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Eles Oravam Errado - Estudo da Oração do Pai Nosso - Calueto AQ

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C a l u e t o A n d r é Q u i s s a n g a

Eles

Oravam

1


por Calueto AQ

Eles

“Corretos na forma, equivocados na motivação”

Um olhar atento à revolucionária oração ensinada por Jesus

Grandemente conhecida entre as crianças e

memorizada/rezada por Adultos Católicos, Protestantes,

Pentecostais e de tantas outras denominações cristãs, o “Pai

Nosso” pode ser considerado sem dúvida, o texto mais citado em

oração para todos os crentes. Incialmente parece confuso Jesus

ensinar um texto especifico de oração, quando proíbe por outro

lado repetições (cf. Mateus 6:7). Moody, no entanto diz que Jesus

não pretendia que seus discípulos repetissem esta oração como

papagaios. Antes, diversos pedidos nela contidos serviriam de

guia para uma atitude e conteúdo corretos. 1

A oração do Pai Nosso foi registada por Mateus e por Lucas.

Este último regista que a iniciativa foi de “um de Seus discípulos”,

dizendo “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11:1). Este discípulo

com certeza não foi o único, a ter esta percepção. Hoje muitos há

que frequentemente sentem-se incapazes para orar e admitem

que a habilidade de falar com Deus é um dom que uns poucos

receberam. Apesar no inequívoco, em um aspecto, porém, o

1 D. L. Moody, Comentário Bíblico de Mateus

2


anônimo discípulo estava certo: apenas Jesus os poderia ensinar

a orar.

“Era comum”, diz C. G. Montefiore, “para um rabino famoso

escrever uma oração especial” 2 ; João Batista parece ter feito isso

para os seus discípulos (v. 1). Jesus atendendo ao pedido iniciou

a listar as formas erradas de orar: (1) não sejais como os

Hipócritas; (2) Não useis de repetições inúteis (tagarelice), (cf. Mt.

6:5,7). Depois ensinou lições espirituais, (3) pelo que deveriam

orar (Lc. 11:2-4), (4) a necessidade de perseverança, (vv. 5-10), e

(4) a certeza da resposta, (vv. 9-13).

No livro de Mateus, a oração ensinada por Jesus é feita

dentro do Contexto do Sermão da Montanha, um dos grandes

discursos de Jesus. Nela o Mestre sem igual (cf. Mt. 7:29) fala

sobre as bem-aventuranças (Mt. 5:1-12), que são o perfil, estilo de

vida ou literalmente o carácter do cidadão do reino, e na parte

final do Capitulo 5, vai interpretar a lei (Torah, pentateuco) de uma

forma completamente diferente às sustentadas pelos fariseus. No

capitulo do nosso estudo, Cristo lista a motivação certa do estilo

de vida do cidadão do reino, a motivação certa para: Dar esmolas

(vv;2-4); orar (vv. 5-15) e jejuar (vv. 16-18).

Portanto Orareis Assim...

Advertências: “E, quando orardes, não sejais como os

hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nas

esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade

vos digo que eles já receberam sua recompensa.” – Mt. 6:5 –

Almeida XXI 3 . O verso inicia com uma conjunção, implicando que

o pensamento é continuidade do verso anterior: usar descrição

Cortez ao dar esmolas e praticar atos de caridade. A verdadeira

motivação não envolveria: Fazer soar trombetas ao dar esmolas,

uma hipérbole para ostentação e vanglória. Esse grupo,

hipócritas, é o mesmo do qual Jesus proíbe imitar seu

procedimento também em relação à oração.

2 Bruce, F. F. Com entário Bíblico N V I : Antigo e Novo Testamento / editor

geral F. F. Bruce; tradução: Valdemar Kroker. — São Paulo : Editora Vida,

2008. P[ag. 1684.

3 As referências Bíblicas neste artigo são da Almeida Século 21, salvo por

indicação contrária.

3


Já vi e ouvi pessoas, rejeitarem orar em pé em igrejas,

alegando ser uma prática pecaminosa. Alguns citando esse

mesmo texto, dizem que Jesus estava legislando sobre “posturas

em oração”, e chegam à conclusão que a única forma bíblica e

correcta de se orar é a de joelhos, uma ênfase, porém à margem

do texto. Contudo Cristo está reprovando a atitude de certo grupo

de pessoas, chamados por Ele de hipócritas, como já vimos

anteriormente.

“Os fariseus tinham horários fixos durante o dia para orar.

E quando chegava a hora, oravam no lugar onde estivessem. Isso

não era necessariamente mau. Deus não condena a oração em

público, seja ela feita em um lugar de culto ou em qualquer outro

lugar. O problema aqui era a motivação. Como gostavam de que

as pessoas os vissem orando, para que os considerassem

piedosos, planejavam para que o momento de orar os encontrasse

na rua ou nas praças. E até nas sinagogas oravam em forma

chamativa, ostentosa, para que todos os vissem.” 4

É importante ressaltar o principio da privacidade espiritual

entre o adorador e Deus, presente na orientação de Jesus no verso

6. “Mas tu...”, um apelo a agir diferente aos “hipócritas”, “quando

orares, entra no teu quarto”, no lugar mais intimo do adorador é

onde o Pai reivindica acesso. Deus quer literalmente acesso a

nossa privacidade, não por reivindicação soberana, mas por

joelhos dobrados. “e teu pai que está em secreto, te recompensará”,

Jesus não aceita adoradores que demonstrem no público que O

conhecem, quando no privado Lhe é negado acesso ao coração,

nisto reside a hipocrisia.

Os contras continuam. “Não useis de repetições inúteis”, não

falem só por falar. Como vimos, o mestre não estaa proibindo

repetir uma oração, como seria o caso da oração do Pai Nosso, dá

ênfase, porém, a “vãs repetições a exemplo dos Gentios, pois eles

pensam que serão ouvidos pelo muito falar”. Parece que este outro

grupo estava cansando os ouvidos do Senhor. A razão clara para

não se assemelhar a este grupo consistia na presciência divina.

4 Veloso, Mario Mateus : contando a história do Rei Jesus : comentário

bíblico homilético / Mario Veloso ; tradução Ranieri Sales. – 2. ed. – Tatuí,

SP : Casa Publicadora Brasileira, 2011, Pág. 87.

4


Orar ao modelo do último grupo revelava incredulidade e vã

confiança.

Mestre, Ensina-nos a orar

“Portanto, orai deste modo: Pai Nosso que estás no céu...”

(vv.9-13). A oração aqui ensinada por Jesus, não é uma forma

exatamente nova, o culto litúrgico judeu também incluía alguma

das frases usadas por Jesus. O convite a orar diferente, reside na

motivação contrastante aos grupos listados acima: hipócritas e

gentios. Fico, contudo, emocionado ao ler Jesus apresentando o

DEUS TODO PODEROSO, Elohim, El Roi, El Shadai, Adonai,

Yaweh e tantos outros nomes divinos, como Pai. A relação que a

divindade busca de seus adoradores é de paternidade, uma

relação familiar, com vínculos afetivos. Aqui todos os protocolos

farisaicos e legalistas de aproximação a Deus, caem em desuso. O

que habita na luz inacessível aproximou-se de seus filhos. O trono

Celestial, quer de seu adorador, a honra, o respeito, o amor de um

pai e filho.

Deus está reivindicando o lugar de Pai na vida de quem o

busca em oração. “O filho honra o pai... Se Eu sou pai onde está o

temor de mim” (Malaquias 6:1). Portanto essa oração deveria ser

feita apenas por aqueles adoradores que tenham recebido a Deus

com pai e O honram no seu procedimento estando dispostos a

viverem como verdadeiros filhos, um direito que apenas a fé

cristológica pode receber, (João 1:14).

O Pai Nosso, faz-nos igualmente recordar que o amor é o

carácter deste pai que sabe do que necessitamos e que, portanto,

“Não fiqueis ansiosos quanto a vossa vida, com o que comereis ou

com o que bebereis, nem quanto ao vosso corpo, com o que

vestireis” (Mt. 6:25). A vida ansiosa, chega a ser um empecilho à

religião através de condescendência equivocada por comida,

bebida e vestuário. Mas em contraste a este grupo, Cristo convida

àqueles que oram a enxergarem em Deus paternidade, amor e

providencia. Essa oração é um poderoso convite a viver em filiação

com Deus.

A liturgia Judaica já orava a Deus como Pai, mas falhou em

perceber que este Pai é “Nosso Pai”, tendo um mesmo Pai, a

atitude proselitista e separatista judaica findam. Deus ensinou a

5


orar Pai nosso, como um convite a quebrar diferenças inventadas

pelas sociedades. Tendo um mesmo Pai, não há escravo nem livre,

homem ou mulher, pois todos somos um em Cristo Jesus (Gálatas

3:28).

“Santificado seja o teu nome”. Meu objectivo com o texto

acima foi fazer perceber o leitor que a primeira frase de oração nos

leva ao primeiro e segundo mandamento do decálogo, (Êxodo

20:1-6). Os filhos de Deus não se deixam adotar por outros deuses

ou outras famílias. E, quando oramos: “santificado seja o Teu

nome”, vem a nossa memória: “Não tomarás o nome do Senhor

teu Deus em vão” (Êx. 20:7). No terceiro mandamento os

adoradores são livrados da crise de identidade. Filhos de Deus

tomam, ou são chamados pelo nome do Senhor, mas isso em

reverência santificada. Ao ser chamado pelo nome de Deus, o povo

de Israel deveria imprimir em seu estilo de vida o carácter do

próprio Deus. Nome implica carácter conforme entendido no

pensamento judaico.

Jesus repete este mandamento na oração: O nome do Pai

deve ser santificado na vida dos filhos. Um dos meus vizinhos se

chama Jesus, tento imaginar a minha reação ao ter de ouvir um

dia alguém gritando: “Jesus vem a busca da sua cerveja” ou

“Jesus foi preso por crime de estupro”. A honra ou a desonra de

um pai reside no procedimento do filho. Ser chamado, portanto

pelo nome de Cristo não é um teatro mais uma responsabilidade

com resultados eternos.

Aqueles chamados de cristãos, não deveriam amar o mundo

que profana o nome de seu Pai. Uma “arrogância” santificada

deveria afastar os filhos de Deus da música que ofende o nome do

seu Senhor, dos prazeres e práticas mundanas que jazem no colo

do maligno, (I João 2:15).

“Santificado seja o teu nome”, faz o adorador perceber que

mesmo chamado de Pai por todos os demais filhos, Deus é

conhecido por um nome especifico por cada filho Seu. Agar depois

de perceber que sua vida nômade e sofrimento não eram invisíveis

aos olhos eternos, pôde chamar a Deus de El Roi, o Deus que me

Vê, (Génesis 16:13).

6


“Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade, assim na

terra como no céu”. O governo de Deus deve se tornar

mundialmente conhecido. Esta frase da oração nos conecta ao

quarto mandamento da lei de Deus. Com esta oração o adorador

expressa fé que o Pai de facto está no céu, um reino de glória

escatológico será inaugurado, mas ora para ver o reino da graça

em operação aqui e agora. O reino da graça é a salvação realizada

em Jesus que concede vida e vida em abundancia, (João 10:10).

Demonstramos disposição em viver hoje a salvação realizada

em nós por Jesus e em ver isto ao nosso redor, a graça agindo

salvadora no mundo. O reino do Pai, derrotou o reino das trevas,

o inferno não tem mais autoridade sobre os filhos de Deus. Assim

o adorador ora cada dia, para que em sua vida não tenha nenhum

espaço de domínio do reino mundano. Na vida do crente quem

reina é Cristo.

Na linguagem paulina de pecado, este mal é como um rei

tirano escravizando os homens, fazendo o mal que não querem

fazer (Romanos 7:20), portanto orareis assim: “venha o teu reino

Pai” até que o trono do pecado não tenha mais jurisdição na vida.

No reino de Deus apenas a eterna vontade do Pai é realizada, que

seja assim não só na terra como no céu, mas na vida do filho de

Deus.

O mundo pós-moderno, diz que não existe uma verdade

absoluta, outra corrente filosófica prega que cada um é seu

próprio deus, portanto “viva seu próprio estilo de vida”. Apesar

destes desvios filosóficos, aquele que ora o Pai nosso entende que

ainda é uma atitude de adoração verdadeira “colocar sua vontade

à obediência de Cristo”.

“O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Aqui vemos, sem

dúvida um refúgio contra a ansiedade e estresse. Henry, explica

que Aqui, cada palavra contém uma lição. Pedimos pão; isso nos

ensina sobriedade e temperança: e só pedimos pão, e não o que

não necessitamos. Pedimos por nosso pão; isto nos ensina

honestidade e trabalho; não devemos pedir o pão dos demais, nem

o pão do engano, (Pv 20.17) nem o pão do ócio, (Pv 31.27), mas o

pão honestamente obtido 5 . Ao refletirmos sobre a frase Pai Nosso,

5 Heny, Comentário de Mateus.

7


acima vimos que Deus provê as necessidades de Seus filhos, um

convite a fugir da armadilha da inquietação: Que comeremos?

Que beberemos? A Inquietação financeira tem levado homens e

mulheres a práticas impensáveis para obtenção de comida e

bebida. O convite é orar para não deixar o coração amar outro

Senhor: Mamon.

“Ninguém pode servir a dois senhores”, (Mt. 6:24). Aquele

que ora o pai nosso, entende que a vida em Jesus, dá poder para

ser servido (liberdade financeira), em vez de servir a Mamon

(escravidão), “pois os gentios é que procuram todas essas coisas”,

(v. 32). Alguns gastam sua saúde ganhando mais dinheiro, para

depois gastar dinheiro para recuperar a saúde perdida. Ansiedade

financeira leva alguns a responderem pra Deus: “como havemos

de voltar?”, Portanto roubará o homem a Deus?” (Ml. 3:10). Esta

inquietação pelos bens materiais rouba literalmente nossa vida

social (falhando em enxergar verdadeiros valores familiares) e a

espiritualidade (falhando em desfrutar verdadeira vida em

abundancia no reino). Para aprofundar sobre isso o leitor pode ler

outro artigo meu a respeito: Sábado – um convite para descansar.

J. M. Creed (p. 155) diz: “Não há conexão íntima entre esse

parágrafo e o precedente”; contudo, é notável que o encorajamento

para pedir ao nosso Pai celestial a porção de um dia por vez é um

corretivo natural à ansiedade de Marta acerca de tantas coisas. 6

Não queria me esquecer de fazer lembrar o principio da

pluralidade das bençãos de Deus. “Pão nosso” desafia o adorador

a encontrar satisfação não apenas quando sua fome é saciada,

mas o de outros também, um princípio lindamente expresso nas

leis deuteronômicas do Antigo Testamento, (cf. Deuteronômio

14:22-29, 26:12-15).

“e Perdoa-nos as nossas dividas, assim como também

temos perdoado aos nossos devedores”, v.12. Sou

profundamente impressionado com o carácter litúrgico desta

oração! A maioria de nós poderia rapidamente orar a primeira

parte deste texto até ter que dizer: como também temos perdoado

6 Bruce, F. F. Com entário Bíblico N V I : Antigo e Novo Testamento / editor

geral F. F. Bruce; tradução: Valdemar Kroker. — São Paulo : Editora Vida,

2008. P[ag. 1683.

8


aos nossos devedores”. Os filhos de Deus são desafiados a não

reivindicarem perdão, quando não demostram essa mesma

atitude com o seu próximo. Contudo o compromisso não é viver

isso em práticas exteriores apenas, mas ser uma expressão de um

coração que tenha experimentado o verdadeiro perdão da cruz.

No Calvário Jesus venceu o ódio com amor, a raiva com

complacência, enfurecimento com paz, iracúndia com afeição. E,

afim de experimentar plena alegria, os filhos de Deus devem

exprimir na vida os mesmos sentimentos. Apenas o perdão que

brota de um coração santificado tem poder para acabar com

gerações de rivalidades e contendas. Quantas guerras e

genocídios seriam evitados se as pessoas levassem essa oração a

sério? Quantos casamentos ainda estariam em pé? Quantos

amigos unidos? Não precisamos morrer envenenados por gotas de

rancor quando através de joelhos dobrados podemos aprender a

perdoar.

“e não nos deixe cair em tentação; mas livra-nos do mal”,

(Mt. 6:13a e Lc. 11:4b). Foram diversas vezes, que Jesus alertou

da importância de se vigiar e orar, para não cair em tentação.

Tentação não é pecado, mas um convite sutil para o pecado. Os

filhos de Deus se refugiam nEle como única salvaguarda contra a

sedução do pecado. Apesar de viver sob o reino da graça, o cristão

ainda vive na terra, a mesma terra que jaz no colo do maligno.

Assim pois mesmo filhos do reino pecam, contudo são perdoados

e vencem diariamente o mal.

O poder para vencer o tentador está na oração, reside em

trazer para nosso “quarto”, na nossa privacidade a presença do

Santo Espirito. Portanto viver em oração é se alistar para uma

batalha contra o maligno.

Os discípulos deveriam orar ao Pai por Santificação,

Provisão, Perdão e presença do Espirito na Vida (Lc. 11:2-4). Para

tal necessitariam de perseverança, (vv. 5-10), Jesus ilustrou isto

na parábola do amigo inconveniente à meia noite. As vezes os

cristãos são tentados a orarem “convenientemente” uma atitude

de passividade “politicamente correcta”, mas isso não é fé, é

presunção e preguiça espiritual. Os filhos de Deus lutam com

Deus em oração, não se acomodando com o actual estado da vida

9


até que do alto sejam revestidos de Poder. O mundo está

globalizado e em alta velocidade, nos viciamos em rápido

processamento de informação que ajoelhar e pacientemente orar

está sendo irrelevante no século 21, as vezes oramos

apresentando pra Deus tanto o problema como a nossa sugestão

já bem elaborada da solução que queremos que Deus apenas

execute. Para aqueles que oram com perseverança, Jesus deixa a

certeza da resposta, em Lucas 11:9-13, e esta certeza reside no

amor do Pai.

Este artigo é um convite à abrir o coração a Deus em oração

como a um amigo. Experimente.

Por: Calueto A. Quissanga

Faculdade Adventista de Teologia de Angola

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