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Análise, Considerações e Alternativas para a Política de ... - UVA

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS<br />

GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS<br />

MONOGRAFIA<br />

ANÁLISE, CONSIDERAÇÕES E ALTERNATIVAS PARA A<br />

POLÍTICA DE CRÉDITO DIRECIONADA ÀS MICRO E<br />

PEQUENAS EMPRESAS NO BRASIL<br />

DALMO FERREIRA SOARES<br />

Orientadora: DANIELLE MIGUELETTO<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro 2006


GLOSSÁRIO<br />

IF: Instituição Financeira<br />

ME: Microempresa<br />

MPE: Micro e Pequena empresa<br />

GME: Gran<strong>de</strong> e Média Empresa<br />

OBJETIVOS<br />

<strong>UVA</strong> – Universida<strong>de</strong> Veiga <strong>de</strong> Almeida<br />

CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

Efetuar uma análise da política <strong>de</strong> crédito direcionada às micro e pequenas<br />

empresas adotada no Brasil, sob a ótica da inadimplência registrada neste segmento<br />

da socieda<strong>de</strong> e das condições sob as quais é concedido, por órgãos públicos e<br />

privados.<br />

I<strong>de</strong>ntificar causas da adoção do mo<strong>de</strong>lo atual, e buscar alternativas que<br />

favoreçam uma melhor aplicação, controle e retorno do crédito concedido.<br />

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO<br />

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O capitulo inicial aborda o<br />

problema, a justificativa e os objetivos do trabalho.<br />

O segundo capítulo apresenta os principais personagens do trabalho – MPE’s e<br />

o Sistema Financeiro Nacional, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar o cenário <strong>de</strong> estudo: política,<br />

econômica e geograficamente. Este capítulo faz referência, ainda, a dados estatísticos<br />

envolvendo a concessão e o retorno do crédito obtido pelas MPE’s, assim como as<br />

condições <strong>de</strong> obtenção do mesmo.<br />

No terceiro capítulo são apresentadas alternativas à situação atual, com<br />

sugestões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m macro e microeconômicas e <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> curto e médio prazo.<br />

Por fim, apresentam-se no último capítulo as consi<strong>de</strong>rações finais <strong>de</strong>ste<br />

trabalho seguido das referências bibliográficas.<br />

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<strong>UVA</strong> – Universida<strong>de</strong> Veiga <strong>de</strong> Almeida<br />

CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

CAPÍTULO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA<br />

O micro ou pequeno empresário que entra em uma agência bancária brasileira<br />

hoje, em busca <strong>de</strong> financiamento <strong>para</strong> seu estoque ou aquisição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> produção<br />

encontrará, seguramente, gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s na liberação do recurso. A<br />

comprovação e as razões <strong>de</strong>sta situação, assim como as sugestões <strong>para</strong> alterá-la,<br />

constituem o escopo <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

O fato motivador <strong>de</strong>ste documento é o encontro, normalmente frustrante, entre<br />

o micro ou pequeno empresário e o gerente <strong>de</strong> agência bancária.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s encontradas são <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m, da falta <strong>de</strong> capacitação do<br />

profissional que recepciona o empresário à falta <strong>de</strong> organização financeira <strong>de</strong>ste<br />

último. Expandindo o campo <strong>de</strong> observação, verifica-se ainda a alta complexida<strong>de</strong> e o<br />

custo tributário imposto pelo Po<strong>de</strong>r Público, dificultado o controle financeiro das<br />

MPE’s. Assim como as condições exigidas pelos bancos, como taxas, prazos, valor e<br />

outros custos agregados que, sendo extremamente similares, somam à lista <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>notam uma origem comum.<br />

Aumentando ainda mais a escala estudada, chega-se a influência das gran<strong>de</strong>s<br />

corporações, nacionais e internacionais, nas condições impostas pelo sistema<br />

financeiro às MPE’s.<br />

Estudos sobre micro e pequenas empresas no Brasil não são novida<strong>de</strong>, apesar<br />

do consi<strong>de</strong>rável aumento <strong>de</strong>stes nos últimos anos. A metodologia utilizada pela<br />

maioria, contudo, <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar pela abordagem simplista, resumindo a problemática<br />

empresarial ao volume <strong>de</strong> crédito concedido e à capacitação do microempresário.<br />

Aprofundando estas informações, procura-se aqui inserir também fatores macro e<br />

microeconômicos, como a inadimplência e o alto custo bancário, essenciais ao<br />

entendimento dos dificultadores encontrados pelos micro e pequenos empresários no<br />

acesso ao crédito.<br />

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CAPÍTULO 2 – SITUAÇÃO ATUAL<br />

<strong>UVA</strong> – Universida<strong>de</strong> Veiga <strong>de</strong> Almeida<br />

CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

2.1 - Caracterizando micro e pequenas empresas<br />

A adoção <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> classificação <strong>de</strong> porte <strong>para</strong> micro e pequenas<br />

empresas é fundamental <strong>para</strong> que as mesmas possam obter tratamento diferenciado<br />

por parte do Po<strong>de</strong>r Público (tributos) e das Instituições Financeiras (crédito).<br />

Existem duas maneiras <strong>de</strong> classificar empresas, a primeira, e mais utilizada, é<br />

por faturamento anual bruto. A outra é por quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empregados registrados pela<br />

empresa.<br />

Para a adoção <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong> incentivo às MPE’s, o Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

utiliza o Estatuto da Micro e Pequena Empresa, com última atualização realizada<br />

pelo Decreto <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2004. A classificação é:<br />

Microempresa: Receita bruta anual igual ou inferior à R$ 433.755,14;<br />

Empresa <strong>de</strong> Pequena Porte: Receita bruta superior à R$ 433.755,14 e igual<br />

ou inferior à R$ 2.133.222,00;<br />

A Receita Fe<strong>de</strong>ral, por sua vez, utiliza outro critério <strong>para</strong> aplicar o regime<br />

simplificado <strong>de</strong> tributação - SIMPLES. Conforme disposto na Medida Provisória<br />

275/05, os limites são:<br />

Microempresa: Receita bruta anual igual ou inferior à R$ 240.000,00;<br />

Empresa <strong>de</strong> Pequeno Porte: Receita bruta anual superior à R$ 240.000,00 e<br />

igual ou inferior à R$ 2.400.000,00;<br />

A classificação <strong>de</strong> porte do BNDES difere bastante dos apresentados<br />

anteriormente e será, por isso, objeto <strong>de</strong> análise no item 2.7 <strong>de</strong>ste capítulo:<br />

Micro empresa: Receita bruta anual até R$ 1.200.000,00;<br />

Pequena empresa: Receita anual bruta superior à R$ 1.200.000,00 e inferior<br />

ou igual à R$ 10.500.000,00;<br />

O SEBRAE e o IBGE, em seus estudos sócio-econômicos, utilizam o critério<br />

<strong>de</strong> pessoas ocupadas. Os números são:<br />

Microempresa: I) Na indústria e construção: até 19 pessoas ocupadas; II) No<br />

comércio e serviços: até 09 pessoas ocupadas;<br />

Empresa <strong>de</strong> Pequeno Porte: I) Na indústria e construção: <strong>de</strong> 20 a 99 pessoas<br />

ocupadas; II) No comércio e serviços: <strong>de</strong> 10 a 49 pessoas ocupadas;<br />

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2.2 - Importância das micro e pequenas empresas<br />

As microempresas somam, segundo pesquisa realizada pelo IBGE/CEMPRE<br />

em 2002, 4.605.607 unida<strong>de</strong>s, correspon<strong>de</strong>ndo a 93,6% do total <strong>de</strong> empresas no País.<br />

A participação entre os empregos formais registrados <strong>para</strong> este segmento é <strong>de</strong> 36,2%.<br />

As pequenas empresas, por sua vez, somam 274.009 unida<strong>de</strong>s,<br />

correspon<strong>de</strong>ndo a 5,6% do total <strong>de</strong> empresas formais no Brasil. O percentual <strong>de</strong><br />

empregos gerados é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 21,0%.<br />

A distribuição por porte e setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser observada na tabela<br />

abaixo (em %).<br />

Tabela 2.1 – Distribuição por porte e setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> (%)<br />

Setor Geral Micro Pequenas Médias Gran<strong>de</strong>s Total<br />

Indústria 17,36 85,87 10,59 2,86 0,68 100<br />

Comércio 55,65 97,38 2,30 0,28 0,04 100<br />

Serviços 26,99 93,69 4,99 1,06 0,26 100<br />

Fonte: IBGE, Rio <strong>de</strong> Janeiro (1997).<br />

Os números acima atestam a importância <strong>de</strong>stes segmentos – MPE - <strong>para</strong> a<br />

economia do País. A geração <strong>de</strong> emprego, os impostos arrecadados e o complemento<br />

às ativida<strong>de</strong>s das GME’s (empresas “satélites”) estão entre as principais razões das<br />

políticas <strong>de</strong> apoio técnico e creditício (público e privado) a esses segmentos.<br />

A última razão apresentada, a propósito, tem se mostrando mais do que uma<br />

característica, mas uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação das MPE’s à realida<strong>de</strong> brasileira,<br />

segundo a qual as GME’s ditam a ativida<strong>de</strong>/ramo, a localização, a tecnologia<br />

empregada e, às vezes, a marca do produto ou serviço. Exemplos conhecidos, como a<br />

indústria automobilística, que possui microempresas satélites <strong>para</strong> o fornecimento <strong>de</strong><br />

componentes e serviços <strong>de</strong> manutenção, se somam hoje às gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s varejistas<br />

<strong>de</strong> supermercados, que impõe, além do preço, sua marca (“Extra”, “Carrefour”, “Pão<br />

<strong>de</strong> Açúcar”, etc.) aos <strong>de</strong>mais fabricantes, <strong>para</strong> que estes possam oferecer seus<br />

produtos em condições razoáveis nas prateleiras. A insistência em tentar competir<br />

com as GME’s é consi<strong>de</strong>rada por alguns pesquisadores uma das principais causas da<br />

alta mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> MPE’s.<br />

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Apesar da gran<strong>de</strong> participação das MPE’s na quantida<strong>de</strong> e na geração <strong>de</strong><br />

empregos, o mesmo não acontece no faturamento, conforme <strong>de</strong>monstrado na tabela<br />

abaixo, que representa a distribuição da receita por porte e setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> (em %).<br />

Tabela 2.2 – Distribuição da receita por porte e setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> (%)<br />

Setor Micro Pequenas Médias Gran<strong>de</strong>s Participação<br />

Indústria 6,94 10,30 21,67 61,09 51,18<br />

Comércio 23,04 22,30 9,53 45,13 32,70<br />

Serviço 14,34 14,06 7,46 64,14 16,12<br />

Total 13,40 14,82 15,41 56,37 100,00<br />

Fonte: Pequenas Empresas, Gran<strong>de</strong>s Negócios (2000); SEBRAE, com dados do<br />

IBGE.<br />

Os números acima refletem a diferença existente na estrutura empresarial<br />

brasileira. A <strong>de</strong>sproporção observada não po<strong>de</strong> ser atribuída, isoladamente, aos<br />

ganhos com a economia <strong>de</strong> escala. As verda<strong>de</strong>iras causas estão mais relacionadas ao<br />

hiato tecnológico existente entre os segmentos e ao claro favorecimento na política <strong>de</strong><br />

crédito das instituições financeiras públicas e privadas, que este trabalho tentará<br />

<strong>de</strong>monstrar.<br />

Relacionando as duas tabelas acima (2.1 e 2.2) verifica-se a concentração <strong>de</strong><br />

receita existente entre as empresas, reproduzindo, <strong>de</strong> certo modo, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong><br />

existente na pessoa física. O PIB brasileiro, que alcançou em 2005 a cifra <strong>de</strong> R$<br />

1.937.000.000,00, também expõe a concentração sobre as GME’s, que representam<br />

79% daquele valor, aproximadamente.<br />

O processo <strong>de</strong> industrialização e <strong>de</strong>senvolvimento da classe econômica<br />

empresarial dominante no Brasil não possui nenhuma semelhança com a gradual<br />

evolução das micro, pequenas e médias empresas observada em paises como os<br />

EUA, Inglaterra e França. As gran<strong>de</strong>s empresas instaladas aqui foram montadas com<br />

a estrutura e características das gran<strong>de</strong>s multinacionais. Este processo gerou uma<br />

espécie <strong>de</strong> “castas” entre as empresas, <strong>de</strong> pouquíssima mobilida<strong>de</strong> entre elas,<br />

comprovada pelos números acima<br />

Envolvidas historicamente com o Po<strong>de</strong>r Público, as GME’s sempre obtiveram<br />

os meios <strong>de</strong> manterem a vantagem sobre as MPE’s. O CADE – Conselho<br />

Administrativo <strong>de</strong> Defesa Econômica, autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, e<br />

criado em 1962 é responsável pela fiscalização sobre abusos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r econômico e<br />

observância sobre matéria <strong>de</strong> cunho concorrencial, não goza do prestígio e autorida<strong>de</strong><br />

necessários ao cumprimento <strong>de</strong> suas atribuições. Bastando observar casos recentes,<br />

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como os das cervejarias BRAHMA/ANTARTICA e da indústria <strong>de</strong> chocolate<br />

GAROTO/NESTLÊ.<br />

2.3 - Sobrevivência das MPE’s<br />

Uma das conseqüências mais visíveis das dificulda<strong>de</strong>s vividas pelas MPE’s é a<br />

alta taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> existente. Inúmeros trabalhos e pesquisas já foram realizados<br />

com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e solucionar este problema. A mais recente, <strong>de</strong> abrangência<br />

nacional, foi realizada pelo SEBRAE – Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às micro e<br />

pequenas empresas e pela FUBRA – Fundação Universitária <strong>de</strong> Brasília durante o<br />

primeiro trimestre <strong>de</strong> 2004.<br />

Antes <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r à análise, vale lembrar que esta pesquisa, assim como a<br />

imensa maioria dos trabalhos <strong>de</strong>sta natureza, não aborda as relações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />

entre as empresas pesquisadas, fundamental <strong>para</strong> o correto diagnóstico das causas<br />

do problema. Este fato não diminui a importância da pesquisa, que <strong>de</strong>smistifica<br />

algumas crenças relacionadas ao fracasso das pequenas empresas.<br />

A tabela abaixo reproduz as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> (%) verificadas pela pesquisa<br />

<strong>para</strong> o Brasil e Regiões.<br />

Ano <strong>de</strong><br />

constituição<br />

Tabela 2.3 – Taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresas (%)<br />

Região<br />

Su<strong>de</strong>ste<br />

Região<br />

Sul<br />

Região<br />

Nor<strong>de</strong>ste<br />

Região<br />

Norte<br />

Região<br />

Centro-<br />

Oeste<br />

BRASIL<br />

2002 48,9 52,9 46,7 47,5 49,4 49,4<br />

2001 56,7 60,1 53,4 51,6 54,6 56,4<br />

2000 61,1 58,9 62,7 53,4 53,9 59,9<br />

A pesquisa teve o mérito <strong>de</strong> inovar, abordando também as principais causas <strong>de</strong><br />

sucesso das empresas que se mantiveram em ativida<strong>de</strong> até aquela data. As principais<br />

foram:<br />

• Bom conhecimento do mercado <strong>de</strong> atuação; e<br />

• Boa estratégia <strong>de</strong> vendas.<br />

Po<strong>de</strong>-se atribuir às causas citadas acima conhecimentos técnicos em<br />

administração, como estratégia <strong>de</strong> mercado (planejamento do local, clientela alvo, etc.)<br />

e <strong>de</strong> venda (marketing e precificação).<br />

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Outros fatores apontados, com menor representativida<strong>de</strong> foram características<br />

subjetivas e pessoais, como perseverança, criativida<strong>de</strong> e li<strong>de</strong>rança. Houve ainda<br />

menções ao profissionalismo na administração e investimentos próprios no<br />

empreendimento.<br />

Estão relacionadas na tabela 2.4 as principais causas do fracasso <strong>para</strong> os<br />

empresários que fecharam suas portas.<br />

Tabela 2.4 – Principais causas do fracasso<br />

Falta <strong>de</strong> Capital <strong>de</strong> Giro 42%<br />

Falta <strong>de</strong> Clientes 25%<br />

Problemas Financeiros 21%<br />

Maus pagadores 16%<br />

Falta <strong>de</strong> Crédito Bancário 14%<br />

Recessão Econômica 14%<br />

Outra Razão 14%<br />

Ponto/Local ina<strong>de</strong>quado 8%<br />

Falta <strong>de</strong> Conhecimentos Gerenciais 7%<br />

Problemas com a Fiscalização 6%<br />

Falta <strong>de</strong> Mão-<strong>de</strong>-Obra Qualificada 5%<br />

Instalações Ina<strong>de</strong>quadas 3%<br />

Carga Tributária Elevada 1%<br />

Deve-se ressaltar que as respostas acima são induzidas, ou seja, na<br />

metodologia utilizada por esta pesquisa, o questionário é do tipo “fechado”, on<strong>de</strong> as<br />

respostas são colocadas previamente como opção aos empresários. A pesquisa<br />

também apurou as respostas espontâneas, que alterou significativamente o item<br />

“Carga Tributária” <strong>para</strong> 29% das respostas.<br />

Com base nos dados acima, os pesquisadores atribuíram a alta mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

empresas no Brasil à falhas <strong>de</strong> origem gerencial. Sem ignorar este fato, está explícita<br />

a falta <strong>de</strong> recursos <strong>para</strong> o financiamento do empreendimento, com 77% das respostas<br />

relacionadas a esta causa (em negrito).<br />

A pesquisa revela o óbvio: 96% das empresas extintas são microempresas.<br />

Entre os ramos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, 51% são comerciais, 46% serviços e 3% pertencem à<br />

indústria, on<strong>de</strong> se concentram as gran<strong>de</strong>s empresas.<br />

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Um tabu <strong>de</strong>rrubado trata da escolarida<strong>de</strong> dos empresários, sempre associando<br />

a baixa instrução formal ao fracasso. A pesquisa revelou que os índices <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong> são idênticos entre os que fracassaram e os que obtiveram sucesso.<br />

Menos um fator a se corrigir.<br />

Outra informação reveladora está no capital médio investido pelos<br />

empreen<strong>de</strong>dores. A relação entre os valores aportados pelas empresas ativas e<br />

inativas alcança cinco <strong>para</strong> um (2001), sendo 74% <strong>de</strong>stes valores <strong>de</strong> origem própria<br />

(empreen<strong>de</strong>dor). Sem maiores informações, <strong>de</strong>duz-se que as empresas que abriram e<br />

permaneceram em ativida<strong>de</strong> iniciaram seu funcionamento por empresários com<br />

recursos significativos, incluindo-se neste grupo, franquias e empresas satélites –<br />

criadas <strong>para</strong> complementar GME’s.<br />

A procura por auxilio técnico (SEBRAE, contadores, etc.) foi levemente superior<br />

<strong>para</strong> as empresas que permaneceram em ativida<strong>de</strong>, o que <strong>de</strong>scarta este fator como<br />

responsável pelo fracasso das <strong>de</strong>mais.<br />

Os números finais da pesquisa são impressionantes:<br />

• Fechamento <strong>de</strong> 772.679 empresas entre os anos 2000 e 2002;<br />

• Perda <strong>de</strong> 2,4 milhões <strong>de</strong> ocupações;<br />

• Desperdícios potenciais <strong>de</strong> R$ 19,4 bilhões <strong>de</strong> inversões na ativida<strong>de</strong><br />

econômica, <strong>de</strong>corrente do encerramento das ativida<strong>de</strong>s empresariais no<br />

período <strong>de</strong> 2000 a 2002.<br />

A <strong>de</strong>speito da causa diagnosticada pelo SEBRAE e pela FUBRA - aspectos<br />

gerenciais, <strong>de</strong>ve-se tentar “ler” o que não está na pesquisa. O problema da falta <strong>de</strong><br />

crédito às MPE’s foi minimizado, assim como a questão tributária. O tratamento <strong>de</strong>stes<br />

dois fatores, por si só, teria impacto imediato no prolongamento da vida empresarial<br />

dos pequenos negócios.<br />

A ausência <strong>de</strong> informações sobre o relacionamento entre as empresas ou<br />

ativida<strong>de</strong>s exercidas <strong>de</strong>ntro da indústria, comércio e serviços entre as pesquisadas<br />

po<strong>de</strong> ser atribuída à metodologia aplicada, mas que, registre-se, compromete a correta<br />

i<strong>de</strong>ntificação das causas <strong>de</strong> sucesso ou fracasso entre as MPE’s.<br />

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2.4 - Conjuntura econômica nacional<br />

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Para enten<strong>de</strong>r as causas da dificulda<strong>de</strong> na obtenção <strong>de</strong> crédito pelas MPE’s, é<br />

necessário enten<strong>de</strong>r o Sistema Financeiro Nacional, ou simplesmente SFN.<br />

O SFN é formado pelo conjunto <strong>de</strong> Órgãos <strong>de</strong> Regulação e <strong>de</strong> Instituições que<br />

operam os instrumentos do sistema, com o objetivo básico <strong>de</strong> transferir recursos dos<br />

agentes econômicos (pessoas, empresas, governo) superavitários <strong>para</strong> os <strong>de</strong>ficitários.<br />

Figura 2.1 – Mercado Financeiro<br />

Estrutura<br />

O Sistema Financeiro Nacional do Brasil tem seus alicerces nas leis da<br />

Reforma Bancária <strong>de</strong> 1964 e do Mercado <strong>de</strong> Capitais <strong>de</strong> 1965. Em 1988, uma nova lei<br />

criou os Bancos Múltiplos, aperfeiçoando o SFN.<br />

O SFN é composto por dois subsistemas: o Subsistema Normativo e o<br />

Subsistema <strong>de</strong> Intermediação.<br />

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Figura 2.2 – Subsistemas do SFN<br />

O CMN – Conselho Monetário Nacional é um órgão normativo, responsável<br />

pelas políticas e diretrizes monetárias <strong>para</strong> a economia do País, não <strong>de</strong>sempenhando<br />

funções executivas. O CMN, pelo seu papel no cenário econômico nacional, assume o<br />

papel <strong>de</strong> Conselho <strong>de</strong> <strong>Política</strong> Econômica. O CMN é a entida<strong>de</strong> superior do SFN,<br />

sendo composto por três membros: o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento<br />

e o Presi<strong>de</strong>nte do Banco Central.<br />

Banco Central do Brasil: O BACEN, vinculado ao Ministério da Fazenda, é o<br />

principal agente executivo das políticas traçadas pelo CMN e é também o principal<br />

órgão <strong>de</strong> fiscalização do Sistema Financeiro Nacional.<br />

Possui duas funções básicas: Como agente disciplinador e fiscalizador do<br />

mercado financeiro e como agente executor das políticas monetária e cambial. Como<br />

executor <strong>de</strong> <strong>Política</strong> Monetária o Banco Central opera os seguintes instrumentos:<br />

mercado aberto, <strong>de</strong>pósitos compulsórios e re<strong>de</strong>sconto.<br />

Compõe, ainda, o “núcleo da <strong>Política</strong> Monetária”, além do CMN e do BACEN, o<br />

COPOM – Conselho <strong>de</strong> <strong>Política</strong> Monetária, cujos objetivos são <strong>de</strong>finir a meta <strong>para</strong> a<br />

taxa selic (Sistema Especial <strong>de</strong> Liquidação e Custódia) e avaliar o Relatório das metas<br />

da inflação. Compõe o COPOM, os diretores do Banco Central e o Ministro da<br />

Fazenda.<br />

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A <strong>Política</strong> <strong>de</strong> Metas Inflacionárias, adotado pelo Brasil na década <strong>de</strong> 90, é a<br />

razão principal da manutenção da maior taxa <strong>de</strong> juro do mundo – atualmente a taxa<br />

SELIC está em 14,75% a.a. A influência <strong>de</strong>ste índice na política <strong>de</strong> crédito das<br />

instituições financeiras é muito alta, tendo em vista que é este índice que remunera os<br />

títulos emitidos pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral <strong>para</strong> adquirir recursos e financiar a dívida<br />

existente com as IF’s, nacionais e internacionais.<br />

Recursos que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>stinar-se ao mercado produtivo, sob a forma <strong>de</strong><br />

financiamentos e empréstimos, terminam por serem aplicados nos referidos títulos, por<br />

apresentarem um retorno financeiro mais seguro, caracterizando o “lucro <strong>de</strong><br />

tesouraria” dos bancos.<br />

Subsistema <strong>de</strong> Intermediação<br />

O Subsistema <strong>de</strong> Intermediação é a parte operacional do sistema financeiro,<br />

constituído por instituições monetárias e não monetárias que operam na intermediação<br />

financeira.<br />

O Banco Comercial é o principal componente <strong>de</strong>ste sistema, sendo uma<br />

instituição financeira, privada ou pública, que tem como objetivo principal suprir<br />

recursos <strong>para</strong> financiar, a curto e médio prazo, o comércio, a indústria, as empresas<br />

prestadoras <strong>de</strong> serviço, as pessoas físicas e terceiros em geral.<br />

2.5 - Principais bancos comerciais<br />

Para este trabalho foram usados como referência os cinco maiores bancos,<br />

assim consi<strong>de</strong>rados pelo Banco Central do Brasil, mais o BNDES (banco <strong>de</strong><br />

investimento).<br />

São eles:<br />

Tabela 2.5 – Principais bancos comerciais<br />

Banco do Brasil SA<br />

Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral<br />

Bra<strong>de</strong>sco SA<br />

Itaú SA<br />

Unibanco SA<br />

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BANCO BRADESCO SA<br />

BANCO DO BRASIL SA<br />

BANCO ITAÚ SA<br />

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL<br />

UNIBANCO SA<br />

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TAXAS DE JUROS MENSAIS PRATICADAS<br />

Fonte: Banco Central do Brasil, julho <strong>de</strong> 2006<br />

Modalida<strong>de</strong> – Prefixado PJ Taxa Média<br />

Desc. De Duplicata 2,93<br />

Capital <strong>de</strong> Giro 2,75<br />

Conta Garantida 3,99<br />

Modalida<strong>de</strong> – Prefixado PJ Taxa Média<br />

Desc. De Duplicata 2,36<br />

Capital <strong>de</strong> Giro 1,74<br />

Conta Garantida 4,66<br />

Modalida<strong>de</strong> – Prefixado PJ Taxa Média<br />

Desc. De Duplicata 2,71<br />

Capital <strong>de</strong> Giro 2,58<br />

Conta Garantida 4,30<br />

Modalida<strong>de</strong> – Prefixado PJ Taxa Média<br />

Desc. De Duplicata 2,90<br />

Capital <strong>de</strong> Giro 2,76<br />

Conta Garantida -------------------<br />

Modalida<strong>de</strong> – Prefixado PJ Taxa Média<br />

Desc. De Duplicata 3,26<br />

Capital <strong>de</strong> Giro 2,23<br />

Conta Garantida 3,07<br />

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CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

As taxas expostas acima atestam, <strong>de</strong> maneira inequívoca, a homogeneida<strong>de</strong><br />

encontrada pelos micro e pequenos empresários na busca por alternativas <strong>de</strong> crédito.<br />

A igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>para</strong> a tomada <strong>de</strong> crédito é, por si só, um sinal <strong>de</strong><br />

anormalida<strong>de</strong> no mercado, configurando um oligopólio. Contudo, os baixos limites e<br />

prazos praticados acrescentam outro: A vantagem obtida pelas IF’s em aplicar seus<br />

recursos no mercado financeiro, em <strong>de</strong>trimento do produtivo.<br />

2.6 - Ações <strong>de</strong> apoio às MPE’s<br />

A preocupação com o fomento das MPE’s no Brasil existe há mais <strong>de</strong> quarenta<br />

anos. Seja sob a forma <strong>de</strong> leis ou <strong>de</strong>cretos, com recursos públicos e privados,<br />

nacionais e estrangeiros.<br />

Marcos <strong>de</strong>sta política são: GEAMPE – Grupo Executivo <strong>de</strong> Assistência à Média<br />

e Pequena Empresa, datado <strong>de</strong> 1960, este grupo tinha o objetivo <strong>de</strong> elaborar um plano<br />

<strong>de</strong> aperfeiçoamento técnico a pequenas empresas industriais.<br />

O FIPEME – Financiamento à Pequena e Média Empresa, criado em 1964,<br />

tinha como propósito intermediar créditos provenientes do BID – Banco Interamericano<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento às pequenas empresas. O resultado, segundo técnicos do BNDE<br />

(antigo BNDES), foi o <strong>de</strong>svio da maioria dos recursos às médias empresas.<br />

O CEBRAE – Centro <strong>de</strong> Apoio à Pequena e Média Empresa, foi criado em<br />

1972 com o objetivo <strong>de</strong> fornecer apoio gerencial aos gestores <strong>de</strong> pequenas empresas.<br />

Posteriormente teve sua <strong>de</strong>nominação alterada <strong>para</strong> SEBRAE, entida<strong>de</strong> civil e sem<br />

fins lucrativos. Financiada pelo empresariado nacional, <strong>de</strong>stina-se hoje a apoiar<br />

técnica e financeiramente as pequenas empresas.<br />

O Programa <strong>de</strong> Apoio ao Fortalecimento da Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geração <strong>de</strong><br />

Emprego e Renda (PROGEREN – BNDES) possui muita similarida<strong>de</strong> ao PROGER,<br />

ambos condicionando o crédito concedido à geração <strong>de</strong> novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />

Contudo não há qualquer controle sobre o cumprimento <strong>de</strong>sta condição. O crédito é<br />

concedido mediante a análise <strong>de</strong> um Plano <strong>de</strong> Negócio, criterioso do ponto <strong>de</strong> vista<br />

financeiro (<strong>de</strong> modo a garantir o retorno dos valores), apresentado pelo proponente a<br />

uma IF’s cre<strong>de</strong>nciada. Após a aprovação financeira do Plano, o capital é liberado, não<br />

havendo contrapartida alguma. Tampouco existe fiscalização sobre os <strong>de</strong>mais pontos<br />

do Plano, como os “empregos gerados”.<br />

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Segundo recente informe do Governo Fe<strong>de</strong>ral, publicado na Revista Brasil, os<br />

financiamentos <strong>para</strong> micro e pequenas empresas foram duplicados no período que vai<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2003 a agosto <strong>de</strong> 2005. Sendo que várias ações resultaram na<br />

ampliação das linhas <strong>de</strong> financiamento, sobretudo no Banco Nacional <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Social (BNDES) e no Banco do Brasil.<br />

Em relação ao Banco do Brasil, o Governo informa que as operações <strong>para</strong> este<br />

tipo <strong>de</strong> segmento representaram mais que o dobro das realizadas no governo anterior:<br />

enquanto em 2002, por exemplo, foram realizadas 656 mil operações; em 2003, esse<br />

número foi ampliado <strong>para</strong> 906 mil e, em 2004, <strong>para</strong> 1.224 mil operações. Em 2005, até<br />

junho, a instituição realizou 1.310 mil operações, em valores que chegaram a R$ 18,7<br />

bilhões.<br />

São citadas, além das realizações anteriores, as seguintes ações:<br />

Mais <strong>de</strong> 15.000 MPE’s apoiadas pela Agência <strong>de</strong> Promoção <strong>de</strong> Exportações<br />

Brasileiras – Apex-Brasil.<br />

O sistema <strong>de</strong> exportação foi simplificado com a utilização das remessas<br />

postais. Tendo atendido em 2004 cerca <strong>de</strong> 6.200 empresas <strong>de</strong> pequeno porte em mais<br />

<strong>de</strong> US$ 100 milhões em vendas <strong>para</strong> fora do país.<br />

Redução <strong>de</strong> até 70% dos custos <strong>para</strong> certificação dos produtos das MPE’s,<br />

através <strong>de</strong> bônus.<br />

Ações integradas <strong>de</strong> políticas públicas <strong>para</strong> o aumento da competitivida<strong>de</strong> das<br />

diversas ca<strong>de</strong>ias produtivas, através dos Arranjos Produtivos Locais. Estes são<br />

sistemas <strong>de</strong> produção localizados. Caracterizados pela integração e cooperação entre<br />

seus elementos produtivos, contando com incentivos governamentais – fiscais e<br />

financeiros.<br />

Foi realizado o parcelamento <strong>de</strong> débitos fiscais fe<strong>de</strong>rais contraídos até<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004, com prazo <strong>de</strong> até 60 meses <strong>para</strong> quitação das dívidas.<br />

Está no Congresso um projeto que estimula a formalização <strong>de</strong> micro<br />

empreen<strong>de</strong>dores com faturamento anual <strong>de</strong> até R$ 36.000,00.<br />

Faz mister aqui tecer algumas consi<strong>de</strong>rações sobre as ações citadas acima.<br />

O BNDES receberá atenção no próximo item <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

A informação sobre o aumento das operações <strong>de</strong> crédito pelo Banco do Brasil,<br />

isoladamente, não acrescenta muito, tendo em vista o dinamismo do sistema bancário<br />

em inventar e reinventar operações <strong>de</strong> crédito. Além <strong>de</strong> omitir o tipo <strong>de</strong> crédito. Nos<br />

últimos anos observa-se uma alteração no tipo <strong>de</strong> crédito oferecido, <strong>de</strong> longo <strong>para</strong><br />

curto prazo, ou seja, do capital <strong>de</strong> giro convencional <strong>para</strong> linhas semelhantes ao<br />

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cheque especial/conta garantida, notoriamente mais seguras e rentáveis <strong>para</strong> as IF’s<br />

que outras opções.<br />

O parcelamento <strong>de</strong> débitos, associado à rigorosa fiscalização fiscal exercida<br />

pela Receita Fe<strong>de</strong>ral, ambas mostradas como ações positivas do Governo na edição<br />

da referida Revista, são conseqüências <strong>de</strong> um só fato: Uma política fiscal ina<strong>de</strong>quada<br />

à realida<strong>de</strong> brasileira.<br />

O Programa <strong>de</strong> Exportações por Remessas Postais foi citado como<br />

responsável por ter atendido a 6.200 empresas <strong>de</strong> pequeno porte. A questão é saber<br />

qual referência <strong>de</strong> porte – BNDES, Receita Fe<strong>de</strong>ral, IBGE, etc. – foi utilizada <strong>para</strong><br />

classificar “pequeno” porte.<br />

A propósito, as exportações tem sido <strong>para</strong> o Governo Fe<strong>de</strong>ral uma priorida<strong>de</strong><br />

em termos <strong>de</strong> apoio financeiro às empresas. Conforme consta na página do BNDES<br />

na internet: “...promover o aumento das vendas externas é objetivo fundamental do<br />

governo brasileiro,...”<br />

Os números relativos ao comércio exterior são robustos:<br />

• Receita oriunda <strong>de</strong> exportações em 2005 (total): US$ 118,3 bilhões;<br />

• Saldo positivo da Balança Comercial <strong>de</strong> 2005 em US$ 44,8 bilhões;<br />

• 18.000 empresas atuando no mercado externo<br />

Deve-se lembrar, contudo, que apenas 10 empresas – incluindo as estatais –<br />

são responsáveis por 25% <strong>de</strong>ste resultado. Dentre estes, a Petrobrás respon<strong>de</strong>u por<br />

37% (Fonte: VEJA – Janeiro <strong>de</strong> 2006).<br />

2.7 - BNDES<br />

Conforme informado no site do BNDES, as operações apresentadas por micro,<br />

pequenas e médias empresas são financiadas por meio <strong>de</strong> instituições financeiras<br />

cre<strong>de</strong>nciadas pelo BNDES, que são responsáveis pela análise e aprovação do crédito<br />

e das garantias. Estes bancos, públicos ou privados, teriam, pela sua proximida<strong>de</strong> com<br />

os clientes, as melhores condições <strong>para</strong> avaliar os pedidos <strong>de</strong> financiamento.<br />

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Dentre as instituições mencionadas acima, as que mais conce<strong>de</strong>ram crédito<br />

com recursos do BNDES (entre janeiro e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005) foram:<br />

1º) Banco Bra<strong>de</strong>sco SA – R$ 4,3 bilhões<br />

2º) Banco do Brasil SA – R$ 4,1 bilhões<br />

3º) Unibanco SA – R$ 2,5 bilhões<br />

4º) Votorantim BM – R$ 1,3 bilhão<br />

5º) Daimlerchrysler – R$ 1,00 bilhão<br />

13º) Itaú SA – R$ 455.004.000,00<br />

24º) Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral – R$ 211.378.000,00<br />

O primeiro registro a ser feito aqui é sobre o critério adotado pelo BNDES <strong>para</strong><br />

classificar o porte das empresas proponentes, conforme informado no início <strong>de</strong>ste<br />

capítulo: Muito superior ao utilizado por qualquer outra instituição brasileira – pública<br />

ou privada.<br />

Estas “adaptações” são compreensíveis, tendo em vista o volume <strong>de</strong> recursos<br />

manipulados pelo Banco. A divulgação dos números à mídia, contudo, <strong>de</strong>veria basear-<br />

se nos parâmetros utilizados pelo mercado ou pela Receita Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> modo a fazer<br />

conhecer o real <strong>de</strong>sempenho do Banco no que se refere aos <strong>de</strong>sembolsos feitos às<br />

MPE’s.<br />

Hoje, a informação do que chega sobre as microempresas, por exemplo, é<br />

imprecisa, nula ou ainda <strong>de</strong>liberadamente distorcida. Lembrando que, entre os<br />

números atribuídos às MPE, estão os relacionados aos produtores rurais,<br />

transportadores autônomos e micro empreen<strong>de</strong>dores.<br />

Apesar <strong>de</strong>ste dificultador na leitura, os números falam por si. Verifica-se na<br />

Tabela 2.6 que houve crescimento nos último cinco anos no volume concedido às<br />

MPE’s (ainda que se consi<strong>de</strong>re como “pequena” empresa um faturamento <strong>de</strong> R$<br />

10.500.000,00 ao ano). Contudo, também ocorreu significativo aumento <strong>para</strong> os<br />

<strong>de</strong>mais portes. Ou seja, consi<strong>de</strong>rando-se valores absolutos, mais <strong>de</strong> 75% dos recursos<br />

do Banco foram <strong>para</strong> as médias e gran<strong>de</strong>s empresas.<br />

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Tabela 2.6 – Desembolso anual do Sistema BNDES (R$ milhões)<br />

Porte / Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005<br />

ME/EPP 3.031,10 4.222,80 5.969,70 7.410,40 9.585,00 7.894,20<br />

MÉDIA 1.374,50 1.562,40 2.367,60 2.613,00 2.993,40 3.767,70<br />

GRANDE 18.640,20 19.431,40 29.082,00 23.510,02 27.255,50 35.318,40<br />

TOTAL 23.045,80 25.216,50 37.419,30 33.533,60 39.833,90 46.980,20<br />

Fonte: site www.bn<strong>de</strong>s.gov.br<br />

Nº <strong>de</strong> Operações<br />

2005<br />

R$ milhões<br />

2005<br />

Figura 2.3 – Sistema BNDES (Fonte: site www.bn<strong>de</strong>s.gov.br)<br />

A informação sobre a intermediação <strong>de</strong> recursos feita pelos bancos<br />

cre<strong>de</strong>nciados é clara na afirmação que a mesma <strong>de</strong>stina-se às micro, pequenas e<br />

médias empresas, tendo em vista o relacionamento com o cliente. Os primeiros três<br />

colocados são, notoriamente, os bancos possuidores das maiores carteiras <strong>de</strong> clientes<br />

no segmento empresarial. Dentre estes, os <strong>de</strong> maior porte. Explicando, em parte, os<br />

gran<strong>de</strong>s valores intermediados. O quarto e o quinto colocado são instituições<br />

financeiras criadas a partir <strong>de</strong> multinacionais vinculadas a segmentos específicos da<br />

indústria (Automobilística e Cimento, entre outros).<br />

17


2.8 - Inadimplência – estatísticas<br />

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A inadimplência no segmento empresarial, pelas características utilizadas em<br />

sua mensuração (quantida<strong>de</strong>s, valores), reflete <strong>de</strong> maneira particular as MPE’s.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições encontrada pelos micro e<br />

pequenos empresários no acesso ao crédito, não resta a estes outra opção além da<br />

tomada <strong>de</strong> crédito em condições <strong>de</strong>sfavoráveis, tornando a inadimplência uma<br />

conseqüência natural, e não um risco circunstancial do negócio – como <strong>de</strong>veria ser.<br />

O aparente “<strong>de</strong>scaso” das IF’s com os índices <strong>de</strong> inadimplência <strong>de</strong>notam, por<br />

sua vez, a real origem <strong>de</strong> seus lucros: Os já mencionados “lucros <strong>de</strong> tesouraria”.<br />

SERASA<br />

A SERASA é uma das maiores empresas do mundo em gestão <strong>de</strong> informações<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> crédito e apoio aos negócios.<br />

A SERASA possui um indicador chamado Indicador Serasa <strong>de</strong> Inadimplência<br />

Pessoa Jurídica, que analisa eventos ocorridos em todo o Brasil, refletindo o<br />

comportamento da inadimplência em âmbito nacional. O mo<strong>de</strong>lo estatístico <strong>de</strong><br />

múltiplas variáveis consi<strong>de</strong>ra as variações registradas no número <strong>de</strong> cheques sem<br />

fundos, títulos protestados e dívidas vencidas com instituições financeiras.<br />

Este indicador apontou uma alta <strong>de</strong> 7,9% na inadimplência da pessoa jurídica<br />

em novembro <strong>de</strong> 2005, na com<strong>para</strong>ção com outubro do mesmo ano.<br />

Com<strong>para</strong>da a novembro <strong>de</strong> 2004, a inadimplência <strong>de</strong> empresas apresentou<br />

acréscimo <strong>de</strong> 8,4%. Nos onze meses <strong>de</strong> 2005, houve uma alta <strong>de</strong> 14,1% no indicador,<br />

na com<strong>para</strong>ção com o mesmo período <strong>de</strong> 2004.<br />

Segundo os técnicos da SERASA, a redução no ritmo da ativida<strong>de</strong> econômica<br />

e as taxas <strong>de</strong> juros ainda elevadas pressionaram o fluxo <strong>de</strong> caixa das empresas,<br />

restringindo a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> honrar os compromissos financeiros, e por<br />

conseqüência, aumentando a inadimplência.<br />

Representativida<strong>de</strong><br />

De acordo com o indicador, os títulos protestados registraram a maior<br />

representativida<strong>de</strong> na inadimplência das empresas, com a participação <strong>de</strong> 40,7% em<br />

novembro <strong>de</strong> 2005. No entanto, o peso dos protestos no indicador vem caindo a cada<br />

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ano e a participação em novembro <strong>de</strong> 2005 foi inferior a registrada em novembro <strong>de</strong><br />

2004, quando os títulos representaram 43,2% da inadimplência.<br />

O segundo índice na representativida<strong>de</strong> do indicador <strong>de</strong> inadimplência é o <strong>de</strong><br />

cheques sem fundos, que em novembro <strong>de</strong> 2005 teve um peso <strong>de</strong> 39,1% na<br />

inadimplência das empresas. Em novembro <strong>de</strong> 2004, a participação dos cheques sem<br />

fundos foi <strong>de</strong> 39,5%.<br />

Com a menor representativida<strong>de</strong>, mas crescendo a cada ano, estão as dívidas<br />

registradas com os bancos, 20,2% em 2005, superior à participação <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

2004 que foi <strong>de</strong> 17,3%.<br />

No acumulado <strong>de</strong> janeiro a novembro <strong>de</strong> 2005, o valor médio das anotações <strong>de</strong><br />

títulos protestados da pessoa jurídica atingiu R$ 1.400,45. Já o <strong>de</strong> cheques sem<br />

fundos registrou R$ 1.234,27 e o valor médio das dívidas registradas com os bancos<br />

foi <strong>de</strong> R$ 3.180,36.<br />

Em relação ao período <strong>de</strong> janeiro a novembro <strong>de</strong> 2004, houve um aumento <strong>de</strong><br />

3,3% no valor médio das dívidas com cheques sem fundos e <strong>de</strong> 5,4% no valor médio<br />

das anotações <strong>de</strong> protestos. O valor médio das dívidas com bancos e financeiras, nos<br />

onze meses <strong>de</strong> 2005, foi 13,1% maior que no mesmo período <strong>de</strong> 2004.<br />

Abaixo encontram-se os dados referentes ao ano <strong>de</strong> 2005 (até novembro).<br />

Tabela 2.7 - Cheques <strong>de</strong>volvidos – 2º vez PJ – Fonte Equifax – 2005<br />

2004 2005 Variação %<br />

2004/2005<br />

Janeiro 343.405 323.703 -4,7<br />

Fevereiro 299.177 309.206 3,4<br />

Março 378.509 427.690 13,0<br />

Abril 322.263 369.384 14,7<br />

Maio 333.160 397.550 19,3<br />

Junho 297.438 382,026 28,4<br />

Julho 319.252 367.544 15,1<br />

Agosto 308.795 383.562 24,2<br />

Setembro 318.660 379.857 19,2<br />

Outubro 374.606 402.664 7,5<br />

Total 3.295.265 3.743.540<br />

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Tabela 2.8 - Protestos PJ – Fonte Equifax – 2005<br />

2004 2005 Variação %<br />

2004/2005<br />

Janeiro 455.126 396.059 -13,0<br />

Fevereiro 362.307 354.914 -2,0<br />

Março 462.754 409.611 -4,0<br />

Abril 350.376 383.014 9,3<br />

Maio 361.404 389.462 7,8<br />

Junho 335.685 398.452 18,7<br />

Julho 352.675 404.679 14,7<br />

Agosto 333.449 391.326 17,4<br />

Setembro 292.958 383.530 30,9<br />

Outubro 314.121 383.085 22,0<br />

Total 3.584.855 3.894.132<br />

Lembrando ainda que os títulos protestados são, muitas vezes, títulos cedidos<br />

às IF’s <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> crédito (<strong>de</strong>sconto <strong>de</strong> títulos), aumentando ainda mais o índice<br />

<strong>de</strong> inadimplência registrado como “dívidas com bancos e financeiras”. Fortalecendo a<br />

constatação <strong>de</strong> política <strong>de</strong> crédito ina<strong>de</strong>quada adotada pelas mesmas.<br />

O lento, porém contínuo, crescimento dos índices <strong>de</strong> inadimplência verificados<br />

acima, somados às informações do relatório da SERASA, registra a real situação das<br />

MPE’s no País, a <strong>de</strong>speito das avaliações e procedimentos utilizados pelas IF’s <strong>para</strong><br />

reduzir o risco da concessão.<br />

2.9 - Condições e processos <strong>de</strong> análise <strong>para</strong> concessão do crédito<br />

As características que envolvem a análise e concessão <strong>de</strong> crédito são similares<br />

em praticamente todos os bancos. Em geral, exigem um tempo mínimo <strong>de</strong> existência<br />

(variam <strong>de</strong> 2 a 12 meses), <strong>de</strong> modo a avaliar a experiência dos administradores. Para<br />

algumas operações, mais vantajosas, exigem um tempo <strong>de</strong> “relacionamento” (Tempo<br />

<strong>de</strong> conta + produtos e serviços).<br />

Existem diferentes graus <strong>de</strong> autonomia atribuída aos gestores da ponta <strong>para</strong><br />

conce<strong>de</strong>r crédito em cada instituição, mas com tendência a reduzir-se.<br />

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Em geral alimenta-se um sistema <strong>de</strong> avaliação próprio – normalmente um<br />

software que tem por base um ou mais sistemas <strong>de</strong> avaliação combinados, <strong>para</strong> obter<br />

a aprovação do crédito. Este, a princípio, impediria a manipulação dos dados e do<br />

crédito por parte do concessor.<br />

Os dados cadastrais e os documentos exigidos pelas IF’s são similares.<br />

Consistem no Contrato Social e alterações posteriores, Declaração <strong>de</strong> Imposto <strong>de</strong><br />

renda Pessoa Jurídica (dado fiscal) e Declaração <strong>de</strong> Faturamento (dado real). Outras<br />

informações variam <strong>de</strong> acordo com a instituição, po<strong>de</strong>ndo ser: Relação <strong>de</strong><br />

compromissos bancários (dívidas), participações em outras empresas (conglomerado),<br />

gastos gerais (custo fixo), estoques, etc. Além <strong>de</strong> várias pesquisas nos cadastros<br />

restritivos (SERASA, SPC, CADIN, BACEN, etc.).<br />

Os sistemas citados acima envolvem diversos mo<strong>de</strong>los estatísticos e<br />

matemáticos <strong>para</strong> enquadrar o postulante a crédito em mal ou bom pagador. É uma<br />

tentativa <strong>de</strong> avaliar os C’s do crédito (Caráter – intenção; Condições – fatores<br />

externos; Colateral – garantias; Capacida<strong>de</strong> – <strong>de</strong> pagamento; Capital - patrimônio e<br />

Conglomerado – grupo econômico). Como o gerente <strong>de</strong> agência vem per<strong>de</strong>ndo<br />

autonomia e relevância, o primeiro “C” é relegado ao segundo plano.<br />

Após a concessão, o mesmo sistema realiza, ainda, um acompanhamento das<br />

ativida<strong>de</strong>s financeiras da empresa proponente, o que costuma chamar-se - Behavior<br />

Scoring.<br />

O ano <strong>de</strong> 2005 obteve os maiores índices <strong>de</strong> inadimplência da década até o<br />

momento. Demonstrando que a origem do problema passa longe dos critérios <strong>de</strong><br />

avaliação <strong>de</strong> crédito, cada vez mais avançados.<br />

No microcosmo dos pontos <strong>de</strong> venda (agências), os gestores da carteira<br />

possuem reduzida autonomia sobre a concessão, por razões já mencionadas.<br />

Restando-lhes duas estratégias <strong>para</strong> obter empresas aprovadas: avaliar uma<br />

quantida<strong>de</strong> gigantesca <strong>de</strong> empresas (ME e EPP) ou focar em poucas com gran<strong>de</strong><br />

faturamento (médias). Tendo em vista que o processo <strong>de</strong> avaliação (documentação,<br />

cadastro, entrevista/visita, alimentação do sistema, etc.) é o mesmo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do<br />

porte, a opção tem sido pela segunda, pois as médias empresas possuem, em geral,<br />

melhor organização, patrimônio e soli<strong>de</strong>z financeira. É a máxima: “conce<strong>de</strong>r a quem<br />

não precisa”. Restando aos primeiros uma peregrinação por crédito (que quando<br />

obtém, é o mais caro) e um atendimento secundário.<br />

A orientação e a pressão exercida sobre os profissionais concessores já<br />

alcançou o ponto <strong>de</strong> se ter <strong>de</strong> evitar abrir contas <strong>para</strong> empresas impossibilitadas <strong>de</strong><br />

obter crédito (faturamento pequeno, com restrição, pouco tempo <strong>de</strong> existência, etc.).<br />

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Exceto quando fornecem “reciprocida<strong>de</strong>”- produtos e serviços bancários adquiridos<br />

como condição a liberação do crédito (venda casada).<br />

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CAPÍTULO 3 - ALTERNATIVAS E PROPOSTAS<br />

Após verificar o problema, seus números e suas origens, se po<strong>de</strong>m formular<br />

algumas propostas <strong>para</strong> sua solução. Algumas são <strong>de</strong> caráter macroeconômico, com<br />

gran<strong>de</strong> influência do Po<strong>de</strong>r Público, sendo outras específicas às IF’s e às instituições<br />

<strong>de</strong> apoio às MPE’s <strong>de</strong> maneira geral. As sugestões e propostas a seguir não possuem<br />

um or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s, sendo todas consi<strong>de</strong>radas importantes.<br />

Um início estimulante seria a redução da complexida<strong>de</strong> e da carga tributária<br />

nacional, uma das mais altas do planeta. Beneficiaria diretamente as MPE’s, na<br />

medida em que possuindo um controle financeiro menos organizado, estas estão mais<br />

sujeitas a erros e <strong>de</strong>scontroles que as GME’s, além <strong>de</strong> estimular o retorno <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> estabelecimentos informais à legalida<strong>de</strong>.<br />

A diversificação <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> controle inflacionário é outra sugestão. A<br />

principal, senão única hoje em dia, é a taxa SELIC, que direciona recursos ao mercado<br />

financeiro especulativo.<br />

Incentivar a concorrência – e não as fusões, como se observa atualmente –<br />

das IF’s privadas é outra prerrogativa do governo central. Além da sadia concorrência<br />

esperada, o próprio governo po<strong>de</strong>ria beneficiar-se financiando sua dívida em melhores<br />

condições.<br />

O BNDES por sua vez po<strong>de</strong>ria, além <strong>de</strong> alterar seus parâmetros <strong>de</strong><br />

classificação <strong>para</strong> MPE’s, oferecer seus recursos <strong>de</strong> maneira menos burocratizada.<br />

Uma recente modalida<strong>de</strong> – o cartão BNDES – po<strong>de</strong> ser a resposta. Em operação<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 2005, vem se mostrando uma ferramenta interessante aos<br />

microempresários que preten<strong>de</strong>m investir em bens <strong>de</strong> capital.<br />

A orientação técnica oferecida aos empreen<strong>de</strong>dores, apesar <strong>de</strong> ainda restrita a<br />

alguns centros urbanos, vem evoluindo continuamente. O SEBRAE, em especial,<br />

<strong>de</strong>senvolve programas <strong>de</strong> treinamento e aperfeiçoamento bastante úteis aos micro e<br />

pequenos empresários. Um <strong>de</strong>les tem por objetivo estimular o associativismo e o<br />

cooperativismo, conceito que, se bem fundamentado, po<strong>de</strong> ser uma alternativa ao<br />

<strong>para</strong>sitismo às GME’s.<br />

As IF’s po<strong>de</strong>m contribuir <strong>de</strong> muitas formas, consi<strong>de</strong>rando que haverá interesse<br />

quando a taxa SELIC alcançar patamares mais razoáveis, a ser:<br />

No aspecto geral, a qualificação do profissional envolvido com a concessão é<br />

fundamental. Um profissional bem pre<strong>para</strong>do po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar - a <strong>de</strong>speito da pressão<br />

pelo cumprimento <strong>de</strong> metas - o tipo <strong>de</strong> crédito a<strong>de</strong>quado ao micro e pequeno<br />

empresário, <strong>de</strong> modo a não onerar excessivamente o fluxo <strong>de</strong> caixa da empresa.<br />

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CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

Os sistemas <strong>de</strong> mensuração <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> crédito po<strong>de</strong>riam sofrer modificações<br />

<strong>para</strong> incluir informações sobre o potencial <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> uma empresa<br />

proponente. Dessa forma, informações como contratos <strong>de</strong> fornecimento, pedidos<br />

formalizados, etc., po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados.<br />

Propostas e alternativas <strong>de</strong> caráter global ou subjetivas, como melhoria no<br />

sistema educacional ou mudanças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cultural, que seguramente influenciariam<br />

no atual <strong>de</strong>sequilíbrio dos agentes econômicos existentes no Brasil, não serão<br />

consi<strong>de</strong>radas neste trabalho pelo entendimento que estas extrapolariam os objetivos<br />

propostos.<br />

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CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar, baseado nos dados apresentados neste trabalho, que a<br />

política <strong>de</strong> crédito utilizada hoje no Brasil é, no mínimo, ina<strong>de</strong>quada às necessida<strong>de</strong>s<br />

das MPE’s.<br />

As causas <strong>de</strong>ssa ina<strong>de</strong>quação são muitas: Mo<strong>de</strong>lo econômico adotado pelo<br />

País, política <strong>de</strong> juros do BACEN, alta carga tributária, direcionamento <strong>de</strong> recursos<br />

subsidiados às empresas <strong>de</strong> maior porte e a falta <strong>de</strong> profissionalismo e treinamento<br />

dos empreen<strong>de</strong>dores estão, seguramente, entre as principais.<br />

O crédito oferecido pelas principais instituições bancárias, públicas e privadas,<br />

é caro. Não somente pelas taxas <strong>de</strong> juros e tarifas cobradas, mas também pela<br />

“reciprocida<strong>de</strong>” exigida. Entenda-se reciprocida<strong>de</strong> como a compra <strong>de</strong> produtos e<br />

serviços bancários que nenhuma relação possui com o crédito concedido.<br />

Os recursos <strong>de</strong>stinados às MPE’s na propaganda oficial, através do BNDES e<br />

<strong>de</strong>mais IF’s, não passam <strong>de</strong> manipulação <strong>de</strong> dados e critérios. Sendo a variação na<br />

classificação <strong>de</strong> porte a mais grave.<br />

A inadimplência observada constata, em última análise, o final <strong>de</strong> um processo<br />

ineficaz <strong>de</strong> injeção <strong>de</strong> crédito na economia. O micro ou pequeno empresário que<br />

mantém sob controle suas operações <strong>de</strong> crédito – adimplente - tem <strong>de</strong> competir ainda<br />

com empresas <strong>de</strong> porte e estrutura muito superior.<br />

As sugestões apresentadas no capítulo anterior são ações pontuais que po<strong>de</strong>m<br />

ser implementadas pelos diferentes agentes da economia e que, se forem articuladas,<br />

surtiriam maior efeito. A questão que fica é sobre o interesse em executá-las, tendo<br />

em vista que a margem <strong>de</strong> lucro das IF’s e das GME’s aumentam ano após ano, assim<br />

como os números da economia nacional apresentam bons resultados (superávit<br />

primário em elevação, redução do endividamento externo, balança comercial<br />

favorável, etc.), resta às MPE’s a tarefa <strong>de</strong> fazer sua parte, qualificando-se.<br />

O tema é tão abrangente quanto importante <strong>para</strong> encerrar-se em um trabalho.<br />

A intenção <strong>de</strong>ste foi i<strong>de</strong>ntificar e expor alguns dos problemas que afetam a obtenção<br />

<strong>de</strong> crédito por parte das MPE’s e sugerir possíveis soluções.<br />

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REFERÊNCIAS<br />

<strong>UVA</strong> – Universida<strong>de</strong> Veiga <strong>de</strong> Almeida<br />

CCS – Centro <strong>de</strong> Ciências Sociais<br />

BNDES. Banco <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e Social. Disponível:<br />

www.bn<strong>de</strong>s.gov.br.<br />

Banco Central do Brasil. Disponível: www.bcb.gov.br.<br />

Crédito e Risco Consultoria e Treinamento Ltda. Disponível:<br />

www.creditoerisco.com.br.<br />

Duarte, H. G. B. e P. – Jornal O GLOBO, 01 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.<br />

Equifax. Disponível: www.equifax.com.br.<br />

Fortuna, E. et al. Programa Auto-Instrutivo Pre<strong>para</strong>tório ao Exame <strong>de</strong> Certificação<br />

Profissional ANBID – Série 10. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2004 – FEBRABAN.<br />

Guandalini, G. et al. – Revista VEJA, 30 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Halfeld, M. - Jornal O GLOBO, 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.<br />

IBGE. Disponível: www.ibge.gov.br.<br />

Lacerda, A. C. et al. Economia Brasileira. 1º ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2001.<br />

Nonaka, I. Texto: “A Empresa Criadora <strong>de</strong> Conhecimento”. Compêndio Como as<br />

Organizações Apren<strong>de</strong>m.<br />

Preisler, A. M. <strong>Análise</strong> <strong>de</strong> Risco e Crédito <strong>para</strong> Micro e Pequenas Empresas –<br />

Uma Proposta Orientativa. Santa Catarina, 2003. Tese (Mestrado), Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Porter, M. E. Texto “Vantagem Competitiva”. Editora Campus, 2001.<br />

Pereira, M. I. Cooperativas <strong>de</strong> Trabalho: O Impacto no Setor <strong>de</strong> Serviços. São<br />

Paulo. Editora Pioneira Thonson Learning, 2002.<br />

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Rattner, H. Algumas hipóteses sobre as perspectivas <strong>de</strong> sobrevivência das<br />

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<strong>de</strong> Janeiro, outubro/<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1982.<br />

Revista VEJA. Janeiro, 2006.<br />

Revista Brasil, Ano 3 – Número 05. Disponível:<br />

www.brasil.gov.br/noticias/publicacoes/pub001/revbrasil.<br />

Receita Fe<strong>de</strong>ral. Disponível: www.receita.fazenda.gov.br.<br />

SEBRAE. Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Disponível:<br />

www.sebrae.com.br em maio <strong>de</strong> 2005.<br />

SERASA. Disponível: www.serasa.com.br.<br />

Teixeira, D. L. P. A estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, o paternalismo e o papel da assessoria<br />

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Empresas – FGV, Rio <strong>de</strong> Janeiro, abril/junho <strong>de</strong> 1984.<br />

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