E por falar em Comissão da Verdade... - AsofBM
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VIVaVOZ | número 15 | maio/junho de 2012<br />
6<br />
especial<br />
Jornalista José Mitchell na<br />
ASOFBM. Mitchell é autor do livro<br />
“Segredos à Direita e à Esquer<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Ditadura Militar”<br />
um grupo <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar e<br />
policiais do DOPS. Depois de<br />
alg<strong>em</strong>ado foi levado, primeiro<br />
para a delegacia de polícia, <strong>em</strong><br />
Caxias do Sul. Em uma viatura<br />
<strong>da</strong> Polícia Federal foi transferido<br />
para Porto Alegre. no Departamento<br />
de Ord<strong>em</strong> Política e Social<br />
(DOPS) nas duas primeiras<br />
noites dormiu <strong>em</strong> baixo de uma<br />
mesa. no terceiro dia, junto<br />
com Jorge Fischer nunes, outro<br />
preso, foi conduzido para um<br />
conjunto de salas, <strong>em</strong> reforma.<br />
nas salas havia cerca de 100<br />
pessoas deti<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>s ficavam<br />
alg<strong>em</strong>a<strong>da</strong>s e encapuza<strong>da</strong>s para<br />
não identificar<strong>em</strong> os policiais.<br />
Segundo Carneiro, os presos estavam<br />
à disposição do DOPS e,<br />
quando conduzidos para os interrogatórios,<br />
eram deslocados<br />
com capuz e alg<strong>em</strong>ados. nessas<br />
ocasiões, o policial condutor<br />
não advertia sobre a direção e<br />
para onde dobrar. “Era para que<br />
a pessoa batesse nas paredes e<br />
caísse no chão”. Carneiro afirma,<br />
“os policiais se comunicavam<br />
com a gente com pontapés<br />
e chute nos testículos”.<br />
Pau de arara<br />
no DOPS, Carneiro foi torturado<br />
no pau de arara. Uma<br />
técnica onde o preso ficava total-<br />
asofBM<br />
mente nu, na posição de galinha<br />
(braços <strong>por</strong> cima dos joelhos)<br />
uma barra de ferro era coloca<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong>baixo dos joelhos. As mãos<br />
eram alg<strong>em</strong>a<strong>da</strong>s <strong>em</strong> cima <strong>da</strong> barra.<br />
Entre o interrogatório, uma<br />
mangueira vertendo água era<br />
coloca<strong>da</strong> na boca do preso. “Ali,<br />
eles faziam de tudo com a gente”,<br />
l<strong>em</strong>bra. Pau de arara, choques<br />
elétricos, golpes nas costas com<br />
o papa-léguas e torturas <strong>da</strong> “pesa<strong>da</strong>”,<br />
os policiais anunciavam a<br />
técnica que seria aplica<strong>da</strong> antes<br />
de torturar o preso. na primeira<br />
noite de pau de arara, o jov<strong>em</strong><br />
policial informava que a técnica<br />
tinha orig<strong>em</strong> egípcia. Carneiro<br />
afirma que o aparato policial do<br />
DOPS era coman<strong>da</strong>do pelo delegado<br />
Pedro Seelig, que estava subordinado<br />
ao Diretor do Departamento<br />
de investigações, Major<br />
Átila roetzer, que tinha contato<br />
direto com o comando do iii<br />
Exército. Ou seja, os operadores<br />
eram policiais civis, mas, o comando<br />
era militar. Segundo Carneiro,<br />
no quarto dia, o Major se<br />
comunicou <strong>por</strong> rádio com o iii<br />
Exército e pediu um oficial mais<br />
competente <strong>por</strong>que, para ele, o<br />
pessoal do DOPS era fraco e não<br />
sabia interrogar. Chegou, então,<br />
o Pablo, codinome do Major<br />
Malhães. Paulo de Tarso afirma<br />
que o Major ficou 42 dias s<strong>em</strong><br />
dormir, só torturando. Carneiro<br />
completa, “a tortura t<strong>em</strong> objetivo<br />
de destruir a personali<strong>da</strong>de. O<br />
torturador precisava nos aniquilar<br />
fisicamente e psicologicamente<br />
para obter as informações que<br />
julgava que possuíamos.”<br />
Segredos entre presos<br />
e policiais<br />
De acordo com o relato<br />
de Carneiro, certo dia entra no<br />
DOPS, um pelotão de sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong><br />
Briga<strong>da</strong> Militar. Eram jovens, treinados<br />
para combater operações de<br />
guerrilha. no livro de Mitchell, o<br />
jornalista destaca a entrevista com<br />
Carneiro, na página 189:<br />
Paulo de Tarso Carneiro recor<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de do major,<br />
depois coronel- mais tarde, coman<strong>da</strong>nte-geral<br />
<strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar-<br />
Jesus Linares Guimarães,<br />
quando a Briga<strong>da</strong> Militar ficou<br />
com a atribuição de cui<strong>da</strong>r dos<br />
presos políticos do Dops. “Até então,<br />
dormíamos na pedra fria do<br />
chão, de capuz e alg<strong>em</strong>ados. No<br />
primeiro dia <strong>em</strong> que a Briga<strong>da</strong><br />
Militar assumiu a nossa guar<strong>da</strong>,<br />
o Jesus nos atendeu com respeito<br />
e providenciou colchões e cobertores.<br />
Conversávamos também com<br />
os sol<strong>da</strong>dos, eram muito jovens,<br />
de boa índole. Descobri que um<br />
deles tinha sido aluno <strong>da</strong> minha<br />
irmã, professora <strong>em</strong> Cacequi”,<br />
contou Carneiro. Nos intervalos<br />
dos interrogatórios, os presos podiam<br />
ficar s<strong>em</strong> o capuz e conversar<br />
baixinho, já que a proibição<br />
de <strong>falar</strong> era uma regra exigi<strong>da</strong><br />
pelo Dops. Havia até uma senha<br />
secreta entre os PMs e os presos,<br />
segundo Carneiro: “Quando um<br />
policial do Dops avisava que ia<br />
pegar algum dos presos, os policiais<br />
militares <strong>da</strong>vam três batidinhas<br />
com o pé no chão ou na <strong>por</strong>ta<br />
<strong>da</strong>s celas, sinal secreto e quase<br />
silencioso de aviso <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> do<br />
pessoal do Dops e que todos deveriam<br />
calar-se”.<br />
na ASOFBM, Carneiro<br />
comenta, “quando o comando<br />
passou a ser feito pela Briga<strong>da</strong>,<br />
percebi no inferno, que n<strong>em</strong><br />
tudo estava perdido”. Segundo<br />
ele, foi estabeleci<strong>da</strong> uma relação<br />
de respeito entre os presos e<br />
os policiais <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong>. “Eu fiz