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PESQUISA INTERDISCIPLINARIDADE I

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<strong>PESQUISA</strong> E<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong> I


<strong>PESQUISA</strong> E<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong> I1ª Edição - 2008


IMESInstituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda.William OliveiraPresidenteSamuel SoaresSuperintendente Administrativo e FinanceiroGermano TabacofSuperintendente de Ensino, Pesquisa e ExtensãoPedro Daltro Gusmão da SilvaSuperintendente de Desenvolvimento e Planejamento AcadêmicoAndré PortnoiDiretor Administrativo e FinanceiroFTC - EADFaculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a DistânciaReinaldo de Oliveira BorbaDiretor GeralMarcelo NeryDiretor AcadêmicoRoberto Frederico MerhyDiretor de Desenvolvimento e InovaçõesMário FragaDiretor ComercialJean Carlo NeroneDiretor de TecnologiaRonaldo CostaGerente de Desenvolvimento e InovaçõesJane FreireGerente de EnsinoLuis Carlos Nogueira AbbehusenGerente de Suporte TecnológicoOsmane ChavesCoord. de Telecomunicações e HardwareJoão JacomelCoord. de Produção de Material DidáticoMATERIAL DIDÁTICOProdução Acadêmica Produção TécnicaJane FreireGerente de EnsinoJean Carlo Bacelar, Leonardo Santos Suzart,Wanderley Costa dos Santos e Fábio Viana SalesSupervisãoMatos MoreiraCoordenação de CursoMarcos SoaresAutoriaJoão JacomelCoordenaçãoCarlos Magno Brito Almeida Santos eMárcio Magno Ribeiro de MeloRevisão de TextoAntonio França de S. FilhoEditoraçãoAntonio França de S. FilhoIlustraçõesEquipeAndré Pimenta, Antonio França Filho, Amanda Rodrigues, Bruno Benn, Cefas Gomes,Cláuder Frederico, Francisco França Júnior, Herminio Filho, Israel Dantas, Ives Araújo,John Casais, Márcio Serafim, Mariucha Silveira Ponte, e Ruberval da FonsecaImagensCorbis/Image100/Imagemsourcecopyright © FTC EADTodos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,da FTC EAD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância.www.ead.ftc.br


Apresentação da DisciplinaQuerido (a) aluno (a),Na disciplina Pesquisa e Interdisciplinaridade I estaremos enfatizando,como parte da sua formação, a importância da produção do conhecimento,com destaque para a pesquisa como ferramenta indispensável a esta empreitadaimbuídos do objetivo de empreender em possibilidades de saídasexeqüíveis, para os problemas organizacionais e sociais. Para tanto, daremosdestaque ao entendimento do processo de consolidação da ciência noOcidente, visto que a opção por esta via de conhecimento, em detrimentodas outras, nos obriga a melhor compreendê-la.A discussão da interdisciplinaridade também será tratada aqui com vistasa estabelecer a devida relação entre as várias áreas do conhecimento tentandoentendê-lo. E assim possibilitar um “novo” olhar sobre o diálogo entreas várias disciplinas que compõem o seu curso, mostrando como cada umadelas pode ajudá-lo a perceber a dinâmica social e a sua inserção enquantoindíviduo neste processo. Portanto, conhecimento e vida se confundem.Ainda nesta oportunidade, visto que a necessidade demanda e a razãojustifica, trataremos de discutir as concepções de homem integral, pois fazemparte da discussão, no mundo mais atual, sobre as questões inerentes àformação profissional, onde discutir educação e produção de conhecimento,sem sabermos qual o fim da utilização do mesmo e onde se quer chegarcom este, não daria sentido à nossa busca.Sabemos que a nossa tarefa não é fácil, mas o prazer de podermos acessarnovos conhecimentos é impagável. Na certeza de que você não irá resistir aeste fascinante desafio, fica o convite. Um grande abraço.Prof. Marcos Soares


<strong>PESQUISA</strong> E<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong>CONHECIMENTO,<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong> E <strong>PESQUISA</strong>CIÊNCIA E CONHECIMENTOQual o significado de Ciência?Do latim — scientia, saber que se adquire pela leiturae pela meditação, conjunto organizado de conhecimentosadquiridos pela observação e análise de um método próprio;ciente, conhecimento, saber, informação.E de Conhecimento?Ato de conhecimento; idéia, informação, notícia,discernimento, conhecimento da própria existência.Dicionário AurélioCiência e sua históriaDescobrir a gota ocasional da verdade no meio de um grande oceano de confusão e mistificaçãorequer vigilância, dedicação e coragem. Mas, se não praticamos esses hábitos rigorosos de pensar,não podemos ter a esperança de solucionar os problemas verdadeiramente sérios com que nosdefrontamos — e nos arriscamos a nos tornar uma nação de patetas, um mundo de patetas, prontospara sermos passados para trás pelo primeiro charlatão que cruzar o nosso caminho. SAGANDicionário MelhoramentosSó se consegue entender, explicar e modificar aquilo de que se conhecem as características e a história.Por esta razão, trilhar o caminho dos antepassados pode representar, para o ser humano do séculoXXI, uma forma eficaz de entender o presente e de se preparar para o futuro.Aqui, inicialmente, serão mencionados fatos e acontecimentos que modificaram a evolução da históriada ciência (DAMPIER, 1961), intencionalmente organizados de forma a correlacionar o progressoà vida do homem. Conhecer esses marcos poderá contribuir para a formação de uma visão sistêmica dahistória, assim como permitirá destacar a importância do desenvolvimento e do cultivo do espírito críticoe do comportamento científico e investigativo para a melhoria das condições de vida.Há divergências entre autores sobre a caracterização do período que sucedeu à metade do séculoXX como Era Pós-Moderna. Não se questiona o fato de que o avanço da tecnologia, a globalização e asmudanças nas formas de comunicação entre os povos, entre outros fatores, mudaram o cenário da EraPesquisa e Interdisciplinaridade I 7


Industrial. É fato que os fatores que caracterizaram a Era Industrial já não se fazem mais presentes; háinequívocos sintomas de que há uma época nova surgindo.As questões que se colocam estão, inicialmente, na limitação do termo pós. Como denominar o quevirá após a era PÓS? Além disso, denomina um período da história ainda em transição, em mudanças. Oregistro histórico pressupõe um distanciamento temporal, para permitir a visão sistêmica do “antes” e do“depois” e suas implicações.Antigüidade ClássicaOs povos antigos, egípcios, gregos, babilônios, chineses, hebreus e outros, deixaram inestimável legadode conhecimento e cultura para a humanidade em todas as áreas. Para os propósitos desta discussão,limitar-se-á a pontuar aspectos da cultura grega e romana.Os gregos — a Grécia, no século V a.C., foi o berço de importante fase da história da humanidade.Sinônimo de democracia, filosofia, arte, teatro, esportes e poesia, a Grécia foi, também, precursora deuma idéia moderna e importante: a rede, a network, como chamada hoje em dia.A Antigüidade Clássica, cujos limites se aproximam de 600 a.C. ao século III d.C., consta de iniciativastais como a autonomia do pensar e a formação de conceitos, a exemplo da maiêutica socrática, bemcomo da atenção aos aspectos políticos.Nesse período, a dedicação para estudo e reflexão da vida esteve evidente, tendo destaque pensadoresque, por merecimento, são considerados grandes filósofos da humanidade. Dos gregos, a humanidadeherdou significativas contribuições para o avanço das ciências e da filosofia.Desse modo, é possível afirmar que ainda sob outros títulos, como exercício da maiêutica (para Sócrates),superação do mundo sensível (para Platão), busca da Felicidade (para Aristóteles), o olhar sobreo desenvolvimento humano se fez presente por prezar por valores e idéias favoráveis à conquista da autonomia,bem como do posicionamento individual e social cada vez mais consciente dos próprios atos.Os romanos — Eram povos mais práticos, organizados e preocupados com o bem-estar e com avida material. Destacaram-se como advogados, soldados e administradores. A arte, a ciência e a medicinada Roma antiga eram tomadas de empréstimo dos gregos, quando necessitavam. Os romanos não cultivavamo espírito investigativo, a reflexão, nem a busca do conhecimento por amor à ciência.As atividades práticas de todas as naturezas, contudo, floresceram em Roma, assim como a preocupaçãocom a qualidade de vida terrena. Eficientes administradores, legisladores e soldados criaramobras de fundamental importância para o conforto e a proteção à saúde pública, como aterros sanitários,aquedutos para transportar água potável, aparelhos sanitários, hospitais e um serviço médico público,engenharia civil e militar. O gênio prático, capacidade de organização e competência administrativa dosromanos deixaram exemplos até hoje imbatíveis na história da humanidade, como as leis do direito romano,presente na regulamentação das leis em todas as nações do mundo. De certa maneira, pode-se compreenderque no contrato, mediante lei, para melhor convivência entre as pessoas encontra-se iniciativaem prol do ser humano e de seu desenvolvimento enquanto pessoa e comunidade.Idade MédiaEm torno do século III d.C. o apego às coisas do espírito, a preocupação em discutir e explicar arazão de ser do homem, sua natureza e finalidade, abrem caminho para o domínio da religião. Cresce aforça da Igreja, de suas leis e dogmas; o sofrimento terreno passa a ser condição para o acesso ao reinodos céus; nasce e toma força a idéia do pecado, da culpa, da salvação e da danação, transformando aspessoas em rebanho submisso e escravo dos dogmas religiosos.O acesso a todo o conhecimento, principalmente grego, foi proibido ao homem comum e guardadoem bibliotecas pertencentes ao clero, que passou a ocupar todos os cargos e postos de poder religiosoe político. As pessoas só tinham acesso às verdades declaradas e impostas pela Igreja, que, doutrinariamente,as mantinha presas aos preceitos e ensinamentos religiosos. Em termos de descobertas e inven-8FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


ções científicas, esse período de dominação da Igreja e imposição da ignorância ao cidadão foi conhecidocomo “obscurantismo”, vindo subjugar o brilhante espírito grego e a alegria e criatividade romana nafamília e no Estado.Os dogmas eram instrumentos eficazes da Igreja para coibir a curiosidade e os eventuais interessespela ciência, pela investigação e por questionamentos de toda ordem. Parte do mundo cristão passou a odiare rejeitar o ensinamento pagão. A história registra tristes exemplos de obediência e passividade que tomaramconta do povo, como a destruição de uma seção da Biblioteca de Alexandria pelo Bispo Teófilo, cerca doano 390, e o assassinato de Hipácio, o último matemático de Alexandria, em 415 d.C., com requintes decrueldade, por uma multidão de cristãos, que se supõe ter sido instigada pelo Patriarca Cinilo.O sofrimento terreno era visto como necessário para a salvação da alma, que já nascia em pecado;uma vida de privações e dor na terra dava às pessoas créditos para subir aos céus, quando morressem. Opróprio termo “trabalho” encontra ressonância, no contexto medieval, no termo “tripallium”, ou seja,instrumento de tortura. Sob esta significação, o trabalho era também uma via de salvação; entretanto, tendopor parâmetro as perspectivas contemporâneas do ato de trabalhar, afirma-se seguramente que, sob otítulo de tortura, não promovia o desenvolvimento humano; ao contrário, garantia a submissão.A medida da fé de uma pessoa era a medida do sofrimento terreno que ela era capaz de suportar. Opecado, que, em síntese, significava desobedecer aos ensinamentos religiosos, levava à perdição da alma;o sofrimento e a penitência eram necessários para purificar a alma, salvando-a do fogo do inferno. Comtudo isso, a Igreja tinha um propósito: coibir o cultivo da lógica, do uso da razão, do questionamentoe da dúvida, essência do conhecimento científico, para não correr o risco de perder a fidelidade cega, asubmissão e obediência das pessoas. Por mais de mil anos, entre os séculos III e XVI, aproximadamente,a ciência pouco ou nada progrediu na Europa.É interessante notar que nos séculos XIII e XIV, quando já renasciam o gosto e a prática pelo conhecimentode toda espécie (época em que deve ter começado a nascer a ciência experimental moderna),a Idade Média passou por um dos momentos mais radicais da história, marcado pelo recrudescimento desuas crenças e práticas de punição e conversão de fiéis e o uso da antiga magia sob a forma de feitiçaria.Alguns autores atribuem esse agravamento dos métodos de punição e controle sobre o homem a umareação natural da religião, que começa a ver seu poder de manipulação e controle sobre as pessoas ameaçadopelo avanço da liberdade de pensar, investigar e fazer ciência.Nesse período, o Demônio torna-se um Lúcifer deserdado, objeto de crença, que devia ser oprimido.Forjou-se, assim, uma nova arma para combater os hereges (aqueles que ousavam duvidar e questionaros ensinamentos divinos): estes podiam ser declarados feiticeiros e contra eles levantada a forçadas multidões. Após a Reforma Protestante, a injunção bíblica: “Não toleras a presença de feiticeiro!” foilevada às máximas conseqüências.RenascimentoA história da humanidade é cíclica e mostra que não existem realidades, situações, valores imortaisou eternos. A partir de meados do século XV a religião começou a dar sinais de ser incapaz de deter oimpulso natural do homem pela curiosidade, pela sede do saber, e de criar e explicar o mundo. A históriaé testemunha de que o conhecimento e a ciência, porque cuidam de explicar racionalmente a vida, fazemcom que as pessoas abandonem, gradualmente, os mitos e os medos, libertando-se de crenças limitadoras.O Renascimento, como o próprio nome diz, caracteriza-se por ser a volta, o retorno ao direito do serhumano de pensar racionalmente, de fazer ciência livre e adquirir conhecimentos.Retornam o direito e a preocupação com a qualidade de vida terrena. Inverte-se a filosofia de Aristóteles,para quem tudo aquilo que servia ao bem-estar material já tinha sido descoberto, e inicia-se umaépoca utilitarista. Bacon, no século XVI, reflete claramente esse momento: “Chega de filosofia e poesia,é hora de dedicar-se ao progresso da vida cotidiana.”Leonardo da Vinci, considerado a maior personalidade do Renascimento, foi pintor, escultor, en-Pesquisa e Interdisciplinaridade I 9


genheiro, arquiteto, físico, biólogo e filósofo, revelando-se supremo em todos esses assuntos. Para ele, ascoisas precisavam ser explicadas, comprovadas, e o único método verdadeiro de se obter conhecimentoe fazer ciência era a observação e a experimentação. Apreendeu o princípio da “inércia”, deduziu a lei daalavanca corno fonte de energia, realizou estudos em hidrostática e hidrodinâmica, propagação de ondasna superfície da água e no ar, as leis do som, entre outras contribuições para a ciência.Muitos fatos impulsionaram o movimento renascentista. A navegação foi facilitada pela bússolamagnética, já usada pelos chineses no século XI e levada para a Europa Ocidental um século depois. Iniciou-seuma nova fase de descobertas e de invenções, como a pólvora, a redescoberta do moinho d’água,o uso da bússola e a modernização dos arreios dos cavalos. Foram inventados os óculos, a imprensa, o relógio.No início do século XV, os navegadores portugueses iniciaram grande período de exploração, descobrindoos Açores, em 1419, e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi, finalmente, aceitaa teoria de a Terra ser quase esférica e, assim, os navios puderam partir da Europa, atingir a Ásia, a Índia,a China e voltar à Europa. Essas descobertas alargaram o mundo conhecido e o espírito da humanidade.O aumento da circulação monetária, o ouro e a prata, elevando os preços e estimulando a indústria e ocomércio, aumentaram a riqueza e deram oportunidade ao lazer, ao estudo e à invenção.A revolução da ciência, caracterizada pela criação do método científico de fazer pesquisa, hoje postoem questão pela concepção contemporânea de ciência, data dos séculos XVI e XVII, com Copérnico,Bacon, Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém, do acaso. A descoberta ocasional e empírica detécnicas e de conhecimentos referentes ao universo, à natureza e ao homem, desde os antigos babilôniose egípcios, a contribuição do espírito criador grego, sintetizado e ampliado por Aristóteles, e as invençõesfeitas na época das conquistas, tudo isso veio preparar o mundo para o surgimento do método científicoe para o desenvolvimento do espírito crítico e objetivo, que veio caracterizar a ciência a partir do séculoXVI, no início de forma vacilante e, agora, de modo mais vigoroso. Aos poucos, o método experimentalfoi-se aperfeiçoando e estendendo-se a outras áreas. Desenvolveu-se o estudo da química e da biologia,surgindo um conhecimento mais objetivo da estrutura e das funções dos organismos vivos no séculoXVIII.Idade ModernaEm meados do século XVIII nasceu um novo movimento, o racionalismo, que confiava na razãohumana para a solução dos problemas, em contraposição às soluções que pregavam a emoção, a soluçãopela religião ou a explicação pela fatalidade. A vida prática do homem do século XVIII não foi muito diferenteda dos seus antepassados, dos tempos de Júlio César ou de Hamurábi. Este, também, tinha medo deraios e trovões, pestes e eventos que lhe pareciam de ordem sobrenatural, para os quais não possuía umaexplicação que não fosse de caráter religioso ou fatalista. Porém, insinuam-se, pela primeira vez, a dúvidae a esperança de que a razão pudesse compreender os eventos, para depois administrá-los e dominá-los.Voltaire, um grande representante dessa época, dizia:Talvez virá o dia em que o homem saberá, com antecedência, se choverá ou sevirá um tempo de seca, e saberá, além disso, como conter um raio. Para chegar a talponto, é necessário estudar racionalmente, é necessário nutrir nossa mente, é necessáriocultivar o nosso jardim.Assim, da mistura do cientificismo com o racionalismo, a ironia e a auto-ironia, nasceu o “iluminismo”,que fez do século XVIII o “século das luzes”. O século XVIII foi, também, o século das grandesdescobertas do mundo moderno. As Revoluções Industriais, com a invenção da máquina a vapor (1760)e da eletricidade (1860), da locomotiva e do pára-raios, abrem espaço para o surgimento de um novoser humano, racional, consciente de que é capaz de domar a natureza até nas suas manifestações maisterríveis e caprichosas. Ocorrem progressos em quase todos os campos científicos — na física, na filosofia,na biologia —, enquanto a literatura, a arte e a poesia não dão grandes passos além dos já dados noRenascimento.No século XIX verificou-se uma modificação geral nas atividades intelectuais e industriais. Surgi-10FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


am novos conhecimentos sobre a evolução das espécies, átomo, luz, eletricidade, magnetismo, energia.No século XX, a ciência, utilizando métodos objetivos e exatos, promove o desenvolvimento de pesquisasem todas as áreas do mundo físico e humano, atingindo um grau de precisão surpreendente, não sónas navegações espaciais como também nos mais variados setores da realidade.Essa evolução das ciências tem, sem dúvida, como mola propulsora os métodos e os instrumentosde investigação, advindos do desenvolvimento tecnológico da época, aliados ao espírito científico, perspicaz,rigoroso e objetivo. Esse espírito, que foi preparado ao longo da história, impõe-se agora, de maneirainexorável, a todos quantos pretendam conservar o legado científico do passado, ou, ainda, se propõema ampliar suas fronteiras.Ciência — características e modalidadesEtimologicamente ciência é sinônimo de conhecimento. Esta definição refere-se a um tipo de conhecimentoque se propõe a revelar a verdade através do levantamento e análises de suas causas, podendo,por isso, ser explicado. Pode-se concluir que ciência é um corpo de conhecimentos que trabalha comtécnicas especializadas de verificação, interpretação e inferência da realidade. Fazer ciência significa buscaro controle prático da natureza, na qual se produzem, sedimentam e se consolidam, incessantemente,novos meios de dominar a natureza. A ciência se propõe a atingir conhecimento sistemático e seguro, deforma que seus resultados possam ser tomados como conclusões certas, sob condições mais ou menosamplas e uniformes, quando ocorrem os vários tipos de acontecimentos. Assim, a ciência busca preservaros fenômenos e tornar inteligível o mundo.Para que serve a investigação científica?!A investigação científica objetiva contribuir para a evolução do conhecimento humano emtodas as áreas e setores da sociedade. Uma pesquisa é considerada científica se sua realização forobjeto de investigação planejada, desenvolvida e dirigida conforme normas metodológicas aceitaspela ciência. Os trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação, para serem consideradoscientíficos, devem produzir ciência ou dela derivar.Características da Ciência• Distinção entre essência e aparênciaO espírito científico parte do princípio de que nada se revela na aparência; tudo, para ser explicado,deve ser investigado, criticado, analisado. Essa capacidade de permitir a distinção entre essência e aparênciasignifica que a ciência fornece, através da metodologia, um conjunto de procedimentos racionais, rígidose lógicos, que permitem penetrar na essência dos fenômenos perceptíveis pela inteligência humana,chegando à sua verdade, portanto.O uso de um método científico para praticar ciência a diferencia das outras formas de conhecimentohumano. E uma de suas particularidades é não aceitar nada como verdadeiro se não for comprovadoe, mesmo que comprovado, não será para sempre uma verdade, pois, na medida em que tudo pode serexplicado, conclui-se que tudo pode ser melhorado, revisto, reinterpretado.• Compromisso com a verdadeCiência não é poesia nem especulação. Tendo como objetivo o conhecimento científico, a ciênciaexige respostas que expliquem lógica e racionalmente suas questões: por quê? para quê? como? Para queuma investigação seja considerada centífica as hipóteses levantadas e suas conseqüências lógicas, assimcomo outras explicações do mundo e das coisas, devem ser submetidas a rigorosos testes de equivalênciacom as coisas observáveis, ou seja, com a realidade, e com outras hipóteses sugeridas.• Compromisso com a teoria, a análise e a políticaO compromisso da ciência com a teoria está no fato de que ela se caracteriza por ser um conjunto dePesquisa e Interdisciplinaridade I 11


princípios, ou conjunto de tentativas de explicação de um número limitado de fenômenos. Cuida de reunirbagagem de conceitos e princípios, racionalmente comprovados para serem utilizados em pesquisas.Quanto ao seu compromisso com a análise, a ciência se ocupa da explicação, da análise e da aplicaçãodos princípios teóricos encontrados. Procura interpretar fatos, fazer precisões, buscar comprovações.E, com a política, ela tem o compromisso ético de orientar como as coisas devem ou não ser feitas, balizandoseus resultados para o bem da humanidade. Ela se responsabiliza pela transição entre o que é parao como deve ser. Esta é uma postura ligada ao comprometimento social, à ética.O ConhecimentoA expressão ERA DO CONHECIMENTO tem sido utilizada para caracterizar o modo de viverda sociedade pós-industrial, ou seja, após a metade do século XX. Seria o caso de se concluir que o conhecimentoé um produto da Era Industrial surgido apenas nas últimas cinco, seis décadas? Poder-se-ia,portanto, concluir que a Era Industrial, a Clássica, e mesmo a Idade Média, não teriam produzido conhecimento?Obviamente que não. O homem sempre conheceu.A origem da palavra conhecimento é connaissance (palavra francesa que significa naissance = nascer com).O homem, ao contrário do animal, não está no mundo apenas vivendo-o; ele vive e modifica o mundo à sua volta.Tenta conhecê-lo (faz ciência) e age sobre ele para transformá-lo (com o uso da técnica, do instrumento).Reflita!ReflexãoO conhecimento é uma forma de estar no mundo.O conhecimento pressupõe um sentido mais profundo que o de informação. É a informação maisvaliosa, pois alguém deu a ela um contexto, significado, interpretação. É uma abstração interior, pessoal,de alguma coisa ou objeto que foi experimentado, vivenciado por alguém. São sínteses, cruzamentos, inferências,tratamentos e interpretações. simulações, aplicações de informações que permitem a criação deentidades novas ou uma nova visão das já existentes, acumuladas ou modificadas, ramificações, extensõesdas já conhecidas. Integra-se ao conhecimento pessoal anterior. Assim, pode-se afirmar que:12FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


Conhecer é o processo de compreender e internalizar as informações recebidas do ambiente,possivelmente combinando-os de forma a gerar mais conhecimento.Tipologia do conhecimentoUma das formas de se classificar o conhecimento pode ser: pessoal, particular (tácito) ou compartilhado(explícito) com grupos de interesse.• Conhecimento tácitoO homem conhece quando é capaz de reunir experiências, percepções sensoriais próprias e lembranças,idéias formando novos conceitos. Nesse processo, ele está conferindo sentido à realidade que o cerca,criando teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que utilizará em sua vida. Conhecimento tácito,portanto, pode ser definido como a forma pessoal, individual com que cada pessoa interpreta a realidadeque a cerca. Como é formado dentro de um contexto social e individual, conclui-se que o conhecimentotácito representa uma realidade externamente provocada, mas internamente determinada. Esse tipo de conhecimentoé gerado pela pessoa em seu processo do viver do ser. Exemplos de conhecimento tácito sãoas habilidades, como nadar, andar de bicicleta, etc., que são incorporadas ao ser. São conhecimentos difíceisde serem externalizados, mas passíveis de serem comunicados, ensinados através da troca de informaçõessobre ele. Pode-se concluir que as habilidades, competências, artes que envolvem prática — física e mental—, adquiridas pelo treinamento, pertencem ao campo do conhecimento tácito.• Conhecimento explícitoEmbora gerado no indivíduo, de forma pessoal, o conhecimento pode ser construído, também, deforma social, grupal. As pessoas mudam ou adaptam os conceitos através de suas experiências e utilizam a linguagempara expressá-los, compartilhá-los, comunicá-los. Assim, a expressão acervo social do conhecimento,conhecimento explícito ou conhecimento compartilhado significa que a experiência do indivíduo, tanto históricacomo biográfica, pode ser objetivada, conservada e acumulada, através do veículo da informação.Tal processo de acumulação é transmitido de uma geração para outra e utilizado pelo indivíduo na vidacotidiana e na convivência com seus pares. O conhecimento explícito é, pois, o conhecimento do individuo,que foi exposto, explicitado, entendido, compartilhado com pessoas do mesmo grupo social, através do processode transmissão da informação. Exemplos: conhecimento organizacional, científico, cultural, profissionaletc. A experiência, adquirida através da troca de informações, da reflexão, os julgamentos de valor e as relaçõesdo indivíduo com a sua rede social pertencem ao campo do conhecimento explícito, compartilhado.Pesquisa e Interdisciplinaridade I 13


DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong>O que é Interdisciplinaridade?Interdisciplinaridade é a integração de dois ou mais componentes curriculares na construçãodo conhecimento. A interdisciplinaridade surge como uma das respostas à necessidade deuma reconciliação epistemológica, processo necessário devido à fragmentação dos conhecimentosocorrido com a Revolução Industrial e a necessidade de mão-de-obra especializada. A interdisciplinaridadebuscou conciliar os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento a fim depromover avanços, como a produção de novos conhecimentos ou mesmo novas sub-áreas.E sua aplicação na produção do conhecimento?Com o processo de especialização do saber a interdisciplinaridade mostrou-se como uma dasrespostas para os problemas provocados pela excessiva compartimentalização do conhecimento.No final do séc. XX surge a necessidade de mudanças nos métodos de ensino, buscando viabilizarpráticas interdisciplinares.A não escolar difere da científica em termos de finalidades, objetos de estudo, resultados,dentre outros.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/InterdisciplinaridadeInterdisciplinaridade e suas caracteristicasA questão da interdisciplinaridade vem inquietando, estimulando o estudo mais profundo do tema esugerindo propostas no nível do ensino graduado e pós-graduado, no nível da pesquisa e da extensão.O que nos tem impulsionado em direção à interdisciplinaridade como proposta alternativa é o fatode reconhecermos a falência do modelo de organização curricular por matérias isoladas, pautado na racionalidadecientífica de cunho neopositivista.De forma contraditória, este mesmo modelo tem servido, com pequenos arranjos, a projetos pedagógicospretensamente comprometidos com a transformação social. Atribui-se, então, a virtude de “mudança”ao conteúdo programático de determinadas disciplinas sem a necessária revisão nas bases epistemológicas daformação profissional. Com isto, os currículos acabam evidenciando mecanismos de manutenção de estruturaseducativas funcionalistas e trabalhando espaços muito reduzidos para a sua superação.A dimensão da contradição e da totalidade, tão necessária ao processo educativo, se esvazia nomomento em que a fragmentação do saber vai, por conseqüência, permitindo uma aproximação estruturalistada realidade, numa análise unilateral. A somatória de referências ao contexto social não é automaticamenterepresentativa deste contexto e não estabelece, por si só, relações entre os conteúdos. A14FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


epercussão destas distorções toma-se evidente no ensino, na pesquisa, na extensão e, por conseguinte,na ação profissional.Há que se construir um novo modelo de organização curricular que privilegie a unidade e a organicidadedo saber, que procure articular as aproximações com o real de forma sistemática, que permita umarelação entre sujeito e objeto de forma constituinte e não constituída.A tarefa é extremamente árdua, num momento histórico dominado pela lógica do processo científico.A especialização e a tecnocracia penetram, enquanto ideologia de fundo, nas consciências e nasestruturas sociais, gerando força legitimadora.Você sabia?Você sabia...Além de ser um empreendimento de ordem filosófica, científica e educativa, a busca dainterdisciplinaridade corresponde a um desafio, por se constituir num ato político de extrema relevânciapara a consecução do atual projeto de formação do profissional contemporâneo. Este atoimplica um redimensionamento da função educativa e da relação escola-comunidade e docentesprofissionais-grupos das classes populares.Reflita!Para melhor compreender o conteúdo leia o texto a seguir:Reflexão sobre a importância da InterdisciplinaridadeA busca de uma atitude interdisciplinar, quer na esfera da pesquisa, da prática social ou doensino, deve ser precedida de uma reavaliação do “papel da Ciência e do Saber em suas relaçõescom o poder”. Não se trata de criar uma superciência, mas de buscar a concorrência solidária dasvárias disciplinas na construção da totalidade humana.Para melhor compreender o conteúdo leia o texto a seguir:SUBSÍDIOS PARA UMA REFLEXÃO SOBRE NOVOS CAMINHOS DA<strong>INTERDISCIPLINARIDADE</strong>Antônio Joaquim SeverinoA conceituação de interdisciplinaridade é, sem dúvida, uma tarefa inacabada: até hoje não conseguimosdefinir com precisão o que vem a ser essa “vinculação, essa reciprocidade, essa interação, essacomunidade de sentido ou essa complementaridade entre as várias disciplinas”. É que a situação de interdisciplinaridadeé uma situação da qual não tivemos ainda uma experiência vivida e explicitada, sua práticaconcreta sendo ainda processo tateante na elaboração do saber, na atividade de ensino e de pesquisa ena ação social. Ela é antes algo pressentido, desejado e buscado, mas ainda não atingido. Por isso, todoinvestimento que pensadores, pesquisadores, educadores, profissionais e especialistas de todos os camposde pensamento e ação fazem, no sentido de uma prática concreta da interdisciplinaridade, representa umesforço significativo rumo à constituição do interdisciplinar.O projeto positivista e o comprometimento da interdisciplinaridadeOs iniciadores da Ciência não perderam de vista essa ambição do Saber. Perseguiu-os a idéia daPesquisa e Interdisciplinaridade I 15


unidade “cósmica” da Natureza, que incluía até mesmo o homem, dela parte integrante e contínua. Todavia,a imposição e a predominância hegemônica de uma metodologia positivista levaram os cientistas auma fragmentação do Saber e ao sacrifício da unidade do real. Escravizando-se demais ao protocolo daexperiência, o Saber da Ciência positivista leva necessariamente à autonomizaçao dos vários aspectos demanifestação do real. Assim, as intenções manifestas do Positivismo comtiano acabam perdendo terrenopara suas implicações latentes: a afirmação das especialidades prevalece sobre a busca do sistema do universo,convertendo-se antes na afirmação da sistematicidade do método.O Positivismo torna-se, portanto, no limiar da contemporaneidade, o maior responsável pela fragmentaçãodo Saber e o maior obstáculo à própria interdisciplinaridade. E com toda razão, dado que ele seapresenta fundamentalmente como uma Filosofia da Ciência, tematizando de modo especifico a questão danatureza, do processo e do alcance e validade do Saber científico, tendo, portanto, muita autoridade. Marcouprofundamente as feições da cultura contemporânea, de modo particular no aspecto epistemológico.Consagra a proposta das especializações, que, se não chegaram a comprometer o esforço de unificação noâmbito das Ciências Naturais, comprometeram-no, de forma inevitável, no âmbito das Ciências Humanas.Por isso, buscar hoje caminhos de interdisciplinaridade é tarefa que inclui um necessário acerto decontas com o Positivismo, bem como uma reavaliação de sua herança. É bom entender, no entanto, queesta busca não significa a defesa de um saber genérico, enciclopédico, eclético ou sincrético. Não se tratade substituir as especialidades por generalidades, nem o seu saber por um saber geral, sem especificaçõese delimitações. Assim, já se esclarece um pouco mais o que vem a ser a unidade no interdisciplinar: o quese busca é a substituição de uma Ciência fragmentada por uma Ciência unificada, ou melhor, pleiteia-sepor uma concepção unitária contra uma concepção fragmentária do Saber científico, o que repercutirá deigual modo nas concepções de ensino, da pesquisa e da extensão.Se, de um lado, é de se creditar ao projeto iluminista/positivista uma valiosa contribuição ao denunciare superar a generalidade da construção do Saber metafísico, livrando-nos, assim, do medo do mundoda naturalidade, impõe-se hoje, de outro, debitar-lhe o ônus da fragmentação do Saber, o que exige igualmentea prática de uma denúncia e o esforço de superação dessa etapa da evolução do Saber. E isso nãosó por motivos exclusivamente epistemológicos, mas, também, por motivos políticos. A concepção fragmentáriada Ciência, tal qual foi consolidada pelo Positivismo no contexto do mundo contemporâneo, relaciona-sede forma íntima com um processo de divisão técnica do trabalho humano, que arrasta consigouma correspondente divisão social do trabalho, diluído no taylorismo da ação técnico-profissional. Issotem graves conseqüências na estruturação da sociedade e na alocação do poder político entre as classessociais. Além de base epistemológica do desenvolvimento científico e técnico, o Positivismo passou a sertambém o sustentáculo ideológico, extremamente consistente e resistente, do sistema de poder social epolítico reinante nas sociedades modernas, sistema de poder este que se tem manifestado de modo fundamentalcomo sistema de opressão, pelo que contradiz radicalmente as intenções declaradas do projetoiluminista de fazer da Ciêrncia um instrumento de libertação dos homens.É por isso que se pode afirmar com toda segurança que nenhuma revisão do Positivismo se fará de formaválida num plano puramente epistemológico, sem uma crítica também radical de suas alianças e compromissosideológicos. Não basta torná-lo tecnicamente mais rigoroso, como pretende o empirismo lógico, nem suplantá-lono terreno das relações epistêmicas entre sujeito e objeto, como o faz, o mais das vezes, a Fenomenologia. Nãoexiste, isento de implicações ideológicas, um positivismo superior. Na realidade, a crítica epistemológica ao Positivismonão tem a ver apenas com critérios técnicos e éticos: ela é necessariamente política.Em busca de uma atitude interdisciplinarÉ nessa linha de considerações que o problema do interdisciplinar se redimensiona. Não se tratatanto de contrapor Epistemologia à Epistemologia, mas de reavaliar o papel da Ciência e do Saber emsuas relações com o poder. Daí, se uma visão interdisciplinar, unificada e convergente, se faz necessáriano âmbito da teoria, ela será exigida igualmente no âmbito da prática, seja esta a prática da intervençãosocial, a prática pedagógica ou a prática da pesquisa.16FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


Assim, a questão da interdisciplinaridade se aguça no campo das Ciências Humanas, campo em queo Positivismo, para além do mérito de ter ousado tomar o homem como objeto da abordagem científica,pouco pode avançar no conhecimento do mesmo. Sua insistência nessa empreitada só tem acarretado osurgimento de novos grilhões de dominação e opressão. O homem é uma unidade que só pode ser apreendidanuma abordagem sintentizadora e nunca mediante uma acumulação de visões parciais. De nadaadianta proceder por decomposição, análise e recomposição de aspectos: esta soma não dará a totalidadehumana. É preciso, pois, no âmbito dos esforços com vistas ao conhecimento da realidade humana, praticar,intencional e sistematicamente, uma dialética entre as partes e o todo, o conhecimento das partesfornecendo elementos para a construção de um sentido total, enquanto o conhecimento da totalidadeelucidará o próprio sentido que as partes, autonomamente, poderiam ter.Isto nos chama a atenção para uma série de conseqüências, que dizem respeito à interdisciplinaridade,relativas à nossa atuação nos vários campos ligados ao Saber.A dissolução das fronteiras entre as disciplinasEm primeiro lugar, as fronteiras entre as várias áreas e Ciências relativas ao homem ficam radicalmentediluídas. A compartimentalização do Saber é um resíduo da conformação positivista. A autonomia,a identidade própria de cada especialidade científica, não pode ser levada ao extremo, sob pena deisolar, de forma inadequada, uma parte, um aspecto da realidade humana, isolamento este que tende auma objetivação, que comprometerá a condição viva de sujeito de que o homem não pode se privar semdeixar de ser homem.Resgatando a idéia da finalidade pragmática de todo conhecimento, cabe dizer que as CiênciasHumanas, ao buscarem elaborar uma imagem científica do ser do homem, estão buscando construir umsentido para sua existência, estão buscando atingir uma compreensão. Contudo, para além da descobertadas estruturas objetivas da existência natural dos homens e da abertura de espaços para a intervençãotécnica sobre elas — fins imediatos de caráter pragmático —, existe presente, nas Ciências Humanas, umatentativa de fornecer aos homens uma imagem da totalidade de sua própria existência, com o objetivode lhes possibilitar o domínio de elementos que contribuam para torná-la cada vez mais adequada, noplano de sua expansão especificamente humana. Ora, esse objetivo reúne o que o Positivismo separou.Não há dúvida de que há uma convergência de todas as Ciências Humanas para uma visão sintetizante dohomem, da sociedade e da Humanidade. Nessa espécie de “antropologia geral”, as fronteiras das especialidadesse diluem, a interdisciplinaridade pode se efetivar e a Ciência reencontra a Filosofia.A interdisciplinaridade na pesquisaEm segundo lugar, e em conseqüência da afirmação anterior, a produção da Ciência, de modo particularna área das Ciências Humanas, exige um esforço de interdisciplinaridade. Assim, também na esferada pesquisa, a exigência da interdisciplinaridade se faz presente. Isto não quer dizer a submissão das váriasCiências do Homem a uma metodologia única, mas a sensibilidade de cada uma às contribuições, enfoquese perspectivas das outras. Trata-se, sem dúvida, de uma atitude de predisposição à intersubjetividade,a uma comunidade construtiva de sentido. Toda conclusão obtida numa área fica como que incompleta,aberta, com “encaixes” preparados para receber complementação de outra área.Conseqüência para a prática socialEm terceiro lugar, chega-se à conclusão de que, no concernente às práticas de intervenção social,também se faz presente a necessidade de uma postura interdisciplinar. Se o trabalho prático visando tornaras condições concretas de existência dos homens mais adequadas, sob todos os pontos de vista, estáfundamentado numa concepção articulada, construída mediante a contribuição de conhecimentos empíricose teóricos, não se reduzindo a puro ativismo espontaneísta, então é óbvio que esse trabalho tem delevar em conta a complementaridade de todos os elementos envolvidos. Toda ação social atravessada pelaanálise científica e pela reflexão filosófica é uma práxis e, portanto, integra as exigências de eficácia do agirtanto quanto aquelas de elucidação do pensar. Por isso mesmo ela necessita da contribuição múltipla ePesquisa e Interdisciplinaridade I 17


complementar dos subsídios fornecidos pelas várias Ciências. A intervenção práxica é o correspondentesocial e concreto da “antropologia geral” de que se falou acima. Pressupõe, de forma necessária, umaconvergente colaboração dos especialistas das várias áreas das Ciências Humanas, evitando-se assim umahipertrofia, seja de uma fundamentação unidimensional, seja de uma intervenção puramente técnicoprofissional.Ação pedagógica e interdisciplinaridadeEm quarto lugar, cabe destacar a extrema relevância da prática da interdisciplinaridade na esfera doensino. A questão aqui se torna crucial, dado o efeito multiplicador da ação pedagógica. A Educação é,aliás, o exemplo, dos mais evidentes, da necessidade de uma abordagem interdisciplinar, seja como objetode conhecimento e de pesquisa, seja como espaço de intervenção sociocultural.De modo geral, porém, como formar o profissional e o cientista a não ser sob um enfoque interdisciplinar?À luz do que já explicitei a respeito da natureza da Ciência e da produção do conhecimento,é inevitável concluir que a autêntica iniciação à Ciência e à prática da pesquisa passa, de forma necessária,por uma metodologia vazada na interdisciplinaridade. Lamentavelmente, os currículos plenos dos várioscursos, na maioria dos casos, não garantem, com sistematicidade, essa exigência, que é pertinente tambémaos cursos profissionalizantes.ConclusãoUma concepção unitária do Saber, tal qual visualizada numa perspectiva de interdisciplinaridade,não significa que deva ser constituída uma espécie de superciência única, nem que o real seja algo intrinsecamentehomogêneo e indiferenciado. As diversas disciplinas continuam como válidas perspectivas deabordagem dos diferentes aspectos do real. Para se constituir, a perspectiva interdisciplinar não operauma eliminação das diferenças: tanto quanto na vida em geral, reconhece as diferenças e as especificidadese convive com elas, sabendo, contudo, que elas se reencontram e se complementam, contraditória edialeticamente. O que de fato está em questão na postura de interdisciplinaridade, fundando-a, é o pressupostoepistemológico de acordo com o qual a verdade completa não ocorre numa Ciência isolada, masela só se constitui num processo de concorrência solidária de várias disciplinas.Além disso, a interdisciplinaridade implica, no plano prático-operacional, que se estabeleçam mecanismose estratégias de efetivação desse diálogo solidário no trabalho científico, tanto na prática dapesquisa como naquela do ensino e da prestação de serviços. Não basta, por exemplo, uma estruturacurricular com justaposição de disciplinas, se não houver em ação um processo vivificador de discussãoque explicite as correlações e reciprocidades de significação.Finalmente gostaria de observar que a atitude interdisciplinar exige ainda a superação dapreconceituosa afirmação de incompatibilidade entre a Ciência e a Filosofia. O Saber humano vivehoje uma grande época, tanto para a Ciência como para a Filosofia, que parecem ter encontradoo segredo de uma coexistência pacífica. Essa convivência, porém, não é aquela que decorreria dadissolução de uma na outra ou do predomínio de uma sobre a outra, ou ainda da pressuposiçãoda homogeneidade de seus objetos ou de seus métodos; ao contrário, é aquela da autonomia bemdefinida de cada uma, da segurança da própria identidade assumida e cultivada. Estão definitivamentesuperados tanto um metafisicismo dogmático como um cientificismo exacerbado. Hoje,as Ciências dedicam-se, com a abrangência que seu método lhes pemtite, ao desvendamento detodas as relações que tecem a realidade fenomenal, enquanto a Filosofia se expande em todasas direções, com toda a liberdade de investigação que a razão natural lhe assegura, procurandoconstituir o sentido, a significação dessa realidade. Enfim, consagra-se o reconhecimento da multiplicidadedos olhares do espírito sobre uma realidade multiforme. Todavia, ao mesmo tempoconsolida-se a convicção de que essa multiplicidade constitui uma rede única a testemunhar que,na origem de tudo, está um espírito único a olhar para um único mundo.18FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


<strong>PESQUISA</strong>, PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EPROBLEMAS SOCIAISFinalidade das Ciências SociaisAs pesquisas realizadas nos campos de economia política, sociologia, antropologia, psicologia sociale outras disciplinas permitiram estruturar sistemas teóricos, criar melhores métodos e aprimorartécnicas para a análise dos problemas.Todavia as ciências que estudam a sociedade – assim como outras vertentes do conhecimento humano– têm sido utilizadas por vezes, para servir a interesses minoritários ou para indagar aspectos poucotranscendentes do ponto de vista do conjunto social.Muitas pesquisas ressentem-se da falta de uma autêntica projeção social por estarem norteadas peloutilitarismo econômico, componente básico da sociedade de consumo; outras voltam sua atenção paraproblemas irrelevantes ou são efetuadas com abordagens parciais que impedem a formulação de políticase estratégias de ação e o enriquecimento do acervo de conhecimentos científicos na esfera social.Diante dos grandes problemas sociais que afetam os países subdesenvolvidos e da manutenção deestrutura e instituições socioeconômicas e políticas obsoletas é preciso que se faça uma reflexão profundasobre a finalidade das ciências sociais.E indubitável que o surgimento e a persistência dos problemas próprios do subdesenvolvimentoresultam do irracional e injusto sistema de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.É preciso, portanto, que as políticas, estratégias e ações que sejam aplicadas com o intuito de resolveresses problemas estejam baseadas em diretrizes e critérios derivados do estudo científico da problemáticasocial. Assim, será possível abordar os problemas a partir de uma perspectiva global, considerandoa sociedade como um todo, conforme a dinâmica e os veiculos internos e externos que ela adquire noseu devir histórico.Deve-se ter presente que os produtos da tarefa científica elaborados são dominantes e que, parasuperar esta limitação, é preciso, acima de tudo, que haja uma autêntica consciência social.A produção do conhecimento como via de solução dos problemas sociaisTendo feito estas considerações podemos dizer que, no atual contexto socioeconômico e político, asalternativas que se apresentam aos cientistas sociais consiste em fazer um dos seguintes tipos de pesquisa:a) comprometida com os grupos sociais mais necessitados de mudanças estruturais no sistemasocioeconômico;b) colocada a serviço das organizações privadas que controlam boa parte da produção e distribuiçãode bens e serviços;Pesquisa e Interdisciplinaridade I 19


c) realizada em função de objetivos econômicos individuais: ingressar ou continuar em algum sistemade estímulo à produtividade acadêmica.Longe de ser patrimônio exclusivo de uma disciplina, a pesquisa dos fenômenos sociais necessitado concurso de diversas profissões que permitam, com suas respectivas abordagens e ferramentasteórico-metodológicas, uma análise mais completa e congruente dos problemas. Isto é muito importanteporque o grau de complexidade dos processos sociais exige uma pesquisa integral de todos e cada um deseus aspectos, uma pesquisa que proporcione um conhecimento mais profundo e objetivo da problemáticaem que se desenvolve a sociedade.A análise dos fenômenos será mais objetiva e precisa se os pesquisadores procurarem apoio nasabordagens de outras disciplinas sociais ou que estão relacionadas com elas.A adoção desta postura é necessária, uma vez que o objeto e o sujeito da pesquisa social é o homem, afamília e os grupos sociais em contínua interação, do que resulta a criação de complexas redes de relações sociais ea participação dos diversos atores sociais, de diferentes maneiras, no devir histórico da sociedade em que vivem.Assim, a composição de equipes com pessoas de diferente formação profissional é imprescindívelno mundo atual da pesquisa, pois somente o esforço conjunto poderá resultar na realização de objetivosde maior envergadura e em mais curtos prazos.A soma das contribuições de todas as especialidades que podem convergir em uma equipe de trabalhofacilitará a elaboração de uma proposta metodológica mais consistente, em termos teóricos, parainterpretar os fenômenos sociais.Isso certamente vai abrir novas perspectivas para o trabalho científico no âmbito social, além de reduziras probabilidades de erros de avaliação e interpretação, tão freqüentes quando se lida com informação.A integração de grupos de trabalho interdisciplinares tem especial importância em virtudeda riqueza e da variedade de subsídios que eles podem trazer para a solução dos problemas. Umaequipe dessa natureza não se traduz apenas na ação de profissionais numa organização ou na simplesdivisão do trabalho, mas representa uma plena coordenação de esforços norteados por umaestratégia bem definida: a concretização de objetivos e metas em prazos menores, sem prejuízo dasaspirações individuais nem, menos ainda, da liberdade de discordar.As equipes interdisciplinares devem ser formadas com pessoas que estejam cientes de perseguiremobjetivos comuns, que serão alcançados por meio da fixação de diretrizes e critérios de trabalho, sem queisto limite de modo algum a discussão franca e criativa.Finalmente, cumpre frisar que uma equipe de trabalho comprometida com os setores sociais mais necessitadosnão considerará a pesquisa concluída simplesmente ao oferecer sugestões para resolver os problemas,pois deverá buscar o modo de levar a efeito uma pesquisa-ação, envolvendo-se no projeto e na realizaçáo dosprogramas de ação que surgirem nas repartições ou organismos em decorrência da pesquisa.20FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


<strong>PESQUISA</strong> E ÉTICAA ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais da conduta humana, estabelecendo umconjunto de princípios para os conceitos do bem e do mal, válido para um grupo social determinado,profissional, político ou cultural, em determinada época.A ciência experimental não pode, por uma exigência epistemológica intrínseca, ficar sem a experimentação:é exatamente nessa fronteira da experimentação, que se distinguem ciências empíricas e ciênciasnão empíricas. A história da ciência experimental viu crescer, dos tempos de Galileu até hoje, nãoapenas o aprimoramento do método experimental, mas, igualmente, sua extensão e seu potencial.A experimentação é necessária para o progresso da ciência em geral. Dentro da ciência e da pesquisacientífica, a dimensão cognitiva (conhecimento) e a dimensão utilitarista (uso do conhecimento) estãopresentes e são interdependentes. É óbvio, porém, que a tendência de dominação permeia uma e outra,a ponto de perverter seus fins, seus métodos e meios.Todo conhecimento leva a uma saída para o bem ou para o mal; todo domínio do mundo poderá estarsujeito ao homem ou sujeitar o homem, de acordo com a ética que se insere nos processos e nos fins da ciênciae do poder do homem. De tudo o que mencionamos conclui-se, mais uma vez, que a ética é essencial comodimensão de equilíbrio entre a natureza e a pessoa, entre a ciência e a tecnologia e a vida humana.Ética pessoal ou da convicção x ética do grupo social ou da responsabilidade• Ética da convicção ou ética pessoalCódigo de valores, conjunto heurístico de normas e regras que regem a vida e a conduta pessoalde cada pessoa. Esses valores fazem parte do caráter, da personalidade de cada um, e são elementos queestruturam a sua moral; é a sua orientação social e humana. Ex.: uma pessoa que arrisca o seu emprego,se recusando a participar de um processo de corrupção que poderá trazer grandes retornos financeiros,mesmo que esta seja uma prática sem riscos e comum no ambiente, pelo fato de que tal condição não fazparte do seu código de valores pessoais.• Ética do grupo social ou da responsabilidadeCódigo de valores determinados pela cultura de um povo, um grupo social, uma organização e orientadospara os objetivos e fins do grupo. Estão relacionados com os interesses do grupo ou organização, emtorno dos quais os indivíduos pertencentes a esse grupo se orientam e se comportam. Não necessariamenteesses valores coincidem com os valores pessoais, com a ética pessoal de cada um, mas devem ser praticados,pois é condição para a permanência no grupo. Ex.: um funcionário, ao atender um cliente, é desrespeitadopor ele, se sente agredido em seus princípios morais, mas aceita o tratamento indelicado porque a norma daempresa, na qual trabalha e da qual precisa para sobreviver, é que o cliente tem sempre razão.Fundada na “Nova Ética” ou “Ética do Homem Integral,” que visa recobrar a dignidade do serhumano através do seu desenvolvimento integral, ou seja, o desenvolvimento de suas potencialidades emtodas as dimensões humanas.Deste modo, a qualidade está nas pessoas, que devem ser íntegras, integradas e integralmentedesenvolvidas.Nesse contexto, o homem é levado a retomar o seu papel de sujeito da ação de trabalhar, comofonte digna de sua realização, desenvolvimento, contemplação e satisfação.Pesquisa e Interdisciplinaridade I 21


Atividade Complementar1. Por que a produção de conhecimento científico tem levado a humanidade tanto à evoluçãoquanto à sua destruição?2. Visto que a produção de conhecimento não pára, aonde a ciência levará o homem?3. A experiência tem demonstrado que o conhecimento científico tem levado o homem a especializar-secada vez mais. Neste contexto, qual o papel da interdisciplinaridade na formação profissional?4. É notável o avanço que a ciência atingiu nos últimos dois séculos, principalmente no que dizrespeito à produção de bens materiais. Que relação se pode fazer entre esta mesma evolução cientifica eo agravamento dos problemas sociais no mundo?5. Que análise podemos fazer da produção do conhecimento científico em questões polêmicas?Será que o homem tem brincado de ser Deus?22FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


AS CIÊNCIAS SOCIAIS, A FORMAÇÃODO HOMEM INTEGRAL E SUASINFLUÊNCIAS NO MUNDO DOTRABALHO<strong>PESQUISA</strong> E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NOSÉCULO XXINa Virada do MilênioNo encerramento deste século XX há uma difusa sensação de urgência tangível em muitos níveis,como se realmente se aproximasse o fim de mais um éon (etimologicamente uma idade, uma vida ou umperíodo de tempo). É um momento de intensa expectativa, de luta, de esperanças e incertezas. Muitostêm a impressão de que a grande força que determina a nossa realidade é o misterioso processo dialéticode construção da história, que neste século pareceu arremessar-se para uma grande desintegração detodas as estruturas e fundamentações, como um triunfo do fluxo heracliteano (Heráclito de Éfeso acreditavano contínuo devir). Perto do final de sua vida, Toynbee escreveu:O Homem do presente há pouco tempo tornou-se consciente de que a História está se acelerando– e a um ritmo veloz. A geração atual tem consciência desse aumento da aceleração no período de suaprópria vida; o avanço do conhecimento que o Homem tem de seu passado revelou, retrospectivamente,que a aceleração começou a cerca de 30.000 anos...e que deu “grandes saltos” sucessivos com a invençãoda agricultura, com a aurora da civilização e com o progressivo domínio — especialmente nos últimosdois séculos – das forças titânicas da Natureza. A aproximação do climax intuitivamente previsto pelosprofetas está sendo sentida, e temida, como um evento futuro. Hoje sua iminência não é um artigo de fé:é um dado da observação e da experiência.O que fizemos quando soltamos esta Terra de seu Sol? Para onde vai ela agora? Para onde estamosindo? Para longe de todos os sóis? Não estamos permanentemente mergulhando? Para trás, para os lados,para a frente, em todas as direções? Existirá ainda um em cima ou um embaixo? Não estaremos nosdesgarrando como se num infinito vazio? Não sentimos o hálito do espaço vazio? Ele não se tornou maisfrio? Não está a noite se fechando sobre nós?Da mesma forma, o grande sociólogo Max Weber, que viu as inevitáveis conseqüências do desencantamentodo mundo do espírito moderno, viu também o escancarado vazio do relativismo deixado com adissolução da modernidade das visões de mundo tradicionais e percebeu que a Razão moderna, em que oIluminismo colocara todas as suas esperanças de liberdade e progresso humano, ainda que não pudesse emseus próprios termos justificar valores universais para orientar a vida humana, de fato criara uma gaiola deferro de racionalidade burocrática que permeava todos os aspectos da existência moderna:Ninguém sabe quem viverá nesta gaiola no futuro, ou se ao final desse extraordinário progressosurgirão profetas inteiramente novos, se haverá um grande renascimento das velhas idéias e dos velhosideais, ou nada disso, talvez a petrificação mecanizada, enfeitada com uma espécie de empáfia desordenada.Poder-se-ia muito bem dizer do último estágio desse progresso cultural: “Especialistas sem espírito,sensualistas sem coração; esta nulidade imagina ter atingido um grau de civilização jamais obtido.”“Somente um deus pode nos salvar’, disse Heidegger no final de sua vida. Jung, no fim da sua, aocomparar nossa era ao início da Era Cristã há dois milênios, escreveu:Um clima de destruição e renovação universal colocou sua marca em nossa era. Este clima se fazsentir por toda parte, política, social e filosoficamente. Vivemos no que os gregos chamavam de kairos- o momento certo - para uma “metamorfose dos deuses”, dos princípios e símbolo fundamentais. EssaPesquisa e Interdisciplinaridade I 23


peculiaridade de nosso tempo, que certamente não foi uma escolha nossa, é a expressão do Homem inconscientedentro de nós que está mudando. As gerações futuras terão de levar em conta esta importantetransformação, para que a Humanidade não se destrua por meio de sua própria tecnologia e ciência.Portanto, o Desenvolvimento Humano consiste essencialmente em, além de proporcionar um elevadocrescimento das técnicas de produção e outras mais, ter seu escopo fundamental no favorecimento doaprimoramento das potencialidades idiossincráticas que nos fazem ser tal qual somos, pessoas.Nosso momento na História é realmente cheio de promessas. Como civilização e como espécie,chegamos ao momento da verdade; o futuro da mente humana e o futuro do Planeta estão na balança. Sealguma vez foram necessárias coragem, profundidade e clareza de visão, entre outras qualidades, é agora.Contudo, essa mesma necessidade talvez possa chamar a coragem e a criatividade de que agora precisamos.Deixemos as últimas palavras desse épico interminado para o Zaratustra de Nietzsche:E como poderia eu agüentar ser um homem, se o Homem não fosse também poeta e leitor deenigmas e... um caminho para novos inícios.AS CIÊNCIAS SOCIAIS E SEU PAPEL PARAFORMAÇÃO DO HOMEM INTEGRALApós a compreensão dos novos conceitos e desafios do novo milênio, podemos perguntar: Que fatosocorreram ao longo do processo histórico que favoreceram o desenvolvimento humano e de que forma estesmesmos fatos interferiram na construção deste novo perfil de homem e/ou profissional do século. XXI?A Formação do Homem IntegralO processo de Desenvolvimento Humano fez com que o indivíduo se tornasse essencialmenteconstituído por três faculdades irredutíveis entre si: a faculdade de pensar, a de sentir e a de querer. Asexpressões pensar, sentir e querer serão empregadas para designar essas três faculdades. Ordinariamente,a referência a essas três faculdades é feita utilizando as expressões razão, sentimento e vontade.O pensar e o querer são as faculdades ativas do homem integral, o sentir é a faculdade passiva.Nesse sentido, podemos dizer que o pensar e o querer partem do homem, o sentir acontece nele. Apassividade da faculdade de sentir é uma decorrência do fato de que o homem simplesmente se percebe“sentindo”, o sentir surge nele. Por outro lado, o pensar e o querer surgem dele. Podemos caracterizar aatividade e a passividade dessas faculdades pelas expressões “exercer uma ação” e “receber uma ação”.Quando o homem pensa ou quer, exerce uma ação; quando sente, recebe uma ação.Pelo pensar, o homem raciocina, argumenta, representa, imagina, idealiza, calcula, julga, etc. A ciência,a matemática e a filosofia são seus frutos mais importantes.24FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


Pelo querer, o homem age, decide, realiza, executa uma ação, etc., transformando o mundo e a sociedadecontinuamente. Nesse reino da vontade, o homem encontra o dever. O dever é a obrigação moraldo homem para consigo mesmo e para com o seu semelhante. Com ele nos deparamos nas mais diversassituações da vida, desde as mais ínfimas aos atos mais elevados. Estabelecer como o homem deve agir nasmais variadas situações da vida é um dos atributos do querer. Como suas mais importantes realizações,temos a ética, a moral, o direito e a política.Com o sentir, o homem percebe e recebe as impressões do mundo à sua volta e as do seu própriomundo interior. As sensações físicas ou psicológicas, as emoções ou sentimentos são algumas das formasde ser dessa faculdade notável. Dela nascem as artes e a estética, a música e a poesia.Associados a essas três faculdades temos importantes valores da cultura humana: a verdade, a belezae a bondade.As ciências e a filosofia investigam a verdade. A estética e as artes cultuam a beleza. A ética e apolítica visam ao bem.A história da nossa cultura reflete uma incansável busca desses valores. Reunidas num todo e elevadasao mais alto grau de desenvolvimento, essas três faculdades caracterizam o homem integral.A utilização da expressão “integral” tem o propósito de realçar o fato de que todos os aspectosfundamentais do homem foram considerados nessas três faculdades, mesmo se utilizarmos o dualismoclássico de divisão do homem em mente e corpo. Sendo assim, nos cabe neste momento refletir acercada intensidade destas implicações, ou seja, de que forma estas três faculdades constituintes na formaçãodo individuo interferem em sua ação no mundo do trabalho?O desenvolvimento do sentir exige a valorização de todos os aspectos essenciais para a saúde e obem-estar físico. A boa alimentação, a prática de exercícios físicos, o cuidado com o meio ambiente devemser preocupações do homem integral. As instituições que adotarem este novo modelo de profissional integraldevem incluir em suas práticas laborais também suas preocupações referentes não só as relativas à saúdedo corpo, mas, inclusive, as do meio ambiente, visto que o individuo é parte integrante deste sistema.O Desenvolvimento Humano no Mundo do Trabalho constitui um ideal a ser buscado e posto emprática. As novas dificuldades geram desafios, por conseguinte realizações serão alcançadas. Assim, compreendemosque as adversidades existentes ao longo do processo histórico fizeram e fazem com que nós, indivíduoscomuns, desenvolvamos nossas potencialidades, caracterizando, desta forma, o próprio método dialético.Pesquisa e Interdisciplinaridade I 25


CONCEPÇÃO HOLÍSTICA E DESENVOLVIMENTOHUMANODefinição e Características do Processo Dialético de Desenvolvimento HumanoCompreendendo o processo dialético como movimento de opostos que gera uma síntese, que, porsua vez, é uma tese que irá se opor a uma outra denominada antítese, configura-se, então, não um movimentocircular, mas, sim, em espiral. Pois existe um salto qualitativo ao “término” de cada ação.O Desenvolvimento Humano é um processo contínuo semelhante ao dialético. Haja vista que,através das diversas adversidades que a Humanidade enfrentou ao longo de sua história, fez com que nostornássemos hoje tais quais somos. Entretanto, é sabido também que não somos um “produto acabado”,continuamos em movimento, ansiando diariamente por novas conquistas e realizações.Atualmente, diante das adversidades de nossa contemporaneidade, alguns intelectuais apontamcomo o ponto de partida para análise da existência de uma fragmentação de todas as esferas da vida humana.J. Miller (1996) dizia que, desde a Revolução Industrial, a humanidade estimulou a compartimentalizaçãoe a padronização, cujo resultado foi a fragmentação da vida. Essa fragmentação afeta tudo:• Vida econômica: a fragmentação na economia teve como resultado a devastação ecológica. O ar querespiramos e a água que bebemos estão normalmente imundos. Parece que envenenamos tudo, incluindo asvastas extensões e oceanos, pois nos vemos como separados do processo orgânico que nos rodeia.• Vida social: a maioria das pessoas nas sociedades industrializadas vive em grandes cidades, ondese sentem inseguras e separadas das demais. A violência da vida urbana se tornou de interesse predominante.Essa fragmentação se traduz também em diferentes formas de abuso das quais somos testemunhashoje em dia. Nós mesmos abusamos do fumo, do álcool e das drogas. Abusamos também dos demais,incluindo os mais velhos, as esposas e as crianças. Acredito que esse abuso vem de pessoas que se sentemdesconectadas das outras e separadas de formas consideradas válidas na comunidade.• Vida pessoal: outra forma de fragmentação acontece dentro de nós mesmos. A principal razão dafalta de unidade do mundo é a falta de unidade na pessoa. Estamos desconectados de nosso próprio corpo ede nosso coração. A educação fez muito para cortar a relação entre a cabeça e o coração. Tudo que se distanciado discurso acadêmico é rotulado de piegas. Como resultado, na sociedade industrializada vivemos centradossomente em nossas cabeças. Nossa visão materialista da vida nos estimula a nos centrarmos em bens materiais.No entanto muitas pessoas que adquiriram bens materiais não se sentem completas. Elas notam que estãoperdendo “algo”, que, na falta de outra palavra melhor, podemos chamar de espiritualidade.• Vida cultural: a fragmentação em nossa cultura é percebida por uma falta de sentido compartilhadode significado ou de mitologia. Essa falta de consenso chega a ser patente quando procuramosabordar temas de interesse social e humano. O único que compartilhamos é a visão materialista da vida,que sugere que a realidade é só física e que somente podemos controlá-la com o método científico. Es-26FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


tritamente relacionado está o consumismo, que nos estimula a guardar tantos bens materiais quanto forpossível. Quanto mais tivermos, maior felicidade acreditamos alcançar.Essa fragmentação ultrapassa os muros das escolas e exige delas sua reprodução. Devido a isso,nossas escolas transpiram fragmentação por todos os poros: organização (tempos, espaços) compartimentadae hierarquizada, profissionais especializados e desconectados, conhecimento fragmentado emdisciplinas, unidades e lições isoladas, sem possibilidade de ver a relação dentre e entre elas, e entre estase a realidade que os alunos vivem. Tudo isso prepara e educa para a fragmentação.É precisamente dentro dessa fragmentação que a educação holística pretende restabelecer as conexõesem todas as esferas da vida. Por isso, J. Miller (1996) indica que o centro de atenção da educaçãoholística está em todos os tipos de relações.Precisamente dentro dessa fragmentação é necessário restabelecer as conexões em todas as esferasda vida. A esse respeito, cabe mencionar a proposta de J. Miller (1996) ao indicar, neste caso noâmbito da educação e, perfeitamente aplicável às reflexões sobre o desenvolvimento humano no mundodo trabalho, por se tratar de relações imbricadas na formação humana; a necessidade de uma visão nãofragmentada, em todos os tipos de relações:a)Relações entre pensamento linear e intuição. Uma formação humana não fragmentária quevisa o restabelecimento de um equilíbrio entre o pensamento linear e a intuição. Várias técnicas, taiscomo a metáfora e a visualização, podem ser integradas com pensamentos mais tradicionais, de formaque se consiga uma síntese entre a análise e a intuição.b)Relações entre mente e corpo. A relação entre a mente e o corpo consiste em fazer com queo individuo sinta-se em sintonia, visto que ambos são atributos essenciais de um único e mesmo ser. Arelação pode se dar através do movimento, pela dança, pela dramatização e pelos exercícios de concentraçãoe de relaxamento.c)Relações entre domínios de conhecimento. Existem muitas formas diferentes para unir asdisciplinas acadêmicas. Por exemplo, as abordagens interdisciplinares do pensamento e as centradas notema, na linguagem global, etc., podem unir várias disciplinas. Portanto, uma vez unidas e de posse doindivíduo, as alternativas de atuação em seu ambiente laboral são inúmeras, uma vez que este mesmoser poderá, através de suas tomadas de atitudes diantes dos eventos, determinar a forma com a qual irásuperrar os desafios oriundos de sua atividade.d)Relações entre o eu e a comunidade. A relação do ser trabalhador com a comunidade ocorretanto quanto entre vizinhos de uma mesma localidade ou entre cidades, e porque não também entre asnações que compõem este planeta. Pois acreditamos que o produto construído por um indivíduo é suaprópria extensão. Assim sendo, parte de seu criador entra em contato direto com diversas outras pessoasdas mais diversas comunidades, sobretudo hoje quando assistimos à consolidação de um evento único,pelo menos nestas proporções, que é a globalização. Concluímos, então, que esta comunidade na verdadeé a propria extensão globalizada e o eu somos todos nós que diariamente construimos nossas relaçõesfundamentadas em diversos saberes, observando a interacidade dos eventos, principalmente no que concerneao desenvolvimento humano e suas aplicações no âmbito profissional.e)Relações entre o eu e o Eu. É um convite a um voltar-se para si mesmo, no qual esta açãonos possibilitará fazer uma conexão com a parte mais profunda de nós mesmos, a qual chamamos Eu(eu superior, superconsciente, etc.). Um veículo é a arte (dança, música, poesia, pintura e o drama) ou asmitologias, que abordam os interesses universais dos seres humanos.Pesquisa e Interdisciplinaridade I 27


O DESAFIO DO NOVO PARADIGMA DOCONHECIMENTOO que é paradigma?Lembremos que um paradigma é um conjunto de regras que define qual deve ser o comportamentoe a maneira de resolver problemas dentro de alguns limites definidos para que possa terêxito. Um paradigma condiciona nossa “visão do mundo”, a perspectiva com a qual abordamos ostemas e nos relacionamos com o exterior. Segundo Kuhn, quando um paradigma não pode resolveros problemas que surgem, a necessidade de uma mudança vai aumentando.A vida de um paradigma passa por três fases, que vão desde uma etapa inicial de incorporação lenta,uma fase intermediária de ritmo rápido e produtivo, e uma fase de declínio, quando começa a deixar de serútil. Mudando o paradigma, mudam-se as regras e, mudando as regras, mudam-se todas as outras coisas.É difícil afirmar se estamos ou não diante de um processo de mudança de paradigma, mas o que podemosconstatar é a existência de uma forte representação de reflexões a partir dos mais diversos âmbitos dacultura que nos mostra as deficiências do paradigma vigente (Yus Ramos, 1997). Diante dessas deficiênciasforam dadas respostas contraculturais diversas, algumas delas possivelmente transitórias até que se fixe umnovo paradigma. Dentro desse conjunto de respostas encontram-se as propostas de uma visão holística domundo que, na área da educação, levaria a propostas como as descritas anteriormente.Capra (1994) afirma que estamos diante de um processo de mudança de paradigma, diante de uma evidente“crise de percepção” segundo a qual o paradigma que vem dominando o mundo ocidental desde a Ilustração, oparadigma mecanicista (também conhecido como analítico), não só está deixando de ser útil para as metas atuaiscomo está provocando danos consideráveis em todas as escalas (devido à onipresença de todo paradigma).Novos ParadigmasDiante dessa defasagem vai surgindo de maneira progressiva um novo paradigma, chamado sistêmicoou holístico, que começa a dar algumas respostas mais acertadas para os problemas que temos na atualidadeem todos os terrenos da atividade humana e planetária. Em linhas gerais, o paradigma mecanicistanos proporcionou uma ferramenta poderosa para o avanço científico e tecnológico, mas isso às custasde uma visão distorcida da natureza (sua dimensão material), de incentivar uma visão compartimentadado mundo, separando o homem do resto da natureza, a mente ou a alma do corpo e, conseqüentemente,exigindo uma especialização precoce no âmbito educativo, esquecendo daquelas dimensões humanas quesão essenciais para uma formação integral.O paradigma sistêmico, com sua concepção holística, pretende recompor muitas das rupturas geradaspelo paradigma mecanicista, buscando essa conexão homem/natureza e mente/corpo que havíamosperdido, para que com isso possamos reconectar-nos com o todo do qual fazemos parte e, assim, começarum novo tipo de relação com nossos semelhantes e com a natureza em geral.Alguns autores, como R. Mifler (1997), estão convencidos de que o holismo se situa dentro dascorrentes contraculturais da pós-modernidade. Sem dúvida a pós-modernidade foi uma reação culturalcontra a precariedade e os excessos da modernidade, embora, segundo outros autores, continue sendoinsuficiente para dar resposta aos problemas enfrentados pela humanidade. Por isso é que somos maispartidários de situar o holismo no terreno de um paradigma novo, embora possamos considerar a reaçãopós-moderna como sintoma desse processo de mudança.Realmente um número crescente de pensadores competentes (filósofos, cientistas, teólogos, sociólogos,historiadores, ensaístas e teóricos educativos) tem articulado uma visão pós-moderna da cultura,arraigada na sabedoria espiritual e ecológica, na comunidade democrática e em um profundo apreço pelos28FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


aspectos orgânicos e de desenvolvimento da existência humana. O filósofo David Ray Griffin explicapor que não basta simplificar a reforma das instituições e das práticas dentro da sociedade moderna quesupere seu individualismo, antropocentrismo, patriarcalismo, mecanização, economicismo, consumismo,nacionalismo e militarismo. A crítica pós-moderna se estende ao núcleo dos temas culturais, às fontes designificado, que definem como uma sociedade vê o mundo. Muitos pensadores consideram hoje essa críticacomo uma “revolução intelectual e conceitual do pensamento ocidental”. Assim, o pós-modernismoinclui visões desconstrutivas, enquanto que o holismo pretende uma visão mais construtiva, pois, emboranão renuncie em desfazer as amarras mecanicistas da modernidade, a ênfase não está em separar os indivíduose os grupos humanos, mas na busca do significado transcendente e do propósito evolutivo daconsciência humana dentro de um contexto ecológico.Como exemplo indicamos a reflexão de Marshak (1998), que revela que no final do século XX encontramosnossas vidas presas em um paradoxo: nunca antes a capacidade humana havia sido tão poderosa,tão produtiva e tão diversa; mas nunca antes havia sido tão perigosa, nem havia feito tanto barulhopela saúde da biosfera. Nunca antes milhões de pessoas que vivem em culturas industriais “avançadas”desfrutaram de tão alto nível de abundância material, pois nunca antes bilhões de pessoas viveram em talextremo de pobreza e em constante vulnerabilidade para a catástrofe. E nunca antes houve nações comtanta riqueza, que poderiam dedicar mais de um bilhão de dólares ao ano para preparar e fazer a guerra,mesmo sem inimigos oficiais na maior parte das situações.A intensidade do paradoxo que vivemos é elevada devido à riqueza e à complexidade crescente denossos meios eletrônicos. Nunca antes as pessoas pelo planeta, tanto o pobre quanto o rico, estiveramconectadas umas com as outras pela poderosa rede de meios de comunicação. Na “aldeia global” do onipresenterádio, da televisão e da explosiva internet podemos guardar cada vez menos segredos sobre ascrises e as contradições de nossos tempos.Marshak prossegue assinalando que nos esforçamos por encontrar sentido para essas contradiçõese, quando muito, a maioria de nós fracassou enormemente ao fazê-lo porque não identificou o padrãoque marca e conecta tudo: a condição paradoxal de nossa evolução como espécie. Aqueles que vivenciarama cultura tecnológica desenvolveram-na muito mais do que a sabedoria e a compaixão, identificandosemuito mais com a separação entre as pessoas, com o seu habitat e com seu espírito do que com suasconexões com pessoas, com a Terra e com aqueles que vivem como “Deus”.De acordo com o raciocínio de Marshak, para captar efetivamente nossa condição paradoxal e sobreviverem nossa morada natural, de maneira que seja permitida a sobrevivência de muitas outras formas devida neste planeta, desejamos continuar evoluindo, principalmente em nossas dimensões morais e espirituais.Isso coloca nosso pensamento em uma mudaça drástica de orientação, uma mudança de paradigma.Sob essa perspectiva a questão do desenvolvimento humano abraça todas as interrelações e convidaao bem cuidar do ser, das relações que estabelece e de todo o ambiente, compreendendo, portanto,o ser humano como “natureza consciente de si” e não como elemento isolado da Natureza. Qual seria,então, o papel ou a função do desenvolvimento humano no mundo do trabalho? O ato de refletir sobreas implicações dos avanços tecnológicos tanto sobre as atividades profissionais quanto sobre o ambienteé já um excelente ponto de partida!A forma como construimos a cada um de nós e a nossa comunidade é o meio poderoso que temospara escolher, conscientemente, entre evoluir com e além de nossa crise atual. Podemos aprender a nutrire a educar nosso ser de uma maneira completamente diferente das normas da cultura “moderna”. Quantomais nos desenvolvermos como seres completos, melhor nos tornamos transformadores e empreenderemosações em prol da humanidade, levando essa nossa formação também para o âmbito da nossa atuaçãoprofissional, uma vez que, para além do saber técnico e operacional, conquistaremos continuamente asprincipais habilidades propriamente humanas.R. Miller (1997) assinala que nosso conhecimento técnico tornou o mundo perigoso para a vida.Hoje vivemos sob a permanente ameaça de bombas nucleares, químicas e biológicas, de envenenamentoPesquisa e Interdisciplinaridade I 29


gradual da água, do solo e do ar da Terra por venenos químicos e radiação, de eliminação de milhares deespécies de plantas e animais, assim como a maioria das áreas silvestres que restam na Terra, além da possibilidadede que a atmosfera já não possa mais nos proteger do aquecimento global ou da radiação cancerígenado espaço. Uma orientação humanizadora exige que voltemos a ter uma relação mais orgânicacom o mundo natural. E um reconhecimento de que, para a razão utilitária, falta a sabedoria de manipulara natureza com poder auto-assegurador, sem conseqüências catastrófícas. Uma relação orgânica com anatureza começa com a afirmação de que não existe riqueza, mas vida; embora possamos ficar deslumbradose iludidos com nossa habilidade tecnológica, em última instância, estamos esgotando a fonte detudo o que mantém e enriquece a vida. A existência humana está sendo delicadamente embalada no úteroda natureza e, finalmente, depende das conexões intrincadas, muitas vezes inconscientes e não-racionais,com o mundo natural no alimento físico, psicológico e espiritual.Conclusão para reflexãoSe o mundo natural é, de fato, mais complexo e interconectado do que nosso positivismogrosseiro pode perceber, então simplesmente não percebemos que efeitos nossa manipulação domundo natural pode ter a longo prazo e, do mesmo modo, dificilmente conheceremos os efeitosque produzirá nos processos profissionais uma ênfase excessiva na aplicação não responsável dosavanços tecnológicos para fins puramente utilitários e não necessariamente humanizadores.30FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


Atividade Complementar1. Frente à diversidade e quantidade de conhecimento produzido chegamos a um momento (séculoXXI) no qual a ciência deve priorizar alguma área ou tipo especifico para atender a alguma necessidadeparticular, mais urgente, quanto ao desenvolvimento humano?2. Considerando uma época em constante modificação, qual o perfil do profissional contemporâneo?3. Diante da crise paradigmática, quais critérios e valores norteariam a questão do desenvolvimentohumano no mundo do trabalho?4. O século XXI aponta para uma nova era para a humanidade. Em que medida a nossa formaçãoprofissional tem dado conta desta nova perspectiva?5. Em todos os sentidos vivemos um momento de transformações, em particular da área do conhecimento.Sendo assim, qual tem sido e qual deve ser a nossa postura enquanto profissionais e partedeste processo de transformação?Pesquisa e Interdisciplinaridade I 31


Glossário▄ ANALOGIA – Equivalente à proporção de igualdade de relações.▄ ANTROPOCENTRISMO – Que considera o homem como o centro ou a medida do Universo,sendo-lhe por isso destinadas todas as coisas.▄ DIALÉTICO – É o processo em que há uma tese a ser refutada e que supõe, portanto, duas tesesem conflito proporcionando um salto qualitativo, que é a síntese.▄ ÉTICA – Ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve ser orientada.▄ EXEQÜÍVEIS – Executáveis.▄ HOLISMO – Teoria segundo a qual o homem é um todo indivisível e que não pode ser explicadopelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente;holística.▄ IDIOSSINCRÁTICAS – Características natas do indivíduo que o fazem ser tal qual é.▄ INEXORÁVEL – implacável; austero; inflexível.▄ INTEGRAL – Estado em que o indivíduo encontra-se formado e unificado.▄ PARADIGMA – Modelo; padrão.▄ RELATIVISMO – Doutrina que afirma a relatividade do conhecimento, visão do sujeito sobre oobjeto, ação recíproca sujeito-objeto.32FTC EAD | CIÊNCIAS CONTÁBEIS


Referências BibliográficasABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 2000.FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 8 ed. Campinas, SP:Papirus, 1994.JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: Guia prático da linguagem sociológica; tradução, RuyJungmann; consultoria, Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da Pesquisa Aplicada à Contabilidade: Orientaçõesde estudos, projetos, artigos, relatórios, monografias, dissertação, teses. São Paulo: Atlas, 2003.SORIANO, Raúl Rojas. Manuel de pesquisa social. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento oriental: para compreender as idéias que moldaramnossa visão de mundo; tradução de Beatriz Sidou. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed,2002.SITEShttp://pt.wikipedia.org/wiki/Interdisciplinaridadehttp://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_artigo.asp?artigo=cosme0001http://www.priberam.pt/dlpo/Pesquisa e Interdisciplinaridade I 33


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