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OGLOBO ● PROSA &VERSO ● PÁGINA 1-Edição: 16/01/2010 -Impresso: 13/01/2010 —22: 56 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
José Castello:
A escrita poética
do ensaísta Marco
Lucchesi ● 4
PROSA&VERSO
SÁBADO, 16 DE JANEIRO DE 2010
Uma controvérsia
imperial
Miguel Conde
Enviado especial • MADRI
Dopresidente do governo
espanhol ao diretor
do Corpo de Bombeiros
de Santiago, no
Chile, contam-se aos
milhares as autoridades
mobilizadas por
los bicentenarios. Os
200 anos do fim do império espanhol na
América estão sendo comemorados ao
todo por dez países, que, na melhor tradição
ibérica, bolaram um extenso calendário
oficial com 18 anos de festejos —
de 2009 a2026 —eum número interminável
de comissões para coordená-los.
Burocracia nenhuma parece capaz de padronizar,
noentanto, as maneiras como
os diferentes países envolvidos na comemoração
interpretam a data.
Na antiga Madre Patria, a Espanha, a
discussão é sobre o papel que o país deve
desempenhar numa festa que afinal
comemora sua expulsão do continente
americano. Declarando-se um coadjuvante
na celebração, o governo espanhol
tenta estabelecer paralelos entre osmovimentos
de independência e os ideais
que levaram à proclamação da constituição
de 1812 na própria Espanha.
— É nosso desejo acompanhar estes
países na celebração de sua independência,
coincidindo com o nascimento e a difusão
das ideias do liberalismo. Esperamos
que a data signifique um novo impulso
na comunidade iberoamericana em
direção a governos democráticos, à coesão
social e ao acesso ao conhecimento
— diz a primeira vice-presidente de Governo,
María Teresa Fernández de la Vega,
que preside a Comissão Nacional para
a Comemoração dos Bicentenários.
Dentro do próprio governo espanhol,
porém, há visões diferentes. Em Madri, o
Museu Rainha Sofia se prepara para receber
o seminário “Todos somos negros”,
cuja intenção é “impugnar a noção
dominante das comemorações”, explica
o diretor, Manuel Borja-Villel. Nesta
edição do Prosa &Verso,
intelectuais discutem o
que está em jogo na celebração
dos bicentenários.
Estudioso das relações
entre arte e política na Espanha,
o crítico Jorge Luis Marzo
afirma que as comemorações oficiais
reafirmam uma identidade hispânica
desmentida “diariamente pelas práticas
sociais dos países americanos”. Ohistoriador
Francisco Carlos Teixeira lembra
que as visões sobre o passado colonial se
alteram de país para país. E opesquisador
Walter Mignolo diz que os indígenas
do continente ainda lutam pelo protagonismo
político. Continua nas páginas 2 e 3
Cinema: A obra
de Scorsese vista
pelo seu mais fiel
analista ● 6
Arte de Marcelo
Entre o patriotismo,
o bolivarianismo e as
demandas indígenas,
as comemorações pelos
200 anos do fim do
domínio espanhol nas
Américas expõem
conflitos na avaliação
do legado colonial