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LIVRO A AGONIA DE JESUS NO GETSEMANI

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A AGONIA DE JESUS NO

GETSÊMANI

GETSÊMANI O LUGAR DA

DOR

JOSÉ MÁRCIO LACERDA

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A AGONIA DE JESUS NO

GETSÊMANI

GETSÊMANI O LUGAR DA

DOR

1º EDIÇÃO

BRASILIA/DF

PROF. JOSÉ MÁRCIO LACERDA

2015

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Copyright © 2015 by José Márcio Lacerda

Diagramação

Capa

Revisão

José Márcio Lacerda

José Márcio Lacerda

José Márcio Lacerda

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO ( CIP )

_________________________________________________________________

L131ajg Lacerda José Márcio

A Agonia de Jesus no Getsemani / José Márcio Lacerda

1. Edição - Brasília/DF

Copyright © 2015 by José Márcio Lacerda

391 p. 14x21

ISBN- 978-15-1483-039-0

Bíblia – Estudo da Bíblia

CDD – 220 – 220.7

_________________________________________________________________

Impresso pelo UICLAP Editora e Distribuidora Ltda – 2015

1º Bíblia 220

2º Estudo da Bíblia 220.7

Índice para Catálogo Sistemático:

Sites Oficiais : https://www.professorjosemarcio.com.br/

NOTA : Proibida a Reprodução Total ou Parcial Desta Obra, de Qualquer

Forma ou Meio Eletrônico , Mecânico , Inclusive Através de Processos de

Cópias , sem Expressa do Editor / Autor ( Lei : Nº : 5.988 DE 14/12/1973 )

UICLAP Editora e Distribuidora Ltda - CNPJ: 35.252.144/0001-10

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O AUTOR E ESCRITOR

JOSÉ MÁRCIO LACERDA

PROF.: JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Pedagogo , Geografo , Teólogo , Professor , Casado

com Sandra Barbosa Felix Lacerda , Tenho um Filho Gabriel

Félix Lacerda , Capelão , Conferencista , Educador Cristão ,

Psicanalista , Bacharelado em Teologia SUPERIOR pelo

UNIFIL/PR , Licenciatura em Pedagogia SUPERIOR

IESA/DF , Pós Graduação em Gestão Escolar

COTEMAR/MG , Licenciatura em Geografia SUPERIOR

UNOPAR/PR , Pôs Graduação em Tecnologias Educacionais

FAVENI/MG , Bacharelado em Ciências da Religião

FATEFINA/RJ , Curso de Missiologia/EMAD , Curso de

Mestrado em Missiologia - Curso Internacional de Missões,

Mestrado e Doutorado em Teologia FATEFINA/RJ , é

Missiologo com mais de 17 anos de Experiência em teologia e

missiologia , Diretor Presidente do SETEAD EDUCACIONAL

– SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA KERIGMA

DIDACHE CNPJ : 29.511.479/0001-02 é Coordenador do

SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE MISSÕES. Tendo

unicamente a Bíblia por sua regra de fé e prática, sendo, no

entanto, autônoma para resolver, por si mesma, quaisquer

questões internas, de ordem espiritual ou material que,

porventura, venham a surgir em sua Sede e suas respectivas.

Somos filiados a e Registrado pela Ordem dos Teólogo do

Brasil Nº 0.0255/2010 , OITEB - ORDEM

INTERDENOMINACIONAL DOS TEOLOGOS DO

BRASIL Sobre o Nº: 00105/2010- é CONSELHO NACIONAL

DE PASTORES DO BRASIL - CNPB-75 CNPJ:

73.347.973/0001 , Sobre o Nº 00100/2010.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

ANOTAÇÕES

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

SUMÁRIO :

1ºIntrodução .............................................................13

2ºA Pascoa Judaica é a Ceia de Jesus.......................16

3ºOs Elementos que Fizeram Parte da Última

Páscoa....................................................................................28

4º A Agonia de Jesus no Getsemâni.........................31

5º Jesus Orando no Getsêmani.................................40

6º Quem foi Jesus.....................................................43

7ºO Relato da Agonia de Cristo a Nivel Médico.....52

8ºA Paixão de Cristo.................................................70

9ºComo morreu Jesus...............................................74

10ºExame forense do corpo de Jesus........................83

11ºObtemos as seguintes conclusões médico..........90

12ºHematidrose ......................................................105

13ºFisiopatología da Morte de Jesus Cristo............114

14ºInterpretação da Fisiopatológica da Morte de

Jesus Cristo ..........................................................................123

15ºAnálise Médica da Morte Física de Jesus

Cristo.....................................................................................131

16ºA Crucificação de Jesus......................................169

17º Simão Cirineu....................................................187

18º O Ladrão da Cruz..............................................206

19ºVejamos a causa física da morte de Jesus.........209

20ºAspectos Ilegais do Julgamento de Jesus..........219

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

21ºComo Era a Coroa de Espinhos Colocada em

Jesus ....................................................................................224

22ºA Morte de Cristo ..............................................241

23ºSete Frases Dita por Jesus Durante sua

Crucificação .........................................................................277

24ºO Significado da Morte de Cristo .....................282

25ºA Doutrina da Expiação ...................................290

26ºO que é expiação substitutiva ..........................334

27ºO sangue ...........................................................346

28º'Yom Kippur .....................................................356

29ºQual a importância do véu do templo ter sido

partido em dois ...................................................................370

30ºBibliografia........................................................388

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A Crucificação de Jesus Num Ponto de

Vista :

MÉDICO – Dor

TEOLÓGICO - Profecia

CIENTIFICO - Razão

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Jesus Getsêmani Agonia Suor Sangue

42: Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice;

todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.

43: E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia.

44: E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu

suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao

chão.

45: E, levantando-se da oração, veio para os seus discípulos,

e achou-os dormindo de tristeza. Lucas 22:42-45

O MILAGRE DE DEUS EM JESUS CRISTO NO

JARDIM GETSÊMANI NO MONTE DAS OLIVEIRAS E

FOI MAIS IMPORTANTE , POR SE TRATAR QUE FOI A

INTERVENÇÃO NO FILHO PELA DOR E SENTIMENTO

QUE CRISTO TEVE E A AGONIA INTENSA QUE ELE

SOFREU.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A ORAÇÃO DE JESUS NO

JARDIM GETSÊMANI

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

1º Introdução

A Santa Ceia:

A

Santa Ceia é um dos eventos principais da

vida terrena de Jesus Cristo registrados na Bíblia. A

Santa Ceia é uma descrição da última refeição de

Jesus Cristo com os Seus discípulos antes de ser preso e crucificado

na cruz romana cerca de 2000 anos atrás. A Santa Ceia contém

muitos princípios importantes e continua a ser uma parte importante

da vida dos Cristãos por todo o mundo.

A sua importância

A Santa Ceia é descrita em três dos quatro Evangelhos do Novo

Testamento:

Mateus, Marcos e Lucas.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Veja a seguir um resumo dos pontos mais importantes,

assim como registrados no livro de Lucas. Primeiro, Jesus predisse

que sofreria logo após a ceia e que essa seria sua última refeição antes

de terminar a sua tarefa a favor do reino de Deus (Lucas 22:15-16).

Segundo, Jesus dá aos seus seguidores símbolos como lembrança do

Seu corpo e Seu sangue sacrificados a favor da humanidade. "E

tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo:

Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de

mim'" (Lucas 22:19).

Terceiro, Jesus providencia um princípio muito

importante para viver a vida Cristã:

O maior será o que serve, não o que espera ser servido

(Lucas 22:26). Finalmente, Jesus providencia esperança aos seus

seguidores:"e assim como meu Pai me conferiu domínio, eu vo-lo

confiro a vós;para que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e

vos senteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel" (Lucas

22:29-30).

Nos últimos dois milênios, a Santa Ceia tem inspirado as

pessoas a terem fé em Jesus Cristo e a servirem ao próximo, ao invés

de seguir as influências do mundo de querer ser servido.

A História do Evento

A Santa Ceia ocorreu na noite de preparação da Páscoa

judaica, uma época muito importante para os judeus em lembrança de

quando Deus os salvou da praga da morte a todo primogênito no

Egito. Jesus planejou a ceia intencionalmente, instruindo os discípulos

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

quanto ao lugar onde seria celebrada. Seus doze discípulos estavam

com Ele durante e logo após da santa ceia. É aqui que Jesus prediz

que Pedro irá negar três vezes que O conhece antes que o galo

cacareje na manhã seguinte, e assim aconteceu. Jesus também

predisse que um discípulo, Judas Iscariote, iria traí-lo, e isso também

aconteceu. A Santa Ceia foi uma reunião de Cristo com seus

discípulos mais uma vez antes de ser preso e crucificado.

A Aplicação

Depois da Santa Ceia, Jesus Cristo voluntariamente e

obedientemente permitiu que fosse brutalmente sacrificado na cruz

de madeira. Ele fez isso para reconciliar cada um de nós a Deus ao

pagar pelo débito dos nossos pecados, algo que nunca poderíamos

fazer com nossas próprias forças. Em troca, Jesus faz um simples

pedido: lembrar desse ato de amor que Ele fez a nosso favor. Jesus

Cristo não tinha a obrigação de morrer por nós. Ele fez isso, no

entanto, porque Ele valoriza cada vida aqui na terra e quer ver cada

um de nós em Sua presença no céu.

Por toda a Bíblia, e por toda a história, a verdade da

mensagem de Cristo tem sido estabelecida – que podemos estar na

presença de Cristo no céu ao reconhecer Seu sacrifício e aceitá-lO em

nossa vida. Além disso, podemos aplicar as lições que Jesus ensinou

na Santa Ceia, as lições de viver fielmente aqui na terra e servir outros

em amor. O pão é um símbolo do corpo de Jesus que nunca deve ser

esquecido de como foi dado a nós. O copo representa o sangue de

Cristo que também nunca deve ser esquecido de como foi derramado

por nós. Jesus Cristo tem oferecido a todos o presente da Sua vida,

morte e ressurreição. A Santa Ceia nos relembra do sacrifício de

Cristo, e que através de fé nEle podemos estar em sua presença por

toda a eternidade.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

2º A Pascoa Judaica é a Ceia de Jesus

OS DOIS PRINCIPAIS PROPÓSITOS DA

PASCOA NO A.T

A primeira Páscoa, a qual foi realizada no Egito, foi

diferente das demais que foram realizadas posteriormente. A

Páscoa realizada no Egito está relacionada à décima praga; a morte

dos primogênitos dos egípcios e de seus animais e, também com a

saída de Israel do Egito (Êx 12). Naquele dia, cada família fora

instruída a imolar um cordeiro, ou cabrito, sem defeitos, e, aplicar

o seu sangue nas ombreiras e na verga da porta de suas casas,

como sinal que lhes asseguraria segurança se ficassem em casa.

Contudo, precisavam obedecer à ordem divina. Portanto, o sangue

aspergido nos marcos das portas, fora efetuada com fé obediente

(Êx 12.28; Heb 11.28); essa obediência pela fé, então resultou na

redenção mediante o sangue (Êx 12.7,13). Evidentemente o evento

da Páscoa e do Êxodo, é sem dúvida, a mais linda história de Israel

no A.T. A história de um povo resgatado da escravidão. Temos

realmente certeza, de que se Deus, não houvesse agido e libertado

o Seu povo, da escravidão do Egito, a história de Israel seria outra.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

As celebrações anuais da Páscoa judaica

concentravam-se

Em dois principais propósitos, que são:

1.1) Memorial: - «...Este dia vos será por memória, e

celebrá-lo-eis por festa ao Senhor (Yahweh); nas vossas gerações e

celebrareis por estatuto perpétuo. E acontecerá que, quando

vossos filhos vos disserem: Que culto é este vosso? Então, direis.

Este é o sacrifício da Páscoa de Jeová, que passou as casas dos

filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as

vossas casas» (Êx 12.14,26 e 27, grifo nosso). Uma tão grande

Salvação, realizada por Deus em prol de Seu povo, não poderia

jamais cair no esquecimento. Vemos que, os Filhos de Israel foram

instruídos por Deus, a solenizar todos os anos a sua libertação da

escravidão no Egito, bem como, o livramento de seus

primogênitos. Todos os anos na Festa da Páscoa; os filhos de

Israel, nas gerações futuras, haveriam de fazer esta pergunta a seus

pais; «Que culto é este?» Com relação ao significado deste culto,

deveriam responder que se tratava do «sacrifício da Páscoa a

Jeová» (Êx 12.27). Por conseguinte, era uma festa em torno da

redenção de Israel do Egito. Aliás, solenizada ainda pelos judeus

até os dias de hoje.

1.2) Simbolismo Profético: - O Senhor Jeová, bem que

poderia ter determinado a morte dos primogênitos dos egípcios e,

poupado os primogênitos dos filhos de Israel, sem que houvesse a

necessidade de ordenar que cada família escolhesse um cordeiro

(ou cabrito), de um ano de idade, sem defeito, e fosse sacrificado e

seu sangue aspergido nos lugares indicados (na verga e nas

ombreiras da porta). Deus poderia ter agido de outro modo,

punindo Faraó, e libertando o Seu povo da escravidão, sem que

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

fosse necessário sacrificar um inocente animalzinho. Mas, é Ele,

quem controla todas as circunstâncias e, sabe perfeitamente o que

faz e o que deve ser feito. Com todos estes acontecimentos,

Yahweh, teve como propósito primordial, prenunciar a morte de

Jesus Cristo; o alvo era ensinar Israel e, colocar em suas mentes, a

salvação pelo «sangue», preparando-os para o advento de Jesus

Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (João

1.29). É importante sabermos, que o cordeiro morto por cada

família israelita, tornou-se o substituto de seu primogênito, uma

vez que a morte não teve poder sobre as casas que estavam

marcadas com sangue. Nisto, os israelitas, então, deveriam

aprender sobre a substituição, isto é, substituir os inocentes pelos

culpados.

É notório que no A.T., todos os sacrifícios de animais

exprimiam o princípio, que devia verificar-se em sua plena

realidade na morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Senhor

Yahweh concedeu ao povo do A.T., uma prefiguração do sangue

derramado por Jesus Cristo, da Sua morte vicária (em nosso lugar),

pelos nossos pecados, da morte do justo pelos injustos, uma vez

por todos. A Epístola aos Hebreus mostra-nos que os sacrifícios

do A.T., eram na melhor das hipóteses, uma resposta incompleta

do problema do pecado (Heb 8; 9; 10.1-15). Cessaram esses

sacrifícios, mas ainda hoje eles nos ajudam a entender o significado

da cruz, o significado do sacrifício de Nosso Senhor e Salvador

Jesus Cristo.

Relato bíblico sobre a última páscoa e a instituição

da Santa Ceia

Durante vários séculos a páscoa judaica viera apontando

para o sacrifício de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus (João 1.29).

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Todavia, chegara o tempo do Senhor Jesus, celebrar a Última

Páscoa, juntamente com os seus apóstolos. Este era o momento

que Jesus tanto esperava (Luc 22.15). Foi na noite que precedeu a

Sua morte, que Jesus e os Seus discípulos comeram a Última

Páscoa, substituiu pela Sua Ceia e depois foi morto como o

Cordeiro Pascal (Mat 26.17-29; Marc 14.12- 26; Luc 22.7-20; João

13 e 14). Portanto, houve duas ceias; a Ceia da Páscoa e a Ceia do

Senhor Jesus. Esta foi instituída no final daquela. Lucas menciona

dois cálices (Luc 22.17-20); Mateus, Marcos e Lucas mencionam

ambas as ceias, João somente cita a Páscoa.

A instituição da Santa Ceia, é relatada por dois apóstolos

que foram testemunhas oculares e participantes dela, a saber;

Mateus e João. Marcos e Lucas, embora não estivessem presentes

na ocasião, suprem alguns pormenores. O apóstolo Paulo, ao dar

instruções aos coríntios, fornece esclarecimento sobre algumas de

suas particularidades (1 Cor 11.17-34). Tais fontes nos dizem que,

na noite antes da Sua morte, Jesus se reuniu com os Seus doze

apóstolos em um cenáculo mobiliado para celebrar a Última

Páscoa (Mat 26.17- 29 e ref.). Com o desejo de cumprir toda a

justiça e honrar a lei cerimonial, que ainda durava, Jesus ordenou

tudo o que era necessário para comer a Última refeição pascal com

os Seus discípulos. Tudo foi feito como Jesus ordenara, e

prepararam a Páscoa (Mat 26.17-19). «E, chegada a tarde, assentouse

à mesa com o doze» (vs.20). O evangelista Lucas relata que

Jesus desejava ansiosamente comer a Última Páscoa com os Seus

discípulos. «E disse-lhes: tenho desejado ansiosamente comer

convosco está Páscoa, antes do meu sofrimento» (Luc 22.15).

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Jesus tomou os elementos da Páscoa e deu

uma nova significação. Mateus relata:

«Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o,

o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu

corpo. E, tomando o cálice e dando graças deu-lho dizendo; bebei

dele todos. Porque isto é o meu sangue do Novo Pacto, que é

derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos

que, desde agora, não bebereis deste fruto da vide até àquele dia

em que beba de novo convosco no reino de meu Pai. E tendo

cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras» (Mat 26.26-

30). A Páscoa judaica encontra seu comprimento e seu fim na,

vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa no A.T. e a

Ceia do Senhor Jesus no N.T., ambas apontam para uma mesma

coisa; o Sacrifício de Jesus Cristo! A primeira estava distante da

outra por quase quinze séculos, e tinha um caráter prospectivo;

apontava para a Cruz de Jesus Cristo; a segunda, a Ceia do Senhor

Jesus, também chamada de Santa Ceia, têm um caráter

retrospectivo; apontando também à morte de Jesus Cristo.

A Ceia do Senhor Jesus inicia uma nova era e aponta para

uma obra já consumada. Podemos observar que, «duas festas

uniram-se nesta celebração». No cenáculo deu-se um

acontecimento notável: A Festa Pascal foi solenemente encerrada

(Luc 22.16-18), e a Ceia do Senhor Jesus instituída com uma

solenidade ainda mais sublime do que a Páscoa (Luc 22.19-21; 1

Cor 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e

começou outro; Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a

consumação da outra. A Páscoa agora tinha servido seu propósito

profético, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava, ia ser

morto naquele dia. Por isso foi substituída por uma «nova

instituição», apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo,

como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O tempo em que ocorreu a ultima páscoa

O Dia exato da celebração da Última Páscoa é um dos

assuntos debatidos pelos estudiosos. Diferentes tipos de

interpretações têm sido expostos. Isto é o que veremos abaixo:

Primeira interpretação: Esta interpretação julga que a

ordem de Jesus aos seus discípulos para que fizessem os

preparativos para a Páscoa, sucedeu na «quarta-feira» do 13 de

Nisã, e que a Ceia pascal, foi comida no começo da «quinta- feira»

do dia 14 de Nisã; neste caso colocam a crucificação de Jesus

como ocorrida na «quinta-feira 14 de Nisã», que é incorreto.

Segunda interpretação: Estes com base nos Evangelhos

sinópticos (Mat 26.17; Mc 14.12; Luc 22.7), sustentam que os

preparativos para a Páscoa, foram feitos na tarde da «quinta-feira»

do dia 14 de Nisã, e que a Ceia pascal foi comida no começo (na

noite) da «sexta-feira do dia 15 de Nisã». Estes colocam a

crucificação de Jesus para esta última data, que é também

incorreto.

Terceira interpretação: Para os que defendem está

interpretação, Jesus enviou dois dos Seus discípulos à procura de

um cenáculo que Ele mesmo indicara, para que assim fizessem os

preparativos para a Páscoa, na «quinta-feira do dia 13 de Nisã» e,

que Jesus e os discípulos comeram a Ceia pascal (na qual em

seguida Jesus instituiu a Santa Ceia), na noite da «sexta-feira do dia

14 de Nisã». De acordo com essa interpretação, Jesus foi

crucificado na hora terceira da «sexta-feira do dia 14 de Nisã».

Destas três interpretações que acabamos de ver, a

«terceira» é a que se harmoniza com o desenrolar dos fatos, desde a

ordem de Jesus para os preparativos para a Páscoa até a Sua

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

crucificação. Para confirmar esta interpretação, é necessário

fazermos algumas objeções, vejamos em seguida:

De acordo com Mateus, Marcos e Lucas, Jesus enviou

dois de Seus discípulos para que fizessem os preparativos da

Páscoa «No primeiro dia da festa dos pães asmos» [Páscoa], dando

a entender ser o dia 14 de Nisã, sendo assim, era realmente o dia

em que eram imolados (entre as duas as tardes) no Templo os

cordeiros pascais. Entretanto, João, sem mencionar os preparativos

(que segundo Lucas foram Pedro e João os dois discípulos

enviados por Jesus para fazerem os preparativos para a Páscoa –

Luc 22.8), transmite-nos uma expressão diferente dos sinópticos,

quando ao se referir à Última Páscoa celebrada por Jesus e seus

discípulos, prefere em dizer que ela (Última páscoa) acorreu «antes

da festa da Páscoa» (João 13.1).

Realmente o maior desafio consiste em esclarecer, se a

Última Ceia pascal, ocorreu nocomeço do dia 14 ou no começo do

dia 15 de Nisã. O que já podemos afirmar, é que, a crucificação de

Jesus, ocorreu na sexta-feira, e não na quinta- feira, como supõem

a primeira interpretação a qual temos visto acima. Tal fato é

confirmado nas palavras do apóstolo João que diz: «Então os

judeus, para que no sábado ficassem os corpos na cruz, visto como

era a preparação» (João 19.31).

«...Preparação...», no grego parasceve, «...sexta-feira...»,

no hebraico é erebh shabbath, isto é, o dia anterior ao sábado.

Depois de confirmado que a crucificação de Jesus Cristo

se deu na manhã da «sexta-feira», assim também fica comprovado

que a Última Ceia pascal ocorreu após o início da «sexta-feira», ou

seja, após o pôr-do-sol da «quinta-feira» (o dia judaico começa às

18h). Sendo assim, os preparativos da Páscoa foram feitos na tarde

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

da «quinta-feira». Como já sabemos que a celebração da Última

Ceia Pascal se deu na sexta-feira, agora, precisamos esclarecer, se

aquela quinta-feira da Paixão, era dia «13» ou «14» de Nisã. De

modo como já vimos, pelas expressões dos sinópticos (Mat 26.17;

Marc 14.12; Luc 22.7), sugerem que aquela «quinta-feira» era «14

de Nisã» (veja sobre a «segunda interpretação»). E, segundo João

era «antes da Festa da Páscoa» (João 13.1). Portanto, há uma

aparente contradição entre os sinópticos (Mateus, Marcos, Lucas) e

João. Pela aparente expressão de linguagem dos sinópticos, a

Última Páscoa ocorreu no dia 15 de Nisã, neste caso indica que

Jesus foi crucificado no dia 15 de Nisã, ou seja, na manhã deste

dia. Todavia, segundo o desenrolar dos fatos, os preparativos para

a Páscoa foram feitos, na quinta-feira do dia «13 de Nisã», e que

a Última Ceia Pascal de Jesus e os seus discípulos, foi realmente

comida na noite, ou seja, após o início da «sexta-feira do dia

quatorze de Nisã».

Tais fatos são confirmados pelas seguintes razões:

1. Se realmente aquela sexta- feira fosse «15 de Nisã»,

então, seria um dia de feriado religioso. Todos os anos o dia 15 de

Nisã era um dia de Santa Convocação (Êx 12.16), isto é, o primeiro

dia da Festa dos Pães Asmos, e, conforme a ordem Divina, neste

dia nenhuma obra podia ser feita, exceto o que diz respeito à

comida, isso poderia ser feito (Vede «Os Dias de Santas

Convocações»). Por conseguinte, o dia «15 de Nisã», era um dia de

repouso igual ao sábado semanal. Diante disso, vamos juntos

raciocinar: Porventura, violaria os judeus um feriado religioso para

prender, julgar, condenar e crucificar Jesus Cristo? Não, jamais

fariam isto num feriado religioso, mesmo em se tratando de um

suposto malfeitor (Luc 22.52).

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

2. Nos tempos de Jesus Cristo, os cordeiros pascais

eram imolados no Templo, em Jerusalém, na tarde do dia 14 de

Nisã (Deut 16.5,6). O cordeiro que Jesus e os seus discípulos

comeram por ocasião da Última Páscoa, não foi abatido no

Templo, mas sim, no lugar onde fizeram os preparativos da

Páscoa, ou seja, possivelmente no cenáculo (Luc 22.8-13).

3. Se aquela «quinta-feira» tivesse sido «14 de Nisã»,

obviamente, todos os demais judeus também teriam imolado os

cordeiros pascais e não somente os discípulos de Jesus Cristo. Para

isso, teriam também os demais judeus comido a Ceia pascal ao

mesmo tempo em que Jesus e os Seus comeram a Última Ceia

Pascal, isto é, na noite da «sexta-feira 15 de Nisã». Teriam

crucificado Jesus na «sexta-feira 15 de Nisã»?

3.1. Não há nenhuma evidência bíblica que venha a

indicar que os judeus tenham celebrado a Páscoa ao mesmo tempo

em que Jesus e os seus discípulos a celebraram-na. Pelo contrário,

pela cronologia dos acontecimentos, fica evidente que Jesus e os

Seus discípulos celebraram a Última Páscoa com um dia de

antecedência, ou seja, cerca de 24 horas antes. A Páscoa oficial, isto

é, a ceia pascal dos judeus, somente ocorreu depois do pôr- do-sol

da «sexta-feira», precisamente na noite do «sábado», quando Jesus

já estava na sepultura.

3.2. Outro fato que comprova que aquela «quinta-feira»

não foi «14 de Nisã» (e que na verdade a sexta-feira não foi «15 de

Nisã»), se verifica nas palavras do apóstolo João, quando ao indicar

o tempo do julgamento final de Jesus, disse: «Ora, era a preparação

[gr parasceve]da Páscoa, e cerca da hora sexta...» (João 19.14a). A

expressão «...preparação...», nesta passagem tem o sentido diferente

da expressão «preparação», do versículo 31 deste mesmo capítulo.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A expressão «preparação» aqui enfocada, diz respeito «à

véspera da Páscoa», hebraico erebh ha-pesah, e não exatamente o

dia anterior as sábado, conforme João 19.31. Esta passagem (vs.14)

indica que era o momento (na «hora sexta» certamente é a hora

romana, às 6h da manhã, pois o dia romano começava à meianoite)

em que os judeus estavam fazendo os preparativos para a

Páscoa, o que incluía o abate dos cordeiros na tarde daquele dia

(sexta-feira, 14 de Nisã), para que assim fosse comido (ceia pascal),

após o pôr-do-sol, quando se dava início a um novo dia, isto é, o

sábado 15 de Nisã (Mat 27.15; Marc 15.6,42, João 18.39). Neste

caso, fica evidente que até o momento da crucificação de Jesus, os

judeus ainda não haviam celebrado a ceia pascal.

3.3. Jesus não foi crucificado no dia «15 de Nisã», ou

seja, aquela «sexta-feira» não foi 15 de Nisã, como aparentemente

indicam os evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Jesus Cristo

celebrou a Última Ceia Pascal com os Seus discípulos na noite

da «sexta-feira dia 14 de Nisã», e foi crucificado no mesmo dia,

porém, na manhã deste dia, na «hora terceira» judaica (cerca das

9h).

3.4. Pois, Jesus expirou na cruz no mesmo dia (14 de

Nisã) em que no Templo eram imolados os cordeiros pascais (isto

é, na hora nona judaica, cerca «das 15 horas» em nosso horário). É

bom termos em mente que, Jesus também cumpriu com perfeição

o «fator tempo» determinado pela Lei Mosaica, como «dia» e

«hora». E, este dia era «quatorze do primeiro mês» do calendário

Sagrado judaico, ou seja, 14 de Abibe ou Nisã, e, esta hora era «às

15 horas» (hora nona). Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus, que tira

o pecado do mundo, o antítipo dos cordeiros pascais.

25


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A possível ordem dos acontecimentos, entre a quinta

e a sexta-feira da semana da Paixão

Segue abaixo; a ordem provável dos acontecimentos

entre a «quinta-feira» (13 de Nisã) e a «sexta-feira» (14 de Nisã) da

Semana da Paixão:

No quinto dia semana (13 de Nisã), Jesus enviou dois de

Seus discípulos (Pedro e João) para que fizessem os preparativos

para a Páscoa, num cenáculo que Ele mesmo indicara (Mat 26.14-

19). Ao declinar do dia Jesus seguiu com os Seus discípulos para

esse lugar (Marc 14.17). Depois do pôr-do-sol (início da sextafeira,

14 de Nisã) assentaram-se juntos (ou melhor, se

inclinaram conforme o costume romano) Jesus e os seus discípulos

para participar da Última Páscoa. No decurso da refeição pascal,

Jesus levantou-se e lavou os pés dos discípulos (João 13.4-20). Em

seguida com grande tristeza, Jesus predisse que um dos doze havia

de traí-lo; antes de comer o cordeiro e após comer um pedaço de

pão molhado (na sopa de frutas) que Jesus lhe dera, Judas

Iscariótes se retirou para não mais voltar à presença do Mestre,

senão na hora da traição, no Jardim (João 13.26,27). Depois da

celebração da Ceia Pascal (rito característico do A.T.) pela última

vez; então Jesus instituiu simbolicamente o pão dizendo: «Isto é o

meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim»

(Luc 22.19).

«Semelhantemente, depois de cear tomou o cálice,

dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue,

derramado em favor de vós» (Luc 22.20). Depois de celebrar a

Santa Ceia, Jesus instruiu os Seus discípulos e consolou-os

dizendo:

26


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

«Não se turbe o vosso coração...» (João 14.1). Jesus

Intercedeu por Si mesmo e pelos Seus discípulos, com uma

oração sacerdotal (isto é, oração feita de joelhos – João 17.1-26),

cantou um hino e saíram para o Getsêmani, onde foi para orar,

durante o tempo em que precedia a sua traição e prisão. Foi

naquele lugar onde Jesus sofreu a mais dura agonia antes da cruz.

Tendo sido fortalecido, Jesus recebe a visita esperada do traidor

(Judas), tendo em companhia uma multidão de pessoas. Após um

beijo traiçoeiro, Judas indicou a vítima, aos soldados. Então, Jesus

foi preso, em seguida acusado, julgado, maltratado, escarnecido,

condenado e crucificado (Mat 26.17 ss.; Marc 14.25 ss.; Luc 22.7

ss.; 23; João 13-19).

Portanto, fica esclarecido que Jesus e Seus discípulos não

celebraram a Última Páscoa no dia oficial (que seria na noite do dia

15), mas com «um dia de antecedência», ou seja, cerca de 24 horas

antes. E, que isto ocorreu, na noite da sexta-feira do dia 14 de Nisã

(que começou às 18h da quinta-feira, 13 de Nisã).

27


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

3ºOs Elementos que Fizeram Parte

da Última Páscoa

Quando Jesus enviou dois de Seus discípulos (Pedro e

João) para fazerem os preparativos da Páscoa,

Tinham eles a seguinte missão:

Primeiro; encontrar um homem que levava um cântaro

de água e segui-lo. Normalmente quem carregava água eram as

mulheres, por isso não devia ser difícil identificar este homem

(Marc 14.13).

Segundo; perguntar a ele: «O Mestre diz [eles foram

como representantes de Jesus]: Onde está o aposento em que ei de

comer a Páscoa com os meus discípulos?» (Marc 14.14,15).

Terceiro; fazer os preparativos da Páscoa, «...preparai ali»

(Marc 14.15). Os preparativos eram: «Imolar e assar o cordeiro,

providenciar pães asmos, ervas amargas, sopa de frutas, água

salgada e suco de uva (não-fermentado)».

Estes elementos que faziam parte da Páscoa judaica, cada

um tinha um significado especial.

O Cordeiro Pascal: Lembrava a proteção, o livramento

dos primogênitos da casa dos filhos de Israel, quando cada família

israelita aspergiu o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da

28


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

porta. Era uma lembrança e uma comemoração deste maravilhoso

livramento (ver Êx 12).

Os Pães Asmos: Lembravam a saída urgente de Israel da

terra do Egito. Esses pães asmos também representavam a

separação entre os israelitas redimidos e o Egito. Também

chamado de «pão de aflição», que representava os sofrimentos dos

filhos de Israel (Êx 12.15,34,39, Deut 16.3).

Água Salgada: Lembrava as lágrimas salgadas

derramadas pelos israelitas durante os seus anos de escravidão no

Egito.

Ervas Amargas (hb marór): Lembravam as amarguras

da escravidão no Egito (Núm 9.11).

A Sopa de Frutas (hb charoshet): Lembrava a massa de

tijolos que os filhos de Israel tinham de preparar na terra do Egito

(Êx 5.6-19).

Quatro Cálices (copos) de Vinho: Lembravam as

«quatro promessas» de Êxodo 6.6,7.

Conforme acima mencionado, empregavam-se «quatro

cálices» de vinho misturado com água que a Bíblia nada diz.

Segundo a tradição judaica, tomam-se «quatro cálices» de vinho

porque a Bíblia usa quatro verbos diferentes para descrever o

drama da redenção do cativeiro do Egito.

29


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

As quatro citações à redenção podem ser

encontradas no livro de Êxodo, capítulo 6 e

versículos 6 e 7.

juízos.

1. E vos «tirarei» de debaixo da carga dos egípcios.

2. E vos «livrarei» da sua servidão.

3. E vos «resgatarei» com braços estendidos e grandes

4. E vos «tomarei» por meu povo.

A Páscoa celebrada nos dias hoje pelos judeus sofreu

alteração. Por exemplo; o sacrifício dos cordeiros se manteve

enquanto o Templo de Jerusalém existia (Deut 16.1-6). Com a sua

destruição pelos romanos, em 70 d.C., o sistema de Sacrifícios

terminou e foi substituído completamente pelos serviços de

orações, que também aconteciam durante a existência do Templo.

A Festa judaica contemporânea chamada Seder, já não é

celebrada com o cordeiro assado. Entretanto, as famílias ainda se

reúnem para a solenidade e, o pai da família narra toda a história

do Êxodo, conforme a prescrição de Yahweh (Êx 12.14,26,27).

Enquanto, que para os judeus o oferecimento de sacrifícios

terminou quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém

em 70 d.C.; no entanto, os samaritanos continuam a oferecer todos

os anos os sacrifícios pascais no monte Gerizim, de acordo com a

lei judaica.

30


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

4º A Agonia de Jesus no Getsemâni

Para termos um entendimento melhor da morte voluntária

de Jesus e do silêncio de Seu Pai em resposta à Sua oração, devemos

primeiro olhar mais de perto aquela fatídica noite no Jardim

Getsêmani: "Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado

Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu

vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu,

começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse:

A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai

aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o

seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este

cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres"

(Mateus 26.36-39). Do ponto de vista humano, esse é um dos mais

trágicos eventos do Novo Testamento. Lemos uma descrição

detalhada do comportamento do Senhor antes de Sua prisão, que

resultou em Sua condenação e posterior execução na cruz do

Calvário.No jardim do Getsêmani, afastando-Se dos discípulos e

ficando apenas com Pedro e os dois filhos de Zebedeu a Seu lado foi

orar.

Quando Ele ficou sozinho, mais tarde, "adiantando-se um

pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando..." (Mt 26.39). Qual foi

a Sua oração? "..Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!

Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (v. 39).

Jesus não recebeu resposta. O Pai ficou em silêncio. Jesus voltou até

onde estavam os Seus discípulos: "...E, voltando para os discípulos,

31


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes

vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o

espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca"(vv. 40-41).

Nesta hora extremamente crítica da Sua vida terrena, o Filho

do homem precisou como todo ser humano precisa da simpatia

dos outros, ainda que de uns poucos, pois nenhuma vida que seja

verdadeiramente humana pode ser completamente independente.

Quando Jesus se reúne a seus discípulos os acha dormindo, expressa

dolorosa surpresa de que estes três vigorosos pescadores, que tinham

passado muitas noites em claro trabalhando sozinhos no Mar da

Galiléia, estejam assim tão sem forças que não possam ficar

acordados com Ele sequer por uma hora [1]. Algo muito natural tinha

acabado de acontecer: a carne dos discípulos não estava disposta e

nem era capaz de resistir aos ataques de Satanás.

Não sabemos quanto tempo o Senhor orou, mas deve ter

sido durante pelo menos uma hora, se nos basearmos na afirmação:

"Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" Apesar da

promessa determinada de Pedro de morrer com o Senhor, ele já havia

se afastado da batalha que acontecia no Getsêmani.

"Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se

não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a

tua vontade" (v. 42). Novamente não houve uma resposta do Pai,

apenas silêncio. Jesus deu aos discípulos outra chance: "... voltando,

achou-os outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam

pesados" (v. 43). Desta vez o Senhor não os acordou nem deu outra

instrução. Ao invés disso, lemos que Ele: "...Deixando-os novamente,

foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras" (v. 44).

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

"E, estando em agonia, orava mais intensamente." Ao

lermos o relato no evangelho de Marcos notamos que o evento é

descrito de uma forma um pouco diferente. Entretanto, Lucas revela

que após Jesus ter orado, "...lhe apareceu um anjo do céu que o

confortava" (Lucas 22.43). Não nos é revelado como ele O

"confortava", mas no versículo seguinte lemos que Suas orações

tornaram-se ainda mais desesperadas: "E, estando em agonia, orava

mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas

de sangue caindo sobre a terra" (v. 44). A palavra agonia é achada

somente aqui no Novo Testamento [2].

Quando analisamos esse fato de uma perspectiva humana,

ele parece-nos ilógico, porque o versículo anterior diz que Jesus

acabara de ser consolado por um anjo do céu, continuando a batalhar

em oração a tal ponto que "gotas de sangue" caíram sobre a terra. Foi

o consolo do anjo uma resposta à Sua oração ou esse consolo era

necessário para que Ele continuasse orando? Creio que a segunda

opção é a correta, como veremos ao examinarmos mais

detalhadamente essa situação.

Normalmente se interpreta que Jesus, como Filho do

Homem, em carne e osso, tinha medo da morte como qualquer outro

ser humano, mas mais do que a morte física, porém a morte espiritual

que Ele estava por enfrentar. Assim sendo, não seria surpresa que

Jesus orasse que "este cálice", representando a morte na cruz, fosse

passado d’Ele. Entretanto, tal interpretação não corresponde a

versículos como os do Salmo 40.7-8: "Então, eu disse: eis aqui estou,

no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua

vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei". Jesus se

agradava em fazer a perfeita vontade de Deus, a qual foi estabelecida

antes da fundação do mundo.

33


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Para estar certo de que Davi não estava falando de si mesmo

nesta passagem, encontramos a confirmação em Hebreus 10.7, 9, 10:

"Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu

respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade... então, acrescentou: Eis

aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para

estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados,

mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas". Se

olharmos a oração de Jesus no Jardim do Getsêmani como um sinal

de fraqueza, apesar dEle ter sido consolado por um anjo, tal

comportamento iria contradizer a passagem profética que acabamos

de ler.

Consideremos o texto de Isaías 53.3,5 e 7: "Era desprezado

e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o

que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto,

era desprezado, e dele não fizemos caso... Mas ele foi traspassado

pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo

que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos

sarados... Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como

cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os

seus tosquiadores, ele não abriu a boca".

Como um cordeiro, Jesus foi levado para o matadouro; Ele

permaneceu em silêncio como uma ovelha. Essas passagens das

Escrituras nos dão razões para crer que algo mais tenha acontecido

no Jardim do Getsêmani quando Jesus orou para que "este cálice"

pudesse ser passado dEle. Essa seria uma oração desnecessária, uma

exibição de fraqueza e indecisão, mas tal quadro não corresponde à

descrição completa do Messias.

Enquanto aparentemente o Pai ficou em silêncio diante da

tríplice oração de Jesus, as Escrituras documentam que Sua oração, na

verdade, foi respondida.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Hebreus 5.5 fala de Cristo como o sacerdote da ordem

de Melquisedeque:

"assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se

tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és

meu Filho, eu hoje te gerei".

O versículo 7 contém a resposta a essa oração: "Ele,

Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e

lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo

sido ouvido por causa da sua piedade". O Getsêmani foi o único local

onde Jesus pediu que Sua vida fosse poupada; Jesus não morreu no

Jardim Getsêmani.

O silêncio aparente de Deus diante da oração de Jesus no

Jardim foi, como vimos, uma clara resposta a essa oração. Desse

ponto de vista, entendemos que a oração de Jesus não foi para que

Sua vida fosse poupada na cruz do Calvário. A oração de Jesus foi ter

sua vida poupada para que não morresse ali no Jardim do Getsêmani.

Ele estava destinado a morrer na cruz do Calvário para tirar os

pecados do mundo.

O que aconteceu no Jardim do Getsêmani? Pelo que já

vimos, é claro que os poderes das trevas e mesmo a morte estavam

prontos a tirar a vida de Jesus ali mesmo naquela hora. Em Mateus

26.38 lemos: "Então, lhes disse: A minha alma está profundamente

triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo". Marcos 14.34 revela:

"...E

lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à

morte..." Segundo Tasker Jesus estava com o coração ao ponto de

romper-se [3].Mesmo que Jesus não tenha morrido fisicamente no

Jardim do Getsêmani, Ele foi certamente obediente até à morte; Ele

35


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

experimentou a morte dupla de um pecador condenado! Ele foi

"obediente até à morte e morte de cruz" (Filipenses 2.8).

De Sua agonia de pavor, enquanto contemplava as

implicações da sua morte, Jesus emergiu com confiança serena e

resoluta. Assim, quando Pedro sacou da espada numa tentativa

frenética de impedir a prisão, Jesus pôde dizer: “Não beberei,

porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11). Visto que João

não registrou as orações agonizantes de Jesus pedindo a remoção do

cálice, esta referencia a Ele é ainda mais importante. Jesus sabe que o

que o cálice não lhe será tirado. O Pai lho deu. Ele o beberá [4].

O Getsêmani, prensa de azeite em hebraico, ficava a leste de

Jerusalém, no monte das Oliveiras. No lugar onde as azeitonas eram

prensadas e esmagadas, Jesus também foi preso e esmagado.

O Getsêmani tem um formato de quadrilátero, medindo

cerca de cinquenta metros de superfície, e está rodeado por um

muro.Jesus após a oração sacerdotal, prosseguiu seu caminho,

descendo do vale de Cedrom, muito estreito na parte entre os muros

de Jerusalém e o sopé do monte das Oliveiras. Jesus passa por uma

ponte sobre o leito de um pequeno rio, e adentra o olival no jardim

do Getsêmani.

O mestre ordena a seus discípulos que se assentassem e

aguardassem por ele, que iria mais adiante para orar. Jesus chama seus

discípulos mais íntimos e leais, Pedro, Tiago e João. Eles são

testemunhas da agonia que o Mestre passou no jardim do Getsêmani.

36


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O Jardim do Getsêmani

Próximo ao Monte das Oliveiras.

Um lindo ensinamento de que, assim como nós, Jesus, em

sua humanidade, precisava de amigos, naquele momento tão

Difícil. Quão amargos foram aqueles momentos para Jesus no

Getsêmani! Uma indescritível tristeza invade seu coração.

37


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A Expectativa do sofrimento que o aguardava, ele sabia de

todo castigo físico e moral a que seria submetido. E o Mestre revela

aos seus amigos a dor que se passava em seu coração:

"Então lhes disse: A minha alma está cheia de

tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo."

Mateus 26:38

Jesus em um grande esforço, separa-se dos seus discípulos e

vai para mais adiante, no Getsêmani, afim de abrir seu coração com

mais liberdade, diante do Pai. A natureza humana do Mestre estava

tão profundamente angustiada que ele se deixa cair de joelhos com o

seu rosto prostado em terra.

Uma atitude de submissão, adoração e desolação. Ele rogou

ao Pai que se possível, afastasse dele aquela hora tão terrível!

"E, indo um pouco mais para diante, prostrouse

sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é

possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja

como eu quero, mas como tu queres." Mateus 26:39

Nisso um mistério é revelado. Se houvesse uma outra forma

para resgatar o ser humano, se houvesse um outro meio para que os

pecados dos homens fossem perdoados, Deus não submeteria o seu

Filho a tamanho sofrimento.

38


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Se castigos auto-impostos aos homens, se reencarnações

seguidas, se rituais com sangue de animais, se algum tipo de obra

meritória, jejuns, se longas orações ou qualquer outra coisa pudesse

apagar a mácula do pecado, resgatar e redimir o homem, Deus teria

usado.

Era a mensagem que Jesus estava passando nesta oração.

Mas não há nada que possa perdoar pecados, nada, a não ser o sangue

de Jesus que foi derramado por sua morte no madeiro.Jesus sabia que

a redenção do mundo seria conquistada com os sofrimentos e morte

do Messias. A consciência desse fato deu ao Mestre forças para seguir

em frente.

Entretanto, o que estava diante dos olhos de Jesus, que o

trazia tão grande angústia? Sem dúvida o seu sofrimento e a sua

morte, sentimento natural da natureza humana do Mestre, pois ele era

tão humano quanto nós somos.

Essa, porém não era a principal causa das angústias de Jesus.

Como diz Tomáz de Aquino que, "se Cristo foi tão afligido, não foi

somente porque ia perder a vida; foi também por causa dos pecados

de todos os homens".O peso gigantesco dos pecados de toda

humanidade estava sobre seus ombros. Um homem comum teria

sucumbido sob carga tão pesada.

39


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

5º Jesus Orando no Getsêmani

Seu Suor se Tornou em Sangue.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

"Mas ele foi ferido por causa das nossas

transgressões, e moído por causa das nossas

iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre

ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados."

Isaías 53:5

Jesus com a alma cheia de angústia, retorna ao Getsêmani,

onde deixou seus três mais amados discípulos, para buscar consolo

em seus amigos. Porém não encontrou este afeto, pois eles estavam

dormindo.

"E, voltando para os seus discípulos, achou-os

adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora

pudeste velar comigo?" Mateus 26:40

Um pouco antes, Pedro havia dito que jamais abandonaria

Jesus e até morreria por ele. Entretanto, não conseguiu ficar acordado

para orar com Jesus quando ele mais precisava. Durante a última ceia

de Páscoa no cenáculo, todos estavam dispostos a dar a vida pelo

Mestre. O que ocorreu com toda aquela coragem?

"Vigiai e orai, para que não entreis em

tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a

carne é fraca." Mateus 26:41

41


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Os discípulos precisavam ficar acordados e orar pois em

breve seriam provados duramente. O maior perigo naquele momento

era abandonar e negar o Mestre. Por isso necessitavam do poder

sobrenatural da fé e da oração. O Mestre, como não encontrou apoio

humano, afasta-se de novo e busca auxílio na oração:

"E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu,

se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber,

faça-se a tua vontade." Mateus 26:42

O cálice aqui representa a ira de Deus. Jesus como servo

obediente, humilde, se entregou totalmente à vontade do Pai. O

Mestre volta mais uma vez, ao Getsêmani, e encontra seus discípulos

dormindo. Sem despertá-los, Jesus volta à solidão e em agonia orava

ainda mais intensamente.

Sob intensa agonia e ansiedade, o duro combate se inicia na

luta espiritual. Os batimentos cardíacos do Mestre se intensificam

com rapidez e de tal maneira que seu suor produz grandes gotas de

sangue, que lhe cobriu o corpo e correram até o chão.

"E, posto em agonia, orava mais intensamente.

E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue,

que corriam até ao chão." Lucas 22:44

Jesus poderia desfalecer e morrer ali mesmo, no Getsêmani,

porém o Pai sustentou seu filho e enviou um anjo que o confortava.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

6º Quem foi Jesus

“A Obra Sacrificial de Cristo”

As Interpretações da Morte de Cristo

1. A Obra Sacrificial de Cristo

Dentro do ofício sacerdotal de Cristo está a sua obra

sacrifical.

Qual o significado da morte de Cristo?

O que de fato aconteceu quando o Filho de Deus morreu?

história.

Interpretações, neste sentido, têm sido dadas no decorrer da

Algumas são errôneas; outras apresentam apenas alguns

aspectos bíblicos. Nenhuma, no entanto, é suficiente para expressar

toda a verdade bíblica da expiação.

43


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

É preciso considerar todas elas e reunir os vários aspectos

bíblicos que elas apresentam para se ter uma compreensão melhor do

significado da obra de Cristo na cruz.

Interpretações da Morte de Cristo

a) Teoria do Acidente

Segundo esta maneira de ver, Cristo morreu porque foi

envolvido acidentalmente em intrigas de oposições, assim como

qualquer um poderia ter morrido.

Mas isto representa apenas uma análise superficial do que

aconteceu, porque a morte de Jesus foi profetizada pelos profetas

(Salmo 22, Isaías 53, Zacarias 11), e predita por Cristo mesmo

(Mateus 16.18). Além disto, a Bíblia considera a morte de Cristo algo

significativo para a salvação, e não simplesmente um acidente.

b) Teoria do Mártir

Pensadores há que entendem que Jesus morreu como um

mártir, em defesa da causa que havia abraçado. A morte de Jesus

mostrou sua integridade e fidelidade à verdade e aos seus princípios.

Assim, ele deixa para nós um belo exemplo para ser imitado. Apenas

um exemplo de integridade e fidelidade.

Esta interpretação não leva em conta várias passagens

bíblicas que dão à morte de Cristo significado além do mero martírio

e de apenas um belo exemplo a ser seguido. Portanto, uma

interpretação falha.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

c) Teoria do Resgate

A ideia do resgate implica num preço pago. A Bíblia ensina

que o sangue de Cristo serviu de resgate, isto é, foi um preço pago

pela nossa redenção (Marcos 10.45; I Coríntios 6.20; I Timóteo 2.6; II

Pedro 2.1).

A ideia do resgate é bíblica.

No princípio do Cristianismo, discutiu-se sobre a quem teria

sido pago o preço. Alguns pais da Igreja entenderam que o preço teria

sido oferecido ao Diabo, para resgatar os homens cativos de Satanás,

mas, ao final, Cristo teria surpreendido (enganado) o inimigo,

ressuscitando dentro os mortos, e derrotando o Diabo.

Mas esta ideia do preço pago ao Diabo é errônea. Não

parece razoável nem bíblico que o sacrifício tenha sido oferecido a

Satanás. Este não adquiriu nenhum direito sobre a humanidade, e a

Bíblia não fala de nenhuma transação que Deus tenha feito com o

Diabo.Certamente, o preço do resgate foi oferecido ao próprio Deus.

Foi Deus que, pela Sua justiça e santidade, sujeitou o

pecador ao domínio e às consequências do pecado, obras do Diabo,

de cujo cativeiro Cristo nos resgatou (Hebreus 2.14-15). Então, Cristo

nos resgatou do cativeiro do pecado e do Diabo a que estávamos

entregues pela justiça divina (Romanos 1.24, 26, 28).

d) Teoria da Satisfação

Anselmo (1033 –1109) desenvolveu a interpretação da

satisfação.A posição de Anselmo era uma reação à teoria do resgate

pago a Satanás.

45


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Segundo ele, o pecado do homem desonrou a Deus, e assim

Deus não poderia simplesmente perdoar o pecador e ficar com a

desonra. Ele exigia uma satisfação. Mas o homem não poderia dar

essa satisfação, porque está no pecado, portanto, imperfeito. Então

Deus mesmo providenciou o meio, enviando o Seu filho para tomar

o lugar do homem na cruz. Como Cristo não tinha pecado, sua morte

resultou num mérito que é colocado à disposição dos que confiam

nele.

Esta explicação de Anselmo tem elementos de verdade,

como o fato de que o pecado é ofensa e desonra a Deus e o sacrifício

de Cristo foi um meio para a satisfação das exigências divinas, e, desta

forma, Deus é“justo e também justificador daquele que tem fé em

Jesus” (Romanos 3.26).

Mas esta interpretação não espelha toda a verdade. Falta-lhe

a ênfase na união do pecador com Cristo e na transformação que

disto resulta (Romanos 6).

e) Teoria da Influência Moral

Abelardo (1079 – 1142) deu ênfase à influência moral ao

interpretar a morte de Cristo. Ele estava se contrapondo à teoria de

Anselmo, seu mestre.

Para Abelardo, Cristo morreu porque se tornou humano.

Mas assim fazendo, ele revelou o amor de Deus, na encarnação, nos

seus sofrimentos e na sua morte. Esse amor, assim vivamente

demonstrado por Cristo, exerce uma tal influência no coração do

pecador que ele fica atraído ao arrependimento e à conversão a Deus.

Arrependido e convertido, o homem liberta- se do egoísmo, que está

na essência do pecado, e vive em amor para com Deus. Segundo esta

46


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

maneira de ver, a base da salvação está no amor de Deus e sua

influência no coração do homem.

Esta interpretação é classificada como uma teoria subjetiva,

por enfatizar o efeito da morte de Cristo no homem e não fora dele,

em Deus. Tomada como a única interpretação é falha; mas ela

expressa também uma parte da verdade, pois há textos bíblicos que

enfatizam o papel do amor de Deus na redenção (João 3.16;

Romanos 5.8-9; II Coríntios 5.14-15; I João 4.9-10). Na vida cristã,

esse aspecto do constrangimento do amor divino é muito forte.

Alguns dos nossos hinos provam isto. “Morri, morri na cruz por ti;

Que fazes tu por Mim?”, “Ao contemplar a rude cruz”, etc.

f) Teoria Governamental

Hugo Grotius (1583 – 1645) argumentou que Cristo sofreu

como um exemplo penal para que a lei divina fosse honrada e, assim

fazendo, Deus deu perdão aos pecadores. Esta teoria é chamada

governamental, porque Grotius via Deus como um soberano ou

chefe de governo que decretou uma lei (pena de morte para os

pecadores), mas como Ele não queria que os homens morressem,

abrandou aquela regra e aceitou a morte de Cristo como substituto.

Ele poderia ter simplesmente perdoado a raça humana, se assim

desejasse, mas tal ato não teria valor algum para a humanidade.A

morte de Cristo era um exemplo público da profundidade do pecado

e do ponto até onde Deus estava disposto a ir a fim de sustentar a

ordem moral do universo. O governo moral de Deus no mundo

precisou de uma manifestação de sua ira contra o pecado. O Filho de

Deus deu exemplo da ira divina.

O problema desta teoria é que ela enfatiza a necessidade da

morte de Cristo perante a sociedade, mas desconsidera a justiça de

47


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Deus que precisou ser ela mesma satisfeita para que Ele pudesse

reconciliar o mundo consigo (Romanos 3.25-26).

g) Teoria Penal

Os teólogos da Reforma concordaram com Anselmo em

que o pecado é algo muito sério, que desonra a Deus, mas

consideravam que se tratava mais de uma violação da lei de Deus do

que de uma ofensa contra a honra de Deus. Consideraram o pecado

como uma transgressão à lei moral de Deus e, daí, uma ofensa ao

caráter de Deus. Assim, a morte de Cristo foi um ato de amor de

Deus em que Ele colocou sobre o seu Filho o julgamento e a

penalidade do pecado da humanidade imposta pela lei a cada

indivíduo. A essência da obra redentora de Cristo está no fato de ele

tomar o lugar dos pecadores. Pela fé, o crente é justificado e

perdoado; e na união com Cristo, o crente é moralmente

transformado.

Sem dúvida, este é um aspecto básico da expiação de Cristo.

Jesus sofreu a pena da lei imposta sobre o pecado do homem, que é a

morte (Ezequiel 18.4,20; Romanos 3.23; Romanos 6.23). Ele foi um

substituto nosso na morte (II Coríntios 5.14-15; Gálatas 4.4- 5), e por

ele somos justificados da condenação da lei (Romanos 6.14; Romanos

7.4-6).

Cristo

2. Destaques das Idéias Bíblicas da Morte de

Algumas das teorias acima estudadas contêm aspectos da

verdade bíblica acerca da morte de Cristo. Destacamos os aspectos do

resgate, da satisfação, da influência moral, pena.

48


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Na obra sacrificial de Cristo foi pago um preço para

libertação do pecado, a honra de Deus foi atendida, o amor divino foi

demonstrado, a lei de Deus se tornou efetiva em sua punição de

morte aos transgressores e com isto cessou a punição da lei para

aqueles que recebem a justiça que vem de Cristo. “Cristo nos resgatou

da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3.13).

A interpretação que melhor explica o significado da morte

de Cristo é a penal, que vem desde a Reforma. Mas é preciso enfatizar

dois aspectos inerentes a esta interpretação, e fundamental

importância para a fé cristã:

2.1 – A morte de Cristo foi SUBSTITUTIVA

Cristo não morreu por seus próprios pecados (João 8.46; I

Pedro 2.22; Hebreus 4.15). A Bíblia diz que ele morreu pelos pecados

de outros (Isaías 53.5-6; II Coríntios 5.14, 15, 21; I Pedro 2.22-24;

etc.).

Portanto, sua morte foi substitutiva ou vicária.Assim como

os sacrifícios no Antigo Testamento, que tinham um caráter

substitutivo, Cristo também, que cumpriu e substituiu aqueles

sacrifícios antigos, é oferecido como o “cordeiro de Deus” no lugar

dos pecadores.Entretanto, algumas objeções se levantam contra a

morte substitutiva de Cristo. Elas são de ordem léxica e moral:

a) Objeção de ordem léxica

Diz-se que a preposição grega anti pode significar “no lugar

de”, mas a preposição huper, que é freqüentemente usada quando se

fala do sofrimento de

49


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Cristo, significa “em favor de”, “com vistas ao benefício

de”, e nunca “no lugar de” ou “ao invés de”.

Quanto à preposição anti não há dúvida de que ela significa

“no lugar de” ou “ao invés de” (Mateus 5.38; Mateus 20.28;

Marcos10.45; Lucas11.11; Romanos 12.17; I Tessalonicenses

5.15; I Pedro 3.9; hebreus 12.16). Mas também huper pode ser

empregado com o sentido de “ao invés de”, dependendo do

contexto. Em II Coríntios 5.14, 15, 21 e Gálatas 3.13 é difícil negar a

idéia de substituição. Portanto, Cristo morreu não somente em nosso

favor, mas em nosso lugar.

b) Objeções de ordem moral

Como Deus poderia punir um inocente no lugar dos

culpados?

A resposta a esta objeção de ordem moral é que aquele que

sofreu foi o próprio Deus que puniu, isto é, Jesus Cristo DIVINO.

Isto é possível, moralmente falando.

Se Deus já teve satisfação pelos pecados dos homens,

então perdão não é perdão, mas dever.

A resposta é que quem perdoa é o mesmo que sofreu a

penalidade, e para que haja perdão ele exige uma condição:

arrependimento e fé.

50


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

2.2 – A morte de Cristo foi

PROPICIATÓRIA

Na Bíblia, Deus apresenta-se às vezes como um Deus irado

com o homem, por causa do pecado (João 3.36; Romanos 1.18ss;

Romanos 5.9; I Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 6.17).

O sacrifício de Cristo é revelado como um meio de

reconciliação entre Deus e os homens (Romanos 5.10; II Coríntios

5.19- 20; Colossenses 1.20). Pela morte de Cristo, a ira é desviada do

homem e estabelece-se a paz (João 3.36; Romanos 5.1).

O MILAGRE QUE DEUS FEZ EM

JESUS NO GETSEMANI

O SUOR ( AGUA ) EM SANGUE

A SANTIFICAÇÃO + PURIFICAÇÃO = A

DOUTRINA DE CRISTO.

EMOÇÃO + DOR = SALVAÇÃO DA

HUMANIDADE

51


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

7º O Relato da Agonia de Cristo a

Nivel Médico

Crucificação de Jesus Cristo

A Crucificação de Jesus num ponto de Vista Medico

O período que antecede a morte de JESUS na Cruz é

conhecido como Paixão Nestes instantes ele verte sobre a

Humanidade seu sacrifício maior, em corpo e alma, talvez mais no

sentido espiritual do que físico, ao perceber a incompreensão

daqueles a quem veio salvar de seus

Pecados. Os ensinamentos de Jesus não foram bem

recebidos pela hierarquia judaica, principalmente pelos sacerdotes do

Templo, em grande parte fariseus, pois suas pregações contrariavam

profundamente seus interesses. Um exemplo disso é o incidente

ocorrido no Templo de Jerusalém, na época da Páscoa.

52


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

"Cristo crucificado entre dois ladrões", pintura

de Peter Paul Rubens [Public domain], via Wikimedia

Commons

Era costume dos judeus realizar oferendas a Deus durante as

celebrações pascais. Estas ofertas incluíam basicamente animais ou

dinheiro. Parte delas era incinerada em louvor ao Pai, a outra era

repartida entre os sacerdotes e os pobres. Muitos adquiriam suas

oblações na entrada do templo, além de realizar operações de câmbio,

trocando moedas gregas e romanas por judaicas.

53


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Isto significa que um lugar considerado sagrado, um símbolo

hebraico, estava sendo profanado por intensas transações comerciais.

Obviamente os religiosos lucravam com essas negociações. Jesus

protestou contra esse estado de coisas, denunciando a corrupção

sacerdotal. Seu gesto atingiu em cheio esta classe, desencadeando a

partir deste momento uma maior perseguição e praticamente

assinando sua sentença de morte, pois seus inimigos, que eram

muitos, não descansariam até vê-lo pretensamente eliminado.

Antes de sua prisão, Jesus fez uma entrada vitoriosa em

Jerusalém, sendo bem recepcionado pelo povo, que revestia seu

caminho com panos e ramos de palmeira, e realizou a Última Ceia.

Neste momento histórico ele prepara seus apóstolos para os futuros

acontecimentos, reparte entre todos o pão e o vinho, deixando seu

gesto de humildade e comunhão como herança para a Humanidade.

É durante este ritual também que ele demonstra conhecer as

intenções de Judas e lhe sinaliza que deve seguir adiante com seus

propósitos. Na mesma noite Jesus vai para o Getsêmani, um jardim

no Monte das Oliveiras, diante do Templo. Nesse instante começa

sua agonia, quando ao orar a Deus ele transpira suor e sangue.

Segundo o médico C. Trunan Davis, este sintoma é raro, mas pode

ocorrer, em decorrência de um forte stress, que provoca um

rompimento das glândulas sudoríparas, unindo o sangue ao suor.

As consequências são fraqueza, choque e até

hipotermia.

Neste local Jesus é preso, denunciado por Judas Iscariotes

com um beijo. Segundo alguns, a sua prisão teria sido ilegal, pois

durante as festividades da Páscoa, o Sinédrio

54


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Corte judaica – não podia se reunir e também não era

permitido condenar ninguém ao longo da noite. Por este motivo o

Mestre foi levado para a residência do Sumo Sacerdote. Sexta-feira

pela manhã, Cristo foi conduzido até Pôncio Pilatos, governador da

Judéia. A princípio, este o transferiu para Herodes Antipas,

governante da Galiléia, pois Jesus era Galileu, mas ninguém queria ser

diretamente responsável por sua condenação, então Ele voltou a ser

enviado para Pilatos, que diante dos acontecimentos lavou suas mãos,

ato que entrou para a História, e permitiu que o povo escolhesse

entre Jesus e Barrabás qual seria o prisioneiro a ser libertado, tradição

durante a Páscoa judaica. A multidão então condenou Jesus, deixando

Pilatos sem saída, e assim foi decretado que Cristo morreria na cruz,

pena comum entre os romanos.

A crucificação era inicialmente restrita aos escravos. Este

tipo de execução tinha como objetivo incutir no prisioneiro vergonha

e dor, e provocava profundo horror entre as pessoas. Ela tinha início

com a flagelação do pretenso criminoso despido de suas vestes. Os

soldados pregavam pregos e tudo que pudesse intensificar a tortura

no azorrague instrumento de tortura utilizado na Roma Antiga,

composto de elementos cortantes - e muitos não resistiam ao

açoitamento, não passando, portanto, desta primeira etapa. Jesus foi

submetido a cada estágio desta condenação, o tempo todo

humilhado, com uma coroa de espinhos improvisada na cabeça, o

que provocava intensa dor e fortes sangramentos; na mão lhe

colocaram um cetro de bambu, tudo aludindo à sua realeza, que foi

interpretada como um reinado terreno, material. Ele suportou

pancadas e zombarias, cuspiram nele e o obrigaram a levar sua

própria cruz até o Monte Gólgota – que significa ‘Calvário’ -, onde

seria crucificado. Esta caminhada representa o seu Calvário e,

simbolicamente, o de toda a Humanidade.

55


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Quando Jesus parece perder as forças, os soldados forçam

um homem chamado Simão Cireneu a carregar este fardo ao longo de

um trecho da jornada. O Messias chega ao seu destino, e no alto de

sua cruz um dizer latino está inscrito INRI – Iesus Nazarenus Rex

Iudeorum, Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, reproduzido em grego e

hebraico. Ela foi posicionada entre outras duas cruzes, nas quais

estavam sendo executados dois ladrões. Os soldados ofereceram

vinho e mirra para amenizar as dores de Jesus, mas ele não aceitou. O

Mestre morreu três horas depois, sob intenso sofrimento físico, sem

poder respirar, com terríveis cãibras por todos os seus músculos, em

conseqüência da posição de seus braços; só consegue recuperar o

fôlego por alguns momentos, quando pronuncia suas frases famosas

na Cruz, pedindo a Deus que perdoe seus ofensores, pois não sabem

o que fazem, e perguntando ao Criador porque o abandonou, mas

logo depois se entregando incondicionalmente em Suas Mãos. A elite

hebraica conseguiu matar o homem, mas não logrou eliminar seus

pensamentos e ensinamentos, que se perpetuaram ao longo de

milênios e resistem até hoje, apesar de todas as intempéries do

caminho.

AS HORAS NA CRUZ

Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu corpo

é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior

começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode

engolir. Tem sede. Um soldado lhe estendo sobre a ponta de uma

vara uma esponja embebida em bebida ácida em uso entre os

militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz.

Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus. Os

músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se

acentuado: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos se

curvam. É como acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os

56


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os

músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis; em seguida

aqueles entre as costelas, os do pescoço e os respiratórios.

A respiração se faz, pouco a pouco, mais curta. O ar entra

com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice

dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu

rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma

num violeta purpúreo e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela

asfixia. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A

fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente, com um esforço sobrehumano,

Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés.

Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços.

Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais

ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a

palidez inicial. Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai,

perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Logo em seguida o

corpo começa afrouxar-se de novo e a asfixia recomeça.

Foram transmitidas sete frases pronunciadas por Ele na

cruz: cada vez que quer falar, devera elevar-se tendo como apoio o

prego dos pés. Que tortura!

Atraídas pelo sangue que escorre e pelo coagulado, enxames

de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas Ele não pode enxotálas.

Pouco depois, o céu escurece, o sol se esconde: de repente a

temperatura diminui. Logo serão três da tarde. Todas as suas dores, a

sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam

um lamento: "Deus meu, Deus meu, porque me abandonastes?".

Jesus dá seu último suspiro: "Está tudo consumado!", e em seguida,

57


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar

e no seu.

A cruz que Ele carregou

Confira os detalhes da crucificação de Jesus

Cristo e reflita no que Ele fez por você.

Cravos: tinham de 13 a 18 centímetros de comprimento por

1 centímetro de diâmetro.

sangue.

Moscas: provavelmente foram atraídas pelo cheiro de

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Mãos: perfurações no antebraço, entre o rádio e o cúbito,

ou nas palmas, entre os metacarpos.

Feridas: o chicote romano (flagrum) tinha pedaços de ossos

ou de metal nas pontas de suas três tiras, o que chegava a arrancar

pedaços de pele e ferir órgãos internos. Cristo sofreu duas séries de

39 chicotadas. Ou seja, contando-se as três tiras, Ele levou 234

açoites.

Sofrimento espiritual e emocional: maior do que as dores

físicas de Cristo foi Sua agonia espiritual. Um com o Pai desde a

eternidade, sofreu Seu completo afastamento. Jesus foi

misteriosamente feito “maldição” (Gl 3:13) em nosso lugar, levando

sobre Si os pecados de todos.

Roupas: provavelmente Jesus foi Exposto completamente

nu multidão. perante a Multidão

Pés: foram pregados juntos ou separados. Os cravos e o

peso do corpo castigavam os sensíveis nervos plantares.

Via Dolorosa: calcula-se que o trajeto que Cristo carregou a

parte horizontal da cruz, de cerca de 30 quilos, foi entre 900 e

1.500 metros, até o Calvário. Em parte desse trajeto, a cruz foi levada

por Simão, cireneu.

Escuridão: ao meio-dia, surgiu uma escuridão inexplicável

em volta da cruz. Nela, Deus escondeu a agonia final de Seu

Filho.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Multidão: assim como os líderes religiosos, a multidão era

uma massa de manobra das forças do mal. Todos zombavam de

Cristo, mas, com a escuridão, o terremoto e as palavras de Cristo,

foram tomados pelo medo.

Calvário: localizava-se possivelmente onde hoje é a Igreja

do Santo Sepulcro ou no Jardim de Gordon; uma elevação de quase 5

metros, que lembra uma caveira. O Jardim de Gordon é o local mais

provável, pois se encontra fora dos muros da Jerusalém antiga

Mãe: Cristo sofreu por Sua mãe, que acompanhava Sua

crucificação, e a entregou aos cuidados do discípulo João.

Placa: geralmente continha o nome e a condenação dos

crucificados.

Coroa: provavelmente feita do espinheiro de Jerusalém

(Paliurus spina christi) ou do espinheiro-de-cristo sírio, foi fixada e

batida repetidamente sobre a cabeça de Cristo, ferindo o nervo

trigêmeo, causando uma dor que nem a morfina é capaz de amenizar.

Sede: Jesus também sofreu ardente sede, pois não havia

bebido nada desde a noite anterior, carregou a cruz, perdeu muito

sangue e sofreu intensa febre, devido às inflamações.

Corpo: sofreu cãibras,espasmos, desidratação, policontusões

e exalação insuficiente com retenção de gás carbônico no sangue e

nos pulmões (hipercapnia).

60


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

“Vinagre”: desde que chegou ao Calvário, durante a

crucifixão e ao fim dela, os soldados ofereceram-Lhe vinagre, vinho

azedo misturado com água e vinho com mirra, para aliviar Sua dor,

mas Cristo recusou-Se a bebê-las, para manter-Se consciente e não

fugir à Sua missão.

Lança: quando a morte na cruz precisava ser adiantada,

dava-se um “golpe de misericórdia”, chamado crucifragium,

quebrando-se a tíbia (osso da canela). Mas isso não foi preciso, pois

Jesus morreu antes.

Para assegurarem Sua morte, Ele foi ferido com

uma lança.

Sangue e água: a lança provavelmente atingiu o pericárdio

e a pleura pulmonar, a qual reteve água devido à incapacidade de

Jesus expirar completamente. Supõe-se que foi por essa razão que

jorrou sangue e água da ferida.

Vitória: ao gritar “está consumado” (em grego tetelestai,

que pode significar “está pago”), Jesus não morreu como uma vítima

frágil, mas como um herói. Cumpriu Sua missão, salvou a

humanidade.

Morte: provavelmente por parada cardiorrespiratória. Além

dos sofrimentos físicos, o coração de Cristo não suportou o peso dos

pecados da humanidade.

61


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Terremoto: às 15 horas, após Cristo gritar duas vezes e dar

Seu último suspiro, ocorreu um terremoto tremor que fendeu rochas

e abriu túmulos.

Tempo na cruz: os crucificados permaneciam vivos de 18

horas a alguns dias. Jesus ficou na cruz entre as 9 horas e as 15 horas.

Seus graves ferimentos e o sofrimento espiritual foram determinantes

para Sua morte rápida.

A cruz e a tumba que Ele deixou Mais detalhes sobre a

morte e vitória de Cristo

Getsêmani: o sofrimento de Cristo começou pelo menos

dez horas antes da cruz quando começou a sentir o peso dos pecados

humanos. Seu sofrimento psicológico foi tão grande que O fez suar

gotas de sangue. Esse fenômeno raro na literatura médica é

conhecido como hematidrose.

Cruz: a pena de morte por crucificação já era praticada

desde o século 6 a.C. por persas e babilônios, até que foi proibida

pelo imperador Constantino, em 337 d.C.

Há quatro tipos conhecidos de cruz:

Decussata (em forma de X), quadrata (em forma de +),

comissa (em forma de T) e imissa (em forma da cruz, como a

conhecemos). Certamente, a cruz de Cristo foi do tipo comissa ou

imissa, pois a própria palavra para crucificar no Novo Testamento é

stauros, que significa colocar em um tau (nome da letra T em grego)..

62


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Se considerarmos a necessidade de se pregar uma placa, é possível

que a cruz como a conhecemos possa ter sido a utilizada.

Partes da cruz: as cruzes romanas eram compostas de duas

partes: stipes e patibulum. A stipes era o poste, que geralmente

permanecia no local de suplício e tinha cerca de 5 metros de altura e

70 quilos. O patibulum era a parte horizontal, geralmente carregada

pelo condenado até o local de execução. Tinha cerca de 2,5 metros e

por volta de 30 quilos. Possivelmente, o encaixe entre as duas partes

era feito no chão, onde o crucificado era pregado, para depois ser

erguido e a cruz ser encaixada no buraco previamente feito.

Assento: algumas cruzes tinham uma sedicula, pedaço de

madeira fixado à altura do quadril para apoiar o corpo, facilitar a

respiração e aumentar o tempo de suplício.

Embalsamamento: o ritual judaico de sepultamento durava

entre cinco e seis horas, pois envolvia lavar o cadáver, perfumá-lo

com aromas frescos, embalsamá- lo e envolvê-lo em faixas. Para se

evitar esse trabalho no sábado, o ritual foi adiado para a manhã de

domingo.

Deus, anjos: Deus estava ao pé da cruz, junto a Cristo, na

escuridão misteriosa, compartilhando de Seu sofrimento,

acompanhado de anjos celestiais.. Todos, porém, não podiam

confortá-Lo Cristo teria que levar sozinho o peso dos nossos

pecados.

Satanás, demônios: estavam presentes e ativos entre a

multidão. O inimigo torturava a Jesus, tentando levá-Lo ao

63


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

desespero e a desistir de Sua missão. Paradoxalmente, contra seus

próprios interesses, o inimigo não conseguia resistir ao prazer sádico

de matar o Filho de Deus.

O templo e as profecias: os sacrifícios realizados no

Templo apontavam para Cristo, o “Cordeiro de Deus” (Is 53:5, 6,

10). O início da crucifixão foi exatamente no horário do sacrifício da

manhã e o fim dela, no horário do sacrifício da tarde. Com a morte de

Cristo, o antigo sistema sacrifical perdeu a validade, e o véu do

Templo foi rasgado de cima a baixo (Mt 27:51). De acordo com a

profecia das 70 semanas de Daniel (Dn 9:24- 27), Cristo morreu no

ano 31 d.C. Ou seja, a morte de Cristo teve data e hora marcadas.

Caifás: na casa desse sumo sacerdote, Jesus foi julgado. Em

1990, foi achado um ossuário, contendo a inscrição em hebraico:

“José, filho de Caifás”.

Pilatos: arqueólogos italianos que escavavam um teatro

romano em Jerusalém encontraram uma pedra com a inscrição latina:

“Pôncio Pilatos, prefeito da Judeia”.

Julgamento: o julgamento de Cristo ocorreu durante a

madrugada e à véspera de um sábado e de uma grande festa religiosa

– três infrações do registro escrito das tradições judaicas, a Mishná, de

acordo com o Sanhedrin 4,1.

Pretório: casa do governador romano da Judeia. Em seu

pátio, Jesus foi julgado, castigado e condenado. Em 1930, escavações

identificaram plataformas maciças do pátio da fortaleza Antônia.

Nessas plataformas, estavam gravados alguns desenhos de jogos que

64


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

soldados romanos faziam para passar tempo. As descrições desse

pavimento (lithóstotos) são muito semelhantes ao que se relata em

João 19:13.

Ressurreição: o anjo o mais alto posto celestial, revestido

de luz, foi comissionado a chamá-Lo e rolou a pedra do sepulcro. Os

guardas caíram ao chão. Posteriormente, os discípulos O viram,

tocaram nEle, compartilharam uma refeição e conversaram com Ele.

Ressurreições: quando Jesus ressurgiu, outras pessoas

ressuscitaram das sepulturas abertas no terremoto que ocorreu no

momento de Sua morte (Mt 27:51-53).

A verdade: os discípulos mantiveram a versão de que Jesus

ressuscitou, mesmo em face da morte e sem ganhar qualquer

vantagem. Se isso não fosse verdade, pelo menos um deles negaria o

fato.

Profecias: as circunstâncias ligadas à morte de Cristo foram

preditas séculos antes, no Antigo Testamento.

Confira algumas:

1. Julgamento fraudulento (Is 53:8; Mt 26:59);

2. Abandono dos discípulos (Zc 13:7; Mc 14:27);

3. Sofrimento em silêncio (Is 53:7; Mt 27:12-14);

4. Morte substitutiva (Is 53:5; 1Jo 2:2);

5. Mãos e pés traspassados (Sl 22:16; Jo 20:25-27);

6. Intercessão pelos transgressores (Is 53:12; Lc 23:34);

7. Morte junto a malfeitores (Is 53:12; Lc 23:34);

65


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

60).

8. Zombaria (Sl 22:7, 8; Mt 27:41-43);

9. Roupas sorteadas (Sl 22:18; Jo 19:23, 24);

10. Separação de Deus (Sl 22:1; Mt 27:46);

11. Traspassado pela lança (Zc 12:10; Jo 19:34);

12. Sepultamento em túmulo de rico (Is 53:9; Mt 27:57-

Segunda vinda: em meio ao Seu julgamento,Cristo afirmou

que Seus acusadores e executores O veriam em Seu retorno glorioso.

Isso ocorrerá em Sua segunda vinda como “Rei dos reis e Senhor dos

senhores” (Mt 26:64; Ap 1:7; 1Tm 6:14, 15).

Fontes: Rubén Dario Camargo (artigo “Fisiopatologia da

morte de Cristo”); Rodrigo Cardoso (reportagem “Como Jesus foi

crucificado?” IstoÉ, de 1/4/2010); Rodrigo Silva (Escavando a

Verdade, CPB, 2007 e AArqueologia e Jesus, Perspectiva, 2006);

Frederick Zugibe (A Crucificação de Jesus, Matrix, 2010).

Páscoa e celebrar a ceia com seus discípulos, foi com eles ao

Monte das Oliveiras, e entrou no jardim do Getsêmani. O que o

induziu a selecionar esse lugar para que fosse a cena de sua terrível

agonia? Porque haveria de ser arrastado ai por seus inimigos de

preferência a qualquer outro lugar? Por acaso é difícil que

entendamos que assim como num jardim a auto-complacência de

Adão nos arruinou, também em outro jardim as agonias do segundo

Adão deveria nos restaurar? O Getsemani ministra as medicinas para

curar os males que foram a consequência do fruto proibido do Éden.

Nenhuma flor que tenha florescido nas ribeiras do rio repartido em

quatro braços foi alguma vez tão preciso para nossa raça como foram

essas ervas amargas que com dificuldade cresciam as margens do

enegrecido e sombrio ribeiro de Cedrom o foram.

66


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Por acaso nosso Senhor também não pode se lembrar de

Davi, quando naquela memorável ocasião, saiu da cidade escapando

de seu filho rebelde, segundo está escrito: “também o rei passou o

ribeiro de Cedrom, e passou todo o povo na direção do caminho do

deserto.” (2 Samuel 15:23), e ele e seu povo subiram descalços e com

a cabeça descoberta, chorando em alta voz enquanto subiam? Eis

aqui, Um mais grande que Davi abandonando o templo e se acha

desolado, e deixa a cidade que havia rejeitado suas advertências, e

com um coração cheio de tristeza atravessa o pestilento ribeiro, para

buscar na solidão um alívio para suas angústias.

Mais ainda, nosso Senhor queria que nós víssemos que

nosso pecado havia mudado tudo ao redor Dele em aflição,

converteu suas riquezas em pobreza, sua paz em duros trabalhos, sua

glória em vergonha, e assim também o lugar de seu retiro pleno de

paz, onde em santa devoção tinha estado tão próximo do céu em

comunhão com Deus, nosso pecado transformou no foco de sua

aflição, o centro de sua dor. Ali onde seu deleite tinha sido maior, ali

estava chamado a sofrer sua máxima aflição.

Também pode ser que nosso Senhor tenha escolhido o

jardim porque, necessitado de qualquer recordo que o ajudasse no

conflito, sentia o refrigério que lhe viria ao lembrar-se das horas

passadas transcorridas ali com tanta quietude. Ali tinha orado, e

obtido força e consolo. Essas enroladas e retorcidas oliveiras o

conheciam muito bem; não havia no jardim uma só folha sobre a que

Ele não houvera se ajoelhado. Ele havia consagrado esse lugar para

comunhão com Deus. Não é nenhuma surpresa, então, que tenha

preferido essa terra privilegiada. Assim como um enfermo escolheria

estar em sua própria cama, assim Jesus escolheu suportar sua agonia

em seu próprio oratório, onde as lembranças dos momentos de

comunhão com Seu Pai estariam de maneira vivida diante Dele.

67


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Porem, provavelmente, a principal razão para ir ao

Getsêmani foi que era um lugar muito conhecido e freqüentado por

Ele, e João nos diz: “e também Judas, o que o entregava, conhecia

aquele lugar.” Nosso Senhor não desejava se esconder, não precisava

ser perseguido como um ladrão, ou ser buscado por espias. Ele foi

valorosamente ao lugar onde seus inimigos conheciam que Ele tinha

o costume de orar, pois Ele queria ser tomado para sofrer e morrer.

Eles não o arrastaram ao pretório de Pilatos contra sua vontade, mas

sim que foi com eles voluntariamente. Quando chegou a hora de que

fosse traído, ali Ele estava, num lugar onde o traidor poderia o

encontrar facilmente, e quando Judas o traiu com um beijo, sua face

estava pronta para receber a saudação traidora. O bendito Salvador

deleitava-se no cumprimento da vontade do Senhor, ainda que isso

implicasse a obediência até a morte.

Chegamos assim até a porta do jardim do Getsêmani,

portanto, entremos; porem, primeiro, tiremos os sapatos, como

Moises quando viu a sarça ardendo com fogo que não se consumia.

Certamente podemos dizer com Jacó: “Que terrível é esse lugar!”

Temo diante da tarefa que tenho em minha frente, pois, como meu

débil discurso poderia descrever essas agonias, para as quais os fortes

clamores e as lágrimas seriam escassamente uma adequada expressão?

Quero, juntamente com vocês, repassar os sofrimentos de nosso

Redentor, porem, oh, que o Espírito de Deus nos impeça qualquer

pensamento fora de lugar ou que nossa língua expresse uma só

palavra que seja depreciativa para Ele, seja em Sua humanidade

imaculada ou em sua gloriosa Deidade.

68


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Não é fácil quando se está falando de Alguém que é por sua

vez Deus e homem, manter a linha exata da expressão correta; é tão

fácil descrever o lado divino como se estivéssemos entrincheirados

no humano, ou retratar o lado humano às custa do divino. Por favor,

perdoem de antemão qualquer erro. Um homem precisa ser

inspirado, ou limitar-se nada mais às palavras inspiradas, para poder

falar adequadamente em todo momento sobre o “grandioso mistério

da piedade,” Deus manifestado em carne. Especialmente quando esse

indivíduo tem que refletir sobre Deus manifesto tão claramente na

carne sofredora, que as características mais frágeis da humanidade se

convertem nas mais notórias. Oh Senhor, abra Tu meus lábios para

que minha língua possa falar as palavras corretas.

I. Meditando na cena da agonia no Getsêmani, somos

obrigados a dar-nos conta que nosso Salvador suportou ai uma

tristeza desconhecida em qualquer outra etapa de Sua vida.

69


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

8º A Paixão de Cristo

Realizado por Mel Gibson, é a história das últimas 12 horas

da vida de Jesus de Nazaré e arrisca-se já a ser o filme mais polémico

do ano por causa das acusações de anti-semitismo. A história começa

no Monte das Oliveiras, onde Jesus vai rezar após a Última Ceia.

Traído por Judas Iscariotes, Jesus é preso e levado de volta para

dentro dos muros da cidade de Jerusalém, onde os líderes dos

Fariseus o confrontam com acusações de blasfémia. Jesus é então

levado a Pilatos, o Governador Romano da Palestina, que ouve as

acusações feitas contra ele pelos Fariseus. Percebendo que enfrenta

um conflito político, Pilatos transfere a responsabilidade da decisão

da pena de morte para o Rei Herodes. Herodes devolve Jesus a

Pilatos, que propõe que a multidão escolha entre Jesus e o criminoso

Barrabás. A multidão escolhe a liberdade de Barrabás e condena

Jesus, que é depois entregue aos soldados romanos e é flagelado. É

mais uma vez apresentado a Pilatos, que acaba por ordenar aos seus

homens que façam o que a multidão pede. Jesus terá então de

carregar a cruz pelas ruas de Jerusalém até o alto do Golgota. No

Golgota, Jesus é crucificado e passa pela sua última tentação - o medo

de ter sido abandonado pelo Pai.

70


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Zugibe (*) contra Mel Gibson

O filme americano A paixão de Cristo (2005), de Mel

Gibson (foto), é duramente criticado pelo médico Frederick Zugibe.

Ele afirma que a produção tem equívocos médicos, científicos e

históricos.

71


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Os erros:

• Jesus leva um violento golpe no olho no Jardim das

Oliveiras. De acordo com Zugibe, ele não foi agredido nessa fase de

seu calvário.

• Apenas o aramaico e o latim são falados no filme. Ficou

de fora o grego, principal idioma da Terra Santa na época de Jesus.

• A parte da frente do corpo de Jesus também é açoitada, o

que contraria os escritos antigos.

• Jesus leva uma cruz de 80 a 90 quilos. Zugibe afirma que

só a barra horizontal era carregada e a vertical ficava pregada ao chão

do lado de fora dos portões da cidade.

• O descanso para os pés mostrado no filme é uma

invenção de artistas do século passado, segundo Zugibe.

• Ao contrário do que mostra o filme, a água e o sangue

não jorram do peito de Jesus após a retirada da lança. Escorrem

suavemente.

72


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

73


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

9º Como morreu Jesus

Médico legista dos EUA faz uma inédita autópsia

de Cristo e explica, cientificamente, o que ocorreu em

seu corpo durante o calvário.

De duas, uma: sempre que a ciência se dispõe a estudar as

circunstâncias da morte de Jesus Cristo, ou os pesquisadores

enveredam pelo ateísmo e repetem conclusões preconcebidas ou se

baseiam exclusivamente nos fundamentos teóricos dos textos bíblicos

e não chegam a resultados práticos. O médico legista americano

Frederick Zugibe, um dos mais conceituados peritos criminais em

todo o mundo e professor da Universidade de Columbia, acaba de

quebrar essa regra.

Ele dissecou a morte de Jesus com a objetividade científica

da medicina, o que lhe assegurou a imparcialidade do estudo.

Temente a Deus e católico fervoroso, manteve ao longo do trabalho

o amor, a devoção e o respeito que Cristo lhe inspira. Zugibe, 76

anos, juntou ciência e fé e atravessou meio século de sua vida

debruçado sobre a questão da verdadeira causa mortis de Jesus.

Escreveu três livros e mais de dois mil artigos sobre esse tema, todos

publicados em revistas especializadas, nos quais revela como foi a

crucificação e quais as conseqüências físicas, do ponto de vista

médico, dos flagelos sofridos por Cristo durante as torturantes 18

horas de seu calvário.

74


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O interesse pelo assunto surgiu em 1948 quando ele

estudava biologia e discordou de um artigo sobre as causas da morte

de Jesus. Desde então, não mais deixou de pesquisar e foi

reconstituindo com o máximo de fidelidade possível a crucificação de

Cristo. Nunca faltaram, através dos séculos, hipóteses sobre a causa

clínica de sua morte. Jesus morreu antes de ser suspenso na cruz?

Morreu no momento em que lhe cravaram uma lança no coração?

Morreu de infarto? O médico legista Zugibe é categórico em

responder “não”.

E atesta a causa mortis:

Jesus morreu de parada cardiorrespiratória decorrente de

hemorragia e perda de fluidos corpóreos (choque hipovolêmico), isso

combinado com choque traumático decorrente dos castigos físicos a

ele infligidos. Para se chegar a esse ponto é preciso, no entanto, que

antes se descreva e se explique cada etapa de seu sofrimento.

Zugibe trabalhou empiricamente. Ele utilizou uma cruz de

madeira construída nas medidas que correspondem às informações

históricas sobre a cruz de Jesus (2,34 metros por 2 metros),

selecionou voluntários para serem suspensos, monitorou

eletronicamente cada detalhe – tudo com olhos e sentidos treinados

de quem foi patologista-chefe do Instituto Médico Legal de Nova

York durante 35 anos. As suas conclusões a partir dessa minuciosa

investigação são agora reveladas no livro A crucificação de Jesus –

as conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um

investigador criminal, recém-lançado no Brasil (Editora Idéia e Ação,

455 págs., R$ 49,90). “Foi como se eu estivesse conduzindo uma

autópsia ao longo dos séculos”, escreve o autor na introdução da

obra. Trata-se de uma viagem pela qual ninguém passa incólume –

sendo religioso, agnóstico ou ateu. O ponto de partida é o Jardim das

Oliveiras, quando Jesus se dá conta do sofrimento que se avizinha:

75


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

condenação, açoitamento e crucificação. Relatos bíblicos revelam que

nesse momento “o seu suor se transformou em gotas de sangue que

caíram ao chão”.

A descrição (feita pelo apóstolo Lucas, que era médico)

condiz, segundo o legista, com o fenômeno da hematidrose, raro na

literatura médica, mas que pode ocorrer em indivíduos que estão sob

forte stress mental, medo e sensação de pânico. As veias das

glândulas sudoríparas se comprimem e depois se rompem, e o sangue

mistura-se então ao suor que é expelido pelo corpo.

76


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Fala-se sempre das dores físicas de Jesus, mas o seu

tormento e sofrimento mental, segundo o autor, não costumam ser

lembrados e reconhecidos pelos cristãos: “Ele foi vítima de extrema

angústia mental e isso drenou e debilitou a sua força física até a

exaustão total.” Zugibe cita um trecho das escrituras em que um

apóstolo escreve:

“Jesus caiu no chão e orou.” Ele observa que isso é uma

indicação de sua extrema fraqueza física, já que era incomum um

judeu ajoelhar-se durante a oração. A palidez com que Cristo é

retratado enquanto está no Jardim das Oliveiras.

É um reflexo médico de seu medo e angústia:

Em situações de perigo, o sistema nervoso central é

acionado e o fluxo sangüíneo é desviado das regiões periféricas para o

cérebro, a fim de aguçar a percepção e permitir maior força aos

músculos. É esse desvio do sangue que causa a palidez facial

característica associada ao medo. Mas esse era ainda somente o

começo das 18 horas de tortura. Após a condenação, Jesus é

violentamente açoitado por soldados romanos por ordem de Pôncio

Pilatos, o prefeito de Judéia. Para descrever com precisão os

ferimentos causados pelo açoite, Zugibe pesquisou os tipos de

chicotes que eram usados no flagelo dos condenados. Em geral, eles

tinham três tiras e cada uma possuía na ponta pedaços de ossos de

carneiro ou outros objetos pontiagudos. A conclusão é que Jesus

Cristo recebeu 39 chibatadas (o previsto na chamada Lei Mosaica), o

que equivale na prática a 117 golpes, já que o chicote tinha três

pontas. As conseqüências médicas de uma surra tão violenta são

hemorragias, acúmulo de sangue e líquidos nos pulmões e possível

laceração no baço e no fígado. A vítima também sofre tremores e

desmaios. “A vítima era reduzida a uma massa de carne, exaurida e

destroçada, ansiando por água”, diz o legista.

77


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Ao final do açoite, uma coroa de espinhos foi cravada na

cabeça de Jesus, causando sangramento no couro cabeludo, na face e

na cabeça. Também nesse ponto do calvário, no entanto, interessa a

explicação pela necropsia. O que essa coroa provocou no organismo

de Cristo? Os espinhos atingiram ramos de nervos que provocam

dores lancinantes quando são irritados. A medicina explica: é o caso

do nervo trigêmeo, na parte frontal do crânio, e do grande ramo

occipital, na parte de trás. As dores do trigêmeo são descritas como as

mais difíceis de suportar – e há casos nos quais nem a morfina

consegue amenizá-las.

Em busca de precisão científica, Zugibe foi a museus de

Londres, Roma e Jerusalém para se certificar da planta exata usada na

confecção da coroa. Entrevistou botânicos e em Jerusalém conseguiu

sementes de duas espécies de arbustos espinhosos. Ele as plantou em

sua casa, elas brotaram e cresceram.

O pesquisador concluiu então que a planta usada para fazer

a coroa de espinhos de Jesus foi o espinheiro de cristo sírio, arbusto

comum no Oriente Médio e que tem espinhos capazes de romper a

pele do couro cabeludo. Após o suplício dessa “coroação”,

amarraram nos ombros de Jesus a parte horizontal de sua cruz (cerca

de 22 quilos) e penduraram em seu pescoço o título, placa com o

nome e o crime cometido pelo crucificado (em grego, crucarius).

Seguiu-se então uma caminhada que os cálculos de Zugibe estimam

em oito quilômetros. Segundo ele, Cristo não carregou a cruz inteira,

mesmo porque a estaca vertical costumava ser mantida fora dos

portões da cidade, no local onde ocorriam as crucificações. Ele

classifica de “improváveis” as representações artísticas que o mostram

levando a cruz completa, que então pesaria entre 80 e 90 quilos.

78


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Ao chegar ao local de sua morte, as mãos de Jesus foram

pregadas à cruz com pregos de 12,5 centímetros de comprimento.

Esses objetos perfuraram as palmas de suas mãos, pouco abaixo do

polegar, região por onde passam os nervos medianos, que geram

muita dor quando feridos. Já preso à trave horizontal, Cristo foi

suspenso e essa trave, encaixada na estaca vertical. Os pés de Jesus

foram pregados na cruz, um ao lado do outro, e não sobrepostos –

mais uma vez, ao contrário do que a arte e as imagens representaram

ao longo de séculos. Os pregos perfuraram os nervos plantares,

causando dores lancinantes e contínuas.

Preso à cruz, Cristo passou a sofrer fortes impactos físicos.

Para conhecê-los em detalhes, o médico legista reconstituiu a

crucificação com voluntários assistidos por equipamentos médicos.

Os voluntários tinham entre 25 e 35 anos e o monitoramento físico

incluiu eletrocardiograma, medição da pulsação e da pressão

sangüínea. Eletrodos cardíacos foram colados ao peito dos

voluntários e ligados a instrumentos para testar o stress e os

batimentos cardíacos. Todos os voluntários observaram que era

impossível encostar as costas na cruz. Eles sentiram fortes cãibras,

adormecimento das panturrilhas e das coxas e arquearam o corpo

numa tentativa de esticar as pernas

A partir desse derradeiro, corajoso e ousado experimento

realizado por Zugibe, ele passou a discutir o que causou de fato a

morte de Cristo. Analisou três teorias principais: asfixia, ruptura do

coração e choque traumático e hipovolêmico – por isso a importância

médica e fisiológica de se ter descrito, anteriormente e passo a passo,

o processo de tortura física e psíquica a que Jesus foi submetido. A

teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas ela jamais foi

testada cientificamente. Essa hipótese sustenta que a posição na cruz

é incompatível com a respiração, obrigando a vítima a erguer o corpo

para conseguir respirar. O ato se repetiria até a exaustão e ele

79


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

morreria por asfixia quando não tivesse mais forças para se mover.

Defende essa causa mortis o cirurgião francês Pierre Barbet, que se

baseou em enforcamentos feitos pelo Exército austro-germânico e

pelos nazistas no campo de extermínio de Dachau.

Zugibe classifica essa tese de “indefensável” sob a

perspectiva médica. Os exemplos do Exército ou do campo de

concentração não valem porque os prisioneiros eram suspensos com

os braços diretamente acima da cabeça e as pernas ficavam soltas no

ar. Não é possível comparar isso à crucificação, na qual o condenado

é suspenso pelos braços num ângulo de 65 a 70 graus do corpo e tem

os pés presos à cruz, o que lhe dá alguma sustentação. Experimentos

feitos com voluntários atados com os braços para o alto da cabeça

mostraram que, em poucos minutos, eles ficaram com capacidade

vital diminuída, pressão sangüínea em queda e aumento na pulsação.

O radiologista austríaco Ulrich Moedder também derruba o raciocínio

de Barbet afirmando que esses voluntários não suportariam mais de

seis minutos naquela posição sem descansar. Pois bem, Jesus passou

horas na cruz.

Quanto à hipótese de Cristo ter morrido de ruptura do

coração ou ataque cardíaco, Zugibe alega ser muito difícil que isso

ocorra a um indivíduo jovem e saudável, mesmo após exaustiva

tortura: “Arteriosclerose e infartos do miocárdio eram raros naquela

parte do mundo. Só ocorriam em indivíduos idosos.” Ele descarta a

hipótese por falta de provas documentais. Prefere apostar no choque

causado pelos traumas e pelas hemorragias.

A isso somaram-se as lancinantes dores provenientes dos

nervos medianos e plantares, o trauma na caixa torácica, hemorragias

pulmonares decorrentes do açoitamento, as dores da nevralgia do

trigêmeo e a perda de mais sangue depois que um dos soldados lhe

arremessou uma lança no peito, perfurando o átrio direito do

80


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

coração. Zugibe usa sempre letras maiúsculas nos pronomes que se

referem a Jesus e se vale de citações bíblicas revelando a sua fé.

Indagado por ISTOÉ sobre a sua religiosidade, ele diz que os seus

estudos aumentaram a sua crença em Deus: “Depois de realizar os

meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das

informações.” Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que

chama de “sumário da reconstituição forense”. E chega à definitiva

causa mortis de Jesus, em sua científica opinião: “Parada cardíaca e

respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico,

resultante da crucificação.”

Frederick T. Zugibe

81


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

(*) Frederick T. Zugibe : Zugibe desenvolveu o primeiro

Sistema de Patologista Forense em Rockland, Nova Iorque em 1969 e

a partir daí serviu de primeiro Médico Patologista Chefe de Rockland,

um cargo que ele manteve durante mais de 33 anos até a sua reforma

no dia 31 de Dezembro de 2002.Exerceu ainda o cargo de Médico

Patologista de Janeiro de 2003 até o dia 31 de Março de 2003 até à

confirmação do seu Sucessor e no dia 11 de Agosto de 2003, a

Legislatura de Rockland dedicou o Gabinete de Patologia Doutor

FREDERICK T. ZUGIBE UNIDADE FORENSE.

Da Universidade de Chicago, em Chicago, Zugibe recebeu o

seu M.S. em 1959 e o seu doutoramento em 1960, tendo obtido o seu

M.D. da Universidade de Virginia no mesmo ano.Doctor Zugibe

manteve um Mestrado em Ciência, um Mestrado em Ciência

(Microscopia de Anatomia/Elétron), Doutoramento em Anatomia /

Histoquimica, e o grau de M.D.. Foi Diplomado pelo Conselho

Americano de Patologia e Diplomado em Patologia Anatômica e

Patologia Forense e Diplomado pelo Conselho Americano da Prática

de Família. Foi Professor Catedrático de Patologia no Colégio da

Universidade de Columbia de Médicos e Cirurgiões e publicou um

definitivo, manual largamente usado em campo especializado da

patologia diagnóstica, chamada “Histochemistry Diagnóstico” (C.V.

Mosby Co) um trabalho ainda utilizado em centros médicos em todo

o Mundo.

Foi Colega do Colégio de Patologistas Americanos, Colega

da Academia Americana das Ciências Forenses, Secção de Patologia

Forense, e Membro da Associação Nacional de Examinadores

Médicos com papéis numerosos publicados em capítulos de livro

escritos nos campos da patologia forense em geral.

82


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

10º Exame forense do corpo de Jesus

O médico legista José Antonio Lorente analisou para o

Magazine de El Mundo, por causa da polêmica desencadeada pelo

filme de Mel Gibson, A Paixão, as agressões recebidas durante as

últimas oito horas da vida de Cristo mostrando que lhe causaram um

sofrimento indescritível e que tinham um propósito criminoso.

Com o respeito e admiração que sempre me causou a figura

de Jesus, especialmente marcada por minha condição de católico

praticante, analiso de uma perspectiva estritamente profissional e

baseada em dados objetivos, qual poderia ter sido, à luz dos

conhecimentos de hoje, o resultado da autópsia médico-forense de

uma pessoa que tivesse morrido após sofrer as lesões infligidas a

Jesus. Todos os dados em que me apóio foram obtidos (por José

Manuel Vidal, correspondente religioso de El Mundo) das Sagradas

Escrituras, por isso nada se deixa à improvisação nem à imaginação

dos autores.

A autópsia forense é encaminhada para determinar a causa

da morte e as circunstâncias da mesma, questões às vezes muito

complexas de estabelecer, como veremos a seguir, depois de uma

breve introdução genérica à autópsia médico-legal.

A causa da morte, no contexto médico- legal, é de dois

tipos, ambos estreitamente relacionados entre si: a causa imediata e a

causa fundamental. A vida tem um trípode vital (já descrito por

Bichat) que faz com que a mesma exista pelo funcionamento

coordenado das funções cardíaca, respiratória e nervosa; o motivo

pelo qual cessa ao menos uma destas três funções e acaba a vida é a

83


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

causa imediata da morte. Esta causa imediata, por sua vez, está

baseada em uma série de alterações gerais mais graves e genéricas, que

são a causa fundamental. Assim, por exemplo, uma pessoa que falece

por um enfarte de miocárdio tem como causa imediata a isquemia

cardíaca com necrose miocárdica, e como causa fundamental, por

exemplo, uma grave aterosclerose com redução drástica da luz ou

diâmetro de uma série de artérias coronárias. Estas causas são

anotadas sempre nos atestados médicos de falecimento e nas

declarações ou informes de autópsia.

As circunstâncias da morte tratam de explicar basicamente

se a mesma foi criminosa (homicida), acidental ou suicida, já que estas

conclusões são básicas para a investigação judicial. Para isso, o

médico forense estuda minuciosamente o cadáver, primeiro a parte

exterior (exame externo), e posteriormente as cavidades e órgãos

internos, localizados no crânio, no tórax e no abdome.

Usam-se quantas técnicas complementares ou auxiliares

sejam necessárias (histopatológicas, toxicológicas, genéticas, etc...), já

que destes dados não só se pode deduzir se a morte é homicida ou

acidental, mas sim às vezes se conseguem dados sobre os autores do

crime ou de certas lesões (por exemplo, recuperando sêmen do corpo

de uma vítima de estupro que pode servir para identificar o autor)

e em outras ocasiões serve até para identificar um cadáver

previamente não identificado (por exemplo, observando cicatrizes ou

tatuagens).

Eis aqui, pois, a declaração de autópsia que podemos

deduzir com rigor das descrições encontradas nas Sagradas Escrituras,

com mínimas licenças formais de estilo, nunca de conteúdo.

84


A autópsia.

AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Sobre a mesa de autópsia se encontra o cadáver de um

varão, de aproximadamente 30 a 35 anos de idade, identificado por

um nutrido grupo de seguidores como Jesus de Nazaré, que

asseguram que tem 33 anos, filho de José e de Maria, crucificado após

ser condenado.

No exame externo se aprecia um bom estado físico, face às

lesões que sofreu. Na cabeça destacam-se múltiplas pequenas feridas

agudas (espetadas), incisas (corte) e inciso-contusas (cortes unidos a

golpes ou cortes produzidos por instrumentos não cortantes), de

disposição em forma coronal ou de circunferência, que abrange a

parte superior da frente e continua para trás por ambos os lados da

cabeça, afetando os ossos parietais, temporal e occipitais.

As ferida são profundas, afetando a toda a galea capitis

(couro cabeludo) e chegando até a face externa dos ossos

mencionados. Os pavilhões auriculares acham-se igualmente

perfurados pela ação de instrumentos agudos (pontas agudas). Por

causa das profusas hemorragias provocadas pelas múltiplas feridas, é

de mencionar que quase todo o cabelo se encontra, em toda a sua

longitude, empapado em sangue úmido ou com crostas originadas ao

secar-se. Todas as lesões sofridas são compatíveis com as que

produziria uma coroa de espinhos como a que se descreve que levou

o finado.

No tronco, tanto em sua parte anterior (peito) como na

posterior (costas) apreciam- se múltiplas lesões, onde predominam as

contusões em forma de equimoses, equimomas e hematomas

(cardeais), algumas delas de caráter longitudinal em forma figurada

que reproduzem os objetos que as produziram, muito provavelmente

85


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

por um ou vários flagrum (espécie de chicote de correias ou tiras).

Pela violência dos golpes e/ou pela reiteração dos mesmos em certas

zonas, produziram-se soluções de continuidade, aparecendo feridas

contusas longitudinais, erosões (arranhões superficiais) e escoriações

(arranhões profundos, onde aparece sangue).

Em alguns pontos do corpo as feridas contusas são

especialmente profundas, produzindo um grande rasgo muscular e

também hemorragias profusas. Todas estas lesões preponderam,

sobretudo, na parte posterior do tronco. Finalmente, na zona costal

direita, anterolateralmente, destaca-se uma ferida incisa profunda,

com evidentes sinais de ter produzido uma abundante hemorragia.

Em ambas as extremidades superiores, quase à altura das

mãos, na zona carpiana, apreciam-se uma ferida aguda transfixante

(que atravessa), com bordas contusas e sinais de rasgo por ter

suportado grande peso, provavelmente o do corpo. Nas mãos, na

palma e na eminência tenar, apreciam-se erosões e escoriações,

compatíveis com as produzidas ao apoiar-se no chão depois de uma

queda. Nas extremidades inferiores aprecia-se, em ambos os pés, uma

ferida aguda transfixante de bordas contusas. Os joelhos aparecem

com erosões e escoriações, provavelmente por ter caído e batido com

eles no chão.

No exame interno (podemos deduzir) apreciar-se-iam sinais

próprios de uma hipoxia-anoxia, hemorragia maciça, choque

hipovolêmico, com palidez de mucosas e de órgãos internos como os

pulmões, o fígado e os rins. Além disso, se encontraria uma

quantidade muito limitada de sangue nas cavidades cardíacas e nos

grandes copos arterovenosos. Existiriam sinais de asfixia no cérebro e

nos pulmões, tudo isso compatível com uma agonia prolongada.

86


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

É necessário agora realizar uma série de raciocínios

(chamados considerações médico- legais) antes de concluir com as

circunstâncias da morte. Começamos constatando que não foram

descritas lesões mortais, ou seja, aquelas que por afetar um órgão ou

função vital, são causa imediata e fundamental de morte. Tudo isso

nos leva a considerar a morte de Jesus de Nazaré como o resultado de

um longo processo agônico.

Das nove da noite da quinta-feira 12 (ao acabar a Última

Ceia e ser detido) até as três da tarde da sexta-feira 13 em que morreu,

transcorrem um total de 18 horas. Desde o momento de sua

detenção, parece que não ingeriu nenhum tipo de alimento ou

líquido. Os castigos (exceto a paulada propiciada por um criado de

Caifás pouco depois de sua detenção) começaram por volta das sete

da manhã de sexta-feira, por isso, até o momento da morte

transcorrem umas oito horas.As outras lesões procedem da

flagelação, e são múltiplas chicotadas no peito e nas costas. Estas

lesões provocam hemorragias que em princípio não têm por que ser

muito profusas por não serem profundas e, portanto, não afetarem

grandes artérias e veias.

Entretanto, por ser em uma extensão muito ampla do corpo

(peito e costas) a perda sangüínea vai-se acumulando e pode ser

significativa, podendo produzir (ao longo das mais de oito horas de

castigo) a perda de um ou dois litros de sangue e plasma

(sinceramente não acreditamos que se pudesse perder mais, já que

essas lesões em vasos de diâmetro pequeno e médio tendem a fecharse

por si mesmas).

Uma hemorragia produz uma perda do volume de sangue

(que se denomina volemia), por isso a perda de sangue se chama

hipovolemia. Uma grande hipovolemia origina uma crise ou choque

87


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

no funcionamento do organismo, que neste caso se chama choque

hipovolêmico.

Paralelamente, tendo em conta a grande quantidade de

golpes que impactam nos mesmos lugares, produzem-se uma série de

graves lesões similares às de um esmagamento ou pisoteamento, o

que se conhece em medicina como síndrome de esmagamento

(crush syndrome) e que implica na liberação de substâncias no

interior do sangue, entre elas mioglobina procedente dos músculos,

que provoca alterações nos processos renais de filtração.

Tão maciça quantidade de golpes no tórax é também causa

de uma grande dor, enorme e inqualificável sofrimento. Entre os

mecanismos de defesa que de modo automático ou inconsciente

utiliza o organismo está o de reduzir a mobilidade ao mínimo

(quando, por exemplo, se uma pessoa se machuca em um dedo, o

primeiro que faz imediatamente depois é agarrá-lo com a outra mão e

não movê-lo); a redução da mobilidade no tórax se traduz em

respirações superficiais que originam uma hipoxia (falta de

oxigenação do sangue por não respirar adequadamente), que se

associa a uma hipercapnia (excesso de dióxido de carbono pelo

mesmo motivo) e a uma série de alterações do equilíbrio ácido-base.

A isto deve-se acrescentar que, pela postura existente na

cruz −onde o corpo fica literalmente pendurado nas extremidades

superiores através de uma tensão que se transmite ao tórax e aos seus

músculos−, que são dificultada suas funções, entre elas a de facilitar

os movimentos respiratórios.

As graves lesões traumáticas no tórax bem puderam

produzir uma irritação das membranas que rodeiam os pulmões

(pleuras), ocasionando uma pleurite com um acúmulo de líquido

88


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

chamado exsudado no espaço interpleural. Isto pode explicar

perfeitamente por que saiu “sangue e água” quando foi cravado no

lado direito de seu flanco: sangue das lesões próprias das artérias e

veias da zona, e “água” que seria o exsudado acumulado entre as

pleuras (interpleural).

As lesões produzidas pelos pregos em ambas as mãos (zona

carpiana) e nos pés não devem estar em princípio relacionadas com a

causa da morte, já que não afetam órgãos vitais e uma possível

infecção grave não se desenvolve em tão curto prazo de tempo. A

única possível influência –não descrita nas Sagradas Escrituras– é a

produção de uma grande hemorragia porque se afetaram artérias ou

veias de grande calibre, o que poderia redundar no possível choque

hipovolêmico mencionado.

As lesões produzidas pela coroa de espinhos na cabeça não

estão provavelmente relacionadas com a causa da morte (não afetam

órgãos vitais ao não penetrar no cérebro nem produzem grande

hemorragia).

Uma nota final para destacar que a posição na cruz

(ortostática, de pé) torna difícil a chegada de oxigênio ao cérebro, já

que o sangue tende a acumular-se nas partes inferiores do organismo

(por efeito da gravidade), sobretudo quando o coração funciona

fracamente, por isso a oxigenação do órgão que mais o necessita (o

cérebro ou sistema nervoso central) é deficiente.

Conhecendo a lenta agonia e a manutenção da consciência

quase até o último instante, baseado em todas as considerações

anteriormente expostas.

89


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

11º Obtemos as seguintes conclusões

médico

Obtemos as seguintes conclusões médico - legais como

as mais prováveis:

Causa imediata da morte: hipoxia- anoxia (hipoxia é

diminuição da concentração de oxigênio no sangue, e anoxia é a

ausência total de oxigênio na mesma) cerebral conseqüência de

hipovolemia (diminuição do volume de sangue) pós-hemorrágica,

gerada pela insuficiência respiratória mecânica (incapacidade para

respirar adequadamente por falta de mobilidade) por graves lesões em

músculos intercostais, e por insuficiência cardíaca.

Causa fundamental da morte: múltiplas feridas incisocontusas,

equimose, erosões, escoriações e hematomas na parte

anterior e posterior do tronco.

Origem da morte: criminosa.»

O doutor José Antonio Lorente Acosta é especialista em

Medicina Legal e Forense e professor titular de Medicina Legal da

Universidade de Granada.

90


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A hematidrose de Jesus no Getsêmani na visão de um

médico forense

91


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

"E seu suor transformou-se em gotas de

sangue, que caíram no chão" - Lucas 22.43

O Jardim do Getsêmani

Entendendo como o sistema nervoso autônomo funciona,

tendo uma idéia básica da anatomia das glândulas sudoríparas e

compreendendo o que é ansiedade e como a reação lutar-ou-fugir é

ativada, é possível aplicar esse conhecimento para entender o

mecanismo da hematidrose no Jardim do Getsêmani.

Lutar ou Fugir

Eis o que aconteceu: a reação lutar- ou-fugir foi iniciada

pelas águas turbulentas de pavor extremo, tristeza e ansiedade que

direcionavam o espírito de Jesus para os limites extremos de Sua

humanidade. "Minha alma está triste até a morte" (Marcos 14.34).

A missão de Jesus era clara e Ele era capaz de prever todo o

espectro de sofrimento e morte que estava por vir. Esse prelúdio

produziu pavor extremo e satisfez todos os critérios médicos para

que se iniciasse a resposta simpatética autônoma.

O coração de Jesus bateu forte em Seu peito, um suor frio

se manifestou, Sua pele ficou empalidecida, Suas pupilas se dilataram,

Seus músculos se enrijeceram e Ele começou a tremer durante a

noite. O fato de que Jesus "caiu no chão e orou...(Marcos 14.35), foi

92


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

uma indicação de sua fraqueza, já que era incomum um judeu

ajoelhar-se durante a oração.

Jesus orou repetidamente. Essa reação severa foi seguida de

uma reação contrária desencadeada pelo sistema nervoso

parassimpático, em resposta a aceitação de Jesus de Seu destino. As

Escrituras nos dizem: "Ele se retirou, ajoelhou-se e orou:

Pai se queres, afasta de mim este cálice; todavia, não se faça

a minha vontade, mas a tua".

Então, apareceu-Lhe um anjo vindo do céu, deu-lhe forças,

e Ele, estando em agonia, orou mais intensamente (Lucas 22.41,42). A

taxa cardíaca diminuiu, o corpo inteiro começou a suar, Seus

músculos relaxaram, a cor retornou à Sua face.

A Hematidrose

Seus vasos sanguíneos se dilataram, precipitando o sangue

nos delicados capilares que circundam as glândulas de suor e

induzindo-os a irromper nos dutos, misturando o sangue com a

crescente quantidade de suor, projetada à superfície da pele

exatamente como foi descrito por Lucas, o médico: "E seu suor

transformou-se em gotas de sangue, que caíram ao chão" (Lucas

22.43).

Em síntese, a explicação mais lógica para o fenômeno da

hematidrose é a seguinte: o extremo estado de ansiedade mental

causado pelo pavor estimulou o centro do medo (amígdala), que

93


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

mandou uma alarme geral para todos os centros do cérebro,

evocando a plena reação de "lutar- ou-fugir". Essa reação durou

horas, resultando em um estado de exaustão total, que cessou

abruptamente quando, depois que o anjo O reconfortou, houve uma

reação contrária e Ele aceitou o Seu destino.

94


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O Sofrimento mental

Isso fez que seus vasos sanguíneos se dilatassem e

irrompessem diretamente nas glândulas de suor, terminando por sair

pela pele, exatamente como foi descrito por Lucas. A hematidrose é

considerada um caso médico raro, mas a presença de ansiedade e

profundo pavor do extremo sofrimento mental de Jesus ocasionou o

fenômeno. Jesus foi foi vitima de extrema angústia mental, que

drenou e debilitou Sua força física, até o ponto de exaustão. O

impacto da agonia no Getsêmani ilustra a gravidade do sofrimento

mental que Jesus sentiu a caminho do Calvário.

Ainda estava por vir sofrimentos físicos; o flagelo, a coroa

de espinhos, a estrada para o Calvário, a fixação e suspensão na Cruz

e o mais terrível de todos os sofrimentos - o espiritual e moral. O

Santo, o Puro, o Bendito, tomaria sobre Si a maldição de nossos

pecados e de nossas enfermidades ( Isaías 53).

Graças a Deus pelo Seu amor inefável - "Porque Deus amou

o mundo (todos os seres humanos de todas as épocas) de tal maneira

que deu o seu Filho Unigênito, (Jesus morreu na cruz em nosso

lugar)) para que todo àquele que nele crê (eu e você) não pereça, (no

inferno) mas tenha a vida eterna (morada garantida no Céu) - (João

3.16).

Dr. Frederick T. Zugibev- Médico Forense

95


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Autoria atribuída a Dr. Barbet, médico francês.

Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze

anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira

estudei anatomia a fundo.

Posso, portanto escrever sem presunção a respeito de morte

como aquela.Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor

tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. O único

evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a

precisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um

fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para

provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um

abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por

um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando

todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão

96


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que

estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se

concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o

envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e

Herodes. Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus.

Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma

coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas

sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente

estatura.Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de

microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se

rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um sobressalto

de dor. As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a

97


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao

longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia

em uma poça de sangue.

Depois o escárnio da coroação. Com longos espinhos, mais

duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de

capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no

couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto

sangra o couro cabeludo). Pilatos, depois de ter mostrado aquele

98


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

homem dilacerado à multidão feroz,

crucificado.

o entrega para ser

Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço

horizontal da Cruz; pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical já está

plantada sobre o Calvário.

Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno

irregular, cheia de pedregulhos. Os soldados o puxam com as cordas.

O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus, fatigado, arrasta um pé

após o outro, freqüentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de

Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele cai por terra, a viga lhe

escapa, escorrega e lhe esfola o dorso.

99


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos

despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirála

produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma

grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne

viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas

em descoberto pelas chagas.

Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda

aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue

começa a escorrer.Jesus é deitado de costas, as suas chagas se

incrustam de pé e pedregulhos.

Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes

tomam as medidas.

Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a

penetração dos pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo

prego pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com

100


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira.

Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano

foi lesado.

Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma

dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhouse

pelos ombros, atingindo o cérebro. A dor mais insuportável que

um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos

grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a

consciência. Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão

do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o

corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma

corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada

movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que

durará três horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da

trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé;

conseqüentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam-se à

estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da

cruz sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam

dolorosamente sobre a madeira áspera.

A ponta cortante da grande coroa de espinhos

penetram o crânio.

101


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o

diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez que o

mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor. Pregamlhe

os pés.

Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde

anterior. Seu corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta

e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas

ele não pode engolir. Tem sede.

Um soldado lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma

esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares. Tudo

aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no

corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma

contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e

102


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

levantados, os dedos, se curvam. É como acontece a alguém ferido de

tétano.

A isto que os médicos chamam tetania, quando

os sintomas se generalizam:

Os músculos do abdômen se enrijecem em ondas imóveis,

em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os

respiratórios. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar

entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o

ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena

crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se

transforma num violeta purpúreo e enfim em cianítico.

Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios de ar

não podem mais se esvaziar. A fronte está impregnada de suor, os

olhos saem fora de órbita.

103


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobrehumano,

Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés.

Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços.

Os músculos do tórax se distendem.

A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se

esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.

Por que este esforço? Porque Jesus quer falar: "Pai, perdoalhes

porque não sabem o que fazem". Logo em seguida o corpo

começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram

transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que

quer falar, deverá levar-se tendo como apoio o prego dos pés.

Inimaginável! Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo

coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele

não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde:

de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de

uma tortura que dura três horas.Todas as suas dores, a sede, as

câimbras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos, lhe arrancam um

lamento: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?". Jesus

grita: "Tudo está consumado!". Em seguida num grande brado diz:

"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". E morre. Em meu lugar

e no seu.

104


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

12º Hematidrose

A Hematidrose é um fenômeno raríssimo apenas uma

fraqueza física excepcional onde o corpo inteiro dói, acompanhada de

um abatimento moral violento causada por uma profunda emoção,

por um grande medo. Apenas um ato destes pode causar o

rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas

sudoríparas onde o suor anexa-se ao sangue formando a hematidrose.

105


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

As glândulas

sudoríparas dos mamíferos são glând ulas que produzem

o suor, função importante para regular a temperatura do corpo e

eliminar substâncias tóxicas.

São glândulas tubulares enroladas derivadas das camadas

exteriores da pele mas se estendendo até a camada interna. Elas estão

distribuídas por quase toda superfície do corpo em humanos e várias

outras espécies, mas não são encontradas em algumas espécies

marinhas e que vestem pele, nem estão presentes em todos os

vertebrados terrestres e não abrem na base dos folículos pilosos dos

mamíferos.

As glândulas écrinas funcionam desde o nascimento,

fazendo o suor ser eliminado por todos os poros. Prova disso é o

suor típico de quando a temperatura do nosso corpo se eleva, seja por

estarmos correndo, pulando, seja por causa de uma febre. Esse tipo

de suor, o écrino, é composto quase que totalmente só de água,

portanto não reage provocando grandes odores.

O suor humano é composto primariamente de água, com

diversos sais e compostos orgânicos em solução. Ele contém

quantidades mínimas de materiais gordurosos, ureia e outras

excreções. O suor de outras espécies normalmente difere do

humano em sua composição.

Em algumas áreas do corpo, as glândulas sudoríparas são

modificadas para produzir secreções, como as glândulas sebáceas e

mamárias.

106


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Nos humanos, existem dois tipos diferentes de glândulas

sudoríparas e glândulas soprapiras que se diferem bastante na

composição do suor e na sua proposta.

• Glândulas sudoríparas écrinas, que são

distribuídas por toda a superfície do corpo. Elas produzem suor que é

composto em sua maior parte de água com vários sais. Essas

glândulas são usadas para a regulação da temperatura do corpo.

• Glândulas sudoríparas apócrinas, que produzem

o suor que contém materiais gordurosos. Essas glândulas estão

principalmente presentes nas axilas e em volta da área genital e sua

atividade é a principal causa do odor do suor, devido às bactérias que

quebram os compostos orgânicos no suor dessas glândulas. O

estresse emocional aumenta a produção de suor das glândulas

apócrinas, ou mais precisamente: o suor já presente no túbulo é

empurrado para fora. As glândulas sudoríparas apócrinas servem

basicamente como glândulas de cheiro. Entram em atividade durante

a puberdade.

A hematidrose pode ser mais entendida com uma

transpiração de sangue acompanhada de suor.

Hematidrose (hêmato+hidrose)

O “suar sangue”, ´é chamado de “hematidrose“. Essa reação

é produzida diante de condições excepcionais: para provocá-lo é

necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento

moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande

medo . A tensão extrema, com contrações musculares localizadas,

produzem um rompimento das finíssimas veias capilares que estão

sob as glândulas sudoríparas; o sangue se mistura ao suor e se

concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo O

107


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

fenômeno Hematidrose consiste em intensa vasodilatação dos

capilares subcutâneos que distendidos ao extremo rompem-se. O

sangue se mistura com o suor e esta mistura acaba surgindo pela

superfície do corpo.

Esta disfunção ocasiona uma extrema

sensibilidade em todo o seu corpo, uma fragilidade

que deixa toda a extensão do corpo com dores

intensas.

Problemas das glândulas sudoríparas

• Pele/olhos e visão/ouvido e audição

A actividade das glândulas sudoríparas é essencial para a

manutenção da temperatura do corpo dentro de determinados limites,

na medida em que, por vezes,

Existem vários factores que a tornam excessiva ou

alterada.

• Hiper-hidrose: suores excessivos

• Hidradenite supurativa

• Antitranspirantes

• Outras alterações do suor

108


Hiper - Hidrose:

AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Suores excessivos

A produção de suor constitui um dos principais mecanismos

que o organismo dispõe para controlar a temperatura do corpo,

adaptando-a às alterações internas ou externas, para que não

ultrapasse determinados limites.A actividade das glândulas

sudoríparas é controlada por um centro termorregulador situado no

hipotálamo que, através do sistema nervoso autónomo, determina,

entre outras respostas, um aumento da secreção de suor quando a

temperatura do corpo aumenta em demasia, devido a factores

internos ou a uma temperatura ambiente muito elevada. A febre e os

esforços físicos provocam um aumento generalizado do suor,

igualmente perceptível quando a temperatura externa ultrapassa os 25

°C.

Existem imensas situações que proporcionam um suor

significativo, independentemente de se evidenciar por todo o corpo

ou apenas em determinadas regiões do corpo com abundantes

glândulas sudoríparas, nomeadamente nas palmas das mãos, nas

plantas dos pés, nas axilas, nos sulcos inframamários ou nas virilhas.

De facto, existem algumas infecções crónicas, como a

tuberculose, e alguns tipos de cancro, sobretudo os hematológicos,

que costumam proporcionar, como parte dos sintomas, suores

generalizados abundantes, muitas vezes durante a noite, enquanto que

determinados problemas do sistema nervoso central podem ser

acompanhados, igualmente, por um aumento da sudação. Também

existem determinadas disfunções hormonais, como por exemplo o

hipertiroidismo, que originam suores generalizados excessivos. O

mesmo pode ocorrer perante o consumo de determinados

medicamentos que, entre os seus efeitos secundários, proporcionam

109


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

suores excessivos. Por fim, o stress também pode provocar suores

significativos, normalmente localizados nas mãos e nos pés.

Perante um quadro de suores excessivos, deve-se sempre

consultar um médico, para que este determine a sua origem e

estabeleça o tratamento mais adequado consoante o caso.

Hiperhidrose juvenil. A principal característica desta

doença são os suores excessivos, independentemente de serem

generalizados ou, o que é mais típico, localizados nas palmas das

mãos, plantas dos pés e axilas que, por motivos ainda desconhecidos,

se evidencia durante a puberdade e persiste durante tempo variavel,

diminuindo de intensidade por volta dos 25 anos. O suor é

importante,independentemente da temperatura ambiente, e não está

relacionado com o esforço físico, embora seja mais evidente em

situações de tensão emocional ou durante o Verão, época em que o

problema costuma piorar. As principais conseqüências são o

incómodo consequente do facto de se ter sempre as mãos húmidas,

entre outras coisas, e o problema provocado pelo intenso odor do

corpo devido ao exagerado suor dos pés e das axilas. Para além disso,

é preciso referir a maior sensibilidade a infecções bacterianas e

micóticas nas zonas afectadas.

O diagnóstico baseia-se fundamentalmente na eliminação de

qualquer doença responsável pelo problema. Caso se pretenda

diminuir os incómodos, para além da aconselhável utilização de roupa

e calçado de materiais naturais absorventes, pode-se recorrer à

utilização local de produtos como o cloreto de alumínio ou à

administração de anticolinérgicos, medicamentos que reduzem a

produção de suor, apesar de terem vários efeitos secundários.

110


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Hidradenite supurativa

Este problema, provocado pela retenção de suor nas

glândulas sudoríparas, caracteriza-se por uma erupção de inúmeras

vesículas cutâneas com aspecto semelhante a grãos de milho, o que

justifica o facto de ser igualmente denominada miliária. A

hidradenite supurativa é um problema muito comum que se evidencia

em pessoas de pele delicada, nomeadamente crianças, após um suor

abundante, independentemente de ser provocado por um acesso de

febre ou por uma temperatura ambiente elevada. O problema é

igualmente frequente nas pessoas obesas que suam bastante, nos

trabalhadores expostos a temperaturas elevadas (fogueiros,

fundidores) e em inúmeros indivíduos durante o Verão nos países

tropicais.

O problema costuma ser provocado pela obstrução dos

canais excretores das glândulas sudoríparas, provocada pela

maceração das células dos seus septos devido à humidade e ao calor,

factores que favorecem a proliferação bacteriana. As glândulas

sudoríparas repletas de suor dilatam-se de tal forma que a secreção

transborda para os tecidos vizinhos da derme e hipoderme,

provocando uma irritação.

O problema costuma evidenciar-se nas zonas da pele

cobertas pela roupa, sobretudo nas áreas em contacto com roupas

impregnadas de suor. A erupção costuma adoptar várias formas, pois

por vezes manifesta-se através de pequenas bolhas, de 1 a 2 mm de

diâmetro, de conteúdo claro, enquanto que noutros casos as vesículas

inflamam-se e ficam rodeadas por uma coroa vermelha, acompanhada

de ardor.

111


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

O tratamento consiste em lavar frequentemente a pele das

zonas afectadas com água fria, proceder à sua cuidadosa secagem e

colocar pó de talco no final. O tratamento pode ser complementado

com a permanência em ambientes frescos e secos, com a utilização de

roupas ligeiras de fibras naturais e em mudar com frequência de

roupa interior. Caso o problema provoque um ardor muito intenso, o

tratamento passa pela aplicação de loções antipruriginosas tanto para

aliviar o incómodo como para evitar as lesões provocadas pelo coçar,

já que dessa forma podem infectar. Se houver infecção, é necessário

administrar antibióticos. Nos casos mais graves, quando estão

envolvidas grandes extensões de pele e após falha da antibioterapia,

pode ser mesmo necessário recorrer a uma intervenção cirúrgica.

Antitranspirantes

Embora existam vários procedimentos para evitar os suores

intensos, o mais aconselhável consiste no recurso aos métodos

"fisiológicos", ou seja, lavagem com água fria, roupas leves de

material absorvente, aplicação de pó de talco... Apesar de existirem

produtos de utilização externa que podem ser aplicados localmente,

por exemplo nas axilas, de modo a reduzirem a transpiração, a sua

eficácia é moderada, caso se sue bastante. Se estes procedimentos

forem ineficazes, pode-se recorrer à utilização de produtos

antitranspirantes, como os anticolinérgicos, que bloqueiam a

acetilcolina, o mediador químico através do qual o sistema

neurovegetativo estimula a actividade das glândulas sudoríparas.

Todavia, a utilização destes produtos pode provocar alguns efeitos

secundários, pois pode originar uma diminuição de outras secreções,

como a saliva, e representa um perigo para quem sofre, entre outras

coisas, de determinadas patologias oculares (glaucoma) ou prostáticas

(hipertro- fia da próstata). Em suma, a utilização de produtos por via

geral para combater os suores, mesmo que a sua venda nas farmácias

112


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

não necessite de receita, deve ser sempre supervisionada por um

médico.

Outras Alterações do Suor

• Hipo-hidrose e anidrose: diminuição ou

eliminação do suor, respectivamente. Podem evidenciar-se em

determinadas patologias da pele (psoríase, es- clerodermia), alterações

hormonais (hipotiroidismo, diabetes), do sistema neurovegetativo e

em determinados problemas neurológicos (acompanhado por

paralisia) e intoxicações. Embora o tratamento corresponda ao da

doença de base, em alguns casos, recorre-se à administração de

medicamentos que estimulem a produção de suor.

• Bromidrose: suor de mau odor, sobretudo nas axilas,

pés e região inguinal, que costuma ser provocado pela acção das

bactérias que habitam na superfície cutânea, ao gerarem e ao

decomporem o suor através da libertação de produtos odoríferos. O

tratamento corresponde a uma rigorosa limpeza da zona, complementada

com a utilização de desodorizantes especiais. Quando o

problema se localiza nas axilas, estas devem ser depiladas. Em alguns

casos especiais, pode-se proceder à extracção das acumulações de

glândulas sudoríparas na zona. É igualmente característico o intenso

odor do suor dos urémicos.

• Cromidrose: secreção de suor colorido. Umas vezes

provocada pela acção de bactérias cromogénas, como acontece em

trabalhadores de algumas indústrias químicas, e outras originada pela

ingestão de determinadas substâncias, como por exemplo o típico

suor esverdeado da intoxicação por cobre, o azulado (cianidrose)

provocado pela ingestão excessiva de ferro ou o suor amarelo da

intoxicação por ácido pícrico.

113


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

13º Fisiopatología da Morte de Jesus

Cristo

Fisiopatología da Morte de Jesus Cristo Jesus uma

pessoa Politraumatizada

Rubén Dario Camargo R. Medicina Interna -

Cuidados Intensivos. Barranquilla, Colômbia 2003.

Os estudos médicos que procuram explicar a causa da morte

de Jesus Cristo tomam como material de referência um corpo de

literatura e não um corpo físico. Publicações sobre os aspectos

médicos de sua morte existem desde o século I.

Hoje em dia, com apoio dos conhecimentos da

fisiopatologia do paciente traumatizado, pode-se chegar a inferir as

mudanças fisiológicas padecidas por Jesus Cristo durante sua paixão e

morte. Os relatos bíblicos da crucificação descritos através dos

evangelhos e a documentação científica a respeito, descrevem que

padeceu e sofreu o mais cruel dos castigos. O mais desumano e

inclemente dos tratamentos que pode receber um ser humano.

Descobrimentos arqueológicos relacionados com as práticas

romanas da crucificação oferecem informação valiosa que dá

verdadeira força histórica à figura de Jesus e à sua presença real na

história do homem.

114


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Historicamente este acontecimento se inicia durante a

celebração da páscoa judia, no ano 30 de nossa era. A Última Ceia se

realizou na quinta-feira 6 de abril (nisan 13). A crucificação foi em 7

de abril (nisan 14). Os anos do nascimento e da morte de Jesus

permanecem em controvérsia.

HORTO DAS OLIVEIRAS (GETSEMANI)

Os escritores sagrados descrevem a oração do

GETSEMANI com enérgicas expressões. O que foi vivido por Jesus

antes de ser aprisionado é citado como uma mescla inexprimível de

tristeza, de espanto, de tédio e de fraqueza. Isto expressa uma pena

moral Que chegou ao maior grau de sua intensidade.

Foi tal o grau de sofrimento moral, que apresentou como

manifestação somática, física, suor de sangue (hematihidrosis ou

hemohidrosis). “Suor de sangue, que lhe cobriu todo o corpo e

correu em grosas gotas até a terra”. (Lc 22, 43).

Trata-se de caso incomum na prática médica. Quando se

apresenta, está associado a desordens sangüíneas. Fisiologicamente é

devida à congestão vascular capilar e hemorragias nas glândulas

sudoríparas. A pele se torna frágil e tenra.

Depois desta primeira situação ocasionada pela angústia

intensa, é submetido a um jejum que durará toda a noite durante o

julgamento e persistirá até sua crucificação.

FLAGELAÇÃO

A flagelação era uma preliminar legal para toda execução

Romana. Despiam a parte superior do corpo da vítima, amarravam-na

a um pilar pouco elevado, com as costas encurvadas, de modo que ao

115


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

descarregar os golpes sobre ela nada perdessem de sua força. E

golpeavam sem compaixão, sem misericórdia alguma.

O instrumento usual era um açoite curto (flagram ou

flagellum) com várias cordas ou correias de couro, às quais se atavam

pequenas bolas de ferro ou pedacinhos de ossos de ovelhas a vários

intervalos.

Quando os soldados açoitavam repetidamente e com todas

as suas forças as costas de sua vítima, as bolas de ferro causavam

profundas contusões e hematomas. As cordas de couro com os ossos

de ovelha rasgavam a pele e o tecido celular subcutâneo.

Ao continuar os açoites, as lacerações cortavam até os

músculos, produzindo tiras sangrentas de carne rasgada. Criavam-se

as condições para produzir perda importante de líquidos (sangue e

plasma).

Deve-se ter em conta que a hematidrosis tinha deixado a

pele de Jesus muito sensível.

Depois da flagelação, os soldados estavam acostumados a

fazer gozações humilhantes com suas vítimas. Por isso foi colocada

sobre a cabeça de Jesus, como emblema irônico de sua realeza, uma

coroa de espinhos. Na Palestina abundam os arbustos espinhosos,

que puderam servir para este fim; utilizou-se o Zizyphus ou Azufaifo,

chamadoSpina Christi, de espinhos agudos, longos e curvos.

Além disso, foi colocada uma túnica sobre seus ombros (um

velho manto de soldado, que fazia às vezes da púrpura com que se

revestiam os reis, "clámide escarlate"), e uma cana, parecida com o

junco do Chipre e da Espanha como cetro em sua mão direita.

116


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

CRUCIFICAÇÃO

O suplício da cruz é de origem oriental. Foi recebido dos

persas, assírios e caldeus pelos gregos, egípcios e romanos.

Modificou- se em várias formas no transcurso dos tempos.

Em princípio o instrumento de agonia foi um simples poste.

Em seguida se fixou na ponta uma forca (furca), na qual se suspendia

o réu pelo pescoço. Depois se adicionou um pau transversal

(patibulum), tomando um novo aspecto. Segundo a forma em que o

pau transversal ficasse suspenso no pau vertical,

117


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Originaram-se três tipos de cruzes:

A crux decussata. Conhecida como cruz de Santo André,

tinha a forma de X.

A crux commissata. Alguns a chamam cruz do Santo

Antônio, parecia-se com a letra T.

A crux immisa. É a chamada cruz latina, que todos

conhecemos.

Obrigou-se Jesus, como era o costume, a carregar a cruz

desde o poste de flagelação até o lugar da crucificação. A cruz pesava

mais de 300 libras (136 quilogramas). Somente o patíbulo, que pesava

entre 75 e 125 libras, foi colocado sobre sua nuca e se balançava

sobre seus dois ombros.

Com esgotamento extremo e debilitado, teve que caminhar

um pouco mais de meio quilômetro (entre 600 a 650 metros) para

chegar ao lugar do suplício. O nome em aramaico é Golgotha,

equivalente em hebreu a gulgolet que significa “lugar da caveira”, já

que era uma protuberância rochosa, que teria certa semelhança com

um crânio humano. Hoje se chama, pela tradução latina, calvário.

Antes de começar o suplício da crucificação, era costume

dar uma bebida narcótica (vinho com mirra e incenso) aos

condenados; com o fim de mitigar um pouco suas dores. Quando

apresentaram essa beberagem a Jesus, não quis bebê-la. O que

poderia mitigar uma dor moral e física tão intensa, quando seu corpo,

todo policontundido, só esperava enfrentar seu último suplício, sem

alívio algum, com pleno domínio de si mesmo?

118


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Com os braços estendidos, mas não tensos, os pulsos eram

cravados no patíbulo. Desta forma, os pregos de um centímetro de

diâmetro em sua cabeça e de 13 a 18 centímetros de comprimento,

eram provavelmente postos entre o rádio e os metacarpianos, ou

entre as duas fileiras de ossos carpianos, ou seja, perto ou através

do forte flexor retinaculum e dos vários ligamentos intercarpais.

Nestes lugares seguravam o corpo.

Colocar os pregos nas mãos fazia com que se rasgassem

facilmente posto que não tinham um suporte ósseo importante.

A possibilidade de uma ferida perióssea dolorosa foi grande,

bem como a lesão de vasos arteriais tributários da artéria radial ou

cubital. O cravo penetrado destruía o nervo sensorial motor, ou

comprometia o nervo médio, radial ou o nervo cubital. A afecção de

qualquer destes nervos produziu tremendas descargas de dor em

ambos os braços. O empalamento de vários ligamentos provocou

fortes contrações nas mãos.

119


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Os pés eram fixados à frente do estípede (pequena pirâmide

truncada) por meio de um prego de ferro, cravado através do

primeiro ou do segundo espaço intermetatarsiano. O nervo profundo

perônio e ramificações dos nervos médios e laterais da planta do pé

foram feridos.

Foram cravados ambos os pés com um só prego ou se

empregou um prego para cada pé? Também esta é uma questão

controvertida. Mas é muito mais provável que cada um dos pés do

salvador tenha sido fixado à cruz com cravo distinto. São Cipriano

que, mais de uma vez tinha presenciado crucificações, fala em plural

dos pregos que transpassavam os pés. Santo Ambrósio, Santo

Agostinho e outros mencionam expressamente os quatro pregos que

se empregaram para crucificar Jesus.

120


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

São Meliton de Sardes escreveu: “os padecimentos físicos já

tão violentos ao fincar os pregos, em órgãos extremamente sensíveis

e delicados, faziam-se ainda mais intensos pelo peso do corpo

suspenso pelos pregos, pela forçada imobilidade do paciente, pela

intensa febre que sobrevinha, pela ardente sede produzida por esta

febre, pelas convulsões e espasmos, e também pelas moscas que o

sangue e as chagas atraíam”.

Não faltou quem dissesse que os pés do salvador não foram

cravados, mas simplesmente amarrados à cruz com cordas; mas tal

hipótese tem em contra, tanto o testemunho unânime da tradição,

que vê em Jesus crucificado o cumprimento daquele célebre vaticínio:

"transpassaram minhas mãos e meus pés" (Sl 21); como nos próprios

evangelhos, pois lemos em São Lucas (Lc 24, 39-40) “vejam minhas

mãos e meus pés; sou eu mesmo; apalpem e vejam. E, dito isto,

mostrou-lhes as mãos e os pés”.

121


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Diz Bosssuet: como descrever os padecimentos morais que

nosso Senhor Jesus Cristo suportou durante sua horrorosa agonia,

quando uma multidão saciava seus olhos com o espetáculo daquela

agonia, acompanhando-o com todo tipo de ultrajes que lhe encheram

até o último momento? Além disso, sofria ao ver o olhar abnegado de

sua mãe e de seus amigos, a quem suas dores tinham prostrado em

profunda tristeza. Todo Ele era, digamos assim, um tormento em

seus membros, em seu espírito, em seu coração e em sua alma.

De todas as mortes, a da cruz era a mais desumana, suplício

infame, que no império romano se reservava aos escravos (servile

suppliciun).Depois das palavras no Getsemaní vêm as pronunciadas

no Gólgota, que testemunham esta profundidade, única na história do

mundo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" Suas

palavras não são só expressão daquele abandono, são palavras que

repetia em oração e que encontramos no salmo 22.

122


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

14ºInterpretação da Fisiopatológica da

Morte de Jesus Cristo

Na morte de Jesus vários fatores puderam contribuir. É

importante ter em conta que foi uma pessoa politraumatizada e

policontundida; desde o momento da flagelação até sua crucificação.

O efeito principal da crucificação, além da tremenda dor,

que apresentava em seus braços e pernas, era a marcada interferência

com a respiração normal, particularmente na exalação.

O peso do corpo pendurado para baixo e os braços e

ombros estendidos, tendiam a fixar os músculos intercostais em um

estado de inalação, afetando, por conseguinte, a exalação passiva.

Desta maneira, a exalação era principalmente diafragmática e a

respiração muito leve. Esta forma de respiração não era suficiente e

logo produziria retenção de CO2 (hipercapnia).

Para poder respirar e ganhar ar, Jesus tinha que apoiar-se em

seus pés, tentar flexionar seus braços e depois deixar-se desabar para

que a exalação ocorresse. Mas ao deixar-se desabar, produzia-se,

igualmente, uma série de dores em todo o seu corpo.

O desenvolvimento de cãibras musculares ou contratura

tetânicas devido à fadiga e a hipercapnia afetaram ainda mais a

respiração. Uma exalação adequada requeria que se erguesse o corpo,

empurrando-o para cima com os pés e flexionando os cotovelos,

endireitando os ombros.

123


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Esta manobra colocaria o peso total do corpo nos tarsais e

causaria tremenda dor.Mais ainda, a flexão dos cotovelos causaria

rotação nos pulsos em torno dos pregos de ferro e provocaria

enorme dor através dos nervos lacerados. O levantar do corpo

rasparia dolorosamente as costas contra a trave. Como resultado

disso, cada esforço de respiração se tornaria agonizante e fatigante,

eventualmente levaria à asfixia e finalmente a seu falecimento.

Era costume dos romanos que os corpos dos crucificados

permanecessem longas horas pendentes da cruz; às vezes até que

entrassem em putrefação ou as feras e as aves de rapina os

devorassem.Portanto antes que Jesus morresse, os príncipes dos

sacerdotes e seus colegas do Sinédrio pediram a Pilatos que, segundo

o costume Romano, mandasse dar fim aos justiçados, fazendo com

que lhe quebrassem suas pernas a golpes. Esta bárbara operação se

chamava em latim crurifragium (Jo 20, 27).

124


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

As pernas dos ladrões foram quebradas, mais ao chegar a

Jesus e observar que já estava morto, deixaram de golpeá-lo; mas um

dos soldados, para maior segurança, quis dar-lhe o que se chamava o

"golpe de misericórdia" e transpassou-lhe o peito com uma lança.

Neste sangue e nesta água que saíram do flanco, os médicos

concluíram que o pericárdio, (saco membranoso que envolve o

coração), deve ter sido alcançado pela lança, ou que se pôde ocasionar

perfuração do ventrículo direito ou talvez havia um hemopericárdio

postraumático, ou representava fluido de pleura e pericárdio, de onde

teria procedido a efusão de sangue.

125


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Com esta análise, ainda que seja conjectura, aproximamonos

mais da causa real de sua morte. Interpretações que se encontram

dentro de um rigor científico quanto a sua parte teórica, mas não são

demonstráveis com análise nem estudos complementares.

As mudanças sofridas na humanidade de Jesus Cristo foram

vistas à luz da medicina, com o fim de encontrar realmente o caráter

humano, em um homem que é chamado o filho de Deus, e que

voluntariamente aceitou este suplício, convencido do efeito redentor

e salvador para os que criam nEle e em seu evangelho.

QUAL ERA A CAUSA DESSA TRISTEZA

ESPECIAL DO GETSÊMANI?

Nosso Senhor era “varão de dores e experimentado no

sofrimento” ao longo de toda Sua vida, no entanto, ainda que soe

paradoxo, penso que dificilmente existiu sobre a face da terra um

homem mais feliz que Jesus de Nazaré, pois as dores que Ele teve que

suportar foram compensadas pela paz da pureza, a calma da

comunhão com Deus, e a alegria da benevolência. Todo homem bom

sabe que a benevolência é doce e seu nível de doçura aumenta em

proporção a dor suportada voluntariamente quando se cumprem seus

amáveis desígnios. Fazer o bem sempre produz alegria.

Mais ainda, Jesus tinha uma perfeita paz com Deus todo o

tempo; sabemos que isso era assim porque Ele considerava essa paz

como uma herança especial que Ele podia deixar a seus discípulos, e

antes de morrer disse-lhes: “A paz os deixo, a minha paz os dou.” Ele

era manso e humilde de coração, e, portanto sua alma possuía o

descanso; Ele era um dos mansos que herdam a terra; um dos

pacificadores que são e que devem ser abençoados. Estou certo que

não me equivoco quando afirmou que nosso Senhor estava longe de

ser um homem infeliz.

126


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Porem, no Getsêmani, tudo parece ter mudado. Sua paz o

abandonou, Sua calma se converteu em tempestade. Depois da ceia,

nosso Senhor tinha cantado um hino, porem no Getsêmani não havia

cantos. Descendo pela encosta que levava de Jerusalém a torrente do

Cedrom, Ele falava com muita vivacidade, dizendo: “eu sou a videira,

vós os ramos,” e essa maravilhosa oração com que orou com Seus

discípulos depois desse sermão, está repleta de majestade: “Pai,

aqueles que me tens dado, quero que onde eu esteja, também eles

estejam comigo.” É uma oração muito diferente dessa oração dentro

dos muros do Getsêmani, onde clama: “ Pai, se possível, passe de

mim esse cálice.” Observem que dificilmente ao largo de toda sua

vida o observam com uma expressão de angustia, e no entanto, aqui

Ele fala, não só mediante suspiros e suor de sangue, mas também por

meio das seguintes palavras: “Minha alma está muito triste, até a

morte.” No jardim, o homem que sofria não podia ocultar sua

angustia, e dá a impressão que não queria fazê-lo.

Jesus regressou onde estavam seus discípulos em três

ocasiões, permitiu-lhes observar Sua angustia e apelou pela simpatia

deles; suas exclamações eram lastimosas, e sem dúvida deve ter sido

terrível escutar Seus sussurros e gemidos. Essa angustia manifestou-se

primordialmente no suor de sangue, que é um fenômeno inusitado,

ainda que suponho que devemos crer nesses escritores que registram

casos muito similares. O velho médico Galeno nos fala de um caso

em que, pelo horror extremo, um indivíduo suou um suor colorido,

quase que avermelhado, que tinha aparência de sangue. Outros casos

também são relatados por autoridades médicas.

No entanto, nós não vemos em nenhuma outra ocasião nada

parecido na vida de nosso Senhor; foi somente no ultimo lance

horrendo rodeado de oliveiras que nosso Campeão resistiu até o

sangue, agonizando contra o pecado. O que doía a Ti, ó Senhor, que

padecias tão dolorosamente nesse momento?

127


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Fica-nos muito claro que sua profunda angústia e inquietude

não eram causadas por nenhuma dor física. Sem dúvida nosso

Salvador estava familiarizado com a enfermidade e a dor, pois Ele

tomou nossas enfermidades, porem nunca antes se queixou de algum

sofrimento físico. Nem tampouco ao momento de entrar no jardim

do Getsêmani havia sido afligido por algum dolo. Sabemos por que

está escrito: “Jesus chorou.” Era porque seu amigo Lázaro estava

morto; porem, no jardim não havia nenhum funeral, nem enfermo,

nem causa de angústia relacionada a esses temas. Nem tampouco se

deveu a que houvesse se lembrado de ofensas do passado que

estivessem a flor de Sua mente. Muito antes disso sabemos que:

“Afrontas me quebrantaram o coração” (Salmos 69:20), e tinha

conhecido em toda sua extensão os abusos da injúria e do desprezo.

O haviam chamado de “homem comilão e beberrão,” o tinham

acusado de lançar fora aos demônios pelo príncipe dos demônios; já

não podiam dizer mais e, no entanto, Cristo havia enfrentado tudo

valorosamente. Não podia ser possível que agora Ele estivera muito

triste até a morte por tal causa. Deve ter havido algo mais agudo que

a dor, mais cortante que a censura, mais terrível que o luto, que nesse

momento contendia com o Salvador, e o levava a “entristecer-se e

angustiar-se em grande medida.”

Por acaso supõem que era o temor do escárnio que se

avizinhava ou o terror da crucificação? Era medo ao pensar na morte?

Não é certo que essa suposição seria impossível? Todos os homens

temem à morte, e como homem, Jesus não poderia menos do que

estremecer-se frente a ela. Quando fomos feitos originalmente fomos

criados para a imortalidade, portanto morrer é estranho e

incompatível para nós e o instinto de conservação fazer que nos

esquivemos diante da morte; porem, certamente no caso de nosso

Senhor essa causa natural não podia gerar esses resultados tão

especialmente dolorosos. Se nós que somos uns pobres covardes não

suamos grandes gotas de sangue, por que então causava tal terror

128


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Nele? Não é honroso para nosso Senhor que o imaginemos menos

valente que seus próprios discípulos, e, no entanto temos visto

triunfantes a alguns dos santos mais frágeis diante do prospecto da

partida.

Leiam as histórias dos mártires, e com freqüência verão

alegres diante dos mais cruéis sofrimentos que se avizinhavam. O

gozo do Senhor lhes deu tal força que nenhum pensamento covarde

os alarmou em um só instante. Eles foram para fogueira ou para onde

seriam decapitados, com salmos de vitória em seus lábios. Não

devemos considerar nosso Senhor como inferior a Seus mais valentes

servos. Não pode ser que Ele trema ali onde eles foram valorosos.

Oh não, o espírito mais nobre nesse esquadrão de mártires é o Líder

mesmo, que tanto no sofrimento como no heroísmo, os superou

todos; ninguém podia desafiar de tal maneira as dores da morte como

o Senhor Jesus, o qual, pela alegria posta diante Dele sofreu a cruz,

menosprezando o opróbrio.

Não posso conceber que as angustias do Getsêmani foram

ocasionadas por algum ataque extraordinário de Satanás. É possível

que Satanás estivesse ali, e que sua presença houvera obscurecido a

sombra, porem ele não era a causa mais proeminente dessa hora de

escuridão. Pelo menos isso está muito claro, que nosso Senhor, ao

início de Seu ministério se envolveu em um duelo muito severo com

o príncipe das trevas. No entanto, não lemos com relação à tentação

no deserto uma só silaba que nos diga que Sua alma estava triste em

extremo, nem mesmo encontramos que “começou a entristecer-se e a

angustiar-se,” nem existe tampouco uma só indicação solitária de algo

que fora parecido ao suor sangrento. Quando o Senhor dos anjos

condescendeu em enfrentar-se com o príncipe do poder do ar, não

lhe teve nenhum medo como para clamar em grande voz e derramar

lágrimas e cair prostrado em terra rogando três vezes ao Grandioso

Pai. Falando comparativamente, colocar Seu pé sobre a serpente

129


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

antiga foi uma tarefa fácil para Cristo, e lhe custou uma ferida no

calcanhar, mas essa agonia do Getsêmani feriu Sua alma até a morte.

O que vocês crêem então que foi o que marcou de maneira

tão especial o Getsêmani e às angústias que ali tiveram parte? Cremos

que o Pai o colocou a sofrer ali por nós. Era nesse momento que

nosso Senhor tinha que tomar certa copa da mão do Pai. A prova não

vinha nem dos judeus, nem do traidor Judas, nem dos discípulos que

cochilavam, nem do diabo, mas sim que era um cálice que tinha sido

cheira por Um que Ele sabia que era Seu Pai, mas que, no entanto,

lhe havia designado uma porção muito amarga, uma copa que não era

para o corpo bebera, nem para derramar seu fel sobre sua carne, mas

sim uma copa que de maneira especial atordoava Sua alma e afligia o

íntimo de Seu coração. Ele retrocedia em frente dela, e, portanto

podem estar seguros que foi um gole mais terrível que a dor física,

pois frente a ela não arredava; era uma porção mais terrível que o

vitupério. Disso não havia tratado jamais de escapar; mais horrível

que a tentação satânica. Ele a havia vencido: era algo

inconcebivelmente terrível, repleto de horror de forma

surpreendente, que vinha da mão do Pai. Isso elimina toda dúvida

quanto ao que era, pois lemos: “Todavia, ao SENHOR agradou moêlo,

fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do

pecado” (Isaías 53:10) “Mas o Senhor carregou nele o pecado de nós

todos.” Ao que não conhecia pecado, por nós o fez pecado. Então,

isso é o que ocasionou que o Salvador experimentava uma

extraordinária depressão. Ele estava próximo a “que pela graça de

Deus provasse a morte por todos,” e levar a maldição que os

pecadores mereciam. Porque esteve no lugar dos pecadores, sofreu

no lugar deles. Aqui está o segredo dessas agonias que não é possível

declarar ordenadamente diante de vocês, tão certo é que:

130


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

15º Análise Médica da Morte Física de

Jesus Cristo

Estudo efetuado por um grupo de trabalho da Mayo Clinic,

Minnesota. E.U.A.Jesus de Nazaré foi julgado por judeus e romanos,

flagelado e condenado à morte por crucificação.Os castigos infligidos

produziram lacerações profundas e uma apreciável perda de sangue,

criando provavelmente condições para o choque hipovolêmico, o que

se torna ainda mais evidente devido ao fato de Jesus se encontrar

demasiado enfraquecido para transportar a cruz (patíbulo) até ao

Gólgota.No local da crucificação, os seus pulsos foram pregados ao

patíbulo e, após a elevação deste na vertical, os pés foram igualmente

pregados.

O principal efeito patofisiológico da crucificação foi a

interferência com a função respiratória normal. Assim, a morte

resultou, em primeiro lugar, do choque hipovolêmico e da asfixia por

exaustão.Por sua vez, a morte de Jesus foi assegurada através de um

golpe de lança desferido por um soldado.A atual interpretação médica

do fato histórico revela que Jesus já se encontrava morto quando foi

retirado da cruz. A vida e doutrina de Jesus de Nazaré constituíram a

base de uma das principais religiões do mundo (o cristianismo),

influenciaram profundamente o curso da história da humanidade e,

em virtude de uma atitude compassiva para com os doentes,

contribuíram igualmente para a transformação da medicina

moderna.A eminência de Jesus como figura histórica e o sofrimento e

controvérsia que estão associados à sua morte, levaram-nos a

investigar, numa perspectiva interdisciplinar, as circunstâncias que

rodeiam a sua crucificação.

131


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Assim, é nossa intenção apresentar não um tratado sobre

teologia, mas sim um relato preciso e rigoroso, do ponto de vista

médico e histórico, da morte física de Jesus.Todo o material de

consulta referente à morte de Jesus é constituído apenas por um

conjunto de documentos escritos, não existindo um cadáver físico ou

os seus restos mortais.Nesta perspectiva, a credibilidade de qualquer

debate sobre a morte de Jesus será condicionada, em primeira análise,

pela própria credibilidade das fontes utilizadas.Para o presente estudo,

o material de consulta utilizado inclui os escritos dos autores antigos,

cristãos e neo-cristãos, os escritos de autores modernos e o Sudário

de Turim .Usando o método histórico-legal da investigação científica,

os estudiosos demonstraram a exatidão e correção dos antigos

manuscritos.

As descrições mais extensas e detalhadas sobre a vida e

morte de Jesus encontram-se nos Evangelhos de Mateus, de Marcos,

Lucas e João, incluídos no Novo Testamento.Os restantes 23 livros

que compõem o N.T. apoiam mas não aprofundam, as situações

relatadas nos Evangelhos.Autores contemporâneos cristãos, judeus e

romanos. Fornecem critérios adicionais, relativamente aos sistemas

jurídicos dos judeus e romanos em vigor no século I, para além de

outros pormenores referentes aos castigos infligidos e à crucificação

de Jesus.Por outro lado, autores como Sêneca, Lívio, Plutarco e

outros, referem-se, nas suas obras, a práticas de crucificação.Em

particular, Jesus (ou a sua crucificação) é mencionado pelos

historiadores romanos, Cornélio Tácito; Plínio, o Jovem; Suetônio;

por historiadores não romanos, como Thallus e Phlegon, pelo satírico

Luciano de Samósata, pelo Talmude e, ainda, pelo historiador judeu

Flávio José, embora a autenticidade de certas passagens deste último

seja discutível.

132


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Muitos consideram que o sudário de Turim representou a

verdadeira mortalha de Jesus e diversas publicações, referentes a

aspectos médicos da sua morte, estabelecem conclusões baseadas

neste pressuposto. O sudário de Turim e recentes achados

arqueológicos fornecem valiosas informações quanto às práticas

romanas de crucificação.Por outro lado, interpretações de escritores

modernos, com base em conhecimentos médicos e científicos

desconhecidos no século I, podem fornecer critérios adicionais

referentes aos possíveis mecanismos da morte de Jesus.Quando

encarados globalmente, determinados fato garantem testemunho

sólido e seguro, a partir do qual pode ser feita uma interpretação

médica atualizada da morte de Jesus.Referimo-nos, em particular, aos

antigos e extensos testemunhos, tanto de defensores como de

opositores do cristianismo e à aceitação universal de Jesus como

verdadeira figura histórica; à ética dos evangelistas e à escassez de

tempo que separa os manuscritos existentes por último, à

confirmação dos fatos relatados nos Evangelhos por historiadores e

achados arqueológicos.

Getsêmani

Depois de Jesus e os seus discípulos terem celebrado a

refeição pascal na sala superior de uma casa situada a sudoeste de

Jerusalém, dirigiram-se para o Monte das Oliveiras, a nordeste da

cidade (fig. 1).

133


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Fig. 1

Cabe aqui referir que, devido a diversos ajustamentos no

calendário, as datas do nascimento e morte de Jesus continuam a

gerar alguma controvérsia.Todavia, é provável que Jesus tenha

nascido no ano 4 ou 6 a. C. e tenha morrido no ano 30 da era cristã.

Durante a celebração da Páscoa no ano 30 d.C., a última ceia teria

sido celebrada a 6 de Abril, Quinta-feira (13 de Nisan) e Jesus teria

sido crucificado a 7 de Abril, Sexta-feira (14 de Nisan), nas

proximidades de Getsêmani.Jesus, sabendo aparentemente que a sua

hora estava próxima, caiu num estado de profunda angústia e,

conforme nos descreve Lucas, apóstolo e médico, o seu suor

transformou-se como que em sangue.Embora seja um fenômeno

extraordinariamente raro, esta situação (hematidrose ou

hemohidrose), pode ocorrer em estados emocionais extremos, ou em

indivíduos que sofrem de graves perturbações hemorrágicas.Assim,

em consequência de hemorragias nas glândulas sudoríparas, a pele

134


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

torna-se frágil e delicada. A descrição de Lucas identifica-se mais com

o diagnóstico de hematidrose do que com a de cromidrose ecrina

(suor de cor castanha ou verde amarelada) ou com o da

estigmatização (aparecimento de gotas de sangue nas palmas das

mãos e noutras partes do corpo).

Embora alguns autores tenham sugerido que a hematidrose

produziu a hipovolêmica, nós perfilhamos o opinião de Bucklin,

segundo a qual a perda de sangue que Jesus sofreu foi,

provavelmente, mínima. Todavia, o ar frígido da noite pode Ter

contribuído para um esto de resfriamento.

Julgamentos de Jesus

Logo após a meia-noite, Jesus foi preso em Getsamani por

guardas do templo e levado, primeiro, à presença de Anás e depois à

de Caifás, o sumo sacerdote judeu, nomeado para esse ano (Fig. 1)

Entre a uma da manhã e o romper da madrugada, Jesus foi julgado na

presença de Caifás e perante o sinédrio político, tendo sido

condenado por blasfêmia.Em seguida, os guardas vendaram-lhe os

olhos, cuspiram-lhe em cima e esbofetearam-no. Logo após o nascer

do dia, presumivelmente no templo (Fig. 1), Jesus foi novamente

julgado, agora perante o sinédrio religioso (com os fariseus e os

saduceus) e mais uma vez condenado por blasfêmia, um crime

punível pela morte.

Julgamentos Romanos

Uma vez que todas as execuções tinham de ser autorizadas

pela administração romana, Jesus foi conduzido de manhã cedo, pelos

guardas do templo, ao pretório da fortaleza Antonia, a residência e

sede do governo de Pôncio Pilatos, procurador da Judeia ( Fig. 1).

135


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Todavia, Jesus foi apresentado a Pilatos, não como

blasfemador, mas sim como autodenominado rei, que iria enfraquecer

a autoridade e poderio romano.No entanto, Pilatos não proferiu

quaisquer acusações contra Jesus, mas enviou-o à presença de

Herodes Antipas, tetrarca da Judeia.Herodes, por sua vez, também

não fez acusações oficiais, tendo Jesus sido enviado de novo a Pilatos

(fig. 1).Mais uma vez Pilatos não encontrou fundamentos para

acusação legal contra Jesus, enquanto que o povo reclamava

insistentemente a sua crucificação.Por fim, Pilatos acedeu ao pedido,

entregando-lhes Jesus para ser açoitado (flagelado) e crucificado. É de

referir que McDowell se debruçou sobre o clima político, religioso e

econômico que prevalecia em Jerusalém na altura da morte de Jesus e

que outro estudioso deste assunto, Bucklin, descreveu várias

ilegalidades que envolveram os julgamentos judeu e romano.

A Saúde de Jesus

Os rigores do ministério de Jesus (ou seja, o fato de Ter

viajado a pé por toda a Palestina), Ter-lhe-iam provocado qualquer

doença física de alguma gravidade, ou uma fraca constituição geral.

De qualquer forma, é razoável admitir que Jesus se encontrava em

boas condições físicas antes de se Ter dirigido para Getsemani.

Todavia, durante 12 horas, ou seja, entre as 9 da noite de Quinta-feira

e as 9 da manhã de Sexta, Jesus havia sofrido uma grande tensão

emocional (conforme nos demonstra a hematidrose), tinha sido

abandonado pelos seus amigos mais íntimos (os discípulos) e

submetido aos castigos corporais (esbofeteado após o primeiro

julgamento judeu).Para além disso, durante toda a noite dramática

sem dormir, Jesus havia sido obrigado a andar cerca de 4 km, de e

para os locais onde se realizaram os diversos julgamentos (Fig.

1).Assim, estes fatores físicos e emocionais podem ter tornado Jesus

particularmente vulnerável aos adversos efeitos hemodinâmicos da

flagelação.

136


A Flagelação

AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O açoitamento constituía uma prática legal que antecedia

todas as execuções romana, apenas se encontrando isento as

mulheres, os senadores romanos e os soldados (exceto em caso de

deserção).O instrumento geralmente utilizado era um chicote curto (o

“flagrum” ou “flagellum”), constituído por várias tiras de couro,

simples ou entrançadas e de comprimentos variáveis, às quais eram

atadas pequenas esferas de ferro, ou fragmentos muito aguçados de

ossos de carneiro, devidamente espaçados entre si (Fig. 2).

137

Fig. 2


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Por vezes também eram utilizados bastões ou varas. Para a

prática da flagelação, o homem era despido das suas roupas e, em

seguida, amarrado a um poste vertical (fig. 2).As costas, nádegas e

pernas da vítima eram açoitadas quer por dois soldados (os lictores),

quer por apenas um, que alternava de posição.A dureza do castigo

infligido dependia unicamente da vontade e disposição dos lictores,

pretendendo-se, assim, enfraquece a vítima até um estado muito

próximo do colapso da morte. Após a flagelação, os soldados

insultavam frequentemente as suas vítimas.

Aspectos Médicos da Flagelação

À medida que os soldados romanos chicoteavam,

repetidamente e com todas as suas forças, as costas da vítima, as

esferas de ferro causavam contusões profundas e, simultaneamente,

as tiras de couro e fragmentos de osso rasgavam a pele e tecidos

subcutâneos. Em seguida, com a continuação do açoitamento, as

lacerações penetravam nos músculos subjacentes e provocavam faixas

trementes de carne viva.

Crucificação

A prática da crucificação teve origem, presumivelmente,

entre os persas. Alexandre, o Grande, introduziu-a no Egito e em

Cartago, tendo os romanos tomado conhecimento dela através dos

cartagineses. Todavia, embora os romanos não tivessem inventado a

crucificação, aperfeiçoaram a sua técnica, como forma de tortura e

castigo capital, que se destinava a provocar morte lenta, acompanhada

do máximo de sofrimento e dor.Com efeito, tratava-se de um dos

métodos de execução mais infames e cruéis, sendo geralmente

reservados apenas para os escravos, estrangeiros, revolucionários e

para os criminosos mais vis e desprezíveis.Por sua vez e segundo o

138


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

direito romano, a lei protegia os cidadãos romanos da crucificação, à

exceção dos casos de deserção de soldados.Na sua forma mais

primitiva, na Pérsia, a vítima era amarrada a uma árvore ou, então, era

empalada numa estaca vertical, geralmente por forma a evitar que os

pés tocassem o solo sagrado. Só mais tarde foi introduzida a cruz.

139

Fig. 3

Na sua forma mais simples era constituída por um poste

vertical e uma barra horizontal (o patíbulo), apresentando contudo

diversas variantes. Embora certas provas de caráter histórico e

arqueológico apontem vivamente para o fato de a cruz em forma de


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

T (ou cruz de tau) ter sido a preferida pelos romanos na palestina, no

tempo de Jesus, o fato e que as práticas de crucificação variavam

frequentemente numa determinada região geográfica e dependiam,

em muitos casos, da imaginação dos executores, o que nos leva a

concluir que a cruz latina e mesmos outros tipos, podem igualmente

ter sido utilizados.Era ainda habitual que o condenando transportasse

a sua própria cruz do local de flagelação até ao local de crucificação,

fora das muralhas da cidade.De uma maneira geral a vítima ia nua, a

menos que tal fosse proibido pelos usos e costumes locais. Uma vez

que o peso total da cruz completa ultrapassava provavelmente de 136

kg, apenas era transportado o braço horizontal.

O patíbulo, que pesava 34 a 57 kg., era colocado na parte

posterior do pescoço da vítima, sobre a nuca e seguindo a linha dos

ombros. Habitualmente, os braços estendidos eram então amarrados

ao patíbulo.A caminhada até ao local da crucificação era conduzida

por um corpo completo da guarda militar romana, encabeçado por

um centurião. Um dos soldados transportava uma espécie de tabuleta

(o “títulos”) com a indicação do nome e crime do condenado.

Posteriormente, o “títulos” era atado à parte posterior da cruz.O

tempo de sobrevivência do crucificado variava, de maneira geral,

entre 3 a 4 horas, podendo prolongar-se por 3 a 4 dias, presumindose

que tal estivesse inversamente relacionado com a severidade da

flagelação imposta.Porém, mesmo nos casos em que a flagelação

tivesse sido branda e moderada, os soldados romanos podiam

apressar a morte da vítima, quebrando-lhe as pernas abaixo dos

joelhos (o “crurifragium” ou “skelokopia”).

Era também frequente observar insetos pousarem ou

alojarem-se nas feridas abertas, nos olhos, nos ouvidos ou no nariz da

vítima indefesa e agonizante, ao mesmo tempo que as aves de rapina

dilaceravam a sua carne.Por outro lado, era prática comum deixar o

corpo na cruz, para que fosse devorado por animais predadores.

140


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Todavia, de acordo com as leis romanas, a família da vítima podia

retirar o corpo e proceder ao seu enterro, desde que para tal fosse

devidamente autorizada pelo juiz romano.Uma vez que ninguém

podia sobreviver à crucificação, o corpo só podia ser entregue á

família, depois de os soldados se terem certificado da sua morte.

Assim, um dos guardas trespassava o corpo da vítima com uma

espada ou lança.Segundo consta, este golpe fatal dirigido ao coração,

através do lado direito do peito, era ensinado provavelmente a todos

os soldados romanos. Resta acrescentar que a lança tradicional de

infantaria, com cerca de 1,50 a 1,80 m. de comprimento, poderia

facilmente penetrar no peito de um homem, crucificado na habitual

cruz de menor dimensão.

Aspectos Médicos da Crucificação

Quando se possui conhecimento profundo de anatomia e,

simultaneamente, das antigas práticas de crucificação, é possível fazerse

uma reconstituição dos aspectos médicos prováveis que

envolveram esta forma de execução lenta.Aparentemente, cada um

dos ferimentos destinava-se a produzir uma intensa agonia, sendo

inúmeras as causas que contribuía para a morte do condenado.A

flagelação, que antecedia a crucificação, tinha a finalidade de

enfraquecer a vítima e, se a perda de sangue fosse considerável, de

produzir hipotensão ortostática e, até mesmo, o choque

hipovolêmico.

Quando a vítima era atirada ao chão, de costas, para

transfixação dos pulsos, era muito provável que as feridas provocadas

pela flagelação reabrissem e fossem contaminadas pelo pó e

sujidade.Por outro lado, cada vez que a vítima respirava, as feridas

dolorosas roçavam na madeira tosca da cruz, ocasionando assim uma

perda de sangue nas costas que, possivelmente, iria continuar durante

todo o suplício da crucificação.Com os braços estendidos, mas não

141


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

completamente esticados, os pulsos eram pregados ao patíbulo. Tem

sido demonstrado que os ligamentos e ossos do pulso podem

suportar o peso de um corpo neles suspenso, embora o mesmo já não

se possa dizer em relação às palmas das mãos.Consequentemente, é

provável que os cravos de ferro fossem introduzidos entre o rádio e o

carpo, ou entre as duas fileiras de ossos que constituem o carpo mas,

em qualquer dos casos, muito próximo ou mesmo através do forte

retináculo flexor e dos vários ligamentos intercápicos (Fig. 4).

Fig. 4

Todavia, se bem que um prego introduzido numa dessas

partes do pulso pudesse passar por entre os elementos ósseos, sem

causar portanto qualquer fatura, o certo é que as lesões sofridas a

nível do periósteo seriam graves e dolorosas.Para além disso, a

introdução do prego iria certamente ocasionar o esmagamento ou o

seciona mento do grande nervo sensório-motor mediano (Fig. 4).

142


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Com efeito, o nervo assim estimulado causaria

manifestações de dor extremamente violentas em ambos os braços.

Por sua vez, embora uma parte da mão ficasse paralisada em

consequência da lesão do nervo mediano, as contradições (ou

contraturas) devidas à isquemia, juntamente com as perfurações dos

vários ligamentos, iriam naturalmente produzir uma forte sensação de

aperto.

143

Fig. 5

Na maioria dos casos, os pés eram pregados à parte da

frente do poste, por meio de um cravo de ferro introduzido através

do primeiro ou segundo espaço intermetatársico, algo distante da

junta tarso-metatársica. É muito provável que o nervo peronial e

ramificações dos nervos plantares lateral e medial fossem danificados


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

com a introdução do cravo (Fig. 5).Para além da crucificação ser uma

prática extremamente dolorosa, o seu maior efeito patofisiológico

consistia, na realidade, numa marcada interferência com a função

respiratória normal, muito particularmente com a expiração.Assim, o

peso do corpo abatendo-se sobre os braços e ombros estendidos,

tenderia a fixar os músculos intercostais na posição de inspiração,

impedindo portanto a expiração passiva.

Desta forma, a expiração era fundamentalmente

diafragmática, sendo a respiração fraca e superficial. É pois muito

provável que este tipo de respiração fosse insuficiente e, como tal,

viesse a originar, em breve, uma hipercardia.Por sua vez, a ocorrência

de espasmos ou cãibras musculares e de contradições tetânicas - em

consequência de uma grande fadiga e da hipercardia - iriam dificultar,

ainda mais acentuadamente, todo o processo respiratório.Para uma

expiração adequada e correta, seria necessário erguer o corpo,

fazendo força nos pés e provocando, simultaneamente, a flexão dos

cotovelos e a adução dos ombros.Todavia, esta manobra iria colocar

todo o peso do corpo sobre os ossos do tarso, o que seria

extremamente penoso. Por outro lado, a flexão dos cotovelos

obrigaria a uma rotação dos pulsos sobre os cravos de ferro,

causando assim novas sensações de dor, ao longo dos nervos

medianos já danificados.

Além disso, ao tentar erguer o corpo, as feridas resultantes

da flagelação roçariam pela superfície rugosa da cruz, o que, mais uma

vez, seria bastante doloroso.Por fim, a parestesia e os espasmos

musculares, provocados pela posição dos braços estendidos e

ligeiramente erguidos, contribuiriam para aumentar ainda mais o

sofrimento da vítima.

144


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Em consequência de toda esta situação, cada esforço

respiratório significaria uma nova tortura que, eventualmente,

conduziria à asfixia a vítima já agonizante.A verdadeira causa da

morte por crucificação dependia, pois, de diversos fatores e, em certa

medida, variava de caso para caso; no entanto, duas causas

fundamentais estariam na sua origem: o choque hipovolêmico e a

asfixia por exaustão.Mas outros fatores teriam igualmente contribuído

para a morte, como sejam a desidratação, as arritmias provocadas pela

tensão e a insuficiência cardíaca congestiva, com rápida acumulação

dos fluidos pericardiais e pleurais.

Quando era efetuada a crucifratura (ou seja, a prática de

partir as pernas abaixo dos joelhos), a morte da vítima ocorria por

asfixia, alguns minutos depois.Resta ainda acrescentar que a morte

por crucificação era, na verdadeira acepção da palavra, excruciante

(segundo o termo latino “excruciatus”, cujo significado é “fora da

cruz”).

A Morte de Jesus

Existem dois aspectos fundamentais relacionados com a

morte de Jesus que tem sido fonte de grande controvérsia.

São eles: a natureza do sofrimento no peito e a causa da

morte, depois de apenas algumas horas na cruz.O apóstolo João

descreve no seu Evangelho a perfuração no peito, salientando do fato

do imediato fluxo de sangue e água, que quase simultaneamente

ocorreu. Alguns escritores interpretam o fluxo de água como

tratando-se de ascite ou de urina, resultante de uma perfuração da

bexiga, ao nível médio do abdômen.Todavia, a palavra grega utilizada

pelo apóstolo João significava nitidamente uma posição lateral e era

frequentemente usada na acepção de costelas. Portanto, parece

provável que o ferimento se tivesse localizado no tórax, isto é, bem

145


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

longe da zona central do abdômen.Por outro lado, embora o apóstolo

não tivesse mencionado qual o lado do corpo que foi perfurado pela

lança, o mesmo tem sido descrito, tradicionalmente, como sendo o

direito.Apoiando esta tradição, encontra-se o fato de o grande fluxo

de sangue verificado ser mais provável devido à perfuração da

aurícula ou do ventrículo direitos, distendidos e de paredes mais finas,

do que à perfuração do ventrículo esquerdo, contraído e de paredes

mais espessas.

Embora talvez nunca seja possível estabelecer, com rigor, a

localização exata do ferimento, o certo é que o lado direito parece

bem mais plausível do que o esquerdo.No entanto, algum cepticismo

em aceitar a descrição de João deriva justamente da dificuldade em

ser possível explicar, com a máxima exatidão e do ponto de vista

clínico, esse súbito fluxo de sangue e água.Ora, parte dessa

dificuldade assenta no pressuposto (incorreto, segundo a nossa

opinião), de que o sangue teria surgido primeiro, e só depois a água.

Assim, vejamos: segundo o grego antigo, a ordem das

palavras na frase acentuava geralmente a sua importância e não

necessariamente uma sequência no tempo. Em virtude disso, parecenos,

pois, que João pretendia apenas salientar a importância do

grande fluxo de sangue e não o fato de Ter precedido o da

água.Somos, portanto, de opinião que o fluxo de água - constituído

por fluido seroso da pleura e do pericárdio - Ter-se-ia verificado em

primeiro lugar, imediatamente seguido pelo fluxo de sangue, bastante

maior em termos de volume.

Provavelmente num estado de hipovolemia e de iminente

insuficiência cardíaca aguda, Ter-se-iam produzido efusões da pleura

e do pericárdio, que igualmente teriam contribuído para o

denominado fluxo de água (água aparente, como vimos).Por outro

lado, o fluxo de sangue pode Ter tido a sua origem na aurícula direita

146


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

ou no ventrículo direito ou ainda pode Ter ficado a dever-se a um

hemopericárdio.A morte de Jesus, depois de apenas três a seis horas

na cruz, surpreendeu até o próprio Pilatos. O fato de Jesus Ter dado

um grito e inclinado a cabeça sugere a hipótese de um desfecho algo

catastrófico.

Segundo uma teoria popular, Jesus teria morrido em

consequência de uma ruptura cardíaca. Na verdade, é de admitir que

após a flagelação e a crucificação - associada à hipovolemia - se

tenham formado vegetações trombóticas friáveis e não infecciosas, na

válvula aórtica e ou na válvula mitral.

Essas vegetações trombóticas Ter-se-iam desalojado e, em

seguida, embolizado na circulação na circulação coronária,

provocando assim um enfarte do miocárdio.Cabe aqui referir que, em

situações traumáticas agudas, análogas a esta, tem-se registrado o

aparecimento deste tipo de vegetações trombóticas valvulares; em

consequência disso e nas primeiras horas após o enfarte, pode então

ocorrer uma ruptura da parede do ventrículo esquerdo, embora tal

seja muito pouco frequente.Todavia, existe uma outra teoria, a nosso

ver mais plausível, segundo a qual a morte de Jesus teria sido

acelerada, única e simplesmente, devido ao seu estado de profunda

exaustão e também à extrema severidade da flagelação infligida, a qual

originou uma grave perda de sangue e o consequente estado de préchoque.

A reforçar esta interpretação encontra-se justamente o fato

de Jesus não Ter conseguido transportar o seu próprio patíbulo.Mas a

verdadeira causa da morte de Jesus - como a de tantas outras vítimas

crucificadas - ficou provavelmente a dever-se a múltiplos fatores que,

em primeiro lugar, poderemos relacionar com o choque

hipovolêmico, com a asfixia por exaustão e, possivelmente, com a

insuficiência cardíaca aguda.Por outro lado, uma arritmia cardíaca

147


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

fatal pode Ter contribuído para o aparente desfecho catastrófico da

situação.

Permanecem, pois, certas dúvidas sobre se Jesus morreu em

consequência de uma ruptura cardíaca ou de insuficiência

cardiorrespiratória.Todavia, o aspecto fundamental da questão talvez

não seja o modo como Jesus morreu, mas sim se ele efetivamente

morreu.É um fato que todos os testemunhos históricos e médicos

não só indicam que Jesus já estava morto quando lhe infligiram o

golpe no peito, como apoiam a teoria tradicional de que a lança - ao

atravessar as costelas do lado direito - teria perfurado não apenas o

pulmão direito, mas também o pericárdio e o coração, assegurando

assim a morte.Consequentemente, poderemos concluir que, qualquer

interpretação baseada no pressuposto de que Jesus não teria morrido

na cruz, parece estar em desacordo com a moderna ciência médica.

“Somente para Deus, e unicamente para Ele

Suas angustias são plenamente conhecidas.”

No entanto, quero exortá-los para que considerem por um

momento essas angustias, para que possam amar a Quem as sofreu.

Agora se dava conta, talvez pela primeira vez, o que significava

carregar com o pecado. Como Deus, era perfeitamente santo e

incapaz de pecar, e como homem estava sem mancha original, puro e

sem nenhuma contaminação; no entanto, teve que carregar com o

pecado, ser levado como bode expiatório carregando com a

iniquidade de Israel sobre sua cabeça, ser tomado e feito uma

oferenda pelo pecado, e como uma coisa desprezível (pois nada era

mais desprezível que a oferenda do pecado), ser levado fora do

acampamento e ser totalmente consumido pelo fogo da ira divina.

148


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

O surpreende que sua infinita pureza resistira diante disso:

Teria sido o que Ele era se houvera deixado de ser um assunto

extremamente solene para Ele estar ante Deus na posição do

pecador? E como Lutero o expressou, ser visto por Deus como se

Ele fosse todos os pecados do mundo, e como se Ele houvesse

cometido todo o pecado que foi cometido em todos os tempos por

Seu povo, pois todo esse pecado foi colocado sobre Ele, e sobre Ele

devia tombar toda a violência que esse pecado exigia; Ele de tinha

que ser o centro de toda a vergonha e carregar sobre Ele com todo

o que deveria recair sobre os culpados filhos dos homens.

Estar nessa posição quando já era uma realidade deve ter

sido muito terrível para a alma santa do Redentor. Também a mente

do Salvador estava fixamente concentrada na aborrecível natureza do

pecado. O pecado sempre foi algo aborrecível para Ele, porem agora

Seus pensamentos estavam absortos nele, viu sua natureza que a

palavra de um mortal não poderia descrever, seu caráter atroz, e seu

horrível propósito.

Provavelmente nesse momento teve uma visão como

homem, mais clara do que em qualquer outro momento, do amplo

alcance e do mal do pecado que a tudo contamina, e um sentido da

negrura de suas trevas, e da desesperada condição de culpa como um

ataque direto sobre o trono, sim, e sobre o próprio ser de Deus. Ele

viu em sua própria pessoa até onde poderia chegar o pecador, como

podiam vender a seu Senhor como Judas, buscando destruí-lo como

os judeus fizeram.

O cruel e pouco generoso tratamento que Ele mesmo tinha

recebido fazia patente o ódio do homem para Deus, e, ao vê-lo, o

horror apoderou-se Dele, e Sua alma estava triste ao pensar que tinha

que carregar com todo esse mal e tinha que ser contado entre tais

transgressores, ser ferido por suas transgressões, e golpeado por suas

149


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

iniquidades. Nem as feridas nem os golpes o afligiam tanto como o

pecado mesmo, e isso sobrecarregava completamente Sua alma.

Sem dúvida nesse momento a pena pelo pecado começou a

ser percebida por Jesus no jardim: primeiro o pecado, que o havia

posto na posição de um substituto que sofre, e depois a pena que

devia suportar, ao estar nessa posição de substituto. Lamento ao

máximo esse tipo de teologia que é tão comum nesses dias, que busca

depreciar e diminuir nosso entendimento dos sofrimentos de nosso

Senhor Jesus Cristo. Irmãos, não foi um sofrimento insignificante

esse que recompensou a justiça de Deus pelos pecados dos homens.

Jamais temo exagerar quando falo do que meu Senhor teve que

suportar. Todo o inferno foi destilado nessa copa, da qual nosso

Deus e Salvador Jesus Cristo foi obrigado a beber.

Não era sofrimento eterno, mas devido que Ele é divino,

pode oferecer a Deus em um curto tempo o desagravo de sua justiça,

que os pecadores no inferno não poderiam ter oferecido ainda que

sofressem em suas pessoas por toda a eternidade. A dor que

quebrantou o espírito do Salvador, o grande oceano sem fundo de

angustia inexpressável que inundou a alma do Salvador quando

morreu, é tão inconcebível, que não posso me aventurar muito longe,

para não ser acusado de um vão intento de expressar o inexpressável.

Porem, sim, posso dizer isso, a simples espuma proveniente desse

mar tempestuoso, ao cair sobre Cristo, o batizou em um suor

sangrento. Ainda não havia se aproximado as ondas impetuosas do

castigo mesmo, mas simplesmente o ato de estar de pé na costa, ao

ouvir as terríveis ondas rompendo seus pés, sua alma estava muito

confusa e triste. Era a sombra da tempestade que se aproximava, era

o prelúdio do terrível abandono que devia suportar, ao estar onde

tinha que estar, e pagar à justiça de seu Pai a dívida que nós

deveríamos pagar – isso o tinha derribado. Ser tratado como um

pecador, ser castigado como um pecador, ainda que Nele não havia

150


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

pecado, tudo isso é o que ocasionava Nele a agonia a que nosso texto

se refere.

II. Tendo falado assim da causa de sua especial angustia,

penso que poderemos fundamentar nosso ponto de vista sobre a

matéria, enquanto os levamos a considerar

QUAL ERA O CARÁTER DESSA ANGÚSTIA.

Irei tratar de evitar o excessivo uso das palavras gregas

usadas pelos evangelistas – estudei cada uma delas, para descobrir os

matizes de seus significados, porem será suficiente se lhes dou os

resultados de minha cuidadosa investigação. Qual era essa angustia?

Como foi descrita? Essa grande pena assediou nosso Senhor mais ou

menos quatro dias antes de sua paixão. Se lemos em João 12:27,

achamos essa assombrosa expressão: “Agora está minha alma

perturbada” Nunca o escutamos dizer algo igual antes. Isso era uma

antecipação da grande depressão do espírito que pronto o ia prostrar

no Getsêmani. “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu?

Pai, salva- me desta hora; mas para isto vim a esta hora. (João 12:27)”

Depois lemos em Mateus 26:37, que “começou a entristecer-se e a

angustiar-se muitíssimo.”A depressão havia chegado para Ele

novamente. Não era dor, não eram palpitações do coração, nem uma

dor de cabeça, era algo pior que todas essas coisas. A turbação de

espírito é pior que a dor corporal; a dor poder trazer problemas e

converter-se na causa incidental de angústia, porem, se a mente está

perfeitamente tranquila, um homem pode suportar a dor sem maiores

problemas, e quando a alma está radiante e levantada com um gozo

interno, a dor do corpo quase é esquecida. A alma conquista ao

corpo.

151


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Por outro lado, a dor da alma é a causa de dor corpórea. A

natureza inferior se harmoniza com a natureza superior. O principal

sofrimento de nosso Senhor estava em Sua alma. Os sofrimentos de

Sua alma eram a alma de Seus sofrimentos. “Quem suportará ao

ânimo angustiado?” a dor de espírito é a pior das dores, a tristeza de

coração é o ápice das aflições. Que todos aqueles que conheceram

alguma vez a depressão do espírito, o abatimento e a escuridão

mental, confirmem a verdade do que eu digo!

Essa angústia de coração parece ter levado o espírito de

nosso Senhor a uma profundíssima depressão. No capítulo 26 de

Mateus, no versículo 37 está registrado que Ele “começou a

entristecer-se e a angustiar- se muito” e essa expressão está cheia de

significado. Muito mais conteúdo, em verdade, do que poderíamos

explicar com facilidade. A palavra em seu texto original é muito difícil

de traduzir. Pode significar a abstração da mente, e a completa

invasão da mente pela angústia, de tal forma que qualquer outro

pensamento que poderia aliviar a pena fica totalmente excluído. Um

pensamento lacerante consumia Sua alma inteira, e queimava tudo

que houvera podido dar consolo. Por uns instantes Sua mente se

recusou a considerar o resultado de Sua morte, o conseguinte gozo

colocado diante Dele. Sua posição como O que carregou com o

pecado, e o requerido abandono de Seu Pai, embargava todas as Suas

meditações, impedindo que Sua alma se fixasse em alguma outra

coisa.

Alguns viram nessa palavra uma medida de distração, e

ainda que não adentrarei muito nessa direção, pareceria como que a

mente de nosso Salvador tivesse experimentado perturbações e

convulsões muito distantes de Sua usual calma e de seu espírito

recolhido. Era lançado de um lado a outro como que sobre um

poderoso mar embravecido, envolto na tormenta, arrastado por sua

fúria. “e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.

152


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

(Isaías 53:4)” Como o salmista disse, inumeráveis males o cercavam

de tal forma que seu coração decaia. Seu coração se derretia como

cera em suas entranhas em um completo desmaio. Começou a

“angustiar-se muito.” Alguns consideram que a raiz da palavra

significa: “separado do povo,” como se o houvesse convertido em

alguém diferente dos demais homens, assim como alguém cuja

mente está atordoada por um golpe súbito, ou está oprimida por uma

surpreendente calamidade, não se comporta mais como os homens

comuns.

Os simples espectadores teriam pensado que nosso Senhor

era um homem atordoado, sobrecarregado mais além dos limites

humanos, e submergido em uma angústia sem paralelo entre os

homens.

O estudioso Thomas Goodwin

[1] disse: “a palavra denota um defeito, uma deficiência, e

um espírito abatido como sucede com as pessoas que sofrem de uma

enfermidade e um desmaio.” A enfermidade de Epafrodito

[2], que o levou a beira da tumba, é descrita utilizando-se da

mesma palavra: assim que, vemos que a alma de Cristo estava

enferma e desfalecida.

Por acaso seu suor não foi gerado pela prostração? O suor

frio, pegajoso dos moribundos é produzido pela fraqueza corporal,

mas o suor sangrento de Jesus era produzido pelo total

desfalecimento e prostração de Sua alma. Sua alma estava em um

terrível desmaio, e sofria da morte interna, cujo acompanhamento

não era as lágrimas usuais dos olhos, mas sim um choro de sangue

proveniente do homem inteiro. Muitos de vocês, no entanto,

conhecem em certa medida o que significa estar angustiado em

153


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

grande medida sem que eu tenha que multiplicar minha explicação, e

se vocês não o sabem por experiência pessoal, todas minhas

explicações resultam serem vãs. Quando o profundo desalento

chegue, quando não possam se lembrar de nada que os possa

sustentar, e seu espírito decaia profundamente,profundamente,

profundamente, então poderão sentir dor juntamente com seu

Senhor.

Outros os consideram néscios, os chamam de nervosos, e

lhes pedem que se reanimem, porem, desconhecem completamente

seu caso. Se o entendessem não zombariam deles com tais

advertências, impossíveis para os que estão afundando-se sob o peso

da aflição interna. Nosso Senhor estava “muito angustiado”, muito

abatido, muito desalentado, sobrecarregado pela pena.

Marcos nos diz, continuando, no capítulo 14, versículo 33,

que nosso Senhor “começou a ter pavor, e a angustiar-se” A palavra

grega não tem somente a conotação de que Ele estava assombrado e

surpreendido, mas sim que Sua estupefação chegava ao limite do

horror, como o que os homens experimentam quando os pelos se

lhes arrepia e sua carne treme. Assim como quando Moisés recebeu a

Lei estava temeroso e tremendo em extremo, e como disse Davi:

“meu corpo se arrepiou com temor de ti, e temi os teus juízos.”

(Salmo 119:120), assim nosso Senhor foi alcançado pelo horror diante

do espetáculo do pecado que foi depositado sobre Ele e a vingança

que era exigida por sua causa. O Salvador estava primeiro

“profundamente afligido”, logo deprimido, e “angustiado”, e

finalmente, agudamente estupefato e cheio de assombro; pois, mesmo

Ele em sua condição de homem, escassamente pode saber o que era

que se havia comprometido em carregar.

O tinha considerado com calma e tranquilidade, e tinha

sentido que independentemente do que fora, Ele o carregaria por nós;

154


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

porem, quando chegou o momento de carregar realmente com o

pecado, estava totalmente perplexo e surpreendido pela terrível

posição de estar no lugar do pecador diante de Deus, de que Seu

santo Pai o contemplara como o representante do pecador, e de ser

abandonado por esse Pai com quem Ele havia vivido em termos de

amizade e deleite desde toda a eternidade. Isso fazia cambalear sua

natureza santa, terna, cheia de amor, e Ele estava

“profundamente afligido” e “angustiado”.

É-nos ensinado que um oceano o encerrava, o envolvia e o

abatia, pois o versículo 38 do capítulo 26 de Mateus contem a palavra

perilupos que significa “ficar completamente envolto no abatimento”.

Em todas as misérias comuns geralmente existe alguma via de escape,

algum lugar onde se pode respirar esperança. Geralmente, podemos

recordar de nossos amigos que estão em problemas, que seu caso

poderia ser pior, porem, não poderíamos imaginar o que poderia ser

pior nas aflições de nosso Senhor, pois Ele podia dizer com Davi:

“Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se

apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza.” (Salmo 116:3)

Todas as ondas e as olas de Deus passaram sobre Ele. Sobre Ele,

debaixo Dele, ao redor Dele, interna e externamente tudo era

angustia, e não havia nenhuma fonte de alívio ou de consolo. Seus

discípulos não podiam o ajudar. Todos, menos um, dormiam, e o que

estava desperto, ia a caminho de o trair.

Seu espírito clamava na presença do Deus Todo Poderoso

sob o peso aplacante e sob a carga intolerável de suas misérias. Não

houve piores aflições do que as de Cristo, e Ele mesmo disse: “Minha

alma está muito triste”, ou rodeada de tristezas, “até a morte”. Ele

não morreu no jardim, porem sofreu o mesmo que se houvera

morrido. Suportou intensamente a morte, ainda que não

extensamente. Quer dizer, não se estendeu até converter seu corpo

155


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

em um cadáver, mas foi tão intensa em dor como se verdadeiramente

tivesse morto. Sua dor e sua angústia equivaliam aos de uma agonia

mortal, e só fizeram uma pausa quando esteve à borda da morte.

Para coroar tudo, Lucas nos diz em nosso texto, que nosso

Senhor estava em agonia. A expressão “agonia” significa um conflito,

uma contenda, uma luta. Com quem era essa agonia? Com quem

lutava? Eu penso que era consigo mesmo; a contenda aqui assinalada

não era com Seu Deus; não, “não seja como eu quero, mas como tu”

não descreve uma luta com Deus; não era uma contenda com

Satanás, pois, como já o vimos, não teríamos ficado surpreendidos

que se houvera sido esse o conflito, mas sim que era um terrível

combate consigo mesmo, uma agonia dentre de Sua própria alma.

Recordem que Ele teria podido escapar de toda a aflição se Sua

vontade assim o tivesse desejado, e naturalmente sua natureza

humana dizia: “Não leves essa carga!” e a pureza de Seu coração dizia:

“Oh, não leves essa carga, não te ponhas no lugar do pecador;” e a

delicada sensibilidade de Sua misteriosa natureza se retraia de

qualquer tipo de conexão com o pecado: no entanto, o amor infinito

dizia: “leva-a, dobre-se sob essa carga”; e assim, existia uma agonia

entre os atributos de Sua natureza, uma batalha em uma escala terrível

na arena de Sua alma.

A pureza que não pode suportar entrar em contato com

pecado deve ter sido muito poderosa em Cristo, enquanto que o

amor que não queria permitir que seu povo perecesse era também

muito poderoso. Era um conflito em escala titânica, como se um

Hércules tivesse encontrado outro Hércules; duas forças tremendas

lutavam e combatiam e agonizavam, no sangrento coração de Jesus.

Nada lhe causa a um homem maior tortura do que ser arrastado daqui

para lá por emoções em conflito; assim como a guerra civil é mais

cruel e a pior das guerras, assim uma guerra dentro da alma de um

homem quando duas grandes paixões nele pretendem o domínio, e

156


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

ambas são também nobres paixões, causam um problema e uma

tensão que ninguém póde entender exceto quem experimenta essa

guerra.

Não me surpreende que o suor de nosso Senhor fora como

grandes gotas de sangue, quando tal pressão interna o triturava como

um ramo de uva pisoteado num lagar. Espero não ter olhado

presuntivamente na arca, ou ter visto dentro o lugar santíssimo

coberto pelo véu; Deus não queira que a curiosidade ou o orgulho me

levem a querer intrometer- me onde o Senhor colocou uma barreira.

Os guiei tão perto como pude, e devo fechar a cortina de novo com

as palavras que acabo de usar:

“Somente para Deus, e unicamente para Ele

Suas angustias são plenamente conhecidas.”

III. Nossa terceira pergunta será ?

QUAL FOI O ALÍVIO DE NOSSO SENHOR EM

TUDO ISSO?

Ele buscou ajuda na companhia dos homens, e era muito

natural que assim o fizesse. Deus criou em nossa natureza humana

uma necessidade de simpatia. É perfeitamente normal que nós

esperemos que nossos irmãos vigiem conosco em nossa hora de

provação; porem, nosso Senhor deu- se conta que os homens não

eram capazes de ajudá-lo; sem importar quanto seus espíritos queriam

ajudar, sua carne era fraca.

157


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Então, o que fez? Recorreu à oração, e especialmente a

Deus em seu caráter de Pai. Aprendi por experiência própria que não

conheceremos a doçura da Paternidade de Deus até que não

experimentemos uma amarguíssima angústia; posso entender que

quando o Salvador disse: “Aba, Pai,” foi a angústia quem o reduziu

como a um menino castigado a apelar queixosamente ao amor de um

Pai.

Na amargura de minha alma clamei: “Sim, em verdade és

meu Pai, pelas entranhas de tua paternidade, tem piedade de Teu

filho;” e aqui Jesus suplica a Seu Pai como nós temos feito, e

encontra consolo nessa súplica. A oração era o canal do consolo do

Redentor; verdadeira, intensa, reverente, a oração que se repete, e

depois de cada tempo de oração regressava a calma e voltava para

seus discípulos com uma medida de paz restaurada. Quando viu que

dormiam, suas aflições regressaram, e, portanto voltou a orar de

novo, e cada fez foi consolado, de tal forma que quando orou pela

terceira vez já estava preparado para se encontrar com Judas e com

os soldados, e para ir com silenciosa paciência ao juízo e à morte.

Seu grande consolo era a oração e a submissão à vontade

divina, pois quando colocou Sua própria vontade aos pés de Seu Pai a

debilidade de Sua carne não se queixou mais, sim que em doce

silêncio, como uma ovelha submetida aos tosquiadores, conteve a Sua

alma em paciência e descanso. Queridos irmãos e irmãs, se algum de

vocês experimenta seu próprio Getsêmani e suas pesadas aflições,

imitem o seu Senhor recorrendo à oração, clamando a seu Pai e

aprendendo a submeter-se a Sua vontade.

158


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Irei concluir sacando duas ou três aplicações de todo

nosso tema.

Que o Espírito Santo nos instrua.

A primeira é essa: Conheçam, queridos irmãos, a

humanidade real de nosso Senhor Jesus Cristo. Não pensem Nele

unicamente como Deus, ainda que certamente é divino, porem sintao

como relacionado com vocês, ossos de seus ossos e carne de sua

carne. Que plenamente Ele pode compreendê-los! Ele foi carregado

com todas as cargas de vocês, e afligidos com todas as aflições de

vocês. São muito profundas as águas pelas que vocês estão

atravessando? No entanto, não são profundas comparadas com as

torrentes com as que Ele foi golpeado. Jamais penetra no espírito de

vocês alguma dor que seja estranha para a Cabeça do pacto. Jesus

pode identificar-se com todas as aflições de vocês, pois sofreu muito

mais do que vocês sofreram, portanto, é capaz de socorrê-los em suas

tentações. Devem apegar-se a Jesus como seu amigo íntimo, o irmão

que os ajudará na adversidade, e terão obtido um consolo que lhes

permitirá atravessar todas as profundezas.

Continuando, contemplem aqui o intolerável mal do pecado.

Você é um pecador, porem Jesus nunca o foi, e, no entanto, estar em

lugar do pecador foi tão terrível para Ele que estava muito triste, até a

morte. O que será para você um dia o pecado se é achado culpado ao

final! Oh, se pudéssemos descrever o horror do pecado não haveria

nenhum de vocês que estaria satisfeito de permanecer no pecado

nem por um momento; creio que essa manhã, se elevaria dessa casa

de oração um lamento e gemidos tais que poderiam ser ouvidos nas

próprias ruas, se os homens e as mulheres aqui presentes que estão

vivendo em pecado pudessem entender realmente o que é o pecado, e

qual é a ira de Deus que se acumula sobre eles, e quais serão os juízos

de Deus que muito logo os rodearão e os destruirão, Oh alma, o

159


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

pecado deve ser uma coisa terrível se ele aplacou dessa forma a nosso

Senhor. Se a pura imputação do pecado produziu suor sanguinolento

no santo e puro Salvador, o que produzirá o pecado mesmo: Evitemlhe,

não passem perto dele, afastem-se de qualquer coisa que pareça

ele, caminham com muita humildade e cuidado com seu Deus para

que o pecado não os cause dano, porque é uma praga mortal, uma

peste infinita.

Vejam em continuação, porem, oh, que poucos minutos me

restam para falar de tal lição,o amor sem par de Jesus, que por causa

de vocês e por mim não somente sofreu no corpo, mas sim que

consentiu em carregar com o horror de ser contado como um

pecador, e colocar-se sob a ira de Deus por causa de nossos pecados:

ainda que lhe custou sofrer até a morte, e uma terrível aflição, o

Senhor se apresentou como nossa garantia antes que ver que nós

perecêssemos. Por acaso não poderíamos suportar com alegria a

perseguição por causa Dele? Não poderíamos trabalhar para Ele com

total entrega? Somos tão pouco generosos que Sua causa possa ter

necessidades enquanto nós contamos com os meios para ajudá-la?

Somos tão baixos que sua obra pode chegar a um alto enquanto nós

temos a força para continuá-la? Os exorto pelo Getsêmani, meus

irmãos, se possuem uma parte e uma porção na paixão de seu

Salvador, amem muito Àquele que os amou verdadeiramente sem

medida, e gastem-se e sejam gastos por Ele.

Outra vez vendo a Jesus no jardim, aprendemos a excelência

e a plenitude da expiação. Que negro sou, que sujo e desprezível aos

olhos de Deus! Eu só mereço ser lançado ao mais profundo do

inferno, e me assombra que Deus não me tenha lançado ali desde

muito tempo; porem, entro no Getsêmani, e observo essas torcidas

oliveiras, e vejo a meu Salvador. Sim, o vejo retorcendo-se no solo

cheio de angústia, e escuto Seus gemidos do tipo que nunca foram

emitidos por nenhum peito anteriormente. Observo a terra e a vejo

160


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

vermelha com Seu sangue, enquanto Seu rosto está banhado de suor

ensanguentado, e digo a mim mesmo: “Meu Deus, Meu Salvador, por

que te afliges?” E Ele me responde: “Estou sofrendo por teu

pecado,” e então sinto muito consolo, pois enquanto quisera ter

evitado a meu Senhor tal angústia, agora que a angústia terminou,

posso entender como Jeová pode perdoar- me, porque feriu a Seu

Filho em meu lugar.

Agora tenho esperança de ser justificado, pois trago diante

da justiça de Deus e diante de minha própria consciência a lembrança

de meu Salvador que sangra, e digo: “Podes Tu demandar o pago

duas vezes, primeiro a mão de Teu Filho que agoniza, e depois de

mim?” Pecador como sou, estou ante o trono ardente da severidade

de Deus, e não tenho medo. Podes queimar a mim, oh fogo

consumidor, quando não só tem queimado, mas sim que consumiu

completamente a meu Substituto? Não, por fé, minha alma vê a

justiça satisfeita, a lei honrada, o governo moral de Deus estabelecido,

e, no entanto, minha alma que foi antes culpada agora é absolvida e

recebe a liberdade. O fogo da justiça vingadora se extinguiu, e a Lei

consumiu suas demandas mais rigorosas sobre a pessoa Dele que foi

feito uma maldição por nós, para que possamos ser feitos a justiça de

Deus Nele. Oh, a doçura do consolo que flui do sangue de expiação!

Obtenham esse consolo, meus irmãos, e nunca o deixem, Aferrem-se

ao coração de seu Senhor que sangra, e bebam do abundante consolo.

Por último, qual não será o terror do castigo que recairá

sobre aqueles homens que rejeitam o sangue expiatório, e que terão

que estar frente a Deus em suas próprias pessoas para sofrer por seus

pecados. Lhes direi, senhores, que dói a meu coração ao dizer-lhes

isso, o que sucederá com aqueles que rejeitam a meu Senhor. Jesus

Cristo, meu Senhor e meu Deus, é um sinal e uma profecia para

vocês do que lhes passará. Não é em um jardim, mas sim na cama

de vocês onde sempre descansaram serão surpreendidos, e as dores

161


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

da morte se apoderarão de vocês. Serão entristecidos com uma

tremenda tristeza e remorso pela vida que desperdiçaram, e por terem

rejeitado ao Salvador.

Então, o pecado que mais amam, sua lascívia favorita, como

outro Judas, os trairá com um beijo. Quando todavia sua alma

dependure de seus lábios, será tomada e levada por um grupo de

demônios, e levada ao tribunal de Deus, tal como Deus tal como

Jesus foi levado a sala do juízo de Caifás. Haverá um juízo sumário,

pessoal e de alguma maneira privado, como resultado de qual serão

enviados a prisão onde, em trevas e rugir de dentes e pranto, passarão

a noite antes da sessão do tribunal que terão o juízo pela manhã.

Então virá o dia, e virá a manhã da ressurreição, e assim como nosso

Senhor compareceu ante Pilatos, assim vocês comparecerão diante do

mais alto tribunal, não o de Pilatos, mas sim do terrível trono de juízo

do Filho de Deus, a Quem vocês desprezaram e rejeitaram. Logo

aparecerão testemunhas declarando contra vocês, não testemunhas

falsas, mas sim verdadeiras, e vocês ficarão sem fala, assim como

Jesus não disse nenhuma palavra frente seus acusadores. Logo, suas

consciências e desespero o sacudirão, até que se convertam em tal

monumento de miséria, tal espetáculo de desprezo, até poderem ser

descritos adequadamente por outro “Ecce Homo”, eis aqui o

homem, e os homens o olharão e dirão: “Eis ali o homem e ao

sofrimento que lhe sobreveio, porque desprezou a seu Deus e

encontrava prazer no pecado.”

Depois, serão condenados. “Apartai-vos de mim, malditos,”

será a sentença que receberão, assim como “Seja crucificado” foi a

condenação de Jesus. E serão levados pelos oficiais de justiça ao lugar

de sua condenação. Logo, igual ao Substituto dos pecadores, vocês

exclamarão: “Tenho sede,” porem ninguém lhes dará nem uma gota

de água; não provarão nada senão o fel da amargura. Serão

executados publicamente com todos os seus crimes escritos sobre sua

162


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

cabeça para que todos possam os ler e entendam que vocês foram

justamente condenados; e logo, zombarão de vocês, como zombaram

de Jesus, especialmente se professaram alguma religião falsa; todos

os que passem por ai dirão: “a outros salvou, e a outros pregou,

porem a si mesmo não se pode salvar.” O mesmo Deus zombará de

vocês. Não, não pensem que estou sonhando, Ele não há dito:

“Também de minha parte eu me rirei na vossa perdição e zombarei,

em vindo o vosso temor.” (Provérbios 1:2)?

Clamem a seus deuses nos que confiaram alguma vez!

Obtenham seu consolo das concupiscências nas que uma vez se

deleitaram, oh vocês que foram condenados para sempre! Para

vergonha de vocês e para confusão de sua nudez, vocês que

desprezaram ao Salvador serão feitos espetáculo da justiça de Deus

para sempre. É correto que assim seja, a justiça corretamente o

demanda assim. O pecado fez que o Salvador sofresse uma agonia,

não te fará sofrer a você? Mais ainda, ademais de seu pecado, vocês

rejeitaram ao Salvador, vocês disseram: “Não colocarei minha

confiança Nele”.

Voluntariamente, presunçosamente, e em contra de sua

própria consciência rejeitaram a vida eterna; e se morrem rejeitando a

misericórdia, o que pode resultar de tudo isso? Pois que primeiro seu

pecado e logo sua incredulidade os condenarão à miséria sem limites

e sem fim. Deixem que Getsêmani lhes advirta, deixem que Seus

gemidos, Suas lágrimas e Seu suor sangrento lhes sirvam de aviso.

Arrependam-se do pecado e creiam em Jesus. Que Seu Espírito assim

se lhes permita, no nome de Jesus. Amém.

163


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Qual a causa física da morte de Jesus?

Já estamos na Semana Santa e lembrando dos eventos

bíblicos que ocorreram nessa semana, dia em que Jesus foi

crucificado e também qual foi a causa física da morte de

Jesus.Resta-nos então uma próxima e ultima pregação a respeito da

Ressurreição de Jesus.

A ressurreição de Jesus é a verdade central da

fé Cristã.

A Bíblia diz em 1 Coríntios 15:14-17, que se Cristo não foi

ressuscitado, logo é vã a nossa pregação. Texto básico: Mateus 27.

164


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A FLAGELAÇÃO E A COROA DE ESPINHOS

(Lucas 23.1-25, João 19.1 17)

165


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio

hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador

romanos e Herodes. Pilatos cede e então ordena a flagelação de Jesus.

Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do

pátio.

A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as

quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos. Os

carrascos devem ter sido dois, um de cada lado e de diferentes

estaturas. Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de

microscópicas hemorragias do suor de sangue. A pele se dilacera e se

rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reagem em um

sobressalto de dor. As forças de esvaem; um suor frio lhe impregna a

fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm

ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia

em uma poça de sangue.Depois, o escárnio da coroação. Com longos

espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma

espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos

penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem

o quanto sangra o couro cabeludo).

A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO (Lucas 23.26-

32)

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á

multidão feroz, o entrega para ser crucificado.

Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço

horizontal da cruz; pesa uns 50 quilos. A estaca vertical já está

plantada sobre o Calvário. Jesus caminha com os pés descalços pelas

ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os soldados o

puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus,

fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os

166


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

joelhos. E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas. Quando ele

cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega e lhe esfola o dorso.

Finalmente, para ganhar tempo, os soldados escolhem um

homem na multidão, Simão, que vinha do campo, e puseram-lhe a

estaca sobre suas costas, para que a levasse após Jesus.

A CRUCIFICAÇÃO

(Lucas 23.33-49, João 19.18-37)

Sobre o Calvário tem início a crucificação. Os carrascos

despojam o condenado, mas sua túnica está colada nas chagas e tirá-la

produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande

ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere á carne viva;

ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em

descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um

risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o

fim. O sangue começa a escorrer.

Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de pó

e pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os

algozes tomam as medidas. Com uma broca, é feito um furo na

madeira para facilitar a penetração dos pregos. Os carrascos pegam

um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apóiam-no sobre o

pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o

rebatem sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto

assustadoramente. O nervo mediano foi lesado. Pode-se imaginar

aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima,

que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o

cérebro.

167


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou

seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos:

provoca uma síncope e faz perder a consciência. Em Jesus não. O

nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece

em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o

nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada

sobre a cravelha. A cada solavanco, a cada movimento, vibrará

despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da

trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé;

consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca

vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz

sobre a estaca vertical.

Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a

madeira áspera. As pontas cortantes da grande coroa de espinhos

penetram o crânio. A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez

que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira. Cada vez

que o mártir levanta a cabeça, recomeçam as pontadas agudas de dor.

Pregam-lhe os pés.

168


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

16º A Crucificação de Jesus

O momento da crucificação – Trevas durante 3 horas;

terremoto; os mortos ressuscitaram dos túmulos; o véu rasgou-se no

templo.

Uma impressão errônea – Lucas 23:39-47 convertido; Mc

15:32 o injuriavam. A Bíblia nos diz que Jesus foi crucificado no meio

de outras duas cruzes, onde haviam dois malfeitores.

Um deles deu testemunho de Jesus e recebeu a promessa da

salvação, enquanto o outro blasfemou e foi repreendido. Lendo

apressadamente a Bíblia, em Lucas, sem fazer a comparação em

outros evangelhos, podemos ter a impressão errônea de que um dos

malfeitores era bom, ou até que era um cristão, pois a sua fala o

denuncia.

Mas ao fazermos uma simples leitura de Marcos 15, nós já

notamos que os dois malfeitores, assim como muitas pessoas que

estavam no momento da crucificação, davam mal testemunho de

Jesus. Presume-se que algo aconteceu que converteu um dos

malfeitores, e foi no momento da cruz, enquanto Jesus estava

crucificado.

Mas o que aconteceu, tão forte para ter convertido um dos

homens que também estava sendo crucificado? A ponto de Jesus

prometer-lhe o Céu?

Comparando os evangelhos – Ao lermos os textos bíblicos,

fazendo as devidas comparações, constatamos que a Bíblia fala

claramente o que aconteceu. Jesus falou sobre sete assuntos na cruz,

169


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

o que chamamos de as sete palavras de Jesus na cruz, todas

importantes e proféticas.

Uma delas muito pessoal: João, ai está a sua mãe; mãe, ai

está o seu filho. E outra, ainda, eterna: Pai, perdoa-lhes, pois não

sabem o que fazem. Esta frase, ou este assunto foi o ultimo assunto

tratado na pregação anterior, onde lemos na fala de Pedro em Atos

3:15-19, que crucificaram a Jesus, por ignorância, ou seja, sem saber o

que estavam fazendo.

Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem –

(Lucas 23:34) No momento da cruz, Jesus estava orando. E nessa

oração interior temos a impressão de que apesar de Deus determinar

que Jesus fosse o sacrifício para a salvação do mundo, ainda assim

Deus era Pai e o Pai não estava aguentando ver o seu filho estar

sendo morto. Mais uma vez o mundo passava pelo perigo da

destruição total.

Adão e Eva pecaram e no momento do julgamento no

Jardim do Éden, Deus poderia acabar com tudo naquele preciso

instante. E agora novamente o mundo arriscava-se a total destruição.

Mas Jesus intercedeu e pediu ao Pai para perdoar ao homem, mais

uma vez.

Foi nesse ponto em que um dos ladrões se converteu,

quando entendeu que o perdão ecoava, como ondas, da cruz, por

toda a eternidade.

A Crucificação de Cristo

A partir de um ponto de vista médico de C. Truman Davis ,

Lendo o livro de Jim Bishop “O Dia Que Cristo Morreu”, eu

percebi que durante vários anos eu tinha tornado a crucificação de

170


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Jesus mais ou menos sem valor, que havia crescido calos em meu

coração sobre este horror, por tratar seus detalhes de forma tão

familiar - e pela amizade distante que eu tinha com nosso Senhor. Eu

finalmente havia percebido que, mesmo como médico, eu não

entendia a verdadeira causa da morte de Jesus. Os escritores do

evangelho não nos ajudam muito com este ponto, porque a

crucificação era tão comum naquele tempo que, aparentemente,

acharam que uma descrição detalhada seria desnecessária. Por isso só

temos as palavras concisas dos evangelistas “Então, Pilatos, após

mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”

Eu não tenho nenhuma competência para discutir o infinito

sofrimento psíquico e espiritual do Deus Encarnado que paga pelos

pecados do homem caído. Mas parecia a mim que como um médico

eu poderia procurar de forma mais detalhada os aspectos fisiológicos

e anatômicos da paixão de nosso Senhor. O que foi que o corpo de

Jesus de Nazaré de fato suportou durante essas horas de tortura?

Dados históricos

Isto me levou primeiro a um estudo da prática de

crucificação, quer dizer, tortura e execução por fixação numa cruz. Eu

estou endividado a muitos que estudaram este assunto no passado, e

especialmente para um colega contemporâneo, Dr. Pierre Barbet, um

cirurgião francês que fez uma pesquisa histórica e experimental

exaustiva e escreveu extensivamente no assunto.

Aparentemente, a primeira prática conhecida de crucificação

foi realizado pelos persas. Alexandre e seus generais trouxeram esta

prática para o mundo mediterrâneo-- para o Egito e para Cartago. Os

romanos aparentemente aprenderam a prática dos cartagineses e

171


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

(como quase tudo que os romanos fizeram) rapidamente

desenvolveram nesta prática um grau muito alto de eficiência e

habilidade. Vários autores romanos (Lívio, Cícero, Tácito) comentam

a crucificação, e são descritas várias inovações, modificações, e

variações na literatura antiga.

Por exemplo, a porção vertical da cruz (ou “stipes”) poderia

ter o braço que cruzava (ou “patibulum”) fixado cerca de um metro

debaixo de seu topo como nós geralmente pensamos na cruz latina. A

forma mais comum usada no dia de nosso Senhor, porém, era a cruz

“Tau”, formado como nossa letra “T”. Nesta cruz o patibulum era

fixado ao topo do stipes. Há evidência arqueológica que foi neste tipo

de cruz que Jesus foi crucificado. Sem qualquer prova histórica ou

bíblica, pintores Medievais e da Renascença nos deram o retrato de

Cristo levando a cruz inteira. Mas o poste vertical, ou stipes,

geralmente era fixado permanentemente no chão no local de

execução. O homem condenado foi forçado a levar o patibulum,

pesando aproximadamente 50 quilos, da prisão para o lugar de

execução.

Muitos dos pintores e a maioria dos escultores de

crucificação, também mostram os cravos passados pelas palmas.

Contos romanos históricos e trabalho experimental estabeleceram

que os cravos foram colocados entre os ossos pequenos dos pulsos

(radial e ulna) e não pelas palmas. Cravos colocados pelas palmas

sairiam por entre os dedos se o corpo fosse forçado a se apoiar neles.

O equívoco pode ter ocorrido por uma interpretação errada das

palavras de Jesus para Tomé, “vê as minhas mãos”. Anatomistas,

modernos e antigos, sempre consideraram o pulso como parte da

mão.

Um titulus, ou pequena placa, declarando o crime da vítima

normalmente era colocado num mastro, levado à frente da procissão

172


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

da prisão, e depois pregado à cruz de forma que estendia sobre a

cabeça. Este sinal com seu mastro pregado ao topo teria dado à cruz

um pouco da forma característica da cruz latina.

O Suor como gotas de sangue

O sofrimento físico de Jesus começou no Getsêmani. Em

Lucas diz: "E, estando em agonia, orava mais intensamente. E

aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo

sobre a terra." (Lc 22:44) Todos os truques têm sido usados por

escolas modernas para explicarem esta fase, aparentemente seguindo

a impressão que isto não podia acontecer. No entanto, consegue-se

muito consultando a literatura médica. Apesar de muito raro, o

fenômeno de suor de sangue é bem documentado. Sujeito a um

stress emocional, finos capilares nas glândulas sudoríparas podem se

romper, misturando assim o sangue com o suor. Este processo

poderia causar fraqueza e choque. Atenção médica é necessária para

prevenir hipotermia.

Após a prisão no meio da noite, Jesus foi levado ao Sinédrio

e Caifás o sumo sacerdote, onde sofreu o primeiro traumatismo

físico. Jesus foi esbofeteado na face por um soldado, por manter-se

em silêncio ao ser interrogado por Caifás. Os soldados do palácio

tamparam seus olhos e zombaram dele, pedindo para que

identificasse quem o estava batendo, e esbofeteavam a Sua face.

A condenação

De manhã cedo, Jesus, surrado e com hematomas,

desidratado, e exausto por não dormir, é levado ao Pretório da

Fortaleza Antônia, o centro de governo do Procurador da Judéia,

Pôncio Pilatos. Você deve já conhecer a tentativa de Pilatos de passar

a responsabilidade para Herodes Antipas, tetrarca da Judéia.

173


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Aparentemente, Jesus não sofreu maus tratos nas mãos de Herodes e

foi devolvido a Pilatos. Foi em resposta aos gritos da multidão que

Pilatos ordenou que Bar-Abbas fosse solto e condenou Jesus ao

açoite e à crucificação.

Há muita diferença de opinião entre autoridades sobre o

fato incomum de Jesus ser açoitado como um prelúdio à crucificação.

A maioria dos escritores romanos deste período não associam os

dois. Muitos peritos acreditam que Pilatos originalmente mandou que

Jesus fosse açoitado como o castigo completo dele. A pena de morte

através de crucificação só viria em resposta à acusação da multidão de

que o Procurador não estava defendendo César corretamente contra

este pretendente que supostamente reivindicou ser o Rei dos judeus.

Os preparativos para as chicotadas foram realizados quando

o prisioneiro era despido de suas roupas, e suas mãos amarradas a um

poste, acima de sua cabeça. É duvidoso se os Romanos teriam

seguido as leis judaicas quanto às chicotadas. Os judeus tinham uma

lei antiga que proibia mais de 40 (quarenta) chicotadas.

O açoite

Soldado romano dá um passo a frente com o flagrum

(açoite) em sua mão. Este é um chicote com várias tiras pesadas de

couro com duas pequenas bolas de chumbo amarradas nas pontas de

cada tira. O pesado chicote é batido com toda força contra os

ombros, costas e pernas de Jesus. Primeiramente as pesadas tiras de

couro cortam apenas a pele. Então, conforme as chicotadas

continuam, elas cortam os tecidos debaixo da pele, rompendo os

capilares e veias da pele, causando marcas de sangue, e finalmente,

hemorragia arterial de vasos da musculatura.

174


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

As pequenas bolas de chumbo primeiramente produzem

grandes, profundos hematomas, que se rompem com as subseqüentes

chicotadas. Finalmente, a pele das costas está pendurada em tiras e

toda a área está uma irreconhecível massa de tecido ensangüentado.

Quando é determinado, pelo centurião responsável, que o prisioneiro

está a beira da morte, então o espancamento é encerrado.

Então, Jesus, quase desmaiando é desamarrado, e lhe é

permitido cair no pavimento de pedra, molhado com Seu próprio

sangue. Os soldados romanos vêm uma grande piada neste Judeu,

que se dizia ser o Rei. Eles atiram um manto sobre os seus ombros e

colocam um pau em suas mãos, como um cetro. Eles ainda precisam

de uma coroa para completar a cena. Um pequeno galho flexível,

coberto de longos espinhos é enrolado em forma de uma coroa e

pressionado sobre Sua cabeça. Novamente, há uma intensa

hemorragia (o couro do crânio é uma das regiões mais irrigadas do

nosso corpo).

Após zombarem dele, e baterem em sua face, tiram o pau de

suas mãos e batem em sua cabeça, fazendo com que os espinhos se

aprofundem em sua cabeça. Finalmente, cansado de seu sádico

esporte, o manto é retirado de suas costas. O manto, por sua vez, já

havia aderido ao sangue e grudado nas feridas. Como em uma

descuidada remoção de uma atadura cirúrgica, sua retirada causa dor

toturante. As feridas começam a sangrar como se ele estivesse

apanhando outra vez.

A cruz

Em respeito ao costume dos judeus, os romanos devolvem a

roupa de Jesus. A pesada barra horizontal da cruz á amarrada sobre

seus ombros, e a procissão do Cristo condenado, dois ladrões e o

destacamento dos soldados romanos para a execução, encabeçado

175


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

por um centurião, começa a vagarosa jornada até o Gólgota. Apesar

do esforço de andar ereto, o peso da madeira somado ao choque

produzido pela grande perda de sangue, é demais para ele. Ele

tropeça e cai. As lascas da madeira áspera rasgam a pele dilacerada e

os músculos de seus ombros. Ele tenta se levantar, mas os músculos

humanos já chegaram ao seu limite.

O centurião, ansioso para realizar a crucificação, escolhe um

observador norte- africano, Simão, um Cirineu, para carregar a cruz.

Jesus segue ainda sangrando, com o suor frio de choque. A jornada

de mais de 800 metros da fortaleza Antônia até Gólgota é então

completada. O prisioneiro é despido - exceto por um pedaço de pano

que era permitido aos judeus.

O SACRIFÍCIO DA CRUZ

Não foi um coelho que morreu para te salvar. Foi

Jesus!

Existe um documento sobre o sofrimento de Jesus, que é

muito divulgado hoje em dia... esse documento é o relato de um

médico francês, que, a partir dos seus conhecimentos de medicina,

analisou o sofrimento de Jesus – um sofrimento que foi por mim e

por você. Foi por nós!

NO GETSÊMANI (Lucas 22.44)

Lemos em Lc 22.44 que: “Cheio de uma grande aflição,

Jesus orava com mais força ainda. O seu suor era como gotas de

sangue caindo no chão”.Jesus entrou em agonia no Getsêmani e seu

suor se tornou como gotas de sangue e essas gostas caiam na

terra.Lucas foi o único evangelista que registrou esse fato, afinal, ele

era um médico, E por ser médico, Lucas viu o sofrimento de Cristo

176


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

com olho clínico. Ele disse que “o suor era como gotas de sangue

caindo no chão”.

O suar sangue é um fenômeno raríssimo. A isso se dá o

nome de "hematidrose. Acontece quando a pessoa está colocada em

condições excepcionais de uma fraqueza física tal, acompanhada de

um abatimento moral violento, causado por uma profunda emoção e

por um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de se sentir carregando

todos os pecados dos homens, isso deve ter esmagado Jesus.

Emocionalmente Ele estava tenso, e essa tensão extrema, produziu o

rompimento das veias mais finas do rosto, fazendo o sangue se

misturar ao suor, e essa mistura ficou concentrada sobre a pele e aí,

começou a escorrer por todo o corpo, pingando no chão.

A FLAGELAÇÃO E A COROA DE ESPINHOS

(Lucas 23.1-25, João 19.1- 17)

No capítulo seguinte, Lucas 23.10-25, lemos: “Os chefes dos

sacerdotes e os mestres da Lei se apresentaram e fizeram acusações

muito fortes contra Jesus. 11Herodes e os seus soldados zombaram

de Jesus e o trataram com desprezo. Puseram nele uma capa luxuosa

e o mandaram de volta para Pilatos. 12Naquele dia Herodes e Pilatos,

que antes eram inimigos, se tornaram amigos.

13: Pilatos reuniu os chefes dos sacerdotes, os líderes judeus

e o povo

14: e disse: – Vocês me trouxeram este homem e disseram

que ele estava atiçando o povo para fazer uma revolta. Pois eu já lhe

fiz várias perguntas diante de todos vocês, mas não encontrei nele

nenhuma culpa dessas coisas de que vocês o acusam.

177


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

15: Herodes também não encontrou nada contra ele e por

isso o mandou de volta para nós. Assim, é claro que este homem não

fez nada que mereça a pena de morte.

soltarei.

16: Eu vou mandar que ele seja chicoteado e depois o

17: [Na Festa da Páscoa, Pilatos tinha o costume de soltar

algum preso, a pedido do povo.]

18: Aí toda a multidão começou a gritar: - Mate esse

homem! Solte Barrabás para nós!

19: Barrabás tinha sido preso por causa de uma revolta na

cidade e por assassinato.

20: Então Pilatos, querendo soltar Jesus, falou outra vez

com a multidão.

21: Mas eles gritavam mais ainda: - Crucifica! Crucifica!

22: E Pilatos disse pela terceira vez: – Mas qual foi o crime

dele? Não vejo neste homem nada que faça com que ele mereça a

pena de morte. Vou mandar que ele seja chicoteado e depois o

soltarei.

23: Porém eles continuaram a gritar bem alto, pedindo que

Jesus fosse crucificado; e a gritaria deles venceu.

24: Pilatos condenou Jesus à morte, como pediam.

25: E soltou o homem que eles queriam

178


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

– aquele que havia sido preso por causa de revolta e de

assassinato. E entregou Jesus para fazerem com ele o que quisessem”.

Vemos aqui o jogo de empurra das autoridades: Jesus foi

levado diante de Herodes, que O mandou de volta para

Pilatos...Pilatos, porém, cedeu e ordenou a flagelação de

Jesus... ordenou que Jesus fosse chicoteado... os soldados então,

retiraram aquela capa posta sobre Jesus e pelo pulso, prenderam Jesus

a uma coluna de madeira que estava no pátio.

Aí, começou a flagelação... começou os açoites, as

chicotadas ou melhor dizendo, as chibatadas.Porque naquele tempo

os soldados usavam a chibata – que é uma espécie de chicote, só que

feito de tiras de couro e com bolinhas de chumbo e de pequenos

ossos presos nas pontas.

Os carrascos devem ter sido dois, ficando um de cada lado!

E cada chibatada que davam sobre a pele de Jesus, abria enormes

feridas... a pele rompia e sangue espirrava. Para cada golpe daqueles,

Jesus tinha um sobressalto de dor. Suas forças esvaiam... Ele suava

frio, a cabeça parecia rodar em uma vertigem de náusea e calafrios

correndo pelas costas. Sabe, se Jesus não tivesse sido amarrado, no

alto daquele tronco, pelos pulsos, Ele teria caído numa poça de

sangue – do seu próprio sangue.

E teve ainda o escárnio da coroação, porque, arrumaram

uma coroa entrelaçada de espinhos, espinhos compridos e duros, e

como se fosse uma espécie de capacete, colocaram sobre a cabeça de

Jesus. E aqueles espinhos penetraram no couro cabeludo fazendo a

cabeça sangrar (os médicos-cirurgiões sabem muito bem o quanto

que sangra o couro cabeludo).

179


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A CAMINHADA ATÉ O CALVÁRIO

(Lucas 23.26-32)

Vamos, depois disto, olhar agora para o V 26 o 32, de

Lucas capítulo 23, onde está escrito: “Então os soldados levaram

Jesus. No caminho, eles encontraram um homem chamado Simão, da

cidade de Cirene, que vinha do campo. Agarraram Simão e o

obrigaram a carregar a cruz, seguindo atrás de Jesus.

27: Uma grande multidão o seguia. Nela havia algumas

mulheres que choravam e se lamentavam por causa dele.

28: Jesus virou-se para elas e disse: – Mulheres de Jerusalém,

não chorem por mim, mas por vocês e pelos seus filhos!

29: Porque chegarão os dias em que todos vão dizer:

“Felizes as mulheres que nunca tiveram filhos, que nunca deram à luz

e que nunca amamentaram!”

30: Chegará o tempo em que todos vão dizer às montanhas:

“Caiam em cima de nós!” E dirão também aos montes: “Nos

cubram!”

31: Porque, se isso tudo é feito quando a lenha está verde, o

que acontecerá, então, quando ela estiver seca?

32: Levaram também dois criminosos para serem mortos

com Jesus.

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado á

multidão feroz, o entrega para ser crucificado”.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Lemos aqui que colocaram sobre os ombros de Jesus aquela

peça de madeira, que seria o grande braço horizontal da cruz.Aquela

peça pesava uns 50 quilos – é o peso de um saco de cimento, é o peso

de 4 botijões de gás de cozinha cheios! O mastro vertical da cruz já

está lá, fincado no Calvário, mas a trave, o braço horizontal da cruz,

Ele teve de carregar.E Jesus fez isso, caminhando com os pés

descalços, pisando sobre um terreno irregular, cheio de pedregulhos.

Os soldados iam na frente, puxando Jesus com cordas. O trajeto era

em torno de 600 metros... como daqui até à Rodoviária?

Jesus carregou aquele peso, fatigado, arrastando um pé após

o outro, de vez em quando caía sobre os joelhos, e quando isso

acontecia, aquela viga de madeira esfolava o pescoço.

Até que, pra ganhar tempo, os soldados escolheram um

homem na multidão, chamado Simão Cireneu, porque era da cidade

de Cirene... os soldados puseram a viga de madeira nas costas desse

homem, para que ele a carregasse por um pouco.

A CRUCIFICAÇÃO

(Lucas 23.33-49, João 19.18-37)

Vamos agora ao v.33-39: “Quando chegaram ao lugar

chamado “A Caveira”, ali crucificaram Jesus e junto com ele os dois

criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda.

34: [Então Jesus disse: – Pai, perdoa esta gente! Eles não

sabem o que estão fazendo.]

Em seguida, tirando a sorte com dados, os soldados

repartiram entre si as roupas de Jesus.

181


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

35: O povo ficou ali olhando, e os líderes judeus zombavam

de Jesus,

Dizendo:

– Ele salvou os outros. Que salve a si mesmo, se é, de fato,

o Messias que Deus escolheu!

36: Os soldados também zombavam de Jesus. Chegavam

perto dele e lhe ofereciam vinho comum

37: e diziam:

– Se você é o rei dos judeus, salve a você mesmo!

38: Na cruz, acima da sua cabeça, estavam escritas as

seguintes palavras: “Este é o Rei dos Judeus”.

39: Um dos criminosos que estavam crucificados ali

insultava Jesus, dizendo:

– Você não é o Messias? Então salve a você mesmo e a

nós também!”

É no alto do monte Calvário que teve início a crucificação

de Jesus, propriamente dita. Os carrascos puxaram as roupas de

Jesus... Ele usava uma túnica, mas essa túnica, na altura dos

acontecimentos, estava colada nas feridas; pois os soldados puxaram a

túnica, produzindo mais dor.

Quem já tirou com força, uma atadura ou um esparadrapo

de uma ferida, sabe a dor que é. O tecido daquela túnica havia aderido

à carne viva... com o puxão violento que deram, as feridas foram

abertas mais ainda. É mais sangue a escorrer.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

E Jesus, para ser crucificado, foi deitado no chão, de costas,

e nisso, suas feridas tocam a terra, enchendo-se de pó. Depois, Ele é

deitado sobre o braço horizontal da cruz. Os soldados, com uma

espécie de broca, fazem um furo na madeira para facilitar a

penetração dos pregos. Então, apanham um prego (um prego grande,

pontudo e quadrado), e apoiando esse prego sobre o pulso de Jesus,

deram um golpe certeiro, prendendo Jesus sobre a madeira. Ele deve

ter contraído o rosto de pânico... o nervo mediano foi lesado. Jesus

deve ter provado uma dor lancinante, agudíssima, que se espalhou

pelo corpo.

A dor mais insuportável que uma pessoa pode experimentar,

é aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos do

corpo... isso provoca uma síncope, isto é, uma perda repentina da

consciência. Mas no caso de Jesus, não. É que o nervo foi destruído

só em parte: a lesão do tronco nervoso ficou em contato com o

prego – depois, quando o corpo ficasse suspenso na cruz, esse nervo

seria esticado como uma corda de violino como uma corda de violão,

e a cada solavanco, a cada movimento, a vibração causaria dores

dilacerantes. Aquilo foi um sofrimento que durou horas.

E tendo sido pregado sobre o braço horizontal da cruz,

chegou a hora desse braço ser encaixado sobre o mastro vertical. Os

soldados levantaram Jesus...Os ombros dEle esfregavam

dolorosamente sobre aquela madeira áspera. Não dava para levantar a

cabeça e apoiá-la na madeira, porque os espinhos da coroa

penetravam o crânio. Então, Jesus teve que inclinar a cabeça para

frente, e quando cansava, cada vez que procurava levantar a cabeça,

as pontadas agudas de dor recomeçavam.Por fim, também pregaram

os pés.

183


AS HORAS NA CRUZ

JOSÉ MÁRCIO LACERDA

O texto bíblico ainda registra que Jesus teve sede. Ele não

havia bebido desde a tarde do dia anterior... a garganta estava seca,

parecia queimar, mas nem engolir Jesus podia. Ele teve sede. Um

soldado, pegou uma vara com uma esponja na ponta, encharcou essa

esponja com vinagre e com ela, esfregou a boca de Jesus. Tudo aquilo

foi uma tortura.Ondas de dor corriam pelo corpo, contraindo os

músculos...

A respiração também se tornava ofegante, se tornava cada

vez mais curta. Jesus respirava com a última força dos pulmões. Ele

também teve sede de ar... e como um asmático em plena crise, o Seu

rosto pálido pouco a pouco foi ficando vermelho, depois roxo... era

asfixia. Mas o que acontece? Lentamente, com um esforço extra,

sobre-humano, Jesus tomou um ponto de apoio sobre o prego dos

pés, recobrou a respiração, recuperou a palidez inicial do rosto. E por

que este esforço? Ah! Foi porque Jesus queria falar, e Ele falou: "Pai,

perdoa- lhes porque não sabem o que fazem".

E logo em seguida, o corpo começou a se afrouxar de novo

e recomeçou a asfixia.Jesus falou umas sete frases enquanto esteve

pendurado vivo na cruz... e cada vez que Ele queria falar, teve de se

firmar sobre o prego dos pés. Que tortura!Isso tudo, sem ainda

considerar as moscas que, atraídas pelo sangue, ficavam a zunir ao

redor do seu corpo, sem que Ele pudesse enxotá-las.

Pouco depois, o céu escurece... o sol se esconde... de

repente, a temperatura diminui, a pressão abaixa.

Logo, serão três horas da tarde. Aí, então, todas as dores

sentidas por Jesus, e a sede, e as cãibras, e a asfixia (a falta de ar), e o

latejar dos nervos, arrancaram de Jesus um lamento; Ele disse: "Deus

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

meu, Deus meu, porque me abandonastes?".E dito isso, Jesus deu um

último suspiro e falou: "Está tudo consumado... "Pai, nas tuas mãos

entrego o meu espírito".E assim, Jesus morreu. Não foi um coelho.

Foi Jesus, um homem inocente, que morreu em meu lugar e morreu

no seu lugar.

Crucificação de Jesus Cristo

Sua Morte

A crucificação de Jesus Cristo e Sua ressurreição são os dois

mais importantes eventos da história humana. Por quê? Por causa da

morte de Cristo, a raça humana tem a oportunidade de obter salvação

eterna.

Todos os quatro Evangelhos do Novo Testamento falam da

crucificação de Cristo. Esses autores nos dão narrativas gráficas da

prática da Roma antiga.

Veja aqui alguns dos pontos principais da

crucificação:

• Jesus foi preso no Jardim do

Getsêmani (Marcos 14:43-52).

• Jesus passou por seis julgamentos três por líderes

judeus e três pelos romanos (João 18:12-14, Marcos 14:53-65, Marcos

15:1a, Marcos 15: 1b-5, Lucas 23:6-12, Marcos 15:6-15). Jesus sofreu

espancamento, açoites dolorosos, assim como mangação (Marcos

15:16-20).

• Pilatos tentou entrar em um acordo com os líderes

judeus ao permitir que espancassem Jesus, mas esse ato não lhes

185


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

satisfez. Pilatos entregou Jesus para ser crucificado (Marcos 15:6-15).

• Jesus foi ridicularizado pelos soldados à medida

que O vestiam com uma manta roxa e uma coroa de espinhos (João

19:1-3).

• Jesus foi crucificado no Gólgota, que significa

Lugar da Caveira. (Marcos 15:22). O céu permaneceu escuro por três

horas (Marcos 15:33).

• Jesus clamou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu

espírito. E, havendo dito isto, expirou" (Lucas 23:46).

O autor Arthur W. Pitt descreve a crucificação dessa

forma: "Com as costas sangrentas, carregando Sua cruz sob o calor

do meio-dia, Ele (Jesus) caminhou às alturas do Gólgota.

Alcançando o lugar selecionado de execução, Suas mãos e pés

foram pregados à Madeira. Por três horas, Ele ficou pendurado com

fortes raios de sol sendo lançados à Sua cabeça machucada com uma

coroa de espinhos. Depois disso, escuridão tomou conta pelas

próximas três horas. Aquela noite e dia foram horas nas quais uma

eternidadefoi resumida."

O Salvador do mundo tinha emergido de três horas de

escuridão, durante as quais Ele estava separado do Deus Pai. Por que

Deus Pai tinha se afastado dEle? É contra o caráter de Deus encarar

o pecado, então Deus se retirou de qualquer comunicação com Seu

Filho enquanto Jesus carregava a culpa pelos pecados do mundo.

186


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

17º Simão Cirineu

O HOMEM QUE CARREGOU A CRUZ DE JESUS

CRISTO

Simão Cirineu - Mudança através da cruz

Cirene, a cidade de Simão

Era uma província localizada na região norte da África do

Norte e teve fundação pelos gregos em 630 antes de Cristo. Cirene

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

era uma das 5 maiores cidades gregas, além de ser a mais antiga e mais

importante de todas. Cirene foi dada ao domínio romano cerca de 96

antes de Cristo pelo seu governante Ptolemeu que tinha medo de uma

invasão e possível destruição da cidade. Somente 10 anos depois o

domínio romano era reconhecido na cidade.

Cirene e os Judeus

Os judeus em Cirene tinham os mesmos direitos da

população nativa da região. Havia um certo prestígio por parte dos

judeus no templo pela presença dos cireneus, por virem de uma

região tão vasta e importante para o império romano na época. A

população judaica dessa província era tão significativa, que Jerusalém

tinha orgulho de ter uma sinagoga dos libertos para os visitantes de

Cirene e para outros estados livres (Atos- 6:9). Hoje é a Etiópia, então

Simão era um africano que em hebraico é chamado de Shuaz, que

significa negro. Eles tinham até uma sinagoga própria como esta

escrito em Atos 6:9:

"[..]Da sinagoga chamada dos libertinos, e dos

cireneus e dos alexandrinos[..]"

Essa cidade ou este território antes de ser uma colônia grega

era um reino chamado Sabá, e tinha uma rainha chamada e conhecida

por “Rainha de Sabá”, que a muitos anos atrás teria vindo visitar e

conhecer o famoso rei e tido com ele um relacionamento profundo (I

Reis 10). Os historiadores Judeus acreditam que Simão era

descendente desse relacionamento e a prova de que ele era um judeu

é o seu nome, Shimom, que era também o nome do segundo filho de

Jacó, uma das tribos de Israel. Sim, este homem era um judeu negro!

Ele era um monoteísta, ele acreditava em um único e verdadeiro

Deus que reinava sobre toda a terra.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Porque Simão estava em Jerusalém?

A distância entre Cirene e a cidade santa de Jerusalém era de

cerca de 1.600KM de distância. O que fez Simão viajar numa época

que uma viagem desta levaria meses? Simples resposta! Na tradição

judaica, o judeu tinha que pelo menos uma vez na vida peregrinar até

Jerusalém.

E participar de uma das três festas sagradas:

1. Festa dos Tabernáculos

2. Festa da Páscoa

3. Festa do Pentecoste

Simão estava em Jerusalém para celebrar a páscoa. Se você

perceber, Jesus comemora a páscoa com os discípulos na noite

passada.

Como era a cerimônia da páscoa?

Ela era comemorada no dia 14 de Abibe (Março-Abril no

calendário atual) no templo de Jerusalém.

O seguinte ritual era feito:

1. Homens vestidos de linho branco e com cordeiros

puros se dirigiam ao templo.

2. Eram examinados para ver se a veste e o cordeiro

estavam sem manchas, só assim entravam no templo.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

3. O sacerdote cortava a julgular (Veia do pescoço) e

pegando o cordeiro pelas patas, rodava 7 vezes o altar espalhando

todo o sangue.

4. Após isto, pegava uma planta chamada Hiposso,

que era esponjosa e retia muito líquido. Ela é citada em Salmos 51:7.

5. Com esta planta encharcada, o sangue era jogado

sobre os homens ao redor para que cada um pelo menos tivesse uma

gota do sangue do cordeiro em sua veste branca, representando o

perdão pelos pecados.

Isto representava uma honra! Era como ganhar um prêmio.

Tanto que eles viajam de tão longe, se sujeitando a viagens longas,

cansativas e perigosas para realizar este ato sagrado na sua cultura.

A chegada de Simão Após esta viagem, Simão chega a

Jerusalém e se prepara para o momento tão esperado do sacrifício do

cordeiro no templo! Ele entra pela porta de Damasco e já se prepara

para o ritual. Troca sua roupa suja de viagem por uma veste de linho

puro e sem manchas. Deveria estar muito feliz, pois era um momento

único em sua vida.

Ele se dirige em direção ao templo, mas ao dobrar uma

esquina ele se depara com uma aglomeração que ocupava todo o

caminho. Como ele iria chegar ao templo? Teria de esperar a multidão

passar. Simão aproveitou e se aproximou para ver o que estava

acontecendo.

Simão se encontra com Jesus Ele descobre que um

condenado estava sendo castigado e obrigado a carregar uma cruz

pelos seus pecados.

190


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Este carregava uma placa escrito:

“Yeshua et Nazareth melec Yudim”, ou seja,

“Jesus de Nazaré rei dos judeus”."

Em hebraico, latim e grego para que todos entendessem.

Hoje eu coloco no lugar de Simão. Ele deveria estar assustado com a

cena, não deve ter presenciado algo tão cruel na sua vida.

Provavelmente tentou de todas as formas se esquivar da multidão que

vinha em sua direção mas ao chegar perto de Simão, o condenado

não aguenta e cai no chão, misturando suas vestes ensanguentadas

com o pó da terra seca de Jerusalém.

Naquele momento Jesus não aguentou mais carregar a

pesada cruz. Seu corpo estava debilitado, rasgado, infeccionado e

dolorido. Estudiosos dizem que a dor de Jesus era tão grande que ele

não sentia mais seu corpo, pois o mesmo não conseguia produzir as

substâncias necessárias para produzir a sensação da dor.

Um soldado romano intima Simão a carregar a cruz com

Jesus. Conhecendo o tratamento romano que era dado ao seu povo

em Cirene, Simão não demorou muito e logo fez o que foi ordenado.

Com certeza ele falou algo do tipo:

"Ei, eu não tenho nada a ver com isso! Eu não

cometi pecado, diferente deste que esta ai, não tenho

culpa".

Entenda a situação: Simão viajou 1.600 KM, ficou meses no

deserto, passou por diversas tempestades, altas temperaturas para

viver o momento mais esperando da vida dele, e de repente percebe

que o rumo dela mudou drasticamente e estava ameaçado de não

191


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

acontecer. Simão teve que ajudar Jesus a carregar a cruz. Teve sua

bela roupa de linho branco ensanguentada pelo sangue de um

condenado.

Imagine como ele sentiu fúria! Eu ficaria revoltado pois um

momento único da minha vida poderia estar sendo arruinado. Ah,

lembre-se que o sacrifício da páscoa era só feito uma vez durante o

ano. Simão teria que voltar os 1.600 KM e encarar sua família dizendo

que não tinha feito a maior honraria de um Judeu.

Em meio aquele momento de tormento e raiva, aonde teria

que carregar uma cruz e perder o seu maior sonho Simão encontra o

verdadeiro cordeiro de Deus, que iria mudar o destino da sua

vida.Uma mudança de vida Simão fica constrangido ao ver o olhar

ferido mas tão meigo e puro de Jesus. Ele encara Jesus face a face e

sente que aquele não era um condenado, mas sim um inocente, aquele

era o rei dos Judeus!

Amo muito o filme Paixão de Cristo, principalmente na cena

em que Simão fica revoltado com as pessoas agredindo Jesus. Simão

realmente soube que ali estava o real cordeiro de Deus, que suas

vestes estavam manchadas de sangue, sangue de cordeiro, sangue de

Jesus!

O grande sonho de Simão era concretizado de outra forma.

Quando você teve seu encontro com a cruz de Cristo, viu todo o

sofrimento, o sangue dele te purificar, você mudou seu objetivo de

vida?

Se você teve um encontro com Jesus e não deixou ele

decidir qual o seu objetivo de vida, você não aceitou ele realmente.

Ao aceitar Jesus enterramos o eu e só existe Jesus no querer e fazer.

192


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Como Paulo disse em Gálatas 2:20:

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou

eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que

agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus,

que me amou e se entregou por mim.

É tão fácil falar, mas praticar é difícil! Não é Exato! , Mas

Jesus disse que aquele que perseverar até o fim, este sim será salvo!

Temos que perseverar e a cada dia querer mais e mais fazer a vontade

dele, que é perfeita!

Os dois tipos de pecadores

O pecado é responsável por cegar o ser humano e o tornar

ignorante ou indiferente com a verdade pura de Deus.

Existem 2 tipos de pecadores:

Os pecadores cegos pela suas opiniões e cegos pela religião.

O judaísmo estava fracassado. Seus sacerdotes corrompidos

e indiferente com os problemas e necessidades do povo. Como Jesus

disse: "Eles gritam meu nome, mas seu coração está longe de mim".O

templo era um local de comércio, onde vimos Jesus demonstrar sua

revolta com o que era feito lá. O judaísmo estava separando as

pessoas de Deus cada vez mais, pois somente os puros podiam se

achegar.Isto criava um fardo muito grande para as pessoas

carregarem.

193


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

E Simão era um pecador do tipo?

Simão estava sendo guiado pela sua religião. Jesus vem e

muda tudo isto ao se sacrificar pelos pecados de todos! Simão seguia

a sua religião mas ao encontrar Cristo tem uma nova visão!

Diferentemente do judaísmo, aonde era necessário se ter

vestes brancas para ser purificado, Jesus vem e lava com seu sangue

as vestes sujas e manchadas pelo pecado. Como ele disse: "Eu vim

para os doentes e não para os sadios".

Uma cena inesquecível

Imagine agora Simão deixando o cordeiro de Deus à beira

da crucificação. Simão olha para o céu e vê que pela a posição do sol

já havia passado o tempo para realizar o sacrifício, além disto, sua

veste estava toda ensanguentada. Deve ter saído pela cidade

perguntando para as pessoas:

"Quem era aquele homem? Ele era o rei dos judeus?"

E alguém deve ter respondido dos milagres e maravilhas que

ele fez, porque muitos que acreditavam em Jesus acompanharam sua

crucificação. Ele sai de Jerusalém e vai completamente atordoado

com a cena que nunca mais sairia da sua cabeça. Um homem

inocente, puro, meigo e rei dos Judeus era crucificado sem merecer.

Imagino que ele deve ter sentindo os tremores, o tempo se fechar e o

grande alvoroço por que o véu do templo estava rasgado, mas depois

disto nada mais lhe importava a não ser regressar aos braços de sua

família.

194


De volta para casa

AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Uma longa jornada de volta teria que ser feita pelo judeu

negro, mas agora ele carrega dentro de seu coração a imagem da face

machucada de um homem que era inocente, e dentro de sua bagagem

vai uma roupa de linho branco encharcada de sangue. Quando Simão

chegar em casa, seus filhos, sua família, seus amigos, querem ver o

troféu, então Simão ira tira a veste de linho e lhes conta a história de

Yeshua Ben-David, e todos choram juntos e se convertem ao nome

que está acima de todos os nomes. E talvez você pergunte como

cheguei a esta conclusão, é só lermos o escrito de em Romanos 16:13.

Mais tarde encontramos o Apóstolo Paulo se referir a um grande

missionário da região de Corinto, na cidade Cencréia, que na verdade

era um porto de Corinto. Segundo historiadores este Rufo tinha um

irmão também muito fervoroso e fiel a palavra, e seu nome era

Alexandre, ambos os filhos de Simão.

Os 50 passos do local onde Simão ajudou a Jesus até a

próxima estação significam os cinquenta dias que se deu após a morte

de Jesus até o dia do pentecostes, a descida do maior presente dado

ao homem, O Espírito Santo.

A bíblia relata a conversão dos parentes de Simão?

16:13:

Não diretamente, mas se você ver na carta aos Romanos

"Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e

minha."

e Rufo:

Em Marcos 15:21 é relatado que Simão era pai de Alexandre

195


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

"Certo homem de Cirene, chamado Simão, pai de

Alexandre e de Rufo[...]"

Simão, um marco na história

Simão foi o que mais de perto acompanhou a salvação da

humanidade. Ele fez parte disto, ele ajudou o mestre neste momento.

Foi impactado e transformado por isto. Analisando, podemos dizer

que a família de Simão Cirineu foi uma das primeiras evangelizadas

após a crucificação de Cristo, tanto que Rufo (Filho de Simão) foi

rejeitado pelo sinédrio cireneu por reconhecer que o homem que seu

pai ajudou a carregar a cruz era o Rei dos judeus.

Depois de tantas histórias e suposições, a pergunta reflexiva:

Precisamos que nossos propósitos sejam confrontados com os

propósitos do Senhor Jesus, pois de nada adianta buscarmos o pouco

se Ele tem muito para nos dar, pois Simão buscava gotinhas de

sangue e ganhou uma veste encharcada do verdadeiro sangue do

verdadeiro cordeiro pascal.Vendo o sangue de Cristo sendo

derramado e purificando você, já tens pensado em rejeitar as tuas

vontades e carregar a cruz que ele propôs, para assim levar a salvação

à muitas almas e famílias necessitadas? Para transforma-las

completamente e inflamar outras pessoas como Simão inflamou o

coração de seus filhos e parentes? Pare e reflita no que Jesus tem

significado para você, e se necessário recomece a sua vida com Jesus!

196


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Simão, o Cirineu. A cruz e a veste branca.

Simão era africano e aguardava uma gota de sangue

em sua veste

Wilma Rejane

197


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

" E constrangeram um certo Simão Cirineu, pai de

Alexandre e Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse

a cruz" Marcos 15:21.

Simão Cirineu, o homem sobre o qual foi colocada a cruz de

Jesus, quando de sua caminhada pela via dolorosa, era membro da

colônia judaica ao norte da Ásia. Um lugar que havia sido

estabelecido três séculos antes do nascimento de Cristo por Ptolomeu

Lagi, que para lá transportara grande número de judeus da Palestina.

Cirene, não era o sobrenome de Simão, mas uma denominação que

indicava o lugar de seu nascimento, uma colônia na Líbia, localizada

dentro dos limites atuais de Tunis. Um judeu africano era Simão e

eles eram influentes e numerosos pelo fato de manterem uma

sinagoga em Jerusalém (Atos 6:9).

Era Páscoa e Simão estava na cidade de Jerusalém para

participar das cerimônias anuais no templo: a festa dos Tabernáculos,

Páscoa e Pentecostes. Nessa ocasião, os homens judeus se vestiam de

linho branco para participarem do sacrificio do cordeiro pascal. Se

houvesse qualquer mancha que fosse na veste de qualquer homem,

eles eram impedidos de entrar no templo e participar da cerimônia.

Dentro do templo, havia um altar com cerca de 2,80 metros

de altura todo feito em pedra inteira, sem corte ou trabalhada, e após

o sacerdote sacrificar ali o cordeiro, ele o pegava pelas pernas traseiras

e com movimentos no sentido horário, girava sete vezes em torno do

altar deixando o sangue cair e escorrer pelo altar. Quando o sangue já

havia saído, o sacerdote pegava uma planta chamada hissopo (tipo

esponja), passava sobre o sangue e depois sacudia sobre os homens

que estavam presentes para que recebessem ao menos uma gota do

sangue do cordeiro na veste de linho branco, e quando isso acontecia,

198


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

a veste passava a ser um troféu para a vida do judeu que viajava

quilômetros para receber uma gotinha que fosse.

Simão era um desses judeus que havia saído do campo, fora

dos limites da cidade, para ir ao templo receber as gotas do sangue do

cordeiro pascal. Imagino que não andava vestido de linho branco pela

cidade para não sujar a veste e ser proibido de entrar no templo, mas

deveria guardá-la em alguma bolsa para vestir minutos antes da

cerimônia começar. E Simão ia a passos seguros em seu caminho

quando é interceptado por soldados romanos que "o constrangem" a

levar a cruz de Jesus: "Ei, você ai, ajude-o a carregar a cruz porque ele

está muito cansado e precisamos enxugar um pouco o sangue que

escorre de sua face e de todo seu corpo". Simão olha bem para Jesus

e apesar da face desfigurada pelas agressões, percebe ternura no olhar,

mansidão e Simão não cogita dizer não, mas prontamente se inclina, e

encostando o corpo em Jesus ensanguentado carrega com Ele a cruz.

Simão Cirineu, cujo objetivo era participar da cerimônia no

templo de Jerusalém, para receber uma gotinha de sangue do cordeiro

pascal, agora estava ali, juntinho ao Cordeiro de Deus que tirava o

pecado do mundo através do sacrifício em favor da humanidade. Seu

sangue precioso de Filho de Deus, derramado no centro da terra

(Jerusalém), para curar a humanidade, também escorria sobre a pele

negra de Simão, o Cirineu. A Bíblia não diz quantos minutos durou a

caminhada de Simão junto a Jesus, mas imagino que Jesus deva ter

dito a Simão: "Não temas porque hoje você não recebeu apenas uma

gota de sangue do cordeiro, mas recebeu a vida do Cordeiro em si

mesmo. Eu Sou o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, crê

Simão e serás salvo".

O Cirineu creu, saiu dali correndo, cambaleando, em prantos

e foi direito para casa. Chegando em casa,seu troféu já não seria a

veste de linho branco, gotejada de sangue, mas a salvação eterna dada

199


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

pelo Cordeiro de Deus! E Simão reúne a família e fala de como

aquele acontecimento do dia estava encravado dentro dele, revirando

seu intimo e ele já não seria mais um judeu praticante, mas um

cristão, nascido de novo. Toda a família de Simão foi impactada por

seu testemunho. Em atos dos apóstolos, vemos o relato de que seus

filhos e sua esposa fizeram parte da igreja primitiva: Rufo, Alexandre

e a sua mãe:

"Saudai a Rufo, a sua mãe e a minha" Romanos 16:13 . O

outro filho do Cirineu, chamado Alexandre, parece ter sido alguém

que se desviou do Evangelho. Paulo por duas vezes cita

Alexandre:"Alexandre o latoeiro, causou-me muitos males, o Senhor

lhe pague segundo as suas obras" II Tm 4:14 e ainda: E entre esses

foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a satanás para

aprenderem a não blasfemar" I Tm1:20.

Foi assim, no cotidiano de Simão Cirineu, no meio da rua,

que ele teve um encontro com Deus, através de Jesus Cristo. Um

homem que não imaginou que poderia ter sua vida transformada por

uma cruz, mas ao aceitar carregá-la, renunciando o percurso antes

planejado, ele se torna um novo homem. Podemos olhar para Simão

e aprender com seu gesto. Que Deus está perto, no nosso dia a dia,

que tem interesse em mudar nossa história, desde que renunciemos a

todo um passado de erros e abracemos a cruz com suas dores e

promessas. Simão que guardava a veste branca para receber gotinhas

de sangue, havia sido lavado, mergulhado no sangue da graça, pela fé

no Cordeiro.

Que a vida de cristão é de gozo, mas também de sofrimento.

É de servir ao outro e ajudá-lo a viver através do altruísmo e do amor.

É de vinho e também de fel, esses elementos estavam na esponja que

os soldados romanos embeberam no calvário. Simão Cirineu, em sua

própria casa, teve alegria e tristezas com a família. Ao tempo em que

200


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Rufo foi fiel nas convicções cristãs e Palavra de Deus, Alexandre foi

rebelde e desobediente. Simão Cirineu era um estrangeiro em

Jerusalém, chamado entre os passeantes naquele dia e Jesus tem sim

um plano para aqueles que se sentem distantes, estrangeiros quanto a

fé. Ele nos chama de várias maneiras e pode ser em momento de

alegria ou de dor (foi o meu caso), mas tudo se converte em paz

interior. A maior lição dada com o episódio de Simão, é o do

chamado e do servir através da fé e da confissão em Jesus como

Senhor e Salvador.

Crucificação de Jesus Cristo

Seu enterro e ressurreição

Logo após a crucificação de Jesus Cristo, José de Arimateia

pediu a Pilatos pelo corpo de Jesus. Ele recebeu permissão de

enterrar Jesus, então trouxe finos planos de linho, embalou o corpo,

colocou Jesus no túmulo e colocou uma grande pedra na entrada.

Jesus ficou no túmulo por três dias. Depois do Sábado, Maria

Madalena, Maria (mãe de Jesus) e Salomé prepararam aromas para

ungir o corpo de Jesus. Quando chegaram ao túmulo, a pedra já tinha

sido movida! Eles entraram no túmulo, onde um anjo disse: "Ele,

porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o nazareno,

que foi crucificado; ele ressurgiu; não está aqui; eis o lugar onde o

puseram. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai

adiante de vós para a Galileia; ali o vereis, como ele vos disse"

(Marcos 16:6-7).

Crucificação de Jesus Cristo – Seu presente eterno

O que a crucificação de Jesus Cristo tem a ver com você?

Deus, sendo onisciente, sabia que você não podia viver a vida sem

pecado necessária para entrar no céu. Então Ele decidiu oferecer a Si

201


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

mesmo em seu lugar. Ele fez isso ao se tornar um homem na pessoa

de Jesus Cristo, Seu único Filho. Jesus viveu uma vida sem pecado

aqui na terra.

Deus tinha dito que a punição do pecado seria a morte. Já

que todos nós pecamos (Romanos 3:23, 6:23), necessitamos que

alguém sem pecado morra em nosso lugar. Jesus, sendo sem pecado,

morreu em nosso lugar e se tornou a graça salvadora do mundo. Ele

morreu por você! Romanos 5:10 diz: "Porque se nós, quando éramos

inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,

muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida".

A crucificação

A crucificação começa: Jesus é oferecido vinho com

mirra, um leve analgésico. Jesus se recusa a beber. Simão é ordenado

a colocar a barra no chão e Jesus é rapidamente jogado de costas,

com seus ombros contra a madeira. O legionário procura a depressão

entre os osso de seu pulso. Ele bate um pesado cravo de ferro

quadrado que traspassa o pulso de Jesus, entrando na madeira.

Rapidamente ele se move para o outro lado e repete a mesma ação,

tomando o cuidado de não esticar os ombros demais, para possibilitar

alguma flexão e movimento. A barra da cruz é então levantada e

colocado em cima do poste, e sobre o topo é pregada a inscrição

onde se lê: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus".

O pé esquerdo agora é empurrado para trás contra o pé

direito, e com ambos os pés estendidos, dedos dos pés para baixo,

um cravo é batido atraves deles, deixando os joelhos dobrados

moderadamente. A vítima agora é crucificada. Enquanto ele cai para

baixo aos poucos, com mais peso nos cravos nos pulsos a dor

insuportável corre pelos dedos e para cima dos braços para explodir

no cérebro – os cravos nos pulsos estão pondo pressão nos nervos

202


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

medianos. Quando ele se empurra para cima para evitar este

tormento de alongamento, ele coloca seu peso inteiro no cravo que

passa pelos pés. Novamente há a agonia queimando do cravo que

rasga pelos nervos entre os ossos dos pés.

Neste ponto, outro fenômeno ocorre. Enquanto os braços

se cansam, grandes ondas de cãibras percorrem seus músculos,

causando intensa dor. Com estas cãibras, vem a dificuldade de

empurrar-se para cima. Pendurado por seus braços, os músculos

peitorais ficam paralisados, e o músculos intercostais incapazes de

agir. O ar pode ser aspirado pelos pulmões, mas não pode ser

expirado. Jesus luta para se levantar a fim de fazer uma respiração.

Finalmente, dióxido de carbono é acumulado nos pulmões e no

sangue, e as cãibras diminuem. Esporadicamente, ele é capaz de se

levantar e expirar e inspirar o oxigênio vital. Sem dúvida, foi durante

este período que Jesus consegui falar as sete frases registradas:

Jesus olhando para os soldados romanos, lançando sorte

sobre suas vestes disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que

fazem. " (Lucas 23:34)

Ao ladrão arrependido, Jesus disse: "Em verdade te digo que

hoje estarás comigo no paraíso." (Lucas 23:43) Olhando para baixo

para Maria, sua mãe, Jesus disse: “Mulher, eis aí teu filho.”E ao

atemorizado e quebrantado adolescente João, “Eis aí tua mãe.” (João

19:26-27)O próximo clamor veio do início do Salmo 22, “Deus meu,

Deus meu, por que me desamparaste?”

Ele passa horas de dor sem limite, ciclos de contorção,

câimbras nas juntas, asfixia intermitente e parcial, intensa dor por

causa das lascas enfiadas nos tecidos de suas costas dilaceradas,

conforme ele se levanta contra o poste da cruz. Então outra dor

203


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

agonizante começa. Uma profunda dor no peito, enquanto seu

pericárdio se enche de um líquido que comprime o coração.

Lembramos o Salmo 22 versículo 14 “Derramei-me como

água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez- se

como cera, derreteu-se dentro de mim.”

Agora está quase acabado - a perda de líquidos dos tecidos

atinge um nível crítico - o coração comprimido se esforça para

bombear o sangue grosso e pesado aos tecidos - os pulmões

torturados tentam tomar pequenos golpes de ar. Os tecidos,

marcados pela desidratação, mandam seus estímulos para o

cérebro.Jesus clama “Tenho sede!” (João 19:28)

Lembramos outro versículo do profético Salmo 22 “Secouse

o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao

céu da boca; assim, me deitas no pó da morte.”Uma esponja molhada

em “posca”, o vinho azedo que era a bebida dos soldados romanos, é

levantada aos seus lábios. Ele, aparentemente, não toma este líquido.

O corpo de Jesus chega ao extremo, e ele pode sentir o calafrio da

morte passando sobre seu corpo. Este acontecimento traz as suas

próximas palavras - provavelmente, um pouco mais que um torturado

suspiro “Está consumado!”. (João 19:30)Sua missão de sacrifício está

concluída. Finalmente, ele pode permitir o seu corpo morrer.

Com um último esforço, ele mais uma vez pressiona o seu

peso sobre os pés contra o cravo, estica as suas pernas, respira fundo

e grita seu último clamor:“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”

(Lucas 23:46).

O resto você sabe. Para não profanar a Páscoa, os judeus

pediam para que o réus fossem despachados e removidos das cruzes.

O método comum de terminar uma crucificação era por crucificatura,

204


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

quebrando os ossos das pernas. Isto impedia que a vítima se

levantasse, e assim eles não podiam aliviar a tensão dos músculos do

peito e logo sufocaram. As pernas dos dois ladrões foram quebradas,

mas, quando os soldados chegaram a Jesus viram que não era

necessário.

C. Truman Davis é um Oftalmologista nacionalmente

respeitado, vice-presidente da Associação Americana de

Oftalmologia, e uma figura ativa no movimento de escolas Cristãs.

Ele é o fundador e presidente do excelente Trinity Christian School

em Mesa, Arizona, e um docente do Grove City College.

205


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

18º O Ladrão da Cruz

O LADRÃO DA CRUZ: O QUE HAVIA DE TÃO

GRANDE EM SUA FÉ?

Por Mark Jones

Há muitos atos de fé extraordinária na Bíblia. Aquele que

mais me impressiona diz respeito ao ladrão na cruz. Nós poderíamos

seguir a abordagem de que ele não tinha nada a perder, então

resolveu apostar em Jesus. Mas isso não faz absolutamente nenhum

sentido no texto e no contexto.

206


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Na conversa, nós temos uma realização específica das

primeiras palavras de Cristo na cruz. Mal Cristo tinha falado as

palavras “Pai, perdoa-os”, o Pai já respondera aquela oração ao

transformar um criminoso outrora maldizente em um santo

glorificando a Cristo. Enquanto o criminoso prestes a se converter

não fosse responsável direto pela morte de Cristo, ainda assim ele se

uniu àqueles que eram, e indiretamente foi citado quando Cristo

pediu a Deus que “os” perdoasse.

Cristo, aquele que não tinha pecado, foi contando com ou

entre os transgressores (Is 53.12; Lc 22.37), todos os quais têm um

problema maior que os pecados cotidianos que eles cometem. Eles

odeiam Cristo, o Deus-homem. Aquele que tem um mestre além do

Senhor Jesus o odeia (Lc 16.13; Gl 4.8). Que aqueles dois criminosos

o abominavam é claramente manifesto durante a crucificação: “E o

mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele

estavam crucificados” (Mt 27.44).Quando o criminoso que foi

convertido estava fazendo o seu pior contra Cristo, Cristo estava

fazendo seu melhor por esse criminoso.A conversão desse criminoso

foi bastante extraordinária e testifica do poder da oração de Cristo e

da graça de Deus. Por quê?

A fé do criminoso não surgiu em um momento como

quando Cristo transformou a água em vinho, ou realizou milagres

como andar sobre a água, abrir os olhos de um cego ou trazer Lázaro

dos mortos. Não! O criminoso creu no Messias enquanto ele estava

pendurado como um maldito num madeiro. O criminoso confiou e

ousadamente defendeu aquele cujos discípulos tinham abandonado.

Jesus estava em seu ponto mais baixo quando o criminoso pediu para

ser lembrado no reino de Cristo.

207


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Quando ele estava na cruz, alguém gritou, como João Batista

fez, “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo

1.29)? Mas foi essencialmente isso que o ladrão fez. Não surpreende

muito, então, que Cristo lhe prometesse um lugar em seu reino: “Em

verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lc 23.43).

O criminoso reconheceu que ele era culpado; ele reconheceu

que Cristo não era (“ este nenhum mal fez”); ele temia Deus; mas,

aqui está a chave: o criminoso não queria meramente estar em um

lugar melhor. Ele queria estar com Cristo em um lugar melhor:

“Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23.42).

O criminoso creu “contra toda esperança”.

Céu é um lugar melhor porque é onde Cristo está. Todo

mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer ir para o céu de Cristo.

Não é o caso desse criminoso: ele viu, com seus olhos, Cristo em seu

pior, mas com os olhos da fé, ele creu que Cristo logo estaria no seu

melhor, e assim depositou sua fé em um rei em agonia.

Cristo está sempre – sempre! – – disposto a salvar mesmo o

mais miserável dos pecadores. Um reconhecimento da culpa (Lc

23.40) e uma confiança nele e não em nós mesmos (Lc 23.42) sempre

levarão à verdade mais encorajadora que um pecador pode receber: o

Salvador recebe essas pessoas em seu paraíso!

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

19º Vejamos a causa física da morte de

Jesus

209


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Jesus suou sangue (Lucas 22:39-44)

– A medicina chama essa raríssima doença de hematidrose,

que é causada por um profundo stress, como o medo da morte

iminente, ou outra fatalidade muito grande. A hematidrose é

acompanhada de dores fortíssimas em todo o corpo. Essa doença

pode causar morte instantânea.

A partir desse ponto, Jesus deveria ser levado a uma UTI de

um hospital e ficado sobre cuidados médicos assistidos, ele corria

risco de morte. Mas essa não foi a causa física que o matou.

Jesus sofreu espancamento (Marcos 15:16-20) – Várias

passagens nos mostram que Jesus apanhou dos soldados. Mas essa

não foi a causa física que o matou.

Coroa de espinhos (Mateus 27:29-30)

– Para entender os efeitos físicos da coroação com

espinhos, deve se ter o conhecimento básico da inervação da região

da cabeça e estar familiarizado com a condição neurológica chamada

neuralgia do trigêmio.

A inervação que permite a percepção de dor na cabeça é

feita por ramos de dois nervos principais: o nervo trigêmeo, que

supre essencialmente a parte frontal da cabeça, e o grande ramo

occipital, que abastece a parte de trás.

Se uma dessas zonas é tocada ou atingida, um surto

repentino de dor acontece e pode até imobilizar o indivíduo. As dores

são descritas como “facadas”, “choques elétricos” ou “golpes com

atiçador de carvão”. Durante as dores podem ocorrer espasmos de

absoluta agonia.

210


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A neuralgia do trigêmeo é considerada a pior dor que um ser

humano pode sofrer. É tão devastadora que se torna insuportável sob

qualquer de suas diversas formas. As Escrituras relatam que os

soldados passaram por Jesus, tiraram o graveto de suas mãos e deram

golpes com ele na coroa de espinhos (Mateus 27.30).

Qual foi a causa física da morte de Jesus?

Foi a cruz?

É importante notar que a coroa foi feita com o

entrelaçamento dos espinhos na forma de um boné. Isso permitiu o

211


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

contato de uma quantidade enorme de espinhos como o topo da

cabeça, a fronte, a parte traseira e as laterais.

O sangramento decorria da penetração dos espinhos nos

vasos sanguíneos. A dor podia cessar abruptamente, mas era

reiniciada com o menor movimento nas mandíbulas ou golpe de ar.

Mas não foi essa a causa física da morte de Jesus.

JESUS FOI PUBLICAMENTE HUMILHADO AO

SER CHICOTEADO

Chicoteado – Jesus foi publicamente chicoteado com um

chicote de nove tiras, e isto por 39 vezes. Esse tipo de chicote tinha

as tiras de couro carregadas com pedaços de metais dentados ou

ossos pesados ao final.

Debaixo de uma punição judaica, um açoite deveria ser dado

a um prisioneiro em

40 chicotadas, além de ser uma grande humilhação pública

para um judeu (Dt 25:3).

Raramente davam-se 40 chicotadas, porque ser açoitado por

40 vezes poderia ser fatal. Salmo 129:3 diz: “Passaram o arado em

minhas costas e fizeram longos sulcos”. Este é um pequeno quadro

daquilo pelo qual Jesus passou.

Lemos em Isaías 50:6: “Ofereci minhas costas àqueles que

me batiam, meu rosto àqueles que arrancavam a minha barba; não

escondi a face da zombaria e dos cuspes”. Mas também não foi essa a

causa física da morte de Jesus.

212


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A crucificação – A crucificação era uma punição reservada

a escravos rebeldes e aos que se opunham ao domínio romano. As

torturas que os condenados sofriam eram enormes. Eram

desnudados, flagelados, ofendidos e carregavam a própria cruz.

Ficavam suspensos a dois ou três metros do chão. Alguns

agonizavam vários dias. Jesus foi pregado na cruz, que não era dele,

era de Barrabas, provavelmente puxaram os braços de Jesus, para que

coubessem na cruz. Mas essa não foi a causa física que o matou.

QUAL FOI A CAUSA FÍSICA DA MORTE DE

JESUS?

Apesar dos politraumatismos que Jesus sofreu, uma palavra

denuncia que Jesus se entregou à morte: Marcos 15:43.

Chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também

esperava o reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o

corpo de Jesus. E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E,

chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha

morrido. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José.

“Está consumado”, disse Jesus (João 19:28-30)

Vamos ler: Gl 1.4; 2:20; Tito 2:14; e João 10:1- 18. A

hematidrose, os açoites, a coroa de espinhos, o chicote, a cruz, a

morte, o pecado; nada disso matou Jesus, ele entregou-se por nós,

para nós. Jesus não morreu de causas físicas naturais, pois a morte

não podia matar o autor da vida. Qual foi a causa física da morte de

Jesus? Nenhuma.

213


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

LEIA ESTA OBSERVAÇÃO A RESPEITO DA

MORTE DE JESUS

Aqui cabe uma observação para não haver mal entendidos.

Jesus morreu – primeiro ponto. E Jesus morreu como homem –

segundo ponto. Quando digo que Jesus entregou-se à morte, quero

dizer que até o momento em que ele disse está consumado, apesar

das dores atrozes, que devido aos mais variados traumatismos que ele

estava sentindo, ninguém pode dizer exatamente do que Jesus morreu

fisicamente.

Provavelmente Jesus sofreu uma parada cardiorrespiratória,

devido aos mais variados traumas; foi tudo junto que o matou. Ponto:

ele morreu, e como homem, houve uma causa, ou várias causas

naturais, mas o que a Bíblia ensina e é então o que afirmo, é que Jesus

se entregou à morte, ele se deixou morrer.

Existem os mais variados casos em que se comprova que

isso, por mais estranho que possa parecer, é possível. Ouvimos falar

de pessoas que esperam a filha, ou filho, vir de viagem, ou chegar à

cidade, para que a pessoa possa se despedir e morrer em paz. Nesse

caso a pessoa não se entregou à morte, até que vindo o parente, ela

deixou- se vencer e morreu.O contrário também é verídico e

comprovado, pessoas que desistiram de viver e se entregaram,

deixando-se vencer e morreram, algumas, até jovens. Jesus sempre foi

altamente espiritual.

Esquecemo-nos das frases ditas por Jesus na cruz. Jesus

falou “Sete Palavras” na cruz e assim como ele sabia que quando os

gregos viessem, era então chegada a sua hora, ele sabia também, por

revelação do Espírito (não se esqueça ele até aqui está encarnado

como um homem completo, portanto facultado às nossas limitações,

todas elas) que quando ele bebesse o vinagre, então ele entregaria o

214


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

seu espírito a Deus e Deus permitiria que ele morresse. O vinagre era

o ponto final.

Esse é outro ponto que quando pregamos uma Palavra de

meia hora, ou pouco mais, não dá tempo de discorrermos

acuradamente, mas ninguém morre, ou vive, se Deus não permitir.

Aliás, nada acontece, se não houver permissão de Deus.Lembro- me

que um irmão querido, um dos meus mentores de Bíblia, um dos

meus mestres, quando entrei na igreja, o irmão Olemar, que ele um

dia me ensinou que todos os homens devem morrer, ou ser retirados

dessa vida de alguma forma.

Se não for por arrebatamento divino, o que só aconteceu

isoladamente com Enoque e Elias, segundo consta, foram os únicos

arrebatados até agora, se é que não estou esquecendo ninguém da

Bíblia. Fora esses, os homens precisam sair dessa vida de alguma

maneira, ou por atropelamento, ou por velhice, ou mortos, ou de

alguma maneira permitida por Deus.

Lembro-me que li em algum lugar que o homem desde a

hora que nasce já está morrendo, e isso devido ao pecado. Assim

como é um milagre a mulher gerar um filho (em primeiro lugar) e sair

todos os seus órgãos internos do lugar e depois de nascido o filho, os

órgãos voltarem ao lugar e funcionarem tão bem quanto antes, o que

é inexplicável pela ciência até hoje.

A biologia ensina que na idade aproximada de 30 anos as

células das pessoas começam a morrer o que fará com que ela faleça,

de causas naturais lá pelos seus 70 anos, mais ou menos. Devido ao

pecado, desde que o homem nasce, ele já está morrendo. Já nasce,

morrendo. Antes de prosseguirmos, gostaria que você assistisse o

vídeo abaixo, sobre a ciência da crucificação.

215


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A MORTE É VISTA COMO ALGO NATURAL

Bem, já podemos prosseguir. A morte não é algo tão natural

assim como dizem, o que ocorre são muitas mortes, portanto comum

no sentido de serem muitas, mas a morte em si não é natural ao

homem. O homem criado por Deus, mesmo o homem caído, não foi

feito para morrer. Lemos que Deus pôs um limite de vida ao homem,

mas não que esse foi criado para a morte.

Aliás, a Bíblia tem a promessa que aquele que crer não verá a

morte. Essa promessa está destinada a todos os cristãos, acredite, ou

não. A morte não é natural, aliás, é a coisa mais antinatural do

mundo. A morte só existe num universo eterno de Deus, devido ao

pecado e um dia a morte vai acabar.

O pecado precisa ter um fim e esse fim chama-se morte. Pra

Deus, que é quem interessa, a morte não é natural, mas sim

julgamento. Ainda assim, que é o que veremos na ultima pregação

dessa série, é que ainda assim, existe vida após a morte.

A morte nessa vida, não é o fim da existência humana, mas

o fim da oportunidade de salvação que é dada apenas nessa existência.

E é interessante, que passamos por essa vida, meio que às cegas, sem

saber muito sobre o que nos espera em cada esquina.

Analisou três teorias principais:

Asfixia, ruptura do coração e choque traumático e

hipovolêmico – por isso a importância médica e fisiológica de se ter

descrito, anteriormente e passo a passo, o processo de tortura física e

psíquica a que Jesus foi submetido.

216


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas

ela jamais foi testada cientificamente. Essa hipótese sustenta

que a posição na cruz é incompatível com a respiração,

obrigando a vítima a erguer o corpo para conseguir respirar.

O ato se repetiria até a exaustão e ele morreria por asfixia

quando não tivesse mais forças para se mover. Defende essa causa

mortis o cirurgião francês Pierre Barbet, que se baseou em

enforcamentos feitos pelo Exército austro-germânico e pelos

nazistas no campo de extermínio de Dachau. Zugibe classifica essa

tese de “indefensável” sob a perspectiva médica. Os exemplos do

Exército ou do campo de concentração não valem porque os

prisioneiros eram suspensos com os braços diretamente acima da

cabeça e as pernas ficavam soltas no ar.

Não é possível comparar isso à crucificação, na qual o

condenado é suspenso pelos braços num ângulo de 65 a 70 graus do

corpo e tem os pés presos à cruz, o que lhe dá alguma sustentação.

Experimentos feitos com voluntários atados com os braços para o

alto da cabeça mostraram que, em poucos minutos, eles ficaram com

capacidade vital diminuída, pressão sangüínea em queda e aumento na

pulsação. O radiologista austríaco Ulrich Moedder também derruba o

raciocínio de Barbet afirmando que esses voluntários não suportariam

mais de seis minutos naquela posição sem descansar. Pois bem, Jesus

passou horas na cruz.

Quanto à hipótese de Cristo ter morrido de ruptura do

coração ou ataque cardíaco, Zugibe alega ser muito difícil que isso

ocorra a um indivíduo jovem e saudável, mesmo após exaustiva

tortura: “Arteriosclerose e infartos do miocárdio eram raros naquela

parte do mundo. Só ocorriam em indivíduos idosos.” Ele descarta a

hipótese por falta de provas documentais. Prefere apostar no choque

causado pelos traumas e pelas hemorragias.

217


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A isso somaram-se as lancinantes dores provenientes dos

nervos medianos e plantares, o trauma na caixa torácica, hemorragias

pulmonares decorrentes do açoitamento, as dores da nevralgia do

trigêmeo e a perda de mais sangue depois que um dos soldados lhe

arremessou uma lança no peito, perfurando o átrio direito do

coração. Zugibe usa sempre letras maiúsculas nos pronomes que se

referem a Jesus e se vale de citações bíblicas revelando a sua fé.

Indagado por ISTOÉ sobre a sua religiosidade, ele diz que os seus

estudos aumentaram a sua crença em Deus: “Depois de realizar os

meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das

informações.” Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que

chama de “sumário da reconstituição forense”. E chega à definitiva

causa mortis de Jesus, em sua científica opinião: “Parada cardíaca e

respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico,

resultante da crucificação.”

218


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

20º Aspectos Ilegais do Julgamento de

Jesus

A seguir estão alguns dos aspectos ilegais do

julgamento de Jesus:

1: Os julgamentos poderiam ocorrer somente nos lugares de

reunião regular do Sinédrio (não no palácio do Sumo Sacerdote)

2: Os julgamentos não podiam ocorrer na véspera do Sabat

ou de Festas e nem a noite

3: Uma sentença de "culpado" somente poderia ser

pronunciada no dia seguinte ao julgamento

A INTRODUÇÃO DAS TESTEMUNHAS

Deut 19:15: "Uma só testemunha não se levantará contra

alguém por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for

o pecado cometido; pela boca de duas ou de três testemunhas se

estabelecerá o fato."

Deut 17:6: "Pela boca de duas ou três testemunhas, será

morto o que houver de morrer; pela boca duma só testemunha não

morrerá."

Marcos 14:56: "Porque contra ele muitos depunham

falsamente, mas os testemunhos não concordavam."

219


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Enquanto na corte do Sumo Sacerdote, Ele foi questionado

por Anás (João 18:13) e golpeado por um soldado (João 18: 22). Ele

foi trazido então a Caifás e ao Sinédrio, que procuravam por Jesus à

morte pelo testemunho falso de muitas testemunhas. As testemunhas

trazidas contra Ele não concordavam. Pela lei, ninguém poderia ser

posto a morte sem a concordância de duas ou três testemunhas nos

seus testemunhos. Embora as testemunhas não concordassem,

Ele foi considerado culpado de blasfêmia quando Ele lhes

disse de Sua identidade como Filho de Deus. Ele foi sentenciado a

morte. Jesus sofreu escarnecimento dos guardas do palácio, que

cuspiram nEle, bateram nEle e esbofetearam Sua cara. (Marcos

14:65.) Durante o julgamento, Pedro nega-Lhe três vezes. Os

procedimentos do julgamento de Jesus violaram muitas das leis da Sua

sociedade. Entre algumas das outras leis violadas estão: (Bucklin)

1. Nenhuma aprisionamento poderia ser feito a noite.

2. A hora e a data do julgamento eram ilegais porque

ocorreu a noite e na véspera do Sabat. Neste momento

impossibilitando alguma chance para o requerimento da suspensão da

pena no dia seguinte ao evento da condenação.

3. O Sinédrio era sem autoridade para incitar acusações. Era

somente suposto para investigar acusações trazidas perante ele. No

julgamento de Jesus, a própria corte formulou as acusações.

4. As acusações contra Jesus foram mudadas durante o

julgamento. Ele foi inicialmente acusado de blasfêmia baseado na sua

declaração de que poderia destruir e reconstruir o Templo de Deus

dentro de três dias, e também de ser Filho de Deus. Quando Ele foi

trazido perante Pilatos, a acusação era que Jesus era um Rei e não

defendia o pagamento de impostos aos Romanos.

220


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

5. Como indicado acima, a exigência de duas testemunhas de

acordo para condenar a pena de morte não foi cumprida..

6. A corte não se reuniu no regular local de reuniões do

Sinédrio, como é requerido pela lei Judia.

7. A Cristo não foi permitido uma defesa. Pela a lei judia,

deveria ter ocorrido uma busca exaustiva nos fatos apresentados pelas

testemunhas.

8. O Sinédrio pronunciou a sentença de morte. Pela a lei, ao

Sinédrio não era permitido condenar e colocar a pena de morte em

efetivo. (João 18:31)

Hoje, se pode visitar o palácio do Sumo Sacerdote. Aonde

se pode estar no meio das ruínas do pátio. E está disponível um

modelo das estruturas do palácio no tempo de Jesus.

VEREDICTO DE PILATOS

Marcos 15:15 - "Então Pilatos, querendo satisfazer a

multidão, soltou-lhe Barrabás; e tendo mandado açoitar a Jesus, o

entregou para ser crucificado."

O Sinédrio reuniu-se cedo na manhã seguinte e sentenciou-

O a morte.(Mateus 27:1) Jesus foi levado perante a Pilatos, porque aos

judeus não era dado como aos romanos o direito de realizar

execuções. A acusação foi agora mudada para a alegação que Jesus

reivindicava ser Rei e proibia a nação de pagar impostos a César.

(Lucas 23:5) Apesar de todas as acusações, Pilatos não encontrou

nada errado. Ele mandou Jesus a Herodes. Jesus ficou calado perante

Herodes, exceto para afirmar que Ele é o Rei dos Judeus. Herodes

mandou-O devolta a Pilatos. Pilatos é incapaz de convencer a

221


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

multidão da inocência de Jesus e ordena Jesus a ser posto a morte.

Algumas fontes indicam que era lei romana, que um criminoso que

estava para ser crucificado teria que primeiro ser

chicoteado.(McDowell) Outros acreditam que Jesus foi primeiramente

chicoteado por Pilatos na esperança de livra-Lo através de uma

punição mais leve.(Davis) Apesar do seu esforços, os Judeus

permitiram que Barrabás fosse liberado e exigiram que Jesus fosse

crucificado, ainda gritando que, "O Seu sangue caia sobre nós e sobre

nossos filhos!" (Mateus 27:25) Pilatos entrega Jesus para ser

chicoteado e crucificado.

É neste momento que Jesus sofre um violento

espancamento físico. (Edwards) Durante as chicotadas, a vitima era

amarrada a um poste, deixando suas costas inteiramente exposta. Os

Romanos usavam um chicote, chamado flagrum ou flagellum o qual

consiste em pequenas partes de osso e metal unidos a vários cordões

de couro. O número de chicotadas não é registrado nos evangelhos.

O número de golpes na lei judia foi estabelecido em Deuteronômio

25:3 em quarenta, mas mais tarde reduzido a 39 para prevenir golpes

excessivos por um erro de contagem. (Holmans). A vítima

frequentemente morria por causa do espancamento. (39 golpes

acreditava-se trazer o criminoso a " um da morte".) A lei romana não

colocava nenhum limite sobre o número de golpes a se dar.

(McDowell) Durante as chicotadas, a pele era arrancada das costas,

expondo uma massa ensanguentada de músculo e osso ("hambúrguer

" : Metherall). Ocorria extrema perda de sangue pelo espancamento,

enfraquecendo a vítima ,as vezes, ao ponto de ficar inconsciente.

SOLDADOS ROMANOS ESCARNECEM E BATEM

EM JESUS

Mateus 27:28-30 (Os soldados) despiram-No e colocaram-

No um manto escarlate então trançaram uma coroa de espinhos e

222


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

fixaram em sua cabeça. Eles colocaram uma cajado na Sua mão direita

e ajoelharam-se na Sua frente e O escarnecia dizendo: "Salve, rei dos

judeus!". Eles cuspiram nEle, e pegaram o cajado e golpearam-O na

cabeça várias vezes. Jesus foi então espancado pelos soldados

romanos. No escarnecimento, eles vestiram-No no que era

provavelmente a capa de um oficial romano, o qual era de cor roxo

escuro ou escarlate. (Bíblia Amplificada) Ele também usava a coroa de

espinhos. Ao contrário da coroa tradicional a qual é descrita por um

anel aberto, a verdadeira coroa de espinhos pode ter coberto o escalpo

inteiro.(Lumpkin)Os espinhos podem ter tido 2.54 a 5.08 centímetros

de comprimento. Os evangelhos indicam que os soldados romanos

continuamente bateram na cabeça de Jesus. Os golpes dirigiram os

espinhos para dentro do escalpo (uma das áreas mais vascular do

corpo) e na testa, causando sangramento severo.

A COROA DE ESPINHOS E O MANTO

Gênesis 3:17b-18: "Maldita é a terra por tua causa; em fadiga

comerás dela todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e

abrolhos; e comerás das ervas do campo. "Isaías 1:18 "Vinde, pois, e

arrazoemos," diz o SENHOR. "Ainda que os vossos pecados são

como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são

vermelho como o carmesim, tornar-se-ão como lã." O significado do

manto escarlate e a coroa de espinhos é para enfatizar Jesus tomando

os pecados do mundo sobre Seu corpo. A Bíblia descreve o pecado

pela cor escarlata (Isaías 1:18) e aqueles espinhos que apareceram logo

depois da queda do homem, como um sinal da maldição. Assim, os

artigos que Ele usou são símbolos para mostrar que Jesus tomou os

pecados (e maldições) do mundo sobre Ele mesmo. Não é claro se

Ele usou a coroa de espinhos na cruz. Mateus descreve que os

romanos removeram Suas roupas depois do espancamento, e então

colocaram Suas próprias roupas de novo nEle. (Mateus 27:31)

223


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

21º Como Era a Coroa de Espinhos

Colocada em Jesus

Uma coroa de espinhos guardada num tubo feito de vidro e

ouro e que alegadamente teria sido posta em Jesus durante sua

crucificação se tornou objeto de reverência na Catedral de Notre

Dame, em Paris, França. O local onde a suposta coroa da crucificação

de Jesus Cristo é mantida é uma capela construída em 1241 e

modificada ao longo dos anos. Para os católicos franceses, o templo

é um santuário erguido

Para abrigar as relíquias que teriam pertencido a Jesus

Cristo

224


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Quando o assunto é morte de Jesus, muitas são as teorias e

as teses e, apesar disso, poucas trazem esclarecimentos determinantes

sobre a verdadeira causa da morte do Mestre da Humanidade. Até

mesmo os espinhos utilizados na coroa são motivos de controvérsias

entre os estudiosos

A Coroa de Espinhos foi um instrumento de tortura

utilizado pelos romanos durante a Crucifixão de Jesus. Segundo a

Bíblia, esse instrumento foi tecido de galhos e espinhos secos e

colocados na testa de Jesus instantes antes da sua crucificação. A

Coroa de Espinhos é mencionada no Evangelho segundo

Mateus(27:29), de Marcos(15:17) e de João(19:2-5)

O Material Utilizados Para alguns botânicos, os espinhos

usados para trançar a coroa de Jesus eram da planta conhecida como

Espinheiro-de-Cristo Sírio – Rhamnus spinachristi. Outros, no

entanto, defendem outras versões: Espinhos da Acácia (os judeus e os

egípcios acreditam que essa planta simboliza a imortalidade),

Gundelia, Mojave, Espinheiro-da-Virgínia.

Admite-se geralmente, que os espinhos pertenciam a um

arbusto espinhento, de espinhos longos, duros e agudos, muito

comum na Judéia, é provável que existisse muitos desses garranchos

naquele período, e também no pretório, pois eles eram colocados ali

para alimentar a fogueira que os soldados acendiam a noite para

poderem enfrentar o frio.

225


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

O Formato da Coroa: Ao longo dos séculos os artistas tem

envolvido a cabeça de Jesus com uma coroa de espinho circular

entrelaçada. Porém alguns altores antigos informam que a coroa de

espinho que colocaram sobre a cabeça de Jesus era na verdade uma

espécie de "pileus" (carapuça, gorro), que cobria e tocava toda a

região da parte de cima da cabeça em todos os lados, e não uma tiara.

O pileus era entre os romanos uma espécie de gorro semi-oval de

feltro e envolvia a cabeça e servia para o trabalho.

Frederick Zugibe, médico-legista, autor do livro A

Crucificação de Jesus, afirma que os espinhos eram duros, rentes e

afiados e podem ter sido trançados em forma de boné, pois esta

forma de trançar teria permitido que uma quantidade maior de

226


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

espinhos perfurasse o topo da cabeça, a fronte, a parte traseira e as

laterais.

Marcos, assim descreve o momento da coroação: “Vestiramno

de púrpura e puseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos que

haviam tecido”. Como consequência da perfuração dos espinhos na

cabeça e, devido à grande quantidade de vasos sanguíneos no couro

cabeludo, o sangue jorrava livremente pela face. Mateus relata que,

após a coroação de Jesus com a coroa de espinhos, os soldados

batiam-lhe com a cana sobre a cabeça. “E, cuspindo nele, tiraram-lhe

a cana e batiam-lhe com ela na cabeça”.

Isto vem a confirmar o que claramente informa Mateus e

João: que a coroa era uma espécie de gorro formada de espinho

entrelaçados, e não uma forma de anel.

227


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Por que o nome de Coroa de Espinhos: este nome e dado

não pelo formato, mas pelo significado, para os soldados que ali

estavam, "um rei precisa de uma coroa", e como eles zombavam de

Jesus, eles queriam mesmo que O Senhor tivesse sobre a cabeça algo

horroroso tanto no material como no formato, o que colocaram

sobre a cabeça de Jesus era algo muito, mas muito feio mesmo.

O espinhos usado nesta espécie de gorro que denominaram

coroa possuía espinhos longos e muito agudos. O couro cabeludo é

uma região do nosso corpo que sangra com muita facilidade e em

grande quantidade, como essa espécie de toca foi colocada na cabeça

de Jesus a pauladas, os ferimentos devem ter feito correr bastante

sangue, ferindo bastante o cranio em toda a sua superfície até a testa

na altura do pau- do-nariz.

Os golpes desferidos na cabeça ou na coroa de espinhos de

Jesus irritavam os nervos e ativaram zonas nos lábios, do lado do

nariz, ou no rosto, causando dores terríveis, similar a uma queimadura

ou choque elétrico.

Essa dor, segundo ele, podia ser interrompida abruptamente,

mas era reiniciada com o menor movimento. Jesus já estava muito

debilitado: s¬uou sangue no Jardim do Getsêmani, foi espancado

brutalmente na casa de Caifás e na sala da prisão e perdia sangue com

a coroa de espinhos. A essa altura, acredita o médico, Jesus estava

fraco, zonzo, pálido, com falta de ar, surtos intermitentes de

transpiração; mal se sustentando em pé. Apesar de todo esse castigo,

Jesus ainda enfrentaria o pior de todos eles: A crucificação. Coube a

Pilatos a decretação e a pronúncia da sentença final irrevogável: tu

deves ir para a cruz (íbis ad crucem).

228


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A Coroa de Espinhos e a Redenção do

Cosmos

Hermes Fernandes

Para entendermos melhor a grandiosidade da redenção

realizada por Cristo, precisamos compreender a extensão do estrago

feito pela Queda/Ruptura. O pecado não apenas atingiu o ser

humano, seu protagonista, como também o cenário no qual estava

inserido. E isso por causa de profunda ligação entre o homem e a

terra. Biblicamente, esses dois termos são muitas vezes

intercambiáveis (por exemplo: Sl.96:13; Jr.22:29; Os.1:2; Ap.13:3).

Quando Deus fala à Terra, está falando aos seus moradores.

O homem não é apenas produto do pó da terra, ele é a Terra, que

229


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

recebendo o sopro da vida, passa a ter consciência de si mesma, e da

realidade na qual está inserida.

O pecado humano não poderia ficar impune. Ele traria

resultados que afetariam o homem e o seu ambiente.

“Ao homem disse: Porque deste ouvidos à voz de tua

mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás

dela, maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os

dias da tua vida. Ela produzirá também espinhos e abrolhos, e

comerás das ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu

pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; pois és pó, e ao

pó tornarás.”Gênesis 3:17-19.

Até aquele momento, a Terra era um ecossistema perfeito,

um verdadeiro paraíso. Todos os seres vivos estavam em harmonia, e

submetiam-se prazerosamente ao homem. Lavrar e guardar a terra era

uma atividade extremamente prazerosa e gratificante. Mas agora, o

trabalho tornar-se-ia penoso, na medida em que a terra passasse a

produzir espinhos e abrolhos. O homem e toda a natureza havia se

degenerado.

Nas palavras de Paulo, “a criação ficou sujeita à vaidade,

não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou”

(Rm.8:20).

Os espinhos representam a reação da natureza à vaidade

humana. Ela que antes estava sujeita ao homem em plena comunhão

com seu Criador, agora teria que se sujeitar a um homem rebelde e

vaidoso.

Por mais que o homem busque construir um ambiente mais

acolhedor, tentando de algum modo reproduzir artificialmente o

230


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

paraíso perdido, os espinhos o acompanham. Isaías profetiza:“Nos

seus palácios crescerão espinhos, urtigas e cardos nas suas fortalezas.

Ela será uma habitação de chacais, e lar para as corujas” (Is.34:13).

Não há como fugir, os espinhos estão por toda parte, como

lembrança de que nossa natureza está igualmente degenerada, à

exemplo da natureza à nossa volta.

Na verdade, os espinhos servem a um propósito benéfico.

Eles nos esvaziam quando estamos inflados por nossa própria

vaidade. Que o diga Paulo, que para que não se exaltasse pela

excelência das revelações que recebera de Deus, recebeu de bônus um

espinho na carne.

231


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

De fato, o mundo não é mais um lugar seguro pra se viver.

E não se trata de um fenômeno novo. Desde a Ruptura, o mundo

deixou de ser um lugar seguro para a raça humana.

Não só a terra passou a produzir espinhos, mas o próprio

coração humano passou a ser um terreno inóspito para o Espírito de

Deus e para a Sua Palavra.

Na parábola do Semeador, Jesus diz que uma parte das

sementes “caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram

(...) O que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os

cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas, sufocam a palavra, e

fica infrutífera” (Mt.13:7,22).

O homem natural não consegue entender as coisas

espirituais, pois lhe parecem loucura, já dizia Paulo. Seu coração está

tomado de espinhos, devido à sua natureza degenerada. Jesus

identifica esses espinhos com “os cuidados deste mundo”, e com “a

sedução das riquezas”.Quando ele começa a achar que está

conseguindo preencher o vazio de sua alma, esses mesmos espinhos

lhe causam perfurações tão agudas, que acabam por ocasionar em um

vazio ainda maior.

O que esperar de uma raça caída, com a alma tomada por

espinhos? Miquéias, em um momento de desespero, deixa escapar um

grito:

“Ai de mim! Estou feito como quando são colhidas as frutas

do verão, como os rabiscos da vindima; não há cacho de uvas para

comer, nem figos temporãos para que a minha alma deseja. Pereceu

da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que seja

reto. Todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão

com uma rede. As suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe

232


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

exige condenação, o juiz aceita suborno, e o grande fala da corrupção

da sua alma, e assim todos eles são perturbadores. O melhor deles é

como um espinho, o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos.

Veio o dia dos teus vigias, veio

o dia da tua visitação. Agora é o tempo da sua confusão.

Não creiais no amigo; não confieis no companheiro. Daquela que

repousa no teu seio guarda as portas da tua boca. Pois o filho

despreza o pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua

sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa”. Miquéias

7:1-6.

Sentimo-nos envergonhados, e igualmente desesperados

quando constatamos a grave situação em que se encontra a

humanidade. Corrupção, impunidade, terrorismo, intrigas, são apenas

alguns dos espinhos produzidos no terreno inóspito do coração

humano sem Deus. Mas o que dizer da Igreja, a nova humanidade

recriada em Cristo. O que se deve esperar dela?

“A terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela,

e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a

bênção da parte de Deus. Mas se produz espinhos e abrolhos, é

rejeitada, e perto está da maldição. O seu fim é ser queimada. Mas de

vós, ó amados, esperamos coisas melhores e pertencentes à salvação,

ainda que assim falamos”.

Hebreus 6:7-9.

Esta é a promessa de Deus para com o Israel da Nova

Aliança: “A casa de Israel nunca mais terá espinho que a pique, nem

abrolho que lhe cause dor, entre os que se acham ao redor deles e que

os desprezam. Então saberão que eu sou o Senhor Deus” (Ez.28:24).

233


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Somos o povo regenerado por Deus. Somos a nova

Criação. Somos a nova Terra. E o prenúncio de que em breve, tudo à

nossa volta será igualmente regenerado. O preço pago por Cristo na

Cruz, não apenas liquidou nossa fatura, mas também desfez a

maldição que pesava sobre a natureza. A coroa de espinhos que Ele

trazia em Sua cabeça apontava para a redenção de toda a criação

(Mc.15:16-17). A Cabeça da nova humanidade, Cristo, foi perfurada

pelos espinhos da nossa vaidade. Antes que os espinhos brotem na

terra, eles brotam na cabeça, na mente, na consciência humana

cauterizada pelo pecado. Por isso, Cristo teve Sua cabeça coroada de

espinhos. Lá na cruz, Deus feito homem, arcou com as

conseqüências da Queda.

Uma vez que Cristo tenha pago o preço da redenção da

criação, resta-nos trabalhar para que a humanidade se alie ao resto

da criação,deixando de ser predadora e destruidora, para ser sua

cultivadora e guardiã.

A SEVERIDADE DO ESPANCAMENTO

Isaías 50:6: "Ofereci as minhas costas aos que me feriam, e

as minhas faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o meu

rosto dos que me afrontavam e me cuspiam."

Isaías 52:14: "..... Como pasmaram muitos à vista dele -- pois

o seu aspecto estava tão desfigurado que não era o de um homem, e a

sua figura não era a dos filhos dos homens --"

A severidade do espancamento não é detalhada nos

evangelhos. Entretanto , no livro de Isaías, ele sugere que os romanos

arrancaram Sua barba.(Isaías 50:8) Também é mencionado que Jesus

foi espancado tão severamente que seu aspecto não parecia como "a

dos filhos dos homens" i.e. como uma pessoa. "O seu aspecto estava

234


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

tão desfigurado que não era o de um homem, e a sua figura não era a

dos filhos dos homens." As pessoa ficavam horrorizadas ao olhar para

Ele (Isaías 52:13). Seu desfiguramento talvez possa explicar porque

Ele não foi reconhecido facilmente em Suas aparições pós

ressurreição.(Missler) Hoje, se pode visitar o local conhecido como

Lithostrotos, aonde acredita-se ser o chão da Fortaleza de

Antônio.(todavia recente escavações talvez ponha em dúvida esta

teoria (Gonen)) O chão está marcado para jogos uma vez jogados por

soldados romanos.

Do espancamento, Jesus andou num trajeto, chamado agora

de Via Dolorosa, para ser crucificado em Gólgota. A distância total

tem sido estimada em 595 metros. (Edwards). Uma rua estreita de

pedra, era provavelmente cercada por mercados no tempo de Jesus.

Ele foi conduzido através das ruas aglomeradas de gente carregando a

barra transversal da cruz (chamada patibulum) em contato com Seus

ombros.

A barra transversal provavelmente pesava entre 36 e 50

quilos. Ele era cercado por um guarda dos soldados romanos, o qual

carregava uma placa que anunciava Seu crime o de ser "o Rei dos

Judeus" em Hebreu, em Latim e em Grego. No caminho, Ele ficou

incapaz de carregar a cruz. Alguns teorizam que Ele talvez tenha

caído ao ir descendo os degraus da Fortaleza de Antônio. Uma queda

com o pesado patibulum nas Suas costas talvez tenha causado uma

contusão do coração, predispondo Seu coração a ruptura na cruz.

(Ball) Simão o Cireneu (atualmente norte da África (Tripoli)), que

aparentemente foi afetado por estes eventos, foi intimado a ajudar.

A presente Via Dolorosa foi marcada no século 16 sendo a

rota na qual Cristo foi conduzido a Sua crucificação.(Magi) Quanto a

localização do Calvário, a verdadeira localização da Via Dolorosa é

disputada. Muita da tradição a respeito do que aconteceu a Jesus é

235


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

encontrada na Via Dolorosa hoje em dia. Há 14 estações de "eventos"

que ocorreram e 9 igrejas no caminho hoje em dia. As estações da

cruz foram estabelecidas em 1800. (Magi) Hoje em dia, há uma

seção no trajeto onde se pode andar nas pedras que foram usadas

durante a época de Jesus.

SOFRIMENTO NA CRUZ

Salmo 22:16-17: " Pois cães me rodeiam; um ajuntamento

de malfeitores me cerca; transpassaram-me as mãos e os pés. Posso

contar todos os meus ossos. Eles me olham e ficam a mirar-me."

O evento da crucificação é profetizado em diversos lugares

por todo o Velho Testamento. Um dos mais impressionantes é

narrado em Isaías 52:13, aonde ele diz que, "Eis que o meu servo

procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime."

Em João 3, Jesus fala sobre o cumprimento dessa profecia quando

Ele diz, "E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim

importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele

que nele crê tenha a vida eterna." Ele refere aos eventos narrado em

Números 21:6-9. O Senhor tinha mandado uma praga de serpentes

impetuosas no povo de Israel e morderam o povo de modo que

muitas pessoas morreram. Depois que o povo confessou seus pecados

a Moisés, o Senhor perdoou eles tendo feito uma serpente de bronze.

O bronze é um símbolo do julgamento e a serpente é um

símbolo da maldição. Quem quer que fosse mordido por uma

serpente e então olhasse a serpente de bronze, era salvo da morte.

Estes versos são profecias que apontam a crucificação, em que Jesus

seria (levantado) na cruz para julgamento do pecado, para que todo

aquele que nele crê não pereça, (a morte eterna) mas tenha a vida

eterna.II Cor 5 :21 Amplifica este ponto, nisso "Aquele que não

236


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que Nele fôssemos

feitos justiça de Deus."(Pink)

É interessante que o símbolo de Aesculapius que é o

símbolo da profissão médica hoje em dia, teve suas raízes da

fabricação da serpente de bronze.(Metherall) Certamente, Jesus é quem

cura a todos! Jesus é conduzido ao lugar da caveira (Latim: Calvário,

Aramaico: Golgota) para ser crucificado. A atual localização do

Calvário está também em disputa. No fim da Via Dolorosa, há uma

"T bifurcação ". Se virarmos a esquerda, nós iremos a Basílica do

Santo Sepulcro. Se virarmos para direita, nós iremos ao Calvário de

Gordon. A Basílica do Santo Sepulcro tem se acreditado por muito

tempo ser o local tradicional da crucificação.

Calvário de Gordon possivelmente tem uma razão profética

para ser o lugar da crucificação. Em Gênesis 22, Abraão é testado por

Deus para sacrificar Isaque no topo da montanha. Percebendo que ele

estava agindo fora da profecia, que "Deus proverá para si o Cordeiro",

Abraão chama o lugar do evento de "Jeová-Jiré", "No monte do

senhor se proverá." Se nós pegarmos isso como evento profético da

morte de Jesus, então Jesus morreu no terreno mais elevado de

Jerusalém. Calvário de Gordon é o ponto mais elevado de Jerusalém,

777 metros acima do nível do mar. (Missler: Map from Israel tour

book) Hoje em dia, no Calvário de Gordon, as cavernas na rocha

estão situadas de tal maneira que dão ao local a aparência de uma

caveira.

Jesus foi então crucificado. Crucificação era uma prática que

se originou com os Persas e foi mais tarde passado para os

Carthaginians e os fenícios. Os romanos aperfeiçoaram como um

método de execução o qual causava máxima dor e sofrimento em um

período de tempo. Aos crucificados incluíam escravos, provincianos e

os tipos mais baixos de criminosos. Cidadãos romanos, exceto talvez

237


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

para soldados que desertavam, não eram sujeitados a esse tratamento.

(McDowell)

O local da crucificação "era escolhido propositadamente

para ser fora dos muros da cidade porque a Lei proibia tais de ser

dentro dos muros da cidade... por razões sanitárias... o corpo

crucificado era as vezes deixado para apodrecer na cruz e servir como

uma desonra, um convincente aviso e dissuasivo para os que ali

passavam." (Johnson) Às vezes, o subordinado era comido quando

vivo e ainda na cruz por bestas selvagens. (Lipsius)

O Procedimento da crucificação pode ser resumido

conforme o seguinte. O patibulum era colocado sobre a terra e a

vitima colocada em cima dele. Os pregos, com aproximadamente 18

centímetros de comprimento e com 1 cm de diâmetro eram cravados

nos pulsos. Os pregos entrariam na proximidade do nervo mediano,

causando que choques de dor fosse irradiado por todo o braço. Era

possível colocar os pregos entre os ossos de modo que nenhuma

fratura (ou ossos quebrados) ocorressem. Estudos tem mostrado que

os pregos provavelmente estiveram cravados através dos ossos

pequenos do pulso, desde que pregos na palma da mão não

suportariam o peso de um corpo.

Em terminologia antiga, o pulso era considerado ser parte da

mão. (Davis) Posicionado no local da crucificação estariam postes em

pé, tendo aproximadamente 2.15 metros de altura.(Edwards) No

centro dos postes estava um ordinário assento, chamado sedile ou

sedulum, no qual servia como suporte para a vítima. O patibulum era

então levantado sobre os postes. Os pés eram então pregados aos

postes. Para permitir isto, os joelhos teriam que ser dobrados e

girados lateralmente, deixando numa posição muito desconfortável. O

titulo era pendurado sobre a cabeça da vitima.

238


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Havia diversos tipos diferentes de cruzes usadas nas

crucificações. Na época de Jesus, era mais provável que a cruz usada

fosse no formato de T (ou "tau" cruz,), não a popular cruz

no formato t a qual é aceita nos dias de hoje.(Lumpkin)

SOFRIMENTO FÍSICO NA CRUZ

Salmos 22:14-15: "Como água me derramei, e todos os

meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteuse

no meio das minhas entranhas. A minha força secou-se como um

caco e a língua se me pega ao paladar; tu me puseste no pó da morte."

Tendo sofrido pelo espancamento e pelas chicotadas, Jesus

sofreu de severa hipovolemia pela perda de sangue. Os versos acima

descrevem Seu estado desidratado e a perda de Sua força.

Quando a cruz era erguida verticalmente, havia uma

tremenda tensão posta sobre os pulsos, braços e ombros, resultando

num deslocamento dos ombros e juntas dos cotovelos.(Metherall) Os

braços, sendo preso para cima e para fora, prendendo a caixa torácica

numa fixa posição final inspiratória na qual dificulta extremamente o

exalar, e impossibilitava ter completa inspiração do ar. A vítima

poderia apenas ter pequenas respiradas.(Isto talvez explique o porque

Jesus fez pequenas declarações enquanto estava na cruz). Enquanto o

tempo passava, os músculos, pela perda de sangue, falta de oxigênio e

posição fixa do corpo, passariam por severas cãibras e contrações

espasmódicas.

239


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

ABANDONADO POR DEUS -- MORTE

ESPIRITUAL

Mateus 27:46: "Cerca da hora nona, bradou Jesus em alta

voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu,

por que me desamparaste?"

O que o Rei dos reis estava fazendo ali? Não é tão simples

assim responder. A cruz revela uma doutrina difícil e gloriosa: a

expiação. Cristo pagou o preço pelos nossos pecados. Cristo cobriu

os nossos pecados com seu sangue. Ele nos expiou, e isso deve ser

motivo de grande alegria, gratidão e temor. Wayne Grudem define

dessa maneira.

A expiação é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte

para obter nossa salvação. (Grudem, 2007, pag 271)

Mesmo que o ápice ou maior símbolo desta doutrina esteja

na cruz, é importante lembrar que a vida justa e sofrida de Jesus

também contribui de forma indispensável para nossa salvação.

Falaremos mais disso no próximo artigo. Sendo assim, aquela

pergunta continua: o que o Rei dos reis estava fazendo ali? Ou

melhor, não haveria outra pessoa ou outro jeito para nossa salvação?

Responderemos que não, mas antes precisamos dar uma olhada em

outros tipos de resposta.

240


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

22º A Morte de Cristo

“Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo

sofrer, e, embora o Senhor faça da vida dele uma oferta pela

culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do

Senhor prosperará em sua mão.” Isaías 53:10

QUE miríades de olhos estão lançando seus olhares para o

sol! Que multidão de homens levantou seus olhos e observou as

órbitas estelares do Céu! Elas são constantemente observadas por

milhares – mas existe uma grande transação na história do mundo a

qual merece todos os dias muito mais espectadores do que aquele sol

que sai como um noivo, forte para iniciar sua corrida. Há um evento

que atrai, todos os dias, muito mais admiração do que o sol, a lua e as

estrelas conseguem, quando marcham em seus percursos. Esse

evento é a morte do nosso Senhor Jesus Cristo – a isto os olhos de

todos os santos que viveramantes da era Cristã sempre estiveram

direcionados – e para trás, através dos milhares de anos de história,

os olhos de todos os santos olham para ela! Os anjos no Céu olham

constantemente para Cristo. “Coisas que até os anjos anseiam

observar,”(1 Pedro 1.12) disse o Apóstolo. Em Cristo os inumeráveis

olhares dos redimidos estão fixados. E milhares de peregrinos, por

esse mundo de lágrimas, não têm objeto melhor para sua fé, nem

desejo melhor para sua visão do que ver Cristo enquanto ele está no

Céu e em comunhão para observar a Sua Pessoa! Amados, teremos

muitos conosco enquanto, nesta manhã, voltarmos a nossa face para

o monte do Calvário. Não seremos espectadores solitários da

temerosa tragédia da morte do nosso Salvador. Nós devemos lançar

nossos olhares para o lugar que é o foco da alegria e do prazer do Céu

– a Cruz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

241


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Tomando o nosso texto como guia, devemos visitar o

Calvário, esperando ter a ajuda do Espírito Santo enquanto olhamos

para Aquele que morreu na Cruz. Quero que vocês notem esta

manhã, antes de tudo, a causa da morte de Cristo – “foi da vontade

do Senhor esmagá-lo.” “Foi da vontade de Jeová esmagá-lo,” diz o

original. “E fazê-lo sofrer.” Em segundo lugar, a razão da morte de

Cristo – “O Senhor faça da vida dele uma oferta pelaculpa.” Cristo

morreu porque ele foi uma oferta pelo pecado. E depois, em terceiro

lugar, os efeitos e as consequências da morte de Cristo. “Ele verá sua

prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em

sua mão.” Venha, Espírito Sagrado, enquanto nós atentamos a falar

sobre estes temas incomparáveis!

I. PRIMEIRO, Nós temos aqui

A ORIGEM DA MORTE DE CRISTO.

“Contudo foi da vontade do Senhor esmagá- lo e fazê-lo

sofrer.” Aquele que lê a vida de Cristo como mera história, associa a

morte de Cristo com a inimizade dos judeus e com o caráter

inconstante do governador romano. Nisto ele age com justiça, pois a

morte e o pecado da morte de Cristo devem bater à porta da

humanidade.

Essa nossa corrida torna-se umdeicídio e matou o Senhor e

pregou o seu Senhor em um madeiro! Mas aquele que lê a Bíblia com

os olhos da fé – desejando descobrir os seus segredos – vê algo mais

na morte do Salvador do que a crueldade romana ou a malícia judaica.

Ele vê o decreto solene de Deus cumprido pelos homens, que foram

os ignorantes, mas instrumentos culpados de sua realização! Ele olha

para a lança e a haste romanas, para os insultos e zombarias dos

judeus, para a Fonte Sagrada, da qual todas as coisas fluem e traçam

242


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

a crucificação de Cristo ao peito da Deidade! Ele concorda com

Pedro – “Este homem lhes foi entregue por propósito determinado e

pré- conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de homens

perversos, o mataram, pregando-o na cruz.” Não devemos imputar a

Deus o pecado, mas ao mesmo tempo o fato, como todos os seus

efeitos maravilhosos na redenção do mundo, de que nós devemos

sempre traçar para a Fonte Sagrada do Amor Divino. Como faz o

nosso Profeta. Ele disse, “foi da vontade de Jeová esmagá-lo.” Ele

despreza tanto Pilatos quanto Herodes, e traça para o Pai celestial, a

primeira pessoa na Divina Trindade - “Foi da vontade do Senhor

esmagá-lo e fazê-lo sofrer.”

Agora, Amados, há muitos que pensam que o Deus Pai não

é nada além de um espectador indiferente da salvação. Outros O

difamam ainda mais. Olham para Ele como um Ser sem amor,

severo, que não teve nenhum amor para com a humanidade e que só

poderia se tornar amável através da morte e das agonias de nosso

Salvador. Isso é uma difamação suja com a Graça justa e gloriosa do

Deus Pai, a quem devemos sempre dar honra – pois Jesus Cristo não

morreu para tornar Deus amável

– Ele morreu porque Deusera amável! –

“Não foi para fazer o amor de Jeová, Ao redor

de Seu povo arder, Que Jesus do Trono acima, Um

homem sofredor se tornou.

Não foi a morte que Ele suportou, Nem todas

as dores que Ele suportou, Que o amor eterno de Deus

procurou, Pois Deus era amor antes.”

243


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Cristo foi enviado ao mundo pelo Seu Pai com

consequência da afeição do Pai pelo seu povo. Sim, Ele “amou o

mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo

aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)

O fato é que o Pai decretou tanto a salvação, como tanto a efetuou, e

deleitou-se tanto nela quanto o fez o Deus Filho e o Deus Espírito

Santo! E quando nós falamos do Salvador do mundo, devemos

sempre incluir nessa palavra, se falarmos em sentido amplo, Deus Pai,

Deus Filho e Deus Espírito Santo – pois todos esses Três, como um

só Deus, nos salvam de nossos pecados!

O texto tira todo o pensamento pesado sobre o Pai ao dizer

que foi da vontade de Jeová esmagar Jesus Cristo. A morte de Cristo

leva ao Deus Pai! Vamos tentar ver isso.

1) Primeiramente, ela leva a um decreto. Deus, o

único Deus do Céu e da Terra, tem o Livro do Destino inteiramente

em Seu poder. Neste livro não há nada escrito pelas mãos de um

estranho. A caligrafia do solene Livro da Predestinação é, do começo

ao fim, inteiramente Divina.

“Acorrentado a Seu trono está um volume,Com

todos os destinos dos homens-Com todas as formas e

tamanhos de anjos Feitos pela pena eterna”

Nenhuma mão inferior esboçou sequer a mínima parte da

Providência. Ela foi toda, do seu Alpha, ao seu Ômega, do seu

prefácio Divino, ao seu final solene, marcada, projetada, esboçada e

planejada pela mente do Sábio, Onisciente Deus. Portanto, nem

mesmo a morte de Cristo está isenta disso! Aquele que levanta um

anjo e guia um pardal; Ele que impede que os nossos cabelos caiam

de nossas cabeças prematuramente, quando Ele se preocupa com

coisas tão pequenas, para omitir em Seus solenes decretos a maior

244


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

maravilha dos milagres da terra – a morte de Cristo! Não, a página

daquele Livro manchada de sangue, a página que faz tanto o passado

quanto o futuro serem gloriosos com palavras de ouro – essa página

manchada de sangue, eu digo - foi mais escrita por Jeová do que

por qualquer outro! Ele determinou que Cristo deveria nascer da

Virgem Maria, que Ele deveria sofrer sob Pôncio Pilatos, que Ele

deveria descer ao Hades, que da morte Ele deveria ressuscitar,

levando cativo o cativeiro e em seguida reinar para sempre à direita

da Majestade, nas alturas!

Não, eu não sei nada além de que terei a Escritura para a

minha justificação quando eu digo que essa é a verdadeira véspera da

Predestinação e que a morte de Cristo é o verdadeiro centro e a mola

principal pela qual Deus formou todos os Seus outros decretos –

fazendo disso a essência e a pedra fundamental sobre a qual a

arquitetura sagrada deveria ser construída! Cristo foi posto à morte

pelo decreto previsto e solene de Deus Pais, e neste sentido, “foi da

vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer.”

2) Mas um pouco mais adiante – a vinda de Cristo ao

mundo para morrer foi o efeito da vontade e do prazer do Pai. Cristo

não veio a este mundo por acaso. Ele se deitou no coração de Jeová

diante de todos os mundos, eternamente deleitando- Se em Seu Pai e

ser, Ele mesmo, a eterna alegria de Seu Pai. “Na plenitude dos

tempos” (Efésios 1.10) Deus tirou o Seu filho de Seu seio, o Seu

Filho unigênito, e livremente O enviou para nós. Este foi

incomparável, inigualável amor, - que o Juiz permitiu que o Seu

Filho sofresse as dores da morte para a redenção de um povo rebelde!

Eu quero a imaginação de vocês para criar uma cena dos tempos

antigos.

Há um Patriarca barbudo que acorda de manhã cedo e

acorda o seu filho, um jovem cheio de força, e ordena que ele levante

245


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

e o siga. Eles saem de casa sem fazer nenhum barulho, antes que a

mãe acorde. Eles partem numa jornada de três dias com os seus

homens até chegarem ao monte sobre o qual o Senhor havia falado.

Vocês conhecem o Patriarca. O nome de Abraão está sempre fresco

em nossa memória. No caminho, esse Patriarca não troca uma só

palavra com o seu filho. Seu coração está muito cheio para falar. Ele

está sobrecarregado pela tristeza. Deus havia mandado que ele

tomasse o seu filho, seu único filho, e mata-lo na montanha como um

sacrifício. Eles vão juntos. E quem pode imaginar a imensurável

angústia da alma desse pai, enquanto ele anda lado a lado com o seu

filho amado, de quem ele será o executor? O terceiro dia chegou. Os

servos são ordenados para ficar no sopé da montanha, enquanto eles

vão subindo para adorar a Deus.

Agora, pode alguma mente imaginar como o sofrimento

desse pai supera todas as margens de sua alma, quando, enquanto ele

subia, o seu filho disse, “As brasas e a lenha estão aqui, mas onde está

o cordeiro para o holocausto?” Você pode imaginar como ele

sufocou suas emoções e, com soluços, exclamou, “Deus mesmo há

de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho”?

Vejam! O pai comunicou ao seu filho o fato de que Deus

demandara a sua vida! Isaque, que poderia ter lutado e escapado de

seu pai, declara que ele deseja morrer se Deu havia decretado isso. O

pai toma o seu filho, prende suas mãos atrás de suas costas, ajunta

as pedras, constrói um altar, deita a lenha e tem o seu fogo pronto. E

agora onde está o artista que pode pintar a angústia da contenção do

pai, quando a faca está desembainhada e ele a segura – pronto para

matar o seu filho?

Mas aqui a cortina cai. Agora a cena escura desaparece com

o som de uma Voz dos Céus! O carneiro preso nos arbustos serve

como substituto e a Obediência da fé não precisa ir mais longe. Ah,

246


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

meus Irmãos e Irmãs. Eu quero tirar vocês dessa cena e levar a uma

muito maior. O que a fé e a obediência fizeram o homem fazer, esse

amor obrigou Deus, Ele mesmo, a fazer! Ele tinha apenas um Filho,

aquele Filho que era o deleite de Seu próprio coração.

Ele convencionou a levar o Seu filho para a nossa redenção,

para que Ele não quebrasse a Sua promessa, pois quando a plenitude

dos tempos chegou, Ele enviou o Seu Filho para nascer da Virgem

Maria e sofrer pelos pecados dos homens! Oh, você pode imaginar a

grandeza desse amor, que fez o Deus eterno não apenas colocar o Seu

Filho sobre o altar, mas realmente cumprir o que estava escrito e

trespassar a faca sacrifical no coração de Seu Filho? Você pode pensar

em quão esmagador deve ter sido o amor de Deus para com a raça

humana quando Ele completou em ato o que Abraão fez apenas em

intenção? Olhe e veja o lugar onde o Seu único Filho morreu na Cruz

– a Vítima sangrenta da Justiça desperta! Isso é amor de fato! E aqui

nós vemos como foi da vontade do Pai esmagá-Lo.

3) Isso me permite pressionar meu texto mais um

passo adiante. Amados, não é apenas verdade que Deus tenha

projetado e permitido com complacência a morte de Cristo –é mais

verdade ainda que as imensuráveis agonias que vestiram a morte do

Salvador com terror sobre- humano foram o efeito do pugilismo do

Pai de Cristo de fato! Há um mártir na prisão – as correntes estão

em seus pulsos e ainda assim ele canta. Foi anunciado a ele que

amanhã será o dia da sua sentença. Ele bate as suas mãos alegremente

e sorri, enquanto diz, “Amanhã será o trabalho cortante. Irei me

alimentar sobre as tribulações de fogo, mas depois eu cearei com

Cristo! Amanhã é o dia do meu casamento, o dia pelo qual eu há

muito esperava – quando eu assinarei o testamento da minha vida por

uma morte gloriosa.”

247


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A hora chegou. O homem com as alabardas o precede pelas

ruas. Note a serenidade no semblante do mártir! Ele vira para alguns

que olham para ele e exclamam, “Eu valorizo estas correntes de ferro

muito mais do que se fossem de ouro! É maravilhoso morrer por

Cristo!”

Existem alguns dos santos mais ousados recolhidos ao

redor da estaca, e enquanto ele tira a suas vestes, antes de se colocar

em frente ao fogo para receber a sua sentença, ele os diz que é algo

tremendo ser um soldado de Cristo – poder dar o seu corpo para ser

queimado. E ele acena com as mãos para eles e diz “Adeus,” com

alegre satisfação! Alguém poderia pensar que ele estava indo para o

seu casamento, e não indo ser queimado. Ele fica diante do fogo.

A corrente é colocada em seu meio. E depois de uma breve

palavra de oração, assim que o fogo começa a ascender, ele fala com

as pessoas com audácia viril. Mas ouçam! Ele canta enquanto a

madeira estala e a fumaça sobe. Ele canta e quando suas partes baixas

estão queimadas, ele continua cantando docemente algum Salmo

antigo. “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre

presente na adversidade. Por isso não temeremos, embora a terra

trema e os montes afundem no coração do mar.”

Imaginem outra cena. Lá está o Salvador indo para a Sua

Cruz, totalmente fraco e abatido com o sofrimento. Sua alma está

doente e triste com Ele. Não há Calma Divina ali. Seu coração está

tão triste que Ele desmaia nas ruas. O Filho de Deus desmaia sob

uma Cruz que muitos criminosos devem ter carregado. Eles O

pregam na cruz. Não há nenhuma canção de louvor. Ele é erguido no

ar e lá Ele permanece suspenso, preparando-se para a Sua morte.

Você não ouve nenhum grito de exultação. Há uma compressão

severa em Sua face, como se uma agonia indizível estivesse

arrancando o Seu coração – como se mais uma vez o Getsêmani

248


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

estivesse acontecendo na Cruz – como se a Sua alma ainda dissesse,

“Meu Pai, se for possível, afasta de mim esta Cruz; contudo, não seja

como eu quero, mas sim como tu queres” (Mateus 26.39) Ouçam! Ele

fala. Ele não vai cantar as mais doces canções que já vieram dos

lábios do mártir? Ah, não – é um terrível gemido de desgraça que

jamais poderá ser imitado. “Meu Deus! Meu Deus! Por que me

abandonaste?” (Marcos 15.34) Os mártires não disseram que –

Deusestava com eles.

Antigos confessos não choraram tanto quando viram a

morrer. Eles gritaram enquanto queimavam e louvaram a Deus em

seu suplício. Por que isto? Por que o Salvador sofreu tanto? Por que,

Amados, porque foi da vontade do Pai esmagá-lo! Esse brilho da

Face de Deus que havia alegrado muitos santos a morrer foi tirado de

Cristo! A consciência da aceitação com

Deus, a qual havia feito muitos homens santos receberem a

Cruz com alegria – não foi concedida ao nosso Redentor e, portanto,

Ele sofreu em densa escuridão de agonia mental. Leia o Salmo 22 e

aprenda o quanto Jesus sofreu. Pausem nas solenes palavras do 1º, 2º,

6º e seguintes versículos. Sob a Igreja estão os braços eternos. Mas

sob Cristo não havia braço algum! A mão de Seu Pai colocou-se

pesadamente sobre Ele. As pedras superiores e inferiores da Ira

Divina O pressionaram e O esmagaram. E nem uma gota de alegria

ou consolação foi concedida a Ele. “Foi da vontade de Jeová esmagálo

e fazê-lo sofrer.” Isto, meus Irmãos e Irmãs, foi o clímax da aflição

do Salvador – que o Seu Pai virou-se Dele e O fez sofrer.

Assim eu expus a primeira parte do assunto – a origem

do pior sofrimento de nosso Salvador, o prazer do Pai.

II. Nosso segundo tópico deve explicar o primeiro, caso

contrário, seria um mistério insolúvel saber como Deus pôde fazer o

249


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Seu filho sofrer – o qual era perfeitamente Inocente – enquanto

pobres falhos confessos e mártires não tiveram tal sofrimento vindo

Dele no momento de suas tribulações.

QUAL FOI A RAZÃO DO SOFRIMENTO DO

SALVADOR?

A nós é dito aqui, “o Senhor faça da vida dele uma oferta

pela culpa.” Cristo foi assim perturbado porque a Sua alma foi uma

oferta pelo pecado. Agora eu serei o mais simples que eu conseguir

enquanto eu prego a preciosa Doutrina da Expiação de Cristo Jesus

nosso Senhor. Cristo foi uma Oferta pelo pecado, no sentido de ser

um Substituto. Deus queria salvar. Mas se tal palavra for permitida, a

Justiça atou Suas mãos. “Eu devo ser Justo,” disse Deus. “Essa é uma

necessidade da Minha Natureza. Firme como o destino e rápido

como a Imutabilidade é Verdade que eu devo ser Justo. Mas o Meu

coração deseja perdoar – para passar pelas transgressões dos homens

e perdoá-los. Como isso pode ser feito?”

A sabedoria chegou e disse, “Assim deverá ser feito.” E o

Amor concordou com a Sabedoria. “Cristo Jesus, o Filho de Deus,

deve ficar no lugar do homem e ser ofertado no Monte do Calvário

no lugar do homem.” Agora, notem – quando vocês veem Cristo

sendo lançado na Cruz de madeira, você vê toda a companhia de Seus

eleitos ali! E quando vocês veem os pregos cravados em Suas

benditas mãos e seus pés, é todo o corpo da Sua Igreja que está lá, no

seu Substituto, cravado na madeira! E agora os soldados levantam a

Cruz e a colocam no suporte preparado para isso.

Seus ossos estão, cada um deles, deslocados e Seu corpo está

tão despedaçado de agonias que não se pode nem descrever! Esse

homem sofrendo ali! Ali está a Igreja sofrendo no Substituto! E

250


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

quando Cristo morre, você deve olhar para a Sua morte não como a

Sua própria morte, mas como a morte de todos aqueles por quem Ele

foi o Bode expiatório e o Substituto! É verdade, Cristo realmente

morreu. É igualmente verdade que Ele não morreu por Si mesmo,

mas como o Substituto, no lugar de todos os crentes. Quando vocês

morrerem, vão morrer por si próprios. Quando Cristo morreu, Ele

morreu por vocês, se vocês são crentes Nele! Quando vocês passem

pelos portões da sepultura, vocês vão solitários e sozinhos. Vocês não

são representantes de um corpo de homens – vocês passam pelos

portões da morte como indivíduos – mas, lembrem, quando Cristo

passou pelos sofrimentos da morte, Ele foi a Cabeça representativa de

todo o Seu povo!

Entendam, então, o significado no qual Cristo foi feito

Sacrifício pelo pecado. E aqui está a glória dessa questão – foi como

um Substituto pelo pecado que Ele realmente e literalmente sofreu a

punição pelos pecados de todos os Seus eleitos! Quando eu digo isto,

eu não estou usando uma figura de linguagem ou algo do tipo, mas eu

realmente quero dizer isto. O homem, pelos seus pecados, foi

condenado ao fogo eterno.

Quando Deus tomou Cristo para ser o Substituto, é

verdade, Ele não enviou Cristo ao fogo eterno, mas derramou dor

sobre Ele uma dor tão desesperadora que foi um pagamento válido

até para uma eternidade em chamas! O homem foi condenado a

viver para sempre no Inferno. Deus não enviou Cristo para ficar no

Inferno para sempre. Mas Ele colocou em Cristo uma punição que

foi equivalente a isso. Embora Ele não tenha dado a Cristo o

verdadeiro Inferno dos crentes, deu a Ele uma retribuição igual –

algo que foi equivalente a isso! Ele tomou a taça da agonia de Cristo

e colocou nela – sofrimento, miséria e angústia – tais que só Deus

pode imaginar ou sonhar a respeito, que foram o equivalente a todo

o sofrimento, toda a aflição e todas as torturas eternas de todos que

251


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

devem ir ao Céu, comprados pelo sangue de Cristo! E você pergunta,

“Cristo bebeu tudo isso por sua escória? Ele sofreu tanto assim?”

Sim, meus Irmãos e Irmãs, Ele tomou o cálice e

“Em um triunfante gole de amor, Ele bebeu

toda a condenação.”

Ele sofreu todos os horrores do Inferno uma saraivada de

ferro caiu sobre ele com granizos maiores do que qualquer

capacidade. Ele permaneceu até que a nuvem negra esvaziasse

completamente. Ali estava a nossa dívida, gigante e imensa. Ele pagou

até o último centavo de qualquer coisa que o Seu povo devia! E agora

não há mais nenhum centavo devido à Justiça de Deus no caminho da

punição de qualquer cristão! E embora nós devamos gratidão a Deus,

embora devamos muito ao Seu amor– nós não devemosnada a

Sua Justiça, pois Cristo, naquela hora, tomou todos os nossos

pecados – passado, presente e porvir e foi punido por todos eles –

não devemos jamais ser punidos porque Ele sofreu no nosso lugar!

Vocês conseguem ver, agora, como foi que o Deus Pai O esmagou?

Se ele não tivesse feito isso, as agonias de Cristo não

poderiam ser um equivalente aos nossos sofrimentos. O Inferno

consiste na ocultação da face de Deus dos pecadores e se Deus não

tivesse escondido a Sua face de Cristo, Cristo não poderia – eu não

vejo como Ele poderia – ter suportado qualquer sofrimento que

poderia ter sido aceito como equivalente às aflições e agonias de Seu

povo!

Eu acho que ouvi alguém dizer, “Você quer que nós

entendamos esta Expiação que você nos pregou agora como um fato

literal? Eu digo, mais que solenemente, que sim! Existem no mundo

várias teorias sobre a expiação – mas eu não consigo ver em nenhuma

delas alguma Expiação, a não ser nessa Doutrina da Substituição.

252


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Muitos teólogos dizem que Cristo fez algo quando morreu, que

permitiu que Deus fosse justo e ainda Justificador dos ímpios. O

que foi esse algo eles não dizem para nós. Eles acreditam numa

expiação feita para todos. Mas, no fim, a expiação deles é apenas isto

– eles acreditam que Judas foi tão reparado quando Pedro – eles

acreditam que os condenados no Inferno foram um objeto da

satisfação de Jesus Cristo tanto quanto os salvos no Céu! E embora

eles não digam isso com todas as palavras, eles ainda querem dizer

isto – pois isto é uma inferência justa, que, no caso das multidões,

Cristo morreu em vão – pois

Ele morreu por todos, eles dizem. E foi tão sem efeito a Sua

morte por eles, que embora Ele tenha morrido por eles, eles serão

todos condenados depois! Agora, tal expiação, eu desprezo – eu

rejeito! Posso ser chamado de Contra a Lei, ou Calvinista por pregar

uma Expiação Limitada, mas eu prefiro acreditar numa Expiação

Limitada que é eficaz para todos a quem ela foi destinada, a acreditar

numa expiação universal que não é eficaz para ninguém, a não ser que

a vontade do homem esteja de acordo com ela! Porque, meus Irmãos

e Irmãs, se nós fôssemos salvos apenas para que através da morte de

Cristo qualquer um de nós pudesse se salvar depois, a Expiação de

Cristo não valeria um centavo, pois não há nenhum dentre nós que

possa se salvar – não, ninguém no Evangelho! Se eu serei salvo pela

fé – se essa fé for o meu próprio ato, sem a assistência do Espírito

Santo, - eu serei tão incapaz de me salvar pela fé quanto de me salvar

pelas boas obras! E depois de tudo, embora os homens chamem isto

de Expiação Limitada, isto é tão eficaz quanto as suas redenções

falaciosas e apodrecidas pretendem ser! Mas vocês conhecem o limite

dela? Cristo comprou uma“multidão que homem nenhum pode

contar.” O seu limite é apenas esse –Ele morreu por pecadores.

Qualquer um nesta congregação que se reconhece,

interiormente e tristemente, como um pecador, Cristo morreu por

253


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

ele! Qualquer um que deseja Cristo deve saber que Cristo morreu por

ele! Nosso senso de necessidade de Cristo e nossa busca por Cristo

são provas infalíveis de que Cristo morreu por nós! E notem, aqui

está algo substancial – os Armínianos dizem que Cristo morreu por

eles. E depois, pobres homens, eles não têm nada além de um

pequeno consolo, pois eles dizem, “Ah, Cristo morreu por mim –

isso não prova muita coisa. Isso apenas prova que eu serei salvo se

me importar com o que serei depois. Eu posso, talvez, me esquecer

de mim. Talvez eu corra para o pecado e pereça. Cristo fez um bom

negócio por mim mas não o bastante – a não ser que eu faça algo.”

Mas o homem que recebe a Bíblia como ela é, diz, “Cristo

morreu por mim, então a minha vida eterna está garantida! Eu sei,”

ele diz, “que Cristo não pode ser punido no lugar de um homem e o

homem ser punido depois disso. Não,” ele diz, “eu creio em um

Deus justo, e se Deus é Justo, Ele não vai punir Cristo

primeiro, e depois punir os homens. Não – o meu Salvador morreu e

agora eu estou livre de qualquer exigência da vingança de Deus e

posso caminhar por esse mundo em segurança. Nenhum raio pode

me atingir, e eu posso morrer absolutamente certo de que para mim

não haverá fogo nenhum do Inferno, pois Cristo, meu Resgate,

sofreu em meu lugar, e, portanto, eu estou liberto!” Oh, Doutrina

Gloriosa! Eu gostaria de morrer pregando isso! Que melhor

testemunho podemos carregar com o amor e a fidelidade de Deus, do

que o testemunho de um Substituto eminentemente satisfatório para

todos os que creem em Cristo?

Eu vou citar aqui o testemunho desse profundo teólogo, Dr.

John Owen – “A Redenção é o livramento de um homem da miséria

através da intervenção de um libertador. Agora, quando um libertador

é pago para salvar um prisioneiro, a justiça não demanda que ele deve

ter e aproveitar a liberdade comprada por ele com uma consideração

254


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

valiosa? Se eu pudesse pagar mil libras pela liberdade de um homem

da escravidão para aquele que o detém – quem tem o poder de

libertá-lo e está contente com o preço que eu dei – não seria injusto

para mim e para o pobre prisioneiro que a sua libertação não fosse

concretizada? Pode, possivelmente, ser concebida a ideia de que

existisse uma redenção aos homens, e os homens não fossem

redimidos? Que um preço fosse pago e a compra não fosse

consumada? Além disso tudo, ainda haveria verdadeiros e

inumeráveis absurdos, se a redenção universal fosse aceita. Um preço

é pago por todos, porém apenas alguns são libertos.

A redenção de todos consumada, e ainda assim só alguns

são redimidos? O juiz satisfeito, o carcereiro dominado, e os

prisioneiros ainda na prisão? Sem dúvida,redenção‟ „universal‟, onde

grande parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis quanto

„Romano‟ e „Católico.‟ Se há uma redenção universal, então todos

os homens estão redimidos! Se eles estão redimidos, então eles estão

livres de toda a miséria, virtual ou realmente, onde quer que

tenham sido aprisionados, e isso pela intervenção de um libertador.

Por que, então, não são todos salvos? Em uma palavra – a redenção

feita por Cristo, sendo a libertação completa das pessoas de toda a

miséria, em que foram enlaçadas, pelo preço do Seu sangue – não

pode ser concebida comouniversal, a não ser que todos sejam salvos!

Então a opinião dos Universalistas não serve para a redenção.”

Eu paro mais uma vez, pois eu ouço uma alma tímida dizer

– “Mas, Senhor, eu tenho medo de não ser um eleito e, se assim for,

Cristo não morreu por mim.” Pare, Senhor! Você é um pecador?

Você sente isso? O Espírito Santo de Deus fez você se sentir um

pecador perdido? Você precisa da salvação? Se você não precisa dela,

não há dúvidas de que ela não foi prometida para você. Mas se você

realmente sente que precisa dela, você é eleito de Deus! Se você tem

o desejo de ser salvo, um desejo dado a você através do Espírito

255


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Santo, esse desejo é um sinal para o bem. Se você tem orado

verdadeiramente pela salvação, você tem aí uma clara evidência de

que você é salvo! Cristo foi punido por você. E se você sabe disso,

você pode dizer

“Nada em minhas mãos eu trago

Simplesmente à Tua Cruz eu me apego”

Você deve ter tanta certeza de que é eleito de Deus quanto

tem de sua própria existência! Esta é a prova Infalível da Eleição –

um senso de necessidade e uma sede de Cristo!

III. E agora eu tenho apenas que concluir

considerando os BENDITOS EFEITOS da morte do Salvador.

Nisto eu serei breve.

O primeiro efeito da morte do Salvador é, “ele verá sua

descendência.” Os homens serão salvos por Cristo. Os homens têm

uma descendência pela vida. Cristo tem uma descendência pela morte!

Homens morrem e deixam seus filhos e não veem a sua

descendência. Cristo vive e todos os dias vê a sua descendência posta

na unidade da fé! Um efeito da morte de Cristo é a salvação de

multidões. Notem – não é uma salvação de chance. Quando Cristo

morreu, o anjo não disse, como alguns o tem representado, “Agora

pela Sua morte, muitos deverão ser salvos.” A palavra da profecia

extinguiu todos os “mas” e “talvez”.

“Pela Sua justiça, muitos serão justificados.” Não havia nem

um átomo de chance na morte do Salvador! Cristo sabia o que estava

comprando quando morreu – e o que Ele comprou, Ele terá – nada

mais, nada menos! Não efeito na morte de Cristo propensa a um

“talvez”. O “será” fez logo a Aliança! A morte sangrenta de Cristo

256


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

iráefetuar o seu propósito solene. Cada herdeiro da Graça Divina irá

encontrar no Trono

“Irá bendizer as maravilhas de Sua Graça, E

tornar as Suas glórias conhecidas.”

O segundo efeito da morte de Cristo é, “Ele prolongará seus

dias.” Sim, bendito seja o Seu nome, quando Ele morreu, Ele não

acabou com a Sua vida! Ele não poderia ser como um prisioneiro no

túmulo. O terceiro dia chegou e o Conquistador, levantando de Seu

sono, desatou os grilhões da morte e saiu de Sua prisão, para não

mais morrer. Ele esperou os Seus 40 dias e depois com hinos

sagrados, Ele “levou cativo o cativeiro e subiu ao alto.” “Pois, quanto

a ter morrido, morreu de uma vez para o pecado; mas, quanto a viver,

vive para Deus,” (Romanos 6.10) para não mais morrer –

“Agora ao lado de Seu Pai Ele assenta, E ali triunfante

reina,”

O vencedor sobre a morte e o Inferno!

E, por fim, pela morte de Cristo o prazer do Pai foi efetuado

e próspero. O prazer de Deus é que este mundo será um dia

totalmente redimido do pecado. O prazer de Deus é que este pobre

planeta, há tanto tempo mergulhado em escuridão, irá em breve

brilhar como um sol nascente. A morte de Cristo fez isso! O ribeiro

que fluiu ao Seu lado no Calvário limpará o mundo de toda a sua

escuridão. Essa hora de escuridão no meio do dia foi o nascer de um

novo sol de justiça que nunca cessará de brilhar sobre a Terra. Sim,

está chegando a hora em que espadas e lanças serão coisas esquecidas

– quando as armaduras da guerra e o esplendor da pompa serão todos

257


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

deixados de lado para alimentar as minhocas ou para contemplação

dos curiosos.

É próxima a hora em que a antiga Roma tremerá sobre suas

sete colinas! Quando o emblema de Maomé não mais será reduzido à

cera – quando todos os deuses dos pagãos perderão os seus tronos e

serão atirados às toupeiras e aos morcegos! E depois, do Equador aos

Polos, Cristo será honrado, o Senhor supremo da Terra, de terra a

terra, do rio até o fim do mundo! Um Rei irá reinar, um grito será

levantado, “Aleluia, aleluia, o Senhor Deus Onipotente reina!” Então,

meus Irmãos e Irmãs, será visto o que a morte de Cristo realizou, pois

“a vontade do Senhor prosperará em sua mão.”

A COMPREENSÃO DA MORTE DE JESUS NA

IGREJA PRIMITIVA

A morte de Jesus, no Novo Testamento, é interpretada de

muitas maneiras. Os diversos personagens, no Novo Testamento, que

falam da morte de Jesus têm visões diferentes. A interpretação

diverge de acordo com o ambiente, o contexto e o tempo. A

compreensão mais comum é a de que Jesus morreu pelos nossos

pecados (Mc 10,45; Gl 1,4). Porém, esta é uma teologia pós-pascal e

bastante desenvolvida. Veremos, no entanto, que existem outras

formas de entender a morte de Jesus.

1 – O dilema da morte de Jesus

Peter Stuhlmacher julga que a teologia sobre a morte de

Jesus como resgate dos pecadores (Mc 10,45; Lc 22,20) venha

diretamente da boca de Jesus histórico. O mesmo teólogo supõe que

258


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Jesus entendia sua morte à luz do Antigo Testamento e que os

discípulos apenas lembraram as palavras do mestre depois da

ressurreição.

“Os passos dos evangelhos e das cartas que falam da morte

vicária de Jesus e de sua obra expiatória são incontestavelmente

anteriores a todo trabalho de explicação teológica e constituem o

critério a respeito do qual podemos e devemos examinar em sua

conformidade as ex- pressões da Escritura sobre a morte de

Jesus”.No entanto, esta teoria não parece exeqüível. R. Bultmann

julga ser a teologia do resgate um trabalho das comunidades póspascais

ou mesmo do redator final. Os primeiros discípulos não

entenderam a morte de Jesus. Fugiram. Sua fé entra em crise.

Consideraram tudo perdido. Voltaram à Galiléia, isto é, à antiga

atividade (Jo 21,1-4; Lc 24,13ss).

Este abandono de Jerusalém significa que tinham desistido

da causa de Jesus e de sua esperança. A morte provocou uma terrível

crise no discipulado. No en- tanto, esta derrota do Messias foi o

desafio que reverteu a postura dos discípulos e despertou uma nova

compreensão dos fatos. O judaísmo não esperava a morte do seu

esperado messias. No Targum, chegou- se até a apagar as referências

ao sofrimento do Servo de Is 53, por isto os discípulos Também não

conseguiram entender tal aconteci- mento.

“Os discípulos de Jesus não poderiam estar preparados para

esta morte a partir das tradições religiosas nas quais viviam, pois um

messias sofredor ou até um que morresse para a salvação do mundo

não estava previsto no Antigo Testamento nem na expectativa judaica

contemporânea. Certamente havia a expectativa para um messias, mas

este era um messias político e nacionalista, que libertaria Israel do

jugo da dominação estrangeira”.

259


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Devido a esta perspectiva, da qual os discípulos também

participavam, e diante do inevitável e absurdo fracasso da cruz, a

primeira comunidade cristã fez um esforço para provar que o

sofrimento de Jesus estava previsto nas Escrituras. Assim recorrem a

Is 43,3b-4; 53,10-12, etc. para explicar o que aconteceu ao seu mestre.

A experiência do ressuscitado trouxe aos discípulos nova luz e força

para fundamentar sua fé. “A ressurreição de Jesus lhes assegura: de

fato é ele mesmo! É ele mesmo o salvador espera- do e dado por

Deus, a despeito de toda rejeição e condenação e até mesmo dessa

morte injuriosa”.

Professando a ressurreição, os discípulos interpretam a

morte de seu mestre, não como um fracasso, mas de acordo com os

desígnios de Deus. Para isto valem-se de uma cosmovisão do

judaísmo sobre o resgate e sobre a expiação vicária. No entanto, nem

todos os discípulos tiveram a possibilidade de entender a morte de

Jesus assim. Alguns apelaram para evasivas, negando a realidade

material de Jesus (gnose, docetismo, etc.).

Desta forma se evitava confrontar o escândalo da cruz com

a realidade. Outros não apelaram para estes subterfúgios, mas

deixaram a morte de Jesus sem sentido. Muitos textos dos Atos dos

Apóstolos apenas vêem na morte de Jesus um acontecimento do

passado, corrigido por Deus pela ressurreição (At 2,23-24; 3,13ss;

4,10; 5,30; 10,39; 13,27ss). Também em Lc 24,26 a morte de Jesus é

apenas um estágio passageiro, mas não parece ter significado para o

presente. E mesmo a versão lucana de Mc 10, 45 que se encontra em

Lc 22,24- 27 não fala da morte de Jesus como resgate.

“Chama a atenção a pouca importância da morte de Jesus

em alguns hinos cristãos antigos, os quais pelo visto só estavam

interessados na preexistência, encarnação e exaltação de Cristo para a

glória. No hino de seis linhas de 1Tm 3,16, que aborda desde a

encarnação até a exalta- ção de Cristo, a sua morte nem mesmo é

mencionada”.

260


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Os hinos cristológicos de Fl 2,6-11 e Cl 1,15-20 a morte de

Jesus não tem um peso significativo.Apenas é citada, e isto,

provavelmente é um acréscimo do redator final. Simplesmente nestes

hinos a morte de Jesus é um fato constatado, mas sem mai- or

importância para a vida da comunidade de fé. A morte de Jesus era

um aconteci- mento sem significado específico. O texto de Rm 10,9,

visto como uma forma antiga, apenas destaca a ressurreição. Outro

fato que chama a atenção é que os ditos ou sentenças da fonte Q, não

contêm a história da paixão e da morte, nem tampouco alguma

interpretação soteriológica da morte de Jesus.

Os adversários de Paulo parecem também ter esquecido a

cruz de Cristo (2Cor11,4s; 13,3s; Fl 3,10ss; 1Cor 1,18ss). Só queriam

anunciar o maravilhoso em Jesus. Talvez o mesmo se possa constatar

nos cristãos da comunidade de Marcos. Eles igualmente estavam

pouco inclinados a olhar ao Jesus da cruz. Por isto mesmo o evangelista

insiste tanto na cruz de Jesus (Mc 8,31; 9,31; 10,32-34). Havia,

nos primeiros anos do cristianismo, cristãos, para os quais, a morte de

Jesus não era o centro de seu pensamento teológico. Estes grupos, ao

que parece, acabaram na marginalidade, ou mesmo na heresia ou no

cisma.

Em Lucas a paixão não tem o sentido soteriológico como

em Marcos e principalmente em Paulo. O evangelho Lucas aponta

para o tradicional chavão: “É necessário (Lc 9,22; 13,33; 17,25;

24,7.26.44-46). O mesmo se constata em At 1, 16; 3,18; 4,12; 13,27;

17,3). Em At 4,12 se diz que só há salvação em Jesus, mas não se

relaciona esta salvação à sua morte. Para Lucas há um plano

histórico salvífico, dentro do qual a morte é apenas uma faceta, ao

lado de tantas outras. Jamais em Lucas e nos Atos dos Apóstolos,

com exceção de Lc 22,19-20 e At 20,28 se encontra alguma referência

soteriológica sobre a morte de Jesus. A idéia da expiação é estranha,

tanto ao evangelho quanto aos Atos dos Apóstolos. Antes se valoriza

261


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

a idéia da ressurreição e da exaltação (At 2,33-34.36; 5,31). O

exaltado, e não o morto, oferece o perdão (Lc2,47; At 2,38; 3,19ss;

5,31).

“A morte de Jesus como evento é um acontecimento

passado. Todavia, a ressurreição, apesar de citada como evento

passado, é claramente descrita em termos de seus efeitos presentes

en- tre aqueles que crêem”.

Para Lucas, o que conta é a ressurreição, não a morte.

Mesmo ao descrever a morte com traços vivos, destacando a

inocência de Jesus, seu caráter martirial, Lucas não lhe dá o sentido

soteriológico. Se de fato Lucas é um grego, então se pode ver nisto

um motivo para não apelar para a morte expiatória e vicária, pois esta

era teologia judaica. No contexto grego de Lucas é muito mais

importante ressaltar a ressurreição, pois a morte para os gregos é

loucura (1Cor 1,23).

Da mesma forma o evangelista João, em alguns casos,

empalidece a morte de Jesus. A morte é vista como a glorificação de

Jesus (12,31; 13,31-32; 17,1-5) e não parece que haja um sentido

salvífico nesta morte. Pelo menos em alguns textos, a morte é o

retorno exitoso de Jesus ao Pai. O Jesus pintado no quarto evangelho

não é tanto o sofredor como o de Marcos. Antes, ele é majestoso até

na hora da prisão. Seus algozes caem por terra e mesmo diante de

Anás e de Caifás Jesus parece verdadeiro soberano. A justificação

parece mais ser fruto da adesão a Jesus, de sua encarnação, do que

fruto de sua morte.

Em João ideias assim expressas:

“A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus

único e verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).

Desta forma, para ter a remissão, basta conhecer o Pai e também o

262


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Filho, não se necessita de morte. Por sua vez o redator da primeira

carta de Pedro,tem forte a noção da teologia do resgate.Ele

apresenta Jesus como o cordeiro imolado (1Pd 1,18-19), que foi

morto para expiar pecados (1Pd 3,18). Também 1Pd 2,22-25 se refere

a este tema e se relaciona com Is 53. Cristo, no madeiro, levou os

pecados da humanidade.“Ele que em seu próprio corpo carregou

nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que, mortos para os nossos

pecados, vivamos para a justiça; ele, cujas chagas vos curaram” (1Pd

2,24-25). Este tema perpassa a primeira epístola de Pedro, pois ainda

em 3,19s e em 4,6 se alude à morte de Jesus como sendo fato

expiatório.Jesus, morto, vai aos infernos para resgatar os condenados.

Do que foi visto neste item, pode-se contradizer

Stuhlmacher. Se Jesus de fato tivesse entendido sua morte como

expiatória e vicária, seria difícil imaginar que os primeiros cristãos

nem sempre entenderam a morte de Jesus assim. Conclui-se aqui

que, devido à necessidade diante de um aparente fracasso na cruz, os

discípulos que experimentaram o ressuscitado tiveram que reler a

pessoa de Jesus à luz do Antigo Testamento. Assim chegaram, num

processo lento, que em alguns centros avançava mais, à teologia do

resgate e da expiação vicária.

2 – As interpretações da morte de Jesus

Na comunidade eclesial antiga, a morte de Jesus é um

escândalo. Ela é loucura para gregos e maldição para os judeus (1Cor

1,22ss). Portanto, a morte de Jesus é um fato vergonhoso e

lamentável para a igreja. Assim, um dos querigmas mais antigos,

expresso em 1Cor 15,3 diz que Cristo morreu pelos pecados dos

homens, segundo as escrituras. Desta forma, na Igreja primitiva, entre

as muitas possíveis interpretações da morte de Jesus, surge a

interpretação expiatória e vicária com base em Is 43,3b-4 e 53,10-12.

263


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Neste processo tem grande participação, o apóstolo Paulo,

bem como o redator de Hebreus. Nestes dois autores a teologia do

resgate é freqüente. Porém, antes de se chegar a esta teologia, muitas

outras interpretações marcaram as comunidades cristãs, que, aos

poucos se tornaram insuficientes e pediram teologias mais

desenvolvi- das.

a) A morte de Jesus como ato

necessário de Deus:

Diversos textos de Atos dos Apóstolos, de Marcos, de Lucas

e mesmo Paulo apontam para o fato de a morte e a ressurreição

terem sido acontecimentos necessários diante de Deus. Parece que

tudo estava determinado (At 2,23ss; 4,10; 5,30; 10,39-40; 13,27ss.). “É

Necessário que o Filho do Homem sofra” (Mc 8,31; Lc 17,25). “Será

entregue (Mc 9,31; 10,33; 14,21.41). “É necessário” (Jo3,14; 12,34;

20,8). Esta interpretação é uma tradição muito antiga. Reflete uma

necessidade divina e não uma necessidade ética.Também não se pensa

num fatalismo grego de um destino predeterminado, mas a idéia se

move no apocaliptismo, onde se verifica um misterioso “é

necessário” dos acontecimentos como se encontra em Dn 2,28:

(Mc:13,7.10; Ap 1,1; 4,1; 22,6).

Assim se dirá que a morte de Jesus se dá de acordo com as

Escrituras (1Cor 15,3; Mc 14,21.49; Mt 26,54).

justo:

b) A morte de Jesus como sofrimento do

Se era necessário que Jesus sofresse a morte, cabe uma

questão: por que o Pai exigiu tal sacrifício? Já no Antigo Testamento

existe a tradição sobre o justo que sofre. Encontra-se eco para tal

tradição nos Sl 2; 5; 22; 31; 34; 37; 69; 140. “O piedoso confia em

264


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Deus; justamente por isto ele é escarnecido pelos inimigos; após ser

reabilitado por Deus, ele oferece seu louvor”.Ao longo da história,

no judaísmo, o escândalo do sofrimento do justo experimentado

pelos piedosos desenvolveu uma mística do sofrimento (Jó e no

apocaliptismo tardio).Nesta espiritualidade o justo sofredor é

consolado e confortado por Javé. Tal tradição veterotestamentária

influenciou as comunidades cristãs primitivas a elucidar o escândalo

da cruz. Isto se constata pela presença dos salmos de sofrimento

presentes no relato da paixão. Mc 15,24 tem como pano de fundo o

Sl 22,19; Já Mc 15,29 se refere ao Sl 22,8; Enquanto que Mc 15,34 se

reporta ao Sl 22,2, etc. Assim, Jesus, o justo, devia sofrer, pois esta é a

sorte dos justos.

c) A morte de Jesus como destino do profeta:

Alguns dos profetas no Antigo Testamento tiveram sorte

pouco edificante, sendo perseguidos e até assassinados. Havia uma

tradição deuteronomista que influenciou o cristianismo primitivo e

esta dizia que Israel, desde o princípio não ouviu os profetas, os

perseguiu e os matou (Mt 5,12; 23,37; Lc 11,49-51). Também o

destino de Jesus foi lido nesta perspectiva, como o profeta rejeitado e

perseguido até a morte (Mt 12,1-12; Lc 13,33; At 7,52). Além de

apresentar Jesus como profeta, se interpreta sua morte. Ele é o

autêntico profeta que vai até a morte.

d) Morte de Jesus como expiação vicária:

A interpretação da morte de Jesus como expiação vicária

pelos pecados é uma fase teológica das mais desenvolvidas do Novo

Testamento e obteve alcance mais amplo e duradouro. É também a

interpretação mais difundida. No Novo Testamento aparece mais de

50 vezes. Os conceitos usados para expressar esta vicariedade variam,

mas sempre apresentam idéia semelhante. Em 1Jo 2,2 e 4,10

265


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

encontram-se os termos - expiação e - expiar. Paulo usa - por (Rm

5,8; 2Cor 5,21, etc).

Ou ainda - entrega por (Rm 8,32; Gl 1,4), bem como - por

(1Cor 8,11; Rm 14,15). O evangelista João traz o termo grego -

morrer por (Jo 11,51; 18,14). Também Paulo usa este termo em Rm

5,5.8. Mateus e Pedro fazem uso de - por (Mt 26,28; 1Pd 3,18),

enquanto que Marcos usa - por (Mc 10,45; Mt 20,24). Porém, a

preposição é a mais usada no Novo Testamento para designar a

morte de Jesus. Pode ter o sentido de “por”, “em favor de”, “em

benefício de”, “em lugar de”, “em vez de”, “porque”, “por causa

de”.

Há, ainda muitos textos no Novo Testamento onde não

aparece uma palavra para designar a expiação, mas onde ela é

pressuposta, principalmente quando se fala do efeito salvífico do

sangue de Jesus ( Rm 3,25; Hb 9,12.14; 1Pd1,2; 1Jo 1,7, etc.

“Portanto, a morte de Cristo é entendida aqui claramente como

sacrifício expiatório e isso então é vinculado com a ideia de resgate”.

Logo, os primeiros cristãos entendem a morte de Jesus como

expiação vicária, a partir de sua experiência, mas somente depois de

um estado avançado de desenvolvimento teológico, e isto, a partir de

uma cosmovisão veterotestamentária, principalmente a partir do

judaísmo helenista dos últimos séculos do Antigo Testamento e do

primeiro século do Novo Testamento.

e) A morte de Jesus como resgate:

Em certos textos do Novo Testamento a morte de Jesus é

interpretada como o preço do resgate, a importância paga para

adquirir a liberdade dos cativos.

266


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Os termos gregos usados neste sentido, são:

1. Resgatar, redimir (Gl 3,13; 4,5).

2. Comprar (1Cor 6,19-20; 7,22; Ap 5,9-10; 14,3-4).

3. Comprar a liberdade (Tt 2,14; 1Pd 1,18-19).

4. Resgate de escravo (Mc 10,45; M 20,24).

5. Resgate (1Tm 2,6).

6. Adquirir (At 20,28).

Na realidade a idéia de resgate é confundida com a de

expiação, e isto se verifica em Gl 3,13; 4,5; Tt 2,14.

Porém, há uma diferença. Expiação vicária significa

eliminação do pecado diante de Deus. Enquanto que resgate significa

libertação de uma pessoa de escravidão. Resgate resulta em troca de

senho- rio, ou seja, o cristão resgatado por Jesus já não é mais escravo

dos poderes da morte, mas pertence a Jesus. (1Cor 7,22).

Esta metáfora retoma uma imagem do mundo da

escravidão. “O mérito desta interpretação consiste no fato de que

aqui o fruto da morte de Cristo é caracterizado claramente como

libertação do ser humano da escravidão dos poderes demoníacos que

dominavam a sua vida pregressa”. Isto não implica necessariamente

entender o resgate no sentido de uma libertação da condenação do

inferno. Resgate, neste sentido, é a libertação dos poderes

demoníacos, ou seja, das falsas ideologias que dominam o ser

humano quando ele está longe da verdade do evangelho.

f) A morte de Jesus como morte da qual

participam os humanos:

Paulo interpreta a morte de Jesus como acontecimento que

marca o fim de uma etapa e o início de outra. Neste sentido, o cristão

267


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

participa da morte de Jesus, para ressuscitar com ele e viver vida

nova, ou ser nova criatura, quando então, já não é mais o próprio

Paulo quem vive, mas Cristo que vive nele. O batismo seria então a

sepultura com Cristo e a ressurreição para a nova vida (Rm 6,1-11). A

passagem de morte com Cristo para uma nova vida está atestada

também em Rm 7,4; Gl 2,19; 5,24, etc. Esta noção é mais a-

brangente do que a morte expiatória e a vicária. Na visão da morte

expiatória é só a morte de Jesus que salva. Aqui é a morte e a

ressurreição que são salvíficas, pois o cristão morre e ressuscita com

Cristo. Na visão da morte vicária Jesus morre no lugar do ser

humano. Aqui ele morre junto para com ele ressuscitar.

g) A morte de Jesus como vitória sobre os

poderes da morte:

A ideia de descer ao Hades e lutar com a morte era uma

ideia bem conhecida no oriente e no ocidente. Faz parte da mitologia

de muitos povos que a aplicavam aos seus heróis. Esta idéia penetrou

no judaísmo tardio (Is 25,8; 4Ed 7,31, etc.) e dali passou para o

Novo Testamento.

Nesta mesma perspectiva, também Cristo tem vencido os

poderes da perdição (pecado). Ele conquistou a salvação descendo ao

reino dos mortos, libertando os que aí estavam presos. Na literatura

apócrifa tal mito é bem descrito. Os Atos de Tomé representam a

ida de Jesus à região dos mortos (At Tom 156; 10,32; 48).

A mesma imagem está nas Odes de Salomão 42. Também

em 1Pd 3,19 e 4,6 se reproduz esta visão, bem como em Ap, 1,18 e

20,13-14. “A concepção é de que Cristo, na hora de sua mor- te,

desce até o Hades e ali derrota - numa luta - os príncipes do

Hades ou inferno”. No Novo Testamento encontram-se vestígios

desta visão mítica. Em Mt 27,51-53 se narra que no momento da

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

morte de Jesus a terra tremeu e se fendeu, muitos mortos saíram de

suas sepulturas e entraram na cidade. Assim Jesus, pela sua morte

teria ido ao Hades e teria libertado os mortos que lá estavam presos.

Com esta visão mítica, personifica- se o poder que age sobre a morte.

O diabo, a morte e o senhor do Hades se confundem. A morte de

Jesus assim não é vista como resgate, mas a destruição deste poder.

Pela sua morte Jesus destruiu a morte (1Cor 15,24.26; 2Ts 2,8; 2Tm

1,10; Hb 2,14). “Assim, pois, já que os filhos têm em comum o

sangue e a carne, também ele participou igualmente da mesma

condição, a fim de, por sua morte, reduzir à impotência aquele que

detinha o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2,14). Este texto tem

certa base gnóstica. Entende-se aqui a preexistência das almas. Estas

estão presas à matéria e por isto, à morte. Jesus entrou na matéria e

salvou as pessoas desta morte. Através de sua morte Jesus destruiu o

poder da morte, deixando o ser humano livre.

h) A morte de Jesus como revelação do amor

de Deus:

No Novo Testamento se encontra também uma

interpretação de que Jesus morreu para revelar o amor de Deus aos

seres humanos: “Deus demonstrou seu amor para nós no fato de que

Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).

Encontram-se diversas citações desta mesma forma: Rm 8,31-39; Gl

2,20; 2Cor 5,14ss; Ef 2,5-6, Mas tudo isto ainda é mais evidente nos

escritos joaninos, onde se afirma que Deus manifestou seu amor,

enviando seu Filho como expiação (1Jo 4,9-10), ou ainda, que Deus

tanto amou o mundo que deu o seu Filho (Jo 3,16).

i) A morte de Jesus como modelo:

Existe, no Novo Testamento, também a noção de que os

cristãos devem aceitar o sofrimento, pois também Jesus sofreu. Se

269


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Jesus sofreu, deixando um exemplo, os fiéis devem seguir este

caminho.

“Visto que o mesmo Cristo sofreu por vós, deixando-vos

um exemplo, a fim de que sigais suas pegadas: ele que não cometeu

pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; ele que, insultado,

não retribuía o insulto, em seu sofrimento, não ameaçava, mas se

entregava àquele que é justo Juiz; ele que em seu próprio corpo

carregou nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que, mortos para

os nossos pecados vivamos para a justiça; Ele, cujas chagas nos

curaram” (1Pd 2,21b-24).

Como Cristo, o inocente sofreu, isto é exemplo para os

cristãos (1Pd 3,17-18; 4,1-2; Ef5,2.25; Mc10,45; Lc 22,21.35; 23,28ss,

etc.). Esta visão tem suas raízes nos períodos difíceis dos tempos de

perseguição, quando se tem que preparar os cristãos para enfrentar as

dores e até a morte pelo nome de Jesus. Ao iluminar o absurdo da

dor do povo, apela-se para o modelo deixado por Jesus, que também

sofreu e foi até a morte.

As diversas formas de interpretar a morte de Jesus são

válidas e são expressões de uma determinada fase da igreja. Talvez

nenhuma deveria ser absolutizada, ou mesmo, ser entendida fora do

seu contexto. A interpretação da morte expiatória e vicária, bem

como o sentido de resgate suplantou todas as demais formas e

atravessou a história da igreja até os dias atuais. Esta interpretação já

deu mal- entendidos que hoje de- vem ser solucionados através de

uma leitura crítica.

3 – Paulo e a compreensão da morte de Jesus

Para Paulo, o ser humano está numa situação fracassada

diante de Deus, de onde ele, por si não pode sair (Rm 7,24). Ele está

270


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

como que, inimigo de Deus (Rm 5,10; 11,28). Só Deus pode valer

ao ser humano nesta sina (1Ts 5,9). Nesta libertação, o ser humano

necessariamente deverá contar com Cristo (Rm 1,16; 5,9s; 10,9).

Cristo despojou todos os poderes que escravizavam os humanos (Cl,

2,15). “Deus nos libertou do império das trevas e nos transportou

para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1,13). Assim, toda a criação é

redimida da corrupção (Rm 8,21). Cristo liberta o humano da Lei

(Gl 3,13; 4,4s) e também do pecado (Rm 8,2). Cristo se tornou

carne pecaminosa, para destruir o poder que escraviza a carne (Rm

8,3). “Aquele que não conheceu o pecado, ele o fez pecado por nós”

(2Cor 5,21).

Se Deus, pois , condenou, na carne o pecado‟(Rm 8,34), o

pecado não é mais senhor sobre a carne desde a morte e ressurreição

de Cristo, e por isto é possível, a de então, „não andar segundo a

carne‟” .

Mas, como se dará esta libertação da condição fracassada em

que os humanos se encontram? Paulo tem diversas categorias para

falar disto. Tudo, em Paulo se liga à cruz e à fé. Deus propôs Jesus,

pelo seu sangue, como propiciação, mediante a fé (Rm:3,25). A

justificação se dará pela fé e não pelas obras (Rm 3,21-30), pois se a

justificação viesse das obras, então toda cruz de Jesus e seu papel de

expiador seria em vão. A justiça praticada pelo homem torna inócua a

justificação realizada por Jesus. Assim, em Cristo, pela fé, o humano

participa da justiça de Deus, ou melhor, é justificado por Deus. O

homem é recriado (2Cor 5,17.21). A justiça de Deus se realiza por

meio da morte de Cristo (Rm5,6ss), isto é, pela cruz. Em Paulo se

confunde a reconciliação e a justificação. Ele fala da justificação como

reconciliação (Rm 5,9-10), do ministério da justificação (2Cor 3,9) e

de ministério da reconciliação (2Cor 5,18). Justificação e reconciliação

são conseqüências uma da outra (Rm 5,1). Na realidade, os dois

conceitos vêm de esferas diferentes. - justificação é um conceito

forense e religioso. Já - reconciliar vem do meio social e tem um

271


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

sentido mais genérico. Deus reconcilia a humanidade (2Cor 5,18-21)

por meio de Cristo.

“Em total concordância o grande tema básico da pregação

de Paulo, a reconciliação é em tudo isto a obra redentora de Deus em

Cristo, dirigida ao mundo para fazer desaparecer a inimizade, para

restabelecer a paz”.

Esta reconciliação feita por Deus, com a humanidade, passa

pelo sangue de Je- sus (Cl 1,20). A reconciliação é um dom que o

humano recebe pela graça (Rm 5,11), cujo fundamento se encontra na

cruz de Cristo. Os inimigos foram reconciliados na morte do Filho

(Rm 5,10), os que estavam longe foram aproximados (Ef 2,13-16; Cl:

1,20). Onde teria, Paulo se inspirado para falar desta forma?

3.1 - As fontes: Paulo é o teólogo do Novo Testamento

que mais apresenta a teologia do resgate, e da cruz. Cabe, então a

pergunta: é ela um trabalho de Paulo? Teria sido ele o primeiro a

entender a morte de Jesus como resgate? Certamente não. Tal

teologia se formou em ambiente da Ceia, quando então se celebrava a

doação de Jesus na eucaristia e, aos poucos, passou a se interpretar

sua morte como resgate. Assim, a terminologia paulina do resgate

(2Cor 5,19), provém deste ambiente, mas reflete a re- conciliação

como era entendida no judaísmo de fala grega quando este relê Is 53

e outros textos do AntigoTestamento.Paulo transferiu esta

terminologia para tornar seu apostolado compreensível.

“A interpretação da morte de Jesus como expiação vicária

desenvolvida a partir da obra terrena de Jesus encontra sua expressão

no enunciado do cálice e do resgate (Mc 14,24; 10,45)”. É difícil

encontrar a fonte pré-paulina das sentenças que dizem que Jesus

morreu pelos pecados da humanidade. É impossível estabelecer

influência direta da teologia expiatória do Lv 5,6-10, na versão da

LXX sobre a fórmula usada por Paulo. Na tradução da LXX se usa o

272


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

termo - meio de expiação, que se liga, ou reproduz os termos -

sacrifício (reparação) pelo seu pecado(Lv 5,6). Paulo prefere, que se

traduz por “no lugar de”, “em vez de” (2Cor 5,14), “em favor de”

(Rm 5,7), “por causa de” (Rm 14,15), “por nossos pecados” (1Cor

15,3b; Gl 1,4). Não se pode afirmar com certeza que houve uma

influência da linguagem cúltica do Levítico sobre as fórmulas da

morte de Jesus. Em Rm 5,7 constata-se que Paulo - morrer - que

reflete a visão helenista da morte de Jesus.

As fórmulas gregas também existem fora da teologia

expiatória do culto do templo (2Mc 6,28; 4Mc 6,28; Sl 3,8).

Breytenbach supõe que as fórmulas da doação da vida têm influência

da teologia Sacerdotal (Priester). Isto se evidenciaria em Rm 4,25; Gl

2,20 e Rm 8,32. “A ideia protocristã „que Cristo morreu pelos nossos

pecados‟ se originou no cristianismo judeu de fala grega, que há

pouco se separou do templo”. Enquanto Gl 3,13 e também Gl 4,4-5,

que refletem o conceito de eliminação do pecado, provém de Dt

21,23, para indicar que o crucificado, de forma vicária - por vós, se

tornou maldição. Ao menos em parte, parece claro que a teologia do

“ele morreu por nós” vem da teologia cúltica que se inspira na

teologia sacerdotal exarada em Levítico, na versão dos LXX. Em

2Cor 5,21 se usa que equivale a pecado, troca por vítima do pecado.

Em Rm 8,2-3 o mesmo termo traduz lei do pecado e também vítima

do pecado.

Os tradutores do Levítico para a LXX traduzem hattat por e

lhattat por. No Levítico o termo é traduzido por pecado e às vezes

também o ato, rito de expiação e mesmo o animal que carrega o

pecado. Neste caso, se em Paulo está o conceito de vítima do pecado

e esta tradução for correta, ele estaria indo um pouco além da

tradução de Levítico na versão da LXX, pois ali se traduz o animal,

mas não vítima de pecado. De fato, existe uma grande semelhança

entre Paulo e compreensão da teologia Sacerdotal (Priester). Em

273


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

ambos, Deus mesmo tira os pecados. O que dificulta esta assertiva é

o fato de que, onde o judaísmo helenista trata da expiação, ele recebe

influência do helenismo e não do Levítico. Os textos de 2Cor 5,21 e

Rm 8,3 não deixam claro que Paulo derivasse a compreensão da

morte de Jesus do ritual da vítima do pecado do Levítico. Talvez Rm

3,25 tenha origem na tradição do grande dia de expiação. Se isto for

correto, Paulo estaria mostrando que entendeu a cruz como expiação

em separação do culto.

Nem toda a compreensão expiatória do Antigo Testamento

deriva do culto e do templo. Assim está o Servo de Javé (Is 53), bem

como Is 43. Esta tendência de desco- nectar a expiação do culto se

fortalece durante a helenização dos judeus. Assim se fa- la em jejuns,

preces, etc., como meios de expiação por volta de 200 a.C. Depois da

destruição do templo, no ano70 d.C., no judaísmo rabínico ficou

evidente que Deus também perdoaria pecados sem o culto do templo

e suas vítimas. A vítima do pecado perdeu o sentido. Tudo isto que se

efetivou neste período já existia em fase embrionária bem antes dos

tempos de Paulo. Principalmente na diáspora, onde era mais difícil ir

ao templo, tal teologia já floresceu. Com isto se justificaria que judeus

helenistas, no contexto das perseguições fugiram e, como os

helenistas de At 6-7 e 11,19ss, divulgaram tal teologia em Antioquia,

onde Paulo poderia ter aprendido esta noção. Desta forma, pode-se

garantir que é possível compreender a morte expiatória de Jesus fora

do culto e de suas vítimas. Dito isto, convém lembrar o que já foi

afirmado acima, o contexto da Ceia, iluminado por Is 53 e outros

textos do Antigo Testamento, seria o Sitz imLeben desta

compreensão. Mesmo não podendo afirmar com toda clareza, as

fontes, pode- se situar alguns pontos, onde se supõe que haja apoio

para Paulo e mesmo para a tradição pré-paulina.

274


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Paulo se vale de quatro fontes para explicar este ”por

nós”:

a) Tradição do cordeiro: “Pois Cristo, nossa páscoa foi

imolado” (1Cor 5,7b). Paulo situa Jesus na tradição do cordeiro

pascal, isto é, da antiga aliança, onde um cordeiro morria pelos

pecados de homens e de mulheres (primeira redenção). Assim Jesus

morre e produz a derradeira redenção. Rm 3,25 chama Jesus de -

meio expiatório. Isto lembra 4Mc 17,22. Na versão da LXX este

termo traduz o hebraico kapporit que significa a tampa da arca da

aliança, onde Deus morava. No dia da expiação esta tampa era

aspergida (Lv 16,30; 23,27). Por este ato litúrgico apagavam- se os

pecados. Assim, na visão paulina, no crucificado estão a tampa

(madeira) e o sangue da expiação. “Paulo declara aqui que a ação

divina que libertou os homens de sua culpa se realizou porque Deus

colocou Cristo, por seu sangue, como meio de pro- piciação”.

b) Direito penal: “Ele foi entregue pelos nossos

pecados” (Rm 4,25), como também Rm 8,3.32; Gl 1,14; 3,13 e Cl

2,14 se referem a Is 53,10-12 e lembram o di- reito penal, ou seja,

tratam da pena imposta por um delito, mas não cometido por ele,

senão pelos homens e mulheres. Logo, a pena que os pecadores

deveriam sofrer, Jesus a sofreu. Também Gl 3,10 fala da maldição (cf.

Dt 27,15-26). Todos os que estão sob a lei são malditos (Rm 2,6), mas

Cristo nos resgatou desta maldição, tornando-se ele maldição em

nosso lugar (Gl 3,13). Aquele que não conheceu o pecado se fez

pecado por nós (2Cor 5,21).

c) Libertação de escravo: Paulo usa categorias do

Antigo Testamento, onde se fala de comprar (1Cor 6,20), resgatar (Gl

3,13; 4,15) escravos, por um preço (1Cor 6,20; 7,23). Trata-se de

assumir a escravidão em lugar de outro, para que este saísse livre.

Assim Cristo, pela sua morte em lugar dos pecadores, libertou estes

mesmos da escravidão.

275


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

d) Obediência do Servo: Rm 5,18- 19; Fl 2,6-11 e Gl

4,4-5 dizem que, Cristo, pela sua obediência justificou os pecadores.

Sendo obediente, a exemplo do Servo Sofredor (Is 52,13-

53,12), Jesus assumiu para si os pecados dos desobedientes. Todas

estas fontes ilustram, em Paulo o “por nós”, isto é, a suplência pelos

pecadores da parte daquele que foi sem pecado e, que devido à sua

condição de inocente e de Filho de Deus, resgatou a humanidade de

uma situação de escravidão.

- Teologia da cruz: Paulo, com sua teologia da cruz

exerceu influência no Novo Testamento. Sua teologia está na base de

Hebreus e de 1Pedro, e talvez também em outros escritos. Ele usa os

termos “cruz” e “crucificar” mais do que todos os escritos do Novo

Testamento. Fala na linguagem da cruz (1Cor 1,18). Com esta

linguagem Paulo se confronta com seus opositores, que preferem um

Jesus sem o escândalo da morte e do sofrimento (cf. Gl; 1Cor e Fl).

Talvez Paulo tenha um conflito com heresias nascentes como a gnose

e o docetismo que separavam o homem Jesus do Cristo, ao mesmo

tempo se confrontava com judaizantes que, apesar de terem aderido a

Jesus, ainda julgam necessária a observância da lei de Moisés (Cf At

15,1ss). Diante deste quadro, Paulo anuncia a mensagem irritante da

cruz com toda a sua clareza (Gl 3,1; 1Cor 1,23; 2,3). Na linguagem de

Paulo, Cristo se tornou maldição para nós (Gl 3,13), foi feito pecado

por nós (2Cor 5,21). Antes de sua conversão, Paulo vê Jesus como

maldito (1Tm 1,13; At 26,11; 1Cor 12,3).Depois da conversão Paulo

mostra que Jesus se tornou maldito por nós (Gl 2,20).

“Não é, pois, exagero dizer que toda cristologia de Paulo

está decididamente centrada neste esforço para tornar compreensível

para seus leitores e ouvintes este „por esta suplência de Cristo em

nosso favor” O sentido da paixão e morte de Jesus, segundo Paulo,

na obra reconciliadora de Deus se evidencia no fato de que em Cristo

se manifesta a justiça de Deus (Rm 3,25- 26). Deus pôs Jesus como

propiciatório em seu sangue (Rm 3,25).Pela morte de Jesus os

humanos foram reconciliados e justificados (Rm 5,9)

276


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

23º Sete Frases Dita por Jesus Durante

sua Crucificação

Texto:

Mateus 27:45 “Desde a hora sexta até a hora nona, houve

trevas sobre toda a terra”

Obs. Jesus foi crucificado às 09:00h da manhã (terceira

hora dos judeus, contada desde ao nascer do sol). Às 12 horas houve

trevas sobre a terra. ÀS 15

horas Jesus expirou. As frases que Jesus proferiu durante

estas seis horas, registram-se num total de sete (7) na seguinte ordem.

1º FRASE - PERDOA-LHES

Lucas 23:34 “Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes,

porque não sabem o que fazem. Então, repartindo as vestes dele,

lançaram sorte”.

Perdoa-lhes – Revela o coração misericordioso de DEUS

diante do pecador, que Ele ama infinitamente (João 3:16) enquanto

o mesmo pecador agi em ignorância Atos. 3:17; 17:30.

Em Isaías 53:12 “Por isso, eu lhe darei muitos como a sua

parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores;

contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores

intercedeu”

Contado com os transgressores – Isso quer dizer foi

crucificado entre dois ladrões e considerado, pelo poderio judaico,

um criminoso perigoso. Realmente, carregando sobre si, na cruz os

pecados do mundo, e pagando, em nome da humanidade, as

conseqüências da maldade, Jesus recebeu imputado à Sua Pessoa, a

culpa de todos os transgressores. I Pedro 2:24 “Carregando ele

mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, vivamos,

para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça ; por

suas chagas, fostes sarados”.

2º FRASE – MULHER , EIS AÍ TEU FILHO DISSE

MAIS EIS AÍ TUA MÃE

João 19:26-27 “Vers. 26 – Vendo Jesus sua mãe e

junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.”

“Vers. 27 – Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.

Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.”

Discípulo Amado – Pela tradição se supõe que ele foi João,

o autor*(escritor) deste evangelho.

Tua Mãe – É provável que José, marido de Maria, já

estivesse morrido.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

4º Curiosidades Exclamadoras deste Capítulo 19

1ª Exclamação. Vers. 5 “Saiu, pois, Jesus trazendo a

coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: Eis o

homem!”

2ª Exclamação. Vers. 14 “E era a parasceve*(sextafeira)

pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus:

Eis aqui o vosso rei.”

3ª Exclamação. Vers. 26 “Vendo Jesus sua mãe e junto a

ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.”

4ª Exclamação. Vers. 27 “Depois, disse ao discípulo: Eis

aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa”

3º FRASE – HOJE ESTARÁS COMIGO NO

PARAÍSO

Lucas 23:43 “Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que

hoje estarás comigo no paraíso”

Comigo no paraíso – Isto é, compartilhar o lugar e a

condição de bem- aventurança celestial daqueles que morrem No

Senhor (Apocalipse 14:13) até à ressurreição

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

4º FRASE – ELI , ELI LAMÁ SABACTÂNI ? / ELOÍ

, ELOÍ LAMÁ SABACTÁNI

Mateus:27:46 Marcos :15:34

Mateus 27:46 Eli – Hebraico – Quer dizer: MEU DEUS

Marcos 15:34 Eloí – Aramaico – Quer dizer: MEU DEUS.

Eloí – Citado no Salmo 22:1. Ainda que isto seja paradoxal

(opinião contrária a opinião comum),reconhecemos que Jesus Se

identificou com os nossos pecados, de modo que Cristo sofreu, por

nós, a inevitável separação entre DEUS e o pecado.

5º FRASE , TENHO SEDE

João 19:28 “Depois, vendo Jesus que tudo já estava

consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede”

Tenho sede – Jesus era verdadeiro homem. Contraria a

teoria que afirma que o Cristodivino veio sobre Jesus quando foi

batizado era realmente humano (veja João 4:7) e divino

inseparavelmente. Aquele que sofreu a sede na cruz ofereceu Sua vida

para saciar a sede espiritual do mundo. (Veja o que ele oferece em

João 7:37-39).

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

6º FRASE – ESTÁ CONSUMADO

João 19:30 “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse:

Está consumado! E inclinando a cabeça, rendeu o espírito.”

Está Consumado – Jesus morreu voluntariamente(veja

João 10:18), não como mártir, mas como sacrifício de infinito valor(

Veja Isaías 53:10)

7º FRASE – PAI NA TUAS MÃOS ENTREGO MEU

ESPÍRITO

Lucas 23:46 “ Então Jesus clamou em alta voz: Pai nas tuas

mãos entrego o meu espírito! E dito isto, expirou”.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

24º O Significado da Morte de

Cristo

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Infelizmente, a maioria das pessoas não entende nem

compreende qual o verdadeiro sentido da morte de Cristo. Muitos,

até estudiosos, acham que Cristo morreu como um mártir. Ele

morreu como defensor de uma causa, na certa seria contra a

injustiça social. Outros argumentam que Jesus morreu porque foi

um traidor do governo Romano e até mesmo dos próprios

compatriotas, o clérigo religioso, isto porque pregava um “ensino

contrario que os judeus religiosos proclamavam”.

A verdade é que Jesus não morreu por causas dessas

teorias sem cabimento. Jesus morreu unicamente pela vontade de

Seu próprio Pai, Atos 2:22-23. Portanto, nesse pequeno estudo

gostaria de esclarecer o verdadeiro sentido da morte (expiação) de

Cristo, biblicamente falando. A expiação de Cristo está

concentrada em quatro temas básicos,

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

são eles:

1) Sacrifício;

2) Propiciação;

3) Substituição;

4) Reconciliação.

A EXPIAÇAO DE CRISTO COMO SACRIFICIO.

Texto: Hebreus 9:6-15

A obra de Cristo é comparada com o dia da expiação do

Antigo Testamento. Cristo é retratado como o sumo sacerdote que

entreva no lugar santíssimo para oferecer sacrifício. Todavia, o

sacrifício de Jesus não foi sangue de bodes e bezerros, e sim, o seu

próprio sangue, v12. Desta forma obteve eterna redenção.

Enquanto que os sacrifícios do AT tinham de ser

oferecidos repetidamente, a morte de Cristo expia, de uma vez

por todas, os pecados de todo aquele que crê, v28. Obs: desde da

época do AT, os sacrifícios de bodes e ovelhas prefiguravam a

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

morte do Messias – Jesus Cristo. Todo judeu fazia a sua oferta

com fé, sabendo que Deus estava perdoado os seus pecados. E

todo o santo dia, todo bom judeu deveria fazer este sacrifício em

favor de suas transgressões. Mas com a morte de Cristo, isto não

se faz necessário. Como o autor de hebreus disse: “Ele é o

mediador da nova aliança”. Em outras palavras, Cristo é o único a

conceder por meio da sua morte, acesso a Deus, I Tm 2:5.

Texto: Hebreus 10:5-18.

Aqui a ideia é que, em lugar das ofertas queimadas, o

corpo de Cristo foi sacrificado, v5. Essa oferta de uma vez por

todas, v10. Em lugar da oferta diária feita pelo sacerdote, v11.

Cristo ofereceu “para sempre, um único sacrifício pelos pecados”

v12.

Conclusão dos dois textos.

Devemos manter em mente de que o sacrifício de Cristo,

ou seja, o próprio Cristo é tanto vitima como também o sacerdote

que a oferece. As duas partes que faziam parte da Antiga Aliança

285


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

são combinadas em Cristo. A primeira, o sacrifício, que todo judeu

deveria fazer. A segunda, o sacerdote – este intercedia pelo povo a

Deus. Jesus fez e faz essas duas obras. Morreu como um sacrifício

pelos nossos pecados e intercede por nós Rm 8:34.

A EXPIAÇÃO DE CRISTO COMO

PROPICIAÇÃO.

O termo “propiciação” no grego tem como sentido de

aplacar a ira de Deus. O nosso Deus está irado com o que? Com

os nossos pecados. Ele sendo santo e justo não pode suportar nem

contemplar as nossas ofensas. Por isso, se faz necessário alguém

aplacar esta ira. Na Bíblia há várias passagens que falam da ira de

Deus contra o pecado e isto implica numa propiciação, Rm 1:18;

2:5, 8; 4:15; 5:9; 9:22; 12;19; I Ts1:10; 2;16; 5:9.

Quem foi que aplacou essa ira? Cristo Jesus. A morte de

Cristo não só cobriu os nossos pecados como também aplacou a

ira de Deus. No AT os sacrifícios tinham esse propósito de aplacar

a ira de Deus contra o pecado de seu povo, Lv 4:35. Quando

Cristo morreu numa cruz, o seu sacrifício foi satisfatório para

apaziguar a ira de Deus. Deus ficou satisfeito de uma vez por todas

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

com o sacrifício de Cristo, I João 2:2. Definição de propiciação: O

sacrifício de Cristo apaziguou a ira de Deus contra os nossos

pecados. Portanto, a morte de Cristo foi a única oferta que satisfez

as exigências de Deus.

A MORTE DE CRISTO COMO SUBSTITUIÇÃO.

Definição de substituição: é tomar o lugar de outra

pessoa. Por exemplo, quem deveria morrer pelos nossos próprios

pecados éramos nós. Mas Cristo tomou o nosso lugar. Ele se fez o

nosso substituto. Lembrando que não era algo que merecíamos.

Várias passagens que falam que os nossos pecados foram

lançados sobre Cristo, Is 53:5, 6, 12; João 1:29; II Co 5:21; I Pe

2:24. Portanto, a idéias em todas essas referências é que Jesus

levou nossas transgressões – as transgressões foram colocadas

sobre ele ou transferidos de nós para ele. Isso é substituição.

Uma outra prova de que a morte de Cristo foi

substitutiva é a preposição grega “uper” (huper). Ela tem dois

sentidos “em lugar de” e “em favor de”. A morte de Cristo “em

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

lugar de”, as referências são, I Tm 2:6; II Co 5:15. A morte de

Cristo “em favor de”, as referências são, Rm 5:6-8; Gl 2:20;

Hb2:9.Concluindo, A morte de Cristo foi substitutiva porque

tomou o nosso lugar. Porque Cristo morreu em nosso favor.

A MORTE DE CRISTO COMO

RECONCILIAÇAO.

Não precisamos pensar muito de que uma vez que

estávamos vivendo em nossos pecados e sempre ofendendo a

Deus com nossas iniqüidades. Conclui-se de que éramos inimigos

de Deus. Portanto, se éramos inimigos de Deus. Logo,

precisaríamos ser reconciliados. A verdade é que a morte de Cristo

põe fim a inimizade entre Deus e o homem. A nossa

hostilidade Contra Deus foi removida pelo sangue de Cristo na

cruz.

Em Romanos 5:10 diz: “fomos reconciliados com

Deus”. De que maneira, alcançamos essa reconciliação? Por meio

288


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

da morte de Jesus. Note que esse ato de reconciliação não foi uma

iniciativa nossa, e sim, exclusivamente de Deus. Apesar de sermos

os seus inimigos, Ele sempre foi o nosso amigo, aponto de enviar

o seu próprio e único Filho para morrer por nós, com o propósito

de restaurar a comunhão que havíamos perdidos com a

desobediência de Adão. Uma passagem muito significante é Rm

11:15. A reconciliação do mundo é agora possível por que os

judeus rejeitaram o Messias. Note que ao rejeitar os judeus, Deus

toma a iniciativa, afastando Israel o favor divino e a graça do

evangelho. A reconciliação do mundo (gentios) coloca-se em

contraste com a rejeição de Israel. Portanto, presume-se de que a

reconciliação é um ato de Deus, seu ato de receber o mundo no

seu favor e de lidar com ele de modo especial.

Importante: por mais importante que seja voltar-nos

para Deus, o processo de reconciliação é Deus voltando para nós

com seu favor. É maravilhoso isso. Além de Deus nos salvar,

também restaura uma comunhão perdida. De inimigos passamos a

ser amigos de Deus.

289


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

25º A Doutrina da Expiação

A palavra “expiação” ocorre só uma vez na versão do

Rei Tiago em o Novo Testamento. Vide Romanos 5:11. Aqui está

uma tradução de “katallage”. Este substantivo grego ocorre em

três outras passagens: uma vez em Romanos 11:15, onde está

traduzido “reconciliando”; uma vez em 2 Coríntios 5:18, onde está

traduzido “reconciliação” e uma vez no verso seguinte, onde outra

vez está traduzido “reconciliação”.

O verbo grego “katallasso”, correspondente ao nome

“katallage”, acha-se também em 2 Coríntios 5:18,19; em Romanos

5:10 e 1 Coríntios 7:11. Em cada um destes casos está traduzido

para significar “reconciliar”.

Segundo o uso do grego, a palavra “expiação” pode ser

usada tanto da provisão da base objetiva de salvação, na qual

temos uma expiação potencial, como da realização atual da

salvação, na qual temos uma expiação atual na aplicação dos

benefícios da morte de Cristo e a oferenda do Seu sangue no

templo celestial.

O verbo grego “katallasso” está usado no primeiro

sentido em 2 Coríntios 5:19, onde lemos: “Deus estava em Cristo

reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os

seus pecados”. O sentido aqui é que Deus estava reconciliando o

mundo Consigo mesmo por lançar os seus pecados sobre Cristo.

Refere-se, pois, a passagem ao que se realizou na morte de Cristo e

não ao que se realizou através do Seu ministério Profético,

predicante.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

É neste sentido que a palavra “expiação” é

ordinariamente empregada nas discussões teológicas, sentido em

que a usamos neste capítulo.

I. A IMPORTÂNCIA DA EXPIAÇÃO

A expiação é o tema central do cristianismo. Tudo que a

precede, olha para frente e tudo que a segue olha para ela atrás.

Pode-se ver sua importância revendo os fatos seguintes:

1. ELA É O TRAÇO DISTINTIVO DO

CRISTIANISMO

O cristianismo é a única religião com uma expiação.

Conta-se que há alguns anos passados, quando se reuniu uma

Parlamento de Religião na Exposição de Chicago, Joseph Cook, de

Boston, o orador escolhido do cristianismo, levantou-se, depois de

terem sido apresentadas outras religiões, e disse: “Eis aqui Lady

Macbeth com as suas mãos manchadas com a morte infame do Rei

Duncan. Vede-a como perambula pelas salas e corredores de sua

casa palacial, detendo-se para gritar. “Fora, mancha danada! Nunca

mais estas mãos ficarão limpas?” O representante do cristianismo

virou-se para os adeptos de outras religiões e os desafiou

triunfantemente: “Pode alguém de vós que estais tão ansiosos de

propagar vossos sistemas religiosos proporcionar qualquer eficácia

purificadora para o pecado e a culpa do crime de Lady Macbeth?

Emudeceram, porque nenhum deles teve uma expiação a oferecer.

291


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

2. ELA VINDICA A SANTIDADE E A

JUSTIÇA DE DEUS

Não podia haver em Deus verdadeira santidade e justiça

se Ele permitisse ao pecado passar impune. A santidade proíbe

semelhante encorajamento do pecado. A justiça requer retribuição.

3. ELA ESTABELECE A LEI DE DEUS

Sem expiação a salvação dos crentes deixaria a lei vã, letra

morta. Vide Romanos 3:31 e Hebreus 2:2.

4. ELA MANIFESTA A GRANDEZA DO

SEU AMOR

De nenhum outro modo podia Deus ter manifestado

maior amor pelo Seu povo do que por dar o Seu único Filho

unigênito para morrer em lugar dele povo. Vide João 3:16, 15:13;

Romanos 5:8; I João 4:9.

5. ELA PROVA A AUTORIDADE

DIVINA DOS SACRIFÍCIOS DO VELHO

TESTAMENTO

Vemos na expiação de Cristo o antítipo mais belo dos

sacrifícios do Velho Testamento. E vemos nesses sacrifícios um

método efetivo de apontar à necessidade de expiação e um tal

quadro da expiação real como guiaria o iluminamento a

espiritualmente inculcar através do véu de sombra à verdadeira luz.

A divina autoridade dos sacrifícios do Velho Testamento não

apresenta dificuldades ao que crê que a morte de Cristo foi

substitucionária; mas, os que desejam negar este último fato

292


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

também sabem que Deus instituiu os sacrifícios de animais do

Velho Testamento.

6. ELA FORNECE A PROVA

DEFINITIVA DOS SISTEMAS TEOLÓGICOS

Por sua atitude para com a expiação, os sistemas

teológicos classificam-se em pagãos ou cristãos. A oposição deles

quanto à expiação também reflete sua idéia da natureza de Deus,

de Sua Lei e do pecado.

II. A NATUREZA DA EXPIAÇÃO

1. IDÉIAS FALSAS DA EXPIAÇÃO

(1). A idéia governamental

Esta idéia sustenta que o propósito da expiação foi

impedir que o perdão dos pecadores por Deus encorajasse o

pecado. A salvação dos pecadores não exige que eles levem a

penalidade dos seus pecados. O seu virar do pecado para Deus é

suficiente para justificar Deus em salva-los; mas o perdão dos

culpados, sem alguma exibição do ódio de Deus contra o pecado e

de Sua consideração pela Lei, licenciaria o pecado e roubaria

qualquer autoridade sobre as consciências dos homens.

(2). A idéia de exemplo

Esta idéia sustenta em comum com a governamental que

a morte de Cristo não foi substitucionária: sustenta que Deus não

293


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

precisou de ser propiciado em benefício do pecador; que o único

óbice à salvação dos pecadores jaz na prática contínua do pecado

pelo pecador. Reforma, portanto, é o remédio adequado e isto

pode ser efetuado pela própria vontade do homem. Para encorajarnos

nisto Jesus morreu como um nobre mártir, exemplificando

uma devoção abnegada que escolheu a morte antes que falhasse do

Seu dever a Deus e ao homem. Somos salvos, não por confiar

nEle como nosso porta-pecado senão por confiar em Deus

segundo Seu exemplo e assim devotando-nos à justiça.

(3). A idéia de Influência Moral.

Esta idéia sustenta em comum com ambas as primeiras

que o pecado não traz culpa que deva ser removida: não é a culpa

senão a prática do pecado que impede a salvação. A morte de

Cristo foi somente uma exibição de amor para abrandar o coração

do homem e leva-lo ao arrependimento. “Os sofrimentos foram

necessários, não para remover um obstáculo ao perdão de

pecadores que existe na mente de Deus senão para convencer os

pecadores de que não existe tal obstáculo” (Strong).

(4). A idéia de depravação gradualmente

extirpada.

Esta idéia está definida por Strong como segue:

“Cristo tomou a natureza humana como ela estava em

Adão, não antes mas depois da queda, - a natureza humana,

portanto, com a corrupção nata e predisposta para o mal moral;

que, não obstante a possessão desta natureza inquinada e

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

depravada, Cristo, pelo poder do Espírito Santo, ou de Sua divina

natureza, não só guardou Sua natureza humana de se manifestar

em pecado atual ou pessoal, mas purificou-a gradualmente, por

meio de luta e sofrimento até que na Sua morte Ele extirpou

completamente sua depravação original e a reuniu com Deus. Esta

purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus

constitui Sua expiação e os homens não são salvos por qualquer

propiciação objetiva senão somente por se tornarem através da fé

participantes da nova humanidade de Cristo”.

Há outras duas idéias da expiação que os teólogos

comumente discutem sob teorias falsas ou inadequadas da

expiação aqui não daremos tratamento especial. Referimo-nos a

idéia de acidentes e à comercial. A primeira sustenta que a morte

de Cristo foi um acidente imprevisto e não antecipado por Cristo.

Esta idéia é tão manifestamente absurda que não merece aqui o

espaço que ela tomaria para refuta-la. Não damos aqui atenção

especial à idéia comercial da expiação porque ela envolve tanta

verdade que achará exame sob a epígrafe da idéia correta da

expiação.

2. A IDÉIA CORRETA DA EXPIAÇÃO.

A idéia correta da expiação, que concebemos como sendo

a correta, reconhece o elemento de verdade em cada uma das

seguintes teorias que tem recebido especial menção e também

combina o que são costumeiramente chamadas idéias comercial e

ética, mas esta vai mais longe do que qualquer delas.

295


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

(1). Verdades reconhecidas noutras idéias.

A. Uma falha em punir o pecado

derrubaria o governo divino.

Este é o elemento de verdade na idéia governamental,

mas isto é só um dos muitos elementos de verdade envolvidos na

expiação. Uma simples exibição do ódio de Deus contra o pecado

sem medir uma justa penalidade, portanto, não consegue e não

conserva inteiramente os interesses do governo divino. Qualquer

exibição do ódio divino para com o pecado agirá como um óbice

ao pecado e assim tenderá a manter governo, mas, até ao ponto em

que essa exibição do ódio divino se fruste da justa penalidade, ela

fracassa em fornecer um óbide ao pecado que honre

completamente o governo divino.

B. Na morte de Cristo temos um exemplo

inspirador.

É um exemplo de abnegada devoção a Deus e ao

homem. E o povo salvo (não os perdidos) são mandados seguir

este exemplo. Vide Mateus 16:24; Romanos 8:17;

1 Pedro 2:21, 3:17 e 18; 4:1 e 2. Mas, que Cristo não

morreu meramente como um nobre mártir, evidente é de Sua

própria atitude para com a Sua morte. Se Ele morreu apenas como

exemplo, então Ele supriu exemplo muito pobre. Muitos mártires

humanos tem ido para a fogueira sem um sinal de angustia;

todavia, o Senhor Jesus Cristo suou como se fossem grandes gotas

de sangue no horto. Muitos mártires desfrutaram um vívido senso

da presença de Deus na hora da morte, mas o Senhor Jesus Cristo

296


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

foi desertado pelo Pai na hora da morte. Contrastai a atitude de

Cristo perante a morte com a de Paulo.

C. Na morte de Cristo temos uma exibição

de amor de Deus.

Vide João 3:16; Romanos 5:8; 15:13; 1 João 4:9. E esta

exibição deveria mover os homens ao arrependimento. Este é o

elemento de verdade na idéia de influência moral da expiação; mas,

que a expiação foi mais do que uma simples exibição de amor farse-á

manifesta ao passo que avançamos.

D. Através da morte de Cristo somos feitos

participantes da vida de Cristo.

Vide 2 Coríntios 4:11; 5:14-17; 12:9 e 10; Gálatas 2:20; 2

Pedro 1:4. Este é o elemento de verdade na idéia de depravação

gradualmente extirpada da expiação; mas, atingimos esta nova vida

em Cristo em conjunção com a fé nEle como nosso porta- pecado.

Esta idéia recém mencionada nega:

(2). Outras verdades reconhecidas.

A verdadeira idéia da expiação reconhece todas as

verdades das outras idéias, mas reconhece mais. Erram os que

acentuam um elemento de verdade com exclusão de outros.

297


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Outras verdades reconhecidas pela

verdadeira idéia da expiação, são:

A. A verdade quanto à natureza de Deus.

Tudo das falsas idéias a que temos dado especial atenção

nega que haja qualquer obstáculo que seja em a natureza de Deus

ao perdão dos pecadores. O entrave supõe-se ser todo ele de parte

do pecador. O sofrimento de Cristo não foi em nenhum sentido

uma satisfação de qualquer princípio em a natureza divina.

Assim estas idéias negam, logicamente, a santidade e

justiça de Deus. Elas representam Deus como sendo somente

amor. A ira retribuitiva contra o pecado não é elemento da

natureza divina.

Que essa idéias são falsas em respeito à idéia da natureza

divina suprida por elas é evidente de Romanos 3:25,26. Aqui se

nos diz que Deus estabeleceu a Jesus Cristo não simplesmente

como uma exibição cênica do seu ódio contra o pecado para servir

às exigências do Seu governo; nem como um exemplo de abnegada

devoção ao dever; nem como simples manifestação de amor

através do sofrimento do Criador com a criatura; nem ainda como

o meio de purificação subjetiva da natureza humana senão como

cobertura do pecado (pela expiação), que Sua justiça não fosse

impugnada na justificação de homens pecadores.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Tudo das falsas idéias de expiação a que temos dado

especial atenção representa a Lei de Deus como uma indicação

puramente arbitrária que pode ser relaxada parcial ou totalmente à

vontade em vez de uma revelação da natureza de Deus com

nenhuma possibilidade mais de mudança nos seus requisitos do

que há de mudanças em a natureza de Deus. Ela requer um olho

por um olho e um dente por um dente; requer que toda

transgressão e desobediência deve receber uma justa recompensa

de prêmio. Hebreus 2:2. Toda idéia da expiação que for correta

deve reconhecer isto.

B. A verdade quanto à culpa do

pecado.

Que essas falsas idéias sob consideração negam que o

pecado nos envolve em culpa objetiva que exige expiação. As

passagens seguintes ensinam que ele envolve: João 3:36;

Romanos 1:18; 2:5,6; 3:19; 6:23; Gálatas 3:10; Efésios 5:5,6;

Colossenses 3:5,6; Apocalipse 20:13.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

C. A verdade quanto à natureza

substitucionária da expiação.

As passagens seguintes mostram que o sofrimento de Cristo

foi um substituto do sofrimento que os crentes suportariam no

inferno:

“Seguramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e

as nossas dores levou sobre Si; nós O reputávamos por aflito, ferido

de Deus e oprimido.Todos nós andávamos desgarrados como

ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho. Porém o Senhor fez

cair sobre Ele a iniqüidade de nós todos” (Isaías 53:4-6).“... sendo

justificados livremente pela Sua graça, pela redenção que está em

Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para ser uma propiciação, pela fé

no Seu sangue, para demonstração da Sua justiça, pela remissão dos

pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para a

demonstração da Sua justiça, pela remissão dos pecados dantes

cometidos, sob a paciência de Deus; para a demonstração, digo, da

Sua justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador

daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:24-25). Propiciação é um

sinônimo de expiação, que significa “aturar a penalidade toda de um

erro ou crime”. A propiciação aplaca o legislador por satisfazer a Lei

na “cessão de um equivalente legal completo pelo mal causado”.

“... Cristo morreu por nós. Muito mais então, sendo

justificados pelo Seu sangue seremos salvos da ira de Deus por meio

dele.” (Romanos 5:8,9).

“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus”

(Romanos 8:33). A resposta implicada é: Ninguém! E a implícita

razão é: Porque Cristo pagou sua dívida de pecado padecendo a

penalidade da Lei em seu lugar.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

“Cristo é o fim da Lei para justiça de todo aquele que crê.”

(Romanos 10:4).

“... nossa páscoa também foi sacrificada, mesmo Cristo.” (1

Coríntios 5:7).

“... Cristo morreu por nossos pecados, segundo a Escritura”

(I Coríntios 15:3).

“Aquele que não conheceu pecado. Fê- lo pecado por nós,

para que nEle fossemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

Nós nos tornamos justiça de Deus em Cristo, não por meio de

qualquer influência moral da morte de Cristo sobre nós, mas pela

imputação a nós da justiça através da fé sem as obras.

“... Cristo entregou-Se por nós, em oferta e sacrifício a Deus

...” (Efésios 5:2)

“... ofereceu para sempre um sacrifício pelos pecados”

(Hebreus 10:12).

“Porque Cristo também sofreu pelos pecados uma vez, o

justo pelos injustos, para que nos trouxesse a Deus ...” (I Pedro 3:18).

D. A verdade quanto aos aspectos

redentores e resgatadores da expiação.

Notai as seguintes passagens:

“O Filho do homem não veio para ser ministrado, mas a

ministrar e dar Sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:28).

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

“Mas dEle sois vós em Cristo Jesus, que nos foi feito

sabedoria de Deus, justiça e santificação e redenção.” (1 Coríntios

1:30).

“Cristo nos redimiu da maldição da Lei, fazendo-Se

maldição por nós” (Gálatas 3:13).

“Deus propôs Seu Filho ... para que redimisse os que

estavam sob a Lei ” (Gálatas 4:4,5).

“... em Quem temos redenção por Seu sangue, o perdão de

nossos delitos, segundo as riquezas de Sua graça” (Efésios 1:7).

“... que Se deu em resgate por todos” (1 Timóteo 2:6).

“... que Se deu a Si mesmo por nós para que nos redimisse

de toda a iniqüidade” (Tito 2:14).

“... pelo Seu próprio sangue entrou uma vez por todas no

lugar santo, tendo obtido redenção eterna” (Hebreus 9:12).

“Fostes redimidos ... com sangue precioso... mesmo o de

Cristo” (1 Pedro 1:18-19).

“... foste morto e remiste para Deus com o Teu sangue

homens de toda a tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse. 5:9).

Nas passagens supra, nas quais “redimir” ou uma de suas

cognatas aparece, temos quatro palavras gregas ou suas cognatas:

“agorazo”, significando “adquirir no fórum”; “exagorazo”, “adquirir

do fórum”; “lutroo”, “soltar por um preço”; “apolutrosis”, “libertar”.

As palavras gregas nas passagens em que “resgate” aparece são,

302


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

respectivamente, “Lutron”, “um preço” e “antilutron”, “um preço

correspondente”. O sentido claro dessas passagens, à luz do resto do

Novo Testamento, especialmente Romanos 3:25-26, é que a morte de

Cristo foi o preço de nosso livramento da penalidade do pecado.

Vide mais além Romanos 8:33,34; 10:4; Gálatas 3:13 descreve

exatamente como somos redimidos quando nos diz que somos

remidos da maldição da Lei por meio de Cristo, que se fez uma

maldição por nós. Ele pagou a penalidade que nós devíamos. Por essa

razão vamos livres.

Notai que “resgate”em 1Timóteo 2:6 significa “um preço

correspondente”. Isto quer dizer que o preço saldado por Cristo

correspondeu à dívida que devíamos. Em outras palavras, Cristo

sofreu o equivalente exato daquilo que teriam de sofrer no inferno

aqueles por quem Ele padeceu. Se a justiça de Deus exigiu que Cristo

morresse para que Deus justificasse pecadores, a mesma justiça exigiu

que Ele pague a penalidade toda devida pelos pecadores. A justiça

tanto pode arcar com toda a penalidade como tão facilmente arcar

com a mínima parte dela.

“Porque Deus tomar como satisfação o que realmente não é

tal é dizer que não há verdade em nada. Deus pode tomar a parte pelo

todo; o erro pela verdade, o erro pelo acertado ... Se toda a coisa

criada oferecida a Deus vale justamente tanto como Deus a aceita,

então o sangue de touros e bodes podia tirar pecados e Cristo está

morto em vão” (Hodge, Syst. Theol. 2:573-81; 3:188-9).

“Deus não mandou Cristo ao inferno para sempre, mas Ele

pôs na punição de Cristo o equivalente disso. Ainda que Ele não deu

a Cristo beber o inferno atual de crentes, contudo deu-Lhe um quid

pro quo – algo equivalente disso. Ele tomou o copo da agonia de

Cristo e nele botou sofrimento, miséria e angústia ... o que foi o

equivalente exato de todo o sofrimento, toda a desgraça e todas as

303


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

torturas eternas de todo aquele que por fim estará no céu, comprado

com o sangue de Cristo” (Spurgeon, Sermões, Vol. 4, pág. 217).

“A penalidade paga por Cristo é estrita e literalmente

equivalente à que o pecador teria de levar, conquanto não seja

idêntica. O porte vicário dela exclui a última” (Shedd, Discourses and

Essays, pág. 307).

“A substituição exclui identidade de sofrimento; não exclui

equivalência” (Strong, Systematic Theology, pág. 420).

Algumas vezes os oponentes à natureza resgatadora e

redentora da morte de Cristo perguntam a quem foi pago o preço. E

eles um tanto sarcasticamente lembram-nos que alguns se apressaram

em dizer que foi pago ao diabo. Não, não foi pago ao diabo; como

uma transação comercial, não foi pago a ninguém. Os termos são

figurativos. Mas o resultado é o mesmo como se a transação Fora de

natureza comercial. O preço é a penalidade exigida pela justiça de

Deus.

Adotamos, portanto, como a verdadeira idéia da natureza da

expiação, uma idéia que combina as teorias comercial e ética como

estão descritas por Strong. Da teoria comercial aceitamos a idéia

expressa em 1 Timóteo 2:6 – o pagamento de um preço

correspondente ou equivalente. E, da teoria ética, aceitamos o fato

que não foram a honra e a majestade divinas que exigiram a expiação,

segundo afirma a idéia comercial, mas os princípios éticos da

santidade e justiça de Deus.

304


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

III.

CRISTO

A EXPIAÇÃO E A DEIDADE DE

Objeta-se algumas vezes que Cristo não podia ter sofrido em

poucas horas o equivalente do sofrimento eterno do pecador no

inferno, mas esta objeção deixa de tomar em consideração o fato que

Cristo era divino e, portanto, infinito em habilidade para sofrer. Ele

disse que nenhum homem podia tomar-Lhe a vida; que dEle

mesmo a daria. Tendo o poder, portanto de reter Sua vida, à vontade,

Ele a reteve através de tamanha intensidade de sofrimento que Ele

tragou as últimas feses do veneno do inferno por todos aqueles a

serem salvos por Ele. O que pecadores crentes teriam sofrido

extensivamente, por serem finitos, Cristo sofreu intensivamente, por

ser infinito. Um homem com uma constituição dez vezes tão forte

como a que o homem médio pode sofrer em um segundo o

equivalente de tudo que o homem mediano pode sofrer em dez.

Correspondentemente um ser infinito pode suportar qualquer porção

de sofrimento num tempo tão breve quanto lhe apraza faze-lo.

IV. A EXPIAÇÃO E A HUMANIDADE DE

CRISTO

Enquanto foi necessário que Cristo seja divino para suportar

numas poucas horas o sofrimento eterno devido a pecadores crentes,

também foi necessário que Ele seja humano para suportar o

equivalente daquilo que os seres humanos são para aturar no inferno.

Talvez foi necessário também que Cristo seja organicamente

um com o homem para faze-lo perfeitamente apropriado para Deus

aceitar o Seu sofrimento como um substituto para o do homem.

Somos responsáveis pela apostasia de Adão porque fomos

organicamente um com Adão, da qual os anjos não participaram e em

305


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

cuja queda não nos envolvemos. Assim parece claro que não teria

sido segundo a filosofia divina colocar nossa responsabilidade sobre

Cristo sem Ele tornar-se organicamente um conosco.

V. A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO

Há Três Teorias Quanto á Extensão da Expiação

1. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO

GERAL PARCIAL

Referimo-nos aqui à noção que Cristo pagou a penalidade

pelo pecado de Adão na raça inteira. Esta idéia é sustentada em

conjunção, usualmente, com a idéia de uma suposta base provisional

para a salvação de todos os homens, mas sua natureza necessita de

que a tratemos separadamente.

Pensa-se, por alguns, que esta teoria é necessária para

explicar a salvação daqueles que morrem na infância e imbecilidade

nata, mas mostramos uma base escriturística para a salvação dos tais

sem esta teoria.

João 1:29 é o passo principal citado como uma base para

esta teoria. A forma singular de “pecado” acentua-se como se

referindo ao pecado de Adão; mas o argumento não tem força,

porque há outras numerosas passagens em que se usa o singular em

referência aos pecados pessoais de homens num sentido coletivo.

Vide Romanos 3:20; 4:8; 6:1; Hebreus 9:26.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Esta teoria supõe que o efeito do pecado de

Adão sobre a raça é duplo:

(1) imputação de culpa pelo ato ostensivo de Adão

em participar do fruto proibido e

(2) corrupção da natureza. E implica que a culpa pode

ser imputada à parte da corrupção.

Isto nós negamos redondamente. Nós tornamos culpados

por meio de sua prioridade natural e da qual herdamos uma

natureza corrupta. Estamos sob a penalidade do pecado porque

pecamos em Adão, sendo nossa natureza uma com ele. Romanos

5:12. Se a culpa fosse imputada sem corrupção, então a Lei exigiu a

morte de Cristo, porque Ele teve uma natureza humana; mas a idéia

que Ele morreu em qualquer sentido para Si mesmo é totalmente

estranha à Escritura. Ele em toda a parte se descreve e se apresenta

sem nenhuma culpa de Si mesmo, mas como levando a culpa dos

outros. Se Lhe foi imputada culpa pelo pecado adâmico, como

necessariamente era o caso se esta culpa é imputada a todo

descendente de Adão à parte de corrupção, então Ele conheceu

pecado, mas a Escritura diz que Ele não conheceu pecado.

307


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

2. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO

GERAL.

(1) A teoria apresentada.

A teoria de uma expiação geral é que Cristo morreu para

cada filho de Adão – para um tanto como para outros (* ),

removendo do caminho da salvação de todos os homens

impedimentos legais e fazendo-a objetivamente possível a cada

ouvinte do Evangelho salvar-se. Diz Strong: “As Escrituras

representam a expiação como tendo sido feita para todos os homens

e como suficiente para a salvação de todos. A expiação, portanto, não

está limitada senão a aplicação da expiação.” E outra vez: “A expiação

de Cristo fez provisão objetiva para a salvação de todos, por remover

da mente divina todo obstáculo ao perdão e restauração dos

pecadores, exceto sua contumaz oposição a Deus e recusa de virar- se

para Ele.” Diz Andrew Fuller que, se a expiação é vista meramente

quanto “ao que ela é suficiente em si mesma e declarada no

Evangelho estar adaptada para, ... foi para pecadores como

pecadores”; mas que, em “respeito ao propósito do Pai em dar Seu

Filho para morrer e ao designo de Cristo em ceder Sua vida, foi para

os eleitos só.”

Esta teoria da expiação é algumas vezes sumarizada pelo

dito que a expiação foi suficiente para todos, mas suficiente somente

para os eleitos ou, como alguns prefeririam, para aqueles que crêem.

Ou, para pô-lo de outra maneira, diz-se muitas vezes que Cristo é o

Salvador de todos os homens provisional e especial ou efetivamente

de crentes.

Outros têm imaginado que o sacrifício no Calvário foi para

todos, mas que a oferenda do sangue de Cristo no céu foi para os

308


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

eleitos. Tudo dessas afirmações dá na mesma coisa – uma expiação

geral com uma aplicação ou designio limitados. Isto cremos e

esperamos provar que é uma contradição em termos, contrária à

razão, repugnamente à natureza de Deus e não segundo uma

interpretação homogênea da Escritura.

(2). A teoria desaprovada.

A. Esta teoria não provê satisfação real da justiça de Deus,

ou ela envolve a Deus na injustiça de punir aqueles para quem a

justiça foi satisfeita. Eis-aqui um dilema e cada advogado de uma

expiação geral escolha a ponta em que se pendure. Uma dessas

proposições deve ser verdadeira.

A primeira proposição é, provavelmente, a que mais

advogados de uma expiação geral são logicamente forçados a aceitar.

Nenhuma dúvida que os mais deles subscreveriam a declaração que,

se tivesse havido só um pecador para salvar, teria sido necessário a

Cristo ter sofrido exata e identicamente o que Ele padeceu. Diz

Boyce: “O que Cristo precisou fazer por um homem teria sido

suficiente para todos” (Abstract of Theology, pág. 314). Diz Strong:

“Cristo não precisaria de sofrer mais, se todos fossem salvos”

(Sytematic Theology, pág. 422).

Esta noção quanto ao sofrimento de Cristo é totalmente

inconsistente com a justiça. Mil pecadores no inferno, merecendo

todos o mesmo grau de punição, sofrerão mil vezes tanto como

sofrerá cada um deles individualmente. Tomará isto para satisfazer a

justiça. Ficará a justiça satisfeita agora em Cristo por todos os mil, se

Cristo sofre apenas tanto como sofreria um pecador? Em outras

palavras, a justiça exige uma coisa dos pecadores mesmos e outra de

Cristo como substituto deles? É isto exatamente o que a teoria de

uma expiação geral envolve.

309


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

A teoria de uma expiação geral não satisfaz a justiça mais do

que a teoria governamental. Na morte de Cristo, segundo a teoria de

uma expiação geral, temos apenas uma exibição cênica da ira de Deus

contra o pecado; então Deus aplica, à vontade, os benefícios disto a

quem queira. Noutras palavras, em vista do que Cristo fez, Deus

relaxa a justiça rigorosa e salva uma multidão incontável de pecadores

que mereciam o inferno, para os quais a justiça não foi atualmente

satisfeita. De modo que, em vez de a morte de Cristo proporcionar a

Deus o meio de ser justo e ao mesmo tempo salvar pecadores

crentes, O habilitar a relaxar Sua justiça.

A única maneira de escapar desta última proposição é

considerar o arrependimento, a fé e a obediência dos que se salvam

como completando o que está faltando na morte de Cristo. Os

arminianos podem dizer isto (contudo alguns deles não consideram

arrependimento, fé e obediência como sendo meritórios na salvação),

mas outros não podem sem render sua crença na salvação como

sendo inteiramente da graça de Deus.

Alguns podem tentar escapar ao dilema estabelecido no

primeiro parágrafo sob esta epígrafe por afirmarem que Cristo sofreu

atualmente pelos pecados de todos os homens e que os perdidos no

inferno sofrerão apenas pelo pecado de incredulidade continuada.

Diversas coisas podiam ser ditas em refutação

desta idéia.

(1) Deixa o pagão que não ouviu o Evangelho sem

sofrer nada no inferno, porque nenhum homem pode ser acusado

justamente por não crer em um de quem nunca ouviu falar. Romanos

10:14. Que Deus não acusará aqueles que nunca ouvem o Evangelho

310


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

do pecado de incredulidade está claro em Romanos 2:12, que nos

informa que Deus não julgará pela Lei os que nunca ouviram a Lei.

Deus os julgará somente à luz de suas próprias consciências.

Romanos 2:14,15. Alguém deve pecar contra a luz antes de poder ser

justamente punido por desobediência. Daí, se ninguém sofrerá no

inferno por qualquer pecado, exceto o pecado de incredulidade

continuada, os que nunca ouvem o Evangelho nada terão por que

pagar.

(2) Todo crente era culpado do pecado de incredulidade

desde o tempo de ouvir o Evangelho até ao tempo de o aceitar. Este

pecado de incredulidade, sem dúvida, teve de ser expiado como

qualquer outro pecado. Assim Cristo sofreu pelo pecado de

incredulidade por aqueles que estão salvos. Agora, se Ele morreu por

todos, por um tanto como por outro, o que é necessário se a salvação

era para ser feita possível a todos, então Ele morreu pelo pecado de

incredulidade por todos os homens. Isto deixa a qualquer que for

para o inferno absolutamente sem pecado algum por que sofrer. Se

Cristo não morreu pelo pecado de incredulidade de todos que o

cometeram, então Ele não morreu suficientemente para a salvação de

todos.

(3) A Bíblia claramente ensina que os perdidos no inferno

sofrerão por todos os seus pecados. Romanos 2:5,6; 2 Coríntios 5:10;

Efésios 5:5,6; 2 Pedro 2:9-13; A. S. V.; Apocalipse 20:13.

B. Esta teoria é fútil, naquilo em que ela não é necessária

como uma base de qualquer fato escriturístico, dever, ou resultado,

ou como prova de qualquer verdade revelada.

(a). Não se discute que Deus estava sob a obrigação de

prover redenção por todos os homens, sem exceção, porque um

argumento tal excluiria a graça da expiação. A graça quer dizer não

somente favor imerecido senão também favor não devido. Graça e

311


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

obrigação excluem-se mutuamente. Ainda mais, se Deus foi obrigado

a prover redenção por todo filho de Adão, da mesma maneira Ele

seria obrigado a dar a cada um a habilidade de receber essa redenção

pela fé. Isto Deus não fez, segundo mostramos no prévio capítulo

sobre a eleição (*).

Ademais, não era necessário que Deus provesse uma

expiação geral para fazer os homens responsáveis pela rejeição de

Cristo. Os homens rejeitam a Cristo, não por causa de uma falta de

expiação para eles, mas por causa de amarem as trevas mais do que a

luz (João 3:19); por causa de não quererem que Ele reine sobre eles

(Lucas 19:14).

(b). Nem foi necessário que Cristo morresse por toda a

raça adâmica para que Deus fizesse sincera Sua chamada geral. É da

noção de alguns que a chamada geral de Deus requer de todos os

homens crerem que Cristo morreu por eles. Isto não é verdade. Os

vinte e oito capítulos de Atos, “ainda que repletos de informações

sobre relações apostólicas com as almas, não arquivam precedente

algum que seja desse discurso agora popular aos inconvertidos –

Cristo morreu por vós (Sanger, Os Redimidos)”. “Todos os homens

são chamados na Escritura a crerem no Evangelho, mas não há um

caso na Escritura em que os homens são intimados a crer que Cristo

morreu por eles.” (Carson, “The Doctrine of the Atonement and

Other Treatises”, Pag. 146).

A ilustração seguinte de “O sangue de Jesus”, por William

Reid, pág. 37, também mostra a compatibilidade de uma expiação

limitada e os convites gerais do Evangelho. Após descrever

passageiros tomando um trem na Estação de Aberdeen.

312


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Estrada de Ferro Nordeste, diz ele:

“Nem eu vi qualquer um recusando-se entrar porque o carro

proveu só um número limitado de seguir por aquele trem. Podia

haver oitenta mil habitantes na cidade e nos seus arredores, mas não

haver ainda assim alguém que falasse disso como absurdo prover

acomodação só para umas vinte pessoas porque, praticamente,

descobriu-se ser suficiente...”

“Deus, na sua infinita sabedoria, fez provisão de uma

espécie semelhante para todo o nosso mundo perdido. Proveu um

trem de graça para levar ao céu tantos dos seus habitantes, a grande

metrópole do universo, quantos estão dispostos a se aproveitarem das

provisões graciosas”.

Supondo que Deus tivesse esperado até o fim antes de

mandar Cristo morrer (como Ele podia ter feito só tão facilmente

como Ele esperou quatro mil anos depois que o pecado entrou no

mundo antes de mandar a Cristo), e o tivesse então mandado para

morrer por todos que tivessem crido. Teria então sido manifesto que

uma expiação limitada não oferece obstáculo a salvação de qualquer

homem que não existe já por causa da perversidade da natureza do

homem. Está claro, seguramente, a toda pessoa pensante, que a

ocorrência da morte de Cristo há dois mil anos não altera o caso,

porque Ele morreu por todos que crerem, estes tendo sido

conhecidos de Deus desde a eternidade tão completamente como

serão no fim.

Insinuamos que Deus está tanto sob a obrigação de remover

a inabilidade espiritual do homem para vir a Cristo como está para

prover-lhe uma expiação. Em outras palavras, a perversidade da

natureza do homem faz sua salvação tão impossível de um ponto de

vista como faz a ausência de uma expiação.

313


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Mas alguns podem abrir uma exceção a isto, dizendo que,

enquanto a perversidade de natureza do homem cria uma

impossibilidade moral, a falta de expiação fornece uma

impossibilidade natural. Respondemos que isto está correto, mas a

impossibilidade moral é primária e é absoluta; portanto, a

impossibilidade natural não pode fornecer nenhum entrave mais.

(c). Também não é necessário uma expiação geral à

manifestação do amor de Deus. A provisão de uma expiação sem

efeito não revelaria nada senão um amor cego e fútil. É desta espécie

de amor de Deus? Não, na verdade, o amor de Deus é inteligente,

intencionado, soberano, efetivo. O amor redentivo de Deus está

totalmente fundado dentro dEle mesmo e não procede de modo

algum de os objetos dele serem amorosos, nem porque mereçam

qualquer coisa boa de Suas mãos; logo, este amor está inteiramente

sujeito à Sua soberana vontade (Deuteronômio 10:15 ; Romanos

9:13). Dispensar Seu favor a objetos eleitos é do seu prazer gracioso,

imanente e particular.

(d). Uma expiação universal, finalmente, não é necessária

para a manutenção do zelo evangelístico e do espírito missionário.

Admite-se livremente que tem havido quem sustentou uma expiação

limitada cujo zelo evangelístico esteve longe do que devera ter sido.

Todavia, a falta não estava nessa doutrina senão na sua falta em ver e

crer outras verdades. Com muitos, incluindo os nobres valdenses e

albingenses, bem como Spurgeon e muitos outros de grande marca,

transbordante zelo evangelístico e forte crença numa expiação

limitada, tem morado lado a lado na mais gloriosa harmonia. De fato,

a crença numa expiação limitada, em razões que aqui não dispomos

de espaço para discutir, deveria fazer homens mais evangelísticos do

que a crença numa expiação geral, guardando-os, entrementes, de

excessos dolorosos.

314


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

3. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO

LIMITADA

(1). A teoria apresentada.

A teoria de uma expiação limitada sustenta que Cristo

morreu para os eleitos e só para eles; que o valor e desígnio ou

aplicação, a suficiência e a deficiência dela são as mesmas; que Cristo,

em nenhum sentido que seja, morreu por qualquer que perece no

inferno. A isto damos o nosso endosso feliz e incondicional.

A teoria prova

A. Argumentos de outros homens.

“Todos aqueles por quem Cristo deu a sua vida em resgate

ou estão por ela resgatados, ou não estão; que todos não estão

resgatados ou remidos do pecado, da Lei, de Satã e da segunda morte,

é evidente

... Agora, se alguns por quem Cristo deu Sua vida em

resgate, não estão resgatados, então essa absurdidade chocante ...

segue ... a saber, que Cristo está morto em vão, ou que, em última

análise, Ele deu Sua vida como um resgate em vão; pelo que será

retamente concluído que Ele não deu sua vida em resgate por todo

homem individualmente” (John Gill, The Cause of God and Truth,

pág. 98).

“As provas da Escritura assim chamadas de Redenção

Universal dependem de suposição humana, não da simples Palavra.

315


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Assim, quanto ao que concerne à “propiciação pelos pecados de todo

mundo”, é-nos dito que a palavra “mundo” deve significar toda

pessoa no mundo. Mas, porque deve significar isto? Essa é a

pergunta sem resposta. A palavra “mundo” quer dizer muitas coisas

diferentes na Palavra de Deus, sobre as quais vide Crudens

Concordance. Só a relação textual é o seu verdadeiro intérprete.

Decretar que ela deve significar isto ou aquilo não é senão indulgir em

prosa temerária e ociosa” (Sanger, The Redeemed, pág. 7).

“Indubitavelmente, ‘universal’ e ‘redenção’ (aqui usadas

como sinônimos com ‘expiação’: no sentido de ‘agorazo’), onde

grandíssima parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis como

‘Romano’ e ‘Católico’” (John Owen, como citado aprovadamente por

C. H. Spurgeon, Sermões, Vol. 4, pág. 220).

“Fosse o todo da humanidade igualmente amado de Deus e

promiscuamente remido por Cristo, o cântico que Deus os crentes

são mandados cantar custosamente correria nestas admiráveis toadas:

“Ao que nos amou e lavou de nossos pecados no seu próprio sangue

e nos fez reis e sacerdotes para Deus”, etc. (Apocalipse 1:5,6). Um

hino de louvor como este parece proceder, evidentemente, na

hipótese de eleição particular da parte de Deus e de uma redenção

limitada da parte de Cristo, a qual achamos declarada mais

explicitamente (Apocalipse 5:9), onde temos um transcrito desse hino

que os espíritos dos justos aperfeiçoados cantam agora diante do

trono e do Cordeiro: Tu foste morto e nos remiste para Deus pelo

Teu sangue de toda a raça e língua e povo e nação. Donde se diz que

os eleitos foram remidos dentre os homens (Apocalipse. 19:4)”

(Augustus M. Toplady, autor de “Rocha dos Séculos”, no prefácio a

Absolute Predestination, por Zanchius).

“Que Cristo é nossa vida, verdade, paz e justiça – nosso

pastor e advogado, sacrifício e sacerdote, que morreu para a salvação

316


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

de todos que cressem e de novo surgiu para sua justificação” (Artigo

7 da Confissão de Fé adotada em 1.120 pelos valdenses, o grupo mais

em evidência de progenitores batistas. Vide Jones Church History,

pag. 276).

A doutrina da expiação tem sido entendida diferentemente.

As igrejas antigas bem uniformes sustentaram que era particular; isto

é, que Cristo morreu só pelos eleitos e que nos Seus estupendos

sofrimentos “não se teve respeito nem se fez provisão por quaisquer

outros da raça arruinada de Adão” (Benedict, General History of the

Baptist Denomination, pág. 456).

“Se há qualquer coisa claramente ensinada na Escritura é

que o sacrifício de Cristo foi feito somente para aqueles que forem

eventualmente salvos por ela” (Alexander Carson, The Doctrine of

the Atonement and Other Treaties, pág. 196).

“Não pode ser que uma alma por quem Ele (Cristo) deu Sua

vida e derramou Seu sangue; cujos pecados Ele levou e cuja maldição

Ele susteve, deva perecer finalmente. Porque, se esse fosse o caso, a

divina justiça, depois de ter cobrado e satisfeito à mão do Abonador,

requereria o principal; em outras palavras, exigiria pagamento em

dobro” (Booth, The Reign of Grace, pág. 235).

“Pode um Deus de perfeição ética infinita, que com a Sua

própria mão lançou a tremenda carga da culpa do pecador sobre o

adorável Abonador, repudiar os tratos do Seu próprio concerto e

sonegar-Lhe a recompensa comprada pelo custo do Seu

preciosíssimo sangue? Dizer assim equivale e uma contestação à

verdade e à justiça de nosso Deus guardador do pacto”. (Prof. Robert

Watts, Sovereignty of God, ajuntando artigos de Pres. G. W.

Northrup, publcados no Standard of Chicago, e as respostas de Prof.

317


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Watts, quais artigos foram escritos pela sugestão de T. T. Eaton e

publicados no Western Recorder enquanto Eaton foi editor).

“Eles (certos teólogos) crêem que Judas foi expiado tanto

como Pedro; crêem que os precitos no inferno foram tão objetos da

satisfação de Jesus Cristo como os salvos no céu; e conquanto eles o

não digam nos devidos termos, contudo o devem pensar, porque é

uma bela inferência que, no caso de multidões, Cristo morreu em vão,

pois morreu por todos eles, dizem; e ainda tão ineficiente foi Sua

morte por eles que, conquanto morreu, eles são condenados

subseqüentemente. Agora, uma tal expiação eu a desprezo, rejeitou-a.

Posso ser chamado antinominiano ou calvinista por pregar uma

expiação limitada; mas eu antes crera numa expiação limitada que é

eficaz para todos os homens para quem foi intencionada do que uma

expiação universal ineficaz, salvo quando com ela se ajuntou a

vontade do homem.” (Spurgeon, Sermons, Vol. 4, pág. 218).

“Creio que a eleição elegeu os eleitos, que a presciência os

pré-conheceu; que foram “ordenados para a vida eterna” e “préordenados

para serem conforme a imagem do Seu Filho”; que a

redenção os remiu; que a regeneração os regenerou; que a santificação

os santifica; que a justificação os justifica; que a conservação os

conserva; que a providência provê por eles e assim por diante até à

glorificação. Daí, aqueles a serem glorificados são aqueles préconhecidos

e remidos. Não creio numa redenção geral e numa

glorificação especial” (J. B. Moody, Sin, Salvation, and Service), pág.

40).

“Eis aqui os cinco pontos do calvinismo:

Eleição incondicional ou predestinação, expiação

limitada ou redenção particular, depravação total necessitando graça

proveniente chamada eficaz ou graça irresistível, conservação e

318


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

perseverança dos santos. E o escritor não hesita em subscrever todos

os cinco pontos” (C. D. Cole, Definitions of Doctrines, Vol. 1, pag.

131).

O autor dá um entusiástico “Amém” a todos destes. Ele não

se envergonha de se achar na sua companhia como na de muitos

outros eminentes santos de Deus que sustentaram os mesmos

sentimentos. Ele está pronto a achar-se contendendo pela fé histórica

dos batistas, a fé das antigas igrejas; a fé dos valdenses, “essas

eminentes e honradas testemunhas da verdade durante o longo

período em que a igreja e o mundo foram assaltados por torpe erro e

imoralidade” (Rice, Deus Soberano e o Homem Livre).

B. Argumento da razão

É a única teoria que faz a morte de Cristo

verdadeiramente substitucionária. Se Cristo morreu por um

homem tanto como por outro, o que Ele deve ter feito se Ele fez a

salvação possível a todos os homens, então Ele morreu por alguns

que sofrerão eternamente no inferno. Sua morte, portanto, não foi

verdadeiramente substitucionária.

(b). É a única teoria compatível com a justiça de Deus.

A justiça de Deus exigiu que Cristo pagasse a penalidade exata dos

pecados daqueles que se salvam. Sua justiça (de Deus) também exige

que Ele salve todos cuja penalidade Cristo pagou. Isto é uma

proposição axiomática. É também uma proposição escriturística.

Qual é o significado de 1 João 1:9 em estabelecer que Deus é “justo

para perdoar os nossos pecados”, se não quer dizer que o perdão de

nossos pecados é um ato de justiça para com Cristo? A teoria de uma

expiação limitada sozinha deixa qualquer razão justa para a

319


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

condenação de pecadores impenitentes. Se fez-se uma expiação geral,

então não há justiça em mandar qualquer pecador para o inferno. Se

for suficiente para todos os homens, então exige quitação para todos.

Desde que a expiação foi exigida como uma satisfação à justiça de

Deus, sua eficiência deve igualizar sua suficiência. A mesma justiça

que requer a penalidade do pecado seja paga, assim tão enfaticamente

requer que o pecado seja libertado quando o pagamento se tenha

feito. Não há absolutamente fundamento na Escritura ou na razão

para se fazer uma distinção entre a expiação e a redenção ou

reconciliação, quanto ao seu alcance ou valor. Expiação, redenção e

reconciliação, todas se aplicam à base objetiva do perdão e todas por

igual se aplicam ao perdão atual.

(c). É a única teoria que dá à morte de Cristo qualquer valor

argumentativo em provar a segurança do crente. A seguinte afirmação

será reconhecida, sem dúvida, como um forte argumento da

segurança do crente por todos que crêem essa doutrina:

“Cristo, na Sua morte sobre a cruz, sofreu por todos dos

pecados de todo crente. Se o crente devera ir para o inferno, ele

sofreria pelos mesmos pecados pelos quais Cristo sofreu. Crente e

Cristo estariam então pagando pelos mesmos pecados, e Deus, ao

punir dois homens pelos pecados de um, seria o tirano mais injusto

do universo. Pereça o pensamento! O juiz de toda a terra deve fazer

justiça”

Mas este argumento não tem força se Cristo morreu por

todos, que tanto um como outro, que Ele deve ter feito se fez a

salvação possível para todos, removendo todos os obstáculos do

caminho de sua salvação. Ademais, segundo este argumento e

também segundo a verdade e a lógica, todos aqueles que afirmam que

Cristo sofreu a penalidade da Lei por todo homem fazem Deus “o

tirano mais injusto do universo”.

320


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

C. Argumentos da Escritura

(a) Isaías 53:11. Nesta passagem, o profeta, ao falar do

sacrifício de Cristo, diz que Deus “verá o trabalho da sua alma e

ficará satisfeito”. Tomamos isto para significar que as justas

exigências de Deus, a penalidade da Lei transgredida, foram satisfeitas

na morte de Cristo. Mas, por quem? Se por todo o filho de Adão,

então Deus não pode com justiça condenar qualquer deles. A justiça

satisfeita não pode exigir nada mais. Se o leitor está pensando de

argüir que o perdido no inferno sofrerá, não pelos seus pecados em

geral senão somente pelos pecados de rejeitar a Cristo, nós o

devolvemos à nossa discussão da teoria de uma expiação sob “(2). A

teoria desaprovada”.

Mais ainda, esta mesma passagem representa a Deus como

dizendo: “Pelo seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a

muitos: porque as suas iniqüidades levará sobre Si”. Isto ensina como

Cristo justifica os homens, isto é, levando suas iniqüidades. E notai

que esta justificação não é feita para depender de qualquer outra coisa

mais. Se Cristo tivesse que levar as iniqüidades dos homens para

justifica-los, então segue, como o dia à noite, que aqueles cujas

iniqüidades Ele levou devem receber justificação. Por aceitar esta

satisfação às mãos de Cristo, Deus põe-se a Si mesmo sob a

obrigação a Cristo (não ao pecador) de comunicar justificação a cada

um por quem a satisfação se faz, a qual Ele faz pela operação do

arrependimento e da fé no coração.

(b). João 15:13: “Ninguém tem maior amor do que este,

de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Se Cristo depôs Sua vida

por todo homem sem exceção, então Ele tem o maior amor por todo

homem; e, portanto, ama os que perecem no inferno tanto como

aqueles a quem Ele salva. Podia Cristo porventura estar satisfeito com

alguns dos objetivos do Seu maior amor no inferno?

321


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Mais ainda, se fosse verdade que Cristo ama aqueles que

perecem tanto como os que se salvam, teriam de atribuir nossa

salvação a nós mesmos antes ao amor de Cristo.

Romanos 8:32. “O que não poupou Seu próprio Filho, mas

O entregou por todos nós, como não nos dará com Ele também

todas as coisas?” Esta passagem argue que o amor dom de Deus, o

Seu Filho, garante todos os dons menores. Daí se segue que Deus

entregou Seu Filho a ninguém exceto aqueles a quem Ele livremente

da todas as outras bênçãos espirituais, isto é, aqueles que crêem. Vide

Efésios 1:3.

(c).

Romanos 8:33,34. Estes versos dizem-nos que

acusação ou condenação não podem ser trazidos contra os eleitos;

que Deus não os acusará, porque é Ele que justifica e que Cristo não

condenará, porque por eles morreu. Esta passagem estaria privada de

toda a força lógica se Cristo tivesse morrido por qualquer que Ele

algum dia condenará em juízo. Daí Ele não morreu por ninguém

exceto aqueles que escapam ao juízo.

(d).

2 Coríntios 5:14 “Porque o amor de Cristo nos

constrange que assim julgamos, que um morreu por todos, logo todos

morreram”. Eis aqui a inegável asserção que todos por quem Cristo

morreu, morreram representativamente nEle. Daí a morte não tem

poder sobre eles e nenhum deles a sofrerá, mas todos receberão a

justificação e a vida eterna pela fé. Ao comentar as três últimas

palavras desta passagem, diz A. T. Robertson: “Conclusão lógica ... o

um morreu pelo todo e assim o todo morreu quando ele morreu.

322


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

TODA A MORTE ESPIRITUAL POSSÍVEL PARA

OS A QUEM CRISTO MORREU”

(Ênfase nosso – Word Pictures in the New Testament). Não

deixe de notar o uso de “todo” nesta passagem.

(e). 2 Coríntios 5:19 “Deus estava em Cristo, reconciliado

(Katalasso) o mundo consigo mesmo, NÃO LHES IMPUTANDO

OS SEUS PECADOS ...” Isto ensina o que Deus estava fazendo na

morte de Cristo e como Ele o estava fazendo: Ele estava

reconciliando os homens consigo e Ele o estava fazendo por lançar

os seus pecados sobre Cristo e, portanto, não imputando,

reconhecendo e acusando aqueles por quem Cristo morreu. Cristo, na

Sua morte, executou completa reconciliação objetiva para os

objetivos de Sua morte, o que necessita serem eles trazidos à

experiência da reconciliação subjetiva. A única conclusão correta

disso é que Cristo morreu por aqueles e só aqueles que recebem

reconciliação eventualmente. Note o uso da palavra “mundo” nesta

passagem.

(f).

João 10:15; Atos 20:28; Efésios 5:25. Nestas

passagens se diz ter Cristo comprado a igreja, ter-Se dado por ela, ter

dado Sua vida pelas ovelhas. “Sei que termos universais estão algumas

vezes ligados nas Escrituras com a expiação; mas, se os mesmos são

para ser interpretados no seu sentido mais lato, por que os escritores

sagrados deveriam ter empregado apenas o restritivo? Os termos

universais ... podem ser harmonizados prontamente com os

restritivos, mas homem algum pode fazer o restritivo harmonizar-se

com o ilimitado” Parks, The Five Points of Calvinism)

323


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

(2). As Escrituras explicadas Tomamos aqui

as passagens tomadas por alguns como ensinando a

expiação geral.

A. João 3:16; 1 João 2:2. Em ambas as passagens a palavra

“mundo” é usada em conexão com a obra salvadora de Cristo. Uma

fala de Deus como amando o “mundo” e a outra fala de Cristo como

sendo uma propiciação pelos pecados de todo o “mundo”.

Contra a interpretação dada a essas passagens pelos

advogados de uma expiação geral, respondemos:

(a). Um amor que causasse Deus dar a Cristo para morrer

em lugar de cada homem individual da raça de Adão também causaria

Deus salvar a todos (* ). Por que deveria Deus discriminar entre os

homens em salva- los se Ele os amou a todos com o amor de todos

os amores? Vide Romanos 8:32.

(b).

Não haveria expressão real de amor em mandar um

salvador a morrer vãmente pelos homens. Que espécie de amor é

aquele que realiza um ato que não pode beneficiar realmente? Haveria

qualquer mor real mostrado por um pai em comprar belo quadro para

um filho que está totalmente cego?

(c).

Deus não ama todos os homens sem exceção está

provado, como já citado, pela declaração: “Amei a Jacó mas aborreci

Esaú” (Romanos 9:13).

(d).

A palavra “mundo”, finalmente, de nenhum modo

alude a todos os homens sem exceção em cada caso da Escritura e,

portanto, fica para ser provado que ela tem essa acepção nessas

324


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

passagens. “Mundo” é usado de incrédulos em distinção de crentes

(João 7:7, 12:31, 14:17, 15:18,19, 16:20, 17:14; I Coríntios 4:9,

11:32; Efésios 2:2;

Hebreus 11:7; 1 João 3:1; 3:13; 5:19. Está usada para gentios

em distinção de judeus (Romanos 11:12,15). Está para a generalidade

do povo conhecido (João 12:19). Cremos que a palavra alude, nas

duas passagens sob consideração, não a todos os homens sem

exceção, mas a todos os homens sem distinção; isto é, a homens de

todas as nações, tribos e línguas (da qual temos uma paralela em

Apocalipse 7:9); revelando que Cristo não morreu só para os judeus

senão para os gentios também, mesmo até aos confins da terra. A

razão lógica do emprego desta palavra neste sentido é dada por John

Gill, como segue:

Foi uma controvérsia agitada entre os doutores judeus se,

quando o Messias vier, os gentios, o mundo, terão qualquer benefício

por ele; a maioria estava excedendo de muito na negativa da resposta

e determinou que não teriam ... que os juízos mais severos e

tremendas calamidades lhes aconteceriam; sim, que seriam lançados

no inferno no lugar dos israelitas. Esta noção recebeu a oposição de

João Batista, Cristo e seus apóstolos e é a verdadeira razão do uso

desta frase nas passagens que falam da redenção de Cristo” (The

Cause of God and Truth, pág. 66) (* ). Como um judeu típico

Nicodemos pensou que Deus não amava a ninguém fora dos judeus,

mas nosso Senhor lhe disse que Deus de tal maneira amou o mundo

(gentios bem como judeus), que lhe deu o Seu Filho unigênito, para

que quem crer nEle (gentios ou judeus) não pereça, mas tenha a vida

eterna” (Cole, Definitions of Doctrines, Vol. 1, pág. 120). Notai outra

vez o uso de “mundo” em II Coríntios 5:19, onde

325


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

“Mundo” por quem Cristo morreu foi potencialmente

reconciliado por Sua morte, não é para ter imputado seus pecados.

Noutras palavras, deve receber o perdão que Ele lhe comprou.

B. 1 Timóteo 2:6; Tito 2:11. A palavra “todos” aparece

em ambas estas passagens, mas esta palavra é usada na Escritura

numa variedade de sentidos e de nenhum modo é usada na Escritura

numa variedade de sentidos e de nenhum modo é sempre usada no

absoluto.

Notai uns poucos de seus usos limitados:

(1). Um grande número (Mateus 3:5; 4:24; 14:35).

Todas espécies e classes (Mateus 23:47; Lucas 2:10; João

12:32; Atos 13:10; Romanos1:29;15:14; II Tessalonicenses 2:9; 1

Timóteo 6:10).

(2). Tudo com exceções manifestas (Marcos 11:30; Atos

2:46-47; 1 Coríntios 6:18; 8:32; 9:22; 10:33; Tito 1:15).

(3). Todos ou cada um de uma certa classe (Lucas 3:21;

Romanos 5:18, última parte; 1 Coríntios 8:2 comparado com os vs. 7

e 11; 15:22, última parte; 1 Coríntios 8:2 comparado com os vs. 7 e

11; 15:22, última parte; Colossenses 1:28).

Assim podemos ver facilmente que o significado de “paz”

deve ser determinado segundo o contexto e o ensino da Escritura em

geral. Portanto, em vista do que se tem dito sobre as inferências

inescriturísticas da idéia que Cristo morreu por todos os homens sem

exceção, afirmamos que “paz”, nas passagens pré-citadas, é usada no

segundo sentido acima listados e que o significado é homens de “toda

a nação, de todas as tribos e povos e línguas”, da qual achamos uma

326


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

paralela descrita em Apocalipse 7:9. O “todos” pelo qual Cristo

morreu é exatamente cotérmino com o “todos” que Ele atrai a Si

(João 12:32) (*).

“Está observado (I Timóteo 2:6) que se diz que Cristo darse

em resgate por todos, o que está entendido de todos os homens

em particular; mas devera ser observado também que este resgate é

“antilutron huper panton”, um resgate vicário, substituído no lugar de

todos, pelo que, um preço inteiro foi pago por todos e satisfação

plenária feita pelos pecados de todos, o que não pode ser verdadeiro

de todo homem individual, porque então nem um homem podia ser

condenado e punido justamente ... É melhor entender-se por todos

os homens alguns de toda espécie...

” (John Gill, Cause of God and Truth, pag. 51).

C. Hebreus 2:9. Não há aqui palavra para “homem” no

grego. A expressão é simplesmente “todos” ou “cada um”. No grego:

“pás”. E o contexto supre explanação quanto àqueles incluídos nesta

passagem, a saber, todo filho que Ele traz à glória. Assim, “todos” é

usado aqui no quarto sentido listado acima, isto é, todo ou cada um

de uma certa classe.

D. I Timóteo 4:10. A mera provisão de salvação por

todos os homens não faz de Deus seu Salvador qualquer coisa mais

do que salva-los. Isto não satisfaz o significado de salvador se é

aplicado à salvação da alma. No grego é “soter”, que quer dizer

“livrador”e “conservador”, bem como salvador. Estamos persuadidos

que este é o significado aqui. Deus livra a todos os homens (tanto

quanto Lhe apraz fazer assim) de perigos tanto visíveis como

invisíveis e os conserva em suas vidas. É assim que Ele exibe “as

riquezas de Sua bondade e paciência e longanimidade” que deveriam

levar os homens ao arrependimento (Romanos 2:4). O que Deus faz

327


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

por todos os homens em geral, Ele faz de uma maneira especial pelos

crentes.

E. II Pedro 2:1. A palavra desta passagem para o Senhor

não é “Kurios”, a qual é usada tanto de Deus ou de Cristo; mas é

“despotes”, a qual nunca se usa de Cristo. Daí ser a referência a Deus.

Pedro escreveu especialmente aos judeus. Sem duvida os falsos

mestres também eram judeus. E em Deuteronômio 32:6 explica

como o Senhor os comprara. Aqui se diz ter Deus comprado toda a

nação judaica porque Ele os livrou do Egito.

1. A Expiação não era necessária

Alguns teólogos, principalmente na idade média, negaram a

necessidade da expiação. Para eles a morte substitutiva de Cristo foi

fruto de uma decisão arbitrária de Deus. Para Duns Scotus, por

exemplo, Deus poderia ter aceitado qualquer outro substituto ou até

ter redimido seu povo sem nenhuma obra de satisfação. Hugo

Grócio, responsável pela teoria governamental da expiação (veremos

no próximo post) seguiu a mesma linha de pensamento, dizendo que

a cruz foi apenas uma demonstração moral do ódio que Deus tinha

pelo pecado, o que poderia ser feito de outra maneira. A teologia

liberal moderna também defende esse ponto de vista. Para o liberais,

influenciados por Schleiemacher, a cruz não tinha um poder judicial,

mas apenas moral, para influenciar o homem ao arrependimento e

salvação. Assim, negavam também a necessidade da expiação.

2. A Expiação era hipoteticamente

necessária.

Grandes teólogos como Atanásio, Agostinho, Tomás de

Aquino e até Lutero e Calvino defenderam a posição de que, pelo

decreto divino, a expiação se tornou necessária. Em outras palavras,

328


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

poderia haver outro modo, mas Deus soberanamente escolheu e

decretou que esse seria o único meio de salvação. Berkhof cita o

grande reformador: “Diz Calvino: Interessava-nos profundamente

que aquele que havia de ser o nosso mediador, fosse

verdadeiramente

Deus e verdadeiramente homem. Se se indagasse sobre a

necessidade, esta não era o que comumente se chama necessidade

simples e absoluta, mas, sim, a que fluiu do decreto divino, do qual

dependia a salvação do homem. O que era melhor para nós, nosso

misericordioso Pai determinou.” (Berkhof, 2012, pag 339)

3. A expiação era absolutamente necessária.

Essa reposta foi dada por Irineu na igreja primitiva e por

Anselmo na idade média. A teologia reformada e suas confissões

deram preferência a ideia de que não havia nenhum outro jeito pelo

qual Deus poderia perdoar os pecados dos seus eleitos. Aqui John

Murray faz uma observação importante. Ele adiciona o termo

“consequente” para explicar que a morte de cristo se fez necessária

pelo anterior decreto de salvação de Deus. Ou seja, Deus não tem a

necessidade absoluta de salvar qualquer homem que seja, mas a morte

de Cristo se tornou absolutamente necessária para a salvação que

Deus, eternamente, escolheu promover.

Murray explica:

A palavra consequente aponta para o fato de que a vontade

ou decreto de Deus para alguns resulta de sua livre e soberana graça.

Salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade

soberana de Deus. (Murray, 2010, pag 13)

329


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

No Catecismo de Heidelberg, um dos mais importantes

documentos da reforma,

A pergunta 40 trata desse tema: Por que Cristo devia

sofrer a morte?

R. Porque a justiça e a verdade de Deus

(1) exigiam a morte do Filho de Deus; não houve outro

meio de pagar nossos pecados

(2). Essa também é a nossa reposta: A morte de Cristo, sua

expiação, foi absolutamente necessária. Repudiamos totalmente a

primeira resposta por ser uma interpretação liberal e falaciosa que não

entende a seriedade do pecado, o caráter de Deus e o poder

sobrenatural da cruz. Para as outras duas nos apoiamos no decreto de

Deus, pois existindo outra maneira ou não, o importante no final é

que “Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé,

pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia

deixado impunes os pecados anteriormente cometidos.” Romanos

3:25.

Então, por que era absolutamente necessária?

Deus e seus atributos são perfeitos

Isso significa que todos os atributos de Deus são eternos, ou

seja, nenhum prevalece sobre o outros, mas todos existem em

igualdade perfeita. Ao comparamos justiça e amor veremos que

nenhum pode “vencer” o outro. Nem entre misericórdia e santidade.

330


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Ira e bondade. Nenhum pode ser violado para que o outro seja

exaltaldo. Ele não pode ser apenas justificador, mas também justo

(Rm 3:26).Isso significa que Deus não poderia salvar o

homem sem uma punição para o pecado. O caráter perfeito de Deus

nunca o permitiu fazer vista grossa para o pecado humano. Exôdo

4:7 proclama a misericórdia de Deus, mas afirma que ele “não deixa

de punir o pecado”. O profeta Naum grita a Israel no versículo 3 que

“o SENHOR não deixará impune o culpado.” Naum 1:3.

Concluímos que Deus não poderia deixar de punir os pecados. Sua lei

não muda jamais! Isso nos leva a verdade de Hebreus 9:22 que nos

assegura que “sem derramamento de sangue não há perdão”. O artigo

O sangue de animais não tem poder pra salvar

Poderia Deus, então, salvar através dos sacrificios instituídos

no Antigo Testamento? De jeito nenhum. Nenhuma criatura finita e

caída poderia nos salvar eternamente para a santidade. Aquela prática

judaica era apenas uma sombra daquilo que viria acontecer no

calvário. Os sacrifícios de expiação estavam preparando o povo

para o grande sacrifício da Cruz. Só tinham valor porque o grande

triunfo já estava decretado desde a eternidade para o seu povo

escolhido. A Bíblia é bem clara quando diz “A Lei traz apenas uma

sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos.

Por isso ela nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios

repetidos ano após ano, aperfeiçoar os que se aproximam para adorar.

Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser oferecidos? Pois os

adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais se

sentiriam culpados de seus pecados. Contudo, esses sacrifícios

são uma recordação anual dos pecados, pois é impossível que o

sangue de touros e bodes tire pecados.” Hebreus 10:1-4

331


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

As boas obras ou sofrimentos humanos não

tem poder pra salvar

Assim como os animais, sendo criaturas finitas e caídas,

nenhum homem, por mais que sofra e faça as mais excelentes obras

tem poder para salvar a si mesmo, quanto mais a outros. Segundo

Romanos 3 todos pecaram e estão numa situação que ninguém é

capaz de ser justo e de buscar a Deus. O apóstolo Paulo enfatiza

que “ninguém será declarado justo diante dele baseando-se na

obediência à lei, pois é mediante a lei que nos tornamos plenamente

conscientes do pecado.” Romanos 3:20. Nos encontramos incapazes

de qualquer tipo de auto salvação. Além disso, nos encontramos

incapazes de qualquer cooperação com Deus para ajudá-lo a nos

salvar. O pecado não é somente um desvio moral, mas uma situação

de condenação judicial irrevogável por meios terrenos. Esse meio de

salvação está totalmente descartado.

Só em Jesus tem poder pra salvar

Só em Jesus encontramos a resposta completa para o dilema

da salvação. Como um Deus santo e justo salva homens pecadores e

culpados? Através da vida perfeita, divina e humana, da morte

perfeita, divina e humana, e da ressurreição perfeita, divina e humana

da pessoa de Cristo. Aqui estamos afirmando as duas naturezas de

Cristo como sendo a única possibilidade de salvação (Ver as

perguntas 38, 39 e 40 do Catecismo Maior de Westminster). Como

um sacrifício pode nos expiar eternamente?

Somente se for feito por um ser eterno. Jesus. Como um

sacrifício pode nos representar perfeitamente? Somente se for feito

por um homem completo. Jesus. Onde se manifestaria a ira e o juízo

de Deus de forma plena pelo pecado? Nos sofrimentos e morte de

Jesus. Qual justiça e santidade seria nos dada para nos representar

332


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

diante de Deus? A justiça e santidade de Cristo.Que obra

incomparável e insubstituível! Por isso a Bíblia afirma: Pois há um só

Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo

Jesus” 1 Timóteo 2:5.

A oração de Jesus no Getsêmani nos revela essa necessidade

da expiação. Em sua grande angústia Cristo pediu para que o cálice da

ira do Pai fosse afastado dele (Mt 26:39). Mas prevaleceu a vontade de

Deus como o próprio Jesus terminou sua oração. Beber o cálice da ira

de Deus é tarefa dura demais para ser feita diante de outra opção.

Não devemos imaginar que Deus escolheu derramar todo o seu furor

contra o seu próprio filho por capricho de ser a melhor opção dentro

de possibilidade de outras. Foi necessário Cristo sofrer como homem

para se tornar sumo sacerdote e fazer propiciação por nossos pecados

(Hb 2:17).

Devemos nos alegrar e exaltar o nome de Deus pelo

tamanho ato de amor por escolher nos salvar mesmo pela única

opção existente: a morte de cruz do seu filho unigênito. Devemos nos

alegrar e exaltar o nome de Jesus pela sua coragem e altruísmo em

aceitar essa única opção de se entregar para pagar o preço no nosso

lugar. Devemos nos alegrar e exaltar o Espírito Santo que nos

entregou e sustenta essa salvação em nós e por nós. Glória seja ao

Deus Trino por esse grande Triunfo!

“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em

nosso favor quando ainda éramos pecadores.”Romanos 5:8 - Soli

Deo Gloria

333


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

26º O que é expiação substitutiva

"O que é expiação substitutiva?"

A “expiação substitutiva” se refere ao fato de que Jesus

Cristo morreu em favor de todos os pecadores. As Escrituras

ensinam que todos os homens são pecadores (leia Romanos 3:9-18 e

Romanos 3:23). O preço por nosso pecado é a morte. Romanos 6:23

nos diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito

de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.”

Este versículo nos ensina várias coisas. Sem Cristo, todos

nós vamos morrer e passar a eternidade no inferno como pagamento

por nossos pecados. Nas Escrituras, a morte se refere à “separação”.

Logicamente, todos morreremos, mas alguns viverão no céu com o

Senhor por toda a eternidade, enquanto outros viverão por toda a

eternidade no inferno. A morte de que se fala aqui se refere à vida no

inferno. Entretanto, a segunda coisa que este versículo nos ensina é

que a vida eterna está disponível através de Jesus Cristo. Isto é a Sua

expiação substitutiva.Jesus Cristo morreu em nosso lugar quando foi

crucificado. Nós merecíamos ser pendurados na cruz para morrer,

pois somos nós que vivemos vidas de pecado. No entanto, em nosso

lugar, Cristo tomou sobre Si a punição. “Àquele que não conheceu

pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça

de Deus” (II Coríntios 5:21). Ele tomou nosso lugar como substituto

pelo que nós, por justiça, merecíamos.

“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre

o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para

334


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (I Pedro 2:24). Aqui,

mais uma vez vemos que Cristo tomou os pecados cometidos por

nós sobre Si mesmo, a fim de pagar o preço por nós.

Alguns versículos adiante podemos ler:

“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o

justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade,

na carne, mas vivificado pelo Espírito” (I Pedro 3:18). Estes

versículos nos ensinam não somente a respeito do “substituto” que

Cristo foi por nós, mas também que Ele foi “expiação”, o que

significa que Ele plenamente satisfez o pagamento devido pelo

pecado do homem.

Mais uma passagem que fala a respeito da “expiação

substitutiva” é Isaías 53:5. Este versículo fala a respeito da vinda de

Cristo, a fim de morrer na cruz por nossos pecados. É rica em

detalhes, e a crucificação aconteceu exatamente como profetizada. Ao

ler, observe as palavras: “Mas ELE foi ferido por causa das

NOSSAS transgressões, e moído por causa das NOSSAS

iniquidades; o castigo que NOS traz a paz estava sobre ELE, e pelas

SUAS pisaduras FOMOS sarados.” Observe a substituição. Aqui,

mais uma vez, vemos Cristo pagando o preço por nós!

Não conseguiríamos pagar o preço do pecado nós mesmos.

Ou, se o fizéssemos, simplesmente seríamos punidos e colocados no

inferno por toda a eternidade. Entretanto, Cristo tomou a iniciativa

de vir à terra na forma do Filho de Deus, Jesus Cristo, para pagar o

preço por nossos pecados. Por causa do que Ele fez por nós, agora

podemos ter a oportunidade não apenas de termos nossos pecados

perdoados, mas de passarmos a eternidade com Ele. Para isto,

devemos colocar nossa fé no que Cristo fez na cruz. Não podemos

335


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

salvar a nós mesmos; precisamos de um substituto que tome o nosso

lugar. A morte de Jesus Cristo é a expiação Substitutiva.

Quais são as teorias diferentes sobre a expiação?

"Quais são as teorias diferentes sobre a expiação?"

Por todo o curso da história da igreja, várias opiniões ou

teorias diferentes sobre a expiação têm sido propostas por indivíduos

ou organizações diferentes, algumas delas sendo verdadeiras, outras

sendo falsas. Um dos motivos para isso é que o Velho e o Novo

Testamento revelam muitas verdades sobre a expiação de Cristo,

então é difícil, se não impossível, achar apenas uma “teoria” que

engloba ou explica a riqueza dessa doutrina por completo. Ao

contrário, o que descobrimos à medida que estudamos as Escrituras,

é um retrato rico e de muitas faces sobre a redenção que Cristo tem

executado.

Um outro fator que contribui à existência de tantas teorias

sobre a expiação é que muito do que podemos aprender sobre a

expiação precisa ser compreendido da experiência e perspectiva do

povo de Deus sob o sistema de sacrifícios do Velho Testamento. Já

que ter uma opinião correta da expiação de Cristo é fundamental para

entender a Bíblia como um todo, até mesmo uma análise das teorias

diferentes pode nos ser útil.

A expiação de Cristo (seu propósito e o que cumpriu) é tão

rica que muito tem sido escrito sobre esse assunto. O propósito desse

artigo é providenciar um simples resumo das muitas teorias que têm

sido propostas durante o percurso da história da igreja. Ao estudar as

opiniões diferentes sobre a expiação, não devemos nunca esquecer do

fato de que qualquer opinião que não reconhece o pecado do homem

e o aspecto substitucionário da expiação é deficiente e herege.

336


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Teoria do Resgate pago a Satanás:

Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um resgate

que foi pago a Satanás para comprar a liberdade do homem depois de

ter sido seu escravo. Ela é baseada na crença de que a condição

espiritual do homem é como um escravo de Satanás e que o

significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus

contra Satanás. Essa teoria tem pouco sustento bíblico (se é que tem

qualquer sustento) e poucas pessoas defenderam essa opinião durante

o curso da história da igreja. É herege porque acha que Satanás, e não

Deus, foi quem exigiu o pagamento pelo pecado e completamente

ignora as exigências da justiça de Deus como vemos nas Escrituras.

Também tem uma opinião de Satanás ocupando uma posição mais

alta do que a realidade e tendo mais poder do que ele realmente tem.

Não há nenhum sustento bíblico para a idéia de que pecadores devem

qualquer coisa a Satanás, e ao ler a Bíblia podemos ver que Deus é

quem exige um pagamento pelo pecado.

Teoria da Recapitulação:

Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como uma ação

para reverter o percurso da humanidade de desobediência a

obediência. Ela acredita que a vida de Cristo resumiu todos os

estágios da vida humana e ao fazer isso reverteu o percurso de

desobediência iniciado por Adão. Essa teoria não tem nenhum

sustento bíblico.

337


Teoria Dramática:

JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como tendo dois

propósitos: assegurar a vitória em um conflito divino entre o bem e o

mal, e ganhar a liberação do homem de sua escravidão a Satanás. O

significado da morte de Cristo foi para assegurar a vitória de Deus

contra Satanás e providenciar um caminho para redimir o mundo de

sua escravidão ao mal.

Teoria Mística:

Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um triunfo

de Cristo contra a Sua própria natureza pecaminosa através do poder

do Espírito Santo. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que

conhecimento dessa vitória vai influenciar o homem de uma forma

mística e despertar sua “consciência de deus”. Eles também acreditam

que a condição espiritual do homem não é o resultado do pecado,

mas simplesmente uma falta de “consciência de Deus”. Claramente

essa é umas das teorias mais hereges de todas, porque acreditar nessa

teoria significa acreditar que Cristo tinha uma natureza pecaminosa.

As Escrituras são bem claras ao declarar que Cristo era o perfeito

Deus-homem e sem pecado em todo aspecto da Sua natureza

(Hebreus 4:15).

338


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Teoria de Exemplo:

Essa opinião enxerga a expiação de Cristo como um

exemplo de fé e obediência para encorajar o homem a ser obediente a

Deus. Aqueles que defendem essa opinião acreditam que o homem é

espiritualmente vivo e que a vida de Cristo e a Sua expiação foram

simplesmente um exemplo de fé verdadeira e obediência e deve servir

como inspiração aos homens a viver uma vida semelhante de fé e

obediência. Essa e a teoria da influência moral são semelhantes, pois

ambas negam que a justiça de Deus exige um pagamento pelo pecado

e que a morte de Cristo na cruz foi o pagamento.

A diferença principal entre a teoria da influência moral e a

teoria de exemplo é que a primeira diz que a morte de Cristo nos

ensina o quanto Deus nos ama e a segunda diz que a morte de Cristo

nos ensina a viver. Claro que Cristo com certeza é um exemplo que

devemos seguir, até mesmo em Sua morte, mas a teoria do exemplo

deixa de reconhecer a verdadeira condição espiritual do homemmorto

em delitos e pecado (Efésios 2:1) – e que a justiça de Deus

exige pagamento pelo pecado, o qual o homem não é capaz de pagar

de forma alguma.

Teoria de Influência Moral:

Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como uma

demonstração do amor de Deus que causa o coração do homem a

abrandar e arrepender-se. Aqueles que defendem essa teoria

acreditam que o homem é espiritualmente doente e precisa de ajuda e

que o homem é levado a aceitar o perdão de Deus ao ver o amor de

Deus pelos homens. Eles acreditam que o propósito e significado da

morte de Cristo foi demonstrar o amor de Deus pelos homens.

339


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Enquanto é verdade que a expiação de Cristo foi o exemplo supremo

do amor de Deus, essa opinião também é herege porque nega a

verdadeira condição espiritual do homem e nega que Deus realmente

exige um pagamento pelo pecado. Essa teoria da expiação de Cristo

deixa a humanidade sem um sacrifício verdadeiro e sem o pagamento

pelo pecado.

Teoria Comercial:

Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como algo que traz

honra infinita a Deus. Isso fez com que Deus desse a Cristo uma

recompensa da qual Ele não precisava, e Cristo deu essa recompensa

ao homem. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que a

condição espiritual do homem é uma que desonra a Deus e a morte

de Cristo, a qual trouxe honra infinita a Deus, pode ser usada pelos

pecadores para obter salvação. Essa teoria, como muitas outras, nega

o verdadeiro estado dos pecadores não regenerados e sua necessidade

de uma natureza completamente nova, disponível apenas em Cristo (2

Coríntios 5:17).

Teoria Governamental:

Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como

demonstrando o quanto Deus valoriza Sua lei e como Ele encara o

pecado. É através da morte de Cristo que Deus tem um motivo para

perdoar os pecados daqueles que se arrependem e aceitam a morte

substitucionária de Cristo. Aqueles que defendem essa opinião

acreditam que a condição espiritual do homem é uma de quem tem

violado a lei moral de Deus e que o significado da morte de Cristo foi

para ser um substituto pela penalidade do pecado. Porque Cristo

pegou a penalidade do pecado, é possível que Deus perdoe

legalmente aqueles que aceitam Cristo como seu substituto. Essa

teoria falha em não ensinar que Cristo realmente pagou pela

340


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

penalidade dos pecados reais de qualquer povo, e mostra ao invés

disso que Seu sofrimento apenas mostrou à humanidade que as leis

de Deus foram quebradas e que algum tipo de penalidade foi paga.

Teoria da Substituição Penal:

Essa teoria enxerga a expiação de Cristo como sendo um

sacrifício substitucionário que satisfez as exigências da justiça Deus

sobre o pecado. Ao fazer isso, Cristo pagou a penalidade pelo pecado

dos homens por trazer perdão, por imputar justiça e por reconciliar o

homem a Deus. Aqueles que defendem essa teoria acreditam que

todos os aspectos do homem - sua mente, vontade e emoções- têm

sido contaminados pelo pecado. Também acreditam que o homem é

espiritualmente depravado e morto. Essa teoria acredita que a morte

de Cristo pagou a penalidade do pecado por aqueles que Deus elegeu

e escolheu salvar, e que através de arrependimento o homem pode

aceitar a substituição de Cristo como pagamento pelo seu pecado.

Essa teoria se alinha com a Bíblia de uma forma mais correta em sua

opinião do pecado, da natureza do homem e sobre os resultados da

morte de Cristo na cruz.

A EXPIAÇÃO PELO SANGUE

'A Expiação pelo Sangue'

Esta é talvez a verdade mais difícil do ser humano aceitar, a

de que a vida de uma vítima inocente seria sacrificada em nome do

culpado. Para entender isto completamente nós precisamos voltar

para o jardim do Éden no Livro de Gênesis.

341


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

1. Adão Entrega a Coroa Para o Diabo

O Senhor criou o homem à Sua imagem. Não porque Deus

se parece um homem ou com uma mulher. De acordo com Lucas

24:39, Deus não tem um corpo mas Ele é um Espírito eterno. (Jo

4:24). Adão e Eva foram criados como seres de natureza espiritual,

imortais, eternos. Naquele estado, era impossível para eles deixarem

de existir. Adão teve domínio absoluto e autoridade com só uma

restrição, não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.

Tudo o que voou, nadou, e rastejou estava debaixo do domínio de

Adão. Quando a serpente entrou no jardim, também estava debaixo

dos pés da autoridade de Adão . Adão permitiu esta serpente (Heb.

Nachash, "o envenenador" ) dialogar com a mulher (sua esposa) que

é proibido nas Escrituras. Nem sequer Cristo falou com o diabo, pois

isso o sujeitaria à Vontade ao diabo.

Naquele estado perfeito de controle e domínio, Adão

permitiu que a sua esposa dialogasse com esta criatura que estava

debaixo de sua autoridade, a qual chamou a Deus de mentiroso, e em

nenhum momento, em quaisquer dessas fases do pecado, Adão notou

que os seus olhos e os de sua esposa estavam sendo abertos. É

importante a nota de que ele não estava neutro, escolhendo a fruta,

mas estava "com ela" quando ela foi enganada:

Gen 3:6 "E viu a mulher que aquela árvore era boa para

se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar

entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a

seu marido, e ele comeu com ela."

Paulo, o apóstolo, deixou também muito claro que Adão

não foi enganado:

342


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

1 Tim 2:14 "E Adão não foi enganado, mas a mulher, endo

enganada, caiu em transgressão."

Adão soube exatamente o que ela estava fazendo, e como

ela escolheu pecar, Adão que estava com ela também escolheu pecar e

morrer por causa do amor dele para com sua mulher (um tipo de

Cristo). Mas fazendo isto, ele deu literalmente ao diabo a coroa de

poder espiritual e de domínio que ele possuiu anteriormente, e

colocou isto na cabeça do Nachash. À partir daquele instante, a morte

e satanás passaram a dominar legalmente. Neste ponto, em 2 Cor 4:4,

Satanás é denominado como o "deus deste mundo". A palavra

'mundo' no grego é interessante, significa "cosmos" que literalmente

significa "o sistema mundial". Alguém pode perguntar, "Onde, na

Escritura diz que Adão deu a coroa de autoridade ao diabo? "

A resposta está na tentação de Jesus em Lucas 4:

Lucas 4:5-8 "E o diabo, levando-o a um alto monte,

mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do

mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a

sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem

quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus,

respondendo, disse- lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás;

porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele

servirás."

2. O Plano de Deus

Assim o mundo inteiro ficou desesperadamente mergulhado

em escuridão e morte. Embora Adão e Eva só houvessem morrido

fisicamente muitos anos depois, foi a morte espiritual que veio

primeiro, como Deus os tinha advertido, "no dia em que dela

343


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

comeres, certamente morrerás.". Morte significa separação de Deus.

Eles não conheciam a morte, mas eles souberam que Deus havia

dito "Não" e quando eles desobedeceram a Deus, a morte passou a

reinar em seus espíritos e corpos. Seus espíritos eram a parte eterna, e

a parte deles que tomou conhecimento de Deus, estavam agora

cheios de escuridão e de morte reinando neles, contudo em Gênesis

3, onde a queda aconteceu, no verso 15 Deus dá a primeira luz de

profecia messiânica onde ele prediz "Aquele que virá" (Heb. Haba):

Gen 3:15 "E porei inimizade (guerra) entre ti

(satanás) e a mulher (o Israel), e entre a tua semente

(Gênero humano) e a sua semente (Messias); esta te

ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar."

Este verso é muito importante para se lembrar, porque é a

primeira menção da linha de escarlata da redenção de Deus, e de

como as promessas são reveladas ao longo da história de Israel (O

Antigo Testamento) e termina na cruz do Calvário, quando o sangue

do Cordeiro de Deus é derramado. Assim Gênesis 3:15 é o ponto de

partida, quando Deus lança de Sua primeira promessa d'Aquele que

um dia virá, o Messias, que transformará tudo. Em todas as épocas, as

pessoas estavam a esperar por Ele.

344


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Assim, Adão e Eva ao desobedecer, mergulharam todo o

gênero humano em escuridão, e trazendo neles a natureza caída, e

tudo aquilo que a árvore personificava, que era a natureza rebelde de

Satanás. Daquele ponto em diante é o epitáfio da humanidade:

Isaias 53:6 Todos nós andávamos desgarrados como

ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o

SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.

Deus.

Rm: 3:23 Tudo pecaram destituídos estão da glória de

O gênero humano inteiro é categorizado como esses, que

buscam o seu próprio caminho. Em Romanos 8:2 Paulo fala sobre "a

lei espiritual de pecado e morte". Assim quando Adão e Eva pecaram,

naquele momento eles estavam nus, perdidos, em total escuridão e

mortos espiritualmente, eles estão limitados, e em um novo reino,

escravos dos seus desejos e com a natureza rebelde de Satanás a

habitar neles. Mas neste momento algo acontece.

345


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

27º O Sangue

Neste momento Deus lhes dá vestes, através do

sangue de um animal inocente:

Gen 3:21-24 "E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua

mulher túnicas de peles, e os vestiu. Então disse o SENHOR

Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o

mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da

árvore da vida, e coma e viva eternamente, o SENHOR Deus,

pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de

que fora tomado.

E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente

do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor,

para guardar o caminho da árvore da vida."

Note que Ele os vestiu com túnicas de "pele", e que houve

um sacrifício para vestir a ambos. A palavra vestidos fala de expiação

pelo sangue. Eles nunca tinham visto qualquer coisa morrer, e eles

viram Deus, o doador da vida, sacrificando uma vida, porque quando

Deus os vestiu, Ele tinha sacrificado um animal inocente para fazer

isto, e eles souberam que a partir daí, eles só poderiam se aproximar

de Deus somente através do sangue de um substituto, porque este

substituto era um tipo do Cordeiro de Deus que estava por vir. Deste

ponto em diante, qualquer pessoa só pode se aproximar de Deus pelo

sangue. Este seria o meio de redenção. Sem o sangue não havia

nenhum outro meio possível para o homem ser salvo. Não importa

quão bom ele seja.

346


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Lev 17:11 "Porque a vida da carne está no sangue; pelo

que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas

vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela

alma."

Sangue (Heb. dam) é vida, e a vida é o sangue. Quando o

sangue é derramado, uma vida é derramada. O sangue se torna o

veículo de redenção ao longo da Bíblia inteira. Se você não puder

entender o sangue, você não pode entender a Jesus. Jesus não veio

curar o doente, Ele fez isto com sua vida. Ele veio e determinou a si

mesmo, ir para Jerusalém, e morrer. Jesus disse, "Para esta causa eu

vim."

João 10:18 "Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim

mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a

tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai."

Jesus veio por uma razão, derramar o sangue dele. Lembrese,

Jesus veio restaurar o que Adão e Eva haviam perdido.

1 Cor 15:21-22 "Porque assim como a morte

veio por um homem, também a ressurreição dos

mortos veio por um homem. Porque, assim como

todos morrem em Adão, assim também todos serão

vivificados em Cristo."

Quando João Batista viu Jesus, ele disse, "Eis o Cordeiro de

Deus que tira o pecado do mundo ". Por que João chamou Jesus de

O Cordeiro de Deus? Porque o cordeiro era o animal cujo sangue foi

derramado em lugar do pecador. Todo ser humano era culpado de

pecar e o salário do pecado é a morte, e plano de Deus era que o

347


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

sacrifício de um inocente sem pecado cobriria a culpa de muitos

pecadores.

Deus é santo. O Céu é santo. Tudo o que está perfeito e

justo na presença de Deus. Adão e Eva deveriam ter sido destruídos

pelo anjo do juízo de Deus, "O Querubim," contudo as suas espadas

foram suspensas porque Deus, em Seu amor lhes permitiu

contemplar o sangue precioso. Veja a espada de juízo descendo sobre

Adão e Eva, e no último momento, Deus revela que, em sua

onisciência, já havia preparado um substituto de forma que a

espada pararia o seu curso e cairia sobre ele. Cai sobre aquele

substituto toda a justiça, e Adão e Eva poderiam ir livres. Pense nisto

como uma dívida, e que era tempo da dívida ser paga, e no último

minuto alguém paga isto por completo.

sangue.

Mas há algo mais que Deus quer que o homem saiba sobre o

3. O Sangue - Um Significado mais Profundo

Quando nós olhamos Gênesis 9, precisamos nos lembrar de

que Deus instituiu um plano, chamou o plano de redenção pelo

sangue, e nós vamos começar a ver sangue por todo o Antigo

Testamento. Desde o princípio, haviam aqueles que não concordaram

e chamaram isto de "a religião do matadouro" , mas Deus ainda está

advertindo do mesmo modo que ele advertiu Caim. Assim, vemos o

sangue ao longo do Antigo Testamento em todos os lugares. Em

certos momentos durante a celebração da Páscoa haviam mais de

250.000 cordeiros sacrificados por todos os lados, com sangue, por

todo o Templo, e fluiu tanto sangue como o riacho Cedron, que foi

chamado de uma "visão horrorizante." Vendo o cordeiro que em

casa, se tornou um animal de estimação por quatro dias, e depois,

assistir a isto: golpes e gritos, e então ele é sido sacrificado na

348


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

presença da família, e para as crianças era uma lição, um legado que as

marcaria para sempre.

Pode nos fazer encolher, ver uma garganta de animais ser

cortada, mas é a nossa garganta que merecia ser cortada. Aquele

animal estava nos representando. Deus nos amou, e por sua graça,

proveu para nós um meio pelo qual a sua justiça seria completamente

satisfeita, e não seria executada em nós. Deus tinha permitido que a

medida da sua justiça se completasse nisto, não um pouco, mas

completamente. O substituto "suportaria" o juízo que pertenceu ao

pecador, e "identificaria com a sua condição ", porque, literalmente

"se fez pecado " Deus só pretendia que os pecados do povo

estivessem nele, mas aquele animal aos olhos de Deus se tornou a

mesma natureza pecadora odiada, e o juízo cheio de Deus caiu sobre

ele. Lembra-se do que a Escritura diz de Jesus?

2 Cor 5:21 " Àquele que não conheceu pecado,

o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos

justiça de Deus."

Jesus não suportou somente um pouco dos nossos pecados,

mas, Ele se tornou a mesma coisa pútrida, odiada que havia dentro de

Adão, e que o separou de Deus. Quando Cristo se tornou pecado e se

identificou completa e totalmente com a condição de homem caído,

Ele não suportou somente os nossos pecados, mas, Ele suportou

toda a natureza do pecado, e Ele a suportou para se identificar

completamente com a nossa condição. E quando Cristo se identificou

com a nossa condição, Ele se tornou o "objeto da Ira ". Todo o juízo

de Deus foi posto n'Ele, e por isso não é nenhuma maravilha que

Jesus bradou em alta voz , " Eli, Eli, sabactâni" o que significa "Meu

Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?" porque Ele literalmente

se tornou pecado para o mundo. Todo pecado, passado, presente,

349


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

e futuro, todo pecado que foi ou que será, estava naquele instante

sobre Ele.

1 Cor 15:21-22 "Porque assim como a morte

veio por um homem, também a ressurreição dos

mortos veio por um homem. Porque, assim como

todos morrem em Adão, assim também todos serão

vivificados em Cristo."

Assim, ao longo do Antigo Testamento, quando eles

sacrificavam um cordeiro, quando a penalidade recaía completamente

no substituto inocente, e o homem, que era o verdadeiro culpado, já

não era nenhum pouco culpado, porque o preço do pecado foi pago.

Ele poderia proclamar que ele estava perdoado, e que a dívida foi

liquidada, até que pecasse novamente, e então ele viria novamente a

cada vez, e uma vez por ano no Yom Kippur, onde todos os pecados

da nação eram expiados. Claro que isto era ano a ano, todos os anos,

até que veio o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, e levou o pecado para

sempre.

350


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

4. Restrições do Sangue

Como nós vemos em Gênesis 9, notamos que depois do

dilúvio Deus permitiu que o homem comesse carne animal. Noé e

sua família (8 pessoas) sobreviveram ao dilúvio. Noé fez um

sacrifício, e então Deus disse:

Gen 8:20-9:3 "E edificou Noé um altar ao SENHOR;

e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa, e

ofereceu holocausto sobre o altar. E o SENHOR sentiu o

suave cheiro, e o SENHOR disse em seu coração: Não

tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem;

porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua

meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz.

Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e

verão e inverno, e dia e noite, não cessarão.

E abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes:

Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra. E o temor de vós

e o pavor de vós virão sobre todo o animal da terra, e sobre

toda a ave dos céus; tudo o que se move sobre a terra, e todos

os peixes do mar, nas vossas mãos são entregues. Tudo

quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento;

tudo vos tenho dado como a erva verde."

Note que Deus permitiu que o homem comesse carne

animal. Até então eles eram vegetarianos. Mas, note que Deus

começa a dar instruções restritivas, com relação ao sangue:

351


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Gen 9:4 " A carne, porém, com sua vida, isto é, com

seu sangue, não comereis."

Gen 9:6 " Quem derramar o sangue do homem, pelo

homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o

homem conforme a sua imagem."

Desde então, o sangue não poderia ser comido, e nem

poderia ser derramado.

Também em Levítico:

Lev 17:10 " E qualquer homem da casa de Israel, ou

dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum

sangue, contra aquela alma porei a minha face, e a extirparei

do seu povo."

Lev 7:26-27 " E nenhum sangue comereis em

qualquer das vossas habitações, quer de aves quer de gado.

Toda a pessoa que comer algum sangue, aquela pessoa será

extirpada do seu povo."

Por que Deus deu ordens tão restritas sobre não comer

ou não derramar sangue? Porque o sangue era o instrumento de

redenção. Era santo, rigidamente separado. Deus teve que dizer

literalmente que Ele mataria qualquer um que comesse sangue. Ele

santificou o sangue, e fez com que o sangue fosse assim limitado,

para que em todo o mundo ele fosse tratado com reverência. Até

mesmo durante o período menstrual da mulher, ela era

considerada imunda, e não podia ser tocada nem sequer pelo seu

marido, antes da sua purificação. Até mesmo após dar à luz, havia

restrições por causa de contato com o sangue.

352


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Assim por que Deus pôs tal proibição no sangue? Por

que Ele pôs tal restrição, em toda possibilidade de contato com

ele? Porque o sangue era o meio de redenção. O sangue não podia

ser manuseado em qualquer outro contexto, a não ser o do

sacrifício. Deus estabeleceu o sangue separadamente como uma

coisa santa.

5. A Fé e o Sangue

Não bastava só trazer uma vítima substituta. Era

necessário derramar o seu sangue de modo correto e colocar

corretamente a sua gordura no altar. Lembra-se de Abel e Caim?

Caim ficou transtornado porque ele pensou ser uma pessoa melhor

que seu irmão, e ainda mais, porque Deus aceitou o sacrifício de

Abel. Caim era uma pessoa melhor que Abel em todos os sentidos,

afinal de contas, ele apareceu para trazer uma oferta primeiro. Ele

mostrou o primeiro ato de devoção religiosa. Mas Abel que clama

à Deus acerca da indignidade, aproximou-se dele com o sangue de

um substituto. Qual seria justificado? Qual Deus aceitaria? Caim

trouxe o fruto do solo. Caim trouxe o melhor das suas boas obras

e foi rejeitado por Deus. Não há nenhuma boa obra em um

homem apartado de Jesus Cristo. Abel soube que ele era indigno, e

por isso que, pela fé ele trouxe um substituto. Note o que diz em

Hebreus 11:

Heb 11:4 " Pela fé Abel ofereceu a Deus maior

sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de

que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por

ela, depois de morto, ainda fala."

Não era porque ele trouxe do modo ritualmente correto,

fazendo a coisa certa, mas foi a atitude dele. Note que diz, "Pela fé

353


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Abel ofereceu a Deus um sacrifício mais excelente, " ele soube que

ele merecia morrer e que o Senhor na Sua misericórdia, proveu

um substituto para ele. Era a condição do coração. Não era o ato

cerimonial do Antigo Testamento que justificava e trazia perdão,

mas a aceitação do ritual adicionada à fé.

Somente o Ritual, com a atitude errada nunca foi aceito.

Lembra-se quando Jesus condenou as cerimônias e tradições dos

fariseus? Imagine que o Messias a tanto esperado, tinha finalmente

chegado à Israel e os líderes do Judaísmo estavam tão endurecidos

e cegados em seus costumes, que eles perderam tudo

completamente. Jesus disse a eles, "Não me verás novamente até

venha a dizer, Bendito é Aquele que vem em nome do Senhor ".

É duro para a pessoa religiosa, que dedica-se severamente

aos seus rituais e obras de caridade, aceitar o fato de que Deus

aceita o mais miserável pecador, que, porém, vem com um coração

justo, um coração de fé. O amor de Deus cobre uma multidão de

pecados.

Ao longo de toda a história, e igualmente hoje, é a atitude

de fé que o Senhor deseja. É um coração que verdadeiramente

acredita nas promessas de Deus, não importando o quão ruim ele

tenha sido. Não importa qual a profundidade do pecado no qual

ele tenha caído. Quando um Israelita trazia um cordeiro, Deus não

queria apenas a cerimônia. Ele não queria um ritual formal. Ele

queria um coração confiante nas promessas mantidas por Deus. É

por isso que o louvor era sempre uma parte do sacrifício. Você não

pôde louvar a Deus verdadeiramente, de coração, a menos que

você soubesse que foi perdoado.

Se você fosse bater o ombro de um dos Israelitas ao altar

e lhe perguntar, "Por que você está aqui?" Se ele era um homem de

354


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

fé ele diria: "porque eu sou um pecador e mereço morrer, mas o

Senhor meu Deus, Bendito seja, me deu um meio, chamado de Sua

Lei, e de acordo com a lei cerimonial, este animal, quando eu

coloco minha mão em sua cabeça, torna-se eu, e eu me torno tão

inocente como ele é, e a sua inocência torna-se minha, o meu

julgamento torna-se dele, e quando eu o mato, eu percebo que era

eu quem deveria ser morto, mas por causa daquilo que Deus disse,

eu sou perdoado". Sempre haviam essas pessoas que, há pouco

passaram por estes sinais, e nunca compreenderam a misericórdia

de Deus. Eles levavam o animal como perfeitamente justos,

punham as suas mãos como justos, cortavam sua garganta como

justos, punham seus pedaços no altar como justos, e olhavam para

o sujeito ao lado vendo suas falhas, porém o coração estava errado,

e ele então, era rejeitado por Deus. O olho desnudo mostra apenas

duas pessoas idênticas, porque nós olhamos o exterior, porém,

Deus vê o interior.

Jesus falou acerca desses dois homens. Um construiu a

sua casa em uma fundação de pedra e o outro construiu a sua em

uma fundação de areia. Ambas as casas eram iguais, contudo elas

foram construídas em duas fundações diferentes. Mas você não

percebe, até que vem o juízo.

A Fé age simplesmente pelas promessas de Deus. "Eu

acredito no que Tu disse e eu recebo Teu perdão.

Heb 11:1 "ORA, a fé é o firme fundamento das coisas

que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem."

355


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

28º 'Yom Kippur

O Grande Dia da Expiação'

O DIA DA EXPIAÇÃO

Um dia por ano, o Sumo Sacerdote deixava o véu à parte

e entrava no Santo dos Santos para fazer expiação (Heb. Kafar)

para encobrir os pecados da nação do juízo de Deus, e para

receber o perdão. Era no 10º dia do 7º mês - Tishri. Pelo nosso

calendário, estaria entre o fim de setembro ou o início de outubro.

Era um dia de jejum no qual nenhum trabalho

poderia ser feito:

Lv 23:26-32 26 "Falou mais o SENHOR a Moisés,

dizendo: Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da

expiação; tereis santa convocação, e afligireis as vossas

almas; e oferecereis oferta queimada ao SENHOR. E

naquele mesmo dia nenhum trabalho fareis, porque é o dia

da expiação, para fazer expiação por vós perante o SENHOR

vosso Deus. Porque toda a alma, que naquele mesmo dia se

não afligir, será extirpada do seu povo. Também toda a alma,

que naquele mesmo dia fizer algum trabalho, eu a destruirei

do meio do seu povo. Nenhum trabalho fareis; estatuto

perpétuo é pelas vossas gerações em todas as vossas

356


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

habitações. Sábado de descanso vos será; então afligireis as

vossas almas; aos nove do mês à tarde, de uma tarde a outra

tarde, celebrareis o vosso sábado."

O Yom Kippur era para o sacerdócio, para o povo, e para

o lugar da habitação de Deus, o tabernáculo, que Ele disse, 'reside

com eles no meio das suas imundícias.'

Lv 16:16 " Assim fará expiação pelo santuário por

causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas

transgressões, e de todos os seus pecados; e assim fará para a

tenda da congregação que reside com eles no meio das suas

imundícias. "

O propósito do Dia da Expiação era desviar a ira de Deus

pelos seus pecados do último ano, e buscar o favor diante d'Ele.

Era o dia no qual o significado do sistema expiatório alcançou seu

ponto mais alto. Apesar de diariamente, semanalmente, haver

sacrifícios que eram oferecidos, ainda haviam pecados que não

foram reconciliados completamente, e neste dia especial todas as

pessoas buscavam Deus para serem perdoadas.

357


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Tradição Judaica

E agora, o que os judeus fazem para receber a

expiação?

Arrependimento

Com a queda do Templo e o fim das ofertas expiatórias,

o arrependimento como o meio de expiação para os pecados

tornou-se um assunto extremamente importante no Judaísmo. Até

mesmo quando os sacrifícios ainda eram realizados, os Rabinos

ensinavam que era preciso haver contrição, para que uma oferta

fosse aceita por Deus. Eles afirmavam:

"Nem Ofertas pelo Pecado, nem ofertas pela

transgressão, nem morte, nem o Dia da Expiação, podem trazer

expiação sem haver arrependimento ". [Tosifta Joma v. 9].

358


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Quando o Templo foi destruído e os sacrifícios já não

eram mais oferecidos, o povo judeu precisava de uma garantia de

perdão e expiação . Assim os Rabinos disseram:

"De onde é derivado que, se a pessoa se arrepende, é

imputado a ela como se ela tivesse subido para Jerusalém,

construído o Templo, erguido um altar e oferecido os sacrifícios

exigidos na Torah? Do texto, "os sacrifícios para Deus são um

espírito quebrantado" (Sl 51:17) [Lev. R. vii. 2].

"Eu não quero de vocês sacrifícios e oferecimentos, mas

palavras (de contrição); como é dito, "Tomai convosco palavras, e

convertei-vos ao SENHOR" (Os 14:2) [Exod.R. xxxviii. 4].

Uma passagem de importância na literatura judaica neste

assunto diz (note que as Escrituras hebraicas.

São divididas nas 3 classes, o Hagiografa, os

Profetas e a Torah):

"A Sabedoria (ie. o Hagiografa) foi indagada: qual é a

penalidade de um pecador? e a resposta é, 'O mal perseguirá os

pecadores ' (Prov 13:21). Quando a profecia foi indagada,

respondeu, 'a alma que pecar deve morrer' (Ez 18:4). Quando o

Torah foi indagado, respondeu, 'Deixe que ele faça um oferta pela

culpa, e ele será perdoado; como se diz, ' para que seja aceito a

favor dele, para a sua expiação.' (Lev 1:4). Quando a pergunta foi

feita ao Santo, santificado seja Ele, Ele respondeu: 'Deixe que ele

se arrependa e ele será perdoado; como está escrito: Bom e reto é

o SENHOR; por isso ensinará o caminho aos pecadores.' (Sl

25:8)" [pág. Mak. 31d].

359


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

No Judaísmo o ponto de tudo isso, é que as Escrituras

não se contradizem, mas aquele arrependimento é o método

principal pelo qual um pecador verdadeiramente se reconcilia das

suas transgressões. Os Rabinos instruem com toda a autoridade

que se um pecador verdadeiramente se arrepende antes de sua

morte, e por engano ele desce ao Gehinnom ele será "atirado

fora como uma seta de um arco". Esta é a convicção entre os

judeus hoje em muitas correntes do Judaísmo. A verdade é que:

"Sem o derramamento de sangue não há nenhum perdão". (Lev

17:11). Y'shua (Jesus), o Messias judeu, disse: "A menos que

crerdes que eu SOU, morrereis em vossos pecados ". Y'shua

ensinou que o Torah foi dado para revelar o pecado.

Deus criou o homem, e este herdou (de Adão) um

impulso maligno, causa da qual ele é propenso a pecar, a justiça

exigiu que um antídoto tinha que ser provido igualmente para a

salvação dele. Se a maldade é uma doença da qual todo ser humano

foi afetado, então era necessário para o Senhor, santificado seja

Ele, prover um meio na sua grande sabedoria de expor o coração e

conceder o verdadeiro arrependimento. Isso é encontrado em uma

relação viva com Y'shua ressurgiu, sendo as primícias de todos

aqueles que crêem, a quem é dado viver novamente. Como Ele

disse:

" Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim

nunca morrerá, mas tem a vida eterna."

Também neste dia foi revelado mais claramente do que

em qualquer outro, o ministério do sumo sacerdote como

mediador entre Deus e o homem. Neste dia, como o representante

oficial do povo, ele tinha acesso à presença de Deus, e o povo

compartilhava este acesso. Ao sair vivo do Santo dos Santos, o

povo soube que Deus manteve a sua aliança, e estendeu mais uma

360


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

vez a Sua clemência. Mas isto não pôde acontecer sem o

arrependimento, e a confissão de pecados e, claro que, o sangue de

um substituto:

Nm 29:7-8 " E no dia dez deste sétimo mês tereis

santa convocação, e afligireis as vossas almas; nenhum

trabalho fareis. Mas por holocausto, em cheiro suave ao

SENHOR, oferecereis um novilho, um carneiro e sete

cordeiros de um ano; eles serão sem defeito. "

O dia começava com a preparação pessoal de Arão, o

sumo sacerdote por causa da sua santa participação como

mediador pelo povo. Tudo o que ele fazia na cerimônia tinha um

significado que poderia ser entendido em relação à necessidade de

perdão do homem.

Em primeiro lugar, Arão tirou as suas vestes sacerdotais

comuns. As vestes oficiais dele que eram para glória e ornamento,

não seriam visto neste momento. Arão era um homem pecador e

assim, ele só se vestiu em linho branco, e precisava se arrepender

juntamente com o resto da nação. Neste dia ele estaria se

aproximando de Deus como um pecador que busca perdão.

Vestido em uma túnica de linho de branco, longa e

adereçada, com uma faixa de linho sendo um cinto, ele foi adiante,

com os olhos de todos os Israelitas arrependidos fitos nele, e

então atravessou o portão de entrada do pátio e conduziu

um novilho e um carneiro. Este era o mesmo modo que qualquer

outro pecador arrependido normalmente viria, mas desta vez ele

veio buscar o perdão de Deus por ele, por sua família, e pelos

sacerdotes.

361


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Ele conduziu o novilho ao altar de holocausto, e lá

colocou as suas mãos em sua cabeça, confessou o seu próprio

pecado, e os da sua família, então o sacrificou. O animal era um

substituto por Arão, e seu sangue era derramado de forma que a

expiação poderia ser feita pelos seus pecados. Arão levou o sangue

do sacrifício, e então colocou isto em uma tigela. Ele encheu o

incensário com brasas do altar de bronze, no qual as partes

daquele sacrifício foram queimados até se tornarem cinzas. Então

ele lavou os seus pés e as mãos na pia de bronze e entrou no

Santo Lugar. Deste momento em diante ele estava escondido da

vista do povo.

Atravessando o Santo Lugar ele recolheu dois punhados

do incenso do altar dourado de incenso, e então se colocou de

frente com o Véu. Era um momento temeroso quando ele moveu

a cortina e avançou , para entrar diante da presença de Deus .

Primeiro, ele aspergia o incenso nas brasas do incensário

que ele estava levando, de forma que o santo cômodo era cheio de

uma nuvem. E então, ele levou o sangue, e com o dedo aspergiu

no propiciatório entre os dois querubins do juízo. O seu último

ato era aspergir o sangue no chão, na frente da arca 7 vezes. A

Presença do Senhor era demosntrada pela nuvem da glória que

vinha sobre o tabernáculo, e descia até o Santo dos Santos,entre os

Querubins . O povo do lado de fora via a descida da nuvem.

Quando o Sumo Sacerdote saía do tabernáculo, ele ia à

porta da Tenda da Congregação (Lev. 16:7) enquanto eram

conduzidos dois bodes até ele. Então ele lançava sortes. Como

resultado, um bode era escolhido como o bode para o Senhor,

enquanto o outro se tornou o 'bode da saída' ou 'bode expiatório'.

362


O Primeiro Bode

AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A primeiro bode foi sacrificado da mesma maneira que a

própria oferta de Arão havia sido, mas desta vez era pelos pecados

do povo. Como o sumo sacerdote, ele pôs as suas mãos, e como o

representante deles ele matou o bode por eles.

Novamente Arão voltaria ao Lugar Santíssimo. Uma vez

mais em oração e adoração, ele aspergiu sangue da oferta pelo

pecado 7 vezes em frente do Propiciatório.

De acordo com a tradição judaica, durante este tempo, as

pessoas ficavam com grande medo. Se o sumo sacerdote

demorasse, eles ficavam terrificados, pois o seu sacrifício não havia

sido aceito, e ele havia morrido na presença de Deus.

Quando Arão, em uma atitude de louvor, acabava sua

tarefa no Santo dos Santos, ele abriria a cortina do véu e voltaria ao

Lugar Santo para o altar de ouro. Nesta hora, ele não oferecia

incenso nele, mas com o dedo, ele aspergia um pouco do sangue

em seus quatro chifres.

Quando Arão voltava à vista do povo, ele iria para o altar

de holocausto, e da mesma maneira aspergiria em seus quatro

chifres o sangue do touro e do bode.

O Segundo bode

O segundo dos dois bodes, estava parado. Era o bode

expiatório. Esta bode viveria, mas a ordem era de que ele deveria

"ser levado para o deserto".

363


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Lev 16:20-22 " Havendo, pois, acabado de fazer

expiação pelo santuário, e pela tenda da congregação, e pelo

altar, então fará chegar o bode vivo. E Arão porá ambas as

suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele

confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas

as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá

sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de

um homem designado para isso. Assim aquele bode levará

sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e deixará

o bode no deserto. "

Era um quadro vívido do pecado que é removido e nunca

mais visto. Como Davi disse:

Sl 103:12 " Assim como está longe o oriente do

ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões."

E este bode que representava a remoção de pecados, os

levou para um lugar isolado no deserto, para nunca mais ser visto

novamente.

Arão pôs ambas as mãos na cabeça do bode e confessou

em cima do bode expiatório "toda a maldade e rebelião do povo

de Israel " (Lv. 16:21). Em um ato de substituição simbólica, ele

os colocou, isto é, na cabeça do bode, que foi levado então, longe,

nos confins do deserto por um homem escolhido, que levaria o

bode expiatório, e só retornaria quando seguramente o animal não

mais poderia retornar. Como a grande cerimônia estava

terminando, Arão voltou do Lugar Santo, para banhar o corpo

inteiro em água, e ele viria então para fora, para o povo ver o seu

esplêndido vestuário.

364


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Ele tinha mais um oferecimento a fazer. Era um

holocausto que, diferente de todos os outros sacrifícios, era

consumido completamente através do fogo no altar. Arão oferecia

um cordeiro para ele, e um para o povo era um ato de louvor e

adoração a Deus, por ter provido um meio de expiação.

Tradição Judaica

De acordo com os escritas dos antigos Rabinos,

"sete coisas foram criadas antes do universo vir a existir. Eles

são: Torah, Arrependimento, Paraíso, Gehinnom, o Trono de

Glória, o Santuário, e o nome do Messias " [Pes. 54a).

365


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Jesus Cristo e a Nova Aliança

O Livro de Hebreus nos ensina como Deus o Filho, Jesus

Cristo, se tornou o supremo Sumo Sacerdote além de quem não há

nenhum outro. Este Sumo Sacerdote é alguém que conhece todas

as nossas tentações e fraquezas humanas, porque Ele foi provado e

tentado, e permaneceu fiel. Ele se tornou como um de nós,

podendo nos representar verdadeiramente perante Deus o Pai,

Hb 4:15 Porque não temos um sumo sacerdote que

não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um

que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.

Hebreus explica-nos que Cristo não veio como um filho

de Arão, mas como sacerdote da ordem de Melquisedeque.

Hb 7:1-3 " PORQUE este Melquisedeque, que era rei

de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de

Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou;

A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é,

por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que

é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo

princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao

366


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre."Isto havia sido

profetizado à muito tempo, nas inspiradas Escrituras por Davi:

Sl 110:4 "Jurou o SENHOR, e não se arrependerá: tu

és um sacerdote eterno, segundo a ordem de

Melquisedeque."Davi enfatiza essas palavras, "Tu és sacerdote

eterno. Alguém permanentemente pronto para a tarefa

sacerdotal." Ele declara, Porque Jesus vive para sempre, tendo

um sacerdócio permanente.

Hb 7:24-27 " Mas este, porque permanece

eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode

também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a

Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos

convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,

separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus;

Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer

cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios

pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma

vez, oferecendo-se a si mesmo. "

O autor de Hebreus então, enfatiza o padrão de adoração

daquele que se aproxima de Deus. Ele fala do tabernáculo, o santo

lugar e o santo dos santos. Ele fala da Arca da Aliança e dos

querubins da Glória que ofuscam o propiciatório, e então conclui

mostrando que o sumo sacerdote tinha que entrar

continuamente no santo dos santos, ano após ano, e o fato de que

ele sempre tinha que levar mais sangue, simplesmente mostrava a

ineficácia daquele padrão para trazer salvação completa.

367


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Hebreus Capítulo 9: Hb 9:11-26 " Mas, vindo Cristo,

o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais

perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta

criação,

Hb 10:12-13 " Mas este, havendo oferecido para

sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à

destra de Deus, daqui em diante esperando até que os seus

inimigos sejam postos por escabelo de seus pés."

Os sacrifícios da velha aliança foram substituídos pelo

sacrifício do Cordeiro de Deus. A nova aliança, também realizada

por Yahweh, requer o derramamento de sangue, mas esta é uma

aliança superior, constituída de superiores promessas e inclui, não

só os judeus, mas o mundo inteiro. É uma aliança onde há um

mediador entre Deus e homem, Cristo Jesus, homem (1 Tim. 2:5).

É uma aliança na qual o Sumo

Sacerdote não só apresenta o sacrifício para Deus, mas

pela sua morte substituta, Ele é o sacrifício. Ele oferece o próprio

sangue, que não só cobre, mas lança fora o pecado, pois

o 'sangue de Jesus... nos purifica de todo pecado'

(1 João 1:7). O Seu sacrifício está completo. Está, em todos os

sentidos perfeito, e por isso, é que nós lemos:

Heb 10:19-22 " Tendo, pois, irmãos, ousadia para

entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo

caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua

carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,

cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de

368


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o

corpo lavado com água limpa, "

O tabernáculo de Deus não está mais no deserto. O

Sacrifício animal teve um grito de parada, com o sacrifício de Jesus

. Arão e o sacerdócio dele já não intervém entre Deus e homem.

Jesus Cristo fez tudo.

Pelo sacrifício de Jesus Cristo a expiação foi feita afinal, e

os que n'Ele confiam tem garantia

certa:

Hb 7:25 "Portanto, pode também salvar

perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo

sempre para interceder por eles."

A Presença de Deus agora habita EM nós, como Paulo disse:

Gl 2:20 " Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não

mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na

carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se

entregou a si mesmo por mim."

Se 'Cristo vive em mim' significa que a minha vida é o

"Mishkan" de Deus. (Veja também A Expiação pelo Sangue).

369


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

29º Qual a Importância do Véu do

Templo ter sido Partido em dois

Qual a importância do véu do templo ter sido partido

em Dois QuandoJesus morreu?

"Qual a importância do véu do templo ter

sido partido em dois quando Jesus morreu?"

Durante a vida de Jesus, o Santo Templo em Jerusalém

era o centro da vida religiosa dos judeus. Era aqui onde os

sacrifícios de animais eram executados e onde a adoração de

acordo com a Lei de Moisés era seguida fielmente. Hebreus 9:1-9

nos diz que no Templo um véu separava o Santo dos Santos – a

habitação terrena da presença de Deus- do resto do Templo onde

os homens habitavam. Isso significava que o homem era separado

de Deus pelo pecado (Isaías 59:1-2). Apenas o Sumo Sacerdote

tinha a permissão de passar pelo véu uma vez por ano (Êxodo

30:10; Hebreus 9:7), de entrar na presença de Deus representando

Israel e de fazer expiação pelos seus pecados (Levítico16).

O Templo de Salomão tinha 30 côvados de altura (1 Reis

6:2), mas Herodes tinha aumentado sua altura para 40 côvados de

acordo com as escritas de Josefo, um historiador do primeiro

século. Não temos certeza a que um côvado se compara em

metros e centímetros, mas podemos supor que esse véu tinha mais

ou menos 18 metros de altura. Josefo também nos diz que o véu

tinha 12 cm de grossura, e que cavalos puxando o véu dos dois

lados não podiam parti-lo. A narrativa no livro de Êxodo nos

370


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

ensina que esse grosso véu era feito de material azul, roxo e

escarlate e de linho fino torcido.

O tamanho e grossura do véu deram muito mais

importância aos eventos que aconteceram no exato momento da

morte de Cristo na cruz. “E Jesus, clamando outra vez com grande

voz, rendeu o espírito. E eis que o véu do templo se rasgou em

dois, de alto a baixo” (Mateus 27:50-51a).

O que podemos aprender disso tudo? Qual a significância

do véu partido para nós nos dias de hoje? Acima de tudo, o rasgar

do véu no momento da morte de Jesus dramaticamente simboliza

que Seu sacrifício e o derramamento do seu próprio sangue

serviram como uma expiação suficiente pelos pecados para

sempre. Significa que o caminho para o Santo dos Santos estava

aberto para todas as pessoas, em todos os tempos, tanto aos judeus

quanto aos gentios.

Quando Jesus morreu, o véu rasgou e Deus saiu daquele

lugar para nunca mais habitar em um Templo feito por mãos

humanas (Atos 17:24). Deus deu um fim ao Templo e seu sistema

religioso e de adoração. O Templo e Jerusalém ficaram

“desolados” (destruído pelos Romanos) em 70 D.C, assim como

Jesus tinha profetizado em Lucas 13:35. Enquanto o Templo

continuasse a existir, isso significava a continuação da Antiga

Aliança. Hebreus 9:8-9 se refere à Aliança que estava passando e à

Nova Aliança que estava sendo estabelecida (Hebreus 8:13).

De uma certa forma, o véu era um símbolo de Cristo

como sendo o único caminho ao Pai (João 14:6). Isso é

simbolizado pelo fato de que o Sumo Sacerdote tinha que entrar

no Santo dos Santos através do véu. Agora Cristo é o nosso

superior Sumo Sacerdote, e quando acreditamos no Seu trabalho

371


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

completo, passamos a compartilhar do Seu sacerdócio. Podemos

então entrar no Santo dos Santos através dEle. Hebreus 10:19-20

diz que os fiéis entram no santuário através do “sangue de Jesus,

pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através

do véu, isto é, da sua carne”. Vemos aqui a imagem da carne de

Jesus sendo rasgada a nosso favor no momento em que Ele partia

o véu por nós.

O véu sendo rasgado de cima para baixo é um fato

histórico. O significado profundo desse evento é explicado em

grande detalhe em Hebreus. Essas coisas eram uma sombra das

coisas por vir, e todas apontam para Jesus. Ele era o véu do Santo

dos Santos e, através de Sua morte, os crentes têm acesso direto a

Deus.

O véu do Tabernáculo era um lembrete constante de que

o pecado nos torna ineptos para entrar na presença de Deus. O

fato de que a oferenda de pecado era oferecida anualmente e

inúmeros outros sacrifícios eram repetidos diariamente serviam

para nos mostrar graficamente que sacrifícios de animais não

podiam permanentemente expiar o pecado. Jesus Cristo, através

de sua morte, removeu as barreiras entre Deus e o homem. Por

isso podemos agora nos aproximar dEle com confiança e audácia

(Hebreus 4:14-16).

372


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Como e a quem Jesus pagou o nosso resgate?

"Como e a quem Jesus pagou o nosso resgate?"

Um resgate é algo que se paga para libertar um cativo ou

prisioneiro. Jesus pagou o nosso resgate para libertar-nos do

pecado, da morte e do inferno. Encontramos nos livros de Êxodo,

Levítico, Números e Deuteronômio os requisitos de Deus para os

sacrifícios. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus ordenou aos

israelitas que fizessem sacrifícios de animais para a expiação

substitutiva, ou seja, a morte de um animal tomava o lugar da

morte de uma pessoa, uma vez que a morte é a penalidade pelo

pecado (Romanos 6:23). Êxodo 29:36a declara: "Sacrifique um

novilho por dia como oferta pelo pecado para fazer propiciação."

Deus exige santidade (1 Pedro 1:15- 16). A Lei de Deus

exige santidade. Não podemos dar a Deus a santidade completa

por causa dos pecados que cometemos (Romanos 3:23), portanto,

Deus exige a satisfação de sua lei. Os sacrifícios dedicados a Ele

cumpriam os requisitos. Aqui é onde Jesus entra em cena. Hebreus

9:12-15 nos diz: "Não por meio de sangue de bodes e novilhos,

mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma

vez por todas, e obteve eterna redenção.

Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma

novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os

santificam de forma que se tornam exteriormente puros, quanto

mais, então, o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se

ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência

de atos que levam à morte, de modo que sirvamos ao Deus vivo!

Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova aliança para que

os que são chamados recebam a promessa da herança eterna, visto

373


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a

primeira aliança."

Romanos 8:3-4 também diz: "Porque, aquilo que a lei fora

incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez,

enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador,

como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a

fim de que as justas exigências da lei fossem plenamente satisfeitas

em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o

Espírito."

Claramente, Jesus pagou o resgate por nossas vidas a

Deus. Esse resgate foi a sua própria vida, o derramamento do seu

próprio sangue, um sacrifício. Por causa de sua morte sacrificial,

cada pessoa na terra tem a oportunidade de aceitar esse dom de

expiação e ser perdoado por Deus. Sem a sua morte, a Lei de Deus

ainda precisaria ser satisfeita - por nossa própria morte.

'As 5 Ofertas Levíticas' Os Sacrifícios

Este sistema de sacrifícios foi ordenado por Deus e foi

colocado no centro e no coração da vida da nação judaica. O que

quer que os judeus pensassem, naquela ocasião, por causa do

sacrifício contínuo de animais, e o fogo ardendo continuamente no

altar do holocausto, não há nenhuma dúvida de que era Deus

quem estava impregnando nos corações de cada homem, uma

consciência do pecado de cada um.

Uma lição de objeto que faria marcas na pele de cada um,

um quadro de longa data do sacrifício vindouro do Messias. Os

sacrifícios apontaram a Ele e foram cumpridos n'Ele.

374


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Há muitas instruções para o sacrifício ao longo do

Pentateuco, mas em Levítico são dedicados os capítulos 1-7

completamente às 5 ofertas de levíticas que eram os principais

sacrifícios usados nos rituais.

Eles descrevem 5 tipos de sacrifícios:

O holocausto, a Oferta de Manjares, a Oferta

Pacífica, a Oferta pelo Pecado, e a Oferta pela Culpa. Cada

um dos sacrifícios foi cumprido exclusivamente em Jesus Cristo.

O Holocausto

O holocausto era um sacrifício que estava completamente

queimado. Nada dele era comido, e então o fogo consumia o

sacrifício inteiro. É importante notar que o fogo jamaisse apagava:

Lev 6:13 O "fogo arderá continuamente sobre o altar;

não se apagará."

O adorador israelita trazia um animal masculino (um

touro, cordeiro, cabra, pombo, ou rola, que dependem da riqueza

do adorador) para a porta do tabernáculo.

Lev 1:3 Se a sua oferta for holocausto de gado,

oferecerá macho sem defeito; à porta da tenda da

congregação a oferecerá, de sua própria vontade, perante o

SENHOR.

O animal devia ser sem defeito. O adorador então

colocava as mãos dele na cabeça do animal, e em consciência que

este animal inocente estava sendo reputado por pecador, ele

375


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

buscaria o Senhor para perdão, e então mataria o animal

imediatamente.

Lev 1:4-9 E porá a sua mão sobre a cabeça do

holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua

expiação. Depois degolará o bezerro perante o SENHOR; e

os filhos de Arão, os sacerdotes, oferecerão o sangue, e

espargirão o sangue em redor sobre o altar que está diante da

porta da tenda da congregação. Então esfolará o holocausto,

e o partirá nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o

sacerdote, porão fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha

sobre o fogo. Também os filhos de Arão.

Os sacerdotes, porão em ordem os pedaços, a cabeça e o

redenho sobre a lenha que está no fogo em cima do altar; Porém a

sua fressura e as suas pernas lavar-se- ão com água; e o sacerdote

tudo isso queimará sobre o altar; holocausto é, oferta queimada, de

cheiro suave ao SENHOR.

Os sacerdotes eram responsáveis por lavar as várias

partes do animal antes de colocar sobre o altar:

Lev 1:6-9 "Então esfolará o holocausto, e o partirá

nos seus pedaços. E os filhos de Arão, o sacerdote, porão

fogo sobre o altar, pondo em ordem a lenha sobre o fogo.

Também os filhos de Arão, os sacerdotes, porão em ordem os

pedaços, a cabeça e o redenho sobre a lenha que está no fogo

em cima do altar; Porém a sua fressura e as suas pernas

lavar-se- ão com água; e o sacerdote tudo isso queimará

sobre o altar; holocausto é, oferta queimada, de cheiro suave

ao SENHOR."

376


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Depois, na história de Israel haviam ofertas queimadas

feitas duas vezes por dia, uma pela manhã e uma ao entardecer

(quando aparecia a primeira estrela:

Num 28:3-4 "E dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada

que oferecereis ao SENHOR: dois cordeiros de um ano, sem

defeito, cada dia, em contínuo holocausto; Um cordeiro

sacrificarás pela manhã, e o outro cordeiro sacrificarás à

tarde; "

A oferta queimada era realizada para reconciliação dos

pecados do povo contra o Senhor, que os separavam de Deus, e

era uma oferta de dedicação contínua de suas vidas ao Senhor.

A Oferta de Manjares

Os Israelitas ofereciam manjares (cereais) ou legumes

além dos animais. LevÍtico capítulo 2 menciona 4 tipos de ofertas

de cereal, e dá instruções de preparo para cada uma. O pecador

poderia oferecer massa de farinha de trigo assada em um forno,

cozida em uma forma, frita em uma panela, ou amassada para fazer

pão (como na oferta das primeiras frutas). Todas as ofertas de

manjares eram feitas com óleo e sal e nenhum mel e fermento seria

usado (óleo e sal preservaram, enquanto o mel e fermento

deteriorariam). O adorador também traria uma porção de incenso

(puro incenso).

As ofertas de manjares eram trazidos a um dos sacerdotes

que levaram isto ao altar e lançaram uma "porção memorial" ao

fogo e fazia o mesmo com o incenso. O sacerdote comia o

restante, a menos que ele mesmo estivesse trazendo a comida

como oferta, e ele queimaria ela por inteiro.

377


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

O propósito da oferta de manjares era um oferecimento

de presentes, e fala de uma vida que é dedicada a dar, e à

generosidade.

As Ofertas Pacíficas

A oferta pacífica era uma comida que foi dada pelo

Senhor, aos sacerdotes, e às vezes ao cidadão comum. O adorador

trazia bois ou vacas, ovelhas, ou uma cabra. O ritual foi comparado

com o das ofertas queimadas, até ao ponto de queimar, onde o

sangue de animais era vertido ao redor das extremidades do altar.

Foram queimadas a gordura e as entranhas, e o restante era

comido pelos sacerdotes, e, (se fosse uma oferta expontânea) pelos

adoradores. Este sacrifício de louvor e ação de graças era quase

sempre, um ato voluntário.

As ofertas pacíficas, incluíram bolos sem levedura. Os

sacerdotes comiam tudo, menos a porção comemorativa dos

bolos, e certas partes do animal, no mesmo dia que o sacrifício foi

feito, e quando o adorador os levava juntos, como oferta

voluntária, o adorador poderia comer durante 2 dias do animal

inteiro, menos o peito e a coxa direita que era comida pelos

sacerdotes.

Jacó e Labão deram suas ofertas pacíficas quando eles

fizeram o seu pacto (Gen 31:43 ss). era exigido fazer estas ofertas

quando se fizesse um voto de consagração à Deus, e Lhe

agradecendo com louvores enquanto, espontaneamente, se traziam

as ofertas voluntárias.

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

A Oferta pelo Pecado

As Ofertas pelo pecado expiavam, (liquidavam a dívida

por completo) das fraquezas e fracassos não intencionais dos

adoradores e fracassos diante do Senhor.

Lev 4:1-4 FALOU mais o SENHOR a Moisés,

dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Quando uma alma

pecar, por ignorância, contra alguns dos mandamentos do

SENHOR, acerca do que não se deve fazer, e proceder contra

algum deles; Se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo,

oferecerá ao SENHOR, pelo seu pecado, que cometeu, um

novilho sem defeito, por expiação do pecado. E trará o novilho à

porta da tenda da congregação, perante o SENHOR, e porá a sua

mão sobre a cabeça do novilho, e degolará o novilho perante o

SENHOR.

Cada classe do pessoas tinha várias ordenanças para

executar:

Os pecados do sumo sacerdote requeriam o

oferecimento de um touro, e o sangue não era vertido no altar mas

aspergido do dedo do sumo sacerdote 7 vezes no altar. Então a

gordura era queimada, e o restante era queimado (nunca comido)

fora do arraial "em um lugar limpo" onde o sacrifício era feito e as

cinzas se despejavam.

Lev 4:12 "Enfim, o novilho todo levará fora do arraial

a um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com

fogo sobre a lenha; onde se lança a cinza se queimará."

379


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Os pecados dos líderes requeriam o oferecimento de

um bode. O sangue era aspergido somente uma vez, e o restante

era vertido ao redor do altar como com o oferecimento Queimado.

Os pecados do povo requeriam animais fêmeas, cabras,

cordeiros, rolas, ou pombos e no caso de ser muito pobre, um

oferecimento de grãos era aceitável só como um oferecimento de

manjares.

Os pecados não intencionais eram difíceis identificar e

poderiam acontecer a qualquer hora, e então os sacerdotes

trabalhavam de perto como mediadores com Deus e o povo, e

instruíam as pessoas sobre como eles buscariam ao Senhor. No

caso de qualquer pecado cuja oferta não foi trazida diante do

Senhor, havia ofertas para a nação e para o sumo sacerdote que os

cobriam de um modo coletivo. No Dia da Expiação (Yom Kippur)

o sumo sacerdote aspergia sangue no propiciatório para os seus

próprios pecados e pelos pecados da nação.

As Ofertas pela Culpa

A Oferta pela culpa era bem parecida com a oferta pelo

pecado, mas a diferença principal era que a oferta pela culpa era

uma oferta em dinheiro para pecados de ignorância relacionados à

fraude. Por exemplo, se alguém enganasse sem querer a outro por

dinheiro ou propriedade, o sacrifício dele devia era ser igual à

quantia levada, mais um quinto para o sacerdote e para o ofendido.

Então ele reembolsou a quantia levada mais 40%.

Lev 6:5-7 " Ou tudo aquilo sobre que jurou

falsamente; e o restituirá no seu todo, e ainda sobre isso

acrescentará o quinto; àquele de quem é o dará no dia de sua

380


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

expiação. E a sua expiação trará ao SENHOR: um carneiro

sem defeito do rebanho, conforme à tua estimação, para

expiação da culpa trará ao sacerdote; E o sacerdote fará

expiação por ela diante do SENHOR, e será perdoada de

qualquer das coisas que fez, tornando-se culpada. "

A Tradição Judaica

O Tratamento dos Animais

Embora o Senhor prescrevesse a matança de animais para

sacrifício e para comida, o tratamento dos animais é de

importância extrema no Judaísmo. O Talmude descreve com

cuidado as minúcias e o detalhe de como um animal seria

sacrificado para comida, e os regulamentos são principalmente

determinados por causa do desejo de proporcionar como possível

381


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

uma morte indolor . O matador não podia ser um surdo-mudo, ou

um menor de idade, e ele devia ser de mente sã (Chul. 1. 1). A faca

deve ser perfeitamente lisa sem o mais leve entalhe, e "a faca deve

ser testada sobre seus três lados na carne do dedo e na unha "

(ibid. 17b).

9a).

Há cinco causas de desqualificação (ibid.

[1] Demora (Heb. shehiyah), deve haver um contínuo

movimento para frente e para trás da faca sem qualquer

interrupção.

[2] pressão (Heb. derasah), o corte deve ser feito com

suavidade, sem o exercício de qualquer força.

[3] inserir (Heb. chaladah), a faca não deve ser inserida na

carne, mas puxada transversalmente pela garganta.

[4] penetrar (Heb. hagramah), o corte não deve ser feito,

exceto por uma seção prescrita do pescoço.

[5] rasgar (Heb. ikkur), o corte deve ser feito sem

deslocar a traquéia ou garganta. Qualquer uma destas ações faria o

animal impróprio para consumo, porque teria infligido dor no

animal.

O Judaísmo ensina formalmente o cuidado dos animais, e

um amor e respeita para com eles. Eles deviam ser alimentados

corretamente (pág. Jeb. 14d), e "um homem não deve comer a

comida dele antes de dar comida ao seu gado" (Ber. 40a). Isto foi

retirado das Escrituras:

382


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

Deut 11:15 " E darei erva no teu campo aos teus animais,

e comerás, e fartar-te-ás."

O Judaísmo ensina o homem a ser grato pelos animais,

porque eles são como modelos para os homens imitar. "Se o Torah

não sido dado a nós para nossa direção, nós não poderíamos

aprender a modéstia do gato, a honestidade da formiga, a castidade

da pomba, e os modos do galo" (Erub. 100b). O Senhor ensinou a

Moisés ter cautela com as ovelhas antes de ele se ocupar em

conduzir os membros do seu povo (Exod. R 11.2)

Um Tipo de Cristo

Toda oferta é um quadro claro de Cristo. Cada uma das 5

ofertas de Levítico apontavam à Cristo, e Ele era cada uma delas.

A MENSAGEN DA CRUZ

A SALVAÇÃO A TODOS OS HOMENS

383


JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os

que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de

Deus.” 1 Coríntios 1: 18-23 Mas nós pregamos a Cristo

crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os

gregos.

A mensagem da cruz é a palavra mais poderosa que

qualquer pastor pode pregar, pois esta é mensagens que trás

salvação. Porém Paulo lembrou muito bem ao afirmar que essa

mensagem é loucura para os que não creem, pois como é possível

alguém que morreu de forma humilhante na cruz, ter o poder de

salvar a humanidade? Como pode o o maior símbolo de maldição,

hoje se o maior símbolo da libertação? Os pensamentos do nosso

Deus são muito mais além do nosso, a sabedoria de Deus é muito

mais além da nossa, Deus usou as coisa loucas para confundir as

sábias.

Sabe o que mais me deixa impressionado com a

mensagem da cruz? É que em todo o Antigo Testamento ela já

vem sendo pregado de forma simbólica, e o profeta Isaias,

profetizou a respeito da agonia do Salvador (Isaias 53), ou seja, já

estava tudo profetizado a respeito de Jesus, porém o mais

impressionante é que Jesus foi rejeitado e crucificados pelos

religiosos da época, aqueles que mais “conheciam” as escrituras.

Como pode os “teólogos” da época que conhecia as profecias, não

reconhecerem que Jesus era o Messias?

Consideravam-se tão sábios, que foram confundidos com

sua própria sabedoria, não conseguiram identificar a maior profecia

que já vinha sendo feita desde Gêneses, não tinha discernimento

espiritual, e muito menos um coração quebrantado, se achavam os

384


AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

mais sábios. Se você olhar os quatro evangelhos a maioria das

pessoas que receberam Jesus, eram pessoas humildes sem muito

conhecimento, mas que entenderam a loucura da pregação. “os

judeus ficam buscando sinais, e os gregos tentam entender de

forma lógica, mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo

para Os judeus, e loucura para os gregos” (1 Coríntios 1:22-23),

E nós? Quantas vezes não reconhecemos a Deus por não

entendermos suas ações, queremos ficar pedindo sinais, e tentar

entender de forma lógica. O sacrifício de Jesus na Cruz não tem

lógica, pois não existe lógica humana para alguém deixar seu trono

para morrer por um povo que ainda era pecador. Isso é loucura, e

é através desta loucura que Deus decidiu salvar o mundo. E

realmente poucas pessoas entendem a mensagem da cruz, poucos

entendem o porquê do sacrifício de Jesus, poucos entendem que

essa loucura foi feita, para que nós não precisássemos ser

crucificados naquela cruz. Queremos muitas vezes nos passar por

sábio e aí somos confundidos por Deus em nossa própria

sabedoria.

Que possamos passar adiante dia pós dia essa loucura,

não importando o irão achar disso, o fato é que Jesus morreu

numa cruz de forma humilhante sim, mas ao terceiro dia ele

ressuscitou, e hoje está sobre um trono de glória, e todos quanto

aceitarem tem a vida eterna. Então se você é sábio ainda convido

ser louco e receber Jesus Cristo como salvador.A Obra perfeita,

suficinte e eficaz da salvação consumada por nosso Senhor Jesus

Cristo, está, claramente, expressa nas suas palavras ditas no cume

da cruz do calvário, registradas nos Evangelhos, a saber:

a) Pelo apóstolo João, assim: "(...) Depois, vendo

Jesus que tudo já estava comsumado, para se cumprir a Escritura,

disse: Tenho sede! Estava alii um vaso cheio de vinagre.

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JOSÉ MÁRCIO LACERDA

Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando num caniço de

hissopo, lha chegaram à boca. Quando pois, Jesus tomou o

vinagre, disse: ESTÁ COMSUMADO! E, inclinando a cabeça,

rendeu o espírito". (Jo 19.28-30).

b) Pelo "médico amado Lucas", assim: (...) Então

Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu

espírito! e, dito isto, expirou". (Lc 23.46).

c) Também, pelo apóstolo Paulo foi registrada assim:

"(...) Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi:

que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e

que foi sepultado, e que ressuscitou as terceiro dia, segunda as

Escrituras (...) ". (1ª Co 15.3,4).

"A salvação é um Dom de Deus (Ef.2:8- e nos vem pela

graça divina. Em relação à justificação, Deus é o Juiz e Cristo é o

nosso advogado de defesa; o pecado do homem é sua frontal

desobediência e agravo contra Deus, cuja penalidade é a morte; a

expiação no sangue de Jesus é o cumprimento da exigência divina

expressada em sua Lei, reveladora de Sua justiça e santidade; o

arrependimento e a fé representam a convicção e aceitação da

Obra expiatória de Cristo na cruz, trazendo a remissão dos

pecados; o Espírito Santo testifica do perdão concedido, em

Cristo, e realiza o novo nascimento; a vida cristã é obediência em

santificação; e sua perfeição é o cumprimento da lei da justiça, no

homem nascido de Deus (Rm.5:1,2; 13.8)". (Do livro Conhecendo

as Doutrinas da Bíblia de Myer Pearlman).

Deus, através do Espírito Santo, forma em nós a imagem

de seu Filho (Rm.8:29; 2ª Co 3.18). Toda essa realização está muito

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AGONIA DE JESUS NO GETSÊMANI

acima das possibilidades humanas. Tudo nos vem pela graça e

méritos de Jesus Cristo (Rm.3:23-28; 6:23; Ef.2:8-10).

A Deus demos toda glória! Amém! O SACRIFICIO

DE JESUS FOI POR VOCÊ.

JESUS TE AMA E SE ENTREGOU POR VOCÊ.

Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que

Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.

Romanos 5:8

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