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Dissertação Rafaela Sousa - CCHLA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA<br />

“ESTE LIVRO MUDARÁ SUA VIDA”:<br />

UMA ANÁLISE DA PERSUASÃO EM<br />

CAPAS DE LIVROS DE AUTO-AJUDA<br />

João Pessoa – PB<br />

Março de 2009<br />

RAFAELA CARLA SANTOS DE SOUSA


RAFAELA CARLA SANTOS DE SOUSA<br />

“ESTE LIVRO MUDARÁ SUA VIDA”:<br />

UMA ANÁLISE DA PERSUASÃO EM<br />

CAPAS DE LIVROS DE AUTO-AJUDA<br />

<strong>Dissertação</strong> apresentada à Banca Examinadora do<br />

Programa de Pós-Graduação em Lingüística da<br />

Universidade Federal da Paraíba, como exigência<br />

parcial para obtenção do título de MESTRE em<br />

Lingüística, sob orientação do Prof. Dr. Felix<br />

Augusto Rodrigues.<br />

João Pessoa – PB<br />

Março de 2009


<strong>Rafaela</strong> Carla Santos de <strong>Sousa</strong><br />

“ESTE LIVRO MUDARÁ SUA VIDA”:<br />

UMA ANÁLISE DA PERSUASÃO EM CAPAS DE LIVROS DE AUTO-AJUDA<br />

<strong>Dissertação</strong> apresentada à Banca Examinadora da<br />

Universidade Federal da Paraíba para obtenção do<br />

Título de Mestre em Lingüística pela<br />

Universidade Federal da Paraíba.<br />

Banca Examinadora:<br />

_______________________________________________________<br />

Prof. Dr. Felix Augusto Rodrigues - Orientador<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

_______________________________________________________<br />

Profa. Dra. Elinês de Albuquerque Vasconcelos e Oliveira<br />

Universidade Federal da Paraíba<br />

_______________________________________________________<br />

Profa. Dra. Sinara de Oliveira Branco<br />

Universidade Federal de Campina Grande<br />

31 de março de 2009<br />

João Pessoa – PB


À minha amada família.


AGRADECIMENTOS<br />

A Deus, pela saúde para enfrentar mais um desafio;<br />

Aos meus pais, Rafael e Zélia, pelo apoio e o carinho;<br />

Às minhas irmãs, Laura e Alice, pelas revisões e estímulo;<br />

Ao meu orientador, Prof. Dr. Felix Augusto Rodrigues, pela disponibilidade e paciência;<br />

Às minhas colegas de mestrado, pelas idéias compartilhadas;<br />

À Susana Narimatsu, pela capa da obra Mulheres Corajosas Sempre Vencem e<br />

Aos meus amigos pelas palavras de incentivo.


RESUMO<br />

O mercado de livros de auto-ajuda tem registrado um crescimento significativo, sendo atualmente<br />

um dos tipos de publicação mais vendidos. Na medida em que existem diversas obras disputando<br />

a atenção do consumidor, as editoras precisam empregar estratégias persuasivas que causem<br />

interesse em uma obra específica. As capas e contracapas são utilizadas como forma de atrair<br />

leitores e convencê-los de que um livro é especial e de que vale a pena ser comprado. Este estudo<br />

investiga as estratégias lingüísticas que baseiam a estrutura do discurso promocional presente nas<br />

capas de livros de auto-ajuda. Para tal, esta pesquisa se baseia nos meios de persuasão de<br />

Aristóteles, ethos, pathos e logos, em conjunto com outros estudos modernos sobre persuasão<br />

como Brown (1971), Malanga (1979), Sant’Anna (1996), Vestergaard e Schrøder (1996),<br />

Perelman (1997) e Sandmann (2001), entre outros, de forma a revelar como a língua constrói<br />

significado e influencia pensamentos e ações.<br />

Palavras-chave: Análise do Discurso. Persuasão. Auto-ajuda. Ethos. Pathos. Logos.


ABSTRACT<br />

The market of self-help books has had an astonishing growth recently and it is now one of the<br />

most sold kinds of publication. Self-help books promise economical, spiritual, emotional or<br />

health support. As there is a great amount of self-improvement guides available in bookshops<br />

competing for consumers' attention, publishers need to employ persuasive strategies to draw their<br />

interest. The front and back covers are used as a means of attracting potential readers and<br />

convincing them that a specific book is special and worth buying. This study focuses on the<br />

investigation of the persuasive linguistic strategies underpinning the structure of the promotional<br />

discourse widely occurring on the front and back covers of self-help books. To do so, this study<br />

draws on Aristotle’s three persuasion appeals, pathos, ethos and logos, together with other<br />

persuasion theories as Brown (1971), Malanga (1979), Sant’Anna (1996), Vestergaard e Schrøder<br />

(1996), Perelman (1997) e Sandmann (2001), as the analytical apparatus to unveil the ways<br />

language is used to make meaning and thus to influence others to react positively to the invisible<br />

appeal of the marketing.<br />

Keywords: Discourse Analysis. Persuasion. Self-Help. Ethos. Pathos. Logos.


Lista de Gráficos<br />

página<br />

Gráfico A - Explosão da auto-ajuda 15<br />

Gráfico B - Pesquisa da Câmara Brasileira do Livro 16<br />

Gráfico 1.1- Quem procura a auto-ajuda. 28<br />

Lista de Figuras<br />

página<br />

Figura A- Partes de uma capa. 18<br />

Figura B- Elementos persuasivos presentes em capas de livros de auto-ajuda. 19<br />

Figura 2.1- O triângulo da retórica. 37<br />

Figura 2.2- Os três elementos persuasivos de Aristóteles. 38<br />

Figura 2.3- Seguro Auto Mulher SulAmérica. 40<br />

Figura 2.4- Celular Samsung Omnia. 41<br />

Figura 2.5- Whisky Festival. 42<br />

Figura 2.6- Som Gradiente. 43<br />

Figura 2.7- Alca-Luftal. 44<br />

Figura 2.8- Colgate. 45<br />

Figura 2.9- Student Travel Bureau. 47<br />

Figura 2.10- Técnicas de persuasão de Brown X meios de persuasão de Aristóteles 48<br />

Figura 2.11- O centro óptico de um anúncio 51<br />

Figura 2.12- Fundamentos de um anúncio e os meios de persuasão. 55<br />

Figura 3.1- Título posicionado no centro óptico. 57<br />

Figura 3.2- Imagem posicionada no centro óptico. 57<br />

Figura 3.3- Ele simplesmente não está a fim de você. 63<br />

Figura 3.4- He’s just not that into you. 63<br />

Figura 3.5- O Que Toda Mulher Inteligente Deve Saber. 64<br />

Figura 3.6- The 100 Simple Secrets of Great Relationships. 67<br />

Figura 3.7- Os 100 Segredos dos Bons Relacionamentos. 67<br />

Figura 3.8- Find a Husband After 35. 68<br />

Figura 3.9- Como Encontrar um Marido Depois dos 35. 68<br />

Figura 3.10- What Happy People Know. 68<br />

Figura 3.11- Why Men Marry Some Women and Not Others. 69<br />

Figura 3.12- Por que os homens se casam com algumas mulheres e não com outras? 69<br />

Figura 3.13- The Dance of Anger. 72<br />

Figura 3.14 - Mudando os Padrões dos Relacionamentos Íntimos. 72<br />

Figura 3.15- Rich Dad, Poor Dad. 73<br />

Figura 3.16- Pai Rico, Pai Pobre. 73<br />

Figura 3.17- Transformando Suor em Ouro. 74<br />

Figura 3.18- Lições da Água. 74<br />

Figura 3.19- Jesus in Blue Jeans. 75<br />

Figura 3.20- Jesus de Jeans. 75<br />

Figura 3.21- Jesus, the Greatest Therapist Who Ever Lived. 75<br />

Figura 3.22- Jesus, o Maior Psicólogo que já existiu. 75<br />

Figura 3.23- Think Like Jesus. 76<br />

Figura 3.24- Pense Como Jesus. 76<br />

Figura 3.25- Lead Like Jesus. 76<br />

Figura 3.26- Lidere Como Jesus. 76


Figura 3.27- Jesus Life Coach. 77<br />

Figura 3.28- Jesus Coach. 77<br />

Figura 3.29- Estrutura do logos. 79<br />

Figura 3.30- Toxic Parents. 80<br />

Figura 3.31- You’re Broke Because You Want to Be. 80<br />

Figura 3.32- Purpose-Driven Life. 81<br />

Figura 3.33- Seja Líder De Si Mesmo. 81<br />

Figura 3.34- The Seven Spiritual Laws of Success. 83<br />

Figura 3.35- Influencing Like Jesus: 15 Biblical Principles of Persuasion. 83<br />

Figura 3.36- The 7 Habits of Highly Effective People. 84<br />

Figura 3.37- Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. 84<br />

Figura 3.38- Your Best Life Now. 84<br />

Figura 3.39- O momento é este! 84<br />

Figura 3.40- Crucial Conversations. 85<br />

Figura 3.41- Conversas Decisivas. 85<br />

Figura 3.42- The 100 Simple Secrets of Happy People. 86<br />

Figura 3.43- Os Segredos das Pessoas Felizes. 86<br />

Figura 3.44- The Secret. 86<br />

Figura 3.45- Produtividade Pessoal. 94<br />

Figura 4.1- Contracapa de Find a Husband After 35 98<br />

Figura 4.2- Explorando imagens. 99<br />

Figura 4.3- Explorando cores. 99<br />

Figura 4.4- Capa completa de O poder da paciência. 100<br />

Figura 4.5- Comparação da capa brasileira, a americana e as produzidas pelos alunos. 101<br />

Lista de Quadros<br />

Quadro 2.1- Construção de raciocínio na lógica formal e na retórica.<br />

página<br />

34<br />

Quadro 3.1- Qualificação dos autores na edição americana e na brasileira. 72<br />

Quadro 3.2- Outros títulos que utilizam o termo ‘Jesus’. 75<br />

Quadro 3.3- As diferentes aplicações dos ensinamentos de Jesus. 76<br />

Quadro 3.4- Termos referentes às promessas do livro. 87<br />

Quadro 3.5- Expressões utilizadas no lugar do termo ‘livro’. 88


Lista de Tabelas<br />

Tabela A- Pesquisa Gallup: Ao escolher livros para ler, qual a probabilidade de você escolher cada<br />

uma das seguintes categorias?<br />

Lista de Anexos<br />

página<br />

14<br />

página<br />

Anexo A- Itens presentes na capa, contracapa e orelhas. 114<br />

Anexo B- The 7 Habits of Highly Effective People, de Stephen R. Covey. 116<br />

Anexo C- Optimal Thinking, de Rosalene Glickman. 117<br />

Anexo D- Crucial Conversations, de Kerry Patterson et al. 118<br />

Anexo E- What Smart Woman Know, de Steven Carter e Julia Sokol. 119<br />

Anexo F- Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de Gustavo Cerbasi. 120<br />

Anexo G- A Revolução dos Campeões, de Roberto Shinyashiki. 121<br />

Anexo H- You´re Broke Because You Want to Be, de Larry Winget. 122<br />

Anexo I - How to Win Friends & Influence People, de Dale Carnegie. 123<br />

Anexo J- Getting Things Done, de David Allen. 124<br />

Anexo L- Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?, de Allan e Bárbara Pease. 125<br />

Anexo M- The Dance of Anger, de Harriet Lerner. 126<br />

Anexo N- Toxic Parents, de Susan Forward. 127<br />

Anexo O- Seja Líder de Si Mesmo, de Augusto Cury. 128<br />

Anexo P- O Segredo, de Rhonda Byrne. 129<br />

Anexo Q- Rich Dad, Poor Dad, de Robert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter. 130<br />

Anexo R- The Purpose-Driven Life, de Rick Warren. 131<br />

Anexo S- Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, de Augusto Cury. 132


SUMÁRIO<br />

página<br />

INTRODUÇÃO 12<br />

O fenômeno da auto-ajuda 12<br />

Objetivos 17<br />

Constituição do corpus e Metodologia 18<br />

CAPÍTULO 1 – O LIVRO DE AUTO-AJUDA 21<br />

1.1 Definindo o livro de auto-ajuda 21<br />

1.2 Breve história sobre o livro de auto-ajuda 24<br />

1.3 Perfil do leitor de auto-ajuda 28<br />

CAPÍTULO 2 – A PERSUASÃO 30<br />

2.1 Definindo persuasão 30<br />

2.2 Retórica: a arte de persuadir 31<br />

2.2.1 A concepção aristotélica de meios de persuasão 36<br />

2.3 As técnicas de persuasão na propaganda 39<br />

2.4 Técnicas persuasivas de Brown X Meios de persuasão de Aristóteles 46<br />

2.5 A persuasão da propaganda nas capas de livros de auto-ajuda 48<br />

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS CAPAS DE LIVROS DE AUTO-AJUDA 56<br />

3.1 Chamando atenção para a obra 56<br />

3.2 O apelo ao pathos 59<br />

3.3 O apelo ao ethos 66<br />

3.3.1 O ethos da obra 66<br />

3.3.2 O ethos do autor 71<br />

3.3.3 O apelo a Jesus 75<br />

3.4 O apelo ao logos 79<br />

3.4.1 Estabelecendo a primeira premissa: ‘eu tenho um problema’ 79<br />

3.4.1.1 A sobreposição de categorias 82<br />

3.4.2 Estabelecendo a segunda premissa: ‘o livro resolve meu problema’ 83<br />

3.4.2.1 Ampliando a abrangência da obra 89<br />

3.5 A linguagem não-verbal 91<br />

CAPÍTULO 4 – APLICAÇÃO EM SALA DE AULA 97<br />

4.1 Primeira atividade: reconhecendo o discurso de capa de livro de auto-ajuda 97<br />

4.2 Segunda atividade: explorando a linguagem não-verbal 99<br />

4.3 Terceira atividade: trabalhando a linguagem verbal 100<br />

4.4 Quarta atividade: produzindo uma capa 101<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS 102<br />

REFERÊNCIAS 104<br />

ANEXOS 113


INTRODUÇÃO<br />

O fenômeno da auto-ajuda<br />

12<br />

“Success can be learned and this book is a<br />

highly effective way to learn it”.<br />

(Charles Givens) 1<br />

Vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, competitivo e repleto de mudanças.<br />

Atualmente, para conseguir sucesso pessoal e profissional, é necessário possuir uma lista de<br />

atributos tais como: demonstrar equilíbrio emocional, ser produtivo, ter boa aparência e ser<br />

sociável.<br />

A modernidade introduz riscos, pouco conhecidos ou inteiramente desconhecidos em<br />

épocas anteriores e, quanto mais a tradição perde seu domínio, mais os indivíduos são forçados a<br />

escolher um estilo de vida a partir de uma diversidade de opções. Assim, existe uma tendência da<br />

sociedade refletir sobre si mesma, em um processo contínuo de redefinição de sua auto-<br />

identidade (GIDDENS, 2002).<br />

Dentre as mudanças vividas pela sociedade atual, Souza e Vieira (2008, p. 54) citam que<br />

os casamentos tradicionais perderam terreno, enquanto famílias formadas por filhos de<br />

várias uniões se tornaram mais comuns. No trabalho, os funcionários de perfil tradicional,<br />

especializados em sua função, deram lugar à exigência de que todos na empresa tenham<br />

habilidades múltiplas. Além do mais, a pressão da sociedade para obter sucesso na vida<br />

profissional a todo custo é tremenda.<br />

Diante das transformações na estrutura social, familiar e profissional da sociedade, as<br />

pessoas necessitam analisar suas posições e rever seus conceitos, tornando-se vulneráveis a viver<br />

uma angústia existencial. Na busca de suprir todos esses requisitos, cada vez mais pessoas<br />

procuram orientações, seja através de um terapeuta, um consultor financeiro ou um líder<br />

espiritual.<br />

Nesse contexto, uma área que cresce a cada dia é a da chamada auto-ajuda. O mercado da<br />

auto-ajuda engloba atividades como produções de vídeos, realizações de palestras e publicações<br />

de livros, que possuem o propósito de explicar como alguém pode melhorar sua vida através de<br />

esforço próprio.<br />

1 Citação presente na contracapa de The 7 Habits of Highly Effective People de Stephen R. Covey (Anexo B)


O fator cultural existente por trás da auto-ajuda é explicado pelo psicólogo Calligaris<br />

(2001) como sendo um tipo de escolha estritamente ligada à contemporaneidade, pois quanto<br />

mais uma sociedade é individualista, ocidentalizada, globalizada e avançada, mais espaço existe<br />

para a auto-ajuda. Segundo o psicólogo, nas sociedades pré-modernas os recursos de que o<br />

sujeito precisava para sua vida – psíquicos, técnicos e de saber – eram propostos pela<br />

comunidade e pela tradição, mas e a modernidade mudou isso de maneira radical.<br />

Segundo a empresa americana Marketdata, que avalia as maiores tendências culturais<br />

desde 1979, o mercado para auto-ajuda cresceu 50% entre 2000 e 2004, e a empresa estima que<br />

em 2008, esse mercado tenha envolvido um total de 12 bilhões de dólares (SALERNO, 2005).<br />

Dentre os produtos do mercado de auto-ajuda, a publicação de livros se destaca. Os livros<br />

de auto-ajuda podem ser definidos como obras de não-ficção que têm a proposta de explicar aos<br />

seus leitores como melhorar suas vidas através de esforço próprio, seja na área econômica,<br />

espiritual, física ou emocional.<br />

A psicanalista Groeninga (apud PETILLO e SOUSA 2005, p. 68), explica que “hoje,<br />

esses livros ocupam um lugar que, antigamente, as religiões ocupavam”, fato também citado por<br />

Marthe (2002, p. 116) que esclarece que<br />

em certa medida, a auto-ajuda acabou assumindo um papel que cabia à religião. ‘Como a<br />

religião já não molda os comportamentos no mundo ocidental, as pessoas estão buscando<br />

apoio para suas inquietações na auto-ajuda’, afirma o frei Antônio Moser, diretorpresidente<br />

da editora católica Vozes, que dedica 10% de seu catálogo aos livros do gênero.<br />

Além disso, o livro de auto-ajuda, possui algumas vantagens se comparado com a busca<br />

por ajuda de um profissional: o preço, a acessibilidade (sendo encontrado em livrarias ou até<br />

mesmo em supermercados) e a manutenção da privacidade daquele que está em busca de<br />

orientações (STARKER, 2007).<br />

A socióloga McGee (2005, p. 12) explica que em momentos de crises financeiras há o<br />

aumento da procura desse tipo de literatura. Ela esclarece que<br />

o grande crescimento desta publicação ocorre paralelamente à situação de salários<br />

estagnados bem como desestabilizadas oportunidades de emprego. [...] Um senso de<br />

segurança pessoal é incomum e a ansiedade é uma norma. Para administrar esta ansiedade,<br />

os indivíduos são aconselhados a não apenas trabalhar, mas também a investir em si<br />

próprios em um constante aprimoramento. 2<br />

2 As citações de autores de língua inglesa ao longo desse trabalho são traduções livres realizadas pela autora desta<br />

pesquisa. McGee (2005, p. 12): “The tremendous growth in self-help publishing parallels an overall trend of stagnant<br />

wages and destabilized employment opportunities. […] A sense of personal security is anomalous, while anxiety is<br />

the norm. To manage this anxiety, individuals have been advised not only to work harder but also to invest in<br />

themselves, manage themselves, and continuously improve themselves.”<br />

13


O principal objetivo da literatura de auto-ajuda é propor regras de conduta e fornecer<br />

conselhos (RÜDIGER, 1996) e, como afirmam Souza e Vieira (2008, p. 54), “espalhou-se com<br />

força na corrente cultural do nosso tempo uma febre por regras que, teoricamente, podem garantir<br />

sucesso no enfrentamento das mais diversas situações”.<br />

Para comprovar o sucesso de venda dessas obras, vejamos alguns dados relacionados ao<br />

mercado da auto-ajuda nos Estados Unidos e no Brasil:<br />

Uma pesquisa da Gallup, em dezembro de 2002 (Tabela A), mostrou os hábitos de leitura<br />

dos americanos. Aqueles que afirmaram ter lido pelo menos um livro no ano anterior foram<br />

questionados sobre qual tipo de obra eles tinham maior probabilidade de ler. Os sujeitos<br />

pesquisados podiam escolher entre 13 categorias (em ordem de classificação): (1) biografias ou<br />

livros sobre história, (2) auto-ajuda, (3) religião e teologia, (4) livros de suspense, (5) livros de<br />

mistério, (6) livros sobre eventos atuais, (7) literatura atual de ficção, (8) literatura clássica, (9)<br />

gerenciamento de negócios ou livros sobre liderança, (10) finanças pessoais, (11) ficção<br />

científica, (12) romance ou (13) livros de terror.<br />

Tabela A- Pesquisa Gallup: Ao escolher livros para ler, qual a probabilidade de você escolher cada uma das<br />

seguintes categorias?<br />

Position Book category<br />

% for “very likely” and “somewhat likely”<br />

1 Biographies or books about history 73<br />

2 Self-improvement books 59<br />

3 Religion and theology books 56<br />

4 Thriller or suspense novels 54<br />

5 Mystery novels 54<br />

6 Current events books 53<br />

7 Current literary fiction 51<br />

8 Classic literature 47<br />

9 Business management and leadership books 40<br />

10 Personal finance books 35<br />

11 Science fiction novels 33<br />

12 Romance novels 26<br />

13 Horror novels 23<br />

Fonte: Serviço de Notícias do Instituto Gallup de Pesquisa (Gallup Poll News Service). Social Series: Lifestyle –<br />

5 a 8 de dezembro de 2002 - Via email (grifo nosso).<br />

14


A pesquisa disponibilizou quatro opções de resposta para a chance de compra: ‘very<br />

likely’ (muito provável), ‘somewhat likely’ (provavelmente), ‘not too likely’ (pouco<br />

provavelmente) e ‘not likely at all’ (não compraria). Dentre os entrevistados, 59% responderam<br />

que ‘provavelmente’ ou ‘muito provavelmente’ selecionariam self-improvement books (livros de<br />

auto-ajuda), sendo o segundo tipo de literatura mais citado.<br />

Contudo, se considerarmos que as categorias que ficaram em nono (business management<br />

and leadership books - gerenciamento de negócios e livros sobre liderança) e em décimo lugar<br />

(personal finance books - livros sobre finanças pessoais) também podem ser consideradas livros<br />

de auto-ajuda (a ser demonstrado no segundo capítulo desta pesquisa), conclui-se que esse tipo de<br />

literatura posiciona-se em primeiro lugar quanto às chances de ser selecionado para leitura.<br />

No Brasil, também há um grande público adquirindo esse tipo de publicação. Segundo a<br />

Câmara Brasileira do Livro, o segmento cresceu 700% de 1994 a 2001. Já o mercado editorial<br />

como um todo, neste mesmo período de oito anos, aumentou 35% e, em 2001, 3,4 milhões de<br />

livros de auto-ajuda foram para o mercado (Gráfico A).<br />

Gráfico A- Explosão da auto-ajuda (MARTHE, 2002)<br />

Em 2003, foram produzidos 2,9 milhões de exemplares de 510 diferentes obras de auto-<br />

ajuda, o que representa um número significativo se comparado aos dados da pesquisa Retrato da<br />

Leitura no Brasil, realizada em 2001, a qual calculou haver no país apenas 26 milhões de leitores<br />

ativos (aqueles que tinham lido pelo menos um livro nos últimos três meses) (LOBO, 2005).<br />

Também é observada a crescente venda de livros de auto-ajuda em supermercados, como<br />

explica Teixeira (2006, p. 130) ao afirmar que<br />

15


a venda de livros está crescendo nos supermercados brasileiros e de maneira acentuada:<br />

trata-se do canal de vendas que mais se desenvolve no país. De acordo com uma pesquisa<br />

feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, por encomenda da Câmara<br />

Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o número de<br />

exemplares que passaram pelos caixas de supermercado cresceu 60% de 2004 para 2005<br />

[...] os livros de auto-ajuda, bíblias e outras obras religiosas circulam bem no<br />

supermercado.<br />

Cortina (2006) analisou as listas dos livros mais vendidos no Brasil de 1960 a 2000 e<br />

concluiu que o leitor brasileiro é grande consumidor de textos de auto-ajuda, pois dos 26 livros<br />

por ele citados, 14 podem ser considerados de auto-ajuda. Assim, de acordo com a pesquisa<br />

realizada, mais da metade de todos os livros mais vendidos no Brasil, no período de quarenta<br />

anos, têm a característica de literatura de auto-ajuda.<br />

O crescimento do setor esoterismo/auto-ajuda/espiritualidade fez com que a revista Veja,<br />

veículo de comunicação que costuma publicar listas dos mais vendidos do mercado editorial<br />

brasileiro, passasse a incorporar, a partir de 1996, um terceiro campo para abrigar este tipo de<br />

publicação, juntamente com os setores ficção e não-ficção (REIMÃO, 2001).<br />

Reimão (2001) destaca que o jornal norte-americano The New York Times foi o primeiro a<br />

abrir uma rubrica separada para esse tipo de escrito. Petillo e <strong>Sousa</strong> (2005, p. 65) acrescentam<br />

que “em 1983, o New York Times criou uma lista exclusiva para o que foi chamado de livros de<br />

aconselhamento. No texto que explicava a mudança, os editores avisaram que ‘sem essa nova<br />

categoria, até mesmo o trabalho mais atrativo de autêntica não-ficção poderia nunca mais<br />

aparecer na lista de mais vendidos’”.<br />

Tendo em vista o grande número de livros publicados e o sucesso de venda dessas obras,<br />

como as editoras podem fazer com que um potencial leitor se interesse e compre uma obra<br />

específica? Uma pesquisa realizada pelo website da Câmara Brasileira do Livro, demonstrada no<br />

Gráfico B, perguntou aos consumidores: “Em uma livraria, qual é o fator decisivo na escolha de<br />

um livro?”<br />

Gráfico B- Pesquisa da Câmara Brasileira do Livro. 550 votos de 30/05/06 a 03/06/2006<br />

16


O Gráfico B demonstra que o texto presente na quarta capa (ou contracapa) e orelhas é o<br />

item mais observado, com 41% de importância no processo de seleção de compra. Em segundo<br />

lugar, vem o título, que contabiliza 17% dos itens observados por um leitor em potencial. O nome<br />

do autor é considerado o terceiro item mais importante com 16%, em quarto lugar, a capa em si,<br />

com 13%. A exposição destacada corresponde a 9%, e o último item, com 4% de importância, é a<br />

indicação do atendente.<br />

Os dados acima demonstram que os quatro itens presentes na capa de um livro podem<br />

persuadir um leitor em potencial a adquirir uma obra específica. O texto presente na capa e<br />

contracapa, o título e a capa em si interferem no processo de sua aquisição, sendo determinantes<br />

no processo de compra. Tal fato evidencia a importância do estudo da linguagem utilizada nas<br />

capas como forma de persuasão.<br />

Objetivos<br />

Observando o grande volume de vendas de livros de auto-ajuda e verificando que as capas<br />

dessas obras são uma importante ferramenta de marketing, o presente estudo tem como objetivo<br />

investigar como a linguagem é utilizada na construção do discurso persuasivo das capas e<br />

contracapas de bestsellers de auto-ajuda com vistas a convencer um potencial leitor a adquirir<br />

uma obra específica.<br />

Esta pesquisa tem como objetivos específicos (i) identificar e descrever, nas capas e<br />

contracapas de livros de auto-ajuda, os elementos lingüísticos empregados na construção da<br />

linguagem persuasiva para atrair o leitor; (ii) examinar se as capas de diferentes áreas dentro da<br />

auto-ajuda (relacionamento, finanças, cuidados com o corpo etc) utilizam uma mesma fórmula de<br />

apelo à venda; e (iii) verificar se as capas de livros americanos e brasileiros utilizam as mesmas<br />

estratégias lingüísticas para construir o discurso persuasivo.<br />

17


Constituição do corpus e Metodologia<br />

Na presente pesquisa serão analisados os elementos persuasivos presentes em 55 capas de<br />

bestsellers de auto-ajuda publicados nos Estados Unidos e Brasil entre 1995 a 2008. Destas 55<br />

capas, 30 são de publicações americanas e 25 são brasileiras.<br />

A listagem de todas as capas é apresentada no Anexo A e nas referências. As imagens das<br />

capas foram coletadas nos websites e ou<br />

digitalizadas a partir dos originais dos livros.<br />

Uma capa de livro possui cinco partes: capa, contracapa (ou quarta capa), lombada (ou<br />

dorso) e orelhas (Figura A).<br />

Orelha Contracapa L<br />

O<br />

M<br />

B<br />

A<br />

D<br />

A<br />

Capa Orelha<br />

Figura A - Partes de uma capa<br />

Certas obras possuem dois tipos de edição, uma em hardcover (capa dura), mais caras; ou<br />

em paperback (em brochura) com preços mais acessíveis. Algumas possuem uma dust cover ou<br />

dust-jacket, papel que envolve a capa protegendo-a.<br />

Na análise do corpus desta pesquisa, foram detectados nove elementos presentes em capas<br />

de livros de auto-ajuda: (1) título; (2) subtítulo; (3) dados de venda; (4) informação sobre o autor;<br />

(5) exposição do problema; (6) promessas; (7) depoimentos (8) descrição da obra e (9) imagens,<br />

como o exemplo mostrado na Figura B.<br />

18


Informação sobre o(a) autor(a) Problema/Promessas Dados de Venda Imagens Título<br />

Imagens Depoimentos Subtítulo Descrição da obra<br />

Figura B- Elementos persuasivos presentes em capas de livros de auto-ajuda<br />

19


O título, como explica Gonzales (2003), é a mensagem grafada em letras maiores. Ele<br />

precisa ser original e criativo para que o leitor/consumidor pare para entender o sentido por ele<br />

delimitado e prossiga a leitura para conhecer o produto propagado.<br />

Além do título, alguns livros possuem um subtítulo que traz um complemento ou<br />

esclarecimento sobre a obra. O terceiro elemento de uma capa de auto-ajuda é a informação sobre<br />

o autor. Neste item podem ser citados: sua formação, área de atuação, premiações ou ainda<br />

informações sobre estrutura familiar e local de morada.<br />

Os dados de venda aparecem após o sucesso das primeiras edições, trazendo o número de<br />

livros vendidos ou a citação de que é um bestseller. A exposição de problema e as promessas são<br />

itens de grande importância e que diferem as capas de livros de auto-ajuda das capas de livros de<br />

outros tipos de publicações, como literatura de ficção, por exemplo.<br />

Os depoimentos são palavras proferidas por pessoas de renome, como empresários de<br />

sucesso ou autores de bestsellers que já tiveram acesso ao conteúdo do livro. Também são<br />

utilizados comentários de revistas ou jornais. Na descrição da obra são encontrados detalhes ou<br />

trechos da mesma. Por fim, as imagens, que são um forte elemento persuasivo, podem estar<br />

presentes na forma de desenho ou fotografia.<br />

Dentro desses nove elementos distribui-se o discurso persuasivo das capas que será<br />

analisado através de forma quantitativa e qualitativa, distribuindo a pesquisa em cinco capítulos.<br />

Após comprovar o grande fenômeno de vendas dos livros de auto-ajuda e de verificar a<br />

importância das capas para o marketing dessas obras, o capítulo um busca esclarecer a definição<br />

do livro de auto-ajuda e traçar o histórico e o perfil dos leitores deste tipo de publicação.<br />

O capítulo dois apresenta os meios de persuasão de Aristóteles (2005), teoria que guia<br />

esta pesquisa, relacionando-a com outros estudos sobre persuasão como Brown (1971), Malanga<br />

(1979), Sant’Anna (1996), Vestergaard e Schrøder (1996), Perelman (1997) e Sandmann (2001).<br />

Também no capítulo dois, autores com pesquisas voltadas para auto-ajuda também são<br />

estudados, tais como Starker (1989), Whelan (2004), Salerno (2005), McGee (2005) entre outros.<br />

O capítulo três analisa as capas de auto-ajuda no seu aspecto verbal e não-verbal e, por<br />

fim, o capítulo quatro aplica a teoria estudada e os resultados encontrados voltados para a prática<br />

de sala de aula de ensino de língua.<br />

20


CAPÍTULO 1 – O LIVRO DE AUTO-AJUDA<br />

1.1 Definindo o livro de auto-ajuda<br />

21<br />

“The part I really don’t understand<br />

is if you’re looking for self-help, why would<br />

you read a book written by somebody else?<br />

That’s not self-help, that’s help”.<br />

(George Carlin – comediante e autor americano) 3<br />

Antes de focar a pesquisa na construção da linguagem persuasiva presente nas capas de<br />

livros de auto-ajuda, é necessário definir esse tipo de publicação. Os livros de auto-ajuda, que se<br />

autodenominam guias, manuais, métodos, estratégias, lições etc, partem do princípio de que a<br />

mudança de vida depende do esforço do leitor para aplicar técnicas e trabalhar seu<br />

autoconhecimento, a fim de obter, como conseqüência, uma melhora de auto-estima e o sucesso<br />

almejado.<br />

A literatura de auto-ajuda pode ser definida como um conjunto de relatos e manuais que<br />

ensinam como conduzir a vida, sobrepujar a depressão, manejar com pessoas, exercitar a<br />

sexualidade, parar de fumar, enriquecer etc (RÜDIGER, 1997).<br />

Contudo, no decorrer da presente pesquisa, foi percebido que não existe um consenso para<br />

definir quais obras pertencem a esse tipo de literatura. Vilar (2004, p.188) afirma que<br />

uma rápida olhada na lista dos mais vendidos já é o suficiente para demonstrar como são<br />

variados os títulos que se enquadram nessa categoria e como não existem critérios formais,<br />

nem temáticos, para assim chamá-lo. Por isso, ao lado dos que convencionalmente são<br />

classificados como livros de auto-ajuda, encontramos autobiografias (de comerciantes de<br />

sucesso), livros sobre psicologia infantil, dietas, exercícios físicos, aconselhamentos de<br />

casais.<br />

Também não há uma padronização para nomear este tipo de publicação. Em inglês, são<br />

chamados de ‘self-help books’ 4 ; ‘how-to books’ 5 ; ‘advice books’ 6 ; ‘self-improvement books’ 7 ou<br />

3 Citado por McGee (2005, p.11)<br />

4 ‘livros de auto-ajuda’ termo encontrado em Amazon.com comércio eletrônico <br />

5 ‘livros how-to’ encontrado em Editora Frederick Fell <br />

6 ‘ livros de aconcelhamento’ encontrado na lista de bestsellers no website do jornal New York Times<br />

<br />

7 ‘livros de desenvolvimento pessoal’ Livraria Barnes and Noble


ainda ‘health, mind and body books’ 8 . Em português, são chamados de ‘literatura motivacional’,<br />

‘livros de desenvolvimento humano’ ou ‘livros de aconselhamento’ 9 .<br />

Stine (1997) difere livros do tipo self-help de livros how-to. Ela afirma que livros de self-<br />

help mostram aos leitores meios de superar problemas críticos ou de alcançar crescimento<br />

pessoal; já os how-to books mostram como adquirir habilidades específicas.<br />

Nesta pesquisa, não utilizo o termo how-to books, para denominar os livros de auto-ajuda,<br />

pois sigo a diferenciação explicada por Whelan (2004, p. 5) que esclarece que<br />

livros de culinária, enciclopédias, livros sobre esportes, manuais de instrução para<br />

conserto de carros, por exemplo, são textos de instrução do tipo how-to, que geralmente<br />

não focam questões emocionais e portanto não estão incluídos na definição de livros de<br />

auto-ajuda. Livros para dietas podem ser considerados de auto-ajuda porque o desejo por<br />

controlar o peso envolve fortes componentes psicológicos, apesar de que eles podem<br />

incluir técnicas para um exercício físico. O desejo por sucesso no trabalho também pode<br />

ser visto como uma busca de aprovação interpessoal, não simplesmente um manual how-to<br />

de como ganhar dinheiro, ao passo que um livro sobre como investir na bolsa de valores<br />

não seria considerado auto-ajuda. 10<br />

Dentro do processo de definir se certas obras classificam-se ou não no perfil de literatura<br />

de auto-ajuda, algumas críticas a esse estilo literário são comuns. Como exemplo, Boscov (2004,<br />

p. 69) que destaca que<br />

existe uma longa (e quase esquecida) tradição filosófica, que começa na Grécia clássica,<br />

empenhada em refletir sobre a vida e a morte – ou, mais precisamente, sobre como<br />

remover os obstáculos que nos impedem de viver e morrer bem. Há também uma<br />

corruptela moderna, e altamente lucrativa, dessa tradição – a auto-ajuda, que trocou<br />

a reflexão pelo tom e pelas simplificações dos manuais. (grifo nosso)<br />

Alves (2005, p. 14) explica que, “identifica-se a auto-ajuda como uma literatura cuja<br />

redação centra-se na prescrição de normas para um bem viver. Contudo, a aceitação pura e<br />

simples desta marca, como definição plena do estilo, provoca a confrontação com obras que têm<br />

neste aspecto a sua característica de escrita.”<br />

8 ‘livros para saúde, mente e corpo’ Jornal Inglês The Guardian <br />

9 Três termos encontrados no website da Livraria Melhoramentos <br />

10 Whelan (2004, p. 5): “Cookbooks, encyclopedias, sports books and car-repair manuals, for example, are<br />

instructional how-to texts, but are not generally focused on emotional or psychological issues, and as such are not<br />

included in the definition of self-help books. Diet and slimming books may be considered self-help texts because the<br />

desire for weight control has strong psychological components, even though they may include how-to exercise<br />

techniques, whereas a book on improving your swimming stroke probably would not have the same psychological<br />

subtexts and would not be included in this definition of self-help. The desire for success in the workplace likewise<br />

can be seen as a quest for interpersonal approbation, not simply a how-to manual for making money, whereas a book<br />

on how to invest in the stock market would not be considered self-help.”<br />

22


Obras de “literatura inspiracional” 11 como Perdas & Ganhos de Lya Luft 12 , e O<br />

Alquimista, além de outros livros de Paulo Coelho 13 , freqüentemente são classificadas como<br />

obras de auto-ajuda. Lya Luft, em entrevista a Boscov (2004), não aceitando tal classificação,<br />

defende-se dizendo que "a auto-ajuda pretende ensinar as pessoas a serem felizes. Eu quero<br />

provocar meus leitores e fazer com que eles pensem."<br />

A obra Perdas & Ganhos, de Lya Luft, é um exemplo de como ainda há dificuldades para<br />

definir se um livro pertence ou não à categoria de auto-ajuda. A revista Veja (2004), na seção<br />

“Veja recomenda”, traz um esclarecimento sobre a forma de classificação dos livros mais<br />

vendidos:<br />

Na edição passada de VEJA, a lista de livros mais vendidos registrou um engano: As<br />

Filhas da Princesa, da americana Jean P. Sasson, apareceu na categoria de ficção em vez<br />

de aparecer na de não-ficção, como ocorrera nas semanas anteriores e volta a ocorrer<br />

agora. O erro deveu-se ao fato de que a classificação da obra varia nas diversas livrarias<br />

consultadas por VEJA para elaborar seu ranking. Relato da opressão sobre as mulheres no<br />

mundo islâmico, As Filhas da Princesa baseia-se em depoimentos de uma mulher saudita.<br />

O livro, no entanto, tem um viés literário, que faz com que possa ser confundido com um<br />

romance – o que não é o caso.<br />

Assim como As Filhas da Princesa, outras obras que freqüentam a lista são difíceis de<br />

classificar e aparecem sob rubricas diferentes de livraria para livraria. Por isso, VEJA<br />

decidiu tornar mais estritos os critérios de organização da lista. Da categoria de ficção<br />

farão parte apenas romances e coletâneas de contos. Da categoria de não-ficção constarão<br />

ensaios e biografias, mas também livros de crônicas, cuja referência principal se encontra<br />

no noticiário e no registro de uma realidade mais imediata. Isso acontecerá ainda que o<br />

cronista lance mão de recursos ficcionais. Em auto-ajuda e esoterismo ficarão os<br />

manuais de aconselhamento e as obras de cunho religioso.<br />

Os novos critérios já se refletem na lista desta semana. Dois livros da gaúcha Lya Luft<br />

passam da categoria de ficção para a de não-ficção. Isso vai ao encontro do entendimento<br />

da própria autora, como dito no prefácio de Perdas & Ganhos e em conversa com VEJA.<br />

Lya, de fato, pratica uma espécie de ensaísmo moral – que não se confunde com a<br />

auto-ajuda, apesar do tema, nem com a ficção, apesar da linguagem literária. (grifo<br />

nosso)<br />

Em relação a Paulo Coelho, Marthe (2002, p. 117) destaca que embora o autor “renegue o<br />

rótulo, seus primeiros bestsellers ainda hoje são encontrados nas seções de esoterismo e auto-<br />

ajuda das livrarias”. Alves (2005) destaca que o escritor brasileiro, identificado popularmente e<br />

por estudiosos do tema como autor de auto-ajuda, disse que não se define, de forma alguma,<br />

como escritor de livros desse estilo, pois em seus livros, não fornece conselhos, sugestões nem<br />

prescrições de vida.<br />

11<br />

Minha tradução para “inspirational literature”, termo utilizado por STARKER (2007, p. 8)<br />

12<br />

Alves (2005, p. 15) e Vilar (2004).<br />

13<br />

Alves (2005, p. 15), Cortina (2006, p. 371) e Butler-Bowdon (2006, p. 28)<br />

23


Conde (2006) destaca que o termo auto-ajuda parece estar desgastado, assim, alguns<br />

editores preferem falar destes livros como literatura de motivação ou de aprimoramento pessoal.<br />

Ele afirma que é consenso que a expansão veloz do mercado de auto-ajuda no Brasil levou à<br />

publicação de muitos títulos de baixa qualidade. Assim, alguns autores tentam se distanciar do<br />

gênero, e procuram conferir legitimidade científica aos seus livros, que é o caso de Içami Tiba,<br />

autor de Quem ama, educa que calcula já ter vendido 1,5 milhão de livros desde o seu primeiro,<br />

publicado em 1985.<br />

Outro autor que não concorda ser enquadrado no gênero é Roberto Shinyashiki, autor de<br />

vários bestsellers, como O Sucesso é Ser Feliz. Apesar de não se importar mais em ser<br />

enquadrado no gênero, ele não concorda com essa classificação. Ele afirma que é psiquiatra e que<br />

quando fala sobre a mente humana, está no seu campo. Para ele, os livros de auto-ajuda, muitas<br />

vezes, são escritos por pessoas sem nenhum estudo e dão respostas prontas, mas seu objetivo é<br />

levantar questionamentos e provocar reflexões (CONDE, 2006).<br />

Contudo, Gustavo Cerbasi, autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos está há mais<br />

de cento e quarenta semanas na lista dos livros de auto-ajuda mais vendidos 14 . Segundo Conde<br />

(2006) Cerbasi não se incomoda em ser classificado como escritor de auto-ajuda e diz que todo<br />

livro que pretender transformar a pessoa, ajudá-la a levar uma vida melhor, é de auto-ajuda.<br />

A discussão se a auto-ajuda é um ramo literário menor ou não é contínua, mas sua posição<br />

no mercado só cresce e, como afirma Pereira (2005, p. 29), “se impõe socialmente de tal forma<br />

que os meios de comunicação passam a aceitá-la como uma literatura de massa que goza de<br />

legitimidade”.<br />

1.2 Breve história sobre o livro de auto-ajuda<br />

O livro considerado a primeira grande obra de auto-ajuda é a biografia de Benjamin<br />

Franklin 15 , um dos heróis da independência americana. Intitulado ‘Autobiography’, foi publicado<br />

postumamente em 1791 e conta como um homem simples conseguiu construir uma vida nobre<br />

marcada por grandes fatos. Apesar de inacabado, o livro ajudou a criar a moderna forma literária<br />

da autobiografia.<br />

14 143 semanas na lista de mais vendidos segundo Veja de 04 de fevereiro de 2009.<br />

15 De acordo com Marthe (2002)<br />

24


O livro que deu nome ao gênero, Self-Help, do médico escocês Samuel Smiles, foi<br />

publicado em 1859. Segundo Butler-Bowdon (2006, p. 289), “Smiles deu ao mundo uma obra<br />

inspiradora que fala de indivíduos que construíram suas vidas a partir da força de vontade”.<br />

Entretanto, para Samuel Smiles, segundo Rüdiger (apud Nunes, 2002, p. 7), self-help<br />

significava “força de vontade, aplicada ao cultivo dos bons hábitos. O conceito chave não era a<br />

realização ou prazer, mas caráter. A felicidade individual e o sucesso não era conseguir qualquer<br />

coisa na vida, mas formar um bom caráter”.<br />

Contudo, este conceito sofreu uma grande mudança, no decorrer dos anos e [com] as<br />

modificações ocorridas na sociedade, essa primeira tentativa acabou ficando pra trás. Na mesma<br />

época em 1859, na América, já começava o advento do personalismo, uma nova era, onde a<br />

autoconfiança e o autocontrole prevaleciam sobre o dever e os bons hábitos, e onde o pensamento<br />

controlaria a força. O movimento da auto-ajuda, acompanhando esses passos, passou a ensinar<br />

princípios psicotécnicos, com a finalidade de providencias a formação de indivíduos carismáticos<br />

e não mais a formação de um bom caráter (NUNES, 2002).<br />

Hoje em dia a literatura de auto-ajuda, de acordo com Nunes (2002, p. 6),<br />

baseia-se na teoria da capacidade mental do indivíduo, ou seja, prega que toda e qualquer<br />

pessoa possui capacidade para obter sucesso em todas as áreas, dependendo para isso,<br />

apenas de sua vontade. Esses manuais pretendem ensinar a maneira pela qual deve-se<br />

conduzir a vida, relacionar-se com outras pessoas, obter reconhecimento profissional, e até<br />

mesmo exercitar sua sexualidade.<br />

Historicamente, os momentos de pico da auto-ajuda coincidem com as épocas de crise e<br />

mudanças de comportamento. Os primeiros autores encontraram terreno fértil nos Estados<br />

Unidos da Grande Depressão. Dale Carnegie, depois de tentar em vão uma carreira de ator,<br />

começou a ganhar a vida ministrando cursos de comunicação. Seu livro How to Win Friends and<br />

Influence People 16 (1936) vendeu mais de 50 milhões de exemplares (MARTHE, 2002).<br />

De acordo com Butler-Bowdon (2006, p. 18) How to Win Friends and Influence People<br />

é um dos maiores best-sellers da história: mais de 15 milhões de exemplares vendidos em<br />

todos os principais idiomas do mundo. Até hoje mantém o posto de campeão de vendas na<br />

área do auto-aperfeiçoamento. No prefácio que fez para a edição de 1981, Dorothy<br />

Carnegie observou que ‘mais do que um fenômeno passageiro do período pós-depressão’,<br />

as idéias de seu marido atenderam as necessidades reais.<br />

Na era da globalização, segundo Marthe (2002, 119), “fazem sucesso os autores que<br />

ensinam como se adaptar às reviravoltas no ambiente corporativo”. No final dos anos 80 a obra<br />

16 Edição em português intitulada Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas<br />

25


The 7 Habits of the Highly Effective People 17 (1989), de Stephen Covey, é um dos fenômenos da<br />

moderna literatura de desenvolvimento pessoal.<br />

Na área de publicações para gestão de empresas, o grande destaque é a autobiografia de<br />

Jack Welsh, Jack: Straight from the Gut 18 (2001). Ao revelar suas táticas de gestão à frente da<br />

General Electric, Welsh, um dos executivos mais celebrados das últimas décadas, tornou-se<br />

também um guru do gênero.<br />

Contudo, o livro de auto-ajuda mais vendido, sendo o maior fenômeno editorial da<br />

história, é The Secret 19 (2006), da australiana Rhonda Byrne. Nas palavras da autora a obra<br />

baseia-se na idéia de que, se você visualizar na mente aquilo que deseja e fizer disso seu<br />

pensamento dominante, atrairá o que quer para a vida. (BYDLOWSKI, 2007)<br />

Já no Brasil, a publicação do gênero se popularizou depois dos anos 40, com o<br />

lançamento de Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas Dale Carnegie. De acordo com<br />

Rüdiger (1997, p. 2) “a expansão nas vendas só se deu, porém, a partir da era JK. [...] [Depois]<br />

surgiram autores nacionais. Lauro Trevisan, sozinho, vendeu cerca de um milhão e meio de<br />

livros, já tendo publicado mais de vinte títulos, desde que começou sua carreira, em 1980”.<br />

No mesmo ano, foi lançado no Brasil Minutos de Sabedoria (1980), um pequeno livro de<br />

bolso com frases de motivação. Segundo Marthe (2002, p. 122)<br />

seu autor, Carlos Torres Pastorino, um ex-padre que se converteu ao espiritismo, ficou<br />

famoso no Rio de Janeiro dos anos 70 com um programa de rádio que levava ao ar<br />

pequenas mensagens ao longo do dia. Lançado meses antes da morte de seu autor, Minutos<br />

de Sabedoria teve mais do que 8,5 milhões de exemplares vendidos [até 2002] e 1.000<br />

livrinhos ainda são comercializados diariamente no país.<br />

Também nos anos 80, destacou-se o médico Lair Ribeiro, um dos maiores autores de<br />

auto-ajuda no Brasil. Escreveu treze bestsellers (onze traduzidos em países da Europa e da<br />

América Latina). A Editora Objetiva já vendeu mais 1,5 milhão de exemplares de livros de Lair,<br />

entre títulos como O Sucesso Não Ocorre por Acaso. (Jornal CRP-SP, 2001)<br />

Nos anos 90, a produção de textos de auto-ajuda por autores brasileiros é impulsionada de<br />

modo efetivo, porque chega, rapidamente, a níveis de vendas incríveis, tornando-se, fora os<br />

bestsellers norte-americanos, a literatura de massa mais procurada. Sua classificação em jornais e<br />

revistas é sempre entre os dez mais vendidos e seu público-alvo é bastante diversificado<br />

(PEREIRA, 2005).<br />

17 Edição em português intitulada Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes<br />

18 Edição em português intitulada Jack Definitivo<br />

19 Edição em português intitulada O Segredo<br />

26


Pettilo e <strong>Sousa</strong> (2005, p. 67) afirmam que “de acordo com a Câmara Brasileira do Livro, a<br />

maior expansão no Brasil aconteceu na época do chamado ‘confisco’ do ex-presidente Fernando<br />

Collor de Mello. Em 1994, 107 títulos venderam 410 mil exemplares no país”.<br />

Atualmente há o crescimento de vendas de livros na área de desenvolvimento de carreira,<br />

como explica o Giardino (2005, p. D8)<br />

ao contrário do que aconteceu na década de 90 - quando houve um "boom" no consumo de<br />

obras recheadas com lições de vida ou de conselhos pessoais -, hoje cada vez mais ganham<br />

espaço livros voltados para carreira e negócios. "Os executivos descobriram que não dá<br />

mais para pensar no emprego eterno. As empresas estão inseridas em um cenário dinâmico<br />

e mutável, exigindo mais de seus executivos e gerando maior competitividade", analisa<br />

Marcos Hashimoto, professor da Business School São Paulo e especialista em<br />

empreendedorismo. "Por esta razão, os livros de desenvolvimento profissional passaram a<br />

ser tão procurados".<br />

Nos últimos anos, Roberto Shinyashiki também conquistou uma grande fatia desse<br />

mercado. Vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares de obras de aconselhamento como O<br />

Sucesso É Ser Feliz (1997) que vendeu 600 mil exemplares até a 30ª edição. Outros livros seus<br />

são Amar Pode Dar Certo (1988), Os Donos do Futuro (2000), A Revolução dos Campeões<br />

(1995). Seus livros são lançados pela Editora Gente, sendo ele o responsável por 52% do<br />

faturamento. Utiliza técnicas de reforço positivo em motivação de grupo e trabalha<br />

principalmente em empresas e na área esportiva (Jornal CRP-SP, 2001).<br />

Recentemente, o sucesso de vendas é o médico, psiquiatra e autor Augusto Cury. Um<br />

exemplo é a obra Nunca desista de seus sonhos (2004), há mais de 170 semanas na lista dos<br />

livros mais vendidos 20 . Outras obras do autor são Pais brilhantes, professores fascinantes (2003),<br />

A ditadura da beleza e a revolução das mulheres (2005), Você é insubstituível (2006) e a coleção<br />

Análise da Inteligência de Cristo (2006).<br />

Foram citadas aqui apenas algumas das várias obras existentes desde os primórdios do<br />

movimento de auto-ajuda que teve início nos Estados Unidos e que se popularizou no Brasil por<br />

volta de 1940. Outras poderiam ser citadas, mas o objetivo dessa sessão é apenas traçar um<br />

panorama desse fenômeno de publicação.<br />

1.3 Perfil do leitor de auto-ajuda<br />

20 178 semanas na lista de mais vendidos segundo Veja de 04 de fevereiro de 2009.<br />

27


O perfil do leitor de auto-ajuda pode ser analisado considerando a educação, a situação<br />

financeira, a idade e o sexo. Whelan (2004, p. 68) afirma que<br />

educação e situação financeira estão altamente relacionadas com a compra de livros de<br />

auto-ajuda e livros em geral. Uma pesquisa Gallup indicou que indivíduos com formação<br />

superior e condições financeiras acima da média mostraram maiores tendências para a<br />

compra de livros de auto-ajuda (...). Educação avançada pode exigir gratificações mais<br />

tardias e na busca do autocontrole essas pessoas são mais receptivas às mensagens desses<br />

livros. 21<br />

Whelan também afirma que a idade é um grande determinante no número e tipo de livros<br />

que um americano irá adquirir. Segundo ela, o Gallup relata que pessoas na faixa etária dos 40<br />

têm uma maior probabilidade de comprar um livro de auto-ajuda do que um jovem ou idoso.<br />

Em relação ao critério do sexo, ela ainda explica que o número de mulheres que compram<br />

este tipo de literatura é levemente mais alto, porém, o ponto que mais chama atenção é que os<br />

homens tendem a comprar livros com textos motivacionais. Por outro lado, as mulheres têm<br />

maior tendência a escolherem livros sobre dietas, estresse ou relacionamentos.<br />

As características do leitor americano são similares ao perfil do leitor brasileiro, como<br />

demonstrado no Gráfico 1.1:<br />

Gráfico 1.1- Quem procura a auto-ajuda (MARTHE, 2002).<br />

O Gráfico 1.1 mostra que as mulheres adquirem mais livros de auto-ajuda do que os<br />

homens. Além disso, observa-se que a maior parte dos consumidores encontra-se por volta dos 40<br />

21 Whelan (2004, p. 68): “education and income are highly correlated with the purchase of self-help books, and<br />

books in general. A 1988 Gallup poll reported that those with college degrees and higher-than-average incomes<br />

showed the highest self-help buying trends. (…) Advanced education may require delayed gratification and forwardlooking<br />

attitudes consistent with those who prioritize self-control and are most receptive to the messages of self-help<br />

books.”<br />

28


anos de idade, possuindo formação de ensino médio ou superior. A maioria dos consumidores<br />

pertence às classes C e B.<br />

A revista Exame (2006) realizou uma entrevista com trinta presidentes de empresas de<br />

sucesso, e 57% disseram ter lido pelo menos um livro nos últimos 12 meses. Ainda em relação ao<br />

hábito de leitura de executivos, uma pesquisa realizada por Zveilbil (2007) destaca que,<br />

os livros de auto-ajuda profissional constituem o mais recente fenômeno do setor editorial<br />

brasileiro. (...) A receptividade é tão grande que muitas editoras estão aumentando os<br />

lançamentos na área, também chamada light business. Cerca de 95% do catálogo de títulos<br />

da Sextante, que detém os direitos do “Monge e o Executivo”, é composto por livros de<br />

auto-ajuda profissional. Graças a esse foco, a editora cresceu 60% nos últimos dois anos.<br />

Em geral, os livros são indicados ou recomendados pelos colegas de trabalho, amigos e<br />

parentes. Muitos também escolhem os livros pela indicação de revistas, na internet ou<br />

mesmo sem critérios: simplesmente vão à livraria e compram o livro com o tema ou<br />

título mais interessante. Entre os mais citados estão “O Monge e o Executivo”, “Quem<br />

Mexeu no Meu Queijo?”, “Pai Rico, Pai Pobre”, “A Arte da Guerra” e “O Gerente<br />

Minuto”. Os autores mais lembrados são Lair Ribeiro, Içami Tiba, Roberto Shinyashiki e<br />

Luis Marins. (grifo nosso)<br />

Pode-se concluir, portanto, que a auto-ajuda atende a públicos de diferentes sexos, idades<br />

e classes sociais e, de acordo com Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p. 23), “o conhecimento<br />

daqueles que se pretende conquistar é, pois, uma condição prévia de qualquer argumentação<br />

eficaz”.<br />

Dessa forma, as editoras buscam definir previamente o perfil do leitor em potencial<br />

referente à determinada obra, para, posteriormente, elaborar sua capa, com elementos persuasivos<br />

que atinjam o púbico almejado. Esses elementos persuasivos serão trabalhados no capítulo três.<br />

29


CAPÍTULO 2 – A PERSUASÃO<br />

2.1 Definindo persuasão<br />

30<br />

“Would you persuade, speak of interest, not of reason”<br />

(Benjamin Franklin)<br />

A presente pesquisa busca investigar as estratégias de persuasão presentes em capas de<br />

livros de auto-ajuda, portanto, faz-se necessário, primeiramente, definir o que seria persuasão.<br />

Para Camocardi (2003, p. 33), persuasão é “o processo pelo qual buscamos convencer os outros<br />

de nossas idéias, de modo a influenciar seu pensamento e seu comportamento”.<br />

Somos envolvidos por atos persuasivos todos os dias, em vários momentos e de várias<br />

formas, mas muitas vezes não nos damos conta deste fato. Petty (1996, p. 3) destaca que<br />

o processo de persuasão é um aspecto tão presente em nosso dia-a-dia que geralmente não<br />

notamos sua ocorrência. Desde o momento em que somos acordados de manhã pelas<br />

vozes no rádio-despertador (que está provavelmente informando-o como estar perfumado,<br />

livre de caspas e com dentes brancos), até o momento de ir dormir, você está exposto a<br />

centenas de tentativas de ser influenciado. Quando você toma seu café da manhã<br />

(enquanto lê as costas da caixa do cereal, ou dá uma olhada no anúncio de um candidato à<br />

presidência no jornal), ao pegar o ônibus para a escola ou pro trabalho (vendo vários<br />

outdoors no caminho), ao fazer compras (e o vendedor diz como você fica bem na roupa<br />

que está provando), ao falar com um amigo (o qual o diz quão bom é um novo álbum<br />

lançado), ou ainda quando vai ao cinema (onde há traillers para futuros filmes), alguém<br />

sempre tentará mudar sua opinião. Até mesmo o domingo não é um dia de folga para não<br />

ser persuadido: neste dia milhares de ministros de igrejas buscam incutir-nos certos<br />

valores. 22<br />

Ao visitarmos uma livraria (ou outro local onde há livros para vender, como bancas de<br />

revistas e supermercados), nos deparamos com mais uma tentativa de persuasão: a linguagem<br />

presente nas capas de livros. As capas objetivam chamar nossa atenção, contendo um discurso<br />

22 Petty (1996 p. 3): “The process of persuasion is such an ever-present aspect of our daily lives that we often fail to<br />

even notice its occurrence. From the moment you are awakened in the morning by the friendly voices on the<br />

clockradio (who are likely telling you how to smell good, get rid of your dandruff, have whiter teeth) until you go to<br />

bed at night, you may have been exposed to over a hundred influence attempts. As you eat your breakfast (while<br />

reading the back of the cereal box or glancing at a newspaper ad for a presidential candidate), walk or ride the bus to<br />

school or work (and see various billboards along the way) go shopping (where the sales clerk tells you how<br />

wonderful the sweater looks that you are trying on), talk to a friend (who tells you how good a new record album is),<br />

or go to a movie (where there will be previews of future movies), somebody is attempting to get you to change your<br />

mind of something. Even Sunday is not a day of rest from persuasion: on this day, thousands of ministers deliver<br />

persuasive messages in an attempt to inculcate certain values”.


que busca nos convencer de que vale a pena adquirir o livro que elas descrevem. Elas precisam<br />

conter um discurso de venda e funcionar como uma propaganda.<br />

Alguns autores, a exemplo de Abreu (1999), diferem o termo ‘persuadir’ do termo<br />

‘convencer’. Para Abreu (1999, p. 25)<br />

convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse<br />

alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é<br />

sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que<br />

desejamos que ele realize.[...] Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não<br />

conseguimos persuadi-las. Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e,<br />

apesar disso, ele continuar negligenciando suas tarefas escolares. Podemos convencer um<br />

fumante de que o cigarro faz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar fumando.<br />

Esta diferença entre os dois termos é comentada por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996,<br />

p. 30) ao destacarem que “para quem se preocupa com o resultado, persuadir é mais do que<br />

convencer [...] em contrapartida para quem está preocupado com o caráter racional da adesão,<br />

convencer é mais do que persuadir”.<br />

A diferenciação entre os dois termos é subjetiva e, como dizem Perelman e Olbrechts-<br />

Tyteca (1996, p. 33), “nosso ponto de vista permite compreender que o matiz entre os termos<br />

convencer e persuadir é sempre impreciso e que, na prática, deva permanecer assim, pois o modo<br />

como o orador imagina os auditórios é muito incerta”.<br />

Dessa forma, este trabalho considera os dois termos como sinônimos, assim como o<br />

fazem outros autores que aqui serão citados, a exemplo de Simons (1976 apud O’KEEFE, 2002,<br />

p. 2). Ele explica que persuasão é “comunicação humana com o objetivo de influenciar os outros<br />

pela modificação de suas crenças, valores ou atitudes”. 23 Simons considera que persuadir refere-<br />

se tanto ao campo das idéias como ao das ações.<br />

2.2 Retórica: a arte de persuadir<br />

Aprofundando a análise do ato de persuadir, Citelli (2002, p. 7) afirma que “falar em<br />

persuasão implica, em algum modo, retomar uma certa tradição do discurso clássico, [...] visto<br />

que a preocupação com o domínio da expressão verbal nasceu entre os gregos”.<br />

23 Simons (1976 apud O’KEEFE, 2002, p. 2): [persuasion is] “human communication designed to influence others by<br />

modifying their beliefs, values, or attitudes”.<br />

31


Dentro dos estudos clássicos, Aristóteles (2005, p. 33) define que “retórica é a faculdade<br />

de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão”. Para melhor<br />

compreender como ocorre a construção do raciocínio dentro da retórica, vejamos a comparação<br />

entre lógica formal e retórica.<br />

A lógica formal e a retórica são modos básicos de raciocínio que não se excluem<br />

mutuamente, nem se sobrepõem. Na lógica formal o raciocínio é conduzido por demonstração<br />

analítica, o silogismo (SANTOS, 2005).<br />

Silogismo é uma dedução formal tal que, posta duas proposições, chamadas premissas,<br />

delas, por inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão. 24<br />

Exemplo de silogismo:<br />

Exemplo 2:<br />

Premissa 1: Todo A é B.<br />

Premissa 2: Todo B é C.<br />

Conclusão: Logo, todo A é C.<br />

Premissa 1: Todos os homens são mortais.<br />

Premissa 2: Pedro é homem.<br />

Conclusão: Logo, Pedro é mortal.<br />

Na lógica formal, uma demonstração é “fundada em proposições evidentes (provas<br />

válidas derivadas de premissas universais) que conduzem o pensamento a uma conclusão<br />

verdadeira” (SANTOS, 2005, p. 87). No exemplo supracitado, as premissas ‘Todos os homens<br />

são mortais’ e ‘Pedro é homem’, são verdadeiras. Assim, temos uma conclusão também<br />

verdadeira.<br />

Já na retórica, segundo Santos (2005, p. 87), o raciocínio é expresso “através de<br />

argumentos com base em enunciados possíveis, dos quais se poderiam extrair conclusões<br />

verossímeis”.<br />

Na construção do raciocínio retórico, é utilizado um tipo de silogismo chamado<br />

entimema. Murcho (2003) afirma que o entimema é um argumento com uma premissa não<br />

formulada, chamada de ‘premissa implícita’.<br />

24 Dicionário Novo Aurélio Século XXI, p. 1854.<br />

32


Aristóteles (2005, p. 35) explica que o entimema “compõe-se de proposições pouco<br />

numerosas [...], pois, se uma das proposições é conhecida, não é mister enunciá-la: o ouvinte<br />

restabelece-a por si próprio”.<br />

Murcho (2003) cita um exemplo de entimema 25 : Antônio deve ser despedido porque<br />

roubou dinheiro público.<br />

Premissa 1: Antônio roubou dinheiro público.<br />

Premissa 2: Todas as pessoas que roubam dinheiro público devem ser<br />

despedidas. (premissa implícita)<br />

Conclusão: Antônio deve ser despedido.<br />

Murcho (2003) explica que a premissa implícita do argumento ‘Antônio devia ser<br />

despedido porque roubou dinheiro público’ é razoavelmente clara: ‘Todas as pessoas que roubam<br />

dinheiro público devem ser despedidas’. Observa-se que essa premissa é uma opinião e não uma<br />

verdade universal.<br />

Murcho (2003) menciona um outro exemplo onde uma premissa é uma opinião passível<br />

de questionamentos. No exemplo: A droga deve ser proibida porque provoca a morte.<br />

Premissa 1: A droga provoca morte.<br />

Premissa 2: Tudo o que provoca a morte deve ser proibido. (premissa<br />

implícita)<br />

Conclusão: A droga deve ser proibida.<br />

Em relação ao exemplo acima, se a premissa implícita for o princípio geral de que ‘tudo o<br />

que provoca a morte deve ser proibido’, o seu locutor está obrigado a aceitar, por exemplo, que a<br />

condução de automóveis deve também ser proibida (MURCHO, 2003). Assim, cabe ao ouvinte<br />

detectar premissas implícitas e analisar a validade delas.<br />

Aristóteles (2005, p. 37) explica que o entimema é “aquele do qual resulta uma conclusão,<br />

quando as premissas são conformes com a opinião”. Contudo, uma opinião de uma audiência,<br />

não é necessariamente a mesma de outro tipo de outra. Daí a importância de se conhecer<br />

previamente a quem se quer persuadir, para que sejam elaborados raciocínios que partam de<br />

opiniões compartilhadas pelo público-alvo.<br />

<strong>Sousa</strong> (2001, p. 18) explica que o entimema<br />

parece um silogismo mas não é, pois só do ponto de vista formal mantém semelhanças<br />

com o silogismo científico. [...] A grande diferença reside nas suas premissas que,<br />

contrariamente ao silogismo científico, não são necessariamente, nem universais, nem<br />

25 Para facilitar a compreensão, o exemplo foi adaptado para português brasileiro. No original lê-se: O António devia<br />

ser despedido porque roubou dinheiros públicos.<br />

33


verdadeiras. O entimema parte de premissas apenas verossímeis, que verificam em muitos<br />

casos e são aceites pela maioria das pessoas, principalmente pela maioria dos respectivos<br />

auditórios.<br />

Em uma propaganda voltada para professores temos dois exemplos de entimema 26 .<br />

Se você é professor, leia este anúncio. Ele pode mudar a vida de seus alunos.<br />

E ainda:<br />

Premissa 1: Se você é professor, leia este anúncio.<br />

Premissa 2: Ora, eu sou professor. (premissa implícita)<br />

Conclusão: Logo, devo ler este anúncio.<br />

Premissa 1: Este anúncio pode mudar a vida de meus alunos.<br />

Premissa 2: Ora, eu quero mudar a vida de meus alunos. (premissa<br />

implícita)<br />

Conclusão: Logo, devo ler este anúncio.<br />

De forma a esclarecer as bases e o objetivo da retórica, o Quadro 2.1 compara a lógica<br />

formal e a retórica:<br />

recurso característico<br />

Lógica Formal Retórica<br />

silogismo<br />

(as premissas são verdades universais)<br />

entimema<br />

(as premissas são opiniões)<br />

intenção ensino persuasão<br />

efeito ciência convencimento<br />

Quadro 2.1- Construção de raciocínio na lógica formal e na retórica (adaptado de BRANDÃO, 2008)<br />

No Quadro 2.1, tem-se que o recurso característico da lógica formal é o silogismo (que<br />

possui premissas baseadas em verdades universais), enquanto que o recurso da retórica é o<br />

entimema (baseado em opiniões). A intenção da lógica formal é o ensino, enquanto que, a da<br />

retórica é a persuasão. O efeito da lógica formal é a ciência, já o da retórica é o convencimento.<br />

A retórica, como afirma Perelman (1997, p. 70), “difere da lógica pelo fato de se ocupar<br />

não com a verdade abstrata, categórica ou hipotética, mas com a adesão. Sua meta é produzir ou<br />

aumentar a adesão de um determinado auditório a certas teses e seu ponto inicial será a adesão<br />

desse auditório a outras teses”.<br />

26 Exemplo retirado de Paulo (2005)<br />

34


Para Aristóteles, as duas formas distintas de raciocínio, lógica formal e retórica, “tinham<br />

igual importância, visto que resultantes de métodos próprios de conduzir o raciocínio”<br />

(SANTOS, 2005, p. 87). Contudo, como a retórica não tem “como objeto o verdadeiro, mas o<br />

opinável” (PERELMAN, 1997, p. 66), ela passou tempos sem ter destaque, como explica Santos<br />

(2005, p. 88)<br />

a argumentação dialética – retórica – deixou de merecer dos filósofos a mesma atenção<br />

dispensada à demonstração analítica – lógica formal – à medida em que, por influência do<br />

rigor de cristianismo e do racionalismo, passa a representar uma forma de raciocínio<br />

menos confiável, ligada a sofismas, ao discurso vazio, enquanto que sua irmã ocupava-se<br />

com a relevância do rigor de métodos científicos para se chegar ao conhecimento (grifo do<br />

autor).<br />

Esta concepção de retórica também é encontrada no Dicionário Novo Aurélio (1999, p.<br />

1760) que traz, além da definição aristotélica, o conceito de retórica como “adornos empolados<br />

ou pomposos de um discurso. Discurso de forma primorosa, porém vazio de conteúdo”. Porém,<br />

esta é uma visão deturpada da retórica como vista por Aristóteles. Papa (2006, p. 28) explica que<br />

na Antigüidade, os filósofos viam com ceticismo a Retórica, dizendo-a produtora de<br />

discursos enganosos, artificiosos, simulados. Parece-nos que essa crença persiste para<br />

muitos, mesmo hoje em dia, pois é comum ouvirmos, principalmente de políticos em<br />

época de campanhas eleitorais, expressões do tipo chega de retórica, sua retórica<br />

obscurece a razão, fulano só tem retórica, etc. Percebemos, com isso, o quão distante<br />

está essa Retórica contemporânea da Retórica de concepção aristotélica, que representava<br />

a síntese dos conhecimentos humanos, uma verdadeira ciência (grifo do autor).<br />

Apesar da retórica ter sido esquecida por muitas gerações de filósofos, seu conceito é<br />

resgatado pelo pensador belga Chaïm Perelman, na segunda metade do século XX. Perelman<br />

reabilita a retórica e coloca em pauta a importância desse processo de comunicação (PAPA,<br />

2006).<br />

Amossy (2008, p. 19) afirma que Perelman “inovou o estudo da retórica ao mostrar o<br />

lugar central, em diversas disciplinas (do direito à filosofia, passando pela literatura) da arte de<br />

persuadir, ou o conjunto dos meios verbais destinados a obter ou reforçar a adesão do auditório às<br />

teses submetidas a seu assentimento”. Esta pesquisa destaca as idéias de Perelman sobre a<br />

importância da retórica e suas idéias em relação à importância da adesão do auditório.<br />

Dentro dos estudos da retórica, definida por Amossy (2008, p. 10) como “a arte de<br />

persuadir”, a presente pesquisa também explora a idéia aristotélica de que são três meios os<br />

meios de persuasão: ethos, pathos e logos, a serem detalhados a seguir, na subseção 2.2.1.<br />

35


2.2.1 A concepção aristotélica de meios de persuasão<br />

Como citado anteriormente, para Aristóteles (2005, p. 33), “retórica é a faculdade de ver<br />

teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão”. Para o pensador grego, a<br />

técnica retórica consiste em ‘provas’, ‘meios’ ou ‘recursos persuasivos’ de que se vale o orador<br />

para convencer o auditório.<br />

Dentre as provas empregadas pela persuasão, há aquelas que “não dependem da arte”<br />

(meios não-artísticos) e as “dependentes da arte” (meios artísticos). Os meios não-artísticos de<br />

persuasão são, segundo <strong>Sousa</strong> (2001, p. 17) “os que existem independentemente do orador: leis,<br />

tratados, testemunhas, documentos, etc”.<br />

Os meios de persuasão artísticos são aqueles que podem ser fornecidos, como afirma<br />

Aristóteles (2005. p. 33), “pelo método e por nossos próprios meios”, ou seja, são fornecidos pelo<br />

discurso.<br />

Segundo Aristóteles (2005, p. 33), os meios de persuasão fornecidos pelo discurso<br />

“distinguem-se três espécies”: o caráter do orador (ethos), a emoção despertada pelo orador nos<br />

ouvintes (pathos) e o próprio discurso, pelo que ele demonstra ou parece demonstrar (logos).<br />

Ethos é o apelo para a credibilidade. Segundo Aristóteles (2005, p. 33), “obtém-se a<br />

persuasão por efeito do caráter moral, quando o discurso procede de maneira que deixa a<br />

impressão de o orador ser digno de confiança. As pessoas de bem inspiram confiança mais<br />

eficazmente e mais rapidamente em todos os assuntos, de um modo geral”.<br />

<strong>Sousa</strong> (2001, p. 17) menciona que “sem dúvida o carácter do orador é fundamental, pois<br />

uma pessoa íntegra ganha mais facilmente a confiança do auditório, despertando nele maior<br />

predisposição para ser persuadido”.<br />

Pathos é o apelo para a emoção do ouvinte, pois “obtém-se a persuasão nos ouvintes,<br />

quando o discurso os leva a sentir uma paixão, porque os juízos que proferimos variam,<br />

consoante experimentamos aflição ou alegria, amizade ou ódio” (ARISTÓTELES, 2005, p. 33)<br />

Ainda quanto ao pathos, <strong>Sousa</strong> (2001, p. 17) acrescenta que<br />

tem de se reconhecer que a emoção que o orador consiga produzir nos seus ouvintes pode<br />

ser determinante na decisão de serem a favor ou contra a causa defendida. Se o orador<br />

suscita nos juizes sentimentos de alegria ou tristeza, amor ou ódio, compaixão ou irritação,<br />

estes poderão decidir num sentido ou no outro.<br />

36


Logos corresponde ao campo da retórica que estuda como o raciocínio lógico funciona<br />

para convencer da validade de um discurso. Aristóteles (2005, p. 33) explica que “é pelo discurso<br />

que persuadimos, sempre que demonstrarmos a verdade ou o que parece ser a verdade”. É o uso<br />

de argumentos lógicos e demonstração de evidências. O logos retórico é constituído por<br />

entimemas, explicados na seção anterior.<br />

A tríade ethos, pathos e logos é representada na Figura 2.1:<br />

Pathos<br />

(apelo para o emocional da audiência)<br />

Ethos<br />

(credibilidade do orador)<br />

Logos<br />

(lógica da mensagem)<br />

Figura 2.1 - O triângulo da retórica (traduzido de BURNISKE, 2007, p.11)<br />

Aristóteles (1998, p. 175) resume a tríade ao afirmar que “todos homens, ao fazerem um<br />

juízo, são persuadidos ou porque são tomados por uma certa emoção, ou porque consideram que<br />

o orador possui certas qualidades, ou porque houve uma demonstração concludente”.<br />

Os três meios de persuasão ocorrem simultaneamente e como explica Eggs (2008, p. 41)<br />

o peso dessas três provas é relativo, uma vez que depende do gênero oratório, ou, em uma<br />

linguagem mais moderna, do tipo de texto. [...] Se a disposição afetiva está ligada ao<br />

ouvinte, seria inexato concluir que ele se deixa convencer unicamente pelo pathos –<br />

conclusão que seria necessariamente falsa, uma vez que o ouvinte se deixa convencer, por<br />

definição, pelas três provas, logos, ethos e pathos.<br />

Qualquer pessoa que domine esses três elementos é, em tese, capaz de persuadir, como<br />

afirma Aristóteles (2005, p. 34) ao mencionar que<br />

uma vez que as provas são obtidas por estes três meios, é manifesto que delas pode lançar<br />

mão todo aquele que seja capaz de deduzir por meio do silogismo, de encarar teoricamente<br />

os costumes e as virtudes, e, em terceiro lugar, de conhecer as paixões, a natureza e a<br />

qualidade de cada uma delas, sua origem e desenvolvimento no indivíduo.<br />

Contudo, esse domínio da arte retórica (com os três meios persuasivos) pode ser utilizado<br />

das mais variadas formas, com fins virtuosos ou não. Quanto àqueles que a usam para ludibriar,<br />

Aristóteles (2005, p. 34) menciona que eles são “levados pela ignorância, por impostura, ou por<br />

outros motivos inerentes a natureza humana”.<br />

É verdade que a retórica pode sim ser utilizada com objetivos desonestos, mas Perelman<br />

(1997) crê que ela não seja apenas um expediente que se dirige aos ingênuos e aos ignorantes.<br />

37


Para o autor, há áreas como a da argumentação religiosa, a da educação moral ou artística, a da<br />

filosofia e a do direito, em que a argumentação tem que ser retórica, pois os raciocínios da lógica<br />

formal podem não ter conteúdo que baste para sustentá-las.<br />

A retórica pode ser utilizada nas mais diversas áreas como na política, na religião, na<br />

filosofia, no direito ou na propaganda, sendo uma ferramenta para conquistar poder, mudar<br />

opiniões e influenciar atitudes.<br />

Adaptando os termos mencionados por Aristóteles (2005), para o foco desta pesquisa,<br />

‘orador’ e ‘ouvinte’ correspondem a ‘obra’ e ‘leitor’. Esta adaptação é possível, pois, como<br />

explicam Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996, p. 70) a “terminologia utiliza os termos ‘orador’ e<br />

‘auditório’, [...] por mera comodidade de exposição, e que se devem englobar sob esses<br />

vocábulos todos os modos de expressão verbal, tanto fala quanto escrita”.<br />

Assim, na análise das capas de livros de auto-ajuda, pode-se representar a tríade dos<br />

meios persuasivos como exposto na Figura 2.2, onde ethos é a credibilidade da obra, pathos é o<br />

apelo ao emocional do leitor e logos é a lógica do discurso da capa.<br />

Pathos<br />

(apelo para a emoção do leitor)<br />

Ethos<br />

(credibilidade da obra)<br />

Logos<br />

(lógica do discurso da capa)<br />

Figura 2.2 - Os três elementos persuasivos de Aristóteles,<br />

adaptados ao discurso das capas de auto-ajuda.<br />

Os modos de persuasão em capas de livros de auto-ajuda, mostrados na Figura 2.2, apesar<br />

de aqui expostos separadamente, ocorrem de forma concomitante. Uma capa persuasiva pode<br />

trazer uma mensagem digna de confiança (ethos), que contém aspectos que atinjam pessoas<br />

devido ao apelo emocional (pathos) e que possui um discurso lógico (logos).<br />

A forma como estes três meios de persuasão aristotélicos se manifestam nas capas de<br />

livros de auto-ajuda será demonstrada na análise do corpus desta pesquisa, a ser tratada no<br />

capítulo 3. Contudo, antes da efetiva análise das capas, este capítulo ainda apresenta três seções:<br />

a seção 2.3 apresenta o que os estudos sobre propaganda discorrem acerca de persuasão, a seção<br />

38


2.4 analisa a relação desses estudos com as idéias de Aristóteles e, por fim, a seção 2.5 demonstra<br />

as características da propaganda presentes no discurso das capas de livros de auto-ajuda.<br />

2.3 As técnicas de persuasão na propaganda<br />

Bussmann (apud Sandmann, 2001, p. 12) observa que “os princípios da retórica têm hoje<br />

seu principal campo de aplicação e revivescimento nos textos de propaganda. Entendendo-se a<br />

retórica como a arte de persuadir, de convencer, e de levar à ação por meio da palavra, é fácil ver<br />

que esse também é o papel da linguagem da propaganda”.<br />

Como as capas de livros de auto-ajuda comportam-se como o discurso publicitário 27<br />

(característica a ser detalhada na seção 2.5), esta seção relata conceitos de persuasão na<br />

propaganda.<br />

Gea Valor (2005, p. 43) afirma que o discurso publicitário “caracteriza-se por dois<br />

elementos principais: informação e persuasão. Apesar das duas funções serem necessárias, a<br />

maioria dos estudos na área mostra que a persuasão é o objetivo fundamental do anúncio<br />

publicitário e que a função informativa é secundária”. 28<br />

Brown (1971) apresenta técnicas persuasivas empregadas em propaganda, a saber: (i)<br />

emprego de estereótipos; (ii) substituição de nomes; (iii) repetição; (iv) afirmação; (v) apontar o<br />

inimigo e (vi) apelo à autoridade.<br />

A primeira técnica citada, o emprego de estereótipos, segundo Brown (1971, p. 27)<br />

é uma tendência natural de classificar as pessoas em tipos, e com o tempo esta<br />

classificação pode tornar-se uma impressão fixa, quase impermeável a experiência real.<br />

Daí os estereótipos do negro, do judeu, do capitalista, do líder sindical ou do comunista, e<br />

as reações dos membros desses grupos passam a ser explicadas não em função deles<br />

mesmos como indivíduos originais, mas em função do estereótipo.<br />

27 Nesta pesquisa os termos ‘propaganda’, ‘anúncio’ e ‘publicidade’ são considerados sinônimos, assim como o faz<br />

Sampaio (apud Gonzales, 2003, p. 14) que os define “como qualquer peça de comunicação gráfica veiculada em<br />

jornais, revistas e outros meios de comunicação semelhantes”.<br />

28 Gea Valor (2005, p.43): “The discourse of advertising is characterised by two main communicative elements:<br />

information and persuasion. Although it might seem at first sight that both functions are necessary for an<br />

advertisement to be effective, most of the studies in the area have shown that persuasion is the ultimate purpose of<br />

advertising, and that the informative function is thus secondary to the persuasive one”.<br />

39


Os estereótipos ocorrem com o uso de esquemas e fórmulas já consagradas. Pode ser<br />

citado como exemplo o uso da imagem de uma pessoa bem vestida e de boa aparência, induzindo<br />

à idéia de pessoa bem sucedida e de modelo a ser seguido (PAZ, 2002).<br />

Outro exemplo de emprego de estereótipo é apresentado na Figura 2.3, onde é anunciado<br />

um seguro de automóvel para mulheres. A propaganda parte da idéia de que cabe à mulher ser<br />

delicada e perfumada, já aos homens cabe o papel de realizar trabalhos braçais como trocar um<br />

pneu de carro, pois são eles ‘quem tem que suar’. É utilizada a imagem de uma marca de batom<br />

circulada pela frase ‘mais segurança e proteção’, para identificar o tom feminino do anúncio.<br />

Figura 2.3 - Seguro Auto Mulher SulAmérica (Caras, 2008b, p. 137). Emprego de estereótipo.<br />

Dentro do processo de persuasão também se faz uso de estereótipos em frases, como ‘O<br />

povo unido, jamais será vencido’ ou ‘Mês de maio, mês das mães’. A característica maior do<br />

estereótipo é não permitir perguntas, visto ser como uma verdade conhecida (PAZ, 2002).<br />

Outra técnica de persuasão é a substituição de nomes, na qual Brown (1971, p. 28) destaca<br />

que “o propagandista freqüentemente procura influenciar seu público pela substituição de termos<br />

40


favoráveis ou desfavoráveis, com uma conotação emocional, no lugar de termos neutros<br />

inadequados a seu propósito”.<br />

Na substituição de nomes trocam-se termos com a intenção de influenciar positiva ou<br />

negativamente determinadas situações. Geralmente, usam-se eufemismos, por exemplo, em vez<br />

de dizer que ‘o capitalismo vai mal’, diz-se que ‘é preciso reaquecer a livre iniciativa’. Outro,<br />

exemplo, agora com influência negativa, é no lugar de ‘os Sem-terra ocuparam as terras’, utilizar<br />

‘os Sem-terra invadiram as terras’ (PAZ, 2002).<br />

Na propaganda apresentada na Figura 2.4, é exibido um celular que possui o comando<br />

touch screen (tela com ícones sensíveis ao toque). Para chamar a atenção para este recurso,<br />

poderia ter sido anunciado: ‘As funções do celular disponíveis num toque’, contudo, o que se lê<br />

é: ‘Seus desejos num toque’. Temos a substituição da idéia ‘funções do celular’, pela expressão<br />

‘seus desejos’, o que visa influenciar o consumidor a acreditar que ele deseja aquele produto.<br />

Figura 2.4 - Celular Samsung Omnia (Exame, 2008b, p. 77). Técnica de substituição de nome.<br />

41


Brown (1971, p. 28) também cita a repetição como técnica na qual “o propagandista<br />

confia em que, se repetir uma afirmação muitas vezes, com o tempo, ela será aceita por seu<br />

público”.<br />

A Figura 2.5 mostra um exemplo de um anúncio em que é utilizado o recurso da<br />

repetição. O termo ‘whisky’ aparece em: ‘Minha bebida é whisky’; ‘Por que eu prefiro whisky’;<br />

‘Como eu bebo o meu whisky’; ‘Com quem eu bebo meu whisky’; ‘2 o Scotch Whisky Festival’ e<br />

‘Porque você e seu whisky são únicos’.<br />

Figura 2.5 - Whisky Festival (Isto é, 2008, p. 81). Uso da técnica de repetição.<br />

Na Figura 2.5, além da palavra ‘whisky’ ser utilizada seis vezes, também é feita a<br />

repetição em linguagem não-verbal, através do uso de cor e imagem, pois nove garrafas de<br />

whisky são mostradas na parte inferior do anúncio e a cor de alaranjada do fundo do comercial<br />

também faz referência à bebida.<br />

42


Outra técnica persuasiva citada por Brown (1971, p. 29) é a da afirmação, onde “o<br />

propagandista raramente discute, mas faz afirmações ousadas em favor de suas teses [...] [pois a]<br />

essência da propaganda é a apresentação somente de um lado da questão, a limitação propositada<br />

do raciocínio e indagação livres”.<br />

Um exemplo da técnica de afirmação pode ser observado na Figura 2.6, onde se lê: ‘No<br />

futuro, todos os sons terão mp3’. Neste anúncio não está claro a que ‘futuro’ o anúncio se refere,<br />

se em cinco, dez ou vinte anos. Também não é levado em consideração que outras tecnologias<br />

mais avançadas que o mp3 poderão surgir e que é possível que, ‘no futuro’, nenhum som tenha<br />

mp3. Assim, busca-se convencer o leitor, partindo-se de uma afirmação ousada e questionável.<br />

Figura 2.6 - Som Gradiente (Época, 2004, p. 23). Uso da técnica de afirmação.<br />

A técnica de apontar o inimigo, segundo Brown (1971, p. 29), ocorre na medida em que<br />

“é valioso ao propagandista poder apresentar uma mensagem que não seja apenas a favor de algo,<br />

43


mas também contra um inimigo real ou imaginário, supostamente contrário à vontade do seu<br />

público”.<br />

Exemplos de propagandas que apontam o inimigo são os comerciais de produtos de<br />

limpeza ou germicidas, que colocam como inimigos germes ou fungos, ou mesmo nos comerciais<br />

de sabão em pó, que vêem na sujeira o inimigo (PAZ, 2002). Verifica-se, na Figura 2.7, uma<br />

propaganda que aponta como inimigo a má-digestão, representada pela imagem de um nó no<br />

abdômen da modelo.<br />

Figura 2.7 - Alca-Luftal (Caras, 2008b, p. 133). Técnica de apontar o inimigo.<br />

A última técnica citada por Brown (1971, p. 29), o apelo à autoridade, pode ser uma<br />

autoridade “religiosa, a de uma figura política proeminente, ou, particularmente na publicidade<br />

comercial, a autoridade da ciência e das profissões liberais”. Pode-se citar como exemplo a<br />

44


propaganda exibida na Figura 2.8, onde a imagem e nome de uma dentista são divulgados: ‘Dra.<br />

Claudia Lopes - CRO n o 50877’. Conclui-se o anúncio com o slogan ‘Colgate: A marca n o 1 em<br />

recomendação dos dentistas’. A autoridade de um profissional registrado é usada para convencer<br />

o consumidor da qualidade do produto anunciado.<br />

Figura 2.8 - Colgate (Caras, 2008a, p. 65). Apelo à autoridade.<br />

As seis técnicas de persuasão da propaganda citadas por Brown possuem uma estreita<br />

relação com a perspectiva de meios de persuasão de Aristóteles, o que é demonstrado na seção<br />

2.4.<br />

45


2.4 Técnicas persuasivas de Brown X Meios de persuasão de Aristóteles<br />

Ao analisar a visão de Brown (1971) sobre as técnicas de persuasão em propaganda, é<br />

possível identificar uma relação com os conceitos que norteiam a teoria aristotélica de meios de<br />

persuasão.<br />

Brown (1971) afirma que uma técnica persuasiva é o emprego de estereótipos. Esta<br />

técnica visa a utilizar, como argumento para uma propaganda, uma ‘idéia’ que é compartilhada<br />

por um determinado auditório. Esta idéia é estereotipada, sendo apenas uma ‘impressão’ ou uma<br />

‘opinião’, mas permeando a mente do auditório como se fosse uma verdade. Como afirma Paz<br />

(2002) a característica maior do estereótipo é não permitir perguntas, por ser visto como uma<br />

verdade conhecida.<br />

Construir um raciocínio baseado em uma opinião, e não em uma verdade universal, é o<br />

que caracteriza a construção de raciocínio (logos) da retórica de Aristóteles. O logos retórico é<br />

baseado em premissas opináveis. Na propaganda do Seguro Auto Mulher SulAmérica (Figura<br />

2.3), o raciocínio se inicia a partir de uma opinião: ‘Quem tem que suar são os homens’. Vejamos<br />

a representação do entimema, aqui existente:<br />

Seguro Auto Mulher SulAmérica. Porque quem tem que suar são os homens.<br />

Premissa 1: Quem tem que suar são os homens.<br />

Premissa 2: Ora, eu sou mulher. (premissa implícita)<br />

Conclusão: Logo, preciso do seguro.<br />

O emprego de estereótipos também pode remeter a imagens que tocam o emocional do<br />

leitor, proporcionando o que Aristóteles denomina de apelo ao pathos. Mais três técnicas citadas<br />

por Brown também visam tocar o leitor por meio de apelo ao emocional. São elas: a substituição<br />

de nomes, a afirmação e apontar o inimigo.<br />

A técnica de substituição de nomes busca trabalhar com o pathos através da utilização de<br />

“termos favoráveis ou desfavoráveis, com uma conotação emocional” (Brown, 1971, p. 28),<br />

como visto na propaganda do Celular Samsung (Figura 2.4), onde foi usada a expressão ‘seu<br />

desejo’, no lugar de ‘funções do celular’.<br />

46


Em mais uma propaganda, agora relativa ao Student Travel Bureau (Figura 2.9), vemos<br />

um outro exemplo de apelo ao pathos. O anúncio traz a mensagem: ‘Você sempre volta diferente<br />

de uma viagem’ e a imagem mostra uma jovem desinibida, com vestido decotado, sendo<br />

assediada por dois rapazes. Em contrapartida, sua foto do passaporte mostra que a mesma jovem,<br />

antes de viajar, possuía um visual sério com cabelos presos e óculos e um comportamento tímido.<br />

Figura 2.9- Student Travel Bureau (Exame, 2008a, p. 58). Apelo ao pathos.<br />

A técnica do apelo à autoridade objetiva ressaltar a qualidade de um produto através do<br />

apoio de figuras proeminentes na religião, ciência ou profissional da área foco. Esta técnica está<br />

relacionada ao que Aristóteles define como ethos, o apelo que evidencia a credibilidade de um<br />

produto.<br />

A técnica da repetição (demonstrada na Figura 2.5) faz com que uma idéia, com o tempo,<br />

seja aceita por seu público. Outra técnica, a da afirmação (Figura 2.6), também parte do princípio<br />

de uma opinião ser aceita como verdade.<br />

47


Todas as seis técnicas, emprego de estereótipos; substituição de nomes; repetição;<br />

afirmação; apontar o inimigo e o apelo à autoridade, criam um raciocínio persuasivo na<br />

propaganda, pois a partir delas cria-se um discurso que possui um logos, ou seja, cria o que<br />

Aristóteles (2005, p. 33) chama de um discurso que demonstra “a verdade ou o que parece ser a<br />

verdade”. A Figura 2.10 ilustra as relações aqui descritas, entre a teoria de Brown e a de<br />

Aristóteles:<br />

Figura 2.10- técnicas de persuasão de Brown X meios de persuasão de Aristóteles<br />

Depois de analisar como o estudo de Brown de técnicas persuasivas da propaganda se<br />

relaciona com a retórica de Aristóteles e seus meios de persuasão, pode-se concluir que a visão<br />

clássica de persuasão é passível de ser utilizada como mecanismo de análise em atuais pesquisas.<br />

Como afirma Figueiredo Neto (2008, p. 190), “a retórica está mais viva do que nunca nos dias de<br />

hoje. A publicidade, mesmo que inconscientemente, utiliza-se de sua estrutura para levar os<br />

consumidores às ações de compra dos produtos oferecidos”.<br />

2.5 A persuasão da propaganda nas capas de livros de auto-ajuda<br />

O discurso presente nas capas de livros de auto-ajuda assemelha-se ao discurso publicitário, fato<br />

que pode ser percebido ao analisarmos o que Malanga (1979) cita como os cinco fundamentos de<br />

um anúncio.<br />

Pathos<br />

Ethos<br />

Afirmação<br />

Repetição<br />

Emprego de estereótipos<br />

Substituição de nomes<br />

Apontar o inimigo<br />

Apelo à autoridade<br />

Logos<br />

48


Para Malanga (1979, p. 48), um anúncio deve<br />

(1) chamar a atenção do leitor ou ouvinte e fixar essa atenção por um tempo<br />

suficientemente longo, a fim de que o texto seja lido ou ouvido até o fim; (2) [...] provocar<br />

o interesse do consumidor, despertando nele um motivo para a aquisição do produto; (3)<br />

depois de chamar a atenção e despertar o interesse, o anúncio deve desencadear emoções<br />

agradáveis ou de segurança, estimulando o desejo de compra; (4) [...] criar convicção e (5)<br />

[...] pela sugestão e raciocínio, [...] transformar o desejo em decisão e finalmente em ação.<br />

Esses cinco estágios também são os objetivos de capas de livros de auto-ajuda, pois<br />

através delas as editoras buscam (1) chamar atenção para o livro; (2) despertar um motivo para a<br />

aquisição; (2) desencadear emoções e segurança; (4) criar convicção e (5) induzir à ação de<br />

adquirir uma obra.<br />

A característica de uma capa funcionar como uma propaganda também é mencionada por<br />

Weedon (2007, p. 117) ao explicar que<br />

as capas de livros podem ser vistas como uma entrada para que possamos olhar o texto. A<br />

frente ilustrada é uma propaganda, algo tentador, parcialmente revelando e parcialmente<br />

ocultando o conteúdo. Em uma livraria, [...] é o local de negociação e decisão. A capa nos<br />

instiga – devo abrir o livro? Devo adquirí-lo? Ele vai me satisfazer? [...] É o local onde<br />

ocorrem os prazeres da escolha e da expectativa, que precedem uma venda ou a leitura de<br />

uma obra. 29<br />

O primeiro fundamento de um anúncio é o de chamar atenção do público para o produto.<br />

Este estágio inicial é comentado por Perelman (1997, p. 70) ao explicar que, para que seja<br />

desenvolvida uma argumentação,<br />

é preciso que o orador dê valor à adesão alheia e que aquele que fala tenha a atenção<br />

daqueles a quem se dirige: é preciso que aquele que desenvolve sua tese e aquele que quer<br />

conquistar já formem uma comunidade, e isso pelo próprio fato do compromisso das<br />

mentes em interessar-se pelo mesmo problema. A propaganda, por exemplo, implica que<br />

se dê valor a convencer, mas esse interesse pode ser unilateral; quem é alvo da propaganda<br />

não tem necessariamente o desejo de escutar. Por isso, na primeira fase, antes que a<br />

argumentação se inicie verdadeiramente, lançar-se-á mão dos meios necessários para<br />

forçar a atenção: estaremos no limiar da retórica.<br />

Para chamar atenção de um potencial leitor, é necessário que o livro seja exposto na loja<br />

em um local estratégico. Whelan (2004, p. 93) detalha o posicionamento de livros de auto-ajuda<br />

em livrarias americanas explicando que,<br />

29 Weedon (2007, p. 117): “Book covers can be seen as a doorway through which we glimpse the text. The illustrated<br />

front is an advertisement and a tease, partially revealing, partially concealing the content. In the bookshop […] it is a<br />

place of negotiation and decision. The cover dallies with us – should we open the book? Should we take it and own<br />

it? Will it give us the enjoyment we seek? […] It is a site for the pleasures of choice and anticipation which is a<br />

prelude to the sale and consumption of a work”.<br />

49


após o lançamento de um livro, a posição nas prateleiras das maiores redes de livrarias<br />

torna-se muito importante. As editoras pagam para que seus títulos sejam posicionados<br />

com destaque na Borders, Barnes and Nobel e outras grandes lojas. 30<br />

A crescente venda de livros em supermercados, como mostra pesquisa citada no primeiro<br />

capítulo deste trabalho, é relacionada ao fator de visualização do produto. Teixeira (2006) cita<br />

que a compra de livros em supermercados, em seu maior número de auto-ajuda e religião, se dá<br />

por impulso. Em geral, o consumidor distraído passa pela seção de livros, que geralmente<br />

encontra-se ao lado da seção de CDs e DVDs, e, na hora, acaba decidindo por levar um título que<br />

lhe chamou a atenção.<br />

Em livrarias, a atração dos livros ocorre ainda na vitrine, pois “as capas estimulam os clientes a<br />

ver o que está sendo oferecido nas mesas onde os livros são organizados horizontal ou<br />

verticalmente, de forma que a capa possa ser vista. Elas mostram o que há de novidade e chamam<br />

o cliente para entrar na loja”. (WEEDON, 2007, p.117) 31<br />

Além da localização do livro na loja, a capa também precisa dispor de uma disposição de<br />

elementos de texto e imagem (se houver) que prendam atenção. Descardesi (2002, p. 20) explica<br />

que o texto escrito é “composto por mais de um modo de representação. Em uma página, além do<br />

código escrito, outras formas de representação como a diagramação da página (layout), a cor e a<br />

qualidade do papel, o formato e a cor (ou cores) das letras, a formatação do parágrafo, etc.,<br />

interferem na mensagem a ser comunicada”.<br />

Um anúncio é a combinação de texto e imagem que, conforme Sant’Anna (1996), forma<br />

um só ambiente, um único corpo. Segundo o autor, o que realmente distingue uma publicação da<br />

outra é o estilo, isto é, seu layout, que é o modo pelo qual os textos e as ilustrações nas páginas se<br />

arranjam. Um bom layout é aquele que ajuda a transmitir as informações que estão no texto e, ao<br />

mesmo tempo, possui um design atrativo e incita à leitura.<br />

Para obter um layout adequado, deve-se observar qual a melhor posição do texto. Para<br />

Sant’Anna (1996, p. 178) “o centro ótico 32 de um anúncio não coincide com o centro geométrico,<br />

encontrando-se ligeiramente acima deste”, como mostrado na Figura 2.11. O item que se quer<br />

30 Whelan (2004, p. 93): “Once the book is in print and being publicized, shelf placement within major bookstore<br />

chains becomes very important. Publishers pay for featured placement of their titles at Borders, Barnes and Noble<br />

and other major stores”.<br />

31 Weedon (2007, p. 117): “It encourages customers to see what is on offer on the tables where books are arranged<br />

flat or upright so the cover can be seen. It shows what is new, and draws the customer further into the shop”.<br />

32 Sant’anna (1996) utiliza a variante ‘ótico’, mas a autora desta pesquisa utiliza ‘óptico’, para não confundir com<br />

àquele termo também relacionado a ‘ouvido’.<br />

50


que o leitor visualize ao primeiro relance deve estar posicionado acima do centro geométrico<br />

livro.<br />

Figura 2.11- O centro óptico de um anúncio<br />

Para a seleção do tipo de letra, Sant’anna (1996) diz que, para os títulos, que são curtos e<br />

mais decorativos, qualquer tipo de letra pode ser utilizado. Já para as outras partes do anúncio o<br />

tipo de letra recomendável é um tipo invisível, ou seja, que não chame atenção. Assim, o leitor<br />

foca o conteúdo do texto, devendo-se utilizar um tipo padrão, tradicional. De acordo com<br />

Sant’Anna (1996, p.184)<br />

deve-se dar preferência aos caracteres tipográficos, evitando o uso de caracteres<br />

desenhados. E a sua legibilidade depende de cinco fatores (1) simplicidade – o que facilita<br />

a leitura; (2) dimensões – pequenas demais são fatigantes, e grandes causam mal-estar; (3)<br />

força – necessita-se uma ótima relação entre a altura e a força com um ótimo intervalo em<br />

cada letra; (4) orientação – de preferência verticalmente, pois quanto mais oblíquos, menor<br />

sua legibilidade; (5) harmonia – um anúncio deve ser composto por caracteres que formem<br />

um estilo único.<br />

Poynter (2003) menciona a necessidade de elaborar uma capa que prenda a atenção do<br />

leitor nos primeiros segundos que o olhar atinge o produto, pois<br />

as livrarias possuem centenas de livros dispostos nas prateleiras, sendo difícil chamar a<br />

atenção para um livro específico. Normalmente um potencial leitor vê a lombada do<br />

livro e, se interessar, observa a capa por uma média de quatro segundos e depois lê a<br />

contracapa. Em média ele gasta apenas sete segundos, então o segredo é fazê-lo ler<br />

por mais tempo. O texto precisa tocar e trazer benefícios ao leitor. (grifo nosso) 33<br />

Após chamar atenção de um leitor em potencial, tem-se a segunda meta de uma capa que<br />

é a de despertar um motivo para a aquisição. Whelan (2004, p. 90) afirma que “um livro de auto-<br />

ajuda precisa primeiramente captar a atenção do leitor e então oferecer algum tipo de ajuda que<br />

as pessoas percebem necessitar”. 34<br />

33 Poynter (2003): “stores have tens-of-thousands of books being displayed spine-out. With all this congestion, it is<br />

hard to get attention. Initially, all a potential buyer sees is the book’s spine. If the browser takes it down, he or she<br />

will gaze at the cover about four seconds and then flip the book over to read the back cover. On average, he or she<br />

will spend just seven seconds here so the trick is to keep them reading longer. Your copy has to be punchy and<br />

benefit-laden; it has to speak to the potential buyer.”<br />

34 Whelan (2004, p. 90): “A self-help book must first captivate the reader’s attention and then offer some kind of help<br />

people perceive they need”.<br />

51


Em capas de livro de auto-ajuda, é utilizado o fundamento da criação de uma necessidade<br />

ou um apelo a uma necessidade existente. Salerno (2005, p. 158) afirma que “o ditado mais<br />

antigo em vendas e marketing é: ‘Encontre uma necessidade e supra-a’. […] Pessoas felizes não<br />

estão querendo se recuperar de nada nem estão procurando ajuda. 35<br />

Perelman e Olbrechts-Tyteca (1997, p. 312) destacam que “as técnicas modernas da<br />

publicidade e da propaganda exploraram a fundo a plasticidade na natureza humana que permite<br />

desenvolver novas necessidades, fazer desaparecer ou transformar necessidades antigas”.<br />

Há dois tipos de necessidades para o consumo de bens: necessidades materiais, como<br />

comer e beber o suficiente para nos mantermos vivos, e de roupas para nos mantermos aquecidos<br />

e enxutos; e necessidades sociais, tais como amor, amizade, reconhecimento de nossos<br />

semelhantes, pertencer a grupos, e termos consciência de nós mesmos como individualidades em<br />

relação aos grupos sociais circundantes. (VESTERGAARD E SCHRØDER,1996)<br />

Vestergaard e Schrøder (1996, p. 5) destacam que<br />

é difícil dizer quais são as necessidades mais importantes. Se as nossas necessidades<br />

materiais não forem satisfeitas, morreremos de fome ou de frio; se não o forem as<br />

necessidades sociais, tenderemos a sofrer problemas psicológicos. O ponto crucial é que,<br />

ao consumir bens, estamos satisfazendo ao mesmo tempo necessidades materiais e sociais.<br />

Os vários grupos sociais identificam-se por suas atitudes, maneiras, jeito de falar e hábitos<br />

de consumo. As roupas que vestem, por exemplo, podem deixar de ser um mero objeto de<br />

uso para se transformar em veículo de informação sobre que tipo de pessoa que somos ou<br />

gostaríamos de ser.<br />

Pode-se afirmar que livros de auto-ajuda são bens de necessidades sociais, devido ao fator<br />

emocional existente por trás da compra, pois aquele que adquire um desses livros visa uma<br />

melhora de auto-estima em relacionamentos pessoais ou profissionais.<br />

A criação de uma necessidade em livros de aconselhamento é chamada por Barton (1992,<br />

p. 2 apud MEURER, 1998, p. 15) de ‘problematização’, sendo definida como a ação de “mostrar<br />

que uma idéia ou visão ou situação precisa de algum tipo de reexame ou reavaliação”. 36<br />

Caso haja uma oposição entre o que o leitor acredita e as idéias que o autor apresenta, o<br />

leitor irá julgar a nova informação. Meyers-Levy, J e Malaviya, P. (1998, p.51) chamam este<br />

processo de ‘formação de opinião’. Eles explicam que, para que julgamentos ou qualquer tipo de<br />

persuasão ocorra, a mensagem precisa atingir o receptor, o que vai depender da quantidade de<br />

35 Salerno (2005, p. 158): “It’s the oldest dictum in sales and marketing ‘Find a need and fill it’. […] Happy people<br />

aren’t trying to recover from anything; nor do they go looking for massive amounts of help”.<br />

36 Barton (1992, p. 2 apud MEURER, 1998, p. 5): “Problematisation, simply defined, is showing that a prevailing<br />

assumption, idea, view, or situation needs re-examination or re-evaluation of some kind”.<br />

52


informação que o receptor deseja receber, bem como das características do contexto da<br />

mensagem.<br />

Já Brown (1971, p. 29), como já citado, utiliza outra terminologia para a criação de<br />

necessidades, ao afirmar que uma das técnicas de persuasão é ‘apontar o inimigo’. No caso do<br />

movimento de auto-ajuda, o inimigo pode corresponder ao fracasso profissional, à falta de<br />

aceitação pela sociedade devido a um corpo fora dos padrões, ou à infelicidade de uma relação<br />

amorosa, entre outros “problemas”.<br />

Ao expor o “problema” que o leitor possui, a auto-ajuda segue duas linhas, explicadas<br />

pelo jornalista Steve Salerno (2005): victimization (vitimização) ou empowerment<br />

(empoderamento).<br />

O movimento de victimization defende a idéia que você não é responsável por sua<br />

situação atual, pois forças maiores o fizeram chegar onde está. Deve-se assumir que você não é<br />

culpado por seus problemas, mas é necessário primeiramente aceitá-los para depois procurar a<br />

melhora. Por outro lado, a idéia do empowerment afirma que você é totalmente responsável por<br />

tudo que faz, seja de bom ou de ruim (SALERNO, 2005).<br />

Os líderes do movimento de vitimization, segundo Salerno (2005, p. 31)<br />

fizeram uma importante descoberta: eles poderiam ajudar a melhor lidar com dificuldades<br />

ao redefini-las. Esta idéia levou a inteligentes distinções e habilidosos usos de linguagem,<br />

que se tornaram uma característica marcante do movimento da auto-ajuda. (...) Dentro<br />

deste princípio, que ficou conhecido como “modelo doença”, vícios em drogas, sexo, jogo,<br />

como também alimentação em excesso e compulsão em mentir e comprar, foram<br />

consideradas doenças. 37<br />

Já o empowerment, como afirma Salerno (2005, p. 33),<br />

desenvolveu uma nova mensagem: você não é impotente – você é onipotente! Dentro das<br />

regras do empowerment, você é um soberano mestre do seu destino e pode derrotar<br />

qualquer obstáculo em sua vida. (...) Os pais do empowerment (...) exibiram seu inteligente<br />

jogo de semântica, neste caso, desenvolvido para que as pessoas não se sentissem<br />

constrangidas de nada: o ‘deficiente físico’ tornou-se ‘portador de necessidades especiais’.<br />

Lares divididos pelo divórcio e outros transtornos domésticos tornaram-se ‘famílias nãotradicionais’.<br />

Este jogo de palavras observado tanto no movimento de victimization, quanto no de<br />

empowerment, é chamado por Brown (1971) de técnica de substituição de nomes, como já citado.<br />

37 Salerno (2005, p. 31): “Victimization movement’s spiritual leaders made an important discovery: they could help a<br />

constituent better cope with the burden of failings by redefining them. This insight led to clever semantic distinctions<br />

[…] and artful use of language became a hallmark of self-help movement […] under this guiding principle, which<br />

became known as the ‘disease model’, drug abuse, sex addiction, compulsive eating, compulsive lying, compulsive<br />

shopping, compulsive gambling […] and many others problems were deemed diseases”.<br />

53


McGee (2005) propõe outros termos para a mesma dualidade por trás da auto-ajuda:<br />

calling (chamado) e composing (compor). A idéia de calling é na vida se deve atender a um<br />

‘chamado’, ‘uma vocação’, uma ‘missão’. Já a idéia de composing trata a vida como uma obra-<br />

de-arte, como algo que pode ser inventado ou transformado. Segundo McGee (2005, p. 51)<br />

a figura do indivíduo como artista que cria e muda sua vida é mais freqüente depois da<br />

metade de 1990 devido à volatilidade do mercado de trabalho. A metáfora de compor a<br />

vida conforta o peso de metáforas como ‘chamado’, ‘vocação’, ‘caminho’, ‘jornada’ e<br />

‘missão’, na medida em que oferece alternativas ao invés de um único caminho a ser<br />

seguido. 38<br />

Após chamar a atenção para o livro e despertar um motivo para a aquisição, uma capa<br />

precisa desencadear emoções e segurança. Mais uma vez, comparando a teoria moderna de<br />

propaganda e a visão clássica de retórica, é possível traçar um paralelo entre Malanga e<br />

Aristóteles, como demonstrado na Figura 2.12. A seqüência dos fundamentos de um anúncio,<br />

adaptados a capas de livros de auto-ajuda, e sua relação com os meios de persuasão de Aristóteles<br />

são demonstradas na Figura 2.12.<br />

Chamar atenção para o livro<br />

Despertar um motivo para a aquisição<br />

Pathos Desencadear emoções e segurança<br />

Ethos<br />

Criar convicção<br />

Induzir à ação da compra<br />

Logos<br />

Figura 2.12 - Fundamentos de um anúncio (MALANGA, 1979) e os meios de<br />

persuasão (ARISTÓTELES, 2005) nas capas de livro de auto-ajuda.<br />

38 (McGEE, 2005): “The figure of the artist or visionary for whom life is an aesthetic experience to be imagined and<br />

created appears more frequently by the mid-1990s in response to the staggering volatility of employment markets.<br />

The metaphor of composing a life eases the burden on the metaphors of calling, path, journey and mission, while<br />

offering an alternative ideal of singular calling”.<br />

54


A Figura 2.12 ilustra que a função de desencadear emoções está relacionada ao pathos,<br />

pois, relembrando Aristóteles (2005, p. 33), “obtém-se a persuasão nos ouvintes, quando o<br />

discurso os leva a sentir uma paixão”.<br />

Sandmann (2001) explica que na linguagem da propaganda a função apelativa está muito<br />

presente, afinal a constante dessa linguagem é vender um bem de consumo - um produto ou<br />

serviço, ou uma idéia; é persuadir alguém, é levar alguém a um comportamento. Há marcas<br />

lingüísticas típicas na função apelativa: períodos interrogativos, verbo no imperativo, pronomes<br />

pessoais e possessivos na segunda pessoa, verbo na segunda pessoa.<br />

Também está ilustrada na Figura 2.12 o que Malanga (1979) menciona que é necessidade<br />

de criar sensação de segurança de um produto, e esta só ocorre se este produto demonstrar<br />

confiabilidade, o que remete, traçando um comparativo com Aristóteles, ao apelo ao ethos, onde<br />

“o discurso procede de maneira que deixa a impressão de o orador [ou produto] ser digno de<br />

confiança” (ARISTÓTELES, 2005, p. 33).<br />

Atravessando todas as etapas mencionadas acima (chamar atenção para o livro; despertar<br />

um motivo para a aquisição e desencadear emoções e segurança), busca-se um discurso que<br />

possua um logos que gere a convicção de que a obra vale a pena ser adquirida, induzindo o leitor<br />

à ação da compra.<br />

55


CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS CAPAS DE LIVROS DE AUTO-AJUDA<br />

56<br />

“If you only read one book on what life is all about –<br />

make it this one! This book is life-changing.”<br />

(Lee Strobel) 39<br />

No início desta pesquisa, descreveu-se que livros de auto-ajuda, nas duas últimas décadas,<br />

têm se manifestado como um grande fenômeno de vendas. Também foi destacada a importância<br />

da capa como forma de persuadir um potencial leitor a adquirir uma obra. O capítulo primeiro<br />

expôs a definição de livro de auto-ajuda, bem como o histórico e o perfil do leitor destes livros.<br />

Em seguida, no capítulo dois, foi analisada a retórica de Aristóteles e como ela se<br />

relaciona com os estudos modernos sobre persuasão. Também foi demonstrada a semelhança<br />

entre o discurso da propaganda e as capas de livros de auto-ajuda.<br />

O presente capítulo dedica-se a investigar os recursos persuasivos em capas de livros de<br />

auto-ajuda. A análise será baseada na teoria de Aristóteles (2005) sobre meios de persuasão em<br />

conjunto com as teorias sobre persuasão previamente citadas como Brown (1971), Malanga<br />

(1979), Vestergaard e Schrøder (1996) e Sandmann (2001).<br />

Para efeito de organização, a análise está dividida em cinco partes: (1) chamando atenção<br />

para a obra; (2) o apelo ao pathos; (3) o apelo ao ethos; (4) o apelo ao logos e (5) a linguagem<br />

não-verbal.<br />

3.1 Chamando atenção para a obra<br />

Como mencionado no capítulo anterior, para Malanga (1979), a primeira fase da<br />

persuasão de um produto refere-se a chamar atenção do consumidor. Assim sendo, uma capa de<br />

livro de auto-ajuda precisa possuir um layout atrativo e de mensagem clara.<br />

Na seção 2.5, ficou demonstrado que o centro óptico de uma capa, ponto primeiramente<br />

visualizado por um leitor, não coincide com o centro geométrico (Figura 2.11). O item que deve<br />

chamar mais atenção do leitor, num primeiro relance, precisa estar posicionado acima do centro<br />

da capa.<br />

39 Citação presente na contracapa de Purpose Driven Life de Rick Warren (Anexo R).


O centro óptico foi a posição onde mais foram encontrados os títulos dos livros estudados,<br />

com 78% de ocorrência (43 capas das 55 analisadas - Anexo A). Como exemplo, em The Seven<br />

Habits of Highly Effective People (Figura 3.1), o título, envolvido por um quadro vermelho, está<br />

posicionado acima do centro da capa. Esta capa também possui um ponto luminoso posicionado<br />

exatamente no centro óptico. Este recurso chama atenção para sua visualização e destaca a capa<br />

em relação a outras que, eventualmente, estiverem expostas junto a ela.<br />

Figura 3.1- Título posicionado no centro óptico.<br />

Também foram encontradas capas em que não se encontra um título no centro óptico, mas<br />

uma imagem. Por exemplo, em Transformando Suor em Ouro (Figura 3.2), Bernardinho, técnico<br />

de voleibol e autor do livro, é colocado em evidência, fazendo com que o leitor enxergue a<br />

imagem significativa do técnico na primeira visualização (imagem a ser discutida na seção 3.5).<br />

Figura 3.2- Imagem posicionada no centro óptico.<br />

57


Um potencial leitor, segundo Poynter (2003), “observa a capa por uma média de quatro<br />

segundos e depois lê a contracapa. Em média, ele gasta apenas sete segundos, então o segredo é<br />

fazê-lo ler por mais tempo”. Para que a contracapa também seja atrativa, o texto nela presente<br />

deve ser arranjado de forma a promover a visualização da mensagem do livro.<br />

Assim, em contracapas, e também nos textos das orelhas, utiliza-se o recurso de descrever<br />

possíveis problemas enfrentados pelo leitor e de citar promessas do livro em formato de lista. As<br />

listas contêm frases curtas e pontuais, muitas vezes precedidas de marcadores, que objetivam<br />

transmitir que as idéias apresentadas pela são de fácil assimilação.<br />

A exposição do texto em listagem foi encontrada na ocorrência de 41% e, como exemplo,<br />

na contracapa da obra Optimal Thinking, de Rosalene Glickman (Anexo C) são citadas situações<br />

em que o livro irá ajudar o leitor:<br />

• “Faça as melhores perguntas e encontre as melhores soluções<br />

• Tenha decisões construtivas e qualquer situação<br />

• Maximize a alegria de executar atividades diárias<br />

• Domine emoções perturbadoras e elimine comportamentos indesejáveis<br />

• Funcione em seu máximo nas relações de negócios e pessoais<br />

• Traga o melhor nos outros e muito mais!” 40<br />

O layout da obra, como primeiro contato de um leitor, deve ser trabalhado a ter um título<br />

com letras grandes, instigante e bem posicionado. Os textos das contracapas e orelhas devem ser<br />

graficamente atrativos. Esta combinação de elementos abre a porta para a leitura do livro, pois,<br />

como afirma Perelman (1997, p. 70), “na primeira fase, antes que a argumentação se inicie<br />

verdadeiramente, lançar-se-á mão dos meios necessários para forçar a atenção”.<br />

40 Optimal Thinking, contracapa (Anexo B): “Ask the best questions and find the best solutions; Make the most<br />

constructive decisions in every situation; Maximize you enjoyment of everyday activities; Eliminate self-sabotage<br />

and experience the full power of your mind; Master disturbing emotions and stop unwanted behaviors; Function at<br />

your peak in business and personal relationships; Bring out the best in others, and much more!”<br />

58


3.2 O apelo ao pathos<br />

Segundo Malanga (1979), dentro do processo de persuasão, após chamar a atenção do<br />

consumidor, deve-se despertar um motivo para a aquisição do produto. Para mostrar a<br />

necessidade de aquisição de uma obra, McGEE (2005, p. 18) explica que “a literatura de auto-<br />

ajuda define seus leitores como incapazes, necessitando de alguma característica – beleza, saúde,<br />

riqueza, opções de emprego, um parceiro, felicidade no casamento, ou conhecimento técnico<br />

especializado – e então se oferece como a solução”. 41<br />

Como demonstrado no estudo de Vestergaard e Schrøder (1996), há dois tipos de<br />

necessidades para o consumo de bens: necessidades materiais e necessidades sociais, já<br />

explicadas no capítulo anterior. A compra de um livro de auto-ajuda pode ser classificada como<br />

uma necessidade social, pois se baseia em necessidades de cunho psicológico, como o amor, a<br />

amizade, o reconhecimento de semelhantes, a importância de pertencer a grupos e de se conhecer<br />

como indivíduo.<br />

Portanto, ao criar ou expor uma necessidade, um recurso persuasivo, utilizado nas capas<br />

dessas obras, é o apelo ao emocional ou pathos, explicado por Aristóteles (2005, p. 33) ao<br />

afirmar que “obtém-se a persuasão nos ouvintes, quando o discurso os leva a sentir uma paixão,<br />

porque os juízos que proferimos variam, consoante experimentamos aflição ou alegria, amizade<br />

ou ódio”.<br />

Um exemplo de apelo ao pathos é encontrado na contracapa do livro What Smart Woman<br />

Know de Steven Carter e Julia Sokol (Anexo E):<br />

“Muitas mulheres tornaram-se inteligentes da maneira difícil, através das primeiras<br />

experiências, e elas têm as cicatrizes para provar isto. Memórias dolorosas de noites em<br />

claro, lágrimas, confusão, raiva, insegurança e ansiedade podem ensiná-la sobre vida,<br />

amor e relacionamentos, mas este é um preço alto para se ter sabedoria. Há uma<br />

maneira mais fácil para as mulheres ficarem mais espertas – uma maneira mais fácil de<br />

adquirir o tipo de informação necessária para lidar com relacionamentos de forma sábia<br />

sem precisar passar por eventos traumáticos que normalmente acompanham a aquisição<br />

de tal conhecimento. Como? Ouvindo e aprendendo através da experiência de outras<br />

mulheres. Conhecimento sem dor e compreensão sem dor de cabeça, perspicácia sem<br />

melodrama – este livro é sobre isso. As mulheres mais inteligentes sabem que para<br />

41 McGEE (2005, p. 18): “The literature of self-improvement defines its readers as insufficient, as lacking some<br />

essential feature of adequacy – be it beauty, health, wealth, employment options, sexual partners, marital happiness,<br />

or specialized technical knowledge – and then offers itself as the solution”.<br />

59


ficarem ainda mais inteligentes não é necessário dor”. 42<br />

Durante a exposição do problema, são apresentadas palavras e expressões focam o<br />

emocional, como: ‘cicatrizes’, ‘memórias dolorosas’, ‘noites em claro’, ‘lágrimas’, ‘confusão’,<br />

‘raiva’, ‘insegurança’, ‘ansiedade’, ‘dor’ e ‘melodrama’. Estes termos visam a atingir o público-<br />

alvo feminino, por meio de termos relacionados a sofrimento.<br />

Ao final deste trecho há mais uma tentativa de provocar a leitora, afirmando que ‘as<br />

mulheres mais inteligentes sabem que para ficarem ainda mais inteligentes não é necessário dor’.<br />

Aqui encontramos a técnica da afirmação, citada por Brown (1971, p. 29), na qual “o<br />

propagandista raramente discute, mas faz afirmações ousadas em favor de suas teses; [...] é a<br />

apresentação somente de um lado da questão”.<br />

Pode-se dizer que há uma afirmação ousada, pois não há abertura para discutir a idéia se<br />

‘mulheres inteligentes’ acreditam ou não na idéia que baseia o livro. É afirmado que todas<br />

aquelas que são inteligentes ‘sabem’ que é possível aprender através dos depoimentos de<br />

experiências.<br />

É utilizado é o verbo ‘saber’, e não ‘acreditar’ ou ‘pensar’, para que seja transmitida uma<br />

certeza. A mulher que não ‘sabe’, ou seja, que não ‘pensa’ como o livro, conseqüentemente, não<br />

é inteligente.<br />

Brown (1971, p. 29) afirma que uma das técnicas persuasivas existentes é a de apontar o<br />

inimigo, ocorrendo quando uma mensagem é “contra um inimigo real ou imaginário”. No caso do<br />

livro acima citado, o inimigo apresentado é a dor e a insegurança no amor e nos relacionamentos.<br />

Como afirmam <strong>Sousa</strong> e Silva et al (2007), há consumidores que são persuadidos mais<br />

facilmente quando o seu lado emocional é evidenciado. Em You’re Broke Because You Want to<br />

Be de Larry Winget (Anexo G), um livro relativo à orientação econômica, o problema do<br />

desequilíbrio financeiro também é tratado com a utilização de termos com apelo ao pathos, como<br />

‘preocupa’, ‘problemas’, ‘medo’ e ‘arruinado’.<br />

42 What Smart Women Know, contacapa (Anexo E): “Most women got smart the hard way, through first hand<br />

experience, and they have the scars to prove it. Painful memories of sleepless nights, tears, confusion, anger, selfdoubt,<br />

and anxiety can teach you about life, love and relationships, but that's a high price to pay for wisdom. There<br />

is an easier way for a woman to get smart - an easier way to acquire the kind of information needed to handle<br />

relationships wisely without having to go through the traumatic events that often accompany the acquisition of such<br />

knowledge. How? By listening and learning from the experiences of other women. Wisdom without pain<br />

understanding without heartache, insight without melodrama - that's what this book is about. The smartest women<br />

know that getting smart doesn't have to hurt”.<br />

60


“Você se preocupa em como vai pagar suas contas?<br />

[...] Você tem problemas com compras? […]<br />

Você tem medo de que uma emergência lhe deixe financeiramente arruinado?<br />

Você não tem idéia de como resolver sua situação?<br />

Se você respondeu sim a uma dessas perguntas,<br />

Você precisa comprar este livro!” 43<br />

Em um livro que trata da relação entre pais e filhos, Toxic Parents de Susan Forward<br />

(Anexo N), é recorrente a menção de situações que tocam os sentimentos de um filho:<br />

“Quando você era criança...<br />

• Seus pais lhe diziam que você era mau ou sem valor?<br />

• Seus pais usavam dor física para discipliná-lo?<br />

• Você geralmente se sentia assustado com seus pais?<br />

Agora que você é adulto...<br />

• Seus pais o tratam como se você fosse uma criança? [...]<br />

• Seus pais o controlam com ameaças ou culpa?<br />

• Eles o manipulam com dinheiro?” 44<br />

Na contracapa de How to Win Friends and Influence People, de Dale Carnegie (Anexo I),<br />

são apresentadas três promessas:<br />

• “Os seis meios de fazer as pessoas gostarem de você<br />

• As doze maneiras de fazer os outros pensarem como você<br />

• Os nove meios de mudar as pessoas sem criar ressentimentos” 45<br />

No trecho acima as expressões ‘pessoas gostarem de você’, ‘fazerem os outros pensarem<br />

como você’ e ‘mudar pessoas sem levantar ressentimentos’, exploram, respectivamente, as<br />

seguintes necessidades sociais citadas por Vestergaard e Schrøder (1996): ser amado, ser<br />

reconhecido pelos semelhantes e a amizade.<br />

Outro exemplo onde há tentativa de persuadir o leitor a comprar um livro através do apelo<br />

ao pathos encontra-se na contracapa de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de Gustavo<br />

Cerbasi (Anexo F):<br />

43 You’re Broke Because You Want to Be, contracapa (Anexo H): “Do you spend more than you earn? Do you worry<br />

about how you are going to pay your bills? […] Do you have a shopping problem? Are you terrified of an emergency<br />

that would leave you financially devastated? Are you clueless about how to fix your situation? If you answered yes<br />

to even one of those questions, you need this book!”<br />

44 Toxic Parents, contracapa (Anexo N): “When you were a child… Did your parents tell you you were bad or<br />

worthless? Did your parents use physical pain to discipline you? […] Were you often frightened of your parents?<br />

Now that you’re an adult… Do your parents still treat you as if you were a child? […] Do your parents control you<br />

with threats or guilt? Do they manipulate you with money?”<br />

45 How to Win Friends and Influence People, contracapa (Anexo I): “The six ways to make people like you; The<br />

twelve ways to win people to your way of thinking; The nine ways to change people without arousing resentment”<br />

61


“Um dos maiores detonadores de brigas entre o casal são as dificuldades financeiras.<br />

Faltou dinheiro para pagar as contas? A culpa recai sobre o parceiro esbanjador, que<br />

não quer nem saber se havia saldo no banco na hora de fazer alguma compra. Sobrou<br />

dinheiro no fim do mês? Em vez de comemorar, o casal pode arranjar mais um motivo<br />

de discussão sobre como investir ou gastar aquela quantia.<br />

Para Gustavo Cerbasi, a causa desses desentendimentos é a falta de conversa em<br />

família sobre dinheiro. Em geral o casal só fala sobre o assunto quando a bomba já<br />

estourou. E, como não discute a questão a dois, a maioria não faz um orçamento, não<br />

guarda dinheiro para atingir suas metas (ou pior ainda, cada um tem seu objetivo, que o<br />

outro não conhece), não tem planos para a manutenção de seu padrão de vida no futuro,<br />

toma decisões de compra sem refletir, investe mal o dinheiro que eles suaram tanto<br />

para ganhar...”<br />

Nesse trecho é relatado um casal em crise por motivos financeiros, utilizando termos<br />

como: ‘brigas’, ‘culpa’, ‘discussão’, ‘desentendimentos’, ‘bomba estourou’, ‘suaram tanto pra<br />

ganhar’; expressões que constroem um cenário problemático e de angústia.<br />

Um outro recurso persuasivo encontrado no trecho acima é o que Sandmann (2001)<br />

chama de ‘períodos interrogativos’, típicos da função apelativa. O recurso da pergunta cria a<br />

impressão de uma conversa com o leitor, aproximando-o da idéia transmitida pelo texto.<br />

Em ‘Faltou dinheiro para pagar as contas?’ e ‘Sobrou dinheiro no fim do mês?’, são<br />

utilizadas duas perguntas de situações opostas, a falta ou a sobra de dinheiro. O texto afirma que,<br />

nas duas ocasiões, podem surgir problemas, o que amplia a necessidade de aquisição do livro.<br />

A utilização de períodos interrogativos também é verificada na contracapa da obra A<br />

Revolução dos Campeões de Roberto Shinyashiki (Anexo F):<br />

“Hoje, tornou-se um lugar-comum afirmar que o mundo vive transformações intensas...<br />

Mas, e daí? O que fazer para criar vitórias que sejam duradouras? Como fazer para não<br />

sermos devorados por essas mudanças? Como conseguir que a equipe se comprometa<br />

com o sucesso?”<br />

Neste trecho, é utilizada uma seqüência de quatro perguntas que buscam provocar o leitor<br />

a se posicionar frente aos problemas. Os problemas aqui apontados são ‘transformações intensas’<br />

que atrapalham uma carreira profissional e que podem ‘devorar’ aqueles que não estiverem<br />

devidamente preparados.<br />

A tentativa de sensibilizar o leitor também pode ocorrer através da linguagem não-verbal.<br />

No livro Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, de Gred Behrendt e Liz Tuccillo (Figura<br />

3.3), é mostrada a imagem de uma mulher com olhos e boca tristonhos, braços cruzados e olhar<br />

voltado para um aparelho de telefone. A imagem transmite a idéia da decepção ao aguardar<br />

notícias de alguém que se ama sem receber resposta, simbolizando um amor não correspondido.<br />

62


Figura 3.3- Ele simplesmente não está a fim de você.<br />

A cor predominante da capa é a rosa, tradicionalmente ligada ao público feminino,<br />

público-alvo do livro. Esta cor também é utilizada na versão original da obra, intitulada He’s just<br />

not that into you (Figura 3.4). No livro original, o telefone também é utilizado para simbolizar a<br />

falta de notícias, com uma secretária eletrônica indicando, através do número zero, que não há<br />

recados. Pode-se afirmar que a capa brasileira possui uma imagem mais clara e de maior apelo<br />

emocional, visando a sensibilizar a leitora que quer evitar a mesma situação.<br />

Figura 3.4- He´s just not that into you.<br />

Em O Que Toda Mulher Inteligente Deve Saber (Figura 3.5), também se usa a imagem de<br />

uma mulher de roupa rosa e um telefone. Porém, ao contrário da Figura 3.3, a mulher encontra-se<br />

em uma situação agradável, feliz ao conversar ao telefone, em uma confortável cama e olhando<br />

foto de seu amado. Neste caso, busca-se atingir a leitora, através da ilustração de uma situação<br />

63


prazerosa. A versão americana desta obra (Anexo E) não traz nenhuma ilustração, verificando-se<br />

o apelo ao pathos apenas verbalmente.<br />

Figura 3.5- O Que Toda Mulher Inteligente Deve Saber.<br />

Para ampliar o público atingido pela problemática da obra, em Rich Dad, Poor Dad, de<br />

Robert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter (Anexo Q), a necessidade de aquisição do livro é exposta<br />

por depoimento dos dois autores: um homem e uma mulher.<br />

“Robert Kiyosaki ensina as pessoas a se tornarem milionárias... Por isso o chamam de<br />

professor de escola de milionários. ‘A principal razão das pessoas enfrentarem batalhas<br />

financeiras é porque elas não aprenderam nada sobre dinheiro durante os vários anos<br />

que passaram anos na escola. O resultado é que as pessoas aprendem a trabalhar por<br />

dinheiro... mas nunca aprendem a fazerem com que o dinheiro trabalhe por elas’<br />

Sharon L. Lechter: ‘Eu amo meus filhos e quero assegurar-lhes a melhor educação<br />

possível. A escola tradicional não é o suficiente. Precisamos aprender sobre dinheiro e<br />

como ele funciona’” 46<br />

O autor defende a necessidade de cuidar das finanças mencionando o trabalho, já a autora<br />

demonstra a preocupação com a família e as crianças. Assim, a obra atinge tanto leitores que se<br />

preocupam com o trabalho, quanto os que estão preocupados com a vida familiar.<br />

Nos exemplos até agora citados, inimigos específicos são apontados: a dor em um<br />

relacionamento amoroso; um desequilíbrio econômico pessoal; problema na relação pais e filhos;<br />

inimizades ao se impor; brigas entre casais por motivos financeiros; as transformações sofridas<br />

46 Rich Dad, Poor Dad, contracapa (Anexo Q): “Robert Kiyosaki teaches people to be millionaires… That’s why<br />

they call him the millionaire school teacher. ‘The main reason people struggle financially is because they have spent<br />

years in school but learned nothing about money. The result is that people learn to work for money… but never learn<br />

to have money to work for them.’ Sharon L. Lechter: ‘I love my children and want to ensure they get the best<br />

education possible! Traditional schooling, while very important, is no longer enough. We all need to understand<br />

money and how it works’”.<br />

64


por uma equipe de uma empresa; como evitar um amor não correspondido; ou problemas<br />

financeiros que prejudicam o trabalho e a família.<br />

Contudo, em alguns casos, o problema que atinge o emocional do leitor é citado de forma<br />

abstrata, como em Getting Things Done, de David Allen (Anexo J) quando se promete:<br />

“Supere sentimentos de confusão, ansiedade e de opressão” 47<br />

Neste caso os ‘sentimentos de confusão, ansiedade e de opressão’ não são mencionados<br />

em relação a uma situação específica, cabendo ao leitor defini-los. Esta é uma forma hábil de<br />

atingir o público, pois, quando não se especifica um problema, a chance do leitor se identificar<br />

aumenta. Qualquer ser humano passa, devido a razões diversas, por momentos em que se sente<br />

confuso, ansioso ou oprimido.<br />

Em Optimal Thinking, de Rosalene Glickman (Anexo C), tem-se outro exemplo de<br />

linguagem com situações não especificadas, tais como ‘atividades diárias’, ‘emoções<br />

perturbadoras’ e ‘comportamentos indesejáveis’.<br />

• “Maximize a alegria de executar atividades diárias<br />

• Domine emoções perturbadoras e elimine comportamentos indesejáveis” 48<br />

Não é discriminado qual tipo de ‘atividade diária’ o leitor irá executar com mais alegria,<br />

nem qual tipo de ‘emoção perturbadora’, tão pouco quando e qual ‘comportamento indesejável’<br />

será evitado. Essa linguagem indefinida é estratégica, sendo uma forma de utilizar o pathos a um<br />

público maior, tendo em vista que cada leitor irá adequar esses termos a sua realidade e acabará<br />

por se identificar com o livro.<br />

Em suma, para atingir um leitor, através do pathos, recorre-se às necessidades de cunho<br />

psicológico, como o amor, a amizade, o reconhecimento de nossos semelhantes e a necessidade<br />

de pertencer a grupos sociais. Parafraseando Aristóteles, obtém-se a persuasão de um leitor,<br />

quando o discurso os leva a sentir uma paixão.<br />

47 Getting Things Done, contracapa (Anexo J): “Overcome feelings of confusion, anxiety, and being overwhelmed”<br />

48 Optimal Thinking, contracapa (Anexo C): “Maximize your enjoyment of everyday activities […] Master disturbing<br />

emotions and stop unwanted behaviors”.<br />

65


3.3 O apelo ao ethos<br />

Existe uma outra via de atingir um potencial leitor, o qual não é facilmente tocado pelo<br />

apelo ao emocional. Pode-se evidenciar a credibilidade da obra, ou seja, apelar para o ethos.<br />

Aristóteles (2005, p. 33) define a importância do ethos quando “o discurso procede de maneira<br />

que deixa a impressão de o orador [ou produto] ser digno de confiança”.<br />

Para qualificar um livro, são utilizados dois caminhos: a comprovação da confiabilidade<br />

da fonte dos dados que fundamentam a obra e a demonstração da capacidade daquele que o<br />

escreve, ou seja, o ethos da obra e o ethos do autor, a serem analisados a seguir.<br />

3.3.1 O ethos da obra<br />

Pode-se afirmar que o conhecimento baseado em estudos científicos tem maior<br />

credibilidade que o conhecimento oriundo de crenças religiosas ou do senso comum. Assim, uma<br />

das ferramentas recorrentes em capas de auto-ajuda é fazer uso da autoridade da ciência para<br />

fortalecer a sua credibilidade. Aplica-se o recurso de informar que o livro possui embasamento<br />

científico, a fim de convencer o cliente de que a obra é uma confiável fonte de informação.<br />

Esta seção analisa o apelo à confiabilidade da obra, ou seja, o ethos. Para efeito de<br />

organização, neste momento, será focada apenas a mensagem verbal. Assim, as imagens<br />

presentes nas capas não serão discutidas aqui, ficando essa análise para a seção 3.5.<br />

Como primeiro exemplo, a obra The 100 Simple Secrets of Great Relationships, de David<br />

Niven, apresenta em seu subtítulo o destaque ‘O que os cientistas aprenderam e como você pode<br />

usar’ 49 (Figura 3.6). O apelo à ciência faz-se presente dentro do termo ‘cientistas’.<br />

Na versão em português Os 100 Segredos dos Bons Relacionamentos (Figura 3.7), o<br />

subtítulo mantém a idéia do livro original ao citar ‘descobertas simples e úteis dos estudos<br />

científicos sobre casais felizes’. A utilização dos termos ‘cientistas’ ou ‘estudos científicos’<br />

enfatizam a reputação da obra, aumentando as chances de convencer o leitor de que a obra vale a<br />

pena ser adquirida.<br />

49 The 100 Simple Secrets of Great Relationships, capa: ‘What scientists have learned and how you can use it’.<br />

66


Figura 3.6 - The 100 Simple Secrets of Great Relationships. Figura 3.7- Os 100 Segredos dos Bons Relacionamentos.<br />

Outra capa que apela para o ethos da obra é Find a Husband After 35, de Rachel<br />

Greenwald (Figura 3.8). Na capa, destaca-se que a autora utiliza um programa baseado no seu<br />

aprendizado na Harvard Business School, 50 o que dá maior credibilidade à obra. A versão<br />

brasileira, Como Encontrar um Marido depois dos 35 (Figura 3.9), traz a mesma informação em<br />

sua capa.<br />

Figura 3.8- Find a Husband After 35. Figura 3.9- Como Encontrar um Marido Depois dos 35.<br />

Já na capa de What Happy People Know, de Dan Baker (Figura 4.10), o subtítulo explica<br />

que o livro explicará ‘como a nova ciência da felicidade pode mudar sua vida para melhor’. 51<br />

50 Find a Husband After 35, capa: ‘Using What I Learned at Harvard Business School’.<br />

51 What Happy People Know, capa: ‘How the new science of happiness can change your life for the better’<br />

67


Neste caso, foi utilizada a expressão ‘nova ciência’ assegurando que, além de baseado<br />

cientificamente, o livro traz idéias inéditas sobre como conseguir a felicidade.<br />

Figura 3.10- What Happy People Know.<br />

Outro exemplo é encontrado em Why Men Marry Some Women and Not Others, de John<br />

T. Molloy (Figura 3.11). Nela, o subtítulo expõe que a obra revela ‘a fascinante pesquisa que traz<br />

para você o marido dos seus sonhos’. 52 Na versão brasileira desse livro, Por que os homens se<br />

casam com algumas mulheres e não com outras? (Figura 3.12), o subtítulo ainda destaca que a<br />

pesquisa é uma inovação: ‘uma pesquisa inédita revela os fatores decisivos para você conquistar<br />

o marido dos seus sonhos’.<br />

Figura 3.11- Why Men Marry Some Women and Not Others Figura 3.12- Por que os homens se casam com<br />

algumas mulheres e não com outras?<br />

52 Why Men Marry Some Women and Not Others, subtítulo: ‘The fascinating research that can land you the husband<br />

of your dreams.’<br />

68


Assim como ocorreu no termo ‘nova ciência da felicidade’, citado anteriormente, a<br />

expressão ‘pesquisa inédita’, presente na capa da figura 3.12, além de buscar demonstrar a<br />

credibilidade da obra, evidencia que ela é uma novidade no mercado, algo nunca mencionado,<br />

estimulando a curiosidade do leitor.<br />

É importante destacar que, apesar desta seção analisar capas que enfatizam o ethos da<br />

obra, é evidente a presença do apelo ao emocional. Nas obras expostas em 3.11 e 3.12, existe um<br />

forte apelo ao pathos na expressão ‘o marido dos seus sonhos’.<br />

Na contracapa de O Segredo (Anexo P) é encontrado o apelo à várias áreas da ciência:<br />

“Você tem em mãos um grande segredo. Altamente cobiçado, ele foi transmitido ao<br />

longo dos tempos, ocultado, perdido, roubado e comprado por grandes somas de<br />

dinheiro. Este Segredo secular foi compreendido por alguns dos maiores gênios da<br />

História: Platão, Galileu, Beethoven, Edison, Einstein – assim como outros<br />

inventores, teólogos, cientistas e grandes pensadores. Agora O Segredo está sendo<br />

revelado ao mundo”.<br />

Nesse trecho menciona-se que, nas mãos do leitor, há um segredo secular que foi<br />

conhecido por grandes nomes da filosofia, astronomia, música e física, possuindo um grande<br />

apelo persuasivo através da valorização do ethos da obra.<br />

Brown (1971, p. 29) chama de técnica persuasiva de apelo à autoridade, que “pode ser<br />

religiosa, a de figura política proeminente, ou, particularmente na publicidade comercial, a<br />

autoridade da ciência”.<br />

A capa de Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?, de Allan e<br />

Bárbara Pease (Anexo L), traz, em seu subtítulo, a expressão ‘uma visão cientifica e bem-<br />

humorada de nossas diferenças’. Nesta frase, menciona-se que a obra possui dados baseados nos<br />

‘avanços da ciência da evolução humana’ e, de acordo com o subtítulo, existe uma visão bem-<br />

humorada desses dados, evitando a idéia que a leitura é técnica e enfadonha.<br />

A contracapa dessa obra também destaca o viés científico:<br />

“Neste livro você vai conhecer os importantes avanços da ciência da evolução humana<br />

e como suas descobertas se aplicam ao relacionamento entre homens e mulheres”.<br />

Nessa mesma obra recorre-se ao conjunto do apelo da autoridade da ciência e o do<br />

depoimento de uma figura proeminente, através do depoimento do Dr. Denis Waitley:<br />

“Este livro é leitura obrigatória para todos os homens e mulheres que se amam, se<br />

odeiam ou simplesmente convivem. Você vai aprender sobre si mesmo(a), sobre o sexo<br />

oposto e como melhorar seus relacionamentos.<br />

Dr. Denis Waitley, autor de Impérios da mente”<br />

69


Verificou-se que é comum a utilização de depoimentos para promover um livro de auto-<br />

ajuda. O número de depoimentos varia de um único até um grande número apresentado na<br />

contracapa como ‘advance praise’(Anexo B), ou ‘groundbreaking manifesto’ (Anexo R).<br />

São utilizadas declarações de pessoas famosas, de jornais e revistas renomados ou de<br />

escritores de sucesso. Outro exemplo está a obra Optimal Thinking (Anexo C), pnde é citado um<br />

depoimento der Dr. Stephen Covey, autor de The 7 Habits of Highly Effective People afirmando<br />

que o livro é: ‘Uma abordagem magnífica sobre a como atingir melhor de si’ 53<br />

Além do apelo à autoridade da ciência e a de pessoas de notoriedade, um terceiro meio<br />

que visa a dar destaque à obra é a apresentação do número de exemplares vendidos. Como<br />

exemplo, em How to Win Friends & Influence People (Anexo I) é citado ‘Mais de 15 milhões de<br />

exemplares vendidos’, demonstrando que o livro é bem aceito. A mesma frase em Os 7 Hábitos<br />

das Pessoas Altamente Eficazes (Anexo B), destacando que o livro é um bestseller. Em The<br />

Dance of Anger (Anexo M), é citado que o livro é um bestseller citado pela lista do jornal New<br />

York Times, demonstrando o destaque que a obra possui.<br />

3.3.2 O ethos do autor<br />

Também é possível enfatizar a qualidade da obra através da exposição da competência<br />

daquele que a escreve. A imagem do autor pode ser conhecida previamente pelo leitor ou pode<br />

vir a ser construída pelo próprio discurso presente nas capas.<br />

Whelan (2004, p. 94) destaca que “um aspecto importante na mensagem da auto-ajuda<br />

vem do próprio autor. As credenciais do autor validam um livro e podem ser expostas na forma<br />

de diplomas ou de experiência de vida”. Dentre os bestsellers listados em sua pesquisa, 80%<br />

possuíam o destaque de terem sido “escritos por um especialista, alguém com conhecimento<br />

53 Contracapa de Optimal Thinking (Anexo C): Depoimento de Stephen Covey: “A superb treatment of the Idea of<br />

Personal Best”.<br />

70


profissional do assunto, com um diploma avançado - um M.D, um Ph.D em nutrição etc.”<br />

Whelan destaca ainda que há os autores especialistas e aqueles que relatam suas experiências. 54<br />

A importância para o destaque do autor também é lembrada por Simonds (1992 apud<br />

Sobral 2006, p. 160) ao afirmar que, nos “livros de auto-ajuda [...], se os autores são bem-<br />

conhecidos, seu nome é apresentado em destaque, e, em todos os casos, se o autor for titular de<br />

algum grau acadêmico avançado, esse dado é incluído”. Na presente pesquisa foram encontradas<br />

capas onde o grau de formação é destacado após o nome do autor, como por exemplo Ph.D. 55 ,<br />

M.B.A. 56 C.P.A 57 , M.D. 58 .<br />

Alguns dos livros que utilizam esse recurso, ao serem traduzidos para o português, retiram<br />

ou modificam essas siglas, devido a diferenças de terminologia ou por não serem muito<br />

conhecidas no Brasil. Por exemplo, em The Dance of Anger, de Harriet Lerner: (Figura 3.13 e<br />

Anexo L) lê-se ‘Harriet Lerner, Ph.D’ na edição americana. Já na edição brasileira, Mudando os<br />

Padrões dos Relacionamentos Íntimos (Figura 3.14), tem-se a expressão ‘Dra. Harriet Lerner’,<br />

aproximando do tratamento mais utilizado no Brasil.<br />

Figura 3.13- The Dance of Anger. Figura 3.14 - Mudando os Padrões dos Relacionamentos Íntimos.<br />

54 Whelan (2004, p. 94): “[An] aspect of the self-help message and publicity comes from the author himself. The<br />

author’s credentials underpin the validity of the statements in his book, and may come in the form of advanced<br />

degrees or life experience. […] 80 percent of the best-selling self-help books in my sample of bestselling self-help<br />

books […] were written by an ‘expert’ […], someone with a professional knowledge of the subject, and, most likely,<br />

an advanced, professional degree – an M.D., a Ph.D. in nutrition, etc. Experts are distinguished from […] individuals<br />

who were sharing their own experiences.<br />

55 PhD- abreviação em Doctor of Philosophy; título universitário que se conquista ao realizar uma pesquisa de pelo<br />

menos três anos e escrever uma tese (doutorado) Longman Dictionary of English Language and Culture (2005)<br />

56 MBA- Master of Business Administration; diploma universitário no qual o aluno adquire habilidades para<br />

administrar um negócios. Longman Dictionary of English Language and Culture (2005)<br />

57 C.P.A.- certified public accountant – contador público certificado<br />

58 M.D.- doctor of medicine - médico<br />

71


Com o objetivo de não prejudicar a compreensão do leitor, também há casos em que a<br />

versão brasileira não adapta a qualificação de seu autor, mas apenas a retira, como ilustrado no<br />

Quadro 3.1:<br />

Edição Americana Edição Brasileira<br />

Título Autor Título Autor<br />

Rich Dad, Poor Dad Robert T. Kiyosaki and Pai Rico, Pai Pobre Robert T. Kiyosaki and<br />

Sharon L. Lechter C.P.A.<br />

Sharon L. Lechter<br />

Find A Husband After 35 Rachel Greenwald, M.B.A Encontre Um Marido<br />

Depois dos 35<br />

Rachel Greenwald<br />

Quadro 3.1- Qualificação dos autores na edição americana e na brasileira (grifo nosso)<br />

Em Rich Dad, Poor Dad (Figura 3.15), lê-se ‘Sharon L. Lechter C.P.A’. Na versão<br />

brasileira, Pai Rico, Pai Pobre (Figura 3.16), lê-se apenas o nome da co-autora, pois a sigla não é<br />

comum no Brasil.<br />

Figura 3.15- RichDad, Poor Dad. Figura 3.16- Pai Rico, Pai Pobre.<br />

Também existe o recurso de se apresentar curto curriculum vitae na contracapa ou em<br />

uma das orelhas, expondo mais informações sobre a qualificação do autor. Na contracapa de<br />

Optimal Thinking, de Rosalene Glickman (Anexo B), há uma descrição sobre a autora:<br />

“Rosalene Glickman, Ph.D., é uma consultora que regularmente ministra<br />

seminários e grandes palestras ao redor do mundo. Ela foi homenageada como a<br />

mulher de mais sucesso da Austrália e votada como a “Mulher do Ano” pela<br />

Semana Nacional da Mulher de negócios em Hollywood. Dra Glickman mora em<br />

Los Angeles.” 59<br />

59 Optimal Thinking, contracapa (Anexo C): “Rosalene Glickman, Ph.D., is a consultant who conducts seminars<br />

regularly and addresses large audiences throughout the world. She has been honored as Australia’s Most Sucessful<br />

72


Ou ainda na contracapa de em The Dance of Anger, de Harriet Lerner (Anexo L):<br />

“Harriet Lerner, Ph.D., é uma das mais amadas e respeitadas vozes da psicologia<br />

em relação a mulher e a relações familiares. Por mais de duas décadas, ela tem<br />

trabalhado como membro do Karl Menninger School of Psychiatry. Atualmente ela<br />

trabalha em consultório próprio em Topeka, Kansas. Uma palestrante diferenciada,<br />

líder em workshops e psicoterapeuta, ela é autora de muitos bestsellers. (...) Ela<br />

também é (junto com sua irmã) vencedora de um prêmio para escritores de livros<br />

infantis. Ela mora com o marido em Kansas e tem dois filhos.” 60<br />

Cumpre observar que os trechos supracitados expõem prêmios que as autoras já<br />

receberam e as atividades que realizam atualmente. Verifica-se que, nos livros americanos, o<br />

texto que descreve o autor termina com a menção ao seu local de morada, o que normalmente não<br />

ocorre nas edições brasileiras. O segundo trecho menciona ainda que a autora é casada e tem<br />

filhos, pois é um aspecto relevante o público-alvo do livro que é feminino.<br />

Como explicado anteriormente, a experiência de vida do autor também lhe dá<br />

credibilidade para escrever sobre como enfrentar desafios. Aqui, são mencionados dois exemplos<br />

de uma tendência atual: personalidades de sucesso na área esportiva cujos textos tem a proposta<br />

de servir de modelo para o leitor.<br />

O primeiro exemplo é do técnico da Seleção Brasileira de Voleibol, Bernardinho, autor de<br />

Transformando Suor em Ouro (Figura 3.17), e o segundo é do nadador brasileiro Gustavo<br />

Borges, que escreveu Lições da Água (Figura 3.18).<br />

Woman and voted ‘Woman of the Year’ for National Business Women’s Week in Hollywood. Dr. Glickman lives in<br />

Los Angeles.”<br />

60 The Dance of Anger, contracapa (Anexo M): “Harriet Lerner, Ph.D., is one of our nation’s most loved and<br />

respected voiced on the psychology of women and family relationships. For more than two decades, she served as a<br />

staff psychologist at the Menninger School of Psychiatry. She currently has a private practice in Topeka, Kansas. A<br />

distinguished lecturer, workshop leader, and psychotherapist, she is the author of many bestselling books. (…) She is<br />

also (with her sister) an award-winning children’s book writer. She and her husband live in Kansas and have two<br />

sons.”<br />

73


Figura 3.17- Transformando Suor em Ouro. Figura 3.18- Lições da Água.<br />

Na contracapa de Transformando Suor em Ouro, é afirmado que Bernardinho é ‘o maior<br />

técnico da história do voleibol brasileiro e um dos maiores símbolos de liderança do Brasil’;<br />

assim, sua experiência o credencia como um orientador. Gustavo Borges também possui uma<br />

experiência de sucesso sendo ganhador de quatro medalhas olímpicas. Estes autores são o que<br />

Whelan (2004, p. 94) chama de gabaritados pela “experiência de vida”.<br />

3.3.3 O apelo a Jesus<br />

Durante esta pesquisa, foi verificado que, nos últimos dez anos, o termo “Jesus” tem sido<br />

recorrente em títulos de livros de auto-ajuda. Esta é uma ferramenta que visa a dar maior<br />

respeitabilidade à obra.<br />

No uso do termo ‘Jesus’, há o apelo à religiosidade, visto que, se o potencial leitor for<br />

seguidor do cristianismo, os ensinamentos de Jesus devem ser seguidos. Mesmo que o leitor não<br />

seja cristão, tem-se o uso da imagem de um respeitado personagem da história que pregou<br />

ensinamentos seguidos há mais de dois mil anos.<br />

A autora Laurie Beth Jones possui cinco obras nessa linha: Jesus CEO: Using Ancient<br />

Wisdom for Visionary Leadership; Jesus in Blue Jeans: A practical Guide To Everyday<br />

74


Spirituality (Figura 4.19); Jesus, Inc.: The Visionary Path; Jesus, Entrepreneur: Using Ancient<br />

Wisdom to Launch and Live Your Dreams e Jesus Life Coach (Figura 3.27).<br />

Outros autores também utilizam o esse recurso, como mostrado no Quadro 3.2:<br />

Título do livro Autor Ano<br />

Jesus on Leadership C. Gene Wilkes 1998<br />

Jesus, the Greatest Therapist Who Ever Lived (Figura 3.21) Mark W. Baker 2001<br />

Think Like Jesus (Figura 3.23) George Barna 2003<br />

Lead Like Jesus (Figura 3.25) Ken Blanchard & Phil Hodges 2007<br />

Influencing Like Jesus (Figura 3.35) Michael Zigarelli 2008<br />

Quadro 3.2- Outros títulos que utilizam o termo ‘Jesus’<br />

Figura 3.19- Jesus in Blue Jeans. Figura 3.20- Jesus de Jeans.<br />

Nas obras que se afirmam baseadas nos ensinamentos de Jesus, é criado uma situação que<br />

confunde o leitor, pois não fica claro de quem são as idéias do livro, se são de Jesus e apenas<br />

transcritas pelo autor do livro, ou se são exclusivas do autor.<br />

Figura 3.21- Jesus, the Greatest Therapist Who Ever Lived. Figura 3.22- Jesus, o Maior Psicólogo que já existiu.<br />

75


Figura 3.23- Think Like Jesus. Figura 3.24- Pense Como Jesus.<br />

Verificou-se ainda que a imagem de Jesus é utilizada nas mais diversas áreas,<br />

apresentando-o como aquele que pode agir na espiritualidade, ensinar sobre liderança, servir<br />

como terapeuta, ajudar a tomar decisões, bem como ensinar como ser influente e persuasivo,<br />

como exposto no Quadro 3.3.<br />

Título Área foco<br />

Jesus in Blue Jeans: A practical Guide To Everyday Spirituality espiritualidade<br />

Jesus CEO: Using Ancient Wisdom for Visionary Leadership e Jesus on Leadership liderança<br />

Jesus, the Greatest Therapist Who Ever Lived psicologia<br />

Think Like Jesus: Make the Right Decision Every Time tomada de decisões<br />

Influencing Like Jesus: 15 Biblical Principles of Persuasion persuasão<br />

Quadro 3.3- As diferentes aplicações dos ensinamentos de Jesus<br />

Figura 3.25 - Lead Like Jesus. Figura 3.26 - Lidere Como Jesus.<br />

A imagem de Jesus também é somada a outra linha adotada pelas recentes publicações da<br />

auto-ajuda: o esporte. Conceitos do mundo do esporte vêm sendo incorporados ao campo das<br />

76


publicações de desenvolvimento humano. Salerno (2005, p. 103) afirma que o uso de vocabulário<br />

relacionado a esportes dentro do movimento de auto-ajuda funciona como uma metáfora de<br />

perseverança:<br />

A idéia do esporte como uma amostra da a vida está em toda a parte. Muitos artistas do<br />

movimento de auto-ajuda vêm se autodenominando “coaches de executivos” ou ainda com<br />

o termo mais global “coach para a vida”. 61<br />

Salerno (2005) explica que o termo coaching é atrativo principalmente para homens.<br />

Segundo o autor, para os homens o coaching executivo é uma forma aceitável de psicoterapia.<br />

Mesmo hoje em dia é difícil para eles dizerem ‘Vou ver meu terapeuta’, mas é mais aceitável a<br />

frase ‘Vou ter aconselhamentos com meu life coach”. 62<br />

O livro Jesus Life Coach (Figura 3.27) traz o subtítulo ‘learn from the best’, afirmando<br />

que Jesus é o melhor dos life coaches. A imagem do técnico é representada por uma lousa com<br />

desenhos para orientar jogadores. A versão brasileira, Jesus Coach (Figura 3.28), traz em seu<br />

subtítulo a expressão ‘aprendendo com o mestre dos mestres’, e o técnico é simbolizado por um<br />

apito.<br />

Figura 3.27- Jesus Life Coach. Figura 3.28- Jesus Coach.<br />

São utilizados dois termos importantes: ‘Jesus’ e ‘coach’. O primeiro apela para a<br />

religiosidade, e o segundo para a área esportiva, ampliando de forma a persuadir um leitor, seja<br />

um homem, uma mulher, um religioso ou um agnóstico.<br />

61 Salerno (2005, p.103)” “the use of sports vocabulary inside the self-improvement movement the enduring<br />

metaphor: ‘Sports-as-workable-microcosm-for-life has achieved something like ubiquity. Many self-help and<br />

Actualization Movement artists have begun calling themselves ‘executive coaches’ and even the all-encompassing<br />

‘life coaches’.”<br />

62 Salerno (2005, p. 111)” “Calling the process “coaching” makes it especially attractive to men. For men a lot of<br />

executive coaching is really acceptable form of psychotherapy. Even nowadays, it’s still tough to say ‘I’m going to<br />

see my therapist.’ It’s OK to say, ‘I’m getting counseling from my coach.’”<br />

77


Nesta seção foram descritas as técnicas de promoção ao ethos de um livro de auto-ajuda.<br />

A confiabilidade deste tipo de publicação, que pode ser divulgada pela ênfase do embasamento<br />

científico da mesma, através do uso de termos como ‘estudos científicos’, ‘o que aprendi em<br />

Harvard’, ‘nova ciência da felicidade’, ‘fascinante pesquisa’, ‘pesquisa inédita’ e ‘ciência da<br />

evolução humana’.<br />

Também é possível evidenciar a credibilidade da obra através de depoimentos de<br />

personalidades de destaque, pela divulgação do número de livros vendidos e, finalmente, através<br />

promoção das qualificações do autor que podem ser adquiridas através do estudo ou pela<br />

experiência de vida.<br />

78


3.4 O apelo ao logos<br />

A terceira via de persuasão, o logos, ocorre em conjunto o pathos e o ethos. O logos trata<br />

da construção do raciocínio, dando lógica aos argumentos. A demonstração de evidências<br />

constrói um discurso convincente e, em uma capa de livro de auto-ajuda, os argumentos seguem a<br />

linha problema-solução. É evidenciado que o leitor possui um problema, um inimigo a ser<br />

combatido, e a solução encontra-se no livro.<br />

Conforme exposto no capítulo três, o logos persuasivo é constituído por entimemas,<br />

formados por duas premissas e uma conclusão. Pode-se resumir o raciocínio de uma capa de<br />

auto-ajuda no seguinte entimema:<br />

Premissa 1: Eu tenho um problema.<br />

Premissa 2: O livro resolve meu problema.<br />

Conclusão: Logo, devo comprar o livro.<br />

Figura 3.29- Estrutura do logos<br />

O importante, dentro do logos, é fazer com que essas premissas pareçam verdadeiras, pois<br />

segundo Aristóteles (2005, p. 33), “é pelo discurso que persuadimos, sempre que demonstrarmos<br />

a verdade ou o que parece ser a verdade”.<br />

Como afirma Citelli (2002, p. 10), o objetivo do estudo de Aristóteles sobre persuasão<br />

“não é o de saber se algo é ou não verdadeiro, mas sim [...] verificar quais os mecanismos<br />

utilizados para se fazer algo ganhar a dimensão de verdade”. Da mesma forma, não cabe a esta<br />

pesquisa comprovar se as premissas são ou não verdadeiras, mas verificar como elas são aceitas<br />

como verdades, construindo argumentos persuasivos.<br />

3.4.1 Estabelecendo a primeira premissa: ‘eu tenho um problema’<br />

Para fazer com que o leitor aceite a primeira premissa, ‘Eu tenho um problema’, o<br />

movimento de auto-ajuda baseia-se em duas linhas de raciocínio: victimization e empowerment,<br />

que também podem ser denominadas como calling e composing, conforme explicado no capítulo<br />

dois.<br />

Eu tenho um problema O livro resolve meu problema Logo, devo comprar o livro.<br />

79


Observando o título do livro, é possível detectar em qual das duas linhas o livro se<br />

enquadra. Por exemplo, na obra Toxic Parents, de Susan Forward (Figura 3.30 e Anexo M)<br />

percebe-se que o livro é baseado na linha de victimization, pois o título afirma que os problemas<br />

do leitor são devido aos seus pais. Ele é uma vítima da criação não adequada de seus<br />

progenitores.<br />

Figura 3.30- Toxic Parents. Figura 3.31- You’re Broke Because You Want to Be.<br />

Já o livro You’re Broke Because You Want to Be, de Larry Winget (Figura 3.31 e Anexo<br />

G), segue a linha de empowerment, tendo em vista que é expressa a idéia de que o leitor é o<br />

culpado por suas dificuldades, neste caso, problemas financeiros.<br />

Outro exemplo de obra baseada da linha de empowerment é encontrado na contracapa de<br />

How to Win Friends and Influence People, de Dale Carnegie (Anexo H):<br />

“Você pode buscar o trabalho que você quer... e conseguí-lo! Você pode avaliar seu<br />

trabalho atual... e melhorá-lo! Você pode analisar qualquer situação em que você<br />

esteja... e fazê-la funcionar ao seu favor!” 63<br />

No trecho acima, está presente a técnica persuasiva da repetição citada por Brown (1971,<br />

p. 28), na qual se repete “uma afirmação muitas vezes [e] com o tempo, ela será aceita por seu<br />

público”. A expressão ‘você pode’ (‘you can’) é mencionada três vezes, para fixar a mensagem<br />

de que o leitor é capaz de mudar a situação em que se encontra, mas para que atinja seus<br />

objetivos ele precisa da ajuda do livro.<br />

63 How to Win Friends and Influence People, contracapa (Anexo H): “You can go after the job<br />

you want... and get it! You can take the job you have… and improve it! You can take any<br />

situation you’re in… and make it work for you!”<br />

80


Analisando as capas através do viés calling/composing, verifica-se que a obra Purpose-<br />

Driven Life, de Rick Warren (Figura 3.32), baseia-se na linha de calling, defendendo a idéia de<br />

que se deve encontrar um caminho, um objetivo, um chamado. O subtítulo ‘Why on earth am I<br />

here for?’ questiona qual o propósito e o destino da vida.<br />

Figura 3.32- Purpose-Driven Life. Figura 3.33 - Seja Líder De Si Mesmo.<br />

Por outro lado, a obra Seja Líder de Si Mesmo, de Augusto Cury (Figura 3.33 e Anexo N),<br />

traz em sua contracapa a idéia de composing, na qual a vida precisa ser encarada como uma obra<br />

de arte, devendo ser criada e transformada.<br />

“Se compararmos a mente humana com o mais belo teatro, onde se encontra a maioria dos<br />

jovens e adultos? No palco dirigindo a peça ou na platéia sendo espectador passivo dos seus<br />

conflitos, perdas e culpas? Onde você se encontra?<br />

Ser ator principal no palco da vida não significa falhar ou não chorar. Significa refazer<br />

caminhos, reconhecer erros e aprender a gerenciar nossos pensamentos e emoções.<br />

Neste livro, você vai descobrir as ferramentas necessárias para se tornar o autor da sua<br />

própria história e fazer da sua vida um grande espetáculo.<br />

Saia da platéia! Entre no palco! Seja líder de si mesmo...”<br />

Nesse trecho, afirma-se que aqueles que administram a vida ativamente são como atores<br />

no palco, já os que são apáticos aos acontecimentos são apenas os espectadores. A comparação da<br />

vida a uma peça de teatro demonstra a idéia de tratar a vida como uma obra de arte.<br />

81


3.4.1.1 A sobreposição de categorias<br />

Os livros de auto-ajuda podem ser classificados nas categorias de auto-estima;<br />

dependência química; depressão; desenvolvimento profissional; dieta e boa forma;<br />

espiritualidade; estresse; finanças; imagem pessoal; meditação e reflexão; relacionamentos;<br />

sexualidade e sucesso. 64<br />

Entretanto, observando os títulos, esta pesquisa detectou que é comum a sobreposição de<br />

categorias, fato também citado por Whelan (2004, p. 4). A autora, ao classificar os assuntos<br />

abordados em livros de auto-ajuda, chama atenção para a sobreposição de temas ao afirmar que<br />

os livros de auto-ajuda possuem vários subtemas com focos relacionados e sobrepostos,<br />

incluindo: foco psicológico, abordando temas como confiança, ansiedade e relações<br />

interpessoais; foco espiritual, tratando de religiosidade; foco no sucesso, abordando<br />

realização social e alcance de objetivos; foco sexual no que diz respeito a atividade sexual<br />

e suas ramificações emocionais; classificação de doenças, tratando de depressão, vícios e<br />

doenças; imagem pessoal, livros sobre perda de peso e satisfação com o corpo e<br />

orientação a pais, incluindo conselhos médicos e comportamentais para criar crianças.<br />

(grifo do autor) 65<br />

Essa sobreposição de categorias pode ser observada no título The Seven Spiritual Laws of<br />

Success (As Sete Leis Espirituais do Sucesso), de Deepak Chopra (Figura 3.34). Aqui,<br />

encontramos um termo referente à espiritualidade (‘spiritual’) e outro relativo à busca pelo<br />

sucesso (‘success’). É através de leis espirituais que o sucesso será alcançado.<br />

O mesmo ocorre em Influencing Like Jesus: 15 Biblical Principles of Persuasion<br />

(Influenciando Como Jesus: 15 Princípios Bíblicos de Persuasão) de Michael Zigarelli (Figura<br />

3.35), o qual engloba assuntos de religiosidade como ‘Jesus’ e ‘princípios bíblicos’, como<br />

também aspectos ligados a relações interpessoais, como a persuasão (‘principles of persuasion’).<br />

64<br />

Categorias encontradas dentro da seção ‘livros – auto-ajuda’ dos websites e<br />

<br />

65<br />

Whelan (2004, p.4): “self-help books fall into many sub-headings with related and often overlapping foci,<br />

including: psychological, dealing with confidence, anxiety and interpersonal relations; spiritual, dealing with<br />

religious metaphysics; success, dealing with social achievement and attainment of goals; sexual, regarding physical<br />

sexual activity and its emotional ramifications; disease classifications, dealing with depression, addiction and<br />

illness; personal image, especially books on weight loss and body satisfaction; and parenting, including behavioral<br />

and medical advice on raising children” (grifo do autor).<br />

82


Figura 3.34- The Seven Spiritual Laws of Success. Figura 3.35- Influencing Like Jesus: 15 Biblical<br />

Principles of Persuasion.<br />

Esta característica de superposição de assuntos demonstra como é complexa a formação<br />

dos argumentos para convencer um leitor da validade de uma obra, pois se recorre a mais de uma<br />

área de possível interesse do leitor e, assim, através da tríade aristotélica, pathos, ethos e logos,<br />

convencer o leitor que ele tem algo para melhorar e que precisa adquirir a obra.<br />

3.4.2 Estabelecendo a segunda premissa: ‘o livro resolve meu problema’<br />

Para convencer de que o livro é um solucionador de problemas é preciso formar a opinião<br />

da segunda premissa do logos da auto-ajuda, ‘o livro resolve meu problema’. Para tal, é<br />

demonstrado em que a obra consiste e quais são suas promessas de melhora de vida. Já nos títulos<br />

e subtítulos há a apresentação do livro como um produto solucionador de problemas.<br />

Um dos maiores bestsellers da história da auto-ajuda, The 7 Habits of Highly Effective<br />

People, de Stephen R. Covey, (Figura 3.36 e Anexo B), traz em seu subtítulo a frase: ‘lições<br />

poderosas para a transformação pessoal, que foi mantida na versão brasileira (Figura 3.37). O<br />

termo ‘lições’ (‘lessons’) presente no subtítulo exprime a idéia de que existe uma maneira<br />

simples de transformar sua vida, basta seguir as ‘lições poderosas’ presentes no livro.<br />

83


Figura 3.36- The 7 Habits of Highly Effective People Figura 3.37- Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes.<br />

Além do termo ‘lições’, um segundo termo encontrado para resumir a promessa do livro,<br />

é ‘passos’, encontrado no livro Your Best Life Now, de Joel Osteen (Figura 3.38). O subtítulo<br />

afirma que o livro traz ‘7 passos para viver com todo seu potencial’ 66<br />

Figura 3.38- Your Best Life Now. Figura 3.39- O momento é este!<br />

A edição brasileira: O momento é este! reescreve esse subtítulo como ‘7 passos para<br />

encontrar a felicidade e ter uma vida plena’ (Figura 3.39). Esta obra, assim como dois livros já<br />

66 Your Best Life Now, subtítulo: ‘7 steps to living at your full potential’.<br />

84


citados, The 7 Habits of Highly Effective people e The Seven Spiritual Laws of Success, utiliza o<br />

número sete, que, dentro dos estudos cabalísticos, é considerado um número perfeito 67 .<br />

Outra forma de nomear as promessas do livro, consiste em afirmar que nele serão<br />

encontradas ‘ferramentas’ para enfrentar uma determinada dificuldade. O termo ‘ferramentas’<br />

(‘tools’) é encontrado na capa de Crucial Conversations, de Kerry Patterson (Figura 3.40 e<br />

Anexo C) e em sua edição brasileira (Figura 3.41).<br />

Figura 3.40- Crucial conversations. Figura 3.41- Conversas decisivas.<br />

Na obra The 100 Simple Secrets of Happy People, de David Niven (Figura 3.42), é<br />

encontrado o termo ‘secrets’ (‘segredos’) para definir o que será encontrado no livro. Esse termo<br />

também é usado na versão brasileira (Figura 3.43). Ao prometer ‘segredos’, o livro transmite a<br />

idéia de que possui uma mensagem misteriosa, mágica e especial, que pode ser revelada através<br />

da leitura do mesmo.<br />

67 O estudo da cabala (teoria de decifração de um sentido secreto de números e letras) destaca que “existem mais de<br />

1500 referencias ao número sete na Bíblia. Concluída a criação em seis dias, Deus abençoou o sétimo, o Domingo,<br />

como dia de descanso. […] Inúmeras religiões contam sete céus. […] Sete voltas em torno da Kaaba sagrada, em<br />

Meca, completam a peregrinação mulçumana. [...] Os cristãos tem sete sacramentos. [...] Buda alcançou a iluminação<br />

durante a sétima semana sobre a Árvore Bodhi” (WILLIAMS-HELLER, 1990, p. 98).<br />

85


Figura 3.42 - The 100 Simple Secrets of Happy People. Figura 3.43 - Os Segredos das Pessoas Felizes.<br />

O termo ‘secret’ possui um forte apelo de venda, sendo utilizado com recorrência, pois<br />

exprime a idéia de algo que você não conhece, mas pode descobrir, atiçando a curiosidade. O<br />

termo é o título, segundo Bydlowski (2007), do maior fenômeno editorial da história: The Secret,<br />

de Rhonda Byrne (Figura 3.44), sendo a única expressão escrita na capa, além do nome da autora.<br />

A imagem de um lacre em cera e de um papel antigo reforça a mensagem de que o livro possui<br />

um segredo guardado há bastante tempo.<br />

Figura 3.44- The Secret.<br />

Na análise do corpus desta pesquisa, foram detectadas as seguintes expressões para<br />

denominar o que o leitor vai encontrar no livro: ‘segredos’, ‘um caminho, ‘um plano’, ‘lições’,<br />

86


‘métodos’, ‘programa’, ‘regras’, ‘passos’, ‘modelo’, ‘fórmula’, ‘estratégias’ e ‘ferramentas’.<br />

(Quadro 3.4)<br />

As promessas de soluções são:<br />

um caminho<br />

estratégias<br />

ferramentas<br />

uma fórmula<br />

lições<br />

métodos<br />

um modelo<br />

passos<br />

um plano<br />

um programa<br />

regras<br />

segredos<br />

Quadro 3.4- Termos referentes às promessas do livro<br />

Como exemplo final, na contracapa de A Revolução dos Campeões, de Roberto<br />

Shinyashiki (Anexo G), há a utilização de três dos termos acima listados como promessa de<br />

solução de problemas:<br />

“Neste livro, Roberto Shinyashiki, com a profundidade e a simplicidade de outros bestsellers,<br />

nos indica um caminho para estruturar uma carreira profissional vitoriosa e<br />

com princípios. A Revolução dos Campeões nos mostra um modelo de realizações<br />

muito mais poderoso, porque estimula todos a crescer. Sem soluções mágicas, mas com<br />

fórmulas que funcionam” (grifo nosso).<br />

Estas expressões buscam mostrar que a obra traz mensagens simples e objetivas, pois os<br />

leitores querem respostas rápidas e fáceis, como explica Salerno (2005, p. 33) ao citar as palavras<br />

de um psicólogo que afirma que<br />

as pessoas compram livros porque elas estão procurando respostas. [...] Em geral as<br />

pessoas em nossa cultura não querem pensar através de questões complexas. As pessoas<br />

querem saber, ‘O que eu faço?’ E para responder esta pergunta haverá uma tendência à<br />

super-simplificação. 68<br />

Por meio da descrição de um livro, em textos presentes na capa, na contracapa e nas<br />

orelhas, é comum verificar que não se define como sendo apenas um simples livro, mas sim<br />

68 Salerno (2005, p. 33): “people buy self-help books because they’re looking for answers. […] In general, people in<br />

our culture don’t want to think through complex issues. They want to know, ‘What do I do?’ And when that’s the<br />

need you´re trying to meet […] there’s going to be a tendency to oversimplify.”<br />

87


como uma aquisição que transformará a vida de seu leitor. No corpus analisado, a palavra ‘livro’<br />

foi substituída pelos termos presentes no Quadro 3.5:<br />

Não é apenas um livro é ...<br />

a must-read (uma leitura obrigatória)<br />

a master companion (um sábio companheiro)<br />

a masterpiece of wise counsel (uma matéria-prima de aconselhamento)<br />

a manual (um manual)<br />

a guide (um guia)<br />

a priceless gift (um presente inestimável)<br />

a widely acclaimed bestseller (um bestseller aclamado)<br />

an outstanding job (um trabalho de destaque)<br />

an empowering philosophy for life (uma poderosa filosofia para a vida)<br />

an opportunity (uma oportunidade)<br />

Quadro 3.5- Expressões utilizadas no lugar do termo ‘livro’<br />

Na descrição de The 7 Habits of Highly Effective People (Anexo B), é utilizada a frase:<br />

‘Em Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, ele [o autor] nos oferece uma<br />

oportunidade, não um guia how-to’ 69<br />

O termo ‘livro’ é substituído pela palavra ‘oportunidade’, e a idéia de um guia how-to é<br />

negada. Aqui, funciona a técnica de substituição de nomes descrita por Brown (1971, p. 28), na<br />

qual influencia-se o público pela substituição de “termos neutros inadequados a seu propósito”.<br />

Stine (1997, p. 3) afirma que “palavras como ‘avanço’, ‘extraodinário’, ‘perspicaz’,<br />

‘único’, ‘iluminante’ e ‘irresistível’ são chavões que irão entusiasmar os leitores”. 70<br />

Na contracapa de Getting Things Done, de David Allen (Anexo J), encontra-se um dos<br />

termos destacados por Stine (1997): ‘avanço’ (‘breakthrough’), e mais uma vez é citado o termo<br />

‘coach’, discutido na seção 3.3.3:<br />

“Coach experiente e consultor administrativo, David Allen compartilha seus métodos<br />

avançados de performance livre de estresse que ele tem apresentado a milhares de<br />

pessoas por todo pais” 71 (grifo nosso).<br />

Outra ocorrência do mesmo termo ocorre na contracapa de Crucial Conversations (Anexo<br />

D), onde um depoimento escrito por Stephen R. Covey expõe:<br />

“Este livro é um avanço. Fui profundamente influenciado, motivado e até mesmo<br />

inspirado – aprendendo novas idéias, aprofundando idéias antigas, vendo novas<br />

aplicações e aumentando meu entendimento”. 72<br />

69<br />

The 7 Habits of Highly Effective People, contracapa (Anexo B) ‘In The 7 Habits of Highly Effective People, he [the<br />

autor] offers us an opportunity, not a how-to guide.”<br />

70<br />

Stine (1997, p.3): “words like ‘breakthrough’, ‘extraordinary’, ‘insightful’, ‘unique’, ‘illuminating’, ‘compelling’,<br />

are the hot buzzwords that will excite readers.”<br />

71<br />

Getting Things Done, contracapa (Anexo J) “Veteran coach and management consultant David Allen shares his<br />

breakthrough methods for stress-free performance that he has introduced to tens of thousands of people across the<br />

country” (grifo nosso).<br />

88


3.4.2.1 Ampliando a abrangência da obra<br />

Dentro do logos persuasivo, para convencer um leitor que a segunda premissa, ‘O livro<br />

resolve meu problema’, é verdadeira, é comum destacar a abrangência do livro, afirmando que<br />

ele se aplica tanto à vida pessoal como à profissional.<br />

Este apelo em mostrar o grande alcance do livro é citado em Optimal Thinking (Anexo C)<br />

onde lê-se: ‘negócios’, ‘relacionamentos pessoais’.<br />

“Renda o máximo nos negócios e nos relacionamentos pessoais” 73<br />

Em How to Win Friends and Influence People (Anexo I), também é apresentada a<br />

dualidade de servir para a vida pessoal e profissional. Este argumento aumenta o alcance do<br />

produto, afirmando que ele é importante para os mais diversos leitores, desde uma dona de casa a<br />

um homem de negócios.<br />

“Por mais de 50 anos os conselhos firmes e testados deste livro têm levado milhares de<br />

pessoas, agora famosas, a subir a escada do sucesso em seus negócios e na vida<br />

pessoal” 74<br />

A obra Getting Things Done (Anexo J) também traz a dualidade de promessas relativas ao<br />

trabalho e à vida: ‘Descubra os métodos poderosos de David Allen e aumente sua organização<br />

pessoal, eficiência e resultados criativos – no trabalho e na vida’. 75<br />

Essa característica também foi encontrada em Pais Brilhantes, Professores Fascinantes,<br />

de Augusto Cury (Anexo S), onde se afirma que o livro apresenta ‘dez técnicas pedagógicas que<br />

podem revolucionar a sala de aula e a de casa’.<br />

Se mesmo após afirmar que o livro irá solucionar dificuldades pessoais e profissionais, o<br />

leitor pensar que possui algum problema que o livro não englobe, ainda há afirmações ainda mais<br />

arrebatadoras: a de que, com o livro, será possível alcançar ‘tudo o que se quer’; ‘qualquer coisa’;<br />

‘todos seus objetivos e sonhos’.<br />

72 Crucial Conversations, contracapa (Anexo D): “This is a breakthrough book. I found myself being deeply<br />

influenced, motivated, and even inspired – learning new ideas, going deeper into old ideas, seeing new applications,<br />

and broadening my understanding” (grifo nosso).<br />

73 Optimal Thinking, contracapa (Anexo C): “Function at your peak in business and personal relationships”<br />

74 How to Win Friends and Influence People, contracapa (Anexo I) “For over 50 years the rock-solid, time-tested<br />

advice in this book has carried thousands of now famous people up the ladder of success in their business and<br />

personal lives”<br />

75 Getting Things Done, contracapa (Anexo J): “Discover David Allen’s powerful methods and vastly increase your<br />

personal organization, efficiency, and creative results – at work and life.”<br />

89


Como exemplos, na contra capa de Optimal Thinking (Anexo C) é citado: ‘Tome as<br />

melhores decisões em todas as situações’ 76 . Na contracapa do livro Transformando Suor em<br />

Ouro, de Bernardinho, lê-se que ‘as lições do Bernardinho se aplicam a qualquer setor da<br />

atividade humana’ e em Jesus Life Coach, de Laurie Beth Jones, cita-se que:<br />

“Este é seu livro para o sucesso – uma riqueza de informações e inspiração que irá<br />

motiva-lo a vencer em todos os caminhos da vida. Jones, coach dos maiores líderes de<br />

empresas d atualidade, usa suas habilidades e experiência para leva-lo a pensar,<br />

trabalhar e alcançar todos seus objetivos e sonhos”. 77<br />

76 Optimal Thinking, contracapa (Anexo C): ‘Make the most constructive decisions in every situation’.<br />

77 Jesus Life Coach: “This is your playbook for success – a wealth of information and inspiration that will motivate<br />

you to excel in and enjoy all walks of life. Jones, a coach for some of today’s leading CEOs, uses her skills and<br />

experience to get you thinking, working, and achieving all your goals and dreams”<br />

90


3.5 A linguagem não-verbal<br />

A mensagem persuasiva em capas de livros de auto-ajuda é transmitida através da<br />

combinação da linguagem verbal e não-verbal. As imagens, quando presentes nas capas, também<br />

possuem a função de chamar a atenção do leitor e instigá-lo a leitura da obra. Os desenhos e as<br />

fotografias, bem como o uso de cores, complementam o significado do texto.<br />

Esta seção propõe-se a fazer uma breve análise das imagens eventualmente mostradas<br />

durante a discussão sobre a tríade aristotélica presente nas capas de auto-ajuda.<br />

Verificou-se que os símbolos nas capas se repetem, sendo possível agrupá-las por temas.<br />

O primeiro grupo de capas a ser aqui descrito é aquele com imagens que representam o amor<br />

entre casais (Figuras 3.6, 3.7 e Anexo L). Nas três imagens abaixo, a tradicional imagem de<br />

corações é utilizada para simbolizar os casais apaixonados.<br />

Figuras 3.6, 3.7 e Anexo L - Corações e casais apaixonados.<br />

São apresentados, em cada uma dessas imagens, um casal feliz passeando em carro; um<br />

outro representado por smilies e outro casal em uma cama. Estas imagens transmitem uma<br />

mensagem clara de que o livro trata de relacionamentos amorosos. As figuras dos casais felizes<br />

também exercem a função de sensibilizar leitor e estimulá-lo a adquirir uma obra que irá<br />

contribuir para sua felicidade amorosa.<br />

Uma outra representação do amor em imagens é a da relação pai-filho. (Figuras 3.16 e<br />

Anexo S). No corpus desta pesquisa foram encontradas duas fotografias semelhantes: pai e filho<br />

que passeiam calmamente pela praia e contemplam o mar.<br />

91


Os dois livros tratam sobre educação e orientação financeira, respectivamente. Esta<br />

imagem apela para o pathos, transmitindo a idéia de que o livro explica como ter uma relação<br />

pai-filho cuidadosa e pacífica e, conseqüentemente, uma vida tranqüila e feliz.<br />

Anexo S e Figura 3.16- Amor entre pais e filhos.<br />

Um recurso encontrado em cinco das obras aqui estudadas, foi o a simbologia do anel. as<br />

cinco obras aqui demonstradas abaixo (Figuras 3.8, 3.9, 3.11, 3.12 e Anexo F), os anéis<br />

representam compromisso e união.<br />

A segunda imagem reforça a idéia do casamento através de mais uma ilustração, um<br />

bouquet de noiva. A terceira capa mostra um anel de brilhantes, utilizado como símbolo de<br />

compromisso na cultura americana, sendo assim a versão brasileira desta obra adaptou a imagem,<br />

utilizando a aliança de casamento.<br />

Figuras 3.8, 3.9, 3.11, 3.12 e Anexo F- uso de aneis<br />

92


Outro grupo de imagens refere-se a transmitir a cena de campeões (Figuras 3.17, 3.18 e<br />

Anexo G). A primeira capa mostra o técnico de voleibol sendo ovacionado por seu time, em<br />

comemoração a vitória de um título.<br />

A segunda imagem apresenta o nadador em momento de concentração, antes de um<br />

mergulho, olhando para um ponto fixo em sua frente. Este olhar simboliza a forma como um<br />

vencedor deve encarar a vida, de forma consciente e objetiva.<br />

A terceira capa mostra a imagem de um homem de negócios, vencendo uma corrida ao<br />

cruzar uma linha de chegada. A vestimenta do vencedor, terno e gravata, serve para identificar<br />

que o livro é voltado para executivos.<br />

Figuras 3.17, 3.18 e Anexo G- Imagens de campeões.<br />

Em duas das figuras supracitadas (Figuras 3.17 e 3.18), o campeão mostrado é também o<br />

autor do livro. Quando o autor da obra é uma pessoa conhecida do público, a imagem dele é<br />

utilizada de forma a destacar o ethos da obra.<br />

As obras das Figuras 3.38 e Anexo J, quando da versão brasileira (Figuras 3.39 e 3.45),<br />

tiveram as imagens dos autores retiradas, pois, por não serem populares em nosso país, acabariam<br />

por dificultar a compreensão e atração da capa.<br />

93


Figuras 3.38, Anexo J, 3.39 e 3.45 - Imagem de autores americanos e adaptações da edição brasileira.<br />

As cores constituem outro recurso utilizado para persuadir um leitor. O significados delas<br />

num determinado texto é definido pelas relações existentes entre as mensagens verbais e não-<br />

verbais nele presentes, ou seja, é preciso analisar as cores dentro do contexto do anúncio.<br />

(GONZALES, 2003)<br />

As diferentes associações, idéias ou estados de espírito provocados pelas cores são,<br />

segundo Hepner (apud SANT’ANNA, 1996, p.182), expostas no Quadro 3.6:<br />

Cor Idéia<br />

Vermelho lembra fogo, calor, excitação, força<br />

Rosa suavidade, frescor, fragrância<br />

Laranja calor, ação, força, sabor<br />

Marrom riqueza, solidez, luxúria, desenvoltura<br />

Amarelo claridade, esportividade, desenvoltura<br />

Azul-marinho frio, formalismo, meditação<br />

Azul claro frescor, fragilidade, juventude<br />

Verde-escuro doentio, barato<br />

Verde-claro refrescante, novo, arejado<br />

Púrpura realeza, imponência, opulência<br />

Cinza maciez, docilidade, cautela<br />

Branco pureza, limpeza, castidade<br />

Preto força, mistério, suspense, frieza.<br />

Quadro 3.6- Cores e idéias transmitidas.<br />

A cor azul é bastante utilizada em capas de edições brasileiras que buscam transmitir a<br />

idéia de tranqüilidade e paz, como nas imagens abaixo (Figuras, 3.22, 3.24, 3.26 e 3.47).<br />

Conforme exposto no quadro 3.6, o azul remete à meditação, como na figura de Gustavo Borges<br />

e ao frescor de uma praia tranqüila, como na última imagem.<br />

94


Figuras 3.22, 3.24, 3.26, 3.18 e Anexo S- Capas em azul<br />

Contudo, como explica Gonzales (2003, p. 20) “uma mesma cor pode assumir diversos<br />

significados conforme o texto em que está inserida, pois é a coerência textual que permite<br />

detectar qual, dentre os vários significados da cor empregada, se encaixa naquele contexto”.<br />

Na cultura americana, a cor azul remete à tristeza, assim, as obras originalmente<br />

americanas aqui expostas, não utilizam esta cor. Como mostrado nas Figuras 3.21, 3.23 e 3.25, os<br />

livros que remetem ao termo ‘Jesus’, ao invés do azul usam o vermelho, que lembra força e vida.<br />

Figuras 3.21, 3.23 e 3.25- Capas em vermelho.<br />

95


Por último, estão agrupadas as capas que utilizam a cor rosa, que está tradicionalmente<br />

ligada ao feminino:<br />

Figuras 3.3, 3.4, 3.5, Anexo E e Figura A- Capas em cor rosa.<br />

Segundo Sant’anna (1996), o uso das cores serve para chamar a atenção; dar mais<br />

realismo aos objetos e cenas; estimular a ação; embelezar a peça e torná-la mais atrativa e formar<br />

a atmosfera adequada.<br />

A cor rosa, conforme o Quadro 3.6 representa suavidade, e é utilizada nas obras<br />

brasileiras e americanas (Figuras 3.3, 3.4, 3.5, Anexo E e Figura A). As possíveis leitoras, ao<br />

visualizarem a capa, devido à simbologia desta cor, identificaram que a obra é para o público<br />

feminino, complementando a mensagem da capa.<br />

O uso da linguagem não-verbal contribui para a persuasão da capa de um livro de auto-<br />

ajuda. Os desenhos, fotografias e cores são mais um meio de desencadear o interesse pela obra,<br />

tornando a capa mais atrativa, reforçando da mensagem textual e estimulando a aquisição da<br />

obra.<br />

96


CAPÍTULO 4 – Aplicação em sala de aula<br />

97<br />

“A good teacher is like a candle - it consumes<br />

itself to light the way for others.”<br />

(Unknown Author)<br />

As capas de livros de auto-ajuda são uma rica ferramenta para análise e produção textual<br />

dentro de sala de aula. Neste capítulo são apresentadas atividades que podem ser aplicadas numa<br />

sala de aula de língua materna ou estrangeira, em ensino médio ou universitário, visando<br />

aprendizagem de vocabulário e produção textual e artística.<br />

Aplicando o tema desta pesquisa, os meios de persuasão de Aristóteles, ethos, pathos e<br />

logos são apresentados sem a terminologia original, mas sendo denominados por expressões<br />

como: ‘apelo emocional’, ‘credibilidade’ e ‘mensagem convincente’.<br />

4.1 Primeira atividade: reconhecendo o discurso de capa de livro de auto-ajuda<br />

Como brainstorming esta atividade apresenta um texto sem mencionar sua fonte:<br />

Fate is late! For women 35 to 95, it’s time to get proactive if you want to find a<br />

husband. The rules for finding the right mate change later in life, as there are fewer<br />

eligible men and fewer opportunities to meet them.<br />

A partir deste trecho são feitos os seguintes questionamentos:<br />

1) De onde este texto foi retirado?<br />

2) Que tipo de público ele almeja atingir?<br />

3) Como se visa atingir este público?<br />

4) Você concorda com o que texto afirma?<br />

Após discussão, explica-se que se trata de um texto retirado de um livro de auto-ajuda.<br />

Em seguida são expostas outras questões que irão introduzir as características de uma capa de<br />

livro de auto-ajuda. O restante do parágrafo é apresentado:<br />

Now successful dating coach Rachel Greenwald shares her proven 15-step action<br />

program based on simple marketing tactics she learned at Harvard Business<br />

School. These innovative and smart tactics will empower any woman to find a<br />

husband quickly and efficiently - and not just any husband: a wonderful husband.


1) Qual o objetivo do livro?<br />

2) Como a leitora irá atingir este objetivo?<br />

3) Qual argumento é utilizado para convencer credibilidade do livro?<br />

4) Você acha este argumento eficaz? Por que?<br />

Dentro destas perguntas, pode ser explorado que há a possibilidade de utilizar argumentos<br />

que apelam para o emocional (pathos) e outros que demonstram a confiabilidade da obra (ethos).<br />

Explica-se que a capa de um livro funciona como uma peça publicitária, ou seja, uma mensagem<br />

é criada de forma a convencer o leitor da compra de um produto. Esta mensagem precisa<br />

conduzir o raciocínio do leitor de forma que ele acredite que nela (logos). Em seguida, a capa<br />

original de onde foram retirados os textos citados acima é apresentada:<br />

Figura 4.1- Contracapa de Find a Husband After 35.<br />

98


4.2 Segunda atividade: explorando a linguagem não-verbal<br />

As imagens também transmitem significado e contribuem para a mensagem da capa.<br />

Nesta atividade, é mostrada uma figura retirada de uma capa.<br />

Pergunta-se ao aluno: ‘Na sua opinião, qual o assunto tratado nesta obra? Por que?’ Em<br />

seguida demonstra-se a capa do livro, que aborda, dentro do mundo dos negócios, como sair de<br />

uma situação conflituosa para uma cooperação.<br />

Figura 4.2- Explorando imagens<br />

Em outra atividade também, além das figuras, é explorado o uso de cores. Demonstrando<br />

uma capa, na qual o texto foi retirado, questiona-se: ‘Observando as cores e imagens, o que você<br />

imagina que é tratado neste livro? Por que?’<br />

Figura 4.3- explorando cores<br />

99


Esta capa possui a cor azul que transmite a mensagem de tranqüilidade. A idéia de<br />

calmaria é reforçada com as imagens das dobraduras, que são atividades manuais que demandam<br />

tempo e paciência. Após discussão sobre qual tema o livro abordaria, é demonstrada a capa<br />

original do livro O Poder da Paciência de M. J. Ryan.<br />

Figura 4.4- Capa completa de O poder da paciência<br />

4.3 Terceira atividade: trabalhando a linguagem verbal<br />

Esta atividade pode ser desenvolvida como trabalho em grupos. Cada grupo é encarregado<br />

de criar uma estratégia de venda de livro através de telemarketing. Nesse caso, os alunos devem<br />

utilizar exclusivamente os elementos textuais, visto que a conversa acontece via telefone. Para<br />

auxiliá-lo, são apresentadas as orientações:<br />

100<br />

1) Qual o objetivo do livro?<br />

2) Você precisa convencer o cliente de que o livro é eficaz, que argumentos você<br />

vai usar para demonstrar a credibilidade da obra?<br />

3) Que argumentos com apelo ao emocional você pode utilizar?<br />

Um grupo de alunos fica responsável por ser o ouvinte e este grupo, juntamente com os<br />

outros que apresentaram, decidirão aquele que construiu o melhor discurso de venda.


4.4 Quarta atividade: produzindo uma capa<br />

Nesta atividade os alunos são encarregados de elaborar uma capa para um livro com o<br />

título: Aprendendo a Lidar com Pessoas Difíceis.<br />

Aqui será exigido que os alunos apliquem os conceitos discutidos nas atividades<br />

anteriores e utilizem recursos verbais e não-verbais, orientando-se pelas seguintes perguntas:<br />

1) Que problema(s) o leitor possui que o motiva a procurar ajuda?<br />

2) O que o livro promete?<br />

3) Como é conduzida a obra?<br />

4) Que elementos dão credibilidade ao autor? E a obra?<br />

5) Que elementos apelam para o emocional?<br />

6) Que imagem pode ser utilizada?<br />

Após a produção dos alunos as capas são comparadas e elege-se a que se mostrou mais<br />

eficaz. O título Aprendendo a lidar com pessoas difíceis já existe no mercado e os alunos podem<br />

ter acesso as capas originais das edições americana e brasileira e comparar as imagens e o texto<br />

com as capas produzidas pelos alunos.<br />

Figura 4.5- Comparação da capa brasileira, a americana e as produzidas pelos alunos.<br />

As atividades aqui apresentadas são apenas algumas idéias de como aplicar, em sala de<br />

aula, o uso de capas como mensagem persuasiva. Além de serem usadas para aprendizagem de<br />

vocabulário e produção textual e estimular a criatividade artística, estas atividades visam<br />

aumentar o senso crítico do aluno. Aquele que estiver a par das técnicas persuasivas utilizadas<br />

pelo marketing, torna-se um cidadão consciente e preparado contra as armadilhas do mercado<br />

publicitário.<br />

CAPAS<br />

PRODUZIDAS<br />

PELOS ALUNOS.<br />

101


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

No início desta pesquisa, foi demonstrado que, nas últimas décadas, o número de vendas<br />

de livros de auto-ajuda tem aumentado significativamente. Este fenômeno deve-se à combinação<br />

da busca por orientações dentro de um mundo cada vez mais competitivo e ao marketing<br />

desenvolvido pelas editoras ao oferecerem produtos repletos de promessas de melhoria de vida.<br />

Uma importante ferramenta para a venda de um livro é a linguagem presente em sua capa,<br />

a qual busca convencer um potencial leitor de que uma obra precisa ser adquirida. As capas de<br />

livros de auto-ajuda comportam-se como um anúncio publicitário, pois elas visam a: (i) chamar<br />

atenção para o produto; (ii) despertar um motivo para a aquisição; (iii) desencadear emoções e<br />

segurança; (iv) criar convicção e (v) induzir à ação de compra.<br />

Dentro do discurso da auto-ajuda, uma capa deve convencer um leitor de que ele possui<br />

um problema e de que o livro é a solução. Estes problemas podem ser financeiros, de<br />

relacionamento, de saúde física ou mental.<br />

A retórica de Aristóteles explica que são três os meios de persuasão: ethos, pathos e<br />

logos. Ethos é o apelo para a credibilidade do orador, pathos é o apelo para a emoção do ouvinte<br />

e o logos é a construção do raciocínio lógico e demonstrações de evidências. Aristóteles (1998, p.<br />

175) afirma que “todos homens, ao fazerem um juízo, são persuadidos ou porque são tomados<br />

por uma certa emoção, ou porque consideram que o orador possui certas qualidades, ou porque<br />

houve uma demonstração concludente”.<br />

As capas de bestsellers possuem argumentos baseados nos três meios de persuasão<br />

aristotélicos, pois há a demonstração credibilidade da obra (ethos), há o apelo ao emocional do<br />

leitor (pathos) e o discurso é construído de forma lógica e convincente.<br />

Estes elementos persuasivos são encontrados nos diferentes itens presentes na capa: título,<br />

subtítulo, dados de venda, informações sobre o autor, descrição da obra, exposição do problema,<br />

promessas, depoimentos e também pela linguagem não-verbal através de cores e imagens.<br />

Para atingir um leitor através do pathos, é utilizado o apelo às necessidades psicológicas,<br />

como o amor, a amizade e a necessidade de pertencer a grupos sociais. São utilizadas perguntas<br />

para criar um diálogo com o leitor, como também termos escolhidos de forma a emocionar o<br />

leitor ao expor os problemas, o que Brown (1971) chama de apelo ao inimigo.<br />

102


Também é possível persuadir um leitor ao evidenciar a confiabilidade da obra. Na<br />

construção do ethos da obra, são citadas a formação ou a experiência de vida do autor, e a<br />

afirmação de que a obra é baseada em dados científicos.<br />

Na construção do logos, o processo de conquista de um leitor é eficaz quando o discurso presente<br />

na capa possui argumentos que pareçam verdadeiros aos olhos do leitor. Aristóteles (2005, p. 33),<br />

dentro de seu estudo sobre retórica, afirma que “é pelo discurso que persuadimos, sempre que<br />

demonstrarmos a verdade ou o que parece ser a verdade”.<br />

As mensagens das capas devem se desencadear de maneira que o leitor mentalize as<br />

idéias: ‘eu tenho um problema’ e o ‘livro resolve meu problema’. Para a construção deste<br />

raciocínio, este tipo de publicação baseia-se em duas linhas: a idéia de que um indivíduo é uma<br />

vítima de uma força maior (victimization), como uma doença ou devido a maus pais, ou a idéia de<br />

que cada um tem o poder de decidir sua vida (empowerment).<br />

A auto-ajuda também pode ser explicada pela corrente na qual é defendido que os<br />

indivíduos precisam encontrar sua vocação (calling) ou na qual o conceito de que a vida é aberta<br />

para diferentes possibilidades e que as pessoas precisam se adaptar às novas oportunidades que<br />

aparecem (composing).<br />

Esta pesquisa não buscou afirmar se o que os livros prometem é ou não verdadeiro. O<br />

objetivo foi analisar as técnicas de convencer o leitor das idéias apresentadas na capa. Assim<br />

como o objetivo da retórica, segundo Citelli (2002, p.10), “não é o de saber se algo é ou não<br />

verdadeiro, mas sim [...] verificar quais os mecanismos utilizados para se fazer algo ganhar a<br />

dimensão de verdade”.<br />

A retórica de Aristóteles mostra-se como uma ferramenta eficaz para análise da<br />

linguagem persuasiva das capas, pois segundo Figueiredo Neto (2008, p. 190), “a retórica está<br />

mais viva do que nunca nos dias de hoje. A publicidade, mesmo que inconscientemente, utiliza-se<br />

de sua estrutura para levar os consumidores às ações de compra dos produtos oferecidos”.<br />

103


Fontes Primárias<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Books, 2003.<br />

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BARNA, George. Think Like Jesus: Make the Right Decision Every Time. Brentwood,<br />

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Entertainment, 2004.<br />

BLANCHARD, Ken, HODGES, Phil. Lead Like Jesus: lessons from the Greatest Leadership<br />

Role Model of All Time. Tomas Nelson, 2007.<br />

BRINKMAN, Rich e KIRSCHMER, Rick. Dealing With People You Can’t Stand: how to bring<br />

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CARNEGIE, Dale. How to Win Friends and Influence People. 1998 Edition. New York: Pocket<br />

Books, 1936.<br />

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CHOPRA, Deepak, The Seven Spiritual Laws of Success. New World Library, 1994.<br />

COVEY, Stephen R. The 7 Habits of Highly Effective People. 15th Anniversary Edition New<br />

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KIYOSAKI , Robert T. LECHTER, Sharon L. Rich Dad Poor Dad. Business Plus, 2000.<br />

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Edições Brasileiras<br />

ALLEN, David A Arte de Fazer Acontecer: uma formula anti-stress. Campus, 2005.<br />

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BERNARDINHO. Transformando Suor em Ouro. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.<br />

BLANCHARD, Ken, HODGES, Phil. Lidere Como Jesus: lições do maior modelo de liderança<br />

de todos os tempos. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.<br />

BORGES, Gustavo. Lições da Água. São Paulo: Gente, 2002.<br />

BRINKMAN, Rich e KIRSCHMER, Rick. Aprendendo a Lidar com Pessoas Difíceis: 24 lições<br />

para transformar suas relações de trabalho. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.<br />

CARTER, Steven, SOKOL, Julia. O Que Toda Mulher Inteligente Deve Saber. Rio de Janeiro:<br />

Sextante, 2006.<br />

CERBASI, Gustavo. Casais Inteligentes Enriquecem Juntos. São Paulo: Gente, 2004.<br />

COVEY, Stephen R. Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. Best Seller, 2005<br />

CARNEGIE, Dale. Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas. São Paulo: Nacional, 2003<br />

CURY, Augusto. Seja Líder De Si Mesmo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.<br />

_______. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.<br />

FORWARD, Susan. Pais Tóxicos: como superar a interferência sufocante e recuperar a liberdade<br />

de viver. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.<br />

111


GREENWALD, Rachel. Como encontrar um Marido Depois dos 35. Rio de Janeiro: Sextante,<br />

2004.<br />

JONES, Laurie Beth. Jesus Coach. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.<br />

______. Jesus de Jeans: Butterfly, 2002.<br />

______. Jesus No Coração da Empresa: um guia espiritual para o empreendedor visionário<br />

alcançar o verdadeiro sucesso. Butterfly, 2003.<br />

KYAN, M. J. O poder da Paciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.<br />

LERNER, Harriet. Mudando os Padrões dos Relacionamentos Íntimos: manual da mulher para<br />

controlar a raiva e viver melhor. Cultrix, 2007.<br />

MOLLOY, John T. Por que os Homens se Casam com Algumas Mulheres e Não com Outras.<br />

Rio de Janeiro: Sextante, 2005.<br />

NIVEN, David. Os 100 Segredos das Pessoas Felizes. Rio de Janeiro: Sextante: 2001.<br />

______. Os 100 Segredos dos Bons Relacionamentos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.<br />

OSTEEN, Joel. O momento é este!: 7 Passos para encontrar a felicidade hoje e ter uma vida<br />

plena. Best Seller: 2005.<br />

PATTERSON, Kerry. Conversas Decisivas: ferramentas de negociação quando as apostas são<br />

altas. Campus, 2002.<br />

SHINYASHIKI, Roberto. A Revolução dos Campeões. São Paulo: Gente, 1995.<br />

WARREN, Rick. Uma vida com propósitos: você não está aqui por acaso. Editora Vida, 2003.<br />

WILKES, C. Gene. A Liderança de Jesus. Tyndale House , 1998.<br />

112


113


ANEXOS


EDIÇÕES AMERICANAS<br />

ITENS PRESENTES NA CAPA, CONTRACAPA E ORELHAS<br />

Item no<br />

centro<br />

óptico<br />

Subtítulo<br />

Dados de<br />

venda<br />

Imagem<br />

Informação<br />

sobre o<br />

autor<br />

Foto do<br />

autor<br />

Exposição<br />

do problema<br />

Descrição<br />

da obra<br />

Promessas Depoimento<br />

Crucial Conversations T � � � � � � �<br />

Find a Husband After 35 T � � � �<br />

Getting Things Done T � � � � � � � � �<br />

He’s Not That Into You � � � � � �<br />

How to Win Friends and Influence People T � � � � �<br />

Influencing Like Jesus T � � � � � � �<br />

Jesus CEO � �<br />

Jesus in Blue Jeans T � � � � � �<br />

Jesus Life Coach T � � � � � � �<br />

Jesus on Leadership i � � � � �<br />

Jesus, Entrepreneur � � � � � � � �<br />

Jesus, Inc T � � � � � �<br />

Jesus, the Greatest Therapist Who Ever Lived T � �<br />

Lead like Jesus T � �<br />

Optimal Thinking � � � � � � �<br />

Rich Dad, Poor Dad T � � � � � � � � �<br />

The 7 Habits of Highly Effective People T � � � �<br />

The 100 Simple Secrets of Happy People T � � � � � �<br />

The 100 Simple Secrets of Great Relationship T � � � � � �<br />

The Dance of Anger T � � � � � � � � �<br />

The Purpose-Driven Life T � � � � � �<br />

The Secret T � � �<br />

The Seven Spiritual Laws of Success � �<br />

Think like Jesus � � � � � �<br />

Toxic Parents T � � � � � � �<br />

What Happy People Know T � � �<br />

What Smart Women Know T � � � � � �<br />

Why Men Marry Some Women and Not Others T � � � � �<br />

You’re Broke because You Want to Be T � � � � � � � �<br />

Your Best Life Now � � � � �<br />

114


EDIÇÕES BRASILEIRAS<br />

Título no<br />

centro<br />

óptico<br />

Subtítulo<br />

Dados de<br />

venda<br />

Imagem<br />

Informação<br />

sobre o<br />

autor<br />

Foto do<br />

autor<br />

Exposição<br />

do<br />

problema<br />

Descrição<br />

da obra<br />

Promessas Depoimento<br />

Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes T � � � � � �<br />

Os 100 Segredos das Pessoas Felizes T � � �<br />

Os 100 Segredos dos Bons Relacionamentos T � �<br />

Mulheres Corajosas Sempre Vencem T � � � � � � � � �<br />

Seja Líder de Si Mesmo T � � �<br />

Transformando Suor em Ouro i � � �<br />

O Momento é Este! i � � � �<br />

A Revolução dos Campeões T � � � � � �<br />

Conversas Decisivas T � � � �<br />

O Que Toda Mulher Inteligente Deve Saber T � � � � �<br />

Jesus, o Maior Psicólogo que já existiu T � � � � � �<br />

Pense como Jesus T � �<br />

Lidere como Jesus T � �<br />

Jesus de Jeans T � � �<br />

Jesus Coach T � �<br />

Casais Inteligentes Enriquecem Juntos T � � � � � � � �<br />

Como Encontrar um Marido depois dos 35 � �<br />

Por que os homens de casam com algumas<br />

mulheres e não com outras?<br />

T � �<br />

Mudando os Padrões dos Relacionamentos Íntimos T � � � �<br />

Lições da Água i � � � � �<br />

Ele simplesmente não está a fim de você<br />

Legenda: � = presente; T = título; i = imagem<br />

T � � � � �<br />

Anexo A- Itens presentes na capa, contracapa e orelhas.<br />

115


Anexo B- The 7 Habits of Highly Effective People, de Stephen R. Covey.<br />

116


Anexo C - Optimal Thinking, de Rosalene Glickman<br />

117


Anexo D- Crucial Conversations, de Kerry Patterson et al.<br />

118


Anexo E- What Smart Woman Know, de Steven Carter e Julia Sokol.<br />

119


Anexo F- Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de Gustavo Cerbasi.<br />

120


Anexo G- A Revolução dos Campeões, de Roberto Shinyashiki.<br />

121


Anexo H- You´re Broke Because You Want to Be, de Larry Winget.<br />

122


Anexo I- How to Win Friends & Influence People, de Dale Carnegie.<br />

123


Anexo J- Getting Things Done, de David Allen.<br />

124


Anexo L- Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?, de Allan e Bárbara Pease.<br />

125


Anexo M- The Dance of Anger, de Harriet Lerner.<br />

126


Anexo N- Toxic Parents, de Susan Forward.<br />

127


Anexo O - Seja Líder de Si Mesmo, de Augusto Cury.<br />

128


Anexo P- O Segredo, de Rhonda Byrne.<br />

129


Anexo Q- Rich Dad, Poor Dad, de Robert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter.<br />

130


Anexo R- The Purpose-Driven Life, de Rick Warren.<br />

131


Anexo S- Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, de Augusto Cury.<br />

132

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