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Livro Multiplicando Discipulos - 2 edicao_Prova Virtual

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Waylon Moore

Tradução Adiel Almeida de Oliveira

2023

Rio de Janeiro

2ª edição


© 2015 Convicção Editora / Junta de Missões Nacionais

Título original: Multiplying Disciples: The New Testament Method for Church

Growth

Todos os direitos desta tradução em língua portuguesa reservados. Copyrigth

© 2015 publicado por Convicção Editora com autorização. Direitos cedidos,

mediante contrato.

M825m

Moore, Waylon B.

Multiplicando discípulos: o método neotestamentário para

o crescimento da igreja / Waylon B. Moore. Tradução de Adiel

Almeida de Oliveira. 2. ed. Rio de Janeiro: Convicção Editora,

2023.

128p. ; 23cm.

Título Original: Multiplying Disciples: The New Testament

Method for Church Growth.

1. Igreja – Evangelização. 2. Evangelização – Igreja – Novo

Testamento. 3. Igreja – Crescimento

I. Título.

CDD – 248.5

ISBN: 978- 85-61016- 63-0

Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com

indicação da fonte.

Tiragem: 2.000 exemplares

Convicção Editora

Rua: José Higino, 416 – Prédio 16 – Tijuca – Rio de Janeiro, RJ – 20510- 412

Tel.: 21 2157- 5557 – E- mail: falecom@conviccaoeditora.com.br

www.conviccaoeditora.com.br

Co- edição:

Junta de Missões Nacionais

Rua José Higino, 416 – Prédio 18 – Tijuca

Rio de Janeiro, RJ – 20510- 412

www.missoesnacionais.org.br


SUMÁRIO

Apresentação desta nova edição ................................................................... 7

Apresentação da primeira edição .................................................................. 9

Prefácio .......................................................................................................11

Agradecimentos ...........................................................................................15

Parte I

O DESAFIO: ALCANÇAR O MUNDO

1. Você pode multiplicar- se por meio de outros ............................................19

Parte II

O MÉTODO: MULTIPLICANDO DISCÍPULOS

2. O significado do discipulado ................................................................... 25

3. Por que edificar discípulos? ......................................................................31

4. Exemplos bíblicos de multiplicação espiritual ........................................... 39

5. Onde começa o fazer discípulos .............................................................. 45

Parte III

O PROCESSO: COMO EDIFICAR DISCÍPULOS MULTIPLICADORES

6. Qualidades espirituais do fazedor de discípulos multiplicadores ............... 55

7. Tenha um coração de servo ......................................................................59

8. Presença com o discípulo ........................................................................ 69

9. Tenha um coração de pai ........................................................................ 77

10. Determine o ritmo ................................................................................ 93


Parte IV

A PRÁTICA: DÊ INÍCIO AGORA

11. Selecionando líderes multiplicadores potenciais ....................................103

12. Comece na sua igreja hoje ....................................................................111

13. Qualquer pessoa pode se multiplicar ....................................................119

Apêndice....................................................................................................125


APRESENTAÇÃO

DESTA NOVA EDIÇÃO

Estamos vivendo novos tempos no Brasil. A população rural diminuiu consideravelmente

nos últimos 40 anos. Os centros urbanos concentram um número cada

vez maior de pessoas em pequenos espaços. Prédios e condomínios fechados são

as opções atuais para moradia, principalmente, pela questão da segurança. É um

tempo de muitas informações disponíveis, mas que tem gerado, paradoxalmente,

uma falta de tempo nos indivíduos dessa sociedade chamada pós- moderna. É um

tempo de mídias sociais disponíveis no universo virtual, mas que tem causado

diminuição drástica de relacionamentos profundos no mundo real. É para este

tempo que a igreja precisa dar respostas e se mostrar mais viva do que nunca.

Pensando estrategicamente nesse contexto atual, a Convicção Editora, em conjunto

com a Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, propõe

uma visão intencional de multiplicação de discípulos baseada em cinco princípios

bíblicos da igreja no Novo Testamento. Esta é a Visão de Igreja Multiplicadora.

Esta visão é a disposição para o cumprimento da missão de evangelizar e discipular

cada pessoa em solo brasileiro, dessa forma, conquistando a pátria para

Cristo. Isso acontecerá com o retorno aos princípios bíblicos de multiplicação de

discípulos e de plantação de novas igrejas em todo Brasil.

Por esta razão, A Convicção Editora tomou a iniciativa de, em conjunto com

Missões Nacionais, reeditar este livro tão precioso escrito na década de 80 pelo

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 7


Dr. Waylon B. Moore. A multiplicação de discípulos é estratégia fundamental

para o cumprimento da grande comissão. Mais que isso, é a estratégia neotestamentária

para o crescimento da igreja.

Várias literaturas produzidas no final do século passado estão sendo redescobertas.

A Junta de Missões Nacionais tem feito um trabalho de garimpagem

dessas preciosidades que, infelizmente, foram descartadas da nossa leitura atual.

A equipe de Missões Nacionais tem lido e relido vários livros que, mesmo estando

em nossas prateleiras, não estão sendo lidos com a devida atenção. Muitos princípios

que a visão de Igreja Multiplicadora resgata que, em verdade, são princípios

neotestamentários, já vinham sendo apontados pelos escritores desses livros nas

décadas de 60, 70 e 80. É justamente no trabalho de resgate desse material batista,

já tão precocemente esquecido, que o livro Multiplicando discípulos ressurge

com a intenção de reforçar os princípios e estratégias de Igreja Multiplicadora.

Nesta edição, há várias notas de rodapé com comentários a respeito de termos,

expressões e, até mesmo, assuntos que o autor aborda que são, de alguma

forma, tratados na Visão de Igreja Multiplicadora. Algumas notas de rodapé são

explicações da edição anterior que foram mantidas.

Que a leitura deste livro proporcione uma reflexão tão sincera na vida dos

leitores que eles mesmos se sintam impelidos a, em oração e leitura da Palavra de

Deus, colocar em prática os princípios de multiplicação. Que seja uma ferramenta

auxiliar na descoberta de verdades espirituais contidas nas Sagradas Escrituras e

que seja colocada em prática no dia a dia de cada servo do Senhor Jesus. Que

haja um despertar em cada crente para a multiplicação de discípulos e o consequente

crescimento da igreja do Senhor Jesus em nossa nação. Multiplique.

Pr. Sócrates Oliveira de Souza

Diretor Geral da Convicção Editora

Pr. Fernando Brandão

Diretor Executivo da Junta de Missões Nacionais

8 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


APRESENTAÇÃO DA

PRIMEIRA EDIÇÃO

Alguns anos atrás, eu estava em uma grande igreja nos Estados Unidos para

realizar uma série de reuniões. Aquela não era uma igreja comum. O aconselhamento

realizado, em seguida, com os novos convertidos, foi o mais minucioso que

eu já vira. Uma classe formada para os novos membros foi a mais eficiente que eu

já encontrara. Acima de tudo, havia um grupo de leigos que estavam equipados

como competentes líderes espirituais. Esses homens assumiram a principal tarefa

de equipar outros. O pastor daquela igreja era o autor deste livro: Waylon Moore.

Waylon é um dos pioneiros do moderno movimento de discipulado, que dá

uma ênfase total ao “seguimento” 1 e ao treinamento minucioso, feito um a um,

dos líderes espirituais. Este livro expressa o espírito do autor, que tem levado a

visão de multiplicação de discípulos não só aos Estados Unidos, mas, também,

a muitos outros países do mundo.

Talvez, a mais forte característica de Multiplicando discípulos seja a sua evidente

base bíblica. Como era de se esperar, um livro baseado biblicamente a

respeito deste assunto deve ter uma mistura de evangelização com discipulado,

nas devidas proporções. Este livro magnifica ambos. O autor escreve: “Quando

1

Traduziremos como “seguimento” a expressão inglesa “follow- up”, que significa a assistência

dada ao novo convertido durante o tempo em que ele está se arraigando na fé.


a igreja exala discípulos, inala convertidos”. Para Waylon, o alvo de discipular é

o desenvolvimento de um grupo dedicado de crentes que penetrarão com eficiência

em um mundo perdido. Este livro também liga fortemente o ministério

de fazer discípulos com a igreja local.

Os livros a respeito de discipulado precisam ser escritos por pessoas que estejam

praticando o que escrevem. Este esplêndido livro é escrito por um homem que,

por muitos anos, tem posto em prática o que escreveu. O seu objetivo é criar

visão e ação na vida do leitor, para com os ministérios de evangelismo, “seguimento”

e treinamento de líderes. Este livro será uma ferramenta extremamente

útil para qualquer pessoa que esteja comprometida a obedecer, plenamente, à

grande comissão.

Roy J. Fish

Professor de Evangelização

Southwestern Baptist Theological Seminary

Fort Worth, Texas, Estados Unidos.

10 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PREFÁCIO

Um novo sopro do Espírito está operando nos corações na América do Norte

e em muitas nações ao redor do mundo. Novos padrões de ministério estão sendo

tentados, com crescente sucesso. Nunca, na história da igreja, mais pessoas

professaram a sua fé em Cristo do que neste século.

Todavia, a qualidade de vida espiritual na igreja local é, infelizmente, ainda

questionável, em uma época quando milhões anseiam por experimentar a plenitude

da vida em Cristo.

Na sociedade contemporânea, o supremo valor do indivíduo tem sido redescoberto

política e socialmente. Os grupos de minoria têm conseguido novas

liberdades. Os líderes eclesiásticos, por toda parte, estão começando a perceber

o vasto potencial que existe na abordagem feita em pequenos grupos,

especialmente no discipulado um a um, para conseguir uma multiplicação

espiritual efetiva.

Três desafios colocam- se diante dos que têm o coração voltado para a evangelização

e o crescimento da igreja.

Primeiro: precisa haver uma dedicação radical 2 à validação da experiência

da conversão, por meio do aconselhamento de todos os novos membros que

entram na igreja local. É demasiado o número de indivíduos sem vida espiritual

2

A Visão de Igreja Multiplicadora afirma que essa “dedicação radical” acontece por meio do

relacionamento discipulador.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 11


estuante, que estão enchendo os bancos das igrejas, para assistir (apenas) o que,

tristemente, tornou- se uma espécie de culto memorial pós- cristão.

Segundo: precisa haver uma renovada dedicação a um seguimento responsável

e à integração 3 de todos novos membros em uma comunhão viva dentro da

igreja local. É essencial que esses novos membros recebam o tipo de ajuda que

os leve a desfrutar pessoalmente de hábitos regulares de “hora tranquila”, estudo

bíblico e testemunho de sua fé.

Terceiro: cada igreja precisa dedicar- se a um treinamento 4 responsável e de

longo alcance dos seus líderes, por meio dos ministérios de discipulado, para

produzir multiplicadores espirituais capazes de edificar outros “trabalhadores

para a seara”.

Missionários veteranos de três continentes me disseram: “Estamos atrasados 20

a 40 anos quanto ao treinamento de líderes. Não somos capazes de nos manter

à altura da atual explosão de novos crentes. Os líderes que poderão instruir esses

grupos de novos simplesmente não podem ser produzidos de maneira suficientemente

rápida, por meio dos métodos usados, atualmente, em nossos seminários

e institutos bíblicos”.

Se um pastor ou missionário começar um ministério individual, um a um, com

um ou dois discípulos, todavia, o processo de multiplicação poderá ter lugar bem

rapidamente. Infelizmente, a maioria das abordagens quanto ao treinamento em

uso hoje gira em torno da sala de aulas, do grupo ou da congregação. Equilibrar

estas classes maiores de treinamento com algum tempo que se dedique ao

contato um a um é algo extremamente necessário 5 . Discipular os outros é nada

menos do que o investimento de uma vida inteira: “dar a vida pelos irmãos” (1Jo

3.16). Simplesmente, não pode ser acondicionado a uma sessão um a um de duas

horas, durante a semana.

3

Agregar ou acolher discípulos – é a segunda dimensão do desenvolvimento do relacionamento

discipulador (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 72- 82).

4

O quarto princípio da Visão de Igreja Multiplicadora é a formação de líderes (ver livro Igreja

Multiplicadora, p. 119- 148).

5

O relacionamento discipulador é o ponto de partida para a formação de líderes (livro Igreja

Multiplicadora, p. 128- 131).

12 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


No meu primeiro livro, New Testament Follow- up (Integração Segundo o Novo

Testamento), compartilhei alguns conceitos bíblicos práticos e provados, para dar

início ao aconselhamento e ao “seguimento” na igreja local.

Este livro trata de como estabelecer uma formação de líderes de longo alcance,

de forma a produzir multiplicadores cuidadosamente discipulados capazes de

edificar ainda outros “trabalhadores para seara”.

Ver os princípios de multiplicação espiritual aplicados em algumas igrejas

ajudou- me e encorajou- me a partilhar esses princípios com um auditório maior.

Três princípios estão no cerne da multiplicação: a intercessão 6 junto a Deus por

outro discípulo; ajuda para que ele cresça até o seu pleno potencial em Cristo;

e estar sempre disponível para ele 7 . Nada do que fiz em 30 anos de ministério

se compara com a eficiência desse tipo de dedicação pessoal apara ajudar outra

pessoa a se tornar o melhor que ela pode ser em Cristo. Permita- me recomendar

este livro para os que desejam multiplicar discípulos em sua igreja local.

Waylon B. Moore

Tampa, Flórida, Estados Unidos.

6

O primeiro princípio da Visão de Igreja Multiplicadora é a oração. A intercessão por outro

discípulo se dá de várias maneiras (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 25- 47).

7

Ajudar o discípulo e estar sempre disponível para ele é possível por meio do relacionamento

discipulador em conjunto com o pequeno grupo multiplicador. Esses dois meios de relacionamento

são canais do desenvolvimento do princípio da compaixão e graça na vida dos discípulos.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 13



AGRADECIMENTOS

Meus especiais agradecimentos à minha esposa, Clemmie, que jamais cessou

de me encorajar; a Avery e Steve, que creram; e aos amigos que permaneceram

conosco fielmente através dos anos. Também, agradeço a Monte Unger, sua hábil

cooperação, e a David Tucker, que me ajudou a expressar de forma mais clara

as minhas ideias.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 15


As fontes das citações encontradas no início dos capítulos são:

Capítulo 1 – Goforth of China

Capítulo 2 – The quotable Billy Graham

Capítulo 6 – The incredible christian

Capítulo 7 – A new heaven

Capítulo 9 – Choosing and changing

Capítulo 10 – Master plan of evangelism

16 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PARTE I

O DESAFIO:

ALCANÇAR O MUNDO



1. VOCÊ PODE MULTIPLICAR- SE POR

MEIO DE OUTROS

“Todos os gigantes de Deus foram homens fracos que fizeram grandes

coisas para Deus, porque se estribaram no fato de Deus estar com

eles” – Hudson Taylor

Você pode começar a se multiplicar espiritualmente hoje e iniciar um processo

dinâmico que alcance além de sua geração, que chegue até o próximo século.

Esta pode ser a sua parte em levar a cabo a grande comissão de Cristo, de ir a

todo mundo e fazer discípulos (veja Mateus 28.18- 20). Afinal de contas, é isto que

é este livro: multiplicação espiritual por meio do processo de fazer discípulos 8 ,

com o objetivo final de alcançar o mundo para Cristo. Isto é algo que qualquer

pessoa pode fazer, em qualquer lugar, mas o melhor lugar para começar é a sua

igreja local.

Considere o exemplo de um professor de Escola Bíblica Dominical do século

19, chamado Edward Kimball, que começou a fazer discípulos em sua classe.

Os resultados são patentes aos nossos olhos até hoje, em 1983. De fato, pode

ser até que você seja um resultado direto da multiplicação espiritual de Kimball.

Edward Kimball comprometeu- se a alcançar cada jovem perdido em sua classe

de Escola Bíblica Dominical. Tinha ele um grande senso de responsabilidade, especialmente

por um rapaz acaipirado, recém- chegado da roça, que havia começado

a trabalhar em uma loja de calçados das redondezas. Um dia, Kimball foi à loja

e, numa saleta dos fundos, persuadiu o rapaz a aceitar Cristo como seu Salvador.

Quando estava descrevendo esse jovem, Kimball disse: “Tenho visto poucas

pessoas cujas mentes fossem espiritualmente mais obscuras do que quando entrou

na minha classe de Escola Bíblica Dominical, ou alguém que parecesse mais

improvável torna- se um crente de opiniões claramente decididas, quanto menos

8

O processo de fazer discípulos é apresentado dentro da Visão de Igreja Multiplicadora à luz

da grande comissão por meio do seu princípio chamado Evangelização discipuladora (ver livro

Igreja Multiplicadora, p. 49- 90).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 19


com condições de preencher qualquer esfera de utilidade pública extensa.” 9 Mas

o jovem, Dwight L. Moody, chegou a tornar- se conhecido como pioneiro das

modernas técnicas de evangelização em massa e como pregador ungido pelo

Espírito Santo, cuja mensagem tocou milhões de pessoas na América do Norte

e na Europa.

Na verdade, foi durante as campanhas de Moody, na Inglaterra, que a cadeia

de multiplicação espiritual ensinada por Kimball foi, poderosamente, posta em

prática. Mais de um pastor inglês rejeitou a abordagem fervorosa do visitante, a

respeito de evangelização. Um deles, o Rev. F. B. Meyer, não sentiu- se de forma

alguma impressionado com a crueza do evangelista iletrado e áspero. Contudo,

até o seu coração se derreteu quando ele ouviu duas senhoras, que eram ambas

professoras de Escola Bíblica Dominical em sua própria igreja, contarem como

haviam sido influenciadas pela dedicação de Moody em ganhar para Cristo todos

os membros de Escola Bíblica Dominical que ele dirigia.

Essas duas senhoras, por seu turno, vieram a alcançar todos os membros de

suas classes. Avivado pelo Espírito Santo, pela dedicação dessas mulheres, Meyer

juntou- se às reuniões evangelísticas de Moody com entusiasmo, de todo o coração.

Mais tarde, Moody convidou Meyer para ir aos Estados Unidos. Entre os que

foram alcançados pelo ministério de Meyer de ensino da Bíblia, estava um esforçado

pregador jovem chamado J. Wilber Chapman, cuja maneira de agir foi

transformada de tal maneira que ele também passou a dedicar- se a um ministério

evangelístico.

Embora ele tenha sido usado por Deus através de todo o mundo para levar

pessoas a Cristo, foi o próprio diretor de promoções da cruzada de Chapman,

ex- escriturário da Associação Cristã de Moços, quem deveria levar avante a cadeia

de multiplicação de Kimball. O seu nome era Billy Sunday.

Sunday pregou por toda a América do Norte, com resultados espetaculares.

A sua campanha em Charlotte, Carolina do Norte, nos Estados Unidos, produziu

alguns convertidos, que organizaram um grupo de oração, que manteve reuniões

por anos a fio, orando para que Deus continuasse o ministério de evangelização

9

FITT, A. P. The Life of D. L. Moody. Chicago: Moody Press, n. d. p. 23.

20 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


A multiplicação deve

ser resultado de uma

aplicação consciente de

princípios bíblicos, e não

apenas coincidência

por meio do povo de Charlotte. Esse grupo

de homens de oração foi levado pelo Espírito

Santo a planejar uma campanha que

alcançasse toda a cidade. Convidaram Mordecai

Ham, o evangelista “cowboy”, para ser

o orador. Durante uma das reuniões, alguns

adolescentes estavam entre os que foram

alcançados para Cristo. Um deles era um

rapaz chamado Billy Graham.

Só o céu revelará o número real de pessoas alcançadas por meio da cadeia

de discípulos multiplicadores como resultado dos humildes esforços de Edward

Kimball, em sua igreja local no século 19.

Cristo nos chama para sermos discípulos que se multipliquem espiritualmente.

A multiplicação deve ser resultado de uma aplicação consciente de princípios

bíblicos, e não apenas coincidência. 10 Seja você leigo, pastor ou outro obreiro

cristão, este livro foi escrito para ajudá- lo a se multiplicar por muitas gerações

futuras, ao fazer discípulos. Este ministério perdurará por toda a eternidade se

você investir na vida de indivíduos que, por seu turno, se disponham a alcançar

outros, que alcançarão outros, que alcançarão outros.

Você pode começar essa cadeia ilimitada em sua igreja hoje.

PERGUNTA PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

Com que frequência você vê outras pessoas sendo influenciadas a se entregar

a Cristo como resultado de um plano cuidadosamente elaborado? Discuta alguns

exemplos de multiplicação espiritual encontrados em sua própria experiência,

observação ou leitura.

10

A multiplicação de discípulos é resultado de um processo intencional de fazer discípulos. Essa

intencionalidade é tratada no capítulo Evangelização discipuladora do livro Igreja Multiplicadora

no item 4.2. Evangelização discipuladora implica ir (p. 64 e 65).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 21


22 | OS DONS DO ESPÍRITO SANTO


PARTE II

O MÉTODO:

MULTIPLICANDO

DISCÍPULOS



2. O SIGNIFICADO DO DISCIPULADO

“A salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo o

que temos” – Billy Graham

Discípulo era a palavra favorita de Cristo para aqueles cuja vida estava ligada

entranhadamente com a dele. A palavra grega traduzida como “discípulos”, mathetés,

é usada 269 vezes nos Evangelhos e em Atos. Significa pessoa “ensinada”

ou “treinada”.

No Evangelho de João, Jesus define a palavra discípulo de três maneiras.

Primeiro: discípulo é um crente que está envolvido com a Palavra de Deus

de maneira contínua. “Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes

na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos” (Jo 8.31). A

Bíblia é muito mais do que um mero livro; é um guia confiável para a vida diária.

A contínua aplicação da Escritura resulta em aprendizado das verdades que, de

acordo com Jesus, libertam a pessoa (veja João 8.32).

Segundo: discípulo é alguém que dá a sua vida pelos outros. “Um novo mandamento

vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós,

que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus

discípulos, se tiverdes amor uns com os outros” (Jo 13.34,35).

Mas, que realidade de amor é essa? É muito mais do que simplesmente fazer

algumas boas ações. Em João 15.13, Jesus diz: “Ninguém tem maior amor do

que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. Isto empresta ao amor

um significado ainda mais profundo: o discípulo ama o suficiente para se tornar

impopular, para se tornar mal- entendido, para ficar sozinho, para sofrer. O amor

é incondicional.

Jesus cativou o coração dos seus discípulos com o seu amor incondicional. O

seu amor sempre procurava fazer o que era melhor para as pessoas que ele estava

treinando. Para amar os nossos irmãos, precisamos sacrificar- nos para satisfazer

as mais profundas necessidades deles. Como escreveu João, o discípulo amado:

“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 25


a vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Jesus define discipulado, em parte, como amor

pelos outros crentes. Os homens podem ver Cristo em nossa vida tão somente

quando nos veem amando uns aos outros.

Mas, este é um amor incomum. “Dando nossa vida” pelos outros, morremos

para certas coisas. Abrimos mão de certos direitos. Pode ser que precisemos

sacrificar dinheiro, tempo e possessões, a fim de melhor amar os outros. Isto é

possível em nossas igrejas, hoje, quando “o amor de Deus está derramado em

nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5.5).

Terceiro: Discípulo é alguém que permanece diariamente em uma união frutífera

com Cristo. Jesus disse:

“Permanecerei em mim, e eu permanecerei em vós; como vara de si mesma não pode dar

fruto, se não permanecer na videira, assim também vós se não permanecerdes em mim.

Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito

fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.4,5 – o grifo é meu).

A palavra fruto é usada de várias maneiras na Escritura. Esta passagem parece

ilustrar mais o fruto da nossa união com Cristo do que o fruto do Espírito, como

é explicado em Gálatas 5.22,23. Isto é discutido em maior profundidade em

João 15.8: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus

discípulos”.

Desta forma, os discípulos de Cristo são pessoas que produzem o fruto que

resulta de se permanecer em união com ele 11 . A oração de Cristo pelos discípulos,

registrada em João 17, demonstra que os frutos mencionados em João 15 são

pessoas: “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua

palavra hão de crer em mim” (Jo 17.20).

Em seus ensinamentos, Jesus enfatizou um fruto que permaneça: “Vós não me

escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis

fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao pai em

meu nome, ele vo- lo conceda” (Jo 15.16).

11

A definição de discípulo na Visão de Igreja Multiplicadora é: “Toda pessoa que, sendo salva por

meio da fé em Jesus Cristo, passa a segui- lo como seu Senhor” (ver livro Igreja Multiplicadora,

p. 56).

26 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


A nossa união com Cristo torna possível uma

vida por meio da qual outros possam ser salvos.

Quando uma arvore está tão cheia de seiva,

que não pode mais contê- la, o resultado é

fruto. Quando um cristão está cheio de Cristo,

os outros o veem, ouvem a respeito dele e,

então, são renascidos espiritualmente no reino

de Deus. Desta forma, novos crentes são um fruto do verdadeiro discipulado. Se

ficar meramente sentada quietinha, a pessoa pode ter o fruto interno do Espírito,

mas Jesus diz que devemos “ir e dar fruto”.

“Na verdade, a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao

Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Mt 9.37,38). O mundo

precisa desesperadamente de trabalhadores (discípulos), homens e mulheres

que estejam permanecendo em Cristo, obedecendo e aplicando diariamente

as Escrituras, evangelizando os perdidos eficientemente e se desdobrando em

amor semelhante ao de Cristo para com os seus irmãos e irmãs na igreja. Desta

forma, podemos ajudar a alcançar o mundo – esse campo grande e maduro

para a colheita.

CONDIÇÕES DO DISCIPULADO

A nossa união com

Cristo torna possível

uma vida por meio da

qual outros possam

ser salvos

Jesus, em Lucas 14, elabora mais minuciosamente o conceito de discipulado

e apresenta algumas condições práticas para aqueles que desejam segui- lo. Em

Lucas 14.26, ele fala de o amar mais do que o pai, mãe ou família. Ele também

iguala o discipulado com um amor sem rivais por ele, até acima da própria

vida. “Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo”

(Lc 14.27).

Você quer ser discípulo de Jesus? Então, deve carregar a cruz. Este é o instrumento

de morte para o eu que devemos carregar diariamente. O verdadeiro

discipulado reclama uma atitude de dedicação à vontade revelada de Deus

– vontade que considera todas as coisas que se colocam em nosso caminho

como algo enviado por suas mãos. Em vez de nos apegarmos firmemente às

coisas terrenas, devemos estar dispostos a abrir mão delas (levar a cruz) por

causa dele.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 27


Paulo, um missionário que centralizava- se em Cristo, entendia que tem que

haver uma dedicação a Jesus, pois ele comprou o direito de ser nosso Senhor

mediante o seu próprio sangue: “E ele morreu por todos, para que os que vivem

não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co

5.15) 12 . Cristo deve ter proeminência em nossa vida e em nosso ministério.

A. W. Tozer disse que há três características da pessoa crucificada com Cristo:

“Ela não tem planos próprios; olha apenas em uma direção e não se deixa

vencer.” 13

Se queremos gozar de um relacionamento emocionante e vivo com Cristo diariamente

precisamos estar dispostos a pagar o preço; requer- se disciplina pessoal.

Pode haver solidão. Pode haver falta de popularidade quando progredimos da

morte de nossos sonhos e planos para a gloriosa ressurreição de viver por meio

da vida dele em nós. Muitos crentes avançam para o alvo de levar a cruz em

sua identificação com Cristo, mas desistem logo. “Demas me abandonou, tendo

amado o mundo presente” (2Tm 4.10), escreveu Paulo a respeito de um discípulo

que começara a jornada, porém, desistira cedo demais.

Cristo insiste em que ele precisa ser o foco exclusivo de nossa vida. “Assim,

pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser

meu discípulo” (Lc 14.33). Fazer uma entrega irrevogável a Cristo como Senhor

é essencial para o discipulado bíblico, mas não é suficiente. Essa entrega precisa

ser renovada todos os dias.

Reavalie o seu caminhar com Cristo à luz dessas definições bíblicas de discipulado,

pois você mesmo precisa, primeiro, ser um discípulo antes de poder

discipular outros.

12

Este versículo foi a divisa da Campanha de Missões Nacionais 2013 cujo tema foi “Vivo para a

glória de Deus”.

13

TOZER, A. W., de uma palestra feita na Christian Missionary Alliance Church, Chicago, Illinois,

1957.

28 | MULTIPLICANDO OS DONS ESPÍRITO DISCÍPULOS SANTO


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Expresse, em suas próprias palavras, as três definições de um discípulo apresentadas

por Jesus no Evangelho de João.

2) Como pode você resumir a ênfase que Jesus dá em Lucas 14.26- 34, a respeito

do discipulado com rendição total?

3) Cite algumas das qualidades que você acha que devem caracterizar um moderno

discípulo de Cristo.

4) Discuta a relação de seguir a Cristo, em Lucas 14, com a recuperação das

coisas perdidas, em Lucas 15.

5) Discuta o conceito de que “cada salvo é um discípulo de Cristo” em relação

à definição de discípulo de Cristo: aquele que satisfaz as qualificações bíblicas

esboçadas nos Evangelhos.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 29



3. POR QUE EDIFICAR DISCÍPULOS?

“Você despenderia o mesmo tempo para se preparar a fim de satisfazer

as necessidades de uma pessoa, que usaria para se preparar a fim

de pregar um sermão para cinco mil pessoas? Quanto você crê no

potencial de uma pessoa?” – K. Bruce Miller

Há pelo menos três importantes precedentes bíblicos para se edificar discípulos:

o uso do discipulado no Antigo Testamento e os ministérios público e

privado de Jesus.

O DISCIPULADO DO ANTIGO TESTAMENTO

O conceito de compartilhar com outrem o que Deus está compartilhando com

você tem séculos de idade. Moisés abriu o seu coração e a sua vida para Josué.

Mas, a ideia de compartilhamento não era natural para Moisés. Deus estabeleceu

um padrão de instrução quando ordenou a Moisés que compartilhasse a

sua vida com Josué em Deuteronômio 3.28: “Mas dá ordens a Josué, anima- o e

fortalece- o, porque ele passará adiante deste povo”.

Moisés devia ministrar ao seu aprendiz Josué tudo o que Deus lhes estava ensinando.

Isto significou a dedicação de muito tempo a Josué, em que ele aprendeu

por observação e conversa pessoal. Moisés, o servo de Deus, tornou- se um canal

humano para levar Josué a ser um servo de Deus.

Por que Deus precisou ordenar a Moisés que se afastasse do padrão de ministração

a milhares para tocar apenas uma só vida? Porque a tendência natural

do homem é ver as necessidades de muitos em massa em vez de ver o potencial

de uma só vida rendida à completa vontade de Deus. Como disse certa vez Sam

Shoemaker: “Os homens não são lavrados por atacado, da massa medíocre, mas

um por um.” 14

14

SHOEMAKER, Sam. Revive Thy Church Beginning with Me. New York: Harper Brothers, 1948,

p. 112.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 31


Elias também tinha discípulos em uma escola para jovens profetas. Por meio

desse pugilo de homens, Deus iria trabalhar para acarretar reavivamento ou

julgamento a Israel. Entre eles estava Eliseu, jovem que tinha um coração como

o de Elias. Surpreendentemente, Eliseu pediu de Elias porção dobrada do poder

que ele recebera de Deus. Ele vira os milagres e o poder de Deus manifestados

pelo braço forte de Elias. Por meio de disciplina e de participação na visão, Eliseu

aprendeu a pedir coisas ousadas de Deus.

Há outros exemplos veterotestamentários de uma pessoa investindo a sua vida

na vida de outrem: Davi e seus valentes; a forma como os patriarcas treinaram

os seus filhos; as ordens concretas aos pais para ensinarem os seus filhos que,

por seu turno, ensinarão os seus (veja Deuteronômio 4.9 e 6.6,7). Esta ênfase

no relacionamento entre mestre e aluno lançou o alicerce para o ministério de

discipulado no Novo Testamento.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS

Jesus teve um amplo ministério público, abrangendo quatro abordagens básicas:

Ele pregou. As multidões ouviram falar do reino, do julgamento da hipocrisia

religiosa e da natureza de Deus pela pregação de Jesus. Ele propiciou nova revelação

a conceitos veterotestamentários que estavam enterrados na tradição.

Ele revelou a verdade final além do legalismo. “E a grande multidão o ouvia com

prazer” (Mc 12.37), enquanto ele pregava com amor e autoridade.

Ele ensinou. Ele ensinou como homem nenhum jamais ensinara: à multidão

em um monte com vistas para o Mar da Galileia; a grupos em aldeias; a indivíduos

na privacidade dos seus lares; aos curiosos e aos que com ele se tinham

comprometido. Ele revelou a verdade em sua pureza crua por meio de parábolas

que iluminavam as realidades da vida. Não é surpresa que ele usou todos os dez

métodos de ensino catalogados pelos eruditos modernos. 15

Ele curou. Ninguém jamais saiu da presença de Jesus ainda carecendo de

saúde. Em certa ocasião, muitas pessoas se reuniram, ao redor dele, “e toda a

multidão procurava tocar- lhe; porque saía dele poder que curava a todos” (Lc 6.19).

15

ROBERTS, F. H. Master’s Thesis. Dallas Seminary, 1955, p. iii- iv.

32 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


A dedicação coercitiva de Cristo era edificar discípulos

que multiplicassem a mensagem de sua vida, morte e

ressurreição por todas as nações

Um mundo sem hospitais nem previdência social encontrou o grande Médico, e

porfiou por nunca deixá- lo ir- se.

Ele realizou milagres. As multidões o rodeavam e seguiam, enquanto o Mestre

curava os leprosos, dava vista aos cegos, alimentava as multidões e ressuscitava os

mortos. Os seus discípulos ficaram atônitos quando ele acalmou a tempestade.

Na bonança que se seguiu, eles viram Jesus andando sobre as águas, atravessando

o nevoeiro e indo na direção do barco deles.

Historicamente, a igreja cristã tem abraçado cada um desses aspectos do ministério

público de Cristo mas, frequentemente, ela tem se esquecido dos exemplos

dados por Cristo em seu ministério privado.

O MINISTÉRIO PRIVADO DE JESUS

Jesus também teve um estratégico ministério privado, que era tão simples que

tem sido passado despercebido como princípio de missão eclesiástica. A dedicação

coercitiva de Cristo era edificar discípulos que multiplicassem a mensagem

de sua vida, morte e ressurreição por todas as nações. Disse ele:

“Foi- me dada toda a autoridade no céu e a terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas

as nações, batizando- os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando- os a

observar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.18- 20).

Se quisermos copiar todo o ministério de

Jesus, a igreja precisa se estender tanto em

evangelização quanto no estabelecimento dos

convertidos. Enquanto os convertidos crescem,

eles também podem ser ensinados como equipar

e treinar outros crentes que, por seu turno,

alcancem outros pelo processo de multiplicação

espiritual.

Se quisermos copiar

todo o ministério de

Jesus, a igreja precisa

se estender tanto em

evangelização quanto

no estabelecimento

dos convertidos

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 33


A igreja precisa se estender tanto em evangelização quanto

no estabelecimento dos convertidos

Ganhar almas não é fazer discípulos; mas ganhar almas é importantíssimo, se

os discípulos visam se tornar aptos a se reproduzir na vida dos outros. Evangelização

16 é o primeiro elo da cadeia de multiplicação espiritual.

As igrejas que têm dado ênfase exagerada a batismos e programas ou têm uma

preocupação indevida com a “qualidade de membros” precisam reconsiderar

a ordem de Cristo para fazer discípulos 17 . Salvar almas e edificar discípulos são

duas coisas inseparavelmente ligadas na Bíblia.

FAZER DISCIPULOS É UM MÉTODO EXEQUÍVEL

Ao recapitular a minha motivação para discipular 18 os outros, lembro- me de

como alguém cuidou de mim, e como esse cuidado amoroso e o subsequente

fluxo para a minha vida do que essa pessoa havia aprendido de Deus mudou a

minha vida. Fazer discípulos não tem grau de prestígio, nem categoria denominacional;

mas os resultados são sempre os melhores do que qualquer coisa que

experimentei em 30 anos de trabalho com o povo. Há várias razões para isso.

Discipular é uma das maneiras mais estratégicas para se ter um ministério

pessoal ilimitado. Isso pode ser feito a qualquer tempo por qualquer pessoa, em

qualquer lugar e entre qualquer grupo etário.

Discipular é o mais flexível dos ministérios. Visto que não precisa ser executado

dentro de qualquer esquema cronológico ou estrutura organizacional, o

fazedor de discípulos pode ser extremamente flexível.

Discipular é a maneira mais rápida e mais segura de mobilizar todo o corpo

de Cristo para evangelizar. O alvo de discipular não é apenas conseguir mais

16

Missões Nacionais define evangelização como: “A comunicação clara e fiel do evangelho visando,

sob o poder e a dependência do Espírito Santo, levar pessoas” (Igreja Multiplicadora, p. 55).

17

Para aprofundamento deste assunto, recomendamos a leitura do livro “De volta aos princípios”

do pr. Fabrício Freitas, que integra a série de livros da visão de Igreja Multiplicadora.

18

Missões Nacionais define discipulado como: “O processo de fazer discípulos multiplicadores

por meio do relacionamento intencional de um discípulo com uma pessoa visando torná- la

outro discípulo” (Igreja Multiplicadora, p. 61).

34 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


discípulos, porque um clube composto de

almas salvas logo morrerá sem eficiente

penetração no mundo perdido. Uma das

formas mais rápidas de aumentar o número

de batismos e aprofundar a qualidade

de vida dos que são alcançados para Cristo

é o discipulado. Fazer discípulos de todas

as nações torna- se tanto um resultado da

evangelização quanto uma forma de realizar

a evangelização do mundo.

Discipular tem um potencial de mais longo alcance para produzir frutos

do que qualquer outro ministério. O Senhor deseja que sejamos arraigados,

edificados nele e estabelecidos na fé (veja Colossenses 2.7). Isto exige tempo e

interesse. Interesse pelo povo é o componente essencial. O “seguimento” é feito

por alguém, e não por algo.

Discipular propicia à igreja local maduros líderes leigos centralizadas em

Cristo e orientados para a Palavra. Os “esquentadores de bancos” são muitos; os

trabalhadores são poucos. Os trabalhadores são produto de discipulado feito na

igreja e orientado pelo Espírito. A edificação na vida de outros é o plano de Deus

para o levantamento de novos diáconos, professores e outros líderes da igreja. O

apelo do comitê designador por obreiros se tornará um brado de louvor a Deus

quando os membros da igreja forem discípulos multiplicadores semelhantes a Cristo.

O CICLO DE LIDERANÇA

Como acabamos de ver; edificar discípulos é o que desenvolve os futuros

líderes da igreja. Como, portanto, podemos acelerar o treinamento da liderança

de forma a estar preparados para o futuro?

Salvar almas e edificar

discípulos são duas coisas

inseparavelmente ligadas

na Bíblia

Ganhar almas não

é fazer discípulos;

mas ganhar almas é

importantíssimo, se os

discípulos visam se tornar

aptos a se reproduzirem

na vida dos outros

O evangelismo é o meio para se fazer

convertidos e o campo de treinamento para

discípulos em desenvolvimento. Quando

a igreja exala discípulos, inala convertidos;

desta forma, ela cresce. O discipulado é a

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 35


Fazer discípulos de todas as nações torna- se tanto um

resultado da evangelização quanto uma forma de realizar a

evangelização do mundo

forma mais rápida de multiplicar líderes que apressarão tanto a evangelização

quanto o discipulado. A ilustração do “Ciclo de liderança” na igreja local (veja a

Figura A, na página 37) pode ajudá- lo a entender a multiplicação de líderes. Esta

figura não tem o objetivo de ser uma simples colocação de etiquetas nas pessoas

na igreja, mas uma representação dos níveis de crescimento dentro da igreja.

Através do “seguimento”, o novo convertido é amado, alimentado, protegido e

treinado (veja o capítulo 5). Ele torna- se um discípulo, um seguidor de Cristo em

crescimento. À medida que o discípulo recebe treinamento individual por um

discípulo mais maduro, ele se torna capaz de multiplicar. Um multiplicador tem

treinado um ou mais discípulos, que alcançaram outras pessoas. Um edificador

de multiplicadores treina outros multiplicadores.

O processo de discipulado é representado pelas setas que se dirigem para

baixo enquanto cada líder desenvolve discípulos em crescimento. O ciclo é

completado e começa de novo quando cada converso cresce até seu pleno

potencial, à semelhança de Cristo, fato representado pelas setas que apontam

para o edificador. As setas que apontam para o mundo perdido representam a

evangelização realizada pela igreja, isto é, por todos os convertidos cheios do

Espírito, discípulos, multiplicadores e edificadores.

Este ciclo de liderança é um conceito visual de crescimento da igreja, por meio

do treinamento recebido para a tarefa e do ato de se estender para os que não

são salvos. Por meio de um ministério pessoal, os multiplicadores (a primeira

geração) aconselham, encorajam e adestram os discípulos (segunda geração).

Em poucas semanas ou meses, Deus desenvolve uma equipe de testemunhas.

Eles visitam amigos, parentes, vizinhos ou colegas de trabalho, e algumas pessoas

nascem de novo. Quando esses discípulos da segunda geração tiverem ganhado

novos conversos (terceira geração), a multiplicação começou 19 .

19

Podemos verificar claramente neste parágrafo a semelhança do Ciclo de liderança de Moore

com os princípios do PGM. Sugerimos a leitura do livro Pequeno Grupo Multiplicador, do Pr.

Márcio Tunala, que faz parte da série de livros da visão de Igreja Multiplicadora.

36 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 37


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Em relação ao ministério de sua igreja, discuta a maneira pela qual Cristo se

concentrou em quatro abordagens básicas para ministrar.

2) A sua igreja fez uma decisão de imitar o ministério privado de discipulado

exercido por Jesus? O que sugere você para uma união mais forte entre os ministérios

público e privado em sua igreja?

3) Que lugar têm a Escola Bíblica Dominical e os ministérios de treinamento da

igreja e da juventude, no ministério privado de discipulado? Que pontos fortes e

fracos são visíveis na maneira de realizar os ministérios público e privado usados

através da Bíblia?

4) Como pode você tomar uma decisão de praticar o discipulado que se modela

no ministério privado de Jesus?

5) Que razões para discipular outra pessoa são mais importantes para você?

6) Discuta algumas das outras vantagens do discipulado.

7) Discuta o “Ciclo de liderança” do ponto de vista da sua igreja:

• Quantos, em sua igreja, são novos convertidos, discípulos, multiplicadores

e edificadores de multiplicadores?

• Por que a evangelização é essencial em cada parte do ciclo?

8) Como você pode iniciar um ministério de discipulado em sua igreja ou fortalecer

a ênfase atual em treinamento de discipulado?

38 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


4. EXEMPLOS BÍBLICOS DE

MULTIPLICAÇÃO ESPIRITUAL

“Ora, quem despreza o dia das coisas pequenas?” – Zacarias 4.10

É difícil nos identificar com os gigantes edificadores de multiplicadores como

Paulo e Pedro. Poucos de nós exercerão tão grande autoridade e poder espiritual

como Paulo. Ainda mais, poucos pregarão como Pedro e verão três mil salvos

em um só culto. Mas, não poderemos deixar que isso nos desencoraje, pois há

homens e mulheres da Bíblia com quem podemos nos identificar em nosso afã

pessoal de fazer discípulos.

ANDRÉ

Nos Evangelhos, André estava sempre trazendo pessoas para Jesus. Ele levou

o seu irmão Simão (veja João 1.40- 42); esse Simão se tornou Pedro, o gigante da

fé. André encontrou o menino cujo lanche Jesus multiplicou para alimentar cinco

mil pessoas (veja João 6.8,9). E quando os gregos disseram: “Senhor, queríamos

ver a Jesus” (Jo 12.21), André sabia aonde os levar.

Contudo, foi ao alcançar o seu irmão Pedro que o ministério de André se estendeu

até os nossos dias. No Pentecostes, Pedro evangelizou milhares de judeus,

que confiaram em Cristo (veja Atos 2). Os que se converteram em Jerusalém,

mais tarde, saíram de lá por causa da perseguição (veja Atos 8.1- 4), e viajaram

para Antioquia (veja Atos 11.19), onde outros judeus se converteram por meio

da evangelização pessoal deles. Quando Pedro cresceu em graça, depois da ressurreição,

Deus lhe deu poder para abrir a porta para a conversão dos gentios,

quando Cornélio e sua família creram (veja Atos 10).

Isto é multiplicação; desde André, a Pedro, aos milhares convertidos em Jerusalém

e à primeira igreja missionária em Antioquia. André realizou a sua pregação

pela evangelização pessoal; ele levou pessoas a Jesus uma por uma. Ao levar o

seu irmão Pedro a Cristo, André participou das recompensas de tudo o que Simão

Pedro mais tarde realizou para o reino de Deus.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 39


É desta forma que você pode expandir o seu ministério ao redor do mundo,

alcançando apenas uma pessoa que possa se multiplicar poderosamente.

JOÃO

O apóstolo João treinou homens: as suas três epístolas, dirigidas a líderes

eclesiásticos, revelam a sua contínua responsabilidade como pai espiritual 20 . A

história da igreja registra que João ganhou e treinou uma testemunha dinâmica,

chamada Policarpo que, por seu turno, alcançou e discipulou Irinieu, que se

tornou um pastor. Esses homens deram as suas vidas durante as perseguições

do segundo século. Contudo, por meio da multiplicação, o seu ministério

continuou a viver.

BARNABÉ

Em Atos 4, encontramos um cristão chamado José, homem suficientemente

próximo dos apóstolos para receber um novo nome: “Barnabé, o encorajador.”

Que homem! Ele ouviu o testemunho de um jovem convertido chamado Saulo

de Tarso e creu que era genuíno.

Barnabé sempre olhava para os problemas passados das pessoas a fim de

visualizar o potencial que enxergava nelas pela obra da graça de Deus. Quando

Saulo viajou para Jerusalém, todos tinham medo dele. Barnabé, todavia, confirmou

Saulo diante dos irmãos. Mais tarde, eles se empenharam juntos, durante

um ano, num ministério pessoal em Antioquia (veja Atos 11.22- 26). Paulo já havia

sido ensinado particularmente pelo Espírito Santo durante três anos no deserto.

Mas Deus usou Barnabé para encorajar, refinar e fortalecer esse rabi de muitos

talentos, de quem outros não ousariam se aproximar.

Barnabé decidiu- se discipular o sobrinho João Marcos. Quando Marcos abandonou

a primeira viagem missionária, Paulo recusou- se a dar- lhe uma segunda

20

Entendemos que o conceito de paternidade espiritual apresentado aqui por Waylon B. Moore

está ligado ao “chamar” e “formar” novos discípulos multiplicadores. Esse é um conceito que

lida com o cuidado da vida espiritual de outros discípulos, onde o zelo e a solicitação de contas

se desenvolvem à medida que o discípulo vai crescendo e amadurecendo. Sugerimos a leitura

de “Elementos do relacionamento discipulador” (Igreja Multiplicadora, p. 78-81).

40 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


chance. Na divisão de opiniões com Barnabé a respeito de Marcos, Paulo escolheu

Silas e Timóteo, e entrou na história. Barnabé permaneceu com Marcos. Porém,

em 2Timóteo 4.11, quando Paulo pede a Timóteo para mandar os seus livros e

a sua capa, ele também escreve: “Toma a Marcos e traze- o contigo, porque me

é muito útil para o ministério”.

O que transformara um desertor em um ajudador? Certamente, não somos

capazes de avaliar Marcos à parte do tempo, do amor e do treinamento que

recebeu tanto de Pedro quanto de Barnabé. Deus usou esses multiplicadores

para desenvolver aquelas qualidades em Marcos que estavam escondidas dos

olhos de Paulo.

ÁQUILA E PRISCILA

Paulo começou outra cadeia de multiplicação 21 quando encontrou- se com

Áquila e Priscila. Esse casal cuidou e discipulou um homem chamado Apolo (veja

Atos 18.24- 28). Os judeus ficaram “poderosamente convencidos” por meio do

ministério didático de Apolo. Deus formou uma cadeia de quatro gerações de

multiplicação espiritual: de Paulo a Áquila e Priscila, depois a Apolo e, finalmente,

aos judeus.

Paulo alcançou muitos outros de maneira pessoal, que continuaram a exercer

um impacto sobre a história, inclusive, Lucas. Lucas se dedicou a escrever tanto o

seu Evangelho quanto o livro de Atos para realizar o “seguimento” de um homem:

Teófilo (veja Lucas 1.1- 4 e Atos 1.1). Tito, outro fruto do ministério de Paulo, mais

tarde veio a pastorear uma igreja em Creta.

VOCÊ PODE MULTIPLICAR

Considere a “Cadeia de multiplicação”, Figura B, que mostra a reprodução

espiritual no Novo Testamento.

21

Waylon B. Moore utilizou esse termo “cadeia de multiplicação” no primeiro capítulo e, agora,

ele o retoma neste capítulo. O livro Igreja Multiplicadora fala sobre o conceito similar de

“cadeia de relacionamentos discipuladores” (p. 81 e 82). Esse conceito é desenvolvido no livro

Pequeno Grupo Multiplicador, onde essa cadeia é denominada Rede de Pequenos Grupos

Multiplicadores (p. 61-66).


Nem André nem Barnabé eram tão talentosos quanto as pessoas que eles

alcançaram. Contudo, ambos compartilharam alegremente com os outros o que

eles conheciam de Cristo. Ambos participaram das recompensas espirituais dos

que eles ajudaram.

Podemos ser encorajados por exemplos como os de André e Barnabé, e

reconhecer que cada um de nós é capaz de fazer discípulos e se multiplicar.

Deus quer nos dar um potencial como o de Pedro, ou Paulo, ou Timóteo. Estar

disponível à direção do Espírito é o fator essencial para que multipliquemos. Você

pode ser um André.

42 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Lembre- se dos “Andrés” que foram responsáveis por levar você a Cristo. Você

sabe algo a respeito da cadeia de multiplicação que os levou a Cristo?

2) Quem desempenhou o papel de “Barnabé” em sua vida, encorajando- o como

crente novo, ou em alguma decisão recente?

3) Das passagens em Atos 9; 11 e 15, como você acha que foi Paulo discipulado

por Barnabé? Foi fácil ou difícil?

4) Que espécie de pessoa pode Deus usar para começar uma cadeia de multiplicação

em sua igreja? Especifique algumas das qualidades que você observou

na vida de André ou Barnabé.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 43



5. ONDE COMEÇA O FAZER

DISCÍPULOS

“A decisão é cinco por cento; o seguimento a esta decisão é noventa e

cinco porcento” – Billy Graham

Toda pessoa nascida de novo é um milagre da graça de Deus. Está no plano

de Deus que cada milagrosa vida nova cresça até a plenitude de Cristo. Um

nascimento espiritual sadio é essencial para o crescimento no discipulado. Parte

do retardamento nos membros da igreja pode ser levado à conta de decisões

iniciais obscuras em aceitar Cristo. A implementação dos métodos de Paulo, de

cuidar dos novos crentes, capacitará a igreja local a fortalecer os novos crentes

imediatamente para um discipulado responsável.

O novo crente é uma criança espiritual e precisa ter imediatos cuidados maternos

e paternos. O tempo longo que, chocantemente, se deixa passar entre

a decisão e o “seguimento” inicial é um fator negativo de monta que impede

o futuro crescimento. Dentro de vinte e quatro horas, o novo convertido deve

receber oração, ser contatado pessoalmente e deve- se mostrar a ele como pode

começar a alimentar- se com a Palavra de Deus. Um bebê necessita de carinho

e de alimento. Quando lembramos os três anos do discipulado diário de Jesus e

os anos de comunhão de Paulo com Timóteo e Tito, vemos que o “seguimento”

não é resolvido por um ou dois cultos na igreja.

A BRECHA DO BATISMO

Nos Estados Unidos, os pastores têm indicado que quase cinquenta por cento

dos que tomam decisões por Cristo em suas igrejas não são batizados posteriormente.

Na América do Sul, alguns pastores têm dito que oito, dentre dez dos

que tomam uma decisão por Cristo em reuniões evangelísticas, nunca voltam à

igreja. A mesma coisa está acontecendo na África e na Ásia.

Há uma brecha dolorosa entre as centenas de profissões de fé nas igrejas e as

poucas dúzias de pessoas que, na verdade, são batizadas, efetivamente integradas

na vida da igreja local e crescendo em Cristo um ano mais tarde.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 45


Embora haja muitas razões por que as igrejas perdem tantos novos convertidos

(tais como uma obscura apresentação do evangelho ou decisões baseadas em

pressão de colegas), a maior causa de perdas é o resultado de uma compreensão

inadequada dos princípios do “seguimento” que nos são apresentados no Novo

Testamento.

O aconselhamento imediato é essencial. (Para uma ajuda no estabelecimento

de um ministério total de “seguimento” em sua igreja, consulte alguns dos livros

disponíveis acerca do assunto.) 22

QUATRO MÉTODOS DE SEGUIMENTO EM

1TESSALONICENSES

No primeiro século d.C., como foram os apóstolos e evangelistas capazes de

transformar um pequeno grupo de pessoas sem instrução em vibrantes discípulos,

que revolucionaram o mundo romano no período de poucas centenas de anos?

Sabemos que o evangelho havia permeado todo o mundo conhecido, dentro de

33 anos, depois da ressurreição. Isso foi feito sem impressoras, telefones, televisão

ou satélites. Os crentes usaram o “tele- homem” e “tele- mulher” 23 . Algo havia sido

feito com os novos convertidos, que transformou dinamicamente as suas vidas em

meio às “panelas de carne” do mundo antigo. Os novos cristãos, crescendo em

Cristo, se tornaram comunidades eclesiásticas e as novas igrejas se multiplicaram.

1Tessalonicenses foi uma das primeiras epístolas do Novo Testamento a serem

escritas, e contém tanto a respeito do “seguimento” inicial quanto qualquer

outro livro, sem contar os quatro Evangelhos. Aqui está o que Paulo ensina em

1Tessalonicenses:

22

Por exemplo: BROOKS, Hall. Follow-up Evangelism. Nashville, Tennessee: Broadman Press,

1972); MOORE, Waylon B. New Testment Follow- up. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans,

1964.

23

Há aqui um jogo de palavras. Em inglês, “tell” é “contar”; portanto, estas expressões significam:

“conte a um homem”, “conte a uma mulher”, isto é, evangelize pessoalmente – nota da primeira

edição.

46 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


CORRESPONDÊNCIA PESSOAL

Paulo pôs em prática o “seguimento” de novos crentes com cartas pessoais

(veja 1Tessalonicenses 1.1). A maior parte do Novo Testamento consta de uma

série de cartas pessoais para ajudar o “seguimento” de membros das várias igrejas

novas em particular. Como podemos usar este conceito hoje?

Cartas pessoais, com estudos bíblicos simples, de uma só página, são um bom

alimento espiritual para a nutrição dos novos crentes. Os estudos devem ser

simples, sistemáticos, aplicáveis pessoalmente, facilmente transmissíveis, e devem

levar o novo crente a escrever as suas respostas.

Até mesmo uma carta circular, enviada a todos os novos crentes, em sua igreja,

para explicar alguns princípios da nova vida em Cristo – como vitória sobre

tentação, perdão, como ter uma hora tranquila e como testificar – pode colher

grandes dividendos. Quanto mais tempo um novo convertido leva para começar

a crescer, menos provável é que ele amadureça plenamente e menos tempo ele

terá para ministrar a outros.

Pedro e João escreveram cartas para o seguimento das pessoas de quem eles

estavam separados. E, se não fosse o fato de Paulo ter sido preso, pode ser que

não tivéssemos um quarto do Novo Testamento. Uma das bênçãos daqueles “anos

perdidos” na prisão foi a riqueza de alguns livros do Novo Testamento que são

mais lidos: as cartas que Paulo escreveu para ajudar os novos crentes a crescer.

Toby era um agradável adolescente que frequentava a minha igreja na roça.

Ele era espiritualmente sensível e faminto para crescer no Senhor. Quando assumi

um pastorado em outra cidade, comecei a escrever para Toby regularmente,

encorajando- o nos assuntos básicos da vida cristã. Encorajei- o a pensar em ir

para a universidade. Ele o fez, e chegou a fazer um curso de pós- graduação e se

tornou professor universitário.

Recentemente, Toby juntou a uma de suas cartas dirigidas a mim, fotocópias de

todas as cartas que eu lhe havia escrito durante vinte e cinco anos. Algumas delas

eram tão hesitantes, mas Toby agradeceu por me interessar por ele, e guardou- as

todas, a despeito das imperfeições de estilo.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 47


Pense em uma carta que você recebeu em uma hora crítica de sua vida. Relembre

a maneira sobrenatural como Deus usou um coração carinhoso a muitos

quilômetros de você para alcançar sua vida e produzir mudanças. Alguém ministrou

a você por carta.

Há cartas dentro de cada um de nós que precisam ser escritas para edificar e

fortalecer outras pessoas. Escrever cartas é um ministério importante disponível

a qualquer pessoa, inclusive, aos idosos e enfermos.

INTERCESSÃO PESSOAL

As cartas de Paulo às novas igrejas revelam a importância que ele dava à

intercessão pessoal. Ele lembrou aos tessalonicenses: “Sempre damos graças a

Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações” (1Ts 1.2). Paulo

também descreveu estas orações: “Rogando incessantemente, de noite e de dia,

para que possamos ver o vosso rosto e suprir o que falta à vossa fé” (1Ts 3.10).

Em Efésios 3.13,14, Paulo escreve: “Portanto, vos peço que não desfaleçais diante

das minhas tribulações por vós [...] Por esta razão dobro os meus joelhos”. Você

conhece alguém que está desfalecendo espiritualmente? A intercessão fortalece.

Quando não oramos pelos crentes novos, eles desfalecem e caem – algumas

vezes permanentemente. Se não orarmos, nós também desfaleceremos (veja

Lucas 18.1). Ponha em prática a declaração de Tiago, de que “a súplica de um

justo pode muito na sua atuação” (Tg 5.16).

Como e quando você deve interceder pelos crentes novos? Ore quando vir

alguém sendo batizado; senão, pode ser a última vez que você o veja. Nas reuniões

de oração, relacione o nome de todos os crentes novos em um quadro- negro e

ore por eles. Peça voluntários que adotem cada novo crente para fazerem oração

intercessória pessoal por ele durante a semana.

Estamos, em nossa maioria, onde estamos espiritualmente porque alguém

orou por nós com fé. Em Romanos 16, Paulo relaciona os nomes de, pelo menos,

28 indivíduos ou famílias. Como ele conhecia tanta gente? Talvez, essa

chamada dos fiéis, em uma longínqua estação missionária, refletisse a sua lista

pessoal de oração. Nós captamos o espírito do fardo de intercessão que ele

carregava por meio das palavras “noite e dia”, que aparecem em várias cartas

48 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


de Paulo. No fim de uma longa lista de dificuldades que, alegremente, enfrentou

por amor a Cristo, ele escreve: “Além dessas coisas exteriores, há o que diariamente

pesa sobre mim: o cuidado de todas as igrejas” (2Co 11.28). Encoraje

a memorização das orações de Paulo, pois elas são excelentes exemplos do

tipo de pedido a que Deus responde, a fim de multiplicar os seus discípulos

e igrejas em todo mundo.

REPRESENTANTES PESSOAIS

Paulo, muitas vezes, ajudou crentes novos enviando um representante – alguém

que ele havia treinado pessoalmente para ministrar a eles. Em 1Tessalonicenses

3.1- 5, Timóteo foi enviado para ministrar porque Paulo não podia ir. Epafrodito,

Tito e outros também foram enviados, ocasionalmente, em lugar de Paulo.

Paulo enviaria homens “que tinham a mesma mente” – homens que se caracterizavam

pela mesma convicção e força de vontade que o seu treinador. A

respeito de Timóteo, Paulo disse: “Como filho ao pai, serviu comigo a favor do

evangelho” (Fp 2.22). Quantas pessoas que têm a mesma mente você tem treinado

que podem fazer o seu trabalho se você não puder realizá- lo 24 ?

CONTATO PESSOAL

O cuidado carinhoso e terno, ministrado por um crente mais maduro, é uma

necessidade essencial de todo novo convertido. Enviar cartas é bom, oração é

importante, e representantes pessoais também o são; mas nada substitui o contato

pessoal. Satanás sabe disso, e está decidido a fazer parar a obra regular de

visitação da igreja. Por duas vezes, ele impediu a volta de Paulo para visitar os

novos crentes em Tessalônica (veja 1Tessalonicenses 2.18).

A experiência corrobora a importância do contato pessoal. A maior parte dos

membros da igreja com quem tenho conversado a respeito do seu crescimento

até chegar à liderança indica uma ou duas pessoas cujas vidas espirituais ajuda-

24

Pela pergunta, fica claro que Waylon B. Moore está enfatizando a importância do preparo de

um outro líder para que ele também cuide dos novos discípulos. Sugerimos a leitura do quarto

princípio do livro Igreja Multiplicadora: “Formação de líderes” (p. 119-148).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 49


ram a colocar Cristo em um foco central para eles. Quando um coração faminto

vê Cristo em outra pessoa, é encorajado para continuar crescendo em Cristo.

Paulo estabeleceu um bom padrão: ele nunca pregou e saiu correndo. Embora

sejam mencionados especificamente “três dias de sábado”, alguns eruditos creem

que Paulo passou cerca de três meses em Tessalônica e, durante esse período,

dedicou centenas de horas aos novos convertidos. Ele também trabalhou fazendo

tendas, para sustentar a equipe de homens que estava com ele. É de se admirar

que Tessalônica tenha- se tornado uma igreja missionária maravilhosa (veja 1Tessalonicenses

1.7- 9)? Em nenhum outro lugar das Escrituras há uma descrição mais

forte ou mais expressiva de um discipulado pessoa a pessoa, do que na referência

de Paulo ao compartilhamento com os tessalonicenses como seu pai e mãe

espiritual (veja 1Tessalonicenses 2.7,11). Uma expressão mais literal do versículo

11 pode ser: “Assim como vocês sabem, como estivemos com vocês um a um,

como um pai com os seus filhos, exortando, chamando e testemunhando”. A visão

e o caráter de coração de pai que Paulo expressa são claramente comunicados.

Como sugere o exemplo de Paulo, dinâmica de grupo e reuniões são necessárias

para ajudar um novo convertido a crescer até o discipulado, mas o tempo

pessoal que se gasta, individualmente, produzirá discípulos mais fortes e mais

amadurecidos. Grande parte dos nenês espirituais tem problemas que só podem

ser resolvidos em bases privadas individuais.

O discipulado, portanto, é realizado por alguém e não por algo. A literatura

é uma boa ferramenta, mas apenas isso. Deus, em última análise, usa carne e

sangue cheios do Espírito Santo para edificar vidas (veja 2Coríntios 4.7).

50 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Quais são algumas das brechas deixadas pelo processo costumeiro de trazer

o crente novo para a vida da igreja?

2) O que pode ser feito para receber os novos crentes e orientá- los para a congregação,

de maneira que se assegure um crescimento espiritual contínuo?

3) Discuta algumas maneiras pelas quais um novo convertido pode ser ligado a

um discípulo em crescimento em sua igreja.

4) Quais eram os quatro métodos de seguimento de novos crentes que se mencionam

em 1Tessalonicenses?

5) Qual desses quatro métodos já está funcionando no ministério de sua igreja?

6) Como a sua igreja pode tornar- se mais ativamente envolvida em aplicar

cada um desses quatro métodos bíblicos de seguimento, neste ano?

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 51



PARTE III

O PROCESSO:

COMO EDIFICAR

DISCÍPULOS

MULTIPLICADORES



6. QUALIDADES ESPIRITUAIS

DO FAZEDOR DE DISCÍPULOS

MULTIPLICADORES

“É a transformação, e não o tempo, que faz os néscios se tornarem

sábios, e os pecadores, santos” – A. W. Tozer

Fomos desafiados pelo exemplo de Edward Kimball, na parte I, para nos multiplicar

espiritualmente por meio de outras pessoas a fim de ajudar a cumprir a

grande comissão de alcançar o mundo para Cristo.

Na parte II, aprendemos o que é um discípulo e por que devemos edificar

discípulos. Estudamos alguns exemplos bíblicos de multiplicação e aprendemos

que o “seguimento” inicial de um novo convertido é o verdadeiro ponto de

partida para fazer discípulos.

Na parte III deste livro, focalizaremos inicialmente as qualidades espirituais que

os discípulos precisam ter antes de poderem se multiplicar; depois, nos capítulos

8 a 10, examinaremos três princípios básicos de como trabalhar com os discípulos

para que eles continuem se multiplicando em gerações futuras.

SEJA DOMINADO PELA GRAÇA DE CRISTO

Em 2Timóteo, capítulo 2, encontramos que o multiplicador em potencial

precisa, em primeiro lugar, ter uma vida que seja dominada pela graça de Cristo.

Paulo ordena a Timóteo: “Fortifica- te na graça que há em Cristo Jesus” (2Tm 2.1).

Este é o alicerce para um ministério eficiente. “Não que sejamos capazes, por

nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem

de Deus” (2Co 3.5). A verdade que transforma outra vida precisa provir da fonte

da graça de Deus em nossa vida, que abre corações e nos dá uma mensagem

transformadora para compartilhar.

Onde é que se consegue essa graça? Uma fonte é mencionada em Hebreus

4.16: “Cheguemo- nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 55


misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno”.

Quando chegamos ao trono de Deus em intercessão, ele derrama, em nossa vida,

a própria graça de Jesus Cristo: nós “recebemos misericórdia” e “achamos graça”.

Como somos necessitados! E como ele é suficiente para suprir tudo o que nos

falta para ministrar, enquanto vivemos na sua presença!

Outra fonte de poder para nos apropriarmos da graça é decorrência de conhecermos

Cristo experimentalmente. “Graça e paz vos sejam multiplicadas,

no pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O nosso

conhecimento de Cristo aumenta à medida que nos apropriamos dos meios da

graça – falando com ele em oração e permitindo que ele fale conosco por meio

de sua Palavra. Graça e paz resultam do tempo gasto em oração e no diligente

estudo das Escrituras.

Graça também é dada ao humilde (1Pe 5.5,6). A pessoa que tem coração

de servo recebe amplas oportunidades de ministrar. Além disso, à medida que

ministramos humildemente, as nossas palavras se tornam uma fonte de graça (Ef

4.29). A desobediência, todavia, pode neutralizar a operação da graça de Deus

(2Co 6.1).

SEJA DEDICADO AO MINISTÉRIO DE

MULTIPLICAÇÃO

Como discípulos e multiplicadores em potencial, precisamos também nos

dedicar ao ministério de multiplicação, como é ilustrado em 2Timóteo 2.2: “E o

que de mim ouviste diante de muitas testemunhas, transmite- o a homens fiéis, que

sejam idôneos para também ensinarem os outros”. Timóteo devia ser um canal

para outros ao compartilhar o que Paulo lhe havia ensinado. Ganhar uma pessoa

para Cristo é o início essencial, mas apenas quando o novo crente, por sua vez,

alcança outra pessoa, acontece a multiplicação espiritual.

Quando o novo crente,

por sua vez, alcança

outra pessoa, acontece a

multiplicação espiritual

A palavra transmite é imperativa. Precisamos

transmitir a outrem o que temos

ouvido, visto e experimentado. Para algumas

pessoas, é amedrontador pensar em

comunicar as experiências de sua vida a

56 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


O potencial que existe na pessoa determina o

que você pode fazer com ela e por meio dela

uma classe ou grupo; porém, podemos começar compartilhando apenas com

outra pessoa e permitir que a mão de Deus abençoe esse relacionamento.

Paulo caracteriza especificamente os homens a quem devemos transmitir o

que aprendemos: eles devem ser “fiéis”, estar na Palavra de Deus, pois “a fé é

pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Escolha aqueles em quem

possa confiar.

Paulo também enfatiza que eles devem ser “idôneos para também ensinarem

os outros”. Para ser capaz de ensinar os outros, a pessoa, primeiramente, precisa

ser apta para aprender. Há muitas pessoas que são fiéis em frequentar a igreja e

ajudar em funções especiais, mas não passam adiante o que ouviram e aprenderam.

Só Deus pode colocar no coração de uma pessoa o desejo de transmitir as

Escrituras. Procure o tipo de pessoa apta para aprender. O potencial que existe

na pessoa determina o que você pode fazer com ela e por meio dela.

Em toda igreja há dezenas de crentes que nunca foram desafiados, ou nunca

se lhes mostrou como transmitir eficientemente as verdades bíblicas a outras

pessoas. O fazedor de discípulo aprende primeiramente como fazer isso; depois,

aprende como ensinar os outros a fazer.

SEJA DISCIPLINADO PARA UMA VIDA QUE

AGRADE A DEUS

A terceira qualidade que os discípulos precisam ter, antes de poderem se

multiplicar, é disciplina para uma vida que agrade a Deus. Estamos na terra para

agradar- lhe (veja Apocalipse 4.11). Discipular não é uma rotina fácil e cômoda;

é uma vida de exigências. “Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum

soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar

àquele que alistou para a guerra” (2Timóteo 2.3,4). O multiplicador deve esperar

sofrimentos e suportá- los. Ele não deve queixar- se quando o seu ministério se

torna difícil.

Embora nos tenhamos apresentado como voluntários espontaneamente, fomos

escolhidos para ser soldados de Cristo. Um soldado obedece a ordens, é

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 57


orientado para um alvo e é obediente ao seu comandante supremo. Precisamos

de disciplina para viver esse tipo de vida.

As qualidades espirituais que fazem com que um discípulo se torne multiplicador,

portanto, são: em primeiro lugar, uma vida dominada pela graça de Cristo,

visto que os seus poderes e conhecimentos pessoais são insuficientes; em segundo

lugar, uma dedicação sem vacilações ao ministério de multiplicação; e, por fim,

uma vida disciplinada, visto que tudo isso deve ser feito para agradar a Deus.

PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Descreva as três qualidades enfatizadas por Paulo em 2Timóteo 2.1- 4 como

essenciais para multiplicar o seu ministério.

2) De acordo com 2Timóteo 2.2, que elo da cadeia é você? Um Barnabé que

alcançou um Paulo, começando a cadeia de multiplicação; alguém alcançado

como Timóteo; um dos “homens fiéis” sendo treinado por um Timóteo; um dos

“outros também”; ou outro? Explique a sua resposta.

3) Discuta os “sofrimentos” que precisam ser suportados pelo soldado (discípulo)

de Cristo (veja 2Timóteo 2.3,4).

58 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


7. TENHA UM CORAÇÃO DE SERVO

“Espera- se que você encarne em sua vida o tema de sua adoração:

você deve ser tomado, consagrado, partido e distribuído, para que

possa ser o meio de graça e o veículo do amor eterno” – Santo Agostinho

Um coração de servo é um dos canais supremos de Deus para ganhar os

perdidos para Cristo. Edificar pontes de amor para os corações dos que não têm

Cristo é uma preparação para compartilhar o evangelho. Algumas pessoas podem

ser alcançadas com apenas uma apresentação do evangelho. Muitas outras vêm

a Cristo somente quando nos tornamos servos dele.

Você conhece alguém a quem poderia classificar como servo do Senhor? Ser

servo é uma atitude e não uma posição. Envolve uma disposição para satisfazer

as necessidades de outros por causa do servo. Muitas vezes, o servo não será

visível; porém, mais cedo ou mais tarde, os outros começarão a depender dele

e a procurá- lo. Esse ministério de serviço pode, com o tempo, tornar- se o canal

que sirva de modelo de Cristo para os discípulos em crescimento.

SERVO MODELO

A profecia do Antigo Testamento identifica o Messias como o “Servo sofredor”.

Isaías diz: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu escolhido, em que se

compraz a minha alma, pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça às nações”

(Is 42.1).

A personificação de Jesus como servo, nesta passagem (v. 1-4) e em outras

passagens, é diametralmente oposta aos nossos desejos carnais de sermos servidos.

Contudo, a nossa identificação com Cristo faz com que um coração de

servo se torne necessário. Por meio do seu ministério que os seus discípulos – e

fazedores de discípulos – precisam seguir.

Diante daqueles que vigiavam cada movimento que fazia, Cristo apresentou

as qualificações para liderança: “E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro,

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 59


será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas

para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.27,28). O caminho

para cima é descendo. Jesus veio para servir, para servir como escravo.

Quando Abraão e seu sobrinho Ló tiveram dificuldades para alimentar o seu

gado na mesma região, Abraão deu a Ló a oportunidade de escolher em primeiro

lugar as terras para aonde quisesse ir, embora o privilégio de escolher primeiro

fosse dele. Ló escolheu a terra próxima a Sodoma. Então, Deus falou a Abraão e

lhe disse que toda a terra era dele. Deus fez de Abraão o senhor inconteste de

tudo o que ele podia ver – depois que ele preferiu ser servo.

Pode ser difícil os brasileiros entenderem o conceito de servidão. A nossa sociedade

e a ênfase que dá ao lazer fizeram o serviço aos outros ser considerado

aviltante e depreciador. Servir é estar nos degraus mais baixos da escala social.

Jesus contra- ataca todo o nosso orgulho com o ponto de vista divino de João

12.24,25. Em suma, Cristo diz que morrer para o eu é viver; perder a vida é achála.

Quando seguimos e servimos a Cristo, não ao eu, nos tornamos disponíveis

para servir aos outros. Discipulado e serviço estão irrevogavelmente ligados.

O exemplo do nosso Senhor no decorrer de toda vida foi viver sempre e

apenas em completa submissão a outrem. A escolha deliberada de Jesus de se

tornar servo de Deus em favor dos homens perdidos é enfatizada por Paulo em

Filipenses 2.5- 10, particularmente no versículo 7: “Mas esvaziou- se a si mesmo,

tomando a forma de servo” (escravo).

A natureza da obediência como escravo é submissão. A vontade do Pai era a

vontade de Cristo. A palavra do Pai era a sua palavra. O caminho do Pai era o

seu caminho – por escolha. Isso é submissão. Precisamos escolher viver por meio

do Espírito, sempre em completa submissão ao Filho.

Da mesma forma como a manifestação exterior de um escravo obediente

é submissão, a sua manifestação interior como escravo obediente é mansidão.

O que é mansidão? A palavra manso significa “domado” ou “subjugado” e, por

isso, controlado. Você lembra qual foi a única coisa que Jesus recomendou que

aprendêssemos dele? “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”

(Mt 11.29). Cristo deseja que aprendamos mansidão com ele.

60 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Você se lembra de uma coisa que Jesus disse que devemos copiar como exemplo

na sua vida? “Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis

lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos

fiz, façais vós também” (Jo 13.14,15). Servir aos outros é ser semelhante a Cristo.

Em 1Pedro 2.21- 24, Pedro nos faz recordar outro exemplo que Jesus deixou

para nós: “Cristo padeceu por vós, deixando- vos exemplo, para que sigais as suas

pisadas [...] sendo injuriado, não injuriava; e quando padecia não ameaçava, mas

entregava- se àquele que julga justamente”.

A mansidão da fé – sofrendo em silêncio – é a natureza de Cristo. Os seus

discípulos, portanto, devem ter o atributo de servir a Cristo e aos outros com

submissão e mansidão.

Jesus resumiu a sua peregrinação terrena em Lucas 22.27: “Pois qual é maior,

quem está à mesa, ou quem serve? [...] Eu, porém, estou entre vós como quem

serve”. Jesus partiu o pão durante as refeições, reabasteceu a festa de vinho

em Caná e preparou uma refeição à beira do mar. Ele estava constantemente

disponível, a qualquer hora, para os corpos e corações feridos. Cingindo- se da

vestimenta de um escravo, ele lavou os pés dos discípulos, inclusive, de Judas.

VIVA COM UM CORAÇÃO DE SERVO

Paulo começou quatro cartas chamando- se de “servo de Cristo” (veja Romanos

1.1; Gálatas 1.10; Filipenses 1.1; Tito 1.1). Depois de três anos difíceis em Éfeso,

ele recorda ter estado “servindo ao Senhor com toda humildade, e com lágrimas

[...] mas em nada tenho a minha vida como preciosa para mim [...] estou limpo do

sangue de todos. Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus

[...] Em tudo vos deis o exemplo de que, assim trabalhando, é necessário socorrer

os enfermos [...] (At 20.19- 35).

Paulo se deu como servo de Cristo, de forma que Deus, por seu turno, podia

dar Paulo para uma cidade. Por que Paulo enfrentou turbas e multidões que

não estavam dispostas a ouvir? Por que foi que ele aceitou açoites e prisão em

Filipos? Como servo de Cristo, Paulo foi levado pelo Espírito a ficar em silêncio a

respeito de sua cidadania romana. Ele foi jogado em uma masmorra. Então, Deus

disse ao seu servo Paulo para abrir a boca e cantar; só depois disso ele iria falar.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 61


O preço da servidão é elevado, mas as suas

recompensas não têm preço

Que coisa intrigante fez Paulo, fez Deus. Paulo e Silas estavam dispostos a ser

presos para serem servos de Cristo para aquela cidade, e para levar um carcereiro

e sua família a Cristo. O preço da servidão é elevado, mas as suas recompensas

não têm preço.

Algumas vezes tenho orado: “Senhor, dá- nos esta cidade para Cristo”. Não

obstante, parece que Deus está dizendo pelo ministério de Paulo: “Eu lhe darei

esta cidade”.

Frequentemente – geralmente na hora do jantar – alguém batia à porta de

nossa casa, pedindo comida ou dinheiro; uma pessoa queria até uma passagem

de avião. O que dizer a alguém que está abrindo caminho através da vida, usando

os seus filhos sujos e mal vestidos para conseguir esmolas? Nunca recusamos

conceder as coisas pedidas. Algumas vezes, eu não podia deixar de dar algum

dinheiro para passagens, roupas, ou outras coisas necessárias.

Porém, à medida que os anos foram- se passando, tornei- me endurecido.

Podendo estar em casa apenas uma hora ou duas, vendo a minha família pela

primeira vez no final do dia, eu queria sossego. Logo depois eu estaria de volta

ao meu carro, para ir visitar os perdidos até tarde da noite.

Com quanto amor o Senhor persistiu em procurar ensinar- me que alimento e

dinheiro não eram as verdadeiras necessidades! O alvo dele era a minha atitude,

mas fracassei tantas vezes, porque, por detrás do meu sorriso e da minha esmola,

estava a ira contra o povo da minha igreja, no outro quarteirão, que havia enviado

aquela gente à minha porta. Eu detestava ter que trabalhar as minhas 16 horas

por dia, só para dar alimentos e dinheiro a pessoas que eu, sinceramente, achava

que não queriam trabalhar.

Minha esposa dizia: “Se é para você ajudá- los, faça- o com boa vontade. Você

perde todo mérito para com as pessoas se a sua atitude é azeda, e você perde

a sua recompensa da parte de Deus”. O Senhor começou a me ensinar que “ao

servo do Senhor não convém contender; mas, sim, ser brando com todos” (2Tm

2.24). “E tudo quanto fizerdes, fazei- o de coração, como ao Senhor, e não aos

62 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


homens, sabendo que do Senhor recebereis como recompensa a herança; servi a

Cristo, o Senhor” (Cl 3.23,24).

Quando eu estava servindo a mim mesmo, a minha atitude era errada. Mas,

quando comecei a me identificar com Cristo, como seu servo, as oportunidades

se tornaram bênçãos e algumas vezes vi mudanças nos outros.

As passagens bíblicas que enfatizam o poder do coração de servo para ganhar

os perdidos simplesmente saltam das páginas da Bíblia:

“Pois, sendo livre de todos, fiz- me escravo de todos, para ganhar o maior número possível;

fiz- me como judeu para os judeus [...] para os que estão debaixo da lei, como se estivesse

eu debaixo da lei [...] para ganhar os que estão debaixo da lei [...] para os que estão sem

lei [...] para os fracos [...] Fiz- me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar

alguns [...] tudo faço por causa do evangelho” (1Co 9.19- 23).

Paulo se fez servo; depois, prossegue escrevendo que fez- se “tudo para todos”.

O Espírito começou a sua obra de fazer Paulo disponível para ser servo de Cristo.

Em seguida, Paulo se tornou as mãos, o coração e os pés de Cristo para ministrar

aos condenados e moribundos.

Mas, Paulo não terminou. “Não vos torneis causa de tropeço nem a judeus, nem

a gregos, nem à igreja de Deus; assim também como eu em tudo procuro agradar a

todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de muitos, para que sejam salvos”

(1Co 10.32,33). Identificação com a vida e a mensagem de Cristo significa uma

decisão de alcançar os perdidos por meio de um coração de servo. “Fazer- se tudo

para todos” é alvo alcançado sobrenaturalmente. Precisamos começar cedendo

em nossos direitos, de forma que Cristo possa servir livremente por meio de nós.

O MUNDO QUE EVANGELIZAMOS

Devemos evangelizar o mundo em que vivemos. Os estratos do nosso mundo

são o nosso lar, a vizinhança, a comunidade, a escola, o trabalho e a igreja.

Tornamo- nos servos de Cristo onde estamos agora e, à medida que ele nos dirige,

“até os confins da terra”.

Ao servir a vizinhos que não eram salvos, ajuntamos o lixo deles quando uma

lata estava tombada. O Senhor nos levou a aparar a grama de alguns quintais. Por

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 63


Encoraje o seu discípulo a executar projetos criativos,

incluindo os seus vizinhos e amigos, bem como

pessoas necessitadas e idosas

meio destas e de outras experiências, os não salvos se abriram para o evangelho,

e alguns aceitaram Cristo. 25

Transmitir esta ideia a uma pessoa que você está treinando leva à realização

de alguns projetos específicos por vocês juntos. Encoraje o seu discípulo a executar

projetos criativos, incluindo os seus vizinhos e amigos, bem como pessoas

necessitadas e idosas.

Um discípulo com um coração de servo pode expressá- lo em nosso mundo

turbulento:

• Sendo acessível (veja Gálatas 6.10);

• Sendo hospitaleiro para com todos e não fazendo acepção de pessoas;

• Dando valor às pessoas, arranjando tempo para visitá- las e servi- las;

• Sendo criativo em encontrar formas de ajudar os outros (veja Hebreus 10.24);

• Servindo apenas quando necessário, em vez de servir para merecer reconhecimento

dos outros (veja Gálatas 1.10);

• Exercitando o seu dom espiritual como canal de serviço (veja 1Pedro 4.10).

SERVINDO IRMÃOS EM CRISTO

Os nomes dos que têm coração de servo são como pepitas de ouro espargidas

por meio das últimas páginas de algumas das cartas de Paulo. A família de

Estéfanas, em Corinto, estava sempre procurando servir aos outros. “Sabeis que

a família de Estéfanas é as primícias da Acaia; e que se tem dedicado ao ministério

dos santos” (1Co 16.15; o grifo é meu). Dedicado significa literalmente “autono-

25

Este parágrafo trata da compaixão pela comunidade em que estamos inseridos e as maneiras

pelas quais podemos nos envolver de maneira relevante a fim de demonstrarmos graça a todos.

Recomendamos a leitura do princípio Compaixão e graça do livro Igreja Multiplicadora, p. 149-

166.

64 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


meado”. Refere- se a um “dever autoimposto” 26 . No mesmo capítulo, Áquila e

Priscila têm uma igreja em sua casa, em Corinto, como tinha anteriormente em

Roma. O ministério de serviço de Epafrodito para com Paulo é registrado para

mostrar- nos o valor que Deus dá às tarefas quotidianas (veja Filipenses 2.25- 30).

Um dos versículos mais emocionantes das Escrituras que pode ajudar o discípulo

a desenvolver um coração de servo é Hebreus 10.24: “E consideremo- nos uns

aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. Devemos observar

os outros e estimulá- los a amar e ministrar. Precisamos pedir ao Senhor para

colocar uma pessoa em nosso coração, para que procuremos entender as suas

necessidades e depois provocá- los a buscar a Deus 27 .

Uma família da igreja, em cujas vidas tínhamos um ministério ativo, parou de

falar conosco. Procuramos saber qual era a causa daquilo para pedir desculpas,

mas eles não queriam conversar conosco, ou com outras pessoas a respeito da

razão para aquele procedimento. Por causa do nosso genuíno amor e respeito,

oramos diariamente por eles. Nada parecia acontecer. Então, o Senhor mostrou- me

a necessidade de aplicar Hebreus 10.24 à situação. Minha esposa e eu decidimos

juntos, depois de termos orado, demonstrar o nosso amor mandando flores àquela

família. Encomendamos lindos crisântemos, mas duas semanas se passaram sem

qualquer mudança de atitude que pudesse notar em nossos amigos. Verificamos

com o florista: a entrega havia sido feita. Então, oramos. Uma semana depois, o

casal veio ao meu escritório e conversamos. Eles contaram qual era o problema

e disseram que passariam a fazer parte de outra igreja, se eu achasse que era

melhor. Eu lhes disse que os amava, que estava orando por eles e precisava do

ministério deles. Deus uniu os nossos corações novamente naquela tarde e o nosso

relacionamento foi restabelecido. Hebreus 10.24 é um versículo que encorajo os

discípulos aprenderem e aplicarem.

Um grande grupo de pastores ingleses foi a uma das grandes Conferências

Bíblicas de Northfield, realizadas por D. L. Moody. Como era costume na Ingla-

26

ROBINSON, Archibald & PLUMMER, Alfred. International Critical Comentary: A Critical and

Exegetical Commentary on the First Epistle of St. Paul to the Corinthians. New York: Charles

Scribner’s sons, 1911, p. 395.

27

Esta sentença expressa bem o sentido da oração em favor de pessoas- alvo para, intencionalmente,

estabelecer um relacionamento discipulador com vistas a torná- la um discípulo.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 65


Um coração de servo atrairá

outros a você

terra, cada pastor colocou o seu sapato à porta do lado de fora do quarto para

ser engraxado pelos criados durante a noite. Porém, não havia criados naquela

conferência.

Moody estava andando pelo dormitório naquela noite e viu dez ou mais pares

de sapatos sujos nos corredores. Vendo nisso uma oportunidade para servir a

seus irmãos, Moody mencionou o fato a alguns dos seminaristas. Em resposta,

houve apenas silêncio da parte deles. Moody voltou, então, ao dormitório e

juntou todos os sapatos para não os trocar. Sozinho em seu quarto, ele começou

a engraxar todos os sapatos. Ocorreu, então, que um amigo bateu à porta do

quarto de Moody e viu- o trabalhando com tanta dedicação a pilha de sapatos.

Quando os pastores ingleses abriram a porta de seus quartos, na manhã seguinte,

os seus sapatos estavam brilhando, mas eles não ficaram sabendo de nada.

Moody não contou a ninguém; porém, o seu amigo cansado contou- o a algumas

pessoas. Daí em diante, durante o restante da conferência, diferentes pessoas se

dispuseram voluntariamente a engraxar secretamente os sapatos.

Um coração de servo é contagioso. O que pegamos por contágio com Cristo

pode, em seguida, ser “pego” pelos que querem ser moldados à imagem do nosso

Senhor Servo. Um coração de servo atrairá outros a você, fará com que eles se

sintam confortáveis na sua companhia e, futuramente, fará com que os discípulos

que você está treinando desejem ser mais parecidos com Jesus. “Porque Deus não

é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do amor que para com o seu nome

mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis” (Hb 6.10).

66 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Por que a liderança bíblica está ligada com o serviço? Como este conceito se

compara com as suas experiências no trabalho, na igreja e em outros lugares?

2) Como podemos aprender mansidão com Cristo, desta forma cumprindo a sua

ordem (veja Mateus 11.28- 30)?

3) Você é capaz de lembrar alguns custos pessoais que teve que pagar para ser

servo de Cristo para o povo?

4) Leia, em voz alta, Hebreus 10.24.

a) Escolha uma pessoa em sua igreja que necessite de ser estimulada

a amar. Ore, perguntando a Deus o que você pode fazer para levar essa

pessoa a praticar boas obras. Asse um bolo para ela, mande- lhe flores ou

escreva-lhe uma notinha de agradecimento por algo. Para causar um impacto

especial, não coloque o seu nome; envie o presente secretamente.

b) Relacione três pessoas sem Cristo, em cada um dos mundos do seu

testemunho (veja a página 65). Ore diariamente por elas. Pergunte a

Deus o que ele quer que você faça para aplicar Hebreus 10.24 de alguma

forma à vida delas. Deus apontará uma pessoa em cada esfera de sua

vida para você servir. Compartilhe os resultados com outros discípulos.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 67



8. PRESENÇA COM O DISCÍPULO

“Disponibilidade é mais rara do que capacidade” – Anônimo

Atos 20.17- 38 descreve os anos que Paulo passou em Éfeso, uma comunidade

que emergira da idolatria, até ser uma igreja plenamente crescida, com líderes

e pastores bem estabelecidos em apenas três anos. Paulo edificou essa igreja

usando três princípios para edificar multiplicadores espirituais.

O primeiro princípio é a necessidade de presença prolongada com o seu discípulo.

O segundo é a dimensão de carinho e amor associada com um coração de

pai ou de mãe (capítulo 9). Terceiro, Paulo usou o princípio de ritmo (capítulo 10).

COM ELE, O PRINCÍPIO DA PRESENÇA

Jesus escolheu os 12 discípulos para estarem com ele a fim de participarem

de sua vida, bem como observarem e aprenderem do seu ministério copiando

dele. Em Marcos 3.14, lemos que ele “designou doze para que estivessem com

ele, e os mandasse a pregar”. Este versículo contém três passos, no processo de

edificar multiplicadores: escolhê- los, treiná- los e enviá- los. Cada um desses passos

exigiu a presença de Cristo.

Desta forma, uma questão crítica em qualquer ministério bíblico de discipulado

é o tempo, pois investir a vida em discípulo que está em crescimento não é coisa

que se possa fazer sem gastar grande parte do tempo com ele. O tamanho da

equipe que Cristo escolheu estava em correlação direta com a sua decisão de

tornar o seu tempo disponível a eles. Ele não tinha possibilidade de dar o seu

tempo a todo mundo. Depois de curar o endemoninhado gadareno, por exemplo,

ele lhe disse para voltar para casa.

O número de pessoas em que você pode investir a sua vida é limitado pelo

tempo que você está disposto a usar para satisfazer as suas necessidades individuais.

Uma hora por semana com um grupo pode ser um método simplesmente

acadêmico. Não produzirá necessariamente discípulos de qualidade, porque não

é prática modelada segundo o exemplo de Cristo de investir tempo, isto é, ele

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 69


Intercessão por aqueles que discipulamos é o cerne

invisível do amor; gastar tempo com eles é a expressão

pública de um estilo de fazedor de discípulos

mesmo na vida dos outros. Intercessão por aqueles que discipulamos é o cerne

invisível do amor; gastar tempo com eles é a expressão pública de um estilo de

fazedor de discípulos. 28

Em Atos e nas Epístolas, vemos a quantidade extraordinariamente grande de

tempo que Paulo gastava em comunhão e treinamento em pequenos grupos. Ele

estava com os novos crentes “sempre” (At 20.18). Ele resume a sua permanência

em Éfeso, escrevendo: “Lembrando- vos de que por três anos não cessei noite e

dia de admoestar com lágrimas a cada de vós” (At 20.31).

O que fez Paulo durante os seus três anos em Éfeso? Além de sustentar- se e

a à sua equipe, ele esteve pregando e ensinando “publicamente e de casa em

casa” (At 20.20). Ele também mostrou, aos crentes, todos os princípios que são

essenciais para servir e evangelizar uma capital pagã (At 20.35). A recapitulação

que Paulo faz do seu ministério aos presbíteros efésios nos leva a lembrar a absoluta

prioridade que ele dava à edificação de uma comunidade eclesiástica de

crentes multiplicadores.

O treinamento de líderes se baseava na textura de evangelização e ensino,

de forma que Paulo deixou em Éfeso presbíteros que podiam ministrar independentemente

do fato de ele estar presente. Porque o amor de Cristo havia sido

derramado por meio de Paulo e de sua equipe, não é de se admirar que, quando

ele deixou Éfeso, “levantou- se um grande pranto entre todos e, lançando- se ao

pescoço de Paulo, beijavam- no” (At 20.37).

Muitos pastorados têm- se tornado exercícios de curto prazo. Missionários em

muitos países estão enfrentando cada vez mais limites de tempo à medida que

os governos mudam e as portas se fecham para muitos estrangeiros. Stephen

Neil escreve algumas penetrantes palavras de acautelamento: “O missionário (ou

28

Neste parágrafo e nos seguintes, Waylon B. Moore trata da questão da priorização do tempo de

investimento na vida de pessoas para torná- las discípulos de Cristo. “Se quisermos multiplicar

discípulos, precisamos pagar o preço no que diz respeito ao tempo que investimos nessa causa

tão nobre [...]” (livro Igreja Multiplicadora, p. 82).

70 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


pastor) [...] precisa guardar- se conscientemente contra a ilusão de permanência

em que tantos dos seus predecessores ficaram presos”. 29 O obreiro cristão não

se desanimará, por pequeno que seja o seu grupo, se ele puder focalizar em discípulos

individualmente. O impacto duradouro do seu ministério será exercido

sobre os discípulos treinados que ele deixar atrás de si.

A qualidade do treinamento, no fazer discípulos, precisa ser extremamente alta

para que as mutações de terceira e quarta gerações não venham a desfigurar os

discípulos biblicamente definidos. Quanto mais torrente longe da fonte alguém

bebe, mais poluída será a água. A nossa vida é a nossa mensagem. Abraão Lincoln

disse: “Não sei quem era o meu avô. Estou muito mais preocupado em saber o

que será o seu neto.” 30

O QUE VOCÊ ENSINA A UM

DISCÍPULO FAMINTO?

Se uma pessoa lhe dissesse: “Vou dar- lhe dez horas por semana nos próximos

seis meses: alimente- se, ensine- me; estou à sua disposição”, qual seria a sua reação?

Muitas pessoas na igreja teriam dificuldade em responder a esta pergunta.

Primeiro, aqui está o que não fazer:

• Não perca tempo com coisas que não são essenciais. Atire na mosca. Você

tem alvos bíblicos específicos para alcançar;

• Não se queixe a respeito da igreja;

• Não chore no ombro um do outro;

• Não percorra o material de estudo bíblico num ambiente de orador ouvinte.

Certas características bíblicas essenciais são o âmago do princípio da presença.

Cinco prioridades devem ser observadas, quando nos encontramos regularmente

com os discípulos, e o tempo a ser gasto em cada uma delas varia de reunião

para reunião, conforme o Espírito Santo dirigir.

29

Stephen Neill, citado por Ted Engstrom. What in the World Is God Doing? Waco, Texas: Word

Books Inc., 1978, p. 61.

30

Abraham Lincoln, citado em “Quotable Quotes” Reader’s Digest, dezembro de 1979, p. 157.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 71


Progresso – Falar não é ensinar; ouvir não é aprender. Compartilhe os progressos

feitos. Insista em revisar o que foi alcançado na reunião anterior. Jesus não

transigia nunca a respeito de algo que neutralizasse a possibilidade de alcançar as

gerações futuras. Um exame ou verificação garante que você não terá discípulos

voluntários que não estejam dando prioridade ao estudo.

Princípios bíblicos – Discuta os princípios bíblicos com o discípulo. Ensine

doutrina e como aplicar a Palavra de Deus à vida diária.

Uma lista de assuntos relacionados com a Bíblia, para cobrir um período de

vários meses, pode incluir os seguintes tópicos (a maior parte deles é coberta no

meu Bulding Disciples Notebook 31 ):

• Certeza de salvação;

• Hora tranquila;

• Oração;

• O Espírito Santo;

• Confissão de pecados;

• Vitória sobre o pecado;

• Separação do mundo, da carne e do diabo;

• Comunhão (dentro e fora da igreja);

• A Bíblia: ouvir, ler, decorar, meditar e métodos de estudo;

• Reivindicando as promessas de Deus;

• Aplicando a Palavra à vida;

• Testemunhar: como dar um testemunho pessoal e fazer uma apresentação

básica do evangelho;

• O senhorio de Cristo;

• Relacionamentos pessoais: os não salvos, a família, a igreja, os cônjuges;

31

MOORE, Waylon B. Building Disciples Notebook. Missions Unlimited, Inc., Tampa, Flórida.

Esse caderno inclui estudos e equipamentos devocionais para um período de 26 semanas a

três anos.

72 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


• Visão mundial e missões;

• Estabelecimento de alvos;

• Finanças;

• Uso do tempo;

• “Seguimento” e discipulado;

• Como desenvolver um ministério homem- a-homem;

• A vontade Deus (como ser guiado pelo Espírito);

• Controle da língua;

• Atitudes;

• A segunda vinda de Cristo;

• Satanás.

Embora dois discipuladores (fazedores de discípulos) possam não concordar

com a ordem destas prioridades de treinamento, a maior parte deles, geralmente,

concorda com o seu conteúdo. As pessoas diferem tanto que a apresentação

destes assuntos e a sua aplicação precisarão ser ajustadas às necessidades de

cada pessoa.

As lições pessoais ensinadas a você pelo Espírito de Cristo devem ser compartilhadas.

Nada eleva um relacionamento a um plano bíblico mais rapidamente

do que mostrar a um discípulo um princípio bíblico que tenha sido levado a

efeito em sua vida.

Resolução de problemas – Procure resolver as dificuldades atuais e prevenir

problemas futuros que retardem o crescimento da vida pessoal do discípulo.

À medida que o relacionamento se tornar mais aberto e mais livre, o discípulo

começará a falar quando estiver sendo ferido, questionando, duvidando e tendo

dificuldades.

A maior parte das cartas do Novo Testamento foi escrita para resolver problemas

da igreja local. Uma elevada porcentagem do seu conteúdo trata de

problemas de doutrina, conduta e relacionamentos interpessoais. Muitos de nós

crescemos e aprendemos ao enfrentar e resolver problemas. A vida cristã inclui

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 73


sofrimento e o aprendizado de como suportar as pressões (veja Filipenses 1.29;

3.10; 1Pedro 2.20,21).

Controle, cuidadosamente, a quantidade de tempo que você dedica a resolver

problemas, pois há necessidades de equilíbrio. Algumas pessoas parecem viver

para nada mais senão ventilar os seus problemas, e são facilmente reconhecidas.

Elas, geralmente, desejam compartilhá- los não apenas com você, mas, também,

com outras pessoas. Procuram conselheiros que concordem com elas.

Oração – Orem juntos, em intercessão e louvor. Uma das atividades mais

íntimas da vida é orar com outra pessoa. Você não conseguirá conhecer bem

outra pessoa enquanto não orar por um bom tempo com ela. Nada ajuda você

a aprender mais depressa qual é a dor de outra pessoa ou quais são suas necessidades,

desejos e alvos, do que prolongados períodos de oração.

Use listas de oração. Encoraje o seu discípulo a ter páginas de oração onde ele

registre pedidos específicos, respostas, promessas bíblicas reclamadas e datas que

demonstrem a fidelidade de Deus em responder às suas orações. Revisar essas

páginas alimentará a sua fé para mais oração, por ver as maneiras miraculosas

pelas quais Deus agiu para com ele no passado.

Prática – As primeiras quatro coisas essenciais de progresso, princípios, problemas

e oração precisam ser ligadas com pôr em prática tudo isto. A canalização

do tempo que vocês passam juntos para a ministração das necessidades de outras

pessoas propiciará aplicações bíblicas novas e práticas. Façam as coisas juntos,

especialmente compartilhar Cristo com os perdidos. É desta forma que você

demonstra ser cumpridor da Palavra, e não apenas ouvinte (veja Tiago 1.22). A

sua intercessão pelo seu discípulo e o fato de você testificar com ele unem vocês

dois em crescimento espiritual mútuo.

74 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Dê alguns exemplos de ocasiões em sua vida quando outro crente gastou uma

hora ou período correspondente a sós com você, de maneira que o edificou

espiritualmente.

2) Discuta como você aprendeu por meio do ministério de ensino de outra pessoa

na escola, em casa, no trabalho ou durante períodos de lazer.

3) Discuta o fator tempo para aprender a fazer algo. Quanto tempo é necessário

para aprender a dar laços aos cordões dos sapatos, cantar bem uma música,

ensinar uma classe de adultos, testificar a uma pessoa perdida ou aconselhar

alguém que tenha um problema?

4) Como a disciplina do tempo deve diferir de outras aulas estruturadas e períodos

de comunhão?

5) Dê um valor cronológico aos cinco itens deste capítulo quando se reunir com

outra pessoa para discipulá- la. Por que o tempo é um fator importante em muitas

áreas do discipulado?

6) Revise os tópicos que podem ser compartilhados com outra pessoa. O que

parece mais importante, menos importante ou desnecessário? Há alguns tópicos

que você acrescentaria ou modificações que você faria na ordem sugerida?

Explique a sua maneira de fazê- lo.

7) Qual é a diferença entre falar, ensinar e treinar? Por que o treinamento é essencial

no discipulado?

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 75



9. TENHA UM CORAÇÃO DE PAI

“Seja pai, e não possuidor. Seja atendente, e não senhor” – Lao Tsé

Há muitos bebês espirituais em nossas igrejas, mas há poucos pais ou mães

espirituais assumindo responsabilidade por eles.

Paulo disse que confiava que Deus iria amadurecer aqueles que ele salvara

(Fp 1.6). Qual era a razão para a sua confiança? Como pai espiritual, ele sempre

orava pelos seus filhinhos em Cristo (Fp 1.3,4), e ele os amava, dizendo: “Tenho

por justo sentir isto a respeito de vós todos, porque vos retenho em meu coração”

(Fp 1.7 – o grifo é meu).

Os que desejam multiplicar- se através do mundo precisam ser amorosamente

responsáveis pela vida dos outros da mesma forma como um pai ou mãe o é

para com um filho. Paulo ministrava tanto como mãe quanto como pai para os

novos cristãos de Tessalônica (1Ts 2.7,11). A única maneira pela qual um pai ou

mãe consegue treinar é de pessoa a pessoa. Uma criança de três anos de idade

tem necessidades diferentes de outra de dez anos. Semelhantemente, as necessidades

espirituais na igreja podem ser supridas de maneira mais satisfatória por

cuidado e treinamento individual.

Não é fácil ser um pai fazedor de discípulos. Há um preço pessoal a ser pago

em amor e disciplina ao se trabalhar com uma alma que viverá por toda a eternidade.

Uma vez aceita essa tarefa das mãos de Cristo, um relacionamento de

discipulado 32 de pai para filho algumas vezes perdura por toda a vida, crescendo

até ser uma comunhão de colaboração madura.

Alcançar outra vida e fazer nela um depósito permanente da graça de Deus é

um privilégio tão grande que toda a igreja devia estar correndo para conseguir

esta oportunidade. Porque, quando um investimento espiritual é feito em outra

vida, você participa de toda a glória das recompensas espirituais que serão colhidas

pela vida para sempre. Paulo referiu- se a isto quando escreveu aos cristãos

32

Em outras palavras, um relacionamento discipulador (ver livro Igreja Multiplicadora, p. 68- 82).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 77


em crescimento que ele treinara, dizendo: “Na verdade vós sois a nossa glória e

o nosso gozo” (1Ts 2.20).

Temos uma quádrupla responsabilidade como pais ou mães espirituais: amar,

alimentar, proteger e treinar os nossos discípulos.

O PAI (OU MÃE) AMA OS SEUS FILHOS

ESPIRITUAIS

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos

outros” (Jo 13.35). A motivação soberana em todo ministério de Cristo aos seus

discípulos era o amor e deve ser a característica mais reconhecível de cada um

de nós como discípulos do século 21.

Nem sempre Jesus aprovou as atitudes ou desejos dos seus discípulos, mas

ele sempre os aceitou e os amou como indivíduos. Na sua presença, os discípulos

sentiam liberdade e conforto. Eles sabiam que ele era diferente. Quando os

inimigos de Cristo disseram que ele era amigo de publicanos e pecadores, sem

querer, eles chamaram a atenção para o amor que ele tinha pelos outros.

Amor é uma atitude que se dedica a satisfazer as mais profundas necessidades

de outra pessoa, não importa qual seja o preço. Paulo disse aos presbíteros em

Éfeso: “Não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinandovos”

(At 20.20). Ele lembrou aos tessalonicenses: “De boa vontade desejávamos

comunicar- vos [...] as nossas próprias almas, porquanto vos tornastes muito amados

de nós” (1Ts 2.8). Da mesma forma como Cristo se deu em amor por nós, o nosso

amor precisa expressar- se em renunciarmos a nós mesmos e aos nossos direitos

para ajudar os outros.

Esta entrega amorável em favor das necessidades dos outros muitas vezes

requererá que enfrentemos alguns problemas frontalmente. Paulo recordou aos

efésios um problema que havia no meio deles: “Não cessei noite e dia de admoestar

Amor é uma atitude que se dedica a satisfazer as mais

profundas necessidades de outra pessoa, não importa

qual seja o preço

78 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


com lágrimas a cada um de vós” (At 20.31). Que amor ousado foi necessário que

Paulo tivesse para poder admoestar, constante e carinhosamente, até o problema

ser enfrentado e vencido!

Nem sempre tem acontecido isso comigo e pode ser também que não aconteça

com você. Algumas vezes, tenho evitado uma confrontação particular em

amor. Tenho tido medo de hesitação para amar suficientemente algumas pessoas,

a ponto de enfrentá- las, mostrar- lhes o seu pecado e procurar, humildemente,

levá- las ao arrependimento e restauração. Porém, não deve ser assim. “Nisto

conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida

pelos irmãos” (1Jo 3.16).

“Dar a nossa vida” significa considerarmo- nos mortos para o pecado e vivos

para Cristo diariamente, de forma que nos tornemos os canais vivos do seu amor

(Jo 17.26). Amor é o teste do controle do Espírito em nossa vida (Gl 5.22) e resulta

em uma aproximação aos outros, que torna mais certa a multiplicação por meio

deles. Esse amor pelos nossos discípulos significa, todavia, “não fazer convertidos

às nossas maneiras de pensar, mas fazer discípulos de Jesus”.

Há anos, eu disse a um diácono de minha igreja que ele tinha o dom de pastorear

e devia pensar seriamente em entrar no pastorado. Durante esse período,

algumas coisas desagradáveis aconteceram e ele abandonou a igreja. Várias pessoas

vieram interrogar- me a respeito, mas recusei- me firmemente a dizer algo

negativo a respeito dele e continuei a crer que ele poderia servir a Cristo em

um ministério mais amplo. Continuei também orando fervorosamente por ele.

Com o passar dos anos, ele respondeu ao chamado de Deus para um pastorado

de tempo integral e agora está desempenhando um ministério dinâmico.

Recentemente, encontramo- nos pela primeira vez depois de vários anos. Ele

disse: “Grande parte do que uso, que realmente funciona e que tem mudado a

minha vida, recebi do seu ministério, pastor”. Nunca há prejuízo quando amamos!

O verdadeiro amor de Paulo pelos seus filhos espirituais brilha através das páginas

de 2Coríntios. A despeito de ter sido mal- entendido e acusado falsamente,

Paulo prosseguiu. Em certo ponto, com seu coração explodindo de amor pelos

coríntios, ele exclamou: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar

pelas vossas almas. Se mais abundantemente vos amo, serei menos amado?” (2Co

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 79


12.15). O poder para amar nunca depende de pessoas ou de coisas: origina- se

de um relacionamento com o Espírito Santo (veja Romanos 5.5). O seu fruto é o

amor (veja Gálatas 5.22). Falta de amor revela falta de um relacionamento íntimo

com o Espírito Santo. Se você permitir que o Espírito Santo lhe dê poder para

amar os outros, seu amor retornará nos seus relacionamentos de discipulado.

Você alcançará seus alvos por meio do amor.

O PAI (OU MÃE) ALIMENTA SEUS FILHOS

ESPIRITUAIS

Ao resumir os seus três anos em Éfeso em Atos 20, Paulo lembra como ele

constantemente alimentou os discípulos com a Palavra de Deus: “Não me esquivei

de vos anunciar coisa alguma que útil seja, ensinando- vos” (At 20.20); “Não me

esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.27).

A princípio, a criança é alimentada pelos outros; mais tarde, ela começa a se

alimentar e, finalmente, quando adulta, passa a alimentar outros. Um dos alvos

primordiais do fazedor de discípulos é ensinar o discípulo a se alimentar, de forma

que ele possa, mais tarde, alimentar outros. Aqui estão algumas maneiras pelas

quais você pode ajudá- los a aplicar a Palavra de Deus à sua vida:

ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE A HORA TRANQUILA

Daniel 6.10,11 é um modelo eficiente de uma hora tranquila com Deus, pois

diz onde Daniel orava, quando ele orava e por que orava.

Um lugar definido – Precisamos de um lugar para estar sozinhos com o Senhor,

livres de distrações. Se a sua casa não é silenciosa, talvez, algum lugar fora dela

funcione melhor para você: em seu carro, estacionado em uma rua tranquila;

andando na vizinhança, de manhã bem cedo; ou mesmo correndo sozinho. Mas,

seja o que for que você escolha, tenha a certeza de que entrou no seu recolhimento,

no lugar de devoção privada, diariamente (veja Mateus 6.6).

Um tempo definido – Encontrar- se com Deus de manhã era hábito de Cristo

(veja Marcos 1.35). Esta é a melhor hora para muitas pessoas, porque constitui

uma boa preparação para o dia cheio que se prenuncia. Para obter vitória em se

80 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


levantar para se encontrar com o Senhor, marque um encontro com ele na noite

anterior. Dez minutos de comunhão com Deus de manhã valem mais do que

nada; é melhor começar com um período curto e permitir que ele cresça naturalmente.

O seu período se estenderá à medida que você ansiar por conhecê- lo

melhor e experimentá- lo na sua vida.

Um conteúdo definido – Uma hora tranquila é um tempo de alimentação

espiritual para o crente. Você enche a sua mente e o seu espírito com a presença

de Deus, alimentando- se com a sua Palavra enquanto ele fala com você. Depois,

você conversa com ele em oração.

Prepare- se na noite anterior. Deixe prontos sua Bíblia, materiais devocionais e

caderno. A Bíblia e a literatura devocional são o seu alimento. Use o caderno para

registrar novos pensamentos e pedidos de oração. Escreva também as respostas

que recebeu às suas orações.

ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE COMO FAZER ANOTAÇÕES DE

SERMÕES

Esquecemo- nos de cerca de 90% do que ouvimos. Fazendo anotações dos

sermões, cortamos esta porcentagem de perda em pelo menos a metade. Uma

forma rápida de ensinar um discípulo como se alimentar é ajudando- o a aprender

como fazer anotações de cada mensagem que é transmitida do púlpito.

As anotações dos sermões devem ser de tamanho uniforme, cada semana.

Devem incluir o nome do orador, data, título do sermão, passagem ou

passagens bíblicas, referências, um esboço do conteúdo e algumas sentenças

específicas. As anotações podem ser arquivadas segundo o livro da Bíblia

usado, ou segundo o assunto. Assim, elas permanecerão disponíveis para

meditação, para estudo ou para serem usadas na preparação de suas próprias

palestras devocionais.

Ensine seu filho espiritual a descobrir a lição principal do sermão e, depois,

como aplicar as verdades básicas às situações de sua vida. Os membros da congregação

são tão responsáveis por sair da igreja com o sermão quanto o pregador

por prepará- lo. Ambos têm diante de Deus a responsabilidade de vivê- lo.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 81


ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE COMO LER A BÍBLIA

Lembramo- nos apenas de um pouco mais do que a metade do que lemos

(60 a 80%), de forma que é imperativo que façamos anotações para melhorar a

nossa retenção. Enquanto o discípulo lê, aqui estão algumas coisas específicas

que ele pode procurar fazendo anotações acerca do texto:

• A lição espiritual;

• O que a passagem ensina a respeito de Deus Pai, Filho e Espírito Santo;

• Um versículo que resume a passagem;

• Uma ordem para ser obedecida;

• O que Deus está ensinando agora mesmo por meio desta passagem bíblica.

É importante que o discípulo leia toda a Bíblia para dar conta de sua unidade.

Ler livros específicos de uma assentada é especialmente valioso para satisfazer

as necessidades individuais. Marque como tarefa leituras regulares com o alvo

de que a leitura da Bíblia se torne um hábito de uma vida inteira. Ajude o seu

discípulo encorajando- o e testando- o, para ver como ele está tirando proveito

da leitura.

ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO

Se o discípulo aprender como estudar a Bíblia por si mesmo, ele se tornará

livre e capacitado para “comer a Palavra” sempre que desejar, em vez de ficar

dependendo de outrem para a sua comida espiritual essencial. Quando estiver

ensinando métodos de estudo, faça com que o discípulo gaste um mínimo de

20 minutos diariamente em sua tarefa de casa.

Quatro métodos de estudo, especialmente, resultam em crescimento dinâmico.

São meditação por versículo, em que um versículo é estudado em profundidade;

análise por capítulo, em que um livro é estudado capítulo por capítulo; estudo

por palavra, em que palavras específicas como gozo, amor ou paz, são estudadas;

e estudo de personagens, em que as pessoas da Bíblia são analisadas. A riqueza

destes quatro tipos de estudo pessoal alimenta e prepara o leigo para encontrar

a vontade de Deus para toda a sua vida.

82 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Aqui estão algumas sugestões do meu plano favorito de estudo bíblico: a

análise por capítulo. Requer apenas Bíblia, papel e caneta. Sugira, ao discípulo,

pelo menos quatro coisas:

Paráfrase – Usando as suas próprias palavras, escreva o que o capítulo revela.

Isto vai ajudá- lo a entendê- lo plenamente, apropriar- se desse capítulo,

fazendo-o seu.

Perguntas – Escreva qualquer coisa a respeito do texto que você não tenha

entendido. E, também, relacione perguntas que você acha que outras pessoas

podem fazer para as quais você achou a resposta. Isto ajuda muito quando você

começa a ensinar outros. Apresente uma referência bíblica como base para a

resposta a essas perguntas sempre que possível.

Referências – Encontre uma referência (outro versículo que contenha uma

verdade relacionada ou semelhante em outra porção da Bíblia) para cada versículo

do capítulo que estiver considerando. Dessa forma, a Bíblia se torna o seu próprio

comentário (o melhor), explicando e esclarecendo cada passagem estudada.

Aplicação – Depois de orar, escreva uma aplicação pessoal baseada em um

versículo do capítulo em foco. Explique o que você vai fazer, com forças recebidas

de Deus, para aplicar essa passagem à sua vida diária. Seja específico. Por exemplo,

em vez de escrever: “Vou orar mais na semana que vem”, o que é genérico

demais, escreva: “Tenho pecado por falta de oração; na semana que vem orarei

pelo menos dez minutos por dia”. Examine- se e fiscalize- se para ter certeza de

que cumpriu o que decidiu. O fato de você aplicar fielmente a Palavra de Deus

à sua vida vai ajudá- lo a se tornar praticante e não apenas ouvinte da Palavra.

Salmo 1, Salmo 23 e livros curtos do Novo Testamento, como Filemom, Filipenses

e 1Tessalonicenses, são excelentes porções para um discípulo que está

começando aprender como estudar a Bíblia. Uma ou duas semanas, geralmente,

são um bom período para cada capítulo.

O fato de você aplicar fielmente a Palavra de Deus

à sua vida vai ajudá- lo a se tornar praticante e não

apenas ouvinte da Palavra

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 83


Depois que você tiver ensinado o seu discípulo como estudar a Bíblia, não se

esqueça de ensinar- lhe como ensinar a outros. Em todo o seu discipulado, tenha

em mente o alvo final de multiplicar fazedores de discípulo – aqueles que estão

treinados e aptos para transmitir o que aprenderam.

ALIMENTE- O ENSINANDO- LHE A DECORAR PASSAGENS BÍBLICAS

A memorização de passagens bíblicas resulta em muitas bênçãos e maior poder.

O discípulo pode vencer a tentação e andar vitorioso sobre qualquer pecado

(veja Salmo 119.11). Ele pode ter uma vida frutífera e de sucesso (veja o Salmo

1.2,3). Ele descobrirá novos interesses na Bíblia e maior compreensão. A sua capacidade

de ensinar será aumentada (veja Colossenses 3.16). Ele experimentará

um novo poder para testemunhar e verá resultados positivos (veja 1Pedro 3.15).

Ele conhecerá melhor a vontade de Deus para a sua vida à medida que mais luz

brilhar no seu caminho (veja o Salmo 119.105). Ele poderá experimentar maior

crescimento em sua fé, nova alegria e um espírito mais positivo em sua vida diária

(veja Salmo o 119.103). Ele poderá orar com nova certeza. O aprendizado de

promessas da Bíblia aumenta a ousadia na oração (veja João 15.7).

Todas estas bênçãos, e muitas mais, resultarão da memorização de textos

bíblicos por parte dos discípulos se esta fizer- se acompanhar de meditação para

a sua aplicação.

Como decorar um versículo – Sua atitude faz diferença. Ao aprender os versículos,

você tem a ajuda do Espírito Santo para “guiá- lo em toda verdade”. Você

“pode todas as coisas” naquele que o fortalece (Fp 4.13). Ele lhe dará poder para

aprender, se você lhe pedir para fazê- lo.

1) Depois de ter escolhido um versículo, leia- o no contexto da Bíblia. Ler o capítulo

que inclui o versículo em questão o ajudará a entendê- lo. Leia esse versículo,

O aprendizado de promessas da Bíblia

aumenta a ousadia na oração

84 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


cuidadosamente, várias vezes em voz alta. Se outra pessoa já não o fez, decida

qual é o tópico do versículo. 33

2) Aprenda o versículo nesta ordem: o tópico, a sua referência (onde se encontra

na Bíblia), o primeiro trecho do versículo e a sua referência novamente. Repita

isso várias vezes. Depois, comece de novo; sempre iniciando com a referência,

adicione outro trecho do versículo e termine com a referência. Continue pouco

a pouco, até aprender todo o versículo.

3) Recapitule o versículo durante o dia; use para isso momentos de folga. Digamos:

na hora das refeições, enquanto está viajando ou esperando e antes de dormir.

Peça a alguém para verificar sua memorização. Repita o versículo diariamente

durante várias semanas. Depois disso, revise- o semanalmente.

4) Comece decorando dois versículos por semana.

5) Medite sobre cada versículo que aprender. Ore, usando- o. Peça a Deus uma

experiência com esse versículo em sua vida. Cada versículo contém algo para você

conhecer, parar, começar ou compartilhar. O propósito final de cada versículo

é identificá- lo com Cristo, em sua vontade, conhecê- lo melhor e multiplicar a

sua glória.

O PAI (OU MÃE) PROTEGE SEUS FILHOS

ESPIRITUAIS

Satanás planejou a destruição sistemática dos discípulos de Cristo mediante

amargura, desânimo, impaciência e outros pecados. Embora as tragédias sejam

milhares, o poder para resistir aos violentos ataques de Satanás está disponível

instantaneamente quando nos apropriamos da própria vida de Cristo. “Maior é

aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1Jo 4.4).

Cristo deu o exemplo de como nós, os pais espirituais, na função de protetores,

devemos agir, quando disse a Pedro: “Eis que Satanás vos pediu para vos cirandar

33

O Topical memory system, publicado por The Navigators (Colorado Springs, Colorado: NavPress,

1969), está disponível em várias línguas e é vendido nas livrarias evangélicas.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 85


como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te

converteres, fortalece teus irmãos” (Lc 22.31,32).

PROTEÇÃO CONTRA A TENTAÇÃO

Três tentações básicas que Satanás usa para nos levar a pecar encontram- se

em 1João 2.15,16:

“Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do pai

não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência

dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai mas, sim, do mundo”.

A concupiscência da carne – A concupiscência ou cobiça começa apenas

com um olhar. “Dirijam- se os teus olhos para a frente, e olhem as tuas pálpebras

diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e serão seguros todos os

teus caminhos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu

pé do mal” (Pv 4.25- 27).

Ajudar os discípulos significa observar a sua conduta para o outro sexo. Palavras

honestas e francas a esse respeito, ditas em amor, precisam ser compartilhadas

tanto com os discípulos casados como os solteiros, para que aprendam como

devem se precaver: “guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele

procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).

A concupiscência dos olhos – A vontade de ter dinheiro e o desejo de possessões

são igualmente destrutivos para os discípulos. Ambos são resultados de

uma concentração iníqua nos cuidados deste mundo.

O dinheiro não é mau em si mesmo; usado corretamente ele pode ser um

meio de ministério eficiente para um grande número de pessoas. Contudo, o

amor a ele é mau.

“Mas os que querem tornar- se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências

loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque

o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se

transpassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.9.10).

“Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). A chave é não se deixar

possuir pelo dinheiro. Verifique se o seu discípulo tem o dinheiro sob controle

86 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


ou se o dinheiro o tem sob controle. Observe as suas motivações nos negócios.

Observe quanta energia ele dedica a obter dinheiro. Quais são as suas prioridades?

Ele tem tempo para o Senhor, para sua família e para seu ministério na

igreja? Observe como ele gasta e como economiza. A respeito de que ele fala?

Compartilhe princípios sadios acerca da direção das finanças para ajudar o seu

discípulo a não fazer dívidas, pois isto lhe dará mobilidade e o libertará para

ouvir o chamado de Deus.

Intimamente relacionado com o desejo de ter dinheiro está o desejo de ter

propriedade. Devemos perguntar- nos: De quanto realmente precisamos para as

necessidades básicas da vida? “Tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos

com isso contentes” (1Tm 6.8). Tudo o mais é extra: casas, carros e diplomas

universitários. Agradeça a Deus os extras, mas não coloque o seu coração neles.

Alguns missionários tiveram que sair do Vietnã e receberam notícia disso duas

horas antes. Eles têm algo a compartilhar a respeito da “perda de todas as coisas”

(Fp 3.8). O pouco que levaram com eles revelou o seu senso de valores. Alguns

levaram retratos de família ou outro objeto sentimental portátil, mas não muito

mais que isso.

Esses missionários podem testificar experimentalmente que não devemos

acumular para nós tesouros “onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os

ladrões minam e roubam”, mas ajuntar “tesouros no céu” (Mt 6.19,20).

Pense em todas as suas possessões. De que você realmente necessita? Você

pode passar sem o quê? Agora, mentalmente, entregue a Deus o direito que

você tem sobre todas essas coisas. Quando fizer isso, as coisas perderão qualquer

domínio sobre você e você as usará com a consciência de que elas são de

Deus, e não suas.

A soberba da vida – As tentações para sermos soberbos muitas vezes se

manifestam por meio de um desejo excessivo de reconhecimento próprio.

Quando Satanás não pode deter um homem com a impureza nem pegá- lo na

armadilha do dinheiro, ele cochicha: “Você precisa de mais apreciação. Você

fez um bom trabalho, mas ninguém reconhece”. Muitos soldados perderam a

batalha de multiplicar discípulos “porque amaram mais a glória dos homens o

que a gloria de Deus” (Jo 12.43). Tome cuidado com o orgulho ferido, azedume,

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 87


zanga, amargura em seus discípulos. Grande parte disso tem raiz no desejo de

obter glória pessoal.

O desejo de ser apreciado e honrado é natural; contudo, é um luxo que poucos

podem aspirar. “Fale pouco, sirva a todos, prossiga” é um moto devastador

para o orgulho humano. Lembre- se que o Senhor é o recompensador de todos

os que o buscam. Ele mesmo é a nossa última recompensa (veja Gênesis 15.1).

A soberba da vida pode também ter a forma de competição excessiva. Queremos

ser o melhor que pudermos diante do Senhor, de forma que o agrademos

em tudo o que fazemos. Enquanto uma competição sadia pode promover o

nosso desejo de excelência, uma concentração demasiada em nós mesmos pode

enevoar a nossa visão das necessidades dos outros. Precisamos ter em mente

as palavras de Paulo aos Filipenses: “Nada façais por contenda ou por vanglória,

mas com humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo; não

olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é

dos outros” (Fp 2.3,4).

PROTEÇÃO ATRAVÉS DA DISCIPLINA

Quando as advertências de Deus não são ouvidas e o discípulo peca, o pai

espiritual precisa discipliná- lo. Este é um ministério essencial na igreja. “Antes

exortai- vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje,

para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13 – o

grifo é meu).

A passagem- mestra a respeito de disciplina é Hebreus 12.5- 13. Devemos disciplinar

os que estão sob o nosso encargo; não devemos punir. O alvo da punição

é parar um hábito ou ofensa, mas o objetivo da disciplina é a restauração da

comunhão com Deus.

Ser sincero e franco para com os outros quanto aos pecados deles é uma

questão delicada, mas necessária. A repreensão e exortação não são apenas uma

forma rápida de recuperação e crescimento espiritual, mas, também, demonstram

um amor raro da parte do repreensor; poucas pessoas estão dispostas a arriscar

o rompimento de uma amizade devido à disciplina.

88 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Paulo usa várias palavras para descrever essa confrontação amorosa: encarrega,

admoesta, repreende, reprova, corrige, exorta e até consola. Se um pai espiritual

permite que o discípulo continue desobedecendo à Palavra sem repreendê- lo

em amor, está falhando no exercício de amor genuíno nesse relacionamento.

Disciplina em amor é fator essencial para que os discípulos venham mais tarde

a crescer, amando a pureza e procurando viver uma vida piedosa. Pequenas

sementes de pecado produzem grandes árvores, que bloqueiam a luz solar dos

propósitos de Deus. Uma falha em corrigir e disciplinar os nossos filhos naturais

enquanto são jovens significa que aqueles “pequenos” defeitos futuramente crescerão,

tornando- se grandes problemas. O mesmo acontece em nossos relacionamentos

com os nossos filhos espirituais. Corrija a desobediência rapidamente.

“Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos

homens está inteiramente disposto para praticar o mal” (Ec 8.11).

Anos depois, os que foram repreendidos amorosamente olharão para o passado

com alegria, porque Deus os amou suficientemente para tocar as suas vidas

permanentemente por meio de alguém que se importou com eles o suficiente

para discipliná- los. “O que repreende a um homem achará depois mais favor do

que aquele que lisonjeia com a língua” (Pv 28.23 – o grifo é meu).

Como admoestar em amor – Quando estiver falando com os discípulos a

respeito do pecado em suas vidas, faça- o à luz de 1Coríntios 13 e Gálatas 6.1- 3.

Quando o Espírito o levar a confrontar o discípulo, aqui estão algumas regras

básicas para admoestação:

1) A Palavra de Deus é sempre a base para qualquer admoestação. É imperativo

que saibamos que a ofensa praticada é claramente contrária às Escrituras (veja

Tito 2.1);

2) Use de discrição. A hora certa é essencial. Algumas vezes o plano de Deus é

que usemos a sua verdade: “A discrição do homem fá- lo tardio em irar- se, e a sua

glória está em esquecer ofensas” (veja Provérbios 19.11);

3) O disciplinador precisa cumprir os requisitos de Gálatas 6.1: “Vós que sois

espirituais”. Precisamos ser controlados pelo Espírito Santo. Precisamos ter vitória

em nossos corações sobre a área de culpa revelada na vida de outrem;


4) Não somos chamados para confrontar qualquer pessoa que encontrarmos

que tenha um problema de pecado. Ganhar o coração da pessoa é a chave para

conseguir uma reação positiva; mas isso leva tempo. E, também, não somos os

pais espirituais de todo mundo;

5) A admoestação precisa ser razoável, dada de maneira amorosa, como partindo

de um irmão mais velho, e deve expressar compaixão e ternura (veja 2Coríntios

2.4);

6) A admoestação a outra pessoa precisa ser feita com brandura (veja Gálatas

6.1). Lembre- se de que o mesmo pode acontecer a você algum dia – ou já pode

ter acontecido. Fale cuidadosamente e com um coração humilde;

7) Faça- o particularmente (veja Provérbios 25.9 e Mateus 18.15);

8) Faça- o com perseverança. Não se permita ficar cansado ou desanimado. Seja

persistente, porém, não importuno. Uma vez resolvido, dê o assunto por encerrado

(veja Provérbios 13.19 e 28.23).

A responsabilidade do pai (ou mãe) espiritual de treinar o seu filho reflete o

propósito básico deste livro. Revise todos os capítulos a respeito de treinamento

e prepare um plano básico de treinamento bem seu, para seu discípulo, não algo

que seja inflexível, mas algo que contenha os temas essenciais do discipulado.

Quando se deve apresentar ao discípulo esses temas essenciais e como ensinálos

são coisas que vão variar de pessoa para pessoa, mas todos os temas básicos

devem ser incluídos no treinamento de cada indivíduo.

90 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Por que a comparação entre pais físicos e espirituais é usada tão amplamente

nas Escrituras? O que podemos aprender disso? (Veja 1Coríntios 4.15.16; 2Coríntios

12.14,15; Gálatas 4.19; 2Timóteo 1.2; Tito 1.4; 3João 4).

2) Qual das quatro responsabilidades do pai espiritual para com as pessoas que

ele está treinando é a mais usada, e qual é a menos usada em sua:

a) Classe de Escola Bíblica Dominical?

b) Culto de adoração?

c) Treinamento da igreja?

d) Treinamento pessoal da parte de outra pessoa?

3) O que pode ser feito agora dentro da sua comunidade para estimular uma

reação amorosa para com cada novo membro da igreja ou novo convertido?

4) Discuta algo que você achar útil, tirado da sua experiência com a hora tranquila

da semana.

5) Como pode você encorajar outra pessoa em seu contato diário com Deus?

6) Discuta a possibilidade de:

a) Fazer anotações dos sermões e compartilhá- los em família;

b) Fazer a análise de capítulo da Bíblia em grupo, como o Salmo 1 e o Salmo 23.

7) Discuta as três áreas de tentação que podem destruir os discípulos em crescimento.

Como você pode ajudar alguém que conhece a experimentar vitória

em uma dessas áreas?

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 91



10. DETERMINE O RITMO

“Um sermão vivo vale cem explicações” – Robert Coleman

Ritmo é um termo emprestado das corridas. Um corredor lidera o grupo determinando

o ritmo para os outros seguirem. Desta maneira, eles não correrão

depressa demais, para não se esgotarem, nem devagar demais e não terminarem

bem. Se o discípulo não tem um ritmo determinado para ele, é- lhe muito difícil

saber como está se saindo.

JESUS DEU- NOS O EXEMPLO

Jesus ensinou, primeiramente, pelo exemplo de sua vida diária, que ele compartilhou

abertamente com os seus discípulos. J. M. Price escreve: “O primeiro, e provavelmente

o maior aspecto do treinamento dos discípulos foi a associação pessoal

com ele, aprendendo através do exemplo e imitação. Eles o observavam enquanto

ele mostrava simpatia, consolava, alimentava e curava, e captaram o seu espírito.” 34

Jesus dedicou- se muito a ensinar pelo exemplo. Ele mandou que os discípulos

testificassem dele, como ele lhes disse: “Porque estais comigo desde o princípio”

(Jo 15.27 – o grifo é meu). Mais tarde, quando os membros do sinédrio observaram

a intrepidez de Pedro e João, “reconheciam que haviam eles estado com

Jesus” (At 4.13). O tempo gasto em observar e aprender pelo exemplo de Jesus

foi evidenciado publicamente na vida de Pedro e João.

PAULO – OUTRO DETERMINADOR DE RITMO

Paulo também deu exemplo deliberado para os seus seguidores. Ele lhes ordenou:

“O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim,

isso praticai; e o Deus de paz será convosco” (Fp 4.9). “Porque vós mesmos sabeis

como deveis imitar- nos [...] para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes”

(2Ts 3.7- 9).

34

PRICE, J. M. Jesus the Teacher. Nashville, Tennesse: Sunday School Board, 1946, p. 43.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 93


Devemos ter um gume cortante de pureza que

transforme pessoas sem visão em discípulos

orientados para o alvo

O exemplo de Paulo como regulador de ritmo preparou o caminho para os

seus discípulos se tornarem multiplicadores. Em 1Tessalonicenses 1.6- 9, ficamos

sabendo que os novos crentes (a segunda geração) eram seguidores de Paulo

(primeira geração), de forma que, imediatamente, se empenharam na evangelização.

No versículo 7, Paulo se refere aos tessalonicenses como exemplo para os

outros (que se tornariam uma terceira geração espiritual). A palavra grega traduzida

como exemplo também significa “molde” ou “padrão”. Os primeiros imitadores

de Paulo, então, tinham tornado os moldes pelos quais outros podiam, por sua

vez, tornar- se imitadores; desta forma, a multiplicação ia ocorrendo.

QUALIDADES ESPIRITUAIS DOS

DETERMINADORES DE RITMO

O que faz uma pessoa querer seguir outra de maneira genuinamente bíblica?

Deve haver, na vida do determinador de ritmo, certas qualidades dignas de serem

copiadas que desafiem o discípulo. Você precisa exemplificar essas qualidades

para que possam multiplicar- se por meio de outras pessoas.

Entrega – Precisa haver tanto uma entrega inicial (veja Romanos 12.1) como

uma renovação diária, à medida que Cristo continuamente vá revelando novas

verdades por meio da Palavra. Essa entrega significa a desistência de direitos;

não apenas os meus direitos individuais, mas o meu trabalho, família e futuro

precisam ser todos rendidos a Cristo.

Oswald Chambers faz observação a respeito da recusa a se render: “Se eu

ouvir o chamado de Deus e me recusar a obedecer, torno- me o mais estúpido

e vulgar dos crentes, porque ouvi e vi, e me recusei a obedecer.” 35 Se você está

achando que a vida cristã é insípida, talvez haja em sua vida uma área de desobediência

não confessada. Pergunte- se: Cristo é o Senhor agora mesmo, neste

momento, em todas as áreas da minha vida? A resposta precisa ser sim, para que

você possa orientar outras pessoas.

35

CHAMBERS, Oswald. Disciples Indeed. London: Marshall, Morgan na Scott, 1955, p. 10.

94 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Separação – Precisa haver separação das coisas mundanas e de um padrão

mundano de valores. Devemos ter um gume cortante de pureza que transforme

pessoas sem visão em discípulos orientados para o alvo. Precisamos perguntar a

nós mesmos: a minha vida é parecida com a de Cristo? Ela o glorifica? Estamos

escutando a “voz mansa e delicada” de Deus? Reconhecemos que a nossa cidade,

alvos e futuro estão no céu? (Veja Colossenses 3.1.)

Pedro escreveu: “Pelo que, amados, como estais aguardando estas coisas,

procurai diligentemente que por ele sejais achados imaculados e irrepreensíveis

em paz” (2Pe 3.14). Ele recomendou aos crentes de sua época que cultivassem

uma percepção da segunda vinda de Cristo a fim de se separarem das preocupações

do mundo.

Basicamente, mundanismo é a exclusão do senhorio de Cristo como centro da

vida. É uma atitude mental de desejar fazer as coisas à nossa maneira. O acróstico

tempo é um teste bom e positivo da vontade de Deus:

Tempo – É o meu servo ou meu senhor?

Equidade – Com este ato, o que estou me tornando? Isto é algo que me ajudará

a crescer espiritualmente?

Ministério – Sou capaz de ministrar às necessidades mais profundas dos outros

por meio desta ação?

Pregação – Esta escolha me capacita a fazer avançar a grande comissão?

Oração – Posso fazer isto em oração? Tal ação desfaz a minha comunhão

com Deus?

Disciplina sistemática – Outra qualidade importante que caracteriza um

multiplicador eficiente é disciplina sistemática na Palavra e na oração – fatores

básicos da vida espiritual.

Você dirigirá outros se tem hábitos disciplinados de crescimento. À medida que

aqueles que o seguem adaptarem os seus bons hábitos, eles também crescerão.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 95


QUALIDADES DE LIDERANÇA DO

DETERMINADOR DE RITMO

Além das qualidades espirituais, aqui estão alguns elementos básicos de liderança

que todo edificador de multiplicadores precisará ter para que possa liderar.

Motivação – Oswald Chambers observa:

A motivação precisa ser primeiramente a ordem de Jesus [...] a grande nota dominadora

não são as necessidades dos homens, mas a ordem. Consequentemente, a verdadeira

fonte de inspiração está sempre por detrás, e nunca na frente. Hoje, a tendência é colocar

a inspiração na frente [...] para varrer tudo diante de nós, e expor tudo de acordo com o

nosso conceito de sucesso. 36

As motivações são traiçoeiras. Quando as coisas estão indo bem, as pessoas

estão alegres. Mas, quando os tempos são maus, o missionário, pastor ou fazedor

de discípulos fica em dúvida se deve desistir ou se entendeu mal a sua vocação

recebida de Deus. Ele não deve ser desviado do alvo pelas circunstâncias. A

ordem do nosso Senhor – “Enquanto ides, fazei discípulos” – precisa ser a nossa

motivação suprema. As suas ordens são a sua capacitação. Os homens mudam,

desmaiam e falham. A sós com Deus, o líder recarrega as suas baterias espirituais,

meditando no exemplo do seu vitorioso Senhor.

Bom julgamento – Espere pacientemente diante do Senhor. Reúna todos os

fatos. Consiga o conselho de que necessita de pessoas esclarecidas. Creia que

o Senhor suprirá a sua sabedoria (veja Tiago 1.5). Depois, tome uma decisão de

todo o coração. Deus abençoará um coração inteiramente dedicado a discernir

e a pôr em prática a sua vontade.

Iniciativa – Iniciativa é fazer a coisa certa sem necessidade de ser mandado.

Algumas pessoas têm medo de tentar qualquer coisa nova. Alguns crentes esperam

para serem guiados pelo Espírito com medo de que “passem à frente do Espírito”.

Se você é um filho de Deus, pode estar certo de ser guiado pelo Espírito (veja

Romanos 8.14). Creia nele.

36

CHAMBERS, Oswald. So Send I You. Fort Washington, Pennsylvania: Christian Literature Crusade,

1975, p. 74.

96 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Entusiasmo – A emoção é contagiante. O povo é empolgado por ela. A visão

de um Deus Todo- poderoso evidenciada na vida de um líder contagia o discípulo.

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze- o conforme as tuas forças” (Ec 9.10).

“E tudo quanto fizerdes, fazei- o de coração, como ao Senhor, e não aos homens,

sabendo que do Senhor recebereis como recompensa a herança” (Cl 3.23,24).

Certa vez, J. C. Ryle escreveu:

“Zelo, em matéria de religião, é um desejo abrasador de agradar a Deus, fazer a sua vontade e

fazer a sua glória brilhar pelo mundo de todas as maneiras possíveis. É um desejo que ninguém

pode sentir naturalmente – mas que o Espírito coloca no coração de cada crente quando ele

se converte – e que alguns crentes sentem muito mais fortemente do que outros, a ponto de

acharem que só eles merecem ser chamados de zelosos [...] Um homem zeloso em matéria de

religião é proeminentemente um homem de um alvo só. Não é suficiente dizer- se que ele é

sério, sincero, não se abala, é eficaz, cordial e fervoroso de espírito. Ele só vê uma coisa, dela

cuida, para ela vive e é por ela absorvido: agradar a Deus [...] e fazer brilhar a sua glória”. 37

Um zelo santo é essencial para liderança. Cristo é o nosso exemplo: “Lembraramse

então seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará” (Jo 2.17).

Flexibilidade – A experiência é uma grande mestra, mas, algumas vezes, ela

nos pode trancar em tradição estéril. Fique alerta a respeito da possibilidade de

que haja sempre um caminho melhor. Abertura para o Espírito Santo conserva

a pessoa num relacionamento correto para o mundo ao seu redor. Aprenda a

diferença entre um princípio da Palavra de Deus e os métodos dos homens. O

evangelho permanece o mesmo; os métodos humanos mudam. 38

Apreciação – A arte rara de encorajar alguém por meio de louvor genuíno

é um sinal de sua capacidade de amar. Manifeste reconhecimento verbal pela

energia despendida pelas pessoas que estão ao seu redor. Uma carta pessoal de

apreciação é um raro tesouro.

Paciência – Jesus nunca estava com pressa. Atos e palavras silenciosas instilam

confiança em seus seguidores. Tão somente esta qualidade de liderança tem- se

37

RYLE, J. C., citado em Knowing God, por J. I. Packer. Downers Grove, Illinois: Inter Varsity Press,

1973, p. 156 e 157.

38

Este assunto é tratado de forma exaustiva no livro De volta aos princípios, do pr. Fabrício Freitas,

livro integrante da Visão de Igreja Multiplicadora.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 97


demonstrado mais proeminente quando observo líderes do que qualquer outro

ingrediente.

A pressa sempre implica falta de método definido, confusão e impaciência por

causa de crescimento vagaroso. A pressa parece prover um substituto de energia

para um plano claramente definido. É uma falsificação da rapidez. N. G. Jordon

escreve: “Tudo o que é grande, na vida, é produto de crescimento vagaroso;

quanto mais novo, maior, mais alto e mais nobre for o trabalho, mais lento será

o seu crescimento e mais certo o seu permanente sucesso”. 39

POR QUE OS LÍDERES FRACASSAM

De acordo com um estudo recente, o sucesso na liderança é devido 15% a

treinamento e perícia técnica e 85% à dedicação, experiência e dons espirituais

do líder. A lista de principais razões para o fracasso inclui:

• Falta de iniciativa;

• Falta de ambição;

• Descuido;

• Falta de espírito de cooperação;

• Preguiça.

O fazedor de discípulos deve analisar a sua vida à luz das Escrituras para ver

se alguma dessas características está presente. “Sonda- me, ó Deus, e conhece o

meu coração; prova- me, e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum

caminho perverso, e guia- me pelo caminho eterno” (Sl 139.23,24).

QUANDO A DETERMINAÇÃO DO RITMO PODE

SER PERIGOSA

Corremos o risco de esperar muito de uma pessoa ou de dar valor demasiado

à outra. Os homens falham e continuarão falhando. Quando um membro da

39

JORDAN, N.G. The Majesty of calmness. Old Tappan, New Jersey: Fleming H. Revell Company,

1956, p. 17.

98 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


igreja abandona a comunidade porque vê pecado ou falhas na vida de um líder

está se centralizando em pessoas e não em Cristo.

Para evitar esse perigo, precisamos correr a carreira da vida focalizados no

determinador de ritmo final: “Fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da

nossa fé” (Hb 12.2).

Focalize- se em Jesus, mas lembre- se que, como determinador de ritmo, outras

pessoas estarão se focalizando em você como seu exemplo terreno.

“Prefiro antes ver do que ouvir um sermão.

Prefiro que a pessoa ande comigo, em vez de meramente me mostrar

o caminho.

O olho é um aluno melhor, e muito mais disposto do que o ouvido.

O bom conselho é confuso, mas o exemplo é sempre claro.

O melhor de todos os mestres é o que vive o que ensina.

Ver as coisas boas postas em ação é o que todo mundo precisa.

Logo aprenderei como fazê- lo, se você me deixar ver como é que se faz.

Posso ver as suas mãos em ação, mas a sua língua pode correr demais.

As palestras que você faz podem ser muito sábias e verdadeiras, mas, prefiro

aprender a minha lição observando o que você faz, pois eu posso entender

mal os sublimes conselhos que você dá, porém, não há mal-entendidos

quanto à maneira como você age e vive” (Autor desconhecido).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 99


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Porque o princípio de “segue- me” do Novo Testamento é basicamente negligenciado

como princípio operante nos ministérios de discipulado hoje?

2) Por que a obediência à Bíblia é muito mais compulsória do que cantar, frequentar

os cultos ou ouvir lições e mensagens?

3) Descreva três qualidades de um determinador de ritmo que você precisa

desenvolver de maneira especial.

4) Considere as sete qualidades de liderança para os determinadores de ritmo.

5) Qual delas é a mais importante para você?

6) O que você adicionaria a essa lista e por quê?

7) Discuta um ou mais riscos na determinação de ritmo aos quais você é suscetível.

8) Como pode uma pessoa encontrar o equilíbrio essencial a um ministério

“modelador”?

9) Por que um determinador de ritmo é essencial para treinar um cirurgião, um

piloto de avião ou um discípulo multiplicador?

100 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PARTE IV

A PRÁTICA:

DÊ INÍCIO AGORA



11. SELECIONANDO LÍDERES

MULTIPLICADORES POTENCIAIS

“Não é quantos homens, mas que tipo de homens” – Dawson Trotman

O Dr. Hudson Taylor, fundador da China Inland Mission, no fim do século

19, tinha, no interior da China, cerca de mil missionários, o que é um número

surpreendente. Em apenas um ano, o pugilo de trabalhadores de Taylor perdeu

38 missionários e filhos de missionários, por meio da morte, mas outros estavam

prontos a substituí- los.

Muitas vezes, o Dr. Taylor foi interrogado acerca de como era capaz de recrutar

tantos obreiros. Ele replicava que havia duas razões para esse fluxo extensivo de

trabalhadores para a China:

Oração – “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua

seara” (Mt 9.38). Cada ano, pela fé, Taylor e seus colegas pediam um número

específico de pessoal novo, em suas orações. Deus honrava a sua intercessão

específica.

Vidas saturadas com a Palavra de Deus – O Dr. Taylor dizia que, para conseguir

trabalhadores, precisa haver um aprofundamento na Palavra de Deus diariamente

nas vidas de leigos de ambos os sexos, de forma que eles não possam

dizer “não” ao chamado de Deus.

Estes dois conceitos revolucionaram mais de um ministério.

COMO ENCONTRAR DISCÍPULOS POTENCIAIS

EM SUA IGREJA

Procurar um discípulo com quem você possa compartilhar a sua vida é uma

aventura emocionante. Aqui estão algumas diretrizes acerca de como consegui- lo.

Comece em oração. O foco da estratégia de oração de Jesus, em Mateus 9, era

pedir “trabalhadores, ceifeiros, obreiros e discípulos”. Peça a Deus trabalhadores

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 103


para a seara. Esta é a ordem de Cristo. Jesus passou uma noite inteira em oração

antes de escolher os 12 (veja Lucas 6.12).

Procure uma pessoa faminta. Dawson Trotman, fundador dos Navegantes (The

navigators), disse que precisamos “encontrar um homem que deseje o melhor

que Deus tem para a sua vida, e que esteja disposto a pagar qualquer preço para

consegui- lo” 40 . “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles

serão fartos” (Mt 5.6).

Uma pessoa dessas era um homem culto chamado Charles, que desejava

obter respostas para as suas interrogações acerca da Bíblia. O seu primeiro dia

em nosso programa da Escola Bíblica Dominical foi o começo de uma nova vida

para Charles. O seu professor era um ex- missionário, que não apenas respondeu

às difíceis perguntas de Charles com textos bíblicos, mas visitou pessoalmente

Charles para proceder ao “seguimento”. Eles se reuniram durante seis semanas

usando cada semana estudos sobre o Evangelho de João que nós usávamos para

todos os novos membros.

Depois disso, comecei a visitar Charles em sua casa. Encontrei um homem

faminto. Ele havia descoberto a Palavra de maneira nova. Começou a estudar a

Bíblia, primeiro durante uma hora, depois duas, por noite – descobrindo pessoalmente

novos tesouros nas Escrituras. Levei- o para visitar não crentes e Charles

começou a ganhar outras pessoas para Cristo.

Enquanto ele continuava a crescer espiritualmente, pedimos- lhe para dar

aulas em uma classe de jovens casados do sexo masculino. Depois, ele se tornou

diácono. Daquela mente questionadora, científica, originou- se um homem

piedoso e terno.

Agora, alunos que saíram da sua classe estão espalhados por todo mundo e

pelo menos oito deles estão no ministério de tempo integral. Estão reproduzindo

a vida de Charles repetidas vezes por meio da multiplicação espiritual.

Procure mais do que uma aparência exterior agradável. É difícil olhar para

uma pessoa apenas com os olhos da fé. Temos a tendência de olhar para a pes-

40

Dawson Trotman, de uma mensagem apresentada em uma conferência da equipe dos Navegantes

em Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos, em 1951.

104 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


soa que tem aparência de líder. Contudo, Deus não nos escolhe com base no

que somos, mas no que podemos nos tornar pela sua graça. As pessoas menos

prováveis, frequentemente, se tornam as maiores fazedoras de discípulos. “O

homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”

(1Sm 16.7).

Ao considerar os membros médios da igreja no primeiro século, Paulo disse:

“Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem

muitos os poderosos, nem muito os nobres que são chamados. Pelo contrário, Deus escolheu

as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas

do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as

desprezadas e as que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se

glorie na presença de Deus” (1Co 1.26- 29).

Tínhamos quatro obreiros no nosso ministério de ônibus (para buscar as pessoas

para os cultos) que estavam sempre atrasados, mas eles estavam trazendo

cerca de 100 crianças e adolescentes para a Escola Bíblica Dominical todos os

domingos. Outras pessoas, que eram as mais pobres da igreja, tinham o coração

mais aberto para contribuir. Muitos, com menos cultura, gastavam mais tempo

ministrando na igreja do que os que tinham qualificações acadêmicas impressionantes.

Deus pode obter mais glória algumas vezes, parece, dos que têm menos

qualificações que os recomendem.

Por exemplo, um dos nossos filhos tem atraso mental devido a problemas

no nascimento. Não obstante, a sua fé em Cristo e a sua crença extasiante em

respostas instantâneas à oração continuam a ministrar a mim e a me desafiar.

Deus utiliza tanto os fracos quanto os fortes. Não despreze nenhuma fonte de

mão de obra.

Fique alerta quanto aos que são fiéis e capazes de ensinar. Só os fiéis são

qualificados para exercer um discipulado pessoal extenso.

Procure discípulos nas sessões de aconselhamento. Um dos membros de

nossa igreja, Hugo, estava tendo profundos problemas de pecado. O seu casamento

estava em frangalhos. Nível de vida alto, barcos caros e pressões nos negócios

haviam cobrado um preço alto na sua vida. Um de nossos leigos começou

a aconselhar Hugo. Tínhamos um grupo que orava diariamente por ele e Deus

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 105


começou a virar a maré em sua vida. Aos poucos, ele começou a crescer e fez

uma decisão pública por Cristo. Abandonou o emprego que lhe pagava um alto

salário, terminou a universidade e cursou um seminário.

Usando a sua casa como base, Hugo e sua esposa começaram um ótimo ministério,

discipulando pessoalmente adultos jovens, ministério esse que produziu

um fluxo constante de vidas transformadas. Muitos moços estão no seminário

agora, por meio da multiplicação espiritual de Hugo. Deus usou um problema

para transformar um coração duro em um devotado fazedor de discípulos.

Esteja aberto para fontes inesperadas. Algumas pessoas irão a você vindas

“do nada”. Bem pode ser que essas sejam as que Deus mandou atravessar o seu

caminho em resposta às suas orações pedindo um discípulo para treinar. Mas,

lembre- se: se uma pessoa está verdadeiramente faminta, buscará a verdade

em qualquer fonte que você sugerir em sua igreja. Observe os que desejam ser

instruídos apenas pelo pastor ou por determinada pessoa. O orgulho pode estar

impedindo-os.

Aproveite- se de todas as reuniões de grupos. Uma classe de Escola Bíblica

Dominical é um lugar natural para encontrar discípulos (lembre- se do alcance

do ministério de Eduardo Kimball iniciado na Escola Bíblica Dominical). Retiros e

conferências propiciam impulso extra pela interação em grupos pequenos e uma

série de mensagens acerca de dedicação. Um orador cheio do Espírito e líderes

fortes de grupos de estudo ajudarão os membros da igreja a avançar bastante

no caminho do discipulado.

Utilize um grupo escolhido que já esteja servindo na igreja. Não deixe de

lado o óbvio: professores, diáconos e administradores.

Não ignore os membros de sua família. Não podemos negligenciar as pessoas

mais importantes da nossa vida. Um pai pode reunir- se com o seu filho adolescente,

a mãe, com a filha. O lar dá mais exposição à sua vida do que qualquer

outra situação de discipulado. Pode- se perguntar: Se você não pode desenvolver

O lar dá mais exposição à sua vida do que qualquer

outra situação de discipulado

106 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


um discipulado com seus filhos, trabalhando com eles o tempo todo, como poderá

ajudar outras pessoas, trabalhando apenas um tempo parcial? Estabeleça o

ritmo, começando em casa.

ALVOS-CHAVE PARA OS MULTIPLICADORES

Para quando você começar a ensinar e treinar outros, aqui estão alguns alvos

específicos a estabelecer diante do seu discípulo.

Desenvolvimento do caráter – A qualidade de vida é mais importante do que

a quantidade de atividade no ministério. O seu discípulo é puro e honesto? Quais

são os padrões de sua vida diária? Se, por exemplo, recebe um troco errado em

uma loja, ele imediatamente o devolve? “Quem é fiel no pouco, também é fiel no

muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito” (Lc 16.10).

Como foi explicado no capítulo a respeito de se determinar o ritmo, as qualidades

do multiplicador se tornam um modelo motivador para o discípulo. A

transmissão da verdade pelo exemplo é uma responsabilidade solene. Se o original

é distinto, as suas cópias também serão claras.

Um ponto de vista compreensivo – Ensine à pessoa que você está discipulando

a ter uma visão do mundo todo. Ela precisa aprender como alcançar pessoas

além do seu ninho. Ore com ela sobre mapas da cidade, do estado, da nação e

do mundo. “Ser- me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e

Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). Comece em casa, mas, depois, projete

e cultive uma visão para alcançar o mundo todo. 41

Competência – A respeito de Jesus, falou- se: “Tudo tem feito bem” (Mc 7.37).

A filosofia moderna é fazer o mínimo que pudermos. A síndrome do “vailevando”

está tomando conta da igreja.

Paulo escreveu: “Não servindo somente à vista, como para agradar aos homens,

mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6). Estabeleça

alvos e padrões elevados para você mesmo e para o seu discípulo e,

41

Algumas estratégias de oração podem ser encontradas no livro Igreja Multiplicadora, p. 25-47.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 107


Ensine à pessoa que você está discipulando

a ter uma visão do mundo todo

graciosamente, envide os seus melhores esforços para o Senhor. Depois de um

programa de visitação, testemunho ou qualquer outra atividade no ministério

com o seu discípulo assentem- se e avaliem juntos o que fizeram. Tendo alvos,

planejamento e padrões, o discípulo em crescimento aprende a edificar qualidade

no seu ministério.

Estabilidade – O fazedor de discípulos tem apenas a força do amor e a sua

estabilidade na vida para atrair e alcançar os outros. Aqui estão algumas características

espirituais estáveis que atrairão pessoas famintas aos seus discípulos:

• Ser cheio do Espírito, o que resulta em uma atitude positiva;

• Memorização das Escrituras;

• Vida devocional diária, que inclui estudo bíblico e oração intercessória;

• Expressão pessoal de fé no lar, no trabalho e em ambiente sociais.

Ore para que o Senhor da seara lhe mostre as pessoas que desejam conhecer

melhor o seu Senhor. Comece, logo que possível, a desenvolver o caráter, a visão

mundial, competência e estabilidade no seu discípulo.

108 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Que duas maneiras são sugeridas por Hudson Taylor para conseguir “mais

trabalhadores para a seara” por meio da sua igreja?

2) O que você pode fazer agora para implementar essas duas ideias no ministério

da sua igreja?

3) Personalize a lição:

a) Relacione o nome de pessoas de sua igreja que são discípulas em potencial:

Outros:

b) Depois de orar, reduza a sua lista de pessoas a cinco. Relacione os seus

nomes aqui. Elas precisam ser famintas e fiéis e aptas para ensinar:

c) Agora, peça ao Senhor para mostrar- lhe especificamente uma ou duas

pessoas deste grupo que ele gostaria que você discipulasse.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 109



12. COMECE NA SUA IGREJA HOJE

“A igreja existe por meio das missões assim como fogo existe por meio

da queima de combustível” – Emil Brunner

Nada que perdura cresce da noite para o dia. Os cogumelos crescem rapidamente,

mas as sequoias levam séculos – a diferença em seu valor duradouro é

indisputável. Edificar discípulos é propósito que está no coração de Deus para

a sua igreja. O seu plano é que a igreja multiplique trabalhadores para a seara.

Nunca precisamos ter medo de começar algo silencioso, em pequena escala.

Deus fará com o que é seu cresça. “Se a raiz é santa, também os ramos o são”

(Rm 11.16).

COMO ENSINAR E MOTIVAR OUTROS A

MULTIPLICAR

Visto que é necessário um discípulo para edificar outros discípulos, a cadeia

de multiplicação começa com você. Comece com um discípulo apenas. Derrame

a sua vida nele, usando algumas das diretrizes exaradas neste livro. Ao começar,

use estes princípios- chave de ensino e motivação:

Diga- lhe por quê. Ao ensinar o seu discípulo a orar, por exemplo, diga- lhe por

que é importante orar. Há pelo menos 15 razões bíblicas para orar. Compartilhe

isso com ele, durante certo tempo, enquanto vocês oram juntos.

Mostre-lhe como. Jesus disse: “Segue- me”, e não: “Escuta- me.” Aprendemos

fazendo. As palavras são um pobre substituto para uma figura. Você já leu um

livrete ensinando “Como dar laços em sapatos”? Imagine construir as frases para

descrever os passos necessários para isso.

Se você quer encorajar o seu discípulo a estudar diariamente a Bíblia, convide- o

a reunir- se com você para ver como você o está fazendo. Ensine-lhe como usar os

vários métodos de estudo bíblico. Senão, ele se tornará tragicamente dependente

de outras pessoas para ser alimentado com as Escrituras.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 111


Ensine também por exposição. A razão por que tão poucas pessoas testificam

é que nunca tiveram uma experiência positiva em ganhar almas. A sala de aconselhamento

de sua igreja deve ser o lugar mais emocionante da cidade. Leve um

discípulo- conselheiro em perspectiva a essa maravilhosa experiência. Mostre- lhe

como levar alguém a Cristo. Leve- o com você a uma casa e deixe que participe

do seu testemunho até que ele seja capaz de levar outra pessoa a Cristo.

Faça com que ele comece. Dê a seu discípulo tarefas específicas. Ele precisa

saber que são tarefas que você executou ou está executando atualmente. Porque

você estabeleceu o ritmo de padrões elevados, espera- se que ele complete o

seu trabalho com excelência.

Deixe que ele fique sabendo, se tem um problema com o projeto, que você é

uma pessoa a quem recorrer, que o ajudará de qualquer forma que lhe seja possível.

Telefone- lhe durante a semana. Intensifique o seu relacionamento pessoal

com ele. Torne- se disponível para ele. O evangelho não teria sido levado a todo

o mundo romano, e até além, se Cristo tivesse formalizado e limitado o acesso

dos seus discípulos a ele.

Mantenha- o em movimento. Verifique a tarefa que lhe foi atribuída. “Seguimento”

é importante. Não há nada mais desapontador para um jovem discípulo

do que ter trabalhado durante a semana com todas as forças e depois ver você

passar os olhos por alto sobre os seus esforços ao vocês se encontrarem. As

pessoas dão mais atenção ao seu trabalho quando sabem ele será inspecionado.

Uma professora da Fundação Narramore recebeu a responsabilidade de ensinar

crianças desajeitadas e crianças- problemas. Orando fervorosamente em favor de

cada criança, essa professora incomum se dedicou a escrever diariamente uma

nota de congratulações a cada criança acerca de algum aspecto do seu trabalho.

Algumas vezes era um desafio mesmo escrever apenas uma sentença nos casos

mais difíceis, mas essa cuidadosa professora sempre encontrou algo construtivo

para dizer. Gradualmente, a sua classe se transformou em um milagre. Algumas

crianças passaram a tirar boas notas pelo resto do ano.

O aprendizado aumenta mediante um sistema positivo de recompensas. É

fácil qualquer um fazer outra pessoa em pedaços, mas é necessário inspiração

112 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


do Espírito Santo e amor para cumprimentar sinceramente uma pessoa pelo bom

trabalho que ela está realizando.

Para motivar enquanto ensina, aceite a pessoa totalmente. “Como na água o

rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Pv 27.19).

Não podemos esconder uma atitude de não- aceitação, isto é, de rejeição. Isto não

significa que aprovamos tudo o que a pessoa faz, a fim de aceitá- la totalmente.

Cristo nos aceitou, amando- nos em extremo; não obstante, os nossos pecados

estavam diante dele (veja João 13.1 e Romanos 5.6- 8).

Mostre a sua aceitação ouvindo atenciosamente. Fique quieto e deixe a outra

pessoa falar. Você vai aprender muito.

Afirme o seu discípulo. Não deixe que uma atitude de “sabichão”, de sua

parte, o destrua.

Logo que nos casamos, minha esposa vinha a mim com o estudo bíblico dela

e, entusiasticamente, mostrava- me uma nova verdade que havia acabado de

descobrir. Algumas vezes eu dizia: “Que bom você achou isso, querida; mas eu

achei isso há 12 anos, quando estava pesquisando um verbo grego”. Eu matava

a alegria dela imediatamente.

Desde então, aprendi a demonstrar entusiasmo quando ela compartilha as

Escrituras comigo. Verifico também a aplicação que faço da descoberta dela e

comento- a com ela. Desta forma, ela é encorajada e eu também aprendo.

A minha necessidade de encorajamento tem sido satisfeita muitas vezes enquanto

faço estudo da vida de personagens bíblicos, vendo a maravilhosa graça de

Deus em suas vidas. Lendo biografias, tenho também encontrado uma excelente

fonte de encorajamento por meio da capacidade sobrenatural de Deus de usar

pessoas comuns para a sua glória.

Ensine-lhe a multiplicar-se. Mantenha o alvo de multiplicação espiritual

constantemente diante dos olhos do seu discípulo. Juntamente com os métodos

e materiais tirados da Bíblia, ensine- lhe também como passar adiante o que ele

aprende aos discípulos que ele futuramente alcançará.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 113


EXECUTANDO TREINAMENTO PARA O

DISCIPULADO EM SUA IGREJA

Aqui estão vários meios pelos quais você pode levar a sua igreja a executar um

treinamento extensivo de discípulos:

1) Use as estruturas e organizações em grupo existentes na igreja, tais como

classes de Escola Bíblica Dominical e pequenos grupos;

2) Use a visitação evangelística para engajar a pessoa que você está treinando

para o discipulado num trabalho com os perdidos. Isto se torna uma importante

fonte de multiplicação;

3) Use retiros e conferências. Por meio de vários retiros ou acampamentos, de

um ou dois dias, Deus levará os discípulos em potencial à dedicação essencial

para o passo seguinte do seu crescimento em direção à multiplicação;

4) O pastor tem um papel importante no discipulado. Ele deve ser um modelo

para os outros membros da igreja seguirem. Ore, fielmente, pelo crescimento

espiritual do seu pastor. A formação da liderança deve ser uma prioridade no ministério

do pastor. Ele pode começar a discipular os seus oficiais e seus diáconos,

e deve reunir- se também regularmente com um ou dois leigos;

5) As pessoas que estão discipulando outras devem reunir- se mensalmente 42

para analisar os progressos feitos. O crescimento futuro da igreja e a preparação

de líderes dependem mais da influência deste grupo do que de qualquer outro

grupo na congregação. Ore, nominalmente, por todos aqueles que estão sendo

influenciados pelo ministério de discipulado. Durante o mês, observe experiências

positivas que possam ser partilhadas, nessa reunião, para encorajamento.

Recapitule a ordem de Cristo de fazer discípulos de todas as nações. Ore para

que Deus chame pessoas de sua igreja para o trabalho missionário nacional e

estrangeiro.

42

De acordo com a função de liderança ou supervisão que uma pessoa tem em relação à cadeia

de discipulado, esse tempo pode variar para semanalmente ou quinzenalmente. Recomendamos

a leitura do capítulo 5 do livro Pequeno Grupo Multiplicador (p. 61-66).

114 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Diagrame o progresso do seu ministério de discipulado desenhando as cadeias

de multiplicação de sua igreja em um quadro- negro 43 . Observe o aparecimento

do fruto da quarta geração, “também [...] os outros” de 2Timóteo 2.2. Dê valor

aos que estão investindo as suas vidas em uma ou duas pessoas.

COMECE AGORA

Comece escolhendo um multiplicador em potencial, depois de muita oração.

Ele precisa ser fiel e apto para ensinar. Realize uma série de reuniões com tarefas

para casa a respeito dos princípios básicos do discipulado para ele realizar. Se

ele mostrar ainda mais interesse, então, marque reuniões para um período de

até seis meses. Logo você verá se Deus está usando você para ministrar a ele e

se ele é um multiplicador em potencial.

Tenha encontros regularmente com a pessoa que você está discipulando. Esse

período ininterrupto é de valor inestimável para medir o ritmo de uma pessoa

em Cristo. Leva tempo para se conhecer bem uma pessoa. A hora do dia não é

tão importante quanto reuniões regulares.

Escolha um local neutro, que seja suficientemente silencioso, para vocês conversarem

e orarem juntos sem interrupções, telefonemas ou outras coisas que

desviem a atenção.

A média deve ser de uma hora para se abrir de coração, verificação de tarefas,

oração e ensino de novas matérias. Cuidado para não passarem o tempo todo

resolvendo problemas. Um pouco disso é essencial, mas pode ser que vocês

precisem marcar outro horário, dedicado a essas dificuldades, se elas começarem

a absorver o tempo das reuniões. A base do seu tempo de treinamento em um

ministério pessoal é uma ênfase em uma nutrição que propicie crescimento e

aplicação da Bíblia à vida pessoal. Contudo, o discipulado não termina no fim

dessa hora. Dedique- se a se conservar disponível para edificar e orientar o discípulo

por um período mais prolongado de tempo.

43

Atualmente, esse acompanhamento pode ser feito por meio de planilhas e gráficos em computador.

Há um exemplo de organograma de uma Rede de PGMs na página 62 do livro Pequeno

Grupo Multiplicador.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 115


Trabalhe com apenas uma ou duas pessoas por ano em discipulado pessoal.

Deixe que a sua multiplicação aconteça a partir desse começo pequeno. Funciona

mais depressa do que você pensa. Em seis meses vocês serão dois; quatro em um

ano. E então oito, dezesseis, trinta e dois, e sessenta e quatro em apenas três anos.

Se você continuar durante três anos na vida espiritual sem qualquer multiplicação,

pense no que poderia ter feito – pense no que pode começar a fazer AGORA.

Os seus descendentes espirituais podem logo alcançar os confins da terra.

Mantenha o seu outro grupo de treinamento de ministérios, mesmo enquanto

estiver se concentrando em um discípulo; você simplesmente não será capaz de

treinar um grupo tão específica e intensamente como o fará com o seu discípulo

individualmente.

Comece um plano de estudo bíblico pessoal que você realize com o seu

discípulo. Dê pelos menos um passo adiante nesse estudo, pois assim você poderá

estar preparado para as perguntas e problemas dele. Você será um modelo

e determinador de ritmo, que ele seguirá.

Use todos os excelentes materiais disponíveis hoje que têm o objetivo de

enriquecer e encorajar o discipulado pessoal. Contudo, lembre- se que é o homem,

e não os materiais, o foco de Deus. A lista de materiais apresentada no fim deste

capítulo propicia muitas fontes que têm sido usadas amplamente e com sucesso

para ajudar as pessoas a crescerem por meio do discipulado individual e em grupo.

Envolva o discípulo na evangelização pessoal. Leiam juntos o livro de Atos.

Faça com que ele prepare o seu testemunho e o pratique, dando- o a você. Em

seguida, saiam juntos. Inicialmente, você testifica, mostrando- lhe como proceder;

depois, progressivamente, deixe que ele aja. Dediquem tempo à visitação

de membros da igreja e moradores das vizinhanças. Muitas gerações espirituais

futuras serão o produto direto da dedicação do discipulador em compartilhar

uma hora por semana com o seu discípulo em evangelização direta.

Lembre à equipe de discípulos que Deus lhe der que o alvo deles é penetrar

em todas as esferas da igreja com o amor de Cristo. Ajude- os a aplicar pessoalmente

as verdades de 1Tessalonicenses 5.12- 25 à vida da igreja. O crescimento

acontecerá. Outros serão atraídos para a comunhão de interesse amoroso e

disciplina, e a multiplicação da vida de Cristo continuará.

116 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Temos aprendido como escolher potenciais multiplicadores por meio da oração

e vidas saturadas com a Palavra de Deus. Verificamos os muitos lugares em que

você pode encontrar discípulos, inclusive, em sua própria família, e reconhecemos

que pessoas comuns, fracas, podem ser usadas por Deus. Discutimos as

qualidades de caráter, ponto de vista compreensivo, competência e coerência

que devem ser edificados na vida de um discípulo.

Os corações famintos querem tudo que o Senhor tem para eles na vida. Eles

estão dispostos a pagar o preço por meio de sofrimento, amor, estudo e disciplina.

Está você disposto a pagar o preço para conseguir alimento espiritual e

depois distribuí-lo?

PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Para cada um dos cinco passos do ensino esboçados neste capítulo, descreva

um exemplo concreto que você pode implementar.

2) O que o motivou no começo de sua vida cristã? Qual é a influência motivadora

mais eficiente em sua vida agora?

3) Que ferramentas motivadoras estão sendo usadas para encorajar o povo em

sua Escola Bíblica Dominical ou igreja?

4) O que você pode fazer para encorajar pelo menos uma pessoa a caminhar

pessoalmente mais perto de Cristo?

5) Discuta o papel de Barnabé como motivador e encorajador na vida de João

Marcos e de Paulo (veja Atos 4.36,37; 9.26- 28; 11.22- 26; 13.1- 3; 15.25,26,35- 41).

6) De que modo você caracteriza o Novo Testamento como ferramenta motivadora

para hoje? Partilhe algumas das passagens bíblicas que o motivaram.

7) Como pode você introduzir uma mensagem motivadora a respeito de discipulado

ou de fazer discípulos em sua Escola Bíblica Dominical, culto evangelístico

e outros programas eclesiásticos?

8) Discuta o significado (vantagens e efeitos) de começar com uma ou duas pessoas,

e não com um grupo grande.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 117


MATERIAIS PARA ESTIMULAR O CRESCIMENTO

ESPIRITUAL

GROVE, Downers. Christ in You. Illinois: InterVarsity Press, 1979.

COLEMAN, Lyman. Serendipity bible studies series. Waco, Texas: WordPublishers,

1979.

COSGROVE, Francis M. Essentials of discipleship. Colorado Springs, Colorado:

NavPress, 1980.

Design for discipleship. Colorado Springs, Colorado: NavPress, 1980.

Discovery I: A guide to christian growth. San Bernardino, Califórnia: Here’s Life

Publishers, 1975.

Grow your christian life. Downers Grove, Illinois: Intervarsity Press, 1979.

Growing in Christ. Colorado Springs, Colorado: NavPress,1980.

KLEIN, Chuck. So you want solutions. Wheaton, Illinois: Tyndale House Publishers,

1979.

LORD, Peter. 2959 plan. Titisville, Florida: Park Avenue: AGAPE Ministries,1976

MILLER, Chuck. Now that I’m a christian. Vol. 1 e 2. Glenadale, Califórnia: Regal

Press, 1979.

MOORE, Waylon. Building disciples notebook. Tampa, Florida: Missions Unlimited,

Inc., 1978

MYRA, Harold. The new you. Wheaton, Illinois: Victor Books/Scripture Press, 1972.

NEIGHBORS, Ralph W. Survivial kit for new christians. Nashville, Tennessee:

Convention Press, 1979.

PRATNEY, Winkie. A handbook for followers of Jesus. Mineapolis, Minnesota:

Bethany Fillowship, 1976.

Ten basic steps to christian maturity. Arrowhead Springs, Califórnia: Campus

Crusade for Christ, 1968.

WILLIS, Avery. Masterlife notebook. Nashville, Tennessee: Convention Press, 1980.

118 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


13. QUALQUER PESSOA PODE SE

MULTIPLICAR

“Você está se dando por alguma coisa – o que você está recebendo

em troca da sua vida?” – Roy Robertson

Qualquer pessoa pode discipular outras. Afinal de contas, este é o tema deste

livro. Um ministério fazedor de discípulos pode ter um bom início em sua

igreja local.

Começamos, no início deste livro, contando como foi a cadeia de multiplicação

de um professor de Escola Bíblica Dominical. Terminamos com a história de uma

professora de Escola Bíblica Dominical – alguém que influenciou- me e deu início

à minha cadeia de multiplicação espiritual.

Quando eu tinha dez anos de idade, a minha classe da Escola Bíblica Dominical

teve uma rápida sucessão de professores. Nós éramos um grupo difícil de

aguentar. A mais recente professora, a empertigada sra. Wallen, tinha seus 50

anos e parecia uma presa fácil para nós. Com toda a facilidade, destruímos a sua

primeira aula.

Ela, porém, rapidamente mudou tudo aquilo. Visitou- me e perguntou- me se

eu não podia ajudá- la a conservar a classe quieta, para que os garotos pudessem

ouvir a Bíblia. Provavelmente, ela visitou cada um dos alunos da classe com o

mesmo pedido pois, no domingo seguinte, as coisas foram muito mais silenciosas

e nós começamos a ouvir o evangelho. Ela tornou Jesus tão real que todos nos

convertemos no primeiro ano. As pessoas que influenciam outras de maneira

duradoura para Cristo parecem ter esta capacidade de torná- lo real aos outros.

Pouco antes de sua morte, a sra. Wallen contou- me que tinha orado em favor

de cada um dos seus garotos nominalmente durante 38 anos. Ela sabia onde estavam

todos eles e como estavam servindo ao Senhor. Imagine quantas cadeias

de multiplicação de discípulos ela começou, bem ali em sua classe de Escola

Bíblica Dominical!

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 119


Outro crente comum que influenciou o meu crescimento espiritual foi Bruce

Miller. Eu estava cursando a Faculdade de Direito, na Universidade Baylor,

quando conheci Bruce. Ele estava na minha classe de oratória. Eu tinha pouco

em comum com esse “pregadorzinho”, contudo, parece que eu sempre estava

trombando com ele. Conversávamos por alguns minutos, e eu sempre saía da

presença dele com o coração abrasado. O Senhor estava trabalhando em mim

por meio dele. Comecei a tentar esquivar- me de Bruce, mas parecia que ele me

encontrava em toda parte.

Falei com ele a respeito do trauma causado pela morte de meu pai e pela séria

enfermidade de minha mãe. Disse- lhe que minha irmãzinha estava vivendo com

parentes, meu irmão mais novo já estava se virando por conta própria e eu já

não estava mais tão entusiasmado com respeito a seguir a carreira de Direito. O

amor e o interesse que Bruce demonstrou por mim naqueles dias de provação

venceram-me.

Orando por mim, compartilhando a Palavra comigo e vivendo uma vida

espiritual disciplinada diante de mim, Bruce foi usado por Deus para levar- me

a uma posição de total entrega a Cristo. Foi durante aqueles últimos meses na

universidade que Deus me chamou para o ministério. A direção da minha vida

foi mudada para sempre. Só mais tarde percebi que o que Bruce fizera comigo,

e estava fazendo com outros estudantes, era discipulado neotestametário padrão.

Ele estava fazendo as coisas descritas neste livro.

Enquanto cursava o seminário, comecei a orar de maneira diferente. Em uma

conferência, ouvi Dawson Trotman, fundador dos Navegantes (The Navigators),

descrever como anos antes ele havia orado especificamente em favor de cada estado

dos Estados Unidos, depois por muitos países estrangeiros. Ele pedira a Deus

para fazer três coisas: levantar obreiros nacionais, enviar missionários para treinar

os nacionais e usar a ele pessoalmente em cada um dos países pelos quais orara.

Tomei essa visão de empréstimo para ser a minha oração. Em minha sala pequena,

perto da universidade, ajoelhava- me sobre um mapa do mundo e orava.

Algumas vezes, sentia- me como um bobo quando colocava o dedo sobre os

nomes das capitais dos países estrangeiros.

120 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


Nem tudo estava indo bem em minha vida pessoal naquela época. Eu não

tinha emprego fixo. Parecia que as juntas ou conselhos das igrejas não queriam

nem pensar em um pregador jovem, sem experiência. Mas, Deus estava usando

aqueles dias para alisar as minhas arestas ásperas e alargar minha visão. Tornei- me

totalmente convencido de que as minhas orações pelo mundo perdido seriam

respondidas.

Logo, Deus abriu os meus olhos para homens de coração faminto por toda

parte. Aprendi muito, embora tenha cometido muitos erros ao tentar ajudar outros.

Mais tarde, pastoreei uma igreja na roça e uma igrejinha na cidade gastando

muito tempo, pessoalmente, com qualquer pessoa que me desse oportunidade

de falar. Fiz com as pessoas o que Bruce fizera comigo. Almas foram ganhas e

vidas transformadas.

Anos mais tarde, preparei uma série de estudos bíblicos simples para o ministério

radiofônico da Pacific Garden Mission em Chicago. As seis lições acerca do

Evangelho de João, que tinham o objetivo de ajudar o “seguimento” de novos

crentes, começaram a fazer efeito. De fato, no decurso de um ano, pessoas de

todos os estados e nove países estrangeiros escreveram que haviam aprendido

a confiar em Cristo por meio daqueles estudos bíblicos. Os seus testemunhos

eram respostas àquelas horas de oração sobre o assoalho com o meu mapa. Isso

era apenas o início.

Encontrei- me com um jovem texano de elevada estatura chamado Max. Ele

tinha muito desejo de testificar e eu o encorajei em seu ministério de evangelização

entre estudantes da Universidade A e M no Texas. Passamos horas juntos,

através dos anos, enquanto discipulei Max e orei por ele. Depois de um tempo,

enquanto estava visitando a Tailândia e a Indonésia, encontrei estudantes atuando

ali, que me disseram: “Você é o nosso bisavô espiritual”. Traçamos a cadeia de

multiplicação espiritual até Max. Agora, Max Barnett é o Diretor de Alunos do

ministério de “campus” da Baptist Student Union, na Universidade de Oklahoma,

que tem um alcance mundial.

O discipulado fica melhor com o passar dos anos porque fica mais rico em

produção pela multiplicação. Por algum tempo ajudei um mecânico que estudara

até o sexto ano, um engenheiro, alguns seminaristas, um aluno da escola bíblica e

Max. Todos os seminaristas mais tarde foram para o campo missionário: México,

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 121


O púlpito não é apenas para pregar e evangelizar; é

também um ponto de onde se pode satisfazer corações

famintos em cujas vidas o Senhor está trabalhando

Panamá, Vietnã, Indonésia, Brasil e Barbados. O mecânico tornou- se um ativo

diácono e líder espiritual em sua igreja. O engenheiro passou a ensinar, de forma

a ter oportunidade de passar mais tempo diretamente com pessoas a quem ele

pudesse discipular.

Isto funciona na igreja? Certamente. O púlpito não é apenas para pregar e

evangelizar; é também um ponto de onde se pode satisfazer corações famintos

em cujas vidas o Senhor está trabalhando.

No começo do meu pastorado em uma grande igreja na cidade, perguntei

à congregação se havia alguns homens que gostariam de reunir- se comigo na

manhã seguinte em meu escritório, às seis horas, para começarmos a estudar

a Bíblia em profundidade. O grupo nunca passou de oito homens, mas com o

passar dos meses eles cresceram espiritualmente. Eles desenvolveram hábitos de

auto alimentação espiritual que revolucionaram suas vidas. A maior parte deles

foi eleita diáconos, professores e diretores de departamentos na igreja. Daquele

grupo de estudo, escolhi, em oração, dois cada ano, a quem dava mais tempo

para discipulá- los intensa e pessoalmente.

Da ministração a esses homens selecionados originaram- se quase todas as 25

pessoas de nossa igreja que entraram no serviço cristão de tempo integral. Quatro

outros foram para o campo missionário no estrangeiro. E centenas foram ganhos

para Cristo, ano após ano, por esse grupo. Estávamos batizando uma média de

cem pessoas por ano durante 13 anos.

Os leigos, então, começaram a treinar outros em aconselhamento e “seguimento”,

nas igrejas vizinhas (ministério que continua até hoje). Agora nossa

cidade está rodeada de pastores e obreiros que fizeram sua decisão inicial para

ministério por meio desses pequenos grupos de estudos bíblicos e ministérios

discipuladores individuais.

O Senhor continua respondendo a outra parte de minhas orações. Constantemente,

recebo convites de outras terras para compartilhar os princípios de

122 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


“seguimento” e treinamento para o discipulado. Tenho falado em mais de 30

nações e ensinado pessoas de mais de 80 nações.

Qualquer discípulo pode multiplicar sua vida em Cristo aplicando os princípios

bíblicos à sua igreja local. De sua igreja, Deus enviará homens e mulheres que

farão discípulos de todas as nações. Peça- lhes e creia nele.

Posso compartilhar uma oração com você, enquanto você começa esta semana,

a orar por alguém que você possa discipular? “O Senhor Deus de vossos pais vos

abençoe, como vos prometeu” (Dt 1.11).

PERGUNTAS PARA ESTUDO E DISCUSSÃO

1) Quem tem sido a pessoa mais influente em ajudá- lo a desenvolver sua vida

espiritual? Mencione uma ou duas pessoas:

– Mãe

– Pai

– Professor da EBD

– Pastor

– Seminarista ou oficial da igreja

– Parente

– Amigo

– Conhecido

– Outro

2) Como essas pessoas o influenciaram?

3) A sua vida espiritual seria diferente hoje se o seguimento ou discipulado individual

tivesse começado imediatamente depois de sua conversão?

4) Se alguém efetuou o seu seguimento ou o discipulado, como procedeu?

5) O que precisa ser feito para encorajar sua Escola Bíblica Dominical a se tornar

mais envolvida no seguimento e discipulado?

Qualquer discípulo pode multiplicar sua vida em Cristo

aplicando os princípios bíblicos à sua igreja local

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 123


6) A quem está você agora influenciando espiritualmente? Mencione alguém de

uma das categorias seguinte:

– Lar

– Trabalho

– Escola

– Igreja

7) Por quem está você orando diariamente? Enquanto ora por pessoas, faça as

seguintes perguntas:

a) Qual é a minha maior necessidade?

b) Qual é a minha parte em satisfazer essa necessidade?

c) Qual é o primeiro passo em fazer a minha parte?

124 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


APÊNDICE

DISCIPULADO INDIVIDUAL E EM GRUPO

A produção de líderes é uma necessidade crítica não satisfeita nas igrejas locais.

O treinamento de um grupo pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento

de líderes, mas pode ter algumas limitações. Todavia, o discipulado pessoal, um

a um, abrange o envolvimento pessoal e a dedicação de tempo necessário para

treinar líderes de maneira eficiente. Um relacionamento bíblico de discipulado

deve dar início a uma dedicação vitalícia à intercessão e ao encorajamento, à

medida que a pessoa a quem discipulamos cresce.

Qual dos dois? Ministério individual ou em grupo? Nem um nem outro, mas

ambos. O discipulado individual não é um relacionamento restrito. As mesmas

pessoas podem ser envolvidas em ambos os ministérios 44 .

RAZÕES PARA O DISCIPULADO INDIVIDUAL

1) Qualquer pessoa na igreja local pode realizar o discipulado individual. Consiste

em simplesmente compartilhar com outrem o que o Senhor está fazendo em sua

vida e levar a outra pessoa ao degrau a que se subiu.

2) O ministério individual é modelado na igreja pelo aconselhamento pessoal aos

perdidos, doentes, confusos, desanimados e os que têm necessidades expressas. É,

igualmente, lógico dedicar tempo a pessoas que desejam crescer espiritualmente.

3) O ministério de Cristo era amar os seus discípulos e dar a sua vida por eles (Jo

13.1). Trabalhando com uma pessoa, aprendemos a dedicação de Cristo a cada

um dos seus discípulos.

44

A Visão de Igreja Multiplicadora trabalha tanto o discipulado individual, ou seja, o relacionamento

discipulador como, também, o discipulado em grupo, desenvolvido por meio do Pequeno

Grupo Multiplicador (veja o livro Igreja Multiplicadora, p. 68-86).

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 125


4) Poucas pessoas têm tempo ou capacidade para se envolver intimamente com

a vida de vários indivíduos. Qualquer pessoa pode arranjar tempo para trabalhar

com uma pessoa apenas.

5) O discipulado individual tem a intimidade da amizade e a precisão de um

relacionamento de mestre- aprendiz.

6) Ele é flexível em termos de horários, duração, tarefas dos estudos bíblicos e

treinamento. Essas coisas podem ser mudadas ou demorar, de acordo com as

necessidades individuais. O crescimento espiritual é mais rápido.

7) Este método de discipulado individual é copiado com facilidade. Fazemos para

os outros o que nos foi feito.

8) Exortação, correção e admoestação são ministradas rápida e facilmente no

contexto do discipulado individual.

9) A vida do discipulador reforça a verdade da mensagem e é de fácil observação

para o discípulo.

10) As necessidades da pessoa vêm à tona na privacidade do ministério individual.

11) Tanto o relacionamento quanto os resultados parecem mais duradouros no

discipulado individual.

12) O discipulado no nível pessoal, um a um, é a maneira mais rápida que conheço

para desenvolver líderes espirituais que podem multiplicar- se em outros

discípulos.

RAZÕES PARA DISCIPULADO EM GRUPO

1) A ministração em grupo é o método mais usado nas igrejas locais. As pessoas

sentem- se à vontade com ele e esperam a sua metodologia.

2) É um método fluídico. A pessoa pode entrar e sair de um grupo sem destruir

o grupo nem seu relacionamento com os que estão participando.

3) Permite que as pessoas participem sem sentir que estão sendo focalizadas toda

hora. Algumas não estão preparadas para o discipulado pessoal.

4) Vários métodos didáticos podem ser usados no contexto do grupo.

126 | MULTIPLICANDO DISCÍPULOS


5) Doutrina geral pode ser ensinada com facilidade a várias pessoas ao mesmo

tempo, com economia de tempo para o instrutor.

6) O estudo bíblico é muito estimulante quando outras pessoas participam das

pesquisas e da aplicação das lições.

7) A intensidade pode crescer em grupos. Um espírito de aventura e de unidade

pode motivar outras pessoas menos interessadas durante certo período de tempo.

8) O efeito da correção e exortação gerais é mais sutil do que a confrontação

direta.

9) Um efeito aconselhador em grupo pode resultar do fato de pessoas se tornarem

interessadas e começarem a orar pelas necessidades de outras.

10) Os grupos são canais eficientes para canalizarem as pessoas em um relacionamento

e tempo de treinamento pessoal, um a um, que seja mais intenso.

11) O Espírito Santo pode usar os antecedentes e as experiências de inúmeras

pessoas para ensinar outras.

12) Os dons espirituais que ministram a indivíduos podem ser equilibrados com

os dons de outros para fortalecer e ministrar a grupos.

MULTIPLICANDO DISCÍPULOS | 127


Capa e diagramação: Oliverartelucas

Este livro foi produzido pela Oliverartelucas com as fontes ZapfHumnst

BT e Garamond Premier Pro; impresso no papel de miolo Pólen 70 g

e capa Cartão Supremo 250 g – 2ª edição em abril de 2023.



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