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Bert Helinger - Olhando para a alma das crianças

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Bert Hellinger

OLHANDO PARA A ALMA

DAS CRIANÇAS

A Pedagogia Hellinger® ao vivo

Tradução

Daniel Mesquita de Campos Rosa

Tsuyuko Jinno-Spelter

Revisão técnica

Tsuyuko Jinno-Spelter

Conforme revisão ortográfica de 2009

Belo Horizonte – MG

2015


Este livro simplesmente conta histórias que são retiradas da vida em

sua totalidade.

São histórias de crianças que descobrem em suas almas um tesouro

escondido: um tesouro que as torna felizes, assim como a seus pais.

Hellinger traz à luz esses tesouros, de forma direta e sem desvios,

para que as crianças e seus pais aprendam com eles.

Muitas dessas histórias podem ser lidas como contos de fadas e,

mesmo assim, são verdadeiras, verdadeiramente libertadoras para

muitos.

Cada história é autônoma. Cada uma delas nos leva a um tesouro

oculto, em uma profundeza oculta.

É na história que o tesouro é trazido à luz, a uma luz libertadora.

BERT HELLINGER

Título do original alemão

Kindern in die Seele schauen

Hellinger Publications 2013 - Copyright by Bert Hellinger

Printed in Germany

1 a edição - 2013

Todos os direitos para a língua portuguesa reservados. Nenhuma parte deste livro pode

ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecânico,

inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados) sem

permissão escrita do detentor do "Copyright", exceto no caso de textos curtos pcra fins

de citação ou crítica literária.

I a Edição - 2015


ISBN 978-85-98540-78-8

Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela:

EDITORA ATMAN Ltda.

Rua Cons. Joaquim Caetano, 1185 - Bairro Nova Granada - 30431-320 - B. Horizonte -

MG

Tel.: (31) 2516-2527 - http://www.atmaneditora.com.br

editora@atmaneditora.com.br

que se reserva a propriedade literária desta tradução.

Coordenação editorial: Tsuyuko Jinno-Spelter

Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter

Revisão ortográfica: Gisele Freitas de Aguiar

Designer de capa: Alessandra Duarte

Diagramação: Virtual Diagramação

Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme o decreto no 10.994,

H 477 o Hellinger, Bert.

de 14 de dezembro de 2004.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Olhando para a alma das crianças / Bert Hellinger; tradução de Daniel Mesquita de

Campos Rosa, Tsuyuko Jinno-Spelter. Belo Horizonte: Atman, 2015. p. il. 288

ISBN: 978-85-98540-78-8

1. Psicologia Infantil. 2. Felicidade. I. Rosa, Daniel Mesquita de Campos (Trad.). II.

Jinno-Spelter, Tsuyuko (Trad.). III. Título.

• 618.928 9

Pedidos:

www.atmaneditora.com.br

Catalogação na fonte Carolina Simões Barbosa CRB6-2110

comercial@atmaneditora.com.br

Este livro foi impresso com:

Capa: supremo LD 250 g/m 2

Miolo: offset LD 75 g/m 2


INTRODUÇÃO

Este livro conta histórias: histórias reais. Podemos lê-las como histórias,

através das quais olhamos para nossa alma: para nossa alma como crianças

e para a alma de nossos filhos. Podemos até lê-las para nossos filhos, mas

sempre apenas uma. Crianças mais velhas podem lê-las sozinhas e, com a

sua ajuda, compreender a própria alma de uma maneira que às permite

respirar aliviadas. Finalmente, encontram uma saída para si. E nós

encontramos uma saída para nós mesmos e para nossos filhos.

Como ler este livro? Talvez de uma forma libertadora, para além de nossos

medos com relação a estarmos, nós e nossos filhos, no caminho certo.

Olhamos para a nossa alma e respiramos aliviados. O que acontece quando

nos entregamos a estas histórias e nos deixamos levar por elas?

Compreendemos que todas as crianças são boas, assim como nós, contanto

que olhemos para a nossa alma com amor.

A AJUDA QUE DEMANDA

Trechos curtos extraídos de um curso para jovens de orfanatos, seus

educadores e pais

Bad Kreuznach, 2001

CONTEXTO

HELLINGER: Muitas crianças são oprimidas por destinos e experiências de


infância. Principalmente aquelas que vão para orfanatos. Algumas delas

perderam os pais e foram entregues a outros, algumas não tinham lugar em

casa, seja qual for o motivo. Esses são destinos que oprimem. Umas lidam

com isso melhor que as outras. Muitas vezes, a dificuldade surge quando

olhamos para o que está próximo. A criança olha para sua mãe e para seu

pai, os quais ela talvez nem mesmo conheça. Entretanto, ela olha para eles

e talvez esteja zangada com eles. Ela sente falta deles, está triste e, às

vezes, desesperada. Quando se continua assim nessa ligação - da criança

em relação aos pais e dos pais em relação à criança - é estabelecida uma

tensão. A criança não consegue olhar para seus pais da forma como são.

NOSSOS PAIS DA FORMA QUE SÃO

O que significa "pais e filhos"? Significa que os filhos receberam a vida

desses pais específicos. Não existem outros pais a não ser esses. Por esse

motivo, são os melhores pais: os únicos possíveis e, por isso, os únicos

certos.

A pergunta é: de onde vem a vida que nossos pais nos transmitiram? Eles

a receberam de seus pais, e estes, por sua vez, de seus pais. A vida vem de

longe, o quão longe não sabemos. Ela se perde em algo não reconhecido e

desconhecido para nós.

Mesmo assim, a vida que flui por essas gerações é sempre a mesma. Nada

se altera nela. Por isso, não faz diferença como foram os pais. Todos são

iguais naquilo que receberam e transmitiram.

O CORAÇÃO AMPLO

Quando uma criança que teve um destino pesado não olha apenas para os

pais, mas para todas as gerações antes deles, até a origem da vida e quando

ela retira a vida daí, da forma como lhe é chegada através de todas essas

gerações, seu coração se amplia. Sabemos e sentimos que estamos ligados

a algo maior, para além de nossos pais, e obtemos uma força especial a

partir dessa grandeza.

Entretanto, devido a esses pais específicos, também nos sentimos

limitados. Faltam-nos possibilidades, mas, através de nossos pais, temos

certas capacidades e possibilidades. Muitas vezes, o destino pesado é maior


que o leve. Vou contar uma história sobre isso.

A GRANDEZA

Em Londres, trabalhei com uma mulher que havia tido paralisia infantil.

Andava de cadeira de rodas e tinha um marido amável, que a ajudava.

Perguntei a ela: "Seus pais agradeceram pelo fato das coisas terem dado

certo para você?” Após ouvir sua resposta negativa, perguntei: "Você pode

agradecer agora?” E ela pôde fazê-lo.

Então a fiz imaginar que tivesse crescido como as outras meninas e, depois,

se ver crescida da forma como era na realidade. Depois perguntei a ela: "O

que é maior?" Ela começou a chorar. Não queria responder. Perguntei

novamente a ela: "Qual dos dois destinos é maior? O seu ou o outro?" Ela

disse: "O meu.” Havia aí uma outra força por trás.

Assim, todos aqueles que têm um destino especial devem ver que há uma

força especial por trás deles, desde que concordem com ele e façam algo a

partir dele.

É nesse sentido que trabalharei com as crianças aqui e tentarei encontrar

uma boa solução. Verei se consigo mobilizar forças que provêm dos

próprios pais, do próprio destino e da origem, para que, com essa força,

possam comandar a própria vida de forma que sintam: "a vida que tenho

está certa e é boa.”

A LIGAÇÃO

HELLINGER: Faço parte de uma família. Nossa família está ligada a algo

maior, a um grupo, e este é comandado por uma consciência coletiva. Essa

consciência não é consciente, é inconsciente. Essa consciência possui leis

rígidas. A primeira lei rígida nessa consciência é: ninguém que pertence a

ela pode ser excluído. Quando alguém é excluído, essa consciência obriga

alguém que vem depois a representar esse excluído. Ou seja, sob a

influência dessa consciência, o indivíduo não é livre.

QUEM PERTENCE À NOSSA FAMÍLIA?


Sendo assim, precisamos saber quem pertence ao grupo que é comandado

por essa consciência coletiva. Começando por baixo, são eles: os pais, seus

irmãos, os avós e, às vezes, também os bisavós. Esses são os parentes

consanguíneos.

Também pertencem ao grupo todos aqueles que cederam lugar a alguém da

família em benefício de alguém da família. Por exemplo, a primeira esposa

do pai, ao morrer, cede lugar à segunda. Sendo assim, ela também pertence

ao grupo. Se ela e o pai tiverem apenas se separado, ela também cedeu

lugar. Ela também pertence.

Se houver, em uma família, grandes riquezas que tenham sido obtidas à

custa de outros, à custa de suas vidas, todas essas vítimas também

pertencem ao grupo.

Por último, algo importante que só pude ver claramente nos últimos anos:

se houver assassinos na família, suas vítimas pertencem ao grupo. Da

mesma forma, se houver na família uma vítima de assassinato, o assassino

respectivo também pertence a ela.

Isso traz amplas consequências. Em Israel, por exemplo, pude ver que os

assassinos da época do holocausto também pertencem às famílias dos

descendentes dos sobreviventes do holocausto. Quando isso não é

respeitado, são representados na família. Quando eles não são acolhidos, a

família enfrenta consequências pesadas. Os assassinos devem ser

acolhidos. Para nós, na Alemanha, isso significa que devemos dar a todos

aqueles que rejeitamos como criminosos da época do nazismo um lugar em

nosso coração. Do contrário, não haverá paz.

Fiz uma constelação na Universidade de Ben Gurion, em Israel. Tratava-se

de uma cliente com claro risco de suicídio: ela queria seguir aqueles de sua

família que tinham sido assassinados. A bênção que a permitiu continuar

viva não veio das vítimas, mas sim dos assassinos. Ver isso a abalou.

O OUTRO AMOR

Quando lidamos com crianças ou jovens e não sabemos como ajudá-los,

porque talvez sejam rebeldes ou agressivos, ou talvez queiram morrer ou

fugir, às vezes somos tentados a dar-lhes bons conselhos. Isso é uma


completa perda de tempo, como os educadores sabem, pois a criança ou o

jovem não se sente compreendido.

O que quer que façam, se desejarem se matar ou fugir, ou se forem

agressivos, todos o fazem por amor. A pergunta é apenas: amor por quem?

Temos de descobrir para onde vai o seu amor e de quem talvez tenham

raiva, justamente porque a amam.

Existirão novos panoramas e perspectivas se soubermos disso. Então a

criança se sente compreendida e consegue, lentamente, reunir forças para

algo maior. Por isso é tão valioso aquilo que é trazido à luz através das

Constelações Familiares, assim como esses emaranhamentos de muitas

gerações atrás.

Contarei um exemplo de como algo assim pode acontecer.

Há pouco tempo dei um curso no Japão. Uma mulher disse que não queria

ir para casa, pois seus pais a rejeitavam. Fiz uma constelação com

representantes dela e de sua mãe. A representante dela fez uma cara

agressiva. Então pedi a ela que dissesse à mãe: Vou te matar. Ela disse que

não tinha coragem de dizer aquilo.

Em seguida Coloquei a própria cliente na constelação e pedi a ela que

dissesse o mesmo à mãe: “Vou te matar. Ela o disse com raiva. Quando

perguntei se a frase era verdadeira, ela disse: "Não totalmente: eu apenas

quero que ela morra."

Na prática, isso significa que essa mulher quer se matar. Sua alma não

suporta isso. Quando uma pessoa tem esses sentimentos agressivos em

relação a seus pais, ela se mata. Não há outro caminho. Entretanto, não fiz

nada. Interrompi a constelação e não fiz mais nada com ela. Eu até mesmo

a esqueci. Esquecê-la é um exercício espiritual. Eles não são mais

influenciados por mim e não podem se voltar contra mim.

No final do curso, ela veio a mim e disse: "Não consigo ficar em paz.

Preciso fazer mais alguma coisa." Um colega me sugeriu colocar uma linha

de ancestrais. Eu concordei.

Posicionei uma representante para a mãe dela e, atrás dela, uma


representante para a mãe da mãe dela e assim por diante, até chegar a oito

gerações. Em seguida, Coloquei a cliente em frente a essa linha de

ancestrais, para ver onde o fluxo da vida e do amor havia sido interrompido.

A cliente havia se virado para sua mãe, mas não vinha amor da mãe para a

filha. Então, a mãe se virou para sua mãe. Também aí não fluía amor. A

linha prosseguiu, e não havia nada entre elas. Apenas a oitava mãe fechou

os punhos, recuou e olhou para o chão. Obviamente havia ocorrido um

assassinato ali. Podia-se ver isso. Olhar para o chão sempre significa olhar

para um morto, e os punhos fechados indicavam um assassinato.

Então Coloquei um homem deitado em frente a essa mãe. A cliente

imediatamente se agachou no chão junto a esse morto, soluçou alto e o

abraçou. Ela se identificou com ele, apesar das oito gerações que os

separavam. Depois de eu ter levantado os dois e posicionado o morto ao

lado de sua mãe, ela pôde se voltar com amor à sua filha, e esta à sua filha,

até que todas as mães pudessem se voltar às suas filhas.

No momento em que foi reconhecido que esse morto pertencia, o amor fluiu

através de todas essas gerações.

Depois, a cliente se agachou junto à sua mãe, ajoelhou-se diante dela,

abraçou seus pés, soluçou alto e disse a ela: "Querida mamãe.”

COMENTÁRIO

PARTICIPANTE: Uma pequena observação sobre a questão dos assassinos e

vítimas no exemplo de Israel. Para mim, isso tem algo de trágico e algo de

estranho. As pessoas têm, por um lado, o holocausto atrás de si, o problema

com os palestinos diante de si e se culpam diante deles. Uma vez que se

culpam diante dos palestinos, há uma solidariedade familiar com suas

vítimas, e acontece aquilo que, na verdade, desejam evitar. Essa é a parte

estranha.

HELLINGER: Você não tem compaixão pelos israelitas.

PARTICIPANTE: Pode ser.

HELLINGER: Sendo assim, você também não pode resolver nada. Fiz uma

constelação em Israel com um rapaz. Sua família havia viajado com um


grupo para o Egito, e um segurança egípcio atirou ao seu redor e matou

oito crianças israelitas, dentre elas a irmã desse cliente que na época tinha

oito anos.

Posicionei as crianças israelitas assassinadas, o segurança egípcio e o

cliente. O cliente não quis olhar e se virou. Nada se moveu nele. Então

incluí cinco representantes para crianças palestinas assassinadas por

israelitas.

Aí houve movimento no grupo. Algumas das crianças israelitas quiseram

ir até as crianças palestinas, mas estas recuaram.

Então posicionei representantes para os pais das crianças israelitas

assassinadas e para os pais das crianças palestinas assassinadas.

O segurança egípcio foi até os pais e chorou. O cliente se virou para os pais

de ambos os lados e os abraçou. As crianças palestinas se agacharam no

chão junto às crianças israelitas.

Somente quando temos todos no nosso campo de visão e quando todos

recebem um lugar em nosso coração, conseguimos restabelecer a paz. Não

antes disso.

COMPLEMENTO AO EXEMPLO NO JAPÃO

PARTICIPANTE: Tenho uma pergunta sobre o exemplo no Japão, com a

mulher agressiva. Se eu não tivera capacidade ou a possibilidade de

reconhecer que houve um assassinato oito gerações atrás, que possibilidade

existe para essa mulher de sair da agressividade que sente perante a sua

mãe?

HELLINGER: Nenhuma. É um emaranhamento.

PARTICIPANTE: Em constelações anteriores, vi que os assassinos eram

excluídos. Agora isso foi revisto com as novas descobertas ou é apenas em

casos isolados?

HELLINGER: Quando comecei com as Constelações Familiares, estava claro

que os assassinos, enquanto estão na família, possuem influência nefasta

sobre os outros. Na época, ainda não havia percebido que eles devem ser

integrados à família, juntamente com as vítimas. Essa é a novidade.


OUTRAS HISTÓRIAS

Vou contar mais algumas histórias, para fins de orientação. Em um curso

em Washington, quatro semanas atrás, havia uma mulher que havia adotado

uma criança. Ela estava lá com seu parceiro. Colocamos isso e encontramos

uma solução.

A mãe da criança não a queria, e o pai tampouco. Por isso, os dois haviam

adotado a criança.

Posicionei uma representante para a mãe biológica e um representante para

o pai biológico. Coloquei sete gerações de mães atrás da mãe e sete

gerações de pais atrás do pai.

A mulher estava com o bebê adotado, na época com um mês de idade, e o

mostrou a todas as mães que se encontravam atrás da mãe biológica. Todas

olharam amavelmente para a criança, com exceção da mãe biológica. A

avó, a bisavó e as outras mães olharam amavelmente para a criança. O pai

adotivo da criança tomou-a nos braços e mostrou-a aos pais ancestrais.

Todos olharam amavelmente para a criança.

Anteontem recebi uma carta do casal. A criança costumava sempre franzir

a testa. Depois da constelação, seu rosto se tornou radiante.

Não olhamos apenas para os pais biológicos, mas muito além deles, e

obtemos das gerações anteriores a bênção e a força de que precisamos.

CONSTELAÇÃO COM KEVIN

Kevin tem 16 anos e, mora há cinco, por vontade própria, em um orfanato.

Sua mãe morreu sob circunstâncias desconhecidas. Seu pai é um músico

negro e, devido à sua condição de vida, não pode criar o filho.

HELLINGER para Kevin, que está sentado ao seu lado: Feche os olhos. Há

algo em movimento em você agora. Permita que isso se expresse

exatamente da forma que deseja. Vou dar-lhe o tempo necessário.

HELLINGER após um instante: Vá voltando lentamente.


Kevin inclina a cabeça para frente. Hellinger acolhe esse movimento

arbitrário, coloca seu braço em volta dele e, com o outro braço, envolve

sua cabeça, puxando-a suavemente para seu peito.

Após um instante, Hellinger coloca uma representante diante deles. Kevin

abre os olhos. Ele e a mulher se olham demoradamente.

Após um instante, Kevin se recosta novamente em sua cadeira e continua

olhando para a mulher.

HELLINGER para Kevin: Diga-lhe: "Mamãe, eu tenho tudo."

KEVIN: Mamãe, eu tenho tudo.

HELLINGER: Olhe para ela: “Mamãe, eu tenho tudo."

KEVIN: Mamãe, eu tenho tudo.

HELLINGER: "VOU fazer algo com isso.”

KEVIN: VOU fazer algo com isso.

HELLINGER: "Não precisa se preocupar.”

KEVIN: Não precisa se preocupar.

HELLINGER: "Você pode ficar em paz agora."

KEVIN: Você pode ficar em paz agora.

Kevin chora. Hellinger apoia sua cabeça em seu ombro.

HELLINGER: Diga-lhe: "Sinto muito a sua falta."

KEVIN: Sinto muito a sua falta.

HELLINGER: "Você ainda está viva dentro de mim."

KEVIN: Você ainda está viva dentro de mim.

HELLINGER: Olhe para ela.

Após um instante Diga-lhe: "Vou transmitir o que você me deu."

KEVIN: VOU transmitir o que você me deu.

HELLINGER: "Com amor."


KEVIN: Com amor.

Hellinger posiciona um homem diante do acontecimento.

HELLINGER para Kevin: Este é seu pai. Diga-lhe: “Agora renuncio a você

para sempre.”

Kevin olha demoradamente para o pai, calado.

HELLINGER para Kevin: Diga a seu pai: "Eu tenho tudo. Agora renuncio a

você para sempre."

KEVIN: EU tenho tudo, eu renuncio a tudo.

HELLINGER: Não. "Eu renuncio a você para sempre."

KEVIN: EU renuncio a você para sempre.

HELLINGER: "Mas eu tenho tudo."

KEVIN: Mas eu tenho tudo.

HELLINGER: Outros me ajudaram em seu lugar.”

KEVIN: Outros me ajudaram em seu lugar.

HELLINGER: "Agora sou forte o suficiente."

KEVIN: Agora sou forte o suficiente.

Kevin olha mais uma vez demoradamente para o pai.

HELLINGER: Diga-lhe: "Obrigado pela vida.”

KEVIN: Obrigado pela vida.

HELLINGER: Diga um pouco mais amavelmente.

KEVIN: Obrigado pela vida.

HELLINGER: "Farei algo com isso."

KEVIN: Farei algo com isso.

HELLINGER: "Não precisa mais se preocupar".

KEVIN: Não precisa mais se preocupar.

HELLINGER: "EU renuncio a você para sempre."


KEVIN: EU renuncio a você para sempre.

HELLINGER: Sente-se agora como alguém que é forte. Isso. Internamente

ereto, assim mesmo.

Há uma história na Bíblia. Havia alguém que possuía cinco talentos e não

realizou nada com eles. Uma outra pessoa tinha apenas um talento e

superou a todos com ele. Ele realizou algo com isso.

Vou contar mais uma história. Alguém estava viajando de trem em um

vagão-leito. Estava no leito debaixo e, em cima, havia alguém que ficava

dizendo: "Estou com tanta fome, estou com tanta fome." O passageiro de

baixo foi até o vagão restaurante e lhe trouxe algo para comer.

Passado algum tempo, o passageiro de cima começou novamente: "Eu

estava com tanta fome, eu estava com tanta fome."

Ok? Certo, isso é tudo então.

HELLINGER enquanto uma educadora conversa com Kevin e o abraça:

Alguém que tenha trabalhado dessa forma comigo é forte. Ninguém deve

ir até ele e perguntar: "O que aconteceu?".

Isso é uma invasão brutal da alma do outro. As pessoas que fazem esse tipo

de pergunta são curiosas. Sugam a energia dele para a própria alma. Isso é

ruim. Kevin tem tudo. Ele tem seus pais e sabe o que faz.

Para Kevin: "Tudo de bom."

SER VÍTIMA

HELLINGER: Fiz e ofereci terapias durante muitos anos e descobri que tudo

se resume a uma coisa, algo muito simples. A terapia conhece apenas um

caminho que leva ao objetivo: conectar alguém à sua mãe ou ao seu pai.

Isso é tudo. Com algumas pessoas é mais fácil, com outras um pouco mais

difícil. Alguns ficam presos em acusações contra seus pais.

Não podemos trabalhar com ninguém que se apresente como vítima. Quem

se apresenta como vítima é agressivo contra outros. E estes ficam irritados


quando ele se apresenta dessa maneira. Quando ele vai a um terapeuta,

acaba o irritando: "Coitadinho de mim, você precisa me ajudar. Ai de você

se não me ajudar da forma que eu quero." Essa é a agressão que se esconde

por trás dessa postura de vítima.

Muitos que já estiveram em um orfanato têm acusações contra seus pais.

Dizem: "Se tivesse sido de outra maneira, teria me tornado outra pessoa."

Uma vez fiz um exercício em relação a isso. Um hipnoterapeuta dos EUA

fez um exercício comigo e com outras pessoas. Ele colocou três retângulos

no chão, um ao lado do outro. Um representava os pais ideais. Quando

ficávamos sobre esse retângulo, possuíamos os pais ideais. A pergunta é:

qual é a sensação?

Depois, ficávamos sobre o segundo retângulo. Ele representava os piores

pais que podem existir. Também aqui a pergunta foi: qual é a sensação? No

terceiro retângulo, olhávamos para os nossos pais da forma que são. A

pergunta: qual é a sensação?

E qual foi o resultado? Qual era a sensação? A sensação era a mesma em

todos os retângulos. Ou seja, todos têm as mesmas chances se as desejarem.

Muitos que estiveram em orfanatos ou crianças que foram adotadas,

sentem-se destinados a fazer acusações contra outros. Apresentam-se como

vítimas para exigir compaixão. Contudo, quando alguém diz: "Meus pais

foram assim e concordo com eles da maneira como são. Recebi tudo de que

preciso. Outros me ajudaram e agora farei algo com isso”, essa pessoa é

livre e olha para frente.

VOU LEVÁ-LO AO SEU PAI

HELLINGER: VOU continuar com o trabalho. Vocês são uma família?

Venham até aqui. Quem de vocês é o problema?

MULHER: Depois do que escutei aqui, estou achando difícil saber quem de

nós é realmente o problema.

HELLINGER: Está claro que o problema está em você. Seu filho, coitado,


tem que suportar.

Para o grupo: Viram como ela colocou a culpa nele? Ao invés de olhar

para mim, olhou para ele.

Para a mulher: Você tem mais de um filho?

MULHER: Sim.

HELLINGER: Quantos?

MULHER: Três.

HELLINGER: Você foi casada antes?

MULHER: Sim.

HELLINGER: De que casamento ele é? Ou ainda tem mais história?

MULHER: Tem mais história. Foi entre meus dois casamentos.

HELLINGER: Então ele veio entre os dois. Você tem filhos do primeiro

casamento?

MULHER: Sim.

HELLINGER: Quantos?

MULHER: Um.

HELLINGER: Depois vem ele, e você ainda tem mais um filho?

MULHER: Tenho ainda um filho com meu marido atual.

HELLINGER: E este aqui é o marido atual? Certo. O que houve com o pai

desse rapaz?

MULHER: Não faço ideia.

HELLINGER: O que significa "não faço ideia”?

MULHER: Não sei o que houve com ele, o que está fazendo. Ele se foi.

HELLINGER: Você tem raiva dele?

MULHER: Não mais.

HELLINGER: Ouvimos em sua voz que você tem raiva dele.


MULHER: Pelo menos conscientemente não tenho raiva dele.

HELLINGER: Se você tem ou teve raiva dele, seja como for, você tem raiva

daquilo que seu filho tem dele. Sabe quem tem um lugar aqui no meu

coração?

MULHER: Não faço ideia.

HELLINGER: O pai dele tem um lugar no meu coração. É por isso que seu

filho gosta de mim.

É realizada uma constelação na qual esse filho é colocado diante de um

representante do seu pai.

HELLINGER para o filho: Olhe para ele. Eu não sou importante, ele é

importante. Diga-lhe: "Por favor, olhe para mim."

FILHO: Por favor, olhe para mim.

HELLINGER: "SOU seu filho."

FILHO: SOU seu filho.

HELLINGER: Olhe para a mãe e diga: "Olhe para ele, por favor."

FILHO: Olhe para ele, por favor.

HELLINGER: "Ele é meu pai."

FILHO: Ele é meu pai.

HELLINGER ao ver que a mulher deseja ir para mais perto do pai do filho:

Siga o seu movimento.

A mulher vai em sua direção lentamente.

HELLINGER: Diga-lhe: "Eu te amei."

MULHER: EU te amei.

HELLINGER: Chegue mais perto.

HELLINGER: Diga a ele: Fiquei com muita raiva de você.”

MULHER: Fiquei com muita raiva de você.

HELLINGER ao ver que o filho quer se mover: Siga o movimento do seu


corpo. O filho começa a vacilar.

HELLINGER para o filho: Caia no chão, caia no chão.

O filho cai no chão.

HELLINGER: É esse o efeito de uma maldição de mãe: joga o filho no chão.

Para a mulher: Só há uma coisa que pode ajudar o garoto. Você deve dizer

a ele: "Vou levá-lo ao seu pai.”

MULHER: VOU levá-lo ao seu pai.

HELLINGER para o grupo: Vou contar-lhes uma pequena história. Uma

psicanalista tinha dois filhos com seu marido. Eles se separaram, e ela

disse: "Ele não cuida nem um pouco dos filhos." Perguntei a ela: "Você o

respeita?" Ela disse: "Não." Eu disse: "Exato, por isso ele não cuida dos

filhos.”

Dois anos depois, encontrei-a novamente e perguntei: "Como estão as

coisas?" Ela disse: "Ele saiu de férias com as crianças." Esse é o começo

da solução. Voltar ao primeiro amor, dar-lhe espaço novamente,

independente do que tenha havido. Só assim a criança pode ficar bem.

O pai rejeitado é uma grande perda para o filho, uma grande perda. Ela

jogou o filho para o chão aqui. Vimos que o filho foi para trás, porque a

mãe foi para trás ao invés de ir para frente.

Quero dizer mais uma coisa à mãe. Quando alguém está com raiva, às

vezes, faço a pessoa dizer a seguinte frase: "O que fiz com você para ter

tanta raiva de você?" Muitas vezes as coisas são exatamente o contrário do

que se mostra. A reação dela aqui deixou óbvio. O pai dele estava muito

mexido e cheio de amor.

Vou parar por aqui. Acho que trouxe à tona o essencial.

HELLINGER para o filho: Você pode dizer à mãe: Nem todo o amor que

você tem pelo meu padrasto é capaz de substituir esse amor. Porém, seu

padrasto sempre se preocupou com você, isso está claro. Por isso, dê a ele

um lugar em seu coração, ao lado do seu pai. Ele, naturalmente, tem um

grande lugar em seu coração.


MEDITAÇÃO

HELLINGER para o grupo: Vou fazer um pequeno exercício com vocês.

Podem fechar os olhos. Agora passem por suas vidas e imaginem as pessoas

de quem vocês têm raiva. Estão todas lado a lado: aquelas que fizeram algo

a vocês, assim como aquelas a quem vocês fizeram algo. Então vocês vão

até cada uma delas. Vocês olham cada um nos olhos e dizem: "Sou como

você, exatamente como você." Sintam o que acontece em suas almas ao

dizer isso. Então, vão até o próximo: "Sou como você, você é como eu.” E

então para o próximo. Vocês o olham nos olhos e abrem seus corações.

"Sou como você, você é como eu."

Quando tiverem feito isso com todos, vocês se viram com eles para o

horizonte. Ainda está escuro e a luz está oculta. Vocês se curvam junto com

eles diante dessa luz oculta.

Vou contar-lhes mais uma história. Há 17 dias viajei até o mar da Galileia,

em Israel. Foi nesse local que Jesus proferiu o Sermão da Montanha. Um

lugar maravilhoso, muito tranquilo e cheio de paz.

Lá, Jesus disse: "Bem-aventurados os defensores da paz, porque serão

chamados filhos de Deus.” E falou: "Amai a vossos inimigos. Fazei bem

aos que vos odeiam, porque meu Pai que está no céu também faz com que

o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e

injustos." Todos conhecemos isso.

Na viagem de volta, fiquei imaginando: o que acontece em uma alma que

se abre para isso? O que isso significa exatamente? O que sentimos dentro

da alma, quando atingimos isso? O que deve ocorrer?

Então me veio uma frase: amar significa reconhecer que todos os outros

são iguais a mim diante de algo maior.

Humildade significa o mesmo. Perdoar e esquecer também. Reconhecer

que todos os outros são iguais a mim diante de algo maior. Isso foi um

complemento a essa constelação. Tudo de bom para vocês.


OS EDUCADORES

Gostaria de dizer algo com relação aos educadores que atuam em um

orfanato. Quando ajudam demais, a criança fica com raiva. Os educadores

ajudam com distância. Ajudam, principalmente, substituindo os pais. É

importante que os educadores se coloquem abaixo dos pais. Quando se

colocam acima deles, como se fossem melhores que os pais, os filhos ficam

com raiva.

Hoje de manhã, isso pôde ser visto de maneira muito bela em uma

constelação. O pai da criança havia se colocado atrás do orfanato. Por um

lado, havia se esquivado de suas responsabilidades. Por outro, estava

posicionado atrás do orfanato. O orfanato podia se apoiar nele. Isso foi útil

e belo. Se a ajuda é dada às crianças de orfanatos nesse sentido,

tranquilamente e em sintonia com os pais, e se as crianças podem tornar-se

como os pais, elas se sentem seguras. As crianças desejam tornar-se como

os pais.

Quando alguém diz a elas: "Seu pai era um bêbado!" - ou algo parecido -

"Não seja como seu pai." - a criança se tornará exatamente como seu pai,

por fidelidade a ele. É esse o efeito na alma desse tipo de influência vinda

de fora. Não, a criança quer se tornar como seu pai. O filho diz a seu pai:

"Quero me tornar como você." Então o pai olha para ele com amor e diz:

"Você também pode fazer as coisas um pouco diferente de mim." Isso

libera a criança para se desenvolver fora da influência dos seus pais.

Aqui também vale a mesma coisa. Refleti sobre o que torna uma pessoa

grande. Tudo aquilo que o torna igual aos outros o torna grande. Tudo

aquilo que o desvia da igualdade perante os outros o torna menor. Essa

grandeza é uma grandeza humilde. Com ela, podemos nos movimentar

tranquilamente em meio a todos. Quando alguém se faz maior, os outros

não o querem. Fazer-se maior gera agressão, assim como fazer-se menor.

Aquele que age como igual em meio a iguais é bem-visto em todos os

lugares a que chega.


EU POR VOCÊ

HELLINGER: Ok, agora continuaremos com o trabalho. Quem gostaria?

Para uma moça de um orfanato, já maior de idade: Quer vir agora?

HELLINGER após ela dizer que sim: Conhece seus pais?

MOÇA: Sim, ambos. Meu pai e minha mãe.

HELLINGER: São de onde?

MOÇA: Meu pai é dos EUA, Alabama, e minha mãe é alemã.

HELLINGER: Como é a relação dos seus pais?

MOÇA: Na verdade, muito boa.

HELLINGER: Que bom. Estão juntos?

MOÇA: Sim.

HELLINGER: Por que você foi para o orfanato?

MOÇA: Porque não me entendia com meu pai.

HELLINGER: Você brigou com ele?

MOÇA: Sim. Eu não via outra opção.

HELLINGER: Quem mais estava com raiva dele?

MOÇA: Como assim com raiva?

HELLINGER: Estou apenas perguntando.

MOÇA: Não me entendia com meu pai. Não sei o motivo.

HELLINGER: Você tem irmãos?

MOÇA: Sim, uma irmã.

HELLINGER: Mais velha ou mais nova?

MOÇA: Mais velha.

HELLINGER: Algum de seus pais teve outro relacionamento antes?

MOÇA: Meu pai já foi casado.


HELLINGER: Essa outra mulher, como ela é?

MOÇA: Não a conheci.

HELLINGER: Quem é ela? O que falam sobre ela?

MOÇA: Que ela é tailandesa.

HELLINGER: Era tailandesa? Seu pai viaja pelo mundo?

MOÇA: Não, ele foi soldado no Vietnã. Passou férias ou serviu em outros

lugares também. Não sei direito.

HELLINGER: Ok. Vamos ver o que podemos fazer por você. Vou colocar

duas pessoas. Você já tem ideia de quem eu vou colocar? Estou sempre

conectado àqueles que são excluídos. Quem é o excluído aqui?

MOÇA: Não faço ideia.

HELLINGER: A tailandesa é a excluída. Imagino que ela tenha raiva do seu

pai. Você a representa. Por isso você brigou com seu pai. Não porque você

tenha algo contra ele, mas porque a tailandesa tem algo contra ele. Você se

identificou com ela. Esta é a imagem que tenho. Naturalmente, preciso

checar isso.

Além da moça, Hellinger escolhe um homem como representante de seu pai

e uma mulher como representante da tailandesa.

Para os representantes. Confio completamente em vocês: que irão seguir

exatamente aquilo que se passa em suas almas.

Começa a constelação.

HELLINGER para a moça como reação ao que foi mostrado na constelação:

Seu pai não é muito amável em relação a ela. Sabe o que isso significa, o

que vemos na constelação? Ele a estrangulou.

HELLINGER para o grupo: A tailandesa se esconde atrás dela, e a cliente

assume suas agressões. Vemos isso em seus punhos fechados. Ela assume

aquilo que a primeira mulher reprime.

HELLINGER após um instante, para a moça: Diga a ela: "Vou me vingar por

você.”


MOÇA: VOU me vingar por você.

HELLINGER: "EU SOU a grande aqui."

MOÇA: EU SOU a grande aqui.

HELLINGER: "E você é apenas a pequena."

MOÇA: E você é apenas a pequena.

HELLINGER: "Sua pobre tailandesinha.”

MOÇA: Sua pobre tailandesinha.

HELLINGER: "VOU consertar isso.”

MOÇA: VOU consertar isso.

HELLINGER após um instante: Ajoelhe-se agora e diga a ela: “Você é a

grande aqui.”

MOÇA: Você é a grande aqui.

HELLINGER: "E eu a pequena."

MOÇA: E eu a pequena.

Hellinger escolhe uma representante para a mãe da moça e a coloca na

constelação.

HELLINGER para a moça: Diga a seu pai: “Ela é minha mãe."

MOÇA: Ela é minha mãe.

HELLINGER: "Ela é a única certa para mim.”

MOÇA: Ela é a única certa para mim.

HELLINGER: "Não tenho nada a ver com suas outras mulheres.”

MOÇA: Não tenho nada a ver com suas outras mulheres.

HELLINGER: "SOU apenas a criança aqui."

MOÇA: SOU apenas a criança aqui.

HELLINGER: "Por favor, olhe para mim como sua filha."

MOÇA: Por favor, olhe para mim como sua filha.


HELLINGER: "E me tome como sua criança."

MOÇA: E me tome como sua criança.

HELLINGER: Diga isso à mãe também.

MOÇA para a representante de sua mãe: Olhe para mim como sua filha e

me tome como sua criança.

HELLINGER após alguns instantes, escolhe três homens: Vou pegar vocês

três. Deitem-se aqui no chão, com a cabeça nessa direção, um pouco mais

longe.

Para o grupo: Esses são os vietnamitas da guerra.

Para a moça: Olhe para eles.

HELLINGER após um instante, para a moça: Vá para baixo até os mortos.

Vá para baixo, vá para baixo até os mortos.

HELLINGER após um instante, para o pai da moça: Diga-lhe: "Eu assumo

isso." PAI DA MOÇA: Eu assumo isso.

HELLINGER: "Você não tem nada a ver com isso."

PAI DA MOÇA: Você não tem nada a ver com isso.

HELLINGER após um instante, para o pai: Deite-se junto.

Para a moça: Levante-se, e a mãe também. Curvem-se as duas.

HELLINGER para a moça: Diga-lhe: "Querido papai."

MOÇA: Querido papai.

HELLINGER: "Por favor, seja amável se eu continuar viva."

MOÇA: Por favor, seja amável se eu continuar viva.

HELLINGER após um instante: Como é para o pai?

O pai demonstra que não pode mais ser amável.

HELLINGER para o pai: Diga à sua filha: "Não consigo mais."

PAI: Não consigo mais.


HELLINGER: "A culpa é grande demais.”

PAI: A culpa é grande demais.

HELLINGER: "Mas quero que você viva."

PAI: Mas quero que você viva.

HELLINGER para a moça: Agora vire-se, a mãe também, virem-se ambas.

HELLINGER: Como está agora?

MOÇA: Tento ir em frente, porque vejo que minha mãe é exatamente como

meu pai.

HELLINGER para a moça: Deite-se junto também, de costas.

Após um instante: É melhor ou pior?

MOÇA: Melhor.

HELLINGER: ISSO. Levante-se agora, olhe para o seu pai e diga a ele: "Eu

morro para que você viva."

MOÇA: EU morro para que você viva.

HELLINGER: "VOU carregar isso para você."

MOÇA: VOU carregar isso para você.

HELLINGER após um instante: Como é isso para o pai?

PAI: ISSO está errado.

HELLINGER: Diga-lhe; “Isso não é da sua conta."

PAI: ISSO não é da sua conta. O que eu faço é problema meu.

HELLINGER: Diga-lhe: "Suma daqui."

PAI: Suma daqui.

HELLINGER para a moça: Agora pode ir para frente.

Após um instante: Ok, pare. Já é suficiente.

HELLINGER para a moça: Como você está agora?

MOÇA: Um pouco melhor.


HELLINGER para os representantes: Os mortos devem se levantar agora, a

tailandesa também. Fiquem atrás dela, um atrás do outro.

Para a moça: Apoie-se nela, isso. Feche os olhos e respire fundo. A bênção

vem daí, e agora também do seu pai.

HELLINGER após um instante, para a moça: Como você está agora?

CLIENTE: Melhor.

HELLINGER: Ok, isso é tudo. Obrigado a todos.

Para o representante do pai: E principalmente a você. Agora vou lhe

mostrar como você pode se tornar você mesmo de novo. Imagine o pai dela

e curve-se bem levemente diante dele. Depois vire-se para o outro lado.

Ok, muito bom.

Para o grupo: Este foi um bom exemplo de que todos somos iguais. Agora

chegamos à grande política mundial. Deixem passar mais uma vez por suas

almas aquilo que disse sobre a diferenciação entre bom e mau, ou melhor,

sobre a não diferenciação entre bom e mau. Todos são vinculados a algo

do qual não podem escapar. É o que eu disse sobre o amor das crianças.

Isso ficou claro aqui e pode ser visto muito frequentemente em famílias em

que o pai esteve na guerra ou esteve vinculado à guerra: as vítimas também

pertencem à família.

Vou dar um exemplo:

Havia um rapaz nos EUA, um tipo meio malandro. Disse que seu pai havia

sido um herói. Havia ajudado a conquistar a ilha de Iwo Jima. Estava na

companhia que fincou a bandeira americana lá, após duras perdas.

Coloquei os companheiros do pai mortos em combate. Também Coloquei

cinco representantes das vítimas de Iwo Jima, vítimas dos americanos. Ele

foi atraído por eles. O pai permaneceu completamente rígido, mas o filho

foi fortemente atraído para os companheiros mortos de seu pai. Não

consegui ajudá-lo. Então Coloquei o filho de frente para o pai e fiz com

que dissesse a ele: "Vou até eles. O que você fizer não me importa." Ele

disse. Estava fortemente ligado aos mortos de seu pai. O pai só amoleceu

depois de olhar o filho nos olhos e ver o que lhe havia causado com sua


rigidez perante os mortos. Então pôde respeitar os mortos e, junto com seu

filho, se afastar deles. Vimos algo parecido aqui.

Para a moça: Seu coração não pertence à tailandesa, mas aos mortos. Você

os representa na família, mas eles devem ir até seu pai e seu pai até eles.

Você é pequena demais aqui.

Gostaria de dizer mais uma coisa nesse contexto: a consciência familiar

segue a lei segundo a qual todos que pertencem têm o direito de pertencer.

É por isso que, nessa consciência, não há distinção entre bom e mau.

Aqui também vale uma outra lei: os que vieram primeiro têm precedência

em relação aos que vieram depois. Quem vem depois nunca deve se

envolver em algo feito por quem veio antes. Quando alguém faz isso,

fracassa. O que quer que você faça, se você se matar por expiação pelo seu

pai, o que quer que você faça é à toa. Não ajuda ninguém. Mas você tem a

sensação de que é grande e inocente. Todo herói que fracassa tem a

sensação de ser grande, mas depois estará entre os mortos, assassinado. O

que adiantou toda a sua grandeza?

Você sabe um pouco de inglês. Na obra de Shakespeare existe o Falstaff, o

gordo, um personagem estranho. Ele deveria ir para a guerra, mas ficou

para trás. Era um covarde e por isso sobreviveu. Um grande guerreiro, que

lutou destemidamente, morreu e foi enterrado.

Falstaff disse: "Assim termina o herói, mas eu, covarde, sobrevivo.” Ele

era esperto. Não era corajoso, mas era esperto. Então, você pode morrer

corajosa ou viver covarde. Falando mais precisamente: você pode viver

culpada ou morrer inocente. Se você morrer pelo seu pai, se sentirá

inocente. Se permanecer viva, talvez se sinta um pouco culpada. Só

conseguimos sobreviver com culpa. Consegui deixar claro? Ok, então viva.

CONSCIÊNCIA LEVE

PARTICIPANTE: Por que devemos perdoar o inimigo?

HELLINGER: Não o perdoamos.


PARTICIPANTE: O senhor não disse isso hoje de manhã?

HELLINGER: Tornamo-nos como ele.

PARTICIPANTE: O que isso significa?

HELLINGER: Tornamo-nos como ele e, então, não precisamos perdoá-lo.

Reconhecemos que somos iguais.

BOM E MAU

Talvez possa explicar algo sobre bom e mau nesse contexto. Isso é algo

com que você se preocupa: o bom e o mau.

A pergunta é: existe algo bom? Existe algo mau? Não, não existe. Mas

utilizamos essa distinção entre bom e mau em nossa vida diária para nos

orientar. A distinção entre bom e mau vem ao mundo através de nossa

consciência. Quando temos a consciência leve, dizemos que fizemos algo

bom. Quando temos a consciência pesada, dizemos que fizemos algo mau.

Nesse contexto, bom e mau significam apenas: bom é aquilo que me ajuda

a pertencer à minha família. Mau é aquilo que ameaça meu pertencimento

à minha família. Ou seja, a consciência nos ajuda a distinguir o que

devemos fazer e não fazer para que pertençamos. Essa é a função da

consciência. Apenas nesse contexto existe a distinção entre bom e mau.

Todas as famílias são diferentes. O que é considerado bom em uma família

é considerado mau em outra e vice-versa. Por isso, membros de outras

famílias fazem com consciência leve aquilo que, para minha família, é

considerado mau. É por isso também que crianças de orfanatos apresentam,

com consciência leve, comportamentos considerados como "inadmissíveis"

nesses locais.

Por isso, não conseguimos intervir de forma alguma em suas consciências.

Não serve para nada. A não ser que saibamos o que é considerado bom em

suas famílias. Então podemos intervir em suas consciências familiares. Isso

ajuda. Essa é a diferença.

Existem coisas más. Por exemplo, quando alguém mata uma pessoa. Claro

que isso é mau. Ou o que acontece na guerra: isso tudo é mau. Mas apenas

do nosso ponto de vista, a partir de nossa distinção entre bom e mau.


Entretanto, também transmitimos para Deus nossa consciência e a distinção

feita pela nossa consciência entre bom e mau. Acreditamos que

Deus decide entre o céu e o inferno de acordo com a nossa consciência. É

a nossa suposição. É por isso que, para os americanos, os terroristas que

atacaram o World Trade Center serão enviados ao inferno por Deus. Eles

também ajudam para que isso aconteça.

Por outro lado, os terroristas têm a mesma visão com relação aos

americanos. Querem que Deus os envie para o inferno e também ajudam

para que isso aconteça. Ambos estão presos a suas consciências. Assim,

não podemos julgar conforme a nossa consciência aquilo que é encenado

pelo destino ou por algo maior. O que Vivenciamos como perigoso,

desagradável, desprezível ou digno de rejeição, fazemos apenas de acordo

com a nossa consciência. Perante a um poder superior, serve para outros

fins.

Um velho amigo meu que morreu há muito tempo - já havia morrido 600

anos antes de Cristo - disse: A guerra é o pai de todas as coisas. Sem

conflitos não há progresso. Imaginem que não houvesse mais nada "mau".

Ficaríamos sentados criando barriga e não faríamos mais nada. Seria

horrível.

O que se passa em certas guerras atualmente, mesmo sendo terrível para os

atingidos, é uma bênção para o mundo. Todos têm de se reorientar.

Precisam fechar novas alianças, ir mais em direção ao outro que antes.

Mesmo quando tomamos partido, a favor de um lado e contra o outro,

descobrimos, depois de um tempo, que tudo serve a uma causa maior. E o

poder que comanda isso não é piedoso: ele nos desafia.

Por isso, também devemos ver os agressores a serviço de um outro poder.

Todos os agressores são conscientes. Seus tios mataram alguém

conscientemente. E aqueles que executaram seus tios o fizeram com

consciência limpa. Todos agiram com consciência limpa. Por isso, é difícil

fazer a distinção.

No final, somos todos iguais diante de algo maior e podemos esquecer essa

diferença entre bom e mau. Somente quando estamos prontos para olhar


para esse contexto maior podemos instituir a paz e compreender os outros.

Principalmente, podemos compreender as crianças na maneira especial

como se comportam. Nós as confiamos a esse poder maior. Essa é uma

possibilidade de lidar com elas.

O israelita sobre quem falei hoje de manhã, cuja irmã foi atingida, não

conseguiu se desvencilhar da irmã internamente. Ainda se encontrava no

estado de choque da ocasião, e havia o risco de que seguisse sua irmã. Fiz

um exercício com ele e, no final, ele tomou sua irmã morta nos braços e

olhou-a com amor. Ele a coloca, por assim dizer, nos braços de Deus.

Depois retorna e a deixa lá. Também podemos fazer isso com os maus. Isso

se chama amor ao inimigo. É completamente diferente de um mandamento,

é a compreensão de que, no final, somos todos iguais.

AJUDA A UMA IRMÃ AUTISTA

HELLINGER para três irmãs: Agora vou trabalhar com vocês três. Venham

aqui. Qual é o problema?

PRIMEIRA IRMÃ: Somos três de cinco irmãs. Nossa irmã caçula é autista e

mora em um orfanato desde os sete anos. Sentimos que foi rejeitada e isso

nos incomoda.

SEGUNDA IRMÃ: Também temos problemas com nossos pais.

HELLINGER: Sim, eu sei. Já estava querendo colocá-los.

Hellinger escolhe representantes para os pais, para a irmã autista, para a

irmã que não está lá e inclui as três irmãs que estão lá pessoalmente na

constelação. Ele pede para a irmã mais velha posicionar. Na constelação,

a mãe olha para fora e para o chão.

HELLINGER após um instante: Há algo claro na constelação: a mãe está

olhando para uma morta.

Ele escolhe uma mulher como representante dessa morta e pede que se

deite de costas diante da mãe.


HELLINGER após um instante, para a irmã autista: Vá com o seu

movimento, do jeito que vier.

A irmã autista vacila e, em seguida, deita-se no chão ao lado do pai.

HELLINGER: Vá com o movimento, pode ir para o chão.

HELLINGER para a primeira irmã: Sabe quem é a morta diante da mãe?

PRIMEIRA IRMÃ: Minha mãe tem duas irmãs mortas: gêmeas que morreram

no parto.

Hellinger escolhe mais uma mulher e a coloca deitada ao lado da primeira

morta. A mãe se ajoelha diante delas. Depois, Hellinger pede à irmã

autista que se deite do lado dessas mortas. Enquanto isso, o pai se vira

para as mortas no chão e para a criança autista. Após alguns instantes, a

criança autista se levanta.

HELLINGER após um instante, para a mãe: Diga à sua filha autista:

"Minhas duas irmãs têm um lugar em meu coração."

MÃE: Minhas duas irmãs têm um lugar em meu coração.

HELLINGER: "Agora elas têm um lugar.”

MÃE: Agora elas têm um lugar.

Hellinger pede que as três irmãs se movam para o lado, ao lado do pai,

que também se posicionou mais distante. Todos olham para a mãe e para

as mortas. A irmã autista se levantou. Uma das irmãs da mãe quer

acariciá-la, mas a criança autista balança a cabeça.

Após alguns instantes, Hellinger pede à mãe que se deite ao lado das

mortas. Ele pede à irmã que, primeiro, se posicione em frente ao pai e,

depois, vá para junto das irmãs. Depois, coloca o pai diante de suas cinco

filhas. Elas estão posicionadas conforme a sequência de idade.

Após um instante, Hellinger escolhe uma mulher como representante do

orfanato e a posiciona à direita do pai, a uma certa distância.

O orfanato se aproxima lentamente da irmã autista. De repente, essa irmã

segura a cabeça com as duas mãos e grita alto. Depois, deixa as mãos

caírem.


HELLINGER: Esse foi o escape do autismo.

Para a primeira irmã: Ainda há alguma coisa na família. Isso não basta.

Você sabe o que é?

PRIMEIRA IRMÃ: O irmão do pai morreu com um ano e meio, durante a

fuga da Pomerânia. Ele morreu de fome.

HELLINGER: O irmão do pai?

PRIMEIRA IRMÃ: Sim.

Hellinger escolhe um representante para esse irmão do pai e o coloca à

sua direita. O pai toma o irmão cuidadosamente nos braços. Em seguida,

Hellinger pede à irmã autista para ir também até o irmão morto do pai.

Ela vai até ele lentamente, toma-o nos braços e o segura. Primeiro ele

desaba. Depois se endireita. A irmã autista segura suas mãos e olha-o nos

olhos.

Após um instante, Hellinger leva a irmã autista para o lado de suas irmãs.

O irmão do pai, morto precocemente, se vira para ele. Os dois se olham

com carinho.

Hellinger posiciona a família na ordem: o irmão morto do pai ao seu lado,

a mãe com suas irmãs mortas à esquerda de seu marido, as irmãs em ordem

de idade diante dos pais. Ele pede que a representante do orfanato se sente.

HELLINGER para a irmã autista: Como está agora?

IRMÃ AUTISTA: Melhor, mas ainda tenho muita pressão no peito. Não estou

mais tão confusa.

HELLINGER para as irmãs: Façam um círculo e se abracem. Todas.

Elas se abraçam intimamente, com as cabeças se tocando e, após um

instante, começam a rir alto, principalmente a irmã, até então autista.

HELLINGER após um instante: Cinco irmãs! Ok, isso é tudo. *

HELLINGER para o grupo: É engraçado o que acontece no fundo e como

progredimos pouco quando olhamos só para o primeiro plano. Mas uma

constelação familiar traz isso à tona, passo a passo.


O importante, naturalmente, é que o olhar se amplie quando lidamos com

algo assim. Ou seja, não olhar para o que está imediatamente próximo, mas

para o que se encontra por trás: quão forte ainda é seu efeito e quão vivos

estão os mortos.

PERGUNTAS

PARTICIPANTE: NO momento do grito, você disse que havia sido a saída do

autismo. Isso significa que a criança poderia tornar-se saudável?

HELLINGER: É preciso ouvir exatamente o que digo. Eu disse: esse foi o

escape do autismo. Pudemos ver isso. Eu não sei o que realmente

acontecerá. Quando perguntamos: o que você fez agora, irá realmente

ajudar? O que se passa em sua alma? Você está em sintonia, ou a sintonia

foi interrompida?

PARTICIPANTE: Quando faço perguntas não estou em sintonia.

HELLINGER: Exato. Contudo, a pergunta não atua somente na sua alma. Ela

também atua dentro do sistema. Perguntas curiosas interferem nos

movimentos da alma. Por isso é importante a discrição, a discrição total.

Eu também gostaria de saber como ela está, pois a tive em meu coração.

Contudo, não me atrevo a fazer isso.

Sempre que desejamos alcançar algo específico, na psicoterapia, no

trabalho social ou nos orfanatos, no momento em que um objetivo

específico é definido as coisas dão errado. Sempre dá errado porque me

coloco no lugar de um movimento maior, querendo passar em sua frente ou

forçar-lhe algo. Nesse instante, perco o contato.

Aquilo que nos comanda, essa alma maior, visa a propósitos maiores do

que nós. Quando confiamos nela, alcançamos algo bem maior.

PLANOS

Imaginem que eu tivesse feito planos sobre tudo o que pretendo fazer hoje.

O que teria atingido? Nada, nada mesmo. Isso só funciona a partir da

sintonia. Por isso foi importante você ter feito essa pergunta: para que

pudéssemos discorrer sobre o que é provocado por essas pequenas coisas

que consideramos tão triviais, como por exemplo perguntar. Na


psicoterapia e nos orfanatos, muitos perguntam: o que acabou de

acontecer? Por que isso ou aquilo? Essas perguntas atrapalham os

movimentos da alma. Enquanto que, quando simplesmente estamos lá, em

sintonia, isso é emanado imediatamente. Há uma força tremenda nisso. Os

chineses chamam isso de atuar sem agir.

Eu sempre me distancio. De repente, após me distanciar, me vem uma frase

ou o próximo passo. Então digo ou faço isso, sem saber para onde isso leva.

Depois espero mais um pouco. Assim, as coisas vão se desenvolvendo

passo a passo. Nunca podemos prever o que vai acontecer.

Você deve imaginar o seguinte: da mesma forma que os representantes aqui

sentem de maneira direta o que acontece na família, a família sente de

maneira direta o que se processa aqui. As soluções que encontramos aqui

atuam sobre a família.

A CURIOSIDADE

Há uma história de Colônia, uma cidade alemã. Havia duendes por lá. Eles

trabalhavam maravilhosamente bem em silêncio, até que uma mulher quis

saber o que eles eram. Aí tudo acabou. É um belo exemplo. É a mesma

coisa aqui. Essa discrição externa é cheia de respeito. Esse respeito inspira

algo na alma. Abre um espaço. Enquanto que, em uma pergunta, a alma se

contrai e pergunta: o que ele quer de mim agora? Mas ninguém pergunta o

que o Sol quer de nós. Ele simplesmente brilha. Então deixo que ele brilhe

sobre mim.

FILHA COM TENDÊNCIAS SUICIDAS

HELLINGER: AO meu lado está uma família de Berlim. Os pais são

poloneses. Vieram por causa da filha. Entretanto, não trabalharei com a

filha, trabalharei primeiro com a mãe. Depois vou ver. Já falei com ela

antes: Ela me contou algumas coisas.

Existe um santo famoso chamado Vicente de Paulo. Ele fundou a Caritas e

ajudou muita gente. Uma vez, disse a um amigo: "Se alguém quiser lhe

ajudar, tome cuidado." Muitas vezes enfraquecemos uma pessoa quando


queremos ajudá-la. Sua filha é uma menina forte, já percebi isso. Ela é

teimosa. Ok, vamos deixá-la por enquanto. Trabalharei com a mãe.

Ela me disse que dois tios lutaram contra os comunistas. Dizem que eles

mataram um homem e foram executados depois.

A pergunta é: quem a sua filha está copiando? A imagem que tenho é o

homem assassinado pelos tios. Vou checar isso agora. Precisamos de dois

representantes para os tios, irei colocá-los aqui. Primeiro não farei nada e

verei o que acontece.

Os representantes dos assassinos olham para o chão e se inclinam para

trás, como se quisessem ir embora. Hellinger escolhe mais um homem e o

coloca deitado de costas em frente aos dois assassinos.

Os representantes dos assassinos ficam inquietos e são atraídos para o

homem assassinado. Um deles se ajoelha, sem chegar mais perto, e

continua olhando para o chão. O outro olha demoradamente para o rosto

do homem assassinado e se ajoelha junto a ele.

Após um instante, Hellinger escolhe uma representante para a filha e a

posiciona junto aos outros. Ela se curva lentamente na direção do homem

assassinado. Hellinger pede a ela que se deite ao lado dele. Ela se deita e

olha para ele.

O segundo assassino se deita junto ao assassinado. O primeiro assassino

se levanta e toca o assassinado com uma mão.

HELLINGER após um instante: Agora o morto fechou os olhos.

Para a representante da filha: Levante-se agora.

HELLINGER: Como você se sentiu ao se deitar, melhor ou pior?

REPRESENTANTE DA FILHA: Melhor. Eu queria olhar para o assassinado,

mas ele não olhou para mim.

HELLINGER: OS outros é que eram importantes.

Para a filha: Vou dizer algo sobre a dinâmica. O morto está excluído na

família. Entretanto, ele pertence à família. A família não o reconheceu. É

por isso que você tem tendências suicidas. Você diz internamente: "Vou


morrer em seu lugar." É essa a dinâmica. O que me diz sobre isso?

FILHA: Não acho que queira morrer no lugar da minha mãe, mas o mundo

não me agrada. Esse é o motivo.

HELLINGER para a representante da filha: Pode se sentar.

Para os outros representantes: Levantem-se.

HELLINGER para o assassinado: O que você sentiu?

O ASSASSINADO: Tive, algumas vezes, a sensação de querer chorar.

HELLINGER: Exato, é isso mesmo. Eles lhe mataram e ninguém olhou para

você. Nenhum deles olhou para você, você sentiu isso certo. Você fez isso

bem, desde o começo. Nesse tipo de constelação, os representantes se

sentem como as pessoas de verdade. É esse o segredo aqui.

HELLINGER para um dos assassinos: Como você se sentiu?

PRIMEIRO ASSASSINO: Frio, estava duro e frio.

HELLINGER para o grupo: Ele ainda não está redimido, ainda não dá para

fazer nada com ele.

HELLINGER para o segundo assassino: E você?

SEGUNDO ASSASSINO: Estava tremendo muito no começo, mas tinha de

olhar para ele o tempo todo. Também queria ir em sua direção, mas tive a

sensação de estar com blocos de cimento presos aos pés. Consegui ir em

sua direção bem devagar e, quando ele me olhou, me acalmei bastante.

Porém, quando me curvei sobre ele e ele desviou o olhar, a sensação de

desamparo voltou. Quando a mulher veio, concentrei-me nela. Aí voltei a

me acalmar.

HELLINGER: AO fazê-lo, embora sem direito, a filha retirou isso dele.

Hellinger posiciona o primeiro assassino atrás do segundo. Ele coloca o

assassinado à direita do segundo assassino. Posiciona a filha com as

costas viradas para o assassinado e o segundo assassino e pede a eles que

se apoiem nela.

HELLINGER para afilha: Feche os olhos.


Para o assassinado e o segundo assassino: Coloquem a mão sobre os

ombros dela.

Para a filha: Deixe a energia dos assassinos e do assassinado fluir em você

formando uma unidade. Feche os olhos e tome o tempo que precisar.

Para o grupo: Vocês podem ver que ela se identifica com a vítima. A

inclinação da cabeça mostra isso. Ela precisa tomar os assassinos como

pessoas em sua alma, a vítima e os assassinos.

Para a filha: Respire fundo com a boca aberta: assim ficará mais fácil para

você.

Para os representantes dos assassinos e do assassinado: Enquanto isso,

olhem uns para os outros. Isso irá ajudá-la: o fato de os assassinos terem

lugar no coração da vítima e da vítima ter lugar no coração dos assassinos,

de pessoa para pessoa.

HELLINGER após um instante para a filha: Vire-se agora para eles e os

abrace, e vocês a abracem. E respirem fundo.

HELLINGER para os assassinos: Imaginem que o assassinado os abençoe,

com todos os bons votos para que vocês fiquem bem.

HELLINGER após um instante para afilha: Afaste-se agora um pouco e olhe

para eles. Olhe para eles e curve-se levemente. Agora olhe para eles e diga:

"Todos vocês têm um lugar em minha alma."

FILHA: Todos vocês têm um lugar em minha alma.

HELLINGER: Olhe para eles.

FILHA: Todos vocês têm um lugar em minha alma.

HELLINGER após um instante para a vítima: Como está se sentindo?

O ASSASSINADO: Bem.

HELLINGER para afilha: Agora você pode se virar para o outro lado.

Ela se vira e olha para frente.

HELLINGER: Você sabe o que há na frente?


FILHA: Não.

HELLINGER: A vida. À sua frente está a vida. Dê um passo para a frente,

mais um, mais um...

Ela abaixa a cabeça. Hellinger a segura pelo pescoço e endireita sua

cabeça. Ele a segura assim por muito tempo.

HELLINGER: Provavelmente a vítima foi enforcada.

Para a filha: Agora você pode retirar suavemente a cabeça do laço e olhar

para a frente. Ok, vou deixar assim. Obrigado a todos.

CRIANÇAS ADOTADAS

HELLINGER para Viola: Agora continuarei trabalhando com você. Posso?

Ok. Você já viu o bastante para acreditar que eu sempre lido

cuidadosamente com tudo.

Hellinger coloca representantes para seus pais.

Para Viola: Feche os olhos.

Após um instante: Abra os olhos.

Diga à sua mãe: "Mamãe, eu deixo você partir."

VIOLA: Mamãe, eu deixo você partir.

HELLINGER: "Agora eu deixo você partir."

VIOLA: Agora eu deixo você partir.

HELLINGER: "Você se desfez de mim para sempre.”

VIOLA: Você se desfez de mim para sempre.

HELLINGER: "Agora concordo com isso."

VIOLA: Agora concordo com isso.

HELLINGER: "Agora renuncio a você para sempre."

VIOLA: Agora renuncio a você para sempre.


HELLINGER: "Mas obrigada pela vida."

VIOLA: Mas obrigada pela vida.

HELLINGER: "Obrigada por ter me tocado."

VIOLA: Obrigada por ter me tocado.

HELLINGER: Diga a ela: "Sou a pequena aqui.”

VIOLA: Sou a pequena aqui.

HELLINGER: "E você a grande.”

VIOLA: E você a grande.

HELLINGER: "Continuarei sendo a pequena."

VIOLA: Continuarei sendo a pequena.

HELLINGER após um instante: Olhe para o pai e diga-lhe: "Você me

abandonou.”

VIOLA: Você me abandonou.

HELLINGER: "Agora renuncio a você para sempre."

VIOLA: Agora renuncio a você para sempre.

HELLINGER: "Outras pessoas me mantiveram viva."

VIOLA: Outras pessoas me mantiveram viva.

HELLINGER: "Agora me volto para elas."

VIOLA: Agora me volto para elas.

HELLINGER: "Mas obrigada pela vida."

VIOLA: Mas obrigada pela vida.

HELLINGER: "Obrigada por ter me tocado."

VIOLA: Obrigada por ter me tocado.

HELLINGER após um instante: Como se sente?

VIOLA: Melhor.


HELLINGER: É uma dor grande, mas agora você prossegue fortalecida a

partir dela.

Para os representantes dos pais: Obrigado a vocês dois.

HELLINGER para o grupo: A informação que eu tinha era que ela foi

adotada e não conhece os pais.

Para Viola: Isso é verdade?

VIOLA: É sim.

O QUE DEVE SER CONSIDERADO EM RELAÇÃO À ADOÇÃO?

HELLINGER: Fui informado de que vários participantes aqui são de juizados

de menores. Talvez deva dizer algo sobre a adoção e a nossa forma de lidar

com a questão.

O primeiro quesito: Não, ter compaixão pelos pais. É o primeiro quesito.

Não ter compaixão pela pobre mãe, mesmo se ela tiver só 14 anos, mas sim

pela criança. É o primeiro quesito. Não inverter a situação de forma que os

grandes façam o papel de pequenos e que os pequenos, que não podem se

defender, tenham de suportar tudo. Então o ajudante se fortalece e tem a

ordem certa no coração.

O segundo quesito é: algumas pessoas imaginam que seja possível fazer

algum bem à criança posteriormente. Como se a criança pudesse retornar a

seus pais e estes as acolhessem. A criança tem essa esperança com

frequência. Os pais não irão fazê-lo.

Imaginem só: os pais entregaram a criança para adoção. Queriam se ver

livres dela, para sempre. Como reagirão se a criança for até eles? Com

culpa, naturalmente. Não há mais acesso. Isso não pode ser consertado.

Desfazer-se de uma criança não é algo que possa ser consertado.

Para a criança, o que importa é concordar como foi. Os pais se desfizeram

dela, para sempre. A adoção é como um aborto, podemos comparar os dois.

Por isso, a criança deve dizer: Sim, eu concordo e renuncio a vocês para

sempre. Isso é doloroso. Então a criança ganha força.

Para Viola: Mesmo assim, você obteve a vida deles. Devem ter sido belos


pais. Você tem tudo, você tem o essencial. Porém, você só pôde permanecer

viva com a ajuda dos pais adotivos e pode se vincular a eles, realmente com

amor. Eles a mantiveram viva.

RAIVA DOS PAIS

Mais uma coisa importante: essas crianças sentem raiva dos pais

verdadeiros, pois eles a abandonaram. Por dentro, sentem raiva deles.

Muitas, vezes essa raiva é deslocada para os pais adotivos. A criança quer

proteger os pais, e os pais adotivos recebem o que era destinado aos pais.

Para Viola: Foi assim com você? Então você ainda pode fazer algo de bom

e dizer a eles que você toma tudo o que eles lhe deram e como é grande o

que fizeram por você. Então eles se alegram e dizem: "Que bom, demos

isso a você com prazer.”

Isso é algo que devemos observar. Por isso, não adianta nada tentar levar a

criança até seus pais. Todavia, é importante para a criança ter visto seus

pais. Seria bom, se isso for possível.

EXEMPLO

Existem situações em que várias coisas devem ser consideradas. Vou dar

um exemplo.

Um padre me escreveu sobre uma mulher que havia se tornado

esquizofrênica. Sua filha teve de ser entregue a uma família. Depois, a mãe

se curou e queria a filha de volta. Sua pergunta era que conselho dar à mãe

nessa situação. Disse a ele: "A filha deve permanecer com os pais adotivos,

mas a mãe pode dizer a ela: "Agora estou aqui de novo e você pode vir até

mim quando quiser. Mas vou deixá-la com seus pais adotivos, que

cuidaram de você enquanto estive doente." Aí a criança poderá transitar

entre a mãe e os pais adotivos. Entretanto, a mãe não pode tomá-la deles.

Isso seria a ordem aqui.

JUIZADOS DE MENORES

PARTICIPANTE: Tenho pensado em algo relacionado ao meu trabalho. Os

juizados têm de retirar crianças de suas famílias quando ocorrem situações

de emergência. Crianças pequenas vão para famílias de acolhimento.


Geralmente, trata-se primeiro de um acolhimento provisório. Muitas vezes,

não é possível motivar os pais para continuar lutando após a criança ter ido

embora. A mesma coisa seria aplicável aqui neste caso?

HELLINGER: Sim.

PARTICIPANTE: ISSO significa que, se a situação não melhorar dentro de

alguns meses, deveríamos procurar uma família definitiva?

HELLINGER: Sim.

Uma vez trabalhei com um caso assim. Dei um curso para mães de vilas

infantis. Uma dessas mães havia sido entregue para adoção quando criança.

Tinha em seu grupo uma criança que havia sido entregue pela mãe na vila

infantil. Agora a mãe queria pegar a criança de volta. A pergunta era qual

seria a solução boa aqui.

Constelamos isso e deixamos essa mãe da vila infantil representar a

criança. De um lado estava a mãe da vila infantil e, do outro, uma

representante da mãe biológica. A criança ficou no meio.

Houve uma briga tremenda na alma da criança: para um lado ou para o

outro? Ela ficou dividida por um longo tempo. Depois, se colocou ao lado

da mãe da vila infantil. Esse era o lugar certo.

PARTICIPANTE: Você disse que, ao intermediar uma adoção, não devemos

ter compaixão pelos pais que estão entregando a criança. Trabalho como

agente de adoção. Por outro lado, você disse que crianças adotivas não

podem ser felizes se não existir um certo respeito pelos pais biológicos por

parte dos pais adotivos. Como isso é possível? Posso ter respeito se não

tenho compaixão? Não preciso ter um pouco de compaixão também para

poder transmitir respeito?

HELLINGER: Onde está o respeito, na rigidez ou na compaixão?

PARTICIPANTE: Na compaixão.

HELLINGER: Onde está o respeito?

PARTICIPANTE: Na compreensão da situação.

HELLINGER: Se você tiver compreensão e compaixão, você os transforma


em crianças. Ao ser rígido, transformo-os em adultos. Onde está o respeito

aqui?

PARTICIPANTE: Não sei. Não há uma contradição aqui?

HELLINGER: Muitos terapeutas agem como se fossem amaciantes. Não

incentivam o indivíduo a assumir a vida com todas as suas consequências.

Por exemplo: todo cachorro sabe como deve viver como cachorro. Há

pessoas que não julgamos serem capazes de saber viver como pessoas, com

todas as consequências. Isso as faz amolecer, por causa da nossa

compaixão. O amor é forte, não é mole.

CRIANÇAS DE ORFANATOS

PARTICIPANTE: Isso também significa que, para crianças que estão há muito

tempo no orfanato, não existe caminho de volta para seus pais, devido à

culpa?

HELLINGER: NO caso de orfanatos, não estou bem certo. Às vezes, isso é

bom, pois a criança é aliviada e pode então voltar. Em orfanatos, a situação

é diferente.

PARTICIPANTE: Depende do lugar?

HELLINGER: Depende da situação toda. Hoje em dia existe muita gente que

acha que um orfanato é algo ruim. Eu também estive por cinco anos em um

internato e me senti liberado. Os orfanatos devem se orgulhar do que

fazem.

QUE PAIS ADOTIVOS?

PARTICIPANTE: Tenho uma pergunta com relação à escolha dos pais

adotivos. Em casos em que as crianças se tornam órfãs de repente e os avós

se oferecem para a adoção, deve-se dar preferência a eles? Ou devemos

procurar os melhores pais adotivos para as crianças?

HELLINGER: Deixamos a criança em sua família, esse é o princípio. Aqui

vêm, em primeiro lugar, os avós. Não há ninguém que possa atender melhor

a criança. Primeiro os avós. Depois vêm os tios e tias. Somente se ninguém

da família estiver disposto, devemos procurar outras pessoas. Esse é o

princípio: sempre que possível, deixar a criança na família, no clã.


PARTICIPANTE: Mesmo se esses avós estiverem, de alguma forma,

envolvidos com a morte, por exemplo, da mãe?

HELLINGER: O que quer dizer com envolvidos?

PARTICIPANTE: Se não tiverem fortalecido o filho o suficiente para a vida

e, por isso, ele não tiver conseguido permanecer vivo.

HELLINGER: Essas são interpretações da pior espécie. Nunca devemos

insinuar algo assim. Se os avós desejarem assumir a criança, este é o melhor

lugar para ela. Temos que saber que uma criança possui uma profunda

lealdade para com sua família e deseja permanecer nela. Quer permanecer

junto com maus pais, com pais que batem nela. A criança quer ficar com

eles. Se a tomamos dos pais e acreditamos que estará melhor em outro

lugar, a criança se pune. Devemos ser extremamente cuidadosos e ir com a

alma da criança. Devemos respeitar sua lealdade e seu amor. Quando

fazemos isso, ela pode se desenvolver. Quando tiramos a criança de sua

família partindo de uma perspectiva externa, é ruim.

É muito ruim quando um casal adota crianças de países distantes. É melhor

para a criança morrer lá. Muitas vezes, é melhor para a criança morrer lá.

Ela permanece vinculada a seu destino. Muitos acreditam poder intervir no

destino de uma criança, como se isso fosse melhor para ela. Devemos ter

cuidado nesse aspecto. Há exceções, não quero generalizar.

Ao escolher pais adotivos, aqueles que têm filhos próprios são melhores

que os que não têm filhos. Os juizados de menores sabem disso, não preciso

dizer. Porque senão a criança será um substituto, e isso não é bom.

Entretanto, quando os pais adotivos são movidos de coração porque

desejam ajudar uma criança, isso é bom. Porém, se querem a criança só

porque não podem ter filhos próprios, não é bom. Todavia, mesmo pais

assim podem desejar fazer algo pela criança, aí é outra coisa. Isso

desempenha um papel importante aqui.

PAIS E PAIS ADOTIVOS?

PARTICIPANTE: Você poderia dizer mais alguma coisa sobre uma postura

benéfica dos pais adotivos em relação aos pais verdadeiros?


HELLINGER: Os pais adotivos devem se ver como substitutos dos pais

biológicos. Devem respeitá-los. Somente ao respeitar os pais, podem

respeitar a criança. Devem amar os pais da forma que são. Então podem

amar também a criança. Se eles se colocarem acima dos pais biológicos, a

criança se vinga, dizendo: "Vocês não são melhores que meus pais."

Há muitos anos, fiz um curso de análise transacional nos Estados Unidos.

A coordenadora do curso era uma pastora. Tinha quatro filhos adotados e

vários filhos próprios. Uma das crianças havia sido adotada já com seis ou

sete anos de idade. Ela não parava de dar trabalho à família. Era, como se

diz, um psicopata, uma denominação horrível. Era uma pobre criança.

Depois de muitos anos, ela disse à criança: "Pode fazer o que quiser,

continuarei sendo sua mãe." Aí a criança desabou e disse: "Mamãe, durante

muito tempo quis que você se tornasse como a minha mãe. Agora eu

desisto.” A mãe dele era esquizofrênica. Eis a intensidade da lealdade

dessas crianças.

Tudo de bom para você e mande lembranças minhas aos seus pais

adotivos.

CRIANÇA EM TUTELA

HELLINGER para um casal: Vou trabalhar com vocês. Creio que vocês

acolheram uma criança. Venham até aqui, então permaneceremos no tema.

HELLINGER: O que há com a criança em tutela?

MULHER: A criança chegou ao lar com nove anos, porque o pai havia

matado a mãe. Ele foi levado para o orfanato com os irmãos. É o segundo

mais velho de quatro crianças.

HELLINGER: Vocês também têm filhos próprios?

MULHER: Tenho dois filhos próprios, mas não temos filhos juntos.

HELLINGER: O que houve com o seu primeiro marido?

MULHER: Ele se casou novamente e tem mais um filho.


HELLINGER: Vocês se divorciaram?

MULHER: Sim, mas meus dois filhos possuem pais diferentes.

HELLINGER: Você foi casada várias vezes?

MULHER: Não, só uma vez.

HELLINGER: Não faz diferença. Se o produto é bom, as circunstâncias não

importam. Quantos anos tem a criança?

MULHER: 19. Ele só veio para nós com 16.

HELLINGER: E quantos anos tinha quando o pai matou a mãe?

MULHER: Nove.

HELLINGER: Vocês assumiram algo pesado.

MULHER: Sinto que nos foi imposto. Foi uma tarefa que...

HELLINGER: A criança vai se tornar um assassino. A criança vai se tornar

um assassino, a menos que encontremos uma solução.

Eu tinha um grupo de supervisão em Kassel. Havia uma mulher que dizia

que o marido de sua irmã a havia matado. Ela havia assumido as duas

crianças. Estou dizendo isso como preparação.

Então constelei isso. A representante da irmã da mulher logo foi embora,

com medo do marido. Ele simplesmente ficou lá, olhando para o chão.

Então deitei-a no chão, pois estava morta, e fiz com que o marido olhasse

para ela.

Quando há assassinos em uma constelação, observamos que eles não olham

diretamente e que respiram superficialmente. É por isso que, hoje de

manhã, precisei fazer com que você também olhasse diretamente e

respirasse fundo. Só então o sentimento pode irromper. Assim, levei esse

homem até a mulher morta, fiz com que ele a olhasse e respirasse fundo.

De repente, a dor surgiu nele: uma dor inacreditável. Ele foi até a mulher

no chão e eles se abraçaram. Assassinos e vítimas estão muitas vezes

ligados por um amor profundo.

Eles ficaram lá deitados, e as crianças permaneceram afastadas com a tia.


Uma das crianças quis ir até o pai. Eram duas meninas, a outra quis ir até

a mãe. Então deixei que as duas se deitassem lá e disse: "Uma menina se

tornará uma assassina e a outra uma vítima.” Isso é lealdade.

Então interferi: levantei as duas meninas, e o pai disse às filhas: Vão para

sua tia, ela cuidará de vocês.” Então a tia as tomou nos braços. Elas se

viraram e as duas meninas estavam aliviadas, muito aliviadas, e puderam

prosseguir.

Essa é a dinâmica em um caso assim. Agora temos que ver o que há com

essa família. Precisamos de um representante para o menino, para seu pai

e de uma representante para sua mãe.

Os representantes do pai e da mãe estão lado a lado. O representante do

filho está em frente a eles. Após um instante, ele levanta as mãos devagar,

como se quisesse pegar o pescoço de alguém.

HELLINGER: Essa é a energia do agressor, já se pode ver que ele se tornará

um assassino.

Para a mulher: Como ele a matou?

MULHER: Ele cortou seu pescoço. São muçulmanos.

HELLINGER: E O que aconteceu com ele?

MULHER: Está em uma clínica psiquiátrica.

O pai fecha os punhos e os coloca em frente ao rosto. A mãe treme. O filho

quer ir até o pai, mas Hellinger o segura.

Após um instante, Hellinger pede à mãe que se deite no chão. O pai também

vai para o chão lentamente. Após um instante, eles se abraçam. Hellinger

pede ao filho que vá até eles e abrace os dois. O pai e a mãe estão

chorando. O filho acaricia a mãe. Após um instante, Hellinger afasta o

filho deles. Ele se levanta, Hellinger o vira de costas para eles. Ele escolhe

um homem, coloca em frente ao filho e lhe diz: você representa o destino.

Hellinger: Vou escolher você. Você é o destino.

Para o filho: Curve-se diante dele.


Após um instante: Olhe mais uma vez para trás para seus pais. Você vai

levar essa imagem no seu coração. Vire-se novamente.

Hellinger pede ao destino que se coloque atrás dele.

HELLINGER para o filho: Como você está agora?

FILHO: Bem. Estou em paz.

Para os pais tutelares: Têm uma noção agora?

MULHER: Sim, obrigado.

HELLINGER: Vocês não devem dizer nada a ele. Confiem-no a seus pais, da

forma como viram aqui. Agora vocês podem olhá-los com amor e respeito.

É um destino difícil para todos. Mas que amor existe entre eles no final!

Isso é certo. Vocês não precisam separá-lo de seus pais. Ok? Certo.

HELLINGER para o grupo: Obviamente, fico pensando em que

emaranhamento do destino o pai do menino se encontrava. O que houve em

sua família? Da mesma forma que o menino está ou estava em perigo de se

tornar um assassino, talvez ele tenha entrado nisso por causa de

emaranhamentos, sem estar livre. Vejam como é sempre difícil distinguir

entre bom e mau.

Acho que podemos parar por hoje. Foi um dia rico e precisamos deixar

atuar. É bom que vocês não falem sobre isso e simplesmente deixem isso

atuar em suas almas.

COMPLEMENTO

HELLINGER: Gostaria de dizer mais uma coisa sobre essas constelações.

Elas atuam através da imagem. Qualquer tentativa de explicação destrói a

imagem. Falar sobre isso retira a força da imagem. Nós a deixamos como

é. É uma imagem da alma, das profundezas da alma. Quando chegamos

com a razão e saímos interpretando tudo, a alma se retrai.

Quando relembramos tudo o que veio à tona hoje, que profundidade da

alma! Em que emaranhamentos os indivíduos estão presos! Quão grande é

cada família em suas particularidades, com tudo o que ocorreu ali! Quando

entendemos isso, nos tornamos humildes. A partir dessa humildade,


podemos lidar bem mais facilmente com destinos pesados e também com

aqueles que têm um destino pesado. Serenos, confiamos em forças maiores.

Para concluir, contarei mais uma pequena história. Não sei por que a

escolhi, mas irá servir para alguma coisa. A história é a seguinte:

HISTÓRIA: O CAMINHO

O filho vai até o velho pai e pede: "Pai, me dê a sua bênção antes de partir."

O pai diz: "Minha benção será lhe acompanhar numa parte do caminho da

sabedoria." Na manhã seguinte, saíram para o campo e, partindo do vale

estreito, subiram uma montanha.

Quando chegaram ao alto, a tarde caía, mas a paisagem estava banhada em

luz por todos os lados, até o horizonte.

O sol se pôs, e com ele se foi o esplendor. Caiu a noite. Contudo, quando

escureceu, as estrelas luziram.

CONSEQUÊNCIAS DE UM ESTUPRO

HELLINGER para uma mulher: Agora é a sua vez. Qual é a questão?

MULHER: EU fui adotada. Nasci em 1947, fiquei quatro semanas com minha

mãe biológica e minha adoção foi autorizada seis meses depois. Há três

anos procurei minha mãe biológica e a encontrei. Tenho um meio-irmão e

uma meia-irmã.

Há três anos descobri, a partir dos meus arquivos, que sou fruto de um

estupro. Em meus arquivos consta que minha mãe foi estuprada por dois

policiais poloneses em abril de 1946. Ninguém nunca falou comigo sobre

meu pai. Tampouco pensei nele por quase toda a minha vida.

HELLINGER: ISSO basta. Certa vez, alguém me disse durante um curso: "Sou

o fruto de um estupro.” Eu lhe disse: “Para você, foi uma bênção."

MULHER: Sim.

HELLINGER para o grupo: Devemos ver isso desta forma. Uma vez conduzi

uma constelação na Holanda. Uma pessoa disse: "Minha avó foi estuprada


por nove russos." Então Coloquei esses russos, juntamente com o avô. O

avô não olhava para a mulher. Ele olhava para longe, provavelmente para

seus camaradas mortos. Sua mulher se colocou ao lado dos estupradores e

disse: "Pelo menos eles olham para mim."

HELLINGER: Farei uma constelação simples. Preciso de dois policiais e de

representantes para ela e para sua mãe.

Hellinger posiciona a mãe da mulher diante dos dois policiais e a filha um

pouco de lado.

A mãe está de pé, de punhos fechados. Um dos policiais lhe estende a mão.

A mãe vai lentamente até ele e segura sua mão que está estendida. A filha

se coloca ao lado dela. O policial a abraça com a mão direita. Então eles

se abraçam e ela encosta a cabeça no ombro dele. Ela acaricia seu rosto

e os dois se abraçam afetuosamente. A filha recua, assim como o outro

policial A mãe se coloca atrás desse policial e ele a abraça por trás. 0

outro policial se ajoelha diante deles e chora alto.

HELLINGER para a mulher: Como você está?

MULHER: Bem.

HELLINGER: Para onde vai seu olhar?

MULHER: Para o pai.

HELLINGER: Quem é ele?

A mulher aponta para o policial que está chorando no chão: Ele.

HELLINGER: Ok, vou parar por aqui.

Para o grupo: Coisas estranhas vêm à tona.

Para a mulher: Como você está?

MULHER: Estou bem.

HELLINGER para o grupo: Quem é capaz de penetrar os segredos do amor?

É muito importante que saibamos uma coisa: a mãe que rejeita o homem

rejeita o filho.

Para a mulher: É por isso que ela se desfez de você. E como você se cura?


Tomando seu pai em seu coração. Você é uma parte dele. Tudo bem?

Podemos parar por aqui? Ok.

CRIANÇA DEFICIENTE

HELLINGER para o grupo: Continuarei o trabalho agora.

Para a mãe de uma criança deficiente: O que há com a criança? Qual é a

sua deficiência?

MÃE: DO ponto de vista médico, é um distúrbio metabólico congênito, com

expectativa de vida curta e sem chance de cura.

HELLINGER: Com quantos anos está a criança?

MÃE: Dez e meio.

HELLINGER: É menino ou menina?

MÃE: É menino: Martin.

HELLINGER: E O pai?

MÃE: NÓS nos separamos há sete anos, mas nos revezamos para cuidar do

filho, a cada fim de semana. Ele se dedica inteiramente a ele. Dá apoio total

a ele e a mim. Sempre esteve ao nosso lado durante todos esses anos.

HELLINGER: O que lhe oprime no momento?

MÃE: EU tenho fases de consciência pesada por ter entregado a criança ao

orfanato. Isso é recorrente. Sei que ele está bem, mas não consigo parar de

pensar nisso.

HELLINGER: Acho que contei uma história sobre uma mãe cujo filho

deficiente estava em um orfanato em meu livro "O Essencial é Simples”. 1

Na época, isso me comoveu muito.

Vamos olhar para isso agora e eu já vou colocá-la na constelação. Fique

ali.

1 Este livro foi publicado pela Editora Atman.


Hellinger escolhe um representante para o menino deficiente e pede para

que ele se coloque diante dela.

O menino deficiente se coloca diante de sua mãe. Após um instante,

Hellinger escolhe um representante para seu pai e o inclui na constelação.

O pai olha para o menino, a mãe recua. Então, o pai dá alguns passos para

frente, aproximando-se do filho, estende sua mão direita e acaricia sua

bochecha. Depois, retira a mão, vai lentamente para o chão, estende as

mãos e olha para o chão. O menino também vai para o chão, ajoelha-se

diante do pai e faz o mesmo movimento. A mãe chora. Então o pai estende

a mão até a cabeça do menino e a acaricia longamente. Ele continua

olhando para o chão.

HELLINGER para a mãe: Sabe o que isso significa?

MÃE: EU não tenho nada a ver com isso.

HELLINGER: O que houve na família do homem?

MÃE: O avô do Martin perdeu um irmão muito cedo. Fora isso não sei de

mais nada.

HELLINGER: Há algo poderoso atuando.

Ela balança a cabeça.

HELLINGER: De onde vem a doença? É hereditária?

MÃE: É uma doença hereditária de ambos os lados, um defeito genético.

HELLINGER: DO seu lado e do lado dele?

MÃE: Sim, de ambos os lados.

Hellinger pede que ela se ajoelhe diante dos dois. O pai puxa o filho com

mais força para si. Sem erguer-se do chão com o filho, ele estende uma

mão para a mãe, que a toma. O pai puxa o filho para ainda mais perto. Ele

olha para o pai. Então a mãe também acaricia a cabeça do menino, mas

retira a mão de volta.

O pai se ajoelha. Ambos acariciam as costas do filho, enquanto se abraçam

com a outra mão.


Após alguns instantes, o homem acaricia o rosto de sua mulher com uma

das mãos e ela apoia a cabeça no filho. Todos estão ligados entre si em

um profundo amor.

HELLINGER: Acho que posso parar por aqui.

HELLINGER para a mãe: O amor, incorporado ao dever, a partir da

realidade, possui uma enorme grandeza e força no final. No amor

convencional não há algo tão profundo assim.

Vocês dois devem ficar juntos novamente. Os sentimentos de culpa

dificultam isso. Como sempre, sigam o caminho, e isso será bom. Tudo

bem?

Ok. Tudo de bom para vocês.

HELLINGER para o grupo: Vou contar uma pequena história:

Um discípulo foi até o mestre e disse: "Diga-me o que é a liberdade."

"Que liberdade?" - perguntou o mestre.

A primeira liberdade é a insensatez. Ela se assemelha ao cavalo que,

relinchando, arremessa o cavaleiro, mas depois sente o seu pulso ainda

mais firme.

A segunda liberdade é o arrependimento. Ela se assemelha ao timoneiro

que, após o naufrágio, permanece nos destroços, ao invés de subir no barco

salva-vidas.

A terceira liberdade é a compreensão. Infelizmente ela vem depois da

insensatez e do arrependimento. Assemelha-se ao caule que balança ao

vento e, por ceder onde é fraco, permanece de pé.

O discípulo perguntou: "Isso é tudo?"

O mestre respondeu: “Algumas pessoas acreditam buscar elas mesmas a

verdade de suas almas. Entretanto, a grande alma pensa e procura através

delas. Assim como a natureza, ela pode permitir-se muitos erros, pois está,

sempre e sem esforço, substituindo os maus jogadores. Mas, àquele que lhe

permite pensar, concede, às vezes, certa liberdade de movimento. E, como

um rio que carrega o nadador que se deixa levar, ela o carrega até a


margem, unindo sua força à dele."

SUPERVISÕES

HELLINGER: Agora vamos tratar de casos de supervisão. Quem tem um caso

de supervisão?

MENINO QUEIMADO

HELLINGER para uma educadora: Qual é a questão?

EDUCADORA: Há dez anos cuido de um menino que sofreu queimaduras

graves aos três anos. Sua mãe morreu queimada no incêndio. Ele conheceu

seu pai há apenas três anos, mas não tem nenhum contato com ele.

HELLINGER: Por que não o conheceu antes?

EDUCADORA: OS pais viviam separados. A mãe havia expulsado o pai antes.

O menino primeiramente foi criado pelos avós, mas sofreu muitas

agressões vindas de fora. Ou seja, foi muito rejeitado devido à sua

aparência monstruosa.

HELLINGER: Como ocorreu o incêndio?

EDUCADORA: Provavelmente foi ele quem o provocou.

HELLINGER: O menino?

EDUCADORA: Sim, morava em uma república, na qual ninguém se

preocupava com ele. A mãe era viciada em drogas e acreditam que ele

estava brincando com fogo.

HELLINGER: Quem provocou o incêndio?

EDUCADORA: Ele com certeza que não.

HELLINGER: Foi a mãe, claro. Em vista das circunstâncias, não podemos

culpar o menino. Quantos anos ele tem agora?

EDUCADORA: 18.

HELLINGER: Qual é o outro problema?


EDUCADORA: Ele vive há dez anos conosco, no orfanato. Foi ele quem

escolheu o orfanato. Ele quis ir para lá. Até agora, tem feito tudo: escola e

profissão. Mas não tem alegria de viver. É muito depressivo. Às vezes,

tenho a sensação de que essas questões mal resolvidas o sufocam.

HELLINGER: Por que o pai nunca fez nada a respeito?

EDUCADORA: Não sabemos.

HELLINGER: Foi feito contato com ele?

EDUCADORA: Por parte dos avós sim, mas eles controlavam isso um pouco,

para proteger o menino queimado.

HELLINGER: Ele deve ir para o pai. Desde o começo devia ter ido para o pai

e para mais ninguém. Ok, isso seria o primeiro caso.

MENINO QUEIMADO: CONTINUAÇÃO

HELLINGER após um longo intervalo: Agora vou continuar trabalhando com

o caso da criança queimada. Vamos constelar a criança, a mãe, o pai e os

avós. Vou escolhê-los e você os posicionará.

A mãe fica em frente ao menino. Seus pais ficam atrás dela. O pai do

menino fica separado. O menino coloca uma mão em frente à barriga,

depois ambas as mãos em frente à boca e em frente ao pescoço. A mãe está

com ambas as mãos em frente ao peito. Sua mãe e seu pai estão com os

punhos fechados, principalmente o pai. Após um instante, Hellinger vira a

mãe para seus pais. Nesse meio tempo, o pai do menino vai até ele. Os dois

se abraçam afetuosamente.

HELLINGER: Acho que isso é o suficiente. Há uma energia assassina aí

assumida pelo pai da mãe. Algo deve ter acontecido. Olhe para os punhos

dele. O menino deve ir para o pai. Ele não pode ir para sua mãe, pois a

energia assassina é muito forte lá.

HELLINGER para o pai da mãe do menino: O que há com você?

PAI DA MÃE DO MENINO: Uma fúria incrível. É inexplicável. E um arrepio

gelado.

HELLINGER: Algo aconteceu aí. É aí que está. Ok? Certo, obrigado.


Para o representante do pai da mãe do menino: Saia do papel. A melhor

forma é: curve-se brevemente diante da pessoa que você representou e

então se vire para o outro lado. Certo? Ok.

HELLINGER após um instante para a educadora: Sabe o que você pode dizer

ao menino? É melhor ser queimado do que ser um assassino.

O PAI SONHADO

HELLINGER para um educador: Qual é a sua questão?

EDUCADOR: Acompanhamos um caso em nossa instituição há mais de dez

anos. Trata-se de quatro irmãos que, durante a puberdade, desenvolveramse

de formas bastante diferentes e complicadas, causando dificuldades na

família adotiva. Acreditamos que os pais adotivos não respeitaram o

sistema de origem, que se tratou mais de uma afirmação verbal.

Adicionalmente, vieram os temas derivados do sistema de origem. Há

muita morte aí. Das quatro crianças, os dois meninos já tentaram se matar,

ou seja, sempre se colocavam em risco e também tinham atitudes

criminosas. As meninas seguiram um caminho diferente, mas também não

muito saudável.

HELLINGER: São dois meninos e duas meninas?

EDUCADOR: Sim.

HELLINGER: E O que vocês sabem sobre a família de origem?

EDUCADOR: A mãe biológica tem ao todo seis filhos, de três pais diferentes.

Os dois primeiros, um menino e uma menina, do mesmo homem. Os três

homens já foram presos devido a álcool e violência. O que está mais óbvio

para nós é que havia 13 filhos no sistema de origem do pai dos dois filhos

mais velhos. Dez desses 13 filhos morreram. Eles morreram de fome ou em

acidentes, fugindo durante a guerra. Ele é o último desses 13 filhos que

sobreviveu.

HELLINGER: Gostaria de olhar isso junto com vocês. Vou fazer isso de


forma separada, trabalhando cada vez com os filhos de um dos pais, uma

vez que se trata de destinos diferentes. Tomemos então o que você disse

por último: a família na qual dez filhos morreram.

HELLINGER: Por que o pai foi preso?

EDUCADOR: Supostamente por ter deixado de pagar pensão.

HELLINGER: Com certeza supostamente. Qual foi o motivo real?

EDUCADOR: Ninguém fala sobre isso. Isso é o que está em primeiro plano,

o que sabemos.

HELLINGER: Por quanto tempo ficou preso?

EDUCADOR: Por mais ou menos dois anos.

HELLINGER: Existe prisão por falta de pagamento de pensão? E por tanto

tempo? Não sei muito a esse respeito, tenho que me informar.

EDUCADOR: Tem mais uma história. A mãe estava grávida de sete meses

do segundo filho, e o homem queria que ela voltasse para ele. Eles tinham

se separado. Ele foi drogado até o apartamento da mãe, com uma arma na

mão, ameaçou-a dizendo: "Quero que você volte para mim." Nesse

momento, começaram as contrações e o filho nasceu prematuro, com sete

meses. A criança lutou para sobreviver: pesava apenas 1000 gramas. Há 20

anos isso era difícil, mas o menino conseguiu.

HELLINGER: A filha mais velha é a irmã dele?

EDUCADOR: A filha mais velha é a irmã. Há uma diferença de um ano entre

os dois.

HELLINGER: O que houve com o pai do pai?

EDUCADOR: O pai do pai também esteve envolvido com álcool e violência.

Houve tensões na família, mas não se sabe de mais nada.

HELLINGER: Trata-se então da família na qual dez filhos morreram?

EDUCADOR: Sim. Esse é o pai dessas 13 crianças.

HELLINGER: Esses dois são os filhos mais velhos da mãe?


EDUCADOR: Sim, tanto da mãe quanto do pai. Ambos eram bem jovens

quando os filhos nasceram: 19 e 20 anos.

HELLINGER: VOU começar com o pai e a mãe.

Para o educador: Escolha os participantes e coloque-os.

Ele os escolhe e os coloca frente a frente. Não há movimento entre eles.

Hellinger escolhe uma mulher para representar a filha mais velha dessa

relação e a inclui na constelação. Após um instante, o homem vai até a

mulher e lhe estende a mão. Após hesitar um pouco, ela vai até ele e apoia

a cabeça em seu peito. Os dois olham para a menina.

HELLINGER após um instante para essa menina: O que há com você?

MENINA: Não consigo suportar ver os dois assim. Fico com raiva. Não

acredito no sorriso dele. Quero dizer a ele: "Não minta para mim.” Minha

cabeça está girando.

HELLINGER para o educador: Algum dos dois teve relações anteriores?

EDUCADOR: A mãe foi abusada pelo pai.

O pai e a mãe se olham e sorriem um para o outro.

HELLINGER: O movimento mostra que o problema não está no pai. Está

claramente na mãe.

Hellinger escolhe um representante para o pai da mãe e o coloca diante

dela, a alguma distância. O homem segura a mulher ainda mais

firmemente.

Hellinger coloca o homem de lado e a mulher diante de seu pai. A mulher

começa a tremer. Hellinger coloca a mão sobre suas costas. Ela bate com

as mãos em frente ao rosto e começa a soluçar.

HELLINGER para a mãe: Olhe para ele.

Ela vai lentamente até seu pai e abraça seu pescoço. Eles se abraçam

fortemente por muito tempo.

HELLINGER após um instante para a menina: O que há com você agora?

MENINA: Ver isso me agrada.


Após um instante, a mãe e seu pai se olham. A mãe quer se afastar do pai.

HELLINGER: Vá com o movimento.

Após um instante: O movimento vai para a outra direção. Curve sua cabeça.

Após mais um instante: Ok, agora recue.

Ela recua lentamente. Hellinger coloca sua filha ao seu lado e os dois se

abraçam de lado.

Hellinger aponta com a mão para o pai da filha.

HELLINGER para a mãe: Diga-lhe: "Esse é seu pai."

MÃE: Esse é seu pai.

HELLINGER: Na imagem da mãe, o pai dela era o pai da criança e na imagem

da filha também.

Hellinger escolhe uma representante para a mãe da mãe e a posiciona a

uma certa distância de seu marido. A menina se posiciona diante dela. A

avó não olha para seu marido.

HELLINGER: Ela não olha para seu marido.

O pai da menina vai lentamente em sua direção. Eles se abraçam

afetuosamente.

HELLINGER: Quando olhamos para isso, vemos que se trata de

circunstâncias estranhas.

Após um instante: Vou interromper aqui. Está tudo de cabeça para baixo.

Obrigado a todos.

Para o educador e sua esposa: Vocês têm uma tarefa difícil.

EDUCADORA: Não pudemos fazer nada enquanto instituição, além de reunir

as informações. Durante as discussões do caso, os pais adotivos nunca

concordaram que examinássemos a questão. Isso não foi possível.

HELLINGER: AS crianças não estão em boas mãos. Todavia, vocês agora

podem entender melhor a menina e aquilo em que ela está emaranhada.

PAI: Nada me separava mais da minha filha. Havia algo ameaçador da parte


da mãe, algo de ruim.

HELLINGER: Temos que deixar isso descansar agora. Talvez a benevolência

traga algum entendimento na alma, com o qual vocês possam encontrar

outro caminho.

AGRESSORES E VÍTIMAS

EDUCADORA: Você poderia dizer algo geral sobre como lidar com

agressores e vítimas? Segundo o que tem ocorrido aqui, bom e mau

evidentemente não são como parece ser. Pode dizer mais alguma coisa

nesse contexto?

HELLINGER: NO que diz respeito a bom e mau, geralmente é o contrário do

que se apresenta. Nessa família aqui pudemos ver: a força negativa estava

na mãe, na mãe da mãe.

EDUCADORA: Minha pergunta é voltada para o fato de termos sempre que

lidar com o agressor ou que nos envolver com os agressores. Os agressores

são sempre rejeitados, os que cometem abusos são sempre rejeitados. Isso

parece estar completamente errado. Tem de haver outros caminhos, pois,

dessa maneira, não chegamos a objetivo algum.

HELLINGER: SÓ podemos lidar com um agressor se dermos a ele um lugar

em nosso coração. Então ele amolece, não antes. Qualquer intervenção o

endurece. Devemos ter muito cuidado. Vou dar um exemplo:

Há muitos anos, realizei um curso na Suíça. Um assistente social me disse

haver uma menina que havia sido abusada pelo avô e pelo tio. Ele queria

denunciá-los. Disse a ele para não fazer isso. É ruim para a criança quando

os agressores são denunciados.

Encontrei-me com ele alguns anos mais tarde e ele disse que os dois haviam

sido condenados. Perguntei a ele como estava a menina. Ele disse que ela

tentava pular da janela constantemente.

Ele causou isso com a denúncia. As vítimas são leais. Na verdade, são

proibidas de demonstrar isso. Vimos isso aqui. A pressão geral diz que se


trata de algo terrível e, por isso, não podem demonstrar o amor.

O pior, na verdade, não é o ato. Não quero atenuar isso, mas as ações de

certas pessoas intimidam as crianças e as impedem de mostrar seus

sentimentos de verdade. Uma coisa está clara: há um amor profundo aí.

Apenas após reconhecê-lo é possível fazer algo para retirar a criança desse

emaranhamento. Nesse sentido, isso é um passo muito importante.

Vou dar um exemplo. No México, fizemos uma constelação com uma

sobrevivente do holocausto. Ela era bastante agressiva. Coloquei

representantes para as vítimas e para os agressores e ela se colocou em

frente aos agressores, de maneira desafiadora. Um deles disse a ela:

"Enquanto você me olhar dessa forma, ficarei cada vez mais forte. Se você

for humilde, não conseguirei mais ficar de pé."

A maioria dos agressores se sente superior. Quando, no trabalho social,

alguém se sente superior a um agressor, ele também se torna um agressor.

O sentimento de superioridade faz com que nos tornemos iguais a ele.

Também temos sentimentos agressivos e o levamos à justiça. Então somos

idênticos ao agressor, ao combatê-lo dessa maneira. Precisamos ter muito

cuidado aqui. Nesses casos, sempre tenho a criança em vista. Pergunto-me

o que se passa na alma da criança. Também não estou defendendo que não

devamos levar essas questões à justiça. São duas coisas diferentes. Uma é

de responsabilidade das autoridades públicas. Contudo, quem tem a criança

em vista não deve confundir as coisas. Ele não deve, simultaneamente,

iniciar essa perseguição. Só assim podemos ajudar a criança.

EDUCADORA: Tenho mais uma pergunta sobre as pessoas que atuaram como

representantes. No caso de um abuso, quando é colocada na constelação

uma mulher que tenha vivenciado um abuso em sua própria história, ela

reage de forma diferente de alguém que não tenha vivenciado isso

pessoalmente? Isso faz diferença na constelação?

HELLINGER: Em geral, não. Quando é assim, ela também pode resolver algo

para si vivenciando isso.


A INTERRUPÇÃO

HELLINGER: Alguém tem mais algum caso de supervisão? Qual é a sua

questão?

EDUCADORA: Há um ano acompanho uma família. Uma família bastante

jovem, com três crianças pequenas. Ambos os pais foram criados em

orfanatos. A criança mais velha esteve há pouco tempo com uma família

tutelar. Há uma grande tensão na família, uma grande pressão. As crianças

parecem ter sido adestradas. Até o cachorro vai para o canto quando o pai

entra em casa.

HELLINGER: Algum dos pais esteve antes em outra relação?

EDUCADORA: Não. Eles estão juntos desde muito cedo, mas há muitas

histórias de crianças entregues para adoção e ele...

HELLINGER: Não, não. Continuo com a pergunta: houve alguma relação

anterior de algum dos dois?

EDUCADORA: Não, não se sabe de nada.

HELLINGER: Está claro que o homem deve estar representando alguém da

família da mãe.

EDUCADORA: Talvez o irmão dela, ele está na cadeia. A mãe foi casada

cinco vezes e depois ainda teve mais dois parceiros. Os filhos dos dois

primeiros casamentos foram sujeitos à adoção forçada. Sua mãe teve dois

filhos: ela e um irmão que agora está na cadeia por causa de drogas. Aí tem

mais um filho de um...

HELLINGER para o grupo: Quem ela não mencionou?

EDUCADORA: O pai dos dois.

HELLINGER: Exato. E ele é o importante. Tudo que não é mencionado é

importante.

HELLINGER: ISSO já é suficiente. Vamos colocar primeiro: o pai, a mãe, os

três filhos e um cachorro. Precisaremos, obviamente, de um representante

para o cachorro também.


A representante da mulher tampa os ouvidos fortemente com as mãos. A

criança mais nova cai no chão e fica deitada.

Hellinger escolhe um representante para o pai e o coloca diante da mulher.

Ela continua tapando os ouvidos, vira-se para o outro lado e dá alguns

passos para fora.

Hellinger escolhe uma mulher e a coloca ao lado do pai da mulher.

HELLINGER para a mulher: Vire-se. Abra os olhos.

Ela continua com ambas as mãos na cabeça.

HELLINGER para a educadora: Pela reação, algo de muito ruim deve ter

acontecido.

HELLINGER para a mulher: O que você está vendo?

MULHER: Minha cabeça. Golpes. Cabeça esmagada.

Hellinger escolhe mais uma representante e a coloca deitada de costas

entre a mulher e sua mãe e seu pai. A mulher continua segurando a cabeça

com ambas as mãos. Então, caminha para trás. Sua mãe vai em sua

direção. Ela foge, mas a mãe a persegue. Ao se aproximar de seu marido,

este a toma nos braços e a segura firme.

HELLINGER para a mãe da mulher. Olhe para o chão, olhe para a morta no

chão à sua frente.

A mãe da mulher se vira para a morta. Então, se ajoelha e a toca. Após um

instante, a mulher tira as mãos da cabeça. Ela se acomoda junto ao seu

marido. Os dois se abraçam.

HELLINGER após um instante para a primeira criança: O que há com você?

PRIMEIRA CRIANÇA: Quero ir embora daqui, não quero olhar. Estou

oscilando entre colapsar e me rebelar. Quero ir embora.

HELLINGER para a educadora: Houve um assassinato na família. Pudemos

ver isso também pela reação da terceira criança, que caiu no chão. A

pergunta é apenas: onde?

EDUCADORA: Sei apenas de um aborto dela. Fora isso não sei de mais nada.


HELLINGER: VOU interromper por aqui. Vou deixar que permaneça como

está. Obrigado aos representantes.

HELLINGER: Como o cachorro se sentiu?

CACHORRO: Tive compaixão pelo meu pequeno dono.

HELLINGER para o grupo: Com relação ao procedimento, interrompi a

constelação duas vezes, sem prosseguir depois. Esse é o procedimento

correto. Quando algo não prossegue, devemos interromper. A interrupção

é uma medida terapêutica. Reconhecemos os limites que nos são impostos.

Geralmente, a interrupção ocorre no ápice da energia. Então algo entra em

movimento na alma. Não na própria alma: algo entra em movimento no

sistema. Agora devemos confiar nisso. Anteriormente, obtivemos uma

informação importante com relação à cabeça. Havia algo relacionado à

cabeça. Eu levaria isso a sério: cabeça esmagada. Aí vemos o que acontece.

Algo entra em movimento. Isso basta para começar.

Para os educadores: Sempre fico admirado com o que vocês assumem para

si.

A EDUCADORA QUE TROUXE o CASO: Tenho mais uma pergunta rápida. O

pai é muito agressivo, verbalmente agressivo. Isso pode ter algo a ver com

isso, ou será que está mais relacionado com a história dele e de sua família?

Isso foi o que ele me disse. Porque ele percebe que interrompe tudo por

toda a parte e tem medo de matar alguém e foge de autoridades o tempo

todo.

HELLINGER: Naturalmente, isso também é algo importante nele. Mas aqui

ele foi o mais tranquilo. Também devemos ter em mente que, nas relações

de casal, existe o estranho fenômeno de que um assume algo pelo outro.

Isso chega ao ponto de um parceiro se matar no lugar do outro. Devemos

tomar cuidado aí. Porém, ficou claro para mim que tínhamos de começar

pela mãe. Geralmente é o contrário. Você queria começar com o pai, mas

geralmente é o contrário.

EDUCADORA: Ainda tenho uma pergunta sobre a constelação: como devo

proceder quando a família quiser saber o que surgiu na constelação? Eles

não vieram comigo, mas a pergunta vai surgir com certeza. Como posso


lidar com isso?

HELLINGER: Diga exatamente o que aconteceu, sem comentários. Uma

criança caiu no chão, a outra se virou para o outro lado, uma segurou a

cabeça, exatamente isso. Apenas conte como foi sem fazer perguntas. Veja

então o que acontece.

EDUCADORA: Sem avaliar também?

HELLINGER: Sem avaliar, isso é muito importante. Simplesmente descreva

o que se passou.

GRAVIDEZES INTERROMPIDAS

EDUCADOR: Gostaria de saber qual é o significado das interrupções de

gravidez. Trabalho no acompanhamento de conflitos de gravidez. Há

alguma diferença relacionada ao tempo decorrido? Acabei de ouvir a

pergunta: "Quando ocorreu a interrupção da gravidez?"

HELLINGER: Quando se trata de uma interrupção tardia, ela é vivenciada

como um assassinato. Quando é mais cedo, nem sempre. Às vezes, é

vivenciado de outra maneira, mas existem contextos bastante estranhos aí.

Uma vez dei um curso na Rússia, em Moscou. Havia um casal, e eles diziam

que não podiam ter filhos, mas que gostariam muito. Perguntaram se eu

podia ajudar.

Olhei para a mulher e ela era bem engraçada. Disse-lhe que era visível que

ela não queria ter filhos. Então ficou séria. Perguntei a ela o que havia

ocorrido em sua família de origem. Sua mãe havia feito oito abortos. Então,

Coloquei no chão oito representantes para as crianças abortadas, e ela se

sentou ao lado deles. Aí ela ficou bem. Então, fiz com que todos se

levantassem e disse a essas crianças abortadas que se colocassem atrás dela.

Ela se apoiou nelas. Coloquei seu marido ao lado e, na frente, um

representante para a criança por vir.

Estava claro: ela recebia dos irmãos abortados a força e a coragem para ter

seus próprios filhos. Ou seja, eles pertenciam.


Outro exemplo: em um curso em Verona havia uma mulher que dizia ter

medo de que as suas duas crianças morressem. Coloquei-a, o marido e as

duas crianças. À sua frente, Coloquei a morte: um homem. Ele foi

imediatamente para o chão e se sentou. A morte não faz isso. Ficou claro

que esse homem representava uma criança. Então perguntei à mulher o que

havia acontecido na família de sua mãe. Ela disse que a mãe havia abortado

nove vezes e se vangloriava disso.

Colocamos as crianças abortadas e a mãe atrás. A mãe imediatamente

começou a chorar intensamente e sentou-se ao lado dos filhos abortados.

Estava claro: a morte que a mulher temia era a sua mãe. A partir daí

pudemos encontrar a solução para ela.

Os abortos provocados deixam uma marca profunda na alma, uma marca

muito profunda. Isso é frequentemente renegado, com os melhores motivos

possíveis. A alma não escuta esses bons motivos. Às vezes, dizemos que o

aborto é como um meio anticoncepcional, por exemplo, como acontece no

Japão. Isso é vivenciado pelas mulheres de lá da mesma forma que aqui.

Não há diferença. É vivenciado como uma intervenção profunda na alma.

Crianças abortadas pertencem à família e são vivenciadas assim. Quando

isso vem à tona e elas são acolhidas, o seu efeito é benéfico.

PERDOAR OU PERSEGUIR

EDUCADORA: Ainda tenho uma pergunta rápida sobre separação, no que diz

respeito a perdão ou perseguição judicial. Há uma mulher em meu trabalho

que foi enganada pelo marido após a separação e perdeu todo seu dinheiro

para ele. Ela não consegue ficar em paz, porque fica o tempo todo se

perguntando: devo processá-lo ou devo deixar isso quieto? Essa pergunta

não a deixa em paz. Não sei o que dizer a ela.

HELLINGER: Você deve aconselhá-la a dizer: "Eu sabia que você era um

mau-caráter e agora assumo as consequências." Aí ela ficará em paz.

EDUCADORA: Mas ela jura que não sabia.


HELLINGER: Vamos constelar isso? Ok.

Hellinger escolhe representantes para a mulher, o homem e o dinheiro.

O representante do dinheiro faz uma pose imponente, com as mãos na

cintura, e olha para o homem. A mulher recua para longe. O dinheiro olha

para o homem de maneira triunfante. O homem vacila. A mulher dá as

costas e quer ir embora. O homem e o dinheiro se colocam frente a frente,

o dinheiro ainda triunfante.

HELLINGER para a educadora: Ok, agora você só precisa refletir: o que

aconteceria com a mulher se ela recebesse o dinheiro?

Hellinger chama a representante da mulher de volta e a coloca frente a

frente com o dinheiro. Ela se assusta e coloca as mãos em frente ao peito,

se defendendo.

HELLINGER para a educadora: Ainda tem uma coisa importante. Eu

perguntaria a ela quem em sua família perdeu muito dinheiro. Ela é

secretamente fiel a essa pessoa.

GAROTO EM PERIGO

HELLINGER: Há algo a acrescentar ao que houve hoje de manhã? Ok, quem

mais tem casos de supervisão? Você?

HELLINGER: Ok, qual é a sua questão?

EDUCADORA: Há 11 anos, trabalho com um grupo que mora junto e se

assemelha a uma família. Dirijo o grupo e dou acompanhamento a quatro

crianças. Com relação à supervisão, trata-se principalmente do garoto mais

velho, de 16 anos, que tem se tornado cada vez mais agressivo. Noto que

as coisas têm se tornado cada vez mais difíceis no grupo.

HELLINGER: Quantos anos ele tem?

EDUCADORA: 16.

HELLINGER: O que houve com seus pais?


EDUCADORA: Ele não tem contato com os pais. Em 11 anos, por desejo

próprio, viu a mãe apenas uma vez. Falou com ela por telefone algumas

vezes, depois perderam novamente o contato.

HELLINGER: Qual era a idade dele quando chegou ao orfanato e entrou para

esse grupo?

EDUCADORA: AS crianças foram tomadas dos pais. Ele está com dois irmãos

no grupo conosco. Mais três irmãos estavam em outro grupo que mora

junto.

HELLINGER: Por que foram tomados dos pais?

EDUCADORA: O pai era criminoso, havia cometido diversos delitos de

roubo. Uma noite, as crianças foram tomadas dos pais em meio a sirenes

da polícia.

HELLINGER: E a mãe?

EDUCADORA: A mãe também ficou presa por algum tempo.

HELLINGER: Por quê?

EDUCADORA: Porque estava envolvida. Também havia violência na família,

violência corporal.

HELLINGER: Como assim? O que aconteceu?

EDUCADORA: O Sascha apanhava e eles apagavam cigarros em suas costas.

Ele era um bode expiatório e queriam vendê-lo através de uma instituição

ilegal.

HELLINGER: Vendê-lo para quem?

EDUCADORA: Para uma família. Ele tem um papel de vítima.

HELLINGER: Vamos constelar: o pai, a mãe e o filho.

Hellinger posiciona o pai à frente do filho, a alguma distância, porém, ele

olha para o lado. A mãe está um pouco de lado. Após um instante,

Hellinger afasta o pai da família, na direção em que ele estava olhando.

HELLINGER para o pai: Está melhor ou pior?


PAI: Melhor.

HELLINGER para o filho: E para você?

FILHO: Um pouco melhor quando ele se vai. Preciso me defender. Perguntome

o que eles querem de mim. Tenho uma postura hostil. Não sei o que

está acontecendo.

HELLINGER para a educadora: Você sabe o que há na família do pai?

EDUCADORA: O que há na família do pai eu não sei. No geral, há uma

situação bastante caótica na família.

HELLINGER para a educadora: O que aconteceu? Primeiro tive o impulso

de pedir-lhe para se colocar onde acha que é o seu lugar. Onde você se

posicionaria? Siga seus sentimentos.

A educadora se coloca à direita do filho.

HELLINGER para o pai: Volte novamente para o seu lugar.

HELLINGER após um instante, para o filho: O que acontece quando ela fica

aí?

FILHO: É estranho. É como se me tirassem o ar. Em primeiro lugar, me

enfraquece, apesar de também me fazer bem de uma certa maneira.

Hellinger coloca a educadora à direita do pai.

HELLINGER para o filho: Como é isso para você?

FILHO: É bom.

HELLINGER para o pai: E para você?

PAI: Antes eu estava com a frase: "Não estou consciente de nenhuma

culpa." Porém, quando ela está aqui, não posso mais fugir.

HELLINGER para o grupo: Demonstrei algo sobre ligações sistêmicas.

Aquele que ajuda é bem sucedido quando se coloca ao lado do mais

excluído e desprezado. Isso apresenta o maior efeito. Vimos isso aqui.

Acho que posso parar por aqui.

Se você mostrar ao garoto que você respeita seu pai, ele ficará melhor.

Pudemos ver que ele está ameaçado de suicidar-se. Ele tem que ir embora,


a direção é para fora. Deve haver algo muito pesado em sua família. Se eu

considero tudo isso, posso entendê-lo e respeitá-lo. O garoto muda

imediatamente. Ok, é isso.

Aquele que não é mencionado, que é demonizado, deve sempre receber um

lugar. Assim que ele recebe um lugar, o sistema é curado como um todo,

porque ele recebeu um lugar. Um excluído é novamente acolhido. Aí, todos

os outros podem orientar-se de uma nova maneira.

EDUCADORA: O fato de ele ter ido embora e se sentido bem com isso não

pode significar que ele não é o pai?

HELLINGER: A reação do garoto mostra que ele é seu pai, senão não estaria

tão engajado. Geralmente, querer ir embora significa morte, pelo menos

uma ameaça de suicídio. Significa que ele quer desaparecer, seja qual for

o motivo.

Esse movimento surge quando alguém está numa situação aterrorizante, na

qual não pode fazer mais nada. Em sua alma, ele é o mais coitado.

EDUCADORA: Faria sentido ou seria exagerado apoiar o contato com o pai?

HELLINGER: Diga ao garoto apenas: "Eu respeito seu pai. Quando olho para

você, acho que você tem o pai certo." Algo assim bem indireto. Mas você

não precisa nem dizer isso. Quando vocês voltarem, você estará mudada.

AÇÃO SERENA

EDUCADOR: Não tenho uma pergunta direta, mas talvez você possa me dizer

algo a esse respeito. Em nosso papel como educadores, vimos aqui as

consequências que resultam, dependendo da intensidade com que

exercemos influência ou não. Tenho um sentimento recorrente e a

pretensão de ser uma espécie de juiz, que na verdade não quero ser.

Entretanto, existe uma tarefa, uma tarefa interna, que também possuo.

HELLINGER: Hoje ganhei um livro de presente de alguém: "Uma pequena

alma fala com Deus". Ela diz a Deus que deseja muito ser o perdão. Então,

o bom Deus pergunta: "Quem você deseja perdoar?"


Ela olha ao redor e não encontra nada. Deus diz: "Em minha criação, não

há nada a perdoar, e muito menos a julgar."

O pior é quando sentimos pena das crianças. A pena as enfraquece

enormemente. Você vê o destino e respeita o destino. Você não sabe o que

vai acontecer no final. Se você intervier, talvez intervenha de uma forma

contrária ao destino. Se você estiver lá apenas com respeito, pelos pais e

pelo grande todo, algo de bom pode se desenvolver após algum tempo.

Então você tem paz. Muitas pessoas que se engajam, acabam se esgotando.

Se você assumir a postura do respeito, não se esgotará tão facilmente. É

claro que isso existe também. Existem situações nas quais precisamos nos

esgotar, mas não como um estresse permanente.

Às vezes, assumo para mim uma postura, ao trabalhar ou ser olhado por um

cliente. Deixo que ele olhe através de mim. Seu olhar não me atinge. Ele

olha através de mim, para algo maior. Então quando trabalho com ele, deixo

o que está atrás de mim, o maior, fluir através de mim em sua direção. Às

vezes, chego para o lado, para que entrem em contato direto um com o

outro. Isso ajuda a ficarem serenos. Então podemos ver o que acontece com

as crianças com as quais temos uma tarefa quando temos essa serenidade.

A bela imagem é: deixamos o sol brilhar e, às vezes, também relampejar,

depois deixamos vir a chuva, da forma que vier.

DINÂMICA DE GRUPO APLICADA

Fui diretor de um orfanato na África do Sul, uma boarding school com 140

garotos. Tínhamos apenas um chefe para eles. E eles tinham a sua própria

administração. Isso é possível.

Uma pessoa de outra boarding school na África do Sul me contou que todos

os educadores haviam ficado doentes. Os alunos precisaram organizar tudo

sozinhos. As coisas nunca correram tão bem quanto nessa época.

Também posso contar algo assim sobre mim mesmo. Fui diretor de uma

grande escola de elite na África do Sul e era, simultaneamente, padre de

uma grande paróquia. No recesso de Páscoa, durante a Semana Santa, uma

parte dos meninos podia ir para casa. Os outros permaneciam lá.

Eles me perguntaram se podiam passar uma parte do dia em Durban na


Quinta-Feira Santa para se divertirem. Disse que podiam, mas que

deveriam estar de volta para a missa da tarde. Como padre, precisava de

alguns deles como coroinhas e para ler. Contudo, eles só voltaram às oito

horas da noite, sob o comando dos responsáveis entre eles. Como padre,

tive de fazer tudo sozinho na Quinta-Feira Santa. Eu era diretor dessa

escola havia pouco tempo. Eles estavam me testando.

Agora vou falar para vocês um pouco sobre dinâmica de grupo aplicada.

As leis da dinâmica de grupo, com as quais já estava familiarizado há algum

tempo e que desejava aplicar nessa escola, deveriam comprovar sua

eficiência nessa situação. Como resultado, cada classe havia escolhido um

responsável e a classe superior havia escolhido cinco em toda a escola.

Juntos, haviam sido os responsáveis pelo ocorrido.

Eu e meu confrade chamamos esses responsáveis em meu escritório nessa

noite. Ficamos lá e nem ele nem nós dissemos nada. Ficamos por 15

minutos sentados, sem dizer nada. Eles não sabiam o que fazer. Esse era

um método da dinâmica de grupo.

Então eu disse: "A disciplina da escola desmoronou e não há nada que

possamos fazer. A pergunta é se meu confrade e eu ainda queremos fazer

alguma coisa, pois vocês devem nos reconquistar para que estejamos

dispostos a fazer algo por vocês. Daremos a vocês uma chance de

restabelecer a disciplina."

No dia seguinte, reuniram todos os alunos e discutiram por quatro horas

sobre como restaurar a disciplina na escola. Depois me apresentaram uma

proposta. Entretanto, ela não tinha valor. Disse a eles: "Isso não é

suficiente.” Então ficaram mais quatro horas discutindo. Depois fizeram a

seguinte proposta: "Vamos dedicar um dia inteiro das férias para colocar a

quadra esportiva novamente em ordem." Eu disse: "Ok, de acordo." Então,

um aluno disse para o outro: "Isso tudo aconteceu só porque dois de vocês

não chegaram a tempo para a missa.” Expulsei-o imediatamente da escola,

mas ele pôde matricular-se novamente quatro semanas depois.

Eles começaram a arrumar a quadra esportiva. Depois de meio dia de

trabalho eu disse: "Já basta." Nunca mais tive problemas de disciplina nessa


escola.

O OUTRO AMOR

HELLINGER: Agora deixaremos o nível da supervisão e entraremos no nível

dos relacionamentos de casal. Aí todos acordarão imediatamente. Estaria

disposto a trabalhar ainda com algo assim, para que vocês pudessem ir para

casa com algo mais leve.

Primeiro gostaria de dizer algo sobre o outro amor.

Quando o homem encontra a mulher e a mulher encontra o homem, eles se

olham nos olhos e imediatamente fascinam-se um pelo outro. Aí há o amor

à primeira vista. Quanta força possui o amor à primeira vista?

Se medirmos a energia e a força em uma escala de 0 a 100, onde ficaria o

amor à primeira vista? Estimo algo em torno de 10%. O amor à primeira

vista é um amor sem olhar. Ainda não vemos o outro, mas sim uma imagem

que desejamos. Não quero me aprofundar nisso. Geralmente vemos a mãe

ideal. Tanto os homens quanto as mulheres veem a mãe ideal, mas isso não

é tão importante. De qualquer forma, com esse amor, não chegamos muito

longe.

Quando o homem diz à mulher: "Eu te amo", e a mulher diz ao homem:

"Eu te amo", isso tem pouca força. Esse amor não pode durar muito.

Porém, podemos dizer outra coisa. Isso seria o outro amor. O homem pode

dizer a mulher, e a mulher ao homem: "Amo você e aquilo que guia a mim

e a você.” De repente, o olhar se expande para algo maior, a que ambos

estão entregues de uma maneira especial. O significado disso aparece com

o tempo.

Pode ser que esse outro amor guie um casal pelo mesmo caminho durante

um certo tempo. Principalmente se tiverem filhos, ele os guia por muito

tempo por um caminho determinado. Após algum tempo, pode ser que algo

diferente surja em primeiro plano, por exemplo, uma criança deficiente. De

repente, surge à vista algo completamente diferente. Algo muito mais


poderoso que nunca puderam encontrar com o amor à primeira vista. Então

podem dizer um para o outro, por exemplo: "Amo você e aquilo que guia a

mim e a você." Eles olham para a criança e dizem: "Amo você e aquilo que

guia a mim e a você." Ambos dizem isso e, após algum tempo, um nível

completamente diferente se torna visível. Também pode ser que, após

algum tempo, fique claro que cada um deve distanciar-se do outro, se

desejar permanecer em sintonia com algo maior. Isso é inevitável para

ambos.

Então dizem um para o outro: "Amo você e aquilo que guia a mim e a

você.” Mesmo que seus caminhos se separem, o amor permanece.

Esse é o outro amor. Também o chamo de amor à segunda vista. A realidade

em sua plenitude entra em jogo.

Também podemos aplicar isso às crianças e aos casos tão difíceis que vocês

trouxeram hoje de seus trabalhos: "Amo você e aquilo que guia a mim e a

você."

Às vezes, percebo que não estou sendo guiado por nada que possa ajudar

alguém. Ele é guiado por algo, mas eu sou guiado para recuar, no sentido

de: permaneço parado sem intervir. Então a situação é elevada para um

contexto maior. Então pode-se permanecer naquilo que é, uma vez que o

que ocorre não é mais pessoal. O maior toma o todo a seu serviço. Então

podemos ver as coisas difíceis mais facilmente e nos posicionar diante

delas.

É bastante claro que, para um cliente, é um grande alívio quando não

intervimos em seu destino específico. Basicamente, isso é tudo que tenho

para dizer a esse respeito.

O RELACIONAMENTO DE CASAL

Agora voltemos ao relacionamento de casal. Não casamos só com uma

pessoa. O relacionamento é com a pessoa, sua família e seu destino. Ele

vai até suas fronteiras e suas possibilidades, tudo de uma só vez. O

conteúdo disso é revelado lentamente, no decorrer de um relacionamento.

Ao encararmos isso, Vivenciamos o relacionamento de casal como um

processo de morte. Algo superficial vai abaixo. Algo passado ou ilusório


vai abaixo. E após cada briga de casal, ambos sentem-se libertos de uma

ilusão.

Certa vez, ouvi uma história em que um amigo vai visitar o outro e é

recebido por ele, radiante. Ele pergunta: por que está tão radiante? O outro

diz: "Briguei com minha mulher." "E você fica radiante?" "Sim." responde

ele, "Depois é tão bom!" Isso também é verdade.

Os emaranhamentos vêm à tona somente aos poucos em um relacionamento

de casal: alguém que quer partir, porque está seguindo alguém de sua

família, ou porque quer ir embora de sua família, agindo como

representante de alguém. Além disso, as crianças também veem isso e se

emaranham nesse destino. Não há o que se fazer. Aqui é necessária essa

humildade extrema: "Amo você e aquilo que guia a mim e a você, aquilo

que nos guia de uma maneira especial.” Isso é profundo. Isso é grandeza.

Esse é o grande amor, o amor forte.

Esse amor também inclui o fato de não termos de suportar tudo como se

fosse o certo.

Diz-se, por exemplo, em relação à fidelidade: "Você deve ser fiel a mim”

ou "Devo ser fiel a você.” Isso não é verdade: devo ser fiel ao que é maior

e que guia a mim e a você.

Com a exigência por fidelidade, muitas vezes fazemos do outro nosso

prisioneiro. Nós o vinculamos a nós mesmos ao invés de vinculá-los a algo

maior.

Quando o que é maior permanece no foco, a relação permanece confiável.

Ela permanece confiável em profundidade, haja o que houver. É essa a

grande diferença.

Essas foram minhas palavras finais. Tudo de bom para vocês!

A RESSONÂNCIA


Extraído de cursos em Bad Sulza

TODAS AS CRIANÇAS SÃO BOAS, ASSIM COMO

SEUS PAIS

O AMOR OCULTO

HELLINGER: O título desta reflexão "Todas as crianças são boas - e seus

pais também" faz algumas pessoas balançarem a cabeça. Como isso é

possível? As dimensões desse título vão muito longe. Ao mesmo tempo,

diz que nós também somos bons, que fomos bons quando crianças e que

ainda o somos. Diz que nossos pais também são bons, uma vez que já foram

crianças, que foram bons quando crianças e também o são como pais.

Longe daquela conversa superficial, gostaria de esclarecer os panos de

fundo desta frase, quando dizemos: "Mas a criança fez isso, e os pais

fizeram aquilo." Eles o fizeram. Mas por quê? Por amor.

Vou explicar isso em profundidade e fazer exercícios que os ajudarão a

sentir na alma o que significa ser bom de verdade. Naturalmente, a

conclusão é que - já vou antecipando - todos são bons da forma como são.

E são bons exatamente por serem da maneira que são. Por isso, não

precisamos nos preocupar se nossos filhos ou se nossos pais são bons ou

não. Só que, às vezes, temos a visão turva e não conseguimos enxergar

onde somos bons, onde as crianças são boas e onde seus pais são bons.

Gostaria de explicar através de uma visão geral antes de penetrarmos nisso.

O CAMPO ESPIRITUAL

As Constelações Familiares revelaram que estamos inseridos em um

sistema maior, em um sistema familiar. Não apenas os nossos pais e irmãos

pertencem a esses sistema, mas também nossos avós, bisavós e

antepassados. Outras pessoas que, de alguma forma, tenham sido

importantes também pertencem a ele, por exemplo, parceiros anteriores de


nossos pais ou avós. Nesse sistema, todos são conduzidos por uma força

conjunta que segue determinadas leis.

O sistema familiar é um campo espiritual. Dentro desse campo familiar -

como podemos experimentar nas constelações - todos estão em ressonância

com todos. Às vezes, esse campo se encontra em desordem. A desordem

no campo surge quando alguém que pertence a ele é excluído, rejeitado ou

esquecido. Essas pessoas excluídas e esquecidas estão em ressonância

conosco e se fazem notar no presente. Nesse campo vale uma lei: todos

aqueles que pertencem possuem o mesmo direito de pertencer. Ninguém

pode ser excluído.

Ninguém se perde nesse campo. Continua atuando nesse campo. Quando

alguém é excluído, seja qual for o motivo, a influência desse campo,

através da ressonância, determina um outro membro da família para

representar o excluído. Assim, esse membro da família, uma criança por

exemplo, passa a se comportar de maneira estranha. Ela se torna, por

exemplo, viciada, doente, agressiva ou uma criminosa. Pode se tornar até

mesmo uma assassina, esquizofrênica ou outra coisa. Mas por quê? Porque

olha com amor para o excluído e, através de seu comportamento, nos obriga

a olhar com amor para esse rejeitado ou excluído. Assim, o chamado mau

comportamento é o amor por alguém que foi excluído nesse campo.

Ao invés de olhar para essa criança com preocupação e tentar mudá-la, o

que, como vocês já sabem, não leva a nada, já que forças maiores estão em

ação, olhamos com essa criança para o campo ao qual pertencemos, para

esse campo espiritual, até conseguir, sob a orientação dessa criança, olhar

para o lugar onde a pessoa excluída está à espera de ser vista e acolhida de

volta em nossa alma, em nosso coração, em nossa família, em nosso grupo

e, talvez, até em nosso povo.

Portanto, todas as crianças são boas se deixarmos que sejam boas, isto é,

se ao invés de olharmos apenas para as crianças, olharmos com amor para

onde elas olham com amor.

A experiência com as Constelações Familiares mostra que, ao invés de nos

preocuparmos com essas crianças ou com outras pessoas e pensarmos sobre


elas: "Como é possível que se comportem assim?", olhamos com elas para

uma pessoa excluída e a acolhemos. Quando essa pessoa é acolhida na alma

dos pais, da família e do grupo, a criança se sente aliviada e pode,

finalmente, ficar livre do emaranhamento a outra pessoa.

Tendo consciência disso, podemos esperar até que saibamos aonde o

comportamento dessa criança nos leva, aonde ele nos leva como pais ou

como outros membros da família. Se formos até lá com as crianças e

acolhermos a outra pessoa, as crianças serão liberadas.

Quem mais será liberado? Também nós, como pais ou outros membros da

família. De repente, tornamo-nos diferentes e mais ricos, porque demos um

lugar dentro de nós a algo que antes estava excluído. Agora todos podem

se comportar de forma diferente no presente. Com mais amor, mais

benevolência, para além de nossas distinções baratas entre bom e mau, que

talvez nos façam achar que somos melhores e que os outros são piores,

embora, na verdade, aqueles que vemos como piores apenas amem de uma

forma diferente. Se olharmos junto com eles para onde amam, acabam as

distinções entre bom e mau.

Outra conclusão é, naturalmente, que nossos pais são bons e que por trás

de todas as coisas pelas quais criticamos nossos pais, atua o amor. Contudo,

esse amor não está voltado para nós, mas para outro lugar. Está voltado

para onde eles olharam quando crianças, para alguém que queriam trazer

para dentro da família. Se começarmos a dar um lugar dentro de nós para

esses excluídos, olharemos junto com os nossos pais para o lugar onde eles

amam. Então ficamos livres, e nossos pais também. De repente,

experimentamo-nos em uma situação completamente diferente e

aprendemos o que significa o amor verdadeiro.

TUDO

Antes de fazermos um exercício, lerei um pequeno texto de um livro novo

meu: "Verdade em Movimento”. Nesse livro há um breve texto que resume,

em um nível filosófico, o que acabei de explicar. O texto se chama "Tudo".

"Tudo pode apenas ser tudo porque está conectado com tudo. Portanto,

cada pessoa está conectada com tudo. Assim, nada pode ser individual.


Apenas é individual porque está conectado com tudo, porque dentro

daquilo que é individual também está presente todo o restante. Por isso,

sou tudo ao mesmo tempo. O todo não pode existir sem mim e eu não posso

existir sem o todo.

O que isso significa para a maneira como vivo, a maneira como sinto, a

maneira como sou? Vejo em cada pessoa todas as pessoas e, dessa forma,

também me vejo nela. Também sinto em mim todas as outras pessoas, cada

uma da maneira que é. Em cada pessoa, encontro todas as pessoas e nelas

também me encontro.

Então, como posso rejeitar algo nas pessoas sem também rejeitar a mim

mesmo nelas? Como posso me alegrar com elas sem também me alegrar

comigo mesmo dentro delas? Como posso desejar algo de bom a alguém

sem desejar o mesmo para mim e para todas as outras pessoas? Como posso

me amar sem também amar todas as outras pessoas?

Quem vê a todos em todos também se vê em todos, também se encontra

consigo em todos, também se acha em todos. Assim, quem prejudica o

outro também prejudica a si mesmo. Quem fere o outro fere também a si

mesmo. Quem ajuda o outro ajuda também a si mesmo. Quem priva alguém

de algo também priva a si mesmo e quem diminui alguém diminui a si

mesmo.

Quem ama verdadeiramente os outros, ama a todos. Assim, amor ao

próximo é igual a amor a tudo, incluindo o amor a si mesmo. É o amor puro

e o amor preenchido, pois tem tudo em tudo, principalmente a si mesmo."

A GRANDEZA

No final, ressonância significa: "Eu amo a todos." Se estou em discórdia

com alguém ou rejeito alguém, saio da ressonância com o todo e não posso

me desenvolver em sintonia com o todo.

Qual é a solução? Acolho em meu coração tudo aquilo que rejeito. Assim

encontro o amor a tudo. Através dele me torno grande.

O que significa grandeza aqui? Reconheço que sou igual a todas as outras

pessoas e que elas são iguais a mim. Assim, estou ligado ao todo e, através


do todo, sou grande.

MEDITAÇÃO 1:

PARA QUEM OLHA A NOSSA DOENÇA?

Agora fechem os olhos. Farei uma pequena meditação com vocês, na qual

poderão sentir o que significa ressonância e como ela atua em nós.

Vão para dentro de seus corpos e sintam onde algo dói, onde algo está

doente, onde algo não está funcionando. Aquilo que dói ou não funciona

está claramente em dissonância com o nosso corpo. Deitamo-nos

interiormente ao lado dessa dor, ao lado dessa doença, ao lado desse órgão

e sentimos com a doença, com esse órgão, com essa dor, para onde estão

olhando. Com o que está em ressonância essa doença? Com que pessoa,

que talvez tenha sido rejeitada, ou esquecida, ou demonizada, ou julgada?

Esperamos até podermos entrar nesse movimento, até vibrarmos com ele e,

talvez, de repente, vejamos para onde essa doença olha. Por exemplo, para

uma criança que morreu precocemente, ou nasceu morta, ou foi abortada

ou entregue a outros. Ou para alguém que tenhamos julgado criminoso,

com quem nós e nossa família não queiramos ter mais nada a ver. Olhamos

para essa pessoa como um de nós e dizemos internamente a ela, junto com

a doença: "Agora eu vejo você. Eu sou como você. Você é igual a mim.

Agora lhe dou um lugar em minha alma e em nossa família. Agora você

está conosco novamente, é um de nós. Você não é melhor e nem pior

perante uma força maior, para a qual somos todos peças de xadrez com as

quais ela joga de diversas maneiras. Reconhecemos que você é igual a nós,

e nós iguais a você."

Talvez também possamos ir até outras pessoas que tenhamos rejeitado, de

quem tenhamos raiva, diante das quais tenhamos nos tornado culpados ou

que tenham se tornado culpadas diante de nós e dizer a cada uma delas:

"Sim."

Sentimos o que muda em nosso corpo, em nossa alma e em nosso amor.

MEDITAÇÃO 2:

PARA QUEM OLHÁVAMOS QUANDO ÉRAMOS CRIANÇAS?


Esse foi um primeiro passo para sentirmos o que significa ressonância.

Como ela atua em nós e como podemos vivenciar algo completamente

diferente através da ressonância: algo diante do qual estávamos fechados.

Agora algumas conclusões. Com elas poderemos prosseguir com o

exercício. Fechem novamente os olhos.

Olhem para vocês quando eram crianças e para como se comportavam. Às

vezes, nos comportávamos de uma forma que preocupava nossos pais.

Talvez pensassem: "Há algo de errado com essa criança. Como ela pode se

comportar dessa maneira? Como é que ela pode, por exemplo, se retrair,

ter medo, ficar com raiva, ser impaciente, não querer aprender, desistir,

como se tivesse perdido as esperanças?"

Seja como for, agora vocês olham para essa criança que foram um dia e

sintam: "Para onde vocês olhavam quando crianças, quando se sentiam e

se comportavam dessa maneira? Para onde se dirigia o amor secreto? Com

quem estávamos em ressonância profunda? Que pessoa desejava tornar-se

visível através de vocês, para ser finalmente olhada e amada?

Vocês podem dizer ao pai, à mãe, a ambos ou a outras pessoas: "Por favor,

olhem comigo para lá com amor.” Então vocês podem reconhecer o quanto

amávamos quando crianças. Talvez de uma maneira diferente da esperada,

mas em conexão profunda com alguém que não pôde pertencer. Vocês

sentem como eram bons e como ainda são.

Ok, esse foi o segundo passo.

MEDITAÇÃO 3:

PARA QUEM NOSSOS PAIS OLHAVAM QUANDO ERAM CRIANÇAS?

Agora daremos mais um passo. Vocês ainda dão conta? Isso vai fundo. Mas

nos torna ricos e amplos. Fechem os olhos de novo.

Agora olhamos para nossos pais da forma como eram. Talvez algumas

coisas nos tenham incomodado neles, quando éramos crianças e

desejávamos que tivessem sido diferentes. Agora olhamos para eles, como

eram como crianças e para onde olhavam. Para que pessoa excluída ou

esquecida eles olhavam? Com quem estavam em ressonância e talvez ainda


o estejam? Como se tornaram o que são a partir dessa ressonância, desse

amor secreto profundo? Junto com eles e o seu amor olhamos para essa ou

essas pessoas e as amamos assim como nossos pais as amaram quando

crianças, mesmo que talvez o tenham feito inconscientemente. Esse

movimento profundo foi em direção a alguém para incluí-lo. Permitimos a

essas pessoas se fazerem notar em nós também. Olhamos para elas e lhes

dizemos: "Sim. Eu vejo você. Eu também lhe dou um lugar em meu

coração, com amor."

MEDITAÇÃO 4:

PARA QUEM NOSSO PARCEIRO OLHAVA QUANDO CRIANÇA?

Agora daremos mais um passo, da mesma maneira. Se quiserem, fechem

novamente os olhos e olhem para seu parceiro ou para outra pessoa próxima

com quem vocês têm um vínculo que querem manter. Talvez algo dessa

pessoa os incomode.

Agora, permitam-se olhar para o lugar para onde ela olha com seu

comportamento. Para que pessoa excluída e talvez rejeitada e condenada?

Junto com ela, vocês olham para lá com amor.

Tudo isso é um exercício para o amor em relação a tudo e todos. Vocês

sentem como algo se modifica em nossa alma? O quanto crescemos quando

nos deixamos levar por esse movimento?

MEDITAÇÃO 5:

PARA QUEM OLHAM NOSSOS PRÓPRIOS FILHOS?

Agora daremos mais um passo. Fechem novamente os olhos.

Olhem para seus filhos ou, se não tiverem filhos, para os filhos de parentes.

Principalmente para aqueles que lhes causam preocupação, que estão

doentes ou que têm um comportamento frio e reservado. Junto com eles

olhem para onde eles olham com esse comportamento ou com essa doença.

Que pessoa deseja ser trazida à lembrança através deles? Com quem estão

amorosamente em ressonância? Junto com eles olhem para lá até que vocês

tenham em seu campo de visão a pessoa ou as pessoas de quem se trata.

Talvez as vejamos de repente, como se tivéssemos acordado de um sonho


profundo.

O AMOR A TUDO E A TODOS

Alguém ainda tem dúvidas de que todas as crianças são boas? Nós como crianças? Nossos

pais como crianças? Nossos parceiros como crianças? E nossas crianças também? Todos

são bons.

Isto é o amor a tudo e a todos. Expressa-se em algo completamente simples: olhando

para todos e dando-lhes um lugar em nosso coração.

Há uma postura interna relacionada a isso. Jesus uma vez a expressou em uma frase. É

uma bela frase: "Sejam misericordiosos como meu Pai celestial. Ele faz raiar o seu sol

sobre maus e bons e chover sobre justos e injustos." Por quê? Ele está em ressonância

com todos.

A ALMA FAMILIAR

A nova compreensão que vem à tona através desse trabalho é que todos nós

estamos conectados a uma alma maior, a uma alma familiar. Então, falamos

também de um campo espiritual, embora essa expressão tenha pouca

serventia em nosso contexto. Em outro contexto sim.

O campo espiritual é um campo no qual algo é consciente. Ele é ciente.

Nesse campo existe um movimento no qual aquilo que está separado deseja

ser unido. É um movimento consciente. Esse campo possui o objetivo claro

de trazer algo à consciência. Por isso, prefiro falar aqui de uma grande

alma, de uma alma em comum a qual nos sentimos conectados a todos que

pertencem.

Quando um movimento nos traz à consciência de que ainda há algo para o

qual devemos olhar, algo entra em ordem no campo. Entra em ordem

porque excluídos ou esquecidos vêm para a consciência. Assim, na alma

do indivíduo, algo é colocado em ordem, algo que quer conectar o que está

separado.

Esses movimentos são movimentos do amor. Muitos tipos de

comportamento de crianças que nos preocupam são comportamentos do

amor, movimentos muito profundos do amor que desejam unir algo.


Quando os pais compreendem e colocam isso em ordem também em suas

almas, a alma familiar em sua totalidade penetra em uma outra força. O

principal é que ninguém mais precisa trazer algo esquecido ou excluído à

consciência através de seu comportamento. Todos ganham uma liberdade

maior dos emaranhamentos.

TRAZENDO À TONA O AMOR OCULTO

O que é trazido à tona em crianças através de seus comportamentos, embora

angustiante, revela-se como algo para o qual os outros se recusam a olhar

por si próprios, embora isso seja necessário no sistema. A criança assume

isso para si. Ela olha com amor para os excluídos. Por trás desse

comportamento atua um amor oculto. Por isso, ao trabalhar com crianças

difíceis, não olhamos tanto para a criança, mas sim para onde a criança

olha. Então entra em ação um movimento curativo que liberta a criança,

porque os outros também olham para onde devem olhar. A criança não

precisa mais olhar para lá no lugar deles e se comportar de forma

correspondente. Esse é o procedimento fundamental em nossos esforços

para ajudar as crianças.

Se considerarmos o que acontece com muitas crianças, quando são tratadas

e recebem medicamentos como se algo não estivesse certo com elas,

ignoramos seu amor. Através de seu comportamento, estão fazendo algo

para os outros, para os adultos. Por isso, esse tipo de ajuda que podemos

vivenciar aqui é revolucionário para as crianças e abre novas

possibilidades. No entanto, a criança fica aliviada apenas quando não

olhamos predominantemente para ela, mas para onde é atraída e para o que

deseja fazer pelos adultos. Desta forma fica liberada.

Os pais e todos aqueles envolvidos devem mudar. Devem dirigir o olhar

àquilo para que, até então, ainda não o dirigiram. Assim, um

desenvolvimento de crescimento inicia-se primeiro nos pais. Somente

assim as crianças estão livres.

A ORDEM

Essa é a Pedagogia Sistêmica, uma pedagogia completamente diferente.

Esse é o segredo deste trabalho. Trata-se de ajuda para a vida de uma forma


especial. Aqui, ajudo crianças a sair de um emaranhamento e algo é

colocado em ordem em um sistema familiar.

A desordem em uma família é sempre a mesma: membros que pertencem

são excluídos. A uma família pertencem também as suas vítimas. Se

alguém da família tiver se envolvido na morte de alguém, talvez de maneira

culposa, esses mortos pertencem ao sistema. Estão presentes, atuam, se

fazem notar frequentemente através de uma criança. Essa criança então

olha em direção a eles. Se os outros não olharem para lá, o comportamento

da criança permanece inexplicável para eles. Aqueles aos quais isso

realmente diz respeito devem olhar para lá. Então a desordem entra

novamente em ordem.

Ordem significa sempre que o excluído é reintegrado. É nisso que foco

acima de tudo em meu trabalho, agora e sempre. Isso é ajuda para a vida

de uma forma abrangente. Ela abre a visão para outras conexões. Com isso

fica mais fácil ajudar as crianças e seus pais.

O AMOR SAPIENTE

Um dos panos de fundo que trazem dificuldade às crianças é achar que são

capazes ou que é permitido a elas assumir algo pelos seus pais ou

antepassados. Isso gera infinitos problemas para os filhos e seus pais. Para

entender isso, devemos saber algo sobre a diferença entre as diversas

consciências.

CONSCIÊNCIA LEVE E CONSCIÊNCIA PESADA

Sentimos nossa consciência como consciência leve e como consciência

pesada, como culpa e inocência. Muitos acreditam que isso tem a ver com

bom e mau, mas não tem. Tem a ver com ligação à família e separação

desta. Através da consciência, todos sabem, instintivamente, o que devem

fazer para pertencer. Uma criança sabe instintivamente o que deve fazer

para pertencer. Ao se comportar de maneira correspondente, tem a

consciência limpa. Assim, consciência limpa significa: sinto que tenho

direito de pertencer.

Quando a criança age de outra maneira ou quando nós agimos de outra

maneira, temos medo de perder o pertencimento. Esse medo é a consciência


pesada. Consciência pesada significa: tenho medo de ter perdido o direito

ao pertencimento.

Essa consciência varia de grupo para grupo. Ela varia até mesmo de pessoa

para pessoa. Por isso, temos consciências diferentes perante o pai e perante

a mãe e consciências diferentes no trabalho e em casa. Ou seja, a

consciência se modifica constantemente, pois a percepção do que temos

que fazer para pertencer também é variável.

Através da consciência, distinguimos aqueles que pertencem a nós daqueles

que não pertencem a nós. Ao nos vincular à nossa família, a consciência

nos separa de outros grupos e nos fortalece para nos separarmos dos outros.

É por isso que a consciência nos faz ter sentimentos de rejeição perante

outras pessoas e grupos: porque esses sentimentos têm a ver com

pertencimento e não com bom e mau.

Essa é uma das consciências, a consciência que sentimos. Através dessa

consciência, distinguimos entre bom e mau, mas sempre em relação a um

determinado grupo.

O EMARANHAMENTO

Há também uma consciência oculta, uma consciência arcaica coletiva. Essa

consciência segue leis diferentes da consciência que sentimos. Essa

consciência é a consciência do grupo. Essa consciência faz com que tudo

no grupo e na família, no sentido amplo, tenha sua ordem.

A essa ordem pertence, em primeiro lugar, o fato de que todos aqueles que

pertencem têm o mesmo direito de pertencer. Essa é a lei fundamental.

Entretanto, através da consciência que sentimos, excluímos algumas

pessoas da família. Aqueles que pensamos ser maus, mas também aqueles

de quem temos medo. Nós os excluímos porque achamos que são perigosos

para nós.

Aquilo que fazemos de consciência limpa através da consciência que

sentimos é condenado por essa outra consciência. Essa outra consciência

não tolera que alguém seja excluído. Então, sob a influência dessa

consciência, alguém é levado a imitar o excluído, sem estar consciente

disso. Isso é um emaranhamento.


A partir daí, podemos perceber que muitas crianças cujo comportamento

achamos estranho, que estão sob ameaça de suicídio, que são viciadas ou

seja lá o que for estão conectadas a um excluído. Estão emaranhadas com

ele. Assim, não podemos ajudá-las até que outras pessoas na família

também olhem para esse excluído e o acolham de volta na família e no

próprio coração. Assim, as crianças ficam livres desse emaranhamento.

Para ajudar essas crianças, os outros na família que estão desviando o olhar

devem, finalmente, direcioná-lo. Aqueles que têm raiva ou rejeitam alguém

devem se virar para essa pessoa com amor e acolhê-la na família.

Esse é o pano de fundo de muitas dificuldades vivenciadas por crianças e

das preocupações que os pais têm em relação aos filhos.

O AMOR CEGO

Entretanto, há mais uma lei nessa consciência. Ela também gera

dificuldades para as crianças. Segundo essa lei, aqueles que pertenceram à

família primeiro têm precedência em relação aos que vieram depois, ou

seja existe uma ordem entre eles. Essa ordem deve ser preservada.

Muitas crianças ousam assumir para si algo dos pais para ajudá-los. Ao

fazer isso, violam essa ordem. A criança diz ao pai ou à mãe, sob a

influência dessa consciência, frases internas como: "Assumo isso por

você", “Expio por você”, "Morro por você", "Fico doente por você". Tudo

isso por amor, um amor cego, todavia. Isso leva a comportamentos como

vício, risco de suicídio e agressividade. Essas formas de comportamento e

a colocação em risco de si mesmo têm a ver com a tentativa de assumir

para si algo pelos pais. Assim, a ordem é desrespeitada e a ordem do amor

é perturbada.

ORDENS RESTABELECIDAS

Quando sabemos sobre essas ordens, nós as restabelecemos. Ou seja, os

pais, ou quem quer que seja, assumem as consequências de suas ações.

Então a criança está livre. Não precisa assumir mais nada por ninguém.

A violação dessa ordem original é punida por essa lei. Isso significa que

toda criança fracassa ao tentar assumir algo para seus pais ou para outras


pessoas que já vieram antes delas. Nenhuma tentativa de assumir algo para

os pais é bem-sucedida. Ela está fadada ao fracasso, para todos. Devemos

saber disso. Por isso, conduzimos as crianças para fora dessa situação.

Primeiro olhamos para os pais e deixamos os pais resolverem o problema.

Aí as crianças ficam liberadas. Assim que os pais o resolvem para si, os

filhos ficam em paz e se sentem acolhidos.

Essas são as leis fundamentais que devemos ter em mente e compreender

internamente se quisermos ajudar crianças difíceis.

O DESTINO

Gostaria de dizer algo sobre a culpa nesse contexto. Não no sentido moral,

longe disso! Entretanto, muitas vezes nos sentimos culpados pelo fato de

alguém ter sido prejudicado por nossa causa. Também no caso de um aborto

provocado, os pais têm um sentimento de culpa. Ou uma mãe tem

sentimentos de culpa porque uma criança foi prejudicada devido a um parto

difícil.

Há duas formas de lidar com essa culpa. A primeira é o sentimento de

culpa. O sentimento de culpa significa que não olho para a pessoa perante

a qual me tornei culpado. No sentimento de culpa, olho para mim.

Arrependo-me de algo e penso que deveria ter agido diferente. Então tenho

sentimentos de culpa.

O sentimento de culpa é um substituto da ação. Quem se sente culpado não

faz nada. Permanece passivo. Outros agem em seu lugar: a criança, por

exemplo.

Existe uma boa forma de lidar com a culpa. Olhamos para o que aconteceu,

da forma que aconteceu, e dizemos: "Concordo com a maneira como foi.

Concordo com as consequências, com todas as consequências que venham

a resultar disso.” Nesse momento, deixamos de ter sentimentos de culpa.

Obtemos a força para fazer algo, a força para fazer algo de bom. Através

dessa atitude, a culpa é anulada de uma boa maneira.

Quando nos sentimos culpados, ainda há algo para refletir. Há uma

arrogância por trás disso. Acreditamos ter sido livres para fazer algo de


uma ou outra forma.

Agora olhamos para além dos mortos por cujas mortes nos sentimos

culpados. Imaginamos que estão deitados diante de nós. Então, olhamos

para além deles, em direção a seus destinos, que são maiores que nós.

Pedimos ao destino para encarregar-se deles e encarregar-se de nós

também. Percebemos a diferença?

Então esses mortos têm um ponto de referência no qual encontram a paz.

Então, todos são acolhidos, igualmente.

MEDITAÇÃO: PARA ALÉM DO BOM E DO MAU

HELLINGER para uma mulher cuja irmã e o pai são esquizofrênicos: Feche

os olhos. Agora olhe para Deus. Mas não para aquele temido por muitos.

Olhe para o maior, para essa força maior que conduz tudo em direção ao

bem quando a reconhecemos. Isso quer dizer que tomamos cuidado para

não nos colocarmos no seu lugar. Olhe persistentemente nessa direção, sem

se deixar distrair pelos esquizofrênicos. Olhe persistentemente para essa

força com amor, sem se mover.

Se os esquizofrênicos olharem para você, isso não os ajuda em nada, pois

você olha sempre na mesma direção. De repente, passam a olhar também

na mesma direção que você.

HELLINGER: Como se sente?

MULHER: Estou sentindo bastante o coração.

HELLINGER: Ok. Tudo de bom para você.

Para o grupo: Também podemos ajudar assim, de uma forma bem simples,

indo para um movimento interno. O exercício que fiz com ela supera o

medo amplamente difundido de que existem forças boas e forças más. De

que as forças de um tipo estejam em conflito com as do outro tipo e de que

devamos nos proteger contra as forças más. Nós nos protegemos olhando

para além delas, em direção à força que toma tudo igualmente a seu serviço.

Quando olhamos sempre nessa direção, sem nos deixar perturbar pelo que

é atribuído às forças más, pelo que elas dizem ou fazem ou pelo que é dito

sobre elas, é gerado um efeito atrativo. De repente, elas também passam a


olhar nessa direção e respiram aliviadas.

O OUTRO JEITO DE FALAR

Extraído de um curso em Duisburg para pessoas com distúrbios de

fala

DISTÚRBIOS DE FALA

Por trás de muitos distúrbios de fala está um conflito não solucionado na

família, por exemplo, que alguém não podia estar presente nela ou não teve

a palavra, porque foi mantido em segredo ou dado para adoção. Ou porque

numa família, duas pessoas estavam uma perante a outra de forma

irreconciliável, por exemplo, um agressor e sua vítima. Como

consequência, muitas vezes um descendente representa os dois

simultaneamente e, por isso, não pode deixar que nenhum dos dois tenha a

palavra sozinho. Então começa a gaguejar.

A gagueira frequentemente tem um pano de fundo sistêmico similar ao da

esquizofrenia. Enquanto que em relação à esquizofrenia o conflito não

solucionado se torna visível na confusão, no gago se mostra na fala. Por

isso, a solução para o gago é frequentemente a mesma de um

esquizofrênico. Aqueles que não estão reconciliados na família são

colocados um em frente ao outro até que ambos se reconheçam e se

reconciliem mutuamente. Quando vem à luz onde está o conflito real, as

pessoas com distúrbios de fala ou os esquizofrênicos podem deixá-lo no

lugar onde ele pertence, libertando-se dessa forma.

Contudo, a gagueira ainda pode ter outros panos de fundo. Frequentemente

pode se observar que um gago, antes de começar a gaguejar, olha primeiro


para o lado. Isso significa que olha para uma imagem interna, falando mais

explicitamente: para uma pessoa interiorizada, da qual tem medo e perante

a qual começa a gaguejar. Quando, numa constelação, o gago pode

encontrar essa pessoa de forma aberta, prestando- lhe homenagem, até que

ela também o acolha e lhe mostre o seu amor, o gago pode olhar para ela,

nos olhos, e dizer claramente o que sente e o que deseja.

Algumas vezes esconde-se um segredo por trás da gagueira e outros

distúrbios de fala. Um segredo que quer vir à luz e que, ao mesmo tempo,

provoca medo na família, por exemplo, uma criança que foi mantida em

segredo. Quando esse segredo é revelado e olhado através das Constelações

Familiares, não existe mais nada que obstrua o caminho de uma fala clara.

A PALAVRA CERTA

Gostaria de dizer algo sobre a fala. O que acontece quando dizemos algo?

Qual o efeito que tem falar a palavra certa? Quando uma criança fala pela

primeira vez "mamãe”, vocês percebem o que isso significa? Vocês

percebem a diferença para com o que era antes? Qual é o efeito que essa

palavra tem na mãe? Ela se transforma. Algo nela fica diferente porque a

criança diz "mamãe" para ela. E também na criança algo se transforma

quando consegue pronunciar essa palavra pela primeira vez. A relação

entre a mãe e a criança e da criança com a mãe se transforma. Essa palavra

é criativa. Uma nova forma e tipo de relação se realiza nessa palavra.

Também quando alguém diz para uma outra pessoa pela primeira vez:

"você”, algo se transformou.

E o que acontece com as coisas quando as denominamos de forma correta?

Frequentemente, refletimos durante muito tempo sobre uma conexão e não

conseguimos compreendê-la. Mas, logo que a percebemos, ela se concentra

e se condensa numa verdade que será expressa numa palavra. Somente

aquilo que é compreendido pode ser expresso e tem um efeito especial.

Transforma algo. Essa é a diferença em relação ao falatório. Aqui as

palavras não transformam nada. Pelo contrário, desviam da compreensão

real. Entretanto, a pessoa que compreendeu algo pode expressar isso. Uma


palavra assim tem força.

Nas Constelações Familiares, muito frequentemente uma palavra ou uma

frase tem que ser expressa. Algumas vezes, apenas uma palavra ou uma

frase. E essa palavra ou frase transforma. Somente quando o ajudante

alcança a palavra que dá uma guinada na necessidade e, por assim dizer, a

coloca na boca do cliente, de forma que ele possa dizer isso, algo se

transforma. Essa palavra é criativa.

As grandes palavras surgem do silêncio. Precisam de tempo até que fiquem

maduras e caiam da árvore do conhecimento como fruta madura. São

palavras que surgem da compreensão.

Se alguém tem um entrave na relação com outros, principalmente - essa é

a minha imagem - tem também um entrave em relação à mãe e ao pai. Se é

assim e em que medida é assim, não sabemos ainda. Vamos ver o que vai

se mostrar aqui.

Ainda existe algo que devemos considerar. Uma coisa que não é

denominada corretamente, não atinge a sua plenitude. Peguemos uma

palavra bem simples, por exemplo, a palavra "rosa”. Quando a

compreendemos e a expressamos, a rosa tem um efeito diferente. Ela não é

a mesma que era antes. Portanto, na palavra, algo inconcluído, uma relação

inconcluída, uma situação inconcluída se eleva em direção a algo maior.

Damos-lhe alma através da palavra que usamos.

Se deixarmos que isso atue em nós, seremos cautelosos ao falar.

Se considerarmos isso, iremos prestar atenção ao efeito que uma palavra

terá, verificando, antes de pronunciá-la, qual o efeito terá - na própria alma

e na alma dos outros.

Muitas vezes quando trabalho com alguém, não permito que ele ou ela fale.

Eu interrompo a necessidade de falar algo. Então qual é o efeito? A palavra

certa e a fala essencial se preparam.

Talvez ainda uma diferenciação importante. Palavras sobre problemas:

qual o efeito que tem? E palavras direcionadas à ação ou a uma solução ou

a uma reconciliação: de que forma são diferentes? Se permitirmos que


alguém fale sobre seu problema, frequentemente impedimos a palavra

liberadora.

A RECUSA

HELLINGER para um cliente-. De que se trata?

CLIENTE: De minha filha.

HELLINGER: O que há com ela?

CLIENTE: Ela não fala bem. Gostaria que ela falasse melhor.

HELLINGER: Qual é a idade dela?

CLIENTE: Seis anos. Ela tem um ótimo...

HELLINGER interrompe o cliente: Não. O que vou fazer agora? O que

você imagina que vou fazer?

CLIENTE: Constelar a mãe dela e ela.

HELLINGER: Exatamente. Você aprendeu depressa. Nós vamos

experimentar. Nós não sabemos ainda. Mas, vou começar com isso.

Hellinger deixa o participante escolher a representante para a mãe.

Hellinger escolhe a representante para afilha e a coloca em frente à mãe.

O participante diz que a sua mulher também está presente. Hellinger pede

que ela se sente ao lado do marido.

Depois de um certo tempo, Hellinger vira a mãe.

HELLINGER para a representante da mãe: Como é, melhor ou pior?

REPRESENTANTE DA MÃE: Melhor.

Hellinger pede à mulher, a mãe real, para se sentar ao seu lado.

HELLINGER para a mãe: Portanto, onde está o problema?

Ela acena com a cabeça em direção à filha.

HELLINGER: Onde, podemos ver isso aqui na constelação.


MÃE: Eu não vejo dessa forma.

HELLINGER: Então vou interromper.

Para as representantes: Vocês podem sentar-se novamente.

Para o grupo: Aqui ganhamos um outro conhecimento importante sobre os

distúrbios de fala. Não é possível ajudar a criança quando a pessoa pela

qual a criança faz isso se recusa.

A INTERRUPÇÃO

PARTICIPANTE: A minha questão é se a interrupção na constelação

anterior foi uma intervenção e o início de uma mudança no entendimento?

HELLINGER: Você viu isso corretamente. A interrupção é apenas a

superfície. Foi algo que encaminhou para uma mudança.

HELLINGER para o grupo: Isso aqui é trabalho duro. Exige uma alta

concentração, de vocês também. Talvez até uma mudança de pensamento.

CONTINUAÇÃO

HELLINGER para a cliente, a mulher do homem, a mãe da filha: Vou

continuar com você.

Para o grupo: Antes, quando virei a representante dela, a filha começou a

tremer. Ela tem medo de que algo aconteça à mãe.

Para a cliente: Ela não é um boa filha?

A cliente enxuga as lágrimas.

HELLINGER para o grupo: Está bem claro que o problema da filha não

tem nada a ver com a sua relação com a mãe. Talvez tenha algo a ver com

a sua família de origem.

Para a cliente: Você sabe qual é o medo da filha?

A cliente sacode a cabeça.

HELLINGER: Que você se mate.

CLIENTE: Por quem?


Ela começa a chorar e faz um movimento de defesa com a mão.

HELLINGER para o grupo: A palavra que disse alcançou a sua alma?

após um certo tempo para a cliente: Eu acho que ainda preciso esperar

até que possamos continuar trabalhando. Ok?

Ela concorda com a cabeça.

HELLINGER para o grupo: Agora cavei um pouco a terra e espero

novamente até que a plantinha continue a crescer.

A SOLUÇÃO

HELLINGER para a cliente: Agora vou trabalhar novamente com você. É

a última chance.

Hellinger pede para ela se sentar, juntamente com o marido, ao seu lado.

HELLINGER para o grupo: Quando um casal é separado violentamente,

isso também leva a distúrbios.

Para a cliente: O que eu disse para você hoje de manhã? O que a filha

receia e por que treme?

CLIENTE: Porque eu quero partir. Mas eu não quero partir.

HELLINGER: Porque ela tem medo que você se suicide. Essa é a seriedade.

O que aconteceu na sua família de origem?

CLIENTE: Não aconteceu nada na minha família de origem.

HELLINGER: Claro. Nada. Não existiu nem mesmo uma criança.

A cliente ri e então começa a chorar.

HELLINGER para o casal: Um de vocês dois já foi casado anteriormente?

A mulher nega, o marido diz que sim.

HELLINGER para o marido: Existem filhos desse relacionamento?

O marido nega.

HELLINGER: Então existe algo na família dela.

Para o grupo: Vou fazer um teste simples para descobrir se está na


linhagem da mãe ou do pai dela.

Hellinger escolhe um homem e uma mulher como representantes para o

pai e para a mãe da mãe e os posiciona.

O pai desvia o olhar, a mãe olha para a frente. Hellinger observa os dois

representantes e diz: "Está na linhagem da mãe.” Quando ele diz isso, a

cliente fica muito tocada.

HELLINGER: O que houve na família de sua mãe?

CLIENTE respira pesadamente e suspira: Sei que a minha mãe teve um

aborto espontâneo antes de mim. Mas naquele época ainda não tinha

nenhum relacionamento com o meu pai. Ela teve um grande amor, mas não

lhe foi permitido se casar com ele. Ainda hoje fala que fica de pernas

bambas quando o vê. De certa forma a minha mãe nunca esteve presente.

HELLINGER: Isso ainda é superficial. O que aconteceu na família dela?

CLIENTE: Sei muito pouco sobre a família de minha mãe. Ela tem uma

meia-irmã que só foi apresentada à família quando foi se casar. Ela é a irmã

mais velha. São três irmãs, minha mãe é a do meio, se formos acrescentar

a meia-irmã. A meia-irmã surgiu de um caso de meu avô. Essa meia -irmã

da minha mãe deu um bebê para ser adotado por uma família nos Estados

Unidos. Isso é o que sei da família de minha mãe.

HELLINGER: É muita coisa. Quem quer se suicidar nessa família? Em

primeiro lugar, o avô, em segundo lugar a meia-irmã e em terceiro lugar, a

criança que foi dada.

A cliente chora.

CLIENTE: Eu sempre tive a sensação de não ter lugar.

HELLINGER: Exatamente. A meia-irmã de sua mãe não tem lugar, a

criança dela não tem lugar, e naturalmente também a mãe da meia-irmã.

Todas elas não têm lugar nesta família.

CLIENTE: A mãe de minha meia-irmã também não está presente,

realmente.

HELLINGER para o grupo: Agora vou começar bem de trás, totalmente


independente dela.

Hellinger escolhe representantes para o avô, para a avó, a mãe da meiairmã,

a meia-irmã e para a criança dela que foi dada, provavelmente uma

filha. Ele os posiciona um ao lado do outro.

Hellinger pede para a cliente posicionar os representantes. Quando ela

hesita, ele lhe pede para esperar um pouco. Então ele coloca o avô de lado.

HELLINGER para o avô: Agora você está melhor ou pior?

AVÔ: Agora estou melhor.

HELLINGER: Exatamente.

Para a cliente: Esse é o primeiro que está em perigo de se suicidar.

A cliente começa a posicionar os representantes.

Quando a cliente posicionou a avó e o avô, Hellinger conduziu a avó na

direção em que estava olhando. Ele a posiciona bem longe.

HELLINGER para a avó: Como você se sente aqui, melhor ou pior?

AVÓ: Melhor.

HELLINGER para a cliente: Essa é a segunda que se encontra em perigo

de se suicidar.

Hellinger conduz a avó novamente para o seu lugar na constelação. Agora

a cliente posiciona os outros também. A primeira mulher do avô e a meiairmã

em frente ao avô, a avó atrás dele, mas com o olhar bem distante dele.

A criança que foi dada bem longe com o olhar para fora.

Agora Hellinger coloca uma representante para a filha da cliente e a

própria cliente. Ambas estão uma em frente a outra. A cliente olha para o

chão. Hellinger pede para uma mulher se deitar no chão, de costas, em

frente à cliente. Ela representa a criança morta.

CLIENTE: Antes que ela se sentasse, queria me enrolar e ficar bem

pequenininha.

HELLINGER para o grupo: Vocês perceberam que ela tirou de si mesma

a própria força e seriedade com o seu falatório?


A cliente concorda com a cabeça.

HELLINGER para a cliente: Essa é uma criança morta — a sua.

CLIENTE vira-se para Hellinger: Sim, existe uma.

HELLINGER: Exatamente, e ela está aí.

HELLINGER após uns instantes para afilha: Deite-se ao lado da criança.

HELLINGER para a filha: Como você se sente aí, melhor ou pior?

FILHA: Melhor.

HELLINGER para o grupo: Pudemos ver como ela respirou aliviada

quando se deitou.

Para a filha: Olhe para a mãe e diga-lhe: "Eu morro por você."

FILHA: Eu morro por você.

Após alguns instantes, a mãe se ajoelha entre as duas crianças e chora.

Ela pega as duas crianças pela mão. Hellinger interfere e pede para a filha

se levantar. A mãe afaga a criança morta, abraça-a e a puxa para si. As

duas se abraçam afetuosamente.

HELLINGER para a filha: Como você se sente agora?

FILHA: Muito bem.

HELLINGER: Exatamente. Agora você não precisa mais entrar no meio.

A mãe continua abraçando afilha afetuosamente.

HELLINGER após um certo tempo, para afilha: Como você se sente

agora?

FILHA: Ainda muito bem.

HELLINGER: Você está fora disso.

Para a cliente e representantes: Podemos deixar por aqui.

Para o grupo: O que aconteceu antes não é tão importante agora. Algo mais

recente se tornou importante. Embora o outro acontecimento tivesse

significado também. Contudo, isso aqui exige toda a energia.


Para a cliente: Posso deixar assim?

CLIENTE obviamente aliviada: Sim.

HELLINGER: Ok. Foi isso então.

HELLINGER para o grupo: Nas Constelações Familiares, recebemos as

indicações importantes imediatamente, quando prestamos atenção ao que

está acontecendo. Quando a filha entrou na constelação ela olhou

brevemente para o chão.

Para a cliente: Quando Coloquei você, você não olhou para os outros, mas

diretamente para o chão. Com isso ficou claro que ali estava o decisivo.

Para o grupo: Não precisamos pesquisar o que aconteceu, o que foi que

aconteceu realmente. Para quê? Não é da nossa conta. Eu queria encontrar

uma solução para a filha.

Para a cliente: Ok?

Ela concorda com a cabeça.

HELLINGER para o grupo: É claro que agora existe o grande perigo de

que alguns irão até a cliente para lhe perguntar o que foi, ou vão querer

consolá-la. Esses são os ajudantes fracos, os mais fracos, podemos dizer

assim também. O estranho é que, se fizerem isso, vão se sentir melhor.

Melhor do que eu, por exemplo, e melhor do que o cliente.

Entretanto, quanta responsabilidade tomam para si? Nenhuma. Eles se

alimentam dos outros através de seu consolo. É um tipo de vampirismo. Se

considerarmos assim, é vampirismo. Só que os dentes estão ocultos.

“VOCÊ É LOUCO?”

HELLINGER para um jovem: Vou trabalhar com você.

O jovem está de boné de tricô. Ele se senta ao lado de Hellinger, curva-se

para a frente e olha para o chão.

HELLINGER após um certo tempo: Você é louco?


O jovem olha para Hellinger e diz: não. Então olha novamente para o

chão. Após um certo tempo, movimenta seus olhos para a direita e para a

esquerda, brincando nervosamente com seus dedos. Então um sorriso de

contentamento passa pela sua face. Ele olha breve para Hellinger e desvia

o olhar.

Risadas no grupo.

O jovem continua sorrindo e sacode a cabeça.

HELLINGER após um certo tempo para o grupo: Ele é louco.

Quando o grupo ri, Hellinger solicita, com a mão, para o grupo parar.

HELLINGER sério: É claro que ele é louco.

O cliente também fica sério novamente.

HELLINGER para o jovem: Quantas pessoas e quantos ajudantes você já

enganou?

O jovem olha de soslaio ao seu redor e sorri novamente. Hellinger também

sorri.

HELLINGER para o cliente: Vou deixar por aqui no momento. Ok?

O jovem volta ao seu lugar.

HELLINGER para o grupo: O que fiz agora? Eu tirei o seu poder.

O jovem ri, como se tivesse sido pego. O grupo ri junto.

O cliente vem sem o seu bonezinho.

“EU SOU UM DE VOCÊS”

HELLINGER para o grupo: Hoje ele abandonou o seu bonezinho bobo.

Mas, isso é maravilhoso!

HELLINGER para o cliente: Você fez bem. Sente-se ereto. Mais ereto

ainda. O jovem que antes estava sentado inclinado bem para frente,

endireita-se.

HELLINGER: Você fica bem assim.


Para o grupo: Ainda vou educá-lo um pouquinho.

O jovem ri.

HELLINGER para a organizadora: Eu havia pedido a você que se

informasse se ele é adotado.

ORGANIZADORA: Ele é uma criança que ficou sob tutela desde o terceiro

ano de vida.

HELLINGER para o jovem: O que aconteceu com seus pais?

JOVEM gagueja: Naquela época os meus pais eram alcoólatras. O que há

com eles hoje, eu não sei.

HELLINGER: Você sabe onde eles estão?

JOVEM: Não.

HELLINGER para o grupo: Portanto, apenas para vocês como exercício.

Se ele está com os seus tutores e quer ir para os seus pais e amá-los: qual

é a reação?

Para o cliente: Você teria a coragem para isso?

Ele reflete por longo tempo e sacode a cabeça.

HELLINGER: Exatamente. Não.

Para o grupo: Ele fica então em conflito, de um lado, os seus tutores e, de

outro, seus pais. O que lhe resta senão gaguejar?

Para o cliente: Você pode entender o que digo? Vamos então ao assunto?

Ele concorda com a cabeça.

Hellinger escolhe representantes para os tutores e representantes para

seus pais e os posiciona uns em frente aos outros. Ele coloca o jovem no

meio deles. Ele olha para ao chão.

HELLINGER para o grupo: Do jeito que ele está lá, é como se tivesse

consciência de sua culpa.

Para o jovem: Talvez você pense que trouxe infelicidade para seus pais. O

que eles deveriam fazer com você?


Ele continua olhando para o chão. Hellinger o conduz para seus pais. Ele

fica perante seus pais, de punhos cerrados, mas não olha para eles.

HELLINGER para o grupo: Olhem para as mãos dele. Aí vocês estão

vendo a agressividade. Então, o que acontece com uma criança que é tirada

de seus pais aos três anos de idade? Fica zangada.

O jovem dá um passo para trás.

HELLINGER: Vou lhe pedir que fale uma frase difícil.

Ele concorda com a cabeça.

HELLINGER: "Abro espaço, por amor a vocês." Olhe para eles ao dizer

isso.

JOVEM fluentemente, com voz clara, sem gaguejar: Abro espaço, por amor

a vocês.

HELLINGER para o grupo: Não é que ele pode dizer isso sem gaguejar?

Para o cliente: Diga novamente.

JOVEM: Abro espaço, por amor a vocês.

Ele continua se afastando lentamente. Então olha para o chão.

HELLINGER Olhe novamente para os seus pais e diga: "Vocês sempre

serão meus pais.”

JOVEM sem gaguejar: Vocês sempre serão meus pais.

HELLINGER: "Eu os levo no meu coração."

JOVEM: Eu os levo no meu coração.

O jovem continua olhando para o chão.

HELLINGER após um certo tempo: Olhe para eles ainda uma vez e diga:

"Mas, vocês me fazem muita falta.”

JOVEM: Mas, vocês me fazem muita falta.

Ele pronunciou todas essas frases sem gaguejar, de forma clara e fluente.

O jovem cerra os punhos novamente, curva a sua cabeça ainda mais


profundamente e olha para o chão.

HELLINGER Diga-lhes: "Eu sou apenas uma criança."

JOVEM: Eu sou apenas uma criança.

HELLINGER: "Sem culpa.”

JOVEM: Sem culpa.

HELLINGER: "Vocês são os pais.”

JOVEM: Vocês são os pais.

HELLINGER: Olhe para eles.

Ele olha para eles. Então inclina a cabeça novamente e olha para o chão.

HELLINGER Olhe para eles e diga: "Por favor."

JOVEM: Por favor.

HELLINGER: Siga o seu movimento. Está bem.

Ele se dirige lentamente para eles e se pendura no pescoço do pai. Os dois

se abraçam afetuosamente. Entretanto, ele continua de punhos cerrados.

Então, se coloca ao lado do pai e olha novamente para o chão.

HELLINGER: Olhe para os seus tutores e diga-lhes: "Aqui é o meu lugar."

JOVEM: Aqui é o meu lugar.

HELLINGER: "Não importa o que isso me custe."

JOVEM: Não importa o que isso me custe.

HELLINGER: "Aqui é o meu lugar."

JOVEM: Aqui é o meu lugar.

HELLINGER após um certo tempo, para o pai e para a mãe: Agora digam

para eles: "Obrigado."

PAI: Obrigado.

MÃE: Obrigada.

O cliente olha novamente para o chão. Então coloca-se atrás de seus pais.


Hellinger escolhe uma mulher e pede que se deite de costas em frente aos

pais.

A mãe olha para trás em direção ao filho, desviando o olhar da morta.

Então olha para seu marido. Os dois se seguram as mãos. A mãe coloca a

cabeça no ombro do marido e soluça. O pai olha para a morta. O jovem,

que ainda estava de punhos cerrados, os solta.

HELLINGER após um certo tempo para a mãe: Diga ao filho: "Você é

inocente.”

MÃE olha para trás, para o filho: Você é inocente.

HELLINGER: "Eu sou culpada."

MÃE muito comovida, com voz fraca: Eu sou culpada.

Ela olha para o filho. Este se dirige lentamente para ela e a abraça. O pai

abraça ambos.

O jovem encosta a cabeça nos pais, nos seus ombros e os abraça longa e

afetuosamente. Após um certo tempo, Hellinger solta-o de seus pais,

pedindo para se afastar e se ajoelhar diante deles.

HELLINGER: Olhe para eles e diga: "Aqui sou apenas a criança."

JOVEM: Aqui sou apenas a criança.

HELLINGER: "E permaneço sendo a criança."

JOVEM: E permaneço sendo a criança.

HELLINGER para o grupo: Quando estava se dirigindo aos pais, ele se

comportou como se fosse o grande. Ele assumiu duplamente algo por eles.

Por um lado, a culpa. Isso se mostrou nessa agressividade nos punhos. Ao

mesmo tempo, também está conectado com a vítima. Essa é a dinâmica na

esquizofrenia, estar conectado simultaneamente com o agressor e a vítima.

Para o jovem: Agora saia disso. Você é apenas a criança, e a culpa fica lá

onde ela pertence.

Ele olha novamente para o chão.


HELLINGER para o grupo: Ele olha para a vítima, no lugar da mãe. Ele

conduziu o todo, e confiei nele. Ele sabia disso. Ele tomou a direção.

Para o jovem: Alô.

O jovem ri.

HELLINGER: Agora saia disso e endireite-se.

Hellinger o conduz para a frente da vítima, passando pelos pais. Ele pede

para os pais se virarem.

HELLINGER para o jovem: E agora vire-se.

Hellinger vira-o, afastando-o da vítima, em direção ao público.

HELLINGER: Olhe para as pessoas.

Ele olha e continua sério.

HELLINGER para o grupo: É como se ele estivesse numa prisão, não

tendo coragem de sair daí ainda totalmente.

A sua fisionomia se aclara e ele ri.

HELLINGER: Diga para eles: "Eu sou um de vocês.”

JOVEM: Eu sou um de vocês.

Risadas estrondosas e aplausos do grupo.

HELLINGER quando ele continua olhando para o chão: Olhe para cima.

Ele se endireita e olha para frente.

HELLINGER: Exatamente. Ok, foi isso então.

Para os representantes: Agradeço a todos vocês.

Para a representante da mulher morta, que continua ainda deitada no

chão: Como você está?

ESTA REPRESENTANTE: Eu morri.

Ela se levanta lentamente.

HELLINGER para o grupo: A pessoa morta é obviamente uma filha dos


pais.

HELLINGER para o cliente: Uma irmã sua. Dê-lhe um lugar em seu

coração.

DESVIOS DA AJUDA

HELLINGER: Faz parte das ordens da ajuda que nos retiremos da posição

da identificação, que não tomemos partido de uma pessoa melhor ou de

uma pior ou de um agressor ou sua vítima, e que não nos elevemos em

relação aos pais.

O jovem se encontrava perante seus pais nessa posição arrogante.

Internamente dizia para eles: "Eu assumo no lugar de vocês." Eu o

reconduzi à posição de criança. Isso tem um efeito especial na alma.

Frequentemente uma pessoa se sente culpada, quando deixa a culpa com o

culpado, isto é, quando volta à posição de criança, saindo de uma posição

superior de querer fazer algo pelos pais.

O ajudante precisa fazer o mesmo. Ele não deve querer ajudar os pais como

se fossem crianças. Se procuramos, incondicionalmente, por soluções,

entraremos nessa postura arrogante.

O que digo aqui é algo revolucionário, se pensarmos nos desvios que

poderemos seguir algumas vezes, acreditando que precisamos e devemos

ajudar dessa forma.

Um dia, ouvi uma frase que atinge o ponto: "Quem tem pena, acusa Deus."

O SEGREDO

HELLINGER para a cliente: De que se trata?

CLIENTE: Que dois de meus filhos possam aprender a falar certo e mais

claramente.

HELLINGER: Qual é a idade dos filhos?

CLIENTE: Três anos e meio e quatro anos e meio.


HELLINGER: Qual é a dificuldade?

CLIENTE: Eles não falam certo e claramente. Eles engolem as letras.

HELLINGER para o grupo: Eu tenho dificuldades para entendê-la. Vocês

também tiveram?

Para a cliente: Então, quem deve falar mais claramente?

CLIENTE: Eu.

Os dois se olham longamente. Então ela olha para frente para o chão.

HELLINGER quando ela quer dizer algo: Fique assim. Você já está dentro

da cena. Continue olhando assim.

quando ela quer se virar para ele: Fique assim. Suporte isso.

Ela começa a chorar.

HELLINGER após um certo tempo: E agora diga o que acontece na cena,

de forma clara.

CLIENTE sem falar claro: Eu gostaria de poder dizer o que é.

HELLINGER: Não entendi nada.

Para o grupo: Vocês entenderam algo?

Para a cliente: Diga isso com raiva.

CLIENTE: Eu gostaria de dizer o que é na realidade.

HELLINGER: Diga a realidade.

CLIENTE chorando: Deixem-me falar! Escutem-me!

HELLINGER: Você ainda não está no ponto de poder dizer com clareza.

Vou interromper aqui. Ok?

Ela concorda com a cabeça.

HELLINGER para o grupo: Em todo o caso, as crianças estão liberadas.

São impressionantes as novas visões que o procedimento sistêmico abre.

Para o grupo: Antigamente, quando ainda era jovem, procurava por

soluções. Já desisti disso há muito tempo. Eu apenas trago algo à luz. Isso


é tudo. Então posso me recostar tranquilamente e deixar as coisas seguirem

o seu rumo.

CONTINUAÇÃO

HELLINGER para a cliente: Vou retomar com você. Ficou claro para você

qual é a situação?

CLIENTE de forma ininteligível: Trata-se de meus pais e meu avô, o pai

de minha mãe.

HELLINGER: Você pode falar de uma forma mais clara?

Ambos riem.

CLIENTE: Sim. Trata-se de meus pais e do pai de minha mãe. É isso.

HELLINGER: O que há com eles?

CLIENTE de forma ininteligível: É essa discórdia.

HELLINGER: Infelizmente não consigo entendê-la.

Ambos riem novamente.

CLIENTE: É essa discórdia, não existe união. Trabalhavam uns contra os

outros.

HELLINGER para o grupo: Se isso fosse certo, ela teria falado

nitidamente.

Hellinger olha para ela. Ela olha para o chão.

HELLINGER: Qual é o segredo inexprimível?

Ela continua olhando para o chão.

HELLINGER: Permaneça assim, exatamente assim.

Hellinger pede a uma mulher que se deite no chão em frente à cliente, para

onde o seu olhar se dirige. A cliente ainda está sentada ao lado de

Hellinger. A cliente olha fixamente para essa pessoa morta, sem se mover.

HELLINGER: Seus dois filhos: são meninos ou meninas?

CLIENTE: Uma menina e um menino.


HELLINGER: O filho mais velho é?

CLIENTE: Um menino.

Hellinger escolhe representantes para o menino e para a menina e os

coloca em frente à pessoa morta.

Os filhos olham constantemente para a pessoa morta.

HELLINGER para a cliente: Parece que a pessoa morta é uma irmã.

A cliente não diz nada e continua olhando fixamente para a morta. O filho

se dirige até a pessoa morta e se ajoelha diante dela. Então levanta-se e

ajoelha-se um pouco mais distante.

HELLINGER para a cliente quando vê que ela está querendo se mover:

Siga o movimento.

Ela ajoelha-se junto à morta, que está gemendo, inclina-se para ela,

abraça -a, olha então para os filhos e chora. Ela inclina-se novamente

para a morta, endireita-se e olha para os filhos. A filha se afastou bem

para longe e se vira. O filho se aproxima mais da morta e segura

firmemente o braço da mãe. A filha deixou o palco, como se quisesse

desaparecer totalmente.

HELLINGER: Eu interrompo aqui.

A cliente senta-se novamente ao lado de Hellinger.

HELLINGER para a cliente: Você sabe quem é a pessoa morta?

CLIENTE: É talvez a criança que perdi?

HELLINGER: Você perdeu uma criança?

CLIENTE: Tive um aborto espontâneo.

HELLINGER: Deve ser algo mais. Aqui houve uma transferência estranha.

O filho de repente se comporta como se fosse o pai da criança.

A cliente chora e fica olhando para o chão.

HELLINGER para o grupo: Podemos observar isso pelo seu modo de olhar

para lá. Ela vê a cena de forma bem exata. A alma olha para lá. Algo assim


é sempre um assassinato.

Longo silêncio.

HELLINGER: Onde está o assassinato?

CLIENTE: Eu vejo o meu avô.

HELLINGER: O que houve?

CLIENTE: Eu vejo o meu avô e uma irmã, minha irmã. Eu vejo essa irmã...

Eu não a conheço.

HELLINGER para o grupo: Ela falou agora de maneira bem clara. É

surpreendente.

Para a cliente: Você acessou algo.

Ela chora, olhando sempre para um ponto.

CLIENTE: Minha mãe teve uma criança, que seria minha meia-irmã, e meu

avô a matou.

HELLINGER: Matou?

CLIENTE: Ele a asfixiou, assim o vejo.

HELLINGER: É isso. O segredo inexprimível.

A cliente soluça alto.

Hellinger solicita à representante da criança morta, agora a meia-irmã

morta da cliente, para se levantar. Ele a coloca em frente à cliente.

A cliente dá um passo em direção à meia-irmã morta e abre os braços de

modo convidativo. A meia-irmã olha para o lado e se esquiva dela. A

cliente dá mais um passo em sua direção. A meia-irmã se vira para o lado.

HELLINGER para a cliente, quando ela quer se aproximar mais: Espere.

Hellinger escolhe um representante para o avô e o posiciona em frente à

meia-irmã morta.

Logo que o avô fica em frente a ela, a meia-irmã se esquiva dele soluçando,

se afasta e se vira. Ela coloca as mãos em suas faces, se ajoelha soluçando


alto e se inclina para frente, colocando ambas as mãos nos antebraços. A

cliente continua se afastando.

Hellinger escolhe uma representante para a mãe da meia-irmã e a coloca.

A meia-irmã se torce, enquanto se ajoelha. A mãe quer tocá-la, mas treme

de medo. A mãe se afasta um pouco, coloca as mãos sobre o rosto e se vira

lentamente. A criança treme e se contorce ininterruptamente. Ela olha

para o avô. Ele está impassível.

Hellinger pede para a cliente se sentar novamente.

A criança se acalma um pouco. Ela olha suplicante para o avô, que

continua impassível, começa a soluçar. Vira-se para ele ajoelhada e

levanta as mãos, suplicando. Nesse ínterim, a mãe se virou totalmente.

Hellinger pede à cliente para se ajoelhar ao lado de sua meia-irmã e olhar

com ela para o avô.

A cliente coloca o braço ao redor da meia-irmã. Esta pega a sua mão e se

acalma.

Hellinger pede para os dois filhos da cliente se ajoelharem ao lado da mãe.

Em seguida o avô recua um pouco.

A mãe coloca o seu braço em torno da meia-irmã. Ela segura os filhos com

a mão direita. A meia-irmã se acalmou, nesse ínterim. Todos juntos olham

para o avô.

HELLINGER para a cliente: Diga para o avô: "Foi você.”

CLIENTE com voz nítida e alta: Foi você.

HELLINGER: Isso foi nítido.

A cliente respira fundo. Ela coloca o braço direito ao redor de seus filhos,

a filha coloca o braço em torno dela. Todos os quatro se abraçam

fortemente. Agora, Hellinger coloca a mãe ao lado do avô.

HELLINGER para a mãe: Você precisa olhar.

A cliente e a sua meia-irmã olham uma para a outra com carinho. Então,

a cliente olha para seus filhos com carinho.


HELLINGER após um certo tempo, para o grupo: Agora está tudo claro.

Não precisamos solucionar o assunto do avô com a sua mãe. Está claro para

você?

A cliente concorda com a cabeça.

HELLINGER: Ok. Bom.

A cliente senta-se ao lado de Hellinger e comovida dá-lhe a mão.

HELLINGER para o grupo: Qual é agora o próximo passo para ela? E para

o ajudante? Como isso deve continuar? Ela e o ajudante precisam colocar

o avô e a mãe dessa criança nos seus corações.

A cliente concorda com a cabeça.

HELLINGER: E ao mesmo tempo, deixá-los com essa criança. Ambas as

coisas. Esse é um passo difícil.

Hellinger chama o representante do avô e o posiciona.

HELLINGER para esse representante: Em sua imaginação faça uma

reverência respeitosa ao avô real.

Ele se curva lentamente.

HELLINGER: E agora endireite-se novamente, vire-se e volte a ser você

mesmo.

O representante se vira e ri aliviado.

HELLINGER para o grupo: Quando alguém teve que representar um papel

pesado, devemos tirá-lo dessa situação. Isso foi necessário aqui. Para os

outros que não tiveram que representar papéis tão pesados, não é tão

necessário.

AJUDA COMO FRAQUEZA - AJUDA COMO FORÇA

HELLINGER: Gostaria ainda de dizer algo sobre o amor. Amor demasiado

é fraqueza. Muitos amam porque não conseguem suportar algo, porque não

conseguem suportar o outro e seu destino. Por isso se tornam ajudantes.

Uma criança pequena não consegue suportar o que acontece na família: o

que acontece com a mãe, com o pai, com o destino deles e com a culpa


deles. Por isso quer ajudar. Então assume algo pelo pai, pela mãe, por

outros da família - por fraqueza. Ele se torna ajudante por amor, mas por

fraqueza.

Muitos ajudantes adultos ajudam segundo o modelo de uma criança assim.

Eles não conseguem suportar algo e tentam mudar algo - mas não porque o

outro precise disso. Assumem algo por ele, sem respeito pela sua grandeza

e seu destino e talvez também pela sua culpa.

A criança cresce, quando aprende a amar de outra forma - com respeito

pela grandeza que conduz os pais e que conduz os outros também.

Assim, o ajudante também ajuda de outra forma, quando adquire força. Ele

suporta o destino dos outros. Então apoia o outro de uma forma que ele

possa ficar sobre os seus próprios pés. E frequentemente também de uma

forma que o outro desiste de ajudar por fraqueza. Esse seria o outro amor.

AJUDA EM SINTONIA

Eu gostaria ainda de dizer algo sobre a ajuda. Posso comparar a maneira

como procedo aqui com a de um jardineiro. Ele espera pela época certa.

Faz o que é necessário no momento. Depois disso deixa crescer, sem

interferir. O que faço aqui é dar com o cliente os passos necessários que

ajudam o seu crescimento. Tenho respeito pelas leis do crescimento e do

desenvolvimento.

Se vocês compararem isso com uma outra postura quando alguém diz: "Eu

soluciono por você”, estão vendo que ele se comporta mais como um

artesão que lida com uma matéria morta, ficando somente satisfeito quando

foi consertada. Essa postura tem pouca conexão com as leis da alma.

Eu tento seguir as leis da alma. A característica principal do jardineiro é

que espera com paciência pela época certa da fruta.

RECONCILIAR OS OPOSTOS


Ainda vou dizer algo sobre a loucura. Louco é alguém que não consegue

reunir algo. Via de regra, são pessoas opostas. O louco precisa conseguir

lidar com os dois, mas não consegue porque essas duas pessoas estão em

conflito uma com a outra. Existe algo insolúvel entre eles, como, por

exemplo, entre agressores e vítimas. Isso significa normalmente que ele se

torna esquizofrênico.

Em relação aos distúrbios da fala talvez exista algo similar. Por enquanto,

isso é apenas uma hipótese. Alguém tem distúrbios da fala, especialmente

quando gagueja, porque dentro dele duas pessoas opostas querem ter a

palavra simultaneamente. Um está contra o outro. Um deles quer dizer algo

e não deve dizer. Uma pessoa quer algo e a outra está do contra. Então isso

leva à gagueira ou a alguma espécie de distúrbio de fala.

Essa imagem me surgiu, quando estava trabalhando aqui, que os distúrbios

da fala, algumas vezes, têm algo de louco e que pode ser solucionado,

quando aqueles que se opõem na alma podem ser reunidos e se reconciliam.

Então, as palavras também podem se reconciliar e se mostrarem como um

todo, como uma unidade.

A premissa é que aconteça algo similar também com o ajudante. Ele

também precisa reunir os opostos em sua alma.

CRIANÇAS DE RUA

Extraído de um curso no México

A VIDA REAL

Muitas vezes, ficamos imaginando como seria uma infância realmente feliz


e o que nos prepararia melhor para a vida. Ou seja, pais amorosos,

infalíveis, compreensivos, sempre ao nosso lado, ajudando-nos em todos

os aspectos e protegendo-nos contra todos os males. O que acontece com

essas crianças mais tarde na vida? O que sabem das dificuldades da vida e

dos desafios que ela nos impõe? Quão corajosas serão? No que diz respeito

à capacidade de sobreviver também diante de grandes dificuldades, estão

em desvantagem em comparação com as crianças que tiveram uma infância

difícil.

Às vezes, comparo os estudantes universitários na Alemanha com as

crianças de seis ou sete anos que vendem jornais na América Latina. Quão

fortes já são! Quão independentes! Como podem, tão jovens, assumir a

responsabilidade pelo sustento da família e contribuir de forma natural para

ele? Quanta vivacidade e prontidão e que força interna!

Tenho o mais profundo respeito por elas. Elas sabem das durezas da vida e

o que, em última instância, ela exige de nós.

EXEMPLO: “POR FAVOR”

Hellinger pede que um garoto de aproximadamente 13 anos se sente ao seu

lado. Ele vem com as mãos no bolso e senta-se, tímido e desajeitado, ao

lado de Hellinger.

HELLINGER para esse garoto: Você ainda não está acostumado com isso.

O garoto está muito mexido e olha para o chão.

HELLINGER: Olhe para mim.

O garoto está sentado, curvado, com o tronco inclinado para o lado oposto

ao de Hellinger e olha para ele de baixo para cima. Depois olha de novo

para o chão.

HELLINGER: Para mim está bom assim. Simplesmente olhe para mim.

Hellinger pousa a mão sobre o joelho do garoto.

HELLINGER: Quando olho para você, vejo que desistiu de confiar em outras


pessoas. Parece que passou por muitas dificuldades.

O garoto acena com a cabeça.

HELLINGER: Eu vejo isso.

O garoto olha novamente para o chão.

HELLINGER: ÀS vezes, em uma noite escura, as pessoas esperam

ansiosamente pelo nascer do sol. É bom ver o sol brilhar novamente depois

de uma noite escura. Às vezes, também é assim na vida. Também na vida

o dia nasce depois de uma noite escura. Vamos procurar a luz? A luz para

você?

O garoto olha para o chão o tempo todo.

HELLINGER: Olhe para mim de novo.

O garoto sorri para Hellinger.

HELLINGER: Vejo que você está mais esperançoso. Conte-me algo de sua

vida.

O garoto suspira fundo e começa a chorar. Hellinger o envolve com o

braço, puxa-o em sua direção e o conforta demoradamente. O garoto pousa

a cabeça sobre o peito de Hellinger. Após um instante, quando Hellinger

solta o garoto, este olha para o outro lado e para baixo. Hellinger o puxa

novamente para si. O garoto pousa sua cabeça novamente, de forma

espontânea, sobre o peito de Hellinger.

Após um instante, o garoto se solta. Ele olha de novo para o lado e para o

chão.

HELLINGER: Conte-me algo sobre seu pai e sua mãe.

GAROTO: O que devo dizer?

HELLINGER: Algo sobre o que você viveu com seu pai e com sua mãe.

GAROTO: EU não tinha uma boa relação com meus pais.

HELLINGER: O que aconteceu?

GAROTO: EU fugi de casa porque não aguentava mais.


HELLINGER: Qual era a sua idade?

GAROTO: Dez.

HELLINGER: Para onde você foi?

GAROTO: Para a rua.

Hellinger espera um longo tempo. Durante todo esse tempo, ele mantém a

mão direita entre os ombros do garoto. O garoto continua olhando para o

chão.

HELLINGER: Então você sabe sobreviver sozinho.

Há outra pausa longa.

HELLINGER: Você visita seus pais, às vezes?

GAROTO: Sim, às vezes.

HELLINGER: Quer dizer algo sobre isso?

GAROTO: Não.

HELLINGER: VOU fazer um pequeno exercício com você. Feche os olhos.

Imagine seus pais quando olharam para você logo que você nasceu. Como

lhe tomaram como filho. Alimentaram você. Eles lhe ajudaram e você pôde

morar com eles. Eles tinham poucos recursos, mas fizeram o melhor que

puderam.

Quando pequeno, você olhava para eles com amor. Eles eram os únicos

com quem você contava. Aí você cresceu. Viu como era difícil para seus

pais. Talvez tenha visto que eles não tinham possibilidades de alimentar

você também. Então, talvez tenha dito internamente: "Não quero ser um

peso para vocês. Vou cuidar de mim sozinho agora. Aí será mais fácil para

vocês." Então foi embora. No entanto, você às vezes visita seus pais. Você

diz a eles: "Eu dei conta sozinho. Fui forte o suficiente para dar conta

sozinho, mas sinto muita falta de vocês. Olhem para mim com amor."

Após um instante, Hellinger tira a mão do garoto. O garoto permanece na

mesma posição e olha para o chão. Então, Hellinger coloca a mão sobre a

mão do garoto. Eles permanecem assim por muito tempo.


HELLINGER após um instante: Como você se sente agora?

O garoto olha para Hellinger.

GAROTO: Bem.

HELLINGER: VOU fazer mais algo para você, Ok?

O garoto acena com a cabeça.

Hellinger escolhe representantes para o pai e a mãe do garoto e os

posiciona lado a lado, a mãe à esquerda do pai. Ao ver isso, o garoto

tampa os olhos com a mão. Hellinger o coloca em frente aos pais.

HELLINGER para o garoto: Imagine que você está voltando da rua e indo

para casa. Olhe para eles.

Todos permanecem por muito tempo sem se mover. Então a mãe dá um

pequeno passo, se afastando do pai. Depois, dá mais um pequeno passo e,

em seguida, mais um. Ela olha para o chão o tempo todo.

Após um instante, Hellinger escolhe um representante para um morto e

pede a ele que se deite em frente à mãe, com as costas voltadas para o

chão. Quando ele se deita, a mãe dá um pequeno passo para trás, mas fica

olhando o tempo todo para o morto. Depois dá mais um pequeno passo

para trás. O morto olha continuamente para ela. Depois olha para o

garoto. A mãe olha brevemente para o pai, mas ele não se mexe e olha

sempre para a frente.

Após um instante, a mãe vai para o chão e olha para o morto. Este olha,

alternadamente, para ela e para o garoto. Ele estende uma mão para o

garoto, mas a recolhe em seguida, segura a cabeça com as duas mãos e

começa a soluçar alto. A mãe se levanta de novo e dá vários passos para

trás. Ela pousa a mão esquerda sobre o coração. O pai continua sem se

mover.

HELLINGER após um instante para o garoto: Você sabe quem poderia ser

essa pessoa no chão?

GAROTO: EU.

HELLINGER: É uma pessoa morta com a qual sua mãe tem uma ligação.


Quem poderia ser?

GAROTO: Minha tia.

HELLINGER: O que houve com ela?

GAROTO: Não sei.

HELLINGER: Sua mãe estava olhando para o chão antes. Isso mostra que

estava olhando para um morto. Pode ser que o morto seja um filho da sua

mãe. Você sabe de algo a esse respeito?

GAROTO: Não.

No meio tempo, a mãe coloca ambas as mãos sobre o coração.

HELLINGER: Podemos ver algo claramente aqui. Sua mãe não estava

disponível para você. Ela se sentia atraída por uma outra pessoa. Dessa

forma, você só pode contar com seu pai.

Hellinger o coloca mais perto do pai. O garoto se coloca à direita do pai.

Este o envolve com o braço direito e pousa a mão esquerda sobre seu

ombro. O garoto olha para o chão e coloca as mãos no bolso. Ficam assim

por muito tempo. De vez em quando, o garoto levanta levemente a cabeça,

mas a abaixa logo em seguida e olha para o chão.

HELLINGER após um instante, para o garoto: Você também está olhando

para um morto? Talvez para um amigo?

GAROTO: Para um amigo.

Após um instante, Hellinger escolhe um representante para esse amigo e o

coloca deitado em frente ao garoto, com as costas para o chão.

O outro morto se vira para o lado. A mãe recua ainda mais.

HELLINGER para o garoto: Vá até ele.

O garoto se ajoelha junto ao morto e chora.

HELLINGER para o garoto: Siga o seu movimento.

Após um instante, para esse morto: O que se passa em você?

ESSE MORTO: Sinto o mesmo que ele. Também estou olhando para um


morto.

O garoto e o morto se olham. Hellinger coloca a mão do garoto sobre a

barriga do morto.

HELLINGER após um instante para o garoto: O que se passa com você?

GAROTO: Estou triste.

HELLINGER: Diga a ele: "Penso em você com amor.”

GAROTO: Penso em você com amor.

Após um instante, Hellinger faz com que o garoto se levante e se vire para

seu pai.

HELLINGER: Olhe para seu pai e diga a ele: "Sou seu filho."

GAROTO: SOU seu filho.

HELLINGER: “Olhe para mim como seu filho."

GAROTO: Olhe para mim como seu filho.

HELLINGER: "Tome-me como seu filho.”

GAROTO: Tome-me como seu filho.

HELLINGER: "Por favor."

GAROTO: Por favor.

O pai abraça o garoto. Ele ainda está com as mãos nos bolsos. Hellinger

o ajuda a abraçar o pai. Pai e filho permanecem assim por um longo tempo.

O pai o beija e acaricia sua cabeça. O filho mantém o tempo todo a cabeça

virada para o lado contrário ao do pai. O pai acaricia novamente sua

cabeça e suas costas. Após um instante, eles se separam.

HELLINGER para o garoto: Como você está agora?

GAROTO: Bem.

HELLINGER: Vou parar por aqui. Tudo de bom para você.


EXEMPLO: O AMOR

HELLINGER para um rapaz de aproximadamente 18 anos, morador de rua:

Qual é a sua questão?

RAPAZ: Sou muito agressivo e, muitas vezes, sinto-me muito sozinho.

HELLINGER: O que você faz quando fica agressivo?

RAPAZ: Perco a consciência. Não consigo mais me controlar.

HELLINGER: Quem mais em sua família era agressivo?

RAPAZ: Na família do meu pai e também na da minha mãe.

HELLINGER: O que houve?

RAPAZ: DO lado do meu pai, o pai dele era bastante agressivo. Tinha ainda

uma outra mulher. Na família da minha mãe, tem um tio cujo filho se

matou. Esse tio matou o namorado de sua irmã.

HELLINGER: Quem é agressivo da forma como você é, está identificado com

alguém de sua família. Provavelmente você se identifica com esse tio, que

matou o namorado da irmã. Por isso, vamos olhar para isso. Talvez

encontremos uma forma que lhe permita soltar-se disso. Ok?

RAPAZ: Sim.

Hellinger escolhe representantes para o tio que matou o namorado de sua

irmã e para o filho do tio que se matou. Depois escolhe uma representante

para a irmã do tio e um representante para o namorado da irmã que foi

assassinado.

Hellinger posiciona o namorado assassinado da irmã do tio em frente a

ele e a irmã ao lado do namorado. O filho do tio é posicionado bem mais

para trás, lateralmente, atrás da irmã do tio.

O assassinado cai imediatamente para trás no chão. Ele fica deitado de

costas e abre ambos os braços. Em seguida, o tio também cai para trás no

chão, com um alto estampido, e estica os braços e pernas.

Ao ver isso, o rapaz começa a soluçar. Hellinger o abraça. Ele apoia a

cabeça sobre o peito de Hellinger e respira pesadamente.


Então, o filho do tio também vai para o chão. Ele se deita do seu lado

direito e olha para o pai. A irmã do tio permanece em pé imóvel ao lado

do seu namorado, deitado no chão.

O rapaz soluça alto no peito de Hellinger.

HELLINGER para o grupo: Quem é o culpado aqui? Ele aponta com o dedo

para a irmã do tio. A irmã do tio é a culpada.

Ela permanece em pé, inabalada.

HELLINGER: Quem pagou por essa culpa?

Ele aponta para o filho do tio que se matou. Ele pagou por isso.

O rapaz continua soluçando com os olhos fechados.

HELLINGER para o rapaz: Agora vá até o namorado assassinado da irmã do

tio e o abrace.

Hellinger o conduz até o assassinado, que está deitado no chão, e o faz

ajoelhar-se ao lado dele. O rapaz olha para o assassinado e soluça alto.

Contudo, não se atreve a tocá-lo. A irmã do tio continua inabalada.

HELLINGER para o rapaz: Diga a ele "Dou-lhe um lugar no meu coração,”

RAPAZ soluçando alto: Dou-lhe um lugar no meu coração.

HELLINGER após um instante: Toque nele. Está tudo bem. Toque nele.

Ele o toca com bastante cuidado e pousa uma mão sobre seu peito. A irmã

do tio virou a cabeça e está olhando para baixo em direção aos dois. O

rapaz fica mais calmo. Ele para de soluçar.

Hellinger o levanta e o conduz até seu tio, o assassino. Lá ele começa

novamente a soluçar. Hellinger pede que ele se ajoelhe diante do tio. Ele

se ajoelha e soluça alto.

HELLINGER após um instante: Toque nele também.

Ele coloca uma mão no seu peito e soluça alto.

HELLINGER após um instante: Olhe para ele e diga: "Dou-lhe um lugar no

meu coração."


RAPAZ soluçando alto: Dou-lhe um lugar no meu coração.

Ele continua soluçando alto. Após um instante, Hellinger o coloca de pé.

Então, Hellinger coloca a irmã do tio diante do seu namorado assassinado.

HELLINGER para a irmã do tio: Olhe para ele.

O rapaz está ao lado de Hellinger e se apoia nele. Hellinger o envolve com

um dos braços, enquanto ele ainda soluça alto.

HELLINGER para a irmã do tio: Vá para junto do seu namorado no chão.

Ela se ajoelha junto a ele, coloca uma mão sobre seu peito, curva-se até

ele, abraça-o e soluça. Ela acaricia seu rosto. Ele fecha os olhos.

HELLINGER para o grupo-. Ele fechou os olhos. Agora está em paz.

Hellinger conduz o rapaz até o filho do seu tio que cometera suicídio. Ele

fica à sua frente e olha para baixo em sua direção.

HELLINGER diga a ele: “Dou-lhe um lugar no meu coração."

RAPAZ soluçando alto: Dou-lhe um lugar no meu coração.

HELLINGER: Abaixe-se até ele.

O rapaz se abaixa até ele e soluça alto.

HELLINGER: Toque nele.

Ele pousa uma mão sobre seu peito e se acalma. O filho, contudo, fica

olhando para seu pai.

Hellinger coloca o tio de pé e o leva até seu filho.

HELLINGER para o tio: Abaixe-se até ele.

Ele se ajoelha diante do filho. Este estende a mão até o pai. O pai toma

sua mão. O filho fecha os olhos.

HELLINGER para o grupo: Agora ele também fechou os olhos. Ele expiou

por seu pai. Ele pagou por isso.

O tio deita-se ao lado do filho e também fecha os olhos.

Hellinger faz com que o rapaz fique de pé e se vire para o grupo.


HELLINGER: Agora olhe para frente. Olhe para o mundo. Diga a todos aqui:

"Agora estou a serviço da paz."

RAPAZ respira fundo: Agora estou a serviço da paz.

HELLINGER: Olhe para todos eles. Diga a eles: "Agora estou a serviço do

amor e da paz.”

RAPAZ: Agora estou a serviço do amor e da paz.

Ele respira fundo. Hellinger o pega pela mão.

HELLINGER: Agora suas mãos estão muito macias.

Ele continua respirando fundo.

HELLINGER: Ninguém mais precisa ter medo de você.

RAPAZ: Sim.

HELLINGER: Ok. Tudo de bom para você.

RAPAZ: Obrigado.

Os dois se abraçam e se dão as mãos.

A ESCOLA

Extraído de cursos de Pedagogia Sistêmica, no México

PEDAGOGIA SISTÊMICA

HELLINGER: Gostaria de dizer algo sobre a Pedagogia Sistêmica. O que

significa Pedagogia Sistêmica? Significa que não vemos apenas o aluno,

mas também os pais do aluno nele. Uma professora me falou certa vez que,


quando está diante de uma classe com 20 alunos, não vê apenas 20 pessoas,

mas sim 60, pois os pais também estão incluídos. Quando o professor

também vê os pais dos alunos por trás deles, ele os entende. Ao mesmo

tempo, sente por trás de si seus próprios pais e ancestrais.

Entretanto, na sociedade ocidental existe uma ideia dos pais ideais. Isso

não faz sentido para mim. Meus pais não foram ideais, mas foram muito

bons. A meu ver - e esta é uma afirmação revolucionária - todas as crianças

são boas, assim como seus pais.

RESPEITO AOS PAIS COMO ELES SÃO

Esse respeito aos pais, aos próprios pais e aos pais dos alunos com que

trabalhamos, é a base de uma boa educação. Uma vez resumi isso de forma

breve, escrevendo uma carta para a minha mãe. Ela já está morta há muito

tempo, mas eu escrevi a carta:

"Querida mamãe,

Você é uma mulher comum, como milhões de outras mulheres. Como uma

mulher comum, você me concebeu e carregou no seu ventre. Depois, você

me deu à luz, alimentou, cuidou de mim por muitos anos, como uma mulher

comum. Como uma mulher comum, você foi para mim a melhor mãe que

eu pude ter. Assim, amo você como a uma mulher comum. Libero você de

minhas expectativas, que vão além daquilo que posso esperar de uma

mulher comum. Aquilo que você me deu vai muito além do que eu poderia

esperar sendo uma criança comum."

Se olharmos para nossos pais, para todos os pais e para os pais de nossos

alunos, então eles fizeram tudo certo. Na transmissão da vida, fizeram tudo

certo. Nesse sentido, todos os pais são perfeitos. Se eu os tiver no coração,

alguém pode me dizer o que quiser sobre seus pais: eu os respeito.

O CAMPO ESPIRITUAL

Todo indivíduo está integrado em um sistema. A esse sistema pertencem,

além de seus pais, também seus avós e antepassados. Nesse sistema, muitas

coisas já aconteceram, tanto boas quanto más. Esse passado atua no

presente.


Rupert Sheldrake fala de uma mente ampliada. Trata-se de um campo em

que se encontram todos os nossos antepassados, assim como tudo aquilo

que já ocorreu. Nesse campo, todos estão em ressonância com todos. Somos

influenciados por ele.

Qual é o resultado? Ninguém pode ser diferente do que é. Nossos pais não

poderiam ter sido diferentes do que foram. Nós não podemos ser diferentes

do que somos e nossos alunos não podem ser diferentes do que são.

Quando olhamos para os alunos que causam problemas na escola, sabemos

que eles não podem ser diferentes do que são. Quando olhamos para seus

pais e para o sistema do qual eles vêm, compreendemos por que são como

são.

RESSONÂNCIA COM OS EXCLUÍDOS

Aqui há um aspecto que deve ser especialmente observado. Um sistema é

perturbado quando alguém foi excluído, mesmo muitas gerações atrás.

Quando uma criança se comporta de uma forma diferente da que

desejávamos, está olhando, em seu sistema, para uma pessoa que foi

excluída. Assim, a criança se comporta de uma forma diferente, por amor.

Ao trabalhar com essa criança, podemos olhar com ela para essa pessoa

excluída. Podemos falar com seus pais sobre isso e talvez descobrir quem

é essa pessoa excluída. Se olharmos e respeitarmos essa pessoa junto com

os pais, nós a integramos à família. Então, a criança pode mudar. Porém,

não é só a criança quem muda, a família também muda. Dessa forma,

quando um professor age assim e conhece os contextos sistêmicos, ele atua

também na família. Por isso, a Pedagogia Sistêmica atua, através da escola,

também nas famílias e na sociedade.

Alguns professores que olham apenas para os alunos se deprimem, pois

percebem que não fazem progresso. Experimentam um burn-out. Existem

remédios simples contra esses burn-outs. Olhamos através das crianças

para seus pais com amor e damos a eles um lugar em nosso coração. De

repente, já não estamos mais sozinhos. Podemos dividir com os pais aquilo

que carregamos sobre os ombros como se fôssemos os únicos responsáveis

pela criança e irmos com mais alegria para o trabalho.


Vou mostrar, através de exemplos concretos, como trabalhar com crianças

difíceis e olhar para as soluções existentes. Os professores apresentarão

casos em que têm dificuldades com uma criança e eu olharei junto com eles

para uma possível solução.

“QUERIDA MAMÃE”

HELLINGER para um professor: Qual é o seu caso?

PROFESSOR: Trata-se de um aluno do primeiro semestre. Ele é muito ruim

na escola. Há pouco tempo, provocou tanto que a professora bateu nele.

Outra coisa que me vem à mente é que ele acha difícil falar diante de muitas

pessoas. Ele fala baixinho. Na escola, o apelido dele é "mudo".

HELLINGER: Qual é a idade dele?

PROFESSOR: 15 anos.

HELLINGER: Vejamos o que podemos fazer.

Hellinger escolhe um representante para o garoto e o posiciona. Ele olha

imediatamente para o chão.

HELLINGER para o professor: Você sabe algo sobre a mãe dele?

PROFESSOR: Muito pouco.

HELLINGER: O garoto está olhando para um morto. Quando alguém olha

para o chão, está olhando para um morto.

Hellinger escolhe uma mulher como representante de uma morta e a coloca

deitada de costas em frente ao representante do garoto. A mulher olha para

cima, em direção ao garoto. Ele está bastante mexido e ajoelha-se devagar

junto a ela. Após um instante, senta-se sobre os calcanhares e curva-se

sobre ela. A mulher o pega pelo braço e o acaricia. Ele se endireita e lhe

estende a mão. Em seguida, coloca a mão dela sobre seus olhos.

Hellinger coloca uma representante atrás dele. Ela se vira de costas para

os dois.


HELLINGER para o grupo: A morta está olhando através do garoto.

A outra mulher está inquieta e movimenta o tronco para frente e para trás.

Hellinger coloca o representante do garoto de pé e o conduz para o lado,

mas deforma que tenha ambas as mulheres em seu campo de visão.

HELLINGER para o representante do garoto: Como está agora, melhor ou

pior?

REPRESENTANTE DO GAROTO: Melhor.

HELLINGER para o grupo: O problema está com as duas mulheres. Ele não

tem nada com isso.

A outra mulher se virou para a morta, que olha para ela continuamente e

lhe estende a mão. A mulher se contorce e vai para o chão soluçando.

Lentamente, ela se arrasta até a morta, toca sua mão, deita-se no chão e,

depois, fica de bruços. A morta a envolve com os braços. As duas se

abraçam afetuosamente.

HELLINGER para o grupo: A imagem é a seguinte: a outra mulher é a mãe

dele, a morta é a mãe dela. Provavelmente, a mãe dele perdeu a mãe muito

cedo. Ela não se atreve a ir até ela. Agora o garoto pode dizer uma palavra

que até agora ainda não disse.

Para o garoto Diga à sua mãe: “Querida mamãe."

REPRESENTANTE DO GAROTO: Querida mamãe.

Hellinger o conduz para mais perto das duas mulheres. A representante da

mãe do rapaz se levanta e envolve o filho com os braços. Eles ficam assim

por muito tempo.

A morta no chão deita-se de costas e fecha os olhos.

HELLINGER para o grupo: A morta fechou os olhos e está em paz. Ela é

reconhecida e amada. Agora pode fechar os olhos.

Para os representantes: Obrigado a todos.

Para o professor. Como você está?

PROFESSOR: Bem.


HELLINGER: Agora você pode compreender o aluno. Seria bom que

visitasse a mãe e contasse a ela o que se passou aqui. O aluno não deve

estar presente. Fale apenas com a mãe.

PROFESSOR: A mãe está no grupo.

HELLINGER: Excelente.

Para o professor: Isso é tudo.

QUEM PERTENCE AO SISTEMA FAMILIAR?

HELLINGER: Gostaria de dizer mais uma coisa sobre sistemas, sobre o nosso

sistema. Quando trabalhamos de forma sistêmica e falamos de um sistema,

ele se refere às pessoas que influenciam o presente, cujos destinos são

capazes de nos influenciar no presente. Por esse motivo, nem todos os

nossos parentes fazem parte desse sistema. Devemos fazer distinção nesse

aspecto. Por isso vou enumerá-los.

Pertencem ao sistema, no nível mais baixo, as crianças, todas as crianças,

mesmo as natimortas. Ao contrário do que escrevi em meus primeiros

livros, também as crianças abortadas. Ou seja, todas as crianças.

No nível seguinte, pertencem ao sistema os pais e seus irmãos. Isto é, além

dos pais, os tios e tias, mas não os seus parceiros. Os primos e primas

também não. Apenas os pais e seus irmãos. Na próxima instância estão os

avós, mas sem seus irmãos. Apenas os avós. Existem exceções em que os

irmãos dos avós também são incluídos, quando têm um destino pesado, mas

geralmente são apenas os avós. Algumas vezes, também alguns dos

bisavós, mas isso é raro. Esses são os parentes consanguíneos.

Também pertencem ao sistema pessoas que não são parentes

consanguíneos. Dentre os não parentes, estão os parceiros dos pais e dos

avós, incluindo parceiros anteriores. Pertencem ao sistema todos aqueles

que cederam lugar a integrantes do sistema. Isto é, se o pai ou a mãe tiverem

sido casados antes e o parceiro tiver morrido ou nossos pais tiverem se

separado deles, isso significa que temos nossos pais ou avós porque os


parceiros anteriores cederam lugar a eles. Eles pertencem ao sistema.

EMARANHAMENTOS

Por que digo isso? O que ocorre é que os filhos de um segundo casamento

imitam os parceiros anteriores. Estão emaranhados com eles. Por exemplo,

no caso de um pai que ama muito a sua filha que, contudo, está sempre com

raiva dele. Ele se pergunta: "O que fiz de errado?"

O que ele fez de errado? Ele se separou da primeira mulher. Não que isso

sempre esteja errado, mas a filha representa a ex-mulher com seus

sentimentos. Essa mulher é excluída. Talvez até falem mal dela.

Em um sistema, ninguém pode ser excluído. Quem é excluído é

representado.

Qual seria a solução aqui? Que o pai respeitasse a primeira mulher. Por

exemplo, dizendo a ela: "Eu te amei muito. Sinto muito que tenhamos nos

separado, sejam quais tenham sido os motivos. Então, pode dizer a ela:

"Por favor, olhe com carinho para a minha segunda esposa e para os meus

filhos." Quando a parceira anterior é estimada, torna-se amável. Ela é

acolhida no sistema. Então, a filha não precisa mais representá-la.

Através desse exemplo, também expliquei o que é um emaranhamento.

Alguém de uma geração posterior deve representar alguém de uma geração

anterior que foi excluído ou esquecido. Aqueles que o representam tornamse

os alunos difíceis. Assim, precisamos colocar o sistema em ordem.

Onde começa a ordem? Na própria alma. Ou seja, no momento em que o

professor acolhe em seu coração todo o sistema do aluno.

Por exemplo, existem pessoas que se queixam. Existem até mesmo alunos

que se queixam de seus pais. Ou pais que se queixam de seus pais ou os

xingam. O que faz o professor? Ele acolhe em seu coração exatamente

aqueles que são excluídos. Ele coloca o sistema em ordem em sua alma.

Então pode ajudar os outros.

QUEM PERTENCE AO SISTEMA FAMILIAR - CONTINUAÇÃO

Vou repetir mais uma vez. Pertencem ao sistema: os filhos, os pais e seus

irmãos, os avós, às vezes, alguns dos bisavós e parceiros anteriores dos


pais e avós.

Ainda há outros que pertencem: todos aqueles de cujo dano obtivemos uma

vantagem. Já vi isso em famílias ricas, por exemplo, que atuaram em

atividades de exploração de petróleo ou construção de trens em que

funcionários perderam a vida. Sua riqueza baseia-se também na morte de

outrem. Portanto, eles pertencem. Isso se mostra quando, posteriormente,

o herdeiro de uma empresa assim deixa-a ir por água abaixo. Ele se

identifica com esses mortos. Em famílias que tiveram escravos, membros

de gerações futuras se comportam como escravos. Identificam-se com os

escravos e comportam-se como tal.

EXERCÍCIO: DISSONÂNCIA E RESSONÂNCIA

Agora farei um pequeno exercício com vocês. Fechem os olhos. Vão para

dentro de seus corpos e prestem atenção ao que dói em seus corpos.

Que órgão dói? Que músculo? Que osso? Esse órgão está em dissonância

com o corpo. Entretanto, assim mostra minha experiência, talvez ele esteja

olhando para uma pessoa na família que foi excluída. Esse órgão está em

ressonância com uma pessoa excluída. Através da dor, volta a atenção para

a pessoa excluída.

Então, vamos para dentro desse órgão e olhamos com ele para a pessoa

excluída. Dizemos a essa pessoa: “Agora vejo você. Agora amo você.

Agora acolho você em meu coração."

Quando a acolhemos assim no coração, a doença pode cessar. Nós nos

tornamos saudáveis acolhendo a pessoa excluída.

Vou um pouco mais adiante. Imaginem-se entrando em um grande

corredor, como em uma catedral. Lá existem estátuas de todos os

integrantes do seu sistema. Alguns estão na frente, alguns no fundo, no

escuro. Vamos até cada pessoa, cada estátua. De repente, a estátua fica viva

para nós. Olhamos nos olhos dessa pessoa, curvamo-nos diante dela e

dizemos: "Obrigado."

Vamos até as estátuas que estão mais no escuro. Esperamos até que se

tornem vivas. Então nos curvamos e dizemos: "Agora eu vejo você. Agora


também acolho você em meu coração, seja qual tenha sido o seu destino ou

a sua culpa.”

Sentimos o que se passa em nós quando as acolhemos em nossa alma, a

forma como o coração se amplia. Sentimos como crescemos, como nos

tornamos inteiros, finalmente conectados a todos de nossa família.

Da mesma forma, olhamos para os alunos. Principalmente para os que são

difíceis e que nos preocupam. Olhamos com eles para as pessoas que

trazem à consciência através de seu comportamento e as acolhemos em

nosso coração. Essas pessoas nos ajudam a ajudar esses alunos.

Talvez agora possamos entender melhor o que significa Pedagogia

Sistêmica. O quanto ela fica mais bela do que quando olhamos apenas para

os alunos.

ALUNO COM DIFICULDADES DE APRENDIZADO

HELLINGER para uma professora: Qual é a questão?

PROFESSORA: Tenho um aluno da terceira série que vai mal em várias

matérias. Não sabemos o que fazer.

HELLINGER para o grupo: Tenho poucas informações. Porém, neste

trabalho podemos descobrir qual é a questão através de uma constelação.

Vou escolher um representante para o garoto. Veremos o que está

acontecendo.

Hellinger escolhe um representante e o posiciona.

HELLINGER para o representante: Concentre-se e siga o que se passar em

sua alma. Olharemos para isso.

O representante do garoto olha para o chão e tem os punhos cerrados.

Está com a cabeça bastante curvada, vira-se lentamente, senta-se no chão

e curva-se para baixo.

Hellinger escolhe um representante para um morto e o coloca deitado de

costas em frente ao representante do garoto.


O representante do garoto move os punhos intensamente e bate no chão.

Hellinger escolhe mais um representante e o posiciona em frente ao garoto,

de maneira que o morto fique entre os dois.

HELLINGER para o grupo: Há um morto no chão. Agora ele tocou a cabeça

do garoto com a mão. A pergunta é: quem esse aluno está representando?

Ele está representando um assassino. Mas não se trata do aluno em pessoa.

Ele está representando alguém do sistema.

O garoto está mais calmo. O terceiro representante ajoelhou-se diante do

morto e se curva para ele. Aparentemente, está representando um

agressor.

Hellinger faz o representante do garoto se levantar e o conduz um pouco

para o lado.

HELLINGER: Como está agora?

REPRESENTANTE DO GAROTO: Estou aliviado.

Nesse meio tempo, o outro representante se curva para baixo até o morto,

quase na mesma posição em que o representante do menino estava antes.

HELLINGER aponta para o representante: O problema está aqui.

Ele aponta para o representante do garoto: Ele é inocente, mas se

identifica com o assassino.

O representante do garoto treme e recua cada vez mais. Depois dá as

costas. O outro representante se deitou ao lado do morto. Eles estão de

mãos dadas.

HELLINGER para o grupo: Agora começa a reconciliação entre o assassino

e sua vítima. Eles estão de mãos dadas. Agora o assassino está chorando.

Agora estão reconciliados.

Para o representante do garoto: Vire-se de novo. Olhe e curve-se. Depois

se endireite e vire-se para o outro lado.

Depois de algum tempo: Como está agora?

REPRESENTANTE DO GAROTO: "Bem melhor."


HELLINGER para os representantes: Obrigado.

Após um instante, para a professora: Esse garoto é esquizofrênico, não é?

PROFESSORA: Pode ser.

OS PANOS DE FUNDO DA ESQUIZOFRENIA

HELLINGER: O que acabamos de ver aqui é a dinâmica fundamental de uma

esquizofrenia. A esquizofrenia não é uma doença. É algo sistêmico. Em

casos de esquizofrenia, existe um assassinato na família, às vezes, várias

gerações atrás. Os dois, a vítima e o assassino, são excluídos do sistema:

principalmente o assassino, mas frequentemente também a vítima. Isso

causa medo nesse sistema. Uma dinâmica fundamental em um sistema é:

quando alguém é excluído, essa pessoa é posteriormente representada por

outro membro da família. Assim, será preciso que um membro da família

represente tanto o assassino quanto a vítima, no futuro. Entretanto, esses

dois não estão reconciliados. Por isso, o representante sente essa oposição

entre o assassino e a vítima e fica confuso.

O que leva à cura nesse caso? Voltamos ao lugar onde ocorreu o assassinato

e reunimos a vítima e o assassino até que eles se reconciliem. Aqui

pudemos ver como essa reconciliação ocorreu.

Em casos em que isso tenha ocorrido várias gerações atrás, há

esquizofrenia em todas as gerações que se seguem. O sistema é

esquizofrênico, pois carrega em si algo não conciliado. Um membro da

família deve assumir esse aspecto não conciliado, geralmente o membro

que possui o maior amor. Isso atravessa diversas gerações, até o presente.

Porém, uma vez que, em um sistema como esse, todos estão em ressonância

com todos, podemos colocar em ordem algo que se encontra muitas

gerações atrás, como neste caso. Então, o esclarecimento atravessa todas

as gerações e chega ao presente.

Para a professora: Agora esse garoto está livre. Agora ele está melhor. A

família também está melhor. A pergunta é: o que fazer agora? Você deve

ir até os pais, dizer a eles o que aconteceu aqui e depois ir embora. Então,

esperaremos que isso exerça um bom efeito na família.


Para o grupo: Temos que considerar aqui que os representantes em uma

constelação percebem de forma exata o que se passa na família. Contudo,

essa percepção não é apenas de lá para cá, mas também daqui para lá. Ou

seja, essa constelação tem imediatamente um efeito sobre o garoto.

Há pouco tempo, fiz uma constelação parecida na Alemanha. Um professor

falou de um aluno que era tão agressivo que queriam tirá-lo da escola.

Constelamos isso. Na mesma noite, o garoto que estava em casa se

transformou. Três meses depois, ele estava completamente transformado.

Então houve uma recaída. É preciso que todos da família olhem para o

sistema e acolham todos no coração. Não apenas o menino: o pai do menino

também deve fazer isso.

Para a professora: Às vezes, é preciso um trabalho posterior. Ok? Tudo de

bom para você e para o aluno.

ALUNA COM ANOREXIA

HELLINGER para uma professora: Qual é a questão?

PROFESSORA: Uma aluna do primeiro ano do nível secundário.

HELLINGER: Quantos anos?

PROFESSORA: 12 anos. Ela está nesta sala com seus pais. Sempre foi muito

doente.

HELLINGER: Qual é a doença dela?

PROFESSORA: Ela tem depressão e distúrbios alimentares.

HELLINGER: O que quer dizer com distúrbios alimentares?

PROFESSORA: Concretamente, trata-se de anorexia.

HELLINGER: Isso basta.

Hellinger escolhe uma representante para a aluna e representantes para o

pai e a mãe. Depois pede à professora para posicioná-los um em relação

ao outro.


Ela posiciona o pai olhando para longe, através de sua mulher. A mulher

se encontra à sua frente, ligeiramente à esquerda, e também olha através

dele. A filha se encontra atrás do pai, ligeiramente à direita, virada para

ele.

HELLINGER para o grupo: Quando olhamos para isso, vemos qual é a

dinâmica na família. Ela é bem clara.

Hellinger leva o pai na direção em que este estava olhando, afastando-o

da família.

HELLINGER para o pai: Como você se sente aqui, melhor ou pior?

REPRESENTANTE DO PAI: Igual.

HELLINGER para o representante do pai: Você não está concentrado o

bastante. Vou precisar trocá-lo.

Hellinger o troca por outro representante.

HELLINGER para o grupo: Por que o troquei? Quando ele veio, primeiro

estava com as mãos cruzadas em frente à barriga e, depois, atrás das costas.

Perguntei à Angélica: "Ele tem experiência?" Ela disse que sim, mas fiquei

em dúvida. Quando alguém diz: "Minha sensação é a mesma", não está em

contato. A sensação não pode ser a mesma. Precisei trocá-lo para ajudar a

aluna.

Hellinger afasta da família o outro representante.

HELLINGER para esse representante: Como se sente aqui, melhor ou pior?

REPRESENTANTE DO PAI: Pior.

HELLINGER: Como a mãe se sente quando o marido sai?

REPRESENTANTE DA MÃE: Não quero olhar diretamente para ele, mas

gostaria de senti-lo perto de mim.

Hellinger leva a filha para trás do pai.

HELLINGER para a filha: Como se sente aqui, melhor ou pior?

REPRESENTANTE DA FILHA: Aqui o vejo.

HELLINGER: Sente-se melhor ou pior?


REPRESENTANTE DA FILHA: Melhor.

HELLINGER para o grupo: Qual é a dinâmica aqui? Quando se trata de

anorexia, é sempre a mesma, com raras exceções. O pai quer deixar a

família. Pudemos ver isso quando foi posicionado. O pai olha para fora. E

a filha? Ela diz a ele: "Melhor eu do que você." O pai não quer apenas

partir, ele também quer morrer. E a filha diz: "Eu morro no seu lugar." É

essa a dinâmica que se mostra aqui.

Quem é o cliente aqui? Com quem devo trabalhar? Com o pai.

Para a professora: Você sabe algo sobre a família do pai?

PROFESSORA: O avô morreu. O pai da aluna tem diabetes.

HELLINGER: Qual era a idade do pai quando seu pai morreu?

PROFESSORA: Não sei.

HELLINGER para o grupo: Diabetes é uma doença grave. A filha tem medo

que o pai morra. Então ela diz: "É melhor eu morrer do que você."

A pergunta é: qual seria a solução?

Hellinger vai até o representante do pai e o vira para sua filha.

HELLINGER para o pai: Olhe para a filha e diga: "Vou ficar enquanto

puder."

REPRESENTANTE DO PAI: Vou ficar enquanto puder.

Os dois se olham longamente. A filha está bastante mexida.

HELLINGER após um instante para o grupo: Estão vendo o amor da filha?

E o medo dela?

Para o representante do pai: Agora olhe para a sua mulher e diga: "Vou

ficar enquanto puder."

REPRESENTANTE DO PAI: Vou ficar enquanto puder.

A mãe toma a mão de sua filha e de seu marido. Ela encosta a cabeça sobre

o peito dele. Os três se abraçam afetuosamente.

HELLINGER após um instante: Ok, obrigado.


Para a professora: Agora você entende melhor a aluna?

PROFESSORA: Sim.

HELLINGER: É bom que ela esteja aqui e possa ver isso.

Ok, então, tudo de bom para você.

PROFESSORA: Obrigada.

OS FILHOS FAZEM DE TUDO PARA SALVAR SEUS PAIS

HELLINGER: Gostaria de dizer algo sobre essa dinâmica. Ela traz algo mais

à luz. Ela traz à luz o motivo pelo qual alguns alunos são difíceis.

Aqui não há um emaranhamento, como nos outros casos. Demonstra-se

uma dinâmica fundamental nas famílias. Os filhos fazem de tudo para

salvar seus pais. O amor do filho é tão grande que está pronto para morrer,

pois imagina que, se morrer, estará ajudando seus pais. Os professores

devem considerar isso.

Existe uma concepção amplamente difundida - por trás dela atua um

pensamento mágico - de que podemos obter a bênção de Deus ou do destino

através de um sacrifício.

Há pouco tempo ouvi uma história sobre uma família italiana. O navio do

avô foi pego por uma tempestade perto de Nápoles. Então prometeu a Deus

que, caso se salvasse, ofereceria um filho a Ele. Isso é muito comum. Isso

existe em muitas famílias. Esperam, por exemplo, que um filho vá para o

mosteiro, para que a família fique bem. A ideia é de que, quando

sacrificamos algo a Deus, Ele tem obrigação de nos ajudar. É uma ideia

amplamente difundida. Nessa família, o filho do avô recusou-se a se tornar

padre. Entretanto, o neto virou padre. Quero dizer, ele queria se tornar

padre, mas abandonou pouco antes de ser ordenado. Ele disse a seu pai: Se

eu tiver que virar padre, me mato.” Seu pai voltou à razão e disse a ele: Por

mim, você pode viver.”

Isso tem um pouco a ver com as dinâmicas na própria alma e em

relacionamentos. Peguem, por exemplo, o homem e a mulher. O homem dá

algo à mulher e a mulher se alegra com isso. Contudo, fica com a

consciência pesada. Ela pensa: "Agora também tenho que dar algo a ele."


Ela também dá algo a ele e, porque o ama, dá a ele um pouco mais. Então

ele também se sente em dívida. Também dá algo a ela e, por amor, dá um

pouco mais.

Quer dizer, temos uma necessidade de compensação. Quando damos algo,

esperamos receber algo em troca. Isso é bom para as relações pessoais.

Entretanto, transferimos essa experiência para o destino e para Deus.

Achamos que, quando fazemos uma promessa ao destino, ele deve nos

ajudar. Nesse caso, a menina diz: "Eu morro em seu lugar." Ela espera que,

se morrer, o destino deixará o pai viver. Essa ideia é amplamente difundida,

principalmente dentre as crianças. Devemos saber disso. Ou seja, trata-se

da dinâmica: "Eu no seu lugar."

Existe ainda uma outra dinâmica, que também deve ser considerada, mas

falaremos dela depois. Quis dar uma explicação com base nessa

constelação.

PROFESSORES E PAIS

Primeiro gostaria de dizer algo geral. Também já fui professor e dirigi uma

grande escola na África do Sul. Por isso, sei o que se passa com os

professores, o que se passa com os alunos e o que se passa com aqueles que

têm de dirigir uma escola.

Um professor se acrescenta a outros. Antes dele, vieram os pais. Eles deram

a vida a seus filhos. Esse é o maior serviço que alguém pode prestar. O

professor apoia os pais. Quando vê os alunos, vê seus pais por trás deles.

Acolhe seus pais no coração, seja como eles forem, pois todos os pais são

perfeitos. Como pais, são perfeitos. Fizeram tudo certo ao passarem a vida

adiante. Não retiveram nada, assim como não puderam acrescentar nada.

Transmitiram o que receberam. Desse ponto de vista, só existem pais

perfeitos.

Alguns pais têm dificuldades para criar os filhos porque também vieram de

uma família na qual houve dificuldades. Mesmo assim, todo filho que deixa

a sua família e constitui sua própria família vem de uma família que fez


tudo certo. Talvez essa família tenha feito algo diferente do que outra

família fez, pois as famílias são diferentes. Mas todas estão certas. Por isso,

quando um professor se depara com uma criança, irá honrar a

particularidade de sua família, sem a ideia de que ela deveria ser diferente.

Quando olhamos para a vida, vemos sua diversidade. Além de cada pessoa

ser diferente das outras, cada família é diferente das outras. Entretanto,

toda família transmite algo especial aos filhos.

Às vezes, existe a ideia de que existe uma família ideal e de que as outras

famílias deveriam segui-la. No entanto, em uma família que talvez

consideremos difícil e na qual os filhos vivenciem coisas pesadas, o difícil

e o pesado dão às crianças uma força especial: uma força que as crianças

provenientes de uma família ideal não possuem. Por isso, a atitude

fundamental que mais serve à vida é aquela com a qual concordamos com

tudo como é, sem precisar modificar nada.

Quando vou ao encontro de alguém com essa postura, ele não precisa ter

medo de mim. Por exemplo, medo de que eu queira mudar algo em sua

família ou critique algo nela. Pelo contrário: pode ficar de igual para igual

diante de mim. Então surgem novas possibilidades para ambos.

Agora gostaria de mostrar na prática como se pode lidar com uma família

que diz ter dificuldades com uma criança. Depois falarei mais sobre isso.

MAMÃE, VOU MORRER EM SEU LUGAR

Hellinger pede aos pais de um garoto que diz que não quer mais estudar,

que se sentem ao seu lado.

HELLINGER para o grupo: Já conversei com esses pais antes. Eles me

disseram que são separados. Ali está o filho deles, com quem dizem ter

dificuldades. Mas crianças nunca são difíceis, sabiam? Não existem

crianças difíceis. Aquilo que parece ser difícil por fora é, na verdade, um

amor especial na criança. A criança que causa problemas está ligada a

alguém que não tem lugar na família. É por isso que não olho para a criança.

É por isso que eu o deixei sentado em seu lugar. Primeiro quero falar com


os pais, para descobrir quem o filho ama ocultamente. Então os pais podem

ver o filho de outra maneira, e a criança também pode se ver de outra

maneira.

Os pais concordam com a cabeça.

HELLINGER para os pais: Gostei dele assim que o vi.

Os pais ficam radiantes. O pai olha para o filho e bate no peito.

HELLINGER: Também gostei do pai. E a mãe? Ela tem dificuldades. De que

tipo não sabemos.

Para o grupo: Vou demonstrar como podemos proceder aqui.

Hellinger escolhe uma representante para a mãe e a posiciona.

HELLINGER para essa representante: Você representa a mãe. Siga o

movimento de seu corpo. Vamos apenas olhar.

A representante da mãe tem uma respiração pesada. Ela pousa uma das

mãos sobre o peito e começa a tremer. Ela olha para o chão.

Hellinger escolhe outra representante e a pede para se deitar de costas em

frente à representante da mãe.

A representante da mãe fecha os punhos.

HELLINGER para o grupo: Olhem para as mãos dela.

A representante da mãe segura o peito, como se estivesse sentindo dores

intensas.

Hellinger chama o garoto e pede que se deite ao lado da pessoa que está

no chão. A representante da mãe dá vários passos para trás. Ela relaxa os

punhos, mas continua segurando o peito, como se sentisse dores fortes.

Tem uma respiração pesada e está curvada.

HELLINGER para a representante da mãe: Você está melhor ou pior desde

que seu filho se deitou ali?

REPRESENTANTE DA MÃE mal consegue falar: Estou sentindo dores.

HELLINGER quando ela quer dizer algo: Não diga nada. Chegue mais perto.


Ela vai curvada e sentindo muitas dores até a mulher que está no chão.

HELLINGER: Olhe para ela.

A representante da mãe se contorce, sob intensas dores, e recua

lentamente. Depois se endireita um pouco.

HELLINGER para o filho no chão: Como você se sente aqui?

FILHO: Estou bem.

A representante da mãe continua com as mãos sobre o peito e sente dores

intensas.

Hellinger pede ao filho que se levante e se posicione diante da mãe, com a

mulher deitada no chão entre os dois. Esta olha para a representante da

mãe. A representante da mãe se endireita e se acalma.

HELLINGER para o grupo: A mulher no chão é uma morta. Ela está olhando

para a representante da mãe. Ela quer algo dela. Porém, não sabemos quem

ela é.

Após um instante, Hellinger coloca a mãe no lugar de sua representante.

Ela permanece parada por muito tempo. Depois faz movimentos

desamparados com as mãos.

HELLINGER após um instante para a mãe: Essa morta é sua. É um filho

morto.

MÃE: É O meu filho mais velho, que está muito longe de mim.

HELLINGER para o grupo: Falar geralmente consome a energia. Vemos tudo

o que importa nos movimentos das pessoas posicionadas. Minha visão, a

partir de tudo o que está acontecendo aqui, é a de uma criança abortada.

A mulher concorda com a cabeça.

HELLINGER: Sim, olhe.

A mãe respira fundo e começa a soluçar.

HELLINGER para o grupo: O filho dela ama essa criança. Ele quer que essa

criança seja lembrada.


O pai é tocado e concorda com a cabeça. Ele também respira fundo.

HELLINGER para o grupo: Não vou explorar mais isso. Apenas trouxe à luz.

Agora podemos compreender melhor o que há de errado com a criança.

Vou explicar brevemente a dinâmica. A mãe quer morrer. Ela quer seguir

a criança. O filho diz a ela: "Querida mamãe, vou morrer em seu lugar."

Por isso, ele não tem mais o que fazer na escola. Não há motivo. Se quer

morrer, não precisa mais fazer nada.

Hellinger coloca o pai diante do filho.

HELLINGER para o pai: Espere mais um pouco. Vá para dentro do seu

sentimento e olhe para seu filho.

Os dois se olham longamente. O pai sorri para o filho. Hellinger empurra

o filho mais para perto do pai. O pai vai em sua direção e os dois se

abraçam longamente. Em seguida, Hellinger faz com que o garoto se vire

e o conduz a alguns passos para frente.

HELLINGER para o filho: Como se sente aqui, melhor ou pior?

FILHO: Pior.

Hellinger pede ao pai que se sente novamente.

HELLINGER para o grupo: O filho sente-se melhor lá. Pudemos ver isso.

Ele sente-se melhor lá que junto do pai. Ele não tem suporte junto ao pai.

Vou parar por aqui. Obrigado aos representantes.

Os pais e o garoto sentam-se ao lado de Hellinger.

AJUDA EM SINTONIA COM O DESTINO DE UMA CRIANÇA

HELLINGER para o grupo: Como professores, às vezes vocês são

confrontados com situações assim. Aparece uma criança que é difícil. Ela

não apresenta rendimento nenhum na escola e vocês pensam que talvez

possam receber alguma ajuda dos pais. Às vezes, porém, não vem nenhuma

ajuda deles, como é o caso aqui. A pergunta é o que podemos fazer aí. Vejo

em seus rostos que essa é uma pergunta difícil para vocês, pois são

confrontados frequentemente com essa situação.


Para os diretores da escola: Vou fazer um exercício com vocês.

Hellinger coloca os dois diretores da escola lado a lado e põe o garoto

diante deles. Atrás do garoto, numa posição afastada, ele posiciona um

representante do destino desse garoto.

HELLINGER para os diretores da escola: Ao invés de olhar para o garoto,

olhem para o destino dele.

Após um instante a diretora se inclina e ergue novamente o olhar.

HELLINGER para os diretores da escola: Como se sentem agora?

PRIMEIRO DIRETOR: Melhor.

SEGUNDO DIRETOR: Melhor.

HELLINGER para o grupo: Se olharmos para o garoto agora, como ele está?

Está melhor.

Para os representantes: Obrigado.

Para o grupo: Como ajudantes, temos a ideia de que devemos, a qualquer

preço, manter uma pessoa viva e ajudá-la a ter uma vida feliz. Entretanto,

ela está entregue a outras forças, diante das quais nossos esforços

fracassam. Ao invés de nos vermos apenas diante da pessoa que busca ou

necessita da nossa ajuda, olhamos para além dela. De repente, sentimos que

há outras forças em ação, que são maiores que nós. Então nos acalmamos.

Muitas vezes, também conseguimos olhar de outra maneira para a criança,

sem preocupações.

Os diretores sorriem e concordam com a cabeça.

HELLINGER: Esse é o alívio. Agora fiz algo especialmente para os

professores.

SEM PREOCUPAÇÕES

HELLINGER para o grupo: Quando ocorre algo como no caso aqui, em que

ambos os pais estão emaranhados em algo e permanecem no

emaranhamento por algum tempo, não precisamos nos preocupar.

Para os pais: Não me preocupo com a mãe e não me preocupo com o pai.


Agora veio à luz algo que colocou em movimento alguma coisa em sua

alma. Esse movimento continua. Ele precisa de tempo. Então vocês se

surpreendem, após algumas semanas ou meses, que algo está diferente.

Continuem se surpreendendo! Ok? Tudo de bom para vocês.

Os dois agradecem.

HELLINGER para o pai: Seu filho precisa do pai. Dê a ele um lugar em seu

coração.

PIERCING

HELLINGER para o grupo: Existem sinais para os quais devemos estar

atentos também em um aluno. Aqueles que fazem piercings deixaram de

lado o respeito pela própria vida. Esse garoto, por exemplo.

Vocês fariam isso com uma pessoa que amam? Fariam isso com ela? Eles

fazem isso com o próprio corpo? Desistiram da vida. Isso é um sinal e

devemos levá-lo a sério.

É claro que dá pra remover o piercing depois.

Para o garoto: Ok?

Ele concorda com a cabeça.

CRIANÇAS DIFÍCEIS

HELLINGER para o grupo: Gostaria de dizer algo sobre doenças. Talvez

vocês achem que isso não tem nada a ver com o que se passa aqui. Eu

percebi que, quando alguém tem uma determinada doença, principalmente

quando se trata de uma doença com risco de morte ou de um sintoma

corporal em especial, aquilo que dói, aquilo que o torna doente, está em

ressonância com outra pessoa. Está em ressonância com uma pessoa que

foi excluída da família ou que foi esquecida nela. Embora a doença não

olhe para nós, ela olha para outra pessoa e quer direcionar o nosso olhar


para ela. Se honrarmos essa pessoa, se a acolhermos em nosso coração, a

doença pode ir embora. Muitas vezes, ela pode simplesmente ir embora.

Ela cumpriu sua missão.

O mesmo acontece no caso de uma criança difícil. A criança difícil está em

ressonância com outra pessoa. Como ele, por exemplo: estava em

ressonância com a criança abortada. Então, ao invés de querer corrigir o

problema, por exemplo, através de advertências que de nada adiantam,

olhamos com a criança para a pessoa em sua família que quer ser acolhida.

Essa ideia já nos alivia e alivia a criança também. Ela já não é "tratada”

por nós, vamos com ela por um certo caminho. Nesse caminho, ela se sente

segura conosco.

O AMOR OCULTO

HELLINGER um garoto de aproximadamente 16 anos: Ouvi falar que você

é meio agitado na escola. É verdade?

GAROTO: É.

HELLINGER: O que você faz quando está agitado?

GAROTO: EU me comporto mal, chamando a atenção de todos na aula.

HELLINGER: O que você faz, quando tem esse comportamento?

GAROTO: Fico explosivo.

HELLINGER: Você tem uma energia bem grande.

GAROTO: Sim.

HELLINGER: Quando uma pessoa não consegue fazer nada direito com essa

energia, acaba tendo que fazer algo assim.

GAROTO: Sim.

HELLINGER: Quem mais em sua família tem energia assim?

GAROTO: Ninguém.

HELLINGER: Você é o único?


GAROTO: Sim.

HELLINGER: Seus pais ainda estão juntos?

GAROTO: Não.

HELLINGER: O que houve?

GAROTO: Eles se separaram há 10 anos.

HELLINGER: Com quem você mora agora?

GAROTO: Com o meu pai.

HELLINGER: Você gosta muito dele.

GAROTO: Sim.

O garoto está muito mexido e concorda com a cabeça.

HELLINGER: Estou vendo.

O garoto se alegra e concorda com a cabeça.

HELLINGER: Como vai o seu pai?

GAROTO: Mal.

HELLINGER: O que há com ele?

GAROTO: Está com a saúde muito ruim.

HELLINGER: O que ele tem?

GAROTO suspira: Tem um edema pulmonar e insuficiência renal. Tem

outros problemas também que eu não sei direito.

HELLINGER: Ok. Vou trabalhar com você e com seu pai. Pode ser?

GAROTO: Sim.

Hellinger escolhe um representante para o pai e o posiciona.

HELLINGER para esse representante: Agora você vai acolher o pai do

menino em seu coração. Preste atenção ao que se passa em seu corpo e

siga-o. Então, procuraremos uma solução boa para todos.

O representante fica parado por muito tempo, sem se mover.


HELLINGER para o garoto: Aconteceu algo em particular na família do seu

pai?

GAROTO: Por exemplo, o quê?

HELLINGER: Houve alguém que morreu cedo?

GAROTO: Sim.

HELLINGER: Quem?

GAROTO: O pai dele.

HELLINGER: Quantos anos tinha o seu pai quando o pai dele morreu?

GAROTO: 19 anos.

HELLINGER: De que o pai dele morreu?

GAROTO: Nem eu sei.

HELLINGER: Tem alguém da família aqui?

GAROTO: Sim, minha mãe.

Hellinger chama a mãe e pede a ela que se sente ao seu lado.

HELLINGER para a mãe: O que aconteceu na família do pai dele?

MÃE: O pai do pai dele morreu aos 45 anos, durante uma cirurgia de úlcera.

Hellinger escolhe um representante e o coloca deitado de costas em frente

ao pai.

HELLINGER para o grupo: O representante do pai olhou para o chão. É por

isso que coloquei uma pessoa no chão em frente a ele. Não sei quem é, mas

talvez seja seu pai.

Após um instante, Hellinger coloca o garoto diante de seu pai, de maneira

que o morto fique entre os dois.

HELLINGER para o garoto: Diga a seu pai: "Por favor, fique."

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER após um instante: Diga mais uma vez.


GAROTO: Por favor, fique.

Ele diz isso de forma agressiva e fecha os punhos.

HELLINGER após um instante: Diga bem alto.

GAROTO: Por favor, fique.

Ele grita, com um movimento profundo, e chora. Hellinger o faz repetir

diversas vezes. Então o garoto começa a soluçar.

Hellinger o conduz até seu pai.

HELLINGER para o garoto que está diante do pai: Diga: "Por favor, fique."

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER: "Por favor."

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER: "Por favor.”

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER: “Por favor.”

GAROTO: Por favor.

Ele ainda está com os punhos fechados. O pai não se mexe.

HELLINGER para o pai: Diga a ele: "Vou morrer."

Pai: Vou morrer.

HELLINGER para o garoto: Diga: "Por favor, fique."

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER para o pai: Diga: "Vou morrer."

PAI: VOU morrer.

HELLINGER: "Estou doente, vou morrer.”

PAI: Estou doente, vou morrer.

HELLINGER: "Assim como meu pai."

PAI com voz clara: Assim como meu pai.


Pai e filho se olham longamente. O garoto respira fundo e ainda está com

os punhos fechados. Então abaixa a cabeça e relaxa os punhos.

HELLINGER para o garoto: Diga: "Querido papai."

GAROTO: Querido papai.

HELLINGER: Olhe para ele e diga: "Por favor, fique.”

GAROTO: Por favor, fique.

HELLINGER para o pai: Diga-lhe: "Mesmo se eu morrer, você continuará

sendo meu filho.”

PAI: Mesmo se eu morrer, você continuará sendo meu filho.

Hellinger conduz o garoto para perto de seu pai. Eles se abraçam de forma

afetuosa por muito tempo. O pai segura o filho e acaricia suas costas.

Quando eles se separam, o pai pousa uma mão sobre o ombro do filho.

Eles ficam se olhando por muito tempo. O garoto respira fundo. Quando o

pai dá um passo para trás, Hellinger pede que ele se deite no chão ao lado

do representante do seu pai e olhe para ele. Ele vira o garoto e o faz olhar

para seu pai e seu avô no chão.

O pai e o avô se olham e se dão as mãos.

HELLINGER após um instante para o garoto: Diga a seu pai e a seu avô:

"Vocês continuam vivos em mim."

GAROTO: Vocês continuam vivos em mim.

HELLINGER: "VOU continuar vivo, em sua memória."

GAROTO: VOU continuar vivo, em sua memória.

HELLINGER: “Farei algo grande em minha vida, em sua memória.”

GAROTO: Farei algo grande em minha vida, em sua memória.

O garoto está bastante comovido. Ele respira fundo e fecha novamente os

punhos.

HELLINGER após um instante para o garoto: Deite-se ao lado deles.

Ele se deita no chão, ao lado de seu pai e olha para ele. Porém, o pai não


olha para o filho.

HELLINGER para o garoto: Como você se sente aí, melhor ou pior?

GAROTO: Pior.

HELLINGER para o pai: Como se sente com seu filho deitado ao seu lado?

PAI: Sinto-me desconfortável quando ele se deita ao meu lado.

HELLINGER: Diga a seu filho: "Vá!"

PAI: Vá!

Hellinger sinaliza ao filho que se levante. Ele se levanta e se vira para o

outro lado.

HELLINGER: Como você está agora?

GAROTO: Estou zangado.

Hellinger o vira novamente para o pai e o avô e o coloca de frente para

um representante da morte, posicionado do outro lado.

HELLINGER para o garoto: Esta é a morte.

O garoto fecha os punhos, mas a morte não se mexe. O garoto respira

fundo e olha novamente para seu pai no chão. Ele respira cada vez mais

rápido e parece estar com muita raiva.

HELLINGER após um instante para o garoto: Diga à morte: "Vou vencer

você."

GAROTO com voz agressiva: Vou vencer você.

HELLINGER: Alto.

GAROTO gritando alto e agressivamente: Vou vencer você.

Ele olha longamente para a morte, de forma agressiva.

HELLINGER: “Vou vencer você."

GAROTO: Vou vencer você.

HELLINGER: “Mesmo que isso me custe a vida.”


GAROTO de forma desafiadora e agressiva: Mesmo que isso me custe a

vida.

Ele ainda está com os punhos fechados. A morte permanece imóvel e olha

para os mortos.

HELLINGER para o garoto: A morte não está olhando para você. É como se

você nem existisse para ela.

O garoto olha novamente para o pai e o avô no chão. Após um instante,

respira fundo e começa a chorar. Está tremendo de tanto chorar. Ele olha

para a morte e abaixa a cabeça. Depois limpa as lágrimas do rosto. Luta

consigo mesmo por muito tempo e relaxa os punhos.

HELLINGER para o garoto: Diga a seu pai e a seu avô: "Vou ficar mais um

pouco."

GAROTO: VOU ficar mais um pouco.

HELLINGER: "Depois morrerei também.”

GAROTO: Depois morrerei também.

HELLINGER para o grupo: Agora ele relaxou as mãos. Agora não há mais

agressão.

Para o garoto: Agora você está junto com a verdade. Agora você é grande.

Só as crianças é que sentem raiva. Ok?

GAROTO: Sim.

HELLINGER para os representantes-. Obrigado a todos.

O garoto senta-se novamente ao lado de Hellinger.

HELLINGER para a mãe: Como você está?

MÃE suspira: Melhor.

HELLINGER: Você tem um grande filho, não é mesmo?

MÃE: Sim, um grande filho.

HELLINGER: Ele tem muito amor.


O filho respira fundo.

MÃE: Sim.

HELLINGER: Exato.

O garoto olha tranquilo para Hellinger, que lhe dá uma pancada com o

punho entre os ombros.

HELLINGER: Essa foi sua ordenação como cavaleiro.

O garoto ri e o grupo ri com ele. Hellinger e o garoto dão-se as mãos.

HELLINGER: Ok, tudo de bom pra você.

O grupo bate palmas.

HELLINGER para o grupo: O que acabei de fazer, a pancada, é apenas um

dos lados. Quando algo essencial muda em alguém, a pessoa deve receber

uma pancada, não necessariamente tão forte quanto a minha. Só então a

mudança é registrada no sistema nervoso.

Para os professores presentes: Agora os professores vão ficar felizes

quando ele voltar à aula. Todas as crianças são amáveis. Só é preciso

descobrir onde seu amor se esconde. Aqui veio à luz de maneira

maravilhosa onde ele estava escondido.

ONIPOTÊNCIA E IMPOTÊNCIA

Ainda há algo importante a ser observado aqui. Muitos creem poder tomar

a vida nas mãos, como se tivessem o poder sobre a vida e a morte.

Principalmente as crianças pensam assim. Por isso, muitas vezes, as

crianças têm na alma a ideia de que seus pais estarão melhores se

assumirem um sofrimento no lugar deles. Como se tivessem o poder de

absolver seus pais através de um sacrifício. Então, às vezes, dizem em suas

almas: “É melhor que eu morra em vez de você.” Então, têm sentimentos

de onipotência.

Como nos tornamos adultos? Quando percebemos o quanto nosso poder é

limitado. É preciso lutar bastante para chegar nesse estágio. Muitos adultos

ainda acreditam poder absolver outros de seus destinos. Alguns professores

também acreditam que podem mudar algo em seus alunos. Alguns creem


até mesmo poderem mudar o mundo, mas também acabam percebendo que

isso não é possível. No exemplo desse garoto pudemos ver como é dura

essa luta e como é difícil essa renúncia. Que luta! Mas ele conseguiu.

A VIDA CURTA

HELLINGER para um garoto de aproximadamente 15 anos que se apresenta

para trabalhar com ele: O que você anda aprontando?

GAROTO: O que você quer dizer?

HELLINGER: Você anda causando problemas a algumas pessoas?

GAROTO: Sim.

HELLINGER: Que tipo de problema?

GAROTO: Não estou me dedicando na escola.

HELLINGER: Você é preguiçoso? Eu também era, mas só quando pequeno.

Eles sorriem um para o outro.

HELLINGER: Você não acredita?

GAROTO: Não.

HELLINGER: Para algumas pessoas, não vale a pena se dedicar na escola.

O garoto olha para Hellinger, curioso.

HELLINGER: Principalmente para aqueles que acham que não vão ficar

velhos.

O garoto fica sério e concorda com a cabeça.

HELLINGER: Por que deveriam se esforçar?

Os dois se olham. Depois o garoto olha para o chão, pensativo.

HELLINGER: Quero lhe dizer uma coisa. Para morrer não é preciso ir à

escola. Todos são capazes disso sem ter ido à escola.

O garoto concorda com a cabeça.


HELLINGER: Já no caso da vida, é diferente.

Os dois se olham. O garoto concorda com a cabeça.

HELLINGER: Feche os olhos. Imagine-se de volta à sua infância. Então você

vai subindo a escada da vida. Cada degrau dessa escada é um ano. Você

sobe até chegar ao degrau de agora.

Após um instante: Quantos degraus ainda vê à sua frente?

O garoto fica sério.

GAROTO: 10.

HELLINGER: ISSO é pouco.

O garoto balança a cabeça.

HELLINGER: 10 degraus é pouco. Para isso não valem os esforços na escola.

O garoto fica muito sério.

HELLINGER: Vamos fazer uma coisa, nós dois?

O garoto concorda.

HELLINGER: Mesmo?

Hellinger estende a mão ao garoto, que a toma.

HELLINGER: De acordo?

O garoto diz que sim com a cabeça.

HELLINGER: Ok, então vou fazer algo com você. Diga-me algo sobre sua

família. Seus pais ainda estão juntos?

GAROTO: Sim.

HELLINGER: Você tem irmãos?

GAROTO: Sim, uma irmã mais velha.

HELLINGER: Algum dos seus pais teve um relacionamento anterior?

GAROTO: Não sei.

O garoto diz que seus pais também estão na sala. Hellinger pede que eles


se sentem ao seu lado.

HELLINGER para o pai: Aconteceu algo em particular na sua família de

origem?

PAI: Houve um assassinato.

HELLINGER: Quem foi assassinado?

PAI: O pai da minha mãe.

HELLINGER: Por quem?

PAI: Por um assassino desconhecido.

HELLINGER: Quantos anos tinha seu avô?

PAI: Uns 40.

Hellinger escolhe um representante para o avô assassinado e o posiciona.

Após um instante, o avô olha a seu redor e dá várias voltas em torno de si

mesmo. Depois olha para o chão, como se estivesse olhando para vários

mortos.

HELLINGER para o pai: O avô esteve na guerra ou em algum outro tipo de

conflito?

PAI: Ele era boxeador.

HELLINGER: Houve alguma morte durante uma luta de boxe?

PAI: Não.

HELLINGER: Ele está olhando para muitos mortos.

PAI: Eu não sei se ele já matou alguém.

HELLINGER: Não estou dizendo que ele tenha matado alguém. Mas está

olhando para muitos mortos.

PAI: Muitos dos seus filhos morreram cedo. Minha mãe tem 60 anos. Desde

os 48 anos tem várias doenças estranhas.

HELLINGER: Vou tentar uma coisa.

Hellinger escolhe seis mulheres e as coloca deitadas no chão em frente ao


avô. Após um instante, ele pede ao garoto que se deite junto com elas.

O avô se ajoelha e quer tocar as mulheres, uma após a outra. Mas elas

desviam dele.

HELLINGER para o grupo: Vocês podem ver como essas mulheres têm medo

dele.

O avô se ajoelha diante da próxima mulher. Ele quer tocá-la, mas hesita.

HELLINGER para o grupo: O avô está com medo de tocá-la.

Após um instante para o garoto: Como você se sente aqui?

GAROTO: Não faz diferença para mim.

HELLINGER: Exato. Para quem encerrou a vida, não faz diferença.

O avô continua se deslocando até a sexta mulher. Hellinger pede ao garoto

que se levante e se sente ao seu lado.

HELLINGER para a mãe: Aconteceu algo em particular na sua família?

MÃE: Não.

Hellinger pede ao avô que se deite ao lado das mulheres mortas.

HELLINGER para o avô: Você está melhor ou pior aqui?

Avô: Estou um pouco mais calmo.

HELLINGER para os representantes: Podem se sentar, obrigado.

Em seguida, Hellinger posiciona o pai e uma mulher à sua frente.

HELLINGER para essa mulher: Você é o segredo dessa família.

Após um instante, o segredo se vira e dá as costas para o pai. O pai dá um

passo para trás, depois mais um.

HELLINGER para o pai: Você sabe o que é o segredo?

PAI: Acho que é minha mãe.

HELLINGER: O que aconteceu com ela?

PAI: Acho que ela não tem vontade de viver.


HELLINGER: Sei.

Hellinger conduz o pai para diante do segredo, sua mãe.

HELLINGER para o pai: Olhe para ela e diga: "Por favor, fique."

O pai está bastante comovido e hesita. Depois olha para o chão.

HELLINGER após um instante: Diga.

PAI: Por favor, fique.

Ele e a mãe se olham longamente. Após um instante, Hellinger leva a mãe

para o lado, afastando-a do filho.

HELLINGER para a mãe: Como você está aqui?

MÃE: Melhor.

Hellinger pede ao pai e à representante de sua mãe que se sentem.

HELLINGER para o garoto: O que há com você agora?

GAROTO: Estou me perguntando o mesmo.

HELLINGER para o grupo: Não podemos avançar. Existe um segredo.

Para o garoto: Vou lhe propor uma coisa. Aja como se tivesse apenas 10

anos para viver.

GAROTO: Como?

HELLINGER: Você e quem sabe como. 10 anos. Você já pode começar.

GAROTO: O que significa isso?

HELLINGER: Aja como se você tivesse apenas mais 10 anos.

O garoto pensa, longamente, e fica inquieto.

HELLINGER após um instante para o garoto: Olhe para seus pais e diga a

eles: "Vou viver por pelo menos mais 10 anos."

GAROTO olha para seus pais: Vou viver por pelo menos mais 10 anos.

HELLINGER: "VOU me comportar como se tivesse pelo menos mais 10

anos."


GAROTO: VOU me comportar como se tivesse pelo menos mais 10 anos.

O garoto e seus pais se olham longamente. Depois o garoto desvia o olhar

deles.

HELLINGER para o garoto: Olhe mais uma vez para eles e diga: "Vocês não

precisam se preocupar.”

GAROTO: Vocês não precisam se preocupar.

HELLINGER: "Por pelo menos 10 anos ainda estarei fazendo alguma coisa."

GAROTO: Por pelo menos 10 anos ainda estarei fazendo alguma coisa.

HELLINGER: "Talvez até algo com o que vocês possam se alegrar.”

Quando começa a falar, o garoto para de repente e começa a rir. Seus pais

também riem.

HELLINGER: Ok. Vou parar por aqui.

Para o garoto: Tudo de bom.

ABENÇOE-ME, SE EU CONTINUAR VIVO

HELLINGER para o grupo: Gostaria de fazer mais um comentário geral.

Quando olhamos para o que Vivenciamos hoje, vemos que, por trás daquilo

que superficialmente parece ser importante, atua algo completamente

diferente, ao qual o indivíduo está entregue. Quando, por exemplo, um

aluno se comporta de maneira estranha na escola, algumas pessoas dizem:

"Ele poderia mudar, só precisa de boa vontade." Porém, não é assim. Há

outras forças em ação as quais o atingido não compreende.

Falei mais uma vez com o pai e também obtive retornos. Repassei todo o

processo mais uma vez, mentalmente. Quando, por exemplo, o avô foi

constelado, algumas mulheres do grupo ficaram assustadas. Sentiram- se

ameaçadas. Também com base no que vimos na constelação, fica claro que

algo de ruim deve ter acontecido.

Para o pai: Então constelei o segredo, e você disse que era sua mãe. Foi

demonstrado que sua mãe quer morrer. Como assim ela quer morrer? Ela

quer ir até os mortos do avô.


Quando você disse: "É minha mãe", você sorriu. Você sabe que há mais

coisas escondidas por trás. Minha suposição é que você esteja dizendo em

seu coração para a sua mãe: "É melhor eu ir do que você." Seu filho sente

isso. Ele diz a você, seu pai, com um amor profundo: "É melhor eu ir do

que você."

Durante a pausa, disse a ele algo que talvez o ajude. Ele deve ir até esses

mortos e até o avô e dizer: "Abençoe-me, se eu continuar vivo." E deve ir

até sua mãe e dizer a ela internamente: "Abençoe-me, se eu continuar vivo".

E deve dizer internamente a você e a seu pai: "Querido papai, abençoe-me,

se eu continuar vivo. "

Para o pai: Você fará isso, é claro que fará.

O pai está bastante comovido e concorda com a cabeça.

PAI: Vou fazer isso com o coração.

HELLINGER: Exato. Faça isso com o coração.

PAI: Obrigado.

O EMARANHAMENTO

HELLINGER para o grupo: Estamos vinculados aos destinos de nossa

família ao longo de várias gerações passadas. Quando nos deparamos com

pessoas que, de acordo com a nossa compreensão, comportam-se de

maneira estranha ou fazem coisas ruins, sabemos que estão vinculadas a

algo que não compreendem. Então olhamos para além deles e, sem intervir,

respeitamos seu destino especial. Quando respeitamos esse destino sem

querer fazer nada, eles ganham força.

Muitas vezes, temos a ideia do livre arbítrio humano. Possuímos livre

arbítrio, mas apenas limitado. No que diz respeito às coisas grandes, como

vida e morte, são outras forças que regem. O que podemos fazer então?

Nós nos entregamos a essas forças, também com relação ao nosso destino.

Depois de entregarmo-nos a essas forças, às vezes podemos ajudar outras

pessoas, mas em sintonia com elas.

Então, diminui o trabalho dos professores, o trabalho dos pais, e as crianças

se sentem melhor. Por trás de tudo está uma grande confiança de que, no


final, tudo se una e de que as distinções que fazemos entre bem e mal se

desfaçam no final. Não há mais bons nem maus: apenas pessoas.

AMEI MUITO SEU PAI

HELLINGER: Tem mais alguém que queira trabalhar comigo?

Uma professora chama uma garota de aparentemente 16 anos, que se senta

ao lado de Hellinger. A garota olha rapidamente para Hellinger, sorri e

olha para o chão.

HELLINGER para o grupo: Quando vocês olham para ela, quantos anos ela

tem em sua alma e em seu sentimento? Três anos. Algo aconteceu quando

ela tinha três anos.

Para a garota: O que aconteceu?

Ela balança a cabeça e olha para a mãe no meio do grupo. Hellinger

chama a mãe. Ela se senta ao lado dele.

HELLINGER para a mãe: O que aconteceu quando sua filha tinha três anos?

MÃE: NÓS nos mudamos para a casa do meu marido atual.

A garota começa a chorar e soluça.

HELLINGER: O que houve com o pai dela?

MÃE: O pai dela nos abandonou. Foi embora com outra mulher.

HELLINGER: Ela sente falta do pai, logo vemos isso. Ela sente falta do pai.

Hellinger olha para ela. Ela balança a cabeça intensamente.

HELLINGER para o grupo: Ela está balançando a cabeça. Sabem por quê?

Tem medo de admitir na frente da mãe.

Hellinger olha para a mãe.

HELLINGER para a mãe: Diga a ela: "Amei muito seu pai."

MÃE: Amei muito seu pai.


HELLINGER: Diga com amor.

Quando ela vai responder rapidamente: Devagar. Lembre-se de como você

o amou. Então diga a ela a partir de sua alma.

Ela dá um suspiro profundo.

HELLINGER: Olhe para ela.

MÃE: Amei muito seu pai.

A mãe está muito mexida. A garota chora.

Hellinger pede à mãe que se sente ao lado da filha e a tome nos braços.

Ela abraça, beija e acaricia a filha. Depois as duas se sentam de mãos

dadas.

HELLINGER para o grupo: Isso é tudo o que preciso fazer.

Para a mãe: Tudo de bom para vocês.

AMBOS OS PAIS

HELLINGER para o grupo: Gostaria de dizer mais uma coisa. Toda criança

tem dois pais. Para uma criança, é preciso poder amar ambos os pais. Uma

criança não compreende por que seus pais se separam. Ela ama ambos da

mesma maneira. Entretanto, quando os pais se separam e a criança fica com

a mãe, às vezes ela se torna dependente da mãe em todos os aspectos. Às

vezes, tem medo de mostrar que ama o pai da mesma maneira. Ela tem

medo de que a mãe fique com raiva e de que, além do pai, acabe perdendo

também a mãe. Contudo, secretamente, ela sempre ama o pai. Quando

escuta a mãe dizer que amou muito o pai, pode mostrar à mãe que também

ama o pai. Então a criança se sente aliviada.

A mãe aqui entendeu isso bem. Agora a filha pode facilmente dizer que

ama o pai. Ela também sabe que pode ir até o pai. Lá ela se sentirá bem.

Agora ela fica feliz.

Para a garota: Pode mostrar à vontade. A mãe também fica feliz.

Mãe e filha sorriem uma para a outra. A mãe envolve a filha com o braço

e a beija.


HELLINGER para o grupo: Ainda estava faltando isso.

MAMÃE, POR VOCÊ EU FAÇO TUDO

Um garoto de aparentemente 14 anos senta-se ao lado de Hellinger.

HELLINGER para esse garoto: Olá. Quer trabalhar comigo?

GAROTO: Sim.

HELLINGER para o grupo: Ele diz isso cheio de força.

Para o garoto: Gosto disso. Você está com algum problema?

GAROTO: Sim.

HELLINGER: De que tipo?

GAROTO: Na escola e em casa.

HELLINGER: O que está acontecendo em casa?

GAROTO: Eu fico nervoso com meu pai muito rápido.

HELLINGER: Quem mais fica nervoso com seu pai?

GAROTO: SÓ eu.

HELLINGER: EU sei quem mais fica nervoso. Sua mãe, obviamente. Sabe

como posso ver isso? Você é o filhinho da mamãe.

O garoto olha para Hellinger e fica pensativo.

HELLINGER: O que aconteceria se sua mãe dissesse: "Eu respeito seu pai."

O que aconteceria?

GAROTO: Para mim? Acho que eu ficaria feliz.

HELLINGER: É? Então vamos experimentar para ver, pode ser?

GAROTO: Sim.

HELLINGER para o grupo: Como vocês sabem, posso me enganar muitas

vezes, mas uma constelação nunca erra.


Hellinger escolhe como representante o garoto da constelação "A vida

curta”.

HELLINGER para esse garoto: Posso confiar em você?

O garoto diz que sim com a cabeça.

HELLINGER: Você é o pai dele.

Em seguida, Hellinger toma como representante a garota da constelação

anterior "Amei muito seu pai". Ela representa a mãe.

HELLINGER para esses representantes: Prestem atenção ao que acontece

em seus corpos e em suas almas e ajam de acordo com isso.

A representante da mãe olha para o chão. Ela tenta se virar para o outro

lado, mas vacila.

Hellinger pede a uma mulher que se deite diante da mãe de costas. Após

um instante, a mãe dá vários passos para trás. A morta está muito inquieta.

Hellinger coloca o garoto em frente à representante de sua mãe.

HELLINGER para o garoto: Diga à sua mãe: "Mamãe, por você eu faço tudo.

GAROTO: Mamãe, por você eu faço tudo.

HELLINGER: Diga de coração e devagar.

GAROTO: Mamãe, por você eu faço tudo.

Os dois se olham longamente. A mãe fecha os punhos.

HELLINGER para a mãe: Diga-lhe: "Estou com raiva.

MÃE: Estou com raiva.

HELLINGER após um instante para o garoto: Diga a ela novamente. Mamãe,

por você eu faço tudo."

GAROTO: Mamãe, por você eu faço tudo.

HELLINGER para a mãe: Diga-lhe: "Estou com raiva."

MÃE: Estou com raiva.

Os dois se olham longamente mais uma vez. Hellinger leva o garoto para


o lado, de forma que a mãe fique diretamente à frente da morta.

HELLINGER para a mãe: Diga à morta: Estou com raiva.

MÃE: Estou com raiva.

HELLINGER: "Não quero você."

MÃE: Não quero você.

HELLINGER: "Suma daqui!"

MÃE: Suma daqui!

HELLINGER: Diga alto.

MÃE em voz alta: Suma daqui!

Ela fecha os punhos ao dizer. Ela dá mais alguns passos para trás. A morta

se virou para ela.

HELLINGER para a mãe: Diga novamente bem alto.

MÃE: Suma daqui!

Hellinger leva o garoto até o representante do seu pai. Eles se olham por

muito tempo.

HELLINGER para o garoto: Diga a seu pai: "Querido papai, olhe para mim

como seu filho."

GAROTO: Querido papai, olhe para mim como seu filho.

HELLINGER: "Aqui você é grande e eu pequeno.”

GAROTO: Aqui você é grande e eu pequeno.

HELLINGER: "Sou apenas uma criança."

GAROTO: SOU apenas uma criança.

HELLINGER para o grupo: Quando o escutam, percebem que ele fala como

se fosse o grande.

O garoto olha para Hellinger e sorri.

HELLINGER. Diga mais uma vez: "Querido papai, por favor olhe para mim


como seu filho."

GAROTO. Querido papai, por favor, olhe para mim como seu filho.

Novamente ele fala de forma arrogante. O grupo ri.

HELLINGER para o garoto: Agora, ajoelhe-se diante dele, olhe para ele e

diga: "Querido papai, agora eu o respeito como meu pai."

GAROTO: Querido papai, agora eu o respeito como meu pai.

Novamente, ele fala deforma arrogante. O pai fica em pé imóvel.

Hellinger conduz a mãe para o campo de visão da morta, que lhe estende

a mão. Ela dá novamente alguns passos para trás. Hellinger a conduz

novamente para perto da morta.

HELLINGER para a mãe: Diga-lhe: "Agora olho para você.'

MÃE: Agora olho para você.

HELLINGER: "Como minha filha.”

MÃE: Como minha filha.

HELLINGER para a mãe: Chegue mais perto.

Ela se aproxima lentamente, até que a mão estendida da morta possa tocar

seus pés, e fica parada.

Hellinger vai novamente até o garoto.

HELLINGER para o garoto: Diga a seu pai: "Por favor, olhe para mim como

seu filho.”

GAROTO de novo com voz arrogante: Por favor, olhe para mim como seu

filho.

HELLINGER para o pai: Diga-lhe: "Ainda não."

PAI: Ainda não.

HELLINGER para o filho: Vá com seu movimento, da maneira que o sentir.

O garoto se levanta.

HELLINGER para o grupo: Não era esse o movimento. Pudemos ver qual


era o movimento. Quem tem raiva do pai perdeu-o.

Para o garoto: Diga-lhe novamente: "Por favor, olhe para mim como seu

filho."

Ele diz novamente com voz arrogante.

HELLINGER para o grupo: Ele perdeu seu pai. Pobre garoto. Não tem força.

Sem o pai não há força.

Após um instante para o garoto: Agora diga ao seu pai: "Me salve."

GAROTO: Me salve.

HELLINGER para o grupo: Não tem jeito, ele perdeu seu pai e sua mãe

também.

A mãe também não havia se movido mais.

HELLINGER: VOU interromper por aqui.

Aos representantes: Obrigado a todos.

Aos representantes do pai e da mãe: Vocês dois foram representantes muito

bons. Pude confiar em vocês.

Para o grupo: O pai não pode fazer nada para se aproximar do filho. Se o

filho o despreza, o pai não pode fazer mais nada para se aproximar dele. O

representante do pai mostrou isso bem.

Qual é a dinâmica aqui? A mãe se sente culpada pela morte de uma

criança. Ela não quer a criança. Ela tem raiva.

Para o garoto: Ela quer morrer. E você diz a ela: "Por você eu faço tudo,

até morrer."

Após um instante: Só uma pessoa pode salvá-lo: seu pai. Mas só se você o

respeitar.

O garoto está sério.

HELLINGER: Deixe isso atuar em sua alma. Talvez você encontre o

caminho. Mas somente se você se tornar pequeno, pequeno diante do seu

pai. Somos sempre pequenos diante de nossos pais.


Para o grupo: Quem se eleva acima dos pais acaba por perdê-los. Tem de

agir como grande sem ser grande.

Para o garoto: Acho que você entendeu agora. Tudo de bom.

Eles se dão as mãos.

HELLINGER para os professores: Esses dois representantes não foram

excelentes? Foram completamente puros. Ambos foram muito bons. Isso

mostra que também podemos fazer constelações com jovens, até com

crianças. Muitas vezes, mais coisas vêm à luz do que quando trabalhamos

com adultos. Sempre podemos confiar no bem que há na alma de uma

criança.

A PEDAGOGIA HELLINGER

A Pedagogia Hellinger é uma Pedagogia Sistêmica. Qual é o seu efeito na

escola?

O presidente e diretor do CUDEC, Alfonso Malpica Cárdenas, declarou sua

profunda gratidão a Bert Hellinger, uma vez que sua visão sistêmica

contribuiu imensamente no sentido de reconquistar a confiança dos pais na

escola.

Essa foi a terceira visita de Bert Hellinger à instituição. Em 2001 e 2003

ele já havia sido convidado pelo CUDEC para ajudar pais, professores e

alunos através das Constelações Familiares. Nesse congresso, foi recebido

como convidado especial, sob enorme aplauso dos presentes.

De certo modo, essa recepção foi uma forma de reconhecimento ao seu

trabalho das Constelações sistêmico-fenomenológicas, uma vez que se trata

do fundamento para o desenvolvimento da Pedagogia Sistêmica, praticada

há muitos anos no CUDEC. Bert salientou, no entanto, que esse sucesso só

fora possível devido ao trabalho pioneiro realizado por Angélica e Alfonso

Malpica nos anos anteriores.

Através de supervisões e mediante a presença de alunos e pais, Bert

trabalhou com as Constelações Familiares para abordar problemas como:


dificuldades de concentração, hiperatividade, dislexia, além de depressão,

psicose, uso de drogas e álcool. Ao serem confrontados com tais problemas,

os professores, muitas vezes, não são capazes de transmitir os conteúdos

de aprendizado de forma adequada.

Surge a pergunta com relação aos culpados. Quem é o responsável pela

falta de sucesso do aluno? Os pais, os professores, a escola? Em vez de

tentar encontrar culpados, Bert Hellinger encontrou soluções na história de

família dos alunos.

Os participantes puderam observar, de maneira marcante, o amor com que

as crianças são vinculadas a seus sistemas familiares e como a lealdade a

um membro da família é capaz de influenciar o comportamento de

aprendizado do aluno. Nas constelações, tornou-se claro que o professor

perde força ao olhar apenas para o problema. Por outro lado, quando olha

para o aluno, enxerga seus pais por trás dele e respeita a sua história

familiar, bem como as condições sob as quais a criança cresceu, está em

sintonia com o destino da criança e de sua família. Ao mesmo tempo, é

capaz de sentir seus próprios pais atrás de si e respeitá-los. Dessa forma,

também está conectado à sua força. Assim, o professor se mantém em sua

própria tarefa e obtém a confiança necessária dos pais. Apenas dessa

maneira se torna possível para ele ensinar aos alunos. Ele deixa o aluno e

seus pais com sua dignidade e assume sua própria dignidade em um lugar

adequado como professor.

A ORDEM

A Pedagogia Sistêmica também requer que a escola seja conduzida de

maneira sistêmico-fenomenológica. Alguns diretores trouxeram seus

problemas com os professores e Bert Hellinger mostrou uma forma de

trabalho em rodadas, na qual o diretor pode dar a palavra a todos e, em

seguida, tomar uma decisão adequada a todos.

Também mostrou a importância da coesão entre os professores e o próximo

nível na hierarquia, os diretores. Um professor que trabalha contra o diretor

se torna insuportável para a escola. O mesmo ocorre quando um professor

se junta com os alunos para agir contra outro professor.


O sistema de ensino está submetido a certas ordens. Em primeiro lugar vem

o diretor, depois os professores, que são iguais entre si, com a diferença

que, aqueles que chegaram à escola primeiro como professores, têm

precedência sobre os que vieram depois. Muitas vezes, os novos

professores querem mostrar aos antigos como as coisas devem ser feitas, e

então já começa o problema. É importante reconhecer as capacidades e a

competência do outro, pois neste aspecto são todos diferentes.

Se reconhecermos que todos são bons à sua maneira, mas que todos

ensinam de sua forma especial, pode haver harmonia entre todos.

Para poder combater a temida Síndrome de Burnout, afirma Hellinger, o

professor deve assumir seu lugar adequado como tutor.

Em primeiro lugar vêm sempre os pais, depois os alunos e, depois os

professores. O lugar mais seguro a partir do qual um professor pode ensinar

é o mais embaixo. Lá, o professor possui a maior força. Lá, o destino e a

sintonia colocam-se a seu lado e, assim, ele obtém a força para seu

trabalho."

O fundamento necessário para o ensino só é estabelecido quando o

professor se vê como o último na sequência aluno - pais - professor. Assim,

o professor não se sente mais sozinho: ele divide a carga e pode dar um

passo para trás e fazer seu trabalho com alegria. "O respeito mútuo é o

fundamento de uma boa educação."

AJUDA MEDIAL

Cursos em Bolzano e Milão 2013


♦ CURSO EM BOLZANO, 2013

INTRODUÇÃO

HELLINGER: Estou feliz por estar aqui e por ter um tradutor tão bom ao

meu lado.

O tema deste curso é: sucesso na vida, sucesso na profissão. O que vem

primeiro? Primeiro vem o sucesso na vida, depois o sucesso na profissão.

Sucesso para quem?

Além dos que estão sentados aqui, muitos outros estão presentes conosco.

Milhares, que esperam pelo nosso sucesso. Muitas pessoas que fizeram

parte do nosso passado, de nossas vidas anteriores, pessoas de nossas

famílias, que talvez tenham sido esquecidas, rejeitadas ou julgadas.

Pessoas que esperam por uma absolvição, por uma liberdade que as leve a

um outro nível, a um outro nível do amor junto conosco. Vocês concordam

em penetrarmos nessa amplidão?

Acontece que os fracassos não são apenas nossos fracassos e que as nossas

queixas não são apenas nossas. Há outros que se expressam em nossos

sintomas corporais, e eles nos dizem: Por favor.

MEDITAÇÃO: A CONFIANÇA

Fechem os olhos. Vamos penetrar em nosso corpo e nos tornar amplos

internamente. Olhamos para muitos de nossa família, para muitos de nosso

passado. Dizemos a todos: Sim, sim. Você pertence a mim e eu pertenço a

você.

Sentimos o que muda em nós, o que é curado em nós. De repente, nossos

desejos vão para o pano de fundo - também aquilo que nos propusemos

para este curso - e nos sentimos levados e carregados por outras forças.

Olhamos de forma confiante para o que nos espera aqui, para aquilo que

nos espera aqui, finalmente.

O que fizemos agora? Demos o primeiro grande passo em direção ao


sucesso: a um grande sucesso.

DEMONSTRAÇÃO: A LUZ

Vou começar com uma demonstração. Quem se coloca diante desse

movimento? Quem ousa seguir esse caminho? Olho ao meu redor e me vejo

movido por uma outra força. Então escolho alguém. Quem de vocês deseja?

Hellinger escolhe um homem com um ferimento grave na perna. Ele o

cumprimenta e pede que se sente ao seu lado.

HELLINGER para esse homem: Feche os olhos.

Após um instante: Embaixo, à nossa frente, estão muitos mortos. Estão com

os olhos abertos. Estão olhando para você e para mim. Digo a eles:

“Conheço vocês. Muitos dos mortos da minha família estão entre vocês."

Vocês se olham entre si e dizem: “O que estamos fazendo aqui? Temos

algo a resolver aqui? Ou será que nos levantamos, nos viramos para o outro

lado e vemos uma luz eterna diante de nós?” De repente, nos sabemos

vivos, vivos de outra forma, finalmente em casa.

Agora olhamos, seguindo o olhar deles, para a mesma luz brilhante. Nós

nos levantamos e damos os primeiros passos para dentro dessa luz. De

repente nos sentimos leves, levados e carregados por forças maiores.

Ficamos afundados nessa luz.

Após um instante, para o homem: Como você está?

HOMEM: Sinto-me amplo e firme ao mesmo tempo.

Hellinger bate em seu ombro: Vou fazer um exercício com você.

Hellinger escolhe uma mulher como representante e a coloca em frente ao

homem a uma certa distância.

HELLINGER para essa mulher: Olhe para ele.

Para o homem: A ajuda vem dela.

Para a mulher: Você se deixa mover da maneira como for guiada, sem


intenção, apenas presente.

Após um instante, a mulher se agacha e se senta.

HELLINGER para o homem: Ao lado dela e atrás dela estão muitos outros.

A mulher se deita de costas.

HELLINGER para a primeira fileira de participantes do grupo, cerca de 15

pessoas: Vocês são esses outros.

Esses representantes se deslocam lentamente em direção à mulher deitada

no chão. Ela se afasta deles o máximo que consegue. Quando uma das

mortas a toca com o pé, ela grita. Mesmo assim, a morta não a deixa. Os

outros mortos se distribuem. Uma vai para fora e olha para longe. A

maioria dos mortos se espremem ao redor da mulher no chão. Vários se

ajoelham diante da mulher no chão e a acariciam. Outros olham para o

homem, que se encontra no palco. Ele está bastante mexido. Uma das

mortas se ajoelha diante dele e acaricia sua perna ferida. Então se levanta:

uma outra está de pé a seu lado. As duas olham para o homem. Elas se

aproximam dele, uma acaricia seu rosto.

HELLINGER após um instante: Vou parar por aqui. Obrigado aos

representantes.

Para o homem: Você pode ver que não está sozinho. Tudo de bom.

Para o grupo: Como vocês estão? Foram juntos no caminho para o

sucesso? Juntos com muitos à direita, à esquerda e atrás de vocês? E alguns

vão à frente?

LEVADOS

Fechem novamente os olhos. Olhamos para nossa vida da forma que foi até

agora. Solitária talvez, voltada para nós mesmos. Mesmo assim

caminhamos em uma grande procissão. Há muitas pessoas à nossa direita

e esquerda. Estendemos as mãos para a direita e para a esquerda e nos

sentimos subitamente levados como um entre muitos, ao mesmo tempo.

Imaginamos que damos alguns passos para frente. A cada passo deixamos

algo para trás. Mais alguns passos à frente e, novamente, deixamos algo

para trás. Mais um passo à frente, mais um.


Começa uma subida. Vamos juntos, lentamente, passo a passo, com o olhar

voltado para cima e ficamos leves, cada vez mais leves. Nós nos

perguntamos: como é que carregamos isso tudo? Apenas como peso morto?

Agora isso sai de nossas costas. Respiramos fundo, damos mais um passo

à frente e para cima, em direção a uma altura longínqua.

EXERCÍCIO: TROCA DE EXPERIÊNCIAS

Agora faremos pequenos grupos de quatro ou cinco pessoas próximas.

Trocaremos as experiências que tivemos. Não precisa ser por muito tempo:

apenas alguns minutos.

Após o exercício: Como se sentem? Podemos continuar? Ok.

DEMONSTRAÇÃO: O AVANÇO

Farei mais uma constelação sobre o sucesso na vida e na profissão. Algum

voluntário?

HELLINGER para um participante: Se você não estivesse escrevendo, eu o

escolheria. Quem escreve não está em contato com outras forças. O coração

está em outro lugar, não no papel. Então, quem gostaria?

Hellinger escolhe uma mulher e a coloca sentada ao seu lado.

Para a mulher: Feche os olhos e diga a alguém internamente: "Acabou."

Após um instante: E agora diga a essa pessoa internamente: “Eu te odeio.”

A mulher contorce o rosto, grita e chora alto.

HELLINGER: Este é o outro lado do ódio. O sentimento verdadeiro é

diferente. Todo aquele que se apresenta como vítima e espera piedade dos

outros...

- a mulher bate com os pés no chão -

...tem o outro sentimento, deseja matar alguém. Todo o resto é um jogo.

A mulher permanece sentada com os dentes cerrados e o rosto contorcido.

HELLINGER: O que mais faz uma pessoa assim? Ela se mata.


A mulher continua batendo forte com os pés no chão. Após um instante, ela

se acalma e respira fundo.

HELLINGER para o grupo: Fechem os olhos. Vamos verificar em nós

mesmos. Diante de quem nos comportamos como se fôssemos pobres

coitados e vítimas? Qual é o desejo secreto? Onde está o desejo de morte

para os outros e para nós mesmos?

A mulher se acalmou e respira fundo.

HELLINGER: Como você está agora? Olhe para mim.

MULHER após vacilar um pouco: Não encontro o caminho.

HELLINGER: Mostrei-o para você. E vou deixar assim.

Após um instante: De quantos você já riu internamente com esses

sentimentos?

MULHER: De muitos.

HELLINGER: Exato. Esse foi o primeiro passo para o sucesso. Tudo de bom.

A mulher sorri, tranquila.

HELLINGER para o grupo: Parece que estamos no caminho para o sucesso.

O sucesso é leve.

O NÚMERO DO SUCESSO

Gostaria de levá-los juntos em um movimento em direção ao sucesso na

vida. Vou dizer algo sobre isso, ou seja, dar uma pequena palestra. Se

quiserem, podem fechar os olhos ou olhar para mim. É a mesma coisa.

O grande número do sucesso, o número secreto criador para o sucesso é o

dois. O dois quer a unidade. Isso seria o um. Mas o caminho para o um

passa pelo dois. O sucesso começa com o dois. Aqui sentam-se dois que se

dão as mãos. Esse é o caminho para o sucesso.

Imaginamos que, à nossa esquerda, esteja a nossa mãe e, à nossa direita, o

nosso pai. Ficamos no meio. Nossos pais eram dois. Em nós, se tornam um.


Esse um entre o pai e a mãe é o maior sucesso imaginável. Não há sucesso

maior que um filho.

O filho é um a partir de dois. Contudo, o filho, quando nasce, por um lado

é um, pois une o pai e a mãe em si, em uma unidade. Entretanto, embora o

filho seja um, ele nasce como a metade de um dois: como um menino ou

uma menina.

O que acontece depois? Após algum tempo, o menino procura a menina e

a menina procura o menino. Como homem e mulher, desejam se tornar um.

Conseguem isso através de um filho.

Agora talvez estejam pensando: "Aonde ele quer chegar com essas

reflexões?" Estamos em um curso sobre sucesso na vida e na profissão.

O sucesso na vida começa, para o homem, com uma mulher e, para a

mulher, com um homem.

NOSSO SUCESSO

Fechem os olhos. Verificaremos em nós onde está o pai em nosso caminho

para o sucesso na vida? Onde está a mulher, para o homem? Onde está o

homem, para a mulher?

Imaginamos que estamos no meio, com a mãe à nossa esquerda e o pai à

nossa direita. Com a mãe à esquerda e o pai à direita, damos um passo à

frente. Damos as mãos à mãe e ao pai, de forma igual para os dois. Em nós,

eles são sempre um.

A pergunta é: onde ficou a mãe em nosso caminho para o sucesso? Onde

ficou o pai em nosso caminho para o sucesso? Aonde chegamos? A que

fracasso chegamos, talvez, devido à falta da mãe ou do pai?

Agora seguramos a mão de ambos e olhamos para uma meta, lá onde o

futuro nos espera. Dando as mãos a ambos, a mãe à esquerda e o pai à

direita, vamos em direção ao nosso sucesso, seguros em sua direção.

O sucesso é simples assim, da mesma forma que a raiz do fracasso. Os

movimentos fundamentais da vida são sempre com dois.

O três é um número sagrado: nós no meio, entre o pai e a mãe.


Vamos prosseguir. Como se sentem após o que foi feito aqui? Estão no

caminho do sucesso? Estão no caminho da felicidade?

Vou prosseguir da maneira que começamos. Vou demonstrar algo de uma

maneira em que todos são levados juntos em um movimento. Gostaria de

fazer a ponte para o sucesso na profissão. Quem aqui tem uma questão

relacionada à profissão?

DEMONSTRAÇÃO: NOSSA PROFISSÃO

Hellinger escolhe um homem, pede que ele se posicione e olhe para frente.

À sua frente, ele coloca uma mulher como representante da profissão.

HELLINGER para os posicionados: Deixem-se movimentar sem intenção

própria.

O homem vai em direção à profissão, com passos pequenos. Após um

instante, Hellinger escolhe outro homem como representante e pede a ele

que se deite de costas em frente à mulher que representa o sucesso.

O homem e a representante da profissão olham para o morto que se

encontra entre eles. A profissão dá alguns passos para trás. O homem

agora está próximo ao morto.

Hellinger escolhe outra mulher como representante e pede que ela se

posicione do lado direito da profissão. As duas ficam bem próximas uma

da outra. A representante mais nova fecha os punhos e olha para o morto.

Embora estejam bem próximas, as duas mulheres não se olham.

HELLINGER: Ela é alguém que tem raiva do morto. Está com os punhos

cerrados.

O homem passa pelos pés do morto e quer ir até essa representante. De

repente, ele para, abre os braços e volta para trás. A profissão recua um

pouco, apoia a parte de trás da cabeça na segunda mulher e olha na

direção oposta a ela, que, por sua vez, olha para longe, ainda com os

punhos cerrados. O morto está com a cabeça voltada para longe dos

outros.


Hellinger escolhe mais um homem como representante e pede que ele se

posicione no lugar para onde o morto está olhando.

O homem em questão se afasta do morto. Ele levanta os ombros e vai para

mais perto da mulher com os punhos cerrados. Esta se afasta da profissão

e se posiciona perto desse homem. Ela gira em círculos, assim como o

homem, que tem os ombros erguidos. Após um instante, ele dá as costas

para a situação.

O segundo homem permanece em frente ao morto e lhe dá as costas. A

segunda mulher estende os dois braços para trás e segura a profissão. A

profissão vai lentamente para o chão e, com ela, a outra mulher. A

profissão se curva bastante para frente. A outra mulher coloca uma mão

sobre ela. O homem em questão permanece ao lado.

Hellinger escolhe mais um homem e o coloca em frente ao segundo homem.

Este se encontrava, antes, sobre o morto, com as pernas abertas. Os dois

homens vão em direção um ao outro. O homem que chegou depois estica

ambas as mãos em direção a este homem, de maneira convidativa. Este

olha para trás para o morto.

Após um instante, esses homens ficam juntos, o homem que chegou depois

fica atrás do anterior. No meio tempo, o morto deu as costas a eles.

O homem em questão se ajoelha em frente à profissão. A profissão se afasta

dele. A segunda mulher está deitada no chão e olha para o homem. A

profissão se afasta totalmente.

HELLINGER: VOU parar por aqui. Obrigado aos representantes.

Hellinger chama até si o homem em questão. Pede a ele que se sente ao

seu lado.

HELLINGER: Como se sente?

HOMEM: Sinto-me forte. Sinto que se trata de um sistema que não me

pertence.

HELLINGER: Exato.

Para o grupo: O que ficou visível aqui? Algo do passado que não pertence


a ele está atuando aqui. Quando atua algo que se encontra muito atrás, em

outra dimensão, todos os nossos esforços para que algo dê certo em nossa

profissão ou em nossa empresa são em vão.

Para o homem: Está claro que houve um assassinato.

O homem diz que sim com a cabeça e faz um movimento com a mão para

trás.

HELLINGER: Isso se encontra distante no passado. O assassino quer ir, quer

ir para outro lugar. Isso faz sentido para você?

HOMEM: Sim.

HELLINGER: Está no passado distante, mas está presente. Uma frase

estranha me vem como solução: mude de profissão.

O homem reflete. Ele se vira para Hellinger e sorri para ele.

HELLINGER: Estou vendo em seu rosto: esse é o futuro.

Eles sorriem um para o outro.

HELLINGER: Tudo de bom para você.

Eles apertam as mãos.

REFLEXÃO

Fechem novamente os olhos. Olharemos para as nossas profissões e

empresas, com as quais garantimos o nosso sustento. Para onde elas se

movem? Vêm em nossa direção? Afastam-se de nós? O que fazem com as

mãos? Estão abertas? Estão fechadas ou talvez fechadas em punho? O que

se encontra no chão entre elas e nós? Quem mais está incluído? Quem está

querendo algo de nossa empresa? Está querendo algo diferente de nós?

Experimentamos internamente: para onde isso nos atrai? Para que luz? Para

que força? Para que serviço na vida? Para que alegria?

Após um instante: Vocês encontraram uma direção?

Vou contar-lhes um segredo sobre o sucesso. Querem saber? É um segredo

bem profundo: o grande sucesso é leve.


Não há sucessos pesados. Tudo aquilo que é pesado dá errado. Assim como

o amor: o amor leve é amplo - e feliz.

Faremos novamente pequenos grupos e compartilharemos os nossos

sucessos até agora neste curso.

Após um instante: Como vocês estão no caminho para o sucesso? Quando

olho para seus rostos, vejo que muitos seguiram esse caminho - rumo ao

sucesso leve.

DEMONSTRAÇÃO: SUCESSO COM UM

PARCEIRO

Gostaria de prosseguir e olhar para algo relacionado ao sucesso em um

relacionamento. O grande sucesso é sempre o sucesso com um parceiro. A

grande felicidade obviamente também.

Quem gostaria de olhar para algo nesse sentido sobre o sucesso com um

parceiro?

Uma mulher se apresenta.

HELLINGER para essa mulher: Primeiro farei algumas perguntas.

Você é casada?

MULHER: Sim.

HELLINGER: Tem filhos?

MULHER: Sim.

HELLINGER: Quantos?

MULHER: Juntos temos quatro. Eu tenho dois.

HELLINGER: E O seu parceiro?

MULHER: Tem dois.

HELLINGER: Existe uma parceira anterior ao seu marido? Existe um

parceiro seu anterior?


MULHER: Sim. Ele já morreu.

HELLINGER: Feche os olhos. Imagine-se dando a mão esquerda ao parceiro

antigo e a mão direita ao parceiro atual. A que parceiro pertencem seus

filhos, ao antigo ou ao atual?

MULHER: AO antigo.

Hellinger escolhe representantes para o parceiro anterior da mulher e uma

mulher. Ele a posiciona a uma certa distância, em frente ao parceiro

anterior.

HELLINGER para a mulher: Os filhos são meninos ou meninas?

MULHER: Um menino e uma menina.

HELLINGER: Qual é o mais velho?

MULHER: O menino.

Hellinger escolhe um homem para o filho mais velho e uma mulher para a

mais nova.

HELLINGER para esses representantes: Procurem um lugar para vocês.

O marido anterior dá alguns passos na direção da mulher. Depois vai para

o lado. Os dois filhos colocam-se ao seu lado, a menina à direita e o

menino à esquerda. Então o menino dá um passo à frente.

HELLINGER: De que o homem morreu?

MULHER: De esclerose múltipla.

O menino se coloca à direita de sua irmã. O marido anterior se ajoelha. A

mulher olha para a esquerda, sua mão esquerda está tremendo. A mulher

dá mais alguns passos para a esquerda. O marido antigo se deita sobre as

costas. Ambos os seus braços estão esticados. A mulher coloca ambas as

mãos sobre o rosto e chora alto. Ela se afasta. Enquanto isso, olha para o

marido morto. Ela treme bastante e grita alto.

A mulher em questão vai até sua representante, toma-a nos braços e a

segura. No meio tempo, o filho desce até o pai morto, ajoelha-se diante

dele e segura seu braço.


HELLINGER: Preciso de mais uma mulher.

Ele escolhe uma mulher e deixa que ela se posicione. Ela fica de fora.

HELLINGER para a mulher: Você é a morte dele.

A representante da mulher está mais calma. A mulher e sua representante

olham-se nos olhos. Hellinger pede à mulher em questão que se sente a seu

lado.

O garoto está ao lado de seu pai. A filha se virou para a morte e vai em

sua direção.

A representante da mulher está inquieta. Ela se move lentamente em

direção ao marido morto. O filho sentou-se. Afilha continua olhando para

a morte. Então, desvia o olhar e olha para fora.

A mulher passa pelo marido morto e vai em direção à sua filha. Ela a

abraça por trás e segura. A filha se livra dela e dá um passo para o lado.

A mãe quer estender a mão para ela.

HELLINGER: Vou parar por aqui.

Após um instante para o grupo: Onde estaria o sucesso aqui?

Para a mulher: Você tem que voltar. Senão seus filhos morrerão.

Os dois se olham longamente. A mulher se levanta e volta para seu lugar.

HELLINGER após um instante para o grupo: O que podemos ver aqui?

Somos livres em nossas decisões? O caminho para a felicidade está aberto

para nós da forma que desejamos? Ou há outras forças atuando aí?

Alguém pode morrer em nosso lugar? Ficamos livres então? Ou será que

cada um tem sua própria morte? Podemos morrer por uma pessoa, para que

ela permaneça viva?

A SUPERAÇÃO

Fechem novamente os olhos. Vamos imaginar que, à nossa frente, estejam

diversas pessoas a uma certa distância de nós. Cada uma dessas pessoas

representa a morte de uma outra pessoa. Olhamos para todas essas pessoas.

O que acontece quando simplesmente olhamos para elas? Quando as


olhamos concentrados em nosso interior e levados pela nossa vida aqui? O

que acontece com os representantes da morte de outras pessoas? Eles

podem permanecer? Ficam fracos? Querem desaparecer? O que acontece

então conosco? Nós nos afastamos deles internamente, guiados por outra

força, proveniente do nosso coração, por outro amor. Nós os seguimos com

leveza para outra luz.

Alegria, mais belo fulgor divino,

Filha de Eliseu,

Ébrios de fogo entramos

Em teu santuário celeste.

Após um instante: Como? Com sucesso.

Ok, essa foi a nossa manhã. Felicidades para vocês.

À TARDE

O CÉU NA TERRA

HELLINGER: Algo se encontra acima de tudo no caminho do sucesso. Algo

se encontra acima de tudo no caminho da felicidade. Algo sagrado se

encontra em seu caminho. Conhecemos esse algo sagrado como

consciência. É inacreditável que, até o dia em que eu descobri o contrário,

todo o Ocidente a tenha visto como a voz de Deus em nossa alma.

Se olharmos bem, para onde leva a consciência? Ela leva sempre a uma

guerra. Sentimos em nós o que acontece quando seguimos nossa

consciência limpa. Quem segue sua consciência limpa sempre rejeita

alguém. Está sempre com raiva de alguém. Vocês conseguem sentir isso?

Conheci um índio no Canadá. Ele me disse que em sua língua não existe

uma palavra para justiça. Não há consciência nessa tribo. Eles vivem sem

consciência. Isso é inacreditável. Perguntei a ele: "O que vocês fazem

quando alguém mata uma pessoa?” O que faríamos nós, por exemplo?

Clamaríamos por justiça. Ou seja, queremos matar o outro.


Ele me disse: "A família da vítima adota o assassino." Não existe vingança!

Eles se movem em outro nível da consciência, para além da consciência

limpa ou pesada.

Posso dizer mais uma coisa sobre a consciência?

A consciência tem uma função. Ela nos vincula ao nosso grupo. Aquele

que segue sua consciência limpa tem a sensação de que pode pertencer a

seu grupo. Com a consciência limpa, adquirimos o direito ao

pertencimento. Esse é o sentido e o objetivo da consciência limpa: ela nos

vincula a nosso grupo. Ela nos vincula, por exemplo, à nossa família, assim

como ao nosso povo e à nossa religião. Ao mesmo tempo, obriga-nos a

rejeitar outras pessoas. Por isso, todo conflito, todo conflito sangrento, é

uma guerra entre duas consciências diferentes.

O outro grupo também tem a consciência limpa, só que diferente da nossa.

Por isso, rejeitam-nos com consciência limpa, guerreiam contra nós de

consciência limpa.

Vou dizer mais uma coisa sobre a consciência limpa: toda consciência

segue um Deus, um Deus que recompensa a uns com o céu e manda outros

para o inferno.

E o Deus cristão? Ele é o produto da nossa consciência. Quando

conseguimos encontrar um amor abrangente, além de nossa consciência,

não há mais nenhum Deus, nenhum Deus que escolhe e nenhum Deus que

condena.

Qual foi o tema do nosso curso? Ah, sim: o sucesso. O sucesso na vida, o

sucesso em nossa profissão. O que significa sucesso? Somos ligados a

muitas pessoas pelo amor. E também - devo dizer de forma tão dura assim

- ligados a elas com uma consciência pesada.

Quis dizer isso como introdução. Já pudemos ver o efeito da consciência

limpa na constelação de hoje.

Isto aqui - erguendo o punho fechado - é o efeito da consciência limpa. E

isso aqui - abrindo os braços - só é possível com consciência pesada, só

deixando o nosso grupo. Nunca, porém, contra o nosso grupo, mas em


sintonia com muitos grupos ao mesmo tempo. Quando conseguimos, como

chamamos isso? Chamamos de céu na Terra. Onde está esse céu? Embaixo,

bem embaixo.

DEMONSTRAÇÃO: A FELICIDADE

HELLINGER escolhe um homem e pede que ele se sente ao seu lado: Pelo

que já conheço de você até agora, você olha de soslaio para a felicidade.

HOMEM ri e acena com a cabeça: É verdade.

HELLINGER: Agora vamos olhar para a felicidade.

Quando o homem fica inquieto: Espere. Você pode tomar todo o tempo

necessário.

Quando penso em tudo de que você é capaz, em tudo que aprendeu, no que

aplicou com êxito e, depois, no fracasso, meus olhos se enchem de

lágrimas.

Feche os olhos. Estou vendo sua felicidade à sua esquerda: uma mulher.

Para o grupo: Preciso de uma mulher como representante.

Hellinger escolhe uma mulher e pede a ela que se posicione alguns passos

à esquerda desse homem.

A mulher oscila para trás e para frente, inclina-se para frente e olha para

o chão. Ela faz um movimento de repulsa com a mão esquerda. Depois se

endireita, vira-se para trás e vai embora, mantendo os olhos fechados.

HELLINGER para o homem: Levante-se e siga o movimento de seu corpo.

O homem se move lentamente em direção à mulher. Ela dá alguns passos

para trás, lentamente. Ele estende uma mão em sua direção e a solta

depois. A mulher vira a cabeça para ele. Os dois se olham. Depois ela

recua alguns passos, mas eles ficam se olhando.

Hellinger escolhe um representante e diz a ele: Você é a morte.

O homem estica os braços e depois os solta. Ele se aproxima da mulher


com passos pequenos. Ela o olha nos olhos. A morte permanece em pé do

lado de fora.

Hellinger escolhe um homem como representante, pede que venha até o

palco e se deite de costas, a alguns metros do homem que olha para a

mulher, desviando o olhar do novo representante.

O morto está com ambos os braços esticados, para a direita e para a

esquerda. Após alguns instantes, o homem e a mulher olham para o morto.

O homem vai em direção ao morto com passos pequenos, curva-se sobre

ele e pega sua mão estendida. O morto o abraça e deita-se novamente, com

os braços esticados. A mulher colocou-se ao lado do homem e lhe estende

uma das mãos, coloca-a sobre sua cabeça e o puxa para si. Ele repousa a

cabeça sobre sua barriga. Ela o acaricia.

A morte permanece de fora e mantém os braços abertos. O homem estica

novamente a mão em direção ao morto, mas este havia virado a cabeça em

direção à morte. Ele dá as costas para o homem.

HELLINGER: Ok, obrigado a todos.

Ele pede ao homem que se sente novamente ao seu lado.

HELLINGER: Está bem assim?

O homem acena com a cabeça, mas de forma hesitante.

HELLINGER: Feche os olhos. Imagine mais uma vez que você está com a

cabeça repousada sobre a barriga da felicidade.

O homem sorri contente.

HELLINGER: Esse é o movimento, o único movimento. Pode esquecer todo

o resto. Está bem assim?

O homem acena com a cabeça.

HELLINGER: Tudo de bom.

CONSTELAÇÕES FAMILIARES MEDIAIS

Há pouco tempo escrevi um livro sobre as Constelações Familiares

Mediais. Neste curso, mostrei o que é isso. Elas ocorrem de forma


inconsciente, inconsciente de minha parte, diretamente em direção à

inspiração de uma outra consciência. Sem intenção, sem imagem, guiada a

partir de outro lugar. A pergunta é: o que ainda é considerado das

Constelações Familiares antigas? Mas todos vocês acompanharam, a

maioria de vocês acompanhou. Vocês experimentaram pessoalmente o que

significa ser guiado de forma completa e direta a partir de outra dimensão,

sem conhecimentos prévios.

Nessa dimensão não há tempo, não há preparação. Vivemos no aqui e no

agora. Damos espaço para outras forças, para forças maiores.

O que faremos agora? Ainda não sei. Preciso me deixar guiar novamente.

MEDITAÇÃO: O PRÓXIMO PASSO

Fechem os olhos. Agora vamos verificar em nossa alma e, em especial, em

nosso coração e em nosso sentimento profundo, qual seria o próximo passo.

Tomaremos o tempo que for preciso. A compreensão sobre o próximo passo

vem de repente, de forma inesperada. Essa compreensão é ampla,

infinitamente ampla, sem preparação. O resultado é leve como uma brisa.

O sentimento é diretamente no corpo. E é embaixo.

O FIM

PERGUNTAS

Como vocês estão? Alguma pergunta a esse respeito? Quem tiver uma

pergunta levante a mão.

Uma mulher se apresenta e senta-se ao seu lado.

HELLINGER: Qual é a pergunta?

MULHER: Durante a meditação, senti-me completamente bloqueada em

todas as direções.

HELLINGER: Qual é a pergunta?

MULHER: EU não encontro o caminho. A pergunta é: como encontrar o

caminho?

HELLINGER: Preciso de uma mulher.


Uma mulher se apresenta e vai até o palco. Hellinger pede à mulher que

fez a pergunta para se colocar diante dessa mulher.

A mulher (cliente) oscila. Depois vai para o chão e se deita com os braços

abertos diante da outra mulher. Ela bate com as mãos no chão, fazendo

um barulho alto.

HELLINGER para o grupo: Qual é o nome disso? Chamo isso de fim.

Após um instante: Vou parar por aqui.

Para a representante: Obrigado.

A mulher que fez a pergunta se levanta e vai.

A CONSCIÊNCIA

HELLINGER: Agora não tenho mais coragem de perguntar se alguém tem

alguma pergunta. Mesmo assim, alguém ainda tem alguma pergunta?

Uma mulher se apresenta e senta-se ao lado de Hellinger.

MULHER: EU não entendo, ou não sei, quando a consciência leve ou pesada

fica ativa em mim.

HELLINGER: Na pergunta anterior, a consciência leve ficou ativa. A

consciência leve proíbe.

Quando a mulher que fez a pergunta quer falar, Hellinger balança a

cabeça. HELLINGER: E a consciência leve nos faz feliz.

A mulher que fez a pergunta balança a cabeça.

HELLINGER: E faz os outros infelizes.

A mulher acena com a cabeça.

HELLINGER: Ok, vou parar por aqui.

Para o grupo: Está ficando cada vez mais perigoso fazer perguntas.

Após um instante: Vou chamar novamente a ajuda das grandes forças para

uma constelação.


DEMONSTRAÇÃO: A QUESTÃO

HELLINGER: Quem tem uma questão relacionada ao sucesso na vida e na

profissão perante a qual deseja expor-se através de uma constelação?

Ele escolhe uma mulher que se senta ao seu lado. Escolhe outra mulher

como representante e a chama para o palco.

HELLINGER para essa representante: Posicione-se: você é a questão dela.

A representante olha para o lado. Hellinger escolhe um representante, um

homem, e pede que se posicione diante da mulher a uma certa distância,

mas não no lugar para onde ela havia olhado.

A mulher desvia o olhar e olha para o homem, oscilando para frente e para

trás. O homem estende a mão direita para ela e vai em sua direção com

pequenos passos. A mulher começa, hesitante, a lhe estender a mão direita.

Após chegar mais perto, o homem lhe estende a mão. Após um instante,

coloca a mão sobre o ombro dela, repousa a cabeça sobre a dela, enquanto

ela mantém a mão direita estendida, sem acolher o homem.

HELLINGER: Ok. Obrigado aos representantes.

Após um instante para a mulher. O que pudemos ver? Tanta felicidade

possível em vão.

Para o grupo: A felicidade pela qual esperamos passa por nós.

NOSSO PASSO

Fechem os olhos. Agora olharemos para uma felicidade pela qual

esperamos por muito tempo sem nos aproximarmos dela.

Após um instante: Agora esperamos por alguém que se encontra atrás de

nós e de quem vem a força para nosso passo.

Após um instante: Ok.

APÓS UMA PAUSA


MEUS LIVROS

Eu não compreendia como escrevo livros. Isso só ficou claro para mim nos

últimos tempos.

Quando escrevo livros, sou um meio. Sou pego por um outro movimento.

Acordo de manhã, por exemplo, e uma palavra me vem à mente de repente.

Então sei que vou escrever um texto sobre essa palavra. Sento- me e

escrevo essa palavra como título. Então minha mão é guiada, palavra por

palavra. Não sei aonde isso me levará. No fim vem a conclusão, que

também me é dada.

Dez minutos depois, já me esqueci do que escrevi. Se não tivesse escrito,

não poderia dizer. Esqueço-me até mesmo do título.

E assim vai surgindo cada livro. Não são meus livros. Sou apenas uma

ferramenta.

Por que contei isso? São movimentos: eles vêm de outra consciência e

conduzem a uma outra consciência.

Neste curso já demos alguns passos para dentro dessa outra consciência. E

assim continuaremos.

DEMONSTRAÇÃO: EM VÃO

HELLINGER: Quem quer olhar para algo relacionado ao sucesso na vida e

na profissão?

Uma mulher se apresenta e senta-se ao lado de Hellinger.

Hellinger se concentra.

HELLINGER: Uma frase me vem à mente.

Para a mulher: Para você. Feche os olhos. Vou lhe dizer a frase e você

deixa que ela atue.

A frase é: Em vão.

HELLINGER após um instante: Preciso de uma mulher.


Ele escolhe uma mulher e pede a ela que se deite de costas em frente à

outra mulher.

Ele escolhe mais uma mulher e pede que fique em frente à outra mulher,

de forma que a pessoa morta fique entre as duas. Após hesitar um pouco,

essa representante se ajoelha em frente à mulher morta.

Hellinger escolhe um homem e pede que se coloque em frente à morta, a

cerca de um metro de distância, com o olhar voltado para a cabeça dela.

O homem se ajoelha lentamente, toma a cabeça da morta nas mãos e pousa

sua cabeça ao lado da cabeça dela.

Nesse meio tempo, a primeira representante se deitou de costas ao lado da

morta.

Hellinger pede à mulher em questão para se posicionar. Ela se coloca

entre a morta e a outra mulher que está deitada ao seu lado. O homem

fecha os punhos, bate no chão e chora alto.

A mulher em questão segura seu punho. Ela pousa a outra mão sobre o

ombro da mulher que está deitada ao lado da morta.

Essa mulher fica inquieta e quer se virar para o outro lado e se libertar.

Quando consegue, primeiro se vira para o outro lado e depois se vira de

volta, mas a dois passos de distância. O homem soluça alto. Ele se

endireita, toca a mão da mulher com uma das mãos e segura a morta com

a outra.

A segunda representante que tinha sido incluída está sentada. O homem

continua soluçando. A mulher o envolve em seus braços e o segura. Ele

continua segurando a morta. Depois se endireita e envolve a mulher com

os braços. A representante que estava primeiro ao lado da morta está

sentada ao lado do homem. Ele também a toma nos braços e acaricia os

cabelos da morta. Ele junta as cabeças das duas mulheres e coloca a sua

entre elas. Depois olha para o céu.

HELLINGER: Ok. Obrigado aos representantes.

Para a mulher, quando ela se senta novamente ao seu lado: Foi em vão.

Para você foi em vão.


Os dois se olham longamente.

A PRÓPRIA FORÇA

HELLINGER para o grupo: Fechem os olhos.

Vou fazer uma meditação com vocês, em especial com aqueles que utilizam

as Constelações Familiares e que já procuraram ajuda através delas. A

pergunta é: o que foi em vão?

Após uma longa pausa: Agora penetramos na nossa própria força, apenas

na nossa própria força, e deixamos os outros em suas forças. Olhamos para

além de nossa vida em direção a um vazio infinito e ficamos parados.

O que acontece conosco? Diante desse vazio, ficamos parados.

O que acontece com os nossos pés? Sentimos a terra sob nossos pés.

O que acontece com os nossos pés após um instante? Onde obtêm a firmeza

enquanto olhamos para esse vazio? Só embaixo ficamos firmes. E nós,

entre eles, somos levados para algo infinito.

Após um instante: Ok.

Como se sentem?

O VAZIO

Vou fazer mais uma meditação com vocês. Vou explicar primeiro.

Imaginem que estão diante de vários mortos do seu passado. Aqueles que

já fomos um dia. As diversas vidas que já vivemos estão diante de nós.

Agora fechem os olhos. Enquanto esses mortos estão à nossa frente, estão,

ao mesmo tempo, dentro de nós, em nós, assim como diante de nós.

O que acontece conosco? Tornamo-nos menos? Tornamo-nos pequenos?

Tornamo-nos insignificantes? Nossas ideias se tornam ridículas?

Agora olhamos para além deles em direção a um vazio infinito.

Esquecemo-nos daqueles que estiveram diante de nós e que procuraram um

lugar e ajuda em nosso corpo e em nosso espírito.

Enquanto olhamos para esse vazio infinito e nos expomos a ele de forma


persistente, sem olhar para a direita, para a esquerda ou para trás, todos

aqueles que estavam conectados conosco se voltam para esse vazio. Eles

se movem em direção a esse vazio e nós ficamos atrás no lugar em que

estamos agora, encontrando a nova liberdade.

♦ CURSO EM MILÃO, 2013

TERAPIAS CURTAS MEDIAIS

INTRODUÇÃO

Sejam bem-vindos a este curso, que possui o estranho título de:

Constelações Familiares Mediais. Irei demonstrar isso. Começarei a

demonstrar para que vocês tenham uma imagem e sejam levados para essa

dimensão. De acordo?

Na ficha de inscrição encontra-se um subtítulo para o primeiro dia:

Terapias Curtas Mediais. Isso significa que irei demonstrar a cura através

de outra dimensão.

Há alguém aqui que deseja trabalhar comigo dessa maneira? Levantem a

mão para que eu possa escolher algumas pessoas.

Hellinger escolhe três pessoas e pede que elas se sentem ao seu lado.

PRIMEIRA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

AGORA JÁ BASTA

HELLINGER: Feche os olhos e diga a alguém internamente: agora já basta.

Após um instante, quando a mulher olha para ele: Sente-se de volta.

Para o grupo: Não pude fazer mais que isso.

Quando digo algo assim a alguém, não preciso de informações. Recebo de


outro lugar uma indicação sobre o que está pendente. Eu disse isso a ela.

Ao mesmo tempo, disse isso a todos aqui. Vocês podem acompanhar

quando digo algo assim. Podem sentir se estão ou não abertos para isso. Se

podem confiar em uma força espiritual ou se vocês se movem em uma

região na qual algo é feito por nós, como nas Constelações Familiares

convencionais. Nas Constelações Familiares convencionais, alguém vem a

mim e me pede que faça algo para ele da forma que ele deseja.

Então, a serviço de quem estou? Estou conectado a uma dimensão

espiritual? Aqui eu me movo em um outro nível.

O fato de ela não ter reagido ajudou. Foi uma lição para todos. Nesse

sentido, uma outra força atuou por trás dela. Ela atuou de forma prestativa

para muitos de nós. Ao mesmo tempo, vocês estão avisados: movemos- nos

em um outro nível aqui.

SEGUNDA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

AGORA VOU PARAR

HELLINGER: Qual é a questão?

MULHER: Dificuldades: uma dificuldade desencadeia a outra na área da

saúde e do trabalho.

HELLINGER: Onde está o seu amor?

A mulher acena com a cabeça, pensativa.

HELLINGER: Feche os olhos. Vou lhe dizer uma frase. Diga-a internamente,

da forma que é.

Para o grupo: Vocês também podem fazer isso.

A frase é: Agora vou parar.

A mulher respira fundo. Então, começa a chorar. Abre os olhos e os fecha

novamente.

HELLINGER quando ela abre os olhos: Fique de olhos fechados.


Para o grupo: Farei uma pergunta a ela e a todos vocês. Ela não precisa

responder a pergunta. Não para mim.

Para quantas pessoas essa frase fez bem? Quantas pessoas foram liberadas?

A mulher acena com a cabeça.

HELLINGER: Tudo bem?

MULHER: Obrigado.

SOBRE O PROCEDIMENTO

HELLINGER para o grupo: Qual é o meu procedimento?

Não preciso olhar para as pessoas. Quando me concentro, estou em sintonia

com elas através de outra força, uma força curativa, uma força criadora.

Nessa dimensão espiritual não há vencedores que desejem ganhar algo para

seu eu. Aqui, o amor vai igualmente para todos. Essa força atua

diretamente. Nesse nível não há brincadeiras.

Fechem os olhos. O que em vocês e em suas relações esperam que vocês

os deixem ir - para sempre?

Gostaria de dizer algo mais a esse respeito. Os sintomas e problemas que

muitos possuem vêm de uma ocupação. Ou seja, outros espíritos os

ocupam: os espíritos de antepassados, talvez de nossas vidas anteriores,

porque algo não foi concluído. Agora eles nos ocupam, por exemplo através

de um sintoma.

Sintam em vocês que sintoma se encontra em primeiro plano. Perguntem a

esse sintoma ou peçam a ele: "Por favor, diga-me quem você é.” Esperamos

pela resposta e perguntamos ao sintoma: "O que o liberta?"

Ao invés de olhar para essa pessoa ou para esse sintoma, esperamos até

sermos levados para outro nível, no qual a pessoa que está falando através

do nosso sintoma encontre a paz e a cura. Depois, chegamos a um outro

centramento, a uma força centrada.

Então, o que acontece em nós? Encontramos uma saúde, uma saúde

universal que nos conecta a muitas pessoas. Nesse nível, olhamos juntos

com muitas pessoas para muito além de nós e de nosso mundo. Olhamos


saudáveis para além.

Olhamos impotentes para essa outra força, para além de nossos desejos,

iguais a todos os outros. Iguais a todos os outros sem o eu.

Como se sentem ao fazer isso? Vocês foram levados para esse outro nível?

Para um nível feliz?

TERCEIRA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

VOCÊ É MELHOR - AGORA SOMOS IGUAIS

HELLINGER para a mulher que está sentada ao seu lado: Qual e a sua

questão?

MULHER: Minha relação com meu parceiro já não funciona mais.

HELLINGER: Ok, feche os olhos. Vou lhe dar uma frase que você pode dizer

a ele. Quando eu disser a frase, diga-a também internamente para ele, de

imediato.

Para o grupo: Vocês também podem participar, de preferência abertos, sem

cruzar os braços ou as pernas e sem deixar os olhos abertos, com medo do

que possa acontecer ou do que possa ser perdido. Fechem os olhos também.

Para a mulher: A frase que me veio é: Você é melhor.

Após um instante: Se tiver tido sucesso com essa frase, apenas se tiver tido

sucesso, diga a ele uma segunda frase. A frase é: Agora somos iguais.

Após um instante: Tudo bem?

MULHER: Tudo bem.

HELLINGER para o grupo: Isso foi uma prévia do assunto com o qual

trabalharemos o dia todo amanhã, o tema principal na vida de qualquer um:

homens e mulheres.

Como se sentem com as Constelações Familiares Mediais? Não constelei

nenhuma família. Nesse nível isso não é mais necessário. Entretanto, onde

for aplicável, demonstrarei também através de constelações.


CONSTELAÇÕES FAMILIARES ANTIGAS E MEDIAIS

Direi mais algo sobre essa dimensão. As Constelações Familiares

começaram pela observação de que, em uma constelação familiar que diz

respeito diretamente a uma família, ou seja, aos pais e filhos, os

representantes se conectam diretamente a eles, sem saber nada sobre eles.

Eu também me conectei aos indivíduos aqui, às vezes sem perguntar.

Entretanto, naquela época, essa conexão também era clara. Pois, de que

outra forma os representantes em uma constelação poderiam saber

diretamente algo sobre a família e se comportar e sentir de forma

correspondente? Eles se conectavam a um outro nível da consciência, ou

seja, a uma consciência muito além de nossos conhecimentos e capacidades

normais.

No início das Constelações Familiares, muitos consteladores intervinham

nos movimentos. Eu também fazia isso, porque não tinha consciência do

alcance dessa experiência.

Assim, muitos consteladores se comportavam como psicoterapeutas:

"Diga-me seu problema e irei procurar uma solução." Isso resultava em

uma relação entre você e eu, como ocorre na psicoterapia. Aí havia

determinadas ideias sobre certo ou errado. Reuni essas ideias em meu

primeiro grande livro: Ordens do Amor. Muitas coisas que estão nesse livro

são úteis até hoje.

Aqui, não precisei recorrer a essas ordens. Com isso que fiz aqui, não

precisei recorrer a elas. Nas Constelações Familiares Espirituais, ou, mais

precisamente, nas Constelações Familiares Mediais, movo-me para além

dessas ordens, para outro nível. Isso amedronta muitos daqueles que

estavam acostumados com as Constelações Familiares antigas. Amedronta

muitos daqueles que fazem uma formação como consteladores familiares,

que recorrem às Constelações Familiares antigas e se movem dentro delas.

Mesmo assim, as Constelações Familiares antigas são úteis. É útil conhecêla

e experimentá-la. Nesse sentido, a formação que oferecemos nesse

âmbito ainda tem seu lugar, um lugar provisório. Aqui vou além desse

nível.


Devo dizer algo mais sobre isso? Muitos daqueles que estão vinculados às

Constelações Familiares antigas são tomados por um medo profundo

quando ouvem falar desse movimento para outro nível. Contudo, não

podem evitar esse movimento, o futuro está em outro lugar. Levarei comigo

para esse nível aqueles dentre vocês que participaram ou estão participando

de uma formação. Os outros, que ainda não ouviram falar nada sobre isso,

também levarei da mesma forma, diretamente.

PARTILHA EM PEQUENOS GRUPOS

Sugiro que agora formemos pequenos grupos. Sentem-se juntos em grupos

de quatro ou cinco pessoas e partilhem uns com os outros aquilo que

experimentaram em si mesmos. Então estaremos todos no mesmo nível. O

fim desse movimento é o mesmo nível para todos.

PERGUNTAS

HELLINGER após essa partilha: Há alguma pergunta com relação ao que

vocês vivenciaram até agora?

Para uma mulher que havia feito uma pergunta (a mesma com a qual havia

trabalhado no começo): Qual era o seu problema? Por que você tinha se

apresentado?

MULHER: Pelo que ouvimos falar das Constelações Familiares Mediais,

significa que as constelações estão indo por um caminho completamente

novo?

HELLINGER: Sim, mas minha pergunta foi: "Qual era a sua questão quando

você chegou aqui?”

MULHER: Vim aqui porque queria olhar para a minha relação com a minha

família.

HELLINGER: Para quê?

MULHER: Na verdade, tinha a ver com o trabalho com minha família.

HELLINGER: Posicione-se ali.

Ela se posiciona a alguma distância, no semicírculo vazio em meio ao

grupo. Hellinger escolhe uma representante e pede que se posicione diante


da mulher que fez a pergunta, a uma certa distância. A mulher que fez a

pergunta permanece imóvel por muito tempo diante da outra mulher.

HELLINGER para o grupo: O que pudemos ver? Não houve movimento.

Qual foi a frase que dei a ela no começo? A frase foi: Agora já basta. Ficou

demonstrado que agora já basta aqui também. Mostrei tudo a ela.

Há mais alguma pergunta sobre o que aconteceu até agora?

MULHER: A pergunta não está bem clara. Gostaria de saber se, com essas

novas Constelações Familiares, a constelação individual deixa de ser

aplicada.

HELLINGER: Acabei de utilizá-la.

MULHER: Isso quer dizer que tudo continua valendo?

HELLINGER: Nem tudo. Aquilo que é decisivo se mostra sempre de

imediato. Aqui, tudo se mostrou imediatamente. A frase que disse a ela

continha tudo. Ok?

Ela acena com a cabeça.

HELLINGER: Parece que não há mais perguntas. Faremos um intervalo de

meia hora.

HISTÓRIA: A HONRA

HELLINGER após o intervalo: Há muitos anos, ouvi uma história. Na época,

não entendi suas dimensões. Posso contá-la a vocês?

Duas pessoas que estavam sentadas juntas fizeram-se a seguinte pergunta:

Como Jesus teria reagido se, ao ordenar a um doente: "Levanta, pegue a

sua cama e vá para casa", o doente tivesse respondido: "Mas eu não quero"?

Após alguns instantes, um dos dois disse: "Provavelmente, Jesus teria se

calado primeiro. Em seguida, diria a seus discípulos: ele honra a Deus mais

que eu."

Ok, prossigamos então com as terapias curtas mediais. Quem se habilita?

Hellinger escolhe três pessoas e as coloca sentadas ao seu lado.


QUARTA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

EU MERECI

HELLINGER: O que há com você?

MULHER: Minha questão é que não consigo ganhar dinheiro suficiente para

me sustentar.

HELLINGER: Feche os olhos e diga internamente: Eu mereci.

Após um instante: Vou deixar assim. Pode sentar-se.

Para o grupo: Isso foi uma brincadeira da parte dela. Da minha parte

também. Nesse nível, a brincadeira para.

QUINTA DEMONSTRAÇÃO:

UMA MULHER

HELLINGER: Qual é a sua questão?

MULHER: Tenho um problema nas mãos.

HELLINGER: Que tipo de problema?

MULHER: Tenho um tipo especial de deformação nos dedos e também

artrose nos dedos.

HELLINGER: Feche os olhos.

Após um instante: Não me vem nenhuma frase. Vou respeitar essa

instrução. Pode sentar-se.

Para o tradutor: Entretanto, tive uma resposta para mim: Você fez bem.

Risadas no grupo.

Sim, recebemos respostas além de todas as brincadeiras.


SEXTA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

A SERIEDADE

HELLINGER: Qual é a sua questão?

MULHER: O seminário em Bozano há duas semanas desencadeou

movimentos muito profundos em mim. Isso provocou dores muito fortes

nas minhas costas e pernas.

HELLINGER para o grupo: Como ela falou comigo? Ela levou a sério? Ela

não levou a sério. Brincou comigo. Riu ao falar. Por isso, vou deixar como

está.

Acompanhar esse movimento espiritual só permite a seriedade e o

comprometimento total, a prontidão total para seguir outro caminho. Ela

exige de mim e também de vocês, se desejarem penetrar aí, há reverência.

A quê? À vida e à morte.

Quem mais se habilita? Foi útil podermos vivenciar isto aqui. Por isso,

também nos torna mais cuidadosos. Então paramos com o "Faça isso por

mim".

Quem está pronto para se expor a isso?

Três participantes se apresentam e sentam-se ao lado de Hellinger.

SÉTIMA DEMONSTRAÇÃO, UM HOMEM:

AH, QUE PENA QUE EU TENHA TE RECONHECIDO TÃO

TARDE!

HELLINGER para esse homem: Feche os olhos. Está vindo para mim uma

frase bem simples. Todos vocês podem acompanhá-la. A frase é: "Ah, que

pena que eu tenha te reconhecido tão tarde!”

O participante chora.

HELLINGER após um instante: Ok?

Quando verifico essa frase internamente, também em minha vida, meus


olhos se enchem de água.

OITAVA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

AGORA ACABOU

HELLINGER para uma mulher: Concentre-se. Imagine que você pisa no chão

com força e grita para alguém: Agora acabou. No entanto, você o faz sem

dizer. A ação já basta. Ok.

Para o grupo: O espiritual é forte sem ser mal.

NONA DEMONSTRAÇÃO, UM HOMEM:

O ESPIRITUAL

HELLINGER: Qual é a sua questão?

HOMEM: Está ligada exatamente a isso. Por um lado, sinto-me atraído para

isso, para o lado espiritual...

Quando ele quer continuar falando, Hellinger o interrompe.

Feche os olhos e diga para esse lado: Estou me lixando para você.

Como se sente?

HOMEM: Diferente, sinto-me diferente.

HELLINGER: Diferente é bom. Tudo de bom para você.

Para o grupo: O espiritual, o nível do espírito, é mundano.

PERGUNTAS

HELLINGER: Alguma pergunta sobre o que aconteceu até agora?

Uma mulher senta-se ao seu lado.

HELLINGER: Feche os olhos e diga a alguém: Vou parar.

Após um instante: Ok. Sua pergunta está respondida?


Ela ri.

SUBGRUPOS

Formaremos subgrupos novamente e compartilharemos nossas

experiências pessoais.

Após um instante: Vamos prosseguir.

O QUE SIGNIFICA “MEDIAL”?

Quero dizer mais uma coisa sobre a palavra medial. A palavra medial não

pode ser traduzida para o italiano. Por isso, propus outro termo, que

também soa bem em alemão: "Guiado por um outro nível". Dessa forma,

deixamos o nível das Constelações Familiares convencionais. Gostaria

agora de demonstrar as Constelações Familiares Mediais, ou seja,

associada às terapias curtas mediais. Trata-se aqui de terapias, ou seja,

especialmente de doenças.

Quem quer trabalhar comigo dessa forma?

DÉCIMA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

SINTOMA DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

HELLINGER para uma mulher que se apresentou: Qual é a questão?

MULHER: Trata-se de um sintoma de estresse pós-traumático.

HELLINGER: Não sei o que é isso, mas vou constelar.

Hellinger escolhe uma representante para a mulher e uma representante à

qual pede para se deitar de costas em frente à mulher.

A mulher quer ir até a morta. A morta rola no chão, várias vezes,

afastando-se dela e mantém as mãos em frente ao rosto.

HELLINGER: Pare. Tudo se revelou.

Todos voltam aos seus lugares.

HELLINGER: OS dois representantes estavam conectados a um outro nível,


sem saber do que se tratava. Mas a mulher sabia do que se tratava. Isso

basta.

DÉCIMA PRIMEIRA DEMONSTRAÇÃO, UM HOMEM:

O LADO DIREITO

HELLINGER: Mais alguém quer vivenciar essa Constelação Familiar Medial

e se expor a ela?

Um homem se apresenta e senta-se ao lado de Hellinger.

HELLINGER para esse homem: O que em sua vida o bloqueia?

HOMEM: O lado direito. A parte direita.

HELLINGER: Ok, posicione-se ali então.

Hellinger escolhe um representante e pede que se posicione diante dele.

HELLINGER para esse representante: Você é o lado direito dele.

O representante anda um pouco para o lado e vira as costas para o homem.

O homem fica inquieto e dá alguns passos para trás.

HELLINGER: O lado direito tem algum futuro? Não, desviou-se dele. Ok,

isso é tudo.

Hellinger pede ao homem que se sente novamente ao seu lado.

HELLINGER: Você tem filhos?

HOMEM: Não.

HELLINGER: Aconteceu o mesmo movimento.

Quando ele quer se virar para Hellinger: Não precisa dizer nada. Mas há

um contexto aí. Posso deixar como está?

HOMEM: Sim, isso basta.

HELLINGER para o grupo: Isso o tocou. Dessa forma, algo entrou em

movimento nele e isso atinge o objetivo.


Para o grupo: Como se sentem com as terapias curtas mediais? O que isso

requer de vocês? Requer apenas uma coisa: ir na direção. Isso é tudo.

DÉCIMA SEGUNDA DEMONSTRAÇÃO, UMA MULHER:

SEU CANALHA

HELLINGER: Mais alguém quer fazer algo comigo?

Uma mulher se apresenta e senta-se ao seu lado.

HELLINGER para essa mulher: Feche os olhos e diga a alguém

internamente, apenas internamente, mas alto, internamente: Seu canalha.

A mulher olha para cima, fecha os olhos e está mexida.

HELLINGER após um instante: Ok.

EXERCÍCIO: A PALAVRA DECISIVA

HELLINGER para o grupo: Farei mais um exercício com vocês.

Fechem os olhos e olhem para aqueles nos grupos que pertencem a vocês.

Vocês descobrirão alguém que espera por uma palavra de vocês. Talvez

seja uma criança. Direi a vocês a palavra pela qual essa pessoa espera, e

vocês a dirão a essa pessoa, partindo do fundo de vocês. A palavra é: Sim.

HOMEM E MULHER:

PASSADO E PRESENTE

Seminário aberto em Milão, 2013

HISTÓRIA INTRODUTÓRIA:


DOIS TIPOS DE FELICIDADE

HELLINGER: Buongiorno. Sei um pouquinho de italiano. Mas falo pelos

olhos. E, às vezes, conto histórias. Histórias sobre homens e mulheres,

talvez vocês possam constatar algo nelas para seus próprios

relacionamentos.

Experimentamos a grande felicidade em uma relação de casal. A felicidade

para o homem é a mulher, e a felicidade para a mulher, assim espero, é o

homem. Naturalmente, existem diversas dificuldades entre eles. Hoje

abordarei essas dificuldades e procuraremos juntos por uma boa solução.

A história que vou contar se chama: Dois tipos de felicidade. A primeira

felicidade é a felicidade entre o homem e a mulher, de uma forma especial.

A segunda parte também, mas com certas diferenças. Posso começar a

contar? Estão ouvindo? Ok.

Na antiguidade, quando os deuses ainda pareciam estar bem próximos dos

homens, viviam em uma pequena cidade dois cantores, ambos chamados

Orfeu. Um deles era o grande. Ele havia inventado a citara, um antecessor

da guitarra, e quando tocava as cordas e cantava, encantava a natureza à

sua volta. Animais selvagens deitavam-se mansos a seus pés. Árvores

altíssimas curvavam-se diante dele. Nada podia resistir à sua música.

Por ser tão grande, cortejava a mulher mais bela. É o que ocorre com os

grandes. Então, ergueu o copo cheio, a mulher era o copo cheio, e levou-o

à boca para beber. No entanto, enquanto erguia o copo, este se quebrou.

Enquanto ainda desfrutava de seu casamento com a bela Eurídice, ela

morreu, e a grande felicidade se foi. Todavia, a morte não foi um obstáculo

para o grande Orfeu. Auxiliado pela sua arte sublime, encontrou o caminho

para o mundo inferior, penetrou o reino das sombras, atravessou o rio do

esquecimento, passou pelo cão do inferno, chegou vivo ao trono do deus

dos mortos e o apaziguou com sua canção. A morte libertou Eurídice, mas

sob uma condição: no caminho de volta; ele não poderia olhar para trás.

Orfeu ficou tão feliz que não percebeu a malícia por trás dessa graça.

Iniciou o caminho de volta e ouviu, por trás de si, os passos da mulher

amada. Passaram ilesos pelo cão do inferno, atravessaram o rio do


esquecimento e começaram a subir em direção à luz. Viam-na de longe.

Então, Orfeu ouviu um grito. Assustado, virou-se para trás e viu as sombras

caindo na noite: estava sozinho.

Desorientado de dor, cantou a canção de despedida: "Ai de mim, eu a perdi,

toda a minha felicidade se foi."

Ele próprio voltou à luz, mas sua vida permanecera junto aos mortos. Ao

ser chamado por mulheres embriagadas para a festa do novo vinho, se

recusou, e elas o despedaçaram vivo.

Tão grande sua infelicidade, tão vã a sua arte.

No entanto, o mundo inteiro o conhece! Esta foi a primeira história.

O outro Orfeu era o pequeno. Cantava apenas baladas, apresentando-se em

pequenas festas, para pessoas simples, mas se divertia. Uma vez que não

conseguia viver da própria arte, tinha outra profissão como seu ganha-pão.

Casou-se com uma mulher comum, teve filhos comuns, cometia uns

pecados de vez em quando e morreu velho e satisfeito com a vida.

Mas ninguém o conhece - além de mim.

Duas histórias de vida. Fico mais com a segunda.

Agora vou começar com o curso. É uma honra recebê-los. Trata-se de um

grupo grande que se inscreveu somente para hoje. Vocês sabem que estão

inseridos em um seminário que começou ontem e continua amanhã. Hoje

teremos um tema especial, conhecido de vocês, o velho tema: homem e

mulher. Aqui com o complemento: passado e futuro.

O UM A PARTIR DE DOIS

Temos a primeira experiência entre homem e mulher com nossos pais.

Fechem os olhos.

Vamos imaginar que nossa mãe está à nossa esquerda e nosso pai à nossa

direita. Estamos no meio e damos as mãos a eles.


Em nós, o pai e a mãe se tornaram "um". Cada um de nós é, através de seus

pais, tanto homem quanto mulher. O masculino e o feminino estão ligados

inseparavelmente em nós.

Então nascemos. Embora o masculino e o feminino tenham se tornado "um"

em nós, de forma inseparável, nascemos como homem, menino, ou como

mulher, menina. Ou seja, a unidade original é mais uma vez separada. No

entanto, uma vez que originalmente somos "um”, tanto homem quanto

mulher, buscamos restabelecer a unidade original. É por isso que o homem

busca uma mulher para si e a mulher, um homem para si. Eles se tornam

"um” na união sexual. O resultado é uma criança. Na criança, tornam-se

novamente "um”.

A união entre homem e mulher é o elemento decisivo na vida. Nada é

maior. Nada é mais frutífero! Nada é mais divino!

Na Bíblia há uma história sobre a criação do homem. Ela diz que "Deus

criou o homem à sua imagem." Depois há uma explicação sobre o que é

essa imagem. "Ele a criou como homem e mulher.” Para Deus, o homem e

a mulher juntos são uma imagem. Esse é o fundamento.

A REALIDADE

Como é isso na prática? Quantos homens se colocam contra as mulheres?

Quantos homens, no passado, oprimiram, subjugaram e dominaram as

mulheres? Aonde foi parar a unidade? Onde está ela hoje?

Na relação entre homem e mulher, o que importa é a unidade em todos os

sentidos. Essa unidade é o serviço divino decisivo. Nada é mais religioso.

Nada nos conecta de maneira mais intensa com o poder oculto da criação,

do qual vem todo o amor.

Essa foi, por assim dizer, minha introdução. Sabemos quantos desafios

existem para restabelecer a unidade e vivenciá-la felizes.

A PRÁTICA

Agora gostaria de demonstrar, através das Constelações Familiares, como


essa unidade pode ser reencontrada e vivenciada. A maneira mais simples

seria trabalhar com um casal, se houver um marido e uma esposa juntos

aqui. Então poderão olhar juntos para aquilo que serve à sua unidade.

Vocês estão de acordo?

Se houver um casal aqui que queira trabalhar comigo, levante as mãos.

Onde está a esposa? Ah sim, os dois. Já há casais suficientes, assim já terei

bastante o que fazer. Começarei com vocês. Venham cá.

Hellinger escolhe um casal que havia se apresentado e pede que eles se

sentem ao seu lado.

Para o grupo: Este curso trata das Constelações Familiares Mediais. Tratase

de uma forma que se restringe ao necessário, e não preciso saber nada

sobre eles. Tudo o que é decisivo vem à tona através do trabalho.

Para o casal: Estão de acordo se eu fizer desse jeito?

CASAL: Sim.

Para o grupo: Dessa forma eles também ficam protegidos. A área pessoal

é protegida.

Hellinger escolhe um representante para o homem e uma representante

para a mulher. Ele pede que fiquem um em frente ao outro.

Para os representantes: Deixem-se mover da forma como são movidos

internamente, sem palavras.

A mulher coloca a mão direita em frente ao peito e respira fundo. Ela

segura a cabeça com a mão e coloca as duas mãos nas bochechas.

O homem abre os braços de maneira convidativa e vai em direção à

mulher, cambaleando. Ela estende uma mão para ele, depois ambas, e as

abaixa novamente. O homem continua indo em sua direção. Eles se olham

nos olhos, mas ficam parados. Depois se dão as mãos com cuidado e

continuam a olhar-se intensamente nos olhos.

Hellinger inclui mais uma mulher e pede que se posicione. Ela fica a

alguma distância.

O homem olha para ela. Sua esposa se coloca ao seu lado esquerdo. Ambos


olham para a outra mulher.

O homem ainda está com os braços abertos. Sua mulher o envolve com o

braço por trás. Depois recua um pouco. O homem vai com os braços

levemente abertos em direção à outra mulher. Eles sorriem um para o

outro. A outra mulher se vira após um instante e retorna.

Marido e mulher ficam novamente frente a frente. Após um instante, o

homem olha para além de sua mulher. Ela se afasta dele lentamente.

HELLINGER: Ok, obrigado.

Após um instante para a mulher: Como se sente?

MULHER ri: Não muito bem.

HELLINGER para o homem: E você?

HOMEM: Estou tocado.

HELLINGER para o casal: Continuem por aqui.

Para o grupo: Como se sentem ao olhar para isso?

O PASSADO

Toda vida tem um passado. Uma das compreensões mais importantes que

já tive foi que, com o primeiro contato sexual, é estabelecido um vínculo

para a vida toda. Isso também vale para o chamado abuso. Quando há uma

ligação sexual no início da vida, por exemplo entre a filha pequena e o pai

ou o menino pequeno e a mãe, surge um vínculo para a vida toda. Isso

também vale, é claro, para quando já somos maiores e entramos em contato

com alguém do outro sexo. Se houver a consumação do ato sexual, surge

um vínculo para a vida inteira.

Isso mostra a forma elementar como a consumação do ato sexual determina

a nossa vida. Ficamos vinculados ao primeiro parceiro por toda a vida.

Nessa constelação, pudemos ver que havia algo que se colocava no

caminho do relacionamento atual.

Ainda estão me escutando? Trata-se de um tema que diz respeito a todos

nós. A pergunta é para onde ir a partir daí. Há uma solução para isso?


A solução é possível quando reconhecemos o vínculo, os vínculos

anteriores como parte de nós. Isso vale principalmente para a primeira

relação sexual, ou seja, para o chamado incesto.

Estou cometendo uma gafe aqui e me expondo a muita hostilidade. Quando

constelo isso, fica claro que existe um amor profundo original. Aqui não

importa se a primeira relação foi violenta. A solução é reconhecer a

existência desse amor profundo. Nem sempre é uma ligação emocional,

mas uma ligação fundamental: a primeira na qual homem e mulher se

tornam um. A partir daí, permanecem por toda a vida vinculados entre si.

Quem combate ou demoniza isso aniquila o futuro da pessoa em questão,

cujos relacionamentos posteriores têm pouco ou nenhum futuro. Quando,

por outro lado, reconhecemos que isso também se tratou de uma realização

de vida que se apossou não só do espírito, mas também do corpo, eles ou

nós, podemos nos soltar dessa primeira relação, ao levá-la junto para uma

relação posterior. Ou seja, o conceito de casamento único é completamente

alheio à vida real. A realidade é diferente e a felicidade também.

NOSSOS VÍNCULOS ANTERIORES

Farei um exercício com vocês agora. Fechem os olhos.

Voltamos à nossa vida, à nossa primeira ligação sexual. Seja como tenha

sido, nós a tomamos em nosso coração, exatamente como foi. Sentimos

como ela continua a atuar em nosso corpo e em nossa alma.

Após a termos tomado dessa forma em nosso coração e em nosso corpo,

vamos para a próxima relação sexual, seja como tenha sido, e a tomamos

em nosso coração. Crescemos nela como homem ou mulher. Ela continua

atuando em nós. Tornamo-nos mais maduros através dela, mais homem e

mais mulher.

E vamos à próxima, à próxima e à próxima, até a nossa ligação atual como

homem e mulher.

O que muda quando o passado pode vir junto? Mas sem contar nada sobre

isso ao parceiro! Exceto aspectos públicos, ou seja, uma união pública

como homem e mulher, por exemplo, um casamento anterior. Mas,


também, nesses casos, sem dizer coisas íntimas ao outro e sem perguntar

ao outro sobre esse tipo de coisa. Permanece algo "pessoal" e algo

"sagrado".

Para o casai. Ok, agora vocês podem voltar.

Para o grupo: Como estão vocês? O que se passou agora? Devo dizer? Foi

um serviço divino?

As CONSTELAÇÕES FAMILIARES MEDIAIS

Ainda há algo sobre o que refletir. Aqui, também se trata das Constelações

Familiares Mediais. A vida que vivemos aqui é uma de muitas. Houve vidas

anteriores, provavelmente muitas, naturalmente também com relações que

continuam atuando em nós, até hoje.

Quando, em uma relação, existe algo diante do qual sacudimos a cabeça,

algo das vidas anteriores está atuando. Se sabemos disso, podemos ser mais

cuidadosos.

Vocês ainda conseguem me escutar? Devemos prosseguir?

A DUPLA TRANSFERÊNCIA

Uma experiência importante que tive, ou seja, o pano de fundo de muitas

brigas entre homem e mulher, tem a ver com algo que se passou antes na

família.

Às vezes, notamos que os casais têm brigas de repente que não podem ser

compreendidas por quem está de fora. É sempre a mesma briga. Ela tem a

ver com algo que se passou na família. Vou dar um exemplo. Participei de

um curso com Jirina Prekop. Ela demonstrou a "Festhaltetherapie" [Terapia

da Contenção) e também quis demonstrar a "Festhaltetherapie” entre

casais. 2

Um casal estava deitado no chão, homem e mulher. De repente, o rosto da

mulher se modificou. Ela parecia uma mulher de 80 anos. Eu pedi que ela

mantivesse essa expressão facial e perguntei de quem havia assumido

aquele rosto. Ela disse que era o rosto de sua avó. Perguntei o que havia

2 NR: o termo "festhalten" em alemão significa segurar firme, conter com firmeza.


acontecido com ela.

O avô possuía um restaurante junto com essa mulher. Às vezes, arrastava

a mulher pelos cabelos no restaurante na frente dos clientes. Terrível!

Vocês conseguem imaginar os sentimentos dessa mulher? Ela poderia

expressar tais sentimentos algum dia? Não! Mas esses sentimentos estão lá

e querem ser mostrados. E agora a neta, essa mulher, assumiu os

sentimentos de sua avó. Trata-se de uma transferência. Isso é uma

transferência. Da avó para a neta. Agora ela tem que expressar esses

sentimentos.

Ela os expressa diante de seu marido. Ele é completamente inocente, mas,

uma vez que a ama, aceita isso. Isso também é uma transferência, da mulher

para o homem.

Esta é a dinâmica da dupla transferência. Sempre que vocês conhecerem

um casal que briga continuamente em relação a mesma coisa - talvez vocês

mesmos sejam assim, que isso ocorra em seus relacionamentos e vocês

conhecem essa dinâmica - deve haver uma separação. Ou seja, a mulher

deve se soltar de sua avó. Ao invés de tentar se vingar em seu nome, deixa

esse sentimento com a avó. Senão, está se colocando acima da avó. Então,

ela deixa a infelicidade antiga com a avó. Então, olha para seu marido, não

para o avô, só para o marido. Então a relação dos dois como casal pode dar

certo.

Ainda tenho muito a dizer e mostrar sobre como resolver algo assim, sobre

como a felicidade volta a surgir a partir da infelicidade.

UM CASAL HOMOSSEXUAL

HELLINGER: Vamos continuar. Este curso trata também das Constelações

Familiares. Gostaria agora de trabalhar mais uma vez com um casal e

demonstrar isso. Também tenho muito a dizer ainda sobre o que aconteceu

há pouco. Por exemplo, sobre o exercício do poder em uma relação de

casal. Especialmente sobre o exercício do poder entre homens e mulheres

e sobre como podemos superar isso de uma boa maneira. Tem algum casal


aqui que gostaria de trabalhar comigo? Levantem as mãos para que eu possa

escolher alguém.

Dois homens se apresentam.

HELLINGER: Vocês são um casal?

PRIMEIRO HOMEM: Sim!

HELLINGER: Há quanto tempo?

PRIMEIRO HOMEM: Há um ano e meio.

HELLINGER: ISSO também é uma relação de casal. Podemos olhar o que isso

significa.

Hellinger escolhe dois homens.

Para esses representantes: Fiquem um em frente ao outro e vamos ver o

que acontece.

Um dos homens vai lentamente em direção ao outro. Depois volta para

trás, vira-se para o lado e olha para o chão.

HELLINGER: Preciso de uma mulher.

Ele escolhe uma mulher e pede que se deite de costas em frente a esse

homem.

O homem vai lentamente em sua direção. A mulher coloca uma mão sobre

o peito e a segunda no pescoço. Depois estende uma mão para ele e segura

seu pé. Depois também segura seu outro pé brevemente. Após um instante,

ela recolhe as mãos.

HELLINGER: Preciso de mais uma mulher.

Ele escolhe outra mulher e pede a ela que se deite de costas em frente ao

outro homem.

A outra mulher, no chão, contorce as mãos e olha para o lado, para longe

do homem.

A segunda mulher também contorce as mãos.

A primeira mulher estica a mão até o pé do homem e o empurra. O homem


se ajoelha diante dela.

Enquanto isso, o segundo homem também se ajoelhou diante da mulher que

está no chão diante dele. Ela abre os braços, como se estivesse procurando

algo. Depois segura o pescoço com uma das mãos.

A primeira mulher também segura o pescoço com uma das mãos e, depois,

coloca as duas mãos na cabeça. O segundo homem se deita ao lado da

mulher no chão à sua frente. Ela se vira para o outro lado e estende a mão

para o lado esquerdo, como se buscasse alguém.

Agora o primeiro homem se ajoelha diante da mulher no chão. Após um

instante, ela bate na perna dele. Ele recua e vai de joelhos em direção à

outra mulher e ao outro homem. O outro homem lhe dá as costas e se vira

para a mulher no chão. Ela acaricia sua cabeça, mas se afasta dele e olha

para o outro lado. Entretanto, continua a tocá-lo com uma das mãos. Ele

se aproxima dela e toma sua mão.

Enquanto isso, a primeira mulher no chão rastejou até a segunda. Elas se

tocam e se dão as mãos.

HELLINGER: Acho que posso parar por aqui. Obrigado aos representantes.

Para o primeiro homem: Como está você?

PRIMEIRO HOMEM: Estou acabado.

HELLINGER para o segundo homem: E você?

SEGUNDO HOMEM: Sinto muito movimento em minha barriga.

HELLINGER: Nunca havia feito algo assim antes. Também não tenho

nenhuma imagem. Mas sem mulheres não é possível, sem as mulheres

mortas, é claro! Elas desempenham um papel. Precisam de um lugar em

seus corações, independente do que tenha acontecido no passado. Aí algo

em suas vidas poderá se mover, seja para onde for. Fomos conduzidos aqui

por uma outra dimensão. Tudo de bom para vocês.

AMBOS OS HOMENS: Obrigado.

HELLINGER: Podem voltar agora.


O AVANÇO

HELLINGER: Tenho uma imagem estranha. Vou falar da forma como me

veio. A homossexualidade está avançando, independente do que o

indivíduo queira ou não queira. É um movimento global, independente do

que o indivíduo deseje. São tomados a serviço por outras forças.

A imagem que vimos aqui é de que são atraídos em direção a mulheres

mortas. As mulheres assumem um lugar central.

Não sei se devo dizer tudo. Um novo horizonte se abre para mim. Não

pensei sobre isso e não tenho nenhuma imagem, mas esse movimento

medial nos leva para outro lugar. A imagem que me veio agora é de que os

homossexuais são atraídos por mulheres mortas, por mulheres contra as

quais algo foi feito.

Se temos isso em nosso campo de visão, o que nos vem primeiro à mente?

A mim me vêm as mulheres oprimidas, de muito tempo atrás. Creio que

vou parar por aqui. Algo entrou em movimento com essa constelação aqui

neste grupo.

Para os dois homens: Sou grato a vocês por terem tido a coragem de se

posicionar diante disso. É uma ajuda para muitos, também para mim foi

uma grande ajuda.

PODER E CONTRAPODER

Um tema que considero importante é o poder. O exercício do poder em

diversas relações de casal. Como o poder é exercido? Como o poder se

coloca no caminho do amor? Sempre que o poder é exercido, provoca um

contrapoder. Há sempre dois poderes que se contrapõem. De maneira

explícita ou oculta. Nesse exercício do poder, o amor é destruído e se

coloca no caminho de o homem e a mulher "tornarem-se um".

Quando um casal é tomado pelo amor, os dois não são mais os mesmos.

São arrebatados. Sem poder. Os apaixonados não exercem poder. Tornamse

"um”. Essa intimidade sofre danos tão logo o poder entra em cena.


Isso não desempenha um papel apenas entre os casais individuais, entre

homem e mulher, mas principalmente entre "as mulheres” e "os homens”.

Falei algo anteriormente sobre essa transferência em um exemplo. Isso está

em primeiro plano. As mulheres sofreram tantas injustiças e violências no

passado, que as mulheres de hoje se aliam às de antes. Assumem suas dores

e seu ódio contra os homens. Aí sentem-se fortes. Mas não para o amor:

para outra coisa.

A pergunta é: qual seria a solução? A solução não está no casal individual,

entre a mulher e o homem. A solução é global.

Devemos prosseguir? Para as mulheres, isso é especialmente importante.

A solução é que olhem para o sofrimento das mulheres de antes e para a

injustiça feita com elas. Olham para isso humildemente, com respeito. As

mulheres de antes são as grandes. Nós, que viemos depois, ficamos

embaixo.

Então as mulheres de antes podem assumir todo o seu tamanho, e as

mulheres de hoje sentem essas mulheres de antes por trás de si. Sentem sua

força e colocam-se a serviço da vida com um homem a seu lado, não

debaixo de si.

Ao seu lado! Aí acaba o exercício de poder em uma relação de casal. A

mulher não exerce poder sobre o homem, e o homem não exerce poder

sobre a mulher. Dessa maneira, deixam em paz um ao outro.

Então se unem, têm filhos e olham juntos para os filhos. Como fazem isso?

Quando se trata de criar um filho, a mulher pode dizer ao homem: ‘‘Ficarei

feliz se nossos filhos forem como você.” E o homem pode dizer à mulher:

"Ficarei feliz se nossos filhos forem como você." Imaginem como os filhos

se sentem. Eles respiram aliviados. Então temos uma família feliz, sem

exercício de poder. Essa é uma imagem ideal.

AS CONSCIÊNCIAS DIFERENTES

O que se coloca no caminho disso? O fato de o homem e a mulher virem

de famílias diferentes. Ambos são vinculados a suas famílias,

incondicionalmente, através de suas consciências. O homem e a mulher têm


consciências diferentes. O homem quer converter a mulher à sua

consciência e a mulher quer converter o homem à sua consciência. As

brigas de casais geralmente são brigas entre duas consciências diferentes -

e entre os deuses aos quais essas consciências servem. Devo prosseguir?

Vejo que o que estou dizendo é perigoso.

Toda consciência serve a um Deus próprio. A consciência da mulher serve

ao Deus de sua família. A consciência do homem serve ao Deus de sua

família. De que o homem deve ter medo ao se desviar da consciência de

sua família? Deve ter medo de ir para o inferno. E vice-versa, naturalmente.

Seria muito mais fácil se houvesse apenas homens e mulheres, sem seus

deuses.

A relação de casal prospera com a saída dos deuses. O homem se separa do

seu Deus e do Deus de sua família. A mulher se separa do seu Deus e do

Deus de sua família. De que mais eles se separam? Eles se separam dos

membros antigos de sua família. Tornam-se livres de repente, livres um

para o outro. Isso é uma relação de casal bonita.

PARTILHA EM PEQUENOS GRUPOS

Sugiro que façamos pequenos grupos de quatro ou cinco pessoas e que

vocês compartilhem entre si o que vimos e ouvimos aqui. Vamos tirar dez

minutos para isso.

Como foi essa partilha para vocês?

Muito bom, muito bom!

Todos no mesmo barco.

Hoje à tarde também terão a oportunidade de fazer perguntas: perguntas

que surgiram do trabalho que foi feito até agora aqui.

O CAMINHO ESPIRITUAL

Ainda tenho alguns minutos. Gostaria de dizer algo sobre uma antirrelação

de casal.


Todos que vão em direção a um chamado caminho espiritual, vão em

direção a um caminho da mulher. Qual dos grandes gurus tem uma mulher?

Para onde nos levam? Para o Deus que criou o ser humano como homem e

mulher? Reflitam sobre isso.

Onde está Deus então? Onde está o decisivo? Está em cima ou embaixo?

Está embaixo!

Palmas no grupo.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

HELLINGER: Estão prontos para saber mais sobre o homem e a mulher do

ponto de vista das Constelações Familiares Mediais?

Primeiro irei abrir para perguntas sobre o que aconteceu hoje de manhã.

Quem tiver perguntas pode levantar a mão.

FILHINHA DO PAPAI

MULHER: Hoje cedo você nos deu a tarefa e nós realizamos o trabalho de

olhar para os nossos relacionamentos anteriores um após o outro. Aí

consegui determinar qual é o meu problema. A maioria dos meus

relacionamentos foi com homens casados.

HELLINGER: Qual é a pergunta?

MULHER: Por que não tenho um homem, um homem livre só para mim?

HELLINGER: Você permaneceu como filhinha do papai.

MULHER: O que preciso fazer, ou o que deveria fazer?

HELLINGER: Nada. Quem tem o pai como marido não precisa de mais

ninguém. A relação com um parceiro só funciona mediante a separação do

pai e da mãe. A filhinha do papai, que, por assim dizer, substituiu a mãe

para o pai, não precisa de outro homem.

O mesmo vale para homens que têm a mãe como parceira. Quando a mãe

não tem uma boa relação com seu marido, um filho substitui o pai.


Mas existem algumas frases simples para a solução. Devo dizê-las? O pai

diz a você: "A mamãe é melhor”.

Para o grupo: Agora ela está me seduzindo. Mas eu tenho uma mulher

melhor. Está claro para você?

O DESEJO

MULHER: Minha pergunta tem a ver com situações entre homem e mulher

em que ocorrem situações extremas. Posso falar de mim mesma?

Quando uma relação entre homem e mulher chega a um extremo realmente

perigoso e tenho até mesmo a impressão de que existe o perigo de eu perder

a minha vida. De que eu seja morta nessa situação.

HELLINGER: Se você permanecer aí, está desejando isso para si.

MULHERES HOMOSSEXUAIS

MULHER: Hoje cedo o tema também disse respeito à homossexualidade.

Você falou de mulheres que sofreram ou que sofrem. O que acontece no

caso inverso, no caso da homossexualidade entre mulheres? O que poderia

estar por trás disso?

HELLINGER: Não sei. No caso dos homens homossexuais, surge um vínculo.

No caso das mulheres homossexuais, não. As mulheres homossexuais são

livres para outra coisa. No caso dos homens homossexuais, isso é difícil,

porque surge um vínculo.

MOSTRAR-SE

MULHER: Minha pergunta é a seguinte: gostaria de saber qual a

importância, em uma relação de casal, de sermos vistos como realmente

somos.

HELLINGER: Mais fácil seria nos mostrarmos como realmente somos.

CONSTELAÇÕES


PRIMEIRA CONSTELAÇÃO: COMPAIXÃO

HELLINGER: Agora gostaria de prosseguir com o trabalho e constelar

novamente um casal. Há algum casal aqui que gostaria de trabalhar

comigo?

Para o casal que se apresentou e se sentou ao seu lado: Vocês são casados?

MULHER: Não.

HELLINGER: Há quanto tempo estão juntos?

MULHER: Há um ano e meio.

HELLINGER: Não vou trabalhar com vocês.

MULHER: Ok, obrigado.

HELLINGER: Por que não? Tive compaixão do homem.

SEGUNDA CONSTELAÇÃO

HELLINGER: Mais algum casal se atreve? Vocês viram que não entro em

brincadeiras.

Um casal se apresenta e senta-se ao lado de Hellinger.

HELLINGER: Vocês são casados?

HOMEM: Não.

HELLINGER: Vocês têm filhos?

HOMEM: Em comum não, mas eu tenho. Tenho uma filha com uma parceira

anterior.

HELLINGER: E a mulher?

MULHER: Não.

HELLINGER: Há quanto tempo estão juntos?

HOMEM: Há nove meses.

HELLINGER: Ok, vamos constelar isso. Preciso de um homem para ele e de


uma mulher para ela.

Hellinger pede que eles se posicionem frente a frente, a alguma distância

um do outro.

O homem recua, se afastando dela. Ele dá as costas, bate com as mãos

contra o rosto e vai para o chão. Então fica deitado com ambas as mãos

em frente ao rosto. A mulher vai até ele e acaricia suas costas. O homem

treme intensamente e bate com os pés no chão. A mulher ainda está com

uma mão em suas costas.

HELLINGER: Acho que posso parar por aqui. Vimos o que é decisivo e eles

também. Obrigado aos representantes.

Para o casal: Tudo de bom para vocês.

AS VIDAS PASSADAS

HELLINGER para o grupo: Ao ver algo assim, vejo por trás da mulher outras

mulheres de suas vidas passadas, que desejam alcançar algo através dela.

Também vejo isso por trás do homem: outros homens de gerações e vidas

passadas. Isso continua agora.

Hoje de manhã já foram feitas as perguntas: "Como nos libertamos da nossa

consciência? Como nos liberamos das nossas vidas passadas quando estão

ameaçando a atual? Devo falar mais sobre isso?”

A LIBERAÇÃO

Acontece mais ou menos como a liberação de nossa consciência. Ou seja,

nos afastamos daquilo que nos prende a essa vida. Nós nos libertamos das

almas que se apossam de nós de forma que não possamos mais levar a nossa

própria vida.

CONTINUAÇÃO DA CONSTELAÇÃO

HELLINGER para esse homem: Venha até aqui mais uma vez e posicionese

ali.

Hellinger escolhe oito representantes e pede que se posicionem e se deixem

mover da forma como são movidos.


Uma mulher deita-se de costas à sua frente e estica os dois braços. Um

outro representante abaixa-se até a mulher e a acaricia. Os outros também

se abaixam até ela, deitam-se a seu lado e a seguram. No fim, todos estão

deitados no chão.

Hellinger vai até o homem em questão e o leva para o lado, para fora do

grupo. Juntos, olham novamente para esse grupo. Depois ele o leva de

volta para seu lugar, ao lado de sua mulher.

Para esse homem: Como você está agora?

HOMEM: Estou melhor.

HELLINGER: Agora olhe mais uma vez para trás rapidamente e vire-se

novamente.

Hellinger chama sua parceira e a coloca à sua frente. Após alguns

instantes, ela coloca as mãos em volta de seu pescoço e o envolve nos

braços de forma íntima.

HELLINGER após um instante: Ok.

Para o grupo: Como vocês se sentem ao olhar para isso? Conduzi vocês de

uma consciência estreita para uma consciência ampla, em outro nível.

MEDITAÇÃO

Agora vocês podem fazer isso também como um exercício interno, como

uma meditação.

Fechem os olhos. Olhamos agora para o nosso parceiro e o colocamos a

alguma distância de nós. Então colocamos junto várias outras pessoas:

homens e mulheres. Observamos para onde ele é atraído. Como essas

pessoas se movem? O que nelas parece incompleto?

Como pudemos ver nessa constelação: quase todas essas pessoas, embora

estejam mortas, ainda querem algo. Ainda precisam de algo e, por isso, se

aderem a um vivo, nesse caso, a nós.

Agora olhamos para elas de longe, sem chegar muito perto. Depois nos

afastamos delas cada vez mais.


Depois nos viramos e olhamos para o nosso parceiro. Nós o encontramos?

Ou ele também está vinculado a várias pessoas do passado de uma forma

que o prende?

Ele começa o mesmo movimento. Olha para eles e se afasta deles

lentamente. Só depois se vira para nós. Ambos estão livres.

O PRESENTE DIVINO

Aonde cheguei agora? Uma relação de casal bem-sucedida é um presente

divino. Não basta que a queiramos. Outras forças estão em ação aqui.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Alguma pergunta sobre isso? Alguém tem alguma pergunta?

Várias pessoas se apresentam e sentam-se ao lado de Hellinger.

TENHO O SUFICIENTE

HELLINGER para uma mulher: Feche os olhos e diga a alguém

internamente: Tenho o suficiente.

Para o grupo: Vocês podem fazer junto. Podem dizer isso a alguém

também. Após um instante: Posso parar por aqui?

MULHER: Sim, obrigado. Mas ainda gostaria de dizer algo.

HELLINGER: Não.

Para aqueles que não estão familiarizados com isso, tratou-se de uma

terapia curta medial.

ACABOU

MULHER: Como esse movimento dá certo? Como podemos superar aquilo

que representa um obstáculo no caminho até o próprio parceiro?

HELLINGER: Posicione-se ali e olhe para frente nessa direção.

Hellinger escolhe outra mulher e pede a ela que se coloque de frente para

a mulher que fez a pergunta.


A mulher que fez a pergunta se afasta da outra mulher, dá as costas e bate

no rosto com as mãos.

Hellinger diz à outra mulher que ela pode sentar-se novamente. Depois

escolhe um homem e pede que se coloque diante dessa mulher.

A mulher vai lentamente em direção ao homem, com as mãos cruzadas

sobre o sexo. Ela tenta tocá-lo. Ele não olha para ela e, após um instante,

ajoelha-se. A mulher continua tentando tocá-lo, mas não consegue.

Hellinger escolhe outra mulher e pede que se deite de costas em frente ao

homem, a vários metros dele. O homem vira a cabeça para a direita,

desviando-se dela e da mulher. A mulher cruza as mãos em frente ao peito

e se afasta dele.

Ela vai lentamente até a mulher morta, que lhe estendeu uma mão, e tenta

puxá-la para si. Enquanto isso, o homem se levanta, mas ajoelha-se

novamente.

HELLINGER: O que pudemos ver aqui sobre uma relação de casal e sobre

uma possível relação de casal para ela? Acabou! As chances acabaram. Ok,

obrigado aos representantes.

Para a mulher: Vou parar por aqui. Vimos tudo. Você viu tudo.

Para o grupo: Resumi as chances de uma relação de casal para as mulheres.

Sem mãe não há marido.

Para a primeira representante: Você foi a mãe. Você foi a mãe e também

havia uma morta. Mas não vou entrar nisso.

Para o grupo: Como se sentem com isso? Conseguem continuar

participando quando as coisas ficam sérias?

EU PARO

HELLINGER para uma mulher: Agora você pode fazer perguntas.

MULHER: NO começo consegui ver o que você chama de peculiaridade da

relação de casal. Ainda a sinto em mim, mas não a vejo mais, a

peculiaridade da relação de casal.


HELLINGER: Não entendo isso.

Para o grupo: Vocês entenderam a pergunta? Não? Quando não

entendemos, existe alguma outra coisa atual.

Para a mulher: Feche os olhos e diga internamente a alguém: Eu paro. Ok?

MULHER: Obrigada.

HELLINGER: Parar é o primeiro passo para novos mundos.

OS FILHOS

HELLINGER: O assunto principal deste curso são o homem e a mulher. Mas

o que são um homem e uma mulher sem filhos? Os filhos são o

preenchimento de uma relação de casal. A relação de casal é voltada para

os filhos. Sem filhos, a relação de casal é incompleta. Hoje em dia, quando

se fala de uma relação de casal, muitos pensam apenas em homem e mulher.

Antigamente era claro: um ano após o casamento vinha o primeiro filho. A

relação de casal voltava-se para o filho. Somente o filho a tornava

completa. O filho é o resultado visível de uma relação de casal.

A pergunta é o que acontece com uma relação de casal quando chega um

filho. Primeiro, os dois parceiros ficam ocupados, intensamente ocupados.

Depois a relação de casal cresce.

Agora vem a pergunta: a quem o filho pode pertencer? Um dos parceiros

atrai o filho para si e o afasta do outro parceiro? Ou o filho pode ir e vir

entre os pais? Hoje em dia, podemos ver que várias mulheres atraem o filho

para si. Ou seja, o homem fez sua obrigação e agora pode sumir. Estou

exagerando, é claro. O filho que permanece com a mãe, ou seja, que é

atraído para si pela mãe, perde a conexão com o mundo. Pobre criança!

Vocês conseguem acompanhar? É o pai que introduz o filho no mundo. O

pai o conduz para o mundo vasto para além das fronteiras da família. Por

isso, o pai deve começar desde cedo a levar o filho consigo para o mundo.

Então acontece mais uma coisa com os filhos. Algo é transmitido aos

filhos. E há a frase, a frase elementar, que podemos observar nas


Constelações Familiares. A mãe diz à criança: "Você por mim." É

principalmente a mãe que diz isso, raramente o pai. O que significa o "Você

por mim"? Significa, no final, "Morra por mim.”

Isso está relacionado aos sentimentos de culpa. Aquele que possui um

sentimento de culpa deseja punir-se. Espera que a autopunição o liberte da

culpa. Muitas doenças e casos de infelicidade resultam de um sentimento

de culpa. Com o sentimento de culpa, a pessoa deseja ser liberta da culpa

por meio da punição, principalmente da própria morte.

Quando olhamos para o cristianismo, vemos que todo ele se baseia na ideia

de que alguém tem que morrer para que a culpa seja expiada. Primeiro

acredita-se que Jesus tenha tido que morrer na cruz para nos libertar de

nossos pecados.

Não é uma loucura? Essa ideia não é louca? Mesmo assim, muitas famílias

vivem com a ideia em que se espera: morra por mim. Aí as crianças ficam

doentes e arrogantes. Elas dizem: "Vou fazer isso, vou expiar por você. Sou

eu a grande aqui. Quando a mãe ou outra pessoa diz "Você por mim", a

criança diz, em resposta, "Eu por você."

A PREOCUPAÇÃO

Fiz observações peculiares a esse respeito. Uma mulher chega e diz: "Meu

filho está com 24 anos e estou preocupada com ele.” Agora verifiquem em

si mesmos com que crianças vocês se preocupam. Fechem os olhos.

Aí está uma criança com a qual vocês se preocupam. Agora imaginem que

essa criança morre. Como se sentem então? Melhor ou pior?

Toda preocupação é um desejo de morte. E o que ocorre com a relação de

casal? Ela acaba, é claro. Muitas vezes um parceiro diz - é principalmente

o homem que diz à mulher: "Eu por você.” E a mulher diz a ele,

secretamente, é claro: “Você por mim.” Se o homem morre, como fica a

mulher? Ela fica melhor.

DEMONSTRAÇÃO: TODOS MORTOS

Relações de casal podem ser perigosas, principalmente para os homens.

Acho que devo parar por aqui, mas quero demonstrar isso. Alguém conhece


alguma mulher que esteja preocupada com seu filho ou sua filha? Não vou

trabalhar com questões pessoais, isso é muito arriscado aqui. Deve ser

alguém que não conhecemos e que não está aqui agora.

Uma mulher se apresenta e senta-se ao seu lado.

HELLINGER: Trata-se de uma mulher ou de um homem com preocupações?

MULHER: Uma mulher.

HELLINGER: O filho é menino ou menina?

MULHER: Menino.

Hellinger escolhe representantes para a mulher e para esse garoto e os

posiciona frente a frente, a uma certa distância entre si.

A mulher primeiro estende uma das mãos e depois ambas as mãos em

direção ao filho, deforma convidativa.

HELLINGER: ISSO se chama tentação.

O filho se ajoelha e se deita. A mulher também se ajoelha e se deita.

HELLINGER: AÍ podemos ver o outro movimento aqui. É o resultado da

preocupação: todos mortos.

Para a mulher e os representantes: Obrigado, nós vimos.

SACRIFÍCIO DOS FILHOS

Aonde fui me meter? Agora há o perigo de atribuirmos uma culpa à mulher.

Escrevi um livro há pouco tempo que foi publicado em alemão e, em abril

ou maio, sairá também em italiano. O livro se chama "As Igrejas e o seu

Deus". 3

No livro há um capítulo sobre o sacrifício dos filhos. Explorei esse assunto:

o sacrifício dos filhos. Descrevo a história dos sacrifícios de filhos.

Lembro-me que, em Israel, existe uma escavação de um templo, muito

3 Este livro foi publicado pela Editora Atman.


tempo antes de o povo judeu se estabelecer em Canaã. Lá existe um grande

altar de pedra para o sacrifício de crianças. Elas eram sacrificadas ali,

principalmente os primogênitos. A ideia é que isso traria o bem aos pais,

ou seja, que Deus exigiria o sacrifício dos filhos.

Quando os povos israelitas se estabeleceram em Canaã, também adotaram

essa prática. Havia nas proximidades de Jerusalém um templo próprio para

sacrifícios de crianças. Eram oferecidas a um deus chamado Moloque. Os

pais iam até lá. A imagem do deus era um forno. Ele era aquecido e os pais

jogavam os filhos nele e cantavam tão alto que não ouviam os gritos das

crianças. Então esperavam que a bênção de Deus descesse sobre eles.

Estamos distantes dessa ideia? Ou no centro dela? Quantas crianças são

sacrificadas hoje em dia? Por exemplo, ao serem abortadas. São

sacrificadas para que a mãe fique bem. Isso é amplamente difundido.

No judaísmo, os profetas vociferaram contra isso, contra esse movimento,

mas foi em vão. Isso só foi parar quando Jerusalém foi conquistada pelos

babilônios e o povo judeu aprisionado.

A pergunta é: o que acontece com Jesus? Ele vai até o Monte das Oliveiras,

transpira sangue e roga a Deus: "Afasta de mim este cálice, contudo, não

seja feita a minha vontade, mas a tua." Essa vontade foi feita: Jesus morreu

na cruz.

A ideia no cristianismo é: ele morreu para obter a reconciliação com esse

Deus. Quem o pregou na cruz? Os carrascos? Ou Deus, seu chamado pai?

Hoje em dia, carregamos a cruz de Jesus junto com ele pela Via- Sacra.

Sacrificamos nossa vida para obter a reconciliação com esse Deus. Então,

muitos pais e mães, mas principalmente as mães, esperam que um filho

morra para que a bênção de Deus desça sobre eles.

Mas existem alternativas: esperam que um filho seja oferecido a Deus, por

exemplo, quando o filho se torna padre ou a menina vai para o convento,

como esposa de Jesus.

Não é uma loucura? O que se espera é que, dessa forma, a bênção de Deus

desça sobre essa família.


O mesmo movimento ocorre quando um dos pais diz a um filho: "Você por

mim."

Vou contar-lhes uma história sobre isso. Originalmente eu a escrevi, há

muitos anos, sobre sacrifícios de crianças. Atribuí esse sacrifício infantil a

Deus. Mas não é a Deus que essa criança é sacrificada. Não é Deus que

quer isso! É a mãe que quer isso, ou o pai! A pergunta é: como encontramos

o caminho através dessas ideias terríveis e das ações que as acompanham

até um outro amor?

Agora fechem os olhos e lhes contarei a história.

Por um lado, trata-se de uma história verdadeira, que está na Bíblia, mas

penetrarei em sua profundidade. A história é a seguinte:

Certa noite, um homem sonhou que ouvia a voz de Deus, que lhe dizia.

Levanta-te, toma teu filho, teu único e querido filho, leva-o à montanha

que eu lhe mostrarei e ali me oferece esse filho em sacrifício.” O filho se

chamava Isaque.

De manhã, o homem se levantou, olhou para seu filho, seu único e querido

filho, levou-o à montanha que lhe foi mostrada, construiu um altar, amarrou

as mãos do filho, puxou a faca e queria sacrificá-lo.

Mas então ouviu outra voz e sacrificou uma ovelha ao invés de seu filho.

O que mudou agora nessa família?

Como o filho olha para o pai agora?

Como o pai olha para o filho?

Como a mulher olha para o homem?

Como o homem olha para a mulher?

Como eles olham para Deus? E como Deus - se é que Ele existe - olha para

eles?

Mas quem era esse Deus? Quem é esse Deus? Apenas o pai! Apenas nós,

quando esperamos pela morte de um filho para que fiquemos bem.

Agora prosseguirei com a história, com a solução da história.


Um outro homem sonhou, à noite, que ouvia a voz de Deus, que lhe dizia:

“Levanta-te, toma teu filho, teu único e querido filho, leva-o à montanha

que eu lhe mostrarei e ali me oferece esse filho em sacrifício.” De manhã,

o homem se levantou, olhou para seu filho, seu único e querido filho, olhou

para a sua mulher, a mãe do seu filho, olhou para o seu Deus e lhe

respondeu, encarando-o: "Isso eu não faço."

Como o filho olha para o pai agora?

Como o pai olha para o filho?

Como a. mulher olha para o homem?

Como o homem olha para a mulher?

Como eles olham para Deus? E como Deus - se é que Ele existe - olha para

eles?

O sacrifício de filhos ainda não acabou e nem os pais que estão dispostos

a sacrificar seus filhos.

Alguém de nós é pessoalmente culpado? Ou nos movemos, de diversas

formas, em um campo de sacrifícios de filhos com a frase "Você por mim”?

E como os filhos concordam com a frase "Eu por você"? E então, movemonos

dessa maneira em um tremendo campo de batalha.

Qual é então a solução? Tomamos em nosso coração todas essas crianças

que foram sacrificadas, de forma sangrenta ou não, pois elas não estão

mortas: estão todas presentes. Dizemos uma palavra a elas "Por favor,

voltem!".

Ousei dar um grande passo para frente. Como? Com amor.

Sugiro que formemos novamente pequenos grupos e compartilhemos

nossas experiências.

O FUTURO

Como vocês estão? Filhos: essa foi a outra dimensão da relação de casal.


Quando nosso olhar está voltado para essa dimensão, podemos dar um

passo decisivo em direção a outro futuro.

Este curso, que terá continuidade amanhã, conduz a um outro nível da

consciência, para além do bem e do mal.

Bem e mal, certo e errado são inevitáveis para nós enquanto estivermos sob

a influência de nossa consciência. Nesse outro nível, essas diferenças

acabam. Então não há mais exercício de poder sobre os outros, seja sobre

um parceiro, seja sobre os filhos. Nesse outro nível, tudo pode permanecer

junto da forma que pertence.

Isso exige de nós uma mudança em todos os aspectos. Não podemos forçar

isso. Somos levados até aí quando paramos de fazer distinções entre bem e

mal. Primeiramente, em nós mesmos, no parceiro e nos filhos. Nesse outro

nível, todos juntos são um, de uma forma que vai muito além de nossas

ideias.

Gostaria ainda de contar-lhes uma história, para finalizar este curso. Depois

da história, sairemos desta sala sem falar uns com os outros, sem aplausos

ou coisa parecida. Vamos centrados para o nosso dia a dia. Como?

Transformados!

Durante um curso sobre organizações na Holanda para o qual fui

convidado, o apresentador me sugeriu que constelássemos a igreja como

uma organização. Ou seja, a iniciativa veio dele e eu concordei.

Pedi a ele que escolhesse uma representante para a igreja. Ele escolheu uma

mulher. A representante da igreja simplesmente ficou lá parada.

Deixei-me guiar e disse a ele: agora escolha um representante para Jesus.

Ele escolheu um homem, que veio até o palco. Lá estava a igreja, olhando

para frente nessa direção, e o homem que representava Jesus estava lá, sem

olhar para a igreja. Ele olhava nessa direção, para além da igreja.

Então pedi ao coordenador que escolhesse mais alguém, novamente um

homem, como representante de Deus. Ele escolheu um homem, que subiu

a escada até o palco, mas não totalmente.

Jesus deu alguns passos até Deus e depois recuou. Então Deus subiu no


palco. Nem Deus, nem Jesus olharam para a igreja. Quando Deus já estava

no palco, Jesus foi até ele em passos pequenos e eles se abraçaram de forma

afetuosa. Então Jesus soltou-se de Deus e recuou para bem longe dele.

Enquanto isso, algo aconteceu com a igreja. Ela se inclinou bem para frente

e olhou para o chão. Sabemos o que isso significa a partir das Constelações

Familiares: a igreja estava olhando para mortos.

Escolhi uma mulher para representar esses mortos e pedi a ela que se

deitasse de costas diante da igreja. Ela fez o que pedi.

Então, algo curioso aconteceu. Deus se pôs no chão ao lado desses mortos

e começou a chorar. Deus chorou. Depois se deitou ao lado dos mortos e

fechou os olhos. Ele também estava morto. Essa foi a história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: MOVIMENTOS DO

ESPÍRITO

O OUTRO ESPAÇO

Gostaria de dizer algo sobre o Espírito. Não sabemos o que é isso. Alguns

imaginam que o Espírito seja algo concreto, que entra em contato conosco

concretamente, de uma forma especial. Quando imagino isso, quando tento

pensar sobre isso, torna-se claro que esse Espírito criador está em contato

com todos da mesma maneira. Então digo adeus à ideia de que esteja

voltado de uma forma especial para mim. Ele está voltado para todos os

outros de forma especial.

Quando nos sentimos capturados por um movimento espiritual, assim como

vocês se sentem como representantes nas constelações, sentimos que somos

capturados por um outro movimento. Não pessoalmente, mas a serviço de

um movimento para muitos ao mesmo tempo. Em sintonia com esses

movimentos, entramos em sintonia com um outro amor, para além do nosso

eu. Não podemos relacionar isso a nós pessoalmente, quero dizer, apenas

pessoalmente: nós nos sentimos na corrente desse amor infinito.

Sentimo-nos levados para um espaço completamente diferente, para um


espaço espiritual e para uma consciência universal. Obtemos compreensões

que vão muito além do nosso pensamento. Vocês também experimentaram

isso durante os exercícios que fizemos aqui. Nesse espaço, quando somos

capturados pelos movimentos do espírito, deixamos para trás tudo aquilo

que se coloca no caminho do amor a tudo, principalmente a culpa.

BEM E MAL

Nesse lugar não cabe mais a culpa. E nos livramos de todas as tentações de

expiar por uma culpa.

Experimentamos em nós dois movimentos opostos. Não nos sentimos

apenas bem. Os movimentos do espírito causam o bem, aqui no sentido de

que servem à vida. Ao mesmo tempo, esses movimentos também são

destrutivos. Eles destroem algo para abrir espaço para o novo. Nesse

sentido, as guerras também são movimentos do espírito.

Fiquei tocado quando alguém me disse que os Astecas abrem mão de tudo

após 52 anos, para abrir espaço para o novo. Na religião judaica também

existe esse movimento: desprender-se para o novo.

O TERRÍVEL

Sentimos em nós, em nossa alma, mesmo em contato com um movimento

do espírito, algo de terrível. Então queremos superar isso, por assim dizer.

Queremos nos livrar disso. Contudo, todos nós somos levados juntos em

movimentos que causam danos, que aparentemente causam danos, pois, nos

grandes movimentos, eles auxiliam o progresso e o avanço da vida.

Quando experimentamos isso em nós, quando sentimos isso, esse elemento

agressivo, concordamos com ele como um movimento do espírito. Então o

antagonismo do bem e do mal é extinto em nossa alma, em um movimento

maior. Somente assim nos tornamos realmente um com os movimentos do

espírito. É uma experiência mística de unificação. É a mística plena na qual

tudo tem seu lugar e tudo serve ao amor no final. Assim, atingimos dessa

maneira uma postura religiosa completamente diferente. Quando a

atingimos, tornamo-nos felizes: podemos concordar com tudo da forma que

é.


ESPÍRITOS BONS E MAUS

Há mais uma coisa que me faz pensar: por exemplo, uma canção que chama

bons espíritos. Parece que existe um outro domínio, para além do humano,

no qual também há uma diversidade de seres espirituais que vêm nos ajudar

a serviço da força superior.

Também temos a ideia de anjos da guarda. Não se trata meramente de uma

ideia. Muitas pessoas já sentiram que um anjo da guarda de repente estava

lá e colocava-se ao lado deles. Ou seja, ao invés de procurar a conexão

direta com essa força espiritual, podemos deixar que bons espíritos nos

acompanhem.

A pergunta é: existem também espíritos maus? A ideia de que também há

forças más em ação é bastante difundida. Nas Constelações Familiares,

vemos que representantes de mortos querem levar pessoas vivas para a

morte consigo.

Alguns espíritos atuam de forma má. Por exemplo, levando pessoas vivas

para a morte ou à loucura.

A PAZ DOS MORTOS

O que vemos nas Constelações Familiares? Quando damos espaço para os

movimentos do Espírito, algo se modifica para esses mortos. No final,

desprendem-se dos vivos e fecham os olhos. Então deixam os vivos em paz.

E mais: tornam-se anjos da guarda para os vivos. Ou seja, há algo que deve

ser colocado em ordem para esses mortos, de nós para eles. Colocar isso

em ordem significa sempre: nós os tomamos como são em nosso coração,

mesmo os chamados criminosos. Eles são acolhidos na alma da mesma

maneira. Agora vocês percebem que se trata de um grande movimento do

Espírito, que acolhe todas as pessoas, independente de sua culpa e de seu

destino. Só alcançamos isso se unirmos o bem e o mal em nossas almas em

uma unidade mística, como um movimento do Espírito.

Não sei dizer se os bons e maus espíritos foram pessoas antes ou se há

ainda outros espíritos. Prefiro deter-me aos mortos. Então estou conectado

da forma mais íntima com esse outro mundo e com eles nessa força eterna.


AS IMAGENS DE DEUS

Esse espírito eterno, essa força divina - chamo-a de divina aqui - não é algo

que possamos compreender com os nossos conceitos de Deus.

Direi algo ousado: todas as nossas imagens de Deus, do bom Deus, do juiz,

são ofensas a Deus. Trata-se de uma ousadia sem igual. Pois esse Deus é

bom e mau. Acima de tudo, é assustador. O chamado Deus do amor é, na

verdade, um Deus assustador, do qual todos devem ter medo.

Esse espírito eterno, esse movimento espiritual, não permite imagens.

Também não permite religiões. Nem rituais. Para que serve isso? O que

queremos com rituais? Queremos influenciar Deus? Aqui também não há

casas de Deus ou intermediários. Existe a experiência de um movimento do

amor para todos.

Precisamos então ter medo? Podemos pedir a essa força que ela ajude

alguém? Podemos amar mais que essa força? Aqui termina também a

oração, os desejos e todos os medos.

Como encontramos essa força? Ela está no exterior? Ou está em nós? Algo

pode se movimentar em nós sem ter vindo dessa força?

O que é a missa? Vamos com esse movimento da vida em nós. Qual é a

postura religiosa máxima? Ficamos simplesmente presentes diante desse

espírito eterno, sem movimento próprio. Simplesmente presentes da forma

que somos. É essa a realização para todos.

ANEXO

HELLINGER SOBRE SI MESMO


O que me levou a escrever esse livro?

Em primeiro lugar, embora tenha ficado amplamente conhecido através das

Constelações Familiares, fui professor por muitos anos na África do Sul,

em escolas para nativos. Por último, fui reitor do renomado St. Francis

College, em Mariannhill, então uma das principais escolas para africanos

negros da África do Sul. Preparei-me para exercer esse cargo através de um

curso de três anos na Universidade de Natal e na University of South Africa,

o qual concluí com um University Education Diploma. Ele me qualificou

para ser professor em escolas superiores na África do Sul.

Em segundo lugar, na África do Sul, associei-me ao novo movimento da

dinâmica de grupo. Através da experiência direta, os participantes

aprenderam as leis segundo as quais um grupo se organiza de maneira que

todos os participantes sejam levados em consideração e acolhidos. Concluí

a formação em dinâmica de grupo e apliquei essas leis na escola com

sucesso. Elas me ajudaram a estabelecer um clima de confiança mútua, no

qual ninguém era deixado de fora.

Em terceiro lugar, as Constelações Familiares me forneceram

compreensões sobre as ordens fundamentais em nossas relações. Eu as

reuni sob o título de Hellinger® sciencia, pois se revelam fundamentais

para todas as relações humanas.

Pode-se observar que tanto os pais quanto seus filhos se encontram

vinculados a eventos ocorridos em gerações anteriores e ao ambiente ao

qual foram expostos. Na Pedagogia Hellinger, estes são trazidos à tona de

maneira que todos os afetados possam respirar aliviados. Um outro destino

espera por eles: próximo à vida e com confiança.

Já apresentei essas compreensões em vários cursos para pais e filhos e para

professores e alunos, alguns deles junto com a minha esposa Sophie.

Este é um livro prático, tanto para educadores em escolas e institutos

quanto para pais que buscam ajuda quando seus filhos lhes escapam. Tratase

de uma ajuda também para outros ajudantes que estão prontos para

auxiliá-los de diversas maneiras.


HELLINGER® SCIENCIA

A Hellinger® sciencia, escrita aqui propositalmente dessa forma, é uma

ciência do amor do Espírito. Trata-se de uma scientia universalis: a ciência

universal das ordens da convivência humana, começando pelas relações na

família, ou seja, a relação entre homem e mulher e entre pais e filhos,

incluindo a educação destes, passando pelas ordens no trabalho, na

profissão e nas organizações e chegando, finalmente, às ordens entre os

grupos abrangentes, como povos e culturas.

Ao mesmo tempo, trata-se da scientia universalis relacionada às desordens

que, na convivência humana, levam aos conflitos que separam as pessoas

umas das outras, ao invés de uni-las.

Essas ordens e desordens são transmitidas ao corpo. Desempenham um

papel importante no que diz respeito a doenças e à saúde do corpo, da alma

e do espírito.

Por que essa ciência é chamada de Hellinger® sciencia? Essas

compreensões foram obtidas e descritas por mim. Testei-as na prática

publicamente. Como resultado, muitos puderam verificar o efeito dessas

compreensões tanto em si mesmos quanto em suas relações e ações. Isso

mostra que se trata de uma ciência real.

Como ciência, a Hellinger® sciencia está em movimento. Ou seja, ela se

desenvolve continuamente, também a partir da experiência e das

compreensões de muitas outras pessoas que penetraram nela e em suas

consequências. Como ciência viva, não constitui uma escola, como se

estivesse concluída e pudesse ser transmitida e aprendida como algo

definitivo. Também não está sujeita a controles de resultados, como se

pudesse ser avaliada conforme parâmetros externos a ela e tivesse que se

justificar diante deles. Sua justificativa é seu efeito e seu sucesso. Trata-se

de uma ciência aberta em todos os sentidos.

A DIMENSÃO ESPIRITUAL

Através das compreensões diretas sobre as ordens e desordens, a


Hellinger® sciencia alcançou uma outra dimensão: uma dimensão

espiritual. A partir dela torna-se conhecido o alcance dessas compreensões.

Também, a partir dela podem ser experimentados em todas as áreas o

significado universal e as consequências que resultam dessas

compreensões.

O que é essa compreensão espiritual e quais são as suas dimensões? Essa

compreensão parte de uma observação e das consequências que resultam

dela: nada do que existe se movimenta por si só. É movimentado a partir

de fora. Mesmo quando algo se movimenta como se estivesse se

movimentando por si só, como, por exemplo, tudo aquilo que está vivo,

esse movimento possui um começo que não pode vir dele próprio. Por isso,

todo movimento, mesmo o movimento de tudo que é vivo, parte de um

movimento vindo de fora. Não apenas no começo, mas ininterruptamente,

pelo tempo em que essa vida durar.

Ainda há algo a considerar aqui: todo movimento, em especial todo

movimento vivo, é um movimento consciente. Pressupõe uma consciência

em relação à força que move tudo. Em outras palavras: todo movimento é

um movimento pensado. Entra em movimento porque é pensado por essa

força e entra em movimento da forma como é pensado.

Então, o que se encontra no começo de cada movimento? Um pensamento

que pensa tudo da forma que é.

Qual é a consequência? Não há nada que esse pensamento não queira da

forma que é e da forma que se move. Todo movimento é, no final, um

movimento desse espírito. Também por isso, para esse espírito, nada para.

Ele pensa tudo o que foi da mesma forma que nos pensa no presente e que

pensa tudo o que virá.

Uma vez que ele pensa o futuro juntamente com o passado, o passado está

relacionado em tudo com esse futuro. O passado está em movimento em

direção ao futuro e nele alcança sua realização.

Mas também o futuro se tornará passado e, como passado, também se

movimenta em direção a um futuro. Não é concebível para nós que esse

pensamento que tudo move pare. Da mesma forma que não pode haver nada


que não foi pensado por ele, também não pode haver nada depois dele.

Quem ou o que ainda pensaria depois dele?

Diante desse pensamento, cessam muitas das suposições e ideias que até

então eram importantes para nós. Por exemplo, a suposição do livre

arbítrio, a suposição da responsabilidade pessoal. Muitas das distinções e

julgamentos de mundo que sustentam a nossa cultura desaparecem.

Aqui, refiro-me especialmente à distinção entre bem e mal, entre certo e

errado, entre escolhido e descartado, entre em cima e embaixo, alto e baixo,

melhor e pior e, finalmente, entre vida e morte.

Entretanto, continuamos fazendo essas distinções e também as

Vivenciamos. Elas também não são pensadas e desejadas da forma que são

por esse espírito?

Aqui, deve-se considerar: o passado e o futuro não são o mesmo. O passado

está a caminho desse futuro. Por isso existe, para a nossa experiência, um

antes e um depois e um mais ou menos.

O que é esse menos? O que é esse mais? Trata-se de menos consciência ou

mais consciência. Encontramo-nos em um movimento de menos consciente

para mais consciente. Encontramo-nos em um movimento de menos

consciente, em sintonia com esse espírito e seu movimento abrangente,

para mais consciente, em sintonia com seu movimento. Assim, existe para

nós um movimento de mais ou menos que não é concebível para esse

Espírito. Para ele não há mais ou menos. Mesmo assim, esse movimento

está em tudo. Tudo aquilo que encontramos dentro dele é pensado por esse

Espírito. Ele é pensado dessa forma para nós por esse Espírito,

independente do que demanda de nós como experiência no caminho para

mais consciência.

Quem alcança esse mais com relação à consciência? Quem alcança esse

mais com relação à sintonia com a consciência desse Espírito? Nós

pessoalmente? Nós sozinhos nesta vida? Ou será que todas as pessoas, do

passado, presente e futuro, estão juntas nesse caminho e alcançam essa

consciência juntos com todos? Eles a alcançam juntos com todas as

experiências já vivenciadas e que ainda serão vivenciadas, por nós e por


muitos outros, nessa vida e em muitas outras? Aqui também, apenas juntos?

A LIBERDADE

É claro que nos sentimos livres sob diversos pontos de vista. É claro que

nos sentimos responsáveis pelos nossos atos e suas consequências. Ao

mesmo tempo, sabemos, entretanto, que uma outra força, um poder

espiritual capaz de mover tudo, pensou, moveu e desejou nossa liberdade,

nossa responsabilidade e nossa culpa, com todas as suas consequências, de

forma que as vivenciássemos como nossas próprias.

Então agimos diferente? Podemos agir diferente? De onde devemos tirar a

força para nos mover e agir de outra forma?

O que nos resta aqui? Continuar agindo como agimos até agora e concordar

com nossa liberdade, nossa responsabilidade, nosso passado e nossa culpa,

com todas as suas consequências, como são e como as experimentamos.

Ao mesmo tempo, entretanto, nós as Vivenciamos como um mais em

termos de sintonia consciente com esse espírito que tudo move. Também

as Vivenciamos como um mais em termos de consciência, para nós e para

todos que assumem conosco as consequências de nossa liberdade e de nossa

responsabilidade e que foram envolvidos nas consequências de nossas

ações e de nossa culpa.

Esses muitos indivíduos vivenciam o mesmo processo de outra forma. Eles

obtêm uma experiência diferente a partir do mesmo processo. Se puderem

perceber-se simultaneamente livres e não-livres, alcançam um mais em

termos de consciência, quem sabe até um mais em sintonia com esse

espírito que tudo move. Alcançam um mais em termos de consciência que

os leva e que leva muitos outros a dar mais um passo no caminho para a

consciência abrangente.

A PREOCUPAÇÃO

Nessa dimensão espiritual, a preocupação acaba. A preocupação com

relação ao futuro da Hellinger® sciencia também. Ela vem de um

movimento do espírito, da forma como foi pensada por esse espírito,

independente de alguém concordar com ela ou a rejeitar. Como uma ciência


universal, manifesta sua verdade tanto num caso quanto no outro,

simplesmente através do seu efeito.

E quanto às preocupações que temos com relação ao futuro: com relação

ao nosso futuro, ao futuro de outras pessoas e ao futuro do mundo? Elas

não acabam por revelarem-se ingênuas, como se pudéssemos mudar ou

evitar algo através delas? Seriam preocupações contrárias aos movimentos

do espírito, como se fossem independentes dele.

É diferente no caso das preocupações que possuímos em sintonia com os

movimentos desse espírito. Essas são preocupações provenientes do

cuidado a serviço do mundo, da forma como é movido por esse espírito.

Estão em sintonia com as suas preocupações e cuidados. Essas

preocupações estão em sintonia com as ordens da vida, também com o seu

início e fim.

O FUTURO

Em sintonia com o pensamento desse espírito, todo futuro para nós é agora.

Esse espírito pensa tudo agora. Na dimensão espiritual acaba a preocupação

quanto ao que está por vir. Tudo o que está por vir nos é mostrado agora,

em sintonia com esse movimento. Uma vez que há algo por vir, há um

futuro para nós, mas um futuro agora.

A Hellinger® sciencia é uma ciência para o agora. Todas as suas

compreensões atuam agora e atuam imediatamente. Todas as resistências

contra essas compreensões também atuam agora e imediatamente. Isso

demonstra que a Hellinger® sciencia é uma ciência de verdade: uma

ciência das nossas relações agora.

O AMOR

Em última instância, a Hellinger® sciencia é uma ciência do amor, uma

ciência universal do amor. É a ciência do amor que inclui tudo, da mesma

maneira.

Como esse amor prospera? Ele prospera em sintonia com o pensamento do

espírito que move tudo da forma que pensa. Ele é o amor em sintonia com

o pensamento desse espírito e é consciente do pensamento desse espírito.


Ele sabe como ama e como pode amar, pois o amor em sintonia com a

consciência do espírito torna-se consciente para ele como compreensão.

Por isso, esse amor é puro, assim como essa consciência. É puro, pois é

movido por outro pensamento. É um amor sabedor, um amor puramente

sabedor.

Dessa forma, também é um amor criador, mas criador em sintonia com o

pensamento desse Espírito. Assim, esse amor também se torna uma ciência,

uma ciência universal. Como ciência universal, atua universalmente. Atua

porque é verdadeiro.

A PEDAGOGIA HELLINGER

A Pedagogia Hellinger é a Hellinger® sciencia aplicada. É a Hellinger®

sciencia aplicada à educação em todas as suas áreas.


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