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Goiânia, quarta-feira, 21 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2015<br />
ESSÊNCIA<br />
>> 17<br />
Após vários herois, Tony<br />
Ramos vive vilão Zé Maria<br />
Ator veterano diz que todo e qualquer profissional precisa procurar crescer em su<strong>as</strong> experimentações<br />
ão se <strong>de</strong>ixe levar pelo bom-mocismo <strong>de</strong><br />
muitos personagens que marcaram a<br />
carreira <strong>de</strong> Tony Ramos. Ao longo <strong>de</strong> 51<br />
anos <strong>de</strong> carreira <strong>de</strong> TV, além <strong>de</strong> cinema e teatro,<br />
o ator <strong>de</strong> 67 anos colecionou também papéis<br />
cheios <strong>de</strong> nuances, sejam com<br />
per so nalida<strong>de</strong>s não totalmente más, m<strong>as</strong> com<br />
<strong>de</strong>svios <strong>de</strong> caráter, sejam esculpidos pela mais<br />
pura vilania. Em 1998, Tony já havia chocado<br />
a audiência na pele <strong>de</strong> Clementino, que matava<br />
a mulher e o amante com uma pá <strong>de</strong> obra<br />
em punho na novela Torre <strong>de</strong> Babel, <strong>de</strong> Silvio<br />
<strong>de</strong> Abreu. Agora, Tony volta a causar arrepios<br />
no público com Zé Maria, o maior vilão <strong>de</strong> sua<br />
trajetória, na novela d<strong>as</strong> 9, A Regra do Jogo,<br />
<strong>de</strong> João Emanuel Carneiro.<br />
No início da novela, Zé Maria até enganou<br />
– propositalmente – por algum tempo como<br />
um trabalhador esforçado, marido zeloso <strong>de</strong><br />
Djanira (Cássia Kiss) e pai amoroso <strong>de</strong> Juli a -<br />
no (Cauã Reymond), o que fazia <strong>de</strong>le um ho -<br />
mem acima <strong>de</strong> qualquer suspeita e, portanto,<br />
acusado injustamente <strong>de</strong> criminoso. M<strong>as</strong> a<br />
farsa do personagem não se sustentou e ele se<br />
revelou para o público um <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sino, membro<br />
<strong>de</strong> uma facção e participante <strong>de</strong> uma chacina.<br />
“O mais importante para mim era apen<strong>as</strong><br />
ter uma noção científica <strong>de</strong> como funciona<br />
essa cabeça <strong>de</strong> quem tem uma família, quer<br />
preservá-la, m<strong>as</strong> que, ao mesmo tempo, enlouquecidamente<br />
quer acabar com o Romero<br />
(Alexandre Nero). Mata e, ‘próximo tópico, o<br />
que vamos discutir?’, com uma frieza <strong>de</strong> um<br />
executivo fazendo negócio”, <strong>de</strong>screve Tony,<br />
que diz não ter se inspirado em nenhum personagem<br />
da literatura ou do cinema.<br />
Sobre o real caráter <strong>de</strong> Zé Maria, a dúvida<br />
plantada pelo texto <strong>de</strong> João Emanuel logo ali<br />
no início precisava <strong>de</strong> um talento como o <strong>de</strong><br />
To ny Ramos, que trabalh<strong>as</strong>se em camad<strong>as</strong> na<br />
atuação – e que sustent<strong>as</strong>se até <strong>as</strong> últim<strong>as</strong><br />
con sequênci<strong>as</strong> a imagem <strong>de</strong> um pobre injustiçado<br />
como máscara <strong>de</strong> uma mente insana e<br />
criminosa.<br />
No último sábado, Zé Maria participou <strong>de</strong><br />
um jogo <strong>de</strong> cena em que a mulher Djanira foi<br />
morta com um tiro no peito. Com vários personagens<br />
no recinto, entre mocinhos e bandidos,<br />
o próprio Zé Maria é um dos suspeitos<br />
– será que quem mata po<strong>de</strong> mesmo amar, co -<br />
mo seu personagem já disse num diálogo revelador<br />
com o rival Romero? Numa<br />
at mosfera, digamos, mais amena, Tony po<strong>de</strong><br />
ser visto também à tar<strong>de</strong>, na reprise <strong>de</strong> Caminho<br />
d<strong>as</strong> Índi<strong>as</strong> (2009), sucesso <strong>de</strong> Gloria Pe -<br />
rez, em que vive o religioso Op<strong>as</strong>h – que,<br />
segundo o próprio ator, entrou para seu rol <strong>de</strong><br />
papéis especiais.<br />
ENTREVISTA<br />
TONY RAMOS<br />
Tony Ramos em<br />
du<strong>as</strong> cen<strong>as</strong> da<br />
novela, em que<br />
interpreta o abjeto<br />
Zé Maria, para<br />
quem vale tudo em<br />
nome do amor que<br />
nutre pelo seu filho<br />
fugitivo tentando provar a inocência.<br />
Então, esse vilão já era <strong>de</strong>senhado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a época do convite?<br />
Eu sabia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. O João me contou:<br />
esse é um homem que tenta provar sua<br />
inocência perante seu filho. Porque, na verda<strong>de</strong>,<br />
o gran<strong>de</strong> amor da vida <strong>de</strong>le é o filho. Ele<br />
não quer, em nenhum momento, que esse<br />
rapaz se torne um bandido como ele é. É um<br />
sentimento contraditório <strong>de</strong> um <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sino<br />
frio. Aí, li muito, ele me <strong>de</strong>u alguns trabalhos,<br />
o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> pesquisa nosso mostrou<br />
algum<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>, pesquis<strong>as</strong> mundiais sobre<br />
como funciona a cabeça <strong>de</strong> certos psicopat<strong>as</strong>.<br />
Tem uma série <strong>de</strong>les. Tem aquele que fica na<br />
dualida<strong>de</strong> entre o “profissionalismo” do <strong>as</strong>s<strong>as</strong>sinato,<br />
do crime, e uma <strong>de</strong>fesa dos entes mais<br />
queridos <strong>de</strong>le. Claro que é um homem perigosíssimo,<br />
doente. O Zé Maria era um trabalhador,<br />
até que ele começou a servir ao crime.<br />
Essa parte ainda não está explicada e é para o<br />
final da novela.<br />
Vocês estão recebendo os capítulos aos<br />
poucos.<br />
Claro, e faz bem. Recebi até O capítulo 54<br />
(na semana p<strong>as</strong>sada), não sei o que vai rolar<br />
<strong>de</strong>pois. O que gosto na obra aberta é justamente<br />
isso. Por ser longa e aberta a surpres<strong>as</strong>.<br />
Por isso que é bom para o ator – estou falando<br />
por mim – receber em blocos (são seis capítulos<br />
por semana que recebemos), ser surpre -<br />
endido, como o próprio público será<br />
sur preendido. Vem a pergunta que faço para<br />
minha diretora: será que um dia o filho vai<br />
<strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong> sobre o pai? E eles guardam<br />
isso a sete chaves. A novela começou <strong>de</strong><br />
uma maneira até muito sofisticada, com a história<br />
sendo contada do fim para o meio, voltava<br />
ao fim, para retomar o começo. Isso<br />
causou uma dúvida e o João é muito humil<strong>de</strong><br />
reconhecendo isso: po<strong>de</strong> ter causado dúvid<strong>as</strong><br />
no espectador. O público tem <strong>de</strong> saber que o<br />
primeiro mês já está escrito, não se volta<br />
atrás. A partir do segundo mês, você po<strong>de</strong> me -<br />
xer. Mexem-se <strong>as</strong> peç<strong>as</strong> <strong>de</strong> uma maneira mui -<br />
to natural e não é a primeira novela em que<br />
participo disso. Em Torre <strong>de</strong> Babel, o Clementino<br />
<strong>as</strong>sustou o público. ‘Ah, mudaram’. Ele<br />
mudou porque já estava na história: Clementino<br />
só terá uma única salvação, o encontro <strong>de</strong><br />
um gran<strong>de</strong> amor.<br />
Perguntaram se você tinha medo <strong>de</strong> rejeição<br />
<strong>de</strong>sse personagem e você respon<strong>de</strong>u<br />
que não tem mais ida<strong>de</strong> para isso...<br />
Todos temos <strong>de</strong> ter respeito ao próximo.<br />
Agora, não posso, em nenhum momento, ficar<br />
me ligando em opiniões dividid<strong>as</strong>. Quando eu<br />
disse que não tenho mais ida<strong>de</strong> para isso, é<br />
que não tenho <strong>de</strong> ficar olhando tudo isso.<br />
Quan do você me pergunta sobre Twitter, seguir<br />
alguém, não tenho isso na minha vida.<br />
Não tenho Facebook, Instagram, estou livre<br />
<strong>de</strong>ss<strong>as</strong> <strong>de</strong>pendênci<strong>as</strong> tod<strong>as</strong>.<br />
Zé Maria é o maior vilão no seu rol <strong>de</strong><br />
personagens?<br />
Isso sem dúvida. Sempre fiz tipos mais românticos,<br />
mais heroicos, pelo menos na memória<br />
popular. M<strong>as</strong> fiz tipos que eram <strong>de</strong><br />
uma vilania torta, aquele homem que usava<br />
<strong>de</strong> subterfúgios para conseguir subir a escala<br />
social. Isso fiz, por exemplo, na segunda versão<br />
da novela Selva <strong>de</strong> Pedra (1986), em que<br />
ele se utilizava <strong>de</strong> uma mulher muito rica.<br />
Vou buscar em Rainha da Sucata (90), com<br />
Regina Duarte, um quatrocentão falido que<br />
fingia amor por uma mulher muito rica que<br />
era emergente, e ele se utilizava daquele<br />
amor que ela tinha por ele como maneira <strong>de</strong><br />
manter o status quo da família. Você vai pegar<br />
um homem absolutamente enlouquecido,<br />
em fúria, porque ele surpreen<strong>de</strong> a mulher em<br />
atos libidinosos, com dois homens ao mesmo<br />
tempo, em Torre <strong>de</strong> Babel (98). Ali, ele mata<br />
a mulher. Provocamos um susto no Br<strong>as</strong>il,<br />
porque ele a matava com uma pá. Ele é preso<br />
em flagrante, fica 20 anos no Carandiru.<br />
Acho que a experimentação junto ao público,<br />
<strong>de</strong> alguma forma, leva ele a enten<strong>de</strong>r a trajetória<br />
<strong>de</strong> um artista. É o que digo sempre n<strong>as</strong><br />
palestr<strong>as</strong> que faço – sou convidado a muit<strong>as</strong><br />
e, quando posso, faço <strong>de</strong> bom grado, em universida<strong>de</strong>s,<br />
em lugares que preparam alunos<br />
para o futuro. Digo: qualquer profissional<br />
tem <strong>de</strong> procurar crescer na sua experimentação,<br />
e <strong>as</strong>sim é comigo.<br />
E como você vê a reação do público a<br />
esse papel?<br />
Você teria <strong>de</strong> andar anonimamente comigo,<br />
não adianta eu falar, parece que estou sendo corporativista.<br />
Eu parando meu carro – isso foi uma<br />
<strong>de</strong>licia que aconteceu comigo – para reab<strong>as</strong>tecer,<br />
todos os frentist<strong>as</strong>, os carros que estavam parados,<br />
todos vieram pedir educadamente para<br />
tirar foto comigo. E os frentist<strong>as</strong> dizendo: ‘ô, esse<br />
rapaz é maluco, hein’. Então, quando você ouve<br />
o povo dizer isso, vo cê diz: ‘opa, chegou lá’. Em<br />
<strong>de</strong>zembro do ano p<strong>as</strong>sado, quando o João (Emanuel<br />
Carneiro, autor) e a Amora (Mautner, diretora)<br />
jantaram comigo, começaram a falar o que<br />
pretendiam fazer.<br />
M<strong>as</strong>, para o espectador, no começo, ficava<br />
a dúvida se Zé Maria era vilão ou um<br />
E por que você não tem?<br />
Porque não tenho a menor curiosida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> saber da vida dos outros A internet foi<br />
feita, para mim, para pesquisa, adoro ver<br />
cois<strong>as</strong> <strong>de</strong> turismo. E vivo muito bem com<br />
isso. Ainda sou <strong>de</strong> um bom livro, <strong>de</strong> jornais<br />
na minha mão. Me guio pelo respeito ao espectador.<br />
Fa ço o melhor possível, trabalho<br />
uma média <strong>de</strong> 11 hor<strong>as</strong> por dia. Não tenho<br />
problem<strong>as</strong> com opiniões contrári<strong>as</strong>.<br />
Quando fiz pro<strong>paga</strong>nda <strong>de</strong> carne, diziam:<br />
‘não esperava isso <strong>de</strong> você’. M<strong>as</strong> por que<br />
não? Comercial <strong>de</strong> remédio podia, <strong>de</strong> bebida<br />
alcoólica podia? Não faço pro <strong>paga</strong>nda<br />
disso. Conduzo minha carreira <strong>de</strong> uma maneira<br />
muito transparente<br />
Nos últimos tempos, <strong>as</strong> novel<strong>as</strong> d<strong>as</strong> 9<br />
têm tido uma queda <strong>de</strong> audiência que não<br />
está conseguindo recuperar...<br />
No Painel Nacional <strong>de</strong> Televisão (PNT),<br />
você vê <strong>as</strong> novel<strong>as</strong>... Por exemplo, Império<br />
veio com uma média final <strong>de</strong> 38 (pontos),<br />
Amor à Vida, com média final <strong>de</strong> 46. O que<br />
se vive é um novo momento em que se espalha<br />
audiência, n<strong>as</strong> multiplataform<strong>as</strong>. Sei<br />
aon<strong>de</strong> vocês querem chegar: ‘per<strong>de</strong>u audiência,<br />
frac<strong>as</strong>sou?’. Não é um frac<strong>as</strong>so uma<br />
novela que está com média <strong>de</strong> 26. Se você<br />
pegar os 20 program<strong>as</strong> com mais audiência<br />
na TV, qual é o primeiro? A novela d<strong>as</strong> 9 da<br />
Globo, é simples <strong>as</strong>sim.