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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO<br />

Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.<br />

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.<br />

MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA<br />

APLICADOS ÀS ATIVIDADES DE<br />

CARREGAMENTO MANUAL DE<br />

CAMINHÕES EM UMA EMPRESA DE<br />

CERÂMICOS<br />

Marcio Carvalho da Silva (PPGEP/UFPB)<br />

mkarvalho2005@yahoo.com.br<br />

Thiago Aurélio Freire Freitas (UFPB)<br />

thiago_producao@hotmail.com<br />

Francisco Soares Másculo (PPGEP/UFPB)<br />

masculo@producao.ct.ufpb.br<br />

As atividades laborais de carregadores de caminhões em fábricas de<br />

tijolos demandam alta carga muscular e quando o ritmo de trabalho<br />

aumenta por exigências de resultados, essa tarefa pode gerar riscos<br />

para a saúde desses trabalhadores. Nessse sentido, o presente estudo<br />

tem como objetivo verificar as posturas adotadas no trabalho dos<br />

carregadores de caminhão de uma olaria visando identificar pontos<br />

críticos que potencializam o desenvolvimento de doenças<br />

osteomioarticulares relacionadas ao trabalho (DORT) em curto, médio<br />

e longo prazo. Utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho (AET)<br />

com a ferramenta de análise postural, OWAS (Ovako Working Posture<br />

Analysing System) e o Diagrama de áreas dolorosas onde os<br />

trabalhadores indicaram as regiões do corpo que sofrem maior<br />

estresse muscular, bem como algumas considerações sobre a<br />

Movimentação Manual de Cargas através do método de NIOSH.<br />

Foram realizadas observações diretas e indiretas com vídeos, registros<br />

fotográficos e questionários com o propósito de aplicar as informações<br />

coletadas ao software WinOWAS para gerar as categorias de riscos.<br />

Os resultados apontam que, todas as quatro etapas que correspondem<br />

à atividade dos carregadores de caminhão, contém pelo menos uma<br />

postura situada entre as categorias críticas (3 e 4) em relação a<br />

coluna, membros superiores e inferiores. Dessa forma, o ritmo de<br />

trabalho acelerado, flexões e rotações constantes da coluna associada<br />

à elevada carga transportada favorecem a desenvolvimento de doenças<br />

ocupacionais e, portanto, necessitam intervenção ergonômica imediata<br />

para minimizar os riscos na saúde dos trabalhadores.<br />

Palavras-chaves: Análise Ergonômica, DORT, Carregamento de<br />

Caminhões


1. Introdução<br />

A ergonomia enquanto disciplina científica que compreende as interações entre seres<br />

humanos e outros elementos de um sistema visando otimizar o bem estar e o desempenho<br />

global do mesmo (IEA, 2000), envolve uma série de outros fatores que interagem entre si<br />

buscando influenciar e atender as exigências oriundas da relação do homem com o seu<br />

trabalho.<br />

A importância em estudar e avaliar as causas pelas quais se verificam a ocorrência de<br />

prejuízos a saúde dos trabalhadores, em decorrência das más condições de trabalho, tem sido<br />

alvo de inúmeras pesquisas no ramo da Ergonomia, cuja preocupação está em analisar como<br />

são realizadas as atividades de trabalho que determinam o comportamento do homem com o<br />

seu posto de trabalho abordando tanto os aspectos físicos quanto cognitivos.<br />

Dessa forma, pretende-se com o auxílio de técnicas e ferramentas de análise ergonômica,<br />

identificar e apontar as situações que contribuem para a inadequação dos ambientes que os<br />

tornam impróprios ao trabalho. E, a partir dessa informação, tornar possível a intervenção<br />

ergonômica com o propósito de evitar prejuízos tanto para a empresa (redução nos índices de<br />

produtividade) quanto para o trabalhador (surgimento de doenças ocupacionais).<br />

De acordo com Fornazari, et al (2000), a imposição de ritmos de trabalho intensos e jornadas<br />

prolongadas, atreladas a posturas incorretas e ambientes ergonomicamente inadequados ao<br />

trabalhador são interpretadas como causa do comprometimento da sua saúde e da sua destreza<br />

nas tarefas habituais, predispondo-o ao desenvolvimento de doenças ocupacionais.<br />

As atividades com alto grau de criticidade associado ao carregamento de cargas pesadas,<br />

como é o caso das atividades de carregamento de caminhões, são as que mais contribuem para<br />

o surgimento das doenças osteomusculares tendo como principal sintoma as lombalgias,<br />

caracterizada por dores e desvios na coluna lombar comprometendo a postura considerada<br />

adequada para a realização do trabalho.<br />

O presente artigo tem por objetivo avaliar, ergonomicamente, as atividades do trabalho de<br />

carregadores de caminhões em uma fábrica de tijolos, com o propósito de investigar os riscos<br />

de doenças ocupacionais através da análise das posturas adotadas na execução de tais<br />

atividades.<br />

2. Análise Ergonômica do Trabalho (AET)<br />

Segundo Iida (2005), a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) tem como objetivo aplicar os<br />

conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma condição de trabalho.<br />

Consiste em uma seqüência de coletas de dados e informações que viabilizem as mudanças<br />

necessárias para a melhoria do ambiente de trabalho, contemplando a satisfação do<br />

trabalhador (MAIA, 2008).<br />

Uma AET, conforme sugere Iida (2005), pode ser dividida em cinco etapas, a saber:<br />

Análise da demanda: caracteriza-se como o ponto de partida do estudo do posto de<br />

trabalho Permite delimitar o (s) problema (s) a serem abordados em uma análise<br />

ergonômica;<br />

Análise da tarefa: compreende não só as condições técnicas de trabalho, mas também as<br />

condições ambientais e organizacionais de trabalho É o trabalho prescrito;<br />

Análise da atividade: trata-se da mobilização das funções fisiológicas e psicológicas do<br />

2


indivíduo, em um determinado momento conjunto de ações de trabalho que caracteriza<br />

os modos operativos;<br />

Diagnóstico: É uma síntese da análise ergonômica, baseia-se diretamente nas hipóteses<br />

formuladas Evidencia as diversas síndromes que caracterizam as patologias<br />

ergonômicas da situação de trabalho;<br />

Recomendações: Sugestões de melhoria dos postos analisados visando aumento do<br />

rendimento e satisfação do empregado.<br />

Em atividades que envolvem levantamento e movimentação de cargas alguns pontos são<br />

considerados importantes para o estudo ergonômico dos postos e das condições de trabalho no<br />

intuito de preservar a integridade física do trabalhador. Dentre eles podemos destacar:<br />

a) Características e tipo de carga que é necessário movimentar e transportar:<br />

Constituição da carga (material, forma, volume, etc.);<br />

Localização da carga no contexto do espaço de trabalho;<br />

Intensidade (peso da carga).<br />

b) Esforço físico exigido na tarefa:<br />

Intensidade das forças que é necessário exercer para vencer a resistência que a carga<br />

oferece;<br />

Tipo de músculos e órgãos envolvidos na manipulação da carga;<br />

Freqüência do número de elevações e outros movimentos efetuados.<br />

c) Condições físicas dos trabalhadores:<br />

Sexo;<br />

Idade;<br />

Capacidade e condição física no momento;<br />

Outras características individuais.<br />

d) Exigências específicas de cada atividade em particular:<br />

Condições ambientais do local / espaço de trabalho onde é efetuada a movimentação das<br />

cargas;<br />

Duração e freqüência dos ciclos de trabalho;<br />

Percurso e deslocamentos que os trabalhadores têm de percorrer.<br />

Para cada uma das etapas anteriores é possível aplicar alguns métodos e técnicas, bem como<br />

ferramentas para a coleta de dados com o objetivo de diagnosticar as condições de trabalho<br />

em cada posto.<br />

O presente estudo concentrou-se na análise postural e na Movimentação Manual de Cargas<br />

(MMC). Nesse sentido, serão utilizados os métodos OWAS, o Diagrama de Regiões<br />

Dolorosas e o NIOSH. O primeiro método consiste em avaliar as diferentes posturas<br />

assumidas nos postos de trabalho, baseando-se na observação direta ou indireta (por registros<br />

fotográficos e vídeos) onde são consideradas as posturas assumidas pelas costas (dorso),<br />

braços e pernas durante a realização do trabalho que recebe uma pontuação de acordo com o<br />

grau de criticidade da atividade. O segundo método consiste em uma representação do corpo<br />

3


fragmentado em pequenos segmentos, cuja a finalidade é definir as áreas que apresentam<br />

dores oriundas da atividade após uma jornada de trabalho. Por fim, o terceiro método é<br />

utilizado para determinar a carga máxima a ser manuseada e movimentada manualmente<br />

numa atividade de trabalho.<br />

3. Biomecânica Ocupacional<br />

As interações entre o trabalho e o homem são bases de pesquisas da biomecânica ocupacional<br />

na qual se analisam, essencialmente, a aplicação de forças e tensões a que os grupos<br />

musculares são mantidos durante uma determinada postura no desempenho das atividades<br />

laborais. Esse comportamento postural adotado pelos trabalhadores, resumidamente, é<br />

influenciado pelas características da tarefa e pelo meio ambiente de trabalho, estes<br />

fatores podem desenvolver sobrecargas e aumento do gasto energético com conseqüente<br />

produção de tensões nos músculos, ligamentos e articulações resultando em desconfortos e<br />

dores, que são precedentes de doenças ocupacionais (ANJOS, 2008).<br />

O estudo da biomecânica ocupacional envolve, entre outros fatores, a caracterização do<br />

trabalho em dinâmico e/ou estático, posições para execução do trabalho (deitado, sentado ou<br />

em pé), identificação de áreas dolorosas do corpo (diagrama de Corlett e Manenica),<br />

aplicações de forças, transmissão de movimentos e levantamento e transportes de cargas.<br />

Todos esses aspectos são avaliados conjuntamente para diagnosticar os possíveis pontos de<br />

máximas tensões a que o corpo está submetido no período da atividade laboral, com o<br />

propósito de evitar o desenvolvimento de sintomas como dor, formigamento, câimbras entre<br />

outros, mediante intervenção adequada.<br />

4. Análise Postural no Trabalho e Movimentação de Cargas<br />

A postura pode ser definida pelo arranjo característico que cada indivíduo encontra para<br />

sustentar o seu corpo e utilizá-lo na vida diária, envolvendo uma quantidade mínima de<br />

esforço e sobrecarga, conduzindo à eficiência máxima do corpo (KENDALL et al, 1995)<br />

A adoção de posturas inadequadas na realização de determinadas funções, associadas a outros<br />

fatores de risco existentes no posto de trabalho, como sobrecarga imposta à coluna vertebral,<br />

vibrações e manutenção de uma postura por tempo prolongado constituem as maiores causas<br />

de afastamento do trabalho e de sofrimento humano (COUTO, 1995).<br />

As condições de trabalho que permitem mudanças na postura são as mais indicadas para<br />

redução de problemas na coluna vertebral pela diminuição de momentos das forças exigidas<br />

pela tarefa. Os postos de trabalho que não permitem essa flexibilidade de adaptação postural<br />

deve tomar outras medidas para evitar a fadiga e o estresse muscular, bem como, a<br />

conseqüente diminuição da eficiência do trabalhador.<br />

De acordo com Iida (2005), uma das maiores dificuldades em analisar e corrigir as más<br />

posturas no trabalho está na identificação e no registro das mesmas. Dessa forma, algumas<br />

técnicas e métodos de auxílio à coleta e processamento de dados são utilizadas nesse<br />

processo.<br />

A correção das referidas não conformidades deve pautar-se pela correta aplicação dos vários<br />

princípios ergonômicos a fim de otimizar a compatibilidade entre o homem, as máquinas e o<br />

ambiente físico de trabalho. Isto conseguir-se-á através do equilíbrio entre as exigências das<br />

tarefas, das máquinas e as características anatômicas, fisiológicas, cognitivas e perceptomotoras<br />

do homem (PORTAL EMPRESARIAL, 2006).<br />

4


5. Metodologia<br />

A metodologia adotada na presente pesquisa caracteriza-se por ser um estudo de caso de<br />

caráter qualitativo descritivo onde se buscou, por meio de observação indireta (vídeos e<br />

fotos), analisar as atividades de carregamento de caminhões de uma empresa fabricante de<br />

tijolos, a fim de verificar as posturas assumidas pelos funcionários responsáveis por atividades<br />

de levantamento e transporte de cargas (tijolos). Evidencia-se, portanto, a relação entre o<br />

trabalhador e o trabalho que executa, através do qual são descritos os principais movimentos<br />

adotados nessa função.<br />

A metodologia adotada baseou-se nos pressupostos da Análise Ergonômica do Trabalho<br />

(AET), conforme descrito anteriormente. No que tange a análise da tarefa os principais<br />

aspectos abordados foram: tipos de trabalho (com exigências físicas ou cognitivas), ritmos e<br />

cargas a que são submetidos os trabalhadores. No tocante a análise das atividades, buscou-se<br />

informações acerca dos movimentos, tempo e o processo do trabalho.<br />

Para tanto, foram gravadas as etapas das atividades mediante elaboração de vídeos e registros<br />

fotográficos, a partir dos quais foram possíveis observar sistematicamente os métodos<br />

adotados para execução das tarefas durante o abastecimento de um caminhão. Tais<br />

procedimentos possibilitaram fornecer informações ao software WinOWAS para posterior<br />

análise da criticidade das atividades assim como, servir de subsídios ao cálculo do Limite de<br />

Peso Recomendado (LPR) e o Índice de Levantamento (IL) proposto pelo método de NIOSH.<br />

Também foram analisadas as regiões do corpo onde apresentavam maior incidência de dor<br />

após uma jornada de trabalho pelo uso do diagrama de Corlett e Manenica.<br />

De maneira simplificada, esta metodologia pode ser apresentada da seguinte forma:<br />

Análise das atividades (Visão Macro atividade observação indireta);<br />

Definição das atividades mais prejudiciais a saúde do trabalhador;<br />

Aplicação de questionários para identificação das regiões do corpo com áreas dolorosas;<br />

Avaliação pelo método OWAS (software WinOWAS);<br />

Classificação das atividades de trabalho quanto ao nível de desconformidade operacional<br />

Determinação do Índice de Levantamento pelo método NIOSH.<br />

Após o levantamento das informações é feito o tratamento dos dados para diagnosticar os<br />

pontos que exigem maior atenção por parte dos dirigentes da empresa.<br />

6. Caracterização da Atividade de Levantamento de Cargas<br />

As atividades relacionadas ao levantamento e movimentação de cargas pressupõem como<br />

instrumento de trabalho, o próprio corpo do trabalhador.<br />

Em termos biomecânicos, no processo de movimentação de cargas, o peso dos segmentos<br />

corporais juntamente com a carga transportada correspondem à resistência e a força muscular<br />

exercida para realizar o trabalho correspondente à força de potência (PORTAL<br />

EMPRESARIAL,2006).<br />

A atividade em análise é considerada exaustiva uma vez que desencadeia uma sequência de<br />

posturas inadequadas resultando em fadiga e estresse muscular após uma jornada de trabalho.<br />

Embora ocorra adaptação a tais condições de trabalho com conseqüente acomodação<br />

muscular em decorrência do tempo dos funcionários nessa ocupação, no longo prazo, ao<br />

persistir em condições inadequadas do trabalho, tal situação poderá contribuir para o<br />

surgimento de doenças osteomusculares degenerativas com possível afastamento do<br />

5


funcionário.<br />

A atividade de carregamento de caminhões acontece segundo as seguintes etapas:<br />

ETAPA 1 – Nessa fase três funcionários retiram os tijolos do forno e abastecem os<br />

carrinhos para levarem até os caminhões de distribuição;<br />

ETAPA 2 – Tendo abastecido os carrinhos, os mesmos são transportados até o local onde<br />

encontram-se os caminhões;<br />

ETAPA 3 – Retira-se os tijolos do carrinho e coloca-os na lateral da carroceria do<br />

caminhão.<br />

ETAPA 4 – Essa é a fase final que é caracterizada pelo abastecimento dos caminhões onde<br />

é feita a transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão. Nessa etapa, três<br />

funcionários ficam na parte inferior do caminhão entregando os tijolos, enquanto outros<br />

dois ficam na parte superior para receber e acomodar os tijolos na carroceria.<br />

Para realizar a avaliação postural, considerou-se a análise da seqüência das atividades<br />

executadas pelos 5 trabalhadores durante o carregamento de um caminhão segundo as etapas<br />

descritas anteriormente.<br />

Vale ressaltar que a atividade exige um esforço muscular elevado, e portanto, a mesma é<br />

executada por homens com idade entre 35 a 40 anos. Por seu caráter repetitivo, não exige que<br />

os funcionários tenham um grau de instrução elevado. O ritmo de trabalho possibilita um<br />

carregamento de 8.000 tijolos em aproximadamente 55 minutos. As etapas das tarefas<br />

executadas pelos trabalhadores podem ser vistas na figura 1.<br />

Figura 1 – Fases da atividade de carregamento do caminhão: (1) Abastecimento do carrinho; (2) Transporte do<br />

carrinho até o caminhão; (3) Transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão e (4) Acomodação dos tijolos<br />

no caminhão<br />

Os resultados apresentados a seguir mostram um diagnóstico em que se classificam as fases<br />

do trabalho segundo os métodos de análise ergonômica propostos no presente estudo. Com<br />

essas informações é possível verificar o grau de criticidade de cada etapa da atividade de<br />

carregamento de caminhões.<br />

7. Resultados e Discussões<br />

7.1 Análise das posturas – WinOWAS<br />

Com base nas informações fornecidas ao software WinOWAS acerca do modo como são<br />

feitas as tarefas de carregamento de caminhões com tijolos, sob o ponto de vista das posturas<br />

adotadas nas etapas descritas anteriormente, obteve-se os seguintes resultados:<br />

a) Etapa 1 – Retirada dos tijolos do forno e abastecimento dos carrinhos<br />

Essa etapa consiste em abastecer o carrinho com tijolos para posteriormente transportá-lo até<br />

o local onde se encontra o caminhão responsável pela distribuição aos consumidores finais.<br />

Inicialmente o trabalhador recolhe o tijolo da pilha localizada no forno e deposita no carrinho.<br />

6


Ao realizar tal procedimento, ele flexiona a coluna para erguer uma carga composta por 4<br />

tijolos com dimensões de 24 X 14 X 11,5 cm – Peso: 3,6kg, sendo 2 em cada mão, a cada vez<br />

que repete a atividade. Isso equivale a uma carga total de 14,4 kg.<br />

Num ritmo acelerado os trabalhadores executam essa operação com um tempo médio de ciclo<br />

de aproximadamente 3 segundos. A figura 2 mostra a seqüência de passos adotados nessa<br />

atividade seguida pelo seu respectivo gráfico gerado pelo sistema WinOWAS.<br />

Figura 2 – Seqüência de movimentos de um trabalhador ao abastecer um carrinho<br />

Gráfico 1 – Análise das posturas ao pegar o tijolo e colocar no carrinho<br />

A partir deste gráfico, verifica-se que a atividade acontece com associação da flexão e rotação<br />

do dorso em 70% do tempo, situando-se na categoria 3 e, portanto, exige medidas para mudar<br />

a postura o mais rápido possível, pois favorece ao surgimento de dores lombares nessa região.<br />

No que tange a região dos braços, apesar de 70% da atividade ser realizada com a posição dos<br />

membros abaixo dos ombros e, com isso, inserir-se na categoria 1 considerada normal,<br />

observa-se que 30% da atividade é realizada com ambos os braços acima dos ombros<br />

situando-se na categoria 2 que é passível de melhorias futuras.<br />

Para a região das pernas, observa-se uma alternância entre as categorias 1 e 2, sendo<br />

consideradas dentro da normalidade com uma leve tendência a potenciais danos a saúde e,<br />

portanto, exige análises e melhorias em revisões futuras.<br />

b) Etapa 2 – Transportando o carrinho até o caminhão<br />

Essa tarefa acontece após o abastecimento do carrinho onde o passo seguinte consiste no<br />

trabalhador empurrá-lo até próximo do caminhão distribuidor. Os movimentos adotados para<br />

7


ealização dessa tarefa exige que o trabalhador impulsione o carrinho com uma força elevada<br />

para tirá-lo da inércia e pô-lo em movimento assumindo dessa forma uma postura inclinada<br />

lateralmente no momento do impulso e inclinada frontalmente durante o deslocamento,<br />

conforme pode ser visto na seqüência da figura 3.<br />

Figura 3 – Seqüência de movimentos de um trabalhador ao transportar um carrinho para próximo do caminhão<br />

Gráfico 2 – Análise das posturas ao transportar o carrinho com tijolos até o caminhão distribuidor<br />

Este gráfico mostra que devido a carga transportada ser maior que 20 kg, e ser justamente no<br />

momento em que se exige um impulso maior para por o carro em movimento, a atividade<br />

enquadra-se na categoria 3 no que tange a exigência muscular na região do dorso. Permanecer<br />

em 60% do tempo da atividade em flexão e torção dorsal com ambas as pernas fletidas em<br />

20% do tempo, mesmo que os braços permaneçam abaixados em 100% do tempo, são fatores<br />

merecedores de atenção neste procedimento.<br />

c) Etapa 3 – Transferência de tijolos do carrinho para o caminhão<br />

Essa tarefa compreende a movimentação de tijolos do carrinho até o caminhão onde são<br />

posicionados na lateral da carroceria do veículo para posterior arrumação. Os movimentos<br />

realizados pelo trabalhador nessa etapa da tarefa exige uma postura inclinada e torcida do<br />

dorso, além de estar levantando cargas com as mãos acima do ombro (ver seqüência na figura<br />

4).<br />

8


Figura 4 – Seqüência de movimentos de um trabalhador na transferência de tijolos para o caminhão<br />

Gráfico 3 – Análise das posturas na transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão<br />

Na análise dessa fase da tarefa de carregamento, o método OWAS indica que para a região<br />

das pernas a atividade é realizada sempre de pé com 1 das pernas fletidas. Verifica-se ainda,<br />

que as costas assumem uma postura com associação das posições fletidas e torcionada em<br />

50% do tempo, quando o trabalhador pega os tijolos do carrinho e impulsiona a carga para o<br />

caminhão. Ao realizar esse movimento o método OWAS classifica a postura das costas na<br />

categoria 3 que exige cuidados o mais rápido possível. Nos 50% restantes do tempo, as costas<br />

assumem a postura torcionada e, portanto essa movimentação, sob essas condições, é<br />

classificada na categoria 2 que indica melhorias futuras.<br />

d) Etapa 4 – Acomodação dos tijolos na carroceria do caminhão<br />

Essa tarefa consiste em arrumar os tijolos situados na lateral da carroceria de forma a<br />

aproveitar ao máximo o espaço disponível do caminhão. Observa-se a partir da figura 5 que o<br />

trabalhador realiza a tarefa com o dorso flexionado e torcido e com apenas uma das pernas<br />

flexionadas. Ao pegar a carga movimenta-se por impulsão até elevar a carga no local<br />

desejado. Essa movimentação acarreta uma sobrecarga na coluna favorecendo o surgimento<br />

de dores musculares.<br />

9


Figura 5 – Seqüência de movimentos de um trabalhador na acomodação de tijolos no caminhão<br />

Gráfico 4 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão<br />

Na fase final do trabalho as principais considerações apresentadas pelo OWAS exige que se<br />

tenha uma maior atenção para a região das pernas classificada na categoria 3 onde indicou que<br />

em metade do tempo a atividade é realizada de pé com uma das pernas flexionadas. É<br />

importante observar também que a posição do dorso no momento em que o trabalhador<br />

acomoda uma fileira nova de tijolos, permanece com a postura torcida durante 50% do tempo<br />

de ciclo da atividade (ver etapa 2 da figura 5). Por esta razão encontra-se inserida na categoria<br />

3, em que se exige intervenção ergonômica o mais rápido possível, sob pena de que baixe a<br />

produtividade do trabalhador pelo aparecimento de doenças ocupacionais que o levem a ser<br />

afastado do serviço.<br />

O gráfico 5 mostra o panorama geral da atividade identificando o percentual de todas as<br />

posições assumidas pelo dorso, braços e pernas durante a execução da tarefa completa.<br />

10


Gráfico 5 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão<br />

A partir das informações contidas nesse gráfico é possível chegar as seguintes conclusões:<br />

43% do tempo total da atividade foi realizada com o dorso assumindo uma postura<br />

flexionada e torcida concomitantemente e, portanto, ocupou a categoria 3 na classificação<br />

do OWAS indicando com isso, a necessidade de adotar medidas intervencionistas o mais<br />

rápido possível;<br />

No tocante aos membros superiores, boa parte do tempo das tarefas (63%) eram realizadas<br />

com os braços abaixo dos ombros garantindo maior estabilidade aos movimentos e<br />

reduzindo o trabalho estático. No entanto 37% do tempo das atividades eram realizadas<br />

com os braços acima dos ombros e, por essa razão, foi classificada na categoria 2 que<br />

indica uma carga fisiológica da postura levemente prejudicial, sendo necessário adotar<br />

medidas para mudar a postura em um futuro próximo;<br />

A posição mais freqüente das pernas ao longo da atividade ocorre na postura em pé com<br />

uma perna flexionada (49%). Tal posição encontra-se classificada na categoria 3<br />

considerada prejudicial à fisiologia do trabalhador. Dessa forma, pode-se concluir que tal<br />

postura torna o trabalho instável no que tange a sustentação postural do trabalhador no<br />

momento em que levanta a carga, podendo ocasionar lesões musculares intra discal e<br />

conseqüente surgimento de patologias como: hérnias e lombalgias.<br />

Verifica-se ainda que a carga varia de acordo com a participação direta do trabalhador com<br />

o levantamento de peso. Em 14% do tempo o trabalhador leva por meio do carrinho uma<br />

carga superior a 20 kg que é constituída pelo agrupamento de tijolos que é transportado de<br />

uma só vez. Os 86% restantes do tempo, o trabalhador levanta os tijolos nas próprias mãos.<br />

No método OWAS ainda é possível identificar as atividades que ocuparam as categorias 3 e 4<br />

considerada as mais prejudiciais a saúde do trabalhador. É o que apresenta o gráfico 6 onde se<br />

evidenciam as fases da atividade de carregamento com maior propensão a incidência de<br />

doenças ocupacionais.<br />

11


Gráfico 6 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão<br />

As fases da atividade que ocuparam a categoria 4 (postura extremamente prejudicial), foram a<br />

de abastecimento do carrinho e a transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão. São as<br />

que mais exigem da musculatura do trabalhador com freqüentes movimentações combinadas<br />

de rotação e flexão simultâneas e portanto, necessitam medidas imediatas para mudar as<br />

posturas evitando, com isso, sobrecargas na coluna vertebral.<br />

É interessante observar que no transporte do carrinho houve uma variação de categorias, isto<br />

é, em mais da metade do tempo encontra-se classificada na categoria 3 e no tempo restante<br />

encontra-se inserida na categoria 4. O movimento associado ao deslocamento assume a<br />

categoria 3 e o movimento de impulsão do carrinho para provocar o deslocamento, assume a<br />

categoria 4, haja visto necessitar de uma potência maior.<br />

A partir do gráfico conclui-se que toda a atividade de carregamento manual de caminhões é<br />

crítica e necessita de um estudo ergonômico visando reduzir os riscos de lesões corporais e o<br />

surgimento de dores constantes que comprometam significativamente a realização do<br />

trabalho.<br />

7.2 Análise das regiões dolorosas<br />

Paralelamente ao método OWAS fez-se um levantamento das principais sensações sentidas<br />

pelos trabalhadores após uma jornada de trabalho de aproximadamente 9h, com foco na<br />

identificação das zonas que mais sofrem com o trabalho pesado, conforme apresentado no<br />

quadro a seguir.<br />

QUADRO 1 – Percepções das sensações de desconforto na musculatura dos funcionários<br />

12


LADO ESQUERDO<br />

POSIÇÃO VALOR<br />

LADO DIREITO<br />

POSIÇÃO VALOR<br />

REGIÕES<br />

11 1,7 21 1,7 Ombro<br />

12 2,5 22 2,5 Braço<br />

13 1,2 23 1,2 Antebraço<br />

14 0,0 24 0,0 Mão<br />

31 2,1 41 2,1 Pescoço<br />

32 1,0 42 0,9 Dorso Superior<br />

33 0,0 43 0,0 Dorso Médio<br />

34 1,6 44 1,5 Dorso Inferior<br />

35 3,7 45 3,8 Quadril<br />

51 2,9 61 2,9 Coxa<br />

52 2,7 62 2,7 Perna<br />

53 0,0 63 0,0 Pé<br />

FONTE: Desenvolvido pelos autores<br />

A tabela indica as médias de 10 funcionários avaliados após um dia de trabalho que opinaram<br />

sobre os níveis de desconforto na musculatura do corpo. Verifica-se que as regiões com<br />

maiores exigências são: os braços (nível de dor de 2,5), musculatura do pescoço (nível de dor<br />

de 2,1), quadril (esquerdo: 3,7 e direito: 3,8), coxa (nível 2,9) e perna (nível 2,7).<br />

A partir dos relatos dos funcionários é possível verificar o despreparo desses profissionais<br />

cuja responsabilidade parte da gerência em fornecer um treinamento orientado para a<br />

compreensão dos métodos de trabalho e da maneira correta de exercer a atividade.<br />

7.3 Cálculo do Limite de Peso Recomendado (LPR) e o Índice de Levantamento (IL)<br />

Por fim, utilizou-se do método de NIOSH, para determinar o Limite de Peso Recomendado,<br />

dado pela seguinte equação:<br />

Onde:<br />

LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC<br />

FDH fator distância horizontal do indivíduo à carga; FAV fator altura vertical da carga<br />

FDVP fator distância vertical percorrida desde a origem até o destino; FFL fator<br />

freqüência de levantamento; FRLT fator rotação lateral do corpo; FQPC fator qualidade<br />

da pega da carga.<br />

Considerando-se todos esses fatores chegou-se ao resultado de um LPR de 5,397 que<br />

contribui para o cálculo de um Índice de Levantamento de 2,668.<br />

Segundo os princípios do método tais valores indicam que o risco de vir a ter alguma lesão na<br />

coluna ou no sistema músculo-ligamentar é alto e aumenta de forma considerável, sendo<br />

portanto, necessária intervenção para possíveis correções ou redução no tempo de exposição<br />

do funcionário a tais condições de trabalho.<br />

8. Conclusão<br />

Verifica-se a partir deste estudo que as atividades voltadas para o carregamento de cargas,<br />

especificamente o carregamento de caminhões de tijolos, apresentam condições inadequadas<br />

ao trabalho situando-se nas categorias 3 e 4 do sistema OWAS que determinam medidas<br />

intervencionistas imediatas a fim de reduzir o risco de aparecimento de doenças<br />

osteomioarticulares relacionadas ao trabalho (DORT). As posturas envolvendo flexão<br />

combinada à rotação dorsal, apoio nas pernas com flexão dos joelhos e que exigem braços<br />

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acima da altura dos ombros são apontadas pelo OWAS como as de maior risco de lesões e<br />

comprometimentos musculoesqueléticos. Verifica-se que, todas as 4 etapas da atividade dos<br />

carregadores de caminhão, contem pelo menos uma posição situada entre as categorias 3 ou 4,<br />

seja na postura do dorso, braços ou das pernas dependendo do grau de potência muscular<br />

exigido pela atividade. Dessa forma, o ritmo de trabalho acelerado, flexões e rotações<br />

constantes da coluna associada à elevada carga transportada favorecem a desenvolvimento de<br />

doenças ocupacionais e, portanto, necessitam intervenção ergonômica imediata para<br />

minimizar os riscos na saúde dos trabalhadores.<br />

Referências<br />

COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho – Manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: Ergo,<br />

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ANJOS, Denise C. S. dos. Aspectos da biomecânica ocupacional na abordagem fisioterapêutica preventiva.<br />

Universidade Federal de Sergipe, 2008. Disponível em:<br />

http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/biomecanica/biomecanica_ocupacional_denise.<br />

htm (Acesso dia 29/08/2009)<br />

FORNAZARI, C. A.; SILVA, G. A.; NISHIDE, C.; VIEIRA, E. R. Postura viciosa. Revista Proteção, São<br />

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IIDA, Itirio. Ergonomia projeto e produção. 3ª ed., São Paulo – SP: Edgar Blücher, 1995<br />

MAIA, Ivana M. O. Avaliação das condições posturais dos trabalhadores na produção de carvão vegetal em<br />

cilindros metálicos verticais. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em<br />

Engenharia de Produção. UTFPR: Ponta Grossa, 2007.<br />

KENDALL, P. F.; McCREARY E. K.; PROVANCE P. G. Músculos provas e funções. São Paulo: Manole,<br />

1995.<br />

SEREDNICKI, Persio F.; AGNOLETTO, Rafael A.; CATAI, Rodrigo E.; CORDEIRO, Arildo D.;<br />

MATOSKI, Adalberto. Gestão Ergonômica Postural de um Posto de Trabalho no Setor de Cabos do<br />

Almoxarifado de Materiais e Acessórios. V CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO -<br />

Gestão do Conhecimento para a Sustentabilidade. Niterói: RJ, 2009.<br />

PORTAL EMPRESARIAL. Movimentação Manual de Cargas. Disponível em:<br />

http://negocios.maiadigital.pt/hst/ergonomia/mmc (Acesso dia: 26/09/2009)<br />

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