elevações
Exposição de Aline Moreno e Jeff Barbato com texto curatorial de Jurandy Valença. Disponível no site elevacoe.art.br. O evento contempla a agenda de exposições do edital de Ocupação das Galerias Municipais de Itajaí, que por conta da pandemia, foi adaptado para o formato online.
Exposição de Aline Moreno e Jeff Barbato com texto curatorial de Jurandy Valença. Disponível no site elevacoe.art.br. O evento contempla a agenda de exposições do edital de Ocupação das Galerias Municipais de Itajaí, que por conta da pandemia, foi adaptado para o formato online.
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vações
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ele
vações
aline moreno
jeff barbato
TEXTO CURATORIAL
jurandy valença
artistas
texto curatorial
projeto gráfico e design
fotografia das obras
agradecimentos
aline moreno; jeff barbato
jurandy valença
lacasita ateliê; jeff barbato
acervo dos artistas
a equipe da fundação cultural de
itajaí e ao curador jurandy valença
por acreditar em nosso projeto.
projeto selecionado pelo edital
n°03/2021 Exposições nas
Galerias da Casa da Cultura
Dide Brandão e Galeria
Municipal Dinyz Domingos
(Casa Burghardt)
SUPERINTENDÊNCIA
ADMINISTRATIVA DAS
FUNDAÇÕES
Rua Antonio Caetano, 105
– Fazenda – Itajaí/SC CEP
88302-380 [47 3349-1516 /
3349-1214]
galerias.@itajai.sc.gov.br
©2021 Fundação Cultural de Itajaí - SC. exposição elevações - aline moreno e jeff barbato
elevações
diáforas
“A casca não é menos verdadeira
que o tronco”
Georges Didi-Huberman
“É preciso fazer desfazendo”
Giacometti
A palavra ‘elevação’ denota a ação de levar de baixo para cima. É
ascensão, protuberância, saliência e subida, mas também é altivez,
distinção, nobreza, proeminência. Na topografia uma ‘elevação’ é um termo
utilizado para designar a distância vertical de uma localização geográfica até
um nível de referência fixo como o do mar, de uma montanha ou planície.
Na exposição “Elevações”, Aline Moreno e Jeff Barbato apresentam oito
obras que discutem o lugar da paisagem sob suas respectivas óticas,
compartilhando ambos de uma poética visual similar, com trabalhos que se
situam entre o bi e o tridimensional, entre o objeto, a escultura e o relevo
que se projeta da parede com toda sua frontalidade.
Entre recortes e desníveis que modelam a superfície e o suporte das
obras, eles criam uma topologia visual formada por margens, limites e
fronteiras entre um espaço e outro, entre o vazio e o cheio. Uma zona
intermediária que abriga uma ausência presente. Os trabalhos de um
espelham os do outro em um diálogo silencioso de espaços compondo uma
narrativa de formas que soam familiares ao nosso olhar. São vistas aéreas?
Um rio dourado que [re]corta a paisagem? São resquícios, simulacros
arqueológicos que abrigam em seu aspecto formal semelhanças a estudos
de solos e topografias reais ou imaginárias? São cavidades, cortes, fendas,
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interrupções, rachaduras, sulcos, vãos, vazios preenchidos?
Ambos usam materiais que abrigam semelhanças em suas funções; o
cimento e o gesso, que são utilizados na confecção de moldes e acabamentos
de rebocos em construções. Vale lembrar que o gesso é um dos mais antigos
materiais de construção, e assim como a cal e o barro, também servia para
criar afrescos decorativos, ornamentais desde a antiguidade até hoje. Mas
eles também se utilizam de outros materiais como folhas de ouro, parafina,
cera de abelha, papel e madeira como se operassem uma alquimia em seus
respectivos processos artísticos; aliás, não é à toa que nela o ouro seja o
elemento de transformação, que faz analogia à purificação espiritual, que
representa a evolução do mundo material para o mundo espiritual.
Aline Moreno e Jeff Barbato discutem a representação da natureza,
da paisagem por meio de operações poéticas-visuais que remetem à
cartografia. Mas não aquela que entendemos como a representação
geométrica plana, simplificada e convencional da superfície terrestre ou de
parte dela. De certa maneira exibem, cada um ao seu modo, um trom-pe
l’oeil, expressão francesa e um recurso técnico-artístico empregado com
a finalidade de criar uma ilusão de ótica para “enganar o olho”. Eles nos
fazem ver fragmentos, fraturas, formas esvaziadas, esburacadas, como se
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essas composições abrissem uma passagem que também é uma paisagem.
Uma cartografia em cuja superfície repousa o tempo e suas fissuras.
Talvez o que importa nesses procedimentos matéricos e visuais que se
apresentam nesses trabalhos, mais que a [des]construção de formas, seja
a [de]marcação de espaços que se situam entre a limitação e a contenção.
Aline e Jeff expõem em “Elevações” o que Roland Barthes nomeava de “o
terceiro sentido”, uma capacidade de criar outra coisa que não é a que se vê
na superfície. Ambos também transportam para suas obras o que Barthes
dizia sobre a fotografia, que tem dois lados, dois momentos; o studium,
aquilo que se pode ler/ver, decifrar na superfície lisa que registra o visível,
e o punctum, aquilo que marca, fere, rasga o que é visto.
Joseph Kosuth já afirmava que a arte na contemporaneidade tomou
para si questões acerca do homem e do mundo nas quais a filosofia teria
falhado. Não concordo de todo porque sempre me alicercei na filosofia para
compreender e interpretar a arte. E a falha, que aqui também me refiro à
geológica, também é a ruptura ou cisão que acontece na superfície, e que
é responsável pelo deslocamento de suas partes. Afinal de contas, a arte,
a obra de arte não é só uma imagem ou um objeto, nem muito menos a
evidência de algo. Mais que tudo ela é uma investigação. Sempre haverão
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mais perguntas do que respostas no que diz respeito à arte. E o papel do
crítico, daquele que [des]escreve acerca de um artista e sua obra não é o
de elaborar um discurso capaz de organizar e dar um sentido coerente ao
seu objeto de estudo. Mais que tudo, é o de promover por alegorias ou
metáforas um jogo no qual as apostas carregam em si sempre simbologias.
Aqui, nessas “elevações”, Aline e Jeff criam um diálogo construído por
narrativas visuais similares, mas diferentes, o que me faz lembrar da palavra
‘diáfora’, cujo significado é a repetição da mesma palavra com sentido
diferente. Em um ensaio sobre Milton Machado, Tania Rivera comenta
que para ele a diáfora se estabelece como aproximação e identidade por
distanciamento e diferenciação; “a diáfora faz do mesmo outra coisa, faz do
dentro do enunciado um fora”.
Como se quisessem refazer, redesenhar o mundo, o espaço, o topos,
Aline Moreno e Jeff Barbato elevam a “pele” das coisas reforçando que o
mais profundo está, quiçá, na superfície. É do lado de fora que a pele está,
e que delimita o interno e o externo, que cria bordas, fendas, sulcos. Como
diz Georges Didi-Huberman, “podemos pensar que a superfície é o que cai
das coisas [...], o que se separa delas”.
jurandy valença. primavera de 2021
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_pg. 10 percurso #10, 2020
concreto, encáustica, cera de
abelha, laca, folhas de ouro e
madeira de demolição.
[40,5 x 201 x 8 cm.]
_pg. 12 percurso #11, 2020
concreto, linha, tinta acrílica,
laca e folhas de ouro sobre
tela e madeira de demolição.
[49 x 46 x 8 cm.]
_pg. 14 sem título, 2019
madeira, papel e pedra
[34 x 27 x 8,5 cm]
_pg. 16 percurso #05, 2020
concreto, cera de abelha e
madeira de demolição.
[44 x 92 x 8 cm.]
_pg. 18 sem título, 2021
madeira e gesso
[24,5 x 9,5 x 6 cm]
_pg. 18 sem título, 2021
madeira e gesso
[30 x 9,5 x 6 cm]
_pg. 20 sem título, 2021
madeira e gesso
[34 x 32 x 7 cm]
_pg. 20 sem título, 2021
madeira
[26 x 8,5x 7 cm]
_pg. 21 sem título, 2021
madeira e gesso
[21,5 x 39,6 x 6,5 cm]
_pg. 22 contrapontos, 2015
madeira, concreto e papel
[20 x 30 x 6,5 cm; 55 x 32 x
6 cm; 38 x 30 x 6 cm]
pg. 24 percurso #12, 2020
concreto e madeira de
demolição.
[91 x 124 x 8 cm.]
ALINE MORENO: Os relevos artificiais de gesso e cimento
branco colocam em diálogo a matéria e o vazio e dão um
novo ponto de referencial fixo, longe de uma montanha real
ou qualquer outra formação existente na natureza, criando
novos significados para as elevações que surgem em seu
interior e embaralhando noções de céu e terra, tornando
possível a existência simultânea de uma montanha de ar e
um céu de matéria e vice-versa.
@aline___moreno [alinemoreno@gmail.com]
JEFF BARBATO: Minha relação com a paisagem está
no devir, percorrendo e percebendo imperfeições,
impermanências e incompletudes. Crio cartografias e
elevações afetivas, com olhos para aquilo que rasga, que
fende, aquilo que é imperfeito, visceral. Uma violência bruta
e os percursos desenhados pelas frestas na superfície lisa,
polida, de uma pele, camada, casca. Suely Rolnik define uma
cartografia como sendo “a inteligibilidade da paisagem em
seus acidentes, suas mutações”, elevações, dentre outras
coisas, é sobre isso.
@jeffbarbato [contato@jeffbarbato.com.br]
ELEVAÇÕES é uma exposição dxs artistas Aline Moreno e Jeff Barbato. A seleção contempla onze
trabalhos da dupla apresentando como recorte temático a discussão de paisagem na visão de cada artista. A
dupla se aproximou a partir de conversas virtuais em relação a seus processos após se conhecerem no curso
“Processos na Arte Contemporânea“ leitura crítica com Anna Bella Geiger realizado no SESC Av. Paulista em
Fevereiro de 2020, e desde então realizam projetos em conjunto.
Projeto Gráfico
Este catálogo foi composto em Sys e Helvetica Thin e
impresso pela FM Impressos Personalizados Ltda. em papel
Offset 90g. e cochê 300gr. em novembro de 2021.
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