Arte e Espaço - Banco de Memórias - Maria Diogo
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L u g a r e s d e m e m ó r i a
“The really magical things are the ones that happen right in front of you. A lot of the time you keep looking for
beauty, but it is already there. And if you look with a bit more intention, you see it.”
Vik Muniz
Índice:
Introdução
Entrevistas
Recolha do Espaço
Memória Descritiva
Desenhos / Estudos
Dimensões
Obra Escultórica
Especificações Técnicas
Orçamento
Introdução
Este projeto dá resposta ao pedido da elaboração de uma obra pública para o conselho do Porto na Freguesia do Bomfim. Elegida para ser executada e instalada na “Varanda Sobre o Douro” zona das
Fontainhas que tem como propósito a criação de uma obra escultórica que sedimenta as memórias passadas e presentes, dando importância a esta zona que define e que caracteriza esta área no grande
Porto.
Os habitantes desta zona afirmam que vivem como uma família. Uma família cheia de memórias e laços que criaram naquela zona, onde estão sempre de braços abertos para receber e sempre com boa
disposição a acompanhar pessoas interessadas no local.
Esta obra tem como base ajudar a manter esta “família” mais unida e na reativação do terreno, que ultimamente tem vindo a ser explorado pelos locais e por interessados da agricultura de
subsistência.
Aproveitando esta iniciativa e as camadas de história que estão a ser retiradas a partir deste projeto e que rodeiam estas pequenas hortas.
Posto isto pretendo juntamente com os habitantes locais da área, limpar estas memórias submersas, que tem vindo ao de cima, sedimentando estes pequenos fragmentos. Fragmentos estes, que
restam de bairros onde hoje não passam de uma miragem para quem os conheceu.
Dar uma nova vida, a partir destes fragmentos de memórias, que restam destes bairros onde mais de 50 famílias foram desalojadas e deixaram uma zona, uma casa com varias histórias para trás.
Entrevistas
José António Gonçal v es T e i xeira
Depois do seu serviço militar em Africa, habita há 34 anos e sem família na “casa amarela com umas caricaturas” nas fontainhas um edifício bastante característico da zona.
José António Gonçalves Teixeira de 75 anos é um dos exploradores do antigo “matagal” que restou de onde se situava o antigo bairro de Nicolau “que nem era do tempo dele, nem a ponte estava feita”.
É um dos reabilitadores diários “sempre que posso” a partir da exploração agrícola de subsistência, por puro prazer, destes espaços mortos com camadas e camadas de lixo “não há memória que a
camara tenha limpado isto”.
Considera que a zona de onde foram realojados os antigos habitantes daquele bairro não é “uma zona perigosa” nem que tem perigo de derrocada, a justificação se deu para o início do desalojamento
destes.
Afirma também que ultimamente tem sido um local “visitado pelos estrangeiros” e que “tem valor pela sua vista para o rio”.
“ P l a n t a r v e r d e p a r a c o l h e r m a d u r o ”
22-12-2020
Pérola das F o n t a i n has
Desde o seu segundo ano de vida, atualmente com 72 anos Luís Diogo Ferreira, viveu e cresceu na zona das Fontainhas “e cá estou eu” afirma. “Esta zona para mim é a zona ideal, já foi melhor para
trabalhar há uns anos atras”.
Trabalha a muitos anos e vende “o que as pessoas precisam” um estilo de mercearia “vendo batatas, cebolas…”. Refere também que os antigos bairros de Nicolau, da Aguada e “outros dois” deixaram de
existir “não queriam sair de cá, mas foram obrigados” e foram realojados por vários outros bairros sociais do Porto.
Concorda que estas novas “hortas” dão uma vida e um “verde” bonito ao espaço antes habitados. Refere também que “há lixo que nunca mais acaba”. Ainda existe a Colónia Cabo Verdiana um bairro onde
os seus habitantes se independentes em relação aos outros bairros. E que há medida que o tempo passou foi crescendo
“ J á n ã o h á d i s s o ”
Uma frase típica de Inês Silva com 71 anos e que desde nova começou a vender na feira da Vandoma ao lado da sua irmã nas Fontaínhas “porque era pertinho”. Original de Gaia, dos carvalhos, ainda tem la
casa “no fim de semana vai a famelga toda para lá”.
Vive á 45 anos nas fontainhas com o seu marido “aqui não tem nada à nossa frente”. E gosta muito de viver nesta zona. Agora não vende na feira porque diz “é longe de mais” e antigamente “havia muita
gente à procura de coisas antigas”.
Ainda ia vendendo com o turismo e com uns “franceses e chineses” que eram levados e iam passando lá. Gosta das pessoas daquela zona, refere que “os antigos” eram um povo muito unido, como “uma
família” afirma.
“ n ó s n ã o t e m o s c o i s a s b o n i t a s , n ó s s o m o s c o i s a s b o n i t a s ”
22-12-2020
Recolha do Espaço
Memória descritiva
Esta proposta Site-Especific dentro da Freguesia do Bomfim no centro da cidade do porto, irá situar-se na “Varanda sobre o Douro” as Fontainhas. Tal como o nome indica esta zona foi assim denominada
derivado as varias fontes de água que existem nesta área. Daí a existência de um dos lavadouros mais conhecidos do Porto se situar neste local.
Para além da elaboração desta obra pública também revê a partir da mesma toda a história dos habitantes antigos e atuais das fontainhas. Com isto trás as vidas passadas às presentes, a partir de
fragmentos de memórias espalhados na zona, anexando-as e numa espécie de “capsula do tempo”, criando um arquivo de objetos não visíveis, enaltecendo o valor sentimental deste passado das
fontainhas, mas também do seu presente que não deixa de o personalizar pelos seus habitantes.
O sentimento de “Perda” e “União” são duas das palavras mais fortes que caracterizam o que envolve a história deste local. Após uma recolha fotográfica e áudio, a partir de alguns habitantes e locais
mais antigos e característicos da zona, que marcam este espaço e contam as suas histórias que descrevem o ambiente atual e antigo do local. Com os seus pequenos negócios disfrutam deste ambiente
familiar que personaliza os seus habitantes. Estes contam-nos várias histórias passadas do local, também do desgosto da evolução do mesmo, que os fez perder muita da sua história característica sendo
esta mantida de geração para geração e de boca em boca.
Os antigos bairros, as lavandeiras, a Vandoma, o café local antes da construção da Ponte do Infante, entre outros que se perderam ou deslocaram das Fontainhas e que a personalizavam. Estes por
muitos anos deram vida e caracterizaram este local onde ainda muitos habitantes se recordam desses tempos, deste maravilhoso local cheio de história com várias culturas e modos de vida que ali foram
parar e que em harmonia se tornaram uma família.
Este passado em que me foco para a realização desta obra surge através do descontentamento das pessoas que habitavam no bairro de Nicolau (com mais de 50 famílias), no bairro da Aguada entre
outros situados depois da linha de comboio e com vista para o douro, foram destruídos e retiraram estas famílias que não só tinham as suas casas como também várias décadas de memórias e gerações
que lá tiveram uma vida.
Pessoas com mais de 50 anos nestes bairros foram retiradas das suas próprias casas, do seu canto, do seu ninho, do seu povo. Após esta demolição ficaram apenas os restos de múltiplas vidas
aglomeradas em várias camadas de terra. Hoje essa zona está a ser explorada por habitantes locais e outros interessados para agricultura de subsistência onde dividem estas terras para cultivar as suas
pequenas hortas e por consequência limpam os seus terrenos que trazem as suas vidas passadas à tona antes submersas nestas terras através de vários objetos que nos remetem as vivencias destes
bairros destruídos.
Inspirada nestes acontecimentos do local e sobre as memórias pretendo que estas não sejam esquecidas, mas sim relembradas, fazendo com que estas pertençam a uma memória sólida e coletiva, desta
longa história e que ainda pertencem a uma memória global dos seus habitantes e que juntos se chamam Fontainhas.
O dever da memória é o dever de não esquecer, de passar de geração para geração. Com os seus lados positivos e negativos pretendo assim que esta obra inclua estas memórias, que as contenha no seu
interior, e as sedimente nas Fontainhas.
Com esta proposta e a partir destes antigos bairros onde hoje são apenas objetos desenterrados das suas vidas passadas, serão recolhidos do local e trazendo cada um o seu valor simbólico, limpando
consequentemente este cemitério de más memórias, anexar a partir dos moradores atuais novas histórias em conformidade com o conjunto de peças selecionadas por cada um destes habitantes
selecionados para a participação do projeto. Reavivando assim estas memórias anexadas a novas memórias dos atuais moradores.
Estes objetos recolhidos banhados em novas memórias e sedimentadas, com a agua local e Areia da Praia do Areinho, “como blocos de construção” criam assim uma união entre estes para que
permaneçam sempre na memória dos habitantes e com estas construir um futuro mais sólido para as Fontainhas.
Será assim uma obra publica com um interesse na participação e comunicação com os variados e distintos habitantes. Tornar este local limpo para o melhor desenvolvimento do projeto atual de
exploração da agricultura. E como já referido criar uma base sólida para uma estrutura instável desta grande família.
Um lugar de memórias com bancos de memórias.
Desenhos / Estudos
Dimensões
Vista superior
0.60 m
1.20 m
0.60 m
Vistas laterias
Obra Escultórica
Obra Escultórica
~
Especificações Técnicas
Esta obra será realizada começando por através de uma lista de habitantes da zona das Fontainhas onde que estes são convidados para participar neste projeto para a elaboração desta obra publica.
A mão de obra deste projeto será essencialmente realizada por estes moradores e por alguns auxiliares em transporte de material. É proposto a cada um destes moradores, após esta recolha de
“objetos de memória” e limpeza dos terrenos, a escolha de um ou mais objetos que vão ser banhados em cimento e depositados numa cofragem de um paralelepípedo com 1.2 x 0.6 x 0.6 m. Dando
assim criação aos Bancos de Memórias.
A aglomeração destes objetos aleatórios que se encontram no local e pertencem a história do mesmo serão assim elevados a um estatuto de obra de arte devido ao valor simbólico, já existente neste,
e ao sentimento que será depositado ao próprio a partir de cada habitante que o propõem para a sedimentação nestes Bancos de Memórias que não só fazem parte da zona como o que o contém é
selecionado pelos seus habitantes.
Uma atividade que poderá ser repetida ao longo do tempo, com o objetivo de solidificar as memórias locais e tornar também a mesma como um objeto de união das várias gerações e histórias do
local.
As cofragens serão realizadas no local selecionado para a exposição e utilização destes mesmos objetos. Terá estas proporções para que após a sua realização ganhe também uma funcionalidade,
onde os residentes e os interessados por esta zona possam conversar sobre o passado e o presente, fazendo com que este “Banco de memórias” seja um local de convivo e partilha.
O cimento industrial utilizado será misturado com areia da Praia Fluvial do Areinho, escolhida pois era a mais próxima e mais utilizada pelos antigos habitantes das Fontainhas durante décadas. Uma
praia relativamente perto do outro lado do Douro. Esta terá que passar por um processo de refinamento para quando se mergulhar as peças não influenciar na textura das mesmas.
A água que será utlizada para o resto da mistura será recolhida diretamente da Fonte pertencente a Alameda das Fontainhas.
Orçamento
M a t é r i a s
T r a b a l h a d o r e s
Referencia Tamanho/Peso quantidades
Preço por unidade
Em euros
Total
Em euros
C i m e n t o
17605294
Leroy Merlin 25 kg 69 2.89 199.41
A r e i a
- 25kg 138 - 2.000 + licença
P l a c a s d e M D f
11034324
Leroy Merlin 1200 X 600 X 16 mm 92 8.79 808.68
P a r a f u s o s
82239582
Leroy Merlin 3X40 mm 276 11.99 / caixa 23.98
M ã o d e O b r a
( T r a n s p o r t e e a p o i o ) - - - - 1.500
O u t r a s d e s p e s a s
- - - - 4.000
A u t o r - . . - 20.000
T o t a l d a s D e s p e s a s : 28.533 Euros
N o t a : Este orçamento não incluí a licença para a recolha dos sacos de areia que são necessários de se retirar da Praia Fluvial do Areinho – Gaia