Livro Multiplicando Discipulos - 2 edicao_Prova Virtual
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Waylon Moore
Tradução Adiel Almeida de Oliveira
2023
Rio de Janeiro
2ª edição
© 2015 Convicção Editora / Junta de Missões Nacionais
Título original: Multiplying Disciples: The New Testament Method for Church
Growth
Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados. Copyrigth
© 2015 publicado por Convicção Editora com autorização. Direitos cedidos,
mediante contrato.
M825m
Moore, Waylon B.
Multiplicando discípulos: o método neotestamentário para
o crescimento da igreja / Waylon B. Moore. Tradução de Adiel
Almeida de Oliveira. 2. ed. Rio de Janeiro: Convicção Editora,
2023.
128p. ; 23cm.
Título Original: Multiplying Disciples: The New Testament
Method for Church Growth.
1. Igreja – Evangelização. 2. Evangelização – Igreja – Novo
Testamento. 3. Igreja – Crescimento
I. Título.
CDD – 248.5
ISBN: 978- 85-61016- 63-0
Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com
indicação da fonte.
Tiragem: 2.000 exemplares
Convicção Editora
Rua: José Higino, 416 – Prédio 16 – Tijuca – Rio de Janeiro, RJ – 20510- 412
Tel.: 21 2157- 5557 – E- mail: falecom@conviccaoeditora.com.br
www.conviccaoeditora.com.br
Co- edição:
Junta de Missões Nacionais
Rua José Higino, 416 – Prédio 18 – Tijuca
Rio de Janeiro, RJ – 20510- 412
www.missoesnacionais.org.br
SUMÁRIO
Apresentação desta nova edição ................................................................... 7
Apresentação da primeira edição .................................................................. 9
Prefácio .......................................................................................................11
Agradecimentos ...........................................................................................15
Parte I
O DESAFIO: ALCANÇAR O MUNDO
1. Você pode multiplicar- se por meio de outros ............................................19
Parte II
O MÉTODO: MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
2. O significado do discipulado ................................................................... 25
3. Por que edificar discípulos? ......................................................................31
4. Exemplos bíblicos de multiplicação espiritual ........................................... 39
5. Onde começa o fazer discípulos .............................................................. 45
Parte III
O PROCESSO: COMO EDIFICAR DISCÍPULOS MULTIPLICADORES
6. Qualidades espirituais do fazedor de discípulos multiplicadores ............... 55
7. Tenha um coração de servo ......................................................................59
8. Presença com o discípulo ........................................................................ 69
9. Tenha um coração de pai ........................................................................ 77
10. Determine o ritmo ................................................................................ 93
Parte IV
A PRÁTICA: DÊ INÍCIO AGORA
11. Selecionando líderes multiplicadores potenciais ....................................103
12. Comece na sua igreja hoje ....................................................................111
13. Qualquer pessoa pode se multiplicar ....................................................119
Apêndice....................................................................................................125
APRESENTAÇÃO
DESTA NOVA EDIÇÃO
Estamos vivendo novos tempos no Brasil. A população rural diminuiu consideravelmente
nos últimos 40 anos. Os centros urbanos concentram um número cada
vez maior de pessoas em pequenos espaços. Prédios e condomínios fechados são
as opções atuais para moradia, principalmente, pela questão da segurança. É um
tempo de muitas informações disponíveis, mas que tem gerado, paradoxalmente,
uma falta de tempo nos indivíduos dessa sociedade chamada pós- moderna. É um
tempo de mídias sociais disponíveis no universo virtual, mas que tem causado
diminuição drástica de relacionamentos profundos no mundo real. É para este
tempo que a igreja precisa dar respostas e se mostrar mais viva do que nunca.
Pensando estrategicamente nesse contexto atual, a Convicção Editora, em conjunto
com a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, propõe
uma visão intencional de multiplicação de discípulos baseada em cinco princípios
bíblicos da igreja no Novo Testamento. Esta é a Visão de Igreja Multiplicadora.
Esta visão é a disposição para o cumprimento da missão de evangelizar e discipular
cada pessoa em solo brasileiro, dessa forma, conquistando a pátria para
Cristo. Isso acontecerá com o retorno aos princípios bíblicos de multiplicação de
discípulos e de plantação de novas igrejas em todo Brasil.
Por esta razão, A Convicção Editora tomou a iniciativa de, em conjunto com
Missões Nacionais, reeditar este livro tão precioso escrito na década de 80 pelo
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 7
Dr. Waylon B. Moore. A multiplicação de discípulos é estratégia fundamental
para o cumprimento da grande comissão. Mais que isso, é a estratégia neotestamentária
para o crescimento da igreja.
Várias literaturas produzidas no final do século passado estão sendo redescobertas.
A Junta de Missões Nacionais tem feito um trabalho de garimpagem
dessas preciosidades que, infelizmente, foram descartadas da nossa leitura atual.
A equipe de Missões Nacionais tem lido e relido vários livros que, mesmo estando
em nossas prateleiras, não estão sendo lidos com a devida atenção. Muitos princípios
que a visão de Igreja Multiplicadora resgata que, em verdade, são princípios
neotestamentários, já vinham sendo apontados pelos escritores desses livros nas
décadas de 60, 70 e 80. É justamente no trabalho de resgate desse material batista,
já tão precocemente esquecido, que o livro Multiplicando discípulos ressurge
com a intenção de reforçar os princípios e estratégias de Igreja Multiplicadora.
Nesta edição, há várias notas de rodapé com comentários a respeito de termos,
expressões e, até mesmo, assuntos que o autor aborda que são, de alguma
forma, tratados na Visão de Igreja Multiplicadora. Algumas notas de rodapé são
explicações da edição anterior que foram mantidas.
Que a leitura deste livro proporcione uma reflexão tão sincera na vida dos
leitores que eles mesmos se sintam impelidos a, em oração e leitura da Palavra de
Deus, colocar em prática os princípios de multiplicação. Que seja uma ferramenta
auxiliar na descoberta de verdades espirituais contidas nas Sagradas Escrituras e
que seja colocada em prática no dia a dia de cada servo do Senhor Jesus. Que
haja um despertar em cada crente para a multiplicação de discípulos e o consequente
crescimento da igreja do Senhor Jesus em nossa nação. Multiplique.
Pr. Sócrates Oliveira de Souza
Diretor Geral da Convicção Editora
Pr. Fernando Brandão
Diretor Executivo da Junta de Missões Nacionais
8 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
APRESENTAÇÃO DA
PRIMEIRA EDIÇÃO
Alguns anos atrás, eu estava em uma grande igreja nos Estados Unidos para
realizar uma série de reuniões. Aquela não era uma igreja comum. O aconselhamento
realizado, em seguida, com os novos convertidos, foi o mais minucioso que
eu já vira. Uma classe formada para os novos membros foi a mais eficiente que eu
já encontrara. Acima de tudo, havia um grupo de leigos que estavam equipados
como competentes líderes espirituais. Esses homens assumiram a principal tarefa
de equipar outros. O pastor daquela igreja era o autor deste livro: Waylon Moore.
Waylon é um dos pioneiros do moderno movimento de discipulado, que dá
uma ênfase total ao “seguimento” 1 e ao treinamento minucioso, feito um a um,
dos líderes espirituais. Este livro expressa o espírito do autor, que tem levado a
visão de multiplicação de discípulos não só aos Estados Unidos, mas, também,
a muitos outros países do mundo.
Talvez, a mais forte característica de Multiplicando discípulos seja a sua evidente
base bíblica. Como era de se esperar, um livro baseado biblicamente a
respeito deste assunto deve ter uma mistura de evangelização com discipulado,
nas devidas proporções. Este livro magnifica ambos. O autor escreve: “Quando
1
Traduziremos como “seguimento” a expressão inglesa “follow- up”, que significa a assistência
dada ao novo convertido durante o tempo em que ele está se arraigando na fé.
a igreja exala discípulos, inala convertidos”. Para Waylon, o alvo de discipular é
o desenvolvimento de um grupo dedicado de crentes que penetrarão com eficiência
em um mundo perdido. Este livro também liga fortemente o ministério
de fazer discípulos com a igreja local.
Os livros a respeito de discipulado precisam ser escritos por pessoas que estejam
praticando o que escrevem. Este esplêndido livro é escrito por um homem que,
por muitos anos, tem posto em prática o que escreveu. O seu objetivo é criar
visão e ação na vida do leitor, para com os ministérios de evangelismo, “seguimento”
e treinamento de líderes. Este livro será uma ferramenta extremamente
útil para qualquer pessoa que esteja comprometida a obedecer, plenamente, à
grande comissão.
Roy J. Fish
Professor de Evangelização
Southwestern Baptist Theological Seminary
Fort Worth, Texas, Estados Unidos.
10 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PREFÁCIO
Um novo sopro do Espírito está operando nos corações na América do Norte
e em muitas nações ao redor do mundo. Novos padrões de ministério estão sendo
tentados, com crescente sucesso. Nunca, na história da igreja, mais pessoas
professaram a sua fé em Cristo do que neste século.
Todavia, a qualidade de vida espiritual na igreja local é, infelizmente, ainda
questionável, em uma época quando milhões anseiam por experimentar a plenitude
da vida em Cristo.
Na sociedade contemporânea, o supremo valor do indivíduo tem sido redescoberto
política e socialmente. Os grupos de minoria têm conseguido novas
liberdades. Os líderes eclesiásticos, por toda parte, estão começando a perceber
o vasto potencial que existe na abordagem feita em pequenos grupos,
especialmente no discipulado um a um, para conseguir uma multiplicação
espiritual efetiva.
Três desafios colocam- se diante dos que têm o coração voltado para a evangelização
e o crescimento da igreja.
Primeiro: precisa haver uma dedicação radical 2 à validação da experiência
da conversão, por meio do aconselhamento de todos os novos membros que
entram na igreja local. É demasiado o número de indivíduos sem vida espiritual
2
A Visão de Igreja Multiplicadora afirma que essa “dedicação radical” acontece por meio do
relacionamento discipulador.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 11
estuante, que estão enchendo os bancos das igrejas, para assistir (apenas) o que,
tristemente, tornou- se uma espécie de culto memorial pós- cristão.
Segundo: precisa haver uma renovada dedicação a um seguimento responsável
e à integração 3 de todos novos membros em uma comunhão viva dentro da
igreja local. É essencial que esses novos membros recebam o tipo de ajuda que
os leve a desfrutar pessoalmente de hábitos regulares de “hora tranquila”, estudo
bíblico e testemunho de sua fé.
Terceiro: cada igreja precisa dedicar- se a um treinamento 4 responsável e de
longo alcance dos seus líderes, por meio dos ministérios de discipulado, para
produzir multiplicadores espirituais capazes de edificar outros “trabalhadores
para a seara”.
Missionários veteranos de três continentes me disseram: “Estamos atrasados 20
a 40 anos quanto ao treinamento de líderes. Não somos capazes de nos manter
à altura da atual explosão de novos crentes. Os líderes que poderão instruir esses
grupos de novos simplesmente não podem ser produzidos de maneira suficientemente
rápida, por meio dos métodos usados, atualmente, em nossos seminários
e institutos bíblicos”.
Se um pastor ou missionário começar um ministério individual, um a um, com
um ou dois discípulos, todavia, o processo de multiplicação poderá ter lugar bem
rapidamente. Infelizmente, a maioria das abordagens quanto ao treinamento em
uso hoje gira em torno da sala de aulas, do grupo ou da congregação. Equilibrar
estas classes maiores de treinamento com algum tempo que se dedique ao
contato um a um é algo extremamente necessário 5 . Discipular os outros é nada
menos do que o investimento de uma vida inteira: “dar a vida pelos irmãos” (1Jo
3.16). Simplesmente, não pode ser acondicionado a uma sessão um a um de duas
horas, durante a semana.
3
Agregar ou acolher discípulos – é a segunda dimensão do desenvolvimento do relacionamento
discipulador (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 72- 82).
4
O quarto princípio da Visão de Igreja Multiplicadora é a formação de líderes (ver livro Igreja
Multiplicadora, p. 119- 148).
5
O relacionamento discipulador é o ponto de partida para a formação de líderes (livro Igreja
Multiplicadora, p. 128- 131).
12 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
No meu primeiro livro, New Testament Follow- up (Integração Segundo o Novo
Testamento), compartilhei alguns conceitos bíblicos práticos e provados, para dar
início ao aconselhamento e ao “seguimento” na igreja local.
Este livro trata de como estabelecer uma formação de líderes de longo alcance,
de forma a produzir multiplicadores cuidadosamente discipulados capazes de
edificar ainda outros “trabalhadores para seara”.
Ver os princípios de multiplicação espiritual aplicados em algumas igrejas
ajudou- me e encorajou- me a partilhar esses princípios com um auditório maior.
Três princípios estão no cerne da multiplicação: a intercessão 6 junto a Deus por
outro discípulo; ajuda para que ele cresça até o seu pleno potencial em Cristo;
e estar sempre disponível para ele 7 . Nada do que fiz em 30 anos de ministério
se compara com a eficiência desse tipo de dedicação pessoal apara ajudar outra
pessoa a se tornar o melhor que ela pode ser em Cristo. Permita- me recomendar
este livro para os que desejam multiplicar discípulos em sua igreja local.
Waylon B. Moore
Tampa, Flórida, Estados Unidos.
6
O primeiro princípio da Visão de Igreja Multiplicadora é a oração. A intercessão por outro
discípulo se dá de várias maneiras (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 25- 47).
7
Ajudar o discípulo e estar sempre disponível para ele é possível por meio do relacionamento
discipulador em conjunto com o pequeno grupo multiplicador. Esses dois meios de relacionamento
são canais do desenvolvimento do princípio da compaixão e graça na vida dos discípulos.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 13
AGRADECIMENTOS
Meus especiais agradecimentos à minha esposa, Clemmie, que jamais cessou
de me encorajar; a Avery e Steve, que creram; e aos amigos que permaneceram
conosco fielmente através dos anos. Também, agradeço a Monte Unger, sua hábil
cooperação, e a David Tucker, que me ajudou a expressar de forma mais clara
as minhas ideias.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 15
As fontes das citações encontradas no início dos capítulos são:
Capítulo 1 – Goforth of China
Capítulo 2 – The quotable Billy Graham
Capítulo 6 – The incredible christian
Capítulo 7 – A new heaven
Capítulo 9 – Choosing and changing
Capítulo 10 – Master plan of evangelism
16 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PARTE I
O DESAFIO:
ALCANÇAR O MUNDO
1. VOCÊ PODE MULTIPLICAR- SE POR
MEIO DE OUTROS
“Todos os gigantes de Deus foram homens fracos que fizeram grandes
coisas para Deus, porque se estribaram no fato de Deus estar com
eles” – Hudson Taylor
Você pode começar a se multiplicar espiritualmente hoje e iniciar um processo
dinâmico que alcance além de sua geração, que chegue até o próximo século.
Esta pode ser a sua parte em levar a cabo a grande comissão de Cristo, de ir a
todo mundo e fazer discípulos (veja Mateus 28.18- 20). Afinal de contas, é isto que
é este livro: multiplicação espiritual por meio do processo de fazer discípulos 8 ,
com o objetivo final de alcançar o mundo para Cristo. Isto é algo que qualquer
pessoa pode fazer, em qualquer lugar, mas o melhor lugar para começar é a sua
igreja local.
Considere o exemplo de um professor de Escola Bíblica Dominical do século
19, chamado Edward Kimball, que começou a fazer discípulos em sua classe.
Os resultados são patentes aos nossos olhos até hoje, em 1983. De fato, pode
ser até que você seja um resultado direto da multiplicação espiritual de Kimball.
Edward Kimball comprometeu- se a alcançar cada jovem perdido em sua classe
de Escola Bíblica Dominical. Tinha ele um grande senso de responsabilidade, especialmente
por um rapaz acaipirado, recém- chegado da roça, que havia começado
a trabalhar em uma loja de calçados das redondezas. Um dia, Kimball foi à loja
e, numa saleta dos fundos, persuadiu o rapaz a aceitar Cristo como seu Salvador.
Quando estava descrevendo esse jovem, Kimball disse: “Tenho visto poucas
pessoas cujas mentes fossem espiritualmente mais obscuras do que quando entrou
na minha classe de Escola Bíblica Dominical, ou alguém que parecesse mais
improvável torna- se um crente de opiniões claramente decididas, quanto menos
8
O processo de fazer discípulos é apresentado dentro da Visão de Igreja Multiplicadora à luz
da grande comissão por meio do seu princípio chamado Evangelização discipuladora (ver livro
Igreja Multiplicadora, p. 49- 90).
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 19
com condições de preencher qualquer esfera de utilidade pública extensa.” 9 Mas
o jovem, Dwight L. Moody, chegou a tornar- se conhecido como pioneiro das
modernas técnicas de evangelização em massa e como pregador ungido pelo
Espírito Santo, cuja mensagem tocou milhões de pessoas na América do Norte
e na Europa.
Na verdade, foi durante as campanhas de Moody, na Inglaterra, que a cadeia
de multiplicação espiritual ensinada por Kimball foi, poderosamente, posta em
prática. Mais de um pastor inglês rejeitou a abordagem fervorosa do visitante, a
respeito de evangelização. Um deles, o Rev. F. B. Meyer, não sentiu- se de forma
alguma impressionado com a crueza do evangelista iletrado e áspero. Contudo,
até o seu coração se derreteu quando ele ouviu duas senhoras, que eram ambas
professoras de Escola Bíblica Dominical em sua própria igreja, contarem como
haviam sido influenciadas pela dedicação de Moody em ganhar para Cristo todos
os membros de Escola Bíblica Dominical que ele dirigia.
Essas duas senhoras, por seu turno, vieram a alcançar todos os membros de
suas classes. Avivado pelo Espírito Santo, pela dedicação dessas mulheres, Meyer
juntou- se às reuniões evangelísticas de Moody com entusiasmo, de todo o coração.
Mais tarde, Moody convidou Meyer para ir aos Estados Unidos. Entre os que
foram alcançados pelo ministério de Meyer de ensino da Bíblia, estava um esforçado
pregador jovem chamado J. Wilber Chapman, cuja maneira de agir foi
transformada de tal maneira que ele também passou a dedicar- se a um ministério
evangelístico.
Embora ele tenha sido usado por Deus através de todo o mundo para levar
pessoas a Cristo, foi o próprio diretor de promoções da cruzada de Chapman,
ex- escriturário da Associação Cristã de Moços, quem deveria levar avante a cadeia
de multiplicação de Kimball. O seu nome era Billy Sunday.
Sunday pregou por toda a América do Norte, com resultados espetaculares.
A sua campanha em Charlotte, Carolina do Norte, nos Estados Unidos, produziu
alguns convertidos, que organizaram um grupo de oração, que manteve reuniões
por anos a fio, orando para que Deus continuasse o ministério de evangelização
9
FITT, A. P. The Life of D. L. Moody. Chicago: Moody Press, n. d. p. 23.
20 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
A multiplicação deve
ser resultado de uma
aplicação consciente de
princípios bíblicos, e não
apenas coincidência
por meio do povo de Charlotte. Esse grupo
de homens de oração foi levado pelo Espírito
Santo a planejar uma campanha que
alcançasse toda a cidade. Convidaram Mordecai
Ham, o evangelista “cowboy”, para ser
o orador. Durante uma das reuniões, alguns
adolescentes estavam entre os que foram
alcançados para Cristo. Um deles era um
rapaz chamado Billy Graham.
Só o céu revelará o número real de pessoas alcançadas por meio da cadeia
de discípulos multiplicadores como resultado dos humildes esforços de Edward
Kimball, em sua igreja local no século 19.
Cristo nos chama para sermos discípulos que se multipliquem espiritualmente.
A multiplicação deve ser resultado de uma aplicação consciente de princípios
bíblicos, e não apenas coincidência. 10 Seja você leigo, pastor ou outro obreiro
cristão, este livro foi escrito para ajudá- lo a se multiplicar por muitas gerações
futuras, ao fazer discípulos. Este ministério perdurará por toda a eternidade se
você investir na vida de indivíduos que, por seu turno, se disponham a alcançar
outros, que alcançarão outros, que alcançarão outros.
Você pode começar essa cadeia ilimitada em sua igreja hoje.
PERGUNTA PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
Com que frequência você vê outras pessoas sendo influenciadas a se entregar
a Cristo como resultado de um plano cuidadosamente elaborado? Discuta alguns
exemplos de multiplicação espiritual encontrados em sua própria experiência,
observação ou leitura.
10
A multiplicação de discípulos é resultado de um processo intencional de fazer discípulos. Essa
intencionalidade é tratada no capítulo Evangelização discipuladora do livro Igreja Multiplicadora
no item 4.2. Evangelização discipuladora implica ir (p. 64 e 65).
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 21
22 | OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
PARTE II
O MÉTODO:
MULTIPLICANDO
DISCÍPULOS
2. O SIGNIFICADO DO DISCIPULADO
“A salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo o
que temos” – Billy Graham
Discípulo era a palavra favorita de Cristo para aqueles cuja vida estava ligada
entranhadamente com a dele. A palavra grega traduzida como “discípulos”, mathetés,
é usada 269 vezes nos Evangelhos e em Atos. Significa pessoa “ensinada”
ou “treinada”.
No Evangelho de João, Jesus define a palavra discípulo de três maneiras.
Primeiro: discípulo é um crente que está envolvido com a Palavra de Deus
de maneira contínua. “Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes
na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos” (Jo 8.31). A
Bíblia é muito mais do que um mero livro; é um guia confiável para a vida diária.
A contínua aplicação da Escritura resulta em aprendizado das verdades que, de
acordo com Jesus, libertam a pessoa (veja João 8.32).
Segundo: discípulo é alguém que dá a sua vida pelos outros. “Um novo mandamento
vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós,
que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos, se tiverdes amor uns com os outros” (Jo 13.34,35).
Mas, que realidade de amor é essa? É muito mais do que simplesmente fazer
algumas boas ações. Em João 15.13, Jesus diz: “Ninguém tem maior amor do
que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Isto empresta ao amor
um significado ainda mais profundo: o discípulo ama o suficiente para se tornar
impopular, para se tornar mal- entendido, para ficar sozinho, para sofrer. O amor
é incondicional.
Jesus cativou o coração dos seus discípulos com o seu amor incondicional. O
seu amor sempre procurava fazer o que era melhor para as pessoas que ele estava
treinando. Para amar os nossos irmãos, precisamos sacrificar- nos para satisfazer
as mais profundas necessidades deles. Como escreveu João, o discípulo amado:
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 25
a vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Jesus define discipulado, em parte, como amor
pelos outros crentes. Os homens podem ver Cristo em nossa vida tão somente
quando nos veem amando uns aos outros.
Mas, este é um amor incomum. “Dando nossa vida” pelos outros, morremos
para certas coisas. Abrimos mão de certos direitos. Pode ser que precisemos
sacrificar dinheiro, tempo e possessões, a fim de melhor amar os outros. Isto é
possível em nossas igrejas, hoje, quando “o amor de Deus está derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5.5).
Terceiro: Discípulo é alguém que permanece diariamente em uma união frutífera
com Cristo. Jesus disse:
“Permanecerei em mim, e eu permanecerei em vós; como vara de si mesma não pode dar
fruto, se não permanecer na videira, assim também vós se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito
fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.4,5 – o grifo é meu).
A palavra fruto é usada de várias maneiras na Escritura. Esta passagem parece
ilustrar mais o fruto da nossa união com Cristo do que o fruto do Espírito, como
é explicado em Gálatas 5.22,23. Isto é discutido em maior profundidade em
João 15.8: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus
discípulos”.
Desta forma, os discípulos de Cristo são pessoas que produzem o fruto que
resulta de se permanecer em união com ele 11 . A oração de Cristo pelos discípulos,
registrada em João 17, demonstra que os frutos mencionados em João 15 são
pessoas: “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua
palavra hão de crer em mim” (Jo 17.20).
Em seus ensinamentos, Jesus enfatizou um fruto que permaneça: “Vós não me
escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao pai em
meu nome, ele vo- lo conceda” (Jo 15.16).
11
A definição de discípulo na Visão de Igreja Multiplicadora é: “Toda pessoa que, sendo salva por
meio da fé em Jesus Cristo, passa a segui- lo como seu Senhor” (ver livro Igreja Multiplicadora,
p. 56).
26 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
A nossa união com Cristo torna possível uma
vida por meio da qual outros possam ser salvos.
Quando uma arvore está tão cheia de seiva,
que não pode mais contê- la, o resultado é
fruto. Quando um cristão está cheio de Cristo,
os outros o veem, ouvem a respeito dele e,
então, são renascidos espiritualmente no reino
de Deus. Desta forma, novos crentes são um fruto do verdadeiro discipulado. Se
ficar meramente sentada quietinha, a pessoa pode ter o fruto interno do Espírito,
mas Jesus diz que devemos “ir e dar fruto”.
“Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao
Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt 9.37,38). O mundo
precisa desesperadamente de trabalhadores (discípulos), homens e mulheres
que estejam permanecendo em Cristo, obedecendo e aplicando diariamente
as Escrituras, evangelizando os perdidos eficientemente e se desdobrando em
amor semelhante ao de Cristo para com os seus irmãos e irmãs na igreja. Desta
forma, podemos ajudar a alcançar o mundo – esse campo grande e maduro
para a colheita.
CONDIÇÕES DO DISCIPULADO
A nossa união com
Cristo torna possível
uma vida por meio da
qual outros possam
ser salvos
Jesus, em Lucas 14, elabora mais minuciosamente o conceito de discipulado
e apresenta algumas condições práticas para aqueles que desejam segui- lo. Em
Lucas 14.26, ele fala de o amar mais do que o pai, mãe ou família. Ele também
iguala o discipulado com um amor sem rivais por ele, até acima da própria
vida. “Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo”
(Lc 14.27).
Você quer ser discípulo de Jesus? Então, deve carregar a cruz. Este é o instrumento
de morte para o eu que devemos carregar diariamente. O verdadeiro
discipulado reclama uma atitude de dedicação à vontade revelada de Deus
– vontade que considera todas as coisas que se colocam em nosso caminho
como algo enviado por suas mãos. Em vez de nos apegarmos firmemente às
coisas terrenas, devemos estar dispostos a abrir mão delas (levar a cruz) por
causa dele.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 27
Paulo, um missionário que centralizava- se em Cristo, entendia que tem que
haver uma dedicação a Jesus, pois ele comprou o direito de ser nosso Senhor
mediante o seu próprio sangue: “E ele morreu por todos, para que os que vivem
não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co
5.15) 12 . Cristo deve ter proeminência em nossa vida e em nosso ministério.
A. W. Tozer disse que há três características da pessoa crucificada com Cristo:
“Ela não tem planos próprios; olha apenas em uma direção e não se deixa
vencer.” 13
Se queremos gozar de um relacionamento emocionante e vivo com Cristo diariamente
precisamos estar dispostos a pagar o preço; requer- se disciplina pessoal.
Pode haver solidão. Pode haver falta de popularidade quando progredimos da
morte de nossos sonhos e planos para a gloriosa ressurreição de viver por meio
da vida dele em nós. Muitos crentes avançam para o alvo de levar a cruz em
sua identificação com Cristo, mas desistem logo. “Demas me abandonou, tendo
amado o mundo presente” (2Tm 4.10), escreveu Paulo a respeito de um discípulo
que começara a jornada, porém, desistira cedo demais.
Cristo insiste em que ele precisa ser o foco exclusivo de nossa vida. “Assim,
pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser
meu discípulo” (Lc 14.33). Fazer uma entrega irrevogável a Cristo como Senhor
é essencial para o discipulado bíblico, mas não é suficiente. Essa entrega precisa
ser renovada todos os dias.
Reavalie o seu caminhar com Cristo à luz dessas definições bíblicas de discipulado,
pois você mesmo precisa, primeiro, ser um discípulo antes de poder
discipular outros.
12
Este versículo foi a divisa da Campanha de Missões Nacionais 2013 cujo tema foi “Vivo para a
glória de Deus”.
13
TOZER, A. W., de uma palestra feita na Christian Missionary Alliance Church, Chicago, Illinois,
1957.
28 | MULTIPLICANDO OS DONS ESPÍRITO DISCÍPULOS SANTO
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Expresse, em suas próprias palavras, as três definições de um discípulo apresentadas
por Jesus no Evangelho de João.
2) Como pode você resumir a ênfase que Jesus dá em Lucas 14.26- 34, a respeito
do discipulado com rendição total?
3) Cite algumas das qualidades que você acha que devem caracterizar um moderno
discípulo de Cristo.
4) Discuta a relação de seguir a Cristo, em Lucas 14, com a recuperação das
coisas perdidas, em Lucas 15.
5) Discuta o conceito de que “cada salvo é um discípulo de Cristo” em relação
à definição de discípulo de Cristo: aquele que satisfaz as qualificações bíblicas
esboçadas nos Evangelhos.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 29
3. POR QUE EDIFICAR DISCÍPULOS?
“Você despenderia o mesmo tempo para se preparar a fim de satisfazer
as necessidades de uma pessoa, que usaria para se preparar a fim
de pregar um sermão para cinco mil pessoas? Quanto você crê no
potencial de uma pessoa?” – K. Bruce Miller
Há pelo menos três importantes precedentes bíblicos para se edificar discípulos:
o uso do discipulado no Antigo Testamento e os ministérios público e
privado de Jesus.
O DISCIPULADO DO ANTIGO TESTAMENTO
O conceito de compartilhar com outrem o que Deus está compartilhando com
você tem séculos de idade. Moisés abriu o seu coração e a sua vida para Josué.
Mas, a ideia de compartilhamento não era natural para Moisés. Deus estabeleceu
um padrão de instrução quando ordenou a Moisés que compartilhasse a
sua vida com Josué em Deuteronômio 3.28: “Mas dá ordens a Josué, anima- o e
fortalece- o, porque ele passará adiante deste povo”.
Moisés devia ministrar ao seu aprendiz Josué tudo o que Deus lhes estava ensinando.
Isto significou a dedicação de muito tempo a Josué, em que ele aprendeu
por observação e conversa pessoal. Moisés, o servo de Deus, tornou- se um canal
humano para levar Josué a ser um servo de Deus.
Por que Deus precisou ordenar a Moisés que se afastasse do padrão de ministração
a milhares para tocar apenas uma só vida? Porque a tendência natural
do homem é ver as necessidades de muitos em massa em vez de ver o potencial
de uma só vida rendida à completa vontade de Deus. Como disse certa vez Sam
Shoemaker: “Os homens não são lavrados por atacado, da massa medíocre, mas
um por um.” 14
14
SHOEMAKER, Sam. Revive Thy Church Beginning with Me. New York: Harper Brothers, 1948,
p. 112.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 31
Elias também tinha discípulos em uma escola para jovens profetas. Por meio
desse pugilo de homens, Deus iria trabalhar para acarretar reavivamento ou
julgamento a Israel. Entre eles estava Eliseu, jovem que tinha um coração como
o de Elias. Surpreendentemente, Eliseu pediu de Elias porção dobrada do poder
que ele recebera de Deus. Ele vira os milagres e o poder de Deus manifestados
pelo braço forte de Elias. Por meio de disciplina e de participação na visão, Eliseu
aprendeu a pedir coisas ousadas de Deus.
Há outros exemplos veterotestamentários de uma pessoa investindo a sua vida
na vida de outrem: Davi e seus valentes; a forma como os patriarcas treinaram
os seus filhos; as ordens concretas aos pais para ensinarem os seus filhos que,
por seu turno, ensinarão os seus (veja Deuteronômio 4.9 e 6.6,7). Esta ênfase
no relacionamento entre mestre e aluno lançou o alicerce para o ministério de
discipulado no Novo Testamento.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS
Jesus teve um amplo ministério público, abrangendo quatro abordagens básicas:
Ele pregou. As multidões ouviram falar do reino, do julgamento da hipocrisia
religiosa e da natureza de Deus pela pregação de Jesus. Ele propiciou nova revelação
a conceitos veterotestamentários que estavam enterrados na tradição.
Ele revelou a verdade final além do legalismo. “E a grande multidão o ouvia com
prazer” (Mc 12.37), enquanto ele pregava com amor e autoridade.
Ele ensinou. Ele ensinou como homem nenhum jamais ensinara: à multidão
em um monte com vistas para o Mar da Galileia; a grupos em aldeias; a indivíduos
na privacidade dos seus lares; aos curiosos e aos que com ele se tinham
comprometido. Ele revelou a verdade em sua pureza crua por meio de parábolas
que iluminavam as realidades da vida. Não é surpresa que ele usou todos os dez
métodos de ensino catalogados pelos eruditos modernos. 15
Ele curou. Ninguém jamais saiu da presença de Jesus ainda carecendo de
saúde. Em certa ocasião, muitas pessoas se reuniram, ao redor dele, “e toda a
multidão procurava tocar- lhe; porque saía dele poder que curava a todos” (Lc 6.19).
15
ROBERTS, F. H. Master’s Thesis. Dallas Seminary, 1955, p. iii- iv.
32 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
A dedicação coercitiva de Cristo era edificar discípulos
que multiplicassem a mensagem de sua vida, morte e
ressurreição por todas as nações
Um mundo sem hospitais nem previdência social encontrou o grande Médico, e
porfiou por nunca deixá- lo ir- se.
Ele realizou milagres. As multidões o rodeavam e seguiam, enquanto o Mestre
curava os leprosos, dava vista aos cegos, alimentava as multidões e ressuscitava os
mortos. Os seus discípulos ficaram atônitos quando ele acalmou a tempestade.
Na bonança que se seguiu, eles viram Jesus andando sobre as águas, atravessando
o nevoeiro e indo na direção do barco deles.
Historicamente, a igreja cristã tem abraçado cada um desses aspectos do ministério
público de Cristo mas, frequentemente, ela tem se esquecido dos exemplos
dados por Cristo em seu ministério privado.
O MINISTÉRIO PRIVADO DE JESUS
Jesus também teve um estratégico ministério privado, que era tão simples que
tem sido passado despercebido como princípio de missão eclesiástica. A dedicação
coercitiva de Cristo era edificar discípulos que multiplicassem a mensagem
de sua vida, morte e ressurreição por todas as nações. Disse ele:
“Foi- me dada toda a autoridade no céu e a terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas
as nações, batizando- os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando- os a
observar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.18- 20).
Se quisermos copiar todo o ministério de
Jesus, a igreja precisa se estender tanto em
evangelização quanto no estabelecimento dos
convertidos. Enquanto os convertidos crescem,
eles também podem ser ensinados como equipar
e treinar outros crentes que, por seu turno,
alcancem outros pelo processo de multiplicação
espiritual.
Se quisermos copiar
todo o ministério de
Jesus, a igreja precisa
se estender tanto em
evangelização quanto
no estabelecimento
dos convertidos
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 33
A igreja precisa se estender tanto em evangelização quanto
no estabelecimento dos convertidos
Ganhar almas não é fazer discípulos; mas ganhar almas é importantíssimo, se
os discípulos visam se tornar aptos a se reproduzir na vida dos outros. Evangelização
16 é o primeiro elo da cadeia de multiplicação espiritual.
As igrejas que têm dado ênfase exagerada a batismos e programas ou têm uma
preocupação indevida com a “qualidade de membros” precisam reconsiderar
a ordem de Cristo para fazer discípulos 17 . Salvar almas e edificar discípulos são
duas coisas inseparavelmente ligadas na Bíblia.
FAZER DISCIPULOS É UM MÉTODO EXEQUÍVEL
Ao recapitular a minha motivação para discipular 18 os outros, lembro- me de
como alguém cuidou de mim, e como esse cuidado amoroso e o subsequente
fluxo para a minha vida do que essa pessoa havia aprendido de Deus mudou a
minha vida. Fazer discípulos não tem grau de prestígio, nem categoria denominacional;
mas os resultados são sempre os melhores do que qualquer coisa que
experimentei em 30 anos de trabalho com o povo. Há várias razões para isso.
Discipular é uma das maneiras mais estratégicas para se ter um ministério
pessoal ilimitado. Isso pode ser feito a qualquer tempo por qualquer pessoa, em
qualquer lugar e entre qualquer grupo etário.
Discipular é o mais flexível dos ministérios. Visto que não precisa ser executado
dentro de qualquer esquema cronológico ou estrutura organizacional, o
fazedor de discípulos pode ser extremamente flexível.
Discipular é a maneira mais rápida e mais segura de mobilizar todo o corpo
de Cristo para evangelizar. O alvo de discipular não é apenas conseguir mais
16
Missões Nacionais define evangelização como: “A comunicação clara e fiel do evangelho visando,
sob o poder e a dependência do Espírito Santo, levar pessoas” (Igreja Multiplicadora, p. 55).
17
Para aprofundamento deste assunto, recomendamos a leitura do livro “De volta aos princípios”
do pr. Fabrício Freitas, que integra a série de livros da visão de Igreja Multiplicadora.
18
Missões Nacionais define discipulado como: “O processo de fazer discípulos multiplicadores
por meio do relacionamento intencional de um discípulo com uma pessoa visando torná- la
outro discípulo” (Igreja Multiplicadora, p. 61).
34 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
discípulos, porque um clube composto de
almas salvas logo morrerá sem eficiente
penetração no mundo perdido. Uma das
formas mais rápidas de aumentar o número
de batismos e aprofundar a qualidade
de vida dos que são alcançados para Cristo
é o discipulado. Fazer discípulos de todas
as nações torna- se tanto um resultado da
evangelização quanto uma forma de realizar
a evangelização do mundo.
Discipular tem um potencial de mais longo alcance para produzir frutos
do que qualquer outro ministério. O Senhor deseja que sejamos arraigados,
edificados nele e estabelecidos na fé (veja Colossenses 2.7). Isto exige tempo e
interesse. Interesse pelo povo é o componente essencial. O “seguimento” é feito
por alguém, e não por algo.
Discipular propicia à igreja local maduros líderes leigos centralizadas em
Cristo e orientados para a Palavra. Os “esquentadores de bancos” são muitos; os
trabalhadores são poucos. Os trabalhadores são produto de discipulado feito na
igreja e orientado pelo Espírito. A edificação na vida de outros é o plano de Deus
para o levantamento de novos diáconos, professores e outros líderes da igreja. O
apelo do comitê designador por obreiros se tornará um brado de louvor a Deus
quando os membros da igreja forem discípulos multiplicadores semelhantes a Cristo.
O CICLO DE LIDERANÇA
Como acabamos de ver; edificar discípulos é o que desenvolve os futuros
líderes da igreja. Como, portanto, podemos acelerar o treinamento da liderança
de forma a estar preparados para o futuro?
Salvar almas e edificar
discípulos são duas coisas
inseparavelmente ligadas
na Bíblia
Ganhar almas não
é fazer discípulos;
mas ganhar almas é
importantíssimo, se os
discípulos visam se tornar
aptos a se reproduzirem
na vida dos outros
O evangelismo é o meio para se fazer
convertidos e o campo de treinamento para
discípulos em desenvolvimento. Quando
a igreja exala discípulos, inala convertidos;
desta forma, ela cresce. O discipulado é a
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 35
Fazer discípulos de todas as nações torna- se tanto um
resultado da evangelização quanto uma forma de realizar a
evangelização do mundo
forma mais rápida de multiplicar líderes que apressarão tanto a evangelização
quanto o discipulado. A ilustração do “Ciclo de liderança” na igreja local (veja a
Figura A, na página 37) pode ajudá- lo a entender a multiplicação de líderes. Esta
figura não tem o objetivo de ser uma simples colocação de etiquetas nas pessoas
na igreja, mas uma representação dos níveis de crescimento dentro da igreja.
Através do “seguimento”, o novo convertido é amado, alimentado, protegido e
treinado (veja o capítulo 5). Ele torna- se um discípulo, um seguidor de Cristo em
crescimento. À medida que o discípulo recebe treinamento individual por um
discípulo mais maduro, ele se torna capaz de multiplicar. Um multiplicador tem
treinado um ou mais discípulos, que alcançaram outras pessoas. Um edificador
de multiplicadores treina outros multiplicadores.
O processo de discipulado é representado pelas setas que se dirigem para
baixo enquanto cada líder desenvolve discípulos em crescimento. O ciclo é
completado e começa de novo quando cada converso cresce até seu pleno
potencial, à semelhança de Cristo, fato representado pelas setas que apontam
para o edificador. As setas que apontam para o mundo perdido representam a
evangelização realizada pela igreja, isto é, por todos os convertidos cheios do
Espírito, discípulos, multiplicadores e edificadores.
Este ciclo de liderança é um conceito visual de crescimento da igreja, por meio
do treinamento recebido para a tarefa e do ato de se estender para os que não
são salvos. Por meio de um ministério pessoal, os multiplicadores (a primeira
geração) aconselham, encorajam e adestram os discípulos (segunda geração).
Em poucas semanas ou meses, Deus desenvolve uma equipe de testemunhas.
Eles visitam amigos, parentes, vizinhos ou colegas de trabalho, e algumas pessoas
nascem de novo. Quando esses discípulos da segunda geração tiverem ganhado
novos conversos (terceira geração), a multiplicação começou 19 .
19
Podemos verificar claramente neste parágrafo a semelhança do Ciclo de liderança de Moore
com os princípios do PGM. Sugerimos a leitura do livro Pequeno Grupo Multiplicador, do Pr.
Márcio Tunala, que faz parte da série de livros da visão de Igreja Multiplicadora.
36 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 37
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Em relação ao ministério de sua igreja, discuta a maneira pela qual Cristo se
concentrou em quatro abordagens básicas para ministrar.
2) A sua igreja fez uma decisão de imitar o ministério privado de discipulado
exercido por Jesus? O que sugere você para uma união mais forte entre os ministérios
público e privado em sua igreja?
3) Que lugar têm a Escola Bíblica Dominical e os ministérios de treinamento da
igreja e da juventude, no ministério privado de discipulado? Que pontos fortes e
fracos são visíveis na maneira de realizar os ministérios público e privado usados
através da Bíblia?
4) Como pode você tomar uma decisão de praticar o discipulado que se modela
no ministério privado de Jesus?
5) Que razões para discipular outra pessoa são mais importantes para você?
6) Discuta algumas das outras vantagens do discipulado.
7) Discuta o “Ciclo de liderança” do ponto de vista da sua igreja:
• Quantos, em sua igreja, são novos convertidos, discípulos, multiplicadores
e edificadores de multiplicadores?
• Por que a evangelização é essencial em cada parte do ciclo?
8) Como você pode iniciar um ministério de discipulado em sua igreja ou fortalecer
a ênfase atual em treinamento de discipulado?
38 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
4. EXEMPLOS BÍBLICOS DE
MULTIPLICAÇÃO ESPIRITUAL
“Ora, quem despreza o dia das coisas pequenas?” – Zacarias 4.10
É difícil nos identificar com os gigantes edificadores de multiplicadores como
Paulo e Pedro. Poucos de nós exercerão tão grande autoridade e poder espiritual
como Paulo. Ainda mais, poucos pregarão como Pedro e verão três mil salvos
em um só culto. Mas, não poderemos deixar que isso nos desencoraje, pois há
homens e mulheres da Bíblia com quem podemos nos identificar em nosso afã
pessoal de fazer discípulos.
ANDRÉ
Nos Evangelhos, André estava sempre trazendo pessoas para Jesus. Ele levou
o seu irmão Simão (veja João 1.40- 42); esse Simão se tornou Pedro, o gigante da
fé. André encontrou o menino cujo lanche Jesus multiplicou para alimentar cinco
mil pessoas (veja João 6.8,9). E quando os gregos disseram: “Senhor, queríamos
ver a Jesus” (Jo 12.21), André sabia aonde os levar.
Contudo, foi ao alcançar o seu irmão Pedro que o ministério de André se estendeu
até os nossos dias. No Pentecostes, Pedro evangelizou milhares de judeus,
que confiaram em Cristo (veja Atos 2). Os que se converteram em Jerusalém,
mais tarde, saíram de lá por causa da perseguição (veja Atos 8.1- 4), e viajaram
para Antioquia (veja Atos 11.19), onde outros judeus se converteram por meio
da evangelização pessoal deles. Quando Pedro cresceu em graça, depois da ressurreição,
Deus lhe deu poder para abrir a porta para a conversão dos gentios,
quando Cornélio e sua família creram (veja Atos 10).
Isto é multiplicação; desde André, a Pedro, aos milhares convertidos em Jerusalém
e à primeira igreja missionária em Antioquia. André realizou a sua pregação
pela evangelização pessoal; ele levou pessoas a Jesus uma por uma. Ao levar o
seu irmão Pedro a Cristo, André participou das recompensas de tudo o que Simão
Pedro mais tarde realizou para o reino de Deus.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 39
É desta forma que você pode expandir o seu ministério ao redor do mundo,
alcançando apenas uma pessoa que possa se multiplicar poderosamente.
JOÃO
O apóstolo João treinou homens: as suas três epístolas, dirigidas a líderes
eclesiásticos, revelam a sua contínua responsabilidade como pai espiritual 20 . A
história da igreja registra que João ganhou e treinou uma testemunha dinâmica,
chamada Policarpo que, por seu turno, alcançou e discipulou Irinieu, que se
tornou um pastor. Esses homens deram as suas vidas durante as perseguições
do segundo século. Contudo, por meio da multiplicação, o seu ministério
continuou a viver.
BARNABÉ
Em Atos 4, encontramos um cristão chamado José, homem suficientemente
próximo dos apóstolos para receber um novo nome: “Barnabé, o encorajador.”
Que homem! Ele ouviu o testemunho de um jovem convertido chamado Saulo
de Tarso e creu que era genuíno.
Barnabé sempre olhava para os problemas passados das pessoas a fim de
visualizar o potencial que enxergava nelas pela obra da graça de Deus. Quando
Saulo viajou para Jerusalém, todos tinham medo dele. Barnabé, todavia, confirmou
Saulo diante dos irmãos. Mais tarde, eles se empenharam juntos, durante
um ano, num ministério pessoal em Antioquia (veja Atos 11.22- 26). Paulo já havia
sido ensinado particularmente pelo Espírito Santo durante três anos no deserto.
Mas Deus usou Barnabé para encorajar, refinar e fortalecer esse rabi de muitos
talentos, de quem outros não ousariam se aproximar.
Barnabé decidiu- se discipular o sobrinho João Marcos. Quando Marcos abandonou
a primeira viagem missionária, Paulo recusou- se a dar- lhe uma segunda
20
Entendemos que o conceito de paternidade espiritual apresentado aqui por Waylon B. Moore
está ligado ao “chamar” e “formar” novos discípulos multiplicadores. Esse é um conceito que
lida com o cuidado da vida espiritual de outros discípulos, onde o zelo e a solicitação de contas
se desenvolvem à medida que o discípulo vai crescendo e amadurecendo. Sugerimos a leitura
de “Elementos do relacionamento discipulador” (Igreja Multiplicadora, p. 78-81).
40 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
chance. Na divisão de opiniões com Barnabé a respeito de Marcos, Paulo escolheu
Silas e Timóteo, e entrou na história. Barnabé permaneceu com Marcos. Porém,
em 2Timóteo 4.11, quando Paulo pede a Timóteo para mandar os seus livros e
a sua capa, ele também escreve: “Toma a Marcos e traze- o contigo, porque me
é muito útil para o ministério”.
O que transformara um desertor em um ajudador? Certamente, não somos
capazes de avaliar Marcos à parte do tempo, do amor e do treinamento que
recebeu tanto de Pedro quanto de Barnabé. Deus usou esses multiplicadores
para desenvolver aquelas qualidades em Marcos que estavam escondidas dos
olhos de Paulo.
ÁQUILA E PRISCILA
Paulo começou outra cadeia de multiplicação 21 quando encontrou- se com
Áquila e Priscila. Esse casal cuidou e discipulou um homem chamado Apolo (veja
Atos 18.24- 28). Os judeus ficaram “poderosamente convencidos” por meio do
ministério didático de Apolo. Deus formou uma cadeia de quatro gerações de
multiplicação espiritual: de Paulo a Áquila e Priscila, depois a Apolo e, finalmente,
aos judeus.
Paulo alcançou muitos outros de maneira pessoal, que continuaram a exercer
um impacto sobre a história, inclusive, Lucas. Lucas se dedicou a escrever tanto o
seu Evangelho quanto o livro de Atos para realizar o “seguimento” de um homem:
Teófilo (veja Lucas 1.1- 4 e Atos 1.1). Tito, outro fruto do ministério de Paulo, mais
tarde veio a pastorear uma igreja em Creta.
VOCÊ PODE MULTIPLICAR
Considere a “Cadeia de multiplicação”, Figura B, que mostra a reprodução
espiritual no Novo Testamento.
21
Waylon B. Moore utilizou esse termo “cadeia de multiplicação” no primeiro capítulo e, agora,
ele o retoma neste capítulo. O livro Igreja Multiplicadora fala sobre o conceito similar de
“cadeia de relacionamentos discipuladores” (p. 81 e 82). Esse conceito é desenvolvido no livro
Pequeno Grupo Multiplicador, onde essa cadeia é denominada Rede de Pequenos Grupos
Multiplicadores (p. 61-66).
Nem André nem Barnabé eram tão talentosos quanto as pessoas que eles
alcançaram. Contudo, ambos compartilharam alegremente com os outros o que
eles conheciam de Cristo. Ambos participaram das recompensas espirituais dos
que eles ajudaram.
Podemos ser encorajados por exemplos como os de André e Barnabé, e
reconhecer que cada um de nós é capaz de fazer discípulos e se multiplicar.
Deus quer nos dar um potencial como o de Pedro, ou Paulo, ou Timóteo. Estar
disponível à direção do Espírito é o fator essencial para que multipliquemos. Você
pode ser um André.
42 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Lembre- se dos “Andrés” que foram responsáveis por levar você a Cristo. Você
sabe algo a respeito da cadeia de multiplicação que os levou a Cristo?
2) Quem desempenhou o papel de “Barnabé” em sua vida, encorajando- o como
crente novo, ou em alguma decisão recente?
3) Das passagens em Atos 9; 11 e 15, como você acha que foi Paulo discipulado
por Barnabé? Foi fácil ou difícil?
4) Que espécie de pessoa pode Deus usar para começar uma cadeia de multiplicação
em sua igreja? Especifique algumas das qualidades que você observou
na vida de André ou Barnabé.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 43
5. ONDE COMEÇA O FAZER
DISCÍPULOS
“A decisão é cinco por cento; o seguimento a esta decisão é noventa e
cinco porcento” – Billy Graham
Toda pessoa nascida de novo é um milagre da graça de Deus. Está no plano
de Deus que cada milagrosa vida nova cresça até a plenitude de Cristo. Um
nascimento espiritual sadio é essencial para o crescimento no discipulado. Parte
do retardamento nos membros da igreja pode ser levado à conta de decisões
iniciais obscuras em aceitar Cristo. A implementação dos métodos de Paulo, de
cuidar dos novos crentes, capacitará a igreja local a fortalecer os novos crentes
imediatamente para um discipulado responsável.
O novo crente é uma criança espiritual e precisa ter imediatos cuidados maternos
e paternos. O tempo longo que, chocantemente, se deixa passar entre
a decisão e o “seguimento” inicial é um fator negativo de monta que impede
o futuro crescimento. Dentro de vinte e quatro horas, o novo convertido deve
receber oração, ser contatado pessoalmente e deve- se mostrar a ele como pode
começar a alimentar- se com a Palavra de Deus. Um bebê necessita de carinho
e de alimento. Quando lembramos os três anos do discipulado diário de Jesus e
os anos de comunhão de Paulo com Timóteo e Tito, vemos que o “seguimento”
não é resolvido por um ou dois cultos na igreja.
A BRECHA DO BATISMO
Nos Estados Unidos, os pastores têm indicado que quase cinquenta por cento
dos que tomam decisões por Cristo em suas igrejas não são batizados posteriormente.
Na América do Sul, alguns pastores têm dito que oito, dentre dez dos
que tomam uma decisão por Cristo em reuniões evangelísticas, nunca voltam à
igreja. A mesma coisa está acontecendo na África e na Ásia.
Há uma brecha dolorosa entre as centenas de profissões de fé nas igrejas e as
poucas dúzias de pessoas que, na verdade, são batizadas, efetivamente integradas
na vida da igreja local e crescendo em Cristo um ano mais tarde.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 45
Embora haja muitas razões por que as igrejas perdem tantos novos convertidos
(tais como uma obscura apresentação do evangelho ou decisões baseadas em
pressão de colegas), a maior causa de perdas é o resultado de uma compreensão
inadequada dos princípios do “seguimento” que nos são apresentados no Novo
Testamento.
O aconselhamento imediato é essencial. (Para uma ajuda no estabelecimento
de um ministério total de “seguimento” em sua igreja, consulte alguns dos livros
disponíveis acerca do assunto.) 22
QUATRO MÉTODOS DE SEGUIMENTO EM
1TESSALONICENSES
No primeiro século d.C., como foram os apóstolos e evangelistas capazes de
transformar um pequeno grupo de pessoas sem instrução em vibrantes discípulos,
que revolucionaram o mundo romano no período de poucas centenas de anos?
Sabemos que o evangelho havia permeado todo o mundo conhecido, dentro de
33 anos, depois da ressurreição. Isso foi feito sem impressoras, telefones, televisão
ou satélites. Os crentes usaram o “tele- homem” e “tele- mulher” 23 . Algo havia sido
feito com os novos convertidos, que transformou dinamicamente as suas vidas em
meio às “panelas de carne” do mundo antigo. Os novos cristãos, crescendo em
Cristo, se tornaram comunidades eclesiásticas e as novas igrejas se multiplicaram.
1Tessalonicenses foi uma das primeiras epístolas do Novo Testamento a serem
escritas, e contém tanto a respeito do “seguimento” inicial quanto qualquer
outro livro, sem contar os quatro Evangelhos. Aqui está o que Paulo ensina em
1Tessalonicenses:
22
Por exemplo: BROOKS, Hall. Follow-up Evangelism. Nashville, Tennessee: Broadman Press,
1972); MOORE, Waylon B. New Testment Follow- up. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans,
1964.
23
Há aqui um jogo de palavras. Em inglês, “tell” é “contar”; portanto, estas expressões significam:
“conte a um homem”, “conte a uma mulher”, isto é, evangelize pessoalmente – nota da primeira
edição.
46 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
CORRESPONDÊNCIA PESSOAL
Paulo pôs em prática o “seguimento” de novos crentes com cartas pessoais
(veja 1Tessalonicenses 1.1). A maior parte do Novo Testamento consta de uma
série de cartas pessoais para ajudar o “seguimento” de membros das várias igrejas
novas em particular. Como podemos usar este conceito hoje?
Cartas pessoais, com estudos bíblicos simples, de uma só página, são um bom
alimento espiritual para a nutrição dos novos crentes. Os estudos devem ser
simples, sistemáticos, aplicáveis pessoalmente, facilmente transmissíveis, e devem
levar o novo crente a escrever as suas respostas.
Até mesmo uma carta circular, enviada a todos os novos crentes, em sua igreja,
para explicar alguns princípios da nova vida em Cristo – como vitória sobre
tentação, perdão, como ter uma hora tranquila e como testificar – pode colher
grandes dividendos. Quanto mais tempo um novo convertido leva para começar
a crescer, menos provável é que ele amadureça plenamente e menos tempo ele
terá para ministrar a outros.
Pedro e João escreveram cartas para o seguimento das pessoas de quem eles
estavam separados. E, se não fosse o fato de Paulo ter sido preso, pode ser que
não tivéssemos um quarto do Novo Testamento. Uma das bênçãos daqueles “anos
perdidos” na prisão foi a riqueza de alguns livros do Novo Testamento que são
mais lidos: as cartas que Paulo escreveu para ajudar os novos crentes a crescer.
Toby era um agradável adolescente que frequentava a minha igreja na roça.
Ele era espiritualmente sensível e faminto para crescer no Senhor. Quando assumi
um pastorado em outra cidade, comecei a escrever para Toby regularmente,
encorajando- o nos assuntos básicos da vida cristã. Encorajei- o a pensar em ir
para a universidade. Ele o fez, e chegou a fazer um curso de pós- graduação e se
tornou professor universitário.
Recentemente, Toby juntou a uma de suas cartas dirigidas a mim, fotocópias de
todas as cartas que eu lhe havia escrito durante vinte e cinco anos. Algumas delas
eram tão hesitantes, mas Toby agradeceu por me interessar por ele, e guardou- as
todas, a despeito das imperfeições de estilo.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 47
Pense em uma carta que você recebeu em uma hora crítica de sua vida. Relembre
a maneira sobrenatural como Deus usou um coração carinhoso a muitos
quilômetros de você para alcançar sua vida e produzir mudanças. Alguém ministrou
a você por carta.
Há cartas dentro de cada um de nós que precisam ser escritas para edificar e
fortalecer outras pessoas. Escrever cartas é um ministério importante disponível
a qualquer pessoa, inclusive, aos idosos e enfermos.
INTERCESSÃO PESSOAL
As cartas de Paulo às novas igrejas revelam a importância que ele dava à
intercessão pessoal. Ele lembrou aos tessalonicenses: “Sempre damos graças a
Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações” (1Ts 1.2). Paulo
também descreveu estas orações: “Rogando incessantemente, de noite e de dia,
para que possamos ver o vosso rosto e suprir o que falta à vossa fé” (1Ts 3.10).
Em Efésios 3.13,14, Paulo escreve: “Portanto, vos peço que não desfaleçais diante
das minhas tribulações por vós [...] Por esta razão dobro os meus joelhos”. Você
conhece alguém que está desfalecendo espiritualmente? A intercessão fortalece.
Quando não oramos pelos crentes novos, eles desfalecem e caem – algumas
vezes permanentemente. Se não orarmos, nós também desfaleceremos (veja
Lucas 18.1). Ponha em prática a declaração de Tiago, de que “a súplica de um
justo pode muito na sua atuação” (Tg 5.16).
Como e quando você deve interceder pelos crentes novos? Ore quando vir
alguém sendo batizado; senão, pode ser a última vez que você o veja. Nas reuniões
de oração, relacione o nome de todos os crentes novos em um quadro- negro e
ore por eles. Peça voluntários que adotem cada novo crente para fazerem oração
intercessória pessoal por ele durante a semana.
Estamos, em nossa maioria, onde estamos espiritualmente porque alguém
orou por nós com fé. Em Romanos 16, Paulo relaciona os nomes de, pelo menos,
28 indivíduos ou famílias. Como ele conhecia tanta gente? Talvez, essa
chamada dos fiéis, em uma longínqua estação missionária, refletisse a sua lista
pessoal de oração. Nós captamos o espírito do fardo de intercessão que ele
carregava por meio das palavras “noite e dia”, que aparecem em várias cartas
48 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
de Paulo. No fim de uma longa lista de dificuldades que, alegremente, enfrentou
por amor a Cristo, ele escreve: “Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente
pesa sobre mim: o cuidado de todas as igrejas” (2Co 11.28). Encoraje
a memorização das orações de Paulo, pois elas são excelentes exemplos do
tipo de pedido a que Deus responde, a fim de multiplicar os seus discípulos
e igrejas em todo mundo.
REPRESENTANTES PESSOAIS
Paulo, muitas vezes, ajudou crentes novos enviando um representante – alguém
que ele havia treinado pessoalmente para ministrar a eles. Em 1Tessalonicenses
3.1- 5, Timóteo foi enviado para ministrar porque Paulo não podia ir. Epafrodito,
Tito e outros também foram enviados, ocasionalmente, em lugar de Paulo.
Paulo enviaria homens “que tinham a mesma mente” – homens que se caracterizavam
pela mesma convicção e força de vontade que o seu treinador. A
respeito de Timóteo, Paulo disse: “Como filho ao pai, serviu comigo a favor do
evangelho” (Fp 2.22). Quantas pessoas que têm a mesma mente você tem treinado
que podem fazer o seu trabalho se você não puder realizá- lo 24 ?
CONTATO PESSOAL
O cuidado carinhoso e terno, ministrado por um crente mais maduro, é uma
necessidade essencial de todo novo convertido. Enviar cartas é bom, oração é
importante, e representantes pessoais também o são; mas nada substitui o contato
pessoal. Satanás sabe disso, e está decidido a fazer parar a obra regular de
visitação da igreja. Por duas vezes, ele impediu a volta de Paulo para visitar os
novos crentes em Tessalônica (veja 1Tessalonicenses 2.18).
A experiência corrobora a importância do contato pessoal. A maior parte dos
membros da igreja com quem tenho conversado a respeito do seu crescimento
até chegar à liderança indica uma ou duas pessoas cujas vidas espirituais ajuda-
24
Pela pergunta, fica claro que Waylon B. Moore está enfatizando a importância do preparo de
um outro líder para que ele também cuide dos novos discípulos. Sugerimos a leitura do quarto
princípio do livro Igreja Multiplicadora: “Formação de líderes” (p. 119-148).
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 49
ram a colocar Cristo em um foco central para eles. Quando um coração faminto
vê Cristo em outra pessoa, é encorajado para continuar crescendo em Cristo.
Paulo estabeleceu um bom padrão: ele nunca pregou e saiu correndo. Embora
sejam mencionados especificamente “três dias de sábado”, alguns eruditos creem
que Paulo passou cerca de três meses em Tessalônica e, durante esse período,
dedicou centenas de horas aos novos convertidos. Ele também trabalhou fazendo
tendas, para sustentar a equipe de homens que estava com ele. É de se admirar
que Tessalônica tenha- se tornado uma igreja missionária maravilhosa (veja 1Tessalonicenses
1.7- 9)? Em nenhum outro lugar das Escrituras há uma descrição mais
forte ou mais expressiva de um discipulado pessoa a pessoa, do que na referência
de Paulo ao compartilhamento com os tessalonicenses como seu pai e mãe
espiritual (veja 1Tessalonicenses 2.7,11). Uma expressão mais literal do versículo
11 pode ser: “Assim como vocês sabem, como estivemos com vocês um a um,
como um pai com os seus filhos, exortando, chamando e testemunhando”. A visão
e o caráter de coração de pai que Paulo expressa são claramente comunicados.
Como sugere o exemplo de Paulo, dinâmica de grupo e reuniões são necessárias
para ajudar um novo convertido a crescer até o discipulado, mas o tempo
pessoal que se gasta, individualmente, produzirá discípulos mais fortes e mais
amadurecidos. Grande parte dos nenês espirituais tem problemas que só podem
ser resolvidos em bases privadas individuais.
O discipulado, portanto, é realizado por alguém e não por algo. A literatura
é uma boa ferramenta, mas apenas isso. Deus, em última análise, usa carne e
sangue cheios do Espírito Santo para edificar vidas (veja 2Coríntios 4.7).
50 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Quais são algumas das brechas deixadas pelo processo costumeiro de trazer
o crente novo para a vida da igreja?
2) O que pode ser feito para receber os novos crentes e orientá- los para a congregação,
de maneira que se assegure um crescimento espiritual contínuo?
3) Discuta algumas maneiras pelas quais um novo convertido pode ser ligado a
um discípulo em crescimento em sua igreja.
4) Quais eram os quatro métodos de seguimento de novos crentes que se mencionam
em 1Tessalonicenses?
5) Qual desses quatro métodos já está funcionando no ministério de sua igreja?
6) Como a sua igreja pode tornar- se mais ativamente envolvida em aplicar
cada um desses quatro métodos bíblicos de seguimento, neste ano?
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 51
PARTE III
O PROCESSO:
COMO EDIFICAR
DISCÍPULOS
MULTIPLICADORES
6. QUALIDADES ESPIRITUAIS
DO FAZEDOR DE DISCÍPULOS
MULTIPLICADORES
“É a transformação, e não o tempo, que faz os néscios se tornarem
sábios, e os pecadores, santos” – A. W. Tozer
Fomos desafiados pelo exemplo de Edward Kimball, na parte I, para nos multiplicar
espiritualmente por meio de outras pessoas a fim de ajudar a cumprir a
grande comissão de alcançar o mundo para Cristo.
Na parte II, aprendemos o que é um discípulo e por que devemos edificar
discípulos. Estudamos alguns exemplos bíblicos de multiplicação e aprendemos
que o “seguimento” inicial de um novo convertido é o verdadeiro ponto de
partida para fazer discípulos.
Na parte III deste livro, focalizaremos inicialmente as qualidades espirituais que
os discípulos precisam ter antes de poderem se multiplicar; depois, nos capítulos
8 a 10, examinaremos três princípios básicos de como trabalhar com os discípulos
para que eles continuem se multiplicando em gerações futuras.
SEJA DOMINADO PELA GRAÇA DE CRISTO
Em 2Timóteo, capítulo 2, encontramos que o multiplicador em potencial
precisa, em primeiro lugar, ter uma vida que seja dominada pela graça de Cristo.
Paulo ordena a Timóteo: “Fortifica- te na graça que há em Cristo Jesus” (2Tm 2.1).
Este é o alicerce para um ministério eficiente. “Não que sejamos capazes, por
nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem
de Deus” (2Co 3.5). A verdade que transforma outra vida precisa provir da fonte
da graça de Deus em nossa vida, que abre corações e nos dá uma mensagem
transformadora para compartilhar.
Onde é que se consegue essa graça? Uma fonte é mencionada em Hebreus
4.16: “Cheguemo- nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 55
misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno”.
Quando chegamos ao trono de Deus em intercessão, ele derrama, em nossa vida,
a própria graça de Jesus Cristo: nós “recebemos misericórdia” e “achamos graça”.
Como somos necessitados! E como ele é suficiente para suprir tudo o que nos
falta para ministrar, enquanto vivemos na sua presença!
Outra fonte de poder para nos apropriarmos da graça é decorrência de conhecermos
Cristo experimentalmente. “Graça e paz vos sejam multiplicadas,
no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O nosso
conhecimento de Cristo aumenta à medida que nos apropriamos dos meios da
graça – falando com ele em oração e permitindo que ele fale conosco por meio
de sua Palavra. Graça e paz resultam do tempo gasto em oração e no diligente
estudo das Escrituras.
Graça também é dada ao humilde (1Pe 5.5,6). A pessoa que tem coração
de servo recebe amplas oportunidades de ministrar. Além disso, à medida que
ministramos humildemente, as nossas palavras se tornam uma fonte de graça (Ef
4.29). A desobediência, todavia, pode neutralizar a operação da graça de Deus
(2Co 6.1).
SEJA DEDICADO AO MINISTÉRIO DE
MULTIPLICAÇÃO
Como discípulos e multiplicadores em potencial, precisamos também nos
dedicar ao ministério de multiplicação, como é ilustrado em 2Timóteo 2.2: “E o
que de mim ouviste diante de muitas testemunhas, transmite- o a homens fiéis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros”. Timóteo devia ser um canal
para outros ao compartilhar o que Paulo lhe havia ensinado. Ganhar uma pessoa
para Cristo é o início essencial, mas apenas quando o novo crente, por sua vez,
alcança outra pessoa, acontece a multiplicação espiritual.
Quando o novo crente,
por sua vez, alcança
outra pessoa, acontece a
multiplicação espiritual
A palavra transmite é imperativa. Precisamos
transmitir a outrem o que temos
ouvido, visto e experimentado. Para algumas
pessoas, é amedrontador pensar em
comunicar as experiências de sua vida a
56 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
O potencial que existe na pessoa determina o
que você pode fazer com ela e por meio dela
uma classe ou grupo; porém, podemos começar compartilhando apenas com
outra pessoa e permitir que a mão de Deus abençoe esse relacionamento.
Paulo caracteriza especificamente os homens a quem devemos transmitir o
que aprendemos: eles devem ser “fiéis”, estar na Palavra de Deus, pois “a fé é
pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Escolha aqueles em quem
possa confiar.
Paulo também enfatiza que eles devem ser “idôneos para também ensinarem
os outros”. Para ser capaz de ensinar os outros, a pessoa, primeiramente, precisa
ser apta para aprender. Há muitas pessoas que são fiéis em frequentar a igreja e
ajudar em funções especiais, mas não passam adiante o que ouviram e aprenderam.
Só Deus pode colocar no coração de uma pessoa o desejo de transmitir as
Escrituras. Procure o tipo de pessoa apta para aprender. O potencial que existe
na pessoa determina o que você pode fazer com ela e por meio dela.
Em toda igreja há dezenas de crentes que nunca foram desafiados, ou nunca
se lhes mostrou como transmitir eficientemente as verdades bíblicas a outras
pessoas. O fazedor de discípulo aprende primeiramente como fazer isso; depois,
aprende como ensinar os outros a fazer.
SEJA DISCIPLINADO PARA UMA VIDA QUE
AGRADE A DEUS
A terceira qualidade que os discípulos precisam ter, antes de poderem se
multiplicar, é disciplina para uma vida que agrade a Deus. Estamos na terra para
agradar- lhe (veja Apocalipse 4.11). Discipular não é uma rotina fácil e cômoda;
é uma vida de exigências. “Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum
soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar
àquele que alistou para a guerra” (2Timóteo 2.3,4). O multiplicador deve esperar
sofrimentos e suportá- los. Ele não deve queixar- se quando o seu ministério se
torna difícil.
Embora nos tenhamos apresentado como voluntários espontaneamente, fomos
escolhidos para ser soldados de Cristo. Um soldado obedece a ordens, é
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 57
orientado para um alvo e é obediente ao seu comandante supremo. Precisamos
de disciplina para viver esse tipo de vida.
As qualidades espirituais que fazem com que um discípulo se torne multiplicador,
portanto, são: em primeiro lugar, uma vida dominada pela graça de Cristo,
visto que os seus poderes e conhecimentos pessoais são insuficientes; em segundo
lugar, uma dedicação sem vacilações ao ministério de multiplicação; e, por fim,
uma vida disciplinada, visto que tudo isso deve ser feito para agradar a Deus.
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Descreva as três qualidades enfatizadas por Paulo em 2Timóteo 2.1- 4 como
essenciais para multiplicar o seu ministério.
2) De acordo com 2Timóteo 2.2, que elo da cadeia é você? Um Barnabé que
alcançou um Paulo, começando a cadeia de multiplicação; alguém alcançado
como Timóteo; um dos “homens fiéis” sendo treinado por um Timóteo; um dos
“outros também”; ou outro? Explique a sua resposta.
3) Discuta os “sofrimentos” que precisam ser suportados pelo soldado (discípulo)
de Cristo (veja 2Timóteo 2.3,4).
58 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
7. TENHA UM CORAÇÃO DE SERVO
“Espera- se que você encarne em sua vida o tema de sua adoração:
você deve ser tomado, consagrado, partido e distribuído, para que
possa ser o meio de graça e o veículo do amor eterno” – Santo Agostinho
Um coração de servo é um dos canais supremos de Deus para ganhar os
perdidos para Cristo. Edificar pontes de amor para os corações dos que não têm
Cristo é uma preparação para compartilhar o evangelho. Algumas pessoas podem
ser alcançadas com apenas uma apresentação do evangelho. Muitas outras vêm
a Cristo somente quando nos tornamos servos dele.
Você conhece alguém a quem poderia classificar como servo do Senhor? Ser
servo é uma atitude e não uma posição. Envolve uma disposição para satisfazer
as necessidades de outros por causa do servo. Muitas vezes, o servo não será
visível; porém, mais cedo ou mais tarde, os outros começarão a depender dele
e a procurá- lo. Esse ministério de serviço pode, com o tempo, tornar- se o canal
que sirva de modelo de Cristo para os discípulos em crescimento.
SERVO MODELO
A profecia do Antigo Testamento identifica o Messias como o “Servo sofredor”.
Isaías diz: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu escolhido, em que se
compraz a minha alma, pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça às nações”
(Is 42.1).
A personificação de Jesus como servo, nesta passagem (v. 1-4) e em outras
passagens, é diametralmente oposta aos nossos desejos carnais de sermos servidos.
Contudo, a nossa identificação com Cristo faz com que um coração de
servo se torne necessário. Por meio do seu ministério que os seus discípulos – e
fazedores de discípulos – precisam seguir.
Diante daqueles que vigiavam cada movimento que fazia, Cristo apresentou
as qualificações para liderança: “E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro,
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 59
será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.27,28). O caminho
para cima é descendo. Jesus veio para servir, para servir como escravo.
Quando Abraão e seu sobrinho Ló tiveram dificuldades para alimentar o seu
gado na mesma região, Abraão deu a Ló a oportunidade de escolher em primeiro
lugar as terras para aonde quisesse ir, embora o privilégio de escolher primeiro
fosse dele. Ló escolheu a terra próxima a Sodoma. Então, Deus falou a Abraão e
lhe disse que toda a terra era dele. Deus fez de Abraão o senhor inconteste de
tudo o que ele podia ver – depois que ele preferiu ser servo.
Pode ser difícil os brasileiros entenderem o conceito de servidão. A nossa sociedade
e a ênfase que dá ao lazer fizeram o serviço aos outros ser considerado
aviltante e depreciador. Servir é estar nos degraus mais baixos da escala social.
Jesus contra- ataca todo o nosso orgulho com o ponto de vista divino de João
12.24,25. Em suma, Cristo diz que morrer para o eu é viver; perder a vida é achála.
Quando seguimos e servimos a Cristo, não ao eu, nos tornamos disponíveis
para servir aos outros. Discipulado e serviço estão irrevogavelmente ligados.
O exemplo do nosso Senhor no decorrer de toda vida foi viver sempre e
apenas em completa submissão a outrem. A escolha deliberada de Jesus de se
tornar servo de Deus em favor dos homens perdidos é enfatizada por Paulo em
Filipenses 2.5- 10, particularmente no versículo 7: “Mas esvaziou- se a si mesmo,
tomando a forma de servo” (escravo).
A natureza da obediência como escravo é submissão. A vontade do Pai era a
vontade de Cristo. A palavra do Pai era a sua palavra. O caminho do Pai era o
seu caminho – por escolha. Isso é submissão. Precisamos escolher viver por meio
do Espírito, sempre em completa submissão ao Filho.
Da mesma forma como a manifestação exterior de um escravo obediente
é submissão, a sua manifestação interior como escravo obediente é mansidão.
O que é mansidão? A palavra manso significa “domado” ou “subjugado” e, por
isso, controlado. Você lembra qual foi a única coisa que Jesus recomendou que
aprendêssemos dele? “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”
(Mt 11.29). Cristo deseja que aprendamos mansidão com ele.
60 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Você se lembra de uma coisa que Jesus disse que devemos copiar como exemplo
na sua vida? “Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis
lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos
fiz, façais vós também” (Jo 13.14,15). Servir aos outros é ser semelhante a Cristo.
Em 1Pedro 2.21- 24, Pedro nos faz recordar outro exemplo que Jesus deixou
para nós: “Cristo padeceu por vós, deixando- vos exemplo, para que sigais as suas
pisadas [...] sendo injuriado, não injuriava; e quando padecia não ameaçava, mas
entregava- se àquele que julga justamente”.
A mansidão da fé – sofrendo em silêncio – é a natureza de Cristo. Os seus
discípulos, portanto, devem ter o atributo de servir a Cristo e aos outros com
submissão e mansidão.
Jesus resumiu a sua peregrinação terrena em Lucas 22.27: “Pois qual é maior,
quem está à mesa, ou quem serve? [...] Eu, porém, estou entre vós como quem
serve”. Jesus partiu o pão durante as refeições, reabasteceu a festa de vinho
em Caná e preparou uma refeição à beira do mar. Ele estava constantemente
disponível, a qualquer hora, para os corpos e corações feridos. Cingindo- se da
vestimenta de um escravo, ele lavou os pés dos discípulos, inclusive, de Judas.
VIVA COM UM CORAÇÃO DE SERVO
Paulo começou quatro cartas chamando- se de “servo de Cristo” (veja Romanos
1.1; Gálatas 1.10; Filipenses 1.1; Tito 1.1). Depois de três anos difíceis em Éfeso,
ele recorda ter estado “servindo ao Senhor com toda humildade, e com lágrimas
[...] mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim [...] estou limpo do
sangue de todos. Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus
[...] Em tudo vos deis o exemplo de que, assim trabalhando, é necessário socorrer
os enfermos [...] (At 20.19- 35).
Paulo se deu como servo de Cristo, de forma que Deus, por seu turno, podia
dar Paulo para uma cidade. Por que Paulo enfrentou turbas e multidões que
não estavam dispostas a ouvir? Por que foi que ele aceitou açoites e prisão em
Filipos? Como servo de Cristo, Paulo foi levado pelo Espírito a ficar em silêncio a
respeito de sua cidadania romana. Ele foi jogado em uma masmorra. Então, Deus
disse ao seu servo Paulo para abrir a boca e cantar; só depois disso ele iria falar.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 61
O preço da servidão é elevado, mas as suas
recompensas não têm preço
Que coisa intrigante fez Paulo, fez Deus. Paulo e Silas estavam dispostos a ser
presos para serem servos de Cristo para aquela cidade, e para levar um carcereiro
e sua família a Cristo. O preço da servidão é elevado, mas as suas recompensas
não têm preço.
Algumas vezes tenho orado: “Senhor, dá- nos esta cidade para Cristo”. Não
obstante, parece que Deus está dizendo pelo ministério de Paulo: “Eu lhe darei
esta cidade”.
Frequentemente – geralmente na hora do jantar – alguém batia à porta de
nossa casa, pedindo comida ou dinheiro; uma pessoa queria até uma passagem
de avião. O que dizer a alguém que está abrindo caminho através da vida, usando
os seus filhos sujos e mal vestidos para conseguir esmolas? Nunca recusamos
conceder as coisas pedidas. Algumas vezes, eu não podia deixar de dar algum
dinheiro para passagens, roupas, ou outras coisas necessárias.
Porém, à medida que os anos foram- se passando, tornei- me endurecido.
Podendo estar em casa apenas uma hora ou duas, vendo a minha família pela
primeira vez no final do dia, eu queria sossego. Logo depois eu estaria de volta
ao meu carro, para ir visitar os perdidos até tarde da noite.
Com quanto amor o Senhor persistiu em procurar ensinar- me que alimento e
dinheiro não eram as verdadeiras necessidades! O alvo dele era a minha atitude,
mas fracassei tantas vezes, porque, por detrás do meu sorriso e da minha esmola,
estava a ira contra o povo da minha igreja, no outro quarteirão, que havia enviado
aquela gente à minha porta. Eu detestava ter que trabalhar as minhas 16 horas
por dia, só para dar alimentos e dinheiro a pessoas que eu, sinceramente, achava
que não queriam trabalhar.
Minha esposa dizia: “Se é para você ajudá- los, faça- o com boa vontade. Você
perde todo mérito para com as pessoas se a sua atitude é azeda, e você perde
a sua recompensa da parte de Deus”. O Senhor começou a me ensinar que “ao
servo do Senhor não convém contender; mas, sim, ser brando com todos” (2Tm
2.24). “E tudo quanto fizerdes, fazei- o de coração, como ao Senhor, e não aos
62 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
homens, sabendo que do Senhor recebereis como recompensa a herança; servi a
Cristo, o Senhor” (Cl 3.23,24).
Quando eu estava servindo a mim mesmo, a minha atitude era errada. Mas,
quando comecei a me identificar com Cristo, como seu servo, as oportunidades
se tornaram bênçãos e algumas vezes vi mudanças nos outros.
As passagens bíblicas que enfatizam o poder do coração de servo para ganhar
os perdidos simplesmente saltam das páginas da Bíblia:
“Pois, sendo livre de todos, fiz- me escravo de todos, para ganhar o maior número possível;
fiz- me como judeu para os judeus [...] para os que estão debaixo da lei, como se estivesse
eu debaixo da lei [...] para ganhar os que estão debaixo da lei [...] para os que estão sem
lei [...] para os fracos [...] Fiz- me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar
alguns [...] tudo faço por causa do evangelho” (1Co 9.19- 23).
Paulo se fez servo; depois, prossegue escrevendo que fez- se “tudo para todos”.
O Espírito começou a sua obra de fazer Paulo disponível para ser servo de Cristo.
Em seguida, Paulo se tornou as mãos, o coração e os pés de Cristo para ministrar
aos condenados e moribundos.
Mas, Paulo não terminou. “Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem
a gregos, nem à igreja de Deus; assim também como eu em tudo procuro agradar a
todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos”
(1Co 10.32,33). Identificação com a vida e a mensagem de Cristo significa uma
decisão de alcançar os perdidos por meio de um coração de servo. “Fazer- se tudo
para todos” é alvo alcançado sobrenaturalmente. Precisamos começar cedendo
em nossos direitos, de forma que Cristo possa servir livremente por meio de nós.
O MUNDO QUE EVANGELIZAMOS
Devemos evangelizar o mundo em que vivemos. Os estratos do nosso mundo
são o nosso lar, a vizinhança, a comunidade, a escola, o trabalho e a igreja.
Tornamo- nos servos de Cristo onde estamos agora e, à medida que ele nos dirige,
“até os confins da terra”.
Ao servir a vizinhos que não eram salvos, ajuntamos o lixo deles quando uma
lata estava tombada. O Senhor nos levou a aparar a grama de alguns quintais. Por
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 63
Encoraje o seu discípulo a executar projetos criativos,
incluindo os seus vizinhos e amigos, bem como
pessoas necessitadas e idosas
meio destas e de outras experiências, os não salvos se abriram para o evangelho,
e alguns aceitaram Cristo. 25
Transmitir esta ideia a uma pessoa que você está treinando leva à realização
de alguns projetos específicos por vocês juntos. Encoraje o seu discípulo a executar
projetos criativos, incluindo os seus vizinhos e amigos, bem como pessoas
necessitadas e idosas.
Um discípulo com um coração de servo pode expressá- lo em nosso mundo
turbulento:
• Sendo acessível (veja Gálatas 6.10);
• Sendo hospitaleiro para com todos e não fazendo acepção de pessoas;
• Dando valor às pessoas, arranjando tempo para visitá- las e servi- las;
• Sendo criativo em encontrar formas de ajudar os outros (veja Hebreus 10.24);
• Servindo apenas quando necessário, em vez de servir para merecer reconhecimento
dos outros (veja Gálatas 1.10);
• Exercitando o seu dom espiritual como canal de serviço (veja 1Pedro 4.10).
SERVINDO IRMÃOS EM CRISTO
Os nomes dos que têm coração de servo são como pepitas de ouro espargidas
por meio das últimas páginas de algumas das cartas de Paulo. A família de
Estéfanas, em Corinto, estava sempre procurando servir aos outros. “Sabeis que
a família de Estéfanas é as primícias da Acaia; e que se tem dedicado ao ministério
dos santos” (1Co 16.15; o grifo é meu). Dedicado significa literalmente “autono-
25
Este parágrafo trata da compaixão pela comunidade em que estamos inseridos e as maneiras
pelas quais podemos nos envolver de maneira relevante a fim de demonstrarmos graça a todos.
Recomendamos a leitura do princípio Compaixão e graça do livro Igreja Multiplicadora, p. 149-
166.
64 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
meado”. Refere- se a um “dever autoimposto” 26 . No mesmo capítulo, Áquila e
Priscila têm uma igreja em sua casa, em Corinto, como tinha anteriormente em
Roma. O ministério de serviço de Epafrodito para com Paulo é registrado para
mostrar- nos o valor que Deus dá às tarefas quotidianas (veja Filipenses 2.25- 30).
Um dos versículos mais emocionantes das Escrituras que pode ajudar o discípulo
a desenvolver um coração de servo é Hebreus 10.24: “E consideremo- nos uns
aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Devemos observar
os outros e estimulá- los a amar e ministrar. Precisamos pedir ao Senhor para
colocar uma pessoa em nosso coração, para que procuremos entender as suas
necessidades e depois provocá- los a buscar a Deus 27 .
Uma família da igreja, em cujas vidas tínhamos um ministério ativo, parou de
falar conosco. Procuramos saber qual era a causa daquilo para pedir desculpas,
mas eles não queriam conversar conosco, ou com outras pessoas a respeito da
razão para aquele procedimento. Por causa do nosso genuíno amor e respeito,
oramos diariamente por eles. Nada parecia acontecer. Então, o Senhor mostrou- me
a necessidade de aplicar Hebreus 10.24 à situação. Minha esposa e eu decidimos
juntos, depois de termos orado, demonstrar o nosso amor mandando flores àquela
família. Encomendamos lindos crisântemos, mas duas semanas se passaram sem
qualquer mudança de atitude que pudesse notar em nossos amigos. Verificamos
com o florista: a entrega havia sido feita. Então, oramos. Uma semana depois, o
casal veio ao meu escritório e conversamos. Eles contaram qual era o problema
e disseram que passariam a fazer parte de outra igreja, se eu achasse que era
melhor. Eu lhes disse que os amava, que estava orando por eles e precisava do
ministério deles. Deus uniu os nossos corações novamente naquela tarde e o nosso
relacionamento foi restabelecido. Hebreus 10.24 é um versículo que encorajo os
discípulos aprenderem e aplicarem.
Um grande grupo de pastores ingleses foi a uma das grandes Conferências
Bíblicas de Northfield, realizadas por D. L. Moody. Como era costume na Ingla-
26
ROBINSON, Archibald & PLUMMER, Alfred. International Critical Comentary: A Critical and
Exegetical Commentary on the First Epistle of St. Paul to the Corinthians. New York: Charles
Scribner’s sons, 1911, p. 395.
27
Esta sentença expressa bem o sentido da oração em favor de pessoas- alvo para, intencionalmente,
estabelecer um relacionamento discipulador com vistas a torná- la um discípulo.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 65
Um coração de servo atrairá
outros a você
terra, cada pastor colocou o seu sapato à porta do lado de fora do quarto para
ser engraxado pelos criados durante a noite. Porém, não havia criados naquela
conferência.
Moody estava andando pelo dormitório naquela noite e viu dez ou mais pares
de sapatos sujos nos corredores. Vendo nisso uma oportunidade para servir a
seus irmãos, Moody mencionou o fato a alguns dos seminaristas. Em resposta,
houve apenas silêncio da parte deles. Moody voltou, então, ao dormitório e
juntou todos os sapatos para não os trocar. Sozinho em seu quarto, ele começou
a engraxar todos os sapatos. Ocorreu, então, que um amigo bateu à porta do
quarto de Moody e viu- o trabalhando com tanta dedicação a pilha de sapatos.
Quando os pastores ingleses abriram a porta de seus quartos, na manhã seguinte,
os seus sapatos estavam brilhando, mas eles não ficaram sabendo de nada.
Moody não contou a ninguém; porém, o seu amigo cansado contou- o a algumas
pessoas. Daí em diante, durante o restante da conferência, diferentes pessoas se
dispuseram voluntariamente a engraxar secretamente os sapatos.
Um coração de servo é contagioso. O que pegamos por contágio com Cristo
pode, em seguida, ser “pego” pelos que querem ser moldados à imagem do nosso
Senhor Servo. Um coração de servo atrairá outros a você, fará com que eles se
sintam confortáveis na sua companhia e, futuramente, fará com que os discípulos
que você está treinando desejem ser mais parecidos com Jesus. “Porque Deus não
é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do amor que para com o seu nome
mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis” (Hb 6.10).
66 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Por que a liderança bíblica está ligada com o serviço? Como este conceito se
compara com as suas experiências no trabalho, na igreja e em outros lugares?
2) Como podemos aprender mansidão com Cristo, desta forma cumprindo a sua
ordem (veja Mateus 11.28- 30)?
3) Você é capaz de lembrar alguns custos pessoais que teve que pagar para ser
servo de Cristo para o povo?
4) Leia, em voz alta, Hebreus 10.24.
a) Escolha uma pessoa em sua igreja que necessite de ser estimulada
a amar. Ore, perguntando a Deus o que você pode fazer para levar essa
pessoa a praticar boas obras. Asse um bolo para ela, mande- lhe flores ou
escreva-lhe uma notinha de agradecimento por algo. Para causar um impacto
especial, não coloque o seu nome; envie o presente secretamente.
b) Relacione três pessoas sem Cristo, em cada um dos mundos do seu
testemunho (veja a página 65). Ore diariamente por elas. Pergunte a
Deus o que ele quer que você faça para aplicar Hebreus 10.24 de alguma
forma à vida delas. Deus apontará uma pessoa em cada esfera de sua
vida para você servir. Compartilhe os resultados com outros discípulos.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 67
8. PRESENÇA COM O DISCÍPULO
“Disponibilidade é mais rara do que capacidade” – Anônimo
Atos 20.17- 38 descreve os anos que Paulo passou em Éfeso, uma comunidade
que emergira da idolatria, até ser uma igreja plenamente crescida, com líderes
e pastores bem estabelecidos em apenas três anos. Paulo edificou essa igreja
usando três princípios para edificar multiplicadores espirituais.
O primeiro princípio é a necessidade de presença prolongada com o seu discípulo.
O segundo é a dimensão de carinho e amor associada com um coração de
pai ou de mãe (capítulo 9). Terceiro, Paulo usou o princípio de ritmo (capítulo 10).
COM ELE, O PRINCÍPIO DA PRESENÇA
Jesus escolheu os 12 discípulos para estarem com ele a fim de participarem
de sua vida, bem como observarem e aprenderem do seu ministério copiando
dele. Em Marcos 3.14, lemos que ele “designou doze para que estivessem com
ele, e os mandasse a pregar”. Este versículo contém três passos, no processo de
edificar multiplicadores: escolhê- los, treiná- los e enviá- los. Cada um desses passos
exigiu a presença de Cristo.
Desta forma, uma questão crítica em qualquer ministério bíblico de discipulado
é o tempo, pois investir a vida em discípulo que está em crescimento não é coisa
que se possa fazer sem gastar grande parte do tempo com ele. O tamanho da
equipe que Cristo escolheu estava em correlação direta com a sua decisão de
tornar o seu tempo disponível a eles. Ele não tinha possibilidade de dar o seu
tempo a todo mundo. Depois de curar o endemoninhado gadareno, por exemplo,
ele lhe disse para voltar para casa.
O número de pessoas em que você pode investir a sua vida é limitado pelo
tempo que você está disposto a usar para satisfazer as suas necessidades individuais.
Uma hora por semana com um grupo pode ser um método simplesmente
acadêmico. Não produzirá necessariamente discípulos de qualidade, porque não
é prática modelada segundo o exemplo de Cristo de investir tempo, isto é, ele
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 69
Intercessão por aqueles que discipulamos é o cerne
invisível do amor; gastar tempo com eles é a expressão
pública de um estilo de fazedor de discípulos
mesmo na vida dos outros. Intercessão por aqueles que discipulamos é o cerne
invisível do amor; gastar tempo com eles é a expressão pública de um estilo de
fazedor de discípulos. 28
Em Atos e nas Epístolas, vemos a quantidade extraordinariamente grande de
tempo que Paulo gastava em comunhão e treinamento em pequenos grupos. Ele
estava com os novos crentes “sempre” (At 20.18). Ele resume a sua permanência
em Éfeso, escrevendo: “Lembrando- vos de que por três anos não cessei noite e
dia de admoestar com lágrimas a cada de vós” (At 20.31).
O que fez Paulo durante os seus três anos em Éfeso? Além de sustentar- se e
a à sua equipe, ele esteve pregando e ensinando “publicamente e de casa em
casa” (At 20.20). Ele também mostrou, aos crentes, todos os princípios que são
essenciais para servir e evangelizar uma capital pagã (At 20.35). A recapitulação
que Paulo faz do seu ministério aos presbíteros efésios nos leva a lembrar a absoluta
prioridade que ele dava à edificação de uma comunidade eclesiástica de
crentes multiplicadores.
O treinamento de líderes se baseava na textura de evangelização e ensino,
de forma que Paulo deixou em Éfeso presbíteros que podiam ministrar independentemente
do fato de ele estar presente. Porque o amor de Cristo havia sido
derramado por meio de Paulo e de sua equipe, não é de se admirar que, quando
ele deixou Éfeso, “levantou- se um grande pranto entre todos e, lançando- se ao
pescoço de Paulo, beijavam- no” (At 20.37).
Muitos pastorados têm- se tornado exercícios de curto prazo. Missionários em
muitos países estão enfrentando cada vez mais limites de tempo à medida que
os governos mudam e as portas se fecham para muitos estrangeiros. Stephen
Neil escreve algumas penetrantes palavras de acautelamento: “O missionário (ou
28
Neste parágrafo e nos seguintes, Waylon B. Moore trata da questão da priorização do tempo de
investimento na vida de pessoas para torná- las discípulos de Cristo. “Se quisermos multiplicar
discípulos, precisamos pagar o preço no que diz respeito ao tempo que investimos nessa causa
tão nobre [...]” (livro Igreja Multiplicadora, p. 82).
70 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
pastor) [...] precisa guardar- se conscientemente contra a ilusão de permanência
em que tantos dos seus predecessores ficaram presos”. 29 O obreiro cristão não
se desanimará, por pequeno que seja o seu grupo, se ele puder focalizar em discípulos
individualmente. O impacto duradouro do seu ministério será exercido
sobre os discípulos treinados que ele deixar atrás de si.
A qualidade do treinamento, no fazer discípulos, precisa ser extremamente alta
para que as mutações de terceira e quarta gerações não venham a desfigurar os
discípulos biblicamente definidos. Quanto mais torrente longe da fonte alguém
bebe, mais poluída será a água. A nossa vida é a nossa mensagem. Abraão Lincoln
disse: “Não sei quem era o meu avô. Estou muito mais preocupado em saber o
que será o seu neto.” 30
O QUE VOCÊ ENSINA A UM
DISCÍPULO FAMINTO?
Se uma pessoa lhe dissesse: “Vou dar- lhe dez horas por semana nos próximos
seis meses: alimente- se, ensine- me; estou à sua disposição”, qual seria a sua reação?
Muitas pessoas na igreja teriam dificuldade em responder a esta pergunta.
Primeiro, aqui está o que não fazer:
• Não perca tempo com coisas que não são essenciais. Atire na mosca. Você
tem alvos bíblicos específicos para alcançar;
• Não se queixe a respeito da igreja;
• Não chore no ombro um do outro;
• Não percorra o material de estudo bíblico num ambiente de orador ouvinte.
Certas características bíblicas essenciais são o âmago do princípio da presença.
Cinco prioridades devem ser observadas, quando nos encontramos regularmente
com os discípulos, e o tempo a ser gasto em cada uma delas varia de reunião
para reunião, conforme o Espírito Santo dirigir.
29
Stephen Neill, citado por Ted Engstrom. What in the World Is God Doing? Waco, Texas: Word
Books Inc., 1978, p. 61.
30
Abraham Lincoln, citado em “Quotable Quotes” Reader’s Digest, dezembro de 1979, p. 157.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 71
Progresso – Falar não é ensinar; ouvir não é aprender. Compartilhe os progressos
feitos. Insista em revisar o que foi alcançado na reunião anterior. Jesus não
transigia nunca a respeito de algo que neutralizasse a possibilidade de alcançar as
gerações futuras. Um exame ou verificação garante que você não terá discípulos
voluntários que não estejam dando prioridade ao estudo.
Princípios bíblicos – Discuta os princípios bíblicos com o discípulo. Ensine
doutrina e como aplicar a Palavra de Deus à vida diária.
Uma lista de assuntos relacionados com a Bíblia, para cobrir um período de
vários meses, pode incluir os seguintes tópicos (a maior parte deles é coberta no
meu Bulding Disciples Notebook 31 ):
• Certeza de salvação;
• Hora tranquila;
• Oração;
• O Espírito Santo;
• Confissão de pecados;
• Vitória sobre o pecado;
• Separação do mundo, da carne e do diabo;
• Comunhão (dentro e fora da igreja);
• A Bíblia: ouvir, ler, decorar, meditar e métodos de estudo;
• Reivindicando as promessas de Deus;
• Aplicando a Palavra à vida;
• Testemunhar: como dar um testemunho pessoal e fazer uma apresentação
básica do evangelho;
• O senhorio de Cristo;
• Relacionamentos pessoais: os não salvos, a família, a igreja, os cônjuges;
31
MOORE, Waylon B. Building Disciples Notebook. Missions Unlimited, Inc., Tampa, Flórida.
Esse caderno inclui estudos e equipamentos devocionais para um período de 26 semanas a
três anos.
72 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
• Visão mundial e missões;
• Estabelecimento de alvos;
• Finanças;
• Uso do tempo;
• “Seguimento” e discipulado;
• Como desenvolver um ministério homem- a-homem;
• A vontade Deus (como ser guiado pelo Espírito);
• Controle da língua;
• Atitudes;
• A segunda vinda de Cristo;
• Satanás.
Embora dois discipuladores (fazedores de discípulos) possam não concordar
com a ordem destas prioridades de treinamento, a maior parte deles, geralmente,
concorda com o seu conteúdo. As pessoas diferem tanto que a apresentação
destes assuntos e a sua aplicação precisarão ser ajustadas às necessidades de
cada pessoa.
As lições pessoais ensinadas a você pelo Espírito de Cristo devem ser compartilhadas.
Nada eleva um relacionamento a um plano bíblico mais rapidamente
do que mostrar a um discípulo um princípio bíblico que tenha sido levado a
efeito em sua vida.
Resolução de problemas – Procure resolver as dificuldades atuais e prevenir
problemas futuros que retardem o crescimento da vida pessoal do discípulo.
À medida que o relacionamento se tornar mais aberto e mais livre, o discípulo
começará a falar quando estiver sendo ferido, questionando, duvidando e tendo
dificuldades.
A maior parte das cartas do Novo Testamento foi escrita para resolver problemas
da igreja local. Uma elevada porcentagem do seu conteúdo trata de
problemas de doutrina, conduta e relacionamentos interpessoais. Muitos de nós
crescemos e aprendemos ao enfrentar e resolver problemas. A vida cristã inclui
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 73
sofrimento e o aprendizado de como suportar as pressões (veja Filipenses 1.29;
3.10; 1Pedro 2.20,21).
Controle, cuidadosamente, a quantidade de tempo que você dedica a resolver
problemas, pois há necessidades de equilíbrio. Algumas pessoas parecem viver
para nada mais senão ventilar os seus problemas, e são facilmente reconhecidas.
Elas, geralmente, desejam compartilhá- los não apenas com você, mas, também,
com outras pessoas. Procuram conselheiros que concordem com elas.
Oração – Orem juntos, em intercessão e louvor. Uma das atividades mais
íntimas da vida é orar com outra pessoa. Você não conseguirá conhecer bem
outra pessoa enquanto não orar por um bom tempo com ela. Nada ajuda você
a aprender mais depressa qual é a dor de outra pessoa ou quais são suas necessidades,
desejos e alvos, do que prolongados períodos de oração.
Use listas de oração. Encoraje o seu discípulo a ter páginas de oração onde ele
registre pedidos específicos, respostas, promessas bíblicas reclamadas e datas que
demonstrem a fidelidade de Deus em responder às suas orações. Revisar essas
páginas alimentará a sua fé para mais oração, por ver as maneiras miraculosas
pelas quais Deus agiu para com ele no passado.
Prática – As primeiras quatro coisas essenciais de progresso, princípios, problemas
e oração precisam ser ligadas com pôr em prática tudo isto. A canalização
do tempo que vocês passam juntos para a ministração das necessidades de outras
pessoas propiciará aplicações bíblicas novas e práticas. Façam as coisas juntos,
especialmente compartilhar Cristo com os perdidos. É desta forma que você
demonstra ser cumpridor da Palavra, e não apenas ouvinte (veja Tiago 1.22). A
sua intercessão pelo seu discípulo e o fato de você testificar com ele unem vocês
dois em crescimento espiritual mútuo.
74 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Dê alguns exemplos de ocasiões em sua vida quando outro crente gastou uma
hora ou período correspondente a sós com você, de maneira que o edificou
espiritualmente.
2) Discuta como você aprendeu por meio do ministério de ensino de outra pessoa
na escola, em casa, no trabalho ou durante períodos de lazer.
3) Discuta o fator tempo para aprender a fazer algo. Quanto tempo é necessário
para aprender a dar laços aos cordões dos sapatos, cantar bem uma música,
ensinar uma classe de adultos, testificar a uma pessoa perdida ou aconselhar
alguém que tenha um problema?
4) Como a disciplina do tempo deve diferir de outras aulas estruturadas e períodos
de comunhão?
5) Dê um valor cronológico aos cinco itens deste capítulo quando se reunir com
outra pessoa para discipulá- la. Por que o tempo é um fator importante em muitas
áreas do discipulado?
6) Revise os tópicos que podem ser compartilhados com outra pessoa. O que
parece mais importante, menos importante ou desnecessário? Há alguns tópicos
que você acrescentaria ou modificações que você faria na ordem sugerida?
Explique a sua maneira de fazê- lo.
7) Qual é a diferença entre falar, ensinar e treinar? Por que o treinamento é essencial
no discipulado?
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 75
9. TENHA UM CORAÇÃO DE PAI
“Seja pai, e não possuidor. Seja atendente, e não senhor” – Lao Tsé
Há muitos bebês espirituais em nossas igrejas, mas há poucos pais ou mães
espirituais assumindo responsabilidade por eles.
Paulo disse que confiava que Deus iria amadurecer aqueles que ele salvara
(Fp 1.6). Qual era a razão para a sua confiança? Como pai espiritual, ele sempre
orava pelos seus filhinhos em Cristo (Fp 1.3,4), e ele os amava, dizendo: “Tenho
por justo sentir isto a respeito de vós todos, porque vos retenho em meu coração”
(Fp 1.7 – o grifo é meu).
Os que desejam multiplicar- se através do mundo precisam ser amorosamente
responsáveis pela vida dos outros da mesma forma como um pai ou mãe o é
para com um filho. Paulo ministrava tanto como mãe quanto como pai para os
novos cristãos de Tessalônica (1Ts 2.7,11). A única maneira pela qual um pai ou
mãe consegue treinar é de pessoa a pessoa. Uma criança de três anos de idade
tem necessidades diferentes de outra de dez anos. Semelhantemente, as necessidades
espirituais na igreja podem ser supridas de maneira mais satisfatória por
cuidado e treinamento individual.
Não é fácil ser um pai fazedor de discípulos. Há um preço pessoal a ser pago
em amor e disciplina ao se trabalhar com uma alma que viverá por toda a eternidade.
Uma vez aceita essa tarefa das mãos de Cristo, um relacionamento de
discipulado 32 de pai para filho algumas vezes perdura por toda a vida, crescendo
até ser uma comunhão de colaboração madura.
Alcançar outra vida e fazer nela um depósito permanente da graça de Deus é
um privilégio tão grande que toda a igreja devia estar correndo para conseguir
esta oportunidade. Porque, quando um investimento espiritual é feito em outra
vida, você participa de toda a glória das recompensas espirituais que serão colhidas
pela vida para sempre. Paulo referiu- se a isto quando escreveu aos cristãos
32
Em outras palavras, um relacionamento discipulador (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 68- 82).
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 77
em crescimento que ele treinara, dizendo: “Na verdade vós sois a nossa glória e
o nosso gozo” (1Ts 2.20).
Temos uma quádrupla responsabilidade como pais ou mães espirituais: amar,
alimentar, proteger e treinar os nossos discípulos.
O PAI (OU MÃE) AMA OS SEUS FILHOS
ESPIRITUAIS
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos
outros” (Jo 13.35). A motivação soberana em todo ministério de Cristo aos seus
discípulos era o amor e deve ser a característica mais reconhecível de cada um
de nós como discípulos do século 21.
Nem sempre Jesus aprovou as atitudes ou desejos dos seus discípulos, mas
ele sempre os aceitou e os amou como indivíduos. Na sua presença, os discípulos
sentiam liberdade e conforto. Eles sabiam que ele era diferente. Quando os
inimigos de Cristo disseram que ele era amigo de publicanos e pecadores, sem
querer, eles chamaram a atenção para o amor que ele tinha pelos outros.
Amor é uma atitude que se dedica a satisfazer as mais profundas necessidades
de outra pessoa, não importa qual seja o preço. Paulo disse aos presbíteros em
Éfeso: “Não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinandovos”
(At 20.20). Ele lembrou aos tessalonicenses: “De boa vontade desejávamos
comunicar- vos [...] as nossas próprias almas, porquanto vos tornastes muito amados
de nós” (1Ts 2.8). Da mesma forma como Cristo se deu em amor por nós, o nosso
amor precisa expressar- se em renunciarmos a nós mesmos e aos nossos direitos
para ajudar os outros.
Esta entrega amorável em favor das necessidades dos outros muitas vezes
requererá que enfrentemos alguns problemas frontalmente. Paulo recordou aos
efésios um problema que havia no meio deles: “Não cessei noite e dia de admoestar
Amor é uma atitude que se dedica a satisfazer as mais
profundas necessidades de outra pessoa, não importa
qual seja o preço
78 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
com lágrimas a cada um de vós” (At 20.31). Que amor ousado foi necessário que
Paulo tivesse para poder admoestar, constante e carinhosamente, até o problema
ser enfrentado e vencido!
Nem sempre tem acontecido isso comigo e pode ser também que não aconteça
com você. Algumas vezes, tenho evitado uma confrontação particular em
amor. Tenho tido medo de hesitação para amar suficientemente algumas pessoas,
a ponto de enfrentá- las, mostrar- lhes o seu pecado e procurar, humildemente,
levá- las ao arrependimento e restauração. Porém, não deve ser assim. “Nisto
conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida
pelos irmãos” (1Jo 3.16).
“Dar a nossa vida” significa considerarmo- nos mortos para o pecado e vivos
para Cristo diariamente, de forma que nos tornemos os canais vivos do seu amor
(Jo 17.26). Amor é o teste do controle do Espírito em nossa vida (Gl 5.22) e resulta
em uma aproximação aos outros, que torna mais certa a multiplicação por meio
deles. Esse amor pelos nossos discípulos significa, todavia, “não fazer convertidos
às nossas maneiras de pensar, mas fazer discípulos de Jesus”.
Há anos, eu disse a um diácono de minha igreja que ele tinha o dom de pastorear
e devia pensar seriamente em entrar no pastorado. Durante esse período,
algumas coisas desagradáveis aconteceram e ele abandonou a igreja. Várias pessoas
vieram interrogar- me a respeito, mas recusei- me firmemente a dizer algo
negativo a respeito dele e continuei a crer que ele poderia servir a Cristo em
um ministério mais amplo. Continuei também orando fervorosamente por ele.
Com o passar dos anos, ele respondeu ao chamado de Deus para um pastorado
de tempo integral e agora está desempenhando um ministério dinâmico.
Recentemente, encontramo- nos pela primeira vez depois de vários anos. Ele
disse: “Grande parte do que uso, que realmente funciona e que tem mudado a
minha vida, recebi do seu ministério, pastor”. Nunca há prejuízo quando amamos!
O verdadeiro amor de Paulo pelos seus filhos espirituais brilha através das páginas
de 2Coríntios. A despeito de ter sido mal- entendido e acusado falsamente,
Paulo prosseguiu. Em certo ponto, com seu coração explodindo de amor pelos
coríntios, ele exclamou: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar
pelas vossas almas. Se mais abundantemente vos amo, serei menos amado?” (2Co
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 79
12.15). O poder para amar nunca depende de pessoas ou de coisas: origina- se
de um relacionamento com o Espírito Santo (veja Romanos 5.5). O seu fruto é o
amor (veja Gálatas 5.22). Falta de amor revela falta de um relacionamento íntimo
com o Espírito Santo. Se você permitir que o Espírito Santo lhe dê poder para
amar os outros, seu amor retornará nos seus relacionamentos de discipulado.
Você alcançará seus alvos por meio do amor.
O PAI (OU MÃE) ALIMENTA SEUS FILHOS
ESPIRITUAIS
Ao resumir os seus três anos em Éfeso em Atos 20, Paulo lembra como ele
constantemente alimentou os discípulos com a Palavra de Deus: “Não me esquivei
de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando- vos” (At 20.20); “Não me
esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.27).
A princípio, a criança é alimentada pelos outros; mais tarde, ela começa a se
alimentar e, finalmente, quando adulta, passa a alimentar outros. Um dos alvos
primordiais do fazedor de discípulos é ensinar o discípulo a se alimentar, de forma
que ele possa, mais tarde, alimentar outros. Aqui estão algumas maneiras pelas
quais você pode ajudá- los a aplicar a Palavra de Deus à sua vida:
ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE A HORA TRANQUILA
Daniel 6.10,11 é um modelo eficiente de uma hora tranquila com Deus, pois
diz onde Daniel orava, quando ele orava e por que orava.
Um lugar definido – Precisamos de um lugar para estar sozinhos com o Senhor,
livres de distrações. Se a sua casa não é silenciosa, talvez, algum lugar fora dela
funcione melhor para você: em seu carro, estacionado em uma rua tranquila;
andando na vizinhança, de manhã bem cedo; ou mesmo correndo sozinho. Mas,
seja o que for que você escolha, tenha a certeza de que entrou no seu recolhimento,
no lugar de devoção privada, diariamente (veja Mateus 6.6).
Um tempo definido – Encontrar- se com Deus de manhã era hábito de Cristo
(veja Marcos 1.35). Esta é a melhor hora para muitas pessoas, porque constitui
uma boa preparação para o dia cheio que se prenuncia. Para obter vitória em se
80 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
levantar para se encontrar com o Senhor, marque um encontro com ele na noite
anterior. Dez minutos de comunhão com Deus de manhã valem mais do que
nada; é melhor começar com um período curto e permitir que ele cresça naturalmente.
O seu período se estenderá à medida que você ansiar por conhecê- lo
melhor e experimentá- lo na sua vida.
Um conteúdo definido – Uma hora tranquila é um tempo de alimentação
espiritual para o crente. Você enche a sua mente e o seu espírito com a presença
de Deus, alimentando- se com a sua Palavra enquanto ele fala com você. Depois,
você conversa com ele em oração.
Prepare- se na noite anterior. Deixe prontos sua Bíblia, materiais devocionais e
caderno. A Bíblia e a literatura devocional são o seu alimento. Use o caderno para
registrar novos pensamentos e pedidos de oração. Escreva também as respostas
que recebeu às suas orações.
ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE COMO FAZER ANOTAÇÕES DE
SERMÕES
Esquecemo- nos de cerca de 90% do que ouvimos. Fazendo anotações dos
sermões, cortamos esta porcentagem de perda em pelo menos a metade. Uma
forma rápida de ensinar um discípulo como se alimentar é ajudando- o a aprender
como fazer anotações de cada mensagem que é transmitida do púlpito.
As anotações dos sermões devem ser de tamanho uniforme, cada semana.
Devem incluir o nome do orador, data, título do sermão, passagem ou
passagens bíblicas, referências, um esboço do conteúdo e algumas sentenças
específicas. As anotações podem ser arquivadas segundo o livro da Bíblia
usado, ou segundo o assunto. Assim, elas permanecerão disponíveis para
meditação, para estudo ou para serem usadas na preparação de suas próprias
palestras devocionais.
Ensine seu filho espiritual a descobrir a lição principal do sermão e, depois,
como aplicar as verdades básicas às situações de sua vida. Os membros da congregação
são tão responsáveis por sair da igreja com o sermão quanto o pregador
por prepará- lo. Ambos têm diante de Deus a responsabilidade de vivê- lo.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 81
ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE COMO LER A BÍBLIA
Lembramo- nos apenas de um pouco mais do que a metade do que lemos
(60 a 80%), de forma que é imperativo que façamos anotações para melhorar a
nossa retenção. Enquanto o discípulo lê, aqui estão algumas coisas específicas
que ele pode procurar fazendo anotações acerca do texto:
• A lição espiritual;
• O que a passagem ensina a respeito de Deus Pai, Filho e Espírito Santo;
• Um versículo que resume a passagem;
• Uma ordem para ser obedecida;
• O que Deus está ensinando agora mesmo por meio desta passagem bíblica.
É importante que o discípulo leia toda a Bíblia para dar conta de sua unidade.
Ler livros específicos de uma assentada é especialmente valioso para satisfazer
as necessidades individuais. Marque como tarefa leituras regulares com o alvo
de que a leitura da Bíblia se torne um hábito de uma vida inteira. Ajude o seu
discípulo encorajando- o e testando- o, para ver como ele está tirando proveito
da leitura.
ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO
Se o discípulo aprender como estudar a Bíblia por si mesmo, ele se tornará
livre e capacitado para “comer a Palavra” sempre que desejar, em vez de ficar
dependendo de outrem para a sua comida espiritual essencial. Quando estiver
ensinando métodos de estudo, faça com que o discípulo gaste um mínimo de
20 minutos diariamente em sua tarefa de casa.
Quatro métodos de estudo, especialmente, resultam em crescimento dinâmico.
São meditação por versículo, em que um versículo é estudado em profundidade;
análise por capítulo, em que um livro é estudado capítulo por capítulo; estudo
por palavra, em que palavras específicas como gozo, amor ou paz, são estudadas;
e estudo de personagens, em que as pessoas da Bíblia são analisadas. A riqueza
destes quatro tipos de estudo pessoal alimenta e prepara o leigo para encontrar
a vontade de Deus para toda a sua vida.
82 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Aqui estão algumas sugestões do meu plano favorito de estudo bíblico: a
análise por capítulo. Requer apenas Bíblia, papel e caneta. Sugira, ao discípulo,
pelo menos quatro coisas:
Paráfrase – Usando as suas próprias palavras, escreva o que o capítulo revela.
Isto vai ajudá- lo a entendê- lo plenamente, apropriar- se desse capítulo,
fazendo-o seu.
Perguntas – Escreva qualquer coisa a respeito do texto que você não tenha
entendido. E, também, relacione perguntas que você acha que outras pessoas
podem fazer para as quais você achou a resposta. Isto ajuda muito quando você
começa a ensinar outros. Apresente uma referência bíblica como base para a
resposta a essas perguntas sempre que possível.
Referências – Encontre uma referência (outro versículo que contenha uma
verdade relacionada ou semelhante em outra porção da Bíblia) para cada versículo
do capítulo que estiver considerando. Dessa forma, a Bíblia se torna o seu próprio
comentário (o melhor), explicando e esclarecendo cada passagem estudada.
Aplicação – Depois de orar, escreva uma aplicação pessoal baseada em um
versículo do capítulo em foco. Explique o que você vai fazer, com forças recebidas
de Deus, para aplicar essa passagem à sua vida diária. Seja específico. Por exemplo,
em vez de escrever: “Vou orar mais na semana que vem”, o que é genérico
demais, escreva: “Tenho pecado por falta de oração; na semana que vem orarei
pelo menos dez minutos por dia”. Examine- se e fiscalize- se para ter certeza de
que cumpriu o que decidiu. O fato de você aplicar fielmente a Palavra de Deus
à sua vida vai ajudá- lo a se tornar praticante e não apenas ouvinte da Palavra.
Salmo 1, Salmo 23 e livros curtos do Novo Testamento, como Filemom, Filipenses
e 1Tessalonicenses, são excelentes porções para um discípulo que está
começando aprender como estudar a Bíblia. Uma ou duas semanas, geralmente,
são um bom período para cada capítulo.
O fato de você aplicar fielmente a Palavra de Deus
à sua vida vai ajudá- lo a se tornar praticante e não
apenas ouvinte da Palavra
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 83
Depois que você tiver ensinado o seu discípulo como estudar a Bíblia, não se
esqueça de ensinar- lhe como ensinar a outros. Em todo o seu discipulado, tenha
em mente o alvo final de multiplicar fazedores de discípulo – aqueles que estão
treinados e aptos para transmitir o que aprenderam.
ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE A DECORAR PASSAGENS BÍBLICAS
A memorização de passagens bíblicas resulta em muitas bênçãos e maior poder.
O discípulo pode vencer a tentação e andar vitorioso sobre qualquer pecado
(veja Salmo 119.11). Ele pode ter uma vida frutífera e de sucesso (veja o Salmo
1.2,3). Ele descobrirá novos interesses na Bíblia e maior compreensão. A sua capacidade
de ensinar será aumentada (veja Colossenses 3.16). Ele experimentará
um novo poder para testemunhar e verá resultados positivos (veja 1Pedro 3.15).
Ele conhecerá melhor a vontade de Deus para a sua vida à medida que mais luz
brilhar no seu caminho (veja o Salmo 119.105). Ele poderá experimentar maior
crescimento em sua fé, nova alegria e um espírito mais positivo em sua vida diária
(veja Salmo o 119.103). Ele poderá orar com nova certeza. O aprendizado de
promessas da Bíblia aumenta a ousadia na oração (veja João 15.7).
Todas estas bênçãos, e muitas mais, resultarão da memorização de textos
bíblicos por parte dos discípulos se esta fizer- se acompanhar de meditação para
a sua aplicação.
Como decorar um versículo – Sua atitude faz diferença. Ao aprender os versículos,
você tem a ajuda do Espírito Santo para “guiá- lo em toda verdade”. Você
“pode todas as coisas” naquele que o fortalece (Fp 4.13). Ele lhe dará poder para
aprender, se você lhe pedir para fazê- lo.
1) Depois de ter escolhido um versículo, leia- o no contexto da Bíblia. Ler o capítulo
que inclui o versículo em questão o ajudará a entendê- lo. Leia esse versículo,
O aprendizado de promessas da Bíblia
aumenta a ousadia na oração
84 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
cuidadosamente, várias vezes em voz alta. Se outra pessoa já não o fez, decida
qual é o tópico do versículo. 33
2) Aprenda o versículo nesta ordem: o tópico, a sua referência (onde se encontra
na Bíblia), o primeiro trecho do versículo e a sua referência novamente. Repita
isso várias vezes. Depois, comece de novo; sempre iniciando com a referência,
adicione outro trecho do versículo e termine com a referência. Continue pouco
a pouco, até aprender todo o versículo.
3) Recapitule o versículo durante o dia; use para isso momentos de folga. Digamos:
na hora das refeições, enquanto está viajando ou esperando e antes de dormir.
Peça a alguém para verificar sua memorização. Repita o versículo diariamente
durante várias semanas. Depois disso, revise- o semanalmente.
4) Comece decorando dois versículos por semana.
5) Medite sobre cada versículo que aprender. Ore, usando- o. Peça a Deus uma
experiência com esse versículo em sua vida. Cada versículo contém algo para você
conhecer, parar, começar ou compartilhar. O propósito final de cada versículo
é identificá- lo com Cristo, em sua vontade, conhecê- lo melhor e multiplicar a
sua glória.
O PAI (OU MÃE) PROTEGE SEUS FILHOS
ESPIRITUAIS
Satanás planejou a destruição sistemática dos discípulos de Cristo mediante
amargura, desânimo, impaciência e outros pecados. Embora as tragédias sejam
milhares, o poder para resistir aos violentos ataques de Satanás está disponível
instantaneamente quando nos apropriamos da própria vida de Cristo. “Maior é
aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1Jo 4.4).
Cristo deu o exemplo de como nós, os pais espirituais, na função de protetores,
devemos agir, quando disse a Pedro: “Eis que Satanás vos pediu para vos cirandar
33
O Topical memory system, publicado por The Navigators (Colorado Springs, Colorado: NavPress,
1969), está disponível em várias línguas e é vendido nas livrarias evangélicas.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 85
como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te
converteres, fortalece teus irmãos” (Lc 22.31,32).
PROTEÇÃO CONTRA A TENTAÇÃO
Três tentações básicas que Satanás usa para nos levar a pecar encontram- se
em 1João 2.15,16:
“Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do pai
não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai mas, sim, do mundo”.
A concupiscência da carne – A concupiscência ou cobiça começa apenas
com um olhar. “Dirijam- se os teus olhos para a frente, e olhem as tuas pálpebras
diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e serão seguros todos os
teus caminhos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu
pé do mal” (Pv 4.25- 27).
Ajudar os discípulos significa observar a sua conduta para o outro sexo. Palavras
honestas e francas a esse respeito, ditas em amor, precisam ser compartilhadas
tanto com os discípulos casados como os solteiros, para que aprendam como
devem se precaver: “guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele
procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).
A concupiscência dos olhos – A vontade de ter dinheiro e o desejo de possessões
são igualmente destrutivos para os discípulos. Ambos são resultados de
uma concentração iníqua nos cuidados deste mundo.
O dinheiro não é mau em si mesmo; usado corretamente ele pode ser um
meio de ministério eficiente para um grande número de pessoas. Contudo, o
amor a ele é mau.
“Mas os que querem tornar- se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências
loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque
o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se
transpassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.9.10).
“Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). A chave é não se deixar
possuir pelo dinheiro. Verifique se o seu discípulo tem o dinheiro sob controle
86 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
ou se o dinheiro o tem sob controle. Observe as suas motivações nos negócios.
Observe quanta energia ele dedica a obter dinheiro. Quais são as suas prioridades?
Ele tem tempo para o Senhor, para sua família e para seu ministério na
igreja? Observe como ele gasta e como economiza. A respeito de que ele fala?
Compartilhe princípios sadios acerca da direção das finanças para ajudar o seu
discípulo a não fazer dívidas, pois isto lhe dará mobilidade e o libertará para
ouvir o chamado de Deus.
Intimamente relacionado com o desejo de ter dinheiro está o desejo de ter
propriedade. Devemos perguntar- nos: De quanto realmente precisamos para as
necessidades básicas da vida? “Tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos
com isso contentes” (1Tm 6.8). Tudo o mais é extra: casas, carros e diplomas
universitários. Agradeça a Deus os extras, mas não coloque o seu coração neles.
Alguns missionários tiveram que sair do Vietnã e receberam notícia disso duas
horas antes. Eles têm algo a compartilhar a respeito da “perda de todas as coisas”
(Fp 3.8). O pouco que levaram com eles revelou o seu senso de valores. Alguns
levaram retratos de família ou outro objeto sentimental portátil, mas não muito
mais que isso.
Esses missionários podem testificar experimentalmente que não devemos
acumular para nós tesouros “onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os
ladrões minam e roubam”, mas ajuntar “tesouros no céu” (Mt 6.19,20).
Pense em todas as suas possessões. De que você realmente necessita? Você
pode passar sem o quê? Agora, mentalmente, entregue a Deus o direito que
você tem sobre todas essas coisas. Quando fizer isso, as coisas perderão qualquer
domínio sobre você e você as usará com a consciência de que elas são de
Deus, e não suas.
A soberba da vida – As tentações para sermos soberbos muitas vezes se
manifestam por meio de um desejo excessivo de reconhecimento próprio.
Quando Satanás não pode deter um homem com a impureza nem pegá- lo na
armadilha do dinheiro, ele cochicha: “Você precisa de mais apreciação. Você
fez um bom trabalho, mas ninguém reconhece”. Muitos soldados perderam a
batalha de multiplicar discípulos “porque amaram mais a glória dos homens o
que a gloria de Deus” (Jo 12.43). Tome cuidado com o orgulho ferido, azedume,
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 87
zanga, amargura em seus discípulos. Grande parte disso tem raiz no desejo de
obter glória pessoal.
O desejo de ser apreciado e honrado é natural; contudo, é um luxo que poucos
podem aspirar. “Fale pouco, sirva a todos, prossiga” é um moto devastador
para o orgulho humano. Lembre- se que o Senhor é o recompensador de todos
os que o buscam. Ele mesmo é a nossa última recompensa (veja Gênesis 15.1).
A soberba da vida pode também ter a forma de competição excessiva. Queremos
ser o melhor que pudermos diante do Senhor, de forma que o agrademos
em tudo o que fazemos. Enquanto uma competição sadia pode promover o
nosso desejo de excelência, uma concentração demasiada em nós mesmos pode
enevoar a nossa visão das necessidades dos outros. Precisamos ter em mente
as palavras de Paulo aos Filipenses: “Nada façais por contenda ou por vanglória,
mas com humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo; não
olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é
dos outros” (Fp 2.3,4).
PROTEÇÃO ATRAVÉS DA DISCIPLINA
Quando as advertências de Deus não são ouvidas e o discípulo peca, o pai
espiritual precisa discipliná- lo. Este é um ministério essencial na igreja. “Antes
exortai- vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje,
para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13 – o
grifo é meu).
A passagem- mestra a respeito de disciplina é Hebreus 12.5- 13. Devemos disciplinar
os que estão sob o nosso encargo; não devemos punir. O alvo da punição
é parar um hábito ou ofensa, mas o objetivo da disciplina é a restauração da
comunhão com Deus.
Ser sincero e franco para com os outros quanto aos pecados deles é uma
questão delicada, mas necessária. A repreensão e exortação não são apenas uma
forma rápida de recuperação e crescimento espiritual, mas, também, demonstram
um amor raro da parte do repreensor; poucas pessoas estão dispostas a arriscar
o rompimento de uma amizade devido à disciplina.
88 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Paulo usa várias palavras para descrever essa confrontação amorosa: encarrega,
admoesta, repreende, reprova, corrige, exorta e até consola. Se um pai espiritual
permite que o discípulo continue desobedecendo à Palavra sem repreendê- lo
em amor, está falhando no exercício de amor genuíno nesse relacionamento.
Disciplina em amor é fator essencial para que os discípulos venham mais tarde
a crescer, amando a pureza e procurando viver uma vida piedosa. Pequenas
sementes de pecado produzem grandes árvores, que bloqueiam a luz solar dos
propósitos de Deus. Uma falha em corrigir e disciplinar os nossos filhos naturais
enquanto são jovens significa que aqueles “pequenos” defeitos futuramente crescerão,
tornando- se grandes problemas. O mesmo acontece em nossos relacionamentos
com os nossos filhos espirituais. Corrija a desobediência rapidamente.
“Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos
homens está inteiramente disposto para praticar o mal” (Ec 8.11).
Anos depois, os que foram repreendidos amorosamente olharão para o passado
com alegria, porque Deus os amou suficientemente para tocar as suas vidas
permanentemente por meio de alguém que se importou com eles o suficiente
para discipliná- los. “O que repreende a um homem achará depois mais favor do
que aquele que lisonjeia com a língua” (Pv 28.23 – o grifo é meu).
Como admoestar em amor – Quando estiver falando com os discípulos a
respeito do pecado em suas vidas, faça- o à luz de 1Coríntios 13 e Gálatas 6.1- 3.
Quando o Espírito o levar a confrontar o discípulo, aqui estão algumas regras
básicas para admoestação:
1) A Palavra de Deus é sempre a base para qualquer admoestação. É imperativo
que saibamos que a ofensa praticada é claramente contrária às Escrituras (veja
Tito 2.1);
2) Use de discrição. A hora certa é essencial. Algumas vezes o plano de Deus é
que usemos a sua verdade: “A discrição do homem fá- lo tardio em irar- se, e a sua
glória está em esquecer ofensas” (veja Provérbios 19.11);
3) O disciplinador precisa cumprir os requisitos de Gálatas 6.1: “Vós que sois
espirituais”. Precisamos ser controlados pelo Espírito Santo. Precisamos ter vitória
em nossos corações sobre a área de culpa revelada na vida de outrem;
4) Não somos chamados para confrontar qualquer pessoa que encontrarmos
que tenha um problema de pecado. Ganhar o coração da pessoa é a chave para
conseguir uma reação positiva; mas isso leva tempo. E, também, não somos os
pais espirituais de todo mundo;
5) A admoestação precisa ser razoável, dada de maneira amorosa, como partindo
de um irmão mais velho, e deve expressar compaixão e ternura (veja 2Coríntios
2.4);
6) A admoestação a outra pessoa precisa ser feita com brandura (veja Gálatas
6.1). Lembre- se de que o mesmo pode acontecer a você algum dia – ou já pode
ter acontecido. Fale cuidadosamente e com um coração humilde;
7) Faça- o particularmente (veja Provérbios 25.9 e Mateus 18.15);
8) Faça- o com perseverança. Não se permita ficar cansado ou desanimado. Seja
persistente, porém, não importuno. Uma vez resolvido, dê o assunto por encerrado
(veja Provérbios 13.19 e 28.23).
A responsabilidade do pai (ou mãe) espiritual de treinar o seu filho reflete o
propósito básico deste livro. Revise todos os capítulos a respeito de treinamento
e prepare um plano básico de treinamento bem seu, para seu discípulo, não algo
que seja inflexível, mas algo que contenha os temas essenciais do discipulado.
Quando se deve apresentar ao discípulo esses temas essenciais e como ensinálos
são coisas que vão variar de pessoa para pessoa, mas todos os temas básicos
devem ser incluídos no treinamento de cada indivíduo.
90 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Por que a comparação entre pais físicos e espirituais é usada tão amplamente
nas Escrituras? O que podemos aprender disso? (Veja 1Coríntios 4.15.16; 2Coríntios
12.14,15; Gálatas 4.19; 2Timóteo 1.2; Tito 1.4; 3João 4).
2) Qual das quatro responsabilidades do pai espiritual para com as pessoas que
ele está treinando é a mais usada, e qual é a menos usada em sua:
a) Classe de Escola Bíblica Dominical?
b) Culto de adoração?
c) Treinamento da igreja?
d) Treinamento pessoal da parte de outra pessoa?
3) O que pode ser feito agora dentro da sua comunidade para estimular uma
reação amorosa para com cada novo membro da igreja ou novo convertido?
4) Discuta algo que você achar útil, tirado da sua experiência com a hora tranquila
da semana.
5) Como pode você encorajar outra pessoa em seu contato diário com Deus?
6) Discuta a possibilidade de:
a) Fazer anotações dos sermões e compartilhá- los em família;
b) Fazer a análise de capítulo da Bíblia em grupo, como o Salmo 1 e o Salmo 23.
7) Discuta as três áreas de tentação que podem destruir os discípulos em crescimento.
Como você pode ajudar alguém que conhece a experimentar vitória
em uma dessas áreas?
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 91
10. DETERMINE O RITMO
“Um sermão vivo vale cem explicações” – Robert Coleman
Ritmo é um termo emprestado das corridas. Um corredor lidera o grupo determinando
o ritmo para os outros seguirem. Desta maneira, eles não correrão
depressa demais, para não se esgotarem, nem devagar demais e não terminarem
bem. Se o discípulo não tem um ritmo determinado para ele, é- lhe muito difícil
saber como está se saindo.
JESUS DEU- NOS O EXEMPLO
Jesus ensinou, primeiramente, pelo exemplo de sua vida diária, que ele compartilhou
abertamente com os seus discípulos. J. M. Price escreve: “O primeiro, e provavelmente
o maior aspecto do treinamento dos discípulos foi a associação pessoal
com ele, aprendendo através do exemplo e imitação. Eles o observavam enquanto
ele mostrava simpatia, consolava, alimentava e curava, e captaram o seu espírito.” 34
Jesus dedicou- se muito a ensinar pelo exemplo. Ele mandou que os discípulos
testificassem dele, como ele lhes disse: “Porque estais comigo desde o princípio”
(Jo 15.27 – o grifo é meu). Mais tarde, quando os membros do sinédrio observaram
a intrepidez de Pedro e João, “reconheciam que haviam eles estado com
Jesus” (At 4.13). O tempo gasto em observar e aprender pelo exemplo de Jesus
foi evidenciado publicamente na vida de Pedro e João.
PAULO – OUTRO DETERMINADOR DE RITMO
Paulo também deu exemplo deliberado para os seus seguidores. Ele lhes ordenou:
“O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim,
isso praticai; e o Deus de paz será convosco” (Fp 4.9). “Porque vós mesmos sabeis
como deveis imitar- nos [...] para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes”
(2Ts 3.7- 9).
34
PRICE, J. M. Jesus the Teacher. Nashville, Tennesse: Sunday School Board, 1946, p. 43.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 93
Devemos ter um gume cortante de pureza que
transforme pessoas sem visão em discípulos
orientados para o alvo
O exemplo de Paulo como regulador de ritmo preparou o caminho para os
seus discípulos se tornarem multiplicadores. Em 1Tessalonicenses 1.6- 9, ficamos
sabendo que os novos crentes (a segunda geração) eram seguidores de Paulo
(primeira geração), de forma que, imediatamente, se empenharam na evangelização.
No versículo 7, Paulo se refere aos tessalonicenses como exemplo para os
outros (que se tornariam uma terceira geração espiritual). A palavra grega traduzida
como exemplo também significa “molde” ou “padrão”. Os primeiros imitadores
de Paulo, então, tinham tornado os moldes pelos quais outros podiam, por sua
vez, tornar- se imitadores; desta forma, a multiplicação ia ocorrendo.
QUALIDADES ESPIRITUAIS DOS
DETERMINADORES DE RITMO
O que faz uma pessoa querer seguir outra de maneira genuinamente bíblica?
Deve haver, na vida do determinador de ritmo, certas qualidades dignas de serem
copiadas que desafiem o discípulo. Você precisa exemplificar essas qualidades
para que possam multiplicar- se por meio de outras pessoas.
Entrega – Precisa haver tanto uma entrega inicial (veja Romanos 12.1) como
uma renovação diária, à medida que Cristo continuamente vá revelando novas
verdades por meio da Palavra. Essa entrega significa a desistência de direitos;
não apenas os meus direitos individuais, mas o meu trabalho, família e futuro
precisam ser todos rendidos a Cristo.
Oswald Chambers faz observação a respeito da recusa a se render: “Se eu
ouvir o chamado de Deus e me recusar a obedecer, torno- me o mais estúpido
e vulgar dos crentes, porque ouvi e vi, e me recusei a obedecer.” 35 Se você está
achando que a vida cristã é insípida, talvez haja em sua vida uma área de desobediência
não confessada. Pergunte- se: Cristo é o Senhor agora mesmo, neste
momento, em todas as áreas da minha vida? A resposta precisa ser sim, para que
você possa orientar outras pessoas.
35
CHAMBERS, Oswald. Disciples Indeed. London: Marshall, Morgan na Scott, 1955, p. 10.
94 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Separação – Precisa haver separação das coisas mundanas e de um padrão
mundano de valores. Devemos ter um gume cortante de pureza que transforme
pessoas sem visão em discípulos orientados para o alvo. Precisamos perguntar a
nós mesmos: a minha vida é parecida com a de Cristo? Ela o glorifica? Estamos
escutando a “voz mansa e delicada” de Deus? Reconhecemos que a nossa cidade,
alvos e futuro estão no céu? (Veja Colossenses 3.1.)
Pedro escreveu: “Pelo que, amados, como estais aguardando estas coisas,
procurai diligentemente que por ele sejais achados imaculados e irrepreensíveis
em paz” (2Pe 3.14). Ele recomendou aos crentes de sua época que cultivassem
uma percepção da segunda vinda de Cristo a fim de se separarem das preocupações
do mundo.
Basicamente, mundanismo é a exclusão do senhorio de Cristo como centro da
vida. É uma atitude mental de desejar fazer as coisas à nossa maneira. O acróstico
tempo é um teste bom e positivo da vontade de Deus:
Tempo – É o meu servo ou meu senhor?
Equidade – Com este ato, o que estou me tornando? Isto é algo que me ajudará
a crescer espiritualmente?
Ministério – Sou capaz de ministrar às necessidades mais profundas dos outros
por meio desta ação?
Pregação – Esta escolha me capacita a fazer avançar a grande comissão?
Oração – Posso fazer isto em oração? Tal ação desfaz a minha comunhão
com Deus?
Disciplina sistemática – Outra qualidade importante que caracteriza um
multiplicador eficiente é disciplina sistemática na Palavra e na oração – fatores
básicos da vida espiritual.
Você dirigirá outros se tem hábitos disciplinados de crescimento. À medida que
aqueles que o seguem adaptarem os seus bons hábitos, eles também crescerão.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 95
QUALIDADES DE LIDERANÇA DO
DETERMINADOR DE RITMO
Além das qualidades espirituais, aqui estão alguns elementos básicos de liderança
que todo edificador de multiplicadores precisará ter para que possa liderar.
Motivação – Oswald Chambers observa:
A motivação precisa ser primeiramente a ordem de Jesus [...] a grande nota dominadora
não são as necessidades dos homens, mas a ordem. Consequentemente, a verdadeira
fonte de inspiração está sempre por detrás, e nunca na frente. Hoje, a tendência é colocar
a inspiração na frente [...] para varrer tudo diante de nós, e expor tudo de acordo com o
nosso conceito de sucesso. 36
As motivações são traiçoeiras. Quando as coisas estão indo bem, as pessoas
estão alegres. Mas, quando os tempos são maus, o missionário, pastor ou fazedor
de discípulos fica em dúvida se deve desistir ou se entendeu mal a sua vocação
recebida de Deus. Ele não deve ser desviado do alvo pelas circunstâncias. A
ordem do nosso Senhor – “Enquanto ides, fazei discípulos” – precisa ser a nossa
motivação suprema. As suas ordens são a sua capacitação. Os homens mudam,
desmaiam e falham. A sós com Deus, o líder recarrega as suas baterias espirituais,
meditando no exemplo do seu vitorioso Senhor.
Bom julgamento – Espere pacientemente diante do Senhor. Reúna todos os
fatos. Consiga o conselho de que necessita de pessoas esclarecidas. Creia que
o Senhor suprirá a sua sabedoria (veja Tiago 1.5). Depois, tome uma decisão de
todo o coração. Deus abençoará um coração inteiramente dedicado a discernir
e a pôr em prática a sua vontade.
Iniciativa – Iniciativa é fazer a coisa certa sem necessidade de ser mandado.
Algumas pessoas têm medo de tentar qualquer coisa nova. Alguns crentes esperam
para serem guiados pelo Espírito com medo de que “passem à frente do Espírito”.
Se você é um filho de Deus, pode estar certo de ser guiado pelo Espírito (veja
Romanos 8.14). Creia nele.
36
CHAMBERS, Oswald. So Send I You. Fort Washington, Pennsylvania: Christian Literature Crusade,
1975, p. 74.
96 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Entusiasmo – A emoção é contagiante. O povo é empolgado por ela. A visão
de um Deus Todo- poderoso evidenciada na vida de um líder contagia o discípulo.
“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze- o conforme as tuas forças” (Ec 9.10).
“E tudo quanto fizerdes, fazei- o de coração, como ao Senhor, e não aos homens,
sabendo que do Senhor recebereis como recompensa a herança” (Cl 3.23,24).
Certa vez, J. C. Ryle escreveu:
“Zelo, em matéria de religião, é um desejo abrasador de agradar a Deus, fazer a sua vontade e
fazer a sua glória brilhar pelo mundo de todas as maneiras possíveis. É um desejo que ninguém
pode sentir naturalmente – mas que o Espírito coloca no coração de cada crente quando ele
se converte – e que alguns crentes sentem muito mais fortemente do que outros, a ponto de
acharem que só eles merecem ser chamados de zelosos [...] Um homem zeloso em matéria de
religião é proeminentemente um homem de um alvo só. Não é suficiente dizer- se que ele é
sério, sincero, não se abala, é eficaz, cordial e fervoroso de espírito. Ele só vê uma coisa, dela
cuida, para ela vive e é por ela absorvido: agradar a Deus [...] e fazer brilhar a sua glória”. 37
Um zelo santo é essencial para liderança. Cristo é o nosso exemplo: “Lembraramse
então seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará” (Jo 2.17).
Flexibilidade – A experiência é uma grande mestra, mas, algumas vezes, ela
nos pode trancar em tradição estéril. Fique alerta a respeito da possibilidade de
que haja sempre um caminho melhor. Abertura para o Espírito Santo conserva
a pessoa num relacionamento correto para o mundo ao seu redor. Aprenda a
diferença entre um princípio da Palavra de Deus e os métodos dos homens. O
evangelho permanece o mesmo; os métodos humanos mudam. 38
Apreciação – A arte rara de encorajar alguém por meio de louvor genuíno
é um sinal de sua capacidade de amar. Manifeste reconhecimento verbal pela
energia despendida pelas pessoas que estão ao seu redor. Uma carta pessoal de
apreciação é um raro tesouro.
Paciência – Jesus nunca estava com pressa. Atos e palavras silenciosas instilam
confiança em seus seguidores. Tão somente esta qualidade de liderança tem- se
37
RYLE, J. C., citado em Knowing God, por J. I. Packer. Downers Grove, Illinois: Inter Varsity Press,
1973, p. 156 e 157.
38
Este assunto é tratado de forma exaustiva no livro De volta aos princípios, do pr. Fabrício Freitas,
livro integrante da Visão de Igreja Multiplicadora.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 97
demonstrado mais proeminente quando observo líderes do que qualquer outro
ingrediente.
A pressa sempre implica falta de método definido, confusão e impaciência por
causa de crescimento vagaroso. A pressa parece prover um substituto de energia
para um plano claramente definido. É uma falsificação da rapidez. N. G. Jordon
escreve: “Tudo o que é grande, na vida, é produto de crescimento vagaroso;
quanto mais novo, maior, mais alto e mais nobre for o trabalho, mais lento será
o seu crescimento e mais certo o seu permanente sucesso”. 39
POR QUE OS LÍDERES FRACASSAM
De acordo com um estudo recente, o sucesso na liderança é devido 15% a
treinamento e perícia técnica e 85% à dedicação, experiência e dons espirituais
do líder. A lista de principais razões para o fracasso inclui:
• Falta de iniciativa;
• Falta de ambição;
• Descuido;
• Falta de espírito de cooperação;
• Preguiça.
O fazedor de discípulos deve analisar a sua vida à luz das Escrituras para ver
se alguma dessas características está presente. “Sonda- me, ó Deus, e conhece o
meu coração; prova- me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum
caminho perverso, e guia- me pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24).
QUANDO A DETERMINAÇÃO DO RITMO PODE
SER PERIGOSA
Corremos o risco de esperar muito de uma pessoa ou de dar valor demasiado
à outra. Os homens falham e continuarão falhando. Quando um membro da
39
JORDAN, N.G. The Majesty of calmness. Old Tappan, New Jersey: Fleming H. Revell Company,
1956, p. 17.
98 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
igreja abandona a comunidade porque vê pecado ou falhas na vida de um líder
está se centralizando em pessoas e não em Cristo.
Para evitar esse perigo, precisamos correr a carreira da vida focalizados no
determinador de ritmo final: “Fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da
nossa fé” (Hb 12.2).
Focalize- se em Jesus, mas lembre- se que, como determinador de ritmo, outras
pessoas estarão se focalizando em você como seu exemplo terreno.
“Prefiro antes ver do que ouvir um sermão.
Prefiro que a pessoa ande comigo, em vez de meramente me mostrar
o caminho.
O olho é um aluno melhor, e muito mais disposto do que o ouvido.
O bom conselho é confuso, mas o exemplo é sempre claro.
O melhor de todos os mestres é o que vive o que ensina.
Ver as coisas boas postas em ação é o que todo mundo precisa.
Logo aprenderei como fazê- lo, se você me deixar ver como é que se faz.
Posso ver as suas mãos em ação, mas a sua língua pode correr demais.
As palestras que você faz podem ser muito sábias e verdadeiras, mas, prefiro
aprender a minha lição observando o que você faz, pois eu posso entender
mal os sublimes conselhos que você dá, porém, não há mal-entendidos
quanto à maneira como você age e vive” (Autor desconhecido).
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 99
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Porque o princípio de “segue- me” do Novo Testamento é basicamente negligenciado
como princípio operante nos ministérios de discipulado hoje?
2) Por que a obediência à Bíblia é muito mais compulsória do que cantar, frequentar
os cultos ou ouvir lições e mensagens?
3) Descreva três qualidades de um determinador de ritmo que você precisa
desenvolver de maneira especial.
4) Considere as sete qualidades de liderança para os determinadores de ritmo.
5) Qual delas é a mais importante para você?
6) O que você adicionaria a essa lista e por quê?
7) Discuta um ou mais riscos na determinação de ritmo aos quais você é suscetível.
8) Como pode uma pessoa encontrar o equilíbrio essencial a um ministério
“modelador”?
9) Por que um determinador de ritmo é essencial para treinar um cirurgião, um
piloto de avião ou um discípulo multiplicador?
100 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PARTE IV
A PRÁTICA:
DÊ INÍCIO AGORA
11. SELECIONANDO LÍDERES
MULTIPLICADORES POTENCIAIS
“Não é quantos homens, mas que tipo de homens” – Dawson Trotman
O Dr. Hudson Taylor, fundador da China Inland Mission, no fim do século
19, tinha, no interior da China, cerca de mil missionários, o que é um número
surpreendente. Em apenas um ano, o pugilo de trabalhadores de Taylor perdeu
38 missionários e filhos de missionários, por meio da morte, mas outros estavam
prontos a substituí- los.
Muitas vezes, o Dr. Taylor foi interrogado acerca de como era capaz de recrutar
tantos obreiros. Ele replicava que havia duas razões para esse fluxo extensivo de
trabalhadores para a China:
Oração – “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua
seara” (Mt 9.38). Cada ano, pela fé, Taylor e seus colegas pediam um número
específico de pessoal novo, em suas orações. Deus honrava a sua intercessão
específica.
Vidas saturadas com a Palavra de Deus – O Dr. Taylor dizia que, para conseguir
trabalhadores, precisa haver um aprofundamento na Palavra de Deus diariamente
nas vidas de leigos de ambos os sexos, de forma que eles não possam
dizer “não” ao chamado de Deus.
Estes dois conceitos revolucionaram mais de um ministério.
COMO ENCONTRAR DISCÍPULOS POTENCIAIS
EM SUA IGREJA
Procurar um discípulo com quem você possa compartilhar a sua vida é uma
aventura emocionante. Aqui estão algumas diretrizes acerca de como consegui- lo.
Comece em oração. O foco da estratégia de oração de Jesus, em Mateus 9, era
pedir “trabalhadores, ceifeiros, obreiros e discípulos”. Peça a Deus trabalhadores
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 103
para a seara. Esta é a ordem de Cristo. Jesus passou uma noite inteira em oração
antes de escolher os 12 (veja Lucas 6.12).
Procure uma pessoa faminta. Dawson Trotman, fundador dos Navegantes (The
navigators), disse que precisamos “encontrar um homem que deseje o melhor
que Deus tem para a sua vida, e que esteja disposto a pagar qualquer preço para
consegui- lo” 40 . “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles
serão fartos” (Mt 5.6).
Uma pessoa dessas era um homem culto chamado Charles, que desejava
obter respostas para as suas interrogações acerca da Bíblia. O seu primeiro dia
em nosso programa da Escola Bíblica Dominical foi o começo de uma nova vida
para Charles. O seu professor era um ex- missionário, que não apenas respondeu
às difíceis perguntas de Charles com textos bíblicos, mas visitou pessoalmente
Charles para proceder ao “seguimento”. Eles se reuniram durante seis semanas
usando cada semana estudos sobre o Evangelho de João que nós usávamos para
todos os novos membros.
Depois disso, comecei a visitar Charles em sua casa. Encontrei um homem
faminto. Ele havia descoberto a Palavra de maneira nova. Começou a estudar a
Bíblia, primeiro durante uma hora, depois duas, por noite – descobrindo pessoalmente
novos tesouros nas Escrituras. Levei- o para visitar não crentes e Charles
começou a ganhar outras pessoas para Cristo.
Enquanto ele continuava a crescer espiritualmente, pedimos- lhe para dar
aulas em uma classe de jovens casados do sexo masculino. Depois, ele se tornou
diácono. Daquela mente questionadora, científica, originou- se um homem
piedoso e terno.
Agora, alunos que saíram da sua classe estão espalhados por todo mundo e
pelo menos oito deles estão no ministério de tempo integral. Estão reproduzindo
a vida de Charles repetidas vezes por meio da multiplicação espiritual.
Procure mais do que uma aparência exterior agradável. É difícil olhar para
uma pessoa apenas com os olhos da fé. Temos a tendência de olhar para a pes-
40
Dawson Trotman, de uma mensagem apresentada em uma conferência da equipe dos Navegantes
em Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos, em 1951.
104 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
soa que tem aparência de líder. Contudo, Deus não nos escolhe com base no
que somos, mas no que podemos nos tornar pela sua graça. As pessoas menos
prováveis, frequentemente, se tornam as maiores fazedoras de discípulos. “O
homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”
(1Sm 16.7).
Ao considerar os membros médios da igreja no primeiro século, Paulo disse:
“Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem
muitos os poderosos, nem muito os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu
as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas
do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as
desprezadas e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se
glorie na presença de Deus” (1Co 1.26- 29).
Tínhamos quatro obreiros no nosso ministério de ônibus (para buscar as pessoas
para os cultos) que estavam sempre atrasados, mas eles estavam trazendo
cerca de 100 crianças e adolescentes para a Escola Bíblica Dominical todos os
domingos. Outras pessoas, que eram as mais pobres da igreja, tinham o coração
mais aberto para contribuir. Muitos, com menos cultura, gastavam mais tempo
ministrando na igreja do que os que tinham qualificações acadêmicas impressionantes.
Deus pode obter mais glória algumas vezes, parece, dos que têm menos
qualificações que os recomendem.
Por exemplo, um dos nossos filhos tem atraso mental devido a problemas
no nascimento. Não obstante, a sua fé em Cristo e a sua crença extasiante em
respostas instantâneas à oração continuam a ministrar a mim e a me desafiar.
Deus utiliza tanto os fracos quanto os fortes. Não despreze nenhuma fonte de
mão de obra.
Fique alerta quanto aos que são fiéis e capazes de ensinar. Só os fiéis são
qualificados para exercer um discipulado pessoal extenso.
Procure discípulos nas sessões de aconselhamento. Um dos membros de
nossa igreja, Hugo, estava tendo profundos problemas de pecado. O seu casamento
estava em frangalhos. Nível de vida alto, barcos caros e pressões nos negócios
haviam cobrado um preço alto na sua vida. Um de nossos leigos começou
a aconselhar Hugo. Tínhamos um grupo que orava diariamente por ele e Deus
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 105
começou a virar a maré em sua vida. Aos poucos, ele começou a crescer e fez
uma decisão pública por Cristo. Abandonou o emprego que lhe pagava um alto
salário, terminou a universidade e cursou um seminário.
Usando a sua casa como base, Hugo e sua esposa começaram um ótimo ministério,
discipulando pessoalmente adultos jovens, ministério esse que produziu
um fluxo constante de vidas transformadas. Muitos moços estão no seminário
agora, por meio da multiplicação espiritual de Hugo. Deus usou um problema
para transformar um coração duro em um devotado fazedor de discípulos.
Esteja aberto para fontes inesperadas. Algumas pessoas irão a você vindas
“do nada”. Bem pode ser que essas sejam as que Deus mandou atravessar o seu
caminho em resposta às suas orações pedindo um discípulo para treinar. Mas,
lembre- se: se uma pessoa está verdadeiramente faminta, buscará a verdade
em qualquer fonte que você sugerir em sua igreja. Observe os que desejam ser
instruídos apenas pelo pastor ou por determinada pessoa. O orgulho pode estar
impedindo-os.
Aproveite- se de todas as reuniões de grupos. Uma classe de Escola Bíblica
Dominical é um lugar natural para encontrar discípulos (lembre- se do alcance
do ministério de Eduardo Kimball iniciado na Escola Bíblica Dominical). Retiros e
conferências propiciam impulso extra pela interação em grupos pequenos e uma
série de mensagens acerca de dedicação. Um orador cheio do Espírito e líderes
fortes de grupos de estudo ajudarão os membros da igreja a avançar bastante
no caminho do discipulado.
Utilize um grupo escolhido que já esteja servindo na igreja. Não deixe de
lado o óbvio: professores, diáconos e administradores.
Não ignore os membros de sua família. Não podemos negligenciar as pessoas
mais importantes da nossa vida. Um pai pode reunir- se com o seu filho adolescente,
a mãe, com a filha. O lar dá mais exposição à sua vida do que qualquer
outra situação de discipulado. Pode- se perguntar: Se você não pode desenvolver
O lar dá mais exposição à sua vida do que qualquer
outra situação de discipulado
106 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
um discipulado com seus filhos, trabalhando com eles o tempo todo, como poderá
ajudar outras pessoas, trabalhando apenas um tempo parcial? Estabeleça o
ritmo, começando em casa.
ALVOS-CHAVE PARA OS MULTIPLICADORES
Para quando você começar a ensinar e treinar outros, aqui estão alguns alvos
específicos a estabelecer diante do seu discípulo.
Desenvolvimento do caráter – A qualidade de vida é mais importante do que
a quantidade de atividade no ministério. O seu discípulo é puro e honesto? Quais
são os padrões de sua vida diária? Se, por exemplo, recebe um troco errado em
uma loja, ele imediatamente o devolve? “Quem é fiel no pouco, também é fiel no
muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito” (Lc 16.10).
Como foi explicado no capítulo a respeito de se determinar o ritmo, as qualidades
do multiplicador se tornam um modelo motivador para o discípulo. A
transmissão da verdade pelo exemplo é uma responsabilidade solene. Se o original
é distinto, as suas cópias também serão claras.
Um ponto de vista compreensivo – Ensine à pessoa que você está discipulando
a ter uma visão do mundo todo. Ela precisa aprender como alcançar pessoas
além do seu ninho. Ore com ela sobre mapas da cidade, do estado, da nação e
do mundo. “Ser- me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). Comece em casa, mas, depois, projete
e cultive uma visão para alcançar o mundo todo. 41
Competência – A respeito de Jesus, falou- se: “Tudo tem feito bem” (Mc 7.37).
A filosofia moderna é fazer o mínimo que pudermos. A síndrome do “vailevando”
está tomando conta da igreja.
Paulo escreveu: “Não servindo somente à vista, como para agradar aos homens,
mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6). Estabeleça
alvos e padrões elevados para você mesmo e para o seu discípulo e,
41
Algumas estratégias de oração podem ser encontradas no livro Igreja Multiplicadora, p. 25-47.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 107
Ensine à pessoa que você está discipulando
a ter uma visão do mundo todo
graciosamente, envide os seus melhores esforços para o Senhor. Depois de um
programa de visitação, testemunho ou qualquer outra atividade no ministério
com o seu discípulo assentem- se e avaliem juntos o que fizeram. Tendo alvos,
planejamento e padrões, o discípulo em crescimento aprende a edificar qualidade
no seu ministério.
Estabilidade – O fazedor de discípulos tem apenas a força do amor e a sua
estabilidade na vida para atrair e alcançar os outros. Aqui estão algumas características
espirituais estáveis que atrairão pessoas famintas aos seus discípulos:
• Ser cheio do Espírito, o que resulta em uma atitude positiva;
• Memorização das Escrituras;
• Vida devocional diária, que inclui estudo bíblico e oração intercessória;
• Expressão pessoal de fé no lar, no trabalho e em ambiente sociais.
Ore para que o Senhor da seara lhe mostre as pessoas que desejam conhecer
melhor o seu Senhor. Comece, logo que possível, a desenvolver o caráter, a visão
mundial, competência e estabilidade no seu discípulo.
108 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Que duas maneiras são sugeridas por Hudson Taylor para conseguir “mais
trabalhadores para a seara” por meio da sua igreja?
2) O que você pode fazer agora para implementar essas duas ideias no ministério
da sua igreja?
3) Personalize a lição:
a) Relacione o nome de pessoas de sua igreja que são discípulas em potencial:
Outros:
b) Depois de orar, reduza a sua lista de pessoas a cinco. Relacione os seus
nomes aqui. Elas precisam ser famintas e fiéis e aptas para ensinar:
c) Agora, peça ao Senhor para mostrar- lhe especificamente uma ou duas
pessoas deste grupo que ele gostaria que você discipulasse.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 109
12. COMECE NA SUA IGREJA HOJE
“A igreja existe por meio das missões assim como fogo existe por meio
da queima de combustível” – Emil Brunner
Nada que perdura cresce da noite para o dia. Os cogumelos crescem rapidamente,
mas as sequoias levam séculos – a diferença em seu valor duradouro é
indisputável. Edificar discípulos é propósito que está no coração de Deus para
a sua igreja. O seu plano é que a igreja multiplique trabalhadores para a seara.
Nunca precisamos ter medo de começar algo silencioso, em pequena escala.
Deus fará com o que é seu cresça. “Se a raiz é santa, também os ramos o são”
(Rm 11.16).
COMO ENSINAR E MOTIVAR OUTROS A
MULTIPLICAR
Visto que é necessário um discípulo para edificar outros discípulos, a cadeia
de multiplicação começa com você. Comece com um discípulo apenas. Derrame
a sua vida nele, usando algumas das diretrizes exaradas neste livro. Ao começar,
use estes princípios- chave de ensino e motivação:
Diga- lhe por quê. Ao ensinar o seu discípulo a orar, por exemplo, diga- lhe por
que é importante orar. Há pelo menos 15 razões bíblicas para orar. Compartilhe
isso com ele, durante certo tempo, enquanto vocês oram juntos.
Mostre-lhe como. Jesus disse: “Segue- me”, e não: “Escuta- me.” Aprendemos
fazendo. As palavras são um pobre substituto para uma figura. Você já leu um
livrete ensinando “Como dar laços em sapatos”? Imagine construir as frases para
descrever os passos necessários para isso.
Se você quer encorajar o seu discípulo a estudar diariamente a Bíblia, convide- o
a reunir- se com você para ver como você o está fazendo. Ensine-lhe como usar os
vários métodos de estudo bíblico. Senão, ele se tornará tragicamente dependente
de outras pessoas para ser alimentado com as Escrituras.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 111
Ensine também por exposição. A razão por que tão poucas pessoas testificam
é que nunca tiveram uma experiência positiva em ganhar almas. A sala de aconselhamento
de sua igreja deve ser o lugar mais emocionante da cidade. Leve um
discípulo- conselheiro em perspectiva a essa maravilhosa experiência. Mostre- lhe
como levar alguém a Cristo. Leve- o com você a uma casa e deixe que participe
do seu testemunho até que ele seja capaz de levar outra pessoa a Cristo.
Faça com que ele comece. Dê a seu discípulo tarefas específicas. Ele precisa
saber que são tarefas que você executou ou está executando atualmente. Porque
você estabeleceu o ritmo de padrões elevados, espera- se que ele complete o
seu trabalho com excelência.
Deixe que ele fique sabendo, se tem um problema com o projeto, que você é
uma pessoa a quem recorrer, que o ajudará de qualquer forma que lhe seja possível.
Telefone- lhe durante a semana. Intensifique o seu relacionamento pessoal
com ele. Torne- se disponível para ele. O evangelho não teria sido levado a todo
o mundo romano, e até além, se Cristo tivesse formalizado e limitado o acesso
dos seus discípulos a ele.
Mantenha- o em movimento. Verifique a tarefa que lhe foi atribuída. “Seguimento”
é importante. Não há nada mais desapontador para um jovem discípulo
do que ter trabalhado durante a semana com todas as forças e depois ver você
passar os olhos por alto sobre os seus esforços ao vocês se encontrarem. As
pessoas dão mais atenção ao seu trabalho quando sabem ele será inspecionado.
Uma professora da Fundação Narramore recebeu a responsabilidade de ensinar
crianças desajeitadas e crianças- problemas. Orando fervorosamente em favor de
cada criança, essa professora incomum se dedicou a escrever diariamente uma
nota de congratulações a cada criança acerca de algum aspecto do seu trabalho.
Algumas vezes era um desafio mesmo escrever apenas uma sentença nos casos
mais difíceis, mas essa cuidadosa professora sempre encontrou algo construtivo
para dizer. Gradualmente, a sua classe se transformou em um milagre. Algumas
crianças passaram a tirar boas notas pelo resto do ano.
O aprendizado aumenta mediante um sistema positivo de recompensas. É
fácil qualquer um fazer outra pessoa em pedaços, mas é necessário inspiração
112 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
do Espírito Santo e amor para cumprimentar sinceramente uma pessoa pelo bom
trabalho que ela está realizando.
Para motivar enquanto ensina, aceite a pessoa totalmente. “Como na água o
rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Pv 27.19).
Não podemos esconder uma atitude de não- aceitação, isto é, de rejeição. Isto não
significa que aprovamos tudo o que a pessoa faz, a fim de aceitá- la totalmente.
Cristo nos aceitou, amando- nos em extremo; não obstante, os nossos pecados
estavam diante dele (veja João 13.1 e Romanos 5.6- 8).
Mostre a sua aceitação ouvindo atenciosamente. Fique quieto e deixe a outra
pessoa falar. Você vai aprender muito.
Afirme o seu discípulo. Não deixe que uma atitude de “sabichão”, de sua
parte, o destrua.
Logo que nos casamos, minha esposa vinha a mim com o estudo bíblico dela
e, entusiasticamente, mostrava- me uma nova verdade que havia acabado de
descobrir. Algumas vezes eu dizia: “Que bom você achou isso, querida; mas eu
achei isso há 12 anos, quando estava pesquisando um verbo grego”. Eu matava
a alegria dela imediatamente.
Desde então, aprendi a demonstrar entusiasmo quando ela compartilha as
Escrituras comigo. Verifico também a aplicação que faço da descoberta dela e
comento- a com ela. Desta forma, ela é encorajada e eu também aprendo.
A minha necessidade de encorajamento tem sido satisfeita muitas vezes enquanto
faço estudo da vida de personagens bíblicos, vendo a maravilhosa graça de
Deus em suas vidas. Lendo biografias, tenho também encontrado uma excelente
fonte de encorajamento por meio da capacidade sobrenatural de Deus de usar
pessoas comuns para a sua glória.
Ensine-lhe a multiplicar-se. Mantenha o alvo de multiplicação espiritual
constantemente diante dos olhos do seu discípulo. Juntamente com os métodos
e materiais tirados da Bíblia, ensine- lhe também como passar adiante o que ele
aprende aos discípulos que ele futuramente alcançará.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 113
EXECUTANDO TREINAMENTO PARA O
DISCIPULADO EM SUA IGREJA
Aqui estão vários meios pelos quais você pode levar a sua igreja a executar um
treinamento extensivo de discípulos:
1) Use as estruturas e organizações em grupo existentes na igreja, tais como
classes de Escola Bíblica Dominical e pequenos grupos;
2) Use a visitação evangelística para engajar a pessoa que você está treinando
para o discipulado num trabalho com os perdidos. Isto se torna uma importante
fonte de multiplicação;
3) Use retiros e conferências. Por meio de vários retiros ou acampamentos, de
um ou dois dias, Deus levará os discípulos em potencial à dedicação essencial
para o passo seguinte do seu crescimento em direção à multiplicação;
4) O pastor tem um papel importante no discipulado. Ele deve ser um modelo
para os outros membros da igreja seguirem. Ore, fielmente, pelo crescimento
espiritual do seu pastor. A formação da liderança deve ser uma prioridade no ministério
do pastor. Ele pode começar a discipular os seus oficiais e seus diáconos,
e deve reunir- se também regularmente com um ou dois leigos;
5) As pessoas que estão discipulando outras devem reunir- se mensalmente 42
para analisar os progressos feitos. O crescimento futuro da igreja e a preparação
de líderes dependem mais da influência deste grupo do que de qualquer outro
grupo na congregação. Ore, nominalmente, por todos aqueles que estão sendo
influenciados pelo ministério de discipulado. Durante o mês, observe experiências
positivas que possam ser partilhadas, nessa reunião, para encorajamento.
Recapitule a ordem de Cristo de fazer discípulos de todas as nações. Ore para
que Deus chame pessoas de sua igreja para o trabalho missionário nacional e
estrangeiro.
42
De acordo com a função de liderança ou supervisão que uma pessoa tem em relação à cadeia
de discipulado, esse tempo pode variar para semanalmente ou quinzenalmente. Recomendamos
a leitura do capítulo 5 do livro Pequeno Grupo Multiplicador (p. 61-66).
114 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Diagrame o progresso do seu ministério de discipulado desenhando as cadeias
de multiplicação de sua igreja em um quadro- negro 43 . Observe o aparecimento
do fruto da quarta geração, “também [...] os outros” de 2Timóteo 2.2. Dê valor
aos que estão investindo as suas vidas em uma ou duas pessoas.
COMECE AGORA
Comece escolhendo um multiplicador em potencial, depois de muita oração.
Ele precisa ser fiel e apto para ensinar. Realize uma série de reuniões com tarefas
para casa a respeito dos princípios básicos do discipulado para ele realizar. Se
ele mostrar ainda mais interesse, então, marque reuniões para um período de
até seis meses. Logo você verá se Deus está usando você para ministrar a ele e
se ele é um multiplicador em potencial.
Tenha encontros regularmente com a pessoa que você está discipulando. Esse
período ininterrupto é de valor inestimável para medir o ritmo de uma pessoa
em Cristo. Leva tempo para se conhecer bem uma pessoa. A hora do dia não é
tão importante quanto reuniões regulares.
Escolha um local neutro, que seja suficientemente silencioso, para vocês conversarem
e orarem juntos sem interrupções, telefonemas ou outras coisas que
desviem a atenção.
A média deve ser de uma hora para se abrir de coração, verificação de tarefas,
oração e ensino de novas matérias. Cuidado para não passarem o tempo todo
resolvendo problemas. Um pouco disso é essencial, mas pode ser que vocês
precisem marcar outro horário, dedicado a essas dificuldades, se elas começarem
a absorver o tempo das reuniões. A base do seu tempo de treinamento em um
ministério pessoal é uma ênfase em uma nutrição que propicie crescimento e
aplicação da Bíblia à vida pessoal. Contudo, o discipulado não termina no fim
dessa hora. Dedique- se a se conservar disponível para edificar e orientar o discípulo
por um período mais prolongado de tempo.
43
Atualmente, esse acompanhamento pode ser feito por meio de planilhas e gráficos em computador.
Há um exemplo de organograma de uma Rede de PGMs na página 62 do livro Pequeno
Grupo Multiplicador.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 115
Trabalhe com apenas uma ou duas pessoas por ano em discipulado pessoal.
Deixe que a sua multiplicação aconteça a partir desse começo pequeno. Funciona
mais depressa do que você pensa. Em seis meses vocês serão dois; quatro em um
ano. E então oito, dezesseis, trinta e dois, e sessenta e quatro em apenas três anos.
Se você continuar durante três anos na vida espiritual sem qualquer multiplicação,
pense no que poderia ter feito – pense no que pode começar a fazer AGORA.
Os seus descendentes espirituais podem logo alcançar os confins da terra.
Mantenha o seu outro grupo de treinamento de ministérios, mesmo enquanto
estiver se concentrando em um discípulo; você simplesmente não será capaz de
treinar um grupo tão específica e intensamente como o fará com o seu discípulo
individualmente.
Comece um plano de estudo bíblico pessoal que você realize com o seu
discípulo. Dê pelos menos um passo adiante nesse estudo, pois assim você poderá
estar preparado para as perguntas e problemas dele. Você será um modelo
e determinador de ritmo, que ele seguirá.
Use todos os excelentes materiais disponíveis hoje que têm o objetivo de
enriquecer e encorajar o discipulado pessoal. Contudo, lembre- se que é o homem,
e não os materiais, o foco de Deus. A lista de materiais apresentada no fim deste
capítulo propicia muitas fontes que têm sido usadas amplamente e com sucesso
para ajudar as pessoas a crescerem por meio do discipulado individual e em grupo.
Envolva o discípulo na evangelização pessoal. Leiam juntos o livro de Atos.
Faça com que ele prepare o seu testemunho e o pratique, dando- o a você. Em
seguida, saiam juntos. Inicialmente, você testifica, mostrando- lhe como proceder;
depois, progressivamente, deixe que ele aja. Dediquem tempo à visitação
de membros da igreja e moradores das vizinhanças. Muitas gerações espirituais
futuras serão o produto direto da dedicação do discipulador em compartilhar
uma hora por semana com o seu discípulo em evangelização direta.
Lembre à equipe de discípulos que Deus lhe der que o alvo deles é penetrar
em todas as esferas da igreja com o amor de Cristo. Ajude- os a aplicar pessoalmente
as verdades de 1Tessalonicenses 5.12- 25 à vida da igreja. O crescimento
acontecerá. Outros serão atraídos para a comunhão de interesse amoroso e
disciplina, e a multiplicação da vida de Cristo continuará.
116 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Temos aprendido como escolher potenciais multiplicadores por meio da oração
e vidas saturadas com a Palavra de Deus. Verificamos os muitos lugares em que
você pode encontrar discípulos, inclusive, em sua própria família, e reconhecemos
que pessoas comuns, fracas, podem ser usadas por Deus. Discutimos as
qualidades de caráter, ponto de vista compreensivo, competência e coerência
que devem ser edificados na vida de um discípulo.
Os corações famintos querem tudo que o Senhor tem para eles na vida. Eles
estão dispostos a pagar o preço por meio de sofrimento, amor, estudo e disciplina.
Está você disposto a pagar o preço para conseguir alimento espiritual e
depois distribuí-lo?
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Para cada um dos cinco passos do ensino esboçados neste capítulo, descreva
um exemplo concreto que você pode implementar.
2) O que o motivou no começo de sua vida cristã? Qual é a influência motivadora
mais eficiente em sua vida agora?
3) Que ferramentas motivadoras estão sendo usadas para encorajar o povo em
sua Escola Bíblica Dominical ou igreja?
4) O que você pode fazer para encorajar pelo menos uma pessoa a caminhar
pessoalmente mais perto de Cristo?
5) Discuta o papel de Barnabé como motivador e encorajador na vida de João
Marcos e de Paulo (veja Atos 4.36,37; 9.26- 28; 11.22- 26; 13.1- 3; 15.25,26,35- 41).
6) De que modo você caracteriza o Novo Testamento como ferramenta motivadora
para hoje? Partilhe algumas das passagens bíblicas que o motivaram.
7) Como pode você introduzir uma mensagem motivadora a respeito de discipulado
ou de fazer discípulos em sua Escola Bíblica Dominical, culto evangelístico
e outros programas eclesiásticos?
8) Discuta o significado (vantagens e efeitos) de começar com uma ou duas pessoas,
e não com um grupo grande.
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 117
MATERIAIS PARA ESTIMULAR O CRESCIMENTO
ESPIRITUAL
GROVE, Downers. Christ in You. Illinois: InterVarsity Press, 1979.
COLEMAN, Lyman. Serendipity bible studies series. Waco, Texas: WordPublishers,
1979.
COSGROVE, Francis M. Essentials of discipleship. Colorado Springs, Colorado:
NavPress, 1980.
Design for discipleship. Colorado Springs, Colorado: NavPress, 1980.
Discovery I: A guide to christian growth. San Bernardino, Califórnia: Here’s Life
Publishers, 1975.
Grow your christian life. Downers Grove, Illinois: Intervarsity Press, 1979.
Growing in Christ. Colorado Springs, Colorado: NavPress,1980.
KLEIN, Chuck. So you want solutions. Wheaton, Illinois: Tyndale House Publishers,
1979.
LORD, Peter. 2959 plan. Titisville, Florida: Park Avenue: AGAPE Ministries,1976
MILLER, Chuck. Now that I’m a christian. Vol. 1 e 2. Glenadale, Califórnia: Regal
Press, 1979.
MOORE, Waylon. Building disciples notebook. Tampa, Florida: Missions Unlimited,
Inc., 1978
MYRA, Harold. The new you. Wheaton, Illinois: Victor Books/Scripture Press, 1972.
NEIGHBORS, Ralph W. Survivial kit for new christians. Nashville, Tennessee:
Convention Press, 1979.
PRATNEY, Winkie. A handbook for followers of Jesus. Mineapolis, Minnesota:
Bethany Fillowship, 1976.
Ten basic steps to christian maturity. Arrowhead Springs, Califórnia: Campus
Crusade for Christ, 1968.
WILLIS, Avery. Masterlife notebook. Nashville, Tennessee: Convention Press, 1980.
118 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
13. QUALQUER PESSOA PODE SE
MULTIPLICAR
“Você está se dando por alguma coisa – o que você está recebendo
em troca da sua vida?” – Roy Robertson
Qualquer pessoa pode discipular outras. Afinal de contas, este é o tema deste
livro. Um ministério fazedor de discípulos pode ter um bom início em sua
igreja local.
Começamos, no início deste livro, contando como foi a cadeia de multiplicação
de um professor de Escola Bíblica Dominical. Terminamos com a história de uma
professora de Escola Bíblica Dominical – alguém que influenciou- me e deu início
à minha cadeia de multiplicação espiritual.
Quando eu tinha dez anos de idade, a minha classe da Escola Bíblica Dominical
teve uma rápida sucessão de professores. Nós éramos um grupo difícil de
aguentar. A mais recente professora, a empertigada sra. Wallen, tinha seus 50
anos e parecia uma presa fácil para nós. Com toda a facilidade, destruímos a sua
primeira aula.
Ela, porém, rapidamente mudou tudo aquilo. Visitou- me e perguntou- me se
eu não podia ajudá- la a conservar a classe quieta, para que os garotos pudessem
ouvir a Bíblia. Provavelmente, ela visitou cada um dos alunos da classe com o
mesmo pedido pois, no domingo seguinte, as coisas foram muito mais silenciosas
e nós começamos a ouvir o evangelho. Ela tornou Jesus tão real que todos nos
convertemos no primeiro ano. As pessoas que influenciam outras de maneira
duradoura para Cristo parecem ter esta capacidade de torná- lo real aos outros.
Pouco antes de sua morte, a sra. Wallen contou- me que tinha orado em favor
de cada um dos seus garotos nominalmente durante 38 anos. Ela sabia onde estavam
todos eles e como estavam servindo ao Senhor. Imagine quantas cadeias
de multiplicação de discípulos ela começou, bem ali em sua classe de Escola
Bíblica Dominical!
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 119
Outro crente comum que influenciou o meu crescimento espiritual foi Bruce
Miller. Eu estava cursando a Faculdade de Direito, na Universidade Baylor,
quando conheci Bruce. Ele estava na minha classe de oratória. Eu tinha pouco
em comum com esse “pregadorzinho”, contudo, parece que eu sempre estava
trombando com ele. Conversávamos por alguns minutos, e eu sempre saía da
presença dele com o coração abrasado. O Senhor estava trabalhando em mim
por meio dele. Comecei a tentar esquivar- me de Bruce, mas parecia que ele me
encontrava em toda parte.
Falei com ele a respeito do trauma causado pela morte de meu pai e pela séria
enfermidade de minha mãe. Disse- lhe que minha irmãzinha estava vivendo com
parentes, meu irmão mais novo já estava se virando por conta própria e eu já
não estava mais tão entusiasmado com respeito a seguir a carreira de Direito. O
amor e o interesse que Bruce demonstrou por mim naqueles dias de provação
venceram-me.
Orando por mim, compartilhando a Palavra comigo e vivendo uma vida
espiritual disciplinada diante de mim, Bruce foi usado por Deus para levar- me
a uma posição de total entrega a Cristo. Foi durante aqueles últimos meses na
universidade que Deus me chamou para o ministério. A direção da minha vida
foi mudada para sempre. Só mais tarde percebi que o que Bruce fizera comigo,
e estava fazendo com outros estudantes, era discipulado neotestametário padrão.
Ele estava fazendo as coisas descritas neste livro.
Enquanto cursava o seminário, comecei a orar de maneira diferente. Em uma
conferência, ouvi Dawson Trotman, fundador dos Navegantes (The Navigators),
descrever como anos antes ele havia orado especificamente em favor de cada estado
dos Estados Unidos, depois por muitos países estrangeiros. Ele pedira a Deus
para fazer três coisas: levantar obreiros nacionais, enviar missionários para treinar
os nacionais e usar a ele pessoalmente em cada um dos países pelos quais orara.
Tomei essa visão de empréstimo para ser a minha oração. Em minha sala pequena,
perto da universidade, ajoelhava- me sobre um mapa do mundo e orava.
Algumas vezes, sentia- me como um bobo quando colocava o dedo sobre os
nomes das capitais dos países estrangeiros.
120 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS
Nem tudo estava indo bem em minha vida pessoal naquela época. Eu não
tinha emprego fixo. Parecia que as juntas ou conselhos das igrejas não queriam
nem pensar em um pregador jovem, sem experiência. Mas, Deus estava usando
aqueles dias para alisar as minhas arestas ásperas e alargar minha visão. Tornei- me
totalmente convencido de que as minhas orações pelo mundo perdido seriam
respondidas.
Logo, Deus abriu os meus olhos para homens de coração faminto por toda
parte. Aprendi muito, embora tenha cometido muitos erros ao tentar ajudar outros.
Mais tarde, pastoreei uma igreja na roça e uma igrejinha na cidade gastando
muito tempo, pessoalmente, com qualquer pessoa que me desse oportunidade
de falar. Fiz com as pessoas o que Bruce fizera comigo. Almas foram ganhas e
vidas transformadas.
Anos mais tarde, preparei uma série de estudos bíblicos simples para o ministério
radiofônico da Pacific Garden Mission em Chicago. As seis lições acerca do
Evangelho de João, que tinham o objetivo de ajudar o “seguimento” de novos
crentes, começaram a fazer efeito. De fato, no decurso de um ano, pessoas de
todos os estados e nove países estrangeiros escreveram que haviam aprendido
a confiar em Cristo por meio daqueles estudos bíblicos. Os seus testemunhos
eram respostas àquelas horas de oração sobre o assoalho com o meu mapa. Isso
era apenas o início.
Encontrei- me com um jovem texano de elevada estatura chamado Max. Ele
tinha muito desejo de testificar e eu o encorajei em seu ministério de evangelização
entre estudantes da Universidade A e M no Texas. Passamos horas juntos,
através dos anos, enquanto discipulei Max e orei por ele. Depois de um tempo,
enquanto estava visitando a Tailândia e a Indonésia, encontrei estudantes atuando
ali, que me disseram: “Você é o nosso bisavô espiritual”. Traçamos a cadeia de
multiplicação espiritual até Max. Agora, Max Barnett é o Diretor de Alunos do
ministério de “campus” da Baptist Student Union, na Universidade de Oklahoma,
que tem um alcance mundial.
O discipulado fica melhor com o passar dos anos porque fica mais rico em
produção pela multiplicação. Por algum tempo ajudei um mecânico que estudara
até o sexto ano, um engenheiro, alguns seminaristas, um aluno da escola bíblica e
Max. Todos os seminaristas mais tarde foram para o campo missionário: México,
MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 121
O púlpito não é apenas para pregar e evangelizar; é
também um ponto de onde se pode satisfazer corações
famintos em cujas vidas o Senhor está trabalhando
Panamá, Vietnã, Indonésia, Brasil e Barbados. O mecânico tornou- se um ativo
diácono e líder espiritual em sua igreja. O engenheiro passou a ensinar, de forma
a ter oportunidade de passar mais tempo diretamente com pessoas a quem ele
pudesse discipular.
Isto funciona na igreja? Certamente. O púlpito não é apenas para pregar e
evangelizar; é também um ponto de onde se pode satisfazer corações famintos
em cujas vidas o Senhor está trabalhando.
No começo do meu pastorado em uma grande igreja na cidade, perguntei
à congregação se havia alguns homens que gostariam de reunir- se comigo na
manhã seguinte em meu escritório, às seis horas, para começarmos a estudar
a Bíblia em profundidade. O grupo nunca passou de oito homens, mas com o
passar dos meses eles cresceram espiritualmente. Eles desenvolveram hábitos de
auto alimentação espiritual que revolucionaram suas vidas. A maior parte deles
foi eleita diáconos, professores e diretores de departamentos na igreja. Daquele
grupo de estudo, escolhi, em oração, dois cada ano, a quem dava mais tempo
para discipulá- los intensa e pessoalmente.
Da ministração a esses homens selecionados originaram- se quase todas as 25
pessoas de nossa igreja que entraram no serviço cristão de tempo integral. Quatro
outros foram para o campo missionário no estrangeiro. E centenas foram ganhos
para Cristo, ano após ano, por esse grupo. Estávamos batizando uma média de
cem pessoas por ano durante 13 anos.
Os leigos, então, começaram a treinar outros em aconselhamento e “seguimento”,
nas igrejas vizinhas (ministério que continua até hoje). Agora nossa
cidade está rodeada de pastores e obreiros que fizeram sua decisão inicial para
ministério por meio desses pequenos grupos de estudos bíblicos e ministérios
discipuladores individuais.
O Senhor continua respondendo a outra parte de minhas orações. Constantemente,
recebo convites de outras terras para compartilhar os princípios de
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“seguimento” e treinamento para o discipulado. Tenho falado em mais de 30
nações e ensinado pessoas de mais de 80 nações.
Qualquer discípulo pode multiplicar sua vida em Cristo aplicando os princípios
bíblicos à sua igreja local. De sua igreja, Deus enviará homens e mulheres que
farão discípulos de todas as nações. Peça- lhes e creia nele.
Posso compartilhar uma oração com você, enquanto você começa esta semana,
a orar por alguém que você possa discipular? “O Senhor Deus de vossos pais vos
abençoe, como vos prometeu” (Dt 1.11).
PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO
1) Quem tem sido a pessoa mais influente em ajudá- lo a desenvolver sua vida
espiritual? Mencione uma ou duas pessoas:
– Mãe
– Pai
– Professor da EBD
– Pastor
– Seminarista ou oficial da igreja
– Parente
– Amigo
– Conhecido
– Outro
2) Como essas pessoas o influenciaram?
3) A sua vida espiritual seria diferente hoje se o seguimento ou discipulado individual
tivesse começado imediatamente depois de sua conversão?
4) Se alguém efetuou o seu seguimento ou o discipulado, como procedeu?
5) O que precisa ser feito para encorajar sua Escola Bíblica Dominical a se tornar
mais envolvida no seguimento e discipulado?
Qualquer discípulo pode multiplicar sua vida em Cristo
aplicando os princípios bíblicos à sua igreja local
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6) A quem está você agora influenciando espiritualmente? Mencione alguém de
uma das categorias seguinte:
– Lar
– Trabalho
– Escola
– Igreja
7) Por quem está você orando diariamente? Enquanto ora por pessoas, faça as
seguintes perguntas:
a) Qual é a minha maior necessidade?
b) Qual é a minha parte em satisfazer essa necessidade?
c) Qual é o primeiro passo em fazer a minha parte?
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APÊNDICE
DISCIPULADO INDIVIDUAL E EM GRUPO
A produção de líderes é uma necessidade crítica não satisfeita nas igrejas locais.
O treinamento de um grupo pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento
de líderes, mas pode ter algumas limitações. Todavia, o discipulado pessoal, um
a um, abrange o envolvimento pessoal e a dedicação de tempo necessário para
treinar líderes de maneira eficiente. Um relacionamento bíblico de discipulado
deve dar início a uma dedicação vitalícia à intercessão e ao encorajamento, à
medida que a pessoa a quem discipulamos cresce.
Qual dos dois? Ministério individual ou em grupo? Nem um nem outro, mas
ambos. O discipulado individual não é um relacionamento restrito. As mesmas
pessoas podem ser envolvidas em ambos os ministérios 44 .
RAZÕES PARA O DISCIPULADO INDIVIDUAL
1) Qualquer pessoa na igreja local pode realizar o discipulado individual. Consiste
em simplesmente compartilhar com outrem o que o Senhor está fazendo em sua
vida e levar a outra pessoa ao degrau a que se subiu.
2) O ministério individual é modelado na igreja pelo aconselhamento pessoal aos
perdidos, doentes, confusos, desanimados e os que têm necessidades expressas. É,
igualmente, lógico dedicar tempo a pessoas que desejam crescer espiritualmente.
3) O ministério de Cristo era amar os seus discípulos e dar a sua vida por eles (Jo
13.1). Trabalhando com uma pessoa, aprendemos a dedicação de Cristo a cada
um dos seus discípulos.
44
A Visão de Igreja Multiplicadora trabalha tanto o discipulado individual, ou seja, o relacionamento
discipulador como, também, o discipulado em grupo, desenvolvido por meio do Pequeno
Grupo Multiplicador (veja o livro Igreja Multiplicadora, p. 68-86).
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4) Poucas pessoas têm tempo ou capacidade para se envolver intimamente com
a vida de vários indivíduos. Qualquer pessoa pode arranjar tempo para trabalhar
com uma pessoa apenas.
5) O discipulado individual tem a intimidade da amizade e a precisão de um
relacionamento de mestre- aprendiz.
6) Ele é flexível em termos de horários, duração, tarefas dos estudos bíblicos e
treinamento. Essas coisas podem ser mudadas ou demorar, de acordo com as
necessidades individuais. O crescimento espiritual é mais rápido.
7) Este método de discipulado individual é copiado com facilidade. Fazemos para
os outros o que nos foi feito.
8) Exortação, correção e admoestação são ministradas rápida e facilmente no
contexto do discipulado individual.
9) A vida do discipulador reforça a verdade da mensagem e é de fácil observação
para o discípulo.
10) As necessidades da pessoa vêm à tona na privacidade do ministério individual.
11) Tanto o relacionamento quanto os resultados parecem mais duradouros no
discipulado individual.
12) O discipulado no nível pessoal, um a um, é a maneira mais rápida que conheço
para desenvolver líderes espirituais que podem multiplicar- se em outros
discípulos.
RAZÕES PARA DISCIPULADO EM GRUPO
1) A ministração em grupo é o método mais usado nas igrejas locais. As pessoas
sentem- se à vontade com ele e esperam a sua metodologia.
2) É um método fluídico. A pessoa pode entrar e sair de um grupo sem destruir
o grupo nem seu relacionamento com os que estão participando.
3) Permite que as pessoas participem sem sentir que estão sendo focalizadas toda
hora. Algumas não estão preparadas para o discipulado pessoal.
4) Vários métodos didáticos podem ser usados no contexto do grupo.
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5) Doutrina geral pode ser ensinada com facilidade a várias pessoas ao mesmo
tempo, com economia de tempo para o instrutor.
6) O estudo bíblico é muito estimulante quando outras pessoas participam das
pesquisas e da aplicação das lições.
7) A intensidade pode crescer em grupos. Um espírito de aventura e de unidade
pode motivar outras pessoas menos interessadas durante certo período de tempo.
8) O efeito da correção e exortação gerais é mais sutil do que a confrontação
direta.
9) Um efeito aconselhador em grupo pode resultar do fato de pessoas se tornarem
interessadas e começarem a orar pelas necessidades de outras.
10) Os grupos são canais eficientes para canalizarem as pessoas em um relacionamento
e tempo de treinamento pessoal, um a um, que seja mais intenso.
11) O Espírito Santo pode usar os antecedentes e as experiências de inúmeras
pessoas para ensinar outras.
12) Os dons espirituais que ministram a indivíduos podem ser equilibrados com
os dons de outros para fortalecer e ministrar a grupos.
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Capa e diagramação: Oliverartelucas
Este livro foi produzido pela Oliverartelucas com as fontes ZapfHumnst
BT e Garamond Premier Pro; impresso no papel de miolo Pólen 70 g
e capa Cartão Supremo 250 g – 2ª edição em abril de 2023.