Pietro Maria Bardi Arquitetura Racional e Regime Fascista ... - USP
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Em tempos de indisciplina, Roma foi afeada, mais do que algum terrível inimigo seu poderia<br />
imaginar 10 . Síncronas, existem lamentáveis histórias para Turim (ainda não terminadas) 11 , para<br />
Milão 12 , e assim adiante. Aqueles que possuiam interesses em jogo conseguiram sempre trocar as<br />
famosas cartas na mesa, portanto a culpa caiu sempre nos bem-pensantes 13 .<br />
Roma teve assim o bairro Dora, imaginação daquele cara engraçado que foi Coppedé (e vejam que ele dizia: -use o<br />
neo-clássico e eu o faço para eles). As comissões de urbanização foram as oficiantes destas iniciativas, permitindo<br />
que fosse instaurado, sorrateiramente, uma espécie de combinação afarista e monopolista, dotada apenas de muito<br />
talento na prática comercial. O estado, inclusive nas épocas em que a especulação humilhava a arquitetura com uma<br />
hegemonia preocupante, continuou não intervindo, quase estivesse convencido e pressagindo que um belo dia a pêra<br />
amadureceria, com o surgir das novas gerações. Hoje que a nova consciência artística italiana exprime artistas que<br />
parecem possuir todas as boas qualidades para se aventurar no desafio das iniciativas para uma arquitetura do<br />
fascismo, parece oportuno tentar a mais ressoante discussão do fato. Já experimentamos estes nossos pensamentos<br />
em anteriores mas limitadas polêmicas, e percebemos que o desejo de fazer brotar uma solução em favor da<br />
contemporaneidade está presente em todo lugar. Foi obtido um consenso ao redor da expressão “arquitetura, arte de<br />
estado”, expressão que quatro o cinco pessoas reivindicaram, encabeçados, é natural, pelos futuristas. Nós não<br />
fazemos questão de prioridade e vamos dar de presente a ideia que nos veio lendo a história dos faraós, ou<br />
observando a construção operosa de um pequeno formigueiro, para quem quiser se demonstrar tão passatista: melhor<br />
se será um futurista, assim não teremos a mancha de olhar para o passado”.<br />
10 pp. 57 ss. “Mais que uma Roma do fascismo, querem uma Roma “remediada” pelo fascismo, quer dizer uma obra<br />
de reconstrução que um dia será fatalmente confundida na confusão das várias cidades que se sobrepõem e se<br />
entrelaçam sobre suas renomadas colinas. Porque, nós pensamos, demolir uma parte de Roma, assim como de<br />
qualquer outra cidade, para ordenar uma nova avenida “levemente sinuosa, embora ampla (tipo Corso Vittorio<br />
Emanuele)”, embora toda entretecida de quadros arqueológicos maravilhosos, que se sucedem com incessante<br />
surpresa”, não quer dizer criar uma avenida fascista, fascista hoje e sempre, mas homenagear as épocas passadas,<br />
certas épocas às vezes nada adoráveis, embora fornecedoras de bom material para os museus... Onde está a cidade<br />
nova? Onde será possível construir modernamente? Onde será possível erguer edifícios altos? O plano regulador foi<br />
feito para executar o testamento de Leão X ou para resover as necessidades da Roma <strong>Fascista</strong>?... Ninguém<br />
certamente quer o fim de Roma velha; pelo contrário, se desejaria a sua vida assim como ela é, excluíndo as<br />
demolições higiénicas, no estado em que foi entregue à Marcha: um respeito, como se vê. Roma do Fascismo<br />
deveria se resumir numa ideia oposta àquela do culto incontrolado das memórias, quase com um cordial<br />
antagonismo ao que já foi edificado, de que se originaria uma expressão mussoliniana de cidade, partindo do<br />
pressupposto da celebração da vitória civil. Os romeiros vem a Roma para desfrutar os monumentos das nossas<br />
vitórias civis. Para o amanhã não vale remendar, restaurar, arranjar. Não uma Roma em pedaços e fracções em torno<br />
da periferia, infelizmente desarranjada por traçados pensáveis com as aspirações de 1880, e por casamentos que,<br />
pela honra da nossa arquitetura escolar, não se desejaria que durassem ainda muito tempo continuando amolar... Ao<br />
dizer Roma do Fascismo, aludi-se a uma parte da cidade construída do começo, nascendo numa área a latere das<br />
muralhas, iniciada conforme as exigências demográficas, com originalidade, sem a pressa dos empreteiros que, para<br />
fazer mais rápido e obter o consenso das comissões, mandam copiar determinados projetos padrões já consagrados<br />
(em Roma existem escritórios de produção de projetos). O desenho de uma Roma <strong>Fascista</strong>, por outro lado, deveria<br />
ser estudado, possivelmente sem o transtorno de arquitetos mediocres. O exemplo seria estupendo e serviria para<br />
toda a Itália. Em outras palavras, alguém espera que Mussolini imprima um selo todo seu na capital: com ruas,<br />
edifícios, estádios, jardins, campos de aviação, portos todos seus: a cidade de Mussolini que teria perfeita vida,<br />
integrante e vigilante daquela das “cinco cidades”.<br />
11 Ibidem, pp. 33 ss. : “Um caso melancôlico está por acontecer, enquanto escrevemos, em Turim; a reconstrução de<br />
Via Roma nos moldes setecentistas... Parece um sonho. Um sonho no meio da realidade do impulso dado por<br />
Mussolini a tudo o que significa caráter de expressão moderna, no campo das artes. A ideia que a rua principal de<br />
uma cidade deva nascer já velha e em antítese a todas as necessidades econômicas e morais da época, parece tão<br />
grotesca que, sem as documentações mais recentes apresentadas à prefeitura de Turim, se poderia supor de estar de<br />
frente de uma brincadeira de mau gosto. Infelizmente, ao em vez, a reconstrução está para se tornar um fato<br />
consumado, e mais uma vez certos arquitetos italianos, atuando no meio da vida fascista, darão o espetáculo de não<br />
ter compreendido a admonestação da arte nova a ser posta ao lado da antiga. Há alguém que ousa não obedecer a<br />
Mussolini? O caso da rua turinense é relevante, já que revela uma situação”.<br />
12 p. 58: “Em Milão, para sairmos das muralhas leoninas, demolirão, com a realização do novo plano regulador, a rua<br />
Paolo da Cannobio: nas este beco, por ter hospedado “Il Popolo d'Italia” das barricadas, é menos histórico do prédio<br />
onde morou Vincenzo Monti, que despertaria, tendo em vista a sua eliminação, os poucos milaneses da cidade sem<br />
Naviglio?”<br />
13 “A história das comissões edilícias é, às vezes, matéria para o mais cômico Daudet. Seria suficiente publicar os<br />
verbais das comissões de ornamentos: uma piada”; “as referidas comissões são formadas prevalentemente por<br />
professores arquitetos ou engenheiros, que terão tido o conforto de colossais encomendas, mas são incapazes de<br />
compreender a novidade, por algum artista inesperiente e por funcionários públicos, na maioria dos casos sem muita<br />
paixão para a arquitetura e o urbanismo. Encontra-se com dificuldade naquelas comissões alguèm entre aqueles