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relações entre Sigmund Freud e Norbert Elias em O processo ...

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Do controle ao auto-controle: <strong>relações</strong> <strong>entre</strong> <strong>Sigmund</strong> <strong>Freud</strong> e <strong>Norbert</strong> <strong>Elias</strong><br />

<strong>em</strong> O <strong>processo</strong> civilizador (1939)<br />

RESUMO<br />

Bruna Aline Scaramboni<br />

O presente trabalho é dedicado à presença de <strong>Freud</strong> <strong>em</strong> O <strong>processo</strong> civilizador de<br />

<strong>Norbert</strong> <strong>Elias</strong>. Este trabalho está relacionado à pesquisa que desenvolvo no Mestrado <strong>em</strong><br />

Ciências Sociais, no qual busco apreender e analisar os modos de apropriação da Psicanálise<br />

freudiana na Sociologia de <strong>Norbert</strong> <strong>Elias</strong>. Pretendo estabelecer <strong>relações</strong> <strong>entre</strong> <strong>Elias</strong> e <strong>Freud</strong>,<br />

com o fim de mostrar a influência da Psicanálise freudiana especificamente <strong>em</strong> O <strong>processo</strong><br />

civilizador.<br />

O <strong>processo</strong> civilizador, considerado a obra magna de <strong>Norbert</strong> <strong>Elias</strong>, foi publicado<br />

<strong>em</strong> 1939, na Suíça. Neste trabalho utilizamos a versão <strong>em</strong> português que se constitui de quatro<br />

partes divididas <strong>em</strong> dois volumes: O primeiro, Uma história dos costumes (ELIAS, 2011), e o<br />

segundo, Formação do Estado e Civilização (ELIAS, 1993). De modo geral, a investigação<br />

<strong>em</strong>preendida <strong>em</strong> O <strong>processo</strong> civilizador t<strong>em</strong> como fim apreender como, porque, e <strong>em</strong> que<br />

direção as sociedades ocidentais transformaram-se <strong>em</strong> suas formas de comportamento e<br />

expressão das <strong>em</strong>oções ao longo do curso histórico, que se estende desde fins da idade média<br />

até fins do século XIX. No primeiro volume da obra, <strong>Elias</strong> busca d<strong>em</strong>onstrar, sob a forma de<br />

uma linha de desenvolvimento, as mudanças a longo prazo na estrutura psicológica e de<br />

controle individual. Uma Historia dos costumes seria uma espécie de relato dessas<br />

observações baseadas <strong>em</strong> fatos extraídos da vida prática das pessoas (ELIAS, 2011: 208).<br />

Com base <strong>em</strong> suas investigações <strong>em</strong> tratados de etiqueta e códigos de boas e más<br />

maneiras <strong>Elias</strong> chegou à constatação de que o comportamento “civilizado” originou-se e<br />

evoluiu daquilo que consideramos incivilizado. Tais termos não carregam <strong>em</strong> si, segundo<br />

<strong>Elias</strong>, valores como certo e errado, superior, inferior, b<strong>em</strong> e mal. Civilizado e incivilizado<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> antes de tudo a fases de desenvolvimento da humanidade (ELIAS, 2011: 70). Isso<br />

significa que o modo de comportamento civilizado desenvolveu-se a partir de formas de<br />

comportamentos que seriam talvez julgados, conforme o padrão atual de sensibilidade, como<br />

repugnantes e “bárbaros” (ELIAS, 2011: 13). Por outro lado, há alguns tipos de<br />

comportamento que r<strong>em</strong>ontam ao século XIX e que são para nós familiares, como por


ex<strong>em</strong>plo, os comportamentos referentes às maneiras à mesa e o uso de garfo e faca para<br />

comer.<br />

A preocupação de <strong>Elias</strong> está voltada às formas de comportamento do indivíduo<br />

civilizado e ao <strong>processo</strong> de desenvolvimento dessa forma particular de agir, pensar e sentir,<br />

específica às sociedades civilizadas. O estudo se orienta pela seguinte questão: De que modo e<br />

por que a sociedade ocidental passa por transformações nos modos de comportamento, de<br />

modo a substituir no curso de seu desenvolvimento um determinado padrão por outro?<br />

(ELIAS, 2011: 70). Em suma, como a sociedade ocidental v<strong>em</strong> se civilizando, ou seja,<br />

tornando-se civilizada?<br />

Civilização consiste <strong>em</strong> um <strong>processo</strong> de longa duração referente às mudanças<br />

psicológicas expressas nas condutas e padrão de sensibilidade e expressão das <strong>em</strong>oções,<br />

dotado de uma direção específica. O conceito de civilização r<strong>em</strong>ete, antes de tudo, às<br />

mudanças na estrutura de personalidade dos seres humanos no sentido de um maior controle<br />

das <strong>em</strong>oções e regulação das condutas. No estudo desse <strong>processo</strong> de transformação<br />

psicológica deve-se considerar duas dimensões da realidade humana diferentes <strong>entre</strong> si,<br />

porém, indissociáveis: sociogênese e psicogênese. Ambas correspond<strong>em</strong>, respectivamente, à<br />

estrutura social e à estrutura de personalidade (ou psíquica).<br />

Dentro de seus limites, este trabalho constitui-se na tentativa de mostrar, ainda<br />

que de uma forma geral, certos aspectos e el<strong>em</strong>entos de O <strong>processo</strong> civilizador que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a<br />

<strong>Freud</strong>. Desse modo, optou-se por focalizar três el<strong>em</strong>entos envolvidos no <strong>processo</strong> de<br />

formação e desenvolvimento do autocontrole individual: controle social das pulsões e<br />

impulsos instintivos; supereu e sentimento de vergonha. Na tentativa de tecer <strong>relações</strong> <strong>entre</strong><br />

<strong>Elias</strong> e <strong>Freud</strong> tomou-se como ponto de partida o conceito de civilização. Este conceito r<strong>em</strong>ete<br />

diretamente ao foco do texto: o <strong>processo</strong> de transformação <strong>em</strong> direção a um tipo de estrutura<br />

psíquica ou de personalidade capaz de autocontrole e dotada de um padrão específico de<br />

sensibilidade e de expressão das <strong>em</strong>oções. Para finalizar, é na passag<strong>em</strong> de uma forma de<br />

controle social predominant<strong>em</strong>ente externa e fundada na violência física para uma forma de<br />

controle interno, fundado na pressão interna e que dispensa a ameaça física, que se buscou os<br />

el<strong>em</strong>entos que nos servirão de base para identificar e mostrar a presença freudiana nesta obra<br />

de <strong>Elias</strong>.

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