Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
C
Revista
ALÍOPE
PROSA • POESIA • MEDIA VISUAL
Tema Livre
EDIÇÃO I
MARÇO 2024
U M A R E V I S T A D E
L I T E R A T U R A E A R T E
https://revistacaliope.weebly.com
Pintura da capa: “The Lady of Shalott”, de John William Waterhouse.
E D I Ç Ã O I
CAL
REV STA
OPE
Uma Revista de Literatura e Arte
CABEÇALHO
Editorial
EDITORA-CHEFE
Diana Pereira
EDITORES
Carolina Martins
Leonor Leite
Inês Silva
Iara Silva
Rui Pinto
SUPERVISÃO
Professor Vítor Silva
4
2024
E D I Ç Ã O I
T E M A L I V R E
Í N D I C E
• CARTA DO EDITOR ............................................................................. 6
• LIVROS DO TRIMESTRE ................................................................... 10
• SUBMISSÕES .......................................................................................... 16
> Poema Sobre a Morte ........................................................................ 18
> Poema Sobre a Vida ........................................................................... 19
> Par de Jarras ........................................................................................ 20
> Pensamentos ...................................................................................... 21
> What Shall I do .................................................................................. 22
> Vida Num Momento ........................................................................ 24
> Animal ................................................................................................ 30
> Towering and Wise ............................................................................ 31
> Entrevista a Carlos Monteiro ............................................................ 32
> Mágoa ................................................................................................. 38
> Eufemismo ......................................................................................... 39
> Sangue ................................................................................................ 39
> Staircase .............................................................................................. 40
> A Minha Vida .................................................................................... 41
> Não Me Dês ....................................................................................... 44
> Os Impactos das Tecnologias na Juventude Contemporânea ......... 45
> Ser do Sporting .................................................................................. 46
> Dedica-se ............................................................................................ 47
> Sem Emoções ..................................................................................... 48
> Sem palavras ....................................................................................... 49
> Alegria ................................................................................................ 50
5
CARTA DO
EDITOR
"We’re here to make magic with
words", é o que o Professor
Playfair enfatiza ao introduzir o
prestigiado Instituto Real de
Tradução, Babel, aos caloiros.
Robin, o protagonista de “Babel:
An Arcane History” de R. F.
Kuang, ao ouvir isto é atingido
por uma onda de entusiasmo
perante as numerosas
possibilidades que se apresentam
diante de si naquele momento -
ele estava ali para fazer algo que
nunca fez antes: “make the
unknown known”. Embora
estejamos imersos num mundo da
tradução, percebo que, na sua
essência, a escrita compartilha a
mesma missão: tentar traduzir os
nossos sentimentos e
pensamentos estrangeiros aos
outros em palavras,
independentemente do quão
intraduzíveis possam parecer.
Recordo-me vividamente dos
meus primeiros passos neste
caminho de escrita, quando, com
a minha estatura diminuta e
vocabulário limitado, queria fazer
exatamente isso - “traduzir” os
meus pensamentos, a minha
imaginação. No entanto, depareime,
para além de uma assustadora
folha em branco, com a escassez
de espaços onde poderia
compartilhar a minha voz. Foi
exatamente essa lacuna que
impulsionou a nossa equipa a
criar este espaço, este refúgio
acolhedor onde as vozes criativas
da nossa comunidade escolar
pudessem ecoar livremente sem
barreiras ou limitações.
É nesse contexto que a escolha
do tema livre para a primeira
edição da Revista Calíope adquire
uma importância especial. Ao
questionar se a criatividade
prospera dentro de limites ou se
não deve conhecer limite algum, a
revista priorizou, num primeiro
momento, oferecer um espaço
sem restrições temáticas perante a
vastidão de gostos e interesses do
6
corpo educacional da Escola
Secundária de Carvalhos.
Cada página desta revista, cada
conto, poema, ensaio, pintura e
fotografia é uma testemunha viva
da grande coragem dos estudantes
da nossa escola para submeter
parte de si em forma de arte, o
nosso “eu” autêntico.
Da mesma forma que Calíope,
musa da poesia épica e da
eloquência, inspirou muitos
poetas da antiguidade, nós
almejamos que as palavras e
imagens que encontrarem aqui
continuem a inspirá-los, encantálos
e provocá-los.
Agradecemos a todos os alunos,
professores, funcionários e pais
que contribuíram para esta
edição. Os seus talentos e
dedicação são o que tornam esta
revista verdadeiramente especial.
Que esta seja apenas a primeira de
muitas edições extraordinárias
que virão.
DIANA PEREIRA,
Fundadora e Editora-Chefe
da Revista Calíope.
7
James B
“YOU THINK YOUR P
HEARTBREAK ARE UN
THE HISTORY OF THE W
YOU READ. IT WAS BOO
ME THAT THE THINGS T
ME MOST WERE THE V
CONNECTED ME WITH
WHO WERE ALIVE, WH
ALIVE
“Autumn Leaves”, de Joh
n Singer Sargent.
aldwin
AIN AND YOUR
PRECEDENTED IN
ORLD, BUT THEN
KS THAT TAUGHT
HAT TORMENTED
ERY THINGS THAT
ALL THE PEOPLE
O HAD EVER BEEN
.”
EDIÇ
LIVRO
TRIME
ÃO I
S
do
STRE
“Dancing Fairies”, de August Malmström.
Escolhas dos Alunos
GÉMEAS PARA UMA SÓ COROA
Catherine Doyle e Katherine Webber
“Gémeas para uma só
Coroa”, de Catherine
Doyle e Katherine
Webber, é um livro
inteligente e intenso,
cheio de reviravoltas e
magia. O livro conta a
história de duas irmãs
gémeas, Wren e Rose,
de dois mundos
absolutamente
diferentes. Rose
cresceu no palácio e
sabia que um dia seria
rainha, Wren cresceu
entre as bruxas,
sabendo que um dia
iria usurpar o trono da
irmã.
Mas algo corre mal e,
para manter o trono e
sobreviver, as duas
princesas terão de fazer
escolhas difíceis e
descobrir em quem
podem confiar.
Este livro contém duas
histórias amorosas
escaldantes
e
excitantes, muito bem
desenvolvidas. A obra
mostra-nos o poder da
irmandade e que a
verdadeira família não
provém apenas de laços
de sangue.
É delicioso ver como as
personagens crescem e
mudam ao longo do
livro, e a mudança não
é pouca. Doyle e
Webber abordaram
diversos temas, entre
eles a amizade, o amor
verdadeiro,
demonstrando o
significado da frase “As
trevas nem sempre são
más, e a luz nem
sempre é boa”.
É impossível ficar
indiferente com
“Gémeas para uma só
Coroa”.
De YEVA
DIBROVA
12
O PRÍNCIPE CRUEL
HOLLY BLACK
"O Príncipe Cruel",
de Holly Black, é um
verdadeiro e delicioso
enemies to lovers. No
centro da história está
Jude Duarte, e as suas
irmãs, a gémea Taryn, e
a mais velha, Vivienne.
Os seus pais são
brutalmente
assassinados diante
delas, e após esse evento
traumático, são levadas
para o mundo de seres
mágicos,
onde
descobrem que as fadas
que lá habitam são
muito mais cruéis do
que aparentam e que
desprezam
profundamente os
humanos. Mas Jude não
desiste, sonha em
tornar-se uma guerreira.
Mas além do facto de
ser mortal, ela tem mais
um obstáculo: Cardan,
o mais jovem dos seis
príncipes é o seu maior
inimigo. No entanto,
tudo muda quando
Jude se envolve em
espionagem e começa a
desvendar os segredos
obscuros da família real.
Holly Black conduz o
fio da narrativa com
maestria, levando os
leitores a experienciar
um leque de emoções
variadas. "O Príncipe
Cruel" é repleto de
reviravoltas onde são
abordados temas como
a morte, a ambição e os
sentimentos mais
obscuros.
De YEVA DIBROVA
O que poderia eu tornar-me se deixasse de me preocupar com a
morte, com a dor, com qualquer coisa? Se deixasse de tentar
pertencer? Em vez de ter medo, poderia tornar-me algo a temer.
― Holly Black, “O Príncipe Cruel”.
13
Escolha da Revista
O RETRATO DE DORIAN GRAY
Oscar Wilde
O
livro narra a história
de Dorian Gray, um
jovem notavelmente
belo e rico, cuja beleza
é enaltecida como o
seu maior tesouro.
Tudo começa com
uma simples e talvez
Que tristeza! Vou ficar velho, e horrível, e medonho.
Mas este retrato permanecerá eternamente jovem.
[...] Se pudesse dar-se o inverso! Ser eu eternamente
jovem e o retrato envelhecer! Sim, nada há no mundo
que eu não desse! Até a minha alma daria!
óbvia, realização,
todavia que se revela
completamente
avassaladora para o
jovem Dorian: ao
contemplar um retrato
de si mesmo, o
protagonista é
confrontado com o
inevitável declínio da
sua juventude e,
consequentemente, da
sua formosura. Essa
perceção e a crença
convicta de que sem a
sua beleza nada lhe
restaria, leva-o a desejar
que o retrato envelheça
no seu lugar, enquanto
ele permanece
eternamente jovem.
Assim, o retrato tornase
o recetáculo da sua
alma, refletindo todas
as suas indulgências e
pecados enquanto ele
mantém a sua
aparência imaculada.
Com uma exploração
exemplar de temas
complexos como a
natureza humana e
dilemas morais, aliados
a personagens
cativantes
e
imperfeitos, e uma
escrita elegante e
ligeiramente pomposa,
"O Retrato de Dorian
Gray" estabelece-se
como um essencial da
leitura — e, talvez, da
vida.
“Echo and Narcissus”, de John William Waterhouse.
14
Charles Baudelaire
“L’IDÉAL”
Ce ne seront jamais ces beautés de vignettes,
Produits avariés, nés d'un siècle vaurien,
Ces pieds à brodequins, ces doigts à castagnettes,
Qui sauront satisfaire un coeur comme le mien.
Je laisse à Gavarni, poète des chloroses,
Son troupeau gazouillant de beautés d'hôpital,
Car je ne puis trouver parmi ces pâles roses
Une fleur qui ressemble à mon rouge idéal.
Ce qu'il faut à ce coeur profond comme un abîme,
C'est vous, Lady Macbeth, âme puissante au crime,
Rêve d'Eschyle éclos au climat des autans;
Ou bien toi, grande Nuit, fille de Michel-Ange,
Qui tors paisiblement dans une pose étrange
Tes appas façonnés aux bouches des Titans!
EDIÇ
Subm
“Above the Clouds at Sunrise
ÃO I
issões
de Frederic Edwin Church.
POEMA
sobre
a MORTE
De LEONOR FERREIRA
Morrer, algo que nos espera.
Pode assustar-nos,
Mas é algo que não podemos evitar.
Palavras tão fortes para descrever
Algo que é natural,
Mesmo parecendo prejudicial.
Aproveitar a vida ao máximo porque,
Se não o fizermos, quando vamos fazê-lo?
Para todas as pessoas a morte é algo
Tão doloroso,
Tal como a dor de tomar um comprimido.
Porquê pensar no que ocorreu no passado
Se o que importa é o futuro, deixa isso de lado!
Nascemos a chorar, e morremos sem falar.
O silêncio da despedida é barulhento,
É daí que vem o arrependimento
Por não ter expressado o sentimento
Que existe dentro do coração.
“Ophelia”, de John Everett .Millais
POEMA
sobre
a VIDA
De LEONOR FERREIRA
O meu problema é perceber o porquê.
Sendo a vida pesada, horrível, forte
Com todos os adjetivos negativos
Para a descrever,
Fico lisonjeada por viver.
Com ela também percebo coisas
Que me fazem viver e querer viver mais.
Pois, se a vida não fosse assim,
Porque se chamaria vida, então?
19
PAR de
JARRAS
De ACÍDULA AGRANAMA
Tenho-te emoldurada, feita minha namorada na mesa de cabeceira.
Um retrato bem vidrado, comigo sentado ao lado, em amena cavaqueira.
Parece um casal feliz, mas não é o que se diz, há muito que não me agarras.
Já sorris assim matreira, noutra mesa de cabeceira, noutro belo par de jarras.
Adeus amor, minha cegueira
Vou tirar-te da minha mesa de cabeceira.
Esquecer-te-ei como pedias
Porque fugiste, já há mais de quinze dias.
Vou virar essa moldura, para manter a compostura, quando me cruzar contigo.
Para não sentir comichão, quando tu fores pela mão na rua com o novo amigo.
Reparei mesmo agora, já está mais do que na hora, esquecer-te-ei como pedias.
Visto que desaparecida, andas tu da minha vida, já há mais de quinze dias.
Adeus amor, minha cegueira
Vou-te tirar da minha mesa de cabeceira.
Esquecer-te-ei como pedias
Porque fugiste, já há mais de quinze dias.
Pensamentos
De YEVA DIBROVA
Devoram-me por dentro,
Não me consigo defender.
Todos dizem:
Limpa as lágrimas!
Mas fingir um sorriso,
não posso fazer.
Aguenta,
o tempo cura,
tudo passa.
As vossas histórias
estou farta de ouvir.
Como os raios
que do céu trespassam.
Os meus pensamentos
ninguém vai destruir.
De ANÓNIMO
WHAT
De ANÓNIMO
shall
What shall I do
When thoughts no longer fit
Within my body's frame,
And my hands cradle
My heart ablaze.
If time refuses to pause for me,
I shan't halt for poetry.
Let my words hold me tight,
Otherwise I’ll vanish
In this world of flesh and bones.
I DO
“Boreas”, de John William Waterhouse.
12
“ORLANDO”
Virginia Woolf,
“For it would seem - her case
proved it - that we write, not with the
fingers, but with the
whole person
.
The nerve which controls the pen
winds itself about every fibre of our
being, threads the heart, pierces the
liver.”
De YEVA DIBROVA
VIDA num
MOMENTO
Tudo mudou num momento. Era inverno
quando ela se transformou numa pessoa
fechada, calada e antissocial.
E
la era alegre e cheia
de vida, adorava
aprender e era o centro
de cada grupo social,
tendo muitos amigos e
conhecidos. Todos
gostavam dela pela sua
espontaneidade,
abertura, bondade e
prontidão para ajudar.
Vestia-se sempre com
roupas claras e
brilhantes, destacandose
ao levantar o braço
primeiro nas aulas,
salvando toda a turma.
Ela era a aluna favorita
dos professores, que
sabia tudo e se
interessava por mais…
Mas esse seu lado era
demasiado frágil. Tudo
mudou
num
momento. Era inverno
quando ela se
transformou numa
pessoa fechada, calada
e antissocial. Rompeu
o contacto com todos:
nas aulas, sentava-se na
última fila, vestia
roupas escuras, as
suas notas começaram
a descer, e a cada mês
desaparecia durante
uma semana ou duas.
Ninguém entendia o
que se passava com ela,
e ela também não dizia.
Se alguém perguntava,
ela respondia com
gritos e insultos, e ia
embora.
Ela era a minha
melhor amiga,
partilhávamos o
mesmo quarto, mas
nem comigo ela falava,
antes, passava os dias à
frente do ecrã, e eu
nem sabia se ela
dormia.
Meio ano se passou e
ela desapareceu mais
uma vez. Ninguém
estranhou; já estavam
todos habituados. E eu
fiquei sozinha
novamente.
***
Tinha-se passado uma
semana, e o meu dia
corria mal desde o
início. Atrasei-me para
a primeira aula e
esqueci-me de um
trabalho – bem, na
verdade, quando
tentava
apressadamente passálo
para uma pen, algo
correu mal e perdi-o,
por isso tive de refazêlo.
Mas estes
mostraram-se os
menores dos meus
problemas.
Quando voltei das
aulas, entrei no meu
quarto e paralisei: ele
estava
muito
desarrumado. Durante
uns momentos, não
consegui mexer-me; no
entanto, recuperei
rapidamente do
choque e comecei a
examinar o quarto,
concluindo que nada
desaparecera.
Estranho.
Antes que pudesse
processar o que se
estava a passar,
aconteceu algo pior. A
porta do quarto foi
25
“Orpheus Leading Eurydice from the Underworld”, de Jean-
Baptiste-Camille Corot.
quase demolida. Dei
alguns passos para trás,
tropecei em alguma
coisa e caí. Nesse
momento, quatro
pessoas entraram no
quarto.
Os homens
começaram a gritar e a
fazer perguntas,
mostrando uma
fotografia daquela
rapariga. Estava tão
assustada que mal
conseguia falar, quanto
mais mexer. Após
gritarem alguma coisa
sobre dívidas e roubos,
perceberam que não
conseguiriam obter
nada de mim.
Deixaram um homem
comigo e os restantes
foram-se embora.
Eu não estava a
entender nada. Depois
de me acalmar um
bocado, tentei
perceber o que estava a
acontecer. O homem
que ficou comigo disse
que a rapariga
escreveu alguns
programas, e com a
ajuda deles assaltou
imensas contas
bancárias. Agora, ela é
procurada por todo o
mundo, começando
pela polícia e acabando
na máfia.
Credo, no que é que
ela se meteu!? O
homem que estava
comigo agarrou-me e
puxou-me para fora do
quarto. Ele afirmou
que, a partir daquele
momento, eu seria a
sua prisioneira. Disse
ainda que se eu fosse de
alguma importância
para ela, ela procurarme-ia.
Estava profundamente
assustada. Fui trancada
num
quarto
minúsculo, com
apenas uma janela
demasiado pequena
para que eu pudesse
passar – acho que a
ideia de uma fuga
podia ser esquecida, –
uma vez por dia,
traziam-me alguma
comida e eu dormia
num colchão velho,
com molas a sair por
todos os lados.
***
Assim passaram alguns
dias.
Acordei a meio da
noite por causa do
barulho. Disparos,
gritos, estrondos, e
depois silêncio. A
chave rodou algumas
vezes e, em seguida, a
porta abriu-se. Na
soleira da porta estava
um rapaz que me
agarrou pelo braço e
me levou para fora,
fazendo-me imensas
perguntas pelo
caminho. Mas como é
que eu vou responder
se não sei nada e
entendo ainda menos?
Agora, eu e este rapaz
também nos juntamos
à busca daquela
rapariga. Ele não
contou nada sobre si, e
27
eu tinha receio de
perguntar.
Usando as suas
capacidades físicas e as
minhas mentais, nós
tentamos encontrar
pelo menos alguma
pista sobre o paradeiro
dela, mas tudo foi em
vão. Além de procurála,
tínhamos de ter
cuidado para não
sermos apanhados, o
que era não só difícil,
como também
assustador.
***
Neste ritmo louco,
passou mais uma
semana. Finalmente,
tivemos alguma sorte: a
rapariga foi vista num
hospital. Sem perder
um minuto sequer, o
rapaz e eu dirigimo-nos
para lá.
Após obtermos a
informação necessária,
encontramos a porta
indicada. Uma
enfermeira que passou
por nós lançou-nos um
olhar triste.
Na ala, a rapariga
estava sozinha.
Abraçava os joelhos e
apoiava o queixo neles.
Vestia umas calças
velhas e uma camisola
de malha que já tinha
visto melhores dias.
Ela pareceu sentir a
nossa presença e
dirigiu-nos um olhar
triste. Tinha um aspeto
horrível com pele
pálida, quase azul, e
olheiras que pareciam
buracos negros.
Durante uns
momentos, olhámonos
em silêncio, mas
depois ela abriu a boca
e falou, fazendo-nos
estremecer. A voz dela
estava rouca; dava para
ver que cada palavra
saía com dificuldade.
Ela pediu para a
ouvirmos sem
interrupções.
Pegando em duas
cadeiras, sentamo-nos
ao lado dela.
A rapariga contou o
que fazia, onde se
escondia...
A história causou-nos
um grande choque.
Durante todo este
tempo, ela hackeava
contas bancárias de
ricos de todo o mundo
e dava esse dinheiro às
famílias
que
precisavam de pagar
operações para crianças
ou familiares, aos
orfanatos, hospitais...
Resumidamente,
praticava caridade em
grande escala.
Quando lhe
perguntamos por que é
que ela fazia isso,
respondeu que era
necessário. E quando
lhe perguntamos o que
é que lhe aconteceu, ela
virou a cara e
desculpou-se por tudo.
Começou a chorar e
pediu-nos para ir
embora. Com a
promessa de que
voltaríamos no dia
28
seguinte, fizemos o que
ela pediu.
Na manhã seguinte, já
estávamos à porta, mas
quando entramos, a
sala estava vazia. Estava
tudo arrumado, a cama
feita, e nenhum
vestígio de que ela
estivesse ali. Pensamos
que teria fugido outra
vez.
Tentamos descobrir o
que quer que fosse,
mas as enfermeiras e
todo o pessoal não
diziam nada. Voltamos
ao ponto de partida.
Enquanto pensávamos
no que fazer a seguir,
uma mulher idosa, que
era funcionária do
hospital, veio ter
connosco. Ao
fazermos pela milésima
vez a mesma pergunta
sobre a rapariga, a
mulher desatou a
chorar. Contou que
aquela rapariga era um
milagre, a sua salvação.
Ajudou a sua filha, que
foi atropelada e o
condutor fugiu. Ela
teve uma grande lesão
na coluna e podia
nunca mais voltar a
andar. Para uma
simples funcionária, o
custo da operação era
absolutamente
incomportável, mas
aconteceu um milagre,
e o dinheiro necessário
apareceu na sua conta.
Agora, a vida da sua
filha não estava em
perigo e ela estava a
aprender a andar
novamente.
Nós não estávamos a
entender porque é que
ela nos contava esta
história, mas depois de
se acalmar um pouco, a
mulher disse que a
rapariga pediu para me
dizer que estava muito
feliz por ter uma amiga
como eu, e que pedia
desculpa por tudo e a
todos. Ela não queria
que
alguém
descobrisse. Todos os
meses aparecia no
hospital para fazer
análises e diversos
procedimentos, tudo o
que poderia aumentar
a duração da sua vida,
nem que fosse um
pouco. Nos últimos
dias, os medicamentos
já não ajudavam, ela
gritava de dor.
Naquela noite, ela
morreu.
Mais tarde,
descobrimos através da
certidão de óbito e pelo
histórico de doença
que ela foi
diagnosticada com um
tumor cerebral. A
oncologia
era
impensável.
Recebeu este
diagnóstico no dia em
que tudo mudou…
29
Animal
De YEVA DIBROVA
Guarda o silêncio a cada segundo,
O mar escuro, grande e profundo.
Ao lado pegadas de misteriosos animais,
Grande minha de rochas imortais.
Aqui não vêm humanos nunca,
Para sempre fechado está para eles este mundo.
Calma tranquila está aqui a reinar,
Mas só até a meia-noite chegar.
Uma nova maravilha aqui nasce à noite,
Cuidado – incomodar não se pode.
Ninguém sabe quem são essas águas,
Criatura de desconhecidas e misteriosas mágoas.
Em silêncio ele deixa o azul do mar,
A floresta o animal irá atravessar.
A criatura invisível com as pessoas vai ter,
Muitas as perdas no mundo vão ser.
De onde aquilo vem todos desconhecem:
Roubo, morte, esperanças que esmorecem.
As almas dos humanos por causa dele escurecem,
Com todo o seu coração aos outros mentem.
Isso não é nenhum conto, já todos estão a par,
Basta-vos o vosso interior estudar.
Saibam, em todos nós viver este ser fatal,
Ódio e raiva é o nome deste animal
30
“View from Mount Holyoke, Northampton, Massachusetts, after
a Thunderstorm—The Oxbow”, de Thomas Cole.
Towering and Wise
De ANÓNIMO
I reminisce,
Wandering beneath the moon's gentle glow,
Limbs so minuscule against the vastness.
I, now towering and wise, laugh at my past musings:
Could the cosmos itself be my companion?
For the world, infinite and unknown,
Opposing to my tiny stature,
Each passing moment akin to rebirth,
As if life awaited my touch,
And I, eager to grasp its wonders.
I reminisce,
Just yesterday,
When I refrained from gazing at the moon’s pale glow,
Enveloped by dawn’s pastel hues,
For it seemed too burdened with experience,
Witness to life in its ephemeral naked truth,
A sight I feared to confront.
I reminisce,
When the world, beyond my eyes, bloomed in soft pinks and yellows,
Resembling those same gentle hues of dawn,
Yearning to understand it like those who beheld
Reds, browns, and blacks.
Can we ever reclaim that innocence?
De LEONOR LEITE
ENTREVIS TA
a
CARLOS
MONTEIRO
Quem lê não tem, nunca,
momentos de solidão. Nunca.
"As Musas Ura
por Simo
E
sta entrevista foi
elaborada no
sentido de dar a
compreender a visão e
a perspetiva literária e,
de certo modo,
educativa do professor
de Economia e de
Turismo Carlos
Monteiro. Este,
embora sendo da área
económica, possui
uma forte paixão pela
literatura, lê “um
pouco mais do que é
normal”. Disciplinouse,
de certa forma, a ser
um leitor, tendo há
longos
anos
estabelecido consigo
mesmo a regra de ler,
pelo menos, 50 páginas
de um livro todos os
dias, dedicando longas
horas à leitura.
Nesse mesmo sentido,
as
perguntas
orientaram-se
efetivamente ao tema
da Literatura,
contando com algumas
opiniões do professor
em relação à Calíope,
que o surpreendeu.
«Achei estranho no
sentido de ser uma
revista literária no
século XXI. Depois,
com aquele nome, um
pouco mais.», relatam
as suas palavras.
Quando inquirido
sobre o surgimento
deste seu grande gosto,
o mesmo contou-nos
que, enquanto aluno,
não lia, tendo
começado por volta
dos 17 ou 18 anos.
Para além do convívio
e da música, para
passar o seu tempo de
uma maneira diferente,
juntou aos seus lazeres
a leitura, lentamente
integrando-a na sua
rotina, o que seria hoje
mais difícil com a forte
disponibilidade de
tecnologias como a
televisão e o telemóvel;
«Se eu tivesse 17 anos
hoje e a minha forma
de pensar
nia e Calíope"
n Vouet.
33
fosse exatamente a
mesma, eu hoje leria
para não passar tanto
tempo nas redes. [...]
Comecei como
qualquer outro jovem,
dando chances a novos
livros e acompanhando
novas publicações dos
escritores. Ocupei
algum do meu tempo a
ler e depois a leitura
começou a ser um
“vício”.»
Cultivou este
grande interesse
ao longo dos anos,
lendo as obras dadas
no ensino secundário e
partindo para a
descoberta de autores
mais antigos. Para além
disso, acompanhou as
publicações de diversos
autores portugueses,
nomes como José
Saramago e Agustina
Bessa-Luís. No espetro
mais jovem, observa os
escritores nomeados
com prémios literários
nos
países de língua
portuguesa,
procurando ler
algumas das suas
publicações. «Um
escritor que ganhe um
destes prémios, no
geral compro o
primeiro livro para ver
como é, às vezes fico
curioso e compro o
segundo, por vezes
perco o interesse
Nem que eu deixe de
comer, livros eu tenho
de comprar.
não compro o
terceiro… Mas há pelo
menos um dos
escritores, Valter Hugo
Mãe, que ganhou o
prémio Saramago em
2006, e foi o único
escritor do qual
comprei todos os
livros. Até hoje
continuo a lê-lo
sempre que publica.»
Criticou ainda a
utilização da tão
mencionada
inteligência artificial,
aproveitada por muitos
escritores
contemporâneos, que
não
escrevem
verdadeiramente as
suas obras.
Por isto, procura agora
ler mais obras
de autores de
séculos
antecessores,
maioritariamente
XVIII e XIX,
citando o nome de
Jane Austen, autora de
grandes livros como o
célebre “Orgulho e
Preconceito”,
publicado em 1813.
Quando ponderou
qual seria a maior ou
melhor obra de toda a
literatura portuguesa,
34
embora esta seja uma
questão de difícil
resposta, deu foco a
"Os Maias", conhecida
obra de Eça de Queirós
e a “Memorial do
Convento", de José
Saramago, duas obras
consideradas de leitura
obrigatória no ensino
secundário.
A sua opinião
modificou-se ao longo
dos anos, e o mesmo
reconhece que são
escritores de escritas
muito divergentes. No
entanto, concluiu que
«Se tivesse sido há 5 ou
há 10 anos, eu teria
escolhido “Os Maias”.
Neste momento
escolheria, quase sem
dúvida nenhuma, o
“Memorial do
Convento”».
Já no século XVIII se
fazia preocupar as
gentes da cultura com
uma questão. Aliás,
também os helénicos
carregavam o peso
dessa
mesma
preocupação.
Refletindo sobre a
afirmação que se tem
vindo a fazer ao longo
das décadas e séculos, a
de que se tem dado um
declínio do interesse
pela literatura por
parte dos mais jovens,
Carlos Monteiro
desmentiu o que é
acreditado por muitos.
Testemunha inúmeros
jovens a requisitar
livros nas bibliotecas
escolares, e lê notícias
sobre a divulgação de
livros que tem
acontecido em diversas
redes so
ciais, nomeadamente o
Tiktok, através duma
espécie de comunidade
de leitores, onde se
recomendam livros e
autores e se trocam
opiniões sobre variados
géneros literários.
Não obstante,
considera que a leitura
que os jovens têm
consumido não é a
mais aconselhável nem
a de melhor qualidade,
já que o rigor não pode
coexistir com a
utilização
de
inteligência artificial
por parte de muitos
autores no presente.
Antecedentemente a
esta nova inovação,
muitos autores, tal
como o famoso
Stephen King,
usufruíram de outros
escritores para
completar as suas
próprias obras.
«Não lêem tanto
quanto eu gostaria, isso
é verdade. Eu entendo
que uma das boas
formas de se poder ser
feliz é, realmente, ler
muito. Se eu olhar para
todos os livros que já li,
apercebo-me de que eu
já vivi mais de 20 vidas,
a minha e umas outras
19 que construí à volta
daquilo que leio. Penso
que sou uma pessoa
35
privilegiada nesse
sentido, porque vivi
muito mais do que a
maior parte das pessoas
da minha idade viveu.»
Não tive ninguém
que me apoiasse a ler,
eu fui lá sozinho.
A maioria dos
escritores que o
professor lê são de uma
escrita mais complexa e
difícil. Apesar disso,
não lhe faltam
hipóteses para
recomendar aos mais
jovens, dada a vasta
variedade de obras que
já leu.
«A leitura traz muito
mais vocabulário,
melhores formas de se
construir
um
discurso.» Nomeou
algumas opções, de
escrita mais acessível,
começando por
mencionar as coleções
de literatura para
adolescentes, que
existem em grande
variedade de temas.
Para um adolescente
que quisesse começar a
ler algo para lá desse
tipo de leitura,
começaria por lhe
indicar escritores do
século XIX, pois
escreviam romances
com “princípio, meio e
fim”, construindo uma
narrativa de fácil
leitura em volta das
suas personagens e
acontecimentos. São
obras que possuem
uma escrita com uma
intriga, fácil de
acompanhar. Algumas
opções seriam
“Mulherzinhas” de
Louisa May Alcott e
“Sensibilidade e Bom
Senso” de Jane Austen,
que foram até
adaptados ao cinema, o
que poderá despertar
interesse dos jovens, ou
até mesmo “Amor de
Perdição” de Camilo
Castelo Branco e “Os
Maias”.
Num outro sentido,
citou novamente
Valter Hugo Mãe para
o apontar como o
escritor português que
mais acompanha e
admira, tanto pela sua
personalidade
multifacetada como
pela sua versatilidade,
dedicando-se, para
além da escrita, à
pintura e tendo
integrado uma banda
no seu passado.
O professor refere-se à
escrita deste autor
como “terrivelmente
boa”. Termina todo
este seu raciocínio
citando ainda uma
frase com que se
deparou numa obra,
«O verbo ler, assim
como o verbo amar,
não aceita o
imperativo.». Não se
pode forçar alguém a
ler, é algo que cabe a
nós mesmos fazê-lo,
por consciência
36
totalmente própria.
Quem lê não tem,
nunca, momentos de
solidão. Nunca.
Concluímos a
entrevista ao professor
mencionando
novamente a nossa
revista, momento no
qual o professor
reforçou o seu espanto
em relação à iniciativa
da “Calíope”,
apontando este mesmo
nome como algo
diferente, um nome
que, mesmo para
quem não for muito
culto, soará, de certa
forma, esquisito, no
sentido de demonstrar
a sua peculiaridade.
Conceitua este projeto
como
“admiravelmente
espantoso” e defende
ainda que este é prova
do interesse da
juventude pela
literatura, tendo o
projeto surgido de
jovens, para jovens,
com submissões de
vários estudantes.
“The Japanese Bridge or The Lily Pond”, de Claude Monet.
MÁGOA
De MARIA
A mágoa é algo comum,
Algo que todos carregamos
Dentro de nós.
Ela é a junção
Da raiva com a tristeza,
Da fúria e da amargura,
Do nosso ser anterior.
E esse ser,
Que habita nos nossos sonhos,
E se alimenta dos pesadelos,
Esteve sempre connosco.
Apenas à espera
Para que pudesse obter o controlo
E prender-nos na escuridão.
38
EUFEMISMO
SOUSA
Tantas palavras
Para somente aliviar
A amargura do mundo
Que veio para ficar.
E dentro desta confusão,
Percebemos a situação
Que nos retira a ilusão
De um mundo sem escuridão.
Sangue
“Aften på Karl Johan”, de Edvard Munch.
Uma chama vibrante
Que nos queima os corações,
Corrói as nossas veias
E arde nos pulmões.
Ele faz-nos viver
Sem o perceber.
39
STAIRCASE
De ANÓNIMO
Each step I take, the dirt, it grows,
Descending stairs, in a gown of snow.
What have I done, what crime, what test,
To earn such a serene path to the depths, not the crest?
I long to ascend, to greet the light,
Yet downward I'm pulled, day and night.
There, the viola’s blossom looms,
Unfazed by shadows, or darkening glooms.
In their beauty, they thrive, without a care,
No fear of the sun, nor its absent glare.
While I, in my longing, yearn for the day,
To rise with the sun, and dance in its ray.
De ANÓNIMO
A minha
VIDA
Mesmo diante das incertezas sobre o
sentido da vida, mantenho-me motivado
pela presença desses amigos verdadeiros.
A
história da minha
vida tem sido
uma jornada marcada
por desafios e
superações. Desde
tenra idade, fui
diagnosticado com um
problema mental que
afetava a minha
capacidade de me
relacionar e de ver o
mundo da mesma
forma que as outras
pessoas.
Esse
diagnóstico exigiu que
eu passasse por diversas
terapias para buscar
uma vida considerada
"normal" e frequentar a
escola.
Quando chegou o
momento de ingressar
na escola, eu resisti.
Não gostava do
contacto físico e sentia
desconforto até mesmo
com o simples tocar
das pessoas. No
entanto, os meus
colegas, na sua maioria,
acolheram-me, mesmo
que algumas das
minhas atitudes os
deixassem
desconfortáveis. No 1º
ciclo, continuei a lutar
contra as barreiras
sociais, mas uma
característica marcante
sempre despertava a
atenção dos outros: a
minha incessante
vontade de duvidar e
questionar, buscando
entender cada detalhe.
Ao adentrar o 2º ciclo,
comecei a enfrentar
ataques, especialmente
na presença dos meus
colegas. Essas situações
eram difíceis de evitar e
mesmo depois de
passarem,
o
constrangimento
persistia. Infelizmente,
em vez de
compreensão, recebia
zombarias e críticas,
principalmente devido
à minha propensão
para duvidar. Apesar
disso,
alguns
professores apreciavam
essa
42
característica, o que me
motivava a mantê-la.
No 3º ciclo, fui-me
adaptando cada vez
mais à escola e aos
colegas, o que resultou
em ataques menos
frequentes. No
entanto, pequenos
comportamentos ou
atitudes podiam ainda
desencadear reações
intensas da minha
parte. A vontade de me
integrar persistia e
embora tivesse grandes
amigos na turma, nem
sempre as relações
ocorriam da maneira
esperada.
A transição para o
ensino secundário
trouxe consigo um
novo desafio: o regime
semestral. As pausas
eram breves, os testes
eram frequentes e as
avaliações em
domínios tornavam-se
confusas. Infelizmente,
a minha propensão a
questionar não era tão
bem recebida pelos
professores e a turma
aproveitava para fazer
comentários maldosos.
No entanto, havia
exceções, como os
professores de
educação física,
filosofia, acústica,
formação musical,
teclas e, especialmente,
o meu professor de
instrumento.
Atualmente, a minha
relação com a maioria
dos colegas é tensa.
Comentários
desagradáveis são
constantes,
e
provocam-me
incessantemente.
Embora eu tente
ignorar, há situações
em que isso se torna
impossível. A sensação
de não ser
compreendido, de ser
impedido de expressarme,
é constante. Às
vezes, questiono se a
vida é tão determinada
que todos devemos ser
iguais, ignorando as
nossas diferenças. A
dúvida sobre o sentido
da vida é uma
constante na minha
mente, e a pressão para
me conformar com o
padrão estabelecido é
esmagadora.
A pergunta que ecoa
na minha existência é:
"A vida faz sentido?"
As dificuldades na
escola, a falta de
compreensão por parte
dos professores e
colegas, a pressão por
resultados académicos
têm impactado o meu
estado emocional. Em
casa, as preocupações
concentram-se apenas
nas notas e no
desempenho,
ignorando o meu bemestar
emocional.
Apesar das
adversidades, encontro
força nos verdadeiros
amigos que fiz na
escola e na escola de
música. Essas amizades
genuínas são um
alicerce importante
para enfrentar os
desafios diários.
Mesmo diante das
incertezas sobre o
sentido da vida,
mantenho-me
motivado pela
presença desses amigos
verdadeiros.
A questão persiste:
será que a vida faz
sentido? No meio de
tantas dificuldades e
incompreensões, busco
respostas e acredito
que, talvez, o sentido
da vida esteja nas
conexões autênticas
que estabelecemos e
nas
amizades
verdadeiras que
encontramos ao longo
do caminho.
43
Não
ME DÊS
De ACÍDULA AGRANAMA
Não me dês essa flor, que trazes do meu jardim.
Não me dês, meu amor, o que já pertence a mim.
Não me dês, por favor, o que há tanto era meu,
Desta vez, quem sente dor não sou eu.
Vai, amor, minha doença, tu não voltes nunca mais.
Teu calor, tua presença, são mortais.
E se um dia, num desejo, eu te encontrar outra vez,
Se pensares que eu quero um beijo, não mo dês.
Não me dês mais conversas, e não me faças sorrir.
Desta vez tenho pressa de fugir.
Não me dês simples beijos para acalmar meu coração,
Pois quem fez meus desejos, volta em vão.
Vai, amor, minha doença, tu não voltes nunca mais.
Teu calor, tua presença, são mortais.
E se um dia, num desejo, eu te encontrar outra vez,
Se pensares que eu quero um beijo, não mo dês.
“Primavera”, de Pierre-Auguste.
A
OS IMPACTOS DA
tecnologia
na JUVENTUDE
CONTEMPORÂNEA
influência da
tecnologia na
juventude atual é
inegável, moldando
não apenas os seus
hábitos e as suas
perspetivas de vida,
como também as suas
interações sociais.
Desta forma, os jovens
destacam-se pela sua
habilidade no mundo
digital que, embora
sendo uma vantagem,
traz também diversos
desafios.
A tecnologia
proporciona um acesso
rápido à informação
De ANÓNIMO
Estimula a criatividade
e facilita a
comunicação. As redes
sociais, por exemplo,
permitem que os
jovens (não só
jovens)construam
comunidades virtuais
e, dessa forma,
partilhem ideias e
opiniões, sendo algo
positivo
para
desenvolver o espírito
crítico dos mesmos.
Contudo, há desafios a
enfrentar:
a
dependência excessiva
de dispositivos como
telemóveis, tablets ou
computadores, que
pode originar
problemas
de
componente física
e/ou mental, tais
como: obesidade,
ansiedade e isolamento
social.
Existem, atualmente,
diversos estudos que
demonstram o
impacto do uso
exacerbado da
tecnologia, que pode
afetar a concentração, a
qualidade do sono e a
falta de convívio com a
sociedade ao seu redor.
Em suma, é necessário
equilibrar o uso da
tecnologia na vida dos
jovens, promovendo
uma utilização
consciente, assim
como alertar para os
possíveis impactos de
um uso excessivo da
mesma. Ao fazê-lo,
podemos aproveitar o
melhor da era digital,
uma vez que esta tem
excelentes ferramentas
para nos oferecer.
45
SER do
De CONDE DE ALVALADE
SPORTING
Apresento-lhe, caro colega,
um clube sem igual.
Não de um bairro, não de uma região,
mas de nível nacional:
o Sporting Clube de Portugal!
Ser do Sporting é ter garantido
um prazo de vida mais reduzido.
É preferir um banho gelado
A ter um “Apito Dourado”.
É chegar a casa contente
e ir para a cama triste.
É ter passagem imediata para o céu,
depois do sofrimento passado em terra.
É passar por toda esta confusão
para no final, imaginem, ser campeão!
Vale a pena? Tudo vale a pena
se a esperança não é pequena.
Quer uma equipa com títulos sem fim?
Será a do dragão? Será a da águia?
A da águia não é certamente,
e a do dragão não é tão boa assim.
Verde e branco são as cores,
e o símbolo é o leão.
Nunca partimos como favoritos,
os heróis também não.
46
DEDICA-SE
De YEVA DIBROVA
Nas árvores as folhas ficam amarelas,
A natureza morre novamente.
À noite engrossam as névoas,
Começa a esfriar, subitamente.
As pessoas não têm vontade de se encontrar,
Passear neste parque debaixo da chuva.
Aqui tu também te vais perguntar,
Se há motivos para caminhar com o guarda-chuva.
Mas não dá para não reparar na figura,
Que por entre as pedras caminha suavemente.
Por todo o lado está à procura da gravura,
Percorrendo tudo com os olhos, tristemente.
Para ela o tempo não importa,
Deste dia ela não se esquecerá.
O quão terrível é esta data,
Ela sempre aqui virá.
A solidão mata em vão,
Mas não somos nós que lhe abrimos as alas.
Perder o importante é mau,
Acredita, é melhor assim, nas minhas palavras.
Feliz – de amor e carinho rodeado,
Diz que vai ser feliz para sempre.
Esquece esta frase cheia de falsidade,
E sê feliz neste preciso momento.
Sem
emoções
De YEVA DIBROVA
Tu dizias sem necessidade antes,
Que mesmo nada sentes.
Isso foi uma estupidez tão insegura,
Talvez não houvesse tantos problemas agora.
Nós, assim, atiramos palavras,
Como se não nos importássemos de todo.
Escondemos a alma atrás dos dentes,
Sabemos como desligar os sentimentos.
Direi uma coisa só:
Sou uma pessoa algo contigo parecida.
Sabes perfeitamente o princípio do dominó.
Estás só de passagem na minha vida.
48
“Nonchaloir”,
Sarg
Sem
palavras
De YEVA DIBROVA
Demasiados pensamentos,
poucas palavras.
Não podes dizer a ninguém,
porque ninguém está preparado.
Ninguém quer ouvir
as tuas palavras vazias.
Inventa histórias,
escreve pura poesia.
Inventa lendas
mas calado,
para ti.
As palavras são momentâneas
e podem fugir.
Voam pensamentos,
mas nós guardá-los-emos.
Deixámo-los todos mudos,
sem palavras desnecessárias.
de John Singer
ent.
49
ALEGRIA
De MARIA SOUSA
União de felicidade,
Que nos invade sem dó –
Faz-nos sorrir.
E mesmo sem intenção,
Como uma brisa no verão,
Deixa-nos a desejar por mais.
“Mondaufgang am Meer”, de Caspar David Friedrich.
@revista.caliope
https://revistacaliope.weebly.com/
CAL
REV STA
OPE