Revista Convento Espírito Santo 50 anos
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Sumário
Ir. Hilária Ludwig
Aos 12 anos ela entrou para
o juvenato das SSpS e, após
fazer os primeiros votos,
começou a trabalhar em
prol dos desfavorecidos e
desamparados, acumulando
lições de fé e humildade
durante os seus 60 anos de
vida consagrada.
Irmã Neusa Pilatti
Religiosa completa 50 anos de
vida consagrada em 2022, dos
quais quatro décadas foram
dedicadas ao povo angolano.
Formada em Enfermagem,
ela lembra com tristeza
da violência e dos feridos
no conflito armado, mas
garante que Deus sempre a
acompanhou e protegeu.
Irmã Olmira
05
09
Ao comemorar 50 anos de vida
consagrada, irmã Olmira não
esconde a emoção de ter sido
escolhida por Deus e ter tido
a oportunidade de ter uma
experiência tão íntima com
Ele; a doutora e mestre em
educação também acredita na
força transformadora do ensino
baseado em valores humanos
e cristãos
13
Irmã Rosinda Weber
Irmã Iracema Desconsi
Vinda de uma família
extremamente católica, ela sentiu
o chamado do Senhor para a vida
consagrada ainda muito jovem e
encontrou na SSpS um novo lar;
com apenas 24 anos, em 1962,
proferia os primeiros votos com
o objetivo de tornar o Deus Uno
e Trino mais conhecido, amado e
glorificado
15
Com apenas 17 anos, ela
ingressou no juvenato e se
colocou à disposição para ser
um instrumento do Espírito
Santo na vida de outras
pessoas. Ao comemorar 50
anos de vida consagrada, a
religiosa reitera sua felicidade
em ter sido escolhida pelo
Senhor para servir.
39
50 anos
do Convento
Espírito Santo
O espaço foi sede da Província
Sul de 1972 até 2020 e recebeu
eventos importantes da
Congregação Missionária Servas
do Espírito Santo, como profissão
dos primeiros votos e votos
perpétuos, jubileus, assembleias
e capítulos provinciais.
19
Irmã Cecília Hansen
Em 60 anos de vida religiosa
consagrada, a irmã Cecília
sempre se manteve inabalável
na fé e firme no propósito
de trabalhar em regiões
empobrecidas. Ela atuou em
comunidades na Bélgica, na
Holanda e na Alemanha até ser
enviada para o Brasil em 1969,
onde pode finalmente exercer a
sua verdadeira vocação.
41
Missão na
Amazônia - Pará
Religiosas chegaram ao
município de Placas em 2012
e desenvolvem um projeto de
capacitação de lideranças
comunitárias e agentes
multiplicadores de saúde
em práticas integrativas e
complementares para melhorar
a qualidade de vida nas
comunidades de baixa renda da
periferia e na zona rural
31
Irmãs Maria
Sumida e Maria
da Conceição
A missão de Deus também
confiada às irmãs Maria
de Lourdes Kehl, Leonila
Preto e Cecília Hansen há
60 anos; durante esses
longos anos de dedicação
ao próximo, elas cultivaram
a sua espiritualidade e
testemunharam o Reino de
Deus entre os povos
45
Missão na
Amazônia - Roraima
Religiosas atuam na região
Amazônica dedicando-se à defesa
dos povos indígenas, na luta
pelas terras não demarcadas,
pela preservação da cultura
tradicional e acolhida de imigrantes
venezuelanos; durante a missão
sofrem com a hostilidade de
garimpeiros e a distância entre
as comunidades que inviabiliza o
acompanhamento mais frequente.
35
Irmã Nelsy
Em 50 anos de vida religiosa
consagrada, ela aprendeu que
devemos manter o coração
sempre aberto para que a
semente de Deus possa germinar;
nas três décadas de atuação em
Gana, na África, ela viu de perto
todas as dores do mundo
47
Editorial
Onde mora o
Espírito
Santo
O
Convento ESPÍRITO SANTO é fruto de dedicação
e perseverança das Irmãs Missionárias Servas do
Espírito Santo, que ao longo de 50 anos lutaram
para embelezar o ambiente e seu entorno.
As Irmãs já se encontravam em Ponta Grossa há
muitos anos. Na criação da Província Sul, o convento
foi estabelecido no, já existente, Colégio Sant´Ana, no
centro da cidade. Nos primeiros anos da nova Província,
a Direção iniciou a procura de um local mais retirado
da cidade, apropriado para a formação das jovens que
ingressavam. A ideia foi construir em um local, distante
do movimento urbano, que propiciasse um ambiente
favorável de silêncio, de oração e de formação humana
e espiritual para as irmãs, as jovens missionárias e um
lar para acolher as irmãs idosas e as que precisavam de
tratamento de saúde mais prolongado.
O objetivo de uma nova casa/convento foi alcançado e, em
29 de setembro de 1972, aconteceu a sua inauguração.
Nesses 50 anos, muitas jovens entraram e o Convento
Espírito Santo. A casa tornou-se um espaço muito
agradável, com belos jardins, pomar e horta, para as
etapas de formação da Vida Religiosa Consagrada:
postulantado, noviciado, juniorato; momentos solenes
aconteceram como Primeiros Votos, Votos Perpétuos,
Jubileus de 25 – 50 – 60 anos, como religiosas.
A comunidade, em muito, colaborou na evangelização
do povo, formação de comunidades eclesiais e o
desenvolvimento do bairro. O local foi Sede Provincial
até 2020.
Na atualidade, no Convento Espírito Santo acontecem
retiros, assembleias, encontros de grupos de leigos, e
acolhe as irmãs idosas e doentes e demais irmãs que
procuram o espaço para descanso e oração.
Nas próximas páginas, vamos conhecer um pouco dessa
história e o relato de irmãs que tiveram a vida tocada por
Deus no Convento Espírito Santo.
Equipe de Comunicação
EXPEDIENTE
MISSIONÁRIAS SERVAS DO ESPÍRITO SANTO
Província Divina Sabedoria
Publicação comemorativa
Ano I - n.1
PROVÍNCIA BRASIL SUL
CUATROVIENTOS COMUNICAÇÃO
Direção Geral
Jorge Munhoz Jr.
jorge@cuatrovientos.com.br
Produção e Coordenação Geral
Direção Provincial
Ir. Ilca Maria Hendges
Ir. Maria Sonia Muller
Ir. Maria de Fátima Kapp
Ir. Marli Conceição Dias
Ir. Zélia Cordeiro dos Santos
Coordenação do Projeto
Jubilar - Equipe de
Comunicação
Ir. Maria de Fátima Kapp
Ir. Hermelinda Ruschel
Ir. Zélia Cordeiro dos Santos
Direção de Criação
Paulo Diego Kuzar
Jornalista Responsável
Michelle de Geus - MTB
0008277/PR
Av. Balduíno Taques, 908 sl22
Ponta Grossa-PR
cuatrovientos.com.br
/somoscuatrovientos
@sigacuatrovientos
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Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Na força do Espírito Santo,
irmã Hilária dedica sua vida
a serviço da comunidade
Aos 12 anos ela entrou para o juvenato das SSpS e, após fazer os primeiros votos, começou a trabalhar
em prol dos desfavorecidos e desamparados, acumulando lições de fé e humildade durante os seus
60 anos de vida consagrada.
Ir. HIlária Ludwig
Desde criança, a irmã
Hilária Clara Ludwig, da
Congregação Missionária
Servas do Espírito Santo (SSpS),
respondia que queria ser religiosa
sempre que lhe perguntavam o
que ela gostaria de ser quando
crescesse. Ela nasceu no
dia 12 de agosto de 1940, na
localidade de Boa Vista, na época
pertencente ao município de
Montenegro (RS) e atualmente
faz parte da cidade de Poço das
Antas (RS). Ao completar 60 anos
de vida consagrada, ela continua
sua missão em Canoas (RS),
no Centro Educacional Madre
Josefa, onde trabalha ativamente
na evangelização de crianças.
Ela vem de uma família bastante
religiosa e os pais foram os
primeiros catequistas de todos
os 14 filhos, foi com eles que a
irmã Hilária aprendeu a rezar e
conheceu as primeiras lições
da Bíblia. Ela conta que a família
rezava o terço todos os dias,
fazia orações antes e depois
das refeições e percorriam
sete quilômetros a cavalo ou
charrete para ir à missa todos
os domingos. “Era um clima tão
religioso que nossas brincadeiras
de criança eram procissões,
celebrações de missas, orações
e cantos religiosos”, lembra.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 5
Ir. HIlária Ludwig
Quando a irmã Hilária frequentava
a escola primária, no interior
de Poço das Antas, os alunos
recebiam, vez ou outra, a visita de
padres jesuítas, irmãos lassalistas,
maristas e freis franciscanos.
Mesmo sem ter contato com
nenhuma irmã religiosa, ela tinha
o enorme desejo de entrar para o
convento. “Tenho certeza de que
era Deus me dando o primeiro
toque”, afirma.
O chamado para servir veio em
Descobrindo uma grande vocação
1952, quando as missionárias
SSpS chegaram ao município
e assumiram os trabalhos do,
então, Hospital 25 de Julho. Na
mesma época, sua mãe adoeceu
e precisou ser hospitalizada. “Nós
fomos visitar a minha mãe no
hospital e neste dia conheci a irmã
Bernadina. Durante a conversa,
ela me perguntou se eu queria ser
religiosa como ela e, pela primeira
vez, eu disse sim”, lembra.
Aos 12 anos, a irmã Hilária foi
encaminhada para o juvenato na
cidade de Três Passos e admite
que a notícia foi recebida com
um misto de sentimentos pela
família. “Todos ficaram felizes,
mas, ao mesmo tempo, receosos e
duvidando da minha perseverança.
Porém, não deixaram de me apoiar,
incentivar e rezar por mim”, frisa.
“Meu querido papai me levou até o
juvenato numa viagem de dois dias
e a quase 500 quilômetros longe
de casa”, recorda.
A vida no convento era muito
regrada e disciplinada
Após dois anos de juvenato, em
Três Passos/RS, a irmã Hilaria
continuou os estudos em Porto
União (SC) e, no ano seguinte, foi
transferida para Belo Horizonte
(MG), onde permaneceu por
três anos. Ela retornou a Poço
das Antas para um ano de
estágio e, em 1960, foi admitida
como postulante no Convento
Santíssima Trindade, em Santo
Amaro (SP). Ela iniciou o noviciado
e no dia 8 de dezembro de 1962 fez
os primeiros votos. “Lembro desse
tempo tão maravilhoso com muita
alegria e gratidão. Foram 10 anos
de muita perseverança e firmeza
na vocação”, frisa.
A vida no convento era dividida
em momentos de oração trabalho,
lazer, descanso e higiene pessoal.
“Era tudo muito organizado,
conforme os costumes europeus.
Tínhamos horário para tudo, mas
nos adaptamos com facilidade.
Era muito bom”, recorda. Após
os primeiros votos, irmã Hilária
iniciou as atividades missionárias
em diversos lugares e diferentes
pastorais. No Paraná, ela atuou nas
cidades de Ponta Grossa, União da
Vitória, Medianeira e Cascavel; e
também nos municípios Humaitá,
Três Passos, Poço das Antas,
Canoas e Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul. Atualmente, sua
missão é em Canoas, no Centro
Educacional Madre Josefa, junto
aos pequenos.
Durante a sua vida missionária,
a irmã Hilária conseguiu realizar
o sonho de ser professora e
trabalhar junto aos alunos
carentes. “Também consegui
realizar o sonho de trabalhar
no meio do povo excluído e
marginalizado, dedicandome
aos idosos debilitados e
necessitados”, destaca. Um dos
momentos que considera mais
marcantes foi a transferência
para a Vila Pinto, em Porto
Alegre, onde permaneceu por
dez anos, desde a sua fundação,
Alegrias e desafios da vida missionária
numa realidade muito diferente
da qual estava acostumada.
“Aprendi lições de generosidade,
solidariedade, hospitalidade,
desprendimento, simplicidade,
compaixão e, sobretudo, a oração
simples e confiante; foram lições
de humanidade muito valiosas
para mim que me enriqueceram
em todos os sentidos”, garante.
Entretanto, a religiosa confessa
que foi preciso abdicar de
muita coisa para seguir a sua
vocação. “Além do sonho de
casar e ter filhos, tive que
renunciar ao convívio da minha
família, pois quando entrei no
noviciado, não era permitido
visita aos familiares. Fiquei
oito anos sem ver meus pais e
irmãos”, comenta. Ela garante
que, mesmo assim, em nenhum
momento chegou a duvidar da
sua vocação. “Embora tivesse,
algumas vezes, a tentação de
largar tudo, mas Deus sempre
foi agindo em mim e confirmando
meu chamado”, enfatiza.
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Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Ir. HIlária Ludwig
60 anos de vida consagrada
Ao completar 60 anos de vida
consagrada, irmã Hilária garante
que se sente feliz e realizada
com a sua vocação. “Agradeço,
todos os dias, ao bom Deus por
ter sido chamada à Congregação
Missionária das Servas do
Espírito Santo e por poder
ativamente contribuir na obra
missionária, principalmente na
missão educativa”, salienta. Ela
continua atuando no serviço de
coordenação da comunidade,
da escola e da secretaria.
Além disto, alguns dias da
semana prepara a refeição
para a comunidade e também
atua como motorista. “Quero
continuar sendo presença do
grande amor que Deus tem
por todos nós. Quero viver e
testemunhar o ideal deixado
pela nossa geração fundante
Santo Arnaldo Janssen e as
bem-aventuradas Madre Maria
e Madre Josefa”, frisa.
Na retrospectiva que faz da
sua vida como missionária,
irmã Hilária acredita que Deus
sempre a acompanhou, protegeu
e santificou com grande amor,
ternura e compaixão. “Procuro
sempre viver na presença de
Deus, lembrando que Nele
vivemos, nos movemos e
existimos. Sinto, com muita
alegria, que meu relacionamento
com Deus é de filha amada”,
salienta. Ela acrescenta que
procura viver conforme Jesus
viveu e que, a exemplo de Madre
Josefa, muitas vezes durante
o dia invoca o Espírito Santo.
“Também devo um enorme
agradecimento à Virgem Maria
que sempre foi e é minha
companheira, protetora e
auxiliadora. Ela nunca me deixou
na mão”, reforça.
Deus convoca os seus escolhidos
“Num grande louvor e ação
de graças agradeço ao Deus
Uno e Trino por ter me amado
e chamado à vida religiosa
consagrada. Gratidão à
congregação, aos meus
familiares e a todas as pessoas
que contribuíram na realização
da minha vocação”, frisa. Irmã
Hilária, também, deixa um
recado para os jovens que ouvem
o chamado e estão descobrindo
a sua verdadeira vocação. “Se
você se sente chamado por
Deus para a vida consagrada,
não tenha medo de dizer um
sim generoso. Ele chama, espera
resposta e acompanha com sua
graça, mas a decisão depende de
você. A missão é grande e faltam
operários”, sublinha, destacando
que vale a pena dedicar uma vida
inteira à causa do Reino.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 7
Oração
DAI-ME, SENHOR,
UM CORAÇÃO
MISSIONÁRIO
Senhor Jesus, Evangelho do Pai, que um dia rogastes:
“Pai Nosso... Venha a nós o vosso Reino”.
Dai-me um coração eclesial e missionário,
que ame a vossa Igreja e que, a exemplo dela,
abra os espaços da caridade até os confins da Terra.
Dai-me, Senhor, um coração missionário que saiba ouvir
o clamor do povo, em particular das pessoas
que mais precisam da vossa misericórdia.
Dai-me, Senhor, um coração missionário que tenha coragem
de deixar tudo pela causa da evangelização e da missão.
Dai-me, Senhor, um coração missionário que busque acolher o leigo
e a leiga, também missionários, para que juntos possamos dar continuidade
à Missão de Jesus Cristo na construção do Reino.
Vossa vida, Senhor, é minha vida, vossa Missão é minha missão.
Dai-me, Senhor, um coração missionário
que busque, na força e na alegria do Espírito Santo, colaborar, junto com
os leigos e leigas, para que o amor de Deus Uno e Trino seja sempre mais
conhecido, amado e glorificado por todas as pessoas.
Amém.
Irmã Neusa relembra guerra civil
e pobreza durante os primeiros
anos de missão em Angola
Religiosa completa 50 anos de vida consagrada em 2022, dos quais quatro décadas foram dedicadas
ao povo angolano. Formada em Enfermagem, ela lembra com tristeza da violência e dos feridos no
conflito armado, mas garante que Deus sempre a acompanhou e protegeu.
Irmã Neusa Pilatti
Condições precárias de
serviços públicos, como
saúde ou educação,
e desigualdade econômica
e social. Esta é a realidade
vivida pela população angolana,
onde a irmã Neusa Pilatti, da
Congregação Missionárias
Servas do Espírito Santo (SSpS),
está em missão há 40 anos. O
país de 32 milhões de habitantes
está localizado na costa da
África, sendo considerado um
dos menos desenvolvidos do
planeta pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e um dos
mais corruptos do mundo pela
Transparência Internacional.
Embora o território possua
diversos recursos naturais, como
grandes reservas de minerais e
de petróleo, Angola possui baixa
expectativa de vida, altas taxas
de mortalidade infantil e cerca
de 70% da população vive com
menos de dois dólares por dia.
A irmã Neusa chegou em
Angola em 01 de junho de 1982
e encontrou uma violenta
guerra civil. O conflito armado
iniciou em 1975, logo após a
independência de Portugal,
quando dois movimentos
de guerrilha anticolonial – o
comunista, Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA) e
a anticomunista, União Nacional
para a Independência Total de
Angola (UNITA) – disputavam o
poder. “O país vivia em regime
comunista muito fechado,
com grande violência interna
e muito envolvimento político
estrangeiro”, diz.
Ela conta que o trabalho das
irmãs missionárias, no início, foi
concentrado no interior, onde as
condições de vida eram ainda
mais precárias. “Atuamos junto
a populações muito pobres, mas
de uma fé muito grande e forte.
Aprendemos muito com eles e
agradecemos a Deus pela sua
proteção, por nos ter carregado
em seus braços e nos livrado de
tantos perigos”. De acordo com a
irmã Neusa, na época, o Serviço
de Saúde era algo de primeira
necessidade e, às vezes, ela
trabalhava dia e noite sem parar.
“Os momentos mais tristes da
minha religiosa foram as pessoas
feridas durante a guerra que não
consegui salvar, mas, como já
disse, o Senhor nos carregou
nos seus braços, protegendo,
dando força e saúde para todos
os dias sermos usados como
instrumentos em suas mãos”,
enfatiza.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 9
Irmã Neusa Pilatti
Primeiro chamado acontece no Mês do Missionário
Embora o destino missionário
para Angola tenha sido um dos
momentos mais marcantes, a
vida consagrada da irmã Neusa
começou muito antes. Ela nasceu
em 02 de março de 1949, na
cidade de Apucarana, no Paraná.
Com apenas 15 anos, exatamente
no Mês do Missionário, começou
a ouvir o chamado de Deus para
servir e dois anos mais tarde
decidiu entrar para o convento.
“Eu venho de uma família muito
religiosa e quando contei aos
meus pais que gostaria de
viver uma vida consagrada,
ficaram muito felizes”, recorda.
Ela ingressou na comunidade
vocacional, em Porto União (SC),
fez o aspirantado, o postulantado
e o noviciado em Ponta Grossa
(PR). Como SSpS, ela também
trabalhou em Poço das Antas
(RS), Mandirituba (PR), Curitiba
(PR) e Urupá (RO).
Além da vocação religiosa, a
irmã Neusa sempre quis ser
enfermeira e decidiu usar esse
dom para os propósitos divinos.
“Minhas superioras não queriam
que eu fosse enfermeira e sim
professora. Foi grande a luta,
mas o Senhor venceu, porque
era Ele quem me chamava para
esse serviço”. A irmã Neusa
não esconde que, ao lado da
profissão dos votos perpétuos,
receber o sonhado diploma
em enfermagem foi um dos
momentos mais felizes da sua
vida.
Alegrias e desafios da vida religiosa
Para seguir a sua vocação e viver
a vida consagrada, a irmã Neusa
precisou abrir mão de muito
mais do que apenas constituir
uma família. “Eu gostaria de
ter ajudado as pessoas mais
pobres da minha terra e de ter
cuidado dos meus pais na idade
avançada ou na doença. Mas não
me arrependo de nada e em
nenhum momento duvidei do
meu chamado”, garante.
Ela conta ainda que a vida
no convento foi maravilhosa
e que guarda apenas boas
recordações desse período.
“Lembro dos testemunhos dos
missionários que me ajudaram
e continuam me ajudando
até hoje, dos momentos de
orações e celebrações que me
encantavam, dos exemplos de
fé de irmãs que estavam na
missão; das leituras sobre os
fundadores e as histórias da
congregação”, enumera.
10
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Uma vida dedicada ao próximo
Irmã Neusa Pilatti
Quando reflete sobre os 50
anos de vida consagrada, irmã
Neusa reforça que aprendeu
lições valiosas sobre humildade,
simplicidade e caridade servindo
a outras pessoas. “Nestes anos
todos, aprendi a confiar na
providência divina e que, de fato,
há maior alegria em dar do que
em receber. Hoje sou missionária
realizada e feliz, que se esforça
diariamente para viver bem o
momento presente”, sublinha.
“Oração para mim é um
intercâmbio de amor em todos
os momentos; levando a vida
para o Senhor e trazendo o
Senhor para a vida”, afirma,
destacando que a prática é
constante em sua rotina. Hoje
a religiosa atua nas pastorais
sociais, com destaque para
a Pastoral da Criança e para
a Pastoral da Saúde, além da
formação de agentes pastorais
e catequese.
Ela destaca ainda que a sua
missão em Angola a aproximou
de Deus e pode sentir o
seu imenso amor. “Depois
desta escola de vida, destas
experiências maravilhosas
da proteção de Deus e o seu
caminhar lado a lado conosco;
o relacionamento com Ele
só pode ser de um maior e
profundo amor, de confiança na
sua providência e de uma maior
entrega”, conclui.
Um país reconstruído pela fé
Após 20 anos de paz e de
reconstrução nacional, hoje
Angola tem outra cara. Porém,
como qualquer país que passa
por uma guerra prolongada,
ainda há muita devastação e
carência. “Em todos esses anos,
tanto os de guerra como os de
pós-guerra, os missionários e
as missionárias formaram uma
grande e única família religiosa”,
avalia. “Existia entre nós muita
ajuda, ninguém pensava
somente em sua congregação,
mas em todas; a fraternidade
deu força e coragem para
levarmos, em frente, tanto
trabalho. A fé, o carinho do povo e, principalmente, o amor e proteção de Deus nos impulsionava para
águas mais profundas”, frisa.
Para a irmã Neusa, em meio a tanta violência e sofrimento, a Palavra de Deus ficava mais viva e mais
forte a cada dia e em cada acontecimento. Ela enfatiza que lembra desse período com saudades, não
dos sofrimentos da guerra, mas da fraternidade que existia entre os missionários.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 11
Oração
ORAÇÃO PELAS
VOCAÇÕES
MISSIONÁRIAS
Senhor, que chamaste os apóstolos
para serem pescadores de homens e
construtores de um mundo novo, chama
também agora os jovens e as jovens para os
diversos serviços e ministérios da Igreja.
Alarga os seus horizontes ao mundo inteiro
e faze-os ouvir as súplicas de tantos irmãos
e irmãs que anseiam por luz e verdade.
Santifica-os pelo teu Espírito e comunicalhes
a tua sede de redenção para que
respondam ao teu apelo e sejam sal e luz até
aos confins da Terra. Amém.
A educação foi o meio
encontrado pela Irmã Olmira
para irradiar a graça do
Espírito Santo
Irmã Olmira
Ao comemorar 50 anos de vida consagrada, irmã Olmira não esconde a emoção de ter sido escolhida
por Deus e ter tido a oportunidade de ter uma experiência tão íntima com Ele; a doutora e mestre em
educação também acredita na força transformadora do ensino baseado em valores humanos e cristãos
“É nascimento e a sua palavra atinge
uma graça enorme pensar e sentir
que Deus chama pessoas desde o
o coração das pessoas dispostas a segui-lo”,
afirma a irmã Olmira Bernadete Dassoler, da
Congregação Missionária Servas do Espírito
Santo (SSpS). Ela nasceu na cidade gaúcha
de Lajeado (RS) e é a mais velha de 10 irmãos,
sendo cinco homens e cinco mulheres.
Durante a adolescência, a irmã Olmira começou
a ouvir o chamado de Deus para a vida religiosa
e aos 14 anos ingressou no juvenato. “Eu, sem
entender ainda muito bem este chamado,
parti e fui adentrando nos conhecimentos da
congregação que me acolheu com carinho”,
conta. “Quando eu busco as razões pelas quais
o Senhor me escolheu, percebo que tudo é
graça e bênção que foi se tornando missão na
trajetória de minha vida”, enfatiza.
Por uma educação baseada em valores cristãos
Embora tenha ingressado em
uma comunidade religiosa
quando ainda era muito jovem,
irmã Olmira não abriu mão
do sonho e da sua paixão
pela educação de crianças,
adolescentes e jovens. Durante
muitos anos, ela atuou como
professora e pedagoga da
educação básica e da educação
superior, tendo trabalhado
também como diretora nas
instituições de ensino da
Província Brasil Sul. Doutora
e mestre em educação pela
Universidade Católica de Brasília
e preocupada com os desafios
enfrentados por gestores e
professores, ela defende a ideia
de uma educação pautada em
valores humanos e cristãos.
“Nessa minha história de
vida, posso dizer que Deus
sempre foi maravilhoso
comigo, conduzindo-me com
o seu Espírito de amor pelos
caminhos por onde passei e
exercendo minha missão com
disponibilidade, empenho,
dedicação e alegria”, reflete.
Ela trabalhou como professora
e supervisora no Colégio
Sant’Ana, em Ponta Grossa
(PR), e também atuou como
coordenadora do Núcleo de
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 13
Irmã Olmira
Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC) da Faculdade Sant’Ana. Por
dez anos esteve na direção do
Colégio Santa Maria, em Cascavel
(PR); no Colégio Santos Anjos, em
Porto União (SC), atuou durante
cinco anos na direção e vicedireção.
Ainda no Colégio Espírito
Santo foi professora no Ensino
Fundamental e Educação Infantil.
Com uma vasta experiência em
gestão de instituições de ensino,
foi vice-diretora da Faculdade
Sant’Ana, coordenadora do curso
de licenciatura em pedagogia
e presidente da Associação
Missionária de Beneficência das
Irmãs Servas do Espírito Santo.
Por mais de onze anos, esteve à
frente da Associação Nacional
de Educação Católica do Paraná
e, posteriormente, do Brasil. “Foi
uma experiência ímpar em que
as possibilidades e a diversidade
do conhecimento pedagógico,
adquiridos junto a gestores,
docentes e discentes me
asseguraram novos horizontes
com diferentes abordagens
e temáticas a respeito da
educação”, frisa.
Experiência íntima com o Senhor
Ao relembrar os 50 anos de vida
consagrada, Irmã Olmira destaca
o momento em que se preparava
para professar os votos
perpétuos. Naquela noite, a sua
mestra, Irmã Vianette Furian,
lançou um desafio para o grupo
convidando todas as junioristas
a passarem a madrugada em
vigília com o Senhor. “Foi uma
noite inesquecível, luminosa,
maravilhosa! Nessa intimidade
com Ele, Deus se revelou a mim
como o nome novo de Deus-Sol,
Ele que envolve o meu ser com
sua luz”, conta.
Ela salienta que depois daquele
momento a luz passou a ter uma
nova saudação em sua vida.
“Entrei na vida consagrada
motivada pelo versículo ‘Farei de
ti a luz das nações, para que leves
a salvação aos povos (Isaías 49,61)’.
Naquela noite a luz se tornou um
sinal muito querido, rico e pleno
de significado que até hoje me
faz refletir todos os dias a minha
vocação”, reforça, destacando
que é desta experiência que tira a
força e a coragem para enfrentar
os momentos de dificuldades e
reveses da vida. “Que Ele, o Deus
da vida e da história, me sustente
e termine a obra começada, pois
Deus é novo para mim em cada
manhã. Louvor, ação de graças
e gratidão a Deus por minha
história de vida.”, finaliza.
14
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Na missão com crianças
e idosos, irmã Rosinda
encontrou a bondade de Deus
Irmã Rosinda Weber
Vinda de uma família extremamente católica, ela sentiu o chamado do Senhor para a vida consagrada
ainda muito jovem e encontrou na SSpS um novo lar; com apenas 24 anos, em 1962, proferia os
primeiros votos com o objetivo de tornar o Deus Uno e Trino mais conhecido, amado e glorificado
Filha de Aloysio Weber
e Verônica Vier Weber,
a irmã Rosinda Weber
nasceu em 28 de janeiro de 1938,
na comunidade de São Miguel da
Serra, município de Porto União
(SC). Ela é a caçula de 10 filhos
de uma família profundamente
religiosa e temente a Deus. Hoje
ela colabora nos serviços práticos
da comunidade e acompanha o
grupo dos missionários leigos do
Deus Uno e Trino,.
Ainda muito jovem, a irmã
Rosinda se sentiu chamada
à vida religiosa e ingressou
no grupo vocacional do
Colégio Santos Anjos, na sua
cidade natal. “Neste período,
o Senhor foi tocando o meu
coração e desde então tive
certeza da minha vocação”,
conta. A convicção fez com
ela ingressasse no juvenato do
Colégio Sagrado Coração de
Jesus, na cidade Belo Horizonte
(MG), onde permaneceu por seis
anos.
Logo em seguida, a irmã Rosinda
foi admitida como aspirante no
Convento Santíssima Trindade,
localizado em Santo Amaro
(SP). Depois de alguns anos
de formação inicial, professou
os primeiros votos em 1962,
ingressando oficialmente na
Congregação Missionária Servas
do Espírito Santo (SSpS).
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 15
Irmã Rosinda Weber
As primeiras atividades da irmã Rosinda dentro
da congregação foram na área da educação, já
que as Missionárias Servas do Espírito Santo
mantêm instituições de ensino dos níveis básico
e superior em diversas cidades. Ela trabalhou
no Colégio Sagrado Coração de Jesus, de
Quatro Pontes (PR) e no Colégio Nossa Senhora
Medianeira, em Medianeira (PR). “Nosso objetivo
é ser sinal da presença de Deus na vida das
crianças e educar para a vida. O ensino que
oferecemos é baseado em valores humanos
e cristãos, contribuindo para a formação de
pessoas conscientes e éticas”, explica.
Missão com crianças e idosos
Além disso, durante nove anos ela atuou no
Lar São José, na cidade de Três Passos (RS),
ajudando a cuidar dos idosos. “Por 60 anos
servi ao próximo e à congregação das SSpS,
com o objetivo de tornar Deus Uno e Trino mais
conhecido, amado e glorificado”, resume.
Gratidão a Deus e à congregação
Irmã Rosinda revela ainda que existe uma
passagem bíblica que a tem acompanhado em
toda vida missionária. “O versículo que, desde
a primeira vez que eu li, tem sido luz no meu
caminhar está registrado no livro de Mateus (28,20):
‘Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do
mundo’ ‘’, comenta.
Ao refletir sobre os seus 60 anos de vida
consagrada, o sentimento de Irmã Rosinda é
de gratidão. “Mais uma vez, quero expressar
gratidão a Deus pelas inúmeras graças e bênçãos
recebidas Eterna gratidão à congregação que me
acolheu com tanto carinho. Aos meus familiares,
meu muito obrigada, pelo apoio recebido, desde
que ingressei na SSpS e, que assim, pude me
consagrar à vida religiosa”, conclui.
16
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
BEM-AVENTURADOS
OS MISSIONÁRIOS E
AS MISSIONÁRIAS
Oração
Anim.
Bem-aventurados os missionários e as missionárias
que vivem enamorados de Cristo,
Todos:
que confiam nele como o mais necessário e
absoluto, certos de que não serão desiludidos.
Que a cada manhã dizem: “Pai Nosso”, levando em
seus corações todas as raças, povos e línguas, por
que não se conformam com uma vida mesquinha.
Que mantêm seu ideal e utopia pelo Reino, e não
perdem tempo em coisas secundárias, porque Deus
acompanha os que seguem seu ritmo.
Que se sabem necessários onde a Igreja reclama,
porém, em nenhum lugar se sentem indispensáveis,
porque experimentarão o prazer do dever cumprido.
Anim.
Bem-aventurados os missionários e as missionárias
que são obedientes e sabem colocar seus ouvidos
no coração de Deus,
Todos
para escutar seus desejos, porque o Espírito Santo
ajuda a discernir os acontecimentos.
Anim.
Que com o coração puro e transparente,
Todos
sabem descobrir o amor e a ternura de Deus, porque
Deus sempre se revela.
Anim.
Que vivem como peregrinos e não fazem sua tenda
nesta terra,
Todos
porque já nesta vida usufruem da definitiva.
Anim.
Que reconhecem e aceitam suas limitações e
fraquezas e não pretendem ser invencíveis, porque
Deus se compraz nos humildes.
Que não se orgulham de seus êxitos e reconhecem
que é o Espírito que faz tudo em todos, porque se
veem livres de amarras.
Todos
Que vivem na alegria, simplicidade, esperança e
fraternidade, porque são apreciados e queridos
por todos os que os rodeiam.
Que sabem discernir, com sabedoria, o que convém
calar e falar em cada circunstância, porque nunca
terão de arrepender-se de haver ofendido um irmão.
Que não podem viver sem oração e sem saborear
as riquezas da Palavra de Deus, porque isto dá
sentido às suas vidas.
Bem-aventurados os missionários e as missionárias
que sempre têm um tempo para contemplar Deus,
a humanidade e o mundo, porque entendem o valor
de serem filhos, irmãos e senhores.
Que têm tempo para fazerem felizes os demais,
encontram tempo para os amigos, a leitura e o
lazer, porque compreenderam o mandamento do
amor e se conhecem humanos e necessitados.
Que sabem prender-se à cruz e fazer dela um
instrumento de salvação, porque ela é sua fortaleza
e o trampolim para a Páscoa.
Que vendo suas forças gastas, não perdem o
dinamismo de sua juventude. Sabem aceitar cada
etapa de suas vidas, porque Deus aceitará suas
oferendas e os plenificará.
Antes de uma atividade missionária
Anim.
Abençoai, ó Pai, o trabalho missionário que
estamos para iniciar.
Todos
Que o vosso Espírito Santo nos ilumine, nos
inspire e nos oriente. Que a vossa graça nos
ajude a tudo realizar em espírito de amor e
serviço, para honra e glória do vosso nome e pelo
bem dos nossos irmãos e irmãs.
Anim.
Senhor Jesus, fazei que as atividades
(especificar) que faremos possam ajudar muitas
pessoas a encontrarem-se convosco.
Todos
Purificai os nossos corações, as nossas
mentes e os nossos pensamentos a fim de que
anunciemos com fidelidade a vossa Palavra e
sejamos vossos instrumentos. Maria, mãe da
Divina Graça, intercedei junto ao vosso Filho,
para que sejamos fiéis ao nosso compromisso de
discípulos (as) missionários (as). Amém!
Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ao Pai.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 17
Oração
JESUS NOS ENVIA
EM MISSÃO
Anim.
O projeto de Jesus Cristo é nosso programa de vida.
Por isso, rezemos:
Onde houver alguém que não te conhece e ainda não
te segue,
Todos
envia-me, Senhor, a testemunhar a fé.
Onde houver alguém que sofre e luta sem esperança,
Todos
envia-me, Senhor, a testemunhar a esperança.
Onde houver pessoas e famílias que vivem no egoísmo
e na desunião,
Todos
envia-me, Senhor, a testemunhar amor e compreensão.
Onde houver gente esmagada em seus direitos
humanos,
Todos
envia-me, Senhor, a testemunhar a justiça.
Onde houver pessoas que não vivem como gente, nem
deixam os outros crescerem em solidariedade,
Todos
envia-me, Senhor, a testemunhar o teu Espírito. Amém.
Convento Espírito Santo:
50 anos de um local
de paz e oração
50 anos
O espaço foi sede da Província Sul de 1972 até 2020 e recebeu eventos importantes da Congregação
Missionária Servas do Espírito Santo, como profissão dos primeiros votos e votos perpétuos, jubileus,
assembleias e capítulos provinciais. Hoje ele sedia retiros e encontros, ao mesmo tempo em que
serve de espaço para acolhimento das irmãs idosas ou doentes para tratamento
Distante do movimento do centro, quando
as irmãs da Congregação Missionária
das Servas do Espírito Santo (SSpS)
começaram a buscar um local para construir a
sua nova sede em Ponta Grossa, queriam algo que
fosse afastado da movimentação central de Ponta
Grossa. Elas procuravam um local onde pudessem
estar rodeadas pela natureza e tivessem paz e
tranquilidade para os momentos diários de oração
e reflexão.
Depois de muita procura, elas encontraram um
terreno no Parque Tarobá, a oito quilômetros
do centro da cidade, que reunia todas essas
características. Ali foi construído o Convento
Espírito Santo, um lugar tranquilo e aconchegante,
ideal para o retiro físico e espiritual. A estrutura foi
construída para lembrar o formato de uma pomba,
representação simbólica do Espírito Santo.
Além de oferecer apoio religioso, social,
educativo para a comunidade, as irmãs recebem
com alegria grupos de pessoas que procuram
o convento para se encontrar consigo e com
Deus. Ele também serve de espaço para retiros,
encontros, eventos, cursos e acolhimento para
as irmãs idosas ou doentes para tratamento.
Nestes 50 anos de história, o Convento Espírito
Santo formou e enviou 123 religiosas em missão
no Brasil e no exterior.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 19
50 anos
Terreno distante da
cidade e com fontes
de água foi escolhido
para a nova sede
A partir de 1959, a direção da
Congregação Missionárias
Servas do Espírito Santo
começou a estudar a
possibilidade de fundar
comunidades no sul do Brasil
para estender a missão e
motivar vocações. Foi fundada
então a Província Sul, também
denominada de “Spiritus Divine
Sapientiae” (do latim), que
traduzido significa “Espírito
da Divina Sabedoria”, que
desde 1963 teve como sede a
cidade de Ponta Grossa (PR),
no início, especificamente,
no Colégio Sant´Ana. Com o
aumento do número de irmãs
e vocacionadas, tornouse
necessário ampliar os
espaços e construir um prédio
maior. “Como o número de
irmãs estava crescendo, a
congregação precisou de
um local adequado para dar
a devida formação para as
jovens que estavam chegando
para seguir o caminho da vida
religiosa missionária”, relata a
irmã Carmem Lúcia Heisler.
Chegada das irmãs trouxe impacto para a comunidade
Nesta época, havia apenas três
moradores no Parque Tarobá e a
região não contava com serviços
de infraestrutura básica; como
água encanada, saneamento,
iluminação e transporte público.
“Até as irmãs SSpS chegarem
eu era a única catequista. Para
que o nosso grupo de alunos
pudesse fazer a 1ª Eucaristia,
conseguimos que o Frei
Constantino, da Paróquia Bom
Jesus, celebrasse a primeira
missa na escola, que reuniu as
crianças da Fazenda Modelo,
Cinto Verde, Jardim Centenário,
Jardim Pontagrossense, Parque
Tarobá, Jardim Progresso e São
Francisco”, recorda Licinha Duda,
professora da Escola Municipal
São Francisco, a primeira a ser
inaugurada no bairro. Ela conta
que o anúncio da construção
do convento foi recebido com
entusiasmo pelos moradores da
região. “Que alegria e alívio eu
senti quando ouvi que as irmãs
vinham para o Parque Tarobá e
haviam comprado a chácara do
Senhor Afonso Teixeira”, lembra.
A expectativa não foi em vão e,
desde a aquisição do terreno,
em 1968, as irmãs começaram
a realizar diversos trabalhos de
evangelização, promoção da
saúde e assistência social para
as famílias das redondezas. O
primeiro contato foi feito pela
irmã Dulce Menezes e outras
irmãs do Colégio Sant’Ana.
“Elas visitaram, várias vezes, os
moradores do Parque Tarobá
e de outros bairros próximos
logo depois da compra do
terreno. Foi um trabalho muito
valioso que as irmãs do Sant’Ana
prestaram ao Convento Espírito
Santo que ainda nem estava
em construção”, anota a irmã
Gaudens Christh (em memória)
nos seus registros.
20
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Construção do
Convento Espírito
Santo aconteceu
entre 1970 e 1972
50 anos
A construção do Convento
Espírito Santo começou em
1970 e, a irmã Carmem Lúcia
Heisler foi uma das religiosas
convidadas pela congregação a
passar o dia todo no local para
acompanhar o andamento das
obras. “Uma irmã trazia a mim
e a minha companheira do
Sant’Ana com nossas marmitas
para passar o dia aqui. Durante
a parte da tarde vinham outras
irmãs para ajudar a cuidar do
local, já que a gente não dava
conta de tudo”, conta. Ela conta
que, na época, existia uma casa
bem antiga que elas usavam
para colocar os pertences e
fazer as refeições. “Ficamos
um ano inteirinho nesse
esquema. Foi um ano de muita
chuva, muitas vezes, a kombi
atolava lá embaixo e a gente não
conseguia subir aqui. O caminho
era terrível”, reforça.
Quando não estavam
acompanhando o andamento
das obras, as irmãs buscavam
espaços para iniciar um pomar
e uma pequena horta, onde
cultivavam mandioca, milho e
feijão. “Começamos uma pequena
horta, que existe até hoje e o
parreiral que plantamos ficou
dando uva gostosa durante uns
45 anos”, comenta. Irmã Carmem
Lúcia salienta que uma das
dificuldades era conseguir irrigar
a plantação. “Eu e outra irmã nos
revezávamos para buscar água,
dia sim e outro não”, comenta,
acrescentando que logo depois
elas conseguiram uma charrete
para que um dos funcionários
pudesse buscar água. “A
gente trabalhava o dia todo na
plantação e se empenhava ao
máximo para fazer dar certo
esse lugar, acreditando que a
nossa congregação ia crescer
mais e teríamos mais irmãs para
trabalhar nas missões, dentro ou
fora no Brasil”, enfatiza.
Avanço das obras trouxe desafios paras as religiosas
Irmã Lucília, Ismália Miranda
também lembra bem dos
tempos em que o Convento
Espírito Santo ainda estava em
construção. Ela conta que, com
o avanço das obras, outras irmãs
foram chamadas para ajudar,
incluindo a sua turma de noviças.
No início elas vinham apenas
para trabalhar durante o dia,
mas depois passaram a dormir na
antiga casa que havia no terreno.
As turmas se revezavam cada
semana, cinco irmãs de cada vez.
“Era muito interessante, pois nós
morávamos no Colégio Sant’Ana,
que é gigante, e vínhamos para
essa casinha pequena de família.
A gente fazia a nossa jantinha,
nossa sopa e dormia faceira”,
conta aos risos. A irmã Lucília
lembra ainda que não havia
chuveiro elétrico, apenas uma
lata furadinha que a irmã Carmen
Lúcia havia inventado para os
banhos. “Foi uma alegria quando
a comunidade de Medianeira
mandou para nós um chuveiro
elétrico”, lembra. Neste período,
para não ficarem sem missa,
as irmãs iam à igreja dos
Capuchinhos ou então à capela
das irmãs do Convento Porta
Ciele.
Aos poucos o prédio foi tomando
as suas formas, sendo a capela
a última parte a ser construída.
“Quando a obra estava quase
pronta, começamos a fazer
o trabalho de limpeza para
tirar o cimento. Enquanto o
pessoal ia construindo, a gente
já ia limpando e organizando”,
comenta a irmã Lucília. Nos
momentos em que não estavam
trabalhando, elas aproveitavam
para descansar em meio à
natureza. “Eu me lembro que
era um gramadão e a gente se
sentava na grama para conversar
e dar risada”, diz.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 21
Em 1972 é instalada a nova Casa Provincial
50 anos
A inauguração do Convento
Espírito Santo aconteceu, em
29 de setembro de 1972, com
uma missa solene celebrada
pelo bispo Dom Geraldo
Pellanda. Estiveram presentes
irmãs de diversas comunidades,
amigos e vizinhos, louvando e
agradecendo a Deus pelo sonho
que havia se concretizado.
“Eu lembro que era um dia de
muita chuva, mas mesmo assim
fizemos muitas homenagens
e agradecemos a todos que
nos ajudaram. Já era pelo
anoitecer quando as cerimónias
terminaram”, relata a irmã
Lucília.
As irmãs, as postulantes, as noviças e irmãs
Junioristas que moravam ainda no Colégio
Sant’’Ana vieram residir aos poucos no Convento.
No final de outubro de 1972, a irmã Inviolata Mühl
e as noviças se mudaram definitivamente para
nova casa. Poucos dias depois, chegou a Madre
Therezinha de Alencar e seus arquivos e a irmã
Almerita Poggel com seus registros, contas e
caixas. Estava oficialmente instalado o Convento
Espírito Santo.
Natal, compartilharam a ceia de Natal e trocaram
presentes durante a revelação das ‘amigas
secretas’. Em janeiro muitas irmãs de outras
casas vieram para o retiro no Convento Espírito
Santo e foi necessário emprestar camas, colchões,
panelas e marmitas do Colégio Sant’Ana para o
evento.
A Casa Provincial foi aos poucos tomando as suas
características e várias atividades começaram a
ser realizadas ali dentro. No dia 8 de dezembro,
com a capela provisoriamente instalada no salão
principal, foi celebrada a primeira grande festa no
novo espaço com o jubileu das irmãs
Noêmia Caiani e Julieta Willers (em memória).
Para o primeiro final de ano na nova sede, as
irmãs decoraram o espaço com uma árvore de
Natal e o bercinho do Menino Jesus aos pés
de Maria. Elas também celebraram a Missa de
22
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Grande evento marcou consagração do altar
50 anos
O ponto máximo do início da
vida no Convento Espírito Santo
aconteceu no dia 03 de janeiro,
quando foi inaugurada a nova
capela e consagrado o altar.
De acordo com a irmã Lucília,
os preparativos foram feitos
com muito esmero e carinho,
pois se tratava de preparar a
nova tenda do Senhor entre
as suas servas. O tabernáculo
foi pago em grande parte com
contribuições e dádivas de
pessoas, amigas e parentes de
irmãs. “A irmã da Ir. Inviolata
Mühl (em memória) doou duas
belas esculturas feitas em
madeira, uma de São José
e outra de Nossa Senhora,
que até hoje estão na capela
do Convento. Esses objetos
vieram da Alemanha e são os
guardas permanentes do Divino
Morador”, reforça. Embaixo
do altar estão encerradas as
relíquias de Santa Maria Goretti,
de Santa Terezinha do Menino
Jesus, de Santa Catarina de
Sena e de Santo Antônio de
Pádua.
A primeira cerimônia solene
na nova capela aconteceu
três dias depois e marcou o
encerramento do retiro. Quatro
postulantes receberam o hábito
e se tornaram noviças, são
elas: irmã Inês Dewes, irmã
Edite Terezinha Zagonel, irmã
Hermelinda Rushel e irmã Ione
Búttenbender. Outras cinco
noviças - irmã Iria Maria Walter,
irmã Ignez Lazzari, irmã Lucena
Schäfer, irmã Luzia Lyra e irmã
Helena Escher - proferiram os
seus primeiros votos, enquanto
25 junioristas renovaram seus
votos por mais um ano.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 23
Religiosas iniciaram um trabalho de evangelização
e alfabetização na comunidade
50 anos
Em setembro de 1973, a irmã
Gaudia Kuschka assumiu a
coordenação da comunidade do
bairro e incentivou as religiosas a
prosseguiram com o trabalho na
comunidade. Ela percorreu a vila
na companhia das irmãs Afonsina
Gasparini, Carmen Lúcia Heisler
e Olmira Bernadete Dassoler
convidando as pessoas adultas
para frequentarem o curso de
Mobral, antigo programa federal
para alfabetização de jovens e
adultos.
“Além disso, as irmãs Gaudia e
Carmen Lúcia foram, de casa em
casa, chamando as pessoas para
o culto dominical que realizariam
na Escola São Francisco. Porém,
quando chegou o domingo,
somente um casal com dois
filhinhos apareceu para a missa.
Foi uma decepção”, registra a
irmã Gaudens Christh (em
memória) nos seus escritos. Elas
não desanimaram e foram mais
uma vez à casa dos moradores
para reforçar o convite e saber
o motivo da ausência. “No final
das contas o culto dominical se
desenvolveu muito bem, mas foi
preciso muita perseverança”.
Rotina no convento era de muito trabalho e oração
A irmã Maria Dorotéia Schmidt
morou no Convento Espírito
Santo por apenas um ano, logo
após a inauguração. “Sou da
mesma turma que a irmã Carmem
Lúcia. Quando nós entramos no
convento, éramos em 21 noviças,
um festival de mocinhas”, brinca.
Da turma grande de jovens,
entre 18 e 23 anos, apenas sete
continuaram na missão. “As
demais acreditaram que a sua
vocação era outra e acabaram
tomando outros rumos”, justifica.
Ela conta que haviam poucos
funcionários e as próprias irmãs
faziam a maior parte do trabalho.
“Eu sou filha de agricultores
e desde pequena a filha de
agricultor já sabe fazer um
pouco de tudo, já sabe cozinhar,
cuidar dos irmãos, lavar roupa.
Então, quando cheguei era
muito requisitada para fazer as
atividades braçais”, lembra. “Eu
me sentia muito importante. Foi
um tempo muito bom”, enfatiza.
Segundo a irmã Maria Dorotéia,
havia uma regra que toda irmã
que chegava no convento tinha
que fazer estágio na cozinha,
lavanderia e outros setores.
“Então, quando chegavam as
verduras da chácara, cada irmã
era responsável por cortar uma
verdura e tinha que deixar tudo
cortadinho”, diz. “Mas enquanto
estávamos trabalhando na
cozinha podíamos contar
história, conversar, rezar; enfim,
todo dia tinha uma atividade
diferente para fazer”, recorda.
24
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
50 anos
Moradores contam com a ajuda das religiosas
na educação e na saúde
“Quando as irmãs começaram a
visitar as famílias da redondeza
e nos contaram das crianças
abandonadas, eu também quis
ser útil”, escreve a irmã Sérvia
Baldy (em memória) no seu livro
de anotações. Em 1974, ela
começou a, diariamente, reunir
cerca de quinze crianças, com
idades entre quatro e oito anos,
que passavam a tarde toda
estudando no Convento Espírito
Santo. “Não tínhamos cadeiras
e nem mesinhas, as crianças
sentavam num tapete de palha
e gostavam, pois em casa só
tinham chão batido. Comecei a
fazer o sinal da cruz e a rezar as
primeiras orações com elas”. O
número de crianças aumentava
dia a dia e, um ano mais tarde,
as aulas do Jardim da Infância
foram transferidas para o Centro
de Promoção Humana Santo
Arnaldo Janssen.
A irmã Edwalda Gertrud Maria
Werner (em memória) também
viveu uma experiência muito
parecida. “Logo que chegamos
ao Convento, muitos pobres
bateram à nossa porta pedindo
remédios”, registra em suas
memórias. Ela fez um fichário
daquelas que a procuraram
e começou a distribuir os
remédios que conseguiu através
de doações. A pequena farmácia
também foi transferida para o
Centro de Promoção Humana
Santo Arnaldo Janssen e
dividida em três salas diferentes,
incluindo um espaço específico
para verificar a pressão e outro
para esterilizar as agulhas e
aplicar injeções. Com o dinheiro
das doações, a irmã Edwalda
comprou um aparelho para
esterilizar, uma mesa, materiais
e utensílios necessários.
Quando terminaram os remédios
que havia conseguido, a religiosa
foi até a Secretaria da Saúde
em Curitiba. “Eu não deixei o
secretário em paz até que ele
fez um contrato comigo. Eu
podia buscar os remédios todos
os meses no Posto de Saúde
de Ponta Grossa e distribuía
conforme a necessidade o
tesouro precioso”, conta em
suas anotações. Para a irmã
Edwalda, uma das maiores
emoções foi salvar uma criança
da morte certa. “A criança tinha
três meses com o peso inferior
ao de nascimento. Dei à mãe o
Rehidrant [remédio indicado
para reposição das perdas de
água e eletrólitos] e indiquei
uma colher a cada hora. Antes
eu a batizei, porque não tínhamos
esperança, mas a criança foi
salva e sobreviveu”.
Além das mães trazerem as
crianças para consulta, sempre
que possível a irmã Edwalda
visitava os doentes em suas
casas. “Como as crianças se
desenvolveram! Tudo foi feito por
um ‘Deus lhe pague’”, escreve em
seus registros.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 25
50 anos
Casa provincial passou por reformas e expansão
Desde a sua inauguração até
2020, o Convento Espírito
Santo funcionou como sede da
Província Sul e recebeu eventos
importantes como profissão
dos primeiros votos e votos
perpétuos, jubileus, assembleias
e capítulos provinciais.
Atualmente, ele funciona como
espaço para retiro, cursos,
encontros e acolhimento para
as irmãs idosas ou doentes
para tratamento. “Os tempos
mudaram e os objetivos também.
Houve muitas mudanças e
reformas na estrutura interna
da casa, além do aumento
na procura por espaços para
encontros e cursos, compara a
irmã Almerita Poggel, uma das
primeiras moradoras do local e
que acompanhou de perto todas
essas mudanças.
Em 2021, a sede da província
foi transferida para uma casa
no centro de Ponta Grossa,
nas proximidades do Colégio
Sant’Ana.
Trabalho em prol da comunidade não para
O Convento Espírito Santo
passou por diversas reformas e
ampliações ao longo dos anos,
mas o que não mudou foi a fé
em Deus e a disposição em
trabalhar pela comunidade.
A irmã Sirley Mau é uma das
religiosas que atualmente reside
no Convento Espírito Santo. Ela
já havia morado no espaço em
outras ocasiões, retornando
em 2014. Desde então, é uma
das responsáveis técnicas pelo
Centro de Terapias Integradas
Madre Josefa mantido pelas
religiosas, onde atende
moradores da comunidade
através de tarifas sociais. “Uma
das coisas que eu acho muito
importante no meu trabalho,
como fisioterapeuta, é não perder
a dimensão missionária. Ser uma
presença de Deus, junto àqueles
que vêm até aqui”, enfatiza. A irmã
Sirley também atende cerca de
20 irmãs que fazem fisioterapia,
principalmente relacionada a
dificuldades motoras em virtude
da idade avançada.
“Existe em mim muita alegria,
muita vontade de viver. Acordo
com muito entusiasmo”, revela.
Ela conta que o domingo é o
único dia em que não atende os
pacientes e reserva um tempo
para lazer e para um dos seus
hobbies favoritos, a fotografia.
Irmã Sirley comenta que
costumava trabalhar até às 21h
no centro e chegou a atender,
em média, 140 pacientes por
mês. Hoje, ela reduziu a carga
horária e mantém um trabalho
de direção espiritual online,
onde acompanha 10 pessoas
de diversos estados do país.
“É uma experiência linda! Tem
pessoas que eu deveria escutar
de joelhos, de tão linda que é a
partilha dessa pessoa”, frisa.
Ela se diz agradecida pela
oportunidade de viver uma
experiência tão íntima com
Deus na casa provincial e ter a
oportunidade de colocar os seus
dons a serviço daqueles que mais
precisam. “Hoje eu digo que
nunca vivi com tanta intensidade
a minha vida missionária. Amo
o que faço e amo ajudar as
pessoas”, diz. “Isso faz parte da
experiência missionária que
eu busco e traz sentido para
a minha vida. Quando a gente
tem um motivo para viver, a
gente supera qualquer outro
obstáculo”, ensina.
26
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Rotina no Convento ainda é repleta do Espírito Santo
Atualmente a coordenadora
do Convento Espírito Santo é
a irmã Susana Lúcia Rhoden.
No momento, apenas 33 irmãs
residem no local, das quais
nove são idosas. “No início, o
Convento não era tão extenso
como é hoje. O espaço foi
aumentado para acolher as
irmãs idosas, que já deram suas
vidas na missão, para que elas
sejam acolhidas e tratadas nas
suas dificuldades. Além delas,
também vêm para cá irmãs que
ficaram doentes, mas assim que
elas se recuperam já voltam para
a sua missão”, detalha. A idade
das moradoras varia entre 93 e 45
anos. “A nossa maior dificuldade
hoje são as doenças, pois são
várias necessidades diferentes.
Outro desafio é receber todo o
pessoal dos encontros de casais,
pastorais, jovens”, diz.
Embora não exista um controle
rígido, irmã Susana Lúcia
comenta que existe uma rotina
estabelecida no Convento. “O
nosso dia começa cedo, às 6h,
quando temos um momento
para oração e logo depois, às 7h,
começa a nossa missa. Depois
tomamos o nosso café da manhã
e cada uma vai para as suas
atividades”, detalha.
Ela reforça que o trabalho dentro
do Convento é dividido entre as
próprias religiosas. Algumas
irmãs ajudam na limpeza da
casa e dos quartos, cuidam da
horta e do jardim, ou auxiliam
as idosas. “Todo mundo aqui
tem uma atividade, aquelas que
não conseguem ajudar em casa
fazem tricô e crochê. Também
temos algumas funcionárias
aqui, senão a gente não aguenta,
pois já temos uma certa idade”,
frisa. Além disso, as religiosas
atuam na comunidade com a
Escola Arnaldo Janssen Ensino
Fundamental [inaugurada em
1992], o Centro de Terapias
Integradas Madre Josefa [desde
2016] e diversas atividades
pastorais. “Ao meio-dia todas
almoçam juntas e durante a
tarde, quando não tem missa,
cada irmã tem uma hora para
fazer a sua reflexão”, acrescenta.
De acordo com a irmã Susana
Lúcia, as idosas têm uma rotina
diversificada durante o dia
segundo as suas limitações e
necessidades específicas. “Para
dormir, as idosas vão mais cedo,
porque tem as cuidadoras que
dão banho e as acomodam.
Geralmente é por volta das 20h
que isso acontece”, exemplifica.
50 anos
A irmã Susana Lúcia garante
que existem muitos planos
para o futuro do Convento
Espírito Santo. “Está prevista a
reforma dos quartos das irmãs
idosas, das irmãs mais novas
Um futuro cheio das bênçãos de Deus
e da ala dos retiros para tornar
o nosso espaço um ambiente
mais gostoso. Afinal, a missão
tem que continuar”, enfatiza,
acrescentando que o objetivo é
continuar acolhendo com amor
as pessoas que chegam para
encontros e retiros, ao mesmo
tempo oferecer um lar para
as irmãs que precisam de um
cuidado especial.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 27
Um sonho que conquistou o mundo
50 anos
A Congregação das Missionárias
Servas do Espírito Santo surgiu do
sonho do Padre Arnaldo Janssen,
na segunda metade do século 19,
em Steyl, na Holanda. Ele contou
com a colaboração indispensável
de Maria Helena Stollenwerk
(Madre Maria) e de Hendrina
Stenmanns (Madre Josefa) e
outras jovens aspirantes. Esse
espírito missionário rapidamente
se espalhou pelos quatro cantos
do planeta. Hoje, as religiosas
estão presentes em 50 países,
em cinco continentes.
Colégio Sant’Ana marca
a chegada das irmãs em
Ponta Grossa
As primeiras seis missionárias
da Congregação chegaram ao
Brasil, em 20 de agosto de 1902, e
estabeleceram-se primeiramente
em Juiz de Fora, dando origem à
Província Stella Matutina. Apenas
três anos mais tarde, em 1905,
as religiosas se estabelecem em
Ponta Grossa com a chegada das
Irmãs Regina, Suitberta e Dionísia.
Imediatamente, elas assumiram a
direção da antiga Escola Paroquial
e passaram a se dedicar ao ensino
das crianças. Nascia ali o Colégio
Sant’Ana e com ele um modelo de
educação pioneiro na cidade.
28 Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Coordenadoras da Comunidade do Convento Espírito Santo
Desde que a Casa Provincial foi inaugurada 1972 - 2022 Ano jubilar (50 anos) para ser Sede da Administração
Provincial, Casa para acolher as Irmãs Idosas, em tratamento de Saúde, as jovens formandas, locais para
Encontros, Retiros, Assembleias das Irmãs da Província
50 anos
1ª Coordenadora: 1972 a 1974
Irmã Stanislás, (Emilie Pinocy)
8ª Coord: 2001 a 2003
Irmã Armelinda Colombo
2ª Coord: 1975 a 1979
Irmã Meinradine
( Sophie Bütterhoff)
9ª Coord: 2004 a 2006
Irmã Maria Emília Schmitz
3ª Coord: 1980 a 1982
Irmã Inviolata
(Elisabeth Maria Gertrud Mühl)
10ª Coord: 2007 a 2009
Irmã Ivone Maria Kleinübing
4ª Coord: 1983 a 1985
Irmã Ana Victória
(Maria Del Pilar Vega y Vega)
11ª Coord: 010 a 2012
Irmã Ilca Maria Hendges
5ª Coord: 1986 a 1992
Irmã Susana Lúcia
(Ilone Maria Rhoden)
12ª Coord: 2013 a 2018
Irmã Iolanda
(Lourdes Scheid)
6ª Coord: 1993 a 1997
Irmã Ilca Maria Hendges
13ª Coord: 2019 - Atual
Irmã Susana Lúcia
(Ilone Maria Rhoden)
7ª Coord: 1998 a 2000
Irmã Susana Lúcia
(Ilone Maria Rhoden)
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 29
50 anos
Conheça
quem faz
parte da
história do
Convento
Espírito
Santo
IRMÃS QUE ESTAVAM
NA CASA PROVINCIAL
DE JANEIRO A 31 DE
DEZEMBRO DE 1972
Irmã Afonsina Gasparini - que foi para a Clausura SSPS AP
Irmã Afonsina, Zulmira Gasparini
Irmã Alfrede, Gertrud Guenter
Irmã Almerita, Irmgard Poggel
Irmã Aparecida Inácio
Irmã Bonfilia, Agnes Andres
Irmã Carmen Lúcia, Renilda Heisler
Irmã Delair Sbabo
Irmã Edite Terezinha Zagonel
Irmã Elsgina, Luzia Rautenberg
Irmã Emília Decker
Irmã Fernandis, Helena Poppe
Irmã Gaudens, Maria Christ
Irmã Gudulindis, Magdalena Marx
Irmã Helenita, Ignez Engler Winther
Irmã Hermelinda Maria Ruschel
Irmã Ignez Lazzari
Irmã Inês Dewes
Irmã Inviolata, Elisabeth Mühl
Irmã Ione Büttenbender
Irmã Iracema Rosa Desconsi
Irmã Iria Maria Walter
Irmã Julieta, Elvira Willers
Irmã Lucena Shäfer
Irmã Luzia Lyra
Irmã Maria Elmira, Nilva Weber
Irmã Maria Helena Escher
Irmã Mariawa, Theodora Plawinski
Irmã Melásia, Frieda Faulstich
Irmã Noeli Maria Backes
Irmã Noêmia, Mafalda Caiani
Irmã Olmira Bernadete Dassoler
Irmã Purifikata, Katharina SchlÖmmer
Irmã Rosalina Hettwer
Irmã Stanilás, Emílie Pinocy
30
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Servas do Espírito Santo
levam saúde e religiosidade para
comunidades carentes do Pará
Religiosas chegaram ao município de Placas em 2012 e desenvolvem um projeto de capacitação de
lideranças comunitárias e agentes multiplicadores de saúde em práticas integrativas e complementares
para melhorar a qualidade de vida nas comunidades de baixa renda da periferia e na zona rural
Missão na Amazônia - Pará
A
presença da Congregação
Missionária Servas
do Espírito Santo (SSpS)
no Pará completa 10 anos em
2022. Lá elas desenvolvem um
trabalho de assistência social
e de saúde às comunidades de
baixa renda da periferia e moradores
da zona rural com práticas
integrativas e complementares.
Entretanto, a ligação das religiosas
com a região começou dois
anos antes.
Em janeiro de 2010, a irmã Marialva
da Costa foi convidada
a participar do lançamento de
um projeto de formação para
lideranças ligadas à missão dos
verbitas no oeste do estado. A
iniciativa estava sendo promovida
pelo padre José Dilon (SVD),
padre José Boeing e Luciana
Chammas com apoio das organizações
de saúde popular - entre
elas a ABHP Healing, projeto do
padre Ezequiel da Diocese de Ji-
-Paraná, no qual a irmã Marialva
atuava como coordenadora do
setor de saúde.
O projeto recebeu o nome de
Beth Bruno, uma homenagem
a Elisabeth Bruno, grande incentivadora
das ações de saúde
junto aos grupos populares e
também responsável pela implantação
da terapia floral nas
comunidades carentes. Ela
faleceu em 2005, ainda muito
jovem, deixando como legado
a sua contribuição para a expansão
da medicina alternativa
em Rondônia. “Beth expressou
por diversas vezes seu sonho
em levar a terapia floral para
a região amazônica e para os
povos da floresta. Sonho que
vem sendo realizado, apesar
das dificuldades”, frisa a irmã
Marialva. A iniciativa capacita
lideranças comunitárias e
agentes multiplicadores de
saúde em práticas integrativas
e complementares, como biomagnetismo,
bioenergéticos,
terapias florais, fitoterápicos
e homeopatia.
“Eu lembro que quando eu entrei
na casa dos Missionários
do Verbo Divino, em Santarém,
o padre José Boeing, que era o
coordenador regional na época,
me deu um abraço e falou que
agora sim o sonho de trabalhar
com as Servas do Espírito Santo
no Pará iria se realizar”, conta.
Fazia 30 anos desde que os padres
tinham se estabelecido na
região e agora havia chegado a
vez das religiosas. “Mas eu estava
somente como parte da equipe
do projeto, não pensava em
vir para esta missão. Fui sendo
envolvida aos poucos e desde o
início coordeno este projeto”, diz.
Ela destaca que aprendeu muito
com a equipe idealizadora, especialmente
Luciana, e com Dom
Erwin Kräutler, na época bispo
da Prelazia do Xingu, que orientou
retiros na província e relatava os
enormes desafios da região.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 31
Missão na Amazônia - Pará
Comunidade fez abaixo-assinado pela vinda das irmãs
A fundação da missão em Placas
foi uma decisão capitular. Na
época, as irmãs Maria de Fátima
Kapp, coordenadora provincial,
e Nilva Moro, conselheira
provincial, foram visitar a missão
verbita na região amazônica
e participaram do retiro e da
assembleia, que teve como um
dos temas a atuação da SSpS
no estado. Elas estiveram em
diversas paróquias que faziam
parte da Prelazia do Xingu e a
notícia animou o padre Patrício
Brenann, pároco da paróquia
de Placas, que coletou mais de
400 assinaturas em uma abaixoassinado
pedindo que a missão
se estabelecesse no município.
“Segundo ele, as outras
paróquias não se esforçaram
tanto, mas também acho que
nem deu tempo deles pensarem
muito, porque o padre Patrício
já fez esse abaixo-assinado,
pondera a irmã Marialva.
Em setembro de 2012, após
a missa de encerramento do
retiro orientado por Dom Erwin
Kräutler, as irmãs Matilde
Sacardo e Maria Madalena
Hoffemann foram enviadas
para a missão de Placas. “Antes
fizemos uma parada com direito
a passeios por Belém e depois
viajamos a Altamira também
com um tempo de parada para
conhecer a sede da Prelazia”,
conta a irmã Matilde. Ela relata
que, em Altamira, foram à
missa e depois passearam um
pouco com a irmã Terezinha às
margens do Rio Xingu. “Xingu
significa, morada dos deuses
ou morada dos índios. Tocamos
a água santa com as nossas
mãos e pedimos a benção para
a missão”, enfatiza. À noite o
padre Patrício foi buscar as
religiosas, mas a camionete
quebrou e o grupo só conseguiu
partir no dia seguinte em
direção à Placas. “Viajamos pela
empoeirada Transamazônica,
apreciando a triste situação
de grandes extensões de
mata derrubada deste pulmão
do mundo tão destruído”,
lamenta. Elas chegaram no
município à noite, onde foram
acolhidas na casa de dona Olívia
e se reuniram com os padres
Patrício, Rodolvus Julius
Oetpah e Jorge Gabriel Gomez
para jantar.
Recepção calorosa e muito trabalho pela frente
A chegada definitiva das
missionárias em Placas
aconteceu no dia 30 de setembro
e o bispo Dom Erwin celebrou
uma missa de boas-vindas
para as irmãs Matilde, Maria
Madalena e Marialva. “Foram
comoventes as palavras de
acolhida e também todo o
contexto da celebração. No final,
o padre Patrício nos entregou
uma roseira plantada num vaso
para simbolizar o desejo de que
criássemos raízes profundas
na comunidade”, lembra a irmã
Marialva. Muitos religiosos
de várias congregações das
cidades vizinhas e pessoas
das comunidades rurais
estiveram presentes e levaram
alguns presentes e utensílios
para a nova casa. “Nós fomos
muito bem acolhidas não só
pelo povo de Placas, mas por
toda a Diocese do Xingu, que
preparou um almoço de boasvindas
e até um chá de panela
para a nossa casa nova”, conta.
Não faltou o delicioso almoço
comunitário, onde cada um
pode se apresentar de maneira
informal e contar um pouco do
trabalho que desempenhava
na comunidade. A irmã Helena
Acadrolli se juntaria ao grupo
dois meses mais tarde.
32
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Missão na Amazônia - Pará
Evangelização e promoção da saúde
“Nossa principal tarefa na missão
de Placas foi investir na formação
de lideranças das Pastorais
e Movimentos da Paróquia,
como também dos setores e de
cada comunidade”, enfatiza a
irmã Matilde. Ela conta que as
religiosas passavam a semana
nas comunidades do interior;
visitando as famílias, abençoando
as casas, os animais e as lavouras.
“À noite encerrávamos as nossas
atividades com um encontro
de oração na comunidade,
encontrando novamente as
pessoas que havíamos visitado
durante o dia”, lembra. Para
fechar a semana de trabalho, as
religiosas realizavam uma missa
de Ação de Graças ou um culto.
O entusiasmo contagiou as
missionárias, que também
trabalharam intensamente
com o projeto Beth Bruno. “Eu
fui entrando nessa dinâmica
de uma forma muito intensa e
quase automática. É um trabalho
bem árduo, até porque ele tem
uma extensão muito grande,
e estou bem envolvida desde
que cheguei”, confessa a irmã
Marialva. A iniciativa atende
todo o oeste do Pará, atuando
em paróquias dentro da diocese
de Xingu, Itaituba, Santarém e
Óbidos. Ela também acompanha
grupos no Piauí, Maranhão e
Roraima.
Um novo jeito de evangelizar
A irmã Helena Accadrolli
trabalhou durante nove anos
em Placas e conta que as
missionárias participavam na
coordenação da catequese com
a formação para catequistas em
diversas paróquias da Diocese do
Xingu e também como membros
da coordenação da escola bíblica
catequética, ministrando aulas
na Escola Bíblica Catequética.
As religiosas atuaram com a
Pastoral da Criança, atendendo
as famílias mais vulneráveis
do município de Placas e na
capacitação de novas líderes
para atender a demanda de
crianças de zero a seis anos e
mães gestantes.
As religiosas também se fizeram
presentes no Conselho Municipal
da Criança e do Adolescente.
“Fizemos a diferença com
nossa presença, recebendo um
reconhecimento especial pela
Prefeita Municipal de Placas pela
nossa atuação no município”,
detalha. Além disso, através
das visitas às famílias e grupos
de oração, as religiosas levavam
conforto espiritual e material
para as famílias. “Muitos doentes
foram confortados com a oração
e a presença do grupo orante
motivado por nós”, salienta.
Para a irmã Helena, a missão em
Placas é um exemplo de um novo
jeito de evangelizar.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 33
Missão na Amazônia - Pará
Embora a missão em Placas
atenda cerca de 12 tribos
diferentes de povos indígenas,
irmã Marialva lamenta que o
trabalho esteja restrito à
área da saúde. “Há um campo
imenso de atuação e gostaria
muito de acompanhar mais os
povos da floresta. Nós estamos
muito restritas pela limitação
da nossa equipe e nessa fase
mais crítica estamos sem
pernas para fazer uma atuação
mais forte”, justifica. Ela
sonha ainda com um trabalho
mais pontual de visitas às
comunidades ribeirinhas. “São
Desafios da missão preocupam religiosas
pessoas muito usadas para
motivar a missão e levantar
doações, mas às vezes na
hora de ir lá e fazer o trabalho
mesmo eles ficam sempre para
depois”, pondera.
Irmã Marialva destaca que
outro grande desafio em Placas
é o atendimento às mulheres.
“São mulheres sofridas,
muitas vezes com poucas
oportunidades e precisando
ser mais acompanhadas”,
diz. A religiosa também se
preocupa com o trabalho junto
às crianças e comunidades
carentes. “Embora nos últimos
anos várias famílias com poder
aquisitivo maior tenham se
mudando para a cidade, os
pobres continuam cada vez
mais pobres e necessitados”,
reitera. “Isso para mim é um
desafio imenso. Precisaríamos
de alguém que pudesse
estar acompanhando essas
situações, se não eu também
não vejo muito sentido na
nossa missão aqui”, pondera,
acrescentando que é preciso
ter mais pessoas para dar
continuidade a essa missão
tão necessária.
Os nomes
por trás da
missão
CONHEÇA AS IRMÃS QUE
FIZERAM A DIFERENÇA
NESTES 10 ANOS NO PARÁ:
Anita Maria Maldaner
Edileuza Garcia de Souza
Helena Accadrolli
Lourdes Hummes
Maria A. Pickler
Maria Madalena Hoffmann
Marialva Oliveira da Costa
Matilde Wandembruck Sacardo
Oneide Ferri
Silene Maria Mallmann
34
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Há 30 anos as irmãs
Missionárias Servas do Espírito
Santo lutam por indígenas e
imigrantes em Roraima
Missão na Amazônia - Roraima
Religiosas atuam na região Amazônica dedicando-se à defesa dos povos indígenas, na luta pelas terras
não demarcadas, pela preservação da cultura tradicional e acolhida de imigrantes venezuelanos;
durante a missão sofrem com a hostilidade de garimpeiros e a distância entre as comunidades que
inviabiliza o acompanhamento mais frequente.
Há exatos 30 anos,
as irmãs Almerita
Poggel, Sirley Fátima
Weber e Maria Christian
(Rhut), da Congregação das
irmãs Missionárias Servas do
Espírito Santo (SSpS), pisavam
pela primeira vez no estado de
Roraima. Tudo começou no
dia 13 de janeiro de 1992, após
um apelo do bispo Dom Aldo
Mongiano (em memória), que
solicitou a presença e atuação
das irmãs em prol da vida e
saúde do povo Yanomami.
Desde aquela época, já haviam
denúncias de invasão de terras
indígenas por garimpeiros,
atividade ilegal que contribuía
para a contaminação das águas
e infestação de malária e outras
doenças. Um dos maiores
desafios, naquele período,
era justamente conquistar
a confiança e a simpatia dos
povos indígenas. A irmã Ruth,
que era enfermeira, logo
achou caminho para assumir
um trabalho na Casa do Índio,
passando a conhecer melhor
a realidade local e ter acesso à
área Yanomami.
“A partir deste momento
começou um trabalho mais
intenso, além das comunidades
indígenas também começamos
a atuar na periferia onde
morávamos e nas redondezas
com os migrantes maranhenses
que vinham em multidão
para Roraima, trazidos pelo
governador da época, para
colonizar a região amazônica”,
conta a irmã Ivani Krenchinski.
Ela chegou ao estado em
fevereiro de 1993, sendo uma
das religiosas que há mais
tempo integra essa missão
na Amazônia. A congregação
assumiu também o desafio
de atuar na região do lavrado,
termo utilizado para definir
o ecossistema de vegetação
aberta, do tipo savana, que
existe em Roraima. As irmãs
passaram a trabalhar nos
municípios de Amajari e São
Marcos, onde ajudaram a
iniciar 11 comunidades na
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 35
Missão na Amazônia - Roraima
periferia e acompanharam
26 comunidades indígenas
dos povos Macuxi, Wapixana,
Ingaricó e Taurepang e Sapará.
De acordo com a irmã Ivani,
as religiosas foram bem
acolhidas pelas comunidades
em que marcaram presença,
mas não faltaram dificuldades.
“Há trabalhos que mexem
com as injustiças que o povo
sofre e então começam as
perseguições e as calúnias
por grupos que se sentem
incomodados ou são contra
os indígenas por interesses
econômicos”, justifica. Ela
conta que, em março de 2000,
duas religiosas e nove indígenas
sofreram uma emboscada
enquanto iam para a aldeia de
Ananás para uma reunião da
comunidade. “Faltavam apenas
oito quilômetros para chegarem
quando mais ou menos 30
fazendeiros e políticos da
região fecharam a ponte do
rio Ereu e obrigaram todos a
descerem do carro. Depois de
uma hora de insultos e palavras
de baixo calão, as irmãs e os
índios foram obrigados a deixar
o carro em poder deles e voltar a
pé, por cerca de 30 quilômetros
sem água e comida”, relata;
acrescentando que o carro
foi destruído e jogado ponte
abaixo dentro do rio Ereu.
“Nós também sofremos
muitas agressões verbais de
garimpeiros que se revoltam
por não poderem explorar as
terras indígenas”, enfatiza a
religiosa. Irmã Ivani conta que a
distância entre as comunidades
também dificulta o trabalho
e as péssimas condições
das estradas inviabilizam a
assistência mais constante às
comunidades.
Após 17 anos à serviço da Diocese
de Roraima, as irmãs foram
convidadas por Dom Roque
Paloschi, bispo na época, a
assumir a Paróquia Santo Isidoro,
no município de Alto Alegre, a
cerca de 90 quilômetros de Boa
Vista e redimensionar a missão
na periferia da capital. No dia 16
de agosto de 2009, as irmãs Inês
Mathias, Maria Dorotéia Schmidt
e Ignácia Antonia Ramirez
chegaram ao local e iniciaram
o trabalho de reconstrução da
caminhada pastoral e auxílio
aos povos indígenas. “Nós,
missionárias, nos sentimos
desafiadas a respeitar,
questionar, dialogar, aprender
com outras culturas, vendo o
rosto de Deus nas peculiaridades
de cada comunidade”, enfatiza
Início das atividades em Alto Alegre
a irmã Elvini Tavares, que
trabalha na região. “Muitas vezes
nos sentimos confrontadas,
decepcionadas e com muitos
questionamentos que nos
desapontam e, a partir disso,
buscamos outras estratégias
para corresponder a cada
realidade”, salienta.
Ela acredita que o futuro da
congregação em Roraima talvez
seja ainda mais desafiador.
“Nossa missão é a defesa dos
direitos dos povos indígenas,
dos pobres das vilas e dos
pequenos agricultores; integrar
com maior compromisso os
imigrantes venezuelanos;
formar comunidades onde
o coletivo e a ajuda mútua
sejam prioridades, multiplicar
formação de lideranças
religiosas e criar relações
humanizadas nas diferenças
culturais”, enumera. Atualmente
as irmãs acompanham dez
comunidades indígenas, seis
vilas e a cidade de Alto Alegre,
onde mantêm parceria com
os padres diocesanos de
Vicenza. As irmãs atuam na
luta por terras não demarcadas,
resgate da medicina tradicional,
através de agentes indígenas
de saúde, formação de agentes
comunitários de medicina
popular integrativa (florais,
acupuntura, fitoterapia,
homeopatia e orientação
nutricional), ajuda emergencial
para imigrantes venezuelanos e
desenvolvimento de pequenos
projetos de sustentabilidade.
36
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Missão na Amazônia - Roraima
Corrente
do bem
CONHEÇA AS IRMÃS
QUE FIZERAM
PARTE DESTES 30
ANOS DE MISSÃO:
Almerita Poggel
Aurélia Príhodová
Cláudia Costa Oliveira
Edileuza Garcia de Souza
Edina Margarida Pitarelli
Elvini Tavares
Eunice Ferreira Figueiró
Helena Acadrolli
Ignácia Antônia Ramirez
Ilária Matte
Inês Mathias
Ivani Krenchinski
Jeanne E. R. Pendiuk (estágio noviça 2020)
Leonilda de Paula Souza
Maria Christian (Ruth)
Maria Cristina Krupek
Maria Dorotéia Schimdt
Maria Madalena Hoffmann
Naides Perin
Neide Pastori
Neumari das Graças da Silva
Nilva Moro
Ninfa Rosas
Sirley Fátima Weber
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 37
Oração
SÚPLICA
MISSIONÁRIA
Senhor Jesus, Bom Pastor e nosso irmão, viestes habitar
no meio de nós, para ser caminho de vida e esperança
para todos.
T. Renovai nossa esperança.
Despertai em todos os cristãos o desejo de conhecer-vos
sempre mais e seguir-vos com disponibilidade.
T. Renovai nosso ardor pelo Reino de Deus!
Dai-nos vossa sabedoria para encontrar-vos nas
diferentes culturas e acolher-vos no pobre e no excluído.
T. Renovai nossa esperança.
Derramai sobre nós e sobre todos os que
chamastes os dons de vosso Espírito, despertando
muitas vocações missionárias.
T. Renovai nosso ardor pelo Reino de Deus !
Abençoai todos os povos. Suscitai em nossas
comunidades muitos discípulos e discípulas para
colaborar na construção de vosso Reino. É o que vos
pedimos, por Cristo, Senhor nosso.T. Amém!
Na oração e na escuta à voz de
Deus, irmã Iracema ouviu o
chamado para servir
Com apenas 17 anos, ela ingressou no juvenato e se colocou à disposição para ser um instrumento
do Espírito Santo na vida de outras pessoas. Ao comemorar 50 anos de vida consagrada, a religiosa
reitera sua felicidade em ter sido escolhida pelo Senhor para servir.
Irmã Iracema Desconsi
A
irmã Iracema Desconsi
conta que foi na oração e
na escuta à voz de Deus
que descobriu a sua vocação
para a vida missionária. “A minha
família sempre foi muito religiosa
e foi na oração e discernimento
que percebi o chamado à vida
consagrada. Até hoje sinto a
presença de Deus que me chama
de maneira diferente”, afirma.
Ela acrescenta que a notícia
de que gostaria de entrar para
um convento foi recebida com
muita alegria e entusiasmo pelos
seus familiares, que a apoiaram
integralmente através de orações.
Nascida em 1944, Santa Maria,
Rio Grande do Sul, ingressou
no juvenato com apenas 17
anos. “Jamais tive medo de me
arrepender dessa decisão. Pelo
contrário, eu me senti muito feliz
por ter sido escolhida pelo Senhor
para ser uma serva do Espírito
Santo”, enfatiza. Embora garanta
que nunca tenha duvidado da
sua vocação, ela confessa que
precisou abdicar de muitas coisas
para seguir esse chamado. “Senti
muito por ter que deixar a minha
família, mas tinha total confiança
de que Deus me chamava à vida
religiosa missionária”, pondera.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 39
Irmã Iracema Desconsi
Os primeiros votos foram feitos em 1972
De acordo com a irmã Iracema, ela
guarda muitas boas lembranças
dos primeiros anos no convento.
“Foram anos de formação, oração
e trabalho; tudo isso me ajudou
a firmar a minha vocação. Me
senti confirmada e sou muito
feliz por isso”, frisa. Os primeiros
votos foram feitos em 1972 e até
hoje este é um dos momentos
mais importantes de sua vida
consagrada.
Ao longo desta caminhada, ela
atuou em Ponta Grossa (PR),
Cascavel (PR), Canoas (RS) e
Medianeira (PR). “Quando eu
era criança, nunca considerei
uma profissão específica que
eu gostaria de seguir, mas
sempre desejei estar à serviço
das comunidades onde passei”,
revela. “Talvez seja por isso
que nessa minha caminhada
servi sempre com muita alegria
e assim fui vivendo a minha
vocação missionária”, diz. Hoje
ela continua ativa e atuante,
trabalhando na sala de costura
do convento.
Experiência em Roma deu novo significado à vida missionária
Para a irmã Iracema, o momento
mais feliz e marcante de sua vida
religiosa foi quando recebeu
destino missionário para
Roma, capital da Itália. “Foi
um momento importante para
viver nossa internacionalidade
e também poder encontrar
irmãs de muitos países que
por lá passavam”, relata. Ela foi
chamada para esta importante
missão em 1972, logo após
professar os seus primeiros
votos, onde permaneceu por
oito anos atuando em serviços
gerais da congregação. “De
todos os sonhos que consegui
realizar, como missionária, o que
me dá mais alegria e satisfação
foi ter seguido à voz que me
chamava”, reflete.
Fé que se renova todos os dias
A rotina de oração, leitura da
palavra e comunhão com o
Espírito Santo é uma constante
na vida da irmã Iracema. “Levo
a sério minha vida de oração,
pois é isso que sustenta a
minha vocação”, garante. Ela
acrescenta que o desejo de
servir ao próximo e a certeza
de que foi escolhida por Deus
aumentam a cada dia. “Todo
tempo vivido na congregação
foi oportunidade de crescer e
amadurecer minha vocação
missionária. Sou muito grata
a Deus pelos 50 anos de vida
consagrada”, finaliza.
O desejo de trabalhar em
comunidade carentes
trouxe a irmã Cecília
da Bélgica para o Brasil
Irmã Cecília Hansen
Em 60 anos de vida religiosa consagrada, a irmã Cecília sempre se manteve inabalável na fé e firme no
propósito de trabalhar em regiões empobrecidas. Ela atuou em comunidades na Bélgica, na Holanda e na
Alemanha até ser enviada para o Brasil em 1969, onde pode finalmente exercer a sua verdadeira vocação.
A
irmã Cecília Hansen é
uma sobrevivente da
guerra. Ela nasceu no
dia 11 de março 1939, em Born,
na Bélgica, apenas cinco meses
antes do início da Segunda
Guerra Mundial e viu de perto
todos os horrores cometidos.
Ela vem de uma família e que a
fé em Deus ajudou a superar os
tempos de ódio. “Minha mãe tinha
uma fé profunda e confiava na
presença de Deus na vida dela,
mas não era uma beata. Toda a
noite ela rezava perto da cama de
cada um dos 10 filhos para que os
anjinhos nos acompanhassem”,
lembra.
O primeiro chamado para seguir
Jesus aconteceu quando a irmã
Cecília tinha entre 14 e 15 anos.
Ela queria se dedicar totalmente
ao Senhor, mas não conseguiu
se encaixar em nenhuma
congregação. “As franciscanas
me puxaram, mas não gostei
muito delas porque andavam de
casa em casa pedindo esmolas.
Depois fui visitar as carmelitas
e não toquei nem a campainha.
Vi a casa e tudo em volta era
morto”, recorda. Pouco tempo
depois, ela foi visitar a sua irmã
mais velha, que faz parte da
Congregação Missionária Servas
do Espírito Santo (SSpS), na
cidade de Steyl, na Holanda. “As
irmãs me respeitaram muito e
percebi que podia ampliar minha
visão. Eu sempre tive vontade
de conhecer o mundo e soube
que era ali que eu queria servir”,
enfatiza.
A notícia foi recebida com
entusiasmo pela família e,
especialmente a sua mãe ficou
muito feliz por ter duas filhas
religiosas. “Meu pai não foi contra,
mas disse que eu não poderia
passar a vida ao lado da minha
irmã. Eu estava muito ligada a
ela, que era muito carinhosa e
meiga”, comenta. A vontade de
servir era tão grande que, aos
18 anos, a irmã Cecília queria
entrar para o convento, mas foi
proibida pela mãe que a achava
muito jovem. Aos 20 anos, ela se
sentiu chamada de novo e em
setembro de 1959 ingressou no
aspirantado em Steyl.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 41
Irmã Cecília Hansen
Primeiros contatos com a cultura brasileira
Irmã Cecília proferiu os primeiros
votos em 08 de junho de 1962 no
convento de Steyl, onde estudou
por quatro anos e depois de dois
anos na cidade de Wimbern, na
Alemanha, foi chamada para
o Brasil. Por ser belga, ela não
conseguiu o visto de entrada para
o Brasil, que na época vivia uma
Ditadura Militar. A alternativa foi
tentar o visto através da Holanda
e, após um ano de espera, a
religiosa pisou em chão brasileiro
em setembro de 1969 como
imigrante holandesa. Ao chegar
ao convento Santíssima Trindade,
em São Paulo, a irmã Cecília teve
que se adaptar aos novos hábitos
e à nova cultura. “Logo comecei
a estudar a língua portuguesa
com uma professora de línguas
e uma noviça. Como no refeitório
das irmãs se falava ainda muito
alemão e eu queria aprender mais
o português, passava a maior
parte do tempo com as noviças”,
recorda.
Ela comenta que aprendeu rápido
a nova língua e o costume que
mais estranhou foi a rapidez com
que os mortos eram enterrados.
“No começo do meu trabalho
em Vila Remo, eu morava no
convento e ia trabalhar bem
cedo. Uma vez uma irmã faleceu
depois que eu fui trabalhar e à
noite ela já foi enterrada. Eu
fiquei chocada e me perguntando
se ela estava mesmo morta”, diz.
“Outra coisa que eu demorei para
me acostumar foi com o café. Eu
não tomava café e até eu aceitar,
demorou”, brinca.
42
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Onde a fome entra sem pedir licença
Irmã Cecília Hansen
Como sonhava em trabalhar com
a população carente, logo que
aprendeu a língua e um pouco da
cultura brasileira, a irmã Cecília
iniciou um trabalho missionário,
na Paróquia Santo Cristo, no Rio de
Janeiro. “A paróquia ficava perto
do porto e de uma grande favela,
mas os padres tinham ainda o
estilo antigo e trabalhavam mais
com a classe média. Não gostei
disso e voltei para São Paulo”,
diz. Na mesma época, o bispo
Dom Paulo Evaristo Arns fez um
apelo a todas as congregações
para liberar e enviar religiosos
para as periferias, que estavam
abandonadas pelo Estado e pela
igreja. Ela foi convidada para
conhecer a realidade da extrema
periferia em Vila Remo, na região
sul de São Paulo, e permaneceu
lá por 17 anos.
Com essa vivência, a imagem
de Deus se transformou para
a irmã Cecília. “De um Deus
distante, experimentei um Deus
presente em nossas vidas e que
caminha conosco. Um Deus vivo,
libertador, cheio de misericórdia
e amor pela sua criação”, define.
Ela conta que, em 1989, participou
de uma ocupação na periferia
de Goiânia, onde morou num
barraco de lona. “Acompanhamos
o ritmo do povo e podia sentir na
própria pele o que o povo pobre
está obrigado a viver”, lembra. A
religiosa permaneceu ali por só
alguns meses, pois seu destino
final era o Maranhão. Na cidade de
São Luiz, ela participou de outra
ocupação, desta vez formada
por descendentes de africanos
e indígenas. “A cultura original
estava ainda muito presente e
a pobreza era grande. Um dia
uma mulher disse que a fome
entrava naquelas casas sem pedir
licença”, recorda com tristeza.
Atualmente, a irmã Cecília vive
no Convento Santíssima. “Aqui
ajudo lavar louça, escrevo os
cartões de aniversário para
as irmãs e funcionárias do
Sant’Ana, gosto de ajudar as
irmãs quando precisam, faço
visitas na periferia, cultivo
a leitura, participo da missa
diariamente e de uma equipe
de liturgia”, enumera. Ela
também integra um grupo de
reflexão em Embu-Guaçu, em
São Paulo, onde confraterniza
com pessoas de todas as
idades, muitas vezes famílias.
“Sempre tem um momento de
espiritualidade” frisa.
Rotina de orações e visitas à periferia
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 43
Oração
ORAÇÃO DO QUARTO
DE HORA
Deus, verdade eterna.
Cremos em vós.
Deus, nossa força e salvação.
Esperamos em vós.
Deus, bondade infinita.
Nós vos amamos de todo o coração.
Enviastes o Verbo como Salvador do mundo.
Que nele sejamos todos um.
Infundi-nos o Espírito do Filho.
A fim de glorificarmos o vosso nome. Amém.
Irmãs Maria Sumida
e Maria da Conceição
completam 75 anos de vida
consagrada
A missão de Deus também
confiada às irmãs Maria de
Lourdes Kehl, Leonila Preto
e Cecília Hansen há 60 anos;
durante esses longos anos de
dedicação ao próximo, elas
cultivaram a sua espiritualidade
e testemunharam o Reino de
Deus entre os povos
Irmãs Maria Sumida e Maria da Conceição
Há 75 anos, o Senhor
chamou as irmãs
Maria da Conceição
de Araújo e Maria Sumida
para testemunhar o Reino de
Deus entre os povos. O mesmo
chamado foi sentido pelas irmãs
Maria de Lourdes Kehl, Leonila
Preto e Cecília Hansen um pouco
mais tarde, 60 anos atrás. Hoje
elas vivem em São Paulo (SP) no
Convento Santíssima Trindade,
onde são assistidas e amparadas
pelas irmãs e leigas.
“Pelo Batismo somos convidados
a proclamar as Boas Novas a
todos, mas a resposta radical
e com muita alegria foi dada
quando Deus nos chamou para
a vida religiosa, um serviço total
à missão que é Dele”, explica a
irmã Maria da Conceição. Ela
enfatiza que desde o momento
em que Deus tocou o seu
coração, respondeu com um
sim generoso e desde então vem
dedicando a sua vida a servir
ao próximo. “Entregamo-nos
a Jesus e o Espírito Santo nos
conduzia. Queríamos sempre
ser semelhante a Ele, vivendo
com humildade, tratando todos
iguais, amando os excluídos,
sendo generosas, ecológicas,
ternas, misericordiosas, lutando
por justiça e tendo compaixão”,
enumera.
Hoje as irmãs têm uma idade
avançada - todas com mais de
90 anos, exceto a irmã Cecília
- e garantem que viveram
uma vida plena, feliz e repleta
de amor divino. “Cultivamos
e aprofundamos a nossa
espiritualidade, acompanhamos
os acontecimentos no mundo
e rezamos para que o Reino
de Deus possa crescer e abrir
o círculo em contraponto ao
egoísmo e individualismo que
regam no mundo de hoje”,
enfatiza a irmã Maria de Lourdes.
“Vivenciamos a vida comunitária
e o bem-querer uma da outra
com nossas limitações e
fragilidades. Acreditamos que
o Espírito Santo habita em
nossos corações e sempre nos
reconduz à Santíssima Trindade,
que é a fonte de nossa missão”,
acrescenta.
Para a irmã Leonila, a vida
consagrada é com uma dança. É
preciso ser generoso, paciente
e persistente com o parceiro.
“Claro, que de vez em quando
pisamos no pé da outra e nos
desviamos da dança. A beleza
da dança é que Deus está no
controle e sempre nos convida
a voltar. Tudo que temos a fazer
é aceitar o convite e cair na pista
de dança”, conclui.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 45
Oração
CONSAGRAÇÃO AO
ESPÍRITO SANTO
(para a 3ª segunda-feira de cada mês)
Espírito Santo, Espírito Divino da luz e do amor,
a vós consagro meu entendimento, meu coração
e minha vontade, tudo que sou e tenho, para o
tempo e a eternidade.
Que meu entendimento atenda sempre às vossas
celestes inspirações e aos ensinamentos da
Igreja, cujo guia infalível sois vós.
Meu coração seja sempre abrasado de amor a
Deus e ao próximo.
Minha vontade esteja sempre de acordo com a
vontade divina, para que toda a minha vida seja
uma imitação fiel da vida e das virtudes de nosso
Senhor Jesus Cristo.
Entrego-vos, também, todos os que me são
caros, tudo o que são e possuem, para que só
vós de tudo disponhais, e estabeleçais em nós o
Reino do vosso amor, no tempo e na eternidade.
Chamada a servir na
África, Irmã Nelsi levou
o alento de Deus
Irmã Nelsi
Em 50 anos de vida religiosa consagrada, ela aprendeu que devemos manter o coração sempre aberto
para que a semente de Deus possa germinar; nas três décadas de atuação em Gana, na África, ela viu
de perto todas as dores do mundo
“É
Deus quem toma
a iniciativa na vida
de cada vocação.
Nosso coração deve ser
terreno fértil para a semente
crescer e germinar”, afirma a
irmã Nelsi Maria Ströher. Ela
nasceu no dia 01 de maio de
1942, na cidade de Alto Feliz
(RS). Ao completar 50 anos de
vida consagrada, a religiosa
garante ter o coração cheio de
alegria e gratidão pela missão
que Deus a confiou.
A jornada não foi fácil e,
depois de muita procura e
discernimento, Irmã Nelsi
descobriu a vocação na
Congregação Missionária
Servas do Espírito Santo
(SSpS), aos 23 anos de idade.
“Vocação não consiste em
um projeto nosso, mas numa
graça de Deus que nos chama
a um programa de vida. É uma
caminhada com o Senhor e para
o Senhor”, define.
Ela conta que o desejo de se
tornar religiosa foi recebido com
alegria e entusiasmo pela família.
“Foi uma grande surpresa para
os meus pais e familiares, mas
eles me acompanharam com
muita oração, amor, carinho
e me deram força e coragem
nessa caminhada”, salienta.
Ela ingressou na comunidade
vocacional em Humaitá (RS) e,
em 1962, proferiu os primeiros
votos.
Revista Convento Espírito Santo 50 anos 47
Irmã Nelsi
Conhecendo as dores do mundo
Aos 41 anos de idade, a Irmã
Nelsi foi chamada para um
novo desafio e recebeu
destino missionário para Gana,
na África, onde permaneceu
por 30 anos. O país é um
grande exportador de ouro,
diamante, manganês, bauxita
e madeira; também se destaca
pela produção de cacau,
café, banana, batata, milho e
arroz. A atividade industrial
se concentra no segmento
alimentício, de bebidas,
de cigarros, de produtos
químicos, metalúrgica e
madeireira. Mesmo com uma
economia tão diversificada, os
problemas socioeconômicos em Gana ainda são grandes, sendo que
10% da população é subnutrida e somente 10% das casas possuem
rede de esgoto. “Meu coração sempre esteve aberto e generoso para
a missão. Foi um período muito gratificante, de profunda, valorosa
e saudosa experiência missionária. Ao Deus Uno e Trino toda honra
e glória”, salienta.
Para que Jesus seja sempre glorificado
Atualmente a Irmã Nelsi vive no
Hospital e Maternidade Nossa
Senhora da Luz, localizado no
município de Medianeira (PR),
onde ajuda a comunidade,
visita os pacientes da UTI
e acompanha o grupo dos
missionários leigos do Deus
Uno e Trino. “Tudo o que você
faz como irmã missionária,
faça com carinho a fim de
que Jesus seja conhecido,
amado e glorificado por todos”,
frisa. Em todos os dias, ela
expressa gratidão a Deus pela
vida, vocação e missão; e à
congregação pela confiança
e amor.
48
Revista Convento Espírito Santo 50 anos
Oração
PEDIDO ESPECIAL
AOS NOSSOS SANTOS
Ó Deus, que pelo vosso Verbo Encarnado,
realizais a reconciliação do gênero
humano, concedei pela intercessão
dos santos Arnaldo Janssen e José
Freinademetz a graça de muitas vocações
religiosas, missionárias e sacerdotais
e que pela luz do Verbo e pelo espírito
da graça, todos os homens e mulheres
sejam libertados das trevas do pecado, do
egoísmo, de todas as formas de violência,
fome e exclusão, e possam chegar ao
caminho da salvação.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Amém!
Brasil Sul: 50 anos sob as asas
do Espírito Santo
“O jubileu é um tempo para fazer jubilar nossos corações e dar graças a Deus que foi e é o protagonista
de toda nossa vida e missão”!
Em uma celebração festiva de ação de graças, a Província Brasil Sul celebrou o jubileu de ouro do
Convento Espírito Santo em Ponta Grossa - PR, com a participação de irmãs de várias comunidades,
colaboradores, membros da banda do Colégio Sant’Ana e legionários da Legião de Maria da Paróquia
Bom Jesus. A missa foi presidida pelo bispo de Ponta Grossa, Dom Sérgio Arthur Braschi, e sacerdotes
do Verbo Divino e de outras congregações.
Após a missa, houve a entrega oficial e bênção de uma estátua do fundador Santo Arnaldo Janssen
feita especialmente para o jubileu pelo artista Renato Taques. A estátua de 1,70 metros de altura, feita
de concreto, foi colocada em frente ao convento e pesa 350 quilos.
O Convento do Espírito Santo, desde o seu início até hoje, procura ser um centro de irradiação
missionária. Continua a ser um espaço sagrado de silêncio, oração, reuniões, assembléias e visitas
que renovam o ardor missionário.
As sementes da Palavra de Deus continuam tocando os corações, gerando vida e nutrindo esperança.
Com todas as pessoas que fazem parte da história do Convento, damos graças a Deus e reconhecemos
sua presença amorosa que ao longo de tantos anos faz acontecer e concretizar nossa busca diária de
tornar “Deus Uno e Trino conhecido, amado e glorificado por todas as pessoas”.
Ir. Ilca Maria Hendges, SSpS
Coordenadora Provincial – Brasil Sul
“Viva Deus Uno e Trino
em nossos corações
e nos corações de
todas as pessoas.”
Santo Arnaldo Janssen
sspsbrasil
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