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E por falar em Comissão da Verdade... - AsofBM

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questão de guar<strong>da</strong>r o nome do<br />

Coronel Jesus Linares Guimarães.<br />

nós vivíamos <strong>em</strong> condições<br />

animalescas. S<strong>em</strong> banho há<br />

30 dias, sob tortura, aí aparece<br />

alguém que nos trata de forma<br />

humanitária, não tenho como<br />

esquecer esse nome”.<br />

O presidente <strong>da</strong> ASOFBM,<br />

TC José Carlos riccardi Guimarães,<br />

filho do coman<strong>da</strong>nte Guimarães,<br />

tinha 10 anos naquele<br />

período <strong>da</strong> ditadura. Ele reforça<br />

que s<strong>em</strong>pre soube que a Briga<strong>da</strong><br />

agia dessa forma com os presos<br />

políticos, pois acompanhava o<br />

pai, vivia os bastidores. “É muito<br />

im<strong>por</strong>tante resgatar a história<br />

e registrar a diferença e os bons<br />

serviços prestados pela Cor<strong>por</strong>ação<br />

à socie<strong>da</strong>de”, destaca o presidente.<br />

Para o TC riccardi, a<br />

Briga<strong>da</strong>, ao longo dos 174 anos<br />

é fiel à orig<strong>em</strong>, serve à população,<br />

independente do sist<strong>em</strong>a<br />

ou partido político. “não somos<br />

treinados para praticar violência,<br />

tortura, mas sim para proteger”,<br />

declara. Carneiro completa durante<br />

a entrevista que “foram<br />

os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>s forças arma<strong>da</strong>s<br />

que mancharam a história”.<br />

“Acho que, hoje, os comandos<br />

<strong>da</strong>s três forças deveriam apurar o<br />

que houve e punir seus próprios<br />

sol<strong>da</strong>dos para que, no futuro, isto<br />

não mais aconteça”, reforça.<br />

Paulo de Tarso l<strong>em</strong>bra que<br />

no dia 30 de abril de 1970, os<br />

presos políticos foram conduzidos<br />

para o Presídio Central, sob<br />

alegação de que poderia haver<br />

uma invasão no Palácio <strong>da</strong> Polícia<br />

para libertá-los.“Quando<br />

chegamos, fomos fotografados<br />

totalmente nus. A possibili<strong>da</strong>de<br />

de não estarmos mais à disposição<br />

dos torturadores, me deu<br />

uma sensação de alívio. Chegamos<br />

<strong>por</strong> volta <strong>da</strong>s 22 horas e, já<br />

nas celas individuais, receb<strong>em</strong>os<br />

um prato de comi<strong>da</strong> velha, com<br />

peixe. isto não me perturbou.<br />

Deitei num colchão velho e<br />

sujo, dormi profun<strong>da</strong>mente. na<br />

manhã, ao acor<strong>da</strong>r, verifiquei<br />

que estava todo picado <strong>por</strong> percevejos,<br />

pulgas e outros bichos”.<br />

no dia 13 de maio, quando Carneiro<br />

completou 28 anos, foi<br />

levado para a ilha do Presídio,<br />

onde os presos eram mantidos<br />

<strong>em</strong> condições insalubres. “Lá as<br />

paredes eram sujas de mer<strong>da</strong> e<br />

sangue. Todos estavam doentes,<br />

com feri<strong>da</strong>s, sífilis. Muitos saíram<br />

no colo de outros, tal era a<br />

situação de fraqueza.”, relata.<br />

Paulo de Tarso Carneiro na ASOFBM com o presidente,<br />

TC José Carlos Riccardi Guimarães e o diretor do<br />

departamento de cultura, Cel Ubirajara Anchieta<br />

asofBM<br />

Coman<strong>da</strong>nte-geral <strong>da</strong> BM,<br />

Jesus Linares Guimarães,<br />

déca<strong>da</strong> de 70<br />

Hoje, Carneiro é anistiado<br />

político. O advogado está com<br />

70 anos, é casado, t<strong>em</strong> três filhos<br />

e um neto. “A tortura deixou<br />

muitas sequelas. Muitos se<br />

suici<strong>da</strong>ram. não conseguiram<br />

tocar a vi<strong>da</strong>. Perderam a estabili<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong>ocional, outros, até<br />

hoje, não quer<strong>em</strong> mais se envolver<br />

com política. Têm medo.<br />

Enquanto isso, nossos torturadores<br />

foram agraciados com<br />

me<strong>da</strong>lhas, promovidos e não<br />

perderam o <strong>em</strong>prego. Eu fui<br />

preso, torturado, julgado e condenado.<br />

Fui d<strong>em</strong>itido do Banco<br />

do Brasil, <strong>por</strong> justa causa. Até<br />

hoje, na<strong>da</strong> recebi pelos anos <strong>em</strong><br />

que fiquei fora do banco. Quero<br />

Justiça”, desabafa.<br />

Paulo, veio na ASOFBM e<br />

concedeu entrevista à revista<br />

viva voz não só para resgatar<br />

a m<strong>em</strong>ória dos t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que<br />

tentou combater a ditadura ao<br />

lutar pela d<strong>em</strong>ocracia. Mas, para<br />

confirmar o relato que poucos<br />

sab<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong> considerado segredo<br />

entre presos políticos e policiais<br />

<strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar. Carneiro<br />

acredita que é im<strong>por</strong>tante a<br />

história vir à tona, mas confessa,<br />

“só passei a admirar a Briga<strong>da</strong><br />

Militar depois do tratamento<br />

respeitoso que tive quando estava<br />

preso”.<br />

aRQUivo Pessoal<br />

VIVaVOZ | número 15 | maio/junho de 2012<br />

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