e s c r i t a s

S
RI

e s c r i t a s

Luanda 30/10 19h35
eu disse que tinha
dificuldade em iniciar
textos / mas também não
vou colocar um ponto final
Rafael 30/10 18:55
Eu sou péssimo em terminar
textos, fim. E eu tenho um
carinho pela Garamond, porém
apenas em tamanho 11.
Claudio 30/10 19:58
- pergunto - como começar
esta sentença sem eu? é
possível medir o quanto
sujeito oculto indicia do eu
por meio de uma régua?
quem mediria? tu?
Anônimo 04/11/2020:
o mais importante seria a
forma de medida:
subatômica ou em anosluz?
Ou isso nos leva aos
mesmos valores e aos
mesmos lugares?

Carol 06/11/2020:
É uma régua reta? Parei
para pensar se é possível
réguas ondulares, que
possam medir as coisas a
partir das relações que
elas fazem umas com as
outras.
Luanda
06/11/2020: Que lindo,
Carol.
Vanessa 07.11.2020
17:21: se tudo é
relacional as réguas
passam a dar voltas
em torno, o Eu se
mistura no outro. De
modo que não se sabe
onde começa e como
acaba.
Topônimo 07:11:2020
21/35:
Sim e não, dois medidores
de distância. Duas réguas
da linguagem. Sim, perto.
Não, longe. Sim, por favor.
Não, com licença.

Cláudio
07/11/2020 21:45:
Acento (o “A” em caixa alta
como primeira letra
acentua a dicção de
“acento”) agudo muda
nome, muda eu, viro outro?
Acentuar nome até virar
outro? Assentar o outro?
Sentar no banco? No outro
banco?
Manu 08/11/2020 12:51:
dicção
mastigar
as palavras
cuspir letras
acentuar a dicção
muda nome? muda eu?
acentuar até eu virar outro
a cen tu araté euvi raro utro
a ceu tu ar a te eu virar ou
tro
ah, céu, tu, ar! até te vi virar
outro
Anônimo
09/11/2020
01:07
o ar nos une

Marília
09/11/2020 10:47
Assentar a escrita em
páginas brancas, ressoa
palavras de si entre pausa.

costuras
mantimento
morada
gabarito
comida, alimento que nutre células estomacais,
alimento que nutri a alma, então nutricelando e
nutrialimentando.
peço licença a língua portuguesa, de criar desenhos
de ideias de palavras: estou alinhavando sonhos e
pensamentos.
morada: quero uma casa, um repouso, uma melodia
cantante. Para que eu possa ouvir o tocar do pedal na
máquina na bateria da alma.
Um, dois, três... quantos mais serão precisos para
formar um pensamento. Alinhava, costura, acha o
buraquinho da agulha... ufa! Preciso trocar os óculos!

guardanapo de pano
mesa posta é o que há
janelas e um sol radiante
xícara, pires e o líquido
sim, gosto de sentir o cheiro pelo tato
cheiros gustativos
na porta da língua sinto um sabor
lá no fundo isso se confirma ou não.
será?

molde de revista manequim
histórias que atravessam
pão com mortadela.

respiros soltos
comida como afeto
rabo de macaco
jenipapo
cuidado
comida como linguagem
torta de pêssego
comida como refúgio
manteiga x margarina:
que lugar você ocupa na sociedade?
quem passa fome
fome de afeto
bolo é o beijo que a mãe sabia dar.
cheiros gustativos.

dança do caminhar
par de angústias
par de solidão
ardor
ardência.

tô tendo vontade de fugir mas tô tentando ficar

como pôr o corpo no papel?
por cor po
cor por
cor

coletar palavras sons silêncios
ruídos
carros
pássaros
sino da igreja
a palavra não dita
a palavra ouvida
a palavra
molhada
de saliva
palavra: elemento água e ar

Atraso
Cheguei atrasada de novo.
Pensei em não entrar porque tava me sentindo
mal pelo atraso, mas pensei que seria pior não
entrar do que estar atrasada.
Essa semana tô meio assim, com muito sono.
Sabe quando seu corpo está pesado?
A barriga cheia de tanto comer, a pele porosa
com mini gotículas de suor de dormir à tarde.
O peso da cabeça parece um pouco maior que
geralmente, talvez seja a musculatura do pescoço
sem vontade de segurar nada.
Faço algumas respirações profundas para ver se
me libero da culpa capitalista de ter dormido
numa quinta-feira à tarde.

letras muito fáceis de arrumar

letras não tão fáceis de arrumar

letras quase impossíveis de arrumar
jogar tudo no liquidificador bater bastante colocar no freezer

jogar tudo no liquidificador

bater bastante
colocar no freezer
jogar tudo no

liquid
ificador
bater
bastant
e colocar no
free
zer
jgr td n

lqd
btr bstnt
clcr n
frzr
j

o
g a
r tu
d
o
n o
l
uidif
ic
a d
r b
a
o
i

t
e
r
b
a
s
t a n t e c o
l o c a
r n
o

f

r

e

e

z

e

r

diante da tela movendo olho da esquerda pra direita como quem pensa e decifra
o quê lê como quem acha que pensa e decifra o quê lê como quem acha que pensa
que acha que lê mas nem tenta ler da direita pra esquerda pelo comodismo da
leitura viciada da esquerda pra direita como quem diz e olha e fala de fora pra
dentro até empapar palavra na ponta da língua até roçar verbo no ouvido do outro
chegar no limite sem ponto final em um só respiro sem vírgula sinais de pontuação
operam como uma espécie de partitura pra leitura escrever como quem pressiona
e segura um dedo no piano repetir sujeito repetir verbo até desgastar letra até
descascar letra que é conglomerado de pixel letra que acha que é letra mas é um
monte de quadrado empilhado um monte de quadrado pequeno junto que finge
ser letra que finge ser palavra que pensa que dá conta da verdade a gente não quer
saber da comunicação a gente tá interessado em atritar a linguagem em atritar o
pixel pra romper com o vício da leitura com o vício da leitura da esquerda pra
direita pra ir debaixo pra cima pra separar debaixo pra gente ouvir o baixo que tá
abafado pelo dedo que agora tá pressionando a mesma tecla no piano a mesma

tecla no teclado que envia comando para digitar letra para digitar pontuação e
que pressiona espaço à partir daqui

ouvindo
no zoom
(máximo)
apreendendo
cada
detal(h)íngua

detalhe
e
língua

h
não tem
som

celeste, pelágica

celeste, batiscafo

celeste, insone

TITU- )
( LO
O que você está lendo?
A fala falada é escrita
Ausência de imagem
A página faz parte do texto
Caligrafia, cartas, depois o rosto
Escuto a voz
Atritar a língua
Corpo, escrita, espaço
A gente está virando mar
Vou caminhando para onde vai
Ruído, sinos, hora cheia.

__

o corpo faz escrita

falar é alongar o c o r p o

f a l a r
é
o n g
a
a
c a r
a

b
a o c a
s a p
b a
b
s a
te
l e
são
o
a t o
n e
vi

o corpo
inscreve-escreve
nos espaços
corpos (in)scritos

__
deitado

\_
sentado

em pé__

_
\ /
em ponte

__
_
em espacate

e
s
c
r
é corpo
linguagem
é corpo
com ou sem
alongar a língua
i
t
a

e
´
s
c
r
i
t
corpo
lin uagem
é
orpo
com ou sem a ongar
a
língua.

~ ~ ~
conexão naufragada

palavra que sai da boca
da língua
que vem e vai
em ondas de saliva
o corpo engole o mar
o mar engole o corpo
mar
a mão
em mar-pensamento
-flutuamas
sua presença no agora
[pesa]
presa ao microfone
que nos interliga
em linha reta
mão-âncora

a
a
f
u
n
d
a
a

aaaaaaaaaaaaaaaar
repuxa ar e ressaca palavras
quer ressoar nas paredes da escuta
e rebate
se dissolve
em murmúrios
de espuma
esssssss
vaziada
esssss
vanecida
esssssssssss
sssssssss
sssss
ssscuta?

Alguns substantivam
Chamam de Itinerário
o percurso de
ir e vir
voltar e (re) voltar
Chamamos assim
no verbo
pois, não se finaliza
Percurso é processo
Vestígios
Nossa marca poética.

Coletora de poesia
no ar
no espaço
nas vozes
em nuvens virtuais.
Escuta Criativa
em videoconferências
dando zoom nas falas.

A libido está presente
no Tesão
no plástico
das embalagens
de Transgênico.

Ciberneticamente tudo natural 1
Penso muito
mas no amor eu não penso
Penso sobre amor
Mas ali
no momento
não penso
Apenso
é preciso escuta no
suspenso silêncio
Expectativa desleal
Quando você sonha sozinho
o que pode sonhar com o outro.
1 Sampa Crew. Amor Virtual, 2001

BS – Bárbara Santos; CG – Caroline Garlet; CM – Cláudio Moreira; CS – ??; G
– Glossário; LO – Luanda de Oliveira; MB – Marília de Borba; MV – Manuela
Valls; P – Prefácio; VE – Vanessa Estrela.