18.04.2013 Views

MANACORDA, Mario Alighiero. A Educação no Setecentos. In ...

MANACORDA, Mario Alighiero. A Educação no Setecentos. In ...

MANACORDA, Mario Alighiero. A Educação no Setecentos. In ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>MANACORDA</strong>, <strong>Mario</strong> <strong>Alighiero</strong>. A <strong>Educação</strong> <strong>no</strong> <strong>Setecentos</strong>. <strong>In</strong> História da <strong>Educação</strong> – Da<br />

antiguidade aos <strong>no</strong>ssos dias. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1999.<br />

1 ESCOLAS CRISTÃ, CATÓLICAS E REFORMADAS (227 – 235)<br />

A experiência da pequena escola dos jansenistas 1 na França. O latim e gramática para<br />

aperfeiçoar a razão, a moral, a linguística.<br />

As escolas cristãs dos irmãos de São João Batista de La Salle: técnico profissionais e escola<br />

<strong>no</strong>rmal para leigos.<br />

a) Entrando numa escola cristã.<br />

Os regulamentos da escola permitem entrar na própria escola. No “Conduite des écoles<br />

chrétiennes” de João Batista de La Salle, de 1702 e impressão em 1720: a organização, as matérias, a<br />

disciplina, a metodologia e os materiais/instrumentos de ensi<strong>no</strong>. Destaque para o Livro da Civilização<br />

Cristã: deveres para com Deus e pais, boas maneiras cristãs e civis. Havia ainda a leitura das coisas<br />

profanas que se referia a registros e documentos produzidos pela tempo presente (cartas, contratos,<br />

procurações, etc). Seguia-se orientações da escrita e da aritmética. Manacorda identificou uma<br />

separação entre o ler e o escrever: o ler voltado para as questões religiosas (aculturação moral e<br />

religiosa) ; e o escrever centrado nas questões materiais e preparo para o ofício (profissões artesanais e<br />

mercantis). La Salle não inventa a arte da escrita, ela sempre foi uma atividade dos <strong>no</strong>bres.<br />

A segunda parte de “Conduite des écoles chrétiennes” ocupa-se de como manter a ordem<br />

nas escolas: pureza dos costumes por meio de controle dos comportamentos e leituras. Há uma parte<br />

que detalhe os mecanismos de punição. A última parte trata da estrutura e dos móveis escolares<br />

2 A PEDAGOGIA DOS LETRADOS (235 – 240)<br />

Por que o iluminismo coloca o humanismo em crise? O humanismo era um movimento de<br />

redescoberta do passado, sobretudo a partir de autores gregos e roma<strong>no</strong>s. Manacorda entende que a<br />

descoberta de <strong>no</strong>vos mundos coloca esse humanismo em crise. O que significa essa descoberta de<br />

<strong>no</strong>vos mundos?<br />

Na “querelle des anciens et des modernes” que enfraquece a tese de Comenius do uso do<br />

latim como instrumentos e de Port-Royal que o entendia como básico para “a construção racional da<br />

língua” (e da lógica), sem reparar que para isso as línguas modernas podem até ser mais eficazes.”<br />

(<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p.236).<br />

Outros fatores que contribuíram para a superação do humanismo como retor<strong>no</strong> ao<br />

1 SOBRE O JANSENISMO: Fundado por Cornelius Otto Jansen, conhecido por Jansênio, que nasceu em 28 de<br />

outrubor de 1585 em Acquoy e faleceu em 6 de maio de 1638 em Ypres, na Holanda. Trata-se de doutrina de rigor<br />

moral inspirada na predestinação de Santo Agostinho.<br />

Segundo Verbete elaborado por Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro, disponível em<br />

http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_b_Cornelius_Otto_Jansen.htm: “ Cornelius Jansenius<br />

foi Doutor em teologia pela Universidade de Louvaina e bispo de Ypres. “Com o intuito de reformular globalmente a vida<br />

cristã, o holandês Cornélio Jansênio (1585-1638) deu início a um movimento que abalou a Igreja Católica durante os séculos<br />

XVII e XVIII. Descontente com o exagerado racionalismo dos teólogos escolásticos, Jansênio ¾ doutor em teologia pela<br />

Universidade de Louvain e bispo de Ypres ¾ uniu-se a Jean Duvergier de Hauranne, futuro abade de Saint-Cyran, que<br />

também pretendia o retor<strong>no</strong> do catolicismo à disciplina e à moral religiosa dos primórdios do cristianismo. Os jansenistas<br />

dedicaram-se particularmente à discursão do problema da graça, buscando nas obras de Santo Agostinho (354-430)<br />

elementos que permitissem conciliar as teses dos partidários da Reforma com a doutrina católica. Jansênio em sua obra<br />

Augustinus, declarava que a razão filosófica era a “mãe de todas as heresias”. Baseando em Santo Agostinho sua doutrina do<br />

dúplice amor, sustentava que Adão, antes de pecar, era livre; pelo pecado perdeu a liberdade e tor<strong>no</strong>u-se escravo da<br />

concupiscência, que o arrastou para o mal (<strong>In</strong>: PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Abril Cultural, 1979). Também<br />

Villoslada fala do sacerdote secular belga Cornélio Jansênio, um dos exegetas da Sagrada Escritura (LLORCA, Bernardi<strong>no</strong>,<br />

S.J.; VILLOSLADA, R. Garcia, S.J.; MONTALBAN, F. S., S.J. Historia de la Iglesia Catolica: en sus cuatro grandes<br />

edades: antigua, media, nueva, moderna. Madrid: Biblioteca de Autores Cristia<strong>no</strong>s – BAC, 1960. p. 1018-1049). Bangert<br />

fala em Cornelis Jansen, cuja obra póstuma intitulada Augustinus, fora publicada em 1640: Este livro, fruto de muitos a<strong>no</strong>s<br />

de estudo do seu autor sobre Santo Agostinho, foi um dos clássicos deste movimento e<strong>no</strong>rmemente espalhado, a respeito do<br />

‘Doutor da Graça’, que deu o tom retintamente agostinia<strong>no</strong> a grande parte da corrente de teologia e espiritualidade do século<br />

XVII. Tor<strong>no</strong>u-se também um dos marcos miliários nestas prolongada luta, por século e meio, entre Jesuítas e Jansenistas”<br />

(BANGERT, William V. (S.J.). História da Companhia de Jesus. Porto: Apostolado da Imprensa; São Paulo: Loyola, 1985.<br />

p. 251)”. (Grifo <strong>no</strong>sso).


fundamentos dos pensadores gregos e roma<strong>no</strong>s e ao esvaziamento do latim como língua do pensamento,<br />

do argumento, etc: o prevalecimento do interesse pelas artes reais e mecânicas (“reales et<br />

mecahanicae”) <strong>no</strong> modelo baconia<strong>no</strong> e ou das modernas academias que respondiam e eram exigências<br />

do <strong>no</strong>vo modo de produção que se consolidava; o ideal do <strong>no</strong>vo “gentlman” pensado por John locke<br />

onde o latim não passa de um item de boas maneiras.<br />

O nascimento e consolidação da ciência moderna retirou do antigo patrimônio cultural a<br />

condição de “exclusivo e suficiente”. A consolidação das grandes línguas nacionais e a conquista do<br />

ligar de influência internacional fez como que o latim perdesse a condição de língua universal.<br />

Desse humanismo clássico o que restou? O “prestígio ideal” porque a cultura do mundo<br />

clássico (Grecia e Roma) ainda influencia a literatura e os costumes dos setecentos, como o latim<br />

superado pelo grego e à cultura grega.<br />

Para Manacorda o humanismo livresco sofreu as mesmas críticas que usou contra a<br />

“escolástica medieval”. Há um movimento de reafirmação da dignidade do homem que tendia a tornar<br />

popular e democrática a condição cortesã e aristocrática. Trata-se de um <strong>no</strong>vo humanismo que está<br />

presente <strong>no</strong>s reformadores, utopistas e revolucionários, que adquiriu expressão com os Iluministas.<br />

Senão, vejamos algumas destas características:<br />

a) “Educar humanamente todos os homens torna-se o grande objetivo da educação moderna<br />

[…] não sem grandes recaídas <strong>no</strong> paternalismo e <strong>no</strong> assistencialismo(<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 236). O<br />

que essas recaídas indicam? Que o objetivo dessa educação era formar o homem autô<strong>no</strong>mo e de<br />

iniciativa. Para explicar essa condição da educação moderna, Manacorda cita dois escritos do período<br />

(Robinson Crusoé – de Daniel Defoe e As viagens de Gulliver – de Johnathan Swif).<br />

Como Robinson Crusoé é personificado? “[...] carregado da ciência e da ideologia de<br />

contemporânea” expressa-se na “[...] capacidade teórica prática de […] construir sua habitação e sua<br />

mobília […] porque estudara matemática [...]” que <strong>no</strong> sua condição de náufrago, diante da questão da<br />

sobrevivência “[...] associa, na realidade, matemática e capacidade manual [...]” (<strong>MANACORDA</strong>,<br />

1999, p.236). Nesse sentido é um homem moder<strong>no</strong>, e progressista.<br />

Mas, há o outro lado da moeda: seu conservadorismo. A educação que procurou dar ao<br />

índio Sexta Feira demonstra sua condição conservadora, na medida em que faz uso da pedagogia do<br />

medo que está evidente na expressão “[...] era mais fácil imprimir na sua mente retas <strong>no</strong>ções sobre o<br />

diabo do que instruí-lo sobre a existência de Deus” (DEFOE, Daniel in <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 237).<br />

A literatura de Johnathan Swif, como <strong>no</strong> caso de As viagens de Gulliver usa de um<br />

sarcasmo extremado, como <strong>no</strong> caso que apresenta a criança de um a<strong>no</strong> de idade e saudável em Londres<br />

como um “prato delicioso, muito nutritivo e sadio [...]”. E prosegue Manacorda citando Swif que<br />

afirma ser sua proposta de que os filhos pobres na Irlanda como alimento: entre as vantagens estaria a<br />

diminuição dos “[...]papistas 2 […] que são os maiores fabricantes de crianças em todo o país […]<br />

(SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237). O tema em discussão é o controle da natalidade e a<br />

diminuição da miséria pelo controle da explosão demográfica.<br />

Swif criticava também as instituições culturais inglesas que de<strong>no</strong>mina de “ilha suspensa <strong>no</strong><br />

ar” expressa na cidade imaginária de Laputa: “[...]assinala o problema das relações entre teoria e prática<br />

[..] (SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 238). Outra cidade de sua literatura é Lagado, onde os<br />

inventores dedicam-se as pesquisas sem sentido como “[...]fazer voltar os excrementos huma<strong>no</strong>s aos<br />

alimentos originais […]”. (SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237).<br />

Manacorda lembra que bem antes de Robinson Crusoé e Gulliver Monstesquieu já usara<br />

deste mesmo recurso literário em “As Letress persanes” onde apresenta a viagem de uma estrangeiro<br />

persa na França que relata suas “impressões sobre as escolas francesas”: um bando de gente que ensina<br />

o que não sabe (<strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237).<br />

3 AS LUZES E A ENCICLOPÉDIA (240 – 245).<br />

As enciclopédias <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s setecentos refere-se ao trabalho de “[...] transcrição moderna<br />

dos antigos o<strong>no</strong>mástica 3 , das coletâneas clássicas e medievais, dos Summae, dicionários e tantas obras<br />

2 Conservador extremo, católico tradicional do tempo de Swif e de outros tempos que entre suas defesas é contra o<br />

controle de natalidade. O termo é muito usado em sua obra “Uma Modesta Proposta”<br />

3 Do grego ὀνομαστική (atribuir <strong>no</strong>me), neste caso da Enclopédia refere-se às obras antigas que tem o <strong>no</strong>me de seus<br />

autores ou lugares, fossem eles reais ou fictícios.


obras. Primavam pelo rigor científico na organização do saber com objetivo de seu enriquecimento e<br />

progresso. Os principais encioclopedistas: Diderot, D'Alembert, Rousseau.<br />

Qual a preocupação do enciclopedistas ? Em primeiro lugar “organizar e atualizar” todo o<br />

saber produzido entre os a<strong>no</strong>s Seiscentos e <strong>Setecentos</strong>, desde Bacon, Comenius até Leibnitz. Esse foi o<br />

trabal lho apresentado na “Enciclopédia das ciências, artes e dos ofícios” (1751- 1765).<br />

Para Manacorda (1999), além da grandiosidade da obra, o que mais a caracteriza é o<br />

aproximar as artes às ciências e cultura intelectual. Arte aqui <strong>no</strong> contexto moder<strong>no</strong> são artes e ofícios ou<br />

artes de ofícios. Por isso a enciclopédia é revolucionaria desde o seu título. D'Alembert assim define<br />

arte: “[...] qualquer sistema de conhecimentos que é possível traduzir em regras […] existem regras<br />

para as operações da inteligência […]' e “[...] também para as operações do corpo.” (<strong>In</strong><br />

<strong>MANACORDA</strong>, 1999, P. 240).<br />

Em Diderot, <strong>no</strong> verbete “ART”, Manacorda (1999, p.241) destaca a compreensão de arte do<br />

período que ao tratar da geometria intelectual (das academias, escolas) e geometria experimental (das<br />

oficinas) conclui que o ideal seria a aproximação das duas.<br />

Entre os colaboradores da enciclopédia estão artesãos que deram informações sobre seus<br />

ofícios, sobre a história e prática dos mesmos, e sobre a fabricação e funcionamento de mecanismos e<br />

máquinas.<br />

E Manacorda ressaltou sobre Diderot: “Ele também vêm com suficiente clareza o concurso<br />

das forças que operam a mudança: o artesão pela mão de obra, o acadêmico pelas suas luzes e<br />

orientações, o homem rico pelo custeio das maquinarias. Enfim, começa a ver claramente o<br />

desenvolvimento do capitalismo moder<strong>no</strong>, com sua divisão social […] destaca com objetiva<br />

capacidade de observação, a divisão do trabalho dentro da fábrica”: o parcelamento da fabricação do<br />

produto de forma a se ganhar agilidade e maior produção. (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 241 – 242).<br />

Manacorda aponta que a Enciclopédia também estava marcada por contradições. Para<br />

demonstra isso, <strong>no</strong>s apresenta as contribuições de César Damaris com o conceito atrasado e<br />

conservador de educação, bem como Rousseau (que embora contribuiu com revolução na abordagem<br />

da pedagogia ao situar a criança como uma especificidade com características que a diferem do adulto<br />

na forma de aprender e relação com o mundo: “estabelece relação entre educação e sociedade”) que<br />

assume uma “[...] concepção atrasada do desenvolvimento real das forças produtivas e dos modos de<br />

produção e da própria divisão do trabalho, que ficam muito aquém da realidade da revolução industrial<br />

em ato e da consciência que dela tiveram, por exemplo, os enciclopedistas, e em que a presunção da<br />

existência de um trabalho 'natural' se associa à suposta possibilidade de escolha que a história concede<br />

ao privilegiado Emílio; além disso, a mola que impulsiona para a aprendizagem de um trabalho é a<br />

pavorosa expectativa de uma revolução.” ( <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 243 – 24 4).<br />

Enquanto Diderot está na perspectiva gentil homem de Locke, Rousseau apresenta o<br />

homem <strong>no</strong>bre que pode escolher ofício limpo e e deixa os trabalhos sujos e insensatos aos demais. Para<br />

Locke, um homem virtuoso e sábio é superior e um grande erudito. A cultura deve estar subordinada às<br />

boas maneiras, boas disposições, boas atitudes. Condições que a educaççao deve realizar. Assim Locke<br />

entende que a educação é anterior à instrução, e que uma vez realizada esta, favorecerá a própria<br />

instrução. Quando Locke trata de cultura pensa numa versão moderna que promova a liberdade de<br />

pensamento, o autogover<strong>no</strong> (auto<strong>no</strong>mia) e a utilidade prática. Daí sua valorização da educação física e<br />

do trabalho para o fortalecimento moral. Assim, na formação dos pobres e reeducação dos delinquentes<br />

cumprem papel decisivo segundo seu entendimento com parte da formação do homem<br />

(<strong>MANACORDA</strong>, 1999, P. 226).<br />

4 PROPOSTAS E ATUAÇÕES DE UMA ESCOLA ESTATAL (245 - 248)<br />

As vozes por intervenções i<strong>no</strong>vadoras do Estado na instrução são apresentadas por<br />

Manacorda em dois grupos: os que teorizam e os que implementaram, os sobera<strong>no</strong>s iluminados.<br />

A) Quanto aos teóricos:<br />

LOUIS RENÉ DE LA CHALOTAIS (1701 - 1785) - “Essai d'education nacional” (1763)


pela educação do leigos e de responsabilidade do Estado. Não se tratava de uma educação democrática<br />

<strong>no</strong> sentido da universalização. Esse autor tinha preocupações de que a massa se desinteressasse das<br />

atividades “mais humildes e necessárias.”<br />

Na Alemanha JOHANN BERNHARDET BASEDOW (1723 – 1790): defesa da laicidade e<br />

estaticidade da instrução. Para ele não se tratava de católicos e reformados (protestantes), mas de<br />

constituir uma Europa cosmopolita. Por isso exigia que o Estado unificasse critérios unificados para a<br />

escola. Em “Relação aos filantropos”, de 1768, onde trata da decadência das escolas e dos estudos que<br />

atribui à Igreja. Defende a criação de um ministério da instrução e do ensi<strong>no</strong>.<br />

O despotismo esclarecido favoreceu a passagem da instrução e educação das mãos das<br />

Igrejas para o controle do Estado. CARLOS V na Alemanha (uma escola que formasse magistrados e<br />

não só clérigos); MABLY na França (“De la législation ou principes de las lois”, 1776 – contra o ensi<strong>no</strong><br />

mercenário e pedante a educação dos cidadãos porque desconhecem a sociedade e sua dinâmica). Em<br />

<strong>no</strong>me de uma maior igualdade entre cidadãos e classes, Mably defendia uma instrução pública e geral<br />

composta de instrução militar, direito natural, história.<br />

FILANGIERI na Itália em “Conscienciza della lesgilazione”, 1780: universalidade da<br />

instrução, mas não igualdade porque defendia a existência de dois tipos de cidadãos: um que serve a<br />

sociedade pelos braços e outro que a serve “pelos talentos.” Ao que propõe diferenças <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>: os que<br />

servem com o braço só precisam de uma fácil e breve instrução.<br />

B) Quanto aos sobera<strong>no</strong>s iluminados:<br />

MARIA TEREZA imperatriz da Áustria quando da criação da Comissão da Corte para os<br />

Estado em 1760 para cuidar da instrução sublinhou que a instrução é sempre um ato político. Sua<br />

posição define bem uma conquista fundamental da consciência dos tempos moder<strong>no</strong>s: “A educação<br />

agora é assunto estatal, é coisa do Estado”, conforme expressou Manacorda (1999, p. 247).<br />

IGNAZ VON FELBILGER (1724 – 1788) recebeu de Maria incumbência de um projeto de<br />

reforma aprovado em 1774 em cuja introdução se identifica o foco: “A juventude de ambos os sexos é a<br />

base principal para o bem estar do povo.” (citado por Manacorda, 1999, p. 348). O projeto organizou a<br />

instrução da seguinte forma: a) Escola popular (06 -10/12 a<strong>no</strong>s); b) Escolas principais (formação<br />

profissional). Umas delas era a Escola <strong>no</strong>rmal; c) Os Ginásios que ensinavam latim e preparavam pata a<br />

Universidade. Existia o dispositivo de passagem da escolas de profissionalização para os Ginásios; d)<br />

Universidades; e) escolas especiais de vários tipos (diversas atividades produtivas).<br />

Assim, José II, filho de Maria Tereza expressou a compreensão de seu tempo: “O principal<br />

dever de cada cidadão é tornar-se apto a servir ao Estado. Conhecimentos, saber e bons costumes são<br />

os meios melhores e mais seguros para atingir o bem estar exter<strong>no</strong> e inter<strong>no</strong>.” (citado por<br />

<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 248).<br />

A reforma austríaca orientou outros reformas na Europa.<br />

5) AS REVOLUÇÕES DA AMÉRICA E DA FRANÇA (248 - 253)<br />

Manacorda ressalta que além das ideais, críticas e ações produzidas por filósofos, satíricos,<br />

utopias, romancistas, políticos, um fato essencial foi a Revolução <strong>In</strong>dustrial que ao alterar o modo de<br />

produção alterou os modos de vida dos homens: as alterações <strong>no</strong>s processo de trabalho promoveu<br />

mudanças nas ideias, na moral, e consequentemente nas formas de instrução.<br />

Na segunda metade dos a<strong>no</strong>s setecentos o desenvolvimento da fábrica e a destruição das<br />

corporações de artes e ofícios e da única forma de instrução popular que então existia (a aprendizagem<br />

artesanal) constitui o cenário para o aparecimento da instituição moderna pública.<br />

São e de nascimentos simultâneos: fábrica, escola, a ciência política que estuda os <strong>no</strong>vos<br />

processos econômicos e sociais. Os autores como Adam Smith e Davi Ricardo apontam os prejuízos<br />

que a fábrica (revolução industrial impôs a adultos e crianças explorando seu trabalho e impedindo<br />

qualquer instrução). A crítica a esses prejuízos será promovida pela eco<strong>no</strong>mia política de Marx.<br />

Manacorda considera o determinante política <strong>no</strong> processo de politização, democratização,<br />

laicização da instrução, sobretudo na ação dos Estados. Neste sentido, trata das repercussões das<br />

Revoluções de América e França, onde a exigência de uma instrução universal e da organização do


saber “[...] tor<strong>no</strong>u-se objeto discussões políticas das grandes assembleias representativas. Os políticos<br />

são os <strong>no</strong>vos protagonistas da batalha pela instrução, ainda que Locke e Rousseau sejam seus<br />

inspiradores.” (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 249).<br />

Assim, na América, quando da fundação da Confederação dos Estados <strong>In</strong>dependentes (1763<br />

– 1783) se assumiu as “exigências reformadoras do iluminismo e da Enciclopédia”. (<strong>MANACORDA</strong>,<br />

1999, p. 249). Benjamin Franklin e Thomas Jeferson entendiam que os direitos naturais e a liberdade<br />

exigem instrução, em certo grau. Na proposta de Franklin de uma escola que a princípio para todos<br />

deveria selecionar os melhores para o ensi<strong>no</strong> secundário e para a universidade estão os princípios da<br />

pedagogia liberal democrática que se configurou <strong>no</strong>s Estados Unidos. Sua proposta da formação da<br />

intelectualidade e moralidade dos jovens estavam fundada em Locke.<br />

Na França após 1789 a influência vem dos enciclopedistas e de Rousseau. Entre os projetos<br />

destaque o de TAYLLERAND que defendia uma instrução pública gratuita <strong>no</strong> que fosse necessário a<br />

todos os homens.<br />

A maior repercussão de seu por conta das propostas de CONDORCET com seu “Raporte<br />

rus l'instrucção publique”, de 18 de abril de 1792, <strong>no</strong> qual define a natureza e fins da instrução pública;<br />

trata da instrução comum para crianças e adultos; ocupa-se da instrução para a profissão e para as<br />

ciências. São princípios de sua proposta: universalidade da instrução necessária a todos; estaticidade e<br />

laicismo absoluto (única, gratuita e neutra).<br />

O projeto de LEPELETIER, 1793, firmava-se <strong>no</strong>s seguintes princípios: gratuita, literária,<br />

intelectual, física, moral e intelectual.<br />

Assim, o processo revolucionário francês em que pese as propostas não se implementaram<br />

contribuiu para consolidar: a) o princípio do direito de todos à instrução; b)re<strong>no</strong>var os conteúdos tendo<br />

a ciência como referência e supremacia em relação às literaturas; c) relação estreita com a vida social e<br />

produtiva.<br />

6 A IGREJA E A REVOLUÇÃO NA ITÁLIA (253 – 256)<br />

Pelo que Manacorda apresentou até aqui do longo processo de transição da escola da<br />

Igreja, e depois da reforma, das Igrejas para a escola estatal, ele confirma que a instrução continuava<br />

inspirada na religião. Mesmo assim a Igreja católica resistiu a toda <strong>no</strong>va filosofia de instrução e<br />

sobretudo contra a intervenções do Estado. Entretanto, alerta para o fato de que alguns papas como<br />

Bento XIV (1740 – 1758), que expressava um liberalismo leve , e embora condenasse a obra de<br />

Voltaire mantinha relações amistosas com o filósofo; Clemente XIV (1769 – 1774), cuja morte foi<br />

suspeita de envenenamento por cardeais contra sua abertura às <strong>no</strong>vas ideias.<br />

É um <strong>no</strong>rmal que tradição a Igreja contrariasse as ideias dos tempos moder<strong>no</strong>s,<br />

sobretudo aquelas que limitavam sua ação e interesses. O processo da Revolução Francesa desencadeou<br />

postura radicais dos papas que usavam “linguagem violentíssima contra os iluministas: 'mestres<br />

sumamente mentirosos […] 'gritando e imprecando até à náusea que o homem nasce livre e não é<br />

sujeito a ninguém” (Pio VI in <strong>In</strong>scrutabili divinae, 1775 <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 253).<br />

Outros como Pio VII (1800 – 1823), que na Diu santis que se posicionava veemente<br />

contra o poder político que se instaurou após a Revolução Francesa, acusando de subverter “direitos<br />

huma<strong>no</strong>s e divi<strong>no</strong>s”. Este papa reivindicava a exclusividade do clero na educação das crianças e<br />

adolescentes e conclamava a destruir e impedir que “[...] aqueles livros <strong>no</strong>s quais se atenta à doutrina<br />

de Cristo abertamente […] chegassem às consciências de todos. (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 253).<br />

A forte e violenta posição anticlerical do Estado quanto à instrução reavivou o<br />

confronto antigo com a Igreja.<br />

O domínio napoleônico impôs à Itália um modelo específico da instrução, mas as<br />

mudanças não forma significativas. De forma que, Manacorda aponta que a reforma do diretor geral da<br />

<strong>In</strong>strução Pública contida <strong>no</strong> “<strong>In</strong>struzioni per le scuole elementari” de 1812, apesar de progresso<br />

mantinha velhos motivos das escolas cristãs: o ensi<strong>no</strong> dos princípios da religião, a gratidão pelos pais e<br />

o amor às artes dos pais (o trabalho artesanal dos pais). Manacorda chama de “[...] quase uma<br />

predestinação natural.” (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 254). Os mestres deveriam ainda plantar <strong>no</strong> coração<br />

das crianças o amor à pátria, ao rei (gover<strong>no</strong>), obediência e respeito às leis, tradições e magistrados,<br />

bem como gratidão os se esforçavam para dar-lhes instrução gratuita. A instrução como benevolência<br />

concedida pelo Estado (<strong>no</strong> passado pela Igreja), e não como direito.<br />

No mesmo documento, segundo Manacorda, as doze prescrições do ler e escrever a


mesma didática das “escolas cristãs”, reconhecer as letras, soletrar, silabar e ler. O documento prescreve<br />

um livro de ouro para registro das honras e um livro negro para as punições . Apesar de superar o uso<br />

da vara e chicotes a punição mantem uma prática pedagógica controlada pela violência: transcrição de<br />

lições e correções <strong>no</strong>s trabalhos, admoestação pública de joelhos ou isolamento numa carteira. Ainda,<br />

suspensão e expulsão.<br />

Ao lado destes atos oficiais Manacorda considera importante que se observe “[...] os<br />

sonhos revolucionários de várias tendências [...]”. Por exemplo, Matteo Galdi que manifestava dúvidas<br />

quanto ao “caráter e igualdade” da instrução. Para este nenhuma república tem intenção de que todos<br />

tenham escolaridade consistente (nada de filosofia, ideias, esclarecimento... Isso poderia prejudicar a<br />

prática das artes de primeiras necessidades, bem como eliminaria a divisão de profissões), embora seja<br />

defensor da expansão da instrução. (<strong>In</strong> Saggio d'istruzione pubblica rivolucionaria, 1798 <strong>In</strong><br />

<strong>MANACORDA</strong>, 1996, p. 255).<br />

Vicenzio Russo em Pensieri politici defende que a terra seja purificada da ig<strong>no</strong>rância<br />

propagada <strong>no</strong>s livros dos teólogos (padres, Igreja) e de juristas (Estado).<br />

Entre estes, Manacorda afirma que Vicenzo Cuoco tinha maior senso de história e<br />

equilíbrio. Em “Rapporto al re” de 1809 defende uma escola universal, uniforme e completa, porém,<br />

numa estrutura conforme as classes sociais: “É necessário oque exista uma instrução para todos, uma<br />

para muitos e uma para poucos.” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p.256).<br />

Manacorda lembra que naquele contexto europeu a instrução como ideal da formação<br />

do homem subordinava-se ao problema da supremacia <strong>no</strong> continente. O modelo francês, o modelo<br />

alemão, o modelo inglês.<br />

7 DUAS EXPERIÊNCIAS CONCRETAS ENTRE O SETECENTOS E OITOCENTOS (256)<br />

A) O ENSINO MÚTUO (256 – 261)<br />

Ao contrário do que se pensa <strong>no</strong> senso comum, Manacorda alerta que as duas<br />

experiências em tor<strong>no</strong> do ensi<strong>no</strong> mútuo que se configuram na <strong>In</strong>glaterra é uma proposta de particulares.<br />

A função básica deste método era ensinar um número cada vez maior de alu<strong>no</strong>s com poucos mestres,<br />

usando da figura do monitor. Conforme Manacorda deixa claro: monitores eram “[...] alguns<br />

adolescentes instruídos diretamente pelo mestre, atuando com variedade de tarefas como auxilares ou<br />

monitores, ensinavam por sua vez outros adolescentes, supervisionando a conduta deles e<br />

administrandos os materiais didáticos.” (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, P. 256).<br />

Nosso autor lembra que o método mútuo ou algo parecido pode ser encontrado ao<br />

longo da história do ocidente desde os tempos antigos, Idade Média, até que na proposição dos ingleses<br />

Andrew Bell (1753 – 1832), pastor anglica<strong>no</strong>, e, Joseph Lancaster (1778 – 1838), pertencente à religião<br />

Quaker, o método mútuo adquiriu a condição de rigorosa organização didática e de pla<strong>no</strong> nacional de<br />

instrução popular.<br />

Em Madras, sul da Índia, em 1789, Bell dirigiu uma escola da Cia da Índias<br />

Orientais organizada para os filhos dos soldados europeus. Sua publicação “An experiment in<br />

education”, 1797, propagou suas ideias. O princípio do método é o ensi<strong>no</strong> realizado por terceiros sob a<br />

superitendência de um mestre. Bell expressava em suas publicações posteriores que a intenção era “[...]<br />

a diminuir as despesas da instrução, a abreviar o trabalho do mestre e a acelerar os progressos do<br />

alu<strong>no</strong>” (in <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 257). Segundo o próprio Bello, o sistema “[...] não é formado de<br />

indagações bem escritas e elaboradas e de rebuscadas especulações sobre a natureza da criança ou a<br />

filosofia do espírito […]”, mas trata-se algo que persegue resultados práticos “[...] na ciência do<br />

ensi<strong>no</strong>.” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 257).<br />

Lancaster abriu uma escola em Londres em 1798 para atender crianças pobres, e em<br />

1803 publicou “Improvements in education”, onde indica que o objetivo é melhorar a educação das<br />

classes do povo. Lancaster propunha uma educação religiosa aconfessional, enquanto Bell representava<br />

uma educação segundo os princípios da Igreja Anglicana.<br />

A Lancaster se deve o espalhamento método mútuo pela <strong>In</strong>glaterra e <strong>no</strong> mundo de<br />

língua inglesa. “[...] em 1811, na <strong>In</strong>glaterra, contavam-se quinze escolas com 30 mil alu<strong>no</strong>s.” Do<br />

ensi<strong>no</strong> elementar masculi<strong>no</strong> o método foi estendido ao ensi<strong>no</strong> femini<strong>no</strong>, educação de adultos e ensi<strong>no</strong><br />

superior, nas mais variadas disciplinas.<br />

No Brasil, o método foi adotado na primeira de ensi<strong>no</strong> em 1827 (15 de <strong>no</strong>vembro)


como como oficial exatamente por atender às falta de recursos e carência de professores. Porém, por<br />

falta de alu<strong>no</strong>s e ausência de investimentos em material didático específico do método, bem como de<br />

espaços físicos adequados, já na reforma de ensi<strong>no</strong> de 1854, o método foi abandonado como oficial.<br />

(OLIVEIRA 4 , 2009).<br />

Para Manacorda, “Trata-se não somente de um método didático, mas em primeiro<br />

lugar de uma opção política, sujeita a encontrar consensos e dissensos” (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 258),<br />

como do alemão José Hamal que em seu livro “Ensi<strong>no</strong> Mútuo”, 1819, se indagava da conveniência da<br />

difusão da instrução para as classes inferiores. Segundo esse autor existiam os que eram contrários sob<br />

o argumento “[...] perturbar o status quo para sair dele.” (ibid.).<br />

Para Manacorda, “O ensi<strong>no</strong> mútuo era a resposta a este perpétuo medo dos<br />

conservadores, o medo de que a instrução pudesse 'perturbar o Estado.'” (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p.<br />

258), conforme foi expresso pelo próprio José Hamel em seu livro ao definir o método mútuo como<br />

aquele que “[...] apresenta os meios mais sintéticos e econômicos para dar a instrução elementar<br />

oportuna às classes inferiores [...]”<br />

Perguntamos: que “[...] instrução elementar oportuna às classes inferiores [...]” era<br />

essa?<br />

Nas páginas 258 – 261 Manacorda descreve de forma sumariada como funcionada a<br />

escola de ensi<strong>no</strong> mútuo.<br />

B) J. H. PESTALOZZI 5 (261 – 268).<br />

Embora siga uma linha que se inspira em Rousseau, Pestalozzi vai além. Exerce uma<br />

atividade filantrópica e tinha capacidade de transformar princípios em ações práticas. Seu maior desafio<br />

foi unir o homem natural e realidade histórica, elementos que Rousseau havia separado. Para realizar<br />

isso não ig<strong>no</strong>rou seu tempo e orientou-se pelos ideais da sociedade pré-industrial. Sua contribuição<br />

(instituições infantis e didática) marcaram os rumos da <strong>no</strong>va pedagogia e do processo educativo dos<br />

a<strong>no</strong>s oitocentos.<br />

Suiço com cidadania francesa partir de 1798 aderiu à República Helvética instalada<br />

em 1798 por ocasião do domínio de Napoleão na região do pais. Durou até 1803.<br />

Sua ação humanitária e i<strong>no</strong>vadora rendeu-lhe a oposição dos conservadores. Reações<br />

que para Manacorda indicam a originalidade de suas propostas e ações. De Rousseau toma a concepção<br />

da bondade natural do homem, mas a entende como algo a se construída: um ser para a perfeição.<br />

Manacorda usa das cartas de Pestalozzi ao inglês Greaves em “Mãe e filho” para<br />

indicar os princípios da pedagogia pestalozziana:<br />

O “reconhecimento das imutáveis leis de <strong>no</strong>ssa natureza” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999,<br />

p. 261) o levou a valorizar de forma decisiva a extraordinária importância dos primeiros a<strong>no</strong>s de vida e<br />

o amor mater<strong>no</strong> na educação para o “[...] desenvolvimento da alma infantil[...]” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>,<br />

1999, p. 261).<br />

Manacorda alerta que o princípio mater<strong>no</strong> é prolongamento e concretização da<br />

concepção natural do homem presente em Pestalozzi. Deste decorre suas compreensões e praticas de<br />

relação educativa, metodologia didática, contexto social, enfim os aspectos de sua pedagogia.<br />

Trata-se de dimensões de sua pedagogia, sobre a qual Manacorda pontua algumas<br />

pontos centrais:<br />

1) Quanto à relação educativa, Pestalozzi defende a bondade como princípio basilar<br />

4 Dissertação de Mestrado. UEM. 2009.<br />

5 “João Pestalozzi nasceu em 1746 na cidade de Zurique, Suíça e faleceu em 1827. Lembrado como quem psicologizou a<br />

educação, […] procurou aprimorar suas teorias a partir das práticas, <strong>no</strong> desejo de desenvolver a educação pública, pois<br />

acreditava que a re<strong>no</strong>vação da educação seria a verdadeira questão social. Ele pregou a democratização da educação,<br />

influenciando assim os governantes de seu país, fazendo com que esses passassem a se interessar pela educação das crianças<br />

me<strong>no</strong>s favorecidas. “[...] decidiu tornar-se mestre escola e fundou sua própria instituição, na qual tinha meni<strong>no</strong>s e jovens,<br />

mestres e alu<strong>no</strong>s, que permaneciam juntos o dia inteiro, foi diretor de escolas elementares e chefe de institutos agrícolas.<br />

Para ele, o lar seria a melhor instituição de educação, onde seria desenvolvida a formação moral, política e religiosa. Em<br />

relação às suas obras editadas, Pestalozzi escreveu seu primeiro livro, Leonardo e Gertudes. Em 1782, ele escreveu seu livro<br />

mais erudito, Minhas investigações sobre o curso da natureza <strong>no</strong> desenvolvimento da raça humana.”<br />

(http://www.fae.ufmg.br/teoriaspedagogicas/Pestalozzi.htm. Acesso 07.09.2011).


da educação. É o meio pelo qual se consegue mais na prática educativa. Sua defesa não foi pacífica,<br />

sobretudo ao ser comparado com concepções que negavam o pecado original e a redenção pelo<br />

sacrifício de Cristo.<br />

Em Pestalozzi a natureza é entendida de forma dupla: animal e espiritual. Uma<br />

natureza inferior e outra melhor. Neste sentido, situa-se na lógica de dominar instintos e paixões por<br />

princípios e pela razão. Neste sentindo compreendia que a função primordial da educação era encorajar<br />

a criança “[...] o mais cedo possível a combater a força prepotente do instinto animal […]. <strong>Educação</strong><br />

por promovida pela mulher (“[…] força ainda mais poderosa […].” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, P. 262).<br />

Seus argumentos de que na criança existe uma força de origem diferente de qualquer<br />

tentação ou corrupção rendeu-lhe suspeitas dos conservadores. Manacorda explica: valorizar a criança<br />

significava valorizar classes inferiores.<br />

<strong>In</strong>stintos e vontades nas crianças segundo Pestalozzia<strong>no</strong> são manifestações<br />

necessárias da condição animal que deveriam ser freadas em seus excessos. Não indica punições ou<br />

qualquer educação repressiva baseada <strong>no</strong> medo. O que não significa abando<strong>no</strong> da severidade: “[...]<br />

deveríamos decididamente eliminar o temor como meio educativo.” No lugar do sadismo pedagógico<br />

propunha “[...] um método de ensi<strong>no</strong> melhor.” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 263).<br />

2) Quanto Metodologia didática, Pestalozzi firma o interesse e curiosidade infantil<br />

como base de qualquer intervenção educativa. O segredo seria o fomento e a a manutenção do interesse<br />

na criança, o relaciona diretamente ao método do mestre e da mãe, premira mestra. Deste princípio,<br />

Pestalozzi busca e ancora um outro: o da intuitividade e da gradualidade do ensi<strong>no</strong>. O fundamento<br />

destes princípios é “[...] agir sobre as mentes das crianças com elementos tirados da realidade e não<br />

com regras abstratas, e se deve ensinar mais com a ajuda de objetos do que de palavras”. Neste sentido,<br />

resgatou o método analítico de “[...] descobrir dadas verdade mediante a solução de problemas […]. (<strong>In</strong><br />

<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 264).<br />

O desafio da pedagogia moderna estava estabelecido. Neste sentido a didática é<br />

provocada ao uso de métodos, técnicas e instrumentos que promovessem mais que dominar<br />

propriedades abstratas, a capacidade de invenção, a promoção do surgimento de ideias. Pestalozzi<br />

elenca a ginástica, a música, o desenho, com status de disciplinas com potencial de proveito moral uma<br />

vez que contribuíram para o desenvolvimento do “[...] bom gosto e <strong>no</strong>breza do sentir […]”; “[...]<br />

suscitar e alimentar os mais elevados sentimentos [...]” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 265).<br />

Pestalozzi alerta que não propunha transformação tudo na instrução em diversão e<br />

jogo quando defende que a ação da mãe e do mestre não deve cansar a criança. A respeito afirmou: “[...]<br />

não é possível conseguir sem esforços um saber bem fundado […].” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 265).<br />

Fortalece o espírito de benevolência que não descuida da firmeza, sem o que não entendia ser possível<br />

atingir o mais elevado objetivo da educação: o preparo para o integral e livre uso de todas as suas<br />

faculdades físicas e intelectuais de forma a tornar-se o homem útil à sua sociedade, mesmo “[...] nas<br />

mais modestas condições de vida.” (<strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 266). O que <strong>no</strong>s coloca diante da<br />

terceira dimensão da pedagogia de Pestalozzi.<br />

3) As relações sociais adquirem em Pestalozzi formulações demcráticas, limitadas<br />

pe claro às condições do tempo em que viveu. O fundamento é ainda a natureza humana, que por ser<br />

semelhante em todos os homens deve ser desenvolvida em todas as suas faculdades (capacidades físicas<br />

e intelectuais) e em todos os homens. A educação não pode ser compreendida em um só aspecto. Neste<br />

sentido, fez a proclamação da universalização da educação do saber a todas as classes sociais. Porém<br />

mantém a compreensão da destinação profissional, embora se participe de elementos comuns que fazem<br />

o fundamento das forças humanas. Assim, defendeu que não seria legítimo limitar ou negligenciar a<br />

possibilidade de desenvolvimento de qualquer criança. (<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 265).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!