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TV CEARÁ, CANAL 2 - MINHAS LEMBRANÇAS

Minhas lembranças da TV Ceará, Canal 2, da extinta Rede Tupi de Televisão. Período em que trabalhei naquela emissora na área musical, como produtor e também músico do Conjunto musical Big Brasa, de Fortaleza - Ceará.

Minhas lembranças da TV Ceará, Canal 2, da extinta Rede Tupi de Televisão. Período em que trabalhei naquela emissora na área musical, como produtor e também músico do Conjunto musical Big Brasa, de Fortaleza - Ceará.

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João Ribeiro da Silva Neto

Créditos autorais pertencentes a João Ribeiro da Silva Neto (Beiró), músico

instrumentista, de formação acadêmica, Sonoplasta e Produtor Musical,

dirigente do saudoso Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará, que

marcou presença em Fortaleza e no nordeste de 1967 a 1978. O autor, como

escritor, produziu também três livros sobre a Música no Ceará no período da

Jovem Guarda, nos quais discorre sobre a Música em sua vida e sobre a

participação do Conjunto Musical Big Brasa no cenário musical cearense.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Apresentação

Este série sobre a TV Ceará Canal 2 teve um foco especial, o de relembrar

momentos da minha participação como músico, guitarrista-solo do Conjunto

Big Brasa na TV Ceara Canal 2, da extinta Rede Tupi de Televisão, relembrar e

homenagear os amigos que fizemos naquela emissora nos diferentes setores e

principalmente descrever muitos detalhes de minhas lembranças pessoais, nos

programas da emissora dos quais participamos e falar sobre os inúmeros

artistas que conhecemos de renome nacional. Para isso senti necessidade de

elaborar uma planta baixa do prédio onde funcionavam seus estúdios e outras

instalações, com a finalidade de possibilitar um entendimento maios por parte

de todos.

Foram quase sete anos marcantes de convívio com uma equipe de televisão

muito boa em seus diversos níveis e especializações, em um ambiente alegre,

no qual tivemos a oportunidade de conhecer inúmeras pessoas e fazer muitas

amizades. E também destacar o papel muito importante que a TV Ceará teve

na divulgação de nosso Conjunto Big Brasa em Fortaleza e em todo o interior

cearense e alguns estados nordestinos, o que certamente contribuiu muito

para o seu sucesso. Vamos então iniciar nossa viagem a esse período, na

certeza de que esses registros deverão acrescentar algumas marcas de

memória em todos nós.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Dedicatória

Dedico estas lembranças a todos aqueles que estiveram conosco durante o

período em que estive na TV Ceará, Canal 2, com o saudoso Conjunto Big

Brasa. Aos técnicos da televisão, câmeras, suítes, operadores de áudio,

locutores, motoristas, fotógrafos e demais colegas da produção. As boas

lembranças são muitas. Todos nós vivenciamos um excelente período da

televisão cearense, do qual vale muito recordar e compartilhar a história.

Agradecimentos Especiais

Em primeiro lugar tenho que agradecer a Deus por ter auxiliado nas tarefas

musicais executadas ao longo dos quase sete anos em que estivemos na TV

Ceará, Canal 2. E aos meus pais, Alberto Ribeiro da Silva, o Mestre Alberto, e à

minha mãe, Francisca Amasile Pereira da Silva, Dona Zisile, pelo grande

incentivo, apoio constante e incondicional em todos os momentos e que muito

apreciavam o nosso desempenho na televisão. Eles sempre estarão presentes

em minha vida e eternamente em minhas lembranças. Especial menção para

minha saudosa mãe Zisile, que além do gosto pela música, por tudo o que fez

por todos nós, da “Família Big Brasa”. Graças a ela, inicialmente, temos hoje

recordações dos bons tempos do Big Brasa através de notas publicadas na

imprensa em variados períodos e fotografias que ela guardava tudo com um

carinho especial! Com muito gosto ela recortava as notas de imprensa, as

fotos e as guardava cuidadosamente para montar seus álbuns.

Estas iniciativas proporcionaram a criação do acervo do Conjunto Big Brasa e

hoje, aliado aos fortes traços de memória sobre o período da televisão e de

inúmeras ocasiões em que o Conjunto se fez presente, continuamos e assim

podemos compartilhar com familiares, com o público em geral, amigos, amigas

fãs do Big Brasa e todos aqueles que vivenciaram aquela época maravilhosa.

Espero sinceramente que estas lembranças sobre os momentos em que

estivemos na TV Ceará Canal 2 sejam também valiosas para todos e que

possamos nos encontrar mais vezes nos palcos da vida!

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Índice

Capítulo I

- O tempo passou, mas as lembranças ficaram!

- Como era o prédio da TV Ceará, você sabe?

- Uma planta baixa do prédio da TV Ceará

Capítulo II

- Meu primeiro contato com a TV Ceará, Canal 2

- O passeio para conhecer a televisão do Ceará!

Capítulo III

- Breve histórico da TV Ceará

- Muitas lembranças da TV Ceará, Canal 2

Capítulo IV

- Os amigos da parte técnica

- Os diretores de imagem (suítes)

- Os operadores de câmeras

- Operação de áudio

- O que são “sinais de tempo”, no rádio

- O gosto por fotografia e filmagens

- O ambiente na TV Ceará, Canal 2

- O programa do Colombo Sá

- Ivan Prudêncio

- O restaurante “Jerbô”

Capítulo V

- O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará

- Ayla Maria, um eterno destaque

- O sucesso do Conjunto Big Brasa, em razão da TV Ceará

- Muitos contatos e um trabalho musical interessante

Capítulo VI

- Os Festivais Nordestinos da Música Popular

- Nota de imprensa sobre o Festival

- Participação em Recife

- Um episódio digno de registro

- Falha por conta do Maestro

- Encontro com o guitarrista Pepeu Gomes

- Bons momentos de lazer

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Capítulo VII

- O programa Show do Mercantil

- Equipe de produção

- Auditório do Show do Mercantil

- Acertos com a produção e os imprevistos

- Quadros do programa

- Ensaio geral do Show do Mercantil

- Seleção de calouros

- A dupla Lena e Leda

- Maria Zenaide

- Artistas que o Conjunto Big Brasa acompanhou na TV Ceará

- Nosso encontro com o “Rei do Baião”

- Presença de Roberto Carlos e de Eduardo Araújo

- Shows em Parnaíba com a equipe da TV Ceará

- A repercussão do Show do Mercantil no interior do Estado

Capítulo VIII

- Programa “Studio 2”

- Entrevista do Big Brasa para fãs

- Nota sobre o Conjunto Big Brasa na Wikipédia

Capítulo IX

- Considerações finais

- Depoimentos

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Capítulo I

O tempo passou, mas as lembranças ficaram!

Os registros da época sobre a TV Ceará Canal 2 são escassos, porque temos

conhecimento de poucos filmes do período e ainda mais por em seu princípio

não existia a tecnologia do vídeotape, que viria a chegar bem depois de sua

fundação. E mesmo após a chegada das máquinas de videotape as gravações

eram superpostas por outras e assim, infelizmente, nada foi mantido em

arquivo. Sabedor disso eu senti a necessidade de compartilhar com todos

vocês os momentos e traços de memória de minha vivência nos anos que

participei naquela emissora de televisão com o Conjunto Musical Big Brasa. E

assim, depois de algum planejamento para organizar as lembranças iniciamos

uma série que foi postada nas redes sociais e agora está transformada neste

pequeno documentário que compartilho com todos vocês. A fotografia abaixo

foi obtida em frente ao prédio da TV Ceará, Canal 2, perto da torre de

transmissão, com o Conjunto Big Brasa.

Como era o prédio da TV Ceará, você sabe?

Após muitas buscas na Internet na tentativa de conseguir uma planta baixa do

prédio, nada encontrei a respeito. Seria necessária uma planta baixa das

instalações da TV Ceará para ilustrar os fatos!

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Uma planta baixa do prédio da TV Ceará

Projetei então um simples rascunho da planta baixa do prédio onde funcionou

a TV Ceará e a Ceará Rádio Clube, na intenção de fornecer uma ideia bem

acentuada de como era o prédio, as instalações, os estúdios, o auditório, para

melhor ilustrar os detalhes. No decorrer destas lembranças vou relembrar o

pessoal que convivemos, nos diversos setores da televisão e nossas

experiências musicais à frente de dois programas da TV Ceará, o Show do

Mercantil e o Studio 2. Aqueles que participaram da televisão certamente vão

reviver muitas passagens interessantes, ao passo que os que não conheceram

terão um registro muito precisa de como tudo acontecia na TV Ceará Canal 2.

Da TV Ceará Canal 2 nós ainda temos

em acervo fotográfico com fotografias

de nosso Conjunto Big Brasa na torre

da televisão, imponente, com seus 108

metros de altura, a qual após o

encerramento das atividades da

emissora foi desmontada e retirada.

Temos conhecimento que a maior parte

dos registros da TV Ceará, quando foi

extinta, foi perdida, o que é

lamentável. Um acervo que poderia ter

sido preservado para o bem da cultura

cearense. Em quase todos aqueles anos iniciais não havia ainda as gravações

em vídeotape. E quando chegaram as primeiras máquinas de VT as fitas para

gravação eram poucas e os programas gravados eram apagados em gravações

posteriores. E assim se perdeu quase tudo mesmo, infelizmente. Mas nestas

lembranças muitas coisas que acredito serem valiosas para a nossa cultura

musical será apresentada, como uma contribuição para as lembranças da TV

Ceará, Canal 2.

Mais à frente veremos o rascunho da planta baixa da TV Ceará, que ficava na

Aldeota, na Avenida Antonio Sales, entre a Rua Osvaldo Cruz e Visconde de

Mauá, ao lado da Praça da Imprensa, exatamente onde estão localizadas hoje

as instalações do Grupo Edson Queiroz Holding. Os portões de acesso à TV

Ceará Canal 2 ficavam na Avenida Antonio Sales. Mas pela Rua Osvaldo Cruz

também podíamos acessar a Televisão, tendo em vista que o ingresso de

pessoas ao auditório se fazia por essa via lateral. Da frente o bonito prédio,

para os padrões dos Anos 1960, com a vista principal da imponente torre de

transmissão da TV, motivo de centenas de fotografias obtidas por visitantes,

para registrar sua presença. Havia um pequeno estacionamento em frente ao

prédio e em uma de suas laterais, perto do portão de saída, que ficava para a

Avenida Antonio Sales. Toda aquela área ficava repleta de pessoas,

particularmente aos sábados, nas realizações de seus programas de mais

sucesso.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Planta baixa do prédio da TV Ceará, Canal 2

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Capítulo II

Meu primeiro contato com a TV Ceará, Canal 2!

Quando cheguei a Fortaleza, procedente de minha cidade natal São José dos

Campos, em São Paulo, meus pais moraram inicialmente no Bairro de Fátima,

perto do Colégio Nossa Senhora das Graças. Pouco tempo depois nos

mudamos para o bairro 13 de Maio, na Rua Mário Mamede, por trás da Igreja

de Nossa Senhora de Fátima, na Avenida 13 de Maio. Em outro período dos

primeiros anos moramos perto da Igreja da Sé, em um edifício de

apartamentos frente ao antigo Arcebispado.

O passeio para conhecer a televisão do Ceará!

No ano de 1962, com dez anos de idade, lembro que meus pais me levaram

para conhecer a televisão, na Aldeota, em Fortaleza – A TV Ceará, Canal 2, da

extinta Rede Tupi de Televisão. Os traços de memória desta época se

mantiveram, por serem marcantes. Lembro que estive na entrada da TV Ceará

(ver na planta baixa acima por mim desenhada) e lá me mostraram uma

grande artista local, que estava saindo (a brilhante cantora Ayla Maria, que

mais tarde, quando jovem, eu viria a acompanhá-la inúmeras vezes com o

nosso saudoso Conjunto Big Brasa e também outras vezes pessoalmente, com

o violão, no Teatro José de Alencar e em outros locais de apresentação. Vale

dizer que poucas residências possuíam televisores e que a tecnologia foi se

expandindo gradualmente.

Fiquei encantado com aquele passeio e por ter conhecido a televisão de

Fortaleza, lógico que apenas na parte da frente e entrada da emissora, passeio

demais interessante para mim. A entrada era pela Avenida Antônio Sales. Logo

na chegada a visão da torre de transmissão, com 108 metros, muito

imponente. Achei o prédio da TV Ceará muito bonito e lembro bem que possuía

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


um jardim e uma bela iluminação. Além disso, ressalto que tive a sorte de ter

conhecido uma das principais cantoras do Ceará, a Ayla Maria.

Em São José dos Campos nós já possuíamos televisão desde 1956, sendo que

em 1959 visitei e apareci na televisão, como figurante em um programa

infantil em São Paulo, convidado pelo meu saudoso tio e xará João Ribeiro da

Silva Filho (o Tio João, que futuramente seria o embaixador do Big Brasa em

São Paulo, nos ajudando na aquisição de equipamentos). Tio João trabalhava

naquela época nos estúdios Vera Cruz. E agora, após tantos anos, estamos

rememorando algumas lembranças com todos vocês.

Breve histórico da TV Ceará

Capítulo III

A TV Ceará Canal 2, dos Diários Associados foi fundada em 26 de novembro

de 1960, sendo a primeira emissora de televisão do Ceará e uma das primeiras

do Nordeste. Após vinte anos de existência e produção de inúmeros

programas, lamentavelmente foi extinta em 1980. Um período que deixou

muitas saudades e lembranças para todos e revelou inúmeros artistas

cearenses, inclusive para a cena nacional. De minha parte também foi uma

época marcante, pois em minha vida musical participei de dois programas da

emissora, como músico do Conjunto Musical Big Brasa e também produtor

musical, conheci muitas pessoas e fiz muitos amigos. E compartilho tudo com

vocês para juntos recordarmos estes bons tempos.

Com uma programação variada a TV Ceará Canal 2 revelou diversos talentos

através do teleteatro, novelas, jornalismo e programas locais, como o

Show do Mercantil e o Studio 2, dos quais participamos por quase sete

anos, com o nosso saudoso Conjunto Musical Big Brasa. Há alguns locais com

muitas informações sobre a Televisão Ceará, como o site Fortaleza Nobre, de

nossa grande amiga Leila Nobre. Também um pouco da história na Wikipédia.

Nestes registros enfatizo que gostaria de transmitir para vocês informações e

impressões de minhas próprias vivências, pelos corredores, estúdios,

programas da TV Ceará, contatos com praticamente todas as equipes de

produção e técnica, motivo deste documento. Fatos talvez interessantes para

muitos e um toque na memória de outros que também estiveram comigo nesta

jornada que nos traz muitas saudades.

Muitas lembranças pessoais da TV Ceará, Canal 2

Tempos marcantes em minha memória, de quando trabalhei na TV Ceará

Canal 2 com o nosso Conjunto Musical Big Brasa! Ao idealizar estas linhas de

memórias, nos diversos capítulos o leitor verá fragmentos do acervo do

Conjunto Big Brasa, assim como tudo aquilo dos programas de televisão que

participamos. Serão incluídos também alguns trechos de meus três livros sobre

o Conjunto Big Brasa e a minha Vida Musical (1999 e 2017), com destaque

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


para as participações nos programas de televisão, além de algumas imagens

encontradas na Internet e outras pertencentes ao acervo Big Brasa. Em

minhas lembranças estão os nomes de pessoas que conheci e que ficaram

firmemente marcados, dos quais relaciono alguns ilustres, como o da própria

Ayla Maria, Neide Maia (que foi uma gentil admiradora de todos que

integravam o Conjunto Big Brasa), Karla Peixoto, Emiliano Queiroz, Antônio

Mendes (Toinho), Emiliano Queiroz, Ary Sherlock, Aderson Maia (“Dedeco”, na

época diretor de imagens) João Ramos, Marizete Batista, o apresentador

Augusto Borges, dentre outros.

Os amigos da parte técnica

Capítulo IV

Continuando a falar sobre a TV Ceará Canal 2, neste capítulo os meus

agradecimentos a toda a equipe técnica da televisão, que sempre nos acolheu

de forma excelente, com muito carinho pelo Conjunto Big Brasa e auxílio em

algumas emergências de equipamentos nossos, que passavam às vezes parte

da semana na própria TV Ceará, em virtude dos programas diários como o

Studio 2. Entre eles o Bernardo, o Spicy e o próprio Cabral, engenheiro da

televisão. O ambiente entre todos nós que participávamos da televisão,

verdadeiramente, era muito agradável, agitado, animado e alegre e que nos

trouxe muitas amizades, por coincidências cinco adjetivos começados com a

letra “a”.

Ainda na área técnica enfatizo o meu agradecimento mais uma vez a todos os

técnicos, na pessoa do engenheiro Cabral, o chefe da engenharia da televisão,

com seus auxiliares como o Bernardo, Tantico e “Spicy”, pelas inúmeras vezes

que nos auxiliaram em reparos em amplificadores e cabos (às vezes uma

simples solda), quando os defeitos ocorriam nas emergências. Eu mesmo

levava o que tinha para ser consertado para a sala de oficina técnica que ficava

no segundo andar do prédio (ver planta baixa).

Os diretores de imagem (suítes)

Entre relatos de minhas lembranças, menciono carinhosamente e com muita

saudade pessoas com quais tinha contatos frequentes, ligadas à parte técnica.

E dentre elas estão o suíte Aderson Maia (Dedeco), uma pessoa espetacular,

bondosa e que gostava muito de nossa atuação como guitarrista do Big Brasa,

brincando comigo sempre que nos encontrávamos nos corredores da televisão.

O Dedeco, como muitos o chamavam, quando cruzava comigo nos bastidores

sorria muito e gesticulava como se estivesse fazendo os solos em uma

guitarra, que ele gostava muito. Na linguagem de TV, ele “cortava” o programa

Show do Mercantil, ou seja, operava como suíte (Diretor de imagens).

Também lembro a figura do Gonzalez (também suíte, mas de outro programa

que trabalhávamos, o Studio 2. O Sebastião Belmino foi uma das pessoas que

se destacou na TV Ceará, por ter passado por vários estágios em diferentes

funções, como Assistente de Estúdio, Câmera até chegar à condição de Diretor

de Imagens. Em conversa com o Belmino sobre a planta baixa que desenhei,

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


para relembrarmos a TV Ceará, Canal 2, ele me reportou que teve bons, como

Daniel Menezes e o próprio Aderson Maia. Belmino se destacaria também, mas

à frente, como diretor de imagens na TVE e como apresentador e comentarista

esportivo na televisão e no rádio cearense, com muito sucesso.

Observando o desenho da planta baixa (página 7) o amigo Sebastião Belmino

me tirou uma curiosidade técnica. Eu nunca estive na sala técnica de Direção

de Imagens, mesmo porque sempre estava do outro lado, tocando... E eu só

enxergava essa sala quando estava no Estúdio grande, que dava para avistar

um vidro ao alto (no segundo andar), onde ficavam os equipamentos. Mas

explicou o Belmino que da mesa de corte (suíte), à esquerda tinha um vidro

grande onde de via o estúdio grande (A), onde o Conjunto Big Brasa fazia o

programa Studio 2 e eram feitos também alguns comerciais. Mais antigamente

as telenovelas ao vivo. Pois bem, neste estúdio ficavam duas câmeras com

torre de lentes. Câmeras um e dois. Em frente à técnica tinha a cabine de

locução, também isolada por um vidro. Vizinho tinha o estúdio (B) onde eram

feitos os comerciais ao vivo também com vidro. Uma câmera que tinha zoom,

a câmeras três. Depois os comerciais passaram para o estúdio (A). A câmera

três foi também pra lá. Auditório era tudo como estúdio (C). O auditório não

tinha visão do suíte, o que em meu entendimento poderia dificultar um pouco.

Os suítes só tinham a visão das imagens através dos previews das câmeras.

Os operadores de câmeras

Recordo muito os câmeras-men Fred e William (chamado de “irmão” por

todos) e o Zé Lenir. Este trio de câmeras fazia quase sempre o programa

Studio 2, no qual o Big Brasa se apresentava diariamente. O Irmão e o Fred

faziam sempre os programas Show do Mercantil. Outro dos câmeras-men

chamava-se Peixoto. Lembro que esteve presente até durante a recepção de

meu casamento, em 1973, na Igreja de Fátima, realizada depois em nossa

casa, com uma boa turma da TV Ceará.

Do “Irmão” tenho lembranças espetaculares das muitas vezes que ele estava

me mostrando, no Estúdio grande da TV, durante o programa “Studio 2” e

ficava, sempre sorrindo, me “perseguindo” com a câmera, mostrando os solos

de minha guitarra, com a câmera praticamente colada à guitarra, mas,

também, com o objetivo de destacar minha aliança de forma bem acentuada,

para que nossas fãs do interior do Estado a vissem. Ele sorria muito e eu

ficava, com a câmera dele muito aproximada, tentando afastá-lo e empurrando

o tripé da câmera com os pés. Todos os momentos de intensas e agradáveis

lembranças para mim. Este programa Studio 2 era diário. Às vezes eu pedia a

câmera 3 para ficar focalizando um pouco durante os momentos de folga do

Big Brasa. Era diversão pura! Sempre gostei muito de fotografias, filmagens e

de tecnologia em geral.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Operação de áudio

Nos programas Show do Mercantil era realizada pelo conhecido Mauro

Coutinho, que atuou nas diferentes emissoras de rádio e estúdios no Ceará. A

cabine de áudio ficava ao lado do palco, no auditório do Canal 2. E víamos o

Mauro e os equipamentos, durante o programa. Recentemente encontrei com o

Mauro Coutinho quando fazíamos pesquisas sobre eletrônicos em uma das

lojas de Fortaleza. O encontro foi motivo de uma conversa muito animada e

rápidas lembranças da TV Ceará, da Ceará Rádio Clube etc.

Futuramente, quando passei a trabalhar na TVE (Televisão Educativa do

Ceará), atuei como Sonoplasta e Sonotécnico em muitos programas e aulasintegradas,

tendo o excelente Sebastião Belmino como suíte, assim como o

nosso estimado Daniel Menezes, que além de tudo era também radioamador,

como eu. Mas o tempo da TVE virá oportunamente em outras memórias.

Perdoem-me por não conseguir lembrar o nome completo de todos os muitos

amigos que fizemos naquela emissora, de praticamente todos os setores.

O Mauro Coutinho

Estava eu na conhecida Rua Pedro Pereira, centro de Fortaleza, no dia 25 de

outubro de 2019, visitando algumas lojas de instrumentos, equipamentos e

acessórios musicais. Estas incursões prazerosas eu voltei a realizá-las

novamente, tendo em vista que no auge do Conjunto Big Brasa minhas idas e

vindas ao local eram bem mais frequentes, para pesquisar ou adquirir

componentes que serviriam para montagens de circuitos eletrônicos que eu

usava tanto na música quanto no radioamadorismo.

Quando as lembranças retornam

De repente observei um

senhor entrando na mesma

loja em que eu estava e

mesmo o olhando de perfil

reconheci logo a figura do

Mauro Coutinho, que eu não

via há anos! De imediato fui

até ele e disse apenas para

confirmar: Mauro Coutinho? E

ele prontamente respondeu,

sorrindo: “Puxa, amigo Beiró,

que satisfação!”.

E complementando com o que até hoje mantém como seu jargão: “Tá tudo

esculhambado”. Após o encontro solicitei para ele que fizéssemos um registro

em fotografia para que eu postasse para todos vocês. O Mauro está hoje com

83 anos e exercendo ainda suas funções de sonotécnico.

Na fotografia acima João Ribeiro (Beiró) e Mauro Coutinho (2020).

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


O Mauro Coutinho é um dos profissionais que fez história em Fortaleza.

Quando nos o conhecemos, era sonoplasta e operador de áudio da Ceará Rádio

Clube e da TV Ceará Canal 2, da extinta rede Tupi de Televisão. O pessoal

técnico da TV dizia que ele gostava de ser chamado de Engenheiro de Som. O

Mauro, como operador, ficava encarregado de mixar o som do programa Show

do Mercantil, que ia ao ar todos os sábados, apresentado pelo radialista

Augusto Borges. O nosso conjunto musical Big Brasa se apresentou no

programa durante sete anos e meio e a convivência com ele era semanal.

Assim o Mauro Coutinho atravessou o tempo e várias gerações a ainda hoje se

encontra trabalhando com o que mais gosta no Theatro José de Alencar.

O que são “sinais de tempo”, no rádio

São aqueles sons que você ouve e que antecedem a marcação do tempo pelos

locutores nas partidas de futebol. Funcionam assim até hoje. O operador de

áudio interrompe a locução ou solta por cima o sinal de tempo para que o

locutor possa informar: são “tantos minutos do primeiro tempo e o placar

está...”. E assim estes sinais de tempo eram repetidos até que os ouvintes

ficassem com reflexo condicionado ao som... O Mauro Coutinho, entusiasmado,

me pediu algumas vezes para que eu gravasse com a guitarra e distorção

vários pequenos “riffs”, para que ele escolhesse sinais de tempo. E gravamos

vários, somente com guitarra e distorção. Ele escolheu um deles, que passou

anos no ar na Ceará Rádio Clube. E toda vez que eu o ouvia ficava feliz. Até

hoje estou em pleno anonimato quanto a isso, mas o prazer era grande de ter

o seu solo no ar em todas as transmissões esportivas de futebol.

O gosto por fotografia e filmagens

Durante os programas Studio 2, como nós

ficávamos de sobreaviso para entrar a

qualquer momento para nossas

apresentações (três ou quatro músicas, a

depender do dia), eu gostava de ficar com

alguma câmera e mostrava imagens,

sempre com o consentimento de algum

deles, quase sempre o Zé Lenir. Pedia

para que os operadores me deixassem

trabalhar um pouquinho com elas durante

os programas. Isso acontecia mais com a

câmera 3, que me parece era a que mais

folgava. Em uma das vezes um fotógrafo

da Televisão, que não lembro o nome, me

fotografou com a câmera. Tudo normal.

Anos depois encontrei esta foto na

internet e fiquei até feliz por recuperar

aquela lembrança. Esta imagem minha com a câmera está entre os artigos do

site Fortaleza Nobre, entre as matérias sobre a TV Ceara.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


O ambiente na TV Ceará, Canal 2

Bom relembrar para vocês que o ambiente na TV Ceará, pelo que ficou em

minha memória, sempre foi muito bom. Passávamos nos corredores,

entrávamos no estúdio principal, onde era produzido o Studio 2, as entrevistas

e o Big Brasa se apresentava sempre diariamente. Vale repetir o conceito

externado no princípio, de que o ambiente entre todos nós que participávamos

da televisão, verdadeiramente, era muito agradável, agitado, animado e alegre

e que nos trouxe muitas amizades, por coincidências cinco adjetivos

começados com a letra “a”.

O programa do Colombo Sá

Depois, trafegando às quartas-feiras, antes ou depois da seleção de calouros,

eu entrava um pouco no estúdio da Ceará Rádio Clube (acenava pelo visor

para o Colombo Sá, apresentador do programa “Clube dos Tetéus”, pedindo

para entrar no estúdio e ele acenava, consentindo). Meu interesse pelas

operações técnicas de televisão e rádio, como tudo de eletrônico, sempre

falava mais alto. A operação de áudio, que eu sempre gostei, ficava ao lado da

cabine onde o Colombo Sá apresentava o programa (todo o estúdio,

logicamente, possuía isolamento acústico. Ficava observando e aprendendo um

pouco, atentamente aos detalhes gerais, da mesa de som etc. Nem imaginava

que anos depois utilizaria aquele aprendizado como sonoplasta na TV

Educativa do Ceará, onde trabalhei por cinco anos.

Ivan Prudêncio

Da mesma forma ocorria com o Ivan Prudêncio, discotecário da Ceará Rádio

Clube. Sempre muito cuidadoso com o seu material, foi muito gentil conosco e

emprestava eventualmente disco com sucessos para que nós do Big Brasa

gravássemos as músicas para ensaiá-las e acrescentá-las ao repertório de

nosso Conjunto. E depois da utilização, com muito cuidado, eu sempre os

devolvia prontamente. Conforme o Sebastião Belmino, o Ivan Prudêncio era o

melhor sonoplasta da época das produções de telenovelas, na TV Ceará.

O restaurante “Jerbô”

Quase todos nós da televisão frequentávamos o Jerbô Lanches, que ficava na

Avenida Antônio Sales, quase esquina com a TV Ceará. O pessoal que iria

participar dos programas, técnicos, músicos, artistas e outros participantes.

Sempre antes dos programas diários ou depois deles, ou mesmo aos finais do

Show do Mercantil aos sábados, depois do ensaio-geral das sextas-feiras eu e

nosso pessoal do Big Brasa nós íamos até o Jerbô Lanches. Esclarecendo que

uníamos o útil ao agradável, naquelas ocasiões. Enquanto nossos auxiliares

guardavam equipamentos nos transportes do Conjunto Big Brasa, que seriam

transportados para outros eventos em todos os sábados.

Fiz uma vez uma prova de honestidade com o gentil proprietário, Sr. Jerbô,

para ter crédito com eles caso um dia fosse necessário. Disse propositalmente

para ele, o proprietário, Sr. Jerbô, que desejava fazer um lanche, mas tinha

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


esquecido a carteira, explicando que era do Conjunto Big Brasa que tocava ali

na TV Ceará. E ele olhou para mim e disse, calmamente: “Claro que sim,

rapaz, faça seu lanche à vontade”. E assim o fiz. Lanchei e no dia seguinte o

procurei para fazer o pagamento e agradecer a gentileza dele.

Capítulo V

O início da participação do Conjunto Big Brasa na TV Ceará

O Conjunto Big Brasa foi fundado em abril de 1967 e iniciou suas atividades

tocando em restaurantes na Beira-Mar, para se promover, o que surtiu efeito.

Estreou no Balneário Clube de Messejana e pouco tempo depois teve uma

rápida ascensão e uma presença marcante e frequente na televisão cearense

por quase sete anos, fator que influiu de forma significativa na divulgação do

grupo em Fortaleza e de modo especial no interior cearense.

O ingresso do Conjunto Big Brasa na televisão ocorreu em 1970 por

ocasião de um Festival Nordestino da Música Popular, quando o Conjunto Big

Brasa acompanhava o compositor Ednardo Sousa, (do Pessoal do Ceará) na

música “Beira-Mar”, no Náutico Atlético Cearense, quando ele conseguiu o

primeiro lugar! Na oportunidade o Conjunto Big Brasa estava bem estruturado

e produzia arranjos musicais belíssimos nas músicas que executava. Na final

desse festival a bela música do Ednardo tirou o primeiro lugar, merecidamente,

fato amplamente noticiado através da imprensa local. Como sempre, em

minha empolgação com a música, procurava escrever os arranjos, anotar as

introduções e criar sempre o melhor dentro de nossas possibilidades musicais.

Detalhe: na referida apresentação no Náutico Atlético Cearense o Conjunto Big

Brasa foi observado de perto pelo apresentador de TV e radialista Augusto

Borges, que comandava naquela época o programa “Show do Mercantil”,

levado ao ar aos sábados pela TV Ceará, Canal 2, antiga emissora de Rede

Tupi de Televisão, cujo logotipo era um indiozinho. Este programa era

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


apresentado pelo Augusto Borges e patrocinado pelo Mercantil São José. Pois

bem, o Augusto ficou bem impressionado com o desempenho do Conjunto e

nos convidou para participar de seu programa. Assim foi o início de nosso

contato com a televisão, que nos proporcionou uma rápida ascensão, muita

propaganda em razão dos programas serem transmitidos para todo o Ceará e

chegar ainda a alguns estados do Nordeste, como o Piauí e consequentemente

muito contratos.

Ayla Maria, um eterno destaque

Sempre a TV Ceará prestigiou uma das melhores cantoras do Estado, a nossa

Ayla Maria. Era destaque em todos os programas da emissora. No programa do

Augusto Borges tivemos oportunidade de acompanhá-la várias vezes. A

imagem abaixo ilustra esta estrela da música cearense que sempre brilhará em

nossas lembranças.

O sucesso do Conjunto Big Brasa, em razão da TV Ceará

Em razão de um programa semanal, o Show do Mercantil, levado ao ar aos

sábados e de outro programa, o Studio 2, este por sua vez apresentado

diariamente, ao meio-dia até às 13 horas, o número de fãs do Conjunto

cresceu repentinamente. O nosso grupo musical recebia cerca de cinquenta

cartas por dia, de Fortaleza e de todo o interior cearense. Tentamos no início

manter uma pessoa para responder na medida do possível, mas tudo não

passou de uns seis meses. Não tivemos estrutura. Ainda tenho inúmeras cartas

de fãs, dirigidas a mim, guardadas no acervo do grupo. Neste período lembro

que mandei fazer mil cópias de uma foto minha, junto ao caminhão de

reportagens externas da TV Ceará, para atender aos pedidos das fãs do grupo.

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Muitos contatos e um trabalho musical interessante

É importante mencionar que depois de iniciarmos no Show do Mercantil,

apresentado pelo Augusto Borges, a entrada do Conjunto Big Brasa na TV

Ceará nos proporcionou contato com dezenas de cantores da Jovem Guarda e

outros gêneros vindos do Sul e Sudeste do País através do programa Show do

Mercantil. Muitos foram os shows e ensaios realizados com praticamente todos

do chamado Pessoal do Ceará.

A expressão ''Pessoal do Ceará'' batizou toda essa geração de artistas e

intelectuais e constituiu um movimento de sucesso na música cearense, com

artistas a exemplo de Fagner, Ednardo, Rodger Rogério, Téti, Jorge Mello e

Belchior. Foram muitas apresentações na televisão com quase todos eles,

valendo destacar os inúmeros shows com o Ednardo pelo Nordeste, a

Inauguração do Ginásio Paulo Sarasate, com a presença do saudoso Belchior e

muito mais! Nas redes sociais serão apresentados alguns álbuns do acervo

fotográfico do Conjunto Big Brasa, com imagens do grupo nos programas Show

do Mercantil e também no Studio 2. Foto acima o Rodger Franco de Rogério,

acompanhado pelo Big Brasa, no Show do Mercantil.

Capítulo VI

Os Festivais Nordestinos da Música Popular

A TV Ceará marcou presença em dois Festivais Nordestinos da Música

Popular, realizados em Recife, que foram os primeiros a serem transmitidos

em rede regional de televisão para o Norte e Nordeste.

Pouco antes da final de um dos Festivais Nordestinos da Música Popular que o

Conjunto Big Brasa participou, acompanhando entre outras, as músicas do

cantor e compositor Ednardo Sousa (Pessoal do Ceará), dentre elas a linda

canção Beira-Mar. Para tanto nós adquirimos por intermédio do tio João, em

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São Paulo, dois pedais de efeito para guitarra tipo “wah-wah” de marca nova.

A idéia era usar um para a guitarra-solo e outro para o órgão.

A aquisição desses equipamentos foi um verdadeiro exemplo de uma logística

perfeita, um show de competência. Tudo muito rápido, o pedido (encomenda)

ao meu tio João Ribeiro, em São Paulo, a aquisição dos equipamentos, a

remessa de São Paulo para Fortaleza e enfim a chegada dos pedais em tempo

recorde. Fomos receber a encomenda no departamento de bagagens da

VARIG, quase às 11 horas da noite. Deu tudo certo, os pedais wah-wah foram

incorporados ao nosso instrumental e utilizados de acordo com os nossos

arranjos. Vale dizer que as comunicações por volta de 1970 eram bem mais

difíceis e demoradas. Nada existia como hoje, a exemplo de que podemos

fotografar um equipamento de qualquer lugar do mundo, enviar uma ou várias

fotos imediatamente e receber ou não autorização para comprar...

Nota de imprensa sobre o Festival

Sobre esse evento, realizado em dezembro de 1971, trecho de uma nota

publicada por um jornal cearense:

- “Está seguindo na próxima sexta-feira para a capital pernambucana a equipe

de compositores e intérpretes que apresentarão as composições selecionadas

em Fortaleza para concorrer ao II Festival da Música Nordestina. Entre a turma

de músicos cearenses destaca-se a participação do Conjunto Big Brasa, que

defenderá as músicas Beira-Mar e Rua do Ouro, classificadas em primeiro e

quarto lugares respectivamente”. O Conjunto Big Brasa participou por duas

vezes das finais dos Festivais Nordestinos da Música Popular, acompanhando o

Ednardo, do Pessoal do Ceará. Os eventos foram televisionados para todo o

Norte e Nordeste. A transmissão via EMBRATEL consistia novidade naquela

época e motivo de repercussão na imprensa, visto que apenas eventos de

grande vulto mereciam tal destaque.

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Participação em Recife

A respeito desse Festival lembro alguns acontecimentos interessantes. Um

deles ocorreu durante o ensaio geral, no Ginásio Coberto localizado no bairro

Embiribeira (idêntico ao Paulo Sarasate, porém mais bem acabado, com

alojamentos e restaurante, e com uma área externa maior). Foi assim: o

Conjunto Big Brasa ao ensaiar com a orquestra de Recife, acompanhando

Beira-Mar, do Ednardo, o maestro ficou muito entusiasmado com a música e o

com nosso arranjo. Também entre os músicos da orquestra a opinião unânime

era que aquela música tiraria o primeiro lugar. Mas como para ganhar em

Recife não tinha jeito mesmo, ficamos apenas com um terceiro lugar e uma

menção honrosa. Valeu, entretanto, a reportagem de três páginas na extinta

Revista “O Cruzeiro”, sobre o Festival, transcrevendo com destaque e na

íntegra a letra de Beira-Mar e publicando a foto do Ednardo, acompanhado

pelo Big Brasa e pela orquestra de Recife, foto que mantemos até hoje como

“relíquia”, no acervo do Big Brasa.

A fotografia abaixo foi obtida no Ginásio Coberto, em Embiribeira, Recife, onde

se realizou o Festival. Nela estão Ednardo Sousa em primeiro plano e por trás

o nosso Conjunto Big Brasa e a orquestra de Recife. Foi publicada em

reportagem de três páginas na extinta revista O Cruzeiro, sobre o Festival e à

participação do Ednardo com a música Beira-Mar. O Conjunto Big Brasa tinha a

seguinte formação: Severino Tavares (baterista), Adalberto Lima (tecladista),

Edson Girão (guitarrista-base), João Ribeiro (guitarrista-solo) e Lucius Maia

(contrabaixista).

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Um episódio digno de registro

Durante o intervalo da TV, quando nos preparávamos para entrar “no ar” com

o Ednardo, o público do Ginásio, que estava completamente lotado, começou a

nos vaiar intensamente. E tome vaia, mesmo porque eles vaiavam tudo que

fosse do Ceará. Um cara da plateia tocava uma buzina duas vezes e depois

vinha a vaia. Tudo isso no tempo de um intervalo da televisão. Estávamos

todos muito nervosos, evidentemente. Mas por felicidade e presença de

espírito, talvez, peguei o tom exato daquela buzina na guitarra e, com o “wahwah”,

após o cara tocá-la, reproduzi o som no palco com a guitarra a plena

altura! O pessoal gostou, o negócio virou brincadeira, alguns aplaudiram e a

vaia felizmente cessou. Foi ótimo para todos nós.

Falha do Maestro

Por último faço questão de registrar aqui a verdadeira e inadmissível falha do

maestro da orquestra pernambucana, que na hora de começar a apresentação

do Ednardo, veio me perguntar o andamento da música para fazer a

introdução, o mesmo que eu tinha feito para ele no ensaio da tarde. Então

expliquei e cantei as primeiras notas da melodia, gesticulando o andamento

correto da música. Pois bem: qual foi nossa surpresa quando esse maestro

iniciou Beira-Mar com um andamento completamente acelerado. O nosso

baterista (do Big Brasa) estava com a orquestra pernambucana. Foi uma luta

nos segundos iniciais para tentar fazer o andamento retroceder o ritmo ao

original, uma verdadeira briga entre a orquestra e o Conjunto. De propósito ou

não isso certamente contribuiu muito para atrapalhar o Ednardo em sua

interpretação. Este deslize do maestro pernambucano, de propósito ou não,

prejudicou de forma significativa nosso desempenho naquela noite. Lembro

muito que a Neide Maia, que estava com a equipe da TV Ceará, demonstrou

sua revolta com tudo aquilo.

Encontro com o guitarrista Pepeu Gomes

Pouca gente sabe disso, a não ser aqueles que estavam comigo em uma tarde

de ensaio no Ginásio Coberto, em Embiribeira, esperando para passar o som e

ajustar as músicas. Ao chegar, com minha guitarra para afiná-la e fazer os

últimos ajustes, encontrei com um guitarrista que estava tocando um pouco e

exercitando seus “riffs”. Pois bem, era nada mais do que Pepeu Gomes. E eu

soube depois, quando fui me despedir dele e nos apresentamos... Na hora

observei um pouco, liguei minha guitarra e comecei também a fazer alguns

solos. Deu certo e o duelo entre nós se estabeleceu de forma muito legal. Ao

final de alguns minutos paramos e nos cumprimentamos. Eu disse que estava

com a representação cearense naquele Festival. Ora, se eu estudava muito as

técnicas do Jimi Hendrix e o Santana, que ainda são meus ídolos, foi muito

bom tocar um pouco com este exímio guitarrista e gente boa. Aprendi mais um

pouco, certamente, como acho que todo músico deve proceder.

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Bons momentos de lazer

Nas folgas, depois dos compromissos com ensaios, saíamos em grupo para

conhecer os pontos principais de Recife. Quase tudo financiado pela TV Ceará

ou Diários e Emissoras Associados do Ceará, da Rede Tupi. Conhecemos duas

adegas muito bonitas e aconchegantes, que apresentavam shows noturnos. A

Adega do Bocage e da Mouraria. Estivemos também na praia da Boa Viagem e

em algumas boates da cidade.

Capítulo VII

O Programa Show do Mercantil

O Show do Mercantil, levado ao ar aos sábados, pela TV Ceará, Canal 2, da

Rede Tupi de Televisão, sempre apresentava muitos quadros interessantes e

de bom conteúdo. Durante muito tempo do programa o “layout” do palco do

Show do Mercantil tinha como pano de fundo o Conjunto Big Brasa, que

apresentava dois ou três números musicais.

Assim, qualquer que fosse a atração, estava lá o Conjunto Big Brasa

aparecendo na TV. Isto contribuiu de forma significativa para nossa maior

divulgação no interior do Estado. No decorrer dos programas o apresentador,

Augusto Borges, frequentemente se dirigia ao Big Brasa, fazendo um

comentário ou simplesmente brincando com algum de nossos componentes.

Desse modo nossa imagem se propagou rapidamente e nos tornamos muito

conhecidos pelo público em geral. Na fotografia acima, os componentes do Big

Brasa Adalberto Lima, Edson Girão, João Ribeiro, Lucius Maia e Severino

Tavares. A nossa saudosa Neide Maia aparece ao lado esquerdo, entrada do

palco principal do programa.

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Equipe de produção

O programa foi produzido por muito tempo pelo Tertuliano Siqueira, filho do

falecido guitarrista Paulo de Tarso, que hoje trabalha para o grupo do jornal “O

Povo”, auxiliado pelo Oliveira Martins. O Terto, como alguns o chamavam,

tinha boas ideias. Produzir e dirigir um programa de televisão semanal, em

Fortaleza, com duas horas de duração, não era fácil. O cara tem que se virar

para arranjar matérias e atrações. Entrevistas diversas, artistas de fora do

Estado e curiosidades, como o quadro “Fora de Série” faziam parte do show.

O Conjunto Big Brasa quase sempre apresentava um número na abertura e

mantinha algumas músicas para preencher alguma lacuna. Acompanhava a

apresentação dos calouros e praticamente todos os cantores que vinham do

Sul do País para temporadas em Fortaleza. Adquirimos muita experiência

musical por causa disso. Tínhamos mesmo que saber, ou seja, conhecer bem

as harmonias, os acompanhamentos de tudo que é música ou então “ter

ouvido” para pegar o acompanhamento na hora do ensaio, rapidamente. E

depois, memorizar tudo aquilo para não falhar durante o programa, sempre

realizado “ao vivo”. Sempre havia muita movimentação no Show do Mercantil,

de modo especial quando o período escolar tinha início e o quadro “Colégio

contra Colégio” também. Auditório lotado, muita gente mesmo. Nos bastidores

do mesmo jeito.

Auditório do Show do Mercantil

Quem conhecia as dependências da TV Ceará, com seu longo corredor central,

sabia como chegar ao auditório do programa por dentro, em vez de ser pela

entrada lateral. E aí ficava sempre meio tumultuado, com o pessoal querendo

ver os artistas, olhar o programa da sala de espera, o que não era permitido

pela produção, principalmente pela falta de espaço. Na realidade eu sempre

estava ocupado durante quase todo o programa, pela minha participação como

produtor musical e também guitarrista do Big Brasa fossem satisfatórias.

Acertos com a produção e os imprevistos

Logo que chega à TV Ceará, aos sábados, passava pela produção e recebia o

roteiro do programa. Conferia toda a parte musical, tirava alguma dúvida e

depois ia me reunir com o pessoal do conjunto para dar uma revisada nas

músicas (muitas vezes desconhecidas, o que nos dificultava um pouco). Mas

havia os imprevistos! Algumas vezes, artistas de fora do Estado só chegavam

em cima da hora, com o programa já no ar. E o apresentador, Augusto Borges,

me chamava durante algum intervalo e dizia para eu ir passar as músicas

rapidamente. Como um exemplo que marcou muito foi o Cauby Peixoto, que

chegou com o programa iniciado. Eu peguei a guitarra e na sala de espera, que

ficava ao lado do palco, rapidamente dele recebi uma sequência de dezoito

músicas, que fizeram parte de um “pot-pourri” por ele cantado. Anotei a

introdução para a primeira delas e as tonalidades seguintes. As mudanças

foram feitas com muita tranquilidade e tudo deu certo, graças à experiência do

Cauby em sinalizar, sutilmente, as passagens, mudanças, repetições etc. Esses

fatos nos ajudaram muito, musicalmente. Não era somente o fato de saber

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tocar esta ou aquela canção e sim, de acompanhar o que viesse. Despertava

assim também um sentido de atenção musical e até de improvisação para

corrigir uma emendar alguma falha, muitas vezes imperceptível pelo público

em geral.

Quadros do programa

Durante o período letivo um bom quadro figurava em destaque: o Colégio

contra Colégio se encarregava de animar o programa suficientemente, pelas

disputas entre os estudantes. Muita animação e disputas entre os estudantes,

gincanas etc. Em uma das oportunidades uma das equipes me convidou para

participar de uma gincana para tocar vários instrumentos. Então resolvi

aproveitar todos os instrumentos de teclado, como acordeon, piano, escaleta,

órgão eletrônico; os instrumentos de corda: guitarra, contrabaixo, cavaquinho,

bandolim, banjo e violino; de percussão aproveitei tudo que tinha direito:

bateria, tarol, surdo e um tantã; e por último piston, que sabia tocar duas

músicas. Fiquei um pouco decepcionado porque os jurados dividiram o prêmio

entre mim e um rapaz que tinha montado um rádio em uma caixa de papelão.

Pode? São coisas que acontecem na vida, não é mesmo?

Outro quadro interessante foi o Fora de Série, no mesmo formato que outros

programas utilizavam no sul e sudeste do país, trazendo atrações muito

interessantes, como mágicos, contorcionistas, pessoas que se propunham a

comer quantidades enormes de frutas e coisas estranhas dessa natureza.

Cheguei a ver uma levitação, outra vez um candidato que enfiava agulhas pelo

corpo inteiro, sem que nada o ferisse. Este, por sinal, fez uma demonstração

prévia para a produção, que eu assisti, no qual todos nós ficamos abismados

com o show. Exigia como ele próprio nos disse, uma enorme concentração

para poder conseguir realizar as perfurações.

Ensaio geral do Show do Mercantil

Realizado às sextas-feiras, quando o roteiro do programa estava pronto. No

que se refere à parte musical o conjunto Big Brasa ensaiava com os calouros

todas as músicas, com introduções, até que ficassem no ponto, nem que fosse

ao ponto de errar no sábado, como alguns faziam, face ao nervosismo...

Depois desse ensaio geral as entradas das músicas eram repassadas de forma

muito rápida, só para relembrar, no sábado, antes do início do programa, com

o Conjunto Big Brasa no palco do programa, a postos. A título de curiosidade:

por medida de segurança, aos sábados, eu chegava bem antes do horário,

conferia todo o equipamento e ainda dava uma passada com os calouros ou

cantores locais que fossem se apresentar.

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Seleção de calouros

A participação musical do Big Brasa no Show do Mercantil iniciava às noites

das quartas-feiras, quando eu, na qualidade de produtor musical, fazia uma

seleção de calouros para se apresentar no programa seguinte. Tudo funcionava

assim: no auditório da TV Ceará os candidatos chegavam cedo. Eu iniciava o

ensaio por volta das 20:00 horas. Ao piano, no palco, chamava os calouros por

ordem de chegada e pela relação de inscritos chamava um a um e perguntavalhe

que música que gostaria de ensaiar. Depois do acompanhamento de cada

candidato, fazia algumas anotações para escolher os melhores ao final. Tive

que enfrentar alguns problemas como é normal entre calouros, como alguns

desafinados ou sem ritmo ou ainda os dois. Eu os instruía, na medida do

possível. Em cada ensaio eu ouvia em média trinta candidatos para escolher

apenas quatro, estes que ensaiariam na sexta-feira com todo o conjunto. O

trabalho era cansativo. Às vezes a escolha ficava difícil e eu tinha que escalar

os melhores para o Show do Mercantil.

A dupla Lena e Leda

A dupla Lena e Leda foi descoberta em Fortaleza, Ceará, durante o programa

Show do Mercantil! As meninas iniciaram suas apresentações após terem sido

selecionadas pelo então produtor musical do programa João Ribeiro (Beiró),

líder e guitarrista-solo do Conjunto Musical Big Brasa. Foram muitas as

apresentações e a dupla fez muito sucesso ainda em Fortaleza. As meninas

ensaiaram várias vezes e se apresentaram no programa Show do Mercantil de

forma brilhante. Eu ficava satisfeito quando as via relacionadas para o ensaio

porque seria muito bom. Elas cantavam muito bem, sempre graciosas e muito

bem educadas. Fiquei emocionado uma das vezes em que a Leda, que não

mais está fisicamente junto a nós, agradeceu ao final do ensaio e pediu para

me dar um beijo! Inesquecível momento e a ternura de duas crianças. A Lena,

depois, foi para São Paulo e se tornou a conhecida Miss Lene (*), com muita

fama.

* Miss Lene é o nome artístico de Frankislene Ribeiro Freitas, uma cantora

cearense. A cantora cearense Frankislene, ficou conhecida como Miss Lene. Foi

lançada pela CBS em 1978 e fez sucesso com as músicas "Quem é ele?" e

"Deixa Música Tocar". Fonte – Wikipédia.

Maria Zenaide

Também criança fez parte com inúmeras apresentações no Show do Mercantil.

Sempre teve um dom musical e não dava nenhum trabalho nos ensaios. Com

sua voz bonita, firme e bem afinada, Maria Zenaide se apresentou também na

inauguração do Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza, com o programa Show

do Mercantil sendo apresentado do próprio Ginásio em uma brilhante

apresentação.

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Artistas que o Conjunto Big Brasa acompanhou na TV Ceará

Vários foram os artistas de projeção nacional que o Conjunto Big Brasa

acompanhou. Foram seis anos e meio, com atrações todos os sábados e em

muitos desses programas cantores de fora, quase sempre vindos do sul do

País. A seguir estão listados alguns deles, em ordem alfabética: Adriano

(Francisco de Assis), Carlos Imperial, Belchior, Cauby Peixoto, Cláudia Barroso,

Demétrius, Dóris Monteiro, Ednardo, Jorge Melo, Luiz Vieira, Sérgio Sá,

Mardônio, José Orlando, Márcio Greick, Pablo Sebastian, Rodger, Sandra,

Wanderley Cardoso, dentre outros.

O Pessoal do Ceará

Com alguns representantes do chamado Pessoal do Ceará, como o grupo se

tornou conhecido nacionalmente, tivemos encontros frequentes, como

Ednardo e Belchior, que ensaiaram muitas vezes tanto na TV Ceará, quanto

na sede de nosso Conjunto Big Brasa, em Messejana, sempre muito bem

recebidos pela minha saudosa mãe Dona Zisile, que era também a “mãe da

Família Big Brasa”, como todos consideravam, pelo carinho que tinha conosco.

Belchior com sua simplicidade e gentileza fez todos os ensaios para a

inauguração do Paulo Sarasate na sede do Big Brasa, sempre recebido por nós

com muito carinho. Tornou-se amigo do Big Brasa e também de meus

saudosos pais Alberto e Zisile, vindo posteriormente encontrá-los em uma

festa em Balsas, Maranhão, onde após o terminado o show os reconheceu e

muito gentilmente foi cumprimentá-los como se fossem os pais dele. Na TV

Ceará também foram inúmeros os encontros para ensaios. Belchior sempre

ficava entusiasmado com os “riffs” que eu procurava acrescentar em suas

músicas para melhorar os arranjos e assim nossa relação era excelente.

Ednardo Sousa - com o Ednardo

tivemos um convívio muito

grande, tanto em shows, viagens

com a equipe da TV Ceará,

quanto em preparação para

festivais em Fortaleza. O nosso

Conjunto Big Brasa, como foi

mencionado, foi visualizado e

contratado pelo apresentador

Augusto Borges em uma final de

festival realizada no Náutico Atlético Cearense. Para a música Beira-Mar

produzi alguns efeitos na harmonia, com o pedal “wah-wah” e uso de distorção

bem suave, que se assemelhava ao som de violinos. Com Ednardo nossa

relação era bastante cordial. Foram também muitos dias de ensaio, na sede de

nosso Conjunto Big Brasa para os festivais e também para uma série de shows

que o acompanhamos, em Teresina, São Luís, Manaus e Fortaleza, no Theatro

José de Alencar, em 1976. Nestes shows eu tocava viola, guitarra e flauta. As

participações eram muitas nas músicas, tanto que copiei todos os solos e

arranjos em partitura para que não os esquecesse. Temos uma fotografia em

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nosso acervo, com o Conjunto Big Brasa e orquestra acompanhando o Ednardo

em Recife, divulgada em reportagem de três páginas na extinta Revista O

Cruzeiro.

Rodger (Rodger Franco de Rogério), Téti e Petrúcio Maia, também estão

incluídos no que considero também da família Big Brasa, pelo nosso excelente

relacionamento. Com eles participamos de diversos ensaios no auditório da TV

Ceará, em preparação para os programas daquela emissora.

Nosso encontro com o “Rei do Baião”

Em uma das tardes de sábado o Conjunto Big Brasa estava cumprindo função

no Show do Mercantil. Com o auditório praticamente lotado, o programa

naquele dia apresentaria muitas atrações.

A produção musical, de minha responsabilidade, tinha preparado alguns novos

cantores da terra extraídos da seleção de calouros. Além disso apresentaria o

próprio quadro de calouros e alguns números do Big Brasa, músicas de

sucesso recentemente ensaiadas. Nessa época, havia um quadro chamado

“Fora de Série”, no qual se apresentavam mágicos, malabaristas,

contorcionistas, enfim, todas as pessoas que faziam alguma coisa diferente,

motivo de atração. Esse quadro permaneceu no ar por muito tempo e tivemos

a oportunidade de presenciar várias cenas ou atrações super interessantes.

Para aquele dia, a produção do programa, através de diversas “chamadas” -

pequenos comerciais do programa exibidos durante a programação durante a

semana - tinha anunciado uma grande surpresa para o público.

No início do programa, o Augusto Borges adiantou a atração, que seria o

famoso compositor e músico Luiz Gonzaga, nada menos do que o “Rei do

Baião”, como ficou conhecido internacionalmente. Durante os intervalos, de

pequena duração, a gente saía um pouco do nosso palco, que ficava na lateral

do cenário principal, para conversar com o pessoal da produção e outros

colegas, na ante-sala do programa, bastante movimentada. Nesse dia,

estávamos também querendo ver, de perto, o “Rei do Baião”. Em uma dessas

saídas, nos deparamos com o próprio Luiz Gonzaga, na ante-sala com sua

sanfona, calmamente aguardando a vez de sua apresentação. E nós todos

cumprimentamos o famoso Rei do Baião, com muita satisfação por mais aquele

encontro com gente famosa. Naquele momento, o Luiz Gonzaga deixou

transparecer para mim, pelo seu cumprimento ao nosso grupo e sorriso, de ser

um artista extremamente simples e simpático, além naturalmente de tudo

aquilo que produziu em seu inestimável legado musical.

Presença de Roberto Carlos e de Eduardo Araújo

Na TV Ceará, convidado pelo Show do Mercantil, tivemos a oportunidade de

ver o Roberto Carlos, que se apresentou no programa com o seu RC7, um

conjunto musical magnífico. Além dele o Eduardo Araújo e sua esposa Silvinha,

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também com seu acompanhamento particular de uma excelente banda

musical.

Shows em Parnaíba com a equipe da TV Ceará

Participamos duas vezes de shows e festas em Parnaíba, Piauí, com a equipe

dos programas da TV Ceará, com o Ednardo mais um show e apenas com o

nosso Big Brasa em outras oportunidades. As viagens, em ônibus fretados,

eram muito divertidas, pois estavam presentes muitos artistas, apresentadores

e funcionários da TV Ceará. O Antonio Mendes (Toinho), presente em uma

dessas viagens, era uma figura espetacular, por suas brincadeiras e sua

interação com todos da equipe. Mossoró, no Rio Grande do Norte, também

recebeu a equipe da TV Ceará para um show.

A repercussão do Show do Mercantil no interior do Estado

Se em Fortaleza a televisão divulgava o Conjunto Big Brasa suficientemente,

no interior a penetração da TV Ceará era muito intensa, a divulgação era

enorme. No início era a única emissora do Estado. E por isso mesmo durante

dez anos sua imagem se propagava pelo interior do Estado, através de

repetidoras de sinal.

Imaginem: nos anos de 1970, um conjunto que aparecia todos os sábados

num programa de audiência total no interior, visto que a EMBRATEL ainda não

possibilitava transmissões do Sul do país. Quando o Conjunto Big Brasa

chegava a qualquer cidade interiorana, obtinha enorme repercussão. Em

muitos municípios fomos recebidos com faixas de boas-vindas na frente dos

clubes! A rapaziada local ficava com um ciúme danado por que suas paqueras

e namoradas se voltavam para nós, tudo muito natural, por ser novidade...

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Caminhão de reportagens externas da TV Ceará

Aproveitando a onda de publicidade de

nosso Conjunto Musical pela televisão,

atendemos a centenas de cartas de fãs e

nas respostas eram incluída uma de

minhas fotografias, ao lado do caminhão

de reportagens da TV Ceará e outras que

aproveitamos a torre de transmissão da

TV Ceará, Canal 2. Foi nesse esquema

que praticamente se desenrolou a bem

sucedida etapa televisiva do Big Brasa,

cujos episódios serão motivo de diversos

enfoques nesses registros.

Programa “Studio 2”

Capítulo VIII

Programa de muita audiência da TV Ceará, no qual o Conjunto Big Brasa se

apresentou por mais de três anos. Levado ao ar diariamente, o programa

abordava, através de entrevistas, temas diversos, dirigidos principalmente às

mulheres. Diversos artistas nacionais, cantores, pessoal de teatro e outras

personalidades de destaque participaram do “Estúdio 2”.

Dentre os artistas que lembro a Dercy Gonçalves, sempre irreverente e alegre,

com as mesmas brincadeiras, mas com bem menos palavrões, tendo em vista

a censura existente naquele período. O famoso músico Zé Menezes, que deu

um verdadeiro show, também foi com acompanhado com muita honra pelo Big

Brasa. No dia em que esteve no programa, ele usou minha guitarra, para

executar alguns solos e improvisos. Ambos não estão mais fisicamente

conosco.

Às vezes a contra-regra produzia um cenário um pouquinho melhor do que as

simples cortinas e tapadeiras, que eram divisórias de compensado para

encobrir um ou outro defeito do cenário. Colocavam mesas e cadeiras como

num bar, com plateia e o ambiente ficava mais alegre e descontraído. A luta

do pessoal do estúdio era sempre no sentido de manter o silêncio daqueles que

não estavam em cena, para não atrapalhar o programa, realizado ao vivo.

Durante praticamente toda a semana deixávamos o instrumental no amplo

estúdio da TV Ceará onde se realizava o “Estúdio 2”. Esse material era levado

para casa apenas para os ensaios do conjunto. Para nós, músicos e o restante

do pessoal que ali trabalhava, o horário se tornava complicado. De Messejana

eu saía em nosso jipe 51, com o Adalberto, mais ou menos às 11:15 horas, de

segunda a sexta-feira, para sempre chegar a tempo. Nós costumávamos

dividir as despesas com a gasolina. Nunca deixamos de cumprir esse horário,

certinho.

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O som gerado pelo “Studio 2”

Como nós observávamos bem este aspecto, vale dizer que este sempre foi

bem melhor que o do Show do Mercantil, certamente pela acústica do estúdio,

todo isolado com fibra de vidro. Deve-se isso com certeza aos operadores de

áudio e aos microfones, além da própria acústica do ambiente. No estúdio a

distribuição se fazia com uma “girafa”, que para quem não sabia é um suporte

bem grande, na forma de um guindaste, que podia movimentar o microfone

por cima de todo mundo, captando bom o som de cada cena. A girafa ficava

por cima de todo o conjunto e captava o que fosse possível. Havia também os

microfones de lapela e os “varacionais”, explico: como a TV não possuía

microfones direcionais, aqueles que captam bem o som em uma determinada

direção, o pessoal da equipe técnica adaptava um microfone comum, forrado

com esponjas, a uma vara ou haste de metal ou madeira. Por causa dessa

improvisação, ficaram conhecidos por nós como os microfones “varacionais”.

Os câmeras-men procuravam “detalhes” em todos os lugares que podiam para

ser mais criativos. Lembro-me muito bem do William (“Irmão”), do Fred e do

Zé Lenir, o mais calmo deles e que às vezes “me emprestava à câmera para eu

focalizar algumas imagens, nos momentos em que não estávamos no ar. O

Irmão e o Fred se destacavam como bons profissionais. Na verdade eles eram

muito bons mesmo. O Fred, bastante dinâmico, se deslocava rapidamente para

conseguir os melhores ângulos para as imagens que o suíte (diretor de

imagens) solicitava. Por falar em “suíte”, os dois diretores de imagens que

mais trabalhavam naquele tempo nos programas em que o Big Brasa

participava eram o Dedeco (Aderson Maia) e o Gonzalez, este principalmente

no Estúdio 2.

Na imagem abaixo o Big Brasa acompanhando uma cantora local, cujo nome

não me lembro. Da esquerda para a direita, no estúdio A da TV Ceará, o Big

Brasa na seguinte formação: Severino Tavares (bateria), Adalberto Lima

(teclado), Edson Girão (guitarra-base e vocalista) e João Ribeiro (guitarrasolo).

Observam os dois microfones varacionais!

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Bem, no Studio 2 eles nos colocavam no ar diversas vezes sem estarmos

tocando, em qualquer posição em que estivéssemos de preferência quando a

gente não notava que seria focalizado. Em uma brincadeira sem pensar, numa

dessas vezes que os câmeras-men ficavam procurando o que mostrar pelo

estúdio o Fred ficou me focalizando um tempão e eu, agachado, que estava

prestando atenção ao que estava sendo exibido no programa, não notei.

Quando notei o Fred tentando me enquadrar, num ato impulsivo e de pura

brincadeira, dei o dedo para a câmera. Deu sorte porque minha imagem não

tinha ido ainda ao ar. Resultado: depois do programa o Gonzalez desceu da

Engenharia, como chamávamos, e me deu uma boa chamada, dizendo ele que

quase tinha apertado no botão que levaria aquele gesto para todos os

cearenses. E assim somente agora vocês ficam sabendo.

O Conjunto Big Brasa fazia em média dois ou três números por programa. No

decorrer dessa temporada a propaganda que o conjunto conseguiu foi enorme,

por aparecer diariamente na TV. As músicas quase sempre eram sucessos do

momento, cantadas pelo Edson ou pelo Lucius. Tocávamos temas de improviso

e blues, ocasiões em que eu aproveitava para tirar sons de todas as maneiras

que sabia na guitarra, fato que contribuiu para minha relativa projeção como

guitarrista-solo em Fortaleza. Na imagem abaixo, o Conjunto Big Brasa e a

excelente cantora Téti, do Pessoal do Ceará.

Conseguimos uma boa legião de fãs espalhadas pelo interior do Estado. Todos

os dias recebíamos cartas e mais cartas. Umas eram dirigidas ao Conjunto Big

Brasa, de um modo geral e outras eram destinadas aos músicos, em

particular. Acho que os campeões de correspondência eram o Edson Girão e o

Lucius Maia. Ainda hoje mantenho quase todas as cartas que recebi. Muitas

delas com fotos e até declarações apaixonadas ou amorosas, com muito

carinho e afeto da parte daquelas fãs. Sentia um prazer enorme ao receber

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


cada cartinha daquelas. Andei respondendo muitas, pessoalmente. Depois,

pela falta de tempo, contratamos uma amiga que respondia tudo por nós. Tive

que fazer uma fotografia minha ao lado do caminhão de transmissões externas

do Canal 2 e distribuí mil cópias para o fã-clube do conjunto no interior do

Estado. Hoje em dia ainda mantenho estas cartas bem guardadas, pois fazem

parte de nossa memória.

Ainda sobre fotografias do conjunto, é bom contar que aproveitamos a cena

um dia, quando uma pessoa estacionou com um automóvel conversível

“Lorena”, em frente ao Canal 2, para resolver algum assunto de seu interesse.

Como estávamos aguardando o horário do Estúdio 2 entrar “no ar” chamamos

rapidamente o fotógrafo da televisão e fizemos uma pose junto ao tal carro.

Foram feitas centenas de fotos e enviadas também para o interior. Isso

certamente contribuiu para nossa imagem de conjunto “rico”, mas com o carro

dos outros... Tínhamos que inventar novidades. Eu às vezes até abusava dos

pedais (distorção e "wah-wah") e brincava com os operadores de câmeras que

se aproximavam demais de minha guitarra no intuito de mostrar minha aliança

para as fãs do interior.

De tão acostumados com as câmeras e com o pessoal do estúdio todo, contraregras,

operadores de microfone, os próprios câmeras-men, a gente se divertia

muito. Eu não perdia nenhuma oportunidade de improvisar sobre os temas das

músicas que tocávamos. Era uma boa forma de exercitar e também de mostrar

para o Ceará inteiro nossas habilidades.

Entrevista do Big Brasa para fãs

No entanto um dia o produtor do programa resolveu abrir mais um espaço

para uma entrevista com o conjunto, a pedido das fãs. Isto foi realizado mais

de uma vez. Assim, o entrevistador Flávio Torres dirigiu perguntas para o

contrabaixista do Conjunto Big Brasa Lucius Maia (à esquerda) e para mim

(João Ribeiro) sobre nossa atuação em Fortaleza e todo o interior do Estado do

Ceará e partes do Nordeste. Quis saber se respondíamos as cartas do pessoal,

sobre o repertório do conjunto etc. Na foto que temos desta entrevista

aparecem, além dos entrevistados por Flávio Torres, a atriz de novelas e

apresentadora Karla Peixoto, da TV Ceará.

TV Ceará, Canal 2 - Minhas lembranças

Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


Conjunto Big Brasa na Wikipédia

“O Big Brasa foi um conjunto musical brasileiro ativo nas décadas de 1960 e

1970 durante a fase da Jovem Guarda. O grupo formou-se no bairro de

Messejana, em Fortaleza (Ceará) e seus integrantes fundadores eram: Lucius

Maia, Severino Tavares, João Ribeiro, Adalberto Lima, Edson Girão e Luís

Antônio Alencar”. “O início da banda deu-se em 1967 e esta permaneceu ativa

até 1978. O conjunto musical Big Brasa foi muito popular entre os

fortalezenses, principalmente através dos programas Show do Mercantil,

semanal, e diário Studio 2, que eram exibidos pela extinta TV Ceará, da Rede

Tupi de Televisão. Atuou também em diversos estados nordestinos e em todo

o interior do Ceará. O Conjunto Musical Big Brasa acompanhou vários artistas

do Pessoal do Ceará, tais como Ednardo e Belchior dentre outros.”

Considerações finais

Mais uma vez foi muito gratificante e prazeroso relembrar uma época

especialmente marcante em minha vida musical, com o nosso saudoso

Conjunto Big Brasa na extinta TV Ceará, Canal 2, da rede Tupi de Televisão.

Foi como se vivesse novamente com todos aqueles, os apresentadores, o

pessoal das produções dos programas, técnicos, calouros e artistas cearenses

e de outros Estados que participaram desta época inesquecível entre os anos

1970 e 1977.

João Ribeiro da Silva Neto, funcionário público federal, aposentado da Área de

Inteligência como Analista de Informações (Oficial de Inteligência). É diretor do

Instituto Portal Messejana, entidade de utilidade pública, analista de fatos e

editorialista. Escreve também para o Blog do João Ribeiro e mantém presença

nas redes sociais com a página do Conjunto Musical Big Brasa.

Conjunto Big Brasa – https://www.facebook.com/conjuntobigbrasa

Blog do João Ribeiro - http://silvanetojr.blogspot.com/

Instituto Portal Messejana - http://www.portalmessejana.com.br/

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Por João Ribeiro da Silva Neto (Beiró)


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