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Fortalecer o PSOL para derrotar o Bolsonarismo

Fortalecer o PSOL para derrotar o Bolsonarismo, o ultraliberalismo. Fortalecendo uma alternativa Socialista para o Brasil. Tese do Fortalecer o Psol para o 7º Congresso do Psol

Fortalecer o PSOL para derrotar o Bolsonarismo, o ultraliberalismo. Fortalecendo uma alternativa Socialista para o Brasil.
Tese do Fortalecer o Psol para o 7º Congresso do Psol

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Vivemos numa sociedade fundamentada na propriedade privada, que tem nas relações de exploração, opressão

e subjugação da vida, as expressões para a sua perpetuação. Primeiramente, através do patriarcado, que

transforma as mulheres em mercadoria e propriedade dos homens. Tais relações têm como ponto de partida a

incessante acumulação primitiva. A expansão do capitalismo mercantilista, a invasão colonial dos territórios

americanos e africanos, foram determinantes para a acumulação de capital que possibilitou o surgimento

do capitalismo industrial. Dessa forma, a violência empregada nas colônias com a escravização dos povos

africanos e com o extermínio dos povos originários americanos segue se reproduzindo nos resquícios postos

cotidianamente num racismo que permeia as estruturas da sociedade. Nesse sentido, as categorias de gênero,

de raça e de classe estão na base estrutural do mecanismo e do funcionamento do sistema do capital.

O Capitalismo ao longo dos anos tem vivenciado altos e baixos, mediados por fatos históricos determinantes

para o seu processo de expansão como a Grande Depressão, as guerras mundiais, os conflitos “tribais”

em África, a luta das mulheres, a ascensão do imperialismo estadunidense, a crise de 1970 e o ascenso do

neoliberalismo, dentre outros. As crises passaram a tomar uma dimensão estrutural em 2008, reconfigurando a

ofensiva da exploração capitalista. Sob o neoliberalismo, o capital avança sobre os direitos sociais, trabalhistas,

serviços públicos universais, sobre outros comuns - como as nossas experiências e comportamento - tornandoos

dados lucrativos, e sobre tudo aquilo que afete a lógica de extração de excedentes. Entre 2008 e 2014,

cerca de 650 contrarreformas trabalhistas foram realizadas ao redor do mundo, todas para reduzir o preço da

força de trabalho, desmontando ainda mais o Estado, com a entrega do patrimônio público aos rentistas. Tal

ofensiva do capital, aprofunda não só a mercantilização e financeirização de todas as dimensões da vida, mas

também as desigualdades sociais, aumentando o fosso entre países centrais e dependentes. Além disso, sendo

o capitalismo não só um sistema mundial, mas também uma ecologia mundial - forma sistêmica de organizar

a natureza, podemos estar vivendo a era da sexta grande extinção no planeta. Mais do que nunca, Socialismo

ou Barbárie segue sendo uma insígnia essencial.

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CONJUNTURA INTERNACIONAL

1. O processo de lutas da classe trabalhadora, dos movimentos feminista, antirracista e ambientalista

no decorrer do século XX, conduziu-nos as conquistas de direitos e ocupação de espaços políticos.

Todavia, à medida que o Neoliberalismo avança na lógica de acumulação capitalista, esses direitos e

espaços são retirados e/ou diminuídos, produzindo uma deterioração das suas condições de vida e de

sobrevivência.

2. A exploração do capital também se reflete em sua relação destrutiva com o meio ambiente, mas a era

da “natureza barata” está acabando. A crise ecológica é mais uma face da crise estrutural, e persistindo

a lógica de crescimento infinito num planeta finito, tese defendida por um negacionismo de direita

que até mesmo a esquerda flerta, rumamos ao colapso. A pegada ecológica da economia capitalista se

reproduz a um patamar 70% acima da capacidade de regeneração da biosfera. Tal quadro intensifica

os extremos climáticos, pandemias e o processo de morte coletiva que nós ecossocialistas chamamos

Capitaloceno: era geológica onde o capitalismo influencia o destino da vida.

3. O debate não negacionista pende para um necessário Green New Deal, porém, geralmente reduzindo o

problema a uma mera questão de transição para energias renováveis. Assim, busca-se um “crescimento

verde”. As alternativas desenvolvimentistas também não entendem a urgência de reorganizar e

ressignificar profundamente a lógica de vida da humanidade. Na contagem regressiva para chegar a

emissões zero de gases do efeito estufa até 2050, necessitamos de um programa de transição para além da

economia colonial baseada no crescimento burguês e em seu modo de vida opulento, além de uma política

científico-tecnológica que considere os limites ecológicos ao mesmo tempo que permita o rompimento

de nossa condição dependente. Alternativas como o ecofeminismo contra o racismo ambiental, o

ecossocialismo, o decrescimento e

o Bem viver latino-americano segue

inspirando a construção dessa nova

economia internacional.

4. O crescimento da extrema direita

em todo mundo, reflexos da austeridade

e das sucessivas crises que conduziram

ao aumento do nacionalismo

conservador como ferramenta para

o seu enfrentamento. Assim, resta às

forças proprietárias o controle dos

indesejáveis, por meio do extermínio

e da vigilância permanente, utilizando

mecanismos como guerras por

procuração, golpes de Estado, sistemas

de vigilância em massa, militarização

da vida cotidiana, politização da Justiça

para a perseguição de opositores

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(lawfare), etc. Essa escalada corrói os alicerces

da democracia liberal, instrumentalizando

suas próprias instituições para a ascensão

Neofascimo e dos movimentos de supremacia

“racial”.

5. Todavia, há uma mudança de direção

com a eleição de Joe Biden para a presidência

dos EUA impulsionada por dois elementos da

conjuntura: a luta antirracista do movimento

Vidas Negras Importam (Black Lives Matter)

e a pandemia da Covid-19. A luta contra o

racismo é necessariamente uma luta cotidiana contra as estruturas que mantêm a sociedade capitalista

se reproduzindo, seja em sua dimensão material ou ideológica. A carga histórica e social da escravização

dos povos africanos, nunca foi superada e a branquitude ainda se mantém dominante. Apesar do

movimento Vidas Negras Importam ter surgido em 2013, foi em 2020 que tomou proporções mundiais

a partir do assassinato de George Floyd. O movimento antirracista colocou em cheque a política

implementada pelo supremacista Donald Trump, aliado a gestão desastrosa de combate a Covid no

país.

6. A pandemia teve seus primeiros casos notificados na cidade de Wuhan (China) no final de 2019, e

rapidamente se espalhou pelo mundo, trazendo mais elementos para a conjuntura caótica do sistema,

potencializando o desemprego, a fome e a miséria. Os números já alcançam a marca de cerca de 154

milhões de casos e mais de 3 milhões de mortes no mundo. A maior parte dos governos, exceto o de

Bolsonaro, e de Trump e outros, estabeleceram um plano de enfrentamento à Covid, tendo em vista

que a rapidez da disseminação do contágio e do agravamento da condição respiratória, colapsou os

sistemas de saúde de inúmeros países, com crises no Equador e no Brasil, já na segunda onda e com uma

variante mais agressiva. A Covid, também tem criado uma legião de trabalhadores e de trabalhadoras

com sequelas, incapacitando parte desses indivíduos de retornarem ao trabalho. Nesta perspectiva, a

única solução é a vacinação, e a corrida por vacinas só desvelou mais ainda as desigualdades entre

os países centrais e periféricos, trazendo à tona a discussão das quebras das patentes que poderão

permitir a viabilização de imunizante para toda a

população.

7. A pandemia reconfigurou também as relações

sociais, educacionais e de trabalho/produção.

As políticas de distanciamento social na maioria

dos países trazem consigo uma explosão de

casos de agressões machistas contra as mulheres

em todo o mundo, já que há a necessidade de

cumprir tais medidas restritivas num ambiente

familiar vulnerável e pouco seguro. Segundo a

Organização Mundial da Saúde (OMS), nesse

período pandêmico, uma a cada três mulheres são

violentadas em suas casas; e a cada oito países,

um precisou criar medidas de proteção. Contudo

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há dificuldades de funcionamento das redes de proteção. Na base dessa realidade opressora e violenta,

estão as mulheres negras, periféricas e indígenas, que além de sofrerem por sua condição de serem

mulheres, sofrem também por sua cor, por sua classe e por sua etnia. Além disso, a pandemia também

tem gerado um aumento em sua carga de trabalho cotidiano.

8. Mesmo diante dessa conjuntura caótica, a violenta ofensiva imperialista segue em curso, mas agora com

um reposicionamento dos EUA através do governo Biden. A eleição do democrata impõe à realidade o

retorno de uma agenda menos extremista, porém, ainda conservadora, liberal e capitalista. A realidade

geopolítica, porém, ainda apresenta elementos de disputas de hegemonia a partir da constituição de um

mundo multipolar, que possui na aliança entre China e Rússia seu nervo central.

9. A América Latina é o ponto mais avançado desse processo. O avanço desse arsenal de Guerra Híbrida,

em conjunto a erros e limites das experiências progressistas, rapidamente modificou as cores políticas

na América Latina, derrubando os governos de reformismo de baixa intensidade que fizeram uma

opção política de não enfrentar o capital. Há um quadro de diferentes formas de resistência como na

Venezuela, no Chile, na Colômbia, a histórica resistência do Povo Cubano, o recente retorno de um

governo progressista à Bolívia, e na Argentina, com a luta feminista que resultou na aprovação da

legalização do aborto e a taxação das grande fortunas, servindo de exemplo para os setores progressistas

de que é possível e necessário avançar com as pautas democráticas e medidas de distribuição de renda.

Por outro lado, há avanços de governos conservadores como no Equador, Uruguai e no Brasil.

10. Por parte dos governos reformistas as respostas foram insuficientes e, na sua maioria, foram eles os

próprios os executores das políticas neoliberais, com privatizações e ataques aos direitos conquistados

pela classe trabalhadora, sem enfrentar os privilégios da classe dominante, mantendo intocado o

sistema financeiro. Assim o caso do Equador foi sintomático: a volta da direita com Lenin Moreno

se deu por meio da própria indicação de Rafael Correa, que teve seu candidato vencido pela direita

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novamente nas eleições que acabaram de acontecer.

11. Essa derrota equatoriana e o desgaste do MAS

na Bolívia, que encolheu nas eleições domésticas,

é também um retrato do desgaste do progressismo

com o movimento indígena. O suicídio ambiental

e a doença neoextrativista, baseada na exaustão de

ecossistemas para exportação foram expandidos

pelos governos progressistas. Agora, sob a

ascensão conservadora, o que também se agrava é

a violência e a repressão aos territórios, ativistas e

povos originários. Desta forma, a coalizão políticoempresarial

do extrativismo encontra em governos

como o de Bolsonaro um alinhamento perfeito para

o aprofundamento do colapso ambiental em curso,

fato que internacionalmente tem ocasionado um

desgaste do país no cenário internacional.

12. A dependência, porém, não é só agravada

pelo imperialismo estadunidense, a herança do

progressismo também relega uma configuração

ambiental e econômica assimétrica em relação à

China. O crescimento chinês resultou no aumento

da dependência de exportação de natureza da

América Latina, fenômeno que não teria a mesma

dimensão sem a forte presença de suas estatais e o

massivo volume de seus investimentos na expansão

da infraestrutura extrativista na região.

CONJUNTURA NACIONAL

13. Estamos em guerra! O Brasil tornou-se o

epicentro da pandemia mundial, configurando uma

tragédia humanitária de imensas proporções. O

povo brasileiro está abandonado, e com mais de 420

mil mortos.

14. Nosso partido e militância nos diversos

movimentos sociais têm se destacado pelo combate

consequente e científico ao vírus, defendendo

fechamento de escolas, universidades, isolamento e

auxílio emergencial digno.

15. A pandemia é senhora e centro de todos os

acontecimentos, aprofundando a crise econômica, a

crise social, política e ambiental, cujos elementos

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estruturais encontram suas raízes mais profundas na nova crise de acumulação capitalista, evidenciada

a partir de 2008, com efeitos que se prolongam até os dias de hoje.

16. O recrudescimento da ofensiva da direita, que aqui no Brasil, se descortinou mais claramente no processo

do golpe de 2016, através da aliança entre conservadores e ultraliberais, é também o condomínio que

sustentou a eleição de Jair Bolsonaro, apresentado como um candidato anti-sistema, mas atuando na

preservação das estruturas dominantes de poder.

17. No terreno econômico, a orientação de Paulo Guedes é a de destruição de conquistas sociais e a diminuição

do papel social do Estado para beneficiar o mercado financeiro e as empresas estrangeiras. Assim, o

receituário do ultraliberalismo pós-golpe se apresenta como solução à crise: com a desregulamentação

das relações de trabalho, o fim da aposentadoria, o aumento da massa de desempregados, a redução do

salário mínimo, o ataque aos servidores públicos com a reforma administrativa do Estado - que aponta

para um desmonte dos serviços públicos, o fim da estabilidade do emprego e redução dos direitos.

Além disso, a privatização do patrimônio público, com a venda da Embraer, do Pré-Sal e a entrega da

Base de Alcântara são ataques à soberania nacional.

18. Já a agenda neoconservadora elegeu a educação e a cultura como alvos principais de combate no

sentido de concretizar seu projeto a longo prazo. A cultura sofre ataques sobretudo no desmonte do

financiamento público e nos processos cada vez mais evidentes de censura, haja visto o caso do filme:

Marighella de Wagner Moura. Já na educação, o movimento da Escola Sem Partido - iniciado em

2004 como um combate ideológico à esquerda, ganhando relevância em 2014 por ocasião dos debates

em torno do Plano Nacional de Educação (PNE)-, agregou a pauta do fundamentalismo religioso e

passou a ser o eixo estruturante da política educacional do Ministério da Educação, além da defesa da

militarização das escolas e do ensino domiciliar.

19. A reorganização do trabalho pelo capitalismo de vigilância uberiza e pilha nossas experiências em

todos os âmbitos da vida, de forma a torná-las dados lucrativos para aplicativos atravessadores e as Big

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Techs. A uberização é acelerada pelo atual governo

e abarca um nível cada vez maior de profissões. Em

meio a isso, a narrativa do empreendedorismo se

fortalece nas vozes neoliberais. É preciso disputar

a reorganização do trabalho com a resistência

produtiva baseada na auto-organização do trabalho

através da economia solidária, cooperativismo e

associativismo.

20. No caso das mulheres e da população LGBTQI,

a política ultraconservadora e a postura violenta

de Bolsonaro legitimam e estimulam a violência

motivada por questões de gênero e sexualidade, que

podem ser constatadas diariamente pelo aumento

do feminicídio e das agressões e assassinatos de pessoas LGBTQI.

21. Na temática ecológica, Bolsonaro segue um pária internacional mentiroso como visto em seu discurso

na última Cúpula do Clima. Suas promessas de zerar as emissões de gases do efeito estufa não se

sustentam quando vemos seu projeto de destruição dos biomas brasileiros em curso, especialmente

em sua tentativa de cruzada final contra o Pantanal, e com a aceleração do processo de savanização da

Amazônia junto de sua coalizão política neoextrativista assassina de povos originários.

22. O governo Bolsonaro é o impulsionador desse estado de barbárie das relações sociais e institucionais.

O fortalecimento do Estado militarizado reproduz de forma estrutural genocídios como o de Jacarezinho

e é a condição para matar pobres, negros, indígenas e quilombolas e criminalizando movimentos

sociais.

23. Entretanto, o objetivo de escalada autoritária de Bolsonaro não é unanimidade nos setores da burguesia

e da direita tradicional. O PSDB, Rodrigo Maia, a Globo, a Folha de São Paulo são expressões da direita

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que apoiaram o Golpe, mas que agora tentam se distanciar do neofascismo, inclusive incorporam a

chamada pauta identitária na sua versão liberal, pois querem se apresentar como uma direita mais

palatável para segmentos médios antipetistas. Porém, o golpe de 2016 já mostrou que a burguesia e os

segmentos médios conservadores secundarizam a defesa da democracia quando isto convém ao projeto

econômico ultraliberal. Ademais, na América Latina, a união entre ultraliberalismo e conservadorismo

se tornou fundamental para a aprovação de medidas impopulares e recessivas.

24. A entrada de Lula no cenário eleitoral, através da sua reabilitação como candidato, embaralha este

cenário e mantém a polarização da disputa entre o voto petista ou lulista e o voto conservador e ou

antipetista, que até aqui vem sendo representado por Bolsonaro. Ainda que esta polarização eleitoral

esteja delineada, Lula tem demonstrado, por meio de declarações públicas, que pretende assumir um

discurso de centro, reeditando a busca pela conciliação de classes derrotada pelo Golpe 2016.

25. Já o governo Bolsonaro, apesar da queda dos índices de aprovação - por conta do empobrecimento

da população e da sua gestão da pandemia, com claro discurso negacionista e troca sucessiva de

titulares do Ministério da Saúde - ainda mantém um setor leal e que se dispõe a ir para a rua defendêlo.

Esta tensão permanente marca o governo desde o seu início. Tal característica, se por um lado, cria

receios para o mercado, principalmente pela repercussão no cenário internacional e seus efeitos no

comércio exterior; por outro lado é também o que sustenta esta base conservadora e radicalizada, como

afiançadora do governo.

26. Neste caminho de contradições e dinamismo da conjuntura, tudo pode acontecer e como a tarefa de

analisar um fenômeno em curso é sempre complexa, é preciso combinar a cautela de precipitações

interpretativas com a urgência necessária de respostas que um partido que se propõe a dirigir as lutas

políticas deve buscar. Neste sentido, trabalhamos aqui com três possíveis cenários: A) crise econômica

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e social chega a níveis insustentáveis, ocorrem explosões sociais e Bolsonaro se fortalece e fecha

o regime; B) O governo Bolsonaro segue derretendo e a elite brasileira, junto com a grande mídia

e setores do Centrão, aprova o impeachment, com a manutenção de Mourão e Paulo Guedes como

garantidores da continuidade da agenda ultraliberal e recessiva; C) Lula volta à cena eleitoral com

muita força, atraindo setores da elite desgarrada de Bolsonaro e garante sua participação folgada no

processo eleitoral do segundo turno das eleições.

27. Cada cenário destes exige uma resposta distinta e é preciso que a realidade se decante para que

possamos indicar o melhor caminho a seguir. Em comum a todas as situações descritas, existe a

certeza de que as crises econômica, social, ambiental e política devem se acentuar e que a solução não

passa pela austeridade e a perda de direitos. Sendo assim, nossa tarefa continua sendo a de derrotar o

bolsonarismo, ou seja, derrotar a agenda conservadora e a agenda ultraliberal.

28. É importante hierarquizar as tarefas históricas, mas sabemos que garantir a defesa de um programa

popular, com elementos anticapitalistas, em uma sociedade que atravessa o desafio de mudar o sistema

para não ser extinta, não é algo secundário. Sendo assim, construir uma frente para a superação do

capitalismo não é tarefa para outro dia, já que, o sucesso ou não dessa tarefa política determinará se

teremos planeta. Sem planeta não tem futuro e sem futuro, qualquer tarefa política revolucionária

perde o sentido.

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TÁTICA

Derrotar Bolsonaro com o socialismo na linha de frente: Glauber Presidente!

29. A construção da frente única para as lutas do período é unânime em nosso partido. A divergência toma

corpo quando se discute uma frente eleitoral, com Lula e setores liberais, desde o primeiro turno. A

questão fundamental não é apoiar ou não essa Frente mas, quando e em que condições integrá-la.

30. Conforme a projeção de possíveis cenários de conjuntura, se houver evidências de que há risco de

fechamento do regime ou da vitória de uma candidatura de direita ou extrema direita, no primeiro

turno, não há dúvidas de que uma frente ampla seria absolutamente necessária. Mas até aqui, nenhum

destes cenários está se confirmando. Segundo a fotografia do momento, teremos a repetição da disputa

entre Bolsonaro e Lula, no segundo turno.

31. Bolsonaro deve manter o discurso da criminalização da esquerda, que pode ser reforçado pela propaganda

de combate a corrupção, atacando as liberdades democráticas e com um discurso ultraconservador no

campo dos costumes. Além disso, defenderá o ultraliberalismo e a austeridade, com um ataque central

aos serviços públicos, indicando que a saída é a privatização, com suspensão de concursos e demissão

de servidores.

32. Lula também tentará polarizar contra Bolsonaro. Mas, a sua principal preocupação tende a ser a

constituição de um novo pacto com setores da elite apoiadores do golpe, desconsiderando os erros do

passado recente, seguindo na linha da conciliação do pragmatismo eleitoral.

33. Se o cenário político que está colocado agora se mantém ou se suas tendências se confirmam, há

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necessidade de uma candidatura que defenda um programa

verdadeiramente de esquerda, com clareza de que houve um golpe em 2016 e que a Lava-Jato cumpriu

um nefasto papel para distorcer as eleições de 2018. É central pressionar o debate presidencial para

um programa popular com elementos anticapitalistas. É preciso pensar no futuro: a esquerda socialista

encontra no presente condições políticas e eleitorais para defender seu programa no primeiro turno das

eleições e não pode abdicar dessa tarefa.

34. Nosso partido vem se construindo como alternativa real de esquerda para diversos setores da militância,

das lutas sociais e dos ativismos. Defendemos a aliança com os movimentos sociais, na candidatura

de Boulos para presidente e no segundo turno da eleição de 2018, apoiamos Haddad contra Bolsonaro,

diante da ameaça de um ataque ao conjunto da esquerda e de nosso povo.

35. Entendemos que o golpe de 2016 teve como grande objetivo criar condições renovadas de exclusão

para garantir a acumulação capitalista, que se encontra em crise. Para isto é necessário romper o pacto

firmado na Constituição de 88, rasgar direitos sociais e garantir livre espaço para a exploração sem

amarras. Caso seja constrangida a recuar, em função da crise econômica, social e ambiental, a elite

econômica pode conceder algum espaço de conciliação, sem que se altere o arcabouço de regressão

intentado desde 2016 e que vem sendo aprofundado pelo atual governo e Congresso Nacional.

36. Portanto, é imperioso afirmar a necessidade da revogação das medidas regressivas pós-Golpe, com a

convocação de referendo revogatório de privatizações e outras medidas de desmonte do Estado, nas

suas garantias sociais.

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37. As eleições representam um momento fundamental de construção e divulgação de um programa

crítico, radicalmente democrático e socialista. Acreditamos em um programa vivo e aberto a novas

influências, que precisa ser construído pelo resultado das nossas lutas sociais, das nossas intervenções

e das experiências populares.

38. O processo eleitoral também precisa estar em sintonia com demandas concretas e urgentes de barrar

cenários políticos de barbárie, que por vezes terá como necessidade a construção de campos mais

amplos, porém, sempre programáticos.

39. Compreender tais contradições é um desafio importante para a esquerda. Nesse sentido, a luta

anticapitalista ganha cada vez mais urgência. Esse sistema priva milhões de uma vida digna. Polui,

destrói o ecossistema e já ameaça a humanidade. Suas instituições estão desacreditadas. A burguesia

só pode se manter no poder reduzindo os espaços democráticos, os direitos dos povos e da classe

trabalhadora. Por isso, se faz necessário construir uma alternativa global a esse sistema, apontando a

superação do capitalismo pelo socialismo.

40. Nesse sentido, defendemos que o PSOL apresente para a sociedade uma candidatura que expresse

todo o nosso programa. Por isso, apresentamos a candidatura de Glauber Braga para a Presidência da

República, mantendo no horizonte uma frente de esquerda, sem abrir mão do debate programático e da

independência de nossa classe e seus direitos e conquistas.

41. Apresentar uma pré-candidatura que aceite defender publicamente um programa de esquerda é tarefa

fundamental para influenciar o debate público. É hora de garantir que não estaremos desarmados caso

Lula e o PT sigam construindo seu programa com a direita liberal, responsável pelas reformas que

feriram de morte os direitos da classe trabalhadora e para garantir que tenhamos autoridade política

para enfrentar os desafios políticos e programáticos que serão colocados independente de quem vença

as eleições de 2022.

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BALANÇO DA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO

PARTIDÁRIA

42. A atual gestão começou com um debate

acirrado na primeira Executiva Nacional,

referente a atuação do PSOL na Prefeitura de

Macapá. O centro do debate era se o partido

deveria ter apoiado ou não um plano de ajuste

que penalizasse os servidores em nome de uma

legislação fiscal restritiva.

43. Esse debate poderia ter pouca relevância se

seus ecos não estivessem vivos e muito fortes

nas movimentações que o setor majoritário da

Direção do partido vem impulsionando através

da negação de um debate programático sobre o

papel do PSOL na gestão do Estado e nos limites

dos acordos e das alianças eleitorais. Não queremos reduzir num debate de gestão o que para nós, do

Fortalecer o PSOL é uma questão de concepção partidária e programática da Esquerda consequente.

Concepção Partidária

Nessa dimensão é que acreditamos que estão sintetizadas nossas maiores diferenças e preocupações

com o futuro do partido.

44. A convocatória do 7º Congresso do partido definiu sua realização com um formato híbrido. As etapas

municipais e estaduais de apresentação de teses por via remota, mas com votação presencial; com

urnas para definição de delegados de cada tese estadual ao Congresso Estadual, que também será

virtual. Assim também será a etapa nacional.Tal modelo é problemático pois é sabido que existe uma

grande exclusão digital na população brasileira e para muitos dos filiados do PSOL. Um Congresso

com debates virtuais significa excluir vastos setores da base do partido, promovendo um processo de

despolitização, onde se vota sem as condições objetivas de participação nos debates.

45. Nossa avaliação é que o problema é que as correntes que estão como maioria neste momento não

aceitam o debate, o contraditório e nem querem fazer esforço na busca de síntese entre as posições. É

necessário a democratização da comunicação do partido.

46. A questão da democracia, do funcionamento das instâncias e a concepção partidária são fundamentais

para um partido que tenha como estratégia a superação do capitalismo.

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Critérios democráticos para lidar

com as finanças do Partido

E quando estamos fragilizados nesses três

pontos, as finanças mais generosas podem

acelerar a burocratização e os desvios, como

o pragmatismo eleitoral.

47. Em 2015, o STF proibiu as doações de

pessoas jurídicas para partidos e candidatos.

Essa foi uma medida que a esquerda sempre

defendeu, porque como diz o ditado “quem

paga a conta, escolhe a música” e no caso das

eleições brasileiras as grandes corporações,

os grandes empresários jogavam milhões

nas campanhas eleitorais para depois ganhar

bilhões em contratos com os governos e

aprovar leis que os beneficiam. Portanto,

o fim do financiamento privado nas

campanhas eleitorais veio para diminuir

a interferência direta do patrão sobre os

partidos e os políticos. Porém, sabemos que

essa influência não se restringe somente

às campanhas eleitorais. Não é à toa que

as disputas eleitorais entre o PT e o PSDB

até 2014, era financiada pelas doações

de pessoas jurídicas-PJ. Empresários,

empreiteiras e corporações, doavam para os

dois campos, num verdadeiro jogo de ganha,

ganha. Qualquer partido que ganhasse a

eleição, os doadores também ganhariam.

48. Só em 2018 é que o financiamento público

ganha verdadeira relevância nos processos

eleitorais. E dentro de cada partido as

disputas ficaram mais acirradas por esse

fundo eleitoral milionário.

49. O PSOL precisa aprofundar o debate

para realizar uma divisão democrática e

tática para a divisão do Fundo Eleitoral. Nas

eleições de 2020 faltou debate sobre critérios

de prioridades do conjunto do partido.

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As Figuras Públicas e parlamentares devem estar subordinadas às instâncias do

Partido.

Esse problema de falta de democracia, onde as instâncias não funcionam ou só são convocadas

quando a maioria tem algum interesse em legitimar sua posição, se agrava quando nas poucas reuniões

de direção se defende não debater as eleições e ao mesmo tempo as figuras públicas do partido, como

Marcelo Freixo vai para a imprensa afirmar que quer governar o Rio de Janeiro com Maia e Paes, dois

políticos da direita tradicional e declaradamente envolvidos no golpe de 2016 e diz que sua posição

está legitimada pela maioria da Direção do Partido. Quando foi discutida essa movimentação? Quem

autorizou Marcelo Freixo a defender e articular uma Frente Amplíssima com a direita golpista em

nosso nome? Onde foi debatido essa e outras movimentações eleitorais, que determinam parte da

estratégia eleitoral do partido e ultrapassam as bases fundacionais do PSOL no que diz respeito à

conciliação de classes.

50. Temos exemplos graves e mais grave ainda é que o setor majoritário não se manifestou nem internamente,

nem na imprensa, para dar acordo ou desmentir as declarações dessas figuras públicas que se são

patrimônio do PSOL, também devem estar subordinados às instâncias e deliberações do partido.

51. Nossa tese é que o partido precisa centrar sua atuação na intervenção direta nos movimentos sociais e

na luta de classes e aprofundar o debate sobre o programa.

52. Precisamos fortalecer o PSOL como uma ferramenta para a transformação social e torná-lo referência

para a esquerda, para que a política de conciliação de classes não vele a esquerda socialista junto com

sua tarefa inglória de anestesiar a nossa classe.

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