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REVISTA SF COM #01

Revista SF Com | #1 Todos os direitos Reservados para Sheila Fonseca Comunicação. www.sheilafonseca.wordpress.com

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2022 | #01


# 01

0 1

A R T E Z I N E | N Ú M E R O 2 3


EDITORIAL

Quarenta anos sem Elis Regina. E cinquenta e oito do Golpe Militar, que, para muitos, em meio

à um turbilhão de mudanças comportamentais temperadas por polarização política, evoca

pensamentos saudosistas. Num cenário de rupturas, sonhos e incertezas não muito diferente

do Brasil da década de 1960.

O que também não mudou tanto é o mapa da fome. Segundo estabeleceu o geógrafo, médico

e cientista social Josué de Castro, autor do mapeamento "Geografia da Fome" publicado pela

primeira vez em 1946: "A fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressão biológica

de males sociológicos. Está intimamente ligada com as distorções econômicas, a que dei, antes

de ninguém, a designação de 'subdesenvolvimento' ", declarou Castro no prefácio do seu único

romance "Homens e Caranguejos" [1967], lançado pela Editora Brasília.

E se em 1964 éramos 81,06 milhões "em ação" - pra frente Brasil! - imersos em uma cultura de

normalização da disparidade econômica, ainda que embalados por arte excepcional, exportada

com encanto para o mundo, hoje o país "inchou" chegando aos seus 216,2 milhões tateando no

escuro, sem censo demográfico desde 2010, adiado em 2020 pela pandemia e conveniência

política. Quanto à miséria, esta se mantém: Em 2018, a onda retrô veio com força e retornamos

ao inglório Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas, depois da breve saída em 2014,

chegando em 2020 aos impressionantes 55,2% da população vivendo em insegurança

alimentar. De acordo com o economista e professor da Unicamp Walter Belik, "Um retrocesso

inédito no mundo", ou como diria o saudoso intelectual Josué de Castro: subdesenvolvimento.

Na mosca.

Neste arcabouço e embalado ao som de Elis Regina, nasce o primeiro número da Newsletter SF

Com, com o objetivo de pensar o Brasil, divulgar cultura e as atividades desenvolvidas pelo

escritório Sheila Fonseca Comunicação.

Em nosso primeiro número, quem vem nos auxiliar nesta prazerosa tarefa é o escritor Francci

Lunguinho, além dos cineastas Andrei Tarkovski e Louis Malle, do poeta Oswald de Andrade, da

musa eterna Elis Regina e também de criativos, estudiosos e pensadores desse mundo que nos

inspira. Espero que gostem.

Com carinho,

Sheila Fonseca.

S F C O M | 0 3


40 anos sem a pimentinha

EL

IS

F O T O : B O B W O L F E N S O N

T E X T O : S H E I L A F O N S E C A

S F C O M | 0 4


MÚSICA

40 ANOS SEM ELIS

Há quatro décadas, o Brasil perdia uma das

mais notáveis cantoras do mundo.

Um cometa. Assim poderia ser descrita a

gaúcha Elis Regina Carvalho da Costa, ou

simplesmente Elis Regina, como ficou

conhecida pela musicalidade e ganhou o

coração do país.

Seja pelo timbre marcante e de extensão

vocal rara, interpretação visceral, rosto

de traços belos e singulares arrematados

por um sorriso de moleca inconfundível,

Elis tornou-se rapidamente uma cantora

sem par na história da Música Popular

Brasileira. A maior. Tanto pelo talento,

quanto pela fugacidade com que levou a

vida, saindo de cena aos 36 anos.

Como legado, a artista deixou

memoráveis interpretações e parcerias

inesquecíveis, como com Milton

Nascimento em Caxangá, música escrita

por Milton e Fernando Brant em 1970 e

censurada à época,

F O T O : D I V U L G A Ç Ã O / S I T E O F I C I A L D A C A N T O R A .

vetada no álbum "Milagre dos Peixes" do artista, de

1973, e lançada somente em 77 por Elis, com letra

modificada, mas mantendo seu sentido. Caxangá surge no álbum homônimo à cantora,

conhecida por ganhar indulgências do alto escalão militar, que apreciava sua voz e interpretação,

tolerando por vezes seus posicionamentos. Elis também deixou três filhos, hoje músicos de

talento singular: João Marcelo Bôscoli, de seu casamento com Ronaldo Bôscoli, e Pedro Mariano e

Maria Rita, da união com César Camargo Mariano. Certamente seu maior legado.

S F C O M | 0 5


Da Brotolândia para o mundo

Nascida na Porto Alegre do pós-guerra, em

março de 1945, Elis expressou musicalidade

desde os primeiros anos. Aos três, ao que

consta, já "falava cantando" e aos sete, sua

mãe, a dona de casa Ercy Carvalho, admirada

com o talento da filha tenta levá-la à Rádio

Farroupilha, lendária emissora de Porto

Alegre, para tentar a sorte no "Clube do Guri".

Em vão. Ao adentrar os imponentes estúdios e

se deparar com a plateia, maquinário,

apresentadores, a pequena e ainda tímida Elis

gelou e saiu sem se apresentar.

Aos 12, a já pré-adolescente Elis e a incansável

Dona Ercy retornam ao mesmo Clube do Guri.

Nervosismo controlado, Elis canta e encanta.

Um sucesso. A impressão foi tamanha, que

recebeu convite para voltar ao programa nos

dias seguintes, passando a fazer parte do time

de talentos infantis que se apresentavam

regularmente.

Em 1º de dezembro de 1958, com 13 anos,

iniciou sua carreira profissional, contratada

por Maurício Sirotsky para a Rádio Gaúcha,

passando a ser chamada de "a estrelinha da

Rádio Gaúcha".

Em 1961, seu primeiro LP ficou pronto:, "Viva a

Brotolândia!” com produção de Carlos

Imperial, e, como o nome sugere, uma

tentativa de emplacar a cantora pegando

carona no movimento da Jovem Guarda.

Apesar do lançamento e críticas positivas, o

disco não teve vendas expressivas e encalhou

nas prateleiras. Em 1962, Elis muda de

produtor para Diogo Mullero e lança "Poema

de Amor", novamente com vendas aquém do

esperado. Sem contrato de gravação, que

havia sido cumprido com o lançamento do

segundo disco, Elis continuou com seu

emprego na Rádio Gaúcha.

F O T O : A C E R V O .

S F C O M | 0 6


No ano seguinte, agora pela CBS, com produção de

Astor Silva, Elis lança os álbuns "Ellis Regina" e "O

Bem do Amor", ambos em 1963 e novamente com

vendas inexpressivas.

De malas prontas para seu "voo-solo", por um

capricho do destino, Elis chega ao Rio exatamente

na manhã do dia 31 de março de 1964, isto é, no dia

do golpe militar. Apesar do começo turbulento, com

sua experiência em rádios gaúchas, Elis consegue

rapidamente um emprego na TV Rio para participar

dos programas Noites de Gala e A Escolinha do

Edinho Gordo. O primeiro, comandado por Ciro

Monteiro, que se torna seu grande amigo.

F O T O : A C E R V O .

A gaúcha encanta o Brasil!

Foi assim que Elis conseguiu ser ouvida pelos

produtores e jornalistas Renato Sérgio e Roberto

Jorge. A dupla produziu o seu primeiro show no

Rio, na Bottle's, uma boate do Beco das Garrafas.

No mesmo ano, surge o convite para apresentar

o programa O Fino da Bossa, na TV Record, ao

lado de Jair Rodrigues. Gravado como espetáculo

com direção de Walter Silva, e com uma química

incrível entre Elis e Jair em cena, foi uma

verdadeira revolução na TV da época e ficou no

ar até 1967. A parceria originou ainda três discos

de grande sucesso. Um deles, o estrondoso "Dois

na Bossa", foi o primeiro disco brasileiro a vender

um milhão de cópias. Agora, além de famosa, Elis

era dona do maior cachê do show business.

F O T O : A C E R V O .

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F O T O : A C E R V O .

Nasce uma estrela.

O ano era 1965. A efervescência cultural no

país em contraposição à repressão dos anos

de chumbo que se avizinhavam, antes

mesmo do AI-5 - instaurado somente em

1968, que deu início ao tempo de

perseguição política - fazia do país um

caldeirão em ebulição, tendo a música

popular e o futebol como principais válvulas

de escape. Neste contexto surgiu o I Festival

da Música Popular Brasileira, da TV

Excelsior.

Com interpretação intensa e gestos largos,

que lhe renderam o apelido de "hélice

Regina", cunhado por ninguém menos que

Rita Lee, Elis subiu ao palco e defendeu

"Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de

Moraes.

O teatro veio abaixo. Elis faturou não

somente o primeiro lugar, mas o coração

do país.

Nos anos seguintes, a ascensão dentro e

fora do Brasil se deu de maneira

meteórica. Quando se apresentou no

Festival de Montreaux, Suiça, em 1979,

um dos mais conceituados eventos de

jazz do mundo, a crítica especializada

estrangeira a chamava de "nova Ella

Fitzgerald". Consta que antes de se

apresentar, Elis teria tido uma crise de

choro ao se lembrar que ela, filha de

lavadeira, estaria no mesmo palco que os

grandes imortais da música mundial. Ao

final do show, Elis foi convidada a se

apresentar, sem ensaio, com Hermeto

Paschoal, num show considerado

histórico.

l

Durante os anos de chumbo, período do

AI-5, Elis não se furtou em se posicionar

politicamente. Em entrevista dada em

1969, chegou à afirmar que: "o Brasil era

governado por gorilas".

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F O T O : A C E R V O .

Adeus, Elis.

Era manhã do dia 19 de janeiro de 1982,

quando o Brasil parou para chorar a morte de

Elis Regina. A reação era de perplexidade: O país

tinha perdido, aos 36 anos, sua maior cantora.

O clima de comoção generalizada instalou-se

rapidamente, com populares indo às ruas para

dar o último adeus à estrela. Elis foi velada no

dia 20, no Teatro Bandeirantes, em São Paulo.

A morte prematura em circunstâncias suspeitas,

em plena reabertura, anistia e após o atentado

no Riocentro, deixava muitas dúvidas no

primeiro momento. A imprensa se desdobrava

por uma informação, como relembra o repórter

Ernesto Paglia, que trabalhou na cobertura:

“Era preciso confirmar a informação e nós

viemos direto à casa de Elis. Na época ela

morava no quinto andar de um edifício na

Rua Melo Alves, na região dos Jardins, em

São Paulo. Eu fui direto à portaria,

conversei com o zelador. Ele disse que

Elis Regina havia saído desmaiada nos

braços do seu namorado, e foram direto

para o Hospital das Clínicas”.

- Ernesto Paglia

Mais tarde, confirma-se o que ninguém queria

acreditar: Deprimida, a cantora morreu de

overdose da mistura entre o vermute Cinzano e

cocaína, em doses generosas.

Até hoje considerada insubstituível, a memória

de Elis Regina evoca saudades e rende justas

homenagens. Evoé, Elis!

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Poesia

CANÇÃO DO TAMOIO

De: Antonio Gonçalves Dias

I

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

II

Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;

No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;

E os tímidos velhos

Nos graves concelhos,

Curvadas as frontes,

Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,

Na voz do porvir.

Não cures da vida!

Sê bravo, sê forte!

Não fujas da morte,

Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

Tamoio nasceste,

Valente serás.

Sê duro guerreiro,

Robusto, fragueiro,

Brasão dos tamoios

Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos

Por vil comoção;

E tremam d'ouvi-lo

Pior que o sibilo

Das setas ligeiras,

Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados

Na lei do terror;

Teu nome lhes diga,

Que a gente inimiga

Talvez não escute

Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços

Do inimigo falaz!

Na última hora

Teus feitos memora,

Tranqüilo nos gestos,

Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco

Do raio tocado,

Partido, rojado

Por larga extensão;

Assim morre o forte!

No passo da morte

Triunfa, conquista

Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.

Se o duro combate

Os fracos abate,

Aos fortes, aos bravos,

Só pode exaltar.

A R T E : " Í N D Í G E N A S T U P I N A M B Á S "

| X I L O G R A V U R A D E J E A N L É R Y -

1 5 5 5 .

S F C O M | 1 0


LITERATURA

Eis o maior pesadelo de um

escritor: O que fazer diante

de um bloqueio criativo?

Um verdadeiro tabu no

universo da literatura e

criação, o fato é que existe e

já acometeu famosos, como

o compositor Sting, líder da

banda britânica The Police, e

a escritora norte-americana

Harper Lee, autora do

clássico O Sol é Para Todos e

melhor amiga de Truman

Capote.

Esse é o tema abordado em Aparente, do escritor e

tradutor Marcelo Rayel Correggiari. O conto presente

nessa obra fala sobre os 'lugares-comuns' a partir das

observações de bloqueios e impossibilidades criativas

que guiam o mundo.

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Em 50 Exercícios para a Consciência, o

escritor e filósofo Eldes Saullo traz uma

coleção de poemas, comentários,

citações e exercícios para cada um dos

50 caminhos da Árvore da Vida, um dos

principais ensinamentos da Cabala

Judaica, ilustrados com deslumbrantes

pinturas renascentistas.

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Quem não gosta de uma

boa história fantasmagórica

ou de suspense?

Explorando o universo da

literatura fantástica, o selo

Apparere publicou a

coletânea "Lendas Urbanas".

Junto a outros 59 autores, a

jornalista Sheila Fonseca

participa com o conto "O

Vento", em que a jovem

protagonista Nina é

confrontada por fantasmas

do passado.

Impresso artesanalmente

e costurado

um a um, Por

do Sol das

Coisas traz

consigo a

Marca

registrada do

poeta e editor Rômulo Ferreira, com

poemas inéditos e prefácio de Jorge

Mautner.

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ameopoemaeditora@gmail.com

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100 ANOS

A R T E : " R E T R A T O D E M Á R I O D E

A N D R A D E " , Ó L E O S O B R E T E L A |

T A R S I L A D O A M A R A L - 1 9 2 2

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As histórias, personagens e legado da mais importante

semana de arte do país.

Redação - Seja pela irreverência de Oswald

de Andrade, pela explosão de cores e

ousadia das telas de Tarsila do Amaral, ou a

elegância discreta dos versos de Mário de

Andrade, a Semana de 1922 revolucionou o

modo de fazer e pensar a arte no Brasil.

Iniciado no dia 13 de fevereiro deste ano, o

centenário da Semana de Arte Moderna

lança o olhar sobre o explosivo motor de

disrupção social que foi o modernismo e seu

papel preponderante na mudança de

costumes e na maneira de pensar cultura.

Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922,

tendo como palco o suntuoso Teatro

Municipal de São Paulo, espaço privilegiado

e reduto da aristocracia paulistana e

brasileira da época, um grupo de intelectuais

e artistas oriundos da elite cafeicultora

paulista se reuniu para chocar e confrontar

os limites estabelecidos pela cultura até

então. Com slogans provocativos e posturas

irreverentes, o objetivo era apresentar uma

arte que que rompesse com os padrões

vigentes.

Para se compreender a Semana de 22 é

preciso analisar o contexto socioeconômico

do país na época.

Com a decadência do período do Ciclo do

Café, já nos últimos estertores, conquanto

este tenha resistido até cerca de 1930, o

Brasil do pós-primeira guerra mundial

passava por transformações muito

profundas. A principal delas era o início do

forte movimento de industrialização no país,

que tinha em São Paulo o seu maior polo,

enquanto o Rio de Janeiro, ainda capital,

tinha o condão de lançar cultura e

comportamento, sendo o principal celeiro

artístico e cultural do país.

Fortemente inspirados nos movimentos de

vanguarda europeus que fervilhavam no

velho continente, como o Dadaísmo, o

Cubismo, o Expressionismo, o Surrealismo e

o Futurismo, os artistas se reuniram para

buscar uma releitura dessas correntes, mas

que fosse com elementos da cultura e

estética brasileira, até então desprezados,

criando um conceito artístico novo.

S F C O M | 1 3


Por uma arte do futuro,

contra os passadistas!

Com este provocativo slogan: "Por uma arte do

futuro, contra os passadistas!", o grupo mostrou a

que veio. Os discursos detratores não tardaram à

aparecer, tendo como um dos seus principais

opositores o escritor Monteiro Lobato, que não

poupou críticas em ácidos artigos publicados na

imprensa paulista. Antes, em 1917, já havia

criticado a obra de Anita Malfatti: "desenhos que

ornam as paredes internas dos manicômios."

O fato é que a estratégia funcionou e o

Grupo dos Cinco, como foi chamado o

conjunto de artistas que estiveram à

frente da Semana de 1922, entrou para a

história e fundou um dos principais

movimentos culturais do século XX.

Tendo o escritor Mário de Andrade e seu

irmão, o também escritor Oswald de

Andrade, a artista plástica Tarsila do

Amaral, então esposa de Oswald, a

pintora Anita Malfatti, e o jornalista, poeta

e pintor Menotti Del Picchia como

lideranças do movimento.

Convidado para o evento pelo escritor e

diplomata Graça Aranha, o compositor

carioca Heitor Villa-Lobos não era muito

próximo ao grupo paulista, mas

identificou-se com a proposta.

F O T O : H E I T O R V I L L A - L O B O S

No último dia de programação oficial,

dedicado à música, Villa-Lobos apareceu

diante do público com seu inconfundível

charuto, marca registrada, e... de

chinelos. A reação foi imediata. O público

de alta sociedade, acostumado a

concertos clássicos e dress code

impecável, rompeu com uma estrondosa

e memorável vaia ao artista.

S F C O M | 1 4


O legado da semana de 1922

PAI DO TROPICALISMO:

Curte o som de Caetano, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom

Zé ou o cinema deliciosamente delirante e

transgressor de Glauber Rocha? Pois é, você pode

não saber, mas isso tem muito de Modernismo e é

fortemente influenciado pelos artistas, proposta

estética e pelos manifestos oriundos da Semana de

Arte Moderna de 1922, como o Movimento

Antropofágico e o Manifesto Pau-Brasil.

MANIFESTOS PAU-BRASIL E ANTROPOFÁFICO

Os Manifestos "Poesia Pau-Brasil [1924] e

"Antropofágico [1928], ambos redigidos por

Oswald de Andrade, foram fundamentais para

criação do ideário de uma cultura brasileira voltada

ao popular, seja pelas características étnicas,

estéticas ou estilísticas. O Pau-Brasil bebeu de

fontes como dadaísmo e cubismo. Foi publicado no

mesmo ano que o Manifesto Surrealista, do

escritor francês André Breton. Defendendo uma

poesia ingênua e expressões de arte naif, ou seja,

não contaminada por regras preestabelecidas,

tinha intenção de revelar o lado criativo primitivo

do ser humano.

O Manifesto Antropofágico, uma criação do amadurecimento do pensamento de Oswald, lançado dois

anos depois do primeiro, é mais político do que o anterior. O argumento principal propõe que a história

brasileira de "canibalização" de outras culturas é sua maior força, ao mesmo tempo em que joga com o

interesse primitivista dos modernistas pelo canibalismo como um suposto rito tribal, que torna-se uma

forma de o Brasil se afirmar contra a dominação cultural pós-colonial europeia.

ARQUITETURA MODERNISTA

A arquitetura brasileira e também, indiretamente, a

mundial através de seus expoentes de renome

internacional, foi influenciada de maneira

significativa pelo modernismo.

A C A S A D E V I D R O |

A R Q U I T E T A L I N A B O B A R D I

Nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo

Bardi e o paisagista Roberto Burle Marx estão

entre os que apresentam influência modernista em

seus projetos.

S F C O M | 1 5


CASE

Marco Juarez Reichert

Nesta primeira edição citamos como Case o

cliente do escritório Sheila Fonseca Comunicação,

Marco Juarez Reichert. Empresário, conselheiro

de administração de uma das maiores

cooperativas de crédito do país, fundador e CEO

da Reichert Advisors, palestrante e escritor, o

gaúcho Marco Juarez Reichert contratou o

escritório para geração de branding, divulgação de

sua carreira e do lançamento do seu segundo livro

"A Metamorfose do Vencedor", pela Alta Books.

Na criação da estratégia de comunicação

integrada para um cliente tão plural em

competências como M.J Reichert, desenvolvemos

Reichert é autor dos livros Gestão Sem Estresse e A Metamorfose do Vencedor.

o seu site pessoal, com estética e funcionalidade

personalizada, onde criamos um ponto focal com biografia,

clipping e identidade visual própria, adequada à sua

personalidade e nicho de mercado .

Com o expertise de Reichert, emplacamos uma série de textos

assinados pelo cliente como articulista, com os temas gestão

empresarial, economia, indústria 4.0 e tecnologia, em

veículos de circulação nacional.

Além de uma série de entrevistas em

que Reichert teve a oportunidade de

dar dicas sobre economia e

customer experience, um dos pulos

do gato nos setores de varejo e

serviço.

S F C O M | 1 6


Ouça em: https://bityli.com/aEBKd

No segundo semestre de 2021, a editora

carioca Alta Books, conhecida pelo

bestseller mundial "Pai Rico, Pai Pobre", de

Robert Kyiosaki, lança "A Metamorfose do

Vencedor", de Marco Juarez Reichert,

apostando no escritor como carro-chefe

do catálogo no segmento de gestão

empresarial e economia. O livro é

baseado em um aprofundado estudo do

autor sobre Revolução 4.0, tendo como

fontes pesquisas acadêmicas, além de

intelectuais especialistas na temática, como o economista alemão Klaus Shwab e o historiador e

filósofo Yuval Noah Harari. Para divulgação, fizemos diversas entrevistas onde Reichert pôde contar

um pouco sobre o seu processo de criação e elucidar quais os aspectos de maior impacto social da

4ª Revolução, como o desenvolvimento da inteligência artificial e a automação.

Assista em: https://bityli.com/WHFLq

Com boa recepção do público e da crítica

especializada, "A Metamorfose do

Vencedor" fez sucesso em seu

lançamento, que contou com a presença,

de representantes do conceituado

Instituto Oldemburg de Desenvolvimento,

criador da Festa Literária Imperial e da

Biblioteca Estação Leitura, no evento de

estreia do livro no Rio de Janeiro, que

aconteceu na Livraria Leitura. Na ocasião,

Reichert fez uma doação de livros para o

acervo do Instituto.

"É um um privilégio receber o Instituto

Oldemburg e fazer esta doação a um

projeto tão importante de fomento à

leitura como o da biblioteca. Ficamos

realmente muito felizes", declarou

Reichert à imprensa, na ocasião.

Pelo conteúdo de excelência do livro, toda a

iniciativa pessoal do autor e a trajetória profissional

de Reichert, "A Metamorfose do Vencedor"

conseguiu dentre resenhas e comentários elogiosos

de leitores e jornalistas, crítica muito positiva no

Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul.

S F C O M | 1 7


A seguir, elaboramos uma entrevista com

Reichert sobre economia, indústria, literatura e

futuro do Brasil.

SF COM - Você é considerado expoente na

área de administração. Gostaria que me

falasse como desenvolveu o interesse por

escrever. Quando decidiu publicar seu

primeiro livro?

Marco Juarez Reichert: Empreendi desde muito

jovem, Sheila. Também sem fui muito

autodidata. Gosto de livros e eles são boas

fontes de aperfeiçoamento profissional. Só

escrevia algumas crônicas, nunca publicadas, e

letras de músicas, uma centena delas, bem

como as respectivas melodias, diga-se de

passagem. Em 2017 resolvi escrever meu livro

“Gestão sem Estresse — Técnicas e

Ferramentas Simplificadas”. Achei que o

mercado era carente e vi uma oportunidade de

fortalecer minha imagem com a obra, pois um

consultor precisa disso.

Tomei o gosto por escrever. Em 2019 iniciei a

escrita de "A Metamorfose do Vencedor",

lançado em 2021. Este livro aborda a

transformação deste mundo digital que vem

tomando conta da nossa vida e do que

precisamos fazer para não perdermos as

oportunidades, correndo risco de ficarmos “a

ver navios”, ou seja, à margem da sociedade.

Por exemplo: desempregados e sem saber

usar as facilidades da tecnologia.

A pandemia desconstruiu, e, em certo

sentido, subverteu a forma como muitos

segmentos funcionam e são administrados.

Não seria exagero afirmar que este é,

possivelmente, o momento mais disruptivo

desde a segunda revolução industrial, pela

pandemia associada à precipitação da

maior transformação tecnológica da pósmodernidade,

que é a Inteligência Artificial.

Pela sua experiência, quais são os grandes

desafios do administrador a partir desta

perspectiva? Vê luz nesse túnel?

MJR: Cada uma das Revoluções Industriais

promoveu mudanças impactantes na

sociedade. A terceira teve o computador

pessoal, a Internet e o celular, para ficar

apenas nessas inovações disruptivas globais.

Elas estão entre as maiores inovações da

humanidade.

Cada uma, a seu tempo, foi fundamental para

as posteriores. Sem elas, não teríamos a

conectividade de hoje, como o home-office,

por exemplo.

Muitas empresas, principalmente as maiores,

já estavam com a cultura da digitalização

implementada antes da pandemia. Foram

menos afetadas. O pequeno comércio e o

trabalhador autônomo, principalmente os

mais humildes, impossibilitados de ter uma

reserva financeira de segurança para

imprevistos - mal ganha de dia para comer à

noite - é que mais tem sofrido. As Domésticas,

por exemplo, em boa parte ficaram sem

empregos.

Quanto a Inteligência Artificial (IA) — Artificial

Inteligente (AI) — ela é de fato uma

extraordinária inovação disruptiva. Ela

combina conexões rápidas, Nuvem, Big Data,

Robotização… Nem nos damos conta de

quanto ela já é usada. Um chatbot usa deste

recurso. Os grandes varejistas sabem o perfil

dos consumidores e tiram proveito disso para

promover suas vendas. A IA é empregada no

diagnóstico de certas doenças, como câncer de

mama, com eficácia, incomparavelmente,

superior a qualquer equipe médica. Controle

de tráfego nas cidades e uma gama enorme de

aplicações já existem e com sucesso. Outras

tantas virão. Para a Indústria 4.0, a IA é uma

condição, um pré-requisito. Sem ela a Internet

da Coisas (IoT) pouco vai viabilizar a operação,

com tomadas de decisões durante o processo

industrial, sem qualquer interferência do ser

humano. As máquinas decidem. Os processos

serão otimizados e com o tempo tendem a

menor custo.

S F C O M | 1 8


“O maior capital é o intelectual. O ser

humano ainda é imprescindível na

quase totalidade das organizações.”

Pelo que vê do mercado, você acredita que

o empresário brasileiro está sintonizado

com esse zeitgeist? Ou ainda está muito fora

de rumo? Já viramos a chave?

MJR: Eu ainda não acho que viramos chave

para este novo espírito do momento. Este é

um processo em andamento. Ele não tem uma

data exata de início e menos ainda de fim. Vai

acontecendo, simplesmente assim. O Zeitgeist

pode ser definido como um conjunto de

fatores diversos, como sociológicos e culturais,

por exemplo, que caracterizam determinada

época. Empresas maiores estão mais inseridas

neste contexto do que a maioria das médias e

pequenas. Não tenho parâmetros para afirmar

que o empresário brasileiro está mais ou

menos sintonizado do que os de outros países.

Acredito que seguimos em uma média global.

Vejo que muitos deles sequer sabe usar,

razoavelmente, um notebook lá da 3ª

Revolução Industrial… ou os aplicativos

diversos de um celular. Sofrem nas vídeo

conferências, para compartilhar uma tela ou

outra função qualquer. Não é por falta de

capacidade intelectual, simplesmente não

exercitaram isso durante a vida. Agora, eles

estão ficando à margem das grandes

transformações e se não mudarem seu

mindset*[programação mental], não se

interessarem em adquirir novas habilidades,

com capacitação, não vão perpetuar seus

negócios.

Uma das características mais aguardadas e

temidas da quarta revolução industrial é a

automação. Como vê o futuro do trabalho e

como acredita que as pessoas terão que se

reinventar para manter a produtividade e

subsistência?

MJR: O maior problema desta combinação toda

de tecnologias que caracterizam a 4ª Revolução

Industrial é o desemprego. Este é o maior

desafio que os países vão enfrentar de agora

em diante e já está acontecendo. Os

desqualificados, profissionalmente, terão muita

dificuldade de conseguir algum trabalho.

Tarefas rotineiras e repetitivas podem ser feitas

por máquinas. As profissões vão mudar

também, como sempre mudaram. Muitas delas

vão desaparecer, outras passarão por

adaptações, com grandes mudanças e,

felizmente, outras novas serão criadas, mas não

absorverão o grande número de

desempregados. Fala-se em renda universal.

Acho que ninguém é contra a ideia, mas nunca

foi apresentado uma forma de como ter

recursos para bancar isto. Um big problem.

Por último, qual o conselho de ouro para ser

um bom gestor e um bom incentivador de

pessoas?

Aprender a ouvir mais do que falar, se capacitar

permanentemente, estar aberto para as novas

ideias e inovar. É preciso se inserir no novo

contexto o quanto antes.

Em "A Metamorfose do

Vencedor" Reichert

antecipa tendências

sociais, demográficas e

tecnológicas para as

próximas décadas, a

fim de apontar

caminhos a serem

trilhados pelo leitor.

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S F C O M | 1 9


GUERRA E PAZ NA 7ª ARTE

A N A T O L I A L E X E J E W I T S C H S O L O N I Z Y N E M C E N A

D E S T A L K E R | A N D R E I T A R K O V S K I - 1 9 7 9 .

S F C O M | 2 0


Cinema em Perspectiva: Reflexões sobre a

condição humana em tempo de guerra.

Desde o dia 24 de fevereiro deste ano, o

mundo assiste com perplexidade o

desenrolar de uma sangrenta guerra

fratricida entre Ucrânia e Rússia. Duas

nações com trajetórias étnicas e

históricas indissociáveis, em uma briga

de irmãos complexa, que envolve

território, religião, ideologia política e a

própria identidade, em que ambos

reivindicam a antiga linhagem do povo

1

Rus, que remonta desde o período do

Império Bizantino.

Imersos em uma atmosfera de guerra

fria, em que a ameaça do fantasma da 3ª

Guerra volta à nos assombrar, o

momento evoca a desconstrução do

pensamento ocidental de que a pósmodernidade

caminhava para superar o

2

recurso da Guerra de Agressão na

resolução de seus conflitos.

Buscando a reflexão sobre o assunto

através da 7ª arte, a temática da guerra

é fartamente documentada no cinema

russo e do leste europeu, que em

diversos momentos faz releitura da

origem desses conflitos. Assim como no

restante do mundo, o cinema é, segundo

teórico e crítico italiano Ricciotto Canudo

descreveu em seu Manifeste des Sept

Arts [1923]: Uma arte “síntese” ou "arte

total", que concilia todas as outras artes,

reunindo em sua linguagem e expressão

a dimensão plástica da pintura, a

arquitetura, a escultura, a dimensão

rítmica da dança, a música e a poesia. A

"alma da modernidade". Talvez por isso

explique tão bem nossa existência.

C E N A D E A I N F Â N C I A D E I V A N |

A N D R E I T A R K O V S K I - 1 9 6 2

1. O povo Rus compreendia as atuais Ucrânia, Bielorrússia,

Eslováquia, Polônia e Rússia

S F C O M | 2 1


2. Guerra de Agressão é contemplado no artigo 5º do Estatuto de Roma que cria a Corte Penal

Internacional.

Selecionamos, então, 10 filmes que ajudam a compreender, não somente o conflito entre

Rússia e Ucrânia, mas num sentido mais amplo a dimensão da guerra na experiência humana.

Boa sessão!

1. A Infância de Ivan [1962], Andrei Tarkovski.

O filme russo, rodado em 1960, retrata o universo idílico da infância manchado pela guerra e sua

consequência decorrente: a adultização abrupta e a perda da inocência. Vencedor do Leão de Ouro no

Festival de Veneza, "A Infância de Ivan" é o primeiro longa-metragem de Andrei Tarkovski. O filme faz um

mergulho profundo em um momento da vida do jovem protagonista, Ivan, interpretado com vigor por

Nikolay Burlyaev. Durante a Segunda Guerra Mundial, o garoto órfão, de 12 anos, passa a trabalhar nas

frentes soviéticas como espião, atravessando as fronteiras alemãs para coletar informações sem ser visto.

2. Glória Feita de Sangue [1957], Stanley Kubrick

S F C O M | 2 2


Baseado no romance de Humphrey Cobb, estrelado por Kirk Douglas, sob a direção competente de

Stanley Kubrick, mais do que um 'filme de gênero' é uma denúncia contundente aos desmandos e

irracionalidade da guerra.

Conduzido em tom abertamente humanista, o filme se passa em 1916, durante a Primeira Guerra

Mundial. O general francês Paul Mireau, interpretado por George Macready, ordena um ataque

basicamente suicida contra uma posição alemã. Uma parte do pelotão do coronel Dax, vivido

brilhantemente por Kirk Douglas, é morta, enquanto outra resiste em obedecer às ordens. Contrariado, o

general resolve pedir o julgamento e a execução de todo o regimento pelo acovardamento e indisciplina

no campo de batalha, justificando o fracasso de sua estratégia militar. O coronel Dax se opõe e decide

interceder de todas as formas para tentar suspender esta decisão.

3. A Sombra de Stalin [2019], Agnieszka Holland

Dirigido com classe e competência pela cineasta polonesa Agniezska Holland, a produção polonesaucraniana

"A Sombra de Stalin" trata do que se considera o segundo maior crime contra a humanidade

cometido no século 20, depois do nazismo: Holodomor. No genocídio, cerca de 3,9 milhões de

ucranianos - os números variam, alguns dão conta de 10 milhões - foram exterminados pelo regime

soviético comandado por Stalin, por meio da fome, além de registro de práticas de canibalismo. Fonte de

ressentimento histórico para ucranianos, tabu entre russos e verdadeira pedra no sapato de defensores

do stalinismo, a Grande Fome, que compreende o período entre 1932 e 1933, é reconhecida por cinco

organizações mundiais como crime contra a humanidade.

O filme retrata a história verídica de Gareth Jones, um jornalista galês, interpretado pelo britânico James

Norton, que entrevistou Adolf Hitler, em 1933, e sem seguida foi até à União Soviética, registrando e

contando ao mundo inteiro os horrores de Holodomor.

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4. A fita Branca [2009], Michael Haneke.

Não se enquadrando exatamente como um filme de guerra, A Fita Branca, dirigido pelo perfeccionista

diretor austríaco Michael Haneke, que também assina o roteiro, mostra a gênese do fascismo, através de

uma construção minuciosa do pensamento alemão da virada do século 20, desvelando as origens da

deformidade social que deu contorno ao nazismo.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, A Fita Branca retrata uma Alemanha às vésperas da Primeira

Guerra Mundial, em 1913. Em uma pequena vila, que vive sob as ordens de um médico, um barão e um

pastor, iniciam-se uma série de fatos estranhos e violentos. Sem nenhum sinal aparente de suspeitos, os

incidentes parecem ser um bizarro ritual de punição e um jovem professor tenta desvendar o mistério.

5. O Pássaro Pintado [2019], Václav Marhoul

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Com produção tcheca-ucraniana-eslovaca e direção do tcheco Vacláv Marhoul, O Pássaro Pintado é, antes

de mais nada, um filme duro de se assistir, onde é impossível não se identificar com a sensação de solidão

e abandono do jovem protagonista, vivido de maneira comovente pelo ator mirim Petr Kotlár.

Filmado em preto e branco, de maneira crua, repleta de silêncios e com quase três horas de tempo de

tela, O Pássáro Pintado parece investigar os recônditos da crueldade da guerra e como a existência

humana pode ser árida e sem esperança para alguns.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem garoto judeu é enviado pelos pais para viver em segurança

com a tia. Mas quando ela morre, ele tenta voltar para casa e passa a vagar sozinho em um mundo

selvagem, perverso e hostil.

6. Adeus, Meninos. [1987], Louis Malle.

No autobiográfico Adeus, Meninos, o diretor francês Louis Malle mergulha em memórias da infância e

roda um dos seus mais competentes longas.

Filmado sob a delicada perspectiva das crianças, Adeus, Meninos conta a história da amizade entre os

meninos Julien Quentin, interpretado pelo doce Gaspard Manesse, e Jean Bonnet, vivido por Raphaël

Fejtö, em um colégio católico da França ocupada pelos nazistas, no auge da Segunda Guerra Mundial.

Bonnet é um menino judeu, cujo pai foi preso pelos nazistas e a mãe está desaparecida. A instituição

católica, por meio de padres da resistência, protege o menino judeu, escondendo sua verdadeira

identidade de todos, inclusive dos colegas. Mas a Gestapo descobre a existência da criança judia e a

sobrevivência de Bonnet fica em risco. O filme ganhou o Leão de Ouro em Veneza.

7. Vá e Veja [1985], Elem Klimov

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Um dos mais brutais filmes de guerra já rodados, sem dúvida, Vá e Veja é uma dura experiência de

imersão do diretor russo Elem Klimov nos horrores da guerra. Um mergulho ao inferno.

Não poupando o espectador das monstruosidades, Vá e Veja narra a história de Florya, um jovem

bielorrusso separado de seus comandantes durante a Segunda Guerra Mundial.

8. Bárbara [2012], Christian Petzold

O terror psicológico e escravização vivido na Alemanha Oriental no período da Guerra Fria é o

argumento do competente longa do diretor alemão Christian Petzold, que também é responsável pelo

roteiro da produção. Nos anos 1980, Barbara, médica em Berlim, é banida pelo partido socialista para

uma clínica no interior, por ter solicitado imigração. Numa atmosfera de abusos físicos, psicológicos, falta

de privacidade e constante monitoramento, Bárbara tem medo de estar sendo vigiada pelos colegas e

tenta um meio de fugir.

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9. Lili Marlene [1981], Rainer Werner Fassbinder

Na decadência do submundo dos cabarés alemães no início da Segunda Guerra, uma mulher, Willie,

sobrevive de cantar na noite, interpretada magistralmente por Hanna Schygulla, no último filme da longa

parceria com Fassbinder, que rendeu 20 filmes juntos. Willie namora Robert, interpretado por Giancarlo

Giannini, um homem de classe alta, judeu, envolvido em uma organização que ajuda a proteger os

judeus da perseguição nazista. Eles pretendem se casar, mas com o advento da guerra o relacionamento

fica ameaçado.

10. Stalker [1979], Andrei Tarkovski

Com uma profunda reflexão filosófica sobre a existência humana em um mundo sem fé ou esperança,

em Stalker, ainda que não haja abordagem direta sobre a temática da guerra, o subtexto da Guerra Fria

e o controle totalitário sobre o indivíduo está presente. Tarkovski faz uma analogia com um futuro

indefinido, em que um guia conduz dois homens sem nome, conhecidos como Escritor e Professor, a

uma área proibida, lacrada pelo governo, chamada de “Zona”. Dentro dela há uma usina desativada,

onde existe um aposento que tem a propriedade de realizar os desejos de quem entrar nele. O filme

recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.

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Francci Lunguinho:

"Honestamente, esqueça de ganhar

dinheiro com literatura. A não

ser que seja um dos escolhidos"

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SF Com Entrevista

Conversamos com o paraibano radicado no Rio

de Janeiro, Francci Lunguinho, jornalista e editor

do site literário Crônicas Cariocas. Num batepapo

descontraído, Lunguinho nos revelou

sobre como fez a curiosa opção de se tornar

adestrador de cães e viver disso.

Também falamos, claro, do seu mais notório

trabalho: o de incansável editor do site Crônicas

Cariocas, um dos principais veículos literários

independentes em atividade no país.

Você também é adestrador de cães, Francci. O

que para muitos é uma espécie de emprego

dos sonhos... (risos). Poderia me contar mais

sobre essa profissão e como se deu a sua

escolha por esse caminho?

Sou sim. Quando me tornei treinador de cães,

passava por um momento em que era

imprescindível dar uma guinada na vida. E digo

isso de forma mais ampla, não só no aspecto

profissional. Buscava uma mudança pessoal

profunda, que fosse transformadora, mas não

necessariamente duradoura. Claro que não foi

fácil no início, mas certamente foi uma daquelas

decisões incríveis que às vezes tomamos. Sou

jornalista de profissão há muito tempo, porém, a

convivência com os cães sempre foi algo vivo

dentro de mim. Nasci no interior e tive uma

infância cercada por cães. A maioria, vira-latas

que viviam soltos. Quando me mudei para o Rio

de Janeiro, ainda na década de 1990, conheci uma

pessoa que era treinador profissional e que se

tornou meu amigo.

Foi a oportunidade que tive de conhecer as

técnicas e desvendar a mente canina. Ele me

convidou para criar a identidade visual da sua

empresa de adestramento, com o passar dos

anos, me tornei sócio.

S F C O M | 2 9


Já nessa época, me apaixonei pela profissão e

passei a ler tudo sobre o tema. Quando percebi já

estava muito envolvido. Há 17 anos larguei uma

carreira consolidada para me dedicar

exclusivamente ao treinamento de cães. Ajudei a

criar um método, aplicada na Escola Lobatos, que

consiste em dar ferramentas para o responsável

aprender a ter consciência corporal e emocional e

aplicar na educação do seu cão. Em breve, um

livro sairá contando um pouco desse método de

ensino. Enfim, respondendo diretamente à sua

pergunta: treinar cães é, para mim, um trabalho

que mais se parece com um passeio em família: é

leve e prazeroso. Além do mais, estou num

mercado que cresce a cada ano de forma

espetacular.

Como o adestrador seguiu o caminho da

literatura? Se sente mais adestrador ou mais

editor? Há convergência entre as duas paixões

em sua vida?

Sou jornalista, então, escrever é algo que jamais

poderia abrir mão. Quando comecei a treinar

cães, imediatamente pensei numa saída que

pudesse conciliar as duas profissões. Não poderia

seguir em frente sem carregar comigo a escrita.

Portanto, era óbvio para mim que uma profissão

não iria anular a outra. Foi por isso que pensei no

Crônicas Cariocas, uma opção que fosse dar

vazão à esta minha vontade incessante de

escrever. Entendo que falar/escrever sobre

comportamento canino era uma questão de

tempo. Comecei assinando uma coluna no

Crônicas sobre cães, depois passei a dar dicas

através das redes sociais. Cheguei a criar uma

web rádio com assuntos exclusivamente sobre o

universo canino, mas tirei do ar recentemente.

Este ano, dois livros meus sairão sobre o tema.

Ser jornalista e treinador de cães pode parecer

uma junção improvável, mas que, para um

escritor, não existe obstáculo capaz de frear a

vontade de escrever.

Você é editor de um dos mais importantes

blogs literários independentes em atividade.

Principalmente no que diz respeito ao espaço

concedido e lançamento de novos autores.

Como surgiu o Crônicas Cariocas?

Tive passagens por vários jornais. Meus últimos

10 anos na profissão antes de me tornar

definitivamente treinador de cães, foi no Estado

de S. Paulo. Não atuei como repórter, como

gostaria que fosse, e sim na área de mídia, mais

precisamente num guia telefônico. Pois é, sou da

era do catálogo telefônico. Não gostava nada do

rumo que tomou a minha vida profissional

naquela época. O Crônicas Cariocas nasceu dessa

necessidade de publicar meus textos. Não existia

espaço para novos autores ou escritores

amadores antigamente. Para publicar um texto

em revistas, portais ou jornais era quase

impossível se não pertencesse à uma panelinha.

Acho que ainda hoje é assim, só que agora a

Internet democratizou tudo. Quando criei o site,

pensei: deve ter um monte de gente querendo

publicar e ninguém dar espaço. Serei essa voz.

Quando o site foi ao ar havia uma certeza: jamais

diria não para quem quisesse ver seus textos

publicados. Essa escolha me levou a outro lugar, o

Crônicas Cariocas não ganha um centavo com

publicidade (risos).

Como vê o momento da literatura no país, da

produção literária e mercado editorial para a

subsistência da cadeia de produção?

Acho uma loucura, mas é maravilhoso. Todo

mundo pode publicar hoje em dia. Melhor ainda,

com custo baixíssimo. Isso é incrível, ver seu texto

publicado é uma das sensações mais

emocionantes que existem para quem sonha com

essa arte. Mas, honestamente, esqueçam de

ganhar dinheiro como escritor, a menos que você

seja um dos "escolhidos" pelo acaso para brilhar.

Se você não tem problema com essa falta de

incentivo, meu conselho é: vá em frente, publique

seus livros imediatamente. E não ligue se ele não

se tornar um best-seller.

S F C O M | 3 0


Como escritor, você possui algum método de

escrita criativa?

Infelizmente não desenvolvi nenhum método

próprio para escrever. Sou desenhista, comecei

muito jovem desenhando história em quadrinhos.

Então, posso até dizer que gosto de seguir a

mesma metodologia do desenhista. Primeiro, a

ideia surge na minha cabeça. Aí rabisco, dou

contorno e cores, e passo para a arte final. Com

meus textos, percebo que faço o mesmo ritual.

Embora, é sempre bom pedir ajuda de amigos na

hora de revisar e ter um olhar crítico sobre o

texto. Escrever significa ter em mãos como anotar

as ideias soltas, pesquisar muito e criar uma

rotina ordeira. Confiar só no talento acho muito

arriscado para quem quer se arriscar a ser

escritor.

Qual o seu processo de curadoria e edição no

Crônicas Cariocas?

Os critérios são poucos, mas são honestos. Todos

os autores têm liberdade para expressar suas

ideias. Temos textos de vieses completamente

opostos. Não sou o tipo de editor que corta texto

dos colaboradores, mas não pode haver excessos.

Particularmente, não gosto de palavrões fora de

contexto. Tomo todos os cuidados sobre Fake

News e termos que fazem apologias. Quem

procura o Crônicas para escrever só precisa

responder um questionário pequeno e ter ciência

que o site é um espaço livre para escrever, mas

não uma receita orçamentária própria. Eu banco

tudo sozinho. Gostaria de pagar pelos textos

publicados, mas infelizmente é inviável.

Quais os seus planos para o futuro, com o

Crônicas e também como escritor?

O Crônicas Cariocas viverá enquanto eu viver. No

entanto, tenho considerado fazer algumas

mudanças. Quem sabe torná-lo viável

financeiramente. Meu sonho é poder pagar pelos

textos publicados nele. Talvez isso saia um pouco

da proposta inicial dele, mas não vejo como uma

má ideia. Penso em buscar investidores e

parceiros para ajudar a tocar o barco. Já como

escritor, meu plano para este ano é lançar os dois

livros que já estão prontos, lançar um podcast

com a temática canina e abrir uma editora para

livros da área pet, sobretudo cães.

Por último, agradecendo a sua participação,

qual dica você daria para quem está

começando a escrever e deseja se ver

publicado?

Não sei se sairá muito do que já foi amplamente

dito pelos entendidos no assunto. Primeiro, leia

muito. Leia tudo que achar pela frente. Preste

atenção no que acontece no seu meio, na sua

própria vida. Fale do que conhece. Seja honesto

com seus possíveis leitores. Se aventure primeiro

em blogs, redes sociais, mas escreva seus textos

como se estivesse escrevendo o livro do ano. Ame

a língua portuguesa, nada de ficar escrevendo

errado só porque todo mundo faz. Agradeço

bastante este convite de entrevista, fiquei

lisonjeado. Finalizo essa entrevista, com um

lembrete aos seus leitores: o Crônicas Cariocas

está de portas abertas, nele, pode ser seu

primeiro contato com o leitor. Então, não tenha

medo, enviem seus textos.

S F C O M | 3 1


DICABACANA

Instituto Cidade lança canal no Youtube

Conhecimento, cultura, arte, debates e

aprendizado. Essa é a proposta inspiradora do

projeto catarinense Instituto Cidade.

Capitaneado pelo psicanalista de Florianópolis

Leó Rosa de Andrade, o instituto tem o

objetivo de discutir humanidades. "É um canal

onde encontramos temas para a vida em

comum.", diz Andrade.

Com conteúdo múltiplo e totalmente gratuito,

o canal apresenta material desenvolvido por

psicanalistas, educadores, estilistas, filósofos,

sociólogos e profissionais dedicados ao campo

do pensamento humano.

Assista: https://bityli.com/Iupoq

Moises Reis lança site sobre cultura pop e

cinema

Judas Botas De, assim, de nome e proposta

criativa, surge o projeto do jornalista baiano

Moisés Reis.

Marcado pela pluralidade, o projeto tocado

por Moisés em conjunto com Clarice

Rodrigues, Daniel Braz, Guirinho Nhatave,

Rafael Assis, Rafael Paiva e Ygor Pires, traz ao

leitor um suco pra lá de bacana entre cultura

pop, geek, cinema, além de artigos científicos.

Cocada boa... E não poderia ficar de fora da

nossa dica.

Leia: https://bityli.com/vcDjt

#TBT

O ano era 2006 e a canção católica

Pode Mudar, da dupla de

compositores Ulysses Schmidt e Sheila

Fonseca, era lançada pela Rádio

Catedral 106,7 FM, da Arquidiocese do

Rio de Janeiro. Pode Mudar integrou o

CD coletânea Vozes de Deus, gravado

pela Rádio Catedral e interpretado pela

banda Missão 1, com belíssimos vocais

de Junyor Coelho, guitarra de Ulysses

Schmidt, contrabaixo de Luciano Silva,

bateria de Victor Jesus e teclados de de

Vanderlan.

Ouça: https://bityli.com/IBiDjB

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Edital de ocupação da Piccola Arena

marca retomada cultural em

Petrópolis

Iniciativa busca contribuir com a retomada cultural na cidade. Espaço, que é um misto de

atelier, galeria de artes, teatro de arena e bistrô oferece residência artística para

projetos de artistas de todo o brasil.

A Piccola Arena, centro cultural localizado no Rocio, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio,

marca a retomada cultural na cidade com duas iniciativas: a reabertura do espaço para o

público e o lançamento do edital de ocupação, aberto a artistas de todo o Brasil, para que

possam expor seus trabalhos gratuitamente no espaço.

O local é um misto de atelier, galeria de artes, teatro de arena e bistrô. “A Piccola Arena é um

local de resistência cultural. Queremos mostrar que Petrópolis está vivo e que vai muito além

dos pontos turísticos do Centro. A retomada começa por aqui e convocamos todos a participar

deste momento”, explica o artista Maurício de Memória.

O edital está aberto no site: www.piccolaarena.com.br/edital-de-ocupação para artistas de todo

Brasil. Para os que queiram expor, o local permite a cessão do espaço por dois meses,

totalmente gratuito, para diversos tipos de artes visuais, como fotografia, pintura, escultura,

digital, performances. Todo o espaço do Centro Cultural Piccola Arena fica aberto e passível de

usos diversos durante as exposições.

As inscrições podem ser enviadas até 29 de abril de 2022, no email

eventos.piccola.arena@gmail.com. Os resultados serão divulgados nas mídias sociais –

Instagram e Facebook e no e-mail do candidato até dia 10 de maio de 2022.

Expediente

SF COM | Sheila Fonseca Comunicação

Agência de Comunicação e Produção Editorial

Criação, diagramação e conteúdo: Sheila Fonseca

Petrópolis - RJ.

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