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Quimeras - Viva Samba

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O Grêmio Recreativo Escola de <strong>Samba</strong><br />

Independentes de São Torquato,<br />

Através de sua Comissão de Carnaval, tem a<br />

Honra de Apresentar uma releitura de:<br />

Inspirado no Original de Luiz Antonio Priscinval<br />

Carnaval 2011


Certa vez, Lauro, o poeta popular de São Torquato, depois de passar<br />

o dia inteiro no Bar Sem Porta, seguiu até o famoso Terreiro de<br />

Maria Cinquenta, onde foi recebido pela Yalorixá e os Babalaôs que<br />

o cercaram com gestos e reverências. De cada canto exalava um<br />

cheiro forte de incenso, enquanto braçadas de flores eram<br />

depositadas junto a um quadro de Pai Joaquim de Aruanda. Lauro<br />

caiu em transe profundo. Do que ele viu em sonho, nasceu o relato<br />

do enredo que a Independentes de São Torquato vai mostrar na<br />

avenida no desfile de 2011.<br />

Em transe, o poeta viajou ao passado de orgias do bairro mais<br />

boêmio de Vitória nas décadas de 50, 60 e 70. Passou pela Rua Ponte<br />

Nova e pela Praça Getúlio Vargas, onde grupos de mariposas e<br />

travestis faziam o trottoir. Mais de uma dezena de hotéis e pequenas<br />

pensões recebiam casais em festa na magia das noites amorosas. Na<br />

Rua Graça Aranha estava o agitadíssimo Cabaré do Beco do Vitalino,<br />

com suas mulheres exuberantes e perfumadas. Um pouco à frente,<br />

na Lacerda de Aguiar, ficava a movimentada Casa da Laura, cheia de<br />

homens e mulheres aos abraços. Passou pela agitação do Beco da<br />

Torneira, repleto de mulheres de vida livre e transformistas e foi até<br />

a Rua São Pedro. Lá encontrou Altemar Dutra com seu violão.<br />

Junto estava também Mazinho, Waldecir Lima, Erildo Malagueña e<br />

Alvimar Guimarâes, ainda garoto. Os baluartes do Bloco do Caveira<br />

assistiam. Dentre eles estavam Almir Sapateiro, Heloca, João Goela,<br />

Nego Percy, Alcir Stein, Laranjeira, Theophilo, Nonô, Manoelzinho,<br />

Carlos Brito, Alcione, entre outros. Ali estava o segredo de um mundo<br />

diferente.<br />

E o transe continuava: Lauro vislumbrou de repente um São<br />

Torquato reconstruído. No bairro, no lugar das taperas tudo estava<br />

transformado. Um casario novo fora erguido. As crianças bailavam


felizes, cheias de quimeras e esperanças, imaginando um futuro<br />

brilhante como já havia acontecido com Anita, Neuza Alves, Coronel<br />

Coutinho, Aldir Oliveira e tantos outros filhos ilustres do bairro,<br />

verdadeiras flores nascidas no pântano das adversidades, mas que<br />

sobreviveram e venceram.<br />

O transe cresceu de intensidade. O poeta, de repente, viu seres que<br />

se aproximavam, como saídos de um museu de horrores. À frente<br />

vinha Quimera, a divindade mitológica, “oriunda da Anatólia e cujo<br />

tipo surgiu na Grécia Antiga De acordo com a versão mais difundida<br />

da lenda, a quimera era um monstruoso produto da união entre<br />

Equidna - metade mulher, metade serpente - e o gigantesco Tífon.<br />

Outros relatos a fazem filha da Hidra de Lerna e do Leão de<br />

Neméia, que foram mortos por Hércules. Criada pelo rei de Cária,<br />

mais tarde assolaria este reino e o de Lícia com o fogo que vomitava<br />

incessantemente, até que o herói Belerofonte, montado no cavalo<br />

alado Pégaso, conseguiu matá-la. A representação plástica mais<br />

freqüente da Quimera era a de um leão com uma cabeça de cabra<br />

em sua espádua. Essa foi também a mais comum na arte cristã<br />

medieval, que fez dela um símbolo do mal. Quimera também pode<br />

ser considerada como um ser com corpo e cabeça de leão, com duas<br />

cabeças anexas, uma de cabra e outra de serpente.<br />

Figurativamente ou em linguagem popular mais ampla, o termo<br />

quimera alude a qualquer composição fantástica, absurda ou<br />

monstruosa, constituída de elementos disparatados ou incongruentes,<br />

significando também utopia. “A palavra quimera, por derivação de<br />

sentido, significa também o produto da imaginação, um sonho ou<br />

fantasia.”<br />

Na verdade, Lauro, no auge do seu transe, viu-se cercado por várias<br />

<strong>Quimeras</strong>: umas com cabeça de leão, corpo de cabra e rabo de<br />

serpente; outras com duas cabeças, sendo uma de cabra e outra de<br />

leão; outra ainda com cabeça de leão e rabo de serpente soltava fogo<br />

pelas ventas e pela boca. Atrás das <strong>Quimeras</strong> vinham seus pais<br />

Echidna e Tifon. Echidna era a mãe de todos os monstros. Possuia<br />

um belo corpo de mulher, rosto lindo e seios à mostra. Do umbigo<br />

para baixorepresentava uma serpente de longa cauda. Tifon era<br />

monstruoso. Tinha formas humanas de expressão terrível.<br />

Dos cabelos saiam dezenas de víboras e da barriga para baixo tinha a<br />

forma de serpente. As <strong>Quimeras</strong> o envolveram e Lauro sentia-se


desmaiar. Queria sair dalí a qualquer custo. Quando estava prestes a<br />

sucumbir, viu-se cercado de laôs e levado por entidades da Umbanda<br />

que o protegiam. Descobriu que estava numa quadra de Escola de<br />

<strong>Samba</strong>, cercado de índios canelas-verdes que habitavam a região no<br />

passado. Uma ala evoluía com fantasias típicas do famoso Bloco do<br />

Caveira. De peito aberto, outro grupo de sambistas exibia roupas<br />

vermelho e branco. E havia uma festa de carnaval com confetes e<br />

serpentinas onde bailavam Pierrôs, Arlequins e outros figurantes da<br />

Commedia dell’arte italiana. Celebravam os cinco campeonatos da<br />

Independentes de São Torquato e todas as correntes da escola<br />

estavam unidas. Carnavalescos, artesãos, bailarinas, ritmistas<br />

preparavam com alegria o próximo desfile da agremiação. E todos<br />

cantavam em coro:<br />

“VOU DE PEITO ABERTO ALEGRANDO A AVENIDA<br />

DE VERMELHO E BRANCO EU ESTOU FELIZ DA VIDA”<br />

Antes de despertar do transe, Lauro ainda teve tempo de ver<br />

num grande painel, escrito em letras garrafais, o nome do<br />

enredo:

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