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alterações estruturais mínimas da laringe: um diagnóstico ... - CEFAC

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<strong>CEFAC</strong><br />

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

VOZ<br />

ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS MÍNIMAS DA<br />

LARINGE: UM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL<br />

ROBERTA REIS ARANTES JUNQUEIRA<br />

Rio de Janeiro<br />

1999


<strong>CEFAC</strong><br />

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

VOZ<br />

ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS MÍNIMAS DA<br />

LARINGE: Um <strong>diagnóstico</strong> diferencial<br />

ROBERTA REIS ARANTES JUNQUEIRA<br />

RIO DE JANEIRO<br />

1999<br />

Monografia de conclusão do<br />

curso de especialização em Voz<br />

Orientadora: Mirian Goldenberg


RESUMO<br />

Este trabalho tem o objetivo de identificar as <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, porque certas <strong>alterações</strong> orgânicas <strong>da</strong>s pregas vocais são de <strong>diagnóstico</strong><br />

laringoscópico aparentemente fácil, mas podem significar <strong>um</strong>a armadilha para o<br />

fonoaudiólogo e para o otorrinolaringologista.<br />

O exame clínico deve ser realizado cui<strong>da</strong>dosamente para revelar as<br />

<strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> associa<strong>da</strong>s, devido à importância destas na gênese<br />

de outros distúrbios.<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são pequenas <strong>alterações</strong> na sua<br />

configuração estrutural, que incluem desde simples variações anatômicas até<br />

malformações congênitas menores, que causam impacto na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz,<br />

quando estão associa<strong>da</strong>s a <strong>um</strong>a grande deman<strong>da</strong> vocal.<br />

Trata-se de <strong>um</strong>a pesquisa descritiva-teórica, mostrando aspectos<br />

aprofun<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, relacionando-as com as<br />

posições de diferentes autores, como: Behlau, Bless, Bouchayer, Pontes entre<br />

outros, para <strong>um</strong>a melhor discussão e demonstração <strong>da</strong> importância deste tema.<br />

A experiência do profissional que atua na área de voz acresci<strong>da</strong> dos<br />

conhecimentos teóricos e dos achados visuais e auditivos são importantes para a<br />

vali<strong>da</strong>ção de <strong>um</strong> <strong>diagnóstico</strong> diferencial entre a variabili<strong>da</strong>de de <strong>um</strong>a <strong>laringe</strong> normal<br />

ou <strong>um</strong>a alteração estrutural mínima.


SUMMARY<br />

The objective of this paper is to identify the minor structural alterations of the<br />

larynx since certain organic alterations of the vocal folds are apparently easy to<br />

diagnose laryngoscopically but they might be a trap for the voice therapist and the<br />

otolaryngologist.<br />

The clinical exam should be carefully done to reveal the minor associated<br />

structural alterations, due to their importance in the genesis of other disorders.<br />

The minor structural alterations of the larynx are small alterations in its<br />

structural configurations, which range from simple anatomic variations to minor<br />

congenital malformations and that cause impact on the quality of voice when<br />

associated to a great vocal demand.<br />

This is a descriptive-theoretical research showing further aspects of the minor<br />

structural alterations of the larynx, relating them to different authors’ positions such<br />

as: Behlau, Bless, Bouchayer and Pontes among others, aiming at a better<br />

discussion and demonstration of the importance of this theme.<br />

The voice profissional’s experience added to the theoretical knowledge and<br />

the audio and visual findings are important for the vali<strong>da</strong>tion of a differential diagnosis<br />

between the variability of a normal larynx or a minor structural alteration.


Dedico este trabalho aos meus pais, Helena Maria e Rodolpho, cujos<br />

esforços tornaram possível a minha educação.


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço a todos que participaram direta e indiretamente para a realização<br />

deste trabalho, especialmente à minha prima Maria Helena.


SUMÁRIO<br />

1) INTRODUÇÃO................................................................................................. 01<br />

2) EVOLUÇÃO E EMBRIOLOGIA DA LARINGE................................................. 03<br />

3) ESTRUTURAS DA LARINGE.......................................................................... 06<br />

3.1) Músculos Extrínsecos............................................................................ 06<br />

3.2) Cartilagens............................................................................................. 07<br />

3.2.1) Tireóide....................................................................................... 08<br />

3.2.2) Cricóide....................................................................................... 08<br />

3.2.3) Aritenóides.................................................................................. 08<br />

3.2.4) Epiglote....................................................................................... 09<br />

3.2.5) Cornicula<strong>da</strong>s ou Cartilagens de Santorini.................................. 09<br />

3.2.6) Cuneiformes ou Cartilagens de Wrisberg.................................. 09<br />

3.3) Músculos Intrínsecos............................................................................. 10<br />

3.3.1) Cricoaritenóideo Posterior.......................................................... 10<br />

3.3.2) Cricoaritenóideo Lateral............................................................. 10<br />

3.3.3) Aritenóideo Transverso............................................................... 10<br />

3.3.4) Aritenóideo Oblíquo.................................................................... 10<br />

3.3.5) Tiroaritenóideo............................................................................ 11<br />

3.3.6) Cricotireóideo.............................................................................. 11<br />

3.4) Cavi<strong>da</strong>de Laríngea................................................................................. 12<br />

3.5) Estrutura <strong>da</strong>s Pregas Vocais.................................................................. 13<br />

3.5.1) Epitélio <strong>da</strong> Mucosa...................................................................... 13<br />

3.5.2) Cama<strong>da</strong> Superficial <strong>da</strong> Lâmina Própria <strong>da</strong> Mucosa ou Espaço<br />

de Reinke................................................................................... 13<br />

3.5.3) Cama<strong>da</strong> Intermediária <strong>da</strong> Lâmina Própria <strong>da</strong> Mucosa............... 14<br />

3.5.4) Cama<strong>da</strong> Profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> Lâmina Própria <strong>da</strong> Mucosa...................... 14<br />

3.5.5) Músculo Vocal (tireoaritenóideo)................................................ 14


4) FISIOLOGIA DA LARINGE.............................................................................. 16<br />

4.1) Função Esfinctérica................................................................................ 16<br />

4.2) Função Respiratória............................................................................... 16<br />

4.3) Função Fonatória.................................................................................. 17<br />

5) EXAMES DA LARINGE................................................................................... 19<br />

5.1) Inspeção................................................................................................ 19<br />

5.2) Palpação................................................................................................ 19<br />

5.3) Laringoscopia Indireta........................................................................... 20<br />

5.4) Laringoscopia Direta.............................................................................. 20<br />

5.5) Microlaringoscopia................................................................................. 21<br />

5.6) Exames de Imagem............................................................................... 21<br />

6) ALTERAÇÕES ESTRUTURAS MÍNIMAS DA LARINGE................................ 22<br />

6.1) Assimetrias Laríngeas........................................................................... 22<br />

6.2) Desvios na Proporção Glótica............................................................... 23<br />

6.3) Alterações Estruturais Mínimas <strong>da</strong> Cobertura <strong>da</strong>s Pregas Vocais........ 23<br />

6.3.1) Sulco Vocal................................................................................ 25<br />

6.3.1.1) Oculto........................................................................... 25<br />

6.3.1.2) Estria Menor................................................................. 25<br />

6.3.1.3) Estria Maior ou Vergeture............................................ 26<br />

6.3.1.4) Bolsa ou Cisto Aberto ou Sulcus Glottidis.................... 26<br />

6.3.2) Cisto Epidermóide ou Cisto Fechado ou Cisto de Inclusão....... 27<br />

6.3.2.1) Superficial e Fistulado.................................................. 28<br />

6.3.2.2) Profundo....................................................................... 28<br />

6.3.3) Ponte de Mucosa....................................................................... 29<br />

6.3.4) Vasculodisgenesia..................................................................... 29<br />

6.3.5) Microdiafragma Laríngeo ou Membrana Laríngea ou<br />

Diafragma Anterior...................................................................... 30


7) TRATAMENTO DAS ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS MÍNIMAS DA LARINGE<br />

..................................................................................................................... 31<br />

7.1) Assimetrias Laríngeas.......................................................................... 32<br />

7.2) Desvios na Proporção Glótica.............................................................. 32<br />

7.3) Alterações Estruturais Mínimas <strong>da</strong> Cobertura <strong>da</strong>s Pregas Vocais....... 32<br />

7.3.1) Sulco Vocal............................................................................... 32<br />

7.3.1.1) Oculto.......................................................................... 32<br />

7.3.1.2) Estria Menor................................................................ 33<br />

7.3.1.3) Estria Maior ou Vergeture............................................ 33<br />

7.3.1.4) Bolsa ou Cisto Aberto ou Sulcus Glottidis................... 34<br />

7.3.2) Cisto Epidermóide ou Cisto Fechado ou Cisto de Inclusão...... 34<br />

7.3.2.1) Superficial e Fistulado................................................. 34<br />

7.3.2.2) Profundo...................................................................... 34<br />

7.3.3) Ponte de Mucosa...................................................................... 35<br />

7.3.4) Vasculodisgenesia.................................................................... 35<br />

7.3.5) Microdiafragma Laríngeo ou Membrana Laríngea ou<br />

Diafragma Anterior...................................................................... 35<br />

8) CASOS CLÍNICOS.......................................................................................... 37<br />

8.1) Alterações Estruturais Mínimas de Laringe Múltiplas e Sincrônicas.... 37<br />

8.2) Edema Subepitelial Associado a Alteração Estrutural Mínima............. 38<br />

8.3) O Profissional <strong>da</strong> Voz e Alteração Estrutural Mínima –<br />

Diagnóstico e Conduta Personaliza<strong>da</strong>................................................. 41<br />

9) CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 43<br />

10) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 45


1) INTRODUÇÃO<br />

Visando <strong>um</strong>a melhor compreensão do processo vocal do ser h<strong>um</strong>ano, pois<br />

qualquer variação anatômica pode não alterar as funções vitais, mas compromete o<br />

bom desempenho do órgão à fonação.<br />

O conceito de <strong>um</strong>a <strong>laringe</strong> h<strong>um</strong>ana simétrica, equilibra<strong>da</strong>, com <strong>um</strong>a prega<br />

vocal idêntica a outra é <strong>um</strong>a representação apenas didática, pois não corresponde à<br />

observação clínica diária.<br />

Quanto menos a<strong>da</strong>ptado for o sistema vocal mais chances o indivíduo tem de<br />

desenvolver <strong>um</strong>a disfonia, caso seja <strong>um</strong> falante em potencial.<br />

Este estudo tem o objetivo de identificar as <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>, porque certas <strong>alterações</strong> orgânicas <strong>da</strong>s pregas vocais são de <strong>diagnóstico</strong><br />

laringoscópico aparentemente fácil, mas podem significar <strong>um</strong>a armadilha para o<br />

fonoaudiólogo e para o otorrinolaringologista.<br />

O exame clínico deve ser realizado cui<strong>da</strong>dosamente para revelar as<br />

<strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> associa<strong>da</strong>s, devido à importância destas na gênese<br />

de outros distúrbios.<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são pequenas <strong>alterações</strong> na sua<br />

configuração estrutural, que incluem desde simples variações anatômicas até<br />

malformações congênitas menores, que causam impacto na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz,<br />

quando estão associados a <strong>um</strong>a grande deman<strong>da</strong> vocal. Geralmente ocorre nos<br />

profissionais <strong>da</strong> voz.<br />

A relevância deste estudo recai no aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong><br />

<strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, alertando a todos os profissionais que trabalham na área de voz<br />

a importância <strong>da</strong> avaliação clínica. Esta avaliação vai possibilitar o <strong>diagnóstico</strong> e o<br />

tratamento adequado.


Este estudo representa <strong>um</strong>a contribuição para a pesquisa em fonoaudiologia,<br />

acrescentando o conhecimento em outras áreas de atuação dos profissionais.<br />

Trata-se de <strong>um</strong>a pesquisa descritiva-teórica, mostrando aspectos<br />

aprofun<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, relacionando-as com as<br />

posições de diferentes autores, como: Behlau, Bless, Bouchayer, Pontes entre<br />

outros, para <strong>um</strong>a melhor discussão e demonstração <strong>da</strong> importância deste tema.<br />

N<strong>um</strong> primeiro momento, o trabalho relata <strong>um</strong> pouco <strong>da</strong> evolução e<br />

embriologia <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, seguido de considerações <strong>estruturais</strong> e fisiológicas <strong>da</strong><br />

mesma, e incluindo alguns exames do órgão. As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong> são descritas assim como os tratamentos e alguns casos clínicos são<br />

citados. Concluindo com as considerações finais.


2) EVOLUÇÃO E EMBRIOLOGIA DA LARINGE<br />

A revisão de literatura do desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> desde seu aparecimento<br />

na escala zoológica mais primitiva, sua embriologia, anatomia e fisiologia é essencial<br />

para o profissional que está envolvido no manejo <strong>da</strong> voz, o qual almeja intervir mais<br />

efetivamente nas <strong>alterações</strong> que aí aparecem, visando desenvolver <strong>um</strong>a conduta<br />

terapêutica direciona<strong>da</strong> à saúde do seu paciente.<br />

Cerca de 350 milhões de anos atrás (era paleozóica), os primórdios <strong>da</strong> futura<br />

<strong>laringe</strong> dos mamíferos podem ser observados nos polypteros (pequeno peixe<br />

africano), a qual é composta por <strong>um</strong> esfíncter muscular que tem como função a<br />

proteção contra a entra<strong>da</strong> de água no pulmão (Dell’Aringa, 1997).<br />

Com a evolução de outras espécies de peixes africanos e australianos, a<br />

<strong>laringe</strong> passa a ter duas funções: continuar protegendo as vias aéreas contra a<br />

entra<strong>da</strong> de água no pulmão, e, facilitar a penetração de ar quando estes estão fora<br />

d’água.<br />

Com o desenvolvimento dos anfíbios, a <strong>laringe</strong> torna-se mais sofistica<strong>da</strong> para<br />

<strong>um</strong>a a<strong>da</strong>ptação terrestre, tornando-se <strong>um</strong> órgão individual. Esta <strong>laringe</strong> é forma<strong>da</strong><br />

com placas laterais cartilaginosas (futuras aritenóides e cricóide), no seu interior<br />

estão inseri<strong>da</strong>s fibras musculares dilatadoras para ativar abdução <strong>da</strong> glote: função<br />

ventilatória.<br />

No sapo, <strong>um</strong> saco aéreo bucal é desenvolvido para funcionar como <strong>um</strong><br />

ressoador vocal, amplificando a sua voz.<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> pode ser observado pelas transformações do<br />

esqueleto <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> dos répteis.<br />

Com o surgimento dos mamíferos (marsupiais), a cartilagem tireóide é<br />

encontra<strong>da</strong> articula<strong>da</strong> com a cartilagem cricóide. Os únicos músculos intrínsecos<br />

são os dilatadores e esfincterianos. Cerca de três quartos <strong>da</strong>s pregas vocais são<br />

cartilaginosas, permitindo apenas o rosnar. A epiglote é larga e bem desenvolvi<strong>da</strong>.


Nos insetívoros, ocorre o desenvolvimento <strong>da</strong> articulação cricotireóidea com<br />

movimentos <strong>da</strong> cricóide e <strong>da</strong> cartilagem tireóide ajusta<strong>da</strong>s pelos músculos<br />

cricotireóideos. Acontecem alg<strong>um</strong>as mu<strong>da</strong>nças adicionais como:<br />

• a divisão <strong>da</strong> prega tireoaritenóide em pregas superior e inferior; e<br />

• desenvolvimento de músculos múltiplos intrínsecos adutores.<br />

No antigo mundo dos macacos, as aritenóides eram curtas e as pregas<br />

inferiores longas e rígi<strong>da</strong>s, já no novo mundo as aritenóides ficaram pequenas e as<br />

pregas vocais longas e rígi<strong>da</strong>s. Estes atributos dos primatas forneceram válvulas<br />

eficientes que fixaram o tórax firmemente para subir e descer, para <strong>um</strong>a posterior<br />

vocalização. Ultimamente, a <strong>laringe</strong> desceu para a sua posição final.<br />

Nos seres h<strong>um</strong>anos a <strong>laringe</strong>, traquéia, brônquios e pulmões, constituem o<br />

sistema respiratório inferior. Este sistema começa a se formar durante a quarta<br />

semana embrionária, a partir de <strong>um</strong> sulco laringotraqueal médio, no assoalho <strong>da</strong><br />

faringe primitiva. Este sulco aprofun<strong>da</strong>-se para originar <strong>um</strong> divertículo<br />

laringotraqueal, que logo é separado do intestino anterior através <strong>da</strong>s pregas<br />

traqueoesofágicas. Essas pregas se fundem para formar o septo traqueoesofágico,<br />

resultando na formação do esôfago e do tubo laringotraqueal (primórdio <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>,<br />

traquéia e pulmões); por volta <strong>da</strong> sétima semana (Lobo, 1973; A<strong>da</strong>ms, Boies e<br />

Paparellas, 1979; Lofiego, 1994; Moore & Persaud, 1995; Dell´Aringa, 1997).<br />

O revestimento endodérmico do tubo laringotraqueal dá origem ao epitélio dos<br />

órgãos respiratórios inferiores e <strong>da</strong>s glândulas traqueobrônquicas. O tecido<br />

conjuntivo, a cartilagem, a musculatura lisa, os vasos sangüíneos e linfáticos destas<br />

estruturas desenvolveram-se a partir do mesênquima esplâncnico que envolve o<br />

intestino anterior.


A <strong>laringe</strong> desenvolve-se com base no revestimento endodérmico <strong>da</strong><br />

extremi<strong>da</strong>de craniana do tubo laringotraqueal e do mesênquima circunjacente,<br />

proveniente do quarto e sexto pares de arcos branquiais.<br />

As cartilagens laríngeas formam-se a partir do quarto e sexto pares de arco<br />

branquiais. A epiglote é oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> eminência hipobranquial, do terceiro e do quarto<br />

arcos branquiais.<br />

As pregas <strong>da</strong> membrana mucosa <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> transformam-se nas pregas<br />

vocais. A função <strong>da</strong>s pregas vocais está relaciona<strong>da</strong> com o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

pregas vestibulares e os seios <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>.<br />

Quase todos os músculos intrínsecos <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> derivam do sexto arco<br />

branquial, exceto o músculo cricotireóideo que é oriundo do constritor inferior do<br />

quarto arco. Os músculos extrínsecos derivam <strong>da</strong> ponte epicardial.<br />

O nervo laríngeo superior, <strong>um</strong> ramo do vago é oriundo do quarto arco<br />

branquial. O nervo laríngeo recorrente ou inferior é derivado do sexto arco, o do<br />

lado esquerdo continua com o sexto arco arterial, porém o direito migra cranial e<br />

lateralmente para o quarto arco arterial, devido ao desaparecimento do sexto arco<br />

arterial direito.<br />

Uma deficiência no desenvolvimento embrionário pode resultar em graves ou<br />

em pequenas <strong>alterações</strong> na configuração <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, que incluem desde<br />

malformações maiores ou menores até simples variações anatômicas.


3) ESTRUTURAS DA LARINGE<br />

Compreender e entender a anatomia de <strong>um</strong>a <strong>laringe</strong> é essencial para saber<br />

como este órgão funciona na produção de <strong>um</strong>a voz sadia ou patológica.<br />

O objetivo deste tópico é mostrar o quanto é importante conhecer a<br />

configuração e a forma de <strong>um</strong>a estrutura, pois estas determinam o modo como a<br />

estrutura vai funcionar.<br />

A <strong>laringe</strong> é <strong>um</strong> órgão situado acima <strong>da</strong> traquéia e é composto por músculos,<br />

cartilagens e por <strong>um</strong> epitélio de revestimento especial (Andra<strong>da</strong> & Costa,1998). De<br />

acordo com Greene (1989), a <strong>laringe</strong> está ao nível <strong>da</strong> terceira à sexta vértebras<br />

cervicais.<br />

Neste trabalho, o estudo a respeito <strong>da</strong> anatomia <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> é feito a partir dos<br />

seus músculos extrínsecos, seguido <strong>da</strong>s cartilagens e dos músculos intrínsecos. As<br />

estruturas internas e cavi<strong>da</strong>des vão ser menciona<strong>da</strong>s sucintamente, como também<br />

as estruturas <strong>da</strong>s pregas vocais.<br />

3.1) Os Músculos Extrínsecos<br />

São os músculos de inserção externa na <strong>laringe</strong> que desempenham papéis de<br />

elevação, abaixamento e tração ântero-posterior.<br />

A musculatura supra-hióide encontra-se situa<strong>da</strong> acima do osso hióide e é<br />

predominantemente elevadora, a infra-hióide encontra-se abaixo do mesmo osso e é<br />

predominantemente abaixadora.<br />

Os músculos elevadores podem ser:<br />

1) Elevar e tracionar anteriormente a <strong>laringe</strong>: geniohióide, milohióide, hioglosso e<br />

ventre anterior do digástrico.<br />

2) Tracionar posteriormente a <strong>laringe</strong>: estilohióideo, constritores médio e inferior <strong>da</strong><br />

faringe e ventre posterior do digástrico.<br />

Quando estes dois grupos trabalham em conjunto apenas elevam a <strong>laringe</strong><br />

(Louzado, 1982; Pinho, 1998).


Os músculos que provocam o abaixamento do osso hióide e<br />

consequentemente <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são: esternotiróide, esternohióide, tirohióide e o<br />

omohióide. Este último também traciona a <strong>laringe</strong> para trás.<br />

O músculo tireoióideo pode elevar ou abaixar a <strong>laringe</strong>, de acordo com a<br />

musculatura envolvi<strong>da</strong>.<br />

A elevação e o abaixamento <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> aparecem geralmente durante as<br />

inflexões <strong>da</strong> voz fala<strong>da</strong> ou durante o canto popular, predominantemente no registro<br />

de peito (Pinho, 1998).<br />

O movimento vertical <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> ocorre durante e após a deglutição, durante e<br />

depois <strong>da</strong> emissão de notas agu<strong>da</strong>s e graves no canto (Boone & Mcfarlane, 1994).<br />

Os falantes com distúrbios vocais podem apresentar <strong>um</strong>a tendência a manter<br />

a posição <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> acima do normal, provocando assim <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> adução<br />

glótica e <strong>um</strong>a tensão muscular excessiva nos músculos extrínsecos <strong>da</strong> <strong>laringe</strong><br />

(Casper & Colton, 1996). Alguns casos clínicos de fen<strong>da</strong>s fusiformes por iatrogenias<br />

ou sulco vocal, constantemente apresentam elevação laríngea durante a fonação<br />

(Pinho, 1998).<br />

3.2) Cartilagens<br />

O esqueleto <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> é composto de cartilagens constituí<strong>da</strong>s por células<br />

denomina<strong>da</strong>s condrócitos e <strong>um</strong>a substância intercelular contendo sulfato de<br />

mucopolissacarídeos e fibras. Os tecidos hialino possui fibras colágenas densas<br />

muito finas e o elástico contém fibras elásticas densas (Casper & Colton, 1996).<br />

As cartilagens <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são as seguintes:


3.2.1) Tireóide<br />

A cartilagem tireóide é a maior cartilagem <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>. Situa<strong>da</strong> abaixo do osso<br />

hióide, é forma<strong>da</strong> por duas placas quadrangulares e dois processos posteriores, o<br />

superior e o inferior. Estas duas placas se unem anteriormente constituindo a<br />

“proeminência laríngea” ou “pomo-de-adão”, sendo mais saliente no sexo masculino.<br />

Pode ser observado no pescoço durante a deglutição, a fala espontânea e a<br />

emissão de notas agu<strong>da</strong>s no canto.<br />

Anterior e lateralmente, é conecta<strong>da</strong> com o osso hióide pela membrana<br />

tireoióidea, e posteriormente pelo ligamento tireoióideo.<br />

A cartilagem tireóide é constituí<strong>da</strong> por tecido hialino, e quase to<strong>da</strong> a sua<br />

superfície é coberta por <strong>um</strong>a cama<strong>da</strong> de pericôndrio, exceto a parte interna que é<br />

coberta por <strong>um</strong>a membrana mucosa.<br />

3.2.2) Cricóide<br />

A cartilagem cricóide localiza-se logo abaixo <strong>da</strong> tireóide, liga<strong>da</strong> a esta pela<br />

membrana cricotireóidea, a qual tem a forma de <strong>um</strong> anel, constituindo a base sóli<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>laringe</strong>. A cartilagem cricóide, assim como a tireóide, apresenta a sua face<br />

interna lisa, recoberta por <strong>um</strong>a membrana mucosa e forma<strong>da</strong> de tecido hialino.<br />

3.2.3) Aritenóides<br />

Aritenóides são em número de duas e em forma de pirâmide, ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>a<br />

situa<strong>da</strong> no bordo superior <strong>da</strong> lâmina <strong>da</strong> cricóide. Ca<strong>da</strong> aritenóide tem três faces,<br />

<strong>um</strong>a base e <strong>um</strong> ápice. A sua base apresenta duas apófises: a apófise vocal que dá<br />

inserção à prega vocal e, a apófise muscular, onde se inserem os músculos adutores<br />

e abdutores <strong>da</strong> glote.<br />

Ca<strong>da</strong> cartilagem é forma<strong>da</strong> por tecido hialino, exceto o seu ápice e o processo<br />

vocal que são constituídos por tecidos elásticos.


3.2.4) Epiglote<br />

A epiglote é delga<strong>da</strong>, flexível, fibrocartilaginosa elástica, e se projeta para<br />

cima, atrás <strong>da</strong> língua e do corpo do osso hióide, encontrando-se na entra<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>. A sua parte superior e anterior é livre e coberta por <strong>um</strong>a membrana mucosa.<br />

Na posição de repouso encontra-se eleva<strong>da</strong>, garantindo a comunicação entre<br />

a <strong>laringe</strong> e a traquéia.<br />

A sua principal função é proteger as vias aéreas inferiores durante os<br />

movimentos <strong>da</strong> deglutição (Louzado, 1982; Greene, 1989; Casper & Colton, 1996).<br />

Dell’Aringa (1997), não considera a epiglote essencial para as funções de<br />

deglutição, respiração e fonação.<br />

3.2.5) Cornicula<strong>da</strong>s ou cartilagens de Santorini<br />

As cartilagens cornicula<strong>da</strong>s ou de Santorini são pequenos pares de nódulos<br />

de fibrocartilagens elásticas articula<strong>da</strong>s com os ápices <strong>da</strong>s aritenóides. Projetam-se<br />

nas pregas ariepiglóticas.<br />

3.2.6) Cuneiformes ou cartilagens de Wrisberg<br />

As cartilagens cuneiformes ou de Wrisberg são pequenos pares de estruturas<br />

fibrocartilaginosas elásticas, coloca<strong>da</strong>s nas pregas ariepiglóticas. Estas cartilagens<br />

agem como <strong>um</strong> suporte passivo e aju<strong>da</strong>m a manter a posição levanta<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pregas<br />

ariepiglóticas quando puxa<strong>da</strong>s e estira<strong>da</strong>s pelo movimento <strong>da</strong>s aritenóides.<br />

As cartilagens estão liga<strong>da</strong>s entre si por ligamentos e articulações (articulação<br />

cricotireóidea e articulação cricoaritenóidea), que permitem o deslizamento de <strong>um</strong>a<br />

cartilagem sobre a outra, em movimentos ântero-posteriores, de laterali<strong>da</strong>de e<br />

basculantes, sob a influência <strong>da</strong> ação muscular.


3.3) Músculos Intrínsecos<br />

A ação esfinctérica <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> e suas capaci<strong>da</strong>des vocalizadoras parecem ser<br />

as funções dos músculos intrínsecos. Estes músculos são denominados de acordo<br />

com as cartilagens às quais estão ligados. Eles são os seguintes:<br />

3.3.1) Cricoaritenóideo Posterior<br />

O músculo cricoaritenóideo posterior origina-se <strong>da</strong> parte mais posterior <strong>da</strong><br />

cartilagem cricóide e termina na porção mais medial <strong>da</strong>s cartilagens aritenóides.<br />

Promove a rotação dos processos vocais para fora, determinando a abdução glótica.<br />

Essa ação é fun<strong>da</strong>mental para a respiração e prevalece na situação de repouso.<br />

3.3.2) Cricoaritenóideo Lateral<br />

O músculo cricoaritenóideo lateral origina-se <strong>da</strong> parte mais lateral <strong>da</strong><br />

cartilagem cricóide e finaliza na porção mais medial <strong>da</strong>s cartilagens aritenóides.<br />

Promove a rotação dos processos vocais em direção à linha média, provocando a<br />

adução glótica.<br />

3.3.3) Aritenóideo Transverso<br />

O músculo aritenóideo transverso é o único músculo ímpar e vai de <strong>um</strong>a<br />

cartilagem aritenóide a outra. Ao se contrair aproxima os corpos <strong>da</strong>s cartilagens<br />

aritenóides, promovendo a adução <strong>da</strong>s pregas vocais.<br />

3.3.4) Aritenóideo Oblíquo<br />

O músculo aritenóideo oblíquo origina-se do processo muscular de <strong>um</strong>a<br />

cartilagem aritenóide e percorre obliquamente para cima e sobre o ápice <strong>da</strong> outra<br />

cartilagem. As fibras continuam obliquamente até a região lateral <strong>da</strong> epiglote e são<br />

denomina<strong>da</strong>s como os músculos ariepiglóticos, depois de deixarem o ápice <strong>da</strong><br />

aritenóide.


A função dos músculos aritenóideos oblíquos, resulta na aproximação dos<br />

ápices <strong>da</strong>s cartilagens aritenóides, promovendo a adução <strong>da</strong>s pregas vocais.<br />

3.3.5) Tiroaritenóideo<br />

O músculo tiroaritenóideo é denominado músculo vocal ou <strong>da</strong> prega vocal,<br />

insere-se anteriormente na cartilagem tireóide e posteriormente no processo vocal<br />

<strong>da</strong> cartilagem aritenóide.<br />

Este músculo apresenta dois feixes: interno e externo. O primeiro é<br />

predominantemente tensor, quando se contrai encurta as pregas vocais causando<br />

<strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de massa mucosa solta para vibrar, é responsável pela<br />

emissão de sons graves. O segundo feixe é predominante adutor e essencial para a<br />

produção e a manutenção <strong>da</strong> firmeza glótica.<br />

3.3.6) Cricotireóideo<br />

O músculo cricotireóideo é composto por duas partes: oblíqua e reta, que são<br />

inseri<strong>da</strong>s entre as cartilagens tireóide e cricóide, anterior e lateralmente. Quando se<br />

contrai realiza <strong>um</strong> movimento de báscula, aproximando as duas cartilagens.<br />

Consequentemente ocorre o a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> distância entre as cartilagens tireóide e<br />

aritenóide, acarretando o estiramento <strong>da</strong>s pregas vocais. Este alongamento resulta<br />

na diminuição de quanti<strong>da</strong>de de massa mucosa solta para vibrar, durante a<br />

produção de sons agudos.<br />

O cricotireóideo é <strong>um</strong> músculo tensor, cuja ativi<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mental para a<br />

fonação de maior rendimento, grande oratória, teatro, canto operístico.


Quase todos os músculos intrínsecos são inervados pelo nervo laríngeo<br />

inferior ou recorrente, com exceção dos cricotireóideos, cuja motrici<strong>da</strong>de é garanti<strong>da</strong><br />

pelo laríngeo superior (Louzado, 1982; Greene, 1989; Boone & Mcfarlane, 1994;<br />

Hungria, 1995).<br />

O único músculo intrínseco ímpar é o músculo aritenóideo transverso, pois os<br />

outros são pares.<br />

3.4) Cavi<strong>da</strong>de Laríngea<br />

A <strong>laringe</strong> é basicamente revesti<strong>da</strong> por <strong>um</strong> epitélio ciliado pseudo-estratificado.<br />

A metaplasia do epitélio ciliado pseudo-estratificado para epitélio escamoso<br />

estratificado ocorre ao longo <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>. Este último tipo de epitélio recobre a porção<br />

membranosa <strong>da</strong> prega vocal (A<strong>da</strong>ms, Boies e Paparellas, 1979; Greene, 1982;<br />

Hungria, 1995; Casper & Colton, 1996; Dell’Aringa, 1997).<br />

N<strong>um</strong>erosas glândulas mucosas são encontra<strong>da</strong>s na região do ventrículo <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>. As secreções fluem em direção às pregas vocais para evitar o atrito, pois as<br />

pregas não possuem glândulas em suas bor<strong>da</strong>s livres (A<strong>da</strong>ms, Boies e Paparellas,<br />

1979; Greene, 1982; Hungria, 1995; Dell’Aringa, 1997).<br />

A <strong>laringe</strong> é dividi<strong>da</strong> em três cavi<strong>da</strong>des:<br />

• Cavi<strong>da</strong>de Supraglótica: é todo espaço acima <strong>da</strong> glote até o orifício superior <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>;<br />

• Cavi<strong>da</strong>de Subglótica: é a região que se encontra abaixo <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>deiras pregas<br />

vocais até a bor<strong>da</strong> inferior <strong>da</strong> cartilagem cricóide; e<br />

• Cavi<strong>da</strong>de Glótica: constituí<strong>da</strong> pelas pregas vocais, limitam entre si o espaço<br />

denominado glote.


3.5) A Estrutura <strong>da</strong>s Pregas Vocais<br />

O conhecimento <strong>da</strong> composição estrutural <strong>da</strong>s pregas vocais é essencial para<br />

se identificar os desvios na estrutura aparentemente normal, resultantes de<br />

patologias, que acarretam <strong>alterações</strong> nas características vibratórias.<br />

Histologicamente, a prega vocal h<strong>um</strong>ana adulta, é composta por cinco<br />

cama<strong>da</strong>s (Casper & Colton, 1996; Bless & Hirano, 1997; Pinho,1998):<br />

3.5.1) O epitélio <strong>da</strong> mucosa<br />

O epitélio <strong>da</strong> mucosa é resistente ao tra<strong>um</strong>a constante <strong>da</strong> fonação. Este<br />

epitélio é do tipo celular escamoso estratificado ao redor <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> prega vocal,<br />

diferenciando do epitélio ciliado do resto do trato respiratório.<br />

Logo abaixo do epitélio escamoso está a membrana basal, responsável pela<br />

aderência do epitélio à lâmina própria. A membrana basal é forma<strong>da</strong> de proteínas<br />

(fibras de ancoramento e fibronectinas) e consiste em área transicional entre o<br />

epitélio e a cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> lâmina própria.<br />

3.5.2) A cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa ou espaço de Reinke<br />

A cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa é muito flexível e solta em<br />

componentes fibrosos, com poucos fibroblastos (fibroblastos são células<br />

responsáveis pela reposição de tecido cicatricial). Esta cama<strong>da</strong> vibra intensamente<br />

durante a fonação. Torna-se enrijeci<strong>da</strong> perante patologias, inflamações, t<strong>um</strong>ores ou<br />

tecido cicatricial, prejudicando os seus movimentos vibratórios resultando em<br />

disfonias.


3.5.3) A cama<strong>da</strong> intermediária <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa<br />

A cama<strong>da</strong> intermediária <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa é forma<strong>da</strong> de fibras<br />

elásticas semelhantes a tira de borracha macia, contendo <strong>um</strong> pouco mais de<br />

fibroblastos.<br />

3.5.4) A cama<strong>da</strong> profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa<br />

A cama<strong>da</strong> profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> lâmina própria <strong>da</strong> mucosa é constituí<strong>da</strong> de fibras<br />

colagenosas semelhantes a fios de algodão, rica em fibroblastos.<br />

3.5.5) O músculo vocal (tireoaritenóideo)<br />

O músculo vocal é o corpo <strong>da</strong> prega vocal, quando contraído parece <strong>um</strong> feixe<br />

de tiras de borracha rígi<strong>da</strong>.<br />

Mecanicamente as cincos cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s pregas vocais podem ser divi<strong>da</strong>s em:<br />

• Cobertura: consiste do epitélio e <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> lâmina própria;<br />

• Transicional: forma<strong>da</strong> pelas cama<strong>da</strong>s intermediária e profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> lâmina própria<br />

ou ligamento vocal; e<br />

• Corpo: consiste no músculo vocal.<br />

vocais:<br />

Existem variações <strong>da</strong> estrutura de cama<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> extensão <strong>da</strong>s pregas<br />

Na extremi<strong>da</strong>de anterior, encontra-se o tendão <strong>da</strong> comissura anterior,<br />

conectado à cartilagem tireóide e formado de fibras colagenosas. Aderido a este<br />

está a mácula flava anterior, composta de fibras elásticas, fibroblastos e estroma.<br />

Na extremi<strong>da</strong>de posterior está a mácula flava posterior forma<strong>da</strong> pelas mesmas<br />

fibras. Uma cartilagem transicional faz a ligação entre o processo vocal <strong>da</strong><br />

cartilagem aritenóide e a mácula flava posterior (Pinho, 1998).


A estrutura de cama<strong>da</strong>s descritas anteriormente estão inseri<strong>da</strong>s entre essas<br />

duas terminações supramenciona<strong>da</strong>s, protegendo as pregas vocais contra os<br />

impactos causados pela vibração <strong>da</strong>s mesmas durante a fonação.<br />

A estrutura <strong>da</strong>s pregas vocais modifica-se durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, apenas o<br />

epitélio escamoso não sofre alteração no decorrer do processo de maturação.


4) FISIOLOGIA DA LARINGE<br />

A <strong>laringe</strong> apresenta três funções básicas como: esfinctérica, respiratória e<br />

fonatória. Essas funções são produtos <strong>da</strong> inter-relação entre o sistema nervoso<br />

central, representado principalmente pela parte cortical do lobo frontal e tálamo, com<br />

todo o trato aéreo-digestivo.<br />

4.1) Função Esfinctérica<br />

A função esfinctérica <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> protege as vias aéreas inferiores contra a<br />

penetração de corpos estranhos, alimentos e líquidos através <strong>da</strong> elevação <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>, abaixamento <strong>da</strong> epiglote e o fechamento <strong>da</strong> glote. Caso isto não aconteça a<br />

tosse ou outros mecanismos respiratórios de retropulsão são acionados com o<br />

intuito de eliminá-los.<br />

O fechamento <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> ocorre pelo deslocamento <strong>da</strong>s cartilagens<br />

aritenóides de encontro com a epiglote. Este movimento é produzido pela contração<br />

dos músculos tiroaritenóideos, aritenóideos, ariepiglóticos e tiroepiglóticos. A<br />

contração dos músculos palatofaríngeos e estilofaríngeos promove a elevação e<br />

inclinação <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> para frente.<br />

O fechamento <strong>da</strong>s vias aéreas inferiores ocorre apenas durante o período que<br />

o alimento está passando pela faringe, quando ele chega ao esôfago a <strong>laringe</strong> se<br />

abre novamente.<br />

4.2) Função Respiratória<br />

Na função respiratória ocorre a abdução <strong>da</strong>s pregas vocais permitindo a<br />

passagem do ar para os pulmões ou sua saí<strong>da</strong>. Os músculos cricoaritenóideos<br />

posteriores são responsáveis pela abertura <strong>da</strong> glote durante a respiração, porque<br />

sua contração gira os processos vocais <strong>da</strong>s cartilagens para fora.<br />

O fechamento <strong>da</strong> região glótica garante a produção <strong>da</strong> tosse para a<br />

eliminação <strong>da</strong>s secreções tráqueo-pulmonares.


A tosse é <strong>um</strong> ato reflexo que consiste em três fases:<br />

1ª) Inspiração: a <strong>laringe</strong> se abre permitindo <strong>um</strong>a inspiração rápi<strong>da</strong> e profun<strong>da</strong>.<br />

2ª) Compressiva: ocorre <strong>um</strong>a forte adução glótica provocando ativação dos<br />

músculos expiratórios. O eficiente ve<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s pregas vocais ver<strong>da</strong>deiras e<br />

falsas provoca resistência à expiração causando <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> pressão<br />

intratorácica. Este mecanismo vai ser importante em determinados esforços<br />

fisiológicos, como o ato de defecar, urinar, estabilização do tórax no levantamento de<br />

pesos com os membros superiores, no trabalho de parto entre outros.<br />

3ª) Expulsiva: a <strong>laringe</strong> subitamente se abre permitindo <strong>um</strong>a expiração rápi<strong>da</strong> e<br />

explosiva. A expulsão força<strong>da</strong> do ar elimina o muco ou outro material (corpo<br />

estranho, alimento e líquido) que tenha desencadeado este reflexo.<br />

4.3) Função Fonatória<br />

Durante a fonação, a <strong>laringe</strong> é o órgão gerador de sons através dos<br />

movimentos de adução e abdução <strong>da</strong>s pregas vocais e <strong>da</strong> vibração <strong>da</strong> mucosa que<br />

as recobre.<br />

A abertura <strong>da</strong> glote (abdução) ocorre pela contração dos músculos<br />

cricotireóideos posteriores, pela fixação <strong>da</strong> cartilagem tireóide, determina<strong>da</strong> pelos<br />

músculos extrínsecos e também pela ação moderadora dos músculos antagonistas,<br />

os adutores.<br />

O fechamento <strong>da</strong> glote (adução) acontece pela contração dos músculos<br />

cricotireóideos laterais e os aritenoídeos transverso e oblíquo, que aproximam as<br />

cartilagens aritenóides, ve<strong>da</strong>ndo principalmente a comissura posterior.


O músculo tiroaritenóideo ou músculo vocal é formado por dois feixes, interno<br />

e externo. O primeiro é predominantemente tensor e, ao se contrair, encurta as<br />

pregas vocais causando <strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de massa mucosa solta para<br />

vibrar, sendo responsável pela emissão de sons graves. O segundo feixe é<br />

predominante adutor e fun<strong>da</strong>mental para a produção e a manutenção <strong>da</strong> firmeza<br />

glótica.<br />

A tensão e o alongamento <strong>da</strong>s pregas vocais ocorrem pela contração dos<br />

músculos cricotireóideos.<br />

A função fonatória é responsável pela comunicação entre os seres h<strong>um</strong>anos.


5) EXAMES DA LARINGE<br />

As informações obti<strong>da</strong>s durante a anamnese soma<strong>da</strong> à avaliação clínica vão<br />

direcionar tanto o fonoaudiólogo quanto o otorrinolaringologista a <strong>um</strong>a conduta<br />

terapêutica mais consciente, privilegiando a saúde do paciente.<br />

A prática clínica mais as percepções visuais e auditivas são essenciais para a<br />

vali<strong>da</strong>ção de <strong>um</strong> <strong>diagnóstico</strong> diferencial entre a variabili<strong>da</strong>de de <strong>um</strong>a <strong>laringe</strong> normal<br />

ou de <strong>um</strong>a relativamente altera<strong>da</strong>.<br />

O otorrinolaringologista dispõe de três maneiras de examinar a <strong>laringe</strong> (Kuhl,<br />

1991; Albernaz, Fuku<strong>da</strong>, Ganança e Munhoz, 1997):<br />

1. Exame externo: inspeção e <strong>da</strong> palpação.<br />

2. Laringoscopia: indireta, direta e microlaringoscopia.<br />

3. Exames de imagens: radiografias simples, planigrafias, laringografia,<br />

xerorradiografia, tomografia computadoriza<strong>da</strong> e ressonância magnética.<br />

Os exames citados anteriormente são brevemente mencionados:<br />

5.1) Inspeção<br />

A inspeção deve ser realiza<strong>da</strong> durante a anamnese, observando a quali<strong>da</strong>de<br />

vocal, os movimentos verticais <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>, a presença de abaulamentos e o tipo de<br />

respiração do paciente.<br />

5.2) Palpação<br />

A palpação externa <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> e de suas regiões vizinhas possibilita detectar<br />

t<strong>um</strong>or, pericondrite, hematoma ou abcesso laríngico, quando aparecem edemas<br />

externos, abaulamentos e pontos dolorosos na região cervical anterior.<br />

As lesões inflamatórias e dolorosas <strong>da</strong> região aritenóidea são diagnostica<strong>da</strong>s<br />

com a sensação de dor, no momento em que a <strong>laringe</strong> é comprimi<strong>da</strong> contra a coluna<br />

vertebral.


A mobilização lateral <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> provoca crepitação, devido ao contato dos<br />

grandes cornos tireóideos com o corpo vertebral. Esta sensação de crepitação<br />

desaparece, nos casos de infiltração cancerosa e edemas inflamatórios nas<br />

cartilagens tireóideas.<br />

5.3) Laringoscopia Indireta<br />

A laringoscopia indireta é o método mais simples e mais usado. A <strong>laringe</strong> é<br />

vista em posição estática e em funcionamento através de <strong>um</strong> espelho plano, fixo a<br />

<strong>um</strong>a haste metálica. O paciente deve estar sentado em frente ao médico, e a luz<br />

focaliza<strong>da</strong> na orofaringe. Pede-se ao mesmo para colocar a língua para fora, e esta<br />

deve ser apreendi<strong>da</strong> com <strong>um</strong>a gaze e traciona<strong>da</strong> gentilmente pelo examinador.<br />

To<strong>da</strong>s as estruturas internas <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> devem ser observa<strong>da</strong>s atentamente.<br />

Apesar do exame funcional apresentar alg<strong>um</strong>as limitações, solicita-se ao<br />

examinado a emitir as vogais /e/ e /i/, para observar o aparecimento de paralisias,<br />

paresias de pregas vocais, déficit na coaptação glótica ou a presença de lesões<br />

como, nódulos, pólipos, cistos entre outras.<br />

5.4) Laringoscopia Direta<br />

A laringoscopia direta sob anestesia tópica não é mais usa<strong>da</strong> por Albernaz,<br />

Fuku<strong>da</strong>, Ganança e Munhoz (1997), pelo fato de ser <strong>um</strong> procedimento agressivo ao<br />

paciente e sem resultados confiáveis. Para Kuhl (1991), este exame tem as suas<br />

indicações pela rapidez com que é pratica<strong>da</strong> e pela simplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> realização até<br />

sob anestesia local.<br />

A telelaringoscopia utiliza <strong>um</strong>a fibra óptica rígi<strong>da</strong> e a nasofibrolaringoscopia<br />

utiliza <strong>um</strong>a flexível. Ambos os exames permitem a gravação em fita de videocassete<br />

e o acompanhamento do paciente durante a consulta. A videoestrobolaringoscopia<br />

é <strong>um</strong> método que utiliza <strong>um</strong>a luz estroboscópica para observar os movimentos<br />

vibratórios <strong>da</strong>s pregas vocais.


5.5) Microlaringoscopia<br />

A microlaringoscopia é o método usado para examinar a <strong>laringe</strong> do paciente<br />

sob anestesia geral. Utiliza-se <strong>um</strong> microscópio para ampliar as imagens, visando <strong>um</strong><br />

<strong>diagnóstico</strong> mais preciso. Além de garantir o tratamento <strong>da</strong>s patologias laríngeas<br />

através do acoplamento de <strong>um</strong> sistema de raios laser ao microscópio, sendo o mais<br />

usado o de CO2.<br />

5.6) Exames de Imagem<br />

Os exames de imagem complementam os meios de <strong>diagnóstico</strong> citados<br />

anteriormente, com o objetivo de melhor definir as lesões.


6) ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS MÍNIMAS DA LARINGE<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são pequenas <strong>alterações</strong> na sua<br />

configuração estrutural, que incluem desde simples variações anatômicas até<br />

malformações congênitas menores, cujo impacto, quando existente, restringe-se à<br />

fonação. A disfonia é resultante <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de do uso, do comportamento vocal e<br />

do grau de alteração apresentado pelo indivíduo.<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> são considera<strong>da</strong>s <strong>um</strong> desarranjo estrutural<br />

que ocorre durante a embriogênese e que freqüentemente se manifestam<br />

clinicamente na faixa etária de maior produtivi<strong>da</strong>de ocupacional, entre 25 e 50 anos,<br />

quando há <strong>um</strong>a maior solicitação vocal.<br />

Podem ser classifica<strong>da</strong>s em três categorias (Behlau, Gonçalves e Pontes;<br />

1994, Behlau & Ponte, 1995; Hungria, 1995; Gadelha, Gonçalves e Pontes, 1998;<br />

Bernz, Haas, Nemetz, Rabuske e Silva, 1998):<br />

6.1) Assimetrias Laríngeas<br />

As assimetrias laríngeas são de pregas vocais com diferenças de<br />

comprimento, vol<strong>um</strong>e, posição, configuração e de vestíbulo que significam<br />

desigual<strong>da</strong>des entre as pregas ariepiglóticas. Estas <strong>alterações</strong> podem estar<br />

associa<strong>da</strong>s às <strong>alterações</strong> dos ciclos vibratórios <strong>da</strong>s pregas vocais.<br />

A voz pode ser normal do ponto de vista funcional, desde que haja equilíbrio<br />

na produção fonatória. Mas as <strong>alterações</strong> <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de vocal podem aparecer<br />

durante o uso profissional <strong>da</strong> voz e tendem a se manifestar nas freqüências mais<br />

graves, podendo atingir o registro basal. A extensão vocal pode estar prejudica<strong>da</strong>,<br />

ocasionando fadiga vocal e lesões secundárias.<br />

A assimetria laríngea associa<strong>da</strong> ao esforço vocal desenvolve medialização <strong>da</strong><br />

prega ventricular.


6.2) Desvios na Proporção Glótica<br />

Os desvios na proporção glótica ocorrem na relação entre as dimensões<br />

sagitais <strong>da</strong>s partes intermembranácea (fonatória) e intercartilagínea (respiratória) <strong>da</strong><br />

glote, variando conforme o sexo e a i<strong>da</strong>de. Estas dimensões são adquiri<strong>da</strong>s através<br />

de <strong>um</strong>a linha ântero-posterior desde a comissura anterior até a parede posterior <strong>da</strong><br />

glote eqüidistante <strong>da</strong>s pregas vocais, durante a inspiração.<br />

A coaptação <strong>da</strong>s pregas vocais durante a fonação está diretamente<br />

relaciona<strong>da</strong> à proporção glótica. Esta proporção depende <strong>da</strong> configuração<br />

anatômica, sendo 1:1 nas mulheres e 1:1,3 nos homens. Nas mulheres este valor<br />

está associado à fen<strong>da</strong> glótica triangular posterior.<br />

Qualquer variação na proporção vai resultar n<strong>um</strong>a determina<strong>da</strong> fen<strong>da</strong> glótica.<br />

A quali<strong>da</strong>de vocal vai depender do tipo <strong>da</strong> fen<strong>da</strong> somado a outros parâmetros, como<br />

rigidez de mucosa e fluxo aéreo. Observa-se <strong>um</strong>a predisposição à fadiga vocal e<br />

lesões secundárias (nódulos) associados à síndrome de hipertonici<strong>da</strong>de.<br />

6.3) Alterações Estruturais Mínimas <strong>da</strong> Cobertura <strong>da</strong>s Pregas Vocais<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais são<br />

variações <strong>estruturais</strong> dos tecidos que as recobrem, cujo impacto é exclusivo durante<br />

a fonação.<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais são classifica<strong>da</strong>s clinicamente<br />

conforme seus aspectos funcionais e morfológicos. Estas variações podem ser<br />

observa<strong>da</strong>s durante a fonação e a respiração.<br />

As <strong>alterações</strong> podem variar em tamanho e grau de serie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mesmas, e<br />

podem ser observa<strong>da</strong>s isola<strong>da</strong>mente ou em conjunto em <strong>um</strong>a mesma prega vocal ou<br />

em ambas.


Alg<strong>um</strong>as classificações <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s<br />

pregas vocais são cita<strong>da</strong>s variando com os autores em época:<br />

Cornut & Bouchayer (1988), consideram o sulco vocal como duas enti<strong>da</strong>des<br />

anatômicas diferentes: sulco glótico (sulcus glottidis) e estrias (vergeture). Estes<br />

<strong>da</strong>dos são do artigo de Priston (1998).<br />

Bless, Brandenburg, Ford e Nakayama (1994), classificam o sulco vocal em<br />

três grupos: o primeiro é o tipo superficial (sulco confinado na cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong><br />

lâmina própria), o segundo é o tipo profundo (o sulco penetra na cama<strong>da</strong> superficial<br />

e aproxima-se <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s intermediária e profun<strong>da</strong>) e finalmente o terceiro grupo<br />

o tipo bolsa (é <strong>um</strong> sulco profundo com o formato de <strong>um</strong>a bolsa).<br />

Para Behlau, Gonçalves e Pontes (1994); e Hungria (1995), as principais<br />

<strong>alterações</strong> são: vasculodisgenesia, cisto fechado, cisto aberto, ponte mucosa, sulco<br />

vocal e membrana laríngea.<br />

Conforme Behlau & Pontes (1995), as <strong>alterações</strong> são: sulco vocal nas<br />

variantes estria e bolsa, cisto fechado ( quando apresenta <strong>um</strong>a comunicação em<br />

fistula como exterior é considerado cisto fistulizado), ponte mucosa,<br />

vasculodisgenesias e microdiafragma laríngeo.<br />

Bless, Inagi, Gilchrist e Khidr (1996), classificam o sulco vocal em três tipos: o<br />

tipo 1 é o sulco fisiológico (acentuado por atrofia mas com lâmina própria intacta,<br />

não há comprometimento vocal), o tipo 2 é chamado de sulcus vergetures e o tipo 3<br />

sulcus vocalis. Os dois últimos também são denominados de sulco patológico,<br />

porque apresentam <strong>alterações</strong> <strong>da</strong> lâmina própria e disfonia severa pela per<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de vibratória <strong>da</strong> prega vocal e fechamento glótico insuficiente.<br />

Andra<strong>da</strong> & Costa (1998), citam as seguintes <strong>alterações</strong>: pontes mucosas,<br />

diafragmas anteriores, sulcos e cistos.


De acordo com Gadelha, Gonçalves e Pontes (1998), a classificação é a<br />

seguinte: sulco vocal (oculto, estria menor, estria maior e bolsa), cisto epidermóide<br />

(superficial e fistulizado, profundo), ponte mucosa, microdiafragma laríngeo e<br />

vasculodisgenesia.<br />

Para Bernz, Haas, Nemetz, Rabuske e Silva (1998), as <strong>alterações</strong> se<br />

caracterizam como: sulco vocal, cisto, cisto aberto (sulco-bolsa), ponte de mucosa,<br />

vasculodisgenesias e microdiafragma laríngeo.<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais são descritas com o<br />

intuito de tentar uniformizar as classificações anteriormente cita<strong>da</strong>s:<br />

6.3.1) Sulco Vocal<br />

O sulco vocal é <strong>um</strong>a depressão longitudinal na mucosa <strong>da</strong> prega vocal,<br />

paralela à bor<strong>da</strong> livre, que causa distúrbios vocais. O seu surgimento pode estar<br />

relacionado ao envelhecimento do tecido <strong>da</strong> prega, inflamações repeti<strong>da</strong>s e fatores<br />

congênitos (Hirano & Sato, 1998).<br />

Pode apresentar-se <strong>da</strong> seguinte forma (Gadelha, Gonçalves e Pontes, 1998):<br />

6.3.1.1) Oculto<br />

Na estroboscopia pode se observar o sulco oculto nas cama<strong>da</strong>s subepiteliais<br />

<strong>da</strong> prega vocal, onde se detecta <strong>um</strong>a redução <strong>da</strong> mobili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> túnica mucosa do<br />

lado afetado, <strong>um</strong>a pequena alteração na produção <strong>da</strong> voz fala<strong>da</strong> e dificul<strong>da</strong>des na<br />

extensão vocal.<br />

6.3.1.2) Estria Menor<br />

A estria menor é <strong>um</strong>a penetração do epitélio formando <strong>um</strong>a pequena<br />

cavi<strong>da</strong>de virtual. O impacto vocal tem maior significado na quali<strong>da</strong>de vocal com a<br />

redução dos harmônicos superiores. As lesões secundárias mais freqüentes são o<br />

edema na porção inferior à estria e as reações contralaterais.


A avaliação do sulco-estria menor tem mais êxito durante a<br />

microlaringoscopia por manipulação <strong>da</strong> prega vocal suspeita.<br />

6.3.1.3) Estria Maior ou Vergeture<br />

Esta corresponde à descrição clássica do sulco vocal. Caracteriza-se por<br />

<strong>um</strong>a depressão na prega vocal geralmente bilateral e assimétrica, podendo variar<br />

em profundi<strong>da</strong>de e extensão. Torna-se mais visível durante a inspiração profun<strong>da</strong><br />

com abdução <strong>da</strong>s pregas.<br />

Possui dois lábios: <strong>um</strong> superior, mais flexível e, <strong>um</strong> inferior, mais largo e mais<br />

rígido, aderido ao músculo vocal ou ao ligamento vocal (Gadelha, Gonçalves e<br />

Pontes, 1998). Esta deformi<strong>da</strong>de na bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> prega vocal associa<strong>da</strong> com o déficit<br />

de tecido e <strong>um</strong> ocasional a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong>s fibras colágenas, resultam n<strong>um</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong><br />

rigidez na mobili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong> mesma (Chuiwa, Hirano e Tanaka, 1994).<br />

Dependendo <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> extensão e do grau de aderência à túnica<br />

mucosa, está freqüentemente relacionado a fen<strong>da</strong> glótica fusiforme. Na<br />

estroboscopia, tanto a amplitude <strong>da</strong> vibração quanto a on<strong>da</strong> mucosa estão<br />

geralmente reduzi<strong>da</strong>s, causando <strong>um</strong>a disfonia de intensi<strong>da</strong>de variável.<br />

As principais características vocais são rouquidão com aspereza, quebras de<br />

sonori<strong>da</strong>de e componente soproso acentuado. A bitonali<strong>da</strong>de/diplofonia está<br />

associa<strong>da</strong> à freqüência fun<strong>da</strong>mental agu<strong>da</strong>. A extensão vocal é limita<strong>da</strong>.<br />

6.3.1.4) Bolsa ou Cisto Aberto ou Sulcus Glottidis<br />

A bolsa ou o cisto aberto é <strong>um</strong>a cavi<strong>da</strong>de na lâmina própria constituí<strong>da</strong> de<br />

epitélio estratificado e com abertura para o exterior (Behlau, Gonçalves e Pontes,<br />

1994; Hungria, 1995; Bernz, Haas, Nemetz, Rabuske e Silva, 1998).<br />

Ocorre <strong>um</strong>a invaginação <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> prega vocal, mas seus lábios se<br />

tocam, formando <strong>um</strong> espaço no interior <strong>da</strong> prega (Gadelha, Gonçalves e Pontes,<br />

1998).


Moschetti, Steffen e Zaffari (1995), não consideram o cisto aberto como <strong>um</strong>a<br />

enti<strong>da</strong>de anátomo-clínica e, sim, como <strong>um</strong> estado no qual o cisto se encontra<br />

rompido. Neste momento, observa-se <strong>um</strong>a discreta reentrância, parecendo com o<br />

sulco vocal e <strong>um</strong>a fen<strong>da</strong> fusiforme.<br />

A fen<strong>da</strong> fusiforme pode acompanhar esta alteração durante a fonação, apesar<br />

de estar mascara<strong>da</strong> alg<strong>um</strong>as vezes pelo a<strong>um</strong>ento de vol<strong>um</strong>e <strong>da</strong> prega vocal (Behlau<br />

& Pontes, 1995). Entretanto, Gadelha, Gonçalves e Pontes (1998), raramente<br />

observam fen<strong>da</strong>s, devido a presença do abaulamento no terço médio <strong>da</strong> prega<br />

vocal. Este abaulamento causa atrito nas áreas de contato inadequado <strong>da</strong>s pregas<br />

vocais durante a fonação, resultando no desenvolvimento de lesões secundárias.<br />

<strong>da</strong> bolsa.<br />

A flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong> prega vocal só é afeta<strong>da</strong> na área <strong>da</strong> abertura<br />

Pode apresentar disfonia de grau leve a moderado, tendo <strong>um</strong>a quali<strong>da</strong>de<br />

vocal rouco-áspera, com freqüência fun<strong>da</strong>mental grave.<br />

A inflamação unilateral (monocordite) é freqüente, dificultando o <strong>diagnóstico</strong>.<br />

6.3.2) Cisto Epidermóide ou Cisto Fechado ou Cisto de Inclusão<br />

Este tipo de cisto é determinado por <strong>um</strong>a cavi<strong>da</strong>de fecha<strong>da</strong>, geralmente<br />

localiza-se no terço médio <strong>da</strong> prega vocal, na cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong> lâmina própria e<br />

no ligamento vocal. Esta cavi<strong>da</strong>de é revesti<strong>da</strong> por epitélio escamoso estratificado e<br />

constantemente liga<strong>da</strong> a fibras elásticas ou colagenosas do ligamento vocal.<br />

Há <strong>um</strong>a controvérsia entre os autores sobre a origem do cisto, porque alguns<br />

consideram adquiri<strong>da</strong> e outros congênita. A primeira hipótese refere-se aos tra<strong>um</strong>as<br />

ou infecções, e a segun<strong>da</strong> às <strong>alterações</strong> decorrentes <strong>da</strong> fase embrionária, no quarto<br />

e sexto arcos branquiais.


A disfonia se manifesta após vários surtos consecutivos de processos<br />

inflamatórios <strong>da</strong> mucosa <strong>da</strong>s pregas vocais, em virtude do abuso vocal, infecções de<br />

vias aéreas, crises alérgicas, refluxo gastroesofágico e tabagismo que estimulam a<br />

produção de tecido epitelial e a<strong>um</strong>entam o vol<strong>um</strong>e do cisto (Gadelha, Gonçalves e<br />

Pontes, 1998).<br />

Clinicamente pode se constatar <strong>um</strong> quadro assintomático ou <strong>um</strong>a disfonia de<br />

vários graus, devido à redução <strong>da</strong> elastici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> túnica mucosa ou pela presença<br />

do abaulamento na prega vocal.<br />

A voz é caracteriza<strong>da</strong> por rouquidão e freqüência fun<strong>da</strong>mental grave pelo<br />

peso do cisto e diplofonia (Behlau, Gonçalves e Pontes, 1994; Hungria, 1995; Bernz,<br />

Haas, Nemetz, Rabuske e Silva, 1998).<br />

O <strong>diagnóstico</strong> do cisto epidermóide muitas vezes é confundido com de nódulo<br />

vocal, pois ambos se localizam geralmente no terço médio <strong>da</strong> prega vocal.<br />

O cisto de inclusão pode ser encontrado <strong>da</strong> seguinte forma (Gadelha,<br />

Gonçalves e Pontes, 1998):<br />

6.3.2.1) Superficial e Fistulizado<br />

O cisto de inclusão tem contato com o epitélio <strong>da</strong> cobertura (superficial), ou<br />

pode drenar periodicamente todo o seu conteúdo para o exterior através de <strong>um</strong><br />

orifício puntiforme ou ovóide (fistulizado).<br />

A prega vocal acometi<strong>da</strong> perde a sua elastici<strong>da</strong>de na área de contato. O<br />

impacto vocal depende mais <strong>da</strong> diminuição ou ausência de vibração na área cística<br />

(zona silente) do que do seu vol<strong>um</strong>e.<br />

6.3.2.2) Profundo<br />

Situado no interior <strong>da</strong> prega vocal sem aderência à cama<strong>da</strong> superficial <strong>da</strong><br />

lâmina própria ou do epitélio. Pode estar ou não aderido ao ligamento vocal, porém<br />

a flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> túnica mucosa que o recobre está preserva<strong>da</strong>.


Neste caso, o impacto vocal depende mais do vol<strong>um</strong>e do que <strong>da</strong> diminuição<br />

ou ausência <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobertura. As principais características vocais são:<br />

rouquidão associa<strong>da</strong> à freqüência fun<strong>da</strong>mental grave e à bitonali<strong>da</strong>de.<br />

6.3.3) Ponte de Mucosa<br />

A ponte mucosa é <strong>um</strong>a alça <strong>da</strong> túnica mucosa ao longo <strong>da</strong> prega vocal com<br />

inserção anterior e outra posterior, de extensão e espessura variáveis.<br />

O impacto vocal é geralmente pequeno com <strong>um</strong>a discreta aspereza, porque a<br />

ponte vibra com a mucosa <strong>da</strong> prega vocal (Gadelha, Gonçalves e Pontes, 1998).<br />

Andra<strong>da</strong> & Costa (1998), referem-se a <strong>um</strong>a voz enrouqueci<strong>da</strong> e com presença de<br />

agudos, devido ao esforço excessivo dos músculos cricotireóideos.<br />

Quando aparece edema <strong>da</strong> ponte o principal sintoma é a fadiga vocal,<br />

podendo desenvolver <strong>um</strong>a lesão associa<strong>da</strong> na prega vocal oposta como pólipo,<br />

leucoplasia, edema, nódulo entre outras.<br />

O <strong>diagnóstico</strong> clínico é difícil, sendo freqüentemente diagnosticado durante a<br />

cirurgia de outras lesões.<br />

6.3.4) Vasculodisgenesia<br />

A vasculodisgenesia é <strong>um</strong>a alteração na rede vascular subepitelial <strong>da</strong> prega<br />

vocal, onde se observa dilatações dos vasos de forma irregular, com direções<br />

varia<strong>da</strong>s e constantemente dispostos transversalmente à bor<strong>da</strong> livre. Nas <strong>laringe</strong>s<br />

normais encontra-se <strong>um</strong>a disposição linear e paralela ao eixo longitudinal <strong>da</strong>s<br />

pregas.<br />

O impacto vocal pode apresentar <strong>um</strong>a redução na resistência vocal, devido a<br />

diminuição do movimento vibratório <strong>da</strong> mucosa.<br />

Pode estar associado a qualquer alteração estrutural de cobertura como<br />

cistos e sulcos, e desenvolver lesões secundárias.


6.3.5) Microdiafragma Laríngeo ou Membrana Laríngea ou Diafragma Anterior<br />

Esta é <strong>um</strong>a pequena estrutura membranácea forma<strong>da</strong> por túnica mucosa que<br />

une a região anterior <strong>da</strong>s pregas vocais, com inserção glótica ou infraglótica na<br />

comissura anterior.<br />

Para se identificar o microdiafragma é preciso ter <strong>um</strong> alto índice de suspeita,<br />

observação, durante a abdução máxima <strong>da</strong>s pregas vocais e a limpeza de secreções<br />

<strong>da</strong> comissura anterior, no decorrer dos exames de laringoscopia direta e<br />

microlaringoscopia (Bless, Campos, Ford e Leddy, 1994).<br />

O impacto vocal se manifesta através de <strong>um</strong>a voz com freqüência<br />

fun<strong>da</strong>mental agu<strong>da</strong>, devido à redução <strong>da</strong> extensão <strong>da</strong> área vibratória <strong>da</strong>s pregas<br />

vocais, podendo dificultar ou impedir a mu<strong>da</strong> vocal fisiológica nos rapazes.<br />

O indivíduo portador de microdiafragma laríngeo se utiliza de excessiva<br />

tensão dos músculos tiroaritenóideos e cricoaritenóideos, produzindo <strong>um</strong>a voz tensa<br />

e úmi<strong>da</strong> pelo a<strong>um</strong>ento <strong>da</strong> secreção mucosa (Andra<strong>da</strong> & Costa, 1998).<br />

As lesões associa<strong>da</strong>s (nódulos) são mais freqüentes na inserção infraglótica,<br />

porque é preciso fazer <strong>um</strong>a maior compressão medial para o início <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de<br />

glótica.


7) TRATAMENTO DAS ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS MÍNIMAS DA LARINGE<br />

O tratamento <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> é normalmente<br />

combinado, podendo incluir orientação, reabilitação vocal, terapêutica<br />

medicamentosa e procedimentos cirúrgicos (Behlau, Gonçalves e Pontes, 1994;<br />

Hungria, 1995).<br />

Os indivíduos que são diagnosticados como portadores de assimetria <strong>da</strong><br />

<strong>laringe</strong>, desvios na proporção glótica e/ou lesões <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais,<br />

mesmo sem queixa vocal, podem desenvolver futuramente lesões secundárias<br />

devido às tentativas de compensação muscular. Tais portadores devem ser<br />

orientados e encaminhados a procurar os especialistas <strong>da</strong> voz.<br />

A orientação vocal é indica<strong>da</strong> às lesões discretas com pouco ou sem impacto<br />

vocal. A reabilitação vocal visa melhorar a voz disponível, tratar as lesões<br />

secundárias e preparar o paciente para a cirurgia.<br />

A terapêutica medicamentosa trata as laringites, monocordites, edemas e<br />

leucoplasias associa<strong>da</strong>s.<br />

O tratamento cirúrgico ain<strong>da</strong> não oferece <strong>um</strong>a solução anatomofuncional<br />

ideal, mas alguns procedimentos são utilizados nas <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong><br />

(Behlau, Gonçalves e Pontes, 1994; Hungria, 1995). Estas condutas apresentam<br />

bons resultados nos cistos, nas pontes de mucosa e nos microdiafragmas extensos<br />

(Bernz, Haas, Nemetz, Rabuske, e Silva 1998). Nos casos de sulco vocal<br />

apresentam <strong>um</strong>a grande dificul<strong>da</strong>de nas respostas cirúrgicas (Behlau, Gonçalves e<br />

Pontes, 1994).<br />

O estudo sobre o tratamento <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong><br />

abrange to<strong>da</strong>s as <strong>alterações</strong> supramenciona<strong>da</strong>s.


7.1) Assimetrias Laríngeas<br />

Quando sintomáticas, o tratamento é fonoaudiológico, visando <strong>um</strong> equilíbrio<br />

funcional, apesar dos desvios encontrados.<br />

7.2) Desvios na Proporção Glótica<br />

O tratamento é fonoterápico com o objetivo de melhorar a coaptação glótica,<br />

mas caso este procedimento não ofereça resultados satisfatórios, pode-se pensar<br />

n<strong>um</strong>a intervenção cirúrgica.<br />

7.3) Alterações Estruturais Mínimas <strong>da</strong> Cobertura <strong>da</strong>s Pregas Vocais<br />

O estudo do tratamento <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s<br />

pregas vocais inicia-se com o sulco vocal e finaliza-se com o microdiafragma<br />

laríngeo.<br />

7.3.1) Sulco<br />

O sulco vocal apresenta várias formas como descritas anteriormente. Os<br />

tratamentos são mencionados a seguir:<br />

7.3.1.1) Oculto<br />

O tratamento é fonoterápico para flexibilizar ao máximo a túnica mucosa, com<br />

o intuito de estabilizar a <strong>laringe</strong>. Em alguns casos utiliza-se a cirurgia conservadora<br />

que consiste em deslocar a túnica mucosa pela incisão na face vestibular <strong>da</strong> prega<br />

vocal afeta<strong>da</strong>, removendo adensamentos de fibras <strong>da</strong> lâmina própria.


7.3.1.2) Estria Menor<br />

A reabilitação é fonoterápica, mas em alguns casos se faz <strong>um</strong>a cirurgia<br />

conservadora ou parcialmente conservadora. A cirurgia conservadora visa facilitar a<br />

mobilização e melhorar a flexibili<strong>da</strong>de. Quando não é possível realizar este tipo de<br />

intervenção, o cirurgião deve fazer <strong>um</strong>a parcial conservadora. Nesta última o epitélio<br />

invaginado, aderido e enrijecido é removido.<br />

7.3.1.3) Estria Maior ou Vergeture<br />

O tratamento é fonoterápico para os sulcos rasos e para as lesões associa<strong>da</strong>s<br />

(nódulos), com o objetivo de proporcionar <strong>um</strong> equilíbrio fonatório através <strong>da</strong> correção<br />

dos efeitos compensatórios. Nos sulcos profundos e com limites bem definidos é<br />

indicado o tratamento cirúrgico seguido <strong>da</strong> reabilitação vocal.<br />

Alg<strong>um</strong>as técnicas cirúrgicas são comenta<strong>da</strong>s como: implantes de materiais na<br />

prega vocal acometi<strong>da</strong> (hydron-gel, teflon, gelfoam e colágeno) para a correção <strong>da</strong><br />

fen<strong>da</strong> glótica, as cirurgias no arcabouço laríngeo, tireoplastia tipo I (confecção de<br />

<strong>um</strong>a pequena janela na cartilagem tireóidea, sendo desloca<strong>da</strong> medialmente em<br />

direção à prega vocal e manti<strong>da</strong> em posição por <strong>um</strong>a peça de silicone), e<br />

reorganização dos tecidos <strong>da</strong> prega vocal.<br />

As técnicas relata<strong>da</strong>s anteriormente podem a<strong>um</strong>entar o tempo máximo de<br />

fonação, apesar de restringir a movimentação <strong>da</strong> mucosa e a quali<strong>da</strong>de vocal pode<br />

ficar altera<strong>da</strong>.<br />

Nos casos mais graves, utiliza-se a técnica de franjamento <strong>da</strong> mucosa do<br />

sulco, que consiste no deslocamento de secção múltipla do sulco, perpendicular à<br />

bor<strong>da</strong> livre <strong>da</strong> prega vocal, preservando a túnica mucosa <strong>da</strong> região <strong>da</strong> comissura<br />

anterior. Esse desnivelamento impede o alinhamento do lábio inferior do sulco. A<br />

contração cicatricial leva o tecido <strong>da</strong> face vestibular (espesso e flexível) para a<br />

região <strong>da</strong> margem <strong>da</strong> prega vocal, preenchendo o espaço <strong>da</strong> fen<strong>da</strong> glótica.


A fonoterapia visa reduzir as compensações negativas decorrentes do<br />

período pré-operatório, equilibrando as forças musculares.<br />

7.1.3.4) Bolsa ou Cisto Aberto ou Sulcus Glottidis<br />

O tratamento fonoterápico é indicado para tratar e reduzir as lesões<br />

secundárias e melhorar a quali<strong>da</strong>de vocal. Dependendo do caso clínico o<br />

procedimento cirúrgico é realizado, utilizando-se <strong>da</strong>s técnicas <strong>da</strong> cirurgia<br />

conservadora ou parcialmente conservadora.<br />

7.3.2) Cisto Epidermóide ou Cisto Fechado ou Cisto de Inclusão<br />

Quando pequeno é encaminhado para a fonoterapia para melhorar a<br />

flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mucosa. A cirurgia só é indica<strong>da</strong> quando o mesmo interfere<br />

intensamente no ciclo vibratório, produzindo <strong>um</strong>a voz instável e rouca.<br />

O cisto de inclusão pode ser encontrado <strong>da</strong> seguinte forma (Gadelha,<br />

Gonçalves e Pontes, 1998):<br />

7.3.2.1) Superficial e Fistulizado<br />

O tratamento é cirúrgico com a retira<strong>da</strong> do cisto e do epitélio a ele aderido,<br />

evitando-se que a cama<strong>da</strong> epitelial fique justaposta ao ligamento, geralmente<br />

aderindo-se firmemente.<br />

7.3.2.2) Profundo<br />

Quando pequeno o tratamento é fonoterápico para a<strong>um</strong>entar a vibração na<br />

mucosa, controlar os abusos vocais e a higiene vocal com hidratação. Uma<br />

intervenção cirúrgica pode resultar n<strong>um</strong>a fibrose, e esta causar <strong>um</strong>a piora na<br />

quali<strong>da</strong>de vocal.


Quando apresenta <strong>um</strong> tamanho maior deve ser realizado <strong>um</strong>a cirurgia para<br />

removê-lo totalmente, preservando o ligamento vocal e a túnica mucosa. Nas<br />

crianças, principalmente nos meninos, a cirurgia é indica<strong>da</strong>, porque durante a mu<strong>da</strong><br />

vocal o cisto pode romper-se e transformar-se n<strong>um</strong> sulco vocal.<br />

7.3.3) Ponte de Mucosa<br />

O tratamento fonoterápico é indicado para as lesões associa<strong>da</strong>s (edema<br />

discreto, leucoplasia tênue). O procedimento cirúrgico é solicitado, nos casos mais<br />

graves (pólipo, leucoplasia opaca, nódulos e edema maior), para retirar tanto a ponte<br />

mucosa como a lesão secundária na prega vocal oposta. No pós-operatório a<br />

reabilitação fonoaudiológica visa a<strong>um</strong>entar a vibração <strong>da</strong> mucosa, melhorar a<br />

coaptação glótica e prevenir a recorrência de outras lesões.<br />

7.3.4) Vasculodisgenesia<br />

Pode ser reduzi<strong>da</strong> com o uso de microspots com laser de CO2 ou micro-<br />

cauterizações com bisturi elétrico na rede vascular interrompendo o fluxo sangüíneo<br />

e diminuindo a deformi<strong>da</strong>de na mucosa (Behlau, Gonçalves e Pontes, 1994;<br />

Hungria, 1995).<br />

Tratar somente as lesões associa<strong>da</strong>s, porque a cauterização apresenta o<br />

risco teórico de cicatrização local, provocando rigidez na mucosa <strong>da</strong> prega vocal. A<br />

quali<strong>da</strong>de vocal tende a piorar (Gadelha, Gonçalves e Pontes, 1998).<br />

7.3.5) Microdiafragma Laríngeo ou Membrana Laríngea ou Diafragma anterior<br />

O tratamento é a fonoterapia com exercícios de respiração, vibração e<br />

ressonância, para reduzir a freqüência fun<strong>da</strong>mental de acordo com o sexo e i<strong>da</strong>de<br />

do falante e abaixar a <strong>laringe</strong>.


Raramente é recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> a cirurgia, pela freqüente recidiva que pode<br />

desenvolver cicatrizes maiores que o próprio microdiafragma. Nos casos de nódulo<br />

vocal aconselha-se a sua extirpação.<br />

Em to<strong>da</strong>s as situações de <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> deve-se evitar a<br />

cirurgia quando o impacto é discreto. A indicação cirúrgica deve considerar to<strong>da</strong>s as<br />

informações à respeito <strong>da</strong>s funções fonatória e laríngea, avaliando o desejo e a<br />

expectativa vocal do paciente.


8) CASOS CLÍNICOS<br />

Os casos clínicos são descritos conforme a ordem dos autores, mostrando o<br />

trabalho dos profissionais que atuam na área de voz como: Bernz, Haas, Nemetz,<br />

Rabuske e Silva (1998); Lima & Torres (1998); Paulus, Brack e Macedo (1998).<br />

8.1) Alterações Estruturais Mínimas de Laringe Múltiplas e Sincrônicas<br />

Um paciente de 28 anos de i<strong>da</strong>de, do sexo masculino, branco, não f<strong>um</strong>ante,<br />

jornalista há doze anos e, há seis meses, trabalhando como locutor de televisão com<br />

uso profissional <strong>da</strong> voz, durante aproxima<strong>da</strong>mente doze horas ao dia. Queixa de<br />

rouquidão freqüente, alteração na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz, períodos de afonia, fadiga vocal<br />

associa<strong>da</strong> a ardência na garganta e pigarros constantes.<br />

Relata ter rouquidão desde a infância, mas após iniciar ativi<strong>da</strong>de profissional<br />

de locutor, percebeu <strong>um</strong>a piora progressiva na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz e, principalmente,<br />

quando tenta compensá-la. Nunca fez tratamento vocal.<br />

O seu estado físico se encontra normal.<br />

O exame otorrinolaringológico através <strong>da</strong> videolaringoestroboscopia com<br />

telescópio rígido, mostrou:<br />

• Assimetria de pregas vocais com mais saliência no lado esquerdo;<br />

• Vasculodisgenesia bilateral, no revestimento mucoso <strong>da</strong>s pregas;<br />

• Microdiafragma laríngeo; e<br />

• Cisto epidermóide no terço médio <strong>da</strong> prega vocal direita.<br />

Na avaliação funcional registrou:<br />

• Rigidez intensa com ausência de vibração e de on<strong>da</strong> mucosa em to<strong>da</strong> extensão<br />

<strong>da</strong> prega vocal;<br />

• Rigidez com redução <strong>da</strong> amplitude <strong>da</strong>s vibrações e <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s mucosas na<br />

prega vocal do lado esquerdo; e


• Alterações funcionais: fen<strong>da</strong> ântero-posterior e hiperconstrição lateral do<br />

vestíbulo.<br />

Na avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de vocal apresentou:<br />

• Voz áspera;<br />

• Tempo máximo de fonação reduzido;<br />

• Relação s/z a<strong>um</strong>enta<strong>da</strong>; e<br />

• Freqüência a<strong>um</strong>enta<strong>da</strong> com pitch agudo.<br />

O paciente foi encaminhado para a fonoterapia por apresentar <strong>alterações</strong><br />

funcionais, como redução <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais e fen<strong>da</strong><br />

glótica ântero-posterior. Com a melhora, o mesmo continua exercendo a mesma<br />

ativi<strong>da</strong>de profissional.<br />

O tratamento cirúrgico só vai ser indicado, caso haja impossibili<strong>da</strong>de de<br />

manutenção de melhora ou no surgimento de lesões secundárias (nódulos).<br />

8.2) Edema Subepitelial Associado a Alteração Estrutural Mínima<br />

Uma paciente de 40 anos de i<strong>da</strong>de, do sexo feminino, apesar de não ser<br />

f<strong>um</strong>ante, convive em ambiente de f<strong>um</strong>antes desde a infância.<br />

Trabalha como relações públicas durante nove horas por dia e fala o tempo<br />

todo, além de falar de quatro a seis horas ao telefone. Cost<strong>um</strong>a freqüentar<br />

ambientes com ar condicionado. Fala alto e é descendente de italianos e<br />

portugueses.<br />

Relata ter rouquidão desde a infância, mas há quinze dias piorou. Queixa de<br />

quebras de sonori<strong>da</strong>de, sensação de corpo estranho, ardência na garganta, fadiga<br />

ao falar, limitação <strong>da</strong> extensão vocal, esforço vocal e presença de pigarro. Quando<br />

fica nervosa e pela manhã sua voz piora.


Refere-se ter faringite, amig<strong>da</strong>lite e alergia no trato respiratório<br />

freqüentemente.<br />

O exame laringológico realizado no mês de março 1997, observou: fen<strong>da</strong> em<br />

ampulheta com a bor<strong>da</strong> livre <strong>da</strong> prega vocal irregular, edema subepitelial e<br />

irregulari<strong>da</strong>de na espessura <strong>da</strong> túnica mucosa. Este edema foi encontrado na região<br />

infraglótica <strong>da</strong>s pregas vocais, devido a presença de <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong><br />

discretas (sulco vocal).<br />

Existe <strong>um</strong>a constrição ântero-posterior e mediana, esta última ocorre pela<br />

discreta aproximação <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s ventriculares durante a fonação. Ain<strong>da</strong> há <strong>um</strong>a<br />

suspeita de refluxo gastroesofágico pela alteração no revestimento mucoso<br />

endolaríngeo <strong>da</strong>s aritenóides, na comissura posterior.<br />

Na avaliação fonoaudiológica realiza<strong>da</strong> no dia 26/03/97, foi constatado:<br />

• Quali<strong>da</strong>de vocal rouco-soprosa;<br />

• Tempos máximos de fonação encurtados;<br />

• Relação s/z=0,82;<br />

• Ataque vocal brusco;<br />

• Ressonância de foco vertical alto;<br />

• Fala habitual com vol<strong>um</strong>e elevado;<br />

• Veloci<strong>da</strong>de de fala acelera<strong>da</strong>;<br />

• Restrição <strong>da</strong> inflexão e modulação vocal;<br />

• Redução <strong>da</strong> extensão fonatória;<br />

• Quebras de sonori<strong>da</strong>de; e<br />

• Presença de síndrome de tensão músculo-esquelética.<br />

Após dezesseis sessões de fonoterapia utilizando exercícios com sons de<br />

apoio (vibrantes, fricativos, basal, hiperagudos e nasais), massagem na cintura<br />

escapular, técnica de bocejo-suspiro e o uso de fala escandea<strong>da</strong>. Tais exercícios<br />

foram executados durante duas ou três vezes ao dia.


Em julho de 1997, foi feito <strong>um</strong> novo exame de videolaringoscopia, onde se<br />

verificou a redução do edema subepitelial na prega vocal esquer<strong>da</strong>, com a superfície<br />

discretamente irregular. Na outra prega o edema estava centrado por <strong>um</strong>a formação<br />

globiforme. Nesta área ocorre diminuição <strong>da</strong> amplitude vibratória. Permanece a<br />

fen<strong>da</strong> dupla e alteração de mucosa <strong>da</strong> comissura posterior.<br />

observou-se:<br />

Na avaliação fonoaudiológica realiza<strong>da</strong> no mês de setembro de 1997,<br />

• Quali<strong>da</strong>de vocal soprosa leve;<br />

• Tempos máximos de fonação a<strong>um</strong>entados;<br />

• Ressonância de foco vertical equilibra<strong>da</strong>;<br />

• Relação s/z=1,58;<br />

• Ataque vocal suave;<br />

• Redução do esforço fonatório;<br />

• Fala rápi<strong>da</strong>;<br />

• Menor vol<strong>um</strong>e de voz;<br />

• Maior amplitude <strong>da</strong> inflexão e modulação vocal;<br />

• Redução <strong>da</strong> extensão fonatória;<br />

• Estabili<strong>da</strong>de vocal; e<br />

• Síndrome de tensão músculo-esquelética.<br />

A fonoterapia consegue atuar apenas nos comprometimentos funcionais<br />

secundários, porque é muito difícil modificar a quali<strong>da</strong>de vocal característica do<br />

próprio sulco vocal.


8.3) O Profissional <strong>da</strong> Voz e Alteração Estrutural Mínima – Diagnóstico e<br />

Conduta Personaliza<strong>da</strong><br />

Uma cantora lírica profissionalizou-se aos 25 anos como contralto, mas<br />

depois foi reclassifica<strong>da</strong> como mezzo-soprano.<br />

No segundo ano de ativi<strong>da</strong>des profissionais apresentou <strong>um</strong> distúrbio vocal,<br />

sendo diagnostica<strong>da</strong> como pólipo. A terapia fonoaudiológica realiza<strong>da</strong> durante <strong>um</strong><br />

ano e meio, baseou-se no relaxamento, na respiração, na ressonância e na higiene<br />

vocal.<br />

A microcirurgia foi indica<strong>da</strong>. Também houve <strong>um</strong> encaminhamento<br />

psicológico. Depois <strong>da</strong> alta, a mesma veio a desenvolver <strong>um</strong>a carreira com sucesso.<br />

Após alguns anos passou a exercer também o papel de professora de canto.<br />

Meados de 1995, percebeu <strong>um</strong> certo desconforto na voz, mas relacionou com <strong>um</strong>a<br />

fase de a<strong>da</strong>ptação à nova técnica de canto. Durante a videolaringoscopia foi<br />

observado <strong>um</strong> leve espessamento.<br />

Ao final de alg<strong>um</strong>as sessões de fonoterapia, a mesma relatou melhora na<br />

quali<strong>da</strong>de vocal. Não foi feita outra videolaringoscopia.<br />

N<strong>um</strong>a pré-estréia, apresentou infecção respiratória com disfonia, sendo<br />

trata<strong>da</strong> com medicamentos com a intenção de recuperar a voz para a estréia.<br />

Desde então vem sentindo <strong>um</strong> desconforto vocal, principalmente na região de<br />

passagem.<br />

A zona de passagem é a mu<strong>da</strong>nça de predomínio muscular, como ocorre no<br />

registro de peito, onde há <strong>um</strong> predomínio do músculo tireoaritenóideo, enquanto no<br />

registro de cabeça o músculo cricotireóideo é o predominante (Pinho,1998).<br />

Na videolaringoscopia foi observado vasculodisgenesia e nódulo fibrótico na<br />

prega vocal esquer<strong>da</strong>. Os resultados <strong>da</strong> análise acústica <strong>da</strong> voz foram considerados<br />

normais. O espectograma mostrou <strong>um</strong> traçado bem definido com formantes também<br />

definidos.


De acordo com os <strong>da</strong>dos colhidos, a mesma apresentava <strong>um</strong>a boa emissão<br />

vocal com todos os níveis fonatórios bem integrados. Alg<strong>um</strong>as sessões de<br />

fonoterapia foram realiza<strong>da</strong>s, sendo interrompi<strong>da</strong>s pelas férias e viagens. Quando<br />

retornou a sua voz continuava boa.<br />

Após seis meses foi realiza<strong>da</strong> <strong>um</strong>a outra videolaringoscopia, porque as<br />

queixas persistiram e começaram a causar <strong>da</strong>nos na vi<strong>da</strong> profissional <strong>da</strong> paciente.<br />

Neste novo exame foi constatado a presença de <strong>um</strong> cisto epidermóide e<br />

vasculodisgenesia na prega vocal esquer<strong>da</strong>. Uma outra avaliação fonoaudiológica<br />

com análise acústica <strong>da</strong> voz foi feita, cujos resultados foram normais.<br />

O tratamento fonoaudiológico foi realizado com o acompanhamento<br />

laringológico para evitar <strong>um</strong>a intervenção cirúrgica. A cantora voltou a ter aulas de<br />

canto na técnica em que se desenvolveu como profissional.<br />

Ao fim de três meses a voz estava boa e a mesma continua cantando.


9) CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong> são pequenas <strong>alterações</strong> na sua<br />

configuração estrutural, que incluem desde simples variações anatômicas até<br />

malformações congênitas menores, que causam impacto na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz,<br />

quando estão associados a <strong>um</strong>a grande deman<strong>da</strong> vocal. Geralmente ocorre nos<br />

profissionais <strong>da</strong> voz.<br />

Após a leitura deste trabalho, os profissionais que atuam na área de voz<br />

devem estar atentos na identificação <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> <strong>laringe</strong>,<br />

porque certas <strong>alterações</strong> orgânicas (nódulo, edema entre outras) <strong>da</strong>s pregas vocais<br />

são de <strong>diagnóstico</strong> laringoscópico aparentemente fácil, mas podem significar <strong>um</strong>a<br />

armadilha para os mesmos.<br />

O exame clínico deve ser realizado cui<strong>da</strong>dosamente para revelar as<br />

<strong>alterações</strong> <strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> associa<strong>da</strong>s, devido à importância destas na gênese<br />

de outros distúrbios.<br />

Existe <strong>um</strong>a divergência na literatura quanto à terminologia <strong>da</strong>s <strong>alterações</strong><br />

<strong>estruturais</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais, principalmente em relação ao<br />

microdiafragma laríngeo, o sulco vocal e o cisto epidermóide. Apesar dos autores se<br />

referirem à mesma patologia.<br />

Neste estudo as <strong>alterações</strong> <strong>mínimas</strong> <strong>da</strong> cobertura <strong>da</strong>s pregas vocais são<br />

classifica<strong>da</strong>s conforme ca<strong>da</strong> artigo e ca<strong>da</strong> livro com seus respectivos autores, para<br />

posteriormente agrupá-las com as suas distintas nomenclaturas em pequenos<br />

grupos.


Há <strong>um</strong>a outra controvérsia a respeito <strong>da</strong> origem do sulco vocal, cisto<br />

epidermóide e ponte mucosa. Os autores consideram duas hipóteses: congênita,<br />

devido a alg<strong>um</strong>a falha no desenvolvimento embrionário, no quarto e no sexto arcos<br />

branquiais; e a adquiri<strong>da</strong>, pela freqüente ocorrência de processos inflamatórios na<br />

<strong>laringe</strong> (laringite agu<strong>da</strong> ou crônica e tuberculose).<br />

Este estudo pretende conscientizar todos os profissionais que trabalham na<br />

área de voz, <strong>da</strong> importância de <strong>um</strong> conhecimento teórico e de <strong>um</strong> olhar clínico para a<br />

vali<strong>da</strong>ção de <strong>um</strong> <strong>diagnóstico</strong> diferencial entre a variabili<strong>da</strong>de de <strong>um</strong>a <strong>laringe</strong> normal<br />

ou <strong>um</strong>a alteração estrutural mínima.


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