REVISTA SF COM #01
Revista SF Com | #1 Todos os direitos Reservados para Sheila Fonseca Comunicação. www.sheilafonseca.wordpress.com
Revista SF Com | #1
Todos os direitos Reservados para Sheila Fonseca Comunicação.
www.sheilafonseca.wordpress.com
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
2022 | #01
# 01
0 1
A R T E Z I N E | N Ú M E R O 2 3
EDITORIAL
Quarenta anos sem Elis Regina. E cinquenta e oito do Golpe Militar, que, para muitos, em meio
à um turbilhão de mudanças comportamentais temperadas por polarização política, evoca
pensamentos saudosistas. Num cenário de rupturas, sonhos e incertezas não muito diferente
do Brasil da década de 1960.
O que também não mudou tanto é o mapa da fome. Segundo estabeleceu o geógrafo, médico
e cientista social Josué de Castro, autor do mapeamento "Geografia da Fome" publicado pela
primeira vez em 1946: "A fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressão biológica
de males sociológicos. Está intimamente ligada com as distorções econômicas, a que dei, antes
de ninguém, a designação de 'subdesenvolvimento' ", declarou Castro no prefácio do seu único
romance "Homens e Caranguejos" [1967], lançado pela Editora Brasília.
E se em 1964 éramos 81,06 milhões "em ação" - pra frente Brasil! - imersos em uma cultura de
normalização da disparidade econômica, ainda que embalados por arte excepcional, exportada
com encanto para o mundo, hoje o país "inchou" chegando aos seus 216,2 milhões tateando no
escuro, sem censo demográfico desde 2010, adiado em 2020 pela pandemia e conveniência
política. Quanto à miséria, esta se mantém: Em 2018, a onda retrô veio com força e retornamos
ao inglório Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas, depois da breve saída em 2014,
chegando em 2020 aos impressionantes 55,2% da população vivendo em insegurança
alimentar. De acordo com o economista e professor da Unicamp Walter Belik, "Um retrocesso
inédito no mundo", ou como diria o saudoso intelectual Josué de Castro: subdesenvolvimento.
Na mosca.
Neste arcabouço e embalado ao som de Elis Regina, nasce o primeiro número da Newsletter SF
Com, com o objetivo de pensar o Brasil, divulgar cultura e as atividades desenvolvidas pelo
escritório Sheila Fonseca Comunicação.
Em nosso primeiro número, quem vem nos auxiliar nesta prazerosa tarefa é o escritor Francci
Lunguinho, além dos cineastas Andrei Tarkovski e Louis Malle, do poeta Oswald de Andrade, da
musa eterna Elis Regina e também de criativos, estudiosos e pensadores desse mundo que nos
inspira. Espero que gostem.
Com carinho,
Sheila Fonseca.
S F C O M | 0 3
40 anos sem a pimentinha
EL
IS
F O T O : B O B W O L F E N S O N
T E X T O : S H E I L A F O N S E C A
S F C O M | 0 4
MÚSICA
40 ANOS SEM ELIS
Há quatro décadas, o Brasil perdia uma das
mais notáveis cantoras do mundo.
Um cometa. Assim poderia ser descrita a
gaúcha Elis Regina Carvalho da Costa, ou
simplesmente Elis Regina, como ficou
conhecida pela musicalidade e ganhou o
coração do país.
Seja pelo timbre marcante e de extensão
vocal rara, interpretação visceral, rosto
de traços belos e singulares arrematados
por um sorriso de moleca inconfundível,
Elis tornou-se rapidamente uma cantora
sem par na história da Música Popular
Brasileira. A maior. Tanto pelo talento,
quanto pela fugacidade com que levou a
vida, saindo de cena aos 36 anos.
Como legado, a artista deixou
memoráveis interpretações e parcerias
inesquecíveis, como com Milton
Nascimento em Caxangá, música escrita
por Milton e Fernando Brant em 1970 e
censurada à época,
F O T O : D I V U L G A Ç Ã O / S I T E O F I C I A L D A C A N T O R A .
vetada no álbum "Milagre dos Peixes" do artista, de
1973, e lançada somente em 77 por Elis, com letra
modificada, mas mantendo seu sentido. Caxangá surge no álbum homônimo à cantora,
conhecida por ganhar indulgências do alto escalão militar, que apreciava sua voz e interpretação,
tolerando por vezes seus posicionamentos. Elis também deixou três filhos, hoje músicos de
talento singular: João Marcelo Bôscoli, de seu casamento com Ronaldo Bôscoli, e Pedro Mariano e
Maria Rita, da união com César Camargo Mariano. Certamente seu maior legado.
S F C O M | 0 5
Da Brotolândia para o mundo
Nascida na Porto Alegre do pós-guerra, em
março de 1945, Elis expressou musicalidade
desde os primeiros anos. Aos três, ao que
consta, já "falava cantando" e aos sete, sua
mãe, a dona de casa Ercy Carvalho, admirada
com o talento da filha tenta levá-la à Rádio
Farroupilha, lendária emissora de Porto
Alegre, para tentar a sorte no "Clube do Guri".
Em vão. Ao adentrar os imponentes estúdios e
se deparar com a plateia, maquinário,
apresentadores, a pequena e ainda tímida Elis
gelou e saiu sem se apresentar.
Aos 12, a já pré-adolescente Elis e a incansável
Dona Ercy retornam ao mesmo Clube do Guri.
Nervosismo controlado, Elis canta e encanta.
Um sucesso. A impressão foi tamanha, que
recebeu convite para voltar ao programa nos
dias seguintes, passando a fazer parte do time
de talentos infantis que se apresentavam
regularmente.
Em 1º de dezembro de 1958, com 13 anos,
iniciou sua carreira profissional, contratada
por Maurício Sirotsky para a Rádio Gaúcha,
passando a ser chamada de "a estrelinha da
Rádio Gaúcha".
Em 1961, seu primeiro LP ficou pronto:, "Viva a
Brotolândia!” com produção de Carlos
Imperial, e, como o nome sugere, uma
tentativa de emplacar a cantora pegando
carona no movimento da Jovem Guarda.
Apesar do lançamento e críticas positivas, o
disco não teve vendas expressivas e encalhou
nas prateleiras. Em 1962, Elis muda de
produtor para Diogo Mullero e lança "Poema
de Amor", novamente com vendas aquém do
esperado. Sem contrato de gravação, que
havia sido cumprido com o lançamento do
segundo disco, Elis continuou com seu
emprego na Rádio Gaúcha.
F O T O : A C E R V O .
S F C O M | 0 6
No ano seguinte, agora pela CBS, com produção de
Astor Silva, Elis lança os álbuns "Ellis Regina" e "O
Bem do Amor", ambos em 1963 e novamente com
vendas inexpressivas.
De malas prontas para seu "voo-solo", por um
capricho do destino, Elis chega ao Rio exatamente
na manhã do dia 31 de março de 1964, isto é, no dia
do golpe militar. Apesar do começo turbulento, com
sua experiência em rádios gaúchas, Elis consegue
rapidamente um emprego na TV Rio para participar
dos programas Noites de Gala e A Escolinha do
Edinho Gordo. O primeiro, comandado por Ciro
Monteiro, que se torna seu grande amigo.
F O T O : A C E R V O .
A gaúcha encanta o Brasil!
Foi assim que Elis conseguiu ser ouvida pelos
produtores e jornalistas Renato Sérgio e Roberto
Jorge. A dupla produziu o seu primeiro show no
Rio, na Bottle's, uma boate do Beco das Garrafas.
No mesmo ano, surge o convite para apresentar
o programa O Fino da Bossa, na TV Record, ao
lado de Jair Rodrigues. Gravado como espetáculo
com direção de Walter Silva, e com uma química
incrível entre Elis e Jair em cena, foi uma
verdadeira revolução na TV da época e ficou no
ar até 1967. A parceria originou ainda três discos
de grande sucesso. Um deles, o estrondoso "Dois
na Bossa", foi o primeiro disco brasileiro a vender
um milhão de cópias. Agora, além de famosa, Elis
era dona do maior cachê do show business.
F O T O : A C E R V O .
S F C O M | 0 7
F O T O : A C E R V O .
Nasce uma estrela.
O ano era 1965. A efervescência cultural no
país em contraposição à repressão dos anos
de chumbo que se avizinhavam, antes
mesmo do AI-5 - instaurado somente em
1968, que deu início ao tempo de
perseguição política - fazia do país um
caldeirão em ebulição, tendo a música
popular e o futebol como principais válvulas
de escape. Neste contexto surgiu o I Festival
da Música Popular Brasileira, da TV
Excelsior.
Com interpretação intensa e gestos largos,
que lhe renderam o apelido de "hélice
Regina", cunhado por ninguém menos que
Rita Lee, Elis subiu ao palco e defendeu
"Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de
Moraes.
O teatro veio abaixo. Elis faturou não
somente o primeiro lugar, mas o coração
do país.
Nos anos seguintes, a ascensão dentro e
fora do Brasil se deu de maneira
meteórica. Quando se apresentou no
Festival de Montreaux, Suiça, em 1979,
um dos mais conceituados eventos de
jazz do mundo, a crítica especializada
estrangeira a chamava de "nova Ella
Fitzgerald". Consta que antes de se
apresentar, Elis teria tido uma crise de
choro ao se lembrar que ela, filha de
lavadeira, estaria no mesmo palco que os
grandes imortais da música mundial. Ao
final do show, Elis foi convidada a se
apresentar, sem ensaio, com Hermeto
Paschoal, num show considerado
histórico.
l
Durante os anos de chumbo, período do
AI-5, Elis não se furtou em se posicionar
politicamente. Em entrevista dada em
1969, chegou à afirmar que: "o Brasil era
governado por gorilas".
S F C O M | 0 8
F O T O : A C E R V O .
Adeus, Elis.
Era manhã do dia 19 de janeiro de 1982,
quando o Brasil parou para chorar a morte de
Elis Regina. A reação era de perplexidade: O país
tinha perdido, aos 36 anos, sua maior cantora.
O clima de comoção generalizada instalou-se
rapidamente, com populares indo às ruas para
dar o último adeus à estrela. Elis foi velada no
dia 20, no Teatro Bandeirantes, em São Paulo.
A morte prematura em circunstâncias suspeitas,
em plena reabertura, anistia e após o atentado
no Riocentro, deixava muitas dúvidas no
primeiro momento. A imprensa se desdobrava
por uma informação, como relembra o repórter
Ernesto Paglia, que trabalhou na cobertura:
“Era preciso confirmar a informação e nós
viemos direto à casa de Elis. Na época ela
morava no quinto andar de um edifício na
Rua Melo Alves, na região dos Jardins, em
São Paulo. Eu fui direto à portaria,
conversei com o zelador. Ele disse que
Elis Regina havia saído desmaiada nos
braços do seu namorado, e foram direto
para o Hospital das Clínicas”.
- Ernesto Paglia
Mais tarde, confirma-se o que ninguém queria
acreditar: Deprimida, a cantora morreu de
overdose da mistura entre o vermute Cinzano e
cocaína, em doses generosas.
Até hoje considerada insubstituível, a memória
de Elis Regina evoca saudades e rende justas
homenagens. Evoé, Elis!
S F C O M | 0 9
Poesia
CANÇÃO DO TAMOIO
De: Antonio Gonçalves Dias
I
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia vivemos!
O homem que é forte
Não teme da morte;
Só teme fugir;
No arco que entesa
Tem certa uma presa,
Quer seja tapuia,
Condor ou tapir.
III
O forte, o cobarde
Seus feitos inveja
De o ver na peleja
Garboso e feroz;
E os tímidos velhos
Nos graves concelhos,
Curvadas as frontes,
Escutam-lhe a voz!
IV
Domina, se vive;
Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
Na voz do porvir.
Não cures da vida!
Sê bravo, sê forte!
Não fujas da morte,
Que a morte há de vir!
V
E pois que és meu filho,
Meus brios reveste;
Tamoio nasceste,
Valente serás.
Sê duro guerreiro,
Robusto, fragueiro,
Brasão dos tamoios
Na guerra e na paz.
VI
Teu grito de guerra
Retumbe aos ouvidos
D'imigos transidos
Por vil comoção;
E tremam d'ouvi-lo
Pior que o sibilo
Das setas ligeiras,
Pior que o trovão.
VII
E a mão nessas tabas,
Querendo calados
Os filhos criados
Na lei do terror;
Teu nome lhes diga,
Que a gente inimiga
Talvez não escute
Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém se a fortuna,
Traindo teus passos,
Te arroja nos laços
Do inimigo falaz!
Na última hora
Teus feitos memora,
Tranqüilo nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai como o tronco
Do raio tocado,
Partido, rojado
Por larga extensão;
Assim morre o forte!
No passo da morte
Triunfa, conquista
Mais alto brasão.
X
As armas ensaia,
Penetra na vida:
Pesada ou querida,
Viver é lutar.
Se o duro combate
Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar.
A R T E : " Í N D Í G E N A S T U P I N A M B Á S "
| X I L O G R A V U R A D E J E A N L É R Y -
1 5 5 5 .
S F C O M | 1 0
LITERATURA
Eis o maior pesadelo de um
escritor: O que fazer diante
de um bloqueio criativo?
Um verdadeiro tabu no
universo da literatura e
criação, o fato é que existe e
já acometeu famosos, como
o compositor Sting, líder da
banda britânica The Police, e
a escritora norte-americana
Harper Lee, autora do
clássico O Sol é Para Todos e
melhor amiga de Truman
Capote.
Esse é o tema abordado em Aparente, do escritor e
tradutor Marcelo Rayel Correggiari. O conto presente
nessa obra fala sobre os 'lugares-comuns' a partir das
observações de bloqueios e impossibilidades criativas
que guiam o mundo.
Compre: https://bityli.com/VQPfZt
Em 50 Exercícios para a Consciência, o
escritor e filósofo Eldes Saullo traz uma
coleção de poemas, comentários,
citações e exercícios para cada um dos
50 caminhos da Árvore da Vida, um dos
principais ensinamentos da Cabala
Judaica, ilustrados com deslumbrantes
pinturas renascentistas.
Compre: https://bityli.com/zevAn
Compre: https://bityli.com/NcAEs
Quem não gosta de uma
boa história fantasmagórica
ou de suspense?
Explorando o universo da
literatura fantástica, o selo
Apparere publicou a
coletânea "Lendas Urbanas".
Junto a outros 59 autores, a
jornalista Sheila Fonseca
participa com o conto "O
Vento", em que a jovem
protagonista Nina é
confrontada por fantasmas
do passado.
Impresso artesanalmente
e costurado
um a um, Por
do Sol das
Coisas traz
consigo a
Marca
registrada do
poeta e editor Rômulo Ferreira, com
poemas inéditos e prefácio de Jorge
Mautner.
Compre:
ameopoemaeditora@gmail.com
S F C O M | 1 1
100 ANOS
A R T E : " R E T R A T O D E M Á R I O D E
A N D R A D E " , Ó L E O S O B R E T E L A |
T A R S I L A D O A M A R A L - 1 9 2 2
S F C O M | 1 2
As histórias, personagens e legado da mais importante
semana de arte do país.
Redação - Seja pela irreverência de Oswald
de Andrade, pela explosão de cores e
ousadia das telas de Tarsila do Amaral, ou a
elegância discreta dos versos de Mário de
Andrade, a Semana de 1922 revolucionou o
modo de fazer e pensar a arte no Brasil.
Iniciado no dia 13 de fevereiro deste ano, o
centenário da Semana de Arte Moderna
lança o olhar sobre o explosivo motor de
disrupção social que foi o modernismo e seu
papel preponderante na mudança de
costumes e na maneira de pensar cultura.
Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922,
tendo como palco o suntuoso Teatro
Municipal de São Paulo, espaço privilegiado
e reduto da aristocracia paulistana e
brasileira da época, um grupo de intelectuais
e artistas oriundos da elite cafeicultora
paulista se reuniu para chocar e confrontar
os limites estabelecidos pela cultura até
então. Com slogans provocativos e posturas
irreverentes, o objetivo era apresentar uma
arte que que rompesse com os padrões
vigentes.
Para se compreender a Semana de 22 é
preciso analisar o contexto socioeconômico
do país na época.
Com a decadência do período do Ciclo do
Café, já nos últimos estertores, conquanto
este tenha resistido até cerca de 1930, o
Brasil do pós-primeira guerra mundial
passava por transformações muito
profundas. A principal delas era o início do
forte movimento de industrialização no país,
que tinha em São Paulo o seu maior polo,
enquanto o Rio de Janeiro, ainda capital,
tinha o condão de lançar cultura e
comportamento, sendo o principal celeiro
artístico e cultural do país.
Fortemente inspirados nos movimentos de
vanguarda europeus que fervilhavam no
velho continente, como o Dadaísmo, o
Cubismo, o Expressionismo, o Surrealismo e
o Futurismo, os artistas se reuniram para
buscar uma releitura dessas correntes, mas
que fosse com elementos da cultura e
estética brasileira, até então desprezados,
criando um conceito artístico novo.
S F C O M | 1 3
Por uma arte do futuro,
contra os passadistas!
Com este provocativo slogan: "Por uma arte do
futuro, contra os passadistas!", o grupo mostrou a
que veio. Os discursos detratores não tardaram à
aparecer, tendo como um dos seus principais
opositores o escritor Monteiro Lobato, que não
poupou críticas em ácidos artigos publicados na
imprensa paulista. Antes, em 1917, já havia
criticado a obra de Anita Malfatti: "desenhos que
ornam as paredes internas dos manicômios."
O fato é que a estratégia funcionou e o
Grupo dos Cinco, como foi chamado o
conjunto de artistas que estiveram à
frente da Semana de 1922, entrou para a
história e fundou um dos principais
movimentos culturais do século XX.
Tendo o escritor Mário de Andrade e seu
irmão, o também escritor Oswald de
Andrade, a artista plástica Tarsila do
Amaral, então esposa de Oswald, a
pintora Anita Malfatti, e o jornalista, poeta
e pintor Menotti Del Picchia como
lideranças do movimento.
Convidado para o evento pelo escritor e
diplomata Graça Aranha, o compositor
carioca Heitor Villa-Lobos não era muito
próximo ao grupo paulista, mas
identificou-se com a proposta.
F O T O : H E I T O R V I L L A - L O B O S
No último dia de programação oficial,
dedicado à música, Villa-Lobos apareceu
diante do público com seu inconfundível
charuto, marca registrada, e... de
chinelos. A reação foi imediata. O público
de alta sociedade, acostumado a
concertos clássicos e dress code
impecável, rompeu com uma estrondosa
e memorável vaia ao artista.
S F C O M | 1 4
O legado da semana de 1922
PAI DO TROPICALISMO:
Curte o som de Caetano, Gilberto Gil, Rita Lee, Tom
Zé ou o cinema deliciosamente delirante e
transgressor de Glauber Rocha? Pois é, você pode
não saber, mas isso tem muito de Modernismo e é
fortemente influenciado pelos artistas, proposta
estética e pelos manifestos oriundos da Semana de
Arte Moderna de 1922, como o Movimento
Antropofágico e o Manifesto Pau-Brasil.
MANIFESTOS PAU-BRASIL E ANTROPOFÁFICO
Os Manifestos "Poesia Pau-Brasil [1924] e
"Antropofágico [1928], ambos redigidos por
Oswald de Andrade, foram fundamentais para
criação do ideário de uma cultura brasileira voltada
ao popular, seja pelas características étnicas,
estéticas ou estilísticas. O Pau-Brasil bebeu de
fontes como dadaísmo e cubismo. Foi publicado no
mesmo ano que o Manifesto Surrealista, do
escritor francês André Breton. Defendendo uma
poesia ingênua e expressões de arte naif, ou seja,
não contaminada por regras preestabelecidas,
tinha intenção de revelar o lado criativo primitivo
do ser humano.
O Manifesto Antropofágico, uma criação do amadurecimento do pensamento de Oswald, lançado dois
anos depois do primeiro, é mais político do que o anterior. O argumento principal propõe que a história
brasileira de "canibalização" de outras culturas é sua maior força, ao mesmo tempo em que joga com o
interesse primitivista dos modernistas pelo canibalismo como um suposto rito tribal, que torna-se uma
forma de o Brasil se afirmar contra a dominação cultural pós-colonial europeia.
ARQUITETURA MODERNISTA
A arquitetura brasileira e também, indiretamente, a
mundial através de seus expoentes de renome
internacional, foi influenciada de maneira
significativa pelo modernismo.
A C A S A D E V I D R O |
A R Q U I T E T A L I N A B O B A R D I
Nomes como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo
Bardi e o paisagista Roberto Burle Marx estão
entre os que apresentam influência modernista em
seus projetos.
S F C O M | 1 5
CASE
Marco Juarez Reichert
Nesta primeira edição citamos como Case o
cliente do escritório Sheila Fonseca Comunicação,
Marco Juarez Reichert. Empresário, conselheiro
de administração de uma das maiores
cooperativas de crédito do país, fundador e CEO
da Reichert Advisors, palestrante e escritor, o
gaúcho Marco Juarez Reichert contratou o
escritório para geração de branding, divulgação de
sua carreira e do lançamento do seu segundo livro
"A Metamorfose do Vencedor", pela Alta Books.
Na criação da estratégia de comunicação
integrada para um cliente tão plural em
competências como M.J Reichert, desenvolvemos
Reichert é autor dos livros Gestão Sem Estresse e A Metamorfose do Vencedor.
o seu site pessoal, com estética e funcionalidade
personalizada, onde criamos um ponto focal com biografia,
clipping e identidade visual própria, adequada à sua
personalidade e nicho de mercado .
Com o expertise de Reichert, emplacamos uma série de textos
assinados pelo cliente como articulista, com os temas gestão
empresarial, economia, indústria 4.0 e tecnologia, em
veículos de circulação nacional.
Além de uma série de entrevistas em
que Reichert teve a oportunidade de
dar dicas sobre economia e
customer experience, um dos pulos
do gato nos setores de varejo e
serviço.
S F C O M | 1 6
Ouça em: https://bityli.com/aEBKd
No segundo semestre de 2021, a editora
carioca Alta Books, conhecida pelo
bestseller mundial "Pai Rico, Pai Pobre", de
Robert Kyiosaki, lança "A Metamorfose do
Vencedor", de Marco Juarez Reichert,
apostando no escritor como carro-chefe
do catálogo no segmento de gestão
empresarial e economia. O livro é
baseado em um aprofundado estudo do
autor sobre Revolução 4.0, tendo como
fontes pesquisas acadêmicas, além de
intelectuais especialistas na temática, como o economista alemão Klaus Shwab e o historiador e
filósofo Yuval Noah Harari. Para divulgação, fizemos diversas entrevistas onde Reichert pôde contar
um pouco sobre o seu processo de criação e elucidar quais os aspectos de maior impacto social da
4ª Revolução, como o desenvolvimento da inteligência artificial e a automação.
Assista em: https://bityli.com/WHFLq
Com boa recepção do público e da crítica
especializada, "A Metamorfose do
Vencedor" fez sucesso em seu
lançamento, que contou com a presença,
de representantes do conceituado
Instituto Oldemburg de Desenvolvimento,
criador da Festa Literária Imperial e da
Biblioteca Estação Leitura, no evento de
estreia do livro no Rio de Janeiro, que
aconteceu na Livraria Leitura. Na ocasião,
Reichert fez uma doação de livros para o
acervo do Instituto.
"É um um privilégio receber o Instituto
Oldemburg e fazer esta doação a um
projeto tão importante de fomento à
leitura como o da biblioteca. Ficamos
realmente muito felizes", declarou
Reichert à imprensa, na ocasião.
Pelo conteúdo de excelência do livro, toda a
iniciativa pessoal do autor e a trajetória profissional
de Reichert, "A Metamorfose do Vencedor"
conseguiu dentre resenhas e comentários elogiosos
de leitores e jornalistas, crítica muito positiva no
Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul.
S F C O M | 1 7
A seguir, elaboramos uma entrevista com
Reichert sobre economia, indústria, literatura e
futuro do Brasil.
SF COM - Você é considerado expoente na
área de administração. Gostaria que me
falasse como desenvolveu o interesse por
escrever. Quando decidiu publicar seu
primeiro livro?
Marco Juarez Reichert: Empreendi desde muito
jovem, Sheila. Também sem fui muito
autodidata. Gosto de livros e eles são boas
fontes de aperfeiçoamento profissional. Só
escrevia algumas crônicas, nunca publicadas, e
letras de músicas, uma centena delas, bem
como as respectivas melodias, diga-se de
passagem. Em 2017 resolvi escrever meu livro
“Gestão sem Estresse — Técnicas e
Ferramentas Simplificadas”. Achei que o
mercado era carente e vi uma oportunidade de
fortalecer minha imagem com a obra, pois um
consultor precisa disso.
Tomei o gosto por escrever. Em 2019 iniciei a
escrita de "A Metamorfose do Vencedor",
lançado em 2021. Este livro aborda a
transformação deste mundo digital que vem
tomando conta da nossa vida e do que
precisamos fazer para não perdermos as
oportunidades, correndo risco de ficarmos “a
ver navios”, ou seja, à margem da sociedade.
Por exemplo: desempregados e sem saber
usar as facilidades da tecnologia.
A pandemia desconstruiu, e, em certo
sentido, subverteu a forma como muitos
segmentos funcionam e são administrados.
Não seria exagero afirmar que este é,
possivelmente, o momento mais disruptivo
desde a segunda revolução industrial, pela
pandemia associada à precipitação da
maior transformação tecnológica da pósmodernidade,
que é a Inteligência Artificial.
Pela sua experiência, quais são os grandes
desafios do administrador a partir desta
perspectiva? Vê luz nesse túnel?
MJR: Cada uma das Revoluções Industriais
promoveu mudanças impactantes na
sociedade. A terceira teve o computador
pessoal, a Internet e o celular, para ficar
apenas nessas inovações disruptivas globais.
Elas estão entre as maiores inovações da
humanidade.
Cada uma, a seu tempo, foi fundamental para
as posteriores. Sem elas, não teríamos a
conectividade de hoje, como o home-office,
por exemplo.
Muitas empresas, principalmente as maiores,
já estavam com a cultura da digitalização
implementada antes da pandemia. Foram
menos afetadas. O pequeno comércio e o
trabalhador autônomo, principalmente os
mais humildes, impossibilitados de ter uma
reserva financeira de segurança para
imprevistos - mal ganha de dia para comer à
noite - é que mais tem sofrido. As Domésticas,
por exemplo, em boa parte ficaram sem
empregos.
Quanto a Inteligência Artificial (IA) — Artificial
Inteligente (AI) — ela é de fato uma
extraordinária inovação disruptiva. Ela
combina conexões rápidas, Nuvem, Big Data,
Robotização… Nem nos damos conta de
quanto ela já é usada. Um chatbot usa deste
recurso. Os grandes varejistas sabem o perfil
dos consumidores e tiram proveito disso para
promover suas vendas. A IA é empregada no
diagnóstico de certas doenças, como câncer de
mama, com eficácia, incomparavelmente,
superior a qualquer equipe médica. Controle
de tráfego nas cidades e uma gama enorme de
aplicações já existem e com sucesso. Outras
tantas virão. Para a Indústria 4.0, a IA é uma
condição, um pré-requisito. Sem ela a Internet
da Coisas (IoT) pouco vai viabilizar a operação,
com tomadas de decisões durante o processo
industrial, sem qualquer interferência do ser
humano. As máquinas decidem. Os processos
serão otimizados e com o tempo tendem a
menor custo.
S F C O M | 1 8
“O maior capital é o intelectual. O ser
humano ainda é imprescindível na
quase totalidade das organizações.”
Pelo que vê do mercado, você acredita que
o empresário brasileiro está sintonizado
com esse zeitgeist? Ou ainda está muito fora
de rumo? Já viramos a chave?
MJR: Eu ainda não acho que viramos chave
para este novo espírito do momento. Este é
um processo em andamento. Ele não tem uma
data exata de início e menos ainda de fim. Vai
acontecendo, simplesmente assim. O Zeitgeist
pode ser definido como um conjunto de
fatores diversos, como sociológicos e culturais,
por exemplo, que caracterizam determinada
época. Empresas maiores estão mais inseridas
neste contexto do que a maioria das médias e
pequenas. Não tenho parâmetros para afirmar
que o empresário brasileiro está mais ou
menos sintonizado do que os de outros países.
Acredito que seguimos em uma média global.
Vejo que muitos deles sequer sabe usar,
razoavelmente, um notebook lá da 3ª
Revolução Industrial… ou os aplicativos
diversos de um celular. Sofrem nas vídeo
conferências, para compartilhar uma tela ou
outra função qualquer. Não é por falta de
capacidade intelectual, simplesmente não
exercitaram isso durante a vida. Agora, eles
estão ficando à margem das grandes
transformações e se não mudarem seu
mindset*[programação mental], não se
interessarem em adquirir novas habilidades,
com capacitação, não vão perpetuar seus
negócios.
Uma das características mais aguardadas e
temidas da quarta revolução industrial é a
automação. Como vê o futuro do trabalho e
como acredita que as pessoas terão que se
reinventar para manter a produtividade e
subsistência?
MJR: O maior problema desta combinação toda
de tecnologias que caracterizam a 4ª Revolução
Industrial é o desemprego. Este é o maior
desafio que os países vão enfrentar de agora
em diante e já está acontecendo. Os
desqualificados, profissionalmente, terão muita
dificuldade de conseguir algum trabalho.
Tarefas rotineiras e repetitivas podem ser feitas
por máquinas. As profissões vão mudar
também, como sempre mudaram. Muitas delas
vão desaparecer, outras passarão por
adaptações, com grandes mudanças e,
felizmente, outras novas serão criadas, mas não
absorverão o grande número de
desempregados. Fala-se em renda universal.
Acho que ninguém é contra a ideia, mas nunca
foi apresentado uma forma de como ter
recursos para bancar isto. Um big problem.
Por último, qual o conselho de ouro para ser
um bom gestor e um bom incentivador de
pessoas?
Aprender a ouvir mais do que falar, se capacitar
permanentemente, estar aberto para as novas
ideias e inovar. É preciso se inserir no novo
contexto o quanto antes.
Em "A Metamorfose do
Vencedor" Reichert
antecipa tendências
sociais, demográficas e
tecnológicas para as
próximas décadas, a
fim de apontar
caminhos a serem
trilhados pelo leitor.
Compre:
https://bityli.com/XgtKS
S F C O M | 1 9
GUERRA E PAZ NA 7ª ARTE
A N A T O L I A L E X E J E W I T S C H S O L O N I Z Y N E M C E N A
D E S T A L K E R | A N D R E I T A R K O V S K I - 1 9 7 9 .
S F C O M | 2 0
Cinema em Perspectiva: Reflexões sobre a
condição humana em tempo de guerra.
Desde o dia 24 de fevereiro deste ano, o
mundo assiste com perplexidade o
desenrolar de uma sangrenta guerra
fratricida entre Ucrânia e Rússia. Duas
nações com trajetórias étnicas e
históricas indissociáveis, em uma briga
de irmãos complexa, que envolve
território, religião, ideologia política e a
própria identidade, em que ambos
reivindicam a antiga linhagem do povo
1
Rus, que remonta desde o período do
Império Bizantino.
Imersos em uma atmosfera de guerra
fria, em que a ameaça do fantasma da 3ª
Guerra volta à nos assombrar, o
momento evoca a desconstrução do
pensamento ocidental de que a pósmodernidade
caminhava para superar o
2
recurso da Guerra de Agressão na
resolução de seus conflitos.
Buscando a reflexão sobre o assunto
através da 7ª arte, a temática da guerra
é fartamente documentada no cinema
russo e do leste europeu, que em
diversos momentos faz releitura da
origem desses conflitos. Assim como no
restante do mundo, o cinema é, segundo
teórico e crítico italiano Ricciotto Canudo
descreveu em seu Manifeste des Sept
Arts [1923]: Uma arte “síntese” ou "arte
total", que concilia todas as outras artes,
reunindo em sua linguagem e expressão
a dimensão plástica da pintura, a
arquitetura, a escultura, a dimensão
rítmica da dança, a música e a poesia. A
"alma da modernidade". Talvez por isso
explique tão bem nossa existência.
C E N A D E A I N F Â N C I A D E I V A N |
A N D R E I T A R K O V S K I - 1 9 6 2
1. O povo Rus compreendia as atuais Ucrânia, Bielorrússia,
Eslováquia, Polônia e Rússia
S F C O M | 2 1
2. Guerra de Agressão é contemplado no artigo 5º do Estatuto de Roma que cria a Corte Penal
Internacional.
Selecionamos, então, 10 filmes que ajudam a compreender, não somente o conflito entre
Rússia e Ucrânia, mas num sentido mais amplo a dimensão da guerra na experiência humana.
Boa sessão!
1. A Infância de Ivan [1962], Andrei Tarkovski.
O filme russo, rodado em 1960, retrata o universo idílico da infância manchado pela guerra e sua
consequência decorrente: a adultização abrupta e a perda da inocência. Vencedor do Leão de Ouro no
Festival de Veneza, "A Infância de Ivan" é o primeiro longa-metragem de Andrei Tarkovski. O filme faz um
mergulho profundo em um momento da vida do jovem protagonista, Ivan, interpretado com vigor por
Nikolay Burlyaev. Durante a Segunda Guerra Mundial, o garoto órfão, de 12 anos, passa a trabalhar nas
frentes soviéticas como espião, atravessando as fronteiras alemãs para coletar informações sem ser visto.
2. Glória Feita de Sangue [1957], Stanley Kubrick
S F C O M | 2 2
Baseado no romance de Humphrey Cobb, estrelado por Kirk Douglas, sob a direção competente de
Stanley Kubrick, mais do que um 'filme de gênero' é uma denúncia contundente aos desmandos e
irracionalidade da guerra.
Conduzido em tom abertamente humanista, o filme se passa em 1916, durante a Primeira Guerra
Mundial. O general francês Paul Mireau, interpretado por George Macready, ordena um ataque
basicamente suicida contra uma posição alemã. Uma parte do pelotão do coronel Dax, vivido
brilhantemente por Kirk Douglas, é morta, enquanto outra resiste em obedecer às ordens. Contrariado, o
general resolve pedir o julgamento e a execução de todo o regimento pelo acovardamento e indisciplina
no campo de batalha, justificando o fracasso de sua estratégia militar. O coronel Dax se opõe e decide
interceder de todas as formas para tentar suspender esta decisão.
3. A Sombra de Stalin [2019], Agnieszka Holland
Dirigido com classe e competência pela cineasta polonesa Agniezska Holland, a produção polonesaucraniana
"A Sombra de Stalin" trata do que se considera o segundo maior crime contra a humanidade
cometido no século 20, depois do nazismo: Holodomor. No genocídio, cerca de 3,9 milhões de
ucranianos - os números variam, alguns dão conta de 10 milhões - foram exterminados pelo regime
soviético comandado por Stalin, por meio da fome, além de registro de práticas de canibalismo. Fonte de
ressentimento histórico para ucranianos, tabu entre russos e verdadeira pedra no sapato de defensores
do stalinismo, a Grande Fome, que compreende o período entre 1932 e 1933, é reconhecida por cinco
organizações mundiais como crime contra a humanidade.
O filme retrata a história verídica de Gareth Jones, um jornalista galês, interpretado pelo britânico James
Norton, que entrevistou Adolf Hitler, em 1933, e sem seguida foi até à União Soviética, registrando e
contando ao mundo inteiro os horrores de Holodomor.
S F C O M | 2 3
4. A fita Branca [2009], Michael Haneke.
Não se enquadrando exatamente como um filme de guerra, A Fita Branca, dirigido pelo perfeccionista
diretor austríaco Michael Haneke, que também assina o roteiro, mostra a gênese do fascismo, através de
uma construção minuciosa do pensamento alemão da virada do século 20, desvelando as origens da
deformidade social que deu contorno ao nazismo.
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, A Fita Branca retrata uma Alemanha às vésperas da Primeira
Guerra Mundial, em 1913. Em uma pequena vila, que vive sob as ordens de um médico, um barão e um
pastor, iniciam-se uma série de fatos estranhos e violentos. Sem nenhum sinal aparente de suspeitos, os
incidentes parecem ser um bizarro ritual de punição e um jovem professor tenta desvendar o mistério.
5. O Pássaro Pintado [2019], Václav Marhoul
S F C O M | 2 4
Com produção tcheca-ucraniana-eslovaca e direção do tcheco Vacláv Marhoul, O Pássaro Pintado é, antes
de mais nada, um filme duro de se assistir, onde é impossível não se identificar com a sensação de solidão
e abandono do jovem protagonista, vivido de maneira comovente pelo ator mirim Petr Kotlár.
Filmado em preto e branco, de maneira crua, repleta de silêncios e com quase três horas de tempo de
tela, O Pássáro Pintado parece investigar os recônditos da crueldade da guerra e como a existência
humana pode ser árida e sem esperança para alguns.
Durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem garoto judeu é enviado pelos pais para viver em segurança
com a tia. Mas quando ela morre, ele tenta voltar para casa e passa a vagar sozinho em um mundo
selvagem, perverso e hostil.
6. Adeus, Meninos. [1987], Louis Malle.
No autobiográfico Adeus, Meninos, o diretor francês Louis Malle mergulha em memórias da infância e
roda um dos seus mais competentes longas.
Filmado sob a delicada perspectiva das crianças, Adeus, Meninos conta a história da amizade entre os
meninos Julien Quentin, interpretado pelo doce Gaspard Manesse, e Jean Bonnet, vivido por Raphaël
Fejtö, em um colégio católico da França ocupada pelos nazistas, no auge da Segunda Guerra Mundial.
Bonnet é um menino judeu, cujo pai foi preso pelos nazistas e a mãe está desaparecida. A instituição
católica, por meio de padres da resistência, protege o menino judeu, escondendo sua verdadeira
identidade de todos, inclusive dos colegas. Mas a Gestapo descobre a existência da criança judia e a
sobrevivência de Bonnet fica em risco. O filme ganhou o Leão de Ouro em Veneza.
7. Vá e Veja [1985], Elem Klimov
S F C O M | 2 5
Um dos mais brutais filmes de guerra já rodados, sem dúvida, Vá e Veja é uma dura experiência de
imersão do diretor russo Elem Klimov nos horrores da guerra. Um mergulho ao inferno.
Não poupando o espectador das monstruosidades, Vá e Veja narra a história de Florya, um jovem
bielorrusso separado de seus comandantes durante a Segunda Guerra Mundial.
8. Bárbara [2012], Christian Petzold
O terror psicológico e escravização vivido na Alemanha Oriental no período da Guerra Fria é o
argumento do competente longa do diretor alemão Christian Petzold, que também é responsável pelo
roteiro da produção. Nos anos 1980, Barbara, médica em Berlim, é banida pelo partido socialista para
uma clínica no interior, por ter solicitado imigração. Numa atmosfera de abusos físicos, psicológicos, falta
de privacidade e constante monitoramento, Bárbara tem medo de estar sendo vigiada pelos colegas e
tenta um meio de fugir.
S F C O M | 2 6
9. Lili Marlene [1981], Rainer Werner Fassbinder
Na decadência do submundo dos cabarés alemães no início da Segunda Guerra, uma mulher, Willie,
sobrevive de cantar na noite, interpretada magistralmente por Hanna Schygulla, no último filme da longa
parceria com Fassbinder, que rendeu 20 filmes juntos. Willie namora Robert, interpretado por Giancarlo
Giannini, um homem de classe alta, judeu, envolvido em uma organização que ajuda a proteger os
judeus da perseguição nazista. Eles pretendem se casar, mas com o advento da guerra o relacionamento
fica ameaçado.
10. Stalker [1979], Andrei Tarkovski
Com uma profunda reflexão filosófica sobre a existência humana em um mundo sem fé ou esperança,
em Stalker, ainda que não haja abordagem direta sobre a temática da guerra, o subtexto da Guerra Fria
e o controle totalitário sobre o indivíduo está presente. Tarkovski faz uma analogia com um futuro
indefinido, em que um guia conduz dois homens sem nome, conhecidos como Escritor e Professor, a
uma área proibida, lacrada pelo governo, chamada de “Zona”. Dentro dela há uma usina desativada,
onde existe um aposento que tem a propriedade de realizar os desejos de quem entrar nele. O filme
recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.
S F C O M | 2 7
Francci Lunguinho:
"Honestamente, esqueça de ganhar
dinheiro com literatura. A não
ser que seja um dos escolhidos"
S F C O M | 2 8
SF Com Entrevista
Conversamos com o paraibano radicado no Rio
de Janeiro, Francci Lunguinho, jornalista e editor
do site literário Crônicas Cariocas. Num batepapo
descontraído, Lunguinho nos revelou
sobre como fez a curiosa opção de se tornar
adestrador de cães e viver disso.
Também falamos, claro, do seu mais notório
trabalho: o de incansável editor do site Crônicas
Cariocas, um dos principais veículos literários
independentes em atividade no país.
Você também é adestrador de cães, Francci. O
que para muitos é uma espécie de emprego
dos sonhos... (risos). Poderia me contar mais
sobre essa profissão e como se deu a sua
escolha por esse caminho?
Sou sim. Quando me tornei treinador de cães,
passava por um momento em que era
imprescindível dar uma guinada na vida. E digo
isso de forma mais ampla, não só no aspecto
profissional. Buscava uma mudança pessoal
profunda, que fosse transformadora, mas não
necessariamente duradoura. Claro que não foi
fácil no início, mas certamente foi uma daquelas
decisões incríveis que às vezes tomamos. Sou
jornalista de profissão há muito tempo, porém, a
convivência com os cães sempre foi algo vivo
dentro de mim. Nasci no interior e tive uma
infância cercada por cães. A maioria, vira-latas
que viviam soltos. Quando me mudei para o Rio
de Janeiro, ainda na década de 1990, conheci uma
pessoa que era treinador profissional e que se
tornou meu amigo.
Foi a oportunidade que tive de conhecer as
técnicas e desvendar a mente canina. Ele me
convidou para criar a identidade visual da sua
empresa de adestramento, com o passar dos
anos, me tornei sócio.
S F C O M | 2 9
Já nessa época, me apaixonei pela profissão e
passei a ler tudo sobre o tema. Quando percebi já
estava muito envolvido. Há 17 anos larguei uma
carreira consolidada para me dedicar
exclusivamente ao treinamento de cães. Ajudei a
criar um método, aplicada na Escola Lobatos, que
consiste em dar ferramentas para o responsável
aprender a ter consciência corporal e emocional e
aplicar na educação do seu cão. Em breve, um
livro sairá contando um pouco desse método de
ensino. Enfim, respondendo diretamente à sua
pergunta: treinar cães é, para mim, um trabalho
que mais se parece com um passeio em família: é
leve e prazeroso. Além do mais, estou num
mercado que cresce a cada ano de forma
espetacular.
Como o adestrador seguiu o caminho da
literatura? Se sente mais adestrador ou mais
editor? Há convergência entre as duas paixões
em sua vida?
Sou jornalista, então, escrever é algo que jamais
poderia abrir mão. Quando comecei a treinar
cães, imediatamente pensei numa saída que
pudesse conciliar as duas profissões. Não poderia
seguir em frente sem carregar comigo a escrita.
Portanto, era óbvio para mim que uma profissão
não iria anular a outra. Foi por isso que pensei no
Crônicas Cariocas, uma opção que fosse dar
vazão à esta minha vontade incessante de
escrever. Entendo que falar/escrever sobre
comportamento canino era uma questão de
tempo. Comecei assinando uma coluna no
Crônicas sobre cães, depois passei a dar dicas
através das redes sociais. Cheguei a criar uma
web rádio com assuntos exclusivamente sobre o
universo canino, mas tirei do ar recentemente.
Este ano, dois livros meus sairão sobre o tema.
Ser jornalista e treinador de cães pode parecer
uma junção improvável, mas que, para um
escritor, não existe obstáculo capaz de frear a
vontade de escrever.
Você é editor de um dos mais importantes
blogs literários independentes em atividade.
Principalmente no que diz respeito ao espaço
concedido e lançamento de novos autores.
Como surgiu o Crônicas Cariocas?
Tive passagens por vários jornais. Meus últimos
10 anos na profissão antes de me tornar
definitivamente treinador de cães, foi no Estado
de S. Paulo. Não atuei como repórter, como
gostaria que fosse, e sim na área de mídia, mais
precisamente num guia telefônico. Pois é, sou da
era do catálogo telefônico. Não gostava nada do
rumo que tomou a minha vida profissional
naquela época. O Crônicas Cariocas nasceu dessa
necessidade de publicar meus textos. Não existia
espaço para novos autores ou escritores
amadores antigamente. Para publicar um texto
em revistas, portais ou jornais era quase
impossível se não pertencesse à uma panelinha.
Acho que ainda hoje é assim, só que agora a
Internet democratizou tudo. Quando criei o site,
pensei: deve ter um monte de gente querendo
publicar e ninguém dar espaço. Serei essa voz.
Quando o site foi ao ar havia uma certeza: jamais
diria não para quem quisesse ver seus textos
publicados. Essa escolha me levou a outro lugar, o
Crônicas Cariocas não ganha um centavo com
publicidade (risos).
Como vê o momento da literatura no país, da
produção literária e mercado editorial para a
subsistência da cadeia de produção?
Acho uma loucura, mas é maravilhoso. Todo
mundo pode publicar hoje em dia. Melhor ainda,
com custo baixíssimo. Isso é incrível, ver seu texto
publicado é uma das sensações mais
emocionantes que existem para quem sonha com
essa arte. Mas, honestamente, esqueçam de
ganhar dinheiro como escritor, a menos que você
seja um dos "escolhidos" pelo acaso para brilhar.
Se você não tem problema com essa falta de
incentivo, meu conselho é: vá em frente, publique
seus livros imediatamente. E não ligue se ele não
se tornar um best-seller.
S F C O M | 3 0
Como escritor, você possui algum método de
escrita criativa?
Infelizmente não desenvolvi nenhum método
próprio para escrever. Sou desenhista, comecei
muito jovem desenhando história em quadrinhos.
Então, posso até dizer que gosto de seguir a
mesma metodologia do desenhista. Primeiro, a
ideia surge na minha cabeça. Aí rabisco, dou
contorno e cores, e passo para a arte final. Com
meus textos, percebo que faço o mesmo ritual.
Embora, é sempre bom pedir ajuda de amigos na
hora de revisar e ter um olhar crítico sobre o
texto. Escrever significa ter em mãos como anotar
as ideias soltas, pesquisar muito e criar uma
rotina ordeira. Confiar só no talento acho muito
arriscado para quem quer se arriscar a ser
escritor.
Qual o seu processo de curadoria e edição no
Crônicas Cariocas?
Os critérios são poucos, mas são honestos. Todos
os autores têm liberdade para expressar suas
ideias. Temos textos de vieses completamente
opostos. Não sou o tipo de editor que corta texto
dos colaboradores, mas não pode haver excessos.
Particularmente, não gosto de palavrões fora de
contexto. Tomo todos os cuidados sobre Fake
News e termos que fazem apologias. Quem
procura o Crônicas para escrever só precisa
responder um questionário pequeno e ter ciência
que o site é um espaço livre para escrever, mas
não uma receita orçamentária própria. Eu banco
tudo sozinho. Gostaria de pagar pelos textos
publicados, mas infelizmente é inviável.
Quais os seus planos para o futuro, com o
Crônicas e também como escritor?
O Crônicas Cariocas viverá enquanto eu viver. No
entanto, tenho considerado fazer algumas
mudanças. Quem sabe torná-lo viável
financeiramente. Meu sonho é poder pagar pelos
textos publicados nele. Talvez isso saia um pouco
da proposta inicial dele, mas não vejo como uma
má ideia. Penso em buscar investidores e
parceiros para ajudar a tocar o barco. Já como
escritor, meu plano para este ano é lançar os dois
livros que já estão prontos, lançar um podcast
com a temática canina e abrir uma editora para
livros da área pet, sobretudo cães.
Por último, agradecendo a sua participação,
qual dica você daria para quem está
começando a escrever e deseja se ver
publicado?
Não sei se sairá muito do que já foi amplamente
dito pelos entendidos no assunto. Primeiro, leia
muito. Leia tudo que achar pela frente. Preste
atenção no que acontece no seu meio, na sua
própria vida. Fale do que conhece. Seja honesto
com seus possíveis leitores. Se aventure primeiro
em blogs, redes sociais, mas escreva seus textos
como se estivesse escrevendo o livro do ano. Ame
a língua portuguesa, nada de ficar escrevendo
errado só porque todo mundo faz. Agradeço
bastante este convite de entrevista, fiquei
lisonjeado. Finalizo essa entrevista, com um
lembrete aos seus leitores: o Crônicas Cariocas
está de portas abertas, nele, pode ser seu
primeiro contato com o leitor. Então, não tenha
medo, enviem seus textos.
S F C O M | 3 1
DICABACANA
Instituto Cidade lança canal no Youtube
Conhecimento, cultura, arte, debates e
aprendizado. Essa é a proposta inspiradora do
projeto catarinense Instituto Cidade.
Capitaneado pelo psicanalista de Florianópolis
Leó Rosa de Andrade, o instituto tem o
objetivo de discutir humanidades. "É um canal
onde encontramos temas para a vida em
comum.", diz Andrade.
Com conteúdo múltiplo e totalmente gratuito,
o canal apresenta material desenvolvido por
psicanalistas, educadores, estilistas, filósofos,
sociólogos e profissionais dedicados ao campo
do pensamento humano.
Assista: https://bityli.com/Iupoq
Moises Reis lança site sobre cultura pop e
cinema
Judas Botas De, assim, de nome e proposta
criativa, surge o projeto do jornalista baiano
Moisés Reis.
Marcado pela pluralidade, o projeto tocado
por Moisés em conjunto com Clarice
Rodrigues, Daniel Braz, Guirinho Nhatave,
Rafael Assis, Rafael Paiva e Ygor Pires, traz ao
leitor um suco pra lá de bacana entre cultura
pop, geek, cinema, além de artigos científicos.
Cocada boa... E não poderia ficar de fora da
nossa dica.
Leia: https://bityli.com/vcDjt
#TBT
O ano era 2006 e a canção católica
Pode Mudar, da dupla de
compositores Ulysses Schmidt e Sheila
Fonseca, era lançada pela Rádio
Catedral 106,7 FM, da Arquidiocese do
Rio de Janeiro. Pode Mudar integrou o
CD coletânea Vozes de Deus, gravado
pela Rádio Catedral e interpretado pela
banda Missão 1, com belíssimos vocais
de Junyor Coelho, guitarra de Ulysses
Schmidt, contrabaixo de Luciano Silva,
bateria de Victor Jesus e teclados de de
Vanderlan.
Ouça: https://bityli.com/IBiDjB
S F C O M | 3 2
Edital de ocupação da Piccola Arena
marca retomada cultural em
Petrópolis
Iniciativa busca contribuir com a retomada cultural na cidade. Espaço, que é um misto de
atelier, galeria de artes, teatro de arena e bistrô oferece residência artística para
projetos de artistas de todo o brasil.
A Piccola Arena, centro cultural localizado no Rocio, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio,
marca a retomada cultural na cidade com duas iniciativas: a reabertura do espaço para o
público e o lançamento do edital de ocupação, aberto a artistas de todo o Brasil, para que
possam expor seus trabalhos gratuitamente no espaço.
O local é um misto de atelier, galeria de artes, teatro de arena e bistrô. “A Piccola Arena é um
local de resistência cultural. Queremos mostrar que Petrópolis está vivo e que vai muito além
dos pontos turísticos do Centro. A retomada começa por aqui e convocamos todos a participar
deste momento”, explica o artista Maurício de Memória.
O edital está aberto no site: www.piccolaarena.com.br/edital-de-ocupação para artistas de todo
Brasil. Para os que queiram expor, o local permite a cessão do espaço por dois meses,
totalmente gratuito, para diversos tipos de artes visuais, como fotografia, pintura, escultura,
digital, performances. Todo o espaço do Centro Cultural Piccola Arena fica aberto e passível de
usos diversos durante as exposições.
As inscrições podem ser enviadas até 29 de abril de 2022, no email
eventos.piccola.arena@gmail.com. Os resultados serão divulgados nas mídias sociais –
Instagram e Facebook e no e-mail do candidato até dia 10 de maio de 2022.
Expediente
SF COM | Sheila Fonseca Comunicação
Agência de Comunicação e Produção Editorial
Criação, diagramação e conteúdo: Sheila Fonseca
Petrópolis - RJ.
assessoria.sheilafonseca@gmail.com
www.sheilafonseca.com.br
S F C O M | 3 3
HÁ MAIS DE 15 ANOS
NO MERCADO.
WWW.SHEILAFONSECA.COM.BR