Elisa Maria Guimarães de Souza CARACTERIZAÇÃO DOS ... - UFF
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE<br />
INSTITUTO DE BIOLOGIA<br />
PROGRAMA DE NEUROCIÊNCIAS<br />
<strong>Elisa</strong> <strong>Maria</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong><br />
<strong>CARACTERIZAÇÃO</strong> <strong>DOS</strong> EFEITOS <strong>DOS</strong><br />
RECEPTORES METABOTRÓPICOS DE GLUTAMATO<br />
NO SISTEMA GABAÉRGICO AO LONGO DO<br />
DESENVOLVIMENTO DA RETINA DE PINTO<br />
TESE SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL<br />
FLUMINENSE VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE<br />
MESTRE EM NEUROCIÊNCIAS<br />
Orientadora: Profa. Dra. Karin da Costa Calaza<br />
NITERÓI<br />
2010<br />
i
<strong>Elisa</strong> <strong>Maria</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>de</strong> <strong>Souza</strong><br />
<strong>CARACTERIZAÇÃO</strong> <strong>DOS</strong> EFEITOS <strong>DOS</strong><br />
RECEPTORES METABOTRÓPICOS DE GLUTAMATO<br />
NO SISTEMA GABAÉRGICO AO LONGO DO<br />
DESENVOLVIMENTO DA RETINA DE PINTO<br />
Trabalho <strong>de</strong>senvolvido no Laboratório <strong>de</strong> Neurobiologia da Retina do<br />
Departamento <strong>de</strong> Neurobiologia, Instituto <strong>de</strong> Biologia, <strong>UFF</strong>.<br />
Dissertação <strong>de</strong> Mestrado submetida ao<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em<br />
Neurociências da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Fluminense como requisito<br />
parcial para a obtenção do grau <strong>de</strong><br />
Mestre em Neurociências.<br />
Área <strong>de</strong> concentração: Ciências<br />
Biológicas.<br />
Orientadora: Profa. Dra. Karin da Costa Calaza<br />
NITERÓI<br />
2010<br />
ii
GUIMARÃES-SOUZA, <strong>Elisa</strong> <strong>Maria</strong><br />
– Niterói: <strong>UFF</strong>, 2010.<br />
98 f.<br />
Dissertação – Mestrado em Neurociências<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />
1. retina 2. GABA 3. receptor metabotrópico <strong>de</strong> glutamato<br />
4. liberação <strong>de</strong> neurotransmissor<br />
iii
Este trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido no Laboratório <strong>de</strong> Neurobiologia da Retina, do<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Neurociências, do Instituto <strong>de</strong> Biologia da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, sob a orientação da Professora Dr. Karin da<br />
Costa Calaza e na vigência dos auxílios concedidos pelo Conselho Nacional <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />
Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Ensino Superior (CAPES), pela Fundação <strong>de</strong><br />
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (FAPERJ), pelo Programa <strong>de</strong> Apoio<br />
aos Núcleos <strong>de</strong> Excelência (PRONEX/MCT) e pela Pró-Reitoria <strong>de</strong> Pesquisa, Pós-<br />
Graduação e Inovação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense (PROPPi/<strong>UFF</strong>).<br />
iv
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço a Deus por ser um mistério e ser a vida que <strong>de</strong>svendamos.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a meus pais, José e Laïs, por serem simplesmente fonte <strong>de</strong><br />
tudo: amor, esperança, ensinamentos, exemplos, e por toda a <strong>de</strong>dicação para com<br />
este ser imperfeito, incompleto e incrivelmente chato que sou eu.<br />
Obrigada, vovô e vovó, por ajudarem nos primeiros passos.<br />
Renata, você é minha melhor amiga, e a pessoa mais verda<strong>de</strong>ira que eu<br />
conheço. Flávio, você é muito importante na minha vida. Obrigada por existirem e<br />
tornarem minha vida mais feliz.<br />
Agra<strong>de</strong>ço aos professores do Guido por terem me proporcionado o gosto<br />
pelo estudo. Em especial, agra<strong>de</strong>ço ao professor Ivan, que repetidamente <strong>de</strong>u lições<br />
valiosas do que é ser um professor, com sua <strong>de</strong>dicação e empenho. Na época do<br />
vestibular, em que me convidava para sua casa e dava aulas extras <strong>de</strong> Química <strong>de</strong><br />
três, quatro horas, várias e várias vezes, sem cobrar um tostão.<br />
Agra<strong>de</strong>ço à professora Mônica, <strong>de</strong> inglês, por dado o melhor <strong>de</strong> si (e faz<br />
uma diferença absurda esse inglês), e por ter sido uma amiga quando eu precisei <strong>de</strong><br />
uma.<br />
Obrigada a todos os meus colegas <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>. Todos eles, cada um<br />
com suas características, ajudaram a tornar o tempo <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> inesquecível e<br />
muito, muito engraçado. Particularmente, agra<strong>de</strong>ço às “Camponesas <strong>de</strong> Nobre<br />
Coração”, Tati, Lissa, Ana Flávia, <strong>Maria</strong>na, Carolina e Gisella. Vale falar também dos<br />
meus calouros mais queridos: Sarah, Bruna, Felipe e Dan. Sou muito feliz por ter<br />
conhecido todos vocês.<br />
Finalmente, agra<strong>de</strong>ço aos companheiros <strong>de</strong> laboratório, as pessoas que<br />
vejo todos os dias e implico cada vez mais: Professores Roberto, <strong>Maria</strong>na, e<br />
Marcelo, Cristiane, Alexandre, Renato, Camila, Eliza Lelé, Thaísa, Ivan, Felipe,<br />
Sarah e Luzeli. Também aos antigos dos laboratórios, Daniel, Luciane.<br />
Agra<strong>de</strong>ço aos professores <strong>de</strong> todo o <strong>de</strong>partamento pela paciência e por<br />
toda a ajuda: Claudio Serfaty, Adriana Melibeu, Elizabeth Giestal, Paula Campello,<br />
Suellen Marques e Priscilla Oliveira. Agra<strong>de</strong>ço em especial à professora Lucianne<br />
Fragel, por ter feito uma revisão muito cuidadosa e criteriosa, que melhorou muito o<br />
trabalho, e à professora Ana Ventura, que ajudou muito com a dosagem <strong>de</strong><br />
glutamato.<br />
Obrigada também aos professores Patrícia Gardino e Fernando Mello, por<br />
todo o apoio que dão às nossas idéias.<br />
Agora, uma parte mais <strong>de</strong>talhada, para as pessoas mais envolvidas neste<br />
pedacinho da minha vida que foi o mestrado: os Karinérgicos (alunos da Karin, para<br />
quem não está familiarizado com o termo).<br />
Raquel, você é uma pessoa maravilhosa. Está sempre ajudando,<br />
v
conversando, especulando, indo lanchar comigo (e me xingando também, às vezes).<br />
Você se tornou uma amiga muito valiosa. Muito obrigada por me <strong>de</strong>ixar ser a<br />
primeira banca da sua vida (na monografia), e por ser a única que ri<br />
exacerbadamente das minhas piadas sem graça. Meu coração se enche <strong>de</strong> alegria<br />
quando você está perto! Só vê se “mente” e “chora” menos, ok? Nesse ritmo, vai<br />
virar um salgueiro chorão (essa é a parte que você não enten<strong>de</strong> e ri mesmo assim)!<br />
Vívian, eu estou escrevendo esses agra<strong>de</strong>cimentos no dia do seu<br />
aniversário <strong>de</strong>ste ano, e estou propositalmente “esquecendo” <strong>de</strong> te dar parabéns<br />
hoje, porque amanhã faremos um bolo-surpresa. Então, quando você ler isto,<br />
lembre-se <strong>de</strong>ste dia, e saiba que você é uma pessoa muito querida mesmo para<br />
mim! É a minha amiga japonesa favorita, que tem muitas histórias que eu adoro<br />
ouvir, e que está sempre disposta a ajudar. Domo arigato, Vivi-chan! Sempre que<br />
cair uma melancia na sua vida, me dá que eu como!<br />
Rafael, antes <strong>de</strong> tudo, você é “meu amigoooooooooo”! Você é um cara<br />
muito legal, cheio <strong>de</strong> garra, fibra, e totalmente <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> vergonha (no sentido<br />
<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> fazer perguntas a gran<strong>de</strong>s personalida<strong>de</strong>s científicas, não se<br />
zangue, hehe). Admiro muito todo o seu esforço e seu interesse, e espero que<br />
sigamos juntos por todo o doutorado, como fizemos na iniciação científica e no<br />
Mestrado. Sério, só tem três coisas que eu queria <strong>de</strong> você: 1) renovação do<br />
repertório <strong>de</strong> músicas cantadas; 2) uma chance para o “Lost”; 3) mil e quinhentas<br />
lâminas gelatinizadas por você especialmente para mim no dia <strong>de</strong> Natal. Hahaha, a<br />
3 é pegadinha, tá? Não chora! Boa sorte com as arrecadações do EPA (Escola para<br />
o Progresso da A<strong>de</strong>nosina).<br />
Raul, Havana e Daniel, os mais novos Karinérgicos: vocês são muito<br />
esforçados e queridos. Contem comigo para o que precisarem!<br />
Por último, agra<strong>de</strong>ço à po<strong>de</strong>rosa chefona Karin. Escolhi você como<br />
orientadora por sua <strong>de</strong>dicação e empenho nas aulas, quando você me <strong>de</strong>u aula no<br />
segundo período. Faz cinco anos que trabalhamos juntas, e não sei se eu saberia ou<br />
conseguiria trabalhar com outra pessoa, tão capacitada, equilibrada e interessada<br />
como você. Acho que <strong>de</strong> tanto você esperar o melhor <strong>de</strong> todos nós, no fim,<br />
conseguimos fazer trabalhos incríveis! Muito obrigada por me aturar todos esses<br />
anos, e espero não enlouquecer você no doutorado.<br />
vi
RESUMO<br />
Glutamato e GABA são, respectivamente, os principais<br />
neurotransmissores excitatórios e inibitórios da retina, participando das vias através<br />
das quais a retina processa a informação luminosa. Receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato <strong>de</strong> todos os três grupos estão presentes na retina e po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectados<br />
em corpos celulares e contatos sinápticos <strong>de</strong> células amácrinas. Já foi mostrado que<br />
o glutamato induz a liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas pela ativação <strong>de</strong><br />
receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato na retina <strong>de</strong> pinto <strong>de</strong> E14 a PE. Então,<br />
<strong>de</strong>cidimos verificar os efeitos causados pela ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos<br />
<strong>de</strong> glutamato no sistema GABAérgico em três estágios do <strong>de</strong>senvolvimento e no<br />
animal pós-eclosão. Em E14 e E16, não encontramos efeitos induzidos por<br />
receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato no número <strong>de</strong> células amácrinas GABApositivas.<br />
No entanto, o tratamento <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais E18 e PE com o agonista<br />
dos grupos I e II, trans-ACPD, promoveu uma diminuição <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40% no<br />
número <strong>de</strong> células GABA-positivas em relação ao controle, efeito que foi impedido<br />
por antagonistas <strong>de</strong> ambos os grupos, enquanto o L-SOP, agonista do grupo III,<br />
promoveu um efeito similar, que foi prevenido por seu antagonista. Os efeitos <strong>de</strong><br />
trans-ACPD e L-SOP também foram inibidos com o bloqueio <strong>de</strong> GAT-1, um<br />
transportador <strong>de</strong> GABA expresso em células amácrinas. O bloqueio <strong>de</strong> receptores<br />
ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato <strong>de</strong> ambos os tipos inibiu fortemente a diminuição do<br />
número <strong>de</strong> células GABA-positivas. A fim <strong>de</strong> avaliar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a<br />
ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato estaria produzindo um aumento<br />
da liberação <strong>de</strong> glutamato, verificamos que os níveis <strong>de</strong> glutamato extracelular<br />
encontrados no meio <strong>de</strong> incubação das retinas tratadas com trans-ACPD eram 65%<br />
maiores do que retinas controle, efeito este que era inibido pela ausência <strong>de</strong> cálcio,<br />
mas não verificamos o mesmo efeito com L-SOP. Desta forma,, reportamos que, na<br />
retina <strong>de</strong> pinto em <strong>de</strong>senvolvimento, receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato estão<br />
envolvidos na circuitaria GABAérgica.<br />
vii
ABSTRACT<br />
Glutamate and GABA are, respectively, the major excitatory and inhibitory<br />
transmitter molecules in the retina, participating in the two pathways through which<br />
the retina processes light information. Metabotropic glutamate receptors of all three<br />
groups are present in the retina, and can be <strong>de</strong>tected in amacrine cell bodies and<br />
synaptic contacts. Glutamate has been shown to induce GABA release from<br />
amacrine cells by activating ionotropic glutamate receptors in the chicken retina.<br />
Thus, we verified the effect caused by the activation of metabotropic glutamate<br />
receptors on GABA release from these cells in three <strong>de</strong>velopmental stages and in the<br />
post-hatch animal. In E14 and E16, we were not able to find an effect induced by<br />
metabotropic glutamate receptors agonists in GABA-positive amacrine cell number.<br />
However, we did find effects in ages E18 and post-hatch animal. Group I/II agonist<br />
trans-ACPD promoted a 40% <strong>de</strong>crease in the number of GABA-positive cells in<br />
relation to the control, effect that was prevented by antagonists of both groups, while<br />
L-SOP, group III agonist, promoted a similar release, which was prevented by its<br />
antagonist. Also, we could inhibit trans-ACPD and L-SOP effects by blocking GAT-1,<br />
a GABA transporter expressed in amacrine cells. We found that blocking ionotropic<br />
glutamate receptors of both types could strongly inhibit the <strong>de</strong>crease in GABApositive<br />
cells. Evaluating the possibility that the activation of metabotropic glutamate<br />
receptors would be yielding enhanced glutamate release, we discovered that<br />
extracellular glutamate levels found in bath solutions were about 65% higher in trans-<br />
ACPD treated than in control retinas, effect that was blocked by calcium absence, but<br />
we could not <strong>de</strong>tect such an effect with L-SOP treatment. Therefore, we report that,<br />
in the chicken retina, metabotropic glutamate receptors are present, functional, and<br />
are involved in the GABAergic circuitry.<br />
viii
6-OHDA 6-hidroxidopamina<br />
LISTA DE ABREVIATURAS<br />
AAT Aspartato aminotransferase<br />
ABC Avidina-biotina peroxidase<br />
AIDA Ácido 1-aminoindan-1,5-dicarboxílico<br />
AMPA amino-5-metil-4-isoxalona propionato<br />
AMPc A<strong>de</strong>nosina monofosfatada cíclica<br />
ATP Trifosfato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nosina<br />
BSA Albumina sérica bovina<br />
Ca 2+ Cálcio<br />
CaMKII Cinase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio/calmodulina do tipo II<br />
CCG Camada <strong>de</strong> células ganglionares<br />
Cl - Íon cloreto<br />
CNE Camada nuclear externa<br />
CNI Camada nuclear interna<br />
CPE Camada plexiforme externa<br />
CPI Camada plexiforme interna<br />
DNQX 6,7-Dinitroquinoxalina-2,3(1H-4H)-diona<br />
EAAT Transportador <strong>de</strong> aminoácidos excitatórios<br />
ERK Cinase regulada por sinais extracelulares<br />
EX Embrião com X dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
GABA Ácido γ-aminobutírico<br />
GABA+ (Células) GABA-positivas<br />
GABA-T GABA-transaminase<br />
GABAX<br />
Receptor <strong>de</strong> GABA do tipo X<br />
ix
GAD Descarboxilase do ácido glutâmico<br />
GAT Transportador <strong>de</strong> GABA<br />
GDH Desidrogenase do ácido glutâmico<br />
GMPc Guanosina monofosfatada cíclica<br />
GS Glutamina sintetase<br />
H + Hidrogênio/próton<br />
iGluR Receptor ionotrópico <strong>de</strong> glutamato<br />
IP3 Inositol trifosfato<br />
K + Íon potássio<br />
KA Cainato<br />
LDH Lactato <strong>de</strong>sidrogenase<br />
L-SOP L-serina-O-fosfato<br />
LTD Depressão <strong>de</strong> longo termo<br />
LTP Potenciação <strong>de</strong> longo termo<br />
MAP-4 Ácido (S)-2-amino-2-metil-4-fosfonobutanóico<br />
MCCG (2S,3S,4S)-2-Metil-2-(carboxiciclopropil)glicina<br />
Mg 2+ Íon magnésio<br />
mGluR Receptor metabotrópico <strong>de</strong> glutamato<br />
MK-801 / MK<br />
Na + Íon sódio<br />
(5R,2S)-(+)-5-Metil-10,11-diidro-5H-dibenzo[a,d]<br />
ciclohepteno-5,10-imina hidrogênio maleato<br />
NMDA N-metil-D-aspartato<br />
NOSn Sintase do óxido nítrico neuronal<br />
NO-711<br />
hidrocloridrato <strong>de</strong> ácido (1-[2-[[(difenilmetileno)imino]oxi]etil] -<br />
1,2,5,6-tetrahidro-3-piridinacarboxílico<br />
PAC1 Receptor <strong>de</strong> PACAP do tipo 1<br />
x
PACAP Peptí<strong>de</strong>o ativador da a<strong>de</strong>nilato ciclase da pituitária<br />
PAG Glutaminase ativada por fosfato<br />
PBS Solução salina <strong>de</strong> tamponada com fosfato<br />
PE Pós-eclosão<br />
PI3K Cinase <strong>de</strong> inositol trifosfato<br />
PKC Proteína cinase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio<br />
PLC Fosfolipase C<br />
PSD-95 Proteína <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> pós-sináptica <strong>de</strong> 95kDa<br />
PX Animal nascido a X dias<br />
SNC Sistema Nervoso Central<br />
T-ACPD / T Ácido 1-aminociclopentano-trans-1,3-dicarboxílico<br />
TBS Solução salina tamponada com Tris<br />
TRPM<br />
Canal <strong>de</strong> potencial receptor transitório (Transient Receptor<br />
Potential Channel Melastin)<br />
VGAT Transportador vesicular <strong>de</strong> GABA<br />
VGLUT Transportador vesicular <strong>de</strong> glutamato<br />
xi
LISTA DE FIGURAS E TABELAS<br />
Figura 1 – Esquema ilustrando o ciclo glutamato-glutamina.................................. 16<br />
Figura 2 – Representação gráfica do receptor NMDA........................................... 19<br />
Tabela 1 – Apresentação dos subtipos <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato............................................................................................................<br />
Figura 3 – Representação gráfica <strong>de</strong> um receptor metabotrópico <strong>de</strong><br />
glutamato................................................................................................................<br />
Figura 4 – Esquema simplificado da reação através da qual o GABA é<br />
sintetizado..............................................................................................................<br />
Figura 5 – Esquema simplificando o processo <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> GABA por<br />
transportador.......................................................................................................... 27 Sistema gluta<br />
Figura 6 – Esquema da morfologia retiniana.......................................................... 30<br />
Figura 7 – Esquema resumindo os períodos do <strong>de</strong>senvolvimento nos quais<br />
ocorrem a geração <strong>de</strong> cada tipo celular da retina <strong>de</strong> pinto....................................<br />
Figura 8 – Esquema mostrando o circuito <strong>de</strong> células horizontais e bipolares ON. 36<br />
Figura 9 – Esquema <strong>de</strong>monstrando a função fisiológica das células amácrinas... 37<br />
Figura 10 – Quadro ilustrando a localização dos mGluRs nas camadas da retina 39<br />
Tabela 2 – Relação das drogas utilizadas nos experimentos................................ 44<br />
Figura 11 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRI/II/III na retina <strong>de</strong> E14........................... 51<br />
Figura 12 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRI/II/III na retina <strong>de</strong> E16........................... 52<br />
Figura 13 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRI/II na retina <strong>de</strong> E18............................... 55<br />
Figura 14 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRIII na retina <strong>de</strong> E18................................ 56<br />
Figura 15 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com<br />
agonista <strong>de</strong> mGluRI/II em E18...............................................................................<br />
21<br />
22<br />
25<br />
33<br />
57<br />
xii
Figura 16 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com<br />
agonista <strong>de</strong> mGluRIII em E18................................................................................<br />
Figura 17 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRI/II na retina <strong>de</strong> PE................................. 61<br />
Figura 18 – Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRIII na retina <strong>de</strong> PE.................................. 62<br />
Figura 19 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e<br />
III na liberação <strong>de</strong> LDH em PE...............................................................................<br />
Figura 20 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e<br />
III na imunorreativida<strong>de</strong> nas sublâminas da CPI em PE........................................<br />
Figura 21 – Efeito da inibição <strong>de</strong> GAT-1 no tratamento com agonista <strong>de</strong> mGluRI,<br />
II e III em PE...........................................................................................................<br />
Figura 22 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com<br />
agonista <strong>de</strong> mGluRI/II em PE.................................................................................<br />
Figura 23 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com<br />
agonista <strong>de</strong> mGluRIII em PE..................................................................................<br />
Figura 24 – Efeito da ausência <strong>de</strong> cálcio no tratamento com agonista <strong>de</strong><br />
mGluRI/II em PE.....................................................................................................<br />
Figura 25 – Efeito <strong>de</strong> agonistas <strong>de</strong> mGluRI/II/III e da ausência <strong>de</strong> cálcio na<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato em PE...............................................................................<br />
59<br />
63<br />
63<br />
64<br />
66<br />
67<br />
69<br />
70<br />
xiii
SUMÁRIO<br />
AGRADECIMENTOS ........................................................................................ iv<br />
RESUMO ........................................................................................................... vii<br />
ABSTRACT........................................................................................................ viii<br />
LISTA DE ABREVIATURAS .............................................................................. ix<br />
LISTA DE FIGURAS E TABELAS ..................................................................... xii<br />
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 17<br />
1.1- Sistema glutamatérgico ............................................................... 17<br />
1.1.1. Metabolismo do glutamato ................................................ 17<br />
1.1.2. Liberação e recaptação <strong>de</strong> glutamato .............................. 18<br />
1.1.3. Receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato ............................. 19<br />
1.1.4. Receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato ........................ 22<br />
1.2- Sistema GABAérgico ................................................................... 27<br />
1.2.1. Metabolismo do GABA ...................................................... 27<br />
1.2.2. Liberação e recaptação <strong>de</strong> GABA .................................... 28<br />
1.3- Retina ........................................................................................... 30<br />
1.3.1. A retina <strong>de</strong> galinha e suas vantagens na<br />
pesquisa.............................................................................<br />
1.3.2. Organização morfológica e tipos celulares........................ 31<br />
1.3.3. Desenvolvimento da retina <strong>de</strong> galinha............................... 33<br />
1.3.4. Vias <strong>de</strong> processamento visual retiniano............................. 35<br />
30<br />
xiv
1.3.4.1. Via radial.................................................................... 35<br />
1.3.4.2. Via lateral................................................................... 37<br />
1.4- Receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato na retina ..................... 40<br />
2. OBJETIVOS ................................................................................................. 43<br />
2.1- Objetivos gerais ........................................................................... 43<br />
2.2- Objetivos específicos ................................................................... 43<br />
3. MATERIAIS E MÉTO<strong>DOS</strong> ........................................................................... 44<br />
3.1- Animais ........................................................................................ 44<br />
3.2- Estimulação farmacológica do tecido retiniano intacto ................ 45<br />
3.3- Crioproteção e secção em criostato ............................................ 46<br />
3.4- Imunohistoquímica ....................................................................... 47<br />
3.5- Ensaio <strong>de</strong> medição do glutamato liberado ................................... 48<br />
3.6- Ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> LDH ........................................................ 49<br />
3.7- Análise quantitativa e estatística ................................................. 50<br />
4. RESULTA<strong>DOS</strong> ............................................................................................. 51<br />
4.1- Embrião com 14 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento .................................. 51<br />
4.2- Embrião com 16 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento .................................. 51<br />
4.3- Embrião com 18 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ................................. 54<br />
4.4- Animal pós-eclosão ..................................................................... 60<br />
4.4.1. Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRs na imunorreativida<strong>de</strong> do<br />
GABA ................................................................................<br />
4.4.2. Influência do bloqueio do transportador <strong>de</strong> GABA (GAT-<br />
60<br />
xv
1) no efeito induzido por mGluRs...................................... 61<br />
4.4.3. Influência do bloqueio dos receptores ionotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato no efeito induzido por mGluRs..........................<br />
4.4.4. Liberação <strong>de</strong> glutamato induzida por ativação <strong>de</strong><br />
mGluRs .............................................................................<br />
5. DISCUSSÃO ................................................................................................ 72<br />
5.1- A liberação <strong>de</strong> GABA induzida por glutamato durante o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento ..........................................................................<br />
5.2- A liberação <strong>de</strong> GABA induzida por glutamato no animal pós-<br />
eclosão .........................................................................................<br />
5.3- A liberação <strong>de</strong> glutamato induzida por mGluRs no animal pós-<br />
eclosão .........................................................................................<br />
5.4- Mecanismos <strong>de</strong> modulação da função <strong>de</strong> receptores.................... 78<br />
5.5- Células amácrinas GABAérgicas e mGluRs ................................. 80<br />
5.6- mGluRs, glutamato e GABA: neuroproteção ou injúria?.............. 81<br />
6. CONCLUSÕES ........................................................................................... 84<br />
7. PERSPECTIVAS ......................................................................................... 85<br />
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 87<br />
66<br />
69<br />
72<br />
74<br />
76<br />
xvi
1. INTRODUÇÃO<br />
1.1- Sistema glutamatérgico<br />
1.1.1. Metabolismo do glutamato<br />
Há muitos anos, o glutamato já era consi<strong>de</strong>rado importante para o<br />
metabolismo geral do corpo humano, pois este neurotransmissor participa <strong>de</strong><br />
processos bioquímicos <strong>de</strong> oxidação para geração <strong>de</strong> energia, síntese <strong>de</strong> proteínas e<br />
formação <strong>de</strong> diferentes compostos. Sua ação excitatória no sistema nervoso foi<br />
<strong>de</strong>scoberta por Hayashi em 1954, quando se verificou que a injeção <strong>de</strong> glutamato <strong>de</strong><br />
sódio no córtex motor <strong>de</strong> caninos e primatas provocava convulsão nesses animais<br />
(Takeuchi, 1987). Des<strong>de</strong> então, o glutamato se tornou um dos neurotransmissores<br />
mais estudados, e os mecanismos <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong> seus efeitos celulares e moleculares<br />
já foram elucidados. No sistema nervoso central (SNC), particularmente, atua como<br />
o principal neurotransmissor excitatório, sendo o mediador químico <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 80 a<br />
90% das sinapses excitatórias cerebrais (McKenna, 2007).<br />
O glutamato po<strong>de</strong> ser sintetizado <strong>de</strong> duas formas: a partir do α-<br />
cetoglutarato (α-CG) do ciclo <strong>de</strong> Krebs, pela enzima <strong>de</strong>sidrogenase do ácido<br />
glutâmico (GDH); ou a partir da glutamina, pela enzima glutaminase ativada por<br />
fosfato (PAG) (fig. 1). Normalmente, quando há excesso <strong>de</strong> glutamato extracelular,<br />
as células gliais atuam no sentido <strong>de</strong> diminuir a excitabilida<strong>de</strong> e excitotoxicida<strong>de</strong><br />
produzida por glutamato. Para isso, estas células captam o glutamato e o utilizam<br />
como substrato para a síntese <strong>de</strong> proteínas ou moléculas como a glutationa, que é<br />
neuroprotetora. Nas células da glia, o glutamato também po<strong>de</strong> ser metabolizado a<br />
glutamina, que po<strong>de</strong> ser liberada e captada pelo neurônio, representando uma nova<br />
17
fonte para a síntese <strong>de</strong> glutamato (McKenna, 2007).<br />
Figura 1 – Esquema ilustrando o ciclo glutamato-glutamina. Tanto no astrócito quanto no neurônio, o<br />
glutamato po<strong>de</strong> ser sintetizado a partir do α-cetoglutarato (α-CG), proveniente do ciclo <strong>de</strong> Krebs. A<br />
<strong>de</strong>sidrogenase do ácido glutâmico (GDH) é a enzima responsável por catalisar esta reação. No<br />
astrócito, o glutamato po<strong>de</strong> seguir quatro <strong>de</strong>stinos diferentes: voltar para o ciclo <strong>de</strong> Krebs como αcetoglutarato,<br />
reação catalisada pela própria GDH, ou pela aspartato aminotransferase (AAT); ser<br />
utilizado para a síntese <strong>de</strong> glutationa; ser substrato para a síntese da glutamina pela glutamina<br />
sintetase (GS); ou ser metabolizado para a formação <strong>de</strong> CO2 e H2O. O astrócito po<strong>de</strong>, ainda, liberar<br />
glutamina, e esta, uma vez captada pelo neurônio, gerar novas moléculas <strong>de</strong> glutamato pela reação<br />
catalizada pela enzima glutaminase ativada por fosfato (PAG) (Modificado <strong>de</strong> McKenna, 2007).<br />
1.1.2. Liberação e transporte <strong>de</strong> glutamato<br />
Em neurônios, após sua síntese, o glutamato é armazenado em vesículas<br />
sinápticas através <strong>de</strong> transportadores vesiculares (VGLUTs), que fazem antiporte <strong>de</strong><br />
glutamato e H + . Os H + estão em maior concentração <strong>de</strong>ntro da vesícula graças à<br />
ação <strong>de</strong> uma bomba <strong>de</strong> próton que, através da energia da hidrólise <strong>de</strong> ATP,<br />
18
transporta H + para <strong>de</strong>ntro da vesícula, tornando-a mais ácida e positiva, favorecendo<br />
o gradiente eletroquímico para a entrada do glutamato acoplada à saída <strong>de</strong> H +<br />
(Liguz-Lecznar e Skangiel-Kramska, 2007).<br />
Após sua liberação sináptica, a ação do glutamato consiste na ativação<br />
<strong>de</strong> diversos tipos <strong>de</strong> receptores glutamatérgicos, que po<strong>de</strong>m estar situados na<br />
membrana <strong>de</strong> células pré ou pós-sinápticas. Estes receptores serão abordados<br />
<strong>de</strong>talhadamente nas seções a seguir.<br />
O término da ação do glutamato se dá pela sua recaptação através <strong>de</strong><br />
transportadores <strong>de</strong> glutamato na membrana plasmática. Existem dois tipos <strong>de</strong><br />
transportadores <strong>de</strong> glutamato: os <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sódio e que também transportam<br />
aspartato, conhecidos como transportadores <strong>de</strong> aminoácidos excitatórios (EAATs),<br />
subdivididos em cinco tipos (EAAT1 a 5); e os in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sódio, como o<br />
trocador cistina-glutamato (Xc-) (Gether et al., 2006).<br />
1.1.3. Receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato<br />
Os receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato po<strong>de</strong>m ser divididos em dois<br />
grupos: os receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e os receptores não-NMDA, entre<br />
os quais estão incluídos os subtipos α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isozazole--ácido<br />
propiônico (AMPA) e cainato (KA).<br />
Os receptores NMDA, tipos <strong>de</strong> receptores glutamatérgicos mais<br />
estudados, são heterômeros compostos por quatro subunida<strong>de</strong>s e formam um canal<br />
permeável aos íons K + , Na + e Ca 2+ (fig. 2). Estes receptores possuem duas<br />
características que os diferem dos <strong>de</strong>mais canais iônicos cuja abertura <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
19
ligante: para a abertura do canal, além do glutamato, há a necessida<strong>de</strong> da ligação<br />
<strong>de</strong> um aminoácido glicina ou D-serina, que funcionam como co-agonistas, e da<br />
prévia <strong>de</strong>spolarização da membrana em que se encontra o receptor para que o íon<br />
Mg 2+ , que bloqueia o canal no potencial <strong>de</strong> repouso, seja <strong>de</strong>slocado (Stephenson,<br />
2006). As subunida<strong>de</strong>s dos receptores NMDA, que formam arranjos tetraméricos,<br />
são NR1, NR2 e NR3. NR1 é a subunida<strong>de</strong> obrigatória para que o receptor seja<br />
funcional, e é também a que abriga o sítio da glicina / D-serina; NR2 é a subunida<strong>de</strong><br />
que abriga o sítio do glutamato; o papel da subunida<strong>de</strong> NR3 não foi bem elucidado<br />
até o momento (Stephenson, 2006).<br />
Os papéis funcionais dos receptores NMDA são inúmeros. Uma vez<br />
ativados, os canais NMDA mobilizam uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cálcio para <strong>de</strong>ntro<br />
das células e, por conseguinte, ativam diversas vias intracelulares. Estes receptores<br />
também estão acoplados a diversas proteínas intracelulares, como a proteína da<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> pós-sináptica <strong>de</strong> 95kDa (PSD-95) que, por sua vez, ancora proteínas<br />
como a enzima sintase do óxido nítrico neuronal (NOSn), proteína cinase C (PKC) e<br />
a cinase <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio-calmodulina II (CaMKII) (Stephenson, 2006).<br />
A função mais conhecida dos receptores NMDA é a promoção da<br />
potenciação <strong>de</strong> longo termo (LTP) <strong>de</strong> sinapses, possível responsável pela formação<br />
<strong>de</strong> memória, aumentando a inserção <strong>de</strong> receptores AMPA na membrana. No<br />
entanto, pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizar um gran<strong>de</strong> influxo <strong>de</strong> cálcio extracelular, o<br />
receptor NMDA também é estudado como promotor <strong>de</strong> morte celular por<br />
excitotoxicida<strong>de</strong> (Léveillé et al., 2008).<br />
20
Figura 2 – Representação gráfica do receptor NMDA, mostrando quatro subunida<strong>de</strong>s formadoras<br />
do canal catiônico permeável a K + (não mostrado), Na + , Ca 2+ , bloqueado por Mg 2+ e algumas<br />
drogas (ex. fenciclidina ou PCP). NR1 contém sítios para zinco e glicina / D-serina, enquanto NR2<br />
possui sítios para poliaminas e glutamato. (Modificado <strong>de</strong> Carlson, 1998).<br />
Os receptores AMPA e KA, assim como os receptores NMDA, formam<br />
poros iônicos. No entanto, existem gran<strong>de</strong>s diferenças entre os receptores NMDA e<br />
não-NMDA. Uma <strong>de</strong>las é o fato <strong>de</strong> os receptores AMPA e KA não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem <strong>de</strong><br />
uma <strong>de</strong>spolarização prévia da membrana, nem da presença <strong>de</strong> um co-agonista,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser ativados apenas pela ligação do glutamato. Por esse motivo, esses<br />
receptores são responsáveis por mediar respostas sinápticas rápidas (Hollmann et<br />
al., 1994).<br />
Os receptores AMPA são formados por combinações <strong>de</strong> quatro<br />
subunida<strong>de</strong>s em arranjo tetramérico (GluR1-4). A composição dos receptores por<br />
diferentes subunida<strong>de</strong>s garante características diferentes a cada um <strong>de</strong>les. O<br />
exemplo mais claro <strong>de</strong>ssas diferenças é o fato <strong>de</strong> receptores AMPA que não<br />
possuem a subunida<strong>de</strong> GluR2 permearem íons Ca 2+ , receptores estes que po<strong>de</strong>m<br />
ter um papel fisiológico em processos isquêmicos, haja vista que ocorre um aumento<br />
21
do redirecionamento <strong>de</strong>les para locais sinápticos em neurônios privados <strong>de</strong> glicose e<br />
oxigênio (Liu et al., 2006).<br />
Os receptores KA po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> baixa afinida<strong>de</strong>, se contiverem apenas<br />
subunida<strong>de</strong>s GluR5, GluR6 e GluR7, ou <strong>de</strong> alta afinida<strong>de</strong>, se contiverem as<br />
subunida<strong>de</strong>s KA1 ou KA2 (Hollmann e Heinemann, 1994). Também existem<br />
receptores KA permeáveis ou impermeáveis a Ca 2+ , <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da forma<br />
recombinante da subunida<strong>de</strong> GluR5 ou GluR6 presente no receptor (Burnashev et<br />
al., 1995).<br />
As funções e o tráfego dos receptores AMPA já foram bastante<br />
estudados, <strong>de</strong>vido ao seu importante papel na plasticida<strong>de</strong> <strong>de</strong> neurônios<br />
glutamatérgicos. Entretanto, o mesmo não po<strong>de</strong> ser dito sobre os receptores KA,<br />
pois os mecanismos e funções dos quais participam não são bem conhecidos.<br />
Basicamente, a principal diferença entre AMPA e KA é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste último <strong>de</strong><br />
ter tanto uma ação fásica como, por exemplo, abertura <strong>de</strong> canal e <strong>de</strong>spolarização da<br />
membrana, quanto uma ação tônica, como modulação <strong>de</strong> canais iônicos e liberação<br />
<strong>de</strong> neurotransmissores (Pinheiro e Mulle, 2006).<br />
1.1.4. Receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato<br />
Com o aumento do interesse e dos estudos acerca do glutamato, muitos<br />
grupos começaram a <strong>de</strong>screver efeitos produzidos pela utilização <strong>de</strong>sta molécula<br />
que não pu<strong>de</strong>ram ser explicados pela ativação <strong>de</strong> canais iônicos. Estes efeitos<br />
incluíam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a hidrólise <strong>de</strong> fosfolipí<strong>de</strong>os e a modulação dos<br />
níveis <strong>de</strong> AMPc. Logo, foram i<strong>de</strong>ntificadas proteínas que interagiam com o<br />
22
glutamato, mas que possuíam características <strong>de</strong> receptores acoplados à proteína: os<br />
receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato (mGluRs) (Hollmann e Heinemann, 1994).<br />
Os mGluRs po<strong>de</strong>m ser divididos em três grupos: o grupo I, do qual fazem<br />
parte os receptores dos tipos 1 e 5 (mGluR1 e mGluR5); o grupo II, do qual fazem<br />
parte os receptores dos tipos 2 e 3 (mGluR2 e mGluR3); e o grupo III, do qual fazem<br />
parte os receptores dos tipos 4, 6, 7 e 8 (mGluR4, mGluR6, mGluR7 e mGluR8)<br />
(Tabela 1) (Hollmann e Heinemann, 1994).<br />
Grupo I:<br />
mGluR1<br />
mGluR5<br />
Grupo II:<br />
mGluR2<br />
mGluR3<br />
Grupo III:<br />
mGluR4<br />
mGluR6<br />
mGluR7<br />
mGluR8<br />
Subtipos <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato<br />
Acoplados a Gq; ativam PLC, hidrólise <strong>de</strong> fosfolipí<strong>de</strong>os, formação<br />
<strong>de</strong> IP3 e mobilização <strong>de</strong> Ca 2+ intracelular.<br />
Acoplados a Gi ou Go; inibem a<strong>de</strong>nilil ciclase, abrem canais <strong>de</strong> K +<br />
e fecham canais <strong>de</strong> Ca 2+ .<br />
Acoplados a Gi ou Go; inibem a<strong>de</strong>nilil ciclase, abrem canais <strong>de</strong> K +<br />
e fecham canais <strong>de</strong> Ca 2+ .<br />
Tabela 1 – Apresentação dos subtipos <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato <strong>de</strong> cada grupo,<br />
e resumo <strong>de</strong> suas características (Modificado <strong>de</strong> Palmada e Centelles, 1998).<br />
A estrutura dos mGluRs é composta por um terminal amino (N-terminal),<br />
que correspon<strong>de</strong> ao sítio <strong>de</strong> ligação ao glutamato. Esta porção do receptor é<br />
freqüentemente citada como domínio “Venus flytrap”, pois sua conformação se<br />
assemelha à armadilha da planta carnívora (fig. 3). Esses receptores se apresentam<br />
23
na forma <strong>de</strong> dímeros, nos quais se ligam as moléculas <strong>de</strong> glutamato ou do agonista,<br />
promovendo uma mudança conformacional da estrutura do receptor, resultando na<br />
ativação da proteína G (Acher et al., 2011).<br />
Figura 3 – Representação gráfica <strong>de</strong> um receptor metabotrópico <strong>de</strong> glutamato, mostrando a<br />
porção N-terminal extracelular, on<strong>de</strong> se liga o glutamato, um domínio rico em cisteínas, os sete<br />
domínios transmembrana, e a porção C-terminal (Adaptado <strong>de</strong> Spooren et al., 2001).<br />
Os receptores metabotrópicos do grupo I (mGluRI) estão acoplados à<br />
proteína Gq, po<strong>de</strong>ndo ativar a via da fosfolipase C (PLC), levando ao aumento da<br />
concentração citoplasmática <strong>de</strong> fosfatidil inositol trifosfato (IP3) e cálcio (Francesconi<br />
e Duvoisin, 1998; Gereau e Heinemann, 1998). Além disso, existe um complexo <strong>de</strong><br />
proteínas intracelulares acoplado aos mGluRI conhecidas como Homer, que faz com<br />
que esses receptores sejam capazes <strong>de</strong> produzirem respostas complexas <strong>de</strong><br />
24
sinalização. Por exemplo, o acoplamento à proteína ativa outras cascatas<br />
intracelulares, acarretando na fosforilação <strong>de</strong> ERK, PI3K e tradução <strong>de</strong> novas<br />
proteínas (Ronesi e Huber, 2008), além <strong>de</strong> permitirem a interação <strong>de</strong>sses receptores<br />
com receptores NMDA através da ligação com a proteína Shank, que se liga à PSD-<br />
95 (Tu et al., 1999). Como já foi evi<strong>de</strong>nciada a importância dos receptores do grupo I<br />
para alguns processos <strong>de</strong> aprendizado e memória (Steckler et al., 2005), inferimos<br />
que estes receptores po<strong>de</strong>m ter um papel importante na LTP e na LTD.<br />
Os receptores dos grupos II e III são mais encontrados na membrana pré-<br />
sináptica, e estão acoplados a proteínas Gi ou Go, po<strong>de</strong>ndo inibir a a<strong>de</strong>nilil ciclase e<br />
modular a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> canais iônicos via subunida<strong>de</strong> βγ (Conn e Pin, 1997) como,<br />
por exemplo, causando a inibição <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> cálcio (Chavis et al.,<br />
1994). O grupo II é conhecido por atenuar a transmissão excitatória tanto por<br />
diminuir liberação <strong>de</strong> glutamato, quanto provocando respostas pós-sinápticas <strong>de</strong><br />
hiperpolarização (Alexan<strong>de</strong>r e Godwin, 2006). A ativação dos mGluRIII,<br />
particularmente, po<strong>de</strong> inibir a morte neuronal mediada por 6-hidroxidopamina (6-<br />
OHDA) (Vernon et al., 2007). O receptor mGluR6 é encontrado exclusivamente na<br />
retina, e terá suas funções específicas abordadas mais à frente neste trabalho.<br />
A ativida<strong>de</strong> dos receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato está relacionada<br />
a diversos distúrbios. Em humanos, estudos post-mortem já verificaram uma<br />
alteração no padrão <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> mGluRs dos grupos I e II em axônios e na glia<br />
<strong>de</strong> pacientes portadores <strong>de</strong> esclerose múltipla, o que po<strong>de</strong> indicar uma possível<br />
implicação <strong>de</strong>stes receptores nos danos cerebrais progressivos causados pela<br />
doença (Geurts et al., 2003).<br />
A ativida<strong>de</strong> exacerbada dos mGluRs do grupo I po<strong>de</strong>, ainda, estar<br />
25
elacionada a diversos distúrbios, como, por exemplo, epileptogênese (Wong et al.,<br />
2005), excitotoxicida<strong>de</strong> (Lafon-Cazal et al., 1999; Makarewicz et al., 2006) e morte<br />
<strong>de</strong> neurônios em eventos isquêmicos (Pin e Bockaert, 1995; Pellegrini-Giampietro et<br />
al., 1999). Por outro lado, alguns trabalhos sugerem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />
receptores promoverem neuroproteção pelo aumento da transmissão GABAérgica<br />
(Battaglia et al., 2001; Cozzi et al., 2002; Zheng e Johnson, 2003).<br />
Os receptores do grupo II têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir danos causados<br />
por estresse oxidativo induzido por alta glicose. O provável mecanismo <strong>de</strong>sta<br />
neuroproteção é através da ativação <strong>de</strong> mGluR3 <strong>de</strong> células gliais, que produzem e<br />
liberam glutationa para os neurônios. A ação antioxidante da glutationa<br />
contrabalança os níveis aumentados <strong>de</strong> espécies reativas <strong>de</strong> oxigênio, impedindo a<br />
ativação <strong>de</strong> caspases e da cascata <strong>de</strong> morte celular programada (Anjaneyulu et al.,<br />
2008), o que torna o estudo <strong>de</strong>sses receptores importante para a elucidação da<br />
neuropatia diabética.<br />
Já foi mostrado que, em indivíduos esquizofrênicos, há uma alteração no<br />
padrão <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> mGluRs dos grupos I e II (Ohnuma et al., 1998; Gupta et<br />
al., 2005). A ativação dos receptores dos grupos II e III po<strong>de</strong>, ainda, estar envolvida<br />
em modulações comportamentais, tendo sido observados efeitos ansiolíticos<br />
(Wierońska et al., 2005) e anti<strong>de</strong>pressivos (Belozertseva et al., 2007) sob utilização<br />
<strong>de</strong> seus agonistas.<br />
Com relação à função <strong>de</strong>sses receptores em sinapses, alguns trabalhos<br />
<strong>de</strong>monstraram que a ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos po<strong>de</strong> reduzir a<br />
transmissão sináptica GABAérgica em algumas áreas cerebrais, como, por exemplo,<br />
no estriado <strong>de</strong> rato (Calabresi et al., 1992) e no hipocampo <strong>de</strong> coelho (Liu et al.,<br />
26
1993). Posteriormente, a questão da importância dos receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato para a função retiniana será <strong>de</strong>talhada.<br />
1.2- Sistema GABAérgico<br />
1.2.1- Metabolismo do GABA<br />
O ácido gama-aminobutírico, ou GABA, é o neurotransmissor inibitório<br />
mais abundante do SNC. Ele foi <strong>de</strong>tectado pela primeira vez no cérebro nos anos<br />
50, mas a sua função inibitória foi mais bem estudada e reconhecida apenas em<br />
meados dos anos 60 (Krnjević, 2010).<br />
O GABA é sintetizado a partir do glutamato (fig. 4) pela enzima<br />
<strong>de</strong>scarboxilase do ácido glutâmico (GAD) (Palmada e Centelles, 1998).<br />
Figura 4 – Esquema simplificado da reação através da qual o GABA é sintetizado. O glutamato,<br />
proveniente do α-cetoglutarato ou da glutamina, sobre uma <strong>de</strong>scarboxilação pela enzima GAD,<br />
originando o GABA (Modificado <strong>de</strong> Palmada e Centelles, 1998).<br />
27
1.2.2- Liberação e transporte <strong>de</strong> GABA<br />
Depois <strong>de</strong> sintetizado, o GABA po<strong>de</strong> ser armazenado em vesículas<br />
sinápticas por um transportador vesicular (VGAT), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma bomba <strong>de</strong><br />
prótons, e liberado pelo clássico mecanismo vesicular <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio<br />
(McIntire et al., 1997).<br />
Apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser armazenado e liberado pelo mecanismo vesicular<br />
clássico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio, o GABA presente no citosol po<strong>de</strong> ser liberado para o<br />
meio extracelular através <strong>de</strong> uma maneira in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> sódio: através da reversão <strong>de</strong> seu transportador <strong>de</strong> membrana. Normalmente, os<br />
transportadores <strong>de</strong> GABA (GAT) atuam captando o neurotransmissor do meio<br />
extracelular, a favor do gradiente <strong>de</strong> sódio mantido pela bomba Na + K + ATPase.<br />
Quando ocorre um aumento intracelular <strong>de</strong> sódio nas proximida<strong>de</strong>s do transportador,<br />
ele passa a atuar <strong>de</strong> maneira inversa, enviando Na + e GABA para fora da célula (fig.<br />
5). Uma gran<strong>de</strong> diferença entre os dois mecanismos <strong>de</strong> liberação é que, enquanto a<br />
liberação vesicular promove liberação <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong> maciça <strong>de</strong><br />
neurotransmissores, o transportador libera menos moléculas. A eficiência da<br />
liberação por transportador vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do número e da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
transportadores em um <strong>de</strong>terminado local da célula, bem como da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
íons sódio e moléculas <strong>de</strong> transmissor a serem transportadas (Schwartz, 2002;<br />
Calaza et al., 2006).<br />
28
Figura 5 – Esquema exemplificando o processo <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> GABA mediada por transportador.<br />
Ocorre entrada <strong>de</strong> Na + em um local próximo ao transportador, invertendo o gradiente do íon e<br />
favorecendo o transporte <strong>de</strong> Na + e GABA para fora da célula (Modificado <strong>de</strong> Ozkan e Ueda, 1998).<br />
O GABA po<strong>de</strong> agir em três receptores pós-sinápticos: GABAA, GABAB e<br />
GABAC. GABAA e GABAC são receptores ionotrópicos que, quando ativados, abrem<br />
um canal permeável ao íon Cl - que, por estar mais concentrado no meio extracelular,<br />
vai entrar na célula e hiperpolarizá-la. Já o receptor GABAB é um receptor<br />
metabotrópico acoplado a uma proteína Gi, que leva à abertura <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> K + ,<br />
tendo o mesmo efeito <strong>de</strong> hiperpolarizar a célula (Bormann, 2000).<br />
O término da ação do GABA ocorre através da recaptação por um dos<br />
quatro transportadores <strong>de</strong> GABA (GAT-1 a GAT-4), pelo próprio terminal pré-<br />
sináptico ou por células gliais (Gether et al., 2006). A enzima GABA transaminase<br />
(GABA-T) catalisa a primeira reação <strong>de</strong> metabolização do GABA, reagindo com o α-<br />
cetoglutarato e formando glutamato (De Graaf et al., 2006).<br />
29
1.3- A retina<br />
1.3.1- A retina <strong>de</strong> galinha e suas vantagens na pesquisa<br />
Devido à gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> do SNC, o estudo da morfologia e das<br />
proprieda<strong>de</strong>s neuroquímicas <strong>de</strong> cada região que o compõe é fundamental para a<br />
compreensão <strong>de</strong> mecanismos fisiológicos através dos quais eles exercem suas<br />
funções e investigar as possíveis causas <strong>de</strong> patologias existentes. Além disso, o<br />
estudo do <strong>de</strong>senvolvimento dos animais permite a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> modificações na<br />
expressão <strong>de</strong> diferentes proteínas em cada etapa e a seqüência <strong>de</strong> eventos que leva<br />
à formação normal do organismo.<br />
A retina <strong>de</strong> galinha é muito utilizada como mo<strong>de</strong>lo para o estudo do SNC.<br />
Algumas vantagens são bastante claras com relação ao uso da espécie no estudo<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento em comparação, por exemplo, aos roedores: como a galinha se<br />
<strong>de</strong>senvolve no ovo, a obtenção dos embriões é mais fácil, o que exclui a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cirurgia e sacrifício da mãe; o tecido retiniano é abundante e simples<br />
<strong>de</strong> ser manipulado, permitindo um uso mais eficiente; e é necessária uma menor<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> animais por experimento. No caso do estudo da fisiologia retiniana, o<br />
estudo da retina <strong>de</strong> pinto se torna interessante também pelo fato <strong>de</strong> ser um animal<br />
diurno como o homem. Assim, algumas características da retina, como prevalência<br />
<strong>de</strong> cones em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> bastonetes, são mais semelhantes entre pinto e homem<br />
do que rato, que é um animal noturno.<br />
Sendo assim, estudamos a retina <strong>de</strong> embriões <strong>de</strong> galinha e animais pós-<br />
eclosão na tentativa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar características neuroquímicas que possam se<br />
assemelhar à espécie humana e que aju<strong>de</strong>m a compreen<strong>de</strong>r melhor a complexa<br />
fisiologia retiniana.<br />
30
1.3.2- Organização morfológica e tipos celulares<br />
A retina é uma estrutura situada na parte posterior do globo ocular e faz<br />
parte do sistema nervoso central (SNC). Este tecido é relativamente simples em<br />
comparação às outras estruturas neurais centrais, possuindo apenas cinco tipos<br />
principais <strong>de</strong> neurônios or<strong>de</strong>nados nas seguintes camadas: camada dos segmentos<br />
externos dos fotorreceptores, camada nuclear externa (CNE), camada plexiforme<br />
externa (CPE), camada nuclear interna (CNI), camada plexiforme interna (CPI),<br />
camada das células ganglionares (CCG) e camada <strong>de</strong> fibras ópticas. Enquanto nas<br />
camadas nucleares encontram-se apenas os corpos celulares dos neurônios,<br />
intercalam-se entre elas as camadas plexiformes externa e interna, on<strong>de</strong> se<br />
localizam os prolongamentos das células e os contatos sinápticos (fig. 6) (Kolb,<br />
2003).<br />
A camada dos segmentos externos dos fotorreceptores contém as partes<br />
sensíveis à luz <strong>de</strong>ssas células. Na camada nuclear externa, estão localizados os<br />
corpos celulares dos fotorreceptores dos tipos cone e bastonete. Estes dois tipos<br />
celulares são os responsáveis por captarem a luz do ambiente e a transduzirem em<br />
um sinal eletroquímico, que será repassado para as outras células retinianas. A<br />
diferença entre estas células é que os cones respon<strong>de</strong>m a cores, e são menos<br />
sensíveis à luz, necessitando da intensa luminosida<strong>de</strong> do dia para funcionarem; já<br />
no caso dos bastonetes, uma luminosida<strong>de</strong> fraca e difusa, como a luz do luar, é<br />
capaz <strong>de</strong> ativá-los (Lagnado, 2000).<br />
31
Figura 6 – Esquema da morfologia retiniana, mostrando suas camadas <strong>de</strong> células e plexos<br />
(Adaptado <strong>de</strong> Kolb, 2003).<br />
Na camada nuclear interna, estão localizadas as células horizontais, as<br />
células bipolares e as células amácrinas. As células bipolares recebem aferência<br />
dos fotorreceptores e estão encarregadas <strong>de</strong> repassarem a informação recebida<br />
para as células ganglionares, localizadas na camada <strong>de</strong> células ganglionares. Já as<br />
células horizontais e as células amácrinas têm a função <strong>de</strong> modular o sinal antes <strong>de</strong><br />
este ser repassado às ganglionares, processo importante para aumentar acuida<strong>de</strong><br />
visual, contraste, entre outras funções.<br />
Finalmente, na camada <strong>de</strong> células ganglionares, estão as células <strong>de</strong><br />
mesmo nome e células amácrinas <strong>de</strong>slocadas. Os axônios das células ganglionares<br />
formam o nervo óptico, que será responsável por levar a informação luminosa pré-<br />
processada para os centros visuais cerebrais (Kolb, 2003).<br />
32
Na retina, também existem células gliais, conhecidas como glia <strong>de</strong> Müller.<br />
Essas células atravessam todas as camadas retinianas, formando a borda mais<br />
interna (vitreal) da retina, conhecida como membrana limitante interna, e se<br />
projetando até a camada <strong>de</strong> fotorreceptores, formando a membrana limitante externa<br />
(Bringmamm et al., 2001; Newman, 2004).<br />
A via caracterizada pela passagem <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> fotorreceptores para<br />
células bipolares e células ganglionares é <strong>de</strong>nominada via radial, enquanto a<br />
modulação <strong>de</strong>sses sinais pelas células horizontais e células amácrinas é<br />
<strong>de</strong>nominada via lateral.<br />
Os neurônios retinianos se comunicam por meio <strong>de</strong> um intrincado padrão<br />
<strong>de</strong> conexões, o que torna a retina um excelente mo<strong>de</strong>lo para o estudo do<br />
processamento <strong>de</strong> informações por circuitos neurais complexos.<br />
Em estudos prévios, já foi <strong>de</strong>scrita a presença <strong>de</strong> quase todos os<br />
sistemas <strong>de</strong> neurotransmissores do SNC na retina da maioria das espécies. No<br />
entanto, o glutamato e o GABA são consi<strong>de</strong>rados, respectivamente, os<br />
neurotransmissores excitatório e inibitório mais importantes, tanto no encéfalo<br />
quanto na retina, na qual são responsáveis pelas duas vias <strong>de</strong> processamento dos<br />
estímulos luminosos, que serão abordadas mais à frente neste trabalho.<br />
1.3.3- O <strong>de</strong>senvolvimento da retina <strong>de</strong> galinha<br />
A retina se <strong>de</strong>senvolve a partir <strong>de</strong> estruturas do diencéfalo, conhecidas<br />
como vesículas ópticas. Des<strong>de</strong> a fertilização até aproximadamente o terceiro dia<br />
embrionário (E3), as células são multipotentes e totalmente indiferenciadas. No<br />
33
entanto, já em E2 começam a surgir as células ganglionares, que em E9 tem toda a<br />
sua população gerada. Em E2 também começam a surgir as células amácrinas, que<br />
param <strong>de</strong> se multiplicar em E10. Em E4 inicia-se a neurogênese <strong>de</strong> células<br />
horizontais e fotorreceptores, que só termina em E9. Por último, em E5 começam a<br />
surgir as células bipolares, que também são as últimas a saírem do ciclo celular, em<br />
E13 (fig. 7) (Prada et al., 1991). As camadas plexiformes interna e externa<br />
aparecem, respectivamente, em E8 e E9, presumidamente aumentando sua<br />
espessura e complexida<strong>de</strong> até a eclosão e vida adulta do animal (Calaza e Gardino,<br />
2010).<br />
A partir <strong>de</strong> E14, todas as células da retina <strong>de</strong> galinha já estão em suas<br />
respectivas camadas. Os eventos que ocorrem durante este período até a eclosão<br />
do animal são sinaptogênese e o aparecimento <strong>de</strong> precursores <strong>de</strong> oligo<strong>de</strong>ndrócitos.<br />
Em E15, surgem os segmentos externos dos fotorreceptores, sendo que todos os<br />
fotopigmentos estão expressos em E16. Diferentemente dos mamíferos, o sistema<br />
visual do pinto é bastante maduro no nascimento do animal. Portanto, em E19, dois<br />
dias antes da eclosão, os padrões <strong>de</strong> eletroretinograma são similares aos <strong>de</strong><br />
animais maduros (Calaza e Gardino, 2010).<br />
34
Figura 7 – Esquema resumindo os períodos do <strong>de</strong>senvolvimento nos quais ocorrem a geração <strong>de</strong><br />
cada tipo celular da retina <strong>de</strong> pinto (Modificado <strong>de</strong> Prada et al., 1991 e Martins e Pearson, 2007).<br />
1.3.4- Vias <strong>de</strong> processamento visual retiniano<br />
1.3.4.1- A via radial<br />
O processamento retiniano <strong>de</strong> sinais luminosos é bastante complexo,<br />
<strong>de</strong>vido aos diferentes tipos celulares encontrados e as conexões que existem entre<br />
eles. Existem duas vias <strong>de</strong> processamento: a via radial e a via lateral.<br />
O glutamato é utilizado como neurotransmissor pelas células da via radial,<br />
ou seja, fotorreceptores, células bipolares e células ganglionares. Este mediador<br />
po<strong>de</strong> agir através das duas classes <strong>de</strong> receptores presentes na retina: os iGluRs e<br />
os mGluRs (Brandstätter et al., 1998).<br />
35
No escuro, os fotorreceptores se encontram <strong>de</strong>spolarizados e liberam<br />
glutamato <strong>de</strong>vido aos altos níveis <strong>de</strong> GMPc que mantêm canais catiônicos abertos,<br />
permitindo o influxo <strong>de</strong> Na + e Ca 2+ . Quando o fotopigmento sensível à luz presente<br />
nessas células (a rodopsina do bastonete ou a opsina do cone) absorve luz do<br />
ambiente, ocorre a ativação da chamada tranduscina, uma proteína G, que irá ativar<br />
a fosfodiesterase que <strong>de</strong>gradará o GMPc e fechará os canais catiônicos. Assim, os<br />
fotorreceptores hiperpolarizam e reduzem a liberação do glutamato e, <strong>de</strong>sta forma, a<br />
informação luminosa é codificada e transmitida às células bipolares (Lagnado,<br />
2000).<br />
Existem dois tipos <strong>de</strong> células bipolares: do tipo ON e do tipo OFF. Os<br />
fotorreceptores do tipo bastonete se comunicam somente com células bipolares do<br />
tipo ON; cones se comunicam com bipolares ON ou OFF. Células bipolares do tipo<br />
ON possuem receptores mGluR6. Como, no escuro, fotorreceptores liberam<br />
glutamato, o mGluR6 presente nestas bipolares é ativado e a interação da proteína<br />
G com o canal <strong>de</strong> cálcio <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> GMPc o fecha, o que hiperpolariza a célula<br />
nesta situação (Nawy, 1999; Duvoisin et al., 2005). Se o fotorreceptor receber luz,<br />
menos glutamato será liberado e ativará menos mGluR6, permitindo a<br />
<strong>de</strong>spolarização da célula bipolar ON (fig. 8) (Hack et al., 1999; Thoreson e<br />
Witkovsky, 1999). O receptor mGluR6 tem uma importante função na fisiologia da<br />
retina. Em camundongos nocaute para este receptor, não é possível observar<br />
registro <strong>de</strong> ondas b <strong>de</strong> células bipolares ON em eletroretinograma, nem <strong>de</strong> potencial<br />
<strong>de</strong> campo das células do colículo superior correspon<strong>de</strong>ntes, mostrando que a<br />
ausência <strong>de</strong>ste receptor causa a perda funcional da via ON (Masu et al., 1995;<br />
Yoshida et al., 1998; Takao et al., 2000).<br />
36
Estudos recentes relacionaram o funcionamento da via ON e da<br />
sinalização por mGluR6 a canais TRP (“transient receptor potential”), ao invés <strong>de</strong><br />
canais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> GMPc. Especificamente, camundongos nocaute para<br />
TRPM1 não apresentam as respostas <strong>de</strong> onda b e potenciais oscilatórios,<br />
características da ativação <strong>de</strong> mGluR6 e da via ON (Morgans et al., 2009). Portanto,<br />
tanto mGluR6 quanto canais catiônicos do tipo TRPM1 parecem ser necessários<br />
para o correto funcionamento da via ON.<br />
Já células bipolares do tipo OFF ficam <strong>de</strong>spolarizadas no escuro,<br />
juntamente com o fotorreceptor com o qual faz sinapse; quando este último recebe<br />
luz e hiperpolariza, a bipolar OFF também hiperpolariza. Isto porque essas células<br />
possuem receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato, que mantêm o sentido do sinal que<br />
foi passado à célula (Hack et al., 1999).<br />
As células ganglionares possuem receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato e,<br />
ao receberem o glutamato liberado pelas células bipolares, se <strong>de</strong>spolarizam e<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam potenciais <strong>de</strong> ação para levar a informação até os centros visuais<br />
cerebrais (Manookin et al., 2008).<br />
1.3.4.2- A via lateral<br />
As células horizontais e células amácrinas são responsáveis pela<br />
modulação das sinapses glutamatérgicas formadas pelos neurônios da via radial<br />
através da interação entre células horizontais e fotorreceptores, e células amácrinas<br />
e bipolares.<br />
Células horizontais são responsáveis por gerar os campos receptores<br />
37
com respostas antagônicas entre o centro e a periferia. Isto porque estas células<br />
liberam GABA para os cones iluminados que, por sua vez, liberarão menos<br />
glutamato e permitirão uma <strong>de</strong>spolarização maior da célula bipolar ON via mGluR6,<br />
garantindo o disparo da célula ganglionar do centro do campo receptor (fig. 8)<br />
(Rodieck, 1998).<br />
Figura 8 – Esquema mostrando o circuito das células horizontais e a resposta <strong>de</strong> células bipolares<br />
ON (rosa), que possuem mGluR6. O primeiro e o último cone representam a periferia e o cone do<br />
meio, o centro do campo receptor da célula bipolar ON. O primeiro e o último, estando no escuro,<br />
estariam <strong>de</strong>spolarizados e liberando glutamato. Esses cones <strong>de</strong>spolarizam (setas ver<strong>de</strong>s) também<br />
as células horizontais, que liberam GABA (seta vermelha) para o cone no centro do campo<br />
receptor da bipolar (rosa). O cone no centro, já previamente hiperpolarizado pela luz, hiperpolariza<br />
ainda mais, liberando menos glutamato e ativando ainda mais a célula bipolar ON. (Modificado <strong>de</strong><br />
Kan<strong>de</strong>l et al., 2003).<br />
Existem <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> células amácrinas com fenótipos <strong>de</strong><br />
diferentes tipos <strong>de</strong> neurotransmissores. Até o momento, estão <strong>de</strong>scritos sete tipos<br />
<strong>de</strong> células amácrinas que são GABAérgicas, e essas células têm uma função muito<br />
importante para o correto processamento da informação luminosa pela retina (fig. 9).<br />
38
Quando o glutamato é liberado para uma célula amácrina, esta po<strong>de</strong> liberar GABA<br />
para uma célula bipolar adjacente (feedback lateral) ou para a mesma célula bipolar<br />
que a ativou (sinapse recíproca) (Dowling e Boycott, 1965; Sterling e Lampson,<br />
1986; Koulen et al., 1998; Chávez et al., 2010). O GABA, então, ativa seus<br />
receptores, produzindo sinais inibitórios que seriam importantes para a<br />
transitorieda<strong>de</strong> e sintonia fina dos sinais glutamatérgicos (Euler e Masland, 2000;<br />
Dong e Hare, 2003), bem como impediriam a rápida <strong>de</strong>pleção <strong>de</strong> glutamato nas<br />
vesículas sinápticas (Singer and Diamond, 2006; Chávez et al., 2010).<br />
Figura 9 – Esquema <strong>de</strong>monstrando a função fisiológica das células amácrinas. Quando a luz<br />
inci<strong>de</strong> no campo receptor dos fotorreceptores (azul-petróleo e magenta), eles <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> liberar<br />
glutamato (seta vermelha), <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ativar mGluR6 da bipolar (amarelo). A bipolar, por sua<br />
vez, libera glutamato (seta ver<strong>de</strong>) para células amácrinas (azuis), que po<strong>de</strong>m liberar<br />
neurotransmissores inibitórios para a mesma bipolar que a ativou, ou para outra bipolar<br />
(Modificado <strong>de</strong> Bloomfield e Xin, 2000).<br />
39
Um estudo recente mostrou que camundongos mutantes super-<br />
expressando o receptor PAC1 para o polipeptí<strong>de</strong>o ativador <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nilato ciclase da<br />
pituitária (PACAP) tem o <strong>de</strong>senvolvimento retiniano prejudicado, pois o animal<br />
apresenta uma diminuição da espessura da CPI, e diminui o número <strong>de</strong> células<br />
GABAérgicas na CNI. Além disso, testes optocinéticos mostram que esses mutantes<br />
apresentam uma diminuição da acuida<strong>de</strong> visual (Lang et al., 2010). Estes resultados<br />
evi<strong>de</strong>nciam a participação <strong>de</strong> células amácrinas GABAérgicas na modulação <strong>de</strong><br />
respostas complexas <strong>de</strong> células ganglionares e na formação <strong>de</strong> antagonismo centro<br />
/ periferia (fig. 9) (Bloomfield e Xin, 2000). Outra evidência da importância das<br />
células amácrinas no processamento eletrofisiológico da retina foi verificada através<br />
do estudo em animais nocautes para a NOSn. Estes animais apresentavam<br />
diminuição da sensibilida<strong>de</strong> a luz (Wang et al., 2007). Além disso, nós<br />
<strong>de</strong>monstramos previamente que o óxido nítrico modula liberação <strong>de</strong> GABA das<br />
células amácrinas da INL. Assim, a modulação do GABA por óxido nítrico parece ser<br />
importante para estabelecer o limiar <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> à luz (Maggesissi et al., 2009).<br />
Os sinais <strong>de</strong> células amácrinas são particularmente importante em retinas<br />
<strong>de</strong> mamíferos, os quais possuem poucas células horizontais para gerar o<br />
antagonismo centro-periferia das bipolares e conseqüentemente da células<br />
ganglionares<br />
1.4- Receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato e liberação <strong>de</strong> GABA na retina<br />
A presença <strong>de</strong> todos os receptores para glutamato acoplados à proteína<br />
G já foi <strong>de</strong>monstrada na retina <strong>de</strong> diversas espécies (Brandstätter et al., 1998;<br />
Sampaio e Paes <strong>de</strong> Carvalho, 1998; Kreimborg et al., 2001; Hirasawa et al., 2002). A<br />
40
figura 10 mostra a localização dos tipos <strong>de</strong> receptores e on<strong>de</strong> eles foram <strong>de</strong>tectados<br />
na retina <strong>de</strong> camundongo e rato.<br />
Figura 10 – Quadro ilustrando a localização dos mGluRs <strong>de</strong> diferentes subtipos nas camadas da<br />
retina <strong>de</strong> roedores. Os círculos representam corpos celulares, e as faixas, as lâminas das<br />
camadas plexiformes nas quais cada receptor é encontrado. Quanto mais escuro o cinza, maior a<br />
expressão do receptor na região. O mGluR3 não aparece no quadro porque não foi <strong>de</strong>tectado na<br />
retina (Modificado <strong>de</strong> Brandstätter et al., 1998; e Quraishi et al., 2007).<br />
Recentemente, a distribuição dos receptores do grupo I foi analisada na<br />
retina <strong>de</strong> galinha por técnicas imunohistoquímicas, e constatou-se que mGluR1 e<br />
mGluR5 aparecem nos mesmos locais sinápticos, o que po<strong>de</strong> indicar uma provável<br />
interação funcional entre estes dois receptores. Aparentemente, estes receptores se<br />
localizam, em sua maioria, na membrana pós-sináptica da CPI, mas po<strong>de</strong>m estar em<br />
ambas as membranas pré e pós-sinápticas na CPE (Sen e Gleason, 2006).<br />
Os receptores metabotrópicos do grupo II (mGluR2/3) já foram<br />
41
encontrados em todas as camadas na retina <strong>de</strong> peixe, tanto na forma monomérica<br />
quanto dimérica, com exceção da camada <strong>de</strong> fotorreceptores, e a ativação<br />
farmacológica <strong>de</strong>les promoveu neuroproteção contra danos provocados por anóxia<br />
(Beraudi et al., 2007). Receptores do grupo II também foram <strong>de</strong>tectados na retina <strong>de</strong><br />
coelho por imunohistoquímica, principalmente, nas sublâminas 2 e 4 (Jensen, 2006).<br />
No entanto, todos esses estudos foram feitos com anticorpos para os dois<br />
receptores (mGluR2 e mGluR3).<br />
Quraishi e colaboradores (2007) estudaram a distribuição dos receptores<br />
metabotrópicos do grupo III na retina <strong>de</strong> camundongo. O subtipo mGluR6, que é<br />
exclusivamente encontrado na retina, localizou-se na camada plexiforme externa <strong>de</strong><br />
ambas as membranas sinápticas, e os outros subtipos (mGluR4, 7 e 8) foram<br />
encontrados na camada plexiforme interna (Quraishi et al., 2007).<br />
A ativação farmacológica <strong>de</strong> receptores metabotrópicos po<strong>de</strong> modular a<br />
liberação <strong>de</strong> diversas substâncias produzidas por células neuronais, como o próprio<br />
glutamato, aspartato, dopamina, serotonina, acetilcolina, purinas, substância P,<br />
taurina e GABA, em diversas regiões do SNC (Cartmell e Schoepp, 2000).<br />
Consi<strong>de</strong>rando os inúmeros papéis fisiológicos <strong>de</strong>stes receptores já foram<br />
<strong>de</strong>monstrados em outras regiões do SNC, um trabalho que investigue se<br />
mecanismos similares ocorrem na retina po<strong>de</strong> ser relevante para uma compreensão<br />
mais abrangente dos circuitos retinianos, da interação entre seus sistemas <strong>de</strong><br />
neurotransmissores, e da forma através da qual tais fatores convergem para gerar<br />
uma resposta fisiológica. Diante das evidências apresentadas, investigamos, neste<br />
trabalho, se a ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato é capaz <strong>de</strong><br />
modular a liberação <strong>de</strong> GABA em células amácrinas da retina <strong>de</strong> galinha.<br />
42
2. OBJETIVOS<br />
2.1- Objetivo geral<br />
Caracterizar os efeitos da ativação dos receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato na liberação <strong>de</strong> GABA da retina interna ao longo do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
2.2- Objetivos específicos<br />
Caracterizar os efeitos da ativação dos receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato na liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas ao longo do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e no animal pós-eclosão;<br />
Investigar o mecanismo <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong>ssas células;<br />
Verificar a participação <strong>de</strong> receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato neste<br />
processo;<br />
Avaliar o efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRs no conteúdo <strong>de</strong> glutamato no meio<br />
extracelular.<br />
43
3. MATERIAIS E MÉTO<strong>DOS</strong><br />
3.1- Animais<br />
Os procedimentos <strong>de</strong>ste estudo envolvendo animais foram previamente<br />
notificados, analisados e aprovados pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>de</strong> Pesquisa com Animais<br />
da CEPA/PROPPI, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, sob o protocolo número 112.<br />
Neste trabalho, foram utilizadas técnicas para o estudo morfológico da<br />
retina <strong>de</strong> galinha (Gallus domesticus). Os ovos galados foram adquiridos <strong>de</strong> uma<br />
granja local, e permaneceram em estufas com temperatura (37°C) e umida<strong>de</strong><br />
relativa apropriadas (<strong>de</strong> 65 a 70%) até sua eclosão. Os animais que não eram<br />
imediatamente utilizados eram mantidos em uma cria<strong>de</strong>ira apropriada com alimento<br />
e água ad libitum. Os experimentos foram realizados com embriões <strong>de</strong> 14, 16 e 18<br />
dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (E14, E16, E18) e animais pós-eclosão (PE) com ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
zero a cinco dias (P0 a P5).<br />
Após a eutanásia dos animais, seus olhos foram retirados e cortados em<br />
uma orientação coronal, dividindo o olho nas partes anterior e posterior. O segmento<br />
contendo a câmara anterior do olho foi <strong>de</strong>scartado, assim como o humor vítreo, e o<br />
posterior, on<strong>de</strong> se encontra a retina, foi utilizado nos experimentos.<br />
Cada animal representou um grupo <strong>de</strong> quatro diferentes tratamentos;<br />
sendo assim, as retinas dos dois olhos eram novamente divididas ao longo do eixo<br />
superior-inferior para a obtenção <strong>de</strong> quatro partes <strong>de</strong> tecido retiniano <strong>de</strong> um mesmo<br />
animal.<br />
44
3.2- Estimulação farmacológica do tecido retiniano intacto<br />
Todos os experimentos <strong>de</strong> estimulação da retina foram feitos em 500µl <strong>de</strong><br />
uma solução salina nutridora (Ringer Locke; NaCl 157 mM, KCl 5,6 mM, HEPES 5<br />
mM, glicose 5,6 mM, MgCl2 1 mM, CaCl2 2,3 mM, Na2HCO3 3,6 mM) borbulhado, por<br />
15 minutos, com uma mistura <strong>de</strong> gases contendo 95% <strong>de</strong> O2 e 5% <strong>de</strong> CO2. Todos os<br />
fármacos (Tabela 2) foram diluídas nesse meio, que foi utilizado para os grupos<br />
controle sem diluição <strong>de</strong> outros compostos (CTR). Nos experimentos com ausência<br />
<strong>de</strong> cálcio, não adicionamos CaCl2 no Ringer, e aumentamos a concentração <strong>de</strong><br />
MgCl2 para 10 mM.<br />
ABREV.<br />
T-ACPD<br />
L-SOP<br />
AIDA<br />
EGLU /MCCG<br />
MAP-4<br />
MK801 (MK)<br />
DNQX<br />
NO-711<br />
MECANISMO DE<br />
AÇÃO<br />
Agonista mGluR<br />
grupos I e II<br />
Agonista mGluR<br />
grupo III<br />
Antagonista<br />
mGluR grupo I<br />
Antagonistas<br />
mGluR grupo II<br />
Antagonista<br />
mGluR grupo III<br />
Antagonista iGluR<br />
NMDA<br />
Antagonista<br />
iGluRs AMPA/KA<br />
Bloqueador <strong>de</strong><br />
GAT-1<br />
CONCENTRAÇÃO EMPRESA<br />
100 µM Sigma-Aldrich<br />
100 µM Sigma-Aldrich<br />
200 µM Tocris<br />
200 µM Tocris / Sigma-Aldrich<br />
500 µM Sigma-Aldrich<br />
5 µM Sigma-Aldrich<br />
200 µM Sigma-Aldrich<br />
100 µM Sigma-Aldrich<br />
Tabela 2 – Relação dos fármacos utilizados nos experimentos. Foram utilizados os agonistas<br />
individualmente, ou em combinação com um ou mais antagonistas, nas concentrações indicadas.<br />
45
As retinas dos grupos experimentais que utilizavam antagonistas foram<br />
pré-incubadas com eles por 20 minutos a 37°C; as outras ficaram incubadas apenas<br />
em Ringer Locke pelo mesmo período <strong>de</strong> tempo. Após o período <strong>de</strong> pré-incubação,<br />
as retinas foram estimuladas com agonistas por 30 minutos, na mesma temperatura.<br />
Terminada a incubação com os fármacos, as retinas foram fixadas em<br />
paraformal<strong>de</strong>ído 4% diluído em tampão fosfato por três horas. Uma vez fixadas,<br />
foram lavadas três vezes, por <strong>de</strong>z minutos, com tampão fosfato 0,16M (pH=7,2).<br />
3.3- Crioproteção e secção em criostato<br />
Para a preparação das lâminas, foi necessário que as retinas fossem<br />
seccionadas transversalmente, com a espessura <strong>de</strong> 12 m, em um criostato. Um dia<br />
antes do processo <strong>de</strong> criosecção, as retinas foram imersas em um gradiente <strong>de</strong><br />
sacarose, sendo submetidas às concentrações <strong>de</strong> 15% e 30%, ficando nesta última<br />
solução pelo menos durante o pernoite.<br />
Para que não houvesse diferença entre os tratamentos<br />
imunohistoquímicos subseqüentes entre os grupos, as retinas dos diferentes grupos<br />
experimentais foram montadas e congeladas no mesmo bloco em um meio <strong>de</strong><br />
inclusão OCT (Sakura Finetek, Torrance, CA), utilizando nitrogênio líquido ou gelo<br />
seco (-179°C). Um dia antes <strong>de</strong> colher os cortes, as lâminas foram gelatinizadas em<br />
uma solução <strong>de</strong> gelatina e alúmen <strong>de</strong> cromo, na concentração final <strong>de</strong> 0,5%.<br />
Uma vez colhidos, os cortes <strong>de</strong> retina secaram a temperatura ambiente e<br />
foram guardados a -20°C em caixas envolvidas com filme PVC, até o<br />
processamento imunohistoquímico ser feito.<br />
46
3.4- Imunohistoquímica<br />
O processo <strong>de</strong> imunohistoquímica envolveu duas etapas, que ocorreram<br />
em dois dias consecutivos.<br />
No primeiro dia, os cortes foram lavados três vezes com PBS (KCl 2,7<br />
mM, KH2PO4 1,47 mM, NaCl 136 mM, Na2HPO4.7H2O 8,0 mM; pH=7,4), por <strong>de</strong>z<br />
minutos. Após as lavagens, o tecido foi incubado em BSA 5% por uma hora.<br />
O BSA, citado anteriormente, e os anticorpos mencionados a seguir foram<br />
diluídos em PBS + Triton-X100 0,25%.<br />
Posteriormente, aplicou-se o anticorpo primário anti-GABA feito em<br />
coelho (Sigma, 1:7000), que agiu durante o período <strong>de</strong> pernoite.<br />
No segundo dia, novamente, as lâminas foram lavadas três vezes com<br />
PBS por <strong>de</strong>z minutos, e incubadas com o anticorpo secundário anti-coelho (Vector,<br />
1:200) por duas horas a temperatura ambiente. Após este tempo, foram feitas três<br />
lavagens <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos com PBS; <strong>de</strong>pois, aplicou-se o complexo avidina-biotina<br />
peroxidase (ABC, Vector, 1:50) por uma hora e meia. Novamente, os cortes foram<br />
lavados três vezes, sendo que a primeira vez foi com PBS, e as duas últimas, com<br />
TBS (Tris 50,0 mM; pH=7,6). Iniciou-se, então, a reação com o cromógeno: 1 ml <strong>de</strong><br />
solução <strong>de</strong> peróxido <strong>de</strong> hidrogênio a 0,01% foi adicionado a 1 ml <strong>de</strong> uma solução a<br />
0,05% <strong>de</strong> diaminobenzidina (DAB, Sigma Aldrich) diluída em Tris (0,1 mM; pH=7,6);<br />
o produto foi adicionado às lâminas por <strong>de</strong>z minutos. Após a reação, as lâminas<br />
foram lavadas três vezes com TBS, e montadas com glicerol diluído em tampão<br />
fosfato a 40% para posterior análise.<br />
47
3.5- Ensaio <strong>de</strong> medição do glutamato liberado<br />
A enzima <strong>de</strong>sidrogenase do ácido glutâmico (GDH) é capaz <strong>de</strong> produzir α-<br />
cetoglutarato a partir <strong>de</strong> glutamato, e esta reação gera como produto secundário<br />
NADH, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectado em amostras através da medição <strong>de</strong> sua<br />
fluorescência. Com o objetivo <strong>de</strong> medir o glutamato liberado por duas retinas durante<br />
o período <strong>de</strong> estimulação com diversas drogas, nós colhemos duas amostras <strong>de</strong> 250<br />
µl do meio no qual as retinas foram incubadas. Essas amostras foram fervidas <strong>de</strong> 1<br />
a 2 minutos para que enzimas que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>gradar o NAD fossem <strong>de</strong>snaturadas.<br />
Em cada tubo <strong>de</strong> amostra, adicionamos 750 µl <strong>de</strong> uma solução reagente, composta<br />
pelo solvente Tris-acetato 75 mM, pH=8,4, por 400µM <strong>de</strong> NAD (que é transformado<br />
em NADH) e 150µM <strong>de</strong> ADP (que impe<strong>de</strong> a reversão da reação). Os totais <strong>de</strong> 1000<br />
µl <strong>de</strong> amostras e reagente foram medidos no fluorímetro Modulus Single Tube<br />
Multimo<strong>de</strong> Rea<strong>de</strong>r (Turner Biosystems), com o filtro <strong>de</strong> excitação <strong>de</strong> 365 nm e o filtro<br />
<strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> 410-450 nm, e os valores obtidos foram consi<strong>de</strong>rados como a<br />
fluorescência inicial da amostra. Após a obtenção da fluorescência inicial <strong>de</strong> cada<br />
amostra, foram adicionadas 48 unida<strong>de</strong>s da enzima GDH em cada tubo, e 60<br />
minutos <strong>de</strong>pois, após o equilíbrio da reação, as amostras foram lidas novamente. Os<br />
valores obtidos foram consi<strong>de</strong>rados como a fluorescência final da amostra. A<br />
fluorescência específica à reação feita pela enzima, correspon<strong>de</strong>nte à concentração<br />
<strong>de</strong> glutamato, era obtida a partir da subtração do valor da fluorescência inicial do<br />
valor da fluorescência final.<br />
48
3.6- Ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> LDH<br />
A liberação da enzima lactato <strong>de</strong>sidrogenase (LDH) é utilizada para<br />
verificar se existe morte celular por necrose. A ativida<strong>de</strong> da LDH foi medida através<br />
<strong>de</strong> um teste <strong>de</strong> citotoxicida<strong>de</strong> colorimétrico e não radioativo (Promega). Após o<br />
período <strong>de</strong> estimulação com as drogas, as retinas eram incubadas com uma solução<br />
<strong>de</strong> lise (Triton 0,9%) a temperatura ambiente por 15 minutos, e o meio era recolhido<br />
e mantido a 4°C. O tecido era, então, congelado por 30 minutos, <strong>de</strong>scongelado em<br />
banho maria a 37°C por 15 minutos, e, finalmente, centrifugado a 2000 rpm. Dois μl<br />
do sobrenadante e 20 μl do meio extracelular eram diluídos em 48μl e 30μl da<br />
solução salina Locke, respectivamente. Posteriormente, as amostras eram<br />
incubadas em uma diluição <strong>de</strong> 1:2 (50μl) do substrato a temperatura ambiente por<br />
30 minutos. A solução <strong>de</strong> parada (50 μl) era adicionada em cada poço, e a<br />
absorbância era lida no comprimento <strong>de</strong> onda <strong>de</strong> 490 nm. A concentração <strong>de</strong> LDH<br />
externa e interna foi medida.<br />
3.7- Análise quantitativa e estatística<br />
Todas as observações ao microscópio (Axioskop, Zeiss; Nikon Eclipse<br />
80i) foram feitas com a ocular <strong>de</strong> 10 vezes <strong>de</strong> aumento e a objetiva <strong>de</strong> 40 vezes.<br />
A análise consistiu na contagem <strong>de</strong> células marcadas, ou seja, que<br />
continham GABA. Foram contadas células amácrinas da camada nuclear interna,<br />
sendo todos os cortes obtidos <strong>de</strong> um mesmo tratamento imunohistoquímico.<br />
Quantificamos quatro campos <strong>de</strong> três cortes diferentes <strong>de</strong> um mesmo animal e, no<br />
mínimo, três animais por experimento.<br />
49
A média <strong>de</strong> células contadas nos grupos controle era <strong>de</strong> 400 por corte, ou<br />
100 células por campo. Portanto, a análise final <strong>de</strong> três animais, levava em conta o<br />
total <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 3000 células GABA+, <strong>de</strong> pelo menos 36 campos diferentes.<br />
A análise da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óptica da camada plexiforme interna foi feita da<br />
seguinte forma: foram tiradas 35 fotos <strong>de</strong> cada grupo experimental (n=7) na<br />
resolução <strong>de</strong> 119992 pixels, e cada uma <strong>de</strong>ssas fotos foi analisada no programa<br />
ImageJ 1.42q. A camada plexiforme interna foi dividida em cinco partes,<br />
correspon<strong>de</strong>ntes às cinco sublâminas. Os valores obtidos em cada grupo<br />
experimental foram comparados aos valores do controle.<br />
Em todos os casos, a estatística foi feita através do teste One-way<br />
ANOVA seguido do pós-teste <strong>de</strong> Bonferroni. Nos gráficos, são representados os<br />
valores da média ± erro padrão.<br />
50
4. RESULTA<strong>DOS</strong><br />
4.1- Embrião com 14 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Utilizamos um protocolo <strong>de</strong> 50 minutos <strong>de</strong> incubação, no qual as retinas<br />
eram <strong>de</strong>ixadas apenas na salina por 20 minutos (pré-incubação), e mais 30 minutos<br />
expostas às drogas. Em retinas <strong>de</strong> E14, os tratamentos com T-ACPD, agonista dos<br />
grupos I e II dos mGluRs na concentração <strong>de</strong> 100 µM, e com L-SOP, agonista do<br />
grupo III, na mesma concentração, não promoveram nenhuma alteração na<br />
marcação para GABA, nem no número <strong>de</strong> células amácrinas GABA-positivas<br />
(GABA+) na CNI. Não encontramos diferenças entre o número <strong>de</strong> células amácrinas<br />
GABA+ na retina interna entre os grupos controle e tratados com os agonistas<br />
metabotrópicos (Fig. 11).<br />
4.2- Embrião com 16 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Com os embriões <strong>de</strong> E16, foi realizado o mesmo procedimento: fizemos<br />
20 minutos <strong>de</strong> incubação apenas na salina, adicionando as drogas T-ACPD e L-SOP<br />
a 100 µM nos 30 minutos adicionais. Nesta ida<strong>de</strong>, observamos que parece ocorrer<br />
uma tendência à diminuição do número <strong>de</strong> células amácrinas da CNI, principalmente<br />
com o tratamento com T-ACPD. No entanto, essa diminuição não se apresentou<br />
significativa em nenhum dos dois casos (Fig. 12).<br />
51
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 11 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e III nas<br />
células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong><br />
cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E14 marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD,<br />
agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, 100 µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista do grupo III dos mGluRs.<br />
Escala = 50 µm; D, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+<br />
em relação a 100% do controle. Números nas barras indicam número <strong>de</strong> animais utilizados em<br />
cada grupo experimental.<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
52
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 12 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e III nas<br />
células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong><br />
cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E16 marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD,<br />
agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, 100 µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista do grupo III dos mGluRs.<br />
Escala = 50 µm; D, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+<br />
em relação a 100% do controle. Números nas barras indicam número <strong>de</strong> animais utilizados em<br />
cada grupo experimental.<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
53
4.3- Embrião com 18 dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Os embriões <strong>de</strong> E18 foram submetidos ao período <strong>de</strong> incubação <strong>de</strong> 50<br />
minutos: durante 20 minutos, ficaram imersos na solução salina, e nos 30 minutos<br />
posteriores, foram adicionados T-ACPD ou L-SOP, na concentração <strong>de</strong> 100 µM.<br />
Observamos que as retinas <strong>de</strong>sses embriões apresentaram uma diminuição <strong>de</strong> 30%<br />
do número <strong>de</strong> células GABA+ em relação ao controle, tanto no grupo tratado com T-<br />
ACPD quanto no grupo tratado com L-SOP (Fig. 13 e 14).<br />
Como, neste caso, as drogas tiveram efeito na imunorreativida<strong>de</strong> para o<br />
GABA, fizemos experimentos utilizando drogas antagonistas para os receptores<br />
metabotrópicos, para verificar se o efeito observado foi <strong>de</strong>corrente da ativação<br />
<strong>de</strong>sses receptores. Os antagonistas foram diluídos no meio com as retinas durante<br />
os 20 minutos que precediam a incubação com os agonistas, e permaneciam<br />
durante os 30 minutos posteriores. Os antagonistas utilizados com o T-ACPD foram<br />
o AIDA (antagonista do grupo I) e o EGLU (antagonista do grupo II), ambos usados<br />
na concentração <strong>de</strong> 200 µM. O uso separado dos antagonistas promoveu o bloqueio<br />
do efeito do T-ACPD, fazendo com que o número <strong>de</strong> células ficasse comparável ao<br />
controle. Os antagonistas utilizados <strong>de</strong> forma concomitante também bloquearam o<br />
efeito do agonista (Fig. 13). O uso <strong>de</strong> MAP-4, antagonista do grupo III, na<br />
concentração <strong>de</strong> 500 µM, inibiu completamente o efeito do L-SOP, elevando o<br />
número <strong>de</strong> células ao nível do controle (Fig. 14).<br />
54
Consi<strong>de</strong>rando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a liberação <strong>de</strong> GABA observada pela<br />
ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato ocorrer <strong>de</strong>vido a uma ativação<br />
indireta <strong>de</strong> receptores ionotrópicos (Calaza et al., 2001), realizamos experimentos<br />
nos quais pré-incubávamos as retinas com MK-801, antagonista do receptor NMDA,<br />
na concentração <strong>de</strong> 5 µM, e / ou com DNQX, antagonista dos receptores AMPA /<br />
KA, na concentração <strong>de</strong> 200 µM. O bloqueio do receptor NMDA inibiu<br />
acentuadamente o efeito <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas pelo T-ACPD<br />
(Fig. 15) assim como pelo L-SOP (Fig. 16). O DNQX também exerceu um efeito<br />
inibitório sobre a liberação <strong>de</strong> GABA induzida pelo uso do T-ACPD (Fig. 15) e pelo L-<br />
SOP (Fig. 16). O uso concomitante dos dois antagonistas <strong>de</strong> receptores ionotrópicos<br />
também resultou no bloqueio da liberação <strong>de</strong> GABA induzida pela ativação dos três<br />
grupos <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato (Fig. 15 e Fig. 16).<br />
55
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 13 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I e II nas células<br />
amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong> cortes<br />
transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E18 marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD, agonista<br />
dos grupos I e II dos mGluRs; C, pré-incubação com 200 µM <strong>de</strong> AIDA, antagonista do grupo I dos<br />
mGluRs, e posterior tratamento com T-ACPD e AIDA; D, pré-incubação com 200 µM <strong>de</strong> MCCG,<br />
antagonista do grupo II dos mGluRs, e posterior tratamento com T-ACPD e MCCG; E, préincubação<br />
<strong>de</strong> AIDA e MCCG (200 µM), e posterior tratamento com T-ACPD, AIDA e MCCG.<br />
Escala = 50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+<br />
em relação a 100% do controle (*** - p
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 14 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos do grupo III nas células<br />
amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong> cortes<br />
transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E18 marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista<br />
do grupo III dos mGluRs; C, pré-incubação com 500 µM <strong>de</strong> MAP-4, antagonista do grupo III dos<br />
mGluRs, e posterior tratamento com L-SOP e MAP-4. Escala = 50 µm; D, histograma mostrando<br />
a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação a 100% do controle (*** -<br />
p
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 15 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com agonista <strong>de</strong><br />
mGluRI/II nas células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias<br />
representativas <strong>de</strong> cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E18. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD,<br />
agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, pré-incubação com 5 µM <strong>de</strong> MK-801, antagonista <strong>de</strong><br />
receptores NMDA, e posterior tratamento com T-ACPD e MK; D, pré-incubação com 200 µM <strong>de</strong><br />
DNQX, antagonista <strong>de</strong> receptores KA, e posterior tratamento com T-ACPD e DNQX; E préincubação<br />
com MK e DNQX, e posterior tratamento com T-ACPD e os dois antagonistas. Escala =<br />
50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação<br />
a 100% do controle (* - p
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 16 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com agonista <strong>de</strong><br />
mGluRIII nas células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias<br />
representativas <strong>de</strong> cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> E18 marcadas para GABA. A, controle; B, 100<br />
µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista do grupo III dos mGluRs; C, pré-incubação com 5 µM <strong>de</strong> MK-801,<br />
antagonista <strong>de</strong> receptores NMDA, e posterior tratamento com L-SOP e MK; D, pré-incubação com<br />
200 µM <strong>de</strong> DNQX, antagonista <strong>de</strong> receptores KA, e posterior tratamento com L-SOP e DNQX; E<br />
pré-incubação com MK e DNQX, e posterior tratamento com L-SOP e os dois antagonistas. Escala<br />
= 50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em<br />
relação a 100% do controle (* - p
4.4- Animal pós-eclosão<br />
4.4.1- Efeito da ativação <strong>de</strong> mGluRs na imunorreativida<strong>de</strong> do GABA<br />
Em comparação a retinas fixadas diretamente, que não foram incubadas<br />
por 30 ou 50 minutos em Ringer (não mostrado), a imunorreativida<strong>de</strong> para o GABA<br />
apresentada pelos controles <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> PE se mostrou com um padrão similar,<br />
mas com diminuição da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcação, principalmente nas células<br />
horizontais (Fig. 17 e 18).<br />
Começamos testando qual seria o efeito da ativação dos grupos I, II e III<br />
durante 30 minutos na liberação <strong>de</strong> GABA em PE. Observamos que, tanto o<br />
tratamento com 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD (Fig. 17) quanto com 100 µM <strong>de</strong> L-SOP (Fig. 18)<br />
foi capaz <strong>de</strong> induzir a diminuição do número <strong>de</strong> células GABA+ em relação ao<br />
controle.<br />
Realizamos um ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> LDH para verificarmos se a<br />
diminuição do número <strong>de</strong> células po<strong>de</strong>ria ter acontecido <strong>de</strong>vido a morte celular por<br />
necrose. Os níveis <strong>de</strong> LDH liberados em todos os grupos experimentais foram<br />
similares, indicando que, provavelmente, o efeito das drogas não era por indução <strong>de</strong><br />
morte celular (Fig. 19).<br />
A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óptica da imunorreativida<strong>de</strong> para o GABA foi medida nos<br />
grupos tratados, e verificamos que ocorre a diminuição da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcação<br />
em todas as sublâminas, tanto no tratamento com T-ACPD quanto no com L-SOP,<br />
com exceção da sublâmina 1 no tratamento com L-SOP (Fig. 20).<br />
Posteriormente, utilizamos os antagonistas dos mGluRs para verificar se<br />
os agonistas estariam agindo especificamente sobre os receptores. A pré-incubação<br />
60
<strong>de</strong> 20 minutos com AIDA, antagonista do mGluRI, na concentração <strong>de</strong> 200 µM e<br />
posterior incubação com T-ACPD, inibiu parcialmente o efeito do agonista, indicando<br />
a participação dos mGluRI na diminuição do número <strong>de</strong> células GABA+. O<br />
antagonista do mGluRII, MCCG, na concentração <strong>de</strong> 200 µM, também bloqueou<br />
parcialmente o efeito do T-ACPD. A utilização dos dois antagonistas <strong>de</strong> forma<br />
concomitante bloqueou totalmente o efeito da ativação dos receptores, elevando o<br />
número <strong>de</strong> células GABA+ ao nível do controle (Fig. 17).<br />
A utilização do antagonista MAP-4, na concentração <strong>de</strong> 500 µM, bloqueou<br />
completamente o efeito <strong>de</strong> L-SOP em diminuir o número <strong>de</strong> células GABA+ (Fig. 18).<br />
4.4.2- Influência do bloqueio do transportador <strong>de</strong> GABA (GAT-1) no efeito<br />
induzido por mGluRs<br />
Em trabalhos anteriores já foi <strong>de</strong>scrito que, na retina <strong>de</strong> pinto, a liberação<br />
<strong>de</strong> GABA induzida pela ativação <strong>de</strong> receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato ocorre pela<br />
reversão do transportador <strong>de</strong> GABA do tipo GAT-1 (Calaza et al., 2001). Para<br />
verificar se o mesmo ocorre <strong>de</strong>vido à ativação dos mGluRs, utilizamos a droga NO-<br />
711, bloqueadora <strong>de</strong> GAT-1, na concentração <strong>de</strong> 100 µM por 20 minutos antes da<br />
adição <strong>de</strong> T-ACPD ou L-SOP, e por mais 30 minutos em conjunto com estes<br />
agonistas. Verificamos que o bloqueio <strong>de</strong> GAT-1 inibiu a liberação <strong>de</strong> GABA<br />
estimulada pelos agonistas mGluRs, e também aumentou o número <strong>de</strong> células em<br />
relação ao controle (Fig. 21).<br />
61
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 17 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I/II nas células<br />
amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong> cortes<br />
transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-<br />
ACPD, agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, pré-incubação com 200 µM <strong>de</strong> AIDA,<br />
antagonista do grupo I dos mGluRs, e posterior tratamento com T-ACPD e AIDA; D, pré-incubação<br />
com 200 µM <strong>de</strong> MCCG, antagonista do grupo II dos mGluRs, e posterior tratamento com T-ACPD<br />
e MCCG; E, pré-incubação <strong>de</strong> AIDA e MCCG (200 µM), e posterior tratamento com T-ACPD, AIDA<br />
e MCCG. Escala = 50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas<br />
GABA+ em relação a 100% do controle (* - p
Figura 18 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos do grupo III nas células<br />
amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong> cortes<br />
transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A, controle; B, 100 µM <strong>de</strong> L-<br />
SOP, agonista do grupo III dos mGluRs; C, pré-incubação com 500 µM <strong>de</strong> MAP-4, antagonista do<br />
grupo III dos mGluRs, e posterior tratamento com L-SOP e MAP-4. Escala = 50 µm; D,<br />
histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação a 100%<br />
do controle (*** - p
Figura 19 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e III na<br />
liberação <strong>de</strong> LDH <strong>de</strong> células retinianas. Histograma mostrando estatisticamente os resultados<br />
do ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> LDH com 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD e nos grupos tratados com 100 µM <strong>de</strong> L-<br />
SOP (n=3).<br />
Figura 20 – Efeito da ativação dos receptores metabotrópicos dos grupos I, II e III na<br />
imunorreativida<strong>de</strong> nas sublâminas da CPI. Histograma mostrando a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óptica da<br />
imunorreativida<strong>de</strong> para o GABA na CPI no controle, nos grupos tratados com 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD<br />
e nos grupos tratados com 100 µM <strong>de</strong> L-SOP (n=7).<br />
64
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 21 – Efeito da inibição <strong>de</strong> GAT-1 no tratamento com agonista <strong>de</strong> mGluRI, II e III nas<br />
células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong><br />
cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A, controle; B, 100<br />
µM <strong>de</strong> T-ACPD, agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, 100 µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista do grupo<br />
III; D, pré-incubação com 100 µM <strong>de</strong> NO-711, bloqueador <strong>de</strong> GAT-1, e posterior tratamento com T-<br />
ACPD e NO-711; E pré-incubação com 100 µM <strong>de</strong> NO-711, antagonista bloqueador <strong>de</strong> GAT-1, e<br />
posterior tratamento com L-SOP e NO-711. Escala = 50 µm; F, histograma mostrando a estatística<br />
do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação a 100% do controle (* - p
4.4.3- Influência do bloqueio dos receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato no<br />
efeito induzido por mGluRs<br />
Assim como em E18, verificamos se para que haja a liberação <strong>de</strong> GABA<br />
induzida pela ativação <strong>de</strong> mGluRs, é necessária uma ativação indireta <strong>de</strong> receptores<br />
ionotrópicos. As retinas <strong>de</strong> PE foram pré-incubadas por 20 minutos com MK-801,<br />
antagonista do receptor NMDA, na concentração <strong>de</strong> 5 µM, e/ou com DNQX,<br />
antagonista dos receptores AMPA/KA, na concentração <strong>de</strong> 200 µM. Observamos<br />
que o bloqueio dos receptores NMDA e KA, separadamente, inibiu totalmente o<br />
efeito da liberação <strong>de</strong> GABA pelo T-ACPD (Fig. 22) assim como pelo L-SOP (Fig.<br />
23). O uso concomitante dos dois antagonistas <strong>de</strong> receptores ionotrópicos resultou<br />
no bloqueio da liberação <strong>de</strong> GABA induzida pela ativação dos três grupos <strong>de</strong><br />
mGluRs, inclusive aumentando o número <strong>de</strong> células em relação ao controle (Fig. 22<br />
e Fig. 23).<br />
66
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 22 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com agonista <strong>de</strong><br />
mGluRI/II nas células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias<br />
representativas <strong>de</strong> cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A,<br />
controle; B, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD, agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, pré-incubação com 5<br />
µM <strong>de</strong> MK-801, antagonista <strong>de</strong> receptores NMDA, e posterior tratamento com T-ACPD e MK; D,<br />
pré-incubação com 200 µM <strong>de</strong> DNQX, antagonista <strong>de</strong> receptores KA, e posterior tratamento com<br />
T-ACPD e DNQX; E, pré-incubação com MK e DNQX, e posterior tratamento com T-ACPD e os<br />
dois antagonistas. Escala = 50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células<br />
amácrinas GABA+ em relação a 100% do controle (* - p
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 23 – Efeito da inibição dos receptores ionotrópicos no tratamento com agonista <strong>de</strong><br />
mGluRIII nas células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias<br />
representativas <strong>de</strong> cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A,<br />
controle; B, 100 µM <strong>de</strong> L-SOP, agonista do grupo III dos mGluRs; C, pré-incubação com 5 µM <strong>de</strong><br />
MK-801, antagonista <strong>de</strong> receptores NMDA, e posterior tratamento com L-SOP e MK; D, préincubação<br />
com 200 µM <strong>de</strong> DNQX, antagonista <strong>de</strong> receptores KA, e posterior tratamento com L-<br />
SOP e DNQX; E pré-incubação com MK e DNQX, e posterior tratamento com L-SOP e os dois<br />
antagonistas. Escala = 50 µm; F, histograma mostrando a estatística do número <strong>de</strong> células<br />
amácrinas GABA+ em relação a 100% do controle (* - p
4.4.4- Liberação <strong>de</strong> glutamato induzida por ativação <strong>de</strong> mGluRs<br />
Anteriormente, mostramos que a ativação <strong>de</strong> mGluRs induz a liberação<br />
<strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas da retina <strong>de</strong> animais PE, e que este efeito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
da ativação <strong>de</strong> receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato. Consi<strong>de</strong>rando a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> que os mGluRs estariam levando a um aumento da liberação <strong>de</strong> glutamato em<br />
células da retina, e este glutamato ativaria receptores ionotrópicos, levando à<br />
liberação <strong>de</strong> GABA, nós verificamos o efeito do T-ACPD na ausência <strong>de</strong> cálcio, e<br />
quantificamos o glutamato presente no meio extracelular após incubação com os<br />
fármacos.<br />
A ausência <strong>de</strong> cálcio no meio extracelular foi capaz <strong>de</strong> bloquear<br />
totalmente a liberação <strong>de</strong> GABA induzida por T-ACPD (Fig. 24), indicando que este<br />
efeito <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da liberação <strong>de</strong> alguma substância <strong>de</strong> maneira vesicular.<br />
No ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> glutamato, o tratamento com 100 µM <strong>de</strong> T-<br />
ACPD por 30 minutos levou ao aumento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 50% da liberação <strong>de</strong> glutamato<br />
em relação ao controle (Fig. 25). Este efeito foi bloqueado pela ausência do íon Ca 2+<br />
no meio extracelular, indicando que o mecanismo <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> glutamato<br />
mediado por mGluRs dos grupos I e II <strong>de</strong>ve ser vesicular. O tratamento com L-SOP,<br />
no entanto, não promoveu aumento na liberação <strong>de</strong> glutamato.<br />
69
CNE<br />
CPE<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
CNI<br />
CPI<br />
CCG<br />
Figura 24 – Efeito da ausência <strong>de</strong> cálcio no tratamento com agonista <strong>de</strong> mGluRI/II nas<br />
células amácrinas GABA+ da camada nuclear interna. Fotomicrografias representativas <strong>de</strong><br />
cortes transversais <strong>de</strong> retinas <strong>de</strong> animais pós-eclosão marcadas para GABA. A, controle; B, 100<br />
µM <strong>de</strong> T-ACPD, agonista dos grupos I e II dos mGluRs; C, 100 µM <strong>de</strong> T-ACPD, agonista dos<br />
grupos I e II dos mGluRs, na ausência <strong>de</strong> cálcio. Escala = 50 µm; D, histograma mostrando a<br />
estatística do número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação a 100% do controle (*** - p
Figura 25 – Efeito <strong>de</strong> agonistas <strong>de</strong> mGluRI/II/III e da ausência <strong>de</strong> cálcio na liberação <strong>de</strong><br />
glutamato <strong>de</strong> células retinianas. Histograma mostrando a estatística do ensaio <strong>de</strong> dosagem do<br />
glutamato liberado em relação a 100% do controle. Números nas barras indicam número <strong>de</strong><br />
animais utilizados em cada grupo experimental. * p
5. DISCUSSÃO<br />
5.1- A liberação <strong>de</strong> GABA induzida por glutamato durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Nossos resultados mostram que a ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos<br />
<strong>de</strong> glutamato promove liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas da retina <strong>de</strong> galinha<br />
a partir <strong>de</strong> E18, mas não significativamente em ida<strong>de</strong>s anteriores. Porém, há<br />
evidências da expressão dos mGluRs em estágios anteriores a E14. Um estudo<br />
prévio mostrou que, em células amácrinas <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> células da retina <strong>de</strong> E8 (6<br />
dias in vitro), a ativação <strong>de</strong> receptores mGluR5 promove uma modulação positiva do<br />
receptor GABAA, aumentando a corrente por este receptor, sendo esse aumento<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> PKC (Hoffpauir e Gleason, 2002). Na retina <strong>de</strong> gato P2, a injeção<br />
intraocular <strong>de</strong> L-AP4, agonista <strong>de</strong> mGluRIII, por 28 dias, promove alterações na<br />
arborização <strong>de</strong>ndrítica <strong>de</strong> células ganglionares (Deplano et al., 2004). Sendo assim,<br />
inferimos que, durante o <strong>de</strong>senvolvimento, os mGluRs <strong>de</strong>vem estar acoplados às<br />
suas respectivas proteínas G, promovendo sinalização semelhante àquela<br />
encontrada no animal adulto, mas que <strong>de</strong>vem estar voltadas para funções<br />
pertinentes às etapas do <strong>de</strong>senvolvimento, como diferenciação celular e<br />
sinaptogênese.<br />
Além disso, um trabalho prévio do nosso grupo <strong>de</strong>screve que, em E14, a<br />
ativação <strong>de</strong> receptores NMDA e KA induz a liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas<br />
da retina (Calaza et al., 2003). Assim, a maquinaria envolvida na liberação <strong>de</strong> GABA<br />
estaria presente já em E14. Porém, apesar <strong>de</strong> os mGluRI já estarem expressos em<br />
E14 e E16 (Kreimborg et al., 2001), a maquinaria responsável por promover a<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato e, conseqüentemente, <strong>de</strong> GABA, po<strong>de</strong>ria não ser funcional<br />
72
nestas etapas do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
As vias <strong>de</strong> sinalização intracelular envolvidas nos processos mediados<br />
por mGluRs também já tem sido investigadas. Um exemplo é a participação <strong>de</strong><br />
receptores dos grupos I e III em eventos <strong>de</strong> diferenciação e proliferação celular <strong>de</strong><br />
células-tronco embrionárias <strong>de</strong>monstrada em roedores. O receptor mGluR5, na<br />
presença do fator inibidor <strong>de</strong> leucemia (LIF), mantém células-tronco em estado<br />
indiferenciado e com pluripotência. Isto porque o mGluR5 ativa a PKC, inibindo a<br />
ativida<strong>de</strong> da AKT, permitindo que a expressão do gene c-Myc seja mantida<br />
(Cappuccio et al., 2005; Spinsanti et al., 2005). Quando essas células se tornam<br />
corpos embriói<strong>de</strong>s, elas passam a expressar mGluR4, cuja ativação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
das outras substâncias presentes no microambiente, po<strong>de</strong> levar ao<br />
comprometimento <strong>de</strong>ssas células com o fenótipo neural ou com outros fenótipos,<br />
como ecto<strong>de</strong>rmal ou meso<strong>de</strong>rmal (Cappuccio et al., 2006). Já como neuroesferas,<br />
essas células expressam o receptor mGluR7 que, ativado, utiliza a sinalização por<br />
MAP-cinases para promover a diferenciação <strong>de</strong>ssas células em neurônios (Tian et<br />
al., 2010). Portanto, é provável que os mGluRs ativem vias que contribuam com<br />
processos biológicos básicos para o <strong>de</strong>senvolvimento normal do organismo.<br />
Em E14 e E16, os segmentos externos dos fotorreceptores ainda não<br />
estão completamente <strong>de</strong>senvolvidos, mas em E18, eles já estão presentes,<br />
permitindo que os fotorreceptores respondam a estímulos luminosos (Calaza e<br />
Gardino, 2010). Sendo assim, po<strong>de</strong>mos supor que exista alguma relação entre a<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato induzida por mGluRs e o início <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s elétricas<br />
espontâneas na retina externa, e que a liberação <strong>de</strong> GABA estimulada pela ativação<br />
<strong>de</strong> mGluRs seja característica <strong>de</strong> uma retina com perfil maduro e, portanto,<br />
73
importante para o correto pré-processamento da informação luminosa feito pela<br />
retina.<br />
5.2- A liberação <strong>de</strong> GABA induzida por glutamato no animal pós-eclosão<br />
Dados previamente publicados por nosso grupo <strong>de</strong>monstraram que a<br />
ativação <strong>de</strong> receptores do tipo NMDA e KA induz uma redução <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 50% do<br />
número <strong>de</strong> células amácrinas GABA+ em relação ao controle (Calaza et al., 2001).<br />
Os resultados obtidos neste trabalho mostram fortes evidências <strong>de</strong> que a liberação<br />
<strong>de</strong> GABA induzida por glutamato na retina ocorre, em sua maior parte, <strong>de</strong>vido a<br />
ativação direta <strong>de</strong> receptores ionotrópicos, haja vista que o bloqueio <strong>de</strong>sses<br />
receptores foi bastante eficiente em impedir a liberação <strong>de</strong> GABA induzida por T-<br />
ACPD e L-SOP. Aparentemente, há uma diferença na quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> células<br />
amácrinas que liberam GABA pelo estímulo direto com agonistas iGluRs (50%) ou<br />
com agonistas mGluRs (30%). Assim, é possível que os mGluRs estejam regulando<br />
mais especificamente um <strong>de</strong>terminado circuito, que envolve também os iGluRs, para<br />
liberar GABA das células amácrinas.<br />
Recentemente, Monnerie e Le Roux (2008) mostraram que células<br />
corticais em cultura, quando expostas a glutamato na concentração <strong>de</strong> 100 µM por 5<br />
minutos, apresentam diminuição da expressão da enzima GAD, responsável pela<br />
síntese <strong>de</strong> GABA, através <strong>de</strong> um mecanismo envolvendo Ca 2+ e cisteína-proteases<br />
como a calpaína. Aparentemente, no nosso mo<strong>de</strong>lo, não ocorre a diminuição <strong>de</strong><br />
GABA <strong>de</strong>ntro da célula <strong>de</strong>vido a uma menor expressão da GAD, principalmente pelo<br />
fato <strong>de</strong> que o bloqueador da GAT mostrou um efeito significativo em inibir a<br />
diminuição do número <strong>de</strong> células GABA+ induzida pelo T-ACPD.<br />
74
Os transportadores <strong>de</strong> GABA são majoritariamente expressos na retina<br />
interna, em corpos celulares e prolongamentos <strong>de</strong> células amácrinas e células da<br />
camada <strong>de</strong> células ganglionares, possivelmente células amácrinas <strong>de</strong>slocadas<br />
(Calaza et al., 2003). A função principal <strong>de</strong>stes transportadores seria a <strong>de</strong> captar o<br />
GABA extracelular. Na retina <strong>de</strong> aves, inclusive <strong>de</strong> galinha, a captação <strong>de</strong> GABA é<br />
feita pelos transportadores presentes nos neurônios, enquanto que, na retina <strong>de</strong><br />
mamíferos, ocorre a captação também pelas células <strong>de</strong> Müller (Yazulla, 1986;<br />
Andra<strong>de</strong> da Costa et al., 2000).<br />
A liberação <strong>de</strong> GABA induzida pela ativação <strong>de</strong> receptores<br />
metabotrópicos e ionotrópicos, via reversão do transportador, po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong>vido à<br />
entrada <strong>de</strong> sódio na proximida<strong>de</strong> do transportador, aumentando a concentração do<br />
íon localmente, o que permite que o sódio volte para o meio extracelular, levando<br />
consigo uma molécula <strong>de</strong> neurotransmissor. Acreditamos que nosso efeito ocorra<br />
através <strong>de</strong>ste mecanismo, pois o bloqueio do transportador GAT-1 preveniu<br />
completamente o nosso efeito <strong>de</strong> diminuição do número <strong>de</strong> células GABA+, inclusive<br />
aumentando o número <strong>de</strong> células em relação ao controle.<br />
Um trabalho recente usando a retina <strong>de</strong> camundongo investigou a<br />
influência da aplicação <strong>de</strong> um fármaco agonista do receptor mGluR8 em respostas<br />
eletrofisiológicas <strong>de</strong> células ganglionares à luz. Na presença do fármaco, células<br />
ganglionares ON-OFF tiveram sua resposta OFF suprimida, enquanto a resposta ON<br />
se manteve inalterada, o que indica que este receptor po<strong>de</strong> estar modulando a<br />
liberação <strong>de</strong> neurotransmissores para essas células, favorecendo a ativação <strong>de</strong><br />
apenas uma das vias (Quraishi et al., 2010).<br />
Já foi sugerido que a liberação <strong>de</strong> neurotransmissores inibitórios <strong>de</strong><br />
75
células amácrinas possa ser responsável por inibições cruzadas entre as vias ON e<br />
OFF: quando glutamato é liberado pelas bipolares ON, talvez ele possa promover a<br />
inibição <strong>de</strong> bipolares OFF adjacentes através da liberação <strong>de</strong> GABA por células<br />
amácrinas (Higgs et al., 2002). Sendo assim, nossos dados e trabalhos da literatura<br />
corroboram com o fato <strong>de</strong> os mGluRs terem uma importância gran<strong>de</strong> na fisiologia da<br />
retina, modulando a circuitaria GABAérgica.<br />
5.3- A liberação <strong>de</strong> glutamato induzida pela ativação <strong>de</strong> mGluRs no animal pós-<br />
eclosão<br />
Verificamos que ocorre o aumento da liberação <strong>de</strong> glutamato quando as<br />
retinas são tratadas com T-ACPD. No entanto, o tratamento com L-SOP não<br />
promoveu alterações nos níveis <strong>de</strong> glutamato no meio em relação ao controle. Isto<br />
po<strong>de</strong> ser explicado pelo fato <strong>de</strong> estarmos observando a liberação <strong>de</strong> glutamato da<br />
retina inteira, e o L-SOP po<strong>de</strong> ativar também o receptor mGluR6. Além <strong>de</strong> o mGluR6<br />
diminuir a liberação <strong>de</strong> glutamato nas células bipolares ON, agonistas do grupo III<br />
também po<strong>de</strong>m diminuir a liberação <strong>de</strong> glutamato <strong>de</strong>vido a um menor influxo <strong>de</strong><br />
cálcio em fotorreceptores (Koulen et al., 1999). Então, o fato <strong>de</strong> não termos<br />
<strong>de</strong>tectado esta diminuição na liberação po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>vido: 1) a não ativação <strong>de</strong>stes<br />
receptores, ou 2) por um efeito compensatório do aumento da liberação <strong>de</strong><br />
glutamato por outros tipos celulares, e outros subtipos do mGluRIII. A primeira<br />
hipótese parece mais fraca já que a mesma concentração induziu a liberação <strong>de</strong><br />
GABA, que é bloqueada pelos antagonistas seletivos do grupo III e <strong>de</strong> forma<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos iGluRs, sugerindo que os mGluRIII estejam sendo ativados nesta<br />
concentração. Já a segunda hipótese explicaria o motivo pelo qual não<br />
76
encontramos variação na liberação <strong>de</strong> glutamato. Possivelmente, a ativação não-<br />
seletiva <strong>de</strong> todos os receptores metabotrópicos do grupo III gera efeitos diferentes<br />
em tipos celulares diferentes, impedindo a análise <strong>de</strong> variações (tanto a diminuição<br />
quanto o aumento) na liberação <strong>de</strong> glutamato.<br />
O bloqueio simultâneo <strong>de</strong> ambos os receptores ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato<br />
aumentou significativamente o número <strong>de</strong> células marcadas em relação ao controle,<br />
indicando que, mesmo nossas condições controle, existe liberação <strong>de</strong> GABA<br />
induzida por glutamato endógeno, que foi confirmado posteriormente pelo nosso<br />
ensaio <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> glutamato, mostrando que, no controle, existe tanto<br />
glutamato no meio quanto no padrão <strong>de</strong> 25 µM. Ou seja, os receptores ionotrópicos<br />
são ativados por glutamato basal, e a ativação <strong>de</strong> mGluRs aumenta a concentração<br />
<strong>de</strong> glutamato, o que leva a uma maior liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas.<br />
Existem trabalhos que explicam como os mesmos receptores po<strong>de</strong>riam<br />
gerar efeitos antagônicos. Um fator <strong>de</strong>terminante para a diferença na resposta seria<br />
o receptor estar fosforilado ou não. Um receptor não fosforilado, quando ativado,<br />
levaria a formação <strong>de</strong> IP3 e aumento <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> glutamato; um receptor<br />
fosforilado pela PKC, por exemplo, po<strong>de</strong>ria ativar uma via alternativa, que levaria a<br />
diminuição da liberação <strong>de</strong> glutamato (Herrero et al., 1998; Nicoletti et al., 1999).<br />
Com relação a receptores do grupo III, já foi <strong>de</strong>scrito que, em<br />
sinaptossomas, a liberação <strong>de</strong> glutamato estimulada por alto potássio po<strong>de</strong> ser tanto<br />
aumentada ou diminuída quando o receptor mGluR7 é ativado. Essa modulação<br />
ocorria <strong>de</strong>vido a pequenas mudanças no tipo <strong>de</strong> estimulação. A diminuição da<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato era vista quando o receptor recebia estímulos breves (30<br />
segundos) com L-AP4, agonista do grupo III, e o aumento da liberação <strong>de</strong> glutamato<br />
77
era visto quando L-AP4 era utilizado por 10 minutos. O autor sugere que possa<br />
haver ativação <strong>de</strong> duas vias distintas: com a estimulação breve seria ativada a via<br />
clássica do receptor, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> proteína Gi/o, o que diminuiria o influxo <strong>de</strong><br />
cálcio e a liberação <strong>de</strong> glutamato; com a estimulação longa, seria ativada uma via<br />
alternativa, que levaria à ativação <strong>de</strong> fosfolipase C, hidrólise <strong>de</strong> fosfolipí<strong>de</strong>os,<br />
formação <strong>de</strong> diacilglicerol, e que esse último seria responsável pela translocação da<br />
proteína munc13-1, que faz parte <strong>de</strong> complexos <strong>de</strong> ancoramento <strong>de</strong> vesículas<br />
sinápticas à membrana, e isto geraria um aumento da liberação <strong>de</strong> glutamato (Martín<br />
et al., 2010).<br />
5.4- Mecanismos <strong>de</strong> modulação da função <strong>de</strong> receptores<br />
Apesar <strong>de</strong> sabermos que ocorre a liberação <strong>de</strong> glutamato após o<br />
tratamento com o agonista dos mGluRI/II, não po<strong>de</strong>mos excluir outras possibilida<strong>de</strong>s<br />
para os nossos efeitos, já que os receptores metabotrópicos estão localizados tanto<br />
em terminais pré quanto pós-sinápticos.<br />
Já foi mostrado que existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mGluRs interagirem<br />
fisicamente com receptores ionotrópicos da mesma microrregião da célula. Esta<br />
interação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria da presença da cauda C-terminal <strong>de</strong>stes receptores, e<br />
funcionaria como um mecanismo para a regulação mútua <strong>de</strong>stes receptores, ou<br />
seja, se os dois fossem ativados ao mesmo tempo, a resposta fisiológica final<br />
<strong>de</strong>corrente da ativação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les seria diminuída (Perroy et al., 2008).<br />
Em outras regiões do SNC, como no hipocampo, já foi visto outro tipo <strong>de</strong><br />
interação entre receptores ionotrópicos e metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato. Negrete-<br />
78
Díaz e colaboradores (2007) realizaram um trabalho no qual perceberam que a<br />
aplicação <strong>de</strong> KA ou <strong>de</strong> um agonista do grupo II dos receptores metabotrópicos<br />
produzia um efeito similar <strong>de</strong> inibição <strong>de</strong> potencial excitatório pós-sináptico (PEPS),<br />
e que a ação concomitante das drogas nos dois receptores impediria este efeito, o<br />
que po<strong>de</strong> significar uma convergência entre os mecanismos utilizados por esses<br />
receptores (Negrete-Díaz et al., 2007). Nossos resultados apontam efeitos<br />
sinergísticos, e não antagônicos, entre receptores metabotrópicos e ionotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato quando são ativados ao mesmo tempo, mas não temos informações<br />
sobre a localização e a proximida<strong>de</strong> dos receptores.<br />
Os receptores metabotrópicos do grupo I po<strong>de</strong>m potencializar o efeito <strong>de</strong><br />
liberação <strong>de</strong> GABA induzido pela ativação do receptor NMDA <strong>de</strong>corrente da<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato endógeno, sem necessitar da interação entre os receptores.<br />
Este mecanismo se daria por duas vias paralelas: pela ativação da fosfolipase C β<br />
(PLC β) ou pela ativação direta da tirosina cinase citoplasmática Src pela β-arrestina<br />
(Gerber et al., 2007). Os receptores KA também po<strong>de</strong>m ser modulados por mGluRs<br />
do grupo I. Foi <strong>de</strong>monstrado previamente que o antagonista do grupo I, AIDA, é<br />
capaz <strong>de</strong> prevenir a disfunção epiléptica hipocampal promovida por cainato,<br />
mostrando que também é possível a integração funcional <strong>de</strong>sses receptores<br />
(Renaud et al., 2002).<br />
Receptores do grupo II também po<strong>de</strong>m estar localizados pós-<br />
sinapticamente e, inclusive, potencializar a corrente <strong>de</strong> receptores NMDA, assim<br />
como os mGluRs do grupo I, mas o mecanismo através do qual isto ocorre é<br />
<strong>de</strong>sconhecido (Oliveira et al., 2008).<br />
Os receptores dos grupos II e III po<strong>de</strong>m se associar a proteínas<br />
79
intracelulares na retina. Já foi mostrado que, na retina <strong>de</strong> rato, a proteína RanBPM<br />
po<strong>de</strong> se ligar a todos os receptores <strong>de</strong>stes dois grupos, exceto ao mGluR6 (Seebahn<br />
et al., 2008). Várias isoformas <strong>de</strong> outra proteína, conhecida como Band 4.1,<br />
interagem com o receptor mGluR8 (Rose et al., 2008). Tanto RanBPM quanto Band<br />
4.1 são bastante expressas na retina e, sendo proteínas adaptadoras do<br />
citoesqueleto, seriam responsáveis pela manutenção da estabilida<strong>de</strong> dos receptores<br />
na membrana e pela aproximação <strong>de</strong> receptores, como ionotrópicos e<br />
metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato, o que po<strong>de</strong>ria facilitar a integração da sinalização<br />
promovida por eles. Ainda, po<strong>de</strong>riam modular a ligação da proteína G ao receptor e<br />
permitir a ativação <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> sinalização alternativas, como a da proteína fostatase<br />
1 (Seebahn et al., 2008; Rose et al., 2008). Além disso, já foi <strong>de</strong>scrita ao longo <strong>de</strong><br />
todo o <strong>de</strong>senvolvimento da retina <strong>de</strong> galinha a presença do RNAm para as proteínas<br />
Homer, que po<strong>de</strong>m se ligar a receptores do grupo I, mas não foi feito um estudo<br />
sobre a expressão das proteínas (Wahlin et al., 2008).<br />
Sendo assim, mais estudos <strong>de</strong>vem ser conduzidos para o correto<br />
entendimento da sinalização e da integração <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong>stes receptores na retina e<br />
das proteínas que po<strong>de</strong>m se ligar a eles.<br />
5.5- Células amácrinas GABAérgicas e mGluRs<br />
Alguns estudos propõem funções fisiológicas para os mGluRs em células<br />
amácrinas. Na retina <strong>de</strong> coelho, a ativação dos receptores do grupo II promove a<br />
diminuição <strong>de</strong> respostas seletivas a sentido <strong>de</strong> movimento da luz, pelas quais são<br />
responsáveis as células amácrinas starburst, que liberam GABA e acetilcolina, o que<br />
indica a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses receptores estarem relacionados às funções exercidas<br />
80
por essas células (Jensen, 2006).<br />
Outros trabalhos, realizados em cultura <strong>de</strong> células da retina, mostram que<br />
a ativação <strong>de</strong> receptores do grupo III modula negativamente a liberação <strong>de</strong><br />
acetilcolina <strong>de</strong> células amácrinas. Apesar <strong>de</strong> a ativação somente do grupo I não ter<br />
tido efeito, quando os grupos I e III eram ativados ao mesmo tempo, o efeito <strong>de</strong><br />
diminuição da liberação <strong>de</strong> acetilcolina era bloqueado. A ativação dos receptores do<br />
grupo II diminuía a produção <strong>de</strong> AMPc. Esses dados <strong>de</strong>monstram que,<br />
aparentemente, todos os grupos <strong>de</strong> receptores estão na célula, que suas vias<br />
po<strong>de</strong>m interagir e que eles têm papéis funcionais importantes (Caramelo et al.,<br />
1999).<br />
5.6- mGluRs, glutamato e GABA: neuroproteção ou injúria?<br />
O fato <strong>de</strong> altas concentrações <strong>de</strong> glutamato po<strong>de</strong>rem levar a<br />
excitotoxicida<strong>de</strong> em células neuronais é bastante conhecido e estudado. Isto<br />
ocorreria <strong>de</strong>vido ao aumento <strong>de</strong> cálcio, que causa aumento <strong>de</strong> radicais livres e<br />
ativação <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> morte celular (Léveillé et al., 2008).<br />
Já foi visto que a ativação <strong>de</strong> mGluR5 <strong>de</strong> células amácrinas em cultura<br />
causa um aumento do cálcio intracelular, enquanto a ativação concomitante <strong>de</strong><br />
mGluR1 inibe este aumento, o que é bastante interessante, já que os dois<br />
receptores são do mesmo grupo e, teoricamente, se acoplam à mesma via <strong>de</strong><br />
sinalização (Kreimborg et al., 2001). Essa ação protetora <strong>de</strong> mGluR1 parece ser<br />
mediada pela fosforilação da ERK, sendo esta fosforilação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ativação<br />
<strong>de</strong> Src e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ativação <strong>de</strong> proteína G (Emery et al., 2010).<br />
81
Em outros sistemas, a ativação dos receptores do grupo I é capaz <strong>de</strong><br />
reduzir a morte celular promovida por tratamento com NMDA (Adamchik e Baskys,<br />
2000). Possivelmente, as ações protetoras promovidas por esses receptores em<br />
outros regiões (Battaglia et al., 2001; Cozzi et al., 2002; Zheng e Johnson, 2003)<br />
po<strong>de</strong>ria estar ocorrendo na retina. Se um excesso <strong>de</strong> glutamato estivesse a ponto <strong>de</strong><br />
causar danos por excesso <strong>de</strong> excitabilida<strong>de</strong>, a liberação <strong>de</strong> GABA po<strong>de</strong>ria atuar<br />
diminuindo a entrada <strong>de</strong> cálcio excessiva e prevenindo a ativação <strong>de</strong> vias celulares<br />
que levariam a estresse oxidativo, injúria e morte <strong>de</strong>ssas células.<br />
Existe outra linha <strong>de</strong> raciocínio para relacionar nossos efeitos a<br />
neuroproteção: a liberação <strong>de</strong> glutamato po<strong>de</strong>ria estar sendo protetora por estar<br />
promovendo a liberação <strong>de</strong> BDNF, uma neurotrofina. Este efeito protetor do<br />
glutamato foi <strong>de</strong>monstrado em células da retina <strong>de</strong> ratos em <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
<strong>de</strong>pendia da ativação <strong>de</strong> receptores NMDA (Rocha et al., 1999). Já foi visto que a<br />
ativação <strong>de</strong> receptores metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato do grupo II aumenta o RNAm<br />
para BDNF no hipocampo (Di Liberto et al., 2010). Sendo assim, a ativação <strong>de</strong>sses<br />
receptores, além <strong>de</strong> estarem contribuindo para o aumento da liberação <strong>de</strong> glutamato<br />
que, através <strong>de</strong> receptores NMDA, po<strong>de</strong>m estar também auxiliando no aumento da<br />
síntese e da liberação <strong>de</strong> BDNF, participando da neuroproteção <strong>de</strong> células retinianas<br />
induzida por glutamato.<br />
Quanto à liberação <strong>de</strong> GABA induzida por glutamato na retina <strong>de</strong> galinha,<br />
também existem relatos <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria aumentar a injúria e morte celular. Os<br />
estudos, feitos em embriões <strong>de</strong> 14 a 16 dias, mostram que estímulos que induzem a<br />
liberação <strong>de</strong> GABA por reversão do transportador (adição <strong>de</strong> NMDA ou KA) levam<br />
ao inchaço <strong>de</strong> células amácrinas e <strong>de</strong> células da camada <strong>de</strong> células ganglionares<br />
82
(Zeevalk e Nicklas, 1997). Esse efeito ocorreria <strong>de</strong>vido à entrada <strong>de</strong> cloreto (Cl - ) pelo<br />
próprio receptor ionotrópico <strong>de</strong> GABA, ou outros canais, sendo uma possibilida<strong>de</strong> da<br />
ocorrência <strong>de</strong> excitotoxicida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio (Chen et al., 1998). Portanto,<br />
apenas com os dados obtidos neste estudo, não po<strong>de</strong>mos afirmar se, além <strong>de</strong><br />
participarem da fisiologia da retina, os receptores metabotrópicos exercem um efeito<br />
protetor ou tóxico.<br />
83
6. CONCLUSÕES<br />
• Em E14, a circuitaria GABAérgica não parece ser modulada por mGluRs;<br />
• Em retinas E16, parece começar a ocorrer uma discreta modulação do<br />
sistema GABAérgico por mGluR, que não é significativa;<br />
• A ativação <strong>de</strong> mGluRI/II/III promove liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong> células amácrinas<br />
<strong>de</strong> E18 e PE;<br />
• A estimulação <strong>de</strong> mGluRI/II ou mGluRIII não induz morte celular na retina;<br />
• A liberação <strong>de</strong> GABA por células amácrinas parece ocorrer via reversão do<br />
transportador <strong>de</strong> GABA.<br />
• Os resultados sugerem que a ativação dos mGluRs po<strong>de</strong>ria induzir a uma<br />
liberação <strong>de</strong> glutamato <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cálcio, que atuaria em receptores<br />
ionotrópicos <strong>de</strong> glutamato, resultando na liberação <strong>de</strong> GABA <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
sódio pelas células amácrinas.<br />
84
7. PERSPECTIVAS<br />
Como não foram <strong>de</strong>scritas muitas informações sobre os receptores<br />
metabotrópicos <strong>de</strong> glutamato do grupo III na retina <strong>de</strong> pinto, durante o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, nossos próximos passos serão estudar a ontogênese dos mGluRs<br />
do grupo III na retina <strong>de</strong> pinto, utilizando imunohistoquímica e Western blot.<br />
Estudaremos, a princípio, os receptores mGluR4 e mGluR6/7, por disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
anticorpo que funciona na retina <strong>de</strong> pinto.<br />
Para o estudo da liberação <strong>de</strong> glutamato mediada por mGluRIII na retina,<br />
precisamos utilizar agonistas específicos para cada tipo <strong>de</strong> receptor.<br />
Investigaremos, ainda, quais são as vias <strong>de</strong> sinalização intracelulares que<br />
estão envolvidas no mecanismo <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> GABA induzido pela ativação <strong>de</strong><br />
mGluRs e iGluRs na retina.<br />
Além disso, preten<strong>de</strong>mos também fazer estudos <strong>de</strong> localização <strong>de</strong>sses<br />
receptores com receptores ionotrópicos, através <strong>de</strong> dupla marcação por<br />
imunofluorescência. Também existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizarmos ensaios <strong>de</strong><br />
imunoprecipitação, para verificar se existe interação física entre estes receptores.<br />
Ainda, é interessante verificarmos o efeito dos receptores metabotrópicos<br />
sendo protetor ou danoso à retina. Preten<strong>de</strong>mos, para este estudo, utilizar uma<br />
abordagem na qual induzimos morte celular através <strong>de</strong> <strong>de</strong>privação <strong>de</strong> glicose e<br />
oxigênio. Caso a adição <strong>de</strong> antagonistas <strong>de</strong> receptores metabotrópicos promova<br />
algum tipo <strong>de</strong> proteção, teremos indícios <strong>de</strong> que a ativação <strong>de</strong>les contribui para<br />
danos excitotóxicos promovidos pela liberação <strong>de</strong> glutamato e GABA na retina.<br />
85
Os resultados obtidos neste trabalho e as referências consultadas nos<br />
oferecem diversas linhas <strong>de</strong> raciocínio e possibilida<strong>de</strong>s para o prosseguimento <strong>de</strong>ste<br />
projeto. Ainda há muitas perguntas a serem respondidas e muitas controvérsias a<br />
serem explicadas, mas resta a certeza <strong>de</strong> que os receptores metabotrópicos <strong>de</strong><br />
glutamato são importantes para o processamento da luz pela retina, que permanece<br />
aos nossos olhos como uma das estruturas mais complexas e instigantes <strong>de</strong> serem<br />
estudadas.<br />
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