04_Caderno para cons.. - Tolstenko
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS<br />
INSTITUTO DE ECONOMIA<br />
CE- 839 - INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO PARA COMPUTAÇÃO<br />
1º Semestre de 2008<br />
Prof. Luiz Antonio T. Vasconcelos<br />
<strong>Caderno</strong> de Notas de Aulas e Textos <strong>para</strong> <strong>cons</strong>ulta.<br />
Org.: Profa. Maria Carolina de A. F. Souza e Prof. Luiz Antonio T. Vasconcelos<br />
Índice<br />
TEXTO 1: ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA OU ADMINISTRAÇÃO DAS TAREFAS ............................................. 2<br />
TEXTO 2. CONFISSÕES DE TOM PETERS .................................................................................................................... 15<br />
TEXTO 3: NOBREGA, CLEMENTE. TAYLOR SUPERSTAR. EXAME 24/09/1997 (EDIÇÃO 645) .......................... 22<br />
TEXTO 4: BASES PARA UMA ADMINISTRAÇÃO RENOVADA: AKTOUF, O. A ADMINISTRAÇÃO ENTRE A<br />
TRADIÇÃO E A RENOVAÇÃO. SP: ATLAS, 1996 ............................................................................................................ 27<br />
TEXTO 5: ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO NA EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO ................. 29<br />
TEXTO 6: SOBRE AS FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR (DE ACORDO COM ALGUMAS DAS PRINCIPAIS<br />
CONCEPÇÕES) .................................................................................................................................................................... 41<br />
TEXTO 7: NOTAS SOBRE A EVOLUÇÃO DA TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO E A ESTRUTURA<br />
ORGANIZACIONAL ........................................................................................................................................................... 46<br />
TEXTO 8: - ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE OS TIPOS DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ................ 65<br />
TEXTO 9: DRUCKER PETER F. OS NOVOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO. EXAME, 24/02/1999<br />
(EDIÇÃO 682) ........................................................................................................................................................................ 67<br />
TEXTO 10: - REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS: ESPAÇO PARA A<br />
GESTÃO DO CONHECIMENTO ...................................................................................................................................... 84<br />
TEXTO 11: A ERA DA IGNORÂNCIA ............................................................................................................................. 94<br />
TEXTO 12: O HOMEM COMO MEDIDA. ESPECIALISTA DESCREVE DADO, INFORMAÇÃO E<br />
CONHECIMENTO. .............................................................................................................................................................. 99<br />
TEXTO 13: RUMO AO TEMPO DIGITAL ..................................................................................................................... 101<br />
TEXTO 14: ASPECTOS FUNDAMENTAIS DAS NOÇÕES DE ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO ........... 103
Texto 1: ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA OU ADMINISTRAÇÃO DAS TAREFAS<br />
2.1.Administração de acordo com tarefas individuais previamente determinadas (como<br />
propõe Taylor)<br />
a) Pontos de partida de Taylor<br />
- Os métodos de trabalho ainda não haviam sido codificados, ou sistematicamente analisados e<br />
descritos.<br />
A partir dessa <strong>cons</strong>tatação com<strong>para</strong> a administração científica (sua proposta) com o sistema de<br />
“iniciativa e incentivo” (que então vigorava).<br />
� Argumentação:<br />
O engenho e a experiência de cada geração - de cada década - sem dúvida têm transmitido à seguinte os<br />
melhores métodos empregados. Esse conjunto de conhecimentos empíricos ou tradicionais pode ser<br />
<strong>cons</strong>iderado como o principal recurso e patrimônio dos artífices.<br />
Os administradores partem do pressuposto de que os trabalhadores sob suas ordens possuem esses<br />
conhecimentos tradicionais, dos quais grande parte escapa à administração. Isto é, admitem que seus<br />
conhecimentos estão abaixo daqueles que, em conjunto, possuem todos os operários sob suas ordens.<br />
O administrador experimentado deixa, assim, ao arbítrio do operário, o problema da escolha do método<br />
melhor e mais econômico <strong>para</strong> realizar o trabalho. Ele acredita que sua função seja induzir o<br />
trabalhador a usar em sua atividade, o melhor esforço, os conhecimentos tradicionais, a habilidade, a<br />
inteligência e a boa vontade - em uma palavra - sua iniciativa, no sentido de dar o maior rendimento<br />
possível ao patrão. O principal problema da administração pode ser, então, resumido em obter a melhor<br />
iniciativa de cada operário. Iniciativa no sentido mais amplo, <strong>para</strong> abranger todas as boas qualidades<br />
do trabalhador. Mas os administradores defrontar-se-iam com uma restrição <strong>para</strong> a solução desse<br />
problema. Na concepção de Taylor:<br />
“o trabalhador médio evita dar ao patrão toda a sua iniciativa; acredita que é contra seus interesses<br />
empregar sua melhor iniciativa e, em lugar de se esforçar <strong>para</strong> realizar a maior quantidade possível de<br />
trabalho da melhor qualidade, ele deliberadamente trabalha tão devagar quanto pode, ao mesmo tempo<br />
em que procura fazer acreditar aos superiores que trabalha depressa”.<br />
Para estimular a iniciativa do trabalhador, o diretor deve fornecer-lhe incentivo especial. Esse incentivo<br />
pode ser concedido de diferentes modos, como, por exemplo:<br />
- promessa de rápida promoção ou melhoria;<br />
- salários mais elevados, sob a forma de boa remuneração por peça produzida, ou por prêmio, ou<br />
por gratificação de qualquer espécie a trabalho perfeito e rápido;<br />
- menos horas de trabalho, melhores condições de ambiente e serviço do que são dadas<br />
habitualmente;<br />
2
- sobretudo, esse incentivo especial deve ser acompanhado por tratamento pessoal e amistoso,<br />
tratamento que somente pode derivar de interesse verdadeiro, posto a serviço do bem-estar dos<br />
subordinados.<br />
- Somente quando é dado estímulo especial ou incentivo desse gênero é que o patrão pode<br />
esperar obter a iniciativa de seus empregados.<br />
- Em síntese, esse sistema poderia ser definido como aquele em que o trabalhador dá a melhor<br />
iniciativa e em compensação recebe incentivos pessoais de seu patrão. O bom êxito depende<br />
quase inteiramente de obter a iniciativa do operário e raramente essa iniciativa é alcançada.<br />
Em contraposição, propõe Taylor, na administração científica, a iniciativa do trabalhador (que é seu<br />
esforço, sua boa vontade, seu engenho) obtém-se com absoluta uniformidade e em grau muito maior do<br />
que é possível sob o antigo sistema. Em acréscimo a essa vantagem referente ao homem, os gerentes<br />
assumem novos encargos e responsabilidades. À gerencia é atribuída, por exemplo, a função de reunir<br />
todos os conhecimentos tradicionais que no passado os trabalhadores possuíram e então classificá-los,<br />
tabulá-los, reduzi-los a normas, leis ou fórmulas, grandemente úteis ao operário <strong>para</strong> execução do seu<br />
trabalho diário. Desse modo, além de desenvolver uma ciência, a direção exerce atribuições que<br />
envolvem novos e pesados encargos <strong>para</strong> ela.<br />
Em conclusão, um tipo de homem é necessário <strong>para</strong> planejar e outro tipo diferente <strong>para</strong> executar o<br />
trabalho. Para sintetizar: sob administração por iniciativa e incentivo o problema todo é praticamente o<br />
trabalhador; na administração científica, a metade do problema é a direção.<br />
Note-se que a idéia de tarefa é um dos mais importantes elementos na administração científica. O<br />
trabalho planejado antecipadamente <strong>cons</strong>titui, desse modo, uma tarefa que precisa ser desempenhada<br />
não somente pelo operário, mas, em quase todos os casos, pelo esforço conjunto do operário e da<br />
direção.<br />
Na tarefa é especificado o que deve ser feito e também como fazê-lo, além do tempo exato concebido<br />
<strong>para</strong> a execução.<br />
� O Como: (Um exemplo)<br />
“(...) Nosso dever <strong>cons</strong>istia em providenciar que as 80 000 toneladas de barras fossem colocadas nos<br />
vagões na proporção de 47 toneladas por homem e por dia, em vez de 12½, como estavam sendo<br />
transportadas anteriormente. E, além disso, era também nossa obrigação cogitar que tal serviço fosse<br />
executado sem discussões graves e, de tal modo, que os operários se sentissem tão satisfeitos em<br />
carregar 47 toneladas em média como as 12½ na forma antiga”.<br />
Nossa primeira providência foi a seleção científica do trabalhador.<br />
Nesse novo sistema de administração é regra inflexível falar e tratar com um trabalhador de cada<br />
vez, desde que cada um possui aptidões próprias e contra-indicações especiais, e que não estamos<br />
lidando com homens em grupo, mas procurando aumentar individualmente a eficiência e dar a cada<br />
um a maior prosperidade.<br />
Assim, nosso primeiro cuidado foi procurar o homem adequado <strong>para</strong> iniciar o trabalho. Cronometramos<br />
e estudamos cuidadosamente os 75 carregadores, durante 3 a 4 dias, ao fim dos quais se<strong>para</strong>mos quatro<br />
homens que pareciam ser fisicamente capazes de carregar barras de ferro na proporção de 47 toneladas<br />
por dia. Foi feito, então, o estudo apurado de cada um destes homens; investigamos seu passado, tanto<br />
quanto possível e ambições de cada um.<br />
3
Finalmente, dos quatro, escolhemos um, como o mais apto <strong>para</strong> começar. Era um pequeno holandês,<br />
vindo da Pensilvânia, que costumava correr à tarde, de volta <strong>para</strong> casa, situada mais ou menos a uma<br />
milha, tão bem disposto, como quando chegava correndo <strong>para</strong> o trabalho de manhã. Soubemos que com<br />
o salário de $ 1,15 dólares, por dia, ele tinha <strong>cons</strong>eguido comprar um pequeno terreno e se empenhava<br />
em <strong>cons</strong>truir uma casinha própria, trabalhando <strong>para</strong> isto, de manhã, antes de entrar na fábrica, e à tarde,<br />
depois de deixá-la. Tinha também fama de ser seguro, isto é, de dar muito valor ao dinheiro. Uma<br />
pessoa, com quem conversamos, disse-nos a respeito dele: Um centavo parece-lhe tão grande como<br />
uma roda de carroça. Chamaremos esse homem de Schmidt.<br />
O nosso problema, então, se limitava em <strong>cons</strong>eguir de Schmidt o carregamento de 47 toneladas de<br />
barras de ferro por dia e que ele fizesse esse trabalho com satisfação. Procedemos da seguinte forma.<br />
Schmidt foi chamado à parte e falamos-lhe mais ou menos desse modo:<br />
- Schmidt, você é um operário qualificado?<br />
- Não sei bem o que o senhor quer dizer.<br />
- Desejo saber se você é ou não um operário qualificado.<br />
- Ainda não o entendi.<br />
- Venha cá. Você vai responder às minhas perguntas.<br />
Quero saber se você é um operário qualificado, ou um desses pobres diabos que andam por aí. Quero<br />
saber se você deseja ganhar $ 1,85 dólar por dia, ou se está satisfeito com $ 1,15 dólar que estão<br />
ganhando todos esses tontos aí.<br />
Se eu quero ganhar $ 1,85 dólar por dia? Isto é que quer dizer um operário qualificado? Então,<br />
sou um operário qualificado.<br />
Ora, você me irrita. Naturalmente que deseja ganhar $ 1,85 por dia; todos o desejam. Você sabe<br />
perfeitamente que isso não é bastante <strong>para</strong> fazer um operário qualificado. Por favor, procure responder<br />
às minhas perguntas e não me faça perder tempo. Venha comigo. Vê esta pilha de barras de ferro?<br />
Sim<br />
Vê este vagão?<br />
Sim.<br />
Muito bem. Se você é um operário qualificado, carregará todas estas barras <strong>para</strong> o vagão, por $ 1,85<br />
dólar. Agora, então, pense e responda à minha pergunta. Diga se é ou não um operário qualificado.<br />
Bem, vou ganhar $ 1,85 dólar <strong>para</strong> por todas estas barras de ferro no vagão, amanhã?<br />
Sim, naturalmente, você receberá $1,85 dólar <strong>para</strong> carregar uma pilha, como esta, todos os dias,<br />
durante o ano todo. Isto é que é um operário qualificado e você o sabe tão bem como eu.<br />
Bem, tudo entendido. Devo carregar as barras <strong>para</strong> o vagão amanhã, por $ 1,85 dólares e nos dias<br />
seguintes, não é assim?<br />
Isso mesmo.<br />
Assim, então sou um operário qualificado.<br />
Devagar. Voce sabe, tão bem quanto eu, que um operário qualificado deve fazer exatamente o que<br />
se lhe disser desde manhã à noite. Conhece você aquele homem ali?<br />
Não, nunca o vi.<br />
4
Bem, se você é um operário qualificado deve fazer exatamente o que este homem lhe mandar, de<br />
manhã à noite. Quando ele disser <strong>para</strong> levantar a barra e andar, você se levanta e anda, e quando<br />
ele mandar sentar, você senta e descansa. Você procederá assim durante o dia todo. E, mais ainda,<br />
sem reclamações. Um operário qualficado faz justamente o que se lhe manda e não reclama. Entendeu?<br />
Quando este homem mandar você andar, você anda; quando disser que se assente, você deve assentarse<br />
e não fazer qualquer observação. Finalmente, você vem trabalhar aqui amanhã e saberá, antes do<br />
anoitecer, se é verdadeiramente um operário qualificado ou não.<br />
Este diálogo pode parecer um pouco áspero. E, de fato, seria se aplicado a um mecânico educado ou<br />
mesmo a um trabalhador inteligente. Com um homem de mentalidade limitada como Schmidt, é<br />
realmente o adequado, visto que eficiente em prender sua atenção sobre o alto salário que ele desejava<br />
e, ao mesmo tempo, em desviá-lo do trabalho maior que, percebido, o levaria a <strong>cons</strong>iderar a tarefa<br />
como impossível.<br />
Qual seria a resposta de Schmidt se lhe falássemos do modo comumente usado no sistema de<br />
administração por iniciativa e incentivo?<br />
Dir-lhe-íamos nesse caso:<br />
“Schmidt, você é um carregador de barras de primeira ordem e conhece muito bem o seu serviço. Você<br />
tem carregado 12½ toneladas de barras por dia. Estudei demoradamente este trabalho de carregar<br />
lingotes e estou certo de que você poderá fazer muito mais do que até aqui tem feito. Acredita que, se<br />
você realmente quiser, carregará 47 toneladas por dia, em vez de 12½ toneladas?”.<br />
Não é preciso dizer qual teria sido sua resposta.<br />
Schmidt começou a trabalhar. Durante o dia todo e a intervalos regulares, o homem que o orientava<br />
com um relógio na mão lhe dizia:<br />
“Agora, levante o lingote e ande. Agora, sente-se e descanse. Agora, ande; agora, descanse”, etc.<br />
Ele trabalhava e descansava quando mandado, e às 5½ da tarde tinha colocado no vagão 47½<br />
toneladas. Praticamente nunca falhou, trabalhando neste rítmo e fazendo a tarefa, que lhe foi<br />
determinada, durante os três anos que o autor esteve em Bethlehem. E, por todo este tempo, atingiu<br />
média pouco maior que $ 1,85 dólar por dia, enquanto antes nunca percebera acima de $1,15 por dia,<br />
que era o salário comum, nesta época, em Bethlehem. Assim, ele recebeu salários 60% mais elevados<br />
do que eram pagos a outros homens que não trabalhavam no sistema da tarefa.<br />
Uns após outros, os homens foram chamados e treinados <strong>para</strong> carregar lingotes na proporção de 47½<br />
toneladas por dia, até que se transportaram todas as barras de ferro; ganharam então remuneração<br />
superior à dos outros trabalhadores da vizinhança.<br />
Todo tempo diário do trabalhador é absorvido fazendo o trabalho com as mãos, de modo que mesmo<br />
que tenha a educação necessária e hábitos de generalização, falta-lhe tempo e oportunidade <strong>para</strong><br />
desenvolver estas leis, pois o estudo de uma simples lei, o estudo do tempo, por exemplo, requer a<br />
cooperação de dois homens - um que faz o trabalho e o outro que o mede com o cronômetro. E, ainda<br />
quando o operário chegasse a descobrir leis em assunto, no qual apenas existem conhecimentos<br />
empíricos, seu interesse pessoal far-lhe-ia guardar inevitavelmente suas descobertas, visto poder, graças<br />
a seus conhecimentos especiais, produzir mais que os outros e, assim, alcançar mais altos salários.<br />
Do exposto, nota-se que o pensamento de Taylor pode ser sintetizado em quatro princípios básicos<br />
conforme será explicitado no próximo item.<br />
5
� Para reflexão: pensando no contexto atual, como deveria ser, em sua opinião, o<br />
relacionamento entre as pessoas nas organizações, como você dialogaria com Schmidt<br />
visando obter um aumento de seu desempenho? A partir de suas reflexões escreva um novo<br />
diálogo.<br />
2.2. Princípios Fundamentais de Administração Científica<br />
a) Problemas focalizados por Taylor<br />
� Administração sem noção clara da divisão de suas responsabilidades com o trabalhador<br />
� Inexistência de incentivos <strong>para</strong> melhorar o desempenho do trabalhador<br />
� Muitos trabalhadores não cumpriam suas responsabilidades<br />
� Decisões dos administradores baseavam-se na intuição e no palpite<br />
� Não havia integração entre os departamentos da empresa<br />
� Os trabalhadores eram colocados em tarefas <strong>para</strong> as quais não tinham aptidões<br />
� Os gerentes pareciam ignorar que a excelência no desempenho significaria recompensas tanto <strong>para</strong> eles<br />
próprios quanto <strong>para</strong> os trabalhadores<br />
� Conflitos entre capatazes e conflitos entre capatazes e operários a respeito da quantidade a produzir<br />
b) Princípios de administração<br />
Primeiro: Desenvolvimento de uma verdadeira ciência - desenvolver <strong>para</strong> cada elemento do trabalho individual<br />
uma ciência que substitua os métodos empíricos do trabalho �reduzir o saber operário complexo e seus<br />
elementos �estudar os tempos de cada trabalho decomposto <strong>para</strong> se chegar ao tempo necessário <strong>para</strong> operações<br />
variadas.<br />
Segundo: Seleção científica do trabalhador - selecionar cientificamente, depois de treinar, ensinar, e aperfeiçoar<br />
o trabalhador � todo trabalho intelectual deve ser eliminado da fábrica e centralizado no departamento de<br />
planejamento � se<strong>para</strong>ção entre trabalho de concepção e o de execução. � A “ciência do trabalho” deve ser<br />
desenvolvida sempre pela gerência e nunca estar de posse do trabalhador.<br />
Terceiro - Cooperação íntima e cordial entre a direção e os trabalhadores.<br />
Cooperar cordialmente com os trabalhadores <strong>para</strong> articular todo trabalho com os princípios da ciência que foi<br />
desenvolvida � aplicar a “ciência do trabalho” e controlar até mesmo os mínimos detalhes de sua execução<br />
Quarto: manter a divisão eqüitativa do trabalho e das responsabilidades entre a direção e o operário � a direção<br />
incube-se de todas as atribuições, <strong>para</strong> as quais esteja mais bem aparelhada do que o trabalhador.<br />
Desses quatro princípios depreende-se que o poder de decisão nas mãos da direção, excluindo os<br />
produtores diretos da participação da concepção e do planejamento da produção. O operário deve<br />
apenas realizar as instruções sem questioná-las; afinal os planejadores já se dedicaram a pensar as<br />
melhores formas (mais produtivas) formas <strong>para</strong> a realização das tarefas.<br />
Além disso, pode-se destacar duas características do sistema Taylorista:<br />
Primeira: aparecimento da função hoje conhecida como analista de tempos e movimentos<br />
Segunda: individualização dos salários<br />
Em decorrência:<br />
6
Papel do administrador - juntar todo o conhecimento tradicional adquirido pelo trabalhador e<br />
classificar, tabular e reduzir este saber a regras, leis e fórmulas, repassando-as ao trabalhador como “a<br />
melhor maneira de se executar uma operação” � se<strong>para</strong>ção das especialidades do trabalhador do<br />
processo de trabalho.<br />
Papel da direção - dirigir, controlar e vigiar o trabalhador<br />
c) Técnicas da administração científica<br />
Fundamentos, até hoje não bem firmados- revolução mental, na maneira de encarar o trabalho e as<br />
responsabilidades em relação ao colega e à empresa; a produtividade resulta da eficiência do trabalho e<br />
não da maximização do esforço; a questão não é trabalhar duro e depressa, nem bastante, mas trabalhar<br />
de forma inteligente. Destacam-se como técnicas:<br />
- Estudos de tempos e movimentos<br />
- Padronização de ferramentas e instrumentos<br />
- Padronização de movimentos<br />
- Conveniência de uma área de planejamento<br />
- Cartões de instruções<br />
- Sistema de pagamento de acordo com o desempenho<br />
- Cálculo de custos<br />
Em síntese, o pensamento tradicional em administração tinha como referência o objetivo de <strong>cons</strong>tituir<br />
uma concepção administrativa global e orgânica da empresa, caracterizada pela coerência interna,<br />
sistematizando-a em “princípios gerais”.<br />
A figura a seguir ilustra os princípios da administração científica segundo Taylor<br />
SALÁRIOS ALTOS<br />
E<br />
CUSTOS BAIXOS<br />
SELEÇÃO E<br />
TREINAMENTO<br />
CIENTÍFICOS<br />
PESQUISAR<br />
PARA<br />
TRABALHAR<br />
MELHOR<br />
COOPERAÇÃO<br />
CORDIAL<br />
Fonte: Maximiano, A. C. A. Teoria Geral da Administração. São Paulo, Atlas, 1997<br />
7
d) Pontos favoráveis e desfavoráveis<br />
Como pontos favoráveis pode-se destacar:<br />
o caráter precursor<br />
o êxito técnico<br />
Como pontos desfavoráveis destacam-se:<br />
o idéia clássica de equilíbrio<br />
o não levou em conta a evolução histórica<br />
o supervalorização dos conceitos e objetivos “eficiência” e produtividade<br />
o imagem irreal da organização (só analisou o lado formal)<br />
o sistema fechado<br />
o concepção irreal do homem (com<strong>para</strong>do à máquina)<br />
o não levou em conta o grupo social e o sistema político<br />
o omissão do contexto (interações sociais, influência do meio ambiente)<br />
e) Principais críticas<br />
- dos sindicatos de trabalhadores, da imprensa e de políticos:<br />
� receio de que o aumento da eficiência provocasse o desemprego<br />
� acusação de que a Administração Científica nada mais era do que uma técnica <strong>para</strong> fazer o<br />
operário trabalhar mais e ganhar menos<br />
� causa de intensificação da exploração do trabalhador<br />
� causa da desumanização do trabalhador na medida em que procura automatizar seus<br />
movimentos e retirar dele qualquer controle sobre o processo de trabalho<br />
� de outras origens e naturezas:<br />
� propostas <strong>para</strong> a engenharia/controle da produção e não <strong>para</strong> a administração da empresa<br />
� visão esquemática da fábrica baseada exclusivamente nas relações formais (o capataz “tudo<br />
pode” e os trabalhadores “tudo obedecem”)<br />
� o trabalhador age de forma individual baseado em seus interesses imediatos<br />
2.3. Sobre Produção em Massa<br />
De alguma forma, os princípios da administração científica continuam presentes no contexto da<br />
produção em massa, apesar das novas exigências e necessárias “adaptações”, dadas suas características.<br />
8
H. Ford: problemas focalizados [produção em massa: produtos não diferenciados em grande<br />
quantidade], princípios, objetivos e técnicas<br />
� evolução de produção artesanal <strong>para</strong> a linha de montagem móvel e mecanizada<br />
� utilização de peças e componentes padronizadas e intercambiáveis: cada peça ou componente<br />
pode ser montado em qualquer sistema ou produto final<br />
� redução ao máximo do número de peças utilizadas<br />
� trabalhador especializado e bem pago (acima da concorrência): o produto é dividido em partes e<br />
o processo de fabricação em etapas; cada pessoa ou grupo tem uma tarefa fixa dentro de um<br />
processo pré-definido<br />
� “hiper” padronização do produto: durante longo tempo apenas carros da cor preta<br />
� “hiper” <strong>cons</strong>ervadorismo: apenas em 1941 seus empregados puderam sindicalizar-se<br />
2.4. Sobre a Escola das Relações Humanas<br />
Como conjunto de princípios de administração diferenciados em relação aos propostos pela Escola<br />
Clássica, cabe espaço à Escola de Relações Humanas como “escola” de pensamento em administração.<br />
O principal objetivo dessa abordagem foi o de ampliar o campo de estudo da escola tradicional<br />
(levando em conta outras organizações além da empresa); o homem passa a ser a principal variável do<br />
processo de produção.<br />
a) Princípios da Escola de Relações Humanas<br />
O homem é visto como fundamentalmente emocional e não um ser econômico-racional: as pessoas têm<br />
emoções e necessidades sociais que podem explorar melhor o comportamento no trabalho do que os<br />
incentivos de caráter pecuniário, por meio da formação de grupos informais no local de trabalho;<br />
As organizações são cooperativas, predominantemente sistemas sociais e não mecanicistas: as pessoas<br />
procuram satisfazer as suas necessidades emocionais por meio de formação de grupos informais no<br />
local de trabalho;<br />
As organizações são formadas por estruturas informais, regras e normas, bem como por práticas e<br />
procedimentos informais: estas regras informais, padrões de comportamento e de comunicação, status,<br />
normas e amizades são criadas pelas pessoas <strong>para</strong> satisfazer a suas próprias necessidades emocionais.<br />
Sendo assim, os processos informais são formas mais adequadas <strong>para</strong> influenciar o comportamento e<br />
desempenho individual, e em ultima análise, de organização, do que as estruturas formais e os<br />
mecanismos de controle por parte da hierarquia.<br />
b) Pontos Fortes:<br />
substituição da concepção errônea do homem – surgem variáveis como motivação, liderança e etc.;<br />
leva em conta a existência do grupo social;<br />
9
troca a imagem formal da organização por uma imagem sociológica, isto é, a organização passou a ser<br />
vista como um conjunto de grupos sociais com uma vasta gama de relações e com vida social interna,<br />
que dão origem ao surgimento da organização informal.<br />
c) Pontos Fracos:<br />
manteve a idéia de equilíbrio natural embora sob outro enfoque (não leva em conta conflitos);<br />
encara a organização como sistema fechado. Não leva em conta a influência de grupos externos (p. ex.<br />
sindicatos);<br />
utiliza os métodos de investigação social com objetivos limitados, usando, às vezes, hipóteses<br />
extremistas.<br />
d) Proposições de Mayo<br />
1 ª Efeito Hawthorne. A qualidade do tratamento dispensado pela gerência aos trabalhadores influencia<br />
fortemente seu desempenho. Bom tratamento por parte da administração, reforçando o sentido de<br />
grupo, produz bom desempenho. O efeito positivo do tratamento da administração sobre o desempenho<br />
humano ficou conhecido como efeito Hawthorne devido ao nome do experimento.<br />
2 ª Lealdade ao grupo. O sistema social formado pelos grupos determina o resultado do indivíduo, que<br />
pode ser mais leal ao grupo do que à administração. Alguns grupos não atingem os níveis de produção<br />
esperados porque há entre seus membros uma espécie de acordo que define uma quantidade “correta”,<br />
que é menor, a ser produzida.<br />
3 ª Esforço Coletivo. Devido à influência do sistema social sobre o desempenho individual, a<br />
administração deve entender o comportamento dos grupos e fortalecer as relações com os grupos, em<br />
vez de tratar os indivíduos como seres isolados. A responsabilidade da administração é desenvolver as<br />
bases <strong>para</strong> o trabalho em equipe, o autogoverno e a cooperação.<br />
4 ª Conceito de Autoridade. O supervisor de primeira linha deve ser não um controlador, mas um<br />
intermediário entre a administração superior e os grupos de trabalho. O conceito de autoridade deve<br />
basear-se não na coerção, mas na cooperação e na coordenação.<br />
2.5. Hierarquia das necessidades e fatores motivacionais<br />
a) Maslow e a hierarquia das necessidades<br />
. fisiológicas<br />
. de segurança: segurança do trabalho e benefícios sociais<br />
. sociais<br />
. de estima: reconhecimento<br />
. de auto-realização: concretização das potencialidades individuais<br />
b) Herzberg e os fatores motivacionais<br />
10
Fatores higiênicos: devem ser atendidos <strong>para</strong> não causar insatisfação política de organização<br />
� estilo de chefia; relacionamento com os operários; condições de trabalho; salário; relações<br />
interpessoais<br />
Fatores motivadores:<br />
� realização pessoal; reconhecimento; natureza do trabalho; responsabilidade; perspectivas de<br />
carreira.<br />
c) MacGregor: Teoria X versus Teoria Y:<br />
Teoria X:<br />
a média das pessoas não gosta de trabalhar e evita, se possível;<br />
os empregados devem ser coagidos, controlados e ameaçados com punições - se se pretende que<br />
trabalhem de acordo com os padrões exigidos;<br />
a maior parte das pessoas evita a responsabilidade<br />
os trabalhadores põem a segurança acima de tudo e têm pouca ambição<br />
Teoria Y:<br />
a maior parte das pessoas encara o trabalho de forma tão natural como a alimentação e o descanso;<br />
os trabalhadores são capazes de exercer auto-direção e auto-controle;<br />
a média das pessoas aceita a responsabilidade se está comprometida com os objetivos a perseguir;<br />
a imaginação, criatividade e a capacidade <strong>para</strong> tomar boas decisões <strong>cons</strong>tituem qualidades de muitas<br />
pessoas, não sendo características exclusivas dos gestores.<br />
d) Comentário sobre a escola de Relações Humanas<br />
Na medida em que leva em conta somente o homem como se satisfazendo com bom trato e muita<br />
motivação e comunicação, torna limitada a concepção do homem não levando em conta os aspectos<br />
materiais (salário, etc.). Também acredita no equilíbrio desde que haja uma adequação entre os<br />
aspectos formais (racionais) e informais da organização.<br />
2.6. Comentários sobre Taylorismo e Escola de Relações Humanas<br />
Em Taylor:<br />
Investigação e desenvolvimento de mecanismos <strong>para</strong> assegurar que todas as ordens sejam executadas<br />
ao “pé da letra".<br />
Empregado: forma particular de instrumento que deve ser rentável; um dos fatores de produção que<br />
deve dar seu máximo - "máquina de músculos", atraído pelo ganho material (visão mecanicista).<br />
11
Na Escola de Relações Humanas:<br />
Investigação e desenvolvimento de mecanismos que permitam a manipulação e modificação de<br />
percepções , convicções e as atitudes das pessoas <strong>para</strong> canalizá-las no sentido desejado pelos dirigentes<br />
- a ligação da empresa a seus objetivos, a sua busca pelo máximo - <strong>cons</strong>iderado desejável e normal.<br />
Empregado: deve ser analisado e avaliado de forma a que se entenda seu "modo de funcionamento"-<br />
modo de funcionamento da máquina humana - homem mecânico psicológico (visão mecanicista) .<br />
Nas duas visões:<br />
Função do Empregado - executar o que lhe é indicado, obedecendo a uma rotina de trabalho.<br />
Subjacentes a essa concepção: a convicção de que acumular <strong>cons</strong>tantemente mais riquezas e produzir<br />
bens são os pilares de uma incessante melhoria das condições de vida;<br />
Crença nas virtudes do mercado; Concepção individualista das pessoas e das organizações.<br />
O egoísmo de cada um seria mais bem satisfeito pelo crescimento geral das riquezas.<br />
Pilares:<br />
Disciplina, ordem, obediência e hierarquia;<br />
diferenças de status;<br />
se<strong>para</strong>ção dos papéis de planejamento (concepção) e execução (realização);<br />
individualismo (apesar da convergência dos objetivos);<br />
desconfiança com relação aos trabalhadores (apenas mais um fator de produção);<br />
crença em uma administração científica baseada em ferramentas sofisticadas, crença nas virtudes e a<br />
possibilidade de um crescimento indefinido.<br />
Enfim: Operário não deve ser <strong>cons</strong>ultado, nem participar acima de determinados limites (bem restritos),<br />
nem compartilhar informações, resultados, etc., Visto que não tem como participar de forma eficaz.<br />
2.7. Sobre as “Escolas Modernas” (incluindo a Escola da Qualidade)<br />
a) Escolas Modernas<br />
objetivos: tentar superar e sintetizar as duas escolas anteriores, buscando responder à nova realidade<br />
das organizações através de um teoria geral.<br />
pontos fortes:<br />
�tentativa de elaborar uma teoria geral da organização<br />
�ampliação da ligação com outras ciências procura ter como meta uma análise da organização que<br />
permita fazer previsões a respeito de seu comportamento futuro<br />
pontos fracos:<br />
não <strong>cons</strong>eguiram formular uma teoria já que seus modelos não puderam ser comprovados<br />
empiricamente (na verdade, nem houve preocupação em buscar isso)<br />
não levou em conta a influência do meio externo sobre o homem<br />
12
prescreveu modelos “infalíveis” que quando seguidos levariam à tomada de decisões racionais<br />
elaborou modelos coerentes internamente mas que não <strong>cons</strong>eguiam explicar a realidade<br />
b) Escola da Qualidade<br />
� Conceitos fundamentais<br />
- Excelência: o melhor que se pode fazer, padrão mais elevado de desempenho.<br />
- Valor: ter mais atributos, de acordo com as necessidades dos clientes<br />
- Especificações: planejamento, definição de como o produto ou serviço deve ser.<br />
- Conformidade: produto ou serviço de acordo com as especificações do projeto.<br />
- Regularidade: produtos ou serviços idênticos; uniformidade.<br />
- Adequação ao uso: projetos de qualidade e ausência de deficiências no produto/serviço final.<br />
� A qualidade total abrangendo todos os estágios do ciclo industrial<br />
Marketing: avalia o nível de qualidade desejado pelo cliente e o custo que ele está disposto a pagar<br />
Engenharia: transforma as expectativas e os desejos do cliente em especificações<br />
Suprimentos: escolhe, compra e retém fornecedores de peças e materiais<br />
Engenharia de processo: escolhe máquinas, ferramentas e métodos de produção<br />
Produção: a supervisão e os operadores têm uma responsabilidade importante pela qualidade durante a<br />
fabricação<br />
Inspeção e testes: verificam a conformidade do produto com as especificações<br />
Expedição: responsável pelas funções de embalagem e transporte<br />
Instalação e assistência técnica (serviço): ajudam a garantir o funcionamento correto do produto<br />
� Os 14 Princípios da “Revolução na Administração” (Deming)<br />
1 – Estabelecer a <strong>cons</strong>tância do propósito de melhorar o produto e o serviço, com a finalidade da<br />
empresa tornar-se competitiva, permanecer no mercado e criar empregos.<br />
2 – Adotar a nova filosofia. A administração deve assumir suas responsabilidades e assumir a liderança<br />
da mudança.<br />
3 – Acabar com a dependência da inspeção em massa. Deve-se eliminar a necessidade de inspeção em<br />
massa <strong>cons</strong>truindo a qualidade junto com o produto desde o começo.<br />
4 – Cessar a prática de comprar apenas com base no preço. Em vez disso, deve-se procurar minimizar o<br />
custo total. É preciso desenvolver um fornecedor único <strong>para</strong> cada item, em um relacionamento de longo<br />
prazo fundado na lealdade e na confiança.<br />
5 – Aprimorar sempre e <strong>cons</strong>tantemente o sistema de produção e serviço, <strong>para</strong> melhorar a qualidade e a<br />
produtividade e, dessa maneira, reduzir <strong>cons</strong>tantemente os custos.<br />
6 – Instituir o treinamento no serviço.<br />
7 – Instituir a liderança.<br />
13
8 – Afastar o medo, <strong>para</strong> que todos possam trabalhar eficazmente pela empresa.<br />
9 – Eliminar as barreiras entre os departamentos. Quem trabalha nas áreas de pesquisa, projeto, vendas<br />
e produção deve agir como equipe, <strong>para</strong> antecipar problemas na produção e na utilização que possam<br />
afetar o produto ou serviço.<br />
10 – Eliminar slogans, exortações e metas <strong>para</strong> os empregados pedindo zero defeito e níveis mais altos<br />
de produtividade. Essas exortações apenas criam relações hostis, já que o principal nas causas da má<br />
qualidade e má produtividade é o sistema, que se encontra além do alcance da força de trabalho.<br />
11 – Eliminar as cotas numéricas no chão de fábrica. Eliminar a administração por objetivos.<br />
12 – Remover as barreiras que impedem ao trabalhador sentir orgulho pela tarefa bem feita. A<br />
responsabilidade dos supervisores deve mudar dos números <strong>para</strong> a qualidade.<br />
13 – Instituir um sólido programa de educação e autotreinamento.<br />
14 – Agir no sentido de concretizar a transformação. A transformação é o trabalho de todos.<br />
2.7. Ao modo de uma conclusão preliminar<br />
A evolução do pensamento em administração se acha muito ligada a história econômica<br />
contemporânea do Ocidente e principalmente à grande empresa. Por um lado, a grande empresa<br />
estimulou o crescimento e renovação dos estudos em administração, por outro condicionou este<br />
desenvolvimento às suas necessidades, seus pontos de vista e sua escala de valores.<br />
Apesar da evolução, ainda hoje continuam:<br />
� os medos no compartilhamento (perda de poder);<br />
� busca de ferramentas e estruturas" miraculosas";<br />
� confiança ilimitada nas soluções técnicas (controle total da qualidade, certificações, 6 sigma,<br />
etc. ...);<br />
� adesão a propostas neoliberais;<br />
� empregados ainda <strong>cons</strong>iderados acima de tudo um custo;<br />
� pouca disposição <strong>para</strong> investimentos em uma real qualificação;<br />
� restrições à ampliação de uma maior participação (decisões e resultados).<br />
Desafio ainda a cumprir: revisar de forma efetiva os princípios da administração tradicional; embora<br />
haja avanços inegáveis ainda são muito limitados; ainda são "casos" e não rotina.<br />
14
Exame edição 755 05/12,2001<br />
Texto 2. Confissões de Tom Peters<br />
No 20 o aniversário de lançamento de Vencendo a Crise, seu autor admite que "não tinha idéia do que<br />
fazia quando escreveu o livro" e que mentiu em alguns pontos. É Tom Peters em estado puro<br />
Há quase 20 anos era publicado In Search of Excellence (traduzido no Brasil com o título Vencendo a<br />
Crise), de Tom Peters e Robert Waterman. Em pouco tempo, as teses de seus autores, até então<br />
obscuros <strong>cons</strong>ultores da McKinsey, se tornaram uma espécie de mania. Por fim, viraram uma bandeira<br />
<strong>para</strong> as grandes empresas da década de 80. Vencendo a Crise talvez tenha sido o primeiro grande<br />
acontecimento editorial no mundo dos negócios. Era - pelo menos até pouquíssimo tempo - um cult.<br />
Na edição de dezembro da revista Fast Company, Tom Peters conta, em tom de confissão, como e por<br />
que decidiu escrever o livro. Diz também que mentiu em alguns pontos, o que faz dos bastidores de<br />
Vencendo a Crise uma história picante. "Ok. Eu confesso: nós falseamos os dados", teria dito ele ao<br />
editor Alan Webber. Num recente artigo da Business Week, Peters tenta limpar a própria barra. Diz que<br />
a expressão falsear não é dele, mas de Webber. "Eu não vou esquentar por causa disso", diz Peters. A<br />
seguir - na primeira pessoa - as surpreendentes confissões de Tom Peters.<br />
Vencendo a Crise não foi algo que planejei desde o início. A idéia do livro surgiu de uma reflexão<br />
menor colhida em meio ao lixo da empresa de <strong>cons</strong>ultoria McKinsey. Era um projeto de segunda<br />
categoria que nunca teve a pretensão de chegar aonde chegou.<br />
Essa é minha primeira confissão<br />
Hoje, quando conto a história do livro, prefiro dar a versão oficial - que não passa de um amontoado de<br />
asneiras: "Os Estados Unidos estavam sendo atacados pelo Japão, que fabricava automóveis de ótima<br />
qualidade. Então, Bob Waterman e eu resolvemos descobrir quais seriam os segredos da administração<br />
bem-sucedida". Nada mais falso. A verdade é que, em 1977, Ron Daniel, na época diretor da<br />
McKinsey, decidira lançar dois projetos. No mundo da McKinsey, tudo se resume a duas alternativas:<br />
estratégia ou organização. Como é a equipe de estratégia que dita as regras, o projeto foi batizado de<br />
BS (iniciais de business strategy, ou "estratégia de negócios", mas que são também a forma abreviada<br />
de bullshit, ou "conversa mole".) Fred Gluck, que substituiria Daniel na direção da McKinsey, assumiu<br />
a chefia do empreendimento. O projeto BS funcionava na sede da empresa e contava com <strong>cons</strong>ultores<br />
de primeira linha. E foi exatamente por causa disso que jamais produziu fruto algum, e desde então<br />
nunca mais se ouviu falar dele. Temos aqui, portanto, a primeira lição: nem sempre é possível confiar<br />
em gente com algum poder de decisão. Por outro lado, é impossível confiar na direção de uma empresa.<br />
Sua política tende <strong>para</strong> a acomodação, e com isso mata todos os projetos que valem a pena.<br />
Nessa época, Daniel estava envolvido em outro projetinho complicado. Ele procurava alguém que<br />
pudesse dar um parecer do ponto de vista da organização - que analisasse o lado da estrutura e das<br />
pessoas. E é aí que eu entro na história. Foi pura sorte. Durante sete anos, freqüentei a Stanford<br />
15
Business School, doutorando-me em comportamento organizacional. Curiosamente, havia apenas<br />
quatro pessoas se graduando na mesma especialidade que eu - e o mais interessante é que éramos todos<br />
ex-engenheiros. Algo dentro de nós dizia que números e estatísticas por si sós não bastavam.<br />
E, assim, a tarefa foi delegada a este tolo, Tom Peters, e a seu amigo, também tolo, Bob Waterman.<br />
Ambos não passávamos de escória da McKinsey. Trabalhávamos no escritório de São Francisco. Nossa<br />
filial era famosa pelo prejuízo que dava e por seus funcionários esquisitos. Éramos o que a McKinsey<br />
tinha de mais próximo dos hippies - hippies de terno preto.<br />
Funcionávamos como o primo pobre da empresa. Em Nova York ficavam as estrelas do BS.<br />
Decidiram, então, que o primo pobre deveria se envolver no projeto. As expectativas são mais<br />
modestas, a pressão política é menor e a gerência interfere muito menos! (Conseqüentemente, a chance<br />
de bom resultado é maior.)<br />
"Minha segunda confissão: não tinha idéia do que fazia quando escrevi Vencendo a Crise.<br />
Não planejei nada. Não havia uma teoria que eu quisesse provar.<br />
Simplesmente saí por aí conversando com pessoas inteligentes, interessantes, gente da mais alta<br />
competência. Colocaram à minha disposição um orçamento que me permitia viajar de primeira classe e<br />
ficar em hotéis cinco-estrelas. Decidi procurar Karl Weick, cuja obra me influenciara profundamente.<br />
Fui depois a Oslo conversar com Einar Thorsrud, autor de estudos sobre empowerment em navios<br />
petroleiros. Estive no Tavistock Institute, de Londres, onde encontrei pensadores renomados em<br />
desenvolvimento organizacional.<br />
Eu havia sido contaminado pelo "mal de Douglas McGregor". Warren Bennis, outro herói meu, diz que<br />
tudo começou com o Doug, e acho que ele tem razão. Doug foi o sujeito que inventou a Teoria X e a<br />
Teoria Y. Basicamente, elas dizem que as pessoas são parte fundamental dos negócios, que não é<br />
possível motivá-las controlando-as ou tratando-as despoticamente. Todo mundo sabia que era verdade<br />
o que ele dizia, mas continuava a tratar o trabalhador como lixo - e depois não entendia por que o<br />
desempenho da empresa era tão ruim. (Caro leitor, você acha que esse tema ainda é pertinente hoje em<br />
dia? Claro que não! Afinal, a alta gerência aprendeu a lição, certo?)<br />
Resumindo: eu viajava pelo mundo, conversava, gravava reuniões. Foram centenas de entrevistas e<br />
reuniões, quilos de fitas <strong>para</strong> transcrever. Então, em 1979, o escritório da McKinsey em Munique me<br />
pediu que fosse até lá apresentar o resultado da pesquisa ao alto escalão da Siemens. Não há na face da<br />
Terra um grupo de estratégias mais organizado que o da Siemens, por isso eu não podia chegar e falar<br />
qualquer coisa que me viesse à cabeça.<br />
Na melhor tradição das empresas de <strong>cons</strong>ultoria, organizei uma apresentação com 700 slides.<br />
A reunião de Munique repercutiu na McKinsey dos Estados Unidos. Fui convidado a fazer uma<br />
apresentação <strong>para</strong> a gerência da PepsiCo, cujo presidente na época era Andy Pearson. Aproximava-se o<br />
dia da reunião. Numa certa manhã, sentei-me diante de minha mesa de trabalho no 48 o andar do Bank<br />
of America Tower. Em seguida, fechei os olhos. Depois, me debrucei sobre um bloco de papel e<br />
escrevi oito coisas. Nunca modifiquei os princípios que escrevi naquela ocasião. Eu acabara de pôr no<br />
papel os oito princípios básicos de Vencendo a Crise.<br />
16
Que lição podemos tirar disso? Não há nada como ser ingênuo. Eu estava com quase 40 anos e o Bob<br />
era um pouco mais velho. Entretanto, éramos ambos incrivelmente ingênuos quando escrevemos o<br />
livro. Parecíamos crianças diante do mundo das grandes empresas e perguntávamos as coisas mais<br />
elementares: por que vocês fazem assim? Por que estão sempre tropeçando na própria burocracia? Por<br />
que dificultam tanto o trabalho das pessoas?<br />
Há outro elemento nisso tudo que acaba passando despercebido. Parte da beleza do livro se deve ao<br />
fato de que só fomos capazes de escrevê-lo porque não estávamos preocupados com isso. Ele tem algo<br />
de zen. Defende a idéia de que só é possível gerenciar pessoas e controlá-las a partir do momento em<br />
que decidimos não fazê-lo. Sua tese era que, daquele momento em diante, o mundo havia mudado. O<br />
jogo era outro agora, o mundo se transformara. Nada jamais seria de novo do mesmo jeito. Quem<br />
quisesse tomar parte desse novo estado de coisas teria obrigatoriamente de ler o livro. Seria preciso<br />
aceitar suas idéias. Talvez não estivéssemos certos. Contudo, estávamos plenamente convictos de que o<br />
velho sistema estava errado.<br />
Confissão número três: é uma bobagem o que vou dizer, mas tudo bem - admito que falseamos os<br />
dados. Muita gente disse isso na época.<br />
Todo mundo queria saber como havíamos chegado à conclusão de que tais e tais empresas eram<br />
"excelentes". Pouco tempo depois, uma porção daquelas empresas entrava em um período de<br />
decadência que duraria anos, o que viria a se transformar também em uma enorme acusação: se essas<br />
empresas são excelentes, Peters, por que estão se saindo tão mal? É o tipo de pergunta que, <strong>para</strong> mim,<br />
peca por falta de entendimento.<br />
Vencendo a Crise partiu de um estudo feito com 62 empresas. Como chegamos a elas? Consultamos os<br />
parceiros da McKinsey e várias outras pessoas sérias e bem informadas que tinham grande penetração<br />
no mundo dos negócios. Perguntamos a elas: quem está inovando? Quem sabe trabalhar de verdade?<br />
Onde é que as coisas estão acontecendo? Que empresas estão sabendo aproveitar essas novidades? Essa<br />
abordagem direta gerou uma lista de 62 empresas que, por sua vez, resultou em entrevistas com vários<br />
de seus funcionários. Mas, sabendo como era a McKinsey, decidimos que era preciso apresentar<br />
medidas quantificáveis de desempenho. Com a aplicação das medidas, a lista caiu de 62 <strong>para</strong> 43<br />
empresas. A General Electric, por exemplo, fazia parte da primeira lista, mas acabou excluída quando<br />
ela foi reduzida - o que mostra como é "estúpido" o insight puro e simples e como são "inteligentes" e<br />
teimosos os parâmetros de medição. Havia alguma empresa que, olhando retrospectivamente agora,<br />
não devia estar na lista? Sim: a Atari.<br />
Podemos dizer que o processo por nós utilizado era 100% correto? Claro que sim! Quem quiser<br />
conversar com pessoas inteligentes, capazes de passar princípios úteis e modernos, que faça então o<br />
que fizemos em nosso livro: comece pelo bom senso, confie em seus instintos, peça a opinião de<br />
pessoas "estranhas". Não se preocupe em provar nada logo de início.<br />
Vamos a mais uma confissão: quando disse que não sabia o que estava fazendo quando escrevi<br />
Vencendo a Crise, estava dizendo a verdade. Não pensava em escrever um livro que assinalasse o<br />
início de uma revolução. Mas é claro que eu tinha um propósito: me sentia profundamente irritado<br />
naquele momento. (E daí? Daí que quase toda inovação não surge da análise de mercado, e sim de<br />
gente terrivelmente irritada com as coisas do jeito que elas são.)<br />
E de quem eu estava com raiva? Primeiramente, de Peter Drucker. Hoje, todo mundo age como se ele<br />
fosse um desses sujeitos que enxergam muito mais que os outros. É só reler seu The Concept of<br />
Corporation ("O conceito de corporação"). Está tudo lá. Peter Drucker pode ser austríaco, mas é muito<br />
mais alemão que os alemães quando trata de hierarquia, de comando e controle e de operações<br />
empresariais sempre do topo <strong>para</strong> a base. Basta <strong>cons</strong>ultar a bíblia dos negócios segundo Drucker, e tudo<br />
se esclarecerá. As organizações são o que são! Ache seu lugar nelas e seja feliz! Essa era a ordem do<br />
17
dia que nos havia sido transmitida. Portanto, <strong>para</strong> mim, Peter Drucker era o inimigo. Um inimigo de<br />
fibra, mas um inimigo.<br />
Com quem mais eu estava irritado? Com Robert McNamara. Ele havia sido professor assistente de<br />
contabilidade na Harvard Business School. Alguém o apresentara ao general Curtis E. LeMay, que na<br />
época comandava a Força Aérea americana. LeMay não sabia quantos aviões tinha, tampouco onde<br />
estavam estacionados. Então, McNamara calculou quantos aviões havia e onde estavam, fez um<br />
relatório e entregou-o a LeMay. De repente, ele criou sistemas onde não havia nenhum. Isso faz de<br />
McNamara o Peter Drucker do Pentágono. Quando estourou a Guerra do Vietnã, ele já era secretário de<br />
Defesa, e os sistemas reinavam absolutos. As pessoas haviam sido canceladas da equação. McNamara<br />
introduzira a tirania da mensuração. Portanto, Robert McNamara era o inimigo.<br />
Mas quem realmente me tirava do sério era a Xerox. David Kearns era o CEO da empresa na época, e<br />
eu fora contratado <strong>para</strong> dar <strong>cons</strong>ultoria ali. A Xerox era <strong>cons</strong>iderada a empresa do século, mas eu sabia<br />
que a história não era bem essa. Tudo o que havia de ruim podia ser encontrado lá: burocracia, a grande<br />
estratégia que nunca decolou, o foco servil nos números e a marginalização das pessoas, a reverência<br />
por MBAs - não importava de qual escola. Onde era possível errar, a Xerox errava. Claro que havia<br />
outras grandes empresas americanas no mesmo barco: Chase Manhattan Bank, Western Electric e a<br />
maior parte da clientela da McKinsey. A Xerox, porém, era o exemplo máximo de como tudo podia dar<br />
errado. Na época em que trabalhei lá, o sujeito a quem eu me reportava, um ex-sócio da McKinsey<br />
chamado Jack Crowley, elaborou um estudo intitulado "Análise de Penhasco", em que mostrava como<br />
a Xerox estava prestes a cair no precipício. O problema de David Kearns era que, como CEO, não<br />
queria ser o portador dessa má nova. Portanto, se alguém quiser resumir a mensagem do meu livro em<br />
uma única frase, pode dizer: a Xerox é um pé no saco.<br />
Vamos agora à minha quinta confissão: meu livro se opunha frontalmente ao pensamento de gestão<br />
que dominava o cenário dos negócios nos Estados Unidos em 1981. Mas essa não é a confissão. A<br />
confissão é que eu não radicalizei o bastante.<br />
Peter Drucker vendera à GM o conhecimento tradicional, que McNamara, por sua vez, implantara no<br />
Pentágono. Foi esse mesmo conhecimento que complicou a vida de David Kearns na Xerox. Tudo isso<br />
nos leva de volta a Frederick Taylor e à administração científica. Basicamente, o taylorismo pregava<br />
que todo trabalho podia ser reduzido a um conjunto simples, repetitivo e mecânico de atividades que<br />
até mesmo o trabalhador mais estúpido seria capaz de executar.<br />
Se tomarmos como ponto de partida o taylorismo, acrescentarmos a ele uma dose de druckerismo e<br />
uma pitada de mcnamarismo, teremos, no final dos anos 70, a grande empresa americana administrada<br />
por gente obcecada por quantificações. Tudo ficara reduzido a números e finanças. O CEO da GM<br />
declarara que o negócio da empresa não era a fabricação de carros, era fazer dinheiro. (Foi uma<br />
surpresa <strong>para</strong> os seus clientes, que iam ao mercado à procura de um carro - ou, melhor, de um estilo de<br />
vida -, e não <strong>para</strong> gastar dinheiro.) Isso talvez explique a ascensão da indústria automotiva japonesa,<br />
que certamente estava no negócio da fabricação de carros - e, principalmente, de carros que os clientes<br />
desejavam comprar, sobretudo porque eram baratos, de alta qualidade e econômicos.<br />
Mas voltemos à Xerox. A empresa havia contratado MBAs com 180 ou mais de QI que gastavam todo<br />
o seu tempo e energia discutindo "a elasticidade cruzada da demanda". Ao mesmo tempo, ficava<br />
satisfeita com as copiadoras de péssima qualidade que produzia. No entanto, não se dava muita<br />
importância ao produto, às pessoas nem mesmo à clientela. Tudo girava em torno de números. Em<br />
Vencendo a Crise, eu dizia que números não são tudo. Claro que o lucro é bom. Graças a ele é possível<br />
investir em coisas interessantes. Mas alguém tem de dar o sangue, alguém tem de mostrar paixão pelo<br />
que faz.<br />
18
Um exemplo: uma das primeiras entrevistas que fizemos foi com John Young, que na época era<br />
presidente da Hewlett-Packard. Hoje, a HP fabrica computadores e vale 50 bilhões de dólares. Em<br />
1976, valia pouco mais de 1 bilhão e se dedicava principalmente à fabricação de aparelhos médicos e<br />
de equipamentos de medição.<br />
Bob e eu fomos à sede da HP, em Palo Alto. Pedimos <strong>para</strong> falar com John Young. "Muito bem", disse a<br />
recepcionista. "Ele está lá dentro, é só virar à direita". Não tivemos de assinar nenhum papel nem usar<br />
crachá. Tudo o que fizemos foi entrar. Lá estava John, sentado em um cubículo, que compartilhava<br />
com sua secretária. Ele estava em mangas de camisa - nada demais no mundo de camisetas pós-pontocom,<br />
mas em 1977 a aparência daquele lugar e o modo como se trabalhava ali chamavam a atenção.<br />
John Young era defensor da administração peripatética: estava sempre andando de um lado <strong>para</strong> o<br />
outro. Lembro-me de ter censurado mentalmente o que via. Não parecia normal. Depois de conversar<br />
com John Young, estive com Tait Elder, da 3M, e René McPherson, da Dana. Todos eles eram líderes<br />
que operavam com base em pressupostos distintos dos prescritos pelas regras em vigor.<br />
Eu poderia resumir meu livro em três palavras: pessoas, clientes, ação. E como foi que <strong>cons</strong>eguimos<br />
passar adiante essa idéia? Foi tudo graças aos ternos escuros que Bob e eu usávamos e também às<br />
nossas gravatas, típicas de empregados da McKinsey, e ao "<strong>cons</strong>ultês" falado na empresa. Vencendo a<br />
Crise é um livro que tem a cara da McKinsey. A capa é preta, o tipo de letra usado é convencional.<br />
Nossa mensagem, porém, era revolucionária.<br />
Minha próxima confissão: só terá algum sentido <strong>para</strong> os fãs do Oakland Raiders, um time de<br />
futebol de fins dos anos 70: devo tudo a Mark van Eeghen. (Quem não era fã do Oakland Raiders<br />
nunca viu Mark van Eeghen jogar. Que pena!)<br />
Ele era um jogador forte, enorme, que levantava uma nuvem de pó de 3 jardas sempre que corria <strong>para</strong><br />
cobrir a retaguarda dos Raiders. Às vésperas de publicar 10 mil exemplares de nosso relatório, não<br />
tínhamos ainda uma foto <strong>para</strong> a capa. No início, havíamos decidido que usaríamos uma foto da Sports<br />
Illustrated. Depois concluímos que não podíamos surrupiar a foto da revista. Fomos então à sede dos<br />
Raiders e reviramos seus arquivos até encontrar a imagem perfeita: uma foto de Mark van Eeghen.<br />
A foto era o máximo sob vários aspectos. A legenda dizia: "Três jardas e uma nuvem de poeira". Nosso<br />
livro dizia a mesma coisa: ame seu pessoal, ame seus clientes. Não complique. Não inche o quadro de<br />
funcionários, mantenha a organização simples. Tire os burocratas do caminho. Preste atenção nas<br />
pessoas "reais", de unhas sujas. Assim eram os Oakland Raiders. Eram combativos, mas ninguém dava<br />
nada por eles. O dono da equipe, o renegado Al Davis, sempre dizia: "Ganhe, gente, só isso". Seu lema<br />
era: "Nada menos que a excelência".<br />
Creio que acertamos quando dissemos que estávamos em busca da excelência, e não da vantagem<br />
competitiva, do crescimento econômico, do domínio do mercado ou da estratégia da diferenciação.<br />
Tampouco buscávamos a maximização da geração de valor <strong>para</strong> o acionista. Era excelência o que<br />
queríamos. A "empresa", entretanto, é algo que tem a ver com o coração, com beleza e arte. Tem a ver<br />
com pessoas que se lançam na linha de frente. É paixão e busca abnegada de um ideal. É John Young<br />
sentado em seu cubículo trabalhando em mangas de camisa. Vencendo a Crise nos lembra que o<br />
negócio não é algo árido, tedioso e sombrio que se resume unicamente a números. A vida no trabalho<br />
pode ser intensa. Trabalhar com prazer não é exclusividade de Tiger Woods, Yo-Yo Ma ou Tom<br />
Hanks. É algo que também está ao nosso alcance.<br />
Minha sétima confissão: fizemos um livro perfeito. Não havia um erro sequer em Vencendo a<br />
Crise. Os oito princípios básicos que escrevi em 1980, que se tornaram os elementos-chave do livro,<br />
estavam corretos. Estavam corretos <strong>para</strong> 1982. "Onde é que está, então, a confissão?", pergunta o leitor.<br />
Bem, acontece que o livro está repleto de erros. Dissemos uma grande mentira - sem querer, mas<br />
mentimos.<br />
19
Primeiro, explico por que o livro era perfeito: <strong>cons</strong>eguimos estabelecer os pontos nos quais as pessoas<br />
precisavam refletir e trabalhar - em 1982. Se olharmos <strong>para</strong> o mundo daquela época, veremos que os<br />
oito pontos diziam o que tinha de ser dito, e ponto final.<br />
Dito isso, passemos às falhas. O caso da Atari foi uma delas. O dos laboratórios Wang, outra. Olhando<br />
em retrospecto, vemos que havia grupos inteiros de negócios em transformação bem diante de nossos<br />
olhos, e nós não percebemos. Eles simplesmente não eram importantes na época ou eram então muito<br />
superficiais <strong>para</strong> causar algum impacto. É o caso da tecnologia da informação. Dissemos muito<br />
vagamente que a TI cresceria em importância. Contudo, a idéia de se trabalhar à velocidade da internet<br />
e com meios que permitiriam a comunicação dentro das empresas e entre uma e outra organização<br />
passou batida por nós. Erramos ao não dar atenção à velocidade. Ignoramos a economia global. O livro<br />
foi feito pensando nos Estados Unidos. Nem sequer chegamos a Toronto ou a Tijuana, que dirá a<br />
lugares mais distantes? Não há um empreendedor no livro. Quem folheou o índice onomástico não<br />
encontrou o nome de nenhuma mulher e de nenhum negro. Reconheço que falhamos.<br />
Bem, passemos agora à grande mentira do livro - embora não tenha sido proposital. O inimigo de<br />
Vencendo a Crise era a pregação do "caminho único e perfeito". Tratava-se da prática da administração<br />
científica que dizia aos gerentes: "Encontre o caminho perfeito e seja vitorioso". O livro procurava<br />
destruir essa mentalidade de uma vez por todas. No processo, porém, acabamos por substituí-la pelo<br />
nosso kit pessoal de verdades divinas, nossa receita <strong>para</strong> a excelência eterna.<br />
Esquecemos de acrescentar um aviso muito importante: atenção! Nada é permanente. Tudo em excesso<br />
é veneno. E lembre-se: o mundo dos negócios é <strong>para</strong>doxal. Para ser excelente, é preciso ser <strong>cons</strong>istente.<br />
Quando se é <strong>cons</strong>istente, fica-se vulnerável ao ataque. Sim, é um <strong>para</strong>doxo. Agora, viva com isso!<br />
Hoje não me condeno. Creio que se uma pessoa lê um livro de negócios e começa a seguir tudo o<br />
que está escrito ali ao pé da letra ela só pode ser um perfeito idiota. Vencendo a Crise deve ser<br />
visto como uma garantia negativa, e não positiva. Uma garantia positiva faria a seguinte afirmação:<br />
siga estes oito princípios e você vencerá. Eu jamais diria isso - nem naquela época nem hoje. O que eu<br />
diria é o seguinte: se você ignorar estes oito princípios, jamais vencerá.<br />
A oitava confissão? Jamais escreveria hoje um livro sobre a busca da excelência. Não estou mais<br />
interessado nisso. Estou interessado em ser interessante.<br />
Não me importo se as empresas são ou não excelentes. Tampouco se persistem na excelência. O que<br />
me preocupa é saber o que podemos aprender hoje, observando as empresas e as pessoas envolvidas em<br />
projetos interessantes. O que é interessante está sempre mudando. Veja, por exemplo, como a Dell<br />
fabrica seus computadores: o espaço <strong>para</strong> armazenagem das peças de reposição ocupa 30,48 metros<br />
quadrados de uma fábrica que produz mais de 20 mil unidades por dia. Isso significa que tudo aquilo<br />
que ouvimos falar na linguagem mais chata do mundo - planejamento de recursos empresariais, gestão<br />
da cadeia de fornecedores - existe de fato e está mudando a forma de fazer negócios. Hoje eu escreveria<br />
um livro intitulado Em Busca do Estranho, da Curiosidade, da Licença <strong>para</strong> Explorar.<br />
Finalmente, minha última confissão. Ao analisar novamente os oito princípios básicos que<br />
servem <strong>para</strong> definir o conceito de excelência no livro, não vejo por que modificá-los. Entretanto,<br />
acrescentaria alguns elementos que pudessem torná-los mais aptos a enfrentar estes novos tempos.<br />
Observe quanto, e com que rapidez, as coisas mudaram desde que o livro foi lançado: o foco da obra<br />
eram pessoas, clientes, ação. Vinte anos depois, temos: idéias, liberação e velocidade. Não basta mais<br />
dar atenção exclusivamente às pessoas. As pessoas precisam dar atenção umas às outras. É o poder das<br />
boas idéias que pessoas apaixonadas, motivadas e envolvidas são capazes de gerar.<br />
20
E os clientes? Claro que continuam muito importantes. Hoje, porém, seu leque de escolhas é maior do<br />
que nunca. Isso significa que as empresas também precisam conquistar sua liberação. O que importa é a<br />
liberdade <strong>para</strong> tentar coisas novas. É dar um passo <strong>para</strong> fora do convencional. Seus clientes estão<br />
interessados no que há de mais novo, de mais veloz e de melhor. Quando lancei Vencendo a Crise, a<br />
ação era algo importante, porque a norma vigente era a da análise <strong>para</strong>lisante. Portanto, a ação -<br />
qualquer uma - era melhor do que "pre<strong>para</strong>r, apontar, apontar, apontar..." Hoje, tudo tem a ver com<br />
velocidade. É "fogo, fogo, fogo".<br />
Eu acrescentaria dois novos princípios a Vencendo a Crise: 20 Anos Depois. O primeiro princípio<br />
novo? SDS, ou seja, só Deus sabe! Há 20 anos, sabíamos que a idéia de "um único caminho perfeito"<br />
estava errada. Achávamos também que éramos capazes de prescrever oito princípios que manteriam as<br />
empresas próximas da excelência. Hoje, se me perguntarem o que acho disso, diria "SDS!" Será que a<br />
Webvan foi uma boa idéia ou uma má idéia? Estaria destinada ao sucesso ou ao fracasso? SDS! Será<br />
que o acordo da HP com a Compaq se revelará uma estratégia brilhante ou será o último suspiro de<br />
dois dinossauros infelizes? SDS! Tudo são tentativas, processos em andamento, um conto evolucionista<br />
em tempo real.<br />
Segundo princípio: PSP, isto é, pesquise sem <strong>para</strong>r. Quer saber que tipo de velocidade é mais<br />
importante hoje? A do aprendizado. Neste exato momento, inúmeras pessoas estão preocupadas em<br />
organizar a confusão deixada pela débâcle das ponto-com. Daqui a 20 anos, olharemos <strong>para</strong> trás e<br />
acharemos tudo totalmente irrelevante. Por outro lado, a revolução da TI e da biotecnologia mal<br />
começou. Não há um substituto <strong>para</strong> quem deseja estar atualizado mais depressa. Para isso, é preciso<br />
sair por aí se informando sobre tudo que for possível. Tente coisas novas. Veja o que funciona. Observe<br />
o que não funciona. Aprenda. Apague. Faça de novo.<br />
21
Texto 3: NOBREGA, Clemente. Taylor superstar. EXAME 24/09/1997 (Edição 645)<br />
A gestão científica de Frederick Taylor começou na fábrica, mas acabou por penetrar em todos os<br />
aspectos da vida e cultura do século XX. Apesar da rejeição que o taylorismo hoje inspira, o fato é que<br />
não <strong>cons</strong>eguimos substitui-lo por algo melhor. Veja neste ensaio por que continua atual<br />
A Viking Press lançou em maio passado, nos Estados Unidos, um livro que está sendo cotado <strong>para</strong> o<br />
Prêmio Pulitzer, a maior distinção literária americana: The One Best Way: Frederick Winslow Taylor<br />
and the Enigma of Efficiency, de Robert Kanigel, 656 páginas.Trata-se de uma biografia de Frederick<br />
Taylor, o primeiro expert americano em racionalização e eficiência no trabalho. O que haveria de tão<br />
especial com um ideário de administração do início do século?<br />
É que tendo sido o primeiro "manifesto revolucionário" sobre o redesenho de processos de trabalho<br />
visando aumentos radicais de produtividade é, de longe, o mais bem-sucedido de todos até hoje.<br />
As pressões geradas pelo aumento da competição no mundo globalizado do final do século XX fizeram<br />
com que a busca frenética de aumentos em eficiência passasse a ser a prioridade número um de todo<br />
executivo. No entanto, ao contrário do que dão a entender propostas modernas, supostamente<br />
revolucionárias, o tema não é novo: surgiu em 1911 com a promessa de, já naquela época, alterar <strong>para</strong><br />
valer as concepções predominantes no mundo do trabalho.<br />
Taylor prometeu e cumpriu. E cumpriu de uma forma e com uma abrangência tais, que ninguém<br />
poderia ter previsto. Taylor publicou sua idéias em 1911 num livro intitulado The Principles of<br />
Scientific Management. Ele era um homem comum. De família rica, mas não um intelectual<br />
especialmente brilhante. Sua influência na vida do século XX é, porém, comparável à de Henry Ford<br />
ou Thomas Edson. Peter Drucker, o guru supremo do mundo da administração, coloca-o ao lado de<br />
Freud e Darwin em importância, atribuindo às suas idéias um peso decisivo <strong>para</strong> a derrocada da<br />
proposta marxista. O taylorismo, ganhando vida própria, se revelou de certa forma uma idéia mais<br />
inteligente que o homem que a formulou.<br />
Jeremy Rifkin, autor de O Fim dos Empregos, diz em Time Wars: "Taylor fez da eficiência o modus<br />
operandi da indústria americana e a virtude central da cultura desse país... Ele teve provavelmente mais<br />
influência que qualquer outro indivíduo sobre a vida pública e privada de homens e mulheres no século<br />
XX".<br />
A idéia taylorista acabou extrapolando o mundo da empresa e penetrando em todos os aspectos da vida<br />
do século XX. Como um ácido que dissolve tudo, nada foi capaz de detê-la. A originalidade do livro de<br />
Kanigel está na ênfase que dá a essa dimensão pouco notada das idéias de Taylor: elas partiram do<br />
"chão de fábrica", mas alçaram vôo e acabaram condicionando obsessivamente a cultura do século.<br />
Os japoneses devoraram os escritos de Taylor na fase de re<strong>cons</strong>trução, no pós-guerra. Russos e alemães<br />
adotaram suas idéias. Tudo o que tenha a ver com maximização de recursos no tempo, em qualquer<br />
domínio, tem algo a aprender com Taylor - da Federal Express (entregas overnight) aos robôs das<br />
linhas de montagem informatizadas de hoje. No momento econômico neoliberal-globalizado que<br />
estamos vivendo, Frederick Taylor continua atual.<br />
Gerência científica?<br />
Sim, Taylor propôs a criação de uma "ciência da administração".<br />
Observando o que ocorria no "chão de fábrica" do início do século - aquele ambiente chapliniano de<br />
Tempos Modernos - ele teve o insight decisivo: é possível aplicar conhecimento ao trabalho. É possível<br />
22
otimizar a produção descobrindo e prescrevendo a maneira certa de se fazer as coisas - "the one best<br />
way" - <strong>para</strong> atingir o máximo em eficiência. Pode parecer banal, mas revelou-se explosivamente<br />
inovador.<br />
Naquela época não havia nenhum pensamento por trás do ato de trabalhar. Trabalho era ação pura;<br />
trabalhava-se apenas. Não havia metodologia, só força bruta. Os gerentes limitavam-se a estabelecer<br />
cotas de produção, não se preocupavam com processos. Era só "o que", não "como".<br />
O taylorismo é o germe de todas as propostas que vieram depois <strong>para</strong> formatar racionalmente o ato de<br />
se produzir qualquer coisa. Gerar resultados por intermédio de pessoas. Administrar.<br />
Pessoas? Taylor era ambivalente com relação ao papel das pessoas, e parte do fascínio e da natureza<br />
polêmica de suas idéias vem daí. Ele via a função do gerente como claramente se<strong>para</strong>da da função do<br />
trabalhador. Trabalhador faz, gerente pensa e planeja. O manager descobre e especifica "the one best<br />
way"; o trabalhador executa, e só.<br />
O executor do trabalho, sendo totalmente passivo no processo, tinha de se submeter ao sistema. Nas<br />
palavras do próprio Taylor, o importante era o sistema, não o homem. Ele bem que poderia ter escrito<br />
um livro com o título: As Pessoas em Segundo Lugar, Talvez em Terceiro ou Produtividade Através do<br />
Sistema, Não das Pessoas.<br />
Taylor é o pai de todos os processos de automação.<br />
Reconheço que isso é meio chocante <strong>para</strong> nós, acostumados ao discurso "participativo/não<br />
hierárquico/sem camadas" dominante em administração hoje, mas não cheguemos a conclusões<br />
apressadas. A idéia taylorista revelou outras nuances que acabaram se complementando em um corpo<br />
muito sólido. Sua importância decorre de um fato simples: ela dá certo.<br />
Da concepção de operação do McDonald?s <strong>para</strong> entregar a seus clientes centenas de milhões de Big<br />
Macs a cada ano ao advogado que contabiliza aos centavos o tempo que dedica a cada cliente; da<br />
universidade ao estádio de futebol; do hospital ao partido político; das igrejas às organizações não<br />
governamentais, o taylorismo é algo profundamente entranhado em nossa maneira não só de<br />
administrar, mas de viver.<br />
Ao mesmo tempo em que rejeitava qualquer possibilidade de contribuição inteligente por parte do<br />
trabalhador, Taylor enfatizava que ele - trabalhador - seria o grande beneficiário do seu sistema<br />
"científico". Sendo mais produtivo graças a esse mesmo sistema, ganharia mais e se engajaria no<br />
processo de produzir não só com as mãos, mas também com o coração.<br />
Para Taylor, seria possível <strong>cons</strong>truir o melhor dos mundos: capital e trabalho de mãos dadas. Era o<br />
oposto do antagonismo marxista; a utopia taylorista é essa. Sua idéia era um experimento com a<br />
natureza humana. Tratava-se, na verdade, de uma visão, um estado de espírito aplicável a todos os<br />
aspectos da vida.<br />
Sua convicção era a de que todos podiam ganhar e que a colaboração (antítese do antagonismo da luta<br />
de classes) surgiria naturalmente, uma vez que estivessem em vigor os métodos de sua administração<br />
"científica". Para Taylor, o trabalhador não precisava pensar, mas teria de participar, senão nada<br />
funcionaria.<br />
Assim, no centro da idéia taylorista há uma enfática proposta de participação do trabalhador. Mas<br />
participação no resultado, não na formulação dos processos ou das decisões que levariam a esses<br />
melhores resultados. O trabalhador <strong>para</strong> Taylor não precisaria (nem deveria) ser inteligente; só<br />
precisaria obedecer. Pensar era <strong>para</strong> o "gerente científico".<br />
23
O <strong>para</strong>doxo é o mesmo que hoje atormenta os executivos: funcionários que só obedeçam passivamente<br />
não são mais o bastante <strong>para</strong> a empresa moderna que, de fato, precisa de outro tipo de gente. Apesar<br />
disso, não há nenhuma alternativa que torne viável, <strong>para</strong> além do blablablá habitual, a famosa<br />
participação de todos nas decisões, sem distinção hierárquica. Os mais capazes continuam a ser aqueles<br />
mais bem pagos, justamente por assumir a responsabilidade de identificar o "one best way". Um bom<br />
"gerente científico" hoje, como sempre, vale ouro.<br />
A "empresa inteligente", com todo o charme que esse rótulo possa ter, continua sendo em grande<br />
medida um ícone retórico, bom <strong>para</strong> inspirar livros e seminários, mas sem correspondência no mundo<br />
real, não por rejeição à idéia em si, mas por absoluta falta de mecanismos práticos <strong>para</strong> articulá-la e<br />
implementá-la.<br />
Assim, com toda carga de rejeição que o <strong>para</strong>digma taylorista inspira, o fato é que não <strong>cons</strong>eguimos<br />
substituí-lo de verdade por algo melhor. Pelo menos, não por enquanto. Encaremos: o taylorismo, em<br />
sua essência, ainda dá resultado. Intuímos que é preciso superá-lo, mas nos faltam ferramentas.<br />
Peter Drucker, numa entrevista à revista Wired (agosto de 1996), falou sobre a idéia, hoje popular, de<br />
se encarar a organização como uma banda de jazz, na qual todos escrevem a partitura enquanto tocam.<br />
"Soa bonito, mas ninguém realmente descobriu uma maneira de fazer isso", diz Drucker. Esse é o<br />
problema.<br />
Reparem nessa enxurrada de modismos em administração. Da década de 80 <strong>para</strong> cá são incontáveis as<br />
propostas "revolucionárias" que apareceram com a promessa de promover viradas radicais nas<br />
performances das empresas. Da qualidade total à reengenharia de processos. Da empresa voltada <strong>para</strong> o<br />
cliente aos times multifuncionais. Tudo isso se originou como reação à devastação perpetrada pelos<br />
produtos japoneses nos mercados ocidentais, a partir da segunda metade da década de 70. Mas o<br />
sucesso japonês tinha muito mais a ver com Taylor do que com "cliente em primeiro lugar", se é que o<br />
leitor me entende. No seu primeiro momento foi algo muitíssimo mais vinculado a sistemas otimizados<br />
de produção (alta qualidade com baixo custo) do que com qualquer outra coisa. Taylor puro.<br />
Pessoas em primeiro lugar? Não, pessoas comprando o meu produto em primeiro lugar. E meu produto<br />
é campeão porque é bom e barato, graças ao meu sistema de produção.<br />
As empresas continuam perseguindo um modelo idealizado de gestão participativa que unanimemente<br />
todos reconhecemos como essencial: apenas não sabemos como implantá-lo. Supostos exemplos<br />
revolucionários acabam se revelando belas ferramentas de autopromoção e marketing pessoal <strong>para</strong> seus<br />
autores, quando examinados sob a lupa fria da lógica do resultado <strong>cons</strong>istente ao longo do tempo.<br />
Gestão participativa funciona por espasmos: às vezes dá certo por períodos. Na maior parte do tempo,<br />
não dá. Vá à sua estante e pegue o livro Vencendo a Crise (In Search Of Excellence) de Tom Peters e<br />
Robert Watermann. Examine a famosa lista das empresas <strong>cons</strong>ideradas excelentes em 1980. Parece que<br />
nem todas continuaram tão excelentes assim. Muitas passaram por torturantes infernos astrais<br />
mercadológicos, e as que <strong>cons</strong>eguiram sair o fizeram graças a um receituário clássico: a busca da<br />
eficiência no sentido mais puramente taylorista. Ou será que alguém imagina que as centenas de<br />
milhares de demissões nas "ex-excelentes" aconteceram por decisão de algum mecanismo de gestão<br />
participativa?<br />
Enquanto isso, enquanto não resolvemos nossas culpas, e com as decisões do dia-a-dia a nos pressionar<br />
desumanamente, acabamos por esquecer as Qualidades Totais e Reengenharias e voltamos a dar ênfase<br />
a um processo muito mais antigo, e também essencialmente taylorista: o planejamento estratégico<br />
voltou à moda. Sim, aquele antigo processo em que se usa a inteligência <strong>para</strong> coletar, processar e<br />
interpretar a informação e, em seguida, definir os caminhos da empresa.<br />
24
Essa inteligência não está no "chão de fábrica", apesar de poder passar por lá. Seu exercício continua<br />
sendo basicamente um processo elitista de responsabilidade de poucos, e esses poucos geralmente<br />
transitam por ambientes bem mais acarpetados que o chão da fábrica. Não porque queiramos, mas<br />
porque nada se revelou melhor. Executivo é pragmático. Tem de gerar resultado.<br />
Vale a pena enfatizar o <strong>para</strong>doxo: reconhecemos a necessidade de um salto <strong>para</strong> outra dimensão.<br />
Gostamos de idéias participativas, elas são modernas e democráticas, mas na prática continuamos com<br />
Taylor. A inteligência continua se<strong>para</strong>da da execução. Essa é a nossa esquizofrenia, batizada por<br />
Kanigel de enigma da eficiência.<br />
E já que não <strong>cons</strong>eguimos superar nossas culpas com as demissões em massa que a reengenharia<br />
prescreve, estamos lendo hoje livros sobre... humm... liderança, o "novo" mantra competitivo das<br />
empresas realmente "feitas <strong>para</strong> durar".<br />
Liderança, leitor, é aquela capacidade que alguns managers têm de fazer com que seus subordinados se<br />
sintam felizes implementando as decisões que eles, managers, tomam sozinhos.<br />
Taylor deve estar dando boas risadas no túmulo. O manager seria o "cientista" que disseca processos de<br />
trabalho <strong>para</strong> otimizá-los. Com todo o simplismo que isso implica (a ingênua visão científica do início<br />
do século não se sustentaria por muito tempo), a obsessão de Taylor levou-o a colocar o sistema em<br />
prática. Cronômetro e prancheta. Registro e análise de tempos e movimentos. Otimização de processos<br />
(quase escrevo "reengenharia de processos", mas parece que essa denominação é protegida por<br />
copyright).<br />
Taylor montou seu sistema mediante o aprendizado na prática. Foi trabalhar como operário <strong>para</strong><br />
aprender e entender. Elaborou-o por décadas, antes de publicá-lo.<br />
Ficou nacionalmente famoso em 1910 quando um grupo poderoso de estradas de ferro solicitou licença<br />
ao governo federal americano <strong>para</strong> aumentar os preços das passagens, mas teve o pedido negado. A<br />
resposta que ouviram foi: "Vocês podem economizar mais que o que vão ganhar com o aumento<br />
solicitado, se usarem os métodos de um gênio da Filadélfia chamado Frederick Taylor".<br />
O New York Times abriu manchete em 10 de novembro de 1910: "Estradas de Ferro podem<br />
economizar $ 1,000,000 por dia. Scientific management faz isso. Aumento de preços é desnecessário".<br />
A América entrava em euforia com a descoberta da eficiência. De repente, Taylor e seus métodos<br />
estavam em toda parte mas, apesar dos resultados, a polêmica andava sempre junto. O tayloris-mo<br />
sempre foi associado a algo desu-mano, que não levava em conta as necessidades individuais do<br />
trabalhador, vendo-o apenas como peça de um sistema em que ele não podia interferir. Empresários o<br />
adotavam, mas intelectuais e ideólogos à direita e à esquerda o repudiavam por razões diferentes,<br />
identificando demônios opostos na mesma visão. Tampouco no movimento sindical Taylor encontrou<br />
apoio. Seja como for, o fato permanece: o taylorismo é uma idéia central de nossa época, um dos<br />
pilares do poderio americano no século XX.<br />
O pragmatismo das relações econômicas legitimou-o na prática e deixou as discussões mais<br />
intelectualizadas em segundo plano. A produtividade aumentou, a qualidade de vida do trabalhador<br />
médio - que passou realmente a participar do resultado do que produzia - hoje não tem com<strong>para</strong>ção<br />
com os padrões que vigoravam no início do século.<br />
A "alienação" do trabalhador diminuiu, contradizendo o dictum marxista, que acabou caindo no vazio.<br />
Drucker atribui tudo isso explicitamente à influência de Taylor, a quem <strong>cons</strong>idera o mais importante e<br />
mais injustiçado intelectual americano deste século.<br />
25
O taylorismo sempre teve um componente <strong>para</strong>doxal. Ninguém proporia, hoje, a aplicação literal de<br />
seus princípios como solução <strong>para</strong> os impasses do mundo complexo e plural do fim do século XX.<br />
Todos sabemos que temos de superá-lo, só não sabemos o que colocar em seu lugar.<br />
* Clemente Nobrega, autor do livro Em Busca da Empresa Quântica, é físico e diretor de marketing da<br />
Amil Assistência Médica.<br />
26
Texto 4: Bases <strong>para</strong> uma administração renovada: AKTOUF, O. A Administração entre a<br />
Tradição e a Renovação. SP: Atlas, 1996<br />
Bases e Orientações de um Pensamento Gerencial Renovado<br />
Pontos Principais<br />
Novas formas de pensar a gestão de empresas versus os princípios das escolas tradicionais<br />
Ponto de partida: crítica às difundidas 3 vantagens da divisão técnica do trabalho: ganho de tempo;<br />
especialização e aumento da habilidade e estímulo à propensão a inovar.<br />
Implicações negativas decorrentes da proposta "homem certo no lugar certo”<br />
moldar a pessoa ao que é exigido pelo posto de trabalho<br />
aumento da produtividade e tornar o funcionário intercambiável<br />
função do RH: seleção rigorosa do empregado-tipo <strong>para</strong> a tarefa-tipo.<br />
Inadequação dessas propostas no cenário concorrencial atual no qual pesam como fatores de<br />
competitividade: qualidade, criatividade, eliminação de todo tipo de desperdício, etc. �<br />
importância da flexibilidade.<br />
O novo contexto requer:<br />
Superar as condições de trabalho alienado � busca do sentido no trabalho (mais que "trabalhar <strong>para</strong><br />
viver", entender o todo) � empregado como partícipe ativo);<br />
Empresa como lugar de compartilhamento (gestão cultural) � fundamental a decisão dos dirigentes �<br />
ferramentas: círculos de qualidade, grupos de expressão, etc. � vontade do empregado em<br />
compartilhar � questão da comunicação (compartilhar).<br />
Mas: ainda prevalecem os mecanismos restritivos ao desenvolvimento de um ambiente favorável<br />
ao compartilhamento:<br />
anulação da comunicação; colusão; complementaridade; duplo <strong>cons</strong>trangimento; recusa de simetria;<br />
resposta tangencial, supercodificação. (exemplo positivo: empresa Cascades).<br />
Fundamental: assumir que pessoas não podem ser geridas cientificamente � trabalho do administrador<br />
como prática social<br />
requisitos básicos <strong>para</strong> o administrador hoje<br />
saber compreender antes de agir e utilizar sua reflexão e seu julgamento apoiado em conhecimentos e<br />
experiências interiorizadas, ricas e variadas, mais do que em "instrumentos" prontos.<br />
saber suscitar o interesse e capitalizar os "recursos" mais adaptáveis, inovadores, criativos e<br />
enriquecedores que existem: os empregados<br />
importância da qualidade e inovação<br />
27
importância do conhecimento, sem eliminar a importância da especialização e da experiência<br />
profissional.<br />
Práticas e Saberes em Gestão:<br />
Capacidade de "ler" situações, de efetuar sínteses, combinações, associações, a fim de compreender o<br />
que se passa e desencadear um processo de reações adaptadas, inteligentes (como em Morgan)<br />
cumprir os papéis informacionais, decisórios e interpessoais (propostos por Mintzberg), mas,<br />
fundamentalmente: compreender antes de agir<br />
<strong>para</strong> a empresa: aprender a se desenvolver sob várias lógicas e não mais segundo uma única.<br />
Competência essencial do administrador: gerar um clima e condições que suscitem adesão e<br />
mobilização no conjunto da empresa. Requer: mudanças profundas<br />
duplo movimento de rupturas e aberturas, de forma a abandonar convicções e princípios cristalizados<br />
sobre o bem administrar e estar aberto a uma gestão que favoreça o compartilhamento, com menores<br />
assimetrias<br />
permitir, o quanto possível, a apropriação, pelos empregados, de tudo aquilo que <strong>cons</strong>titui a empresa �<br />
trata-se da sobrevivência da empresas e não de sentimentalismo, de favores ou presentes aos<br />
empregados<br />
Administração Renovada nas escolas<br />
Reconhecer que a maioria das ferramentas da gestão de empresas pode ser útil e eficaz desde que<br />
adaptadas a diferentes contextos e sirvam a um estado de espírito diferente, mais participativo. Superar<br />
a perspectiva técnica e limitada e a valorização excessiva tantos dos estudos de caso quanto de<br />
abstrações matemáticas e cálculos ao invés de aproximar-se de experiências mais sérias; pretender ser<br />
administrador só a partir da escola, mesmo MBAs, sem ter "arregaçado as mangas".<br />
Superar a tentação de ter como confortável eixo as "receitas feitas", valorizar as ferramentas de<br />
reflexão � avançar no sentido de entender o que se passa.<br />
Valorizar diferentes teorias de forma a desenvolver "aptidões de formalização e conceituação" e de<br />
poder confrontar essas teorias com suas próprias teorias implícitas � empresas não podem esperar que<br />
seus quadros lhe cheguem totalmente prontos, mesmo que profissionais saídos das melhores escolas de<br />
gestão.<br />
Desafios <strong>para</strong> o ensino da gestão voltada <strong>para</strong> uma renovação adaptada e coerente:<br />
integrar a aquisição de conhecimentos sólidos e experiência concreta;<br />
integrar ao ensino saberes mais amplos e mais rigorosos que as técnicas e ferramentas dos especialistas<br />
em gestão<br />
esforço intelectual e cultura geral como base da criatividade e da inovação; . . .<br />
integrar a preocupação com a ética na gestão, a preocupação com as <strong>cons</strong>eqüências diretas e indiretas<br />
das atividades da empresa sobre as pessoas, sobre a sociedade e sobre a natureza;<br />
evidenciar os porquês e os como (e a racionalidade) de uma gestão baseada no compartilhamento,<br />
trazer à tona e dar o devido espaço a proposições "esquecidas", tais como as de:<br />
Taylor: colaborar, dividir benefícios, pagar melhor, preocupar-se com os operários.<br />
28
Texto 5: Organização do processo de trabalho na evolução do capitalismo<br />
Déa Lúcia Pimentel Teixeira<br />
Maria Carolina A.F. de Souza<br />
Professoras no Instituto de Economia da<br />
Universidade Estadual de Campinas- SP<br />
Publicado em RAE/FGV, out/dez 1985<br />
Resumo:<br />
Introdução;<br />
As condições de surgimento do trabalho assalariado;<br />
A organização do processo de trabalho industrial na etapa do capitalismo monopolista;<br />
As normas de organização do processo de trabalho na fase atual do capitalismo;<br />
Considerações finais<br />
1. Introdução<br />
A análise da evolução da organização do processo de trabalho dissociada do <strong>para</strong>lelismo com a<br />
evolução do capitalismo torna-se sem sustentação, à medida que deixa de <strong>cons</strong>iderar aspectos<br />
fundamentais que vão influenciar diretamente na forma, conteúdo o direção que o processo assume ao<br />
longo do tempo. Tais aspectos, ao serem trazidos à tona, poderão melhor explicar os avanços (e recuos)<br />
que a organização da classe dos trabalhadores percorre desde a sua <strong>cons</strong>tituição, isto é, a partir da<br />
se<strong>para</strong>ção dos produtores de seus meios de produção; movimentos esses intimamente ligados às<br />
variáveis que determinam o próprio desenvolvimento do sistema capitalista de produção.<br />
Destaque será dado neste artigo ao traçado do <strong>para</strong>lelismo entre os dois movimentos, (o do capitalismo<br />
e o da organização do processo de trabalho), a fim de que possa servir de referência, tanto <strong>para</strong> os<br />
leitores que priorizam o enfoque das teorias da administração - e que normalmente não a atem ao<br />
aspecto econômico ao tratar do assunto, quanto aos que privilegiam o enfoque econômico a que, em<br />
geral, não realçam os aspectos referentes ao nível das unidades empresariais.<br />
Não se tem pretensão, neste sentido, de esgotar a questão, mas procura-se evidenciar que a análise, ao<br />
ser realizada de forma a associar os dois campos de estudos, torna-se mas fecunda e clara.<br />
2. As Condições de Surgimento do Trabalho Assalariado<br />
O regime capitalista de produção pressupõe a generalização da produção <strong>para</strong> a troca. Com a expansão<br />
desta - entendida como expressão da diferenciação da divisão social do trabalho - ocorre também a<br />
se<strong>para</strong>ção definitiva dos produtores diretos de mercadorias dos seus meios de produção. Expropriados,<br />
passam a ser possuidores de urna única mercadoria - sua força de trabalho. Proletarizados, são<br />
convertidos em trabalhadores assalariados. Simples operadores dos instrumentos de produção que não<br />
mais lhes pertencem.<br />
29
Para participar do processo de troca, <strong>para</strong> ter existência social, o produtor precisa então levar sua<br />
mercadoria ao mercado, onde esta irá defrontar-se com todas as demais mercadorias. Seu possuidor a<br />
leva "livremente" ao mercado o vende-a por tempo determinado, forma única de continuar<br />
sobrevivendo. Não se aliena definitivamente dela, pois só agindo assim pode continuar participando da<br />
troca. Caso contrário, nada mais teria a oferecer. Alienando-se de sua mercadoria única nada mais seria<br />
que um escravo - ele próprio mercadoria. Isso significa que alguém, o comprador, proprietário do<br />
dinheiro e dos meios de produção, adquire o direito de usar essa força de trabalho pelo tempo acordado.<br />
Caracteriza-se, assim a dicotomia proprietários dos meios de produção/proletários.<br />
Os proprietários da força de trabalho, os trabalhadores, submetem-se, porque dessa maneira integramse<br />
eles próprios no mercado. Só assim podem ter acesso à mercadoria dinheiro - representado neste<br />
caso pelo salário - passaporte único às demais mercadorias, o que lhes permite a sobrevivência. Nesse<br />
sentido, percebe-se que o salário, expressão do valor da força de trabalho, não importa os meios pelos<br />
quais seja estabelecido, não "deveria" descer a níveis que ameacem a própria sobrevivência e<br />
reprodução da classe trabalhadora dada a importância <strong>para</strong> o capital, que a submete, mas que dela<br />
necessita (até mesmo enquanto exército de reserva), <strong>para</strong> continuar sua trajetória de valorização e<br />
acumulação. Pelo menos até a sua fase atual, o capitalismo não <strong>cons</strong>eguiu se descartar definitivamente<br />
da força de trabalho, embora a substituição de trabalho vivo, por trabalho morto seja mais e mais<br />
acelerada.<br />
O trabalho torna-se então alienado, vazio de sentido <strong>para</strong> o trabalhador, dado que o resultado de sua<br />
atividade passa a ser propriedade de outro. Nesse ponto, é bastante oportuna a seguinte citação: "O<br />
antigo possuidor de dinheiro marcha adiante como capitalista, segue-o o possuidor da força de trabalho<br />
como seu trabalhador, um cheio de importância, sorriso satisfeito e ávido por negócios; o outro, tímido,<br />
contrafeito, como alguém que levou a própria pele ao mercado e agora não tem mais nada a esperar,<br />
exceto o - curtume" 1 . Revela-se aqui todo o significado do fato de a força de trabalho ser transformada<br />
em uma mercadoria a mais, no mundo da produção capitalista, em que os produtos do trabalho não<br />
mais pertencem a seus produtores, anônimos participantes de um espetáculo no qual entram em cena<br />
sem nem mesmo perceber e no qual têm de permanecer independentemente de sua vontade. Sua<br />
sobrevivência está agora delimitada por decisões que vão, cada vez mais afastando-se de seu domínio,<br />
às quais, por meios mais ou menos violentos, acabam sendo obrigados a acatar. A “liberdade", não<br />
conquistada senão que imposta, que lhes permite colocar sua força de trabalho à venda, significa a<br />
subordinação completa, definitiva, do trabalho ao capital. Esse, sim, impondo as regras e condições aos<br />
personagens que a ele são atrelados. O conflito é inerente e intransponível. Ingenuidade querer eliminálo.<br />
Mantendo-se intocadas as características do cenário em que se insere.<br />
Cabe agora questionar sobre as condições que permitiram o surgimento desse trabalho assalariado.<br />
Vale dizer, em que situação a força de trabalho acaba por ser transformada em mercadoria, condição<br />
básica <strong>para</strong> o modo capitalista de produção. 2<br />
De início, convém ter em mente que o desenvolvimento do capital comercial representa condição<br />
necessária, mas não suficiente. Quais são então as outras variáveis que levam a que o desenvolvimento<br />
do capital comercial e a expropriação dos meios de produção dos produtores diretos redundem no<br />
trabalho assalariado e não em outra forma qualquer de subordinação? Se é fato que o capital comercial<br />
comanda a expulsão dos homens do campo, expropriando-os de suas terras, e fazendo com que se<br />
encaminhem <strong>para</strong> as cidades - onde serão obrigados a se submeter ao trabalho assalariado - é fato<br />
também que na antigüidade o mesmo comportamento do capital comercial redundou não no trabalho<br />
assalariado, mas sim no escravismo. Ocorre que o comportamento é o mesmo, mas as características<br />
das estruturas sociais sobre as quais atua são totalmente diferenciadas.<br />
Por outro lado, o surgimento do trabalho assalariado supõe a generalização da produção <strong>para</strong> a troca.<br />
Mas esta sozinha, não pode explicar a proletarização dos produtores. Há que haver outras<br />
30
características que viabilizem o desenrolar do processo especificamente em direção ao modo de<br />
produção capitalista. 3 Essas características estão presentes, ou decorrem da crise do regime feudal, que,<br />
dada sua estrutura social, permitiu o surgimento de pequenos produtores independentes. A<br />
expropriação e a proletarização dos produtores diretos caracteriza-se como momento essencial do<br />
surgimento do regime de produção capitalista. O produtor direto, transformado em trabalhador livre,<br />
produz não mais <strong>para</strong> si próprio, mas sim <strong>para</strong> o proprietário dos meios de produção.<br />
Tem-se, portanto, o desenvolvimento do capital comercial associado à existência de pequenos<br />
produtores independentes - depois expropriados dos seus meios de produção - gerando (não sem<br />
violência) uma massa de trabalhadores "livres". Isto vai ocasionar a polarização: possuidores dos meios<br />
de produção/proletários. A força de trabalho destes últimos será transformada em mercadoria vendida<br />
em troca de salário. Trabalho, então, assalariado.<br />
Pode-se agora visualizar o cenário que possibilitou o surgimento da manufatura, como forma avançada<br />
de organização da produção com relação ao trabalho (cooperado ou não) e ao putting-out. 4 No entanto,<br />
tal forma não é ainda a predominante. Coexiste com as formas anteriores, mas não as revoluciona.<br />
Na manufatura já se verifica a se<strong>para</strong>ção do produtor direto dos seus meios de produção, porém nessa<br />
fase a habilidade manual do trabalhador ainda é o fator básico do processo de produção. É ele quem<br />
determina o ritmo de produção e comanda o processo de trabalho, visto que detém os conhecimentos<br />
do processo. Ora, isso significa que não há ainda uma subordinação completa do trabalhador ao capital.<br />
No que diz respeito à execução do trabalho, ele produz usando os meios de produção do empregador,<br />
mas este não tem como impor-lhe um ritmo ou mesmo determinar como as tarefa devem ser feitas.<br />
Vale dizer, não tem condições de coordenar e controlar o processo de produção.<br />
A manufatura, de um lado, introduz uma forma superior de cooperação no trabalho, o que possibilita<br />
redução do tempo de trabalho necessário <strong>para</strong> a produção de um determinado produto. Portanto, já<br />
ocorre um aumento, limitado, da produtividade do trabalho, e um aumento do trabalho excedente. De<br />
outro lado, propicia a divisão técnica do trabalho - parcelarização das tarefas - e a especialização das<br />
tarefas, o que virá a representar a desqualificação técnica do trabalho e, portanto, a redução do valor da<br />
força de trabalho. Essa etapa representa um avanço no sentido da proletarização do trabalhador. Mas as<br />
ferramentas, embora especializadas, continuam sob o manejo e o controle do produtor direto. A<br />
subordinação ao capital é apenas formal, visto que a rapidez, a força e a habilidade manual do<br />
trabalhador é que vão terminar o ritmo e o volume da produção. Ou seja, o trabalhador, com sua força<br />
de trabalho, é o sujeito ativo no processo de produção: seu trabalho ainda exige técnica e habilidade<br />
manual. Se bem que os instrumentos de trabalho não mais lhe pertençam, ele os comanda. A<br />
manufatura, então, ainda impõe limites <strong>para</strong> a expansão do capital.<br />
A manufatura exige um trabalhador especializado. Isso requer tempo <strong>para</strong> a formação e a<br />
especialização, e, por isso, há uma limitação do número disponível desses trabalhadores. Isso lhes dá<br />
certo poder de barganha diante do proprietário dos meios de produção, impondo um "freio" ao processo<br />
de redução do valor da força de trabalho, dos salários. Na manufatura, pois. não se <strong>cons</strong>egue uma<br />
regulação organizada dos salários. Soma-se a essa limitação o fato de que é o trabalhador quem impõe<br />
o ritmo de trabalho. Isso dificulta o aumento da produtividade do trabalho. Apesar da presença de tais<br />
fatores limitantes, <strong>cons</strong>egue-se, entretanto, a extração da mais-valia absoluta, via prolongamento da<br />
jornada de trabalho. A extração da mais-valia relativa, porém, não é, até então, possível, dado que o<br />
aumento da produtividade está limitado pelas características das relações capital/trabalho então<br />
vigentes, sendo ainda regulado pelo próprio trabalhador, na medida em que o ritmo do trabalho é por<br />
ele determinado. Como é então superado esse obstáculo (ponto de vista do capital)? Ou, como são<br />
31
alteradas as relações capital/trabalho predominantes nessa fase? Ou, ainda, como se submete<br />
definitivamente o trabalho ao capital? Como "enquadrar" a nascente classe operária?<br />
Isso é <strong>cons</strong>eguido, de maneira geral, fazendo-se uso da violência, garantida ou acobertada pelo estado,<br />
e de uma legislação que regula não só a disciplina, como também a tomada de trabalho e os salários. O<br />
relato de como uma das usinas de aço dos EUA <strong>cons</strong>eguiu “superar" a resistência dos trabalhadores é<br />
significativo nesse sentido. Com a introdução dos altos fornos, a produção de ferrogusa, primeiro<br />
estágio da produção de aço, aumentou muito mais rapidamente do que a capacidade dos trabalhadores<br />
em transportá-lo. O uso do trabalho manual, então, impedia a expansão da produtividade, tornando<br />
necessária a sua substituição por máquinas.<br />
Para impedir a resistência do Sindicato dos Trabalhadores do Aço (com o qual eram feitos os contratos<br />
de trabalho) a essa disposição, o gerente da fábrica resolveu tomar algumas medidas. Mandou cercá-la<br />
de muros cobertos de arame farpado e equipados de plataformas <strong>para</strong> sentinelas e buracos <strong>para</strong> rifles.<br />
Foram <strong>cons</strong>truídas também, no interior dos muros, barracas <strong>para</strong> abrigar os furadores de greve e<br />
solicitados 300 guardas. A seguir, toda a força de trabalho foi dispensada e a fábrica <strong>para</strong>lisou as<br />
operações (o objetivo explícito do lockout era esfacelar o sindicato) e o gerente anunciou que a partir<br />
de então a fábrica não mais iria efetuar contratos com o sindicato. Quatro meses de conflitos. Dezenas<br />
de homens morreram e, ao final, com a intervenção do governo do estado e federal favoráveis à<br />
empresa, os grevistas foram derrotados. A fábrica retomou as atividades operando com os<br />
trabalhadores que haviam furado a greve e o sindicato. naquela empresa, estava definitivamente<br />
esfacelado. O gerente da fábrica escreve então ao proprietário: "Nossa vitória é, agora completa e muito<br />
satisfatória. Não creio que venhamos a ter problemas de trabalho novamente."<br />
Outros empregadores, estimulados pelo sucesso da ação desse gerente, passaram a adotar atitudes<br />
semelhantes de forma tal que, em 1898, o Sindicato dos Trabalhadores do Aço contava com menos de<br />
10 mil associados, enquanto em 1982 havia tido 25 mil. Em 1910, toda a indústria de aço dos EUA<br />
operava já totalmente "livre" do sistema de contratos com o sindicato, definitivamente extinto. 5<br />
Com o apoio da legislação, os trabalhadores são de definitivamente submetidos, e as características da<br />
manufatura - parcelização das tarefas, diferenciação das ferramentas, coletivização do processo de<br />
trabalho, superados os limites apontados, vão possibilitar o surgimento da indústria mecanizada. Esta,<br />
por sua vez, vai permitir a definitiva desqualificação do trabalho, passando o operário de sujeito ativo<br />
no processo, a sujeito passivo. Por isso ele é abrigado a ajustar-se ao ritmo da máquina: "Na<br />
manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve de ferramenta; na fábrica ele serve à máquina. Lá é<br />
dele que parte o movimento do meio de trabalho; aqui ele precisa acompanhar o movimento. Na<br />
manufatura, os trabalhadores <strong>cons</strong>tituem membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, há um<br />
mecanismo morto, independente deles, ao qual são incorporados como um apêndice vivo" . 6<br />
A Revolução industrial torna possível adaptar à máquina a ferramenta antes empunhada pelo homem.<br />
A máquina pode, agora, executar trabalhos anteriormente executados de forma manual. A habilidade<br />
manual deixa de ser necessária; o trabalhador hábil, especializado, criativo, nos padrões anteriores,<br />
deixa de ter importância. A atividade do operário passa a ser a de vigiar e acompanhar as operações<br />
executadas pela máquina. 0 que se precisa, nesta etapa, são trabalhadores que sigam o seu ritmo.<br />
A divisão do trabalho, que anteriormente se dava em função das características do homem, passa a ter<br />
como base as características das máquinas. Há crescente dependência do trabalho ao capital. Na medida<br />
em que não há mais necessidade de aptidões especiais, podem ser incorporados novos participantes ao<br />
mercado de trabalho, inclusive mulheres e crianças. Supera-se, então, a antiga limitação do número de<br />
trabalhadores especializados, o que vem a concorrer <strong>para</strong> a possível redução de salários e dependência<br />
do trabalhador: “Com a ferramenta de trabalho transfere-se também a virtuosidade em seu manejo, do<br />
trabalhador <strong>para</strong> a máquina. A eficácia da ferramenta é emancipada das limitações pessoais da força de<br />
32
trabalho humano. Com isso, supera-se o fundamento técnico sobre o qual repousa a divisão de trabalho<br />
na manufatura. No lugar da hierarquia de operários especializados que caracteriza a manufatura, surge,<br />
por isso, na fábrica automática, a tendência à igualação ou nivelamento dos trabalhos, que os auxiliares<br />
da maquinaria precisam executar. No lugar das diferenças artificialmente criadas entre os trabalhadores<br />
parciais surgem de modo preponderante as diferenças naturais de idade e sexo” . 7<br />
O que caracteriza a Revolução industrial não é a máquina em si, mas a sua generalização, ou seja, a<br />
maquinaria. Resulta esta não só da evolução técnica ocorrida na manufatura mas também, e<br />
principalmente, do fato de que foi possível, por um lado, obter uma acumulação anterior, via<br />
expropriação dos produtores diretos, transformando-os em trabalhadores livres. Por outro lado, com a<br />
expansão dos mercados, há necessidade de aumentar a escala de produção, o que é facilitado com a<br />
introdução da máquina. Enfim, essa generalização vai permitir que se supere a habilidade técnica do<br />
homem, e, em <strong>cons</strong>eqüência torna-se possível transferir o controle do processo produtivo das mãos do<br />
operário <strong>para</strong> as dos capitalistas, ou seus prepostos, o que contribui decisivamente <strong>para</strong> o seu sucesso.<br />
"O segredo do sucesso da fábrica, o motivo da sua adoção, é que ela tirava dos operários e transferia<br />
aos capitalistas o controle do processo de produção. Disciplina e fiscalização podiam reduzir, os custos,<br />
na falta de uma tecnologia superior” . 8<br />
O fato de a produtividade não ser mais controlada pelo homem, mas sim pela máquina, vai levar a uma<br />
redução no tempo de trabalho, e, por <strong>cons</strong>eguinte, do valor da força de trabalho. Consegue-se, dessa<br />
forma, reduzir os custos dos produtos, o que permite - do ponto de vista de cada empresa<br />
individualmente - reduzir o valor de seu produto <strong>para</strong> melhor competir com os rivais no mercado,<br />
visando a obtenção de um lucro extraordinário. Este, evidentemente, poderá desaparecer à medida que<br />
o processo se generalize, a não ser que cada empresa faça uso de outras mecanismos de concorrência -<br />
o que de fato ocorrerá.<br />
Com a generalização da máquina, torna-se possível a extração não só da mais-valia absoluta. como<br />
também da mais-valia relativa. Isto é, ao prolongamento da jornada de trabalho (caso não haja leis que<br />
a regulem), pode-se associar aumento de produtividade e redução de salários, redundando em aumento<br />
de trabalho não pago, tendo como limite, como já foi assinalado, as necessidades básicas do<br />
trabalhador. Um mínimo que possa garantir sua sobrevivência e reprodução na medida dos interesses<br />
do capital.<br />
A fase seguinte da capitulação da classe trabalhadora perante o capital (e não se pode aqui falar de<br />
capitulação final, dado que o processo continua evoluindo até o momento), dá-se a partir do momento<br />
em que à generalização da máquina associa-se a uma sofisticação tecnológica fruto da <strong>cons</strong>tante e<br />
crescente necessidade de expansão, do capital, o que o torna intrinsecamente "progressista". A máquina<br />
passa, dessa forma, a produzir, ela própria, máquinas que até então eram produzidas de forma manual e<br />
manufatureira (bens de produção, agora produzidos pela própria máquina).<br />
Os instrumentos de trabalho passam a ser os agentes ativos do processo de produção. Os trabalhadores<br />
nada mais têm a fazer se não adaptar-se às necessidades das máquina. Não têm mais controle sobre o<br />
processo de produção. Subordinados definitivamente à máquina, perdem o poder de barganha.<br />
Submetem-se ao capital e às suas regras. A "habilidade" é, então, dada pela capacidade (ou paciência)<br />
de adaptar-se a tarefas rotineiras e repetitivas: "Mesmo a facilitação do trabalho torna-se um meio de<br />
tortura, já que a máquina não livra o trabalhador do trabalho, mas seu trabalho de conteúdo" . 9<br />
O trabalhador qualificado da manufatura é agora substituído pelo trabalhador semiqualificado, cujo<br />
mérito maior é o de ajustar-se perfeitamente à máquina. A unidade trabalhador - ferramenta não existe,<br />
substituída que foi, de início, pela máquina individual e, posteriormente, pelo conjunto delas - a<br />
maquinaria. O processo é irreversível. A tendência é de exacerbação (a automação é sua fase atual).<br />
33
Como a expansão do capital não pode cessar, assumindo sempre novas e mais "racionais" formas,<br />
busca-se substituir, cada vez mais, trabalho vivo por trabalho morto. A maquinaria mais que economiza<br />
trabalho vivo, suga-o, seja estendendo a jornada de trabalho, seja aumentando de diversas formas o<br />
trabalho não pago. Essa é a regra, fruto da "necessidade" de crescente valorização do capital. Os<br />
elementos objetivos da produção preponderam sobre os elementos subjetivos. O proprietário dos meios<br />
de produção - o já agora capitalista - tem, pois, o controle total e não só formal do processo de<br />
produção. Controle este crescentemente ostensivo, seja de formas físicas, seja de formas mascaradas,<br />
que se amplia à medida que se amplia o uso de métodos mecanizados e automatizados de produção. 10<br />
O antagonismo inerente às relações entre trabalho e capital aparece realçado, gerando movimentos de<br />
ambas as partes, que visam do lado dos trabalhadores eliminar, ou pelo menos atenuar, a opressão. A<br />
prática política da classe operária (quando <strong>cons</strong>egue emergir) começa a ganhar importância crescente<br />
no confronto dos interesses.<br />
Do lado dos capitalistas, os movimentos e ações visam perpetuar ou expandir a atuação de<br />
subordinador. Movimentos também antagônicos.<br />
3. A Organização do Processo de Trabalho na Etapa do Capitalismo Monopolista<br />
Enquanto o sistema de "fábrica" foi responsável pela introdução do princípio de se<strong>para</strong>ção entre<br />
trabalho manual e intelectual no processo de trabalho, a organização da “gerência científica” (ou<br />
administração científica), por meio de taylorismo, 11 incumbiu-se de retirar dos operários, e transferir<br />
<strong>para</strong> os capitalistas, o controle de cada fase e atividade dentro do processo de trabalho, como também<br />
de seu modo de execução, baseado até então em um conhecimento prático advindo da experiência e<br />
tradição do ofício.<br />
A viabilização da administração científica do processo de trabalho, com sua função ao mesmo tempo<br />
gerencial (administração das condições materiais da produção) e coercitiva (disciplinação do trabalho),<br />
no entanto só foi alcançada após longo processo de concentração e centralização de capitais que<br />
possibilitou a absorção dos custos inerentes ao aumento da escala de produção, a introdução de<br />
inovações tecnológicas e a manutenção de equipes administrativas.<br />
O taylorismo <strong>cons</strong>titui-se num método <strong>para</strong> aumentar a produtividade do trabalho por meio de:<br />
padronização das atividades que o compõem;<br />
contenção dos custos operacionais;<br />
melhor aproveitamento do tempo de execução do trabalho, tornando-o, pois, mensurável e melhor<br />
controlável pelo capital.<br />
Esse método - e o próprio autor o reconhece - muito pouco cria em termos técnicos de execução do<br />
trabalho quando com<strong>para</strong>do com a perícia dos antigos artesãos. Foram estes criadores e detentores da<br />
maneira de realizar o trabalho que, historicamente, a transmitiram aos "novos" operários do "novo"<br />
sistema fabril. Assim, essencialmente, não se objetiva o aperfeiçoamento da divisão técnica do<br />
trabalho, mas sim da divisão, social do trabalho introduzida pela capitalismo e indispensável à sua<br />
"viabilização” .<br />
Considerando a existência de desperdícios e “anarquia” nas formas de produção vigentes nas empresas<br />
de sua época, Taylor propõe a aplicação de princípios básicos que contribuíram <strong>para</strong> a reorganização do<br />
trabalho em moldes de absoluto domínio da "gerência científica", preposta do capital, que atua portanto<br />
em prol e em seu nome. E foi a mecanização que propiciou tal sujeição, uma vez que se <strong>cons</strong>titui num<br />
34
meio de produção de mais-valia, ao desvalorizar a força de trabalho, prolongar a jornada e intensificar<br />
o trabalho.<br />
Segundo Taylor, a administração deve incumbir-se de analisar o processo de trabalho em seus mínimos<br />
detalhes, propor e testar novas formas de realizá-lo e transmiti-las aos operários em forma de padrões<br />
hierárquicos rígidos de execução, assegurados pela elaboração de normas, instruções, regras de<br />
procedimento, prêmios, sanções etc. Deve também escolher e treinar o " melhor homem" <strong>para</strong> realizar<br />
cada tarefa do processo de trabalho, atendendo às disposições previamente estabelecidas por meio de<br />
previsões e planejamento.<br />
Em síntese, tais princípios podem ser resumidos em dois aspectos fundamentais que possibilitam e<br />
legitimam a total transferência do controle do processo de trabalho (pela imposição de uma rigorosa<br />
maneira de execução predeterminada), <strong>para</strong> as mãos "da direção capitalista através do estudo dos<br />
fundamentos da organização do processo de trabalho.<br />
1. Dissociar o processo de trabalho das especialidades dos operários, pois a atividade da administração<br />
<strong>cons</strong>iste em dividir o trabalho em tarefas, de tal forma que o conhecimento do processo de produção,<br />
como um todo, pelos operários, e sua habilidades desenvolvidas nesse sentido tornam-se totalmente<br />
supérfluos à execução fragmentada do trabalho.<br />
2. Se<strong>para</strong>r as fases de concepção e execução do trabalho, entregando à administração o monopólio do<br />
saber, que passa a ser distribuído conveniente e dosadamente aos operários, então transformados em<br />
exclusivos executantes. Justifica-se em procedimento devido ao tempo de estudos necessários à melhor<br />
organização do processo de trabalho que, portanto, não podem ser assumidos pelos operários, por falta<br />
de formação e tempo. Assim, é lhes destinada a função de executar, uma vez que a “ciência" do<br />
trabalho só pode ser utilizada por quem possui tempo e formação paz tanto. Em função disso, o<br />
processo de trabalho torna-se revestido de processos complexos, uso de laboratórios, cálculos e<br />
previsões estatísticas que, em última análise, <strong>cons</strong>tituem um método de classificação e sistematização<br />
que aspira à "cientificidade".<br />
Dessa forma, possibilita-se impor um rendimento padronizado ao trabalho, além de imbuir seus<br />
preceitos de uma "normalidade" e "neutralidade" próprias da atividade científica, a fim de que sejam<br />
respeitados e aceitos como tal.<br />
Se o primeiro aspecto viabiliza o aperfeiçoamento do processo de fragmentação e a desqualificação do<br />
trabalho, o segundo contribui <strong>para</strong> o barateamento da mão-de-obra e o controle do processo de trabalho<br />
pela gerência (isto é, pelo capital), legitimado "cientificamente" pelo pretenso aspecto de racionalidade<br />
que se propõe alcançar.<br />
Nos termos de Simone Weil, 12 "Taylor substitui o chicote pelos escritórios e pelos laboratórios, com a<br />
cobertura da ciência".<br />
Em <strong>cons</strong>eqüência, <strong>cons</strong>uma-se o processo promovido pelo capitalismo de fazer com que o trabalho seja<br />
posse do capital. É a própria Simone Weil que assim o descreve: "O patrão tem não apenas a<br />
propriedade da fábrica, das máquinas, o monopólio dos processos de fabricação e dos conhecimentos<br />
financeiros e comerciais a respeito de sua fábrica, como ele ainda pretende ter o monopólio do trabalho<br />
e dos tempos de trabalho. O que é que resta <strong>para</strong> os operários? Resta-lhes a energia que permite fazer<br />
um movimento, o equivalente à força elétrica; e ela é utilizada exatamente como se utiliza a<br />
eletricidade” . 13<br />
Marx, em sua obra O Capital, afirma que o processo de trabalho na sociedade capitalista ocorre sob o<br />
controle do capital e que os processos de produção são incessantemente transformados sob o ímpeto da<br />
principal força norteadora dessa sociedade: a acumulação de capital.<br />
35
E qual será a função da “gerência científica” dentro desse processo de evolução do capitalismo? É,<br />
certamente, contribuir <strong>para</strong> essas transformações, com seus métodos operacionais de ativação da<br />
produção de mais-valia, por meio de uma adequada estratégia que possibilita a intensificação da<br />
dominação do capital e a <strong>cons</strong>tituição de um trabalho rentável por um trabalhador submisso, uma vez<br />
que assegura a legitimidade e normalidade da forma hierárquica administrativa das empresas modernas.<br />
A interpretação que se faz da "gerência científica”, quando se examina seus efeitos, não pode (ou não<br />
deve) centrar-se, portanto, em seus aspectos técnicos e humanistas que, na realidade, são parciais e<br />
ocultam ou escamoteiam a verdadeiro sentido da função administrativa. Os primeiros (criação do<br />
analista de tempos e movimentos, do apontador, fragmentação do trabalho, especialização,<br />
individualização dos salários etc.), porque atendem somente à lógica, interesses e necessidades do<br />
capital. E os últimos (recomposição do processo de trabalho, motivação do trabalhador do processo<br />
decisório, etc.), porque respondem apenas ao surgimento de obstáculos relativos ao melhor<br />
funcionamento e desempenho (crescimento da rentabilidade) das organizações (aumento do<br />
absenteísmo, sabotagem, desinteresse dos operários, etc.).<br />
Essa análise, portanto, não questiona o aspecto fundamental da subdivisão e fragmentação do trabalho<br />
que permitem, tanto a perpetuação do domínio do capital quanto à possibilidade de crescente extração<br />
da mais-valia (pelo aumento da intensidade e ritmo do trabalho e pela introdução de novas tecnologias<br />
poupadoras de trabalho), transformada em "ciência".<br />
Nesse sentido torna-se oportuno citar, mais vez, Simone Weil que explica <strong>para</strong> os operários: "Desde<br />
seu nascimento, a racionalização (nome que se dá à administração “científica”) foi antes,<br />
essencialmente, método <strong>para</strong> se trabalhar mais do que um método <strong>para</strong> se trabalhar melhor. ( ... ) Taylor<br />
não procurava um método de racionalizar o trabalho, mas um meio de controle dos operários, e se<br />
achou ao mesmo tempo o meio de simplificar o trabalho, são duas coisas totalmente diferentes. 14<br />
E Robert Linhart conclui: "Numa análise do modo de produção capitalista „puro‟, a „organização<br />
científica‟ do trabalho de Taylor é a que se encontra melhor colocada <strong>para</strong> encarnar o processo de<br />
trabalho capitalista, reconduzido à sua essência”. 15<br />
4. As Formas de Organização do Processo de Trabalho na Fase Atual do Capitalismo<br />
O taylorismo e o fordismo que o segue - introduzindo as correias transportadoras, que determinam o<br />
ritmo do trabalho, e o salário diário, que aumenta o controle sobre a força de trabalho, pois possibilita<br />
recrutar e dispensar facilmente a mão-de-obra, na medida em que isto se fizer necessário ao capital -<br />
sofreram modificações ao longo do século 20. E a polêmica ainda atual refere-se ao significado das<br />
novas formas de organização do trabalho, propostas nas últimas décadas: antitaylorismo ou<br />
neotaylorisrno?<br />
Examinando-se essas novas formas de organização do trabalho, desde a Escola de Relações Humanas -<br />
surgida nas primeiras décadas do século 20, logo após o taylorismo - com suas propostas de<br />
humanização do trabalho (motivação do trabalhador com símbolos psicossociais visando a sua melhor<br />
integração ou adaptação ao processo de trabalho), até as mais recentes forma de reagrupamento das<br />
etapas do processo de trabalho (Job enrichment ou Job enlargement, grupos semi-autônomos) 16 e de<br />
incentivo ao aumento da participação de trabalhadores nas decisões empresariais (comissões de fábrica,<br />
delegados sindicais, círculos de controle de qualidade etc.), pode-se perceber a ausência de<br />
questionamentos ao aspecto fundamental da natureza das relações de trabalho.<br />
Assim, não se rompe com Taylor. O objetivo é o mesmo: dar uma conotação científica à arte de<br />
organizar e comandar.<br />
36
As novas formas completam as antigas, ou melhor, significam um aperfeiçoamento das relações<br />
capitalistas de produção, pois procuram despojá-las do caráter despótico de gerenciamento de conflitos<br />
através de transformações: no conteúdo do trabalho (extinção de parte da linha de montagem.<br />
recomposição da extrema fragmentação do trabalho etc.), nas formas de autoridade (direção com<br />
participação, por objetivos, representação de trabalhadores em diferentes níveis etc.), nos processos de<br />
integração da força de trabalho (promoção de identidade de interesses, esquemas de formação<br />
permanente e de perfil de carreira <strong>para</strong> todos etc.), e em outros aspectos.<br />
É o novo discurso do capital, <strong>cons</strong>tituído por novo estilo de administração capitalista, que se atualiza<br />
em função das necessidades imposta em cada etapa de acumulação do capital e em cada estágio das<br />
forças produtivas.<br />
As alterações então ocorrem à medida que a organização repressiva do trabalho passa a se <strong>cons</strong>tituir em<br />
obstáculo à ampliação crescente da produtividade, em função das condições econômico-sociais<br />
específicas dos países ocidentais em seus respectivos estágios de industrialização.<br />
Dependem, ainda da configuração assumida pela correlação de forças existentes entre as classes<br />
sociais, das tecnologias utilizadas pelo capital e da forma de legitimação por ele proposta: mas nunca<br />
questionam realmente as bases que alicerçam o modo de produção capitalista. Enfim, significam<br />
adaptações dos processos de trabalho na produção em massa às novas condições de controle da força de<br />
trabalho e as novas necessidades impostas pela configuração da estrutura de produção internacional, e,<br />
portanto, as novas condições de reprodução da dominação do capital, objetivando a continuidade do<br />
processo de acumulação na fase da produção em série e da produção por processamento contínuo.<br />
Na afirmação de Braverman, "A necessidade de ajustar o trabalhador ao trabalho em sua forma<br />
capitalista, de superar a resistência natural intensificada pela tecnologia mutável e alternante, relações<br />
socais antagônicas e a sucessão de gerações, não termina com a „organização científica do trabalho‟,<br />
mas se torna um aspecto permanente da sociedade capitalista." 17<br />
Com esse objetivo, escolas e teorias de administração têm-se sucedido com o sentido de<br />
instrumentalizar o capital, fornecendo-lhe técnicas administrativas que possibilitem melhor controle e<br />
rendimento dos processos de produção e da força de trabalho utilizados, e subsídios <strong>para</strong> elaboração de<br />
políticas de emprego e <strong>para</strong> as negociações trabalhistas, contribuindo na busca do equilíbrio das forças<br />
sociais envolvidas. 18<br />
5. Considerações Finais<br />
Procurou-se mostrar neste texto, bastante sintetizado, as diversas transformações pelas quais passa o<br />
processo, trabalho na sociedade capitalista, desde os momentos iniciais de sua <strong>cons</strong>tituição como<br />
trabalho assalariado, até sua total subordinação ao capital, sempre vinculando-se fundamentalmente às<br />
necessidades advindas das peculiaridades de cada fase de desenvolvimento do próprio sistema.<br />
As formas de vinculação alteram-se, ajustam-se, convertem-se em mais, ou menos, violentas em função<br />
das características de cada momento, mas sempre buscando perpetuar a autoridade do capital sobre a<br />
trabalho. Para tanto, a divisão do trabalho tornou-se cada vez mais hierarquizada, formalizada e<br />
impessoal. As tarefas, cada vez mais parcelizadas, fragmentadas; o trabalho, desqualificado e alienado.<br />
O processo acelera-se aparentemente ad infinitun. Do feudalismo ao capitalismo monopolista foram<br />
necessários séculos, da maquinaria ao robôs, anos. O caráter expansionista do capital assim o exige.<br />
Surge então a questão: até que ponto estender-se-á essa dominação do capital sobre o trabalho? E mais:<br />
que modalidades ainda será capaz de assumir?<br />
37
Verificou-se que o processo de produção torna-se cada vez mais mecanizado e, mesmo, automatizado.<br />
Mas, em <strong>para</strong>lelo, e como <strong>cons</strong>eqüência o antagonismo entre as classes envolvidas exacerba-se. Para<br />
contorná-lo e garantir a dominação são usadas nova formas de dominação. O chicote das primeiras<br />
fases é substituído pela sala do psicólogo nas grandes empresas (pergunta-se: qual o mais apavorante?).<br />
As técnicas do taylorismo são substituídas pelas modernas práticas de aparência democrática,<br />
pretensamente participativas e de cunho social.<br />
Mudam os métodos de sujeição; muda até mesmo a percepção que os trabalhadores deles têm, mas o<br />
objetivo continua o mesmo. Negocia-se tudo, menos esse ponto, vital que é, <strong>para</strong> a própria manutenção<br />
do sistema capitalista: a natureza das relações de trabalho, isto é, a dominação do capital objetivando o<br />
crescimento da produtividade e a ampliação da acumulação.<br />
Se as aspirações do trabalhador mudam, se evoluem em função de sua forma de organização e<br />
participação nos órgãos de classe, busca-se adequá-los ao trabalho, através das modernas técnicas de<br />
gerenciamento que escamoteiam a subordinação. Enfatiza-se, assim, na atualidade, mais que nunca, o<br />
papel social da empresa.<br />
Mas a questão continua. Qual será o perfil da organização produtiva com a introdução cada vez mais<br />
acelera. da automação? Se o trabalho morto avança mais e mais sobre o trabalho vivo, liberando<br />
trabalhadores, <strong>para</strong> onde estes irão? A reciclagem, as novas funções, que o próprio avanço da<br />
tecnologia cria, serão suficientes <strong>para</strong> absorvê-los, se elas próprias poderão ser rapidamente<br />
automatizadas também? E note-se que não é apenas o setor secundário que apresenta semelhante<br />
tendência; os setores primário e terciário já evidenciam sinais crescentes de automação. Incumbir-seiam,<br />
então, as micro, pequenas e médias empresas da função de intensificar a absorção de mão-deobra?<br />
Ou a liberação do trabalho configurar-se-ia na redução da jornada de trabalho e na ampliação do<br />
lazer?<br />
E qual seria o papel a ser assumido pelo estado na atual configuração da sociedade capitalista,<br />
principalmente nos seus segmentos periféricos? Contribuir <strong>para</strong> manter a sobrevivência e reprodução<br />
da classe trabalhadora gerando novas ocupações de uso intensivo da mão-de-obra, ou assegurando a<br />
transferência dos ganhos do uso intensivo da máquina <strong>para</strong> aumentar a participação dessa classe nos<br />
bens gerados pela sociedade?<br />
Questões e questões que podem (e devem) ser suscitadas embora a elaboração de uma análise<br />
conclusiva seja inviável, pois implicaria previsões e avaliações sobre os possíveis desdobramentos<br />
desses processos em curso.<br />
Relativamente, porém, às transformações ocorridas na administração do processo de trabalho na<br />
sociedade capitalista, a análise realizada permite que seja bastante taxativo em certos aspectos.<br />
Principalmente nos países mais industrializados começa-se a perceber que as formas mas despóticas de<br />
subordinação do trabalho ao capital passam a se <strong>cons</strong>tituir em obstáculos ao desenvolvimento da<br />
organização mais eficiente do processo de produção.<br />
Intensifica-se, assim. a busca de modernas técnicas de gestão, como, por exemplo, a utilização das tão<br />
em moda "receitas" de gerenciamento do estilo japonês (teoria Z, círculos de controle de qualidade<br />
etc.), que estão sendo aplicados nos EUA e em outros países, inclusive no Brasil. O intuito é tentar<br />
assimilar da administração japonesa o caráter humanista atribuído às suas técnicas e aplicá-lo no<br />
Ocidente.<br />
Portanto, do ponto de vista administrativo, a maior crítica que a essa transposição deve ser feita não é a<br />
que se refere aos seus impedimentos culturais (bastante superficiais) e nem aos relativos às condições<br />
de <strong>cons</strong>tituição e evolução do capitalismo japonês (aspectos mais procedentes), mas sim a que diz<br />
38
espeito ao caráter humanista dessas técnicas apresentadas como inovadoras mas que apenas buscam<br />
renovar os métodos de dominação, evitando sua obsolescência.<br />
Se, enfim, como afirma Max “ (. . . ) toda produção capitalista, à medida que ela não é apenas processo<br />
de trabalho, mas ao mesmo tempo processo de valorização do capital, tem em comum o fato de que não<br />
é o trabalhador quem usa as condições de trabalho, mas, que, pelo contrário, são as condições de<br />
trabalho que usam o trabalhador: só, porém, com a maquinaria é que essa inversão ganha realidade<br />
tecnicamente palpável. Mediante sua transformação em autômato, o próprio meio de trabalho se<br />
confronta, durante o processo de trabalho, com o trabalhador como capital, como trabalho morto que<br />
domina e suga a força de trabalho viva”, 19 o que resta ao trabalhador ante o contexto atual, onde já se<br />
planeja e introduz na produção autômatos que o substituem, mesmo em certas funções vitais até então<br />
por ele desempenhadas?<br />
Afinal, a redundância do trabalho vivo e sua divisão técnica estão, mais que nunca, presentes e<br />
associadas a uma crescentemente aprofundada divisão social do trabalho.<br />
Notas<br />
1 Marx, Karl. O capital. São Paulo:Abril Cultural, 1984, v. 1, t.1 cap. 4, p. 145.<br />
2 Essa é a questão proposta por Dobb, Mayrice*. A evolução do capitalismo. São Paulo: Abril Cultural, 1981. p.<br />
160. "Dizer hoje que o capitalismo pressupõe a existência de um proletariado já se tornou lugar comum. Mas o<br />
fato de que a existência de tal classe depende de determinado conjunto de circunstâncias históricas raras vezes<br />
mereceu atenção no passado em mãos de autores que dedicaram boa soma de análise à evolução de capital sob<br />
suas várias formas e ao desabrochar do espírito capitalista - talvez porque os estratagemas dos prestamistas<br />
lombardos e dos corretores de fundos públicos de Amsterdã dêem elementos <strong>para</strong> uma narrativa mais cheia de<br />
encantos do que o relato de como os pobres eram marcados a fogo e enforcados, e os aldeões perseguidos e<br />
despojados do que tinham.”<br />
3 Cf. Oliveira, Carlos Alonso. Considerações sobre a formação do capitalismo. Dissertação de mestrado.<br />
Campinas: Unicamp, 1977, p.12.<br />
4 Sistema de organização da produção que se diferencia do artesanato na medida em que o artesão não é mais o<br />
proprietário da matéria-prima e não pertence mais à corporação de ofício, uma vez que passa a trabalhar "fora da<br />
cidade". O comerciante torna-se o proprietário da matéria-prima e o organizador do sistema de produção,<br />
enquanto o artesão dele recebe a matéria-prima, transforma-a e entrega-lhe o produto final.<br />
5 Apud Stone, Katherine. The origins of job structures in the steel industry. Edwards, Richard C. et alii Labor<br />
market segmentation. D.C:. Hearth and Company, 1973. p. 34-5 (trecho traduzido pelas autoras).<br />
6 Marx, Karl. op. cit. v.1, t.2, cap. 13, p. 43.<br />
7 Max, Karl. op. cit. v.1, t.2, cap. 13, p. 4 1.<br />
8 Marglin, Stephen A. Origem e funções do parcelamento das tarefas. "Para que servem os patrões? “ In: Gorz,<br />
A., (org.) Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1980. p. 58.<br />
9 Max. Karl. op. cit. v.1, t.2, cap. 13. p. 43.<br />
10 O trabalho de Katherine Stone, já citado, descreve e analisa com detalhes, as formas de vinculação do<br />
trabalhador a cada fase do desenvolvimento dessa indústria, até atingir sua forma tipicamente capitalista. É.<br />
nesse sentido, um valioso estudo de caso, cuja leitura vem facilitar o entendimento do tema aqui desenvolvido.<br />
11 Nome tomado de autor pioneiro (Frederick W. Taylor) na elaboração de princípios de reorganização do<br />
processo de trabalho, no final do século XIX, <strong>cons</strong>ubstanciados em uma de suas obras, escrita em 1911,<br />
Princípios de administração científica, traduzido e publicado pela Editora Atlas. Para os iniciantes no assunto, o<br />
volume da Coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense, de autoria de Luzia M. Rago e Eduardo F.P.<br />
Moreira, O que é taylorismo, apresenta uma bem elaborada síntese e uma bibliografia sobre o assunto, assim<br />
como os manuais existentes sobre a teoria geral da administração.<br />
39
12 Em conferência pronunciada <strong>para</strong> um auditório <strong>cons</strong>tituído por operários, em 1937, na França e publicada sob<br />
o título “ A racionalização”, no livro de Bosi, Ecléa. org. Simone Weit- A condição operária e outros estudos<br />
sobre a opressão, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979 p. 119.<br />
13 Id. ibid. p. 125.<br />
14 Id. ibid. p. 121.<br />
15 Linhart, R. Lenine, os camponeses e Taylor. Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1977. p. 89.<br />
14 Técnicas que vêm sendo utilizadas recentemente em vários países, principalmente nos mais industrializados,<br />
em empresas que produzem sob a forma de linha de montagem e que <strong>cons</strong>istem, basicamente, na ampliação e no<br />
rodízio das tarefas dos operários.<br />
17 Braverman, Harry. Trabalho e capital monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. 9. 124.<br />
18 Neste sentido, inúmeros autores além dos já mencionados têm analisado, com multa pertinência, as formas de<br />
organização dos processos de trabalho no sistema capitalista, tais como Friedman, G. O trabalho no sistema<br />
capitalista. São Paulo: Perspectiva, 1983; Gorz. A. O depotismo de fábrica e suas <strong>cons</strong>eqüências, e Pignon, D.<br />
& Querzola J. A. Ditadura ou Democracia na Produção. In: Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins<br />
Fontes, 1980; Laino. A. Controle fabril: poder a autoridade do capital. Petrópolis: Vozes, 1983; Motta,<br />
Fernando C.P. Participação e co-gestão – novas formas de administração. São Paulo: Brasilliense, 1982;<br />
Palloix, C. O processo de trabalho do fordismo ao neofordismo e Sohn-Rethel, A. A Economia Dual da<br />
Transição. In: Erber, F. S (org). Processo de Trabalho e Estratégias de Classe. Rio de Janeiro: Zahar, 1982;<br />
Tragtenberg, M. Administração, Poder e Ideologia. São Paulo: Moraes, 1980.<br />
19 Marx, Karl op. cit. v. 1, t.2, cap. 13, V. 43-4.<br />
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Texto 6: Sobre as Funções do Administrador (de acordo com algumas das principais concepções)<br />
Elaborado por Jorge Luiz R. R. Ramos a partir dos trabalhos:<br />
Maximiano, A. C. A. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 1997;<br />
_________ . Introdução à Administração. São Paulo: Atlas, 1995<br />
1. O Papel dos Gerentes na Administração<br />
Elaborado por Jorge Luiz R. R. Ramos a partir de Maximiano, A. C. A. Teoria Geral da<br />
Administração. São Paulo: Atlas, 1997; _________ . Introdução à Administração. São Paulo: Atlas,<br />
1995.<br />
Os gerentes ou administradores são os vetores da gestão ou administração; são eles que gerem,<br />
administram as mais diversas atividades de qualquer organização, de forma que uma das formas de se<br />
entender o que é administração é através da descrição das atividades desses atores. Não é por outro<br />
motivo que diversos autores dedicaram-se ao estudo das atividades gerenciais, tendo esse assunto<br />
despertado sempre atenção como objeto de estudo. Mesmo fora da esfera da Administração, vários<br />
historiadores, filósofos e cientistas dedicaram-se ao estudo da atuação dos dirigentes nas organizações,<br />
sejam elas países, empresas ou agremiações religiosas.<br />
De forma bastante esquemática, de acordo com os propósitos deste texto, pode-se identificar dois<br />
“modelos” de administração nos quais os papéis gerenciais são bastante distintos. Em um primeiro<br />
modelo, que se pode chamar “convencional”, o gerente é a personagem principal do processo<br />
administrativo, cabendo unicamente e ele a administração das organizações, sendo que aos<br />
subordinados cabe tão somente a obediência as normas e diretrizes definidas pelos gerentes; nesse caso,<br />
administração e gerentes são sinônimos. Contrastando com essa visão existem “novos modelos” de<br />
administração, onde cabe a todos os integrantes de uma organização determinados papéis gerenciais, e<br />
onde esses papéis vão além das funções clássicas do processo administrativo. Nesse caso, existe a<br />
percepção de que a administração está sempre presente na rotina das pessoas e dos grupos de trabalho<br />
das organizações, que <strong>cons</strong>tantemente assumem responsabilidades na execução de suas tarefas. Cabe,<br />
então, aos gerentes a coordenação do processo decisório e a criação e manutenção de condições<br />
favoráveis a realização das tarefas. Ambos os modelos serão melhor apresentado a seguir.<br />
1.1. a escola do processo administrativo<br />
O grande personagem dessa escola é Henry Fayol que com o livro “Administração Geral e Industrial”<br />
lançou suas bases. O papel dos gerentes corresponde ao observado no modelo “convencional” de<br />
administração e é definido em termos de cinco funções: planejar (examinar o futuro e traçar planos de<br />
ação a médio e longo prazos), organizar (montar uma estrutura humana e material que permita a<br />
realização dos empreendimentos objetivados), comandar (manter o pessoal em atividade), coordenar<br />
(reunir, unificar e harmonizar os esforços) e controlar (cuidar <strong>para</strong> que tudo se realize de acordo com os<br />
planos e ordens).Em geral essas funções aparecem sintetizadas no difundido PODC:<br />
PLANEJAR; ORGANIZAR; DIRIGIR; CONTROLAR<br />
Da perspectiva de Fayol, a empresa (organização) é um sistema racional de regras e autoridade, o que<br />
explica sua visão acerca do papel dos gerentes, que são os responsáveis pela manutenção da<br />
racionalidade e da autoridade dentro de uma organização. Os gerentes devem, dessa forma, tomar<br />
decisões, estabelecer metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades aos integrantes da<br />
organização, de modo que as atividades de planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar<br />
41
estejam em uma seqüência lógica. Para Fayol, os colaboradores precisam de ordens <strong>para</strong> saber o que<br />
fazer, suas ações precisam de coordenação e suas tarefas de controle, sendo justamente esse o papel dos<br />
gerentes.<br />
Essa visão fica bastante evidente nos princípios que, <strong>para</strong> Fayol, devem ser <strong>cons</strong>iderados pelos gerentes<br />
e nos deveres necessários <strong>para</strong> que um desempenho satisfatório seja atingido no exercício das<br />
atividades gerenciais. Esses princípios e deveres são uma síntese do pensamento do autor.<br />
São 14 os princípios, listados a seguir:<br />
divisão do trabalho,<br />
autoridade e responsabilidade,<br />
disciplina,<br />
unidade de comando,<br />
subordinação do interesse individual ao geral,<br />
remuneração eqüitativa,<br />
centralização,<br />
cadeia escalar (hierarquia),<br />
ordem,<br />
eqüidade no tratamento,<br />
estabilidade pessoal,<br />
iniciativa, e<br />
espírito de equipe.<br />
Os deveres são 16, a saber:<br />
pre<strong>para</strong>r e executar os planos;<br />
cuidar <strong>para</strong> a coerência da organização humana e material com os recursos e requisitos da empresa;<br />
estabelecer autoridade <strong>cons</strong>trutiva, competente, enérgica e única;<br />
harmonizar atividades e coordenar esforços;<br />
tomar decisões de forma simples, nítida e precisa;<br />
selecionar de forma eficiente o pessoal;<br />
definir obrigações;<br />
encorajar a iniciativa e o senso de responsabilidade;<br />
recompensar justa e adequadamente os serviços prestados;<br />
usar sanções contra falhas e erros;<br />
manter a disciplina;<br />
subordinar interesses individuais aos gerais;<br />
manter unidade de comando;<br />
supervisionar a ordem;<br />
42
ter tudo sobre controle;<br />
combater o excesso de burocracia.<br />
2. Novas interpretações da atividade gerencial<br />
São muitos os autores e as abordagens que, em seu conjunto, <strong>cons</strong>tituem aquilo que foi chamado, no<br />
início deste texto, de “novos modelos” de administração. Como não convém aos objetivos deste texto a<br />
apresentação a apresentação de todos essas abordagens, será aqui apresentada uma pequena, e<br />
esquemática, síntese de dois elementos que fazem parte da <strong>cons</strong>trução de um referencial mais amplo<br />
relativamente ao papel dos gerentes nas organizações.<br />
2.1. O papel dos gerentes segundo Mintzberg<br />
Mintzberg discorda de Fayol quanto a visão de que a atuação dos gerentes restringe-se ao<br />
planejamento, organização, direção, controle e coordenação. Essas funções teriam relação tão somente<br />
com o processo administrativo, cabendo aos gerentes muitas outras funções além dessas. Mintzberg<br />
classificou as funções gerenciais em 10 papéis – conjunto organizado de comportamentos que<br />
pertencem a uma função ou posição identificável –, agrupados em 3 grupos diferentes: papéis de<br />
decisão, papéis interpessoais e papéis de informação.<br />
O primeiro grupo refere-se aos papéis de decisão. Nesses papéis cabe aos gerentes atuar como<br />
empreendedor (iniciador e planejador das mudanças controladas), como controlador de distúrbios<br />
(aquele que lida com situações que estão ao menos parcialmente fora do controle gerencial, como<br />
imprevistos, crises ou conflitos), como administrador de recursos (alocação dos recursos disponíveis<br />
tendo em vista os objetivos da organização) e como negociador (é o gerente quem representa sua<br />
organização em processos de negociações com outros agentes – sindicatos, clientes ou credores, por<br />
exemplo).<br />
Nos papéis interpessoais, cabe aos gerentes atuar como figura de proa (símbolo e representante da<br />
organização, atuando como “relações públicas”), como líder (papel que permeia todas as atividades<br />
dos gerentes) e como ligação (conjunto de relacionamentos que os gerentes devem manter,<br />
principalmente com seus pares, vinculando suas equipes com outras, na busca de um maior intercâmbio<br />
de recursos e informações dentro da organização).<br />
Por fim, o terceiro grupo de papéis refere-se à obtenção e transmissão de informações. Nesse sentido,<br />
cabe aos gerentes o papel de monitor (aquele que busca informações que permitam a ele entender o que<br />
se passa dentro de sua organização e no meio ambiente), de disseminador (de forma complementar ao<br />
papel anterior, não basta entender o que se passa, é necessário disseminar as informações apreendidas),<br />
e de porta-voz (aquele que leva as informações de dentro da organização <strong>para</strong> o meio ambiente, quando<br />
isso é necessário).<br />
Mintzberg não tem a intenção de negar o papel dos gerentes assim como entendido pela escola do<br />
processo administrativo. No entanto, <strong>para</strong> ele essa escola não contempla todo o conjunto de papéis que<br />
os gerentes exercem: as funções clássicas do processo administrativo diluem-se e combinam-se no<br />
desempenho dos papéis apresentados por Mintzberg, principalmente quando há administração de<br />
recursos e tomada de decisões. Ou seja, <strong>para</strong> realizar cada uma das atividades de planejar, organizar,<br />
dirigir, controlar e coordenar é preciso que os gerentes combinem, ao mesmo tempo, em sua atuação,<br />
vários dos papéis apresentados; por exemplo, o controle de um grupo de trabalho que tem por objetivo<br />
a elaboração de um projeto qualquer requer do responsável uma combinação de papéis como<br />
controlador de distúrbios, administrador de recursos, líder, monitor, entre outros. O autor destaca ainda<br />
que a personalidade e os valores pessoais influem decisivamente na forma que os gerentes executam<br />
43
suas função, da mesma forma que variáveis como níveis hierárquicos, especialidade e tamanho da<br />
organização também pode influenciar os papéis que mostrem-se mais relevantes no dia a dia dos<br />
gerentes.<br />
2.2. Drucker e a crítica à unidade de comando<br />
Para Drucker, a forma de funcionamento das organizações modernas nem sempre permitem que a<br />
unidade de comando seja mantida. Não é raro que os funcionários de uma grande empresa tenham que<br />
se reportar a dois ou mais chefes, em uma situação que impede a unidade de comando, um dos<br />
princípios da escola do processo administrativo. Torna-se então essencial que os funcionários saibam<br />
exercer um determinado tipo de gerência onde não controlam nem são controlados.<br />
Nesse caso, deve-se <strong>cons</strong>iderar que todos são ou podem ser gerentes, sendo o processo administrativo<br />
distribuído por toda a estrutura, não obstante os gerentes continuarem a desempenhar papéis de<br />
autoridade, responsabilidade e decisão. A administração e a gerência devem ser vistos como conceitos<br />
distintos, dado que a administração está presente em qualquer atividade onde recursos são despendidos<br />
<strong>para</strong> a <strong>cons</strong>ecução de objetivos, ao passo que a figura do gerente só aparece quando algum tipo de<br />
direção ou comando faz-se necessário. Adicionalmente, a função de direção (de subordinados), pode<br />
ser substituída por conceitos como cooperação, participação ou delegação.<br />
3. As Funções dos Gerentes da Nova Era<br />
Prahalad, C.K. A atividade dos Gerentes da Nova Era no Emergente Panorama Competitivo.<br />
Hesselbein, F., Goldsmith, M., Beckhard, R. A organização do Futuro<br />
Contexto:<br />
1.Do cômodo ao competitivo<br />
2.Do local ao global<br />
3.Do “gostar de mim” <strong>para</strong> o “gostar de quem?”<br />
4.Das Fronteiras setoriais nítidas às indefinidas<br />
5.Da estabilidade à volatilidade<br />
6.Dos intermediários ao acesso direto<br />
7.Da integração vertical aos especialistas<br />
8.De uma herança intelectual única à múltipla<br />
Gerentes devem gerar recursos em suas organizações <strong>para</strong>:<br />
1.Conceber e executar estratégias complexas (peso das relações com os stake holders)<br />
2.compartilhar e proteger a propriedade intelectual (peso dos ativos invisíveis)<br />
3.Administrar a interface público/privado (peso das regulamentações e poder da opinião pública)<br />
4.Proporcionar liderança intelectual e administrativa (peso da capacidade de ir além do exercício das<br />
funções cotidianas)<br />
O novo contexto requer: aprendizado; capacidade de compartilhar; capacidade de desenvolver<br />
acordos de colaboração; flexibilidade e agilidade.<br />
44
Para tanto, trabalho crítico dos gerentes envolve:<br />
Criar uma agenda competitiva e compartilhada <strong>para</strong> toda a organização<br />
Concentrar-se em mudar a dinâmica dos setores de mercado e em alavancar os recursos da empresa<br />
Criar um sistema flexível capaz de reestruturar recursos <strong>para</strong> tratar de oportunidades emergentes<br />
Desenvolver uma capacidade global<br />
Características requeridas dos gerentes:<br />
Raciocínio sistêmico<br />
Competência intercultural<br />
Treinamento intensivo e contínuo<br />
Padrões pessoais de comportamento<br />
Gerente da Nova Era: não poderá ser um mero executor; deverá ser um pensador<br />
45
Texto 7: Notas sobre a Evolução da Teoria da Administração e a Estrutura organizacional<br />
Maria Carolina de A. de Souza 1<br />
Introdução<br />
O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão das diversas tendências pelas quais passou a teoria da<br />
administração e como o tema “Estrutura Organizacional” é por elas abordado. O texto está dividido em<br />
dois itens além desta introdução. No primeiro, faz-se uma rápida revisão das principais escolas de<br />
Administração e no segundo, são apresentados alguns dos principais trabalhos voltados <strong>para</strong> o estudo<br />
da estrutura e/ou características gerenciais.<br />
Um dos pontos que mais têm merecido destaque na literatura na área de administração de empresas é<br />
análise da estrutura organizacional, principalmente no que diz respeito à identificação de variáveis que<br />
influenciam na sua formação. A estrutura administrativa, da qual depende qualquer decisão, é formada<br />
por pessoas e relações entre as diversas atividades da empresa. Em nível horizontal, essas relações<br />
representam as funções; no sentido vertical representam os níveis hierárquicos que a compõem.<br />
A teoria organizacional preocupa-se em mostrar que, de maneira geral, o desenvolvimento e o<br />
funcionamento e os resultados de uma organização são influenciados por uma série de fatores externos,<br />
tais como as condições do ambiente concorrencial em que atua, e internos, incluindo as características<br />
pessoais de seus dirigentes. Na maioria das vezes os dirigentes não têm poder de mudança sobre as<br />
variáveis estruturais (externas à empresa), mas podem exercer influência sobre as variáveis internas,<br />
contribuindo <strong>para</strong> agilizar ou retardar mudanças. A forma e o grau de dependência relativamente a<br />
essas variáveis são diferentes de empresa <strong>para</strong> empresa, variando em função do setor, poder de<br />
mercado, tipo de tecnologia, processos produtivos, etc. Ou seja, no que se refere à administração, não<br />
se pode pretender leis gerais e universais, além disso vale observar que várias das mais difundidas<br />
pesquisas em administração foram desenvolvidas em empresas com interesse muito maior na solução<br />
de um problema específico do que na possível contribuição que poderiam representar <strong>para</strong> a formação<br />
de uma teoria 2 .<br />
Dado um mesmo leque de variáveis que compõem um determinado cenário, diferentes expectativas e<br />
comportamentos empresariais levam a escolhas estratégicas distintas. Nas mesmas condições<br />
estruturais podem se verificar variados resultados, assim como resultados semelhantes podem ser<br />
alcançados com combinações diferentes de variáveis. Decisões que dizem respeito ao posicionamento<br />
da empresa, tais como diversificação, expansão ou redução de linha de produtos, estruturação do<br />
processo produtivo, centralização ou descentralização do processo de tomada de decisões,<br />
comportamento diante de mudanças no ambiente, maior ou menor aversão ao risco e à incerteza,<br />
refletem as características gerenciais dos dirigentes.<br />
1 Agradecimentos à revisão e valiosas contribuições de Daniela Salomão Gorayeb<br />
2 Muitas das pesquisas realizadas na área de Administração são encomendadas por empresas que buscam, ao financiá-las, a<br />
solução de um problema específico. À medida que os resultados dos trabalhos em empresas são bem sucedidos e vão sendo<br />
divulgados, outras empresas têm acesso a eles, e o interesse cresce. Não raras vezes, uma pesquisa desenvolvida no interior<br />
de uma única organização, acaba sendo o ponto fundamental de uma corrente de pensamento em administração. A pesquisa<br />
de Elton Mayo (8) é um exemplo característico. Foi desenvolvida no interior de uma organização, evidenciou várias falhas<br />
nos princípios propostos pela escola clássica, e acabou por ser o pilar sobre o qual se desenvolveu a Escola de Relações<br />
Humanas, que representou muito mais um avanço do que uma oposição à clássica.<br />
46
A atividade do empresário exige inovação, iniciativa, planejamento do uso de recursos com vistas não<br />
só ao presente, mas à situação futura da empresa, o que significa dizer que ser empresário é muito mais<br />
gerir a empresa do que fundá-la. Segundo Cole, “ação empresarial é a desenvolvida por um indivíduo<br />
ou grupo de indivíduos, visando a criar, manter ou expandir um ente social que produz bens<br />
econômicos com o fim de obter um lucro”. A diferenciação entre empresas, que conduz a vantagens<br />
competitivas depende de <strong>cons</strong>tantes inovações em tecnologia, produtos e processos produtivos, assim<br />
como na maneira de ver e administrar os processos organizacionais. O fato de uma empresa<br />
permanecer no mercado durante um período relativamente longo, pode, então, ser <strong>cons</strong>iderado reflexo<br />
não só de condições favoráveis do ambiente em que está inserida, mas também das características da<br />
administração. São essas que, de alguma forma, permitem superar as ameaças e explorar as<br />
oportunidades identificadas no ambiente, formulando estratégias que atenuem as fragilidades da<br />
empresa e acentuem, na forma de vantagens competitivas, seus pontos fortes. A incapacidade da<br />
direção em definir uma estratégia e adaptar-se com agilidade e criatividade às <strong>cons</strong>tantes mudanças do<br />
ambiente pode representar obstáculo mais forte que ameaças externas à continuidade da empresa no<br />
mercado.<br />
1 - O Desenvolvimento da Teoria Organizacional<br />
1.1. O enfoque da Escola clássica<br />
O objetivo básico dessa escola, representada principalmente por Taylor e Fayol, foi o de <strong>cons</strong>tituir uma<br />
concepção administrativa global e orgânica da empresa, caracterizada pela coerência interna. Neste<br />
sentido, propunha uma distribuição racional do trabalho, como meio de se alcançar uma especialização<br />
eficiente e uma estrutura de autoridade <strong>para</strong> manter o controle e a coordenação.<br />
Apesar de ter como pontos favoráveis o caráter precursor e o êxito técnico, uma análise crítica de suas<br />
proposições evidencia alguns pontos falhos nos chamados princípios da administração tradicional.<br />
Talvez porque, na maior parte, foram extraídos da experiência pessoal de seus autores, adquirida<br />
basicamente em trabalhos realizados <strong>para</strong> solucionar problemas específicos da grande empresa da<br />
época, que tinha como principais problemas o aumento da produtividade e a produção em grande escala<br />
<strong>para</strong> viabilizar as grandes plantas instaladas nesse período. Apesar de postular a universalidade de seus<br />
princípios, a teoria clássica da administração não apresenta em seu arcabouço condições <strong>para</strong> tal<br />
universalização, uma vez que foi elaborada a partir de amostra limitada, em número e espécie, de<br />
organizações, essencialmente grandes empresas industriais. Seus pressupostos englobam:<br />
a) Concepção mecanicista do homem, isto é, seu comportamento pode ser explicado em um<br />
esquema simples de ação-reação, sendo comparável à máquina. Passível de substituição imediata, caso<br />
não se ajuste à função que lhe é atribuída;<br />
b) Divisão do trabalho que leva à máxima especialização possível e, portanto, segundo a<br />
concepção dessa escola, à máxima produtividade;<br />
c) Consideração da estrutura como sistema exclusivamente formal e hierárquico. A autoridade tem<br />
como única base a hierarquia. As linhas de autoridade e comunicação seguem apenas essa hierarquia.<br />
d) Incentivos ao operário, basicamente em salário. Não leva em conta problemas de motivação,<br />
inter-relação entre o que o indivíduo faz na empresa e fora dela, influência de sindicatos, etc.<br />
Centrada na resolução dos problemas internos das empresas, e baseada praticamente no empirismo, a<br />
teoria clássica da administração não leva em conta a influência do meio ambiente, omitindo quase que<br />
por completo o contexto. A organização é vista como um sistema fechado supervalorizando o conceito<br />
de produtividade e buscando a maximização dos objetivos econômicos.<br />
47
1.2. O enfoque da Escola de Relações Humanas<br />
Representou uma ampliação do campo de estudo da escola clássica, na medida em que, de um lado,<br />
procurou analisar outras organizações, não se restringindo à organização industrial e, de outro, passa a<br />
encarar o homem como o principal fator <strong>para</strong> o processo de produção.<br />
A visão clássica da organização que <strong>cons</strong>iderava apenas seus aspectos formais é amplamente criticada<br />
pelos teóricos da escola de Relações Humanas, <strong>para</strong> quem a organização deve ser vista como um<br />
conjunto de grupos sociais que interagem entre si, caracterizando o que pode ser chamado de estrutura<br />
informal, onde variáveis como motivação e liderança exercem um papel fundamental. A escola de<br />
Relações Humanas não significou uma negação da clássica, mas sim o que poderia ser chamado de<br />
uma atualização que buscava responder às novas necessidades das organizações.<br />
De fato, os princípios ditados pela clássica, e adotados intensamente pelas empresas, frutificaram, no<br />
que diz respeito ao aumento da produtividade. Entretanto, algumas das medidas aplicadas, tais como a<br />
máxima especialização no trabalho, embora tenham apresentado notáveis resultados, a médio prazo<br />
provocaram efeitos colaterais como monotonia e insatisfação no desempenho das tarefas, o que<br />
resultou em queda de produtividade. Em <strong>para</strong>lelo, o operariado evolui enquanto classe social. Os<br />
sindicatos passam a ter um maior poder de barganha. O próprio Estado passou a se preocupar com o<br />
problema, surgindo as primeiras legislações trabalhistas.<br />
Nesse clima, os pilares da escola clássica vão se tornando mais fracos, e surge o questionamento da<br />
validade da aplicação irrestrita do enfoque tradicional, e a urgência de se armar novos esquemas <strong>para</strong><br />
administrar a empresa, levando em conta o homem social em oposição ao "homo economicus" como<br />
até então era visto. Esse quadro foi extremamente propício <strong>para</strong> que as idéias da escola Relações<br />
Humanas se <strong>cons</strong>olidassem. Suas recomendações passaram a ser aplicadas, não como substitutas das<br />
medidas anteriormente adotadas, mas em conjunto com elas, como um meio de "suavizá-las". Em<br />
última instância, a produtividade como o principal objetivo continuava a ser prioritária. Os meios <strong>para</strong><br />
atingir tal objetivo é que sofreram modificação. Eram agora baseados na cooperação entre grupos,<br />
participação dos grupos nas decisões referentes a seu trabalho, tendo sempre como fundo a relevância<br />
dos desejos e necessidades individuais. Evidentemente, a tentativa era a de fazer com que o homem se<br />
ajustasse aos critérios da organização, mas por sua própria vontade e não como a imposição clara do<br />
enfoque clássico.<br />
Apesar da aparente contradição, as duas escolas não são oponentes como já foi mencionado. Ambas<br />
vêem a organização como um sistema fechado, privilegiam a maximização da eficiência, e têm como<br />
preocupação básica a determinação dos meios mais adequados <strong>para</strong> atingi-la. A escola Relações<br />
Humanas, portanto, não nega a clássica. Procura, isto sim, acrescentar novos elementos na análise,<br />
principalmente no que diz respeito à relevância da estrutura informal <strong>para</strong> a organização. Em síntese<br />
propõe: organização formal + organização informal = organização real.<br />
A principal contribuição dessa nova corrente foi a ampliação dos limites da análise organizacional,<br />
embora tenha deixado alguns pontos em branco. De um lado, ao não <strong>cons</strong>iderar a influência do<br />
ambiente. De outro, ao não abordar os conflitos como inevitáveis, uma vez que o choque de interesses<br />
entre patrão e operário é inerente ao sistema capitalista e não pode ser eliminado pela utilização de<br />
manobras gerenciais. Ou seja, os conflitos foram <strong>cons</strong>iderados circunstanciais e passíveis de pronta<br />
solução, desde que houvesse uma adequação entre os aspectos formais e informais da organização.<br />
O quadro a seguir 3 apresenta uma síntese das diferenças entre as duas abordagens.<br />
48
Síntese das Diferenças entre as Duas Abordagens<br />
Valor<br />
Escola<br />
Clássica Relações Humanas<br />
Concepção do Homem Homem Máquina Homem Unidade<br />
Concepção da motivação "Homo econcomicus” Motivação complexa<br />
Concepção do indivíduo na<br />
empresa<br />
Indivíduo isolado<br />
Concepção da autoridade Autoridade formal<br />
Concepção da relação<br />
indivíduo/empresa<br />
Inexistência de conflito<br />
Indivíduo socialmente<br />
integrado<br />
Autoridade como fenômeno<br />
sociológico<br />
Importância determinante do<br />
conflito<br />
As diferenças entre as duas concepções permitem notar a ampliação dos limites da teoria<br />
organizacional, que passa a se preocupar também, com fatores tais como: liderança, comunicação e<br />
motivação.<br />
Permanece, todavia, um espaço em branco, na medida em que, alguns aspectos essenciais <strong>para</strong> a<br />
compreensão do comportamento das organizações em geral, e da empresa especificamente, não foram<br />
analisados pela escola de Relações Humanas. Não foi observada a influência que a relação<br />
sindicato/operário teria sobre a relação operário/empresa. O conceito de liderança participativa, na<br />
prática acabou por se transformar em paternalismo, talvez em função da ausência de um maior<br />
aprofundamento na análise dos conflitos (condições materiais, realização no trabalho, etc.). O salário<br />
também passa a ser, não a recompensa por um esforço, mas sim, o pagamento por um sacrifício.<br />
A escola de Relações Humanas, embora sua contraposição ao tradicionalismo da escola clássica,<br />
<strong>cons</strong>ervou intacto o pragmatismo desta última, significando menos uma revolução que uma adaptação<br />
aos novos tempos e situações, e não uma mudança radical de conceitos. As idéias dessa escola<br />
evoluíram <strong>para</strong> a denominada sociologia industrial, que parte do pressuposto que existe na indústria um<br />
agudo conflito de interesses que se expressa em todas as dimensões da organização. Propõe-se a<br />
equacionar esses por meio de uma atuação sobre o grupo, assumindo que esse exerce importante<br />
influência sobre o comportamento do indivíduo. A atuação proposta envolve a utilização de métodos<br />
participativos e não de imposição.<br />
Outro aspecto relevante <strong>para</strong> a sociologia industrial é a motivação. Kliksberg 3 resume o complexo<br />
motivacional em:<br />
1) Motivações Positivas (Naturais):<br />
- o papel do trabalho como processo estruturador da personalidade;<br />
- o papel do trabalho como forma de realização e expressão pessoal;<br />
- o papel do trabalho como meio de vinculação social.<br />
2) Motivações Negativas (Coercitivas):<br />
- o salário;<br />
3 Kligsberg , 1971.<br />
49
- a estabilidade;<br />
- outras vantagens naturais.<br />
O processo de motivação deve visar essencialmente ao primeiro grupo, a fim de que a produtividade se<br />
eleve. Um exemplo foi a substituição de incentivos individuais por coletivos, o que veio a favorecer o<br />
papel do trabalhador como meio de conexão social. Entretanto, tais medidas não podem ser<br />
<strong>cons</strong>ideradas válidas <strong>para</strong> todas as situações. Em um sistema no qual o salário mínimo mal permite a<br />
subsistência, e no qual a oferta de trabalho é superior à demanda, ou ainda em uma situação de crise,<br />
seria no mínimo ingenuidade classificar-se salário e estabilidade como fatores motivacionais negativos.<br />
Pelo contrário, esses passam a ser os principais itens reivindicados pelos assalariados.<br />
A sociologia industrial preocupou-se ainda com a relação entre o trabalho e o não trabalho, acreditando<br />
que, na medida em que o operário <strong>cons</strong>iga um grau de satisfação nas suas atividades recreativas haverá<br />
um reflexo favorável sobre a produtividade no trabalho. Isso leva a que, a partir de determinado nível<br />
de salário, o empregado passe a querer dispor de mais tempo livre.<br />
Outro tema abordado pela sociologia industrial é o relativo à liderança. Esta passa a ser abordada com<br />
maior flexibilidade, podendo adquirir várias feições, dependendo de cada situação particular.<br />
Sob essa abordagem a liderança poderia assumir as seguintes formas:<br />
Liderança Autocrática - direção baseada exclusivamente no poder formal, aplicando medidas<br />
coercitivas (dispensas, sanções, etc.), como meio básico <strong>para</strong> resolver os conflitos. Desconhecendo o<br />
grupo como entidade social, os contatos são feitos somente no nível do indivíduo isoladamente.<br />
Liderança Laissez Faire - a direção seria totalmente informal e elástica, as comunicações livres; uso<br />
intenso de medidas paternalistas, não <strong>cons</strong>iderando, porém como a anterior, o grupo como entidade<br />
social.<br />
Liderança Democrática - direção orientada a obter a identificação do grupo com os objetivos da<br />
organização; comunicação livre, mas orientada <strong>para</strong> o trabalho e os objetivos do grupo e da<br />
organização, <strong>cons</strong>iderando o grupo como entidade social.<br />
Os efeitos de cada um dos tipos de liderança são resumidos por Kliksberg 4 conforme quadro a seguir.<br />
Efeitos de cada um dos Tipos de Liderança segundo Kliksberg<br />
Tipo de Liderança<br />
Efeitos sobre a<br />
identificação com os<br />
objetivos<br />
Efeitos sobre a<br />
organização social<br />
do grupo<br />
Autocrática Nula Competitivo Retrocede<br />
Efeitos sobre o<br />
desenvolvimento<br />
pessoal<br />
Laissez-faire Nula Anárquico Não o promove<br />
Democrática Alta Cooperativo Avança<br />
Os estudos e pesquisas que fundamentaram a evolução da Sociologia Industrial, ao contrário das<br />
demais abordagens, desenvolveu-se basicamente dentro de Institutos de Pesquisas e de faculdades, o<br />
4 Kliksberg, 1971.<br />
50
que, em certa medida, diminui o grau de subordinação aos interesses das grandes organizações. Guiada<br />
pelo objetivo de chegar a explicações fundamentais e verdadeiras dos fenômenos, propõe situar a<br />
“verdade científica” em primeiro plano, e procura <strong>cons</strong>iderar o trabalho humano como um fenômeno<br />
complexo, que só será compreensível quando se analisa cada uma de suas particularidades, <strong>cons</strong>truindo<br />
ao mesmo tempo uma síntese integradora das conclusões.<br />
Vale ainda mencionar como um desdobramento dessa escola a abordagem de Simon. Ao contrário dos<br />
enfoques que propunham ações visando a maximizar os resultados, essa abordagem propõe que o<br />
processo de tomada de decisões deve ser desenvolvido sob o que Simon chama de racionalidade<br />
limitada, isto é, o "homem administrativo", em contraposição ao "homem econômico". Para Simon, a<br />
organização refere-se ao complexo sistema de comunicações e inter-relações existentes em um<br />
agrupamento humano. Tal sistema proporciona a cada membro do grupo parte substancial das<br />
informações necessárias, objetivos e atitudes que entram nas suas decisões, propiciando-lhes,<br />
igualmente, um conjunto de expectativas estáveis e abrangentes quanto ao que os outros membros do<br />
grupo estão fazendo e de que maneira reagirão ao que ele diz e faz. Essa linha de pensamento é<br />
caracterizada por uma argumentação de coerência interna e tem como objetivo resultados<br />
"satisfatórios", ao invés de maximização, levando em conta somente as variáveis mais importantes <strong>para</strong><br />
sua decisão. Esta por sua vez é que determina o comportamento organizativo.<br />
Simon destaca a diferença das características do ambiente interno relativamente ao ambiente externo,<br />
explicitando a natureza estabilizadora do primeiro, em face da incerteza e da instabilidade do segundo.<br />
Dada a incapacidade dos agentes em tratar com a incerteza, assumem particular importância a<br />
estabilidade de regras e os procedimentos capazes de propiciar âncoras ao processo decisório dos<br />
agentes. A instabilidade de regras e de procedimentos internos contribuiria <strong>para</strong> aumentar ainda mais a<br />
incerteza. Não se trata de pregar o apego rígido às rotinas preestabelecidas, mas sim à estabilização<br />
mínima de regras básicas (como por exemplo, que a aprendizagem demanda tempo e que as decisões só<br />
podem ser avaliadas a partir da obtenção dos resultados) que garantam, <strong>para</strong> os agentes internos, foco,<br />
direção e, principalmente, comprometimento da alta direção.<br />
Enfim, após uma breve análise das teorias apresentadas, deve-se levar em conta suas limitações, dado<br />
que a evolução dessas abordagens está profundamente ligada ao próprio desenvolvimento das<br />
empresas. A escola clássica, por exemplo, surgiu em função dos grandes conglomerados que se<br />
formavam na época, e que precisavam de novos conceitos em termos de administração, que lhes<br />
garantissem maior racionalidade visando a maior produtividade e eficiência na acumulação de capital.<br />
A própria concepção do homem, em termos de hierarquia de necessidades, está ligada às condições<br />
sociais de então. O homem mal tinha condições de resolver seu problema básico de sobrevivência,<br />
portanto, não tinha como evoluir em reivindicações de caráter mais social. Nesse contexto, a concepção<br />
do "homem econômico" era funcional no que se refere ao problema da estratificação social anterior:<br />
empresa paternalista/proprietário do capital/fator trabalho. Tentava-se assim eliminar o conflito que<br />
poderia surgir. Na medida em que os fatores sociais passam a exercer maior pressão, surge a concepção<br />
do "homem social", e mais tarde, com o início da era dos computadores, o "homem racional", sempre<br />
procurando ajustar as necessidades do homem, enquanto fator trabalho, às necessidades do sistema<br />
econômico.<br />
2. Abordagens com ênfase na Estrutura Organizacional<br />
Para a escola clássica, os componentes básicos da estrutura organizacional são a divisão do trabalho, a<br />
hierarquia e a unidade de comando, isto é, a estrutura formal. Tais elementos bem conjugados é que<br />
levariam à maximização de resultados, objetivo básico da empresa nessa concepção. A escola de<br />
relações humanas, por sua vez, não se preocupa em analisar a estrutura formal, uma vez que seu<br />
51
enfoque está dirigido fundamentalmente <strong>para</strong> os elementos informais da organização o seu efeito sobre<br />
o seu desempenho. Em última instância, o objetivo continua sendo o mesmo da escola clássica: o de<br />
maximização de resultados.<br />
As abordagens que se sucedem não chegam a formar o que se pode caracterizar efetivamente como<br />
escola de pensamento, como as duas anteriores, podendo ser englobadas, como faz Kliksberg sob a<br />
denominação Teoria das Organizações.<br />
Dadas as restrições apresentadas, fica clara a importância de uma abordagem que se preocupe em<br />
analisar a empresa., situando-a em um contexto mais dinâmico e mais flexível, visto que as<br />
organizações, hoje, tornaram-se grandemente variadas, e a teoria deve acompanhar tal variação <strong>para</strong><br />
que possa realmente conhecê-las, analisá-las e nelas atuar. Nas análises mais modernas, a empresa<br />
passa a ser enfocada como sendo <strong>cons</strong>tituída de um conjunto de indivíduos, desempenhando diferentes<br />
papéis e ocupando diferentes posições, utilizando-se recursos humanos, tecnológicos e econômicos<br />
<strong>para</strong> atingir seu objetivo.<br />
Os estudos mais recentes procuram mostrar que, embora as organizações apresentem características<br />
que podem fazer parte de uma teoria geral, há aspectos que são específicos, mutáveis, e, portanto, têm<br />
de ser estudados caso a caso, não sendo passíveis de generalização. Nesse novo quadro é que se insere<br />
a maior preocupação com a análise da estrutura das empresas, que é uma das variáveis principais<br />
envolvidas neste trabalho, e que se inclui no rol daquelas que não podem ser universalizadas e taxadas<br />
de "ideais".<br />
Procura-se mostrar, nessas análises, que a estrutura não é um fim em si mesma, mas sim um meio <strong>para</strong><br />
se alcançar objetivos. Nesse sentido, necessita ser flexível diante de mudanças ocorridas, não só<br />
internas, mas também no ambiente competitivo, no qual a empresa está inserida. A forma da estrutura,<br />
portanto, deve ser uma resposta às “pressões” internas e externas e, após definida, passará a exercer<br />
influência sobre a atuação da empresa.<br />
Diante disso, as perguntas básicas em termos de estrutura passam a ser não só: como dividir o trabalho<br />
necessário? Como estabelecer cargos? Como relacioná-los e agrupá-los em uma unidade<br />
administrativa? Como alocar autoridade entre esses cargos? Há que questionar também: Qual tipo de<br />
estrutura é mais adequada <strong>para</strong> cada empresa especificamente? Quais variáveis podem atuar sobre ela?<br />
Sobre quais ela, por sua vez, pode atuar?<br />
Nesse aspecto, torna-se útil uma breve revisão sobre os estudos de Burns e Stalker, Joan Woodward,<br />
Lawrence e Lorsch, Lansley, Sadler e Webb, Richard Hall e Eduardo Vasconcelos, sobre os quais cabe<br />
uma revisão dos principais pontos que irão formar a base conceitual e o modelo sobre os quais estará<br />
apoiado o presente estudo.<br />
2.1. Estrutura, Tecnologia e Ambiente<br />
Burns e Stalker (9) , a partir de pesquisa voltada <strong>para</strong> a análise dos efeitos que inovações tecnológicas e<br />
mudanças no ambiente exercem nos padrões de administração, definem e diferenciam dois tipos<br />
"ideais" de estrutura - o mecânico e o orgânico, que são abordados como ocupando os pontos extremos<br />
de uma escala.<br />
O mecânico teria como características a maior ênfase na especialização, coordenação entre os<br />
sucessivos hierárquicos por parte de um escalão superior, escala hierárquica no que diz respeito ao<br />
controle, autoridade e comunicação reforçada por um fluxo de informações que caminha dos níveis<br />
inferiores <strong>para</strong> o topo da hierarquia onde a coordenação final é realizada. Em suma, a estrutura do tipo<br />
mecânica seria basicamente hierárquica dentro dos padrões da escola clássica, sendo adequada a<br />
52
organizações tradicionais, inseridas em ambiente estável, com tarefas relativamente rotineiras e<br />
definidas, onde o elemento humano, por pressuposto, prefere executar tarefas previamente programadas<br />
do que aquelas que exijam maior criatividade.<br />
O padrão orgânico, em contraposição, ajustar-se-ia melhor a empresas inseridas em um ambiente<br />
dinâmico, onde as tarefas não podem ser programadas com muita antecedência, exigindo por parte dos<br />
dirigentes maior flexibilidade e criatividade no processo de administração da empresa. Assim, a<br />
unidade de comando é substituída por uma estrutura reticular de controle, autoridade e comunicação.<br />
Isto é, a direção da comunicação ao invés de vertical é lateral, <strong>cons</strong>istindo mais de <strong>cons</strong>elhos e<br />
<strong>cons</strong>ultas do que ordens. O centro de autoridade não é único e pode estar localizado em qualquer ponto<br />
da estrutura, dado que se pressupõe que a autoridade emana não necessariamente da cúpula<br />
administrativa exclusivamente, mas sim de quem detém o conhecimento relevante de determinada<br />
função. É pressuposto, por outro lado, que as pessoas, nesse padrão de estrutura, preferem trabalhar<br />
levando em conta o risco e grau de incerteza do ambiente, o que delas exige maior criatividade na<br />
execução das funções, dado que estas não são rotineiras. O padrão orgânico, portanto, apresentaria<br />
maior flexibilidade, em relação ao mecânico, no processo de tomada de decisões, uma vez que<br />
necessitaria estar mais voltado <strong>para</strong> o ambiente e suas possíveis mudanças.<br />
O modelo de Burns e Stalker foi amplamente utilizado por vários autores que, embora apontando suas<br />
possíveis restrições, fizeram dele a base de suas próprias pesquisas. Para o caso deste estudo, interessa<br />
particularmente a pesquisa realizada por Lansley, Sadler e Webb (10) na qual analisam a relação entre<br />
estrutura administrativa e estilo gerencial, e sua influência na eficácia organizacional. Para tanto<br />
elaboraram dois modelos: um relativo à estrutura e outro relativo a estilos gerências.<br />
O modelo de estrutura foi desenvolvido a partir do trabalho de Burns e Stalker, embora apontando<br />
algumas restrições, tanto em termos práticos quanto teóricos. Algumas das empresas pesquisadas, por<br />
exemplo, apresentaram características de estrutura mecânica e orgânica ao mesmo tempo. Por outro<br />
lado, assinalaram, também, o contraste entre a enorme complexidade e variedade dos padrões reais de<br />
administração, e a simplicidade do modelo proposto por Burns e Stalker. Tendo em vista a elaboração<br />
de seu próprio modelo, Lansley, Sadler e Webb apresentam uma listagem das características dos dois<br />
tipos de estruturas enumeradas por Burns e Stalker:<br />
Mecânica<br />
a) maior ênfase na especialização;<br />
b) concentração nas tarefas individuais como se tivessem um fim em si mesmas;<br />
c) coordenação entre os sucessivos níveis hierárquicos por parte da cúpula administrativa;<br />
d) definição precisa dos direitos e obrigações e métodos técnicos associados a cada tarefa;<br />
e) a transformação de direitos, obrigações e técnicas em responsabilidades de uma posição funcional<br />
f) estrutura hierárquica de controle, autoridade e comunicação;<br />
g) reforço da estrutura hierárquica por um fluxo de informações de baixo, <strong>para</strong> o topo da hierarquia<br />
onde a coordenação final é realizada;<br />
h) tendência <strong>para</strong> interação vertical, isto é, entre superiores e subordinados;<br />
i) tendência <strong>para</strong> que as operações e comportamento no trabalho sejam governados por instruções e<br />
decisões emitidas pelos superiores;<br />
53
j) insistência na lealdade <strong>para</strong> com a empresa e obediência aos superiores como uma condição de<br />
relacionamento;<br />
k) maior importância e prestígio à resolução de problemas internos à empresa do que a de<br />
conhecimentos generalizados.<br />
Orgânica<br />
a) a natureza contributiva do conhecimento especial e experiência <strong>para</strong> as tarefas comuns da empresa;<br />
b) a natureza criativa da tarefa individual vista como parte integrante do contexto global da empresa;<br />
c) o ajustamento e contínua redefinição das tarefas individuais, através de interação com outras;<br />
d) o senso de responsabilidade não é confinado a um campo limitado de direitos, obrigações e métodos;<br />
e) compromisso <strong>para</strong> com a empresa, mesmo quando está em crise;<br />
f) uma estrutura reticular de controle, autoridade e comunicação;<br />
g) onisciência não imputada ao cabeça da empresa; o conhecimento relevante da tarefa pode ser<br />
localizado em qualquer lugar do sistema; esta localização transforma-se no centro da autoridade de<br />
fato;<br />
h) direção lateral de comunicação ao invés da vertical. Entre as pessoas de diferentes níveis<br />
também salienta-se mais a <strong>cons</strong>ulta do que o comando;<br />
i) a comunicação <strong>cons</strong>iste de informações e <strong>cons</strong>elhos, ao invés de instruções e decisões;<br />
j) o compromisso <strong>para</strong> com as tarefas da empresa é mais valorizado do que a lealdade e obediência;<br />
k) importância e prestígio às filiações e experts externos à empresa.<br />
Essas características são enquadradas por esses autores em três dimensões a saber: controle, integração<br />
e vinculação com o contexto.<br />
O controle refere-se ao grau de liberdade na execução das atividades pelos membros da organização.<br />
Em um extremo, tais atividades estão sujeitas a uma revisão e controle estreitos, por parte da cúpula da<br />
organização. No outro, são mais o resultado do exercício de liberdade e de um processo de discussão e<br />
<strong>cons</strong>ulta. Este aspecto reflete-se nos itens d, e, f, g, h, i, da estrutura mecânica o nos itens f, g, h, i, da<br />
estrutura orgânica.<br />
A integração refere-se ao grau de coordenação das atividades, dos membros da organização, em relação<br />
aos objetivos gerais, itens a, b, c, da mecânica. e a, b, c, d, e, da orgânica.<br />
A vinculação com o ambiente refere-se ao grau de orientação da organização <strong>para</strong> os assuntos internos,<br />
ou a suas relações com o ambiente, itens j e k da estrutura mecânica e orgânica.<br />
Lansley, Sadler e Webb utilizam em sua pesquisa somente as duas primeiras dimensões. O controle<br />
refere-se aos métodos empregados pela organização, <strong>para</strong> assegurar-se de que as atividades sejam<br />
desempenhadas de acordo com o que a alta direção julga mais conveniente. O fator integração, por sua<br />
vez, indica de que maneira são reguladas as relações entre as tarefas e pessoas que as executam.<br />
A partir dessas duas dimensões, sugerem que as empresas de acordo com seu tipo de estrutura podem<br />
ser classificadas em 4 tipos conforme o modelo a seguir:<br />
54
Classificação das Empresas de Acordo com seu Tipo de Estrutura<br />
O modelo de Lansley, Sadler e Webb é mais complexo que o de Burns e Stalker, na medida em que<br />
origina duas categorias suplementares: burocrática (alto controle e alta integração) e anárquica (baixo<br />
controle, baixa integração).<br />
Para a análise dos estilos gerenciais os autores recorrem a duas dimensões: orientação <strong>para</strong> a tarefa<br />
(produção) e orientação <strong>para</strong> as pessoas, a partir das quais sugerem cinco possíveis estilos, conforme o<br />
gráfico:<br />
Reduzida Orientação <strong>para</strong><br />
Pessoas<br />
Elevada Integração<br />
Orgânica Burocrática<br />
Anárquica Mecânica<br />
Elevado Controle<br />
Análise dos Estilos Gerenciais: Duas Dimensões<br />
Elevada Orientação <strong>para</strong><br />
Tarefas<br />
Elevada Orientação <strong>para</strong><br />
Pessoas<br />
Reduzida Orientação <strong>para</strong><br />
Tarefas<br />
55
Numa primeira orientação (Elevada orientação <strong>para</strong> tarefas, reduzida <strong>para</strong> pessoas), a fim de alcançar<br />
resultados com eficiência, o administrador procuraria organizar o trabalho de forma tal, que o elemento<br />
humano interfira o mínimo possível.<br />
No caso em que a preocupação maior do administrador seja a de alcançar resultados através de um bom<br />
relacionamento com e entre subordinados (Elevada orientação <strong>para</strong> pessoas e reduzida <strong>para</strong> tarefas), ele<br />
seria levado a concentrar a atenção no elemento humano, visando a um ritmo agradável de trabalho.<br />
Na posição intermediária (orientação média <strong>para</strong> a pessoas e <strong>para</strong> a produção), a fim de alcançar<br />
resultados, administrador procuraria o equilíbrio entre a <strong>cons</strong>ecução de atividades e a manutenção do<br />
moral das pessoas.<br />
Num dos extremos (baixa orientação <strong>para</strong> a produção e <strong>para</strong> pessoas), o administrador faz o esforço<br />
mínimo que seja suficiente <strong>para</strong> realizar o trabalho requerido.<br />
Por último, no extremo oposto, alta orientação <strong>para</strong> as pessoas e <strong>para</strong> a produção, o administrador<br />
procura alcançar os objetivos, a partir da dedicação do pessoal, e dentro de um relacionamento de<br />
confiança e respeito, mas sem perder a <strong>cons</strong>ciência de interdependência pessoa/produção.<br />
Com base nesses moldes, Lansley, Sadler e Webb estudaram 50 empresas, 25 gráficas e 25 de<br />
<strong>cons</strong>trução civil, com objetivo de analisar a relação entre estrutura organizacional e estilo gerencial, e<br />
sua influência sobre o desempenho das empresas.<br />
O desempenho é abordado em termos do que os autores classificam de humanos e econômicos,<br />
utilizando-se os seguintes critérios como medidas dessa variável.<br />
Desempenho em termos humanos:<br />
� satisfação com o trabalho e com a empresa;<br />
� informação, isto é, o grau de percepção do processo de comunicação;<br />
� mudança, isto é, o grau de percepção de mudanças por parte dos integrantes da organização.<br />
Desempenho em termos econômicos:<br />
- lucratividade;<br />
- crescimento das vendas.<br />
No caso das empresas gráficas, as que apresentavam estrutura burocrática, com alta orientação <strong>para</strong> a<br />
tarefa, tenderam a ser mais eficientes.<br />
No caso das empresas de <strong>cons</strong>trução civil, verificou-se que as empresas de melhor desempenho eram<br />
aquelas com alta orientação <strong>para</strong> as pessoas e <strong>para</strong> as tarefas. Em termos de estrutura, verificou-se uma<br />
tendência <strong>para</strong> que firmas bem sucedidas estivessem entre as de estrutura orgânica ou anárquica, isto é,<br />
com baixo controle. Entretanto, a combinação de estilo e estrutura não forneceu bom indicador <strong>para</strong><br />
desempenho.<br />
Isso pode ser justificado pelo fato de que as empresas da indústria de <strong>cons</strong>trução são muito mais<br />
heterogêneas que aquelas da indústria gráfica, cada uma requerendo diferentes formas de estrutura<br />
organizacional. Em decorrência, no caso da amostra dessa indústria, torna-se necessário analisar a<br />
adequação da estrutura em função da natureza da tarefa e do grau do controle e integração que ela<br />
56
envolve. Nesse sentido, Lansley Sadler e Webb sugerem uma classificação <strong>para</strong> as tarefas, quanto à<br />
necessidade, controle e integração.<br />
A classificação das tarefas no que diz respeito às exigências organizacionais relativamente a controle e<br />
integração encontra-se no quadro a seguir.<br />
Classificação das Tarefas<br />
Tarefas que podem ser<br />
rotinizadas<br />
Interdependência de<br />
tarefas relativamente<br />
alta<br />
(Programáveis) Interdependência de<br />
tarefas relativamente<br />
baixa<br />
Tarefas que não podem<br />
ser facilmente rotinizadas<br />
Interdependência de<br />
tarefas relativamente<br />
alta<br />
(não programáveis) Interdependência de<br />
tarefas relativamente<br />
baixa<br />
Controle +<br />
integração +<br />
(1)<br />
(exemplo - indústria<br />
automobilística)<br />
Controle +<br />
Integração –<br />
(2)<br />
(exemplo: central telefônica)<br />
Controle –<br />
integração +<br />
(3)<br />
(exemplo: equipe de produção em<br />
televisão)<br />
Controle –<br />
integração –<br />
(4)<br />
(exemplo: associação arquitetos)<br />
De acordo com os autores há muitas possíveis razões pelas quais empresas não desenvolvem estruturas<br />
adequadas, isto é, que reflitam as necessidades da tarefa, entre as quais podem-se ressaltar duas:<br />
A possibilidade de que as coações impostas pelo tamanho da empresa sejam mais fortes que as coações<br />
impostas pela natureza da tarefa. Isso seria refletido pela tendência <strong>para</strong> ser mais burocráticas ou<br />
mecanicistas (alto controle), enquanto as menores são mais orgânicas ou anárquicas, indiferentemente<br />
da natureza das tarefas. Outro motivo pode ser o que Child (11) chama de escolha estratégica, isto é, a<br />
estrutura seria acima de tudo o reflexo de preferência da alta gerência da organização sem maior<br />
relevância às coações que seriam impostas pelo tamanho ou natureza da tarefa.<br />
Os resultados da pesquisa de Lansley, Sadler e Webb confirmam as <strong>cons</strong>tatações de outros estudos<br />
(principalmente os da abordagem contingêncial) no que se refere à influência de fatores ambientais<br />
sobre a relação entre estrutura e eficácia. Isto é, apresentaram evidências de que empresas inseridas em<br />
um mesmo ambiente podem ou não apresentar uma estrutura comum e "ideal" em termos de eficácia.<br />
De fato, no caso das empresas gráficas <strong>cons</strong>tatou-se que as que apresentavam estrutura do tipo<br />
burocrática (alto controle, alta integração) eram as de melhor desempenho, e no caso da indústria de<br />
57
<strong>cons</strong>trução, mais heterogênea, as empresas de maior sucesso eram as que apresentavam estrutura<br />
organizacional adequada à natureza da tarefa por elas desenvolvidas. Isso significa que <strong>para</strong> as<br />
empresas dessa indústria, ao invés de um único modelo, foram identificados vários tipos de estrutura<br />
que se mostraram perfeitamente adequados, <strong>para</strong> um mesmo desempenho.<br />
No que diz respeito à relação entre estilo gerencial e eficácia, a única evidência <strong>cons</strong>istente foi a de que<br />
baixo desempenho estava associado à baixa orientação <strong>para</strong> tarefas e pessoas, enquanto alto<br />
desempenho estava associado com alta orientação <strong>para</strong> tarefas e pessoas em ambas as indústrias<br />
pesquisadas.<br />
A conclusão básica dessa pesquisa coincide com a de Lawrence & Lorsch (12) de que não há um meio<br />
"ideal" de organizar um empreendimento. A organização está sujeita à contingência e à própria<br />
natureza das atividades que desenvolve. Isso implica em que não existe um "pacote" prontamente<br />
aplicável, qualquer que seja a organização e a circunstância. Fica claro que as contribuições teóricas e<br />
empíricas das diversas correntes de pensamento em administração têm indiscutível validade, devendo,<br />
porém, serem utilizadas com o devido cuidado e adaptadas quando for necessário, quando se trata de<br />
aplicá-las em realidade diferente daquela em que se originaram.<br />
Hall 13 analisa a estrutura da organização em termos de três dimensões: complexidade, formalização e<br />
centralização.<br />
A complexidade identifica-se com o "tamanho" de estrutura e é composto de:<br />
- diferenciação vertical ou hierárquica - refere-se ao número de níveis hierárquicos, isto é, o número de<br />
postos entre o administrador principal e os operários.<br />
- diferenciação horizontal - refere-se à divisão de trabalho, tendo como indicador o número de<br />
departamentos ou setores em que se subdivide a empresa. Está ligada ao conceito de amplitude de<br />
controle da escola clássica.<br />
A diferenciação, vertical e horizontal, traz à empresa problemas de controle, comunicação e<br />
coordenação. De maneira geral pode-se dizer que quanto maior a diferenciação, maior a potencialidade<br />
<strong>para</strong> dificuldades na administração dessas variáveis.<br />
O conceito de diferenciação horizontal pode ser encontrado também na obra de Lawrence e Lorsch,<br />
<strong>para</strong> quem a diferenciação (entendida como a divisão das organizações em partes <strong>para</strong> desenvolver suas<br />
atividades) é um dos componentes básicos <strong>para</strong> se entender a estrutura das organizações.<br />
O grau de formalização representa o uso de regras e normas por uma organização. Hall utiliza a<br />
definição de Pugh (14) <strong>para</strong> quem a formalização é a extensão na qual regras, procedimentos, instruções<br />
e comunicações são escritos, incluindo também o conceito de padronização (a extensão na qual há<br />
regras ou definições que pretendem cobrir todas as circunstâncias e que se aplicam invariavelmente a<br />
qualquer organização).<br />
Para Hall, o grau de formalização está ligado à maneira como os membros da empresa são vistos pela<br />
alta administração. Se as pessoas são vistas como capazes de tomar decisões e com autocontrole, o grau<br />
de formalização geralmente é menor. Pode-se supor, inclusive, que a formalização está ligada a uma<br />
centralização no processo de tomada de decisões. Se as decisões são tomadas por poucas pessoas no<br />
alto escalão da empresa, são utilizadas regras e supervisão fechada como meio de assegurar o<br />
desempenho que é exigido dos funcionários.<br />
A centralização diz respeito à distribuição do poder em uma organização. Isto é, define quem tem<br />
direito de tomar decisões. Pode ocorrer uma aparente distribuição de poder, mas na verdade as decisões<br />
sobre as quais os subordinados têm autonomia estariam delimitadas por um conjunto de regras e<br />
políticas, definidas na cúpula da organização.<br />
58
Ocorre em dois níveis:<br />
- vertical - que define em que nível hierárquico são tomadas as decisões e são realizados o controle e<br />
revisão da execução dessas decisões;<br />
- horizontal - que define a distribuição de poder entre as áreas funcionais da empresa (aproximando-se<br />
do conceito de integração utilizado por Lawrence e Lorsch).<br />
A partir dessas características de estrutura enunciadas por Hall pode-se elaborar um gráfico das<br />
possíveis formas que a organização pode assumir, levando-se em conta as características, centralização<br />
e formalização.<br />
Onde:<br />
Possíveis Formas de Organização<br />
Elevada Formalização<br />
2 1<br />
3 4<br />
Elevada Centralização<br />
(1) Altamente centralizada, altamente formalizada-burocrática centralizada<br />
(2) Pouco centralizada, altamente formalizada-burocrática descentralizada<br />
(3) Pouco centralizada, pouco formalizada-colegiado, altamente descentralizada<br />
(4) Pouco formalizada, altamente centralizada-autocrática altamente centralizada<br />
No tipo (1) - as decisões podem ser tomadas pelos níveis inferiores, mas dentro do quadro de regras e<br />
normas rigidamente estabelecidas pela alta administração. Problemas não especificados por essas<br />
políticas têm de ser levados aos níveis superiores.<br />
No tipo (2) - muitas decisões são tomadas nos níveis inferiores, mas dentro das regras e normas que o<br />
autor chama de políticas, definidas pela cúpula da empresa.<br />
No tipo (3) - muitas decisões são tomadas pelos níveis inferiores, sem restrições de políticas; somente<br />
algumas devem ater-se ao arcabouço de políticas pré estabelecido.<br />
59
No tipo (4) - poucas decisões são tomadas nos níveis inferiores, e mesmo essas precisam ser<br />
justificadas aos níveis superiores. As decisões mesmo nos níveis superiores são tomadas sem base em<br />
políticas, uma vez que estas não são previamente estabelecidas.<br />
As variáveis utilizadas nesse modelo correspondem, em certo grau, às variáveis utilizadas por Lansley,<br />
Sadler e Webb. Nesse sentido, o componente centralização vertical de Hall corresponderia à definição<br />
da variável controle, utilizada pelos primeiros, enquanto a centralização horizontal corresponderia à<br />
definição da variável integração.<br />
A pesquisa de Joan Woodward (15) de início teve como objetivo investigar se empresas que adotavam<br />
um padrão de administração, moldados nos princípios da Teoria Clássica, tendiam a apresentar um<br />
melhor desempenho em relação àquelas que não se utilizavam delas.<br />
Foram analisadas diversas variáveis estruturais e seu comportamento em cada uma das empresas<br />
pesquisadas. Foi <strong>cons</strong>tatado, então, que empresas com sistemas de produção similares tendiam a<br />
apresentar estruturas organizacionais similares. Tal fato levou a concluir que havia uma relação entre<br />
variáveis tecnológicas de produção (referindo-se aos processos de produção) e a forma da estrutura, e<br />
que a utilização dos princípios administrativos só se mostraria eficiente quando aplicados, levando-se<br />
em conta a natureza do processo de produção. A comprovação de tal relação, porém, foi aliada à<br />
análise da influência de outras variáveis tais como: idade da empresa, experiência e personalidade dos<br />
empresários na formação da estrutura. Não houve, todavia, um maior aprofundamento nesse sentido.<br />
Em termos da relação entre estrutura e ambiente, cabe citar o trabalho de Lawrence e Lorsch (16) .<br />
Ressaltaram a importância de se analisar a relação entre os aspectos a nível interno da empresa e as<br />
condições do ambiente, principalmente as relativas ao mercado em que se insere. Introduzem <strong>para</strong> a<br />
análise dois conceitos básicos: o de diferenciação na orientação e no formalismo da estrutura e o de<br />
integração que diz respeito à colaboração existente entre os diversos departamentos da empresa.<br />
Analisando o comportamento dessas variáveis em diferentes empresas, procuraram identificar e<br />
explicar as diferenças básicas entre empresas eficientes e menos eficientes, inseridas em uma mesma<br />
indústria, ou em indústrias diferentes. Salientam que em termos de análise de empresas, o importante é<br />
ter em mente que não existe um método único e ideal de estrutura <strong>para</strong> administrar as organizações.<br />
Assim, por exemplo, empresas de alto desempenho podem ajustar-se ao modelo clássico de<br />
organização, em que o processo de tomada de decisões é concentrado nos dirigentes de cúpula. A<br />
tentativa de descentralizar o processo, nesse caso, pode ser infrutífera. O importante, afirmam, é formar<br />
uma estrutura que atenda à demanda do ambiente. Em um ambiente estável, as diversas unidades da<br />
empresa não precisam ser altamente diferenciadas e, sendo assim, seu mecanismo formal integrador<br />
seria representado pela própria hierarquia administrativa.<br />
Segundo os autores, qualquer tentativa de usar a abordagem de diferenciação e integração deveria<br />
começar por um estudo diagnóstico da empresa e de seu ambiente, em dois estágios, sendo que o<br />
primeiro compreenderia o exame da natureza das tarefas e das partes do ambiente, e o segundo, a<br />
análise das características estruturais e suas possíveis relações com as características do ambiente.<br />
Cabe ainda, em termos de literatura voltada <strong>para</strong> análise da estrutura organizacional, citar o trabalho de<br />
Child (17) , que introduz o conceito de escolha estratégica em relação à formação da estrutura. Embora<br />
variáveis como tecnologia, ambiente e tamanho das empresas exerçam indiscutível influência sobre a<br />
formação da estrutura, as análises voltadas <strong>para</strong> o estudo dessas influências, de maneira geral, falham,<br />
uma vez que não reconhecem o exercício da escolha pelos tomadores de decisão das organizações, a<br />
partir de sua percepção e de uma avaliação crítica dos riscos e oportunidades que o ambiente apresenta<br />
em determinado momento.<br />
60
A partir do conceito de estratégia de Chandler (18) “determinação dos objetivos básicos de longo prazo,<br />
adoção dos cursos de ação e alocação dos recursos necessários <strong>para</strong> alcançá-los” e do conceito de<br />
coalisão dominante de Cyert e March (19) , “grupo que detém o poder em um determinado período de<br />
tempo”, a abordagem da escolha estratégica dirige a atenção <strong>para</strong> a influência das decisões e escolhas<br />
daqueles que possuem o poder de decidir na organização, e até mesmo de alterar determinadas<br />
condições ambientais que, em outras análises, são <strong>cons</strong>ideradas variáveis independentes sobre as quais<br />
a organização não tem poder algum, afetando diretamente a estrutura e seu desempenho.<br />
A concepção da escolha estratégica leva a que se reconheça um processo de decisão no qual riscos e<br />
oportunidades são analisados em função do poder exercido pelos tomadores de decisão, à luz de valores<br />
pessoais. Implica em que o grau de associação que os diferentes fatores contextuais têm com as<br />
variáveis estruturais não possa ser expresso por simples equações matemáticas. É essencial levar em<br />
conta a influência que exerce a opção dos dirigentes frente às coações do ambiente. Por outro lado, não<br />
há como negar a influência que as características administrativas dos dirigentes exercem sobre a forma<br />
que a estrutura organizacional assume, em termos de delegação de autoridade, sistema de informações,<br />
grau de formalização e maior número de níveis hierárquicos e departamentos.<br />
Quanto a estudos focados na análise da estrutura organizacional cabe ainda mencionar o trabalho de<br />
Vasconcelos (20) , centrado na análise da estrutura em Institutos de Pesquisas. O autor aborda a estrutura<br />
a partir de três componentes: o sistema de responsabilidades, o sistema de autoridade e o sistema de<br />
comunicações. Os dois primeiros são abordados no estudo de Hall anteriormente mencionado, inseridos<br />
na variável centralização. Quanto ao terceiro elemento, o sistema de comunicações, na visão de Hall,<br />
seria componente do que ele denomina de organizacional. A <strong>cons</strong>ideração da comunicação como<br />
componente da estrutura justifica-se na medida em que está intimamente ligada a uma das variáveis<br />
fundamentais em termos de estrutura, qual seja, o grau de formalização.<br />
2.2. Considerações sobre os estudos abordados<br />
Como se procurou mostrar ao longo do texto, a teoria da administração vem acompanhando a evolução<br />
do sistema capitalista, buscando responder às novas situações que surgem à medida que as empresas<br />
tornam-se mais complexas. Assim, as diversas escolas aparecem não <strong>para</strong> contradizer as anteriores,<br />
mas antes, como <strong>cons</strong>eqüência de um processo de contínua adaptação e manutenção da funcionalidade<br />
aos objetivos da empresa.<br />
Verifica-se isso inclusive nas abordagens mais modernas que, embora criticando os princípios da escola<br />
clássica, têm ainda como preocupação fundamental, nem sempre manifestada, explicitamente, o<br />
aumento da produtividade. Na medida em que a teoria acompanha o desenvolvimento das<br />
organizações, o que ocorre é que os objetivos permanecem os mesmos. O que muda são apenas os<br />
conceitos e medidas indicados <strong>para</strong> atingi-los.<br />
Outra limitação da teoria organizacional é o caráter da universalidade que cada escola pretende <strong>para</strong><br />
seus princípios. Tal universalização é indevida. Até porque, muitas vezes os "princípios" de uma<br />
abordagem são formulados a partir dos resultados de uma única experiência, em uma única<br />
organização. Como então pretender generalizar tal solução? É perder de vista que as organizações,<br />
embora tenham certas características comuns, apresentam aspectos diferenciados entre si, sofrendo<br />
influências variadas, sendo sujeitas, portanto, a diferentes necessidades.<br />
Veja-se, por exemplo, o caso da abordagem de D.O. (Desenvolvimento Organizacional) que surgiu<br />
basicamente da necessidade de se resolver os problemas que a excessiva fragmentação das tarefas<br />
produtivas e o alto nível de burocratização (formalização) das organizações modernas (e que antes<br />
foram encaradas como soluções <strong>para</strong> resolver outro tipo de situação) acabaram por ocasionar. Os<br />
61
eflexos recaem primeiramente no comportamento do trabalhador, seja em nível administrativo ou<br />
operacional. Teme-se que venha a significar diminuição do nível de produtividade.<br />
À medida que o grau de formalização aumenta, as tarefas tornam-se cada vez mais fragmentadas,<br />
mecanizadas e rotinizadas, surgem problemas de motivação e a produtividade tende a diminuir. Nesse<br />
ponto, tornam-se adequadas soluções do tipo "enriquecimento de tarefas" que visam amenizar tais<br />
efeitos negativos. Ao final mostram-se eficazes, pelo menos em curto prazo mas que nem por isso<br />
podem ser generalizados, <strong>para</strong> qualquer situação e <strong>para</strong> qualquer tipo de organização.<br />
Quanto ao padrão de gestão, deve-se reconhecer que em boa parte dos casos, o padrão “mecânico” de<br />
organização – estruturas altamente hierarquizadas e departamentalizadas – não atende mais às<br />
necessidades, emergindo um novo padrão – o orgânico. Padrão esse que não é novo; o que é novo é a<br />
sua transformação em padrão, assentado na busca da flexibilidade, a partir da delimitação menos rígida<br />
de fronteiras entre departamentos e níveis hierárquicos.<br />
Nesse âmbito, se, de um lado, a fluidez das formas de organização se transformou num imperativo,<br />
voltado ao aumento da capacidade de percepção das mudanças no ambiente e do aumento da<br />
capacidade de resposta a elas, de outro, a coordenação e o controle permanecem como elementos<br />
centrais <strong>para</strong> imprimir coerência e direção. Esse é o desafio: mudar (ser flexível), mas com<br />
coordenação e controle, sob o risco da anarquia e da perda do sentido e direção da empresa. Aparente<br />
contradição, visto que ao mesmo tempo em que aumenta a necessidade de descentralização e da fluidez<br />
de posições, aumenta a necessidade de coordenação e controle, evidenciando a importância do<br />
estabelecimento de estratégias.<br />
2.3. O Fator Humano na estrutura das organizações<br />
Pode-se iniciar este item recorrendo a uma afirmação de Shaughnessy (1) : “se a tarefa da direção de uma<br />
empresa estiver além da capacidade de uma pessoa <strong>para</strong> realizá-la, deverá ser compartilhada com<br />
outras, dado que organizar é questão de dividir o trabalho entre pessoas, cujos esforços terão de ser<br />
coordenados. Isso também diz respeito aos objetivos específicos <strong>para</strong> a organização como um todo e a<br />
cada uma de suas sub unidades, determinando, em termos amplos, as atividades e decisões necessárias<br />
<strong>para</strong> executar esses objetivos". De acordo com esse autor, deficiências na organização de uma empresa<br />
podem manifestar-se em sintomas tais como:<br />
- Os departamentos e seções podem não estar capacitados a contribuir <strong>para</strong> os objetivos da empresa, de<br />
forma a justificar seus custos; inversamente, os objetivos podem ser desempenhados de maneira<br />
insatisfatória por causa da relutância em se organizar uma seção ou departamento (por exemplo um<br />
departamento de custos ou de pesquisas de mercado), cuja existência é um pré-requisito <strong>para</strong> se<br />
alcançar resultados finais adequados;<br />
- As funções podem estar coordenadas em bases pouco satisfatórias, em se tratando da empresa como<br />
um todo; pode estar faltando, por exemplo, uma diretriz uniforme no recrutamento ou nos salários, cuja<br />
ausência leva a problemas entre os departamentos;<br />
- Fracasso no que tange à coordenação de atividades interdepartamentais; como <strong>cons</strong>eqüência, as<br />
economias globais podem ser sacrificadas e podem surgir estrangulamentos na fluência dos trabalhos,<br />
enquanto cada departamento atua independentemente dos outros;<br />
- As decisões podem ser lentas e de baixa qualidade seja porque os agentes estão sobrecarregados, seja<br />
porque as informações que se requer <strong>para</strong> tomar decisões não estão prontamente em disponibilidade,<br />
seja porque as decisões estão sendo tomadas em lugar ou níveis errados.<br />
62
A necessidade de recursos humanos varia de empresa <strong>para</strong> empresa e, em uma mesma empresa,<br />
dependendo de seu porte, estágio de desenvolvimento, tempo de permanência no mercado, etc. Por<br />
exemplo, será de pouca valia a contratação de administradores profissionais altamente qualificados<br />
<strong>para</strong> uma pequena empresa cujo empresário pretenda continuar centralizando todas as decisões e não<br />
tenha definido claramente os objetivos que pretende de fato alcançar com tal contratação 5 . Vale dizer,<br />
se de um lado é necessário avaliar a adequação das pessoas "chaves” na empresa, às variáveis<br />
mencionadas, de outro, não se pode ignorar o fato de que o desempenho da empresa também depende<br />
dos elementos humanos de que dispõe. Como a estrutura, por sua vez, pode ser um dos fatores básicos<br />
<strong>para</strong> a explicação do desempenho da empresa, é necessário analisá-la enquanto variável, levando em<br />
<strong>cons</strong>ideração a influência que o fator humano exerce em sua formação.<br />
Por meio dos produtos finais resultantes dos processos decisórios das diferentes empresas que integram<br />
um determinado segmento, são disputados os espaços no mercado, a preferência dos possuidores de<br />
poder de compra. Só com o resultado dessa disputa (concorrência) cada empresa sabe se ao final foi<br />
selecionada, isto é, se suas decisões e estratégias foram acertadas. Ora, as decisões são tomadas, a partir<br />
do eixo definido pela estratégia, por pessoas, conjunto de recursos internos que interagem na estrutura,<br />
os valores da empresa, que lhe dão identidade e aos quais cabem com diferentes graus de<br />
responsabilidade e autonomia as decisões ao longo da estrutura hierárquica. Nesse sentido, fica clara,<br />
<strong>para</strong> além dos discursos empresariais, a validade da argumentação que propõe que os recursos humanos<br />
(como os demais) devem ser valorizados como integrantes do conjunto de ativos mais relevantes <strong>para</strong> a<br />
empresa.<br />
A proposição justifica-se, pois, como afirma Penrose (1959), enfatizando a relevância das pessoas e da<br />
rede de relacionamentos, formais e informais por elas <strong>cons</strong>truídos, os recursos representam fontes de<br />
“economias de expansão”; vantagens especiais no processo de expansão da firma.<br />
Uma simples análise de diversos organogramas ainda que retratassem de forma fiel e atualizada as<br />
respectivas estruturas administrativas de cada empresa não seria suficiente, uma vez que, no máximo,<br />
traria informações sobre a estrutura formal, isto é, determinar-se-ia quem responde a quem, quais as<br />
linhas formais de autoridade, quais os níveis hierárquicos. Seria falha, no entanto, na medida em que<br />
não permitiria que se detectassem as interdependências entre as diversas áreas, os limites de atuação<br />
entre subordinado e superior, as tarefas reais de cada pessoa envolvida no processo decisório, enfim a<br />
totalidade do que se quer entender por estrutura administrativa e seus reflexos no comportamento da<br />
organização.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
KLIKSBERG, Bernardo. El Pensamiento Organizativo. Buenos Aires, Depalma, 1971.<br />
Idem, op. Cit. Cap. 9.<br />
Idem, op. Cit. p. 362.<br />
Idem, op. Cit. p. 462.<br />
Idem, op. Cit. pp. 467/468.<br />
5 De maneira geral, as pequenas empresas são administradas por uma só pessoa (ou um grupo muito pequeno), normalmente<br />
o proprietário, isto é, não se verifica ainda a dissociação entre propriedade e administração. Isso implica centralização no<br />
processo de tomada de decisão, e que o sócio/gerente representa papel de vital importância <strong>para</strong> a continuidade do<br />
empreendimento. Os objetivos do empresário e da empresa acabam por confundir-se. Aqui o caráter que a autoridade<br />
assume passa a ser extremamente importante. Fazendo-se uso dela é que se busca <strong>cons</strong>eguir que tais objetivos, determinados<br />
pelos conceitos de uma só pessoa, sejam aceitos e compartilhados pelos demais membros da organização, definindo assim o<br />
maior ou menor grau de cooperação do grupo <strong>para</strong> o seu alcance.<br />
63
SIMON, Herbert, A. O Comportamento Administrativo. Rio de Janeiro. FGV, 1979. Cap.4.<br />
ETZIONI, Amitai. Organizações Modernas. São Paulo. Pioneira, 1967.<br />
MAYO, Elton. In: Kliksberg Bernardo, op. Cit. p. 375.<br />
BURNS, Thomas & STALKER, GM. The Managment of Inovation. London, Tavistock Publ. 1961.<br />
LANSLEY, P; SADLER, P. & WEBB, T. Organization Structure, Management Style and Company<br />
Performance. Omega. 1974. 2 (4).<br />
CHILD, John. Organizational Performance: The role of Estrategic Choice. Sociology, 1972 (6).<br />
LAWRENCE, P. & LORSCH, J. As Empresas e o Ambiente. Petrópolis, Vozes. 1973.<br />
HALL, Richard. Organizations: Structure and Process. 2 ª ed. Englewood-Clifs, Prentice Hall. 1977.<br />
PUGH, D.W; HICKSON, D. J. & HINNINGS,C. R. The Context of Organization Structures. Administrative<br />
Science Quartely. 14 pp. 91/114. 1969 (14), p. 91.114.<br />
WOOD, Joan. Organização Industrial: Teoria e Prática. Trad. de Geni Garcia Goldschmidt. São Paulo, Atlas.<br />
1977.<br />
LAWRENCE, P. & LORSCH, Jay. op. cit.<br />
CHILD, John. op. cit.<br />
CHANDLER, Alfred. Strateg and Structure, Chapters in the Industrial Enterprise. Cambridge, MIT. 1978.<br />
CYERT, R. M. & MARCH, J. M. A Behavioral Theory of the Firm. Englewood Cliffs, Prentice Hall. 1963.<br />
VASCONCELOS, Eduardo. Contribuição ao Estudo da Estrutura Administrativa. São Paulo. USP-FEA. 1972.<br />
64
Texto 8: - Algumas Observações sobre os Tipos de Estrutura Organizacional<br />
Estrutura funcional - reduz a coordenação entre as funções da empresa, pois a ênfase sobre<br />
especialidades estreitas distrai a atenção sobre o resultado global da empresa.<br />
As pessoas focalizam seus esforços sobre seus próprios meios e não sobre os objetivos globais<br />
da empresa. uma das principais limitações da estrutura funcional é que ela carece de mecanismos<br />
próprios de coordenação do fluxo de trabalho. a tendência natural é levar os problemas de coordenação<br />
<strong>para</strong> os níveis mais elevados da organização.<br />
A estrutura funcional, principalmente quando o trabalho operacional não é especializado - tende<br />
a ser muito burocratizada. a atividade tende a ser mais formalizada, o que requer uma estrutura<br />
administrativa mais elaborada (mais analistas <strong>para</strong> formalizar o trabalho), hierarquia com maior<br />
número de níveis e mais executivos.<br />
Estrutura por produtos ou serviços/serviços - muito encontrada em empresas de larga-escala e com<br />
multilinhas de produtos/serviços. geralmente, as empresas que adotam esta estratégia organizacional<br />
foram originalmente organizadas funcionalmente.<br />
Na estrutura por produtos/serviços, a empresa se diferencia em função dos resultados. isso<br />
facilita o emprego da tecnologia, das máquinas e equipamentos, do conhecimento etc., permitindo uma<br />
intensificação de esforços e de coordenação.<br />
Estrutura matricial - ao utilizar um sistema de comando múltiplo, requer o suporte de toda a<br />
organização empresarial. trata-se de uma escolha estrutural extremamente útil e válida quando ocorrem<br />
três condições básicas e simultâneas, a saber:<br />
condição 1: pressão externa <strong>para</strong> focalização dual da tarefa a ser executada. <strong>para</strong> focalizar sua<br />
atenção e energia <strong>para</strong> os objetivos escolhidos, as empresas agrupam as pessoas e recursos em<br />
diferentes unidades organizacionais com limites definidos e um chefe comum e que se concentram em<br />
uma atividade que identifica seu propósito com o restante da empresa: os membros de cada unidade<br />
desenvolvem uma maneira distinta de pensar e trabalhar e se relacionam com os outros <strong>para</strong><br />
compartilhar sua tarefa e dar sua contribuição à tarefa empresarial.<br />
Problemas como:<br />
- especialização técnica e inovação (orientação interna)<br />
- atendimento às necessidades e exigências específicas dos <strong>cons</strong>umidores e usuários (orientação<br />
externa)<br />
enfatizam a necessidade de estabelecer um equilíbrio de poder entre:<br />
- gerentes funcionais (voltados <strong>para</strong> os recursos e especialidades técnicas)<br />
- gerentes de projeto (voltados <strong>para</strong> os produtos e serviços solicitados pelos clientes)<br />
condição 2: pressões <strong>para</strong> aumentar a capacidade de processar informações. como a empresa<br />
realiza uma tarefa complexa que cada indivíduo jamais poderia executar sozinho, ela precisa<br />
estabelecer e manter uma cadeia de canais de comunicação entre seus participantes <strong>para</strong> assegurar a<br />
coordenação.<br />
Três aspectos críticos que exigem maior capacidade de processamento da informação dentro da<br />
empresa:<br />
- incerteza ambiental<br />
65
- complexidade organizacional<br />
- interdependência de pessoas e grupos<br />
condição 3: pressões <strong>para</strong> utilização compartilhada de recursos. o tamanho de uma empresa<br />
pode capacitá-la a <strong>cons</strong>eguir recursos em grande quantidade. mas sempre existe a necessidade de<br />
alcançar economias de escala e elevado desempenho em termos de custos e benefícios. isso provoca<br />
pressões <strong>para</strong> otimizar a utilização dos recursos. deve ser possível alocá-los e deslocá-los com<br />
flexibilidade de uma tarefa <strong>para</strong> outra, de acordo com as necessidades da empresa. mudanças<br />
ambientais mais rápidas exigem maior velocidade de resposta por parte da estrutura organizacional às<br />
novas exigências. a matriz permite rápidos deslocamentos e utilização compartilhada dos recursos<br />
disponíveis.<br />
66
Texto 9: DRUCKER Peter F. Os Novos Paradigmas da Administração. EXAME, 24/02/1999 (Edição<br />
682)<br />
Um dos pais da moderna teoria da administração argumenta que boa parte do que se ensina e se<br />
acredita com relação à teoria da administração está errada ou seriamente desatualizada. Se você<br />
quiser prosperar neste mundo em rápida transformação, é melhor prestar bastante atenção ao que ele<br />
está dizendo<br />
À medida que nós avançamos e nos aprofundamos na economia do conhecimento, os pressupostos<br />
básicos de boa parte do que se ensina e se pratica em nome da administração vão ficando totalmente<br />
desatualizados.<br />
Como todo executivo experiente já sabe, poucas políticas se <strong>cons</strong>ervam atuais por 20 ou 30 anos.<br />
Tampouco <strong>cons</strong>erva sua atualidade por mais tempo do que isso a maioria das premissas referentes à<br />
economia, aos negócios e à tecnologia. No entanto, a maioria de nossos pressupostos relativos às<br />
empresas, à tecnologia e à organização data de pelo menos 50 anos. Eles já perderam sua atualidade.<br />
Em <strong>cons</strong>eqüência, estamos pregando, ensinando e praticando políticas que destoam cada vez mais da<br />
realidade e que, por isso mesmo, são contraproducentes. Este ensaio procura reexaminar esses<br />
pressupostos e essas práticas. As premissas básicas relativas à realidade <strong>cons</strong>tituem os <strong>para</strong>digmas de<br />
uma ciência social. Elas determinam qual será o foco de atenção da disciplina. Também determinam,<br />
em grande medida, o que é deixado de lado, visto como exceção irritante. Se as premissas estiverem<br />
erradas, tudo o que as segue estará errado.<br />
Para uma disciplina social, como é a administração, as premissas são bem mais importantes do que são<br />
os <strong>para</strong>digmas <strong>para</strong> uma ciência natural. O <strong>para</strong>digma - isto é, a teoria geral prevalecente - não exerce<br />
impacto sobre o universo natural. Quer o <strong>para</strong>digma afirme que o Sol gira em torno da Terra ou, ao<br />
contrário, que a Terra gira em torno do Sol, isso não tem efeito sobre o Sol ou a Terra. Mas uma<br />
disciplina social como a administração trata do comportamento de pessoas e instituições humanas. O<br />
universo social não possui "leis naturais" como as que governam as ciências físicas. Assim, é sujeito a<br />
mudanças contínuas. Isso significa que as premissas que eram válidas ontem podem tornar-se inválidas,<br />
ou até mesmo totalmente enganosas, num piscar de olhos.<br />
É nesse ponto que estamos hoje na disciplina da administração.<br />
Quais são as premissas que estão conduzindo a administração no caminho errado?<br />
Subjacente à ortodoxia atual, por exemplo, está uma premissa que é defendida por praticamente todos<br />
os teóricos da administração e pela maioria de seus praticantes, desde os primórdios da reflexão sobre<br />
organizações - ou seja, desde Henri Fayol, na França, e Walter Rathenau, na Alemanha, por volta de<br />
1900. Desde aquela época, é dado como certo que existe uma forma correta de organização.<br />
Fayol ditou o princípio de que existe uma estrutura correta <strong>para</strong> toda empresa manufatureira: uma<br />
divisão funcional em engenharia, manufatura, vendas, financeiro e pessoal, cada divisão a ser<br />
administrada se<strong>para</strong>damente, indo unir-se às outras apenas no nível do executivo-chefe.<br />
Essa é apenas uma entre sete premissas subjacentes relativas à organização que estão desatualizadas:<br />
1. Existe apenas uma maneira certa de organizar uma empresa.<br />
2. Os princípios da administração se aplicam apenas às organizações empresariais.<br />
67
3. Existe uma única maneira correta de administrar pessoas. No passado, a maneira correta era o<br />
controle de cima <strong>para</strong> baixo - a centralização. Mais tarde, a descentralização entrou em voga. Hoje, a<br />
abordagem de equipe é vista como a ideal.<br />
4. Tecnologias, mercados e finalidades são fixos e raramente se superpõem. Ou seja, cada indústria<br />
possui uma tecnologia específica e um mercado específico.<br />
5. O âmbito da administração se restringe aos ativos e funcionários de uma organização.<br />
6. O trabalho da administração é "gerir a empresa", e não centrar sua atenção no que acontece fora da<br />
empresa. Ou seja, o foco da administração é interno, não externo.<br />
7. As fronteiras nacionais definem o ambiente da empresa e da sua administração.<br />
Até o início da década de 80, todas essas premissas eram suficientemente próximas da realidade <strong>para</strong><br />
ser úteis. Neste ensaio vou procurar mostrar por que cada uma delas é hoje incorreta, desatualizada ou<br />
ambas as coisas. Deixar de abandoná-las em face da realidade em rápida transformação pode levar sua<br />
empresa à falência ou sua carreira ao fracasso.<br />
1. A disciplina da administração<br />
Hoje em dia costumamos pensar na administração como sendo administração de empresas. Essa<br />
premissa tem origem mais ou menos recente. Até a década de 30, o punhado de escritores e pensadores<br />
que se preocupavam com a administração - começando por Frederick Winslow Taylor (1856-1915),<br />
mais ou menos na virada do século, e terminando com Chester Barnard, logo antes da Segunda Guerra<br />
Mundial - presumia que a administração de empresas não passava de subdivisão da administração<br />
geral.<br />
Para eles, o termo "administração" se aplicava a qualquer tipo de organização, não apenas às empresas.<br />
Uma organização era uma organização, e as organizações diferiam entre si apenas na mesma medida<br />
em que uma raça de cão difere de outra raça.<br />
A primeira aplicação <strong>cons</strong>ciente e sistemática dos princípios da administração não se deu numa<br />
empresa. Foi a reorganização do Exército dos Estados Unidos feita em 1901 por Elihu Root (1845-<br />
1937), o secretário da Guerra de Theodore Roosevelt.<br />
O primeiro congresso de administração - em Praga, em 1922 - foi organizado não por empresários, mas<br />
por Herbert Hoover, então secretário de Comércio americano, e Thomas Masaryk, historiador<br />
mundialmente famoso e presidente-fundador da recém-criada República da Checoslováquia.<br />
A identificação da administração com a administração de empresas começou apenas com a Grande<br />
Depressão, que gerou hostilidade em relação às empresas e desprezo por seus executivos. Para não ser<br />
contaminada pela associação de sua imagem com a de empresas, a administração no setor público foi<br />
rebatizada de administração pública e proclamada uma disciplina distinta - com seus departamentos<br />
universitários, terminologia e hierarquia profissional próprios.<br />
A moda mudou, entretanto, no período do pós-guerra. Em 1950, "empresas" e "negócios" já haviam<br />
voltado a ser palavras bem-vistas, em grande medida devido ao desempenho da administração de<br />
empresas americana durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, nossa teoria está finalmente alcançando<br />
essa realidade. Isso se pode <strong>cons</strong>tatar pelos seguintes fatos:<br />
Muitas escolas de administração de empresas foram rebatizadas de escolas de administração.<br />
A crescente oferta de cursos de administração de organizações sem fins lucrativos por essas mesmas<br />
escolas.<br />
68
O surgimento de programas de administração executiva que recrutam executivos de empresas e de<br />
outras organizações não-empresariais.<br />
A criação de departamentos de administração pastoral em escolas de teologia.<br />
Mas a premissa de que a administração é administração de empresas continua existindo. Assim, é<br />
importante afirmar - em alto e bom som - que a administração não é administração de empresas, assim<br />
como a medicina, por exemplo, não é obstetrícia.<br />
Por que é importante acabar com a distinção artificial entre organizações empresariais e nãoempresariais?<br />
Porque é muito pouco provável que o setor que mais cresça nas sociedades<br />
desenvolvidas do século XXI seja o das empresas. Na verdade, as empresas não têm sido o setor que<br />
mais cresce nas sociedades desenvolvidas do século XX. Hoje, uma proporção muito menor da<br />
população economicamente ativa dos países desenvolvidos trabalha em empresas do que acontecia há<br />
100 anos.<br />
Naquela época, praticamente todas as pessoas que compunham a população ativa ganhavam a vida em<br />
atividades econômicas (em sua maioria agrícolas). Os setores que mais cresceram nos países<br />
desenvolvidos no século XX não foram o das empresas, mas sim o governamental, o dos profissionais<br />
liberais, o da saúde e o da educação. Essa tendência vai se manter e se intensificar no século XXI.<br />
Assim, o setor social sem fins lucrativos é aquele em que a administração é mais necessária hoje em<br />
dia. É ali que a administração sistemática, baseada na teoria e guiada por princípios, pode render os<br />
maiores resultados em menos tempo. Basta pensar nos enormes problemas com que o mundo defronta -<br />
pobreza, saúde, educação, tensões internacionais -, que a necessidade de soluções administradas se<br />
torna clara.<br />
2. A única organização correta?<br />
A preocupação com a administração e seu estudo começou com o repentino surgimento de grandes<br />
organizações. Um exército permanente foi a novidade do final do século XIX. Empresas e órgãos<br />
públicos governamentais, empregando quadros de funcionários públicos, foram outras grandes<br />
organizações que surgiram mais ou menos na mesma época.<br />
E, desde o início, há mais de um século, o estudo da organização se baseia em uma premissa: a de que<br />
existe ou deve existir uma única forma "certa" de organização. Essa idéia de que existe um modelo que<br />
serve <strong>para</strong> todas as organizações persiste até hoje.<br />
A estrutura organizacional das empresas foi estudada pela primeira vez na França, por volta da virada<br />
do século, por Henri Fayol, presidente de uma das maiores - mas totalmente desorganizada - empresas<br />
da Europa, uma mineradora de carvão (mas ele só publicou seu livro em 1916). O que aconteceu na<br />
Europa repetiu-se nos Estados Unidos: os primeiros teóricos da administração foram empresários<br />
praticantes - John D. Rockefeller pai, J.P. Morgan e, especialmente, Andrew Carnegie (que exerceu o<br />
impacto mais duradouro e ainda merece ser estudado). Um pouco mais tarde, Elihu Root aplicou a<br />
teoria da organização ao Exército americano. Não foi coincidência o fato de Root ter sido assessor<br />
jurídico de Carnegie.<br />
Era a época em que as organizações empresariais em escala realmente grande estavam começando a<br />
aparecer, e seus administradores tiveram de desenvolver sua disciplina à medida que as empresas<br />
avançavam. Não havia textos a <strong>cons</strong>ultar, não havia <strong>cons</strong>ultores. De certo modo, eles aprenderam uns<br />
com os outros. Por volta de 1895, Georg Siemens (1839-1901), fundador, em 1870, do Deutsche Bank,<br />
adotou os conceitos organizacionais de seu amigo Fayol <strong>para</strong> salvar a companhia Siemens Electric. A<br />
69
Siemens tinha sido fundada por seu primo Werner von Siemens (1816-1892), mas estava acéfala depois<br />
da morte dele - e ia mal das pernas.<br />
A Primeira Guerra Mundial deixou clara a necessidade de uma estrutura organizacional formal.<br />
Administrar dezenas de milhões de soldados e reorientar economias inteiras em torno da produção <strong>para</strong><br />
a guerra tornou indispensável a organização formal. A guerra mostrou, porém, que a estrutura funcional<br />
defendida por Fayol (e Carnegie) não era a organização adequada <strong>para</strong> empreendimentos enormes. A<br />
administração altamente centralizada que propalavam simplesmente não funcionava nessa escala. O<br />
processo decisório tinha de ser redirecionado <strong>para</strong> escalões mais baixos da organização.<br />
Assim, imediatamente após a Primeira Guerra Mundial, primeiro Pierre S. du Pont (1870-1954) e<br />
depois Alfred Sloan (1875-1966) desenvolveram a descentralização. Esta não demorou a transformarse<br />
no mantra da administração, o único caminho visto como correto. E agora, nos últimos anos,<br />
passamos a defender a equipe como a organização correta <strong>para</strong> praticamente qualquer coisa.<br />
Mas já deve ter ficado claro que a organização certa é algo que não existe. Existem apenas<br />
organizações, cada uma das quais possui pontos fortes distintos, limitações distintas e aplicações<br />
específicas. O que já ficou claro, sim, é que a organização não é um absoluto. É uma ferramenta <strong>para</strong><br />
tornar as pessoas produtivas quando trabalham em conjunto. Como tal, uma estrutura organizacional é<br />
adequada <strong>para</strong> determinadas tarefas em determinadas condições e determinadas épocas.<br />
Por exemplo, ouve-se falar muito hoje em dia sobre o "fim da hierarquia". Isso é bobagem pura e<br />
simples. Em qualquer instituição é preciso que haja uma autoridade final, ou seja, um "chefe" - alguém<br />
que, numa situação de perigo comum, tome a decisão final e possa esperar ser obedecido. (É provável<br />
que toda instituição enfrente uma situação desse tipo, cedo ou tarde.) Se o navio está afundando, o<br />
capitão não convoca uma reunião - ele dá ordens. E, <strong>para</strong> que o navio possa ser salvo, é preciso que<br />
todos obedeçam a essas ordens, que todos saibam exatamente aonde devem ir e o que devem fazer, e<br />
que o façam sem discussão, sem "participação". A hierarquia, e a aceitação dela sem questionamentos<br />
por todos na organização, é a única esperança de salvação numa crise.<br />
Mas a organização correta <strong>para</strong> lidar com crises não é a organização apropriada <strong>para</strong> lidar com todas as<br />
tarefas. Às vezes a abordagem de equipe é a resposta certa.<br />
De fato, na indústria farmacêutica a abordagem de equipe foi aplicada com sucesso muito antes do<br />
atual entusiasmo por ela. Desde mais ou menos 1950, primeiro na Suíça e depois nos Estados Unidos,<br />
as empresas farmacêuticas vêm usando equipes <strong>para</strong> desenvolver e lançar novos medicamentos. Assim<br />
que é desenvolvida a ciência básica, o pessoal médico, de manufatura, financeiro, de marketing e<br />
especialistas em patentes trabalham em conjunto, em equipes de desenvolvimento. Depois de atingido<br />
seu objetivo, a equipe só se desfaz quando o medicamento já está no mercado. No entanto, dentro<br />
dessas mesmas empresas, outros projetos - como, por exemplo, a conversão de um remédio vendido<br />
com receita médica em produto vendido sem receita - são conduzidos pela organização funcional<br />
convencional.<br />
Henri Fayol tomou como pressuposto básico a "empresa manufatureira típica". Nos anos 20, Alfred<br />
Sloan organizou cada uma das divisões descentralizadas da GM exatamente da mesma maneira.<br />
Trinta anos mais tarde, na maciça reorganização da empresa americana General Electric, o mesmo<br />
princípio foi aplicado: o de que existe apenas uma maneira de organizar o trabalho. Uma pequena<br />
unidade de algumas dúzias de pesquisadores, contratados unicamente <strong>para</strong> desenvolver projetos <strong>para</strong> a<br />
Força Aérea americana, seria organizada quase exatamente do mesmo modo que um departamento<br />
enorme que empregava vários milhares de pessoas e produzia uma torradeira ou um gerador elétrico. O<br />
pequeno grupo de desenvolvimento chegava a ser onerado com gerentes de manufatura, pessoal,<br />
financeiro e relações públicas.<br />
70
Em qualquer empreendimento - provavelmente até mesmo na empresa manufatureira típica de Fayol -<br />
existe a necessidade de uma série de estruturas organizacionais diferentes que coexistam.<br />
Considere-se a tarefa cada vez mais difícil de administrar as dívidas em moeda estrangeira. Ela requer<br />
centralização total. Nenhuma unidade da empresa pode ser autorizada a lidar com suas próprias dívidas<br />
em moeda estrangeira. Mas, na mesma empresa, o atendimento ao cliente, especialmente em áreas de<br />
alta tecnologia, requer autonomia local quase total, indo muito além da descentralização tradicional.<br />
Cada um dos funcionários que prestam atendimento precisa ser o "chefe", com o resto da organização<br />
seguindo suas orientações.<br />
Assim, existem diferenças enormes em estrutura organizacional, segundo a natureza da tarefa.<br />
Apesar disso, há princípios de organização que são universais. Um deles, com certeza, é que a<br />
organização deve ser transparente. As pessoas precisam conhecer e compreender a estrutura<br />
organizacional na qual vão trabalhar. Isso soa óbvio, mas muito freqüentemente não é respeitado na<br />
maioria das instituições, até mesmo na instituição militar.<br />
Levou algo como 20 anos, por exemplo, <strong>para</strong> a Força Aérea americana realmente compreender quem<br />
deve dar a última palavra sobre quando um novo avião está pronto <strong>para</strong> voar. Acabou ficando claro que<br />
o verdadeiro responsável era o chefe da equipe de sargentos, não o coronel que comanda as equipes de<br />
reparos.<br />
3. Estruturas organizacionais múltiplas<br />
Como já mencionei, alguém na organização precisa ter a autoridade necessária <strong>para</strong> assumir o comando<br />
em momentos de crise. Também é um princípio geral válido <strong>para</strong> organizações de todos os tipos que<br />
qualquer membro da organização deve se submeter a apenas um "senhor". É sábio o velho provérbio da<br />
lei romana segundo o qual um escravo que tem três senhores é um homem livre. É um princípio muito<br />
antigo das relações humanas que ninguém deve ser sujeito a um conflito de lealdades - e ter mais de um<br />
senhor gera exatamente esse tipo de conflito.<br />
É aí que erram as chamadas equipes "bandas de jazz", tão bem-vistas hoje em dia. O membro que é<br />
engenheiro, por exemplo, reporta-se ao líder da equipe, mas também se reporta ao chefe de sua função<br />
específica. A mesma coisa acontece com o membro financeiro: ele deve lealdade tanto ao líder da<br />
equipe quanto ao chefe financeiro geral da organização.<br />
É um princípio estrutural correto ter o menor número possível de camadas, ou seja, ter uma<br />
organização o mais "achatada" possível - mesmo porque a primeira lei da teoria da informação nos diz<br />
que "cada relê dobra o ruído e reduz a mensagem pela metade".<br />
Uma decorrência disso é que todos os indivíduos terão de aprender a trabalhar ao mesmo tempo em<br />
diferentes estruturas organizacionais. Para algumas tarefas, terão de trabalhar em equipe. Para outras,<br />
vão trabalhar numa estrutura de comando e controle. O mesmo indivíduo que é chefe em sua própria<br />
organização é parceiro numa aliança ou até mesmo sócio minoritário numa joint venture.<br />
Pense nos seguintes termos: o executivo do futuro vai precisar de uma caixa de ferramentas repleta de<br />
estruturas organizacionais. Ele terá de selecionar a ferramenta apropriada <strong>para</strong> cada tarefa específica.<br />
Isso significa que ele terá de aprender a usar cada uma dessas ferramentas e entender qual delas<br />
funciona melhor <strong>para</strong> cada tarefa. E quando, durante o desempenho da tarefa, ele deve passar de um<br />
tipo de organização a outro?<br />
Essa análise talvez se faça mais necessária <strong>para</strong> a organização atualmente vista como politicamente<br />
correta: a equipe.<br />
71
Hoje, a premissa mais generalizada é que existe apenas um tipo de equipe - podemos chamá-la de<br />
"banda de jazz" -, em que cada participante faz o que ele, ou ela, sabe fazer, mas, juntos, produzem<br />
música de alta qualidade. Na realidade, existem pelo menos meia dúzia - talvez uma dúzia - de equipes<br />
muito diferentes, cada uma com sua própria área de aplicação, cada uma com suas próprias limitações e<br />
dificuldades, cada uma exigindo uma administração diferente.<br />
Eis alguns exemplos de equipe:<br />
A equipe funcional de modelo antigo é o tipo que prevalece nas lojas de departamentos. As diferentes<br />
seções - de compras, vitrines, promoção e publicidade, vendas - não trabalham juntas, e nenhum de<br />
seus integrantes jamais desempenha a tarefa de um membro de outra seção, exceto em raros momentos<br />
de crise. A vantagem dessa equipe é que cada membro pode ser treinado <strong>para</strong> uma função específica,<br />
como é feito com os arremessadores, batedores e apanhadores num time de beisebol. E cada membro<br />
pode ser medido e avaliado em com<strong>para</strong>ção com metas claras e específicas. Seus pontos fracos são:<br />
rigidez, demora <strong>para</strong> modificar qualquer coisa e o perigo de que cada grupo esteja voltado<br />
exclusivamente a sua própria função. Ele fará seu próprio trabalho bem, mas não se preocupará com o<br />
desempenho global da organização.<br />
Outro tipo de equipe é aquele exemplificado pela alta direção das grandes empresas alemãs.<br />
Normalmente, cada um de seus integrantes tem uma área de responsabilidade claramente definida, na<br />
qual ele (ainda são muito raros os casos em que é "ela") é o chefe. Essa área pode ser funcional -<br />
engenharia - ou geográfica - por exemplo, a América do Norte. Normalmente, a pessoa encarregada de<br />
uma área desse tipo nem sequer <strong>cons</strong>ulta seus colegas sobre as decisões que vai tomar em sua área; ela<br />
apenas as relata. Mas existe um "coordenador", freqüentemente uma pessoa eleita pelo <strong>cons</strong>elho de<br />
administração. Ele também tem uma área que é sua especialidade, mas, além disso, pode dar a última<br />
palavra, especialmente quando o grupo apresenta discordâncias internas. É um pouco como o regente<br />
de uma boa orquestra: é ele quem dá a partitura que será tocada. Mas cada músico toca seu próprio<br />
instrumento.<br />
Existem muitos outros tipos de equipe. Estamos apenas começando a estudá-las e a definir os pontos<br />
fracos e fortes de cada uma, as áreas em que cada uma funciona ou não funciona. Mas, a não ser que<br />
decifremos, e rapidamente, <strong>para</strong> qual tipo de trabalho uma equipe é adequada e <strong>para</strong> qual ela não é<br />
adequada, as equipes passarão a ser desacreditadas, vistas como apenas mais uma tendência passageira.<br />
Qual é o papel do executivo-chefe em tudo isso? Duvido que alguém queira afirmar que realmente<br />
sabemos organizar o mais alto cargo executivo, quer seja numa empresa, numa universidade, num<br />
hospital ou até mesmo numa igreja moderna. Falamos sem <strong>para</strong>r em equipes, e todos os estudos<br />
chegam à conclusão de que o mais alto cargo executivo requer uma equipe. Mas é nesse ponto que a<br />
retórica se distancia inteiramente da realidade, e que nós praticamos o mais radical culto à<br />
personalidade dos executivos-chefes super-homens: Bill Gates, Jack Welch, Louis Gerstner.<br />
Mas como essas pessoas foram escolhidas, quem vai suceder-lhes - e por meio de que processo? Quais<br />
são as salvaguardas que garantem que o sucessor será a melhor pessoa <strong>para</strong> ocupar aquele cargo? As<br />
pessoas dão pouca atenção ao processo sucessório, mas é ele, na verdade, o teste final da boa<br />
administração.<br />
Com relação a esse ponto, uma organização não-empresarial se saiu muito melhor. A primeira tentativa<br />
<strong>cons</strong>ciente de lidar com o problema sucessório foi feita pelos criadores da Constituição dos Estados<br />
Unidos. Eles descobriram e colocaram no papel, pela primeira vez na história humana, como garantir<br />
uma sucessão ordenada sem os assassinatos, envenenamentos, <strong>cons</strong>pirações e golpes de Estado que<br />
manchavam a história das sucessões reais. Embora eu não conheça nenhum caso de execução de rivais<br />
nas sucessões na direção de empresas, tampouco conheço qualquer sistema que garanta a sucessão<br />
bem-sucedida no mundo empresarial ou organizacional. A Constituição garantiu que sempre haveria<br />
72
um executivo-chefe escolhido por um processo de seleção legítimo e aguardando nos bastidores, sem<br />
<strong>cons</strong>tituir ameaça ao presidente em exercício, como eram os príncipes herdeiros do passado. O vicepresidente<br />
que sucede a um presidente que morre no exercício do cargo pode ou não ser a melhor<br />
pessoa <strong>para</strong> ocupar o cargo. Mas sua legitimidade e autoridade nunca são postas em dúvida.<br />
4. O único jeito certo?<br />
Em seu livro O Lado Humano da Empresa (1960), Douglas McGregor afirmou que as direções das<br />
empresas têm de optar entre duas, e apenas duas, maneiras diferentes de administrar pessoas: a "teoria<br />
X" e a "teoria Y". A primeira parte da premissa de que as pessoas não querem trabalhar - logo,<br />
precisam ser coagidas e controladas. A segunda presume que elas realmente querem trabalhar e<br />
precisam apenas da motivação adequada.<br />
McGregor dizia que a teoria Y é a única válida. Eu havia dito mais ou menos a mesma coisa um pouco<br />
antes em meu livro Prática da Administração de Empresas, lançado em 1954.<br />
A visão prevalecente continua sendo a de que as pessoas realmente precisam ser administradas, quer de<br />
uma maneira, quer de outra - mas está errada. Alguns anos mais tarde, Abraham H. Maslow (1908-<br />
1970) mostrou em seu livro Eupsychian Management, de 1962 (reeditado em 1998 sob o título Maslow<br />
on Management), por que tanto McGregor quanto eu estávamos completamente enganados. Ele<br />
demonstrou conclusivamente que diferentes pessoas precisam ser administradas de diferentes maneiras.<br />
Eu me converti imediatamente a seu modo de pensar. As provas que Maslow apresenta <strong>para</strong><br />
fundamentar sua visão são avassaladoras. Até agora, porém, muito poucas pessoas prestaram atenção<br />
ao que ele tem a nos dizer.<br />
Todas as outras premissas sobre pessoas em organizações e sua administração se baseiam nessa<br />
premissa fundamentalmente errônea de que existe apenas uma maneira correta de administrar pessoas.<br />
Uma dessas premissas é que as pessoas que trabalham <strong>para</strong> uma organização o fazem em tempo<br />
integral e dependem dela <strong>para</strong> seu sustento. Outra premissa é que as pessoas que trabalham <strong>para</strong> uma<br />
organização são subordinadas, das quais se espera que façam o que lhes é mandado e praticamente<br />
nada mais.<br />
Há 70 anos, quando essas premissas primeiro foram formuladas, durante e no final da Primeira Guerra<br />
Mundial, elas se aproximavam suficientemente da realidade <strong>para</strong> ser <strong>cons</strong>ideradas válidas. Hoje em dia,<br />
são todas insustentáveis.<br />
Uma minoria muito grande da força de trabalho - que cresce sem <strong>para</strong>r - é composta de funcionários<br />
que não trabalham em regime de período integral. Eles trabalham <strong>para</strong> firmas terceirizadas, que podem<br />
ser desde firmas de faxina até empresas de processamento de dados. As grandes montadoras de<br />
automóveis e caminhões montam veículos que, cada vez mais, são feitos de peças fabricadas por<br />
fornecedores, de modo que a maior parte do trabalho embutido em seu produto é feita por pessoas que<br />
não trabalham diretamente <strong>para</strong> elas. A mesma coisa se aplica à área dos computadores.<br />
Outros integrantes da força de trabalho da organização podem ser indivíduos que trabalham por<br />
períodos contratuais fixos; esse é freqüentemente o caso das pessoas de maior conhecimento<br />
especializado, logo, as que têm maior valor.<br />
Mesmo quando empregadas em tempo integral, cada vez menos pessoas são subordinadas, mesmo<br />
quando ocupam cargos de nível bastante baixo. Cada vez mais, são trabalhadores de conhecimento. O<br />
trabalhador de conhecimento não pode ser administrado como subordinado: é um sócio. Pode ser sócio<br />
júnior ou sênior, mas não é subordinado ou superior.<br />
73
Essa diferença não é superficial. Depois de ultrapassar a etapa do aprendizado, o trabalhador de<br />
conhecimento precisa saber mais sobre seu trabalho do que seu chefe sabe - se não, qual seria sua<br />
utilidade? A própria definição de trabalhador de conhecimento é a de alguém que sabe mais sobre seu<br />
trabalho do que qualquer outro integrante da organização.<br />
Por exemplo, o engenheiro que faz o atendimento a um cliente não sabe mais sobre o produto do que o<br />
gerente de engenharia. Mas sabe mais sobre o cliente - e isso pode ser mais importante do que o<br />
conhecimento do produto. O meteorologista que trabalha numa base aérea ocupa um cargo muitíssimo<br />
inferior ao do comandante da base aérea. Mas sua utilidade vem do fato de ele saber infinitamente mais<br />
sobre a previsão do tempo do que o comandante sabe.<br />
Assim, um executivo não está apenas sendo cortês quando se refere a um funcionário como "sócio".<br />
Está apenas admitindo um fato real.<br />
O vice-presidente de marketing pode ter subido toda a hierarquia de vendas e saber muito sobre o<br />
assunto, mas sabe pouco sobre pesquisa de marketing, política de preços, embalagem, atendimento ao<br />
cliente, previsão de vendas. Assim, é impossível <strong>para</strong> ele dizer aos especialistas do departamento de<br />
marketing o que devem fazer. Nesse sentido, esses especialistas são sócios, não subordinados. A<br />
mesma coisa se aplica ao administrador de um hospital ou ao médico diretor do hospital com relação<br />
aos funcionários que trabalham no laboratório clínico ou na unidade de fisioterapia.<br />
Em outras palavras, o relacionamento entre eles se assemelha muito mais àquele existente entre o<br />
regente da orquestra e os músicos que tocam os diferentes instrumentos. O regente pode nem saber<br />
tocar um violino, mas o êxito de seu trabalho depende da qualidade de seus sócios, os músicos. E,<br />
assim como uma orquestra pode sabotar o mais capaz dos maestros - especialmente se ele também for o<br />
mais autocrático -, uma organização do conhecimento não terá dificuldade em sabotar até mesmo o<br />
mais capaz dos superiores, especialmente se for o mais autocrático deles.<br />
O que isso significa é que mesmo os funcionários em tempo integral precisam ser administrados como<br />
se fossem voluntários. Nesse ponto, a grande empresa típica tem muito a aprender com o Exército da<br />
Salvação ou com a Igreja Católica.<br />
A motivação dos funcionários, especialmente dos funcionários de conhecimento, é a mesma dos<br />
trabalhadores voluntários. Como é sabido, os voluntários ganham mais satisfação com seu trabalho do<br />
que os funcionários pagos, precisamente pelo fato de não receberem salário. Eles precisam sobretudo<br />
de um desafio. Precisam conhecer a missão da organização e acreditar nela. Precisam de treinamento<br />
contínuo. Precisam ver resultados.<br />
A conclusão implícita é que os funcionários precisam ser administrados como se fossem sócios - e não<br />
apenas em teoria. A definição de sociedade é que todos os sócios são iguais. Também faz parte da<br />
definição de sociedade que os sócios não podem receber ordens. Eles têm que ser persuadidos. Cada<br />
vez mais, portanto, a administração de pessoas é um trabalho de marketing. E no marketing não se<br />
começa perguntando "o que queremos?" Começa-se perguntando: "O que a outra parte quer? Quais são<br />
seus valores? Quais são suas metas? O que ela vê como sendo resultados?".<br />
E isso não é a teoria X, nem a teoria Y, nem qualquer outra teoria específica de administração de<br />
pessoas. É algo que vai além dessas teorias e que envolve o alinhamento das metas dos funcionários<br />
com as da organização e vice-versa.<br />
Nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a administração de pessoas vai ganhar importância<br />
cada vez maior, na medida em que a única vantagem competitiva que esses países ainda podem esperar<br />
ter é a produtividade de seus trabalhadores de conhecimento. A produtividade do trabalhador de<br />
conhecimento ainda é baixíssima. Ela provavelmente não melhorou nos últimos 100 ou mesmo 200<br />
74
anos - pela simples razão de que ninguém empreendeu a tarefa de tentar melhorá-la. Todo o trabalho<br />
que temos feito com a produtividade tem sido feito com o trabalhador manual.<br />
Para isso será preciso, sobretudo, mudar nossos pressupostos relativos ao que <strong>cons</strong>titui administração.<br />
Não se "administram" pessoas, como se presumia anteriormente. Lideram-se pessoas. Para maximizar o<br />
desempenho delas, a solução é capitalizar sobre seus pontos fortes e seu conhecimento, e não procurar<br />
forçá-las a adequar-se a modelos previamente definidos.<br />
5. O fim das fronteiras tecnológicas<br />
Nos primórdios da Revolução Industrial, quando a indústria têxtil foi criada a partir de antigas<br />
indústrias familiares, presumia-se - e era uma premissa totalmente válida - que a atividade tinha sua<br />
tecnologia própria e singular. A mesma coisa se aplicava à mineração de carvão e às outras indústrias<br />
que surgiram no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. Essas tecnologias não se<br />
superpunham muito.<br />
O alemão Werner von Siemens (1816-1892) <strong>cons</strong>truiu uma das primeiras organizações industriais em<br />
grande escala. Para isso, baseou-se no fato de compreender seu funcionamento. Em 1869, <strong>para</strong><br />
conquistar uma vantagem na tecnologia utilizada por sua indústria, contratou o primeiro cientista<br />
formado em universidade <strong>para</strong> inaugurar um moderno laboratório de pesquisas.<br />
Desses laboratórios de pesquisas nasceram as indústrias químicas e elétricas alemãs, que assumiram a<br />
posição de liderança mundial porque desenvolveram a melhor tecnologia. Da compreensão dessa<br />
necessidade da indústria - a pesquisa específica - nasceram todas as outras grandes empresas líderes<br />
mundiais em outras áreas não ligadas à química: automotiva, telefônica e, mais tarde, a farmacêutica e<br />
a dos computadores.<br />
Durante o século XIX e a primeira metade do século XX, era possível dar como certo que as<br />
tecnologias estranhas a uma indústria exerceriam impacto mínimo sobre aquela indústria. Quem<br />
conhecesse bem sua própria tecnologia prosperava. Não havia necessidade de técnicos siderúrgicos<br />
<strong>para</strong> se manterem atentos aos avanços na área da aeronáutica, por exemplo, ou gráfica.<br />
Essa especificidade por indústria formou a base daquele que viria a ser provavelmente o mais bemsucedido<br />
de todos os grandes laboratórios de pesquisas dos últimos 100 anos, o Bell Labs. Fundado no<br />
início da década de 20 como parte da AT&T, até o final dos anos 60 o Bell Labs produziu praticamente<br />
todos os novos conhecimentos e todas as novas tecnologias de que a indústria telefônica precisou.<br />
Mas essa atenção exclusiva a sua própria indústria acabou custando caro ao Bell Labs - e à sua empresa<br />
mãe. A maior conquista científica do Bell Labs foi o transistor. As principais utilizações do transistor<br />
estavam fora do sistema telefônico, e a direção do laboratório tinha pouco interesse ou conhecimento<br />
do que se passava fora de sua área. Resultado: a grande invenção do Bell Labs foi vendida a todos os<br />
interessados pela quantia pífia de 25 000 dólares. O fato de a Sony, a Intel e a Compaq serem grandes<br />
empresas hoje se deve em grande medida à miopia do Bell Labs, já que elas e centenas de outras<br />
empresas bem-sucedidas ganharam muito dinheiro com o transistor.<br />
O Bell Labs simplesmente não percebeu que o mundo havia mudado e que os muros tecnológicos que<br />
antes se<strong>para</strong>vam as indústrias haviam caído por terra.<br />
Hoje, se você quiser sobreviver, tem de esquecer a grande sacada do velho Siemens. A premissa inicial<br />
correta hoje é que as tecnologias que provavelmente vão exercer o maior impacto sobre uma empresa e<br />
sua indústria são tecnologias externas a seu próprio campo.<br />
75
Assim, as coisas que revolucionaram o sistema telefônico, tais como o sistema de comutadores digitais<br />
ou o cabo de fibra óptica, não saíram do Bell Labs. Saíram de tecnologias que não tinham nada a ver<br />
com telefonia. Diferentemente das tecnologias do século XIX, as tecnologias de hoje não percorrem<br />
caminhos <strong>para</strong>lelos e distintos. Elas se cruzam a toda hora.<br />
Como elas se cruzam, os muros que antes definiam as indústrias caem por terra. Antes, as empresas<br />
competiam dentro de um mesmo setor. Hoje, são setores que competem com setores. O aço compete<br />
não apenas com o alumínio, mas com o plástico produzido por companhias petrolíferas e químicas. Os<br />
computadores começaram como ferramenta de engenharia e mais tarde viraram aparelhos <strong>para</strong><br />
armazenar dados. Hoje, são tanto parte da indústria das comunicações quanto é a AT&T.<br />
Foi só depois da Segunda Guerra Mundial que se tornou claro que as utilizações finais não estão<br />
ligadas exclusivamente a um determinado produto ou serviço. Essa tendência começou com a invasão<br />
do plástico na área antes ocupada pelo aço e pelo vidro. Acabamos por compreender que a necessidade<br />
é única, mas que o meio de satisfazê-la é diversificado. A administração de empresas que se esquecer<br />
disso não durará muito neste mundo.<br />
Até o fim dos anos 20, a notícia era basicamente monopólio do jornal, invenção do século XVIII que<br />
teve seu crescimento maior no início do século XX, com a alfabetização universal e a criação de<br />
gráficas velozes. Hoje, a necessidade de notícias é satisfeita não só por tinta impressa sobre papel, mas<br />
também pela televisão, pelo rádio e pela Internet. Embora o Wall Street Journal domine tranqüilamente<br />
o mercado de notícias comerciais e de negócios diárias em formato impresso, ninguém pode dizer que<br />
ele monopolize essa área.<br />
É bom que os administradores compreendam as implicações de tudo isso <strong>para</strong> eles. A informação não é<br />
exclusiva de nenhuma indústria ou ramo específico. Ela tampouco tem uma só finalidade, e nenhuma<br />
finalidade requer apenas um tipo específico de informação.<br />
Uma implicação disso é que os não-clientes são tão importantes quanto os clientes, quando não mais,<br />
porque são clientes potenciais. Muito poucas instituições são fornecedoras de uma parcela tão grande<br />
quanto 30% de um mercado. Em outras palavras, existem muito poucas instituições <strong>para</strong> as quais os<br />
não-clientes não representam pelo menos 70% de seu mercado potencial. E, no entanto, muito poucas<br />
instituições sabem qualquer coisa sobre os não-clientes - algumas delas nem sabem que eles existem,<br />
muito menos quem são. E um número menor ainda delas sabe por que eles não são clientes. No<br />
entanto, é com os não-clientes que as transformações sempre se iniciam.<br />
O declínio acelerado das lojas de departamentos americanas nas décadas de 70 e 80 não foi provocado<br />
pelo abandono dos clientes. Os 30% de donas de casa americanas que eram clientes permaneceram fiéis<br />
às lojas, mas o novo grupo de mulheres trabalhadoras de boa instrução que estava surgindo no país não<br />
adotou o hábito de freqüentar as lojas de departamentos. Essas mulheres não tinham tempo <strong>para</strong> isso.<br />
Como não eram clientes, as lojas de departamentos não deram atenção a elas. Mas quando elas<br />
passaram a formar a maior parte da classe média abastada, já era tarde demais <strong>para</strong> as lojas de<br />
departamentos conquistarem sua lealdade. Ao preocupar-se apenas em satisfazer a sua clientela<br />
<strong>cons</strong>tante, essas cadeias varejistas acabaram atendendo a uma clientela em processo de extinção.<br />
Nossa experiência mostra que o cliente nunca compra o que o fornecedor vende. O valor, <strong>para</strong> o<br />
cliente, sempre é algo fundamentalmente diferente daquilo que o fornecedor vê como valor ou<br />
qualidade. Essa máxima se aplica tanto a empresas quanto a universidades ou hospitais.<br />
Considerem-se as megaigrejas evangélicas, que crescem rapidamente nos Estados Unidos desde 1980 e<br />
que, com certeza, <strong>cons</strong>tituem o mais importante fenômeno social americano dos últimos 30 anos. Hoje,<br />
já existem cerca de 20 000 dessas igrejas. Enquanto as igrejas tradicionais vêm decaindo sem <strong>para</strong>r, as<br />
megaigrejas não <strong>para</strong>m de crescer. Elas estão crescendo porque perguntaram "O que é valor <strong>para</strong> as<br />
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pessoas que não freqüentam a igreja?" e encontraram as respostas que as igrejas mais antigas haviam<br />
deixado de oferecer. Descobriram que o valor, <strong>para</strong> o <strong>cons</strong>umidor de serviços de igreja, é algo muito<br />
diferente daquilo que as igrejas ofereciam tradicionalmente. O maior valor <strong>para</strong> os milhares de pessoas<br />
que hoje lotam as megaigrejas, tanto nos dias de semana quanto aos domingos, é uma experiência que,<br />
muito mais do que ritual, é espiritual.<br />
Finalmente, a administração terá de aprender que a compreensão do mercado começa pela<br />
compreensão de como os <strong>cons</strong>umidores distribuem sua renda disponível - coisa que os economistas<br />
vêm dizendo há 100 anos.<br />
Quando foi lançada a televisão, no início da década de 50, o maior executivo da indústria eletrônica<br />
japonesa afirmou (num discurso feito em Nova York em 1952) que "o Japão não terá televisão por<br />
muitos, muitos anos ainda; os japoneses simplesmente não têm dinheiro <strong>para</strong> comprar televisores".<br />
Dois anos mais tarde, a penetração da TV no Japão era quase tão grande quanto nos Estados Unidos.<br />
Cinco anos depois, toda residência japonesa, por mais humilde que fosse, já contava com seu aparelho<br />
de TV. O fato de não disporem de renda extra não impediu os japoneses de comprar TVs. Para eles,<br />
não se tratava de mais um produto qualquer. Eles passaram a destinar uma parte cada vez maior de sua<br />
receita à compra de televisores, porque a TV lhes dava acesso a um mundo do qual estavam isolados<br />
havia séculos. Não era um produto, e sim todo um novo modo de vida.<br />
O aparelho de fax foi inventado nos Estados Unidos, tanto assim que até hoje todos os fabricantes de<br />
fax pagam royalties ao inventor americano original. No entanto, essa manufatura é dominada por<br />
empresas japonesas. Os fabricantes americanos perderam uma chance de faturar com o fax porque não<br />
haviam compreendido aquilo que o advento da televisão mostrou aos japoneses. Os americanos fizeram<br />
pesquisas de mercado que mostraram que as pessoas não pagariam o alto custo das máquinas de fax<br />
originais apenas <strong>para</strong> poupar dinheiro com o correio. Mas os japoneses, recordando o que acontecera<br />
com a TV, compreenderam que os <strong>cons</strong>umidores mostram uma disposição quase infinita de transferir<br />
receita disponível <strong>para</strong> telecomunicações, mesmo que isso signifique economizar em outras áreas de<br />
suas vidas. Eles lançaram o aparelho de fax, e poucas coisas na história econômica do mundo tiveram<br />
uma aceitação tão rápida e universal quanto ele.<br />
A moral da história é que nem a tecnologia, nem sua utilização final <strong>cons</strong>tituem bases <strong>para</strong> uma política<br />
de administração. As bases desta devem ser os valores dos <strong>cons</strong>umidores - no caso acima citado, o<br />
fascínio e a preferência deles pela comunicação veloz proporcionada pelo fax, em detrimento do<br />
serviço postal, mais lento.<br />
6. O fim do comando e controle<br />
A administração, tanto na teoria quanto na prática, trata da entidade legal, do empreendimento<br />
individual, quer este seja uma empresa, um hospital, uma universidade ou uma organização<br />
assistencialista. O conceito tradicional de administração se baseia no comando e controle, e comando e<br />
controle são definidos em termos legais. O executivo-chefe de uma empresa, o bispo de uma diocese, o<br />
administrador de um hospital, todos exercem autoridade de comando e controle dentro dos limites<br />
legais de sua instituição, mas não fora dela. O presidente da General Motors pode dizer a centenas de<br />
milhares de pessoas o que fazer. Não pode dar ordens a ninguém fora da GM.<br />
Foi há quase 100 anos que pela primeira vez ficou claro que a definição legal não basta <strong>para</strong><br />
administrar um grande empreendimento. Para <strong>cons</strong>eguir rendimento máximo a um custo mínimo, a<br />
administração precisava organizar o processo econômico em toda a cadeia de produção. Precisava<br />
exercer autoridade além dos limites legais de sua própria organização. Costuma ser atribuída aos<br />
japoneses a invenção do keiretsu, o conceito de administração pelo qual os fornecedores de uma<br />
77
empresa são ligados a seu cliente principal no que diz respeito ao planejamento, desenvolvimento de<br />
produtos, controle de custos e assim por diante. Assim, embora a direção da Toyota possa não exercer<br />
autoridade legal sobre um fornecedor de pára-choques, as duas administrações trabalham em<br />
cooperação estreita <strong>para</strong> combinar a produção, o controle de custos e as pesquisas.<br />
Na verdade, porém, o keiretsu é uma criação muito mais antiga, e americana. Ela remonta a mais ou<br />
menos 1910 e ao homem que primeiro percebeu o potencial do automóvel de virar uma grande<br />
indústria: William C. Durant (1861-1947). Foi Durant quem criou a General Motors, adquirindo<br />
montadoras menores e bem-sucedidas, como a Buick, e fundindo-as em uma única grande empresa<br />
automotiva.<br />
Alguns anos depois, Durant se deu conta de que precisava incluir os principais fornecedores em sua<br />
corporação. Ele começou a comprar e fundir com a General Motors um fabricante de acessórios após<br />
outro. Terminou, em 1920, por adquirir a Fisher Body, maior fabricante nacional de carrocerias de<br />
automóveis.<br />
Com essa aquisição, a General Motors passou a ser dona dos fabricantes de 70% dos componentes de<br />
seus automóveis - e se tornou de longe a mais integrada das grandes empresas mundiais. Durante vinte<br />
e poucos anos, a GM desfrutou de uma vantagem de custos da ordem de 30% em relação a todas as<br />
suas concorrentes, incluindo a Ford e a Chrysler.<br />
Mas o keiretsu praticado por Durant colocou os fornecedores dentro do contexto legal da GM, sua zona<br />
de comando e controle. Durant havia planejado cuidadosamente <strong>para</strong> assegurar a competitividade das<br />
fornecedoras de autopeças de propriedade da GM. Cada uma delas (com a única exceção da Fisher<br />
Body) tinha de vender 50% de sua produção <strong>para</strong> fora da GM, ou seja, <strong>para</strong> montadoras concorrentes,<br />
como a Packard, a Studebaker e a Nash.<br />
Sem contar com um mercado garantido <strong>para</strong> metade de sua produção, as divisões da GM eram<br />
obrigadas a se manter sempre atentas a seus custos e sua qualidade. Mas, depois da Segunda Guerra<br />
Mundial, muitas das montadoras concorrentes desapareceram - e, com elas, desapareceu o fator de<br />
incentivo à competitividade das divisões de autopeças pertencentes integralmente à General Motors.<br />
Além disso, com a sindicalização dos trabalhadores da indústria automotiva, em 1936-37, os altos<br />
custos trabalhistas das unidades montadoras foram impostos às divisões de autopeças da GM,<br />
colocando-as em desvantagem de custos em com<strong>para</strong>ção com as fornecedoras independentes e nãosindicalizadas.<br />
Desse modo, o keiretsu criado por Durant passou de vantagem tremenda <strong>para</strong> tremendo abacaxi. O erro<br />
de Durant foi trazer suas fornecedoras/sócias <strong>para</strong> dentro de sua órbita de comando e controle.<br />
A empresa seguinte a aplicar o keiretsu - e provavelmente a mais bem-sucedida nessa área até hoje - foi<br />
a inglesa Marks & Spencer, que, a partir do início da década de 30, integrou praticamente todos seus<br />
fornecedores em seu próprio sistema de administração, mas por meio de contratos, mais do que da<br />
posse direta dessas companhias. Foi o modelo da Marks & Spencer que os japoneses copiaram na<br />
década de 60, e foi esse que deu tão certo <strong>para</strong> eles.<br />
O keiretsu, quer seja japonês, britânico ou americano, é baseado no poder. A Sears, Roebuck, a Marks<br />
& Spencer ou a Toyota possuem poder econômico enorme, avassalador. O keiretsu não é uma parceria<br />
entre iguais. Cada vez mais, porém, a cadeia econômica está juntando parceiros genuínos. Isso se aplica<br />
à parceria entre uma empresa farmacêutica e a faculdade de biologia de uma grande universidade de<br />
pesquisas. Aplica-se às joint ventures por meio das quais a indústria americana ingressou no Japão,<br />
depois da Segunda Guerra Mundial.<br />
Hoje em dia, até mesmo uma empresa minúscula pode se tornar parceira genuína de uma empresa<br />
maior, e não apenas ser dependente desta. Tome-se o caso das parcerias existentes entre empresas<br />
78
químicas e farmacêuticas e companhias que trabalham com genética, biologia molecular ou eletrônica<br />
médica.<br />
Essas companhias que atuam na área das novas tecnologias podem ser pequenas - muitas vezes, são<br />
pequenas mesmo. Pode lhes faltar capital, mas possuem tecnologia independente e não encontram<br />
dificuldade <strong>para</strong> se colocar em pé de igualdade com o parceiro maior. Elas são as parceiras principais<br />
quando o assunto é tecnologia. Elas, e não a empresa farmacêutica ou química muito maior, podem<br />
escolher com quem se aliar.<br />
A mesma coisa se aplica em grande medida à informática e também à área financeira. Quando essas<br />
companhias formam parcerias, a maior não necessariamente traz a menor <strong>para</strong> dentro de sua área de<br />
comando e controle.<br />
O que é preciso, portanto, é uma redefinição do âmbito da administração. A administração precisa<br />
englobar o processo inteiro. Para empresas, isso significa o processo econômico inteiro.<br />
É na área da saúde nos Estados Unidos que avançamos mais na administração do processo inteiro. A<br />
Organização do Atendimento à Saúde (HMO - Health Maintenance Organization) <strong>cons</strong>titui uma<br />
tentativa - uma primeira e, por enquanto, não muito bem-sucedida - de colocar o processo inteiro de<br />
atendimento à saúde sob uma administração em sistema de parcerias. Essa administração não é "dona"<br />
de médicos. Não é "dona" de hospitais ou clínicas. Mas supervisiona todos eles, enquanto elementos<br />
que integram o fornecimento de atendimento à saúde em grande escala.<br />
A mesma coisa que a HMO está fazendo na área de atendimento à saúde terá de ser feita em muitas<br />
outras áreas (incluindo, imagino, a educação), sobretudo no campo das empresas.<br />
O que tanto o keiretsu quanto a HMO nos ensinaram é que a administração do futuro terá de ser<br />
operacional, e não apenas legal, em seu âmbito de ação.<br />
7. Tirando o nacional do multinacional<br />
Ainda se presume, de modo geral, na disciplina da administração - e quase sempre se dá como certo em<br />
sua prática - que as fronteiras nacionais ainda definem o ambiente no qual as empresas operam. Essa<br />
premissa é subjacente até mesmo <strong>para</strong> a "multinacional" tradicional. Multinacional não chega a<br />
<strong>cons</strong>tituir novidade. Antes da Primeira Guerra Mundial, a produção mundial de bens manufaturados e<br />
serviços financeiros era multinacional em uma parte tão grande quanto a que é hoje. Em 1913, a maior<br />
empresa de um setor, quer este fosse manufatureiro, quer financeiro, tinha uma parcela tão grande de<br />
suas vendas feitas fora de seu país quanto as que obtinha vendendo dentro dele. O que mudou no<br />
mundo real, mesmo que ainda não tenha mudado nas premissas com as quais operam as<br />
administrações, é o fato de essas fronteiras nacionais terem perdido sua relevância.<br />
Examinemos a multinacional mais antiga. Na medida em que produzia fora de suas próprias fronteiras<br />
nacionais, ela produzia dentro das fronteiras nacionais de outro país. Simplesmente possuía uma<br />
empresa em outro país.<br />
Por exemplo, a maior fornecedora de material de guerra <strong>para</strong> o Exército italiano durante a Primeira<br />
Guerra Mundial foi uma companhia jovem e em rápida ascensão chamada Fiat, de Turim. A Fiat<br />
produzia os automóveis e caminhões de que o Exército italiano precisava. A maior fornecedora de<br />
material de guerra do Exército austro-húngaro na Primeira Guerra Mundial também era uma<br />
companhia chamada Fiat - em Viena. Ela fornecia todos os automóveis e caminhões usados pelo<br />
Exército austro-húngaro. Subsidiária de propriedade integral da empresa italiana, a Fiat austríaca era<br />
uma réplica da Fiat italiana, embora fosse várias vezes maior do que esta. Seus projetos vinham de<br />
Turim. Tudo o mais era fabricado ou comprado na Áustria. Todos os produtos eram vendidos na<br />
79
Áustria. E todos os funcionários, incluindo o executivo-chefe, eram austríacos. Quando a Áustria e a<br />
Itália se tornaram inimigas na Primeira Guerra Mundial, tudo o que a Fiat austríaca precisou fazer foi<br />
mudar sua conta bancária. Excetuando isso, continuou funcionando como sempre funcionara. Era, na<br />
verdade, uma empresa se<strong>para</strong>da.<br />
Hoje em dia, as multinacionais já não são organizadas dessa maneira. Até pouco tempo atrás, as duas<br />
subsidiárias européias da General Motors, a Opel, na Alemanha, e a Vauxhall, no Reino Unido, eram<br />
empresas se<strong>para</strong>das. Hoje, a GM tem uma companhia européia que desenha, produz e vende em toda a<br />
Europa e também é dirigida a partir de uma sede européia. A GM Europa também produz na América<br />
do Sul e na Ásia - e vende nos Estados Unidos. A GM Estados Unidos, por sua vez, desenha e fabrica<br />
cada vez mais produtos <strong>para</strong> a GM Europa, a GM Brasil, e assim por diante.<br />
Os motores podem ser produzidos em um país, as carrocerias em outro, a parte eletrônica num terceiro.<br />
Hoje, não apenas a empresa mas também os próprios carros são multinacionais. As seguradoras<br />
mundiais - a maior de todas elas hoje é a alemã Allianz - estão, cada vez mais, transferindo suas<br />
principais atividades, tais como o atendimento de pedidos de pagamento e, sobretudo, os investimentos,<br />
<strong>para</strong> instalações centrais que fazem o trabalho <strong>para</strong> todas as companhias do grupo, onde quer que estas<br />
se localizem.<br />
Cada vez mais, as indústrias posteriores à Segunda Guerra Mundial, tais como a farmacêutica e a de<br />
informática, nem sequer são organizadas em unidades nacionais e internacionais, como a GM e a<br />
Allianz ainda são. São administradas como um sistema mundial no qual cada uma das tarefas distintas -<br />
pesquisa, projeto, engenharia, desenvolvimento, testes e, cada vez mais, manufatura e marketing - é<br />
organizada de maneira transnacional.<br />
É claro que essa nova realidade causa sérios problemas. Qual é a nacionalidade de uma transnacional?<br />
Isso está se tornando, cada vez mais, um problema também <strong>para</strong> algumas universidades, já que muitas<br />
delas, especialmente as americanas, formam parcerias com universidades européias ou asiáticas, ou<br />
abrem filiais nesses continentes. As universidades européias e asiáticas (especialmente japonesas), por<br />
sua vez, abrem filiais nos Estados Unidos ou formam parcerias com universidades americanas <strong>para</strong><br />
trabalhar em conjunto em uma série de campos.<br />
Existem problemas novos e muito reais relativos a investimentos, impostos e propriedade. Em caso de<br />
guerra, essas questões criariam problemas tremendos relacionados ao tratamento de instituições<br />
estrangeiras. O que você faria se seu laboratório de pesquisa estivesse em um lado na guerra e a fábrica<br />
que produz aquela linha de produtos estivesse do outro?<br />
Também <strong>para</strong> a administração, as novas realidades criam problemas que ainda não foram resolvidos.<br />
Cada vez mais, as empresas - e não apenas as grandes - se organizam por áreas de trabalho, mais do<br />
que geograficamente. Quais são os relacionamentos entre essas diferentes unidades? Como elas<br />
trabalham em conjunto? Qual é a jurisdição de cada uma? Quem resolve os conflitos entre elas? São,<br />
todas, perguntas <strong>para</strong> as quais ainda não temos respostas satisfatórias.<br />
Mas sabemos qual é a nova realidade: a administração já não se pauta por fronteiras nacionais. O<br />
âmbito da administração não pode mais ser definido politicamente. As fronteiras nacionais vão<br />
continuar sendo importantes, mas como limites impostos à prática da administração, não como fatores<br />
que definem essa prática.<br />
8. Colocando o mundo dentro da organização<br />
Todas as premissas tradicionais que examinei aqui se baseiam numa premissa ainda maior: a de que a<br />
área de atuação da administração é dentro da empresa; que o principal trabalho da administração é gerir<br />
a organização.<br />
80
Hoje em dia isso tampouco é verdade. Essa premissa leva a uma distinção entre administração e<br />
espírito empreendedor, quando este sem aquela seria incompreensível. Ela traça uma distinção artificial<br />
entre as funções de administração e inovação. Essa divisão não faz sentido nenhum. Um<br />
empreendimento que não inova, quer se trate de uma empresa ou de qualquer outra instituição, não<br />
sobrevive por muito tempo.<br />
Isso se aplica até mesmo à mais antiga instituição do mundo, a Igreja Católica Romana. Ela é vista<br />
como a mais <strong>cons</strong>ervadora, e se orgulha de não ser dada a mudanças rápidas. Mas também ela já<br />
inovou com freqüência e mudou <strong>para</strong> acompanhar as transformações do mundo. Ela gerou os<br />
beneditinos, no século V, quando os bárbaros invadiram o Império Romano; os franciscanos e<br />
dominicanos, sete séculos mais tarde, quando as cidades ressurgiram na Idade Média; os jesuítas no<br />
século XVI, como resposta à Reforma protestante, e assim por diante.<br />
A implicação disso tudo <strong>para</strong> a administração é muito clara: as forças que exercem maior influência<br />
sobre as organizações vêm de fora delas, não de dentro. As novas ordens católicas surgiram não porque<br />
a organização católica precisava delas, mas porque os acontecimentos advindos na sociedade as<br />
tornaram necessárias. O movimento metodista no protestantismo explodiu quase espontaneamente em<br />
meados do século XVII, não por razões teológicas, mas como resposta à carência social das classes<br />
mais pobres na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.<br />
Essas religiões sobreviveram, em suma, porque inovaram em reação às transformações sociais. Deveria<br />
ter sido óbvio desde o início que administração e espírito inovador <strong>cons</strong>tituem apenas duas dimensões<br />
diferentes da mesma tarefa. Um empresário inovador que não aprender a administrar não vai durar<br />
muito tempo. Uma administração que não aprender a inovar, tampouco.<br />
Toda instituição - e não apenas as empresas - precisa embutir em sua administração cotidiana quatro<br />
atividades empreendedoras que percorrem caminhos <strong>para</strong>lelos:<br />
O abandono organizado de produtos, serviços, processos, mercados, canais de distribuição e assim por<br />
diante que não mais <strong>cons</strong>tituam uma alocação ótima de recursos. Essa é a primeira disciplina<br />
empreendedora em qualquer situação dada.<br />
Organizar-se em vista do aperfeiçoamento sistemático e contínuo (o que os japoneses chamam de<br />
kaizen).<br />
Ter em vista a exploração sistemática e contínua, especialmente, de seus êxitos. É preciso <strong>cons</strong>truir um<br />
amanhã diferente, baseado num hoje já testado e comprovado.<br />
Organizar a inovação sistemática - ou seja, criar um amanhã diferente, que torne obsoletos os produtos<br />
hoje bem-sucedidos e os substitua por outros.<br />
Sublinho que essas disciplinas não são apenas desejáveis. São condições <strong>para</strong> a sobrevivência nos dias<br />
de hoje.<br />
As ferramentas que moldamos originalmente <strong>para</strong> levar o exterior <strong>para</strong> o interior foram todas<br />
penetradas pelo foco interno da administração. Transformaram-se em ferramentas usadas <strong>para</strong> capacitar<br />
a administração a ignorar o exterior. Pior ainda, são usadas <strong>para</strong> fazer a direção acreditar que pode<br />
manipular o que é exterior e direcioná-lo <strong>para</strong> as finalidades da organização.<br />
Tome-se o caso do marketing. Esse termo foi cunhado há 50 anos <strong>para</strong> enfatizar que o objetivo e os<br />
resultados de uma empresa estão inteiramente fora dela. O marketing ensina que são necessários<br />
esforços organizados <strong>para</strong> levar uma compreensão do ambiente externo - da sociedade, da economia e<br />
do cliente - <strong>para</strong> o interior da organização e <strong>para</strong> transformá-la numa base <strong>para</strong> estratégia e políticas.<br />
81
No entanto, o marketing raramente desempenhou essa tarefa grandiosa. Em lugar disso, transformou-se<br />
numa ferramenta de apoio às vendas. Ele não começa perguntando "Quem é o cliente?", mas sim "O<br />
que queremos vender?". É direcionado a <strong>cons</strong>eguir que as pessoas comprem as coisas que você quer<br />
produzir. Isso significa virar as coisas pelo avesso. Foi assim que a indústria americana perdeu o ramo<br />
dos aparelhos de fax. A pergunta deveria ser: "Como podemos produzir as coisas que os <strong>cons</strong>umidores<br />
querem comprar?".<br />
A ascensão da tecnologia de informática, nas últimas décadas, veio agravar essa focalização <strong>para</strong><br />
dentro da administração, e não abrandá-la. Até agora, é bem possível que a informática tenha<br />
prejudicado seriamente a administração, porque ela é tão boa <strong>para</strong> <strong>cons</strong>eguir informações adicionais do<br />
tipo errado. Baseada no sistema de contabilidade criado há 700 anos <strong>para</strong> registrar e reportar dados<br />
internos, a informática gera mais dados sobre o lado interno. Ela praticamente não produz informações<br />
sobre qualquer coisa que acontece fora da empresa. Praticamente todas as conferências sobre<br />
informação tratam exclusivamente de como obter mais dados internos. Ainda não tive notícia de<br />
nenhuma que tenha sequer levantado a pergunta: "De que informações externas precisamos, e como<br />
podemos <strong>cons</strong>egui-las?".<br />
A administração não precisa de mais informações sobre o que está acontecendo internamente. Precisa<br />
de mais informações sobre o que está acontecendo lá fora.<br />
Ninguém até agora criou uma maneira de <strong>cons</strong>eguir dados externos significativos de qualquer forma<br />
sistemática. No que diz respeito às informações externas, ainda nos encontramos, em grande medida,<br />
na etapa anedótica. Podemos prever que o principal desafio da informática nos próximos 30 anos será<br />
organizar o fornecimento sistemático de informações externas significativas.<br />
9. O papel de uma administração orientada <strong>para</strong> fora<br />
A primeira tarefa da administração é definir quais os resultados existentes no empreendimento a seus<br />
cuidados. Como pode testemunhar qualquer pessoa que já se engajou nessa questão, ela é uma das mais<br />
difíceis e polêmicas, mas também uma das mais importantes. Portanto, é função específica da<br />
administração organizar os recursos da organização visando obter resultados fora dela.<br />
Assim, o novo <strong>para</strong>digma no qual deve se basear a administração, tanto enquanto disciplina como<br />
enquanto prática, é que a administração deve definir os resultados que espera alcançar e depois<br />
organizar os recursos da organização visando obter esses resultados.<br />
A Kyocera, empresa japonesa que se tornou líder mundial na criação e desenvolvimento de novos<br />
materiais inorgânicos, define resultados como liderança em inovações. Mas sua maior concorrente<br />
mundial, a alemã Metallgesellschaft, define resultados principalmente em termos de posição no<br />
mercado. Ambas são definições racionais, mas geram estratégias muito diferentes.<br />
O <strong>para</strong>digma se aplica não apenas a empreendimentos comerciais (empresas), mas também a<br />
universidades, igrejas, organizações humanitárias e governos.<br />
10. Por que a administração é importante<br />
Neste artigo eu levantei muitas questões, mas evitei, propositadamente, tentar dar respostas. Mas há um<br />
insight muito simples e óbvio subjacente nessas perguntas: que o centro de uma sociedade, de uma<br />
economia e de uma comunidade moderna não é a tecnologia, não é a informação, não é a<br />
produtividade. O centro da sociedade moderna é a instituição administrada. Hoje em dia, a instituição<br />
administrada é a maneira usada pela sociedade <strong>para</strong> <strong>cons</strong>eguir que as coisas sejam feitas. E a<br />
82
administração é a ferramenta específica, a função específica, o instrumento específico <strong>para</strong> tornar as<br />
instituições capazes de gerar resultados.<br />
Em suma: a instituição não existe simplesmente dentro da sociedade e <strong>para</strong> reagir à sociedade. Ela<br />
existe <strong>para</strong> produzir resultados dentro da sociedade e <strong>para</strong> modificá-la.<br />
© 1998, Peter Drucker. Este artigo foi publicado originalmente na revista Forbes de 5/10/98. É uma<br />
versão condensada de um capítulo do livro Management Challenges in the 21st Century, de Peter F.<br />
Drucker, a ser lançado<br />
83
Texto 10: - Reestruturação Produtiva e Mudanças Organizacionais: Espaço <strong>para</strong> a Gestão do<br />
Conhecimento<br />
Maria Carolina de A . F. de Souza<br />
Publicado na Revista NIFE, Unisant‟anna, ano 9, n. 8, março, pp 5-15, 2002<br />
Resumo<br />
O cenário mundial nos anos recentes foi marcado pela intensificação do processo de<br />
internacionalização do capital financeiro e globalização dos mercados (compradores e fornecedores),<br />
com significativos efeitos no âmbito das economias nacionais, localidades, setores de atividades e<br />
empresas. No cenário interno da economia brasileira os impactos foram agravados em função da<br />
abertura comercial e do quadro recessivo que marcou boa parte da década 1990/2000, aguçando a<br />
percepção dos agentes quanto aos efeitos da maior instabilidade dos mercados e incerteza das decisões.<br />
A concorrência torna-se mais intensa e, por vezes, predatória, prejudicando não só a lucratividade das<br />
empresas envolvidas como a rentabilidade estrutural dos segmentos em que disputam espaços. Nessas<br />
circunstâncias, as mudanças nas organizações tornam-se inevitáveis, abrindo espaços <strong>para</strong> novos<br />
padrões organizacionais e novas formas de gestão, o que por sua vez requer novas competências e<br />
maneiras de identificá-las e valorizá-las de forma a que se tornem funcionais aos objetivos da<br />
organização. É nos novos espaços que assim surgem que se insere o reconhecimento da importância do<br />
conhecimento acumulado nas pessoas que interagem nas organizações, e, em decorrência a busca do<br />
que vem sendo chamado de gestão do conhecimento.<br />
Introdução<br />
O cenário mundial nos anos recentes foi marcado pela intensificação do processo de<br />
internacionalização do capital financeiro e mundialização dos mercados (compradores e fornecedores),<br />
com significativos efeitos no âmbito das economias nacionais, localidades, setores de atividades e<br />
empresas.<br />
No cenário interno da economia brasileira os impactos foram agravados em função da abertura<br />
comercial e do quadro recessivo que marcou boa parte da década 1990/2000, aguçando a percepção dos<br />
agentes quanto aos efeitos da maior instabilidade dos mercados, incerteza das decisões de produção e<br />
ameaça de entrada mesmo em estruturas até então <strong>cons</strong>ideradas sólidas e "bem protegidas".<br />
A maior difusão de informações e a disponibilidade de ampla gama de produtos, com marcas,<br />
"qualidade" e preços bastante diversificados, aumentaram visivelmente as possibilidades de escolhas de<br />
clientes e <strong>cons</strong>umidores finais, tornando-as mais diversificadas, menos previsíveis e estáveis e por isso<br />
menos manipuláveis.<br />
Clientes e <strong>cons</strong>umidores tornaram-se menos fiéis a fornecedores, produtos e marcas, o que contribuiu<br />
<strong>para</strong> acentuar o grau de insegurança dos agentes no processo decisório. Com o aumento da<br />
instabilidade nos mercados e da incerteza envolvida nas decisões, a concorrência tornou-se mais<br />
intensa e, por vezes, predatória, prejudicando não só a lucratividade das empresas envolvidas, como a<br />
rentabilidade estrutural dos segmentos em que disputam espaços.<br />
Nesse quadro intensificou-se, a despeito da maior percepção da incerteza, a necessária busca de novas<br />
oportunidades, principalmente nas grandes empresas, pela maior capacidade de investimentos em<br />
pesquisa e desenvolvimento. Em um ambiente com novas exigências, com novas formas de<br />
84
concorrência, menos estável e do qual os agentes têm menor conhecimento, deixam de ser suficientes<br />
as formas e as referências tradicionais na definição de metas e objetivos básicos de longo prazo da<br />
empresa, na adoção dos cursos de ação, na alocação dos recursos necessários <strong>para</strong> atingir as metas e<br />
objetivos de forma que a empresa possa alcançar uma vantagem competitiva. Isso exigiu a<br />
reformulação das estratégias das empresas e da organização dos processos produtivos no interior das<br />
plantas e fora delas. Para se adaptar aos impactos do processo de reestruturação industrial, as empresas<br />
são obrigadas a rever e a reformular suas estratégias de inserção e de atuação no mercado<br />
Mudanças nas Formas de Organização<br />
A reação das empresas, em especial as de maior porte, aparece na multiplicação de programas de<br />
reestruturação visando a adequação às novas condições do ambiente concorrencial o que implica o<br />
desenvolvimento e adoção de ferramentas que permitam melhorar as previsões de forma a aumentar as<br />
possibilidades de agir antes da concorrência, visando preservar e conquistar posições no mercado.<br />
Entretanto, em um ambiente de acirrada concorrência e de intensas mudanças, (re)ações focadas na<br />
preservação ou mesmo ampliação da participação nos mercados atuais nem sempre são suficientes.<br />
Apesar da maior instabilidade, torna-se imperioso buscar e investir no novo, o que significa maior<br />
incerteza. Para tanto é necessário incluir nas rotinas empresariais o monitoramento contínuo do<br />
ambiente em que a empresa opera <strong>para</strong> perceber os sinais de mudança significativa, assim como<br />
formular e manter prontos <strong>para</strong> serem ativados planos <strong>para</strong> contingenciais. Não basta ser ágil e<br />
responder às mudanças, é tão ou mais importante desenvolver a capacidade de identificar, gerar e<br />
explorar novas oportunidades, <strong>cons</strong>truindo vantagens competitivas. Os novos desafios exigem a revisão<br />
das estratégias e da organização dos processos produtivos e administrativos com adoção de novas<br />
formas de gestão no interior das empresas estendendo-se <strong>para</strong> o conjunto de agentes com os quais<br />
interage (conjunto de relações).<br />
No âmbito da cadeia de interações e de interdependência dos agentes, as transformações no ambiente<br />
competitivo das empresas tiveram claros efeitos sobre as formas de organização das estruturas<br />
produtivas, renovando o conteúdo e impulsionando mudanças quantitativas e qualitativas das relações<br />
entre empresas - concorrentes, clientes e fornecedoras. Um dos principais desdobramentos foi a<br />
multiplicação de casos de grandes empresas que se tornaram grandes montadoras, concentrando-se nas<br />
atividades relacionadas ao desenvolvimento de novos projetos e design, e às operações de logística,<br />
comercialização e distribuição em torno de uma marca forte. Parte <strong>cons</strong>iderável da produção de peças e<br />
componentes e de serviços foi repassada <strong>para</strong> fornecedores, em muitos casos por meio de contratos de<br />
fornecimento global.<br />
Em algumas empresas, decisões mais radicais conduziram à venda de unidades de manufatura e<br />
montagem (como ilustram os diversos casos na indústria de eletroeletrônicos, informática e<br />
telecomunicações). A despeito do intenso processo de descentralização produtiva, o dinamismo do<br />
processo e a coordenação da complexa rede de inter-relações, networkings, que se forma, continuam<br />
sob o controle da grande empresa-mãe. Além disso, em <strong>para</strong>lelo às decisões de concentração nas<br />
atividades nucleares muitas dessas empresas envolveram-se em processos de fusão e diversos tipos de<br />
alianças estratégicas.<br />
Esses movimentos estratégicos, que ocorrem em um momento de acentuada restrição do mercado,<br />
integram o estágio mais recente do processo de reestruturação iniciado já na segunda década dos anos<br />
setenta e que, com diferentes desdobramentos se estende até hoje. As mudanças ao longo da cadeia de<br />
interações estenderam-se <strong>para</strong> as relações entre empresas e <strong>cons</strong>umidores finais dos produtos. Afinal,<br />
são eles os avalistas da utilidade e da qualidade dos produtos e da competitividade das empresas, isto é,<br />
de seu esforço de produção e comercialização. Limites anteriormente bem delimitados ampliam-se e,<br />
85
simultaneamente, tornam-se mais fluídos; a empresa permanece como unidade de acumulação, mas<br />
como parte integrante de um conjunto de inter-relações, como ilustra a figura a seguir.<br />
Comunidade<br />
Empreendedores<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Concorrentes<br />
Indiretos<br />
(Substitutos)<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Empresa e seus inter-relacionamentos<br />
Governo<br />
Três níveis<br />
Empresa<br />
Concorrentes<br />
Atuais e Entrantes<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Recursos<br />
Humanos<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Inter-relações<br />
Fornecedores<br />
Clientes e<br />
Consumidores<br />
Finais<br />
De Para<br />
Da mesma forma, tornam-se necessárias mudanças nas estruturas internas das empresas e a renovação<br />
das práticas de gestão. Com esse propósito, surgiram e multiplicaram-se, pela evidente funcionalidade,<br />
novas técnicas organizacionais abrangendo a administração e organização da produção com JIT,<br />
células de produção, tecnologias de grupo, forças-tarefa, engenharia simultânea, etc, políticas de<br />
recursos humanos com projetos de participação e integração dos recursos humanos no processo<br />
produtivo e de administração, programas de desenvolvimento, aprimoramento, qualificação da mão-deobra,<br />
etc., e, com grande ênfase, a organização da estrutura interna da empresa com redução dos níveis<br />
hierárquicos, redução das barreiras entre os níveis superiores e o chão-de-fábrica, divisão em unidades<br />
de negócios "independentes"- com objetivos específicos quanto à geração de lucros, ampliação da<br />
delegação de autoridade e descentralização de decisões - em geral sem prejuízo <strong>para</strong> os arranjos mais<br />
estáveis na esfera das decisões estratégicas, formas não convencionais de inserção na estrutura<br />
organizacional, etc.<br />
As configurações organizacionais e modelos de gestão resultantes são variados, de mudanças<br />
qualitativas mais ou menos profundas na gestão dos recursos humanos à gestão do conhecimento, e<br />
expressam as diferentes percepções quanto ao ambiente e sua tradução na formulação das estratégias. A<br />
evolução nem sempre ocorre naturalmente, particularmente no caso de estruturas rigidamente definidas<br />
e administradas, <strong>cons</strong>tituindo verdadeira barreira à efetivação das decisões estratégicas. No entanto, as<br />
formas resultantes das mudanças são funcionais às diretrizes das estratégias e aos objetivos das<br />
empresas - genericamente, preservar e ampliar a participação e o poder no mercado.<br />
86
A funcionalidade desse intenso esforço de reorganização por parte das empresas explicita-se em metas<br />
como a eliminação de tempos improdutivos; redução de custos; melhoria da qualidade; aumento da<br />
flexibilidade organizacional - produtos, processos e nas relações de trabalho- escolhidos como<br />
instrumentos <strong>para</strong> alcançar o objetivo maior da empresa - taxa de retorno sobre o capital que permita a<br />
permanência continuada no mercado - ao qual estão submetidos, em maior ou menor grau, outros<br />
objetivos tácitos ou explicitamente declarados. Considerando-se esse objetivo, a própria empresa pode<br />
ser vista como um meio (um dos possíveis) <strong>para</strong> a valorização do capital, nesse caso específico via<br />
obtenção de lucro. O lucro aparece (ou não) como resultado de um conjunto de decisões estratégicas e<br />
operacionais acertadas (ou não) definidas no interior de uma estrutura - funções e inter-relações. Ou<br />
seja, a empresa pode ser vista como uma estrutura, um lugar de decisões, portanto um lugar de pessoas<br />
e suas inter-relações.<br />
2. Recursos Humanos e Conhecimento<br />
Por meio dos produtos finais resultantes dos processos decisórios das diferentes empresas que integram<br />
um determinado segmento, são disputados os espaços no mercado, a preferência dos possuidores de<br />
poder de compra. Só com o resultado dessa disputa (concorrência) cada empresa sabe se ao final foi<br />
selecionada, isto é, se suas decisões e estratégias foram acertadas. Ora, as decisões são tomadas, a partir<br />
do eixo definido pela estratégia, por pessoas, conjunto de recursos internos que interagem na estrutura,<br />
os valores da empresa, que lhe dão identidade e aos quais cabem com diferentes graus de<br />
responsabilidade e autonomia as decisões ao longo da estrutura hierárquica. Nesse sentido, fica clara,<br />
<strong>para</strong> além dos discursos empresariais, a validade da argumentação que propõe que os recursos humanos<br />
(como os demais) devem ser valorizados como integrantes do conjunto de ativos mais relevantes <strong>para</strong> a<br />
empresa.<br />
A proposição justifica-se, pois, como afirma Penrose (1959), enfatizando a relevância das pessoas e da<br />
rede de relacionamentos, formais e informais por elas <strong>cons</strong>truídos, os recursos representam fontes de<br />
“economias de expansão”; vantagens especiais no processo de expansão da firma. A importância de<br />
investimentos no desenvolvimento dos recursos humanos é destacada também por Jonhson (1994) ao<br />
mostrar a mudança, ao longo do século passado dos fatores com peso no desempenho da empresa. A<br />
evolução ilustrada nas figuras a seguir (Jonhson 1994) evidencia as mudanças nos critérios <strong>para</strong> avaliar<br />
o desempenho da empresa , nos fatores (e peso a eles atribuído) <strong>cons</strong>iderados relevantes na<br />
determinação desse desempenho e na natureza das ações a serem desenvolvidas tendo em vista o<br />
alcance das metas.<br />
87
Empregos, lucros,<br />
sociedade estável<br />
Excelência Competitiva Global*<br />
Desenvolver relacionamentos<br />
Simplificar o trabalho<br />
Treinar os trabalhadores e<br />
autogerência<br />
Remover restrições <strong>para</strong><br />
eliminar variações, atrasos e<br />
excessos em todos os processos<br />
Resolução de problemas em tempo real <strong>para</strong> controlar<br />
prazos de execução, variações e satisfação dos clientes<br />
Sensível e Flexível<br />
Sistema biológico <strong>para</strong> explorar oportunidades da informação<br />
Estrutura do desempenho da empresa : economia global<br />
Fonte: JOHNSON, 1994<br />
DESEMPENHO<br />
META<br />
AÇÕES<br />
INFORMAÇÕES<br />
PARA CONTROLE<br />
IMPERATIVOS<br />
TECNOLOGIA<br />
Em associação à maior preocupação, ou reconhecimento da funcionalidade em termos dos objetivos da<br />
empresa, com a valorização dos recursos no interior das estruturas organizacionais das empresas, o<br />
tema competências passa a ganhar realce em textos acadêmicos e em publicações voltadas <strong>para</strong> o<br />
mundo empresarial. Como conjunto de capacitações tecnológicas e comerciais da empresa, as<br />
competências de uma empresa - seu traço distintivo - permitem transformar recursos em serviços<br />
(Penrose, 1959), processo fundamental visto que enquanto recursos podem ser adquiridos, os serviços<br />
que podem ser gerados por eles dependem de fatores inerentes à empresa e sua organização, isto é de<br />
suas competências, que se identificadas e aproveitadas representam forte vantagem competitiva.<br />
Conforme ressaltado por Hamel e Prahalad (1997), competências devem ser tratadas como a raiz da<br />
competitividade da empresa, que assim pode ser vista como lugar privilegiado de desenvolvimento e de<br />
mobilização de competências e ativos específicos. A partir dessa raiz, o núcleo de competências<br />
dificilmente imitáveis que lhe atribui identidade, a empresa torna-se mais capaz de produzir diversas<br />
linhas de produtos, aumenta a mobilidade em torno desse núcleo e a agilidade de acesso, com coerência<br />
entre departamentos e objetivos, a diferentes mercados e a mudanças tendo sem grandes perdas de<br />
posições no mercado. A figura a seguir (Souza e Coelho, 2001), ilustra o lugar central das<br />
competências na estrutura da empresa.<br />
Tendo como eixo as competências, o fundamental, aquilo que diferencia uma empresa da outra, é o<br />
modo - ou estilo - pelo qual as atividades são administradas de maneira a que competências sejam<br />
traduzidas em vantagens competitivas. Para tanto, requer-se a adoção e integração de novos processos e<br />
ferramentas de gestão que favoreçam a experimentação, a aquisição de conhecimentos e sua difusão.<br />
Vale dizer, condições favoráveis <strong>para</strong> a comunicação, o aprendizado e o compartilhamento.<br />
88
A maior atenção aos recursos humanos e seus inter-relacionamentos como fator relevante na<br />
<strong>cons</strong>trução das competências e no resultado final da empresa teve como natural desdobramento o foco<br />
crescente nas questões relativas à aprendizagem e ao conhecimento. Argumentos e proposições de<br />
autores precursores em pesquisas e estudos sobre esses temas, como Argyres mostraram-se atuais,<br />
foram retomados (nem sempre com os devidos créditos) e estimularam, à luz do novo cenário, novos<br />
estudos e pesquisas tanto por parte dos precursores quanto por novos estudiosos (entre outros, Senge,<br />
1990, Argyres e Schon, 1996, Davemport e Prusak, 1998).<br />
Com o estreitamento dos períodos entre sucessivas mudanças e com o aumento da percepção quanto à<br />
incerteza em que são tomadas as decisões, o conhecimento acumulado - em grande parte de natureza<br />
tácita - e a capacidade de aprender e se adaptar a circunstâncias instáveis tornaram-se forte fator de<br />
diferenciação <strong>para</strong> seus detentores e, se devidamente valorizados, <strong>para</strong> a organização em que<br />
desenvolvem atividades. Pelas suas características, o conteúdo tácito do conhecimento específico de<br />
cada pessoa na empresa não é passível de transferência por meio de padronização dos procedimentos.<br />
Ao contrário de outros ativos tangíveis e transferíveis, os conhecimentos são intangíveis e alguns tipos<br />
não podem ser “comprados no mercado”, seu efetivo compartilhamento e sua difusão só podem ser<br />
concretizados pela vontade de quem o possui. Além disso, a acumulação de conhecimento requer<br />
tempo, fator exigido também <strong>para</strong> o compartilhamento e que de certa forma faz com que se mantenha<br />
um diferencial entre as partes envolvidas no processo.<br />
É no contexto do movimento de profundas mudanças e reestruturação associado à expansão e<br />
intensificação do uso das novas tecnologias da informação, "revolução informacional" (Lojkine, 1995)<br />
que marcou o cenário das empresas no período recente e ainda diante do desafio de equacionar as<br />
contradições objetivo/restrições internas ao compartilhamento do conhecimento, que ganha ênfase o<br />
89
debate sobre a chamada gestão do conhecimento, em suas diversas faces, como forma de gestão<br />
organizacional.<br />
O fluxo de mudanças engloba: mudanças no ambiente � mudanças nas estratégias � mudanças na<br />
estrutura organizacional � mudanças nas relações na empresa � importância do conhecimento �<br />
gestão do conhecimento. Como já mencionado, o tema não é novo, mas ganhou força no cenário atual<br />
devido ao maior conteúdo de conhecimento em processos (complexos e <strong>cons</strong>tantemente sujeitos a<br />
avanços tecnológicos) e produtos (cada vez mais sistemas associados a um amplo conjunto de serviços)<br />
de forma que o conhecimento tácito e as complementaridades entre atividades e empresas adquirem<br />
maior relevância, o que requer a definição de novas formas de gestão que não só levem em conta essa<br />
relevância, mas, e principalmente, que viabilizem o seu direcionamento <strong>para</strong> os objetivos da empresa.<br />
O caminho da transformação do conhecimento acumulado individualmente <strong>para</strong> um ativo estratégico<br />
da empresa, objetivo principal da gestão do conhecimento, passa pelo desenvolvimento da capacidade<br />
de cooperar internamente à empresa e externamente, no relacionamento com o conjunto de stake<br />
holders - todos aqueles de alguma forma envolvidos com a empresa.<br />
O uso intensivo de novas tecnologias de informação e comunicação pode contribuir, mas com certeza<br />
não é suficiente, haja vista o já mencionado caráter de "voluntariado" na cooperação e<br />
compartilhamento de conhecimentos. A esse respeito Leonard-Barton (1999) argumenta que o<br />
elemento chave da colaboração é a <strong>cons</strong>trução e manutenção de um espaço compartilhado (shared<br />
space). Não é possível criar “compreensões compartilhadas” sem um “espaço compartilhado” - espaço<br />
(ou o meio) no qual as pessoas estabelecem, utilizam e compartilham representações e modelos <strong>para</strong> as<br />
suas idéias. A autora afirma que não se trata de reunir um grupo <strong>para</strong> <strong>cons</strong>truir um projeto, mas antes<br />
de utilizar um projeto <strong>para</strong> <strong>cons</strong>tituir o grupo adequado. È o projeto que gera uma comunidade de<br />
interesse<br />
Para gerar um espaço favorável à colaboração e ao compartilhamento de conhecimentos, não basta<br />
juntar pessoas criativas; o importante é o estabelecimento de relacionamentos criativos. Nesse sentido,<br />
a tecnologia será funcional se utilizada <strong>para</strong> ampliar a necessária interação de pessoas, reconhecendo-se<br />
que valores derivados dos relacionamentos são tão importantes quanto valores individuais; o<br />
desenvolvimento de relacionamentos passa a um lugar central na gestão.<br />
Ambiente Organizacional e Gestão do Conhecimento: algumas reflexões<br />
A gestão do conhecimento deve ser mais que o processo formal e direcionado de pesquisa de<br />
informações úteis à empresa e às pessoas que nela interagem. É fundamental desenvolver formas <strong>para</strong><br />
facilitar o acesso às informações e estimular seu compartilhamento no interior da empresa. Como já<br />
mencionado, não é algo novo; o grau de importância <strong>para</strong> o mundo dos negócios é que mudou. Esse<br />
processo não é semelhante e sequer adequado a todas as empresas, adverte Leonard-Barton (1999), mas<br />
sempre implica a criação de estoque de informação sobre as melhores práticas da empresa, a <strong>cons</strong>trução<br />
de redes de difusão e transferência de informação entre os diversos níveis, departamentos e atividades<br />
da empresa, criação de procedimentos formais que assegurem que o aprendizado e os conhecimentos<br />
adquiridos no desenvolvimento de um projeto sejam repassados <strong>para</strong> todos os que executam tarefas<br />
semelhantes.<br />
O compartilhamento requer um ambiente adequado de respeito e confiança, novas formas de<br />
participação e valorização do coletivo, inclusive nas avaliações e promoções. Entretanto, essas ainda<br />
não são as características mais freqüentes nos ambientes empresariais, nos quais, em muitos casos<br />
continua a predominar o trabalho fragmentado (mesmo que os trabalhadores estejam organizados em<br />
torno de células de produção), a difusão parcial e seletiva de informações, a exaltação ao trabalho em<br />
grupos, mas a avaliação individual, formas estritamente legais de participação, etc.<br />
90
Ambiente de <strong>cons</strong>trangimentos, imposições e seletividade explícita ou implícita, com <strong>cons</strong>tituição de<br />
"castas" de profissionais marcadas por elevadas assimetrias no tratamento restringem o<br />
compartilhamento do conhecimento. No entanto, se o conhecimento é <strong>cons</strong>iderado o ativo mais<br />
importante, o compartilhamento torna-se um objetivo importante visto que amplia a flexibilidade da<br />
empresa no que se refere a ajustes no quadro de funcionários. Se esse for o objetivo, o detentor de<br />
conhecimento específico resistirá a transmiti-lo, pois estará perdendo uma particular "vantagem<br />
competitiva".<br />
Ao mesmo tempo em que a capacidade de trabalhar em equipes, de se relacionar, de participar<br />
ativamente, de aprender e de compartilhar conhecimentos é <strong>cons</strong>iderada requisito cada vez mais<br />
fundamental do lado da empresa, a predominância de ambientes internos instáveis e não favoráveis ao<br />
aprendizado coletivo na organização induz à retenção de conhecimentos como mecanismo, mesmo que<br />
ilusório de preservação. Os gargalos no acesso às fontes de conhecimento no interior e fora da empresa<br />
limitam a capacidade de resolução de problemas e o necessário desenvolvimento de inovações, e,<br />
portanto, as condições de concorrência da empresa.<br />
Por outro lado, há que <strong>cons</strong>iderar que o conhecimento é dinâmico. Em um ambiente turbulento, forças<br />
podem rapidamente transformar-se em “ fraquezas ” provocando "gargalos" no fluxo de conhecimentos<br />
e perda de vantagens competitivas derivadas das competências. Comportamentos administrativos<br />
cristalizados podem retardar as necessárias mudanças nos rumos estratégicos, dificultar a adaptação às<br />
novas condições, comprometendo os resultados da empresa. Daí a importância da <strong>cons</strong>tante atenção e<br />
incentivo à aprendizagem e ao fluxo de novos conhecimentos, como elemento básico <strong>para</strong> o aumento e<br />
multiplicação das competências e da inovação.<br />
A respeito do caráter instável do ambiente interno que caracteriza a estrutura das organizações, no<br />
momento atual, vale a pena refletir sobre dois pontos essenciais: a natureza, ou "qualidade" do<br />
ambiente interno e o padrão de gestão.<br />
Quanto ao ambiente interno, Simon (1970) destaca a diferença relativamente ao ambiente externo,<br />
explicitando a natureza estabilizadora do primeiro, em face da incerteza e da instabilidade do segundo.<br />
O autor enfatiza, dada a incapacidade dos agentes em tratar com a incerteza, a importância da<br />
estabilidade de regras e procedimentos capazes de propiciar âncoras ao processo decisório dos agentes.<br />
A instabilidade de regras e de procedimentos internos contribuiria <strong>para</strong> aumentar ainda mais a<br />
incerteza. Não se trata de pregar o apego rígido às rotinas preestabelecidas, mas sim à estabilização<br />
mínima de regras básicas (como por exemplo, que a aprendizagem demanda tempo e que as decisões só<br />
podem ser avaliadas a partir da obtenção dos resultados) que garantam, <strong>para</strong> os agentes internos, foco,<br />
direção e, principalmente, comprometimento da alta direção.<br />
Quanto ao padrão de gestão, deve-se reconhecer-se que em boa parte dos casos, o padrão “mecânico”<br />
de organização – estruturas altamente hierarquizadas e departamentalizadas – não atende mais às<br />
necessidades, emergindo um novo padrão – o orgânico. Padrão esse que não é novo; o que é novo é a<br />
sua transformação em padrão, assentado na busca da flexibilidade, a partir da delimitação menos rígida<br />
de fronteiras entre departamentos e níveis hierárquicos.<br />
Nesse âmbito, se, de um lado, a fluidez das formas de organização se transformou num imperativo,<br />
voltado ao aumento da capacidade de percepção das mudanças no ambiente e do aumento da<br />
capacidade de resposta a elas, de outro, a coordenação e o controle permanecem como elementos<br />
centrais <strong>para</strong> imprimir coerência e direção. Esse é o desafio: mudar (ser flexível), mas com<br />
coordenação e controle, sob o risco da anarquia e da perda do sentido e direção da empresa. Aparente<br />
contradição, visto que ao mesmo tempo em que aumenta a necessidade de descentralização e da fluidez<br />
de posições, aumenta a necessidade de coordenação e controle, evidenciando a a importância do<br />
estabelecimento de estratégias.<br />
91
Nos denominados setores tradicionais da economia, os desafios <strong>para</strong> as empresas estão associados ao<br />
inevitável desafio da incorporação das novas formas de organização – orgânicas. Para os denominados<br />
setores dinâmicos, que, de alguma forma, já adotavam padrões mais orgânicos, os desafios <strong>para</strong> as<br />
empresas são muito complexos, atrelados à necessária capacidade de inovar <strong>cons</strong>tantemente. Nesses<br />
setores é que são provocadas rupturas e que, numa velocidade crescente, criam-se novos desafios. .<br />
Enfim, na base das competências básicas no caminho da gestão do conhecimento, como nova<br />
ferramenta de gestão funcional aos objetivos da empresa, estão, dadas as características do atual<br />
contexto concorrencial, a aprendizagem, os conhecimentos e as experiências, dos quais uma das<br />
características mais evidentes é a cumulatividade. Pelo seu conteúdo tácito, o conhecimento só pode ser<br />
expandido no interior da empresa por vontade de seus detentores.<br />
A gestão do conhecimento tem como parte de seus objetivos a <strong>cons</strong>trução das condições necessárias<br />
<strong>para</strong> o reconhecimento (aceitação) no interior da estrutura empresa, como conjunto de recursos,<br />
funções e relacionamentos, da importância de compartilhar conhecimentos. A partir desse<br />
reconhecimento criam-se as bases <strong>para</strong> a a <strong>cons</strong>trução de uma "rede articulada de conhecimentos", por<br />
sua vez base de competências que deveriam representar fontes de agregação de valor <strong>para</strong> as pessoas,<br />
<strong>para</strong> a organização, <strong>para</strong> a sociedade. O verbo no condicional é fruto de uma reflexão estimulada pelo<br />
próprio desenvolvimento deste trabalho e que fica como desafio <strong>para</strong> a continuidade de estudos sobre o<br />
tema.<br />
Pensando-se a evolução das ferramentas de gestão do Taylorismo à Gestão do Conhecimento, do<br />
trabalho alienado ao conhecimento como vantagem competitiva (se houver disposição <strong>para</strong> o<br />
compartilhamento e não mais por imposição mais direta), permanece a marcada funcionalidade do<br />
amplo leque de ferramentas ao objetivo maior: busca de maior lucratividade pela diferenciação em suas<br />
diversa formas. Ora, os conhecimentos tácitos representam o recurso mais valioso, talvez o “ último ”<br />
sob domínio dos funcionários, em todos os níveis, de uma empresa. Se assim é, por que detentores de<br />
competências próprias e de conhecimentos tácitos compartilhariam com possíveis “ concorrentes ” no<br />
interior da empresa ? Esse é o desafio da gestão do conhecimento. Como alcançar o aceitação do<br />
compartilhamento, funcional aos objetivos da empresa, mas que pode ser visto, com legitimidade,<br />
como a perda de valiosa "arma", na luta em que se traduz a manutenção de espaços, posições e<br />
emprego, em ambientes ainda em contínua reestruturação e bastante instáveis do ponto de vista do<br />
emprego.<br />
Bibliografia<br />
ARGYRES, C.; SCHON, D.A. Organizational Learning II: Theory, Metthod, and Practice. Massachusetts:<br />
Addison-Wesley Publishing Company, 1996.<br />
DAVEMPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento Empresarial: Como as Organizações Gerenciam o seu<br />
Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. .<br />
HAMEL, G. ; PRAHALAD, C.K. Competindo pelo Futuro. Rio de Janeiro: Campus, 1997.<br />
HAMMER, M.; CHAMPY, J. Reengenharia: Revolucionando a Empresa em Função dos Clientes, da<br />
Concorrência e das Grandes Mudanças na Gerência. Rio de Janeiro: Campus, 1994.<br />
JOHNSON, H.T. Relevância Recuperada – Empowerment– Delegando Poder Responsabilidade <strong>para</strong> Crescer.<br />
São Paulo: Pioneira, 1994.<br />
Leonard-Barton, D. Wellsprings of Knowledge. HBSP, 1999.<br />
Lojkine, J. Revolução Informacional. São Paulo: Cortez, , 1995<br />
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de Conhecimento na Empresa. Rio de Janeiro : Campus, 1997.<br />
PENROSE, E. T. Teoria del Crecimiento de la Empresa. Madri: Aguilar, 1959.<br />
SENGE, P. M. A Quinta Disciplina : Arte, Teoria e Prática da Organização de Aprendizagem. São Paulo: Best<br />
Seller, 1990.<br />
SIMON, H..A. Comportamento Administrativo: Estudo dos Processos Decisórios nas Organizações<br />
Administrativas. Rio de Janeiro: FGV, 1970.<br />
92
SOUZA, M.C.A.F., COELHO, J.M., BACIC, M. J. Os Desafios Impostos à Gestão das Pequenas Empresas no<br />
Novo Contexto Concorrencial. Anais (em CD-Rom) do VII Congreso de Instituto Internacional de Costos y II<br />
Congreso de la Asociación Española de Contabilidad Directiva. León: Universidade de León, 2001.<br />
STEWART, T. Capital Intelectual :A Nova Vantagem Competitiva das Empresas. Rio de Janeiro : Campus,<br />
1998.<br />
93
Texto 11: A Era da Ignorância<br />
Onde está a vida que perdemos vivendo?<br />
Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?<br />
Onde está o conhecimento que perdemos na informação?<br />
T.S. Eliot (The Rock, 1934)<br />
POR FLÁVIO LOBO (Carta Capital, 06/12/2000, p.20-24)<br />
A oferta crescente de informação faz lembrar a corrida armamentista. Teorias motivacionais são<br />
sucedâneos na busca do sentido perdido do trabalho.<br />
Conhecimento agora é commodity e a tecnologia, o sentido da vida.<br />
Discípulos do <strong>cons</strong>umo. Hoje, numa relação cada vez mais utilitarista, com o aprendizado as pessoas<br />
não têm tempo nem interesse em chegar à sabedoria.<br />
Escravo das máquinas. O trabalhador atual está preso a engrenagens bem mais sofisticadas.<br />
Diz a lenda que um dia, na China Medieval, um jovem subiu as montanhas ansioso por encontrar o<br />
grande mestre da espada. Quando finalmente chegou ao seu destino, o jovem perguntou ao mestre:<br />
“Mestre, se eu estudar muito, vou precisar de quanto tempo <strong>para</strong> dominar a arte da espada?”<br />
“Uns dez anos”, respondeu o mestre.<br />
“Mas mestre”, disse o jovem, “meu pai é velho e tenho que voltar <strong>para</strong> cuidar dele. Se eu me empenhar<br />
ao máximo, vou precisar de quanto tempo?”<br />
“Nesse caso, uns 30 anos”, previu o mestre.<br />
“Não estou entendendo... ou talvez eu não tenha me explicado bem”, retrucou o jovem, que, contendo<br />
sua perplexidade e uma certa irritação, dirigiu-se novamente ao mestre, tentando se explicar com<br />
clareza:<br />
“Quero dizer que estou disposto a todos os sacrifícios <strong>para</strong> aprender no menor tempo possível.”<br />
“Bem, sendo assim, acho que você vai ter que estudar e praticar durante 70 anos <strong>para</strong> dominar a arte da<br />
espada”, disse o mestre.<br />
Essa parábola, que faz parte da tradição zenbudista, ilustra uma concepção de aprendizado e de<br />
conhecimento que contrasta com as idéias e práticas que predominam hoje no dito “mundo<br />
globalizado”. Em especial no Brasil, onde as novidades ideológicas geradas nos centros do capitalismo,<br />
Estados Unidos à frente, costumam chegar envoltas numa aura quase mística.<br />
94
QUARTA ONDA. Uma dessas novidades atende pelo nome de Era do Conhecimento – uma expressão,<br />
com ares de conceito, descendente da Revolução da Informática, da Era da Informação e da Terceira<br />
Onda do norte-americano Alvin Toffler e autores afins. Grande sucesso – em empresas, livros, cursos e<br />
palestras <strong>para</strong> executivos e profissionais up-to-date –, a expressão Era do Conhecimento é encontrável<br />
atualmente em mais de mil páginas em língua portuguesa na Internet.<br />
É indiscutível o impacto das novas tecnologias de comunicação na economia e na cultura. Geradas após<br />
um longo e intenso processo de acumulação de conhecimento científico, essas novas ferramentas têm<br />
mudado tanto, e com tal velocidade, a vida das pessoas, que é compreensível que causem perplexidade<br />
e certa fascinação.<br />
O problema surge quando a tecnologia transforma-se, de ferramenta, em personagem central de uma<br />
pretensa nova era, pautada mais pelas conveniências dos grandes agentes econômicos do que por<br />
necessidades propriamente humanas.<br />
ABRACADABRA. Hoje há um fluxo ininterrupto de inovações. Sempre sedutoramente embalados<br />
pela mídia, os lançamentos das indústrias de comunicação e informática trazem a cada dia novos<br />
desafios – grande parte dos quais totalmente inútil – <strong>para</strong> a capacidade cognitiva dos <strong>cons</strong>umidores.<br />
A velocidade das transformações produz uma mistura de atordoamento, deslumbramento e medo. Um<br />
estado de espírito explorado com competência, de modo a aumentar o <strong>cons</strong>umo dos novos produtos e<br />
introduzi-los em todos os setores da vida cotidiana. Expressões como Era do Conhecimento estão-se<br />
tornando códigos mágicos, espécie de abracadabra capaz de abrir caminho <strong>para</strong> todo tipo de inovação<br />
que tenha o álibi da atual mania tecnológica.<br />
Apologistas asseguram que, graças à tecnologia, o conhecimento virou uma commodity – algo que pode<br />
ser medido, armazenado, comprado e processado como grãos de soja ou dados numéricos. Uma<br />
definição que desumaniza o conhecimento a ponto de permitir que ele seja indistintamente<br />
compartilhado por cérebros ou circuitos eletrônicos. Há, no entanto, os que resistem a essa tendência.<br />
CONTRACORRENTE. O historiados Nicolau Sevcenko com<strong>para</strong> a competição entre as grandes<br />
companhias da indústria da informática com a corrida armamentista da Guerra Fria. A cada dia é<br />
anunciado um potencial maior de acesso à informação, como se isso fosse, por si só, uma vantagem<br />
qualitativa, independentemente da possibilidade de utilização desse potencial. E cada expansão da<br />
massa de informação oferecida por um competidor obriga os outros a expandi-la também.<br />
Para Sevcenko, a Internet funciona como simulacro de relações sociais: “A troca da rua e do contato<br />
direto pela tela do computador resulta numa grave perda das percepções local, ambiental, circunstancial<br />
e situacional”.<br />
O que, na propaganda, é mostrado como exagero bem-humorado, freqüentemente está próximo da<br />
realidade. Como no caso de um comercial de TV que, poucos anos atrás, vendia o guia simplificado de<br />
alguma nova versão de software. O comercial mostrava pessoas tentando usar o programa no ambiente<br />
de trabalho: a cada erro cometido, ouvia-se o irritante ruído emitido pela máquina e o funcionário,<br />
aterrorizado, era literalmente ejetado da cadeira (e do emprego).<br />
95
OLHO DA RUA. Outro comercial, mais recente, de um telefone celular com acesso à Internet, mostra<br />
um executivo de meia-idade que perde o cargo <strong>para</strong> um jovem estagiário possuidor de tal aparelhinho<br />
milagroso. Ambas as peças publicitárias revelam o estado de espírito de medo e insegurança dos<br />
habitantes da nova era.<br />
Fala-se nas maravilhas do conhecimento, enquanto a grande maioria treme diante das mais banais<br />
exigências de treinamento técnico. Que, na realidade, <strong>para</strong> a maioria das funções, não chega a ser uma<br />
necessidade de treinamento, mas apenas de alguma prática, adquirível em poucos dias. Entretanto, no<br />
mercado de trabalho, em geral ainda se <strong>cons</strong>ideram essenciais os tais “conhecimentos de informática”.<br />
MEDO. A insegurança em relação ao desempenho, à manutenção do emprego e à sobrevivência está<br />
chegando a níveis sem precedentes, que espantariam nossos ancestrais que dependiam da sorte e da<br />
pontaria de cada dia <strong>para</strong> comer. E isso não apenas entre os milhões de brasileiros que de fato<br />
caminham no fio da navalha, mas, também, entre os graduados e pós-graduados que ocupam lugares<br />
privilegiados na briga de foice do mercado.<br />
Muitos dos protagonistas – ou vítimas – da Era do Conhecimento acabam transferindo seus temores<br />
<strong>para</strong> os filhos, incitados a se familiarizar com o computador cada vez mais cedo, inclusive na escola.<br />
Curioso é que a mesma ideologia que exige a presença precoce de computadores nas salas de aula,<br />
propaga a idéia de que os profissionais precisam ser cada vez mais qualificados, criativos, flexíveis,<br />
independentes. Para isso, precisariam de uma boa base cultural, sociabilidade, capacidade crítica e<br />
reflexiva – qualidades que dificilmente são adquiridas com treinamento técnico de rápida<br />
obsolescência, diante de telas luminosas. O maior risco de estreitamento do pensamento, entretanto,<br />
não reside na sedução exercida pela superfície visível da máquina, mas na lógica que a fundamenta.<br />
ENGODO. “Educação é basicamente formação, não informação”, lembra a Carta Capital o professor<br />
de Ciência da Computação Valdemar Setzer. Tomado de assalto pelo turbilhão informativo da pósmodernidade,<br />
muitos pais e educadores têm-se esquecido disso.<br />
Em entrevista publicada na revista Educação, em 1999, Setzer diz que o pior efeito da informática na<br />
infância e na adolescência é forçar o pensamento lógico-simbólico antes do tempo.<br />
“É um absurdo que se faça da educação um reflexo do que se pretende que os estudantes sejam quando<br />
se tornarem profissionais. E a idéia de que as pessoas que aprenderem a usar o computador mais cedo<br />
terão mais chances no mercado de trabalho é falsa, já que ao tentar acelerar o desenvolvimento<br />
intelectual limita-se a criatividade”, assegura Setzer.<br />
Mas será mesmo que o mercado quer profissionais criativos?<br />
PEÇAS. Hoje, a maioria dos estudantes, mesmo os dos melhores colégios e faculdades, é incapaz de<br />
fazer um comentário crítico, pessoal e razoavelmente articulado sobre um livro ou uma obra de arte.<br />
Mas quase todos usam computador, Internet e inglês de e-mail.<br />
Uma formação nesses moldes parece pre<strong>para</strong>r os jovens <strong>para</strong> uma versão apenas mais sofisticada do<br />
antigo modelo do trabalhador como uma peça de engrenagem. Talvez a principal diferença entre o<br />
trabalhador de Tempos Modernos, de Chaplin, e o da dita Era do Conhecimento esteja no fato de que o<br />
homem pós-moderno é, antes de tudo, uma peça na engrenagem do <strong>cons</strong>umo, não na da produção.<br />
96
Numa análise das teorias motivacionais de gestão empresarial, o autor alemão Burkards Sievers diz que<br />
“a motivação só passou a ser um tópico quando o sentido do próprio trabalho desapareceu ou foi<br />
perdido. Como <strong>cons</strong>eqüência, as teorias motivacionais têm-se transformado em sucedâneos na busca do<br />
sentido do trabalho”.<br />
A falta do sentido no trabalho revela uma ausência de sentido na vida. Nada surpreendente após a<br />
proclamação de tantas mortes: das ideologias, da política, das utopias, da história.<br />
LUTO. Há, portanto, um luto compreensível. Luto que é convivência com o vazio mal escondido sob a<br />
superfície do frenesi <strong>cons</strong>umista, sobre o qual parece se ancercar a sociedade contemporânea, cuja<br />
porção afluente se banqueteia com os limitados recursos do planeta sem se incomodar com os olhos<br />
gordos e os corpos magros dos excluídos.<br />
“O <strong>cons</strong>umo alienado torna-se <strong>para</strong> as massas um dever suplementar à produção alienada, um<br />
verdadeiro instrumento de busca da felicidade, um fim em si mesmo”, escreve o cientista político<br />
Gilberto Dupas em seu livro mais recente, Ética e Poder na Sociedade da Informação.<br />
Mas, afinal, como deveria ser um período histórico <strong>para</strong> merecer a designação de Era do<br />
Conhecimento? Numa tal era, supõe-se, o conhecimento seria valorizado. Haveria que se valorizar não<br />
só o conhecimento já existente, mas também a busca do conhecimento – o estudo, a experiência, a<br />
reflexão, o aprendizado.<br />
Em um período assim, as pessoas teriam tempo e seriam estimuladas <strong>para</strong> se dedicar a aprender. E,<br />
principalmente, seriam capazes de se envolver com seus objetos de estudo e teriam prazer em buscar e<br />
adquirir conhecimento. O verdadeiro prazer em aprender é, ao menos em parte, desinteressado: sente<br />
mais prazer quem tem uma vontade natural de aprender por aprender do que quem só busca o<br />
conhecimento imediatamente “útil”.<br />
Esta Era do Conhecimento, ao contrário, é marcada por uma relação cada vez mais utilitária com o<br />
conhecimento. O foco não está no conhecimento em si, mas na performance social que sua aquisição<br />
pode propiciar.<br />
Ao transformar conhecimento em commodity, a nova ordem econômica e mental faz do produto<br />
tecnológico o objeto de desejo. Assim, conhecimento estritamente utilitário, produção e <strong>cons</strong>umo<br />
desenfreado compõem o círculo que faz girar compulsivamente o motor do capitalismo.<br />
Um círculo cujos múltiplos centros simbólicos são geringonças como os computadores e celulares<br />
ligados à Internet. Objetos percebidos como garantia de acesso à informação e, portanto, ao<br />
conhecimento (a confusão entre os dois é permanente), como emblemas da elite globalizada, como<br />
brinquedos sedutores, e – sendo também instrumentos de trabalho – como conexões permanentes, online,<br />
com a esfera produtiva. E como a Internet torna-se cada vez mais comercial, esses aparelhos<br />
oferecem acesso privilegiado ao <strong>cons</strong>umo.<br />
O que mais se poderia desejar na Era do Conhecimento?<br />
ZAPPING. Busca do conhecimento, claro, ainda há. Tanto que as salas de aula de professores como<br />
Luiz Gonzaga Belluzzo vivem cheias. Mas o economista da Unicamp tem re<strong>para</strong>do que a maioria dos<br />
alunos anda cada vez mais seletiva em relação às informações: ficam o tempo todo se<strong>para</strong>ndo o que<br />
interessa do que não interessa.<br />
97
Reproduzindo a relação utilitarista com o conhecimento do Brazilian way of life, muitos estudantes têm<br />
o olhar ansioso dos que se ocupam permanentemente em discernir, mesmo antes de entender, o que<br />
deve do que não deve lhes ser útil.<br />
Na sala de aula, como na frente do TV ou do computador, os habitantes típicos da Era do<br />
Conhecimento querem “zapear” rapidamente, de programa em programa, de site em site, assunto em<br />
assunto, sem perder tempo, sem se ater muito em nada. Uma atitude coerente numa sociedade<br />
subordinada a um mercado em que o zapping também é regra. De produto em produto, de pessoa em<br />
pessoa. Tudo é descartável.<br />
“Freqüentemente os alunos me pedem <strong>para</strong> ensinar apenas uma parte – aquela que <strong>cons</strong>ideram útil – de<br />
uma teoria ou assunto. Aí tento explicar que, sem a compreensão do conjunto, não é possível entender<br />
uma das partes”, conta Belluzzo, com seu jeito tranqüilo, que faz lembrar o mestre chinês lá do início<br />
desta história.<br />
Notas<br />
Inteligência artificial. Na nova era tecnológica, o “conhecimento” armazenado, processado e<br />
transmitido por computador ganha mais importância que a experiência humana. E a humanidade<br />
atribuída às máquinas é subtraída do homem.<br />
Contraste. Ao contrário dos antigos egípcios, o homem de hoje, preso à aflição do “já”, não percebe o<br />
intemporal.<br />
98
TEXTO 12: O HOMEM COMO MEDIDA. Especialista descreve dado, informação e<br />
conhecimento.<br />
Valdemar Setzer é professor titular de Ciência da Computação na USP, <strong>cons</strong>ultor do Instituto de<br />
Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da Itautec (empresa de informática do Grupo Itaú), e autor de dez livros<br />
sobre informática, Internet e sobre o uso de computadores na educação.<br />
No texto Data, Information, Knowledge and Competency, disponível em sua página na Internet<br />
(www.ime.usp.br/vwsetzer), Setzer propõe uma compreensão dos termos “dado”, “informação” e<br />
“conhecimento” bem diferente da que tem sido propagada pelos arautos da nova era tecnológica.<br />
Para Setzer, dados são abstrações formais quantificadas que podem ser armazenadas e processadas por<br />
computador. Informações são abstrações informais (não podem ser formalizadas segundo uma teoria<br />
matemática ou lógica) que representam, por meio de palavras, som ou imagem, algum significado <strong>para</strong><br />
alguém. Informações podem ser armazenadas em computador, mas não podem ser processadas (<strong>para</strong><br />
isso seria preciso quantificá-las, reduzindo-as a dados).<br />
O matemático explica que, enquanto dados são puramente sintáticos, informações contêm semântica.<br />
Apenas os primeiros podem ser processados no computador porque a máquina só “entende” sintaxe.<br />
Por isso, diz Setzer, “linguagem de computador” é uma expressão equivocada, uma vez que toda<br />
linguagem verdadeira inclui semântica.<br />
Na mesma linha de pensamento, conhecimento é uma abstração interna e pessoal gerada a partir da<br />
experiência. Nesse sentido, não pode ser completamente descrito, representado; caso contrário, seria<br />
apenas informação. Portanto, o conhecimento não pode ser armazenado nem, muito menos, processado<br />
por um computador.<br />
De acordo com o pensamento de Setzer – e de outros críticos das modernas teorias empresariais de<br />
conhecimento –, não faz sentido, portanto, falar de algo como “base de conhecimento” (knowledge<br />
base) no que se refere a computadores e muito menos chamar o conhecimento de commodity.<br />
A METADE PERDIDA. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro!<br />
“Duas linhagens de pensamento sempre conviveram em nossa tradição cultural: uma baseada na lógica<br />
formal; a outra, no potencial do contraditório”, lembra o historiador Nicolau Sevcenko. Mas apenas a<br />
primeira linhagem – representada por expoentes como Aristóteles e Descartes – norteia o<br />
funcionamento do computador. A segunda vertente – à qual se filiam pensadores como Heráclito e<br />
Marx – é incompatível com a informática hoje existente.<br />
Por isso, ao utilizarem cada vez a microeletrônica como uma extensão do cérebro – principalmente<br />
quando o computador é ferramenta-chave na educação de crianças e adolescentes – as pessoas podem<br />
estar “formatando” seu pensamento segundo os padrões da máquina. Nesse caso, alerta Sevcenko, “é<br />
toda uma riquíssima dimensão da herança cultural que se perde”.<br />
“O código formal, usado pela informática, é analítico, associativo, indutivo, mas não incorpora a crítica<br />
e não permite, por exemplo, o questionamento político”, afirma o historiador.<br />
Atualmente, fala-se no surgimento de novas teorias formais que incluam a possibilidade do<br />
contraditório. E em computadores quânticos que poderão vir a ser capazes de operar a partir desses<br />
99
códigos mais abrangentes. Por enquanto, entretanto, o que temos no fundo, por mais charmosos que<br />
sejam os programas, é o reducionismo da pura lógica binária. Um mero “ou isto ou aquilo”, como no<br />
título do belo poema de Cecília Meireles, de onde vieram os versos acima.<br />
100
Texto 13: RUMO AO TEMPO DIGITAL<br />
O fluxo contínuo e linear dos relógios dá lugar à fragmentação e à simultaneidade dos computadores<br />
Por Guilherme Kujawski<br />
“A pressa é inimiga da perfeição.” Esse conhecido ditado, que já foi um estatuto em todos os manuais<br />
de recursos humanos, está fadado a sair de cartaz, pois os agentes do “turbocapitalismo”, crentes de sua<br />
predestinação histórica, estão impondo um outro clichê mais ajustado ao ritmo lépido da modernidade:<br />
“tempo é dinheiro” (ou no atual jargão, MMF, make money fast).<br />
O “tempo” dos novos empreendedores, no entanto, não é semelhante ao “tempo” dos antigos fordistas.<br />
Uma das provas dessa diferença pode estar na troca do sistema de trabalho de turnos – medido<br />
sistematicamente pelo relógio de ponto – por um novo sistema do tipo flex time, baseado em tabelas<br />
alternativas.<br />
Tudo leva a crer que a noção do tempo mecânico (o tempo dos relógios de pulso e das engrenagens de<br />
Berna) está começando a sair de moda, e a noção do real time – o tempo dos eventos imediatos<br />
acontecimentos simultâneos e ações sincronizadas – está ganhando cada vez mais popularidade.<br />
Incorporação<br />
“O tempo é uma <strong>cons</strong>trução social”, afirma a psicóloga e professora da Fundação Getúlio Vargas de<br />
São Paulo, Maria José Tonelli, que acaba de defender uma tese de doutorado intitulada Os Sentidos das<br />
Máquinas – Novas Tecnologias e a Aceleração no Cotidiano do Trabalho.<br />
“Depois de incorporar o tempo mecânico, a humanidade agora se pre<strong>para</strong> <strong>para</strong> incorporar o tempo<br />
digital”, diz a psicóloga. A antiga noção do tempo como uma sucessão de períodos indivisíveis parece<br />
estar sendo substituída rapidamente por uma idéia de tempo dos Mips (Milhões de Instruções por<br />
Segundo, a medida de capacidade dos computadores).<br />
Mas, se os avanços tecnológicos acompanham a chamada Lei de Moore (Gordon Moore, co-fundador<br />
da Intel, previu em 1965 que o poder de processamento de um chip de silício iria dobrar a cada 18<br />
meses), a noção cotidiana da passagem de horas corre o perigo de seguir uma lei mais rígida. O tempo<br />
presente ficará exponencialmente mais concentrado e a própria idéia das etapas de crescimento e<br />
maturação deixará de fazer sentido. “Enquanto o tempo linear permite a reflexão, o tempo simultâneo<br />
digital é o tempo do reflexo”, com<strong>para</strong> Maria José.<br />
Longo Agora<br />
Nadando contra a onda da revolução da informática há um grupo de cientistas que defende com unhas e<br />
dentes a manutenção do tempo mecânico e linear. A Long Now Foundation – uma organização que<br />
reúne tecnocratas esclarecidos como Stewart Brand e Danny Hillis – propõe a criação de um relógio<br />
duradouro com a função de manter o compasso do tempo mecânico por mais dez mil anos.<br />
O programador Danny Hillis materializou o projeto ao <strong>cons</strong>truir uma máquina capaz de marcar com<br />
precisão a passagem do tempo até o ano 10000. Para garantir a realização da meta final sem percalços,<br />
101
Hillis colocou um dígito a mais no mecanismo eletrônico do relógio (02000, 02001, 02002, etc.),<br />
tornando-o à prova de bugs de milênio.<br />
A meta da Long Now Foundation é convencer toda a humanidade a reabilitar os períodos de tempo<br />
mais longos, como a precessão dos equinócios (25784 anos), e ignorar os períodos mais curtos, como o<br />
intervalo entre duas férias de trabalho (um ano). Brand, que também é inventor e projetista, lembra em<br />
seu livro O Relógio do Longo Agora (Editora Rocco, 173 páginas) que os povos antigos respeitavam as<br />
gerações vindouras, preservando no tempo as vigas mestras da civilização.<br />
Moedinha<br />
A mudança da experiência temporal pode afetar processos físicos, culturais e até biológicos dos<br />
indivíduos. Se ainda não são claros os efeitos da introjeção do tempo mecânico, quanto mais do tempo<br />
simultâneo. E talvez seja prudente acreditar que a “sabedoria tecnológica”, baseada no acúmulo de<br />
informação, seja totalmente ineficiente na resolução de um problema básico da humanidade, que é<br />
criar um relacionamento responsável com o presente e o futuro.<br />
Felizmente, os efeitos colaterais da drástica mudança de padrão estão longe de ser sentidos, e o mundo<br />
pode respirar aliviado, pois ainda vai conviver muito tempo com os prazos de entrega, os milésimos de<br />
segundo das corridas de F-1 e com o estranho fato de as engrenagens perfeitas do relógio Big Ben<br />
serem ajustadas com moedas de um penny.<br />
NOTA<br />
Depois das horas. Relógio criado por grupo de cientistas marca períodos mais dilatados de tempo.<br />
102
Texto 14: Aspectos fundamentais das noções de organização e administração<br />
Prof. Luiz Antonio T. Vasconcelos<br />
Resumo<br />
I) A divisão do trabalho: Revolução Industrial e sistematização dos princípios administrativos;<br />
gênese da “Administração Científica”.<br />
II) A “segunda” e a “terceira” Revoluções Industriais: evolução da infraestrutura produtiva,<br />
mudanças nas formas de competição intercapitalista e impactos da chamada competitividade<br />
global sobre as estruturas e as estratégias das empresas e sobre as formas de administrá-las.<br />
III) Evolução da estrutura e da dinâmica organizacional das empresas: a divisão (horizontal e<br />
vertical) do trabalho como o princípio da organização da empresa; mudanças na estrutura<br />
técnica do capital; mudanças na estrutura do emprego.<br />
IV) Inserção e dinâmica das empresas no mercado<br />
I) A divisão do trabalho: Revolução Industrial e sistematização dos princípios administrativos;<br />
gênese da “Administração Científica”.<br />
A evolução dos conceitos e práticas no campo da Gestão das Empresas está historicamente<br />
articulada à evolução das formas de produzir e organizar a produção. A análise do desenvolvimento<br />
destas formas permite visualizar os impactos das formulações teóricas sobre a proposição de técnicas e<br />
métodos de organização e controle do processo produtivo e, reciprocamente, os impactos dos<br />
resultados práticos da aplicação de tais técnicas e métodos sobre a teoria administrativa.<br />
A observação dos Quadros 1 e 2, que se seguem, permite a visão resumida dos principais marcos<br />
históricos da evolução das formas e ferramentas de gestão bem como das correspondentes formas<br />
estruturais das organizações empresariais.<br />
103
Quadro 1<br />
Fonte: Lojkine, Jean (94), página 32<br />
Quadro da evolução das características das formas<br />
organizacionais do processo de produção<br />
"Mito mobilizador" que Formas organizacionais do processo produtivo<br />
estimula e orienta os<br />
gerentes e supervisores Taylorismo-Fordismo Niponismo<br />
1. Divisão Horizontal do Trabalho 1. Parcelarização das 1. Polivalência<br />
tarefas<br />
2. Divisão Vertical do Trabalho 2. Divisão Concepção/ 2. Polifuncionalidade<br />
Execução<br />
3. Economia de Trabalho Vivo 3. Mote: Volume crescente 3. Mote: Diminuição do<br />
de produto <strong>para</strong> um mesmo efetivo <strong>para</strong> um mesmo<br />
efetivo de trabalhadores volume de produto<br />
4. Forma de controle Social 4. Controle pelo alto e pelo 4. "Direção sob os olhos"<br />
tempo imposto (a cadeia (Ohno) e autocontrole do<br />
"fordista") anterior pelo posterior<br />
5. Tipo de regulação Econômica 5. Regulação pela oferta de 5. Regulação pela demanda<br />
(relação oferta/demanda) massa (do produto e dos diversificada<br />
salários)<br />
6. Tipo de regulação Sócio-Política 6. Direção autoritária (estatismo 6. "Negociações contratuais<br />
e burocracia). Convenções descentralizadas" entre "atores<br />
Coletivas, Estado-providência autônomos". Democracia<br />
Salarial<br />
Resumo "Rigidez" "Flexibilidade"<br />
1<strong>04</strong>
Quadro 2<br />
Características da Base Produtiva: principais modificações recentes<br />
Fonte: Fonte: Lojkine, Jean (94)<br />
Revolução Industrial Revolução Informacional<br />
1. Três grandes características<br />
1.1. A especialização (com a oposição fundamental entre<br />
o trabalho manual e o trabalho intelectual)<br />
1.1. Polivalência verdadeira (Polifuncionalidade)<br />
1.2. A Estandartização (padronização de peças, processos, 1.2. Flexibilidade (variedade de usos possíveis das máquinas<br />
produtos, procedimentos) informacionais<br />
1.3. A Reprodução rígida (continuidade mecânica) 1.3. Estrutura em redes descentralizadas<br />
Resumo: Encadeamento rígido e contínuo de máquinas e<br />
engrenagens<br />
Resumo: Auto-regulação dos sistemas flexíveis<br />
2. Confronto dos dois sistemas sócio-técnicos<br />
2.1. Forças produtivas materiais 1 (o instrumento de trabalho isolado e seu objeto)<br />
a) Máquina-operatriz, Máquina-ferramenta a) Máquina auto-regulada<br />
b) Objetivação da mão: Substituição do homem b) Objetivação das funções cerebrais abstratas, direção -<br />
pela máquina regulação da máquina: Máquina-Prótese (rôbo)<br />
c) Objeto de trabalho: ferro + carvão c) Objeto de trabalho: silício, supercondutores<br />
2.2.Forças produtivas materiais 2 (as formas produtivas materiais combinadas socialmente na unidade produtiva)<br />
a) Sistemas de máquinas automáticas especializadas<br />
b) Continuidade, rigidez, padronização<br />
a) Sistema flexível auto-regulado de máquinas polifuncionais<br />
Resumo: Princípio Mecânico Resumo: Princípio Orgânico<br />
2.3. Forças produtivas materiais 3 (a combinação social dos meios de trabalho no espaço nacional e internacional<br />
a) Meios de circulação materiais centralizados e segregados a) Meios de circulação materiais e imateriais (informacionais)<br />
descentralizados e interativos (telemática em rede)<br />
2.4. Forças produtivas humanas 1 (O processo de trabalho: o homem, os meios e objetos de trabalho<br />
Vigilância estrita: homem apêndice da máquina Otimização, polivalência vertical (concepção + produção)<br />
2.5. Forças produtivas humanas 2 (Combinação social dos homens na unidade produtiva<br />
a) Divisão: trabalhadores produtivos e improdutivos, os a) Intersecção: trabalhadores produtivos e improdutivos,<br />
últimos monopolizando a concepção mesclagem e gradação de funções produtivas e improdutivas<br />
b) Oposição: Ciência e Produção b) Inter-relações: Ciência e Produção<br />
2.6. Forças produtivas humanas 3 (Combinação social dos homens no espaço nacional e internacional<br />
a) Domínio das atividades industriais a) Cooperações Serviços-Indústria<br />
b) Papel dinâmico da indústria metalurgica b) Papel dinâmico da mecatrônica<br />
c) Divisão: Proletariado industrial e empregados de Serviços c) Cooperação: Professores, pesquisadores, assalariados de<br />
Serviços e assalariados da Indústria<br />
d) Segregação Urbana d) Integração Urbana de funções em rede<br />
É possível vislumbrar a evolução do “pensamento administrativo” a partir da análise do seu<br />
desenvolvimento histórico concreto. Isso pode feito, numa primeira aproximação, de forma simples, a<br />
partir da apresentação dos principais autores e protagonistas e suas propostas relacionadas às formas de<br />
organização do processo de produção. Isso é feito no tópico apresentado a seguir.<br />
105
I) Algumas das principais características e fundamentos mais importantes das chamadas<br />
“Escolas” do pensamento administrativo 6<br />
i. Escola Clássica<br />
Denominação dada ao pensamento daqueles que fundaram a Ciência da Administração ou mesmo<br />
através de suas atividades puseram em prática certas técnicas e princípios que representaram grandes<br />
transformações e aumento da produtividade na indústria do final do século XIX e início do século XX.<br />
Seus nomes mais representativos foram: Henry Towne, Frederick Winslow Taylor, Henry Laurence<br />
Gantt, Henri Fayol, Frank Gilbreth dentre outros. Seguem-se as <strong>cons</strong>iderações mais relevantes sobre o<br />
pensamento dos seus principais autores e protagonistas<br />
A) Fayol, Henri (1841-1925)<br />
� Nascido na França foi um dos mais importantes pensadores europeus da Ciência da Administração<br />
durante as primeiras décadas do século 20. Formado em engenharia e geologia, teve trinta anos de<br />
experiência como diretor geral de uma grande empresa metalúrgica e de mineração, a Commentry-<br />
Fourchambault-Decazeville. Embora tivesse enfrentado uma ameaça de falência ao assumir a<br />
direção, quando da sua aposentadoria a empresa apresentava uma situação muito sólida e o quadro<br />
técnico mais competente de toda a Europa. Considerava que seu sucesso devia-se menos ao<br />
administrador brilhante que era, e muito mais ao fato de que os empregados seguiam princípios<br />
muito simples que poderiam ser facilmente ensinados e aprendidos.<br />
� A análise da Administração como uma questão se<strong>para</strong>da da engenharia abriu caminho <strong>para</strong> a<br />
formulação de uma teoria da Administração, o que talvez tenha sido a principal contribuição de<br />
Fayol <strong>para</strong> o desenvolvimento dessa área do conhecimento humano. Embora no princípio<br />
<strong>cons</strong>iderasse com pouca simpatia as contribuições de Taylor, Fayol percebeu rapidamente que os<br />
dois enfoques eram complementares. A diferença é que Taylor havia começado suas análises num<br />
extremo – no torneiro mecânico no interior da fábrica – e ele no outro: no executivo em sua mesa<br />
de trabalho. No final da vida, dedicou-se a disseminar suas teorias sobre Administração inclusive<br />
aplicada a outros campos, como as organizações militares e governamentais.<br />
� Suas principais publicações: Administração Industrial e Geral: Previsão, Organização, Comando,<br />
Coordenação e Controle, de 1916; A Incapacidade Administrativa do Estado: os Correios e<br />
Telégrafos, de 1921 e O Despertar do Espírito Público, 1927.<br />
B) Towne, Henry R. (1844-1924)<br />
� Um dos fundadores da Ciência da Administração por ter afirmado em 1886, na comunicação “The<br />
Engineer as Economist” (O Engenheiro como Economista) feita à Asme – American Society<br />
Mechanical Engineers (Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos) – que a Administração<br />
deveria ser uma disciplina independente, como a engenharia: “As questões administrativas de uma<br />
fábrica tem tanta importância como as questões de engenharia”. No entanto apenas em 1907 a<br />
6 Todas as informações e análise contidas neste tópico, foram retiradas de: a) Sandroni, Paulo & Sandroni, L.<br />
Alberto M.: Karoshi, o jogo da Qualidade - Editora Best Seller, S.Paulo, 1995; b) Sandroni, Paulo, Dicionário de<br />
Administração e Finanças - Editora Best Seller, S.Paulo, 1996 e c) Sandroni, Paulo, Novo Dicionário de Economia<br />
- Editora Best Seller, S.Paulo, 1994.<br />
106
Asme reconheceu a atividade do management engineering, a Engenharia da Administração e até<br />
1915 um setor influente da Asme continuava a negar veementemente a existência de uma Ciência<br />
da Administração ou mesmo que tal tema fosse pertinente às atividades Asme.<br />
� Para ele, o trabalho nas fábricas era desorganizado, quase inexistindo literatura a respeito de<br />
questões administrativas ou uma associação, órgão ou meio <strong>para</strong> o intercâmbio das experiências.<br />
Towne argumentava que o remédio <strong>para</strong> essa situação não deveria ser buscado entre o que ele<br />
denominava business men (homens de negócio) nem nos seus empregados de escritório ou<br />
contadores. A superação dessa situação deveria vir daqueles cuja experiência e treinamento os<br />
credenciava a compreender tanto as questões de mecânica como de funcionamento de escritórios:<br />
os engenheiros.<br />
� Sua influência e o decidido apoio ao trabalho de Taylor foram cruciais <strong>para</strong> aumentar o interesse da<br />
Asme pelas questões da Administração. Foi também pioneiro na elaboração de uma importante<br />
técnica de Administração relacionada com os salários. Em 1889 ele apresentou à Asme os<br />
resultados de um sistema de pagamentos de salários denominado gain sharing (participação nos<br />
ganhos) existente em sua própria fábrica. O sistema <strong>cons</strong>istia numa forma modificada do profit<br />
sharing (participação nos lucros), tendo como base não o trabalhador individual, mas um grupo<br />
pertencente a uma divisão ou departamento e sua eficiência relativa. Essa proposta <strong>cons</strong>tituiu talvez<br />
uma das primeiras tentativas de melhorar o sistema tradicional de salário por peça utilizado na<br />
indústria na segundo metade do século 19.<br />
C) Taylor, Frederick Winslow (1856-1915)<br />
� Engenheiro norte-americano é <strong>cons</strong>iderado o pai da Administração Científica (assim está no<br />
epitáfio de seu túmulo em Germantown, Filadélfia), título que tem sido aceito tanto por<br />
simpatizantes como por críticos; livros e artigos traduzidos <strong>para</strong> um grande número de línguas e<br />
desde 1938 a medalha de ouro da Comissão Internacional <strong>para</strong> a Administração Científica traz sua<br />
efígie.<br />
� Beneficiou-se, no desenvolvimento de suas proposições e conceitos, de trabalhos pioneiros tanto<br />
nos EUA como na Europa, nos campos da contabilidade, engenharia, técnica de organização de<br />
escritórios, da medicina (p.ex. descoberta do processo fisiológico que provoca o cansaço), assim<br />
como de vários mecanismos que já estavam se desenvolvendo no campo do incentivo ao trabalho e<br />
melhor controle do processo de produção: p.ex. as técnicas de Towne e de Gantt. Apoiado nestes<br />
trabalhos desenvolveu o que ele próprio denominou de “Revolução Mental”.<br />
� Até Taylor, a administração das empresas era vista mais como um desdobramento de algum ramo<br />
especial da manufatura: estava relacionada com os conhecimentos técnicos necessários <strong>para</strong><br />
produzir determinados produtos na indústria. A idéia que uma pessoa deveria ser treinada e receber<br />
instrução formal <strong>para</strong> tornar-se administrador competente, ainda não havia sido legitimada.<br />
� Evoluiu <strong>para</strong> uma nova concepção de administração através da elaboração gradual de técnicas que<br />
permitiram a análise e a mensuração de processos elementares. Suas primeiras ações como capataz<br />
na Midvale Steel Works (Filadélfia, EUA) visavam eliminar a prática de “restrição da produção”,<br />
adotada defensivamente pelos trabalhadores (devido a sua própria experiência como torneiro, ele<br />
sabia que ser poderia atingir um nível de produção muito maior sem grandes esforços adicionais e<br />
acreditava que o não aproveitamento dessa potencialidade resultava de ignorância de ambas as<br />
partes)<br />
107
� O estabelecimento de padrões (<strong>para</strong> tempos e movimentos do processo de trabalho) deveria ser<br />
baseado nos conceitos (vagos) de “pagamento honesto” <strong>para</strong> “um dia honesto de trabalho” que<br />
deveriam ser concretizados a partir de rigorosa e precisa determinação “científica” (via<br />
cronômetro): tais padrões alteraram não só o planejamento das tarefas como o fluxo de materiais, as<br />
ferramentas utilizadas, de forma a permitir que cada trabalhador alcançasse o padrão e fosse além.<br />
� Dois princípios emergiram dessas práticas e estabeleceram os alicerces essenciais da administração<br />
(“científica”, como passou a ser chamada): 1) A divisão dos ganhos entres as partes (gerência e<br />
trabalhadores) deveria ser abandonada como a questão mais importante; ambas as partes deveriam<br />
se concentrar em formas de fazer aumentar a magnitude destes ganhos; 2) Ambas as partes<br />
deveriam abandonar seus velhos julgamentos e opiniões individuais e substituí-los pela pesquisa e o<br />
conhecimento científico rigoroso. Em suma, se os homens deviam cooperar efetivamente, todas as<br />
organizações deveriam ter: a) um objetivo comum; b) um método comum <strong>para</strong> alcançá-los.<br />
� Em suma: o conjunto de teorias sobre o aumento da produtividade do trabalho fabril, que passou a<br />
ser conhecida por taylorismo, abrange um sistema de normas voltadas <strong>para</strong> o controle dos<br />
movimentos do homem e da máquina no processo de produção, incluindo propostas de pagamento<br />
pelo desempenho do operário (prêmios e remuneração extras conforme o número de peças<br />
produzidas). Sistema muito aplicado nas medidas de racionalização e controle do trabalho fabril,<br />
mas também criticado pelo movimento sindical, que o acusou de intensificar a exploração do<br />
trabalhador e de desumanizá-lo, à medida que procura automatizar seus movimentos e retirar dele<br />
qualquer controle sobre o processo de trabalho. A linguagem crua utilizada em seu livro Principles<br />
and Methods of Scientific Management (Princípios e Métodos da Administração Científica),<br />
especialmente quando relata a forma de recrutamento dos trabalhadores <strong>para</strong> a realização dos<br />
experimentos na Midvale Steel C. da Pensilvânia, deve ter contribuído <strong>para</strong> <strong>cons</strong>olidar essa<br />
impressão.<br />
� Entre 1898 e 1901 desenvolveu e patenteou um processo novo de corte de alta velocidade <strong>para</strong> o<br />
aço. Seus livros mais importantes são os seguintes: A piece Rate System (O Sistema de Salário por<br />
peça), de 1895; Shop Management (A Administração da Fábrica), de 1903 e Principles and<br />
Methods of Scientific Management (Princípios e Métodos da Administração Científica), de 1911.<br />
� Mais tarde suas concepções foram criticadas pelos fundadores da escola de relações humanas,<br />
especialmente por George Elton Mayo.<br />
D) Gantt, Henry Laurence (1861-1919)<br />
� Engenheiro, membro da Asme, foi um dos primeiros a dirigir a atenção <strong>para</strong> o ser humano dentro<br />
da indústria: “entre todos os problemas de Administração (...) o elemento humano é o mais<br />
importante”. Embora tivesse colaborado com Taylor durante vários anos, algumas de suas<br />
concepções podem ser <strong>cons</strong>ideradas precursoras de métodos administrativos menos autoritários que<br />
vieram a ser desenvolvidos nas décadas seguintes.<br />
� É mais conhecido pela confecção do Diagrama de Gantt ou Gráfico de Gantt (que hoje espanta pela<br />
sua simplicidade mas que na época em foi criado representou um enorme passo <strong>para</strong> o avanço da<br />
administração da produção), cuja finalidade é racionalizar, coordenar e controlar as operações em<br />
qualquer âmbito onde a produção esteja se desenvolvendo.<br />
� Sua primeira contribuição original foi a instituição de um sistema de salários denominado Task and<br />
Bonus (Tarefa e Bonus), de 1901 (em artigo <strong>para</strong> a Asme). Antecedeu ao sistema de salário por<br />
108
peça de Taylor na Midvale; o sistema de Gantt garantia ao trabalhador uma remuneração<br />
determinada se ele concluísse uma tarefa num tempo estabelecido, e um pagamento extra se<br />
<strong>cons</strong>eguisse ir além.<br />
� Dentre os pioneiros talvez tenha sido ele quem mais enfatizou a importância da liderança natural<br />
(não imposta) como um dos principais elementos <strong>para</strong> o êxito de um empreendimento industrial:<br />
em sua comunicação de 1915 (Liderança Industrial) ele defende a tese do fator humano na indústria<br />
e afirma que o incentivo pecuniário é apenas um entre vários que exercem influência nos<br />
trabalhadores. È reconhecido como uma “influência humanizadora sobre a administração industrial<br />
e pela criação do seu gráfico”.<br />
E) Ford, Henry (1863-1947)<br />
� Empresário norte americano, pioneiro da indústria automobilístico e inovador dos processos de<br />
produção com a introdução da linha de montagem na fabricação em série de automóveis. Originário<br />
de uma família de agricultores de Michigan tornou-se mecânico aos dezesseis anos trabalhando em<br />
várias oficinas em Detroit.<br />
� Foi o primeiro fabricante a tornar o automóvel um produto de <strong>cons</strong>umo de massa (Ford T, chamado<br />
no Brasil de Ford Bigode, vendeu entre 1908 e 1926, cerca de 15 milhões de unidades, perto de 2,2<br />
mil carros por dia) baixando custos por meio da produção em série e incrementando as vendas pelo<br />
barateamento do produto; <strong>para</strong> enfrentar a concorrência, aperfeiçoou ainda mais a linha de<br />
montagem, adquiriu plantações de seringueira (<strong>para</strong> a produção de pneus), minas de carvão e ferro<br />
e uma frota de navios, verticalizando sua produção.<br />
� Apesar disso, Ford era extremamente <strong>cons</strong>ervador, negando-se a rever iniciativas que tiveram êxito<br />
e a atualizar o processo de produção; não admitia especialistas em administração nem queria<br />
pessoas formadas em universidades no seu quadro de funcionários. Por muito tempo negou-se a<br />
produzir carros que não fossem da cor preta; adversário ferrenho dos sindicatos (só a partir de 1941<br />
admitiu a sindicalização de seus empregados), adotava uma ação paternalista nas relações de<br />
trabalho: diminuiu a jornada de seus empregados e pagava cerca de vinte dólares semanais quando<br />
a média de salário das outras empresas era de 11 dólares.<br />
� Os princípios mais importantes (fundamentos gerais: racionalização da produção): a) geral: uma<br />
empresa deveria dedicar-se à produção de apenas um tipo de produto; b) uma empresa, <strong>para</strong> isso,<br />
deveria adotar a verticalização produtiva, dominando não apenas as fontes de matérias primas, mas<br />
até o transporte dos produtos; c) <strong>para</strong> reduzir os custos a produção deveria ser em massa e dotada de<br />
tecnologia capaz de desenvolver ao máximo a produtividade de cada trabalhador; d) o trabalho<br />
deveria ser altamente especializado, cada operário realizando apenas um tipo de tarefa; e) <strong>para</strong><br />
garantir a produtividade os trabalhadores deveriam ser bem remunerados e as jornadas de trabalho<br />
mais curtas.<br />
� O “fordismo” difundiu-se não apenas nos EUA mas em todo o mundo e durante várias décadas<br />
prevaleceu como método de produção industrial na maior parte dos países capitalistas<br />
desenvolvidos, mantendo-se até hoje, mas com importantes modificações.<br />
� Ford não se destacou por seus escritos mas sim por suas realizações práticas que tiveram grande<br />
influência, especialmente na indústria, mas por desdobramentos nos métodos de administração da<br />
produção.<br />
109
F) Outros autores “clássicos”: Gilbreth, Frank (1868-1924) e Gilbreth, Lilian (1878-1972)<br />
ii. Escola de Relações Humanas<br />
Concepção crítica da Escola Clássica, especialmente do Taylorismo, surgida nos Estados Unidos no<br />
final dos anos 30 tendo como referencial analítico os Estudos Hawthorne realizados na fábrica da<br />
Western Electric, em Cícero (Chicago), entre o final dos anos 20 e o início dos anos 30. Tais estudos<br />
desenvolvidas com base em pesquisa realizada entre 1924 e 1927, na Western Eletric Co. localizada em<br />
Hawthorne, Chicago, em colaboração com o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA, cujo objetivo<br />
era determinar a relação existente entre a intensidade da iluminação dos locais de trabalho e a eficiência<br />
dos trabalhadores, medida pela produção obtida; uma das experiências <strong>cons</strong>istia no seguinte: dois<br />
grupos de operários que faziam o mesmo trabalho em condições idênticas foram escolhidos <strong>para</strong><br />
observação, sendo devidamente anotada a produção de cada grupo. Um grupo trabalhou sob iluminação<br />
variável enquanto o outro sob iluminação <strong>cons</strong>tante; de início, não foi possível obter resultados, pois<br />
não se <strong>cons</strong>eguia isolar os efeitos de outros e inúmeros fatores. Contudo, quando foram trocadas as<br />
lâmpadas das salas onde se realizava a experiência, levando os operários a acreditar que a intensidade<br />
da iluminação havia aumentado (quando na realidade isso não havia acontecido), a resposta foi um<br />
aumento na produção. Outras experiências foram feitas e todas indicaram a preponderância do fator<br />
psicológico sobre o fisiológico. Os principais representantes desta escola foram George Elton Mayo e<br />
Fritz Roethlisberger, além de Mary Parker Follet.<br />
A) Mayo, George Elton (1880-1949)<br />
� Australiano, radicado nos EUA, foi um dos iniciadores da escola de relações humanas e um dos<br />
críticos das concepções de Taylor e Fayol da escola clássica. Participou, juntamente com outros<br />
pesquisadores da Harvard, Fritz Roethlisberger e William Dickson, dos experimentos de<br />
Hawthorne, que concluíram, após inúmeras experiências de variados tipos envolvendo as<br />
condições de desenvolver determinadas tarefas produtivas: a) que as condições materiais de<br />
trabalho, embora importantes, não tinham tanta influência sobre a produção quanto os aspectos<br />
sociais, psicológicos e humanos das relações dos trabalhadores com seus empregadores (as<br />
operárias trabalharam mais apenas porque se sentiam valorizadas por receber uma atenção<br />
especial da direção da empresa – ao ser escolhidas <strong>para</strong> a pesquisa; b) em síntese: os<br />
trabalhadores se sentiam parte importante da empresa, não seres isolados, próximos apenas<br />
fisicamente uns dos outros; as relações que se desenvolviam nessas condições entre os<br />
trabalhadores provocavam sentimentos de sociabilidade, valorização e realização pessoal; de<br />
uma outra forma: tais necessidades de reconhecimento durante muito tempo insatisfeitas,<br />
estavam sendo agora atendidas através da simples realização do experimento. Essa descoberta<br />
foi tão importante que passou a ser conhecida como “efeito Hawthorne”: ao se sentir valorizado<br />
pela chefia ou pela direção da empresa um grupo mudava seu comportamento passando a<br />
trabalhar com mais eficiência do que antes. Conclusão: quando um grupo informal de<br />
trabalhadores se identificava com a administração, a produtividade tendia a aumentar. O<br />
contrário acontecia quando estes grupos se colocavam em frontal oposição aos interesses da<br />
empresa, reagindo contra os controles rígidos e o tratamento desumano dispensado pela<br />
gerência. Os Estudos Hawthorne produziram pelo menos três descobertas que <strong>cons</strong>tituíram um<br />
110
desafio à escola clássica: a) o nível de produção por trabalhador é geralmente determinado por<br />
normas sociais e não pela capacidade fisiológica ou física do trabalhador individual; b) sanções<br />
e prêmios não econômicos influenciam o comportamento do trabalhador e limitam os efeitos<br />
dos incentivos econômicos; c) os trabalhadores frequentemente agem e reagem mais como<br />
membros de grupos do que como indivíduos.<br />
� Mayo trabalhou no Depto. de Pesquisas Industriais em Harvard, entre 1927 e 1947 e foi quem<br />
extraiu mais conclusões teóricas dessa experiência em Hawthorne: a) a <strong>cons</strong>tituição de grupos<br />
informais nas fábricas era uma reação à forma pela qual a sociedade tratava os operários, com<br />
insensibilidade; b) as condições de trabalho que prevaleciam na indústria nos EUA eram de<br />
opressão e humilhação, negando a satisfação das necessidades de auto-estima e de realização<br />
sentidas por cada um; embora tal “anomia” – impotência <strong>para</strong> controlar as coisas – fosse um<br />
resultado do funcionamento global da sociedade, Mayo <strong>cons</strong>iderava que no trabalho industrial<br />
ela alcançava seu grau máximo; ele denominou essa concepção de “hipótese da ralé” e contra<br />
ela se insurgiu lamentando as práticas autoritárias e orientadas exclusivamente <strong>para</strong> a realização<br />
de tarefas que nela se inspiravam.<br />
� Tais concepções levaram Mayo a desfechar uma crítica à escola clássica representada por<br />
Taylor e Fayol, e à “hipótese da ralé” da qual partiam, isto é concepção de que os trabalhadores<br />
se preocupavam apenas em satisfazer suas necessidades fisiológicas e de segurança, formando<br />
uma massa desorganizada e desprezível que necessitava ser dirigida com base em práticas<br />
autoritárias. Para ele a autoridade deveria estar fundamentada, não apenas no direito formal de<br />
exigência de cumprimento de normas, mas no grau em que os indivíduos <strong>cons</strong>entissem em<br />
obedecer: isso implicava um sistema de atitudes cooperativas dos trabalhadores e um sistema<br />
eficiente de comunicações que deveria ser desenvolvido pela empresa e também que tais<br />
concepções poderiam ser aplicadas a qualquer forma de organização social.<br />
� Suas principais obras: Os problemas humanos de uma civilização industrial, de 1933; Os<br />
Problemas sociais de uma civilização industrial, de 1945 e Notas sobre a Psicologia de Pierre<br />
Janet, de 1948.<br />
B) Roethlisberger, Fritz<br />
� Professor de relações humanas da Harvard Graduate School of Business Administration, planejou e<br />
supervisionou a pesquisa dos Estudos Hawthorne, que desenvolveu junto com Mayo e Dickson,<br />
escreveu juntamente com este último o relato mais completo de tais estudos, em 1939: A<br />
administração e o trabalhador (um relato do programa de pesquisa desenvolvido na WEC, fábrica<br />
de Hawthorne, Chicago)<br />
C) Outros autores: Follet, Mary Parker (1869-1933)<br />
iii. Escola Behaviorista (deve ser vista no conjunto da área de influência da Escola de<br />
Relações Humanas).<br />
Também denominada Teoria Comportamental, a Escola Behaviorista não deve ser confundida com<br />
a concepção em psicologia do mesmo nome, embora ambas coloquem a ênfase de seus estudos no<br />
111
comportamento humano. Do ponto de vista histórico do desenvolvimento da ciência da administração,<br />
a escola behaviorista representa um desdobramento da escola de relações humanas na medida em que a<br />
<strong>cons</strong>idera um avanço em relação à rigidez da escola clássica (“taylorismo”), mas não aceita a visão de<br />
que a simples satisfação do trabalhador – do ponto de vista de suas condições psicossociais – resultaria<br />
em eficiência e maior produtividade. Por outro lado, os clássicos teriam falhado ao não levar em conta<br />
a análise das decisões e os limites da racionalidade enquadrados em princípios muito rígidos de<br />
administração. Ou melhor, o comportamento racional do homens dar-se-ia apenas em relação a um<br />
conjunto de dados que caracterizaria uma situação, e não em termos abstratos, como acreditavam os<br />
representantes da escola clássica. Os representantes mais destacados desta corrente de pensamento são<br />
Herbert Simon, em cujos livros Comportamento Administrativo (1945) e Teoria das Organizações<br />
(1958), este último em co-autoria com James March, estão expostas as idéias mais importantes sobre<br />
esta concepção administrativa; destacam-se também, Chester Barnard, Chris Argyris, Douglas<br />
McGregor e Rensis Likert.<br />
A) Chester, Barnard (1886-1961)<br />
� Embora tenha escrito dois livros de grande importância, um deles <strong>cons</strong>iderado, por alguns, uma<br />
obra-prima, Chester Barnard foi mais um executivo prático do que um acadêmico. De fato, o livro<br />
The functions of the executive (As funções do executivo), de 1938, marcou época, e o outro,<br />
Organization and management (Organização e administração) de 1942, também foi <strong>cons</strong>iderado<br />
uma contribuição importante <strong>para</strong> a ciência da administração.<br />
� Passou quase toda sua vida de trabalho em uma só empresa, a American Telephone and Telegraph<br />
(ATT), onde começou como funcionário do departamento de estatística até tornar-se presidente da<br />
Bell Telephone Company de New Jersey. Embora não tenha participado dos estudos de Hawthorne,<br />
conviveu com Mayo e Roethlisberger e outros representantes da Escola de Relações Humanas.<br />
� Iniciou a redação de sua principal obra num momento em que os resultados dos experimentos em<br />
Hawtorne começavam a ser divulgados e a entrar em rota de colisão com as concepções da Escola<br />
Clássica (Taylor, Fayol, etc.). No início, seu livro apresenta uma teoria da cooperação na<br />
organização formal; a cooperação se origina de uma necessidade individual de cumprir propósitos,<br />
em um sistema cambiante, em que vários elementos biológicos, psicológicos e sociais estão<br />
combinados. O executivo precisa ter eficácia, isto é, alcançar os objetivos da organização que<br />
dirige, e agir com eficiência, ou seja, satisfazer seus motivos individuais, na medida em que tenta<br />
realizar os objetivos de sua organização. A organização é <strong>cons</strong>iderada como um sistema de<br />
atividades <strong>cons</strong>cientemente coordenadas, de duas ou mais pessoas. Se não houver cooperação entre<br />
elas, a organização não sobreviverá. A função do executivo – daí o título do livro – <strong>cons</strong>iste em ter<br />
a capacidade de tomar decisões que dêem um significado à coordenação da atividade organizada.<br />
� Para ele, a organização existiria quando fossem satisfeitas três condições: a) há pessoas capazes de<br />
se comunicar entre si; b) elas estão dispostas a contribuir com sua ação; e c) <strong>para</strong> cumprir um<br />
propósito comum. A condição (b) significa a disposição de sacrificar o controle da própria conduta<br />
em benefício da coordenação. Como isso depende de cada indivíduo que compõe o grupo, o<br />
sistema global é instável, pois depende do estado de satisfações e insatisfações das pessoas dentro<br />
de cada organização. A condição (c) significa que cada organização tem um objetivo, mas que por<br />
si só não produz cooperação, a não ser quando aceito pelos participantes do grupo. Além de seu<br />
caráter objetivo, o fim a ser alcançado por uma empresa tem um significado subjetivo <strong>para</strong> aqueles<br />
que dela participam. Uma das funções do executivo <strong>cons</strong>iste em introduzir a crença na existência<br />
real do propósito comum. A continuidade de uma organização não depende apenas dessa habilidade<br />
112
executiva em propagar, mas também da habilidade em rever e renovar o propósito. Outra função do<br />
executivo é a comunicação, que liga o propósito à disposição individual de cooperar.<br />
� Com base nos resultados de alguns dos experimentos de Hawtorne, Barnard enfatiza que a<br />
comunicação não é apenas a escrita e falada, mas também aquela originada na habilidade de<br />
entender as situações e intenções não-verbalizadas. Essa capacidade é desenvolvida pela<br />
experiência e pelo treinamento. Para ilustrar essas situações e intenções não-verbalizadas é citado<br />
um exemplo: durante os Estudos de Hawthorne os pesquisadores identificaram um prática – o<br />
binging – admitida como legítima dentro dos grupos informais tanto como brincadeira como <strong>para</strong><br />
demonstrar descontentamento ou reprovação. Qualquer comportamento que infringisse as regras<br />
(informais) estabelecidas pelo grupo ou pela fração dominante desse grupo estaria sujeito a uma<br />
sanção: um dos trabalhadores daria um soco com toda a força possível no antebraço de um<br />
companheiro; aquele que recebia o golpe não reclamava mas ficava subentendido que tinha o<br />
direito de devolver o soco em quem o havia golpeado. O objetivo aparente e singelo dessa prática<br />
era verificar quem era capaz de golpear com mais força. Porém o binging tinha também caráter<br />
punitivo e era utilizado <strong>para</strong> ameaçar e impor a vontade da fração dominante em qualquer situação<br />
que houvesse discordância na prática, especialmente quando se tratasse de ultrapassar certos limites<br />
máximos de produção estabelecidos pelos grupos por iniciativa da gerência.<br />
� Outro aspecto importante das concepções de Barnard é o que relaciona a organização formal e<br />
informal. Na medida em que via se tornando eficaz, a organização informal vai se formalizando e<br />
explicitando suas atitudes e instituições.<br />
� No final do seu livro, enfatiza que o trabalho do executivo <strong>cons</strong>iste não tanto em organizar, mas em<br />
manter a organização em funcionamento eficaz. Isso requer certas habilidades: lealdade à<br />
organização e a seus objetivos; a flexibilidade, capacidade de adaptação, o tato, a coragem e,<br />
evidentemente, a capacidade de liderança, definida por ele como o poder que os indivíduos tem de<br />
inspirar cooperação, através da crença na compreensão comum, na possibilidade de sucesso e na<br />
satisfação dos indivíduos.<br />
B) McGregor, Douglas (1898-1964)<br />
� Em seu livro mais importante, O lado humano da empresa, de 1957, examina as motivações dos<br />
dirigentes de uma empresa. O texto foi escrito a partir de uma pesquisa realizada em conjunto com<br />
Alex Bavelas, financiada pela Fundação Sloan, sobre as características gerenciais. Como professor<br />
de Administração Industrial do MIT – Massachusets Institute of Technology, McGregor foi<br />
desenvolvendo suas teses numa postura crítica às concepções tradicionais ou clássicas de Taylor e<br />
Fayol. Segundo ele, o conceito tradicional de tarefa (no campo da administração) pode se<br />
apresentar em função de três proposições. E, <strong>para</strong> evitar as complicações introduzidas por um rótulo<br />
qualquer, ele denomina esse conjunto de proposições de Teoria X. As três proposições da teoria X,<br />
são as seguintes: 1) A administração é responsável pela organização dos elementos produtivos da<br />
empresa – dinheiro, materiais, equipamentos, pessoas – <strong>para</strong> realização de seus fins econômicos; 2)<br />
Com relação às pessoas, a administração é o processo de dirigir seus esforços, motivá-las, controlar<br />
suas ações e modificar seu comportamento <strong>para</strong> atender às necessidades da organização; 3) Sem<br />
essa intervenção ativa por parte da administração, as pessoas seriam indiferentes ou mesmo hostis<br />
às necessidades da organização.<br />
� Na raiz destas concepções existiriam diversas crenças menos explícitas, mas largamente difundidas<br />
sobre a natureza dos trabalhadores e que se poderiam resumir: a) O cidadão médio tem uma<br />
inerente ojeriza pelo trabalho e, se lhe for permitido, não trabalhará; b) Ao cidadão comum<br />
113
faltariam ambições, o gosto pela responsabilidade e pela liderança; c) O cidadão comum é<br />
fundamentalmente egocêntrico e indiferente às necessidades da organização; d) Sua própria<br />
natureza o leva a resistir às modificações; e) O cidadão comum é crédulo, não muito brilhante e está<br />
sempre disposto a acreditar em charlatões e demagogos. Assim sendo, as pessoas devem ser<br />
coagidas, controladas, dirigidas e ameaçadas com punições <strong>para</strong> que realizem o esforço necessário<br />
<strong>para</strong> que uma organização atinja seus objetivos. Para McGregor, os dirigentes das empresas se<br />
baseavam em proposições e crenças como estas. Consequentemente, as estruturas, diretrizes e<br />
práticas e seus programas administrativos refletiriam essas suposições.<br />
� Em contraposição à Teoria X, ele apresenta uma nova teoria da Administração que denomina de<br />
Teoria Y. Como assinala em seu livro The human side of the enterprise”...”necessitamos de uma<br />
nova teoria a respeito da tarefa de administrar pessoas, baseada em suposições mais adequadas a<br />
respeito da natureza humana e da motivação. Serei audacioso a ponto de sugerir as linhas gerais de<br />
tal teoria. Podemos chamá-la de Teoria Y”. Os elementos principais de tal teoria seriam: 1) A<br />
administração é responsável pela organização dos elementos produtivos da empresa – dinheiro,<br />
materiais, equipamentos, pessoas – <strong>para</strong> realização de seus fins econômicos; 2) As pessoas não são<br />
passivas ou resistentes por natureza às necessidades da organização. Elas tornam-se assim por sua<br />
experiência em outras organizações; 3) A motivação, o potencial de desenvolvimento e a<br />
capacidade de assumir responsabilidades e dirigir o comportamento <strong>para</strong> os objetivos da<br />
organização estão todos presentes nas pessoas. É responsabilidade da organização proporcionar<br />
condições <strong>para</strong> que as pessoas reconheçam e desenvolvam, por si próprias, tais características; 4) A<br />
tarefa essencial da administração é criar as condições orgânicas e métodos de operação mediante os<br />
quais as pessoas possam atingir melhor seus objetivos e orientar seus esforços em direção aos<br />
objetivos da organização.<br />
� Em resumo, <strong>para</strong> McGregor, a utilização de esforços físicos e mentais pelas pessoas – isto atividade<br />
de trabalho – seria algo tão natural quanto aquilo que acontece num jogo ou num momento de lazer.<br />
O cidadão típico não desgosta do trabalho; o controle externo e as ameaças de punição não são as<br />
únicas formas de fazer com que as pessoas trabalhem e realizem os objetivos de uma empresa.<br />
Além disso a recompensa pelo alcance de objetivos não é apenas a ausência de punições, mas a<br />
satisfação pessoal (do ego) de cada um por ter alcançado o objetivo ou ter realizado uma tarefa<br />
difícil pois na maioria dos casos as potencialidades do trabalhador médio não estariam sendo<br />
exploradas em sua totalidade. Isto é, a capacidade de desenvolver criativamente as tarefas e a<br />
imaginação <strong>para</strong> resolver problemas organizacionais encontra-se muito mais difundida (embora<br />
amortecida) entre as pessoas do que julga a concepção clássica. Para McGregor, a administração se<br />
destacaria como um processo de criação de oportunidades, realização de potenciais, remoção de<br />
obstáculos e encorajamento ao crescimento pessoal e profissional de cada um, e <strong>cons</strong>equentemente,<br />
da organização onde se inserem tais pessoas. Projetando tais concepções da teoria Y sobre a<br />
natureza dos trabalhadores <strong>para</strong> o interior das empresas, McGregor analisa as práticas e normas que<br />
é preciso modificar <strong>para</strong> que possam alcançar seus objetivos com maior facilidade e eficácia. Para<br />
ele, as relações entre a gerência de uma empresa e seus empregados são geralmente tensas porque<br />
partem das concepções da teoria X. Isto é, se a gerência nã controlar os trabalhadores e pressionálos<br />
<strong>para</strong> trabalhar, eles não trabalharão ou não o farão adequadamente. McGregor mostra-se, por<br />
exemplo, especialmente preocupado com as avaliações de desempenho. Esse método transformaria<br />
o chefe em juiz, e o resultado seria na maioria das vezes uma apreciação formal e artificial que não<br />
refletiria o real desempenho de um funcionário. Em substituição, sugere uma auto-avaliação, feita<br />
pelo próprio trabalhador e com seu superior atuando como assistente profissional, uma vez que,<br />
114
segundo a teoria Y, a gerência deve se <strong>cons</strong>iderar mais como um elemento de ajuda profissional, de<br />
a<strong>cons</strong>elhamento, que um fator de direção.<br />
� Devidos aos excessos e exageros que posturas polarizadas desse tipo estimularam, e também a<br />
algumas concepções ingênuas que permearam tais modelos, as teses de McGregor caíram em<br />
desuso durante os anos 70. É inegável contudo, o valor que representaram e a influência que<br />
exerceram em seu tempo sobre a ciência da administração. Quando morreu, o autor estava<br />
pre<strong>para</strong>ndo uma série de ensaios publicados postumamente (The Professional Manager – O<br />
Administrador Profissional) e esperava-se que este texto fosse uma continuação ou contivesse<br />
aprofundamentos e explicações sobre a obra anterior, o que não aconteceu. Dessa forma, algumas<br />
críticas às suas idéias, especialmente sobre o caráter utópico e lírico da teoria Y, ou sobre o<br />
maniqueísmo de suas concepções como um todo, não puderam ser respondidas – o que não diminui<br />
o valor de suas contribuições <strong>para</strong> o desenvolvimento da ciência da administração.<br />
iv. Teoria do Desenvolvimento Organizacional (tentativa de dar condições de operação<br />
<strong>para</strong> as concepções administrativas voltadas <strong>para</strong> a motivação no trabalho e a<br />
natureza do homem)<br />
Surgiu no início dos anos ‟60, graças à contribuição de vários autores que, preocupados com as<br />
idéias sobre o homem e suas organizações e o ambiente em que trabalham, em certo sentido<br />
desenvolveram e deram um desdobramento prático e operacional às concepções da escola behaviorista.<br />
A motivação central <strong>para</strong> esse tipo de abordagem decorreu das dificuldades de operacionalização das<br />
concepções das diferentes abordagens existentes até então e dos avanços representados pelas teorias de<br />
Maslow, McGregor e Herzberg, todas elas voltadas <strong>para</strong> a motivação no trabalho e a natureza do<br />
homem. A criação, a partir de 1947, das primeiras pesquisas de laboratório sobre o comportamento de<br />
grupos; o resultado mais interessante – a educação em laboratório, proporcionada pelo treinamento da<br />
sensitividade; a publicação em 1964, por Leland Bradford e psicólogos do National Training<br />
Laboratory, do livro T Group theory and laboratory methods, com os resultados de suas experiências<br />
com grupos T, e as transformações sofridas pelas empresas tanto do ponto de vista organizacional<br />
quanto da escala de produção, <strong>para</strong> o enfrentamento de um mundo cada vez mais competitivo,<br />
contribuíram <strong>para</strong> a introdução dessas novas tendências do pensamento administrativo. Em síntese, os<br />
elementos centrais dessa abordagem <strong>cons</strong>istem no exame de quatro dimensões básicas, <strong>cons</strong>tituídas<br />
pelo ambiente, a organização, o grupo e o indivíduo, <strong>para</strong> observando a interdependência entre elas,<br />
realizar um diagnóstico da situação que permitia uma mudança, <strong>para</strong> que se possam atingir os objetivos<br />
da empresa.<br />
a. Hierarquia das necessidades de Maslow<br />
Classificação hierarquizada das necessidades humanas, desenvolvida por A.H. Maslow em<br />
1943, nos USA, partindo do princípio de que, uma vez satisfeita uma necessidade de uma pessoa ou de<br />
um grupo, emerge imediatamente uma necessidade de nível superior (mais elevado), que se encontra<br />
logo em seguida. Dessa forma, uma vez que uma necessidade é satisfeita, ela deixa de ser motivadora<br />
das ações ou reivindicações de pessoas ou grupos. Ao contrário, se uma necessidade não é satisfeita, os<br />
indivíduos não buscam aquelas necessidades que se encontram em níveis mais elevados na hierarquia.<br />
No entanto, existiria uma certa interdependência entre os vários níveis de necessidades de tal forma<br />
115
que, antes da satisfação total de uma necessidade determinada, já apareceria a busca da satisfação da<br />
necessidade imediatamente seguinte na hierarquia. Para Maslow, existiriam cinco níveis de necessidade<br />
humanas: 1) necessidades fisiológicas básicas, com alimento, abrigo, etc.; 2) necessidades de<br />
segurança; 3) necessidade de pertencer a um grupo; 4) auto-estima e prestígio; 5) auto-realização e<br />
sentimento de ter alcançado objetivos.<br />
b. Teoria de Herzberg<br />
Também chamada de teoria dos dois fatores, resultou de pesquisas realizadas por Frederick<br />
Herzberg nos USA, no final dos anos ‟50 e início dos ‟60, sobre a motivação no trabalho. Estas<br />
pesquisas levaram à conclusão ou a uma teoria geral de que existem dois conjuntos de fatores<br />
complementares no que se refere à realização do trabalho e à motivação dos trabalhadores: 1) conjunto<br />
formado por elementos “motivadores” ou de “satisfação”, isto é, aqueles que criam o interesse pelo<br />
trabalho e encorajam a aplicação das energias dos trabalhadores <strong>para</strong> sua execução; 2) fatores que<br />
causam “insatisfação”, também chamados de “higiene”, ou fatores de manutenção associados com o<br />
meio ou o entorno em que se realiza o trabalho. Embora esses últimos fatores não criem o interesse<br />
pelo trabalho, se alcançarem um nível aceitável, impedem a frustração e ajudam as pessoas a justificar<br />
seu empenho como por exemplo boas condições de trabalho, segurança no emprego, remuneração, etc.<br />
Ambos os tipos de fatores devem se satisfazer idealmente. A teoria destaca a dualidade da motivação:<br />
os trabalhadores atuam em relação ao conteúdo de seu trabalho de uma forma e, em relação às<br />
condições do entorno no qual o trabalho se realiza, de outra. Um trabalho interessante necessita estar<br />
associado com o bom entorno no qual ele se realiza. Inversamente, boas condições de trabalho isoladas<br />
não são suficientes mas devem estar associadas a um sentimento de que o trabalho realizado é<br />
interessante e significativo. Um dos resultados dessa teoria foi o aparecimento de muitas abordagens de<br />
enriquecimento de funções (job enrichment) <strong>para</strong> aumentar a motivação e satisfação no trabalho.<br />
v. Teoria da Contigência (Escola Contingencial)<br />
A principal concepção desta abordagem <strong>cons</strong>iste em que os métodos administrativos aplicados às<br />
organizações são relativos, isto é, dependem das condições ambientais num sentido amplo,<br />
especialmente naquilo que é externo à organização. Assim, não existiriam regras administrativas<br />
absolutas <strong>para</strong> que uma organização alcançasse seus objetivos com eficácia. As condições ambientais<br />
são <strong>cons</strong>ideradas variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são as variáveis<br />
dependentes ou, em outras palavras, estas últimas tem que se adaptar às primeiras [ y = f(x), sendo y =<br />
técnicas administrativas e x = condições ambientais ]. A Teoria da Contingência teve origem numa<br />
série de pesquisas realizadas <strong>para</strong> verificar quais as estruturas organizacionais mais eficazes <strong>para</strong> cada<br />
tipo de indústria, com o objetivo de estabelecer modelos. Para surpresa dos pesquisadores, cada tipo de<br />
organização variava de acordo com o ambiente externo, o que significa que não havia um caminho<br />
universal que conduzisse as organizações a uma situação de excelência, independentemente do<br />
ambiente em que estavam inseridas. A pesquisa mais importante entre estas foi a desenvolvida por Paul<br />
R. Lawrence e Jay W. Lorsch (As empresas e o ambiente: diferenciação e integração administrativa)<br />
116
vi. Escola Estruturalista (v. também, teoria da Burocracia)<br />
A polarização entre as concepções da Escola Clássica e a da Escola de Relações Humanas e o fato<br />
de que ambas eram insuficientes <strong>para</strong> o enfrentamento das novas questões surgidas no campo da<br />
administração pre<strong>para</strong>ram o terreno <strong>para</strong> o surgimento da concepção estruturalista. Apoiados nas<br />
concepções de Max Weber, os representantes dessas concepções desenvolveram um método analítico<br />
<strong>para</strong> compreensão da dinâmica das organizações que estuda os fenômenos com relação a uma<br />
totalidade, isto é, partindo do princípio de que o todo não é a soma de suas partes e sim algo maior do<br />
que uma simples soma ou justaposição. Nesse sentido é importante a posição que cada parte ocupa no<br />
todo, uma vez que o relacionamento entre as partes e as respectivas posições determina que o todo seja<br />
maior do que as partes. Partindo desta concepção, o Estruturalismo retoma a questão da interação dos<br />
grupos sociais no interior de uma organização e projeta esta questão <strong>para</strong> o estudo da interação do<br />
conjunto das organizações no âmbito da sociedade. Se <strong>para</strong> a Escola Clássica o que caracterizaria o<br />
homem seria o seu comportamento de “Homem Econômico” (Homo Economicus), e <strong>para</strong> a Escola de<br />
Relações Humanas o “Homem Social” <strong>para</strong> a Escola Estruturalista a característica fundamental seria o<br />
comportamento do “Homem Organizacional”, isto é, aquele que desempenha diferentes papéis em<br />
diferentes organizações. Os autores mais importantes dessa corrente de pensamento são: Amitai<br />
Etzioni, James D. Thompson, Victor A. Thompson, Peter Blau, Jean Viet e Burton R. Clarke.<br />
vii. Escola NeoClássica<br />
Também denominada Escola Operacional, Escola do Processo Administrativo ou mesmo<br />
Abordagem Universalista da Administração, esta escola se distingue pela grande ênfase colocada nos<br />
aspectos práticos da administração e pela busca de resultados. Os autores que compõem esta corrente<br />
de pensamento resgatam algumas das concepções da Escola Clássica e reagem contra a influência das<br />
concepções comportamentais na ciência da administração, especialmente no tocante à questão da<br />
importância dos aspectos objetivos, como os econômicos relacionados com a existência das<br />
organizações. As concepções da Escola Clássica como o problema da autoridade e da responsabilidade,<br />
a organização linear e funcional, a departamentalização, são retomadas e repensadas dentro de nova<br />
abordagem. As principais características desta escola seriam a ênfase na prática da administração, a<br />
retomada de alguns postulados da Escola Clássica, isto é, dos princípios gerais de administração, e uma<br />
atenção especial aos objetivos e resultados alcançados. Embora tenha como ponto de referência central<br />
a Escola Clássica, os representantes desta escola também se caracterizam pelo ecletismo na medida em<br />
que assimilam concepções da Escolas de Relações Humanas, Behaviourista, Estruturalista e da Teoria<br />
de Sistemas. Seus representantes mais destacados são: Peter Drucker, Harold Koontz, Cyril O‟Donnell,<br />
William Newman e Ernest Dale.<br />
viii. Teoria dos Sistemas<br />
Concepção desenvolvida por Ludwig von Bertalanffy, da Universidade de Alberta (Canadá), cujos<br />
primeiros escritos sobre o tema datam dos anos 20. O principal elemento desta teoria <strong>cons</strong>iste na<br />
elaboração de princípios e modelos de desenvolvimento gerais (totalizadores, estruturados), seja no<br />
campo da física, da biologia ou das ciências sociais. De acordo com esta concepção, existiria uma<br />
tendência <strong>para</strong> a integração das ciências naturais ou sociais, e tal integração se daria por intermédio da<br />
teoria dos sistemas (ou Teoria Geral dos Sistemas). Essa nova formulação contribuiria <strong>para</strong> a conquista<br />
de uma teoria exata no campo das ciências sociais, o que indicaria uma tendência <strong>para</strong> a unidade da<br />
117
ciência. No campo da administração a teoria dos sistemas trouxe elementos importantes <strong>para</strong> a<br />
explicação da dinâmica do funcionamento das empresas. Conceitos como totalidade, entropia,<br />
teleologia e finalidade, entre outros, contribuíram <strong>para</strong> uma melhor compreensão do funcionamento das<br />
empresas.<br />
ix. Outros autores e pesquisadores (em especial no século XX)<br />
A) Edwards Deming (1900-1994)<br />
Engenheiro e estatístico norte americano que introduziu os conceitos de controle de qualidade<br />
no Japão, a partir dos anos 50. Sua importância foi tão grande <strong>para</strong> o desenvolvimento da economia<br />
japonesa no pós-guerra que, em 1960, o imperador lhe conferiu a Medalha da Segunda Ordem do<br />
Tesouro Sagrado.<br />
Ainda no Japão, foi criado pela Associação Japonesa de Ciência e Engenharia (JUSE) o prêmio<br />
Deming (Deming Prize) e é distribuído anualmente <strong>para</strong> as empresas que mais se destacaram no<br />
desenvolvimento da qualidade dos seus produtos.<br />
Também nos Estados Unidos sua contribuição é reconhecida, tendo recebido premiações<br />
significativas (em 1956 a medalha Shewart de Qualidade e em 1983 o prêmio Samuel S. Wilks da<br />
Assoc. Americana de Estatística). Apesar de começado a carreira no campo específico do controle de<br />
qualidade suas contribuições vão mais além abordando outros temas de administração, especialmente<br />
os relacionados com o estilo de gerência.<br />
Em seu livro Qualidade: a revolução da administração ele estabelece os 14 princípios básicos da<br />
prática administrativa:<br />
I. Estabeleça <strong>cons</strong>tância de propósitos <strong>para</strong> a melhora do produto e do serviço, objetivando<br />
tornar-se competitivo e manter-se em atividade, bem como criar emprego.<br />
II. Adote a nova filosofia. Estamos numa nova era econômica. A administração ocidental deve<br />
acordar <strong>para</strong> o desafio, <strong>cons</strong>cientizar-se de suas responsabilidades e assumir a liderança no<br />
processo de transformação.<br />
III. Deixe de depender de inspeção <strong>para</strong> atingir a qualidade. Elimine a necessidade de inspeção<br />
em massa, introduzindo a qualidade no produto desde seu primeiro estágio.<br />
IV. Cesse a prática de aprovar orçamentos com base no preço. Ao invés disso, minimize o custo<br />
total. Desenvolva um único fornecedor <strong>para</strong> cada ítem, num relacionamento de longo prazo<br />
fundamentado na lealdade e na confiança.<br />
V. Melhore <strong>cons</strong>tantemente o sistema de produção e de prestação de serviços, de modo a<br />
melhorar a qualidade e produtividade e, <strong>cons</strong>equentemente, reduzir de forma sistemática os<br />
custos.<br />
VI. Institua treinamento no local de trabalho.<br />
VII. Institua liderança. O objetivo da chefia deve ser o de ajudar as pessoas e as máquinas e<br />
dispositivos a executarem um trabalho melhor. A chefia administrativa está necessitando de<br />
uma revisão geral, tanto quanto a chefia dos trabalhadores de produção.<br />
VIII. Elimine o medo, de tal forma que todos trabalhem de modo eficaz <strong>para</strong> a empresa.<br />
IX. Elimine as barreiras entre os departamentos. As pessoas engajadas em pesquisas, projetos,<br />
vendas e produção devem trabalhar em equipe, de modo a resolverem problemas de<br />
produção e utilização do produto ou serviço.<br />
118
X. Elimine lemas, exortações e metas <strong>para</strong> a mão de obra que exijam nível zero de falhas e<br />
estabeleçam novos níveis de produtividade. Tais exortações apenas geram inimizades, visto<br />
que o grosso das causas da baixa qualidade e da baixa produtividade encontram-se no<br />
sistema, estando, portanto, fora do alcance dos trabalhadores.<br />
XI. Elimine padrões de trabalho (quotas) na linha de produção. Substitua-os pela liderança;<br />
elimine o processo de administração por cifras, objetivos numéricos. Substitua-os pela<br />
administração por processos através do exemplo de líderes.<br />
XII. Remova as barreiras que privam o operário horista de seu direito de orgulhar-se de seu<br />
desempenho. A responsabilidade dos chefes deve ser mudada de números absolutos <strong>para</strong> a<br />
qualidade; remova as barreiras que privam as pessoas da administração e da engenharia de<br />
seu direito de orgulhar-se de seu desempenho; isso significa, inter alia, a abolição da<br />
avaliação anual de desempenho ou de mérito, bem como da administração por objetivos.<br />
XIII. Institua um forte programa de educação e auto-aprimoramento.<br />
XIV. Engaje todos da empresa no processo de realizar a transformação. A transformação é de<br />
competência de todo mundo.<br />
B) Outros: Ohno, Taiichi<br />
Vice presidente da Toyota que, entre 1960 e 1970, implementou o sistema de produção Just In<br />
Time/Kanban.<br />
O Quadro apresentado na página seguinte permite visualizar de forma sintética a evolução<br />
histórica das escolas ao longo da história do capitalismo.<br />
119
Períodos Históricos<br />
Linha do tempo: Escolas Administrativas e Principais Autores, Protagonistas e Teorias<br />
Séculos e Décadas<br />
Meados Séc. XVIII Séc. XIX<br />
Séc. XX (décadas)<br />
Séc. XXI<br />
Autores, Protagonistas Início Séc. XIX ' 40 ' 50 ' 60 ' 70 ' 80 ' 90 ' 00 ' 10 ' 20 ' 30 ' 40 ' 50 ' 60 ' 70 ' 80 ' 90 ' 00<br />
e Focos de estudos e trabalhos<br />
I Rev. Industrial (Grande Indústria) II Rev. Industrial (en. elétrica/transporte) III Rev. Industrial (Informacional)<br />
(1)<br />
Fayol, Henri (1841-1925) Processo administrativo e papel dos gerentes * * * * *<br />
Towne, Henry R. (1844-1924) * * * *<br />
Taylor, Frederick W. (1856-1915) Princípios da Administração Científica * * * *<br />
Gantt, Henry Laurence (1861-1919) Treinamento Profissionalizante * * *<br />
Ford, Henry (1863-1947) Princípios da Produção em Massa * * * * * *<br />
Munsterberg, Hugo (1863-1916) Psicologia e Eficiência Industrial * * * *<br />
Gilbreth, Frank (1868-1924) Estudo de Movimentos<br />
(2)<br />
* * *<br />
Follet, Mary Parker (1869-1933) * * * *<br />
Roethlisberger, Fritz * * *<br />
Mayo, George Elton (1880-1949)<br />
(3)<br />
* * * *<br />
Barnard, Chester ((1886-1961) * * * * *<br />
Mc Gregor, Douglas (1898-1964) * * * * *<br />
Vroom, Victor - Teoria da Expectativa * *<br />
Herzberg, Frederick Teoria dos Dois Fatores * *<br />
Leland, Bradford Teoria do Desenvolvimento Organizacional * *<br />
Blake, W. & Mouton, J. Grid Gerencial<br />
(4)<br />
* *<br />
Drucker, Peter * * * * *<br />
Koontz, Harold * * * * *<br />
O'Donnell, Cyril * * * * *<br />
Newman, William * * * * *<br />
Dale, Ernest<br />
(5)<br />
* * * * *<br />
Lawrence, Paul R. * * * * *<br />
Lorsch, Jay W.<br />
(6)<br />
* * * * *<br />
Deming, Edwards (1900-1994) Teoria / Gerenciamento da Qualidade Total * * * * * *<br />
Mintzberg, Henry Os papeis gerenciais * * * * * *<br />
Weber, Max (1864-1920) Tipo ideal (não prescritivo) de burocracia * * * * * * *<br />
Fonte: Sandroni, Paulo - Karoshi - O jôgo da Qualidade (Ed. Best Seller) e Dicionário de Administração e Finanças (Ed. Best Seller)<br />
Legenda (das Escolas ou Abordagens)<br />
(1) Clássica ou Científica<br />
(2) Relações Humanas<br />
(3) Behaviorista<br />
(4) Clássica<br />
(5) Contingencial<br />
(6) Outras tendências<br />
Legenda dos períodos<br />
********************** Período provável do auge da implantação, vigência ou influência das propostas<br />
1914-18 e 1939-45 Períodos de Guerras Mundiais<br />
120
II) A “segunda” e a “terceira” Revoluções Industriais: evolução da infraestrutura<br />
produtiva, mudanças nas formas de competição intercapitalista e impactos da<br />
chamada “competitividade global” sobre as estruturas e as estratégias das empresas<br />
(ou sobre as formas de administrar as empresas)<br />
A idéia de que as empresas devem pre<strong>para</strong>r-se <strong>para</strong> concorrer no plano mundial ou, quando menos,<br />
nos mercados regionais privilegiados (os chamados blocos comerciais), tem dominado, nos últimos<br />
quinze ou vinte anos, as análises que buscam estabelecer os fundamentos <strong>para</strong> a formulação das<br />
estratégias competitivas das empresas.<br />
Vejamos, de forma breve, em primeiro lugar, uma rápida ilustração destes espaços privilegiados de<br />
comércio internacional e em seguida as principais questões estratégicas que se colocam <strong>para</strong> as<br />
empresas diante da possibilidade ou da necessidade de competir globalmente.<br />
Os principais blocos econômicos e comerciais, bem como suas características mais importantes, são<br />
apresentados a seguir 7 .<br />
1) ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI)<br />
Criada em 12 de agosto de 1980 pelo Tratado de Montevidéu, a ALADI objetivou criar um mercado<br />
comum latino-americano, a longo prazo e de maneira gradual, mediante a concessão de preferências<br />
tarifárias e acordos regionais e de alcance parcial.<br />
A ALADI substituiu a ALALC, a antiga Associação Latino-Americana de Livre Comércio, que foi<br />
criada em 1960.<br />
A ALADI congrega uma população de 411,4 milhões de habitantes, formando um PIB de US$ 1,66<br />
trilhão, gerando exportações no valor de US$ 235 bilhões e importações que alcançam os US$ 225<br />
bilhões.<br />
Cuba é o mais recente país-membro da ALADI.<br />
São Países-Membros da ALADI: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México,<br />
Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.<br />
Outras informações: http://www.aladi.org/<br />
2) ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS (ALCA)<br />
A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma idéia lançada pelos Estados Unidos, surge em<br />
1994 com o objetivo de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países americanos, exceto Cuba.<br />
A ALCA tem o prazo mínimo de sete anos <strong>para</strong> sua formação, mas enfrenta oposição <strong>para</strong> sua<br />
implementação, tanto do Congresso dos Estados Unidos quanto dos demais países do Continente<br />
Americano.<br />
Se implantada, a ALCA poderá transformar-se em um dos maiores blocos comerciais do mundo,<br />
superando mesmo a União Européia. Seu Produto Interno Bruto (PIB) será da ordem de 10 trilhões de<br />
dólares (1,5 trilhão a mais que a UE), e sua população alcançará os 784 milhões de habitantes, mais do<br />
dobro da registrada na União Européia.<br />
7 Fontes: CONGRESSO NACIONAL - COMISSÃO PARLAMENTAR -CONJUNTA DO MERCOSUL -<br />
REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA - http://www.camara.gov.br/mercosul/ e site do Banco Mundial:<br />
http://www.bancomundial.org/<br />
121
O governo do Presidente Bill Clinton propõe a implementação imediata de acordos parciais, com<br />
abertura total do mercado em 2005, mas enfrenta a oposição do Partido Republicano, majoritário no<br />
Congresso norte-americano, que não cede ao pedido de autorização <strong>para</strong> aplicar o instrumento<br />
conhecido como "fast track", ou seja, de negociação rápida e sem qualquer interferência do Congresso<br />
quanto à apresentação de emendas à propostas de acordos comerciais apresentados pelo Executivo.<br />
Nesse sentido, o Brasil e o Mercosul prevêem grande dificuldade na adaptação de suas economias a<br />
essa proposta de integração, preferindo dar início ao processo de negociação em 2005.<br />
São Países-Membros da ALCA: Antigua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia,<br />
Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, El Salvador, Equador, Estados Unidos da<br />
América, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá,<br />
Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas,<br />
Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.<br />
Outras informações: http://www.ftaa-alca.org/<br />
3) ACORDO COMERCIAL SOBRE RELAÇÕES ECONÔMICAS ENTRE<br />
AUSTRÁLIA E NOVA ZELÂNDIA (ANZCERTA)<br />
Criado em 1983, tornou-se o principal instrumento de administração das relações econômicas entre<br />
Austrália e Nova Zelândia. Foi planejado <strong>para</strong> transformar-se em um acordo entre os dois países, cujo<br />
principal objetivo é a criação de uma área de livre comércio. Entre 1983 e 1999, o ANZCERTA elevou<br />
as relações comerciais australiano-neozelandezas em mais de 400%, o que significou um volume de<br />
transações acima de 10 bilhões de dólares australianos, em 1998.<br />
Além do protocolo geral destinado a acelerar o livre comércio de mercadorias entre os dois países, o<br />
ANZCERTA destaca-se pelo seu protocolo sobre livre comércio na área de serviços, o primeiro do<br />
mundo globalizado.<br />
Vale destacar que o ANZCERTA assinou um acordo inicial com o ASEAN, em 1995, <strong>para</strong> facilitar os<br />
fluxos de comércio e de investimentos entre as duas regiões. No momento, os dois blocos<br />
estabeleceram um grupo de trabalho que estuda a possibilidade de criação de uma área de livre<br />
comércio, reunindo o ANZCERTA e o ASEAN, até 2010.<br />
O bloco reúne uma população de 22,5 milhões de habitantes, com um PIB de US$ 468,1 bilhões, um<br />
montante de exportação no valor de US$ 70,3 bilhões e importações que atingem os US$ 75,7 bilhões.<br />
São países-membros do ANZCERTA: Austrália e Nova Zelândia.<br />
Outras informações:<br />
http://www.dfat.gov.au/geo/spacific/nz/anz_cer/anz_cer.html<br />
4) FÓRUM ECONÔMICO DA ASIA E DO PACÍFICO (APEC)<br />
Organismo intergovernamental <strong>para</strong> <strong>cons</strong>ulta e cooperação econômica, na verdade <strong>cons</strong>titui-se em um<br />
bloco econômico <strong>para</strong> promover a abertura de mercados entre vinte países, com Hong Kong<br />
representando a China.<br />
A APEC foi oficializada em 1993 e pretende estabelecer a livre troca de mercadorias entre todos os<br />
países do grupo até 2020.<br />
122
A APEC é, sem sombra de dúvida, um poderoso bloco econômico, pois responde por cerca de metade<br />
do PIB e 40% do comércio mundial.<br />
O bloco reúne uma população de 2.173,2 milhões de habitantes, alcançando um PIB de US$ 17,2<br />
trilhões, exportações no valor de US$ 2,5 trilhões e importações de US$ 2,150 trilhões.<br />
São Países-Membros da APEC: Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia,<br />
Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul, Tailândia e Estados Unidos da América, desde 1989; China, Hong<br />
Kong (China), Formosa (Taiwan), desde 1991; México, Papua Nova Guiné, desde 1993; Chile, a partir<br />
de 1994; e Peru, Federação Russa e Vietnã, a partir 1998.<br />
Outras informações: http://www.apecsec.org.sg/<br />
5) ASSOCIAÇÃO DE NAÇÕES DO SUDESTE ASIÁTICO (ASEAN)<br />
Surgiu em 1967, liderada pela Tailândia, com o objetivo de assegurar a estabilidade política e de<br />
acelerar o processo de desenvolvimento da região.<br />
O bloco busca promover o desenvolvimento econômico, social e cultural da região através de<br />
programas cooperativos, salvaguardando a estabilidade política e econômica da região, bem como<br />
servindo como fórum de discussão das diferenças intra-regionais.<br />
Atualmente a ASEAN encontra-se empenhada em atingir uma zona de livre comércio até 2008.<br />
Hoje, o bloco representa um mercado de 510 milhões de pessoas e um PIB de US$ 750,7 bilhões, com<br />
exportações da ordem de US$ 350 bilhões e importações alcançando os US$ 346 bilhões.<br />
São Países-Membros da ASEAN: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia, desde 1967;<br />
Brunei, a partir de 1984; Vietnã desde 1985; Mianmar e Laos a partir de 1997 e Camboja desde 1999.<br />
Outras informações: http://www.asean.or.id/<br />
6) MERCADO COMUM E COMUNIDADE DO CARIBE (CARICOM)<br />
É um bloco de cooperação econômica e política, criado em 1973, formado por quatorze países e quatro<br />
territórios da região caribenha.<br />
Em 1998, Cuba foi admitida como observadora do Caricom.<br />
O bloco foi formado por ex-colônias de potências européias que, após a sua independência, viram-se na<br />
contingência de aliar-se <strong>para</strong> suprir limitações decorrentes da sua nova condição e acelerar o seu<br />
processo de desenvolvimento econômico.<br />
O Caricom tem uma população de 7,2 milhões de habitantes, um PIB de US$ 20,9 bilhões, exportações<br />
girando em torno dos US$ 7 bilhões e importações alcançando os US$ 9,8 bilhões.<br />
São Países-Membros do CARICOM: Antigua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica,<br />
Granada, Guiana, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e Granadinas,<br />
Suriname e Trinidad e Tobago.<br />
Outras informações: http://www.caricom.org/<br />
7) COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES (CEI)<br />
123
Criada em 1991, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) <strong>cons</strong>titui-se num bloco políticoeconômico<br />
que reúne 12 das 15 repúblicas que formavam a antiga União das Repúblicas Socialistas<br />
Soviéticas (URSS).<br />
Ficaram de fora apenas os três países bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia, sendo que este último está<br />
solicitando ingresso na União Européia.<br />
A CEI, com uma população de 273,7 milhões de habitantes, está organizada em um confederação de<br />
Estados, que preserva a soberania de cada um. A Comunidade prevê a centralização de Forças Armadas<br />
e o uso de uma moeda comum: o Rublo. Seu PIB é estimado em US$ 587,8 bilhões.<br />
São Países-Membros da CEI: Armênia, Belarus, Cazaquistão, Federação Russa, Moldávia, Quirquistão,<br />
Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão, desde 1991, e Geórgia e Azerbaidjão, a partir<br />
1993.<br />
Outras informações:<br />
http://www.rochester.r12.mn.us/kellogg/rodgers/cis/thecio.htm<br />
8) ASSOCIAÇÃO EUROPÉIA DE LIVRE COMÉRCIO (EFTA)<br />
A EFTA foi <strong>cons</strong>tituída pela Convenção de Estocolmo, assinada em <strong>04</strong> de janeiro de 1960, tendo como<br />
primeiros parceiros Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Reino Unido (Inglaterra,<br />
Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte).<br />
A EFTA surgiu como uma oposição à Comunidade Econômica Européia (CEE), pois seus Estados-<br />
Membros procuravam evitar o que <strong>cons</strong>ideravam pesados compromissos econômicos e institucionais,<br />
pois enquanto o Reino Unido buscava total liberdade econômica, sem maiores compromissos<br />
institucionais, a Áustria, a Suécia e a Suíça defendiam o direito à soberania política.<br />
Com o fortalecimento da Comunidade Européia, a EFTA perdeu a maioria de seus integrantes, pois<br />
Áustria, Dinamarca, Portugal, Suécia, Reino Unido e Finlândia, que entrou em 1986, aderiram ao bloco<br />
de maior magnitude.<br />
Hoje, a EFTA restringe-se à associação de apenas quatro países, a saber, Islândia, Liechtenstein,<br />
Noruega e Suíça.<br />
O grupo abriga uma população de 12 milhões de habitantes, que gera um PIB US$ 416,713 bilhões,<br />
exportações num total de US$ 126,4 bilhões e importações de US$ 113, 4 bilhões.<br />
Em 02 de maio de 1992, na cidade do Porto, Portugal, a EFTA assinou com a União Européia um<br />
acordo criando o Espaço Econômico Europeu (EEE), o qual viabilizará, não só aumento do volume de<br />
comércio com a União Européia como também a participação dos seus quatro Estados-Membros em<br />
outros programas da União Européia.<br />
São Países-Membros da EFTA: Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.<br />
Outras informações: www.efta.int<br />
9) MERCADO COMUM CENTRO-AMERICANO (MCCA)<br />
Surgiu em 1960 na tentativa de promover a paz na região, afetada por graves conflitos bélicos.<br />
Em 4 de junho de 1961 foi assinado o Tratado de Integração Centro-Americana com o objetivo de criar<br />
um mercado comum nessa região.<br />
124
Na mesma época foi criado o Parlamento Centro-Americano (PARLACEN) e a Corte Centro-<br />
Americana de Justiça, que ainda não possui caráter permanente.<br />
Hoje, os Estados-Membros do MCCA designaram um grupo de trabalho <strong>para</strong> pre<strong>para</strong>r o processo de<br />
<strong>cons</strong>tituição da União Centro-Americana, nos mesmos moldes da União Européia.<br />
O bloco reúne uma população de 33,4 milhões de habitantes, possuindo um PIB de US$ 49,4 bilhões,<br />
com exportações no valor de US$ 14,3 bilhões e importações alcançando os US$ 18,1 bilhões.<br />
São Países-Membros do MCCA: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.<br />
Outras informações: http://www.mundolatino.org/i/politica/integrac.htm<br />
10) MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL)<br />
Criado em 26 de março de 1991, pelo Tratado de Assunção, o MERCOSUL objetiva estabelecer a livre<br />
circulação de pessoas, bens, serviços e fatores produtivos no longo prazo, quando espera-se que o<br />
maior número de economias latino-americanas estejam integradas ao bloco.<br />
No presente momento os países-membros fundadores, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai esforçamse<br />
por adotar uma política comercial comum e pela coordenação de posições conjuntas em fóruns<br />
internacionais.<br />
Vale destacar os esforços dos países-membros em projetar a coordenação de políticas<br />
macroeconômicas e setoriais bem como as aproximações no sentido da harmonização das legislações<br />
nacionais, com vistas a agilizar o processo inicial de integração entre suas economias, estudando-se<br />
inclusive a criação de uma moeda única.<br />
Bolívia e Chile são países associados ao Mercosul e que têm participado na qualidade de observadores<br />
em quase todos os fóruns de negociação do bloco. No momento, Bolívia e Chile negociam a sua adesão<br />
como países-membros do Mercosul.<br />
Negociações com o México e Comunidade Andina estão em fase adiantada, com vistas ao seu ingresso<br />
na condição de observadores.<br />
O MERCOSUL integra uma população de 220 milhões de habitantes, movimentando um PIB de US$<br />
1,250 trilhão, o que gera exportações no total de US$ 85 bilhões e importações no valor de US$ 95<br />
bilhões.<br />
São Países-Membros e Associados do MERCOSUL: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e,<br />
associados, Bolívia e Chile.<br />
11) ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE – NAFTA<br />
Constitue-se em um instrumento de integração das economias dos EUA, do Canadá e do México.<br />
O NAFTA (North America Free Trade Agreement) foi iniciado em 1988, entre norte-americanos e<br />
canadenses, e por meio do Acordo de Liberalização Econômica, assinado em 1991, formalizou-se o<br />
relacionamento comercial entre os Estados Unidos e o Canadá. Em 13 de agosto de 1992, o bloco<br />
recebeu a adesão dos mexicanos.<br />
O NAFTA entrou em vigor em 1º de janeiro de 1994, com um prazo de 15 anos <strong>para</strong> a total eliminação<br />
das barreiras alfandegárias entre os três países, estando aberto a todos os Estados da América Central e<br />
do Sul.<br />
125
O NAFTA <strong>cons</strong>olidou o intenso comércio regional no hemisfério norte do Continente Americano,<br />
beneficiando grandemente à economia mexicana, e aparece como resposta à formação da Comunidade<br />
Européia, ajudando a enfrentar a concorrência representada pela economia japonesa e por este bloco<br />
econômico europeu.<br />
O bloco econômico do NAFTA abriga uma população de 4<strong>04</strong>,5 milhões de habitantes, produzindo um<br />
PIB de US$ 8,8 trilhões, que gera US$ 959,4 bilhões de exportações e US$ 1,201 trilhão de<br />
importações.<br />
São Países-Membros do NAFTA: Estados Unidos, Canadá e México.<br />
Outras informações: www.nafta.net<br />
12) COMUNIDADE ANDINA, GRUPO ANDINO OU PACTO ANDINO (CAN)<br />
Em 26 de maio de 1969, pelo Acordo de Cartagena, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e<br />
Chile criaram uma União Aduaneira e Econômica <strong>para</strong> fazer restrições à entrada de capital estrangeiro,<br />
com base em estudos da Comissão Econômica <strong>para</strong> a América Latina (CEPAL), órgão da ONU.<br />
Em 1973, com a subida ao poder do General Augusto Pinochet, o Chile retirou-se do Pacto, abrindo sua<br />
economia ao mercado externo, principalmente ao norte-americano.<br />
Hoje, o grupo de países remanescentes objetiva criar um mercado comum, em função do processo de<br />
globalização econômica que exige a formação em bloco <strong>para</strong> melhor defesa de seus interesses e<br />
promoção integrada do seu desenvolvimento.<br />
Este bloco econômico reúne uma população de 99,8 milhões de habitantes, que gera um PIB de US$<br />
239 bilhões, com exportações alcançando os US$ 46,2 bilhões e importações no valor de US$ 36,4<br />
bilhões.<br />
São Países-Membros da CAN: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.<br />
Outras informações: http://www.comunidadandina.org/<br />
13) COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA ÁFRICA AUSTRAL -<br />
(SADC)<br />
Foi criada em 1992, <strong>para</strong> incentivar as relações comerciais entre seus 14 países membros.<br />
Tem o objetivo de criar um mercado comum, a médio prazo, seguindo o modelo básico da União<br />
Européia e alguns aspectos do Mercosul. Tem também o propósito de promover esforços <strong>para</strong><br />
estabelecer a paz e a segurança na conturbada região meridional africana.<br />
O bloco reúne uma população de 127,2 milhões de habitantes e produz um PIB de US$ 175,5 bilhões,<br />
exportando US$ 41,8 bilhões de sua produção e importando US$ 40 bilhões de produtos do exterior.<br />
São Países-Membros da SADC: África do Sul, Angola, Botsuana, Lesoto, Malavi, Maurício,<br />
Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Seicheles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e<br />
Zimbábue.<br />
Outras informações: http://www.sadcexpo.org/<br />
126
14) UNIÃO EUROPÉIA (UE)<br />
A União Européia representa o estágio mais avançado do processo de formação de blocos econômicos<br />
no contexto da globalização.<br />
Originada da Comunidade Econômica Européia (CEE), fundada em 1957, pelo Tratado de Roma, a<br />
União Européia (UE) é o segundo maior bloco econômico do mundo em termos de PIB: 8 trilhões de<br />
dólares.<br />
Formado por 15 países da Europa Ocidental, sua população é estimada em 374 milhões de habitantes.<br />
Em 1992 é <strong>cons</strong>olidado o Mercado Comum Europeu, com a eliminação das últimas barreiras<br />
alfandegárias entre os países-membros. Pelo Tratado de Maastricht (cidade da Holanda), a União<br />
Européia entra em funcionamento a partir de 1º de novembro de 1993.<br />
Dois outros tratados complementam o Tratado de Maastricht, um <strong>para</strong> tratar da União Política e o outro<br />
<strong>para</strong> cuidar da União Monetária e Econômica.<br />
O Parlamento Europeu, com sede em Estrasburgo, na França, <strong>para</strong> sessões plenárias, é formado por<br />
parlamentares eleitos pelas populações dos países-membros da União Européia. Em Luxemburgo,<br />
funciona a Secretaria Administrativa, e em Bruxelas, na Bélgica, realizam-se reuniões das Comissões<br />
Temáticas, assim como o Conselho de Ministros da União Européia e seu braço executivo, a Comissão<br />
Européia.<br />
O Euro é a moeda única criada pela União Européia, no momento sendo utilizada apenas em transações<br />
bancárias, desde 1º de janeiro de 1999. Existe previsão de lançamento de cédulas que começarão a<br />
circular na Europa com poder legal <strong>para</strong> efetuar quaisquer pagamentos, e as moedas nacionais serão<br />
extintas.<br />
Três países resistem ao fim da emissão de sua própria moeda, Reino Unido, Suécia e Dinamarca, por<br />
temer as <strong>cons</strong>eqüências da perda da sua soberania.<br />
O Euro, uma moeda européia forte, lastreada em economias poderosas, passará a competir com o dólar<br />
norte-americano no mercado internacional.<br />
Para admissão à União Econômica e Monetária o país-membro da União Européia deve atender aos<br />
seguintes pré-requisitos: a) déficit público máximo de 3% do PIB; b) inflação baixa e controlada; c)<br />
dívida pública de no máximo 60% do PIB; d) moeda estável, dentro da banda de flutuação do<br />
Mecanismo Europeu de Câmbio; e, por último, e) taxa de juro de longo prazo controlada.<br />
Nesse sentido, vale destacar que a Grécia, por não ter ainda <strong>cons</strong>eguido atender a esses pré-requisitos,<br />
não teve sua admissão à moeda única definitivamente autorizada.<br />
Em 1º de julho de 2001, a União Européia dará início as negociações sobre livre comércio com o<br />
Mercosul.<br />
São países Membros da UE: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,<br />
Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda (Países Baixos), Portugal, Reino Unido e Suécia.<br />
Além desses Estados-Membros, a União Européia negocia a adesão de mais 11 (onze) países ao bloco,<br />
sendo que Polônia, Hungria, Eslovênia, Estônia e Chipre podem ser admitidos a partir de 1º de janeiro<br />
de 2003, pois a situação de suas economias é <strong>cons</strong>iderada satisfatória, por atender aos pré-requisitos de<br />
entrada na União Monetária e Econômica. Outras informações: www.europa.eu.int<br />
127
Um resumo das principais grandezas macroeconômicas dos blocos econômicos -comerciais<br />
analisados está ilustrado na Tabela 1, apresentada na página seguinte. O desenvolvimento destes blocos<br />
comerciais tem incrementado fortemente o comércio mundial que saltou de uma média de US$ 3,7<br />
trilhões por ano, no período de 1980-1990, <strong>para</strong> US$ 4,5 trilhões em 1992 e cerca de US$ 5,6 trilhões<br />
estimados <strong>para</strong> 1993, estando no ano de 2000, em torno de US$ 13 trilhões.<br />
As informações mais detalhadas do Mercosul, da União Européia e da Nafta, no período de 1980 a<br />
1999 e no ano de 20<strong>04</strong> estão ilustradas na Tabelas apresentadas a seguir.<br />
PPP GDP 20<strong>04</strong><br />
Ranking Economy<br />
ordenação: PIB "per<br />
capita" e (PIB Total)<br />
PIB Total<br />
(bilhões de<br />
US$ PPP)<br />
1 (1) United States 11.628,08<br />
2 (6) United Kingdom 1.832,25<br />
3 (3) Japan 3.774,09<br />
4 (7) France 1.744,35<br />
5 (8) Italy 1.621,37<br />
6 (5) Germany 2.325,83<br />
7 (11) Spain 1.<strong>04</strong>6,25<br />
8 (10) Russian Federation 1.408,60<br />
9 (12) Mexico 1.014,51<br />
10 (9) Brazil 1.482,86<br />
11 (2) China (a) 7.123,71<br />
12 (4) India (b) 3.362,96<br />
Total 38.364,87<br />
Notas:<br />
Produto Interno Total, "per capita" e<br />
População<br />
População<br />
(mil hab)<br />
293.507<br />
59.405<br />
127.764<br />
59.991<br />
57.573<br />
82.631<br />
41.286<br />
142.814<br />
103.795<br />
178.718<br />
1.296.500<br />
1.079.721<br />
3.523.705<br />
PIB "per<br />
capita" (mil<br />
US$ PPP)<br />
39,62<br />
30,84<br />
29,54<br />
29,08<br />
28,16<br />
28,15<br />
25,34<br />
9,86<br />
9,77<br />
8,30<br />
5,49<br />
3,11<br />
10,89<br />
Tabela 1<br />
% da Renda apropriada pela<br />
população<br />
20%<br />
mais<br />
ricos<br />
20%<br />
mais<br />
pobres<br />
45,8 5,4<br />
44,0 6,1<br />
35,7 10,6<br />
40,2 7,2<br />
42,0 6,5<br />
36,9 8,5<br />
40,3 7,5<br />
39,3 8,2<br />
59,1 3,1<br />
63,2 2,4<br />
50,0 4,7<br />
43,3 8,9<br />
% PIB Planeta =<br />
Os<br />
demais<br />
Bloco Econômico / IDH -<br />
Índice de Desenvolvimento<br />
Humano (ranking)<br />
48,8 Nafta / Elevado (10)<br />
49,9 UE / Elevado (15)<br />
53,7 APEC / Elevado (11)<br />
52,6 UE / Elevado (16)<br />
51,5 UE / Elevado (18)<br />
54,6 UE / Elevado (20)<br />
52,2 UE / Elevado (21)<br />
52,5 APEC / CEI / Médio (60)<br />
37,8 Nafta / Elevado (53)<br />
34,4 Mercosul / Médio (63)<br />
45,3 APEC / Médio (85)<br />
47,8 SAARC / Médio (127)<br />
75,0%<br />
a. Estimate is based on a bilateral comparison between China and the United States (Ruoen and Kai, 1995).<br />
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadores<br />
de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de zero<br />
(nenhum desenvolvimento humano) a um (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano<br />
<strong>cons</strong>iderado baixo, os países com índices entre 0,500 e 0,799 são <strong>cons</strong>iderados de médio desenvolvimento humano e países com IDH<br />
superior a 0,800 têm desenvolvimento humano <strong>cons</strong>iderado alto.<br />
Fontes: World Development Indicators database, World Bank, 15 July 2005<br />
Obs.: IDH elevado (57 países), Médio (89 países) e Baixo (22 países)<br />
128
Tabela 2<br />
Produto Interno Total, "per capita" e % da Renda apropriada pela<br />
PPP GDP 20<strong>04</strong><br />
População<br />
população<br />
Ranking Economy PIB Total<br />
PIB "per 20% 20%<br />
Bloco Econômico / IDH -<br />
ordenação: PIB "per (bilhões de População capita" (mil $ mais mais Os Índice de Desenvolvimento<br />
capita" e (PIB Total) $ PPP) (mil hab) PPP) ricos pobres demais Humano (ranking)<br />
13 (18) Netherlands 520,92 16.250 32,06 38,7 7,6 53,7 UE / Elevado (12)<br />
14 (13) Canada 993,08 31.902 31,13 40,4 7,0 52,6 Nafta / Elevado (5)<br />
15 (16) Australia 605,94 20.120 30,12 41,3 5,9 52,8 APEC / Elevado (3)<br />
16 (14) Korea, Rep. 980,69 48.142 20,37 37,5 7,9 54,6 APEC / Elevado (28)<br />
17 (22) Poland 491,55 38.160 12,88 41,9 7,6 50,5 UE / Elevado (36)<br />
18 (23) Argentina 486,37 38.226 12,72 56,4 3,1 40,5 Mercosul / Elevado (34)<br />
19 (20) South Africa (b) 510,10 45.584 11,19 62,2 3,5 34,3 SADC / Médio (120)<br />
20 (19) Thailand 510,27 62.387 8,18 50,0 6,1 43,9 APEC / ASEAN / Médio (73)<br />
21 (17) Turkey 552,99 71.727 7,71 46,7 6,1 47,2 candidato UE / Médio (94)<br />
22 (21) Iran, Islamic Rep. 505,02 66.928 7,55 49,9 4,1 46 OPEP / Médio (99)<br />
23 (15) Indonesia 779,72 217.588 3,58 43,3 8,4 48,3 APEC/ASEAN / Médio (110)<br />
Total 6.936,64 657.014 10,56 % PIB Planeta = 13,6%<br />
Notas:<br />
b. Estimate is based on regression; other PPP figures are extrapolated from the latest International Comparison Programme benchmark<br />
estimates.<br />
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadores<br />
de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de zero<br />
(nenhum desenvolvimento humano) a um (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano<br />
<strong>cons</strong>iderado baixo, os países com índices entre 0,500 e 0,799 são <strong>cons</strong>iderados de médio desenvolvimento humano e países com IDH<br />
superior a 0,800 têm desenvolvimento humano <strong>cons</strong>iderado alto.<br />
Fontes: World Development Indicators database, World Bank, 15 July 2005<br />
Obs.: IDH elevado (57 países), Médio (89 países) e Baixo (22 países)<br />
PPP GDP 20<strong>04</strong><br />
Produto Interno Total, "per capita" e<br />
População<br />
Tabela 3<br />
Ranking Economy PIB Total<br />
PIB "per 20% 20%<br />
Bloco Econômico / IDH -<br />
ordenação: PIB "per (bilhões de População capita" (mil $ mais mais Os Índice de Desenvolvimento<br />
capita" e (PIB Total) $ PPP) (mil hab) PPP) ricos pobres demais Humano (ranking)<br />
24 (34) Switzerland 247,11 7.382 33,47 40,3 6,9 52,8 EFTA / Elevado (7)<br />
25 (33) Austria 261,11 8.115 32,18 38,5 8,1 53,4 UE / Elevado (17)<br />
26 (27) Belgium 322,65 10.405 31,01 37,3 8,3 54,4 UE / Elevado (9)<br />
27 (38) Hong Kong, China 210,68 6.845 30,78 50,7 5,3 44 APEC / Elevado (22)<br />
28 (31) Sweden 265,05 8.985 29,50 36,6 9,1 54,3 UE / Elevado (6)<br />
29 (36) Greece 243,13 11.075 21,95 43,6 7,1 49,3 UE / Elevado (24)<br />
30 (40) Portugal 205,45 10.436 19,69 45,9 5,8 48,3 UE / Elevado (27)<br />
31 (26) Saudi Arabia (b) 325,51 23.215 14,02 n.d. n.d. n.d. OPEP / Médio (77)<br />
32 (35) Malaysia 246,<strong>04</strong> 25.209<br />
9,76 54,3 4,4 41,3 ASEAN / APEC / Média (61)<br />
33 (28) Colombia (b) 322,58 45.300 7,12 61,8 2,7 35,5 ALADI / ALCA / Média (69)<br />
34 (39) Algeria (b) 210,66 32.373 6,51 42,6 7,0 50,4 L. Árabe/OPEP Médio (103)<br />
35 (29) Ukraine 303,28 48.008<br />
6,32 37,8 8,8 53,4 CEI / Médio (78)<br />
36 (24) Philippines 378,23 82.987<br />
4,56 52,3 5,4 42,3 ASEAN / APEC / Média (84)<br />
37 (30) Egypt, Arab Rep. 282,03 68.738<br />
4,10 43,6 8,6 47,8 Liga Árabe / Médio (119)<br />
38 (37) Vietnam 222,17 82.162<br />
2,70 45,4 7,5 47,1 ASEAN/APEC / Médio (108)<br />
39 (25) Pakistan 336,05 152.061<br />
2,21 42,3 8,8 48,9 SARRC / Médio (135)<br />
40 (32) Bangladesh 263,43 140.494<br />
1,88 41,3 9,0 49,7 SARRC / Médio (139)<br />
Total 3.095,43 710.983<br />
4,35 % PIB Planeta = 6,1%<br />
Notas:<br />
b. Estim ate is based on regression; other PPP figures are extrapolated from the latest International Comparison Programme benchmark<br />
estimates.<br />
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadores<br />
de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de zero<br />
(nenhum desenvolvimento hum ano) a um (desenvolvimento hum ano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvim ento humano<br />
<strong>cons</strong>iderado baixo, os países com índices entre 0,500 e 0,799 são <strong>cons</strong>iderados de médio desenvolvimento humano e países com IDH<br />
superior a 0,800 têm desenvolvimento humano <strong>cons</strong>iderado alto.<br />
Fontes: World Development Indicators database, World Bank, 15 July 2005<br />
Obs.: IDH elevado (57 países), Médio (89 países) e Baixo (22 países)<br />
% da Renda apropriada pela<br />
população<br />
Tabela 4<br />
129
Resumo Com<strong>para</strong>tivo - União Européia, Nafta e Mercosul<br />
1980 1990 1999<br />
1980 - 1999<br />
Valor Valor % a.a. 1980-90 Valor % a.a. 1990-99 % a.a.<br />
União Européia<br />
População (Milhões de Hab) 355,3<br />
364,6<br />
0,26% 375,4<br />
0,33% 0,29%<br />
PIB (US$ trilhões cte inter) 3,935<br />
4,996<br />
2,4% 5,972<br />
2,0% 2,2%<br />
PIB per capita (US$ mi. cte inter) 11,077<br />
13,705<br />
2,2% 15,908<br />
1,7% 1,9%<br />
Fluxo Comercial (US$ trilhões cte inter) 1,923<br />
3,726<br />
6,8% 5,252<br />
3,9% 5,4%<br />
Exportações 0,951<br />
1,874<br />
7,0% 2,702<br />
4,1% 5,6%<br />
Importações<br />
Nafta<br />
0,972<br />
1,851<br />
6,7% 2,550<br />
3,6% 5,2%<br />
População (Milhões de Hab) 323,563<br />
365,135<br />
1,22% 400,909<br />
1,<strong>04</strong>% 1,13%<br />
PIB (US$ trilhões cte inter) 4,281<br />
5,530<br />
2,6% 7,100<br />
2,8% 2,7%<br />
PIB per capita (US$ mi. cte inter) 13,229<br />
15,145<br />
1,4% 17,709<br />
1,8% 1,5%<br />
Fluxo Comercial (US$ trilhões cte inter) 0,758<br />
1,551<br />
7,4% 3,021<br />
7,7% 7,5%<br />
Exportações 0,369<br />
0,734<br />
7,1% 1,383<br />
7,3% 7,2%<br />
Importações<br />
Mercosul<br />
0,389<br />
0,817<br />
7,7% 1,638<br />
8,0% 7,9%<br />
População (Milhões de Hab) 172,294<br />
207,464<br />
1,87% 236,465<br />
1,46% 1,68%<br />
PIB (US$ trilhões cte inter) 0,775<br />
0,833<br />
0,7% 1,114<br />
3,3% 1,9%<br />
PIB per capita (US$ mi. cte inter) 4,499<br />
4,015<br />
-1,1% 4,711<br />
1,8% 0,2%<br />
Fluxo Comercial (US$ trilhões cte inter) 0,093<br />
0,114<br />
2,0% 0,240<br />
8,6% 5,1%<br />
Exportações 0,<strong>04</strong>1<br />
0,065<br />
4,7% 0,115<br />
6,5% 5,6%<br />
Importações 0,052<br />
0,<strong>04</strong>9<br />
-0,7% 0,126<br />
11,0% 4,7%<br />
Tabela 5.1 - União Européia<br />
Evolução do PIB real per capita - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US $ US $ % ao ano US $ % ao ano % ao ano<br />
AUT Austria 10.509<br />
12.695<br />
1,9% 14.666<br />
1,6% 1,8%<br />
BEL Belgium 11.109<br />
13.232<br />
1,8% 14.975<br />
1,4% 1,6%<br />
DNK Denmark 11.342<br />
13.909<br />
2,1% 16.799<br />
2,1% 2,1%<br />
FIN Finland 10.851<br />
14.059<br />
2,6% 15.272<br />
0,9% 1,8%<br />
FRA France 11.756<br />
13.9<strong>04</strong><br />
1,7% 15.438<br />
1,2% 1,4%<br />
DEU Germany .. 18,784<br />
22,6<strong>04</strong><br />
2,1%<br />
GRC Greece 5.901<br />
6.768<br />
1,4% 7.852<br />
1,7% 1,5%<br />
IRL Ireland 6.823<br />
9.274<br />
3,1% 16.418<br />
6,6% 4,7%<br />
ITA Italy 10.323<br />
12.488<br />
1,9% 13.680<br />
1,0% 1,5%<br />
LUX Luxembourg 11.893<br />
16.280<br />
3,2% 23.763<br />
4,3% 3,7%<br />
NLD Netherlands 11.284<br />
13.029<br />
1,4% 15.582<br />
2,0% 1,7%<br />
PRT Portugal 4.982<br />
7.478<br />
4,1% 9.296<br />
2,4% 3,3%<br />
ESP Spain 7.390<br />
9.583<br />
2,6% 11.497<br />
2,0% 2,4%<br />
SWE Sweden 12.456<br />
14.762<br />
1,7% 15.836<br />
0,8% 1,3%<br />
GBR United Kingdom 10.167<br />
13.217<br />
2,7% 15.073<br />
1,5% 2,1%<br />
União Européia - EU<br />
11,077<br />
13,705<br />
2,2% 15,908<br />
1,7% 1,9%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Evolução da População Total - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
Milhões Hab. Milhões Hab. % ao ano Milhões Hab. % ao ano % ao ano<br />
AUT Austria 7,553<br />
7,726<br />
0,2% 8,086<br />
0,5% 0,4%<br />
BEL Belgium 9,847<br />
9,967<br />
0,1% 10,223<br />
0,3% 0,2%<br />
DNK Denmark 5,123<br />
5,140<br />
0,0% 5,317<br />
0,4% 0,2%<br />
FIN Finland 4,780<br />
4,986<br />
0,4% 5,167<br />
0,4% 0,4%<br />
FRA France 53,880<br />
56,735<br />
0,5% 59,082<br />
0,5% 0,5%<br />
DEU Germany 78,303<br />
79,433<br />
0,1% 82,027<br />
0,4% 0,2%<br />
GRC Greece 9,643<br />
10,161<br />
0,5% 10,536<br />
0,4% 0,5%<br />
IRL Ireland 3,401<br />
3,506<br />
0,3% 3,727<br />
0,7% 0,5%<br />
ITA Italy 56,434<br />
56,719<br />
0,1% 57,649<br />
0,2% 0,1%<br />
LUX Luxembourg 0,365<br />
0,382<br />
0,5% 0,432<br />
1,4% 0,9%<br />
NLD Netherlands 14,150<br />
14,952<br />
0,6% 15,802<br />
0,6% 0,6%<br />
PRT Portugal 9,766<br />
9,896<br />
0,1% 9,990<br />
0,1% 0,1%<br />
ESP Spain 37,386<br />
38,836<br />
0,4% 39,410<br />
0,2% 0,3%<br />
SWE Sweden 8,310<br />
8,559<br />
0,3% 8,857<br />
0,4% 0,3%<br />
GBR United Kingdom 56,330<br />
57,561<br />
0,2% 59,110<br />
0,3% 0,3%<br />
União Européia - EU<br />
355,271<br />
364,559<br />
0,3% 375,416<br />
0,3% 0,3%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
130
Tabela 5.2 - União Européia<br />
Evolução das Exportações e Importações - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US $ bilhões US $ bilhões % ao ano US $ bilhões % ao ano % ao ano<br />
AUT Austria EXP 26,650<br />
63,694<br />
9,1% 94,641<br />
4,5% 6,9%<br />
IMP 29,921<br />
61,580<br />
7,5% 95,644<br />
5,0% 6,3%<br />
BEL Belgium EXP 70,498<br />
138,610<br />
7,0% 193,080<br />
3,8% 5,4%<br />
IMP 74,259<br />
135,100<br />
6,2% 182,170<br />
3,4% 4,8%<br />
DNK Denmark EXP 21,989<br />
48,902<br />
8,3% 64,725<br />
3,2% 5,8%<br />
IMP 21,727<br />
41,415<br />
6,7% 57,595<br />
3,7% 5,3%<br />
FIN Finland EXP 16,802<br />
31,180<br />
6,4% 48,492<br />
5,0% 5,7%<br />
IMP 17,307<br />
33,456<br />
6,8% 37,887<br />
1,4% 4,2%<br />
FRA France EXP 153,200<br />
285,390<br />
6,4% 372,690<br />
3,0% 4,8%<br />
IMP 155,910<br />
283,240<br />
6,2% 329,610<br />
1,7% 4,0%<br />
DEU Germany EXP 224,220<br />
474,710<br />
7,8% 623,420<br />
3,1% 5,5%<br />
IMP 225,600<br />
423,500<br />
6,5% 587,350<br />
3,7% 5,2%<br />
GRC Greece EXP 8,122<br />
13,018<br />
4,8% 14,863<br />
1,5% 3,2%<br />
IMP 11,145<br />
19,564<br />
5,8% 25,601<br />
3,0% 4,5%<br />
IRL Ireland EXP 9,610<br />
26,786<br />
10,8% 71,749<br />
11,6% 11,2%<br />
IMP 12,<strong>04</strong>4<br />
24,576<br />
7,4% 61,713<br />
10,8% 9,0%<br />
ITA Italy EXP 97,298<br />
219,970<br />
8,5% 292,010<br />
3,2% 6,0%<br />
IMP 110,260<br />
218,570<br />
7,1% 268,820<br />
2,3% 4,8%<br />
LUX Luxembourg EXP -<br />
-<br />
21,341<br />
IMP -<br />
-<br />
20,705<br />
NLD Netherlands EXP 90,380<br />
160,450<br />
5,9% 223,350<br />
3,7% 4,9%<br />
IMP 91,622<br />
147,650<br />
4,9% 200,270<br />
3,4% 4,2%<br />
PRT Portugal EXP 16,061<br />
19,037<br />
1,7% 43,387<br />
9,6% 5,4%<br />
IMP 10,136<br />
27,146<br />
10,4% 27,146<br />
0,0% 5,3%<br />
ESP Spain EXP 32,140<br />
83,595<br />
10,0% 164,350<br />
7,8% 9,0%<br />
IMP 38,0<strong>04</strong><br />
100,870<br />
10,3% 170,640<br />
6,0% 8,2%<br />
SWE Sweden EXP 38,151<br />
70,560<br />
6,3% 103,130<br />
4,3% 5,4%<br />
IMP 39,878<br />
70,490<br />
5,9% 89,268<br />
2,7% 4,3%<br />
GBR United Kingdom EXP 146,070<br />
238,570<br />
5,0% 370,540<br />
5,0% 5,0%<br />
IMP 134,200<br />
263,990<br />
7,0% 395,600<br />
4,6% 5,9%<br />
União Européia EXP<br />
951,191<br />
1.874,472<br />
7,0% 2.701,768<br />
4,1% 5,6%<br />
IMP<br />
972,013<br />
1.851,147<br />
6,7% 2.550,019<br />
3,6% 5,2%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Tabela 6 - Nafta<br />
Evolução da População Total - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
Milhões Hab Milhões Hab % ao ano Milhões Hab % ao ano % ao ano<br />
CAN Canada 24,900<br />
28,172<br />
1,2% 30,6<strong>04</strong><br />
0,9% 1,1%<br />
MEX Mexico 69,193<br />
84,843<br />
2,1% 97,425<br />
1,5% 1,8%<br />
USA United States 229,470<br />
252,120<br />
0,9% 272,880<br />
0,9% 0,9%<br />
Nafta<br />
323,563<br />
365,135<br />
1,2% 400,909<br />
1,0% 1,1%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Evolução do PIB real Total - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US $ bilhões US $ bilhões % ao ano US $ bilhões % ao ano % ao ano<br />
CAN Canada 351,912<br />
483,798<br />
3,2% 569,686<br />
1,8% 2,6%<br />
MEX Mexico 418,894<br />
494,380<br />
1,7% 666,435<br />
3,4% 2,5%<br />
USA United States 3.509,744<br />
4.551,774<br />
2,6% 5.863,441<br />
2,9% 2,7%<br />
Nafta<br />
4.280,550<br />
5.529,952<br />
2,6% 7.099,562<br />
2,8% 2,7%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Evolução das Exportações e Importações - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US $ bilhões US $ bilhões % ao ano US $ bilhões % ao ano % ao ano<br />
CAN Canada EXP 74,977<br />
149,540<br />
7,1% 275,920<br />
7,0% 7,1%<br />
IMP 70,259<br />
149,120<br />
7,8% 257,510<br />
6,3% 7,1%<br />
MEX México EXP 22,622<br />
48,805<br />
8,0% 146,830<br />
13,0% 10,3%<br />
IMP 27,601<br />
51,915<br />
6,5% 152,700<br />
12,7% 9,4%<br />
USA United States EXP 271,800<br />
536,060<br />
7,0% 960,100<br />
6,7% 6,9%<br />
IMP 290,730<br />
615,990<br />
7,8% 1.227,600<br />
8,0% 7,9%<br />
Nafta EXP<br />
369,399<br />
734,405<br />
7,1% 1.382,850<br />
7,3% 7,2%<br />
IMP<br />
388,590<br />
817,025<br />
7,7% 1.637,810<br />
8,0% 7,9%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Tabela 7 - Mercosul<br />
131
Evolução do PIB real Total - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US$ Bi US$ Bi % ao ano US$ Bi % ao ano % ao ano<br />
BRA Brasil 523,546<br />
597,973<br />
1,34% 741,513<br />
2,42% 1,85%<br />
ARG Argentina 182,780<br />
153,072<br />
-1,76% 237,087<br />
4,98% 1,38%<br />
CHL Chile 43,384<br />
56,823<br />
2,74% 99,631<br />
6,44% 4,47%<br />
URY Uruguay 14,835<br />
14,294<br />
-0,37% 19,665<br />
3,61% 1,49%<br />
BOL Bolivia 10,651<br />
10,898<br />
0,23% 16,167<br />
4,48% 2,22%<br />
PRY Paraguay 7,891<br />
8,978<br />
1,30% 11,663<br />
2,95% 2,08%<br />
Mercosul<br />
775,196<br />
833,061<br />
0,72% 1.114,062<br />
3,28% 1,93%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Evolução da População Total - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
Milhões Hab. Milhões Hab. % ao ano Milhões Hab. % ao ano % ao ano<br />
BRA Brasil 121,670<br />
147,940<br />
2,0% 168,070<br />
1,4% 1,7%<br />
ARG Argentina 28,094<br />
32,527<br />
1,5% 36,571<br />
1,3% 1,4%<br />
CHL Chile 11,147<br />
13,099<br />
1,6% 15,018<br />
1,5% 1,6%<br />
URY Uruguay 2,914<br />
3,106<br />
0,6% 3,312<br />
0,7% 0,7%<br />
BOL Bolivia 5,355<br />
6,573<br />
2,1% 8,135<br />
2,4% 2,2%<br />
PRY Paraguay 3,114<br />
4,219<br />
3,1% 5,359<br />
2,7% 2,9%<br />
Mercosul<br />
172,294<br />
207,464<br />
1,9% 236,465<br />
1,5% 1,7%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Evolução das Exportações e Importações - Período: 1980 a 1999<br />
1980 1990 1999<br />
1980 a 1999<br />
US $ bilhões US $ bilhões % ao ano US $ bilhões % ao ano % ao ano<br />
BRA Brasil EXP 21,869<br />
35,170<br />
4,9% 59,299<br />
6,0% 5,4%<br />
IMP 27,826<br />
28,184<br />
0,1% 65,657<br />
9,9% 4,6%<br />
ARG Argentina EXP 9,897<br />
14,800<br />
4,1% 27,764<br />
7,2% 5,6%<br />
IMP 13,182<br />
6,846<br />
-6,3% 32,561<br />
18,9% 4,9%<br />
CHL Chile EXP 5,968<br />
10,221<br />
5,5% 19,406<br />
7,4% 6,4%<br />
IMP 7,052<br />
9,166<br />
2,7% 18,058<br />
7,8% 5,1%<br />
URY Uruguay EXP 1,526<br />
2,159<br />
3,5% 3,796<br />
6,5% 4,9%<br />
IMP 2,144<br />
1,659<br />
-2,5% 4,077<br />
10,5% 3,4%<br />
BOL Bolivia EXP 1,030<br />
0,977<br />
-0,5% 1,272<br />
3,0% 1,1%<br />
IMP 0,833<br />
1,086<br />
2,7% 1,881<br />
6,3% 4,4%<br />
PRY Paraguai EXP 0,701<br />
1,609<br />
8,7% 3,118<br />
7,6% 8,2%<br />
IMP 1,314<br />
2,094<br />
4,8% 3,270<br />
5,1% 4,9%<br />
Mercosul EXP<br />
40,991<br />
64,935<br />
4,7% 114,655<br />
6,5% 5,6%<br />
IMP<br />
52,351<br />
49,035<br />
-0,7% 125,505<br />
11,0% 4,7%<br />
Fontes: Banco Mundial planilhas Real GDP per capita in <strong>cons</strong>tant dollars (international prices, base year 1985) e Population, total<br />
GDP PPP = Gross Domestic Product using Power Parity Rate = Produto Interno Bruto usando paridade do poder de compra = PIB (produção total de bens<br />
e serviços <strong>para</strong> uso final) com dolar internacional (que tem poder de compra sobre seu PIB semelhante ao que o US$ tem sobre o PIB americano)<br />
Todo esse movimento tem seu eixo no desenvolvimento das unidades produtivas e rebate,<br />
recorrentemente, sobre elas, impondo a necessidade de elaboração de estratégias competitivas mais<br />
complexas e abrangentes em termos mundiais. É claro que as unidades não concorrem em igualdade de<br />
condições, nem no interior das suas economias nacionais, muito menos no âmbito das relações<br />
internacionais ou globais.<br />
Porém não parece ser possível ou suficiente, simplesmente, pre<strong>para</strong>r-se individualmente - no plano<br />
de cada uma das unidades de negócios - <strong>para</strong> a concorrência global. Os problemas colocados <strong>para</strong> o<br />
andamento do processo (em especial, a questão imediata da profunda mudança do caráter do emprego<br />
produtivo e dos altos graus de desemprego ostentados nas economias nacionais que já se adiantaram no<br />
processo de reestruturação) sugerem a necessidade de elaboração articulada de projetos sociais e<br />
econômicos que explorem as potencialidades produtivas e incorporem a perspectiva de inclusão das<br />
diversas camadas sociais no âmbito do processo de inserção da economia nacional no movimento<br />
econômico global.<br />
No Brasil, o que se assiste nos anos recentes (em especial nos últimos dez a quinze anos) é uma<br />
assimilação não-crítica do processo de globalização da economia, culminando com movimentos<br />
132
caóticos, tanto no interior da economia privada como no setor produtivo estatal, na direção de uma<br />
pretensa racionalidade econômica conduzida pelo mercado.<br />
Tal racionalidade implicaria ações das empresas no sentido de ajustes estruturais que redundariam<br />
numa nova forma de organização produtiva ao mesmo tempo mais leve (com custos menores que a<br />
anterior) e mais qualificada (no plano dos processos, dos produtos, dos recursos humanos, etc). Tais<br />
ajustes propiciariam também pretensos movimentos descendentes nos preços privados e públicos, bem<br />
como à eliminação dos descompassos entre a arrecadação e o gasto público. Estes dois fatos<br />
culminariam o processo de pre<strong>para</strong>ção da economia nacional (entenda-se, suas principais unidades<br />
produtivas) <strong>para</strong> o movimento competitivo global.<br />
No setor privado, esse posicionamento estratégico teria seu eixo nas soluções particulares (por<br />
empresa) a partir da compreensão do processo de globalização como uma luta competitiva baseada -<br />
quase exclusivamente - nos preços, a partir de um raciocínio do tipo “ganhar o mercado a partir de<br />
menores preços e igual ou superior qualidade”. Pouquíssimas empresas parecem reconhecer a<br />
necessidade de atuar sobre as demandas educacionais e de recomposição da renda familiar nacional que<br />
tal raciocínio impõe (<strong>para</strong> citar apenas as demandas mais importantes e visíveis).<br />
Os dados das Tabelas 1 a 3, destacam a distribuição de renda fortemente assimétrica que caracteriza<br />
os países menos desenvolvidos e com menor inserção na economia global e, em medidas e graus<br />
distintos, também se <strong>cons</strong>tata assimetria, mesmo nos países com maiores graus de desenvolvimento ou<br />
com participação hegemônica nos negócios globais.<br />
Contudo, há uma grande diferença entre os graus de concentrações de renda na amostra dos países<br />
apresentados, observando-se agravamentos das desigualdades em países como o Brasil, África do Sul e<br />
Venezuela.<br />
É claro que o processo de integração ao movimento global de países com estes perfís de estruturas<br />
econômicas e sociais vai demandar esforços no sentido de equacionar problemas tais como, de um<br />
lado, a pobreza, o desemprego, a exclusão social, etc, e de outro, o volume e o ritmo dos investimentos<br />
necessários; isso ultrapassa, em muito, a capacidade e as possibilidades de ações individuais de<br />
unidades produtivas isoladas, colocando as soluções no âmbito de articulações supra-unidades ou<br />
supra-empresas individuais, ou seja, a formulação das estratégias de enfrentamento dessas questões<br />
situa-se no plano mais amplo das políticas públicas, em qualquer formato em que se possa pensá-las,<br />
hoje, diante da complexidade das tarefas impostas pela profundidade e extensão dos problemas<br />
existentes.<br />
III) Evolução da estrutura e da dinâmica organizacional das empresas: a divisão<br />
(horizontal e vertical) do trabalho como o princípio da organização da empresa;<br />
mudanças na estrutura técnica do capital; mudanças na estrutura do emprego<br />
Observemos agora a primeira face do processo de geração/apropriação do excedente produtivo na<br />
empresa, ou seja, a visão da gestão empresarial com base na estrutura da organização.<br />
Essencialmente, há dois aspectos fundamentais <strong>para</strong> serem abordados.<br />
Em primeiro lugar a questão do grau de importância absoluta e relativa de cada uma das funções<br />
básicas da empresa (produção, finanças e mercado), ou seja, se tem sentido hierarquizar tais funções,<br />
quanto à tomada de decisões estratégicas e a busca dos resultados e metas previstas.<br />
Em segundo lugar, e independente da forma como foi abordada a questão da hierarquização (ou<br />
não) das funções básicas, há a questão da <strong>cons</strong>trução de um sistema de informações, com suficiente<br />
agilidade e credibilidade, que garantam as condições <strong>para</strong> a adequada interação interna, em todos os<br />
níveis de cada função e inter-funções, de tal forma que esteja assegurada a fluidez das decisões<br />
estratégicas no interior da estrutura da organização.<br />
133
A abordagem de ambas as questões deve se dar no sentido de <strong>cons</strong>truir uma estrutura<br />
organizacional "leve" e crescentemente participativa, de tal maneira que o fluxo de informações seja<br />
adequado e compatível face às metas estratégicas estabelecidas.<br />
O grau de complexidade da estrutura organizacional de uma unidade produtiva está relacionado a<br />
dois princípios básicos.<br />
O primeiro refere-se à diversidade de habilidades técnico-produtivas necessárias ao transcurso do<br />
processo de produção; este princípio está assentado na divisão técnica do trabalho e responde pelo<br />
número de "divisões horizontais" que caracterizam a estrutura.<br />
O segundo relaciona-se ao número de diferentes níveis de controle necessários ao desenrolar do<br />
conjunto do processo de gestão da empresa; tal princípio apoia-se tanto na divisão técnica do trabalho<br />
(quando se se<strong>para</strong>m as atividades de planejamento e projeto de produtos/processos/métodos, da sua<br />
execução efetiva) como na divisão hierárquica de funções (quando se se<strong>para</strong>m as atividades de direção,<br />
gerência, supervisão e execução das diversas atividades de uma empresa) e responde pelo número de<br />
"divisões ou níveis verticais" que formam a estrutura.<br />
Ambos os princípios encontram-se, atualmente, sob o fogo cruzado de críticas de variada natureza.<br />
Questiona-se, de um lado, a ineficiência estrutural-qualitativa de um sistema produtivo baseado na<br />
excessiva parcelização das tarefas concretas na fábrica; alternativamente, propõe-se a integração do<br />
maior número possível de etapas produtivas, em circuitos de produção onde os operadores respondam<br />
por um número maior de operações unitárias, garantindo assim, a priori, melhor qualificação <strong>para</strong> o<br />
conjunto do processo.<br />
De outro lado, questiona-se o número excessivo de níveis hierárquicos baseados na idéia do<br />
controle "externo" das operações; nesse caso, propõe-se a crescente autonomização dos circuitos da<br />
produção (tanto as atividades de operação como as de controle ou gestão) de tal forma que, ao lado da<br />
maior integração das etapas do processo, obtenha-se maior flexibilidade na base produtiva.<br />
Observa-se, como tendência nas modificações em curso nas estruturas organizacionais, a redução<br />
dos níveis hierárquicos (menos "gerência", menos "controle externo") e o aumento da integração e<br />
autonomia nos circuitos do processo produtivo. Uma representação gráfica através de um organograma<br />
- simbolizado pelas figuras de pirâmides - ilustra os principais efeitos das pressões em curso sobre a<br />
estrutura das organização.<br />
As mudanças que resultam da atuação das forças ilustradas na Figura 1, apresentada a seguir, estão<br />
relacionadas ao amplo processo de restruturação produtiva que vem ocorrendo nos últimos quinze anos<br />
ou vinte anos, processo este vinculado às mudanças mais profundas e extensas no grau de<br />
competitividade das principais economias nacionais e empresas do planeta.<br />
É evidente que a fluidez das informações não está garantida apenas pelo êxito da <strong>cons</strong>trução de uma<br />
estrutura organizacional “leve”. A observação das experiências de reestruturação produtiva das<br />
empresas, tem mostrado que é a <strong>cons</strong>trução de sistemas de informação estruturados, <strong>cons</strong>istentes e de<br />
base unificada é que tem propiciado o sucesso das políticas de incremento à eficiência orgânica das<br />
estruturas empresariais.<br />
Em suma, trata-se de garantir a geração continuada de capacidade administrativa <strong>para</strong> dotar a<br />
estrutura organizacional de atributos qualificados <strong>para</strong> responder às exigências dinâmicas colocadas<br />
pela evolução dos processos produtivos, financeiros e comerciais.<br />
Uma das bases conceituais (ou “filosóficas”) sobre a qual se assentam tais processos de mudança,<br />
relaciona-se ao processo ou método gerencial denominado de TQM (Total Quality Management) -<br />
Gestão da (ou <strong>para</strong> a) Qualidade Total.<br />
A Gestão da Qualidade Total (GQT) foi desenvolvida, pioneiramente, a partir de proposições<br />
formuladas por Deming no início dos anos ´50, como já foi citado nas seções anteriores deste texto.<br />
Tais proposições podem ser resumidas nos seguintes pontos, chamados de “os 14 princípios de<br />
134
Administração ou princípios <strong>para</strong> a Transformação”, já brevemente comentados quando se apresentou<br />
o autor citado 8 .<br />
Seria muito útil e conveniente, lembrando que tal conjunto de princípios foi desenvolvido pensando<br />
na inserção internacional competitiva das empresas americanas há cerca de vinte e cinco anos, que os<br />
estudiosos e executivos brasileiros refletissem criticamente sobre as razões, possibilidades, objetivos,<br />
restrições objetivas e requisitos que se colocam <strong>para</strong> a adoção dessa filosofia <strong>para</strong> as empresas<br />
brasileiras; o surto de implantação imediata de tais princípios e a propaganda pela implantação<br />
generalizada de tais modificações - frequentemente efetivadas de forma mecânica e a-crítica -, podem<br />
acarretar efeitos não-desejados sobre as estruturas das organizações, especialmente sobre os níveis<br />
quantitativos e qualitativos do emprego no país.<br />
Figura 4<br />
Tendências de mudanças na estrutura organizacional: pressões sobre as formas organizacionais<br />
vigentes<br />
Maior Integração<br />
(2)<br />
Menos níveis hierárquicos (de decisão e comando),<br />
menos gerência e supervisão<br />
(1)<br />
Comitê de Direção<br />
Produção ou "chão de fábrica"<br />
(1)<br />
Maior Autonomia<br />
(2)<br />
Maiores exigências de conhecimentos, habilidades<br />
e responsabilidades<br />
Obs: (1) Pressões “verticais” sobre a estrutura e contrapartidas<br />
(2) Pressões “horizontais” sobre a estrutura e contrapartidas<br />
8 Deming (op. cit.), cap. 2, págs. 18 e 19.<br />
135
IV. Inserção e dinâmica das empresas no mercado<br />
Há um conjunto de conceitos relacionados com a natureza e a dinâmica do processo de surgimento,<br />
permanência e evolução dos empreendimentos capitalistas - unidades produtivas ou empresas - nos<br />
diversos setores da atividade econômica. Tais conceitos devem estar referidos a dois planos principais<br />
do estudo das unidades produtivas.<br />
Em primeiro lugar, trata-se de compreender as distintas formas de inserção de tais unidades nos<br />
mercados e a dinâmica de funcionamento das relações entre as diversas empresas e outros agentes<br />
econômicos no interior destes mercados.<br />
Além disso, deve-se procurar explicitar, no plano interno da organização empresarial, os principais<br />
conceitos sobre os quais se assentam os processos decisórios ou a definição de estratégias de atuação<br />
das empresas.<br />
Na verdade há uma conjugação (ou articulação) destes dois planos de análise no andamento<br />
histórico - concreto da evolução das empresas. Contudo, <strong>para</strong> a apresentação inicial das principais<br />
questões relacionadas ao estudo da Economia e Gestão Estratégica das Empresas, torna-se adequado a<br />
análise "se<strong>para</strong>da" de cada um dos planos propostos. Iniciaremos com os conceitos de empresa,<br />
concorrência e de espaço competitivo (ou mercado)<br />
� Produção no sentido estrito - transformação industrial - e no sentido amplo - qualquer<br />
processo que resulte na agregação de valor ao produto<br />
O conceito de produção, no sentido estrito, está relacionado ao processo de transformação<br />
indústrial, vale dizer, ao processo de agregação sucessiva de valores a partir da utilização de insumos,<br />
ferramentas, máquinas e trabalho humano. Contudo, não apenas os processos industriais são passíveis<br />
de agregação de valores.<br />
Todas as atividades que envolvem a distribuição, comercialização, apoio ou suporte técnicoadministrativo<br />
ou econômico, financeiro, etc., são atividades complementares a produção (estrito<br />
senso) e agregam valores aos produtos já produzidos.<br />
Dessa forma, é possível compreender o processo de produção num sentido mais geral ou amplo,<br />
envolvendo qualquer atividade que agregue valor aos produtos (bens ou serviços) e, portanto, possíveis<br />
de ser desenvolvidas por unidades produtivas no mercado.<br />
Por outro lado, o objetivo do processo de produção (de qualquer natureza e sentido), não está<br />
subordinado à satisfação de necessidades (de qualquer natureza) dos <strong>cons</strong>umidores, vale dizer, a<br />
produção não pode ser entendida, exclusivamente, como "produção de bens e serviços dirigidos ao<br />
mercado <strong>para</strong> satisfação de necessidades dos <strong>cons</strong>umidores". A noção mais relevante de "processo de<br />
produção" está relacionada a geração do excedente ou lucro. Ou seja, o processo de produção de bens e<br />
serviços deve ser visto como um meio de concretização do processo de produção do excedente. Assim<br />
as empresas, muito mais do que produtoras de determinados tipos de bens e serviços são, antes de tudo,<br />
produtoras de lucro (a justificativa superior <strong>para</strong> a continuidade e permanência no mercado, de<br />
qualquer processo de produção de bens e serviços).<br />
O conceito de produto então, relaciona-se a noção de "meio de produção de excedentes", e, apenas<br />
enquanto tal processo for bem sucedido, é que se justifica sua continuidade e a <strong>cons</strong>equente<br />
permanência da empresa (unidade produtiva) no mercado.<br />
Por outro lado a empresa ("unidade produtora de excedentes através da produção de bens e<br />
serviços") tem uma estrutura organizacional que assenta-se sobre três pilares funcionais básicos: a<br />
produção (a base técnica que sustenta todas as atividades que resultam em bens ou serviços); a função<br />
financeira (a base técnica que supre as necessidades de dinheiro <strong>para</strong> a sustentação de todas as<br />
atividades da empresa) e a função de mercado (mercadológica ou de "marketing", que representa a base<br />
136
técnica de sustentação das atividades que respondem pelo estabelecimento das relações diretas com os<br />
clientes e concorrentes da empresa)<br />
� Conceito de Empresa (Unidade Produtiva, Empreendimento, Negócio)<br />
Assim, como foi visto acima, o conceito de empresa, no sistema econômico capitalista está<br />
relacionado à noção de uma unidade econômica destinada a desenvolver um conjunto de atividades<br />
determinadas, com o objetivo de gerar e apropriar-se de excedentes ou lucros.<br />
Em outras palavras, a empresa capitalista corresponderia a uma fração (maior ou menor) do capital<br />
total da sociedade, posta em movimento (ou em funcionamento) com a finalidade de crescer.<br />
Isso não significa, contudo, que todas as empresas devam nascer pequenas e, muito menos, que<br />
todas <strong>cons</strong>igam crescer indefinidamente. Significa, sim, que, por representarem uma parcela do capital<br />
social posta em função, os empreendimentos capitalistas possuem uma identidade essencial:<br />
movimentam-se na busca do lucro e dos espaços de crescimento; por outro lado, em que pese essa<br />
identidade essencial, as empresas assumem características particulares e bastante diversas: porte,<br />
poder econômico, origem e grau de centralização da propriedade, capacidade de geração ou<br />
apropriação das inovações técnicas, do lucro e dos atributos de expansão no mercado, capacidade<br />
financeira (unidades isoladas ou conglomerados), dentre outras.<br />
Tais identidades e diferenças respondem pelas distintas capacitações específicas que as<br />
empresas apresentam na luta competitiva que travam, em busca da ocupação de espaços maiores no<br />
interior dos diversos mercados em que atuam.<br />
De uma forma bastante geral, podemos ilustrar as unidades produtivas (empresas) no mercado<br />
da forma que se segue.<br />
FIGURA 1 - ILUSTRAÇÃO PRELIMINAR SIMPLIFICADA DO EMPREENDIMENTO<br />
Entradas Saídas<br />
Unidade produtiva<br />
Entradas<br />
- Insumos materiais (matérias primas, partes, peças componentes, material de embalagem, sementes, terra <strong>para</strong><br />
cultivo, fertilizantes, etc)<br />
- Insumos energéticos<br />
- Mercadorias<br />
- Máquinas, equipamentos, ferramentas, instalações, edificações, veículos, etc.<br />
- Força de trabalho humano (não-qualificado, especializado, etc)<br />
- Dinheiro<br />
- Informações, conhecimentos, idéias<br />
Saídas<br />
- Bens de <strong>cons</strong>umo (imediato, duráveis)<br />
- Bens de produção (de capital, intermediários)<br />
- Serviços produtivos (terceirização de atividades industriais, transporte de bens)<br />
- Outros serviços públicos ou privados (Educação, Saúde, Transporte coletivo de pessoas, Pesquisa Básica, etc)<br />
- Mercadorias (Comércio varejista, atacadista, “centros de comercialização”, etc)<br />
- Dinheiro de Crédito<br />
137
Figura 2 - Compartimentos funcionais (ou funções) básicos das unidades produtivas<br />
Entradas Saídas<br />
Processo de Produção<br />
(sentido amplo) - Funções<br />
Produção<br />
Vendas<br />
Finanças<br />
(operações, atividades,<br />
tarefas, etc.)<br />
Produção: Garantir a melhor utilização dos recursos produtivos (espaço físico, máquinas, equipamentos,<br />
insumos, força de trabalho) disponíveis, tendo em vista as necessidades colocadas pelo<br />
processo de geração do excedente.<br />
(Maior relação capital/produto, máxima produtividade, menores custos)<br />
Vendas: Garantir manutenção da posição no mercado, via expansão absoluta ou relativa da participação da<br />
unidade nas vendas totais, tendo em vista o objetivo de assegurar a permanência do processo<br />
lucrativo.<br />
(Formação do preço, estabilização da margem de lucro, maiores quantidades vendidas)<br />
Finanças: Garantir o suprimento de dinheiro <strong>para</strong> a obtenção dos recursos produtivos necessários e as<br />
condições do seu financiamento em prazos e custos compatíveis, tendo em vista o objetivo de<br />
apropriar-se da maior parcela possível do excedente gerado.<br />
(Manutenção do capital de giro, reposição do capital fixo, administração do fluxo de caixa<br />
e da reinversão de recursos líquidos liberados)<br />
� Conceitos de Mercado 9<br />
Por outro lado, o conceito de mercado 10 está associado a uma linha de produtos, diferenciados<br />
por marcas, modelos ou tipo de utilização (inclusive complementares) que resultem de processos de<br />
produção razoavelmente homogêneos, quanto aos insumos utilizados e a tecnologia.<br />
9 A apresentação deste tópico está baseado nas análises contidas em Possas, M. L.: "Estrutura industrial brasileira:<br />
base produtiva e liderança de mercados", Campinas, Unicamp, tese de mestrado, mimeo., 1977. Em especial o<br />
capítulo IV, onde o autor - baseado na tipologia proposta por Maria da Conceição Tavares a partir dos trabalhos de<br />
V. Steindl e P. Sylos-Labini - identifica alguns padrões típicos de estruturas de mercado com dados dos principais<br />
setores da indústria brasileira em 1970.<br />
138
Ou seja, o mercado seria um conjunto de empresas (maiores ou menores) cujos produtos<br />
possam ser utilizados com a mesma finalidade e cujos processos produtivos sejam razoavelmente<br />
semelhantes. Portanto, a noção de concorrência é inerente ao conceito de mercado capitalista, Ou seja,<br />
o movimento das empresas nos mercados se faz através da luta competitiva pela conquista de clientes<br />
na venda de bens ou serviços ou, em outras palavras, da luta pela manutenção ou ampliação das suas<br />
posições no mercado. Ademais, são as formas ou os padrões assumidos pela concorrência que<br />
determinam as características do funcionamento dos diversos mercados em termos da sua composição<br />
(ou estrutura) e desempenho dinâmicos.<br />
Há vários critérios de classificação dos mercados. Os mais importantes são aqueles que tomam<br />
como base o produto, ou a destinação do produto, e, em especial <strong>para</strong> os mercados industriais, aqueles<br />
que levam em conta os padrões de concorrência que se estabelecem entre as empresas que deles<br />
participam.<br />
Com base na destinação do produto há os mercados de bens e serviços de produção e os de<br />
bens e serviços de <strong>cons</strong>umo. O mercado de bens e serviços de produção se subdivide em bens de<br />
capital (máquinas, equipamentos, instalações, edificações, etc) e bens intermediários ou insumos da<br />
produção (matérias primas, materiais, componentes, insumos energéticos, etc). Por outro lado, o<br />
mercado de bens e serviços de <strong>cons</strong>umo divide-se em bens de <strong>cons</strong>umo duráveis (uma ampla variedade<br />
de produtos que abrange habitações residenciais, veículos automotores, eletro-eletrônicos de uso<br />
doméstico ou comercial, etc) e bens de <strong>cons</strong>umo não duráveis (bens de <strong>cons</strong>umo imediato, cujos<br />
principais exemplos são os alimentos, roupas, calçados, cigarros, bebidas, etc).<br />
Por outro lado, com base no padrão de concorrência que se estabelece entre as empresas, o<br />
ponto de partida <strong>para</strong> a classificação dos mercados está na conjugação das noções de produtos e<br />
processos de produção. O conceito de mercado ou estrutura de mercado abrange, assim, a noção de<br />
"ramos da atividade capitalista que possuem uma determinada individualidade" e que possuem<br />
"características peculiares quanto à forma que se desenvolve o processo de competição entre as<br />
empresas aí presentes".<br />
Tais padrões de concorrência, numa determinada estrutura de mercado, dependeriam,<br />
basicamente, dos seguintes elementos:<br />
a. Forma pela qual as empresas líderes se inserem na estrutura produtiva, que pode <strong>cons</strong>tituir<br />
variados tipos de barreiras à entrada de novos competidores, em especial os de menor porte.<br />
Dentre os tipos de barreiras à entrada, os principais relacionam-se, às exigências ligadas ao<br />
padrão tecnológico utilizado no que se refere a elevada escala mínima de produção; ao uso de insumos<br />
específicos (importados, objeto de restrições monopólicas, etc); à também elevada escala mínima de<br />
gastos com distribuição dos produtos; ao grau de diferenciação dos produtos; à associação de vários<br />
dos atributos referidos, entre outros.<br />
b. Políticas de expansão das empresas líderes, ou sua estratégia de concorrência. O acesso às<br />
inovações técnicas; as possibilidades de mobilização de recursos financeiros disponíveis; as<br />
possibilidades de adaptação (implementação) dessas inovações técnicas aos mercados existentes ou<br />
mesmo à recriação de mercados, etc.<br />
A ação dos atributos citados conformam certos padrões de concorrência, que, por sua vez,<br />
configuram determinadas estruturas de mercado com características específicas de funcionamento e<br />
10 A noção de mercado mais popular (ou corrente) está relacionada ao mercado de <strong>cons</strong>umo. Assim, a idéia mais<br />
comum de mercado está associada ao conjunto dos <strong>cons</strong>umidores de determinado produto e não ao conjunto das<br />
empresas produtoras deste produto. Contudo, como será argumentado a seguir tal noção - mercado de <strong>cons</strong>umo-<br />
mais comum, não é a mais relevante ou explicativa <strong>para</strong> a compreensão do funcionamento dinâmico das unidades<br />
produtivas capitalistas, interessando, sim (V. Possas, op. cit.), a conceituação de mercado que conjuga as noções de<br />
produto e de processo de produção – “Indústria” -, de tal forma que a noção de mercado assenta-se nas empresas<br />
(“unidades produtoras”), tornando fundamental, portanto, a compreensão das bases conceituais que fundamentam a<br />
formulação de suas estratégias.<br />
139
desempenho dinâmicos. Os atributos mais importantes que configuram as principais estruturas de<br />
mercado, são apresentados a seguir (v. Quadros 1 a 5)<br />
140
141
142
Tendo em vista a questões abordadas até aqui, é possível estabelecer uma primeira tentativa de<br />
síntese conceitual <strong>para</strong> a noção de mercado, a partir dos atributos que caracterizam o movimento das<br />
empresas no mercados.<br />
Resumidamente podemos agrupar as noções de mercado em dois grandes conjuntos conceituais<br />
e práticos:<br />
a) A partir da noção de Concorrência - Conjunto de Empresas Produtoras<br />
Mercado é o Conjunto de Empresas com Produtos ou Serviços com utilização semelhante e<br />
processos produtivos relativamente homogêneos, passíveis de diferenciação em modelos, faixa etária,<br />
faixa de renda, etc.<br />
b) A partir da noção de “Satisfação” do Cliente - Conjunto de Clientes<br />
Mercado é o conjunto de:<br />
� Consumidores finais: Clientes (indivíduos ou famílias) isolados ou agrupados (segmentados)<br />
conforme seu poder aquisitivo, Perfil sócio – cultural, Localização espacial/ geográfica ou<br />
outros Atributos Individuais ou de Grupos.<br />
� Consumidores intermediários: Clientes (outras unidades produtoras) isolados ou agrupados<br />
(segmentados) conforme a especificação técnica e projeto de produtos ou serviços ou outros<br />
atributos de demanda produtiva.<br />
Para finalizar vale introduzir a noção de "Marketing", que atualmente abrange todas as ações sobre<br />
o mercado no sentido amplo – ou seja, um amplo conjunto de estratégias e táticas destinadas a garantir<br />
o estabelecimento de relações duradouras com os clientes levando em conta, necessariamente, os<br />
movimentos dos concorrentes - contempladas nos conceitos apresentados anteriormente, assumindo<br />
que na prática tal noção poderia ser sintetizada como "fazer o mercado", ou seja, manusear as<br />
principais ferramentas de gestão empresarial, destinadas à <strong>cons</strong>trução, preservação e/ou expansão de<br />
uma posição no mercado.<br />
Assim podemos conceituar "Marketing" nos dois planos abordados acima, <strong>para</strong> os mercados:<br />
� Concorrência: Conjunto de Empresas Produtoras<br />
- Processos, produtos e serviços (relações internas e na rede produtiva)<br />
- Sistemas de Vendas e Distribuição (relações predominantes na cadeia)<br />
- Custos e Preços (relações internas, na cadeia e na rede)<br />
- Relações com a Mídia e <strong>cons</strong>olidação das alianças Empresa-Produto e Agentes<br />
econômicos (relações internas e na cadeia)<br />
� “Satisfação” do Cliente: Conjunto de Clientes<br />
- Finais: Caracterização do processo de demanda (quem, quando, quanto compra; o<br />
que move a demanda: qualidade, preço, atendimento, conjugações dos atributos,<br />
etc.)<br />
- Intermediários: Caracterização do processo de demanda com ênfase na <strong>cons</strong>trução de<br />
parceiras “virtuosas” na cadeia produtiva.<br />
143
IV.1) Modelo Integrado de Gestão Empresarial<br />
A chamada gestão “interna” das empresas engloba ações em dois planos :<br />
a. No plano do processo de geração/apropriação do excedente produtivo: enfoque na economia da<br />
empresa; ênfase na formulação das estratégias de permanência e expansão da empresa no mercado.<br />
b. No plano do processo organizacional ou de funcionamento orgânico da empresa: enfoque na<br />
organização ou na capacitação organizacional da empresa; ênfase no desenvolvimento da estrutura<br />
organizacional face às exigências dinâmicas do funcionamento ou da inserção da empresa no mercado.<br />
Em outras palavras, a administração/gestão das empresas move-se a partir da compreensão do<br />
empreendimento capitalista como uma unidade com dupla determinação:<br />
EMPREENDIMENTO CAPITALISTA<br />
- EMPRESA -<br />
Figura 3<br />
UNIDADE DE ACUMULAÇÃO<br />
DE CAPITAL<br />
(ESTRATÉGIAS ECONÔMICA E<br />
FINANCEIRA)<br />
UNIDADE ORGÂNICA<br />
(ESTRUTURA<br />
ORGANIZACIONAL)<br />
As duas determinações concretas das empresas são complementares. Enquanto unidade de<br />
acumulação de capital a formulação dos objetivos estratégicos (ou o conjunto dos processos<br />
decisórios) fundamentais da empresa leva em conta, essencialmente, o padrão de concorrência que<br />
predomina na estrutura de mercado onde a empresa atua e a particular forma de inserção da unidade<br />
nesse mercado.<br />
Por outro lado, enquanto unidade orgânica o campo de definição de estratégias está relacionado<br />
com as respostas dinâmicas da estrutura organizacional diante das exigências colocadas pela forma de<br />
inserção da empresa no mercado.<br />
É mais ou menos como se o processo de geração do excedente fosse a infra-estrutura de uma<br />
entidade (a empresa) cuja superestrutura fosse o processo organizacional.<br />
Dessa forma, a conceituação de Gestão Empresarial deve ser desenvolvida com o conteúdo<br />
relacionado à organização e economia das empresas, ou seja, com a evolução da estrutura<br />
organizacional e com o processo de formulação das estratégias econômica e financeira das empresas.<br />
Para isso, tendo em vista as exigências dinâmicas da abordagem proposta, o desenvolvimento da<br />
parte introdutória da presente disciplina vai procurar relacionar as análises e proposições desenvolvidas<br />
em dois planos:<br />
- No plano em que predominam as relações “<strong>para</strong> fora” da empresa: buscando configurar o grau de<br />
autonomia da administração sobre o processo de geração/apropriação do excedente tendo em vista o<br />
conjunto ou a rede de relações inter-empresas ou inter-agentes econômicos em geral - “<strong>para</strong> trás" junto<br />
à cadeia de fornecedores; "<strong>para</strong> frente" junto à cadeia de distribuidores e clientes, etc.<br />
144
- No plano em que predominam as relações “<strong>para</strong> dentro” da empresa: no sentido de configurar o<br />
grau de qualificação dos recursos humanos, dos processos, dos produtos e do conjunto ou da rede de<br />
relações intra-empresa, em especial a cadeia de relações da estrutura organizacional.<br />
A Gestão empresarial, portanto, tem sua ação referida ao movimento de acumulação de capital na<br />
unidade produtiva (na empresa).<br />
Tal movimento está relacionado com a geração continuada de um excedente, do qual a parcela<br />
apropriável pela empresa (que configura o seu potencial autônomo de acumulação) depende, em<br />
primeiro lugar, do montante do excedente obtido num dado período, e, em última instância, da estrutura<br />
financeira do capital utilizado (vale dizer, da utilização, em maior ou menor proporção, de capital de<br />
terceiros), e, de outro lado, de uma proporção fixa destinada ao pagamento do imposto de renda.<br />
A parcela apropriável do excedente gerado pode ser reinvertida, em maior ou menor proporção, na<br />
mesma unidade produtiva, configurando o que se chama de acumulação efetiva ou expansão do capital<br />
produtivo com recursos próprios.<br />
O processo acima descrito corresponde ao crescimento da firma que, em outras palavras, significa o<br />
aumento da sua capacidade produtiva e o incremento da sua participação no conjunto das vendas do seu<br />
mercado. Tal processo de expansão é inerente ao surgimento e permanência das unidades produtivas<br />
nos mercados e o seu ritmo, <strong>para</strong> cada unidade, irá depender das características estruturais e dinâmicas<br />
do mercado - em especial do padrão de concorrência que aí vigore - e da forma particular de inserção<br />
da unidade nesse mercado.<br />
IV. 1. 1. Ilustração do modelo integrado de gestão empresarial (ou gestão econômicofinanceira<br />
da empresa no mercado), baseado no processo de geração/apropriação do<br />
excedente produtivo<br />
Vejamos, com mais detalhe, uma ilustração dos principais aspectos práticos envolvidos na<br />
conceituação de gestão das empresas nos mercados com base no processo de geração/apropriação do<br />
excedente produtivo.<br />
Todos os desdobramentos mais relevantes da taxa de lucro<br />
a) Geração continuada de um excedente produtivo e a permanência/expansão da empresa no<br />
mercado: Rebatimentos dos principais processos decisórios nas variáveis concretas do<br />
movimento do dia-a-dia das empresas (v. Ilustração 1, na página seguinte)<br />
Os conceitos e relações utilizadas no Quadro 1 são os seguintes:<br />
a. Taxa de Lucro Total (t)<br />
t = LAJI/KT<br />
LAJI = Montante de Lucro (ou excedente) total Antes de subtrair os Juros e Imposto de renda, ou Lucro<br />
Total das operações produtivas. Ou seja, agregação do excedente independente da sua destinação final e<br />
da origem do capital utilizado.<br />
KT = Capital Produtivo Total (médio do período).<br />
Esta taxa corresponde ao ritmo em que está se processando o retorno (em bases anuais, por exemplo) do<br />
capital total utilizado no empreendimento.<br />
b. Margem de lucro (m)<br />
LAJI = ver ítem anterior.<br />
m = LAJI/RT<br />
145
RT = Montante da Receita Total das vendas efetuadas no período. Corresponde à composição das<br />
quantidades vendidas com os preços correntes.<br />
Este indicador representa a lucratividade média das Vendas da empresa no período.<br />
c. Rotação do Capital Produtivo (r)<br />
r = RT/KT<br />
RT = ver ítem anterior.<br />
KT = ver ítem anterior.<br />
Esta relação corresponde ao índice de Capital-Produto da empresa ou ainda a uma das medidas da<br />
produtividade dos recursos aplicados no período<br />
d. Lucro total (LAJI)<br />
LAJI = RT - CT<br />
LAJI = v. itens anteriores<br />
RT = ver intes anteriores.<br />
CT = Custos Totais das atividades desenvolvidas no período.<br />
e. Capital Total<br />
KT = KF + KC<br />
KT = Capital Produtivo Total (médio do período).<br />
KF = Montante total dos recursos aplicados em Capital Fixo utilizado (médio do período).<br />
KC = Montante total dos recursos aplicados em Capital Circulante utilizado (médio do período).<br />
f. Receita total<br />
RT = � (QVi * Pvi )<br />
RT = Montante da Receita Total das vendas efetuadas no período. Corresponde à composição das<br />
quantidades vendidas com os preços correntes.<br />
QVi = Quantidade total vendida do produto i no período.<br />
Pvi = Preço de Venda unitário corrente produto i.<br />
g. Custo total<br />
CT = CF + � (Vi * Qpi )<br />
CT = Custos Totais das atividades desenvolvidas no período.<br />
CF = Custos Fixos Totais (conjunto dos gastos que independem do volume produzido ou vendido no<br />
período).<br />
Vi = Custos Variáveis unitários do produto i (conjunto dos gastos que dependem do volume produzido<br />
ou vendido no período).<br />
QPi = Quantidade total produzida do produto i no período.<br />
146
Ilustração 1<br />
PROCESSO DE GERAÇÃO DO EXCEDENTE PRODUTIVO REBATIDO SOBRE AS PRINCIPAIS DECISÕES POLÍTICAS E ESTRATÉGICAS<br />
OU: DETERMINANTES DINÂMICOS DO PROCESSO LUCRATIVO E DA GESTÃO DAS EMPRESAS NO MERCADO<br />
Análise da Margem de Lucro<br />
CUSTOS 1. Padrão Tecnológico: grau de exigências do<br />
Funções: preços e custos unitários,<br />
FIXOS padrão de concorrência e inserção da empresa<br />
"mark up", formas de inserção CF 2. Estrutura organizacional: grau de complexidade<br />
funcional e decisória<br />
CUSTOS<br />
TOTAIS 3. Especificação de: produtos, processos, etc.<br />
CT = CF + CV 4. Insumos materiais: volumes e qualidade<br />
vi 5. Insumos energéticos: volumes e qualidade<br />
EXCEDENTE CUSTOS 6. Relações c/ trabalhadores: qualificação e pol. Salarial<br />
PRODUTIVO VARIÁVEIS 7. Comissões, fretes, impostos<br />
LAJI = RT - CT CV = � (vi * QPi)<br />
8. Regime de produção: programado ("empurrado") ou<br />
��QPi sob pedido ("puxado" pelas vendas)<br />
MARGEM 9. Política de estocagem: garantia de suprimento<br />
LAJI / RT PREÇO DE VENDA<br />
DO PRODUTO i 10. Política de custeio unitário: Políticas e Sistemas de<br />
TAXA PVi Custeio, ciclos de vida dos produtos, etc.<br />
DE LUCRO 11. Grau autonomia p/ fixar preço: inserção da empresa<br />
LAJI / KT<br />
RECEITA TOTAL<br />
RT =����PVi * QVi)<br />
QUANTIDADE 12. Estrutura de mercado: grau de competitividade<br />
VENDIDA 13. Forma de inserção: líder, seguidora, etc.<br />
��QVi 14. Padrão de concorrência: concentração, barreiras, etc.<br />
15. Estratégia de "marketing": Clientes e Midia<br />
16. Sistema de vendas: organização do esforço interno<br />
CAPITAL FIXO 17. Capacidade de investir em inovações<br />
ROTAÇÃO KF 18. Exigências do padrão tecnológico<br />
RT / KT ENTRADAS E 19. Ritmo de obsolescência do "mix" tecnológico<br />
CAPITAL TOTAL DESEMBOLSOS<br />
KT = KF + KC DE CAIXA 20. Fluxos de Receitas/Despesas (em moeda $)<br />
CAPITAL<br />
CIRCULANTE PRAZOS 21.Ciclos (prazos): produção, recebimento das vendas,<br />
Análise da Rotação do Capital KC pagamentos das despesas e custos, etc.<br />
Funcões: produtividade dos recursos<br />
Estrutura Técnica do Capital, Condições ESTOQUES 22. Insumos, Produtos, componentes, partes, peças, etc.<br />
de Investimento e Financiamento (garantia de suprimento e minimização de custos)<br />
147
Análise da Margem de Lucro - Funções mais importantes:<br />
custos e preços unitários, "mark up" (poder de mercado),<br />
qualidade da venda ("mix"), base técnica: produção e<br />
organização<br />
Ilustração 1.1<br />
INDICADORES FUNDAMENTAIS PARA A ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA E<br />
FINANCEIRA: TAXA E MARGEM DE LUCRO; ROTAÇÃO K<br />
MARGEM DE<br />
LUCRO<br />
m = LAJI / RT Margem (m) Rotação (r) Taxa (t) = m * r<br />
(%) (n o (%) (n de vezes) (%)<br />
o (%) (n de vezes) (%)<br />
o de vezes) (%)<br />
TAXA 0,5% 50,0 25,0%<br />
DE LUCRO 1,0% 25,0 25,0%<br />
t = LAJI / KT 2,0% 12,5 25,0%<br />
ROTAÇÃO DO<br />
CAPITAL<br />
Análise da Rotação - Funções mais importantes:<br />
Produtividade e Estrutura Técnica dos Recursos, Volume<br />
das Vendas, Ciclos: operacional, produto e tecnologia<br />
Ganhos unitários (altos patamares de preços)<br />
versus Ganhos de quantidade (altos<br />
patamares de produtividade)<br />
5,0% 5,0 25,0%<br />
8,0% 3,1 25,0%<br />
10,0% 2,5 25,0%<br />
r = RT / KT 12,0% 2,1 25,0%<br />
15,0% 1,7 25,0%<br />
20,0% 1,3 25,0%<br />
25,0% 1,0 25,0%<br />
30,0% 0,8 25,0%<br />
Legenda 35,0% 0,7 25,0%<br />
LAJI = LUCRO TOTAL = Lucro Antes dos Juros e I. Renda 40,0% 0,6 25,0%<br />
LAJI = RT - CT, sendo RT = Receita Total e CT = Custos Totais 45,0% 0,6 25,0%<br />
KT = CAPITAL TOTAL 50,0% 0,5 25,0%<br />
O quadro acima ilustra uma característica típica da gestão da lucratividade dos negócios em diversos setores<br />
da economia, característica esta relacionada às possibilidades de centrar a estratégia competitiva em ganhos de<br />
volume ou em ganhos unitários.<br />
Por outro lado, as variáveis relacionadas ao processo decisório concreto no dia-a-dia da empresa, níveis de<br />
decisões e funções administrativas a que pertencem, estão detalhados abaixo. A numeração entre parêntesis que<br />
se segue corresponde à numeração que fecha a decomposição da taxa de lucro total na extremidade direita do<br />
Ilustração 1.<br />
a) CUSTOS FIXOS: O montante de gastos com custos fixos está relacionado à decisões quanto ao (1)<br />
padrão tecnológico utilizado e à (2) estrutura administrativa da empresa. Tais decisões, em geral,<br />
configuram situações de longo prazo e pertencem, portanto, aos níveis decisórios responsáveis pelas<br />
formulações das políticas e estratégias mais amplas do empreendimento.<br />
b) CUSTOS VARIÁVEIS UNITÁRIOS: tais custos, em cada produto, são tecnicamente invariantes ao<br />
nível da unidade produzida e referem-se, principalmente, aos gastos com insumos materiais e<br />
energéticos; com salários e encargos da mão-de-obra direta; com serviços produtivos fornecidos por<br />
terceiros. Estes gastos dizem respeito, portanto, às decisões relativas à (3) engenharia ou ao projeto do<br />
produto e dos processos de produção; às relações estabelecidas com (4) fornecedores de insumos<br />
materiais e (5) energéticos; às (6) relações estabelecidas com os trabalhadores diretos da empresa, tais<br />
como políticas salariais, de qualificação e/ou incentivo ao desenvolvimento das habilidades técnicas<br />
produtivas e (7) decisões que afetam outras esferas da gestão empresarial; De fato, este grupo de gastos<br />
afeta diretamente as decisões de políticas e estratégias vinculadas ao lucro operacional bruto do produto<br />
148
(ou seu "mark-up") <strong>cons</strong>tituindo-se, portanto, em variável estratégica fundamental <strong>para</strong> o funcionamento<br />
dinâmico do empreendimento.<br />
c) QUANTIDADE PRODUZIDA: A quantidade produzida de cada produto da empresa está relacionada<br />
diretamente com as (8) políticas e estratégias de produção e (9) políticas e estratégias de estocagem de<br />
insumos materiais, componentes, partes, submontagens e produtos acabados, que afetam a dinâmica do<br />
sistema de produção utilizado.<br />
d) QUANTIDADE VENDIDA E PREÇO DE VENDA: relacionam-se com (10) a política de custeio<br />
unitário dos produtos (aos custos diretos da unidade do produto e a margem de contribuição unitária, ou<br />
aos custos unitários totais e a margem de lucro unitária atribuídos aos produtos dependendo do sistema<br />
de custeio utilizado); ao (11) grau de autonomia <strong>para</strong> fixação do preço de venda, que, por sua vez,<br />
depende da (12) estrutura de mercado onde atua a empresa, bem como da (13) sua particular forma de<br />
inserção neste mercado e do (14) padrão de concorrência que ali vigore. Além destas variáveis<br />
estratégicas com fortes graus de indeterminação interna à empresa, há ainda decisões relacionadas<br />
com (15) a sua estratégia de mercado ou de "marketing" e com o (16) sistema de vendas utilizado.<br />
e) CAPITAL FIXO: o montante, o padrão e a composição do Capital Fixo utilizado na unidade produtiva<br />
tem relação com a (17) capacidade de investimento em inovações técnicas; com a (18) grau de exigência<br />
do mercado quanto ao padrão tecnológico e com (19) o ritmo de obsolescência do "mix" tecnológico<br />
utilizado.<br />
f) CAPITAL CIRCULANTE: O montante e a estrutura do capital circulante utilizado depende das<br />
decisões de políticas e estratégias relacionadas aos prazos de (20) entradas e (21) saídas de caixa, bem<br />
como ao (22) volume de recursos aplicados em estoques - de produto acabado, insumos, etc.-, resultante<br />
ao sistema de produção adotado.<br />
As Ilustrações 2 e 3, mostram a decomposição dos resultados tendo em vista sua distribuição dentre os<br />
diversos agentes que se apropriam dos lucros das empresas, além de permitir a visualização do processo de<br />
reinversão do capital produtivo na unidade e processo de financiamento dos recursos utilizados. Os conceitos<br />
mais importantes são os seguintes (os números que aparecem entre parêntesis são aqueles que <strong>cons</strong>tam nas<br />
“caixas” do lado direito dos Ilustrações 2 e 3).<br />
149
Ilustração 2<br />
PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DO EXCEDENTE PRODUTIVO, ACUMULAÇÃO PRODUTIVA<br />
POTENCIAL E EFETIVA COM RECURSOS PRÓPRIOS<br />
IMPOSTO DE<br />
RENDA<br />
I.R. 1. POLÍTICA TRIBUTÁRIA E<br />
LUCRO GESTÃO CONTÁBIL-FISCAL<br />
TOTAL LUCRO DE<br />
LAJI = Lp + Lt + IR TERCEIROS<br />
Lt = JUROS 2. TAXA DE JUROS<br />
TAXA DE LUCRO REINVERSÃO 3. ACUMULAÇÃO EFETIVA C/<br />
TOTAL (t) RECURSOS PRÓPRIOS<br />
LAJI / KT LUCRO PRÓPRIO<br />
Lp DISTRIBUIÇÃO 4. POLÍTICA DE DIVIDENDOS<br />
APLICAÇÕES 5. POLÍTICA DE DIVERSIFICA-<br />
EXTERNAS CÃO DO INVESTIMENTO<br />
CAPITAL PRÓPRIO<br />
Kp 6. LUCROS ACUMULADOS<br />
CAPITAL TOTAL 7. NOVAS INVERSÕES<br />
KT = Kp + Kt<br />
CAPITAL DE<br />
TERCEIROS<br />
Kt 8. FINANC. CURTO PRAZO<br />
9. FINANC. LONGO PRAZO<br />
Ilustração 3<br />
ESTRUTURA FINANCEIRA E DECISÕES ESTRATÉGICAS DE FINANCIAMENTO DA EMPRESA<br />
TAXA DE LUCRO<br />
TOTAL (t)<br />
t = LAJI / KT<br />
TAXA DE LUCRO TAXA DE LUCRO<br />
PRÓPRIA (tp) DE TERCEIROS (j)<br />
tp = Lp / Kp j = JUROS / Kt<br />
tp= t + [ (t - j) * (Kt / Kp)]<br />
Taf = tp / t<br />
10. Taxa de alavancagem<br />
financeira<br />
Taf = 1 + { [ (t - j) * (Kt / Kp) ] / t }<br />
RELAÇÕES DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA<br />
11.Recursos III´s vantajosos nos<br />
limites do grau de endividamento<br />
> ALAVANCAGEM POSITIVA (FAVORÁVEL) 12. Recursos de III´s indiferentes<br />
t : j = ALAVANCAGEM NEUTRA à apropriação do lucro nos<br />
< ALAVANCAGEM NEGATIVA (DESFAVORÁVEL) limites do endividamento<br />
13. Recursos de III´s desvantajosos<br />
em qualquer hipótese de<br />
endividamento<br />
a) Na Ilustração 2 está ilustrado o processo de apropriação do excedente produtivo, representado pelas<br />
variáveis relacionadas ao processo decisório concreto no dia-a-dia da empresa, níveis de decisões e<br />
funções administrativas a que pertencem.<br />
b) Na Ilustração 3, está ilustrado o processo de decisão sobre as condições de financiamento<br />
(suprimento de recursos financeiros próprios ou de terceiros) da empresa, destacando o conceito de<br />
alavancagem financeira.<br />
c) Assim, na Ilustração 2, as parcelas componentes do lucro total (ou excedente bruto) correspondem ao<br />
imposto de renda, ao juros pagos pela utilização de capital de terceiros e ao lucro próprio. Tais<br />
150
variáveis são indeterminadas internamente, pois a empresa não tem autonomia <strong>para</strong> decidir o<br />
montante de Imposto de Renda (1) que ela vai pagar no período, e os juros pagos dependem do<br />
volume de capital de terceiros utilizado (3) (que pode ser, em princípio, determinado no orçamento<br />
financeiro da empresa) e da taxa de juros (2), em geral não objeto de negociação em amplas faixas de<br />
captação de recursos no mercado financeiro.<br />
d) O montante de lucro próprio, que é um resíduo ou um resultado, não corresponde, de imediato, ao<br />
volume de recursos disponíveis <strong>para</strong> reinvestimento na empresa. A parcela reinvestida (4) é<br />
representada pelo que resta depois da distribuição dos dividendos (5) e das eventuais aplicações<br />
externas (6) permanentes ou temporárias. Dessa forma o potencial de expansão (ou acumulação) com<br />
recursos próprios, no período, é representado pelo volume destinado a reinversão. Tais variáveis<br />
pertencem ao plano de decisões estratégicas mais complexas da empresa, e competem, em geral, à<br />
alta direção do empreendimento.<br />
e) As estratégias relacionadas às variáveis ou relações de (7) a (9) na Ilustração 2 e de (10) a (14) na<br />
Ilustração 3, dizem respeito à administração econômico-financeira da empresa. Refletem decisões<br />
quanto à estrutura financeira do capital da empresa: a proporção entre o capital próprio - que pode ser<br />
fruto de reinvestimento de lucros obtidos no passado (7) e/ou resultado de novas inversões de capital<br />
dos proprietários (8) - e o capital de terceiros - composto por financiamentos de capital de giro (9),<br />
ou de curto prazo e financiamentos de capital fixo (10), ou de longo prazo - no capital total utilizado;<br />
tais decisões, por seu lado, dependem da disponibilidade de capital próprio e da taxa de lucro próprio,<br />
esperada ou efetiva, e da relação prevalecente ou prevista entre a taxa de lucro total do<br />
empreendimento e a taxa de juros paga pela utilização de capital de terceiros. As condições de<br />
alavancagem financeira (11) favorável (12), neutra (13) e desfavorável (14) observadas, formarão o<br />
pano de fundo <strong>para</strong> que a administração financeira decida sobre a estrutura de capital a ser praticada<br />
(em especial quanto à tomada ou não de recursos de terceiros), na perseguição dos objetivos<br />
estratégicos de curto ou médio prazo.<br />
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Identificação dos principais conceitos e indicadores estratégicos da gestão econômica e financeira<br />
das empresas nos demonstrativos contábeis (D.R.E. = Demonstrativo de Resultado do Exercício e<br />
B.P = Balanço Patrimonial) 11<br />
Quadro 6<br />
Conceitos Indicadores Demonstrativo contábil Nomenclatura Contábil<br />
Excedente Bruto LAJI D.R.E. Lucro Operacional<br />
Capital Total KT B. P.<br />
Ativo Operacional<br />
Receita Total RT D.R.E. Receita Operacional<br />
Custos Totais CT D.R.E. Custos & Desp. Operacionais1 Custos Variáveis CV - não <strong>cons</strong>ta 2<br />
Custos Fixos CF - não <strong>cons</strong>ta 3<br />
Capital Circulante KC B. P. Ativo Circulante Operacional 4<br />
Capital Fixo KF B. P. Ativo Operacional (Imobilizado Bruto)<br />
Capital Próprio KP B. P. Patrimônio Líquido<br />
Cap. de Terceiros Kt B. P. Saldo de Financiamento 5<br />
Juros J D.R.E. Despesas Financeiras 6<br />
Taxa de Juros j não <strong>cons</strong>ta 7 -<br />
Imposto de Renda IR D.R.E. I. R. devido<br />
Lucro Próprio Lp D.R.E. Lucro líquido<br />
Estoques E B. P. Estoques<br />
1. Corresponde ao conjunto dos custos (Custos dos Produtos Vendidos) e das despesas operacionais (Despesas<br />
Administrativas, Despesas com vendas, impostos sobre vendas, outros impostos, outras despesas operacionais).<br />
2. Pode ser obtido por aproximação e corresponderia ao conjunto dos custos dos produtos vendidos, comissões sobre<br />
vendas e fretes, entre outros custos variáveis.<br />
3. De maneira análoga pode ser obtido por aproximação pela diferença entre os custos totais e os custos variáveis.<br />
4. Corresponde ao conjunto dos saldos disponíveis (Caixa e Bancos), outras disponibilidades operacionais,<br />
duplicatas a receber, estoques, adiantamentos a fornecedores e outros financiamentos concedidos.<br />
5. Saldo de financiamentos vigentes <strong>para</strong> o Capital de Giro e Capital Fixo.<br />
6. Despesas financeiras decorrentes de financiamentos do capital de giro.<br />
7. Corresponde, aproximadamente, ao volume de despesas financeiras relacionado com o volume médio de capital de<br />
terceiros utilizado, no período, <strong>para</strong> financiamento do capital de giro (estimado pelo saldo de financiamento de capital<br />
de giro que se encontra no passivo comercial)<br />
11 A quantificação das principais categorias e indicadores apresentados nas páginas anteriores, pode ser obtida a partir<br />
dos demonstrativos contábeis da empresa, tais como o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Resultado do<br />
Exercício. As dificuldades <strong>para</strong> obter valores fidedignos como se sabe, advém do fato - conhecido - dos<br />
demonstrativos contábeis se <strong>cons</strong>tituírem em instrumentos de natureza fiscal e tributária, nem sempre os mais<br />
adequados <strong>para</strong> espelhar realidade econômica e financeira das empresas; ademais, há a necessidade da conversão<br />
de valores monetários (expresso em moeda corrente) de distintos períodos - ao longo de um ano, por exemplo - em<br />
valores <strong>cons</strong>tantes (descontada a inflação) o que possibilita a operação (adição ou subtração) de tais valores, além<br />
de tornar viável a realização de análises com<strong>para</strong>tivas no tempo.<br />
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