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8 2011 JORNAL PERIÓDICO PORTUGUÊS DE FRIBOURG N.° 60 FRI -LUSO<br />

Nem consigo mais esconder<br />

ue alguns temas, nos meus<br />

xtos, são reincidentes. Passa<br />

m tempo e lá determinado<br />

sunto de novo. Algumas<br />

zes eu me pergunto se isso<br />

dá por falta de outro<br />

sunto, por esquecimento<br />

eu Deus, Alzheimer?), faciliade<br />

ou por predileção.<br />

Concluo, tentando ser isenta,<br />

m me conceder favorecientos,<br />

que vários de meus<br />

xtos tratam de assuntos<br />

arecidos, pelo fato de que<br />

rtos temas ou me apaixoam<br />

ou me incomodam<br />

bremaneira. Hoje, pensando<br />

bre o que escrever, tentei<br />

vitar um dos meus lugares<br />

muns, ou seja, falar dos<br />

eus bichos de estimação.<br />

omo recentemente o Peteco<br />

astigou um filhote indefeso<br />

e periquito, dando sumiço<br />

m bico, penas e pés, eu fiquei<br />

ntada a narrar a façanha,<br />

as preferi poupar meus<br />

itores de cenas grotescas e<br />

e mais um capítulo da saga<br />

eteco e suas barbáries”.<br />

CATANDO LIXO<br />

Desse modo, olhando ao meu<br />

redor e buscando inspiração,<br />

comecei a me recordar dos<br />

acontecimentos da semana e<br />

sobre o que seria digno de<br />

virar um texto ou, se não fosse<br />

digno, ao menos fosse interessante...<br />

hehehe. Tive idéias que,<br />

infelizmente, não poderia<br />

narrar aqui sem isso refletisse<br />

em outras pessoas. Presenciei<br />

conversas nas quais quase não<br />

acreditei, ouvi uma confissão<br />

inconfessável, mas nada disso<br />

poderia vir estampar um<br />

inocente texto.<br />

Enquanto eu me detinha<br />

nesses pensamentos, a campainha<br />

de casa tocou e eu saí<br />

para atender. Recebi a correspondência<br />

entregue pelo<br />

correio e, enquanto fechava o<br />

portão, vi duas mulheres que<br />

conversavam na calçada<br />

oposta. Uma delas comia um<br />

salgadinho, desses industrializados.<br />

Tão logo acabou, não se<br />

fez de rogada e simplesmente<br />

despejou o dito cujo na rua,<br />

bem ali onde ela estava, como<br />

se isso fosse a coisa mais natu-<br />

ral e adequada do mundo.<br />

Como moramos em uma rua<br />

pequena, sei que nenhuma<br />

delas mora nas casas próximas.<br />

Então, aparentou-me, não<br />

importava deixar lixo na casa<br />

dos outros...<br />

Sei que esse comportamento<br />

não deveria me espantar, de<br />

tanto que é reproduzido, mas<br />

não consigo deixar de me<br />

chocar com o hábito que as<br />

pessoas tem de jogar lixo na<br />

rua, sem simplesmente dar<br />

importância a isso. A quantidade<br />

de papel, comida e<br />

bitucas de cigarro que há<br />

pelas ruas e calçadas, é<br />

simplesmente inconcebível!<br />

Ando cansada de falar ou<br />

escrever sobre isso, pois me<br />

sinto falando às paredes, do<br />

mesmo modo que ando<br />

desgostosa de perceber que,<br />

cada vez mais, prevalece o<br />

individualismo, com sacrifício<br />

do social, do coletivo.<br />

POESIA E SAPATOS<br />

De bruços me debruço mais ainda<br />

até sentir os olhos tumefactos<br />

para saber até que ponto é linda<br />

a intrigante cor desses sapatos<br />

que às tuas pernas dão um brilho tal<br />

e uma leveza tal ao teu andar<br />

que eu penso (embora aches anormal)<br />

que nunca te devias descalçar.<br />

Também porquê, se já não há verdura<br />

nem tu és Leonor para correr<br />

descalça, no poema, à aventura?<br />

O mais difícil, hoje, é antever<br />

quem é que vai à fonte em literatura<br />

e que água dá aos versos a beber.<br />

Joaquim Pessoa, 1948<br />

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA<br />

Todo esse lixo das ruas não<br />

somente enfeia os lugares nos<br />

quais vivemos, mas também<br />

entope os ralos, os bueiros, va<br />

parar nos rios, matando peixes<br />

exterminando a vida<br />

invadindo as casas, subtraindo<br />

a vida e a saúde de muitos.<br />

O que mais me espanta<br />

quando chamo a atenção de<br />

quem joga algo na rua, e eu me<br />

sinto, sim, nesse direito, é ouvir<br />

como já ouvi, a pessoa me<br />

olhar, com desdém e dizer: _ E<br />

isso é problema seu?<br />

- Sim, meu caro, é problema<br />

meu! E seu!<br />

CINTHYA NUNES VIEIRA DA SILVA - Advogada, mestra em Direito, professora universitária e escritora - São Paulo

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