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Nada digo de ti que em ti não veja

Uma cidade com milícia, racismo, fake news, delação premiada, conservadorismo, fanatismo religioso e ruas sujas. Parece 2020, mas esse é o Rio de Janeiro de 1732, ano no qual está ambientado o romance histórico “Nada digo de ti, que em ti não veja”, terceiro de Eliana Alves Cruz e o primeiro da autora premiada pela Pallas Editora. A narrativa é eletrizante. Entre as temáticas, salta aos olhos a transexualidade, raras vezes presente em uma trama de época, e as fake news tão em voga, através de cartas anônimas que ameaçam revelar alguns dos segredos mais bem guardados dos integrantes das duas famílias ricas que se cruzam nas 200 páginas do título. “Nada digo de ti, que em ti não veja” é também, como adiantou Elisa Lucinda na apresentação, a história de um amor impossível, forte e verdadeiro.

Uma cidade com milícia, racismo, fake news, delação premiada, conservadorismo, fanatismo religioso e ruas sujas. Parece 2020, mas esse é o Rio de Janeiro de 1732, ano no qual está ambientado o romance histórico “Nada digo de ti, que em ti não veja”, terceiro de Eliana Alves Cruz e o primeiro da autora premiada pela Pallas Editora.

A narrativa é eletrizante. Entre as temáticas, salta aos olhos a transexualidade, raras vezes presente em uma trama de época, e as fake news tão em voga, através de cartas anônimas que ameaçam revelar alguns dos segredos mais bem guardados dos integrantes das duas famílias ricas que se cruzam nas 200 páginas do título. “Nada digo de ti, que em ti não veja” é também, como adiantou Elisa Lucinda na apresentação, a história de um amor impossível, forte e verdadeiro.

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aqueles seus jeitos e trejeitos, com aquela sua fala mansa e

sem pudores, com aquelas histórias de um mundo tão oposto

ao seu, mas para ele profundamente fascinante, foi ocupando

um espaço cada vez maior em seus pensamentos.

Introduzido pelo pai nos negócios seculares da família, do

alto de seus 20 anos, Felipe em breve seria mais um próspero

comerciante de além-mar ou senhor de algum pedaço grande

de chão; afinal, como dizia seu pai: “Terra é um tesouro que

não se vende, ao contrário, se conquista”. Seus antepassados

desbravadores não enfrentaram índios guerreiros, doenças e

trabalho árduo para dispensar sem motivo tanto território.

A tradição familiar o empurrava para as caravelas. Seu

trisavô, Antônio, esteve entre os que defenderam o Rio de

Janeiro da invasão francesa, havia quase 200 anos. Naquela

época, seu engenhoso antepassado conseguiu armazenar víveres,

salvar muitas vidas e ganhar muito prestígio.

Quando descobriram ouro nos sertões das Minas, piratas

e corsários vieram em massa, e seu pai, Antônio, assim como

o ancestral, forneceu comida e outros artigos aos soldados que

combateram, havia 33 anos, outros franceses: Jean-François

Duclerc e, no ano seguinte, René Duguay-Trouin. Este último,

muito mais bem-sucedido que o primeiro, sequestrou a cidade

inteira. Sim! Vejam que loucura, pois São Sebastião do Rio de

Janeiro precisou pagar uma fábula em resgate para se libertar.

Foram 610 mil cruzados em moeda, 100 caixas de açúcar e

200 cabeças de gado. Não fosse sua família contribuir com

gordas quantias em um acordo com as autoridades, e ainda

estariam sob o domínio da França.

A verdade é que Felipe, embora se encontrasse em um

corredor com muitas portas abertas à sua escolha, adoraria

ter alguma outra opção, alguma alternativa de escapar. Nem

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