SHE - Smart & Happy Environments #3
A revista eletrônica "SHE - Smart & Happy Environments" (Ambientes Inteligentes e Felizes) traz conteúdos sobre ambientes inteligentes e promoção da felicidade de várias partes do mundo. As revistas eletrônicas são publicadas pela Abayomi Academy localizada na Flórida, EUA.
A revista eletrônica "SHE - Smart & Happy Environments" (Ambientes Inteligentes e Felizes) traz conteúdos sobre ambientes inteligentes e promoção da felicidade de várias partes do mundo. As revistas eletrônicas são publicadas pela Abayomi Academy localizada na Flórida, EUA.
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S H E
Smart & happy environments
O MELHOR DA MINHA
COMUNIDADE
O QUE VAMOS DEIXAR
PARA AS CIDADES DO
FUTURO?
por Adriana Figueiredo
VIVER O PRESENTE:
A ARTE DE SER FELIZ
por Marco Hennies
A GESTÃO INOVADORA E A
SUSTENTABILIDADE
NA AGENDA DAS CIDADES
INTELIGENTES
por Eliane Saldan
PERSONALIDADE:
Karla Pimentel
Arquiteta multissensorial
ECONOMIA CIRCULAR E
POLÍTICA REVERSA: AVANÇOS
LEGISLATIVOS E PROPOSTA
DE CRÍTICA
por Eraldo Brandão & Marcelo Santana
PERCURSOS PELA CIDADE –
ACESSIBILIDADE E
CAMINHABILIDADE
por Regina Cohen
# 03 maio 2021 português
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Editorial
Estamos nos dedicando para sermos felizes hoje?
Como estamos preparando nossas cidades para o
futuro? Como oferecer acessibilidade e
caminhabilidade nas nossas cidades? Quais as
tendências para uma gestão inovadora e aplicação
da economia circular na sua vida, na sua cidade e
na sua empresa? Esses são temas atuais e
inspiradores que nossos autores nos apresentam
nessa edição para ajudar a trazer consciência e
conhecimentos transformadores.
Essa edição nos traz algumas novidades, novas
sessões e mais interação com o público:
"Personalidade", "O melhor da minha
comunidade", "Perguntas & Respostas" e "Agenda".
A primeira novidade que já vem na abertura da
revista é a sessão "Personalidade" que nos
apresenta, cada mês, uma personalidade que se
destaca na promoção de Ambientes Inteligentes e
Felizes e temos o prazer de contar com a
entrevista da arquiteta multissensorial, Karla
Pimentel, de São Paulo.
A sessão seguinte - "O melhor da minha
comunidade" - conta com a participação do
público de diversas partes do mundo
compartilhando conosco o que tem de melhor
na sua comunidade para servir de inspiração
para gestores, profissionais e leitores.
Na sessão "Perguntas & Respostas", o público
também interage com os profissionais da
Abayomi Academy, nossos autores ou outros
parceiros, enviando suas perguntas sobre
temas relacionados à ambientes inteligentes e
promoção da felicidade a partir dos ambientes.
A "Agenda" nos traz alguns das atividades
previstas para os meses de junho e julho dentro
da temática de interesse do nosso público.
Boa leitura e continuem compartilhando
conosco suas ideias e sugestões para a revista
ficar ainda melhor para vocês.
Patricia Fraga
Diretora Executiva
Abayomi Academy
Patrícia Fraga
junho 2021
# 03
Português
SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
SHE
05
personalidade:
karla pimentel
09
O MELHOR DA MINHA
COMUNIDADE
15
O que vamos deixar
para as cidades do
futuro? - ADRIANA
FIGUEIREDO
20
VIVER O PRESENTE: A
arte de ser feliz -
Marco hennies
25
A GESTÃO INOVADORA E
A SUSTENTABILIDADE
NA AGENDA DAS
CIDADES INTELIGENTES
- eliane saldan
33
ECONOMIA CIRCULAR E
POLÍTICA REVERSA:
AVANÇOS LEGISLATIVOS
E PROPOSTA DE CRÍTICA
- Eraldo Brandão &
Marcelo Santana
38
PERCURSOS PELA
CIDADE:
ACESSIBILIDADE E
CAMINHABILIDADE -
regina cohen
44
perguntas e
respostas
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
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PERSONALIDADE
K A R L A P I M E N T E L
Karla é arquiteta multissensorial com mais 26 anos de atuação e mais 500 mil m2 de
áreas construídas, com especialização em Design de Interiores em Milão, no Instituto
Marangoni; imersão em tecnologia e inovação no Vale do Silício, Califórnia. Por meio
da Arquitetura Sensorial associada a Psicologia Positiva e a Neurociência, usando os
SEIS sentidos - visão, audição, olfato, tato, paladar e INTUIÇÃO - evoca um novo
olhar, uma nova experiência e um novo aprendizado sobre a relação da arquitetura
como agente da longevidade, em benefício da vida do indivíduo como um todo.
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
7
1. Quem é Karla Pimentel?
Arquiteta por formação e paixão há 26
anos. Após uma experiência de mais de
500 mil m2 de áreas construídas eu
percebi que era a hora de me reinventar.
A inquietude de perceber que as pessoas
enxergam a relação arquiteto x cliente
como um fornecedor de bens materiais
me fez despertar para a necessidade da
mudança de mindset. Eu acredito na
arquitetura como algo que vai além das
formas e traços perfeitos, envolvendo um
trabalho multidisciplinar. A habilidade do
arquiteto de projetar espaços está
relacionada aos benefícios que estes
espaços podem proporcionar às pessoas
que ali irão conviver com seus familiares,
com amigos ou consigo mesmas,
desenvolvendo habilidades e fortalecendo
dons. Eu enxergo a arquitetura de forma
humanizada, com alma, amor e propósito,
a ensino aos que colocam todos os seus
sonhos em um projeto que ele pode se
materializar muito além das expectativas.
Eu tenho como propósito ser uma
profissional que oferece, além da
materialização dos sonhos, um conceito
que envolve o SER, que eleva a qualidade
de vida das pessoas e proporciona um
bem estar psíquico, a satisfação pessoal e
o equilíbrio em todos os aspectos.
"A 'CASA COM ALMA' é um
lema que podemos levar conosco
ao longo de toda a nossa vida.
Eu sigo com o ideal de
transformar a vida das pessoas
com o meu trabalho."
2. Que tipo de trabalhos você desenvolve?
O meu propósito é o de educar as
pessoas e executar trabalhos com o foco
na Arquitetura Multissensorial, que
surge em um momento de
transformação do TER para o SER. A
humanidade passa por um processo de
readaptação, de sensibilidade e
percepção do que é essencial para o
convívio. A CASA passa a ser um lugar
de reconexão, de filtrar as energias que
canalizamos, de ativar os sentidos e do
"viver mais e melhor". A arquitetura
multissetorial cumpre este papel sendo
agente de transformação por conectar e
despertar os nossos sentidos, e muitas
vezes nós esquecemos esta importância
seja pela rotina, seja por não
entendermos que o bem-estar vem de
dentro (mente) para fora (forma de viver
e de se relacionar com os espaços).
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
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3. De onde vem sua inspiração no trabalho? 4. Qual o projeto que você mais se orgulha de ter
realizado?
Tenho muitas inspirações, em especial 2
mulheres que são sinônimo de criatividade
e superação de si mesmas: Zaha Hadid e
Lina Bo Bardi. Zaha Hadid, mulher e árabe
naturalizada britânica, é um exemplo para
todas as arquitetas que buscam um espaço
no mercado. Ela nasceu no Iraque e,
desprendendo-se dos padrões impostos,
tem seu nome reconhecido e aclamado
mundialmente por conta de seu design
não linear, desconstrutivista,
acompanhado de curvas, formas e
perspectivas, sempre se inspirando na
natureza (o que também é o meu caso). A
Lina Bo Bardi se destacou por
compreender a cultura brasileira a partir
de uma perspectiva antropológica,
atentando sobretudo à convergência entre
vanguarda estética e tradição popular. Eu
amo desconstruir tudo o que eu faço
entendendo os porquês, o como e o
quando dentro dos traços antropológicos
ao pensar na concepção de qualquer
trabalho que realizo. É por isto que eu
trabalho com quem e com o que eu
acredito, pois só assim é possível, na
minha visão, promover os níveis de
transformação que proponho com o meu
trabalho.
Eu me orgulho de todos porque cada um
deles teve e tem uma particularidade
especial e única, a do ser humano em sua
individualidade e conviver com meus
clientes me ensinou a ver, sentir e respeitar
seus desejos. "A casa fala e muito", o projeto
mostra os anseios, os desejos, e ao mesmo
tempo as dores e as frustrações do ser
humano que os impedem ou proporcionam
momentos de felicidade.
5. Qual o maior desafio que você viveu na sua carreira?
Foi entender as reações emocionais dos
clientes, pois a casa reflete o que ele é e o
que ele gostaria de ser. Sofri muito, pois
achava que era incapaz profissionalmente
por muitas vezes. Até que um dia eu entendi
que o problema emocional deles não me
pertencia e que eu tinha que buscar
ferramentas pra ajudar no processo. Foi
quando resolvi fazer uma pós graduação em
psicologia positiva e estudar neurociência,
surgindo a Neuroarquitetura.
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
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6. Como você entende a importância do seu trabalho
na vida das pessoas?
A arquitetura que eu acredito e executo vai
muito além da estética, atuando como agente
de mudança das percepções sob uma
perspectiva que envolve os seis sentidos:
visão, olfato, tato, paladar, audição e
INTUIÇÃO. Chegou a hora de nos
desprendermos de velhos padrões,
proporcionando aos que confiam no meu
trabalho uma visão mais ampla de como a
arquitetura e o design podem mudar a vida
das pessoas e ser agente da qualidade da vida
e da longevidade. Eu quero que as pessoas
entendam que a forma como a casa ou o
espaço que habitam é projetado interfere na
sua saúde psíquica e física, proporcionando a
longevidade, desde detalhes como iluminação
até o contato com a natureza. O meu intuito é
o de projetar uma CASA COM ALMA em todos
os níveis e isto também envolve um trabalho
multidisciplinar, para o desenvolvimento do
indivíduo como um todo.
7. Como você acredita que seu trabalho está conectado com
a promoção de ambientes inteligentes e felicidade?
Quando você entende que a arquitetura vai
além da estética, quando você se desconstrói
e desconstrói o pensamento de que um
espaço bem projetado é um espaço apenas
com traços perfeitos, você entende como
conectar os sentidos para promover a
felicidade das pessoas que ali habitam, ou que
ali irão conviver. Os elementos da arquitetura
multissensorial que vão desde o design dos
detalhes ao espaço externo de uma casa, um
ambiente corporativo, ou até mesmo uma
cidade, estão inseridos no conceito de
ambientes inteligentes porque promovem o
desenvolvimento do indivíduo como um todo.
Quando isso acontece, não há dúvidas que o
resultado será a promoção da felicidade e da
longevidade. Precisamos pensar no MACRO, e
não somente no micro!
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
10
8. Na sua opinião, qual a tendência para os ambientes construídos e abertos nesta vida pós-pandemia?
Temos algumas macrotendências para colocar no radar, são elas:
ZEITGEIST
A Juventude sem faixa etária, como um estado de espírito. Este senso de juventude é
responsável pelo fim dos conceitos delimitados e de viéses de confirmação que constroem o
nosso mindset. A celebração do sentimento de liberdade e pensamento livre nos impulsiona
para um estilo de vida multigeracional. Isto nos conecta à percepção dos espaços com uma
pluralidade de elementos que antes não se observava, a uma sensibilidade sobre a possibilidade
de transformação com uma influência de outros setores na arquitetura, como a moda, por
exemplo. Ambas trazem sinais do "zeitgeist", ou seja, inevitavelmente os arquitetos, estilistas e
designers são influenciados por toda a cultura e o momento histórico em que vivem, e essas
características aparecem de maneira marcante na moda e na arquitetura.
PHYGITAL
Estamos observando o crescimento do
senso de individualidade e criatividade
nas pessoas pelas transformações que
vivemos, a forte influência da
realidade virtual e do uso dos dados,
permitindo novos meios de expressão
criativa e auto identidade. Os
espaços híbridos, sendo eles metade
físico, metade digital, provoca uma
sensação de euforia e manifestação da
mente pela tecnologia atuando como
facilitadora das nossas vidas tanto no
âmbito pessoal como profissional,
aproximando as pessoas, construindo
e fortalecendo relações.
MULTISSENSORIAL
A arquitetura dos sentidos está sendo descoberta por profissionais e pessoas do mundo todo,
justamente por vivermos num momento tão transformador. Estamos mais sensíveis sobre a
percepção dos detalhes pois buscamos evoluir na escala do aprendizado da convivência, seja
com as pessoas, seja com os espaços que nos encontramos. Os nossos hábitos tem mudado e
estamos mais atentos sobre como o nosso entorno pode ser agente do bem-estar psíquico e
físico. A arquitetura multissensorial vem para preencher o gap entre as pessoas e os espaços
que elas se encontram, como uma conexão que está sendo (re)descoberta.
Encontre as outras macrotendências no e-book especial que construí para quem quer
aprender mais e adaptar a sua rotina a este novo "modus operandi" que vivemos, o do SER.
Faça o download aqui : https://karlapimentel.com.br/tendenciasdomorar
Resumos
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SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
12
MELHOR DA MINHA
O
COMUNIDADE
O que você realmente gosta na sua comunidade que vale a pena o resto do mundo conhecer e se inspirar?
Estreamos a sessão "O melhor da minha comunidade" com o objetivo de compartilhar o que cada
comunidade tem de melhor e, quem sabe, ajudar a inspirar cidadãos, gestores, arquitetos, urbanistas e
tantos outros profissionais envolvidos na criação e adaptação de ambientes inteligentes e felizes.
Queremos saber sua opinião. Queremos ouvir pessoas de todas as idades, de todos os cantos do mundo.
Quanto mais diversas forem as contribuições, mais a gente ganha em inspiração e alegria.
As contribuições deste mês foram enviadas por Maisa Tobias, de Braga, Portugal e Fernanda Rocha da
Flórida, Estados Unidos.
"O melhor para mim é a paisagem que tenho de
dentro do meu apartamento em Braga, sentada
na sala, lá de fora. É inspirador!
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
13
Abrir a janela e ver esta
paisagem com o som dos
pássaros, do galo e cheiro
de mato. Adoro!
E quando saio para
caminhar, vejo coisas
mais lindas ainda.
Eu amo Braga! Queria
ter mais anos de vida.
Ter vindo para cá mais
cedo."
(Maisa Tobias, Braga,
Portugal)
Imagem de kwhitt por Pixabay
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
14
"A inspiração que trago da minha comunidade,
que na verdade tem em várias partes dos
Estados Unidos, é a "Mini biblioteca grátis".
Esse é um projeto da ONG "Free Little Library"
que tem como missão inspirar leitores e
expandir o acesso ao livro para todos por meio
de uma rede global de Mini Bibliotecas Livres
criadas e cuidadas por voluntários.
Imagem de randy7 por Pixabay
Os livros são doados e colocados ali,
e estão disponíveis 24 horas por dia.
Qualquer pessoa pode pegar ou
colocar um livro.
Imagem de Lisette Brodey por Pixabay
Ter uma mini-biblioteca como essas
no nosso caminho, na nossa
comunidade, é um incentivo à leitura
e à troca de livros."
Fernanda Rocha, Flórida, Estados Unidos
QUE VAMOS DEIXAR PARA AS
O
DO FUTURO?
CIDADES
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
15
Por Adriana Figueiredo
Gerente do Programa Global Future Cities, do governo
britânico no Brasil. Arquiteta e Urbanista, mestre em
Teoria e História da Arquitetura e em Sustentabilidade e
Design. Gerente de projetos, consultora e docente em
Arquitetura e Urbanismo.
Os problemas atuais das cidades são
fruto do planejamento do passado e
trazem a reflexão sobre o que
precisamos acrescentar aos processos
de planejamento urbano para garantir
que as cidades sejam melhores no
futuro. Pelo menos três lições
fundamentais servem de aprendizado
para evitarmos cometer os mesmos
erros:
- Propagamos o modelo urbanístico
funcionalista de Le Corbusier,
substituindo a cidade tradicional de
bairros e comunidades por cidades
baseadas em grandes centros de
negócios e áreas residenciais
distanciadas do centro, criando uma
dependência cada vez maior do
automóvel.
- O Novo Urbanismo trouxe um novo
olhar, defendendo a cidade como
construção coletiva, e considerando as
relações afetivas dos cidadãos com os
lugares. Maior importância passou a ser
dada à estrutura tradicional das
comunidades, com usos diversificados,
densificação e prioridade a pedestres e
bicicletas, além da construção de senso
de lugar com diversidade de renda, de
idade e de etnia.
- Sofremos os desafios das mudanças
climáticas, relacionadas à urbanização
acelerada e ao crescimento rápido da
população: redução das coberturas
vegetais, aumento das emissões de GEE,
a população exposta a níveis de
poluição cada vez mais altos e os
despejos de resíduos sólidos e
orgânicos, que aumentam a cada dia.
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
16
Pagamos um preço alto pela aposta no automóvel sem
mitigar suas consequências a longo prazo, por anos de
planejamento urbano distanciado das pessoas, e pelo
mal que a humanidade causou a si mesma com os altos
índices de degradação ambiental.
Pensar a cidade do futuro é mudar
paradigmas e um deles é romper com o
urbanismo de funções segregadas e de
espaços priorizados aos carros. Soluções
de smart cities contam com as novas
tecnologias de informação e comunicação
para promover melhorias, sem modificar
o espaço urbano. O erro tem sido pensar
que as novas tecnologias serão por si só
as soluções para as cidades.
O erro tem sido pensar que as
novas tecnologias serão por si
só as soluções para as cidades.
Considerando esses desafios, seguem
abaixo 4 pressupostos fundamentais
às estratégias para as cidades do
futuro, exemplificadas por casos que
vêm do Reino Unido, onde vários
projetos demonstram que é possível
mudar e inovar, mantendo o foco nos
princípios básicos de planejamento.
1. A cidade do futuro deve ouvir os cidadãos
Cidadãos e comunidades estão mais
envolvidos e interessados em esforços para
dar forma às cidades e somente ouvindo a
todos podemos proporcionar diversidade,
inclusão e equidade.
O London Plan é uma estratégia de
desenvolvimento espacial e de estruturação
urbana para a Grande Londres. A população
pode participar das consultas públicas e
opinar em diversos aspectos do plano. Uma
plataforma pública virtual também foi
disponibilizada para os cidadãos registrarem
suas necessidades e manifestarem seu
posicionamento quanto às questões,
fortalecendo o processo de planejamento.
Foto: Canva.com
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
17
2. A cidade do futuro deve se basear
em evidências.
As novas tecnologias devem servir
a um propósito e atender a
necessidades reais como parte de
uma estratégia. O uso de dados
permite a implementação de
iniciativas baseadas em
evidências.
A Guy’s and St. Thomas Charity
trabalhou para combater a
obesidade infantil, no sul de
Londres, junto ao serviço público
de saúde. Dados relacionados aos
altos índices de obesidade foram
cruzados com outros dados, como
a localização de escolas e pontos
de ônibus. Os resultados
refletiram a carência na venda de
comida fresca, a oferta excessiva
de fast food e a falta de qualidade
dos espaços públicos de lazer. O
cruzamento de dados e o
mapeamento das informações
provaram a necessidade de
destinação de recursos, hoje
utilizados mais racionalmente nas
áreas mais críticas.
3. A cidade do futuro deve ser
ambientalmente sustentável.
Há urgência para a implementação
de ações urbanas em relação ao
meio ambiente: construir
resiliência para sobreviver às
mudanças climáticas e melhorar o
gerenciamento de recursos.
A cidade de Oxford está numa área
sujeita a inundações, que
acontecem em intervalos
frequentes, causando estragos
irreversíveis ou deixando pessoas
desalojadas. No passado, não havia
informação para que se colocasse
em prática qualquer plano de
mitigação antes dos episódios. A
Oxford Flood Network criou uma
rede de sensores IoT que
monitoram os níveis de água em
córregos e rios e enviam sua
leitura em períodos regulares.
Mudanças significativas nos níveis
permitem o aviso aos moradores e
outras ações prévias pela agência
ambiental local.
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
18
4. A cidade do futuro deve ser
colaborativa.
Individualmente podemos estar limitados
para alcançar soluções eficazes e
inovadoras. A interação de setores,
indústrias e pessoas é capaz de identificar
sinergias e promover confiança e
colaboração para a construção de um futuro
melhor.
O programa Circular Glasgow foi criado para
incentivar empresas locais a identificar
sinergias em torno de práticas de economia
circular: novos fluxos de negócios e
simbiose industrial. Uma iniciativa tornou
sócias uma indústria de pão e uma de
cerveja. A indústria de pão gerava sobras
que se tornavam resíduos orgânicos. Testes
provaram que as sobras de pão eram uma
excelente matéria-prima para a preparação
de cerveja. Deste entendimento, surgiu uma
cerveja feita de pão, gerando um novo
negócio, beneficiando as duas partes e
reduzindo os impactos ambientais.
A cidade do futuro é
sobre inclusão,
evidências,
sustentabilidade e
colaboração.
E a cidade do futuro
precisa começar agora.
Imagem 01 – Iniciativas britânicas baseadas em inclusão, evidências, sustentabilidade e colaboração.
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
20
Foto: Canva.com
O PRESENTE
VIVER
A ARTE DE SER FELIZ
Por Marco Hennies
Marco Hennies nasceu em Agosto de 1965 em São
Paulo. De família tradicional Alemã, frequentou uma
escola alemã e terminou seus estudos na Europa.
Casou-se em 1989, ano do nascimento de sua primeira
filha, Monique e, em 1994 nasceu seu segundo filho,
Christian. Trabalhou na área da Comunicação e
Relaçôes Públicas por 30 anos em hotéis, no comércio
e na indústria. Hoje é YouTuber e tem um Canal de
entrevistas chamado "Marco um Encontro by
MarcoHennies"
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
21
O mundo hoje passa por um processo
muito importante de transformação e
esta transformação, por ser física, tem
um grande impacto sobre a nossa
existência e é também responsável por
algumas transformações físicas em nós.
Este é um momento propício para
então nos desapegarmos de conceitos e
valores que acreditamos por toda a
nossa vida. Veja bem, eu disse
"desapegarmos" ou seja, estarmos
abertos ao novo. Não é para deixarmos
de acreditar em nossos valores e
crenças, mas sim para ficarmos atentos
ao que hoje podemos agregar algo de
novo neles.
A Ressignificação de nossas existência
se dá no exercício dela, no nosso dia a
dia, na convivência presencial ou
remota com nossos afetos e desafetos
e, inclua nesta lista você mesmo, seus
medos, suas expectativas, sua alegrias
e suas tristezas.
O momento é chegado para nos
despirmos de tudo o que é supérfluo,
se observarmos bem o que o momento
atual nos demanda, vamos enxergar
exatamente só aquilo que é necessário
para caminharmos e assim vamos
gradativamente nos sentindo mais
leves, menos responsáveis pelos outros
e mais donos de nós mesmos.
Isso é "Viver o Presente".
O universo nos convida a rever estes
valores, e adaptá-los aos
acontecimentos atuais. A necessidade
de nos distanciarmos uns dos outros
faz com que tenhamos o tempo que
nunca tivemos para olharmos para
dentro de nós mesmos. Para nos
conhecermos de verdade e promover
uma verdadeira reforma íntima de
nossas crenças, valores, hábitos e
costumes.
Este auto-conhecimento nos esclarece
as idéias, o pensamento fica mais
simples ao descobrirmos que a nossa
felicidade está em nossas mãos. Não
mais eu vou ficar feliz ou não se alguem
não me amar, se eu não conseguir
aquele emprego, ou se não for
reconhecido pelo meu talento. Quando
eu fortaleço o meu amor próprio, eu
me empodero de tarefa de ser feliz
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
22
Não mais depende de ninguem minha
felicidade. Depende só de mim, da
minha decisão interior e, pensando
assim, eu fortaleco meu corpo, minhas
células se setem mais valoriozadas,
pois fazem um trabalho hercúleo de
combater todas as bactérias e vírus
que poderiam me enfraquecer e quase
nunca são reconhecidas. Elas sentem
que uma força interior começa a
existir através desta nova visão da
vida. A corrente sanguínia trata de
espalhar a boa nova de sua decisão de
ser feliz por todo o seu corpo. Todos
os órgãos são avisados de que você
está no comando da sua vida e
começam à te apoiar nessa jornada.
Seu corpo responde aos seus
estímulos felizes e você começa a
sentir uma sensação boa de segurança.
Isto, meus amigos, é a felicidade. Ela é
produzida fisicamente através da sua
vontade, dos comandos que o seu
cérebro dá aos orgãos e isso te
fortalece fisicamente.
Muito dificilmente, depois de tomada
essa decisão, você voltará a ficar
doente pois sua imunidade vai estar
fortalecida e, até na eventualidade de
você adoecer por quaisquer outras
causas, seu corpo estará mais
fortalecido para combater qualquer
enfermidade.
Quando começamos a crer na
felicidade de existir, começamos a
"Viver o Presente". E esta, meus
amigos, é a "Arte de ser feliz!"
Porque "Arte"? Porque a arte para existir,
utiliza-se de nossa sensibilidade. Se não há
sensibilidade, não há como a arte
expressar-se. A sensibilidade já está
inserida em nosso DNA desde a criação, não
é algo que se desenvolve, é algo que se
descobre. Quando começamos o processo
de reforma íntima, a primeira porta que
destravamos é a da sensibilidade. Muitas
vezes ela esteve trancada sem sabermos e
nesse processo de transformação interior,
vamos abrindo nossas portas. A
sensibilidade então se liberta e começa a
caminhar conosco e a influenciar nossa
visão, nossa audição, nosso tato, nosso
olfato, nosso paladar. Ela age em todos os
nossos sentidos, deixando-os mais
apurados, e assim vamos colhendo novas
informações que nosso cérebro registra e
espalha pelo nosso corpo.
"Não existem doenças.
Existem doentes!"
Foto: Canva.com
SHE - SMART AND HAPPY ENVIRONMENTS
JUN - #3 / 2021
23
Isso, amigos, é o funcionamento
simples e transparente desta minha
proposta à todos quantos forem
alcançados por este artigo.
Vivam o presente, é o único momento
que existe de verdade. O futuro ainda
não existe e o passado só existe em
nossas memórias. O futuro só existirá,
a partir das nossas ações de hoje
então, permita-se viver feliz, decida
por estar feliz com suas posses
materiais, morais, intelectuais e
emocionais. Este é o seu patrimônio
hoje. Seja um empreendedor e
multiplique o seu patrimônio, para que
você comece a viver hoje o que antes
só projetava para o futuro.
Comece a ser feliz
agora. Está em suas
mãos!
Eu garanto a vocês que esta decisão
irá trazer resultados imediatos, mas
estes só serão sentidos se junto com a
decisão, vier a ação. Sua atitude diante
de sua decisão é fundamental para o
sucesso de seu empreendimento
emocional. É preciso validar sua
decisão com a crença que os
resultados são imediatos. Logo após
refletir e decidir ser feliz, seu corpo já
começa a produzir alguma sensação de
felicidade, de alegria. Agarre-se à essa
sensação e vá alimentando com
pensamentos positivos. Utilize-se de
estímulos externos para fortalecer seu
pensamento, tais como uma boa
música, fortaleça memórias boas que
irão surgir ao ouvir essa música, leia
algo que tranquilize sua mente, uma
frase, um pensamento, olhe para
imagens que te fazem bem e, aos
poucos você começa a fortalecer e
validar com atitudes simples, a sua
decisão!
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GESTÃO INOVADORA E A
A
NA AGENDA
SUSTENTABILIDADE
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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
DAS CIDADES INTELIGENTE
Por Eliane Saldan
Advogada com experiência em Direito e Inovação, Mestre
em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de
Direito Público, Associada da Abayomi, LLC e professora
na Abayomi Academy.
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www.abayomiacademy.org
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Há pouco mais de um ano, um
protagonista quase invisível iniciou um
capítulo da história da humanidade, cuja
duração ainda é bastante imprevisível,
impondo rápidas transformações na vida
das pessoas de todas as idades, classes e
países, exigindo adaptações de espaços
públicos e privados, físicos e digitais,
rotinas, investimentos e modelos de
negócios.
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A adequada gestão das mudanças e das
informações, além da adequada e
tempestiva alocação dos recursos
naturais, financeiros, tecnológicos e
humanos tem relação direta com o bem
estar, a felicidade e a própria preservação
da vida, que também podem encontrar
apoio em ações individuais e coletivas
complementares às ações do Poder
Público, guiadas por uma gestão
inovadora para fomentar a solidariedade,
o voluntariado, o suporte social, a
empatia e a vitalidade comunitária –
valores intrinsecamente associados à
felicidade individual e coletiva.
De acordo com o último World Happiness
Report, o Relatório Mundial da Felicidade
de 2021, recentemente publicado pela
Rede de Soluções de Desenvolvimento
Sustentável da Organização das Nações
Unidas, durante a pandemia, foi
exatamente a capacidade de gestão dos
países melhor posicionados que interferiu
diretamente nos “índices” de felicidade
de seus cidadãos, verificados juntamente
com outras variáveis relacionadas ao bem
estar dos pesquisados, como a renda (PIB
per capita), expectativa de vida saudável,
suporte social, liberdade de escolhas,
generosidade e percepção da corrupção.
É interessante notar que as maiores
economias não ocupam as melhores
posições no ranking, o que permite
inferir que o bem estar e a felicidade não
dependem apenas de recursos financeiros
ou tecnológicos, mas da sua adequada
gestão e dos efeitos positivos na vida das
pessoas - cujas legítimas expectativas
devem ser consideradas no planejamento
a ser feito partindo do problema para as
soluções, as quais devem ser cada vez
mais sustentáveis.
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Em 2020, pela primeira vez, o Relatório
Mundial da Felicidade classificou as
cidades ao redor do mundo conforme
seu bem-estar subjetivo e investiga
como os ambientes social, urbano e
natural se combinam e afetam a
felicidade. Os estudos
interdisciplinares realizados de acordo
com as dimensões da Metodologia
Abayomi também correlacionam os
efeitos do ambiente na promoção do
bem estar e da felicidade.
A Nova Agenda Urbana da ONU-
HABITAT, aprovada na 3ª Conferência
das Nações Unidas sobre Moradia e
Desenvolvimento, realizada em Quito,
no Equador, em 2016, fundamentada na
Declaração Universal dos Direitos
Humanos, nos tratados internacionais
de direitos humanos e na Declaração
sobre o Direito ao Desenvolvimento,
entre outros instrumentos, tem por
objetivo promover cidades e
assentamentos humanos onde todas as
pessoas possam desfrutar de direitos e
oportunidades iguais e de liberdades
fundamentais, orientadas pelos
propósitos e princípios da Carta das
Nações Unidas.
A Nova Agenda Urbana está ligada à
Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável (em especial o Objetivo 11 -
cidades e comunidades sustentáveis) e
reconhece a correlação entre a boa
urbanização e o desenvolvimento, a
criação de empregos, as oportunidades
de subsistência, a prosperidade e a
melhora da qualidade de vida, entre
outros valores que consolidam o
conceito de um “Direito à Cidade".
A Carta Brasileira para Cidades
Inteligentes abriga uma estratégia
nacional para cidades inteligentes, na
trilha da Política Nacional de
Desenvolvimento Urbano que está em
construção, apresentando uma agenda
pública para a transformação digital
das cidades brasileiras, necessária para
fomentar um desenvolvimento urbano
sustentável. Resultado de um esforço
colaborativo de vários atores, elenca as
características das cidades
inteligentes: diversas e justas, vivas e
para as pessoas, conectadas e
inovadoras, inclusivas e acolhedoras,
seguras, resilientes e
autorregenerativas, economicamente
férteis, ambientalmente responsáveis,
articuladoras de diferentes noções de
tempo e de espaço, conscientes, atuam
com reflexão e são independentes no
uso de tecnologias, atentas e
responsáveis com seus princípios.
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O dia 20 de março foi instituído pela
Assembléia Geral das Nações Unidas
como o Dia Internacional da
Felicidade, proposto pelo Butão (país
conhecido pela criação do índice de
“Felicidade Interna Bruta” de seus
cidadãos) para estimular políticas
publicas relacionadas ao bem estar e à
felicidade. Sem imaginar que soaria
como um presságio, o então Primeiro
Secretário Geral da ONU, Ban Kimoon,
afirmou em março de 2013:
“Neste primeiro Dia
Internacional da
Felicidade, vamos reforçar
nosso compromisso com o
desenvolvimento humano
inclusivo e sustentável e de
ajudar os outros. Quando
contribuímos para o bem
comum, enriquecemo-nos a
nós próprios. A compaixão
promove a felicidade e
ajudará a construir o
futuro que queremos.”
Tais documentos referenciais
contemplam, nas suas entrelinhas, a
complexidade dos desafios e a
exigência cada vez maior de uma
adequada gestão de recursos naturais,
financeiros, tecnológicos e humanos
para promover o desenvolvimento
sustentável, o bem estar, qualidade de
vida e felicidade. Em tal cenário, é
fundamental que seja inovadora a
gestão de espaços e recursos públicos
e privados, físicos e digitais.
É importante também contextualizar
tais exigências no atual momento de
pandemia, que além de impactar
profundamente os conceitos de bem
estar, qualidade de vida e felicidade,
exige soluções criativas, inovadoras e
maior cuidado com a gestão dos
recursos disponíveis para lidar com os
impactos econômicos no setor público
e no setor privado.
Vale lembrar que a inovação pode ser
encontrada em formas criativas de
melhorar um serviço, um produto ou
processo existente ou em novos
paradigmas de produção, uso ou
consumo – sendo cada vez mais
necessário que sejam criados novos
processos, produtos e serviços com
redução, supressão ou
reaproveitamento de resíduos para
reduzir a poluição, evitar o
esgotamento de recursos naturais e
viabilizar um desenvolvimento
sustentável.
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Destaca-se também o dever do gestor
público de prestar contas diretamente à
população sobre a gestão dos recursos
públicos, a previsão de disponibilizar o
acesso às informações e aos serviços
públicos em plataforma única de
governo digital, com ferramentas
digitais e serviços comuns aos órgãos,
normalmente ofertados de forma
centralizada e compartilhada,
necessárias para a oferta digital de
serviços e de políticas públicas.
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Em relação às ferramentas legais
disponíveis, merece realce a recente Lei nº
14.129, de 29 de março de 2021, que
consolida princípios, regras e
instrumentos para o aumento da eficiência
pública mediante a desburocratização, a
inovação, a transformação digital e a
participação do cidadão, além de prever a
criação de laboratórios de inovação,
abertos à participação e à colaboração da
sociedade para o desenvolvimento e
experimentação de conceitos, ferramentas
e métodos inovadores de gestão pública.
A citada Lei contempla diretrizes para a
promoção do desenvolvimento tecnológico
e da inovação no setor público,
experimentação de tecnologias abertas e
livres, práticas de desenvolvimento e
prototipação de softwares e de métodos
ágeis para formulação e implementação de
políticas públicas, incentivo à inovação,
apoio ao empreendedorismo inovador e
fomento a ecossistema de inovação
tecnológica direcionado ao setor público,
apoio a políticas públicas orientadas por
dados e com base em evidências, a fim de
subsidiar a tomada de decisão e de
melhorar a gestão pública, entre outras.
No âmbito das políticas públicas, o
Referencial de Controle de Políticas
Públicas elaborado pelo Tribunal de
Contas da União reúne alguns critérios
de avaliação de políticas públicas e
mecanismos de melhoria de desempenho
e de resultados, com foco nos processos
de formulação, implementação e
avaliação. No estágio de implementação
é realizada a estruturação da
governança e gestão, com a definição
das estruturas, do plano de
implementação, dos processos e
operações necessários ao
funcionamento, a alocação e gestão de
recursos (fontes de financiamento e
disponibilização tempestiva de créditos
orçamentários e recursos financeiros),
além da operação e monitoramento,
quando regras, rotinas e processos
devem converter intenções em ações
reais e resultados concretos.
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Outros mecanismos legais bastante recentes e
inovadores estão previstos na Lei nº 14.133, de
1º de abril de 2021, a nova lei de licitações e
contratos administrativos, a qual coloca o
desenvolvimento nacional sustentável e o
incentivo à inovação como princípios e
objetivos dos processos licitatórios e autoriza a
utilização de critérios de sustentabilidade
ambiental atrelados ao desempenho do
contratado para estabelecer remuneração
variável. Também criou o procedimento aberto
de manifestação de interesse e o diálogo
competitivo para obtenção de soluções
inovadoras ou que exigem adaptações de
soluções disponíveis.
Existem diversos outros marcos legais
atrelados ao planejamento urbano,
gestão de resíduos, liberdades
econômicas, inovação, terceiro setor,
além de incentivos legais e tributários,
políticas de financiamentos e normas
que tutelam os direitos dos investidores
e autores de criações industriais e
intelectuais – incluindo mecanismos de
fomento e incentivo à inovação
tecnológica, tributando papel relevante
ao setor industrial em sinergia com o
Poder Público e instituições de ensino e
científico-tecnológicas, tal qual o
modelo da Triple Helix.
Foto: Canva.com
Foto: Canva.com
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A gestão inovadora está na agenda das
cidades inteligentes e pode ser
desempenhada mediante diversos
mecanismos legais, que são ferramentas
valiosas para a adequada gestão dos
recursos naturais, financeiros, humanos
e tecnológicos, vitais para o
desenvolvimento sustentável e para a
promoção da felicidade.
1. Disponível em: https://worldhappiness.report/ed/2021/, acesso em 19 de março de 2021.
2. Disponível em: https://worldhappiness.report/ed/2020/, acesso em 15 de março de 2021.
3. Disponível em: http://uploads.habitat3.org/hb3/NUA-Portuguese-Brazil.pdf?
fbclid=IwAR2koIM7MtgBh6i57G4fxWeWpbK52Jr7sXIrGdBbJF81bF2GSzY527FWdAY, acesso em 29 de abril de 2021.
4. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-regional/projetoandus/carta_brasileira_cidades_inteligentes.pdf,
acesso em 10 de abril de 2021.
5. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14129.htm, acesso em 5 de abril de 2021.
CIRCULAR E POLÍTICA
ECONOMIA
REVERSA:
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AVANÇOS LEGISLATIVOS E PROPOSTA DE CRÍTICA
Por Eraldo José Brandão
e
e Marcelo dos Santos Garcia Santana
Doutorando em Direito, Mestre em Direito e Especialista
em Gerenciamento Ambiental. Professor de cursos de
graduação e pós-graduação da Estácio e da UVA/RJ.
Coordenador de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC do
Campus Niterói, Curso de Direito, Estácio. Advogado,
autor e articulista.
Doutorando em Direito, Mestre em Direito e Especialista em
Direito Público. Professor de cursos de graduação e pósgraduação
da Estácio e da UniSãoJosé. Coordenador do Núcleo
de Práticas Jurídicas do Campus Alcântara, Curso de Direito,
Estácio. Advogado, autor e articulista.
Quase dez anos após a promulgação da Lei n.º 12.305,
em 02 de agosto de 2010, que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (com quase vinte anos de
tramitação legislativa), regulamentada pelo Decreto n.º
7.404, de 23 de dezembro de 2010, avanços e
retrocessos atravessaram a política de proteção ao
meio ambiente e consequentemente o
desenvolvimento sustentável no Brasil.
O estabelecimento de medidas concretas pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos atribuiu a
responsabilidade compartilhada aos geradores de
resíduos sólidos, aos consumidores e ao poder público.
Além disso, a teleologia legislativa considera o ciclo de
vida de produtos desde seu desenvolvimento
científico/tecnológico, processo produtivo, consumo,
até sua e disposição final ambientalmente adequada.
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Em termos de avanços legislativos para a política
ambiental, a lei torna a coleta seletiva
materialmente segregada, com dispositivos de
controle social, por meio da implementação de
políticas públicas envolvendo o tema.
Talvez a questão mais importante para as cidades
– e, no geral, para aglomerados urbanos,
microrregiões e regiões metropolitanas – sejam as
diretrizes para a destinação final ambientalmente
adequada de resíduos sólidos que se submetam a
reutilização, reciclagem, compostagem,
recuperação e aproveitamento energético.
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Nesse sentido, a lei classifica os geradores de
resíduos como pessoas físicas ou jurídicas (com
regimes de direito público ou privado), que geram
resíduos sólidos por meio de suas atividades e pelo
consumo, propondo o gerenciamento desses
resíduos mediante gestão integrada e produção
mais limpa. Para essas funções, a norma federal
instituiu a logística reversa, com o objetivo de
viabilizar, ao menos em termos de legalidade e
institucionalidade, a coleta e a reintrodução dos
resíduos sólidos gerados anteriormente ao seu
setor empresarial que, por conseguinte,
estabelecerão padrões sustentáveis de produção e
consumo para atender as necessidades das atuais
gerações, sem comprometer a qualidade ambiental
e o desenvolvimento das futuras (materialização
legislativa do conceito de equidade
intergeracional).
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Esta nova política estabeleceu a categoria
internalização de externalidades que,
através dos institutos da
responsabilidade compartilhada e da
logística reversa, tornou possível a
classificação do lixo (resíduos em geral)
como um bem econômico e de valor
social gerador de trabalho e renda,
promotor da cidadania (MUKAI, 2002,
p.43), fomentando a participação de
todos os atores (fabricantes,
distribuidores, importadores,
comerciantes, poder público,
consumidores e as cooperativas e
associações de catadores) na
minimização dos impactos ambientais,
numa perspectiva de cooperação para
que haja a reinserção dos resíduos ao
processo de produção (reutilização) ou
que sejam utilizados como fonte de
matéria-prima (reciclagem) ou, ainda,
que sejam encaminhados ao destino
ambientalmente adequado, seguindo uma
nova tendência que não a trajetória do
berço ou túmulo, mas do berço ao berço.
Insere-se neste contexto o princípio
da responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos,
compreendido pelo conjunto de
atribuições individualizadas e
encadeadas pelos atores antes
envolvidos, com o objetivo de
minimizar o volume dos resíduos
sólidos e rejeitos gerados, bem como
para reduzir os impactos causados à
saúde humana e à qualidade
ambiental, decorrentes do ciclo de
vida dos produtos.
A partir do reconhecimento do
resíduo sólido, reutilizável e
reciclável, como um bem econômico
gerador de valor social e cidadania, a
inclusão dos catadores passa a ser de
total importância para a eficiência na
jornada do ciclo de vida, tornando
possível o compartilhamento de
obrigações e lucros entre o poder
público, os particulares e a sociedade
civil. Nesse sentido, o catador executa
papel importantíssimo na política de
resíduos sólidos, conquistando o
reconhecimento de um trabalho que
deva gerar lucro e que promova valor
social.
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Segundo (ROSA et al., 2006, p. 261) a
implementação desse modelo de gestão
pode ter vantagens:
a) geração de renda, na medida em que
otimiza os esforços da coleta e separação do
lixo;
b) economiza os recursos naturais, no
sentido de reinserir insumos reciclados no
processo produtivo, reduzindo o impacto
sobre desmatamento ou exploração mineral;
c) preservação do meio ambiente,
considerando que a coleta seletiva reduz a
quantidade de resíduos depositados em
locais impróprios, como rios e mananciais;
d) resgate da autoestima, no sentido de
integrar o catador no sistema de limpeza
pública, dando-lhe o status de agente
ambiental.
Aos catadores de materiais recicláveis,
foi resguardado o direito a inclusão
social e a emancipação econômica. A
Lei n.º 12.305/2010, em seu art. 6º,
VIII, dispondo sobre o reconhecimento
do resíduo sólido como um bem
econômico e de valor social, é potente
instrumento de promoção do trabalho,
renda e cidadania àqueles que ao longo
de muitos anos vêm utilizando a prática
de catador de resíduos sólidos como
meio de subsistência própria e de suas
famílias.
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Outra previsão que merece destaque na
política estão os acordos setoriais, com
papel fundamental na gestão de
resíduos, com previsão no art. 8°, XVI,
da referia lei, sendo por definição um
“ato de natureza contratual firmado
entre o poder público e fabricantes,
importadores, distribuidores ou
comerciantes, tendo em vista a
implantação da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida do
produto”. Os procedimentos para a
realização dos acordos setoriais
encontram-se regulado no referido
Decreto n.º 7.404/2010.
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A inclusão dos catadores na
Política Nacional de Resíduos
Sólidos é uma realidade
legislativa. Ele é um importante
ator no binômio “economia
circular – logística reversa.
A ideia de economia circular se funde,
portanto, com a logística reversa estabelecida
pela legislação. Seus pilares, tais como o reuso,
remanufatura, uptdating, remontagem,
reciclagem etc., estão conceitualmente
imbricados na logística reversa. Assim, a
questão da economia circular deixa de ser uma
ideia elaborada para as smart cities e ganha
corpo na práxis, não apenas em razão da
legislação (legalidade), mas da implementação
de mecanismos concretos pelo setor
econômico-empresarial, principalmente
(viabilidade econômica) e pela sociedade civil
organizada.
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Não obstante todos os esforços legislativos,
não se pode esquecer que a prática do
binômio “economia circular – logística
reversa” depende não apenas de consciência
e responsabilidade (em sentido amplo)
ambiental. A inclusão do catador depende
de interesse econômico (não no sentido
humanista liberal) e investimento engajado
com a própria política, com a equidade
intergeracional, com a distribuição de
renda e com promoção da cidadania.
A cidadania é uma prática
social que não se realiza
somente pela legislação, mas
também pelo reconhecimento e
responsabilidade de todos os
atores envolvidos nos processos
de produção, circulação e
consumo.
Nesse passo, mais importante que
reconhecer os avanços legislativos da
política, é a crítica sobre a concretização
de seus mecanismos. A crítica, que precisa
ser objeto de debate teórico-prático pelas
corporações privadas, pela sociedade civil,
pelo Estado e pela intelectualidade
(universidades, economistas e
ambientalistas), se projeta no sentido de
buscar reconhecer os entraves e
obstáculos que se opõem à
responsabilidade compartilhada, nas
perspectivas social, ambiental e
econômica. A crítica, portanto, implica no
reconhecimento dos obstáculos e dos
motivos pelos quais eles se reconfiguram
no tempo.
Converse com as pessoas numa
cooperativa de catadores mais
próxima. Você descobrirá vontade
de reprodução social de um lado,
sentimento de iniquidade e poucos
avanços práticos, do outro. A
inclusão dos catadores nos acordos
setoriais pode ser um bom caminho.
Brandão, Eraldo José; SANTANA, Marcelo dos Santos Garcia. Cidadania ampliada, direitos humanos e práxis social: reencontros para releitura
da equidade intergeracional. In: ALMEIDA, Carlos Alberto Lima de; SILVA, Luciano Filizola; CAZELLI, Vinícius Ribeiro (Org.). Temas de direitos
fundamentais e novos direitos. Niterói, RJ: Syal Letras e Livros, 2019.
BRASIL. Lei n.º 12.305, de 02 de agosto de 2010. Brasília: Senado Federal, 2010.
BRASIL. Decreto n.º 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Brasília: Senado Federal, 2010.
MUKAI, Toshio. Política Nacional de Resíduos Sólidos (visão geral e anotações a Lei n 12.305, de 02.08.2010). Belo Horizonte: Fórum, 2002.
ROSA, Alexandre Reis; et al. Resíduos Sólidos e Políticas Públicas: reflexões a cerca de uma proposta de inclusão social. Organizações Rurais &
Agroindustriais, vol.8, número 002. Universidade Federal de Lavras, 2006.
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ACESSIBILIDADE E CAMINHABILIDADE
PERCURSOS PELA CIDADE:
Por Regina Cohen
Arquiteta PhD. Gerente da Empresa ACESSO: Projeto,
Consultoria e Ensino em Acessibilidade Ltda. (ACESSO
SEM LIMITES). G3ict Representante do Brasil; Consultora
Internacional; Ex- Bolsista CNPq do Núcleo Pró-acesso.
Visiting Professor FULBRIGHT/CAPES – Universidade de
Syracuse, NY (2014); mestrado em Urbanismo e doutorado
em Psicossociologia de Comunidades na UFRJ; Pósdoutorado
FAPERJ; Ex-Coordenadora do Núcleo Pró-
Acesso UFRJ; experiência acessibilidade e desenho
universal; elaboração Manual de Acessibilidade RIO 2016;
Consultora da RIO+20; prêmio internacional AEEA 2004;
publicações e moções premiadas; Ex-bolsista CNPq –
Projeto “Acessibilidade na Copa de 2014”.
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“Não tem nome nem lugar. Repito a razão pela qual quis descrevê-la: das inúmeras cidades
imagináveis, devem-se excluir aquelas em que os elementos se juntam sem uma perspectiva,
um discurso. É uma cidade igual a um sonho: tudo o que pode ser imaginado pode ser
sonhado, mas mesmo o mais inesperado dos sonhos esconde um desejo, ou então o seu oposto,
o medo. As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que seu
discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e
que todas as coisas escondam uma outra coisa”.
Ítalo Calvino. As Cidades Invisíveis. 1993: 44.
Ítalo Calvino buscava conexões entre uma
cidade real com a cidade imaginária. Eu,
Regina Cohen, busquei o relato das
experiências, dos sonhos, dos desejos, dos
medos e dos discursos das Pessoas com
Deficiência.
A questão da acessibilidade esteve sempre
presente nos percursos. Torna-se
interessante também trabalhar o discurso
sobre a cidade com a inclusão de
arquitetos, urbanistas e gestores.
Entretanto, limitei-me à perspectiva do
usuário e de como ele negocia com o poder
responsável pela estrutura urbana para que
a cidade se torne mais acessível e facilite
seu percurso. Pode-se considerar que não
existe um discurso único, mas formas
diversas de perceber a cidade. Em todos os
percursos e discursos, por mim, vividos e
com os quais tenho trabalhado, ao longo
dos cerca dos últimos 30 anos, as situações
e experiências de Pessoas com Deficiência
mostraram bastante engajamento, para a
garantia de seus “direitos à cidade”
(Lefebvre).
Em geral, solicitamos a remoção das
barreiras espaciais ou dificuldades ao
movimento, brigamos, fazemos
manifestações. Os diferentes discursos se
misturam para delinear um quadro de não
acessibilidade aos espaços da cidade.
Apesar disto, não temos visto no Brasil e,
em especial, na Cidade do Rio de Janeiro,
nossas solicitações atendidas. O
planejamento, tanto do Poder Público
quanto dos profissionais, não costuma
pensar ou incluir nossas necessidades
espaciais específicas. Aqui, refiro-me ao
fato de os gestores se preocuparem em
fazer o melhor, acreditando que tudo será
resolvido. Diferentes hierarquias de poder
são acionadas, há todo um trabalho de
persuasão, mas a cidade caminha devagar
e o melhor ainda é muito pouco em relação
ao tamanho das cidades e à quantidade de
deficientes que circulam por elas.
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A construção de nossa cidadania parece ser
feita por etapas. As condições dos
percursos são influenciadas por aspectos
sociais e culturais e o texto do discurso é
produzido coletivamente. Os serviços são
ruins, a sociedade não respeita, os
empresários não adaptam os ônibus e vamos
percorrendo uma cadeia que envolve
diferentes pessoas no processo de melhoria
da urbe. Algumas
conquistas, como rampas para travessia de
ruas ou vagas especiais de estacionamento,
não são respeitadas pela população, de
maneira geral.
Apesar dos discursos conflitantes, quanto
aos aspectos políticos, sociais e culturais,
percebe-se, embora de forma muito lenta,
que vai se delineando, no atual contexto
brasileiro, a convergência de duas
tendências que antes ocorriam
paralelamente, a saber: o aumento do
número de pessoas com deficiência que
procura sair mais de suas casas e
frequentar os espaços da cidade, e a adoção
de medidas para atender às necessidades
destas pessoas.
Impedir o percurso e o caminhar por meio
de barreiras urbanas ainda é uma forma de
separação espacial (Cohen & Duarte, 2003).
Os discursos fazem parte de um contexto
mais amplo da prática social de exclusão.
Apesar da existência de inúmeras barreiras
encontradas na cidade, estas podem ter
solução (Cohen, 1999).
A pergunta que fica é como podemos
conjugar esta relação entre o espaço e o
movimento de Pessoas com Deficiência nas
cidades. Existem cidades onde é mais fácil
a locomoção? As conclusões se encerram
na busca de discursos e percursos
possíveis e de soluções espaciais e
urbanas. Busco o diálogo como ponto de
partida para o caminhar e a compreensão
de como é a relação do movimento com os
espaços da cidade. O grande desafio é
transformar sonhos em realidade, espaços
em lugares, espaços percebidos em lugares
para o movimento, ou cidades percebidas,
vividas e imaginadas na experiência urbana
satisfatória das pessoas.
Cidades são fontes inesgotáveis de
informações funcionando em conjunto
através de todos os sentidos. Às vezes, a
percepção é dominada por apenas um
deles. Uma pessoa cega locomove-se
usando o toque com a bengala, os sons ou
os cheiros.Trata-se de construir, como
proposto por Kevin Lynch, uma cidade
constituída “por um grande número de
pessoas tendo passados, temperamentos,
ocupações, classes sociais extremamente
diversas” (Lynch, 1976, p. 129). As análises
de Lynch sobre “a imagem da cidade”
mostram que a maneira pela qual as
pessoas organizam e percebem a cidade ou
os elementos marcantes sobre os quais
elas se apoiam, variam muito.
Uma experiência urbana e espaços
plenamente vividos e percebidos fazem
parte das imagens contidas em todas as
cidades possíveis, como as que foram
descritas por Calvino (1993) com a
hipótese de que “cada pessoa tem em
mente uma cidade feita exclusivamente de
diferenças.
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41
Uma cidade preenchida pelas cidades
particulares” (Calvino, 1993, p.34),
mostrando que é provável que existam
tantos modos de conceber uma cidade
quantos são as cidades existentes.
A cidade torna-se real para uma pessoa
quando ela é capaz de se locomover de uma
forma concreta sem a existência de
obstáculos ou barreiras de qualquer
natureza. Uma urbe onde é possível a
qualquer um apropriar-se de todos os seus
espaços, habitá-los e usá-los, feita de
sonhos, imaginários, mas também de
infraestrutura e informações concretas
vividas com sentimento de alegria, de afeto
e do prazer da experiência urbana.
Poder-se-ia tentar responder à pergunta
se existem estas cidades. Uma das
alternativas seria, por ora, responder
como Calvino a respeito de suas cidades
invisíveis:
“De uma cidade, não
aproveitamos as suas sete
ou setenta maravilhas, mas
a resposta que dá às nossas
perguntas”
(Calvino, 1993, p. 44).
Assim, o assunto não se dá por encerrado
com uma resposta e sim com as
possibilidades que os responsáveis pelas
políticas públicas dão para todos aqueles
que desejam viver em urbes para todos. As
cidades brasileiras ainda não despertaram
para estas pessoas e continuam sendo
concebidas sem aceitar a diversidade.
Existem algumas formadas de muitos
espaços cognitivos e por imagens que
estão em cada um de nós. A caracterização
da vida moderna e do caos urbano levanta
muitos outros questionamentos sobre a
cidade que a Carta de Atenas tentou matar
e parece
que estes espaços vão mesmo morrendo
em benefício de uma mobilidade cada vez
mais frenética realizada por estes homensmáquina
de corpo perfeito.
Em geral, essas pessoas sempre foram
vistas em dois extremos diametralmente
opostos: vítimas ou heroínas e com a
criação de todos os mitos com relação à
deficiência. Hoje, buscamos o atendimento
ao nosso direito à cidade, o que não
acontece com muita facilidade por causa
das barreiras de acessibilidade. Sempre
existem olhares, gestos e tentativas
atrapalhadas de ajuda devido à grande
dificuldade de conviver com este Outro,
que percebe a cidade de forma diferente.
Arquitetos e urbanistas continuam
encontrando dificuldades de incorporar
em seus projetos, os conceitos de
acessibilidade, desenho universal e rota
acessível e não encontro exemplos de
“cidades para todos”.
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O importante é entender como a cidade e a
grande metrópole criam distâncias e
fronteiras que exercem uma grande
influência na vida física e psíquica das
pessoas com alguma deficiência. Ao
estabelecer controles de quem pode ou não
participar, do que é bonito ou feio, ela
exclui tudo que considera desvio ou
marginal.
Uma leitura mais cuidadosa da literatura
existente pode mostrar a distribuição espacial
das pessoas nas cidades e a existência de
barreiras ou distâncias relacionadas com a
consciência que se tem de diferença.
Entendemos que quaisquer que sejam as
distâncias ou barreiras, elas geram um
conjunto de cidades percebidas e vividas que
não correspondem às imagens de muitos dos
sonhos que as Pessoas com Deficiência têm
para seus lugares na urbe.
Nesta relação, a rua assume uma dimensão
importante na experiência urbana, por
permitir percursos, percepção, mapas mentais
e imagens do lócus da existência. O espaço
socialmente construído mostra a
fragmentação da cidade em locais permitidos
e outros proibidos pela falta de acessibilidade.
Podem-se mencionar tensões quando estes
espaços são controlados por falta de vontade
política que se mistura com outras
determinações econômicas de áreas mais
carentes de uma cidade.
Regina Cohen e seus percursos pela cidade
Como diz uma célebre frase
de que “para o caminhante
não há caminho, mas ele faz
seu caminho ao andar”,
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cabe a quem decide e tem o poder, efetuar
esta mudança, restituindo a possibilidade
de caminhar. O poder possui as alternativas
para transformar os espaços em verdadeiros
lugares acessíveis para todos. Esta
universalidade dos espaços é vista por
muitos como uma utopia. O espaço corporal
só pode verdadeiramente fazer parte do
espaço objetivo se, em sua singularidade de
espaço, ele contém o fermento dialético que
o transformará em espaço universal
(Merleau- Ponty, 1996: 148).
O paradigma experiencial de análise da
cidade pertence a uma grande parte da
experiência urbana que depende destes
percursos, de cidades visíveis e invisíveis
ou imaginadas. Cada cidade faz algo com os
percursos e discursos possíveis e com o seu
futuro potencial que pode estar presente
em cada uma, ou de todos os sonhos que
tivermos delas.
Caminho, tentando construir uma outra
maneira de me relacionar com a cidade,
uma poética que torne as coisas concretas
mais amenas porque falam de outros
caminhos.
Nesta minha tentativa de ser poeta gozo o
privilégio de ser eu mesma: arquiteta,
deficiente e pesquisadora. Posso também
ser o caminhante buscando penetrar nos
percursos e fazer o meu discurso. Como João
do Rio e Walter Benjamin, busquei na alma
encantadora das ruas da minha cidade
encontrar estes espaços que apareceram
fechados, como arquiteta abri todos eles e os
tornei acessíveis. Deixei de caminhar por
aqueles lugares que achei que não valiam a
pena.
Como em Heidegger e Bachelard, busquei uma
morada em cada um desses lugares, mas
duvidei deste espaço privilegiado de proteção
da casa. Preferi a insegurança e o medo dos
mesmos caminhos que tenho percorrido e
encontrei muita emoção. Fiquei com raiva e
revoltada como todos e estou aqui tentando
descrever meu sonho. Minha poética deste
espaço secreto e vivido no sonho é mais difícil
de realizar. Envolve uma sublimação das
asperezas da calçada, faz com que despertem
outros sonhos, outros desejos, outros afetos.
Depois de entender a minha relação objetiva
com os espaços, foi necessário o
entendimento da emergência de uma imagem
com seu dinamismo próprio. Defino percursos
para concentrar meu olhar em caminhadas
fundamentais efetuadas pelas pessoas com
alguma deficiência e pelas quais a cidade se
revela para mim e para elas.
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O mais gratificante é poder observar o
poder das transformações, quando existem
e o prazer de uma caminhada pela praça ou
pela rua de meu bairro. Às vezes vejo a
praça pela qual costumo passar todos os
dias, com um certo ar bucólico e me sinto
privilegiada por morar em um bairro alegre
onde não é tão difícil percorrer com minha
cadeira de rodas.
Essa é a imagem de um
“espaço feliz” que possibilita
a apropriação dos espaços
que são amados ou louvados.
Apesar das muitas dificuldades encontradas,
amo minha Cidade do Rio de Janeiro e acho
que não moraria em nenhum outro lugar.
Para Bachelard, a poesia tem uma felicidade
própria independente da situação que ela
quer ilustrar. Não quero com isso dizer que
as pessoas com deficiência sejam tristes por
natureza ou devam ser vistas sob o olhar da
piedade, mas também não é muito simples
percorrer aos sobressaltos causados pelas
características das calçadas e das ruas.
A imaginação assume aqui o poder de
efetuar mudanças. Desligando-me do
passado e da realidade cruel das cidades, e
apontando para um futuro, consigo
inaugurar o novo e levar ao esquecimento
das condições reais encontradas nos
percursos.
Isso fica claro quando, verdadeiramente
acredito, que o Rio poderá ser uma cidade
linda e invento a minha cidade. A cidade
ininteligível, recusada e confiscada pelos
outros porque não foi concebida para mim e
para as outras pessoas com deficiência se
transforma, ao menos na imaginação, na
cidade invisível de Ítalo Calvino que pode
conter outras cidades e todos os percursos
possíveis. Penso ter introduzido e
inaugurado aqui uma nova narrativa ou uma
poética dos percursos que pode nascer de
cada um dos meus movimentos, de meus
desejos e de meus comportamentos,
podendo expandir meu mundo e a minha
experiência tornando-as mais reais.
Os percursos que realizo me fizeram partir
dos espaços para chegar nos lugares de
movimento, construindo cidades, ruas e
caminhos. Além de pesquisadora, arquiteta e
também na qualidade de pessoa com
deficiência, decidi criar uma narrativa
baseada em minha própria experiência
urbana. Na minha cidade eu consigo
caminhar, mesmo sobre as rodas da minha
cadeira. Não encontro buracos, degraus ou
pedras. As calçadas são lisas e macias. Na
minha cidade as ruas não morreram, são
alegres e cheias de árvores com pássaros.
Tem informações para quem não ouve e
consegue orientar quem não vê.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 9050 (ABNT). Acessibilidade de Pessoas com
Mobilidade Reduzida às Edificações, Espaços e Equipamentos Urbanos. Rio de Janeiro: 2020. BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. In Coleção Os Pensadores. Vol.
XXXVIII. São Paulo: Editor Victor
Civita, 1974.
CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. [Trad. Diogo Mainardi]. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
COHEN, Regina. CIDADE, CORPO E DEFICIÊNCIA: Percursos e Discursos Possíveis na Experiência Urbana. Tese de Doutorado – EICOS/IP/UFRJ, 2006.
________. Acessibilidade, Identidade e Vida Cotidiana Urbana de Pessoas com Dificuldade de Locomoção: o caso do Projeto Rio-Cidade. Dissertação de Mestrado –
PROURB/FAU/UFRJ, 1999.
________ & DUARTE, Cristiane Rose de S. Afeto e Lugar: a construção de uma experiência afetiva por Pessoas com Dificuldade de Locomoção. In Anais do Seminário de
Acessibilidade no Cotidiano. Rio de Janeiro: Núcleo Pró-Acesso/UFRJ, 2004.
DUARTE, Cristiane Rose; COHEN, Regina. Acessibilidade e Desenho Universal: Fundamentação e revisão bibliográfica para Pesquisas- Relatório técnico do núcleo Próacesso,
2012.
LEFEBVRE, Henri. La Production de l’Espace. Librairie de l’architecture et de la ville, Centre national du livre et Direction de l’architecture et du patrimonie. Paris: Ed.
Anthropos, 2000, 4a édition.
LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. [trad. Maria Cristina Tavares Afonso]. Lisboa: Edições 70, 1990. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
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& RESPOSTAS
PERGUNTAS
Qual o maior desafio encontrado na
elaboração da Metodologia Abayomi?
Quem nos responde é Arnaldo Lyrio - arquiteto na
Prefeitura do Rio de Janeiro, Doutor em Design e
Mestre em Arquitetura e Urbanismo, professor na
Abayomi Academy, é também co-autor da
Metodologia Abayomi.
O desafio da Abayomi, em resumo, é tornar cidadãos reflexivos sobre
o uso e os benefícios de tecnologias em ambientes coletivos, através da educação.
A Metodologia Abayomi é uma ferramenta dinâmica, uma vez que deve ser aplicável
aos mais diferentes seus usuários e respectivos espaços. Por isso mesmo nunca será
considerada pronta. Ela se baseia na premissa de que é possível facilitar nossa
busca pelo bem-estar quando refletimos sobre nossa forma de interação com os
lugares onde desenvolvemos nossas atividades. Na verdade, a tarefa é
multidisciplinar e os desafios são numerosos. Elegeria, entretanto, a costura da
conexão entre cidades, felicidade ou bem-estar e tecnologia. Entender a formação
do aglomerado humano chamado cidade, que se viabiliza com a tecnologia em seu
sentido mais amplo, e que deve favorecer o
bem-estar e a busca da felicidade. Para ligar os
três temas, precisamos especular sobre as
razões do progresso que declaramos ter
alcançado, bem como sobre o sentido da vida
em coletividade. Delineamos, finalmente, uma
ideia básica de felicidade em ambientes
coletivos, já que a felicidade filosófica tem
cunho abstrato e individual.
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6. As dimensões AM : Relações Humanas
7. As dimensões AM : Saúde e Bem-estar
8. Trazendo a teoria para a prática
9. Considerações Finais
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junho/julho
AGENDA JUNHO - JULHO 2021
III Encontro de Economia de Comunhão e suas pontes multidisciplinares - Evento internacional -
Chamada para submissão de artigos abertas até 30/08/2021 - https://recosol.uniriotec.br/edcsubmissao-de-trabalhos/
09-10/06
Smart City Expo Atlanta - Evento internacional, edição norte-americana do Smart City Expo World
Congress, a principal conferência e exposição mundial de cidades e soluções urbanas inteligentes.
Sua última edição recebeu mais de 24 pessoas de 700 cidades de todo o mundo.
14/06
Cidades Inteligentes: uma abordagem humana e sustentável um estudo da Câmara dos Deputados
O Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix realiza uma série de palestras -
https://www.sympla.com.br/cidades-inteligentes-uma-abordagem-humana-e-sustentavel--umestudo-da-camara-dos-deputados__1201680
14/06
Cidades Inteligentes: Um novo nome para velhos desafios: Videoconferência promovida pelo Centro
Universitário Curitiba (UNICURITIBA) - https://www.sympla.com.br/cidades-inteligentes-umnovo-nome-para-velhos-desafios__1239244
18/06
Futuro das Cidades e as Cidades do Futuro: Início do Podcast da Abayomi Academy no Youtube, às
19 h. Canal do Youtube: Abayomi Academy
21-24/06
UIA 2021 RIO - 27º Congresso Mundial de Arquitetos - Rio de Janeiro - Tema: Transitoriedade e
Fluxo - https://www.uia2021rio.archi/
15/07
Abertura de Inscrições para apresentações no II Smart Cities, Happy Citizens World Summit 2021.
Mais informações na página do evento: https://www.smartcitieshappycitizens.com/
18-22/07
UIA 2021 RIO - 27º Congresso Mundial de Arquitetos - Rio de Janeiro - Tema: Todos os mundos um
só mundo - https://www.uia2021rio.archi/
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O público tem acesso gratuito aos 4 primeiros
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