Agenda Cultural de Julho e Agosto de 2022

Agenda Cultural de Proença-a-Nova JUlHO/agosto 2022
abc das personalidades
ANTÓNIO FERNANDES
PADRE
António Fernandes nasceu no vizinho concelho da
Sertã, na aldeia de Sipote, e formou-se no Seminário
das Missões de Cernache do Bonjardim, instituição
que acolheu e formou muitos jovens da zona do pinhal
na década de cinquenta. Edificado em 1791, fechou
em 1834, tendo reaberto em 1885 como Colégio das
Missões Ultramarinas: no espaço de 50 anos formou
e enviou 317 missionários para África e Oriente,
incluindo oito bispos. O Padre António Fernandes
foi um desses 317 missionários. Foi seu destino a
Província Ultramarina de Angola, mais precisamente
Moçâmedes, e por lá se manteve até que as forças
lhe permitiram.
Regressou a Portugal e foi nomeado pároco das
freguesias de Envendos e S. José das Matas, acabando
por fixar-se nas Cimadas Fundeiras, onde continuou o
seu múnus apostólico, auxiliando o pároco da freguesia.
Durante muitos anos, logo pela manhã, subia a pé a
ladeira que levava à capela de Nossa Senhora das Dores
para celebrar a missa, o que acontecia todos os dias da
semana, domingos e feriados. No trajeto ficava a escola
primária, frequentada por uma sua sobrinha, Filomena
Farinha: sempre que o tio vinha celebrar a missa tinha
permissão da professora para ir ajudar.
Naquela época ajudar à missa tinha os seus quês de
dificuldade: o sacerdote celebrava de costas viradas
para o povo, era preciso mudar o missal de um lado
para o outro em determinadas alturas, era preciso
tocar a campainha, segurar a casula do sacerdote...
só quem estivesse já familiarizado levava o trabalho a
bom porto. Virgílio Moreira, das Cimadas, refere tê-lo
conhecido, descrevendo-o como “de média estatura,
entroncado, afável e sempre pronto a ajudar os
conterrâneos. Dentro deste espírito solidário e porque
os missionários que iam para as Missões Ultramarinas
recebiam do Estado uma espécie de reforma quando
regressavam, deu trabalho nas suas terras aos seus
conterrâneos”.
Nos últimos anos da sua vida viveu na companhia
de seu sobrinho Manuel Farinha e esposa Virgínia de
Jesus; tiveram um filho que, possivelmente levado
pelo exemplo do Padre António Fernandes, também
se formou padre na Diocese de Portalegre e Castelo
Branco: Padre Fernando Farinha ainda vivo. Acometido
de ataque cardíaco, veio a falecer no antigo hospital
de Proença-a-Nova em 1963, tendo sido sepultado no
cemitério de Proença-a-Nova.
A casa onde habitou, conhecida pela casa do Padre,
diferencia-se pelos seus traços arquitetónicos. Junto
ao edifício encontra-se um pequeno pavilhão onde
o sobrinho Manuel Farinha teve uma oficina de
venda e reparação de motores de rega antes de se
mudar para Proença-a-Nova. A habitação encontra-se
recuperada e é neste momento utilizada pelos seus
novos proprietários.
“Pelo que deu às Cimadas, entendeu o povo, por
bem, atribuir seu nome a uma das ruas da aldeia das
Cimadas Fundeiras”, conclui Virgílio Moreira.
A toponímia não é apenas um instrumento para delimitar espaços: é um crivo que ajuda a escolher as personalidades, factos ou tradições
que conquistaram o direito a ser perpetuados e inseridos no quotidiano de uma aldeia, vila ou cidade. No ABC das Personalidades
vamos recuperar as histórias por detrás das pessoas que dão nome às ruas do concelho. Partilhe as informações que tiver pelo e-mail
agendacultural@cm-proencanova.pt. Na próxima agenda, o texto será sobre António Henriques, dos Carregais.
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