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BASES CLÍNICAS PARA O TRATAMENTO DE FERIDAS (1)

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B A S E S

CLÍNICAS

P A R A O T R A T A M E N T O D E F E R I D A S


CORPO EDITORIAL

Wendel José Teixeira Costa

Jonathan Mendes de Castro

Ariane Cândido

Maria Isabella de Medeiros Teixeira Costa

CORRESPONDÊNCIA

contato@institutosanre.com

ENDEREÇO

Avenida Castelo Branco, 717 - Horto - Ipatinga MG


Copyright © 2022 Instituto Sanare LTDA

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.

Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do autor ou

editor, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios

empregados: eletrônicos, fotográficos, mecânicos, gravação ou quaisquer

outros. Exceto pelo uso de citações em publicações de cunho científico ou

acadêmicas.

Primeira edição, 2022

ISBN 0-xxxxxxx-x-x

www.institutosanare.com

FICHA CATALOGRÁFICA

Castro, Jonathan Mendes de; Cândido, Ariane; Costa, Maria Isabella de Medeiros

Teixeira; Costa, Wendel Jose Teixeira [Org]

S729c Abordagem Avançada das Skin Tears – Ipatinga - MG, 2022.

apost. xv, 140 f. : il. ; 29 cm.

Inclui referências.

1. Tratamento de Feridas. 2. Enfermagem. 3. Curativos – Ipatinga (MG). I.

Título. II. Azevedo, Maria de. III. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

370.15


INTRODUÇÃO

As tentativas humanas de intervir no processo de

cicatrização das feridas remontam à antiguidade,

demonstrando que desde então já se reconhecia a

importância de protegê-las de forma a evitar que se

complicassem e repercutissem em danos locais ou gerais

para o paciente.

Embora tenham sido verificados grandes avanços na

compreensão dos processos e fenômenos envolvidos nas

diversas fases da reparação tissular e simultaneamente,

muito se tenha investido em pesquisa e

desenvolvimento de recursos e tecnologias, com o

objetivo de favorecer esses processos, a incidência e

prevalência de úlceras crônicas é ainda extremamente

alta, repercutindo em elevados custos financeiros e

profundas consequências sociais sobre os portadores, os

quais com frequência desenvolvem sequelas que podem

levar à perda de membros e de suas funções, com

consequente afastamento do trabalho e de suas

atividades normais.

O tratamento de feridas é um processo dinâmico e

complexo, dependente de avaliações sistematizadas e de

prescrições distintas, variando de acordo com o

indivíduo, cada tipo de lesão, momento da evolução e do

processo de cicatrização. Portanto, se faz necessário

uma abordagem integral e interdisciplinar, uma vez que

as feridas podem ter diversas etiologias e inúmeros

fatores podem estar diretamente associados no processo

de cura.


A avaliação é uma parte fundamental do processo de

tratamento das lesões da pele, pois só o diagnóstico

preciso do tipo e estágio da lesão permitirá a correta

tomada de decisão sobre as medidas a serem

implementadas e os recursos que serão utilizados.

Um roteiro integral de avaliação e condutas deve incluir:

história e exame subjetivo do cliente; dados objetivos

como: condições gerais, exames laboratoriais, doenças

associadas; avaliação do risco, com base nas condições

gerais do cliente e do local da lesão; avaliação e

classificação adequada da lesão: localização, tempo de

evolução, medida do tamanho, diâmetro, profundidade,

vitalidade do leito e dos tecidos circunvizinhos,

presença de secreção e necrose, coloração do leito da

ferida, sensibilidade cutânea, comprometimentos;

diagnóstico adequado do tipo de ferida, suas

necessidades e consequente planejamento e prescrições

das ações.

A cicatrização de feridas é um tema que requer um

enfoque multiprofissional, e dele participam não só

enfermeiros e equipe de enfermagem, mas toda a equipe

de saúde: médico, fisioterapeuta, farmacêuticos,

psicólogos, etc. Uma vez que as feridas podem ter

diversas etiologias, e inúmeros fatores podem estar

diretamente associados ao desfecho.

Em decorrência disso, além dos recursos

tradicionalmente usados, inúmeras tecnologias podem e


devem ser utilizadas, mas devem ser criteriosamente

analisadas e incorporadas ou descartadas a partir das

evidências clínicas de sua eficiência, com base nos

dados das pesquisas experimentais pertinentes e

principalmente de acordo com a avaliação clínica do

paciente.


ANATOMIA E FISIOLOGIA

DA PELE

A pele, também conhecida como cútis, cobre a

superfície externa do corpo e é o maior órgão do

corpo em peso. Nos adultos, a pele cobre uma área de

cerca de 2 m2 e pesa entre 4,5 a 5 kg, cerca de 7% do

peso corporal total. Sua espessura varia de 0,5 mm

nas pálpebras até 4,0 mm nos calcanhares. Na maior

parte do corpo ela tem entre 1 e 2 mm de espessura.

A pele é formada por duas camadas: epiderme e

derme. A parte superficial e mais fina, que é composta

por tecido epitelial, é a epiderme. A parte mais

profunda e espessa de tecido conjuntivo é a derme.

Enquanto a epiderme é avascular, a derme é

vascularizada. Por esse motivo, se você cortar a

epiderme não haverá sangramento, porém, se o corte

atingir a derme, haverá sangramento.

Abaixo da derme, mas sem fazer parte da pele,

encontra-se o subcutâneo. Também chamada de

hipoderme, essa camada consiste nos tecidos areolar

e adiposo. Fibras que se estendem a partir da derme

ancoram a pele na tela subcutânea, que, por sua vez,

se liga à fáscia subjacente, o tecido conjuntivo ao

redor de músculos e ossos. No subcutâneo é

armazenada gordura e existem grandes vasos

sanguíneos que nutrem a pele. Essa região (e,

algumas vezes, a derme) também contém terminações

nervosas chamadas de corpúsculos lamelares ou

corpúsculos de Pacini, que são sensíveis à pressão.

06


Pelo

07

Epiderme

Disco tátil

Derme reticular

Glândula sebácea

Derme papilar

Vênula

Arteríola

Terminação nervosa livre

Glândula sudorípara

Tela subcutânea

(hipoderme)

Figura 1- Visão de corte da pele e da tela subcutânea

Veia

Artéria

Epiderme

A epiderme é composta por epitélio pavimentoso

estratificado queratinizado. Ela contém quatro tipos

principais de células: queratinócitos, melanócitos,

macrófagos intraepidérmicos (células de Langerhans) e

células táteis epiteliais (células de Merkel).

Cerca de 90% das células epidérmicas são

queratinócitos, que são organizados em quatro ou cinco

camadas e que produzem a proteína queratina. A

queratina é uma proteína fibrosa rígida que ajuda a

proteger a pele e os tecidos subjacentes de abrasões,

calor, microrganismos e substâncias químicas. Os

queratinócitos também produzem grânulos lamelares,

que liberam uma substância que repele a água,

diminuindo a entrada e a perda de água e inibindo a

entrada de material estranho.


Cerca de 8% das células epidérmicas são melanócitos,

que se desenvolvem a partir do ectoderma do embrião

em desenvolvimento e que produzem o pigmento

melanina. Suas projeções longas e delgadas se estendem

entre os queratinócitos e transferem grânulos de

melanina para eles.

A melanina é um pigmento amarelo avermelhado ou

castanho escuro que contribui para a cor da pele e

absorve os raios ultravioleta (UV). Uma vez dentro dos

queratinócitos, os grânulos de melanina se agrupam,

formando um véu protetor sobre o núcleo, no lado

voltado para a superfície da pele.

Desse modo, eles protegem o DNA nuclear do dano

causado pelos raios UV. Embora seus grânulos de

melanina protejam efetivamente os queratinócitos, os

melanócitos em si são particularmente suscetíveis aos

danos causados pelos raios UV.

Os macrófagos intraepidérmicos ou células de

Langerhans surgem da medula óssea vermelha e migram

para a epiderme, onde constituem uma pequena fração

das células epidérmicas. Eles participam das respostas

imunes contra microrganismos que invadem a pele e são

facilmente danificados pela luz UV. Seu papel na

resposta imunológica é ajudar outras células do sistema

imunológico a reconhecer o microrganismo invasor e

destruí-lo.

As células epiteliais táteis, ou células de Merkel, são as

células epidérmicas menos numerosas. Elas se localizam

na camada mais profunda da epiderme, onde entram em

contato com os neurônios sensoriais (estrutura chamada

de disco tátil ou disco de Merkel). As células epiteliais

08


táteis e seus discos táteis associados detectam as

sensações de toque.

Várias camadas distintas de queratinócitos em diversos

estágios do desenvolvimento formam a epiderme. Na

maior parte das regiões do corpo, a epiderme tem quatro

camadas ou estratos a saber: camada basal, camada

espinhosa, camada granulosa e uma fina camada córnea.

Essa pele de quatro camadas é chamada de pele fina.

Onde a exposição ao atrito é maior, como nas pontas

dos dedos, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, a

epiderme tem cinco camadas – camada basal, camada

espinhosa, camada granulosa, camada lúcida e uma

camada córnea espessa. Essa é a chamada pele espessa

ou pele glabra.

09

Queratinócito morto

Estrato

córneo

Estrato

lúcido

Estrato

granuloso

Grânulos lamelares

Célula de Langerhans

Estrato

espinhoso

Queratinócitos

Estrato

basal ou germinativo

Células basais

Melanócito

Célula de Merkel

Figura 2- visão de corte da epiderme


Camada basal

10

A camada mais profunda da epiderme é a camada basal,

composta por um único conjunto de queratinócitos

cúbicos ou colunares. Algumas células dessa camada são

células-tronco, que sofrem divisão celular para produzir

continuamente novos queratinócitos.

Os núcleos dos queratinócitos na camada basal são

grandes e seus citoplasmas contêm muitos ribossomos,

um pequeno complexo de Golgi, poucas mitocôndrias e

alguns retículos endoplasmáticos rugosos. O

citoesqueleto dos queratinócitos da camada basal inclui

filamentos intermediários esparsos, chamados de

filamentos intermediários de queratina (tonofilamentos).

Os filamentos intermediários de queratina formam a

proteína rígida queratina nas camadas epidérmicas mais

superficiais. A queratina protege as camadas mais

profundas contra lesões.

Os filamentos intermediários de queratina se ligam aos

desmossosmos, que ligam as células da camada basal

umas às outras e às células da camada espinhoso

adjacente, além dos hemidesmossomos, que ligam os

queratinócitos à membrana basal posicionada entre a

epiderme e a derme.

Melanócitos e células epiteliais táteis (Merkel) com seus

discos táteis associados estão espalhados entre os

queratinócitos da camada basal. A camada basal também

é conhecido como camada germinativa, indicando seu

papel na formação de novas células.


Camada espinhosa

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Acima da camada basal se encontra a camada espinhosa.

Essa camada é composta principalmente por numerosos

queratinócitos organizados em 8 a 10 camadas. As

células nas camadas mais superficiais se tornam

achatadas.

Os queratinócitos na camada espinhosa, que são

produzidos pelas células tronco na camada basal,

possuem as mesmas organelas das células da camada

basal e algumas delas conservam a capacidade de se

dividir. Produzem feixes mais grossos de queratina nos

filamentos intermediários do que aquelas na camada

basal.

Embora elas sejam redondas e maiores no tecido vivo, as

células da camada espinhosa se encolhem e se soltam

quando preparadas para avaliações microscópicas, de

modo que elas parecem estar cobertas por espinhos (daí

o nome).

Em cada projeção semelhante a um espinho, feixes de

filamentos intermediários de queratina se inserem nos

desmossomos, que unem firmemente as células umas às

outras. Essa organização confere força e flexibilidade à

pele.

Também estão presentes na camada espinhosa

macrófagos intra epidérmicos (células de Langerhans) e

projeções de melanócitos.


Camada granulosa

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Aproximadamente no meio da epiderme se encontra a

camada granulosa, que consiste entre três a cinco

camadas de queratinócitos achatados sofrendo apoptose

(apoptose é a morte celular geneticamente programada

e organizada em que o núcleo se fragmenta antes que a

célula morra.

Os núcleos e outras organelas dessas células começam a

se degenerar conforme elas se afastam da fonte de

nutrição (os vasos sanguíneos dérmicos). Embora os

filamentos intermediários de queratina não estejam mais

sendo produzidos por essas células, eles se tornam mais

aparentes porque as organelas das células estão

regredindo.

Uma característica importante das células nessa camada

é a presença de grânulos escuros de uma proteína

chamada de querato hialina, que une os filamentos

intermediários de queratina. Também estão presentes

nos queratinócitos os grânulos lamelares revestidos por

membrana, que se fundem com a membrana plasmática

e liberam uma secreção rica em lipídios.

Essa secreção é depositada nos espaços entre as células

da camada granulosa, da camada lúcida e da camada

córnea. A secreção rica em lipídios age como

impermeabilizante que repele a água, retardando a

perda e a entrada de água e de material estranho.

Conforme seus núcleos se fragmentam durante a

apoptose, os queratinócitos da camada granulosa não

conseguem mais realizar as funções metabólicas vitais e,


então, morrem. Desse modo, a camada granulosa marca

a transição entre as camadas mais profundas e

metabolicamente ativas e as células mortas das camadas

mais superficiais.

Camada lúcida

A camada lúcida está presente na pele espessa de áreas

como as pontas dos dedos, as palmas das mãos e as

plantas dos pés. Ele consiste entre quatro a seis

camadas de queratinócitos achatados, claros e mortos,

que contêm muita queratina e membranas plasmáticas

espessas. Isso possivelmente fornece um nível adicional

de rigidez a essa região da pele espessa.

Camada córnea

A camada córnea consiste em cerca de 25 a 30 camadas

de queratinócitos achatados e mortos, mas pode variar

em espessura desde algumas células na pele fina até 50

ou mais camadas de células na pele espessa.

As células são envelopes de queratina revestidos por

membrana plasmática, extremamente finos e achatados,

que não contêm mais um núcleo ou qualquer organela

interna. Elas são o produto final do processo de

diferenciação dos queratinócitos.

Nessa camada mais externa da epiderme, as células são

continuamente perdidas e repostas por outras das

camadas mais profundas. Suas múltiplas camadas de

células mortas ajudam a camada córnea a proteger as

camadas mais profundas contra lesões e invasões

microbianas.

13


A exposição constante da pele ao atrito estimula o

aumento da produção celular e da produção de

queratina, resultando na formação de um calo, um

espessamento anormal da camada córnea.

Queratinização e crescimento da epiderme

Células recém formadas na camada basal são

empurradas lentamente para a superfície. Conforme as

células se movem de uma camada epidérmica para a

outra, elas acumulam cada vez mais queratina, um

processo chamado de queratinização e então, sofrem

apoptose.

Eventualmente, as células queratinizadas se soltam e

são substituídas pelas células subjacentes que, por sua

vez, se queratizam. O processo completo através do qual

as células se formam na camada basal, ascendem à

superfície, se tornam queratinizadas e se soltam durante

cerca de 4 a 6 semanas em uma epiderme média de 0,1

mm de espessura.

Nutrientes e oxigênio se difundem para a epiderme

avascular a partir dos vasos sanguíneos da derme. As

células epidérmicas da camada basal se encontram mais

próximas aos vasos sanguíneos e recebem a maior parte

dos nutrientes e do oxigênio.

Essas células são mais metabolicamente ativas e sofrem

divisão celular continuamente, produzindo novos

queratinócitos. Conforme os novos queratinócitos são

empurrados para longe do suprimento sanguíneo, pela

divisão celular contínua, as camadas epidérmicas acima

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a camada basal recebem menos nutrientes e as células

se tornam menos ativas e, eventualmente, morrem.

A taxa de divisão celular na camada basal aumenta

quando as camadas externas da epiderme são removidas,

como ocorre nas abrasões e nas queimaduras. Os

mecanismos que regulam esse crescimento notável não

são bem compreendidos, porém proteínas semelhantes a

hormônios como o fator de crescimento epidérmico

(EGF, do inglês epidermal growth factor) têm

sabidamente participação no processo.

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RACIOCÍCIO CLÍNICO

CÂNCER DE PELE

CARCINOMA BASOCELULAR(CBC): é o mais prevalente dentre todos os tipos e

surge nas células basais da epiderme. Tem baixa letalidade e pode ser curado.

Surge mais frequentemente em regiões expostas ao sol, como face, orelhas,

pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Manifesta-se geralmente por uma

nodulação pequena rosada e brilhante que aumenta lentamente. Após alguns

meses ou anos, telangiectasias podem aparecer na superfície, e o centro pode

se abrir e formar uma crosta. Por vezes, o rebordo do câncer fica espesso e

adquire uma tonalidade branco-pérola. Outras vezes, o câncer pode sangrar,

formar crostas e cicatrizar, levando o paciente a pensar que se trata de uma

ferida simples em vez de um câncer. Certas manifestações do CBC podem se

assemelhar a lesões não cancerígenas, como eczema ou psoríase.

CARCINOMA ESPINOCELULAR (CEC): segundo mais prevalente, manifesta-se

nas células escamosas. Pode se desenvolver em todas as partes do corpo,

embora seja mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, rosto,

couro cabeludo, pescoço etc. A pele nessas regiões, normalmente, apresenta

sinais de dano solar, como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de

elasticidade. O CEC é duas vezes mais frequente em homens do que em

mulheres. Assim como outros tipos de câncer da pele, a exposição excessiva ao

sol é a principal causa, mas não a única.


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Alguns casos da doença estão associados a feridas crônicas e cicatrizes na

pele, uso de drogas antirrejeição de órgãos transplantados e exposição a certos

agentes químicos ou à radiação. Normalmente, os CECs têm coloração

avermelhada e se apresentam na forma de feridas espessas e descamativas,

que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Eles podem ter aparência similar

à das verrugas.

MELANOMA: tipo menos frequente dentre todos os cânceres da pele, o

melanoma tem o pior prognóstico e o mais alto índice de mortalidade,

entretanto, as chances de cura são de mais de 90%, quando há detecção

precoce da doença. O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de

um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, a “pinta” ou o

“sinal”, em geral, mudam de cor, de formato ou de tamanho, e podem causar

sangramento. O melanoma é menos comum entre pessoas de pele mais escura.

Quando o melanoma surge em pessoas de pele mais escura, muitas vezes ele

se manifesta nos leitos ungueais e nas palmas das mãos e plantas dos pés.

DISTÚRBIOS DA QUERATINIZAÇÃO

HIPERCERATOSE: é o espessamento da camada córnea, de caráter fisiológico e

adaptativo, que visa, através da produção acelerada de células fortemente

queratinizadas, fortalecer a resistência da epiderme. Este fenômeno tem um

efeito protetor benéfico, mas cria desconforto na superfície da pele, que se

torna rígida, áspera e propensa a rachar. Se o estresse físico for localizado

(fricção repetida, pressão permanente sobre uma área), a hiperqueratose

assume a aparência de um calo. O exemplo mais comum é um calo plantar,

causado por alto estresse em uma pequena área de pele, causando um

fenômeno doloroso semelhante a quando um corpo estranho entra em contato

com o pé.

CALOS E CALOSIDADES: são áreas circunscritas de hiperqueratose em locais de

pressão intermitente ou atrito, geralmente sobre uma superfície óssea (p. ex.,

cabeças calcâneas e metatarsais). Calos são mais superficiais, abrangem áreas

maiores da pele e geralmente são assintomáticos. Calosidades são mais

profundas e focais e geralmente dolorosas. O diagnóstico baseia-se na

aparência clínica. O tratamento é feito por abrasão manual com ou sem agentes

queratolíticos. A prevenção envolve alteração da biomecânica, como mudança

de calçados. Normalmente, os calos são assintomáticos, mas, se o atrito for

muito intenso, podem se tornar espessos e irritados, causando desconforto e

queimação local. As calosidades geralmente sõ dolorosas à pressão. Algumas

vezes, forma-se uma bolsa contendo líquido sob uma calosidade.


Derme

17

Segunda e mais profunda camada da pele, a derme, é

composta por um tecido conjuntivo denso não modelado

contendo fibras elásticas e colágenas. Essa rede

enovelada de fibras possui grande resistência elástica às

forças de tração ou de estiramento. A derme também

tem a capacidade de se esticar e de retornar ao estado

original facilmente.

Colágeno tipo I

Colágeno tipo III

Elastina

Proteoglicanos

Ácido

hialurônico

Figura 3- Matriz extracelular

É muito mais espessa que a epiderme e essa espessura

varia em cada região do corpo, chegando às suas

maiores espessuras nas palmas das mãos e nas plantas

dos pés. O couro de animais, que é utilizado para a

fabricação de cintos, sapatos, luvas de beisebol e bolas

de basquete é a derme seca e tratada.

As poucas células presentes na derme incluem

predominantemente fibroblastos, com alguns

macrófagos e pouco adipócitos próximos à fronteira com

a tela subcutânea. Vasos sanguíneos, nervos, glândulas e

folículos pilosos (invaginações epiteliais da epiderme)

se encontram inseridos na camada dérmica.


A derme é essencial para a sobrevivência da epiderme e

formam muitas relações funcionais e estruturais

importantes. Com base em sua estrutura tecidual, a

derme pode ser dividida em uma região papilar

superficial e fina e em uma região reticular profunda e

espessa.

A região papilar contribui em cerca de um quinto da

espessura total da derme. Ela contém fibras elásticas e

colágenas finas. Sua área de superfície aumenta muito

por causa das papilas dérmicas, pequenas estruturas

com formato de mamilo que se projetam para a

superfície abaixo da epiderme.

Todas as papilas dérmicas contêm alças capilares (vasos

sanguíneos). Algumas também contêm receptores táteis

chamados de corpúsculos táteis ou corpúsculos de

Meissner, terminações nervosas sensíveis ao toque.

Outras papilas dérmicas também contêm terminações

nervosas livres, dendritos que não possuem

especialização estrutural aparente. Diferentes

terminações nervosas livres iniciam sinais que dão

origem a sensações de calor, frio, dor, cócegas e prurido.

A região reticular, que se liga à tela subcutânea, contém

feixes de fibras colágenas espessas, fibroblastos

espalhados e várias células móveis (como os

macrófagos). Alguns adipócitos podem ser encontrados

na porção mais profunda da camada, junto com algumas

fibras elásticas grossas.

As fibras colágenas na região reticular são organizadas

de maneira semelhante a uma rede e exibem organização

18


mais regular do que aquelas encontradas na região

papilar. A orientação mais regular das fibras colágenas

ajuda a pele a resistir ao estiramento. Vasos sanguíneos,

nervos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e

sudoríparas ocupam os espaços entre as fibras.

A combinação entre fibras colágenas e elásticas na

região reticular fornece à pele força, extensibilidade, e

a capacidade de sofrer estiramento, e elasticidade, a

capacidade de retornar ao formato original após o

estiramento. A extensibilidade da pele pode ser

prontamente observada em torno das articulações, na

gravidez e na obesidade.

As superfícies das palmas das mãos, dos dedos das mãos

e das plantas dos pés possuem uma série de cristas e

sulcos. Eles aparecem como linhas retas ou como um

padrão de alças e espirais, como nas pontas dos dedos.

Essas cristas epidérmicas são produzidas durante o

terceiro mês do desenvolvimento fetal como projeções

voltadas para o interior da epiderme sobre a derme,

entre as papilas dérmicas da região papilar. As cristas

epidérmicas criam uma ligação forte entre a epiderme e

a derme em uma região de grande estresse mecânico. As

cristas epidérmicas também aumentam a área superficial

da epiderme, aumentando assim a aderência das mãos

ou dos pés, por causa do aumento do atrito.

Finalmente, como as cristas epidérmicas aumentam

muito a área de superfície, há também aumento do

número de corpúsculos táteis e do tato. Como os ductos

das glândulas sudoríferas se abrem no topo das cristas

19


epidérmicas como poros, o suor e as cristas produzem as

impressões digitais quando se toca um objeto liso.

O padrão epidérmico é determinado em parte

geneticamente e é único para cada indivíduo. Mesmo

gêmeos idênticos possuem padrões diferentes.

Normalmente, o padrão de cristas não muda durante a vida.

Além de formar as cristas epidérmicas, a superfície

papilar complexa da derme possui outras propriedades

funcionais. As papilas dérmicas aumentam muito a

superfície de contato entre a derme e a epiderme. Esse

aumento da superfície de contato dérmica com sua rede

extensa de pequenos vasos sanguíneos, proporciona uma

fonte importante de nutrição para a epiderme

sobrejacente.

As moléculas se difundem a partir dos pequenos

capilares sanguíneos nas papilas dérmicas até as células

do extrato basal, permitindo que as células tronco

epiteliais basais se dividam e que os queratinócitos

cresçam e se desenvolvam.

Conforme os queratinócitos são empurrados para a

superfície e para longe da fonte sanguínea dérmica, eles

não são mais capazes de obter a nutrição necessária,

levando a uma clivagem eventual de suas organelas, as

papilas dérmicas são mantidas unidas com as cristas

epidérmicas complementares, formando uma junção

extremamente forte entre as duas camadas.

Essa conexão serrilhada semelhante a um quebra cabeça

fortalece a pele contra as forças de cisalhamento (forças

que se deslocam lateralmente uma em relação à outra),

que tentam separar a epiderme da derme.

20


RACIOCÍCIO CLÍNICO

21

ENVELHECIMENTO CUTÃNEO

O envelhecimento da pele tem basicamente dois componentes: o

envelhecimento intrínseco, decorrente da passagem natural do tempo e o

envelhecimento extrínseco, provocado por fatores ambientais que interagem

com a pele. Dentre eles, o mais conhecido é o chamado fotoenvelhecimento,

causado pela exposição ao sol.

O envelhecimento intrínseco (cronológico) acompanha o processo ocorrido

também com outros órgãos diante da degeneração natural do corpo e não tem

relação com fatores ambientais. Com o passar dos anos, as células diminuem

sua capacidade de renovação e cai drasticamente a produção das fibras de

colágeno e elastina, que conferem firmeza e tonicidade. Assim, a pele perde

elasticidade e se torna mais fina e flácida, passando a apresentar rugas. A

menor atividade das glândulas sudoríparas torna a pele mais seca, e a

diminuição da microcirculação sanguínea reduz sua vitalidade e luminosidade.

Além disso, efetuamos todos os dias mais de 1.500 contrações faciais, que

marcam a epiderme na forma de linhas finas e rugas de expressão. O processo

de envelhecimento cronológico acentua as rugas de expressão, que tendem a

ficar mais profundas e marcadas.

Já o fotoenvelhecimento tem características que o diferenciam do

envelhecimento cronológico da pele. Apenas a pele que foi cronicamente

exposta à radiação UV é que apresentará os sinais do fotoenvelhecimento

(áreas da pele que costumam ser cobertas pelas roupas ou protegidas do sol

não apresentam tais sinais). Ao penetrarem na derme, os raios ultravioletas

provocam quebra das fibras colágenas. Se na juventude a pele consegue

corrigir naturalmente essas alterações provocadas pelo sol, na maturidade já

não é mais possível reverter os danos. Conforme o tempo passa, a pele

incorretamente reconstruída forma rugas e adquire um aspecto “curtido”,

apresentando manchas acastanhadas.

Vale lembrar que os efeitos provocados pela exposição ao sol são cumulativos.

Estima-se que recebemos 80% de toda a radiação solar da vida até os 18 anos,

e os danos causado pelos excessos na infância e adolescência só serão

percebidos anos depois. Daí a importância de se estimular o uso do protetor

solar desde cedo.

ESTRIAS

São lesões semelhantes às cicatrizes, que ocorrem por distensão da derme,

levando à ruptura de fibras elásticas e colágenas que sustentam e dão

elasticidade à pele. São mais frequentes entre mulheres, mas podem se


22

manifestar também em homens. Seu surgimento é mais comum na

adolescência, na gravidez e em fases de rápido ganho de peso. As estrias

também podem surgir devido a doenças pouco comuns, como síndrome de

Cushing, síndrome de Marfan e síndrome de Ehlers-Danlos. Alguns

medicamentos, como os corticoides, podem causar estrias como efeito

colateral. Quando causadas por corticoides, as estrias são geralmente maiores,

mais largas e ocorrem em maior quantidade. Tanto corticoides utilizados por via

oral quanto os utilizados topicamente podem causar estrias, quando utilizados

em altas doses ou em excesso. Por isso, o uso de corticoides tópicos,

principalmente os mais potentes, não devem ser utilizados por longos períodos

sem pausas. São lesões lineares, geralmente múltiplas, com extensão variável,

e podem aparecer principalmente nas mamas, nádegas, abdômen, coxas e

dorso. Logo que surgem, as estrias são rosadas, arroxeadas ou cor da pele,

deprimidas ou discretamente elevadas. Na fase tardia, são brancas com

espessura e largura variáveis, com um leve enrugamento devido ao surgimento

de atrofia epidérmica.

Hipoderme

A hipoderme ou tela subcutânea é originária do

mesoderma, tem as funções de proteção,

armazenamento energético, isolamento térmico, além de

determinar a harmonia da forma das regiões do corpo. É

constituida por tecido conjuntivo e representa entre

15% a 30% do peso corporal.

A ligação entre a derme e a hipoderme é garantida por

fibras de elastina e colágeno. A espessura da hipoderme

varia de acordo com a região do corpo e sexo do

indivíduo. É bem suprida de vasos sangüíneos, vasos

linfáticos e nervos.

A hipoderme compõe-se de duas camadas, das quais a

mais superficial, chamada de areolar, que é composta


por adipócitos globulares e volumosas, em disposição

vertical, onde os vasos sangüíneos são numerosos e

delicados. Abaixo da camada areolar existe uma lâmina

fibrosa, de desenvolvimento variável conforme a região,

que é a fáscia superficial ou subcutânea que separa a

camada areolar da camada mais profunda, a camada

lamelar, sendo que nesta ocorre aumento de volume de

adipócitos, que chegam invadir a fáscia superficial.

A camada areolar está formada por células globulares,

túrgidas e superpostas, comparadas a pacotes

tridimensionais em que o tecido conjuntivo

extremamente delgado mantém as células em posição,

por onde passam vasos e nervos que atingem o derma

para formar os respectivos plexos.

A camada lamelar é constituída de células adiposas

fusiformes e pequenas, superpostas em lâminas que

armazenam em maior volume a gordura em excesso pelo

tropismo natural, causando as dismorfias localizadas em

que a genética é o maior fator determinante.

23

RACIOCÍCIO CLÍNICO

CELULITE

Decorre do depósito de gordura, provocando saliências ou depressões na pele,

principalmente das nádegas, pernas e abdômen. Trata-se de uma condição

causada por alterações no tecido gorduroso sob a pele, em conjunto com

alterações na microcirculação e consequente aumento do tecido fibroso. Como

as mulheres têm mais tendência a acumular células de gordura, são mais

predispostas à celulite que os homens – aproximadamente 90% da população

feminina sofre com o problema.

A celulite pode ser dividida em quatro graus:

Grau 1: sem ondulações ou irregularidades. Ao comprimir a pele, surgem

pequenas ondulações e “furinhos”.


Grau 2: ondulações e “furinhos” já são percebidos sem comprimir a pele.

Grau 3: nódulos claramente perceptíveis.

Grau 4: vários nódulos, celulite “dura”. Há inchaço, comprometimento da

circulação de retorno, pele com aspecto acolchoado.

24

Anexos cutâneos

Pelos

Os pelos são encontrados na maior parte das superfícies

cutâneas, exceto nas palmas das mãos, nas superfícies

palmares dos dedos, nas plantas dos pés e nas

superfícies plantares dos dedos dos pés.

Nos adultos, os pelos em geral são distribuídos mais

intensamente na cabeça, nas sobrancelhas, nas axilas e

ao redor da genitália externa. Influências genéticas e

hormonais determinam fortemente a espessura e o

padrão da distribuição dos pelos.

Embora a proteção que eles forneçam seja limitada, os

pelos na cabeça protegem a pele das lesões e dos raios

solares. Eles também diminuem a perda de calor pela

cabeça. Sobrancelhas e cílios protegem os olhos contra

partículas estranhas, assim como os pelos nas narinas e

no meato acústico externo protegem essas estruturas.

Receptores táteis (os plexos das raízes pilosas)

associados aos folículos pilosos são ativados sempre que

um pelo é movido, mesmo que levemente. Assim, os

pelos também agem na percepção dos toques leves.


As glândulas sebáceas e um feixe de células musculares

lisas também estão associados aos pelos. O músculo liso

é denominado eretor do pelo. Ele se estende da derme

superficial da pele até a bainha dérmica da raiz em

torno do folículo piloso.

Em sua posição normal, o pelo emerge em um ângulo

menor que 90° em relação à superfície da pele. Sob

estresse fisiológico ou emocional, como frio ou medo, as

terminações nervosas autônomas estimulam a contração

dos músculos eretores dos pelos, tracionando -os e

deixando- os perpendiculares à superfície da pele.

Essa ação causa calafrios e arrepios porque a pele ao

redor do pelo forma pequenas elevações. Ao redor de

cada folículo piloso se encontram dendritos de

neurônios que formam um plexo da raiz do pelo,

sensível ao toque. Os plexos da raiz do pelo geram

impulsos nervosos se seus pelos forem removidos.

Glândulas sebáceas

As glândulas sebáceas são glândulas acinares (redondas)

simples ramificadas. Com algumas exceções, elas estão

conectadas aos folículos pilosos. A porção secretória de

uma glândula sebácea se encontra na derme e, em geral,

se abre em um folículo piloso. Em alguns locais, como

nos lábios, na glande peniana, nos lábios menores do

pudendo e nas glândulas do tarso das pálpebras, as

glândulas sebáceas se abrem diretamente na superfície

da pele.

Inexistentes nas palmas das mãos e nas plantas dos pés,

as glândulas sebáceas são pequenas na maior parte das

25


áreas do tronco e dos membros, mas são grandes na pele

do tórax, da face, do pescoço e da parte anterossuperior

do tórax.

As glândulas sebáceas secretam uma substância oleosa

chamada sebo, uma mistura de triglicerídios, colesterol,

proteínas e sais inorgânicos. O sebo reveste a superfície

dos pelos e ajuda a evitar que eles ressequem e se

tornem quebradiços. O sebo também evita o excesso de

evaporação de água na pele, mantém a pele macia e

flexível e inibe o crescimento de algumas bactérias.

Glândulas sudorípras

São divididas em dois tipos principais: écrinas e

apócrinas, com base em sua estrutura e tipo de secreção.

As glândulas sudoríparas écrinas são glândulas

tubulares simples enoveladas que são muito mais

comuns do que as glândulas sudoríparas apócrinas. Elas

estão distribuídas ao longo da pele na maior parte das

regiões do corpo, especialmente na pele da testa, das

palmas das mãos e das plantas dos pés.

Não existem glândulas sudoríparas écrinas nas margens

dos lábios, nas bases das unhas, na glande peniana, no

clitóris, nos pequenos lábios e nas membranas

timpânicas.

Sua porção secretória se encontra principalmente na

derme profunda e algumas vezes na camada superior da

tela subcutânea. O ducto excretório se projeta através

da derme e da epiderme e termina como um poro na

superfície da epiderme.

26


Produzem por dia cerca de 600ml de suour que é

constituído principalmente por água, com pequenas

quantidades de íons (principalmente Na + e Cl – ), uréia,

ácido úrico, amônia, aminoácidos, glicose e ácido

láctico.

Sua principal função das glândulas sudoríferas écrinas é

ajudar a regular a temperatura corporal por meio da

evaporação. Conforme o suor evapora, muita energia

térmica deixa a superfície corporal.

As glândulas sudoríparas apócrinas também são

glândulas tubulares simples enoveladas, porém com

ductos e lumens maiores do que as glândulas écrinas.

Elas são encontradas principalmente na pele da axila, da

região inguinal, das aréolas e nas regiões com barba na

face de homens adultos.

Acreditou- se durante um tempo que essas glândulas

liberassem suas secreções de maneira apócrina –

liberando uma porção da célula. Agora sabemos que sua

secreção ocorre via exocitose, que é característica das

glândulas écrinas. Ainda assim, o termo apócrina é

utilizado.

A porção secretória dessas glândulas está localizada na

camada dérmica inferior ou na porção superior da tela

subcutânea e o ducto excretório se abre nos folículos

pilosos. Em comparação com o suor écrino, o suor

apócrino tem aspecto leitoso ou amarelado. O suor

apócrino contém os mesmos componentes do suor

écrino, além de lipídios e proteínas.

O suor secretado das glândulas sudoríferas apócrinas é

inodoro.

27


Entretanto, quando o suor apócrino interage com as

bactérias na superfície da pele, as bactérias

metabolizam seus componentes, fazendo com que o suor

apócrino tenha um odor característico que é chamado

frequentemente de odor corporal. As glândulas

sudoríparas écrinas começam a funcionar logo após o

nascimento, já as glândulas apócrinas começam a

funcionar apenas na puberdade.

28

RACIOCÍCIO CLÍNICO

ACNE

A acne é uma doença bastante comum a partir da adolescência. É caracterizada

por cravos e espinhas resultantes de um processo inflamatório das glândulas

sebáceas e dos folículos pilossebáceos. As áreas mais atingidas são o rosto,

peito e dorso. Pode ser bastante incômoda e deixar cicatrizes.

A manifestação da acne está relacionada ao comportamento de hormônios

sexuais masculinos ou andrógenos, produzidos tanto em homens quanto em

mulheres. A elevação de níveis hormonais durante a adolescência provoca

aumento da produção de gordura pelas glândulas sebáceas da pele, fazendo

com que a doença seja muito comum na puberdade. No entanto, não é exclusiva

dessa faixa etária. Pode atingir jovens e adultos com mais de 40 anos.

As glândulas sebáceas são conectadas aos folículos pilosos e produzem uma

substância gordurosa (sebo) que alcança a superfície da pele após seu

esvaziamento através de uma abertura do folículo piloso. O sebo estimula as

células da parede interna do folículo que, então, desprendem-se mais

rapidamente e se agrupam formando um “tampão” na superfície da pele,

formando os conhecidos “cravos”. Posteriormente , há crescimento bacteriano

no interior do folículo, com consequente inflamação local e acúmulo de pus na

lesão, provocando as chamadas “espinhas”.

Os sintomas da acne variam de acordo com cada pessoa e, na maioria das

vezes, são de pequena a média intensidade. As manifestações são variadas e

incluem:

Comedões (cravos): causados pelo entupimento da saída dos folículos

pilosos com sebo.

Pápulas: pequenas lesões sólidas elevadas, arredondadas, endurecidas e

avermelhadas.


29

Pústulas: são as pápulas que contém pus, as famosas “espinhas”.

Nódulos e cistos: lesões maiores que as pápulas e pústulas, se tornam

inflamados e expandem-se por camadas mais profundas da pele, podendo

ser dolorosos e deixar cicatrizes.

A acne pode ser classificada conforme sua gravidade:

Acne Grau I: presença apenas de comedões (cravos), sem lesões

inflamatórias (espinhas).

Acne Grau II: comedões, pápulas e pústulas.

Acne grau III: comedões, pústulas e cistos.

Acne Grau IV: comedões, pústulas e lesões císticas maiores que podem se

interconectar pela pele, formando “túneis”.

Unhas

As unhas são placas de células epidérmicas

queratinizadas mortas, duras e firmemente compactadas

que formam uma cobertura sólida e clara sobre as

superfícies dorsais das porções distais dos dedos. Cada

unha é formada pelo corpo da unha, uma borda livre e

uma raiz da unha.

O corpo da unha é a porção visível da unha. Ele é

comparável à camada córnea da epiderme da pele,

exceto pelo fato de que suas células queratinizadas

achatadas são preenchidas por um tipo mais rígido de

queratina e não se soltam.

Abaixo do corpo da unha se encontra uma região de

epitélio e uma camada mais profunda de derme. A maior

parte do corpo da unha parece rosa por causa do sangue

que flui através dos capilares na derme subjacente.

A extremidade livre é a porção do corpo da unha que

pode ultrapassar a extremidade distal do dedo. A

extremidade livre é branca porque não há capilares

subjacentes.


A raiz da unha é a porção da unha encerrada em uma

dobra de pele. A área esbranquiçada com formato de

crescente da extremidade proximal do corpo da unha é

chamada de lúnula (pequena lua). Ela parece branca

porque o tecido vascularizado subjacente não é aparente

por causa de uma região espessa de epitélio nessa área.

Abaixo da extremidade livre se encontra uma região

espessa de camada córnea chamada de hiponíquio que

une a unha à ponta do dedo.

O leito da unha é a pele abaixo do corpo da unha que se

estende da lúnula até o hiponíquio. A epiderme do leito

da unha não possui camada granulosa.

O eponíquio ou cutícula é uma banda estreita de

epiderme que se estende a partir da margem lateral da

parede da unha e adere a ela. Ele ocupa a borda

proximal da unha e consiste em camada córnea.

A porção de epitélio proximal à raiz da unha é a matriz

da unha. As células superficiais da matriz da unha se

dividem mitoticamente, produzindo novas células da

unha. A taxa de crescimento das unhas é determinada

pela taxa de mitose dos queratibócitos da matriz, que é

influenciada por fatores como idade, saúde e estado

nutricional do indivíduo. O crescimento médio em

comprimento das unhas dos dedos das mãos é de cerca

de 1 mm por semana. A taxa de crescimento das unhas

dos dedos dos pés é menor. Quanto maior o dedo, mais

rápido a unha cresce.

As unhas possuem uma variedade de funções:

proteção das porções distais dos dedos

30


suporte e pressão contrária à superfície palmar dos

dedos das mãos, aumentando a percepção de toque e

de manipulação.

permitem apanhar e manipular pequenos objetos e

podem ser utilizadas para coçar e arranhar.

31

Extremidade

livre

Corpo

Raiz

Eponíquio Lúnula

Corpo

Extremidade

livre

Lúnula

Hiponíquio

Eponíquio

Epiderme

Raiz

Derme

Falange

Matriz

Leito

Figura 4- Visão de corte unha e estruturas

RACIOCÍCIO CLÍNICO

ONICOCRIPTOSE

Normalmente referida como ‘’unha encravada’’ caracteriza-se pela penetração

da lâmina ungueal nos tecidos periungueais, causando normalmente uma

reação inflamatória, dor e limitação funcional, prejudicando assim a qualidade

de vida por interferir em atividades laborais, escolares ou de desporto. Pode

ocorrer em qualquer idade, no entanto os adolescentes e adultos jovens são as

faixas etárias mais afetadas pela onicocriptose, no entanto.

Geralmente, o canto da unha, se encontra penetrado nos tecidos periungueais, e

os principais sinais clínicos são: edema e hiperemia adjacentes, exudato

purulento e granuloma.

Dentre as principais causas da unha encravada estão: uso de sapatos apertados

ou pontiagudos, salto alto e meias muito apertadas; hipercurvatura transversa

da unha, infecção por fungos, distrofias por doenças inflamatórias, métodos

incorretos de corte; dedo muito largo ou desviado em valgo, que favorece a

compressão pelo calçado, pé valgo, que aumenta pressão do dedo contra a


32

borda interna do sapato; tuberculose, sífilis ou diabetes que apresentam

fatores tróficos, traumas, que podem lesar a matriz da unha ou pressioná-la

contra tecidos vizinhos.

A unha encravada pode ser classificada em 3 estágios, de acordo com o seu

grau de gravidade, a saber:

Grau I: edema, rubor e dor que aumenta à pressão.

Grau II: mantém todos os sinais e sintomas do Grau I, existindo também

infeção. Apresenta, muitas vezes, tecido de granulação, exsudato ou

ulceração do tecido afetado.

Grau III: dor, secreção e hipertrofia da área acometida. Inflamação crônica com

formação de tecido de granulação epitelizado e alteração hipertrófica da lamina

ungueal.

Funções da pele

As funções do tegumento comum, principalmente da

pele, incluem termorregulação, armazenamento de

sangue, proteção, sensibilidade e interação com o meio

externo, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico,

excreção e absorção, e síntese de vitamina D. Além

disso, a cor, a textura e as dobras da pele, descrições de

marcas, crescimentos e alterações da cor da pele,

contribuem para identificar cada indivíduo.

Termorregulação e armazenamento de sangue

É a regulação homeostática da temperatura corporal. A

pele contribui para a termorregulação de dois modos:

liberando suor em sua superfície e ajustando o fluxo de

sangue na derme. Em resposta a uma elevada

temperatura ambiental ou ao calor produzido pelo

exercício ou febre, a produção de suor pelas glândulas

sudoríparas écrinas aumenta e a evaporação do suor na

superfície da pele ajuda a diminuir a temperatura

corporal.


Além disso, os vasos sanguíneos na derme dilatam;

consequentemente, mais sangue flui pela derme,

aumentando o calor perdido pelo corpo.

Em resposta a temperatura ambiental baixa, a produção

de suor pelas glândulas sudoríparas écrinas diminui,

ajudando a conservar o calor. A vaso constrição na

derme reduz o fluxo de sangue na pele e a perda de

calor. Aliado a isso, contrações no músculo esquelético

geram calor corporal.

A derme abriga uma rede extensa de vasos sanguíneos

que carregam 8 a 10% do fluxo sanguíneo total em um

adulto em repouso. Por esse motivo, a pele funciona

como reservatório de sangue.

Proteção

A pele fornece proteção ao corpo de vários modos:

proteção mecânica, contra raios UV, contra

microrganismos, calor e substâncias químicas.

Os queratinócitos altamente unidos resistem à invasão

por microrganismos. Os lipídios liberados pelos grânulos

lamelares inibem a evaporação de água a partir da

superfície da pele, protegendo contra a desidratação.

Eles também protegem da entrada de água pela

superfície da pele durante o banho ou a natação.

A espessura da pele, as características de resistência e

eslasticidade conferidas pelo colágeno e elastina da

derme, bem como a presença do tecido subcutâno,

conferem a pele capacidade de proteção contra traumas

mecânicos como absorção de impato, abrasão,

cisalhamento, etc.

33


O sebo gerado pelas glândulas sebáceas evita que pele e

pelos se ressequem, além de conter substâncias

químicas bactericidas. O pH ácido da emulsão

epicutânea retarda o crescimento de alguns

microrganismos.

O pigmento melanina ajuda a proteger contra os efeitos

prejudiciais da radiação ultravioleta. Dois tipos de

células realizam funções protetoras de natureza

imunológica. Os macrófagos intraepidérmicos alertam o

sistema imune para a existência de invasores

microbianos potencialmente perigosos reconhecendo-os

e processando-os, e os macrófagos na derme fagocitam

bactérias e vírus que conseguem passar pelos

macrófagos intraepidérmicos na epiderme.

Sensibilidade cutânea e interação com o meio externo

A sensibilidade cutânea é aquela que se origina na pele,

incluindo a sensibilidade tátil – toque, pressão, vibração

e cócegas – bem como sensibilidade térmica como calor

e frio. Outra sensibilidade cutânea, a dor, em geral é um

indício de lesão tecidual iminente ou real.

Existe uma grande variedade de terminações nervosas e

receptores distribuídos pela pele, incluindo os discos

táteis da epiderme, os corpúsculos táteis na derme e os

plexos das raízes pilosas ao redor de cada folículo

piloso.

Equilíbrio hidroeletrolítico, excreção e absorção

A pele desempenha um papel importante na excreção,

nsubstâncias oriundas do metabolismo, e na absorção

34


de substâncias do ambiente externo para as células do

corpo.

Apesar da natureza praticamente à prova d’água da

camada córnea, cerca de 400 ml de água evaporam

diariamente através dela. Um indivíduo sedentário perde

200 ml adicionais por dia com o suor; indivíduos

fisicamente ativos perdem muito mais.

Além de remover água e calor do corpo, o suor também

é o veículo para a excreção de pequenas quantidades de

sais, dióxido de carbono e duas moléculas orgânicas

resultantes do metabolismo de proteínas: amônia e

ureia.

A absorção de substâncias hidrossolúveis através da

pele é negligenciável, porém determinados materiais

lipossolúveis penetram na pele. Eles incluem vitaminas

lipossolúveis (A, D, E e K), alguns fármacos e os gases

oxigênio e dióxido de carbono.

Material tóxico que pode ser absorvido pela pele inclui

solventes orgânicos como acetona e tetracloreto de

carbono, sais de metais pesados como chumbo, mercúrio

e arsênico.

Uma vez que esteroides tópicos, como a cortisona, são

lipossolúveis, eles se movem facilmente para a região

papilar da derme. Ali, eles podem exercer suas

propriedades antiinflamatórias pela inibição da

produção de histamina pelos mastócitos.

De maneira geral, fármacos lipossolúveis são absorvidos

pela pele podendo ser administrados por esta via.

35


36

Síntese de vitamina D

A vitamina D3 é metabolizada na pele a partir do 7-

dihidrocolesterol (7-DHC) por ação da radiação

ultravioleta B (RUVB), no comprimento de onda de

300±5nm. Perante esta exposição o 7-DHC da membrana

plasmática dos queratinócitos e fibroblastos é

convertido em pré-vitamina D, que por efeito térmico,

não enzimático, sofre um rearranjo em colecalciferol.

O colecalciferol é metabolizado no fígado em calcidiol,

(25-hidroxivitamina D), que representa a principal forma

de vitamina D circulante, com uma meia-vida de 2-3

semanas e uma potência inferior a 1% da potência do

metabólito mais ativo, a 1,25-dihidroxivitamina D

(calcitriol). O calcitriol é sintetizado nas células

tubulares proximais renais, a partir do calcidiol, por

ação da 25-hidroxivitamina D-1-αhidroxilase.

A vitamina D tem como efeito biológico principal a

promoção da mineralização óssea e a regulação da

homeostasia do metabolismo cálcio-fósforo. Além disso,

atua como hormômio regulando a expressão de mais de

200 genes em diferentes tipos de células com os

recetores específicos. Seu déficit está associado a risco

aumentado para diversas doenças, nomeadamente

autoimunes, neoplásicas, cardiovasculares e

neurológicas, entre outras.

Apenas uma exposição breve à luz UV (cerca de 10 a 15

min pelo menos 2 vezes/semana) é necessária para a

síntese de vitamina D.

A produção cutânea de vitamina D é muito eficaz e

responsável por 85- 90% do seu aporte. Apesar da

elevada eficácia da produção de vitamina D sob ação

solar, não existe risco de hipervitaminose pois com

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