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REVISTA PÁGINA 22 OUTUBRO 2007<br />

ENTREVISTA ADALBERTO VERÍSSIMO PÁG.<br />

A Amazônia que<br />

PESA NO BOLSO<br />

P O R A M Á L I A S A F A T L E<br />

A última grande floresta vive a representação<br />

máxima da insustentabilidade. Na economia de<br />

ganhos rápidos e ciclos curtos, a mata dá lugar<br />

a atividades predatórias, que deixam para trás<br />

pobreza, destruição e municípios falidos – uma<br />

conta para os cofres públicos e o contribuinte<br />

pagarem. Descrita pelo estudioso Adalberto<br />

Veríssimo como “boom-colapso”, essa onda de<br />

ocupação só será detida com o fortalecimento<br />

de alternativas econômicas para exploração e<br />

de estratégias públicas vigorosas. Em estudos<br />

recém-divulgados, o pesquisador sênior do Instituto<br />

do Homem e Meio Ambiente da Amazônia<br />

(Imazon) aponta os prejuízos do boom-colapso<br />

e pretende chamar a atenção de mais setores do<br />

governo, como o Ministério da Fazenda.<br />

PÁGINA 22: Um erro<br />

comum quando se fala<br />

de Amazônia é tratá-la<br />

como região única, quando<br />

na verdade há diversas<br />

Amazônias. Quais são elas?<br />

ADALBERTO VERÍSSIMO:<br />

No mínimo, podemos dividir a<br />

Amazônia em quatro grandes<br />

regiões, considerando a Amazônia<br />

Legal, que é um conceito<br />

fiscal e político e engloba a<br />

Região Norte mais o Mato<br />

Grosso e o oeste do Maranhão.<br />

Falamos de uma área de mais<br />

de 5 milhões de quilômetros quadrados, 59% do território nacional, 12%<br />

da população e 8% do PIB. A primeira região é a chamada Amazônia<br />

Não-Florestal, com mais de 1 milhão de quilômetros quadrados com<br />

cerrado, campos, campinaranas. Nos outros 4 milhões, originalmente<br />

temos floresta. Já perdemos parte dela, que é o que chamamos de Amazônia<br />

Desmatada ou Arco do Desmatamento, resultado de três décadas<br />

de ocupação. Pega todo o Leste e Sul do Pará, o Norte de Mato Grosso,<br />

e uma parte que acompanha a BR-364, ligando Cuiabá ao Acre, com<br />

alguns picos também ao longo da Transamazônica. Nessa área houve<br />

produção de madeira, e agora tem basicamente pecuária, além de<br />

muita área degradada. A terceira Amazônia é a Sob Pressão, que tem<br />

floresta, mas sendo perdida rapidamente. Está na região do Acre e ao<br />

longo da Transamazônica. Municípios como Novo Progresso, São Félix<br />

do Xingu, Altamira são típicos dessa zona, com taxas de desmatamento<br />

elevadas e uma corrida pela indústria madeireira predatória, associada à<br />

pecuária. Também tem muita grilagem de terra, e aí é onde está a maior<br />

parte dos conflitos. Anapu, onde a<br />

Irmã Dorothy foi assassinada, é um<br />

município da zona Sob Pressão.<br />

O problema maior da Amazônia<br />

Desmatada são as queimadas. O<br />

desmatamento caiu, mas as queimadas<br />

aumentaram, porque não<br />

se queima só para desmatar, mas<br />

para limpar áreas. E, finalmente,<br />

há uma Amazônia em bom grau<br />

de intocabilidade, nas regiões mais<br />

remotas, no Norte do Pará, em quase<br />

80% do Amazonas, no Amapá,<br />

em parte do Acre e em algumas<br />

partes de Roraima. Essa separação<br />

de áreas tem bastante consistência quando vemos os indicadores<br />

sociais e econômicos.<br />

22: O que é o boom-colapso? Esse fenômeno acontece na<br />

Amazônia Desmatada e na Sob Pressão?<br />

AV: A curto prazo, numa região pobre como a Amazônia, o desmatamento<br />

cria uma riqueza efêmera, mas não trivial. Traz oportunidades de<br />

enriquecimento para quem chega aqui sem muito capital. A Amazônia,<br />

até o começo dos anos 60, não estava conectada com o resto do Brasil,<br />

do ponto de vista econômico. E aí o governo, primeiro o Juscelino (Kubitschek),<br />

depois os militares, falou em integrá-la. Investiram em obras<br />

de infra-estrutura que deram em todos aqueles problemas que conhecemos.<br />

Mas o governo, nos anos 80, época do (João) Figueiredo, e já no<br />

início do mandato José Sarney, fez uma diminuição muito brusca de<br />

investimentos. Imaginamos que, como o governo não estava mais promovendo<br />

o desmatamento, ele diminuiria. No entanto, continuou.<br />

FOTO: ELAINE BAYMA

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