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Passo FundoDe 21 de julhoa 05 de agostode 2015JORNALRotta12Espaço Verdewww.envolverde.com.brBrasil: potência orgânica?Quando pensamos nosbenefícios do alimentoorgânico logo nos vemà cabeça os aspectosrelacionados à saúdehumana, pelo simples fatode evitarmos o consumo deagrotóxicos. No entanto,as virtudes vão além,sendo a produção orgânicaaliada direta da própriaconservação da natureza.Alimentos orgânicos são produzidospor meio de técnicasespecíficas, buscando otimizarrecursos naturais e socioeconômicos,objetivar a sustentabilidadeeconômica e ecológica e minimizaro uso de energias não-renováveis,sem empregar materiais sintéticos,organismos modificados geneticamenteou radiações ionizantes.O objetivo final dos orgânicos é asaúde da população, mas tambéma manutenção do equilíbrio doplaneta, já que essa é uma técnicaque preserva nossos solos, águas ebiodiversidade.Outro benefício está no próprioprocesso de certificação dessa produção.Para ser certificado, o proprietáriode terra necessita, antesde mais nada, seguir a legislaçãoambiental, o que inclui, por exemplo,ter a Reserva Legal e protegeras Áreas de Proteção Ambiental(APPs). Pode parecer absurdo listarmosesse item como vantagem,mas sabemos que a realidade doagronegócio ainda está longe documprimento da lei. Inclusive, esteé um dos motivos que encarece oproduto orgânico e limita muitospequenos proprietários de terra ainvestirem nesse tipo de produção.Soluções e opções existem. EmSorocaba, no interior de São Paulo,um coletivo da sociedade civil,com o apoio da Secretaria Municipaldo Meio Ambiente e parceriada Universidade Federal de SãoCarlos (UFSCar), criou o Grupo deArticulação Regional da Feira deOrgânicos de Sorocaba (Garfos)para a realização de uma feira de“transição agroecológica”, justamentepara incentivar a produçãode orgânicos de Piedade, municípiovizinho. Muitos produtores emPiedade, que é um dos principaisabastecedores da Companhia deEntrepostos e Armazéns Gerais deSão Paulo (CEAGESP), começavama trocar os insumos químicos pelaagricultura orgânica, mas sem osrecursos para realizar a certificação.Com a feira, que aconteceem um parque de Sorocaba todosos sábados, esses proprietáriosencontraram um local para comercializardiretamente sua produçãoe, assim, levantar os recursos parase certificarem. Para completar, ainiciativa trabalha ainda em todasas etapas, desde o apoio ao produtorconvencional que quer realizara transição, o suporte ao pequenoprodutor que encontra resistênciapara a mudança, a valorização daagricultura familiar e o estímulo aoconsumo de produtos saudáveis.Tal experiência aponta tambémo importante papel do consumidorcomo incentivador daprodução orgânica. Não que aresponsabilidade seja apenas dequem consome, mas gerar demandaé sim uma saída bastanteeficiente para se estimular novasrelações de produção, consumo emodelos de negócio. Um exemplobastante inovador, e inspirador,é o Instituo Chão, recentementeinaugurado no bairro da Vila Madalena,em São Paulo, definido pelosfundadores como “um espaçode convivência e economia socialpara experimentação de novas formasde relação”.Na feira da associação sem finslucrativos, que funciona de terça adomingo, os alimentos orgânicossão vendidos pelo preço do produtor,sem margem de lucro. Além dohortifruti, há ainda um café e mercearia.O preço chama atenção ejá tem gerado procura, mas o maisinteressante é a experiência socioeconômicae solidária, que eliminado preço final os custos operacionaisdo ponto de venda e convidaos frequentadores-consumidoresa colaborarem espontaneamentecom doações para cobrir tais despesas,expostas com transparêncianum quadro negro. Vale a visita!Agora, já que são tantos os benefíciosda produção orgânica, porqueo Brasil investe tão pouco nessamodalidade e continua a baterrecordes no consumo de defensivosagrícolas? O motivo está no nossomodelo de agricultura pautada namonocultura e na produção decommodities. Esta é uma base importantepara a balança comercialbrasileira, tanto que durante a últimadécada o país cresceu amparadona comercialização de algunsprodutos primários, como a soja, omilho e o algodão. Mas é tambémum modelo econômico bastantequestionável e que começa a darsinais de enfraquecimento, com orecuo da cotação desses produtosno mercado internacional.Quando se planta e produznuma escala grandiosa e com umadiversidade baixa, ainda por cimaem áreas sem a presença adequadade florestas, naturalmente ocorreráo empobrecimento do solo, odescontrole natural de pragas, adiminuição da população de polinizadores,como as abelhas, adesproteção dos recursos hídricose mais uma série de fatores queconstituem o cenário ideal para queo Brasil se mantenha na liderançado consumo mundial de defensivosagrícolas. Sem contar que estamosfalando em commodities, não emalimentos para a população.O uso desses produtos é tamanhoque o país já ultrapassou, em2009, a marca de 1 milhão de toneladasde defensivos por ano, deacordo com o estudo “Agrotóxicosno Brasil: um guia para ação emdefesa da vida”, de 2011. Segundoa Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa), nos últimos40 anos o uso de defensivosagrícolas subiu 700%, frente aoaumento de 78% da área plantadano Brasil. Números que não devemser comemorados e evidenciam oexcesso de agrotóxico aplicado emnossas plantações.Em abril deste ano, o InstitutoNacional do Câncer (Inca), órgãoligado ao Ministério da Saúde, divulgounota de posicionamento emque pede a redução da utilizaçãode agrotóxicos no país, alegandoque as atuais práticas de uso deprodutos químicos sintéticos naprodução de alimentos oferecemrisco à saúde, tanto das populaçõesque estão expostas aos defensivosnas regiões de produçãoagrícola, como também de quemconsome o produto final, em casa.Para se ter uma ideia do imbróglio,dos 50 produtos mais utilizados naagricultura brasileira, 22 são proibidosna União Europeia.Além dos problemas para asaúde, os agrotóxicos representamuma grave ameaça para o meioambiente, principalmente para osrecursos hídricos. A utilização dosdefensivos agrícolas é a segundamaior causa de contaminação dosrios, ficando atrás apenas do esgotodoméstico. Por estas e outras éque a produção sustentável, comoo cultivo orgânico, continua sendoum grande desafio para o setoragrícola.A sociedade precisa se organizare pressionar o governo para quereveja sua política de incentivo àprodução de agrotóxicos, evite aliberação de substâncias que já sãoproibidas em outros países e invistana redução progressiva dessesprodutos. Afinal, ainda sonhamosque um dia viveremos num mundosustentável, em que a agroecologiase multiplique e o Brasil se torne omaior celeiro de produtos orgânicosdo mundo. É possível alimentara humanidade com alimentosorgânicos! (SOS Mata Atlântica/#Envolverde)

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