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l PARAÍSOS ESCONDIDOS
As praias do estado que
poucos conhecem e vão
além do cartão postal
l VOLTA DO CANECÃO
Nova lei pode reviver
a casa de shows que
fez história no Rio
l MOACYR LUZ
O cronista musical
que se transformou
em uma usina do samba
. ANO 1 . Nº 3 . JANEIRO . 2022 . www.rioja.com.br
DAS CINZAS DE DOIS ANOS DE SILÊNCIO,
Sambódromo vazio, sofrimento e doença, o Carnaval
renasce, enfim, exorcizando a tristeza de tantas perdas
e fazendo lembrar momentos épicos. O Rio de Janeiro
merece a volta de sua maior festa
RESSURREIÇÃO!
RODRIGO NEVES PROMETE REALIZAR UM SONHO: fazer do Rio uma
cidade-federal, sede de quatro ministérios – Minas e Energia, Defesa, Cultura e Turismo
1 RIO•JÁ
04
CARNAVAL
O sambódromo será
o palco magistral da
volta do Carnaval
09
HOMENAGEM
Aos mestres,
com carinho e
reverência
12
PERFIL
Moacyr Luz,
o criador
iluminado
18
REVEILLON
A pandemia
democratizou
o fim do ano
22
CANECÃO
Possível volta da
casa de espetáculos
pode salvar mural
30
PAPO DE COMIDA
Um Rio de
muitos e
bons queijos
06
1919-2022
A História se
repete também
como folia
11
TIA SURICA
rainha carioca e
patrimônio
nacional
17
CRÔNICA
A democracia será
o maior investimento
em 2022
20
PARAÍSOS
Praias e cachoeiras
escondidas: os destinos
mais quentes do verão
24
RODRIGO NEVES
Rio de Janeiro precisa
reassumir seu papel de
capital nacional
32
ALTO ASTRAL
Um roteiro de
atrações, de 'A' a Z, de
Zeca Pagodinho
2 RIO•JÁ 3 RIO•JÁ
EDITORIAL•
O SHOW TEM
QUE CONTINUAR
RICARDO BRUNO
Chefe de redação
Janeiro de 2022 não é apenas o primeiro
mês de um ano recém-inaugurado,
como tantos outros já vividos.
Não traduz somente as esperanças
costumeiras de renovação próprias do
limiar de uma nova quadra da vida. Há
algo diferente no ar. O sonho sonhado
pela maioria dos brasileiros é mais profundo,
visceral e aponta para o avesso
do Brasil dos radicais e intolerantes em
voga nesses tempos sombrios.
Após um período soturno, prenhe
de ódio e rancores, vazio de esperanças,
obnubilado por ações e palavras
de um presidente xucro, espera-se a
volta à razão, ao equilíbrio e à sensatez
dos regimes plenamente democráticos.
Roga-se por objetivos simples e
óbvios mas, ao mesmo tempo, revolucionários:
o fim do negacionismo, a
prevalência da ciência, o diálogo entre
contrários e o respeito a alteridade perdida
no confronto estéril dos lacradores
das redes sociais.
As eleições deste ano devem simbolizar
o fim deste inverno civilizatório;
permitirão a retomada do fio da história
de um pais socialmente mais justo,
com maiores oportunidades e menores
diferenças. Interrompida abruptamente
em 2016, essa construção coletiva,
pujante e irrefreável, será certamente
www.rioja.com.br
levada a cabo por desejo da maioria dos
brasileiros, a se manifestar nas urnas –
eletrônicas, registre-se.
AS ELEIÇÕES DESTE ANO
DEVEM SIMBOLIZAR O FIM
DESTE INVERNO CIVILIZATÓRIO;
PERMITIRÃO A RETOMADA DO
FIO DA HISTÓRIA DE UM PAIS
SOCIALMENTE MAIS JUSTO, COM
MAIORES OPORTUNIDADES E
MENORES DIFERENÇAS.
O Brasil já não suporta mais esse país
dividido, confrontado permanentemente
por essa legião de ignaros que
ascendeu ao poder num acidente democrático.
É inaceitável a troca de valores
promovida nos últimos anos por
essa gente, com exaltação pública aos
ineptos, iletrados e ignorantes. Fez-se
virtude da indigência intelectual. As
deficiências culturais, que antes deveriam
ser superadas, passaram a ser
tratadas como paradigmas para transformação
da sociedade brasileira. Enfim,
tentou-se a construção de uma
república de toscos, que, certamente,
será derrotada nas próximas eleições.
Diálogo e tolerância são palavras
chaves para decifrar os próximos anos.
Quem mais bem incorporar esses valores
terá amplas chances de acolhimento
eleitoral no pleito vindouro. Se
antes a pauta era de confronto, hoje o
Diretores:
Ricardo Bruno
Washington Quaquá
Chefe de redação
Ricardo Bruno
Repórter:
Jan Theophilo
Rosayne Macedo
tom exigido é de negociação. Há um
esgotamento do “eles e nós” que só fez
aprofundar diferenças e crescer miséria.
Trincado pelo ódio, o País abandonou
à própria sorte uma parte de seus
filhos. São brasileiros absolutamente
desvalidos que se viram novamente
diante da fome em manifestação aguda
- contra a qual recorrem perambulando
pelas ruas à cata de pelancas e ossos,
num teatro-síntese da tragédia nacional.
Realismo na veia. Essa desventura
terá fim. Por exigência da maioria dos
brasileiros.
O que sentimos é mais do que bons
augúrios. É a razão, aos poucos, voltando
a prevalecer na rotina da vida e
a esperança, na perspectiva do futuro.
Volta-se a crer, enfim, na acumulação
de conhecimento como pré-requisito
para ampliação de oportunidades. Se
os últimos anos foram de pandemia,
negacionismo, sofrimento e mortes,
2022 se apresenta como o momento da
redenção de um iluminismo pós-moderno,
em torno da qual se multiplicam
as esperanças.
Para começar, teremos carnaval, ao
menos, na Marquês de Sapucaí. Já é
muito assistir aos desfiles das escola de
samba, após o amargo hiato pandêmico.
É de se esperar um destampatório
geral para saudar a boa nova. Foi assim
após a gripe espanhola de 1918: o maior
carnaval de todos os tempos.
Nesta edição, a Rio Já dedica boa
parte de suas páginas a mostrar que,
depois de tanta tristeza e sofrimento,
o carnaval do Rio não acabou porque,
simplesmente, não podemos permitir
que ele acabe.
Enfim, para definir o momento,
tomo as palavras do poeta Luís Carlos
da Vila, na letra do magistral samba de
1988: “Nós iremos achar o tom/E fazer
com que fique bom/Outra vez, o nosso
cantar/E a gente vai ser feliz/Olha nós
outra vez no ar/O show tem que continuar...”
Projeto gráfico e edição de arte:
André Hippertt
Edição do site e atualizações:
Nicolas Iwashita
carnaval2022
MAIS DICAS DE CARNAVAL? ACESSE: www.rioja.com.br
UMPAÍSQUE
CHOROUTANTO
MERECEASUA
MAIORFESTA
DA REDAÇÃO
A MAIOR FESTA POPULAR BRASILEIRA ESTÁ VOLTANDO E A 'RIO JÁ' FAZ QUESTÃO
DE MOSTRAR QUE, DEPOIS DE TANTA TRISTEZA, DE TANTAS PERDAS HUMANAS,
DE TANTO SOFRIMENTO, APESAR DE TUDO ISSO O MUNDO NÃO ACABOU PORQUE,
SIMPLESMENTE, NÃO PODEMOS PERMITIR QUE ELE ACABE. O CARNAVAL DE 2022
É O CARNAVAL DA RENOVAÇÃO, DA RECONSTRUÇÃO DE UM PAÍS DILACERADO
PELA DOENÇA, PELA IGNORÂNCIA E PELO NEGACIONISMO. UM PAÍS QUE, A FAZER
LEMBRAR O FILME RECENTE, RESOLVEU FINALMENTE OLHAR PARA CIMA.
O
Sambódromo será o
palco magistral da retomada
da vida. E antes
disso, será a ribalta
mais apropriada possível
para a homenagem
que todos queremos prestar aos que se
foram, aos que nos deixaram órfãos,
sozinhos, saudosos. Por esta razão, na
maioria dos enredos que desfilarão na
Sapucaí veremos comoventes atos de
respeito e gratidão aos grandes sambistas
brasileiros que partiram e aos que
resistiram e, felizmente, sobreviveram
bravamente a um mundo que por dois
anos foi tão perigoso. Também desfilarão
diante de nós, e não poderia ser
diferente nesta época de resistência e
luta, enredos que exaltam o antirracismo
e a tolerância com as diferenças.
Depois de tanto tempo de isolamento
e distanciamento social, que este seja,
sem dúvida, o carnaval da proximidade,
do contato físico, da confraternização
entre amigos, do abraço, do beijo,
dos corpos entrelaçados, da sensualidade
típica dos cariocas.
Neste carnaval da ressurreição da
vida prestemos um tributo aos grandes
que perdemos para as doenças, como
o colosso chamado Monarco, o gênio
Aldir Blanc e o mais brasileiro de todos
os italianos que o mundo gerou, o
inesquecível Lan, que eternizou em seu
traço as curvas sensuais e delicadas do
nosso povo e a quem homenageamos,
reverentes, na ilustração ao lado.
De alguma forma, eles estarão na
avenida, felizes, sobre o mais lindo dos
carros alegóricos.
4 RIO•JÁ
RIO•JÁ 5
carnaval2022
MAIS DICAS DE CARNAVAL? ACESSE: www.rioja.com.br
DESFILE das grandes sociedades carnavalescas atrai uma plateia
DAHESPANHOLAÀ
COVID,OSDESFILES
PÓS-PANDEMIA
AS GATINHAS e a onda erótica de 1919
JAN THEOPHILO
Em setembro do ano passado,
muito antes de qualquer confirmação
sobre a realização
ou não do carnaval de 2022,
os barracões das escolas de samba do
Rio de Janeiro retomaram seu ritmo de
trabalho. Voltaram os ensaios, as rodas
de pagode, e a movimentação da complexa
engrenagem, quase industrial,
dos carnavalescos, para deixar o espetáculo
pronto como se fosse um ano
como outro qualquer. Só que esse ano
não vai ser igual aquele que passou. Até
2021, a folia no Rio só havia sido adiada
duas vezes na história: em 1892 e em
1912 (e nos dois casos o carioca não quis
nem saber e foi pra rua duas vezes: na
data original e na substituta). Sequer
havia o desfile das agremiações, que
surgiu nos anos 1930. Ou seja, a próxima
folia momesca será simplesmente
a primeira na história das escolas de
samba com um intervalo de dois anos
para acontecer. Nos bares e barracões
o otimismo é tanto que já se fala que
vem por aí o “maior carnaval de todos
os tempos”. Só que este título já tem
dono. Foi levantado em 1919 em uma
realidade muito semelhante a que o Rio
encara hoje. E o mínimo que dá para
dizer é que, se preparem: o couro vai
comer. Todos os detalhes e os serviços
da mais carioca das celebrações você
poderá acompanhar aqui na revista RIO
JÁ e no nosso blog www.rioja.com.br.
Nosso “maior carnaval de todos os
tempos” foi o primeiro depois da pandemia
da Gripe Espanhola de 1918.
Dados da Fiocruz indicam que entre
outubro e dezembro daquele ano, período
oficialmente reconhecido como
pandêmico, 65% da população brasileira
adoeceu. Só no Rio de Janeiro foram
registrados mais de 14 mil mortos
pela doença. Os hospitais ficaram superlotados,
velórios foram proibidos, e
medidas de prevenção e de distanciamento
social demoraram a ser adotadas
pelo governo. Ironia ou, para ficar no
assunto, alegoria: a história, ou parte
dela, se repete. Essas ações só passaram
a ser consideradas quando boa parte do
país já havia sido afetada. Assim como
nos dias de hoje, receitas milagrosas foram
apresentadas para curar a doença,
como o uso do quinino (um medicamento,
tal qual a cloroquina, indicado
no tratamento da malária). Mesmo sem
comprovação científica de sua eficácia,
a substância sumiu das prateleiras das
drogarias. Em 15 de outubro de 1918 o
jornal “Gazeta de Notícias” destacava
a “invasão da influenza hespanhola”
e descrevia como os coveiros estavam
ficando doentes e morrendo, obrigando
a polícia a sair pelas ruas capturando
homens parrudos que depois eram
obrigados a abrir covas para sepultar
os cadáveres.
Incerteza, temor e pânico tomaram
conta da população em função da célere
e radical alteração do modo de vida.
Comércios e fábricas foram fechados,
levando ao colapso de serviços e escassez
de produtos e alimentos. Curio-
CORDÃO DO BOLA PRETA: fundado no final de 1918, fez seu primeiro desfile em 1919
samente, do mesmo modo repentino
que chegou, a pandemia da Gripe Espanhola
terminou em pouco mais de
um ano, tendo infectado um quarto da
população mundial -- tornando-se assim
uma das epidemias mais mortais da
História. Até que em março de 1919 veio
a revanche, ou, como definiu o escritor
Ruy Castro, autor de "O carnaval da
gripe e da guerra": “a grande desforra
contra a peste que dizimara a cidade”.
"Qual era sua atitude naquele carnaval?
Você não podia perder, você tinha que
brincar como nunca porque poderia ser
o último da sua vida. Aí você se jogou
na festa, na folia, os blocos, os ranchos.
Todo mundo. E assim aquele foi o maior
carnaval de todos os tempos", afirmou
ele em recente entrevista.
"Seja bem-vindo, Deus Momo", registrou
o jornal “Correio da Manhã” no
dia 3 de março de 1918: "O Carnaval é a
grande força que liberta o carioca da
tristeza em que passa o resto do ano".
Boa parte das músicas compostas tinha
a Gripe como tema. A fantasia de espanhola
foi a mais usada pela cidade. A
pandemia também inspirou as grandes
sociedades que apresentaram carros
alegóricos decorados por nomes como
Di Cavalcanti e J Carlos. Uma curiosidade
foi o uso de réplicas de xícaras de
chá nos carros, pois havia corrido um
boato popular de que os enfermeiros
da Santa Casa da Misericórdia serviam
um chá letal, à noite, para matar os pacientes
com Gripe, e, assim, esvaziar
mais rápido os leitos do hospital. Mais
uma que faz parecer até reportagem
recente, né?
Mas o que chamou mesmo a atenção
é que fosse nas grandes sociedades,
bailes chiques ou nas festas mais humildes,
havia uma forte onda erótica
decorrente da tragédia. “Começou o
carnaval e, de repente, da noite para
o dia, usos, costumes e pudores tornaram-se
antigos, obsoletos, espectrais.
A Espanhola trouxera no ventre
costumes jamais sonhados. E então, o
sujeito passou a fazer coisas, a pensar
coisas, a sentir coisas inéditas e, mesmo,
demoníacas”, afirmou o escritor
Nelson Rodrigues, em uma entrevista
de 1967. Dá para imaginar, de leve, o
que vem por aí.
A bagunça foi tamanha que o jornal
“A Noite” publicou uma reportagem
estimando que na Quarta-Feira de
Cinzas de 1919, 40 toneladas de papel
tinham sido recolhidas das ruas do Rio,
deixadas pelas tradicionais batalhas de
serpentinas e confetes. Para efeitos de
comparação, em 2020, quando pelo
menos três milhões de pessoas foram
aos blocos no Rio (uma cidade hoje seis
vezes maior), a prefeitura recolheu 74
toneladas de lixo pela cidade – mas esse
número foi alcançado com todo o tipo
de detritos, não só papel.
No fim de outubro passado, a Prefeitura
do Rio já havia recebido nada
menos do que 620 pedidos de desfile
para 506 blocos de rua. “Em janeiro,
vamos tomar uma decisão definitiva",
explicou Rita Fernandes, presidente da
Sebastiana, entidade que reúne algumas
das mais importantes agremiações
da cidade. A resposta já veio. A prefeitura
cancelou o carnaval de rua. Não é
possível tomar medidas de precaução
contra a contaminação pela alarmante
variante Ômicron em locais abertos.
Quanro ao desfile das escolas de samba,
a prefeitura ainda pretende realizá-los,
mas novas avaliações deverão ser feitas
e não se deve desconsiderar a hipótese
de, no mínimo, um adiamento.
A Prefeitura também já antecipou
uma parte do R$ 1,5 milhão que é repassado
para as 12 agremiações do Grupo
Especial. E, em dezembro, o Spotify
disponibilizou todos os sambas-enredo
do Carnaval de 2022. O sucesso
foi imediato. “Para a nossa surpresa, a
playlist do Rio está com todas as faixas
viralizadas. Isso demonstra a força do
samba e como o público está ansioso
por este retorno da festa da Sapucaí.
Temos certeza de que faremos um Carnaval
emblemático”, afirmou o diretor
de Marketing da Liga Independente
das Escolas de Samba (LIESA), Gabriel
David. A apresentação das 12 faixas
dos Sambas de Enredo 2022 obedece à
ordem de classificação das Escolas no
último desfile, em 2020. Portanto coube
à campeã Viradouro a honra de ser a
primeira a mostrar o seu: “Não há tristeza
que possa suportar tanta Alegria”,
justamente uma releitura do carnaval
de 1919, destacando o sentimento dos
cariocas que foram as ruas naquele ano
celebrar o fim da pandemia. O título
do enredo é de um verso de uma marchinha
cantada em 1919 pelo Clube dos
Democráticos, uma das grandes instituições
carnavalescas da época.
O prefeito Eduardo Paes, um conhecido
entusiasta do carnaval, manifestava
otimismo antes do Réveillon. Mas
mesmo antes da disparada de casos,
chamava atenção para o fato de que,
se a situação não piorarasse acentuadamente,
levando a uma suspensão,
ainda assim haverá exigências rigorosas
para os espectadores e os desfilantes no
Sambódromo “Já estamos discutindo
regras muito restritas que serão apresentadas
a nosso comitê científico. Estamos
inclusive nos utilizando do belo
exemplo estabelecido pela direção do
Flamengo que consideramos um caso
de sucesso. Ou seja, não teremos necessariamente
uma decisão uniforme
sobre todas as formas de celebração da
maior manifestação cultural de nosso
país”, comentou o prefeito. Agora, só
resta aguardar, porque a brincadeira
promete – seja na data marcada, seja
quando for.
6 RIO•JÁ
RIO•JÁ 7
carnaval2022
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ASSISVALENTE
PROFÉTICOEM
1938,COMOSAMBA
“EOMUNDONÃO
SEACABOU”
l O Carnaval de 1919 foi transformador para os costumes da época. Nelson
Rodrigues dizia que foi naquele ano que viu pela primeira vez um umbigo
de fora. Além da erotização do modo de vestir, as marchinhas que ficaram
na história mostram que o povo não estava para brincadeira:
“Na minha casa não racha lenha / Na minha racha, na minha racha / Na
minha casa não falta água / Na minha abunda”.
Passadas duas décadas, em 1938, Carmen Miranda, o maior ícone carnavalesco
brasileiro de todos os tempos, gravou o samba de Assis Valente “E o
mundo não se acabou”, um verdadeiro retrato de época.
E O MUNDO NÃO
SE ACABOU
“Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar
Por causa disso, a minha gente
lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer
antes da madrugada
Por causa disso, nessa noite,
lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
de aproveitar
Beijei na boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
“Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar
Por causa disso, a minha gente
lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer
antes da madrugada
Por causa disso, nessa noite,
lá no morro não se fez batucada
Chamei um gajo com quem
não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho, vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
“Anunciaram e garantiram
que o mundo ia se acabar
Por causa disso, a minha gente
lá de casa começou a rezar
E até disseram que o sol ia nascer
antes da madrugada
Por causa disso, nessa noite,
lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando
de aproveitar
Agora eu soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou”
TRINCA DE ASES: Justa homenagem aos grandes Cartola, Delegado e Jamelão
NOSENREDOS,
IMPERAO
ANTIRRACISMO
EORESPEITOAOS
GÊNIOSDOSAMBA
JAN THEOPHILO
Passados quase dois anos de
pandemia, das 12 escolas de
samba do Grupo Especial,
apenas duas mudaram de tema
no meio do caminho. A São Clemente
trocou “Ubuntu”, por uma homenagem
ao ator Paulo Gustavo, morto pela
Covid-19, em maio do ano passado. Já
a Paraíso do Tuiuti que havia planejado
um enredo sobre os bichos, desenvolverá
“Ka ríba tí ÿe - Que nossos
caminhos se abram", que falará sobre
luta, sabedoria e resistência negra. A
temática negra, aliás, estará fortemente
presente no próximo desfile.
Na busca pelo seu décimo título, o
Salgueiro quer levantar um coro de
respeito à ancestralidade e as lutas pela
igualdade, com “Resistência”, retratando
locais do Rio de Janeiro marcados
como pontos importantes de resistência
cultural preta. A Beija-Flor trará o
manifesto de Nilópolis com o enredo
"Empretecer o pensamento é ouvir a
voz da Beija-Flor", que tem a proposta,
segundo a escola, de "enaltecer as
glórias e as histórias dos negros", sem
deixar de abordar a luta contra o racismo.
E a Portela vai levar para a Sapucaí,
o enredo "Igi Osè Baobá", que contará
a história e retratará a simbologia dos
baobás -- árvores gigantescas e milenares
originárias da África. A presença
de baobás no Brasil e o legado cultural
dos milhões de seres humanos escravizados
trazidos da África também terão
destaque no desfile da escola.
Outras duas escolas vão apresentar
temáticas sobre as nossas origens africanas:
a Mocidade, com uma homenagem
a Oxóssi, e a Grande Rio, por sua
vez, saudará Exu. A Mocidade Independente
de Padre Miguel levará para
a Sapucaí o "Batuque ao Caçador", um
tema afro que terá o orixá como figura
central. A escolha atende a um desejo
antigo da comunidade, já que uma das
marcas de sua bateria “nota 10” (“não
existe mais quente”) é justamente o toque
de caixa em homenagem a Oxóssi.
Enquanto a atual vice-campeã, Acadêmicos
do Grande Rio desenvolverá
o enredo "Fala, Majeté! Sete chaves de
Exu", contando histórias ligadas à simbologia
da entidade do candomblé.
Vila Isabel, Mangueira e Imperatriz
escolheram celebrar nomes importantes
de suas próprias “casas”. É o
caso da Vila Isabel, que com “Canta,
canta minha gente! A Vila é de Martinho!”,
prestará tributo ao compositor
Martinho da Vila. As outras duas farão
homenagens triplas. O enredo da Imperatriz
Leopoldinense, "Meninos, eu
vivi... onde canta o sabiá, onde cantam
Dalva e Lamartine", que além de reverenciar
dois grandes nomes do carnaval
carioca, Dalva de Oliveira e Lamartine
Babo, vai homenagear também o carnavalesco
Arlindo Rodrigues, morto
em 1987, responsável pelo primeiro bicampeonato
da escola, em 1981, com
famoso enredo "O teu cabelo não nega"
(“Nesse palco iluminado/Só dá Lalá/És
presente imortal/Só dá lalá’). Finalmente
a Mangueira deita uma trinca
de ases verde-rosa com a lembrança de
Cartola, Jamelão e do lendário lendário
mestre-sala Delegado com o enredo
"Angenor, José e Laurindo".
Esperadas ainda serão as apresentações
da Viradouro, única escola a relembrar
o famoso carnaval de 1919 e
que tentará conquistar o bicampeonato
com o enredo “Não há tristeza que pode
suportar tanta alegria”, e da Unidos da
Tijuca. A escola promete uma viagem
fantástica para contar a lenda da origem
do nosso guaraná em “Waranã –
A Reexistência Vermelha”, segundo o
“socialismo indígena” seja lá o que isso
signifique. Mas relaxe, afinal, vai tudo
se acabar na quarta-feira.
8 RIO•JÁ
RIO•JÁ 9
carnaval2022
MAIS DICAS DE CARNAVAL? ACESSE: www.rioja.com.br
INGRESSO? DIFÍCIL. VACINA? É BOM ESTAR PREPARADO
e o povo também. Carnaval no Rio tem
que ser na Sapucaí. Todo mundo chega
cedo no Sambódromo, já a partir das 4
horas da tarde”. Sobre o sentimento ao
pisar a Avenida, ela resume, com toda a
simplicidade: “Quando o carro alegórico
faz a curva na Sapucaí, a emoção é
muito grande, nem sei como explicar.
Se não tiver o coração firme, tenho até
um piripaque”.
Se a pandemia lhe trouxe grande tristeza
com a ausência da Sapucaí, o ano de
2021 também não foi fácil. No início de
dezembro, Tia Surica chorou a perda do
grande amigo Monarco, seu parceiro na
Velha Guarda Show da Portela. Os dois se
apresentavam em casas de espetáculos
e diversos eventos, sendo reverenciados
dentro e fora do Brasil. Aos 88 anos, Hildemar
Diniz (nome de batismo do baluarte)
se despediu deixando saudades.
– Vai fazer muita falta. Ele foi um grande
compositor, teve suas músicas gravadas
por muitos cantores. Perdemos um
grande artista e um ícone do mundo do
samba – relembra Surica, que conhecia
Monarco e sua família desde os tempos
de adolescente.
Para ela, a responsabilidade de conduzir
sozinha os shows à frente da banda
que os acompanhava vai ser grande.
“Mas a gente vai se acostumando”, afirma
a cantora, resignada.
A matriarca da Portela tem muita hisn
O desejo de deixar as tristezas de lado
e vibrar na avenida, torcendo pela escola
do coração, é tamanho que em pouco
mais de um mês todos os ingressos das
frisas e camarotes para o próximo carnaval
já estavam vendidos. Em meados de
dezembro, metade dos ingressos para
as arquibancadas estavam esgotados. E
enquanto as autoridades não definiam
os estatutos da gafieira, a Liga Independente
as Escolas de Samba (Liesa)
estudava formas para estabelecer, caso
necessário, apresentação de comprovantes
de vacina para quem for desfilar
na avenida. Para buscar as entradas
ainda disponíveis, visite nosso blog
www.rioja.com.br.
n Como os melhores lugares já foram
vendidos, uma alternativa é passar a
madrugada no sereno, sentado no concreto,
no alto do setor 2 (o mais barato,
com ingressos a partir dos R$ 118). Há
10 RIO•JÁ
quem goste. O mais confortável, porém,
é comprar um ingresso para uma festa
de camarote. Foram-se os bons tempos
em que as pessoas sonhavam em ganhar
as famosas camisetas-ingresso para as
grandes bocas livres, com comida de
primeira, cercadas de celebridades em
gigantescos espaços montados pelas
empresas, em especial as cervejarias.
n Ainda existem camarotes corporativos
onde o lobby come solto, mas a crise
é grave e eles já não ostentam mais
como no passado. As festas, entretanto,
mantém esse espírito. Elas oferecem,
além do tradicional serviço all inclusive,
shows com DJs nos intervalos dos
desfiles, além de atrações variadas,
dependendo do bolso do folião.
Os ingressos mais em conta estão pela
faixa dos R$ 1.000 cada noite, por pessoa.
Mas há entradas ubervips onde o
valor chega aos dois dígitos.
n Ainda no fim de dezembro, o
presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro,
disse em entrevista à CNN que, caso
haja a necessidade do passaporte
vacinal, a liga estará preparada para
sua implementação. Segundo ele,
uma ideia é adotar no carnaval do Rio
o mesmo aplicativo usado no Grande
Prêmio da Fórmula 1, em São Paulo,
e não haverá a necessidade de levar
comprovante impresso, mas apenas
digital. “Como é um evento fechado,
fica viável fazer o controle. Temos
ainda quase três meses, mas estamos
nos antecipando para, caso tenhamos
que apresentar um passaporte de
vacinação, estarmos preparados. E
isso valerá até para os componentes
das escolas. Estamos anunciando nas
quadras para que, quem for desfilar,
apresente o comprovante de vacina
para poder desfilar”, explicou ele na
entrevista.
TIA SURICA
O FEIJÃO QUE
É PATRIMÔNIO
NACIONAL
ROSAYNE MACEDO
Aos 4 anos, ela já desfilava na
Portela, agarrada na saia da
mãe, Dona Judith, e vigiada de
perto pelo pai, Seu Pio. Irenete
Ferreira Barcellos, nascida e criada em
Madureira, berço da Azul e Branco na
Zona Norte do Rio de Janeiro, ganhou
o apelido de Surica ainda na infância.
E nunca mais largou a paixão pela Majestade
do Samba. Hoje, aos 81 anos, a
mais antiga pastora do samba carioca
não esconde a emoção de voltar a pisar
a Avenida após um ano de jejum forçado
pela pandemia.
Já em ritmo de Carnaval, ansiosa para
ver a Águia Altaneira voltar ao Sambódromo,
Tia Surica, como passou a ser
chamada, conversou com a RIO JÁ sobre
sua expectativa para o desfile de 2022.
– Todo mundo tendo a sua responsabilidade,
agindo corretamente e seguindo
as regras sanitárias, vai dar tudo certo.
Estou munida com a terceira dose da vacina
contra a Covid-19 e também imunizada
contra a gripe – conta.
– Saúde é o mais importante, não
adianta ter dinheiro nem fama – sentencia.
Cultuada pelo também portelense prefeito
do Rio, Eduardo Paes, que garantiu
o desfile de 2022, Surica não poupa
elogios à decisão. “Todo mundo apoia
tória para contar. Em 1966, tornou-se
a primeira mulher a puxar um samba-
-enredo na Avenida. Ao lado de Maninho
e Catoni, interpretou ‘Memórias de
um Sargento de Milícias’, de autoria de
Paulinho da Viola. De lá para cá, perdeu
a conta de quantas vezes representou a
escola dentro e fora do Brasil, tendo se
transformado em uma das maiores baluartes
do samba.
Cozinheira de mão cheia, a cantora resgatou
a tradição iniciada com Tia Vicentina
e transformou sua casa no ‘Cafofo da
Surica’, onde velhos e novos sambistas se
reuniam à mesa para a feijoada preparada
por ela. Durante 17 anos, o prato que leva
seu nome passou a ser servida uma vez
por mês na quadra da Portela. Nos últimos
anos, com o evento gastronômico
terceirizado pela escola, a matriarca e
suas ‘suriquetes’ chegaram a se transferir
para a quadra da escola de samba ‘Difícil
é o Nome’, em Pilares. mas a tradição foi
interrompida pela pandemia.
No dia em que completou 81 anos, Tia
Surica ganhou um grande presente. Sua
feijoada foi imortalizada como Patrimônio
Cultural Imaterial do Estado do Rio
de Janeiro, por decisão da Assembleia
Legislativa (Alerj), referendada pelo Governo
do Estado. Sobre mais esse reconhecimento,
Tia Surica disse que estava
muito satisfeita com tantas homenagens.
“Estão me dando flores em vida. Tenho
que retribuir todo o carinho que o povo
tem comigo”, afirma. Maior campeã do
carnaval carioca, com 22 títulos, e perto
de completar seu centenário, em 2023, a
Portela também recebeu o mesmo título.
Mais recentemente, Tia Surica e suas
suriquetes voltaram a servir a iguaria
em festas e celebrações especiais. E já
têm diversos convites para 2022. “Antes
e depois do Carnaval, vamos percorrer
o Rio e outros estados. Já temos várias
propostas. Em 2022 vou trabalhar muito”,
diz ela, animada. Sobre o que esperar
do novo ano? A resposta está na ponta
da língua: “Saúde, paz, prosperidade e
muitas realizações. Que seja melhor que
2021 e a gente possa voltar à normalidade.
Vai dar certo, se Deus quiser”.
Se depender da energia e da religiosidade
da Tia Surica, o 23º título da Portela
pode estar a caminho. “A fé remove
montanhas. Eu sempre rezo antes dos
shows e de entrar na Avenida. Vamos
entrar 2022 com os dois pés”, enfatiza.
Sobre o futuro, sentencia: “Não somos
eternos. Espero que os mais novos
dêem continuidade ao trabalho que
fazemos pelo Rio”.
RIO•JÁ 11
carnaval2022
MAIS DICAS DE CARNAVAL? ACESSE: www.rioja.com.br
Moacyr
Luz
compôs
mais
de 100
canções
durante a
pandemia,
mesmo
tendo
perdido
o maior
parceiro
e grande
amigo
Aldir
Blanc
ASempre que o
tempo ajuda, e a
agenda permite,
a turma se reúne
debaixo de uma
árvore do Parque
do Flamengo,
ali pela altura do
Posto 3, toda terça-feira
para um churrasquinho. Defronte
à vista deslumbrante do Pão de
Açúcar, jornalistas, intelectuais e a nata
do samba carioca degustam nacos de
carne enquanto trocam papos cabeça
e bebericam vinhos e cervejas. Instrumentos
musicais não são permitidos,
para que o samba não atravesse as conversas.
“Melhor do que isso bicho, só
nos tempos do Estácio de Sá, quando
diziam que aqui na frente tinha baleias
enormes zanzando pra lá e pra cá”, diz
o consagrado compositor Moacyr Luz,
organizador da festa e fundador do
Samba do Trabalhador, que há 16 anos
anima as tardes de segunda-feira no
Clube Renascença.
Verdadeiro cronista musical do Rio
de Janeiro, ele está se guardando para
quando o carnaval chegar em uma situação
inédita: verá duas escolas de
samba desfilando com sambas seus
pela avenida. “E por pouco não foram
três”, revela ele. “É que fui a uma live
com meu amigo Martinho da Vila e de
repente ele brincou: meu parceiro,
A USINA DO
SAMBA
12 RIO•JÁ
Antonio Pinheiro
JAN THEOPHILO
quando você vai fazer um samba pra
Vila? Eu ia dizer o que? Fiz o samba e
até cheguei na final, mas não ganhei. E
como diz o Wanderlei Borges: pra samba-enredo
não existe segundo lugar”.
Para quem não conhece, Moa, como é
chamado pelos mais íntimos, é da rapaziada
que vai em frente e segura o rojão.
Durante a pandemia perdeu amigos,
colegas de trabalho, músicos, entre
eles, seu grande amigo e principal parceiro,
o compositor Aldir Blanc, uma
das primeiras vítimas da Covid-19.
Juntos os dois emplacaram sucessos
inesquecíveis como “Coração do agreste”
(lançada em 1989 na voz de Fafá de
Belém em gravação feita para a novela
“Tieta”, da TV Globo), “Mico Preto”
(tema da novela homônima também
exibida pela Globo em 1990), “Só dói
quando eu rio” e “Saudades da Guanabara”,
entre vários outros. “Quando eu
liguei pra casa dele e disseram que ele
tinha sido internado eu não acreditei. O
Aldir só saía de casa morto, e, pra mim,
ele era imortal”, lembra.
O CRONISTA MUSICAL DO RIO SÓ
CONSEGUE PARAR DE COMPOR
QUANDO SE PROÍBE DE FICAR
PERTO DE UM VIOLÃO
Moa pode até não admitir, mas sua
história de vida é um baita plot twist
de roteiro de filme norte-americano.
Seu pai morreu quando ele tinha
15 anos. Na semana seguinte uma tia,
vendo-o amoado (sem trocadilhos)
recomendou-lhe que acompanhasse
o primo, que tinha aulas de violão com
Helio Delmiro (uma das maiores referências
no manejo deste instrumento
no Brasil), para ver se arejava a cabeça.
Após chegar na modesta casa do mestre
no Méier, sentou-se na varanda para
esperar o fim da aula até que, ao ouvir
os famosos acordes do tema da novela
“O Bem Amado”, teve uma epifania.
“Quando vi já estava tomado pela
música”, conta. Helio afeiçoou-se ao
rapaz, que sem grandes urgências na
vida, passou a acompanhá-lo em conversas
e ensaios com pessoas de quem
ROSAYNE MACEDO
ele até então remotamente tinha ouvido
falar, como Elizeth Cardoso ou Vitor
Assis Brasil. Viveu cinco anos nesse
cenário.
“O que eu queria mesmo era ser instrumentista,
só que eu pegava o violão
e não conseguia estudar, só saía música,
música, música. Mas acho que essa
história com o Helio Delmiro não foi o
meu start pra esse negócio. Foi mesmo
o talento de nascer com esse negócio de
fazer música, bicho”, diz Moa. “Porque
meus primos outro dia estavam lembrando:
eu não tinha a menor ideia de
nada e desde cedo fazia música para todos
eles. Depois, à medida em que fui
ficando mais velho, fiz música pra empregada,
pro porteiro... Desde garoto,
sempre fazendo música”. Segundo seus
cálculos, durante a pandemia compôs
mais de 100 canções. “Hoje mesmo,
antes de vocês chegarem, fiz duas músicas”,
diz, rindo.
O coautor de “Saudades da Guanabara”
não é nem um pouco saudosista.
“Eu não vi o Cartola tocar. Não convivi
com o Cartola, reconheço o Cartola,
mas convivi com o Luiz Carlos da Vila.
E eu aprendi a respeitar o que me é contemporâneo,
as coisas que eu vivo”,
diz ele, recorrendo a um exemplo de
fácil entendimento pela boa boêmia:
“eu conheci o Bar do Adonis antigo, o
do seu Arnaldo, já falecido. Aí vem um
pessoal hoje criticar o João, que comprou
o Adonis por isso e mais aquilo.
Mas a verdade é que o Adonis de hoje é
muito melhor do que o de antigamente”,
afirma.
E prova maior de que do caldeirão
criativo de Moa não há compromisso
com o atraso é sua mais nova e surpreendente
parceria, com o não menos
famoso DJ e compositor Marcelinho
da Lua, nome de especial relevância na
cena sonora que mistura ritmos brasileiros
com batidas eletrônicas. O resultado
é o álbum “Diz Humanos”, com
previsão de lançamento para o começo
de 2022 e participação de nomes como
Martinho da Vila, Frejat, Jards Macalé
e Xande de Pilares, entre outros. “Tem
essas coisas de compositor, né? Um dia
ele me deu umas quatro páginas manuscritas
e falou preu dar uma lapidada
e ver se saía uma letra. Eu falei, tá
maluco? Fiz a música usando todas as
quatro páginas. Você vai ouvir. São cinco
minutos de bordoada”, diverte-se.
RIO•JÁ 13
carnaval2022
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Do “Samba do Trabalhador” e dos
melhores botecos do Rio até as
filas dobrando quartiers para
ouvi-lo na noite de Paris
l RIO JÁ - O samba agoniza,
mas não morre?
n MOA -Vou te dizer uma coisa. Daqui a
100 anos no mundo só vai ter as baratas
e o samba. Porque sempre vai ter um
cara tocando um tamborim, um cavaquinho.
E hoje eu tenho visto uma
geração de novos compositores muito
boa. O problema é que o repertório está
meio saturado. Vou te dar uma ideia a
partir de um samba maravilhoso, para
não dizerem que eu falei mal de nenhum:
você passa no Carioca da Gema e
escuta “Vejam essa maravilha de cenário”,
anda mais um pouquinho, chega
no Dama da Noite
e tem outro cantando
“é um episódio
relicário”, e
por aí vai. Então
os novos
compositores
têm dificuldade
para mostrar suas
composições, e isso dificulta
a renovação. E ainda
tem uns militantes cariocas que
trabalham muito. Porque eles tão no
Bip Bip, eles tão no Largo da Prainha,
no Circo Voador, e são sempre os mesmos.
É uma responsabilidade. Tem que
se encontrar um novo grupo de cariocas.
Porque o pessoal tá indo embora: Jaguar,
Fausto Wolff, Albino Pinheiro. Esses caras
é que seguravam a onda do Rio e não
deixavam o mau humor tomar conta.
l É verdade que você ficou decepcionado
com o cancelamento dos shows
do Réveillon?
n Bicho, eu ia realizar um sonho meu.
Fui selecionado para tocar num palco
aqui na praia do Flamengo com o Samba
do Trabalhador e minha ideia era
chamar todo mundo, dos músicos aos
garçons do Renascença para fazer uma
baita festa aqui em casa. Ia todo mundo
tomar banho aqui depois da passagem
de som e ninguém ia esquentar cabeça
com traslado, burocracias e tal. Mas almocei
com o prefeito semana passada
e a opção foi por ter queima de fogos e
DJs. Eu, por mim, faria o Réveillon. A
pandemia está bem controlada, pelo
menos no Rio de Janeiro. Isso se o presidente
não inventasse coisas. Eu lá em
Paris tive que tirar a carteira sanitária,
senão você não entra nem na padaria.
Mas acho que o prefeito optou por não
fazer bagunça nenhuma no Réveillon
pra ter lastro pro carnaval.
l Como é ter dois sambas na
avenida no mesmo Carnaval?
n Tô vivendo uma experiência maluca
rapaz. Dois sambas: Tuiuti e Mangueira.
Eu já fiz uns seis sambas pra Renascer de
Jacarepaguá, ganhei até Estandarte de
Ouro (tradicional premiação organizada
pelo jornal O Globo no Carnaval). Depois
fiz mais três pra Tuiuti, um até que ajudou
a escola a conquistar um segundo
lugar em 2018. Fiz pra Grande Rio em
2019. Mas o primeiro que fiz mesmo foi
pra Mangueira, em 1998, cujo enredo
era sobre o Chico Buarque, mas fiquei
na final. Outro dia eu estava pensando
nessa coisa: acho que sou um dos únicos
compositores que já gravou com a Nana
Caymmi e com as escolas de samba.
l Tem diferença entre as duas escolas?
n É uma ciumeira danada (rs). Mas são
coisas diferentes. Quando fiz o primeiro
samba da Tuiuti, foi uma coisa
importante. Porque ele fugiu muito do
formato. E eu, fazendo um samba pruma
escola pequena, soube que a Midia
Ninja tinha divulgado para mais de um
milhão de pessoas. Tuiuti não é Mangueira.
Ninguém nasce Tuiuti, só quem
mora ali. Já Mangueira não. O Clinton
é Mangueira. Mas depois do Midia
Ninja o samba começou a ser cantado
e explodiu de uma tal maneira que eu
não esperava. Mas a Mangueira é uma
coisa diferente. Não é só uma escola de
samba, é uma comunidade, uma coisa
internacional. Quando eu ganhei o
samba da Mangueira, meu zap parou de
funcionar, porque entraram umas 500
mensagens ao mesmo tempo. De todos
os lugares, Portugal, Japão... Quando
eu cheguei em Paris agora pra tocar,
todo mundo já sabia o samba.
l Como foi o retorno do Samba do
Trabalhador depois da pior fase
da pandemia?
n A gente já tem 16 anos de Samba do
Trabalhador né? Quando começou
parecia uma coisa folclórica, segunda-feira
de tarde, engraçadinho, mas
ali tinha gente tocando entendeu? E a
gente foi conquistando as pessoas. Em
junho, quando deram uma relaxada, a
gente voltou com aquele esquema de
mesas separadas e tal. Mas achamos que
estava uma coisa meio triste e demos
uma nova parada. Voltamos em novembro,
e no dia 15 tocamos para mais
de duas mil pessoas. Vou te confessar
que meu sonho é ser que nem o Woody
Allen: tocar só as segundas-feiras no
Rio de Janeiro. Mas o Rio é uma cidade
que não tem muita compostura. Fui
a um aniversário ontem e já tinha um
violão lá. Fiquei doido pra tocar e acabou
que toquei uma hora. Aí o dono da
casa chegou e brincou: “pô, porque eu
vou pagar pra assistir o Moacyr?” (rs)
14 RIO•JÁ
RIO•JÁ 15
carnaval2022
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Sem preconceitos: o novo disco,
‘Diz Humanos’, que sai este
ano, tem parceria com o DJ e
compositor Marcelinho da Lua
l Como tem sido sua agenda de shows?
n Tenho feito uma média de 20 shows
por mês. Não tenho mais saúde pra isso.
Um amigo diz que eu faço mais show
que a Anita. Tenho tocado muito em São
Paulo e sabe que os caras lá estão tocando
bem? O meu querido amigo Eduardo
Gudin tinha uma bronca danada
do Jaguar porque ele dizia que o samba
de São Paulo era meio boiola, culpa do
Adoniran Barbosa, que segundo ele, era
um tremendo boiola por aquela música
“minha mãe não dorme enquanto eu
não chegar”. Que papo é esse, pô?
l Você perdeu na pandemia Aldir Blanc,
que foi um grande amigo e parceiro.
Como foi lidar com essa perda?
n Agora saiu um disco póstumo dele.
Eu tenho três músicas no disco. Uma
delas eu mostrei pra Maria Bethânia. Foi
em 2017 que a gente fez essa música e
combinou: essa música é pra Bethânia.
E ela gravou a música. Então se existir
essa dimensão aí ele deve ter ouvido
a música. E ficou boa, muito bonita a
música. Eu tenho um disco pela DeckDisc,
“Violão e voz”, onde eu faço
a seguinte dedicatória: “Dedico esse
disco ao Helio Delmiro que me ensinou
a ouvir, e a Aldir Blanc, que me ensinou
a falar”. Então eu aprendi muito com
o Aldir. Principalmente essa coisa de
Rio de Janeiro, que eu já trazia, mas ele
me trouxe Lan, trouxe Chico Caruso,
Jaguar, o Chico Paula Freitas. Umas figuras.
Uns 20 dias antes dele morrer
eu ainda brinquei com ele, porque ele
andava numa fase muito recluso, ele
chegava a ficar dois anos sem sair de
casa às vezes, e eu dizia: escreve um
manual como é que se fica em casa sem
sentir falta da rua. Hoje seria um best
seller de auto-ajuda!
l Dois anos sem sair de casa?
n Tem uma história do Aldir que eu adoro
contar. Eu tinha feito uns shows do
projeto Pixinguinha. Viagens longas,
cansativas. Nós moramos 23 anos no
mesmo prédio. Eu no 103 e ele no 402.
16 RIO•JÁ
Aí eu estou voltando pra casa, no táxi,
só pensando na minha cama. Quando
desço do carro, o Aldir tá na janela”
“Moa, preciso falar contigo”. Liguei
e ele perguntou “vamos pra Lambari?”.
Eu tinha acabado de chegar, tava
morto. E ele “ah, sacanagem, se você
não for eu não vou”. Aí a mulher dele
me ligou: “pô Moacyr, o Aldir está a
fim de sair de casa, Finalmente. Faz
esse esforço”. Tá bom, e lá fomos pra
Lambari parando em cada botequim no
caminho. Oito horas de estrada. A casa
era de um amigo nosso, Chico Botelho,
que tinha ganho um dinheiro e construiu
uma casa enorme, com campo de
futebol e tinha umas suítes tipo: “suíte
Aldir”, “suíte Moacyr”. Quando chegamos
o Aldir me pediu ajuda com as
coisas dele. Eram quatro malas, enormes.
Pensei, “pô, prum fim de semana,
quatro malas?” Aí ele abriu a primeira
mala e tirou um abajur sanfonado. O
resto era livro. E eu só o vi naquele dia,
o resto ele passou enfurnado na suíte até
a hora de ir embora.
l Como se dá essa capacidade
industrial para compor?
100 músicas na pandemia...
n Vou te contar uma história. Um dia o
Zeca Pagodinho, meu grande amigo,
falou que tínhamos de compor uma
música juntos. Era uma segunda-feira,
e eu tinha de tocar no Samba do
Trabalhador. “Mas hoje é que era o dia,
estou animado”, disse ele, e marcamos
para o dia seguinte. Fui fazer o show e
quando terminei tinha um monte de
mensagens do Zeca “atende aí, atende
aí, tenho a letra pra você”. E ele me
mandou uma foto de uma letra manuscrita.
No caminho pra casa olhei aquela
letra, transcrevi pro computador, tomei
um banho, peguei um vinhozinho
do porto para baixar a bola, olhei a letra
de novo e fiz a música em cinco minutos.
Acordei no dia seguinte com ele
cancelando o nosso encontro, porque
estava na maior ressaca e precisava ir
à gravadora. “Já fiz a música”, disse a
ele. “Como assim, era 1h da manhã? Me
manda aqui pro e-mail da gravadora”.
Deu um tempo e ele ligou mandando
me vestir e ir pra Barra almoçar com
o presidente da gravadora. A música
chama “Enquanto deus me proteja” e
entrou nesse disco mais recente dele.
l Você voltou recentemente de uma
turnê na Europa, como foi a viagem?
n Engordei oito quilos, bicho. Um amigo
meu que tem dinheiro foi me acompanhando
e no primeiro hotel que a gente
chegou em Paris ele viu que o café da
manhã custava 18 euros. Fui pro quarto
e ele me ligou dizendo que na frente
do hotel tinha um bar de ostras com
espumante que custava os mesmos 18
euros. Aí não tinha jeito. Já engrenava
de manhã assim.
l E a receptividade do público?
n Vou te contar que teve uma hora que
achei uma loucura aceitar fazer o show
em Paris. Não sabia como tava minha
moral por lá. A casa ficava numa
ruazinha estreita, com um bar onde
me sentei com meu amigo e ficamos
conversando até que reparei numa fila
e pensei: “Não é possível que essa fila
toda seja pra mim”. E não é que era bicho?
Ficou gente de fora. Impressionante.
Não me pergunte como, mas
todo mundo sabia todas as músicas.
l O que mais elas pedem?
n Dessa vez teve umas coisas inusitadas.
Uma música que eu fiz, a Rosa Passos
gravou e eu já nem sei mais tocar chamada
“Paris - de Santos Dummont aos
travestis”, minha e do Aldir; tem também
“Toda hora” e “Cabô meu pai”, que
o Zeca gravou, e, claro, “Saudades da
Guanabara”. Tem sempre alguém que
chora de saudade de saudades do Rio.
ARTIG
WASHINGTON QUAQUÁ*
A DEMOCRACIA É O
INVESTIMENTO DE 22!
Winston Churchill, o primeiro-
-ministro conservador inglês,
herói da resistência ao nazismo,
ao lado de Stálin e Roosevelt, disse
que: “A democracia é o pior dos regimes
políticos, mas não há nenhum sistema
melhor que ela”.
Na verdade, fora da arte, há pouca
coisa da construção humana que não
tenha defeitos razoáveis, e quanto mais
coletiva é a empreitada, mais defeitos
tende a ter. Mas são justamente esses
defeitos suas maiores virtudes, pois
somos seres dotados de inteligência e
individualidade e a média tende sempre
a uniformizar padrões, desagradando
uma parcela do todo. Mas, pelo menos,
o desejo e os interesses das maiorias podem
ser ouvidos e atendidos na arena
da democracia.
Surgida na humanidade, de fato, com
a luta contra o autoritarismo do estado
absolutista, embora inspirada na
filosofia e na prática grega clássica da
Antiguidade, que era assentada sobre a
escravidão e praticada apenas pela elite
econômica e socialmente minoritária,
na modernidade, em seu renascimento
no iluminismo oitocentista, a democracia,
forjada na filosofia que brotou
da aliança das classes populares com
a burguesia, em oposição a nobreza e
estado absolutista, foi equipada com
instrumentos de preservação também
dos interesses das minorias.
O modelo liberal clássico da democracia,
com a instituição do voto universal;
da separação entre os poderes
independentes mas harmônicos, com
seus pesos e contrapesos, com o objetivo
de evitar a hipertrofia de um sobre
outro; da preservação de direitos e garantias
individuais, como a inviolabilidade
dos lares, dos dados e informações
Hippertt
pessoais, do direito à privacidade e à
opinião; do direito à propriedade para
todos e sem monopólio; do direito à
justiça e a um julgamento justo, com a
presunção da inocência e com o amplo
direito a defesa, tendo a privação de
liberdade como recurso ultimo e excepcional;
etc…
Todos estes princípios consagrados
pelas revoluções inglesa, francesa e
americana, e aprofundados pela social-democracia
com a acoplamento
do Walfare State, o estado de bem estar
social, nos países desenvolvidos, garantindo
emprego, aposentadoria, melhores
salários e melhores condições
de vida para as classes trabalhadoras,
constituíram um imenso avanço para
a humanidade.
Mas com o extraordinário avanço
cientifico e tecnológico dos anos 80 e
90 do século XX, e o consequente aumento
da produtividade da economia,
ao invés da humanidade avançar no
caminho de novas formas de organização
societária, o que se viu foi um
imenso retrocesso.
Primeiro, as grandes corporações
financeiras sequestraram e monopolizaram
a economia, a cultura, as sociedades
e o sistema político.
Mais recentemente, estas mesmas
corporações passaram a controlar
grandes empresas de tecnologia da
informação e suas redes sociais passaram
a sequestrar as mentes, a opinião
e, por fim, a democracia, já combalida
pelo domínio das finanças e do capital
sobre ela.
Sob a ideologia do combate ao terrorismo,
potencializada com os ataques
de 11 de setembro sobre os EUA, se
corroeu a liberdade. Todo um modelo
de controle sobre as liberdades individuais
foi instituído globalmente, reforçando
a xenofobia e se instituindo um
estado policial.
Houve uma hipertrofia do judiciário
e uma crescente criminalização do espaço
público e da política, associada à
sua mercantilização e desmoralização.
Esse ano o Brasil tem eleições para
Presidente da República, para o Congresso
Nacional, para governadores e
para as assembleias estaduais. Depois
de 6 anos de desastre, é a oportunidade
que temos de investirmos nossos esforços
cívicos para recompor a democracia
brasileira. Refazer o pacto político e
social estabelecido no fim da ditadura,
expresso no espirito, nos princípios e
nos artigos da Constituição de 1988.
Enterrar os esqueletos autoritários da
casa grande e dos quartéis e promover
um amplo pacto social e de fortalecimento
da democracia. Esse é o melhor
investimento para o Brasil.
*WASHINGTON QUAQUÁ É CIENTISTA SOCIAL
E UM DOS EDITORES DA RIO JÁ
RIO•JÁ 17
REVEILLON•
OS FOGOS DA
BARRA
SEPETIBA
COPACABANA
A pandemia, quem
diria, democratizou o
réveillon: teve festa
mais modesta em
Copacabana, mas a
alegria se voltou para
a periferia, com fogos
na Penha, Bangu e na
cidade inteira
EMOCRACIA
MADUREIRA
l O sofrimento ensina, o perigo nos
torna prudentes, a doença nos faz
precavidos – mas nem por isto estes
percalços da vida, já há mais de dois
anos causados por uma das maiores
pandemias da história da humanidade,
nos impedem de festejar o que precisa
ser celebrado, como sempre foi: a mudança
dos anos, na forma da renovação
da esperança e da crença, teimosa mas
necessária, de que amanhã há de ser o
outro dia. Melhor, sem dúvida.
A oportunidade de que o novo ano
seja melhor está dada, oferecida, na
proposta de luta, de resistência e, em
outubro, de uma eleição geral que –
quem sabe? – faça o país e as nossas
vidas voltarem aos trilhos.
O réveillon não foi uma festa politizada
nesses termos explícitos. Nem
precisava. Mas o pano de fundo da
vontade de mudar estava lá, perceptível,
para quem quisesse ver. Nunca,
como desta vez, o desejo de saúde foi
tão literal, acompanhado do respeito à
ciência e à luta contra a doença.
O respeito à saúde levou o Rio de
Janeiro à atitude sensata de limitar a
festa dos fogos em Copacabana. Menor,
sem o descontrole de multidões
BANGU
que costumam ultrapassar 1 milhão
de pessoas, sem os shows que obrigam
o público a se aglomerar no gargarejo
dos palcos.
Ainda assim, instalou-se a suspeita
de que as festas de fim de ano, onde
quer que tenham acontecido, possam
ter levado a um aumento do número de
casos de Covid19, hoje preocupantes,
embora, felizmente, sem um aumento
equivalente no número de óbitos e
casos graves de internação.
Mas ainda assim, mesmo com reduzida
aglomeração, e com os incidentes
de sempre, como alguns assaltos e tentativas
de arrastões, foi um congraçamento
de cariocas e turistas esperançosos
de em 2022 melhor e uma bonita
festa de 16 minutos de fogos.
A novidade, mais do alvissareira,
neste ano de limitações forçadas ao
acesso à praia de Copacabana, foi a
alternativa criada por muitos bairros
do Rio, do qual normalmente as pessoas
saíam, no últrimo dia do ano, para
lotar a orla mais famosa do mundo.
Teve festa de fogos em inúmeros
bairros da cidade, mais modetsas, claro,
mas nem por isso menos alegres.
Festa de fogos em Bangu, festa de fo-
PENHA
gos na Penha e muitas festas em outros
locais que, ainda que já acontecessem
antes, desta vez ganharam destaque e
o carinho dos seus moradores.
Assim, curiosamente, a “censura”
imposta pela Covid19 acabou por democratizar
a festa pública e coletiva
de réveillon, espalhando sua alegria
pela cidade.
O carioca mostrou, definitivamente,
que é um povo que não se rende. Não
permite que sua alegria seja roubada.
O carioca mostrou, na vidada do
ano, o que já se sabe dele: combaterá a
pandemia, vacinando-se, cuidará de
sua saúde e fará sua parte para livrar
o Brasil da “inhaca” que está está enfrentando
desde o fatídico ano de 2016.
Na última noite do ano, horas antes
dos fogos, muitos cariocas tomaram
a providência oportuna de fazer barulho,
batendo panelas nas janelas e
varandas. Panelas, fogos em Copacabana
e na periferia, gritos de protesto
e de alegria.
Mais carioca, impossivel!
Tudo é permitido desde que a nossa
emoção sobreviva.
Viva 2022, e viva mais ainda 2023,
que pode trazer um novo Brasil.
18 RIO•JÁ
RIO•JÁ 19
VERÃO•
PARAÍSOS
Praias, ilhas e cachoeiras ainda pouco
conhecidas são novos atrativos da
temporada pós-pandemia no Estado do Rio
Que o Rio de Janeiro continua
lindo, disso ninguém
duvida. Mas suas belezas
naturais vão além dos cartões
postais da Cidade Maravilhosa
e das praias badaladas da orla
da Zona Sul. Há lugares ainda pouco
conhecidos no litoral fluminense e da
capital, não somente pelos turistas nacionais
e estrangeiros, mas até mesmo
por cariocas e fluminenses. São praias,
ilhas e cachoeiras - algumas até secre-
MARTINS DE SÁ
PARATY
l Localizada na Reserva Ecológica
da Juatinga, uma Área de Proteção
Ambiental (APA) em Paraty, Martins
de Sá é um dos lugares secretos do
Estado do Rio, selecionados pelo Guia
Viajar Melhor. Com grande faixa de
areia clara e fina, tem um rio que desemboca
em um mar limpo e transparente
e algumas cachoeiras. O paraíso
pertence a uma única família caiçara,
autorizada a viver ali. Nascido e criado
no lugar, Seu Maneco protege e cuida
do local e transformou o quintal em
camping.
ILHA DE ITACURUÇÁ
MANGARATIBA
l Ainda na Costa Verde, mas sem
a fama de Paraty e Angra dos Reis,
Mangaratiba é banhada por um mar
de águas verdes e transparentes,
com mais de 30 ilhas e 100 praias. Um
dos destinos imperdíveis é a Ilha de
Itacuruçá, localizada no distrito de
mesmo nome, bem perto do município
de Itaguaí e da Zona Oeste do Rio.
Além de conhecer de perto a vida simples
dos pescadores, dá para aproveitar
praias urbanizadas e desertas
em passeios de barco. De Itacuruçá
também parte uma barca com destino
à também bela, porém bem mais
popular Ilha Grande.
tas ou pouco visitadas - que vale a pena
conhecer, especialmente no período
de verão.
Com o avanço da vacinação e o turismo
consciente e responsável em alta
nesses tempos pós-Covid-19, é hora de
explorar novos destinos sem precisar
sair do estado. E o melhor: tudo ao ar
livre, de forma saudável e sustentável e
sem gastar muito. A cadeia do turismo,
que sofreu demais durante a pandemia,
agradece e merece também esse incentivo.
Importante, é claro, não esquecer
o passaporte sanitário em dia - preferencialmente
com a terceira dose da
vacina - e observar as medidas recomendadas
pelos profissionais e autoridades
de saúde, que podem variar a
cada município.
Para dar uma ‘mãozinha’ aos ‘turistas
acidentais’, a RIO JÁ separou uma
lista de cinco lugares incríveis, alguns
quase intocados, que não só merecem
ser visitados neste verão, como ao longo
de todo o ano, em viagens curtas de
finais de semana e feriados ou mesmo
nas baixas temporadas, para quem procura
menos agito e baixo custo. Vale
dar uma conferida nessa lista elaborada
a partir de sites de viagens e dicas de
viajantes.
SERRINHA DO ALAMBARI
RESENDE
l Vizinha da já badalada Visconde
de Mauá, a Serrinha do Alambari, em
Resende, é um paraíso verde dentro
do Parque Nacional de Itatiaia. Entre
as principais atrações da Área de
Proteção Ambiental (APA) estão os
poços de Cima, Esmeralda, Sauna e
Bananal e as quase selvagens cachoeiras
do Poço do Céu e o Poço do Dinossauro,
com águas bem azuis, ideais
para nadar e tirar fotos. Como o lugar
é todo cercado por matas, as trilhas
também fazem parte dos passeios. Há
quem prefira se hospedar em Penedo
ou Visconde de Mauá, que ficam bem
perto e com mais opções disponíveis.
PRAIA DO SECRETO
RIO DE JANEIRO
l Não à toa a Praia do Secreto ganhou
esse nome. Localizada no Recreio
dos Bandeirantes, na Zona Oeste do
Rio de Janeiro, a praia quase não tem
faixa de areia e se transforma em uma
pequena piscina natural de águas
azuis e cristalinas quando a maré
está mais alta; O acesso não é fácil: é
preciso passar por uma trilha íngreme
ou em meio às pedras na Praia da
Macumba. O pequeno oásis é pouco
movimentado, especialmente durante
a semana.
ESCONDIDOS
ILHA DO JAPONÊS
CABO FRIO
l Com águas cristalinas, leves ondas
e um ambiente bem arborizado, a Ilha
do Japonês, em Cabo Frio, proporciona
uma sensação de relaxamento e
sossego. Apesar de quase paradisíaco,
o destino fica ao lado da movimentada
Praia do Forte, em um local bastante
acessível. A travessia é feita por meio
de barcos ou mesmo a pé, quando a
maré está baixa em algumas épocas
do ano. Alguns quiosques na beira da
praia oferecem opções para comer e
beber enquanto se espera a chegada
do pôr do sol, um dos grandes espetáculos
desenhados pela paisagem do
lugar.
ATENÇÃO
AO TURISMO
CONSCIENTE
l Destinos de praia são os mais
procurados no verão por muita
gente que gosta de ouvir os sons
das ondas, sentir o cheiro do mar
ou se refrescar nas águas salgadas.
Mas o crescimento desordenado
do turismo pode colocar
em risco áreas importantes de
preservação. Um exemplo é Trindade,
dentro do Parque Nacional
da Serra da Bocaina, em Paraty,
que se tornou mais conhecida e
explorada pelos paulistas devido
a sua proximidade com aquele
estado. Com belas praias, trilhas
cheias de aventura e cachoeiras
escondidas, a vila reúne campings
e pousadinhas rústicas.
l Ao exibir em uma rede social
fotos de praias superlotadas feitas
pelo movimento Trindade Vive,
o deputado estadual Carlos Minc
chamou a atenção para a necessidade
de se adotar medidas para
se preservar pontos turísticos
em áreas de proteção. “Há que se
ampliar e organizar o ecoturismo
consciente, com capacidade de suporte.
Nossos parques têm pouca
estrutura, trilhas, funcionários
e sinalização”, diz Minc, que foi
ministro do Ambiente.
20 RIO•JÁ
RIO•JÁ 21
CANECÃO•
VOLTA
CANECÃO
Nova lei aprovada pela
SERÁ
Câmara de Vereadores abre
caminho para construção de
equipamento cultural multiuso
no imóvel onde funcionou a
icônica casa de shows
A
ROZAYNE MACEDO
l Terça-feira, 12 de novembro de 1985.
Acostumado a cantar em bares e churrascarias
no subúrbio do Rio de Janeiro,
Elymar Santos aluga o famoso Canecão
para realizar um sonho: cantar para a
elite carioca. O episódio que alavancou
a carreira do artista entrou para a história
de uma das mais icônicas e democráticas
casas de espetáculos do país,
que durante quatro décadas foi palco
das maiores estrelas da Música Popular
Brasileira (MPB). Pelo endereço de Botafogo,
na Zona Sul da cidade, passaram
nomes inesquecíveis, como Maysa, Tom
Jobim, Vinicius de Moraes com Toquinho,
Elis Regina, Clara Nunes com Paulo
Gracindo, Elizeth Cardoso e Simonal e a
inesquecível Cássia Eller.
Nem o empresário paulista Mário
Priolli poderia prever tamanho sucesso.
Ele chegou ao Rio em 1967 com a ideia
de abrir um boliche, que virou cervejaria
(daí o nome Canecão) e acabou se
transformando em casa de espetáculos
em 1969, inaugurada com Maysa. O espaço
foi fechado em outubro de 2010,
após uma disputa judicial que se arrastou
por 39 anos até o imóvel ser reintegrado
ao patrimônio da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde então,
a instituição busca parceiros interessados
em investir na construção de uma
do
?
nova casa
de shows, com capacidade
para 1.500 lugares.
Em ruínas e sob risco de desabamento,
o imóvel foi ‘destombado’ em
junho de 2019 pela Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro (Alerj),
a pedido da UFRJ, abrindo espaço para
alterações no seu gabarito que poderiam
favorecer investimentos da iniciativa
privada. A reabertura do Canecão com
finalidade cultural é objeto de um estudo
de viabilidade do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), finalizado em 2020.
A ideia da universidade é que, além
do novo auditório, outros prédios sejam
construídos como espaços culturais para
serem utilizados pelos moradores da região
e pela própria comunidade acadêmica.
O estudo do BNDES inclui projetos
para ocupar áreas ociosas na Cidade Universitária,
na Ilha do Fundão. O prazo de
concessão é de 50 anos e os vencedores
das licitações deverão assumir a reforma
e a construção de restaurantes e moradias
estudantis.
Em fevereiro de 2021, o prefeito Eduardo
Paes chegou a anunciar que pretendia
ajudar a universidade a viabilizar as
obras para retomada do antigo Canecão.
“Estou inteiramente à disposição da Reitoria
da UFRJ para mudar a legislação,
para mudar o zoneamento, para gente
permitir que o Canecão renasça e ali vire
de novo um espaço público da nossa cidade”,
afirmou.
Um passo importante para tirar o projeto
do papel foi dado recentemente pela
Câmara de Vereadores do Rio ao autorizar
a mudança de uma lei municipal
que impedia a construção deste tipo de
estabelecimento no terreno. Uma nova
lei complementar prevê “a reconstrução
de equipamento cultural multiuso
com casa de espetáculo no Campus Praia
Vermelha da UFRJ para restituir à cidade
equipamento cultural com importância
relevante na cena cultural carioca”.
A medida prevê a adequação do zoneamento
daquela área e estabelece novos
parâmetros urbanísticos para a edificação.
A taxa de ocupação do terreno de
116 mil metros quadrados será de 50% e
o novo equipamento cultural terá altura
máxima de 20 metros. “A partir de agora
a UFRJ poderá avançar na elaboração do
projeto e dar entrada no licenciamento
do equipamento na prefeitura”, explica
a vereadora Tainá de Paula (PT), autora
do projeto que virou lei.
Para virar realidade, será necessário
um estudo de impacto sobre os efeitos do
empreendimento na qualidade de vida
da vizinhança, incluindo análise de uso
e ocupação do solo, geração de tráfego e
demanda por transporte público, ventilação
e iluminação, além de estabelecer
as ações mitigadoras ou compensatórias
necessárias. O projeto deverá contemplar
ainda a oferta de local de embarque
e desembarque de passageiros, de carga
e descarga, além de disponibilizar vagas
de estacionamento.
Esse estudo deverá ser apresentado ao
Conselho Municipal de Política Urbana
(Compur) e aprovado pelo órgão do Poder
Executivo responszsável pelo planejamento
urbano. “Com tudo aprovado a
UFRJ poderá, enfim, dar início às obras”,
completa Tainá. Enquanto não encontra
os investidores para dar prosseguimento
ao projeto de reabrir a casa, a UFRJ tenta
junto à Escola de Belas Artes uma forma
de preservar parte do antigo Canecão,
guardada na lembrança de milhares de
pessoas que por ali passaram: o que ainda
resta do mural de 31 metros criado
por Ziraldo.
HISTÓRIAS QUE
A CASA CONTA
l Ronaldo Bôscoli escreveu em letras
gigantescas na fachada: “Nesta casa
se escreve a história da Música Popular
Brasileira”. E foram muitos encontros
e despedidas no Canecão, que recebeu
shows internacionais, toda a nova
geração de rock dos anos 80, além de
grandes artistas nacionais que simbolizam
não só a nossa MPB, mas a grande
diversidade de estilos musicais, sem
qualquer preconceito. Em 1988, Cazuza
fez no palco da casa de Botafogo a sua
última apresentação antes de morrer.
“Tempos felizes de Elba Ramalho, Alceu
Valença, Moraes Moreira, dos mineiros
Beto Guedes, Lô Borges e a turma do
Clube da Esquina; pista para dançar ao
som da orquestra de Ray Connif.
A jornalista Lea Penteado dedicou um
capítulo do seu livro ‘A verdade é a
melhor notícia - Bastidores e Estratégias
de Assessoria de Imprensa’ ao Canecão,
que virou um ‘case’ de comunicação.
Num texto delicioso, Lea conta que o
Canecão tinha suas portas abertas para
todos os grandes, de todos os segmen-
ATENÇÃO
AO TURISMO
CONSCIENTE
tos da música, e não só medalhões como
Roberto Carlos, Chico Buarque, Maria
Bethânia e Marisa Monte. “Foi um avalista
na transformação do Wando de brega
a cult. Viajava de Bethânia a Ramones;
de Paco de Lucia a shows inesquecíveis
como o do Echo and the Bunnymen; da
MPB ao punk; do brega ao rock.
Enquanto a imprensa da época torcia
o nariz para Roupa Nova, Guilherme
Arantes e Oswaldo Montenegro, estes
eram os shows que mais davam lucro,
enquanto “alguns artistas respeitados
tinham dificuldade em lotar a casa e com
isso havia profusão de cortesias”.
A notícia sobre o fechamento do Canecão,
após longo período de degradação,
foi recebida em clima de luto pelos
frequentadores da casa, que também
colecionavam histórias emocionantes.
Como a da então moradora de Botafogo
Rosane Vicente, que conheceu o
ex-marido e pai de sua filha no dia 16 de
outubro de 2001, na porta da casa.
Em 2016, o Canecão chegou a ser temporariamente
‘reaberto’ por militantes do
movimento Ocupa MinC, após serem expulsos
pelo Governo Federal do Palácio
Capanema, no Centro, onde ficaram por
70 dias em protesto contra a extinção
do Ministério da Cultura. Por mais de um
mês, a casa recebeu shows e atos contra
o impeachment da presidente Dilma
Rousseff.
22 RIO•JÁ
RIO•JÁ 23
BATE•PAPO
RICARDO BRUNO E
WASHINGTON QUAQUÁ
Luciana Carneiro
Antônio Pinheiro
I RODRIGO NEVES
O RIO TEM QUE SER
UMA CIDADE-FEDERAL
O ex-prefeito de Niterói e pré-candidato ao governo do
estado quer que o Rio sedie ministérios e reassuma o
papel de capital brasileira em áreas como cultura, turismo,
minas e energia e defesa
Rodrigo Neves passou um ano em Coimbra, Portugal,
onde fez um mestrado em sociologia, consolidou algumas
ideias antigas – o imperativo da educação em tempo
integral – e acrescentou à sua bagagem de pré-candidato
do PDT ao governo do estado algumas ideias novas – como
a transformação do Rio de Janeiro em sede de um grande
complexo industrial de produção de medicamentos, insumos
e equipamentos de saúde.
Não foi esta a única ideia que o ex-prefeito de Niterói,
protagonista de uma gestão amplamente elogiada, trouxe
de sua “pesquisa” europeia. Ele verificou que países im-
portantes, como a Alemanha, aplicam um conceito que
ele chama de “capitalidade” para cidades que, ainda que
não sejam as sedes administrativas dos governos centrais,
têm importância suficiente para absorver funções
federais. Rodrigo Neves, por motivos históricos evidentes
e razões culturais, diz que vai lutar junto ao futuro presidente
da República para que o Rio seja oficializado como
cidade-federal e se torne sede de ministérios relevantes,
como o da Defesa, das Minas e Energia, da Cultura e do
Turismo. Veja a entrevista concedida a Ricardo Bruno e
Washington Quaquá:
Luciana Carneiro
l Ricardo Bruno – Você foi exitoso na
administração de Niterói, mas Niterói é
uma cidade de 400, 500 mil habitantes.
Uma cidade de IDH alto. Como transplantar
este sucesso para uma área de
um território tão conflagrado, como é
o Rio de Janeiro?
n Rodrigo Neves – Eu assumi Niterói
num contexto de muitas dificuldades
e de uma crise gravíssima. Serviços
públicos desorganizados, salários
atrasados, uma dívida de curto prazo
equivalente a dez anos do orçamento
de investimento. Uma cidade sem
confiança em relação ao seu futuro, e
sem projetos. Mas entreguei, oito anos
depois, uma cidade completamente
recuperada. O meu governo, apesar
da gravíssima crise do Brasil e do Rio,
fez um esforço de gestão fiscal que foi
extremamente positivo. Eu zerei a dívida
líquida, inclusive pagando as dívidas
dos meus antecessores, e transmiti
o cargo ao meu amigo Axel Grael
com mais de R$ 1,5 bilhão em caixa.
Entreguei uma cidade com um plano
estratégico, chamado ‘Niterói que Queremos’,
com perspectiva de 20 anos.
Tenho convicção de que essa experiência
exitosa em uma cidade que vivia
uma crise profunda é uma referência
muito importante para a reconstrução
do estado do Rio. Eu tenho clareza das
razões da crise do estado e daquilo que
precisa ser feito.
l Washington Quaquá – Seu governo
tem uma marca: andando pela zona
norte de Niterói e pelas favelas, a gente
vê que foram feitos investimentos.
Conte um pouco disso, do tratamento
da Niterói do cartão postal e da Niterói
dos problemas sociais e urbanos.
n Rodrigo Neves – É fundamental investir
pesadamente nas políticas públicas
que garantam a integração do
desenvolvimento de todo o território
e na possibilidade de as pessoas terem
uma vida digna. Eu tenho um orgulho
extraordinário, como filho de professor,
casado com uma pedagoga, como
sociólogo, de ter sido o prefeito que
mais construiu escolas na história de
Niterói. Em cada região da periferia de
Niterói nós fizemos a implantação de
equipamentos públicos que contribuíram
para o resgate da autoestima e o
resgate do sentimento de pertencimento
das pessoas àquele território. Mas
nós precisamos compreender de fato
Precisamos
compreender as
causas da crise do
Rio. O domínio do
território pelas
milícias e pelo tráfico
é um problema grave,
mas não é a causa
da crise do Rio, é a
consequência
as causas da crise do Rio. Eu vejo neste
debate um enorme equívoco. Quando
se identifica um problema grave, que é
o domínio do território pelas milícias
e pelo tráfico, mas se comete um erro
gravíssimo no diagnóstico dessa crise,
na medida que se entende esse problema
grave como causa da crise do Rio e
não como consequência.
l Ricardo Bruno – Você está se referindo
a Marcelo Freixo, na análise que ele faz
da conjuntura do Rio...
n Rodrigo Neves – Quando nós partimos
de uma premissa equivocada,
nós acabamos por apresentar soluções
equivocadas. Imaginar que com a eleição
no dia seguinte, como num passe
de mágica, esse problema grave será
resolvido, na verdade é repetir os erros
do passado, quando alguém assumiu e
disse que resolveria o problema da segurança
em seis meses. O Rio de Janeiro
precisa de fato ser reconstruído como
um estado. Por 200 anos a cidade do Rio
foi referência político-administrativa
do Brasil, apesar da transferência
da capital para Brasília, há mais de 60
anos. Esta mudança significou perda
de prestígio, esvaziamento profundo
e uma desorganização muito grande.
Depois veio a fusão autoritária, na década
de 70, sem planejamento prévio,
da Guanabara com a antiga província
fluminense. Nos últimos 35 anos o Rio
perdeu 35% de presença no PIB brasileiro.
É a maior perda proporcional
de um estado brasileiro em relação ao
PIB. O Rio era o segundo estado em em-
24 RIO•JÁ
RIO•JÁ 25
BATE•PAPO
pregos na indústria de transformação,
e hoje é o sétimo. O Rio tinha 600 mil
empregos industriais, hoje temos 300
mil empregos. Nos últimos cinco anos,
desde o golpe contra a presidenta Dilma
e a implantação de uma agenda devastadora
dos direitos trabalhistas, o Rio
perdeu 700 mil empregos com carteira
assinada. Hoje, mais de 60% da força de
trabalho do Rio ou estão desempregados
ou estão na informalidade.
l Ricardo Bruno – A que se deve tudo
isso?
n Rodrigo Neves – À ausência de um
projeto de desenvolvimento que encare
de fato as causas da crise do Rio e,
por outro lado, a falta de liderança, e de
um governo do estado que funcione.
Nos últimos anos, temos um governo do
estado ineficiente, que não tem um projeto
e que é incapaz de induzir as forças
vivas da sociedade no sentido de superação
da crise. Outro dia eu fui a Nova
Friburgo e lá estava, caído há mais de
dois anos, um barranco que desabou no
meio da estrada que escoa a produção
agrícola daquela região, que também é
turística. Em dois anos eu fiz um túnel
em Niterói, ligando as duas regiões mais
prósperas da cidade! Como pode este
barranco estar lá há dois anos? O Porto
do Açu, que é um projeto estratégico
importante para a economia do estado,
até hoje não tem sequer a sua logística
sendo desenvolvida porque o governo
foi incapaz de fazer uma estrada de
40km para melhorar o acesso ao local.
Luciana Carneiro
Temos que construir
uma convergência da
ação do estado com
a universidade e com
o setor privado e, a
partir disso, consolidar
o Rio como o principal
polo do complexo
industrial de serviço
de saúde do país
vir dizer’, e foi o que bastou para eles. O
Coaf foi ouvido e disse que a minha era
simples. O MPF disse em ofício que não
havia nenhum elemento contra mim.
Mas os perseguidores mentiram. Disseram
que minha mulher era dona de uma
empresa, da qual nunca tínhamos ouvido
falar, e três meses depois pediram
desculpas, disseram que foi um equívoco.
Mas esta, na verdade, era a base
de toda a acusação. Eu fui sequestrado
da minha casa no dia 10 de dezembro
de 2018. O que aconteceu comigo foi
revertido por decisão de 6 a 1 num colegiado.
Mas a minha prisão foi ilegal,
arbitrária, infame. Eu não tenho dúvida
que é fundamental a gente resgatar o
ambiente de respeito à democracia, ao
devido processo legal.
l Ricardo Bruno – Seu cartão de apresentação
nesta eleição é sua administração
de Niterói. Mas além disso, que
tipo de projeto você tem, objetivo, para
o estado do Rio de Janeiro? Que Rio de
Janeiro você quer oferecer à população?
n Rodrigo Neves – O Rio precisa de um
plano estratégico de médio e longo
prazo. O Rio precisa de um projeto de
desenvolvimento que trabalhe nas causas
da sua crise. A gente precisa fazer
com que a elite empresarial, política
e intelectual do Rio se dedique mais a
pensar o desenvolvimento do nosso
território, das nossas forças produtivas
e da nossa economia. Mas nós não
podemos deixar de lado a nossa ‘capitalidade’,
que persiste, do Rio em relação
ao Brasil. Precisamos fazer uma profunda
reestruturação do estado do Rio,
equipando o estado com um governo
que funcione, um governo que tenha
uma gestão para resultados, um governo
que tenha um plano de integridade
muito forte, no sentido de combater a
ocupação de parcelas do estado pelo
crime organizado. Temos um dever
de casa a fazer. Precisamos integrar o
território de quase 40 mil kms quadrados,
olhando o interior, e olhando de
maneira muito específica a região metropolitana
do Rio, que corresponde a
20% do território, mas que tem quase
80% da população. Nós precisamos recuperar
o status da cidade do Rio como
uma cidade federal, e eu defendo que
isso seja pactuado no Congresso Nacional,
partir do novo presidente da
República. O Rio tem mais servidores
públicos federais do que Brasília. Da
mesma forma que países emergentes
como a África do Sul, a China, a Rússia
l Washington Quaquá – Você foi vítima
direta da perseguição de um estado autoritário.
Você não acha que a questão
da recuperação da democracia é essencial
para a reconstrução do Rio de
Janeiro?
n Rodrigo Neves – Eu não tenho dúvida
que é fundamental o combate à corrupção,
a transparência dos governos.
Nós fizemos isso em Niterói. Mas o que
nós vimos é que uma causa importante,
o combate à corrupção, foi completamente
deturpada, usurpada por uma
visão de atentar contra a democracia,
dentro da democracia. Com a violação
do estado democrático de direito,
a violência a devido processo legal. O
que aconteceu comigo foi muito grave.
Todas as pessoas ouvidas disseram que
nunca trataram de coisas erradas comigo.
E aí pegam uma pessoa de Resende,
que não tem nenhuma relação com
Niterói, que não diz nada em relação a
mim, mas que diz que ‘poderia’, de ‘oue
outros países desenvolvidos, como a
Alemanha, que trabalharam outras dimensões
de ‘capitalidade’ para além da
capital oficial desses países, o Rio tem
que ter um status de ‘cidade federal’,
com a presença de órgãos e ministérios
aqui. É o caso do ministério do Turismo,
do ministério da Cultura, do ministério
de Minas e Energia, do ministério da
Defesa, que devem ser transferidos para
o Rio, a partir dessa caracterização do
Rio como ‘cidade-federal’. Agora, isso
precisa se desdobrar em políticas públicas
concretas. Precisamos ter como
obsessão a reversão do esvaziamento
econômico do Rio, com a geração de
emprego e renda. Essa é a minha prioridade
absoluta. É uma falácia a gente
imaginar que vamos reverter o domínio
do território pelo poder paralelo com o
grau de informalidade que há no mercado
de trabalho.
l Ricardo Bruno – Mas isto não é uma
questão nacional? Dá pra resolver a
partir do governo do estado?
n Rodrigo Neves – Claro que dá. Vou dar
um exemplo. Em função deste cenário
de pandemias intermitentes, os países
do mundo estão reorganizando seus
complexos de saúde. Ninguém quer
ficar mais dependendo da China pra
importar medicamentos e equipamentos,
insumos para vacina. A Europa está
fazendo. Os Estados Unidos também.
Qual é o estado do Brasil que pode liderar
a estruturação de um complexo
industrial e de serviço da área da saúde,
que tem um potencial de geração de
milhares de empregos e atrair muitos
investimentos privados e públicos? É
o estado do Rio. Nós temos a Fiocruz,
temos as universidades. Os dois grandes
grupos privados de saúde do Brasil,
a Rede Dor e a antiga rede da Amil,
estão sediados aqui no Rio. Temos que
construir uma convergência da ação do
estado com a universidade e com o setor
privado. E a partir disso consolidar o
Rio como o principal polo do complexo
industrial de serviço de saúde do país.
Esta é uma questão central. Mas precisamos
de um estado que funcione e
seja indutor. O Instituto Vital Brasil, que
é uma espécie de Butantan do Rio de
Janeiro, está sucateado, destruído por
falta de investimento. Há muitos anos
não tem sequer concurso pra pesquisador
e pra cientista.
l Ricardo Bruno – E a questão
do petróleo e gás?
n Rodrigo Neves – Não é possível que
Luciana Carneiro
A maior prioridade
é a geração de
emprego e renda,
para devolver ao povo
carioca e fluminense
a dignidade
abalada por 60%
de desempregados
ou trabalhadores
informais
o Rio de Janeiro produza mais de 80%
do petróleo brasileiro, e mais de 80%
dos contratos da Petrobrás e da cadeia
produtiva do óleo e do gás sejam executados
fora do Rio de Janeiro e em outros
países. Nós temos um polo metal
mecânico forte no Sul fluminense, um
polo metal mecânico forte na região
de Friburgo e, no entanto, eles não são
acionados pelo setor de óleo e de gás,
porque os contratos são executados fora
do Rio.
Outra coisa: o Rio de Janeiro é um dos
estados que forma mais cientistas,
pesquisadores, mestres e doutores no
Brasil. São os cérebros pensantes para
a era do conhecimento, mas eles vão
embora, em busca de empregos melhores.
O secretário de Ciência e Tecnologia
atual não entende nada de Ciência e
Tecnologia. O secretaria dele tem que
administrar bem as universidades estaduais,
como a UERJ, que tem que ser
colocada num patamar estratégico.
A universidade tem um papel fundamental
no século XXI, na sociedade do
conhecimento.
Finalmente, uma área fundamental e
que é completamente negligenciada
pelo atual governo do estado, e pelo governo
federal nem se fala, que é a Cultura,
o entretenimento e o turismo. O Rio
de Janeiro é a grande referência cultural
do país. Os maiores artistas brasileiros
estão aqui. O Rio tem uma potência
extraordinária nessa área. Como é que
pode? A gente saiu de 2001, quando foi
criada a Ancine, pelo FHC, e chegou a
2020, caindo de 60% da produção do
audiovisual brasileira para apenas 8%.
E o Rio tem os dois principais polos audiovisuais
do Brasil, o Projac e o polo de
cine e vídeo da Record! E tem boa parte
dos artistas, das belezas, dos cenários
naturais como Maricá, Niterói, a Capital,
da Região dos Lagos, paisagens extraordinárias
pra produção audiovisual.
Mas perdeu protagonismo. Boa parte
do audiovisual brasileiro se transferiu
para São Paulo.
Mas eu acredito. Acredito muito que
a partir de 2023 o Brasil vai substituir
essa agenda autoritária, do atraso, que
ao longo da pandemia, tragicamente
desprezou a vida e a ciência, por uma
agenda desenvolvimentista, compromissada
com a democracia, com a
distribuição de renda, com a redução
das desigualdades sociais. Isso é uma
oportunidade para o Rio.
l Ricardo Bruno – Fala sobre o seu
maior sonho como governador.
26 RIO•JÁ
RIO•JÁ 27
BATE•PAPO
AUTOMÓVEIS•
n Rodrigo Neves – Da mesma forma que
o Ciro Gomes fala em retirar as pessoas
do SPC e da mesma forma que o presidente
Lula diz que vai, se retornar
à presidência, garantir que todos os
brasileiros tenham três refeições por
dia, eu tenho um grande objetivo. E
aqui, lembro o centenário desse grande
guerreiro do povo brasileiro que foi
Leonel Brizola, que com Darcy Ribeiro
construiu a melhor concepção educacional
da história do Brasil, que foram
os Cieps. Eu terei como outra obsessão
importante conseguir que, num ciclo
de oito anos de governo, mobilizando
prefeitos, universidades, a sociedade
civil, fazer uma grande transformação
no Rio de Janeiro: garantir que todas
as nossas crianças e jovens estejam na
educação em horário integral, começando
este processo a partir de 2023. A
educação é a política pública mais importante
para reduzir as desigualdades
para promover a superação sustentável
da pobreza. Eu passei um ano em Coimbra
e fiquei impressionado: 90% das
escolas são escolas públicas. O filho do
A educação reduz
as desigualdades e
minha maior obsessão
é realizar o projeto
de Brizola e Darcy
e colocar todas as
crianças e os jovens em
escolas de qualidade
em tempo integral
dono de uma empresa estuda na mesma
sala que o filho do empregado daquela
empresa. E é uma escola de qualidade,
todas em horário integral.
l Ricardo Bruno - Como você vê a situação
da mobilidade urbana no estado?
n Rodrigo Neves – É dramática. Rouba
tempo de vida e rouba a saúde das
pessoas. Falo sobretudo da baixíssima
qualidade do transporte na região metropolitana,
entre a Baixada e a capital,
entre a Zona Oeste da capital e a Zona
Sul. O trem de Belford Roxo em vários
momentos para de funcionar porque a
fiação do foi desligada ou arrebentou.
Não é possível um assunto tão importante
pra qualidade de vida ser tratado
assim. O trabalhador que sai da Baixada,
da Zona Oeste, leva hoje 2 horas
e meia para chegar à Zona Sul do Rio,
de 2 horas e meia a 3 horas para voltar
para casa, na Baixada, em São Gonçalo,
na Zona Oeste. Como este tema pode
estar tão negligenciado na agenda de
prioridades atual?
CARROS&CARANGOS
Único fabricante brasileiro de réplicas perfeitas de carros
clássicos, todas feitas à mão, planeja instalar uma filial no Rio
Imagine-se um amante de carros clássicos
– e convenhamos, que brasileiros
não são?
Imagine-se agora que seja possível ter,
na sua garagem, à sua disposição, um
destes carros que você sempre sonhou
dirigir.
Pois saiba que se você também for capaz
de pagar por um desses ícones de sua
infância ou de sua juventude – e pagar
menos do que imagina, nada que se compare,
por exemplo, a uma SUV metida à
besta – o sonho é plenamente realizável,
em São Paulo há pelo menos 30 anos, e
estará ao seu alcance no Rio de Janeiro,
em breve, com a instalação de uma filial
da “Furlan Automobile”.
Os carros clássicos e icônicos da Furlan
são fabricados totalmente à mão. O desenho
original, incluindo todos os detalhes
e acessórios, é rigorosamente respeitado,
mas o carro é construído sob medida para
o comprador, incluindo o espaço que ele
ocupará para dirigir, ergonomicamente
calculado para garantir pleno conforto.
Os materiais usados são nobres e por
certo não existiam na época em que estes
carros foram criados: metais mais leves e
firmes, carroceria em fibra de carbono,
mais forte que o aço e 50% mais leve –
hoje usada em carros da Fórmula 1 – itens
de qualidade e conforto modernos, o que
inclui a possibilidade de optar por motores
elétricos.
O que o fabricante garante, no entanto,
é que, ainda que tenha sido construído
com o que há de melhor em tecnologia e
inovação, o seu carro é idêntico ao clássico
em que ele foi inspirado, sem tirar
nem pôr.
O dono da empresa, Rogério Furlan,
herdou do pai o gosto pela fabricação artesanal
de carros clássicos, o italianíssimo
Geraldo, um funileiro mecânico e engenheiro
autodidata obstinado que começou
a fabricar réplicas perfeitas, uma por
ano, nos fundos de sua casa. Fabricava,
vendia e usava o dinheiro obtido para fabricar
o próximo. Era muito trabalho, mas
era sobretudo prazer e paixão, italiana
paixão.
Todos os são fabricados por encomenda
do comprador e, embora a manutenção
do design e dos detalhes do original seja
algo sagrado, muita coisa pode ser negociada
e definida – motorização, chassi,
freios, tipo de embreagem etc, respeitando
os padrões atuais de avanço tecnológico
e segurança.
A demanda cresceu tanto que Rogério
precisou encontrar um sócio – na verdade
encontrou uma sócia, Milena Genari
Patroni – outra filha de italianos – e graças
a ela a fábrica cresceu e hoje tem 30
funcionários.
A Furlan vai lançar uma linha de carros
de corrida, para competir. A primeira
experiência é a fabricação de um
GT40, sucesso histórico das “24 horas
de Le Mans”, que Rogério pretende usar
nas “Mil milhas de Interlagos”, este ano.
Em suas épocas, os carros fabricados
pela Furlan foram chamados de baratinhas,
carangos, bólidos, e a maioria
deles povoava os sonhos de crianças e
jovens que amavam o automobilismo.
Hoje, quem sonhou pode ter um deles
feito sob medida.
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RIO•JÁ 29
PAP DE COMIDA
CHICO JUNIOR
UM RIO DE MUITOS
E DE BONS QUEIJOS
Fotos: Divulgação
QUEIJOS DE CABRA
de altíssima qualidade,
da Rancho Grande e
do Capril De Ville, e os
diversos tipos de queijo
da Latícinios Manoel
Borges
l Dentre as várias coisas que me dão um imenso prazer de comer estão os queijos. Pra quem não
sabe, o queijo foi a primeira forma que o ser humano encontrou para a conservação do leite.
O Brasil tem uma vasta produção de queijos de alta qualidade, como os queijos artesanais
mineiros do Serro, Araxá, Serra do Salitre e Canastra, feitos com leite cru, não pasteurizado,
como alguns dos principais queijos europeus. Alguns premiados internacionalmente.
Já andei bastante pelo Estado do Rio atrás dos sabores queijeiros.
Quantitativamente, não temos uma produção como a mineira, por exemplo, mas temos
uma variedade considerável de queijos de altíssima qualidade produzidos com leite de vaca,
de cabra, de búfala e de ovelha, elaborados em laticínios localizados em municípios de todas
as regiões do estado. Aqui segue uma pequena amostra da nossa produção.
EM VALENÇA, QUEIJOS
DE LEITE DE BÚFALA
Só em Valença, por exemplo, há, pelo
menos, sete produtores, sendo três de
porte médio (Vitalatte, Grupiara e Boa
Nova) e dois pequenos: Latte Buono,
Capril do Lago, Ecovale e D’uvalle
Queijaria.
A Latte Buono produz oito tipos de queijos
com leite de búfala orgânico, além
de manteiga, iogurte, doce de leite, pão
de queijo e sorvetes. O casal Eduardo
Lo Buono e Mônica tocam o negócio,
que começou em Paraíba do Sul, em
2014, e desde 2017 está em Valença.
Produtos simplesmente deliciosos, com
destaque para o queijo Serra da Concórdia,
que em textura e sabor lembra
um queijo canastra.
A Vitalatte, um dos principais laticínios
do Estado, produz cerca de 30 tipos
de queijos, entre os quais a sofisticada
muçarela negra, feita com leite de búfala
e carvão vegetal ativado, e três feitos
com leite orgânico: minas padrão,
minas frescal e a muçarela de búfala.
De Valença vamos para Miguel Pereira
saborear um dos melhores minas
frescal que eu já provei, o do Sítio
Solidão, que ganhou fama por ter sido
o queijo “oficial” da Rio 92 (Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento). De lá
para cá, o proprietário do Sítio Solidão,
Luiz Menezes, tem mantido a qualidade
do seu queijo e, depois disso, já lançou
diversos tipos. Antes da pandemia, Luiz
produzia mais de 20 queijos, com leite
de vaca, cabra e ovelha.
“Durante o período mais difícil só produzimos
o frescal, mesmo assim muito
pouco. Agora estamos voltando aos
poucos: já temos o meia cura, a ricota e
o de ovelha”, informa Luiz.
O QUEIJO ORGÂNICO
DO MARCOS PALMEIRA
Na charmosa Terê-Fri (RJ-130), estrada
que liga Teresópolis a Friburgo,
também há uma interessante produção
queijeira. Ali fica o sítio Vale das
Palmeiras, do ator Marcos Palmeira,
que produz um minas frescal orgânico
da melhor qualidade e com um sabor
bem diferenciado, que lembra muito os
artesanais mineiros. É, sem dúvida, um
dos melhores minas frescal encontrados
nos supermercados do Rio. Ainda
na Terê-Fri há a Frialp - Queijaria Escola
Suíça, herança dos colonos suíços de
Nova Friburgo, que fabrica 18 tipos de
queijos com leite de vaca e cinco com o
de cabra. Todos muito bons. A estrada
ainda abriga a produção da Fazenda
Génève, produtora de excelentes queijos
de cabra.
E por falar em queijo de cabra não
QUEIJOS PARA TODOS OS
GOSTOS: No alto, o Serra da
Concórdia, da Latte Buono;
Curado de ovelha, do Sítio
Solidão; Minas Frescal, do Vale
das Palmeiras e por último, o
Feta, do Rancho dos Sonhos
Fotos: Divulgação
poderia deixar de mencionar os delicados
queijos do Capril Deville, localizado
no distrito de Inconfidência (Paraíba
do Sul), com acesso por Secretário
(Petrópolis). Atualmente, o Capril
DeVille produz sete tipos de queijos de
massa fresca, do tipo boursin, incluindo
o chevre à l’huile (pequenas bolinhas
de queijo no azeite extravirgem, com
ervas e especiarias).
O cuidado e o carinho que Romulo
Capdeville tem com suas cabras são
o destaque do capril: água pura, boa
alimentação e até o uso da fitoterapia
e homeopatia quando, eventualmente,
se fazem necessárias.
O resultado são queijos de altíssima
qualidade, frescor e textura na medida.
Ainda sobre queijos de cabra, destaque
para a produção do Rancho Grande
(Nova Friburgo), onde o casal Patrícia
Tiedemann e Edinaldo Vasconcellos
produz sete tipos de queijos, além de
leite in natura e doce de leite (tradicional
e com café).
“As cabras são criadas em regime
semi-intensivo”, informa Edinaldo.
“Pela manhã, vão para as pastagens
nativas, situadas a 1200 metros de
altitude, cortadas por córregos de água
cristalina, retornando à tarde ao capril,
onde recebem complemento alimentar
e pernoitam; é o conceito das cabras
felizes.”
Também tem produção de queijo de
cabra em São Gonçalo, onde está
localizado o Rancho dos Sonhos, um
dos principais produtores de queijo de
cabra do estado, com uma produção de
duas toneladas de queijos por mês. São
oito tipos diferentes de queijos.
VISCONDE DE MAUÁ
Elaborados com o leite das vacas da
Serra da Mantiqueira, os queijos do
Laticínios Pedra Selada são produzidos
desde 1987 em Visconde de Mauá
(Resende). As suas duas marcas - Pedra
Selada e Visconde de Mauá - vão do
minas frescal até o prato, passando
pelo queijo de coalho e o parmesão.
São mais de dez tipos de queijos
MANOEL BORGES: TRADIÇÃO
EM PATY DO ALFERES
Para quem visita Paty do Alferes, no
Vale Histórico do Café, a Laticínios
Manoel Borges é parada obrigatória.
Há mais de 30 anos, Manoel produz, ao
lado dos filhos, várias delícias lácteas,
incluindo, claro, os queijos.
Como quase toda pequena empresa
familiar, a Manoel Borges começou de
forma modesta, com uma produção
limitada e uma pequena loja. Hoje, com
uma extensa linha de produtos – queijos,
creme de leite, iogurtes, manteiga,
requeijão – pode ser considerada como
um dos principais laticínios do estado.
“O aprimoramento técnico e da qualidade
é uma das marcas registradas
da empresa”, informa Rogéria Borges,
que, ao lado do próprio pai, Manoel, do
irmão Rogério e das irmãs Rosiane e
Rosângela, administra o negócio. Não é
à toa, portanto, que o lema da empresa
é “De nossa família para a sua”. Um detalhe:
mesmo na pandemia a produção
não parou de crescer.
30 RIO•JÁ
RIO•JÁ 31
ALT ASTRAL
JAN THEOPHILO
www.rioja.com.br
VERÃO DA RETOMADA
Com a chegada oficial do verão, o setor de bares
e restaurantes projeta bons números para o
período. Segundo estimativas da Associação
Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o
setor deve movimentar cerca de R$80 bilhões e
gerar mais de 60 mil vagas de emprego entre os
meses de janeiro e fevereiro de 2022. O Rio de
Janeiro deverá responder por uma fatia de 10%
deste montante. A expectativa ainda é de que,
no verão, principalmente nas regiões litorâneas,
o aumento nas vendas nos bares e restaurantes
possa chegar a até 30%.
FEITO PELO TEMPO
Se você não aguenta mais os pães que fizeram -- ou ganharam
de presente de algum amigo entediado – durante a
pandemia, nasceu no Leblon uma opção para os amantes
de uma padaria mais sofisticada. É a Grâu Artesanal, padaria
que acaba de abrir no Leblon, com 100% da sua linha de
pães de fermentação natural (farinha, água, sal e tempo),
produzidos no local, em um processo que chega a levar
72 horas. A casa pertence ao casal Sergio Balaj e Elaine
Condor. Dispostos a transformar o amor pela gastronomia
em negócio, perceberam uma carência na Zona Sul por
este tipo de produto.
“A produção é exclusivamente artesanal, com técnicas
francesas tradicionais de panificação, porém com produtos
genuinamente brasileiros, incluindo as farinhas utilizadas
com documentação de origem comprovada e zero resíduos
químicos.
DE COMER COM OS OLHOS
l Ele oferece não só um cardápio de primeira, mas uma das vistas mais incríveis da orla do Leblon e de
Ipanema. Instalado no o 26º andar do Sheraton Grand Rio Hotel & Resort, o L’Etoile Restaurante tem
agradado não só o seu público cativo como a crítica especializada, que tem reconhecido a casa e seu chef,
o chileno Felix Sanches, com prêmios importantes. Entre eles, o Travellers’ Choice Award (nas categorias
‘Top 10 restaurantes sofisticados – Brasil’ e ‘Top 25 restaurantes sofisticados – América do Sul’, nos
anos de 2019 e 2020); e o de melhor restaurante do Rio de Janeiro na categoria ‘Culinária Francesa’, no
Prêmio WeSeek Food (2020).
O cardápio do L’Etoile é composto por cinco entradas, cinco pratos principais e cinco sobremesas. O restaurante também oferece
um menu degustação, com sete etapas: uma cortesia do chef, duas entradas, dois pratos principais (peixe e carne) e duas sobremesas
(R$ 330,00). Duo de Patos com Ravióli e Textura de Cenoura e Molho de Martini Rosé (R$ 135,00), Trilogia de Vieiras (R$
96,00) e Duo de Foie Gras e Textura de Figos e Manga (R$ 90,00) são três queridinhos do chef.
A DIAS FERREIRA DO B
O primeiro a reparar na novidade foi o crítico Bruno Agostini:
um dos points gastronômicos mais badalados da cidade, na
rua Dias Ferreira, está se expandindo para outros logradouros
e, graças a seu sucesso, está reformulando o perfil da Conde
Bernadotte. Nos próximos meses, pelo menos sete novas casas
ocuparão um espaço de 150 metros de caminhada por ali. Há
cerca de dois meses abriu as portas, anexo à Chez Claude, o
Bar do Claude, uma extensão natural do restaurante do chef
francês. No balcão, petiscos como os biscoitos de polvilho, os
bolinhos de bacalhau (empanados com corn flakes) e um patê
de fígado de galinha divino, além de uma boa seleção de drinques.
Em frente a Cobal, os funcionários finalizam as obras da
nova filial de um dos melhores bares da cidade: o Porco Amigo,
com seu torresmo de barriga imperdível.
NAS NUVENS
Imagine saborear uma deliciosa refeição podendo apreciar o visual paradisíaco
do Rio beeeem lá do alto? Agora será possível, com o projeto MasterChef Brasil
Nas Nuvens, que vai até o dia 17 de abril de 2022, e terá no Parque do Cantagalo,
na Lagoa, um restaurante que ficará suspenso a 50 metros de altura.
O espaço instalado total do empreendimento conta com 2.000 metros quadrados
e terá infraestrutura completa, com bar lounge, área para eventos e
ambientes altamente instagramáveis. O ponto alto do complexo gastronômico
será a mesas suspensa, com cadeiras para acomodar 24 comensais.
Ao todo, serão seis serviços em oito giros diários. Para a experiência da mesa
suspensa, os valores por pessoa variam de R$ 240,00 (café e brunch) a
R$ 590,00 (jantar).
RATO QUE RUGE
Inaugurado inicialmente como um depósito de bebidas
em um espaço até então desprezado da Rua Joaquim
Silva, na Lapa, o Beco do Rato cresceu, virou bar, endereço
de uma das melhores rodas de samba da cidade,
e não demorou muito tempo para figurar na lista dos
“dez mais” de qualquer boêmio carioca. O Butiquim (a
grafia do nome é assim mesmo, com acentuado sotaque
guanabarino), sobreviveu à invasão do bairro pelos bares
de grifes, mas aproveitou a pandemia para ampliar seu
espaço. Lúcio Pacheco, filho dos fundadores e um dos
donos da casa, alugou um casarão vizinho, e, para alegria
de seus entusiastas, praticamente dobrou a sua capacidade
de atendimento
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RIO•JÁ 33
Fotos: Divulgação
O BOTECO/MUSEU DO ZECA
Depois de estrear com sucesso no Vogue Square, na Barra, o Bar do Zeca Pagodinho, vai ganhar novos endereços. O primeiro
deles, no térreo do icônico Hotel Novo Mundo, inaugurado em 1950 e hoje uma moradia estudantil. Com elementos do art déco,
mas já apontando para o modernismo, o bar do imóvel, entre outros nomes ilustres, recebeu de Getúlio Vargas a Lula, passando
por Tancredo Neves e Brizola. O projeto cenográfico leva a assinatura do renomado arquiteto João Uchôa.
O Boteco segue o mesmo perfil do projeto original e preserva o estilo temático onde o público pode conhecer um pouco da trajetória
do artista através de imagens, fotos e elementos ligados a vida do sambista como, por exemplo, peças religiosas como
as de São Cosme e São Damião e São Jorge que também é retratado, em uma das paredes, pelo artista plástico e grafiteiro,
Acme. O novo empreendimento, no Flamengo, ganhou uma nova denominação “Boteco do Zeca Pagodinho”, por ter um espaço
menor do que os dois primeiros Bares. Ele tem 685 metros quadrados e a capacidade para 350 pessoas.
ALERJ LEVA CULTURA ÀS RUAS
Com menos de um ano de implementação, e temporariamente suspenso devido à pandemia, o projeto “Caminhos do Brasil-
-Memória” deixou as ruas do entorno da Praça XV para ingressar solene na academia. O programa, lançado em outubro de
2019 pela Subdiretoria-geral de Cultura da ALERJ em parceria então com outros 11 equipamentos culturais, cresceu, apareceu,
e virou dissertação de mestrado em “Projetos Sociais e Bens Culturais” na Fundação Getúlio Vargas, assinada por Fabiane
Carnevale, museóloga formada pela Uni-Rio. Além de quatro novas instituições que se uniram ao grupo inicial, vem aí uma nova
etapa do projeto, com o lançamento em 2022, ano do Bicentenário da República, do “Caminhos do Brasil Memória – Cinelândia”.
“Havia uma pauta comum de reivindicações como reforço na segurança, iluminação pública adequada e melhorias na acessibilidade
e mobilidade urbana”, lembra o subdiretor-geral de Cultura da Alerj, Nelson Freitas. Dessa confluência de interesses em
comum 11 instituições se organizaram para lançar em outubro de 2019 o projeto “Caminhos do Brasil Memória – Praça XV”, cujo
grande destaque foi o passaporte que garante gratuidade em todos os museus do Centro Histórico Praça XV.
34 RIO•JÁ
HENRIQUETA NO LEBLON
Vai se chamar Henriqueta o novo restaurante que o Alexandre Rodrigues, da
Gruta de Santo Antônio, vai abrir em março na Dias Ferreira, e parceria com
sócios do Escama e do Galeto do Leblon. A notícia, que vinha sendo guardada
a sete chaves, circulou nos bastidores das melhores cozinhas do Rio e
foi publicada em primeira mão, no dia 23 de novembro, aqui na Rio Já. Dona
Henriqueta é a matriarca responsável pelo sucesso do restaurante de Niterói.
Várias receitas de sua autoria estarão no cardápio da nova casa. A abertura
significa um novo momento para o Gruta, que contratou o consultor francês
especializado em hotéis e restaurantes Charles Piriou, fundador do Food
Fórum Brasil e da 8 Consulting, para refazer todo o branding da marca.
SAUDAÇÃO À MANDIOCA
Dilma tinha razão. O mais badalado chef
brasileiro, Alex Atala, acaba de lançar seu
novo livro que fala sobre… a mandioca, com
direito a panorama histórico e receitas exclusivas.
“Acho que a história do livro é falar
da raiz do Brasil, de um ingrediente que
estava aqui antes da chegada dos portugueses
e vem ganhando protagonismo não
só aqui, mas principalmente entre chefs da
América Latina”, afirmou ele em recente
entrevista para o lançamento de “Manihot
Utilissima Pohl: Mandioca”, da editora
Alaúde (a partir R$ 199). Não se trata de
um livro exclusivamente de receitas: a obra
traz vasto material histórico — desde os
costumes indígenas antes da chegada dos
portugueses — e é repleto de ilustrações,
fotos de época, registros únicos de comunidades
de Norte a Sul do Brasil destacando
as formas de plantio, cultivo, processamento
e preparo da mandioca. O nome veio da
nova classificação no nome científico: Manihot
utilissima Pohl. “É exatamente isso
que a gente quer mostrar: quão ela é útil. É
um ingrediente que pode ser usado em sua
totalidade”, disse Atala. Desenvolvida ao
longo de dois anos, a obra visa destacar a
versatilidade da mandioca na culinária brasileira
e, para abordar o tema, contou com
a contribuição de pesquisadores, cronistas,
cozinheiros, indigenistas e fotógrafos.
O CANASTRA DO PEPÊ
Tudo começou com três amigos franceses apaixonados pelo Rio: Laurent Rinaldo,
Vassia Tolstói e Gerard Giaume. Em 2015, em apertados 20 metros quadrados
de um point despretensioso na Rua Jangadeiros, em Ipanema, eles começaram
uma operação relativamente comum na França: um boteco de vinho - só que
mixado com a mais pura descontração praiana carioca. A ideia deu certo e logo
o Canastra virou point de uma turma que descobriu que é possível sim, beber
vinho despretensiosamente na calçada, sem precisar gastar tubos de dinheiro.
Passados seis anos o trio comemora a chegada na Barra de mais uma filial do
Canastra. Localizado na buliçosa Avenida do Pepê, o Canastra da Barra tem
arquitetura charmosa, capacidade para 165 clientes e é todo aberto, permitindo
ampla vista do mar. Quem comanda a cozinha é o chef parrillero uruguaio Alejandro
Nuñez, e o bar estás nas mãos hábeis do mixologista Walter Garin.
FILHOTE DE ANTIQUARIUS
Nem tudo são más notícias para a gastronomia
carioca, setor duramente atingido pelos reflexos
da pandemia. Após o encerramento dos trabalhos
em 2018, o Antiquarius, clássico restaurante português,
famoso por reunir artistas, políticos e nomes
de peso da economia está, digamos assim, de volta
em três diferentes versões. A antiga direção lançou um sistema apenas de delivery
a partir de uma cozinha em Botafogo. No mesmo bairro, os maitres Uedson
Dias e Luciano Fernandes abriram o simpático Entreamigos, que já gerou um
filhote. E em Ipanema, um time formado por garçons, cozinheiros e sommeliers
do antigo restaurante abriram o Gajos D’Ouro. São variações sobre um mesmo e
saboroso tema, agora com opções para todos os bolsos.
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