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DIA 2 - APROXIMAÇÃO
No mesmo instante entramos em contato com a cegonha responsável pela busca
ativa e no dia seguinte ela encaminhou nosso contato para a vara responsável. Para nossa
surpresa, no outro dia a técnica da Vara me ligou. Eu estava trabalhando, mas atendi a
ligação e a assistente social me passou várias informações sobre o diagnóstico, quadro de
saúde, médicos, terapias e medicamentos e agendou uma visita ao fórum e abrigo para
dali uma semana. Após a ligação, ela me enviou uma foto linda; foi a primeira vez que vi o
rostinho da minha filha. Compartilhei a notícia e a foto com meu esposo e minha família. Foi
amor à primeira “foto”.Nesta uma semana entre o telefone tocar e irmos conhecer M.,
mobiliamos o quarto e compramos o que faltava e era essencial. Mas a organização do
quarto ficou por conta da minha irmã, pois não tínhamos tempo suficiente para fazê-lo.No
dia combinado, eu, meu marido e meu filho M. (tinha 15 anos) viajamos 350 km até a cidade
de M. Comparecemos ao fórum e conversamos mais detalhadamente com a assistente
social sobre as questões de saúde da minha filha. Não tivemos nenhum problema em ouvir
sobre aqueles laudos intermináveis, pois tanto eu quanto meu esposo e nossos filhos
estávamos muito preparados para todas as demandas dela. No entanto, enquanto ela
falava, meu coração parecia que ia explodir. Eu já não aguentava mais, até que perguntei
para ela: como são os cachinhos do cabelo dela? Pois para mim, a deficiência e tudo aquilo
eram detalhes, assim como seu sorriso, seus olhinhos e seus cílios enormes. Nós já
estávamos loucos para pegá-la no colo.Depois dessa longa conversa no fórum, partimos
para o abrigo e fomos recebidos por uma equipe maravilhosa que cuidou e amou a nossa
pequena desde sua chegada ali. Elas carinhosamente nos disseram: “aqui é um abrigo
para os dias chuvosos, hoje chegou o sol na vida da M., hora de ir para casa”. Peguei M. no
colo, chorei e disse em seu ouvido: “desculpa a demora, chegamos! Você já lutou muito
sozinha, agora tem uma família inteira para lutar com você e por você. Mamãe está aqui”.
Ela, em meu colo, cheirava meu pescoço como quem reconhece o cheirinho da mãe. Foi o
melhor momento de nossas vidas, ver ela pela primeira vez; a identificação foi imediata
com todos nós.Na mesma cidade de M. morava uma tia minha e nos hospedamos na casa
dela. Durante uma semana, eu, meu marido e meu filho íamos ao abrigo pela manhã,
passávamos o dia e voltávamos para casa da minha tia à noite.Desde o primeiro dia de
aproximação, nós como família tomávamos conta da rotina e demandas da nossa bebê.
Meu filho se revelou um super irmão, sempre interessado, aprendeu os horários dos
remédios, a dar comida, dar banho, trocar fralda, montar e desmontar cadeira de rodas e
tantas outras coisas. O filho do meu marido J. L. (tinha 16 anos) também participou da
nossa aproximação através de vídeo chamadas diárias. No sábado pudemos levar M. para
a casa da minha tia e no domingo passeamos e almoçamos no shopping. Toda essa
aproximação foi essencial para fortalecer nossos vínculos e nos preparar para a
maternidade atípica (especial) e todos os desafios que viriam.