06.03.2022 Views

Santo Alberto Magno - Tratado sobre a Prudência

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.


2


3


SUMÁRIO

Capa

Rosto

INTRODUÇÃO

1. Alberto Magno e o Studium generale de Colônia

2. As obras morais de Alberto Magno: o Tractatus de natura boni e o De

bono

3. O tratado De prudentia

4. Tabela cronológica

5. Nota editorial

6. Bibliografia

QUARTO TRATADO SOBRE A PRUDÊNCIA

QUESTÃO I - SOBRE A PRUDÊNCIA EM SI

Artigo 1. Se a prudência é uma virtude

Art. 2. O que é a prudência na definição e na substância

Art. 3. Sobre a matéria da prudência

Art. 4. Qual é o ato próprio da prudência

Art. 5. Se a prudência é uma virtude dita em modo simples ou múltiplo

Art. 6. Se a prudência é o auriga das virtudes

QUESTÃO II - SOBRE AS PARTES DA PRUDÊNCIA

Art. 1. O que é a memória

Art. 2. Sobre a arte da memória

Art. 3. Sobre a inteligência

Art. 4. Sobre a providência

Art. 5. Sobre as parte que Macróbio enumera

Art. 6. A divisão de Aristóteles

TRACTATUS QUARTUS DE PRUDENTIA

QUAESTIO I - DE PRUDENTIA IN SE

Art. 1. An prudentia sit virtus

Art. 2. Quid sit prudentia definitione et substantia

Art. 3. De materia prudentiae

Art. 4. Quis sit actus prudentiae proprius

4


Art. 5. Utrum prudentia sit virtus simpliciter vel multipliciter dicta

Art. 6. An prudentia sit auriga virtutum

QUAESTIO II - DE PARTIBUS PRUDENTIAE

Art. 1. Quid sit memoria

Art. 2. De arte memorandi

Art. 3. De intelligentia

Art. 4. De providentia

Art. 5. De partibus, quas enumerat Macrobius

Art. 6. De divisione Aristotelis

Coleção

Ficha Catalográfica

Notas

5


6

A Giovanni e Chiara,

meus rebentos.

Aprendam a ser prudentes

como as serpentes

sem perder a simplicidade

das pombas.

À professora e amiga

Divania Luiza Rodrigues,

cujo interesse e dedicação

para com a figura de Alberto Magno

ensejaram esta tradução.


INTRODUÇÃO

1. Alberto Magno e o Studium generale de Colônia

A

lbrecht von Bollstädt, OP (em latim: Albertus Magnus),

conhecido como Alberto Magno ou Alberto de Colônia, nasceu

em Launingen (estado da Bavária) por volta de 1200 e morreu na

mesma cidade em 1280. Homem de gênio extraordinário, com

sua obra abriu caminho a outros dois grandes gênios, um elevado às honras

dos altares e o outro condenado por heresia: Tomás de Aquino e Mestre

Eckhart. Segundo Etiénne Gilson, “o principal mérito de Alberto Magno

consiste em que ele foi o primeiro a ver que enorme aumento de riquezas a

ciência e a filosofia grego-árabes representavam para os teólogos cristãos”. [1]

Apesar de ele ter reproduzido Aristóteles e seus comentadores, foi menos um

comentador do que um filósofo original. “Na Idade Média distinguia-se entre

o escriba (scriptor), que só é capaz de recopiar as obras de outrem sem nada

modificar; o compilador (compilator), que acrescenta ao que copia, mas sem

que seja coisa sua; o comentador (commentator), que põe coisa sua no que

escreve, mas só acrescenta ao texto o necessário para torná-lo inteligível; e,

enfim, o autor (auctor), cujo objetivo principal é expor suas próprias ideias, só

apelando para as ideias alheias a fim de con​firmar as suas: aliquas scribit et sua

et aliena; sed sua tanquam princi​palia, aliena tanquam annexa ad

confirmationem, et talis debet dici auctor. [2] Para os homens do século XIII,

Alberto Magno é incontestavelmente um autor; por um privilégio reservado

até então a alguns doutores ilustres e já mortos, é citado como uma

‘autoridade’ (auctoritas = auctor) e suas obras são lidas e comentadas em

público nas escolas, quando ainda vivo. Os cristãos constatavam com

satisfação que possuíam, enfim, sua própria filosofia e que um dos seus se

colocava no mesmo nível dos mais ilustres árabes e judeus”. [3]

No verão de 1248, Alberto Magno fundou na cidade de Colônia o Studium

generale para os dominicanos da província alemã. A partir daquele ano, sua

fama espalhou-se por todas as províncias da Ordem. Naquela época, “o

império não tinha universidades – a primeira a ser instituída foi a de Praga em

1348 – e portanto o Studium de Colônia (que obteve esse título só em 1388)

foi por mais de meio século o único lugar onde havia um ensinamento de tal

nível. Ele exercia um verdadeiro monopólio, garantindo primeiramente a

7


unidade dos conventos dominicanos e, em segundo lugar, estendendo a

própria influência ao conjunto da vida eclesial. A qualidade dos estudos

produzidos no Studium e a originalidade que estes souberam expressar

provocaram o ciúme das outras ordens religiosas e do clero secular, e isso não

foi alheio à aversão que, ao redor de 1325, manifestou-se contra aquele que

garantia a direção intelectual, Meister Eckhart de Hochheim”. [4]

Alberto Magno assumiu uma atitude de receptividade aberta e corajosa,

que se traduziu no seu projeto grandioso de expor e parafrasear todo o Corpus

Aristotélico, a fim de torná-lo inteligível aos latinos: uma intenção que logo se

revelou de natureza enciclopédica. Por causa disso, ele mereceu o título de

Doctor Universalis e de auctoritas máxima continuamente citada.

Na história da filosofia há uma espécie de regra segundo a qual os

elementos de uma síntese doutrinal conservam uma tendência a desprenderse

dela para recuperar, num segundo momento, seu lugar natural. É uma

verdade histórica que, durante o século XIII, a técnica filosófica de Aristóteles

foi a que dominou quase que totalmente: “todo o mundo, ou quase, dele

toma emprestado, com a colocação dos problemas, o método para discuti-los

e resolvê-los; mas, em fins do século XIII, os elementos neoplatônicos

emprestados de Avicena e Dionísio, que Alberto introduzira em sua síntese

doutrinal, prevalecem decididamente no espírito de alguns de seus sucessores,

sem que Aristóteles cesse, aliás, de fornecer o material dos conceitos filosóficos

e o método dialético das discussões”. [5]

É possível afirmar que o bispo de Regensburg foi o primeiro a utilizar

amplamente Aristóteles, principalmente pela sua atenção temporã à Ethica

Nicomachea, comentada por ele, lançando mão da versão integral de Roberto

Grosseteste. A ética albertiana, portanto, apresenta-se com os traços do

intelectualismo aristotélico, segundo o qual o intelecto prático é uma extensão

do intelecto especulativo na esfera da ação, que, contudo, depende também

da vontade. Seus tratados De natura boni e De bono consideram o bem em

perspectiva ética e não ontológico-metafísica: o conceito de “bem”,

apreendido em sentido aristotélico como “aquilo para o qual todos tendem”,

orienta uma indagação sobre as virtudes que é levada para frente segundo

uma perspectiva natural, ou seja, dispensando o condicionamento teológico.

8


2. As obras morais de Alberto Magno: o Tractatus de natura boni e o De bono

Tomás de Aquino viveu no Studium generale de Colônia de 1248 a 1252,

assimilando profundamente o pensamento de Alberto Magno, principalmente

no que se refere às questões morais: “Ao seu mestre Alberto, são Tomás deve

bastante em matéria moral”. [6] A obra mais antiga escrita pelo Doctor

Universalis que chegou até nós foi o Tractatus de natura boni (Tratado sobre a

natureza do bem), entre 1233 e 1234. No começo da obra, Alberto Magno

explicita seu plano: “Neste tratado, portanto, desejamos fazer uma exposição

da natureza desse bem criado mais moral que metafísica, compondo um

primeiro tratado sobre o bem da natureza, um segundo sobre o bem da

virtude política, um terceiro sobre o bem da graça, um quarto sobre o bem

que está nos dons [vale dizer, do Espírito Santo], um quinto sobre o bem da

bem-aventurança, um sexto sobre o bem dos frutos do Espírito, um sétimo e

último sobre o bem da felicidade e da bem-aventurança nas quais a perfeição

da vida espiritual é plena”. [7] Na realidade, o dominicano alemão não levou a

cabo seu projeto, como aconteceu também com outras obras. Segundo

Tarabochia Canavero, a impressão é que “Alberto Magno começou a redação

da sua obra com muita clareza sobre a matéria a ser tratada e a ordem a

seguir, só que depois temas importantes, por assim dizer, tomaram a dianteira

e levaram o tratado muito além do plano original”. [8]

Entretanto, dez anos mais tarde, em Paris, conseguiu realizar seu projeto,

escrevendo a Summa de creaturis, ou Summa prior ou Summa parisiensis,

estruturada em seis partes: De sacramentis, De incarnatione, De resurrectione,

De IV coaequaevis, De homine, De bono. Nessa última parte, semelhantemente

ao Tratado sobre a natureza do bem, Alberto Magno considera o bem do ponto

de vista moral e organiza a matéria em cinco tratados: o primeiro sobre o bem

em geral ou de acordo com o modo comum de entender o bem, ou seja, sobre

o bem metafísico e sobre o bem moral; o segundo sobre a fortaleza; o terceiro

sobre a temperança; o quarto sobre a prudência e o quinto sobre a justiça. A

estrutura, aqui, segue o esquema das quaestiones disputatae: primeiramente

coloca-se uma questão (quaeritur), seguida pelas opiniões de outros autores

(videtur quod) e pelas opiniões contrárias às anteriores (sed contra),

apresentando logo depois a solução com uma solução magistral do problema

(respondeo) e, enfim, resolvendo uma por uma as várias objeções (ad

primum...). [9] Entre as autoridades citadas no De bono, além da Escritura e dos

Padres da Igreja, amplo espaço é reservado a Aristóteles e a Cícero (indicado

9


só pelo segundo nome, Túlio), embora Alberto Magno não conheça o Livro

VI da Ética a Nicômaco. [10] 10


3. O tratado De prudentia

A caracterização ética da prudência finca suas raízes na tradição clássica,

primeiramente grega e romana, seguida pela patrística e pela escolástica. No

Livro VI da Ética a Nicômaco, [11] Aristóteles fala da phrónesis (ação da mente,

do sentido), pela qual a prudência deve ser entendida como “sensatez”.

Phrónesis, entretanto, não deve ser confundida nem com a ciência, nem com a

técnica: “não é ciência porque a ação pode ser de outro modo, e não é técnica

porque são distintos o gênero da ação e o da produção”. [12] Com efeito,

segundo Aristóteles, é necessário distinguir as virtudes do pensamento

(dianoéticas) das virtudes do caráter (éticas). No âmbito das virtudes

dianoéticas, é mister distinguir a sabedoria (sophia), que, conhecendo os

princípios de todas as coisas, é “a mais apurada das ciências”, [13] da sensatez

(phrónesis), que não é um saber teórico, mas prático, sendo “uma habilitação

verdadeira realizadora de ações, pela razão, a respeito dos bens humanos”. [14]

A tradução de phrónesis por prudentia é obra de Marco Túlio Cícero, no

tratado De officiis (Dos deveres), no qual, junto com a sabedoria, a justiça, a

fortaleza e a temperança, é inserida entre as quatro virtudes principais, fontes

de todo dever, segundo um modelo apresentado por Platão no Livro IV da

República. [15]

A partir de Santo Ambrósio, essas quatro virtudes principais são chamadas

“cardeais” e, com Santo Agostinho, são associadas às três virtudes

“sobrenaturais” ou “teologais” (fé, esperança e amor), assim denominadas

porque relacionadas diretamente a Deus, representando um dom da sua

graça.

Na Idade Média, com Alberto Magno há um novo despertar do interesse

para com a virtude da prudência, à qual ele dedica um Tratado na obra De

bono. É composto por duas questões: a primeira sobre a prudência em si (seis

artigos), a segunda sobre as partes da prudência (também seis artigos). Na

primeira questão, o bispo de Regensburg analisa se a prudência é uma virtude,

pois as definições gerais de virtude não parecem condizer com ela e tampouco

há nela os caracteres comuns a todas as virtudes. Na solução proposta pelo

mestre dominicano, conforme a qual “a prudência é uma virtude e uma parte

da honestidade” (405), ressalta o caráter dessa virtude como “ciência das

ações a serem feitas” (407), não sendo uma doutrina “mas uma prática para

nos tornarmos bons” (410). Ao procurar o que é a prudência na definição e na

substância (art. 2), Alberto examina as definições de Cícero, de Macróbio, de

11


Agostinho e de Harialdo (412), mas não de Aristóteles por não conhecer o

Livro VI da Ética a Nicômaco. No entanto, o bispo de Regensburg lança mão

da definição de prudente do Filósofo em dois pontos: “É próprio do homem

prudente investigar em cada gênero a certeza mais profundamente, pelo que

admite a natureza da coisa” (402); “é julgado sábio ‘aquele que conhece as

coisas difíceis e não as coisas simples a serem conhecidas pelo homem’” (409).

E conclui afirmando que a prudência “não é uma ciência imperfeita do bem,

mas a mais perfeita, porque o bem simplesmente é aquilo que, segundo uma

reta razão, deve ser desejado ou realizado” (419).

Matéria da prudência (art. 3) é “o bem que pode ser encontrado em

alguma ação” (430), ou seja, “o que se deve escolher para a ação reta” (433),

embora o prudente precise conhecer também “o que se deve evitar por causa

da falta de escolha para a ação reta” (433). E, como a razão, “ordena para a

escolha dos objetos que devem ser desejados, quaisquer que sejam, segundo a

reta razão do bem útil ou honesto” (438).

Examinando o ato próprio da prudência (art. 4), que é “compreender a

diferença entre o bem, o mal e o indiferente” (439), Alberto afirma que ele é

múltiplo (443) e é ordenado em quatro etapas: “Em primeiro lugar, pela razão

apreende o que é operável; em segundo lugar, examina pelas razões do direito,

do vantajoso e do honesto; em terceiro lugar, aconselha como adquirir ou

recusar; em quarto lugar ordena” (443). Outro problema solucionado nesse

artigo é da “mediedade”, ou seja, se a prudência “em ato tende ao seu médio”

(445). Na Idade Média, a escolástica medieval cunhou uma sentença a partir

da Ética a Nicômaco de Aristóteles para expressar o ideal grego da medida, da

moderação, do equilíbrio: In medio stat virtus, a virtude está no meio, entre

dois extremos que devem ser igualmente evitados. Às vezes era repetida para

afirmar a necessidade ou a conveniência da moderação, do equilíbrio, ou

como convite a evitar os excessos. O bispo de Regensburg, considerando que

a prudência é uma virtude lógica que determina sua matéria (o bem que deve

ser escolhido para que uma ação seja justa) através da razão, exclui a

possibilidade de a prudência ter um médio em si, a não ser que seja

relacionada à matéria das outras virtudes como a fortaleza ou a temperança.

A complexidade e a importância da virtude da prudência explicam outros

dois problemas que o mestre dominicano analisa nesta questão: se a virtude é

dita em modo simples ou múltiplo (art. 5), e se deve ser considerada o auriga

das virtudes (art. 6). Quanto ao primeiro ponto, Alberto Magno afirma que a

prudência é dita em modo múltiplo (448), mas mesmo assim há dois

12


significados principais: o primeiro de “ciência prática ordenada à vontade

como consequente que sabe escolher sagazmente as coisas que ajudam e se

afastar das coisas que estorvam” (457), e o segundo de “sagacidade ou solércia

que encontra o bem para si, ou simplesmente, ou em qualquer matéria, e por

isso, por causa da matéria e do afeto relacionado, às vezes é apreendida no

bom sentido, às vezes é apreendida no mau sentido” (457).

A palavra auriga, em latim, significa “cocheiro”, e Alberto diz concordar

“com o bem-aventurado Bernardo, que a prudência não é tanto uma virtude,

quanto o auriga das virtudes” (466) e, desenvolvendo essa ideia, o dominicano

analisa também a relação das virtudes entre si, concluindo que “quando é

feita uma comparação de dignidade entre as virtudes, uma qualquer pode ser

mais digna de outra segundo diferentes relações. Donde aquela questão vale

pouco” (467).

A segunda parte do Tratado examina as partes da prudência, de acordo

com as divisões de Cícero, de Macróbio e de Aristóteles. Os primeiros dois

artigos são dedicados à memória (o que é, art. 1, e qual é a arte da memória,

art. 2), que é tratada somente por Cícero (468). Citando a definição de

Cícero, segundo a qual a memória “é a faculdade pela qual o ânimo relembra

as coisas que foram” (468), e especificando que há dois tipos de memória,

natural e artificial (471), Alberto considera a arte da memória seguindo a

tradição transmitida pela obra pseudociceroniana Rhetorica ad Herennium. [16]

Nos artigos seguintes, o mestre dominicano analisa as partes listadas por

Cícero, a saber, a inteligência (art. 3) e a providência (art. 4), que é a “parte

da prudência que ajuda na escolha das ações a serem feitas a partir da

consideração dos acontecimentos futuros possíveis, para os quais também nós

nos aconselhamos” (486). Inteligência e providência, portanto, aperfeiçoam e

completam a prudência em relação ao passado, ao presente e ao futuro. O

artigo 5 da segunda parte, em seguida, analisa as partes enumeradas por

Macróbio na obra Sobre o sono de Cipião: “a razão, o intelecto, a

circunspecção, a providência, a docilidade e a cautela” (487), além das

virtudes que acompanham a prudência e que são tratadas no livro dos

Provérbios: “a erudição, a astúcia, a ciência, a disciplina e o governo” (488).

Essas, na realidade, são condições ou efeitos da prudência, antes que suas

partes (491).

Enfim, Alberto considera a divisão das virtudes de Aristóteles no final do

Livro I da Ética a Nicômaco (sabedoria, sensatez e inteligência) que, segundo

ele, tem a ver mais com “os hábitos gerais da virtude intelectual, como

13


também a razão geral é uma potência que diz respeito a todas as questões

morais que são ordenadas seja à potência concupiscível, seja à potência

irascível” (495).

14


4. Tabela cronológica [17] 15


1200 ca. Nascimento em Lauingen (Baviera)

1222 Viagem à Itália e primeiros estudos universitários em Pádua

1223 ou

1229

Ingresso na Ordem dominicana em Pádua (Itália). Noviciado e primeiros estudos teológicos no

convento de Colônia

1233/1234(?) Leitor de teologia nos conventos da Ordem (Hildesheim, Friburgo em Bresgóvia, Regensburg,

Estrasburgo, prov. Colônia)

De natura boni

Sermones

1242 Estudos teológicos em Paris

1242-1245 1242 ca.

1242

1242-

1250 ca.

1243

Primeiros tratados teológicos:

De sacramentis

De incarnatione

De resurrectione

De IV coaequaevis

De homine

De bono

Principium super totam Bibliam

Quaestiones (theologicae)

I Sententiarum

III Sententiarum

1245 Mestre em Sagrada Teologia (magister theologiae). Assunção da cátedra dos dominicanos para os

estudantes “não-franceses” em Paris

1246 ca. Conclusão do II Sententiarum

15/05/1248 Assinatura de um documento que condena o Talmud, em Paris

1248 (verão) Fundação do Studium generale em Colônia. Primeiro magistério coloniano durante o qual orienta

Tomás de Aquino

a partir de

1248

Comentários ao Corpus Dionysiacum

Super Dion. De caelesti hierarchia

Super Dion. De ecclesiastica hierarchia

1249

1250

1250-

1252

Conclusão do IV Sententiarum

Super Dion. De divinis nominibus

Super Dion. De mystica theologia et Epistulas

Redação do comentário Super Ethica

1251 Começo dos comentários ao Corpus Aristotelicum

1251-

1252

1251-

1254 ca.

Physica

De natura loci

De causis proprietarum elementorum

De generatione et corruptione

De caelo et mundo

Super Porphyrium De V universalibus

17/04/1252 “Pequena intermediação” de paz entre o bispo Conrado de Hochstaden e os cidadãos de Colônia

1254 Eleição a Provincial da Teutônia em Worms

1254-

1257 ca.

Meteora

De mineralibus

De praedicamentis

De anima

16


De sex principiis

Liber divisionum

Peri hermeneias

Analytica priora

Analytica posteriora

28/06/1256 Participação ao Capítulo Geral da Ordem em Paris

1256-1257 Estadia na corte do Papa Alexandre IV em Anagni (Itália)

1256 Defesa das Ordens mendicantes diante do Papa em Anagni

De fato (remanejado na Summa I)

Parva naturalia:

De nutrimento et nutrito

De sensu et sensato

De memoria et reminiscentia

De intellectu et intellegibili (l. 1)

De somno et vigilia

De spiritu et respiratione

De motibus animalium

De iuventute et senectute

De morte et vita

De intellectu et intellegibili

(l. 2 antes do De natura et origine animae)

De vegetabilibus

De unitate intellectus

(versão final em 1263; mais tarde incorporado na Summa II)

1257 Dispensa do cargo de Provincial

1257-1260 Segundo magistério coloniano

1257-

1264

Super Matthaeum

28/06/1258 “Grande intermediação” de paz entre o bispo Conrado de Hochstaden e os cidadãos de Colônia

1258-

1262/63

Quaestiones super De animalibus

De animalibus

De natura et origine animae

De principiis motus processivi

1259 Capítulo geral da Ordem em Valenciennes; cooperação para a ela​bo​ração de um novo plano de

estudos para os dominicanos

05/01/1260 Nomeação a bispo de Regensburg

1260 ca.

1262-

1263 ca.

Ethica

Super Euclidem

13/02/1263 Nomeação a Pregador das Cruzadas para a Alemanha

1264 ca.

1264-

1267 ca.

Methaphysica

De causis et processu universitatis a prima causa

10/10/1264 Morte de Urbano IV; Alberto renuncia ao cargo de Pregador

das Cruzadas

1264-1267 Ensino nos conventos da Ordem (Würzburg, Colônia e Estrasburgo) e atividade pastoral de cura das

almas

1264 ca. Topica

17


após

1264

1264-

1268

De sophisticis elenchis

Politica

Fase de comentários bíblicos intensivos

Super Marcum

Super Lucam

Super Iohannem

Super Ieremiam

Super Threnos

Super Baruch

Super Ezechielem

Super Danielem

Super Prophetas minores

Super Iob (terminado em 1272 ou 1274)

1267-1270 Atividade de leitorado nos conventos de Estrasburgo e Pommern

após

1268

Summa theologiae pars I

1269 Recusa de assumir novamente a cátedra em Paris

1270 Retorno para Colônia

1270 De XV problematicis

12/04/1271 Acordo de paz entre o arcebispo Engelbert e os cidadãos de Colônia

após

1274

Problemata determinata

Summa theologiae pars II

Super missam

De corpore Domini

1279 Redação do testamento

18/08 Último registro de Alberto

15/11/1280 Morte de Alberto

18/11 Sepultura na igreja do convento de Colônia

1651 Primeira edição completa das Obras de Alberto Magno, ed. Petrus Jammy (Editio Lugdunensis)

1890-1899 Segunda edição completa por Auguste e Émile Borgnet (Editio Parisiensis, reimpressão ampliada da

Edição de Jammy)

1931 Canonização de Alberto e atribuição do título de Doutor da Igreja pelo Papa Pio XI

04/08/1931 Fundação do Instituto Alberto Magno para a publicação de uma edição histórico-crítica das obras

albertianas e pesquisas (Editio Coloniensis)

16/12/1941 Proclamação de Alberto como padroeiro dos cientistas

1951 O De bono é publicado no primeiro volume da Editio Coloniensis

18


5. Nota editorial

A tradução do tratado De prudentia foi feita a partir da edição crítica

coloniense: Sancti Doctoris Ecclesiae ALBERTI MAGNI Ordinis Fratrum

Praedicatorum Episcopi. De bono. Tractatus quartus. De Prudentia. Coloniae:

Monasterii Westfalorum in aedibus Aschendorff, 1951, pp. 217-258.

19


6. Bibliografia

ALBERTO MAGNO. Il Bene. Introduzione, traduzione e note di Alessandra

Tarabochia Canavero. Milano: Rusconi, 1987.

________ Zeittafel (Chronologie nach derzeitigem Forschungsstand).

Disponível em: <http://www.academia.edu/3490596/Albertus_Magnus_-

_Chronologie_Leben_und_Werk_>.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro VI. Tradução de Lucas Angioni.

Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/isp/dissertatio/revistas/34/12.pdf>.

GILSON, E. A Filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2007, 2ª

ed.

JARCZYK, G. e LABARRIÈRE, P-J. L’impronta del deserto – L’ateismo mistico

di Meister Eckhart. Napoli: Guerini e Associati, 2000.

MARTINS, J. A. Sobre as origens do vocabulário político medieval. In:

Trans/Form/Ação vol. 34, n. 3, Marília, 2011.

PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1972, 9ª ed.

SOUZA-LARA, D. A especificação dos atos humanos segundo são Tomás de

Aquino. Roma: Ed. Università Santa Croce, 2008.

20


QUARTO TRATADO SOBRE A PRUDÊNCIA

PRIMEIRA QUESTÃO

21


SOBRE A PRUDÊNCIA EM SI

Após tratar das virtudes que consistem nas paixões causadas ou inatas e

depois de tratar dessas paixões, cumpre procurar as virtudes que se exercem

na razão. E, sendo duas as virtudes, são examinadas duas questões. A primeira

é a respeito da prudência, a segunda a respeito da justiça. Quanto à

prudência, contudo, procuraremos duas questões, ou seja, a prudência em si e

a prudência nas suas partes. Sobre a prudência em si, pois, são procuradas seis

questões. A primeira, se é uma virtude; a segunda, o que é na definição e na

substância; a terceira, qual é sua matéria; a quarta, qual é seu ato próprio; a

quinta, se é dita em modo simples ou múltiplo; a sexta, em que modo não

seja uma virtude mas sim o auriga das virtudes.

Artigo 1. Se a prudência é uma virtude

Primeiramente, portanto, procura-se se é uma virtude. E parece que não

seja, por múltiplas razões:

(1) Toda forma de prudência está na razão; [mas] nenhuma virtude está na

razão; logo, nenhuma forma de prudência é uma virtude. A primeira

afirmação é evidente por si, a segunda se comprova com aquilo que diz o

Filósofo, que a virtude é uma certa vontade ou, em todo caso, não existe sem

a vontade. Mas a vontade não é a razão.

(2) Igualmente, a virtude é um hábito consentâneo com a razão conforme a

natureza; nenhuma forma de prudência é um hábito consentâneo com a

razão conforme a natureza; logo, nenhuma forma de prudência é uma

virtude. A primeira afirmação é comprovada por Túlio, que a escreve; a

segunda é comprovada pelo fato de toda forma de prudência ser exercida

como uma arte e uma ciência.

(3) Igualmente, toda virtude provém de paixões e ações, nas quais é a que

opera melhor. A prudência não provém delas; logo, ela não é uma virtude. A

primeira afirmação está escrita nas Éticas; a segunda, porém, é comprovada

pelo fato de a prudência ser gerada pela prática e pelo tempo.

(4) Igualmente, toda virtude tem a ver com o difícil e o bom, [mas]

nenhuma forma de prudência tem a ver com o difícil e o bom; logo, nenhuma

forma de prudência é uma virtude. A primeira afirmação é comprovada pela

autoridade do Filósofo nas Éticas, a segunda é comprovada pelo fato de a

prudên​cia considerar o verdadeiro e o provável; mas a razão do verdadeiro e

do provável é diferente da razão do bom e do difícil.

22


(5) Igualmente, nada que no mesmo modo impulsione a operar e afaste do

operar é uma virtude operativa; a prudência está no mesmo modo em relação

àquilo que impulsiona a operar e àquilo que afasta do operar; logo, a

prudência não é uma virtude operativa. A primeira afirmação é comprovada

pelo fato de que toda virtude política é relativa à ação, a segunda é

comprovada pela definição de prudente que está no primeiro livro das Éticas,

onde o Filósofo diz assim: “É próprio do homem prudente investigar em cada

gênero a certeza mais profundamente, pelo que admite a natureza da coisa”.

Disso, com efeito, fica evidente que a prudência tem a ver com os objetos

conhecíveis, seja que impulsione a operar, seja que afaste do operar.

(6) Igualmente, nenhuma virtude tem por fim a contemplação, mas que nos

tornemos bons; toda forma de prudência, porém, tem por fim a

contemplação e não que nos tornemos bons; logo, nenhuma forma de

prudência é uma virtude. A primeira afirmação é evidente pela definição de

virtude, que é a capacidade de operar no modo melhor, seja nas paixões, seja

nas ações. A segunda afirmação é comprovada por aquilo que Túlio afirma no

primeiro livro Dos deveres, onde diz assim: “Das quatro partes em que

dividimos a natureza e a força da honestidade, a primeira”, ou seja, a

prudência, “que consiste no conhecimento do verdadeiro, atinge

maximamente a natureza humana. Todos nós, de fato, somos atraídos e

conduzidos ao desejo do conhecimento e da ciência”. E disso se apreende que

a prudência é o conhecimento do verdadeiro e que todos por natureza

desejam conhecer. Mas esse verdadeiro não está senão no intelecto

especulativo, porque ou é verdadeiro simplesmente, ou é o verdadeiro

daquela ciência à qual as outras estão sujeitas, que é ciência por si mesma e

não por outro, e isso é o verdadeiro próprio da filosofia primeira, e seja um

que outro verdadeiro existem só para a contemplação.

(7) Igualmente, uma coisa são os princípios da geração da prudência e outra

coisa são os princípios da geração da virtude. Prova: como as virtudes são

geradas das ações, enquanto a prudência [é gerada] por experimento,

invenção e doutrina, a virtude não tem a razão da prudência nem vice-versa;

logo, a prudência não é uma virtude.

(8) Além disso, alguns em modo mais tosco objetam assim: nenhuma forma

de ignorância é um vício; logo, por oposição, nenhuma forma de ciência é

uma virtude.

(9) Igualmente, na alma há dois hábitos diferentes bem distintos, ou seja, a

ciência e a virtude; logo, nenhuma forma de ciência é uma virtude, e

nenhuma forma de virtude é uma ciência, porque são diferentes. Mas toda

23


forma de prudência é uma ciência; nenhuma forma de virtude é uma ciência;

logo, nenhuma forma de virtude é prudência.

Mas, ao contrário, o Filósofo afirma, no primeiro livro das Éticas, quase no

final: “As virtudes são determinadas também de acordo com esta distinção.

Delas, com efeito, nós dizemos que algumas são intelectivas, outras, ao invés,

morais; sem dúvida são intelectuais a sabedoria, a sensatez e a inteligência,

mas a liberalidade e a honestidade são morais”. Disso se apreende que a

prudência, que é uma virtude intelectual, é uma virtude.

Igualmente, no começo do segundo livro: “Contudo, há duas formas de

virtude, uma intelectual e outra usual; a intelectual é gerada e se desenvolve

principalmente a partir da doutrina e, por isso, necessita de experiência e de

tempo”. E disso se apreende a mesma conclusão de antes.

Igualmente, Túlio, na primeira Retórica: “A virtude, portanto, tem quatro

partes: prudência, justiça, fortaleza, temperança”.

Igualmente, no livro Dos deveres afirma que a prudência é uma parte da

honestidade.

Além disso, o mesmo fala Macróbio no comentário Sobre o sonho de Cipião,

que a prudência é a primeira das virtudes, com a qual alguém pode conseguir

a bem-aventurança.

Sobre isso há algumas considerações:

Como cada parte motora da alma se relaciona com um ato da virtude,

assim se relacionam aquelas disposições que aperfeiçoam cada parte; mas,

entre as partes motoras, a principal é a razão; portanto, seu hábito é uma

virtude principal.

Igualmente, “aquilo pelo qual cada coisa [é], aquilo [é] mais”, como afir​ma

o Filósofo nos I Analíticos posteriores. Mas as potências da alma sensível não

participam da virtude, senão enquanto participam num certo modo da razão;

logo, um hábi​to da razão será uma virtude mais do que os hábitos das outras

potências.

Igualmente, como uma potência se relaciona com outra potência, assim

um hábito se relaciona com outro hábito. Mas a potência, que é a razão, põese

em relação às outras como regente; logo, seu hábito será regente dos outros

hábitos. Mas, em qualquer gênero, o regente é mais digno do que o regido;

logo, a prudência é uma virtude mais digna do que qualquer outra.

Igualmente, toda potência da alma que diz respeito às ações é aperfeiçoada

com um hábito que é uma virtude. A razão é a potência da alma que, entre as

outras, maiormente tem a ver com as ações; logo, é aperfeiçoada por um

24


hábito que é uma virtude; mas o hábito da razão em relação às ações é a

prudência; logo, a prudência é uma virtude.

Igualmente, para toda dificuldade e todo bem nas ações há uma virtude

determinada. Mas, no discernimento e na escolha das ações a serem realizadas

conforme a reta razão da virtude, está o difícil e o bom nas ações a serem

realizadas; logo, há uma virtude determinada para isso. A primeira afirmação

é evidente por si, a segunda é comprovada pelo fato de que sem

discernimento e escolha das coisas honestas relativas à ação da virtude não há

nenhum bem e nenhuma dificuldade numa virtude. Portanto, justamente

nisso [no discernimeno e na escolha] está o bem.

Solução: Cumpre responder que, na verdade, a prudência é uma virtude e

uma parte da honestidade, como afirmam santos e filósofos.

(1) Ao primeiro ponto, portanto, cumpre dizer que esta afirmação é falsa:

nenhuma virtude está na razão. Àquilo com que prova, cumpre responder

que, segundo o Filósofo, toda vontade está na razão num modo só, e por isso

cumpre relembrar aquilo que dissemos no tratado Sobre a alma, na questão

“Sobre a vontade”. Com efeito, dissemos que a vontade é um motor da razão

num só modo e é anteriormente ordenada à razão, e assim a ação da razão se

torna voluntária. E nesse modo a prudência, pelo que é virtude, está na razão

e é um hábito voluntário, pois assim é sujeita ao louvor ou ao vitupério, e

assim a aquisição da virtude é livre e não se realiza sem a vontade e, em certo

sentido, torna-se vontade. Torna-se vontade em certo sentido pelo que é

querido livremente, mas não sem a vontade, enquanto está na razão, a qual

não é movida para as obras da prudência senão pela vontade e não por um

silogismo ou por outro tipo de prova.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que também naquele silogismo a

afirmação média é falsa, porque o hábito da prudência concorda com a razão

conforme a natureza e não conforme a arte. Com efeito, embora alguém

compreenda com a razão o que é a prudência, todavia a prudência, enquanto

virtude, não está na razão senão enquanto foi anteriormente originada por

uma vontade de virtude. E, portanto, o hábito assim gerado não é somente da

razão, mas é simplesmente da vontade enquanto ela mesma geradora, da

razão, ao invés, somente enquanto sujeito. E, embora o prudente conheça as

razões da ação, não é orientado pela razão, mas sim pelo bom hábito e pela

sua força, assim como acontece nas outras virtudes. Isso é comprovado por

duas razões, a primeira das quais é um sinal e a outra uma causa. Certamente

é um sinal porque vemos que simples idiotas, que não possuem razão para

conhecer o que pode ser operado com uma ciência adquirida por instrução,

25


escolhem otimamente as coisas que ajudam a vida de virtude e não são

orientados a uma vida desse tipo por alguma arte, mas antes pela mesma força

do hábito da prudência. A causa, ao invés, é que se perguntarmos a alguém

prudente, que escolhe as ações que condizem com uma vida boa, qual é a

razão pela qual escolhe algumas e recusa outras, dirá que é a reta razão da

virtude ou do bem. Se realmente perguntarmos, porventura, se ele escolhe

aquilo que é próprio da reta razão porque convencido pela razão, ou pelo bem

que há naquilo que é reto ou honesto, ele dirá que não escolhe pela razão,

mas pelo bem, pois muitos que possuem a razão operam em modo contrário.

Portanto, como a arte inclina pela razão que convence, a natureza, ao invés,

pelo hábito que opera, fica claro que a prudência inclina à ação como a

natureza e não como a arte. E se quiséssemos expressar tudo aquilo que, na

prudência, dispõe à ação, diríamos que inclina como a natureza que possui a

arte.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer, no mesmo modo, que a primeira

afirmação é verdadeira e a menor é falsa. Mas ao argumento com o qual é

comprovada, cumpre responder que a prudência é gerada por experimento e

operação, porque ela mesma possui o que é próprio da ciência e o que é

próprio da virtude. Para entender isso, cumpre notar que a operação a partir

da qual procede a virtude e, igualmente, a paixão, é aquela na qual a vontade

é o primeiro motor. Contudo, digo “vontade racional” e “primeiro motor”, ou

no sofrer ou no operar. Donde, como a vontade opera na parte motora da

alma sensível, assim também opera na parte motora da alma racional, que é a

razão. E, portanto, de toda ação e paixão deriva seja o que é próprio da

virtude usual, seja o que é próprio da prudência. Com efeito, comparando um

ato à matéria para a qual o próprio ato é, se ela for o justo ou o casto ou o

árduo ou o terrível, é apreendida uma virtude que é simplesmente operativa e

usual; pela mesma comparação em relação às razões da virtude em geral,

encontra-se o hábito da prudência, pois esta operação não é senão um

discernimento reto conforme a razão para a vida em prol do bem humano,

como diz o Filósofo. E assim fica evidente, a partir das mesmas ações e

paixões, que a prudência procede daquilo que é formal e da sua natureza de

virtude; quanto àquilo que, ao invés, é material, como a prudência é a ciência

das ações a serem feitas, procede às vezes do estudo e do ensino.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que a afirmação segundo a qual nenhuma

forma de prudência tem a ver com o que é difícil e o que é bom é falsa,

porque a prudência como virtude diz respeito ao que é difícil e ao que é bom.

Ao argumento, pois, com que é comprovada esta afirmação, cumpre

responder que a prudência como virtude não é do verdadeiro enquanto

26


verdadeiro, nem do provável enquanto provável, mas antes do verdadeiro

segundo a reta razão para a vida de virtude, ou seja, do verdadeiro e do

provável do ponto de vista do honesto. E isso também tem a mesma

dificuldade que tem uma virtude que é apenas operativa. Quando, com

efeito, eu opero ações justas e castas, estas têm dificuldades em si, pois são

contrárias ao apetite do sentido por causa da continência do ímpeto da

potência apetitiva sensível; mas estas mesmas ações, pela reta razão que está

nelas, constituem a prudência. Ora, escolher e seguir a reta razão é difícil pela

mesma razão, porque significa que o apetite sensível é contrariado, e assim é

evidente em que modo a prudência tem a ver com o que é difícil e o que é

bom.

(5) Ao outro ponto cumpre dizer que não há nada que igualmente ordene à

operação e afaste do operar, porque o verdadeiro universal, que é o fim do

intelecto especulativo, não diz respeito à operação, porque, como a operação

é particular e o particular não está no universal senão em potência, o universal

não poderia produzir uma operação, porque uma potência nunca produz algo

por si mesma; ora, o verdadeiro de uma arte operativa é o verdadeiro das

operações particulares ou proporcionadas ao particular e não afasta do operar.

Por isso, a primeira afirmação supõe o falso e, portanto, não é verdadeira

senão hipoteticamente, ou seja, caso houvesse algo semelhante; e se se admite

esta [afirmação], então a segunda é falsa, porque a prudência não afasta do

operar.

Mas, àquilo com que se comprova esta afirmação, cumpre responder que

há um equívoco entre prudência e prudente, porque a prudência é o nome da

ciência e é o nome da virtude; e quando é o nome da ciência, há ainda um

equívoco entre o hábito para conhecer e o hábito para operar adquirido pelo

estudo e pelo ensino. E Aristóteles, naquele lugar, fala do prudente pelo que é

substituí​do com o sábio. E por isso também Boécio fala o mesmo do sábio no

livro Sobre a Trindade, dizendo assim: “É próprio do homem erudito procurar

entender a verdade de cada coisa assim como ela é”. E Aristóteles, no primeiro

livro da Velha Metafísica, diz que é julgado sábio “aquele que conhece as

coisas difíceis e não as coisas simples a serem conhecidas pelo homem”, e este

é quem indaga toda coisa interiormente. E que esta fosse a intenção de

Aristóteles naquele discurso é comprovado por aquilo que segue literalmente:

“Com efeito, parece uma culpa equivalente louvar um matemático que

afirma probabilidades e um retórico que busca a demonstração”, como a

dizer: Sendo que “é próprio do homem prudente indagar a certeza em

qualquer gênero, segundo aquilo que a natureza da coisa admite”, é próprio

27


do prudente, nas matemáticas, não dizer probabilidades, porque a natureza

da coisa exige causas imediatas necessárias, pelas quais há uma demonstração;

e é próprio do prudente, na retórica, comprovar com sinais e reflexões, pois

não é possível fazer uma acusação com causas necessárias, mas com sinais.

(6) Ao outro ponto cumpre dizer que nenhuma virtude tem por fim apenas

a contemplação, mas o fim é sempre que nos tornemos bons. A segunda

afirmação, pois, é absolutamente falsa e sua contraditória é verdadeira, ou

seja: nem toda prudência tem por fim a contemplação etc., porque a

prudência como virtude não tem por fim a contemplação, mas antes a ação, e

também a prudência, que é uma ciência moral, não é uma doutrina, mas uma

prática para nos tornarmos bons e não para a contemplação. E isso se

apreende de uma certa passagem de Aristóteles no primeiro livro das Éticas,

onde afirma que um menino por idade ou por costumes não é um discípulo

da ciência moral, porque o fim da ciência moral não é a contemplação, mas

que nos tornemos bons; e de outra passagem no primeiro livro da Metafísica,

onde afirma que todas as ciências práticas existem para a ação.

Ao outro argumento, pois, com o qual se prova que a prudência como

virtude tem por fim a contemplação do verdadeiro, cumpre responder que

todos procuram o conhecimento do verdadeiro em dois modos. De um desses

modos trata Aristóteles na Filosofia Primeira, ou seja, quando o verdadeiro é

tal que é desejado por si mesmo e não por outro, e este é verdadeiro da

ciência divina ou filosofia primeira, e nesse sentido todos os homens por

natureza desejam conhecer este verdadeiro e os outros verdadeiros por causa

dele. E isso acontece ainda de dois modos. O primeiro deles é porque há algo

verdadeiro que não é procurado por causa de outro simplesmente, nem pela

vida, nem pelo conhecer, e esse é o verdadeiro do ente em si. De fato, isto não

é procurado para a ação porque não é prático, nem é procurado em prol da

vida, porque a partir disso começou para todos a vontade de filosofar;

tampouco é procurado para o verdadeiro particular de algo, porque não o

manifesta, pelo contrário, aquelas coisas são procuradas para o verdadeiro do

ente universal. Com efeito, o verdadeiro em parte é procurado por causa do

totalmente verdadeiro, e portanto todas as ciências do ente particular servem

ao verdadeiro da ciência do ente em si. No outro modo, é verdadeiro o que é

causa do ente em si e do ente em parte e do verdadeiro que está em ambos, e

todos por natureza desejam conhecer este verdadeiro, como afirma o

Comentador no décimo primeiro livro da Metafísica, e conhecer isto é próprio

do teólogo. Consequentemente, o verdadeiro da ciência da sagrada escritura é

28


objeto do desejo de todos. Noutro modo afirma Túlio no livro Dos deveres,

que é desejado por todos não por si, mas pela honestidade que está nele, que

pertence à felicidade, que é o bem do homem enquanto homem; e este

conhecer é próprio principalmente da prudência e não tem por fim a

contemplação, mas que nos tornemos bons.

(7) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência adquire experiência e

conhecimento nas mesmas ações em que é virtude moral, como foi dito

anteriormente, e assim é concedida por paixões e ações pelo que é virtude;

mas, como possui também algo da ciência, que nela é material, por isso

materialmente e por certo aspecto é gerada pela instrução e pelo estudo.

(8) Ao outro ponto cumpre dizer que, se a afirmação: “Nenhuma ciência é

uma virtude” se entende universalmente, é falsa, pois a ciência como dom é

certa virtude, assim como o intelecto, a sensatez e a sabedoria. Se, ao invés,

por ciência se entende aquela que é a perfeição do intelecto especulativo,

então não tem nada a ver a respeito. Semelhantemente, é falsa esta afirmação,

que nenhuma forma de ignorância é vício ou pecado, porque a ignorância do

que devemos conhecer é pecado, como diz Agostinho.

(9) Ao outro ponto cumpre dizer que a ciência e a virtude nunca são

distintas como hábitos, e, portanto, aqui se supõe o falso, e estes raciocínios

provêm do fato de ignorar a distinção dos hábitos e das potências da alma,

como fica evidente do que se disse antes.

Mas àquilo que nos raciocínios apresentados parece, pois, ser concluído em

sentido oposto, que a prudência é a virtude principal entre as virtudes

cardeais, cumpre acrescentar que a primazia de uma virtude depende de

muitas coisas, como foi explicado antes na questão sobre As coisas comuns das

virtudes. A prudência, pois, não é a principal senão pela prioridade do sujeito e

da guia; as outras, porém, são principais por outras coisas.

Art. 2. O que é a prudência na definição e na substância

Em segundo lugar, procura-se o que é a prudência na definição e na

substância. São apresentadas, pois, muitas definições de prudência.

A primeira dessas é de Túlio na primeira Retórica, que diz assim: “A

prudência é a ciência das coisas boas e das coisas más”.

A segunda é do mesmo Túlio no primeiro livro Dos deveres, onde diz assim:

“A prudência é a busca e a descoberta do verdadeiro”.

A terceira, pois, é de Macróbio no comentário Sobre o sonho de Cipião, que

diz assim: “A prudência é desdenhar este mundo e todas as coisas que estão

29


nele, contemplando as coisas divinas e orientando todo pensamento da alma

só às coisas divinas”. Disso, com efeito, apreende-se que a prudência é a

consideração deste mundo a partir da contemplação das coisas divinas e a

direção de todo pensamento da alma a Deus.

Agostinho, pois, no livro Dos hábitos da igreja, define assim: “A prudência é

o amor que sabe escolher com sagacidade as coisas que ajudam e não as que

estorvam”.

O comentário de Mateus 15,36 diz assim: “A prudência é o conhecimento

das coisas que devem ser evitadas e das coisas que devem ser desejadas”.

Agostinho, pois, no livro Sobre o espírito e a alma, diz assim: “A prudência é

a virtude pela qual a alma conhece o que deve fazer”.

Harialdo, porém, diz assim: “A prudência é o conhecimento das coisas boas

e das coisas más, com a preferência das primeiras e a renúncia das outras”.

São examinadas, portanto, essas definições. E em primeiro lugar sobre a

primeira, assim:

(1) Toda definição que diz o que é algo deve mencionar aquilo que constitui

principalmente a substância da coisa definida. Realmente, a ciência não

constitui principalmente a substância da virtude da prudência. Portanto, é

afirmado mal que a prudência é uma ciência. A primeira afirmação é evidente

por si, a segunda, ao invés, é comprovada por todas as coisas ditas antes.

(2) Além disso, as coisas boas, das quais é ciência a prudência, ou são todas

boas ou algumas. Se forem todas, então o conhecimento da prudência é o

mesmo que o conhecimento do mundo todo, porque “Deus viu que todas as

coisas que fizera eram muito boas”. Mas se for ciência apenas de algumas

coisas boas, então a mesma prudência será uma ciência imperfeita do bem; o

que é inconveniente, porque assim dirigiria imperfeitamente para um bem

não conhecido e para seu uso.

Ademais, Túlio deveria determi​nar a definição, coisa que não faz.

(3) Além disso, o conhecimento da coisa antecede o conhecimento do uso

da coisa, porque não se sabe qual deve ser o uso a não ser que se saiba como é

a coisa. Mas a prudência dirige para o uso de todos os bens. Logo, ela mesma é

conhecimento de todos os bens; e assim segue o mesmo de antes, que o

conhecimento da prudência é o conhecimento de todas as coisas criadas.

(4) Além disso, parece que Túlio diga expressamente isto no primeiro livro

Dos deveres: “Quanto mais alguém percebe em cada coisa o que é mais

verdadeiro, e quanto mais alguém, aguda e rapidamente, pode ver e explicar a

razão, ele sói ser considerado muito prudente e sábio”. Disso se apreende que

30


a prudência é o conhecimento e a razão de todas as coisas. Logo, a prudência

não é outra coisa senão todas as ciências assumidas em conjunto.

(5) Além disso, ou a prudência é uma ciência especulativa ou uma ciência

prática. Se for especulativa, objeta-se: uma ciência especulativa não é uma

virtude, nem uma parte de virtude, porque não ordena para a ação; mas a

prudência é uma virtude; logo, a prudência não é uma ciência especulativa.

Se se dissesse que é uma ciência prática, objeta-se: Túlio afirma no primeiro

livro Dos deveres, onde se fala dos deveres da prudência: “Louvar-se-á de

direito o cuidado em coisas honestas e dignas de ser estudadas, como na

astrologia ouvimos Simplício Galo, na geometria Sexto Pompeu, e

conhecemos pessoalmente muitos (especialistas) em dialética, e mais ainda

em direito civil; e todas as artes versam sobre a procura do verdadeiro”. E

disso se apreende que a prudência tem a ver com o verdadeiro, pelo que é do

intelecto especulativo. Logo, a prudência é um conhecimento especulativo.

(6) Além disso, procuram-se as coisas que aqui são chamadas más. Se, de

fato, são chamadas más as que geralmente são chamadas vícios, parecerá

novamente que a prudência seja um dos hábitos do intelecto especulativo. De

fato Túlio, no primeiro livro Dos deveres, diz: “Todos somos atraídos e

conduzidos ao desejo do conhecimento e da ciência, no qual julgamos bonito

o exceler; mas falamos que é mal e é uma vergonha degenerar, errar, ignorar,

iludir-se”. Portanto, como a prudência exclui com sua ciência o vício, excluirá

principalmente os vícios do conhecer, ou seja, o engano, o erro etc. Logo, a

prudência é uma ciência especulativa.

(7) Além disso, esta mesma conclusão aparece por outra afirmação da

mesma autoridade: “Neste gênero”, ou seja, da prudência, “seja natural, seja

honesto, dois vícios devem ser evitados: o primeiro, achar que conhecemos o

que não conhecemos e dar o assentimento sem refletir. Quem quiser evitar

esse vício, e todos deveriam evitar, lançará mão de tempo e diligência para

examinar as coisas. O segundo vício é que alguns dedicam estudo e ações

excessivas para conhecer coisas obscuras e difíceis e também não necessárias”.

Desta afirmação apreende-se que, como esse vício tem a ver com as ciências

especulativas, a prudência será uma ciência especulativa.

(8) Além disso, como diz o Apóstolo: “Quero que sejais sábios no bem e

simples no mal”. Portanto, é evidente não ser a perfeição da prudência a

ciência do mal.

(9) Igualmente, no décimo primeiro livro da Filosofia Primeira, Aristóteles

diz que é melhor não conhecer certos males. Logo, parece que a prudência

não seja ciência de todo mal. Além disso, algumas ciências são proibidas,

31


como a necromancia, o agouro e semelhantes. Logo, parece que a ciência de

todos os males não seja pertinente à prudência.

(10) Além disso, segundo Dionísio, no quarto capítulo Dos nomes divinos,

uma coisa é o mal do corpo e outra coisa é o mal da alma e outra ainda o mal

do anjo, e esses males não são de uma única razão. Logo, parece que a ciência

deles não seja de uma única razão. Portanto, a prudência não será ciência do

mal, a não ser que ciência seja predicada em muitos modos.

(11) Igualmente, os filósofos definem a privação como um mal de natureza,

do qual a ciência não é do mesmo gênero daquela do mal moral, que é o vício.

Logo, é definida mal a prudência como ciência do mal, a não ser que se

determine de que mal seja ciência.

Igualmente, os santos distinguem três tipos de mal, ou seja, a culpa, a pena

e a disposição, como são um mal as riquezas e coisas semelhantes que

dispõem à culpa e à pena. Pergunta-se, portanto, se porventura a prudência

seja ciência de todos esses males.

Examina-se, depois, a segunda definição.

(12) De fato, a busca e a descoberta do verdadeiro é própria de toda arte

segundo sua matéria. Logo, a prudência é própria de toda arte.

(13) Igualmente, a busca se realiza com um instrumento, que é uma espécie

de argumentação. Portanto, a prudência tem como instrumentos espécies de

argumentações. Logo, inclina para a ação conforme a arte e não conforme a

natureza. Logo, não será virtude, porque a virtude é um hábito consentâneo

com a razão conforme a natureza.

(14) Igualmente, objeta-se ao que afirma: a prudência é “descoberta do

verdadeiro”. Com efeito, a descoberta do verdadeiro é pertinente ao conhecer;

o Filósofo diz, pois, que conhecer pouco ou nada é útil à virtude; logo, não

será próprio daquela virtude que é a prudência.

(15) Igualmente, o verdadeiro não diz respeito à ação, mas antes ao bem;

logo, dever-se-ia responder melhor que a prudência é a descoberta do bem,

antes que do verdadeiro.

(16) Além disso, o Filósofo afirma, no terceiro livro Sobre a alma, que não há

uma ação senão quando a inteligência diz de evitar algo ou imitar. Mas não

diz evitar ou imitar após conhecer o verdadeiro, porque de outra forma quem

conhece o verdadeiro sempre evitaria ou imitaria. Logo, diz evitar ou imitar

após desejar o bem. Como, portanto, a prudência é uma virtude que

determina a ação, não será a descoberta do verdadeiro, mas antes do bem

desejado.

32


Examina-se também a terceira definição.

(17) De fato, desdenhar este mundo e todas as coisas que estão nele é um

conselho e não um preceito; mas toda virtude dispõe para os preceitos,

porque sem virtudes não há salvação; logo, como a prudência é uma virtude,

não ensinará a desdenhar este mundo e todas as coisas que estão nele.

(18) Além disso, desdenhar o mundo é próprio da humildade e da pobreza

antes que da prudência; logo, é atribuído inoportunamente à prudência. Que,

pois, seja próprio da humildade, é comprovado por quatro atitudes atribuídas

à humildade, que são encerradas nestes versos: “Desprezar o mundo, não

desprezar ninguém, desprezar a si mesmo, desprezar o ser desprezado. Essas

quatro atitudes são boas”.

(19) Além disso, o que diz “contemplação das coisas divinas” não parece ser

próprio da prudência, porque a prudência procede das razões do direito

humano. Logo, não consiste na contemplação das coisas divinas.

(20) Igualmente, contemplar as coisas divinas é próprio do dom da

sabedoria ou do intelecto antes que da prudência.

(21) Além disso, dirigir todo pensamento do ânimo só às coisas divinas não

convém à prudência, que é uma virtude política e que consiste no meio. De

fato, dirigir todo pensamento do ânimo só às coisas divinas é suma perfeição.

Igualmente, a virtude política não dirige para um fim, mas antes para um

meio.

(22) Além disso Túlio, no livro Dos deveres, diz que “todo pensamento e

movimento do ânimo conformados pela prudência voltar-se-ão ou a tomar

decisões sobre as coisas honestas e pertinentes ao bem e a uma vida bemaventurada,

ou a estudos da ciência e ao conhecimento”. Disso apreende-se

que os pensamentos conformados pela prudência se voltam para duas coisas,

ou seja, as decisões sobre coisas honestas e ordenadas para viver bem e para os

estudos das ciências. Logo, nem todos os pensamentos conformados pela

prudência se voltam para Deus.

(23) Examina-se também a quarta definição, que é de Agostinho no livro

Dos costumes da igreja: “a prudência é amor que sabe discernir sagazmente as

coisas que ajudam das outras que estorvam”. De fato, aquele amor ou é de

caridade ou de outra afeição. Se for amor de caridade, então a prudência é

caridade, porque aquele amor cai diretamente na sua definição. Mas se for de

outra afeição, ou é de uma potência, da qual é próprio desejar intensamente e

amar, ou é de outra potência. Se for no primeiro modo, como aquela potência

é conscupiscível, a prudência estará na parte concupiscível da alma, o que é

33


falso. Se for no segundo modo, então o amor será inclinação de uma potência

para seu objeto próprio, e assim será amor toda virtude e todo vício, e isso não

deve ser dito.

(24) Igualmente, escolher é um ato do livre arbítrio constituído pela razão e

pela vontade; a prudência não é um livre arbítrio assim constituído; logo, a

prudência não é escolher. A primeira afirmação é comprovada pela definição

de livre arbítrio que dá Agostinho e está no segundo livro das Sentenças, dist.

XXIV, segundo o qual “o livre arbítrio é uma faculdade da razão e da

vontade, pela qual é escolhido o bem com a assistência da graça e, quando ela

falha, é escolhido o mal”. A segunda afirmação é comprovada pelo fato de que

todos os filósofos e santos atribuem a prudência somente à razão.

Igualmente, escolher é optar entre dois propósitos, um ou outro; mas

escolher é próprio do apetite ou da vontade; logo, a prudência seria a

perfeição da vontade ou do apetite, o que é falso; logo, a prudência não é

escolher.

(25) Igualmente, as coisas que ajudam são boas e más; a prudência escolhe

aquelas que ajudam; logo, a prudência escolhe coisas boas e más. A maior é

comprovada por aquilo que dizem os santos, que todas as coisas cooperam ao

bem para os bons, inclusive os pecados e as penas más. A menor é admitida

pela definição. Donde, assim: a prudência escolhe coisas boas e coisas más;

todas as coisas que existem são boas ou más; logo, a prudência escolhe todas

as coisas que são. A isso segue-se duplo inconveniente. O primeiro é que a

prudência não escolhe, porque a escolha não é aceitação de tudo, mas aceitar

algumas coisas e reprovar outras. O segundo, que não escolhe reprovando as

coisas que estorvam, porque nenhuma coisa estorva, mas todas ajudam.

Em seguida, é examinada a quinta definição, que é do comentário a

Mateus 15,36, segundo o qual “a prudência é o conhecimento das coisas que

devem ser evitadas e das coisas que devem ser desejadas”.

(26) Consta, de fato, que a prudência é um conhecimento prático. Mas

Averróis afirma que o intelecto prático move pela sua ciência. Logo, se a

prudência é um tal conhecimento, pela sua ciência moverá para as ações que

devem ser evitadas e para as que devem ser desejadas. O que é falso, porque

move para fugir das coisas a evitar.

(27) Além disso, a ciência do direito é a ciência das coisas que devem ser

evitadas e das coisas que devem ser desejadas; logo, a prudência como virtude

é ciência do direito. Semelhantemente, a filosofia, que é chamada moral, é a

ciência das coisas que devem ser desejadas e das coisas que devem ser

evitadas; logo, a prudência é a ciência que se chama filosofia moral, o que é

34


falso.

Em seguida, examina-se a sexta definição, que é de Agostinho no livro

Sobre o espírito e a alma, segundo a qual “a prudência é uma virtude pela qual

a alma sabe o que deve fazer”.

(28) De fato, Agostinho diz que o dom da ciência é saber comportar-se bem

“no meio de pessoas depravadas e perversas”. Logo, o dom da ciência é a

virtude da prudência. De fato, ninguém sabe comportar-se bem no meio de

pessoas depravadas e perversas, se não souber o que deve fazer.

Em seguida, examina-se a última definição, que é de Harialdo, segundo a

qual “a prudência é o conhecimento das coisas boas e más com preferência

pelas primeiras e aversão pelas outras”.

(29) Segundo essa definição, de fato, é próprio da prudência amar e

detestar; mas amar é próprio da potência concupiscível; logo, a prudência é

um hábito da potência concupiscível. Detestar, ao invés, é próprio da

potência irascível; logo, a prudência é também própria da potência irascível. A

ciência, na realidade, pertence à razão. Logo, a prudência também pertence à

razão; logo, a prudência é de todas as três forças motoras da alma. O que não

pode ser, porque não há um único hábito de várias potências.

Solução: Cumpre responder que todas essas definições determinam

suficientemente bem o que é a prudência, mas não a determinam com

relação à mesma coisa.

Logo, cumpre dizer que pela primeira, que é de Túlio, é dado o gênero da

prudência, que é a ciência, e da sua matéria, que são as coisas boas e más,

porque movem o bem e o mal nas ações voluntárias.

(1) Ao primeiro ponto, portanto, cumpre dizer que a ciência delimitada

pela matéria supõe o que é formal e substancial na prudência. A ciência, de

fato, que move por aquilo que há de bem e também de mal, é voluntária e

está na razão ordenada como consequente à vontade, e dessa ciência entendese

aqui. Com efeito, Túlio não chama ciência do bem e do mal aquela que

explora o bem e o mal, porque esta não considera o bem e o mal enquanto

bem e mal, mas antes explora o verdadeiro nas paixões do bem e do mal; ele,

porém, chama ciência a aceitação do bem e do mal simplesmente ou em si,

bem e mal, por um apetite reto. E é evidente que naquela definição há aquilo

que é formal na virtude da prudência, enquanto é um hábito voluntário.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que todas as coisas que são, são boas de

bondade de natureza, ou seja, são a partir do bem. Porém, aqui não se

entende este bem, mas antes o bem segundo o fim, ou seja, o que é o fim do

35


apetite que move pela reta razão; e, assim, a prudência é a ciência das coisas

boas.

Àquilo que é objetado a isto, cumpre responder que a prudência não é

uma ciência imperfeita do bem, mas a mais perfeita, porque o bem

simplesmente é aquilo que, segundo a reta razão, deve ser desejado ou

realizado; as outras coisas, ao invés, são boas segundo certa razão de bem.

(3) Ao outro ponto cumpre responder que a prudência é a ciência de todas

as coisas pelo fato de serem utilizadas, porque são utilizadas por serem

assumidas pela vontade, pois usar, segundo Agostinho, é aceitar alguma coisa

com a vontade e referi-la a outro. Mas disso não segue que a prudência seja

simplesmente ciência de todas as coisas. De fato, não é preciso que quem usa

algo conheça tudo da coisa de que lança mão, mas antes que conheça aquilo

que se torna útil para desejar ou fazer. Assim é evidente que não é próprio da

prudência conhecer a natureza da coisa, segundo aquilo que é a natureza da

coisa, mas antes o uso e a razão do uso, e isso é suficiente para ela dirigir

perfeitamente no uso (da coisa mesma).

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio entende a prudência em sentido

amplo, ou seja, enquanto se estende a uma matéria secundária para ser

ajudada por aquela a discernir a própria matéria. E isso acontece em dois

modos, ou seja, pela razão mesma do que é conhecível, que é igual ou quase

igual à matéria da prudência, como é conhecível pela teologia, pela ética, pelo

direito civil ou canônico, para responder em breve, por toda ciência que

considera o que se deve fazer ou o que não se deve fazer. De fato, conhecer

isso é útil ao ato da prudência, embora seja pouco proveitoso à prudência.

Com efeito, não é útil para a geração da prudência, mas antes para o ensino e

a persuasão. Também noutro modo toda ciência é matéria secundária, e isso

mais de longe, porque o exercício de uma ciência qualquer é válido para uma

escolha com discernimento. De fato, o exercício é causa de um domínio não

apenas sobre a mesma coisa, mas também sobre outras; quem, de fato, está

apto a ver o verdadeiro numa coisa, está disposto a ver o verdadeiro também

noutra coisa. E assim a astrologia, a geo​metria e as outras ciências são

proveitosas para a prudência, não porém pelo conhecível, mas pelo exercício

sobre ele mesmo, assim como foi dito.

(5) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência não é uma ciência

especulativa, como comprova a objeção, mas prática. Mas àquilo que se

contrapõe a isso cumpre responder que aquelas ciências são eficazes para a

prudência por acidente e são úteis para seu bem e contribuem não à geração

da mesma virtude, mas à apresentação dos seus atos, e isso em dois modos,

como foi dito. E, portanto, num modo é eficaz para o direito civil e noutro

36


modo para a dialética, e por isso também Túlio não diz que estas [ciências]

são simplesmente da prudência, mas antes são pertinentes à função da

prudência; de fato, a função é conforme ao ato. E ele entende comprovar que

aquelas ciências promovem mais facilidades ao ato da prudência. Com efeito,

nós mesmos nas dúvidas sobre as possibilidades de escolher a ação

consultamos os prudentes na ciência teológica ou do direito, se tivermos a

possibilidade. Caso contrário, lançamos mão dos sábios em outras ciências,

embora não sejam virtuosos e nunca escolham de operar o que para eles

mesmos seria um bem. E com isso queremos responder que eles também

estão mais prontos para o ato da prudência, pelas ciências que aprenderam.

Logo, as mesmas ciências são muito úteis para o ato da prudência, seja pela

matéria que pelo exercício.

(6) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência por si não é uma ciência

especulativa. Às palavras cheias de autoridade de Túlio, pois, dizemos que o

prudente não procura a ciência especulativa senão por acidente e também por

acidente afasta os vícios que são da ciência especulativa. Em que modo, pois,

seja verdade que todos somos atraídos pelo desejo da ciência, foi explicado

acima na questão Se a prudência é uma virtude.

(7) Ao outro ponto cumpre responder que, embora aquelas duas ações

sejam vícios nas ciências especulativas, contudo são mais ainda na ciência da

prudência, porque nela é sem dúvida um pecado assentir nas dúvidas como se

fossem certezas. Donde Túlio escreve no livro Dos deveres: “Prescrevem bem

aqueles que proíbem de fazer uma coisa qualquer, pelo fato de duvidar que

seja justa ou injusta”. E outro trecho no mesmo livro, abaixo: “É grande

inteligência perceber com o pensamento o futuro e, às vezes, intuir o que

pode acontecer a favor ou contra e o que deve ser feito, quando algo

acontecer, e não cometer algo para não ter que responder, antes ou depois: eu

não tinha considerado. Estas são ações de um ânimo grande e excelso, que

confia na prudência e no juízo”. Donde aqueles dois vícios são contrários mais

à prudência prática do que à prudência especulativa.

Está no segundo vício, pois, quem se aplica nas coisas difíceis e inúteis em

dois modos, ou seja, procurando o modo de adquirir aquilo que não pode

adquirir ou conseguir, como diz o Sábio: “Não levantes teu olhar às riquezas

que não podes possuir”; no segundo modo, porque são coisas inúteis em si e

ainda trabalhosas.

(8) Ao outro ponto cumpre dizer que o Apóstolo entende que, pela ciência

do beneplácito, devemos ser simples no mal; senão seria contrário a si mesmo,

posto que disse a respeito da astúcia dos demônios: “Não ignoramos, com

37


efeito, seus pensamentos”. Como, de fato, estes pensamentos são maus, fica

evidente que ele mesmo foi sábio no mal. De fato, Ambrósio e Boécio dizem

que a ciência do mal não pode faltar ao bom, porque o mal não é evitado se

não for conhecido.

(9) Ao outro ponto cumpre dizer que o Filósofo diz isso por causa da

inclinação para o mal de alguns objetos de conhecimento, e não pela ciência

em si, mas pela curiosidade de experimentar na ação aquilo que a ciência

ensina. Bem, com efeito, e bem em geral, é conhecer, porque é uma parte da

bem-aventurança, do caminho e da pátria, mas não é útil conhecer algo que

não pode ser praticado sem pecado e, todavia, inclina para o pecado. Como

afirma Túlio, de fato, é próprio do prudente que “toda sua ação tenha que ser

livre da temeridade e da negligência e o não fazer algo do qual não possa dar

uma explicação plausível”.

(10) Ao outro ponto cumpre dizer que é próprio da prudência conhecer por

si o que é mal para a alma, a fim de evitá-lo, mas procura conhecer por

acidente os outros males, como foi dito.

(11) Ao outro ponto cumpre dizer que, embora o mal de privação não seja

da mesma causa, pois este mal tem sua razão no hábito que priva, contudo,

comparando com a ação, todos os males se tornam um só em relação ao

impedimento na ação; e o mal da culpa será simplesmente do prudente, o mal

da pena, pois, será da disposição, enquanto ordena àquele ou afasta daquele,

[o mal] da privação, pois, na natureza, enquanto o ensina pelo semelhante. E

com isso é evidente a solução de tudo o que foi objetado à primeira definição,

e também o que foi mencionado.

Ao que é objetado à segunda definição, cumpre responder que aquela foi

dada considerando o ato e o fim da prudência, que é fim em si mesma e não

para outro. De fato, o ato da prudência é indagar e investigar o verdadeiro nas

ações, e o verdadeiro encontrado nelas é o fim que a prudência consegue em

si mesma. O outro fim, pois, é que, segundo aquele verdadeiro que

encontrou, ordene e governe as outras forças, virtudes e ações que dizem

respeito à comunidade dos homens, e que são próprias das obras da justiça,

como diz Túlio.

(12) Portanto, ao primeiro ponto que contra essa argumentação é objetado,

cumpre dizer que não é de toda arte encontrar o verdadeiro nas ações ou no

que é elegível para a ação, que é o mesmo, mas toda arte e ciência encontra o

verdadeiro na própria matéria. Túlio, porém, entende no primeiro modo.

(13) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência, por aquela parte que é

38


ciência, na verdade se serve de um instrumento e, como a questão é duvidosa,

a busca de uma decisão é em si mesma o enunciado de uma questão. Com

efeito, não é possível determinar, a não ser com probabilidades, segundo as

circunstâncias da atividade e da pessoa, e por isso o prudente lança mão de

exemplos e entimemas. De fato, Avicena diz que o ético procede de

elementos prováveis e não de elementos prováveis quaisquer. As coisas

prováveis, pois, são tais por verossimilhança e signos comuns, que são

encontrados em todas as coisas ou na maioria delas, e de um provável desse

tipo procede o dialético. Há também as probabilidades encontradas a respeito

de uma atividade própria e de uma pessoa privada, e dessas procede o ético e

o rétor, e por isso nem o ético, nem o rétor podem fazer um silogismo, porque

a maior seria sempre falsa. Se ainda assumisse: “Todo notívago é um ladrão ou

um adúltero”, mentiria. Mas se assumisse: “Este é notívago”, e apresentasse

também outras circunstâncias, faria uma suposição contra ele. Depois, o rétor

propõe essas coisas ao juiz. O ético, porém, considera tais coisas em si mesmo.

O rétor, a partir dessas argumentações, procura demonstrar uma sentença; o

ético, ao invés, uma decisão. Além disso, a discussão do rétor é conduzida

entre três partes, ou seja, o acusador, o réu e o juiz; [a discussão] do ético, ao

invés, só em si mesma. Entretanto, a prudência, por aquela parte em que é

um hábito voluntário segundo a natureza, move para a ação, como foi

considerado anteriormente.

(14) Ao outro ponto cumpre dizer que certa ciência é pouco útil, por aquilo

que é ciência, outro tipo ainda não serve para nada, por aquilo que é ciência,

outro porém é parte da virtude. Com efeito, parte da virtude é a aceitação das

escolhas para a ação por parte da vontade motora e da razão que somente

dirige. E digo vontade que move não para conhecer, mas para operar, e que

em vista da ação adquire o conhecimento dos meios que devem ser escolhidos

ou recusados para a ação. E pode ser pouco útil por ser ciência especulativa

dos problemas morais, embora ajude muito o ato. Pelo fato de ser ciência,

pois, a ciência da lógica, a ciência natural ou da matemática e da metafísica

não é útil ao hábito da prudência, embora seja útil porque é exercício do

intelecto que procura e considera o verdadeiro nas coisas individuais, como foi

dito antes, e o Filósofo entende tais ciências.

(15) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência é a procura do

verdadeiro no bem operável. De fato, o assenso à obra não é senão o

verdadeiro. Mas este verdadeiro está no ato operável e singular, e o verdadeiro

não é objeto da ciência especulativa, mas da ciência prática. E isso é o que se

diz comumente, que a prudência é [ciência] do verdadeiro em razão do bem.

(16) Ao outro ponto cumpre dizer que este verdadeiro, como foi dito, expõe

39


bem algo que deve ser imitado ou evitado, mas o mesmo não acontece se o

conhecimento for do verdadeiro que está no universal e for somente

especulativo.

À terceira definição cumpre responder que ela foi dada segundo a relação

da virtude da prudência com a felicidade. De fato, todas as virtudes se

conservam essencialmente na felicidade, mas a prudência tem nela o ato mais

excelente, sendo a mesma felicidade um ato segundo a virtude perfeita do

ânimo. E, assim, a prudência dirige para o primeiro bem, no qual está a suma

felicidade, e desdenha as coisas inferiores na contemplação do bem superior a

escolher.

(17) Àquilo que contra isso é objetado, cumpre dizer que o desdém pode

ser uma abjeção, e nesse caso é um conselho, e pode ser uma sujeição, e nesse

caso é um preceito. De fato, nem todos renunciam às coisas temporais, entre

os que são prudentes, mas todos as submetem (às coisas espirituais).

(18) Ao outro ponto cumpre dizer que desdenhar o mundo é de pessoas

diferentes por várias considerações. De fato, o humilde desdenha o mundo

em consideração à sua inidoneidade, ou seja, porque não se sente digno do

louvor e da honra do mundo. Mas a pobreza de espírito desdenha o mundo

em consideração à recompensa e em comparação com a pobreza de Cristo. O

prudente, pois, desdenha o mundo e encontra nele a vaidade, na comparação

do mundo com um bem mais verdadeiro e mais estável, como procede o

pregador no Eclesiastes (12,13), concluindo no final: “Escutemos todos a

conclusão: teme a Deus e observa seus mandamentos, isto é, todo o homem”.

(19) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência pode ser considerada

em dois modos. De fato, é um hábito da vontade que inclina a uma obra, que

é ordenada, e assim necessariamente procede das razões do direito humano,

como diz a objeção. No segundo sentido, é uma parte essencial da felicidade,

e assim é contemplada a felicidade primeira para se conformar a ela, como foi

dito.

(20) Ao outro ponto cumpre dizer que as coisas divinas são contempladas

num modo pelos dons do intelecto e da sabedoria, e noutro modo pela

virtude da prudência. Com efeito, os dons se contemplam porque seus

objetos são divinos; a prudência, ao invés, porque o fim do ato da felicidade é

divino.

(21) Ao outro ponto cumpre dizer que é realmente verdade que isso (isto é,

orientar todo pensamento do ânimo só às coisas divinas) é próprio da suma

perfeição, e também que a prudência assim definida é determinada segundo o

40


estado da suma perfeição, que é a felicidade, e assim não é definida pela

essência.

(22) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência, considerada

essencialmente e segundo seu ato, dirige-se principal e secundariamente a

estas coisas, como diz Túlio, mas, segundo o estado da felicidade, no qual é

determinada, dirige-se somente ao ato verdadeira e perfeitamente feliz.

À quarta definição cumpre responder que ela foi dada pela forma da

infusão da prudência e pelo seu ato e objeto. Quando, de fato, a prudência é

infundida pela graça, então é infundida pelo amor e tem o amor de Deus que

inclina para a ação. De fato, nesse caso não é operada prudentemente para a

honestidade, que está nela, tampouco por si mesma; ao contrário, é causada

por outra razão e desejada por algo; e (na definição de Agostinho) “amor”

indica isso, “escolha” indica o ato, “as coisas”, pois, Deus. E este elemento geral

que a inclina e forma, [indicado pelas palavras] “que ajudam”, é seu objeto.

(23) Àquilo, pois, que é objetado, cumpre dizer que pode muito bem ser

concedido que [Agostinho], como foi dito, entenda o amor de caridade. Mas

o amor de caridade pode ser entendido em dois modos, ou seja, em si, e nesse

sentido tende ao bem primeiro e, por causa desse bem primeiro, pode-se

entender também como forma geral e motor das virtudes para os atos; o

amor, assim, não é mais distinto daquelas virtudes que informa, enquanto não

são procuradas para si, mas para outro, ou seja, para Deus. E como nesse caso

o amor não é distinto das virtudes, é predicado nas definições de cada uma.

Isso é comprovado com um raciocínio e com uma semelhança. De fato,

quando alguém opera com prudência ou castamente por Deus, não precisa

ele produzir antes o ato de caridade e depois o ato de prudência ou de

castidade, mas precisa antes que tenha o hábito da caridade que o incline para

isso, a fazer por Deus qualquer coisa que faça. Sinal disso, pois, é que quando

o olho vê uma cor não precisa que a luz mova com movimento diferente o

olho e a cor, mas se torna somente forma e perfeição da cor. Assim a caridade

nessas virtudes se torna somente forma e perfeição da virtude para a ação.

Semelhantemente, quando a luz esquenta, não move primeiro o ato de

iluminar e depois o calor, mas a disposição do movimento da luz é a incitação

ao calor. E isso é o que muitos entendem dizendo que a caridade é a forma e a

perfeição da virtude, e isso é verdadeiro nesse modo. Mas isso será examinado

mais a fundo na questão “Sobre a caridade”.

(24) Ao outro ponto cumpre dizer que escolher é um ato do livre-arbítrio,

que, entretanto, adere mais à parte da razão prática. E assim dizemos que a

prudência está na razão ordenada à vontade, seja como subsequente que

41


como antecedente, como ficará manifesto. E, portanto, esta razão move para

a ação. De fato, comprovamos no tratado Sobre a alma, na questão “Sobre as

potências motoras”, que a razão e o intelecto não movem senão pelo apetite

que está neles, e assim a razão, pelo apetite que está nela, há de desejar outro

e há de dispor pelo conhecimento que está nela. E com isso fica evidente a

solução ao que segue na objeção.

(25) Ao outro ponto cumpre dizer que os males ajudam a ação por

acidente. De fato, os males como uma pena e uma tentação não ajudam

senão enquanto provam a paciência. Os males como culpa, pois, não ajudam

senão no caso em que ressurja quem a tem, porque tem um motivo para se

dedicar mais à aplicação da virtude e a retribuir ao redentor. Portanto, estes

males não ajudam simplesmente e, por isso, não devem ser escolhidos. Com

efeito, só devem ser escolhidas aquelas coisas que ajudam simplesmente,

porque disso entende a autoridade de Agostinho.

Ao que se procura da quinta definição, que é do comentário de Mateus, ou

seja, que “a prudência é a ciência das coisas que devem ser evitadas e das

coisas que devem ser desejadas”, cumpre responder que aquela definição foi

dada pela relação da prudência com sua matéria, porque as coisas que devem

ser evitadas e as que devem ser desejadas são as coisas ordenadas para a ação,

nas quais a prudência deve conhecer e escolher.

(26) Àquilo que é objetado, cumpre responder que Averróis chama ciência

do intelecto prático a aceitação do operável; e [o intelecto prático] move por

sua ciência, e seu movimento não é sempre para a coisa, mas sim a partir da

coisa. Donde move em modo diferente para o que deve ser feito e o que deve

ser evitado.

(27) Ao segundo e ao terceiro ponto a solução é já evidente por aquilo que

dissemos antes, pois a ciência do direito e a filosofia moral são relativas às

coisas que devem ser feitas e, portanto, são ordenadas próximas ao ato da

virtude da prudência, mas mesmo assim não geram seu hábito, porque ele,

por ser voluntário, como todos os hábitos das virtudes, é gerado pela aceitação

do que é operável ordenada como subsequente à vontade.

Ao que se procura da sexta definição, que é de Agostinho no livro Sobre o

espírito e a alma, ou seja, que “a prudência é a virtude pela qual a alma

conhece o que deve fazer”, cumpre dizer que foi dada considerando o efeito

da prudência no sujeito. De fato, a prudência faz com que a alma conheça,

com sua luz, o que deve fazer nas ações.

(28) Àquilo que é objetado, cumpre dizer que a ciência das coisas que

42


devem ser feitas é atribuída num modo ao dom da ciência, e noutro modo à

prudência civil. De fato, é atribuído ao dom da ciência por luz infusa e pelas

obras do Espírito. De fato, o dom da ciência é relativo à perfeição da vida

ativa, pelo que se refere ao Espírito Santo, e portanto o dom estabelece a

espiritualidade e a santidade espiritual no afastamento do mundo e na

intimidade com o mundo. Mas a prudência confia numa razão decorosa e

honesta segundo o homem também exterior, sendo justamente uma virtude

civil e, portanto, não diz respeito à vida espiritual em si, mas em modo

secundário, ou seja, enquanto as coisas humanas são ordenadas às coisas

espirituais. O dom da ciência, ao invés, por si diz respeito às relações

espirituais entre os homens, mas em modo secundário diz respeito ao decoro

exterior do homem exterior, ou seja, enquanto o espírito governa as coisas

exteriores segundo a norma das coisas interiores.

Ao que se procura da última definição, que é de Harialdo, ou seja, que “a

prudência é a ciência das coisas boas e más com preferência pelas primeiras e

aversão pelas outras”, cumpre responder que é a melhor entre todas, porque

expressa a matéria e o gênero ou a forma e a diversidade do ato de acordo

com a matéria diferente.

(29) Ao que se objeta cumpre responder que amar não estabelece um ato

concupiscível, nem detestar estabelece um ato irascível, mas antes um ato da

vontade que por primeira move e, graças a ela, também move a razão. De

fato, foi comprovado no tratado Sobre a alma, na questão “Sobre o motor”,

que o intelecto ou a razão não movem senão pelo apetite que se mistura com

eles, e esse apetite, na razão, é a vontade que considera antes a razão das

operações. Donde amar, aqui, é querer com a razão e odiar é recusar com a

razão, não querer algo ou não querer que aconteça.

Art. 3. Sobre a matéria da prudência

Em terceiro lugar, procura-se a matéria da prudência. Parece que todo

verdadeiro seja a matéria da prudência. (1) De fato Túlio, no primeiro livro

Dos deveres, diz: À prudência “como matéria da qual tratar e na qual explicarse,

está sujeita a verdade, mas às outras três virtudes foram propostas

necessidades para realizar e salvaguardar o que está contido na vida ativa, a

fim de que a união da sociedade dos homens seja conservada”. Disso se

apreende que a matéria da qual a prudência trata é a verdade, e a matéria das

outras três virtudes é a necessidade pública ou privada; privada nas paixões

causadas ou inatas, pública no que diz respeito à sociedade ou à união dos

homens unidos pelas regras da justiça.

43


(2) Igualmente, no mesmo lugar, Túlio diz: “Todas as artes versam sobre a

investigação do verdadeiro, mas não é justo que o estudo do verdadeiro afaste

do que deve ser feito. De fato, todo louvor da virtude consiste na ação, que,

frequentemente, muitos interrompem para voltar a se dedicar aos estudos”.

Disso apreende-se que é tarefa da prudência investigar o verdadeiro em todas

as artes, mas sem afastar do que deve ser feito, no qual está o louvor da

virtude. Portanto, matéria da prudência é todo verdadeiro.

(3) Igualmente, Túlio afirma: “Toda honestidade brota de quatro partes, das

quais uma é própria do conhecimento, a segunda da comunidade, a terceira

da magnanimidade, a quarta da moderação”. Portanto, a prudência é a parte

própria do conhecimento; mas todo conhecimento diz respeito ao verdadeiro;

logo, o verdadeiro é matéria da prudência.

(4) Igualmente, isso aparece pela razão que apresenta Aristóteles no terceiro

livro do tratado Sobre a alma: “São, pois, diferenças de uma mesma acepção a

ciência, a opinião e a prudência”. Logo, a prudência é uma espécie de

apreensão pela razão e pelo intelecto; de fato, Aristóteles aqui chama isso de

apreensão. Mas toda apreensão pela razão e pelo intelecto é parte do

verdadeiro que pode ser conhecido. Logo, a prudência é parte do verdadeiro

que pode ser conhecido, e assim a matéria da prudência será o verdadeiro

conhecível.

(5) Mas contra isso temos o que diz Aristóteles, que as ciências práticas são

todas para a ação; a prudência, no entanto, é uma ciência prática; logo, ela é

para a ação.

Igualmente, o Filósofo diz: o fim da inteligência prática é a ação; mas a

prudência está no homem de acordo com o intelecto; logo, o fim da

prudência é a ação. Mas o fim não pode ser conseguido senão quanto à

matéria em ação. Logo, matéria da prudência é o bem que pode ser

encontrado em alguma ação.

Igualmente Túlio, no final do primeiro livro Dos deveres, diz: “A mais

importante de todas as virtudes é a sabedoria que os Gregos chamam sophía.

De fato, por prudência, que os Gregos chamam sensatez, nós entendemos

outra virtude, que é a ciência das coisas que devem ser desejadas e as que

devem ser evitadas. Aquela sabedoria, no entanto, que dissemos ser a

principal, é a ciência das coisas divinas e das coisas humanas, nas quais estão

contidas a comunidade dos deuses e a sociedade dos homens entre si”. Disso

se apreende que a prudência não é o mesmo que a sophía ou sabedoria e que

não diz respeito a objetos conhecíveis quaisquer, mas aos objetos que devem

ser desejados para a ação ou que devem ser evitados. Logo, matéria da

44


prudência é o bem que pode ser ordenado para o desejo da ação.

Igualmente Túlio, no mesmo lugar: “O conhecimento e a contemplação da

natureza se tornam de algum modo inacabados e incompletos se nenhuma

ação decorrer deles”. Disso se apreende que o conhecimento contemplativo é

imperfeito para a razão da virtude, pois dele não decorre uma ação. Logo,

como a prudência possui a razão da virtude completa, ela mesma não será

inacabada ou incompleta como imperfeita para a ação; logo, dela decorre

necessariamente a ação; logo, interessará o bem das ações como sua matéria.

Igualmente Túlio, no final do primeiro livro Dos deveres: “Do

conhecimento e da prudência decorre uma ação ponderada; assim, acontece

que agir ponderadamente deve ser mais considerado do que pensar

prudentemente”. Disso se apreende que o conhecimento da prudência está

relacionado com as ações a serem realizadas. E o fato de considerar só o

verdadeiro operável não é a prudência perfeita segundo a razão da virtude,

mas ela se aperfeiçoa por aquilo que opera. Logo, a prudência perfeita consiste

nas ações práticas.

Igualmente o Filósofo, no terceiro livro do tratado Sobre a alma, diz: “O

intelecto que raciocina para algo é prático. De fato, é diferente do intelecto

especulativo pelo fim”. Logo, o intelecto prático raciocina para algo diferente

do seu conhecimento; mas isso não é senão uma ação; logo, ele é para a ação e

é relativo a ela. Como, portanto, no intelecto prático há a prudência, a

prudência será relativa à ação.

Além disso, logo depois procura-se uma questão ulterior, que é a afirmação

suposta acima e geralmente aceita por todo mundo, a prudência está na razão

na medida em que se considera como consequente à vontade.

(6) De fato, isso não parece ser verdadeiro, porque a prudência existe, como

afirma Túlio, para que a ação seja discernida e seja feita prudentemente.

Como, portanto, a vontade é causa da ação, quem a dirige será a prudência;

mas, em todas as coisas, o que dirige e governa está antes do que é

direcionado e governado; logo, a prudência se considera anterior e não

consequente à vontade.

(7) Igualmente, como se considera a razão em relação às faculdades

concupiscível e irascível, assim se considera a prudência em relação às outras

virtudes; mas a razão se considera sempre antecedente a elas, quando a ação é

reta; logo, também a prudência será considerada sempre antecedente em toda

ação e, portanto, nunca consequente.

(8) Igualmente, Avicena diz que quando domina a razão, a ação é reta, mas

45


quando domina a vontade, a ação é perversa. Logo, a vontade nunca se

considera antecedente à razão na ação virtuosa, mas sempre consequente.

Novamente, é oportuno examinar se a prudência tenha alguma matéria

por si.

(9) E parece que sim, porque o comentário ao Gênesis, que afirma que as

quatro virtudes [cardeais] são simbolizadas pelos quatro rios do paraíso, não

diz que algum não escorre por uma terra determinada, a não ser somente a

justiça. Como, portanto, a terra determinada não é outra coisa senão a

matéria determinada, parece que a prudência tenha uma matéria especial

separada das outras virtudes.

(10) Igualmente, as virtudes especiais são especificadas por uma matéria

determinada, como a fortaleza pelas paixões causadas, a temperança pelos

prazeres inatos. Portanto, da mesma forma, a prudência terá uma matéria

determinada.

(11) Igualmente, vemo-lo em muitas ações, como é falar prudentemente e a

cautela diante dos danos espirituais ou temporais injustos, que não podem ser

reconduzidas senão à obra da prudência. Logo, parece que a prudência tenha

uma matéria especial em tais ações.

(12) Além disso, se se dissesse que a prudência não tem a matéria senão nas

outras virtudes, isso pareceria supérfluo. De fato, acima foi comprovado que

toda virtude é examinadora do seu meio e que nele é mais certa que toda

arte. Mas a prudência não seria matéria naquelas virtudes senão para a

inspeção do meio e para dirigir nele com segurança. Portanto, como isso seria

vão e ocioso, a prudência não será para isso; logo, parece que a prudência seja

uma virtude que tem uma matéria determinada.

Mas, pelo contrário: (13) Prudência é escolher para a ação; mas as escolhas

para a ação são as coisas justas, castas e fortes; logo, a prudência é própria

dessas coisas.

(14) Igualmente, como uma potência se relaciona com outra potência, assim

um hábito da potência se relaciona com outro hábito; mas a potência que é

razão prática não tem seu objeto senão no que é justo ou casto ou forte; logo,

nem o hábito da razão terá outro objeto. Portanto a prudência, sendo hábito

da razão que governa na ação, não terá a matéria fora da matéria das outras

virtudes.

Solução: Cumpre dizer que a matéria da prudência é o que se deve escolher

para a ação reta, e graças a isso considera também o que se deve fugir por

causa da falta de escolha para a ação reta.

46


(1) Ao primeiro ponto cumpre dizer que a verdade, considerada pela

prudência, é aquela que determina a verdadeira razão do bem desejável ou

operável. Ora, esta verdadeira razão deve ser determinada pelas razões do

direito, do honesto e do vantajoso. Como, de fato, o intelecto especulativo

tem à disposição de si certos instrumentos com os quais chega ao

conhecimento do conhecível, que são as proposições primeiras e os princípios,

assim a prudência e o intelecto prático têm à disposição de si certos princípios

do bem, pelos quais chegam à razão do bem operável e desejável, e todas essas

razões são assumidas pelo direito ou pelo devido enquanto honesto, decente

ou vantajoso. E isso é o verdadeiro de que fala Túlio. Mas a vida está sujeita a

outras três necessidades. De fato, a comunidade da sociedade humana é

necessária para a vida, pois a vida do homem por si só não é senão a pior

possível, como diz o Filósofo. Mas a necessidade na vida privada consiste nas

paixões inatas e causadas, as quais são subordinadas à fortaleza e à

temperança.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio indica, naquele discurso, que a

matéria principal da prudência está nas coisas a serem feitas. Por isso, diz que

o estudo não deve afastar das coisas a serem feitas. Segundo o que dissemos

acima, concedemos de bom grado que a prudência, em razão da presteza à

ação, estende-se em dois modos também ao estudo de outras coisas, além dos

meios para operar.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer que, entre as virtudes políticas, só a

prudência com suas partes consiste num conhecimento, mas este

conhecimento ordena-se à ação, e se ela diz respeito ao verdadeiro, esse será

restrito à obra e será um bem vantajoso ou honesto, que move o apetite,

como foi dito. Quanto ao outro verdadeiro, será secundário não por si, mas

para adquirir presteza à ação.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que [Aristóteles] entende aqui por

acepção geral a apreensão do intelecto especulativo e prático, tanto nas

necessidades quanto nas probabilidades. E por isso não decorre que, se a

acepção tem por matéria todo verdadeiro, também a prudência o tenha por

matéria principal, porque a prudência é uma parte da acepção ou uma

diferença e não toda a acepção, mas toda acepção divide-se em três partes,

assim que o verdadeiro necessário ordenado à especulação é matéria ou fim da

ciência, mas o verdadeiro operável ordenado à ação, em razão do bem, do útil

ou do honesto é parte da prudência, o provável, ao invés, nos dois lados, ou

seja, no especulativo e no operável, é parte da opinião.

(5) As razões e as autoridades que são contrárias, pois são boas e notáveis,

47


porque nelas é determinada a verdadeira matéria da prudência, que é saber

escolher para a ação em razão do direito, do honesto e do útil, como foi dito.

De fato, segundo aquelas razões, a prudência escolhe tudo o que escolhe,

como também indica o Apóstolo, onde diz: “Tudo me é lícito, mas nem tudo

é vantajoso; tudo me é lícito, mas nem tudo é edificante”. De fato, o Apóstolo

indica que toda ação deve ser escolhida em razão do lícito, do vantajoso ou do

edificante. Mas a razão do lícito é a razão do direito, porque Agostinho diz

que é lícito o que não é proibido por nenhuma lei. Vantajoso, pois, é o mesmo

que útil. Edificante, pois, tem uma razão próxima do honesto, porque edifica

aquilo que é o exemplo que convida os outros ao bem por uma razão apta ao

bem que manifesta. E semelhante é o honesto, que com sua força atrai e

envolve, manifestando sua dignidade natural.

Logo depois disso examina-se o que foi dito, que a prudência está na razão

ordenada à vontade como consequente, e precisa entender que todas as

virtudes da alma racional são quase formas para as outras e, por assim dizer,

causas motoras gerais das inferiores. De fato, diz o Filósofo no terceiro livro do

tratado Sobre a alma, e nós acima explicamos na questão “Sobre o motor”,

que “o apetite move, e por isso a inteligência move, porque seu princípio é

apetitivo, a fantasia, pois, quando move, não move sem apetite”. E

Aristóteles, aqui, quer mostrar como todas as potências motoras são unidas no

apetite. Portanto, na ciência que é parte da inteligência motora, primeiro vem

o apetite que inclina para a acepção do operável e, consequentemente, o

intelecto que adquire a ciência do operável ou investiga, dispõe e aconselha e

também sentencia sobre o operável reto e não reto. Logo, ciência é aqui

consequente ao apetite. Na alma racional, pois, o apetite se torna vontade,

como diz o Filósofo; portanto, nesse caso a ciência e a razão são ordenadas à

vontade como consequentes.

Se, por acaso, alguém dissesse que [o conhecimento] está no mesmo modo

em todo estudo e em toda ciência, porque a acepção e investigação [do

conhecimento] não são inclinadas para algo senão pela vontade e o

conhecimento é consequente à vontade, cumpre dizer que não é verdade. De

fato, nas outras ciências não há acepção para operar ou apetecer, mas só para

conhecer; aqui, ao invés, acontece para operar e apetecer. E esta ciência é

ordenada como consequente à vontade, e está no querido ou objeto da

vontade; as outras ciências, porém, pelo estudo ou pela consideração são

posteriores à vontade, ou seja, quando o objeto não é objeto da vontade, mas

antes o fim da inteligência especulativa, como diz o Filósofo.

(6) Ao que se objeta em sentido contrário, cumpre dizer que não se diz que

48


a vontade anteceda no ato uma ação, mas na acepção da ciência e do

conhecível, pelo que é apetecível; mas, quando a ciência é aceita e a escolha é

feita, então a razão dirige para a ação que discerne, e em modo semelhante a

prudência; então, a razão se torna antecedente à ação.

(7) Ao outro ponto cumpre dizer, no mesmo modo, que a potência

concupiscível e a potência irascível no objeto e na investigação do objeto vêm

antes [da razão]. Isso é evidente porque, se se procurar o porquê a razão

adquira a ciência do operável, dir-se-á que não é para raciocinar ou para

conhecer, mas para desejar ou para afastar. Logo, a potência concupiscível e a

potência irascível são a causa eficiente e final na aquisição desta ciência; a

razão, porém, é guia e auriga. E semelhantemente é para a prudência em

relação à fortaleza, à temperança e à justiça.

(8) Ao outro ponto cumpre dizer que o discurso de Avicena é entendido

quanto ao domínio da guia e do auriga no ato, não na primeira inclinação ou

na razão do fim para a ação, porque nesse caso é verdade o que diz.

Ao que se procura depois, se a prudência tenha uma matéria determinada,

cumpre dizer que a matéria determinada se diz em três modos. No primeiro

modo se diz matéria determinada pela potência, da qual aquela matéria é

objeto, em razão de matéria e de objeto. E, nesse modo, nem a prudência,

nem a justiça têm uma matéria determinada, nem alguma potência da alma

racional e tampouco algum hábito que esteja na potência da alma racional. E

a causa disso foi atribuída acima nas questões do tratado Sobre a alma, porque

as potências da alma racional não são virtudes fixadas a um órgão e, portanto,

não são coagidas a um único objeto só na matéria, mas encontram seu objeto

numa matéria qualquer. Nesse modo, ao invés, duas potências têm uma

matéria determinada, ou seja, a concupiscível e a irascível, e duas virtudes, ou

seja, a fortaleza e a temperança.

No segundo modo se diz matéria determinada não segundo a razão da

matéria, mas segundo a causa eficiente na ação, como se diz que a arte de

construir casas tem uma matéria determinada, que, contudo, não está só nas

madeiras ou nas pedras, mas segundo uma razão que está em todas as coisas

que são exigidas na arte de edificar. E, nesse modo, a prudên​cia tem uma

matéria determinada, que não está em alguma matéria das paixões ou das

ações, mas antes em tudo o que é proporcionado ao apetite, porque o apetite

é a primeira causa eficiente nas ações possíveis e, portanto, também a

prudência põe seu ato no ato e na matéria de qualquer virtude.

No terceiro modo se diz matéria determinada não em razão do bem

49


privado, mas do bem comum, pelo que é pertinente à salvaguarda da

comunidade, como diz Túlio. E esta razão é especialmente do dever, e esta

determinação é própria da justiça, como será examinado a seguir.

(9) Mas ao que se objeta do comentário sobre o Gênesis, cumpre dizer que à

justiça não é atribuída uma terra para cercar porque justiça se diz em muitos

sentidos segundo a razão do dever. De fato, o dever que distingue a justiça das

outras virtudes, não é dito segundo uma única razão da obrigação no superior

e no inferior, no paritário, em Deus e no homem, e no entanto em todos esses

estados há um dever de justiça. Mas uma só é a razão do árduo em todas as

coisas árduas, porque sempre é árduo aquilo cuja dificuldade supera o vigor

de uma potência; e uma só é a razão do deleite para os sentidos, ou seja, o que

por si e naturalmente move para um forte deleite sensível. Semelhantemente,

uma só é a razão, embora não da matéria, mas da causa eficiente, em tudo

aquilo que pode ser escolhido para a ação, e esta é a razão comum do bem útil

ou honesto. E nesse modo a prudência é mais determinada pela razão do que

a justiça, e isso entende o comentário. Em outro modo, porém, a justiça é

mais determinada do que a prudência de acordo com a matéria. De fato,

considerando as ações possíveis na vida privada ou na pública, são sempre

ordenadas pela razão reta da prudência. Donde, de acordo com a razão, é

próprio da prudência como guia e auriga estabelecer a razão da sua matéria

em qualquer virtude, pelo que é em ação, e também em certas ações

voluntárias, que propriamente não são de alguma virtude. Mas não entende

isso o comentário, e sim o que se disse antes.

(10) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência é especificada segundo

uma razão da sua matéria, que é determinada pela razão da causa eficiente

própria e não pela razão da matéria sujeita. Eu chamo causa eficiente, pois,

justamente a causa eficiente de um movimento a partir de um fim

determinado, como o carpinteiro é movido pela estrutura da casa e o apetite

que opera o movimento foi movido pelo esforço do honesto ou do bom

ordenados à vida.

(11) Ao outro ponto cumpre dizer que a prudência não só estabelece o

discernimento nas obras das outras virtudes, mas põe a razão do seu governo

em todas as obras pertinentes à vida civil ou monástica, como foi objetado.

(12) Ao outro ponto cumpre dizer que num modo consideram o meio as

outras virtudes e noutro modo a prudência, porque as outras virtudes são

como a natureza que inclina à obra, mas a natureza não determina a razão e o

fim.

A prudência, no entanto, determina nelas a razão e o fim, e portanto

50


nenhuma virtude é virtude se separada da razão que a prudência determina.

Isso é evidente de duas definições de virtude, ou seja, aquela que dá Túlio,

que “a virtude é um hábito voluntário consentâneo com a razão conforme a

natureza” – a razão, de fato, com a qual concorda a virtude, é a razão da

prudência –, e aquela que dá Aristóteles, que “a virtude é um hábito

voluntário que consiste na mediedade determinada pela razão, como o sábio

determinaria”; de fato, esta razão determinada do sábio é a segunda razão

própria da prudência.

Mas ao que é objetado em sentido contrário também é preciso responder.

(13) Ao primeiro ponto cumpre dizer que a prudência tem sua matéria no

que é justo, casto, árduo e também nas outras coisas pertinentes a uma vida

de discernimento, porque a prudência não tem sua matéria pelo fato de serem

coisas justas e castas, mas enquanto devem ser escolhidas para a vida civil ou

monástica.

(14) Ao outro ponto cumpre dizer que a razão ordena as forças inferiores,

no entanto não lhes dá a espécie apetecível. O que é evidente disso, que se

lhes desse, como ela é uma só, precisaria que desse uma espécie às duas e

assim provocariam ambas as forças inferiores a desejar uma coisa só em

número e espécie, e como as potências se distinguem por seus objetos, estas

potências tornar-se-iam uma única potência, o que é falso. Portanto, a razão

não lhes dá a espécie apetecível, mas somente ordena para a escolha dos

objetos que devem ser desejados, quaisquer que sejam, segundo a reta razão

do bem útil ou honesto. E isso a prudência faz também nas virtudes e,

portanto, não é coagida somente pela matéria das virtudes, mas se estende

também às outras coisas pertinentes a uma vida virtuosa em geral.

Art. 4. Qual é o ato próprio da prudência

Em quarto lugar, examina-se qual é o ato próprio da prudência.

(1) Basílio, na exposição Sobre os princípios dos Provérbios, diz: “Sabemos que

a prudência é uma das virtudes gerais pela qual nos tornamos conscientes do

bem e do mal, e compreendemos o que é indiferente”. Disso apreende-se que

o ato da prudência é compreender a diferença entre o bem, o mal e o

indiferente.

(2) O mesmo parece pelas palavras de Túlio acima colocadas, ou seja, que é

necessário ser obra da prudência uma ação discreta e realizada

prudentemente.

(3) Além disso, o mesmo parece através da razão. De fato, toda virtude é

51


denominada a partir daquilo pelo qual é definida; a prudência é definida pelo

ato; logo, é também denominada pelo mesmo ato. Mas o nome da prudência

denota o ato de distinguir entre o bem e o mal e entre o bom e o melhor; logo,

parece que essa distinção seja ato dela.

(4) Igualmente, toda virtude principal aperfeiçoa a potência na qual está, de

acordo com o ato principal da potência, como foi determinado acima da

fortaleza e da temperança; mas a prudência está na razão; logo, aperfeiçoa a

razão de acordo com o ato principal da razão. O ato principal da razão,

contudo, pelo que é definido nas forças dos argumentos, é afirmar

distinguindo o bem do mal. Logo, a prudência aperfeiçoa a razão em

comparação com aquele ato; logo, a prudência é igualmente ato; logo, a

prudência é afirmar distinguindo o que é bom ou o que é mal.

Mas se isso for concedido, de acordo com o que foi dito acima, parecerá

contrário a Agostinho que afirma ser a prudência a capacidade de escolher

sagazmente as coisas que ajudam das outras que estorvam. Logo, saber

escolher é obra da prudência e não distinguir.

Se, eventualmente, se dissesse que distinguir e saber escolher são um único

ato, em sentido contrário: muitos que escolhem em modo péssimo

distinguem otimamente; logo, escolher e distinguir não são o mesmo.

(5) Além disso, a prudência parece ter um outro ato em cada uma dessas

ações. De fato, o comentário a Mateus 10,16 diz: “Sede prudentes como as

serpentes”; “prudentes”, ele diz, “para manter intacta a fé”. Portanto, parece

que a prudência seja o ato de manter intacta a fé e outros bens espirituais.

(6) Igualmente, isso parece por causa da prudência secular. De fato, nós

dizemos que “adquirir não é menor virtude do que conservar o adquirido”.

Mas esta é a virtude da prudência. Logo, a prudência é conservar os bens que

serão obtidos; logo, seu ato não é só a distinção.

(7) Além disso, parece que, pela definição acima de Macróbio, a prudência

seja abandonar o mundo. Logo, parece que seu ato não seja discernir, nem

saber escolher, tampouco conservar as coisas boas adquiridas, mas antes fugir

do mundo e de todas as coisas que estão nele.

Logo depois disso, examina-se ainda se a prudência em ato procura o meio

determinado para si como as outras virtudes.

(8) E parece que seja assim. De fato, Bernardo diz: “Não sejas prudente

demais, mas põe limites à tua prudência, assim como não deves ser justo

demais, mas põe limites à tua justiça”. É evidente que ele fala do caminho do

meio. Logo, a prudência em ato considera o meio.

52


(9) Igualmente Bernardo, no primeiro livro Sobre a consideração: a prudência

é “aquele limite que o ânimo, negligenciado por longo tempo, encontra e

percebe melhor após o hábito e os vícios da inveja, quando estava recluso em

profundo abismo e coberto por uma vetusta caligem”. Portanto, parece que o

meio não seja somente parte da prudência, mas o aspecto principal.

(10) Além disso, isso parece pela razão. De fato o Filósofo, na definição geral

da virtude, diz que “a virtude é o hábito voluntário que consiste na

mediedade determinada pela razão”. Logo, se algum hábito não consistir na

mediedade, não será uma virtude. Se, portanto, a prudência não consiste na

mediedade, não será virtude, o que é falso; logo, consiste na mediedade.

(11) Igualmente, acima foi determinado que a virtude é substancialmente

seu meio. Como, portanto, a prudência é uma virtude, ela será o meio de

acordo com sua substância.

(12) Mas, pelo contrário: nas outras virtudes em que há o meio, aquele meio

apreende junto o mesmo ato das potências com relação aos extremos e com

relação aos meios. Por exemplo na temperança, aquele que vai atrás de todos

os prazeres é dito incontinente, aquele que não vai atrás de nenhum é dito

rigoroso, e aquele que segue o caminho do meio é dito continente. Portanto,

se a prudência tiver o meio, será um único ato da razão em relação àquele

meio e em relação aos extremos. Logo, quem discerne todas as coisas

discerníveis, e quem não discerne nada e quem discerne algumas coisas e

outras não, terá superioridade, limitação e meio da prudência. Mas isso é

contrário ao que diz Túlio, que é necessário distinguir aquele que é o mais

prudente de todos daquele que discerne cada coisa, como acontece.

Além disso, se tivesse o meio seria necessário que tivesse maldades ao redor

de si, e que se procurasse saber quais são elas. Se se dissesse que de um lado

está o desejo de saber e do outro a tolice, pelo contrário: Não é colocado o

meio entre aquelas em que nunca há a função de dirigir, como diz Aristóteles

e como acima foi explicado; mas nos curiosos nunca há a função de dirigir;

logo, não se utiliza algum meio como extremo.

Além disso, os extremos e o meio sempre são em relação à mesma matéria;

a curiosidade e a prudência não são relativas à mesma matéria; logo, a

curiosidade não é um extremo para a prudência. A primeira é evidente por si,

a segunda é comprovada pelo que dizem Agostinho e Bernardo, que a

curiosidade é a investigação das coisas que pertencem à circunstância e a nós

não pertencem. Mas a prudência pertence seja à circunstância, seja a nós.

Igualmente, se houvesse o meio em si, seria conforme o gênero das ciências

práticas; mas naquele gênero não temos senão o apetite da ciência do bem e o

53


apetite da ciência do mal e a indiferença quanto ao conhecível de uma e de

outra. Contudo, o apetite da ciência do bem é semelhante ao apetite da

ciência do mal, porque dizem Ambrósio e Boécio que não pode haver um

bom conhecimento do mal. Logo, a prudência não terá o meio conforme o

gênero das ciências práticas.

Se se disser que o apetite de conhecer o mal, para ser evitado, não é um

mal, outrossim o desejo de conhecer o mal, para que aconteça, é mal e é

extremo; em sentido contrário: nas outras virtudes, o extremo não pode se

tornar boa intenção, pois logo denominado é mal, como dizem Agostinho e

Aristóteles. Portanto, como esta é uma virtude compartilhada por eles, o

extremo não poderá se tornar nela uma boa intenção.

Igualmente, o desejo de conhecer ou o conhecimento afetado pelo mal,

quando acontece, ou é mal porque conhecimento, ou porque se torna aquilo

que é conhecido. Se for mal porque conhecimento, então é mal por si e

sempre. Logo, também é mal quando é conhecimento do mal para que seja

evitado. Se, no entanto, é mal porque se torna aquilo que é conhecido, a ação

má cai na razão do mal. A ação má será concupiscível ou irascível e assim cai

fora do gênero, que é a prudência, assim não será seu extremo.

Se se disser que Eva pecou no desejo excessivo de conhecer o bem e o mal,

isso não é nada. Pois aquele apetite não foi para os objetos conhecíveis através

da prudência, mas para os objetos conhecíveis através da ciência especulativa,

que quis saber como Deus, que possui o conhecimento perfeitíssimo e a quem

nada está escondido.

Solução: Cumpre dizer que o ato da prudência é múltiplo. De fato, um é o

ato em si mesmo e outro é o ato que comanda o movimento e a ação. E

aquele que é em si mesmo é duplo, ou seja, antecedente, que é para a

disposição e a potência da obra das virtudes, e, consequente, que é para a

perfeição, pois é próprio do regente aperfeiçoar. O antecedente, contudo, é

múltiplo. Em primeiro lugar, pela razão apreende o que é operável; em

segundo lugar, examina pelas razões do direito, do vantajoso e do honesto; em

terceiro lugar, aconselha como adquirir ou recusar; em quarto lugar, ordena.

O ato consequente, ao invés, é a escolha. Mas o ato que comanda a ação é a

decisão do que deve ser feito. De fato, para todos há o mesmo modo, que no

tratado Sobre a alma, na questão “Sobre a razão”, é dito dos atos da razão, mas

aqui cumpre dizer que parece próprio dos atos da prudência. De fato, a

prudência e a razão prática têm o mesmo ato, porque a razão dá o ato, mas a

prudência o conforma pelas razões do direito, do vantajoso e do honesto.

54


(1) Ao primeiro ponto cumpre dizer que Basílio, na sua autoridade, não

trata senão do primeiro ato da prudência, que é a aceitação e examinação do

operável. Por ele nos tornamos conhecedores do que é bom e do que é mal.

(2) Ao outro ponto, cumpre dizer que Túlio trata do ato último da

prudência, que é a decisão de agir pelas razões do direito ou do lícito, que é a

mesma coisa, e do vantajoso e do honesto; de fato, por esta decisão a ação é

feita discreta e prudentemente.

(3.4) Às duas razões do ato consequente cumpre dizer que elas não tratam

senão do ato, que é decisão sobre o operável; de fato, pela decisão, profere

distinguindo o que é reto ou não reto. E por isso, alguns dizem que a

prudência é dita como reveladora porque, deliberando, revela o oculto que

pertence à ação, para imitar ou para evitar.

Ao que é objetado em sentido contrário, cumpre dizer que Agostinho trata

do ato último da prudência considerada em si mesma.

Ao que é objetado em sentido contrário, cumpre dizer que [o ato último

da prudência] é discernir pelo hábito da ciência especulativa, que, contudo,

cumpre o ato da prudência em conformidade com o conhecível, como é a

ciência do direito e a filosofia moral ou teologia, e em tal modo aqueles que

discernem às vezes escolhem mal. A ciência da prudência, que se considera

consequente à vontade, é também discernir. Sinal disso é que aquele

discernimento é sempre por causa da escolha e da ação, antecedendo a

escolha e a ação como necessidade para ele. E aquele discernimento, quando

distingue, nunca escolhe mal ou opera mal, como diz o Sábio: “Faz todas as

coisas com conselho e depois não fique lamentando do que é feito”, e o

Apóstolo: “Provai todas as coisas; ficai com o que é bom. Abstende-vos de

toda espécie do mal”.

(5.6) Ao outro ponto cumpre dizer que, pelo mesmo discernimento com o

qual se distingue o bom e o melhor, distingue-se também a conservação do

bem e sua multiplicação. E, por isso, o comentário não define o discernimento

como outro ato da prudência a ser predisposto. Por isso, também, é evidente a

solução ao que segue.

(7) Ao que se objeta pela definição de Macróbio, cumpre dizer que aquele

ato é da prudência, pelo qual une-se à felicidade, como antes foi considerado.

Ora, os atos das virtudes políticas, recebidas segundo o estado da felicidade,

não são assumidos segundo a correspondência da matéria ou das ações

ordenadas com um fim, mas, antes disso, de acordo com as condições do fim.

Donde é, com certeza, próprio da fortaleza segurar o bem mais fortemente

55


por causa do perigo que se aproxima; é próprio da temperança ser

restabelecida na castidade preservada, e é próprio da prudência enxergar o

bem que escolheu antes. No entanto, Macróbio não determina as virtudes

segundo esses atos, e sim de acordo com aquilo que é ligado ao caminho da

felicidade, que é a perfeição da alma segundo a virtude perfeita. E, assim, não

é próprio da prudência discernir, porque o discernimento não é exigido a não

ser nos conselhos e nas dúvidas. A virtude perfeita, porém, afasta de si todas

as dúvidas e tende à certeza, e por isso, então, a prudência ensina a deixar o

mundo no qual o discernimento do bem é duvidoso, e tende à contemplação

do bem imutável e certo, que é Deus.

Ao que se procura logo depois disso, se a prudência em ato tende ao seu

meio, sem julgamento anterior, digo que não tem meio. A causa disso, pois, é

que ela é uma virtude lógica que não determina para si a matéria, senão

logicamente, isto é, de acordo com a razão, como antes foi dito. Donde, como

todo meio segundo a matéria são ditos, fatos, paixões causadas ou inatas, a

prudência não determinará para si nenhum desses meios, e quanto mais será

circunspecta, tanto melhor será a virtude. “De fato, toda ciência sempre foi

para o Senhor Deus, sempre esteve com ele e antes da eternidade”, e toda

ciência em si é boa, nem algo pode ser excessivamente prudente. Donde não

há excelência na prudência que esteja também no vício.

(8) Ao que é objetado em sentido contrário ao discurso de Bernardo,

cumpre dizer que o bem-aventurado Bernardo define aqui como excesso da

prudência aqueles que querem conhecer aquilo que, se fosse conhecido, seria

prejudicial a eles ou a outros. E isso não é vituperável senão por acidente e

não enquanto é conhecer algo. Isso é chamado vício da curiosidade e não é

próprio das operações da prudência, mas, antes, dos objetos conhecíveis da

ciência especulativa, embora a má intenção da ciência desses que em tal

modo são conhecidos seja adquirida.

(9) Ao outro ponto cumpre dizer que o bem-aventurado Bernardo fala aqui

como a prudência encontra o modo e o meio das outras virtudes, não o seu

próprio como o meio da fortaleza ou da temperança.

(10) Ao outro ponto cumpre dizer que toda virtude é um hábito voluntário

e consiste na mediedade, se for política ou civil. Mas não é necessário que

todas consistam no meio no mesmo modo; outrossim, segundo a matéria que

têm, determinam o meio para si. Donde, no caso em que as virtudes lógicas

não sejam de atividades determinadas ou de matéria, não têm o meio próprio,

ou melhor, como sua matéria é determinada somente segundo a razão,

dispõem a respeito de algo que está nas palavras ou nos fatos ou nas paixões, e

56


aí sim têm o meio em si, e isso é deles por acidente e não é próprio.

(11) Ao outro ponto cumpre notar que a substância da virtude diz-se um

meio, por isso que a definição e o ser da virtude está no meio, apesar de não

dizer respeito a ele no mesmo modo. E, por isso, a ciência da prudência é

determinada nesses objetos conhecíveis que têm o meio, embora a ciência em

si careça de um meio. E, por isso, o meio não é por si substancialmente da

prudência, mas de acordo com seu conhecível, considerado, no entanto, não

por causa da coisa conhecida, como diz o Filósofo, mas por causa da ação.

(12) No entanto, concedemos sem dificuldade as razões que são aduzidas

em sentido contrário.

Mas ainda parece que a prudência tenha um meio. Há, de fato, um único

modo de seus atos decidirem ou julgarem, e aqui há um meio. Com efeito,

certos pecados dos homens são manifestos ao juízo, enquanto outros são

escondidos, e nos é comandado: “Não julgueis e não sereis julgados”.

Semelhantemente, crer pouco e crer tarde são atos que têm um meio, por isso

ambos são vituperáveis. É dito, com efeito, em Eclesiástico 19,4: “Aquele que

confia rapidamente é um coração leviano”, e em sentido contrário aos

apóstolos: “Insensatos e lentos de coração para crer”. Como, portanto, estes

são atos da razão, parece que o meio neles seja louvável e seja próprio da

prudência. Igualmente, em Eclesiástico 21,28: “A narração insensata é dos

lábios imprudentes, mas as palavras dos prudentes são pesadas na balança”.

Logo, na prudência há um meio. Igualmente, em Provérbios 10,19: “Quem

modera seus lábios é prudentíssimo”.

Solução: Cumpre dizer, em primeiro lugar, que a prudência não tem o meio

por si, mas como a matéria o tem nos demais, assim também tem o meio e

não por si. E ao que se objeta do juízo, cumpre dizer que a credulidade de

algo é certo vício que nasce da corrupção de algumas circunstâncias da

prudência, mas crer pouco e crer tarde e o modo meio que há nisso não diz as

maldades circunstantes e o meio da prudência, porque se aquelas forem

maldades circunstantes, a prudência não estaria senão nelas; o que é falso,

como é em muitos outros. Donde confiar, como convém, em certa parte

material, é próprio da prudência, e suas partes segundo uma matéria bem

determinada têm o meio, mas isso acontece com a prudência enquanto se

insere em uma matéria determinada, quando ela é uma virtude lógica de

gênero indeterminado.

A todas as outras coisas, cumpre dizer que elas concordam com a

prudência segundo o que se admite da matéria da modéstia, a qual, como foi

57


afirmado, consiste nas palavras e nos atos exteriores.

Art. 5. Se a prudência é uma virtude dita em modo simples ou múltiplo

[448] Em quinto lugar, procura-se se a prudência é uma virtude dita em

modo simples ou múltiplo. Parece que seja dita em modo múltiplo. De fato,

Basílio diz na obra Sobre o princípio dos Provérbios em original: “Ao que me

parece, o termo da prudência é entendido em três modos. O primeiro é

quando uma pessoa prejudica outros astuciosamente para o benefício próprio,

vendo que não pode cuidar de si a não ser com o prejuízo do outro, como fez

o servo iníquo sendo previdente para si em prejuízo do senhor, e foi designado

pelo mesmo senhor como prudente.

O segundo modo, pois, é quando uma pessoa, sem ter em conta sua

vantagem, apenas se protege da ira, da inveja ou de qualquer outro mal que

provém de um impulso de uma mente perversa, que assim derruba e engana

o outro, a fim de que, mesmo diante da obra do mal, o efeito seja nulo, como

é descrito da serpente que enganou o primeiro homem no paraíso, onde não

só não foi útil para si a destruição do outro, mas recebeu condenações muito

mais graves.

O terceiro gênero de prudência é aquele que decide sem prejuízo de

outrem, a partir de sua astúcia, as coisas que quer para si, ou quando são

oportunas, ou quando, após termos compreendido os perigos persistentes,

escolhemos nosso chefe que é Cristo e as coisas que há nele, guardando a fé

em tudo com cuidado e respeito”. E desse gênero de prudência se fala no

Evangelho: “Sede prudentes como as serpentes”. Disso se apreende que a

prudência se diz em três modos, dois no mau sentido e um no bom sentido.

Além disso, muitos outros modos são determinados aqui e acolá pelos

comentários dos santos, que pedem ser recolhidos e resumidos neste modo, a

saber, o que é a prudência da carne e o que é a prudência do espírito. Dessas

coisas fala o Apóstolo na Carta aos Romanos 8,6, e o comentário diz que a

prudência do espírito é “quando uma pessoa realiza com amor as coisas

espirituais, mas a prudência da carne é quando uma pessoa deseja outros bens

e foge das coisas más ou quando só segue as coisas pela natureza, que é um

pecado grave”. E há o comentário de Ambrósio.

A relação da prudência consigo mesmo é igual à relação da prudência com

o próximo. Disso fala o Apóstolo na Carta aos Romanos 12,16, e aqui o

comentário de Ambrósio diz: “Vossa prudência não seja exercida apenas junto

a vós, mas mais ainda junto ao próximo”. Igualmente, na epístola aos Efésios

3,4 o Apóstolo fala da sua prudência em relação ao Evangelho, e o comentário

58


de Jerônimo diz no mesmo lugar: a prudência se chama “ciência do

conhecimento dos mistérios de Cristo, a saber, em que modo as nações serão

salvas por ele”. Igualmente, na carta a Tito 2,4, o Apóstolo admoesta para que

as idosas ensinem às mulheres mais novas, e aqui o comentário diz “para que

amem seus maridos”, no mesmo lugar o comentário diz que a prudência é

“inteligência da mente”. Além disso, o evangelho de Mateus 10,16 diz a

respeito disso: “Sede prudentes como as serpentes”, ou seja, para manterdes a

elevadas a fé e a cabeça diante de todos.

Encontra-se também a prudência entendida em modos diferentes pelos

filósofos. De fato Túlio, no livro Dos deveres, diz que a prudência é qualquer

investigação ou conhecimento do verdadeiro. Mas Aristóteles parece entender

a prudência como um hábito do conhecimento das coisas a serem realizadas,

assim como é a ciência do direito ou filosofia moral.

É necessário examinar, pois, o significado de todas estas acepções.

(1) Parece, contudo, que o nome da prudência seja dito em modo

totalmente equivocado no primeiro dos três modos aceitos pelo bemaventurado

Basílio. De fato, não há nada em comum entre o bem e o mal,

porque, como diz o Filósofo, o bem e o mal não são do mesmo gênero, mas

são gêneros diferentes de existência. Logo, a prudência não se divide naqueles

três modos como gênero único nem como gênero comum segundo a coisa.

Logo, é definida totalmente de forma equívoca.

(2) Além disso, o hábito dos vícios e o hábito das virtudes não são

designados igualmente num modo próximo; mas a prudência designa o

próximo, porque é o nome da espécie; logo, como há dois modos para os

vícios e um terceiro para a virtude, parece que não seja dividida naqueles três

modos como unívoco, mas como equívoco.

Mas, pelo contrário: as coisas equívocas não se aplicam ao ato pela mesma

razão; logo, a prudência não se equivoca nos três modos. A primeira afirmação

é evidente por si, a segunda é evidente porque a indagação e investigação sutil

é um ato comum aos três modos.

(3) Além disso, parece que o terceiro modo não expresse a verdadeira

prudência. Pois justamente nosso escolher diligente não é próprio da virtude,

mas antes da fraqueza da carne. Logo, parece que isso é próprio dos vícios e

não das virtudes.

(4) Além disso, a astúcia não parece ser própria da virtude, porque astúcia

indica o mal. Como, portanto, o terceiro modo cuida das suas astúcias, não

parece ser próprio da prudência como virtude, mas dos vícios.

59


Além disso, examina-se a outra divisão, pela qual uma é a prudência da

carne e outra é a prudência do espírito. Sobre essa divisão, duvidou-se de

muitas formas entre nossos antecessores. De fato, há uma dúvida sobre o que

é a prudência do espírito e por que ou por qual espírito se diz prudência do

espírito e se é o mesmo que a prudência como virtude, e se pertence à vida

ativa ou à vida contemplativa; e, novamente, há uma dúvida sobre a

prudência da carne, o que é e se é o mesmo que a prudência como virtude ou

prudência do espírito.

(5) Ao primeiro ponto, no entanto, o comentário diz que a prudência do

espírito é “quando uma pessoa realiza atos espirituais sinceros”; mas todas as

pessoas que têm virtudes realizam atos espirituais sinceros; logo, parece que a

prudência do espírito seja própria de toda virtude.

(6) Igualmente, na Primeira Carta aos Coríntios 2,15: “Mas o homem

espiritual julga todas as coisas e não é julgado por ninguém”, o comentário diz

que o homem espiritual é aquele que compreende “as coisas que são

suficientes para a vida e a justiça”. Ora, estas parecem constituir as virtudes

individuais na própria matéria. Logo, a prudência do espírito é a compreensão

das coisas espirituais nas virtudes individuais que constituem a vida.

(7) Igualmente, parece que seja entendido isso pela palavra do Apóstolo,

que diz que “a prudência do espírito é vida e paz”; ora, a vida e a paz não são

adquiridas de outra virtude; logo, a prudência do espírito estende-se a todos

aqueles em que há vida e paz.

(8) Além disso, a partir de que espírito se diz espiritual? Se, de fato, se disser

espiritual a partir do espírito que é como um dom, então toda virtude será

espiritual. Mas isso não parece se for a partir da matéria, porque a prudência,

que é vida e paz, nem sempre pode ser própria das coisas espirituais, sendo

que a disposição das coisas temporais para o uso das coisas lícitas pertence à

vida.

Mas se se disser espiritual porque aperfeiçoa a alma de acordo com aquela

parte que se chama espírito, pelo contrário: a parte da alma que se diz espírito

é apreendida em dois modos. De fato, define-se espírito, segundo Agostinho

no livro XII Sobre o Gênesis, literalmente, “uma certa força da mente inferior

na qual são impressas as imagens das coisas”, e consta que a partir desta parte

da alma não se diz prudência do espírito. De fato, nenhuma forma de

prudência está de acordo com esta porque é uma parte da alma sensível, que

sói chamar-se imaginativa ou formal, a não ser que eventualmente alguém

diga que é segundo a prudência da profecia, que é a visão das coisas futuras

60


em imagens. Mas não seria isso, porque a prudência da profecia não é vida e

paz, pois a profecia não é um dom senão dado de graça e não que torna

agradável.

Além disso, a prudência daquela visão não é espírito imaginativo, mas

antes intelecto, porque, como diz Daniel 10,1 “o intelecto é necessário na

visão”. Por isso Agostinho diz que as imagens impressas no espírito brilham no

intelecto. Em outro modo, também, se diz espírito segundo Agostinho, sobre

aquela frase do Apóstolo: “Renovai o espírito da vossa mente”, a parte mais

sublime da alma, na qual é impressa a imagem da Trindade, assim como diz o

comentário a Hebreus 4,12: “A palavra de Deus é viva e eficaz e mais

penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da

alma e do espírito”; e aqui o comentário diz que “o filho de Deus reconheceu

como a sensibilidade se distingue da razão”. Logo, o espírito será a razão,

segundo a qual é imagem, e a alma será a sensibilidade. Se, portanto, a partir

desse espírito se diz prudência do espírito, isso não parece, porque de acordo

com isso seria a perfeição da imagem de Deus na alma, e como o ato da

potência e o hábito são o mesmo, seria necessário que a prudência do espírito

não fosse senão daquilo que o ato como imagem conduz no primeiro

exemplar, e assim não seria senão o hábito conatural do verdadeiro e do bem,

que é a alma ou que é Deus; o que é falso. Logo, parece que de modo algum

pode ser dita prudência do espírito.

Além disso, examina-se depois se por isso é prudência como virtude.

(9) Parece que sim. De fato, a prudência é uma virtude daquelas coisas que

são escolhidas para auxiliar a vida; logo, são próprias dessas coisas a vida e a

paz, e a prudência do espírito pertence às duas; logo, parece que a prudência

como virtude e a prudência do espírito sejam a mesma coisa.

(10) Ademais, isso parece principalmente pela definição de Macróbio, que

define a prudência como virtude, a qual, pela contemplação das coisas

divinas, despreza o mundo. De fato, esse parece ser o ato principal da

prudência do espírito. Logo, parece que são a mesma coisa.

(11) Além disso, a prudência do espírito não parece acrescentar nada à

prudência simplesmente a não ser a graça santificadora, porque esta gera a

vida e a paz. Mas ela não impede esta graça, ainda que a prudência seja da

mesma matéria da qual foi antes. Logo, será ainda a mesma virtude, embora

seja adicionada a outra perfeição segundo a graça.

(12) Igualmente, a graça é a perfeição da natureza e não destrói a perfeição

61


do que é perfeito, mas, antes, une-se a ele. Logo, a perfeição do hábito da

graça será um hábito inato que acolhe por natureza, embora sua perfeição

derive da doutrina ou do costume. Logo, a graça adveniente não destrói o

hábito da prudência, mas une-se a ele.

Se, eventualmente, alguém qui​sesse dizer que o costume ou a doutrina

impedem isso, que não podem ser um só, que uma coisa é a geração do

princípio que tem a prudência do espírito, porque é o Espírito Santo, e outra

coisa é a prudência como virtude, porque é doutrina ou costume, em sentido

contrário: tudo o que é conveniente ao ato da graça e aos hábitos adquiridos

ajuda um e outro e não contraria nenhum dos dois; a doutrina e o costume

são convenientes ao hábito adquirido e ao hábito da graça, se tiver que agir;

portanto, não contraria nenhum dos dois. Logo, pode permanecer em ambos;

logo, também, pode permanecer em um como em outro.

Mas, pelo contrário: o que vem de nós e o que vem de Deus não têm uma

única razão de bem. A prudência como virtude pode vir de nós; mas a

prudência do espírito não pode vir senão da graça santificadora de Deus; logo,

não são o mesmo nem podem se tornar o mesmo.

Examina-se, depois, se a prudência do espírito pertence à vida ativa ou à

vida contemplativa. E parece que pertença à vida contemplativa, porque para

a outra seria inútil. De fato, a prudência como virtude é suficiente para todos

os objetos de conhecimento que pertecem à vida.

(13) Mas parece que a prudência como virtude compreenda as duas, isto é,

pertença à vida ativa e pertença à vida contemplativa. De fato, sobre isso 1

Cor 2,14 afirma: “O homem natural não acolhe as coisas que são do espírito

de Deus. Pois é loucura para ele, porque é examinado espiritualmente”, o

comentário distingue que há “uma vida natural e um sentido natural. É

chamada vida natural aquela que é conduzida para a lascívia dissoluta da sua

alma, que não contém entre as metas da ordem espíritos retos. O sentido

natural, porém, é aquele que, a partir de Deus, julga igualmente a imagem

dos corpos, ou a letra da lei ou ainda a razão dos filósofos”. Como, portanto,

natural é dito em oposição a espiri​tual, a prudência parece ser dita do espírito

enquanto vida e enquanto sentido da espiritualidade. Logo, será própria da

vida ativa enquanto vida e própria da vida contemplativa enquanto sentido.

(14) Ademais, isso parece por um comentário à Carta a Tito 1,1: “segundo a

fé dos eleitos de Deus e para o conhecimento da verdade, a qual é conforme à

piedade na esperança da vida eterna”, onde o comentário diz que “há verdade

nas artes liberais, as quais não pertencem à religião cristã, e na outra, que é

conforme à piedade da religião cristã”. Mas a prudência do espírito é própria

62


da religião cristã. Como, portanto, isso pertence à vida ativa e à vida

contemplativa, a prudência do espírito parecerá ser própria de ambas as vidas.

(15) Ademais, isso parece por aquilo que afirma o Apóstolo, que diz ser a

prudência “vida e paz”. De fato, não há paz e vida senão de acordo com a

prática de ambas as vidas. Logo, a prudência do espírito pertence às duas.

Em seguida, examina-se o que é a prudência da carne. O Apóstolo, de fato,

diz que “a prudência da carne é a morte”. Logo, a prudência da carne é culpa

mortal ou pecado.

Igualmente, o comentário diz que a prudência da carne é quando alguém

ama os bens temporais ou se ocupa com zelo das coisas que são próprias da

carne. Ou isso se entende do amor, que não é pecado, ou daquela coisa que é

pecado. Se for no primeiro modo, então o mal é classificado contra a

prudência do espírito. Se for no segundo modo, então é pecado mortal.

(16) Mas, em sentido contrário: nenhuma forma de prudência é má em si,

porque até mesmo o Senhor elogiou o servo injusto que operara

prudentemente. Logo, parece que a prudência da carne, enquanto prudência,

não seja vício ou pecado.

(17) Examina-se, enfim, se a prudência da carne pode se tornar prudência

do espírito ou se é a mesma que ela. Parece, contudo, que seja a mesma,

porque Agostinho diz, no cap. XII de Sobre a Trindade, que quando dividimos

a razão em parte inferior e em parte superior, não definimos a natureza da

mente de uma e de outra, mas apenas “colocamos uma ao lado da outra pelas

funções”. Mas, assim como a parte inferior e a parte superior diferem de razão,

parecem se diferenciar a prudência da carne e a prudência do espírito, porque

a prudência do espírito é própria das coisas espirituais, mas a prudência da

carne é própria das coisas temporais. Logo, parece que o hábito delas na

substância seja o mesmo.

Pelo contrário: a prudência da carne é a morte, mas a prudência do espírito

é vida e paz; porém, nada que tem a mesma substância pode ser digno da

vida e da morte; logo, a prudência da carne não é prudência do espírito.

(18) Além disso, examina-se a outra divisão, ou seja, o que é a prudência

junto a si mesmo e a prudência junto a outro. E parece que o Apóstolo diga

que nós devemos exercer a prudência junto aos outros e não junto a nós

mesmos.

Mas, pelo contrário: a prudên​cia conforme foi determinada acima pertence

à escolha da ação; pertencem à ação mais as coisas que estão junto de nós do

que as que estão junto do próximo; logo, devemos exercer a prudência mais

63


junto de nós do que junto do próximo.

Além disso, a prudência não tende mais à ordem do que a caridade; mas a

ordem da caridade permite a ordem da prudência; logo, isso permite muito

mais a dis​posição da prudência; logo, devemos exercer mais a prudência junto

de nós do que junto dos outros.

(19) Além disso, examina-se o outro modo da prudência, que é elaborado a

partir das palavras de Jerônimo, ou seja, que a prudência é o conhecimento

dos mistérios de Cristo. Com efeito, de acordo com isso, a prudência é o

mesmo que o conhecimento das coisas divinas pela doutrina e a revelação dos

hábitos. Mas o conhecimento das coisas divinas é a sabedoria. Logo, a

prudência é a sabedoria, que se contrapõe ao que disse Túlio na autoridade

acima aduzida, que a sabedoria é a principal das virtudes segundo os gregos,

que não é a sensatez, que nós chamamos prudência.

(20) Objeta-se, ainda, a outra acepção de prudência, na carta a Tito 2,4, ou

seja, que a prudência é própria das jovens para que amem os maridos. De

fato, não é o próprio da prudência, mas antes o bem do matrimônio, que

dizemos fidelidade.

Às outras divisões que se seguem, foi objetado acima.

Solução: Cumpre dizer que a prudência define-se, em todos os seus modos,

por um anterior e por um posterior. De fato, a prudência é definida

principalmente uma ciência prática ordenada à vontade como consequente,

que sabe escolher sagazmente as coisas que ajudam e se afastar das coisas que

estorvam; e esta é uma das virtudes políticas. Mas, pelo posterior, a prudência

é chamada sagacidade ou solércia que encontra o bem para si, ou

simplesmente, ou em qualquer matéria, e por isso, por causa da matéria e do

afeto relacionado, às vezes é apreendida no bom sentido, às vezes é

apreendida no mau sentido.

A esse respeito, Basílio apresentou a primeira divisão. Nela, três dos modos

são ditos se relacionarem com a sagacidade, mas dois modos, ou seja, o

primeiro e o terceiro, relacionam-se com duas coisas, a saber, a sagacidade de

encontrar e de conhecer o que é bom para si; mas nisso diferem, pois o

primeiro apreende o bem para si segundo o sentido e não segundo a razão, e o

terceiro apreende o bem simplesmente e não para o sentido, mas para a razão.

(1) Portanto, ao que é objetado em sentido contrário, cumpre dizer que

entre o bem e o mal não há nada em comum no gênero do bem e do mal, mas

no gênero separado, que é a qualidade, eles têm algo comum, se mal não é

apreendido como privação mas como hábito ou ato dos vícios ou dos pecados.

64


No entanto, não forçamos nisso, mas cumpre dizer que, embora o bem e o

mal não sejam chamados em modo unívoco, algo pode acontecer a um e

outro, e isso pode ter um nome comum segundo a relação do ato único. Com

efeito, apreende do bem e do mal comumente o que é ciência deles e

potência racional, e esta ciência pode ser proporcional ao ato único de

indagação ou investigação, que é acreditado ser conveniente, em si ou para si.

(2) Ao outro ponto, cumpre dizer que a prudência não designa assim a

espécie que a designe a partir de matéria determinada, mas antes é imposta

pelo ato que diz respeito a qualquer matéria das ações a serem executadas,

embora não seja igualmente a principal, e por isso pode ser dita geralmente de

acordo com um anterior e um posterior.

(3.4) Ao outro ponto cumpre dizer que a astúcia também define-se por um

anterior e um posterior. De fato, astúcia é definida como “em segurança”,

porque é garantia para si e para as outras coisas, por isso que pergunta antes

habilmente o que se deve fazer ou não se deve fazer. E assim entende Basílio;

donde Basílio no mesmo lugar, Sobre os Provérbios em original, diz: “Astúcia é,

como explica a etimologia do nome grego, a habilidade de todas as obras e

artes. Portanto, aquele que recebe a habilidade de todas as obras e artes é

astuto. Ora, algumas obras são boas, mas algumas são más. Por esse motivo, o

astuto apreende às vezes para o bem, outras vezes para o mal”. Disto,

evidencia-se o que foi dito antes, que o astuto se diz como “prudente” pela

sutileza da investigação, antes de começar a obra.

Ao que se examina da outra divisão, a saber, que uma é a prudência da

carne e outra é prudência do espírito, cumpre dizer que nem essa prudência é

entendida em modo equívoco. Com efeito, a ciência prática é consequente à

vontade ordenada comum às duas, embora uma seja do bem e a outra do

mal, e uma é o efeito do bem e outra o efeito do mal, que, no entanto, é

apreendida na razão do bem. Mas como é apreendida em razão do bem

sujeito à mudança, ao qual é inerente o mal, aquela prudência é má, mas a

ciência natural, que em ambas é prudência, não é má, mas sempre boa em si,

embora uma vez seja do bem e outra vez seja do mal.

(5) Ao primeiro argumento, portanto, cumpre dizer que a potência está

naquilo que o comentário chama “diligente”. De fato, a diligência, como diz

Túlio, é a aplicação veemente do ânimo em algo que deve ser feito. Ora, essa

diligência toda não se torna virtude, mas só aquela que está na razão e cuja

tarefa é investigar com perspicácia a respeito da ação.

(6) Ao outro argumento cumpre dizer que o homem espiritual não é dito

espiritual só pela prudência do espírito, a não ser de acordo com a essência.

65


De fato, diz-se espiritual o homem cuja vida e sentido são conformes ao

espírito. Com efeito, o que é animal e o que é espiritual são ditos por

oposição; o que é animal, contudo, define-se pela vida e pelo sentido; ora, o

que é espiritual é dito pela vida e pelo espírito, e será próprio da vida

espiritual viver de acordo com o espírito, de tal maneira que a carnalidade não

apareça no afeto ou na obra; mas o sentido é também próprio da vida

espiritual que conhece espiritualmente as coisas espirituais, pelos meios

espirituais. Digo, porém, que alguém sabe espiritualmente quando

experimenta a ciência espiritual pelo afeto ou pela experiência interior. Ora,

conhece as coisas espirituais quem possui conhecimento espiritual. Conhece

pelas coisas espirituais e racionais, no entanto, quem percebe as coisas

espirituais com as razões divinas e não humanas. De fato, há pessoas que

sabem de acordo com a carne as coisas espirituais como espirituais, como

certos teólogos prudentes que encontraram na Escritura, por razões divinas,

coisas da eloquência dos místicos. E há pessoas que sabem espiritualmente as

coisas espirituais, como os prudentes e os que procuram as coisas divinas, mas

não pelas coisas espirituais, e sim experimentando as coisas divinas por um

sabor interior e não pela ciência das Escrituras. E o Apóstolo chama perfeitos

estes e os primeiros, entre os quais fala a sabedoria de Deus escondida no

mistério, que ninguém dos príncipes deste mundo, isto é, dos filósofos,

conheceu.

Como, portanto, o comentário diz que é espiritual aquele que compreende

as coisas que são suficientes para a justiça e a vida, deve ser compreendida

espiritualmente aquela parte do intelecto que é espiritual e que, certamente,

tem em comum com a prudência como virtude o que é material em ambas,

que é o conhecimento do bem e do mal. Mas o que é pela forma e pelo afeto,

não é o mesmo nas duas coisas, e por isso a prudência do espírito é uma

perfeição maior do que a prudência como virtude, pois a prudência do

espírito e a prudência como virtude política apreendem a partir de coisas

distintas. Também é evidente que isso não constitui uma virtude qualquer na

matéria própria.

(7) Ao outro argumento cumpre dizer que a vida e a paz se dizem

espiritualmente onde o conhecimento se alimenta do gosto da vida e da paz.

Ou poder-se-ia dizer, como outros disseram, que a prudência do espírito é

vida e paz como causa da vida e da paz, que é uma causa que se manifesta

pela escolha e pela razão. Mas a primeira concorda mais com a intenção do

Apóstolo.

Ao que é examinado depois, a partir de que o espírito dir-se-ia prudência

do espírito, cumpre dizer que se diz a partir da matéria espiritual, da qual a

66


ciência apreende, e a partir desse mesmo modo deve-se apreender

espiritualmente a prudência do espírito. Isso é o que afirma Ambrósio, que “a

prudência do espírito é a que considera zelosamente as coisas espirituais”; com

efeito, não se refere à aplicação da ciência, mas antes à aplicação das

experiências interiores, pela qual elas conhecem as coisas espirituais. E se diz

também espírito a partir da matéria, por isso o que é próprio das coisas

espirituais é pertinente à vida espiritual.

(8) Ao que se objeta em sentido contrário, cumpre dizer que, embora a

prudência do espírito de vez em quando governe as coisas temporais, não as

governa em modo temporal mas, antes, conforme são ordenadas para as coisas

espirituais, e por razões espirituais. E concordo que não se diz espiritual,

porque seja a partir do espírito ou do espírito.

Ao que é examinado depois, se a prudência é o mesmo que a virtude

política, cumpre dizer que de modo nenhum, exceto talvez de acordo com o

que é material nas duas, que é o conhecimento prático. No entanto, a

prudência do espírito não conhece as ações a serem realizadas e só ações a

serem realizadas, mas, antes, como são ordenadas para a tranquilidade do

espírito.

(9) Ao que se objeta em sentido contrário, cumpre dizer que a prudência do

espírito e a prudência como virtude certamente não são próprias dos mesmos

conhecíveis, porque a prudência do espírito é também própria dos mistérios

apreendidos por experimento e é principalmente deles. Mas a prudência

como virtude é própria das obras a serem realizadas, que são apreendidas

pelas razões humanas, que são as razões do útil ou do honesto.

(10) Ao outro argumento cumpre dizer que Macróbio define a prudência de

acordo com o ato ordenado para um fim que é a felicidade, e contudo não é

ainda a prudência do espírito. Porque, quando a prudência desdenha o

mundo com a contemplação de Deus, ela procede escolhendo ainda entre o

bom e o melhor e entre o melhor e o ótimo, e escolhe o ótimo e desdenha o

menos bom, cuja comutabilidade traz algum obstáculo para obter o ótimo, e

tudo isso por uma razão comumente encontrada na comparação com o bem.

Mas a prudência do espírito é mais utilizada pela experiência, como foi dito.

(11) Ao outro argumento cumpre dizer que, embora a prudência, que é

uma das quatro virtudes cardeais, seja apreendida como informada pela graça,

ela não será ainda prudência do espírito, porque a graça não acrescenta nada a

ela, a não ser que seja bem aceita e sua ação também, mas o modo de receber

as ações a serem realizadas não muda a graça dela; ainda, de fato, apreende as

67


razões do lícito, do vantajoso e do honesto. A prudência do espírito, contudo,

como supõem todas estas coisas não suficientemente perfeitas, apreende o

conhecimento divino espiritual pela experiência.

(12) Ao outro argumento cumpre dizer que, embora não seja nosso

propósito tratar desse assunto, se as coisas naturais sejam feitas pela graça,

admito, no entanto, que a política como virtude ou permanece com a graça

ou se une a ela. E parece mais que se una a ela. Embora não seja

proporcionada a ela por parte do gerador, proporciona-se a ela pela matéria e

pelo ato, e assim [a graça] infusa não será ociosa, porque torna grata a ação.

Também a ação natural não é ociosa, pois tira daquele que opera a

dificuldade que não causa a graça. E admito que a graça não destrói, mas

aperfeiçoa os bens naturais. Embora admitamos isso, não deve ter tido esse

propósito, porque, como se disse, a prudência como virtude, embora seja

gratuita, não será prudência do espírito, e qualquer escolha das coisas que

ajudam o espírito será chamada prudência do espírito.

Ao que é examinado depois, se a prudência pertence à vida contemplativa

ou à vida ativa, cumpre dizer que pertence primariamente à contemplação e

secundariamente à ação. De fato, a prudência do espírito significa mais saber

do que agir ou a disposição a agir, e ainda diz respeito às ações a serem

realizadas, como se disse.

(13) Mas ao que se objeta, que espiritual se diz em oposição a animal,

cumpre dizer que isso é verdade, mas também animal, segundo o Apóstolo, é

dito mais pelo sentido do que pela vida; o que é evidente, porque o que

considera o próprio do animal trata do perceber, quando diz “o homem

animal não percebe as coisas que são próprias do espírito de Deus, pois a

estultícia é própria dele, porque é examinado espiritualmente”.

(14) Ao outro argumento cumpre dizer que a verdade, que é de acordo com

a piedade, nem é verdade da prudência como virtude e tampouco é verdade

da prudência do espírito, mas é da terceira prudência, que não é uma virtude,

mas uma ciência, que é o hábito da doutrina sagrada e da ciência da pregação

da fé. Donde, por aquela autoridade, nada é comprovado.

(15) Ao outro argumento, a solução é evidente pelo que se disse antes,

porque a vida e a paz são apreendidas aqui mais por experimento do gosto ou

pela paixão interior do que em outro modo, como diz Dionísio do bemaventurado

Hieroteo, que aprendeu as coisas divinas padecendo-as em si

mesmo.

Ao que é examinado, depois, da prudência da carne, cumpre dizer que

68


segundo o Apóstolo a prudência da carne é um pecado mortal, não por causa

da ciência, mas por causa do afeto ligado àquela ciência. Como, portanto, dirse-ia

prudência da carne em oposição à prudência do espírito, a prudência da

carne será ciência da imoralidade da carne recebida pela experiência e pelo

afeto, e não se diria prudência da carne por experiência da necessidade da

carne ou simplesmente do deleite da carne, mas antes, como foi dito, porque

de outro modo não seria morte nem seria inimiga de Deus.

(16) Ao que se objeta em sentido oposto, cumpre dizer que o conhecimento

nesta prudência não é senão material, e o afeto é formal e anterior e, por causa

dele, cai na razão do pecado.

(17) Ao que é examinado depois, se a prudência da carne é o mesmo que a

prudência do espírito ou prudência como virtude, cumpre dizer que não é

assim. De fato, nem uma nem outra é o mesmo; pois a conveniência na

matéria remota não constitui o mesmo. Além disso, a prudência do espírito

não conhece a carne senão como insipiência e não experimenta sua lisonja, e

assim o conhecível por si da prudência da carne é o conhecível da prudência

do espírito por acidente e como afastando-se dele. Mas o mesmo é conhecível

pela prudência como virtude, para que seja afastado. E, assim, é evidente que

estas três não devem ser conhecidas como uma coisa só, a saber, a prudência

do espírito, a prudência da carne e a prudência como virtude.

Do acima exposto, talvez, poderia ser visto por alguns que não teríamos

colocado a prudência do espírito no gênero do fruto. Mas, para isso, cumpre

entender que o fruto diz mais que a experiência do gosto. De fato, não são

aqueles que experimentam vinhos ou alimentos coloridos que propriamente

se dizem desfrutar da comida e da bebida, que provam e apreendem os

sabores por experiência, mas antes aqueles que utilizam seu gosto e paladar e

encontram neles o que é conveniente para si e é conveniente com a doçura.

Assim, dizemos aqui que a prudência do espírito difere do fruto, porque a

prudência do espírito não é nomeada senão a partir da informação recebida

pela experiência, mas os frutos, que o Apóstolo enumera em Gl 5,22,

designam a refeição conveniente com o paladar, que restabelece, e a comida

saborosa que acompanha. Donde é evidente que a prudência do espírito é um

hábito aquém do fruto e além da virtude política ou da ciência infusa, que

não tem nada mais do que infusão.

(18) Ao que é examinado depois sobre a outra divisão da prudência, que é a

prudência junto a si mesmo e a prudência junto ao próximo, cumpre dizer

que esta prudência está especialmente naquelas coisas que são concedidas

69


para o uso, e é de acordo com este modo que a prudência é ordenada e

movida pela caridade, que é o motor geral de todas as virtudes. De fato, como

a caridade não procura as coisas que são suas, pois não antepõe o bem próprio

aos bens comuns, como diz Agostinho, assim a prudência ordena providenciar

não só para si mesma, mas também aos outros.

Mas ao que se objeta cumpre dizer que todos nos inclinamos a nós mesmos

por uma natureza corrupta e indigente, e por isso não foi necessário dizer para

nós sermos prudentes, mas antes para proibir o excesso. E isso significa um

modo de falar, porque, quando o Apóstolo diz “justamente nós mesmos”,

repara uma distinção, como se dissesse: de tal forma que nossa prudência não

seja ordenada para os outros nem para a vantagem dos outros. Contudo, o

bem nos é concedido para sermos prudentes junto a nós sem detrimento dos

outros, como foi dito acima na autoridade de Basílio. Por isso também é

evidente a solução do que segue.

(19) Ao que é examinado depois sobre a palavra de Jerônimo, cumpre dizer

que o mesmo apreende a prudência ele mesmo amplo, de acordo com o qual

é a ciência dos mistérios e das sagradas Escrituras, às quais pertence a

prudência do espírito.

Ao que se objeta em sentido contrário, cumpre dizer que a sabedoria é

diferente do divino. De fato, são próprias do divino as coisas eternas e

altíssimas, mas a prudência é própria das coisas humanas que pertencem à

ação ou à salvação, embora a prudência do espírito as apreenda como divinas.

Donde a sabedoria e a prudência, enquanto são virtudes morais, diferem na

matéria e a prudência não é relativa a uma coisa humana qualquer, mas a

uma coisa humana ordenada para a ação. E os mistérios de Cristo, que são

conhecíveis pelo Evangelho, são chamados aqui a forma com a qual as nações

são salvas na fé e nas coisas semelhantes, e a ciência deles é a prudência do

Evangelho e é um hábito da moral.

(20) Ao que é examinado da outra acepção de prudência, que está no

comentário da carta a Tito, cumpre dizer que aqui a prudência é apreendida

corretamente, mas quanto às jovens esposas é determinada no seu caso mais

necessário, ou seja, para que amem os maridos.

Ao que se objeta em contrário cumpre dizer que não é substancial da fé do

matrimônio, mas é substancial para que [os noivos] sejam fiéis no enlace

matrimonial. Mas, além disso, se se considerasse que o mesmo ato é próprio

de muitas virtudes ou graças, não seria inconveniente, desde que aquele ato

fosse comum e não próprio, como é amar os maridos. De fato, isso pode ser da

70


caridade ordenada de acordo com aquilo que procede do amor, e pode ser da

prudência enquanto escolhido por estas jovens para se conservarem e,

especialmente, para a reputação, e é da fé do matrimônio enquanto preserva

o amor do próprio esposo do amor do adúltero.

E acima, às outras acepções da prudência foi reservada atenção na questão

“Das definições” e na questão “Sobre a matéria da prudência”. É apreendido

amplamente, pois, como hábito moral intelectivo, o que é vantajoso para o

ato da prudência por afinidade da matéria de sua ciência com a matéria da

prudência. Mas é apreendido como hábito, muito mais amplamente, inclusive

em qualquer lugar, o que é operado também para o ato não pela matéria, mas

pelo exercício; de fato, foram gerados para ver a verdade da prática com mais

facilidade em um do que em outro.

Art. 6. Se a prudência é o auriga das virtudes

Em sexto e último lugar, procura-se em que modo a prudência não seja

tanto uma virtude, mas o auriga das virtudes.

(1) De fato, esta afirmação parece falsa. Com efeito, o Filósofo diz que “a

virtude é mais segura que toda arte”. Portanto, não carece de um auriga para

que a dirija.

(2) Igualmente, a virtude opera no modo da natureza; mas a natureza é

mais segura no operar do que no ensinar algo; logo, a virtude também é

certíssima no operar, portanto não carece de um docente ou de um auriga.

(3) Igualmente, a mesma prudência é uma virtude. Se, portanto, é auriga de

uma virtude, a prudência será um auriga de outra prudência, o que é falso.

(4) Igualmente, se alguma virtude dirige, parece que, sobretudo, uma

virtude principal dirija. Mas é principal aquela virtude que é relativa ao

dificílimo. Porém esta é a fortaleza, como foi afirmado acima. Logo, auriga é

principalmente a fortaleza.

(5) Além disso, dirigir uma virtude é próprio daquela mesma virtude da

qual é próprio dar a regra, porque o auriga não dirige senão dando a regra do

caminho. Mas é próprio da temperança dar a regra, como diz o bemaventurado

Bernardo. Logo, a temperança é auriga e não a prudência.

(6) Além disso, se as virtudes carecem de um auriga, isso parece convir

sobretudo com aquelas virtudes que estão na parte racional da alma. Mas, de

acordo com isso, o auriga não deve ser a própria justiça, porque a justiça está

na razão como a prudência.

71


Mas, em sentido contrário: tudo o que é operável, primeiro é elegível

segundo uma reta razão; mas a razão que escolhe retamente dirige no operar;

portanto, a virtude, da qual é próprio escolher por uma reta razão, dirige em

todo operar da virtude. Mas isso é próprio da prudência; logo, a prudência é

auriga de todo operar da virtude; logo, não é tanto uma virtude, quanto o

auriga das virtudes.

Igualmente, qualquer hábito cujas partes são para o discernimento de todas

as circunstâncias da obra dirige e governa em toda obra; as partes da

prudência, ou seja a memória, a inteligência e a providência, existem para

discernir todas as circunstâncias da obra; portanto, dirigem em toda obra;

logo, a prudência não é tanto uma virtude, quanto o auriga das virtudes.

Igualmente, como potência está para potência, assim hábito está para

hábito. Mas a potência que é a razão dirige como um auriga a potência

concupiscível e irascível; logo, o hábito dela dirigirá também os hábitos dessas

potências. Mas o hábito da razão dirigente é a prudência; das outras

potências, no entanto, são a fortaleza e a temperança. Logo, a prudência

dirige a fortaleza e a temperança.

(7) Logo depois disso, examina-se também se a prudência é a virtude

principal. E parece que sim, porque a perfeição da potência principal deve ser

principal em relação às perfeições das outras potências; a razão é a potência

principal; portanto, sua perfeição é principal em relação às perfeições das

outras potências. Mas sua perfeição é a prudência; das outras virtudes, no

entanto, é a fortaleza e a temperança. Logo, a prudência é a virtude principal

em relação à fortaleza e à temperança.

Igualmente, o Filósofo diz que em todas as coisas o que governa é mais

digno do que é governado; mas a prudência governa; logo, a prudência parece

ser a mais digna das outras virtudes.

Mas, em sentido contrário, parece que a justiça seja a mais digna. De fato,

Túlio diz no livro Dos deveres que o ofício da justiça, conduzido pela

comunidade, é o mais digno dos ofícios de todas as outras virtudes, logo

também a virtude [da justiça] é mais digna do que todas as outras virtudes.

Além disso, o que é comum é sempre melhor do que é privado; mas a

justiça diz respeito ao estado comum da coisa pública; logo, esta virtude é a

principal e a mais nobre.

Mas, em sentido contrário, parece que a fortaleza seja a mais digna e a

principal. De fato, é digno maximamente em relação à virtude aquilo que

maximamente atinge a razão da virtude; mas a razão da virtude é a última da

72


potência; logo, aquela que maximamente está na última potência será a

virtude principal em sumo grau. Mas tal [virtude] é a fortaleza, pois é aquela

que tem a ver com o dificílimo; logo, esta é a virtude principal em sumo grau.

Além disso, aquela [virtude] cuja obra merece o prêmio melhor e o louvor

parece ser digníssima; mas a obra da fortaleza merece o prêmio melhor de

todos, isto é, o louvor do martírio; logo, ela mesma é digníssima.

Mas, pelo contrário, parece que a temperança seja digníssima. De fato,

qualquer virtude que atinge maximamente a razão do belo e do conveniente

é a mais honesta entre as outras; a temperança é dessa natureza; logo, essa

mesma virtude é a mais honesta, logo a mais digna. A primeira afirmação é

evidente por si, a segunda é comprovada por Túlio, que no primeiro livro Dos

deveres diz assim: na temperança “distingue-se a verecúndia e quase uma

decoração da vida e a modéstia e a sedação de todas as perturbações do ânimo

e a regra das coisas”.

Solução: Dizemos, com o bem-aventurado Bernardo, que a prudência não é

tanto uma virtude, quanto o auriga das virtudes. Sendo que, de fato, a razão

dirige as potências inferiores, como diz o Filósofo e nós o comprovamos no

tratado Sobre a alma, assim também o hábito da razão dirige em toda a vida e

em todo operar os hábitos das outras virtudes e considera por primeiro o que

seja reto ou não reto em toda virtude.

(1) Ao primeiro ponto, portanto, cumpre dizer que qualquer virtude tem

certeza no seu ato e no seu meio; mas, o que é útil para o ato ou em que

modo é ordenado ao fim, nenhuma outra virtude considera senão apenas a

prudência, e por isso só ela dirige.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que isto é verdade, que a virtude opera

como a natureza e, portanto, não determina o fim e o que serve para o ato,

como não faz a natureza, e portanto, para que seja perfeita, de acordo com o

bem do homem, é necessário que cada virtude seja próxima da prudência.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer que, quando se diz “a prudência é o auriga

das virtudes”, entende-se daquelas que dizem respeito a obras determinadas e

matérias determinadas. Mas esta não é a prudência; ela, de fato, não possui

um ato próprio, senão aquele que, governando, é ordenado aos atos das outras

virtudes, e, por isso, não segue que seja auriga de si mesma, porque assim

seguir-se-ia ao infinito.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que a fortaleza se diz principal em razão

do difícil e do bem, pelo que é virtude, mas não em razão da direção. De fato,

nada proíbe que muitas virtudes sejam principais segundo aspectos diferentes.

73


(5) Ao outro ponto cumpre dizer que a temperança não dá a regra a todas

as virtudes. E o que diz Bernardo a Eugênio deve ser entendido disso que é

atribuído à temperança, e não do que é próprio. De fato, em todo operar há

quatro elementos que podem ser atribuídos às quatro virtudes cardeais, a

saber: o difícil, que é ordenado à fortaleza, a regra, que diz respeito à

temperança, o útil segundo a razão da coisa pública ou do dever, que tem a

ver com a justiça, e o fato de que todas essas coisas antecedem a escolha de

acordo com uma razão reta, e isso tem a ver com a prudência. Mas esses

quatro elementos são propriamente virtudes especiais, porque não cremos

que, falando das virtudes civis, possuindo uma sejam possuí​das todas, mas

consideramos que se possa conceder que possuída uma qualquer é possuída

também a prudência segundo certo aspecto, ou seja, de acordo com a escolha

das obras que convêm àquela virtude. Contudo, mesmo concedendo que

possuída uma virtude são possuídas todas, igualmente não se seguiria que o

difícil da temperança fosse propriamente da fortaleza, porque o difícil da

fortaleza procura a própria matéria nas paixões causadas, que não tem o difícil

da temperança. E o mesmo digo das outras virtudes, exceto apenas da

prudência, que com o próprio ato se mistura a todas as outras virtudes para

governar e guiar, e por isso é chamada auriga. Contudo, se e como, possuída

uma só virtude são possuídas todas, será manifesto na questão após o tratado

sobre as virtudes teologais.

(6) Ao outro ponto cumpre dizer que a justiça não está na razão, pois a

razão se volta sobre as outras para governar, mas antes está nela, enquanto diz

respeito a uma obra determinada por si mesma, que é ordenar a outro

segundo a natureza do dever. Assim, também, a razão carece de um governo,

como também as potências inferiores. E se se objeta que de acordo com isso

uma potência governa a si mesma, cumpre dizer que isso não é

inconveniente, porque não é sob o mesmo aspecto que governa e é

governada, mas governa enquanto escolhe e é governada enquanto realiza o

dever de outra potência.

(7) Ao que logo depois disso é examinado cumpre dizer que, quando é feita

uma comparação de dignidade entre as virtudes, uma qualquer pode ser mais

digna de outra segundo diferentes relações. Donde aquela questão vale pouco.

De fato, conceder todas as objeções feitas não é inconveniente, porque cada

uma delas não conclui a dignidade da virtude, senão de acordo com um certo

aspecto. Mas se poderia dizer que, se se considera o que é a razão da virtude, a

saber, o difícil e o bem, então, falando das virtudes civis, duas são as

principais, a saber, aquela que diz respeito ao que é mais difícil, e esta é a

fortaleza, e aquela que diz respeito ao que é um bem maior, e este, segundo

74


Túlio, é o bem comum, que diz respeito à justiça, e por isso esta virtude é

mais digna. Mas há também uma virtude que diz respeito não tanto ao difícil

e ao bem, mas ao bem da vida de acordo com a razão do honesto e do belo,

que é o bem do homem, e, portanto, segundo a razão do honesto na vida, a

temperança tem a primazia, porque os pecados da carne manifestam uma

vida bestial, e, por isso, o incontinente é mais censurável do que o tímido,

como diz o Filósofo. Mas se considerarmos o bem do homem enquanto

homem, então a prudência terá a primazia, porque esta torna dignos do

homem também os bens das outras virtudes.

E as coisas que foram ditas da prudência em geral são suficientes.

75


QUESTÃO II

76


SOBRE AS PARTES DA PRUDÊNCIA

Em seguida, examinam-se as partes da prudência. E seguimos três divisões

de três filósofos, a saber, Túlio, Macróbio e Aristóteles.

De fato, Túlio diz no final da primeira Retórica: “As partes da prudência são

a memória, a inteligência, a previdência”. Macróbio, no entanto, diz no

comentário Sobre o sonho de Cipião: “Na prudência há a razão, o intelecto, a

circunspeção, a previdência, a docilidade, a cautela”. Aristóteles, ao invés, no

final do primeiro livro das Éticas, diz que as virtudes intelectuais são a

sabedoria, a sensatez e a inteligência.

Art. 1. O que é a memória

Examina-se primeiramente, por​tanto, a memória, da qual só fala Túlio. E

são examinadas duas questões, ou seja, o que é e a arte da memória, que é

transmitida por Túlio. Primeiramente, portanto, procura-se o que é a

memória. Ora, Túlio diz que “a memória é a faculdade pela qual o ânimo

relembra as coisas que foram”.

(1) Mas parece que a memória, segundo essa definição, não seja uma parte

da prudência. De fato a memória, da qual é próprio relembrar as coisas que

foram, é uma parte da alma e não um hábito, como foi comprovado nas

questões Sobre a alma; mas toda parte da prudência é um hábito; logo, a

memória não é uma parte da prudência.

(2) Além disso, acima foi considerado que a memória é uma parte da alma

sensível e não da alma racional por si; mas a prudência está na razão por si;

logo, a memória não é uma parte da prudência.

(3) Além disso, relembrar as coisas que foram é um ato da potência

cognitiva; mas a prudência é um hábito moral; logo, novamente, a memória

não é uma parte da virtude da prudência.

(4) Igualmente, toda direção está naquilo que é ou pode ser; nenhuma das

coisas que foram, pelo que foram, é ou pode ser; logo, não há nenhuma

direção nas coisas passadas, pelo que são passadas. Portanto, procede-se assim:

toda forma de prudência dirige nas coisas presentes, que são, ou nas futuras,

que podem ser; não há nenhuma memória nas coisas que são, ou nas futuras,

que podem ser; logo, nenhuma memória é uma parte da prudência.

(5) Além disso, a repetição das coisas que foram ou é pela razão procedente

de um princípio determinado, ou é somente segundo as formas sensíveis. Se

77


for no primeiro modo, então repetir o que foi será um ato da reminiscência e

não da memória, como é evidente daquilo que foi determinado acima no

tratado Sobre a alma. Mas, se for no segundo modo, então a memória não será

segundo a alma racional, e assim não será uma parte da prudência.

Mas, pelo contrário: a prudência é o conhecimento dos bens que devem ser

feitos e dos males; mas este conhecimento é muito auxiliado pelas coisas

passadas, porque pelo passado conhece como terá que se comportar nas coisas

futuras; logo, a memória será uma parte da prudência.

Igualmente, numa certa decretal o papa diz: “Da tua vida passada

aprendemos o que temos que presumir das coisas futuras”. Portanto, a

memória da coisa passada dirige nas coisas futuras; logo, a memória é uma

parte da prudência.

Igualmente, o Filósofo diz que “a virtude intelectual precisa de experiência

e de tempo”. O Filósofo diz também, em outro trecho, no começo da

Metafísica: “A experiência para os homens é feita pela memória; de fato,

muitas memórias de uma mesma coisa aperfeiçoam a força da experiência”.

Logo, parece que a memória seja geradora da prudência e uma parte dela.

Solução: Dizemos que a memória é uma parte da prudência, pois a memória

cai na razão da reminiscência. De fato, como a prudência escolhe as coisas

que ajudam daquelas que estorvam nas obras, é preciso que ela proceda

indagando e, assim, é necessário que ela proceda de um princípio

determinado e, através das probabilidades, torne-se operável em propósito; e,

por isso, como procede das coisas passadas, lança mão da memória, pelo que é

parte da reminiscência.

(1) Portanto, cumpre dizer que repetir as coisas que foram acontece em dois

modos, a saber, por uma potência, e essa repetição é somente em potência e

imperfeita, porque não possui um hábito de onde deve proceder. E há a

repetição a partir do hábito, na qual repete-se o passado, quando quer repetir.

E essa pode estar no hábito cognitivo, e então é teorética, e pode estar no

hábito moral, e então é prática e é uma virtude que pertence à prudência.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que a memória, pelo que se mistura com a

reminiscência, é mais própria da alma racional do que da alma sensível,

porque a reminiscência é como um certo silogismo, como diz o Filósofo, e,

consequentemente, é um hábito da alma racional.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer que a memória é dupla, ou seja, um

hábito cognitivo e um hábito moral, e aqui é colocada como hábito moral,

como foi dito.

78


(4) Ao outro ponto cumpre dizer que as coisas passadas, enquanto passadas,

não contribuem em nada para dirigir as coisas presentes ou futuras. Mas a

memória apreende o passado como se estivesse ainda presente na alma pela

razão e pelo efeito, e por isso ele contribui muito para a cautela no futuro.

Mas digo estar na alma pela razão, sendo razão do bem e do mal, e pelo efeito,

como o que contribuiu ou prejudicou o mesmo sujeito operante.

(5) Ao outro ponto cumpre dizer que a memória é apreendida por Túlio

como hábito e não como potência. Ora, o hábito não se dedica à

reminiscência assim como a memória e, por isso, diz-se memória antes que

reminiscência. De fato, a memória e a reminiscência procedem do passado.

Mas o passado, enquanto passado, não constitui senão o hábito da memória, e

por isso aquele hábito é chamado por Túlio de memória. No entanto, há

aqueles que dizem, de acordo com Damasceno e Gregório de Nissa, que a

memória é um acervo de coisas sensíveis e inteligíveis, e por isso dizem que a

memória é dupla, ou seja, uma da alma sensível e outra da alma racional. Mas

isso não é dito de acordo com a filosofia natural, que Aristóteles ou algum dos

seus seguidores transmitiu. O que nos parece disso, no entanto, encontra-se

expressamente no tratado Sobre a alma.

Art. 2. Sobre a arte da memória

Em segundo lugar, examina-se a arte da memória, que Túlio trata na

segunda Retórica, no final do terceiro livro.

E procura-se o que é a memória artificial. De fato, Túlio divide a memória

em natural e artificial, e diz que é natural “aquela que é ínsita nos nossos

ânimos e que nasceu junto com o pensamento”. E diz que é artificial “aquela

que confirma certa indução e razão de ensino”.

(1) Mas parece que essa distinção não exista, pois Túlio chama memória

natural ou aquela potência da alma que é a memória, ou certo hábito pelo

qual é aperfeiçoada aquela potência. Se for no primeiro modo, então não diz

nada, porque uma potência da alma não é separada por algum hábito e,

principalmente, [por um hábito] da mesma potência. De fato, a memória

artificial é um hábito e não pode ser hábito senão daquela potência que é a

memória. Se for no segundo modo, então não parece que [essa memória] seja

natural, porque o hábito de lembrar não é conatural em nós.

(2) Além disso, quando diz “que ela é inata nos nossos ânimos e nasceu

junto com o pensamento”, parece se opor à bondade da memória natural. De

fato, foi comprovado no tratado Sobre a alma que a bondade da memória está

no frio e no seco, e por isso dizemos que os melancólicos são ótimos para

79


memorar. Mas no frio e no seco há malícia do pensamento, porque o

pensamento é a consideração e o discurso da razão sobre as coisas que podem

ser lembradas, e para o discurso da razão é bem eficaz o quente, o mole e o

úmido. De fato, o quente move veementemente e o úmido obedece

otimamente a todo movente. Portanto, a bondade da memória natural não

nasceu junto com o pensamento.

(3) Além disso, examina-se o que o mesmo Túlio diz a respeito da memória

artificial, que ela confirma a indução e a razão do ensino, porque isso é

próprio de quem procede de um princípio determinado com indução, com

exemplos, com entimemas ou com silogismos, enquanto nada disso é próprio

da memória, mas antes da reminiscência, como diz Aristóteles no livro Sobre a

memória e a reminiscência.

(4) Além disso, examina-se qual é a diferença entre indução e ensino. Com

efeito, a indução acontece quando, por elementos todos particulares, é

comprovado o universal, e assim nasce toda memória, seja natural que

artificial. De fato, o Filósofo diz que a memória é produzida por conhecer

muitas coisas através da experiência, nas quais não se encontra o instante

presente. Portanto, toda memória é feita por indução de coisas apreendidas

pela experiência; logo, isto não é algo especial da memória artificial.

(5) Ademais, a partir disso parece que seja inútil dizer que ela é feita pela

razão do ensino, quando é suficiente a indução.

(6) Igualmente, a razão do ensino é a razão de um princípio universal; mas o

universal é gerado pela memória, como diz o Filósofo; portanto, o que é

gerado pela memória gera a memória, o que é impossível. Logo, diz-se mal

que ela [a memória artificial] é feita pela razão do ensino.

(7) Logo depois disso, examinam-se as regras que Túlio transmite e que esta

memória deve observar. De fato, diz que é necessário prestar atenção às coisas

em que consiste: “A memória artificial consiste em lugares e imagens”. E assim

diz o que ele chama lugares: “Chamamos lugares aqueles que breve, perfeita e

notavelmente são realizados pela natureza ou pela mão do homem, para

serem facilmente compreendidos e apreendidos pela memória natural, como

uma casa, um intercolúnio, uma esquina, um arco e outros semelhantes. As

imagens, pois, são certas formas, traços e simulacros daquela coisa que

queremos lembrar, como o gênero do cavalo, do leão, da águia” e o que se

quiser de tal feita.

Portanto, como o tempo é mais essencial para a memória do que o lugar,

enquanto cai na definição da memória, por que Túlio não diz que é necessário

prestar atenção ao tempo como se presta atenção ao lugar?

80


(8) Igualmente, um lugar que representa brevemente é um lugar mutilado,

mas um lugar que representa perfeitamente é adequado à coisa. Portanto,

parece que “lugar breve” e “perfeito” sejam opostos na mesma coisa que deve

ser lembrada, e assim, dizer um no lugar do outro será falso.

(9) Além disso, representar notavelmente não parece convir com todo lugar

de memória, porque nem tudo o que deve ser lembrado acontece em um

lugar notável.

(10) Além disso, qual é um lugar de memória realizado de acordo com a

natureza e qual pela mão do homem? Com efeito, estes devem ser

distinguidos, coisa que Túlio não faz, nem antes nem depois.

(11) Além disso, procuram-se as regras que devem ser observadas a respeito

do lugar, e no total são cinco. A primeira delas é que “é melhor procurar

lugares numa região abandonada do que lotada, pelo fato de a multidão e a

perambulação dos homens confundirem e infirmarem os traços das imagens,

enquanto a solidão conserva as figuras dos simulacros”. A segunda é que

“devem ser procurados lugares dessemelhantes pela forma e natureza, para

que possam se manifestar distintamente. Pois, se alguém apreender muitos

intercolúnios, será confundido pela semelhança dos lugares e não saberá mais

o que colocou num lugar”. A terceira é que “precisa apreender lugares de

tamanho modesto e medianos. Pois, por um lado, lugares muito amplos

tornam as imagens imprecisas, e, do outro, parece que lugares angustos

demais não possam conter a colocação das imagens”. A quarta é que “precisa

apreender lugares nem muito iluminados nem demasiadamente obscuros,

para que as imagens não sejam obscuradas pelas trevas ou resplandeçam de

brilho excessivo”. A quinta é que “os intervalos entre os lugares devem ser

modestos, ou seja, aproximadamente pouco mais de trinta pés. Pois, assim

como o aspecto, também o pensamento vale menos se tu afastares muito ou

aproximares demais”.

(12) Examinam-se, portanto, estes lugares. E parece em primeiro lugar,

sendo que fala da faculdade de lembrar, que não sirvam para nada os lugares

corporais, pois a reminiscência procede do princípio da razão. Os lugares

corporais, ao invés, enquanto tais, estão na imaginação.

(13) Além disso, considerou-se no tratado Sobre a alma na questão “Sobre a

memória”, que também a memória da alma sensível não conserva somente as

imagens, mas também as intenções apreendidas daquelas imagens. Portanto,

parece que as imagens dos lugares corporais não sejam suficientes, e que Túlio

deveria ter transmitido também a arte com a qual alcançaremos as intenções

abstraídas daquelas imagens.

81


(14) Igualmente, imaginar é próprio da imaginação, que segundo os filósofos

é o tesouro das formas e, por isso, é chamada também de formal. Logo, parece

que estes lugares sejam próprios da imaginação antes que da memória.

(15) Além disso, parece que Túlio transmitiu de maneira imperfeita os

preceitos dos lugares nos quais são armazenadas as imagens das coisas que

devem ser lembradas, porque muitos, ao lembrar, utilizam lugares diferentes

daqueles que Túlio determinou, ou seja, lugares solitários, distintos, de

grandeza mediana com intervalos medianos. De fato, muitas pessoas lembram

por disposições de lugares opostos.

Além disso, o próprio Túlio, na mesma obra, pouco depois acrescenta:

“Será lícito, se não formos contentes dos lugares expostos, determinar nós

mesmos as regiões e distinguir os lugares idôneos na maneira mais cômoda”.

(16) Logo depois disso, examinam-se também as imagens que devem ser

colocadas nos lugares citados. Com efeito, Túlio diz que devemos ter dois

gêneros de semelhanças para lembrar, um para as coisas, outro para as

palavras. “Expressamos semelhanças das coisas quando comparamos

sumariamen​te as imagens das mesmas situações; são constituídas imagens de

palavras, quando se define com uma imagem a memória de cada nome e

vocábulo”. De fato, não parece que aquilo que Túlio diz ajude a arte de

lembrar, mas antes a impeça, por duas razões. A primeira é que, de acordo

com isso, haverá tantas imagens quantas forem as situações e as palavras.

Portanto, a multidão confundirá a memória. A segunda razão é porque uma

metáfora representa menos a coisa do que a própria [coisa]. Se, portanto,

reproduzirmos em imagens as coisas próprias das situações e das palavras,

como Túlio ensina, estaremos menos prontos a lembrar. Com efeito, o mesmo

Túlio ensina a reproduzir em imagens: “Como se um acusador tivesse dito que

algum homem foi envenenado por causa da herança, e desta coisa muitos são

testemunhas e conscientes”, recolocaremos na memória “um doente na cama,

que é figura do defunto, e colocaremos o réu em pé junto ao leito, com uma

taça na mão direita e tábuas na esquerda, e um médico presente segurando os

testículos de um carneiro”, porque, é evidente, na taça há a memória do

veneno que foi oferecido e nas tábuas a memória da herança, no médico a

figura do acusador, nos testículos a figura das testemunhas conscientes e no

carneiro a defesa contra o réu em juízo. Semelhantemente, parece das

imagens das palavras. Com efeito, movem mais facilmente [a memória] coisas

próprias do que impróprias, e, por isso, as próprias palavras moverão mais a

memória do que as metáforas.

(17) Além disso, o próprio Túlio diz que “quando quisermos expressar

semelhanças de palavras em imagens, observaremos mais esforços e

82


exercitaremos mais nosso engenho; de fato, será oportuno nós fazermos isto”.

Queremos, pois, lembrar estas palavras: “Já a vingança da casa” ou “a ida à

casa”, que é melhor, “preparam o reis da Átrida”. De fato, no lugar é oportuno

colocar Domício que levanta as mãos ao céu, enquanto é fustigado com

açoites pelos reis Márcios; assim será “já os reis a vingança da casa”. Em outro

lugar, Esopo e Cimbro se vestindo, Ifigênia vagueando, e assim será “Átrides

preparam”. Isto é, devemos imaginar alguém que é fustigado pelos reis

Márcios – isto é, pelos filhos de Marte, ou seja, que Marte, deus da guerra,

ajuda – com açoites que o forçam à fuga ou à vingança, e sendo que quem se

prepara a algo vagueia, colocaremos Ifigênia vagueando e Esopo e Cimbro

sendo subornados. De fato, estas palavras metafóricas são obscuras e não

fáceis a serem lembradas.

(18) Depois, examinam-se as regras que Túlio dá para as imagens que

devem ser colocadas nos lugares que foram ditos. De fato, Túlio diz que “os

lugares são muitíssimo semelhantes a tabuinhas de cera ou papéis, as imagens

[semelhantes] a letras, a disposição ou colocação das imagens [semelhante] à

escritura, a pronúncia [semelhante] à leitura”. Mas isso não parece verdadeiro.

De fato, as letras são poucas de acordo com o número dos elementos e,

segundo ordens diferentes, expressam tudo o que deve ser pronunciado, como

dizia Demócrito que acontecia nas comédias e nas tragédias, mas é necessário

ter muitíssimas imagens, ou não expressarão a coisa no próprio gênero.

(19) Se, porventura, se dissesse que são suficientes poucas imagens, isso será

ainda contrário a Túlio, porque, nos exemplos acima citados, aparece que é

preciso ter semelhanças próprias das coisas.

(20) Além disso, Túlio ensinou que lugares devemos assumir e,

semelhantemente, ensina quais imagens é preciso procurar, ou seja, [é

preciso] “que constituamos as imagens de semelhanças maximamente

distintas, mas não muitas e nem imprecisas, e sim imagens que façam algo; se

atribuirmos a elas uma beleza excelente ou uma torpeza única, se enfeitarmos

alguma coisa com coroas e uma veste púrpura, para que a semelhança seja

mais reconhecida por nós; ou se deformarmos alguma coisa torpe,

introduzindo por exemplo uma coisa sangrenta ou suja de lama ou coberta de

tinta vermelha, para que sua forma seja mais distinta, ou se atribuirmos às

imagens algumas coisas ridículas. De fato, esta coisa fará com que possamos

lembrar-nos mais facilmente”. A partir disso, fica evidente que não é

suficiente ter um número determinado de imagens, porque, de acordo com

uma ordem diferente, expressam-nos coisas individuais, mas é preciso ter

muitas, e por isso não haverá menor dificuldade em reunir estas imagens do

que as coisas ou os universais. Logo, os preceitos de Túlio serão inúteis.

83


(21) Além disso, também o mesmo Túlio diz que, para lembrar através das

imagens, precisamos de duas coisas, ou seja, a aplicação e que constituamos

imagens raras e inusitadas, quase maravilhosas. E fala da causa de ambas essas

condições, dizendo da primeira assim: “Mas toda esta conformação de

imagens é válida se despertarmos a memória natural, para que, colocado um

verso, primeiro o passamos nós mesmos duas ou três vezes conosco, depois

expressamos as palavras com imagens”. Igualmente, no mesmo lugar: “À

natureza bastará a doutrina; de fato, ambas, uma separada da outra, serão

menos firmes, embora haja muito mais ajuda na doutrina do que na arte”. Ao

invés, fala da causa da segunda dizendo: “A própria natureza nos ensina o que

deve ser feito na memória. De fato, se na vida vemos coisas pequenas, usuais,

cotidianas, não costumamos lembrá-las, pois nenhuma coisa, a não ser nova

ou admirável, comove o ânimo; mas, se virmos ou ouvirmos algo

extraordinariamente belo ou torpe para os homens, e, portanto, inaudito,

grande, incrível, perigoso, isso costumamos lembrar por muito tempo”.

Igualmente, no mesmo lugar: “As coisas que antes e agora vemos ou ouvimos,

a maioria esquecemos; mas aquelas que aconteceram na infância,

frequentemente lembramos muito bem; nem por outra causa pode acontecer

isso senão porque as coisas usuais desvanecem facilmente da memória, as

insignes e novas permanecem por mais tempo no ânimo”. Igualmente, no

mesmo lugar: “A natureza, portanto, ensina que não é excitada por uma coisa

comum e usual, enquanto é agitada pela novidade e por um acontecimento

insigne. Portanto, a arte imite a natureza e encontra o que a deseja, seguindo

o que ela mostra. Com efeito, não há nada que a natureza tenha encontrado

por último, ou que a doutrina por primeiro, porque os princípios das coisas

provêm do engenho e os êxitos são adquiridos com a disciplina”. Disso tudo é

evidente que, para a memória artificial, exige-se a aplicação nas imagens, nas

coisas e nas palavras, e, além disso, que as imagens sejam raras e insignes, e

assim parece que não haja imagens determinadas que utilizamos para lembrar

todas as coisas, como utilizamos as letras para significar todas as coisas por

escrito. Se, por isso, se dissesse que as imagens devem ser muitas como os

fatos e as palavras, pelo contrário, Túlio diz no mesmo livro, antes do fim,

sobre a bondade da memória: “Eu sei que a maioria dos gregos que

escreveram a respeito da memória talvez tenham colocado por escrito as

imagens de muitas palavras para que, quem quisesse decorar, as tivesse

prontas e não gastasse tempo a procurar; nós reprovamos esse modo por

alguns motivos”. E apresenta no total seis causas do porquê eles falaram mal, a

primeira das quais é colocada assim por Túlio: “Primeiro, porque preparar

imagens para uma multidão imemorável de palavras é ridículo. De fato,

quanto podem valer essas imagens, quando for preciso nos lembrarmos de

84


uma palavra só no infinito número de palavras existentes?”. A segunda causa

é: “por que queremos tirar alguém da procura, para que ele não procure mais,

oferecendo-lhe todas as coisas prontas?”. A terceira causa é porque “a

semelhança move mais de outra coisa. De fato, como acontece

frequentemente, se dissermos que uma coisa é semelhante a outra, não temos

todos consencientes, porque a outros parece outra coisa, e igualmente para as

imagens, aquelas que para nós são notadas diligentemente, a outros podem

parecer pouco insignes; e, por esse motivo, convém que cada um se forme as

imagens para si”. A quarta causa: “é tarefa do mestre ensinar em que modo

seja conveniente procurar cada coisa, e acrescentar um ou dois exemplos, mas

não todas as coisas que serão do seu gênero, para que a coisa possa ser mais

delucidada, como, quando dissertamos dos proêmios, mostramos a razão que

deve ser examinada e não escrevemos mil gêneros de proêmios. O mesmo

julgamos ser conveniente fazer com as imagens”. A quinta causa é que, como

a memória é dúplice, ou seja, de coisas e palavras, “para não tornar

excessivamente difícil a memória, contentamo-nos com a memória das

coisas”, para que a pluralidade das palavras não confunda quem deve lembrar.

A sexta e última causa é que não temos exercício na lembrança das palavras

senão para lembrar facilmente uma coisa, ou seja, “para que o exercício da

memória das coisas seja reforçado em nós, que só pertence diretamente à

utilidade. Mas, como em toda disciplina o ensino da arte é ineficaz sem a

máxima assiduidade, assim nas memórias a doutrina vale o mínimo se não for

confirmada pela atividade, pela aplicação, pelo trabalho e pela diligência”.

Solução: Dizemos que a arte da memória que Túlio transmitiu é ótima,

principalmente em lembrar as coisas que pertencem à vida e ao juízo, e

aquela memória pertence principalmente ao ético e ao rétor, porque, como o

ato da vida humana consiste nos particulares, é necessário que seja junto à

alma por imagens corpóreas; mas não permanece nestas imagens senão na

memória. Donde dizemos que, entre todas as coisas que dizem respeito à

prudência, sumamente necessária é a memória, porque, a partir das coisas

passadas, nos dirigimos àquelas presentes e futuras e não vice-versa. Que,

pois, a memória seja sumamente necessária, Túlio comprova com esta razão,

dizendo: “De fato, não como em certos estudos em que, às vezes, somos

distraídos por uma ocupação, nenhuma causa pode distrair da memória. Com

efeito, nunca acontece que queremos alienar algo da memória,

principalmente quando nos detemos nalgum grande negócio. Porque, como é

útil lembrar facilmente, não te enganas que seja tão útil à obra quanto o

desejo para o esforço, que poderás julgar pela utilidade conhecida”. Dizemos,

portanto, com Túlio, que a memória que pertence à vida e à justiça é dupla,

ou seja, natural e artificial. Natural é a que provém da bondade do engenho e,

85


voltando-se àquilo que foi conhecido ou feito antes, lembra facilmente.

Artificial, ao invés, é aquela que provém da disposição dos lugares e das

imagens, e, como em todos os casos, a arte e a virtude são perfeições da

natureza, assim é aqui. De fato, a memória natural é aperfeiçoada pela

memória artificial. Contudo, deve-se notar que a memória foi colocada no

lugar da reminiscência, como foi determinado acima.

(1) Ao primeiro ponto cumpre dizer que Túlio chama memória natural a

potência aperfeiçoada pelo hábito natural, e não absolutamente a potência da

alma. De fato, são ditos mêmores naturalmente aqueles que tem, pela

natureza, ou tudo ou em parte aquilo que os outros têm pelo exercício da arte

da memória, como falaram os filósofos do intelecto santo, que entende todas

as coisas por si mesmo. E esta memória pode bem compartilhar com o hábito,

pois ela é uma potência habitual.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que a memória foi colocada no lugar da

reminiscência, e por isso sua bondade segue mais a bondade do engenho do

que a bondade da memória, pois a reminiscência utiliza a razão e o engenho,

procedendo de um ou mais princípios determinados àquilo que foi

apreendido antes. E, por isso, aquela objeção não procede.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer, como foi considerado várias vezes, que a

memória foi colocada por Túlio no lugar da reminiscência, porque, como a

reminiscência não existe sem a memória, assim a bondade da memória é

eficaz também para a reminiscência.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que a memória foi considerada

duplamente, ou seja, por parte dos objetos ou do hábito daqueles objetos

deixados, e assim é verdade que toda memória é gerada por indução. Mas se

considera também a facilidade da memória no ato de lembrar e de reter o que

deve ser lembrado, e assim lembrar é como um sujeito daquela arte que é dita

arte da memória, e nesse caso não é gerada somente pela indução, mas pelo

ensino de muitos princípios que são úteis a ela. Contudo, há duas coisas que

são úteis em geral a ela, ou seja, a indução por parte das imagens e o ensino

por parte do princípio, donde começa o progredir no ato de lembrar. De fato,

como foi dito na questão “Sobre a reminiscência”, a reminiscência começa a

progredir de um princípio determinado para o que foi apreendido antes, ou

para a parte do que foi esquecido. Donde é necessário que, junto à alma,

esteja aquilo do qual procede e para o qual procede. Aquilo do qual procede é

o princípio, que Túlio chama ensino. Aquilo para o qual procede são as

imagens, que estão junto à alma no modo das letras, como diz Túlio.

(5) Com isso, fica evidente também a solução ao que segue, ou seja, que o

86


ensino não é inútil à memória.

(6) Ao outro ponto cumpre dizer que o ensino é gerado pela memória

quanto àquela parte que deve ser lembrada antes e deve ser conhecida, mas

ajuda a mesma memória, de acordo com a qual, pelo ato de lembrar, volta ao

mesmo que deve ser lembrado, e assim nada proíbe gerar a memória daquilo

que primeiro foi gerado por ela.

Ao que se examina depois disso, sobre os preceitos que Túlio transmitiu,

cumpre dizer que são ótimos, como ele mesmo diz, e um só deles é

apreendido como princípio, do qual procede a coisa que deve ser lembrada

para a reminiscência, porque, como diz Boécio, todo particular acontece ou é

em algum lugar. No entanto, lugar é apreendido aqui por Túlio como aquilo

que a alma faz em si para a conservação da imagem, e por isso acontece que,

não tendo a reminiscência como tesouro senão apenas a memória e a

reminiscência é da alma racional, é preciso que o que é próprio da razão seja

conservado em imagens corpóreas. Mas, como aquilo que é próprio da razão

não está nas imagens corpóreas por propriedade, é preciso que esteja aí por

uma semelhança, uma transposição e uma metáfora, assim como para

situações felizes é um lugar semelhante a um prado e para a fraqueza a

enfermaria ou o hospital e para o juízo o consistório e assim dos outros. E

nesse sentido Túlio fala do lugar. A imagem, porém, serve à memória como

uma semelhança apropriada de uma sentença que deve ser lembrada nas

partes individuais, como em seguida ficará evidente nos exemplos que Túlio

colocou.

(7) Ao que foi objetado a respeito do tempo, é evidente a fácil solução

porque, como o tempo de tudo o que deve ser lembrado é o passado, o tempo

não distingue as coisas que devem ser lembradas e, assim, não conduz antes a

uma coisa do que a outra. Mas o lugar, sobretudo se for solene, distingue por

isso, porque não há um único lugar de todas as coisas que devem ser

lembradas, e move por isso, porque é solene e raro. De fato, a alma está ligada

mais fortemente às coisas solenes e raras, e por isso mais fortemente elas são

gravadas e mais fortemente movem.

(8) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio chama um lugar breve ou curto

não propriamente, nem se for menor do que a imagem da coisa colocada nele,

mas antes aquele no qual a alma não se distrai atravessando espaços

imaginários, como é o campo ou a cidade, mas um lugar é curto quando a

alma logo ultrapassa seus cantos, agarrando as imagens nele escondidas. E,

com isso, é evidente também a solução ao que segue, porque breve e perfeito

87


não se contradizem, mas, antes, um lugar breve impede as divagações da

mente enquanto um lugar perfeito ajuda a lembrar a coisa na totalidade.

(9) Ao outro ponto cumpre dizer que um lugar insigne move mais a alma

para lembrar, e, embora nem tudo o que é memorá​vel aconteça num lugar

insigne, todo memorável deve ser colocado numa semelhança de lugar

insigne; assim, de fato, lugar é entendido aqui, como foi dito.

(10) Ao que depois é objetado cumpre dizer que Túlio indica com exemplos

a diferença entre os lugares naturais e os lugares que foram realizados pela

mão do homem. De fato, o prado é um lugar natural, uma casa ou um

intercolúnio é um lugar realizado pela mão do homem.

(11) Ao que se procura em seguida sobre os preceitos dos lugares, que Túlio

transmite, cumpre dizer que há cinco preceitos, como ele mesmo diz, que são

úteis principalmente à bondade da memória, e todos são apreendidos por

proibirem a confusão no ato de lembrar. De fato, a confusão é gerada pelo

lugar, pela coisa alocada ou por aquilo que torna visível em ato o lugar e o

alocado. E se a confusão for pelo alocado, então será o primeiro modo, porque

um lugar, no qual há uma perambulação frequente, expõe muitas imagens, e

por isso elas se quebram na alma e não permanecem, como muitas ondas na

água. Mas se [a confusão] for só pelo lugar, isso se dá em três modos,

conforme se refere ao lugar. Com efeito, há [o lugar] que distingue o alocado

de outro, de acordo com o qual é mais próximo, e assim é apreendido o

segundo preceito. Há também [o lugar] apropriado à coisa e capaz de contêla,

e assim é apreendido o terceiro preceito. Há, ainda, o intervalo com o qual

é apreendida a proximidade ou a distância da coisa alocada num lugar em

relação a outra, e disso entende o quarto preceito. Mas se a confusão provém

daquilo que torna visíveis um e outro, então o lugar é obscuro ou claro, e, se

for claro, deveras confunde a visão e por isso afasta de si a alma e não se grava

fortemente, mas se for obscuro, não representa suficientemente e, por isso,

novamente não se grava muito em quem imagina. E assim é evidente em que

modo são apreendidos os preceitos pela divisão.

(12) E ao que se objeta em contrário, é evidente a solução por aquilo que foi

dito antes, porque, embora a reminiscência seja ínsita na alma racional, a

memória sujeita-se a ela, e por isso os lugares de memória remetem aos

lugares de imaginação.

(13) Ao outro ponto cumpre dizer que as intenções conservadas pela

memória não estão soltas das imagens dos particulares, como foi comprovado

no mesmo lugar. E, por isso, aquelas intenções são apreendidas junto com as

imagens, e, por isso, não é preciso ter preceitos especiais para elas.

88


(14) Ao outro ponto cumpre dizer que a imaginação, em razão daquilo que

pode ser imaginado, de acordo com o que diz o Filósofo, serve própria e

fielmente à memória, porque se diz imaginação a partir do imitar a coisa, pois,

guiando para a coisa, faz-nos imitar a coisa, e isso é quando, pela mesma

imaginação, chegamos à coisa que antes apreendemos. Mas a imaginação, que

é dita mais propriamente formal, contém a imagem, pelo que é de uma coisa

percebida em nós, e por isso a contém mais propriamente pelo que é forma

do que pelo que é imagem. Por causa disso, também pelos filósofos é chamada

de formal.

(15) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio não transmitiu

imperfeitamente; quem, de fato, apreende um lugar, é necessário que o

apreenda sob estas diferenças. Mas Túlio quer dizer que uns põem para si

certos lugares de memória, e outros lugares diferentes, ou seja, que os movem

mais a lembrar. De fato, uns põem um templo porque são mais versados em

templos, outros um intercolúnio, outros um prado, outros um hospital,

porque a partir desses lugares são mais movidos a lembrar; contudo, é

necessário que cada um apreenda seu lugar sob estas cinco diferenças, porque

senão a memória não seria gerada, mas sim uma confusão da mente que leva

ao esquecimento.

(16) Ao que se examina depois a respeito das imagens para as coisas e para

as palavras, cumpre dizer que, na verdade, aquelas imagens são muito úteis à

memória e devem ser explicadas, como foram exemplificadas na objeção.

Mas ao que se objeta em contrário, cumpre dizer que as características

próprias são muitas, mas poucas são ditas por metáforas para muitas que têm

semelhança, e, por isso, embora sejam mais precisas quanto à coisa, as

metáforas movem mais a alma [a lembrar] e, por isso, são mais úteis à

memória.

(17) Ao outro ponto cumpre dizer que o maravilhoso move mais a lembrar

do que o consueto, e, por isso, como as imagens dessa translação são

constituídas de coisas maravilhosas, movem mais a lembrar do que as

características próprias consuetas. Por isso, de fato, os primeiros filósofos

transcreveram seu pensamento em poesia, como diz o Filósofo, porque a

fábula, sendo constituída de coisas maravilhosas, move mais. E isso é evidente

desse fato, que “pelo maravilhar-se, os primeiros filósofos e os seguintes, então

e agora, iniciaram a filosofar”, porque o maravilhoso, pelo seu movimento

veemente, faz procurar, e então surge a investigação e a reminiscência.

(18) Ao que se procura depois a respeito dos preceitos para as imagens das

atividades e das palavras, cumpre dizer que as metáforas expressam mais

89


coisas contemporaneamente, pois muitas são as semelhanças de uma só

imagem e, portanto, são como as letras, mas é verdade que as características

próprias são muitas e confusas.

(19) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio chama imagens próprias

aquelas que expressam com semelhanças claras e notáveis, e não aquelas que

são individuais de coisas individuais.

(20) Ao outro ponto cumpre dizer que na enumeração Túlio trata das

características que mais fortemente movem a lembrar e não daquelas que são

próprias; de fato, as que movem mais fortemente a lembrar ficam unidas por

mais tempo à alma e ocorrem mais frequentemente.

(21) Ao outro ponto cumpre dizer que Túlio ensina que precisamos de

aplicação para que uma característica própria fique unida à alma, e também

uma característica própria seja aplicada metaforicamente, mas, no entanto,

essa aplicação não é suficiente para repensar, pois as características são demais

e uma elimina a outra. E por isso é evidente a solução a todas as questões, e o

que Túlio objeta em contrário deve ser concedido sem dúvida.

Art. 3. Sobre a inteligência

Examina-se, em seguida, a inteligência e procura-se uma coisa só, ou seja, o

que é, pelo que se considera uma parte da virtude que é a prudência.

(1) Ora, Túlio a define dizendo assim: “A inteligência é a capacidade pela

qual o ânimo se prospecta para as coisas que são”. Mas, de acordo com a

definição, parece que a inteligência seja um hábito do intelecto especulativo,

porque aquela parte [da alma] se prospecta para as coisas que são. Portanto,

como esse hábito não é uma virtude, parecerá que a inteligência não seja uma

virtude ou parte de uma virtude.

(2) Igualmente, a inteligência parece ser mais simples do que o intelecto, de

acordo com a razão do seu nome. Logo, parece que ainda seja de algo mais

simples. Como, portanto, o intelecto diz respeito ao verdadeiro dos princípios,

como diz o Filósoto, parecerá que a inteligência se refira ao verdadeiro que é

princípio dos princípios, que é Deus. Logo, parece que a inteligência não se

prospecte todas as coisas que são, mas somente Deus, e disso conclui-se

depois que não é parte da prudência, pela qual são consideradas as coisas que

devem ser feitas.

(3) Igualmente, a inteligência é mais simples do que a razão. Logo, como a

prudência é da razão, a inteligência será de uma potência mais alta da razão, e

assim, de novo, não será parte dela.

90


(4) Além disso, quando Túlio diz “pela qual se prospectam as coisas que

são”, parece ser dito inconsequente e impropriamente. Com efeito, prospecto

é propriamente das coisas futuras, como diz Agostinho no livro Sobre a cidade

de Deus. Portanto, o verbo prospectar-se se conjuga mal com as coisas que

são, enquanto deveria ser colocado na definição de previdência das coisas que

serão.

(5) Igualmente, nada parece ser o que diz “as coisas que são”. Com efeito, o

intelecto não considera alguma diferença de tempo, mas abstrai de todas as

diferenças de tempo, como foi comprovado no tratado Sobre a alma racional.

Logo, não se prospectam mais as coisas que são do que aquelas que foram ou

serão.

Além disso, o sentido é das coisas que são, logo não é o intelecto.

(6) Além disso procura-se, logo depois, por que Túlio não nos transmitiu

uma arte de entender as coisas que são como transmitiu a arte de lembrar as

coisas que foram.

Solução: Cumpre dizer que a inteligência é uma virtude lógica e intelectual,

e também uma parte potencial da prudência. Com efeito, a inteligência é

discernimento e luz que nasce no ânimo por uma penetração sutil das coisas

que estão à volta de uma atividade presente. Por isso, de fato, o prudente se

torna capaz de escolher o que deve operar ou evitar. Donde é evidente em

que modo a inteligência completa nalgum modo a potência da prudência e,

assim, é parte dela.

(1) Portanto, ao primeiro ponto que se objeta, cumpre dizer que a

inteligência, como é apreendida por Túlio, não é um hábito da parte

especulativa da alma. De fato, depreende-se por isso, porque na definição é

colocado “ânimo”. Ânimo, com efeito, significa propriamente a parte prática

que move e opera, e por isso a inteligência assim definida é parte da prática.

Num modo, de fato, a inteligência especulativa prospecta-se para as coisas

que são, e noutro modo a inteligência prática. De fato, a inteligência

especulativa conhece as coisas que são, isto é, as que são verdadeiras, não sob

a razão do presente ou de alguma diferença de tempo, enquanto a inteligência

prática apreende as coisas que são, isto é, as coisas que são no presente, isto é,

que estão à volta de uma atividade presente, e por isso o equívoco está nas

coisas “que são”, nesse caso e no outro.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que a inteligência não é apreendida aqui

como nome formado por derivação, dito por abstração do intelecto, mas se

diz em relação à memória e à providência. Estas, de fato, entre as capacidades

que estão junto à alma, confrontam as coisas passadas ou com as futuras, ou

91


vice-versa, mas a inteligência não compara as coisas que possui com as outras,

e por isso há menos comparação e composição no ato da inteligência do que

no ato da memória ou da providência, e por isso tem uma denominação mais

simples em comparação com ela. E assim é evidente que aquela objeção não

procede.

(3) Ao outro ponto cumpre dizer no mesmo modo, ou seja, que a

simplicidade da sua denominação não provém do fato de que é comparada

com a razão, mas antes que é comparada com as partes que dividem em si a

prudência, como já foi dito. E, por isso, a inteligência não é sem confronto das

coisas presentes, condição exigida pelo fato de ser um hábito da razão, mas, a

partir das coisas presentes, não convence a respeito de outras coisas que estão

fora do presente, e por isso tem uma denominação simples que denota isso.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que a inteligência, pelo que é parte da

prudência, rege no operar a partir da consideração do que está presente no

acontecimento. Logo, está antes da ação e da escolha, e assim é próprio dela o

prospectar, embora não tão longe como a providência. E Túlio repara isso

falando com propriedade o verbo prospectar.

(5) Ao outro ponto cumpre dizer que a inteligência especulativa abstrai de

toda diferença de tempo, porque ela é própria do universal; mas a inteligência

prática não é própria do universal, mas antes do que é atual, que está à volta

de um acontecimento. Como, portanto, esta é particular e o particular está

unido ao tempo, [a inteligência prática] não abstrai do tempo nem da

diferença de tempo, e sinal disso é que o tempo é uma das circunstâncias do

acontecimento, junto ao qual é apreendido o lugar do rétor, como acima foi

comprovado na questão Sobre as circunstâncias. Donde é evidente que a

inteligência, como é apreendida aqui, não abstrai das diferenças de tempo.

(6) Ao que se procura logo em seguida, cumpre dizer que as coisas que estão

presentes atualmente deixam suas impressões na alma e, por isso, não é difícil

lembrar. Mas, como não há arte senão do que é difícil e do bem, como diz o

Filósofo, é evidente que [Túlio] não teve de transmitir uma arte para a

inteligência, como fez para a memória.

Cumpre saber, pois, que a diferença entre a inteligência e o dom do

Espírito Santo, que se chama intelecto, será determinada abaixo no tratado

Sobre os dons, porque essa diferença não poderia ser conhecida facilmente sem

se conhecer o que é e o que cada um deles diz respeito.

Art. 4. Sobre a providência

Consequentemente, examina-se a providência, e procura-se uma coisa só, a

92


saber, o que é, porque a partir disso serão conhecidas suficientemente

também aquelas coisas que deverão ser examinadas ao lado.

(1) Ora, Túlio diz que “a providência é a capacidade com a qual é visto algo

do futuro, antes que seja feito”. Mas parece que isso seja impossível nas obras

da vontade ou das questões morais; elas, de fato, estão debaixo do livre

arbítrio. Deveras, estas obras, segundo as palavras dos santos, não podem ser

conhecidas como futuras nem pelos anjos e, portanto, menos ainda pelos

homens. Logo, parece que não há providência.

(2) Além disso, parece que também o Filósofo diga isso no livro da

Sabedoria, onde escreve: “Os pensamentos dos mortais são tímidos e nossas

providências incertas”. Logo, parece que toda providência seja incerta. Mas

nada que é incerto pode reger no operar; logo, a providência não será regente

no operar; logo, não será uma virtude intelectual, que seja parte da prudência.

(3) Além disso, logo depois procura-se se a providência é própria das coisas

futuras e como as considera. Com efeito, é necessário que ela também tenha

alguns princípios. E parece que não tenha nenhum, porque, como foi dito, as

coisas futuras sob o livre arbítrio são contingentes. Portanto, como são

também particulares, não têm uma causa ou, pelo menos, não têm uma causa

determinada que consta como princípio. Portanto, como a providência é

própria desses acontecimentos, não terá um princípio a partir do qual proceda

para eles, e como, por outro lado, os acontecimentos futuros em si não são

ainda, parece que a providência não seja própria dos acontecimentos futuros

nos seus princípios e, tampouco, em si mesmos, e de jeito nenhum é própria

de acontecimentos futuros.

(4) Além disso, se houver alguns princípios pelos quais há o proceder para os

acontecimentos futuros, procura-se por que os autores da ciência moral não

os determinaram. Como eles, de fato, não falam disso, assim como fazem a

respeito da memória, que tem princípios, parece que não existam princípios.

Solução: Cumpre dizer que a providência é parte da prudência, que ajuda na

escolha das ações a serem feitas a partir da consideração dos acontecimentos

futuros possíveis, para os quais também nós nos aconselhamos.

(1) Ao primeiro ponto que é objetado, pois, cumpre dizer que as coisas

futuras, sendo que estão na dependência do livre arbítrio, não há quem as

conheça senão Deus. Mas, assim, a providência não é própria dessas coisas,

antes disso, considera algum fato ou algo a ser feito hipotizando sobre o caso

futuro que segue como efeito ou por direito, julga aquele fato, se é bom que

ele aconteça ou não. E, por isso, providência em si não procede para as coisas

93


futuras enquanto são dependentes do livre arbítrio, mas por ser efeito ou

sequela de um fato que a providência supôs, para conhecer depois dos casos

seguintes se fosse oportuno que acontecesse ou não.

(2) Ao outro ponto cumpre dizer que o Filósofo fala de outra providência

diferente da que é entendida aqui, ou seja, a providência das coisas divinas,

antes que sejam contempladas na espécie. Com efeito, daquilo que é eterno se

diz que a providência é incerta, porque não é entendida suficientemente. E

isso é evidente porque diz que os pensamentos são tímidos. De fato, não são

tímidos senão por causa da arduidade das coisas divinas, que oprimem o

coração de quem pensa. Ou, se se compreendesse a providência propriamente

dita, não será certa, pois não é necessária, mas será provável pelo que se refere

ao futuro, no entanto, certa de acordo com a ordem que tem para o futuro,

que se supõe como causa ou antecedente desse caso futuro.

(3) Ao que se procura, depois, do princípio donde procede, cumpre dizer

que aquele princípio é constituído pela circunstância do fato suposto. De fato,

o providente procede dizendo assim: Suponhamos que esse fato já tenha

acontecido e vejamos o que segue e, de acordo com o que é provável que siga

por direito ou de costume ou como efeito, julga se deve ser feito assim, que

supusera como já feito. Assim diz o Apóstolo: “Sejamos providentes com o

bem não só diante de Deus, mas também diante de todos os homens”. Donde

é evidente que tal futuro está ordenado ao antecedente como signo ou causa e

não é totalmente contingente a um ou a outra.

(4) Ao outro ponto cumpre dizer que não foi necessário determinar os

princípios próprios da providência, porque ela procede das circunstâncias do

acontecimento suposto. Como, portanto, elas são determinadas, são

determinados também os princípios da providência. Mas estes argumentos

foram considerados no tratado Sobre as circunstâncias pelos autores da ciência

moral.

Art. 5. Sobre as parte que Macróbio enumera

Em seguida, devemos passar às partes que Macróbio enumera na obra

Sobre o sonho de Cipião. E ele aborda seis, que são a razão, o intelecto, a

circunspecção, a providência, a docilidade e a cautela. Na realidade, como em

duas convém com Túlio, ou seja, no intelecto e na providência, omitidas estas

são examinadas simultaneamente as outras numa única questão.

E, em primeiro lugar, procura-se aquela que se chama razão.

(1) Com efeito, Isaac diz que a razão é a força que faz passar a causa ao

causado. Mas aqui não parece que razão seja apreendida, porque assim é

94


silogística ou utilizadora de um argumento, no qual pelo menos há sempre a

causa da consequência, embora nem sempre esteja nele a causa do

consequente.

(2) Além disso, a razão é o sujeito das outras virtudes intelectuais, pois é

distinta da potência concupiscível e irascível na divisão das potências motoras,

como é evidente no tratado Sobre as potências motoras. Mas também,

novamente, não pode ser apreendida aqui, porque assim não é parte da

prudência, mas sujeito.

(3) Além disso, procura-se o que é chamada aqui circunspecção. De fato,

não parece que aqui nomeie uma parte da prudência, mas todas. Com efeito,

o circunspecto dirige o olhar a toda diferença de lugar que está ao seu redor.

Logo, parece que, semelhantemente à moral, seja circunspecto aquele que se

dirige às coisas passadas, presentes e futuras; logo, a circunspeção será

simultaneamente memória, inteligência e providência.

(4) Semelhantemente, objeta-se a respeito da docilidade. De fato, esta

indica certa aptidão do engenho antes que um hábito de alguma virtude. E

isso é evidente pela mesma razão do nome, pois é dócil aquele que aprende

depressa ou é apto a aprender. Logo, a docilidade não é parte de uma virtude

ou uma virtude, mas uma disposição natural do engenho ou da razão.

(5) Examina-se, depois, a cautela. Esta, de fato, não parece ser diferente da

prudência senão por acidente, porque é cauteloso aquele que sabe evitar o

perigo. Isso, porém, não acontece senão a partir da previsão das coisas futuras.

Como, portanto, a providência prevê as coisas futuras, parece ser a

providência o mesmo que a cautela.

(6) Além disso, são encontradas algumas outras virtudes que vêm com a

prudência, as quais são tratadas no começo do livro dos Provérbios, como a

erudição, a astúcia, a ciência, a disciplina e o governo.

Mas a erudição, de acordo com seu nome, indica a posição de alguém fora

da rudeza. Mas como é rude o que é incivil, inculto e rústico, parece que a

erudição seja o hábito que ensina a civilidade, que é uma disposição que

pertence à virtude civil, e assim não será compreendida nalguma dessas

virtudes enumeradas por Macróbio. E assim será diminuído. “A astúcia, pois,

como diz Basílio na obra Sobre o princípio dos Provérbios em original, é a

perícia de todas as obras e de todas as artes”. Essa virtude, porém, não é

compreendida em alguma dessas [enumeradas por Macróbio, ndT], nem

naquelas tratadas por Túlio.

(7) Além disso, parece que Basílio fale mal quando diz ser a astúcia a perícia

95


nas artes, porque a perícia nas artes não é ensinada com provérbios, mas antes

com silogismos e pertence à parte especulativa da alma.

Além disso, no mesmo lugar Basílio diz: “Quem readquire a perícia em

todas as coisas é astuto”; mas nenhuma ciência moral ou especulativa

readquire a perícia de todas as coisas; logo, a astúcia não é apenas um único

hábito moral ou especulativo, mas será mais de um.

Igualmente, no mesmo lugar Basílio afirma: “O discurso dos provérbios

ensina uma astúcia louvável, que em todos os acontecimentos da vida deveria

ser como um escudo contra os enganos da malvadez para os simples”. De

acordo com isso, parece que a astúcia seja o mesmo que a própria prudência,

porque ela protege contra os enganos dos acontecimentos da vida, como é

evidente pela definição de Agostinho acima citada, que diz a prudência

escolher sagazmente as coisas que ajudam e não as que estorvam. Isso parece

também pelo comentário Sobre o princípio dos Provérbios, que diz: “A astúcia é

necessária aos principiantes, para que possam se precaver frente à malícia dos

sofistas e não sejam afastados da simplicidade da sabedoria, que conduz à

vida”. De fato, tudo isso parece pertencer à prudência; logo, parece que a

astúcia seja prudência.

(8) Além disso, examina-se a ciência, da qual se fala no mesmo lugar. Se,

com efeito, a ciência for um hábito da razão que ensina a se comportar bem

“no meio de um povo depravado e perverso”, como diz Agostinho, nesse caso

a ciência é um dos dons do Espírito Santo e não pertence à virtude política.

Mas se a ciência for um hábito que ensina as coisas que devem ser feitas por

razões civis, então parecerá ser o mesmo que a prudência.

(9) No mesmo modo quanto à disciplina. O comentário à Carta aos

Hebreus a define dizendo que a disciplina é a erudição adquirida pelas

dificuldades. Mas esta erudição é principalmente experiência das dificuldades.

Isso, porém, parece ser o mesmo que a precaução ou a cautela, porque ela

previne de um dano e um perigo, e isso não acontece senão pela experiência

do perigo. Logo, parece que a disciplina e a cautela sejam o mesmo.

Além disso, o mestre Hugo de São Vitor define a disciplina dizendo: “A

disciplina é a conduta boa e honesta, para a qual é pouco não fazer o mal, mas

também se dedica àquilo que faz bem para aparecer irrepreensível”. Ora, de

acordo com isso, parece que a disciplina seja o mesmo que a conduta de um

bom comportamento em si e de uma boa opinião junto aos homens. Mas isso,

segundo o Apóstolo, é próprio da providência, pois ele mesmo diz: “Sejamos

providentes com o bem não só diante de Deus, mas também diante de todos

96


os homens”.

Igualmente, assim é definida por alguns: “A disciplina é o movimento

ordenado de todos os membros e a disposição que expressa todo hábito e

ação”; mas isso não é o efeito de uma única virtude; logo, parece que a

disciplina não seja uma única virtude.

Igualmente, por alguns é definida assim: “A disciplina é a corrente da

cobiça, o calabouço dos desejos maus, o freio da lascívia, o jugo da arrogância,

o vínculo da iracúndia, que doma a intemperança, prende a leviandade e

sufoca todos os movimentos desordenados da mente e todos os apetites

ilícitos”. E a partir dessa definição é manifesto que [a disciplina] não é uma

única virtude, pois qualquer um dos vícios não é limitado senão pelo seu

contrário, e as limitações de muitos vícios gerais aqui são lembradas.

(10) Examina-se, ainda, a governança ou a virtude de governar, a qual é

definida por Basílio que diz: “O governo é sem dúvida certa disciplina da

alma, pela qual atravessamos este mar traiçoeiro e flutuoso da nossa vida com

toda moderação e toda observância”; isso, porém, parece que aconteça nova e

diretamente pela prudência nas ações que devem ser feitas; logo, a

governança não é diferente da prudência.

(11) Além disso, a calidez não é lembrada nem por Túlio, nem por

Macróbio, nem Basílio faz menção dela no começo dos Provérbios, onde

define muitas outras virtudes, e, contudo, a calidez define um hábito

ordenado à prudência; cálido, de fato, parece ser chamado quem é versado no

engenho. Portanto, parece que as partes da prudência sejam tratadas

insuficientemente por esses três autores.

Solução: Cumpre dizer que Túlio trata das partes principais da prudência,

nas quais é aperfeiçoa​da e renovada toda sua potência. De fato, como as ações

possíveis são particulares, não podem ser abstraídas pela diferença de tempo,

e por isso as diferenças de tempo gerais dividem as partes da prudência, pois

não pode haver o hábito que considera a ação de acordo com a escolha senão

governando a partir do passado, do presente ou do futuro. Ora, Macróbio e os

outros não colocam somente as partes da prudência, mas também as

condições do ato a partir do modo e do efeito geralmente consequentes a

todas as partes da prudência. Mas o modo do ato é astúcia, circunspeção,

cautela; sequela, ao invés, é disciplina de acordo com algumas das suas

definições, como se dirá mais abaixo.

(1.2) Ao primeiro ponto, portanto, cumpre dizer que razão não é assumida

por Túlio como força da alma racional, mas, segundo a definição de Isaac, tal

97


a ser restringida à matéria especial dos costumes, ou seja, para que seja dita

razão o discurso das coisas que são como a causa que opera pela razão do

direito, do útil ou do honesto, uma escolha da ação no causado. E, assim, a

razão procede dispondo e sentenciando que algo seja feito, antes que

silogizando, a não ser que, por acaso, seja chamado argumento do silogismo o

que é entimema. E a partir dessas coisas que estão junto a nós atual e

habitualmente, procedemos na escolha.

(3) Ao que se objeta da circunspeção, cumpre dizer que é condição do ato

da prudência segundo o modo e não segundo a matéria ou uma certa

diferença da matéria, e por isso não é tratada por Túlio. E consiste

principalmente em enxergar todos os meios que são úteis para a escolha de

uma ação. E, por isso, é condição do ato da prudência, porque a prudência

está principalmente em escolher as coisas que são úteis para uma ação,

porque a circunspeção, considerando as razões da escolha ou da possibilidade

de escolher alguma coisa antes que outra, confere maior poder à prudência. E,

por isso, é evidente que [a circunspeção] não é todas as partes da prudência,

pois não considera as diferenças da escolha sob as diferenças de tempo, mas

antes considera as razões pelas quais confirma-se uma única escolha, pois vê

todas as coisas a fazer isso, não pelo que são presentes ou passadas ou futuras,

mas antes por determinarem uma única escolha, mais pelo fato de serem

dirimidas todas as dúvidas em contrário que podem se opor.

(4) Ao que se objeta da docilidade, cumpre dizer que há a docilidade que

provém da natureza e há a docilidade que provém do hábito. Aquela que

provém da natureza é aquela da qual procede a objeção, mas aquela que

provém do hábito é quando alguém, pela aplicação, pela invenção ou pelo

ouvido, concorda facilmente com as razões da escolha de uma ação, pois

conhece que são justas e verdadeiras. E esta é uma condição do ato da

prudência, como diz Macróbio.

(5) E, àquilo que se objeta da precaução ou cautela, cumpre dizer que

aquela virtude ensina especialmente a evitar os perigos. De fato, como em tais

casos é mais difícil dirigir e mais perigoso errar, esta matéria exige uma

condição especial. E se alguém quiser reconduzir a uma divisão as virtudes

que Macróbio acrescenta a Túlio, dirá que uma condição do ato da prudência

pode ajudar pelo que se refere à investigação, ou pelo que se refere à sentença

ou à determinação disso ou daquilo, ou pelo que se refere ao evitar um perigo

que segue. E se for no primeiro modo, então a circunspeção ajuda e completa

a potência [da prudência]; se for no segundo modo, então a docilidade ajuda;

se for no terceiro modo, então a cautela ou precaução ajuda.

98


(6) E ao que se procura das virtudes que são tratadas no começo do livro

dos Provérbios, cumpre dizer que elas são mais condições gerais do que partes

da prudência. Com efeito, a prudência com suas partes não é ajudada senão

por razões civis e do direito humano, mas aquelas que a ciência das parábolas

ajuda procedem de ambas as razões, a saber, divinas e humanas, e mais das

divinas do que das humanas, e por isso não são consideradas pelos filósofos. E

concedo de bom grado que erudição indica a acepção de prudência tanto

divina quanto humana, de acordo com a comparação a partir de onde ou de

quê o ignorante é movido para apreender a ciência; de fato, este é rude tanto

em relação à civilidade, quanto em relação às coisas divinas. E [a erudição]

não indica alguma parte determinada ou condição da prudência, nem é uma

só das suas partes, porque tais coisas são efeitos ou condições da sabedoria,

que é examinada no artigo seguinte, e não da prudência.

(7) E ao que se objeta da astúcia cumpre dizer, com Basílio, que a astúcia

defende contra os enganos da vida, e não apenas pelas razões humanas, mas

pela ciência das parábolas e da moral em geral, tanto divina quanto humana.

E, por isso, é evidente que não é prudência nem parte ou condição da

prudência.

(8) E, ao que se objeta da ciência, cumpre dizer que a ciência é apreendida

em quatro modos. Com efeito, às vezes indica um hábito especulativo, cujo

fim próximo é o verdadeiro daquele conhecível que é próprio daquela ciência.

E, assim, apreende-se como as ciências especulativas, segundo a definição de

Aristóteles, que “julgamos conhecer cada coisa quando conhecemos sua causa,

e porque é causa daquela coisa e porque é impossível ser considerada outra”.

No segundo modo, apreende-se ciência como é dividida por Agostinho da

sabedoria, e é um hábito da parte inferior da razão que governa no operar a

partir da consideração de razões temporais que pertencem à vida. E, assim,

apreende-se no começo dos Provérbios, e é mais geral do que a prudência,

porque pertence também a outras coisas além das escolhas para operar

civilmente. De fato, a ciência assim entendida é conhecimento das coisas

humanas, de tal forma que de cada coisa é apresentado um juízo reto segundo

as causas inferiores, que é possível o homem conhecer. No terceito modo se

diz ciência pelo que é dom, e então é um hábito infuso, a partir do qual

alguém é governado “no meio de um povo depravado e perverso”, sem a

queixa do contágio. No quarto modo se diz ciência novamente o que é

determinado pela razão, seja especulativo ou prático, e então é propriamente

da conclusão. E, assim, é evidente que em nenhum modo a ciência cai na

prudência como sua parte e, por isso, não é colocada pelos autores.

(9) Ao que se procura depois sobre a disciplina, cumpre dizer que disciplina

99


significa a acepção da ciência em dois sentidos, a saber, especulativa e prática.

Daquela especulativa ainda em dois modos, ou seja, de acordo com o que

provém do outro ou de acordo com o que provém das coisas que estão no

discípulo sem o mestre. Se for no primeiro modo, então disciplina é qualquer

ciência apreendida pelo ensino; se for no segundo modo, então disciplina é

conhecimento científico, assim como são as ciências demonstrativas, que

procedem de princípios por si conhecidos pelo discípulo, nos quais é

necessário que o discente acredite, pois não apreendemos a ciência dos

princípios senão pela explicação dos termos. Mas, se tem a acepção de ciência

moral, esta é novamente em dois sentidos, ou seja, em geral quanto a todos os

costumes, e nesse sentido não é algum hábito especial, mas ensina em geral a

decência em todas as ações que pertencem à vida; e assim procedem as três

últimas definições. Pode ter também um significado especial como açoite,

assim como as crianças recebem a disciplina e como diz o Profeta: “Com todo

açoite serás instruída, Jerusalém”. E, assim, disciplina indica a correção dos

costumes pela experiência dos chicotes, e assim procede o comentário que

está junto a Hebreus. E, nesse sentido, não indica alguma parte ou condição

determinada da prudência, mas em geral a correção da estultícia de qualquer

um pelas chicotadas.

(10) Ao que se objeta da governança, cumpre dizer que é definida

otimamente por Basílio e, por isso, é mais geral do que a prudência, pois

indica o ato da direção da vida por qualquer ciência que pertence aos

costumes.

(11) E, ao que se objeta da calidez, cumpre dizer que ela significa algo mau.

Com efeito, a calidez é a sutileza de descobrir os enganos e os danos e, por

isso, não é colocada entre as espécies de bons hábitos, nem pelos santos nem

pelos filósofos.

Art. 6. A divisão de Aristóteles

Por último, cumpre tratar a divisão de Aristóteles, que é colocada no final

do primeiro livro das Éticas, onde a virtude intelectual parece ser dividida

neste modo, e coloca três partes, a saber, a sabedoria, a sensatez e a

inteligência.

(1) E parece que a divisão seja ruim, porque Túlio, no livro Dos deveres, diz

expressamente que os Gregos chamam sensatez a sabedoria, e a autoridade é

posta acima na questão “Sobre a prudência”. Logo, parece que a sensatez não

seja uma virtude diferente da sabedoria.

(2) Além disso, sendo que a sabedoria é apreendida em muitos modos, ou

100


seja, como razão das coisas divinas e humanas, assim como dizem Agostinho e

Túlio, e como ciência das causas supremas e como ciência das coisas que é

difícil o homem conhecer, e como ciência de qualquer coisa assim como ela é,

e como ciência universal demonstrativa que não determina esse algo do qual

não se diz por si a paixão, assim como parece o Filósofo distinguir, no primeiro

livro da Metafísica, procura-se em que modo é apreendida aqui. Ademais,

além de todos os modos ditos, a sabedoria significa dom, que é o sabor de

Deus no gosto dos dons aceitos pelo conhecimento do beneplácito dele.

Procura-se em que modo seja entendida a sabedoria pelo que indica uma

virtude intelectual que pertence à civilidade.

(3) Além disso, examina-se a inteligência. Esta, de fato, não é assumida por

Aristóteles assim como em Túlio e Macróbio, pois Aristóteles não faz menção

das partes compartilhadas com a prudência, ou seja, a memória e a

providência. Donde parece que a inteligência não seja colocada por

Aristóteles como acepção das coisas presentes que dirigem no operar.

Além disso, procura-se por que Aristóteles não faz menção da prudência,

que, contudo, é a virtude intelectual mais importante, enquanto ele mesmo,

no livro Sobre a alma, a distingue das outras acepções, quando diz que as

acepções são de três espécies: prudência, opinião e ciência.

(4) Além disso, como a solércia faz com que se possa encontrar o meio e as

causas últimas, procura-se por que Aristóteles não coloque a solércia no meio

das virtudes intelectuais.

Solução: Cumpre dizer que Aristóteles trata os hábitos gerais da virtude

intelectual, como também a razão geral é uma potência que diz respeito a

todas as questões morais que são ordenadas seja à potência concupiscível, seja

à potência irascível. Donde, ao meu juízo, a sabedoria, segundo uma

consideração civil, não designa senão um hábito moral com o conhecimento

da causa que é a causa mais importante nas questões morais, e esta é a causa

final. E digo isso porque sabedoria sempre quer dizer a ciência que há pela

causa primeira, e nas questões morais é a causa final, que é chamada

felicidade, e o honesto, que é por si o fim do apetite. A sensatez, ao invés,

segundo a acepção estrita com a qual é apreendida por Aristóteles, chama-se

hábito moral com a ciência do direito natural e positivo e determinação do

reto ou do não reto, e, por isso, indica um maior conhecimento dos costumes

do que é exigido pela prudência, para a qual é suficiente conhecer o “que”,

enquanto a sensatez e a sabedoria determinam o “por que”, a sabedoria

certamente a partir do fim, mas a sensatez a partir do devido e da obrigação

do direito. A inteligência, pois, indica o mesmo que a prudência, a qual não

indica senão o simples conhecimento do que deve ser escolhido para a obra

101


em particular.

(1) E a partir disso é evidente a solução do primeiro ponto, porque Túlio

apreende sensatez em sentido amplo, pelo qual compreende todas essas três

virtudes, e em sentido amplo apreende a sabedoria, pelo que procede de

razões divinas e humanas e conhece os particulares que pertencem à ação. E,

assim, sensatez é o mesmo que a sabedoria e a inteligência, mas Aristóteles

apreende em outro modo, como foi dito.

(2) Ao outro ponto, em que se examina a sabedoria, cumpre dizer que é

apreendida na primeira razão de sabedoria, desde que não seja referida a uma

matéria qualquer, mas à própria, ou seja, à causa das causas nas questões

morais.

(3) Ao que se examina da inteligência, cumpre dizer que a inteligência é

assumida aqui em sentido mais amplo do que a sabedoria, porque indica a

perfeição nas coisas que pertencem a nós nas operações particulares, como foi

dito.

E sejam suficientes as coisas que foram ditas das partes da prudência, pois

será discutido ainda propriamente da sabedoria, do intelecto, do conselho e

da ciência no tratado Sobre os dons.

(4) E ao que se objeta, por último, da solércia, cumpre dizer que a solércia

indica a ciência pelo modo da arte e da especulação, pois é a descoberta “do

meio num tempo não conhecido”, e por isso não deve ser colocada entre as

virtudes políticas.

102


TRACTATUS QUARTUS DE PRUDENTIA

QUAESTIO I

103


DE PRUDENTIA IN SE

Habito de virtutibus, quae consistunt in passionibus illatis vel innatis et de

passionibus earum, quaerendum est de his quae consistunt in ratione. Et

quaeruntur duo, secundum quod sunt duae virtutes. Quorum primum est de

prudentia, secundum autem de iustitia. Circa prudentiam autem quaeremus

duo, scilicet de ipsa in se et de ipsa in partibus eius. De ipsa autem in se

quaeruntur sex. Quorum primum est, an sit virtus; secundum quid sit per de​finitionem

et substantiam; tertium, quis sit materia eius; quartum, quid sit

actus eius proprius; quintum, utrum sit simpliciter vel multipliciter dicta;

sextum, qualiter non tam est virtus quam auriga virtutum.

Art. 1. An prudentia sit virtus

[402] Primo igitur quaeritur, an sit virtus. Et videtur, quod non,

multiplicibus rationibus sic:

(1) Omnis prudentia est in ratione; nulla virtus est in ratione; ergo nulla

prudentia est virtus. Prima patet per se, secunda probatur per hoc quod dicit

Philo​sophus, quod virtus est voluntas quaedam vel non sine voluntate.

Voluntas autem non est ratio.

(2) Item, virtus est habitus in modum naturae rationi consentaneus; nulla

prudentia est habitus in modum naturae rationi consentaneus; ergo, nulla

prudentia est virtus. Prima probatur per Tullium, qui scribit eam; secundam

probatur per hoc, quod omnis prudentia est per modum artis et scientiae.

(3) Item, omnis virtus relinquitur ex passionibus et operationibus, in quibus

est optimorum ope​rativa. Prudentia non relinquitur ex his; ergo ipsa non est

virtus. Prima scribitur in Ethicis, secunda autem probatur per hoc, quod

prudentia generatur per experimentum et tempus.

(4) Item, omnis virtus est diffi​cile et bonum, nulla prudentia est circa

difficile et bonum; ergo nulla prudentia est virtus. Prima proba​tur per

auctoritatem Philosophi in Ethicis, secunda probatur per hoc, quod prudentia

considerat verum et probabile; ratio autem veri et probabilis alia est a ratione

boni et difficilis.

(5) Item, nihil aeque ordinatum ad opus et abstrahens ab opere est virtus

operativa; prudentia aeque est de his quae ordinant ad opus et quae

abstrahunt ab opere; ergo prudentia non est virtus ope​rativa. Primo probatur

ex hoc, quod omnis virtus politica est circa opus, secunda probatur per

104


definitionem prudentis positam in I Ethicorum, ubi sic dicit Philosophus:

“Prudentis est interius certitudinem inquirere secundum unumquodque

genus, secundum quod natura rei recipit”. Ex hoc enim patet quod prudentia

est circa cognoscibilia, tam ordinata ad opus quam etiam abstrahentia ab

opere.

[403] (6) Item, nulla virtus est contemplandi gratia, sed ut bonis fiamus;

omnis autem prudentia est contemplandi gratia et non, ut boni fiamus; ergo

nulla prudentia est virtus. Prima patet per definitionem virtutis, quae est,

quod est in passionibus et operationibus optimorum operativa. Secunda

probatur per hoc quod dicit Tullius in I De officiis, ubi sic dicit: “Ex quattuor

locis, in quos ho​nestatis naturam vimque dividimus, primus ille”, scilicet

prudentiae, “qui in veri cognitione consistit, maxime naturam attingit

humanam. Omnes enim trahimur et ducimur ad cognitionis et scientiae

cupiditatem”. Et ex hoc accipitur, quod prudentia est cognitio veri et quod

omnes natura scire desiderant. Hoc autem verum non consistit nisi in

intellectu speculativo, quia hoc aut est verum simpliciter aut verum illius

scientiae cui aliae famulantur, quae est scientia gratia sui ipsius et (non)

alterius gratia, et hoc est verum philosophiae primae, et utrumque horum

verorum est contemplandi gratia tantum.

(7) Item, alia sunt principia generationis prudentiae et alia principia

generationis virtutis. Probatio: Quia ex operationibus generatur virtutes;

prudentia autem per experimentum et inventionem et doctrinam; ergo virtus

non habet rationem pruden​tiae nec e converso; ergo prudentia non est virtus.

(8) Praeterea, quidam rudius obiciunt sic: Nulla ignorantia est vitium; ergo

per locum ab oppositis nulla scientia est virtus.

(9) Item, duo sunt habitus et diverso divisi in anima, scilicet scientia est

virtus; ergo nulla scientia est virtus, et nulla virtus est scientia, quia sunt

disparata. Sed omnis prudentia est scientia; nulla virtus est scientia; ergo nulla

virtus est prudentia.

[404] Sed contra dicit Philosophus in I Ethicorum circa finem: “Determinatur

autem et virtus secundum differentiam hanc. Dicimus autem harum has

quidem intellectivas, has autem morales, sapientiam quidem et phronesim et

intelligentiam intellectuales, liberalitatem autem et honestatem morales”. Ex

hoc accipitur, quod prudentia, quae est intellectualis virtus, virtus est.

Item, in principio II: “Duplici autem existente virtute, hac quidem

intellectuali, hac autem consuetudinali, ea quidem quae est intellectualis,

multum ex doctrina habet et generationem et augmentum ideoque

experimento indiget et tempore”. Ex hoc accipitur idem quod prius.

105


Item, Tullius in prima Rhetorica: “Habet igitur virtus partes quattuor:

prudentiam, iustitiam, fortitudinem, temperantiam”.

Item, in De officiis dicit, quod prudentia est pars honestatis.

Praeterea, hoc idem dicit Ma​crobius Super somnium Scipionis, quod

prudentia prima virtutum est, quibus solis aliquis beatitudinem adipiscitur.

Ad hoc sunt etiam rationes sic:

Sicut se habet motiva pars animae ad opus virtutis, sic se habebit perficiens

partem illam; sed inter motivas principalis est ratio; igitur habitus eius

principalis est virtus.

Item, “propter quod unumquodque, illud magis”, ut dicit Philosophus in I

Posteriorum. Sed potentiae sensibilis animae non participant virtutem, nisi

prout participant qualiter rationem; ergo ratio participabit plus; ergo habitus

rationis magis erit virtus quam habitus aliarum potentiarum.

Item, sicut se habet potentia ad potentiam, ita se habet habitus ad

habitum. Sed potentia, quae est ratio, se habet ut regens alias; ergo habitus

eius erit regitivus aliorum habituum. In unoquoque autem genere regens est

dignius recto; ergo prudentia dignior virtus est quam aliqua aliarum.

Item, omnis vis animae res​piciens operabilia perficitur habitu, qui est

virtus. Ratio est vis animae principaliter inter alias respiciens operabilia; ergo

perficitur habitu, qui est virtus; sed habitus eius in comparatione ad

operabilia est prudentia; ergo prudentia est virtus.

Item, circa unumquodque difficile et bonum in operabilibus est virtus

determinata. Discretio autem et electio operabilium secundum rectam

rationem virtutis est difficile et bonum circa ope​rabilia; ergo circa hoc est

virtus determinata. Prima patet per se, secunda probatur per hoc, quod sine

discretione et electione hones​torum pertinentiam ad opus virtutis nihil est

bonum et difficile in aliqua virtute. Ergo ipsum est potissimum bonum.

[405] Solutio: Dicendum, quod in veritate prudentia virtus est et est pars

honestatis, ut dicunt sancti et philosophi.

(1) Ad primum ergo dicendum, quod haec est falsa: Nulla virtus est in

ratione. Ad id autem per quod probat, dicendum, quod secundum

Philosophum omnis voluntas in ratione est uno modo, et ideo recolendum est

id quod diximus in tractatu De ani​ma, quaestione “De voluntate”. Diximus

enim, quod voluntas uno modo motor rationis est et antecedenter ad

rationem ordinatur, et sic opus rationis voluntarium efficitur. Et sic

prudentia, secundum quod est virtus, est in ratione et est habitus voluntarius,

quia sic consistit in laude vel vituperio, et sic libera est acquisitio virtutis et

106


efficitur non sine voluntate et voluntas quaedam. Voluntas quidem efficitur,

secundum quod est volitum libere, non sine voluntate autem, inquantum est

in ratione, quam ad prudentiae opus non movet nisi voluntas et non

syllogismus vel probatio aliqua alia.

[406] (2) Ad alium dicendum, quod etiam in illo syllogismo media est falsa,

quia prudentiae habitus consentit rationi in modum naturae et non artis.

Licet enim aliquis per rationem accipiat id circa quod est prudentia, tamen

prudentia, secundum quod est virtus, non est in ratione, nisi secundum quod

est mota antecedenter a voluntate virtutis. Et ideo habitus sic generatus non

est tantum rationis, sed est simpliciter voluntatis ut generantis ipsum, rationis

autem ut subiecti tantum. Et ideo licet sciat rationes operum prudens, tamen

non tam inclinat eum ratio quam bonum habitus et vis ipsius sicut in aliis

virtutibus. Et hoc probatur duabus rationibus, quarum una est signum et

altera est causa. Signum quidem est, quia videmus simplices idiotas non

habentes rationem cognitionis operabilium per scientiam doctrinalem optime

eligere ea quae adiuvant ad vitam virtutis, qui non inclinatur ad huiusmodi ex

arte aliqua, sed potius ex ipsa vi habitus prudentiae. Causa autem est, quia si

quaeramus ab aliquo prudente eligente operabilia facientia ad bonam vitam,

quae sit ratio electionis horum et refutationis aliorum, dicet, quia recta ratio

virtutis vel boni. Si vero quaeramus, utrum eligat id quod est rationis rectae,

propter rationem convincentem vel propter bonum, quod est in recto vel

honesto, dicet, quod non propter rationem, sed propter bonum, eo quod

multi habentes rationem operantur e contrario. Igitur cum ars inclinet ex

ratione convincente, natura autem ex habitu operante, patet, quod prudentia

inclinat ad opus per modum naturae et non artis. Et si vellemus totum

exprimere, quod est in prudentia ordinante ad opus, dicere​mus, quod inclinat

sicut natura habens artem.

[407] (3) Ad alium dicendum eodem modo, quod prima est vera et minor

est falsa. Ad id autem per quod probatur, dicendum, quod prudentia

generatur per experimentum et operationem, quia ipsa habet id quod est

scientiae, et id quod est virtutis. Et ad hoc intelligendum notandum est, quod

operatio, ex qua relinquitur virtus, et similiter passio est illa in qua voluntas

est motor primus. Dico autem “voluntas rationalis”, “motor” autem “primus”

dico vel suspiciendo vel operando. Unde sicut voluntas habet opera in parte

motiva animae sensibilis, ita etiam habet opera in parte motiva animae

rationalis, quae est ratio. Et ideo in omni opere et passione relinquitur id quod

est virtutis consuetudinalis, et id quod est prudentiae. Per comparationem

enim actus ad materiam, circa quam est, cum illud sit iustum vel castum vel

arduum terribile, relinquitur virtus, quae est operativa et consuetudinalis

107


simpliciter; per comparationem eiusdem ad rationem virtutis in genere

relinquitur habitus prudentiae, quia haec operatio non est nisi secundum

rationem rectam eligibilium ad vitam, quae est secundum humanum bonum,

ut dicit Philosophus. Et sic patet, qualiter ex eisdem operationibus et

passionibus relinquitur prudentia quantum ad hoc quod est formale ipsius et

ratio virtutis; quantum autem ad hoc quod est materiale, quae scientiae est

ope​rabilium, relinquitur quandoque ex studio et doctrina.

[408] (4) Ad aliud dicendum, quod haec est falsa, quod nulla prudentia est

circa difficile et bonum, quia prudentia virtus est circa difficile et bonum. Ad

id autem per quod probat eam, dicendum, quod prudentia virtus non est veri

ut verum nec probabilis ut probabile, sed potius est veri secundum recta

rationem pertinentis ad vitam virtutis, et hoc est veri et probabilis sub ratione

honesti. Et hoc etiam habet difficultatem eandem quam habet virtus, quae

est operativa tantum. Cum enim operatur iusta et casta, haec habent

difficultatem, eo quod contraria sunt appetitui sensum per continentiam

impetus vis appetitivae sensibilis; haec aut eadem per rectam rationem, quae

est in ipsis, constituunt prudentiam. Eligere autem et sequi rectam rationem

per eandem rationem est difficile, quia scilicet contrariatur appetitui sensibili,

et ita patet, qualiter prudentia est circa difficile et bonum.

[409] (5) Ad aliud dicendum, quod nihil est, quod aeque ordinet ad opus et

abstrahat ab opere, quia verum universale, quod est finis speculativi

intellectus, non respicit opus, quia cum opus sit particulare et non sit in

universali particulare nisi in potentia, non posset universale producere opus,

quia potentia nunquam aliquid producit per seipsam; verum autem artis

operativae est verum particularium operum vel proportionum particularibus

et non abstrahit ab opere. Et ideo prima supponit falsum et ideo non est vera

nisi sub hypothesi, scilicet si aliquid sic tale; et si concedatur, tunc secunda est

falsa, quia prudentia non abstrahit ab opere.

Ad id autem per quod probat eam, dicendum, quod est aequivocatio in

prudentia et prudente, quia prudentia est nomen scien​tiae et est nomen

virtutis; et quando est nomen scientiae, adhuc est aequivocum ad habitum

scibilium tantum et ad habitum operabi​lium per studium et doctrinam

acquisitum. Et Aristoteles loquitur ibi de prudente, secundum quod

convertitur cum sapiente. Unde etiam Boethius idem dicens attribuit hoc

sapienti in libro De Trinitate sic dicens: “Eruditi hominis est unumquodque,

ut ipsum est, ita de eo fidem capere temptare”. Et Aristoteles in I Veteris

metaphysicae dicit, quod hunc sapientem arbitramur, “qui cognoscit difficilia

et non levia cognoscere homini”, et hic est, qui interius quamlibet rem

108


perquirit. Et hanc esse intentionem Aristotelis in illo verbo probatur per id

quod sequitur in littera: “Par enim peccatum videtur mathematicum

probabilia dicentem placere et rhetoricum demonstrationem experiri”, quasi

dicat: Quia “prudentis est interius certitudinem inquirere secundum

quodlibet genus, secundum quod natura rei recipit”, ideo prudentis in

mathematicis est non probabilia dicere quia natura rei recipit causas

immediatas necessarias, per quas est demonstratio, et prudentis in rhetoricis

est per signa et enthymemata probare, eo quod accusatio rei non potest fieri

per causas stantes et necessarias, sed per signa.

[410] (6) Ad aliud dicendum, quod nulla virtus est contem​plandi gratia

tantum, sed finis semper est, ut boni fiamus. Secunda autem est absolute falsa

et eius contradictoria est vera, scilicet: non omnis prudentia est contemplandi

gratia etc., quia prudentia virtus non est contemplandi gratia, sed potius

propter opus, et etiam prudentia, quae est scientia moralium, non in doctrina

tantum, sed in usu tantum est, ut boni fiamus, et non contemplandi gratia.

Ex hoc accipitur a quodam verbo Aristotelis in I Ethicorum, ubi dicit, quod

puer aetate vel moribus non est auditor moralis scientiae, eo quod finis

scientiae moralis non est contemplandi gratia, sed ut boni fiamus, et in I

Metaphysicae, ubi dicit, quod practicae scientiae omnes sunt propter alterum,

quia propter opus.

Ad id autem per quod probat, quod prudentia virtus est propter

contemplationem veri, dicendum, quod cognitio veri ab omnibus expetitur

duobus modis. Unum istorum modorum tangit Aristoteles in Philosophia

prima, scilicet quando verum tale est, quod est causa desideratum et non

alterius, et hoc est verum scientiae divinae sive philosophiae primae, et

secundum hoc omnes homines natura scire desiderant illud verum et alia vera

desiderant scire propter illud. Et hoc contingit adhuc duobus modis. Quorum

unus est, quod verum aliquod est, quod non quaeritur propter aliud

simpliciter nec propter vitam nec propter scire, et hoc est verum de ente

secundum se. Hoc enim non quaeritur propter opus, quia non est practicum,

nec quaeritur propter emolumentum vitae, quia omnibus ad voluntatem

existentibus philosophari de ipso inceptum est; nec quaeritur propter verum

particulare alicuius, quia non manifestat ipsum, sed potius e contrario illa

quaeruntur propter verum entis universalis. Verum enim in parte quaeritur

propter verum in toto, et ideo omnis scientia particularis entis famulatur ad

verum scientiae entis in se. Alio modo est verum, quod est causa entis in se et

entis in parte et veri, quod est in utroque, et hoc est desideratum scire ab

109


omnibus naturaliter, ut dicit Commentator super XI Metaphysicae, et hoc

scire est theologi. Unde verum scientiae sacrae scripturae sic est desideratum

ob omnibus. Alio modo sumit Tullius in libro De officiis scire, quod

desideratur ab omnibus non gratia sui, sed gratia honesti, quod est in ipso,

quod pertinet ad felicitatem, quae est bonum hominis, secundum quod est

homo; et hoc scire maxime est prudentiae et non est contemplandi gratia

tantum, sed ut boni fiamus.

[411] (7) Ad aliud dicendum, quod prudentia accipit experimentum et

doctrinam in eisdem operationibus in quibus est virtus moralis, ut prius

dictum est, et sic relinquitur ex passionibus et ope​rationibus, secundum quod

est virtus; quia autem habet etiam aliquid scientiae, quod tamen materiale est

in ipsa, ideo etiam materialiter et secundum quid gene​ratur ex doctrina et

studio.

(8) Ad aliud dicendum, quod si universaliter intelligatur haec: “Nulla

scientia est virtus”, falsa est, quia scientia donum quaedam virtus est et

intellectus et phronesis et sapientia. Si autem accipia​tur pro scientia, quae est

perfectio speculativi intellectus, tunc nihil facit ad propositum. Similiter haec

est falsa, quod nulla ignorantia est vitium vel peccatum, quia ignorantia

eorum quae scire debemus, peccatum est, ut dicit Augustinus.

(9) Ad aliud dicendum, quod scientia et virtus nunquam sunt e diverso

divisa sub habitu, et ideo est ibi suppositio falsi, et proveniunt huiusmodi

rationes ex ignorantia divisionis habituum et potentiarum animae, ut patet ex

praedictis.

Ad id autem, quod in rationibus inductis ad oppositum videtur concludi,

quod prudentia sit principalis virtus inter cardinales, dicendum, quod

principalitas virtutis penes multa attenditur, ut prius in quaestione De

communi virtutum expeditum est. Prudentia autem non est principalis nisi

principalitate subiecti et dirigentis, aliae autem sunt principales quod alia.

Art. 2. Quid sit prudentia definitione et substantia

[412] Secundo quaeritur, quid sit prudentia definitione et substantia.

Ponuntur autem multae prudentiae definitiones.

Quarum prima est Tullii in prima Rhetorica dicenda sic: “Prudentia est

rerum bonarum et malarum utrarumque scientia”.

Secunda est eiusdem in I De officiis, ubi dicit sic: “Prudentia est indagatio

atque inventio veri”.

Tertia autem Macrobii Super somnium Scipionis dicentis sic: “Prudentia est

110


mundum istum et omnia quae in mundo sunt, divinorum contemplatione

despicere omnemque animae cogitationem in sola divina dirigere”. Ex hoc

enim accipitur, quod prudentia est contemplatus istius mundi ex

contemplatione divinorum et directione totius cogitationis animi in Deum.

Augustinus autem in libro De moribus ecclesiae definit sic: “Prudentia est

amor ea a quibus adiuvatur, ab his quibus impeditur, sagaciter eligens”.

Glossa autem super Matth. XV (36) dicit sic: “Prudentia est cognitio

rerum vitandarum et appetendarum”.

Augustinus autem in libro De spiritu et anima dicit sic: “Prudentia est

virtus, qua anima scit, quid debet facere”.

Harialdus autem dicit sic: “Prudentia est rerum bonarum et malarum cum

alterarum dilectione et reliquarum detestatione scientia”.

Quaeritur ergo de his definitionibus. Et primo de prima sic:

(1) Omnis definitio dicens, quid est aliquid, debet facere mentionem eius

quod principaliter constituit subtantiam rei definitae. Scientia vero non

principaliter constituit substantiam prudentiae virtutis. Igitur male dicitur

esse scientia. Prima patet per se, secunda autem probatur per omnia ante

dicta.

(2) Item, bonae res, quarum scientia est prudentia, aut sunt omnes bonae

aut quaedam. Si omnes, tunc idem est cognitio prudentiae, quod est cognitio

totius mundi, quia “vidit Deus cuncta, quae fecerat, et erant valde bona”. Si

autem est scientia quorundam bonorum tantum, tunc erit imperfecta scientia

boni ipsa prudentia; quod est inconveniens, quia sic imperfecte dirigeret in

bono non cognitio et usu illius.

Praeterea, secundum hoc ipse definiendo deberet determinare, quod non

facit.

(3) Praeterea, cognitionem usus rei praecedit cognitio rei, quia nescitur,

qualis debeat esse usus, nisi sciatur, qualis sit res. Sed prudentia dirigit in usu

omnis boni. Ergo ipsa est cognitio cuiuslibet boni; et ita sequitur idem quod

prius, quod ipsius est cognitio omnis rei creatae.

[413] (4) Praeterea, hoc videtur expresse dicere Tullius in I De officiis sic: “Ut

enim quisque maxi​me perspicit, quid in re quaque verissimum sit, quique

acutissime et celerrime potest et videre et explicare rationem, is

prudentissimus et sapientissimus rite haberi solet”. Ex hoc accipitur, quos

prudentia est cognitio et ratio omnis rei. Ergo prudentia nihil aliud est quam

omnes scientiae simul sumptae.

(5) Praeterea, aut prudentia est scientia speculativa aut scientia practica. Si

111


speculativa, contra: Speculativa non est virtus nec pars virtutis, eo quod non

ordinat ad opus; prudentia autem est virtus; ergo prudentia non est scientia

speculativa. Si dicatur, quod est practica, contra: Dicit Tullius in I De officiis,

ubi loquitur de officii prudentiae sic: “Quod in rebus honestis et cognitione

dignis operae curaeque ponetur, id iure laudabitur, ut in astrologia

Simplicium Gallum audivimus, in geometria Sextum Pompeium, et ipsi

cognovimus multos in dialecticis, plures in iure civili, quae omnes artes in veri

investigatione versantur”. Ex hoc accipitur, quod prudentia est circa verum,

prout est speculativi intellectus. Ergo prudentia est cognitio spe​culativa.

(6) Praetera quaeritur, quae vocantur ibi mala. Si enim vocantur mala ea

quae sunt vitia gene​raliter, videbitur prudentia iterum esse de habitibus

speculativi intellectus. Dicit enim Tullius in I De officiis: “Omnes trahimur et

ducimur ad cognitionis et scientiae cupiditatem, in qua excellere pulchrum

putamus; labi autem, errare, nescire, decipi et malum et turpe dicimus”. Ergo

cum prudentia excludat vitium per suam scientiam, excludet maxime vitia,

quae sunt circa scibilia, scilicet labi, errare etc. Ergo prudentia est de

speculativis.

[414] (7) Praeterea, hoc idem videtur per aliam auctoritatem positam

ibidem: “In hoc genere”, scilicet prudentiae, “et naturali et honesto, duo vitia

sunt vitanda, unum, ne incognita pro cognitis habeamus hisque temere

assentiamus. Quod vitium effugere qui volet, omnes autem debent, adhibebit

ad considerandas res et tempus diligentiam. Alterum est vitium, quod

quidam nimis magnum studium multamque operam in res obscuras atque

difficiles conferunt easdemque non necessarias”. Ex hoc accipitur, cum hu​iusmodi

malum sit circa scientias speculativas, quod prudentia erit scientia

speculativa.

(8) Praeterea, sicut dicit Apostolus: “Volo vos esse sapientes in bono et

simplices in malo”. Ergo videtur non esse de perfectione prudentiae, quod sit

scientia mali.

(9) Item, in XI Primae philosophiae dicit Aristoteles, quod quaedam mala

melius est nescire. Ergo videtur, quod prudentia non sit scientia omnis mali.

Item, quaedam scientiae prohibentur, ut nigromantia et augurativa et

huiusmodi. Ergo videtur, quod non omnis mali scientia pertineat ad

prudentiam.

(10) Praeterea, secundum Dionysium in IV capitulo De divinis nominibus

aliud est malum corporis et aliud animae et aliud angeli, et haec mala non

sunt unius rationis. Ergo videtur, quod scientia ipsorum non sit unius rationis.

Ergo prudentia non erit scientia mali, nisi scientia multipliciter dicatur.

112


(11) Item, philosophi ponunt malum naturae privationem, cuius non est

idem genus scientiae cum malo morali, quod est vitium. Ergo male ponitur

prudentia esse scientia mali, nisi determinetur, cuius mali sit scientia.

Item, sancti distinguunt malum triplex, scilicet culpae et poenae et

dispositionis, sicut divitiae malum et huiusmodi disponentia ad culpam et

poenam. Quaeritur ergo, utrum prudentia sit scientia omnium illorum

malorum.

[415] Quaeritur autem de secunda.

(12) Indagatio enim et inventio veri est omnis artis secundum materiam

suam. Ergo prudentia est omnis artis.

(13) Item, indagatio fit per instrumentum, quod est species aliqua

argumentationis. Ergo prudentia species argumentationis habet pro

instrumentis. Ergo inclinat ad opus per modum artis et non naturae. Ergo non

erit virtus, quia virtus est habitus per mo​dum naturae rationi consentaneus.

(14) Item, obicitur de hoc quod dicit: Prudentia est “inventio veri”. Inventio

enim veri pertinet ad scire; dicit autem Philosophus, quod scire parum vel

nihil confert ad virtutem; ergo non erit virtutis, quae est prudentia.

(15) Item, verum non respicit opus, sed potius bonum; ergo potius debuit

dicere, quod prudentia est inventio boni quam veri.

(16) Praeterea, dicit Philosophus in III De Anima, quod non sequitur opus

nisi dicente intelligentia fugere aliquid vel imitari. Sed per verum non dicit

fugere vel imitari, quia aliter sciens ve​rum semper fugeret vel imitaretur. Ergo

non dicit fugere vel imitari nisi per bonum concupitum. Cum igitur prudentia

sit virtus determinans opus, non erit inventio veri, sed potius boni concupiti.

[416] Quaeritur etiam de tertia.

(17) Mundum enim istum et omnia quae in mundo sunt, contemnere

consilium est et non praeceptum; omnis autem virtus ordinat ad praecepta,

eo quod sine virtutibus non est salus; ergo cum prudentia sit virtus, non

docebit mundum istum et omnia quae in mundo sunt, contemnere.

(18) Item, contemnere mundum potius est humilitatis vel paupertatis,

quam sit prudentiae; ergo male attribuitur prudentiae. Quod autem sit

humilitatis, probatur per quattuor, quae humilitati adscribuntur, quae in his

versibus continentur: “Spernere mundum, spernere nullum, spernere sese,

spernere se sperni. Quattuor haec bona sunt”.

(19) Praeterea, quod dicit “divinorum contemplatione”, non videtur esse

113


prudentiae, quia prudentia procedit ex rationibus iuris humani. Ergo non

consistit in contemplatione divinorum.

(20) Item, divina contemplari potius est sapientiae doni vel intellectus

quam prudentiae.

(21) Praeterea, omnem animi cogitationem in sola divina dirigere non

convenit prudentiae, quae est virtus politica consistens in medio. Omnem

enim animi cogitationem in sola divina dirigere summae perfectionis est.

Item, virtus politica non dirigit ad finem, sed potius ad medium.

(22) Praeterea, dicit Tullius in libro De officiis, quod “omnis cogitatio

prudentiae motusque animi aut in consiliis capiendis de rebus honestis et

pertinentibus ad bene beateque vivendum aut in studiis scientiae

cognitationisque versabitur”. Ex hoc accipitur, quod cogitans prudentiae circa

duo versatur, scilicet circa consilia de honestis et ad bene vivendum ordinatis

et in studiis scientiarum. Ergo non tota eius cogitatio versatur circa Deum.

[417] (23) Quaeritur etiam de quarta, quae est Augustini in libro De

moribus ecclesiae, quod “prudentia est amor ea quibus adiuvatur, ab aliis,

quibus impeditur, sagaciter eligens”. Aut enim ille amor est caritatis vel

alterius affectus. Si caritatis, tunc prudentia est caritas, eo quod amor ille in

recto cadit in definitione eius. Si autem est alterius affectus, aut ille est

potentiae, cuius principaliter est concupiscere et amare, aut est alterius. Si

primo modo, cum illa potentia sit concupiscibilis, erit prudentia in

concupiscibili, quod falsum est. Si secundo modo, tunc non erit amor nisi

inclinatio potentiae respectu obiecti proprii, et sic omnis virtus et omne

vitium erit amor, et hoc nihil est dictu.

(24) Item, eligere est actus libere arbitrii constituti ex ratione et voluntate;

prudentia non est liberi arbitrii sic constituti; ergo prudentiae non est eligere.

Prima probatur per definitionem liberi arbitrii, quam ponit Augustinus et

continetur in II Sententiarum dist. XXIV, quod “liberum arbitrium est facultas

rationis et voluntatis, qua bonum eligitur gratia assistente et malum ea

deserente”. Secunda probatur per hoc, quod omnes philosophi et sancti dant

prudentiam rationi tantum.

Item, eligere est duobus propositis unum alteri praeoptare; sed optare non

est nisi appetitus vel voluntatis; ergo prudentia esset perfectio voluntatis vel

appetitus, quod falsum est; ergo prudentiae non est eligere.

(25) Item, ea quibus adiuvatur, sunt bona et mala; prudentia eli​git ea

quibus adiuvatur; ergo prudentia eligit bona et mala. Maior probatur per hoc

quod sancti dicunt, quod omnia cooperantur bonis in bonum, etiam peccata

114


et mala poenae. Minor supponitur ex definitione. Inde sic: Prudentia eligit

bona et mala; omnia quae sunt, sunt bona vel mala; ergo prudentia eligit

omnia quae sunt. Ad quod sequitur duplex inconveniens. Quorum unum est,

quod prudentia non eligit, quia electio non est acceptio omnium, sed acceptio

aliquorum cum aliorum reprobatione. Secundum est, quod non eligit ab his

quibus impeditur, quia nulla impediunt, sed omnia iuvant.

[418] Deinde quaeritur de quinta, quae est Glossae super Matth. XV (36),

quod “prudentia est cognitio rerum vitandarum et appetendarum”.

(26) Constat enim, quod prudentia est cognitio practica. Dicit autem

Averroe, quod intellectus practicus movet per suam scientiam. Ergo cum

prudentia sit talis cognitio, movebit per suam scientiam ad operationem

vitandorum et appetendorum. Quod falsum est, quia movet ad fugam

vitandorum.

(27) Praeterea, scientia iuris est scientia vitandorum et appetendorum; ergo

prudentia virtus est scientia iuris. Similiter philosophia, quae dicitur moralis,

est scientia appetendorum et vitandorum; ergo prudentia est scientia, quae

dicitur moralis philosophia, quod falsum est.

Deinde quaeritur de sexta, quae est Augustini in libro De spiritu et anima,

quod “prudentia est virtus, qua anima scit, quid debet facere”.

(28) Dicit enim Augustinus, quod scientia donum est scientia bene

conversandi “in medio pravae et perversae nationis”. Ergo scientia donum est

prudentia virtus. Nulla enim bene conversari scit in medio pravae et

perversae nationis, nisi sciat, quid debeat facere.

Deinde quaeritur de ultima, quae est Harialdi, quae est, quod “prudentia

rerum malarum et bonarum cum alterarum dilectione et reliquarum

detestatione scientia”.

(29) Secundum hanc enim prudentiae est diligere et detestari; sed diligere

est concupiscibilis; ergo prudentia est habitus concupiscibilis. Detestari autem

est irascibilis; ergo etiam est irascibilis. Scientia vero est rationis; ergo etiam

est rationis; ergo prudentia est omnium trium virium motivarum. Quod non

potest esse, quia non est unus habitus plu​rium potentiarum.

[419] Solutio: Dicendum, quod omnes istae definitiones satis bene

determinant, quid sit prudentia, sed non determinant respiciendo ad idem.

Dicendum ergo, quod prima, quae est Tullii, datur per genus prudentiae,

quod est scientia, et propriam materiam ipsius, quae est bona et mala, quia

bonum et malum movent in operibus vo​luntariis.

115


(1) Ad primo ergo dicendum, quod scientia per materiam coartata supponit

id quod formale et substantiale est in prudentia. Scientia enim movens per

hoc quod est boni vel mali, non est nisi voluntaria et quae est in ratione

consequenter ad voluntatem ordinata, et de tali scientia intelligitur hoc. Non

enim vocat scientiam boni et mali, quae speculatur de bono et malo, quia

haec non considerat bonum et malum, inquantum bonum et malum, sed

potius speculatur verum in passionibus boni et mali; sed vocat scientiam

acceptionem boni et mali ut simpliciter vel sibi bonum et malum per

appetitum rectum. Et patet, quod in illa est id quod formale est in virtute

prudentiae, inquantum est habitus voluntarius.

(2) Ad aliud dicendum, quod omnia quae sunt, sunt bona bonitate naturae,

quia scilicet sunt a bono. Sed non accipitur sic hic bonum, sed potius bonum

secundum finem, scilicet quod est finis appetitus per rationem rectam

movens ipsum; et sic est prudentia bonorum scientia.

Ad id quod contra hoc obicitur, dicendum, quod prudentia non est

scientia imperfecta boni, sed perfectissima, quia bonum simpliciter est, quod

est bonum secundum rationem rectam ad appetendum vel faciendum, alia

autem sunt bona, secundum quandam rationem boni.

(3) Ad aliud dicendum, quod prudentia est scientia omnium, secundum

quod veniunt ad usum, quia non veniunt ad usum, nisi secundum quod

sumuntur in fa​cultatem voluntatis, cum uti secundum Augustinum sit

aliquid in facultatem voluntatis accipere et ad aliud referre. Sed non sequitur

ad hoc, quod sic simpliciter scientia omnium. Non enim opportet, quod utens

aliquo cognoscat omnem naturam rei utilis, sed potius cognoscat illud de ipso

quod expedit sibi ad appetendum vel faciendum. Et sic patet, quod non est

prudentiae conoscere naturam rei, secundum quod est natura rei, sed potius

usum et rationem usus, et sufficit ei hoc ad hoc, quod perfecte dirigat in usu.

[420] (4) Ad aliud dicendum, quod Tullius large accipit prudentiam, scilicet

inquantum extendit se ad materiam secundariam, ut adiuvetur ex illa ad

discernendam materiam propriam. Et hoc contingit duobus modis, scilicet

per rationem ipsius scibilis, quod idem est vel fere idem cum materia

prudentiae, sicut est scibile theologicum et scibile ethicum et scibile iuris

civilis vel canonici et, ut summatim dicatur, omnis scientia in qua agitur de

faciendis vel non faciendis. Hoc enim scire multum confert ad prudentiae

actum, licet parum proficiat ad prudentiam. Non enim proficit per modum

generantis ipsam, sed potius per modum docentis et suadentis. Alio autem

modo est materia secundaria omnis scientia et hoc remotius, quia exercitium

cuiuslibet scientiae valet ad discretionem eligibilium. Exercitium enim est

causa potestatis non tantum in eadem re, sed etiam in alia; qui enim aptus est

116


videre verum in uno, dispositus est etiam videre verum in alio. Et sic

astrologia et geometria et aliae scientiae proficiunt ad prudentiam, non

quidem per ipsum scibile, sed per exercitium in ipso, sicut dictum est.

(5) Ad aliud dicendum, quod prudentia non est scientia speculativa, sicut

probat obiectio, sed practica. Ad id autem quod contra obicitur, dicendum,

quod illae scientiae operantur ad prudentiam per accidens et quoad bene esse

prudentiae conferunt et operantur non ad ipsam virtutem generandam, sed

potius ad expeditionem actus ipsius, et hoc duobus modis, ut dictum est. Et

ideo aliter operatur civilis et aliter dialectica, et ideo etiam non dicit Tullius,

quod haec sint prudentiae simpliciter, sed potius quod pertinent ad officium

prudentiae; officium enim secundum actum est. Et intendit probare, quod

illae scientiae promovent ad actum prudentiae faciliorem. Non enim ipsi in

dubiis eligibilibus ad opus consulimus prudentes in scientia theologiae vel

iuris, si habere possumus. Sin autem, confugimus ad sapientes in scientiis aliis,

etiam si illi non sint virtuosi et nunquam bonum eligant sibi ipsis ad ope​randum.

Et hoc ipso significamus ipsos esse expeditiores in actu prudentiae

per scientias, quas didicerunt. Ergo ipsae scientiae multum conferunt ad

actum prudentiae vel per materiam vel per exercitium.

[421] (6) Ad aliud dicendum, quod prudentia de se non est de speculativis.

Ad auctoritatem autem Tullii dicimus, quod a prudente non quaeritur

scientia speculativa nisi per accidens et per accidens etiam excludit vitia, quae

sunt circa scientiam speculativam. Qualiter autem verum sit, quod omnes

ducimur cupiditate scientiae, supra expeditum est in quaestione An prudentia

sit vir​tus.

(7) Ad aliud dicendum, quod licet illa vitia sint in scientiis spe​culativis,

tamen principalius sunt in scientia prudentiae, quia in illa dubiis assentire pro

certis peccatum omnino est. Unde Tullius in libro De officiis: “Bene

praecipiunt, qui vetant quidquam agere, quod dubites, aequum sit an ini​quum”.

Et alibi in eodem infra: “Ingenii magni est percipere cogitatione futura

et aliquando ante constituere, quid accidere possit in utramque partem et

quid agendum sit, cum quid evenerit, non committere, ut aliquando

dicendum sit: Non putaram. Haec sunt opera magni animi et excelsi et

prudentia consilioque confidentis”. Unde illa duo vitia magis peccant contra

prudentiam practicam quam speculativam.

In secundo autem vitio est, qui studet in rebus difficilibus inutilibus

duobus modis, scilicet quod tractat consilia, qualiter acquirat id quod non

potest acquiri vel consequi, sicut dicit Sapiens: “Ne erigas oculos ad opes, quas

habere non poteris”; alio modo, quia res inutiles sunt per se et tamen

117


laboriosae.

(8) Ad aliud dicendum, quod Apostolus intendit, quod scientia beneplaciti

simplices in malo esse debemus; aliter enim ipsi sibi esset contrarius, qui dixit

de astutia daemonum: “Non enim ignoramus cogitationes eius”. Cum enim

ipsae cogitationes sint malae, patet, quod ipse sapiens fuit in malo. Dicit enim

Ambrosius et Boethius, quod scientia mali bono deesse non potest, eo quod

non vitatur malum nisi cognitum.

(9) Ad aliud dicendum, quod Philosophus dicit hoc propter pronitatem ad

malum adiunctam scibili aliqui, et non propter ipsam scientiam, sed propter

curiositatem experiendi in opere id quod docet scientia. Bonum enim est scire

et omnino bonum, quod est pars beatitudinis et viae et patriae, sed non

expedit ali​quid scire propterea, quod exerceri sine peccato [non] potest, et

tamen ad peccatum inclinat. Sicut enim dicit Tullius, prudentis est, quod

“omnis actio eius vacare debet temeritate et ne​gligentia nec vero agere aliquid

cuius non possit causam probabilem reddere”.

(10) Ad aliud dicendum, quod prudentiae est per se cognoscere malum

animae, ut vitetur, sed alia mala quaerit cognoscere per accidens, ut dictum

est.

(11) Ad aliud dicendum, quod licet malum privationis non sit eiusdem

rationis, secundum quod malum habet rationem ex habitu, quem causa

privat, tamen comparando ad opus efficiuntur mala omnia una in ratione

proportionis impedimenti in opere; et malum culpae erit simpliciter

prudentis, poenae autem vel dispositionis, inquantum ordinat ad illud vel ab

illo, privationis autem in natura, inquantum per simile docet illud. Et per hoc

patet solutio ad totum, quod obiectum est de diffinitione prima et etiam,

penes quid sumatur.

[422] Ad id quod obicitur contra secundam, dicendum, quod illa data est

penes actum et finem prudentiae, qui est finis in ipsa et non in alio. Actus

enim prudentiae est indagare et inquirere verum in operabilibus, et verum

inventum in illis est finis, quem consequitur in seipsa. In alio autem finis est,

ut secundum illud verum inventum ordinet et regat alias vires et virtutes et

opera spectantia ad communitatem hominum, quae sunt iustitiae opera, ut

dicit Tullius.

(12) Ad primum ergo, quod contra hanc obicitur, dicendum, quod non est

omnis artis invenire verum beneplaciti in operabilibus sive eligibile ad opus,

quod idem est, sed verum in propria materia invenit omnis ars et scientia. Sed

primo modo intelligit Tullius.

118


(13) Ad aliud dicendum, quod prudentia ex parte illa qua scientia est, in

veritate utitur instrumento, et quia quaestio est de dubiis, ideo inquisitio

consilii est sibi propositio quaestionis. Non autem potest determinari nisi per

probabilia secundum circumstantias negotii et personae, et ideo utitur

exemplis et enthymematibus. Dicit enim Avicenna, quod ethicus ex

probabilibus procedit et non ex quibuscumque probabilibus. Sunt autem

probabilia ex icotibus et signis communibus, quae inveniuntur in omnibus vel

pluribus, et ex talibus procedit dialecticus. Sunt etiam probabilia propria

inventa circa proprium negotium et personam privatam, et ex talibus

procedit ethicus et rethor et ideo syllogismum non potest facere, quia maior

semper esset falsa. Si enim dicat: “Omnis errabundus de nocte fur est vel

adulter”, mentitur. Si autem assumat: “Iste errabundus est de nocte” et

inducit etiam alias circumstantias, faciet praesumptionem contra illum. Talia

autem rhetor proponit iudici. Ethicus autem in seipso obicit talia. Rhetor ex

talibus nititur quaerere sententiam, ethicus autem consilium. Item, rhetoris

disputatio inter tres versatur, scilicet accusantem, reum et iudicem, ethici

autem in seipso tantum. Nihilominus tamen prudentia ex parte illa qua est

habitus voluntarius in modum naturae, movet ad opera, ut prius habitum est.

[423] (14) Et aliud dicendum, quod scientia quaedam parum prodest per

hoc, quod est scientia, quaedam autem nihil per hoc, quod est scientia,

quaedam autem est pars virtutis. Pars enim virtutis est acceptio eligibilium ad

opus ex voluntate movente et ratione dirigente tantum. Et dico voluntatem

moventem non ad scire, sed ad operari et propter operari accipientem

notitiam operabilium, quae eligenda et refutanda sunt ad opus. Parum autem

prodest per hoc, quod est scientia speculativa moralium, licet multum iuvet

ad actum. Nihil autem per hoc, quod est scientia, valet ad habitum

prudentiae scientia scibilium logicorum et naturalium vel mathematicorum

vel methaphysicorum, licet valeat ad actum prudentiae per hoc, quod est

exercitium intellectus inquirentis et investigantis verum in singulis, ut prius

dictum est, et de talibus scientiis intelligit Philosophus.

(15) Ad aliud dicendum, quod prudentiae est inventio veri in bono

operabili. Assensus enim ad opus non est nisi veri. Sed hoc verum est in actu

et operabili et singulari, et hoc verum non est scientiae speculativae, sed

practicae. Et hoc est quod dicitur communiter, quod prudentia est veri in

ratione boni.

(16) Ad aliud dicendum, quod tale verum, ut dictum est, bene dicet imitari

vel fugere, sed non verum, quod est in universali et speculatione sola.

Ad id quod quaeritur de definitione tertia dicendum, quod illa data est

secundum relationem prudentiae virtutis ad felicitatem. Omnis enim virtus

119


essentialiter salvatur in felicitate, sed prudentia habet in ipsa actum

excellentiorem, eo quod ipsa felicitas est actus secundum perfectam animi

virtutem. Et sic prudentia dirigit in primum bonum, in quo summa est

felicitas, et contemnit inferiora contemplatione eligibilis supe​rioris.

[424] (17) Ad id autem contra hoc obicitur, dicendum, et est contemptus

abiectionis, et hic est consilium, et est contemptus subiectionis, et hic est

praeceptum. Non enim omnes abiciunt temporalia, qui prudentes sunt, sed

omnes subiciunt.

(18) Ad aliud dicendum, quod contemnere mundum est diversorum

diversis respectibus. Humilis enim contemnit mundum per considerationem

inidoneitatis sui ad mundum, quia scilicet sentit de se, quod non est dignus

laude et honore mundi. Paupertas autem spiritus consideratione re​tributionis

et assimilatione ad paupertatem Christi contemnit mundum. Prudens autem

contemnit mundum inventione vanitatis in ipso per considerationem mundi

ad verius et stabilius bonum, quemadmodum procedit concionator in Eccl.

(XII, 13) concludens in fine: “Finem loquendi audiamus omnes: Deum time

et mandata eius observa, hoc est omnis homo”.

(19) Ad aliud dicendum, quod prudentia dupliciter consideratur. Est enim

habitus voluntatis dupliciter consideratur. Est enim habitus voluntatis

inclinans ad opus, quod ordinat, et sic necesse est procedere ex rationibus

iuris humani, ut dicit obiectio. Aliter est essentialis pars felicitatis, et sic

primum felix contemplatur, ut se conformet illi, ut dictum est.

(20) Ad aliud dicendum, quod aliter divina contemplantur dona intellectus

et sapientiae et aliter prudentiae virtus. Dona enim contemplantur per hoc,

quod obiecta ipsorum sunt divina, prudentia autem in eo, quod finis actus

felicitatis est divinus.

(21) Ad aliud dicendum, quod bene verum est, quod hoc est summae

perfectionis, et prudentia etiam sic definita est determinata secundum statum

summe perfectum, qui est felicitas, et non est sic definita per essentiam.

(22) Ad alium dicendum, quod prudentia considerata essentialiter et ad

actum, in his versatur principaliter vel secundario, ut dicit Tullius, sed

secundum status felicitatis, in quo est determinata, versatum tantum circa

actum verissime et optime felicis.

[425] Ad id quod quaeritur de quarta, dicendum, quod illa data est per

formam infusionis prudentiae et actum et obiectum ipsius. Cum enim

prudentia infunditur per gratiam, tunc infunditur ex amore et habet inclinans

ad ope​ra amorem Dei. Non enim tunc operatur prudenter propter ho​nestum,

120


quod est in ipsa, nec etiam propter seipsam, sed efficitur tunc alia ratione

desiderata propter aliud, idest propter sic dicit amor, electio autem dicit

actum; ea autem Deum. Et hoc generale inclinans et formans ipsam quibus

iuvatur, sunt obiecta ipsius.

(23) Ad id autem quod obicitur, dicendum, quod bene potest concedi hoc

modo, ut dictum est, quod dicat amorem caritatis. Sed amor caritatis

accipitur duobus modis, scilicet in se, et sic tendit in bonum primum et

propter ipsum bonum primum accipitur etiam ut generalis forma et motor

virtutum ad actus; et sic amor non est distinctus ab illis virtutibus quas

informat, secundum quod sunt non propter se, sed propter aliud, scilicet

propter Deum quaesitae. Et ideo quia tunc non est distinctus amor ab ipsis

virtutibus, praedicatur in definitione de ipsis. Quod probatur per rationem et

per simile. Cum enim propter Deum aliquis prudenter vel caste operatur, non

oportet, ut prius moveatur actu caritatis et postea actu prudentiae vel

castitatis, sed potius oportet, ut habeat habitum caritatis inclinantis ad hoc,

quod propter Deum facit, quidquid facit. Signum autem huius est, quia cum

oculus videt colorem, non oportet, ut diverso motu lux moveat oculum et

colorem, sed efficitur tantum forma et perfectioni coloris. Ita caritas in talibus

efficitur tantum forma et perfectio virtutis ad opus. Similiter cum lumen

calefacit, non movet primo actu luminis et postea caloris, sed dispositio motus

luminis est excitatio caloris. Et hoc est quod a multis dicitur, quod caritas est

forma et perfectio virtutum, et hoc verum est illo modo. Subti​lius autem de

hoc pertractabitur in quaestione “De caritate”.

(24) Ad aliud dicendum, quod eligere est actus liberi arbitrii, magis tamen

tenens se ex parte rationis practicae. Et ita dicimus hic, quod prudentia est in

ratione consequenter ad voluntatem ordinata et etiam antecedenter, sicut

posterius erit manifestum. Unde haec ratio est movens ad opus. Probavimus

enim in tractatu De anima quaestione “De motivis”, quod ratio et intellectus

non movent nisi per appetitum, qui est in ipsis, et ita ratio per appetitum, qui

est in ea, habet optare alterum et disponere habet per cognitionem, quae est

in ea. Et per hoc patet solutio ad sequens.

(25) Ad aliud dicendum, quod mala adiuvant ad opus per accidens. Mala

enim poenae et tentationis non adiuvant, nisi inquantum probant patientiam.

Mala autem culpae non adiuvant, nisi ex casu, si resurgit, quod habet, unde

amplius invigilet studio virtutis et gratias referat redemptori. Unde haec non

sunt adiuvantia simpliciter et ideo non sunt eligenda. Non enim eligenda sunt

nisi illa tantum quae simpliciter adiuvant, quia de his intelligitur auctoritas

Augustini.

121


[426] Ad id quod quaeritur de quinta, quae est Glossae super Matthaeum,

scilicet quod “prudentia est scientia vitandorum et appetendorum”,

dicendum, quod illa data est per comparationem prudentiae ad propriam

materiam, quia vitanda et appetenda sunt operabilia ordinata ad opus, in

quibus scire et discernere habet prudentia.

(26) Ad id autem contra obicitur, dicendum, quod Averroes vocat

scientiam practici intellectus acceptionem operabilium; et movet per suam

scientiam, sed motus eius non est semper ad rem, sed a re. Unde differentes

movet in faciendis et vitandis.

(27) Ad secundum et tertium iam patet solutio per ante dicta, quia scientia

iuris et philosophia moralis sunt de faciendis et ideo ordinatae sunt propinque

ad actum virtutis prudentiae, sed tamen non generant habitus ipsius, quia ille,

eo quod voluntarius est, sicut omnis virtutis habitus gene​ratur ex acceptione

operabilium consequenter ad voluntatem ordinata.

[427] Ad id quod quaeritur de sexta, quae est Augustini in libro De spiritu et

anima, scilicet quod “prudentia est virtus, qua anima scit, quid debeat facere”,

dicendum, quod illa data est per considerationem effectus prudentiae in

subiecto. Efficit enim prudentia lumine suo, quod anima scit, quid debeat

facere in operabilibus.

(28) Ad id autem quod contra obicitur, dicendum, quod aliter attribuitur

scientia faciendorum dono scientiae et aliter prudentiae civili. Dono enim

scientiae attribuitur per lumen inspiratum et ad opera Spiritus. Donum enim

scientiae est de perfectione vitae activae, secundum quod refertur ad

Spiritum Sanctum, et ideo donum ponit spiritualitatem et sanctitatem

spiritualem in remotione a mundo et mundi conversatione. Sed prudentia

nititur ratione decentis et honesti secundum hominem etiam exteriorem, eo

quod ipsa sit civilis, et ideo non per se respicit vitam spiritualem, sed

secundario, scilicet inquantum humana spiritualibus comparantur. Donum

autem scientiae per se respicit conversationem spiritualem inter homines, sed

secundario respicit decens exterius ad hominem exterio​rem, scilicet

inquantum spiritus etiam regit exteriora ad normam interiorum.

[428] Ad id quod quaeritur de ultima, quae est Harialdi, scilicet quod

“prudentia est rerum bonarum et malarum cum alterarum dilectione et

alterarum detestatione scientia”, dicendum, quod illa melior est inter omnes,

quia exprimit materiam et genus vel formam et diversitatem actus secundum

materiam diversam.

(29) Ad id quod contra obicitur, dicendum, quod diligere non ponit actum

concupiscibilis nec detestari poni actum irascibilis, sed potius actus voluntatis,

122


quae primo movet, et gratia eius movet etiam ratio. Probatum est enim in

tractatu De anima quaestione “De movente”, quod intellectus vel ratio non

movent nisi per appetitum immiscentem se ei, et hic appetitus in ratione est

voluntas antecedenter respiciens rationem operabilium. Unde diligere est hic

cum ratione velle, et detestari est cum ratione dissentire, ne velit vel fiat.

Art. 3. De materia prudentiae

[429] Tertio quaeritur de materia prudentiae. Et videtur omne verum esse

materiam prudentiae. (1) Dicit enim Tullius in I De officiis: Prudentia

“materia, quam tractet et in qua versetur, subiecta est veritas, reliquis autem

tribus virtutibus necessitates propositae sunt ad eas res peragendas

tuendasque, quibus actio vitae continetur, ut et societas hominum

coniunctioque servetur”. Ex hoc accipitur, quod materia prudentiae est

veritas, quam tractet, et materia aliarum trium est necessitas communis vel

privata; privata in passionibus illatis vel innatis, communis autem in

pertinentibus ad societatem vel coniunctionem hominum per regulas iustitiae

coniunctorum.

(2) Item, ibidem Tullius: “Om​nes artes in veri investigatione versantur,

cuius studio a rebus agendis abduci contra officium est. Virtutis enim laus

omnis in actione consistit, a qua tamen fit intermissio saepe multique dantur

ad studia reditus”. Ex hoc accipitur, quod prudentiae est investi​gare verum in

omnibus artibus ita tamen, quod non abductio fiat a rebus gerendis, circa

quas est laus virtutis. Ergo materia prudentiae est omne verum.

(3) Item, Tullius: “Omnis ho​nestas manat ex partibus quattuor, quarum

una sit cognitionis, altera communitatis, tertia ma​gnanimitatis, quarta

moderationis”. Ergo prudentia est cognitionis; omnis autem cognitio est circa

verum; ergo prudentia est circa verum sicut circa materiam.

(4) Item, videtur hoc per rationem, quia dicit Aristoteles in III De anima:

“Sunt autem et ipsius acceptionis differentiae scientia et opinio et prudentia”.

Ergo prudentia est species acceptionis per rationem et intellectum; hoc enim

vocat ibi Aristoteles acceptionem. Omnis autem acceptio per rationem et

intellectum est de vero cognoscibili. Ergo prudentia est de vero cognoscibili,

et sic materia prudentiae erit verum cognoscibile.

[430] (5) Sed contra hoc est, quod dicit Aristoteles, quod scientiae practicae

omnes sunt propter opus; prudentia autem est scientia practica; ergo ipsa est

propter opus.

Item, Philosophus: Finis intelligentiae practicae est opus; prudentia autem

inest homini secundum intellectum; ergo finis prudentiae est opus. Finis

123


autem non consequitur nisi circa materiam operando. Ergo materia

prudentiae est bonum circa aliquod opus inventum.

Item, Tullius in fine I De officiis: “Princeps omnium virtutum illa sapientia

est, quam Graeci sophiam vocant. Prudentia enim, quam Graeci phronesim

dicunt, aliam quandam intelligimus, quae est rerum expetendarum

fugiendarumque scientia. Illa autem sapientia quam principalem diximus,

rerum est divinarum et humanarum scientia, in qua continetur deorum

communitas et societas inter ipsos”. Ex hoc accipitur, quod prudentia non est

idem quod sophia vel sapientia et quod non est circa cognoscibilia

quaecumque, sed circa expetenda ad opus vel fugienda. Ergo materia

prudentiae est bonum ordinabile ad appetitum operis.

Item Tullius ibidem: “Cognitio contemplatioque que naturae manca

quodammodo atque inchoata fit, si nulla actio rerum sequatur”. Ex hoc

accipitur, quod cognitio contemplativa est imperfecta ad rationem virtutis, eo

quod non sequitur ad ipsam actio. Ergo cum prudentia habeat completam ra​tio​nem

virtutis, ipsa non erit manca vel inchoata ut imperfecta ad actionem;

ergo consequitur ipsam actio necessario; ergo erit circa bonum operabile ut

circa materiam.

Item Tullius in fine I De officiis: “Cognitionem prudentiamque sequatur

considerata actio; ita, fit, ut agere considerate pluris sit quam cogitare

prudenter”. Ex hoc accipitur, quod prudentiae cognitio est circa operabilia. Et

non est perfecta prudentia secundum rationem virtutis in cogitando tantum

de vero operabili, sed perficitur per hoc quod agit. Ergo prudentia perfecta

consistit circa actualia.

Item Philosophus in III De anima: “Intellectus, qui propter aliquid

ratiocinatur, practicus est. Differt autem a speculativo fine”. Ergo intellectus

practicus ratiocinatur propter aliquid aliud, quam sit cognitio sua; hoc autem

non est nisi opus; ergo ipse est propter opus et circa ipsum. Com igitur in

intellectu practico sit prudentia, erit prudentia circa opus.

[431] Item, iuxta hoc etiam quaeritur ulterius, quid sit hoc dictum, quod

supra est suppositum et fere ab omnibus usitatum, quod prudentia sit in

ratione, secundum quod consequenter se habet ad voluntatem.

(6) Hoc enim non videtur esse verum, quia prudentia est, ut dicit Tullius,

ut actio discreta sit et prudenter fiat. Cum igitur voluntas sit agens opus,

prudentia erit dirigens ipsum; sed in omnibus dirigens et regens est prius

directo et recto; ergo prudentia anteceden​ter et non consequenter se habet ad

voluntatem.

124


(7) Item, sicut se habet ratio ad concupiscibilem et irascibilem, ita se habet

prudentia ad virtutes alias; sed ratio antecedenter se habet semper ad illas,

quando rectum opus egreditur; ergo et prudentia semper antecedenter se

habebit in omni opere, ergo nunquam consequenter.

(8) Item, dicit Avicenna, quod quando dominatur ratio, egreditur opus

rectum, quando autem voluntas, tunc egreditur opus perversum. Ergo

voluntas nunquam antecedenter se habet a rationem in opere virtutis, sed

semper consequenter.

[432] Ulterius iterum oportet inquiri, si prudentia habet aliquam materiam

per se.

(9) Et videtur, quod sic, quia Glossa super Genesim, quae dicit quattuor

virtutes significari per quattuor flumina paradisi, non dicit, quod aliqua sit,

quae non fluat per terram determinata nisi iustitia tantum. Cum igitur terra

determinata non sit aliud quam materia determinata, videtur, quod

prudentia habeat specialem materiam separatam ab aliis virtutibus.

(10) Item, virtutes speciales sunt a materia determinata specificatae, sicut

fortitudo a passionibus illatis, temperantia a delectabilibus innatis. Ergo

similiter prudentia habebit materiam determinatam.

(11) Item, hoc videmus in multis operationibus, sicut est loqui prudenter et

cautela damni spiritualis vel temporalis iniusti, quae non possunt reduci nisi

ad opus prudentiae. Ergo videtur, quod in talibus habeat materiam specialem.

(12) Praeterea, si diceretur, quod non haberet materiam nisi in aliis

virtutibus, hoc videretur esse superfluum. Probatum est enim supra, quod

omnis virtus est inspectrix sui medii et quod in illo est omni arte certior.

Prudentia autem non esset in illarum virtutum materiam nisi propter

inspectionem medii et certitudinem dirigendi in illud. Cum igitur hoc esset

vanum et otiosum, non erit prudentia propter illud; ergo videtur, quod

prudentia sit virtus habens materiam determinatam.

Sed contra: (13) Prudentia est eligibilium ad opus; iusta autem et casta et

fortia sunt eligibilia ad opus; ergo prudentia est de illis.

(14) Item, sicut se habet potentia ad potentiam, sic habitus potentiae ad

habitum alterius; sed potentia, quae est ratio practica, non habet obiectum

nisi in iustis vel castis vel fortibus; ergo nec habitus rationis aliud obiectum

habebit. Ergo prudentia, cum sit habitus rationis regentis in opere, non

habebit materiam extra materiam aliarum virtutum.

[433] Solutio: Dicendum, quod materiam prudentiae est eligibile ad opus

125


rectum et gratia illius etiam considerat fugibile propter privationem

eligibilitatis ad opus rectum in ipso inventum.

(1) Ad primum ergo dicendum, quod veritas, quod tractat prudentia, est

illa quae determinat veram rationem boni appetibilis vel operabilis. Vera

autem ratio illius determinari habet per rationes iuris et honesti et

expedientis. Sicut enim intellectus speculativus quaedam habet instrumenta

penes se, quibus venit in cognitionem scibilis, quae sunt propositiones primae

et principia, ita habet prudentia et intellectus practicus penes se quaedam

principia boni, quibus venit in rationem boni operabilis et appetibilis, et hae

rationes omnes sumuntur ex parte iuris sive debiti propter honestum et

decens vel propter expediens. Et hoc est verum, de quo loquitur Tullius. Aliis

autem tribus necessitas vitae subiecta est. Communitas enim societatis

humanae et de necessariis ad vitam, eo quod vita hominis per se sola non est

nisi peior, quam potest, ut dicit Philosophus. Necessitas autem privatae vitae

consistit in passionibus innatis et illatis, quae subiciuntur fortitudini et

temperantiae.

(2) Ad aliud dicendum, quod Tullius innuit in verbo illo, quod principalis

materia prudentiae sit in rebus gerendis. Ex quo dicit, quod propter studium

non debet fieri abductio a rebus, quae ge​rendae sunt. Bene autem

concedimus secundum supra dicta, quod prudentia ratione expeditionis ad

actum dupliciter extendit se ad studium etiam aliarum rerum quam

operabilium.

(3) Ad aliud dicendum, quod prudentia sola cum partibus suis inter

politicas consistit in cognitio​ne, sed haec cognitio est ordinata ad opus, et si

ipsa respicit verum, hoc erit contractum ad opus et bonum expediens vel

honestum, quod movet appetitum, ut dictum est. De alio autem vero erit

secundario non propter se, sed propter expeditionem ad actum.

[434] (4) Ad aliud dicendum, quod accipit ibi acceptionem communiter pro

apprehensione intellectus speculativi et practici tam in necessariis quam in

pro​babilibus. Et ideo non sequitur, quod si acceptio habeat materiam omne

verum, quod prudentia etiam habeat hoc pro materia principali, quia

prudentia pars acceptionis est vel differentia et non tota acceptio, sed tota

acceptio est in tribus differentiis divisa ita, quod verum necessarium

ordinatum ad speculationem sit materia vel finis scientiae, verum autem

actuale ordinatum ad opus per rationes boni utilis vel honesti sit prudentiae,

probabile autem in utrisque, scilicet speculativis et operabilibus, sit opinionis.

(5) Rationes autem et auctoritates, quae sunt in contrarium, bonae sunt et

notabiles, quia in illis determinatur vera materia prudentiae, quae est eligibile

126


ad opus per rationes iuris et honesti et utilis, ut dictum est. Penes illas enim

rationes prudentia eligit, quidquid eligit, sicut etiam innuit Apostolus, ubi

dicit: “Omnia mihi licent, sed non omnia expediunt; omnia mihi licent, sed

non omnia aedificant”. Innuit enim Apostolus, quod omne opus electum

debet esse ratione liciti vel ratione expedientis vel ratione aedificantis. Ratio

autem liciti est ratio iuris, quia dicit Augustinus, quod hoc est licitum, quod

nulla lege prohibetur. Expediens autem idem est quod utile. Aedificans

autem habet vicinam rationem cum honesto, quia aedificans est, quod alios

per exemplum invitat ad bonum per aptam rationem boni, quam praetendit.

Et similiter honestum est, quod sua vi trahit et allicit propria et connaturali

sibi dignitate, quam praetendit.

[435] Ad id quod iuxta hoc ulterius quaeritur, quid sit dictum, quod

prudentia sit in ratione consequenter ad voluntatem ordinata, oportet

intelligere, quod omnes virtutes animae rationali quasi formales sunt ad alias

et generales, ut ita dicam, motores inferiorum. Dicit autem Philosophus in III

De anima, et nos supra explanavimus in quaestione “De movente”, quod

“appetitus movet et propter hoc intelligentia movet, quia principium ipsius

appetitivum est, phantasia autem, cum moveat, non movet sine appetitu”. Et

vult ibi ostendere A​ristoteles, qualiter omnes potentiae motivae uniuntur in

appetitu. Igitur in scientia, quae est intelligentiae moventis, primus est

appetitus inclinans ad acceptionem operabilis et consequenter intellectus

accipiens scientiam operabilis vel inquirens et disponens et consilians et etiam

sententians de operabili recto et non recto. Ergo scientia est hic consequenter

ad appetitum. Appetitus autem in rationali voluntas fit, ut dicit Philosophus;

igitur scientia ista et ratio sunt consequenter ordinata ad voluntatem.

Si forte dicat aliquis, quod eodem modo est in omni studio et in omni

scientia, quia ad acceptionem et inquisitionem ipsius non inclinatur aliquis

nisi ex voluntate et consequenter se habet a voluntatem, dicendum, quod

non est verum. In aliis enim scientiis non est acceptio ad operandum vel

appetendum, sed ad sciendum tantum, hic autem fit ad operandum et

appetendum. Et ista scientia est consequenter ad voluntatem ordinata et in

volito sive obiecto vo​luntatis; aliae autem sunt quoad studendi vel

considerandi posterius voluntate, scilicet cum obiectum non est voluntatis

obiectum, sed potius finis intelligentiae speculativae, ut dicit Philosophus.

(6) Ad id autem quod contra obicitur, dicendum, quod non dicitur

antecedere in actu operis voluntas, sed in acceptione scientiae et scibilis,

secundum quod est appetibile; scientia autem accepta et electione tunc ratio

dirigit, ut actio discreta sit, et similiter prudentia; et tunc efficitur ratio

antecedens in opere.

127


(7) Ad aliud dicendum per eundem modum, quod concupiscibilis et

irascibilis principaliores sunt in obiecto et inquisitione ipsius. Quod patet,

quia si quaeratur, quare ratio accipiat scientiam operabilis, dicetur, quoniam

non propter ratiocinari vel scire, sed propter concupiscere vel detestari. Ergo

concupiscibilis et ira​scibilis sunt ut efficiens et finis in acceptione talis

scientiae, ratio autem est ut dux et auriga. Et similiter est etiam de prudentia

in comparatione fortitudinis et temperantiae et iustitiae.

(8) Ad aliud dicendum, quod dictum Avicennae intelligitur de domino

ducis et aurigae in actu, non in inclinatione prima vel in ratione finis in opere,

quia sic ve​rum est, quod dicit.

[436] Ad id quod ulterius quaeritur, si habeat materiam determinatam

prudentia, dicendum, quod materia determinata dicitur tribus modis. Uno

modo dicitur materia determinata per potentiam, cuius illa materia est

obiectum in ratione materiae et obiecti. Et hoc modo nec prudentia nec

iustitia habent materiam determinatam nec aliqua potentia rationalis animae

nec etiam habitus aliquis, qui sit in potentia animae rationalis. Et huius causa

assignata est supra in quaestionibus De anima, quia potentiae animae

rationalis non sunt virtutae affixae organis et ideo non coartantur ad

obiectum unius materiae tantum, sed accipiunt suum obiectum in materia

qualibet. Hoc modo autem materiam determinatam habent duae potentiae,

scilicet concupiscibilis et irascibilis, et duae virtutes, scilicet fortitudo et

temperantia.

Secundo modo dicitur materia determinata non secundum rationem

materiae, sed efficientis in opere, sicut dicitur ars domos faciendi habere

materiam determinatam, quae tamen non tantum est in lignis vel lapidibus,

sed secundum unam rationem est in omnibus quae ad domum exi​guuntur

secundum artem domificandi. Et hoc modo prudentia habet materiam

determinatam, quae non est in aliqua una materia passio​num vel

operationum, sed potius in omnibus appetitui proportionatis, quia appetitus

est efficiens primum in operabilibus, et ideo etiam prudentia ponit actum

suum circa actum et materiam cuiuslibet virtutis.

Tertio modo dicitur materia determinata non per rationem privati boni,

sed communis, secundum quod pertinet ad communitatem conservandam,

ut dicit Tullius. Et haec ratio specialiter est debiti, et haec determinatio est

iustitiae, de qua postea quaeretur.

[437] (9) Ad id autem obicitur de Glossa super Genesim, dicendum, quod

ideo iustitiae non assignatur terra, quam circumeat, quia iustitia multipliciter

128


dicitur secundum rationem debiti. Debitum enim, quod specificat iusti​tiam

ab aliis, non secundum unam rationem est dictum. Non enim una est ratio

obligationis in superiori et inferiori et pari et in Deo et in homine, et tamen

debitum iustitiae est in omnibus statibus istis. Sed una est ratio ardui in

omnibus arduis, quia semper est arduum, cuius difficultas exaltatur super

potentiae robur, et una est ratio delectabilis ad sensum, scilicet quod per se et

connaturaliter movet ad vehementiam delectationis in tactu. Similiter una est

ratio, licet non materiae, efficientis tamen in omnibus eligibilibus ad opus, et

haec est ratio communis boni utilis vel honesti. Et hoc modo prudentia magis

specificata est per rationem quam iustitia, et hoc attendit Glossa. Alio autem

modo iustitia est magis determinata quam prudentia secundum materiam. Si

enim consideretur operabile privatum vel commune, semper est ordinatum

per rationem rectam prudentiae. Unde secundum rationem ducis et aurigae

prudentiae est ponere rationem suae materiae circa quamlibet virtutem,

secundum quod est in opere, et etiam circa opera quaedam voluntaria, quae

non proprie sunt alicuius virtutis. Et hoc non attendit Glossa, sed primum.

(10) Ad aliud dicendum, quod specificatur prudentia secundum talem

rationem materiae, quae determinatur a ratione efficientis proprii et non a

ratione materiae subiectae. Efficientem autem proprium voco efficientem

motum a fine determinato, sicut faber lignorum structura domus movetur, et

appetitus operans motus est intentione honesti vel boni ordinati ad vitam.

(11) Ad aliud dicendum, quod prudentia non tantum ponit discretionem in

operibus aliarum virtutum, sed ponit rationem sui regiminis in omnibus

operibus pertinentibus ad vitam civilem vel monasticam, ut obiectum est.

(12) Ad aliud dicendum, quod aliter inspiciunt aliae virtutes medium et

aliter prudentia, quia aliae sunt ut natura inclinans ad opus, natura autem

non determinat rationem et finem.

Prudentia autem determinat in eis rationem et finem, et ideo etiam nulla

virtus virtus est, si a ratione, quam determinat prudentia, separatur. Quod

patet ex duabus definitionibus virtutis, scilicet quam dat Tullius, quod “virtus

est habitus voluntarius in modum naturae rationi consentaneus” – ratio enim,

cui consentit virtus, est prudentiae ratio – et quam dat Aristoteles, quod

“virtus est voluntarius habitus in medietate consistens determinata ratione,

prout sapiens determinabit”; haec enim deter​minata ratio sapientis est

secundam rationem prudentiae.

[438] Ad ea autem quae obiciuntur in contrarium, etiam oportet

respondere.

129


(13) Dicendum ergo ad primum, quod prudentia habet materiam in iustis

et castis et arduis et etiam in aliis pertinentibus ad discretionem vitae, quia

non habet materiam, inquantum iusta et casta sunt, sed potius inquantum

sunt eligibilia ad vitam civilem vel monasticam.

(14) Ad aliud dicendum, quod ratio ordinat vires inferiores, sed tamen non

dat eis speciem appetibilis. Quod patet ex hoc, quod si daret eis speciem

appetibilis, cum ipsa sit una, oporteret, quod utrique daret speciem unam

tantum et sic efficerentur ambae inferiores unum numero et specie

appetentes, et cum vires penes obiecta distinguantur, efficerentur potentiae

illae potentia una, quod falsum est. Ergo ratio non dat eis speciem appetibilis,

sed tantum ordinat ad electionem appetibi​lium quorumcumque secundum

rationem rectam boni utilis vel honesti. Et hoc facit etiam prudentia in

virtutibus, et ideo non constringitur ad materiam virtutum tantum, sed etiam

extendit se ad alia pertinentia ad vitam virtuosam generaliter.

Art. 4. Quis sit actus prudentiae proprius

[439] Quarto quaeritur, quis sit actio prudentiae proprius.

(1) Dicit autem Basilius in quadam expositione Super principium

Proverbiorum: “Scimus prudentiam unam esse ex gene​ralibus virtutibus, per

quam boni malique gnari efficimur, et si quid horum neutrum est,

comprehendimus”. Ex hoc accipitur, quod actus prudentiae est

comprehendere distantiam boni et mali et neutrius.

(2) Hoc idem videtur per verba Tullii supra posita, scilicet quod prudentiae

opus est, ut actio discreta sit et prudenter fiat.

(3) Praeterea videtur hoc idem per rationem. Omnis enim virtus

denominatur ab eo a quo definitur; prudentia autem definitur ab actu; ergo

ab ipso etiam denominatur. Sed nomen prudentiae nominat actum

discernendi inter bonum et malum et bonum et melius; ergo videtur, quod

discretio talis sit opus eius.

(4) Item, omnis virtus principalis perficit potentiam, in qua est, secundum

actum principalem potentiae, ut supra habitum est de fortitudine et

temperantia; sed prudentia est in ratione; ergo perficit rationem secundum

actum principalem rationis. Sed principalis actus rationis, secundum quod in

viribus motivis ponitur, est pronuntiare discernendo de bono et malo. Ergo

prudentia perficit rationem in comparatione ad actum illum; ergo prudentiae

est actus idem; ergo prudentiae est discernendo pronuntiare, quid bonum vel

malum sit.

Si autem hoc conceditur, vide​bitur esse contra Augustinum se​cun​dum

130


supra dicta, qui dicit, quod prudentia est sagaciter eligens ea quibus

adiuvatur, ab aliis, quibus impeditur. Ergo eligere est opus prudentiae et non

discernere.

Si forte dicatur, quod discernere et eligere sunt unus actus, contra: Multi

optime discernunt, qui pessime eligunt; ergo eligere et discernere non sunt

idem.

(5) Praeterea, videtur prudentia alium habere actum ab utroque istorum.

Dicit enim Glossa super illud Matth. X (16): “Estote prudentes sicut

serpentes”; “prudentes”, inquit, “ut fidem servetis”. Ergo videtur, quod

prudentiae actus est fidem servare et alia bona spiritualia.

(6) Item, hoc videtur per rationem prudentiae saecularis. Dicimus enim

quod “non minor est virtus quam quaerere parta tueri”. Virtus autem haec est

prudentia. Ergo prudentia est in conservando bona, quae habentur; non ergo

actus eius tantum est in discernendis.

(7) Praeterea, per supradictam definitionem Macrobii videtur, quod

prudentiae sit relinquere mundum. Ergo videtur, quod actus eius nec sit

discernere nec eligere nec conservare parta bona, sed potius fugere mundum

et omnia quae sunt in mundo.

[440] Iuxta hoc etiam quaeritur, si prudentia in actu quaerit medium

determinatum sibi sicut alia virtus.

(8) Videtur autem, quod sic. Dicit enim Bernardus: “Noli esse nimis

prudens, sed prudentiae tuae pone modum, sicut non debes esse nimis iustus,

sed iustitiae tuae pone modum”. Constat autem, quod loquitur de modo

medii. Ergo prudentia in actu inspicit medium.

(9) Item, Bernardus in I De consideratione: Prudentia est, “quae modum diu

animi neglecti post habitum et vitiorum invidia quasi in abdictis reclusum et

coopertum quadam vetustatis caligine prior reperit et advertit”. Ergo videtur,

quod medium non tantum est prudentiae, sed etiam principaliter est.

(10) Praeterea, hoc videtur per rationem. Dicit enim Philosophus

generaliter definiens virtutem, quod “virtus est habitus voluntarius in

medietate consistens determinata ratione”. Ergo si aliquis habitus non erit in

medietate consistens, ille non erit virtus. Si ergo prudentia non consistit in

medietate, non erit virtus, quod falsum est; ergo est in medietate consistens.

(11) Item, supra habitum est, quod virtus substantialiter est medium

ipsum. Cum igitur prudentia sit virtus, ipsa erit medium secundum sui

substantiam.

131


[441] (12) Sed contra: In aliis virtutibus, in quibus est medium, illud

medium accipitur penes actum eundem potentiae respectu extremi et

respectu medii. Verbi gratia in temperantia, qui omnes delectationes

sequitur, dicitur incontinens, qui nullus, intemperatus, qui medie, continens

dicitur. Igitur si prudentia habet medium, erit unus actus rationis respectu

illius medii et respectu extremorum. Ergo qui omnia discernibilia discernit et

qui nulla discernit et qui quaedam et quaedam non discernit, habebit

excellentias et diminutionem et medium prudentiae. Sed hoc est contra

Tullium, quia ipse dicit, quod prudentissimus habendus est ille qui de

unaquaque re discernit, ut est.

Praeterea, si haberet medium, oportet, quod haberet malitias se

circumstantes, et quaeratur, quae sint illae. Si dicatur, quod ab una parte

circumstat eam curiositas et ab altera parte stultitia, contra: Non ponitur

medium inter illa in quibus nunquam est dirigere, ut dicit Aristoteles et supra

explanatum est; sed in curiosis nunquam est dirigere; ergo non ponitur ut

extremum alicuius medii.

Praeterea, extrema et medium semper sunt super eandem materiam;

curiositas et prudentia non sunt circa eandem materiam; ergo curiositas non

est extremum ad prudentiam. Prima patet per se, secunda probatur per

dictum Augustini et Bernardi dicentium, quod curiositas est investigatio

eorum quae ad rem et ad nos pertinent. Prudentia autem tantum est de his

quae ad rem et ad nos pertinent.

[442] Item, se habet in medium per se, hoc erit in genere scientiae practicae;

in illo autem genere non habemus nisi appetitum scientiae boni et appetitum

scientiae mali et negligentiam utriusque scibilis. Sed appetitus scientiae boni

bonus est et similiter appetitus scientiae mali, quia dicunt Ambrosius et

Boethius, quod scientia mali bono deesse non potest. Ergo prudentia non

habebit medium in genere scientiae practicae.

Si forte dicatur, quod appetitus sciendi malum, ut vitetur, non est malus,

sed appetitus sciendi malum, ut fiat, est malus et ille est extremum, contra: In

aliis virtutibus extremum non potest bona intentione fieri, eo quod mox

nominatum est malum, ut dicunt Augustinus et Aristoteles. Ergo cum ista sit

virtus illis condivisa, extremum in ista non poterit fieri bona intentione.

Item, appetitus sciendi vel scientia affectata mali, ut fiat, aut est mala, quia

scientia aut quia fit id quod scitur. Si est mala, quia scientia, ergo mala est per

se et semper. Ergo etiam tunc mala est, quando scientia est de malo, ut

evitetur. Si autem est mala, quia fit id quod scitur, ergo opus malum cadit in

ratione mali. Opus malum erit concupiscibilis aut irascibilis et sic cadit extra

132


genus, quod est prudentia, et ita non erit extremum ipsius.

Si forte dicatur, quod Eva peccavit in nimia cupiditate sciendi bonum et

malum, hoc nihil est. Ille enim appetitus fuit non de scibilibus prudentiae, sed

de scibilibus scientae speculativae, eo quod voluit scire sicut Deus, qui

perfectissimum habet scire, quem nihil latet.

[443] Solutio: Dicendum, quod actus prudentiae multiplex est. Quidam

enim actus est ipsius secundum se et quidam est ipsius, secundum quod

imperat motum et opus. Et ille qui est ipsius secundum se, duplex est, scilicet

antecedens, qui est ut dispositio et potentia ad opera virtutum, et

consequens, qui est ut perfectio, prout regentis est perficere. Antecedens

autem est multiplex. Primo enim per rationem accipit operabile, deinde

examinat ipsum per rationes iuris et expedientis et honesti, deinde consiliatur

apud se, qualiter acquiratur vel re​probetur, et deinde ordinat. Consequens

autem actus est electio. Actus autem, quo imperat opus, est sententia de

faciendo. Per omnem enim eundem modum, quo in tractatu De anima

quaestione “De ratione” dictum est de actibus rationis, ita hic dicendum

videtur de actibus prudentiae. Prudentia enim et ratio practica eosdem

habent actus, eo quod ratio actum dat, prudentia autem informat eum per

rationes iuris et expedientis et honesti.

(1) Dicendum ergo ad primum, quod Basilius in sua auctoritate non tangit

nisi actum primum prudentiae, qui est acceptio et examinatio operabilis. Per

hoc enim gnari efficimur, quid bonum et quid malum sit.

(2) Ad aliud dicendum, quod Tullius tangit actum ultimum prudentiae, qui

est sententia de opere per rationes iuris sive liciti, quod idem est, et

expedientis et honesti; per hanc enim sententiam actio discrete et prudenter

fit.

(3.4) Ad duas rationes consequentes dicendum, quod illae non tangunt nisi

actum, qui est consiliatio de operabili; per consilium enim discernendo

pronuntiat, quid rectum aut non rectum sit. Et ideo quidam dicunt, quod

prudentia dicitur quasi prudentia, quia consiliando prodit occultum pertinens

ad opus vel imitando vel fugiendo.

Ad id quod contra dicitur, dicendum quod Augustinus tangit actum

ultimum prudentiae in se consideratae.

Ad id quod contra obicitur, dicendum quod est discernere per habitum

scientiae speculativae, quae tamen expedit actum prudentiae per

conformitatem scibilis, sicut est scientia iuris et philosophiae moralis vel

theologia, et taliter discernentes quandoque male eligunt. Est etiam

133


discernere scientia prudentiae, quae consequenter se habet ad voluntatem. Et

huius signum est, quod illa discretio, semper est propter electionem et opus et

praecedit electionem et opus sicut necessitas ad illa. Et illa discretione

discernens numquam male eligit vel operatur, sicut dicit Sapiens: “Omnia fac

cum consilio et post factum non paenitebis”, et Apostolus: “Omnia probate;

quod bonum est, tenete. Ab omni specie mala abstinete vos”.

(5.6) Ad aliud dicendum, quod eadem discretione qua discernitur bonum

et melius, discernitur etiam conservatio boni et multiplicatio ipsius. Et ideo

Glossa illa non ponit alium actum prudentiae a praehabitis. Per hoc idem

patet solutio ad sequens.

(7) Ad id quod obicitur per de​finitionem Macrobii, dicendum, quod ille

actus est prudentiae, secundum quod coniungitur felicitati, ut prius habitum

est. Actus autem virtutum politicarum secundum statum felicitatis

acceptarum non sumuntur secundum congruentiam materiae vel operis ad

finem ordinati, sed potius secundum condiciones finis. Unde etiam

fortitudinis est fortiter tenere bonum, propter quod subit periculum, et

temperantiae est refici in castitate custodita, et prudentiae vivere bonum,

quod praeelegit. Sed tamen secundum hos actus non determinat de

virtutibus Macrobius, sed potius secundum quod coniunguntur felicitati viae,

quae est perfectio animae secundum perfectam virtutem. Et sic prudentiae

non est discernere, quia discretio non exi​gitur nisi in consiliabilibus et dubiis.

Sed perfecta virtus removet se ab omnibus dubiis et tendit in certitudinem, et

ideo tunc prudentia relinquere docet mundum, in cuius bonis discretio dubia

est, et tendit in contemplationem boni incommutabilis et certi, quod est

Deus.

[445] Ad id autem quod iuxta hoc quaeritur, utrum prudentia in actu suo

attendat medium, sine praeiudicio dico, quod non habet medium. Causa

autem huius est, quia ipsa est virtus logica, non determinans sibi materiam

nisi logice, hoc est secundum rationem, ut prius dictum est. Unde cum omne

medium sit secundum materiam dicti vel facti vel passionis illatae vel innatae,

non determinabit sibi prudentia aliquod istorum mediorum, sed potius

quantumcumque prius erit circumspecta, tanto melior erit virtus. “Omnis

enim scientia a Domino Deo est et cum illo fuit semper et est ante aevum” et

omnis scientia in se bona, nec aliquis nimis prudens esse potest. Unde non est

excellentia in prudentia, quae sit in vitio.

(8) Ad id autem quod contra obicitur per dictum Bernardi, dicendum,

quod beatus Bernardus vocat ibi excessum prudentiae large, qui scilicet

quaerunt scire, quod eis nocet scire vel alii nocet, quod sciatur. Et hoc non est

134


vituperabile nisi per accidens et non, inquantum est scire quoddam. Et hoc

vocatur vitium curiositatis et non est de operabilibus prudentiae, sed potius

est de scibilibus speculativae, licet mala intentione scientia ipsorum quae

taliter sciuntur, acquiratur.

(9) Ad aliud dicendum, quod beatus Bernardus ibi loquitur, qualiter

prudentia invenit modum et medium alterius virtutis, non suum proprium

sicut medium fortitudinis vel temperantiae.

[446] (10) Ad aliud dicendum, quod omnis virtus est habitus voluntarius et

in medietate consistens, si est politica sive civilis. Sed non oportet, quod

eodem modo omnes consistant in medio; sed secundum quod habent

materiam, ita etiam determinant sibi medium. Unde cum logicae virtutes non

sint determinati negotii vel materiae, non habent medium proprium, sed

potius sicut materiam suam, quae est secundum rationem solum

determinata, ponunt circa aliud, quod est in dictis vel factis vel passionibus,

ita etiam habent medium in illis, et hoc est eis per accidens et non proprium.

(11) Ad aliud dicendum, quod substantia virtutis dicitur esse medium, eo

quod virtutis definitio et esse est in medio, licet non eodem modo respiciat

illud. Et ideo prudentiae scientia determinatur in his scibilibus quae habent

medium, licet scientia secundum se medio careat. Et ideo prudentiae

substantiale est medium non per se, sed secundum suum scibile, scibile

autem non propter scitum, ut dicit Philosophus, sed propter opus.

(12) Rationes autem, quae in contrarium adducuntur, concedimus de

plano.

[447] Sed adhuc videtur prudentia habere medium. Est enim unus actuum

suorum diiudicare vel iudicare, et hic habet medium. Quorundam enim

peccata hominum manifesta sunt ad iudicium, quaedam autem latent, et

praecipitur nobis: “Nolite iudicare et non iudicabimini”. Similiter le​viter

credere et tarde credere sunt actus habentes medium, eo quod ambo illi sunt

vituperabiles. Dicitur enim in Eccli. (XIX, 4): “Qui cito credit, levis corde

est”, et e contrario ad apostolos: “O stulti et tardi corde ad credendum”. Cum

ergo isti actus sint rationis, videtur, quod medium in his sit laudabile et erit

prudentiae. Item, Eccli. (XXI, 28): “Labia imprudentium stulta narratio,

verba autem prudentium statera ponderabuntur”. Ergo habet medium

prudentia. Item, in Prov. (X, 19): “Qui moderatur labia sua, prudentissimus

est”.

Solutio: Dicendum, ut prius, quod non per se habet medium prudentia, sed

sicut materiam habet in aliis, ita etiam habet medium et non per se. Et quod

obicitur de iudicio, dicendum, quod credulitas de aliquo est vitium quoddam,

135


quod nascitur ex corruptione alicuius circumstantiarum prudentiae, sed

leviter credere et tarde credere et medio modo se habere in his non dicit

circumstantes malitiae, non esset prudentia nisi in illis; quod falsum est, cum

sit in aliis multis. Unde credere, ut oportet, quaedam pars materialis est

prudentiae, et partes eius secundum materiam determinatam bene habent

medium, sed hoc accidit prudentiae, inquantum immittit se materiae

determinatae, cum tamen ipsa sit virtus logica indeterminati generis.

Ad alia omnia dicendum, quod illa conveniunt prudentiae, secundum quod

immittit se materiae modestiae, quae, ut habitum est, consistit in exterioribus

dictis et factis.

Art. 5. Utrum prudentia sit virtus simpliciter vel multipliciter dicta

[448] Quinto quaeritur, utrum prudentia sit virtus simpliciter vel

multipliciter dicta. Videtur autem, quod valde multipliciter. Dicit enim

Basilius Super principium Proverbiorum in originali: “Tripliciter, ut mihi

videtur, prudentiae nomen intelligentum est. Vel cum quis callide alteri

nocet, ut sibi prosit, videns, quod nisi cum alterius damno sibi consulere non

possit, ut fecit villicus iniquitatis sibi providens domini detrimentis, quod id

prudenter fecisse ipsius domini sententia designatus est.

Vel etiam cum quis nullo suae utilitatis intuitu, sed solum vel irae vel

invidiae vel cuiuslibet alterius mali, quod de pravi ingenii descendit impulsu,

ita alterum supplantat et decepit, ut ipse praeter mali operis effectum nihil

adquirat, sicut serpens primum hominem in paradiso decepisse describitur, in

quo sibi non solum non profuit alterius subversione, verum etiam multam

gravioris condemnationis excepit.

Tertium vero prudentiae genus est, quod sine alterius detrimento sibi

quilibet ac suae astutiae consulit, dum vel quae commoda sunt, diligenter

eligimus vel certe comprehensi in periculis persequentium caput nostrum,

quod est Christus, et quae in eo est, fidem omni cum cautela et observantia

custodimus”. Ed de hoc prudentiae genere dicitur in Evangelio: “Estote

prudentes sicut serpentes”. Ex hoc accipitur, quod prudentia dicitur tribus

modis, scilicet duobus modis in malo et uno modo in bono.

[449] Praeterea, multi alii modi determinantur a glossis sanctorum hinc

inde, qui summatim colligi possunt hoc modo, scilicet quod est prudentia

carnis et prudentia spiritus. De quibus loquitur Apostolus ad Rom. VIII (6),

et dicit Glossa, quod prudentia spiritus est, “cum quis studiose agit spiritualia,

prudentia vero carnis, cum studiosus appetit bona alia et fugit mala vel cum

naturas tantum rerum sequitur, quod est grave peccatum”. Et est glossa

136


Ambrosii.

Item de prudentia apud semetipsum et est prudentia apud proximum. De

quibus loquitur Apostolus ad Rom. XII (16), et dicit Glossa ibi Ambrosii:

“Prudentiam vestram non tantum apud vos, sed magis apud proximos

exerceatis”. Item, ad Eph. III (4) loquitur Apostolus de prudentia sua in

evangelio, et dicit Glossa Hieronymi ibidem: Prudentiam vocat “scientiam in

cognoscendo mysteria Christi, scilicet quod gentes salvantur per ipsum”.

Item, ad Tit. (II, 4) mo​net, ut anus iuvenculas prudentiam doceant, et dicit

ibi Glossa, idest “ut vírus suos ament”, ibidem dicit Glossa, quod prudentia

est “mentis intelligentia”. Super X (16) autem Matth. super illud: “Estote

prudentes ut serpentes”, hoc est ut prae omnibus fidem et caput servetis.

A philosophis etiam invenitur prudentia diversimode accepta. Tullius enim

in libro De officiis dicit, quod prudentia est cuiuscumque veri indagatio vel

cognitio. Aristoteles autem videtur accipere prudentiam pro habitu

cognitionis operabilium, sicut est scientia iuris vel philosophiae moralis.

[450] Oportet autem quaerere de omnibus his acceptionibus.

(1) Videtur autem, quod prudentiae nomen aequivoce dicatur omnino de

tribus modis primo acceptis a beato Basilio. Nihil enim commune est bono et

malo, eo quod, sicut dicit Philosophus, bonum et malum non sunt in genere

uno, sed sunt genera aliorum existentia. Ergo prudentia non dividitur in illa

tria sicut genus unum nec sicut commune secundum rem. Ergo dicitur

penitus aequivoce.

(2) Praeterea, habitus vitii et virtutis habitus non univocantur in uno

proximo; prudentia autem nominat proximum, quia speciei nomen est; ergo

cum duo modi sint vitia et tertius virtus, videtur, quod non dividatur in illa

tria sicut univocum, sed sicut aequivocum.

Sed contra: Aequivoca non imponuntur ab actu eiusdem rationis; ergo

prudentia non aequivocatur in illis. Prima patet per se, secunda patet ex hoc,

quod indagatio subtilis et inquisitio est actus communis in omnibus illis

tribus.

(3) Praeterea, videtur, quod tertius modus non dicat veram prudentiam.

Commoda enim nostra diligenter eligere non est virtutis, sed potius mollitiei

carnalis. Ergo videtur hoc esse vitii et non virtutis.

(4) Praeterea, non videtur virtutis esse astutia, quia astutia sonat in malum.

Cum igitur tertius modus suae consulat astutiae, non videtur esse prudentiae

virtutis, sed vitii.

137


[451] Praeterea quaeritur de alia divisione, quae est, quod alia est prudentia

carnis, alia spiritus. Circa quam divisionem multipli​citer dubitatum est a

praedecessoribus nostris. Est enim dubium, quid sit prudentia spiritus et

quare sive a quo spiritu dicatur prudentia spiritus et utrum idem sit quod

prudentia virtus, et utrum pertineat ad activam vel ad contemplativam; et

iterum dubium est de prudentia carnis, quid sit et utrum idem sit quod

prudentia virtus vel prudentia spiritus.

(5) Circa primum autem dicit Glossa, quod prudentia spiritus est, “cum

quis studiose agit spiritualia”; omni autem virtute studiose aguntur spiritualia;

ergo videtur, quod prudentia spiritus sit omnis virtus.

(6) Item, I ad Cor. II (15): “Spiritualis autem iudicat omnia et ipse a nemine

iudicatur”, dicit Glossa, quod spiritualis homo est, qui intelligit, “quae ad

vitam et iustitiam sufficiunt”. Haec autem videntur facere singulae virtutes in

propria materia. Ergo prudentia spiritus est intellectus spiritualium in singulis

virtutibus ad vitam facientium.

(7) Item, videtur hoc accipi a verbo Apostoli, qui dicit, quod “prudentia

spiritus est vita et pax”; vita autem et pax non acquiritur virtute una aliqua;

ergo prudentia spiritus extendit se ad omnes in quibus est vita et pax.

[452] (8) Praeterea, a quo spiritu dicitur spiritualis? Si enim dicatur

spiritualis a spirito, a quo est ut donum, tunc omnis virtus erit spiritualis. Si

autem a materia, hoc non videtur, quia prudentia, quae est vita et pax, non

potest semper esse de spiritualibus, cum dispositio temporalium ad usum

concessorum etiam pertineat ad vitam.

Si autem dicatur spiritualis, quia perficit animam secundum illam partem

quae spiritus vocatur, contra: Pars animae, quae dicitur spiritus, dupliciter

accipitur. Dicitur enim spiritus secundum Augustinum in XII Super Genesim

ad litteram “vis quaedam mente inferior, in qua imagines rerum

imprimuntur”, et constat, quod ab ista parte animae non dicitur prudentia

spiritus. Nulla enim prudentia est secundum hanc, eo quod sit pars animae

sensibilis, quae vo​cari solet imaginativa sive formalis, nisi forte aliquis dicat,

quod est secundum eam prudentia prophetiae, quae est visio futurorum in

imaginibus. Sed hoc nihil esset, quia prudentia prophetiae non est vita et pax,

cum non sit prophetia donum nisi gratis datum et non gratum faciens.

Praeterea, prudentia illius visionis non est spiritus imaginativi, sed potius

intellectus, quia, ut dicit Dan. (X, 1), “intellectus opus est in visione”. Et ideo

dicit Augustinus, quod imagines in spiritu impressae fulgent in intellectu. Alio

etiam modo dicitur spiritus secundum Augustinus super illud Apostoli:

138


“Renovamini spiritu mentis vestrae”, pars sublimior animae, in qua est imago

Trinitatis impressa, sicut etiam dicit Glossa super illud ad Hebr. (IV, 12):

“Vivus est enim sermo Dei et efficax et penetrabilior omni gladio ancipiti

pertingens usque ad divisionem animae et spiritus”; et dicit ibi Glossa, quod

“novit filius Dei, quo modo sensualitas dividatur a ratione”. Ergo spiritus erit

ratio, secundum quam est imago, et anima erit sensualitas. Si vero ab hoc

spiritu dicatur prudentia spiritus, hoc non videtur, quia secundum hoc esset

perfectio imaginis Dei in anima, et cum idem sit actus potentiae et habitus,

oporteret, quod prudentia spiritus non esset nisi de hoc quod actu ut imago

ducit in exemplar primum, et sic non esset nisi habitus connaturalis de vero

et bono, quod est anima vel quod est Deus; quod falsum est. Ergo videtur,

quod nullo modo possit dici prudentia spiritus.

[453] Praeterea, quaeritur ulterius, utrum ideo sit quod prudentia virtus.

(9) Videtur, quod sic. Prudentia enim virtus est de his quae eliguntur ad

adiutorium vitae; ergo de his est quae sunt vita et pax, et prudentia spiritus

est de eisdem; ergo videtur, quod prudentia virtus et prudentia spiritus sint

idem.

(10) Praeterea, hoc praecipue videtur per definitionem Ma​crobii, qui definit

prudentiam virtutem, quae contemplatione divinorum mundum contemnat.

Hoc enim videtur esse praecipuus actus prudentiae spiritus. Ergo videtur,

quod sint idem.

(11) Praeterea, prudentia spiritus supra prudentia simpliciter non videtur

addere nisi tantum gratiam gratum facientem, quia hoc facit vitam et pacem.

Sed haec gratia non impedit, quin adhuc prudentia sit de eadem materia de

qua fuit prius. Ergo adhuc erit eadem virtus, licet sit ei addita alia perfectio

secundum gratiam.

(12) Item, gratia est perfectio naturae et non destruit perfectio perfectum,

sed potius unitur ei. Ergo habitus gratiae perfectio erit habitus innati ut

suscipiendi per naturam, licet perfectio ipsius sit a doctrina vel assuetudine.

Ergo gratia adveniens non destruit habitum prudentiae, sed unitur ipsi.

Si forte aliquis vellet dicere, quod assuetudo vel doctrina impediunt hoc,

quod non possunt esse unum, quis aliud generationis principium habet

prudentia spiritus, quia Spiritum Sanctum, et aliud prudentia virtus, quia

doctrina vel assuetudinem, contra: Quodcumque expedit ad actum gratiae et

acquisiti habitus, hoc iuvat utrumque et neutri contra​riatur; doctrina et

assuetudo expedit ad acquisitum habitum et ad habitum gratiae, si agere

139


debeat; igitur neutri contrariatur. Ergo potest manere in utroque; ergo etiam

unus habitus cum alio manere potest.

Sed contra: Quod est a nobis et quod est a Deo, non habent unam

rationem boni. Prudentia virtus potest esse a nobis; prudentia autem spiritus

non est nisi a gratia Dei gratum faciente; ergo non sunt idem nec idem

possunt fieri.

[454] Ulterius etiam quaeritur, utrum prudentia spiritus sit de pertinentibus

ad activam vel contemplativam. Et videtur, quod ad contemplativam, quia

aliter inu​tilis esset. Prudentia enim virtus sufficit ad omnia scibilia ad vitam

pertinentia.

(13) Sed videtur, quod prudentia virtus complectatur utrumque, scilicet ad

activam pertinens et ad contemplativam. Super illud enim I Cor. II (14):

“Animalis homo non percipit, quae sunt spiritus Dei. Stultitia enim est illi,

quia spiritualiter examinatur”, distinguit Glossa, quod est “animalis vita et

animalis sensus. Vita animalis dicitur, qui fertur dissoluta lascivia animae

suae, quam intra ordinis metas spiritus rectos non continet. Sensus autem

animalis est, qui de Deo iuxta corporum phantasia vel legis litteram vel

philosophorum rationem iudicat”. Cum igitur per oppositum animalis dicatur

spiritualis, videbitur prudentia spiritus dici quoad vitam et quoad sensum

spiritualitas. Ergo erit activae quoad vitam et contemplativae quoad sensum.

(14) Praeterea, hoc videtur per glossam quandam super illud ad Tit. (I, 1):

“secundum fidem electorum Dei et agnitionem veritatis, quae est secundum

pietatem in spe vitae aeternae”, ubi dicit Glossa, quod “est veritas in libe​ralibus

artibus, quae non pertinet ad christianam religionem, et alia, quae est

secundum pietatem christianae religionis”. De illa autem quae est christianae

religionis, est prudentia spiritus. Cum igitur hoc pertineat ad vitam activam et

contemplativam, videbitur prudentia spiritus esse utriusque vitae.

(15) Praeterea, hoc videtur per dictum Apostoli, qui dicit, quod ipsa est

“vita et pax”. Pax enim et vita non sunt nisi secundum exercitium utriusque

vitae. Ergo prudentia spiritus est utriusque.

[455] Deinde quaeritur de prudentia carnis, quid sit. Dicit enim Apostolus,

quod “prudentia carnis est mors”. Ergo prudentia carnis est mortalis culpa sive

peccatum.

Item, Glossa dicit, quod prudentia carnis est, cum quis diligit bona

temporalia vel studiose agit ea quae carnis sunt. Aut hoc intelligitur de

dilectione, quae non est peccatum, aut de illa quae peccatum est. Si primo

modo, tunc male dividitur contra prudentiam spiritus. Si secundo modo,

140


tunc est mortale peccatum.

(16) Sed contra: Nulla prudentia est in se mala, quia etiam laudavit

Dominus villicum iniquitatis, eo quod prudenter egisset. Ergo videtur, quod

prudentia carnis, inquantum prudentia, non est vitium sive peccatum.

(17) Quaeritur etiam tandem, si prudentia carnis potest fieri prudentia

spiritus vel est idem cum ipsa. Videtur autem, quod sit idem, quia dicit

Augustinus XII De Trinitate, quod cum distribuimus rationem in inferiorem

portionem et superiorem, non de alia quadam et alia natura mentis

definimus, sed eam tantum “per officia geminamus”. Sed sicut differunt

inferior et superior portio rationis, ita differre videntur prudentia carnis et

prudentia spiritus, quia prudentia spiritus est de spi​ritualibus, prudentia

autem carnis est de temporalibus. Ergo videtur, quod habitus ipse in

substantia sit idem.

Sed contra: Prudentia carnis mors est, prudentia autem spiritus vita et pax;

nihil autem unum et idem in substantia potest esse dignum vita et morte;

ergo prudentia carnis non est prudentia spiritus.

[456] (18) Praeterea quaeritur de alia divisione, scilicet quod est prudentia

apud semetipsum et prudentia apud alium. Et videtur dicere Apostolus, quod

apud alios exercere prudentiam debemus et non apud nosmetipsos.

Sed contra: Prudentia secundum supra determinata est eligibilium ad opus

pertinentium; ad opus autem pertinentia sunt ea quae sunt apud nos potius

quam ea quae sunt apud proximum; ergo magis debemus exercere

prudentiam apud nos quam apud proximos.

Praeterea, prudentia non magis attendit ordinem quam caritas; sed

caritatis ordo permittit, ubi mihi sim principalis; ergo multo magis hoc

permittit ordo prudentiae; ergo magis debemus exercere prudentiam apud

nos quam apud alios.

(19) Praeterea quaeritur de alio modo prudentiae, qui trahitur ex verbis

Hieronymi, scilicet quod prudentia est cognitio mysteriorum Christi.

Secundum hoc enim idem est prudentia quod cognitio divinorum per

doctrina et revelationem habitorum. Cognitio autem divinorum est sapientia.

Ergo prudentia est sapientia, quod est contra Tullium, qui dixit in auctoritate

supra inducta, quod sapientia est princeps virtutum secundum Graecos, quae

non est phronesis, quam nos prudentiam vocamus.

(20) Obicitur etiam de alia acceptione prudentiae, ad Tit. (II, 4), scilicet

quod iuvencularum prudentia est, ut viros ament. Hoc enim non est

prudentiae pro​prium, sed potius boni matrimonii, quod dicimur fides.

141


De aliis autem divisionibus, quae sequuntur, supra est obiectum.

[457] Solutio: Dicendum, quod prudentia in omnibus his modis per prius et

posterius dicitur. Principaliter enim dicitur prudentia scientia practica

consequenter ad voluntatem ordinata, ea a quibus adiuvatur, ab his a quibus

impeditur, sagaciter eligens; et haec est una politicarum virtutum. Per

posterius autem vocatur prudentia sagacitas vel sollertia inveniendi bonum

sibi vel simpliciter etiam in quacumque materia et ideo gratia materiae et

affectus adiuncti quandoque accipitur in bono, quandoque in malo.

Ad hoc respiciens Basilius dedit primam divisionem. In qua tres dicti modi

communicant in sagacitate, duo autem modi, scilicet primum et tertius,

communicant in duobus, scilicet sagacitate inveniendi et cognoscendi bonum

sibi, sed in hoc differunt, quod primus accipit bonum sibi secundum sensum

et non rationem, tertius autem accipit bonum simpliciter et non ad sensum,

sed ad rationem.

(1) Ad id ergo contra dicitur, dicendum, quod bono et malo in genere boni

et mali nihil est commune, sed in genere remoto, quod est qualitas, habent

commune, si malum non accipitur ut privatio, sed ut habitus vel actus vitii

vel peccati. Sed tamen in hoc non facimus vim, sed dicendum, quod licet

bonum et malum non univocentur, tamen aliquid potest accidere utrisque ad

illud potest habere nomen commune secundum propositionem ad actum

unum. Accidit enim bono et malo communiter, quod scientia est de ipsis et

rationalis potentia, et haec scientia potest esse proportionalis ad actum unum

indagandi sive investigandi, quod creditur expediens vel simpliciter vel sibi.

(2) Ad aliud dicendum, quod prudentia non sic nominat spe​ciem, quod

nominet eam ex parte materiae determinatae, sed potius imponitur ab actu,

qui est circa quamlibet materiam operabilium, licet non aeque principaliter,

et ideo dici potest communiter secundum prius et posterius.

(3.4) Ad aliud dicendum, quod astutia etiam dicitur per prius et posterius.

Dicitur enim astutia quasi “ad tuta”, quia ad se et ad alia tuta est, eo quod

sollerter ante inquirit de faciendo vel non faciendo. Et ita sumit Basilius; unde

Basilius ibidem Super Proverbia in originali dicit: “Astutia est, sicut etymologia

Graeci nominis ostendit, omnium operum artiumque peritia. Qui ergo

omnium peritiam recipit, astutus est. Opera autem sunt quaedam bona, sunt

autem et mala. Idcirco interdum ad bonum, interdum ad malum astutus

accipitur”. Ex hoc patet id quod prius dictum est, quod astutus dicitur quasi

“ad tutum” per subtilitatem investigationis, antequam incipiat opus.

[458] Ad id quod quaeritur de alia divisione, scilicet quod quaedam est

142


prudentia carnis et quaedam est spiritus, dicendum, quod nec illa prudentia

sumitur aequivoce. Est enim scientia practica consequenter ad voluntatem

ordinata utrique communis, licet una sit de bono, alia de malo et una est in

affectum boni et alia in affectum mali, quod tamen accipitur in ratione boni.

Sed quia accipitur in ratione boni commu​tabilis, cui inhaerere malum est,

ideo prudentia illa est mala, scientia autem naturalis, quae est in utraque

prudentia, non est mala, sed in se bona semper, licet quandoque sit de bono

et quandoque de malo.

(5) Ad primum ergo dicendum, quod vis est in hoc, quod dicit Glossa

“studiose”. Studium enim, ut dicit Tullius, est vehemens applicatio animi ad

aliquid agendum. Hoc autem studium non fit omni virtute, sed illa solum

quae est in ratione et cuius est indagare subtilia circa opus.

(6) Ad aliud dicendum, quod homo spiritualis non a sola prudentia

spirituali spiritualis dicitur nisi secundum quid. Dicitur enim spiritualis, cuius

vita et sensus sunt secundum spiritum. Animalis enim et spiritualis dicuntur

per oppositum; animalis autem dicitur vita et sensu; igitur spirituali dicetur

vita et sensu, et erit vita spiritualis vivens secundum spiritum, ita scilicet

quod carnalitas non appareat in affectu vel opere; sensu autem spiritualis est,

qui sapit spiritualiter et spiritualia, et per spiritualia media. Dico autem

spiritualiter aliquem sapere, quando aliquis affectu vel expe​rimento interiori

experitur scientitiam spiritualem. Spiritualia autem sapit, qui habet notitiam

spiritualium. Per spirituales autem rationes sapit, qui rationibus divinis et non

humanis sentit de spiritualibus. Sunt enim, qui spiritualia per spiritualia

carnaliter sapiunt, ut theologi quidam prudentes eloquii mystici per rationes

divinas in Scriptura inventas. Et sunt qui spiritualia per spiritualia sapiunt

spiritualiter, ut prudentes et affecti in divinis. Et sunt, qui spiritualia

spiritualiter sapiunt, sed non per spiritualia, sicut habentes experimentum de

divinis per interiorem gustum et non habentes scientiam Scripturae. Et hos et

primos vocat Apostolus perfectos, inter quos loquitur Dei sapientiam in

mysterio absconditam, quam nemo principum huius mundi, hoc est

philosophorum, cognovit.

Cum ergo dicit Glossa, quod spiritualis est, qui intelligit, quae ad iustitiam

et vitam sufficiunt, debet intelligi de intellectu, qui est spiritualium

spiritualiter, et haec quidem habet commune cum prudentia virtute id quod

est materiale in utraque, quod est scientia boni et mali. Sed id quod est

formale et affectu, non est idem in utraque et ideo prudentia spiritus maioris

est perfectionis quam prudentia virtus, eo quod ex alio et alio accipiunt scire

suum prudentia spiritus et prudentia virtus politica. Patet etiam, quod hoc

non facit quaelibet virtus in materia propria.

143


(7) Ad aliud dicendum, quod vita et pax spiritualiter dicuntur ubi notitia

pascens ex gustu vitae et pacis. Vel dicatur, ut alii dixe​runt, quod prudentia

spiritus est vita et pax sicut causa vitae et pacis, quae est causa per electionem

et rationem ostendentem. Sed primum magis est secundum intentionem

Apostoli.

[459] Ad id quod ulterius quae​ritur, a quo spiritus dicatur prudentia

spiritus, dicendum, quod dicitur a spirituali materia, ex qua scientiam accipit,

et ab ipso modo accipiendi spiritualiter prudentia spiritus. Et hoc est quod

dicit Ambrosius, quod “prudentia spiritus est, quae studiose agit spiritualia”;

non enim refertur ad studium scientiae, sed potius ad studium experimenti

interiora, per quod sapiunt spiritualia. Et dicitur etiam spiritus a materia, eo

quod est de spiritualibus, hoc est pertinentibus ad spiritualem vitam.

(8) Ad id autem quod contra obicitur, dicendum, quod licet prudentia

spiritus quandoque administret temporalia, non tamen administrat ea

temporaliter, sed potius secundum quod ad spiritualia sunt ordinata, et per

rationes spirituales. Et bene concedo, quod non dicitur spiritualis, quia sit a

spiritu vel spiritus.

Ad id autem quod ulterius quaeritur, utrum sit idem cum prudentia

virtute politica, dicendum, quod nullo modo, nisi forte secundum

convenientiam in eo quod est materiale in utraque, quod est scientia

operabilium. Sed tamen etiam operabilia non cognoscit prudentia spiritus et

operabilia tantum, sed potius ut ad tranquillitatem spiritus ordinata.

(9) Ad id autem quod contra obicitur, dicendum, quod non omnino sunt de

eisdem cognoscibilibus prudentia spiritus et prudentia virtus, quia prudentia

spiritus est etiam de mysticis per experimentum acceptis et de illis est

principaliter. Prudentia autem virtus est de operabilibus per ratio​nes humanas

acceptis, quae sunt rationes utilis vel honesti.

(10) Ad aliud dicendum, quod Macrobius definit prudentiam secundum

actum, quem habet in ordine ad finem, qui est felicitas, et tamen non adhuc

est prudentia spiritus. Quia cum prudentia contemnit mundum Dei

contemplatione, procedit ipsa eligendo adhuc inter bonum et melius et inter

melius et optimum et eligit ipsa optimum et contemnit minus bonum, quod

sui commutabilitate aliquod impedimentum affert ad optimum obtinendum

et hoc totum per rationem communiter in boni comparatione inventam.

Prudentia autem spiritus magis utitur experimento, ut dictum est.

(11) Ad aliud dicendum, quod etiam si prudentia, quae est de quattuor

cardinalibus, accipiatur informata per gratiam, adhuc non erit ipsa prudentia

144


spiritus, quia gratia non addit ei, nisi quod sit grata et opus eius gratum, sed

modum accipiendi operabilia non mutat ei gratia; adhuc enim accipit rationes

liciti, expedientis et honesti. Prudentia autem spiritus haec omnia quasi

supponendo ut non satis perfecta accipit ex experimento divinorum notitiam

spiritualium.

(12) Ad aliud dicendum, quod licet de proposito nostro non sit hinc

disputare, utrum naturalia fiant gratuita, tamen bene concedo, quod politica

virtus vel manet cum gratia vel unitur ei. Et magis videtur, quod uniatur ei.

Licet enim non sit ei proportionata ex parte generantis, tamen proportionatur

ei ex parte materiae et actus, et tunc infusa non erit otiosa, quia facis opus

gratum.

Nec etiam naturalis est otiosa, eo quod tollit ab operante difficultatem,

quod non facit gratia. Et bene concedo, quod gratia non destruit, sed perficit

naturalia bona. Licet autem hoc concedamus, non tamen ex hoc habebitur

propositum, quia, sicut dictum est, prudentia virtus, etiam si sit gratuita, non

erit prudentia spiritus, nisi elargetur vocabulum prudentiae spiritus, et

quaelibet electio eorum quae iuvant ad spiritum, prudentia spiritus

appelletur.

[460] Ad id quod ulterius quaeritur, utrum sit de pertinentibus ad

contemplativam vel affectivam, dicendum, quod pertinet principaliter ad

contemplationem, secundario autem ad actionem. Sonat enim prudentia

spiritus magis in scire quam in agere vel dispositionem agendorum et tamen

operabilia respicit consequenter, ut dictum est.

(13) Ad hoc autem quod obi​citur, quod spiritualis dicitur per oppositum ad

animalem, dicendum, quod hoc verum est, sed etiam ani​malis secundum

Apostolum magis dicitur sensu quam vita; quod patet, quia tangens proprium

animalis tangit percipere, cum dicit “animalis bono non percipit, quae sunt

spiritus Dei, stultitia enim est illi, quia spiritualiter examinatur”.

(14) Ad aliud dicendum, quod veritas, quae est secundum pie​tatem, nec est

veritas prudentiae virtutis nec etiam veritas prudentiae spiritus, sed est tertiae

prudentiae, quae non est virtus, sed est scientia, quae est habitus doctrinae

sacrae et scientiae praedicationis fidei. Unde per illam auctoritatem nihil

probatur.

(15) Ad aliud patet solutio per ante, quia vita et pax magis acci​piuntur hic

per experimentum gustus vel passionis interioris quam alio modo, sicut dicit

Dionysius de beato Hierotheo, quod divina didicit patiendo ea in seipso.

Ad id quod ulterius quaeritur de prudentia carnis, dicendum, quod

145


secundum Apostolum accipiendo prudentia carnis est mortale peccatum non

propter scientiam, sed propter affectum coniunctum illi scientiae. Cum enim

dicatur prudentia carnis per oppositum ad prudentiam spiritus, erit prudentia

carnis scientia carnalis immunditiae per experimentum et affectum accepta,

et non dicetur prudentia carnis per experimentum necessitatis carnis vel

delectationis carnis simplici​ter, sed potius, ut dictum est, quia aliter non esset

mors nec esset ini​mica Deo.

(16) Ad id autem quod obicitur in oppositum, dicendum, quod scientia in

hac prudentia non est nisi materialis et affectus est formalis et antecedens et

ideo propter illum cadit in ratione peccati.

[461] (17) Ad id autem quod ulterius quaeritur, utrum prudentia carnis sit

idem cum prudentia spiritus vel virtutis, dicendum, quod non. Neutri enim

est idem; convenientia enim in materia remota non facit idem. Insuper

prudentia spiritus non cognoscit carnem nisi ut insipiditam et cuius illecebra

non est experienda, et ita cognoscibile per se prudentiae carnis est

cognoscibile prudentiae spiritus per accidens et quasi avertendo se ab ipso.

Hoc idem autem est cognoscibile a prudentia virtute, ut quod detestandum

sit. Et sic patet, quod etiam in parte cognoscibilium non sunt unum ista tria,

scilicet prudentia spiritus et prudentia carnis et prudentia virtus.

Ex praedictis autem forte posset videri alicui, quod non pone​re​mus

prudentia spiritus in genere fructus. Sed ad hoc intelligendum, quod fructus

dicit plus quam gustus experimentum. Non enim qui vina probant vel

pulmenta pigmentant, proprie dicuntur frui cibis et potibus, qua probant et

quorum sapores accipiunt per experimentum, sed potius hi qui in his gustu ut

tactu quodam utuntur et inhaerent eis propter se et dulcedinem convenientis

inventi in ipsis. Sic dicimus hic differre prudentiam spiritus a fructu, quia

prudentia spiritus non nominatur nisi a notitia accepta per experimentum,

sed fructus, quos enumerat Apostolus Gal. (V, 22), nominant refectionem ex

tactu convenientis, quod reficit, et inhaesionem rei sapidae. Unde patet, quod

prudentia spiritus est habitus citra fructum et ultra virtutem politicam vel

etiam infusam, quae non habet plus quam infusionem.

[462] (18) Ad id quod ulterius quaeritur de alia divisione prudentiae, quae

est prudentia apud semetipsum et prudentia apud proximum, dicendum,

quod haec prudentia est specialiter in his quae ad usum sunt concessa, et est

secundum hunc modum, quo prudentia ordinatur et movetur a caritate, quae

est motor generalis omnium virtutum. Cum enim caritas, quae sua sunt, non

quaerat, eo quod communia propriis, non propria communibus anteponit, ut

146


dicit Augustinus, etiam prudentia ordinat, ut non provideat sibi tantum, sed

etiam aliis.

Ad hoc autem quod obicitur, dicendum, quod inclinamur omnes per

naturam corruptam et indigentiam ad nos ipsos, et ideo non oportuit dicere,

ut nobis essemus prudentes, sed potius superfluum prohibere. Et hoc

significat modus loquendi, quia, cum dicit Apostolus “nosmetipsos”, dis​cretionem

notat, quasi dicat: ita, quod nostra prudentia non sit aliorum nec

ad aliorum utilitatem ordinata. Bene tamen conceditur nobis, ut simus

prudentes apud nos sine detrimento aliorum, ut dictum est supra in

auctoritate Basilii. Per hoc etiam patet solutio ad sequens.

(19) Ad id quod ulterius quaeritur de verbo Hieronymi, dicendum, quod

ipse large accipit prudentiam, secundum quod est scientia mysteriorum et

sacrae Scripturae, quae pertinet ad prudentiam spiritus.

Ad hoc autem quod contra obi​citur, dicendum, quod sapientis aliter est de

divinis. Est enim de divinis, quae sunt aeterna et altissima, prudentia autem

est de humanis ad opus pertinentibus vel ad salutem, licet prudentia spiritus

accipiat ea per divina. Unde sapientia et prudentia, secundum quod sunt

morales, differunt in materia nec est prudentia de humanis quibuscumque,

sed de humanis ad opus ordinatis. Et mysteria Christi dicuntur hic, quae sunt

scibilia per evangelium, sicut qualiter gentes salvantur in fide et huiusmodi, et

horum scientia est prudentia evangelii et est habitus moralis.

[463] (20) Ad id quod ulterius quaeritur de alia acceptione prudentiae, quae

est in Glossa ad Tit., dicendum, quod ibi accipitur prudentia proprie, sed in

iuvenculis determinatur in casu eis magis necessario, scilicet ut diligant viros.

Ad id autem quod in contra​rium obicitur, dicendum, quod non est

substantiale fidei matrimonii, sed substantiale est, ut fideles sint in toro. Sed

etiam si poneretur idem actus plurium virtutum esse vel gratiarum, non esset

inconveniens, dummodo ille actus esset communis et non proprius, sicut est

viros diligere. Hoc enim potest esse caritatis ordinatae, secundum quod ex

amore procedit, et potest esse prudentiae, inquantum hoc iuvenculabus ad

custodiam sui et famae praecipue eligibile est ad opus, et est fidei matrimonii,

inquantum praeservat ab amore adulteri dilectio proprii coniugis.

Supra autem de aliis acceptionibus prudentiae dictum est in quaestione

“De definitionibus” et in quaestione “De materia prudentiae”. Accipitur enim

large pro habito moralium intellectivo, qui expedit ad actum prudentiae ex

cognatione materiae illius scientiae cum materia prudentiae. Accipitur autem

pro habitu etiam quocumque largissime, qui etiam operatur ad actum non

147


per materiam, sed per exercitium; exercitati enim in uno facilius etiam in alio

nati sunt videre verum.

Art. 6. An prudentia sit auriga virtutum

[464] Sexto et ultimo quaeritur, qualiter prudentia non tam est virtus quam

auriga virtutum.

(1) Hoc enim videtur falsum. Dicit enim Philosophus, quod “virtus est omni

arte certior”. Ergo non indiget auriga per modum dirigentis.

(2) Item, virtus operatur in modum naturae; natura autem certior in opere

quam aliquid docens; ergo et virtus certissima est in opere, non ergo indiget

docente vel auriga.

(3) Item, ipsa prudentia virtus est. Si ergo auriga est virtutis, erit prudentia

una auriga alterius prudentiae, quod falsum est.

(4) Item, si aliqua dirigit, videtur, quod principalis virtus praecipue dirigat.

Sed principalis est illa quae est circa difficilimum. Haec autem est fortitudo,

ut supra habitum est. Ergo fortitudo principaliter est auriga.

(5) Praeterea, eiusdem est dirigere virtutem, cuius est dare modum, quia

auriga non dirigit, nisi dando modum viae. Sed temperantiae est dare

modum, ut dicit beatus Bernardus. Ergo temperantia est auriga et non

prudentia.

(6) Praeterea, si indigent virtutes auriga, hoc videtur maxime illis convenire

quae sunt in parte rationali animae. Sed secundum hoc non debet esse auriga

iusti​tiae, quia iustitia est in ratione sicut et prudentia.

Sed contra: Omne quod est ope​rabile, prius est eligibile secundum

rationem rectam; sed ratio recte eligens dirigit in opere; ergo virtus, cuius est

per rectam rationem eligere, dirigit in omni opere virtutis. Sed hoc est

prudentiae; ergo prudentia est auriga in omni opere virtutis; ergo non tam est

virtus quam auriga virtutum.

Item, cuiuscumque habitus partes sunt ad omnem circumstantiam operis

discernendam, ille habitus est dirigens et regens in omni opere; prudentiae

partes, scilicet memoria, intelligentia et providentia, sunt ad omnem

circumstantiam operis discernendam; ergo dirigunt in omni opere; ergo

prudentia non tam est virtus quam auriga virtutum.

Item, sicut se habet potentia ad potentiam, sic se habet habitus ad

habitum. Sed potentia, quae est ratio, dirigit ut auriga concupiscibilem et

irascibilem; ergo habitus eius diriget etiam habitus istarum. Sed rationis

148


dirigentis habitus est prudentia, aliarum autem fortitudo et temperantia; ergo

prudentia dirigit fortitudinem et temperantiam.

[465] (7) Iuxta hoc etiam quaeritur, utrum prudentia sit virtus principalis.

Et videtur, quod sic, quia perfectio potentiae principalis debet esse

principalior quam perfectionem potentiarum aliarum; ratio est principalis

potentia; ergo sua perfectio principalior est quam perfectio potentiarum

aliarum. Sed sua perfectio est prudentia, aliarum autem fortitudo et

temperantia. Ergo prudentia principalior est virtus quam fortitudo et

temperantia.

Item, dicit Philosophus, quod in omnibus regens est dignius recto;

prudentia autem est regens; ergo prudentia videtur esse dignior aliis

virtutibus.

Sed contra videtur quod iustitia sit dignissima. Dicit enim Tullius in libro

De officiis, quod officium a communitate iustitiae ductum in omnibus aliis

officiis virtutum dignius est, ergo et virtus dignior est omnibus aliis virtutibus.

Praeterea, quod commune est, semper melius est privato; iustitia autem

respicit communem statum rei publicae; ergo ipsa est principalior et dignior

aliis.

Sed contra videtur, quod fortitudo sit dignior et principalior. Hoc enim est

maxime dignum in ratione virtutis, quod maxime virtutis attingit rationem;

sed ratio virtutis est ultimum potestatis; ergo quae maxime est in ultimo

potestatis, illa erit principalissima virtus. Talis autem est fortitudo, eo quod

ipsa est circa difficilli​mum; ergo ipsa est principalissima virtus.

Praeterea, cuius opus optimum meretur praemium et laudem, illa videtur

esse dignissima; opus autem fortitudinis optimum meretur praemium, quia

martyrii laudem; ergo ipsa est dignissima.

Sed e contrario videtur, quod temperantia sit dignissima. Quaecumque

enim virtus maxime attingit rationem pulchri et decoris, illa est magis honesta

inter ceteras; temperantia est huiusmodi; ergo ipsa est magis honesta, ergo

dignior. Prima patet per se, secunda probatur per Tullium, qui in I De officiis

dicit sic: In temperantia “verecundia et quasi quidam ornatus vitae et

modestia omnisque sedatio perturbationum animi et rerum modus cernitur”.

[466] Solutio: Dicimus cum beato Bernardo, quod prudentia non tam est

virtus quam auriga virtutum. Sicut enim ratio est dirigens inferioris vires,

sicut dicit Philosophus et nos probavimus hoc in tractatu De anima, ita etiam

habitus rationis est dirigens in tota vita et opere habitus aliarum virtutum et

prospiciens, quid rectum vel non rectum sit in omni virtute.

149


(1) Ad primum ergo dicendum, quod virtus quaelibet habet certitudinem

sui actus et medii; sed quae faciant ad actum expediendum vel qualiter

ordinetur ad finem, non considerat virtus aliqua nisi prudentia sola, et ideo

ipsa sola est dirigens.

(2) Ad aliud dicendum, quod hoc verum est, quod virtus ope​ratur ut natura

et ideo non determinat finem et expedienta ad actum sicut nec natura, et

ideo, ut sit perfecta, secundum quod est hominis bonum, oportet cuilibet

adesse prudentiam.

(3) Ad aliud dicendum, quod cum dicitur “prudentia est auriga virtutum”

intelligitur de illis quae respiciunt opera determinata et materias

determinatas. Talis autem non est prudentia; ipsa enim non habet actum, nisi

qui ut regens est ordinatus ad actus aliarum virtutum, et ideo non sequitur,

quod sit auriga sui ipsius, quia sic iretur in infinitum.

(4) Ad aliud dicendum, quod fortitudo dicitur principalis ratione difficilis et

boni, circa quod est virtus, et non ratione directionis. Nihil enim prohibet

multas esse principales secundum diversa.

(5) Ad aliud dicendum, quod temperantia non omnibus virtutibus dat

modum. Et quod dicit Bernardus ad Eugenium, intelligitur de eo quod

appropriatur temperantiae, et non de proprio. In omni enim opere quattuor

sunt, quae appropriari possunt quattuor virtutibus cardinalibus, scilicet

difficile, quod ordinem habet ad fortitudinem, et modus, qui respicit

temperantiam, et utile secundum ordinem ad rem publicam vel debitum,

quod tangit iustitiae similitudinem, et quod omnia haec praecedunt

electionem secundum rationem rectam, et hoc tangit simile cum prudentia.

Sed haec quattuor sunt virtutum specialium proprie, quia non credimus,

quod civiliter loquendo habita una habeantur omnes, sed bene concedendum

putamus, quod quacumque habita habeatur prudentia secundum quid,

scilicet secundum electionem operum ad illam virtutem facientium. Tamen

etsi concedatur, quod habita una habeantur omnes, adhuc non sequeretur,

quod difficile temperantiae esset fortitudinis proprie, quia difficile fortitudinis

quaerit materiam propriam in passionibus illatis, quam non habet difficile

temperantiae. Et idem dico de aliis praeter prudentiam solam, quae proprio

actu immiscet se virtutibus omnibus ut regens et gubernans, et ideo dicitur

auriga. Utrum tamen et qualiter habita una virtute habeantur omnes, infra

erit manifestum in quaestione post tractatum virtutum theologicarum.

[467] (6) Ad aliud dicendum, quod iustitia non est in ratione, secundum

quod ratio convertitur super aliis regendo, sed potius est in ipsis, prout

respicit opus sibi determinatum, quod est ordina​re ad alium secundum

150


rationem debiti. Sic autem indiget ratio regente sicut etiam inferiores

potentiae. Et si obicitur, quod secundum hoc idem regit seipsum, dicendum,

quod hoc non est inconveniens, quia non est secundum idem regens et

rectum, sed est regens inquantum eligens, et est recta inquantum exsequens

debitum alterius.

(7) Ad id autem quod iuxta hoc ulterius quaeritur, dicendum, quod cum fit

comparatio dignitatis inter virtutes, quaelibet potest esse dignior alia

secundum diversos respectus. Unde illa quaestio parum valet. Obiectiones

enim in ea facta nihil inconveniens est omnes concedere, quia quaelibet

earum non concludit dignitatem virtutis nisi secundum quid. Posse tamen

dici, quod si respiciatur id circa quod est ratio virtutis, scilicet difficile et

bonum, tunc duae civiliter loquendo sunt principaliores, scilicet quae est circa

magis difficile, et hoc est fortitudo, et quae est circa magis bonum, et haec

secundum Tullium est commune, quod respicit iustitia, et ideo ipsa quoad

hoc est dignior. Est autem virtus non tantum circa difficile et bonum, sed

circa bonum vitae secundum rationem honesti et pulchri, quod est hominis

bonum, et ideo secundum rationem honesti in vita temperantia tenet

principatum, quia peccata carnalia secundum vitam praetendunt, et ideo

incontinens vituperabilior est timido, ut dicit Philosophus. Si autem

respiciatur bonum hominis, secundum quod est hominis, tunc prudentia

tenebit principatum, quia haec etiam alia bona virtutum facit esse humana.

Et haec de prudentia in communi dicta sufficiant.

151


QUAESTIO II

152


DE PARTIBUS PRUDENTIAE

[468] Deinde quaeritur de partibus prudentiae. Et exsequimur tres

divisiones philosophorum trium, scilicet Tullii, Macrobii et Aristotelis.

Dicit enim Tullius in fine primae Rhetoricae: “Partes prudentiae sunt

memoria, intelligentia, provi​dentia”. Macrobius autem Super somnium

Scipionis dicit: “Prudentiae insunt ratio, intellectus, circumspectio,

providentia, docilitas, cautio”. Aristoteles autem in fine I Ethicorum dicit

intellectuales virtutes esse sapientiam, phronesim et intelligentia.

Art. 1. Quid sit memoria

Quaeritur ergo primo de memoria, quam solus tangit Tullius. Et

quaeruntur duo, scilicet quid sit et de arte memorandi, quam tradit Tullius.

Primo ergo quaeritur, quid sit memoria. Dicit autem Tullius quod “memoria

est, per quam animus repetit ea quae fuerunt”.

(1) Sed videtur, quod memoria secundum hanc diffinitionem non sit pars

prudentiae. Memoria enim, cuius est repetere ea quae fuerunt, pars animae

est et non habitus, ut probatum est in quaestionibus De anima; omnis autem

pars prudentiae habitus est; ergo memoria non est pars prudentiae.

(2) Item, supra habitum est, quod memoria est pars sensibilis animae et non

rationalis per se; prudentia autem est in ratione per se; ergo memoria non est

pars prudentiae.

(3) Praeterea, repetere ea quae fuerunt, est actus vis cognitivae; prudentia

autem moralium habitus est; ergo memoria iterum non est pars prudentiae

virtutis.

(4) Item, omnis directio est in eo quod est vel potest esse; nihil eorum quae

fuerunt, secundum quod fuerunt, est vel potest esse; ergo directio nulla est in

praete​ritis, secundum quod praeterita. Inde procedatur ulterius sic: Omnis

prudentia est dirigens in praesentibus, quae sunt, vel futuris, quae possunt

esse; nulla memoria est in his quae sunt, vel futuris, quae possunt esse; ergo

nulla memoria est pars prudentiae.

(5) Praeterea, repetitio eius quod fuit, aut est per rationem procedentem a

principio determinato aut tantum secundum formas sensibiles. Si primo

modo, tunc repetere, quod fuit, erit actus reminiscentiae et non memoriae, ut

patet ex supra determinatis in tractatu De anima. Si autem secundo modo,

tunc memoria non erit secundum animam rationa​lem et ita non erit pars

153


prudentiae.

[469] Sed contra: Prudentia est cognitio agendorum bonorum et malorum;

cognitio autem haec multum iuvatur ex praeteritis, quia per praeteritum

cognoscit, qualiter se habeat in futuris; ergo memoria erit pars prudentiae.

Item, in decretali quadam dicit papa: “Ex praeterita tua vita didicimus,

quid de futuris praesumere debeamus”. Ergo praeterita memoria dirigunt in

futuris; ergo memoria est pars prudentiae.

Item, dicit Philosophus, quod “virtus intellectualis indiget experimento et

tempore”. Dicit etiam alibi Philosophus in principio Metaphysicae: “Fit autem

memoria experimentum hominibus; multae enim memoriae eiusdem rei

experimenti potentiam perficiunt”. Ergo videtur, quod memoria sit

generativum prudentiae et pars eius.

[470] Solutio: Dicimus, quod memoria est pars prudentiae, quod memoria

cadit in ratione reminiscentiae. Cum enim prudentia eligat ea quibus

adiuvatur, ab his a quibus impeditur in opere, oportet ipsam procedere

inquirendo et sic necesse est eam progredi a principio determinato et per

media probabilia devenire in propositum operabile; et ideo cum proceditur ex

praeteritis, utitur memoria, secundum quod est pars reminiscentiae.

(1) Dicendum ergo, quod re​petere ea quad fuerunt, dupliciter contingit,

scilicet ex potentia, et haec repetitio est in potentia tantum et imperfecta, eo

quod non habeat habitum, unde procedere debet. Et est repetitio ex habitu,

qua repetitur praeteritum, quando vult repetens. Et hanc potest esse in

habitu cognitivo, et tunc est theoretica et potest esse in habitu morali, et tunc

est practica et est virtus pertinens ad prudentiam.

(2) Ad aliud dicendum, quod memoria, secundum quod immiscet se

reminiscentiae, magis est animae rationalis quam sensibilis, quia reminiscentia

est ut syllogismus quidam, ut dicit Philosophus, et ideo tunc est habitus

animae rationalis.

(3) Ad aliud dicendum, quod duplex est memoria, scilicet habitus

cognitivorum et habitus moralium, et hic ponitur pro habitu moralium, ut

dictum est.

(4) Ad aliud dicendum, quod praeterita ut praeterita nihil conferunt ad

dirigendum in praesentibus vel futuris. Sed memoria accipit praeteritum ut

stans adhuc in anima per rationem et effectum, et ideo illud multum confert

ad cautelam futuri. Dico autem stare in anima per rationem, sicut est ratio

boni vel mali, et per effectum, sicut quantum contulit vel nocuit ipsi

operanti.

154


(5) Ad aliud dicendum, quod memoria a Tullio accipitur pro habitu et non

pro potentia. Habitus autem ita non deservit reminiscentiae sicut memoriae

et ideo potius dicitur memoria quam reminiscentia. Memoria enim et

reminiscentia procedunt ex prae​teritum. Praeteritum autem ut praeteritum

non facit habitum nisi memorialem, et ideo ille vocatur memoria a Tullio.

Sunt tamen, qui dicunt secundum Da​mascenum et Gregorium Nixenum,

quod me​-moria est coacervatio sensibilium ex intelligibilium, et ideo dicunt

esse duplicem memoriam, scilicet unam sensibilis animae et alteram

rationalis. Sed hoc non est dictum secundum philosophiam naturalem, quam

Aristoteles tradidit vel aliquis sequens ipsum. Quid tamen nobis de hoc

videatur, expresse invenitur in tractatu De anima.

Art. 2. De arte memorandi

[471] Secundo quaeritur de arte memorandi, quam tradidit Tullius in

secundum Rethorica, libro III in fine.

Quaeritur autem, quid sit artificiosa memoria. Dividit enim Tullius

memoriam in naturalem et artificiosam, et naturalem dicit esse, “quae nostris

animis insita est et simul cum cogitatione nata”. Artificiosam autem dicit esse,

“quam confirmat inductio quaedam et ratio praeceptionis”.

(1) Sed videtur hoc nihil esse, quia naturalem memoriam aut vocat vim

animae, quae memoria est, aut habitum aliquem, quo perficitur vis illa. Si

primo modo, tunc nihil dicit, quia potentia animae non condividitur cum

habitu aliquo et praecipue illius eiusdem potentiae. Artificiosa enim memoria

est habitus et non potest esse habitus nisi potentiae, quae est memoria. Si

secundo modo, tunc non videtur esse naturalis, quia habitus memorabilium

non est connaturalis nobis.

(2) Praeterea, quod dicit “quae nostris animis ingenita est et simul cum

cogitatione nata”, videtur esse oppositio contra bonitatem memoriae

naturalis. Probatum est enim in tractatu De anima, quod bonitas memoriae

est in frigido et sicco, propter quod dicimus me​lancholicos optime esse

memorabiles. In frigido autem et sicco consistit malitia cogitationis, quia

cogitatio est cogitatio et discursus rationis supra memorabilia et ad discursum

rationis operatur bene calidum et molle sive humidum. Calidum enim

vehementer movet ad humidum optime oboedit omni moventi. Igitur

bonitas memoriae naturalis non est cum co​gitatione nata.

(3) Praeterea, quaeritur de hoc quod ipse dicit de memoria artificiosa, quod

confirmat ipsam inductio et ratio praeceptionis, quia hoc est eius qui procedit

a principio determinato inductive vel exemplariter vel enthymematice vel

155


syllogisticae, cum nihil horum sit proprium memoriae, sed potius

reminiscientiae, ut dicit Aris​toteles in libro De memoria et reminiscientia.

(4) Praeterea, quaeritur quae sit differentia inter inductionem et

praeceptionem. Inductio enim fit, cum per singularia omnia probatur

universale, et ita nascitur omnis memoria tam naturalis quam artificiosa. Dicit

enim Philosophus, quod ex multis, in quibus qui non invenitur instantia,

experimento intellectis fit memoria. Ergo omnis memoria fit ab inductione

experimento acceptorum; ergo non est hoc speciale memoriae artificiosae.

(5) Praeterea, ex hoc videtur, quod inutile sit, quod dicit eam fieri ex

ratione praeceptionis, cum sufficiat inductio.

(6) Item, ratio praecepti est ratio principii universalis; sed universale

generatur a memoria, ut dicit Philosophus; ergo generatum a memoria

generat memoriam, quod est impossibile. Ergo male dicit eam fieri a ratione

praeceptionis.

[472] (7) Iuxta hoc ulterius quaeritur de praeceptis, quae tradit, quae

attendenda sunt huic memoriae. Dicit enim, quod oportet in ea praecipue

attendere ea in quibus constat: “Constat autem artificiosa memoria locis et

imaginibus”. Et dicit, quid vocat locos, sic: “Locos appellamus eos qui

breviter, perfecte, insigniter aut natura aut manu sunt absoluti, ut eos facile

naturali memoria comprehendere et amplecti queamus, ut aedes,

intercolumnium, angulum, fornicem et alia, quae his similia sunt. Imagines

autem sunt formae quaedam et notae et simulacra eius rei quam meminisse

volumus, quod genus equi, leonis, aquilae” et huiusmodi quaeratur.

Ergo cum tempus magis sit essentiale memoriae sicut id quod cadit in

definitione ipsius, quam locus, quare non dicit Tullius, quod oportet

attendere tempus, sicut attenditur locus?

(8) Item, locus breviter repraesentans est locus decurtatus, perfecte autem

repraesentans est locus adaequatus rei. Ergo videtur, quod “brevis locus” et

“perfectus” habeant oppositionem circa idem memorabile, et sic unum

dicendo circa aliquid alterum erit falsum.

(9) Praeterea, insigniter repraesentare non videtur convenire loco omnis

memorabilis, quia non quodlibet memorabile fit in loco insigni.

(10) Praeterea, quis est locus memorabilis secundum naturam et quis locus

manu absolutus? Haec enim debent distingui, quod tamen Tullius nec ante

nec post facit.

(11) Praeterea, quaeritur de praeceptis, quae facit observari circa locum, et

156


sunt in universo quinque. Quorum primum est, quod “commodius est in

derelicta quam in celebri regione locos comparare, propterea quod frequentia

et obambulatio hominum conturbat et infirmat imaginum notas, solitudo

vero conservat simulacrorum figuras”. Secundum est, quod “dissimiles forma

atque natura loci comparandi sunt, ut distincte interlucere possint. Nam si

quis multa intercolumnia sumpserit, conturbabitur similitudine locorum et

ignorabit, quid in quo loco collocavit”. Tertium est, quod in “modica

magnitudine et mediocres locos habere oportet. Nam et praeter modum

ampli vagas imagines reddunt et nimis angusti non videntur posse capere

imaginum collocationem”. Quartum est, quod “nec nimis illustres nec

vehementer obscuros oportet habere locos, ne aut obcaecentur tenebris

imagines aut splendore praefulgeant”. Quintum est, quod “intervalla locorum

mediocritas placet esse, fere paulo plus licet pedum tricenum. Nam ut

aspectus, ita et cogitatio minus valet, sive nimis procul removeris, sive

vehementer prope admoveris”.

[473] (12) Quaeritur ergo de his locis. Videtur autem primo, cum ipse

loquitur de facultate reminiscendi, quod nihil valeant loca corporalia, eo quod

reminiscentia procedit a principio rationis. Loca autem corporalia, prout

huiusmodi sunt, sunt in imaginatione.

(13) Praeterea, habitum est in tractatu De anima quaestione “De memoria”,

quod memoria etiam sensibilis animae non tantum conservat imagines, sed

etiam intentiones acceptas ex imaginibus illis. Ergo videtur, quod imagines

loci corporalis non valeant sufficienter, sed deberet etiam tradere artem,

qualiter deveniremus in intentiones abstractas ab illis.

(14) Item, imaginari est imaginationis, quae secundum philosophos est

thesaurus formarum et ideo etiam vocatur formalis. Ergo videtur, quod haec

potius sint imaginationis quam memoriae.

(15) Praeterea, videtur, quod imperfecte tradidit praecepta locorum, in

quibus reponuntur imagines rerum memorabilium, quia multi in memorando

aliis utuntur locis, quam quos determinavit, scilicet solitarium, distinctum,

mediocriter magnum cum mediocribus intervallis. Multa enim quandoque

per contrarias dispositiones locorum memorantur.

Praeterea, ipse Tullius ibidem post pauca subiungit: “Licebit, si hac

prompta copia contenti non erimus, nosmetipsos nobis regiones constituere et

idoneorum locorum commodissimam distinctionem comparare”.

[474] (16) Iuxta hoc etiam ulterius quaeritur de imaginibus in locis dictis

collocandis. Dicit enim Tullius, quod dupliciter debemus habere ad

memorandum similitudines, unas rerum, alteras verborum. “Rerum

157


similitudines exprimuntur, cum summatim ipsorum negotiorum imagines

comparamus; verborum similitudines constituuntur, cum uniuscuiusque

nominis et vocabuli memoria imagine notatur”. Hoc enim quod dicit Tullius,

non videtur esse artis, sed potius impedimentum ad memorandum duabus

rationibus. Quarum una est, quod tot erunt imagines secundum hoc, quot

negotia et verba. Ergo multitudo confundet memoriam. Secunda ratio est,

quia metaphorica minus repraesentant rem quam propria. Si ergo propria in

negotiis et verbis retulerimus ad ima​gines, ut ipse docet, erimus minus

prompti ad memorandum. Ipse enim docet imagines ferre: “Ut si accusator

dixerit ab aliquo reo hominem causa hereditatis vene​natum et huius rei

multos esse testes et conscios”, reponemur in memoria “aegrotum in lecto, qui

est defuncti figura et reum ponemus astare lecto, dextra poculum, sinistra

tabulas tenentem et medicum astantem tenentem testiculos arietinos”, ut

scilicet in poculo sit memoria veleni, quod propinavit et in tabulis memoria

haereditatis sit, quas subscripsit, et in medico figura sit accusatoris et in

testiculis figura testium consciorum et in ariete defensio contra reum in

iudicio. Similiter videtur de ima​ginibus verborum. Facilius enim movent

propria unumquodque quam impropria, et ideo propria verba magis

movebunt memoriam quam metaphorica.

(17) Praeterea, ipse Tullius dicit, quod “cum verborum similitudines

imaginibus exprimere volemus, plus negotii suspiciemus at magis ingenius

nostrum exercebimus; id enim nos hoc modo facere oportebit”. Volumus

enim meminisse horum verborum: “Iam domi ultionem” vel “domum

itionem”, quos melius est, “reges Atridae parant”. In loco enim oportet

constituere manus ad caelum tollentem Domitium, cum a regibus Marciis

loris caedatur; hoc erit “iam domi ultionem reges”. In altero loco Aesopum et

Cimbrum subornari vagantem Ephigeniam, hoc erit “Atridae parant”. Hoc

est, quod imaginemur aliquem qui a regibus Martiis, idest filiis Martis, idest

quod iuvat Mars, deus belli, caedatur loris astringentibus ipsum ad fugam vel

ad ultionem, et quia qui parat se ad aliquid, vagatur, constituemus vagantes

Ephigeniam subornari Aesopum et Cimbrum. Haec enim verba metaphorica

sunt et obscura non facile memorabilia.

[475] (18) Ulterius etiam quaeritur de praeceptis, quae dat Tullius de

imaginibus collocandis in locis dictis. Dicit enim Tullius, quod “loci cerae aut

cartae simillimi sunt, imagines litteris, dispositio vel collocatio imaginum

scripturae, pronuntiatio autem lectioni”. Hoc enim non videtur. Litterae enim

paucae sunt secundum numerum elementorum et secundum diversas

ordinationes exprimunt, quidquid venire debet in locutionem, sicut dicebat

Democritus in comoediis et tragoediis accidere, sed imagines oportet multas

158


habere valde vel non expriment rem in proprio genere.

(19) Si forte dicatur, quod sufficiunt imagines paucae, hoc erit etiam contra

Tullium, quia in supra dictis exemplis apparet, quod oportet habere proprias

rerum similitudines.

(20) Praeterea, Tullius docuit quales debeamus assumere locos et similiter

docet, quales imagines oportet quaerere, scilicet ut “constituamus quam

maxime notatas imagines similitudinum, sed non multas nec vagas, sed

aliquid agentes imagines ponemus; si egregiam pulchritudinem aut unicam

turpitudinem eis attribuemus, si aliquam rem exornabimus, ut si coronis et

veste purpurea, quo nobis notior sit similitudo; aut si quam rem

deformabimus turpem, ut si cruentam aut caeno oblitam aut rubrica

delibutam inducamus, quo magis insignita sit forma, aut si ridiculosas res

aliquas imaginibus attribuemus. Nam ea res quoque faciet, ut facilius

meminisse possimus”. Ex hoc patet, quod non sufficit habere numerum

determinatum imaginum, ut secundum diversum ordinem exprimant nobis

singula, sed oportet habere multa, et hoc non erit minoris difficultatis recolere

quam ipsa negotia vel universalia. Ergo praecepta Tullii erunt inutilia.

[476] (21) Praeterea, etiam ipse Tullius dicit, quod in ima​ginibus, ut per eas

memoremur, indigemus duobus, scilicet stu​dium et ut raras et inusitatas,

quae quasi mirabiles sunt, imagines nobis constituamus. Et tangit causam

utriusque horum dicens de primo sic: “Sed haec imaginum conformatio tum

valet, si naturalem memoriam exsuscitaverimus hac notatione, ut versu posito

ipsi nobiscum primum transeamus bis aut ter eum versum, deinde cum

imaginibus verba exprimamus”. Item, ibidem: “Naturae suppedi​tabit

doctrina; nam utraque altera separata minus erit firma, ita tamen quod multo

plus in doctrina atque in arte praesidii sit”. Causam autem secundi tangit

dicens: “Docet nos ipsa natura, quid in memoria oporteat fieri. Nam si quas

res in vita videmus parvas, usitatas, cotidianas, eas meminisse non solemus,

propterea quod nulla nisi nova aut admirabili re commovetur animus; at si

quid videmus aut audimus egregie aut ho​nestum aut turpe in homines, tum

inauditum, magnum, incredibile, periculosum, id diu meminisse

consuevimus”. Item, ibidem: “Res, quas ante ora videmus aut audimus,

obliviscimur plerumque; quae autem acciderunt in pueritia, meminimus

optime saepe; nec hoc alia de causa potest accidere, nisi quia usitatae res

facile a memoria elabuntur, insignes et novae diutius in animo manent”. Item,

ibidem: “Docet ergo se natura vulgari et usitata re non exsuscitari, novitate et

insigni quodam negotio commoveri. Imitetur igitur ars naturam et quae ea

desiderat, inveniat, quod ostendit, sequatur. Nihil enim est, quod aut natura

extremum invenerit aut doctrina primum, quia rerum principia ab ingenio

159


profecta sunt et exitus disciplina comparantur”. Ex his omnibus patet ad

memoriam artificialem exigi studium in imaginibus et negotiis et verbis et

etiam insuper, ut sint imagines rarae et insignes, et ita videtur, quod non sint

determinatae imagines, quibus utamur ad omnia memorando, sicut utimur

litteris ad omnia significando per scriptum. Si propter hoc dicatur, quod

debent esse imagines multae sicut negotia et verba, contra dicit Tullius in

eodem libro ante finem de bonitae memoriae: “Scio plerosque Graecos, qui

de memoria scripserunt, fortasse ut multorum verborum imagines

conscriberent, uti qui ediscere vellent, paratas haberent, ne quid inquirendo

consumerent operae; quarum rationem aliquot de causis improbamus”. Et

ponit in universo sex causas, quare male dixerunt. Quarum prima est sic

posita a Tullio: “Primum, quod verborum immemorabili mul​ti​tudini imagines

comparare ridiculum est. Quantulum enim haec poterunt valere, cum ex

infinita verborum copia modo aliud meminisse nos verbum oportebit?”.

Secunda causa est, quia “cur volumus ad industria quemquam removere, ut

ne quid ipse quaerat, cum nos illi omnia parata quaesitaque tradamus?”.

Tertia est, quia “similitudine alius alia magis commovetur. Nam ut saepe,

formam, quam similem cuipiam dixerimus esse, non omnes habemus

assentatores, quia alii videtur aliud, idem in imaginibus, ut quae nobis

diligenter notae sint, hae parum videantur insignes aliis; quare sibi quemque

suo commodo convenit imagines comparare”. Quarta causa est, quia

“praeceptoris est docere, quemadmodum quaeri quidque conveniat, et unum

aliquod aut alterum, non omnia quae eius generis erunt, ut cum de proemiis

disputamus, rationem damus quaerendi, non mille proe​miorum genera

conscribimus. Idem arbitramur de imaginibus fieri convenire”. Quinta causa

est, quia cum sit duplex memoria, scilicet rerum et verborum, “ne nimis

difficilem memoriam faciamus, contenti sumus rerum memoria”, ne pluralitas

verborum confundat memorantem. Sexta et ultima causa est, quia

exercitium in memorandum verba non habemus, nisi ut hat facile res

memorari, scilicet “ut exercitio rerum memoria nobis confirmetur, quae sola

pertinet principaliter ad utilitatem. Sed cum in omni disciplina infirma sit

artis praeceptio sine summa assiduitate praeceptionis, tum in memoriis

minimum valet doctrina, nisi industria, studio, labore, diligentia

comprobetur”.

[477] Solutio: Dicimus, quod ars memoriandi optima est, quam tradit

Tullius et praecipue in memorabilibus pertinentibus ad vitam et iudicium, et

illae memoriae praecipue pertinent ad ethicum et rhetorem, quia cum actus

humanae vitae consistat in particularibus, necesse est, quod apud animam sit

per imagines corporales; in imaginibus autem illis non permanet nisi apud

memoriam. Unde dicimus, quod inter omnia quae spectant ad prudentiam,

160


summe necessaria est memoria, quia ex praete​ritis dirigimus in praesentibus

et futuris et non e converso. Quod autem summe sit necessaria memoria,

probat Tullius tali ratione dicens: “Non enim sicut in ceteris studiis

abducimur nonnunquam occupatione, ita (a) memoria non potest causa

abducere aliqua. Nunquam enim est, quin ali​quid memoriae tradere velimus

et tum maxime, cum aliquo maiore negotio detinemur. Quare cum sit utile

facile meminisse, non te fallit, quod tanto opere utile sit, quanto labore sit

appetendum, quod poteris existimare utilitate cognita”. Dicimus ergo cum

Tullio, quod memoria pertinentium ad vitam et iustitiam duplex est, scilicet

naturalis et artificialis. Naturalis est, quae ex bonitate ingenii deveniendo in

prius scitum vel factum facile memoratur. Artificialis autem est, quae fit

dispositione locorum et imaginum, et sicut in omnibus ars et virtus sunt

naturae perfectiones ita et hic. Naturalis enim perficitur per artificialem. Hoc

tamen notandum, quod in omnibus istis memoria posita sit pro reminiscentia,

sicut supra determinatum est.

[478] (1) Ad hoc ergo quod primo quaeritur, dicendum, quod naturalem

memoriam vocat Tullius potentiam perfectam per habitum naturalem et non

absolute vim animae. Dicuntur enim naturaliter memores, qui hoc habent

per naturam vel totum vel fere, quod alii habent exercitio artis memorandi,

sicut locuti sunt philosophi de intellectu sancto, qui omnia intelligit per

seipsum. Et haec memoria bene potest condividi habitui, eo quod ipsa sit

potentia habitualis.

(2) Ad aliud dicendum, quod memoria posita est pro reminiscentia, et ideo

bonitas eius sequitur magis bonitatem ingenii quam bonitatem memoriae, eo

quod reminiscentia utitur ratione et ingenio procedendo a principiis

determinatis uno vel pluribus in prius acceptum. Et ideo illa ob​ie​cto non

procedit.

(3) Ad aliud dicendum, sicut saepius habitum est, quod memoria pro

reminiscentia a Tullio posita est, quia cum reminiscentia non est sine

memoria, ideo etiam bonitas memoriae ad reminiscentiam operatur.

(4) Ad aliud dicendum, quod memoria est considerata duplici​ter, scilicet ex

parte obiectorum sive habitus ex illis obiectis relicti, et sic verum est, quod

omnis memoria generatur ab inductione. Consideratur autem memoriae

facilitas in actu memorandi et re​tinendi memorabile, et sic memorari est ut

subiectum quoddam huius artis quae ars memorandi dicitur, et sic non

generatur tantum ab inductione, sed a praeceptionibus multis principiorum

ad hoc facientium. Sunt tamen haec duo in genere facientia eam, scilicet

inductio ex parte imaginum et praeceptio ex parte principii, unde progredi

161


incipit in actu memorandi. Sicut enim dictum est in quaestione “De

reminiscentia”, reminiscentia incipit progredi a principio determinato in

acceptum prius vel in partem obliti. Unde necesse est, quod apud animam sit

id ex quo procedit, et id in quod procedit. Ex quo autem procedit, est

principium, quod Tullius vocat praeceptiones. In quod autem procedit, sunt

ima​gines, quae sunt apud animam per modum litterarum, ut dicit Tullius.

(5) Per hoc etiam patet solu​tio ad sequens, scilicet quod praeceptio non est

inutilis ad memoriam.

(6) Ad aliud dicendum, quod praeceptio generatur ex memoria ex parte

memorabilium prius acceptorum, sed iuvat ad ipsam, secundum quod per

actum memorandi redit in ipsum memorabile, et sic nihil prohibet generare

memoriam, quos prius genitum est ab ipsa.

[479] Ad id quod iuxta hoc quaeritur de praeceptis, quae tradit Tullius,

dicendum, quod optima sunt, sicut ipse dicit, et unum illorum accipitur sicut

principium, a quo primo procedit res memorabilis in reminiscentiam, quia, ut

dicit Boethius, omne particulare in aliquo loco fit vel est. Sed tamen locus hic

accipitur a Tullio, quem sibi facit anima ad reservationem imaginis, et hoc

ideo contingit, quia cum reminiscentia non habeat thesaurum nisi memoriam

solam et reminiscentia sit animae rationalis, oportet, quod id quod est

rationis, reservetur in imaginibus corporalibus. Cum autem id quod est

rationis, non per proprietatem sit in corporalibus imaginibus, oportet, quod

sit ibi per similitudinem et translationem et metaphoram, sicut ad laeta locus

similitudinarius est pratum et ad debilitatem infirmaria vel hospitale et ad

iudicium consistorium et sic de aliis. Et sic loquitur de loco Tullius. Imago

autem servit memoriae sicut similitudo appropriata sententiae memorandae

per singula, sicut postea patebit in exemplis, quae posuit Tullius.

(7) Ad hoc autem quod obicitur de tempore, patet de facili solutio, quia

cum tempus omnis memorabilis sit praeteritum, tempus non distinguit

memorabilia et ita non ducit potius in unum quam in alterum. Locus autem

praecipue solemnis distinguit per hoc, quod non omnium memorabilium est

locus unus, et movet per hoc, quod est solemnis et rarus. Solemnibus enim et

raris fortius inhaeret anima, et ideo fortius ei imprimuntur et fortius movent.

(8) Ad aliud dicendum, quod brevis sive curtus locus vocatur a Tullio non

proprius nec etiam minor quam imago rei repositae, sed potius in quo non

distenditur ani​ma transeundo per spatia imaginaria, sicut est campus vel

civitas, sed curtus est locus, quando anima statim transvolat angulos ipsius

deprehendendo imagines in eo reconditas. Et per hoc etiam patet solutio ad

sequens, quia breve et perfectum non contradicunt, sed potius breve impedit

162


mentis evagationes, perfectum autem iuvat ad totam rem memorandam.

(9) Ad aliud dicendum, quod insignis locus plus movet animam, et licet non

omne memorabile fiat in loco insigni, tamen omne memorabile reponi habet

in similitudine loci insignis; sic enim hic accipitur locus, ut dictum est.

(10) Ad hoc quod postea obi​citur, dicendum, quod Tullius per exempla

innuit differentiam inter loca naturalia et quae manu absoluta sunt. Pratum

enim est locus naturalis, aedes autem vel intercolumnium est locus manu

absolutus.

[480] (11) Ad id quod ulterius quaeritur de praeceptis locorum, quae tradit

Tullius, dicendum, quod quinque sunt, ut ipse dicit, praecipue facientia ad

memorandi bonitatem, et omnes accipiuntur, secundum quod prohibent

confusionem in memorando. Aut enim confusio generatur ex parte loci vel

locati vel eius quod actu visibilem facit locum et locatum. Et si confusio est ex

parte locati, tunc erit primus modus, quia locus, in quo est frequens

obambulatio, multas ingerit imagines, et ideo confringunt se in anima et non

manent, sicut undae multae confringunt se in aqua. Si autem est ex parte loci

tantum, hoc est tribus modis, secundum quod refertur ad locatum. Est enim

distinguens locatum ab alio, secundum quod est propius, et sic accipitur

praeceptum secundum. Est etiam rei adaequatus et continens, et sic accipitur

tertium. Est iterum spatium rei, quo accipitur vicinitas vel remoto unius

locati ad aliud, et quoad hoc accipitur praeceptum quartum. Si autem est

penes id quod utrumque facit actu visibilem, tunc est obscurum vel clarum,

et clarum quidem confundit visum et ideo fugat a se animam et non fortiter

imprimitur, obscurum autem non sufficienter repraesentat et ideo iterum non

multum imprimitur imaginanti. Et sic patet, qualiter per divisionem

praecepta accipiuntur.

(12) Ad id autem quod contra obicitur, patet solutio per ante dicta, quia

licet reminiscentia insit secundum rationalem animam, tamen sibi subservit

memoria, et ideo conferunt ad loca imagi​nabilia.

(13) Ad aliud dicendum, quod intentiones, quas conservat memoria, non

sunt absolutae a particularium imaginibus, ut ibidem est probatum. Et ideo

intentiones illae simul cum imaginibus accipiuntur, et ideo non oportet

praecepta specialia habere ad illa.

(14) Ad aliud dicendum, quod imaginatio sub ratione imaginabilis,

secundum quod dicit Philosophus, proprie deservit memoriae, quia dicitur

imaginatio ab imitando rem, eo quod in rem ducendo faciat nos rem imitari,

et hoc est, quando per ipsam in rem devenimus, quam prius accepimus.

Imaginatio autem, quae magis proprie dicitur formalis, illa continet

163


imaginem, secundum quod est a re in nobis accepta, et ideo magis proprie

continet eam, secundum quod est forma, quam imago. Propter quod etiam a

philosophis formalis vocatur.

(15) Ad aliud dicendum, quod non tradidit imperfecte; qui enim accipit

locum, necesse est, quod sub his differentiis accipiat. Sed vult dicere Tullius,

quod alii et alii diversa ponunt sibi loca, quae scilicet magis movent eos. Alii

enim ponunt templum ut conversati in templis, alii intercolumnium, alii

pratum, alii hospitale, quia ex his magis moventur; tamen necesse est, quod

sub his differentiis quinque quilibet suum locum accipiat, quia aliter non

generabit memoriam, sed confusionem mentis, quae obli​vionem inducit.

[481] (16) Ad id quod ulterius quaeritur de imaginibus rerum et verborum,

dicendum, quod in veritate imagines illae multum conferunt ad memoriam et

explanandae sunt, sicut in obiciendo exemplificatae sunt.

Ad id autem quod contra obicitur, dicendum, quod propria sunt multa,

sed translative dicta sunt pauca ad multa habentia similitudinem, ideo licet

propria magis certificent de re, tamen metaphorica plus movent animam et

ideo plus conferunt memoriae.

(17) Ad aliud dicendum, quod mirabile plus movet quam consuetum, et

ideo cum huiusmodi imagines translationis sint compositae ex miris, plus mo​vent

quam propria consueta. Ideo enim primi philosophantes transtulerunt se

in poesim, ut dicit Philosophus, quia fabula, cum sit composita ex miris, plus

movet. Et hoc patet ex hoc, quod “ex admirari a primis et a posterioribus

tunc et nunc inceptum est philo​sophari”, quia mirum vehementi motu suo

facit quaerere, et tunc surgit investigatio et reminis​centia.

(18) Ad id quod ulterius quaeritur de praeceptis imaginum negotiorum et

verborum, dicendum, quod metaphorica uno plura certificant, eo quod

multae sunt similitudines unius et ideo sunt sicut litterae, sed verum est,

quod propria sunt multa et confusa.

(19) Ad aliud dicendum, quod Tullius vocat proprias imagines, quae

expressis et notabilibus similitudinibus certificant et non quae singulares sunt

singula​rium.

(20) Ad aliud dicendum, quod in enumeratione tangit Tullius ea quae

fortiter movent et non quae propria sunt; quae enim fortiter movent, diutus

adhaerent animae et citius occurrunt.

(21) Ad aliud dicendum, quod Tullius docet, quod studio indigemus ad

hoc, quod adhaereat proprium animae et etiam ut applicetur proprium

metaphorice, sed tamen hoc studium non facit sufficienter recolere, eo quod

164


nimia sunt propria et unum delet aliud. Et ideo exigitur ars memorandi per

pauca praecepta locorum et imaginum. Per hoc autem patet solutio ad totum

quaesitum, et hoc quod Tullius obicit in contrarium, plane et concedendum.

Art. 3. De intelligentia

[482] Deinde quaeritur de intelligentia, et quaeritur unum solum, scilicet

quid sit, secundum quod cadit in rationem partis virtutis, quae est prudentia.

(1) Definit autem eam Tullius sic dicens: “Intelligentia est, per quam

animus prospicit ea quae sunt”. Sed secundum definitionem videtur

intelligentia esse habitus intellectus speculativi, quia illa pars prospicit ea quae

sunt. Cum igitur habitus talis non sit virtus, videbitur intelligentia non esse

virtus vel pars virtutis.

(2) Item, intelligentia videtur esse simplicior secundum rationem sui

nominis quam intellectus. Ergo videtur etiam esse de simpliciori. Cum igitur

intellectus sit circa verum principiorum, ut dicit Philosophus, videbitur

intelligentia esse circa verum, quod est principium principiorum, quod est

Deus. Ergo videtur, quod intelligentia non prospiciantur omnia quae sunt, sed

tantum Deum, et ex hoc ulterius concluditur, quod non sit pars prudentiae,

per quam considerantur agenda.

(3) Item intelligentia simplicior est quam ratio. Ergo cum prudentia sit

rationis, intelligentia altioris potentiae erit, quam ratio sit, et sic iterum non

erit pars eius.

(4) Praeterea, cum dicit Tullius “per quam prospicit ea quae sunt”, videtur

inconsequenter et improprie dicere. Est enim prospectus proprie futurorum,

ut dicit Augustinus in libro De Civitate Dei. Ergo male coniungitur verbum

prospiciendi cum his quae sunt, sed deberet poni in definitionem

providentiae cum his quae erunt.

(5) Item, nihil videtur esse, quod dicit “ea quae sunt”. Intellectus enim non

considerat differentiam temporis aliquam, sed abstrahit ab omni differentis

temporis, ut probatum est in tractatu De anima rationali. Ergo non magis

prospicit ad ea quae sunt, quam ad ea quae erunt.

Praeterea, sensus est eorum quae sunt, ergo non intellectus.

(6) Praeterea, quaeritur iuxta hoc, quare Tullium non tradidit nobis artem

intelligendi ea quae sunt, sicut tradidit artem memorandi ea quae fuerunt.

[483] Solutio: Dicendum, quod intelligentia virtus est logica et intellectualis,

potestativa autem pars prudentiae. Intelligentia enim est discretio et lumen,

quod nascitur in animo ex penetratione subtili eorum quae circumstant

165


praesens negotium. Et hoc enim prudens efficitur potens ad eligendum id

quod est et operandum vel fugien​dum. Unde patet, qualiter complet

secundum aliquem modum potestatem prudentiae et ita est pars ipsius.

(1) Ad id ergo quod primo obicitur, dicendum quod intelligentia prout a

Tullio accipitur, non est habitus speculativae partis animae. Contrahitur enim

per hoc, quod in definitione ponitur animus. Animus enim proprie sonat

partem practicam, quae movet et operatur, et ideo intelligentia sic dicta est

pars practicae. Aliter etiam prospicit speculativa ea quae sunt, et aliter

intelligentia practica. Speculativa enim accipit ea quae sunt, idest ea quae

vera sunt, non sub ratione praesentis vel alicuius differentiae temporis, sed

practica accipit ea quae sunt, idest ea quae in praesenti sunt, idest quae

negotium praesens circumstant, et ideo aequivocatio est in his “quae sunt”,

hic et ibi.

(2) Ad aliud dicendum, quod intelligentia non accipitur hic ut nomen

denominativum per abstractionem dictum ab intellectu, sed dicitur in

comparatione ad memoriam et providentiam. Illae enim ex his quae sunt

apud animam, conferunt de praeteritis vel futuris vel e converso, sed

intelligentia ea quae habet, non comparat ad aliud, et ideo minoris est

comparationis et compositionis, in actu intelligentia quam memoria vel

providentia, et ideo simpliciorem in comparatione illa habet

denominationem. Et ita patet, quod non procedit illa obiectio.

[484] (3) Ad aliud dicendum eodem modo, quod scilicet simplicitas

denominationis eius non est ab hoc, quod comparetur ad rationem, sed potius

quod comparetur ad eas quae secum di​vidunt prudentiam, ut iam dictum

est. Et ideo intelligentia non est sine collatione praesentium, quod exigitur ad

hoc, quod sit rationis habitus, sed ex praesentibus non convincit de aliis, quae

sunt extra praesens, et ideo simplicem hoc denotantem habet

denominationem.

(4) Ad aliud dicendum, quod intelligentia, secundum quod est pars

prudentiae, regit in opere ex consideratione praesentium in negotio. Ergo est

ante opus et electionem, et ita suum est prospicere, licet non adeo longe sicut

providentiae. Et hoc notat Tullius ex proprietate loquendi in verbo

prospiciendi.

(5) Ad aliud dicendum, quod intelligentia speculativa abstrahit ab omni

differentia temporis, ideo quod ipsa est de universali; sed de universali non est

intelligentia practica, sed potius de actuali, quod circumstat negotium. Cum

hoc ergo sit particulare et particulare coniunctum sit tempori, non abstrahet a

tempore nec a diffe​rentia temporis, cuius signum est, quod tempus est una de

166


circumstantiis negotii, penes quam accipitur locus rhetoricus, ut supra

probatum est in quaestione De circumstantiis. Unde patet, quod intelligentia,

prout hic accipitur, a temporis differentia non abs​trahit.

(6) Ad id quod iuxta hoc quaeritur, dicendum, quod ea quae praesentia

sunt, actualiter suas faciunt impressiones in anima et ideo tenere non est

difficile. Cum igitur ars non sit nisi de difficili et bono, ut dicit Philosophus,

patet, quod non debuit tradi ars de intelligentia, sicut fiebat de memoria.

Sciendum autem, quod diffe​rentia intelligentiae a dono Sancti Spiritus,

quod intellectus vocatur, infra in tractatu De donis habet determinari, quia

non posset de facili sciri differentia, nisi sciretur, quid esset et circa quid

utrumque ipsorum.

Art. 4. De providentia

[485] Consequenter quaeritur de providentia, et quaeritur unum tantum,

scilicet quid sit, quia ex illo sufficienter cognoscentur etiam illa quae a latere

quaerenda erunt.

(1) Dicit autem Tullius, quod “providentia est, per quam futurum aliquid

videtur, antequam factum sit”. Videtur autem hoc impossibile in operibus

voluntatis sive moralibus; haec enim subsunt libero arbitrio. Quae vero talia

sunt, secundum dicta sanctorum etiam ab angelis futura cognosci non

possunt, ergo multo minus ab hominibus. Ergo videtur, quod nulla sit

providentia.

(2) Praeterea, hoc videtur etiam dicere Philosophus in libro Sapientiae, ubi

dicit: “Cogitationes mortalium timidae sunt et incertae providentiae nostrae”.

Ergo videtur, quod omnis providentia sit incerta. Nihil autem incertum regere

potest in opere; ergo providentia non erit regens in opere; ergo non erit virtus

intellectualis, quae sit pars prudentiae.

(3) Praeterea, quaeritur iuxta hoc, si providentia est de futuris, per quem

considerat ea. Oportet enim ipsum habere aliqua principia. Et videtur, quod

nulla, quia sicut dictum est, futura sub libero arbitrio existentia contingentia

sunt. Ergo cum sint etiam particularia, non habent causam vel ad minus non

habent causam determinatam et stantem ut principium. Ergo cum

providentia sit de talibus, non habebit principium, ex quo procedat in illa, et

cum iterum futura in se nondum sint, videtur, quod providentia non sit de

futuris suis principiis nec etiam in seipsis, et ita nullo modo est de futuris.

(4) Praeterea, si aliqua sunt principia, per quae est processus in futura,

quaeritur, quare auctores moralis scientiae non determinaverunt illa. Cum

167


enim ipsi non tangant ea, sicut faciunt de memoria, quae habet principia,

videtur, quod nulla sint.

[486] Solutio: Dicendum, quod providentia est pars prudentiae, iuvans

electionem operabilium ex consideratione futurorum possibilium accidere,

propter quae etiam consiliamur.

(1) Ad primum autem, quod obicitur, dicendum quod futura, prout sunt a

libero arbitrio dependentia, non est, qui sciat, nisi Deus. Sed sic non est de his

providentia, sed potius ponit aliquid factum vel faciendum et coniciendo de

futuro casu sequente per effectum vel ius, illud factum aestimat, utrum hoc

sit bonum fieri vel non. Et non ideo ipsa providentia non procedit in futurum,

ut est dependens a libero arbitrio, sed potius ut est effectus vel sequela facti,

quod supposuit providentia, ut postea et sequentibus casibus cognoscat,

utrum fuerit consultum hoc fieri vel non.

(2) Ad aliud dicendum, quod Philosophus loquitur de alia pro​vi​dentia,

quam de qua hic intenditur, quae scilicet est providentia divinorum,

antequam per speciem contemplentur. Illius enim quod aeternum est, incerta

dicitur esse providentia, eo quod non sufficienter capitur. Et hoc patet per

hoc quod dicit cogitationes esse timidas. Non enim sunt timidae nisi propter

arduitatem divinorum, quae opprimunt cor cogitantis. Vel si intellegatur de

providentia proprie dicta, non erit certa, eo quod non sit necessaria, sed pro​babilis

ex parte futuri, sed tamen certa secundum ordinem, quem habet ad

futurum, quod supponitur ut causa vel antecedens talis casus futuri.

(3) Ad id quod ulterius quaeritur de principio, a quo procedit, dicendum,

quod principium illud est circumstantia facti suppositi. Procedit enim

providus sic dicens: Supponamus hoc iam esse factum et videamus, quid

sequatur, et secundum ea quae probabile est sequi per ius vel consuetudinem

vel effectum, aestimat, utrum hoc sit faciendum, quod supposuerat iam esse

factum. Sicut dicit Apostolus: “Providentes bona non solum coram Deo, sed

etiam coram omnibus hominibus”. Unde patet, quod tale futurum habet

ordinem ad antecedentem ut signum vel causam et non omnino contingens

est de utrumlibet.

(4) Ad aliud dicendum, quod non oportuit determinare principia propria

providentiae, quia ipsa procedit ex circumstantibus negotium suppositum.

Unde cum illa sint determinata, tunc etiam sunt determinata sua principia.

Haec autem tacta sunt in tractatu De circumstantiis ab auctoribus scientiae

moralis.

Art. 5. De partibus, quas enumerat Macrobius

168


[487] Deinde transeundum est ad partes, quas enumerat Ma​crobius Super

somnium Scipionis. Tangit autem sex, quae sunt ratio, intellectus,

circumspectio, providencia, docilitas, cautio. Quia vero in duabus convenit

cum Tullio, scilicet in intellectu et providentia, ideo omissis his quaeratur

simul de aliis sub una quaestione.

Et primo quaeritur, quis vocetur ratio.

(1) Dicit enim Isaac, quod ratio est vis faciens currere causam in causatum.

Sic autem non videtur hic accipi ratio, quia sic est syllogistica vel utens

argumento, in quo semper est causa consequentiae ad minus, licet non

semper sit in eo causa consequentis.

(2) Praeterea, ratio subiectum est harum virtutum intellectualium, eo quod

dividitur contra concupiscibilem et irascibilem in divisione virium

motivarum, ut patet in tractatu De viribus motivis. Sic autem iterum non

potest hic accipi, quia sic non est pars prudentiae, sed subiectum.

(3) Praeterea quaeritur, quid appelletur hic circumspecto. Non enim

videtur hic nominare partem unam prudentiae, sed omnes. Circumspiciens

enim convertit aspectum in omnem differentiam loci circa se existentem.

Ergo videtur, quod similiter in moralibus circumspectus sit, qui convertit se

super praeterita, praesentia et futura; ergo circumspectio erit memoria et

intelligentia et providentia simul.

(4) Similiter obicitur de docilitate. Haec enim potius sonat in aptitudinem

quandam ingenii quam in habitum aliquem virtutis. Et hoc patet ex ipsa

ratione nominis, eo quod docilis sit, qui cito addiscit vel aptus est ad

dicendum. Non ergo est pars virtutis vel virtus, sed naturalis dispositio ingenii

vel rationis.

(5) Ulterius de cautione quaeritur. Haec enim non videtur differre a

prudentia nisi per accidens, quia cautus est, qui scit evitare periculum. Hoc

autem non fit nisi ex previsione futurorum. Cum igitur providentia futura

provi​deat, videtur esse providentia idem cum cautione.

[488] (6) Praeterea, quaedam alia inveniuntur, quae veniunt cum prudentia,

quae tanguntur in principio Proverbiorum, sicut eru​ditio, astutia, scientia,

disci​plina et gubernatio.

Eruditio autem secundum suum nomen dicit positionem alicuius extra

ruditatem. Cum autem rude sit incivile et incultum et rusticum, videtur

eruditio esse habitus docens civilitatem, quae est dispositio pertinens ad

virtutem civilem, et ita non comprehendetur sub aliqua istarum

enumeratarum a Macrobio. Et sic erit diminutus. “Astutia autem, ut dicit

169


Basilius Super principium Proverbiorum in originali, est omnium operum

artiumque peritia”. Ista autem non est comprehensa sub aliqua istarum nec

etiam sub his quae a Tullio tanguntur.

(7) Praeterea, videtur Basilius male dicere in hoc quod dicit astutiam esse

peritiam artium, quia peritia artium non docetur proverbialiter, sed potius

syllogistice et pertinet ad partem animae speculativam.

Praeterea, ibidem dicit Basi​lius, “Qui omnium peritia recipit, astutus est”;

sed nulla scientia moralis vel speculativa recipit omnem peritiam; ergo astutia

non est aliquis unus habitus moralis vel speculativus, sed erit plures.

Item, ibidem Basilius: “Astutiam docet proverbialis sermo laudabilem,

quae in omnibus vitae negotiis adversum nequitiae dolos scutum quoddam

debeat esse simplicibus”. Secundum hoc videtur, quod astutia sit idem quod

prudentia ipsa, quia illa munit contra dolos in vitae negotiis, sicut patet ex

definitione Augustini supra posita, quae dicit, quod prudentia ea quibus

adiuvatur, ab his a quibus impeditur sagaciter eligit. Hoc etiam videtur per

Glossam Super principium Proverbiorum, quae dicit: “Astutia incipientibus

necessaria est, ut sophistarum cavere versutiam possint, ne abducantur a

simplicitate sapientiae, quae ad vitam ducit”. Hoc enim totum videtur

pertinere ad prudentiam; ergo videtur, quod astutia sit prudentia.

[489] (8) Praeterea, ulterius quaeritur de scientia, quae ibidem dicitur. Si

enim scientia sit habitus rationis docens bene conversari “in medio pravae et

perversae nationis”, ut dicit Augustinus, sic scientia est unum de donis

Spiritus Sancti et non pertinet ad virtutem politicam. Si autem scientia sit

habitus docens operabilia per rationes civiles, tunc videbitur idem esse cum

prudentia.

(9) Eodem modo de disciplina. Quam Glossa super epistolam ad Hebraeos

deffinit dicens, quod disciplina est eruditio per difficilia. Eruditio autem haec

praecipue est experimentum difficilium. Hoc autem idem videtur esse quod

cautio vel cautela, quia illa cavet damnum et periculum, quod non contingit

nisi per experimentum periculi. Ergo idem videtur esse disciplina quod

cautela.

Praeterea, Magister Hugo de S. Victore deffinit disciplinas dicens:

“Disciplina est conversatio bona et honesta, cui parum est malum non facere,

sed studet etiam in his quae bene agit, per cuncta irre​prehensibilis apparere”.

Secundum hoc autem videtur disciplina idem esse quod conservatio bonae

conversationis in se et opinionis apud homines. Hoc autem secundum

Apostolum est providentiae, cum ipse dicat: “Providemus enim bona non

170


solum coram Deo, sed etiam coram omnibus hominibus”.

Item, sic a quibusdam deffinitur: “Disciplina est membrorum omnium

motus ordinatus et dispositio dicens in omni habitu et actione”; hoc autem

non est effectus unius virtutis; ergo videtur, quod disciplina non sit virtus una.

Item, a quibusdam sic deffinitur: “Disciplina est compes cupiditatis,

malorum desideriorum carcer, frenum lasciviae, elationis iugum, vinculum

iracundiae, quae domat intemperantiam, levitatem ligat et omnes inordinatos

motus mentis atque illicitos appetitus suffocat”. Et ex ista deffinitione

perspicuum est, quod non est virtus una, cum unumquodque vitiorum non

restringatur nisi per suum contrarium et multorum vitiorum generalium et

specialium hic commemorentur restrictiones.

(10) Quaeritur autem de gubernatione sive de virtute gubernatoria. Quam

deffiniens Basilius dicit: “Gubernatio sine dubio est disciplina quaedam

animae, per quam infidum et fluctuosum hoc vitae nostrae pelagus cum omni

moderatione et observatione transeamus”; hoc autem iterum videtur

directissime fieri per prudentiam agendorum; ergo gubernatio non differt a

prudentia.

(11) Praeterea, calliditas nec est commemorata a Tullio nec a Macrobio nec

etiam de ea fit mentio in principio Proverbiorum a Basilio, ubi alia multa

deffinit, et tamen calliditas dicit habitum ordinatum ad prudentiam; callens

enim ingenio callidus videtur appellari. Igitur videtur, quod partes prudentiae

ab his tribus auctoribus insufficienter tangatur.

[490] Solutio: Dicendum, quod Tullius tangit partes prudentiae principales,

in quibus perficitur et integratur potestas eius tota. Cum enim operabilia

particularia sint, non possunt abstrahi a differentia temporis, et ideo generales

temporis differentiae dividunt partes prudentiae, eo quod habitus considerans

opera secundum electionem non potest esse nisi regens ex praeterito vel

praesenti vel futuro. Macrobius autem et alii non tantum ponunt partes

prudentiae, sed etiam condiciones actus ex modo et effectus gene​raliter

consequentes omnes partes prudentiae. Modus autem actus est astutia,

circumspectio, cautio; sequela vero est disciplina secundum aliquas

deffinitiones ipsius, ut infra dicetur.

(1.2) Dicendum ergo ad primum, quod ratio non sumitur a Tullio pro vi

animae rationalis, sed secundum deffinitionem Isaac, ita tamen quod

coartetur ad materiam specialem morum, ut scilicet dicatur ratio discursus

eorum quae sunt ut causa operans per rationem iuris vel utilis vel honesti in

causatum electione opus. Et sic actio procedit potius disponendo et

171


sententiando, ut aliquid fiat, quam syllogizando, nisi forte vocetur

argumentatio syllogismus, qui est enthymema. Et ex talibus apud nos

actualiter et habitualiter eligentes procedimus.

(3) Ad id quod obicitur de circumspectione, dicendum, quod est condicio

actus prudentiae secundum modum et non secundum materiam vel certam

differentiam materiae, et ideo non tangitur a Tullio. Et consistit principaliter

in videndo media omnia quae valent ad electionem ad opus. Et ideo est

condicio actus prudentiae, quia prudentia est principaliter in eligendo ea quae

ad opus valent, quia circumspectio considerando rationes electionis vel

eligibilis unius potius quam alterius confert maius posse prudentiae. Et ideo

patet, quod non est prudentiae partes omnes, cum non consideret differentias

eligibilis sub differentiis temporis, sed potius considerat rationes, quibus una

confirmatur electio, in eo quod videt omnia ad hoc facienda, non secundum

quod sunt praesentia vel praeterita vel futura, sed potius secundum quod

sunt determinantia electionem unam potius ex eo, quod solvuntur omnia

dubitata in contrarium quae possunt obviare.

[491] (4) Ad id quod obicitur de docilitate, dicendum, quod est docilitas ex

natura et est docilitas ex habitu. Illa quae est ex natura, est, de qua procedit

obiectio, illa autem, quae est ex habitu, est, quando aliquis est studio vel

inventione vel auditu de facili acquiescit rationibus eligibilis ad opus, eo quod

cognoscit illas esse iustas et veras. Et haec est condicio actus prudentiae, sicut

dicit Macrobius.

(5) Ad hoc autem quod obicitur de cautione sive cautela, dicendum, quod

illa specialiter docet vitare pericula. Eo enim quod in talibus casibus magis

difficile est dirigere et periculosum errare, ideo in tali materia specia​lem exigit

condicionem. Et si quis vult redigere ad divisionem ea quae addit Macrobius

super Tullium, dicet, quod condicio actus prudentiae potest iuvari ex parte

inquisitionis aut ex parte sententiae sive determinationis huius vel illius aut ex

parte vitationis periculi sequentis. Et si primo modo, tunc iuvat et complet

potestatem circumspectio; si secundo modo, tunc iuvat docilitas; si tertio

modo, tunc iuvat cautela sive cautio.

(6) Ad hoc autem quod quaeri​tur de his quae tanguntur in principio

Proverbiorum, dicendum, quod illa sunt magis generalia quam partes

prudentiae. Prudentia enim cum suis partibus non iuvatur nisi ex rationibus

civilibus et iuris humani, sed illa quae confert scientia parabolica, procedunt

ex utrisque rationibus, scilicet divinis et humanis, et plus ex divinis quam

humanis, et ideo a philosophis non considerantur. Et bene concedo, quod

eruditio dicit acceptionem prudentiae tam divi​nae quam humanae secundum

172


comparationem ad id unde vel ex quo movetur ignorans accipiens scientiam;

hoc enim est rude tam respectu civilitatis quam respectu divinorum. Et non

dicit aliquam determinatam partem vel condicionem prudentiae nec est una

de partibus eius, et quod talia sunt effectus vel condiciones sapientiae, de qua

in sequenti articulo quaeretur, et non prudentiae.

[492] (7) Ad id autem quod obicitur de astutia, dicendum cum Basilio,

quod astutia munit contra dolos vitae et non ex rationibus humanis tantum,

sed ex scientia parabolica et morali generaliter tam divina quam humana. Et

ideo patet, quod nec est prudentia nec prudentiae pars vel condicio.

(8) Ad hoc autem quod obicitur de scientia, dicendum, quod scientia

accipitur quadrupliciter. Quandoque enim dicit habitum speculativum, cuius

finis proximus est verum illius cognoscibilis de quo est scientia illa. Et sic

accipitur pro scientiis speculativis, secundum quod deffinitur ab Aristotele,

quod “scire arbitramur unumquodque, cum causam eius cognoscimus, et

quoniam illius causa est et quod impossibile est aliter se habere”. Secundo

accipitur scientia, prout ab Augustino dividitur contra sapientiam, et est

habitus inferioris partis rationis regens in opere ex consideratione rationum

temporalium ad vitam pertinentium. Et sic accipitur in principio

Proverbiorum, et est generalior quam prudentia, quia pertinet etiam ad alia

quam ad eli​gibilia civiliter ad opus. Est enim sic dicta scientia cognitio

humanorum ita, quod de unoquoque recta feratur sententia secundum causas

inferiores, quas possibile est cognoscere homini. Tertio modo dicitur scientia,

prout est donum, et tunc est habitus infusus, ex quo regitur aliquis “in medio

pravae et perversae nationis” sine querela contagionis. Quarto modo dicitur

scientia iterum id quod ex ratione est determinatum, sive sit speculativam

sive practicam, et tunc est conclusionis proprie. Et sic patet, quod nullo modo

scientia sub prudentia cadit ut pars et ideo non ponitur ab auctoribus.

[493] (9) Ad id quod ulterius quaeritur de disciplina, dicendum, quod

disciplina dicit acceptionem scientiae dupliciter, scilicet speculativae et

praticae. Speculativae adhuc dupliciter, scilicet secundum quod est ab altero

vel secundum quod est ab his quae sine doctore sunt in discipulo. Si primo

modo, tunc disciplina est quaelibet scientia accepta per doctrinam; si secundo

modo, tunc disciplina est scientia disciplinalis, sicut sunt scientiae

demonstrativae, quae procedunt ex per se notis discipulo, in quibus oportet

discentes credere, eo quod principiorum non accipiamus scientiam nisi per

expositionem terminorum. Si autem est moralis scientiae acceptio, hoc

iterum est dupliciter, scilicet generaliter ad mores omnes, et in hoc sensu non

est aliquis habitus specialis, sed generalis docens decentiam in omnibus

operabilibus ad vitam pertinentibus; et sic procedent tres ultimae

173


deffinitiones. Potest esse etiam acceptio specialis per flagellum, sicut pueri

accipiunt disciplinam et sicut dicit Propheta: “Per omne flagellum erudieris,

Ierusalem”. Et sic dicit correctionem morum per experimentum verberum, et

sic procedit Glossa, quae est ad Hebraeos. Et in hoc sensu non dicit aliquam

determinatam partem prudentiae vel condicionem, sed generaliter

correctionem stultitiae cuiuscumque per verbera.

(10) Ad id quod obicitur de gubernatione, dicendum, quod optime

deffinitur a Basilio et ideo generalior est quam prudentia, eo quod dicit actum

regiminis vitae, ex quacumque scientia ad mores pertinente.

(11) Ad illud autem quod obicitur de calliditate, dicendum, quod calliditas

sonat in malum. Est enim calliditas proprie subtilitas inveniendi deceptiones

et nocumenta et ideo inter species bonorum habitum non ponitur nec a

sanctis nec a philosophis.

Art. 6. De divisione Aristotelis

[494] Ultimo prosequenda est divisio Aristotelis, quae ponitur in fine I

Ethicorum, ubi virtutem intellectualem videtur hoc modo dividere, et ponit

tres, scilicet sapientiam, phronesim et intelligentiam.

(1) Et videtur, quod male, quia Tullius in libro De officiis expresse dicit,

quod phronesim Graeci sapientiam vocant, et auctoritas supra est posita in

quaestione “De prudentia”. Ergo videtur, quod phronesis non sit diversa

virtus a sapientia.

(2) Praeterea, cum sapientia multis modis accipiatur, scilicet pro divinarum

et humanarum rerum cognitione, ut dicunt Augustinus et Tullius, et pro

scientia causarum altissimarum et pro scientia eorum quae difficile est

cognoscere homini, et pro scientia uniuscuiusque, sicut est, et pro scienti

universali demonstrativa non determinante hoc aliquid de quo non per se

dicitur passio, sicut videtur Philosophus in I Metaphysicae distinguere

sapientiam: quaeritur, secundum quem modum hic accipitur. Praeterea,

praeter omnes dictos modos dicitur sapientia donum, quae sapor Dei sit in

gusto donorum acceptorum per notitiam beneplaciti ab illo. Quaeritur,

secundum quem modum accipiatur sapientia, secundum quod sonat in

virtutem intellectualem, quae ad civilitatem pertinet.

(3) Praeterea, quaeritur de intelligentia. Haec enim ab Ari​stotele non

sumitur sicut a Tullio et Macrobio, eo quod Aristoteles non facit mentionem

de partibus condividentibus secundum prudentiam, scilicet memoria et

providentia. Unde videtur, quod intelligentia ab Aristotele non ponatur pro

acceptione praesentium dirigentium in opere.

174


Praeterea, quaeritur, quare Ari​stoteles non facit mentionem de prudentia,

quae tamen praecipua est virtus intellectualis, cum ipse in libro De anima

distinguat eam ab aliis acceptionibus, ubi dicit, quod acceptionis tres sunt

species: prudentia et opinio et scientia.

(4) Praeterea, cum sollertia faciat potestatem inveniendi medium et causas

ultimas, quaeritur, quare sollertiam non ponat in medio virtutum

intellectualium.

[495] Solutio: Dicendum, quod Aristoteles tangit generales habitus virtutis

intellectualis, sicut etiam ratio generalis est potentia respiciens omnia moralia,

sive sint ordinata ad concupiscibilem sive ad irascibilem. Unde meo iudicio

sapientia secundum considerationem civilem non nominat nisi habitum

moralium cum cognitione causae illius quae praecipue causa in moralibus est,

et haec est finalis. Et hoc dico idcirco, quia sapientia semper vult dicere

scientiam, quae est per causam primam, et haec in moralibus est finalis causa,

quae felicitas appellatur et honestum, quod per se est finis appetitus.

Phronesis autem secundum acceptionem strictam, qua accipitur ab

Aristotele, vocatur habitus moralium cum scientia iuris naturalis et positivi et

determinatione recti vel non recti, et ideo dicet maiorem cognitionem

moralium, quam exigatur ad prudentiam, cui sufficit cognoscere “quia”, cum

phronesis et sapientia determinent “propter quid”, sapientia quidem ex fine,

phronesis autem ex debito et obligatione iuris. Intelligentia autem dicit idem

quod prudentia, quae non dicit nisi simplicem cognitionem eligibilium ad

opus in particulari.

(1) Et ex hoc patet solutio ad primum, quia Tullius large accipit phronesim,

secundum quod omnia ista tria comprehendit, et large accipit sapientiam,

secundum quod procedit ex rationibus divinis et humanis et particularia

cognoscit ad opera pertinentia. Et sic est idem phronesis quod sapientia et

intelligentia, sed aliter accipit Aristoteles, ut dictum est.

(2) Ad aliud, quod quaeritur de sapientia, dicendum, quod accipitur in

prima ratione sapientiae, dummodo non referatur ad materiam quamlibet,

sed ad propriam, scilicet ad causam causarum in moralibus.

(3) Ad id quod quaeritur de intelligentia, dicendum, quod intelligentia

sumitur hic largius quam sapientia, quia dicit perfectionem in his quae

pertinent ad nos in particularibus operationibus, ut dictum est.

Et haec de prudentiae partibus dicta sufficiant, eo quod adhuc proprie

disputabitur de sapientia, intellectu, consilio et scientia in tractatu De donis.

(4) Ad hoc autem quod ultimo obicitur de sollertia, dicendum, quod

175


sollertia nominat scientiam per modum artis et speculationis, eo quod sit

inventio “in non perspecto tempore medii”, et ideo non debet poni inter

virtutes politicas.

176


Coleção Filosofia Medieval

Coordenação: Cristiane N. A. Ayoub (UFABC), Carlos Eduardo de Oliveira (USP), José Carlos

Estêvão (USP) e Moacyr Novaes (USP)

• Abelardo e Heloisa, José Carlos Estêvão

• Entre a filosofia e a teologia: os futuros contingentes e a predestinação divina,

Carlos Eduardo de Oliveira

• Iniciação à filosofia de São Tomás de Aquino: introdução, lógica, cosmologia –

vol. 1, Henri-Dominique Gardeil

• Iniciação à filosofia de São Tomás de Aquino: psicologia, metafísica – vol. 2,

Henri-Dominique Gardeil

• Ser e a essência (O), Étienne Gilson

• Tratado sobre a prudência, Alberto Magno

• Unidade do intelecto, contra os averroístas, Tomás de Aquino

177


Direção editorial:

Claudiano Avelino dos Santos

Coordenação de Revisão:

Tiago José Risi Leme

Capa:

Marcelo Campanhã

Coordenação de desenvolvimento digital:

Guilherme César da Silva

Desenvolvimento digital:

Daniela Kovacs

Conversão EPUB:

PAULUS

Tratado sobre a prudência [livro digital]; / Alberto Magno [autor]; / tradução Matteo Raschietti. — São

Paulo: Paulus Editora, 2018. — Coleção Filosofia medieval.

473Kb; ePUB

© PAULUS – 2018

Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 – São Paulo (Brasil)

Tel.: (11) 5087-3700 • Fax: (11) 5579-3627

paulus.com.br • editorial@paulus.com.br

[Facebook] • [Twitter] • [Youtube] • [Instagram]

eISBN 978-85-349-4712-1

Seja um leitor preferencial PAULUS.

Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções: paulus.com.br/cadastro

178


NOTAS

INTRODUÇÃO

[1] GILSON, E. A Filosofia na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2007, 2ª ed., p. 625.

[2] “[O autor] escreve algumas [ideias] suas e de outrem; mas as suas como as principais, as de outrem como

fossem acrescentadas para confirmação; e desse modo deve dizer o autor.”

[3] Ibid., p. 627.

[4] JARCZYK, G. e LABARRIÈRE, P-J. L’impronta del deserto – L’ateismo mistico di Meister Eckhart. Napoli: Guerini e

Associati, 2000, p. 32.

[5] GILSON, E. Op. cit., p. 644.

[6] O. LOTTIN, Psycologie et morale aux XII e et XIII e siècles, tome III, II partie. Louvain: Abbaye du Mont Cèsar,

1942, p. 592. Citado em: SOUZA-LARA, D. A especificação dos atos humanos segundo são Tomás de Aquino. Roma:

Ed. Università Santa Croce, 2008, p. 107.

[7] Citado em: ALBERTO MAGNO. Il Bene. Introduzione, traduzione e note di Alessandra Tarabochia

Canavero. Milano: Rusconi, 1987, p. 21.

[8] Ibid., p. 23.

[9] Cf. Idem.

[10] Cf. ALBERTO MAGNO. Il Bene, Op. cit., p. 475. A tradução latina medieval mais célebre da Ética a

Nicômaco, conhecida como Liber Ethicorum, era a antiqua translatio feita a partir do texto integral grego por

Robert Grosseteste, bispo de Lincoln, entre 1240 e 1249. Essa tradução foi revisada e completada por

Guilherme de Moerbecke em 1260. Cf. MARTINS, J. A. Sobre as origens do vocabulário político medieval. In:

Trans/Form/Ação vol. 34, n. 3, Marília, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0101-

31732011000500006>. Acesso em: 02/08/2013.

[11] Há uma tradução disponível na internet do prof. Lucas Angioni da Unicamp:

<http://www.ufpel.edu.br/isp/dissertatio/revistas/34/12.pdf>.

[12] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro VI. Tradução de Lucas Angioni, Op. cit., 1140 b3, p. 289.

[13] Ibidem, 1141a17, p. 291.

[14] Ibidem, 1140b20, p. 290.

[15] Cf. PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1972, 9ª ed., 427a, p. 475.

[16] Cf. ALBERTO MAGNO. Il Bene, Op. cit., Apêndice V, p. 641-644.

[17] A tabela foi redigida a partir do estado atual da pesquisa e está disponível na internet, em alemão:

<http://www.academia.edu/3490596/Albertus_Magnus_-_Chronologie_Leben_und_Werk_>.

179


180


Scivias

de Bingen, Hildegarda

9788534946025

776 páginas

Compre agora e leia

Scivias, a obra religiosa mais importante da santa e doutora da Igreja

Hildegarda de Bingen, compõe-se de vinte e seis visões, que são

primeiramente escritas de maneira literal, tal como ela as teve, sendo,

a seguir, explicadas exegeticamente. Alguns dos tópicos presentes nas

visões são a caridade de Cristo, a natureza do universo, o reino de

Deus, a queda do ser humano, a santifi cação e o fi m do mundo.

Ênfase especial é dada aos sacramentos do matrimônio e da eucaristia,

em resposta à heresia cátara. Como grupo, as visões formam uma

summa teológica da doutrina cristã. No fi nal de Scivias, encontram-se

hinos de louvor e uma peça curta, provavelmente um rascunho

primitivo de Ordo virtutum, a primeira obra de moral conhecida.

Hildegarda é notável por ser capaz de unir "visão com doutrina, religião

com ciência, júbilo carismático com indignação profética, e anseio por

ordem social com a busca por justiça social". Este livro é especialmente

significativo para historiadores e teólogas feministas. Elucida a vida das

mulheres medievais, e é um exemplo impressionante de certa forma

especial de espiritualidade cristã.

Compre agora e leia

181


182


Santa Gemma Galgani - Diário

Galgani, Gemma

9788534945714

248 páginas

Compre agora e leia

Primeiro, ao vê-la, causou-me um pouco de medo; fiz de tudo para me

assegurar de que era verdadeiramente a Mãe de Jesus: deu-me sinal

para me orientar. Depois de um momento, fiquei toda contente; mas foi

tamanha a comoção que me senti muito pequena diante dela, e

tamanho o contentamento que não pude pronunciar palavra, senão

dizer, repetidamente, o nome de 'Mãe'. [...] Enquanto juntas

conversávamos, e me tinha sempre pela mão, deixou-me; eu não

queria que fosse, estava quase chorando, e então me disse: 'Minha

filha, agora basta; Jesus pede-lhe este sacrifício, por ora convém que a

deixe'. A sua palavra deixou-me em paz; repousei tranquilamente: 'Pois

bem, o sacrifício foi feito'. Deixou-me. Quem poderia descrever em

detalhes quão bela, quão querida é a Mãe celeste? Não, certamente

não existe comparação. Quando terei a felicidade de vê-la novamente?

Compre agora e leia

183


184


DOCAT

Vv.Aa.

9788534945059

320 páginas

Compre agora e leia

Dando continuidade ao projeto do YOUCAT, o presente livro apresenta

a Doutrina Social da Igreja numa linguagem jovem. Esta obra conta

ainda com prefácio do Papa Francisco, que manifesta o sonho de ter um

milhão de jovens leitores da Doutrina Social da Igreja, convidando-os a

ser Doutrina Social em movimento.

Compre agora e leia

185


186


Bíblia Sagrada: Novo Testamento - Edição

Pastoral

Vv.Aa.

9788534945226

576 páginas

Compre agora e leia

A Bíblia Sagrada: Novo Testamento - Edição Pastoral oferece um texto

acessível, principalmente às comunidades de base, círculos bíblicos,

catequese e celebrações. Esta edição contém o Novo Testamento, com

introdução para cada livro e notas explicativas, a proposta desta edição

é renovar a vida cristã à luz da Palavra de Deus.

Compre agora e leia

187


188


A origem da Bíblia

McDonald, Lee Martin

9788534936583

264 páginas

Compre agora e leia

Este é um grandioso trabalho que oferece respostas e explica os

caminhos percorridos pela Bíblia até os dias atuais. Em estilo acessível,

o autor descreve como a Bíblia cristã teve seu início, desenvolveu-se e

por fim, se fixou. Lee Martin McDonald analisa textos desde a Bíblia

hebraica até a literatura patrística.

Compre agora e leia

189


Índice

Rosto 2

INTRODUÇÃO 7

1. Alberto Magno e o Studium generale de Colônia 7

2. As obras morais de Alberto Magno: o Tractatus de natura boni e o De bono 9

3. O tratado De prudentia 11

4. Tabela cronológica[17] 15

5. Nota editorial 19

6. Bibliografia 20

QUARTO TRATADO SOBRE A PRUDÊNCIA 21

QUESTÃO I - SOBRE A PRUDÊNCIA EM SI 22

Artigo 1. Se a prudência é uma virtude 22

Art. 2. O que é a prudência na definição e na substância 29

Art. 3. Sobre a matéria da prudência 43

Art. 4. Qual é o ato próprio da prudência 51

Art. 5. Se a prudência é uma virtude dita em modo simples ou múltiplo 58

Art. 6. Se a prudência é o auriga das virtudes 71

QUESTÃO II - SOBRE AS PARTES DA PRUDÊNCIA 77

Art. 1. O que é a memória 77

Art. 2. Sobre a arte da memória 79

Art. 3. Sobre a inteligência 90

Art. 4. Sobre a providência 92

Art. 5. Sobre as parte que Macróbio enumera 94

Art. 6. A divisão de Aristóteles 100

TRACTATUS QUARTUS DE PRUDENTIA 103

QUAESTIO I - DE PRUDENTIA IN SE 104

Art. 1. An prudentia sit virtus 104

Art. 2. Quid sit prudentia definitione et substantia 110

Art. 3. De materia prudentiae 123

Art. 4. Quis sit actus prudentiae proprius 130

Art. 5. Utrum prudentia sit virtus simpliciter vel multipliciter dicta 136

Art. 6. An prudentia sit auriga virtutum 148

QUAESTIO II - DE PARTIBUS PRUDENTIAE 153

190


Art. 1. Quid sit memoria 153

Art. 2. De arte memorandi 155

Art. 3. De intelligentia 165

Art. 4. De providentia 167

Art. 5. De partibus, quas enumerat Macrobius 168

Art. 6. De divisione Aristotelis 174

Coleção 177

Ficha Catalográfica 178

Notas 179

191

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!