
contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores
intercedeu”
Contado com os transgressores – Isso quer dizer foi
crucificado entre dois ladrões e considerado, pelo poderio judaico,
um criminoso perigoso. Realmente, carregando sobre si, na cruz os
pecados do mundo, e pagando, em nome da humanidade, as
conseqüências da maldade, Jesus recebeu imputado à Sua Pessoa, a
culpa de todos os transgressores. I Pedro 2:24 “Carregando ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, vivamos,
para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça ; por
suas chagas, fostes sarados”.
2º FRASE – MULHER , EIS AÍ TEU FILHO DISSE
MAIS EIS AÍ TUA MÃE
João 19:26-27 “Vers. 26 – Vendo Jesus sua mãe e
junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.”
“Vers. 27 – Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.
Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.”
Discípulo Amado – Pela tradição se supõe que ele foi João,
o autor*(escritor) deste evangelho.
Tua Mãe – É provável que José, marido de Maria, já
estivesse morrido.
278
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
4º Curiosidades Exclamadoras deste Capítulo 19
1ª Exclamação. Vers. 5 “Saiu, pois, Jesus trazendo a
coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: Eis o
homem!”
2ª Exclamação. Vers. 14 “E era a parasceve*(sextafeira)
pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus:
Eis aqui o vosso rei.”
3ª Exclamação. Vers. 26 “Vendo Jesus sua mãe e junto a
ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.”
4ª Exclamação. Vers. 27 “Depois, disse ao discípulo: Eis
aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa”
3º FRASE – HOJE ESTARÁS COMIGO NO
PARAÍSO
Lucas 23:43 “Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no paraíso”
Comigo no paraíso – Isto é, compartilhar o lugar e a
condição de bem- aventurança celestial daqueles que morrem No
Senhor (Apocalipse 14:13) até à ressurreição
279
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
4º FRASE – ELI , ELI LAMÁ SABACTÂNI ? / ELOÍ
, ELOÍ LAMÁ SABACTÁNI
Mateus:27:46 Marcos :15:34
Mateus 27:46 Eli – Hebraico – Quer dizer: MEU DEUS
Marcos 15:34 Eloí – Aramaico – Quer dizer: MEU DEUS.
Eloí – Citado no Salmo 22:1. Ainda que isto seja paradoxal
(opinião contrária a opinião comum),reconhecemos que Jesus Se
identificou com os nossos pecados, de modo que Cristo sofreu, por
nós, a inevitável separação entre DEUS e o pecado.
5º FRASE , TENHO SEDE
João 19:28 “Depois, vendo Jesus que tudo já estava
consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede”
Tenho sede – Jesus era verdadeiro homem. Contraria a
teoria que afirma que o Cristodivino veio sobre Jesus quando foi
batizado era realmente humano (veja João 4:7) e divino
inseparavelmente. Aquele que sofreu a sede na cruz ofereceu Sua vida
para saciar a sede espiritual do mundo. (Veja o que ele oferece em
João 7:37-39).
280
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
6º FRASE – ESTÁ CONSUMADO
João 19:30 “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse:
Está consumado! E inclinando a cabeça, rendeu o espírito.”
Está Consumado – Jesus morreu voluntariamente(veja
João 10:18), não como mártir, mas como sacrifício de infinito valor(
Veja Isaías 53:10)
7º FRASE – PAI NA TUAS MÃOS ENTREGO MEU
ESPÍRITO
Lucas 23:46 “ Então Jesus clamou em alta voz: Pai nas tuas
mãos entrego o meu espírito! E dito isto, expirou”.
281
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
24º O Significado da Morte de
Cristo
282
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Infelizmente, a maioria das pessoas não entende nem
compreende qual o verdadeiro sentido da morte de Cristo. Muitos,
até estudiosos, acham que Cristo morreu como um mártir. Ele
morreu como defensor de uma causa, na certa seria contra a
injustiça social. Outros argumentam que Jesus morreu porque foi
um traidor do governo Romano e até mesmo dos próprios
compatriotas, o clérigo religioso, isto porque pregava um “ensino
contrario que os judeus religiosos proclamavam”.
A verdade é que Jesus não morreu por causas dessas
teorias sem cabimento. Jesus morreu unicamente pela vontade de
Seu próprio Pai, Atos 2:22-23. Portanto, nesse pequeno estudo
gostaria de esclarecer o verdadeiro sentido da morte (expiação) de
Cristo, biblicamente falando. A expiação de Cristo está
concentrada em quatro temas básicos,
283
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
são eles:
1) Sacrifício;
2) Propiciação;
3) Substituição;
4) Reconciliação.
A EXPIAÇAO DE CRISTO COMO SACRIFICIO.
Texto: Hebreus 9:6-15
A obra de Cristo é comparada com o dia da expiação do
Antigo Testamento. Cristo é retratado como o sumo sacerdote que
entreva no lugar santíssimo para oferecer sacrifício. Todavia, o
sacrifício de Jesus não foi sangue de bodes e bezerros, e sim, o seu
próprio sangue, v12. Desta forma obteve eterna redenção.
Enquanto que os sacrifícios do AT tinham de ser
oferecidos repetidamente, a morte de Cristo expia, de uma vez
por todas, os pecados de todo aquele que crê, v28. Obs: desde da
época do AT, os sacrifícios de bodes e ovelhas prefiguravam a
284
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
morte do Messias – Jesus Cristo. Todo judeu fazia a sua oferta
com fé, sabendo que Deus estava perdoado os seus pecados. E
todo o santo dia, todo bom judeu deveria fazer este sacrifício em
favor de suas transgressões. Mas com a morte de Cristo, isto não
se faz necessário. Como o autor de hebreus disse: “Ele é o
mediador da nova aliança”. Em outras palavras, Cristo é o único a
conceder por meio da sua morte, acesso a Deus, I Tm 2:5.
Texto: Hebreus 10:5-18.
Aqui a ideia é que, em lugar das ofertas queimadas, o
corpo de Cristo foi sacrificado, v5. Essa oferta de uma vez por
todas, v10. Em lugar da oferta diária feita pelo sacerdote, v11.
Cristo ofereceu “para sempre, um único sacrifício pelos pecados”
v12.
Conclusão dos dois textos.
Devemos manter em mente de que o sacrifício de Cristo,
ou seja, o próprio Cristo é tanto vitima como também o sacerdote
que a oferece. As duas partes que faziam parte da Antiga Aliança
285
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
são combinadas em Cristo. A primeira, o sacrifício, que todo judeu
deveria fazer. A segunda, o sacerdote – este intercedia pelo povo a
Deus. Jesus fez e faz essas duas obras. Morreu como um sacrifício
pelos nossos pecados e intercede por nós Rm 8:34.
A EXPIAÇÃO DE CRISTO COMO
PROPICIAÇÃO.
O termo “propiciação” no grego tem como sentido de
aplacar a ira de Deus. O nosso Deus está irado com o que? Com
os nossos pecados. Ele sendo santo e justo não pode suportar nem
contemplar as nossas ofensas. Por isso, se faz necessário alguém
aplacar esta ira. Na Bíblia há várias passagens que falam da ira de
Deus contra o pecado e isto implica numa propiciação, Rm 1:18;
2:5, 8; 4:15; 5:9; 9:22; 12;19; I Ts1:10; 2;16; 5:9.
Quem foi que aplacou essa ira? Cristo Jesus. A morte de
Cristo não só cobriu os nossos pecados como também aplacou a
ira de Deus. No AT os sacrifícios tinham esse propósito de aplacar
a ira de Deus contra o pecado de seu povo, Lv 4:35. Quando
Cristo morreu numa cruz, o seu sacrifício foi satisfatório para
apaziguar a ira de Deus. Deus ficou satisfeito de uma vez por todas
286
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
com o sacrifício de Cristo, I João 2:2. Definição de propiciação: O
sacrifício de Cristo apaziguou a ira de Deus contra os nossos
pecados. Portanto, a morte de Cristo foi a única oferta que satisfez
as exigências de Deus.
A MORTE DE CRISTO COMO SUBSTITUIÇÃO.
Definição de substituição: é tomar o lugar de outra
pessoa. Por exemplo, quem deveria morrer pelos nossos próprios
pecados éramos nós. Mas Cristo tomou o nosso lugar. Ele se fez o
nosso substituto. Lembrando que não era algo que merecíamos.
Várias passagens que falam que os nossos pecados foram
lançados sobre Cristo, Is 53:5, 6, 12; João 1:29; II Co 5:21; I Pe
2:24. Portanto, a idéias em todas essas referências é que Jesus
levou nossas transgressões – as transgressões foram colocadas
sobre ele ou transferidos de nós para ele. Isso é substituição.
Uma outra prova de que a morte de Cristo foi
substitutiva é a preposição grega “uper” (huper). Ela tem dois
sentidos “em lugar de” e “em favor de”. A morte de Cristo “em
287
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
lugar de”, as referências são, I Tm 2:6; II Co 5:15. A morte de
Cristo “em favor de”, as referências são, Rm 5:6-8; Gl 2:20;
Hb2:9.Concluindo, A morte de Cristo foi substitutiva porque
tomou o nosso lugar. Porque Cristo morreu em nosso favor.
A MORTE DE CRISTO COMO
RECONCILIAÇAO.
Não precisamos pensar muito de que uma vez que
estávamos vivendo em nossos pecados e sempre ofendendo a
Deus com nossas iniqüidades. Conclui-se de que éramos inimigos
de Deus. Portanto, se éramos inimigos de Deus. Logo,
precisaríamos ser reconciliados. A verdade é que a morte de Cristo
põe fim a inimizade entre Deus e o homem. A nossa
hostilidade Contra Deus foi removida pelo sangue de Cristo na
cruz.
Em Romanos 5:10 diz: “fomos reconciliados com
Deus”. De que maneira, alcançamos essa reconciliação? Por meio
288
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
da morte de Jesus. Note que esse ato de reconciliação não foi uma
iniciativa nossa, e sim, exclusivamente de Deus. Apesar de sermos
os seus inimigos, Ele sempre foi o nosso amigo, aponto de enviar
o seu próprio e único Filho para morrer por nós, com o propósito
de restaurar a comunhão que havíamos perdidos com a
desobediência de Adão. Uma passagem muito significante é Rm
11:15. A reconciliação do mundo é agora possível por que os
judeus rejeitaram o Messias. Note que ao rejeitar os judeus, Deus
toma a iniciativa, afastando Israel o favor divino e a graça do
evangelho. A reconciliação do mundo (gentios) coloca-se em
contraste com a rejeição de Israel. Portanto, presume-se de que a
reconciliação é um ato de Deus, seu ato de receber o mundo no
seu favor e de lidar com ele de modo especial.
Importante: por mais importante que seja voltar-nos
para Deus, o processo de reconciliação é Deus voltando para nós
com seu favor. É maravilhoso isso. Além de Deus nos salvar,
também restaura uma comunhão perdida. De inimigos passamos a
ser amigos de Deus.
289
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
25º A Doutrina da Expiação
A palavra “expiação” ocorre só uma vez na versão do
Rei Tiago em o Novo Testamento. Vide Romanos 5:11. Aqui está
uma tradução de “katallage”. Este substantivo grego ocorre em
três outras passagens: uma vez em Romanos 11:15, onde está
traduzido “reconciliando”; uma vez em 2 Coríntios 5:18, onde está
traduzido “reconciliação” e uma vez no verso seguinte, onde outra
vez está traduzido “reconciliação”.
O verbo grego “katallasso”, correspondente ao nome
“katallage”, acha-se também em 2 Coríntios 5:18,19; em Romanos
5:10 e 1 Coríntios 7:11. Em cada um destes casos está traduzido
para significar “reconciliar”.
Segundo o uso do grego, a palavra “expiação” pode ser
usada tanto da provisão da base objetiva de salvação, na qual
temos uma expiação potencial, como da realização atual da
salvação, na qual temos uma expiação atual na aplicação dos
benefícios da morte de Cristo e a oferenda do Seu sangue no
templo celestial.
O verbo grego “katallasso” está usado no primeiro
sentido em 2 Coríntios 5:19, onde lemos: “Deus estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os
seus pecados”. O sentido aqui é que Deus estava reconciliando o
mundo Consigo mesmo por lançar os seus pecados sobre Cristo.
Refere-se, pois, a passagem ao que se realizou na morte de Cristo e
não ao que se realizou através do Seu ministério Profético,
predicante.
290
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
É neste sentido que a palavra “expiação” é
ordinariamente empregada nas discussões teológicas, sentido em
que a usamos neste capítulo.
I. A IMPORTÂNCIA DA EXPIAÇÃO
A expiação é o tema central do cristianismo. Tudo que a
precede, olha para frente e tudo que a segue olha para ela atrás.
Pode-se ver sua importância revendo os fatos seguintes:
1. ELA É O TRAÇO DISTINTIVO DO
CRISTIANISMO
O cristianismo é a única religião com uma expiação.
Conta-se que há alguns anos passados, quando se reuniu uma
Parlamento de Religião na Exposição de Chicago, Joseph Cook, de
Boston, o orador escolhido do cristianismo, levantou-se, depois de
terem sido apresentadas outras religiões, e disse: “Eis aqui Lady
Macbeth com as suas mãos manchadas com a morte infame do Rei
Duncan. Vede-a como perambula pelas salas e corredores de sua
casa palacial, detendo-se para gritar. “Fora, mancha danada! Nunca
mais estas mãos ficarão limpas?” O representante do cristianismo
virou-se para os adeptos de outras religiões e os desafiou
triunfantemente: “Pode alguém de vós que estais tão ansiosos de
propagar vossos sistemas religiosos proporcionar qualquer eficácia
purificadora para o pecado e a culpa do crime de Lady Macbeth?
Emudeceram, porque nenhum deles teve uma expiação a oferecer.
291
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2. ELA VINDICA A SANTIDADE E A
JUSTIÇA DE DEUS
Não podia haver em Deus verdadeira santidade e justiça
se Ele permitisse ao pecado passar impune. A santidade proíbe
semelhante encorajamento do pecado. A justiça requer retribuição.
3. ELA ESTABELECE A LEI DE DEUS
Sem expiação a salvação dos crentes deixaria a lei vã, letra
morta. Vide Romanos 3:31 e Hebreus 2:2.
4. ELA MANIFESTA A GRANDEZA DO
SEU AMOR
De nenhum outro modo podia Deus ter manifestado
maior amor pelo Seu povo do que por dar o Seu único Filho
unigênito para morrer em lugar dele povo. Vide João 3:16, 15:13;
Romanos 5:8; I João 4:9.
5. ELA PROVA A AUTORIDADE
DIVINA DOS SACRIFÍCIOS DO VELHO
TESTAMENTO
Vemos na expiação de Cristo o antítipo mais belo dos
sacrifícios do Velho Testamento. E vemos nesses sacrifícios um
método efetivo de apontar à necessidade de expiação e um tal
quadro da expiação real como guiaria o iluminamento a
espiritualmente inculcar através do véu de sombra à verdadeira luz.
A divina autoridade dos sacrifícios do Velho Testamento não
apresenta dificuldades ao que crê que a morte de Cristo foi
substitucionária; mas, os que desejam negar este último fato
292
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
também sabem que Deus instituiu os sacrifícios de animais do
Velho Testamento.
6. ELA FORNECE A PROVA
DEFINITIVA DOS SISTEMAS TEOLÓGICOS
Por sua atitude para com a expiação, os sistemas
teológicos classificam-se em pagãos ou cristãos. A oposição deles
quanto à expiação também reflete sua idéia da natureza de Deus,
de Sua Lei e do pecado.
II. A NATUREZA DA EXPIAÇÃO
1. IDÉIAS FALSAS DA EXPIAÇÃO
(1). A idéia governamental
Esta idéia sustenta que o propósito da expiação foi
impedir que o perdão dos pecadores por Deus encorajasse o
pecado. A salvação dos pecadores não exige que eles levem a
penalidade dos seus pecados. O seu virar do pecado para Deus é
suficiente para justificar Deus em salva-los; mas o perdão dos
culpados, sem alguma exibição do ódio de Deus contra o pecado e
de Sua consideração pela Lei, licenciaria o pecado e roubaria
qualquer autoridade sobre as consciências dos homens.
(2). A idéia de exemplo
Esta idéia sustenta em comum com a governamental que
a morte de Cristo não foi substitucionária: sustenta que Deus não
293
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
precisou de ser propiciado em benefício do pecador; que o único
óbice à salvação dos pecadores jaz na prática contínua do pecado
pelo pecador. Reforma, portanto, é o remédio adequado e isto
pode ser efetuado pela própria vontade do homem. Para encorajarnos
nisto Jesus morreu como um nobre mártir, exemplificando
uma devoção abnegada que escolheu a morte antes que falhasse do
Seu dever a Deus e ao homem. Somos salvos, não por confiar
nEle como nosso porta-pecado senão por confiar em Deus
segundo Seu exemplo e assim devotando-nos à justiça.
(3). A idéia de Influência Moral.
Esta idéia sustenta em comum com ambas as primeiras
que o pecado não traz culpa que deva ser removida: não é a culpa
senão a prática do pecado que impede a salvação. A morte de
Cristo foi somente uma exibição de amor para abrandar o coração
do homem e leva-lo ao arrependimento. “Os sofrimentos foram
necessários, não para remover um obstáculo ao perdão de
pecadores que existe na mente de Deus senão para convencer os
pecadores de que não existe tal obstáculo” (Strong).
(4). A idéia de depravação gradualmente
extirpada.
Esta idéia está definida por Strong como segue:
“Cristo tomou a natureza humana como ela estava em
Adão, não antes mas depois da queda, - a natureza humana,
portanto, com a corrupção nata e predisposta para o mal moral;
que, não obstante a possessão desta natureza inquinada e
294
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
depravada, Cristo, pelo poder do Espírito Santo, ou de Sua divina
natureza, não só guardou Sua natureza humana de se manifestar
em pecado atual ou pessoal, mas purificou-a gradualmente, por
meio de luta e sofrimento até que na Sua morte Ele extirpou
completamente sua depravação original e a reuniu com Deus. Esta
purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus
constitui Sua expiação e os homens não são salvos por qualquer
propiciação objetiva senão somente por se tornarem através da fé
participantes da nova humanidade de Cristo”.
Há outras duas idéias da expiação que os teólogos
comumente discutem sob teorias falsas ou inadequadas da
expiação aqui não daremos tratamento especial. Referimo-nos a
idéia de acidentes e à comercial. A primeira sustenta que a morte
de Cristo foi um acidente imprevisto e não antecipado por Cristo.
Esta idéia é tão manifestamente absurda que não merece aqui o
espaço que ela tomaria para refuta-la. Não damos aqui atenção
especial à idéia comercial da expiação porque ela envolve tanta
verdade que achará exame sob a epígrafe da idéia correta da
expiação.
2. A IDÉIA CORRETA DA EXPIAÇÃO.
A idéia correta da expiação, que concebemos como sendo
a correta, reconhece o elemento de verdade em cada uma das
seguintes teorias que tem recebido especial menção e também
combina o que são costumeiramente chamadas idéias comercial e
ética, mas esta vai mais longe do que qualquer delas.
295
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
(1). Verdades reconhecidas noutras idéias.
A. Uma falha em punir o pecado
derrubaria o governo divino.
Este é o elemento de verdade na idéia governamental,
mas isto é só um dos muitos elementos de verdade envolvidos na
expiação. Uma simples exibição do ódio de Deus contra o pecado
sem medir uma justa penalidade, portanto, não consegue e não
conserva inteiramente os interesses do governo divino. Qualquer
exibição do ódio divino para com o pecado agirá como um óbice
ao pecado e assim tenderá a manter governo, mas, até ao ponto em
que essa exibição do ódio divino se fruste da justa penalidade, ela
fracassa em fornecer um óbide ao pecado que honre
completamente o governo divino.
B. Na morte de Cristo temos um exemplo
inspirador.
É um exemplo de abnegada devoção a Deus e ao
homem. E o povo salvo (não os perdidos) são mandados seguir
este exemplo. Vide Mateus 16:24; Romanos 8:17;
1 Pedro 2:21, 3:17 e 18; 4:1 e 2. Mas, que Cristo não
morreu meramente como um nobre mártir, evidente é de Sua
própria atitude para com a Sua morte. Se Ele morreu apenas como
exemplo, então Ele supriu exemplo muito pobre. Muitos mártires
humanos tem ido para a fogueira sem um sinal de angustia;
todavia, o Senhor Jesus Cristo suou como se fossem grandes gotas
de sangue no horto. Muitos mártires desfrutaram um vívido senso
da presença de Deus na hora da morte, mas o Senhor Jesus Cristo
296
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
foi desertado pelo Pai na hora da morte. Contrastai a atitude de
Cristo perante a morte com a de Paulo.
C. Na morte de Cristo temos uma exibição
de amor de Deus.
Vide João 3:16; Romanos 5:8; 15:13; 1 João 4:9. E esta
exibição deveria mover os homens ao arrependimento. Este é o
elemento de verdade na idéia de influência moral da expiação; mas,
que a expiação foi mais do que uma simples exibição de amor farse-á
manifesta ao passo que avançamos.
D. Através da morte de Cristo somos feitos
participantes da vida de Cristo.
Vide 2 Coríntios 4:11; 5:14-17; 12:9 e 10; Gálatas 2:20; 2
Pedro 1:4. Este é o elemento de verdade na idéia de depravação
gradualmente extirpada da expiação; mas, atingimos esta nova vida
em Cristo em conjunção com a fé nEle como nosso porta- pecado.
Esta idéia recém mencionada nega:
(2). Outras verdades reconhecidas.
A verdadeira idéia da expiação reconhece todas as
verdades das outras idéias, mas reconhece mais. Erram os que
acentuam um elemento de verdade com exclusão de outros.
297
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Outras verdades reconhecidas pela
verdadeira idéia da expiação, são:
A. A verdade quanto à natureza de Deus.
Tudo das falsas idéias a que temos dado especial atenção
nega que haja qualquer obstáculo que seja em a natureza de Deus
ao perdão dos pecadores. O entrave supõe-se ser todo ele de parte
do pecador. O sofrimento de Cristo não foi em nenhum sentido
uma satisfação de qualquer princípio em a natureza divina.
Assim estas idéias negam, logicamente, a santidade e
justiça de Deus. Elas representam Deus como sendo somente
amor. A ira retribuitiva contra o pecado não é elemento da
natureza divina.
Que essa idéias são falsas em respeito à idéia da natureza
divina suprida por elas é evidente de Romanos 3:25,26. Aqui se
nos diz que Deus estabeleceu a Jesus Cristo não simplesmente
como uma exibição cênica do seu ódio contra o pecado para servir
às exigências do Seu governo; nem como um exemplo de abnegada
devoção ao dever; nem como simples manifestação de amor
através do sofrimento do Criador com a criatura; nem ainda como
o meio de purificação subjetiva da natureza humana senão como
cobertura do pecado (pela expiação), que Sua justiça não fosse
impugnada na justificação de homens pecadores.
298
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Tudo das falsas idéias de expiação a que temos dado
especial atenção representa a Lei de Deus como uma indicação
puramente arbitrária que pode ser relaxada parcial ou totalmente à
vontade em vez de uma revelação da natureza de Deus com
nenhuma possibilidade mais de mudança nos seus requisitos do
que há de mudanças em a natureza de Deus. Ela requer um olho
por um olho e um dente por um dente; requer que toda
transgressão e desobediência deve receber uma justa recompensa
de prêmio. Hebreus 2:2. Toda idéia da expiação que for correta
deve reconhecer isto.
B. A verdade quanto à culpa do
pecado.
Que essas falsas idéias sob consideração negam que o
pecado nos envolve em culpa objetiva que exige expiação. As
passagens seguintes ensinam que ele envolve: João 3:36;
Romanos 1:18; 2:5,6; 3:19; 6:23; Gálatas 3:10; Efésios 5:5,6;
Colossenses 3:5,6; Apocalipse 20:13.
299
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
C. A verdade quanto à natureza
substitucionária da expiação.
As passagens seguintes mostram que o sofrimento de Cristo
foi um substituto do sofrimento que os crentes suportariam no
inferno:
“Seguramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e
as nossas dores levou sobre Si; nós O reputávamos por aflito, ferido
de Deus e oprimido.Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho. Porém o Senhor fez
cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos” (Isaías 53:4-6).“... sendo
justificados livremente pela Sua graça, pela redenção que está em
Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para ser uma propiciação, pela fé
no Seu sangue, para demonstração da Sua justiça, pela remissão dos
pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para a
demonstração da Sua justiça, pela remissão dos pecados dantes
cometidos, sob a paciência de Deus; para a demonstração, digo, da
Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:24-25). Propiciação é um
sinônimo de expiação, que significa “aturar a penalidade toda de um
erro ou crime”. A propiciação aplaca o legislador por satisfazer a Lei
na “cessão de um equivalente legal completo pelo mal causado”.
“... Cristo morreu por nós. Muito mais então, sendo
justificados pelo Seu sangue seremos salvos da ira de Deus por meio
dele.” (Romanos 5:8,9).
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus”
(Romanos 8:33). A resposta implicada é: Ninguém! E a implícita
razão é: Porque Cristo pagou sua dívida de pecado padecendo a
penalidade da Lei em seu lugar.
300
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
“Cristo é o fim da Lei para justiça de todo aquele que crê.”
(Romanos 10:4).
“... nossa páscoa também foi sacrificada, mesmo Cristo.” (1
Coríntios 5:7).
“... Cristo morreu por nossos pecados, segundo a Escritura”
(I Coríntios 15:3).
“Aquele que não conheceu pecado. Fê- lo pecado por nós,
para que nEle fossemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).
Nós nos tornamos justiça de Deus em Cristo, não por meio de
qualquer influência moral da morte de Cristo sobre nós, mas pela
imputação a nós da justiça através da fé sem as obras.
“... Cristo entregou-Se por nós, em oferta e sacrifício a Deus
...” (Efésios 5:2)
“... ofereceu para sempre um sacrifício pelos pecados”
(Hebreus 10:12).
“Porque Cristo também sofreu pelos pecados uma vez, o
justo pelos injustos, para que nos trouxesse a Deus ...” (I Pedro 3:18).
D. A verdade quanto aos aspectos
redentores e resgatadores da expiação.
Notai as seguintes passagens:
“O Filho do homem não veio para ser ministrado, mas a
ministrar e dar Sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:28).
301
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
“Mas dEle sois vós em Cristo Jesus, que nos foi feito
sabedoria de Deus, justiça e santificação e redenção.” (1 Coríntios
1:30).
“Cristo nos redimiu da maldição da Lei, fazendo-Se
maldição por nós” (Gálatas 3:13).
“Deus propôs Seu Filho ... para que redimisse os que
estavam sob a Lei ” (Gálatas 4:4,5).
“... em Quem temos redenção por Seu sangue, o perdão de
nossos delitos, segundo as riquezas de Sua graça” (Efésios 1:7).
“... que Se deu em resgate por todos” (1 Timóteo 2:6).
“... que Se deu a Si mesmo por nós para que nos redimisse
de toda a iniqüidade” (Tito 2:14).
“... pelo Seu próprio sangue entrou uma vez por todas no
lugar santo, tendo obtido redenção eterna” (Hebreus 9:12).
“Fostes redimidos ... com sangue precioso... mesmo o de
Cristo” (1 Pedro 1:18-19).
“... foste morto e remiste para Deus com o Teu sangue
homens de toda a tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse. 5:9).
Nas passagens supra, nas quais “redimir” ou uma de suas
cognatas aparece, temos quatro palavras gregas ou suas cognatas:
“agorazo”, significando “adquirir no fórum”; “exagorazo”, “adquirir
do fórum”; “lutroo”, “soltar por um preço”; “apolutrosis”, “libertar”.
As palavras gregas nas passagens em que “resgate” aparece são,
302
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
respectivamente, “Lutron”, “um preço” e “antilutron”, “um preço
correspondente”. O sentido claro dessas passagens, à luz do resto do
Novo Testamento, especialmente Romanos 3:25-26, é que a morte de
Cristo foi o preço de nosso livramento da penalidade do pecado.
Vide mais além Romanos 8:33,34; 10:4; Gálatas 3:13 descreve
exatamente como somos redimidos quando nos diz que somos
remidos da maldição da Lei por meio de Cristo, que se fez uma
maldição por nós. Ele pagou a penalidade que nós devíamos. Por essa
razão vamos livres.
Notai que “resgate”em 1Timóteo 2:6 significa “um preço
correspondente”. Isto quer dizer que o preço saldado por Cristo
correspondeu à dívida que devíamos. Em outras palavras, Cristo
sofreu o equivalente exato daquilo que teriam de sofrer no inferno
aqueles por quem Ele padeceu. Se a justiça de Deus exigiu que Cristo
morresse para que Deus justificasse pecadores, a mesma justiça exigiu
que Ele pague a penalidade toda devida pelos pecadores. A justiça
tanto pode arcar com toda a penalidade como tão facilmente arcar
com a mínima parte dela.
“Porque Deus tomar como satisfação o que realmente não é
tal é dizer que não há verdade em nada. Deus pode tomar a parte pelo
todo; o erro pela verdade, o erro pelo acertado ... Se toda a coisa
criada oferecida a Deus vale justamente tanto como Deus a aceita,
então o sangue de touros e bodes podia tirar pecados e Cristo está
morto em vão” (Hodge, Syst. Theol. 2:573-81; 3:188-9).
“Deus não mandou Cristo ao inferno para sempre, mas Ele
pôs na punição de Cristo o equivalente disso. Ainda que Ele não deu
a Cristo beber o inferno atual de crentes, contudo deu-Lhe um quid
pro quo – algo equivalente disso. Ele tomou o copo da agonia de
Cristo e nele botou sofrimento, miséria e angústia ... o que foi o
equivalente exato de todo o sofrimento, toda a desgraça e todas as
303
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
torturas eternas de todo aquele que por fim estará no céu, comprado
com o sangue de Cristo” (Spurgeon, Sermões, Vol. 4, pág. 217).
“A penalidade paga por Cristo é estrita e literalmente
equivalente à que o pecador teria de levar, conquanto não seja
idêntica. O porte vicário dela exclui a última” (Shedd, Discourses and
Essays, pág. 307).
“A substituição exclui identidade de sofrimento; não exclui
equivalência” (Strong, Systematic Theology, pág. 420).
Algumas vezes os oponentes à natureza resgatadora e
redentora da morte de Cristo perguntam a quem foi pago o preço. E
eles um tanto sarcasticamente lembram-nos que alguns se apressaram
em dizer que foi pago ao diabo. Não, não foi pago ao diabo; como
uma transação comercial, não foi pago a ninguém. Os termos são
figurativos. Mas o resultado é o mesmo como se a transação Fora de
natureza comercial. O preço é a penalidade exigida pela justiça de
Deus.
Adotamos, portanto, como a verdadeira idéia da natureza da
expiação, uma idéia que combina as teorias comercial e ética como
estão descritas por Strong. Da teoria comercial aceitamos a idéia
expressa em 1 Timóteo 2:6 – o pagamento de um preço
correspondente ou equivalente. E, da teoria ética, aceitamos o fato
que não foram a honra e a majestade divinas que exigiram a expiação,
segundo afirma a idéia comercial, mas os princípios éticos da
santidade e justiça de Deus.
304
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
III.
CRISTO
A EXPIAÇÃO E A DEIDADE DE
Objeta-se algumas vezes que Cristo não podia ter sofrido em
poucas horas o equivalente do sofrimento eterno do pecador no
inferno, mas esta objeção deixa de tomar em consideração o fato que
Cristo era divino e, portanto, infinito em habilidade para sofrer. Ele
disse que nenhum homem podia tomar-Lhe a vida; que dEle
mesmo a daria. Tendo o poder, portanto de reter Sua vida, à vontade,
Ele a reteve através de tamanha intensidade de sofrimento que Ele
tragou as últimas feses do veneno do inferno por todos aqueles a
serem salvos por Ele. O que pecadores crentes teriam sofrido
extensivamente, por serem finitos, Cristo sofreu intensivamente, por
ser infinito. Um homem com uma constituição dez vezes tão forte
como a que o homem médio pode sofrer em um segundo o
equivalente de tudo que o homem mediano pode sofrer em dez.
Correspondentemente um ser infinito pode suportar qualquer porção
de sofrimento num tempo tão breve quanto lhe apraza faze-lo.
IV. A EXPIAÇÃO E A HUMANIDADE DE
CRISTO
Enquanto foi necessário que Cristo seja divino para suportar
numas poucas horas o sofrimento eterno devido a pecadores crentes,
também foi necessário que Ele seja humano para suportar o
equivalente daquilo que os seres humanos são para aturar no inferno.
Talvez foi necessário também que Cristo seja organicamente
um com o homem para faze-lo perfeitamente apropriado para Deus
aceitar o Seu sofrimento como um substituto para o do homem.
Somos responsáveis pela apostasia de Adão porque fomos
organicamente um com Adão, da qual os anjos não participaram e em
305
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
cuja queda não nos envolvemos. Assim parece claro que não teria
sido segundo a filosofia divina colocar nossa responsabilidade sobre
Cristo sem Ele tornar-se organicamente um conosco.
V. A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO
Há Três Teorias Quanto á Extensão da Expiação
1. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO
GERAL PARCIAL
Referimo-nos aqui à noção que Cristo pagou a penalidade
pelo pecado de Adão na raça inteira. Esta idéia é sustentada em
conjunção, usualmente, com a idéia de uma suposta base provisional
para a salvação de todos os homens, mas sua natureza necessita de
que a tratemos separadamente.
Pensa-se, por alguns, que esta teoria é necessária para
explicar a salvação daqueles que morrem na infância e imbecilidade
nata, mas mostramos uma base escriturística para a salvação dos tais
sem esta teoria.
João 1:29 é o passo principal citado como uma base para
esta teoria. A forma singular de “pecado” acentua-se como se
referindo ao pecado de Adão; mas o argumento não tem força,
porque há outras numerosas passagens em que se usa o singular em
referência aos pecados pessoais de homens num sentido coletivo.
Vide Romanos 3:20; 4:8; 6:1; Hebreus 9:26.
306
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Esta teoria supõe que o efeito do pecado de
Adão sobre a raça é duplo:
(1) imputação de culpa pelo ato ostensivo de Adão
em participar do fruto proibido e
(2) corrupção da natureza. E implica que a culpa pode
ser imputada à parte da corrupção.
Isto nós negamos redondamente. Nós tornamos culpados
por meio de sua prioridade natural e da qual herdamos uma
natureza corrupta. Estamos sob a penalidade do pecado porque
pecamos em Adão, sendo nossa natureza uma com ele. Romanos
5:12. Se a culpa fosse imputada sem corrupção, então a Lei exigiu a
morte de Cristo, porque Ele teve uma natureza humana; mas a idéia
que Ele morreu em qualquer sentido para Si mesmo é totalmente
estranha à Escritura. Ele em toda a parte se descreve e se apresenta
sem nenhuma culpa de Si mesmo, mas como levando a culpa dos
outros. Se Lhe foi imputada culpa pelo pecado adâmico, como
necessariamente era o caso se esta culpa é imputada a todo
descendente de Adão à parte de corrupção, então Ele conheceu
pecado, mas a Escritura diz que Ele não conheceu pecado.
307
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
2. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO
GERAL.
(1) A teoria apresentada.
A teoria de uma expiação geral é que Cristo morreu para
cada filho de Adão – para um tanto como para outros (* ),
removendo do caminho da salvação de todos os homens
impedimentos legais e fazendo-a objetivamente possível a cada
ouvinte do Evangelho salvar-se. Diz Strong: “As Escrituras
representam a expiação como tendo sido feita para todos os homens
e como suficiente para a salvação de todos. A expiação, portanto, não
está limitada senão a aplicação da expiação.” E outra vez: “A expiação
de Cristo fez provisão objetiva para a salvação de todos, por remover
da mente divina todo obstáculo ao perdão e restauração dos
pecadores, exceto sua contumaz oposição a Deus e recusa de virar- se
para Ele.” Diz Andrew Fuller que, se a expiação é vista meramente
quanto “ao que ela é suficiente em si mesma e declarada no
Evangelho estar adaptada para, ... foi para pecadores como
pecadores”; mas que, em “respeito ao propósito do Pai em dar Seu
Filho para morrer e ao designo de Cristo em ceder Sua vida, foi para
os eleitos só.”
Esta teoria da expiação é algumas vezes sumarizada pelo
dito que a expiação foi suficiente para todos, mas suficiente somente
para os eleitos ou, como alguns prefeririam, para aqueles que crêem.
Ou, para pô-lo de outra maneira, diz-se muitas vezes que Cristo é o
Salvador de todos os homens provisional e especial ou efetivamente
de crentes.
Outros têm imaginado que o sacrifício no Calvário foi para
todos, mas que a oferenda do sangue de Cristo no céu foi para os
308
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
eleitos. Tudo dessas afirmações dá na mesma coisa – uma expiação
geral com uma aplicação ou designio limitados. Isto cremos e
esperamos provar que é uma contradição em termos, contrária à
razão, repugnamente à natureza de Deus e não segundo uma
interpretação homogênea da Escritura.
(2). A teoria desaprovada.
A. Esta teoria não provê satisfação real da justiça de Deus,
ou ela envolve a Deus na injustiça de punir aqueles para quem a
justiça foi satisfeita. Eis-aqui um dilema e cada advogado de uma
expiação geral escolha a ponta em que se pendure. Uma dessas
proposições deve ser verdadeira.
A primeira proposição é, provavelmente, a que mais
advogados de uma expiação geral são logicamente forçados a aceitar.
Nenhuma dúvida que os mais deles subscreveriam a declaração que,
se tivesse havido só um pecador para salvar, teria sido necessário a
Cristo ter sofrido exata e identicamente o que Ele padeceu. Diz
Boyce: “O que Cristo precisou fazer por um homem teria sido
suficiente para todos” (Abstract of Theology, pág. 314). Diz Strong:
“Cristo não precisaria de sofrer mais, se todos fossem salvos”
(Sytematic Theology, pág. 422).
Esta noção quanto ao sofrimento de Cristo é totalmente
inconsistente com a justiça. Mil pecadores no inferno, merecendo
todos o mesmo grau de punição, sofrerão mil vezes tanto como
sofrerá cada um deles individualmente. Tomará isto para satisfazer a
justiça. Ficará a justiça satisfeita agora em Cristo por todos os mil, se
Cristo sofre apenas tanto como sofreria um pecador? Em outras
palavras, a justiça exige uma coisa dos pecadores mesmos e outra de
Cristo como substituto deles? É isto exatamente o que a teoria de
uma expiação geral envolve.
309
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
A teoria de uma expiação geral não satisfaz a justiça mais do
que a teoria governamental. Na morte de Cristo, segundo a teoria de
uma expiação geral, temos apenas uma exibição cênica da ira de Deus
contra o pecado; então Deus aplica, à vontade, os benefícios disto a
quem queira. Noutras palavras, em vista do que Cristo fez, Deus
relaxa a justiça rigorosa e salva uma multidão incontável de pecadores
que mereciam o inferno, para os quais a justiça não foi atualmente
satisfeita. De modo que, em vez de a morte de Cristo proporcionar a
Deus o meio de ser justo e ao mesmo tempo salvar pecadores
crentes, O habilitar a relaxar Sua justiça.
A única maneira de escapar desta última proposição é
considerar o arrependimento, a fé e a obediência dos que se salvam
como completando o que está faltando na morte de Cristo. Os
arminianos podem dizer isto (contudo alguns deles não consideram
arrependimento, fé e obediência como sendo meritórios na salvação),
mas outros não podem sem render sua crença na salvação como
sendo inteiramente da graça de Deus.
Alguns podem tentar escapar ao dilema estabelecido no
primeiro parágrafo sob esta epígrafe por afirmarem que Cristo sofreu
atualmente pelos pecados de todos os homens e que os perdidos no
inferno sofrerão apenas pelo pecado de incredulidade continuada.
Diversas coisas podiam ser ditas em refutação
desta idéia.
(1) Deixa o pagão que não ouviu o Evangelho sem
sofrer nada no inferno, porque nenhum homem pode ser acusado
justamente por não crer em um de quem nunca ouviu falar. Romanos
10:14. Que Deus não acusará aqueles que nunca ouvem o Evangelho
310
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
do pecado de incredulidade está claro em Romanos 2:12, que nos
informa que Deus não julgará pela Lei os que nunca ouviram a Lei.
Deus os julgará somente à luz de suas próprias consciências.
Romanos 2:14,15. Alguém deve pecar contra a luz antes de poder ser
justamente punido por desobediência. Daí, se ninguém sofrerá no
inferno por qualquer pecado, exceto o pecado de incredulidade
continuada, os que nunca ouvem o Evangelho nada terão por que
pagar.
(2) Todo crente era culpado do pecado de incredulidade
desde o tempo de ouvir o Evangelho até ao tempo de o aceitar. Este
pecado de incredulidade, sem dúvida, teve de ser expiado como
qualquer outro pecado. Assim Cristo sofreu pelo pecado de
incredulidade por aqueles que estão salvos. Agora, se Ele morreu por
todos, por um tanto como por outro, o que é necessário se a salvação
era para ser feita possível a todos, então Ele morreu pelo pecado de
incredulidade por todos os homens. Isto deixa a qualquer que for
para o inferno absolutamente sem pecado algum por que sofrer. Se
Cristo não morreu pelo pecado de incredulidade de todos que o
cometeram, então Ele não morreu suficientemente para a salvação de
todos.
(3) A Bíblia claramente ensina que os perdidos no inferno
sofrerão por todos os seus pecados. Romanos 2:5,6; 2 Coríntios 5:10;
Efésios 5:5,6; 2 Pedro 2:9-13; A. S. V.; Apocalipse 20:13.
B. Esta teoria é fútil, naquilo em que ela não é necessária
como uma base de qualquer fato escriturístico, dever, ou resultado,
ou como prova de qualquer verdade revelada.
(a). Não se discute que Deus estava sob a obrigação de
prover redenção por todos os homens, sem exceção, porque um
argumento tal excluiria a graça da expiação. A graça quer dizer não
somente favor imerecido senão também favor não devido. Graça e
311
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
obrigação excluem-se mutuamente. Ainda mais, se Deus foi obrigado
a prover redenção por todo filho de Adão, da mesma maneira Ele
seria obrigado a dar a cada um a habilidade de receber essa redenção
pela fé. Isto Deus não fez, segundo mostramos no prévio capítulo
sobre a eleição (*).
Ademais, não era necessário que Deus provesse uma
expiação geral para fazer os homens responsáveis pela rejeição de
Cristo. Os homens rejeitam a Cristo, não por causa de uma falta de
expiação para eles, mas por causa de amarem as trevas mais do que a
luz (João 3:19); por causa de não quererem que Ele reine sobre eles
(Lucas 19:14).
(b). Nem foi necessário que Cristo morresse por toda a
raça adâmica para que Deus fizesse sincera Sua chamada geral. É da
noção de alguns que a chamada geral de Deus requer de todos os
homens crerem que Cristo morreu por eles. Isto não é verdade. Os
vinte e oito capítulos de Atos, “ainda que repletos de informações
sobre relações apostólicas com as almas, não arquivam precedente
algum que seja desse discurso agora popular aos inconvertidos –
Cristo morreu por vós (Sanger, Os Redimidos)”. “Todos os homens
são chamados na Escritura a crerem no Evangelho, mas não há um
caso na Escritura em que os homens são intimados a crer que Cristo
morreu por eles.” (Carson, “The Doctrine of the Atonement and
Other Treatises”, Pag. 146).
A ilustração seguinte de “O sangue de Jesus”, por William
Reid, pág. 37, também mostra a compatibilidade de uma expiação
limitada e os convites gerais do Evangelho. Após descrever
passageiros tomando um trem na Estação de Aberdeen.
312
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Estrada de Ferro Nordeste, diz ele:
“Nem eu vi qualquer um recusando-se entrar porque o carro
proveu só um número limitado de seguir por aquele trem. Podia
haver oitenta mil habitantes na cidade e nos seus arredores, mas não
haver ainda assim alguém que falasse disso como absurdo prover
acomodação só para umas vinte pessoas porque, praticamente,
descobriu-se ser suficiente...”
“Deus, na sua infinita sabedoria, fez provisão de uma
espécie semelhante para todo o nosso mundo perdido. Proveu um
trem de graça para levar ao céu tantos dos seus habitantes, a grande
metrópole do universo, quantos estão dispostos a se aproveitarem das
provisões graciosas”.
Supondo que Deus tivesse esperado até o fim antes de
mandar Cristo morrer (como Ele podia ter feito só tão facilmente
como Ele esperou quatro mil anos depois que o pecado entrou no
mundo antes de mandar a Cristo), e o tivesse então mandado para
morrer por todos que tivessem crido. Teria então sido manifesto que
uma expiação limitada não oferece obstáculo a salvação de qualquer
homem que não existe já por causa da perversidade da natureza do
homem. Está claro, seguramente, a toda pessoa pensante, que a
ocorrência da morte de Cristo há dois mil anos não altera o caso,
porque Ele morreu por todos que crerem, estes tendo sido
conhecidos de Deus desde a eternidade tão completamente como
serão no fim.
Insinuamos que Deus está tanto sob a obrigação de remover
a inabilidade espiritual do homem para vir a Cristo como está para
prover-lhe uma expiação. Em outras palavras, a perversidade da
natureza do homem faz sua salvação tão impossível de um ponto de
vista como faz a ausência de uma expiação.
313
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Mas alguns podem abrir uma exceção a isto, dizendo que,
enquanto a perversidade de natureza do homem cria uma
impossibilidade moral, a falta de expiação fornece uma
impossibilidade natural. Respondemos que isto está correto, mas a
impossibilidade moral é primária e é absoluta; portanto, a
impossibilidade natural não pode fornecer nenhum entrave mais.
(c). Também não é necessário uma expiação geral à
manifestação do amor de Deus. A provisão de uma expiação sem
efeito não revelaria nada senão um amor cego e fútil. É desta espécie
de amor de Deus? Não, na verdade, o amor de Deus é inteligente,
intencionado, soberano, efetivo. O amor redentivo de Deus está
totalmente fundado dentro dEle mesmo e não procede de modo
algum de os objetos dele serem amorosos, nem porque mereçam
qualquer coisa boa de Suas mãos; logo, este amor está inteiramente
sujeito à Sua soberana vontade (Deuteronômio 10:15 ; Romanos
9:13). Dispensar Seu favor a objetos eleitos é do seu prazer gracioso,
imanente e particular.
(d). Uma expiação universal, finalmente, não é necessária
para a manutenção do zelo evangelístico e do espírito missionário.
Admite-se livremente que tem havido quem sustentou uma expiação
limitada cujo zelo evangelístico esteve longe do que devera ter sido.
Todavia, a falta não estava nessa doutrina senão na sua falta em ver e
crer outras verdades. Com muitos, incluindo os nobres valdenses e
albingenses, bem como Spurgeon e muitos outros de grande marca,
transbordante zelo evangelístico e forte crença numa expiação
limitada, tem morado lado a lado na mais gloriosa harmonia. De fato,
a crença numa expiação limitada, em razões que aqui não dispomos
de espaço para discutir, deveria fazer homens mais evangelísticos do
que a crença numa expiação geral, guardando-os, entrementes, de
excessos dolorosos.
314
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
3. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO
LIMITADA
(1). A teoria apresentada.
A teoria de uma expiação limitada sustenta que Cristo
morreu para os eleitos e só para eles; que o valor e desígnio ou
aplicação, a suficiência e a deficiência dela são as mesmas; que Cristo,
em nenhum sentido que seja, morreu por qualquer que perece no
inferno. A isto damos o nosso endosso feliz e incondicional.
A teoria prova
A. Argumentos de outros homens.
“Todos aqueles por quem Cristo deu a sua vida em resgate
ou estão por ela resgatados, ou não estão; que todos não estão
resgatados ou remidos do pecado, da Lei, de Satã e da segunda morte,
é evidente
... Agora, se alguns por quem Cristo deu Sua vida em
resgate, não estão resgatados, então essa absurdidade chocante ...
segue ... a saber, que Cristo está morto em vão, ou que, em última
análise, Ele deu Sua vida como um resgate em vão; pelo que será
retamente concluído que Ele não deu sua vida em resgate por todo
homem individualmente” (John Gill, The Cause of God and Truth,
pág. 98).
“As provas da Escritura assim chamadas de Redenção
Universal dependem de suposição humana, não da simples Palavra.
315
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Assim, quanto ao que concerne à “propiciação pelos pecados de todo
mundo”, é-nos dito que a palavra “mundo” deve significar toda
pessoa no mundo. Mas, porque deve significar isto? Essa é a
pergunta sem resposta. A palavra “mundo” quer dizer muitas coisas
diferentes na Palavra de Deus, sobre as quais vide Crudens
Concordance. Só a relação textual é o seu verdadeiro intérprete.
Decretar que ela deve significar isto ou aquilo não é senão indulgir em
prosa temerária e ociosa” (Sanger, The Redeemed, pág. 7).
“Indubitavelmente, ‘universal’ e ‘redenção’ (aqui usadas
como sinônimos com ‘expiação’: no sentido de ‘agorazo’), onde
grandíssima parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis como
‘Romano’ e ‘Católico’” (John Owen, como citado aprovadamente por
C. H. Spurgeon, Sermões, Vol. 4, pág. 220).
“Fosse o todo da humanidade igualmente amado de Deus e
promiscuamente remido por Cristo, o cântico que Deus os crentes
são mandados cantar custosamente correria nestas admiráveis toadas:
“Ao que nos amou e lavou de nossos pecados no seu próprio sangue
e nos fez reis e sacerdotes para Deus”, etc. (Apocalipse 1:5,6). Um
hino de louvor como este parece proceder, evidentemente, na
hipótese de eleição particular da parte de Deus e de uma redenção
limitada da parte de Cristo, a qual achamos declarada mais
explicitamente (Apocalipse 5:9), onde temos um transcrito desse hino
que os espíritos dos justos aperfeiçoados cantam agora diante do
trono e do Cordeiro: Tu foste morto e nos remiste para Deus pelo
Teu sangue de toda a raça e língua e povo e nação. Donde se diz que
os eleitos foram remidos dentre os homens (Apocalipse. 19:4)”
(Augustus M. Toplady, autor de “Rocha dos Séculos”, no prefácio a
Absolute Predestination, por Zanchius).
“Que Cristo é nossa vida, verdade, paz e justiça – nosso
pastor e advogado, sacrifício e sacerdote, que morreu para a salvação
316
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
de todos que cressem e de novo surgiu para sua justificação” (Artigo
7 da Confissão de Fé adotada em 1.120 pelos valdenses, o grupo mais
em evidência de progenitores batistas. Vide Jones Church History,
pag. 276).
A doutrina da expiação tem sido entendida diferentemente.
As igrejas antigas bem uniformes sustentaram que era particular; isto
é, que Cristo morreu só pelos eleitos e que nos Seus estupendos
sofrimentos “não se teve respeito nem se fez provisão por quaisquer
outros da raça arruinada de Adão” (Benedict, General History of the
Baptist Denomination, pág. 456).
“Se há qualquer coisa claramente ensinada na Escritura é
que o sacrifício de Cristo foi feito somente para aqueles que forem
eventualmente salvos por ela” (Alexander Carson, The Doctrine of
the Atonement and Other Treaties, pág. 196).
“Não pode ser que uma alma por quem Ele (Cristo) deu Sua
vida e derramou Seu sangue; cujos pecados Ele levou e cuja maldição
Ele susteve, deva perecer finalmente. Porque, se esse fosse o caso, a
divina justiça, depois de ter cobrado e satisfeito à mão do Abonador,
requereria o principal; em outras palavras, exigiria pagamento em
dobro” (Booth, The Reign of Grace, pág. 235).
“Pode um Deus de perfeição ética infinita, que com a Sua
própria mão lançou a tremenda carga da culpa do pecador sobre o
adorável Abonador, repudiar os tratos do Seu próprio concerto e
sonegar-Lhe a recompensa comprada pelo custo do Seu
preciosíssimo sangue? Dizer assim equivale e uma contestação à
verdade e à justiça de nosso Deus guardador do pacto”. (Prof. Robert
Watts, Sovereignty of God, ajuntando artigos de Pres. G. W.
Northrup, publcados no Standard of Chicago, e as respostas de Prof.
317
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Watts, quais artigos foram escritos pela sugestão de T. T. Eaton e
publicados no Western Recorder enquanto Eaton foi editor).
“Eles (certos teólogos) crêem que Judas foi expiado tanto
como Pedro; crêem que os precitos no inferno foram tão objetos da
satisfação de Jesus Cristo como os salvos no céu; e conquanto eles o
não digam nos devidos termos, contudo o devem pensar, porque é
uma bela inferência que, no caso de multidões, Cristo morreu em vão,
pois morreu por todos eles, dizem; e ainda tão ineficiente foi Sua
morte por eles que, conquanto morreu, eles são condenados
subseqüentemente. Agora, uma tal expiação eu a desprezo, rejeitou-a.
Posso ser chamado antinominiano ou calvinista por pregar uma
expiação limitada; mas eu antes crera numa expiação limitada que é
eficaz para todos os homens para quem foi intencionada do que uma
expiação universal ineficaz, salvo quando com ela se ajuntou a
vontade do homem.” (Spurgeon, Sermons, Vol. 4, pág. 218).
“Creio que a eleição elegeu os eleitos, que a presciência os
pré-conheceu; que foram “ordenados para a vida eterna” e “préordenados
para serem conforme a imagem do Seu Filho”; que a
redenção os remiu; que a regeneração os regenerou; que a santificação
os santifica; que a justificação os justifica; que a conservação os
conserva; que a providência provê por eles e assim por diante até à
glorificação. Daí, aqueles a serem glorificados são aqueles préconhecidos
e remidos. Não creio numa redenção geral e numa
glorificação especial” (J. B. Moody, Sin, Salvation, and Service), pág.
40).
“Eis aqui os cinco pontos do calvinismo:
Eleição incondicional ou predestinação, expiação
limitada ou redenção particular, depravação total necessitando graça
proveniente chamada eficaz ou graça irresistível, conservação e
318
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
perseverança dos santos. E o escritor não hesita em subscrever todos
os cinco pontos” (C. D. Cole, Definitions of Doctrines, Vol. 1, pag.
131).
O autor dá um entusiástico “Amém” a todos destes. Ele não
se envergonha de se achar na sua companhia como na de muitos
outros eminentes santos de Deus que sustentaram os mesmos
sentimentos. Ele está pronto a achar-se contendendo pela fé histórica
dos batistas, a fé das antigas igrejas; a fé dos valdenses, “essas
eminentes e honradas testemunhas da verdade durante o longo
período em que a igreja e o mundo foram assaltados por torpe erro e
imoralidade” (Rice, Deus Soberano e o Homem Livre).
B. Argumento da razão
É a única teoria que faz a morte de Cristo
verdadeiramente substitucionária. Se Cristo morreu por um
homem tanto como por outro, o que Ele deve ter feito se Ele fez a
salvação possível a todos os homens, então Ele morreu por alguns
que sofrerão eternamente no inferno. Sua morte, portanto, não foi
verdadeiramente substitucionária.
(b). É a única teoria compatível com a justiça de Deus.
A justiça de Deus exigiu que Cristo pagasse a penalidade exata dos
pecados daqueles que se salvam. Sua justiça (de Deus) também exige
que Ele salve todos cuja penalidade Cristo pagou. Isto é uma
proposição axiomática. É também uma proposição escriturística.
Qual é o significado de 1 João 1:9 em estabelecer que Deus é “justo
para perdoar os nossos pecados”, se não quer dizer que o perdão de
nossos pecados é um ato de justiça para com Cristo? A teoria de uma
expiação limitada sozinha deixa qualquer razão justa para a
319
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
condenação de pecadores impenitentes. Se fez-se uma expiação geral,
então não há justiça em mandar qualquer pecador para o inferno. Se
for suficiente para todos os homens, então exige quitação para todos.
Desde que a expiação foi exigida como uma satisfação à justiça de
Deus, sua eficiência deve igualizar sua suficiência. A mesma justiça
que requer a penalidade do pecado seja paga, assim tão enfaticamente
requer que o pecado seja libertado quando o pagamento se tenha
feito. Não há absolutamente fundamento na Escritura ou na razão
para se fazer uma distinção entre a expiação e a redenção ou
reconciliação, quanto ao seu alcance ou valor. Expiação, redenção e
reconciliação, todas se aplicam à base objetiva do perdão e todas por
igual se aplicam ao perdão atual.
(c). É a única teoria que dá à morte de Cristo qualquer valor
argumentativo em provar a segurança do crente. A seguinte afirmação
será reconhecida, sem dúvida, como um forte argumento da
segurança do crente por todos que crêem essa doutrina:
“Cristo, na Sua morte sobre a cruz, sofreu por todos dos
pecados de todo crente. Se o crente devera ir para o inferno, ele
sofreria pelos mesmos pecados pelos quais Cristo sofreu. Crente e
Cristo estariam então pagando pelos mesmos pecados, e Deus, ao
punir dois homens pelos pecados de um, seria o tirano mais injusto
do universo. Pereça o pensamento! O juiz de toda a terra deve fazer
justiça”
Mas este argumento não tem força se Cristo morreu por
todos, que tanto um como outro, que Ele deve ter feito se fez a
salvação possível para todos, removendo todos os obstáculos do
caminho de sua salvação. Ademais, segundo este argumento e
também segundo a verdade e a lógica, todos aqueles que afirmam que
Cristo sofreu a penalidade da Lei por todo homem fazem Deus “o
tirano mais injusto do universo”.
320
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
C. Argumentos da Escritura
(a) Isaías 53:11. Nesta passagem, o profeta, ao falar do
sacrifício de Cristo, diz que Deus “verá o trabalho da sua alma e
ficará satisfeito”. Tomamos isto para significar que as justas
exigências de Deus, a penalidade da Lei transgredida, foram satisfeitas
na morte de Cristo. Mas, por quem? Se por todo o filho de Adão,
então Deus não pode com justiça condenar qualquer deles. A justiça
satisfeita não pode exigir nada mais. Se o leitor está pensando de
argüir que o perdido no inferno sofrerá, não pelos seus pecados em
geral senão somente pelos pecados de rejeitar a Cristo, nós o
devolvemos à nossa discussão da teoria de uma expiação sob “(2). A
teoria desaprovada”.
Mais ainda, esta mesma passagem representa a Deus como
dizendo: “Pelo seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a
muitos: porque as suas iniqüidades levará sobre Si”. Isto ensina como
Cristo justifica os homens, isto é, levando suas iniqüidades. E notai
que esta justificação não é feita para depender de qualquer outra coisa
mais. Se Cristo tivesse que levar as iniqüidades dos homens para
justifica-los, então segue, como o dia à noite, que aqueles cujas
iniqüidades Ele levou devem receber justificação. Por aceitar esta
satisfação às mãos de Cristo, Deus põe-se a Si mesmo sob a
obrigação a Cristo (não ao pecador) de comunicar justificação a cada
um por quem a satisfação se faz, a qual Ele faz pela operação do
arrependimento e da fé no coração.
(b). João 15:13: “Ninguém tem maior amor do que este,
de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Se Cristo depôs Sua vida
por todo homem sem exceção, então Ele tem o maior amor por todo
homem; e, portanto, ama os que perecem no inferno tanto como
aqueles a quem Ele salva. Podia Cristo porventura estar satisfeito com
alguns dos objetivos do Seu maior amor no inferno?
321
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Mais ainda, se fosse verdade que Cristo ama aqueles que
perecem tanto como os que se salvam, teriam de atribuir nossa
salvação a nós mesmos antes ao amor de Cristo.
Romanos 8:32. “O que não poupou Seu próprio Filho, mas
O entregou por todos nós, como não nos dará com Ele também
todas as coisas?” Esta passagem argue que o amor dom de Deus, o
Seu Filho, garante todos os dons menores. Daí se segue que Deus
entregou Seu Filho a ninguém exceto aqueles a quem Ele livremente
da todas as outras bênçãos espirituais, isto é, aqueles que crêem. Vide
Efésios 1:3.
(c).
Romanos 8:33,34. Estes versos dizem-nos que
acusação ou condenação não podem ser trazidos contra os eleitos;
que Deus não os acusará, porque é Ele que justifica e que Cristo não
condenará, porque por eles morreu. Esta passagem estaria privada de
toda a força lógica se Cristo tivesse morrido por qualquer que Ele
algum dia condenará em juízo. Daí Ele não morreu por ninguém
exceto aqueles que escapam ao juízo.
(d).
2 Coríntios 5:14 “Porque o amor de Cristo nos
constrange que assim julgamos, que um morreu por todos, logo todos
morreram”. Eis aqui a inegável asserção que todos por quem Cristo
morreu, morreram representativamente nEle. Daí a morte não tem
poder sobre eles e nenhum deles a sofrerá, mas todos receberão a
justificação e a vida eterna pela fé. Ao comentar as três últimas
palavras desta passagem, diz A. T. Robertson: “Conclusão lógica ... o
um morreu pelo todo e assim o todo morreu quando ele morreu.
322
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
TODA A MORTE ESPIRITUAL POSSÍVEL PARA
OS A QUEM CRISTO MORREU”
(Ênfase nosso – Word Pictures in the New Testament). Não
deixe de notar o uso de “todo” nesta passagem.
(e). 2 Coríntios 5:19 “Deus estava em Cristo, reconciliado
(Katalasso) o mundo consigo mesmo, NÃO LHES IMPUTANDO
OS SEUS PECADOS ...” Isto ensina o que Deus estava fazendo na
morte de Cristo e como Ele o estava fazendo: Ele estava
reconciliando os homens consigo e Ele o estava fazendo por lançar
os seus pecados sobre Cristo e, portanto, não imputando,
reconhecendo e acusando aqueles por quem Cristo morreu. Cristo, na
Sua morte, executou completa reconciliação objetiva para os
objetivos de Sua morte, o que necessita serem eles trazidos à
experiência da reconciliação subjetiva. A única conclusão correta
disso é que Cristo morreu por aqueles e só aqueles que recebem
reconciliação eventualmente. Note o uso da palavra “mundo” nesta
passagem.
(f).
João 10:15; Atos 20:28; Efésios 5:25. Nestas
passagens se diz ter Cristo comprado a igreja, ter-Se dado por ela, ter
dado Sua vida pelas ovelhas. “Sei que termos universais estão algumas
vezes ligados nas Escrituras com a expiação; mas, se os mesmos são
para ser interpretados no seu sentido mais lato, por que os escritores
sagrados deveriam ter empregado apenas o restritivo? Os termos
universais ... podem ser harmonizados prontamente com os
restritivos, mas homem algum pode fazer o restritivo harmonizar-se
com o ilimitado” Parks, The Five Points of Calvinism)
323
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
(2). As Escrituras explicadas Tomamos aqui
as passagens tomadas por alguns como ensinando a
expiação geral.
A. João 3:16; 1 João 2:2. Em ambas as passagens a palavra
“mundo” é usada em conexão com a obra salvadora de Cristo. Uma
fala de Deus como amando o “mundo” e a outra fala de Cristo como
sendo uma propiciação pelos pecados de todo o “mundo”.
Contra a interpretação dada a essas passagens pelos
advogados de uma expiação geral, respondemos:
(a). Um amor que causasse Deus dar a Cristo para morrer
em lugar de cada homem individual da raça de Adão também causaria
Deus salvar a todos (* ). Por que deveria Deus discriminar entre os
homens em salva- los se Ele os amou a todos com o amor de todos
os amores? Vide Romanos 8:32.
(b).
Não haveria expressão real de amor em mandar um
salvador a morrer vãmente pelos homens. Que espécie de amor é
aquele que realiza um ato que não pode beneficiar realmente? Haveria
qualquer mor real mostrado por um pai em comprar belo quadro para
um filho que está totalmente cego?
(c).
Deus não ama todos os homens sem exceção está
provado, como já citado, pela declaração: “Amei a Jacó mas aborreci
Esaú” (Romanos 9:13).
(d).
A palavra “mundo”, finalmente, de nenhum modo
alude a todos os homens sem exceção em cada caso da Escritura e,
portanto, fica para ser provado que ela tem essa acepção nessas
324
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
passagens. “Mundo” é usado de incrédulos em distinção de crentes
(João 7:7, 12:31, 14:17, 15:18,19, 16:20, 17:14; I Coríntios 4:9,
11:32; Efésios 2:2;
Hebreus 11:7; 1 João 3:1; 3:13; 5:19. Está usada para gentios
em distinção de judeus (Romanos 11:12,15). Está para a generalidade
do povo conhecido (João 12:19). Cremos que a palavra alude, nas
duas passagens sob consideração, não a todos os homens sem
exceção, mas a todos os homens sem distinção; isto é, a homens de
todas as nações, tribos e línguas (da qual temos uma paralela em
Apocalipse 7:9); revelando que Cristo não morreu só para os judeus
senão para os gentios também, mesmo até aos confins da terra. A
razão lógica do emprego desta palavra neste sentido é dada por John
Gill, como segue:
Foi uma controvérsia agitada entre os doutores judeus se,
quando o Messias vier, os gentios, o mundo, terão qualquer benefício
por ele; a maioria estava excedendo de muito na negativa da resposta
e determinou que não teriam ... que os juízos mais severos e
tremendas calamidades lhes aconteceriam; sim, que seriam lançados
no inferno no lugar dos israelitas. Esta noção recebeu a oposição de
João Batista, Cristo e seus apóstolos e é a verdadeira razão do uso
desta frase nas passagens que falam da redenção de Cristo” (The
Cause of God and Truth, pág. 66) (* ). Como um judeu típico
Nicodemos pensou que Deus não amava a ninguém fora dos judeus,
mas nosso Senhor lhe disse que Deus de tal maneira amou o mundo
(gentios bem como judeus), que lhe deu o Seu Filho unigênito, para
que quem crer nEle (gentios ou judeus) não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Cole, Definitions of Doctrines, Vol. 1, pág. 120). Notai outra
vez o uso de “mundo” em II Coríntios 5:19, onde
325
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
“Mundo” por quem Cristo morreu foi potencialmente
reconciliado por Sua morte, não é para ter imputado seus pecados.
Noutras palavras, deve receber o perdão que Ele lhe comprou.
B. 1 Timóteo 2:6; Tito 2:11. A palavra “todos” aparece
em ambas estas passagens, mas esta palavra é usada na Escritura
numa variedade de sentidos e de nenhum modo é usada na Escritura
numa variedade de sentidos e de nenhum modo é sempre usada no
absoluto.
Notai uns poucos de seus usos limitados:
(1). Um grande número (Mateus 3:5; 4:24; 14:35).
Todas espécies e classes (Mateus 23:47; Lucas 2:10; João
12:32; Atos 13:10; Romanos1:29;15:14; II Tessalonicenses 2:9; 1
Timóteo 6:10).
(2). Tudo com exceções manifestas (Marcos 11:30; Atos
2:46-47; 1 Coríntios 6:18; 8:32; 9:22; 10:33; Tito 1:15).
(3). Todos ou cada um de uma certa classe (Lucas 3:21;
Romanos 5:18, última parte; 1 Coríntios 8:2 comparado com os vs. 7
e 11; 15:22, última parte; 1 Coríntios 8:2 comparado com os vs. 7 e
11; 15:22, última parte; Colossenses 1:28).
Assim podemos ver facilmente que o significado de “paz”
deve ser determinado segundo o contexto e o ensino da Escritura em
geral. Portanto, em vista do que se tem dito sobre as inferências
inescriturísticas da idéia que Cristo morreu por todos os homens sem
exceção, afirmamos que “paz”, nas passagens pré-citadas, é usada no
segundo sentido acima listados e que o significado é homens de “toda
a nação, de todas as tribos e povos e línguas”, da qual achamos uma
326
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
paralela descrita em Apocalipse 7:9. O “todos” pelo qual Cristo
morreu é exatamente cotérmino com o “todos” que Ele atrai a Si
(João 12:32) (*).
“Está observado (I Timóteo 2:6) que se diz que Cristo darse
em resgate por todos, o que está entendido de todos os homens
em particular; mas devera ser observado também que este resgate é
“antilutron huper panton”, um resgate vicário, substituído no lugar de
todos, pelo que, um preço inteiro foi pago por todos e satisfação
plenária feita pelos pecados de todos, o que não pode ser verdadeiro
de todo homem individual, porque então nem um homem podia ser
condenado e punido justamente ... É melhor entender-se por todos
os homens alguns de toda espécie...
” (John Gill, Cause of God and Truth, pag. 51).
C. Hebreus 2:9. Não há aqui palavra para “homem” no
grego. A expressão é simplesmente “todos” ou “cada um”. No grego:
“pás”. E o contexto supre explanação quanto àqueles incluídos nesta
passagem, a saber, todo filho que Ele traz à glória. Assim, “todos” é
usado aqui no quarto sentido listado acima, isto é, todo ou cada um
de uma certa classe.
D. I Timóteo 4:10. A mera provisão de salvação por
todos os homens não faz de Deus seu Salvador qualquer coisa mais
do que salva-los. Isto não satisfaz o significado de salvador se é
aplicado à salvação da alma. No grego é “soter”, que quer dizer
“livrador”e “conservador”, bem como salvador. Estamos persuadidos
que este é o significado aqui. Deus livra a todos os homens (tanto
quanto Lhe apraz fazer assim) de perigos tanto visíveis como
invisíveis e os conserva em suas vidas. É assim que Ele exibe “as
riquezas de Sua bondade e paciência e longanimidade” que deveriam
levar os homens ao arrependimento (Romanos 2:4). O que Deus faz
327
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
por todos os homens em geral, Ele faz de uma maneira especial pelos
crentes.
E. II Pedro 2:1. A palavra desta passagem para o Senhor
não é “Kurios”, a qual é usada tanto de Deus ou de Cristo; mas é
“despotes”, a qual nunca se usa de Cristo. Daí ser a referência a Deus.
Pedro escreveu especialmente aos judeus. Sem duvida os falsos
mestres também eram judeus. E em Deuteronômio 32:6 explica
como o Senhor os comprara. Aqui se diz ter Deus comprado toda a
nação judaica porque Ele os livrou do Egito.
1. A Expiação não era necessária
Alguns teólogos, principalmente na idade média, negaram a
necessidade da expiação. Para eles a morte substitutiva de Cristo foi
fruto de uma decisão arbitrária de Deus. Para Duns Scotus, por
exemplo, Deus poderia ter aceitado qualquer outro substituto ou até
ter redimido seu povo sem nenhuma obra de satisfação. Hugo
Grócio, responsável pela teoria governamental da expiação (veremos
no próximo post) seguiu a mesma linha de pensamento, dizendo que
a cruz foi apenas uma demonstração moral do ódio que Deus tinha
pelo pecado, o que poderia ser feito de outra maneira. A teologia
liberal moderna também defende esse ponto de vista. Para o liberais,
influenciados por Schleiemacher, a cruz não tinha um poder judicial,
mas apenas moral, para influenciar o homem ao arrependimento e
salvação. Assim, negavam também a necessidade da expiação.
2. A Expiação era hipoteticamente
necessária.
Grandes teólogos como Atanásio, Agostinho, Tomás de
Aquino e até Lutero e Calvino defenderam a posição de que, pelo
decreto divino, a expiação se tornou necessária. Em outras palavras,
328
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
poderia haver outro modo, mas Deus soberanamente escolheu e
decretou que esse seria o único meio de salvação. Berkhof cita o
grande reformador: “Diz Calvino: Interessava-nos profundamente
que aquele que havia de ser o nosso mediador, fosse
verdadeiramente
Deus e verdadeiramente homem. Se se indagasse sobre a
necessidade, esta não era o que comumente se chama necessidade
simples e absoluta, mas, sim, a que fluiu do decreto divino, do qual
dependia a salvação do homem. O que era melhor para nós, nosso
misericordioso Pai determinou.” (Berkhof, 2012, pag 339)
3. A expiação era absolutamente necessária.
Essa reposta foi dada por Irineu na igreja primitiva e por
Anselmo na idade média. A teologia reformada e suas confissões
deram preferência a ideia de que não havia nenhum outro jeito pelo
qual Deus poderia perdoar os pecados dos seus eleitos. Aqui John
Murray faz uma observação importante. Ele adiciona o termo
“consequente” para explicar que a morte de cristo se fez necessária
pelo anterior decreto de salvação de Deus. Ou seja, Deus não tem a
necessidade absoluta de salvar qualquer homem que seja, mas a morte
de Cristo se tornou absolutamente necessária para a salvação que
Deus, eternamente, escolheu promover.
Murray explica:
A palavra consequente aponta para o fato de que a vontade
ou decreto de Deus para alguns resulta de sua livre e soberana graça.
Salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade
soberana de Deus. (Murray, 2010, pag 13)
329
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
No Catecismo de Heidelberg, um dos mais importantes
documentos da reforma,
A pergunta 40 trata desse tema: Por que Cristo devia
sofrer a morte?
R. Porque a justiça e a verdade de Deus
(1) exigiam a morte do Filho de Deus; não houve outro
meio de pagar nossos pecados
(2). Essa também é a nossa reposta: A morte de Cristo, sua
expiação, foi absolutamente necessária. Repudiamos totalmente a
primeira resposta por ser uma interpretação liberal e falaciosa que não
entende a seriedade do pecado, o caráter de Deus e o poder
sobrenatural da cruz. Para as outras duas nos apoiamos no decreto de
Deus, pois existindo outra maneira ou não, o importante no final é
que “Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé,
pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia
deixado impunes os pecados anteriormente cometidos.” Romanos
3:25.
Então, por que era absolutamente necessária?
Deus e seus atributos são perfeitos
Isso significa que todos os atributos de Deus são eternos, ou
seja, nenhum prevalece sobre o outros, mas todos existem em
igualdade perfeita. Ao comparamos justiça e amor veremos que
nenhum pode “vencer” o outro. Nem entre misericórdia e santidade.
330
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Ira e bondade. Nenhum pode ser violado para que o outro seja
exaltaldo. Ele não pode ser apenas justificador, mas também justo
(Rm 3:26).Isso significa que Deus não poderia salvar o
homem sem uma punição para o pecado. O caráter perfeito de Deus
nunca o permitiu fazer vista grossa para o pecado humano. Exôdo
4:7 proclama a misericórdia de Deus, mas afirma que ele “não deixa
de punir o pecado”. O profeta Naum grita a Israel no versículo 3 que
“o SENHOR não deixará impune o culpado.” Naum 1:3.
Concluímos que Deus não poderia deixar de punir os pecados. Sua lei
não muda jamais! Isso nos leva a verdade de Hebreus 9:22 que nos
assegura que “sem derramamento de sangue não há perdão”. O artigo
O sangue de animais não tem poder pra salvar
Poderia Deus, então, salvar através dos sacrificios instituídos
no Antigo Testamento? De jeito nenhum. Nenhuma criatura finita e
caída poderia nos salvar eternamente para a santidade. Aquela prática
judaica era apenas uma sombra daquilo que viria acontecer no
calvário. Os sacrifícios de expiação estavam preparando o povo
para o grande sacrifício da Cruz. Só tinham valor porque o grande
triunfo já estava decretado desde a eternidade para o seu povo
escolhido. A Bíblia é bem clara quando diz “A Lei traz apenas uma
sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos.
Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios
repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.
Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser oferecidos? Pois os
adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais se
sentiriam culpados de seus pecados. Contudo, esses sacrifícios
são uma recordação anual dos pecados, pois é impossível que o
sangue de touros e bodes tire pecados.” Hebreus 10:1-4
331
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
As boas obras ou sofrimentos humanos não
tem poder pra salvar
Assim como os animais, sendo criaturas finitas e caídas,
nenhum homem, por mais que sofra e faça as mais excelentes obras
tem poder para salvar a si mesmo, quanto mais a outros. Segundo
Romanos 3 todos pecaram e estão numa situação que ninguém é
capaz de ser justo e de buscar a Deus. O apóstolo Paulo enfatiza
que “ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na
obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente
conscientes do pecado.” Romanos 3:20. Nos encontramos incapazes
de qualquer tipo de auto salvação. Além disso, nos encontramos
incapazes de qualquer cooperação com Deus para ajudá-lo a nos
salvar. O pecado não é somente um desvio moral, mas uma situação
de condenação judicial irrevogável por meios terrenos. Esse meio de
salvação está totalmente descartado.
Só em Jesus tem poder pra salvar
Só em Jesus encontramos a resposta completa para o dilema
da salvação. Como um Deus santo e justo salva homens pecadores e
culpados? Através da vida perfeita, divina e humana, da morte
perfeita, divina e humana, e da ressurreição perfeita, divina e humana
da pessoa de Cristo. Aqui estamos afirmando as duas naturezas de
Cristo como sendo a única possibilidade de salvação (Ver as
perguntas 38, 39 e 40 do Catecismo Maior de Westminster). Como
um sacrifício pode nos expiar eternamente?
Somente se for feito por um ser eterno. Jesus. Como um
sacrifício pode nos representar perfeitamente? Somente se for feito
por um homem completo. Jesus. Onde se manifestaria a ira e o juízo
de Deus de forma plena pelo pecado? Nos sofrimentos e morte de
Jesus. Qual justiça e santidade seria nos dada para nos representar
332
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
diante de Deus? A justiça e santidade de Cristo.Que obra
incomparável e insubstituível! Por isso a Bíblia afirma: Pois há um só
Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo
Jesus” 1 Timóteo 2:5.
A oração de Jesus no Getsêmani nos revela essa necessidade
da expiação. Em sua grande angústia Cristo pediu para que o cálice da
ira do Pai fosse afastado dele (Mt 26:39). Mas prevaleceu a vontade de
Deus como o próprio Jesus terminou sua oração. Beber o cálice da ira
de Deus é tarefa dura demais para ser feita diante de outra opção.
Não devemos imaginar que Deus escolheu derramar todo o seu furor
contra o seu próprio filho por capricho de ser a melhor opção dentro
de possibilidade de outras. Foi necessário Cristo sofrer como homem
para se tornar sumo sacerdote e fazer propiciação por nossos pecados
(Hb 2:17).
Devemos nos alegrar e exaltar o nome de Deus pelo
tamanho ato de amor por escolher nos salvar mesmo pela única
opção existente: a morte de cruz do seu filho unigênito. Devemos nos
alegrar e exaltar o nome de Jesus pela sua coragem e altruísmo em
aceitar essa única opção de se entregar para pagar o preço no nosso
lugar. Devemos nos alegrar e exaltar o Espírito Santo que nos
entregou e sustenta essa salvação em nós e por nós. Glória seja ao
Deus Trino por esse grande Triunfo!
“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em
nosso favor quando ainda éramos pecadores.”Romanos 5:8 - Soli
Deo Gloria
333
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
26º O que é expiação substitutiva
"O que é expiação substitutiva?"
A “expiação substitutiva” se refere ao fato de que Jesus
Cristo morreu em favor de todos os pecadores. As Escrituras
ensinam que todos os homens são pecadores (leia Romanos 3:9-18 e
Romanos 3:23). O preço por nosso pecado é a morte. Romanos 6:23
nos diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito
de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.”
Este versículo nos ensina várias coisas. Sem Cristo, todos
nós vamos morrer e passar a eternidade no inferno como pagamento
por nossos pecados. Nas Escrituras, a morte se refere à “separação”.
Logicamente, todos morreremos, mas alguns viverão no céu com o
Senhor por toda a eternidade, enquanto outros viverão por toda a
eternidade no inferno. A morte de que se fala aqui se refere à vida no
inferno. Entretanto, a segunda coisa que este versículo nos ensina é
que a vida eterna está disponível através de Jesus Cristo. Isto é a Sua
expiação substitutiva.Jesus Cristo morreu em nosso lugar quando foi
crucificado. Nós merecíamos ser pendurados na cruz para morrer,
pois somos nós que vivemos vidas de pecado. No entanto, em nosso
lugar, Cristo tomou sobre Si a punição. “Àquele que não conheceu
pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça
de Deus” (II Coríntios 5:21). Ele tomou nosso lugar como substituto
pelo que nós, por justiça, merecíamos.
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre
o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para
334
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (I Pedro 2:24). Aqui,
mais uma vez vemos que Cristo tomou os pecados cometidos por
nós sobre Si mesmo, a fim de pagar o preço por nós.
Alguns versículos adiante podemos ler:
“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o
justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade,
na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pedro 3:18). Estes
versículos nos ensinam não somente a respeito do “substituto” que
Cristo foi por nós, mas também que Ele foi “expiação”, o que
significa que Ele plenamente satisfez o pagamento devido pelo
pecado do homem.
Mais uma passagem que fala a respeito da “expiação
substitutiva” é Isaías 53:5. Este versículo fala a respeito da vinda de
Cristo, a fim de morrer na cruz por nossos pecados. É rica em
detalhes, e a crucificação aconteceu exatamente como profetizada. Ao
ler, observe as palavras: “Mas ELE foi ferido por causa das
NOSSAS transgressões, e moído por causa das NOSSAS
iniquidades; o castigo que NOS traz a paz estava sobre ELE, e pelas
SUAS pisaduras FOMOS sarados.” Observe a substituição. Aqui,
mais uma vez, vemos Cristo pagando o preço por nós!
Não conseguiríamos pagar o preço do pecado nós mesmos.
Ou, se o fizéssemos, simplesmente seríamos punidos e colocados no
inferno por toda a eternidade. Entretanto, Cristo tomou a iniciativa
de vir à terra na forma do Filho de Deus, Jesus Cristo, para pagar o
preço por nossos pecados. Por causa do que Ele fez por nós, agora
podemos ter a oportunidade não apenas de termos nossos pecados
perdoados, mas de passarmos a eternidade com Ele. Para isto,
devemos colocar nossa fé no que Cristo fez na cruz. Não podemos
335
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
salvar a nós mesmos; precisamos de um substituto que tome o nosso
lugar. A morte de Jesus Cristo é a expiação Substitutiva.
Quais são as teorias diferentes sobre a expiação?
"Quais são as teorias diferentes sobre a expiação?"
Por todo o curso da história da igreja, várias opiniões ou
teorias diferentes sobre a expiação têm sido propostas por indivíduos
ou organizações diferentes, algumas delas sendo verdadeiras, outras
sendo falsas. Um dos motivos para isso é que o Velho e o Novo
Testamento revelam muitas verdades sobre a expiação de Cristo,
então é difícil, se não impossível, achar apenas uma “teoria” que
engloba ou explica a riqueza dessa doutrina por completo. Ao
contrário, o que descobrimos à medida que estudamos as Escrituras,
é um retrato rico e de muitas faces sobre a redenção que Cristo tem
executado.
Um outro fator que contribui à existência de tantas teorias
sobre a expiação é que muito do que podemos aprender sobre a
expiação precisa ser compreendido da experiência e perspectiva do
povo de Deus sob o sistema de sacrifícios do Velho Testamento. Já
que ter uma opinião correta da expiação de Cristo é fundamental para
entender a Bíblia como um todo, até mesmo uma análise das teorias
diferentes pode nos ser útil.
A expiação de Cristo (seu propósito e o que cumpriu) é tão
rica que muito tem sido escrito sobre esse assunto. O propósito desse
artigo é providenciar um simples resumo das muitas teorias que têm
sido propostas durante o percurso da história da igreja. Ao estudar as
opiniões diferentes sobre a expiação, não devemos nunca esquecer do
fato de que qualquer opinião que não reconhece o pecado do homem
e o aspecto substitucionário da expiação é deficiente e herege.
336
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Teoria do Resgate pago a Satanás:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um resgate
que foi pago a Satanás para comprar a liberdade do homem depois de
ter sido seu escravo. Ela é baseada na crença de que a condição
espiritual do homem é como um escravo de Satanás e que o
significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus
contra Satanás. Essa teoria tem pouco sustento bíblico (se é que tem
qualquer sustento) e poucas pessoas defenderam essa opinião durante
o curso da história da igreja. É herege porque acha que Satanás, e não
Deus, foi quem exigiu o pagamento pelo pecado e completamente
ignora as exigências da justiça de Deus como vemos nas Escrituras.
Também tem uma opinião de Satanás ocupando uma posição mais
alta do que a realidade e tendo mais poder do que ele realmente tem.
Não há nenhum sustento bíblico para a idéia de que pecadores devem
qualquer coisa a Satanás, e ao ler a Bíblia podemos ver que Deus é
quem exige um pagamento pelo pecado.
Teoria da Recapitulação:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como uma ação
para reverter o percurso da humanidade de desobediência a
obediência. Ela acredita que a vida de Cristo resumiu todos os
estágios da vida humana e ao fazer isso reverteu o percurso de
desobediência iniciado por Adão. Essa teoria não tem nenhum
sustento bíblico.
337
Teoria Dramática:
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como tendo dois
propósitos: assegurar a vitória em um conflito divino entre o bem e o
mal, e ganhar a liberação do homem de sua escravidão a Satanás. O
significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus
contra Satanás e providenciar um caminho para redimir o mundo de
sua escravidão ao mal.
Teoria Mística:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um triunfo
de Cristo contra a Sua própria natureza pecaminosa através do poder
do Espírito Santo. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que
conhecimento dessa vitória vai influenciar o homem de uma forma
mística e despertar sua “consciência de deus”. Eles também acreditam
que a condição espiritual do homem não é o resultado do pecado,
mas simplesmente uma falta de “consciência de Deus”. Claramente
essa é umas das teorias mais hereges de todas, porque acreditar nessa
teoria significa acreditar que Cristo tinha uma natureza pecaminosa.
As Escrituras são bem claras ao declarar que Cristo era o perfeito
Deus-homem e sem pecado em todo aspecto da Sua natureza
(Hebreus 4:15).
338
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Teoria de Exemplo:
Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um
exemplo de fé e obediência para encorajar o homem a ser obediente a
Deus. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que o homem é
espiritualmente vivo e que a vida de Cristo e a Sua expiação foram
simplesmente um exemplo de fé verdadeira e obediência e deve servir
como inspiração aos homens a viver uma vida semelhante de fé e
obediência. Essa e a teoria da influência moral são semelhantes, pois
ambas negam que a justiça de Deus exige um pagamento pelo pecado
e que a morte de Cristo na cruz foi o pagamento.
A diferença principal entre a teoria da influência moral e a
teoria de exemplo é que a primeira diz que a morte de Cristo nos
ensina o quanto Deus nos ama e a segunda diz que a morte de Cristo
nos ensina a viver. Claro que Cristo com certeza é um exemplo que
devemos seguir, até mesmo em Sua morte, mas a teoria do exemplo
deixa de reconhecer a verdadeira condição espiritual do homemmorto
em delitos e pecado (Efésios 2:1) – e que a justiça de Deus
exige pagamento pelo pecado, o qual o homem não é capaz de pagar
de forma alguma.
Teoria de Influência Moral:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como uma
demonstração do amor de Deus que causa o coração do homem a
abrandar e arrepender-se. Aqueles que defendem essa teoria
acreditam que o homem é espiritualmente doente e precisa de ajuda e
que o homem é levado a aceitar o perdão de Deus ao ver o amor de
Deus pelos homens. Eles acreditam que o propósito e significado da
morte de Cristo foi demonstrar o amor de Deus pelos homens.
339
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Enquanto é verdade que a expiação de Cristo foi o exemplo supremo
do amor de Deus, essa opinião também é herege porque nega a
verdadeira condição espiritual do homem e nega que Deus realmente
exige um pagamento pelo pecado. Essa teoria da expiação de Cristo
deixa a humanidade sem um sacrifício verdadeiro e sem o pagamento
pelo pecado.
Teoria Comercial:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como algo que traz
honra infinita a Deus. Isso fez com que Deus desse a Cristo uma
recompensa da qual Ele não precisava, e Cristo deu essa recompensa
ao homem. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que a
condição espiritual do homem é uma que desonra a Deus e a morte
de Cristo, a qual trouxe honra infinita a Deus, pode ser usada pelos
pecadores para obter salvação. Essa teoria, como muitas outras, nega
o verdadeiro estado dos pecadores não regenerados e sua necessidade
de uma natureza completamente nova, disponível apenas em Cristo (2
Coríntios 5:17).
Teoria Governamental:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como
demonstrando o quanto Deus valoriza Sua lei e como Ele encara o
pecado. É através da morte de Cristo que Deus tem um motivo para
perdoar os pecados daqueles que se arrependem e aceitam a morte
substitucionária de Cristo. Aqueles que defendem essa opinião
acreditam que a condição espiritual do homem é uma de quem tem
violado a lei moral de Deus e que o significado da morte de Cristo foi
para ser um substituto pela penalidade do pecado. Porque Cristo
pegou a penalidade do pecado, é possível que Deus perdoe
legalmente aqueles que aceitam Cristo como seu substituto. Essa
teoria falha em não ensinar que Cristo realmente pagou pela
340
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
penalidade dos pecados reais de qualquer povo, e mostra ao invés
disso que Seu sofrimento apenas mostrou à humanidade que as leis
de Deus foram quebradas e que algum tipo de penalidade foi paga.
Teoria da Substituição Penal:
Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como sendo um
sacrifício substitucionário que satisfez as exigências da justiça Deus
sobre o pecado. Ao fazer isso, Cristo pagou a penalidade pelo pecado
dos homens por trazer perdão, por imputar justiça e por reconciliar o
homem a Deus. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que
todos os aspectos do homem - sua mente, vontade e emoções- têm
sido contaminados pelo pecado. Também acreditam que o homem é
espiritualmente depravado e morto. Essa teoria acredita que a morte
de Cristo pagou a penalidade do pecado por aqueles que Deus elegeu
e escolheu salvar, e que através de arrependimento o homem pode
aceitar a substituição de Cristo como pagamento pelo seu pecado.
Essa teoria se alinha com a Bíblia de uma forma mais correta em sua
opinião do pecado, da natureza do homem e sobre os resultados da
morte de Cristo na cruz.
A EXPIAÇÃO PELO SANGUE
'A Expiação pelo Sangue'
Esta é talvez a verdade mais difícil do ser humano aceitar, a
de que a vida de uma vítima inocente seria sacrificada em nome do
culpado. Para entender isto completamente nós precisamos voltar
para o jardim do Éden no Livro de Gênesis.
341
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
1. Adão Entrega a Coroa Para o Diabo
O Senhor criou o homem à Sua imagem. Não porque Deus
se parece um homem ou com uma mulher. De acordo com Lucas
24:39, Deus não tem um corpo mas Ele é um Espírito eterno. (Jo
4:24). Adão e Eva foram criados como seres de natureza espiritual,
imortais, eternos. Naquele estado, era impossível para eles deixarem
de existir. Adão teve domínio absoluto e autoridade com só uma
restrição, não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Tudo o que voou, nadou, e rastejou estava debaixo do domínio de
Adão. Quando a serpente entrou no jardim, também estava debaixo
dos pés da autoridade de Adão . Adão permitiu esta serpente (Heb.
Nachash, "o envenenador" ) dialogar com a mulher (sua esposa) que
é proibido nas Escrituras. Nem sequer Cristo falou com o diabo, pois
isso o sujeitaria à Vontade ao diabo.
Naquele estado perfeito de controle e domínio, Adão
permitiu que a sua esposa dialogasse com esta criatura que estava
debaixo de sua autoridade, a qual chamou a Deus de mentiroso, e em
nenhum momento, em quaisquer dessas fases do pecado, Adão notou
que os seus olhos e os de sua esposa estavam sendo abertos. É
importante a nota de que ele não estava neutro, escolhendo a fruta,
mas estava "com ela" quando ela foi enganada:
Gen 3:6 "E viu a mulher que aquela árvore era boa para
se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar
entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a
seu marido, e ele comeu com ela."
Paulo, o apóstolo, deixou também muito claro que Adão
não foi enganado:
342
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
1 Tim 2:14 "E Adão não foi enganado, mas a mulher, endo
enganada, caiu em transgressão."
Adão soube exatamente o que ela estava fazendo, e como
ela escolheu pecar, Adão que estava com ela também escolheu pecar e
morrer por causa do amor dele para com sua mulher (um tipo de
Cristo). Mas fazendo isto, ele deu literalmente ao diabo a coroa de
poder espiritual e de domínio que ele possuiu anteriormente, e
colocou isto na cabeça do Nachash. À partir daquele instante, a morte
e satanás passaram a dominar legalmente. Neste ponto, em 2 Cor 4:4,
Satanás é denominado como o "deus deste mundo". A palavra
'mundo' no grego é interessante, significa "cosmos" que literalmente
significa "o sistema mundial". Alguém pode perguntar, "Onde, na
Escritura diz que Adão deu a coroa de autoridade ao diabo? "
A resposta está na tentação de Jesus em Lucas 4:
Lucas 4:5-8 "E o diabo, levando-o a um alto monte,
mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do
mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a
sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem
quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus,
respondendo, disse- lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás;
porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele
servirás."
2. O Plano de Deus
Assim o mundo inteiro ficou desesperadamente mergulhado
em escuridão e morte. Embora Adão e Eva só houvessem morrido
fisicamente muitos anos depois, foi a morte espiritual que veio
primeiro, como Deus os tinha advertido, "no dia em que dela
343
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
comeres, certamente morrerás.". Morte significa separação de Deus.
Eles não conheciam a morte, mas eles souberam que Deus havia
dito "Não" e quando eles desobedeceram a Deus, a morte passou a
reinar em seus espíritos e corpos. Seus espíritos eram a parte eterna, e
a parte deles que tomou conhecimento de Deus, estavam agora
cheios de escuridão e de morte reinando neles, contudo em Gênesis
3, onde a queda aconteceu, no verso 15 Deus dá a primeira luz de
profecia messiânica onde ele prediz "Aquele que virá" (Heb. Haba):
Gen 3:15 "E porei inimizade (guerra) entre ti
(satanás) e a mulher (o Israel), e entre a tua semente
(Gênero humano) e a sua semente (Messias); esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar."
Este verso é muito importante para se lembrar, porque é a
primeira menção da linha de escarlata da redenção de Deus, e de
como as promessas são reveladas ao longo da história de Israel (O
Antigo Testamento) e termina na cruz do Calvário, quando o sangue
do Cordeiro de Deus é derramado. Assim Gênesis 3:15 é o ponto de
partida, quando Deus lança de Sua primeira promessa d'Aquele que
um dia virá, o Messias, que transformará tudo. Em todas as épocas, as
pessoas estavam a esperar por Ele.
344
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Assim, Adão e Eva ao desobedecer, mergulharam todo o
gênero humano em escuridão, e trazendo neles a natureza caída, e
tudo aquilo que a árvore personificava, que era a natureza rebelde de
Satanás. Daquele ponto em diante é o epitáfio da humanidade:
Isaias 53:6 Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o
SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.
Deus.
Rm: 3:23 Tudo pecaram destituídos estão da glória de
O gênero humano inteiro é categorizado como esses, que
buscam o seu próprio caminho. Em Romanos 8:2 Paulo fala sobre "a
lei espiritual de pecado e morte". Assim quando Adão e Eva pecaram,
naquele momento eles estavam nus, perdidos, em total escuridão e
mortos espiritualmente, eles estão limitados, e em um novo reino,
escravos dos seus desejos e com a natureza rebelde de Satanás a
habitar neles. Mas neste momento algo acontece.
345
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
27º O Sangue
Neste momento Deus lhes dá vestes, através do
sangue de um animal inocente:
Gen 3:21-24 "E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua
mulher túnicas de peles, e os vestiu. Então disse o SENHOR
Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o
mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da
árvore da vida, e coma e viva eternamente, o SENHOR Deus,
pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de
que fora tomado.
E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente
do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor,
para guardar o caminho da árvore da vida."
Note que Ele os vestiu com túnicas de "pele", e que houve
um sacrifício para vestir a ambos. A palavra vestidos fala de expiação
pelo sangue. Eles nunca tinham visto qualquer coisa morrer, e eles
viram Deus, o doador da vida, sacrificando uma vida, porque quando
Deus os vestiu, Ele tinha sacrificado um animal inocente para fazer
isto, e eles souberam que a partir daí, eles só poderiam se aproximar
de Deus somente através do sangue de um substituto, porque este
substituto era um tipo do Cordeiro de Deus que estava por vir. Deste
ponto em diante, qualquer pessoa só pode se aproximar de Deus pelo
sangue. Este seria o meio de redenção. Sem o sangue não havia
nenhum outro meio possível para o homem ser salvo. Não importa
quão bom ele seja.
346
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Lev 17:11 "Porque a vida da carne está no sangue; pelo
que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas
vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela
alma."
Sangue (Heb. dam) é vida, e a vida é o sangue. Quando o
sangue é derramado, uma vida é derramada. O sangue se torna o
veículo de redenção ao longo da Bíblia inteira. Se você não puder
entender o sangue, você não pode entender a Jesus. Jesus não veio
curar o doente, Ele fez isto com sua vida. Ele veio e determinou a si
mesmo, ir para Jerusalém, e morrer. Jesus disse, "Para esta causa eu
vim."
João 10:18 "Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim
mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a
tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai."
Jesus veio por uma razão, derramar o sangue dele. Lembrese,
Jesus veio restaurar o que Adão e Eva haviam perdido.
1 Cor 15:21-22 "Porque assim como a morte
veio por um homem, também a ressurreição dos
mortos veio por um homem. Porque, assim como
todos morrem em Adão, assim também todos serão
vivificados em Cristo."
Quando João Batista viu Jesus, ele disse, "Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo ". Por que João chamou Jesus de
O Cordeiro de Deus? Porque o cordeiro era o animal cujo sangue foi
derramado em lugar do pecador. Todo ser humano era culpado de
pecar e o salário do pecado é a morte, e plano de Deus era que o
347
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
sacrifício de um inocente sem pecado cobriria a culpa de muitos
pecadores.
Deus é santo. O Céu é santo. Tudo o que está perfeito e
justo na presença de Deus. Adão e Eva deveriam ter sido destruídos
pelo anjo do juízo de Deus, "O Querubim," contudo as suas espadas
foram suspensas porque Deus, em Seu amor lhes permitiu
contemplar o sangue precioso. Veja a espada de juízo descendo sobre
Adão e Eva, e no último momento, Deus revela que, em sua
onisciência, já havia preparado um substituto de forma que a
espada pararia o seu curso e cairia sobre ele. Cai sobre aquele
substituto toda a justiça, e Adão e Eva poderiam ir livres. Pense nisto
como uma dívida, e que era tempo da dívida ser paga, e no último
minuto alguém paga isto por completo.
sangue.
Mas há algo mais que Deus quer que o homem saiba sobre o
3. O Sangue - Um Significado mais Profundo
Quando nós olhamos Gênesis 9, precisamos nos lembrar de
que Deus instituiu um plano, chamou o plano de redenção pelo
sangue, e nós vamos começar a ver sangue por todo o Antigo
Testamento. Desde o princípio, haviam aqueles que não concordaram
e chamaram isto de "a religião do matadouro" , mas Deus ainda está
advertindo do mesmo modo que ele advertiu Caim. Assim, vemos o
sangue ao longo do Antigo Testamento em todos os lugares. Em
certos momentos durante a celebração da Páscoa haviam mais de
250.000 cordeiros sacrificados por todos os lados, com sangue, por
todo o Templo, e fluiu tanto sangue como o riacho Cedron, que foi
chamado de uma "visão horrorizante." Vendo o cordeiro que em
casa, se tornou um animal de estimação por quatro dias, e depois,
assistir a isto: golpes e gritos, e então ele é sido sacrificado na
348
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
presença da família, e para as crianças era uma lição, um legado que as
marcaria para sempre.
Pode nos fazer encolher, ver uma garganta de animais ser
cortada, mas é a nossa garganta que merecia ser cortada. Aquele
animal estava nos representando. Deus nos amou, e por sua graça,
proveu para nós um meio pelo qual a sua justiça seria completamente
satisfeita, e não seria executada em nós. Deus tinha permitido que a
medida da sua justiça se completasse nisto, não um pouco, mas
completamente. O substituto "suportaria" o juízo que pertenceu ao
pecador, e "identificaria com a sua condição ", porque, literalmente
"se fez pecado " Deus só pretendia que os pecados do povo
estivessem nele, mas aquele animal aos olhos de Deus se tornou a
mesma natureza pecadora odiada, e o juízo cheio de Deus caiu sobre
ele. Lembra-se do que a Escritura diz de Jesus?
2 Cor 5:21 " Àquele que não conheceu pecado,
o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus."
Jesus não suportou somente um pouco dos nossos pecados,
mas, Ele se tornou a mesma coisa pútrida, odiada que havia dentro de
Adão, e que o separou de Deus. Quando Cristo se tornou pecado e se
identificou completa e totalmente com a condição de homem caído,
Ele não suportou somente os nossos pecados, mas, Ele suportou
toda a natureza do pecado, e Ele a suportou para se identificar
completamente com a nossa condição. E quando Cristo se identificou
com a nossa condição, Ele se tornou o "objeto da Ira ". Todo o juízo
de Deus foi posto n'Ele, e por isso não é nenhuma maravilha que
Jesus bradou em alta voz , " Eli, Eli, sabactâni" o que significa "Meu
Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?" porque Ele literalmente
se tornou pecado para o mundo. Todo pecado, passado, presente,
349
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
e futuro, todo pecado que foi ou que será, estava naquele instante
sobre Ele.
1 Cor 15:21-22 "Porque assim como a morte
veio por um homem, também a ressurreição dos
mortos veio por um homem. Porque, assim como
todos morrem em Adão, assim também todos serão
vivificados em Cristo."
Assim, ao longo do Antigo Testamento, quando eles
sacrificavam um cordeiro, quando a penalidade recaía completamente
no substituto inocente, e o homem, que era o verdadeiro culpado, já
não era nenhum pouco culpado, porque o preço do pecado foi pago.
Ele poderia proclamar que ele estava perdoado, e que a dívida foi
liquidada, até que pecasse novamente, e então ele viria novamente a
cada vez, e uma vez por ano no Yom Kippur, onde todos os pecados
da nação eram expiados. Claro que isto era ano a ano, todos os anos,
até que veio o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, e levou o pecado para
sempre.
350
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
4. Restrições do Sangue
Como nós vemos em Gênesis 9, notamos que depois do
dilúvio Deus permitiu que o homem comesse carne animal. Noé e
sua família (8 pessoas) sobreviveram ao dilúvio. Noé fez um
sacrifício, e então Deus disse:
Gen 8:20-9:3 "E edificou Noé um altar ao SENHOR;
e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e
ofereceu holocausto sobre o altar. E o SENHOR sentiu o
suave cheiro, e o SENHOR disse em seu coração: Não
tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem;
porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua
meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.
Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e
verão e inverno, e dia e noite, não cessarão.
E abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes:
Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra. E o temor de vós
e o pavor de vós virão sobre todo o animal da terra, e sobre
toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e todos
os peixes do mar, nas vossas mãos são entregues. Tudo
quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento;
tudo vos tenho dado como a erva verde."
Note que Deus permitiu que o homem comesse carne
animal. Até então eles eram vegetarianos. Mas, note que Deus
começa a dar instruções restritivas, com relação ao sangue:
351
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Gen 9:4 " A carne, porém, com sua vida, isto é, com
seu sangue, não comereis."
Gen 9:6 " Quem derramar o sangue do homem, pelo
homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o
homem conforme a sua imagem."
Desde então, o sangue não poderia ser comido, e nem
poderia ser derramado.
Também em Levítico:
Lev 17:10 " E qualquer homem da casa de Israel, ou
dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum
sangue, contra aquela alma porei a minha face, e a extirparei
do seu povo."
Lev 7:26-27 " E nenhum sangue comereis em
qualquer das vossas habitações, quer de aves quer de gado.
Toda a pessoa que comer algum sangue, aquela pessoa será
extirpada do seu povo."
Por que Deus deu ordens tão restritas sobre não comer
ou não derramar sangue? Porque o sangue era o instrumento de
redenção. Era santo, rigidamente separado. Deus teve que dizer
literalmente que Ele mataria qualquer um que comesse sangue. Ele
santificou o sangue, e fez com que o sangue fosse assim limitado,
para que em todo o mundo ele fosse tratado com reverência. Até
mesmo durante o período menstrual da mulher, ela era
considerada imunda, e não podia ser tocada nem sequer pelo seu
marido, antes da sua purificação. Até mesmo após dar à luz, havia
restrições por causa de contato com o sangue.
352
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Assim por que Deus pôs tal proibição no sangue? Por
que Ele pôs tal restrição, em toda possibilidade de contato com
ele? Porque o sangue era o meio de redenção. O sangue não podia
ser manuseado em qualquer outro contexto, a não ser o do
sacrifício. Deus estabeleceu o sangue separadamente como uma
coisa santa.
5. A Fé e o Sangue
Não bastava só trazer uma vítima substituta. Era
necessário derramar o seu sangue de modo correto e colocar
corretamente a sua gordura no altar. Lembra-se de Abel e Caim?
Caim ficou transtornado porque ele pensou ser uma pessoa melhor
que seu irmão, e ainda mais, porque Deus aceitou o sacrifício de
Abel. Caim era uma pessoa melhor que Abel em todos os sentidos,
afinal de contas, ele apareceu para trazer uma oferta primeiro. Ele
mostrou o primeiro ato de devoção religiosa. Mas Abel que clama
à Deus acerca da indignidade, aproximou-se dele com o sangue de
um substituto. Qual seria justificado? Qual Deus aceitaria? Caim
trouxe o fruto do solo. Caim trouxe o melhor das suas boas obras
e foi rejeitado por Deus. Não há nenhuma boa obra em um
homem apartado de Jesus Cristo. Abel soube que ele era indigno, e
por isso que, pela fé ele trouxe um substituto. Note o que diz em
Hebreus 11:
Heb 11:4 " Pela fé Abel ofereceu a Deus maior
sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de
que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por
ela, depois de morto, ainda fala."
Não era porque ele trouxe do modo ritualmente correto,
fazendo a coisa certa, mas foi a atitude dele. Note que diz, "Pela fé
353
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Abel ofereceu a Deus um sacrifício mais excelente, " ele soube que
ele merecia morrer e que o Senhor na Sua misericórdia, proveu
um substituto para ele. Era a condição do coração. Não era o ato
cerimonial do Antigo Testamento que justificava e trazia perdão,
mas a aceitação do ritual adicionada à fé.
Somente o Ritual, com a atitude errada nunca foi aceito.
Lembra-se quando Jesus condenou as cerimônias e tradições dos
fariseus? Imagine que o Messias a tanto esperado, tinha finalmente
chegado à Israel e os líderes do Judaísmo estavam tão endurecidos
e cegados em seus costumes, que eles perderam tudo
completamente. Jesus disse a eles, "Não me verás novamente até
venha a dizer, Bendito é Aquele que vem em nome do Senhor ".
É duro para a pessoa religiosa, que dedica-se severamente
aos seus rituais e obras de caridade, aceitar o fato de que Deus
aceita o mais miserável pecador, que, porém, vem com um coração
justo, um coração de fé. O amor de Deus cobre uma multidão de
pecados.
Ao longo de toda a história, e igualmente hoje, é a atitude
de fé que o Senhor deseja. É um coração que verdadeiramente
acredita nas promessas de Deus, não importando o quão ruim ele
tenha sido. Não importa qual a profundidade do pecado no qual
ele tenha caído. Quando um Israelita trazia um cordeiro, Deus não
queria apenas a cerimônia. Ele não queria um ritual formal. Ele
queria um coração confiante nas promessas mantidas por Deus. É
por isso que o louvor era sempre uma parte do sacrifício. Você não
pôde louvar a Deus verdadeiramente, de coração, a menos que
você soubesse que foi perdoado.
Se você fosse bater o ombro de um dos Israelitas ao altar
e lhe perguntar, "Por que você está aqui?" Se ele era um homem de
354
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
fé ele diria: "porque eu sou um pecador e mereço morrer, mas o
Senhor meu Deus, Bendito seja, me deu um meio, chamado de Sua
Lei, e de acordo com a lei cerimonial, este animal, quando eu
coloco minha mão em sua cabeça, torna-se eu, e eu me torno tão
inocente como ele é, e a sua inocência torna-se minha, o meu
julgamento torna-se dele, e quando eu o mato, eu percebo que era
eu quem deveria ser morto, mas por causa daquilo que Deus disse,
eu sou perdoado". Sempre haviam essas pessoas que, há pouco
passaram por estes sinais, e nunca compreenderam a misericórdia
de Deus. Eles levavam o animal como perfeitamente justos,
punham as suas mãos como justos, cortavam sua garganta como
justos, punham seus pedaços no altar como justos, e olhavam para
o sujeito ao lado vendo suas falhas, porém o coração estava errado,
e ele então, era rejeitado por Deus. O olho desnudo mostra apenas
duas pessoas idênticas, porque nós olhamos o exterior, porém,
Deus vê o interior.
Jesus falou acerca desses dois homens. Um construiu a
sua casa em uma fundação de pedra e o outro construiu a sua em
uma fundação de areia. Ambas as casas eram iguais, contudo elas
foram construídas em duas fundações diferentes. Mas você não
percebe, até que vem o juízo.
A Fé age simplesmente pelas promessas de Deus. "Eu
acredito no que Tu disse e eu recebo Teu perdão.
Heb 11:1 "ORA, a fé é o firme fundamento das coisas
que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem."
355
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
28º 'Yom Kippur
O Grande Dia da Expiação'
O DIA DA EXPIAÇÃO
Um dia por ano, o Sumo Sacerdote deixava o véu à parte
e entrava no Santo dos Santos para fazer expiação (Heb. Kafar)
para encobrir os pecados da nação do juízo de Deus, e para
receber o perdão. Era no 10º dia do 7º mês - Tishri. Pelo nosso
calendário, estaria entre o fim de setembro ou o início de outubro.
Era um dia de jejum no qual nenhum trabalho
poderia ser feito:
Lv 23:26-32 26 "Falou mais o SENHOR a Moisés,
dizendo: Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da
expiação; tereis santa convocação, e afligireis as vossas
almas; e oferecereis oferta queimada ao SENHOR. E
naquele mesmo dia nenhum trabalho fareis, porque é o dia
da expiação, para fazer expiação por vós perante o SENHOR
vosso Deus. Porque toda a alma, que naquele mesmo dia se
não afligir, será extirpada do seu povo. Também toda a alma,
que naquele mesmo dia fizer algum trabalho, eu a destruirei
do meio do seu povo. Nenhum trabalho fareis; estatuto
perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas
356
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as
vossas almas; aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra
tarde, celebrareis o vosso sábado."
O Yom Kippur era para o sacerdócio, para o povo, e para
o lugar da habitação de Deus, o tabernáculo, que Ele disse, 'reside
com eles no meio das suas imundícias.'
Lv 16:16 " Assim fará expiação pelo santuário por
causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas
transgressões, e de todos os seus pecados; e assim fará para a
tenda da congregação que reside com eles no meio das suas
imundícias. "
O propósito do Dia da Expiação era desviar a ira de Deus
pelos seus pecados do último ano, e buscar o favor diante d'Ele.
Era o dia no qual o significado do sistema expiatório alcançou seu
ponto mais alto. Apesar de diariamente, semanalmente, haver
sacrifícios que eram oferecidos, ainda haviam pecados que não
foram reconciliados completamente, e neste dia especial todas as
pessoas buscavam Deus para serem perdoadas.
357
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Tradição Judaica
E agora, o que os judeus fazem para receber a
expiação?
Arrependimento
Com a queda do Templo e o fim das ofertas expiatórias,
o arrependimento como o meio de expiação para os pecados
tornou-se um assunto extremamente importante no Judaísmo. Até
mesmo quando os sacrifícios ainda eram realizados, os Rabinos
ensinavam que era preciso haver contrição, para que uma oferta
fosse aceita por Deus. Eles afirmavam:
"Nem Ofertas pelo Pecado, nem ofertas pela
transgressão, nem morte, nem o Dia da Expiação, podem trazer
expiação sem haver arrependimento ". [Tosifta Joma v. 9].
358
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Quando o Templo foi destruído e os sacrifícios já não
eram mais oferecidos, o povo judeu precisava de uma garantia de
perdão e expiação . Assim os Rabinos disseram:
"De onde é derivado que, se a pessoa se arrepende, é
imputado a ela como se ela tivesse subido para Jerusalém,
construído o Templo, erguido um altar e oferecido os sacrifícios
exigidos na Torah? Do texto, "os sacrifícios para Deus são um
espírito quebrantado" (Sl 51:17) [Lev. R. vii. 2].
"Eu não quero de vocês sacrifícios e oferecimentos, mas
palavras (de contrição); como é dito, "Tomai convosco palavras, e
convertei-vos ao SENHOR" (Os 14:2) [Exod.R. xxxviii. 4].
Uma passagem de importância na literatura judaica neste
assunto diz (note que as Escrituras hebraicas.
São divididas nas 3 classes, o Hagiografa, os
Profetas e a Torah):
"A Sabedoria (ie. o Hagiografa) foi indagada: qual é a
penalidade de um pecador? e a resposta é, 'O mal perseguirá os
pecadores ' (Prov 13:21). Quando a profecia foi indagada,
respondeu, 'a alma que pecar deve morrer' (Ez 18:4). Quando o
Torah foi indagado, respondeu, 'Deixe que ele faça um oferta pela
culpa, e ele será perdoado; como se diz, ' para que seja aceito a
favor dele, para a sua expiação.' (Lev 1:4). Quando a pergunta foi
feita ao Santo, santificado seja Ele, Ele respondeu: 'Deixe que ele
se arrependa e ele será perdoado; como está escrito: Bom e reto é
o SENHOR; por isso ensinará o caminho aos pecadores.' (Sl
25:8)" [pág. Mak. 31d].
359
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
No Judaísmo o ponto de tudo isso, é que as Escrituras
não se contradizem, mas aquele arrependimento é o método
principal pelo qual um pecador verdadeiramente se reconcilia das
suas transgressões. Os Rabinos instruem com toda a autoridade
que se um pecador verdadeiramente se arrepende antes de sua
morte, e por engano ele desce ao Gehinnom ele será "atirado
fora como uma seta de um arco". Esta é a convicção entre os
judeus hoje em muitas correntes do Judaísmo. A verdade é que:
"Sem o derramamento de sangue não há nenhum perdão". (Lev
17:11). Y'shua (Jesus), o Messias judeu, disse: "A menos que
crerdes que eu SOU, morrereis em vossos pecados ". Y'shua
ensinou que o Torah foi dado para revelar o pecado.
Deus criou o homem, e este herdou (de Adão) um
impulso maligno, causa da qual ele é propenso a pecar, a justiça
exigiu que um antídoto tinha que ser provido igualmente para a
salvação dele. Se a maldade é uma doença da qual todo ser humano
foi afetado, então era necessário para o Senhor, santificado seja
Ele, prover um meio na sua grande sabedoria de expor o coração e
conceder o verdadeiro arrependimento. Isso é encontrado em uma
relação viva com Y'shua ressurgiu, sendo as primícias de todos
aqueles que crêem, a quem é dado viver novamente. Como Ele
disse:
" Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim
nunca morrerá, mas tem a vida eterna."
Também neste dia foi revelado mais claramente do que
em qualquer outro, o ministério do sumo sacerdote como
mediador entre Deus e o homem. Neste dia, como o representante
oficial do povo, ele tinha acesso à presença de Deus, e o povo
compartilhava este acesso. Ao sair vivo do Santo dos Santos, o
povo soube que Deus manteve a sua aliança, e estendeu mais uma
360
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
vez a Sua clemência. Mas isto não pôde acontecer sem o
arrependimento, e a confissão de pecados e, claro que, o sangue de
um substituto:
Nm 29:7-8 " E no dia dez deste sétimo mês tereis
santa convocação, e afligireis as vossas almas; nenhum
trabalho fareis. Mas por holocausto, em cheiro suave ao
SENHOR, oferecereis um novilho, um carneiro e sete
cordeiros de um ano; eles serão sem defeito. "
O dia começava com a preparação pessoal de Arão, o
sumo sacerdote por causa da sua santa participação como
mediador pelo povo. Tudo o que ele fazia na cerimônia tinha um
significado que poderia ser entendido em relação à necessidade de
perdão do homem.
Em primeiro lugar, Arão tirou as suas vestes sacerdotais
comuns. As vestes oficiais dele que eram para glória e ornamento,
não seriam visto neste momento. Arão era um homem pecador e
assim, ele só se vestiu em linho branco, e precisava se arrepender
juntamente com o resto da nação. Neste dia ele estaria se
aproximando de Deus como um pecador que busca perdão.
Vestido em uma túnica de linho de branco, longa e
adereçada, com uma faixa de linho sendo um cinto, ele foi adiante,
com os olhos de todos os Israelitas arrependidos fitos nele, e
então atravessou o portão de entrada do pátio e conduziu
um novilho e um carneiro. Este era o mesmo modo que qualquer
outro pecador arrependido normalmente viria, mas desta vez ele
veio buscar o perdão de Deus por ele, por sua família, e pelos
sacerdotes.
361
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Ele conduziu o novilho ao altar de holocausto, e lá
colocou as suas mãos em sua cabeça, confessou o seu próprio
pecado, e os da sua família, então o sacrificou. O animal era um
substituto por Arão, e seu sangue era derramado de forma que a
expiação poderia ser feita pelos seus pecados. Arão levou o sangue
do sacrifício, e então colocou isto em uma tigela. Ele encheu o
incensário com brasas do altar de bronze, no qual as partes
daquele sacrifício foram queimados até se tornarem cinzas. Então
ele lavou os seus pés e as mãos na pia de bronze e entrou no
Santo Lugar. Deste momento em diante ele estava escondido da
vista do povo.
Atravessando o Santo Lugar ele recolheu dois punhados
do incenso do altar dourado de incenso, e então se colocou de
frente com o Véu. Era um momento temeroso quando ele moveu
a cortina e avançou , para entrar diante da presença de Deus .
Primeiro, ele aspergia o incenso nas brasas do incensário
que ele estava levando, de forma que o santo cômodo era cheio de
uma nuvem. E então, ele levou o sangue, e com o dedo aspergiu
no propiciatório entre os dois querubins do juízo. O seu último
ato era aspergir o sangue no chão, na frente da arca 7 vezes. A
Presença do Senhor era demosntrada pela nuvem da glória que
vinha sobre o tabernáculo, e descia até o Santo dos Santos,entre os
Querubins . O povo do lado de fora via a descida da nuvem.
Quando o Sumo Sacerdote saía do tabernáculo, ele ia à
porta da Tenda da Congregação (Lev. 16:7) enquanto eram
conduzidos dois bodes até ele. Então ele lançava sortes. Como
resultado, um bode era escolhido como o bode para o Senhor,
enquanto o outro se tornou o 'bode da saída' ou 'bode expiatório'.
362
O Primeiro Bode
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A primeiro bode foi sacrificado da mesma maneira que a
própria oferta de Arão havia sido, mas desta vez era pelos pecados
do povo. Como o sumo sacerdote, ele pôs as suas mãos, e como o
representante deles ele matou o bode por eles.
Novamente Arão voltaria ao Lugar Santíssimo. Uma vez
mais em oração e adoração, ele aspergiu sangue da oferta pelo
pecado 7 vezes em frente do Propiciatório.
De acordo com a tradição judaica, durante este tempo, as
pessoas ficavam com grande medo. Se o sumo sacerdote
demorasse, eles ficavam terrificados, pois o seu sacrifício não havia
sido aceito, e ele havia morrido na presença de Deus.
Quando Arão, em uma atitude de louvor, acabava sua
tarefa no Santo dos Santos, ele abriria a cortina do véu e voltaria ao
Lugar Santo para o altar de ouro. Nesta hora, ele não oferecia
incenso nele, mas com o dedo, ele aspergia um pouco do sangue
em seus quatro chifres.
Quando Arão voltava à vista do povo, ele iria para o altar
de holocausto, e da mesma maneira aspergiria em seus quatro
chifres o sangue do touro e do bode.
O Segundo bode
O segundo dos dois bodes, estava parado. Era o bode
expiatório. Esta bode viveria, mas a ordem era de que ele deveria
"ser levado para o deserto".
363
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Lev 16:20-22 " Havendo, pois, acabado de fazer
expiação pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo
altar, então fará chegar o bode vivo. E Arão porá ambas as
suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele
confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas
as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá
sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de
um homem designado para isso. Assim aquele bode levará
sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e deixará
o bode no deserto. "
Era um quadro vívido do pecado que é removido e nunca
mais visto. Como Davi disse:
Sl 103:12 " Assim como está longe o oriente do
ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões."
E este bode que representava a remoção de pecados, os
levou para um lugar isolado no deserto, para nunca mais ser visto
novamente.
Arão pôs ambas as mãos na cabeça do bode e confessou
em cima do bode expiatório "toda a maldade e rebelião do povo
de Israel " (Lv. 16:21). Em um ato de substituição simbólica, ele
os colocou, isto é, na cabeça do bode, que foi levado então, longe,
nos confins do deserto por um homem escolhido, que levaria o
bode expiatório, e só retornaria quando seguramente o animal não
mais poderia retornar. Como a grande cerimônia estava
terminando, Arão voltou do Lugar Santo, para banhar o corpo
inteiro em água, e ele viria então para fora, para o povo ver o seu
esplêndido vestuário.
364
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Ele tinha mais um oferecimento a fazer. Era um
holocausto que, diferente de todos os outros sacrifícios, era
consumido completamente através do fogo no altar. Arão oferecia
um cordeiro para ele, e um para o povo era um ato de louvor e
adoração a Deus, por ter provido um meio de expiação.
Tradição Judaica
De acordo com os escritas dos antigos Rabinos,
"sete coisas foram criadas antes do universo vir a existir. Eles
são: Torah, Arrependimento, Paraíso, Gehinnom, o Trono de
Glória, o Santuário, e o nome do Messias " [Pes. 54a).
365
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Jesus Cristo e a Nova Aliança
O Livro de Hebreus nos ensina como Deus o Filho, Jesus
Cristo, se tornou o supremo Sumo Sacerdote além de quem não há
nenhum outro. Este Sumo Sacerdote é alguém que conhece todas
as nossas tentações e fraquezas humanas, porque Ele foi provado e
tentado, e permaneceu fiel. Ele se tornou como um de nós,
podendo nos representar verdadeiramente perante Deus o Pai,
Hb 4:15 Porque não temos um sumo sacerdote que
não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um
que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
Hebreus explica-nos que Cristo não veio como um filho
de Arão, mas como sacerdote da ordem de Melquisedeque.
Hb 7:1-3 " PORQUE este Melquisedeque, que era rei
de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de
Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou;
A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é,
por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que
é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo
princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao
366
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre."Isto havia sido
profetizado à muito tempo, nas inspiradas Escrituras por Davi:
Sl 110:4 "Jurou o SENHOR, e não se arrependerá: tu
és um sacerdote eterno, segundo a ordem de
Melquisedeque."Davi enfatiza essas palavras, "Tu és sacerdote
eterno. Alguém permanentemente pronto para a tarefa
sacerdotal." Ele declara, Porque Jesus vive para sempre, tendo
um sacerdócio permanente.
Hb 7:24-27 " Mas este, porque permanece
eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode
também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a
Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos
convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,
separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;
Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer
cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios
pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma
vez, oferecendo-se a si mesmo. "
O autor de Hebreus então, enfatiza o padrão de adoração
daquele que se aproxima de Deus. Ele fala do tabernáculo, o santo
lugar e o santo dos santos. Ele fala da Arca da Aliança e dos
querubins da Glória que ofuscam o propiciatório, e então conclui
mostrando que o sumo sacerdote tinha que entrar
continuamente no santo dos santos, ano após ano, e o fato de que
ele sempre tinha que levar mais sangue, simplesmente mostrava a
ineficácia daquele padrão para trazer salvação completa.
367
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Hebreus Capítulo 9: Hb 9:11-26 " Mas, vindo Cristo,
o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais
perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta
criação,
Hb 10:12-13 " Mas este, havendo oferecido para
sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à
destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus
inimigos sejam postos por escabelo de seus pés."
Os sacrifícios da velha aliança foram substituídos pelo
sacrifício do Cordeiro de Deus. A nova aliança, também realizada
por Yahweh, requer o derramamento de sangue, mas esta é uma
aliança superior, constituída de superiores promessas e inclui, não
só os judeus, mas o mundo inteiro. É uma aliança onde há um
mediador entre Deus e homem, Cristo Jesus, homem (1 Tim. 2:5).
É uma aliança na qual o Sumo
Sacerdote não só apresenta o sacrifício para Deus, mas
pela sua morte substituta, Ele é o sacrifício. Ele oferece o próprio
sangue, que não só cobre, mas lança fora o pecado, pois
o 'sangue de Jesus... nos purifica de todo pecado'
(1 João 1:7). O Seu sacrifício está completo. Está, em todos os
sentidos perfeito, e por isso, é que nós lemos:
Heb 10:19-22 " Tendo, pois, irmãos, ousadia para
entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua
carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,
cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de
368
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o
corpo lavado com água limpa, "
O tabernáculo de Deus não está mais no deserto. O
Sacrifício animal teve um grito de parada, com o sacrifício de Jesus
. Arão e o sacerdócio dele já não intervém entre Deus e homem.
Jesus Cristo fez tudo.
Pelo sacrifício de Jesus Cristo a expiação foi feita afinal, e
os que n'Ele confiam tem garantia
certa:
Hb 7:25 "Portanto, pode também salvar
perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo
sempre para interceder por eles."
A Presença de Deus agora habita EM nós, como Paulo disse:
Gl 2:20 " Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não
mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na
carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se
entregou a si mesmo por mim."
Se 'Cristo vive em mim' significa que a minha vida é o
"Mishkan" de Deus. (Veja também A Expiação pelo Sangue).
369
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
29º Qual a Importância do Véu do
Templo ter sido Partido em dois
Qual a importância do véu do templo ter sido partido
em Dois QuandoJesus morreu?
"Qual a importância do véu do templo ter
sido partido em dois quando Jesus morreu?"
Durante a vida de Jesus, o Santo Templo em Jerusalém
era o centro da vida religiosa dos judeus. Era aqui onde os
sacrifícios de animais eram executados e onde a adoração de
acordo com a Lei de Moisés era seguida fielmente. Hebreus 9:1-9
nos diz que no Templo um véu separava o Santo dos Santos – a
habitação terrena da presença de Deus- do resto do Templo onde
os homens habitavam. Isso significava que o homem era separado
de Deus pelo pecado (Isaías 59:1-2). Apenas o Sumo Sacerdote
tinha a permissão de passar pelo véu uma vez por ano (Êxodo
30:10; Hebreus 9:7), de entrar na presença de Deus representando
Israel e de fazer expiação pelos seus pecados (Levítico16).
O Templo de Salomão tinha 30 côvados de altura (1 Reis
6:2), mas Herodes tinha aumentado sua altura para 40 côvados de
acordo com as escritas de Josefo, um historiador do primeiro
século. Não temos certeza a que um côvado se compara em
metros e centímetros, mas podemos supor que esse véu tinha mais
ou menos 18 metros de altura. Josefo também nos diz que o véu
tinha 12 cm de grossura, e que cavalos puxando o véu dos dois
lados não podiam parti-lo. A narrativa no livro de Êxodo nos
370
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
ensina que esse grosso véu era feito de material azul, roxo e
escarlate e de linho fino torcido.
O tamanho e grossura do véu deram muito mais
importância aos eventos que aconteceram no exato momento da
morte de Cristo na cruz. “E Jesus, clamando outra vez com grande
voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em
dois, de alto a baixo” (Mateus 27:50-51a).
O que podemos aprender disso tudo? Qual a significância
do véu partido para nós nos dias de hoje? Acima de tudo, o rasgar
do véu no momento da morte de Jesus dramaticamente simboliza
que Seu sacrifício e o derramamento do seu próprio sangue
serviram como uma expiação suficiente pelos pecados para
sempre. Significa que o caminho para o Santo dos Santos estava
aberto para todas as pessoas, em todos os tempos, tanto aos judeus
quanto aos gentios.
Quando Jesus morreu, o véu rasgou e Deus saiu daquele
lugar para nunca mais habitar em um Templo feito por mãos
humanas (Atos 17:24). Deus deu um fim ao Templo e seu sistema
religioso e de adoração. O Templo e Jerusalém ficaram
“desolados” (destruído pelos Romanos) em 70 D.C, assim como
Jesus tinha profetizado em Lucas 13:35. Enquanto o Templo
continuasse a existir, isso significava a continuação da Antiga
Aliança. Hebreus 9:8-9 se refere à Aliança que estava passando e à
Nova Aliança que estava sendo estabelecida (Hebreus 8:13).
De uma certa forma, o véu era um símbolo de Cristo
como sendo o único caminho ao Pai (João 14:6). Isso é
simbolizado pelo fato de que o Sumo Sacerdote tinha que entrar
no Santo dos Santos através do véu. Agora Cristo é o nosso
superior Sumo Sacerdote, e quando acreditamos no Seu trabalho
371
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
completo, passamos a compartilhar do Seu sacerdócio. Podemos
então entrar no Santo dos Santos através dEle. Hebreus 10:19-20
diz que os fiéis entram no santuário através do “sangue de Jesus,
pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através
do véu, isto é, da sua carne”. Vemos aqui a imagem da carne de
Jesus sendo rasgada a nosso favor no momento em que Ele partia
o véu por nós.
O véu sendo rasgado de cima para baixo é um fato
histórico. O significado profundo desse evento é explicado em
grande detalhe em Hebreus. Essas coisas eram uma sombra das
coisas por vir, e todas apontam para Jesus. Ele era o véu do Santo
dos Santos e, através de Sua morte, os crentes têm acesso direto a
Deus.
O véu do Tabernáculo era um lembrete constante de que
o pecado nos torna ineptos para entrar na presença de Deus. O
fato de que a oferenda de pecado era oferecida anualmente e
inúmeros outros sacrifícios eram repetidos diariamente serviam
para nos mostrar graficamente que sacrifícios de animais não
podiam permanentemente expiar o pecado. Jesus Cristo, através
de sua morte, removeu as barreiras entre Deus e o homem. Por
isso podemos agora nos aproximar dEle com confiança e audácia
(Hebreus 4:14-16).
372
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Como e a quem Jesus pagou o nosso resgate?
"Como e a quem Jesus pagou o nosso resgate?"
Um resgate é algo que se paga para libertar um cativo ou
prisioneiro. Jesus pagou o nosso resgate para libertar-nos do
pecado, da morte e do inferno. Encontramos nos livros de Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio os requisitos de Deus para os
sacrifícios. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus ordenou aos
israelitas que fizessem sacrifícios de animais para a expiação
substitutiva, ou seja, a morte de um animal tomava o lugar da
morte de uma pessoa, uma vez que a morte é a penalidade pelo
pecado (Romanos 6:23). Êxodo 29:36a declara: "Sacrifique um
novilho por dia como oferta pelo pecado para fazer propiciação."
Deus exige santidade (1 Pedro 1:15- 16). A Lei de Deus
exige santidade. Não podemos dar a Deus a santidade completa
por causa dos pecados que cometemos (Romanos 3:23), portanto,
Deus exige a satisfação de sua lei. Os sacrifícios dedicados a Ele
cumpriam os requisitos. Aqui é onde Jesus entra em cena. Hebreus
9:12-15 nos diz: "Não por meio de sangue de bodes e novilhos,
mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma
vez por todas, e obteve eterna redenção.
Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma
novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os
santificam de forma que se tornam exteriormente puros, quanto
mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se
ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência
de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo!
Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que
os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto
373
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a
primeira aliança."
Romanos 8:3-4 também diz: "Porque, aquilo que a lei fora
incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez,
enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador,
como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a
fim de que as justas exigências da lei fossem plenamente satisfeitas
em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o
Espírito."
Claramente, Jesus pagou o resgate por nossas vidas a
Deus. Esse resgate foi a sua própria vida, o derramamento do seu
próprio sangue, um sacrifício. Por causa de sua morte sacrificial,
cada pessoa na terra tem a oportunidade de aceitar esse dom de
expiação e ser perdoado por Deus. Sem a sua morte, a Lei de Deus
ainda precisaria ser satisfeita - por nossa própria morte.
'As 5 Ofertas Levíticas' Os Sacrifícios
Este sistema de sacrifícios foi ordenado por Deus e foi
colocado no centro e no coração da vida da nação judaica. O que
quer que os judeus pensassem, naquela ocasião, por causa do
sacrifício contínuo de animais, e o fogo ardendo continuamente no
altar do holocausto, não há nenhuma dúvida de que era Deus
quem estava impregnando nos corações de cada homem, uma
consciência do pecado de cada um.
Uma lição de objeto que faria marcas na pele de cada um,
um quadro de longa data do sacrifício vindouro do Messias. Os
sacrifícios apontaram a Ele e foram cumpridos n'Ele.
374
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Há muitas instruções para o sacrifício ao longo do
Pentateuco, mas em Levítico são dedicados os capítulos 1-7
completamente às 5 ofertas de levíticas que eram os principais
sacrifícios usados nos rituais.
Eles descrevem 5 tipos de sacrifícios:
O holocausto, a Oferta de Manjares, a Oferta
Pacífica, a Oferta pelo Pecado, e a Oferta pela Culpa. Cada
um dos sacrifícios foi cumprido exclusivamente em Jesus Cristo.
O Holocausto
O holocausto era um sacrifício que estava completamente
queimado. Nada dele era comido, e então o fogo consumia o
sacrifício inteiro. É importante notar que o fogo jamaisse apagava:
Lev 6:13 O "fogo arderá continuamente sobre o altar;
não se apagará."
O adorador israelita trazia um animal masculino (um
touro, cordeiro, cabra, pombo, ou rola, que dependem da riqueza
do adorador) para a porta do tabernáculo.
Lev 1:3 Se a sua oferta for holocausto de gado,
oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da
congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o
SENHOR.
O animal devia ser sem defeito. O adorador então
colocava as mãos dele na cabeça do animal, e em consciência que
este animal inocente estava sendo reputado por pecador, ele
375
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
buscaria o Senhor para perdão, e então mataria o animal
imediatamente.
Lev 1:4-9 E porá a sua mão sobre a cabeça do
holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua
expiação. Depois degolará o bezerro perante o SENHOR; e
os filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o sangue, e
espargirão o sangue em redor sobre o altar que está diante da
porta da tenda da congregação. Então esfolará o holocausto,
e o partirá nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o
sacerdote, porão fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha
sobre o fogo. Também os filhos de Arão.
Os sacerdotes, porão em ordem os pedaços, a cabeça e o
redenho sobre a lenha que está no fogo em cima do altar; Porém a
sua fressura e as suas pernas lavar-se- ão com água; e o sacerdote
tudo isso queimará sobre o altar; holocausto é, oferta queimada, de
cheiro suave ao SENHOR.
Os sacerdotes eram responsáveis por lavar as várias
partes do animal antes de colocar sobre o altar:
Lev 1:6-9 "Então esfolará o holocausto, e o partirá
nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o sacerdote, porão
fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo.
Também os filhos de Arão, os sacerdotes, porão em ordem os
pedaços, a cabeça e o redenho sobre a lenha que está no fogo
em cima do altar; Porém a sua fressura e as suas pernas
lavar-se- ão com água; e o sacerdote tudo isso queimará
sobre o altar; holocausto é, oferta queimada, de cheiro suave
ao SENHOR."
376
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Depois, na história de Israel haviam ofertas queimadas
feitas duas vezes por dia, uma pela manhã e uma ao entardecer
(quando aparecia a primeira estrela:
Num 28:3-4 "E dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada
que oferecereis ao SENHOR: dois cordeiros de um ano, sem
defeito, cada dia, em contínuo holocausto; Um cordeiro
sacrificarás pela manhã, e o outro cordeiro sacrificarás à
tarde; "
A oferta queimada era realizada para reconciliação dos
pecados do povo contra o Senhor, que os separavam de Deus, e
era uma oferta de dedicação contínua de suas vidas ao Senhor.
A Oferta de Manjares
Os Israelitas ofereciam manjares (cereais) ou legumes
além dos animais. LevÍtico capítulo 2 menciona 4 tipos de ofertas
de cereal, e dá instruções de preparo para cada uma. O pecador
poderia oferecer massa de farinha de trigo assada em um forno,
cozida em uma forma, frita em uma panela, ou amassada para fazer
pão (como na oferta das primeiras frutas). Todas as ofertas de
manjares eram feitas com óleo e sal e nenhum mel e fermento seria
usado (óleo e sal preservaram, enquanto o mel e fermento
deteriorariam). O adorador também traria uma porção de incenso
(puro incenso).
As ofertas de manjares eram trazidos a um dos sacerdotes
que levaram isto ao altar e lançaram uma "porção memorial" ao
fogo e fazia o mesmo com o incenso. O sacerdote comia o
restante, a menos que ele mesmo estivesse trazendo a comida
como oferta, e ele queimaria ela por inteiro.
377
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
O propósito da oferta de manjares era um oferecimento
de presentes, e fala de uma vida que é dedicada a dar, e à
generosidade.
As Ofertas Pacíficas
A oferta pacífica era uma comida que foi dada pelo
Senhor, aos sacerdotes, e às vezes ao cidadão comum. O adorador
trazia bois ou vacas, ovelhas, ou uma cabra. O ritual foi comparado
com o das ofertas queimadas, até ao ponto de queimar, onde o
sangue de animais era vertido ao redor das extremidades do altar.
Foram queimadas a gordura e as entranhas, e o restante era
comido pelos sacerdotes, e, (se fosse uma oferta expontânea) pelos
adoradores. Este sacrifício de louvor e ação de graças era quase
sempre, um ato voluntário.
As ofertas pacíficas, incluíram bolos sem levedura. Os
sacerdotes comiam tudo, menos a porção comemorativa dos
bolos, e certas partes do animal, no mesmo dia que o sacrifício foi
feito, e quando o adorador os levava juntos, como oferta
voluntária, o adorador poderia comer durante 2 dias do animal
inteiro, menos o peito e a coxa direita que era comida pelos
sacerdotes.
Jacó e Labão deram suas ofertas pacíficas quando eles
fizeram o seu pacto (Gen 31:43 ss). era exigido fazer estas ofertas
quando se fizesse um voto de consagração à Deus, e Lhe
agradecendo com louvores enquanto, espontaneamente, se traziam
as ofertas voluntárias.
378
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
A Oferta pelo Pecado
As Ofertas pelo pecado expiavam, (liquidavam a dívida
por completo) das fraquezas e fracassos não intencionais dos
adoradores e fracassos diante do Senhor.
Lev 4:1-4 FALOU mais o SENHOR a Moisés,
dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando uma alma
pecar, por ignorância, contra alguns dos mandamentos do
SENHOR, acerca do que não se deve fazer, e proceder contra
algum deles; Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo,
oferecerá ao SENHOR, pelo seu pecado, que cometeu, um
novilho sem defeito, por expiação do pecado. E trará o novilho à
porta da tenda da congregação, perante o SENHOR, e porá a sua
mão sobre a cabeça do novilho, e degolará o novilho perante o
SENHOR.
Cada classe do pessoas tinha várias ordenanças para
executar:
Os pecados do sumo sacerdote requeriam o
oferecimento de um touro, e o sangue não era vertido no altar mas
aspergido do dedo do sumo sacerdote 7 vezes no altar. Então a
gordura era queimada, e o restante era queimado (nunca comido)
fora do arraial "em um lugar limpo" onde o sacrifício era feito e as
cinzas se despejavam.
Lev 4:12 "Enfim, o novilho todo levará fora do arraial
a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com
fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queimará."
379
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Os pecados dos líderes requeriam o oferecimento de
um bode. O sangue era aspergido somente uma vez, e o restante
era vertido ao redor do altar como com o oferecimento Queimado.
Os pecados do povo requeriam animais fêmeas, cabras,
cordeiros, rolas, ou pombos e no caso de ser muito pobre, um
oferecimento de grãos era aceitável só como um oferecimento de
manjares.
Os pecados não intencionais eram difíceis identificar e
poderiam acontecer a qualquer hora, e então os sacerdotes
trabalhavam de perto como mediadores com Deus e o povo, e
instruíam as pessoas sobre como eles buscariam ao Senhor. No
caso de qualquer pecado cuja oferta não foi trazida diante do
Senhor, havia ofertas para a nação e para o sumo sacerdote que os
cobriam de um modo coletivo. No Dia da Expiação (Yom Kippur)
o sumo sacerdote aspergia sangue no propiciatório para os seus
próprios pecados e pelos pecados da nação.
As Ofertas pela Culpa
A Oferta pela culpa era bem parecida com a oferta pelo
pecado, mas a diferença principal era que a oferta pela culpa era
uma oferta em dinheiro para pecados de ignorância relacionados à
fraude. Por exemplo, se alguém enganasse sem querer a outro por
dinheiro ou propriedade, o sacrifício dele devia era ser igual à
quantia levada, mais um quinto para o sacerdote e para o ofendido.
Então ele reembolsou a quantia levada mais 40%.
Lev 6:5-7 " Ou tudo aquilo sobre que jurou
falsamente; e o restituirá no seu todo, e ainda sobre isso
acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua
380
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
expiação. E a sua expiação trará ao SENHOR: um carneiro
sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação, para
expiação da culpa trará ao sacerdote; E o sacerdote fará
expiação por ela diante do SENHOR, e será perdoada de
qualquer das coisas que fez, tornando-se culpada. "
A Tradição Judaica
O Tratamento dos Animais
Embora o Senhor prescrevesse a matança de animais para
sacrifício e para comida, o tratamento dos animais é de
importância extrema no Judaísmo. O Talmude descreve com
cuidado as minúcias e o detalhe de como um animal seria
sacrificado para comida, e os regulamentos são principalmente
determinados por causa do desejo de proporcionar como possível
381
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
uma morte indolor . O matador não podia ser um surdo-mudo, ou
um menor de idade, e ele devia ser de mente sã (Chul. 1. 1). A faca
deve ser perfeitamente lisa sem o mais leve entalhe, e "a faca deve
ser testada sobre seus três lados na carne do dedo e na unha "
(ibid. 17b).
9a).
Há cinco causas de desqualificação (ibid.
[1] Demora (Heb. shehiyah), deve haver um contínuo
movimento para frente e para trás da faca sem qualquer
interrupção.
[2] pressão (Heb. derasah), o corte deve ser feito com
suavidade, sem o exercício de qualquer força.
[3] inserir (Heb. chaladah), a faca não deve ser inserida na
carne, mas puxada transversalmente pela garganta.
[4] penetrar (Heb. hagramah), o corte não deve ser feito,
exceto por uma seção prescrita do pescoço.
[5] rasgar (Heb. ikkur), o corte deve ser feito sem
deslocar a traquéia ou garganta. Qualquer uma destas ações faria o
animal impróprio para consumo, porque teria infligido dor no
animal.
O Judaísmo ensina formalmente o cuidado dos animais, e
um amor e respeita para com eles. Eles deviam ser alimentados
corretamente (pág. Jeb. 14d), e "um homem não deve comer a
comida dele antes de dar comida ao seu gado" (Ber. 40a). Isto foi
retirado das Escrituras:
382
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
Deut 11:15 " E darei erva no teu campo aos teus animais,
e comerás, e fartar-te-ás."
O Judaísmo ensina o homem a ser grato pelos animais,
porque eles são como modelos para os homens imitar. "Se o Torah
não sido dado a nós para nossa direção, nós não poderíamos
aprender a modéstia do gato, a honestidade da formiga, a castidade
da pomba, e os modos do galo" (Erub. 100b). O Senhor ensinou a
Moisés ter cautela com as ovelhas antes de ele se ocupar em
conduzir os membros do seu povo (Exod. R 11.2)
Um Tipo de Cristo
Toda oferta é um quadro claro de Cristo. Cada uma das 5
ofertas de Levítico apontavam à Cristo, e Ele era cada uma delas.
A MENSAGEN DA CRUZ
A SALVAÇÃO A TODOS OS HOMENS
383
JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os
que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de
Deus.” 1 Coríntios 1: 18-23 Mas nós pregamos a Cristo
crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os
gregos.
A mensagem da cruz é a palavra mais poderosa que
qualquer pastor pode pregar, pois esta é mensagens que trás
salvação. Porém Paulo lembrou muito bem ao afirmar que essa
mensagem é loucura para os que não creem, pois como é possível
alguém que morreu de forma humilhante na cruz, ter o poder de
salvar a humanidade? Como pode o o maior símbolo de maldição,
hoje se o maior símbolo da libertação? Os pensamentos do nosso
Deus são muito mais além do nosso, a sabedoria de Deus é muito
mais além da nossa, Deus usou as coisa loucas para confundir as
sábias.
Sabe o que mais me deixa impressionado com a
mensagem da cruz? É que em todo o Antigo Testamento ela já
vem sendo pregado de forma simbólica, e o profeta Isaias,
profetizou a respeito da agonia do Salvador (Isaias 53), ou seja, já
estava tudo profetizado a respeito de Jesus, porém o mais
impressionante é que Jesus foi rejeitado e crucificados pelos
religiosos da época, aqueles que mais “conheciam” as escrituras.
Como pode os “teólogos” da época que conhecia as profecias, não
reconhecerem que Jesus era o Messias?
Consideravam-se tão sábios, que foram confundidos com
sua própria sabedoria, não conseguiram identificar a maior profecia
que já vinha sendo feita desde Gêneses, não tinha discernimento
espiritual, e muito menos um coração quebrantado, se achavam os
384
AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
mais sábios. Se você olhar os quatro evangelhos a maioria das
pessoas que receberam Jesus, eram pessoas humildes sem muito
conhecimento, mas que entenderam a loucura da pregação. “os
judeus ficam buscando sinais, e os gregos tentam entender de
forma lógica, mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo
para Os judeus, e loucura para os gregos” (1 Coríntios 1:22-23),
E nós? Quantas vezes não reconhecemos a Deus por não
entendermos suas ações, queremos ficar pedindo sinais, e tentar
entender de forma lógica. O sacrifício de Jesus na Cruz não tem
lógica, pois não existe lógica humana para alguém deixar seu trono
para morrer por um povo que ainda era pecador. Isso é loucura, e
é através desta loucura que Deus decidiu salvar o mundo. E
realmente poucas pessoas entendem a mensagem da cruz, poucos
entendem o porquê do sacrifício de Jesus, poucos entendem que
essa loucura foi feita, para que nós não precisássemos ser
crucificados naquela cruz. Queremos muitas vezes nos passar por
sábio e aí somos confundidos por Deus em nossa própria
sabedoria.
Que possamos passar adiante dia pós dia essa loucura,
não importando o irão achar disso, o fato é que Jesus morreu
numa cruz de forma humilhante sim, mas ao terceiro dia ele
ressuscitou, e hoje está sobre um trono de glória, e todos quanto
aceitarem tem a vida eterna. Então se você é sábio ainda convido
ser louco e receber Jesus Cristo como salvador.A Obra perfeita,
suficinte e eficaz da salvação consumada por nosso Senhor Jesus
Cristo, está, claramente, expressa nas suas palavras ditas no cume
da cruz do calvário, registradas nos Evangelhos, a saber:
a) Pelo apóstolo João, assim: "(...) Depois, vendo
Jesus que tudo já estava comsumado, para se cumprir a Escritura,
disse: Tenho sede! Estava alii um vaso cheio de vinagre.
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JOSÉ MÁRCIO LACERDA
Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando num caniço de
hissopo, lha chegaram à boca. Quando pois, Jesus tomou o
vinagre, disse: ESTÁ COMSUMADO! E, inclinando a cabeça,
rendeu o espírito". (Jo 19.28-30).
b) Pelo "médico amado Lucas", assim: (...) Então
Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito! e, dito isto, expirou". (Lc 23.46).
c) Também, pelo apóstolo Paulo foi registrada assim:
"(...) Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:
que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e
que foi sepultado, e que ressuscitou as terceiro dia, segunda as
Escrituras (...) ". (1ª Co 15.3,4).
"A salvação é um Dom de Deus (Ef.2:8- e nos vem pela
graça divina. Em relação à justificação, Deus é o Juiz e Cristo é o
nosso advogado de defesa; o pecado do homem é sua frontal
desobediência e agravo contra Deus, cuja penalidade é a morte; a
expiação no sangue de Jesus é o cumprimento da exigência divina
expressada em sua Lei, reveladora de Sua justiça e santidade; o
arrependimento e a fé representam a convicção e aceitação da
Obra expiatória de Cristo na cruz, trazendo a remissão dos
pecados; o Espírito Santo testifica do perdão concedido, em
Cristo, e realiza o novo nascimento; a vida cristã é obediência em
santificação; e sua perfeição é o cumprimento da lei da justiça, no
homem nascido de Deus (Rm.5:1,2; 13.8)". (Do livro Conhecendo
as Doutrinas da Bíblia de Myer Pearlman).
Deus, através do Espírito Santo, forma em nós a imagem
de seu Filho (Rm.8:29; 2ª Co 3.18). Toda essa realização está muito
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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI
acima das possibilidades humanas. Tudo nos vem pela graça e
méritos de Jesus Cristo (Rm.3:23-28; 6:23; Ef.2:8-10).
A Deus demos toda glória! Amém! O SACRIFICIO
DE JESUS FOI POR VOCÊ.
JESUS TE AMA E SE ENTREGOU POR VOCÊ.
Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que
Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
Romanos 5:8
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