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11_Pedro_p174a195.qxd 4/11/08 10:40 AM Page 189<br />

critérios de avaliação de gosto que têm favorecido produtores que<br />

modernizam seus métodos e adotam estratégias de marketing. O<br />

novo edifício de Gehry dá status inovador à casa Marquês de Riscal e<br />

região,colaborando para o fortalecimento global da marca,ao mesmo<br />

tempo em que atrai turistas, enólogos e enófilos para o referido hotel.<br />

A obra de Gehry brota em meio à cidade medieval de sobrados em<br />

pedras de arenito como um jorro de vinho espalhando ondulações e<br />

reflexos metalizados purpúreos — figuração rentista, tal como um<br />

borbotão de riqueza (como a do petróleo) emergindo da terra.O arquiteto<br />

faz uma mínima concessão ao arenito local em alguns dos volumes<br />

do edifício, mas que são soterrados pelas cachoeiras de metal. As<br />

ondas, em tom violáceo e baunilha, fazem uma alegoria às cores e<br />

buquês dos vinhos. Há, de fato, um choque total entre edifício e seu<br />

entorno, sem qualquer preocupação contextual (contrariando a vertente<br />

regionalista/vernacular tão em voga na Espanha).<br />

Esse é um fenômeno recorrente nos projetos contemporâneos,nos<br />

quais os edifícios se apresentam como totalidades em si,desgarrandose<br />

da cidade, de qualquer contexto ou território. Eles cumprem funções<br />

para além do lugar e do local, são edifícios e infra-estruturas<br />

transnacionais de circulação do capital.Essa arquitetura torna-se,por<br />

isso, auto-referente, tal como as finanças. Daí a irrelevância do contexto<br />

— não há mais que se preocupar em formar a cidade,um mundo<br />

coeso,eventualmente homogêneo.Assim,pode-se chegar a um verdadeiro<br />

“espaço delirante”, sem restrições de estrutura, de materiais,<br />

recursos e mesmo de qualquer uso. Como afirma Hal Foster,<br />

[30] Foster, op. cit., p. 40.<br />

sem os constrangimentos clássicos da arquitetura (resistência dos materiais,<br />

estrutura,contexto),a sua arquitetura rapidamente se torna algo arbitrário<br />

e auto-indulgente (por que essas curvas e não outras?) — os fãs de Gehry<br />

tendem a confundir essa arbitrariedade com liberdade. 30<br />

Em seu recente projeto para o DG Bank, em Berlim, Gehry produz<br />

novamente um choque contrastante, dessa vez entre a sobriedade<br />

externa do edifício e seu interior surpreendente. No pátio central do<br />

prédio ele pousa uma cobertura irregular reluzente (de novo, Midas),<br />

que poderia também ser interpretada como uma ironia norte-americana<br />

do arquiteto, como se uma derradeira bomba dos aliados tivesse<br />

ali sido lançada. Abrigada sob essa resplandecente massa informe,<br />

espécie de coração do sistema,está a mesa do board,conectada mundialmente<br />

por meio de telões de videoconferência.Quem olha da rua o edifício,não<br />

chega a notar a intervenção de Gehry,a menos que entre e veja,<br />

por meio da colunata, os reflexos metalizados que vêm do seu coração.<br />

Aqui, a alegoria do capital financeiro — um choque de visualidade que<br />

cega — é mais sofisticada do que as cascatas de vinho em Rioja.<br />

NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙ MARÇO 2008<br />

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