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Zine sobre o artista Joji. Conteúdo autoral de Gabriela dos Santos
Zine sobre o artista Joji.
Conteúdo autoral de Gabriela dos Santos
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Por Gabriela Silva dos Santos
contraste
1
grau marcante de diferença ou oposição
entre coisas da mesma natureza, suscetíveis de
comparação.
2
comparação de objetos similares para se
estabelecerem as respectivas diferenças; cotejo.
3
variação nas tonalidades de luz e sombra, claro
e escuro, zonas opacas e transparentes em obra
plástica, fotográfica, cinematográfica etc.
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Muitos conhecem e gostam do
Joji de hoje em dia por seu R&B melancólico,
que serve de trilha sonora
para momentos mais introspectivos.
Mas muitas vezes esquecem do passado
de George Miller como um dos
youtubers mais polêmicos da plataforma,
com seu humor e músicas
controversas sob o nome de Filthy
Frank e Pink Guy.
Como George foi do humor
que muitas vezes cruzava a linha
do aceitável e hoje ser um músico
com uma fan base fiél e viver disso?
A história de Joji como youtuber
é fascinante e ele foi uma das pessoas
que conseguiu melhor aplicar
o conceito de comunidade dentro
do Youtube.
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Joji, Pink Guy, Filthy Frank, e
Pink Omega: todos esses são pseudônimos
de George Miller. Sua relação
com a produção musical vem
desde a infância. Em uma entrevista,
ele chega a contar que já fazia
música antes mesmo de notar que
estava fazendo.
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O que começou com George
recriando músicas, escalou para
uma brincadeira com os amigos,
criando faixas zoando professores,
alunos, falando do seu ambiente
de convívio em geral, e acabou se
tornando um talento.
Ainda em seu primeiro canal
do Youtube (DizastaMusic), George
já postava músicas de comédia, em
sua maioria com base no rap e trap
de 2011. As músicas começaram a
se tornar cada vez mais frequentes
em seu canal, e continuaram
quando George teve que criar o seu
segundo: TVFilthyFrank. As músicas
então começaram a serem postadas
pela persona do Pink Guy. Assim
como o personagem Filthy Frank,
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Pink Guy era o resumo dos lados
mais obscuros da humanidade, era
ofensivo e com objetivo de ser. A
música dele surgiu nesse contexto
com a figura de um personagem
absurdo que sintetiza tudo de ruim
que existe na humanidade.
Não era sobre o que era falado
nas músicas, mas sim sobre o
absurdo e o gostinho de estar rindo
do que não devia. Claro que era
tudo uma grande sátira, mas ainda
sim temos que refletir sobre os limites
do que é aceitável ou não de se
brincar.
E depois de ser considerado
um “meme Lord” do Youtube com
o viral “Harlem Shake”, George resolveu
levar isso um pouco além.
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Em 2014 foi lançado seu primeiro
álbum autointitulado Pink
Guy. Por baixo do já esperado humor
ofensivo e a produção propositalmente
de baixa qualidade, era
possível ver que quem fazia aquilo
tinha o mínimo de talento.
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Quem ouve uma música do
Pink Guy percebe rapidamente que
se trata de um personagem. Mas se
teve gente que não o achou ofensivo
suficiente, foi contemplado com
um segundo lançamento.
Porém, antes de lançar seu
próximo álbum como Pink Guy, uma
outra persona de George surgiu
discretamente na internet em 2015.
George chegou a anunciar em um
vídeo que iria lançar um álbum mais
sério e como ele mesmo. Os fãs ficaram
aguardando ansiosamente até
ele dizer um pouco depois que não
o faria mais. Mas pelo nome de Pink
Omega surgiram duas novas músicas
de surpresa. Apesar de uma das
músicas ser mais voltada para o rap,
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que é o caso da “We Fall Again”, já
era possível ouvir um pouco do som
melódico que viria a se tornar o estilo
de Joji.
Sua primeira mostra como Joji
veio no final de 2015 com o EP Chloe
Burbank Vol. 1, com duas músicas
oficiais. Era lo-fi, triste e não era tão
destacável assim, mas mostravam
um lado de George que os fãs ainda
não estavam acostumados: um lado
sério, melancólico e triste. Alguns fãs
ficaram confusos com o lançamento,
já que na época Joji ainda tinha sua
persona de comediante. Mas outra
parte ficou ainda mais curiosa com
o que o cantor tinha a apresentar
sobre esse outro lado.
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Em 2017, George lançou seu
segundo e último trabalho como
Pink Guy, o álbum Pink Season. Ainda
mais ofensivo, esse álbum foi seu
adeus a comédia.
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George não abandonou a
comédia por ter fracassado, pelo
contrário, o Pink Season chegou a
fazer muito sucesso na Bilboard.
O que o levou a abandonar
a comédia foram alguns fatores: o
principal, foi o seu humor. Ele começou
o canal e seu estilo de comédia
quando estava no Ensino Médio, e é
natural que conforme você envelhece,
se cansa daquilo que produz. Ele
não estava mais feliz com seu conteúdo
e acabou tendo problemas
com a bebida devido ao estresse.
O outro motivo é relacionado à sua
saúde. Miller tem uma doença que
ele prefere não se aprofundar em
público, mas que pode resultar em
convulsões quando exposto a altos
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níveis de estresse. E era justamente
por isso que ele estava passando ao
produzir esse conteúdo.
Em setembro de 2017, George
abandonou por completo seu trabalho
como youtuber e comediante. A
música do Pink Guy não era a sério,
mas levou George a desenvolver
uma fan base forte o suficiente para
se sentir confortável para finalmente
ser ele mesmo sob o nome de Joji.
Seu primeiro single divulgado nessa
nova fase foi o “I Don’t Wanna Waste
My Time”, que apresenta um R&B
com inspiração de lo-fi hip-hop, carregando
a melancolia não apenas
na melodia, mas também na voz
suave e beirando ao monótono.
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O EP In Tongues foi lançado no
final de 2017. Apesar da recepção
não muito positiva da crítica, a reação
do público foi totalmente oposta.
Muitos dos seus fãs antigos migraram
para o seu novo trabalho, e
muitos só conheceram o cantor pela
sua música, sem necessariamente
associar aos antigos alter egos. E
era exatamente isto que ele queria:
que as pessoas conseguissem manter
seu trabalho como comediante
separado do que faz agora.
Produzido pelo próprio cantor,
o EP apresenta um som minimalista,
que transmite ao ouvinte a sensação
etérea de apreciação da
melancolia. Joji diz que durante sua
infância no Japão, passava muito
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tempo próximo a água e ambientes
mais silenciosos e pacíficos, e de
certo modo acaba recriando isso em
sua música. Ele sempre se preocupa
em mantê-las com camadas e texturas
para que o ouvinte se envolva.
Um dos fatores que auxiliou nessa
ambientação do EP foram seus
clipes e estéticas mais dark, que
deram ao Joji o título de um dos artistas
mais amados pelos sad boys.
Mesmo com a elogiada
produção, ainda faltava nuances
no álbum, principalmente com os
vocais. Joji deixava a desejar um
pouco mais de sentimento, e com
o próximo lançamento ele evoluiu
nesse quesito.
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O seu álbum de estreia, Ballads
1 (2018), é ao mesmo tempo uma
extensão e evolução do In Tongues.
O álbum passeia por caminhos
mais variados do que o EP anterior.
A melancolia ainda está presente,
mas o álbum é mais plural em suas
temáticas, que passam por amor,
solidão, insegurança, insatisfação,
expectativa e mudança. Joji assina a
maior parte da produção do álbum,
que soa mais íntimo, cativante e
diversificado.
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Músicas como “Slow Dancing In
The Dark” — uma das melhores dele,
se não, a melhor — parecem realmente
pegar a inspiração das baladas
clássicas do pop, enquanto as
renova com o uso de sintetizadores
ao redor da voz doce.
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Mas o álbum também tem seus
momentos mais animados e até
dançantes, como em “Can’t Get Over
You”. Joji estava experimentando e
se encontrando musicalmente nesse
álbum de estreia.
Embora tenha uma diversidade
musical grande, a voz de Joji serve
como um fio para unir as canções e
criar uma narrativa coesa. As composições
são fáceis de se identificar
e talvez seja esse um dos fatores
que levou o álbum ao topo da parada
de R&B Hip-Hop da Billboard, e
ao terceiro lugar na Billboard #200.
Não foi só um marco importante
para Joji, mas para todos, já que foi
o primeiro artista asiático a chegar
nessa posição.
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Joji é naturalmente uma pessoa
de conflitos. Quando quer alguma
coisa, quer exatamente o oposto
também. É justamente sobre isso
que trata seu último álbum lançado,
chamado Nectar (2020). Contraste,
sons opostos, a escuridão e a claridade,
e os dois lados divergentes
de Joji. Ele aparece cantando mais
do que nunca em “Run”, e em faixas
grandiosas como “Gimme Love”. Há
faixas mais pop, como “Sanctuary”, e
até mais dançantes como “Daylight”,
com a produção de Diplo.
Ele se mostra cada vez mais
honesto e menos genérico em suas
composições, além de continuar
a provar como é um artista versátil.
Ele é a prova de que as pessoas
mudam e que mudanças são
necessárias. Todos temos um lado
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cômico e um lado sério. Você pode
escolher se apresentar através de
personagens ou sendo si mesmo.
Joji é o conforto para os momentos
de dúvida e insegurança,
não para resolvê-los, mas para te dizer
que está tudo bem em não ter
certeza.
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Textos* e ilustrações autorais,
por Gabriela Silva dos Santos
*O conteúdo textual foi baseado em biografias
do artista disponíveis na internet.