A música dos pianistas de Salvador
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tempo: Hummel, Moscheles e Kalkbrenner. Dono <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> execução<br />
impecável, ele explorava, assim como Liszt e Chopin, um pianismo multitexturado. Em<br />
sua <strong>música</strong>, especialmente as fantasias <strong>de</strong> ópera, tem-se a impressão <strong>de</strong> se ouvirem três<br />
mãos tocando simultaneamente. John Ruskin – “o mais erudito e reverenciado crítico <strong>de</strong><br />
arte daquele tempo” (DUBAL, 1989, p. 19) – comentou a respeito da interpretação <strong>de</strong><br />
Thalberg do seu op. 72:<br />
Eu nunca vi antes tantas notas em tão pouco tempo… Muitas vezes ouvi gloriosas,<br />
inventivas e nobres seqüências harmônicas, mas nunca ouvi na minha vida variações<br />
como essas. Também nunca fiquei antes tão perto das suas mãos, invisíveis pela incrível<br />
velocida<strong>de</strong>… um po<strong>de</strong>r extraordinário 6 .<br />
Por ocasião <strong>de</strong> um duelo entre o <strong>de</strong>moníaco Liszt e o gentleman Thalberg,<br />
este último foi consi<strong>de</strong>rado como o maior pianista do mundo. E o primeiro, como o<br />
único... Liszt viria a elogiar o seu cantabile dizendo que “Thalberg po<strong>de</strong> tocar violino<br />
no piano” (apud DUBAL, 1989, p. 256). Thalberg tocou por toda a Europa e transpôs as<br />
barreiras geográficas alcançadas por Liszt, ao dar concertos na América a partir <strong>de</strong><br />
1855, em cida<strong>de</strong>s como o Rio <strong>de</strong> Janeiro, Havana e Nova Iorque, sob incríveis<br />
aclamações (SADIE, 1980, p. 723-724, v. 18; LOESSER, 1954, p. 501).<br />
Muitos outros <strong>pianistas</strong> se <strong>de</strong>stacaram numa socieda<strong>de</strong> assolada pela “febre<br />
do piano”. Nomes como Alkan, Chopin, Heller, Hallé, Hiller, Henselt, Herz,<br />
Men<strong>de</strong>lssohn e Stamaty, além <strong>dos</strong> já comenta<strong>dos</strong> Thalberg e Liszt, compunham a<br />
geração jovem da década <strong>de</strong> 1830. Tornaram-se referências como <strong>pianistas</strong>,<br />
compositores e professores. Numa socieda<strong>de</strong> ávida pela cultura da <strong>música</strong> <strong>de</strong> piano, a<br />
procura pelos serviços <strong>de</strong>stes profissionais possibilitava uma vida financeira<br />
relativamente segura. Chopin se estabeleceu em gran<strong>de</strong> parte como professor. Mesmo<br />
6 “I never recognized before so many notes in a given brevity of moment... I have often heard glourious<br />
and inventive and noble successions of harmonies, but I never in my life heard variations like that. Also, I<br />
had not before been close enough to see your hands, and the invisible velocity was won<strong>de</strong>rful to me... as a<br />
human power” (apud DUBAL, 1989, p. 19).<br />
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