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O diálogo entre HQ's e cinema: Hellboy, das - UTP

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O DIÁLOGO ENTRE HQS E CINEMA: HELLBOY, DAS PÁGINAS PARA AS TELAS<br />

INTRODUÇÃO<br />

Greyci Gabriela Casagrande<br />

Orientadora: Profª Drª Denise A. D. Guimarães<br />

“As Histórias em Quadrinhos, como to<strong>das</strong> as<br />

formas de arte, fazem parte do contexto histórico<br />

e social que as cercam. Elas não surgem isola<strong>das</strong><br />

e isentas de influências. Na verdade, as ideologias<br />

e o momento político moldam, de maneira decisiva,<br />

até mesmo o mais descompromissado dos gibis.”<br />

Joatan Preis Dutra, desenhista brasileiro,<br />

autor do site de tirinhas “Pagando o Pato” e “Robocínio”.<br />

Realizamos uma leitura comparativa <strong>entre</strong> a linguagem <strong>das</strong> Histórias em Quadrinhos<br />

e o <strong>cinema</strong> atual, focalizando suas modalidades de organização e respectivos efeitos<br />

estéticos e comunicacionais. De início, elaboramos um panorama da evolução <strong>das</strong> HQs, no<br />

transcorrer do século XX, como uma nova expressão midiática.. Desenvolvemos reflexões<br />

sobre o imaginário atual e as diversas facetas <strong>das</strong> produções culturais liga<strong>das</strong> ao<br />

<strong>entre</strong>tenimento, bem como sobre o <strong>diálogo</strong> intertextual estabelecido <strong>entre</strong> elas.<br />

A abordagem de caráter teórico-crítico foi desenvolvida através da análise e<br />

interpretação do corpus empírico selecionado: as histórias em quadrinhos do personagem<br />

<strong>Hellboy</strong>, criado por Mike Mignola e suas adaptações para o <strong>cinema</strong>. Em 2004, “<strong>Hellboy</strong>” 1 foi<br />

transposto para o <strong>cinema</strong> pela primeira vez, pelo diretor mexicano Guillermo del Toro. O<br />

filme conta a origem do personagem, tendo a trama baseada no gibi <strong>Hellboy</strong>: Seed Of<br />

Destruction de Mike Mignola e publicado por Dark Horse Comics orginalmente em 1994.<br />

O segundo filme, lançado em 2008, “<strong>Hellboy</strong> e o Exército Dourado” 2 , também dirigido<br />

por Del Toro, traz à tona uma novidade de uma transposição da HQ para o <strong>cinema</strong>. O filme<br />

1 Ficha técnica : <strong>Hellboy</strong><br />

(<strong>Hellboy</strong>, EUA, 2004)<br />

Diretor(es): Guillermo del Toro<br />

Roteirista(s): Mike Mignola, Guillermo del Toro, Peter Briggs, Guillermo del Toro<br />

Elenco: Ron Perlman, John Hurt, Selma Blair, Rupert Evans (1), Karel Roden, Jeffrey Tambor, Doug<br />

Jones (1), Brian Steele, Ladislav Beran, Bridget Hodson¹, Corey Johnson, Kevin Trainor, Brian Caspe,<br />

James Babson, Stephen Fisher (2)<br />

2 Ficha técnica : <strong>Hellboy</strong> 2 - O Exército Dourado<br />

(<strong>Hellboy</strong> II: The Golden Army, EUA, Alemanha, 2008)<br />

Diretor(es): Guillermo del Toro<br />

Roteirista(s): Guillermo del Toro, Mike Mignola


não é baseado em nenhuma história de Mignola, muito pelo contrário. O autor criou uma HQ<br />

para “explicar” aos fãs a nova história que a parceria dele com Del Toro renderia aos<br />

<strong>cinema</strong>s.<br />

Mantemos o foco no projeto tecnoestético de cada adaptação fílmica, para mostrar<br />

de que forma as imagens impressas preexistentes são re/a/presenta<strong>das</strong> nas telas, assim<br />

como os elementos narrativos são mantidos ou mesmo transformados. A metodologia<br />

consiste no desenvolvimento de análise comparativa e interpretação do corpus selecionado,<br />

com aporte nas teorias da intersemiose, da arte sequencial e do <strong>cinema</strong>.<br />

OS QUADRINHOS: UMA NOVA EXPRESSÃO MIDIÁTICA<br />

As Histórias em Quadrinhos, conheci<strong>das</strong> como HQs, nasceram da disputa <strong>entre</strong> dois<br />

grandes jornais de Nova York, no final do século retrasado. Em 1894, os editores do The<br />

New York World acharam que, introduzindo histórias em quadrinhos nas edições, poderia<br />

ajudar a vender mais jornal. Nascia aí uma nova forma de expressão midiática. Eles<br />

decidiram então, publicar, pela primeira vez em cores, uma página inteira com histórias em<br />

quadrinhos. Dois anos depois, em 1896, o jornal concorrente, o Morning Journal, passou a<br />

publicar um suplemento semanal com oito páginas. Esses dois jornais deram início às<br />

histórias em quadrinhos. E a partir de então elas passaram por diversas reformulações, até<br />

chegar ao formato que conhecemos. As falas dos personagens foram coloca<strong>das</strong> dentro de<br />

um balão (graças a Richard Fenton Outcalt), e o personagem principal e seus companheiros<br />

passaram a ter vi<strong>das</strong> próprias. Alguns consideram como a primeira história em quadrinhos a<br />

criação de Outcalt, The Yellow Kid em 1896. Ele basicamente resumiu o que tinha sido feito<br />

antes dele e introduziu o balão, onde se põem as falas <strong>das</strong> personagens. Dessa forma, as<br />

HQs se ligam diretamente a história da imprensa, ou seja, ao desenvolvimento da arte e da<br />

técnica de reproduzir textos e imagens em papel.<br />

Os ingleses foram um dos primeiros a perceber que esse tipo de história, com pouco<br />

texto e imagens, poderia servir para as crianças. Começaram então a colocar nos jornais<br />

grandes ilustrações com pequenos textos dirigidos aos pais.<br />

Essa HQ tal como a conhecemos foi criada em 1933. Era um tipo de livro com uma<br />

encadernação muito barata, presa por grampos, e que era distribuída como brinde. Depois<br />

de um tempo passou a ser vendida a um preço baixo. Fácil de ler e de acompanhar,<br />

inspirada em personagens populares e barata, as HQs só poderiam ser sucesso. Entre os<br />

precursores deste gênero estão o suíço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês<br />

Georges Christophe Colomb, e o brasileiro Angelo Agostini.<br />

Nas primeiras déca<strong>das</strong>, os quadrinhos eram geralmente humorísticos, e essa é a<br />

razão pela qual eles recebem o nome que carregam até hoje, em inglês: comics<br />

(cômicos).Eram histórias que contavam travessuras de crianças e bichos. Desde então,<br />

foram criados outros gêneros literários, como a aventura (Flash Gordon, de Alex Raymond,<br />

Dick Tracy, de Chester Gould, <strong>entre</strong> outros), a ficção científica, o policial e as aventuras na<br />

selva. Na década de 30, também foi criado o primeiro herói uniformizado e mascarado, “O<br />

Fantasma”, escrito por Lee Falk e desenhado por Ray Moore. No final da mesma década,<br />

surgia o primeiro super-herói que possuía identidade secreta, Superman de Siegel and<br />

Elenco: Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones (1), Seth MacFarlane, Luke Goss, Anna Walton,<br />

Jeffrey Tambor, John Hurt, Brian Steele, Andrew Hefler, Iván Kamarás, Mike Kelly (5), Jeremy<br />

Zimmerman, Santiago Segura, Roy Dotrice


Shuster. Muitos o destacam como o personagem que marca o início da Era de Ouro. Entre<br />

1940 e 1945 foram criados cerca de 400 super-heróis, mas nem todos sobreviveram. Este<br />

campo evoluiu, e suas fronteiras foram expandindo e tornando-se parte da cultura de<br />

massa. Duas HQs merecem destaque: Batman, criado em 1939 por Bob Kane, cuja figura<br />

sombria foi inspirada na máquina voadora de Da Vinci e no Zorro, e o Capitão Marvel (de<br />

Charles Clarence Beck), um jovem que ganhava poderes mágicos toda vez que falava a<br />

palavra Shazam!<br />

O tempo passou, muitas histórias foram cria<strong>das</strong> nas déca<strong>das</strong> seguintes. Várias<br />

delas, inclusive, foram adapta<strong>das</strong> à realidade <strong>das</strong> pessoas que conviviam em meio às<br />

guerras e revoluções. Somente depois que o medo deixou de ser fato, é que os americanos,<br />

nos anos 80, criaram a “graphic novel” (ou romance gráfico) direcionado ao público adulto. O<br />

grande precursor desse novo estilo foi a renovação do Batman para um novo Batman, ainda<br />

mais sombrio, amargurado e violento, ‘O Cavaleiro <strong>das</strong> Trevas’ de Frank Miller. Era<br />

decretada a maioridade no mundo dos super-heróis. Violência, insanidade, sensualidade e<br />

dúvi<strong>das</strong> existenciais passaram a habitar os quadrinhos. Entre as obras que abordavam<br />

estes temas, estavam “Elektra Assassina” de Frank Miller, “Watchmen” de Alan Moore e<br />

David Gibbons, “Sandman” de Neil Gaiman <strong>entre</strong> outros. A partir da década de 90, os<br />

grandes desenhistas <strong>das</strong> historias em quadrinhos da atualidade saíram <strong>das</strong> duas maiores<br />

editoras de quadrinhos – a Marvel Comics e a DC Comics – e fundaram a Image Comics (os<br />

heróis eram Savage Dragon de Erik Larsen, WildC.A.T.S. e Gen 13 de Jim Lee, Spawn de<br />

Todd McFarlane, Cyberforce, Strykeforce, e The Darkness de Marc Silvestri).<br />

Este momento trouxe dois marcos para as histórias em quadrinhos americanas, a<br />

primeira era a colorização computadorizada e a segunda, a influência dos Mangás<br />

(quadrinhos japoneses) na caracterização dos personagens. Nos EUA, bem como em outros<br />

países, devido ao avanço tecnológico do <strong>cinema</strong>, foi possível realizar adaptações desses<br />

super-heróis às telonas. Como exemplo, pode-se citar “Constantine” <strong>das</strong> histórias em<br />

quadrinhos de Hellblazer, Homem Aranha, Hulk, Superman, Batman, Demolidor, Elektra,<br />

Liga Extraordinária, V de Vingança, Estrada para Perdição, Quarteto Fantástico, Spawn, Xmen<br />

e <strong>Hellboy</strong> de Mike Mignola, cuja dualidade de espíritos e feições ora assustadores ora<br />

terrosas, serão nosso objeto de estudo neste artigo.<br />

O CRIADOR E A SUA OBRA<br />

As histórias de <strong>Hellboy</strong> (HB) cativaram uma legião de pessoas e o vilão-mocinho<br />

consolidou-se como um dos maiores personagens dos quadrinhos estadunidenses. O<br />

demoníaco detetive sobrenatural surge em histórias com um clima de filme de terror e<br />

muitas vezes basea<strong>das</strong> em folclores de diversos países. Apresenta um visual gótico com<br />

uma galeria de coadjuvantes bizarros e um bom humor do protagonista que contrabalança<br />

com o clima. Mas o que de fato diferencia <strong>Hellboy</strong> dos outros quadrinhos de super-heróis é o<br />

controle extremo que seu criador, Michael Joseph Mignola, ou Mike Mignola, exerce sobre a<br />

obra. Ele só produz uma HQ do vermelhão quando acha que tem uma boa história para<br />

contar. Deste modo, não há a obrigação de criar uma história do HB por mês ou de ter que<br />

trocar de equipe criativa, o que em muitos casos compromete a qualidade de uma HQ.<br />

Americano, nascido na Califórnia, Mignola foi contratado pela Marvel Comics em 1983,<br />

inicialmente como arte-finalista. Em 1992, foi ilustrador do filme Drácula de Bram Stoker, de<br />

Francis Ford Coppola. Em meados dos anos 90, criou <strong>Hellboy</strong>, que se tornaria o seu<br />

personagem mais popular.<br />

Mignola colaborou com muitas outras editoras, como a DC Comics, Dark Horse,<br />

Image, Pacific, Comico-Comics, First, New Comics Group, Avalon Editions, Atomeka Press,<br />

Fantagraphics, Wizard Press, Valiant, Tops, Entity Comics, Calliope Comics, Harris, Planet<br />

Lucy Press, White Wolf, ou Caliber. Alguns dos títulos em que trabalhou nestas editoras são


The Chronicles of Corum, "Vingador Fantasma", World of Krypton, Cosmic Odyssey,<br />

Ironwolf: Fires of the Revolution, "Batman: Gotham by Gaslight" e Dracula e Aliens:<br />

Salvation. Em 1999, foi finalista do Prémio da Associação de Escritores de Terror Bram<br />

Stoker.Trabalhou ainda como consultor visual no filme Blade II, de Guillermo del Toro em<br />

2002. Na área de animação, contribuiu com o desenho de personagens para as séries<br />

Batman (1992) e Batman Beyond (1999) e para o filme da Disney, Atlantis – O Reino<br />

Perdido, de 2001.<br />

Em 1994, Mike Mignola criou o primeiro quadrinho de <strong>Hellboy</strong> que foi publicado pela<br />

Dark Horse Comics. Nos 10 anos seguintes, <strong>Hellboy</strong> deu origem a uma série em<br />

quadrinhos, livros de bolso, romances, antologias curtas ilustra<strong>das</strong> e videogame. Mignola<br />

recorreu maciçamente à sua fascinação pelo oculto e pelo folclore, para tramar o mundo de<br />

"<strong>Hellboy</strong>". Relembrando as histórias de detetive "pulp" dos anos 40, <strong>Hellboy</strong> é repleto de<br />

personagens estranhos, monstros bizarros, conspirações, agências obscuras e exércitos<br />

nazistas secretos.<br />

A história original conta que <strong>Hellboy</strong> foi convocado do inferno por ocultistas nazistas<br />

e pelo louco satânico Grigori Rasputin para virar o jogo durante a Segunda Guerra Mundial<br />

contra as Forças Alia<strong>das</strong>, usando o poder do mundo inferior. O real destino de <strong>Hellboy</strong> é<br />

trazer o apocalipse, viver e servir ao mal. Entretanto, seu destino muda quando é resgatado<br />

pelo Professor Trevor Bruttenholm, fundador do clandestino Bureau for Paranormal<br />

Research and Defense – Agência de Pesquisas Paranormais e Defesa (B.P.R.D.). O<br />

professor Broom criou <strong>Hellboy</strong> como filho e o protegeu dos olhos do mundo. <strong>Hellboy</strong> cresceu<br />

no B.P.R.D. e ao tornar-se adulto, integrou o quadro de agentes do B.P.R.D. Uma<br />

declaração do autor reforça a ideia de que sua adoração pelo misticismo foi utilizada na<br />

criação de <strong>Hellboy</strong>.<br />

Eu sempre gostei de ler mitos folclóricos, len<strong>das</strong>, histórias de<br />

fantasmas e quadrinhos de monstros, assim como histórias sobre o<br />

oculto e de detetives. Portanto, pensei: 'E se eu criasse um monstro<br />

que é na verdade um agente do bem e combate outros monstros?'<br />

<strong>Hellboy</strong> atendia muito bem à ânsia que tive durante a vida inteira de<br />

não fazer nada além de desenhar monstros. Dez anos depois, ainda<br />

adoro desenhá-lo.( Mike Mignola)<br />

2.1 CRIADO PARA O MAL, A SERVIÇO DO BEM<br />

A teoria ou visão de mundo maniqueísta compreende uma visão dualista radical,<br />

onde o bem e o mal são tomados como princípios absolutos. Como conta a história, <strong>Hellboy</strong>,<br />

o “menino-mau”, foi criado para servir o mal e trabalhar em prol dele. Quando pequeno ele<br />

foi encontrado pelo Professor Broom que lhe ofereceu um novo caminho, uma nova<br />

possibilidade. A criação do mal foi destinada ao bem. Mike Mignola soube explorar muito<br />

bem o maniqueísmo e nos apresentou a uma figura ora divertida, ora assustadora. Essa<br />

religião remonta a lenda de Maniqueu, também conhecido por Mani ou manes, que viveu na<br />

Pérsia, no século III da era cristã. Maniqueu dizia-se o enviado de Deus para completar a<br />

obra de Cristo. Sua doutrina, chamada de maniqueísmo, pregava que existem dois<br />

princípios fundamentais, o espírito (bem) e a matéria (mal). O primeiro, chamado Deus,<br />

representaria o reino da luz, e Ele mesmo é considerado pura luz; que só a razão, e não os<br />

sentidos, pode perceber. O segundo se chamaria Satanás. O rei <strong>das</strong> trevas é o mal<br />

absoluto, pois é a pura matéria. Quanto aos outros seres, são bons ou maus segundo sua<br />

origem: os que têm a luz por princípio, seriam bons, enquanto os maus têm as trevas como<br />

origem.


Entretanto, <strong>Hellboy</strong> é uma criatura que não se pode dizer que é boa, como não se<br />

pode afirmar que é má. É uma personagem que vai contra o maniqueísmo tão explorado<br />

pelas mídias, que sempre o utiliza como base para o roteiro <strong>das</strong> tramas, novela, <strong>cinema</strong>. De<br />

acordo com o maniqueísmo, o mundo é dominado por duas forças antagônicas: de um lado<br />

o bem absoluto, de outro, o mal incondicional. Mignola apresenta, em <strong>Hellboy</strong>, um ser que<br />

não se encaixa em nenhum padrão estabelecido, em nenhum biótipo de herói. Mas que por<br />

outro lado também não pode ser considerado um vilão, afinal, trabalha para o bem a fim de<br />

proteger a sociedade. Embora não seja condescendente o padrão de herói, encantou e<br />

ainda atrai muitos adoradores à sua história. Mas então, o que é <strong>Hellboy</strong>?<br />

2.2 A DEFINIÇÃO DE UM HERÓI-VILÃO NOS QUADRINHOS<br />

Nascido nas profundezas do inferno, <strong>Hellboy</strong> é um enorme ser de aspecto diabólico,<br />

mas com um coração de ouro. Foi descoberto pelo Professor Broom nas ruínas de uma<br />

capela nas Ilhas Britânicas, após ter sido invocado do inferno por uma ação conjunta de<br />

Rasputin e da Alemanha Nazista. Broom criou o pequeno demônio, ensinando-lhe a<br />

importância de ser humano, e treinou-o para combater as forças <strong>das</strong> trevas. Ao atingir a<br />

maioridade, <strong>Hellboy</strong> passou a integrar o B.P.R.D. ao lado de figuras como Abraham Sapien<br />

e Elizabeth Anne Sherman. Suas aventuras combatendo o mal levam-no a viajar por todo o<br />

mundo enquanto enfrenta ameaças diversas, tais como vampiros, lobisomens, fantasmas,<br />

monstros, antigos deuses da noite, ladrões de túmulos, e finalmente, os mais importantes<br />

dos seus inimigos: um grupo de nazistas (que sobreviveu até hoje numa câmara criogênica)<br />

e o espírito imortal de Rasputin, que assombra <strong>Hellboy</strong> com revelações sobre o seu<br />

verdadeiro propósito e o seu destino de destruir o mundo que tanto ama. Na saga “O<br />

chamado <strong>das</strong> trevas”, <strong>Hellboy</strong> tem que lidar com aquilo que ele sempre tentou ignorar: sua<br />

origem e o que ele pretende ser de verdade. E descobre que lidar com isso é mais difícil do<br />

que cerrar seus chifres (em uma tentativa de disfarçar suas feições diabólicas) e dizer não.<br />

Ao longo <strong>das</strong> tramas, Abe Sapien exerce uma figura de irmão para <strong>Hellboy</strong>. A história<br />

conta que Abe, um mutante meio humano meio réptil, foi encontrado por encanadores que<br />

trabalhavam no subterrâneo do Hospital São Triani, na capital dos Estados Unidos. O<br />

Bureau tirou seu nome de um bilhete que estava pregado junto a um marcador. Era a data<br />

de morte do ex-presidente daquele país, Abraham Lincoln.<br />

A outra personagem é Liz Sherman, que aos 11 anos, descobriu que possui<br />

habilidades pirotécnicas. O marco na vida de Liz foi uma ocasião onde o fogo emanou de<br />

seu corpo e matou toda a sua família.Vivendo com esse terrível trauma, em 1974, foi


chamada pelo BPDP para integrar a equipe de salvadores mutantes. Desde então,<br />

aperfeiçoou suas habilidades com o fogo, conseguindo controlá-lo.<br />

O interesse nas HQs de <strong>Hellboy</strong> é que até hoje podem surgir novas edições, novas<br />

histórias. Em Sementes da Destruição (de 1998), nos é apresentada a origem do<br />

“vermelhão” e também a Agência de Pesquisas e Defesa Paranormal. Conhecemos o<br />

Professor Bruttenholm, Liz Sherman e Abe Sapien, e há o primeiro confronto com aquele<br />

que até hoje foi seu maior inimigo, o mago Rasputin. <strong>Hellboy</strong> deve impedi-lo de acordar o<br />

demônio Ogdru Jahad e iniciar o Ragna Rok no planeta, como havia tentado fazer já na 2ª<br />

Guerra Mundial.<br />

Ainda em 1998, em O Despertar do Demônio, temos uma continuação direta de<br />

Sementes da Destruição. <strong>Hellboy</strong> e sua equipe vão à Romênia investigar o roubo do<br />

cadáver de um possível vampiro e se vêem às voltas com os nazistas responsáveis pelo<br />

Projeto Ragna Rok (<strong>entre</strong> eles Ilsa Haupstein e o mascarado Karl Kroenen, que também<br />

apareceram no primeiro filme) e também com o retorno de Rasputin, que ainda não desistiu<br />

de trazer o demônio-dragão Ogdru Jahad para a Terra. Esta série também marca a primeira<br />

aparição de um personagem que irá se tornar, adiante, um dos principais coadjuvantes: o<br />

Homúnculo. Uma criatura artificial feita de sangue e ervas, cozi<strong>das</strong> num frasco e incuba<strong>das</strong><br />

em esterco de cavalo. Tal pessoa é encontrada em um castelo, sem vida, mas Liz Sherman<br />

toca no buraco que ele tem no peito e ele acaba sugando seu poder pirocinético, bem como<br />

sua força vital, fugindo em seguida. Também é nesta série que é revelado o verdadeiro<br />

nome de <strong>Hellboy</strong> (Anung un Rama) e surge outra marca registrada de suas aventuras: a<br />

quebra dos próprios chifres, um sinal da renegação à sua função demoníaca.<br />

Outra <strong>das</strong> edições publica<strong>das</strong> no Brasil é <strong>Hellboy</strong> 1 de 2: O Gigante Infernal (de<br />

2001). Apesar do nome, a minissérie não é dividida em duas partes. Cada edição apresenta<br />

uma história completa e independente. Na primeira, Liz Sherman está morrendo e <strong>Hellboy</strong> e<br />

a professora Corrigan (uma agente do Bureau de menos destaque) voltam à Romênia para<br />

encontrar o Homúnculo (criatura citada acima que foi encontrada por Liz). No entanto, quem<br />

a acha primeiro é uma espécie de irmão mais velho, outro Homúnculo que foi a primeira<br />

experiência de seu criador com uma forma de vida artificial. O mais velho quer que o mais<br />

novo (que tem uma bondade inerente) se una a ele em um novo e gigante corpo artificial<br />

que este construiu com o intuito de escravizar a humanidade. O mais novo que destrói o<br />

outro é batizado por <strong>Hellboy</strong> com o nome de Roger. Ele devolve a força vital de Liz, mas<br />

isso o deixa novamente inerte, como quando fora encontrado pela primeira vez.<br />

A segunda série é <strong>Hellboy</strong> 2 de 2: Os Lobos de Santo Augusto, onde nós é<br />

apresentado um novo tipo de história: contar fatos do passado do detetive sobrenatural. Em<br />

1994, HB vai ao vilarejo de Griart investigar a chacina de todos os moradores em uma única<br />

noite, e acaba lutando com o responsável, um lobisomem.<br />

Em 2004, surge A Mão Direita da Perdição, uma inovação, pois, a partir daqui, a<br />

editora Mythos passa a publicar as aventuras de <strong>Hellboy</strong> em encadernados. Esta estreia no<br />

novo formato apresenta oito histórias. São seis aventuras curtas no estilo “casos antigos” -<br />

to<strong>das</strong> fruto da fascinação de Mike Mignola pelo folclore dos mais diversos países – e outras<br />

duas de mais destaque. São essas duas que interessam para a cronologia do personagem,<br />

A Mão Direita da Perdição e A Caixa do Mal. A primeira, mesmo também sendo curta,<br />

esclarece o que é o enorme membro que <strong>Hellboy</strong> possui em seu braço direito. Já A Caixa do<br />

Mal gira em torno de um ocultista que liberta um demônio (que estava preso em uma caixa)<br />

para ajudá-lo a aprisionar <strong>Hellboy</strong> e roubar sua coroa para que possa controlar o<br />

Apocalipse.<br />

A próxima edição em HQ no Brasil é O Verme Vencedor, de 2005, onde <strong>Hellboy</strong> e<br />

Roger são enviados à Áustria para investigar o retorno de uma espaçonave lançada pelos<br />

nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Em seu interior, pode estar o fim da humanidade<br />

como a conhecemos, pois durante o caminho ela trouxe o Verme Vencedor, uma espécie de


demônio fantasma extraterrestre. Eles contarão com a ajuda do lendário Lagosta Johnson<br />

para impedir mais uma desordem nazista. O Lagosta é outra criação de Mignola, e<br />

rapidamente se tornou um favorito dos fãs. A história conta que Johnson foi um vigilante<br />

mascarado na década de 30, embora muitos o considerassem apenas um personagem de<br />

ficção. E ele vive até os dias de hoje, mistério que pode ser desvendado através <strong>das</strong><br />

histórias em quadrinhos desta edição. Ao final deste encadernado, <strong>Hellboy</strong> se demite do<br />

B.P.D.P., dando o pontapé para uma nova fase de histórias do vermelhão.<br />

O curioso é que o prefácio deste volume é de autoria de Guillermo Del Toro, que virá<br />

a dirigir <strong>Hellboy</strong> no <strong>cinema</strong>. Da união de Mike Mignola e Guilhermo Del Toro surge um conto,<br />

publicado em XXX, onde o professor Broom conta a <strong>Hellboy</strong>, ainda na infância, a lenda do<br />

Exército Dourado. Diz a história que no começo dos tempos, homens e feras e to<strong>das</strong> as<br />

criaturas mágicas viviam juntos debaixo da Aiglin, a árvore pratiarca. Foi lá, debaixo da<br />

sombra da árvore pai, que o homem, em sua infinita ganância, primeiramente sonhou em<br />

expandir todos os seus domínios sobre a Terra. E então, isso se transformou em uma<br />

amarga guerra, que teve iniciou com os seres mágicos, os filhos da Terra. O sangue de<br />

muitos ogros, elfos e globins foi derramado, e o seu soberano, Rei Balor, o rei de um braço<br />

<strong>das</strong> terras élficas, observou a tudo com desespero e em temor. Até que um dia o mestre do<br />

globins visitou o rei a fim de lhe oferecer a construção de um novo exercito: um exército<br />

mecânico. Setenta soldados que nunca se cansam, não sentem fome nem dor e nunca<br />

serão parados. O príncipe Nuada, herdeiro do rei, implorou para que o pai aceitasse a<br />

oferta. Com sua permissão, os globins trabalharam noite e dia e construíram o Exército<br />

Dourado. Também forjaram uma coroa, para que o rei pudesse comandar o exército que<br />

eles haviam construído. O exército não tinha limites, não tinha remorso, não distinguia<br />

homens de mulheres e crianças. Não tinha nenhuma pena, e extinguiu toda vida existente.<br />

Mas o Rei Balor sentiu seu coração pesar, pois sua vitória foi conquistada com a morte de<br />

milhares de pessoas. Diante do remorso, ele concordou com uma trégua. A coroa seria<br />

dividida em três pedaços: uma para a raça humana e as outras duas para os filhos da Terra.<br />

Em troca, o homem seria mantido para as suas cidades e os filhos da Terra teriam as<br />

florestas. O rei declarou que a trégua e os limites seriam honrados por seus filhos, os filhos<br />

de seus filhos até o fim dos tempos. Mas seu filho, o príncipe Nuada, não acreditou na<br />

promessa do homem. Ele marchou para dentro do exilo, jurando retornar se os filhos da<br />

terra alguma vez precisassem dele. E o Exército Dourado foi trancado dentro da terra, onde<br />

ficaram esperando por um novo usuário da coroa, em silêncio, parados e indestrutíveis.<br />

Vale à pena ressaltar este conto, pois ele só foi criado para que os fãs <strong>das</strong> HQs se<br />

familiarizassem com a história, que mais tarde seria transposta ao <strong>cinema</strong>. Ao longo do<br />

tempo, o vermelhão participa ainda de vários crossover - expressão dada quando há a<br />

junção de dois ou mais personagens de histórias diferentes numa mesma edição. O primeiro<br />

deles foi o encontro de <strong>Hellboy</strong> com a personagem da Dark Horse, Ghost. Também há um<br />

encontro com Savage Dragon, um policial verde com barbatana na cabeça, histórias escritas<br />

e desenha<strong>das</strong> por Erik Larsen. Além disso, <strong>Hellboy</strong> encontra dois personagens da DC<br />

Comics, Batman e Starman. Entretanto, não há uma união <strong>entre</strong>s os três personagens.<br />

Primeiro o vermelhão interage com Batman e só depois se encontra com Starman. Calculase<br />

que to<strong>das</strong> as obras de Mignola renderam-lhe mais de 60 milhões de dólares.<br />

3. UM MEXICANO AFICIONADO POR TERROR<br />

Em 2004, <strong>Hellboy</strong> foi transposto para o <strong>cinema</strong> pela primeira vez, pelo diretor<br />

mexicano Guillermo del Toro.


Criado por sua avó católica, Del Toro se interessou por <strong>cinema</strong> de terror muito cedo,<br />

ainda criança. Ele se lembra de ter sido aterrorizado com dois anos de idade pelo episódio<br />

"Mutante" da série original de ficção científica "The Outer Limits" (ABC, 1963-65).<br />

Após ver formigas verdes nas paredes e monstros no armário, del Toro fez um pacto<br />

de dedicar sua vida aos monstros se eles o deixassem entrar no quarto sem machucá-lo.<br />

Aparentemente, os monstros concordaram com os termos do acordo e Del Toro passou<br />

seus anos de formação fazendo filmes de monstro com uma câmera Super-8, bonecos e<br />

uma garrafa de ketchup. Avançou para curtas-metragens de 16 e 32 mm, e eventualmente<br />

participou da Dick Smith’s Advanced Makeup Course (Curso Avançado de Maquiagem de<br />

Dick Smith). Smith foi maquiador de O Exorcista e Del Toro trabalhou com ele até o início de<br />

1980. Encerrando seus trabalhos com Dick Smith, Del Toro formou sua própria companhia,<br />

Necropia, ainda no início da década de 1980. Passou quase 10 anos como supervisor de<br />

maquiagem e, durante esse período, aos 21 anos, foi produtor executivo de "Dona Herlinda<br />

e Seu Filho" (1984). Ele também produziu e dirigiu programas de TV no México durante este<br />

período, incluindo a antologia de terror "Hora Marcada" (1986), ensinou <strong>cinema</strong> e co-fundou<br />

o Cento de Estudos de Cinema e o Festival Mexicano de Cinema, ambos sediados em<br />

Guadalajara. Durante este período começou a planejar seu primeiro filme.<br />

Del Toro teve seu primeiro grande sucesso quando "Cronos" (1992), uma<br />

recontagem altamente original do clássico conto de vampiro, ganhou nove prêmios Ariel (o<br />

"Oscar" mexicano), incluindo Melhor Filme, e foi indicado pelo México para concorrer ao<br />

Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1993. Além de participar de festivais como o de<br />

Sundance e o San Francisco International Film Festival, ele também venceu o prêmio<br />

International Critics Week em Cannes. Mais importante ainda, "Cronos" foi a primeira<br />

colaboração <strong>entre</strong> Del Toro e Ron Perlamn.<br />

Em 2004, a dupla pôde trabalhar mais uma vez e levar ao <strong>cinema</strong> <strong>Hellboy</strong>, cuja<br />

interpretação ficou por conta de Perlman. Fã de longa data da série de quadrinhos da Dark<br />

Horse escrita e ilustrada por Mike Mignola, Del Toro disputou novamente com os executivos<br />

dos estúdios, principalmente com relação ao ator para o personagem título. O diretor insistiu<br />

em Perlman desde o início, enquanto o estúdio exigia um nome mais lucrativo, popular.<br />

Desta vez Del Toro venceu e Perlman foi contratado para interpretar o ser do inferno criado<br />

pelo benevolente Professor Bruttenholm (interpretado por John Hurt). Embora o filme tenha<br />

feito muito sucesso e del Toro tenha conseguido se separar de seus colegas diretores e se<br />

tornar um cineasta internacional, foi com outra história que ele se consagrou como um dos<br />

maiores cineastas de Hollywood.<br />

Em 2006, ele dirigiu o poderoso e assustador "O Labirinto do Fauno". Fantasia pura,<br />

passada durante o período da guerra civil na Espanha. A história é sobre uma jovem garota<br />

solitária (interpretada por Ivana Baquero) que escapa de seus violentos arredores e de seu<br />

grosseiro e autoritário padrasto (Sergi López), um oficial da Guarda Civil de Franco. Ela cria<br />

um mundo de faz de conta cheio de criaturas fantásticas. Chamada por um antigo fauno, a


garota aprende que é uma princesa e parte para completar uma série de tarefas, nas quais<br />

ela precisa integrar o fascismo e a violência do mundo exterior com o igualmente<br />

perturbador mundo de sua própria criação. O Labirinto do Fauno ganhou três Oscar:<br />

Fotografia, Direção de Arte e Maquiagem, além de concorrer a Trilha Sonora Original,<br />

Roteiro Original e Filme Estrangeiro. Diz ele:<br />

3.1 HELLBOY GANHA VIDA<br />

Eu tenho um tipo de fetiche por insetos, mecanismos de relógios,<br />

monstros, locais escuros e coisas não-nasci<strong>das</strong> (...). Minha<br />

fascinação por monstros é quase antropológica (...) eu os estudo e<br />

os disseco em muitos de meus filmes: eu quero saber como eles<br />

funcionam, como o interior deles se parece, qual é sua sociologia.<br />

(Guillermo Del Toro)<br />

O primeiro filme da saga <strong>Hellboy</strong> teve, essencialmente, como base, a série de<br />

histórias em quadrinhos “Sementes da Destruição”, publicada no Brasil em 1998. Como já<br />

mencionado, Ron Perlman deu vida ao benevolente ser <strong>das</strong> trevas de Mignola. A atuação<br />

dele, em especial, foi sucesso de criticas e de bilheteria. Embora os quadrinhos não tenham<br />

muita história para contar e o primeiro filme ocasionalmente siga este padrão, Del Toro<br />

conseguiu representar o ambiente e os personagens, com muitas <strong>das</strong> cenas parecendo<br />

desenhos de Mignola trazidos à vida. E é isso o que garantiu o sucesso do filme – o<br />

absolutismo do autor sobre a obra. Mignola é, sem dúvida, o dono de <strong>Hellboy</strong>. E por ser uma<br />

obra “lenta”, pelo fato do autor não criar um exemplar em seguida do outro (com o intuito de<br />

vender) e se preocupar mais com o conteúdo da obra, as histórias sempre foram muito boas<br />

e a transposição para o <strong>cinema</strong> parecia ameaçar esse fato.<br />

Felizmente, o diretor do filme foi Del Toro que, transmitiu todo o seu misticismo à<br />

obra de Mignola e recriou os espaços como os dos desenhos e, como ele mesmo diz, não<br />

uma adaptação, mas uma homenagem ao autor e à seu personagem. Os atores<br />

coadjuvantes Selma Blair (Liz Sherman), John Hurt (Professor Broom), Doug Jones (Abe<br />

Sapien) e Rupert Evans (John Myer), embora paralelos à Pearlman, são muito bem<br />

aproveitados e interagem na história com o protagonista de forma a se tornarem tão<br />

excepcionais quanto ele.<br />

Basicamente, o filme retrata o que foi visto nos quadrinhos – <strong>Hellboy</strong> ajuda a<br />

combater as forças do mal ao lado de Abe e de seu professor e pai. No <strong>cinema</strong>, <strong>entre</strong>tanto,<br />

a relação com Liz é muito mais pessoal e íntima do que parece ser nas HQs. <strong>Hellboy</strong><br />

demonstra sentimentos que são quadrinhos não muito bem demonstrados. E este é o único<br />

ponto baixo do filme. Essa “união” de Liz e <strong>Hellboy</strong> soa muito como um filme<br />

“hollywoodiano”. O que parece, é que Del Toro teve que adaptar a história (neste ponto)<br />

para que o filme se tornasse um blockbuster e vendesse. Mas nada que tenha estragado ou<br />

diminuído a excelente transposição da história para o <strong>cinema</strong>. Enquanto isso o intelectual<br />

Abe contrapõe o deboche de <strong>Hellboy</strong> com suas considerações inteligentes.<br />

O primeiro filme em si supera as expectativas daqueles que leram as histórias em<br />

quadrinhos e não decepciona. A utilização de muita maquiagem e poucos, apesar de<br />

ótimos, efeitos visuais, torna o filme algo ainda mais valioso e singular. O segundo filme,<br />

“<strong>Hellboy</strong> e o Exército Dourado”, traz a tona uma novidade de uma transposição da HQ para<br />

o <strong>cinema</strong>. O filme não é baseado em nenhuma história de Mignola, muito pelo contrário. O<br />

autor criou uma HQ para “explicar” aos fãs a nova história que a parceria dele com Del Toro<br />

renderia aos <strong>cinema</strong>s. Por se tratar de uma história desconhecida, certamente as<br />

expectativas dos fãs são maiores.


E novamente foram supera<strong>das</strong>. <strong>Hellboy</strong> 2 lucrou US$ 34,9 milhões (R$ 56 milhões),<br />

na primeira semana de exibição nos Estados Unidos, ultrapassando a marca de 2004,<br />

quando o primeiro filme da saga rendeu US$ 23,2 milhões (R$ 37,1 milhões). Nesta trama,<br />

<strong>Hellboy</strong> combate o Exército Dourado, um exército mecânico criado para a absoluta<br />

destruição. Surgem novos personagens essenciais, como o ambicioso Príncipe Nuada,<br />

interpretado por Luke Goss e sua irmã, a Princesa Nuala, que Anna Walton interpreta.<br />

A história é basicamente a mesma apresentada na HQ de edição especial. Após a<br />

quebra de uma antiga trégua mantida há anos <strong>entre</strong> a humanidade e o reino da fantasia, o<br />

inferno na Terra está prestes a ser deflagrado. O anárquico príncipe Nuada se cansou dos<br />

séculos de complacência à humanidade e trama despertar um exército de máquinas<br />

assassinas que tomará de volta o que pertence a seu povo. E é <strong>Hellboy</strong> quem pode impedir<br />

o sombrio monarca e salvar o mundo da aniquilação.<br />

Vale ressaltar que há uma continuação na história de amor do vermelhão e de Liz.<br />

Os dois se tornam namorados e ela fica grávida. Trata-se de mais um filme cheio de fantasia<br />

e de seres mágicos, com uma história bem desenvolvida.<br />

CONCLUSÃO<br />

Bastante próximos dos quadrinhos do <strong>Hellboy</strong>, de comprovado sucesso editorial, os<br />

filmes aqui abordados tem excelente fotografia e os cenários procuram reproduzir os<br />

quadrinhos, dando um realce quase surreal ao estranho universo ficcional do personagem.<br />

Observa-se a tentativa de adequação e de fidelidade aos textos de origem. Guilherme del


Toro é um diretor que imprime sua marca estilística aos filmes, tendo se consagrado com o<br />

excelente “Labirinto do Fauno”. O desenvolvimento desta pesquisa propiciou a leitura de um<br />

grande número de volumes de quadrinhos, bem como a detalhada observação de cada um<br />

dos filmes. Além disso, as referências teóricas possibilitaram um aprofundamento do tema e<br />

um exercício bastante interessante de análise intersemiótica, com o foco nas<br />

particularidades da passagem de uma mídia impressa para o audiovisual <strong>cinema</strong>tográfico.<br />

REFERENCIAS<br />

CAGNIN, Antonio Luiz. Os quadrinhos. São Paulo: Ática, 1975.<br />

CIRNE, Moacy. Quadrinhos, sedução e paixão. Petrópolis: Vozes, 2000.<br />

DURAND,Gilbert. O imaginário. Ensaio acerca <strong>das</strong> ciências e da filosofia da imagem. Rio de Janeiro: Difel, 1999.<br />

ECO, Umberto.Apocalípticos e integrados. São Paulo :Perspectiva , 1978.<br />

EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2005.<br />

GUIMARÃES, Denise. A. Duarte. “The Spirit, de Frank Miller. A opção estética e o domínio técnico na<br />

transcriação fílmica da obra de Will Eisner.” XIX Encontro Nacional da Compós. PUCRJ. Rio de Janeiro, 2010. 18<br />

p.<br />

_____. “Utopias, anacronias e distopias em V de Vingança.”Revista Intexto.(UFRGS), Porto Alegre, V. 2, n.21 –<br />

julho a dezembro de 2009. (p.84-103)<br />

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas, Papirus, 1992 .<br />

Mc CLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 2004.<br />

MOYA, Álvaro. História da História em Quadrinhos São Paulo: L&PM. 1986.<br />

QUELLA-GUYOT, Didier. A História em Quadrinhos. São Paulo: Unimarco Editora/ Edições Loyola, 1994.<br />

STAM, Robert. Introdução à teoria do <strong>cinema</strong>. Campinas: Papirus, 1996.<br />

Histórias em quadrinhos li<strong>das</strong>:<br />

<strong>Hellboy</strong> Ghost - 1999<br />

<strong>Hellboy</strong> Gigante Infernal – 2001 - Dark Horse Comics<br />

<strong>Hellboy</strong> Sementes da Destruição 1 – 1998 - Dark Horse Comics<br />

<strong>Hellboy</strong> Sementes da Destruição 2 – 1998 - Dark Horse Comics<br />

Savage Dragon e <strong>Hellboy</strong> 1 – 2001 – Pandora Books<br />

Savage Dragon e <strong>Hellboy</strong> 2 – 2001 – Pandora Books<br />

<strong>Hellboy</strong> The Golden Army – 2008 – Dark Horse Comics<br />

Sites consultados:<br />

http://lazer.hsw.uol.com.br. Acesso em 28/04/2010.<br />

http://www.consciencia.org. Acesso em 20/10/ 2009.<br />

http://omelete.com.br/<strong>cinema</strong>/. Acesso em 13/05/2010.<br />

http://www.guiadosquadrinhos.com. Acesso em 30/04/2010.<br />

http://www.delfos.jor.br. Acesso em 30/04/2010.<br />

http://www.valinor.com.br. Acesso em 15/06/2010.<br />

http://www.historiaimagem.com.br. Acesso em 28/04/2010.<br />

http://www.historiaemquadrinhos.hpg.ig.com.br. Acesso em 30/04/2010.<br />

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada. Acesso em 13/05/2010.<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki. Acessos <strong>entre</strong> Abril e Julho de 2010.<br />

http://www.cinepop.com.br. Acesso em 13/05/2010.<br />

http://<strong>cinema</strong>.yahoo.net. Acesso em 13/05/2010

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