anauê, anauê... guanambi amanajé nas terras ... - Viva Samba
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Introdução<br />
ENREDO DA UNIDOS DA PIEDADE – CARNAVAL 2013<br />
ANAUÊ, ANAUÊ... GUANAMBI AMANAJÉ<br />
NAS TERRAS ABENÇOADAS DO ESPÍRITO SANTO!<br />
Reza a lenda que antes de ser descoberta, as <strong>terras</strong> onde hoje vive o encantado Beija-<br />
Flor, era um vasto território coberto por uma densa e deslumbrante floresta tropical, a<br />
Mata Atlântica. Nela habitavam os mais incríveis animais; aves de rara beleza,<br />
plantas exóticas, feras de todos os portes e pássaros encantadores. A fauna e a flora<br />
aliadas aos encantos daquela região, que era contornada por vales, emoldurada por<br />
enseadas, falésias, mangues e praias, a tornaram um paraíso, um lugar abençoado. Por<br />
esses atributos naturais e místicos, mais tarde ela seria batizada, pelos primeiros<br />
colonizadores, como Espírito Santo.<br />
Habitavam nessa região exótica, algumas tribos do tronco Tupiniquim; os Botocudos<br />
(tribo com atitudes violentas e hábitos antropofágicos), os Aimorés, os Goytacazes,<br />
entre outras.<br />
Nosso enredo conta a fascinante historia de amor, envolvendo duas tribos inimigas.<br />
Um Romeu e Julieta Tupiniquim, com contornos mais lúdicos. Nele ouviremos a<br />
historia do Espírito Santo, contada de uma forma encantadora, pela ótica de um<br />
apaixonado Beija-Flor, hoje símbolo desse Estado, enquanto de flor em flor ele<br />
procura sua índia amada.
ENREDO<br />
Existiam várias tribos no Espírito Santo, antes do descobrimento, umas eram<br />
pacíficas e outras hostis. Duas delas, há anos, viviam em guerra, eram inimigas<br />
mortais.<br />
Anauê, Anauê<br />
...Sou Tupi, sou Guarani, sou guerreiro Tupiniquim. Nasci e cresci entre matas<br />
verdejantes, das flores exóticas e exuberantes, das cachoeiras que estendem seu véu<br />
majestoso até se transformar num lago de águas cristali<strong>nas</strong>... Fui criado solto, bicho<br />
do mato, brinquei com onças pintadas, araras, colibris... corri os vales e montanhas<br />
sob a vigilância de Guaraci... meu povo era livre, minha terra sagrada e se estendia<br />
do mar as montanhas... vivíamos em comunhão com a natureza, desfrutávamos desse<br />
paraíso terrestre de riquezas naturais... tínhamos a caça, a pesca, um solo abençoado<br />
que nos brindava, como dádiva da natureza, com frutos de todos os tipos, legumes<br />
saborosos e verduras fresquinhas... meu povo vivia feliz, plantava, colhia e enquanto<br />
os guerreiros partiam para a guerra, nossas mulheres cuidavam da prole e faziam seus<br />
trabalhos manuais, nosso artesanato, herança de meu povo, que sobrevive ate os dias<br />
de hoje...e quando nossos guerreiros voltavam, vitoriosos, eram recebidos por toda a<br />
tribo com festa, e festejávamos noite a dentro, sob as bênçãos de Jaci...<br />
...Certa vez me afastei do meu povoado perseguindo uma caça e nem percebi que<br />
tinha chegado à região inimiga, onde as águas da grande cachoeira terminavam sua<br />
queda entre as pedras, provocando uma névoa encantadora, sobre o manto majestoso<br />
de águas límpidas e tranquilas. Foi nesse momento então, que a vi, como Yara (deusa<br />
das águas), saindo dessa nuvem de gotículas, onde raios multicoloridos terminavam<br />
seus reflexos, diluídos sobre seu corpo nu. Ela tinha uma pele dourada, cabelos<br />
negros como a pantera e seu sorriso doce como favo de mel... era a visão do paraíso e<br />
naquele momento descobri que aquela era a deusa dos meus sonhos, a mulher que eu<br />
sempre sonhei... vinha caminhando em minha direção de forma tão divina, que até os<br />
últimos raios de sol sofriam por medo de lhe ferir a pele, orquídeas silvestres se<br />
jogavam sobre ela para lhe emprestar seu perfume e até os pássaros escondidos entre<br />
as folhagens ameigavam o seu canto...foi amor a primeira vista... encantados e como<br />
se tivéssemos hipnotizados, esquecemos nossa gente, nossa rivalidade e depois de<br />
muito tempo, nos amamos ali mesmo, na relva, sob o olhar preocupante do manto da<br />
noite... fizemos juras de amor e de nunca mais nos separar... e assim foi, dia após dia,<br />
nos encontrávamos as escondidas, cada vez mais apaixonados, e tínhamos a<br />
esperança de através de nosso amor, acabar de uma vez com a guerra entre nossas<br />
tribos... mas o destino foi cruel... um dia os guerreiros da tribo de minha amada a<br />
seguiram e nos encontraram em pleno êxtase... depois de me espancarem muito e<br />
pensando que eu estivesse morto, a levaram de volta à tribo... o Conselho dos<br />
Anciãos foi convocado para o julgamento de minha amada... ela era acusada de<br />
traição, já que nossas tribos estavam em guerra e eles acreditavam que ela passava<br />
segredos para mim... ela teve a sentença de morte, mas por ser muito jovem e bela,<br />
convocaram então, os Xamãs para o veredito... os Xamãs navegaram pelo céu em
uma canoa que era como uma cobra de fogo, e a cobra-canoa (o arco-íris)os trouxe a<br />
esta terra sagrada. Após saberem de toda a história, da pureza, da inocência e da<br />
estonteante beleza de minha amada, resolveram como castigo, transformá-la numa<br />
linda flor...<br />
...eu, fui socorrido pelos guerreiros de minha tribo e sobrevivi ao espancamento e,<br />
logo que me recuperei, passei a procurar, desesperadamente, por minha amada...<br />
chamei então, os Anciãos e anunciei que iria até a outra tribo em busca de meu amor.<br />
Eles não permitiram tremenda loucura e tentaram, de toda forma, me impedir.<br />
Afirmaram que na nossa tribo existiam lindas moças que poderiam ser boas esposas e<br />
teríamos filhos fortes e saudáveis. Mas eu estava apaixonado, irredutível e os<br />
Anciãos, vendo minha decisão e tristeza, evocaram também os Xamãs para me<br />
ajudar. Os Xamãs que já sabiam que minha bela índia havia sido transformada em<br />
flor resolveram então, me transformar num Beija-Flor. E a partir daí, saí a percorrer<br />
de um canto a outro, (por estas <strong>terras</strong> que mais tarde seria batizada de Espírito Santo)<br />
atravessando coli<strong>nas</strong>, cachoeiras, mares e montanhas, e de flor em flor, procuro a<br />
índia encantada, dona do meu coração, e só quando encontrá-la o feitiço será,<br />
finalmente, quebrado.<br />
...e foi nessa busca desesperada, que atravessei as estações, viajei por todos os cantos,<br />
sobrevivi às intempéries, e após anos e anos de busca, pude ver minha terra se<br />
transformando...<br />
...e foi assim que eu vi...<br />
Vi a chegada dos primeiros colonizadores batizando esse povoado de Espírito Santo<br />
e sendo bravamente combatidos pelo meu povo.<br />
Vi a chegada do santo padre para catequizar nossa gente.<br />
Vi a densa Mata Atlântica, aos poucos se abrindo para se tornar cidade.<br />
Vi a chegada dos primeiros imigrantes trazendo suas culturas e construindo a historia<br />
junto com meu povo.<br />
Vi o negro sendo açoitado covardemente e ajudando a construir a história dessa<br />
terra.<br />
Vi o Frei transformar a fé em monumento.<br />
Vi a jovem guerreira ajudar a expulsar os piratas de nossa terra.<br />
Vi o escravo valente chefiar a insurreição e ser livre, pela fé em sua santa da<br />
montanha.
Vi o caboclo pescador ajudar a salvar a tripulação de um navio e ser condecorado<br />
pela princesa.<br />
Vi muita gente dessa terra fazer sucesso na musica, pintura, literatura e no teatro.<br />
Vi a emoção coroar um rei.<br />
Vi a fé se transformar em procissão.<br />
Vi nossas riquezas naturais e heranças de meu povo, dando identidade a essa terra.<br />
Vi muita gente cruzando os mares para conhecer essa terra abençoada.<br />
...Continuo buscando minha amada e sei que um dia hei de encontrá-la em alguma<br />
flor, hoje me tornei um símbolo dessa terra, desse estado que recebeu o nome divino<br />
de: Espírito Santo, e quem vive aqui herdou de minha gente o nome de<br />
CAPIXABA.<br />
Assinado Beija-flor tupiniquim<br />
Autor: Paulo Balbino<br />
* As palavras em negrito deverão constar na letra do samba enredo
Lei Ordinária Nº 3689/1984 – Publicação : 06/12/1984 – Autoria: Antonio Moreira –<br />
Ementa – Denomina o ”Beija-flor”, o pássaro símbolo do Estado do Espírito Santo.<br />
TESTEMUNHO DE UM BEIJA-FLOR<br />
...no lânguido esmaecer das amorosas tardes, que morrem voluptuosamente, procureite<br />
por toda parte, procurei-te desesperadamente em horas silenciosas.<br />
Das noites da minh’alma tenebrosas, onde lábios sangrando beijos, flor que sente...<br />
olhos postos num sonho, humildemente... mãos cheias de orquídeas e de rosas...<br />
Nunca a encontrei!... como audaz cavaleiro em velhas lendas, te buscarei das névoas<br />
da manhã às sombrias e intermináveis noites!<br />
Ah! Toda a nossa vida anda a quimera, tecendo em frágeis dedos frágeis rendas...<br />
onde se encontra aquela que me espera?!<br />
(Texto inspirado no poema da poetisa portuguesa Florbela Espanca)<br />
Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim, doce ou atroz, manso ou<br />
feroz, eu caçador de mim.<br />
Preso a canções, entregue a paixões que nunca tiveram fim, vou me encontrar, longe<br />
do meu lugar, eu caçador de mim.<br />
Nada a temer senão o correr da luta, nada a fazer senão esquecer o medo, abrir o peito<br />
a força numa procura, fugir às armadilhas da mata escura.<br />
Longe se vai, sonhando demais, mas onde se chega assim, vou descobrir o que me faz<br />
sentir, eu caçador de mim.<br />
(Música de Milton Nascimento)